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SEU GRITO NUNCA SERÁ EM VÃO REDSON POZZI (1962 - 2011)

Redson Fanzine

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Fanzine em homenagem ao saudoso Redson Pozzi, vocalista da banda Cólera. Esse material foi distribuído durante a festa de homenagem realizada no Hangar 110 em 15/11/11. Editores: Deise Santos e Márcio Sno

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SEU GRITO NUNCA SERÁ EM VÃO

REDSON POZZI (1962 - 2011)

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FAMÍLIA CÓLERA

O Red e o Cólera.... eu aprendi infinitamen-te com eles.. (e continuarei a aprender sempre!) Comecei a ouvir Cólera com 13 anos e aos 20 os conheci em um show em Piracicaba. Depois passei a ter tempo para acompanhá-los em vários shows, em várias cidades e estados, e o que faz a convivência se não criar laços.... e esses foram fortes, daqueles que não arrebentam! O Redson foi um cara que soube unir pessoas, vamos somar, vamos fazer por nós mesmos e vamos fazer juntos! O Cólera me ensinou que devemos cuidar do nosso planeta, cuidar de nós mesmos, ser solidários! Que somos fortes e grandes, que devemos perceber nossa força, e que a usemos para o bem, de nós mesmos, dos outros e do planeta! Que deveríamos ter paz em todo o mundo! Outra lição importantíssima pra mim: “Seja sempre você mesmo!” - seja livre! O Cólera faz parte da minha vida desde que ouvi Medo, em 87. E agradeço a Deus por fazer parte dessa Família, a famí-lia que o Redson formou em sua passagem por aqui... O Red... o Red vai ser sempre o cara maneiro que conheci, o cara do disco, o cara do show, o amigo, o grande amigo, um dos melhores amigos... família, Família Cólera...! Renata Lacerda, a “Rena” – fotógrafa e amiga

O Redson me ensinou muito e me deixou um presentão antes de par-tir: me apresentou pro Miro de Melo que 2 meses depois me convi-dou pra tocar no 365, banda que eu sempre fui fã. (minha mãe disse que, sem perce-ber, eu estou mudando minha opi-nião com relação às coisas que vão além do nosso entendimento. Ela quis dizer que acha estou ficando menos cético, eu acho)

Luiz Cecílio

Conheci o Red no Largo São Bento, eu era muito novinha e nem me importei em conversar com ele. Acompanhei a banda até os dias de hoje como fã e como parte da família Cólera, fotografando e filmando quando a Rena não podia ir... Conviver com o Red foi pra mim uma grande evolução na minha vida! ele sempre foi autentico, simples, sincero e muito sensível... se chateava facilmente!!! Ele me ensinou a viver a essência do ser e realmente ser... não ter vergonha de ser diferente porque isso é ser você mesmo! E além de tudo era um amigo muito mais que especial. Aprendi com ele que temos chance de recomeçar sendo melhores a cada dia... (e eu to tentando). Nem tenho palavras pra descrever os momentos de filosofias, de molecagem, de alegrias, de muitos risos e serviço sério que passei ao lado dele... só tenho lembranças boas e felizes!

Zuleika Mariano

Porra, o Redson pra mim foi um cara que, porra, mudou tudo que eu conhecia de som e tra-balho com bandas, me apresen-tou meus melhores amigos do HC, era um puta de um amigo.

Daniel Mailo Desgraciado

Fanzine em homenagem a REDSON POZZI Textos: Deise Santos e Renata Lacerda

Diagramação: Márcio Sno 15 de novembro de 2011

[email protected]

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Antes da banda, Redson e Pierre tinham planos de montar uma banda de rock

and roll e a proposta foi a mesma até hoje: subir no palco e fazer as pessoas

curtirem.

A primeira banda PIER, que não tinha significado nenhum. Redson apenas

gostava da idéia, escreveu várias letras, entre elas a música que tocou no DVD

de 25 anos, no show do Hangar, chamada “Qualquer loucura assim”, que ele

fez com 14 anos.

Redson montou com um amigo uma banda chamada Metal. Porque a ideia era ser tudo de metal: guitarra, caixa acústica, roupa de metal, mas não tinha nada a ver com heavy metal. Era bem rock and roll, com muitas pegadas Deep Purple, porém nem tão longo, era cru e não tinham lugar pra trocar. Na época que surgiu o punk, Redson não simpatizou, porque achou Sex Pistols uma ban-da sem nexo. Ele não entendeu, aquilo não veio esclarecido, tava tudo meio misturado. O som era muito sujo para o estilo de audição dele. E também não gostava daquela coisa de deboche, de se cortar com gilete, não era a cara dele. Continuou, então, na proposta de fazer rock. Uma das pessoas com quem ele começou a ter a ideia de ter uma banda, foi o Kino, que depois foi vocalista do Cólera, na gravação da música “ESSM” para o programa Olimpop, da TV TUPI.

Aos domingos Redson tocava violão na estação São Bento, rolava Kiss, Deep Pur-ple, Led Zeppelin, Alice Cooper, tudo que tinha de legal do rock and roll dos anos 70. Começou a pintar umas coisas tipo Ramones e ele começou a tirar uma músi-ca ou outra que tinha facilidade de pegar. De repente, conheceu o Helinho na São Bento, começaram a conversar, bateram um som juntos e tal, sintonia. E aí surgiu a ideia de montar uma banda. O mais curioso é que o Redson tinha uma guitarra Giannini, mas queria tocar baixo e o Helinho queria tocar guitarra e tinha um baixo. Uma semana depois eles estavam discutindo sobre a escolha do nome da banda e o Redson viu a reportagem na Folha de São Paulo: “Cólera mata milhares de porcos em todo o país”, daí veio a idéia de Cólera com fúria e porcos sociais, os grandes dominadores do sistema. Surge a banda.

Antes do Antes do Antes do Antes do

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1979

Começaram a ter idéias e fazer músicas. As letras no início eram irônicas, até surrealistas, porque não tinham nexo “...Ninguém na multidão em volta, quem quer viver de escolta...” tinha uma estética, não tinha uma ideologia, uma proposta política, tinha uma estética cultural, uma forma de escrever. E era bem alternativo. Pierre, que nunca tinha sentado numa bateria, começou a ensaiar na poltrona, já que não tinha uma bateria. Mas o Helinho não queria tocar punk e o Redson havia ouvido The Clash um mês depois que o Cólera foi batizado, e disse: “é isso, eu sempre quis fazer isso desde a minha primeira banda de rock. É firme, é cru, tem harmonia e melodia”. E daí começou a compor as músicas “Quanto vale a liberdade”, “Subúrbio geral”. E a banda começou a ter uma identidade, isso foi entre 79 e 80”.

O trio foi formado em outubro, em São Paulo, com Redson (baixo e vocal), Helinho (guitarra e

backing vocal) e Pierre (bateria e backing vocal).

A proposta libertária com mensagens diretas, utilizando-se da arte por meio de um som rápido e

melódico, marcou o início da trajetória da banda.

O primeiro show do trio foi em 12 de dezembro, na Escola Cetal, bairro do Limão, São Paulo, num

festival de bandas punks como Condutores de Cadáveres, Restos de Nada etc. O Cólera levou 11

músicas, dentre elas: “Estranho e nocivo” (1ª música da banda), “Débil”, “Gritando e Vomitando”,

“Doce Libertar”, “Desratear” (feita de improviso, com uma nota, no final da apresentação).

1980

O segundo show foi no carnaval, num salão de soul music chamado Gruta, em uma casa em Santa Terezinha,

zona norte de São Paulo, junto com os Condutores de Cadáveres. Nesse show, Quino (Júnior) começou a cantar

com o Cólera durante 4 meses.

A primeira mudança na formação aconteceu em junho deste ano, quando Helinho saiu e Val entrou no baixo e

backing vocal, Pierre continuou na bateria e Redson assumiu a guitarra e os vocais.

Em menos de um ano, o Cólera já tinha 36 músicas, sendo que pelo menos metade já era tocada nos shows. Nosso som vai ser livre, fazer o que quiser.

1981

Começaram a frequentar a Punk Rock, loja do Fabião do Olho Seco, e o punk começou a ter uma cara. Daí, o movimento punk começou em São Paulo, com engajamento. Começaram os festivais e o Grito Suburbano foi o primeiro álbum que registrou esse período. Foram 4 músicas do Cólera e o Redson ainda tocava no Olho Seco. Nesse ano, a banda começou a montar o repertório e já tinha um estúdio básico com um amplificador de terceira mão, uma bateria que antes tinha sido de uns caras que haviam usado o bumbo e o surdo para serem canoas na praia (já a primeira bateria de verdade era verdinha, de acrílico, comprada com dinheiro das férias do Pierre) e uma caixa de guitarra feita com caixotes com os falantes todos soltos.

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1982

Nesse ano abriu o Carbono 14 e vários espaços na zona norte e leste. A explosão do punk foi em 82, em São Paulo. O primeiro registro em vinil foi o disco Grito Suburbano, ao lado

de Olho Seco e Inocentes. Lançado em março, pela Punk Rock Dis-

cos, o material inovou o rock nacional. Nele, o Cólera lançou 4 mú-

sicas: “Subúrbio Geral”, “João”, “Hei”, “Gritar”. O show de lançamen-

to foi em Junho, em Santana (Zona norte da cidade).

Antes do final do ano, o punk rock foi alavancado com o evento O COMEÇO DO FIM DO MUNDO, que aconte-

ceu em novembro. Foram vários shows, zines, bandas, novos visuais, novos sons, novas ideias. O Cólera

participou do primeiro dia do evento com 26 músicas e “C.D.M.P. (Cidade dos meus Pesadelos)”, foi a escolhi-

da para sair no disco do evento.

Nessa época, Redson começou a se empolgar com a produção de shows e discos, produziu o compacto do

Lixomania, Direito de Sobrevivência. A partir dessa produção, descobriu um monte de coisas sobre produção

e resolveu fazer um álbum do Cólera que seria o Sub-ratos ou só SUB, já tinha a música “Sub-ratos” e seria

um compacto com o nome de SUB. Tinham seis músicas que já estavam sendo ensaiadas para esse

compacto. Só que a cena foi ficando tão empolgante, tão forte que resolveu pegar outras bandas e não fazer

um compacto só do Cólera.

1983 Cólera entrou em estúdio para gravar seis músicas (“X.O.T.”, “Bloqueio Mental”, “Quanto Vale a Liberda-de”, “Zero Zero”, “Sub-Ratos” e “Histeria”) para a coletânea SUB, ao lado das bandas Ratos de Porão, Psykóze e Fogo Cruzado. Depois de um tempo, esse material passou a ser referência para quem curte punk rock nacional. Começa o projeto Ataque Frontal com Renato e Redson. O Lançamento do SUB com Inocentes, Lixoma-nia, RDP, Olho Seco, Psykóze e Fogo Cruzado e outras bandas no Circo Voador, o show de abertura foi dos Paralamas do Sucesso. Esse evento deu vazão para o Cólera tocar em outros lugares, como Aparecida do Norte, Rio de Janeiro, Presidente Prudente etc.

1984 Após participar de algumas coletâneas internacionais, a banda lança seu primeiro LP: TENTE MU-DAR O AMANHÃ. A tour de lançamento passou por Salvador, Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Campi-nas, entre outras cidades. Esse álbum foi relançado em 1999, em CD, com 4 faixas bônus. No início desse ano, as pessoas começaram a se movimentar, uma história de punks mais conscien-tes, com bandas de hardcore da Finlândia e dos EUA. Inauguração do Ataque Frontal. O TMA foi lançado em março, com tiragem de 1000 cópias e em setembro já havia vendido mais da metade. E resolveram fazer um evento para lançar o álbum que só foi acontecer em 85.

O Olho Seco resolveu trocar de estilo. Na época estavam surgindo lá fora o crossover, bandas como DRI e outras bandas e foi uma coisa decisiva. Redson tocava guitarra e o Val tocava Baixo no Olho Seco e aí o Fabio falou que queriam fazer um som crossover. “Eu resolvi sair porque queria dar continuidade ao trabalho do Cólera e o Val preferiu ficar no Olho Seco”, disse Redson. O Carlão que tocava no Negligentes veio tocar com o Cólera e ficou quase um ano tocando baixo na banda. Final do ano teve o primeiro show em Salvador. O Carlão saiu da banda e o Val voltou, ficou tocando no Olho Seco e no Cólera. O show no Farol da Barra, foi o primeiro show fora de São Paulo, em outubro. Entrevista na TV Itapoã. O público foi totalmente diferente do qual o Cólera estava acostumado a tocar: os punks eram mais agressivos e foi preciso a banda dizer que eles não alimentavam a violência, a agressividade.

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1985 A Ataque Frontal lança o disco PELA PAZ EM TODO MUNDO. O álbum foi relançado em 2000

pela Devil Discos, com 4 faixas bônus: “Em Setembro”, “Senhor Dirigente”, “Dê o Fora” e

“Vida Desgraçada”. Na turnê de divulgação deste álbum, passagens pelo Sul, Sudeste e Nordeste do país. Em março lançaram o Tente Mudar o Amanhã no Lira Paulistana. Foi um evento de 3 dias com

bandas atuantes na época, como Vírus 27, Lobotomia e, do último dia, saiu o álbum ao vivo RDP

e Cólera. Foi o reinício de shows na cidade de São Paulo.

1986 Início do ano, o álbum Pela Paz em Todo Mundo foi lançado, assim como o home-vídeo “Minutos de Cólera”, pela Artificial Cinema, gravado no Circo Voador, no Metrópolis e na segunda e terceira edições do Festival de Rock de Juiz de Fora. Lançamento do Ataque Sonoro, uma coletânea que tinha tudo isso. Tocaram em Curitiba, Pelotas, Gramado, Porto Alegre, Ribeirão Preto. Era a tour de Pela Paz em Todo Mundo.

1987 Mesmo agitando as coisas para a tour européia, a banda ainda tocou em janeiro em Presidente Epitácio, às mar-gens do Rio Paraná. O lugar onde a galera ficava para pogar era de terra, devia estar fazendo uns 39 graus, e o Cólera começou a tocar. As pessoas começaram a pogar e a poeira levantou, ninguém conseguia respirar, parecia intoxicação. Parou tudo. Jogaram água no espaço e a banda pedia para o pessoal não pogar. Eram cerca de 300 pessoas. A banda começa o ano fazendo história, ao se tornar a primeira do gênero a fazer uma turnê no exterior. A European Tour foi organizada pelo Werner e pelo , que enviou o convite. Werner organizou a tour e o selo Hageland Records lançou o EP Dê o Fora.

A princípio, falaram que tinham 18 shows marcados, chegaram lá e descobriram que os shows não estavam marcados, mas que havia possibilidade de ter os 18 shows. Só tinham 7 shows agendados na Bélgica. Começaram a fazer shows e, no fim das contas, fizeram 56 apresentações. Voltaram para o Brasil no segundo semestre de 87, cheio de idéias, com o coração aberto, cheio de expectativas. “Vamos fazer uma tour nacional, pegar as bandas e tocar todo mundo junto”. E não rolou. Aqui no Brasil as coisas não era assim. A banda começou a gravar o EP É Natal?! A música “Movimentação”, que faz parte deste EP, foi gerada nas estradas durante a tour européia. O primeiro show do Cólera depois da volta, foi em Guaratinguetá, em outubro. Segundo show após voltarem pro Brasil foi o Projeto SP junto com Inocentes, na Barra Funda. Tocaram para 3.400 pessoas.

1988

Saiu o disco ao vivo da tour na Europa: CÓLERA EUROPEAN TOUR ‘87. O álbum foi todo

gravado em fitas cassete, com qualidade razoável, sendo um registro de vários momen-

tos em diferentes cidades européias.

Val saiu no inicio do ano e entrou JB.

Continuaram gravando o É Natal até março. Compondo o Verde, não devaste!

Preparam a tour de É Natal!

Fizeram o primeiro show de rock em Brusque (SC). Pessoas comuns, de uma cidade

comum, com tradições fortes. A oportunidade de tocar lá surgiu por causa de um casal de

amigos, que curtia Cólera e eles sempre mostravam para as pessoas o som da banda.

E começaram a se empolgar e resolveram fazer o show lá. O local lotou.

A identidade da banda ficou mais clara porque o objetivo era exatamente ter essa liberdade para falar com todo mundo. O Verde, não devaste veio com essa referência do EAEO e a cara de anarquia com outra linguagem, de liberdade inteligente. O trabalho do Verde em si ocupou boa parte do ano. Capa, gra-vação e produção em geral. Tour do É Natal em Londrina, Ribeirão Preto, Brasília, Salvador.

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1989 Assinaram com a Devil Discos.

Entrou no ar, em fevereiro, o Programa Independência ou Morte, na 89FM e ficou no ar um ano. Tocava un-

derground, punk rock, psychobilly, crossover, ska, hardcore. O programa era apresentado por Redson.

Em fevereiro, no Dama Shock, foi o lançamento do Verde, Não Devaste com o JB, já pela Devil Discos.

Em 2000 o disco saiu em CD, entre os bônus, a música “Porquê?”, composta pelo Val e gravada em um estúdio

na Bélgica. Com a turnê deste álbum, a banda tocou em terras que ainda não haviam pisado como Recife, Gama e Itaboraí.

Tocaram em Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba, Minas Gerais, Recife.

Lançamento do álbum European Tour do Verde, Não Devaste.

1990 Em março de 1990, JB sai e entra Fábio, que já tinha tocado junto com Redson numa banda que não saiu do projeto: Bike. Era Fábio no baixo e vocal, Marcelo (na época roadie do Cólera) na guitarra e Redson na bateria. Ensaios com o Fábio do repertório da banda e se preparando para o novo álbum.

Fábio entrou no Cólera por meio de um processo de seleção, em que participou com mais dois baixistas. Primeiro semestre só passando as músicas antigas para o Fábio. No mesmo ano, depois de ensaiar um set de mais ou menos 70 músicas com Fábio, o Cólera entra em estúdio para gravar o LP Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico, que vem com a faixa-título numa versão mais rápida em relação a gravação feita no LP Tente Mudar o Amanhã. O disco tem a gravação de músicas dos primórdios ainda inéditas em disco: “Jane”, “Volume Pra Caixão”, “Sistema Odiável”, “O.com C.” e “Dinheiro”, todas compostas an-tes de 1982. A primeira música que retrata bem a entrada do Fábio é “Suicídio Animal”, com a pegada do reggae e o seu jeito de tocar. A turnê deste disco passou por várias cidades do Brasil e por muitas cidades do interior de São Paulo: Piracicaba, Santa Bárba-ra D’Oeste, Capivari, Campinas, Hortolândia e Mogi-Mirim, entre outras.

1991 O interessante do Mundo Mecânico foi o trabalho gráfico, da capa e da con-tra-capa, numa tentativa de passar um raciocínio de que tocavam para todas as linguagens do underground, tinham liberdade sonora. Daí a músi-ca “Fuck'n'Roll”. O resultado do álbum não foi o que esperavam porque não deram sorte. Faltou luz e não tiveram o tempo que era pra ter em estúdio. Caos Mental Geral é o álbum mais forte tecnicamente da banda até o final do século passado. 1992 Lançaram em março Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico. Tour do MM, ME, o show de Foz do Iguaçu, lugar quente, fechado, com bandas locais. Tocaram no Rio de Janeiro, primeiro show no Garage, além de Itaboraí e Piracicaba, no bar do Garoa, para 250 pessoas.

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1993 Sem shows.

Tinha 3 músicas para o próximo álbum: “Cultural Revolução”, “Missão Libertar” e “Quem é você” (só a base).

Um dos shows mais interessantes logo que o Fábio entrou foi no Garage, o Fábio estava cheio de energia.

1994 Diversos shows pelo Brasil. Voltaram a tocar em São Paulo.

Aeroanta(SP), Gama(DF), Garage (RJ), Santa Catarina, Campinas, Capivari.

Ano bastante produtivo de músicas, várias composições foram feitas neste período.

1995 Convites para tocarem em vários lugares. Dois shows no Garage. 1996 Preparando repertório do novo CD. Começaram a negociar com a Devil Discos para gravar o Caos Mental Geral. Tocaram em Itaboraí para 500 pessoas e no Bosque, restaurante em Ribeirão Preto.

1997/1998 Entre agosto de 1997 e maio de 1998 é gravado o CD Caos Mental Geral, também com músicas antigas, mas já lançadas antes: “Subúrbio Geral”, “Viralatas”, “Quanto Vale a Liberdade?”, “Dê o Fora”, “Bloqueio Mental” e “HEI!”, gravadas em versão atualizada e mais onze faixas inéditas. Tinha uma ideia de música, uma proposta da banda de falar da igreja de uma forma irônica. Até então o Cólera não tinha falado sobre a igreja, não diretamente. Gravaram o Caos Mental Geral em 300 horas, sendo que 3 músicas foram finalizadas no estúdio.

Início do projeto para comemorar os 20 anos do Cólera.

A banda cai na estrada outra vez e passa por Porto Alegre,

Londrina, Foz do Iguaçu, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Hori-

zonte, Divinópolis, Guará-Mirim, Carapicuíba, etc.

Show de lançamento do Caos Mental Geral, no Hangar 110,

ano em que abriu este espaço.

1999 Em 18 de setembro, a banda comemora seu 20º aniversário com um show em São Paulo, no Hangar 110, que foi gravado em 16 canais e também filmado. Tocaram as bandas convidadas: Flicts (SP), Blind Pigs (SP) e Mukeka de Rato (ES). O Cólera tocou um total de 3h10. e incluiu no repertório a primeira música da banda, “Estranho e nocivo”, mas sem ter ensaiado. A gravação do som desta música está no vídeo de 20 anos (parte da Caixa de 20 Anos), com imagens simuladas dos primeiros ensaios.

Definiram um repertório a partir do Caos Mental Geral. A Caixa de 20 anos foi a primeira amostra prática dessa parte de produção. Desde da direção do even-to até a estrutura de produção, o caminhão (unidade móvel) que ficou do lado de fora do Hangar 110, toda infraestrutura de gravação, filmaram com duas câmeras. O som do CD ao vivo foi muito bem gravado. Participação em vários programas de TV, entre eles, o Metrópolis, da TV Cultura.

2000 Tocaram no Rock em Sampa, no Hangar 110, no SP Punk na Vila dos Remédios no Ao Passo do Fim do Mundo.

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2001 Festival da Tribo na Tiradentes com Calibre 12, Olho Seco, Ação Direta. Evento no Paulínea, em um campo de futebol, com PPA, DZK, Os Smoornes, entre outras. Lançamento da Caixa de 20 anos.

2002 Tocaram no Green Rock Festival, em Palmas (MG). PE no Hardcore, em Recife, cerca de 5000 pessoas. Fim do Mundo no Tendal da Lapa que aconteceu durante 9 dias em novembro. Organizado pelo Ariel e pela Tina. Foi um evento cultural, com exposições e palestras. Redson deu uma palestra sobre gravadoras independentes, organização de shows, explicou como o Cólera trabalhava.

2003 Show em Porto Alegre. Evento Manifesto Contra a Violência, gratuito, em praça pública. SP Punk, edição especial. Tocou com Riistetyt, Agrotóxico e Ação Direta no Hangar 110. Tocou no aniversário de 10 anos do Pacto Social, na Casa da Zorra (RJ) ao lado do Ratos das Antigas (atual Periferia S/A). Mini-tour no Rio de Janeiro: Macaé, Itaboraí e Tanguá. Show em Porto Alegre no Bar Opinião. 3ª edição do SP Punk na TUP. SP Music Festival - KVA.

2004 Lançamento do 10º CD da banda, Deixe a Terra em Paz. European Tour em março, onde tocaram em 7 países Bélgica, Holanda, Alemanha, Eslovênia, Itália, Áustria, França. Cidades muito significativas no circuito europeu como Berlim , Leiden, Viena. Foram 26 dias, 26 concertos. Só houve um dia de descanso.

A tour da Europa teve um lance muito forte que foi o lançamento

do disco The Best Of, um LP coletânea com 3 músicas de cada álbum da banda e incluiu o compacto bônus com a gravação do álbum de 20 anos, lançado pela Dirty Faces, da Alemanha. Sabiam que tinham um pirata do Cólera lá fora, mas não sabiam que iam se deparar com o pirata. Deu entrevista para as revistas: Plastic Bomb (Alemanha), Slime

(Áustria), Rádio da França da cidade de St Etienne e deu entrevista

para dois fanzines. Gravaram o CD com as primeiras músicas com o Helinho e o Val,

intitulado Primeiros Sintomas, o nome do álbum foi escolhido através de um enquete na comunidade do Cólera, numa rede social.

Show de lançamento do Deixe a Terra em Paz em maio, também

no Hangar. Gravaram o clipe de Deixe a Terra em Paz, no Hangar110.

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2005

A banda tocou em Cordeirópolis e na festa de 20 anos da

Ataque Frontal, no Hangar110.

Festa de 25 anos em fevereiro no Hangar 110, com Fanfarra,

Pirofagia, Metais, Flauta. Casa lotada.

Redson ministrou uma palestra sobre o “Faça você mesmo”

em Mauá.

Nesse ano, tocaram na Verdurada (Galpão do Jabaquara/SP)

e no Apache Open Air Festival, em Catanduva, junto com o

Kreator e várias bandas.

O lançamento do clipe Viaduto na Outs.

Redson descobre o poder e a força da internet um ano antes e toma a iniciativa de fazer uma festa reunindo fãs, no Estúdio Caffeine (na rua Pamplona em São Paulo), em novembro deste ano. Na fes-ta teve show de bandas compostas por fãs, o Radio Clash - projeto do Redson com o Ari da banda 365 e Alonso, roadie do Cólera e integrante da banda Marshgas -, além do Cólera, que tocou em dois blocos, porque o lugar era pequeno e quente demais. Na festa, intitulada “É Noise d’Orkut”, Redson ainda deu uma palestra sobre o “Faça você mesmo” e fez uma exposição de cartazes históricos da banda. Fabio Bossi deixou a banda. Nesse período o Kiko Tentoni, que era roadie, tocou em alguns shows. Logo depois o Val retornou para banda.

2006 Especial Cólera no Hangar.

Tocaram no palco em frente à

Galeria do Rock (de graça), em Pira-

ricicaba, Uberlândia e na segunda

edição do festival Noise Fest, em No-

va Iguaçu, no Rio de Janeiro.

Lançamento do CD Primeiros Sinto-

mas, no Hangar 110.

Lançamento do documentário de

Gastão Moreira, Botinada, no CB - SP

2007 Encontro Punk no Kazebre com Cólera, Garo-tos Podres e Inocentes. Cólera tocou no palco rock da Virada Cultural em São Paulo. A ideia de tocar pela manhã dei-xou não só o Redson, mas a banda inteira mui-to animada. Esse show marcou bastante o Red-son, ele sempre comentava o quanto tinha sido mágico tocar durante uma manhã de domingo em pleno centro de São Paulo. Redson participou de uma apresentação da banda 365, no Centro Cultural São Paulo. Cólera 28 Anos Sem Parar no Hangar110.

2008 O Cólera pisou finalmente no palco do Circo Voador depois de sua reabertura, para tocar na festa de 10 anos da gravadora Deck Disc. O show, que aconteceu numa quarta-feira, foi histórico. Em novembro, a banda partiu para uma turnê européia, que durou mais de um mês e somou mais de 25 shows. Cólera 29 anos e Punk na Páskoa, ambos no Hangar 110. Segunda edição da festa é Noise d’Orkut.

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2009 Cólera toca com Down by Law e Confronto no Circo Voador. Fizeram show em Nova Friburgo, 30 anos de Cólera no Hangar110 e participaram do Projeto 666 no Sesc Pompéia.

2010 Tocaram com 365 no Hangar110.

2011 Tocaram em Itaquera, no Punk na Páskoa e em Santos.

Em setembro, o vocalista e guitarrista da banda, Redson Pozzi, se

vai do plano terrestre, sem ao menos dar aos seus fãs e amigos a

oportunidade da despedida...

Cólera, eternamente em nossas mentes e corações.

FORTE E GRANDE SOMOS NÓS

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ELE MESMO FEZ Antes de se falar em punk, ele já era. Quando nem se falava em empreen-dedorismo, ele já era empreendedor. Mesmo sem conhecer o termo do it yourself, ele mesmo já fazia. Assim era o perfil de uma pessoa que teve a missão de pregar a paz na sua arte, sempre valorizando a amizade, a confiança e a crença em um mundo melhor.

Edson Pozzi, indo contra a corrente da ditadura e a falta de liberdade de expressão que assolou o Brasil em anos de chumbo, optou em ser chama-do de Redson: filho vermelho que, a frente de sua banda, fez com que muitos jovens pelo Brasil afora parassem para refletir e até mudar a forma de pensar e agir.

Antes de conceber uma banda de verdade (daquelas que têm instrumentos comprados em loja), fabricou sua própria guitarra, com papelão, elástico e palito de dente. Para o irmão Pierre construiu uma bateria também de papelão, depois de se cansar de vê-lo tocando na poltrona de casa.

Mais tarde, com uma “viola doida” debaixo do braço, ia para a estação de metrô São Bento, centro de São Paulo, onde se reunia com amigos para cantarolar canções de bandas que gostavam. Foi lá que conheceu Helinho e formou o Cólera.

Montou em seu quarto o Estúdios Vermelhos no começo dos anos 1980, quando lançou a demo tape sua banda, a do Ratos de Porão, Anarcólatras, entre outros. Esse seria o embrião de uma das coletâneas mais emblemáti-cas do rock brasileiro: a SUB que, a princípio, seria um disco apenas do Cólera, mas Redson resolveu dividir com as bandas Ratos de Porão, Psykóze e Fogo Cruzado.

Juntando parte de um ano se salário como office-boy, conseguiu bancar parte do primeiro disco solo do Cólera, Tente Mudar o Amanhã, lançado pela gravadora, da qual se tornou sócio, a Ataque Frontal.

O disco seguinte seria o mais representativo e emblemático da banda: Pela Paz em Todo Mundo, que registrava para sempre a marca pacifista que acompanhou a banda por mais de três décadas.

Com a cara, coragem e muita persistência atravessou além-mar: algo inédito para uma banda de rock independente brasileira. Pense que os contatos foram realizados por carta, fax. Não, naquela época não tinha internet. A tour que duraria três meses, durou cinco. Os 18 shows pensa-dos no início, foram 56. Essa tour é exemplo para todas a bandas que se aventuraram no Velho Mundo até hoje.

O tempo passou e a importância de sua banda foi ficando cada vez mais evidente, porém, o caráter, postura e humildade de Redson permanceram intactos, ou melhor, lapidou-se e ficou cada vez mais brilhante com o tempo. Sim, ele tinha motivos de sobra para sentir-se “o” cara. Um dia, me contou a fórmula para se manter ileso: “a grande parada é quando você entende que quando as pessoas colocam você em determinada postura que você até pode estar, pra você não deixar que o ego, o cavalo selvagem, pule a cerca, você só deixa que a pessoa diga, quando você começa a dizer ‘eu sou o cara’, aí fudeu, caiu a cerca. (...) Mas se eu sentir que isso está afetan-do o ego, eu vou fugir dessa parada, porque o ego destrói tudo”.

A partir desse lema, fica mais explicado o porquê ele nunca deixou que existisse um muro que separasse o admirador do admirado. Muito pelo contrário, fazia questão de nivelar para poder “no mesmo nível” conversar com a pessoa que o abordou.

Não sei se foi por essa postura, ou a sua importância na história do punk no Brasil, as mensagens que passou em suas canções e o impacto que elas causaram nas vidas das pessoas, que fez com que a sua partida precoce causasse toda a repercussão como foi. Talvez todos esses itens juntos, mais ainda: por ser um grande homem que não estava levantando bandeira pra isso ou para aquilo: a sua bandeira maior era a humanidade.

A história de Redson é um grande exemplo de luta, resistência, coletivida-de, de proatividade. Ele fez tudo aquilo que sonhou com o único objetivo de fazer a coisa acontecer: “...vejo que aquele menino [de 11 anos] hoje é realizado, pois eu tive o que sonhei. Pois eu acho que isso é muito intenso, há 30 anos sem parar, é possível. Porque o que eu sonhei o tempo todo sempre se concretizou”.

Partiu o homem e ficou o seu legado. Márcio Sno

"Um cara que tinha um passo a frente do seu tempo. Assim é minha definição de Edson Lopes Pozzi, ou simplemsente, Redson. Lembro de ter ouvido o Pela Paz em Todo Mundo na casa de um amigo meu e pirei com as letras, foi amor à primeira escutada. Posso dizer que junto com Ramones, o Cólera mudou o rumo da minha vida, curiosamente foram os dois vinis de capa amarela que marcaram a minha vida pra sem-pre. Depois de anos ouvindo Cólera e de ter visto alguns poucos shows deles aqui no Rio. Eis que, de repente, surgiu a oportunidade de entrevistar o Redson, pronto. Passei de fã a amiga em algumas palavras, telefone-mas e e-mails. O que mais me surpreendeu nesses anos de convivên-cia era a disponibilidade que ele tinha para ouvir, mas ouvir mesmo, olhando no olho, se entregando ao mo-mento da conversa, estando disponível para comparti-lhar o momento com quem estivesse com ele. Isso acontecia num estúdio durante um ensaio, na cozinha preparando um almoço, no meio da estrada dentro de uma van e no palco, onde literalmente ele se disponibili-zava para dar e receber energia positiva. Ele tinha sede, sede de coisas novas, de desafios, de criar e de conhecer o outro e ver através do outro, entender o que estava do outro lado. Redson tinha um olhar que ia além dos limites da nossa visão, ele percebia as pessoas, não só passava por elas. Ele era um observador do mundo, alguém que veio à terra para agregar. Seu poder de atração era fortíssimo. Aprendi muitas coisas com ele, entre elas a mais importante: observe-se e observe os outros, co-nheça-te e poderá ser mais forte para você e para o outro. Ele não fez uma cartilha para que eu apreendes-se isso, suas atitudes, seu olhar, suas palavras e o seu respeito por si mesmo e pelo outro, me fizeram enxer-gar isso. Acho que consegui olhar o espelho no quintal e enxergar do outro lado. Obrigada por tudo Redson!"

Deise Santos