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MILTON ORO NAO
REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO
INDÍGENA ORO NAO ENTRE NARRATIVAS PESSOAIS
E RELATOS ORAIS
Dr. Genivaldo Frois Scaramuzza
Orientador
Ji-Paraná – Rondônia, Maio de 2016
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INTERCULTURAL -
DEINTER
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO BÁSICA INTERCULTURAL
Por:
MILTON ORO NAO
REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO
INDÍGENA ORO NAO ENTRE NARRATIVAS PESSOAIS
E RELATOS ORAIS
Monografia submetida ao Departamento de Educação
Intercultural da Fundação Universidade Federal de Rondônia -
Campus de Ji-Paraná, como requisito parcial para a obtenção do
Grau de Licenciado em Educação Básica Intercultural.
Ji-Paraná- Rondônia, Julho de 2017
3
REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO
INDÍGENA ORO NAO ENTRE NARRATIVAS PESSOAIS
E RELATOS ORAIS
Acadêmico
Milton Oro Nao
Examinadores
Prof. Dr Genivaldo Frois Scaramuzza – UNIR (Orientador)
Prof. Dr. Fábio Pereira Couto – UNIR (Examinador)
Profa. Ma. Vanúbia Sampaio – UNIR (Examinadora)
Profa. Ma. Maria Isabel Alonso Alves – UFAM (examinadora Externa)
4
(Rio Pacaás Novos da aldeia Capoeirinha em Guajará Mirim 2017)
Créditos: Milton Oro Nao`
“[...] mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia,
Para onde ele vai,
Para onde ele vem.
É por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia”.
(Fernando Pessoa)
5
LISTA DE SIGLAS
AÇAÍ – Magistério Indígena de Rondônia
FUNAI – Fundação Nacional do índio
SEDUC – Secretaria Estadual de Educação
UNIR – Universidade Federal de Rondônia
CUNPIR – Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia
ASBERON – Associação dos Servidores do Banco do Estado de Rondônia
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado à força de continuar e chegar até
aqui. A minha família, ao meu pai Tian Oro Nao`, a minha mãe Marinez Oro Win que
sempre preocupado, na angústia sempre presente, e minha esposa Olinda Jabuti, filho
João Guilherme Jabuti Oro Nao`, sempre com muito carinho e apoio não mediram
esforços para que eu chegasse até esta etapa na minha vida. A minha comunidade. Aos
amigos e colegas, pelas alegrias, tristezas, dores, incentivo e apoio constante ao meu
estudo. Ao professor orientador da monografia Dr. Genivaldo Frois Scaramuzza.
Agradeço também a minha instituição por ter me dado esta chance que permitiu chegar
hoje ao final deste trabalho. Aos meus professores que aconselharam a não desistir
pois através disto, eu consegui concluir a minha monografia.
A professora Maria Isabel da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Ao
professor Dr. Fábio Pereira Couto da UNIR.
A Profª. Ms. Edinea aparecida Isidoro, a quem muito lutou pelo curso de Licenciatura
em Educação Básica Intercultural.
A Profª Dra. Geógrafa Maria Lúcia Cereda da área de Ciências da Sociedade.
A Profª Dra. Josélia Gomes Neves do Curso de Licenciatura em Educação Básica
Intercultural da UNIR e líder do Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia que
lutou junto com os indígena pelo curso.
A Profª. Ms. Luciana castro,
O Prof. Ms. Reginaldo Nunes,
A Profª. Ms. Vanubia Sampaio,
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 08
CAPÍTULO 01 ..........................................................................................................
10
1 - Histórias da pesquisa.............................................................................................. 10
1.1 – Narrativas pessoais................................................................................... 10
1.2- A minha infância............................................................................................. 12
1.3- Aprender na aldeia entre o permitido e o proibido....................................... 14
1.4 - Histórias que meu pai contava.................................................................... 14
1.5 – Lugares de histórias contadas.................................................................... 15
1.6 – Sonhos de Infância........................................................................................ 15
CAPÍTULO 02 ..........................................................................................................
17
2 - Narrativas sobre o povo e a educação................................................................... 17
2.1 - A História e Oralidade Enquanto Elemento de Pesquisa............................... 17
2.2 – Narrativas sobre a história e o povo.............................................................. 20
2.3 – O conflito.................................................................................................. 20
2.4 – As caminhadas e os objetos não indígenas................................................... 21
2.5 – A casa dos missionários............................................................................ 22
2.6 – A volta para a maloca............................................................................... 24
2.7 – O retorno a casa dos missionários............................................................ 25
2.8 – A aproximação definitiva.......................................................................... 26
2.9 – Estranhamento e abraço não indígena...................................................... 27
Conclusão................................................................................................................ 29
Referências............................................................................................................... 31
8
INTRODUÇÃO
Esta monografia foi construída a partir de reflexões pessoais e diálogos
construídos com pessoas mais velhas da comunidade Oro Nao localizada na Terra
Indígenas Pacaás Novos no município de Guarujá Mirim no Estado de Rondônia.
Assim, o objetivo principal do texto é falar sobre minha história pessoal e mostrar como
ela está relacionada ao modo de vida do povo Oro Nao.
Destaco também que foram feitas conversas (entrevistas) com pessoas mais
velhas da comunidade que contaram parte da história do povo. No que se refere a minha
história, falo sobre minha infância, as vivências e aprendizagens junto a minha família e
ao meu grupo a qual eu pertenço. Conto dos lugares que frequentava, das coisas que
podia ou não fazer na aldeia. Falo das brincadeiras, das práticas de acompanhar meu pai
nas atividades cotidianas da aldeia, incluindo a ida as roças, a pescaria e as caçadas.
Falo de como ocorreu meu contato com a escola e parte da trajetória a qual me
tornei professor. Quando a história do povo fiz entrevistas com os mais velhos para
saber como foi o processo de contato dos Oro Nao como os não indígenas. Assim, o
leitor poderá acompanhar como essas narrativas falam de uma história em que houve
9
muitas perdas indígenas, não apenas do território, mas de vidas que foram ceifadas no
processo de contato, incluindo aí tanto perdas indígenas como não indígenas.
Ainda neste sentido, é narrado o processo de estranhamento entre dois mundos,
as tensas relações entre indígenas e não indígenas, os desconhecimentos de ambos os
lados. A aproximação Oro Nao com os elementos tecnológicos não indígenas é também
contada neste trabalho.
Assim, o objetivo central desse texto é descrever a história e educação indígena Oro
Nao entre as narrativas pessoais e os relatos orais dos mais velhos. Como objetivos
específicos está a ideia de descrever minha infância e os lugares que frequentei.
Também tem como intenção, sistematizar relatos que mostram o processo de contato
dos Oro Nao com os não indígenas. Neste sentido, o texto está organizado em dois
capítulos.
No primeiro capítulo conto a minha história pessoal enquanto no segundo
capítulo sistematizo as narrativas indígenas produzidas pelos mais velhos da
comunidade que falam diretamente do processo de conato do povo Oro Nao com os não
indígenas.
10
CAPÍTULO 01
1 - HISTÓRIAS DA PESQUISA
1.1 – Narrativas pessoais.
Sou Milton Oro Nao, tenho 35 anos, pertenço ao Povo Oro Nao, que reside na
Terra Indígena Pacaás Novos, localizada no município de Guajará-Mirim na região de
fronteira com a Bolívia.
Meu primeiro dia de aula foi no mês de março no ano de mil novecentos e
oitenta e sete (1987), há 30 anos, na Escola Marechal Rondon, localizada na aldeia
Tanajura. Na época essa escola era de responsabilidade da Fundação Nacional do índio
(FUNAI), sendo que a escola ficava distante da minha aldeia Capoeirinha
aproximadamente uns três (3) quilômetros.
A minha primeira professora alfabetizadora no pré-escolar foi uma missionária
chamada de Claudelice. Ela morava na aldeia Tanajura e não tinha formação para atuar
como professora alfabetizadora. Naquele tempo ela alfabetizava nas duas línguas, na
língua materna do povo Oro Nao e o português. Durante o primeiro e segundo bimestre,
as atividades se davam somente na língua materna, as atividades trabalhadas pela
professora na sala de aula eram com as vogais e leitura do alfabeto. No segundo
bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro bimestre com a produção de
pequenos textos, redação na língua materna e ditado das palavras nas línguas (nome de
animais, peixes, pessoas, árvore etc.), as orientações dessas atividades se davam nas
duas línguas, no português e na língua materna.
O material utilizado na sala de aula eram cartazes, desenhos, cartão com
vogais, cartazes com as famílias silábicas e consoantes. A professora era muito rígida,
11
não gostava de barulho, não aceitava muita conversa na sala de aula. Ela ela utilizava
cartilha.
Outros meios eram o quadro, leitura no livro e cartazes, ela ficava muito feliz
com aqueles que sabiam ler, quem não sabia ler, permanecia mais tempo na sala de aula.
Ela era uma professora bastante criativa, gostava de cantar, brincar tudo era
organizado. Mesmo com a rigidez de seu trabalho pedagógico, eu gostava dela. Eu
trabalho na escola Josias Batista de Oliveira na aldeia Capoeirinha localizada na
margem do Rio Pacaas Novos, terra indígena Pacaas Novos. Estou há treze (13) anos na
sala de aula, eu trabalho com 1° e 2° ano do ensino fundamental.
No ano de dois mil (2000), iniciei o curso de Magistério indígena de nível
médio chamado de Projeto Acaí, este curso era destinado para professores indígenas que
atuam em escolas indígenas, porém, sem formação acadêmica. O primeiro Projeto Açaí
iniciou-se no ano de mil novecentos e noventa e oito (1998), em dois municípios,
Guajará-Mirim e Ji-Paraná. Segundo a professora Edineia Aparecido Isidoro,
atualmente docente do curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural, o curso
só aconteceu no ano dois mil com recursos que foi arrecadado na SEDUC. Porém
enfrentou sérios problemas, ouve uma suspensão durante um ano por não dispor de
recursos para realizar outras etapas do Projeto.
Na gestão do professor Cristovão Teixeira Abrantes, foi assegurado orçamento
da SEDUC para o Projeto Açaí, mas também foi por conta de muita pressão. Em
determinadas ocasiões, o governo dizia que não ia fazer nenhuma etapa, no entanto isso
era falta de interesse político no sentido de dar importância ao curso e a formação dos
professores indígenas. Somente após muita luta dos professores indígenas do estado de
Rondônia, reivindicando a continuação do curso com apoio das lideranças indígenas e
da Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia (CUNPIR) o curso
reiniciou novamente no ano de dois mil (2000) no município de Porto Velho, onde
ocorreu no espaço da Associação dos Servidores do Banco do Estado de Rondônia
(ASBERON) que ficava as margens da BR-364.
O Projeto Açaí na sua primeira edição entre os anos de 1998 a 2004 atendeu
aproximadamente cento e oitenta (180) professores indígenas do Noroeste de Mato
Grosso e Sul de Rondônia. Fiz parte da segunda turma deste Projeto Açaí, passei dois
(2) meses cursando o açaí, o curso só acontecia no período de férias, a conclusão do
curso foi no ano de dois mil e seis (2006). As dificuldades dentro do curso eram
produzidas por falta de acompanhamento das atividades durante o tempo que
12
passávamos na aldeia, outro fator que dificultava era não dispor de outras pessoas que
pudessem estudar comigo, haja vista que mesmo tendo outros professores da aldeia
cursando ao Açaí, eles estavam em outra turma. Outro elemento que é importante
mencionar é o fato de que na época não tínhamos muito conhecimento a respeito das
tecnologias, principalmente do uso do computador.
Cabe mencionar que naquela época as tecnologias não eram exploradas nos
cursos de formação, isso só veio ocorrer com mais intensidade no curso de Licenciatura
em Educação Básica Intercultural. A este respeito, reflexões realizadas por Alves (2015)
a respeito das práticas do uso das tecnologias pelo curso de formação de professores
indígenas da UNIR, mostram que há um
[...] esforço explicitado na proposta curricular é de estabelecer uma
relação entre as realidades postas na e pela sociedade informatizada e
as Tecnologias e formação de professores indígenas e as e
necessidades de formação dos sujeitos indígenas, voltada para as
premissas legais no âmbito da educação indígena (ALVES at al. 2015,
p. 932-933).
Havia também professores do Projeto Açaí que só falava na sala de aula e não
propunham atividades para que pudéssemos fazer uma reflexão e aprofundar nossos
conhecimentos sobre a docência.
Foi neste curso onde eu aprendi muito sobre a importância da valorização da
língua e da cultura do meu povo Oro Nao, como trabalhar com as crianças na sala de
aula, principalmente com as séries iniciais. O meu método de trabalho hoje é baseado na
forma que eu aprendi durante o curso do Projeto Açaí. Usando materiais coletados na
aldeia como, sementes de palmeiras, pedrinhas, folhas, e também outros materiais que
não se encontram livremente na aldeia, como, cartolinas e outros . As atividades que eu
faço com meus alunos são conhecer o ambiente da comunidade, exploração de desenhos
com letras iniciais com vogais, silabas, consoantes, alfabetos e cânticos de músicas,
brincadeiras, recortes de livros e pinturas. O processo do meu trabalho na alfabetização
tem que está preparado, porque a responsabilidade é muito grande. Ao mostrar como
vem ocorrendo a educação indígena para o meu povo penso ser importante mostrar
como a minha história de infância está entrelaçada a história desse povo e constitui
material para expor a educação Oro Nao.
1.2- A minha infância.
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Quando eu era criança tive uma vida sofrida. Naquela época meus pais não
tinham condições financeiras. Eu dormia num assoalho de paxiuba ou de tábua, era
forrada de esteira de palha de babaçu que era feito por minha tia e minha mãe. Quando
chegava época de frio eu abraçava meu irmão, quando a temperatura caia ainda mais, o
meu pai fazia um fogo embaixo do assoalho para aquecer o corpo. Só assim nós
conseguíamos dormir no frio. Acordava de manhã as vezes sem comer nada sem tomar
café.
Eu gostava de acompanhar meu irmão mais velho para pescar. Em casa eu
lavava as louças, varria o terreiro, cuidava de outro irmão pequeno, eu fazia umas
flechinhas, arco para flechar piabinhas, fazia arapuca para pegar passarinho, gostava de
tomar banho, nadar, mergulhar, remar de canoa fazia as coisas até onde o eu podia.
Meu pai trabalhava muito naquela época. Ele cortava seringa, fazia roça e
plantava milho, mandioca, macaxeira, arroz, batata, banana e feijão para nós sustentar e
conseguir umas coisas para dentro de casa. Esses produtos eram para venda, para
compra de alimentos para dentro de casa. Meu pai tinha costume de levantar bem
cedinho para ir ao trabalho.
Quando era época do roçado eu ia acompanhar meu pai, ficava sentado no
tronco de uma árvore e ficava olhando o meu pai roçar, as vezes eu pegava um pequeno
terçado e começava corta galhos de árvores. Na época de derrubada ele não deixava
acompanhar pois ele dizia que era muito perigoso, ele derrubava todas outras árvores, as
palheiras (babaçu) ele fazia um furo para retirar um gongo chamado(oro yat).
Depois de roçar e derrubar os matos para fazer a roça ele deixava três meses,
para as árvores e as folhas secarem bem para queimar. Depois de três meses queimava o
roçado, meu pai só queimava a roça ao meio dia, quando sol era muito quente,quando
não dava muito vento, para o fogo não queimar as matas. Depois de queimar a roça
meu pai chamava a minha mãe para tirar (oro yat) eu e meus irmão ficava em casa
aguardando.
Quando chegava minha mãe cozinhava numa panela e depois de cozido nós
sentávamos ao redor, e minha mãe dividia em partes iguais e eu comia. Dois dias
depois, eu e meus irmãos íamos plantar a roça com meus pais. O primeiro plantio era
mandioca, macaxeira, cara. Na roça eu gostava de plantar e tapar os buracos com
sementes. No caminho da roça eu encontrava frutas como, pãma, naja, cacau. Na época
de plantio havia muitas frutas no caminho. Eu gostava de ir a roça por causa das frutas.
14
1.3- Aprender na aldeia entre o permitido e o proibido.
Eu não podia brigar com meus irmãos, tinha que sempre tomar cuidado quando
andava na beira do rio. Não podia remar de canoa sozinho, sempre andava
acompanhado com meu irmão mais velhos, andar sozinho no caminho não podia, gritar
no meio do rio ou na mata não podia. Brincar com peixes podia também, não comia
frutas desconhecidas, não andar a noite sozinho. Andar com muito cuidado. Não podia
subir nas árvores altas e não andar no cerrado, não quebrar os galhos de arvores.
Eu brincava no terreiro sempre perto de casa, andava de canoa próxima do porto,
brincava de flechas no terreiro acertando alvos. Tudo era no terreiro de casa. Eu não
podia sair para longe, pois o meu pai não deixava.
Todas as brincadeiras tinham que estar sempre perto dos meus pais, pois eles
ficavam observando, não podia brincar longe de casa. Eu brincava com meus irmãos e
meninos que moravam próximo de casa e gostava de jogar bastante de bola de seringa
ou de saco amarrado. Eu construía um barquinho de madeira com formato de voadeira e
motor rabeta e carrinhos. Eu brincava a beira do porto que havia próximo a minha casa.
Quando não tinha ninguém para brincar comigo eu brincava sozinho de carrinho no
terreiro de casa.
1.4 - Histórias que meu pai contava.
A história contado pelo meu pai falava sobre a organização do povo Oro Nao`.
Antigamente esse povo era bem organizado, todos trabalhavam, faziam roças grandes
para o plantio de milho batata, cara e macaxeira, essas plantas não podiam faltar, eram o
principal alimentos do povo Oro Nao`. Quando algum indígena matava uma caça ele
dividia em partes iguais para todos os parentes próximos. As mulheres nunca deixavam
faltar chicha e pamonha. Quando chegava um visitante de outra aldeia, ofereciam chicha
e pamonha, isso era forma de agradar os visitantes.
O povo Oro Nao` também gostavam de festas, avisavam para outros parentes
preparar chicha azeda para cantar e dançar. A festa durava enquanto havia chicha.Todos
respeitavam uns aos outros e não haviam muitas brigas. As famílias eram unidas. As
crianças eram muito obedientes aos seus pais, respeitavam os mais velhos. Antigamente
havia muitas caças, não se preocupavam com nada, as pessoas eram muito difíceis de
15
pegar doenças. Havia pajés fortes que curavam doenças e não deixavam os espíritos
maus se aproximarem das pessoas. As crianças eram bem cuidados, os jovens tinham
seus lugares específicos, não podiam se envolver com mulheres casadas.
1.5 – Lugares de histórias contadas.
O meu pai contava histórias durante a noite, quando nós estávamos todos
reunidos no quarto de casa. As histórias contadas pelo meu pai eram, por exemplo, a
história da menina que gostava de chorar muito. Esta história conta que certa vez os pais
saíram para o mato e a menina não queria ficar, então ela resolveu seguir os pais no
caminho chorando. No meio do caminho ela parou e ficou gritando, chamando o nome
dos pais dela, quando de repente apareceu uma anta com formato de pessoa igualzinho o
pai dela e levou ela embora.
E seguem o caminho dos pais, logo mais adiante ele desvia o caminho dos pais e
a menino pergunta onde estamos indo. Vamos atrás de frutas, e seguiram andando,
andando até ficarem muito distante da aldeia. Quando os verdadeiros pais chegaram na
aldeia, eles perguntam para os irmãos que estavam na casa: vocês viram To` o?. Os
irmãos respondem: ela foi atrás de vocês. Nesse momento os pais ficam desesperados e
resolvem ir atrás dela da filha To o`. Essa historia é contada para crianças
Que não são obedientes aos seus pais durante o dia.
1.6 – Sonhos de Infância.
O meu sonho era ter muitos brinquedos para brincar e ganhar um gravador,
antigamente era conhecido como gravador ou toca fita. Tinha também vontade de ter
umas roupas melhores para passear, sandálias havaianas, tênis e colchão para dormir
melhor. Naquela época meus pais não tinham condição de comprar nada. Quando eu ia
para cidade eu tinha vontade de tomar um sorvete ou picolé, comer um sanduiche, tomar
refrigerante ou suco e andar de carro. Fazer compras nas lojas. Meu outro sonho era
andar de avião um dia. Eu tive muita vontade de ser um soldado, por motivo das armas
eu tinha curiosidade de ver de perto as armas como fuzil, metralhadoras, bombas e
outros.
Considerando o que foi exposto até aqui, meu interesse foi mostrar brevemente
um pouco de minha história, principalmente minha vivência na aldeia, a forma como eu
16
cresci e fui tendo experiências junto ao meu povo e com a educação tradicional e
escolar. No próximo capítulo vou expor conversas que realizei com pessoas da
comunidade que falam sobre a história e educação Oro Nao.
17
CAPÍTULO 02
2 - NARRATIVAS SOBRE O POVO E A EDUCAÇÃO
2.1 - A História e Oralidade Enquanto Elemento de Pesquisa
A proposta desta parte do texto é fazer uma reflexão sobre a importância da
história e da memória em contextos indígenas. Medeiros (2008) apresentou em sua
discussão (Ensino de história: memória e oralidade na aldeia Kaingang do Morro do
Osso) uma reflexão que partiu do projeto de pesquisa “memória, Tradição e saberes
ancestrais nas praticas escolares das aldeias Kaingang e Guarani” realizado na âmbito
da Faculdade de Educação da UFRGS, orientado pela professora Maria Aparecida
Bergamaschi. Para autora, a escola apresenta-se como meio de necessidade para
afirmação de sua cultura, na medida em que é preciso saber se relacionar com a
sociedade envolvente e mesmo ao tempo a escola pode ser uma ameaça da vida
tradicional, e uma invasão dentro da própria terra indígena.
De acordo com a autora, a escola vem sendo aos poucos incorporada, como no
ensino na língua materna e com a presença de professores indígenas da própria aldeia. A
pesquisa mostra que é possível também incluir a cultura branca, sem deixar a cultura
indígena de fora. O objetivo da escola é aprender ler e escrever e ensinar a língua
materna de cada etnia o qual se torna bilíngue, mas também, a escola tem o objetivo de
levar a língua portuguesa para que os indígenas possam ler e escrever no sentido de
conhecer o espaço e o relacionamento específico escolar com várias disciplinas, a
principal é a história.
Quando ao aspecto da história, a autora mostra que a história oral para povo a
qual ela pesquisou é tão importante para se perguntarem sobre a sua própria história
junto com as famílias e fazer refletir sobre suas origens e descobrir suas próprias
identidades. Essas identidades estão ligadas a memória de cada povo, assim
18
Em sociedades orais, a memória é evocada e recriada
permanentemente, a partir do presente através da oralidade. É no
presente, nas palavras de quem transmite a memória – em geral a
pessoa mais velha da comunidade a quem poderíamos chamar
“guardião da memória” – que alguns pontos são apagados, e outros,
repassados. (MEDEIROS, 2008, p. 177).
A história também faz parte dos conflitos, e faz pessoas pensar como foi
construída a história e a identidade social do seu povo. Como por exemplo, para os não
indígenas a história teve um papel muito importante nos projetos de formação dos
Estados-Nação e da identidade nacional e cultural. As histórias indígenas são
importantes para ajudar com novas formas de lutas e resistências, conhecendo e
construindo sua própria identidade dos grupos e conhecendo suas próprias histórias e de
outra sociedade envolvente, no entanto existem grupos indígenas que dão menos
importância para história do seu povo.
Por exemplo, nos povos americanos, os ancestrais não se reconheciam como um
povo e isso era comum. Com passar do tempo através da história escrita, e nas escolas
passaram a ter a consciência que usar isso fortalecia as lutas políticas e o pensamento
próprio. Conforme a autora, a história do próprio grupo ocorre majoritariamente fora da
escola, nas práticas culturais que envolvem toda a comunidade (narrativas tradicional,
mitos, rituais, canto – dança – reza), principalmente, através da oralidade. Nesse sentido
tem diferenciado memória de história, que a memória e a lembrança do passado e ocorre
esquecimento, a história e recriada a partir da oralidade. A memória em geral ela é
repassada, mais em alguns pontos nem todos são lembrados por isso, de acordo com a
autora, “que alguns pontos são apagados e outros repassados. Em sociedades letradas, a
memória é registrada e através da escrita armazenada em arquivos, bibliotecas museus –
atravessa o tempo e o espaço” (MEDEIROS, 2008, p. 177) . Neste sentido, a história
é transmitida oralmente a partir da memória dos velhos, que possuem
a sabedoria. Através de uma busca no passado e na tradição, eles
tentam evocar um sentimento de identificação do grupo com a aldeia
ou etnia. (MEDEIROS, 2008, p. 177).
A história sem a memória não seria capaz de relatar e reproduzir as histórias,
mas “que a história tem raízes na memória” (MEDEIROS, 2008, p. 177). Nessa parte, a
memoria ela é aberta, e tem todo direito de refletir nos momentos particulares do
passado no presente. Para os indígenas “se confundem, pois a história, principalmente
19
quando se refere à historia local, é transmitida oralmente a partir da memoria dos mais
velhos, que possuem a sabedoria” (MEDEIROS, 2008, p. 177). Através da memória,
muitos fazem reflexões sobre o passado do seu povo na aldeia e da etnia, pois houve
choque da resistência da cultura ocidental. Por isso a importância da historia oral e da
memória para esse povo.
De acordo com Picoli (2010) a história já foi mais restritiva em relação à
valorização dos documentos produzidos por meio de entrevista e/ou depoimentos.
Passado o tempo, os profissionais mudaram a consciência que era preciso estudar os
documentos que eram guardados onde eles acreditavam que ali estavam guardados as
histórias que poderiam contar. Onde seria o início da construção da história da
humanidade, contadas pelas pessoas que viveram nessa época.
A escrita foi um meio de valorizar a história pelos historiadores antigos com a
importância de relato oral. Até os monges se interessaram pela história. As histórias
eram desenhadas através das artes ao seu período de convivência. Os estudiosos
compreendiam que a história não tinha valor era coisa do passado. E a história oral
perdeu seu espaço no século XIX, mas teve uma revalorização a partir da fonte oral e
também através da escrita. Mas a história era impraticável, pois os relatos eram cheios
de história que talvez mexiam com os sentimentos das pessoas.
Na metade do século XX os cientistas nortes americano tiveram interesse em
estudar os documentos. Na época na década 1960 a 1970 havia muitos conflitos sociais
e étnicos que lutavam pelos seus direitos da história recente, “com uso de fontes orais,
se desenvolveu fora do âmbito acadêmico e por historiadores não profissionais”
(PICOLI, 2010, p. 171). Fica claro que antigamente era proibido a luta coletiva e o
pensamento coletivo, mas a partir da memória coletiva foi assegurada que indivíduos
lutassem pelos seus direitos e conseguissem sua liberdade.
De acordo com autor “a dinâmica da sociedade contemporânea, a noção de
tempo acelerado, de constante transformação e, consequentemente a perda de sentido de
identidade e pertencimento, de raiz – forçou o retorno da narrativa” (PICOLI, 2010, p.
172). O importância da oralidade e ouvir os indivíduos que sofreram na época e por
isso é importante através da relato oral você poder ouvir as pessoas que foram
esquecidas. Neste sentido, este texto aborda relatos orais que trazem à tona a história
guardada na memória dos mais velhos do povo. Essas histórias constituem-se em parte
significativa da identidade do povo, da forma como a memória também é um
documento histórico.
20
2.2 – Narrativas sobre a história e o povo
Segundo A` ai mais velho da aldeia, ele relata que antigamente os povos Oro
Nao` viviam na beira do rio chamado(O kem)sign. rio grande ou largo que hoje é
chamado pelos invasores Rio Pacaás Novos. O povo só começou a afastarem-se da beira
do rio quando os seringueiros entraram no rio. Naquela época, o povo Oro Nao`,tinha a
ligação com outros povos do subgrupo através da passagem de pontes que
atravessavam de um lado para outro, Rio Novo entre Rio Pacaás Novas.
A ai` conta que os Oro Nao` faziam roça do outro lado do rio P.Novos, na aldeia
dos Oro Eo` chamado Pan`Tirop e os Oro Eo, atravessavam rio P.Novos para o lado
dos Oro Nao. Passou muito tempo assim, foi quando os seringueiros chegaram e
cortaram a ponte. Os wari ficaram surpreendido com a ponte que havia sido cortada no
Rio Novo e também no Rio P.novos, Então os wari disseram os wiyam eles estão para
aqui, já entraram.
Wiyam entraram no rio Negro, onde aconteceu pela primeira vez na história uma
grande matança, pois foi quando os brancos começaram a matar os Oro Nao que
habitavam no lado do rio P.Novos na terra dos Oro Eo.Mataram wari´ com terçados, os
brancos cortavam toda as partes do corpo do wari` desde a cabeça e as pernas.
Naquela época os wiyam não usavam escopetas (espingarda) era só apenas com
terçados. Os wiyam corriam atrás de wari`até alcançar e ia matando só de terçados. O
tempo foi passando e os wiyam foi mudando de armas, foi usado também espadas,
depois passaram a usar escopetas (aquela armas que carregava pelo cano). Desde esse
tempo, os warí começaram a morrer quase todos de chumbeira. Segundo o que os mais
velhos relatam, haviam os wiyam que queriam pacificar os índios, mais não sabe qual
era deles, e os wari também queriam aproximar de wiyam, mas como já tinha matado os
wari, teve uma revolta muito grande e os wari foram comunicando outras aldeias, para
fazer muitas flechas e andar com muito atenção e com as flechas.
2.3 – O conflito
Foi quando os wari não dispensaram mais nada. Desde esse tempo, iniciou-se o
conflito com os seringueiros, os patrões pediam aos mateiros para irem ao encontro da
maloca dos índios para matar todos, para que os seringueiros pudessem trabalhar
21
tranquilos. Os wari recuavam, os seringueiros continuavam a atacar com tiros e os
índios fugiam dos seringueiros para bem distante, procurando um lugar onde os
seringueiros não pudessem alcançar.
Com essa perseguição os wari foram se distanciando do seu território, deixando
tudo para trás, inclusive os seus pertence e as roças. As famílias foram se dividindo em
outros lugares, formando aldeias. Segundo A ai, revoltado, os wari moravam próximos
a beira do rio, somente que os seringueiros atacou muitos índios. Nesse lugar chamado
Tanajura havia morador, mas tinha abandonado o lugar, por motivo dos índios que
haviam aparecido neste lugar. Foi neste lugar onde pela primeira vez os missionários
chegaram, fizeram acampamento e suas expedições em busca de pacificar os índios Oro
Nao. Nesse tempo os wari reuniram e formaram os primeiros grupos, para ir atrás de
wiyam(brancos) para se vingarem.
Marcaram o dia e saíram de suas malocas atrás de wiyam e foram andando,
andando em direção a um lugar chamado Tanajura,até chegar na beira do rio. Não
demorou muito e ouviram um barulho de motor descendo o rio. Neste momento eles
ficaram aguardando o motor passar, quando ia passando os wari` flecharam o barco. E
os wari` pensaram que havia sido acertado ou matado os tripulantes do barco e eles
disseram: matamos, matamos! O nome do tripulante do barco era Chico Joaquim pai
Petito que hoje ainda é vivo.
E os wari voltaram para maloca achando que tinham matado wiyam e disseram
aos seus parentes que haviam matado wiyam. Passou muito tempo depois daquela
flechada que atiraram no branco de barco achando que tinham matado o wiyam.
segundo A ai (seus irmãos e seu tio chamado Maxun Korai` disseram vamos ver aquele
wiyam que flechamos, disse o wari`que participou da primeira expedição, vamos
disseram todos, se não haver wiyam vamos pegar terçados (facão) se não tiver facão
vamos flechar wiyam disseram eles.
2.4 – As caminhadas e os objetos não indígenas
Os wari` na época eram atraídos pelos facões. Então vamos A ai`era único
menino acompanhado ao seu velho pai e foram os primeiros do grupo que avistaram os
missionários pela primeira vez. Saíram de suas malocas que fica no igarapé chamado
Dois Irmãos. Passaram dois dias andando até chegar na outra maloca chamado Pitop, e
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dormiram mais uma noite. Ninguém sabia mais o caminho e a direção onde eles
queriam chegar.
Todos ficaram confuso sem saber onde ir, e decidiram caminhar devagarzinho
observando o caminho antigo.Quem indicou a direção onde wari`correram, foi o Chico
Joaquim. Com essa informação os missionários abriram um caminho enorme e bem
largo e limpo desde barracão até o igarapé a direção da maloca chamado Pitop. Os wari`
continuaram andando, foi quando viram um cortado, todos assustados, disseram: wiyam
passou ontem por aqui, olha a folha verde caído na chão sempre andaram por aqui
vamos seguir o caminho deles! Assustados continuaram andando. Mais adiante o pai de
seu sobrinho foi andando na frente bem devagarzinho com muito cuidado observando
todos os movimentos na mata.
E foram acompanhando o caminho bem devagarzinho até chegar no igarapé.
Chegaram no igarapé bem cedinho. Os wari se juntaram e ficaram conversando entre
eles os Wiyam voltaram. O wari mais esperto na época era Tem We`tomou que tomou a
frente do grupo e foi andando, foi quando avistaram o caminho e disseram: agora parem
de fazer barulho ninguém podem mais conversar olha o cortado dos wiyam! e ficaram
pensando como fazer para sair do caminho e foram cuidadosamente andando até
aproximar no caminho. Todos assustados admirados, nossa! wiyam fez o caminho,
ficaram um falando para outro e ficaram parados em alguns minutos olharam para o
cominho observaram a direção do caminho onde e ficaram perguntando uns ao outros
de onde vem este caminho será que vem de lá no (okem)sing.rio. Ficaram pensando
como nós vamos fazer, disserem entres eles, vamos andar no caminho limpo, outro
falou não,vamos andar beirando o cominho o outro disse: vamos andar no caminho.
O pai de A ai`disse, tomem muito cuidado com Wiyam talvez eles vai nós
avistar de longe e vão esconder de nós, quando nós aproximarmos deles, eles vão querer
matar todos nós o pai de A ai` falava. O tio de A ai disse: não tem nada cunhado, deixa
comigo vou andar na frente, vem atrás de mim.
2.5 – A casa dos missionários.
Os wari todos armados com arcos(temem`) e as flechas(kiwo`) todos com
posição de ataque. Se aparecer wiyam era só flechar, e saíram andando no caminho,
andavam, andavam e paravam, andavam novamente e perguntavam entre eles de onde
vem esse caminho. Passaram horas andando no caminho, quando ouviram cântico de
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nambu macocal e disseram novamente: já chegamos, ouviram ai nambu, okem está bem
aí, e foram andando, andando até o final do caminho, bem próximo do barracão dos
missionários. Novamente conversaram entre eles. Olha só o Wiyam e sabido só fizeram
caminho até aqui bem perto da casa. Chegando lá a casa estava em silêncio, parecia que
não havia ninguém então os wari ficaram observando cuidadosamente.
E outro perguntou: este não é aquele lugar onde nós flechamos wiyam naquele
tempo? e outro disse: é sim, olha a casa grande, será que eles estão morando ainda aí
nesta casa, e outro fala: acho que foram embora, vamos tomar muito cuidado talvez
podem estar aí. Outro wari` fala: vou subir numa árvore para observar se tem pessoa ou
não na casa. E outros disseram: ta bom pode subir na árvore.
Quando chegou na ponta da árvore o wari ficou observando até que avistou um
wiyam de fora andando no terreiro. O wari desceu rapidamente da árvore e comunicou
ao seu grupo e disse: eu vi o wiyam eles estão aí. Outros perguntam: estão aí, estão?
Tokwan dividiu outro grupo e andaram devagarinho olhando, observando mais próximo
do barracão, Tokwan com seus grupos retornaram novamente aos seus companheiros e
disse, não tem ninguém. Os wiyam foram embora ele disse: vamos, vamos lá entrar na
casa.
O irmão de A ai disse: olha eles estão aí eu vi eles, todos estavam querendo
entrar na casa. Os wiyam estavam bem quietinhos. Os wari´ ficaram caminhando para
cima e para baixo e ficaram pensando como fazer, e todos wari decidiram subir numa
outra árvore cheia de galho para fazer a última observação e ficaram aguardando wiyam
sair da casa e confirmar se havia mesmo wiyam.
O seu irmão mais velho Am Tara´(já falecido) pediu ao seu irmão mais novo A
ai` para subir na árvore. Subiu e lá avistou a casa dos wiyam de longe limpa, não havia
sinal de nada, nem a fumaça do fogo. Os wari ficaram o dia todo trepado na árvore e
ficavam perguntando um para outro, será que não tem wiyam mesmo nesta casa, outro
respondia: tem sim, vamos aguardar. Quando foi pela parte da tarde, saiu um wiyam.
Segundo A ai` relata que o wiyam que saiu na casa, viu uma coisa estranha numa árvore
e avisou ao companheiro, todos que estavam dentro da casa saíram para ver o que era
aquela coisa estranha numa árvore. Os wari também ficaram observando na árvore de
cima e wiram Wiyam todos brancos.
O pai de A ai disse ao grupo, eu disse que havia wiyam, assim estavam querendo
entrar na casa. Viram um wiyam andando ao rumo na direção da árvore onde estavam
os wari`. O wiyam andava e olhava para árvore, andavam novamente e olhavam quando
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se aproximavam da árvore. Os wari desceram da árvore rapidamente para flechar o
wiyam, quando wiyam olhava não encontrava mais nada. E wiyam voltava novamente
no seu lugar, e os wari subiam novamente na árvore quando wiyam olhava para trás
avistava novamente uma coisa estranha na árvore. Foi quando wiyam perceberam que
eram os wari e começaram a fazer barulhos os wari ficaram até a tardizinha até o sol
entrar.
Outros grupos que estavam no outro lado se encontraram e disseram, nós
avistamos vocês de longe trepado na árvore. Os wiyam viram vocês, ai começou a
discursão entre eles, outro do grupo disseram, do A ai` porque subiram na árvore, a
discussão foi tensa.
2.6 – A volta para a maloca.
Depois de muita discursão, eles retornaram a noite mesmo e foram caminhando
devagar no caminho, pois já estava escuro e não podiam ver nada. Os wari pegaram
palhas secas de babaçu e acenderam um fogo e foi caindo cinza, foram caminhando na
escuridão até chegar no igarapé em seguida ouve mais uma discursão.
E foram andando a noite mesmo até chegar na maloca chamado Pitop. Ao
amanhecer, os grupos dos missionários foram observar de perto a árvore onde eles
tinham visto wari a tarde. No mesmo dia foram acompanhando as pisadas dos wari` até
encontrar onde os wari descansaram no igarapé. Nesse dia os missionários pegaram
duas facas e deixaram penduradas no tapiri. E voltaram para trás.
A ai`e seu irmão mais velho contou para sua mãe e sua tia que wiyam tinham
feito um caminho bem enorme e bem largo, não sei porque os wiyam abriram o
caminho ficaram surpreso com caminho bem limpo. Conforme a informação a outra
aldeia soube da noticia, foram Maxun Karai`, Oro Wiram que levaram as informações
para as outras aldeias, O Maxun Korai` e o Yamai`kao Horowayi foram até outra aldeia
chamado Komi Traho levar informação e Xurui` e o Oro Nokon foi até a maloca
Kawiyei, depois de passar todas as informação para todas as aldeias mais distante os
Wari começaram a chegar numa aldeia conversando organizando para mais uma
expedição ao encontro dos wiyam.
Nesse dia os wari formaram outros grupos e decidiram partir ao rumo dos
wiyam. Desta vez o A ai` não foi mais pois seu pai não quis mais leva-lo, seu pai disse:
você já foi. A ai` chorando pedia ao seu pai para leva-lo novamente, pois ele queria ver
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o caminho novamente o pai não aceitou e disse novamente: você vai ficar o wiyam é
muito esquisito A ai` chorando aceitou o pedido do seu pai a vontade dele era ver o
caminho novamente.
2.7 – O retorno a casa dos missionários.
Nesse dia foram muitos wari para ao encontro dos wiyam e seguiram a
caminhada até chegarem no tapiri do Pitop onde encontraram a primeira faca o seu
irmão puxou, cortou a corda, todos admirados e disse: porque wiyam deixou a faca.
Agora vamos atrás deles e seguiram o caminho com muito cuidado. Chegando lá
avistaram pensando que não havia ninguém (não sabe o horário) os missionários
estavam todos dormindo. Para confirmar se não havia ninguém flecharam em volta da
casa toda mais sem sinal de pessoa.
O Tem We`o wari` mais esperto do grupo correu, subiu a escada a casa que era
de assoalho e avançou para dentro do barracão com ansiedade de ganhar machado. La
dentro havia pessoas dormindo, assustado com Tem We que havia entrado, o wiyam
assustado pegou a faca e Tem We assustado também com wiyam dentro da casa decidiu
correr para trás e escorregou e caiu foi quando wiyam perfurou com a faca. O pai dele
no lado de fora gritou wiyam matou vocês. Tem We levantou rapidamente e saiu da
casa e correu na direção do mato. Quando os grupos viram Tem We foi correndo para o
mato, todos acompanharam ele.
E os wiyam pegaram armas de fogo e começaram a atirar na direção dos índios.
Outro tio de Aai`ficou escondido na esquina da casa e ficou bem quietinho sem se
mexer depois do termino do tiroteio ele saiu correndo na direção do mato pensando no
Tem We que havia esfaqueado. Correu atrás e o encontrou Tem We já desmaiado no
chão. E o Parap pai Tem We começou a chorar e os irmão. Então resolveram carregar
até a maloca. Depois dessa tragédia Os wari` enquanto estavam fazendo festa na maloca
do Maxun Karai` chamado Komi Taraho. Os missionários resolveram entrar no rio Dois
Irmão com intenção de pacificar os índios, chegaram na primeira maloca chamado
Tokoron Me, os wari naquele instante tinham atravessado a ponte e os missionários
chegaram depois. Seguiram andando até Tokon Me, e penduraram o facão andaram
mais adiante e voltaram. Entraram de barco seguiram subindo o rio, mais na frente tinha
uma ponte de árvore atravessado do lado para outro do rio.
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Os missionários eram Moreno, Saul e outros, olharam para ponte que havia uma
pegada dos wari molhada na ponte. Uns dos missionários gritou chamando o Saul.
Maxun korai`estava próximo e ouviu o grito, o Maxun Korai`ouviu de outro jeito
chamando (Awo`). Assustado ele ficou pensando, esse que é wiyam. Os Missionários
ficaram até que resolveram voltar, pois havia uma ponte que impedia a passagens do rio.
Segundo A ai`conta que os seus pais estavam retornando para sua maloca,
ouviram tiros de arma e seus pais falaram para seu irmão mais velhos e disse Am Tara e
wiyam que está atirando. Depois do barulho pararam de andar em alguns instante. O pai
de A ai` pediu que andasse bem devagarinho até chegar no igarapé, olharam, e disseram
não tem ninguém cuidado talvez Wiyam estão aí andaram devagar até chegar na
maloca. Passou dias e ouviram de parentes de outras malocas, que wiyam tinham
deixado facão e machado na maloca chamado Tokon Me. Depois dessas notícias os wari
não conformado que Wiyam tinham deixado facão e machado. Logo outras aldeias se
manifestaram e se dirigiram ao rumo da Maloca Pitop atrás de facão, onde wiyam
tinham deixado pela primeira vez.
Chegando na maloca Pitop não tinha nada. Em seguida se dirigiram na direção
do igarapé próximo da maloca Pitop onde os wiyam já tinham deixado os facões
pendurados e aproveitaram para pegar todos os machados e facões.
2.8 – A aproximação definitiva.
Nesse tempo os wari`não ficaram mais nas suas malocas todos queriam ganhar
machado e facão. Desde aí, os wari´ queria ganhar as ferramentas dos wiyam. Depois
dessa notícia seu tio pediu a sua tia que fosse atrás de ferramenta do Wiyam e sua tia
disse, vou acompanhar vocês até aquele igarapé e vou voltar.
A ai` e seu tio seguiram andando até chegar na beira do campo quando avistaram
a casa de wiyam A ai` estava ansioso de ver wiyam, pensando que wiyam era bonito,
wiyam era bicho muito feio, disse ele. Dessa vez não conseguiram nada e voltaram para
maloca novamente. Quando chegaram na maloca souberam que wiyam tinha
pendurados os facões e machados. E seu irmão mais velho disse, agora vamos fazer roça
bem distante os wiyam estão andando muito perto de nós se não eles nós vão atacar e
matar todos nós. Os dois tio de A ai`se perguntaram porque wiyam não atirou em nós,
nunca atiraram contra nós. Depois da conversa decidiram voltar novamente para o
barracão dos missionários e ao chegar lá, não havia mais facões a beira do campo.
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Tinham afastado para mais perto do barracão e fincaram dois paus de distância de três
metro com formato da trave de futebol puseram os machados e facões pendurados.
Os wari vieram e chegaram no lugar onde puseram sempre os facões e os
machados a beira do campo, não encontraram nada, olharam mais adiante e avistaram as
ferramentas pendurados no meio do terreiro, e agora como podemos alcançar aquelea
machadoa e facões naquele lugar limpo. Logo o Mixi Mon perguntou ao Wem Krio
você tem coragem de correr até chegar naquele machado e pegar e voltar correndo, eu
tenho disse o Wem Krio, vamos, saíram correndo com velocidade apanharam o
machado e os facões e voltaram para trás: pegamos, pegamos disseram os dois. Foi
quando wiyam saiu com o facão e o machado na mão balançando, os wari assustado
começaram a gritar não corram, não corram deixa ele sair vamos ver o que tem na mão
dele.
Os wari´ falando na língua, deixa no lugar novamente, deixa no lugar
novamente. O wiyam veio andando na direção dos wari`, quando os wari` começaram
flechar no wiyam e wiyam foi afastando novamente para o lugar e foi juntando as
flechas e outros wari` gritavam vocês estão flechando ele estão impedindo ele colocar
pendurar. O wiyam assobiou e fez o gesto para que os wari` voltassem, foi quando o
wiyam deixou ferramentas no chão e os wari´ avançaram e pegaram os machados e
facões, alguns não conseguiam pegar, pois não deixavam pegar, havia empurrões e bate
boca entre eles.
Nesse dia ganharam muitos facões e machados. Depois que cada wari ganhou
machado e facão, saíram correndo para o mato. Chegaram na moloca e avisaram aos
outros parentes de outras malocas que tinham ganhado ferramentas dos wiyam na beira
do rio. Todas outras aldeias se organizaram e vieram ao encontro a procura de wiyam
que tinham entregado as ferramentas para os parentes. Quando chegaram no barracão os
wari´ começaram a gritar para o wiyam, apareceu wiyam com machados e facões
balançando dando sinal para que os wari viessem receber as ferramentas na mão. Os
wari` com muito medo, não tiveram coragem de receber na mão de wiyam.
2.9 – Estranhamento e abraço não indígena.
O wiyam assobiou e fez o gesto para os wari` deixarem as flechas. Esses grupos
também receberam muitos machados e facões. Os wari´ não paravam de chegar em
grupos para receber as ferramentas. Foi quando veio uma turma do Wem Krio`,
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chegaram no barracão e o Abraão saiu com machado bem novinho com cabo de
madeira, e pedia que o wari se aproxima-se dele para receber na sua mão o machado.
Mas ninguém teve coragem, foi quando apareceu o Wem Krio com sua coragem e disse
aos seus parentes deixem comigo agora e minha vez se wiyam me matar, problema e
meu, e outros preocupado gritavam cuidado com wiyam, ele vai te matar e outros
diziam pega, pega.
O Abraão vez gesto para ele se aproximar e receber o machado da mão dele,
Wem Krio com medo não sabia se pegava o facão ou não, mesmo nervoso se
aproximou devagarzinho e segurou o machado e ao mesmo tempo o Abraão segurou a
mão de Wem krio e logo se abraçaram fortemente, foi assim a pacificação do povo Oro
Nao.
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CONCLUSÃO
Este trabalho de pesquisa foi um grande desafio e um trabalho de suma
importância para a minha prática docente. Sou grato ao meu orientador e sabedor A
ai`Oro Nao, que teve muita paciência comigo nos momentos das entrevistas e nas
perguntas.
Ao iniciar esta pesquisa eu tive muita curiosidade de saber como era a educação
com as crianças e os jovens do povo Oro Nao´. Como era a convivência do povo Oro
Nao`, as meninas eram orientada pela mãe e os meninos com os pais. Isso me levou a
fazer esta pesquisa na minha comunidade.
Tive muita dificuldade por não ter materiais tecnológicos como filmadora do
qual mais eu interessei, para fazer este Trabalho, foi o momento mais desesperador pra
mim. No intuito de conseguir esse aparelho para produzir filmagens na minha
comunidade eu fui à SEDUC, respectivamente no setor indígena onde me disseram que
não tinham esse instrumento, fui também à FUNAI e igualmente não obtive nenhuma
resposta.
Fiz entrevista com o gravador disponível no celular, foi a sim que eu consegui
terminar a minha pesquisa. Durante ao meu trabalho, tivemos o falecimento da minha
tia, ela se chamava Mixem To Oro At, foi uma tristeza muito grande para nossa
família, ela era uma tia muito querida. Esta pesquisa foi muito interessante
principalmente para minha comunidade e para os alunos. Ela será apresentada para os
jovens de hoje que não conhecem essa história do seu próprio povo Oro Nao`, sendo
que isso é uma das grandes importâncias desse trabalho.
Esta pesquisa pode sim, fazer compreender como era a educação antigamente,
pois a educação de hoje é muito diferente da praticada pelos antepassados. As crianças e
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os jovens eram mais obedientes, respeitavam os mais velhos, trabalhavam unidos,
faziam colheitas coletivas e sim por diante. Hoje a educação tradicional não e mais
valorizada pelos pais. Por isso está pesquisa tem uma grande importância que é mostrar
e compreender como foi a educação antigamente do próprio povo Oro Nao`, para fazer
os jovens refletir no dias de hoje. A educação atual desvaloriza a educação tradicional,
sendo que isso acontece por falta de conhecimento dos jovens.
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REFERÊNCIAS
ALVES, Maria Isabel Alonso; BUENO, José Lucas Pedreira; AMARA, Nair Ferreira
Gurgel. Tecnologias e formação de professores indígenas: cruzando fronteiras.
Currículo sem Fronteiras, v. 15, n. 3, p. 920-44, set./dez. 2015.
MEDEIROS, Juliana Schneider. Ensino de história: memória e oralidade na aldeia
Kaingang do Morro do Osso. MÉTIS: história & cultura – v. 7, n. 14, p. 173-183,
jul./dez. 2008.
PICOLI, Bruno A. Memória, História e Oralidade. Revista Minmosine. V. 01,
N. 01, Jan/Jun, p. 168-184, 2010.