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VERÍSSIMO, Nelson Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII Funchal: Secretaria Regional do Turismo e Cultura – Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 2000. ISBN 972-648-127-9

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VERÍSSIMO, Nelson

Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII

Funchal: Secretaria Regional do Turismo e Cultura – Direcção

Regional dos Assuntos Culturais, 2000.

ISBN 972-648-127-9

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Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII

Tese de doutoramento em História, na especialidade de História

dos Descobrimentos e da Expansão, sob a orientação do

Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, apresentada à

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova

de Lisboa.

Provas: 8 de Janeiro de 1999

RESUMO

O século XVII tem vindo a ser tradicionalmente

interpretado como um tempo de crise para o arquipélago

madeirense. Ao nível da economia, houve, com efeito, que

investir na produção vinícola, procedendo à reconversão

progressiva da cana-de-açúcar. O comércio também decaiu, nas

décadas iniciais, pelos embargos filipinos aos Países Baixos. A

agravar a situação, corsários e piratas apareciam

frequentemente nas imediações do arquipélago, atacando navios

carregados de mercadorias e populações do litoral.

Verificamos, não obstante o recrutamento de muitos

soldados para o Brasil e Angola, um crescimento da população

da ilha da Madeira ao longo do século XVII. Todavia, o Porto

Santo não conseguiu recuperar do saque dos turcos de Argel em

1617, que deixou a ilha quase sem habitantes.

A maioria da população vivia da agricultura. Ao lado das

culturas ricas para produtos de exportação – vinho e cidra –,

desenvolvia-se uma lavoura de subsistência. Contudo, a

insuficiência frumentária era grande e a importação de cereais,

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em especial das ilhas açorianas, constituiu uma das

preocupações dominantes.

A propriedade pertencia essencialmente às famílias

fidalgas, às elites camarárias, ricos mercadores e à Igreja.

Muitas terras encontravam-se vinculadas em morgadios ou

capelas. Na nova conjuntura económica, muitos proprietários,

por falta de capital, renunciaram à exploração directa das suas

terras, desenvolvendo-se a prática de contratos de parceria

agrícola.

A sociedade apresentava a hierarquização comum da

época, com base no nascimento, no estado e na riqueza. As

letras, os feitos militares e a riqueza permitiram, todavia, a

ascensão de alguns membros do terceiro estado ao escalão

nobre. Igualmente, as alianças nupciais contribuíram para a

promoção social de mercadores ou ricos lavradores. Denotámos

particular interesse de diferentes estratos sociais pela actividade

mercantil, posição perfeitamente justificada pelas características

da economia insular, em boa parte dependente do movimento do

porto do Funchal. Pelos finais de Seiscentos, declarava-se já a

preponderância dos negociantes britânicos na exportação do

vinho e na importação de géneros alimentícios.

Dedicámos atenção especial às estruturas político-

administrativa, militar e eclesiástica, procurando compreender o

funcionamento das instituições, o relacionamento entre as

diferentes autoridades e destas com os governados ou fiéis.

Ao nível das capitanias, que remontam aos primórdios do

povoamento, constatamos situações diversas nas duas ilhas

habitadas. Os donatários do Funchal e de Machico não residiam

na Madeira nem se deslocavam às suas capitanias, delegando

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competências nos ouvidores e procuradores. Contudo, não

abdicaram das suas prerrogativas. A instituição capitania

mantinha-se viva na ilha da Madeira, ao nível de réditos e

negócios da ouvidoria, mas os donatários já não possuíam poder

político efectivo.

Os capitães do Porto Santo viviam na sua ilha ou na

Madeira, mas, por suspensão régia ou longos litígios nos

Tribunais da Coroa, foram, diversas vezes, substituídos por

governadores. Nesta capitania, verificámos ter sido conturbado o

relacionamento do donatário com o reduzido grupo de homens

que detinham o poder municipal.

Numa ilha de fracos recursos agrícolas e frequentemente

assolada por corsários e piratas, a forte conflituosidade entre o

donatário e os oficiais do concelho, ou entre algumas famílias

rivais, abriu brechas em ocasiões de necessário entendimento,

nomeadamente quanto à defesa, competência que, aliás,

pertencia ao donatário porto-santense.

Na Madeira, a defesa estava cometida a um capitão-

general ou governador, cargo criado por Filipe II após a união

dinástica. Investido em funções essencialmente militares, os

governadores acabaram também por se envolver em muitas

outras questões, principalmente tributárias, por directivas

especiais da Coroa ou por sua livre iniciativa.

Os corregedores, juízes de fora e provedores da Fazenda,

que designámos por ministros do rei, representavam a

administração periférica da Coroa em matéria de Justiça e da

Fazenda Real. Nomeados pelo monarca, aliás tal como o

governador, procuravam aplicar no arquipélago as directrizes da

administração central, principalmente o Direito erudito, no caso

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da Justiça. A sua actuação foi algumas vezes violentamente

contestada.

O poder municipal, por natureza mais próximo das

populações, confrontava-se intensamente com a problemática do

quotidiano. Compreendia, portanto, amplas competências e

permitia o desenvolvimento de uma verdadeira actividade

política, sendo evidente a formação de oligarquias locais.

A permanente vigia do litoral constituiu preocupação

máxima das chefias militares, porque, na verdade, a defesa das

ilhas assentava essencialmente na capacidade de dissuasão da

entrada de piratas ou corsários nas baías e enseadas. Para maior

segurança, construíram-se várias fortalezas, fortes e muralhas

na cidade e outras localidades.

Finalmente, analisámos o papel da Igreja Católica,

concluindo sobre a sua omnipresença no quotidiano ilhéu,

através de diversas organizações, desde a mais recôndita ermida

ou paróquia ao mosteiro, da confraria aos agentes do Tribunal do

Santo Ofício.

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VERÍSSIMO, Nelson

Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII

Funchal: Secretaria Regional do Turismo e Cultura – Direcção

Regional dos Assuntos Culturais, 2000.

ISBN 972-648-127-9

Power Structures in XVII Century Madeiran Society

Doctoral thesis in History, specialising in 'History of the

Discoveries and Expansion', presented before the Faculty of

Social and Human Sciences of the Universidade Nova de Lisboa.

Exam: 8th January, 1999

SUMMARY

The XVII Century has traditionally been considered as a

period of crisis for the archipelago of Madeira. In the economic

sphere it was, in effect, necessary to invest in the production of

wine, which progressively substituted the cultivation of sugar

cane. Trade also declined, in the early decades, because of the

embargos imposed by King Philip II on the Low Countries. To

make matters worse privateers and pirates were frequently

found around the archipelago, attacking both ships laden

merchandise and also the coastal settlements.

Notwithstanding the recruitment of many soldiers for Brazil

and Angola, we note an increase in the population of the island

of Madeira during the XVII Century. Porto Santo, however, was

unable to recuperate after being sacked by the Ottoman Turks

from Algiers in 1617, which left the island practically

uninhabited.

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The greater part of the population lived off the land.

Alongside the cultivation of finer products – wine and citron – for

export, subsistence agriculture also developed. However, there

was a great shortage of wheat and the import of cereals,

particularly from the Azores, became one of the main concerns.

Landownership was essentially in the hands of the noble

families, the governing élite, rich merchants and the Church.

Much of the land was passed down through entailment or pious

bequeathal. In the new economic circumstances, many

landowners, due to a lack of capital, gave up the farming of their

own land, and a system of contracts of agricultural partnership

developed.

Social ranking followed the common hierarchic standards of

the time, based on birth, ‘estate’ and wealth. The Arts, military

achievements and wealth permitted, nevertheless, the rise of

certain members of the third estate to nobler levels of society.

Likewise, marriage alliances contributed to the social rise of

merchants and rich farmers. A particular interest in the shipping

trade at various social levels is noticeable and perfectly

understandable, considering the nature of the insular economy,

which was largely dependent on the activity of the port of

Funchal. By the end of the sixteen-hundreds, there was already

evidence of a predominance of British merchants in the export of

wine and the import of food supplies.

We paid special attention to the politico-administrative,

military and ecclesiastical structures, with a view to

understanding the mechanisms of the institutions and the

relationship between the different authorities and between the

latter and the people they governed or the faithful.

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As to the captaincies, which go back to the times of the

first settlers, we detect different situations in the two inhabited

islands. The donatories of Funchal and Machico did not live in

Madeira nor did they even visit their captaincies, but rather

delegated their responsibilities to auditors and attorneys.

However, they did not abdicate their rights. As far as rents and

management by the auditors were concerned, the system of

captaincies remained intact on the island of Madeira, but the

donatories no longer had any effective political power.

The donatory-captains of Porto Santo lived there or on the

island of Madeira, but, by royal suspension or due to lengthy

disputes in the Crown Courts, they were substituted by

governors on various occasions. In this captaincy we saw that

the relationship between the donatory-captain and the small

group of men who held municipal power was agitated.

On an island with few agricultural resources, frequently

ravaged by privateers and pirates, the strong conflicts between

the donatory-captain and the council officials, or between certain

rival families, led to conflicts at times when agreement was

necessary, particularly with regards to defence – responsibility

for which, furthermore, belonged to the donatory-captain of

Porto Santo.

In Madeira defence was entrusted to a captain-general or

governor, a post created by King Philip II following the union of

the dynasty. The governors, placed in office essentially for

military functions, also became involved in many other matters,

mainly fiscal, by special directives from the Crown or on their

own personal initiative.

The corregidors, judges and superintendents of the

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Treasury, that we have designated ministers of the king,

represented the Crown's peripheric administration in matters

relating to Justice and the Crown Treasury. Nominated by the

Crown, as was also the governor, they tried to apply the

directives of the central administration in the archipelago,

especially the Statutory Law, in case of Justice. Their actions

were sometimes violently contested.

The municipal authority, by nature closer to the people,

was constantly faced with the day to day problems. It held,

therefore, a wide variety of responsibilities and made possible

the development of true political life, with the consequent

formation of local oligarchies.

A permanent watch over the coastline was a major concern

of the military leaders as, in fact, the defence of the island

depended essentially on their capacity to dissuade pirates and

privateers from entering the bays and coves. For greater security

various fortresses, forts and walls were constructed in the city

and in other localities.

Finally, we have analysed the role of the Catholic Church,

leading us to conclude its omnipresence in the day to day life of

the islander, by means of various organisations, right from the

most secluded chapel or parish church to the monastery, from

the religious brotherhoods to the agents of the Courts of the Holy

Office.

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VERÍSSIMO, Nelson

Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII

Funchal: Secretaria Regional do Turismo e Cultura – Direcção

Regional dos Assuntos Culturais, 2000.

ISBN 972-648-127-9

Relations de pouvoir dans la Société Madérienne du XVIIe Siècle

Thèse de Doctorat en Histoire, dans la spécialité d’Histoire des

Découvertes et de l'Expansion (maritime), présentée à la Faculté

des Sciences Sociales et Humaines de l'Université Nouvelle de

Lisbonne.

Soutenance : 8 janvier 1999

RÉSUMÉ

Le XVIIe siècle est traditionnellement considéré comme

une période de crise dans l’histoire de Madère.

Sur le plan de l’économie, il fallut en effet procéder à la

reconversion progressive de la canne à sucre tout en investissant

dans la production vinicole. De surcroît, le commerce chuta au

cours des premières décennies en conséquence des embargos

successifs mis sur les Pays-bas par la dynastie philippine. Pour

aggraver la situation, corsaires et pirates apparaissaient

fréquemment dans les alentours de l’archipel, attaquant les

navires chargés de marchandises et les populations du littoral

madérien.

En dépit du nombre important d’hommes partis pour le

Brésil et l’Angola afin de grossir les troupes de l’armée, nous

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avons vérifié une croissance démographique dans la population

madérienne au long du XVIIe siècle. À l’exception de Porto

Santo, qui ne se remit pas du passage des Turcs d’Alger en

1617, ces derniers ayant laissé derrière eux une île dévastée et

quasi dépeuplée.

La population vivait surtout de l’agriculture. À côté des

cultures de choix pour les produits destinés à l’exportation, tels

que le vin et le cédrat, se développait une culture vivrière.

Néanmoins, l’insuffisance frumentaire se faisait largement sentir

et l’importation de céréales, notamment en provenance des

Açores, constituait alors l’une des préoccupations majeures des

responsables de l’archipel.

Seuls les familles nobles, les élites municipales, les

marchands aisés et l’Église jouissaient de la propriété. La plupart

des terres étaient rattachées à des majorats (morgadios) ou à

des chapelles. Dans la nouvelle conjoncture économique,

plusieurs propriétaires dépourvus de capitaux renoncèrent à

exploiter et à gérer directement leurs terres et développèrent

ainsi la pratique de contrats de partenariat agricole.

La société présentait la hiérarchisation type de l’époque,

ayant pour base la naissance, l’état et la richesse. Les lettres, les

faits militaires et la richesse permettaient toutefois l’ascension de

quelques membres du Tiers-État au rang de la noblesse. Aussi

les alliances matrimoniales contribuaient-elles à la promotion

sociale des marchands et des propriétaires agricoles prospères.

Nous avons observé qu’une bonne partie des différentes couches

sociales manifestaient un intérêt particulier pour l’activité

commerciale, ce qui n’est pas étonnant du fait que l’économie

insulaire dépendait, pour une large part, des mouvements du

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port de Funchal. Vers la fin du XVIIe siècle, la prépondérance des

négociants britanniques se faisait déjà sentir dans l’exportation

du vin et dans l’importation des denrées alimentaires.

Nous avons également prêté une grande attention aux

structures politico-administrative, militaire et ecclésiastique dans

le souci de comprendre le fonctionnement des institutions, les

relations entre les différentes autorités en place ainsi que leurs

rapports avec les gouvernés ou fidèles.

Sur le plan des capitaineries, organisation établie depuis

les origines du peuplement, nous avons constaté des situations

différentes dans les deux îles habitées. Les donataires de Funchal

et de Machico, qui ne résidaient pas sur place ni se déplaçaient à

leur capitainerie, déléguaient leur compétence aux ouvidores

(auditeur, administrateur et juge choisi par le donataire et

confirmé par le roi) ou aux fondés de pouvoir. Néanmoins, ils

n’abdiquèrent pas de leurs prérogatives. La capitainerie, en tant

qu’institution, se maintenait stable à Madère, notamment en

matière des revenus et des affaires relevant des attributions du

ouvidor. Cependant, les donataires n’avaient plus aucun pouvoir

politique réel.

Les capitaines de Porto Santo, quant à eux, vivaient sur

place ou bien à Madère. Mais, par suite de suspension par ordre

royale ou du fait d’interminables litiges soumis aux tribunaux de

la Couronne, ils furent souvent remplacés par des gouverneurs.

Dans cette capitainerie, les rapports entre le donataire et le

groupe restreint d’individus détenant le pouvoir municipal étaient

très tendus.

Dans une île aux faibles ressources agricoles et

fréquemment mise à sac par corsaires et pirates, ces

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tiraillements entre le donataire et les officiers municipaux, ou

entre quelques familles rivales, sapaient l’entente possible

chaque fois qu’elle était nécessaire voire même vitale,

notamment en matière de défense, compétence relevant alors du

donataire.

À Madère, la défense était attribuée à un «capitaine-

général» ou gouverneur, poste créé par Philippe II d’Espagne,

après l’union dynastique avec le Portugal en 1580. Investis à

l’origine de fonctions essentiellement militaires, les gouverneurs

finirent par prendre en charge d’autres secteurs de

l’administration, en particulier le recouvrement des impôts, soit

sur les directives spéciales de la Couronne soit de leur propre

initiative.

Les corrégidors (le premier magistrat d’une ville), les juízes

de fora (juge civil et criminel et administrateur en résidence en

quelques grands centres envoyé par le roi) et les provedores da

Fazenda (fonctionnaire royal chargée des questions financières et

du budget), que nous appelons ministres du roi, représentaient

l’administration de la Couronne, chargée des affaires de la

Justice et du Trésor royal. Tout comme le gouverneur, ils étaient

nommés par le monarque et s’évertuaient à appliquer dans

l’archipel les directrices de l’Administration centrale, pour ce qui

est notamment du Droit écrit ayant trait à la Justice. Leur action

fut quelquefois violemment contestée.

Le pouvoir municipal, plus proche des populations par

définition, se débattait contre les problèmes du quotidien. Ce

pouvoir, qui devait gérer d’amples attributions, permettait le

développement d’une véritable activité politique, mise en

évidence par la formation d’oligarchies locales.

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La principale mission des responsables militaires consistait

en la permanente surveillance des côtes. En effet, la défense des

deux îles se fondait essentiellement dans la capacité de chacune

à dissuader l’entrée des pilleurs dans ses baies ou anses. Pour

plus de sécurité, plusieurs forteresses, forts et murailles furent

construits dans Funchal et autres localités.

Finalement, nous avons analysé le rôle de l’Église

catholique: son omniprésence dans le quotidien insulaire est

indéniable, fondée sur des structures de toutes sortes, allant de

la chapelle la plus reculée au monastère, de la confrérie aux

ministres du Saint-Office.

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VERÍSSIMO, Nelson

Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII

Funchal: Secretaria Regional do Turismo e Cultura – Direcção

Regional dos Assuntos Culturais, 2000.

ISBN 972-648-127-9

Machtverhältnisse in der madeirensischen Gesellschaft des XVII.

Jahrhunderts

Der Sozial- und Geisteswissenschaftlichen Fakultät der Neuen

Universität Lissabon vorgelegte Doktorarbeit in Geschichte mit

Spezialisierung auf Entdeckungs- und Ausbreitungsgeschichte

Rigorosum: 8. Januar 1999

Zusammenfassung

Für den madeirensischen Archipel wird das 17. Jahrhundert

traditionell als eine Zeit der Krise gedeutet. In wirtschaftlicher

Hinsicht wurde in der Tat nach und nach die Herstellung von

Zuckerrohr zurückgenommen und in die von Wein investiert.

Infolge der Embargos der Philippen bezüglich der Niederlande

verfiel in den Anfangsjahrzehnten gleichfalls der Handel. Die

Lage verschlechterte sich dadurch, daß in der Nähe des Archipels

häufig Korsaren und Piraten auftauchten und die mit Waren

beladenen Schiffe sowie die Küstenbevölkerung angriffen.

Trotz der Aushebung vieler Soldaten für Brasilien und

Angola ist im Verlaufe des 17. Jahrhunderts ein Anwachsen der

Bevölkerung der Insel Madeira festzustellen. Porto Santo gelang

es jedoch nicht, sich von der Plünderung durch die Türken von

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Algier im Jahre 1617 zu erholen, welche die Insel fast ohne

Bewohner ließ.

Der überwiegende Teil der Bevölkerung lebte von der

Landwirtschaft. Neben den reichen Kulturen für

Ausfuhrerzeugnisse - Wein und konservierte Bisamzitrone -

entwickelte sich ein Ackerbau zum Lebensunterhalt. Dennoch

war der Mangel an Getreide groß, und dessen Einfuhr besonders

von den azorischen Inseln stellte eine der Hauptsorgen dar.

Der Grundbesitz lag im wesentlichen in den Händen adliger

Familien Eliten der Stadtverwaltung, reicher Händler und der

Kirche. Viele Ländereien waren mit Majoraten oder Kapellen

verknüpft. In der neuen Wirtschaftslage verzichteten viele

Grundbesitzer aus Kapitalmangel auf die direkte Bewirtschaftung

ihrer Ländereien und entwickelten die Anwendung von Verträgen

über landwirtschaftliche Teilhabe.

Auf der Grundlage von Geburt, Stand und Reichtum stellte

die Gesellschaft die in jener Epoche übliche Hierarchisierung dar.

Universitätsausbildung militärische Heldentaten und Reichtum

erlaubten allerdings den Aufstieg einiger Mitglieder des dritten

Standes zur adligen Stufe. Auch trugen eheliche Verbindungen

zum gesellschaftlichen Vorwärtskommen von Händlern und

reichen Bauern bei. Zu bemerken war ein besonderes Interesse

verschiedener Gesellschaftsschichten an einer zu einem guten

Teil vom Verkehr des Hafens von Funchal abhängigen

Handelstätigkeit, einer durch die Merkmale der Inselwirtschaft

völlig gerechtfertigten Haltung. Gegen Ende des 17.

Jahrhunderts wurde bereits das Übergewicht britischer Kaufleute

bei der Weinaus- und Lebensmitteleinfuhr genannt.

Spezielle Aufmerksamkeit haben wir den politisch-

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administrativen, militärischen und kirchlichen Strukturen

gewidmet und suchten die Amtstätigkeit der Institutionen, die

Beziehung zwischen den verschiedenen Behörden und dieser zu

den Regierten oder Gläubigen zu verstehen.

Auf der Ebene der bis zu den Ursprüngen der Besiedlung

zurückreichenden Statthaltereien sind auf den beiden bewohnten

Inseln verschiedene Situationen festzustellen. Die Donatare von

Funchal und Machico wohnten nicht auf Madeira und reisten auch

nicht zu ihren Statthaltereien, sondern übertrugen

Zuständigkeiten auf Auditoren und Bevollmächtigte. Ihre

Vorrechte gaben sie jedoch nicht auf. Die Einrichtung der

Statthalterei blieb auf der Insel Madeira im Zusammenhang mit

Zinserträgen und Geschäften der Auditoreien bestehen, doch die

Donatare besaßen keine tatsächliche politische Macht mehr.

Die Statthalter Porto Santos lebten auf ihrer Insel oder auf

Madeira, wurden jedoch durch zeitweilige königliche Aufhebung

oder langwierige Rechtsstreite bei den Krongerichten

verschiedentlich durch Gouverneure ersetzt. In dieser

Statthalterei war eine Beunruhigung der Beziehung des Donatars

zu der begrenzten Gruppe von Menschen festzustellen, welche in

der Gemeinde die Macht ausübte. Auf einer häufig von Korsaren

und Piraten verheerten Insel mit schwachen landwirtschaftlichen

Möglichkeiten schlug die starke Konfliktträchtigkeit zwischen dem

Donatar und den Unterbeamten des Gemeindebezirks oder

zwischen einigen rivalisierenden Familien in solchen Fällen

Breschen, in denen besonders bezüglich der Verteidigung, einer

übrigens dem Donatar Porto Santos obliegenden Zuständigkeit,

ein Einverständnis notwendig gewesen wäre.

Auf Madeira war die Verteidigung einem Generalkapitän

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oder Gouverneur anvertraut, einem von Philipp II nach der

dynastischen Vereinigung geschaffenen Amt. Auf spezielle

Anweisungen der Krone oder aus eigenem Anstoß ließen sich die

im wesentlichen mit militärischen Aufgaben betrauten

Gouverneure schließlich auch auf viele andere hauptsächlich

Steuern betreffende Angelegenheiten ein.

Die von uns als königliche Amtsträger bezeichneten

Stadtrichter, Landräte und Vorsteher der Steuerbehörden stellten

die periphere Verwaltung der Krone in Justiz- und königlichen

Finanzamtsangelegenheiten dar. Übrigens wie der Gouverneur

vom Monarchen ernannt, suchten sie im Archipel die Richtlinien

der Zentralverwaltung, bei der Rechtsprechung vor allem das

gelehrte Recht, anzuwenden. Ihre Handlungsweise wurde einige

Male heftig angefochten.

Die von Natur aus den Bevölkerungen nächststehende,

gemeindliche Macht wurde eindringlich mit den Schwierigkeiten

des täglichen Lebens konfrontiert. Sie umfaßte folglich

weitreichende Befugnisse und erlaubte die Entwicklung einer

wirklichen politischen Aktivität, wobei die Entstehung örtlicher

Oligarchien offenbar war.

Die ständige Bewachung der Küste stellte die größte Sorge

der militärischen Führungen dar, weil die Verteidigung der Inseln

in der Tat im wesentlichen auf der Fähigkeit beruhte, die Piraten

oder Korsaren vom Zugang zu den Buchten und kleineren

Anlegestellen abzubringen. Zur größeren Sicherheit wurden in

der Stadt und anderen Orten verschiedene Festungen, Forts und

Mauern errichtet.

Schließlich wurde die Rolle der katholischen Kirche

untersucht und auf ihre Allgegenwart im täglichen Leben der

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Insel durch verschiedene Organisationen von der verborgensten

Wallfahrtskapelle oder Pfarre bis zum Kloster und von der

Bruderschaft bis zu den Vertretern des Inquisitionsgerichts

geschlossen.