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(Re) organização sócio-territorial no cerrado piauiense, a partir
da década de 1990.
Anézia Maria Fonsêca Barbosa*
Maria do Socorro Lira Monteiro**
RESUMO
A expansão da fronteira agrícola é histórica no Brasil, pois desde a colonização
implantou-se grandes projetos agrícolas para exportação. Assim para, incentivar as
transformações urbanas, industriais e agrícolas na década de 1950, o Governo
Federal instituiu políticas que visavam a integração nacional como a inserção dos
cerrados brasileiros em função das grandes extensões de terras planas desocupadas
e a necessidade de equilibrar a balança de pagamento. Nessa perspectiva, a partir da
década de 1970, este contexto aliado ao baixo preço das terras e de mão-de-obra
local, à favorabilidade das terras para a mecanização, incentivos fiscais e financeiros
concedidos pelos governos federal e estadual, despertou o interesse de grupos
empresariais do Centro-sul do país para instalar-se, inicialmente, com projetos de
reflorestamento e, posteriormente, de produção de grãos, no cerrado piauiense e,
particularmente, no município de Uruçuí, que atualmente é o maior produtor de soja do
Estado. Logo, este artigo analisa como a implantação dos projetos produtores de
grãos, em particular, soja, provocou uma reorganização sócio-territorial em Uruçuí.
Para tanto, fez-se levantamento bibliográfico, documental e pesquisa de campo.
Donde inferiu-se que a implantação dos projetos agrícolas em Uruçuí foi determinante
para a reestruturação dos espaços urbano e rural do município com a finalidade de
atender as necessidades dos produtores agrícolas, a qual redundou em novos
arranjos sócio-territorial que manifestada pelas diferentes maneiras que a sociedade
se utiliza dos espaços com reflexo local nos âmbitos econômicos, social, ambientais e
cultural.
______________________________
* Mestranda, do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/TROPEN/UFPI). E-mail:
** Professora Doutora do Departamento de Economia e do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/TROPEN/UFPI). E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A atividade agrícola no Brasil historicamente é um dos carros chefes da
economia do país, haja vista destinar-se à produção de bens para abastecimento do
mercado interno e para a exportação. Dessa forma, com vista continuar atendendo as
necessidades locais e do mercado externo, fez-se premente a inserção de novos
espaços geográficos para produção nessa perspectiva o Nordeste, sobretudo as áreas
de bioma cerrado do noroeste da Bahia, sul dos estados do Maranhão e do Piauí
consideradas como as últimas fronteiras agrícolas do país, atraíram migrantes
oriundos do Centro-sul com o objetivo de produzir grãos, em especial soja, torná-las
competitiva com outras regiões brasileiras e promover o crescimento econômico.
A ocupação do cerrado piauiense, em particular, Uruçuí nos anos de 1990,
provocou profundas modificações nos espaços rural e urbano nos âmbitos ambiental,
social, econômico e cultural. Esta constatação ensejou a necessidade de questionar-
se, como o agronegócio de grãos desenvolvido em Uruçuí ensejou uma reorganização
sócio-territorial em Uruçuí?
Para a efetivação da pesquisa fez-se levantamento bibliográfico e documental
em livros, periódicos, internet e instituições que desenvolvam atividades relativas à
temática. E, pesquisa de campo, através de aplicação de questionários e realização de
entrevistas de forma aleatória junto a comerciantes, comunidade do assentamento
Santa Tereza, representantes dos projetos agrícolas, do poder municipal, igrejas.
Neste sentido, este artigo divide-se em três itens, o primeiro analisa o espaço
como uma representação social o segundo analisa a formação dos territórios e a
retorritarialização. E, o terceiro, sintetiza os resultados obtidos na investigação.
1 – Espaço e território como fatores de representação social
A análise dos conceitos da geografia é de fundamental importância para a
compreensão de formas como as sociedades se formam e multiplicam os espaços em
função de suas necessidades em determinados locais da superfície terrestre. Neste
sentido, segundo Moraes (1995) diversos teóricos da geografia positivista como
Humboldt e Ratzel destacam que o domínio e organização do espaço, apropriação de
territórios, variação regional, entre outros, alimentará a sistematização da geografia,
onde a questão do espaço era primordial, quer ele seja o espaço natural ou aquele
socialmente produzido. Ou seja, como a sociedade percebe seu local de vivência,
nesse contexto, chegar-se-á a definir aquele que é considerado como o maior e
definidor do estudo da sociedade, que é o entendimento do conceito chave
denominado espaço geográfico.
Sendo assim, o conceito de espaço precede a análise das categorias espaciais
para a percepção do meio geográfico. Nesta perspectiva, em conformidade com
Sposito (2004), Milton Santos foi o pioneiro em demonstrar que o espaço é um
conjunto indissociável de sistemas de objetos e de ações, pois o homem e o espaço
possuem relações intrínsecas que os tornam complemento da formação dos meios de
produção. Neste contexto, a dimensão espacial se configura como o fator fundamental
de representações das atividades humanas sobre a superfície terrestre, que ao longo
do tempo vem sendo estudadas para a compreensão das diversas formas de ordenar
o meio natural com base no trabalho humano.
Dessa forma, Moraes & Costa (1987, p.74) salientam que para Marx o próprio
trabalho é definido como “um processo de que participa o homem e a natureza,
processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla
seu intercâmbio material com a natureza”. Logo, o homem é distinguido como ser
social na medida em que realiza trabalho e concretiza no espaço seu modo de agir
sobre a natureza.
Ademais, estudiosos como Humboldt, Ritter e Ratzel destacam que a
constituição e a ampliação do espaço vital são fatores fundamentais para o surgimento
do Estado, enquanto área política que se caracteriza como território por ser local de
poder. Logo, o território revela-se como mais um conceito-chave na organização do
espaço social, na medida em que consiste local que determina poder entre grupos de
populações com interesses distintos em cada porção do espaço.
Nesse sentido, Santos et al. (2002), enfatizam que os territórios atuais
possuem novos recortes, convencionados como horizontalidades e verticalidades, que
são domínios das contigüidades, reunidos por uma continuidade territorial. E
verticalidades, os quais são formadas por pontos distantes uns dos outros, ligados por
todas as formas e processos sociais.
Esta concepção hodiernamente despertou para a discussão sobre a
formação de rede e fim das fronteiras entre diversos locais que se integram no mundo
globalizado, expressando o território como um processo multidimensional o qual é
inerente à atividade em sociedade. Essa abordagem explica três características de
território, as quais de acordo com Santos (2002) são denominadas de território de
acontecer homólogo, de acontecer complementar e como condição do acontecer
hierárquico. O primeiro expõe que as produções urbanas e rurais se modernizam em
função de informação especializada, conduzindo os comportamentos da sociedade a
racionalidade presidida por informações que criem similitudes de atividades e que
atendem aos contornos da área definida. O segundo, se caracteriza pelas relações
entre campo e cidade e entre as próprias cidades para a geração da produção
moderna e intercâmbio destas. E terceiro, é resultante da racionalização das
atividades, embasada na concentração da organização produtiva, alicerçada na vida
humana e no espaço.
Destaca-se ainda em conformidade com Haesbaert (2002) a visão naturalista
de território que envolve o sentimento e a sensibilidade humana, moldados pela
própria natureza ou pela natureza cultural criada neste local. Em contraposição o
referido autor ressalta a concepção etnocêntrica, que ignora a visão da relação
homem-natureza ao considerar o território como construção puramente humana e
social, possibilitando controle, domínio e apropriação. Logo, a dominação do espaço
por certa classe social ou grupos, proporciona como conseqüências o fortalecimento
das desigualdades sociais, derivado de construção de identidade cultural diferenciada,
significando que o território é produto de relações de forças desiguais, sobretudo no
atual estágio do capitalismo mundial, cujo desdobramentos é a incidência do processo
de desterritorialização.
Todavia, este contexto ao mesmo tempo em que destrói as identidades culturais,
provoca o surgimento de uma nova forma de territorialização, chamada de
reterritorialização. Neste sentido, a produção de outros no cerrado piauiense, centuada
em novas formas de apropriação do espaço que trazem em seu bojo comportamentos
externos à comunidade da região, promovendo para um lado a integração e, por outro
a exclusão de grupos sociais locais. Sendo assim, Haesbaert (2002, p. 121), explicita
que,
Enquanto a dominação do espaço por um grupo ou classe traz como conseqüência um fortalecimento das desigualdades sociais, a apropriação e construção de identidades territoriais resultam num fortalecimento das diferenças entre os grupos, o que, por sua vez, pode desencadear tanto uma segregação maior quanto um diálogo mais fecundo e enriquecedor.
Nessa perspectiva, o referido autor salienta que esta maneira de territorialidade
embasa-se nas vertentes políticas no qual o território consiste em um espaço com
delimitações, porém empoderado; cultural, quando o território se constitui em
representações simbólicas e culturais da sociedade; e econômica, quando o território é
fonte de recursos fundastes da relação capital-trabalho e, da conseqüente divisão
social e territorial do trabalho.
Esta configuração deixa claro que os territórios ao longo do tempo estava sendo
substituídas, na medida em que as identidades culturais dão lugar à novas técnicas e
redes globalizantes demonstrando assim o poder dos grupos que lideram o mercado
mundial. Neste sentido, para Santos (2002) o processo de desterritorialização reflete a
união vertical dos vetores de modernização entrópicos que proporcionou desordem
para a sociedade local. Este panorama, expressa em conformidade com Dias (2004,
68) que “estamos diante de uma busca voraz de mais uma fluidez, o que engendra a
procura de técnicas cada vez mais eficazes”. Tais técnicas objetivam atender a
demanda do mercado mundial que exige de um determinado país a possibilidade de
abertura abrangente ao processo de fluidez, porém seletivo e não-igualitário,
aumentando assim cada vez mais as desigualdades existentes nas regiões dos países
em desenvolvimento.
Contudo, esta mobilidade conduziu a criação de vários espaços que estão
susceptíveis as novas adequações da economia vigente, levando assim a conformar
territórios que se integram ou não a exigência do mercado mundial. Por conseguinte, é
neste contexto que ressalta-se a instalação de empreendimentos do sul do país para a
produção de grãos, em particular, soja, no cerrado do Piauí, especialmente, no
município de Uruçuí.
Embasado nessa realidade Santos e Silveira (2001) explicitam que estes
espaços são chamados luminosos, por acumular em técnicas e informações com
capacidade de atrair empreendimentos econômicos intensivo em capital, tecnologia e,
sobretudo em organização. Logo, os espaços são integrados em uma lógica
informacional que atende aos interesses de grandes empresas nacionais ou
multinacionais, influenciando desta forma os aspectos sócio-culturais da sociedade
atuante nestes territórios. Sendo assim, a questão ambiental passa a ser analisada
sob o âmbito da desterritorialização, como um elo entre o trabalho humano e a
intervenção na natureza, ou seja, Haesbaert (2002, p. 76) reconhece que “o Estado
em seu papel de gestor-redistribuidor e os indivíduos e grupos sociais em sua vivência
concreta com os “ambientes” capazes de conhecer e tratar o espaço social em todas
as suas múltiplas dimensões”.
Com base no exposto, quanto aos conceitos de espaço e território relativo
a implementação de atividades produtivas em determinação do espaço geográfico,
reconhece-se que a produção agrícola gera espaço heterogêneos. Logo, faz-se
necessário e premente estudar historicamente a formação e organização dos espaços
da agricultura brasileira, nordestina e piauiense.
2 – Interdependência Campo/Cidade
As relações entre campo e cidade são palco de recorrentes discussões na
sociedade, em função da proximidade das atividades desenvolvidas nos dois espaços
gerar grande interdependência. Contudo, de acordo Endlich (2006), nos primórdios da
civilização havia a separação entre a cidade e o campo, a qual manifestava as
primeiras e fundamentais formas de divisão do trabalho.
O crescimento dos setores secundário e terciário modelaram um perfil dinâmico
e acelerado para o espaço urbano. Contrariamente, no espaço rural a atividade
econômica embasou-se no setor primário, com baixa produtividade. Assim, para
Bernardelli (2006) entender os espaços rural e urbano é compreender a contradição
própria da sociedade capitalista. Contudo, Marques (2002), assevera que esta
contradição está diminuindo, sobretudo a partir de meados do século XX, em virtude
do aumento considerável do desenvolvimento de pluriatividades, que consiste em uma
unidade produtiva multidimensional em que se empreendem atividades agrícolas e
não-agrícolas dentro e fora do estabelecimento, gerando conseqüentemente
mudanças nas rotinas de trabalho no meio rural.
Desta forma, Rocha e Pizzolatti (2005, p.48), destacam as articulações do
espaço rural e urbano,
A expansão das cidades no modo de produção capitalista, resultou em significativas transformações no campo. As concentrações urbanas que se estenderam sobre as áreas rurais e as absorveram, acabaram por apresentar a construção de uma nova paisagem, representada pelas dinâmicas e vivências da população residente. Contudo, estudos acerca das questões urbanas, das quais têm alardeado a respeito da funcionalidade e independência da cidade sobre o campo, mostra-se pouco abrangentes quando desconsideram o espaço urbano como um moisaco de subespaços articulados, compostos por grupos sociais e modos de vida distintos.
Portanto, ainda em conformidade com os autores a urbanização avançou sobre
o território, assim a relação cidade-campo tem se constituído freqüentemente de
subespaços rurais no espaço urbano e vice-versa. Esta conformação foi identificada
em Uruçuí, através de pesquisa de campo, na medida em que se presenciou uma
significativa mudança a partir do início da década de 1990, decorrentes de intensiva
instalação de projetos agrícolas para a produção de grãos, em particular, soja, como
explicitados nas Figuras 1 e 2.
Figura 1: Curral de rebanho bovino no espaço urbano de Uruçuí-PI.
Fonte: Arquivo da autora, março de 2008.
Figura 2: Comércio de peças para caminhões e tratores na zona rural de Uruçuí
Fonte: Arquivo da autora, março de 2008.
As Figuras demonstraram a interdependência entre os espaços rural e urbano,
onde a dinâmica combinada dos mesmos expressou a concepção de território e
desterritorialização, principalmente porque as mobilidades dominam as relações da
sociedade com o espaço. Deste modo, o processo de industrialização do capital
integrou o espaço do campo por meio de intensificação da mecanização com a
interação da produtividade agrícola para atender as demandas do comércio
internacional, como observado na Figura 3.
Figura 3: Máquina colhedeira de soja na Fazenda Condomínio União 2000 em Uruçuí-PI.
Fonte: Fianco (2003).
A Figura 3 explicitou que a ocupação de grandes áreas de terras para a
produção moderna de grãos, embasada na mecanização, trouxe modificações
significativas e conseqüências espaciais em Uruçuí, devido provocarem novas formas
de reorientar o espaço, para atender a acumulação de capital, personificadas pelo
grande produtor rural. Sendo assim, as relações de trabalhos próprias da zona urbana
vão sendo introduzidas nos espaços rurais, revelando dessa forma a interdependência
entre ambos.
Distarte, Kageyama (2002) deixa claro que o espaço rural, não se define mais
exclusivamente pela atividade agrícola, haja vista que o desenvolvimento das
pluriatividades rural e a crescente procura por diferentes tipos de lazer e de moradia
pela população urbana tem transformado o espaço rural em lugar de vida e não
apenas em local de produção, como presenciado historicamente.
Deste modo, Campanhola e Graziano da Silva (2000) defendem que o espaço
rural é uma continuação do urbano, na medida em que não compreende mais somente
a atividade agrícola, devido a implantação das pluriatividades. Ademais, destacam que
este sistema produtivo ocorreu em todo o Brasil, no cerrado piauiense e,
particularmente, em Uruçuí, no qual a instalação de projetos produtores de soja,
ensejou o estabelecimento de grande empreendimentos como o posto Cacique, o qual
depende para o pleno funcionamento de 46 funcionários residentes na zona urbana de
Uruçuí (Ver Figura 4).
Figura 4: Posto Cacique na zona rural de Uruçuí-PI.
Fonte: Arquivo da autora, março de 2008.
A partir da Figura 4, inferiu-se que desenvolvimento do espaço rural possibilitou
a participação da mão-de-obra urbana em atividades não-agrícolas, que segundo
Balsadi (2001) são conhecidas como commuting que significa ir e vir da residência
para o local de trabalho em áreas consideradas urbanas para áreas rurais, criando
conseqüentemente forte dependência das áreas rurais dos centros urbanos.
Deste modo, o grande desafio da atualidade nos espaços rurais e urbanos é a
promoção da valorização de ambas as partes para que no momento em que um
avance sobre o outro, o processo de sustentabilidade possa ser fator principal de
harmonia entre estes espaços.
3 – Análise da pesquisa de campo
Como destacado anteriormente, Uruçuí a partir dos anos de 1990 foi palco de
grande quantidade de projetos agrícolas, redundando em mudanças significativas nas
estruturas econômica, social e ambiental.
Do total de 216 moradores que conformou o universo pesquisado 30,09%
encontravam-se na faixa etária entre 18 e 25 anos, significando que o
desenvolvimento desse montante da população coincidiu com o processo de uso e
ocupação de Uruçuí alicerçado na produção de soja; 27,07% tinham entre 26 e 33
anos, os quais identificaram profundas mudanças no município sobretudo nos âmbitos
econômico e ambiental. As faixas etárias de 34 a 65 anos e superior a 66 anos que
correspondem a 36,57% e 9,26%, respectivamente, asseveraram que Uruçuí
presenciou uma transformação radical, sobretudo no setor de serviços, os quais
conduziram à melhoria das condições de vida da população, relativo a aquisição da
casa própria, aumento do poder de compra de produtos alimentícios, como também na
saúde e lazer. Contudo, verificou-se que Taís melhorias não contempla o conjunto de
população do município.
Através da pesquisa de campo identificou-se que 89,35% da população local
eram oriundas do estado do Piauí. E, deste total 77,31% eram naturais de Uruçuí e
3,24% eram originários de Ribeiro Gonçalves que dista em torno de 100Km, cuja
atividade econômica, embasa-se na produção de grão. Ressalta-se, outrossim, que er
2,78% eram provenientes de Barras que localiza-se na região norte do Estado, porém
se caracteriza por um intenso processo migratório de jovens e adultos e trabalhadores
desempregados durante o período de colheita dos produtos, para realizar tarefas
temporárias em empreendimentos agrícolas em todo o país e, em particular, em
Uruçuí.
A naturalidade dos 10,65% restante do público alvo da pesquisa, distinguiu-se
em 9,26% do Maranhão, uma vez que este estado margea Uruçuí pelo lado direito do
rio Parnaíba. E, os 1,39%, eram originários do Ceará, Mato Grosso, Paraná e Rio
Grande do Sul. Este percentual representou os produtores de soja com suas
respectivas famílias, marcando o processo de territorialização e desterritorialização no
município.
Quanto ao tempo de moradia da população no município 25,93% residiam de 31
a 38 anos, 24,54% estavam entre 23 a 30 anos e 20,37% moravam a mais de 38
anos, perfazendo assim um total de 70,84% de residentes. Este cenário por outro lado
explicou a longíngua temporalidade dos moradores de Uruçuí e, por outro lado,
demonstrou que o município é um pólo empreendedor e gerador de empregos
temporários e permanentes com a finalidade de dinamizar a produção agrícola,
proporcionando assim o uso de tecnologias modernas no espaço rural que segundo
Kageyama (2002) representa o desenvolvimento das pluriatividades, salienta-se que
os residentes de 23 a 30 anos não reconheceram mudanças social, econômica,
ambiental e espacial, no entanto, eles só se manifestam contraditoriamente quando
tais mudanças relacionavam-se com suas rotinas profissionais individuais, como a
proibição da criação extensiva da pecuária vigente antes da emergência dos projetos
agrícolas no município, os mesmos perceberam modificações espaciais.
A pesquisa demonstrou ainda que 6,94% estavam morando em Uruçuí menos
de 7 anos e 11,11%, residindo de 7 a 14 anos e de 15 a 22 anos. Estes intervalos de
tempo revelaram que a implantação dos projetos produtores de grãos foram
determinantes para incremento populacional, haja vista atraírem trabalhadores de
outros municípios do Piauí e dos demais Estados do Brasil para realizarem atividades
na agricultura, no comércio e nos diferentes tipos de serviços ofertados em Uruçuí.
Os 70,84% dos residentes no município que corresponde à soma da população
de 18 a 32 anos, explicitaram que os empreendimentos produtores de soja, além de
gerarem emprego para a população local, salientaram a necessidade da instalação da
Bunge Alimentos que consiste em uma empresa de agribusiness e alimentos. Que
atua de forma integrada em toda cadeia produtiva da soja, ou seja, desde o
financiamento da produção, a transformação da soja em produtos industrializados e a
comercialização. A implantação desta multinacional contribuiu de sobremaneira para o
incremento da oferta de emprego para moradores locais nas funções que exigem
menos qualificação, resultando na redução da migração e incremento da receita
municipal, como também possibilitou a integração de atividades próprias do espaço
urbano com tarefas específicas do espaço rural.
Neste sentido, nova forma organização da produção objetivou as necessidades
dos empreendedores agrícolas no município, porém provocou também a constituição
de uma nova configuração territorial, caracterizada pelo surgimento de serviços, e
estabelecimentos comerciais diversos, em especial os relacionados ao agronegócio de
soja e o de vestuário. E, a presença de condomínios de casas fechados com casas
exclusivos para os trabalhadores da Bunge, o que favoreceu a instalação de novos
bairros aumentando assim o raio horizontal do espaço urbano.
Nesse sentido, a pesquisa demonstrou que para 27,31% dos entrevistados a
mudança mais significativa na cidade foi o crescimento econômico, pois muitos
moradores da cidade passaram a trabalhar nos projetos agrícolas e promoveu a
melhoria das condições vida da população em geral, para 22,69% o crescimento
urbano foi o mais marcante, pois a vinda de pessoas de outros lugares fez surgir
bairros mais distantes do centro da cidade. Todavia, essa conformação provocou
consequentemente o acréscimo os problemas de infra-estruturas como distribuição de
água, energia elétrica, calçamento, etc.
Os trabalhadores de Uruçuí desempenhavam diversificadas de atividades, as
quais eram distinguidas em 21,30% de estudantes, 14,81% de domésticas, 10,65% de
aposentados, 8,80% de comerciantes, 6,02% de lavradores, 2,31% de motoristas,
1,39% de diaristas, 0,93% de operadores de máquinas, 0,46% de tratoristas, e
demais áreas profissionais com percentual muito baixo, como vigilantes, funcionários
públicos, pescador, frentista, soldador, secretária, técnico em eletrônica, advogado,
agente de saúde, etc. A variedade de função desempenhadas pelos trabalhadores de
Uruçuí proporcionou o da renda da população, em virtude da elevação do poder de
compra. Ademais tal configuração territorial exigiu a expansão da rede bancária no
município que conta com o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do
Nordeste do Brasil e Bradesco, em função da necessidade de diversificar as linhas de
créditos para os empreendedores em particular e para a população em geral.
A pesquisa de campo demonstrou ainda que 61,69% admitem que com a
implantação dos projetos agrícolas no município cresceu bastante a oferta de
emprego, 12,10% destacaram que houve um crescimento econômico muito grande na
cidade, pois a circulação de dinheiro aumentou e a arrecadação de impostos para o
município retornando assim para o melhoramento da infra-estrutura local, 4,44%
observaram que a educação foi o que mais melhorou nos últimos tempos, pois de
certa forma houve uma maior preocupação em expandir os cursos já oferecidos e criar
consequentemente outros, como já foi dito em momento anterior quando se analisou
sobre o sistema educacional, 10,48% destacou que a maior vantagem vista na cidade
neste período pós implantação de projetos agrícolas foi o aumento de pessoas na
cidade o que favoreceu para o surgimento de novos bairros na cidade aumentando
assim o raio horizontal da mesma. Ainda perfazendo a soma de um total de 11,29%
dos pesquisados virão como vantagens o desenvolvimento da área de produção na
zona rural, as infra-estruturas na cidade e outros não percebeu nenhuma vantagem.
Como também a referida configuração caracterizou-se por espaços rurais
produtores de soja com o uso intensivo de tecnologia moderna, os quais requereram a
pavimentação das estradas e a expansão do sistema de energia elétrica rural.
Contudo, salienta-se que este contexto provocou um intenso desmatamento no
espaço rural para o cultivo de grãos e no espaço urbano decorrente de integração de
áreas territoriais virgem para atender as necessidades do processo de acumulação
ampliação do capital, resultando na reterritorialização de ambos os espaços. Por
conseguinte, inferiu-se que a implantação de produtores de grãos na zona rural de
Uruçuí aumentou a dependência entre os espaços rural e urbano pelo fato de
demandar interrelações das atividades desenvolvidas no espaço.
4 – Conclusões
O estado do Piauí apresentou nos últimos anos do século passado
significativa expansão urbana dos municípios localizados na área que compreende o
bioma cerrado, inclusive sobressaindo-se entre os demais municípios de cerrado
existente do nordeste, os quais constituem a última fronteira agrícola do país.
Este contexto, resultou da instalação de empreendimentos com o objetivo
de produzir soja, atraídos pela conjuntura mundial favorável a oleagiona pela aquisição
de grandes quantidades de terras com preços baixissímos, favorabilidade das terras
para a mecanização, disponibilidade mão-de-obra local a baixo custo e incentivos
fiscais e financeiros concedidos pelos governos federal e estadual.
Tal cenário proporcionou uma reorganização significativa do espaço urbano e
rural de Uruçuí com a finalidade de atender as necessidades dos produtores agrícolas,
porém provocou também aumento de emprego, da renda municipal, gerando melhoria
das condições de vida das populações urbanas e rurais.
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