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REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 59-77, 2019 59 ISSN 2318-0404I RBPsicoterapia Revista Brasileira de Psicoterapia Volume 21, número 2, agosto de 2019 ARTIGO DE REVISÃO Psicoterapia de grupos e Psicologia Analíca Group Psychotherapy and Analycal Psychology Psicoterapia de grupos y Psicologia Analíca Ana Luisa Testa a Carlos Augusto Serbena b a Universidade Federal do Paraná, Mestrado em Psicologia – Curiba – PR – Brasil. b Universidade Federal do Paraná, Departamento de Psicologia – Curiba – PR – Brasil. DOI 10.5935/2318-0404.20190006 Instuição: Universidade Federal do Paraná Resumo Jung e a Psicologia Analíca não contemplaram em profundidade o estudo da psicoterapia de grupos, tendo privilegiado o trabalho clínico individual. O presente argo tem como objevo principal fornecer um panorama descrivo das pesquisas sobre como a parcipação em pequenos grupos psicoterapêucos pode influenciar no processo de individuação de seus membros, no referencial da Psicologia Analíca, e também, como um objevo secundário, recapitular e confrontar com o que a literatura da área expõe sobre o tema. Para isso, foi feito num primeiro momento uma revisão estruturada, em bases de dados. Os critérios de seleção do material é que fossem argos, em português e inglês, que tratassem do desenvolvimento da personalidade no interior de pequenos grupos de desenvolvimento pessoal, na área da psicologia analíca. Na sequência foi feita uma pesquisa não estruturada, levantando argos frequentemente citados e também através da literatura da área e posteriormente uma revisão integrava que aponta a dificuldade do tema no campo da psicologia analíca, especialmente pelo receio dos processos de idenficação e regressão entre os membros do grupo – que para

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PsicoteraPia de gruPos e Psicologia analítica

ISSN 2318-0404I

RBPsicoterapiaRevista Brasileira de PsicoterapiaVolume 21, número 2, agosto de 2019

ARTIGO DE REVISÃO

Psicoterapia de grupos e Psicologia AnalíticaGroup Psychotherapy and Analytical Psychology

Psicoterapia de grupos y Psicologia Analítica

Ana Luisa Testaa

Carlos Augusto Serbenab

a UniversidadeFederaldoParaná,MestradoemPsicologia–Curitiba–PR–Brasil.

b UniversidadeFederaldoParaná,DepartamentodePsicologia–Curitiba–PR–Brasil.

DOI10.5935/2318-0404.20190006

Instituição: Universidade Federal do Paraná

Resumo

JungeaPsicologiaAnalíticanãocontemplaramemprofundidadeoestudodapsicoterapiadegrupos,tendo

privilegiado o trabalhoclínicoindividual.Opresenteartigotemcomoobjetivoprincipalfornecerumpanorama

descritivodaspesquisassobrecomoaparticipaçãoempequenosgrupospsicoterapêuticospodeinfluenciar

noprocessodeindividuaçãodeseusmembros,noreferencialdaPsicologiaAnalítica,etambém,comoum

objetivosecundário,recapitulareconfrontarcomoquealiteraturadaáreaexpõesobreotema.Paraisso,foi

feitonumprimeiromomentoumarevisãoestruturada,embasesdedados.Oscritériosdeseleçãodomaterial

équefossemartigos,emportuguêseinglês,quetratassemdodesenvolvimentodapersonalidadenointerior

depequenosgruposdedesenvolvimentopessoal,naáreadapsicologiaanalítica.Nasequênciafoifeitauma

pesquisanãoestruturada,levantandoartigosfrequentementecitadosetambématravésdaliteraturadaárea

eposteriormenteumarevisãointegrativaqueapontaadificuldadedotemanocampodapsicologiaanalítica,

especialmentepeloreceiodosprocessosdeidentificaçãoeregressãoentreosmembrosdogrupo–quepara

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Jungoperariaminvariavelmentecontraaindividuação.Osartigoslevantadosquestionamessaafirmaçãoe

apresentampossibilidadesdedesenvolvimentopsíquiconointeriordessesgruposecorrelacionamindividuação

comvidaemsociedade.Elestambémpropõemmétodosdepsicoterapiagrupalnoreferencialdapsicologia

analítica.Considera-sequepequenosgruposfazempartedocontextodevidadequalquerindivíduo,eseu

potencialparafavoreceraindividuaçãoaindaprecisasermelhorcompreendido.

Palavras-chave:Arquétipos;Grupos;Individuação;Psicoterapiagrupal;Regressãopsíquica

Abstract

JungandAnalyticalPsychologydidnot contemplate indepth the studyof thepsychotherapyof groups,

havingprivilegedtheindividualpsychotherapy.Themainobjectiveofthisarticleistoprovideadescriptive

overviewof theresearchesonhowtheparticipation insmallpsychotherapeuticgroupscan influencethe

individuationprocessofitsmembersintheframeworkofAnalyticalPsychologyand–asasecondaryobjective

–torecapitulateandconfrontitwithwhattheliteratureoftheareaexposesaboutthissubject.Inorderto

dothat,astructuredreviewwasfirstlycarriedoutinthedatabases.Thecriteriaforselectingthematerial

werethemtobearticles,inbothPortugueseandEnglish,dealingwiththedevelopmentofpersonality,within

smallgroupsofpersonaldevelopment,inanalyticalpsychologyfield.Secondly,anunstructuredresearchwas

executed,withtheexaminationofthemostcitedarticles,andalsoathoroughsearchthroughtheliteratureof

thematter.Lastlyanintegrativerevisionwasmadeandthatsignalizedthedifficultyofthesubjectinthefieldof

analyticalpsychology,especiallybecauseofthefearoftheprocessesofidentificationandregressionbetween

themembersofthegroup–whichforJungwouldinvariablyworkagainstindividuation.Theexaminedarticles

questionthisstatementandpresentpossibilitiesofpsychicdevelopmentwithinthesegroupsandcorrelate

individuationwithlife insociety.Theyalsoproposemethodsofgrouppsychotherapyintheframeworkof

analyticalpsychology.Smallgroupsareconsideredpartofthelifecontextofanyindividual,andtheirpotential

forindividuationstillneedstobebetterunderstood.

Keywords:Archetypes;Groups;Grouppsychotherapy;Individuation;Psychicregression

Resumen

JungylaPsicologíaAnalíticanocontemplaronenprofundidadelestudiodelapsicoterapiadelosgrupos,

habiendoprivilegiado trabajo clínico del individuo. El presente artículo tiene comoobjetivo principal

proporcionarunpanoramadescriptivodelasinvestigacionessobrecómolaparticipaciónenpequeñosgrupos

psicoterapéuticospuedeinfluirenelprocesodeindividuacióndesusmiembros,enelenfoquedelaPsicología

Analítica,ytambién,comounobjetivosecundario,recapitularyconfrontarconloquelaliteraturadelárea

exponesobreeltema.Paraello,sehizoenunprimermomentounarevisiónestructurada,enbasesdedatos.

Loscriteriosdeseleccióndematerialesesquefuesenartículosenportuguésyinglés,quetratasendeldesarrollo

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delapersonalidaddentrodepequeñosgruposdedesarrollopersonalenelcampodelapsicologíaanalítica.

Enlasecuenciaserealizóunainvestigaciónnoestructurada,buscandoartículosfrecuentementecitadosy

tambiénatravésdelaliteraturadeláreayposteriormenteunarevisiónintegrativaqueapuntaladificultad

deltemaenelcampodelapsicologíaanalítica,especialmenteporeltemordelosprocesosdeidentificación

yregresiónentrelosmiembrosdelgrupo–queparaJungoperaríainvariablementecontralaindividuación.

Losartículosencontradoscuestionanesaafirmaciónypresentanposibilidadesdedesarrollopsíquicoenel

interiordeesosgruposycorrelacionanindividuaciónconvidaensociedad.Tambiénproponenmétodosde

psicoterapiagrupalenelreferencialdelapsicologíaanalítica.Seconsideraquepequeñosgruposformanparte

delcontextodevidadecualquierindividuo,ysupotencialparafavorecerlaindividuaciónaúnnecesitaser

mejorcomprendido.

Palabras clave:Arquetipos;Grupos;Individuación;Psicoterapiagrupal;Regresiónpsíquica

Introdução

CarlGustav Jung (1875-1961) foiumpsiquiatra suíçodegrande relevânciaparaa consolidaçãoda

psicanáliseefundadordaPsicologiaAnalítica.Entresuasmaiorescontribuiçõesparaocampodapsicoterapia

sedestacamacompreensãodapsicogênesedostranstornosmentais,assimcomoareformulaçãodoprocesso

terapêutico,quedeveriaservirtambémaodesenvolvimentodoindivíduo,nãosóàcuradossintomas.Eénesse

processodedesenvolvimentopsíquicodoindivíduo–chamadoindividuação–queJungfocouseuinteresse

naconstruçãodesuapsicologia.

Elenãoprivilegiouoestudoa respeitodapsicoterapiadegrupos,aindaque tenha reconhecidoas

limitaçõesdapsicoterapiaindividualdopontodevistacoletivo-social.EmseuprólogoaolivrodeToniWolff

Jung1declaraque juntoaautoraconduziuum“experimentosilencioso”atravésda fundaçãodoClubede

PsicologiadeZuriqueem1916.Shamdasani2relataqueaideiadoclubeeraultrapassaralimitaçãodaterapia

individual,reunindopessoasquepassaramouestãopassandoporumprocessodeanálise,paraquetivessem

umavidasocialepudessemseeducarsocialmente.Emumanotanãopublicadadeseutrabalho“Individuação

eColetividade”,quefoiapresentadoaoClubeem1916,assimcomoemumacartaendereçadaaseucolega

AlphonseMaeder,em1918,Jungdescrevequeoexperimentoseriaparaobservarcomopessoasanalisadas

serelacionariamumacomasoutras,edestaformatomarciênciadaslimitaçõessociaisecoletivasdeuma

análiseindividual.

Apesardeseuinteresseempírico,Jungmostrou-sebastanterefratárioàpossibilidadedeumapsicoterapia

grupal.DeacordocomFreitas3Jungdesconfiavadasinfluênciasdegruposemgeralnavidapsíquicadoindivíduo,

esuaresistênciasedeuemfunçãodosriscosderegressãopsíquica,commarcadareduçãodeconsciênciae

deindividualidade,poisgruposdetodotipo–psicoterapêuticosounão–poderiampromoverinfantilização,

dependênciamútua,perdadaautonomia,submissãoaolíder,massificação,contágiopsíquico,baixadedefesas

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egóicas,possessãoporarquétipos,diminuiçãodaresponsabilidadepessoal,aumentodasugestionabilidade

eseriam,consequentemente,umentraveparaoprocessodeindividuação.

SeuposicionamentoficabastanteexplícitoemcartastrocadascomHansIllingem19554:“Comoum

médico,euconsideroqualquerdistúrbiopsíquico,sejaneuroseoupsicose,comoumadoençadoindivíduo;o

pacienteprecisasertratadodeacordocomisso”4.Nascartaselereforçaosperigosdosaspectosregressivos

dosgruposesalientaque,aindaquebonsresultadospudessemseralcançadosatravésdapsicoterapiagrupal,

ocustodissoseriaadependênciamoralementaldoindivíduo.“Quandocemcabeçasespertasentramemum

grupo,umgigantepalermaéoresultado”4.“Virtudesreaissãorelativamenteraraseseconstituemusualmente

deconquistasdeindivíduos.Preguiçamoralemental,covardia,preconceitoeinconsciênciasãodominantes”4.

Asconclusõesqueeleapresentanessascartas4sãodequeaúnicafunçãodapsicoterapiagrupalseria

aeducaçãosocialdoserhumano–ereafirmatercriadoumgrupodepessoasanalisadas(ClubePsicológico

deZurique)paraqueaatitudesocialdoindivíduofosseconstelada;queestamodalidadedepsicoterapianão

substituiriaaanáliseindividual,masque,noentanto,poderiasercomplementar;e,finalmente,quemesmo

sendoemumpequenogrupoelapossuiriariscosdepromoverumaidentificaçãodoindivíduocomocoletivo,

aoinvésdepromoverseudesenvolvimento.Essasconclusõesparecemacertadas,mas,casofossepossível

compreendercomoevitarouamenizaressesriscosde identificaçãocomocoletivo,apsicoterapiagrupal

poderiaserdesenvolvidanocampojunguiano.

Essemesmoposicionamentoapareceemummemorandoescritoem1948,destinadoàUnesco,noqual

secolocaqueapsicoterapiaéumprocedimentodialéticoequesuaaplicabilidadeeeficáciarestringem-se

fortementeaoindivíduo.“[...]Nãosepodeesperarmuitodaaplicaçãodessemétodoaumgrupo.Amudança

deatitudenuncacomeçapelogrupo,masapenaspeloindivíduo”5.

Numtexto sobreapsicologiado renascimento–publicadoem1939– Jung6discorre sobrealguns

fenômenosde transformaçãodapersonalidadee cita comoumdessesa identificaçãodo indivíduocom

umgrupo.Nessetextoostermosgrupoemassasãoutilizados indiscriminadamente,masparaummaior

esclarecimento seria importanteapontarqueele tratade fenômenosdemassa,poisnem todogrupoé

massificado.Jungcolocaquenamassaaquiloqueéexperimentadocomotransformaçãodapersonalidade

seriaapenasdevidoaprocessosdeidentificaçãoinconscienteentreseusmembros,equeestasseriambem

distintasdaquelasvividasindividualmente:“Trata-semaisexatamentedaidentificaçãodeumindivíduocom

umcertonúmerodepessoasquetemumavivênciadetransformaçãocoletiva”6.Essaidentificaçãocriariaum

certoestadodeânimopeculiar,umaemoçãocompartilhadadeumaexperiênciadetransformaçãoqueapenas

vagamenteseassemelhaatransformação individual. Inclusive,emgruposeriamaisfácilexperimentartal

vivênciatransformadorapois,alémdoindivíduoestarabertoaopoderdasugestão,essasvivênciasocorreriam

emumníveldeconsciência inferior.Alémdisso, tais transformaçõestenderiamanãoperdurar,ficandoo

indivíduodependentedogrupoparaexperimentar taisestadosextáticos–aembriaguezdamassa–que

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poderiamtrazerriscosparaeleeparaasociedade.“Quandosedáumestadoemocionalintenso,dizemosou

fazemoscoisasqueultrapassamamedidausual.[...]Grupos,comunidadeseatémesmopovosinteirospodem

sertomadosporepidemiaspsíquicas”6.

Oque isso significa équenaperspectivade Jung6 alémdessas transformaçõesemgrupo serem

insustentáveis,parecequesetratammaisdeestadosemocionaisintensosdevidoàidentificaçãoregressiva,a

sugestão,eaorebaixamentodaconsciênciadoquepropriamenteaodesenvolvimentoindividual.Aexperiência

daautonomiamanifestado inconsciente– reações involuntáriasqueperturbamoumesmosuprimema

consciência–possuemelevadacargaafetivaequantomaisviolento for talafetomais seaproximariado

patológico.

Umdospoucosargumentosutilizadosporeleafavordosgrupos–lembrandoquenestecontextoele

nãoserefereagruposterapêuticos,massimagruposmassificados–seriaasensaçãodepertencimento,

promovidapelosmesmosgrupos.Elaseriacapazdepromoverexperiênciaspositivas,poisacomunidadepode

incentivaroindivíduo,estimularsuacoragem,suadignidade,assimcomoacolhê-losolidariamente.Maslogo

quereconheceessesméritosJungjáalertaseuleitorqueogrupopodeobviamenteconfundiroindivíduo,

quepassariaaexigircomoumdireitocoisasqueindividualmentenãoseriacapazdeconquistar,epassariaa

demandarqueoutrosindivíduos,governanteselíderesprovejamsuasnecessidades–ouseja–opertencimento

inevitavelmenteinfantilizariaoindivíduoatravésdaregressãoparaformasderelacionamentofamiliares6.

Essaperspectivacontráriaarespeitodapossibilidadedeumasalutartransformaçãodapersonalidade

emgruposacabou sendoadotadapelamaioriadospsicólogos junguianos semmuitosquestionamentos

e, aparentemente, poucos se dedicarama compreensãododesenvolvimentodo indivíduo emgrupos

psicoterapêuticos.Issoserefletenabaixaproduçãoedivulgaçãoacadêmicasobreoassunto.Dos42artigos

levantadosnestapesquisa,40% forampublicadosemrevistasespecializadasempsicologiaanalítica,eos

demaisemrevistassobrepsicoterapiadegruposoupsicologia.

Emsuma,Jungdeixouclaroseuposicionamentoreceosoemrelaçãoagruposeaspsicoterapiasde

grupo,emrazãodorebaixamentoqueestespoderiamprovocarnaconsciênciadosujeitoetambémpornão

considerarastransformaçõesdapersonalidadeemgrupoverdadeirasesustentáveis.Aindaassimele,talcomo

Whitmont7eHall8, consideram queapsicoterapiadegrupopoderiasercomplementaràanáliseindividual,

talvezessacomoumasupostaproteçãoaperdada individualidadedosujeito.Eestepareceseroponto

fundamental:estaremgruposemestarmassificado.

Outrosautores, comporexemploYalome Leszcz9,Hobson10 eBoyd11 afirmamqueoprocessode

transformaçãopessoalatravésdaspsicoterapiasgrupaisseriatãoefetivoquantonaspsicoterapiasindividuais,

desdequeosgrupos recebamanáliseapropriada.Equandoseconsideraaspectospragmáticosdequea

psicoterapiagrupalpoderiademocratizaroacessodapopulaçãoaoserviçopsicológico,ouqueserviriacomo

umaportadeentrada,ouentãocomoWhitmont7frisa–umespaçodelaboratórioparaosparticipantes–

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pareceserestaumamodalidadedeatendimentoquemereçamaisespaçoempesquisas,naformaçãodo

psicólogojunguianoeemsuaprática.

ValeressaltarqueoperíodoemqueJungdesenvolvesuateoriapsicológica–entreofinaldoséculoXIX

emeadosdoséculoXX–haviaumcontextoquejustificavaotemoremrelaçãoàsmassaseosefeitosqueum

grupopodeprovocarnapsiqueindividual.Sullivan12apontaquehavianaépocaumavariedadederegimes

totalitáriosnaEuropaenaÁsia–Alemanha(Hitler),Itália(Mussolini),Rússia(Stalin)eEspanha(Franco),China

(Mao)etambémaeclosãodasduasguerrasmundiais.

OutraforteinfluêncianavisãodeJungarespeitodegruposcomoumtodofoiapontadaporShamdasani13

comoasdisciplinasdeciênciashumanasquesurgiramconcomitanteapsicologianoúltimoquartodoséculo

XIX–antropologia,etnopsicologia,psicologiasocial,psicologiadasmassasesociologia,queapresentavam

ideiasdediferençasdementalidadeentreohomemprimitivo(preponderânciaentreopensamentoelementar,

imaginativoefantástico)eohomemcivilizado(compreponderânciadopensamentodirigido,exigeesforço,

linguagemeabstração),ecomonosgrupospoderiapreponderaropensamentofantasia,edestaformaa

civilidadedohomemmodernosucumbiriaaumfuncionamentoprimitivoeatémesmobárbaro–inconsciente.

Contemporaneamentehaviatambémosestudosemhipnose,demonstrandoapotênciadainfluênciapsíquica

pelasugestão.

Tambémdevemos considerarqueenquanto Jungdesenvolve sua teoria, apsicoterapiadegrupos

encontrava-seemestadogerminal,tendotidoseuápicenadécadade1970,sendoqueJungfaleceem1961.

Destemodo,quandoJungseposicionacontra,nãosesabeexatamentecomoeleaimaginava.Nascartas

trocadascomoHansIlling4,emqueotemaerapsicoterapiadegrupos,vê-sequenenhumdosexemplosque

Jungforneceserelacionaagruposterapêuticostaiscomoconcebidoshoje.

DeacordocomBechelliedosSantos14apsicoterapiadegrupospassaporumperíododeconfiguraçãoe

desenvolvimentoentre1907-1950nosEstadosUnidosefoiiniciadacomJosephH.Pratt,atravésdeumgrupo

deapoioparadoentesdetuberculosequenãopodiamarcarcomoscustosdotratamento.Essegrupotinha

umafunçãopredominantementeeducacionaledeapoioemocionalentrepares.Aotrabalharemgrupo,Pratt

pôdeofereceraassistêncianecessáriaemaiseficazcomosrecursosdisponíveis(tempo,espaço,profissionais,

etc.)destemodo,ostrabalhosemgrupopassaramaseramplamenteadotadosnosanosseguintespordiversas

instituiçõesdesaúdemental15.Esseaspectopragmáticodaspsicoterapiasgrupaisvaiaoencontrodasdemandas

atuaisencontradasnos serviçospúblicosde saúdementaledemocratizamseuacesso16.Concomitantea

Pratt,naEuropa,MorenocomeçavaadesenvolveremVienaaquiloquesetornariaseumétododetrabalho:

a psicoterapia de grupos e o psicodrama9.

Osanosentre1951e2000sãoconsideradosasegundafasenahistóriadaspsicoterapiasdegrupo–o

períododeexpansão,consolidaçãoeamadurecimento.Nesseperíodo–especialmentenadécadade1970

–háumgrandeaumentononúmerodepublicaçõessobreotemaevariabilidadenosformatos,objetivose

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teoriasdebasenaspráticasgrupais14.SãodestaépocaostrabalhosdeCarlRogersePichon-Rivière.SeJung

faleceem1961eascartastrocadascomHansIlling,nasquaiseleseposicionacontraaspsicoterapiasdegrupo,

ocorreramem1955,pode-sesuporquesuaposiçãofinalsemanteveesta,poiselenãopôdetestemunharo

florescimentodessamodalidadepsicoterapêutica.

Hojepodemosconsiderarqueapsicoterapiadegruposéumarealidadeequetemsidoamplamente

utilizada.Rogers17propôsosgruposdeencontroefezumaavaliaçãopositivasobreseusefeitosnosparticipantes.

Entreosmais importantes,destacou: atualizaçãodoeu,determinação, comprometimento, sentimentos

deaceitaçãoeautoestima, confiança,diminuiçãodoautoritarismoemelhoranaqualidadedas relações

interpessoais.JáopsicanalistaPichon-Rivièrevianosgruposumlugarpropícioparaodesenvolvimentoda

consciênciaatravésdeumcontínuoprocessodeaprendizagemapartirdarelaçãocomooutro18.

ComoaexperiênciadeoutrosautoresdapsicologiadegruposparececontradizerasideiasdeJung,

eseconsiderarmosasdiferençasconceituaisdessasteoriassobreohumano,ficamasseguintesquestões:

Seriapossívelpreservar a individualidadeemgrupo?Seriamosprocessos regressivos semprenegativos

paraodesenvolvimentodo indivíduo?Todogrupo terapêuticoé regressivo?Podeocampodapsicologia

analíticacontinuarrefratárioatrabalhoscomgrupos?Parainiciarumatentativaderespondertaisperguntas,

oobjetivodestetrabalhoéabordaropensamentopós-junguianoatualsobreaquestãodepequenosgrupos

psicoterapêuticoseindividuação,atravésdarevisãobibliográficadosartigospublicadosdentrodestetema.

ComoquefoipostonãointencionoinsinuarqueJungestivesseenganadoemsuaperspectivaarespeito

dosgrupos,poisgrupospodemsimserumperigoàindividualidadedeseusmembroseatémesmoàsociedade

comoumtodo.Pretendoapenasprovocarumarelativizaçãodaideiaeconvidarocampoaquestionamentos.

OpróprioJungnosconvidouanãosermosjunguianosedestaformaseguirnodesenvolvimentoteórico.Em

seuprefácioaolivrodeErichNeumann19,datadode01/03/1949,Jungdiz:“[...]tornou-seclaroparaamima

magnitudedasdesvantagensdostrabalhospioneiros[...]eapiordesvantagemdetodaséopioneirosósaber

posteriormentedaquiloquedeveriatersabidoantes.Avantagemdasegundageraçãoéterumquadromais

claro[...].Assimadvertidoepreparado,podeumrepresentantedasegundageraçãoalcançarasconexões

maisdistantes,deslindarproblemasefazerumrelatocoerentedocampodeestudocomoumtodo,cujavisão

geralopioneirosópoderáobternofinaldotrabalhosuavida”19.

Aparentementeapossibilidadedepreservaçãoedesenvolvimentodaconsciênciaindividualéachave

paraqueosgrupospsicoterapêuticostambémpossamserbemvistosporessecampo,poisistoafastariao

fantasmadamassificaçãogrupal.Umexameaprofundadosobrecomoestescontribuemnodesenvolvimento

individualénecessário.Parece fundamental ampliaroentendimento sobreosprocessos regressivosque

podem operar napsicologiadosgruposesuarelaçãocomodesenvolvimentohumanoparaquetenhamos

umamelhorcompreensãodosfenômenosgrupais,assimcomoparainstrumentalizaropsicólogoqueconduz

trabalhosgrupaisalidarcomeles.

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Método

Paraarealizaçãodesteartigo,foifeitainicialmenteumapesquisaestruturadanasseguintesbasesde

dados:ScopuseScielo,comtaiscritériosderestrição:artigos;idiomas–inglêseportuguês;área–psicologia.

Tambémforamconsultadasasbasesdastrêspublicaçõesjunguianasmaisinfluentesnaatualidade:JungJournal:

Culture&Psyche,InternationalJournalofJungianStudieseoJournalofAnalyticalPsychology,massemcritérios

iniciaisderestrição,porserembasesderevistasespecializadasnocampodaPsicologiaAnalítica,eminglês.

Períododasbuscas:fevereirode2018.Aseleçãodosartigosapresentadosnosresultadosfoifeitaatravésdo

títuloedoresumo.Foramselecionadosaquelesquetratavamdepequenosgruposdedesenvolvimentopsíquico,

noreferencialdaPsicologiaAnalítica.Foramexcluídosaquelesquetratavamdapsicologiadegrandesgrupose

massas,assimcomodegruposnosentidodeclassesdepessoas.Nãofoilevadoemcontaanodepublicação.

Posteriormentetambémforamrealizadasbuscasnãoestruturadas,porartigosespecíficosencontradosnas

referênciasdaqueleslevantadosanteriormenteenaliteraturadaárea.

NabaseScielo (scielo.org)osseguintestermosforampesquisados:GrupoANDPsicologiaAnalítica;

GrupoANDJung;IndividuaçãoANDGrupo;SombraANDGrupo;PersonaANDGrupoPsicologiaArquetípica

ANDGrupoeHillmanANDGrupo.

OsseguintestermosforampesquisadosnabaseScopus,restritosaoscamposresumo,títuloepalavras-

chave:Analytical Psychology AND Group; Jung AND Group; Anima OR Animus AND Group; Hillman and Group;

Archetypical Psychology AND Group; Shadow AND Group; Persona AND Group e Individuation AND Group.No

campo“autores”foipesquisadoLouisZinkin,reconhecidoporsuaproduçãosobregrupos.

Nasbasesdaspublicaçõesdepsicologiaanalítica–JungJournal,JournalofAnalyticalPsychologyeo

InternationalJournalofJungStudies–otermopesquisadofoiGroup.

Essesresultadossomam50artigos,mas42nototal,seretiradasasrepetiçõesderesultados.Entreos

artigoslevantadosverificou-sequemetadedaprodução–21artigos–pertenceàsdécadasde1980e1990.

Asdécadasde1950,1960e1970somam11artigos,eosanos2000até2018totalizam10artigos.

Destes,17artigosforampublicadosemrevistasespecializadasempsicologiaanalítica,20empublicações

especializadasempsicoterapiasdegrupo,e5empublicaçõesdetemasdiversos.Asduaspublicaçõescomo

maiornúmerodeartigossobregruposepsicologiaanalíticasãooJournalofAnalyticalPsychology,daSocietyof

AnalyticalPsychology,totalizando12,eaGroupAnalysis,daGroupAnalyticSociety,comototalde10.Ambas

publicaçõessãoprodutosdesociedadessediadasemLondres.Oprincipalautordocampojunguianoquetrata

arespeitodepsicoterapiadegrupos,LouisZinkin,eramembrodeambasetinhacomosupervisorementor

oanalistajunguianoMichaelFordham,fundadordaescoladesenvolvimentista,oquesugereumainfluência

destaescolanarevisãodopapeldogruponodesenvolvimentopsíquicodosujeitoe,consequentemente,a

possibilidadedeumamodalidadegrupaldepsicoterapianocampodapsicologiaanalítica.

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Discussão

Individuação e grupos

Apartirdosartigoslevantados,foipossívelpercebertrêsimportantespontosarespeitodaspsicoterapias

degruponumaperspectivajunguiana.Oprimeiroéumaposiçãopositivadosautoresarespeitodapossibilidade

deindividuaçãonointeriordessesgruposeosegundooreconhecimentodealgunsdosprincipaisautoresda

presençadetendênciasregressivasnosmesmos,porentenderqueseuaspectomaternaleacolhedorpoderia

infantilizarsimoindivíduo,mastambémdesempenharumimportantepapelnastransformaçõesindividuaisque

ocorremnointeriordosgrupos.Oterceiropontoéqueaindanãoexisteummétodojunguianosistematizado

deanálisedegrupos,massimalgumaspossibilidadesinteressantes.

Começandopelaprimeiraconstatação:apossibilidadededesenvolvimentopsicológiconointeriorde

pequenosgrupos.PrimeiramenteveremoscomoJungtrataessapossibilidadeeemseguidaacontraposição

feitaporautoresposteriores.A individuaçãoéumdos conceitos centraisna teoria analíticaepode ser

compreendidacomoarealizaçãodapersonalidadetotaloriginária–oself.“Apesardeserumideale,portanto,

inalcançável,ametafinaldaindividuaçãoseriaaatualizaçãodoselfcomoumtodo.Destaformaoself seria,

portanto,oresultadodoprocesso,masaomesmotempo–comoumagenteorganizadorinconsciente–éo

impulsoorientadordaindividuação,reciprocamenteregulandoosvárioscomponentesdapersonalidade”20.

Jung21defendequeaindividuaçãoimpulsionaohomemparaoincomum,paraoemancipar-sedasmassas,

dosgruposedeseuscaminhos.Nestetexto,decorrentedeumaconferênciade1932,apalavragrupodeve

sercompreendidacomosinônimodemassa.ParaJung,somenteassim,separando-sedocomum,ohomem

possuiriaumapersonalidadeverdadeira,poisobedeceriaàsuapróprialeiedelanãopoderiaesquivar-se.

Emoutraspalavras,umprocessodeadaptaçãoaomundointerno.“Agrandezadaspersonalidadeshistóricas

jamaisconsistiuemsubmeterem-seincondicionalmenteàsconvenções,masaocontrário,emselibertaremese

livraremdasconvenções.Aspersonalidadessedestacaramdamassacomopicosdemontanhaseescolheramseu

própriocaminho,enquantoamassaseapegavaatudooqueécoletivo:temores,convicções,leisemétodos”21.

Emoutrotexto,datadode1916,Jungdizqueaindividuaçãoeacoletividadesãoumpardeopostos,

doisdestinosdivergentes,poisaexigênciadogruposocialperanteo indivíduoéqueele trilhecaminhos

autorizadosevalidadospelacoletividade,atravésdaimitaçãoedaidentificação.Aindividuaçãoretirariaa

pessoadacoletividade.Noentanto,issonãodeveriasercompreendidodemaneiraliteral,esimemtermos

deseparaçãopsíquica5.

Esses textosexplicitamavisãode Jung sobreosefeitosnegativosdogrupo socialnoprocessode

individuação–quecomoéconcebidocomoumprocessodeadaptaçãoaomundointerno,paraeleindividuação

ecoletividadeseriamcaminhosirreconciliáveis.Porémissodeveserpensadonocontextodegrupocomo

sinônimodemassa,maséprecisoconsiderarquenemtodogrupooperadestamaneira.

Inegavelmenteosgruposestãonabasedaconstituiçãopsíquicadohumano.Hobson22, Fiumara20 e

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Zinkin23defendemqueoprocessodedesenvolvimentopsíquicodepende,emqualqueridade,decomplexos

padrõesderelacionamentosgrupais.HobsonestranhaqueocampodaPsicologiaAnalíticatenhaevitado

aplicarseusprincípiosaocontextogrupal,jáquearelaçãoentreindivíduoegruposocialéinerenteànoção

deinconsciente.Seriaapartirdosocial–oudoinconsciente–queoindivíduoemergeatravésdoprocesso

dediferenciaçãoeindividuação.“Sociedadeéarealidadeprimáriaaqualéanterioraoindivíduoe,assim

comoaconsciênciasedesenvolveapartirdoinconsciente,oindivíduosedesenvolveapartirdasociedade”10.

ParacorrigiressalacunaentreosprincípiosdaPsicologiaAnalíticaeodesenvolvimentodapersonalidade

tambémapartirdosocial,Samuels24afirmaqueéprecisocorrelacionaroprocessodeindividuaçãoaosgrupos

eavidaemsociedade,poisnãoexistequalquercontrassensoteóriconestarelação.A individuaçãoéum

processoaomesmointrapsíquicoeinterpsíquico,marcadoporumamelhoranacapacidadederelacionar-secom

componentesnãoegóicos.Assimsendo,praZinkin23aindividualidadesópodeexistirseexistirprimeiramente

nacultura,poisasociedadenãosóameaçaoindivíduomastambémocultivaeécultivadoporele,sendoo

convíviohumanoeodiálogocondiçõesprimáriasparaaindividuação,porpossibilitaradiferenciaçãoentre

egoenão-ego,alémdesíntesesentreoselementos.ComobemapontaWhitmont7,antesdesermoscapazes

dedialogarcomasfigurasdomundointernoéprecisodialogarcomasfigurasdomundoexterno.

Freitas3 e Fiumara20 ressaltamtambéma importânciadavivênciadospapéissociaisnaconstituição

psíquicadoindivíduo.Àmedidaemqueasrelaçõesinterpessoaisvãoseestabelecendo,oindivíduopode

ir sediferenciandopelospredicadosque lhes sãoatribuídos.Ospapéis sociaispodem lhegarantiruma

definição,umstatus,quelhepermitiriamover-selivrementenasociedadeatravésdeseuspapéisetambém

desuaspersonas,poisseantespersonaeradefinidacomoumsegmentodapsiquecoletiva,queemprestava

aosujeitoumaaparênciadeindividualidade,enquantoeraapenasumcompromissoentreeleasociedade,e

quenecessariamentedeveriaserremovidaparaqueoselfserevelasse,hojesabe-sedopotencialcriativoda

persona,cujaprincipalfunçãoéadepôrohumanoemrelacionamentosemnecessariamentedestituí-lode

suaindividualidade.Edestaformaasupostaoposiçãoentreindivíduoecoletividadeérelativizada3.

Alémdisso,pareceserpossívelafirmarquegruposfazempartedodesenvolvimentopsíquicodetodo

serhumano.Aadaptaçãopsicológicaaomundoexternoe,portanto,aosvalorescoletivos,édefundamental

importâncianesseprocesso.AtémesmoJungnãodesconsideraaimportânciadasociedadenesseprocesso:

“Oindivíduoéobrigado,porexigênciadacoletividade,acomprarsuaindividualidadeatravésdeumaobra

equivalenteemfavordasociedade”5.

EmprestodeBoydoparágrafoaseguircomoresumodestaprimeiraparte:“[...]existesuportetanto

teóricoquantoempíricoparaaafirmaçãoqueaparticipaçãoempequenosgrupostemopotencialdefacilitar

osprocessosdeindividuação,apesardadifundidarelutânciaentremuitospsicólogosdeabordagemanalítica

emaceitarestatese.Suasobjeçõesparecempresumirqueopequenogrupointerativopermanececomouma

massaindiferenciadaqueinduzumaperigosaregressãoeconformismoentreseusmembros.Existepouca

dúvidadeque,casonãosejaconduzidopropriamente,opequenogrupopossaemanifesteessascaracterísticas

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indesejáveis,maisatribuídasamultidãoouaopopulacho.Contudo,comotemosvisto,quandoconduzidopor

lídereshabilidosos,opequenogrupointerativopodeetrabalhaatravésdessasinfluênciaspotencialmente

destrutivas.Oresultadoéumcontextosocialqueelevaopotencialparaquetransformaçõesocorramentre

seusmembros.Dadoopotencialdopequenogrupointerativoparacontribuircomtransformaçõesnaturais

noscompetecompreendermelhorasdinâmicassubjacentesdessesgruposeaformacomoessasdinâmicas

podemtantofacilitarquantoimpediroprocessodedesenvolvimentoentreseusmembros”11.

O aspecto feminino, regressivo e transformador dos grupos: da Grande Mãe ao mito do Herói

Asegundaconstatação feitaapartirdo levantamentodosartigoséo reconhecimentoporgrande

partedosautoressobreoaspectofemininodospequenosgruposterapêuticos.Whitmont7,Boyd11, Fiumara20

eZinkin23,25,26salientamqueoaspectomaternalefemininodosgruposserelacionadiretamentecomsua

capacidadedeinstaurarumaexperiênciadeproteçãoecontençãonumacomunidade.Ogruposocialserve

primeiramentecomoumamatrizparaodesenvolvimentodoindivíduo,quetendeaficarinconscientecaso

permaneçanumestadodeidentificação.Emseuaspectopositivo,aidentificaçãoprovêumsensodesegurança

eproteção,eemseuaspectonegativo,acabaporameaçaraindividualidadeeaconsciênciadeseusmembros.

Sercontidoemumgrupoépsiquicamenteanálogoàcontençãodoegopeloinconsciente.Talsetting

acolhedorpodeinduziroindivíduoaumaregressãoparaummodomaisinfantilizadodecomportamento,

masissosóseriaumproblemacasohouvesseumafixaçãonessefuncionamento,levandoàestagnaçãodeseu

processodeindividuação–assimcomopoderiasertambémproblemáticocasosedessenumapsicoterapia

individual.

Jung27 afirmaquea regressãoda libido,assimcomoaprogressão, sãoetapasdodesenvolvimento

psicológico,quepassamaimpressãodoindivíduoestaremumestadoinfantil,ouatémesmoembrionário,

noseiomaterno.Écomumquearegressãoocorraemmomentosdedificuldadeadaptativa,enelaécomose

alibidoescoassedaconsciênciaefossedirigidaaoinconsciente,comafinalidadedeativarnelenovosmodos

deser,ouentãoaquelesconteúdosqueficaramcindidosousubdesenvolvidosnoinconsciente.Destaforma,

umanovaadaptaçãopodeocorrercomoauxíliodessesnovosconteúdose,frequentemente,apsicoterapia

ébuscada–sejaindividualougrupal–emmomentosdedificuldadeadaptativa.

ParaZinkin,oaspecto femininodogruposeriamanifestadopor contenção, suporteenutrição–o

continente.Enele,conteúdoecontinentesetransformariamreciprocamente,deformaanálogaàrelaçãoentre

conscienteeinconsciente.Nasmitologias,esseaspectocontenedoretransformadordogrupoérepresentado

porumcontinentemágico,umvasooucálicemiraculoso,queoperatransformações23,25,26.

Omaior (grupo/ inconsciente) contémomenor (indivíduo/ego),e, comoEdinger28 coloca, o ego

podedissolver-seno inconscienteetersua individualidadeameaçada,mastambémpodebanhar-secom

finsderenovação,emmútuatransformação.“Pensavamosalquimistasqueumasubstâncianãopoderiaser

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transformadasemantestersidoreduzidaàprima materia”28.Essareduçãodasubstânciaàprima materia

equivaleria,emtermospsicológicos,aumadissoluçãoparcialdaconsciênciaeumaregressãoaumestado

maisinconsciente,indiferenciado,comocondiçãonecessáriaparatransformaçãodapersonalidade.Emoutras

palavras:osaspectosregressivospossibilitariamodesaparecimentodeummododeserdoegoparaqueuma

formaregeneradapossasurgir.Quandoofenômenodadissoluçãoparcialdoegoatravésdaregressãoocorre

numgrupo,istosignificariaqueoself estásendoexperimentadocomoumaprojeção,eele–projetadoou

não–seriaoagentedestadissolução.Talfenômenoprovoca“acoletivizaçãodoindivíduo,cujascaracterísticas

ímparessãodissolvidasporumaidentificaçãocomonovopontodevista”28.Porém,adissolução,emseu

aspectosuperior,seriaapossibilidadedareduçãodoegocomoumprelúdioaoposteriorsurgimentodeuma

personalidade mais ampla, vinculada ao self.

Então,desdequeosmembrosnãosefixemnosaspectosregressivosdogrupo,estadissoluçãodeaspectos

egóicosnãovinculadosaoself seriaumadascondições fundamentaisparaaocorrênciada individuação.

Hobson10eBoyd11ressaltamqueessesaspectosregressivosdogruposãoeventualmentenecessáriosparaa

retomadadedesenvolvimentodapersonalidade.Essapossibilidadedequeepisódiosregressivosfaçamparte

dodesenvolvimentopsicológiconormaldoindivíduoatééreconhecidanomeiojunguiano,aomesmotempo

queafixaçãonessacondição(fixaçãonamãe)sejaaltamentetemida29.

Jungcolocaclaramentequearegressãonãosetratadeumadegradaçãopsicológica,esimumafaseda

evolução,equesósepoderiafalareminvoluçãocasohouvesseumaestagnaçãoemtalestado27.

Osmembrosdeumgrupoterapêuticopodemaprenderaseprotegercontraapossibilidadedeterem

suasindividualidadesdissolvidaspelaidentificaçãoregressiva,poisnosettingterapêuticocadaparticipante

temaoportunidadede seafirmarede ser confirmadopelosoutros integrantese,destemodo,ogrupo

favoreceodesenvolvimentodaalteridadeprotegendoseusmembrosdadissoluçãodaconsciênciaecriando

umaimunidadeaocontágiopsíquicodasmassas3,7.

Pelostrabalhosqueforamlevantados,parecequeapsicoterapiadegrupopodefavoreceroprocessode

individuaçãodeseusmembrosdesdequenãohajaumafixaçãoemmodosmaisinfantilizadosouregredidosde

funcionamento.Mas,aregressãoemsinãopodeserconsideradaoproblema,poisfazpartedodesenvolvimento

normaldoindivíduo.Alémdisso,éumfenômenoqueaparecetambémnapsicoterapiaindividual.Veremos

aseguirosmétodosdeanálisedegrupospropostospelosartigosselecionados,queporseuspressupostos

teóricosmaisseaproximariamdeumaanálisejunguianadegrupos.

Psicoterapia de grupos junguiana

Aanálisejunguiana,sejanotrabalhoindividualougrupal,adotaumaperspectivasimbólicae,segundo

Samuels24, a teoria do self,comocontinenteereguladordetodasaspartesdistintasdapersonalidade,éaplicável

tambémàpsicologiadosgrupos.Porém,háumconsensoentremuitosautoresdosartigoslevantadossobre

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afaltadeummétodosistematizadoparaumapsicoterapiadegrupojunguiana10,30.

Ospsicólogosdaáreatentamdescreverasdinâmicasdosgruposterapêuticosemtermosdemodelos

consideradosarquetípicosesimbólicos31.Essaideiadequeimagensarquetípicasesímbolostememergido

espontaneamenteesidoobservadosemgruposéreferenciadapordiversosautores.Estesestudiososafirmam

quetemasarquetípicossemanifestamatravésdosconteúdosproduzidospelosmembros,assimcomoem

seuspadrõesderelacionamento,equeosurgimentodeimagensarquetípicasobserváveisnosgruposfornece

materialparaanálise,assimcomosinalizamasfasesdetransformaçãopelasquaistantoogrupoquantoseus

membrospassam,jáqueessasimagensarquetípicasilustramtambémarelaçãoentreconscienteeinconscien-

te7,10,11,20,22,23,26,32,33,34,35.

Aautonomiaeamanifestaçãodasimagensarquetípicasnosgrupospareceserumagrandepreocupação

deJung:“Quandosetratadomovimentodamassaenãomaisdoindivíduo,cessamosregulamentoshumanos

eosarquétipospassamaatuar”36.Aúnicasaídaparaumaeventualcatástrofeseriase“amaioriadosindivíduos

conseguiramortecerosefeitosdosarquétipos”36atravésdaconsciência.Taltemordevesercompreendidoem

relaçãoaumgrupomassificado.AomesmotempoemquetemeesselevantearquetípicoJung1reconheceo

valordessesconteúdos,comoumapromessaderenascimento.Whitmont7mantémomesmoentendimento

eafirmaqueosconteúdosarquetípicosconsteladosnogrupopoderiamcertamentecausarproblemasquando

desrespeitados,mas,comoquaisqueroutrosarquétipos,poderiamserconstrutivosquandoconfrontados

adequadamentepelosmembrosdessegrupo.Paraoautorcertasdimensõesdoarquétiposópoderiamser

experimentadasemgrupo–eporissocertasreligiõessugeririampráticasgrupais.

Outropontoquemuitosautoresconcordamnosartigos levantadoséqueexistempelomenostrês

níveisprincipaisousistemas interacionaisenvolvidosnosprocessosgrupais.Cadasistemaatuacomoum

subsistemadooutro,eoprimeirodelesseriaointrapsíquico–ouindividual.Osegundotratadospapéise

dasinteraçõesentreseusmembros,sendointerpsíquicooutransacional.Oterceirodelesseriaogrupocomo

umtodo,quecompreendeaideiaatémesmodeumselfgrupal.Byington38 ampliou o conceito de self para

abrangerqualquerdimensãodetotalidadealémdapersonalidadeindividual.Oself grupal seria um sistema

queemfunçãodarepresentaçãoedainteraçãopsicodinâmicadeseuscomponentesseriacapazdeestruturar

aidentidadedoegoedooutro,tantonaconsciênciaquantonoinconsciente.Boyd11,aodiscorrersobrea

estruturadosgrupos,concordaqueelaécompostaporessesmesmossistemas,eapesardemanterosentido

osnomeiadeformaanáloga:pessoal,socialecultural.Eleformulaummétodosistemáticoparaaanálise

dodesenvolvimentodaconsciênciaempequenosgrupos.Suametodologiaéfocadanosistemaculturalde

pequenosgruposeaênfaserecainodesenvolvimentodogrupocomoumtodo.Zinkin23,25,26,39, assim como

Boyd11,tendeaenfatizarogrupocomoumtodo,aindaquereconheçaquesejaumaabstraçãocontroversa,

eressaltaaimportânciadaconstruçãodeumsettingquefavoreçaatransformaçãodogrupo,porumhábil

condutor,paraobemdoindivíduo.Hobsonconcebeetrabalhacomogrupotantocomounidadequanto

comomultiplicidade:“[...]umgrupopodeserdescritoecompreendidodeduasformasdistintas,tantoem

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termosdemecanismospsicológicosdecadaumdeseusmembrosquantoemtermosdepadrõesdinâmicos

observadosnogrupocomoumtodo”22.

Outraquestão relevanteque surgenosartigoséopapeldodiálogoedas interaçõeshumanasno

desenvolvimentodapersonalidade.SegundoZinkin23,39 e Fiumara20,odiálogoseriaoelementochavenãosó

naanálisegrupal,comoestarianocentrodocrescimentohumanodesdeainfânciaatéamorte.Odiálogo

contribuinoprocessodeindividuaçãoeatuacomoaquiloquesepara(distingue)ecomoaquiloquereúne.

Aseparaçãopsíquicanãosedáporisolamentosocialesimpeloconhecimentodooutro, e o diálogo com

omundoexternoétãoimportanteparaaindividuaçãoquantoodiálogocomomundointerno.Abaseda

análisedegrupoéacomunicaçãolivreentreosmembrosnumarederelacionalquepossibiliteacontenção

maternalpelogrupoparaqueastransformaçõespossamocorrer7.ParaHobson22,nosgrupospsicoterapêuticos,

odesenvolvimentoocorrepelamodificaçãodasatitudesconscientesatravésdaassimilaçãodoselementos,

atéentãoinconscientes,alcançadospelaexperiênciaepelorelacionamentocommaispessoas.Outraforma

detrabalhopsicoterapêuticogrupal,numaperspectivajunguiana,queaparecenapesquisasãoosgrupos

vivenciais.Freitas3argumentaqueelesfavorecemavivênciadosconteúdosaoinvésdaanálisedosmesmos,

etrabalhamtambémnostrêssistemassupracitados.

Conclusão

Ocampodapsicologiaanalíticanegligênciaoestudodapsicologiadosgruposeconsequentemente

suaaplicaçãoatravésdapsicoterapiagrupal.Elaéreconhecidacomoummétododialético,entreterapeutae

paciente.Cronologicamente,nosescritosdeJung,percebemosamanutençãodeseuposicionamentocontrário

asinfluênciasgrupaisatéquaseofimdesuavida–1955–eumavisãoconsistentedequequalquergrupo

depessoasseconfigurariacomoumacoletividade.Osgrandesargumentosresponsáveisporessalacunasão

otemoremrelaçãoaosaspectosregressivosgrupais,comorebaixamentodaconsciênciaeosperigosdo

aumentodasugestionabilidadeedainfluência/possessãocoletivaporcomplexosautônomosouarquétipos.

Alémdisso,navisãoclássica,aparticipaçãoemgrupospareceservistacomoalgoquecaminharianacontramão

doprocessode individuação,poispressupõe-sequeo indivíduopriorizaria seguiras leiseasnormasda

coletividadeenãoasdesipróprio.Noentanto,algunsanalistasperceberamainfluênciafundamentalepositiva

dasociedadenodesenvolvimentopsíquicohumanoedesenvolveramtrabalhoscomgrupos terapêuticos,

assentadosnopressupostodequeasociedadeéacondiçãoprimáriaparaodesenvolvimentodoindivíduo23.

Essaspesquisastambémrelativizamotemorarespeitodosaspectosregressivosgrupais,que,apesardeocorrer

emeventualmentenosgruposterapêuticosporcontadeseucarátermaterno,nãonecessariamenteseriam

algoqueoperariacontraodesenvolvimentopsíquico,esimafavordelequandobemmanejado,atéporque

seriaumadascondiçõesnecessáriasaoprocessodeindividuação.Aregressãosóseriaumproblemacaso

houvesseumafixaçãonesteestágiodedesenvolvimento(fixaçãonaGrandeMãe).Acontençãodoindivíduo

numgrupopodeforneceramatrizparaaretomadadodesenvolvimentodaconsciênciaeparaaafirmação

daindividualidadeatravésdosrelacionamentoshumanos.Cabemmaispesquisassobreseodesenvolvimento

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daconsciênciaeoprocessodeindividuaçãosãopossíveisemgrupo,comoissosedaria,assimcomoopapel

daregressãonessesprocessos.Algunsautorestêmtrabalhadoparaesclarecerestasquestõesediminuira

lacunateóricasobreestetemanapsicologiaanalíticaeconsequentementeampliarosmétodosetécnicas

paraapráticadeumapsicoterapiadegrupojunguiana.

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ana luisa testa, carlos augusto serbena

IISSN 2318-0404

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25. ZinkinL.Agnosticviewofthetherapygroup.GroupAnalys.1989;22:201–217.

26. ZinkinL.Thegroupascontainerandcontained.GroupAnalys.1989;22:227-234.

27. JungCG.Aenergiapsíquica.10ed.Petrópolis:Vozes;2008.

28. EdingerE.AnatomiadaPsique.6ed.SãoPaulo:Cultrix;2010.

29. Culbert-KoehnJ.Don´tgetstuckinthemother:regressioninanalysis.J.anal.psychol.1997;42:99–104.

30. ZinkinL.MalignantMirroring.GroupAnalys.1983;16:113-126.

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32. LandersJJ,MacphailDS,SimpsonRC.GrouptherapyinH.M.Prison,WormwoodScrubs;theapplicationofanalyticalpsychology.TheJofMentSci.1954;100:953-960.

33. ChampernowneHI,LewisE.Psychodynamicsoftherapyinaresidentialgroup.J.anal.psychol.1966;11:163–180.

34. BoydRD.TheDevelopmentalStagesoftheAnimaandAnimusinSmallGroupsI.GroupAnalys.1989;22:135-147.

35. FiumaraR.TherapeuticGroupAnalysisandAnalyticalPsychology.J.anal.psychol.1976;21:1-24.

36. JungCG.Aspectosdodramacontemporâneo.5ed.Petrópolis:Vozes;2012.

37. ZinkinL.Thegroup´ssearchforwholeness:aJungianperspective.Group.1989;3&4:252–264.

38. ByingtonCA.Adolescênciaeinteraçãodoselfindividual,familiar,culturalecósmico:introduçãoàpsicologiasimbólicadadinâmicafamiliar.Junguiana.1989;6:47-118.

39. Zinkin L, ZinkinH.Adialogicalmodel forgroupanalysis: JungandBakhtin.GroupAnalysis.1996;29:343–354.

Contribuições:AnaLuisaTesta–Análiseestatística,ColetadeDados,Investigação,Metodologia,Redação–

Preparaçãodooriginal,Redação–RevisãoeEdição;

CarlosAugustoSerbena–Supervisão.

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PsicoteraPia de gruPos e Psicologia analítica

ISSN 2318-0404I

Correspondência

Ana Luisa Testa

e-mail:[email protected]/e-mailalternativo:[email protected]

Carlos Augusto Serbena

e-mail:[email protected]

Submetidoem:17/10/2018

Aceitoem:11/03/2019

ANEXO

Atabelaabaixoapresentaosresultadosrelevantes,porordemdeanodepublicação:

Autor(es) Título Ano PublicaçãoJ.J. Landers., D.S. MacPhall, &R.C.

Simpson

GrouptherapyinH.M.Prison,WormwoodScrubs;theapplicationof

analyticalpsychology1954 TheJournalofMentalScience

Hans Illing

C.G.Jungonthepresenttrendsingrouppsychotherapy

1957 HumanRelations

AtheoryofthegroupaccordingtoC.G.Jung

1958PsychotherapyandPsychosomatics

Robert Hobson Aapproachtogroupanalysis 1959 JournalofAnalyticalPsychologyEdward Whitmont

GroupTherapyandAnalyticalPsychology 1964 JournalofAnalyticalPsychology

Robert HobsonGroupdynamicsandAnalytical

Psychology1964 JournalofAnalyticalPsychology

M. JacksonTheimportanceofdepressionemerging

inatherapeuticgroup1964 JournalofAnalyticalPsychology

Eve LewisPsychodynamicsoftherapyina

residentialgroup1966 JournalofAnalyticalPsychology

William WillefordGroupPsychotherapyandSymbol

Formation1967

JournalofAnalyticalPsychology

Romano FiumaraTherapeuticGroupAnalysisand

AnalyticalPsychology1976 JournalofAnalyticalPsychology

James S. WitzigJung’sTypologyandClassificationofthe

Psychotherapies1978

TheJournalforSpecialistsinGroupWork

Louis ZinkinMalignant Mirroring 1983 GroupAnalysis

Threemodelsarebetterthanone 1984 GroupAnalysis

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76 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 59-77, 2019

ana luisa testa, carlos augusto serbena

IISSN 2318-0404

Autor(es) Título Ano Publicação

Gary GemmillTheDynamicoftheGroupShadowin

IntergroupRelations1986 SmallGroupResearch

Robert D. Boyd

TheDevelopmentalStagesoftheAnimaandAnimusinSmallGroupsI

1989 GroupAnalysis

FacilitatingPersonalTransformationsinSmallGroups.PartI

1989 SmallGroupBehavior

Boyd, R.D., Kondrat, M.E., Rannells, J.S.

TheDevelopmentalStagesoftheAnimaandAnimusinSmallGroupsII

1989 GroupAnalysis

Romano FiumaraThePsychologyoftheIndividuation

ProcessandGroupAnalysis:TheRôleof‘Pronominalism’

1989 GroupAnalysis

Louis Zinkin

Thegroup´ssearchforwholeness 1989 GroupTheGrailandtheGroup 1989 JournalofAnalyticalPsychology

Agnosticviewofthetherapygroup 1989 GroupAnalysisThegroupascontainerandcontained 1989 GroupAnalysis

Robert Boyd

AnApproachtoFacilitatingPersonalTransformationsinSmallGroups 1990 SmallGroupResearch

Gary Gemmill &

, Lynn ZochSchaible

ThePsychodynamicsofFemale/MaleRoleDifferentiationwithinSmallGroups

1991 SmallGroupBehavior

Louis ZinkinBorderlineDistortionsofMirroringinthe

group1992 GroupAnalysis

Bryon Day & William Matthes

Acomparisonofjungian,person-centered,andgestaltapproachesto

personalgrowthgroups1992

JournalforSpecialistsinGroupWork

Jaak Le RoyTransitionalSpaceandIndividuationProcesses:TwoInterculturalGroup-

analyticWorkshops1995 GroupAnalysis

Mark F. EttinThespiritofJungianPsychotherapy:From

tabootototem1995

InternationalJournalofGroupPsychotherapy

Ann B. Shuttleworth-Jordan

Aprocessresearchapproachtothedevelopmentofmethodingroupdream

work1995 Group

Bryon Day & William Matthes

AJungianstagetheoryofindividualdevelopmentinpersonalgrowthgroups

1995JournalforSpecialistsinGroup

WorkLouis

Zinkin&HiddleZinkinAdialogicalmodelforgroupanalysis:

JungandBakhtin1996 GroupAnalysis

Mary AddenbrookeThecreativepotentialofplayandregressioninanalyticaltraining:a

personalreflection1997 JournalofAnalyticalPsychology

Laura Villares de Freitas

Gruposvivenciaissobumaperspectivajunguiana

2005 PsicologiaUSP

Dale Mathers, Fiona Palmer Barnes &

Amélie Noack

‘Heldinmind’or‘Hellinmind’:grouptherapyinPoland

2006 JournalofAnalyticalPsychology

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REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 59-77, 2019 77

PsicoteraPia de gruPos e Psicologia analítica

ISSN 2318-0404I

Autor(es) Título Ano PublicaçãoJean Kirsch & Suzy

SpradlinGroupprocessinJungiananalytictraining

andinstitutelife2006 JournalofAnalyticalPsychology

Andrew HedeTheshadowgroup:Towardsan

explanationofinterpersonalconflictinworkgroups

2007JournalofManagerial

Psychology

Roger BrookeUbuntuandtheIndividuationProcess:

TowardaMulticulturalAnalyticalPsychology

2008 PsychologicalPerspectives

Sharon HeathAJungianAliceinSocialMediaLand:

SomeReflectionsonSolastalgia,KinshipLibido,andTribesFormedonFacebook

2012 Jung Journal

Thom F. CavalliTheLostCause:AJungianCritiqueofThe

Master2013 Jung Journal

Christian MaierBionandC.G.Jung.Howdidthe

container-containedmodelfinditsthinker?Thefateofacryptomnesia

2016 JournalofAnalyticalPsychology

Alexandra L. Fidyk

Unconscioustiesthatbind–attendingtocomplexesintheclassroom:part1

2016InternationalJournalofJungian

StudiesUnconscioustiesthatbind–attendingto

complexesintheclassroom:part22016

InternationalJournalofJungianStudies

Atabelaabaixoapresentacapítulossobreotemaencontradosnaliteratura,excluindo-seartigosjácitados

natabelaanterior:

Autor(es) Capítulos AnoRobert D. Boyd & John M.

DirkxMethodologyforthestudyofthedevelopmentofcon-

sciousnessinthesmallgroup1991

John M. DirkxUnderstandinggrouptransformationthroughthefocal

person concept1991

Robert D. Boyd and J. Gordon Myers

Griefwork:asocialdynamicingrouptransitions 1991

Jean R. Saul Aconceptualizationofindividuationinlearningsituations 1991Robert Boyd & Mary Ellen

KondratTheanimaandanimusinthetransactionsofsmallgroups 1991

Robert D. BoydMary:acasestudyofpersonaltransformationinasmall

group1991

Facilitatingpersonaltransformationsinsmallgroups 1991

Louis ZinkinIsJungiangroupanalysispossible? 1998

Thedialogicalprinciple:Jung,FoulkesandBakhtin 1998