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Lingüística, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 111-145, junho de 2005 Questıes de concordância: Uma abordagem integrada para processamento, aquisiçªo e o DØficit Específico da Linguagem 1 Letícia Maria Sicuro CorrŒa* Resumo Concordância, entendida como processo sintÆtico regido pelo Princípio de Interpretabilidade Plena, Ø apresentada sob a perspec- tiva de uma teoria integrada do conhecimento e do processamento lingüístico. A hipótese de ser esse processo um instrumental para a aquisiçªo da língua materna Ø ilustrada com resultados de pesqui- sa sobre aquisiçªo de gŒnero e nœmero no PB. A autonomia do processador sintÆtico Ø discutida à luz desse conceito, consideran- do-se a natureza prØ ou pós-sintÆtica de erros de concordância na fala fluente e em manifestaçıes do DØficit Específico da Linguagem (DEL). Implicaçıes do conceito de concordância para a questªo da especificidade lingüística sªo consideradas. Palavras-chave Concordância. Minimalismo. Bootstrapping. Processamento sintÆtico. DØficit Específico da Linguagem. Introduçªo A língua se materializa na fala 2 , produzida e compreen- dida por aqueles que compartilham conhecimento acerca do modo como as unidades do lØxico se combinam em relaçıes hierÆrquicas e se apresentam de forma seqüenciada em enun- ciados reconhecidos como pertencentes à mesma. O enten- dimento da língua, em sua dimensªo cognitiva, requer um modelo desse conhecimento, do modo como este Ø adquiri- * PhD. (Psicolingüística), University of London, 1986. Professor Associado, PUC-Rio. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Processamento e Aquisi- çªo da Linguagem (GPAL, CNPq), LAPAL (Laboratório de Psicolingüís- tica e Aquisiçªo da Linguagem, PUC-Rio). E-mail: [email protected].

Questıes de concordância · 2020. 11. 24. · Lingüística, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 111-145, junho de 2005 LET˝CIA CORR˚A Ł 115 No contexto do PM, concordância , entendida

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    Questões de concordância:Uma abordagem integrada para processamento,aquisição e o Déficit Específico da Linguagem1

    Letícia Maria Sicuro Corrêa*

    Resumo Concordância, entendida como processo sintático regidopelo Princípio de Interpretabilidade Plena, é apresentada sob a perspec-tiva de uma teoria integrada do conhecimento e do processamentolingüístico. A hipótese de ser esse processo um instrumental para aaquisição da língua materna é ilustrada com resultados de pesqui-sa sobre aquisição de gênero e número no PB. A autonomia doprocessador sintático é discutida à luz desse conceito, consideran-do-se a natureza pré ou pós-sintática de erros de concordância nafala fluente e em manifestações do Déficit Específico da Linguagem(DEL). Implicações do conceito de concordância para a questão daespecificidade lingüística são consideradas.

    Palavras-chave Concordância. Minimalismo. Bootstrapping.Processamento sintático. Déficit Específico da Linguagem.

    Introdução

    A língua se materializa na fala2, produzida e compreen-dida por aqueles que compartilham conhecimento acerca domodo como as unidades do léxico se combinam em relaçõeshierárquicas e se apresentam de forma seqüenciada em enun-ciados reconhecidos como pertencentes à mesma. O enten-dimento da língua, em sua dimensão cognitiva, requer ummodelo desse conhecimento, do modo como este é adquiri-

    * PhD. (Psicolingüística), University of London, 1986. Professor Associado,PUC-Rio. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Processamento e Aquisi-ção da Linguagem (GPAL, CNPq), LAPAL (Laboratório de Psicolingüís-tica e Aquisição da Linguagem, PUC-Rio). E-mail: [email protected].

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    do e do modo como é posto em uso na produção e na com-preensão de enunciados verbais. Logo, um entendimento dofenômeno cognitivo da língua requer uma abordagem queintegre teoria lingüística e teoria psicolingüística. Esse tipode integração é buscado na linha de pesquisa que orienta opresente trabalho.

    Um tratamento teórico integrado para questões perti-nentes a conhecimento, processamento e aquisição da lín-gua não é de fácil implementação. Na tradição da Lingüísticagerativista (explicitamente voltada para a caracterização dalíngua como um sistema cognitivo específico), partia-se dopressuposto de que um modelo do conhecimento lingüísticopode ser concebido independentemente de consideraçõesacerca das propriedades do aparato necessário para suamaterialização na fala. Assim sendo, o tratamento teórico doproblema lógico3 que a aquisição de uma língua apresenta,crucial na caracterização de um modelo cognitivo de língua,vem sendo conduzido no âmbito da teoria lingüística, semque se leve em conta o modo como o material lingüístico quese apresenta à criança seria por ela processado o que, porsi só, restringe o conjunto de hipóteses acerca da gramáticada língua passíveis de serem por ela formuladas a partir dosdados lingüísticos a que tem acesso, como sugerem, por exem-plo, os resultados de pesquisa em aquisição da linguagem soba perspectiva do bootstrapping4 prosódico e fonológico (cf.MORGAN, DEMUTH, 1996; JUSCZYK, 1997; CHRISTOPHE, 2002). Noâmbito da psicolingüística, por outro lado, o entendimentodo processamento lingüístico se vê limitado ante a ausênciade um diálogo produtivo com a teoria lingüística, no sentidode dar origem a um modelo capaz de explicitar formalmen-te o modo como o conhecimento lingüístico é posto em uso.Modelos do processamento lingüístico, mesmo que assumamalgum tipo de gramática formalmente caracterizada, não

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    deixam suficientemente explícito o modo como as ações doparser (aparato responsável pela análise sintática de enuncia-dos, na compreensão da linguagem) e do formulador lingüís-tico (aparato responsável pela formulação de enunciadosgramaticalmente estruturados, na produção da fala) seriam,por aquela, informadas (cf. BOCK, LEVELT, 1994; VIGGLIOCCO,NICOL, 1998; FERREIRA, 1999, para produção; TOWNSEND, BEVER,2002, para ampla revisão de modelos de parsing).

    Esse quadro começa a ser revertido a partir do Progra-ma Minimalista (PM) (CHOMSKY, 1995) conjunto dediretrizes para a concepção de um modelo ou teoria de lín-gua que, de um ponto de vista metodológico, propõe a redu-ção ao mínimo do número de construtos teóricos a serempostulados na caracterização do modelo e, de um ponto devista ontológico, busca fornecer explicações para o modo deoperação do sistema cognitivo da língua em termos elemen-tares, fundamentadas no fato de o desempenho lingüísticorecrutar diferentes sistemas (cognitivos ou não) em interaçãocom a língua, e no pressuposto de ser a língua um sistema debase biológica (cf. CHOMSKY, 2001; HAUSER, CHOMSKY, FITCH,2002; CHOMSKY, 2005).

    O fato de a língua ser posta em uso na fala implica queo resultado de uma derivação lingüística se apresente comoinformação de interface entre o sistema cognitivo da línguae os chamados sistemas de desempenho. Tem-se assim, comoresultado de uma derivação gramatical, um expressãolingüística, caracterizada como um par (PF, LF), constituídode informação fonética correspondente à seqüência de ele-mentos do léxico sintaticamente relacionados (Forma foné-tica ou PF5 ) e de informação semântica relativa ao significa-do lexical e às relações semânticas que se encontram expres-sas nos elementos linearizados em PF (Forma lógica ou LF).A convergência de uma derivação gramatical para PF-LF é

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    explicada em função do Princípio da Interpretabilidade Plena,PIP, (Full Interpretation), o qual garante a possibilidade deexpressões lingüísticas serem faladas, percebidas, analisadase interpretadas semanticamente. Trata-se, pois, de uma ex-plicação fundamentada em um princípio (principledexplanation), de acordo com a proposta do PM. A atuaçãodesse princípio faz com que a forma assumida pelas gramáti-cas das línguas humanas expresse restrições impostas pelossistemas que atuam no processamento lingüístico. O pressu-posto de uma base biológica para a língua, por sua vez, con-duz a explicações fundamentadas na evolução de sistemasbiológicos (CHOMSKY, 2001; 2005). Sob ambos os pontos devista, a construção do modelo de língua, a partir das diretrizesdo PM, seria orientada por um princípio geral de Economia6 .

    A busca de explicações fundamentadas no fato de a lín-gua ser posta em uso na fala aproxima a pesquisa lingüísticade teorias do processamento lingüístico. Constata-se, de fato,uma grande convergência entre a concepção de derivaçãolingüística numa perspectiva minimalista e modelos psicolin-güísticos de produção e de compreensão de enunciados, le-vando mesmo à idéia de que a geração de expressõeslingüísticas pode ser entendida como modelo de processos(mentais/neurológicos) implementados em tempo real (cf.PHILLIPS, 1996; 2003)7 . Explorar as relações entre processadorlingüístico e gramática, tal como esta é concebida numa pers-pectiva minimalista, torna-se, pois, um empreendimento pro-missor no estudo da língua como fenômeno cognitivo. É in-vestindo na possibilidade de uma abordagem que integreteorias de língua e de processamento lingüístico que o tra-balho que aqui se apresenta toma a concepção minimalistade concordância como ponto de referência, no tratamento dequestões pertinentes à aquisição da língua materna, aprocessamento sintático e a manifestações do chamado Défi-cit Específico da Linguagem8 (DEL).

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    No contexto do PM, concordância, entendida como pro-cesso sintático, assume relevância inusitada na teorizaçãolingüística. Mais do que um fato gramatical evidenciado namorfologia flexional de algumas línguas, a ser descrito porum conjunto específico de regras, como nas primeiras for-mulações de gramáticas gerativas (cf. CHOMSKY, 1951 apudCHOMSKY; LASNIK, 1993), e mais do que um expediente formalpara dar conta de uma série de questões pertinentes à varia-bilidade das línguas o núcleo funcional / traço ou conjun-to de traços do léxico (AGR), no contexto do chamado mo-delo de Regência e Ligação (POLLOCK, 1989; RIZZI, 1990) ,concordância, tomada em sentido lato como pareamento de tra-ços e em sentido mais específico como processo de eliminação detraços não-interpretáveis para LF, passa a explicitar, em termosformais, o modo como relações sintáticas se estabelecem nacomputação. O fato de esta operação atender ao PIP e de seuresultado poder ser visível (em morfemas flexionais e ordem)em PF, fazem da mesma o meio de viabilizar a interação en-tre o sistema da língua e os sistemas de desempenho.

    Este artigo parte de uma caracterização de concordânciano contexto do minimalismo, tal como percebida de umponto de vista psicolingüístico. Em seguida, focaliza concor-dância no que concerne à aquisição da língua materna, aoprocessamento sintático e a manifestações do DEL. Apresen-ta-se a hipótese de concordância ser instrumental à aquisiçãoda língua, com que vimos orientando o estudo da aquisiçãodo PB, e uma síntese de resultados com ela compatíveis. Di-ante de possível interferência semântica ou contextual noparsing, sugerida por erros de concordância, apresentam-seduas hipóteses sobre a natureza desses erros, com que vimostrabalhando no estudo do processamento lingüístico poradultos, as quais preservam a autonomia do processadorsintático. No que concerne ao DEL, consideram-se possíveiscausas para dificuldades refletidas na expressão morfo-

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    fonológica da concordância, situando-as no processo de aqui-sição da língua e na implementação do processamentolingüístico. Discute-se, por fim, em que residiria a especifici-dade da língua no domínio da cognição humana, dada a cen-tralidade de concordância no tratamento cognitivo da língua.

    . Língua e concordância no minimalismo

    Na concepção do PM, a língua (interna) é constituídade um sistema computacional universal e de um léxico, con-junto de elementos compostos de traços fonológicos, semân-ticos e formais, com parâmetros fixados, que dispõe de todaa informação necessária para que o sistema computacionalconstrua objetos lingüísticos recursivamente no curso de umaderivação lingüística. O estado inicial da aquisição da língua(concebido em termos de uma Gramática Universal, GU),corresponderia ao sistema computacional universal e a umconjunto universal de traços passíveis de constituir o léxicode língua humanas (fonológicos, semânticos e formais, coma especificação dos parâmetros a serem fixados e o conjuntodos valores passíveis de serem por estes assumidos)9 . Ummodelo de língua (gramática) caracteriza as operações dosistema computacional, o modo como parâmetros do léxicose encontram fixados e o modo como derivações lingüísticassão conduzidas, uma vez que o sistema computacionallingüístico seja chamado a atuar sobre um conjunto de ele-mentos pré-selecionados do léxico (que constituem o que éformalmente caracterizado como Numeração subconjuntode elementos do léxico indexados em função do número devezes que deverão ser selecionados no curso da derivação emquestão). A gramática de uma língua é, pois, uma entidadevirtual, cuja materialização depende da pré-seleção dos ele-mentos do léxico que deverão compor uma particular expres-

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    são lingüística. Em consonância com um princípio geral deEconomia10 , nenhum elemento é adicionado durante a deriva-ção. Assim sendo, uma vez que a operação do sistema compu-tacional da língua atende ao PIP, os elementos devem serselecionados do léxico de modo tal que o resultado da deriva-ção (o par PF-LF) corresponda a algo passível de ser falado epercebido como enunciado lingüístico por um falante /ouvinte ideal. À teoria lingüística, entendida como teoriaformal, não interessa o que determina essa pré-seleção. Deum ponto de vista psicolingüístico, contudo, é fundamentalcaracterizar o ponto de partida do processamento lingüístico,seja na fala ou na compreensão de enunciados verbais. Des-se ponto de vista, a pré-seleção de elementos do léxico advémde uma intenção de fala e da concepção de uma mensagempor parte de um falante real. A incorporação desses elemen-tos na Numeração, ou seja, o fato de tais elementos serem sele-cionados do Léxico Mental11 por parte do falante na formula-ção de uma mensagem, permitirá ao ouvinte reconhecer,num continuum de sons (segmentado em unidades prosó-dicas), uma seqüência de elementos do léxico que contéminformação suficiente para a condução do parsing (análisesintática)12 e interpretação semântica do enunciado em ques-tão, a qual deve ser integrada com informação (conhecimen-to de mundo) mantida em outros sistemas de conhecimen-to. O resultado desse processo permite que se estabeleçamrelações de referência com entidades e eventos de um uni-verso de discurso compartilhado pelo falante e pelo ouvinte.

    O sistema computacional opera cegamente, no que dizrespeito à identidade fonológica e semântica dos elementoslexicais. A computação lingüística é, então, conduzida sobretraços formais do léxico por meio de um conjunto mínimode operações, originalmente concebidas como Select, queseleciona os elementos da Numeração a serem combinados,

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    Merge, que constrói objetos sintáticos a partir da combinaçãorecursiva de pares de elementos selecionados, e Move, quemove elementos do léxico no decorrer da derivação de modoque as relações hierárquicas estabelecidas entre elementosdo léxico encontrem correspondência com a ordem com queestes se apresentam em PF (CHOMSKY, 1995).

    Dado o PIP, traços formais13 podem ser categorizados emdois tipos: traços lexicais de natureza semântica que se tornampassíveis de leitura pelo sistema computacional (os traços ca-tegorias14 , os traços ö, traço WH e outros que venham a parti-cipar de relações de concordância no modelo) e traços queservem especificamente à sintaxe e se fazem visíveis em PF(como Caso e EPP15 ). Para que a leitura de informação semân-tica por parte do sistema computacional se faça possível, tra-ços formais (do primeiro tipo) são subdivididos em interpretáveise não-interpretáveis. Os primeiros são mantidos na interface LF.Os segundos servem apenas à sintaxe e, de acordo com PIP,devem ser eliminados antes do término da derivação sintáticaem sentido estrito (Narrow Syntax), ou seja, antes de Spell-out,quando a informação sintática é passada às interfaces PF, porum lado, e LF, por outro. A eliminação dos traços não-interpretáveis é concebida originalmente em termos dechecagem (ou verificação) de traços de mesmo tipo ou dimensão16

    (ou seja, número interpretável com número não-interpretável, gêne-ro interpretável com gênero-não interpretável, por exemplo)(CHOMSKY, 1995). Posteriormente, esse processo apresenta-secomo valoração os traços não-interpretáveis são valorados porum traço interpretável de mesmo tipo, na operação Agree, pormeio da qual um elemento com um traço não interpretávelbusca um traço interpretável de mesmo tipo na estrutura oudomínio local em que se encontra (CHOMSKY, 1999).

    Diante desse quadro, é possível caracterizar concordân-cia como operação sintática fundada no PIP, ou seja, no fato

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    de o sistema cognitivo da língua viabilizar a interação entreum sistema computacional semanticamente cego e sistemasconceptuais/intencionais17. Essa interação é formalizada apartir da distinção entre traços formais interpretáveis e não-interpretáveis. A informação lexical oriunda da interação dosistema da língua com sistemas conceptuais e intencionais érepresentada em pares de traços homólogos, em que um ele-mento é interpretável e outro é não-interpretável. O primei-ro seria proveniente da constituição do léxico como um sis-tema representacional. O segundo seria uma réplica criada(na aquisição da língua) de modo a viabilizar a computaçãolingüística (subordinada ao PIP). Para que a computaçãolingüística proceda, traços formais interpretáveis e não-interpretáveis homólogos (i.e. de mesmo tipo ou dimensão,como gênero, número etc.) têm de estar distribuídos em ele-mentos pertencentes a diferentes categorias do léxico e énecessário supor que homólogos se atraem, em função doPIP traços não-interpretáveis irão buscar sua contraparteinterpretável, a partir dos elementos selecionados da nume-ração. Assim sendo, ao sistema computacional, basta o reco-nhecimento do tipo ou dimensão de traços formais e do va-lor positivo ou negativo (+/-) dos mesmos. Os traços formaisde base semântica (tais como traços categoriais, traços j, tra-ço WH) ainda que se distingam por seu conteúdo semânticono léxico, tornam-se meros rótulos para reconhecimento, porparte do sistema computacional, de pares homólogos demesmo tipo, uma vez que os itens lexicais que os contêmentram na computação sintática. Ou seja, o que estes signifi-cam, quando no léxico, ou quando interpretados em LF, éopaco para o sistema computacional. De forma análoga, osvalores (+/-) servem apenas para desencadear a concordân-cia, ou seja, a busca de um homólogo de mesma dimensão, apartir do elemento não interpretável do par. Visto desse

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    modo, o conceito de concordância permite que se dê um tra-tamento unificado para as operações sintáticas do sistemacomputacional.

    O primeiro Merge (ou Merge externo18 ) seria conduzidoa partir da seleção de elementos com traços categoriaishomólogos de mesmo tipo e valores opostos, os quais seriamconcatenados em função da atração entre esses opostos19 .Assim sendo, um V com traço D [-interpretável] buscaria D(em projeção máxima)20 . Um D com traço N [- interpretável]buscaria N (em projeção máxima); um N com traço [ Prep]ou [- Complemento] buscaria um elemento com o homólogointerpretável desse traço, e assim por diante. Desse modo,pode-se dizer que concordância, em sentido lato, é o meio peloqual a estrutura argumental de predicadores é mapeada nasintaxe (ADGER, 2002).

    Uma vez que um objeto sintático está construído, traçosj, WH e outros, têm seus homólogos em diferentes posiçõessintáticas. Assim sendo, a busca pelo homólogo interpretável,a partir do não interpretável do par, é conduzida de formadescendente na estrutura hierárquica (em termos de probe-goal), pela operação Agree (CHOMSKY, 1999), incorporada aMerge interno (originalmente concebido como Move)(CHOMSKY, 2001). Desse modo, o ambiente em que se encon-tram os itens do léxico que contém cada elemento de um parde homólogos de mesma dimensão é que irá determinar omodo como a concordância se realiza por Merge externo ouinterno (Agree / Move). Em ambos os casos, os elementoshomólogos mantêm uma relação de c-comando. Observa-seque a configuração de c-comando apresenta-se como o ca-minho mais curto para a busca por um homólogo interpre-tável numa estrutura hierárquica construída por Merge, o queatende ao princípio de Economia na computação lingüística.

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    Na ótica do PM, o modelo de língua também tem de darconta do modo como informação sintática se faz legível emPF, ou seja, na ordenação linear dos constituintes, a qual podeser alternativamente veiculada na morfologia de Caso. A so-lução é apresentada em termos de traços formais não-interpretáveis que não têm um homólogo semântico, comoEPP21 e Caso (traço cujo valor decorre da posição sintáticado elemento ao qual está associado). Em CHOMSKY (1999), avaloração de Caso se realiza como corolário de concordân-cia (no sentido de Agree). EPP diz respeito à informação per-tinente à ordenação linear, decorrente da fixação deparâmetros relativos à ordem (SVO, OSV etc) ou à possibili-dade de movimento (WH, foco, tópico) numa dada língua.Seu efeito, provocar movimento sintático, também se apre-senta no modelo como corolário da operação de concordân-cia22 . Caso e EPP se relacionam na medida em que a expres-são de ambos na morfologia e na ordem linear , é feita emPF, tornando, dessa forma, informação sintática accessível asistemas perceptuais 23 , quando da segmentação e análisedo sinal acústico da fala. Ainda no que diz respeito à PF, pode-se dizer que a expressão da concordância entre os chamadostraços j na morfologia de algumas línguas é também ummodo de tornar informação sintática visível nessa interface.O fato de os traços j terem uma contraparte interpretáveltorna, entretanto, a informação morfológica em PF redun-dante (exceto no caso de traços que, possivelmente por ra-zões históricas, tornaram-se intrínsecos, ou seja, perderam ainformação semântica24 , ainda que funcionem como traçosinterpretáveis na língua)25 . Essa redundância parece facili-tar a eliminação de afixos flexionais, como é o caso de núme-ro, que só se expressa no determinante o elemento que apre-senta o homólogo não-interpretável26 , em alguns dialetosdo PB e em Francês.

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    Essa caracterização não formal de concordância a partirdo PM aponta para a centralidade desse processo sintático,uma vez que sintetiza o modo de operação do sistemacomputacional em função de PIP seja no que concerne àlegibilidade de informação semântica veiculada na sintaxe,seja no que concerne à legibilidade de informação sintáticaveiculada na fonologia.

    2. Concordância e aquisição da linguagem

    Do ponto de vista do PM, a tarefa da criança ao adquiriruma língua consiste em identificar, no material lingüísticoque a ela se apresenta (seja na fala a ela dirigida ou na fala aoseu redor), as propriedades específicas da língua em ques-tão, ou seja, o conjunto de traços fonológicos que constitu-em o sistema fonológico da língua, as propriedades semânti-cas lexicalizadas na língua (traços semânticos) e as proprieda-des dos traços formais, que determinam o modo como as rela-ções sintáticas que se estabelecem por Merge (interno / ex-terno) se apresentam na interface fonética (ou seja, na orde-nação linear de elementos do léxico, nas marcas prosódicasa estes vinculadas e na morfologia flexional) garantindo,desse modo, a possibilidade de interpretação semântica deuma expressão lingüística27 . Tais propriedades, ainda nãocaracterizadas com suficiente clareza na teoria lingüística,seriam os parâmetros a serem fixados no curso da aquisiçãoda linguagem, como antevisto em CHOMSKY (1981).

    Circunscrever os parâmetros de variação no conjunto depropriedades dos traços formais de categorias funcionais écompatível com uma explicação para a forma das línguashumanas fundamentada em PIP. Categorias funcionais cum-prem um duplo papel: propiciar um esqueleto sintático paraexpressões lingüísticas e introduzir informação pertinente à

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    referência advinda das intenções de fala do falante e do parti-cular contexto de enunciação no qual a fala se realiza (basica-mente, definitude, tempo, força ilocucionária). Além disso, avariação lingüística restrita a esse âmbito parece contribuir paraa identificação da língua pela criança28. Categorias funcionaissão classes fechadas com pequeno número de elementos queapresentam propriedades fônicas semelhantes entre línguas(MORGAN, ALLOPEMA, SHI, 1996). Elementos de classes fechadasapresentam distribuição regular em PF. Além disso, variaçõesmorfofonológicas (particularmente no que se refere a classesde gênero) tornam-se mais visíveis no âmbito de classes fecha-das. Uma disposição biológica para língua permitiria à crian-ça processar o material lingüístico a seu redor de modo tal quea prosódia delimitaria janelas de processamento nas quais re-lações locais seriam estabelecidas sem sobrecarga à memóriade trabalho. Essa mesma disposição permitiria que a identifi-cação de classes fechadas e abertas (com base em informaçãofonética e distribucional) fosse lingüisticamente interpretada,ou seja, as classes seriam tomadas como definidas em funçãode traços formais. Desse modo, o sistema computacional, as-sumido como constitutivo da natureza humana, viabilizaria oparsing (análise sintática) de seqüências mantidas na janela deprocessamento, criando-se, dessa forma, o ambiente no qualrelações de concordância pudessem ser estabelecidas (umaconfiguração de c-comando).

    Com base nesse raciocínio, a identificação de proprie-dades específicas de uma dada língua, tais como a expressãogramatical de gênero e de número, pode ser vista comoimplementada por meio do sistema computacional em ope-ração na análise de relações locais, como as que se estabele-cem no âmbito do DP. No caso do PB (Português do Brasil),parte-se da hipótese de que variações morfofonológicas noâmbito de D são representadas como informação relativa ao

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    valor (marcado / não marcado) de um traço formal compar-tilhado com o elemento c-comandado por aquele, por meiodo processamento de uma relação de concordância. No casodo gênero, a presença do morfema a em D sinaliza valormarcado para um traço formal compartilhado com o Nome.Desse modo, o gênero (não marcado: masculino; ou mar-cado: feminino) pode ser atribuído a um nome (desconhe-cido) pela criança, com base na informação morfológica dodeterminante (CORRÊA, 2001a). Os resultados da pesquisaorientada por essa hipótese são compatíveis com a mesma.Em experimento com a técnica da escuta preferencial (HeadTurn Preferencial Paradigm), pequenas histórias são apresen-tadas oralmente em duas condições, normal e modificada, acrianças de 12-18 meses (idade média 14 meses). Na condi-ção modificada, a forma fônica dos determinantes é altera-da. O tempo de escuta é significativamente maior na condi-ção normal, o que sugere que as crianças detectam a diferençaentre as condições, ou seja, preferem a que está em confor-midade com a língua (NAME, 2002; NAME, CORRÊA, 2003). Es-ses resultados estão em conformidade com outros que de-monstram que, por volta dessa idade, crianças no processode aquisição de alemão delimitam fronteiras entre determi-nante e nome (HÖHLE, WEISSENBORN, 2000). Em experimen-to com técnica de reconhecimento de imagem a partir de falasintetizada, constatou-se que crianças de 22 meses são sensí-veis à posição de diferentes tipos de itens funcionais na sen-tença, assim como a variações morfofonológicas no âmbitodos determinantes que acarretam incongruência de gêneroentre determinante e nome (NAME, CORRÊA, 2002; CORRÊA,NAME, 2003). Em experimentos de produção eliciada, cons-tatou-se que crianças com idade inferior a 3 anos tomam ainformação de gênero do determinante como indicativa dogênero de uma pseudopalavra com gênero intrínseco e que

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    são ligeiramente afetados pela vogal temática do nome apartir daquela idade (CORRÊA, NAME, 2003). Resultados preli-minares sugerem que esse efeito é pós-sintático, ou seja, res-trito à codificação morfofonológica do DP (CORRÊA, AUGUSTO,2005a). Outras evidências sugerem não apenas que criançasdistinguem marcação morfológica de gênero como interpre-tam o gênero masculino (não marcado morfologicamente)como semanticamente não marcado (cf. AUGUSTO, CORRÊA,neste volume). Resultados referentes a número sugerem sero processo de aquisição mais complexo dada a semântica donúmero gramatical (cf. CORRÊA, NAME, FERRARI-NETO, 2004).De qualquer forma, ao serem apresentadas a pseudonomese figuras inventadas, crianças de cerca de dois anos distin-guem DPs em que um morfema de número s se apresentaem D e em N, ou somente em D (como no dialeto não pa-drão), de DPs em que um fonema -s trava a sílaba final donome (como acontece no plural do Inglês) ou uma sílabainicial (o que poderia ter o valor de infixo em outra língua),atribuindo um referente múltiplo para os primeiros e tratan-do os últimos como DPs no singular (CORRÊA ET AL., 2004;FERRARI-NETTO, CORRÊA, AUGUSTO, 2005).

    3. Concordância e processamento

    O processamento da concordância é um tópico pertinen-te a uma discussão central na teoria psicolingüística, qual seja,em que medida as ações de um parser / formulador seriamafetadas por informação de ordem semântica ou contextualcomprometendo, dessa forma, a hipótese da natureza modu-lar do processamento sintático (VIGGLIOCCO, BUTTERWORTH,SEMENZA, 1995; VIGGLIOCCO, FRANCK, 1999; 2001). Ainda emrelação a concordância, a literatura psicolingüística buscaidentificar os fatores responsáveis por erros na fala fluente,

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    de origem não necessariamente semântica, assumindo quetais erros decorrem de falhas na computação sintática (BOCK,MILLER, 1991; VIGGLIOCCO, NICOL, 1998).

    A pesquisa em processamento da concordância a queeste artigo remete tem como hipótese de trabalho que oprocessador sintático (parser / formulador) opera livre dainterferência de fatores externos à sintaxe nos limites de umaunidade de processamento de base intencional (um tópico(DP), ou uma declaração / interrogação (CP))29 . Assim sen-do, a interferência de fatores semânticos / contextuais naconcordância sujeito-predicativo, tais como captada emVIGGLIOCCO, FRANCK (id. ibid), ou mesmo sujeito-verbo, comosugerida em VIGGLIOCCO, BUTTERWORTH, SEMENZA (id. ibid),EBERHARD (1999), THORNTON, MACDONALD (2003), precisa deexplicação coerente com a mesma. Uma hipótese que vemsendo investigada atribui o efeito de fatores semânticos /contextuais na concordância ao fechamento (no sentido deKIMBALL, 1973) do DP sujeito como uma unidade indepen-dente (semelhante a um tópico) antes que o verbo seja in-troduzido na formulação (ou identificado no parsing). Umavez que um DP é fechado como unidade de processamento,a referência por meio deste a uma entidade (real ou virtual)pode se realizar. Uma vez estabelecida a referência, torna-sepossível o esvaecimento da representação literal do DP-sujei-to da memória de trabalho, mantendo-se, não obstante (emum nível mais alto), a representação conceptual do seu refe-rente. Desse modo, uma vez que o verbo é introduzido nacomputação sintática, seu argumento externo é mapeado aum elemento nulo de natureza pronominal que recupera ostraços semânticos do referente do DP já fechado. Esse ele-mento pronominal ocuparia então a posição de sujeito doverbo em questão. Em CORRÊA (2001b), demonstro que areferência pronominal recupera preferencialmente traços

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    semânticos. Assim sendo, considero que a interferência se-mântica ou contextual no processamento da concordâncianão ocorre no processamento sintático, como sugerido pelachamada hipótese maximalista de VIGLIOCCO, FRANCK (2001)e sim em nível pré-sintático. Um experimento que visa a ve-rificar as previsões decorrentes dessa hipótese encontra-se emandamento.

    Uma interferência em nível pré-sintático não seria, con-tudo, a única fonte dos erros de concordância, como suge-rem os chamados erros de atração. Para explicar o que seapresenta como interferência nesse caso, assume-se que oprocessamento seja parcialmente incremental, no sentido deque, para que um DP seja formulado como sujeito, sua rela-ção com o verbo (com um TP) tem de estar estabelecida.Desse modo, uma vez que um DP é produzido como sujeito,a concordância no âmbito da sintaxe já terá sido computa-da. Assim sendo, a interferência tem de se situar em umaetapa pós-sintática do processamento. Um DP articulado nafala torna-se imediatamente acessível a um parser monito-rador, o qual gera uma representação que se mantém ativadana memória de trabalho. Essa representação seria fonte deinterferência pós-sintática no processamento da concordân-cia quando da formulação morfofonológica do verbo(CORRÊA, RODRIGUES, 2005; RODRIGUES, neste volume).

    5. Concordância e o DEL

    DEL (Déficit Específico da Linguagem ou Déficit Espe-cificamente Lingüístico) diz respeito a um conjunto de ma-nifestações no desempenho lingüístico de crianças, a come-çar por um desenvolvimento lingüístico tardio e defasado,cuja etiologia não é conhecida. O relato de antecedentes fa-miliares de problemas de linguagem, aliado a resultados de

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    pesquisa que apontam para a origem genética para proble-mas de linguagem (GOPNIK, CRAGO, 1990; LAI ET AL., 2001) levaa crer que tais manifestações tenham essa origem. O quadrodo DEL é, contudo, bastante heterogêneo. Algumas criançassuperam as dificuldades paulatinamente e atingem, ainda quecom atraso, um desempenho lingüístico normal enquantoque, para outras, as dificuldades perduram na idade adulta(LEONARD, 1998). Os domínios da linguagem afetados não sãonecessariamente os mesmos em todas as crianças e há dife-renças com relação ao grau de comprometimento em dife-rentes aspectos da língua (LEONARD, 1998; JAKUBOWICZ, 1991;no prelo). A despeito desse quadro heterogêneo, as manifes-tações do DEL têm amplamente em comum o fato de esta-rem associadas a operações com categorias funcionais. Ob-serva-se, nesse sentido, omissão de elementos funcionais(determinantes, auxiliares, morfemas de tempo), omissão outroca de afixos flexionais que externalizam a concordânciaentre pares dos chamados traços j (gênero, número e pessoa),em D e T, omissão de afixos de caso (cuja atribuição seriadeflagrada por concordância na concepção atual do mode-lo de língua), assim como dificuldades pertinentes a opera-ções de deslocamento, como movimento WH30 (que pressu-põem concordância entre pares de traço WH, na dinâmicado modelo de língua) e conseqüente sobrecarga na memó-ria (para quadro comparativo de manifestações do DEL en-tre línguas cf. SILVEIRA, 2002).

    Considerando-se que a aquisição da língua, no que con-cerne à sintaxe, requer que a criança identifique as proprieda-des de traços formais de categorias funcionais, as manifesta-ções do DEL acima enumeradas podem decorrer do processa-mento de informação de interface relativa a esses traços (in-formação morfológica no âmbito de categorias funcionais),em fase inicial da aquisição linguagem, afetando a fixação de

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    parâmetros ou seja, a representação do que há de específicoao modo como relações hierárquicas entre elementos do léxi-co se apresentam nas interfaces31 . Nesse caso, espera-se queo déficit seja profundo, manifestando-se tanto na percepçãoquanto na produção de enunciados lingüísticos. Manifes-tações do DEL na sintaxe/morfologia podem também decor-rer de problemas de acesso lexical, particularmente no quediz respeito ao acesso à informação relativa a traços formaiscom homólogos interpretáveis e não-interpretáveis32 . Nessecaso, o problema estaria localizado em uma fase pré-sintáticado processamento da fala, podendo se manifestar, em prin-cípio, tanto na compreensão quando na produção, emborahaja mais chance de que se manifeste na produção, visto que,na compreensão, o acesso lexical é intermediado pelo reco-nhecimento da forma fônica. A chamada opcionalidade carac-terística de manifestações do DEL33 pode ser tomada comoindicativa de problemas na condução eletroquímica do acessolexical. Por outro lado, manifestações morfológicas do DELrestritas à produção podem ser indicativas de problemas denatureza pós-sintática, na codificação morfofonológica, taiscomo os efeitos captados na produção eliciada de DPs compseudopalavras, por parte de crianças (com desenvolvimen-to lingüístico normal) por interferência da vogal temáticamais característica do gênero da pseudopalavra em questão(Corrêa; Name, 2003; Corrêa; Augusto, 2005a). Em suma,as manifestações morfológicas do DEL, relativas à concordân-cia, parecem advir de problemas na representação de infor-mação pertinente a traços formais (traços j), na aquisição dalíngua; no acesso a representação de traços formais em situ-ações de produção (e em menor escala, de compreensão) ouna codificação morfofonológica de uma unidade de processa-mento. Cabe à pesquisa sobre DEL distinguir a natureza dasmanifestações, que podem variar entre indivíduos34 .

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    Um instrumento de avaliação de habilidades lingüísticasde crianças vem sendo criado de modo a contribuir para odiagnóstico do DEL em crianças falantes de Português e afacilitar a identificação da natureza das dificuldades que assituam nesse quadro35 . Dados obtidos até então, por meiodesse instrumento, sugerem que as dificuldades pertinentesà concordância de gênero e de número se manifestam maisna produção do que na compreensão (cf. SILVEIRA 2002;HAEUSLER, 2005). Esses resultados são compatíveis com osobtidos por JAKUBOWICZ, ROULET (2004) que revelam percep-ção de incongruência de gênero por crianças DEL falantesde Francês. Redundância de informação morfológica (tantoa que se apresenta na flexão do nome, quando a que se apre-senta em determinantes e adjetivos) parece, não obstante,facilitar o processamento (HAEUSLER, 2005). O número decrianças com quadro de DEL até então avaliadas é, no entan-to, pequeno para que se adiante algo mais conclusivo. Dequalquer modo, problemas pertinentes à representação e aoacesso a traços formais, mais do que problemas decorrentesde um déficit no sistema computacional lingüístico, parecemter mais chance de explicar as manifestações do DEL.

    6. Concordância e especificidade lingüística

    Foi visto até então que concordância, concebida comoprocesso sintático que envolve o pareamento de traçosinterpretáveis e não-interpretáveis do mesmo tipo, pode serentendida como meio de viabilizar a computação sintáticaorientada pelo Princípio da Interpretabilidade Plena (PIP). As-sim sendo, é possível conceber-se a sintaxe da língua comoum subproduto do fato de esta se realizar na fala, ou seja, dofato de um conteúdo proposicional ter expressão por ummeio físico. Dadas as restrições do aparato processador da

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    linguagem, as propriedades sintáticas das línguas humanasseriam, em última análise, determinadas por possíveis rela-ções conceptuais (dado o que é cognoscível pelo ser huma-no), pela capacidade de memória de trabalho no parsing ena formulação de enunciados, e pelas características do apa-relho fonador (ou substituto), cujas possibilidades articula-tórias/prosódicas seriam, em grande parte, responsáveis pelavariabilidade lingüística. Caso a relevância assumida por re-lações de c-comando na sintaxe seja decorrente desse tipo derestrições, a especificidade lingüística reside na possibilida-de de o léxico incluir traços formais para que um sistemacomputacional (conjunto de operações recursivas) seja ca-paz de operar sobre informação de ordem conceptual e in-tencional, tornando estruturas hierárquicas passíveis delinearização (como imposição da interface fonética). Essavisão de especificidade lingüística mostra-se compatível coma hipótese do bootstrapping fonológico na aquisição da lingua-gem e com os desdobramentos desta acima considerados,com a hipótese da autonomia do processador sintático, en-tendida em termos de acesso a informação representadacomo traços formais, e com a hipótese de o DEL envolverproblemas de acesso a informação pertinente a traços formaisna interface fonética durante a aquisição da língua ou deacesso a informação lexical, relativa a esses traços, naimplementação da computação lingüística. Correlatosneurofisiológicos do que é formal e funcionalmente carac-terizado como traços formais (ou como lema, em modelospsicolingüísticos), permitiriam explicitar a relação mente /cérebro que o estudo cognitivo da linguagem pressupõe.

    Questions of agreement: an integrated approachto language processing, acquisition and SLI

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    Abstract Agreement (feature pairing), understood as a syntacticprocess governed by the Principle of Full Intepretation, is presentedfrom the point of view of an integrated theory of linguisticknowledged and processing. The hypothesis that Agreement is ins-trumental to the acquisition of language is illustrated by results ofinvestigations on the acquisition of gender and number in BrazilianPortuguese. The autonomy of the syntactic processor is discussedin the light of Agreement, and the pre or post-syntactic nature ofagreement errors is considered in relation to fluent speech and SLI.Implications of Agreement to the question of linguistic specificityare considered.

    Key words Agreement. Minimalism. Bootstrapping. Syntacticprocessing. SLI.

    Notas

    1 Este artigo parte de minha participação no Workshop em Processamento daLinguagem, promovido pelo LAPEX - UFRJ, em 27 de abril de 2005, ondefoi apresentada a linha de pesquisa do Grupo Processamento e Aquisiçãoda Linguagem (GPAL) (CNPq), que atua no LAPAL (Laboratório dePsicolingüística e Aquisição da Linguagem /PUC-Rio). A realização dopresente trabalho se inscreve nas atividades do Projeto CNPq 551491/2002-7 e a pesquisa do GPAL vem sendo apoiada por auxílios do CNPqe da FAPERJ. Os trabalhos do grupo aqui referidos encontram-seaccessíveis no site: www.letras.puc-rio.br/lapal.

    2 O termo fala será usado de forma a cobrir todo o tipo de exteriorização dalíngua, o que inclui a realização escrita de uma língua oral, assim comorealização de formas alternativas à língua oral, como as línguas de sinais.

    3 A identificação da gramática de uma língua, por parte da criança, a par-tir de um subconjunto do conjunto infinito de sentenças ou expressõeslingüísticas por ela gerado.

    4 O termo bootstrap é usado na linguagem da computação com referênciaao programa que inicializa o sistema operacional de um computador.No contexto da aquisição da linguagem, bootstrapping diz respeito a umprocedimento de aquisição da língua que tem por base o processamentode informação de natureza fonológica e /ou semântica, o qual poria emoperação (inicializaria) o sistema computacional lingüístico ou a aqui-sição da sintaxe. Esse termo também pode se referir ao uso de informa-ção de natureza sintática na aquisição do significado lexical (para de-senvolvimento desse tópico, veja CORRÊA, no prelo a).

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    5 Segue-se aqui a prática comum a estudos gerativistas de manter as siglasdo original em Inglês, na referência a construtos gramaticais, no caso,Phonetic Form e Logical Form.

    6 A idéia de um princípio geral Economia remete, por um lado, à concepçãoaristotélica de que a natureza segue o curso mais simples possível e, poroutro, ao princípio de parcimônia Pluralitas non est ponenda sine necessitate,conhecido como Navalha de Ockham, atribuído a William de Ockham,filósofo franciscano da Universidade de Oxford, no século XIV. Esse prin-cípio transfere a restrição de simplicidade da natureza para a teorizaçãosobre a natureza. Assim sendo, a navalha de Ockham elimina tudo o quepode ser considerado supérfluo em uma explicação, tornando-se umdos principais parâmetros que orientam a prática científica (LOSEE,1972). No PM, os dois possíveis entendimentos de Economia parecemser postos em correspondência. Uma derivação caracterizada da formamais simples possível seria indicativa de eficiência da utilização de re-cursos (de memória) necessários à computação sintática (cf. CHOMSKY,1999). A elegância (que implica simplicidade formal) do modo deoperação de sistemas lingüísticos seria, por sua vez, vinculada à possibi-lidade de este poder ser reduzido a um fenômeno físico-químico emseus elementos essenciais (cf. URIAGEREKA, 1998, p.66-68; CHOMSKY, 2001).

    7 Para convergências entre uma derivação minimalista e conceitospsicolingüísticos, ver CORRÊA (2003). Para um argumento que objeta acompleta identificação de uma derivação minimalista com uma gramá-tica em tempo real, ver CORRÊA (2005, no prelo b).

    8 A sigla DEL tem sido utilizada com o sentido de SLI (Specific LanguageImpairment), cuja tradução se faz como Deficit Específico da Linguagem ouDeficit Especificamente Lingüístico. O primeiro termo é de uso mais geral(inclusive na área médica). O DEL também pode ser identificado comodisfasia do desenvolvimento.

    9 O conjunto universal de traços fonológicos pode ser entendido como aspossibilidades de representação de propriedades do meio físico com quea língua se realiza (sons vocais ou, na impossibilidade destes, gestos /expressões faciais / corporais, ou outros), as quais são restringidas pe-las características do aparato vocal / acústico (ou substituto) humano.O conjunto universal de traços semânticos pode ser entendido como oque potencialmente pode ser lexicalizado, dado o que é cognoscível peloser humano, sendo, portanto, restringido pelas propriedades do apara-to cognitivo (perceptual, representacional, ou outro) do mesmo. Ostraços formais são os únicos acessíveis ao sistema computacional da lín-gua que, sendo universal, tem de ser cego no que diz respeito ao quecada língua apresenta como traços semânticos e fonológicos. Para que

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    uma derivação lingüística seja interpretável por sistemas de desempe-nho, é necessário, pois, que traços semânticos sejam reconhecidos comoformais pelo sistema computacional e as relações hierárquicas compu-tadas estejam em correspondência com a ordem linear em que os ele-mentos do léxico se apresentam em PF (assumindo-se KAYNE, 1994), oque varia entre línguas. Conseqüentemente, os valores dos parâmetrosde variação estariam previstos no estado inicial da aquisição da línguapor serem opções restringidas pelas possíveis relações entre cogniçãonão lingüística e léxico e pelas propriedades do aparato que garante arealização física da fala.

    10 Pode-se considerar que a Condição de Inclusividade (CHOMKSY, 1995) é umamanifestação de um princípio geral de Economia.

    11 Léxico Mental difere de Léxico tal como caracterizado em uma teoria for-mal de língua. Nesta, Léxico é um componente da gramática que podeser definido como uma lista de elementos caracterizados em função desuas peculiaridades fonológicas, semânticas e sintáticas. Léxico Mental dizrespeito a um aparato cognitivo que retém (a longo prazo) informaçãosemântica, sintática (lema) e fonológica (lexema) relativa a unidadescorrespondentes a palavras / morfemas (assim como informação orto-gráfica, no caso de haver conhecimento da língua escrita). Nesse con-texto, considera-se que o léxico encontra-se organizado ou estruturadoem função dessas propriedades, assim como de freqüência de uso, emodelos do Léxico Mental visam a explicitar sua forma de organizaçãoem função de diferentes formas de acesso (cf. LEVELT, ROELOFS, MEYER,2001 e referências em CORRÊA, ALMEIDA, PORTO, 2004).

    12 Essa informação só não seria suficiente nos casos de ambigüidade estru-tural, quando o parser tem de decidir por uma análise ou em função deum princípio (não gramatical) de base estrutural (como o de AposiçãoMínima, Minimal Attachment. Cf. FRAZIER, FODOR, 1978) ou em função deestratégias que levam em conta informação contextual ou conhecimen-to de mundo.

    13 Traços formais correspondem àquilo que em modelos psicolingüísticosdo léxico mental ou da formulação de enunciados é caracterizado comolema (ver nota 11).

    14 Em desenvolvimentos recentes do minimalismo, a noção de c-seleçãonão tem sido mencionada. O caráter abstrato do conceito de categoriado léxico, que sintetiza informação de ordem semântica e distribucional,parece, no entanto, ser necessário para que se mantenha a idéia deautonomia da sintaxe em relação à informação semântica específica deum particular item lexical.

    15 A sigla EPP remonta a Extended Projection Principle. Diz-se que um elemento

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    do léxico possui um traço EPP quando disponibiliza uma posição deespecificador para a qual um elemento que entrou em relação de con-cordância pode ser movido.

    16 Em URIAGEREKA (2000) um traço do léxico é caracterizado em termos dedimensão e valor. A dimensão do traço seria aquilo que o nomeia (sua iden-tidade semântica) e o valor, o modo como este deve ser lido pelo siste-ma computacional em função da fixação de parâmetros.

    17 Na literatura minimalista, sistemas conceptuais e intencionais são trata-dos de forma indiferenciada. Trata-se, no entanto, de uma simplifica-ção, visto que sistemas conceptuais parecem englobar conceitos tais comomemória semântica (QUILLIAN, 1966), e o que é entendido intuitivamentecomo conhecimento enciclopédico (cf. SANFORD, 2002). Sistemas intencionais,por sua vez, remetem a estados mentais, à referência, à contextualizaçãode uma intenção de fala, à volição em um ato de fala. Segundo JACOB(2003), o conceito filosófico de intencionalidade localiza-se na interfaceda Filosofia da Mente com a Filosofia da Linguagem. Em CORRÊA (2005),sugiro que um modelo que integre processamento e gramática tratedesses sistemas de forma diferenciada. Os sistemas de naturezaconceptual se fariam presentes na língua por meio dos traços semânti-cos de elementos de categorias lexicais. Os sistemas de natureza inten-cional estariam representados nos traços semânticos de elementos decategorias funcionais (como definitude, tempo). Isso teria implicaçõespara a direcionalidade da computação lingüística conduzida on-line.

    18 A caracterização de Merge externo / interno em CHOMSKY (2001) permi-te que se dê um tratamento mais geral para a computação lingüística, oque facilita o entendimento de concordância tal como aqui se apresenta.Por Merge externo, entende-se primeiro Merge, a partir de par de elemen-tos, no qual pelo menos um é selecionado diretamente da Numeração,e por Merge interno, entendam-se as operações Agree e Move (como Agree+ Merge) em momentos anteriores da proposta minimalista.

    19 CHOMSKY (1998) considera que a operação Merge seria inicialmenteconduzida em bases semânticas. Não fica claro, contudo, de que modoinformação semântica advinda do léxico tornar-se-ia accessível a um sis-tema computacional universal. ADGER (2002), que caracteriza o primei-ro Merge como pareamento de traços (+/-), incorpora o conceito deHierarquia Temática para dar conta desse problema.

    20 Assume-se aqui o conceito de bare phrase (CHOMSKY, 1994).21 Ver nota 15.22 EPP também se encontra associado a expletivos, cuja presença e mani-

    festação fonológica estão vinculadas a um parâmetro do tipo pro-drop,

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    relacionado com informação sintática disponível em PF.23 Sistemas perceptuais / articulatórios, tal como referidos na literatura

    lingüística, englobam uma série de sistemas e procedimentos diferenci-ados. Sistemas perceptuais, em particular, incluiriam o aparato respon-sável pela percepção do sinal acústico da fala e por sua representaçãonum sistema de memória de curto prazo (no sentido de loop articulatório,cf. BADDELEY, 1986), para que possa ser segmentado em unidades reco-nhecidas como unidades lexicais por um parser.

    24 Para a possível origem semântica do gênero gramatical, ver CORBETT (1991).25 Como exemplos de traço intrínseco, tem-se o gênero de nomes com tra-

    ço semântico [-animado] (mesa, sofá), de alguns nomes com traço [+ani-mado] (onça e, ainda, vítima, testemunha, criança), assim como o númerode nomes como óculos, núpcias, costas, anais.

    26 CHOMSKY (1995) considera número como um traço interpretável em N. Esteé um ponto controverso na literatura, visto que há argumentos que justi-ficariam uma projeção Num P (ver AUGUSTO, CORRÊA, neste volume). Há,ainda, o argumento de que número seria interpretável em D (MAGALHÃES,2004), o que justificaria a omissão do morfema de número no nome.

    27 Assumindo que a língua se constitui em função de PIP, haveria traçossemânticos tomados como formais em qualquer língua (em função dofato de o ser humano representar sua interação com o mundo em ter-mos de entidades e eventos), para os quais não seria necessário preveraquisição específica. Haveria, ainda, traços pertinentes à referência aentidades e eventos, os quais podem se constituir como traços formais,como definitude, tempo, aspecto.

    28 A ausência de elementos funcionais como determinantes, auxiliares emorfemas flexionais na língua (como em Chinês) irá requerer outro tipode informação que possibilite a delimitação de categorias lexicais, comoelementos aspectuais, partículas de fim de sentença, dentre outros (cf.HUANG, LI, 1996).

    29 Unidades de processamento podem ter como correlato lingüístico oconceito de fase (CHOMSKY, 1998).

    30 As operações de movimento de sujeito e de movimento de objeto (emlínguas OSV) também deflagradas por concordância não parecem apre-sentar maiores dificuldades no quadro do DEL. Esse tipo de movimen-to (assim como movimento de núcleo), que caracteriza o modo comoesses elementos são posicionados de acordo com a ordem canônica dalíngua, parece descrever o tipo de operação que se realiza quando dafixação de parâmetros de ordem, possivelmente a partir de informaçãode PF ainda no primeiro ano de vida (cf. CHRISTOPHE, 2002; GOUT,

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    CHRISTOPHE, no prelo). Tendo em vista que esse tipo de movimento nãoparece apresentar custo computacional mensurável, considero que elenão seja computado on-line, uma vez que parâmetros de ordem estejamfixados, o que o distinguiria do movimento decorrente de demandasdiscursivas (como topicalização, movimento WH), que apresenta custocomputacional (cf. CORRÊA, 2005; no prelo b).

    31 Uma das hipóteses sobre a natureza do DEL aponta para problemas deordem perceptual. Morfemas flexionais seriam pouco perceptíveis paraalgumas crianças que apresentam melhor discriminação quando o estí-mulo lingüístico é apresentado de forma mais lenta, facilitando a detec-ção de pistas acústicas (TALLAL, STARK, MELLITS, 1985). Contudo, ainda quepossa haver uma dificuldade de ordem perceptual, o problema não podeser reduzido a esse nível, visto que elementos com propriedades fônicassemelhantes (como artigos e clíticos no Francês, por exemplo) apresentamdiferentes graus de comprometimento (JAKUBOVICZ ET AL., 1998). Oprocessamento de informação de interface vai além da detecção de in-formação acústica e distribucional. Implica a atribuição de valor lingüís-tico a diferenças detectadas sistematicamente no estímulo. O problemado DEL pode, portanto, residir nesse aspecto do processamento.

    32 Para considerações relativas à interpretabilidade de traços na represen-tação e acesso lexical, ver CORRÊA, ALMEIDA, PORTO (2004).

    33 A literatura sobre DEL insiste no termo opcionalidade na caracterizaçãode suas manifestações, dado o seu caráter assistemático. Não consideroo termo apropriado, visto que este sugere uma decisão em algum mo-mento do processamento, com algum tipo de motivação ou decorrentede algum tipo de efeito. As manifestações do DEL sugerem, não obstante,aleatoriedade, semelhante à que caracteriza a abertura e o fechamentoassistemático de um circuito elétrico, por problemas de contacto.

    34 Um levantamento inicial de possíveis loci para o DEL em função do es-boço de um modelo integrado de produção / compreensão e gramáti-ca (minimalista) encontra-se em (CORRÊA, AUGUSTO, 2005b).

    35 A criação dos Módulos de Avaliação de Habilidades Lingüísticas (MABILIN®)tem o suporte da FAPERJ.

    Referências bibliográficas

    ADGER, A. Core Syntax: A Minimalist Approach. Oxford: OxfordUniversity Press, 2002.

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    Lingüística, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 111-145, junho de 2005

    AUGUSTO, M.R.A.; CORRÊA, L.S. Marcação de gênero, opciona-lidade e genericidade: processamento de concordância degênero no DP aos dois anos de idade. Ms. 2005.

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    Recebido e aprovado para publicação em julho de 2005.

    A Ciência Econômica na Europa e nos Estados Unidos:Antonio Maria da SilveiraCondições de trabalho, instrução e renda nas metrópoles brasileiras: Uma análise estatística multivariadaA operacionalidade e a lógica de funcionamento da políticaMarcos Antonio Macedo CintraPolítica industrialPolítica industrialDavid KupferComentário a "Política industrial", de David KupferClaudio R. FrischtakPolítica industrial no Brasil: Ineficaz e regressivaPedro Cavalcanti Ferreira - Guilherme HamdanPolíticas de desenvolvimento industrial para o Brasil:José Eduardo CassiolatoA política industrial em perspectivaMariano Francisco LaplaneEnsaio-resenha Globalização, crescimento e pobrezaJoshua Cohen - Joel Rogers