31
1 MILTON ORO NAO REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO NAO ENTRE NARRATIVAS PESSOAIS E RELATOS ORAIS Dr. Genivaldo Frois Scaramuzza Orientador Ji-Paraná Rondônia, Maio de 2016

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

1

MILTON ORO NAO

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

INDÍGENA ORO NAO ENTRE NARRATIVAS PESSOAIS

E RELATOS ORAIS

Dr. Genivaldo Frois Scaramuzza

Orientador

Ji-Paraná – Rondônia, Maio de 2016

Page 2: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INTERCULTURAL -

DEINTER

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO BÁSICA INTERCULTURAL

Por:

MILTON ORO NAO

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

INDÍGENA ORO NAO ENTRE NARRATIVAS PESSOAIS

E RELATOS ORAIS

Monografia submetida ao Departamento de Educação

Intercultural da Fundação Universidade Federal de Rondônia -

Campus de Ji-Paraná, como requisito parcial para a obtenção do

Grau de Licenciado em Educação Básica Intercultural.

Ji-Paraná- Rondônia, Julho de 2017

Page 3: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

3

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

INDÍGENA ORO NAO ENTRE NARRATIVAS PESSOAIS

E RELATOS ORAIS

Acadêmico

Milton Oro Nao

Examinadores

Prof. Dr Genivaldo Frois Scaramuzza – UNIR (Orientador)

Prof. Dr. Fábio Pereira Couto – UNIR (Examinador)

Profa. Ma. Vanúbia Sampaio – UNIR (Examinadora)

Profa. Ma. Maria Isabel Alonso Alves – UFAM (examinadora Externa)

Page 4: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

4

(Rio Pacaás Novos da aldeia Capoeirinha em Guajará Mirim 2017)

Créditos: Milton Oro Nao`

“[...] mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia,

Para onde ele vai,

Para onde ele vem.

É por isso porque pertence a menos gente,

É mais livre e maior o rio da minha aldeia”.

(Fernando Pessoa)

Page 5: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

5

LISTA DE SIGLAS

AÇAÍ – Magistério Indígena de Rondônia

FUNAI – Fundação Nacional do índio

SEDUC – Secretaria Estadual de Educação

UNIR – Universidade Federal de Rondônia

CUNPIR – Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia

ASBERON – Associação dos Servidores do Banco do Estado de Rondônia

Page 6: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado à força de continuar e chegar até

aqui. A minha família, ao meu pai Tian Oro Nao`, a minha mãe Marinez Oro Win que

sempre preocupado, na angústia sempre presente, e minha esposa Olinda Jabuti, filho

João Guilherme Jabuti Oro Nao`, sempre com muito carinho e apoio não mediram

esforços para que eu chegasse até esta etapa na minha vida. A minha comunidade. Aos

amigos e colegas, pelas alegrias, tristezas, dores, incentivo e apoio constante ao meu

estudo. Ao professor orientador da monografia Dr. Genivaldo Frois Scaramuzza.

Agradeço também a minha instituição por ter me dado esta chance que permitiu chegar

hoje ao final deste trabalho. Aos meus professores que aconselharam a não desistir

pois através disto, eu consegui concluir a minha monografia.

A professora Maria Isabel da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Ao

professor Dr. Fábio Pereira Couto da UNIR.

A Profª. Ms. Edinea aparecida Isidoro, a quem muito lutou pelo curso de Licenciatura

em Educação Básica Intercultural.

A Profª Dra. Geógrafa Maria Lúcia Cereda da área de Ciências da Sociedade.

A Profª Dra. Josélia Gomes Neves do Curso de Licenciatura em Educação Básica

Intercultural da UNIR e líder do Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia que

lutou junto com os indígena pelo curso.

A Profª. Ms. Luciana castro,

O Prof. Ms. Reginaldo Nunes,

A Profª. Ms. Vanubia Sampaio,

Page 7: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

7

SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 08

CAPÍTULO 01 ..........................................................................................................

10

1 - Histórias da pesquisa.............................................................................................. 10

1.1 – Narrativas pessoais................................................................................... 10

1.2- A minha infância............................................................................................. 12

1.3- Aprender na aldeia entre o permitido e o proibido....................................... 14

1.4 - Histórias que meu pai contava.................................................................... 14

1.5 – Lugares de histórias contadas.................................................................... 15

1.6 – Sonhos de Infância........................................................................................ 15

CAPÍTULO 02 ..........................................................................................................

17

2 - Narrativas sobre o povo e a educação................................................................... 17

2.1 - A História e Oralidade Enquanto Elemento de Pesquisa............................... 17

2.2 – Narrativas sobre a história e o povo.............................................................. 20

2.3 – O conflito.................................................................................................. 20

2.4 – As caminhadas e os objetos não indígenas................................................... 21

2.5 – A casa dos missionários............................................................................ 22

2.6 – A volta para a maloca............................................................................... 24

2.7 – O retorno a casa dos missionários............................................................ 25

2.8 – A aproximação definitiva.......................................................................... 26

2.9 – Estranhamento e abraço não indígena...................................................... 27

Conclusão................................................................................................................ 29

Referências............................................................................................................... 31

Page 8: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

8

INTRODUÇÃO

Esta monografia foi construída a partir de reflexões pessoais e diálogos

construídos com pessoas mais velhas da comunidade Oro Nao localizada na Terra

Indígenas Pacaás Novos no município de Guarujá Mirim no Estado de Rondônia.

Assim, o objetivo principal do texto é falar sobre minha história pessoal e mostrar como

ela está relacionada ao modo de vida do povo Oro Nao.

Destaco também que foram feitas conversas (entrevistas) com pessoas mais

velhas da comunidade que contaram parte da história do povo. No que se refere a minha

história, falo sobre minha infância, as vivências e aprendizagens junto a minha família e

ao meu grupo a qual eu pertenço. Conto dos lugares que frequentava, das coisas que

podia ou não fazer na aldeia. Falo das brincadeiras, das práticas de acompanhar meu pai

nas atividades cotidianas da aldeia, incluindo a ida as roças, a pescaria e as caçadas.

Falo de como ocorreu meu contato com a escola e parte da trajetória a qual me

tornei professor. Quando a história do povo fiz entrevistas com os mais velhos para

saber como foi o processo de contato dos Oro Nao como os não indígenas. Assim, o

leitor poderá acompanhar como essas narrativas falam de uma história em que houve

Page 9: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

9

muitas perdas indígenas, não apenas do território, mas de vidas que foram ceifadas no

processo de contato, incluindo aí tanto perdas indígenas como não indígenas.

Ainda neste sentido, é narrado o processo de estranhamento entre dois mundos,

as tensas relações entre indígenas e não indígenas, os desconhecimentos de ambos os

lados. A aproximação Oro Nao com os elementos tecnológicos não indígenas é também

contada neste trabalho.

Assim, o objetivo central desse texto é descrever a história e educação indígena Oro

Nao entre as narrativas pessoais e os relatos orais dos mais velhos. Como objetivos

específicos está a ideia de descrever minha infância e os lugares que frequentei.

Também tem como intenção, sistematizar relatos que mostram o processo de contato

dos Oro Nao com os não indígenas. Neste sentido, o texto está organizado em dois

capítulos.

No primeiro capítulo conto a minha história pessoal enquanto no segundo

capítulo sistematizo as narrativas indígenas produzidas pelos mais velhos da

comunidade que falam diretamente do processo de conato do povo Oro Nao com os não

indígenas.

Page 10: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

10

CAPÍTULO 01

1 - HISTÓRIAS DA PESQUISA

1.1 – Narrativas pessoais.

Sou Milton Oro Nao, tenho 35 anos, pertenço ao Povo Oro Nao, que reside na

Terra Indígena Pacaás Novos, localizada no município de Guajará-Mirim na região de

fronteira com a Bolívia.

Meu primeiro dia de aula foi no mês de março no ano de mil novecentos e

oitenta e sete (1987), há 30 anos, na Escola Marechal Rondon, localizada na aldeia

Tanajura. Na época essa escola era de responsabilidade da Fundação Nacional do índio

(FUNAI), sendo que a escola ficava distante da minha aldeia Capoeirinha

aproximadamente uns três (3) quilômetros.

A minha primeira professora alfabetizadora no pré-escolar foi uma missionária

chamada de Claudelice. Ela morava na aldeia Tanajura e não tinha formação para atuar

como professora alfabetizadora. Naquele tempo ela alfabetizava nas duas línguas, na

língua materna do povo Oro Nao e o português. Durante o primeiro e segundo bimestre,

as atividades se davam somente na língua materna, as atividades trabalhadas pela

professora na sala de aula eram com as vogais e leitura do alfabeto. No segundo

bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro bimestre com a produção de

pequenos textos, redação na língua materna e ditado das palavras nas línguas (nome de

animais, peixes, pessoas, árvore etc.), as orientações dessas atividades se davam nas

duas línguas, no português e na língua materna.

O material utilizado na sala de aula eram cartazes, desenhos, cartão com

vogais, cartazes com as famílias silábicas e consoantes. A professora era muito rígida,

Page 11: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

11

não gostava de barulho, não aceitava muita conversa na sala de aula. Ela ela utilizava

cartilha.

Outros meios eram o quadro, leitura no livro e cartazes, ela ficava muito feliz

com aqueles que sabiam ler, quem não sabia ler, permanecia mais tempo na sala de aula.

Ela era uma professora bastante criativa, gostava de cantar, brincar tudo era

organizado. Mesmo com a rigidez de seu trabalho pedagógico, eu gostava dela. Eu

trabalho na escola Josias Batista de Oliveira na aldeia Capoeirinha localizada na

margem do Rio Pacaas Novos, terra indígena Pacaas Novos. Estou há treze (13) anos na

sala de aula, eu trabalho com 1° e 2° ano do ensino fundamental.

No ano de dois mil (2000), iniciei o curso de Magistério indígena de nível

médio chamado de Projeto Acaí, este curso era destinado para professores indígenas que

atuam em escolas indígenas, porém, sem formação acadêmica. O primeiro Projeto Açaí

iniciou-se no ano de mil novecentos e noventa e oito (1998), em dois municípios,

Guajará-Mirim e Ji-Paraná. Segundo a professora Edineia Aparecido Isidoro,

atualmente docente do curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural, o curso

só aconteceu no ano dois mil com recursos que foi arrecadado na SEDUC. Porém

enfrentou sérios problemas, ouve uma suspensão durante um ano por não dispor de

recursos para realizar outras etapas do Projeto.

Na gestão do professor Cristovão Teixeira Abrantes, foi assegurado orçamento

da SEDUC para o Projeto Açaí, mas também foi por conta de muita pressão. Em

determinadas ocasiões, o governo dizia que não ia fazer nenhuma etapa, no entanto isso

era falta de interesse político no sentido de dar importância ao curso e a formação dos

professores indígenas. Somente após muita luta dos professores indígenas do estado de

Rondônia, reivindicando a continuação do curso com apoio das lideranças indígenas e

da Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia (CUNPIR) o curso

reiniciou novamente no ano de dois mil (2000) no município de Porto Velho, onde

ocorreu no espaço da Associação dos Servidores do Banco do Estado de Rondônia

(ASBERON) que ficava as margens da BR-364.

O Projeto Açaí na sua primeira edição entre os anos de 1998 a 2004 atendeu

aproximadamente cento e oitenta (180) professores indígenas do Noroeste de Mato

Grosso e Sul de Rondônia. Fiz parte da segunda turma deste Projeto Açaí, passei dois

(2) meses cursando o açaí, o curso só acontecia no período de férias, a conclusão do

curso foi no ano de dois mil e seis (2006). As dificuldades dentro do curso eram

produzidas por falta de acompanhamento das atividades durante o tempo que

Page 12: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

12

passávamos na aldeia, outro fator que dificultava era não dispor de outras pessoas que

pudessem estudar comigo, haja vista que mesmo tendo outros professores da aldeia

cursando ao Açaí, eles estavam em outra turma. Outro elemento que é importante

mencionar é o fato de que na época não tínhamos muito conhecimento a respeito das

tecnologias, principalmente do uso do computador.

Cabe mencionar que naquela época as tecnologias não eram exploradas nos

cursos de formação, isso só veio ocorrer com mais intensidade no curso de Licenciatura

em Educação Básica Intercultural. A este respeito, reflexões realizadas por Alves (2015)

a respeito das práticas do uso das tecnologias pelo curso de formação de professores

indígenas da UNIR, mostram que há um

[...] esforço explicitado na proposta curricular é de estabelecer uma

relação entre as realidades postas na e pela sociedade informatizada e

as Tecnologias e formação de professores indígenas e as e

necessidades de formação dos sujeitos indígenas, voltada para as

premissas legais no âmbito da educação indígena (ALVES at al. 2015,

p. 932-933).

Havia também professores do Projeto Açaí que só falava na sala de aula e não

propunham atividades para que pudéssemos fazer uma reflexão e aprofundar nossos

conhecimentos sobre a docência.

Foi neste curso onde eu aprendi muito sobre a importância da valorização da

língua e da cultura do meu povo Oro Nao, como trabalhar com as crianças na sala de

aula, principalmente com as séries iniciais. O meu método de trabalho hoje é baseado na

forma que eu aprendi durante o curso do Projeto Açaí. Usando materiais coletados na

aldeia como, sementes de palmeiras, pedrinhas, folhas, e também outros materiais que

não se encontram livremente na aldeia, como, cartolinas e outros . As atividades que eu

faço com meus alunos são conhecer o ambiente da comunidade, exploração de desenhos

com letras iniciais com vogais, silabas, consoantes, alfabetos e cânticos de músicas,

brincadeiras, recortes de livros e pinturas. O processo do meu trabalho na alfabetização

tem que está preparado, porque a responsabilidade é muito grande. Ao mostrar como

vem ocorrendo a educação indígena para o meu povo penso ser importante mostrar

como a minha história de infância está entrelaçada a história desse povo e constitui

material para expor a educação Oro Nao.

1.2- A minha infância.

Page 13: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

13

Quando eu era criança tive uma vida sofrida. Naquela época meus pais não

tinham condições financeiras. Eu dormia num assoalho de paxiuba ou de tábua, era

forrada de esteira de palha de babaçu que era feito por minha tia e minha mãe. Quando

chegava época de frio eu abraçava meu irmão, quando a temperatura caia ainda mais, o

meu pai fazia um fogo embaixo do assoalho para aquecer o corpo. Só assim nós

conseguíamos dormir no frio. Acordava de manhã as vezes sem comer nada sem tomar

café.

Eu gostava de acompanhar meu irmão mais velho para pescar. Em casa eu

lavava as louças, varria o terreiro, cuidava de outro irmão pequeno, eu fazia umas

flechinhas, arco para flechar piabinhas, fazia arapuca para pegar passarinho, gostava de

tomar banho, nadar, mergulhar, remar de canoa fazia as coisas até onde o eu podia.

Meu pai trabalhava muito naquela época. Ele cortava seringa, fazia roça e

plantava milho, mandioca, macaxeira, arroz, batata, banana e feijão para nós sustentar e

conseguir umas coisas para dentro de casa. Esses produtos eram para venda, para

compra de alimentos para dentro de casa. Meu pai tinha costume de levantar bem

cedinho para ir ao trabalho.

Quando era época do roçado eu ia acompanhar meu pai, ficava sentado no

tronco de uma árvore e ficava olhando o meu pai roçar, as vezes eu pegava um pequeno

terçado e começava corta galhos de árvores. Na época de derrubada ele não deixava

acompanhar pois ele dizia que era muito perigoso, ele derrubava todas outras árvores, as

palheiras (babaçu) ele fazia um furo para retirar um gongo chamado(oro yat).

Depois de roçar e derrubar os matos para fazer a roça ele deixava três meses,

para as árvores e as folhas secarem bem para queimar. Depois de três meses queimava o

roçado, meu pai só queimava a roça ao meio dia, quando sol era muito quente,quando

não dava muito vento, para o fogo não queimar as matas. Depois de queimar a roça

meu pai chamava a minha mãe para tirar (oro yat) eu e meus irmão ficava em casa

aguardando.

Quando chegava minha mãe cozinhava numa panela e depois de cozido nós

sentávamos ao redor, e minha mãe dividia em partes iguais e eu comia. Dois dias

depois, eu e meus irmãos íamos plantar a roça com meus pais. O primeiro plantio era

mandioca, macaxeira, cara. Na roça eu gostava de plantar e tapar os buracos com

sementes. No caminho da roça eu encontrava frutas como, pãma, naja, cacau. Na época

de plantio havia muitas frutas no caminho. Eu gostava de ir a roça por causa das frutas.

Page 14: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

14

1.3- Aprender na aldeia entre o permitido e o proibido.

Eu não podia brigar com meus irmãos, tinha que sempre tomar cuidado quando

andava na beira do rio. Não podia remar de canoa sozinho, sempre andava

acompanhado com meu irmão mais velhos, andar sozinho no caminho não podia, gritar

no meio do rio ou na mata não podia. Brincar com peixes podia também, não comia

frutas desconhecidas, não andar a noite sozinho. Andar com muito cuidado. Não podia

subir nas árvores altas e não andar no cerrado, não quebrar os galhos de arvores.

Eu brincava no terreiro sempre perto de casa, andava de canoa próxima do porto,

brincava de flechas no terreiro acertando alvos. Tudo era no terreiro de casa. Eu não

podia sair para longe, pois o meu pai não deixava.

Todas as brincadeiras tinham que estar sempre perto dos meus pais, pois eles

ficavam observando, não podia brincar longe de casa. Eu brincava com meus irmãos e

meninos que moravam próximo de casa e gostava de jogar bastante de bola de seringa

ou de saco amarrado. Eu construía um barquinho de madeira com formato de voadeira e

motor rabeta e carrinhos. Eu brincava a beira do porto que havia próximo a minha casa.

Quando não tinha ninguém para brincar comigo eu brincava sozinho de carrinho no

terreiro de casa.

1.4 - Histórias que meu pai contava.

A história contado pelo meu pai falava sobre a organização do povo Oro Nao`.

Antigamente esse povo era bem organizado, todos trabalhavam, faziam roças grandes

para o plantio de milho batata, cara e macaxeira, essas plantas não podiam faltar, eram o

principal alimentos do povo Oro Nao`. Quando algum indígena matava uma caça ele

dividia em partes iguais para todos os parentes próximos. As mulheres nunca deixavam

faltar chicha e pamonha. Quando chegava um visitante de outra aldeia, ofereciam chicha

e pamonha, isso era forma de agradar os visitantes.

O povo Oro Nao` também gostavam de festas, avisavam para outros parentes

preparar chicha azeda para cantar e dançar. A festa durava enquanto havia chicha.Todos

respeitavam uns aos outros e não haviam muitas brigas. As famílias eram unidas. As

crianças eram muito obedientes aos seus pais, respeitavam os mais velhos. Antigamente

havia muitas caças, não se preocupavam com nada, as pessoas eram muito difíceis de

Page 15: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

15

pegar doenças. Havia pajés fortes que curavam doenças e não deixavam os espíritos

maus se aproximarem das pessoas. As crianças eram bem cuidados, os jovens tinham

seus lugares específicos, não podiam se envolver com mulheres casadas.

1.5 – Lugares de histórias contadas.

O meu pai contava histórias durante a noite, quando nós estávamos todos

reunidos no quarto de casa. As histórias contadas pelo meu pai eram, por exemplo, a

história da menina que gostava de chorar muito. Esta história conta que certa vez os pais

saíram para o mato e a menina não queria ficar, então ela resolveu seguir os pais no

caminho chorando. No meio do caminho ela parou e ficou gritando, chamando o nome

dos pais dela, quando de repente apareceu uma anta com formato de pessoa igualzinho o

pai dela e levou ela embora.

E seguem o caminho dos pais, logo mais adiante ele desvia o caminho dos pais e

a menino pergunta onde estamos indo. Vamos atrás de frutas, e seguiram andando,

andando até ficarem muito distante da aldeia. Quando os verdadeiros pais chegaram na

aldeia, eles perguntam para os irmãos que estavam na casa: vocês viram To` o?. Os

irmãos respondem: ela foi atrás de vocês. Nesse momento os pais ficam desesperados e

resolvem ir atrás dela da filha To o`. Essa historia é contada para crianças

Que não são obedientes aos seus pais durante o dia.

1.6 – Sonhos de Infância.

O meu sonho era ter muitos brinquedos para brincar e ganhar um gravador,

antigamente era conhecido como gravador ou toca fita. Tinha também vontade de ter

umas roupas melhores para passear, sandálias havaianas, tênis e colchão para dormir

melhor. Naquela época meus pais não tinham condição de comprar nada. Quando eu ia

para cidade eu tinha vontade de tomar um sorvete ou picolé, comer um sanduiche, tomar

refrigerante ou suco e andar de carro. Fazer compras nas lojas. Meu outro sonho era

andar de avião um dia. Eu tive muita vontade de ser um soldado, por motivo das armas

eu tinha curiosidade de ver de perto as armas como fuzil, metralhadoras, bombas e

outros.

Considerando o que foi exposto até aqui, meu interesse foi mostrar brevemente

um pouco de minha história, principalmente minha vivência na aldeia, a forma como eu

Page 16: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

16

cresci e fui tendo experiências junto ao meu povo e com a educação tradicional e

escolar. No próximo capítulo vou expor conversas que realizei com pessoas da

comunidade que falam sobre a história e educação Oro Nao.

Page 17: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

17

CAPÍTULO 02

2 - NARRATIVAS SOBRE O POVO E A EDUCAÇÃO

2.1 - A História e Oralidade Enquanto Elemento de Pesquisa

A proposta desta parte do texto é fazer uma reflexão sobre a importância da

história e da memória em contextos indígenas. Medeiros (2008) apresentou em sua

discussão (Ensino de história: memória e oralidade na aldeia Kaingang do Morro do

Osso) uma reflexão que partiu do projeto de pesquisa “memória, Tradição e saberes

ancestrais nas praticas escolares das aldeias Kaingang e Guarani” realizado na âmbito

da Faculdade de Educação da UFRGS, orientado pela professora Maria Aparecida

Bergamaschi. Para autora, a escola apresenta-se como meio de necessidade para

afirmação de sua cultura, na medida em que é preciso saber se relacionar com a

sociedade envolvente e mesmo ao tempo a escola pode ser uma ameaça da vida

tradicional, e uma invasão dentro da própria terra indígena.

De acordo com a autora, a escola vem sendo aos poucos incorporada, como no

ensino na língua materna e com a presença de professores indígenas da própria aldeia. A

pesquisa mostra que é possível também incluir a cultura branca, sem deixar a cultura

indígena de fora. O objetivo da escola é aprender ler e escrever e ensinar a língua

materna de cada etnia o qual se torna bilíngue, mas também, a escola tem o objetivo de

levar a língua portuguesa para que os indígenas possam ler e escrever no sentido de

conhecer o espaço e o relacionamento específico escolar com várias disciplinas, a

principal é a história.

Quando ao aspecto da história, a autora mostra que a história oral para povo a

qual ela pesquisou é tão importante para se perguntarem sobre a sua própria história

junto com as famílias e fazer refletir sobre suas origens e descobrir suas próprias

identidades. Essas identidades estão ligadas a memória de cada povo, assim

Page 18: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

18

Em sociedades orais, a memória é evocada e recriada

permanentemente, a partir do presente através da oralidade. É no

presente, nas palavras de quem transmite a memória – em geral a

pessoa mais velha da comunidade a quem poderíamos chamar

“guardião da memória” – que alguns pontos são apagados, e outros,

repassados. (MEDEIROS, 2008, p. 177).

A história também faz parte dos conflitos, e faz pessoas pensar como foi

construída a história e a identidade social do seu povo. Como por exemplo, para os não

indígenas a história teve um papel muito importante nos projetos de formação dos

Estados-Nação e da identidade nacional e cultural. As histórias indígenas são

importantes para ajudar com novas formas de lutas e resistências, conhecendo e

construindo sua própria identidade dos grupos e conhecendo suas próprias histórias e de

outra sociedade envolvente, no entanto existem grupos indígenas que dão menos

importância para história do seu povo.

Por exemplo, nos povos americanos, os ancestrais não se reconheciam como um

povo e isso era comum. Com passar do tempo através da história escrita, e nas escolas

passaram a ter a consciência que usar isso fortalecia as lutas políticas e o pensamento

próprio. Conforme a autora, a história do próprio grupo ocorre majoritariamente fora da

escola, nas práticas culturais que envolvem toda a comunidade (narrativas tradicional,

mitos, rituais, canto – dança – reza), principalmente, através da oralidade. Nesse sentido

tem diferenciado memória de história, que a memória e a lembrança do passado e ocorre

esquecimento, a história e recriada a partir da oralidade. A memória em geral ela é

repassada, mais em alguns pontos nem todos são lembrados por isso, de acordo com a

autora, “que alguns pontos são apagados e outros repassados. Em sociedades letradas, a

memória é registrada e através da escrita armazenada em arquivos, bibliotecas museus –

atravessa o tempo e o espaço” (MEDEIROS, 2008, p. 177) . Neste sentido, a história

é transmitida oralmente a partir da memória dos velhos, que possuem

a sabedoria. Através de uma busca no passado e na tradição, eles

tentam evocar um sentimento de identificação do grupo com a aldeia

ou etnia. (MEDEIROS, 2008, p. 177).

A história sem a memória não seria capaz de relatar e reproduzir as histórias,

mas “que a história tem raízes na memória” (MEDEIROS, 2008, p. 177). Nessa parte, a

memoria ela é aberta, e tem todo direito de refletir nos momentos particulares do

passado no presente. Para os indígenas “se confundem, pois a história, principalmente

Page 19: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

19

quando se refere à historia local, é transmitida oralmente a partir da memoria dos mais

velhos, que possuem a sabedoria” (MEDEIROS, 2008, p. 177). Através da memória,

muitos fazem reflexões sobre o passado do seu povo na aldeia e da etnia, pois houve

choque da resistência da cultura ocidental. Por isso a importância da historia oral e da

memória para esse povo.

De acordo com Picoli (2010) a história já foi mais restritiva em relação à

valorização dos documentos produzidos por meio de entrevista e/ou depoimentos.

Passado o tempo, os profissionais mudaram a consciência que era preciso estudar os

documentos que eram guardados onde eles acreditavam que ali estavam guardados as

histórias que poderiam contar. Onde seria o início da construção da história da

humanidade, contadas pelas pessoas que viveram nessa época.

A escrita foi um meio de valorizar a história pelos historiadores antigos com a

importância de relato oral. Até os monges se interessaram pela história. As histórias

eram desenhadas através das artes ao seu período de convivência. Os estudiosos

compreendiam que a história não tinha valor era coisa do passado. E a história oral

perdeu seu espaço no século XIX, mas teve uma revalorização a partir da fonte oral e

também através da escrita. Mas a história era impraticável, pois os relatos eram cheios

de história que talvez mexiam com os sentimentos das pessoas.

Na metade do século XX os cientistas nortes americano tiveram interesse em

estudar os documentos. Na época na década 1960 a 1970 havia muitos conflitos sociais

e étnicos que lutavam pelos seus direitos da história recente, “com uso de fontes orais,

se desenvolveu fora do âmbito acadêmico e por historiadores não profissionais”

(PICOLI, 2010, p. 171). Fica claro que antigamente era proibido a luta coletiva e o

pensamento coletivo, mas a partir da memória coletiva foi assegurada que indivíduos

lutassem pelos seus direitos e conseguissem sua liberdade.

De acordo com autor “a dinâmica da sociedade contemporânea, a noção de

tempo acelerado, de constante transformação e, consequentemente a perda de sentido de

identidade e pertencimento, de raiz – forçou o retorno da narrativa” (PICOLI, 2010, p.

172). O importância da oralidade e ouvir os indivíduos que sofreram na época e por

isso é importante através da relato oral você poder ouvir as pessoas que foram

esquecidas. Neste sentido, este texto aborda relatos orais que trazem à tona a história

guardada na memória dos mais velhos do povo. Essas histórias constituem-se em parte

significativa da identidade do povo, da forma como a memória também é um

documento histórico.

Page 20: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

20

2.2 – Narrativas sobre a história e o povo

Segundo A` ai mais velho da aldeia, ele relata que antigamente os povos Oro

Nao` viviam na beira do rio chamado(O kem)sign. rio grande ou largo que hoje é

chamado pelos invasores Rio Pacaás Novos. O povo só começou a afastarem-se da beira

do rio quando os seringueiros entraram no rio. Naquela época, o povo Oro Nao`,tinha a

ligação com outros povos do subgrupo através da passagem de pontes que

atravessavam de um lado para outro, Rio Novo entre Rio Pacaás Novas.

A ai` conta que os Oro Nao` faziam roça do outro lado do rio P.Novos, na aldeia

dos Oro Eo` chamado Pan`Tirop e os Oro Eo, atravessavam rio P.Novos para o lado

dos Oro Nao. Passou muito tempo assim, foi quando os seringueiros chegaram e

cortaram a ponte. Os wari ficaram surpreendido com a ponte que havia sido cortada no

Rio Novo e também no Rio P.novos, Então os wari disseram os wiyam eles estão para

aqui, já entraram.

Wiyam entraram no rio Negro, onde aconteceu pela primeira vez na história uma

grande matança, pois foi quando os brancos começaram a matar os Oro Nao que

habitavam no lado do rio P.Novos na terra dos Oro Eo.Mataram wari´ com terçados, os

brancos cortavam toda as partes do corpo do wari` desde a cabeça e as pernas.

Naquela época os wiyam não usavam escopetas (espingarda) era só apenas com

terçados. Os wiyam corriam atrás de wari`até alcançar e ia matando só de terçados. O

tempo foi passando e os wiyam foi mudando de armas, foi usado também espadas,

depois passaram a usar escopetas (aquela armas que carregava pelo cano). Desde esse

tempo, os warí começaram a morrer quase todos de chumbeira. Segundo o que os mais

velhos relatam, haviam os wiyam que queriam pacificar os índios, mais não sabe qual

era deles, e os wari também queriam aproximar de wiyam, mas como já tinha matado os

wari, teve uma revolta muito grande e os wari foram comunicando outras aldeias, para

fazer muitas flechas e andar com muito atenção e com as flechas.

2.3 – O conflito

Foi quando os wari não dispensaram mais nada. Desde esse tempo, iniciou-se o

conflito com os seringueiros, os patrões pediam aos mateiros para irem ao encontro da

maloca dos índios para matar todos, para que os seringueiros pudessem trabalhar

Page 21: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

21

tranquilos. Os wari recuavam, os seringueiros continuavam a atacar com tiros e os

índios fugiam dos seringueiros para bem distante, procurando um lugar onde os

seringueiros não pudessem alcançar.

Com essa perseguição os wari foram se distanciando do seu território, deixando

tudo para trás, inclusive os seus pertence e as roças. As famílias foram se dividindo em

outros lugares, formando aldeias. Segundo A ai, revoltado, os wari moravam próximos

a beira do rio, somente que os seringueiros atacou muitos índios. Nesse lugar chamado

Tanajura havia morador, mas tinha abandonado o lugar, por motivo dos índios que

haviam aparecido neste lugar. Foi neste lugar onde pela primeira vez os missionários

chegaram, fizeram acampamento e suas expedições em busca de pacificar os índios Oro

Nao. Nesse tempo os wari reuniram e formaram os primeiros grupos, para ir atrás de

wiyam(brancos) para se vingarem.

Marcaram o dia e saíram de suas malocas atrás de wiyam e foram andando,

andando em direção a um lugar chamado Tanajura,até chegar na beira do rio. Não

demorou muito e ouviram um barulho de motor descendo o rio. Neste momento eles

ficaram aguardando o motor passar, quando ia passando os wari` flecharam o barco. E

os wari` pensaram que havia sido acertado ou matado os tripulantes do barco e eles

disseram: matamos, matamos! O nome do tripulante do barco era Chico Joaquim pai

Petito que hoje ainda é vivo.

E os wari voltaram para maloca achando que tinham matado wiyam e disseram

aos seus parentes que haviam matado wiyam. Passou muito tempo depois daquela

flechada que atiraram no branco de barco achando que tinham matado o wiyam.

segundo A ai (seus irmãos e seu tio chamado Maxun Korai` disseram vamos ver aquele

wiyam que flechamos, disse o wari`que participou da primeira expedição, vamos

disseram todos, se não haver wiyam vamos pegar terçados (facão) se não tiver facão

vamos flechar wiyam disseram eles.

2.4 – As caminhadas e os objetos não indígenas

Os wari` na época eram atraídos pelos facões. Então vamos A ai`era único

menino acompanhado ao seu velho pai e foram os primeiros do grupo que avistaram os

missionários pela primeira vez. Saíram de suas malocas que fica no igarapé chamado

Dois Irmãos. Passaram dois dias andando até chegar na outra maloca chamado Pitop, e

Page 22: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

22

dormiram mais uma noite. Ninguém sabia mais o caminho e a direção onde eles

queriam chegar.

Todos ficaram confuso sem saber onde ir, e decidiram caminhar devagarzinho

observando o caminho antigo.Quem indicou a direção onde wari`correram, foi o Chico

Joaquim. Com essa informação os missionários abriram um caminho enorme e bem

largo e limpo desde barracão até o igarapé a direção da maloca chamado Pitop. Os wari`

continuaram andando, foi quando viram um cortado, todos assustados, disseram: wiyam

passou ontem por aqui, olha a folha verde caído na chão sempre andaram por aqui

vamos seguir o caminho deles! Assustados continuaram andando. Mais adiante o pai de

seu sobrinho foi andando na frente bem devagarzinho com muito cuidado observando

todos os movimentos na mata.

E foram acompanhando o caminho bem devagarzinho até chegar no igarapé.

Chegaram no igarapé bem cedinho. Os wari se juntaram e ficaram conversando entre

eles os Wiyam voltaram. O wari mais esperto na época era Tem We`tomou que tomou a

frente do grupo e foi andando, foi quando avistaram o caminho e disseram: agora parem

de fazer barulho ninguém podem mais conversar olha o cortado dos wiyam! e ficaram

pensando como fazer para sair do caminho e foram cuidadosamente andando até

aproximar no caminho. Todos assustados admirados, nossa! wiyam fez o caminho,

ficaram um falando para outro e ficaram parados em alguns minutos olharam para o

cominho observaram a direção do caminho onde e ficaram perguntando uns ao outros

de onde vem este caminho será que vem de lá no (okem)sing.rio. Ficaram pensando

como nós vamos fazer, disserem entres eles, vamos andar no caminho limpo, outro

falou não,vamos andar beirando o cominho o outro disse: vamos andar no caminho.

O pai de A ai`disse, tomem muito cuidado com Wiyam talvez eles vai nós

avistar de longe e vão esconder de nós, quando nós aproximarmos deles, eles vão querer

matar todos nós o pai de A ai` falava. O tio de A ai disse: não tem nada cunhado, deixa

comigo vou andar na frente, vem atrás de mim.

2.5 – A casa dos missionários.

Os wari todos armados com arcos(temem`) e as flechas(kiwo`) todos com

posição de ataque. Se aparecer wiyam era só flechar, e saíram andando no caminho,

andavam, andavam e paravam, andavam novamente e perguntavam entre eles de onde

vem esse caminho. Passaram horas andando no caminho, quando ouviram cântico de

Page 23: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

23

nambu macocal e disseram novamente: já chegamos, ouviram ai nambu, okem está bem

aí, e foram andando, andando até o final do caminho, bem próximo do barracão dos

missionários. Novamente conversaram entre eles. Olha só o Wiyam e sabido só fizeram

caminho até aqui bem perto da casa. Chegando lá a casa estava em silêncio, parecia que

não havia ninguém então os wari ficaram observando cuidadosamente.

E outro perguntou: este não é aquele lugar onde nós flechamos wiyam naquele

tempo? e outro disse: é sim, olha a casa grande, será que eles estão morando ainda aí

nesta casa, e outro fala: acho que foram embora, vamos tomar muito cuidado talvez

podem estar aí. Outro wari` fala: vou subir numa árvore para observar se tem pessoa ou

não na casa. E outros disseram: ta bom pode subir na árvore.

Quando chegou na ponta da árvore o wari ficou observando até que avistou um

wiyam de fora andando no terreiro. O wari desceu rapidamente da árvore e comunicou

ao seu grupo e disse: eu vi o wiyam eles estão aí. Outros perguntam: estão aí, estão?

Tokwan dividiu outro grupo e andaram devagarinho olhando, observando mais próximo

do barracão, Tokwan com seus grupos retornaram novamente aos seus companheiros e

disse, não tem ninguém. Os wiyam foram embora ele disse: vamos, vamos lá entrar na

casa.

O irmão de A ai disse: olha eles estão aí eu vi eles, todos estavam querendo

entrar na casa. Os wiyam estavam bem quietinhos. Os wari´ ficaram caminhando para

cima e para baixo e ficaram pensando como fazer, e todos wari decidiram subir numa

outra árvore cheia de galho para fazer a última observação e ficaram aguardando wiyam

sair da casa e confirmar se havia mesmo wiyam.

O seu irmão mais velho Am Tara´(já falecido) pediu ao seu irmão mais novo A

ai` para subir na árvore. Subiu e lá avistou a casa dos wiyam de longe limpa, não havia

sinal de nada, nem a fumaça do fogo. Os wari ficaram o dia todo trepado na árvore e

ficavam perguntando um para outro, será que não tem wiyam mesmo nesta casa, outro

respondia: tem sim, vamos aguardar. Quando foi pela parte da tarde, saiu um wiyam.

Segundo A ai` relata que o wiyam que saiu na casa, viu uma coisa estranha numa árvore

e avisou ao companheiro, todos que estavam dentro da casa saíram para ver o que era

aquela coisa estranha numa árvore. Os wari também ficaram observando na árvore de

cima e wiram Wiyam todos brancos.

O pai de A ai disse ao grupo, eu disse que havia wiyam, assim estavam querendo

entrar na casa. Viram um wiyam andando ao rumo na direção da árvore onde estavam

os wari`. O wiyam andava e olhava para árvore, andavam novamente e olhavam quando

Page 24: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

24

se aproximavam da árvore. Os wari desceram da árvore rapidamente para flechar o

wiyam, quando wiyam olhava não encontrava mais nada. E wiyam voltava novamente

no seu lugar, e os wari subiam novamente na árvore quando wiyam olhava para trás

avistava novamente uma coisa estranha na árvore. Foi quando wiyam perceberam que

eram os wari e começaram a fazer barulhos os wari ficaram até a tardizinha até o sol

entrar.

Outros grupos que estavam no outro lado se encontraram e disseram, nós

avistamos vocês de longe trepado na árvore. Os wiyam viram vocês, ai começou a

discursão entre eles, outro do grupo disseram, do A ai` porque subiram na árvore, a

discussão foi tensa.

2.6 – A volta para a maloca.

Depois de muita discursão, eles retornaram a noite mesmo e foram caminhando

devagar no caminho, pois já estava escuro e não podiam ver nada. Os wari pegaram

palhas secas de babaçu e acenderam um fogo e foi caindo cinza, foram caminhando na

escuridão até chegar no igarapé em seguida ouve mais uma discursão.

E foram andando a noite mesmo até chegar na maloca chamado Pitop. Ao

amanhecer, os grupos dos missionários foram observar de perto a árvore onde eles

tinham visto wari a tarde. No mesmo dia foram acompanhando as pisadas dos wari` até

encontrar onde os wari descansaram no igarapé. Nesse dia os missionários pegaram

duas facas e deixaram penduradas no tapiri. E voltaram para trás.

A ai`e seu irmão mais velho contou para sua mãe e sua tia que wiyam tinham

feito um caminho bem enorme e bem largo, não sei porque os wiyam abriram o

caminho ficaram surpreso com caminho bem limpo. Conforme a informação a outra

aldeia soube da noticia, foram Maxun Karai`, Oro Wiram que levaram as informações

para as outras aldeias, O Maxun Korai` e o Yamai`kao Horowayi foram até outra aldeia

chamado Komi Traho levar informação e Xurui` e o Oro Nokon foi até a maloca

Kawiyei, depois de passar todas as informação para todas as aldeias mais distante os

Wari começaram a chegar numa aldeia conversando organizando para mais uma

expedição ao encontro dos wiyam.

Nesse dia os wari formaram outros grupos e decidiram partir ao rumo dos

wiyam. Desta vez o A ai` não foi mais pois seu pai não quis mais leva-lo, seu pai disse:

você já foi. A ai` chorando pedia ao seu pai para leva-lo novamente, pois ele queria ver

Page 25: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

25

o caminho novamente o pai não aceitou e disse novamente: você vai ficar o wiyam é

muito esquisito A ai` chorando aceitou o pedido do seu pai a vontade dele era ver o

caminho novamente.

2.7 – O retorno a casa dos missionários.

Nesse dia foram muitos wari para ao encontro dos wiyam e seguiram a

caminhada até chegarem no tapiri do Pitop onde encontraram a primeira faca o seu

irmão puxou, cortou a corda, todos admirados e disse: porque wiyam deixou a faca.

Agora vamos atrás deles e seguiram o caminho com muito cuidado. Chegando lá

avistaram pensando que não havia ninguém (não sabe o horário) os missionários

estavam todos dormindo. Para confirmar se não havia ninguém flecharam em volta da

casa toda mais sem sinal de pessoa.

O Tem We`o wari` mais esperto do grupo correu, subiu a escada a casa que era

de assoalho e avançou para dentro do barracão com ansiedade de ganhar machado. La

dentro havia pessoas dormindo, assustado com Tem We que havia entrado, o wiyam

assustado pegou a faca e Tem We assustado também com wiyam dentro da casa decidiu

correr para trás e escorregou e caiu foi quando wiyam perfurou com a faca. O pai dele

no lado de fora gritou wiyam matou vocês. Tem We levantou rapidamente e saiu da

casa e correu na direção do mato. Quando os grupos viram Tem We foi correndo para o

mato, todos acompanharam ele.

E os wiyam pegaram armas de fogo e começaram a atirar na direção dos índios.

Outro tio de Aai`ficou escondido na esquina da casa e ficou bem quietinho sem se

mexer depois do termino do tiroteio ele saiu correndo na direção do mato pensando no

Tem We que havia esfaqueado. Correu atrás e o encontrou Tem We já desmaiado no

chão. E o Parap pai Tem We começou a chorar e os irmão. Então resolveram carregar

até a maloca. Depois dessa tragédia Os wari` enquanto estavam fazendo festa na maloca

do Maxun Karai` chamado Komi Taraho. Os missionários resolveram entrar no rio Dois

Irmão com intenção de pacificar os índios, chegaram na primeira maloca chamado

Tokoron Me, os wari naquele instante tinham atravessado a ponte e os missionários

chegaram depois. Seguiram andando até Tokon Me, e penduraram o facão andaram

mais adiante e voltaram. Entraram de barco seguiram subindo o rio, mais na frente tinha

uma ponte de árvore atravessado do lado para outro do rio.

Page 26: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

26

Os missionários eram Moreno, Saul e outros, olharam para ponte que havia uma

pegada dos wari molhada na ponte. Uns dos missionários gritou chamando o Saul.

Maxun korai`estava próximo e ouviu o grito, o Maxun Korai`ouviu de outro jeito

chamando (Awo`). Assustado ele ficou pensando, esse que é wiyam. Os Missionários

ficaram até que resolveram voltar, pois havia uma ponte que impedia a passagens do rio.

Segundo A ai`conta que os seus pais estavam retornando para sua maloca,

ouviram tiros de arma e seus pais falaram para seu irmão mais velhos e disse Am Tara e

wiyam que está atirando. Depois do barulho pararam de andar em alguns instante. O pai

de A ai` pediu que andasse bem devagarinho até chegar no igarapé, olharam, e disseram

não tem ninguém cuidado talvez Wiyam estão aí andaram devagar até chegar na

maloca. Passou dias e ouviram de parentes de outras malocas, que wiyam tinham

deixado facão e machado na maloca chamado Tokon Me. Depois dessas notícias os wari

não conformado que Wiyam tinham deixado facão e machado. Logo outras aldeias se

manifestaram e se dirigiram ao rumo da Maloca Pitop atrás de facão, onde wiyam

tinham deixado pela primeira vez.

Chegando na maloca Pitop não tinha nada. Em seguida se dirigiram na direção

do igarapé próximo da maloca Pitop onde os wiyam já tinham deixado os facões

pendurados e aproveitaram para pegar todos os machados e facões.

2.8 – A aproximação definitiva.

Nesse tempo os wari`não ficaram mais nas suas malocas todos queriam ganhar

machado e facão. Desde aí, os wari´ queria ganhar as ferramentas dos wiyam. Depois

dessa notícia seu tio pediu a sua tia que fosse atrás de ferramenta do Wiyam e sua tia

disse, vou acompanhar vocês até aquele igarapé e vou voltar.

A ai` e seu tio seguiram andando até chegar na beira do campo quando avistaram

a casa de wiyam A ai` estava ansioso de ver wiyam, pensando que wiyam era bonito,

wiyam era bicho muito feio, disse ele. Dessa vez não conseguiram nada e voltaram para

maloca novamente. Quando chegaram na maloca souberam que wiyam tinha

pendurados os facões e machados. E seu irmão mais velho disse, agora vamos fazer roça

bem distante os wiyam estão andando muito perto de nós se não eles nós vão atacar e

matar todos nós. Os dois tio de A ai`se perguntaram porque wiyam não atirou em nós,

nunca atiraram contra nós. Depois da conversa decidiram voltar novamente para o

barracão dos missionários e ao chegar lá, não havia mais facões a beira do campo.

Page 27: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

27

Tinham afastado para mais perto do barracão e fincaram dois paus de distância de três

metro com formato da trave de futebol puseram os machados e facões pendurados.

Os wari vieram e chegaram no lugar onde puseram sempre os facões e os

machados a beira do campo, não encontraram nada, olharam mais adiante e avistaram as

ferramentas pendurados no meio do terreiro, e agora como podemos alcançar aquelea

machadoa e facões naquele lugar limpo. Logo o Mixi Mon perguntou ao Wem Krio

você tem coragem de correr até chegar naquele machado e pegar e voltar correndo, eu

tenho disse o Wem Krio, vamos, saíram correndo com velocidade apanharam o

machado e os facões e voltaram para trás: pegamos, pegamos disseram os dois. Foi

quando wiyam saiu com o facão e o machado na mão balançando, os wari assustado

começaram a gritar não corram, não corram deixa ele sair vamos ver o que tem na mão

dele.

Os wari´ falando na língua, deixa no lugar novamente, deixa no lugar

novamente. O wiyam veio andando na direção dos wari`, quando os wari` começaram

flechar no wiyam e wiyam foi afastando novamente para o lugar e foi juntando as

flechas e outros wari` gritavam vocês estão flechando ele estão impedindo ele colocar

pendurar. O wiyam assobiou e fez o gesto para que os wari` voltassem, foi quando o

wiyam deixou ferramentas no chão e os wari´ avançaram e pegaram os machados e

facões, alguns não conseguiam pegar, pois não deixavam pegar, havia empurrões e bate

boca entre eles.

Nesse dia ganharam muitos facões e machados. Depois que cada wari ganhou

machado e facão, saíram correndo para o mato. Chegaram na moloca e avisaram aos

outros parentes de outras malocas que tinham ganhado ferramentas dos wiyam na beira

do rio. Todas outras aldeias se organizaram e vieram ao encontro a procura de wiyam

que tinham entregado as ferramentas para os parentes. Quando chegaram no barracão os

wari´ começaram a gritar para o wiyam, apareceu wiyam com machados e facões

balançando dando sinal para que os wari viessem receber as ferramentas na mão. Os

wari` com muito medo, não tiveram coragem de receber na mão de wiyam.

2.9 – Estranhamento e abraço não indígena.

O wiyam assobiou e fez o gesto para os wari` deixarem as flechas. Esses grupos

também receberam muitos machados e facões. Os wari´ não paravam de chegar em

grupos para receber as ferramentas. Foi quando veio uma turma do Wem Krio`,

Page 28: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

28

chegaram no barracão e o Abraão saiu com machado bem novinho com cabo de

madeira, e pedia que o wari se aproxima-se dele para receber na sua mão o machado.

Mas ninguém teve coragem, foi quando apareceu o Wem Krio com sua coragem e disse

aos seus parentes deixem comigo agora e minha vez se wiyam me matar, problema e

meu, e outros preocupado gritavam cuidado com wiyam, ele vai te matar e outros

diziam pega, pega.

O Abraão vez gesto para ele se aproximar e receber o machado da mão dele,

Wem Krio com medo não sabia se pegava o facão ou não, mesmo nervoso se

aproximou devagarzinho e segurou o machado e ao mesmo tempo o Abraão segurou a

mão de Wem krio e logo se abraçaram fortemente, foi assim a pacificação do povo Oro

Nao.

Page 29: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

29

CONCLUSÃO

Este trabalho de pesquisa foi um grande desafio e um trabalho de suma

importância para a minha prática docente. Sou grato ao meu orientador e sabedor A

ai`Oro Nao, que teve muita paciência comigo nos momentos das entrevistas e nas

perguntas.

Ao iniciar esta pesquisa eu tive muita curiosidade de saber como era a educação

com as crianças e os jovens do povo Oro Nao´. Como era a convivência do povo Oro

Nao`, as meninas eram orientada pela mãe e os meninos com os pais. Isso me levou a

fazer esta pesquisa na minha comunidade.

Tive muita dificuldade por não ter materiais tecnológicos como filmadora do

qual mais eu interessei, para fazer este Trabalho, foi o momento mais desesperador pra

mim. No intuito de conseguir esse aparelho para produzir filmagens na minha

comunidade eu fui à SEDUC, respectivamente no setor indígena onde me disseram que

não tinham esse instrumento, fui também à FUNAI e igualmente não obtive nenhuma

resposta.

Fiz entrevista com o gravador disponível no celular, foi a sim que eu consegui

terminar a minha pesquisa. Durante ao meu trabalho, tivemos o falecimento da minha

tia, ela se chamava Mixem To Oro At, foi uma tristeza muito grande para nossa

família, ela era uma tia muito querida. Esta pesquisa foi muito interessante

principalmente para minha comunidade e para os alunos. Ela será apresentada para os

jovens de hoje que não conhecem essa história do seu próprio povo Oro Nao`, sendo

que isso é uma das grandes importâncias desse trabalho.

Esta pesquisa pode sim, fazer compreender como era a educação antigamente,

pois a educação de hoje é muito diferente da praticada pelos antepassados. As crianças e

Page 30: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

30

os jovens eram mais obedientes, respeitavam os mais velhos, trabalhavam unidos,

faziam colheitas coletivas e sim por diante. Hoje a educação tradicional não e mais

valorizada pelos pais. Por isso está pesquisa tem uma grande importância que é mostrar

e compreender como foi a educação antigamente do próprio povo Oro Nao`, para fazer

os jovens refletir no dias de hoje. A educação atual desvaloriza a educação tradicional,

sendo que isso acontece por falta de conhecimento dos jovens.

Page 31: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E EDUCAÇÃO INDÍGENA ORO … Minton Oro Nao.pdf1.6 – Sonhos de Infância..... 15 CAPÍTULO 02 ... bimestre com as silabas e consoantes e no terceiro

31

REFERÊNCIAS

ALVES, Maria Isabel Alonso; BUENO, José Lucas Pedreira; AMARA, Nair Ferreira

Gurgel. Tecnologias e formação de professores indígenas: cruzando fronteiras.

Currículo sem Fronteiras, v. 15, n. 3, p. 920-44, set./dez. 2015.

MEDEIROS, Juliana Schneider. Ensino de história: memória e oralidade na aldeia

Kaingang do Morro do Osso. MÉTIS: história & cultura – v. 7, n. 14, p. 173-183,

jul./dez. 2008.

PICOLI, Bruno A. Memória, História e Oralidade. Revista Minmosine. V. 01,

N. 01, Jan/Jun, p. 168-184, 2010.