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N o Brasil, diversas ra- ças bovinas se de- senvolveram a partir de animais trazidos pelos coloni- zadores à época do descobrimen- to, cujo objetivo era fornecer ali- mentos para os colonos. Não se sabe concretamente a origem mas, acredita-se que foram originados a partir de raças procedentes da Península Ibérica. Dentre as mais importantes a Mértola, Alenteja- na, Arouquesa, Barrosa, Minhota e Mirandesa. Estas raças passaram por um processo de seleção natural ao longo dos anos e se adaptaram às condições climáticas, sanitárias e de manejo em diferentes regiões do país, adquirindo características como rusticidade, prolificidade e resistência a ecto e endoparasitas. No entanto, devido a uma de- manda cada vez maior por alimen- tos de origem animal, vários pro- gramas de melhoramento foram implementados visando o aumen- to da produtividade. Assim, raças exóticas, selecionadas em países de clima temperado, foram impor- tadas, com o objetivo de diluir o germoplasma das raças locais que apresentavam menor produtivida- de, o que provocou quase que o de- saparecimento dessas raças. Para que este importante ma- terial genético não fosse perdido, em 1983, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRA- PA) incluiu a conservação dos re- cursos genéticos animais em seu programa de conservação. Desde então, a conservação é realizada por diversos centros de pesquisa, universidades, empresas estaduais de pesquisa, bem como por cria- dores particulares. Dentre as cinco raças bovinas localmente adaptadas existentes no Brasil, quatro encontram-se em risco de extinção e o gado Cur- raleiro está entre elas. Conhecido em alguns estados como Pé-Duro (Piauí e Maranhão) ou Curraleiro (Goiás e Tocan- RAÇAS BOVINAS LOCAIS BRASILEIRAS

RAÇAS BOVINAS LOCAIS BRASILEIRAS · 2016-09-30 · raças Angus ou Senepol para pro-dução industrial. Esses cruzamen-tos, devido à heterose, possibilitam o melhor uso de forrageiras

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Page 1: RAÇAS BOVINAS LOCAIS BRASILEIRAS · 2016-09-30 · raças Angus ou Senepol para pro-dução industrial. Esses cruzamen-tos, devido à heterose, possibilitam o melhor uso de forrageiras

No Brasil, diversas ra-ças bovinas se de-senvolveram a partir

de animais trazidos pelos coloni-zadores à época do descobrimen-to, cujo objetivo era fornecer ali-mentos para os colonos. Não se sabe concretamente a origem mas, acredita-se que foram originados a partir de raças procedentes da Península Ibérica. Dentre as mais importantes a Mértola, Alenteja-na, Arouquesa, Barrosa, Minhota e Mirandesa. Estas raças passaram por um processo de seleção natural ao longo dos anos e se adaptaram às condições climáticas, sanitárias e de manejo em diferentes regiões

do país, adquirindo características como rusticidade, prolificidade e resistência a ecto e endoparasitas.

No entanto, devido a uma de-manda cada vez maior por alimen-tos de origem animal, vários pro-gramas de melhoramento foram implementados visando o aumen-to da produtividade. Assim, raças exóticas, selecionadas em países de clima temperado, foram impor-tadas, com o objetivo de diluir o germoplasma das raças locais que apresentavam menor produtivida-de, o que provocou quase que o de-saparecimento dessas raças.

Para que este importante ma-terial genético não fosse perdido,

em 1983, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRA-PA) incluiu a conservação dos re-cursos genéticos animais em seu programa de conservação. Desde então, a conservação é realizada por diversos centros de pesquisa, universidades, empresas estaduais de pesquisa, bem como por cria-dores particulares.

Dentre as cinco raças bovinas localmente adaptadas existentes no Brasil, quatro encontram-se em risco de extinção e o gado Cur-raleiro está entre elas.

Conhecido em alguns estados como Pé-Duro (Piauí e Maranhão) ou Curraleiro (Goiás e Tocan-

RAÇAS BOVINAS LOCAIS BRASILEIRAS

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BOVINO CURRALEIRO PÉ-DURO

como é o BOVINO CURRALEIRO PÉ-DUROO padrão da raça foi definido

pela Associação Brasileira de Cria-dores de Bovinos Curraleiro Pé-Duro em 2012. Os bovinos da raça apresentam temperamento ativo e dócil, características morfológicas como: peso de 380 kg para os ma-chos e 300 kg para as fêmeas e altura mínima de 1,10 m para os machos e 1 m para as fêmeas. A pelagem é variada, sendo as mais comuns a vermelha clara e a baia, com extre-midades, vassoura e focinho pretos. Alguns animais apresentam man-chas escuras ao redor dos olhos. A cabeça é pequena, o perfil é subcôn-cavo com chifres curtos e em forma de coroa e orelhas pequenas, reves-tidas internamente de pelos claros,

os membros são delgados e bem proporcionados.

O pequeno porte do bovino Curraleiro Pé-Duro provavelmen-te se deve à ação da seleção natural em condições nutricionais precá-rias, com escassez de alimentos e água. Este bovino consegue passar por períodos de restrição alimen-tar sem adquirir enfermidades e, apesar de perder peso nesses períodos, consegue recuperá-lo quando as condições voltam a ser favoráveis, sem a necessidade de suplementação alimentar, uma vez que aproveitam bem a vegetação nativa. Bovinos de raças melhora-das, adaptadas a boas pastagens, se mantidos nas mesmas condições,

em pouco tempo perderão peso, o desempenho reprodutivo será re-duzido e ocorrerá diminuição da imunidade.

Assim, o bovino Curraleiro Pé-Duro apresenta grande potencial de utilização por pequenos produ-tores rurais, pois além de fornecer carne, leite e animais de trabalho, proporciona baixo custo de pro-dução e não exige grandes investi-mentos em infra-estrutura na pro-priedade.

Adaptado às condições ad-versas da Caatinga e Cerrado, o Curraleiro Pé-Duro rústico, carne saborosa e baixo teor de gordura, maior resistência a ecto e endopa-rasitas, oque reduz a utilização de

tins), este bovino provavelmen-te é descendente direto das raças portuguesas e espanholas como Alentejana e a Galega. Outros pes-quisadores descrevem que esses bo-vinos seriam descendentes da raça Mirandesa, mais particularmente da variedade Beiroa, presente em Portugal e na província espanho-la de Leon. Porém, é provável que tenham vindo de diferentes grupos genéticos, que na época ainda não eram estabelecidos como raça.

Na época da colonização dife-rentes raças eram exportadas para o Brasil e durante as viagens de na-vio muitos morriam, sobreviven-do os mais rústicos. Ao chegar no

nordeste brasileiro essas raças pro-duziram cruzamentos aleatórios, originando o bovino Curraleiro Pé-Duro. Esses animais adapta-ram-se gradativamente às pasta-gens de baixa qualidade, às condi-ções de baixa umidade, ao calor e a outros fatores adversos. O resul-tado dessa seleção natural foi à so-brevivência dos espécimes mais re-sistentes e adaptados às condições desfavoráveis do sertão brasileiro.

O bovino Curraleiro Pé-Duro, além do valor econômico possui também o valor histórico para o sertão e agreste. O Estado do Piauí no passado foi um grande expor-tador de carne para outras regiões,

sendo na época a raça com maior número efetivo. A busca por mi-nério e a captura de índios foram catalisadores do processo de inte-riorização dos rebanhos no Brasil colônia. A tendência da época era a criação de gado rumo ao interior e a produção de açúcar na região litorânea. No decorrer do século XX o bovino Curraleiro Pé-Duro entrou em franco processo de ex-tinção com o domínio da pecuária nacional pelas raças zebuínas.

No último censo de bovinos Curraleiro Pé-Duro verificou-se um efetivo de 3.692 animais, nú-mero considerado baixo, tornando a raça vulnerável à extinção.

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insumos químicos como carrapa-ticidas e medicamentos, fato que tem sido cada vez mais valoriza-

do por consumidores de carne em todo o mundo e pode ser usado como um diferencial no mercado.

Adicionalmente também foi ob-servada maior resistência as plan-tas tóxicas.

Diversidade de pelagens de bovinos da raça Curraleiro Pé-Duro.

Quem cria bovinos Curraleiro Pé-DuroNos últimos anos, a tônica da

discussão acerca do gado Cur-raleiro Pé-Duro esteve bastante voltada ao “risco de extinção”. En-tretanto, o cenário atual apresenta um panorama mais promissor e otimista. O número de criadores e entusiastas pela raça é maior que o anteriormente estabelecido. Este resultado tem surpreendido os pesquisadores e criadores, indi-cando que mais criatórios da raça poderão ser identificados fortale-cendo os dados demográficos do censo populacional e potenciali-

zando o registro de animais Cur-raleiro Pé-Duro no livro genealó-gico recém-aberto.

Existem criatórios de Curralei-ro Pé-Duro principalmente nos Estados da Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí e Tocantins e, estima-se que existam mais de 5.000 animais. É impor-tante salientar que a EMBRAPA Meio Norte possui um núcleo de preservação no município de São João do Piauí, em que os bovinos são mantidos no habitat onde se desenvolveram e foram submeti-

dos à seleção natural.No censo de 2008 verificou-

se que nas propriedades visitadas nos Estados de Goiás e Tocantins o sistema de produção era extensivo de médio nível tecnológico, baixo custo de produção, pouco retorno econômico e alto risco de endoga-mia. Os criadores mantêm os re-banhos por tradição e pelo sabor e qualidade da carne, o que deter-mina o caráter cultural e familiar dessa atividade e a crença de con-tinuidade por parte das gerações futuras. Os criadores são arredios

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O que o bovino Curraleiro Pé-Duro tem de melhorEssa raça habita o cerrado e os

sertões nordestinos e possui ca-racterísticas corporais adequadas ao clima da região. Os animais ali-mentam-se de pastagens naturais de baixa qualidade, assumindo por sua vez uma grande vantagem eco-nômica. As condições climáticas e ambientais como chuvas reduzi-das e distantes uma da outra, clima quente, pastos grosseiros e escassos podem ser levadas em consideração

quanto ao perfil dessa raça.Com o objetivo de dar uso a es-

ses recursos genéticos singulares, a Embrapa Meio-Norte em parceria com outras unidades da Embrapa, em especial com a Embrapa Pecuá-ria Sudeste, desenvolve trabalhos de pesquisas e avaliações de seleção e cruzamentos com vistas à produção de carne com qualidade nos trópi-cos. De acordo com o pesquisador Geraldo Magela Cortes Carvalho,

as pesquisas estão mais avança-das no uso do Curraleiro Pé-Duro, como um taurino tropicalmente adaptado, como touro em cruza-mentos com vacas Nelores onde as fêmeas produzidas (F1) são insemi-nadas com touros comerciais das raças Angus ou Senepol para pro-dução industrial. Esses cruzamen-tos, devido à heterose, possibilitam o melhor uso de forrageiras nativas, maior resiliência a ecto e endopara-

e desconfiados, o que dificulta a abordagem e aproximação para executar trabalhos em conjun-to, entretanto, são orgulhosos do que possuem e entusiasmados em aderir à iniciativas que divulguem sua cultura e tradições. Contudo, as expectativas para expansão do rebanho e utilização comercial da raça são promissoras.

A raça bovina Curraleiro Pé-Duro representa um importante patrimônio genético animal, tanto para pequenos como para médios produtores, principalmente da re-gião semiárida brasileira.

No Estado do Maranhão e Piauí, o bovino Curraleiro Pé-Duro predomina sobre as demais raças e o objetivo da criação é co-mercial. Os proprietários são mo-tivados e trabalham na perspectiva de produção em grande escala e destaque de produto com qualida-de diferenciada.

Muitos criatórios foram for-mados a partir da árdua e insisten-

te “garimpagem” de criadores por animais que na época eram deno-minados “Pé-Duro” ou “Curralei-ro”. São pecuaristas que estiveram motivados pela preservação destes animais, interessados pelo aspecto cultural e histórico associado ou pelas características zootécnicas como de rusticidade e adaptação.

A identificação de criadores e animais Curraleiro Pé-Duro tem sido maior que o esperado. Contu-do, isso não alivia a tensão e o cará-ter emergencial da necessidade de elaborar e fortalecer um programa robusto e eficaz para preservar,-conservar e utilizar o bovino Cur-raleiro Pé-Duro.

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sitas, maior ganho de peso, melhor rendimento de carcaça, e conse-quente maior produção de carne de boa qualidade por hectare nos tró-picos quentes.

Dentre os fatores que determi-nam a qualidade da carne estão os atributos organolépticos e, dentre esses, a maciez é o mais valoriza-do pelo consumidor. Sabe-se que o genótipo do animal é um dos fato-res ante-mortem que atuam sobre a maciez da carne e que, em razão do clima predominante no Brasil, cer-ca de 80% do rebanho bovino é de gado zebu ou de animais azebuados que, reconhecidamente, apresen-tam níveis inferiores de qualidade de carne, especialmente maciez, quando comparados com os tauri-nos. Vários trabalhos indicam que a maciez da carne diminui com o aumento da proporção de Zebu nos animais e alguns autores relatam que estes animais não deveriam ter mais de 25% de gado zebuíno.

A existência de raças taurinas adaptadas abre perspectivas de se aumentar a proporção de Bos-taurus nos animais sem reduzir a adaptação às condições das regi-

ões de clima tropical e subtropical, para obter uma carne mais macia, o que atenderia aos anseios do mer-cado consumidor. A presente tec-nologia visa à utilização do taurino Curraleiro Pé-Duro, tropicalmente adaptado, em vacas Nelores para produção eficiente de carne bovina de qualidade.

Resultados de pesquisas em cruzamentos realizados na Embra-pa Meio-Norte durante seis anos de avaliação mostraram ganho signifi-cativo devido à heterose, evidencia-da nos produtos dos cruzamentos em 21, 37, 32 e 42 kg no desmame,

ao ano, sobreano, aos dois anos de idade, respectivamente, de peso a mais que o Nelore puro nas avalia-ções. O Curraleiro Pé-Duro é, por-tanto, um germoplasma estratégico para o agronegócio brasileiro.

Em outra pesquisa com cria-dores em Goiás, aos bovinos Cur-raleiro Pé-Duro foram atribuídas características como: resistência, temperamento, pouca necessidade de cuidados, boa produtividade e baixo custo de manutenção, além de possuir sabor e qualidade da car-ne diferenciados, símbolo de tradi-ção cultural e familiar no Estado.

Touro CurraleiroPé-Duro em estação de monta com vacas Nelore para produção de fêmeas mestiças (F1), para cruzamento industrial com Angus e ou

Senepol, com vistas à produção de carne com qualidade nos trópicos quente. Fonte: Geraldo Magela de Carvalho – Embrapa Meio Norte – Piauí

As matrizes mestiças F1, são muito bem adaptadas às condições adversas dos trópicos, são precoces e apresentam boa habilidade materna e propiciam maior produção de carne por hectare. Fonte: Geraldo Magela de Carvalho – Embrapa

Meio Norte – Piauí

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Perspectivas de uso da raça em sistemas produtivos

A questão sobre o uso de ani-mais Curraleiro Pé-Duro na agro-pecuária do futuro tem se mostrado um tema bastante amplo e diversi-ficado. O registro da raça junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2012 abriu no-vas perspectivas para os grupos in-teressados. As possibilidades de uti-lização do Curraleiro Pé-Duro tem íntima relação com o potencial da raça e as perspectivas são inúmeras e envolvem temas como o da viabi-lização da produção, a inserção dos produtos no mercado, o aumento da competitividade e a agregação de valor.

Considerando a cadeia produ-tiva e o contexto da raça como um todo, pode-se citar como perspecti-vas e potenciais da raça Curraleiro-Pé-Duro a indicação geográfica (de-nominação de origem e indicação de procedência), os selos de quali-dade (carne orgânica), de certifica-

ção, estruturação do turismo rural, turismo gastronômico, entre outros. Quando o foco é mais voltado ao se-tor de produção, base da cadeia pro-dutiva, a utilização do Curraleiro Pé-Duro tem sido bastante contex-tualizada nos cruzamentos inter-ra-ciais. Essa estratégia visa produzir animais com aptidão para carne e leite, que possuem maior rusticida-de, resiliência e produtividade em pastagens menos nutritivas, tem-peraturas mais elevadas e menor aporte tecnológico. Seria explorar o “vigor híbrido” que é o resultado do acasalamento de indivíduos “geneti-camente distantes”. Esse é o caso de cruzar o Curraleiro Pé-Duro (ori-gem europeia) com animais do gru-po zebu (origem indiana).

O sucesso das estratégias que serão adotadas após a reflexão e de-cisão sobre os potenciais da raça vai depender do êxito em atribuir qua-lidades e fatores que tornam os pro-

dutos cárneos e lácteos oriundos do Curraleiro Pé-Duro em especiarias, ou que simplesmente garantam um espaço sólido no mercado, ou seja tenha competitividade.

Manter foco na grande ampli-tude e leque de possibilidades que existe para o uso do Curraleiro-Pé-Duro na agropecuária pode ser uma importante estratégia para ten-tar desenvolver e fortalecer a raça. Em termos gerais, o objetivo é fazer com que a raça possa servir de ma-téria prima e de recurso genético.

O tema acerca do uso da raça Curraleiro Pé-Duro envolve tam-bém considerações sobre a renda de pecuaristas, a oferta de alimen-to de origem animal para consumo humano, bem como a diversificação de produtos de origem animal, au-mento da eficiência e sustentabili-dade dos sistemas de criação. De-bater sobre as perspectivas do uso do Curraleiro Pé-Duro é adentrar a discussão sobre o desenvolvimento sustentável, que envolve fatores liga-dos ao interesse social, cultural, eco-lógico e econômico. A criação do Curraleiro Pé-Duro tem associação com todos os pilares do desenvol-vimento sustentável. No tocante ao fator ambiental, por exemplo, res-salta-se a questão de potencializar a produção de carne, sem necessaria-mente intensificar o desmatamento e a transformação da paisagem na-tural do Cerrado e Caatinga.

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Nem sempre as pessoas envol-vidas com a produção animal, agro-pecuária e mercado compreendem a magnitude e a diversidade dos grupos de interesse, representadas por instituições de pesquisa, por pecuaristas, agências de desenvolvi-mento rural, empresários e “impé-rios agroalimentares”. Conhecer a diversidade nos grupos de interesse é importante porque as perspecti-vas do uso do Curraleiro Pé-Duro envolvem setores de toda a cadeia produtiva. Envolve desde o pecua-rista até o consumidor final.

É necessário assumir que a ex-periência e o contexto do Curralei-ro Pé-Duro são eventos ímpares. É preciso admitir a singularidade dos sistemas de criação, das ideias e sonhos de cada criador, das pes-soas que terão interesse em vender e consumir os produtos gerados. É necessário compreender que o contexto é mesmo diversificado e “heterogêneo”.

Ressalta-se a necessidade de

compreender, fortalecer e desen-volver o gado Curraleiro Pé-Duro sob a ótica do trabalho em rede, com foco na boa comunicação e parceria. Talvez essa seja uma es-tratégia de eleição para conduzir o debate sobre as perspectivas do uso da raça e para detectar as situa-ções mais assertivas e promissoras.

Finalizando, é importante re-latar a inserção da raça em festi-vais gastronômicos, haja vista o

interesse despertado entre chefes de cozinhas renomados nacional-mente, bem como a possibilidade de inclusão do bovino Curraleiro Pé-Duro em projetos como a Arca do Gosto do Slow Food - um ca-tálogo mundial, que identifica, localiza, descreve e divulga sabo-res quase esquecidos, de produtos ameaçados de extinção, mas com potenciais produtivos e comerciais reais.

Saiba mais sobre o bovino Curraleiro Pé-DuroASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE

BOVINOS CURRALEIRO PÉ-DURO(ABCPD)

A Associação Brasileira de Cria-dores de Bovinos Curraleiro Pé-Du-ro (ABCPD) deu continuidade à Associação dos Criadores Piauien-ses (ACP), fundada em 18 de maio de 1924, e que congregava a maioria dos criadores mais destacados de to-das as espécies de animais da pecu-ária piauiense. Na sua constituição

fundiu-se em 2012 com a Associa-ção Brasileira de Criadores do Gado Curraleiro (ABCGC), registrada em 1997 e sediada em Mara Rosa-Goiás.

Constituem fundamentos da ABCPD a cidadania, a solidarie-dade, o pluralismo cultural, o de-senvolvimento sustentável, a trans-disciplinariedade e a defesa do

patrimônio genético e cultural do gado bovino Curraleiro Pé-Duro. Atua também no apoio à pesquisa científica e a inovação tecnológica; no fomento ao ambiente de negó-cios e à prospecção de novos mer-cados; na articulação da pecuária com os demais elos da cadeia pro-dutiva da carne e do leite.

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SiteS de interessewww.abcpd.com.brwww.redecentrooeste.org.br

Coordenação: Financiamento:

A Rede Centro Oeste de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação – Pró-Centro-Oeste, instituída por meio da Portaria MCT-MEC Nº 1.038 de 10 de dezembro de 2009, congrega Instituições de ensino e pesquisa dos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal, suas respec-tivas Secretarias de Estado de Ci-ência e Tecnologia e Fundações de Amparo à Pesquisa. A Rede foi instituída para trabalhar em duas frentes: produzir conhecimento, com vistas à conservação e ao uso sustentável dos recursos naturais do Cerrado e do Pantanal, e formar recursos humanos para o desen-volvimento sustentável da Região

Centro-Oeste. No primeiro Edital MCT/CNPq/FNDCT/FAPs/MEC/CAPES/PRO CENTRO-OESTE Nº 031/2010, foram aprovadas 16 redes. No segundo Edital MCTI/CNPq/FNDCT Ação Transversal - Redes Regionais de Pesquisa em Biodiversidade e Biotecnologia N º 79/2013, foram aprovadas 09 re-des. A REDE 12 - Caracterização, Conservação e Uso das Raças Bo-vinas Locais Brasileiras: Curralei-ro e Pantaneiro foi contemplada nos dois editais, recebendo recur-sos para o desenvolvimento de 14 subprojetos.

O objetivo da Rede Curralei-ro e Pantaneiro é estabelecer uma rede inter-regional e interdiscipli-

nar de pesquisas e transferência de conhecimento com a fi nalida-de de caracterizar duas raças bo-vinas brasileiras locais em risco de extinção, Curraleiro Pé-Duro e Pantaneiro, além de gerar dados para subsidiar o desenvolvimento de um modelo de exploração pe-cuária para o Cerrado e Pantanal, utilizando essas raças, priorizando a conservação dos ecossistemas, Cerrado e Pantanal, a sustentabili-dade e a diversidade genética.

O principal resultado será a preservação de duas raças bovi-nas completamente adaptadas às condições do Cerrado/Caatinga e Pantanal e a consequente ma-nutenção das informações con-tidas na sua estrutura genética, desenvolvidas ao longo de séculos de seleção natural, que garantem maior resistência a doenças e pa-rasitas; por meio da estabilização do número de bovinos, da pro-moção da conservação in situ e ex situ e da utilização em sistemas produtivos.