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1883. Neste ano, surge em Porto Alegre, cidade habitada por quarenta mil habitantes, uma livraria chamada Livraria do Globo. A livraria era de propriedade de Laudelino Barcellos, seu grande idealizador, e de Saturnino Pinheiro. Assim, dessa parceria nasce, na Rua dos Andradas (ou como os gaúchos costumam denominar, na Rua da Praia) n. 168, a Livraria do Globo – L.P Barcellos e Cia. Com o passar dos anos, a Livraria expandiu seus negócios e tornou-se também editora. Dentre suas publicações, os textos voltados para o universo infatil foram os que mais nos chamaram atenção. Com base nisso, esse pequeno trabalho apresenta uma breve reflexão da literatura produzida pela editora Globo no final do século XIX.
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Débora Mainardo de Souza
PUBLICAÇÕES GLOBO
E
A LITERATURA INFANTIL NO RIO GRANDE DO SUL
P U B L I CA R
R S
Copyright © 2010 by Débora Mainardo de Souza
Capa: Débora Mainardo de Souza
Foto da capa disponível online
PUBLICAR RS
Av. Borges de Medeiros, 1171 CEP: 99999-999
Tel: (11) 99999999
Farroupilha, RS
Brasil
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida – em
qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. – nem apropriada ou
estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da editora.
Impressão:
PUBLICAR RS
CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte – Câmara Brasileira do Livro, SP
_____________________________________________________________________________________________________________
SOUZA, Débora Mainardo de,
Publicações Globo e A literatura infantil no Rio Grande do Sul/Débora Mainardo de Souza.
Porto Alegre: PUBLICAR RS, 2010. 11 p.
ISBN 99-999-9999-9
1. Publicações Globo - 2. Literatura infantil no RS
99-9999 CDD – 999.99999999
__________________________________________________________________________________________________________________
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SUMÁRIO
A LITERATURA INFANTIL NA EDITORA E NA LIVRARIA DO GLOBO ................................................ 7
1 O surgimento de uma Editora ................................................................................................ 7
2 As coletâneas da Editora Globo ............................................................................................. 8
3 As coletâneas infantis da Editora Globo ................................................................................ 9
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 12
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A história cultural de nosso país com certeza seria outra se Laudelino
Pinheiro Barcellos, na Porto Alegre provinciana de 1883, não houvesse
decidido abrir as portas de uma certa Livraria e Editora do Globo. A
avalanche de títulos inovadores, traduções de autores clássicos,
lançamentos de Best-sellers em todas as áreas do conhecimento, além do
incentivo ao trabalho de autores regionais e nacionais do porte de Erico
Verissimo e Mario Quintana, tornaram a Globo da Rua da Praia um dos
pontos de referência da vida intelectual de nosso país.
(BERTASO, 1993, contracapa)
7
A LITERATURA INFANTIL NA EDITORA E NA LIVRARIA DO GLOBO
1883. Neste ano, surge em Porto Alegre, cidade habitada por quarenta mil
habitantes, uma livraria chamada Livraria do Globo. A livraria era de propriedade
de Laudelino Barcellos, seu grande idealizador, e de Saturnino Pinheiro. Assim,
dessa parceria nasce, na Rua dos Andradas (ou como os gaúchos costumam
denominar, na Rua da Praia) n. 168, a Livraria do Globo – L.P Barcellos e Cia.
Em 1898, a Livraria trabalhava também com serviços de tipografia. A
publicação de livros por encomenda foi sua primeira atividade no ramo. No início
do século XX, já com o auxílio de máquinas específicas, começou a produzir
serviços de litografia, além de editar poesias, crônicas e livros escolares.
Nesse processo evolutivo da Livraria, eis que surge o nome de José Bertaso
– que inicialmente fora contratado como servente e que após doze anos de
empresa tornou-se chefe da loja e administrador da oficina – sócio de 10% das
ações da Livraria.
Com o falecimento de Laudelino Barcellos no ano de 1917, José Otávio se
tornou, além de sócio, diretor da empresa.
A Revista do Globo circulou no período de 05/01/1929 a 17/02/1967,
totalizando 941 fascículos. A Revista visava divulgar fatos ocorridos no Rio Grande
do Sul, na literatura, na arte, na política, no esporte, na culinária, na moda, entre
outros, sem deixar de atender a todos os públicos, inclusive infantil, pois contava
com a publicação de textos voltados para as crianças em sessões específicas da
Revista, como a seção Guri.
1 O surgimento de uma Editora
Com o crescimento e consecutivamente com a expansão das relações
capitalistas, o desenvolvimento do parque gráfico brasileiro se desenvolveu. Nesse
período iniciou a atividade editorial da Revista do Globo, mais especificamente a
partir de 1930, quando o público cresceu e se diversificou. Nesse contexto social,
político e econômico do país surgiu a Editora Globo. O responsável pela
implantação da editora foi Henrique Bertaso que pediu auxílio a seu pai, José
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Bertaso, para implantar uma seção editora na Livraria. Influenciado por Mansueto
Bernardi – que acreditava no potencial da editora para traduzir obras por sua
conta e assim proporcionar ao público brasileiro obras de autores europeus – e
com o apoio de Erico Verissimo, José Otávio concordou, embora não demonstrasse
grande entusiasmo com a novidade.
A editora teve como diretores Mansueto Bernardi e Erico Verissimo. Este
último trabalhou durante muitos anos na editora desenvolvendo múltiplas
atividades, tais como tradutor, consel
Bertaso, embora não largasse definitivamente sua atividade na Livraria. Ambos
trabalharam por um mesmo desejo: o sucesso da Editora Globo, sempre com os
olhos voltados para a literatura, ou melhor, com o desejo de transmitir a seus
leitores obras de qualidade com custo acessível.
O corpo redacional era composto pelo mais diversos profissionais:
jornalistas, escritores, intelectuais, ilustradores e artistas plásticos. Alguns desses
profissionais, como Sotero Cosme – na ilustração – e Justino Martins – como
repórter.
A Editora publicava obras de autores gaúchos e de autores de outras regiões
do país, tais como Cyro Martins, Manoelito de Ornellas, Reynaldo Moura , Moysés
Vellinho e Oswald de Andrade.
2 As coletâneas da Editora Globo
Por volta de 1932 a Editora passou a publicar Coletâneas, investimento que
traria saldos positivos para o negócio. Dentre essas publicações é possível citar a
Amarela. Essa coleção visava a tradução de obras policiais de autores estrangeiros,
tais como Agatha Christie. Tão logo a Coleção foi lançada, outra surgiu quase que
simultaneamente: a coleção Nobel, composta de tradução de novos autores
franceses e de muitos autores americanos, atitude diferenciada das demais
editoras do país que ainda se limitavam a publicar apenas traduções de obras de
origem francesa. Embora tivesse o nome de Nobel, a coletânea não publicava
apenas obras premiadas, pois algumas das publicações tenham sido premiadas
após o lançamento da tradução no Brasil, como, por exemplo, a obra de Steinbeck.
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Após essas duas Coletâneas surgiu a coleção Biblioteca, que visava publicar
clássicos estrangeiros para a língua portuguesa.
As coleções Globo apareceram logo em seguida com livros em tamanho de
bolso, o que auxiliaria também no baixo custo dos livros. As coleções Globo eram
divididas em Tucano – composta por obras de Mario Quintana e Athos Damasceno
Ferreira -, Cataventos - composta por obras de Erico Verissimo -, Província –
composta por obras de Moysés Vellinho e Vargas Neto – Tapete Mágico, Autores
Brasileiros – composta por obras de Ivan Pedro Martins, Darci Azambuja, Cyro
Maritins, Reynaldo Moura e Dyonelio Machado.
3 As coletâneas infantis da Editora Globo
Além dessas coleções, havia as coleções voltadas para o público infantil. A
editora publicou livros como Nanquinote, Aventura e Burrinho Azul, que
encantavam crianças, e porque não dizer adultos também.
A linha editorial se relacionava com a Revista, pois ambas se preocupavam
em atender as necessidades de leitura do público infantil, já que a editora traduzia
e adaptava obras de autores estrangeiros para a língua portuguesa. Em
consonância com a editora, a Revista do Globo dedicava uma seção com narrativas
infanto-juvenis.
No ano de 1930, mais especificamente no mês de julho, o primeiro conto
voltado para o público infantil fora publicado sob o título de A princesa e o rei
Barbabranca. Além de contos, a Revista publicava lendas, histórias em quadrinho,
fábulas, anedotas, poemas, entre outros gêneros, para assim conquistar o público
leitor infantil. Um fato curioso ocorreu na seção voltada para esse público: a
Revista não publicou no período de 22 anos nenhuma publicação voltada para esse
público. No mês de dezembro de 1959, Os sapatos vermelhos, conto de autoria de
Hans Christian Andersen, surge publicado nas páginas do periódico. O conto trazia
como tema o Natal e foi o último texto publicado na Revista. Observa-se que no na
anterior a Editora havia lançado uma bela edição, com ricas ilustrações, de Contos
de Andersen – tradução de autoria de Pepita de Leão.
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As seções destinadas ao pequeno leitor foram intituladas Guri (1931-1932),
Página das crianças (1932), Para as crianças (1932), Para os pequenos (1932), O
mundo das crianças (1933) e uma seção não nomeada, que surgiu no ano de 1935.
Dentre os diretores da Revista que mais publicou textos para o público
infantil, Erico Verissimo foi o diretor que mais se preocupou com esse público. Há
registro de 29 ocorrências de textos voltados para o pequeno leitor.
Com base no levantamento das coletâneas publicadas pela Editora Globo e
nas seções dedicadas ao público leitor infantil na Revista do Globo, é possível
observar que ambas tinham como foco, também, esse público, tão delicado e
especial, já que as coletâneas eram sempre muito bem ilustradas por grandes
ilustradores, assim como os textos publicados nas seções destinadas
exclusivamente às crianças.
O fato de Erico Verissimo ter sido um dos maiores “apoiadores” desse tipo
de publicação não impressiona, já que Erico demonstrava interesse por atrair esse
tipo de público com algumas de suas publicações, feitas especialmente para o
público mirim.
Embora fosse interessante mostrar ao público como eram, pelo menos, as
capas das coletâneas infantis, a busca realizada pelo material não obteve sucesso,
pois nada se foi encontrado em mídias virtuais, diferentemente da seção destinada
ao público infantil nas páginas da Revista do Globo, já que toda a Revista encontra-
se digitalizada e disponível aos pesquisadores na Biblioteca Central Irmão José
Otão, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O material também
pode ser encontrado no DELFOS – Espaço de Documentação e Memória Cultural,
na referida Universidade.
Atualmente, encontrar seções de jornais e/ou revistas que dediquem algum
espaço da sua publicação para o público infantil é algo raro. Observa-se que há
publicação de histórias em quadrinhos, que geralmente são voltadas para o público
adulto, trazendo sempre sátiras de políticos, piadas etc.
As editoras brasileiras se preocupam com esse público ao passo que
publicam obras muito bem ilustradas, atrativas aos olhos das crianças, embora o
conteúdo esteja, na maioria das vezes, muito resumido ou até mesmo muito mal
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escrito, chegando até mesmo a reduzir as histórias – principalmente os contos de
fadas – praticamente à metade.
O processo constante de mudança na sociedade reflete também nos tipos de
publicações voltadas ao público mirim. A velocidade na qual as pessoas vivem nos
dias de hoje contribui também o para que a publicação de obras infantis tenham
menos conteúdo e muito mais apelo audiovisual, já que a imagem “diz tudo” sobre
determinado produto.
A Editora e a Revista do Globo contribuíram significativamente para a
inserção do público mirim no mundo das letras. As crianças daquele período se
divertiram e aprendiam a desenvolver o gosto pela leitura por meio das páginas
publicadas pelas empresas Globo.
Um dos maiores marcos no processo editorial do Rio Grande do Sul e do
Brasil, a Globo ficou na memória do seu povo como publicações de qualidade e de
fácil acesso, tanto lingüístico como financeiro, ao seu público leitor, seja o público
feminino, masculino ou infantil. Embora as publicações da Editora e da Revista
tenham chego ao fim, como diria Henrique Bertaso “Não há de ser nada. Vamos
tocar para a frente!” e assim novas editoras, novas revistas, novos públicos e novas
obras surgem dia após dia no mundo das Letras deste país...
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REFERÊNCIAS
BERTASO, José Otávio. A Globo da Rua da Praia. São Paulo: Globo, 1993. FRAGA, Fabiane de Souza. A interface literária da Revista do Globo/Editora Globo. 2004. 187 f. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, Porto Alegre, 2004. Jornal Correio do Povo, Porto Alegre, 29 abr. 1972. Caderno de Sábado. Henrique Bertaso e a Editora Globo. RODRIGUES, Sandra Tessler. A literatura infantil na Revista do Globo : a que leitor
se destina? [documento impresso e eletrônico]. Porto Alegre, 2007. 164 f.
VERÍSSIMO, Érico. Um certo Henrique Bertaso: um pequeno retrato em que o
pintor também aparece. Porto Alegre: Globo, 1973.