RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA

5/10/2018 RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA - slidepdf.com

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A racionalidade argumentativa

Com a Nova Ret6rica nasce um novo modelo de razao: uma razao que nao e

mais entendida como_faculdq9~ nurnana que (0 prioofe capaz d.f._conhecimentos

verdadeiros e unlvo~s, ~as como faculdade humana plural, l?Q!"tad~ (0 posteriori)

de ~nhecimet\to5 piurivocos e,p mais pr6ximos posslve v _ r ade.Emerge,assim,

uma nova concepcao da racionaiidade - uma racionalidade argumentativa.- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -I A razao nao e ( . . . ) uma faculdade imutavel, nem a racionalidade uma

ordem eterna. ( ... ) Se a racionalidade nao pode ser descontextualizada nem

desumanizada ou despersonalizada; se. ao inves, ela tern de ser compreen-

dida como discurso que se dirige a urn auditorio, entao nao e a evidencia

que a caracterizara, Sera concebida como apelo ao assentimento de urn audi-

t6rio universal que englobaria todos os homens sensatos. Desta forma, a

razao nao e uma faculdade universal que, valendo para cada urn, valeria,

pela unicidade da sua natureza, para todos. A universalidade e antes a meta...,c- . Wi

para que tende a razao, uma intencao do discurso, 0 pano de fundo da racio-

nalidade, a ideia reguladora que norteia 0 esforco de por em comum e de



~a~ao e detentora da lIDiye[5alkladc,..L.~""",,I~~_

Clade e a ideJa reguladora gue norteia 0esfon;o de p-or em comum e d~ \

obter 0acordo de todos os homens,__

• Toda a arqumentacao radonal deve ser universalmente reconhecida.

• Esse reconhecimento nao resulta de uma evidencia a priori ou de uma impo-

sicao da razao, antes releva da adesiio as teses que 0discurso prop6e.

• As teses do discurso serao tanto mais universais guanto mais adesao conse- I 1guirem por serem as mais plausrveis, isto ~ aquelas que melhor explicam a Vrealidade ao auditorio universal

• f ! : . adesao depende do auditorio, que nao e tabua rasa; pelo ~rario, e situado, V I

enraizad€l num eSl2ac;:oe tempo Q.ume conferern certas caracterfsticas.--



A problernatica da verdade e ineliminavel. Quando Chatelet escreve

~

imprudentemente que nao ha verdade, formula a sua verdade, a de ausencia

de verdade, ou seja, uma verdade de segundo grau, uma metaverdade mais

verdadeira do que as (aparentes) verdades. A nocao de verdade, imediata-\

mente repudiada, ressurge de forma nova, com urn estatuto novo.

Esse novo estatuto nao e apenas aquele ( ... ) da racionalidade da verdade,

em que a verdade ja nao e uma evidencia proveniente do real que se imp6e

em absolute. mas sim 0 fruto de uma construcao complexa do espirito a par-

tir de uma relacao dialogante com 0 real que recone a percepcao, a memo-

ria, a lcqica e a reflexao critica. ( ... )

rE sobretudo 0 da biodegradabilidade da verdade. Toda a verdade existe

~~

em condicoes e limites de existencia dados. Pcdera ser absolutamente verda-

'i i deira nessas. condicoes e nesses limites, mas morrera fora dessas condicoes e

desses limites. As verdades nao biodeqradaveis sao ilus6rias e mentirosas na

sua pretensao de transcenderem as condicoes mortais da existencia.

E. Morin, As Grandes Questoes do Nosso Tempo, Editorial Noticias



3.3.4 . A rgumenta«;ao e d iscu rso filos6fico .

o discurso filos6fico evidencia-se como uma das formas de dizermos!conhe-

cermos a realidade. De entre todos os tipos de discursos humanos possiveis, a

filosofia sempre teve por objective a busca da verdade a partir de problemas ou

questoes radicais. As suas respostas estiveram (e estao), muitas vezes, dependen-

tes das suas perguntas e respostas tradicionais. E neste sentido que se pode

compreender que a pretensao plat6nica de uma verdade absoluta, perfeita e

imutavel, capaz de dizer uma realidade absoluta, perfeita e imutavel, esta na ori-

gem da separacao entre ret6rica e filosofia.

Contra todo 0 tipo de absolutism os e dogmatismos imp6e-se, para a fil6sofo

de hoje, a aflrrnacao de uma (au varies) verdade(s) possivel(eis) aliada(s) a uma

atitude critica, de abertura e questionamento face ao real. Para a filosofia con-

temporanea, a busca da verdade nao e incompatfvel com a ret6rica; pelo contra-

rio, ha quem afirme poder encontrar nela 0metoda da fiiosofla.



~

A filosofia, mais do que encantrar-se ligada a posse da verdade, associa-se

a crenca na verdade e a aspiracao de tamar a verdade, em que a fil6sofo ere,

admitida por outras pessoas, e. eventualmente, por todas as pessoas (... ).

Ora, esta admissao. esta tentativa de fazer admitir certas teses. 56 pode serrealizada atraves de meios argumentativos.

E se quisessemos agora (... ) decalcar do modele das ciencias uma per-

gunta que permita caracterizar a filosofia, qual e 0 metoda da filosofia,

estariamos em condicoes para responder que a metoda pr6prio da filosofia e

a arqumentacao.

Desta forma, e possivel fazer uma nova abardagem do discurso filosofico.

dizendo que: a) ele se dirige a urn audit6rio que procura persuadir; b) 56

pode persuadir partindo daquilo que esse audit6rio ja admite, isto e, estabe-

lecendo urn laco entre 0 que se quer fazer adrnitir e aquilo em que, a par-

tida, se acredita.

(... ) S6 a luz das contributos de uma teoria da arqumentacao a filosofia

podera ser, efectivamente, compreendida como atitude critica e aberta.

R. Gracie, "lntrooucao a Traducao Portuquesa", in C. Perelman. ImperiO Retoncc; Ed. ASA

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