Quadrinhos em salade aula

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Os possíveis uso das Histórias em quadrinhos em sala de aula.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOISCURSO DE LETRASPORTUGUS/INGLS

Viviane Leandra dos Santos

Histria em Quadrinhos:uma opo para o aprendizado em sala de aula

Anpolis2013VIVIANE LEANDRA DOS SANTOS

Histria em Quadrinhos:uma opo para o aprendizado em sala de aula

Artigo apresentado Universidades Estadual de Gois, como parte avaliativa da nota do 3 bimestre, para o curso de Letras, sob orientao de Silvair Flix, com coautoria de Ludmilla Modesto Alves.

Anpolis2013RESUMO

A histria em quadrinho foi vista por muito tempo como subliteratura, e com narrativas pobres, mas atualmente est sendo revisada e finalmente reconhecida com seu devido valor, professores esto buscando caminhos para a utilizao da histria em quadrinhos durante os primeiros contatos do aluno com a literatura.O intuito desse trabalho evidenciar as diversas formas de se usar as HQs, no contexto escolar. Entretanto, busco ressaltar que no seja usada apenas por fazerem parte dos Parmetros Curriculares Nacionais , mas sim pelo seu real valor literrio e riqueza artstica.

Palavras- chave: Linguagem; histria em quadrinhos; lngua portuguesa; aprendizado.

Introduo

Este texto tem como objetivo demonstrar a importncia e a influncia da Histria em Quadrinho no contexto escolar e como o acesso fcil e linguagem dinmica tornou esse gnero da literatura um tipo marginalizado. Hoje os prprios Parmetros Curriculares Nacionais inseriram em seus cadernos temas com HQs e gibis apontando o uso desse tipo de leitura no ensino e na compreenso de texto. O argumento usado durante muitos anos para defender a ideia de que os quadrinhos no so fontes vlidas de leitura, foi que o consumo de histrias em quadrinhos comprometeria o intelecto, sobretudo das crianas.

Em maio de 1949, Les Temps Modernes publicou um artigo traduzido de uma revista americana: Psicologia das Histrias em Quadrinhos, de G. Legman. O artigo comeava pelo trecho: A gerao americana posterior a 1930 no sabe ler. Ela no aprendeu, no vai aprender, nem sente nenhuma necessidade disso. Saber decodificar os cartazes publicitrios tudo que o nosso nvel cultural exige dela. H mais de uma dcada, o rdio, o cinema, as revistas ilustradas e as histrias em quadrinhos tm atendido a todas as suas necessidades culturais e recreativas, razo pela qual a lngua impressa est em vias de desaparecimento. (LEGMAN, 1949 apud QUELLA-GUYOT, 1994.p. 19).

No documentrio (With Great Power: The Stan Lee Story.), sobre um dos mais famosos escritores de histria em quadrinhos, o americano Stan Lee, este vdeo mostra o psiquiatra Frederic Werthan fazendo uma declarao (que serviu de base para a censura das histrias em quadrinhos). Werthan declara aos vinte minutos e trinta do vdeo que "os quadrinhos so um fator contribuinte e importante em muitos casos de delinquncia juvenil." Essa ideia foi difundida pelas mdias de massa como saber absoluto, e espalhada pelo mundo implicando em consequncias negativas e por muito tempo podou-se o uso e o aproveitamento desse tipo de gnero.Em Quadrinhos na educao de Vergueiro e Ramos(2009), citado a pesquisadora Valria Bari(2008), ela diz que ao contrrio do que se tem dito, adultos que tem as histrias em quadrinhos como rotina de leitura, ainda hoje cultivam este hbito. O que a autora pretende demonstrar que crianas que leem histrias em quadrinhos podem ser letradas mais facilmente que outras que no possuem esse tipo de leitura.Ainda neste mesmo livro, Vergueiro e Ramos (2009) afirma que tem colocado em pauta o uso das histrias em quadrinhos em contexto escolar, tanto em leituras como em prticas em sala de aula. Tanto nos PCNs como no Programa Nacional Biblioteca da Escola, indica-se o uso das HQs como forma de aproximao entre alunos e professores, por ser um gnero de fcil acesso e leitura, mas de forma alguma simplista. No caso do ensino fundamental, existe referncia especfica charge e a leitura crtica que esse gnero demanda (2008:38, 54) (VERGUEIRO ;RAMOS, 2009, p. 10). At pouco tempo os gneros eram desconhecidos da maioria dos professores. A proposta dos PCNs a insero de outros tipos de gneros em sala de aula, possibilitando uma ampla abordagem de temas e tipos diferenciados de artes. As histrias em quadrinhos podem contribuir para um aprendizado crtico e reflexivo, tanto pela forma que so dispostas quanto pelas abordagens e temticas."A forma da histria um veculo para transmitir informao numa maneira de fcil absoro. Ela pode relatar ideias bastante abstratas, cincia ou conceitos desconhecidos pelo uso anlogo de formas ou fenmenos conhecidos (EISNER, 20013, p. 25). O que acontece que normalmente as atividades propostas em sala de aula, em geral, no so trabalhadas de forma crtica reflexiva, o que de certa forma no faz com que se obtenha o sentido proposto em determinadas HQs.Quella-Guyot(1990) em seu livro A histria em quadrinhos expe que apesar de inserir histria em quadrinhos nas escolas, estas no so feitas de maneira correta, perdendo a qualidade da narrativa, afirmando que professores muitas vezes s usam as HQs por estarem na moda e "dar uma imagem de pedagogo avanado". Ainda nesse texto ele diz que preciso estudar quadrinhos pela arte que representa, e que o fato de estuda-los em sala de aula no o faz perder seu atrativo.

Histria em Quadrinhos

De acordo com Antonio Vicente Pietro Forte (2009) a suposta inveno dos quadrinhos atribuda a diferentes autores. Na Europa imputado a Rudolf Tpffer (1799-1846) em Histrias e Imagens, nos Estados unidos se deve a Richard Outcast (1863-1928) e seu Yellow Kid (publicado no jornal World). Enquanto o primeiro personagem de HQs sabe-se foi o Doutor Sintax por William Hogard (1697-1764), e no Brasil teve os quadrinhos feitos por ngelo Agostini (1843-1910), em 1876. Hoje ainda presente em jornais, mas tambm como histrias independentes, se tornaram gibis, quadrinhos, mangs, graphic novels. Segundo Will Eisner em seu livro Quadrinhos e Arte sequencial (2010) As primeiras revistas em quadrinhos (por volta de 1934) eram compilaes aleatrias de obras curtas. Hoje o surgimento das graphic novels ps em foco os parmetros da sua estrutura. Quando pegamos uma obra em arte sequencial percebemos como so dispostos os quadros, as imagens e ao analisarmos percebemos que ele assume caractersticas de linguagem, e com essa linguagem que tantos jovens se identificam, a forma coloquial, os gestos que podem ser interpretados com vrias significaes entre outros fatores, fazem essas aproximaes entre obra e leitores."Histria em quadrinhos definida em polmicas semiticas a respeito de seus processos de significao e em polmicas sociossemiticas a respeito de seu valor enquanto tipo de discurso" (Pietroforte e G, 2009, p.10). Alm de sua linguagem exclusiva, agrega vrios outros tipos de linguagem como, desenho, pintura, fotografia, literatura, entre outros. A mistura de imagens e palavras outro fator que contribui para que o leitor se sinta confortvel em relao a sua "leitura". Os diversos elementos expostos nas HQs contribuem como facilitador e intermediador entre obra e leitores. Em Quadrinho e Arte Sequencial de Will Eisner, o autor descreve metodologicamente o processo de criao de quadrinhos do que ele tambm chama arte sequencial.Por mais de um sculo os autores de tiras e histrias em quadrinhos vm se desenvolvendo em seu trabalho de interao entre imagens e palavras. Durante o processo, creio eu, conseguiram uma hibridao bem-sucedida de ilustrao e prosa. (EISNER,2010. p. 2)

Para que o leitor interprete a linguagem das histrias em quadrinhos, preciso que ele use no somente seus conhecimentos textuais de leitura, mas tambm ser compelido a interpretar suas figuras, pois em varias sequncias de quadros no haver palavras ou bales, apenas figuras. EISNER (2010), completa dizendo que a leitura da histria em quadrinhos um ato de percepo esttica e de esforo intelectual.

O uso das HQs em contexto escolar

Existem obras que auxiliam no ensino tanto da lngua portuguesa, como tambm estimulam a interpretao e a criatividade por meio de elementos que s so possveis nas Narrativas Grficas como o caso das metforas visuais e outras figuras de linguagem.Podemos citar duas obras com detalhes nem sempre bvios e que exigem certo grau de conhecimento, histrico, lingustico, geogrfico e cultural.A primeira a graphic novel MAUS (ratos em alemo), narrada pelo prprio autor, Art Sipielgman, que conta a histria de seu pai, Vladek Spiegelman, um dos sobreviventes dos campos de concentrao nazista durante a segunda guerra. O livro reconhecidamente um clssico contemporneo das histrias em quadrinhos e dentre os vrios prmios recebidos, est um Pulitzer.Desde a sua publicao em 1973, a obra vem servindo de objeto de anlise por especialistas de diversas reas, literatura, histria, artes e psicologia. Uma das caractersticas mais marcantes da narrativa grfica foi o uso de bestirios como metfora para representar cada nao presente na segunda guerra. Os judeus so desenhados como ratos e os nazistas ganham feies de gatos; enquanto os poloneses no judeus so porcos e os americanos cachorros.

Figura 1: Trecho do romance grfico MAUS, de Art Spielgman, que relata a historia de seu pai, um judeu polons sobrevivente do Holocausto.

A segunda obra pode-se citar Perspolis, um romance biogrfico deMarjane Satrapi, autora iraniana que descreve como era viver no Ir durante as dcadas de 70at o final dos anos 90. O livro toca nas condies que levam revoluo iraniana e tambm os acontecimentos aps os xiitas chegarem ao poder e imporem suas leis. Com as mulheres, sendo as maiores vitimas da represso.

Figura 2: Trecho do romance grfico Perspolis, autobiografia da iraniana Marjane Satrapi

Os dois exemplos citados acima demonstram, como podemos trabalhar as HQs de diferentes perspectivas e que no possvel analisa-las sem um mnimo de conhecimento e dependendo de sua complexidade preciso domnio de todo contexto narrativo e visual. Outra questo que se deve escolher em quais etapas escolares certos tipos de quadrinhos sero expostos em determinada aula, existem quadrinhos que podem ser trabalhados com crianas no apenas por no conter temas adultos como sexo e violncia, mas tambm por serem temas de compreenso adequada s informaes pertinentes ao universo infantil.Pode-se citar Snoopy de CharlesSchulz (figura 3) e a turma da Mnica de Maurcio de Sousa (figura 4).

Figura 3: tirinha de Snoopy Figura 4: Tirinha turma da Mnica As histrias em quadrinhos biogrficas, foram criadas com o intuito educacional e depois alguns autores comearam a utiliza-las como autobiografia, pelo seu potencial de alcance."Um exemplo de histria com essas caractersticas a obra Ao corao da tempestade, do norte-americano Will Eisner (1917-2005), publicada em 1991."(VERGUEIRO; RAMOS, 2009.p. 45). So as experincias de sua infncia e juventude.Uma histria em quadrinhos biogrfica pode ser caracterizada como uma obra de fico histrica e, nesse sentido, possui mais elementos do perodo em que foi produzida do que sobre a poca retratada. Entretanto, as referncias apresentadas podem ser uma forma de despertar nos alunos o interesse por fatos, perodos e personalidades histricas. (VERGUEIRO E RAMOS, 2009, p.64).

Ainda no mesmo livro, Vergueiro e Ramos, citam o uso das historias em quadrinhos nas aulas de arte, pois mesmo uma HQ biogrfica, contem elementos de movimentos vigentes na poca da sua publicao. Normalmente esse tipo de narrativa possui caractersticas pertinentes quela poca, usados em sala, com alunos, para uma discusso sobre a arte predominante em determinado quadrinho.Para que isso ocorra de forma efetiva preciso que o professor tenha os conhecimentos especficos do que ser apresentado e qual melhor quadrinho poder ser exposto em sala, pois dentro de um mesmo quadrinho encontram-se vrios elementos que podem ser trabalhados em conjunto com outras disciplinas. Pode-se usar o contexto histrico para as aulas de histria, os espaos geogrficos para aulas de geografia, para aulas de portugus pode-se avaliar e refletir sobre a lingustica, fazer anlises e interpretaes das imagens e textos explicitados na obra. "A histria em quadrinhos no so fceis nem miraculosas. A arte da narrativa no se torna da noite para o dia uma arte didtica." (QUELLA-GUYOT, 1990. P. 43).No somente nos quadrinhos, mas tambm na literatura o uso de histrias de aventura pode ser uma boa alternativa para chamar a ateno dos alunos, pois despertam emoo, e curiosidade no desenrolar da trama, na literatura, usamos a imaginao para elaborarmos as "nossas" caractersticas dos personagens descritos, quando se trata de histrias em quadrinhos, os personagens j esto explcitos e podemos acompanhar sua trajetria. Assim como nos quadrinhos os personagens j esto dispostos e preciso orientar os alunos no aprendizado, pois segundo Vergueiro e Ramos a "HQ pode possuir detalhes que podem passar despercebidos como a sutileza ou ambiguidade de um dilogo, a presena de esteretipos e de discursos ideolgicos etc.""Aventura o oposto de monotonia, sinnimo de imprevisibilidade, de desafio. Exatamente o que gostaramos que o processo de ensino/aprendizado fosse para a maioria dos nossos estudantes." (VERGUEIRO;RAMOS, 2009, p. 74).Esse pode ser um meio para incentivar, os alunos a se interessarem pelos contedos , claro que no depende apenas dos professores trazer para sala de aula esse tipo de leitura, preciso haver interao entre professor e aluno.Apesar se ser um rico material para ensino em sala de aula, necessrio que dentro dela se use com a devida orientao do professor.

Consideraes finais

O desafio dos professores pela interatividade em sala de aula, pode reduzir, se ao invs de manter as mesmas aulas, que a maioria de ns vivemos no contexto escolar, os "novos" professores podem escolher caminhos menos tediosos. Um desse caminhos pode ser o uso das histrias em quadrinhos, por conter em uma mesma narrativa, tantos elementos a ser analisados, mas para isso, necessrio uma boa formao de professores,estar atento qual tipo de gnero ele mais se identifica e possibilita uma maior dinmica em ambientes escolares. preciso ter em mente , que o esforo por parte dos professores sero inevitveis, e buscar a melhor metodologia e estar sempre atento as novidades sabendo selecionar quais as melhores HQs a serem trabalhadas em sala.

Referncias:

QUELLA-GUYOT, Didier.A histria em quadrinhos.So Paulo: Unimarco, 1990. 151 p. Traduo de:Maria Stela Gonalves; Adail Ubirajara Sobral.

VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo.Quadrinhos na educao:da rejeio pratica. So Paulo: Contexto, 2009. 224 p.

EISNER, Will.Quadrinhos e arte sequencial:princpios e prticas do lendrio cartunista. 4. ed. So Paulo: Wmf Martins Fontes, 2010. 176 p. Traduo de:Luis Carlos Borges e Alexandre Boide

PIETROFORTE, Antnio Vicente; G, Luiz.Anlise textual da histria em quadrinhos:Uma abordagem semitica da obra de Luiz G. So Paulo: Fapesp, 2009. 152 p.

PATO, Paulo Roberto Gomes.Histria em quadrinhos:uma abordagem baktiniana. 2007. 151 f. Tese (Doutorado) - Curso de Educao, Universidade de Braslia, Braslia, 2007.

EISNER, Will. Narrativas Grficas. 3. ed. So Pulo: Devir, 2013.

BERGAMINI, Claudia Vanessa.Concepes de linguagem e ensino de Lngua portuguesa:uma abordagem em sala de aula. 19 f. Dissertao (Mestrado) , Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2301.

O USO DAS HISTRIAS EM QUADRINHOS NO CONTEXTO ESCOLAR: CONTRIBUIES PARA O ENSINO/APRENDIZADO CRTICO-REFLEXIVO.[s.l.]: Publicado em Revista Linguasagem. Por:mayara Barbosa Tavares.3