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1 Relatório da viagem na região de fronteira Brasil-Guiana Inglesa Vanildo Filho sj e Fernando López sj Data: De 22/12/2003 a 04/01/2004. Membros da Equipe Itinerante que viajaram: Vanildo Filho sj e Fernando López sj. Objetivos da viagem: 1. Conhecer um pouco a região de fronteira do lado da Guiana e a situação e organização da igreja e das comunidades indígenas. 2. Facilitar e ajudar a fortalecer os laços de relação entre as organizações indígenas e as igrejas de ambos os lados da fronteira. 3. Articular a possibilidade de que Vanildo Filho sj (e no futuro outros companheiros) possam fazer experiência na missão “St. Ignatius”, para aprender inglês e também apoiar um pouco aquela missão e sua articulação jesuítica e eclesial com Brasil. Locais visitados e por onde passamos: Boa Vista (RR - Brasil), Surumu, Maturuca, Uiramutã, Laje e Canaa (na Raposa Serra do Sol – RR - Brasil), Tapa (Itabak) e Kurikabaru ( Corcobado) (na Região 8 – Pakaraimas - Guiana) e Lethem, Missão “St. Ignatius” e a comunidade makuxi de ... (?) (fica na Região 9 – Rupununi – Guiana; na frente da maloca do Pium – Brasil). Algumas das pessoas contatadas: Dom Apparecido, Pe. Antonio (Consolata), Ir. Juan Carlos e equipe Surumu, Pe. Tiago e Paulo (Maturuca), Lideranças de Maturuca, Tuxaua Orlando (Uiramutã), Pe. Paul Martin sj e Lideranças de Kurikabaru, Pe. Oliver sj (missão “St. Ignatius”), Ir. Antonia e Ir Edina (Servas do Espírito Santo e Coordenação da Pastoral Indigenista de Roraima), Pe. Ronaldo (missionário lingüista canadense) e Pe. Edison (vigário da diocese de RR). Contexto da viagem: Iminente homologação em área continua da Raposa Serra do Sol. A homologação estava sendo esperada para o 19/12/2003 e não saiu. No dia 24/12/2003, no jornal de Boa Vista, Brasil Norte, trazia em manchete ao ministro da justiça, Marcio Thomas Bastos, anunciando que em janeiro de 2004 será homologada esta área indígena. 22/12/2003 Manaus – Boa Vista Saímos de Manaus um dia depois da data inicial prevista (21/12/2003) devido aos muitos trabalhos que tinham que ser fechados antes de terminar o ano. Viajamos no ônibus das 10:30 h. da noite e chegamos em Boa Vista na manhã do dia seguinte às 9:00 h. 23/12/2003 Boa Vista Fomos em Calunga, junto ao Pe. Antonio (provincial da Consolata). Os carros do CIR tinham saído no dia 22/12 para a região das Serras. Também o ônibus para o Uiramutã tinha saído neste dia (terça, 23/12) para o Uiramutã e Mutu. No programa previsto inicialmente o Pe. Antonio viria visitar com a gente a comunidade de Kurikabaru e contatar pessoalmente com o Pe. Paul Martin e as lideranças da região. Lamentavelmente, devido a outros compromissos na missão Catrimani, não foi possível para ele vir com a gente. O Pe. Antonio propus para o Ir. Juan Carlos (coordenador da Equipe da Raposa Serra do Sol) vir com a gente. Porém, também para ele não foi possível devido a que está com problemas de coluna e não pode caminhar muito nem carregar peso.

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Relatório da viagem na região de fronteira

Brasil-Guiana Inglesa

Vanildo Filho sj e Fernando López sj

Data: De 22/12/2003 a 04/01/2004.

Membros da Equipe Itinerante que viajaram: Vanildo Filho sj e Fernando López sj.

Objetivos da viagem:

1. Conhecer um pouco a região de fronteira do lado da Guiana e a situação e organização da igreja e das comunidades indígenas.

2. Facilitar e ajudar a fortalecer os laços de relação entre as organizações indígenas e as igrejas de ambos os lados da fronteira.

3. Articular a possibilidade de que Vanildo Filho sj (e no futuro outros companheiros) possam fazer experiência na missão “St. Ignatius”, para aprender inglês e também apoiar um pouco aquela missão e sua articulação jesuítica e eclesial com Brasil.

Locais visitados e por onde passamos: Boa Vista (RR - Brasil), Surumu, Maturuca, Uiramutã, Laje e Canaa (na Raposa Serra do Sol – RR - Brasil), Tapa (Itabak) e Kurikabaru ( Corcobado) (na Região 8 – Pakaraimas - Guiana) e Lethem, Missão “St. Ignatius” e a comunidade makuxi de ... (?) (fica na Região 9 – Rupununi – Guiana; na frente da maloca do Pium – Brasil).

Algumas das pessoas contatadas: Dom Apparecido, Pe. Antonio (Consolata), Ir. Juan Carlos e equipe Surumu, Pe. Tiago e Paulo (Maturuca), Lideranças de Maturuca, Tuxaua Orlando (Uiramutã), Pe. Paul Martin sj e Lideranças de Kurikabaru, Pe. Oliver sj (missão “St. Ignatius”), Ir. Antonia e Ir Edina (Servas do Espírito Santo e Coordenação da Pastoral Indigenista de Roraima), Pe. Ronaldo (missionário lingüista canadense) e Pe. Edison (vigário da diocese de RR).

Contexto da viagem: Iminente homologação em área continua da Raposa Serra do Sol. A homologação estava sendo esperada para o 19/12/2003 e não saiu. No dia 24/12/2003, no jornal de Boa Vista, Brasil Norte, trazia em manchete ao ministro da justiça, Marcio Thomas Bastos, anunciando que em janeiro de 2004 será homologada esta área indígena.

22/12/2003 Manaus – Boa Vista

Saímos de Manaus um dia depois da data inicial prevista (21/12/2003) devido aos muitos trabalhos que tinham que ser fechados antes de terminar o ano. Viajamos no ônibus das 10:30 h. da noite e chegamos em Boa Vista na manhã do dia seguinte às 9:00 h.

23/12/2003 Boa Vista

Fomos em Calunga, junto ao Pe. Antonio (provincial da Consolata). Os carros do CIR tinham saído no dia 22/12 para a região das Serras. Também o ônibus para o Uiramutã tinha saído neste dia (terça, 23/12) para o Uiramutã e Mutu.

No programa previsto inicialmente o Pe. Antonio viria visitar com a gente a comunidade de Kurikabaru e contatar pessoalmente com o Pe. Paul Martin e as lideranças da região. Lamentavelmente, devido a outros compromissos na missão Catrimani, não foi possível para ele vir com a gente. O Pe. Antonio propus para o Ir. Juan Carlos (coordenador da Equipe da Raposa Serra do Sol) vir com a gente. Porém, também para ele não foi possível devido a que está com problemas de coluna e não pode caminhar muito nem carregar peso.

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24/12/2003 Boa Vista – Maturuca (uns 300 Km)

No jornal Brasil Norte de Boa Vista do dia 24/12/03, em manchete, sai uma fotografia do Ministro da Justiça, Marcio Thomas Bastos, anunciando para Janeiro de 2004 a homologação, em área continua, da Raposa Serra do Sol.

Como não tínhamos outro transporte para as Serras, o Pe. Antonio deixou para a gente uma camionete D20. Vanildo levou a camionete pela estrada até Surumu (2:30 h. desde Boa Vista). Em Surumu nos convidaram a almoçar e conversamos com Luis, Ester e Juan Carlos sobre nossa viagem. Conhecemos o filhinho de Luis e Ester, Mayu (ajuri em Makuxi), e também os pais de Luis que estavam visitando ao novo neto que seria batizado no dia 04/01/2004. Depois do almoço continuamos a viagem para Maturuca. Tardamos 3 h em chegar. Com Vanildo íamos revezando-nos na condução. Graças a Deus chegamos sem problemas a Maturuca às 17:30h. Fomos acolhidos por o Pe. Tiago, o leigo Paulo e a comunidade de Maturuca com muita alegria.

Às 20h tivemos a celebração do Natal com a comunidade. Presidiu o Pe. Tiago e concelebrou Fernando. A idéia inicial era poder celebrar a missa de Natal com o Pe. Paul sj em Kurikabaru, porém com o retraso da viagem e a dificuldade para conseguir transporte para entrar na região foi impossível. De um outro lado foi muito importante poder celebrar com a comunidade de Maturuca o Natal.

Neste tempo, a comunidade de Maturuca está preparando um malocão de 26 m. de diâmetro para poder acolher às lideranças indígenas na Assembléia Geral do CIR (06-09/02/2004). A enorme maloca vai levar umas 15 mil palhas de buriti e o pau central vai ter uns 16 metros de altura.

25/12/2003 Primeiro dia de viagem rumo a Kurikabaru - Guiana

De manhã cedo o Gregório, coordenador da região das Serras, entregou para a gente um convite (escrito) para entregar às lideranças de Kurikabaru e do lado da Guiana, para elas participar na Assembléia Geral do CIR em fevereiro de 2004.

Gregório nos apresentou a Marcelo (Makuxi) e sua companheira Maria (Patamona) que viviam em Kurikabaru e nos acompanhariam na viagem. Marcelo é o cunhado de Jacir. Fazia um mês que Marcelo estava em Maturuca serrando umas madeiras para a mãe do Jacir.

Logo o Pe. Tiago colocou um carro a disposição da gente. O filho de Jacir fez de motorista e o leigo Paulo acompanhou a gente. Com o carro chegamos até Uiramutã e chegamos até Laje aproveitando que o igarapé estava bastante seco e dava para passar. Quando nos viram aproximar no carro eles colocaram a corrente no portão para não nos deixar passar. Quando nos reconheceram abriram. Pela comunidade de Laje entram muitos garimpeiros e marreteiros para o lado da Guiana, por isso a organização indígena da Serra decidiu colocar ali uma maloca que controlasse a passagem do pessoal.

Na comunidade de Laje tinham-se reunido varias comunidades para celebrar o Natal. Nos deram caxiri e uma gostosa merenda. Por este tempo de Natal em todas as comunidades tem abundante caxiri feito de mandioca fermentada e cará roxo.

Também ali informaram-nos que um garimpeiro tinha morrido afogado uma semana atrás e que foram a pegar o corpo em carro chegando até a comunidade de Canaã, na beira do rio Mau, na divisa com Guiana. Assim continuamos nosso caminho na toyota até onde diu nos decidimos continuar um pouco mais no carro até o igarapé Purê-Paru. Depois continuamos a pé até a comunidade Canaã (1:30 h de caminhada). A comunidade estava em festa. Caxiri abundante e forro. Uma jovem catequista atravessou o rio Mau por uma parte mais rasa para pegar uma cano do outro lado e ajudar-nos a passar. Já na outra beira, estávamos em Guiana! Tomamos um gostoso banho antes de continuar caminho.

Do outro lado do Mau, da comunidade de Canaã (Brasil), está a comunidade de Itabak ou Tapa (Guiana). Chegamos em Tapa por volta das 14 h. Todos estavam reunidos por volta da casa do tuxaua dançando e bebendo caxiri e pajuaru. Homens e mulheres, velhos, joven e crianças, todos

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estavam bastante bêbados. O tuxaua nos fez assinar um caderno com a data em que estávamos passando. Primeiro nos confundiram com garimpeiros. Depois quando ficaram sabendo que vínhamos de Maturuca fizeram fortes críticas ao CIR e aos missionários da região. Explicamos que íamos visitar o Pe. Paul Martin sj por estas festas de Natal. O vice-tuxaua nos questionou muito e falou: “Vocês estão colocando vermes na cabeça do Pe. Paul. Depois que ele começou ir em Maturuca está pensando errado...” Estas opiniões tinham a ver com o fato da bebedeira que os padres e o CIR questionavam fortemente...

Foi difícil sair de Tapa. Quase não deixam passar a gente. Só por volta das 17 h. continuamos caminho. Graças a Marcelo que conversou muito com os parentes conseguimos seguir a viagem.

Marcelo tinha nascido naquela região de Tapa. Nos mostrou a casa onde morou seu pai. Ãs 19 h. chegamos na casa de um dos tios de Marcelo onde ele morou quando jovem. Não tinha ninguém. Ali passamos a noite. A janta de aquele dia 25, Natal, foi jacaré moqueado com farinha e beiju que Maria preparou com muito carinho.

26/12/2003 Segundo dia de viagem rumo a Kurikabaru - Guiana

De manha cedo (5 h.), continuamos a viagem. Atravessamos vários igarapés e varias ilhas de mata virgem. Impressiona a quantidade de mata que há do lado da Guiana. As árvores são enormes. Tem muita madeira nobre. Marcelo ia explicando as distintas qualidades de madeira que encontrávamos no caminho.

Por volta de 8 h., depois de tomar banho nom igarapé no pé da serra, começamos a subir. Mais o menos passamos uma hora subindo até o topo de uma serra. Kurikabaru fica a uns 1000 m de altitude, na parte mais alta das serras dessa região de Guiana. Por isso, a viagem de ida é muito mais pesado; todo o tempo subindo! Desde o topo da serra a paisagem é fantástica. Serras e serrados intercalados com ilhas de mata até o horizonte.

Sobre a Serra encontramos a estrada que une Itabak (Tapa) com Kurikabaru. Essa estrada está boa, fora de algumas partes mais difícies. Ela é recorrida, quando necessários, por um pequeno trator que traz as mercadorias compradas em Brasil para abastecer as comunidades do lado da Guiana.

Durante o caminho, Marcelo ia contando sua historia pessoal. Marcelo nasceu no lado de Guiana, perto da comunidade de Itabak (Tapa). Ele fala makuxi, inglês, português e entende patamona. Ele contou que já tinha trabalhado dentro da igreja católica, pero que depois começou viver com duas mulheres e isso fez que as comunidades não aceitassem mais ele. Ele é consciente de que isso não bate com o que aprendeu na igreja, porém, que pode fazer se ele gosta delas e elas gostam dele. Ao final comentava: “Na nossa cultura de índios isso sempre foi normal!”

A sua segunda esposa de Marcelo é Maria (patamona). Faz apenas uns 8 meses que estão juntos. Maria fala inglês e patamona, também entende um pouco de português. Ela se aproximou para conversar (em inglês) sobre sua situação. Trabalhava como catequista até que aconteceu o fato de ficar apaixonada pelo Marcelo. Ai teve que deixar o trabalho dentro da igreja. Ela estava triste por isso, porém o amor pelo Marcelo era mais forte.

Tanto Marcelo como Maria tinham falado com o Pe. Paul. Quem animou eles a ir vendo devagar o que fazer. O Pe. Paul nos comentou que a comunidade ficou muito revoltada com os dois por essa atitude. Tem muitos que tem duas mulheres, porém mantém essa situação mais o menos escondida. Marcelo reconhece abertamente sua situação e a defende...

Sobre a Serra a paisagem era fantástica: serras, campos e vales com ilhas de mata. Não encontramos bois no caminho. Só alguns poucos rastros. De fato, no lado da Guiana, os projetos de gado não tem dado muito certo. As razoes, entre outras, parecem ser a falta de capacitação dos vaqueiros e também de organização das comunidades. Segundo o Pe. Paul a igreja tentou alguma que outra vez projetos de gado e não deu certo; o gado morreu por falta de cuidado ou porque a comunidade acabou comendo ele.

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Por fim chegamos até a pista de pouso de Kurikabau. Ali descansamos um pouco e logo empreendemos a caminhada final até a aldeia que fica a 45 min. da pista. Por volta das 14h. chegamos em Kurikabaru. Na chegada, antes de entrar na aldeia, Marcelo pegou outra estrada e entrou por outro lugar na aldeia. “É para não ter mais problemas”, comentou. Maria acompanhou a gente na direção da casa da missão que fica na colina mais alta de Kurikabaru. No caminho duas lideranças aproximaram-se e acompanharam-nos até a casa do Pe. Paul. Maria se despediu e ficou na sua pequena casinha.

O Pe. Paul com grande alegria nos recebeu na casa da missão. Ele e a comunidade de Kurikabaru, nos estavam esperando no dia 24/12/03 para celebrar o Natal. Paul nos serviu um pouco de peixe com farinha. Estávamos muito famintos.

A casa da missão está do lado da igreja velha e a nova que estão construindo. Segundo o Paul, o padre que construiu muitas das igrejas na região gostava de colocá-las no topo das colina mais alta da comunidade. O sementeiro está também sobre a colina, na frente olhando para a comunidade, por volta da igreja nova que estão construindo.

Atrás da comunidade de Kurikabaru começa a mata fechada que vai, segundo eles até o litoral em Georg-Town. O total de pessoas de Kurikabaru são umas 200 (50-60 famílias). A maioria das pessoas em Kurikabaru são de origem patamona e falam patamona. Eles gostam de viver dentro da floresta. Também as roças são feitas na mata ou nos vales, entre 2 e 4 h. de distancia da comunidade. Uns dos problemas principais de Kurikabaru é a água potável. Quase não tem. Fizeram uma grande cacimba do lado de um olho de água que vasa num pequeno igarapé que atravessa a comunidade e passa pelo pé da colina onde está a missão.

Desde a missão se enxerga toda a comunidade que fica por volta dessa colina central. Chama a atenção que quase todas as casas em Kurikabaru tem o teto de alumínio ou zinco. A causa é que a palha de buriti fica muito longe da comunidade (4 h). Também as construções da escola e posto de saúde são esplendias... Porem, segundo eles mesmos nos comentaram, não tem quase nada dentro. Os projetos que chegam apontam muito na linha da construção e pouco ou nada na capacitação e formação dos recursos humanos e manutenção e equipamento necessário para o atendimento à população. Assim, faltam remédios, material escolar, não são capacitados os jovens e lideranças para levar elas mesmas esses serviços, etc.

De tarde, às 17 h. tivemos a celebração da eucaristia com a comunidade. Muitas pessoas participaram. Paul nos apresentou. Uma coisa que chama a atenção é o cuidado com que levam a liturgia. As formas são muito cuidadas. Também é muito bonito o fato de que no final da celebração se faz uma procissão até fora da igreja, encabeçada pelo padre e coroinhas seguidos de toda a comunidade que vem cantando e fazem uma roda entorno a cruz situada no exterior da igreja e fazer a reverência a ela. Depois disso todo o mundo fica conversando e se despedindo.

27/12/2004 Encontro com coordenador da APA e com a comunidade.

Com Paul conversamos sobre os planos desses dias. Ele tinha que viajar para Georg-Town no dia 28/12/03 e também nos informou que para chegar desde Kurikabaru até Lethem a pé levaria uns 5 ou 6 dias. Por isso, tivemos que re-programar nossa viagem e sair por o mesmo lugar por onde entramos. Paul, por radio, comunicou com Oliver nossa intenção de chegar no dia 31/12/2003 a Lethen a a missão St. Ignatius.

Depois tivemos um encontro com o Sr. Jimmy James, coordenador na região de “Amerindian Peoples Asociation” (APA). O Sr. Jemes tem uma visão muito crítica da situação da fronteira. Sobre os pontos tratados com ele (que logo retomou também no encontro comunitário), estão no Apêndice 1. A impressão que da é que por mais boa intenção que o Sr. James tenha, ele foi escolhido de cima para baixo. Não é indígena, porém está casado com uma indígena e mora numa comunidade a umas 4 h de Kurikabaru. Pelo que sentimos, não parece que seja tão reconhecido como representante escolhido pelas comunidades da região. Entregamos para o Sr. James o convite do coordenador das Serras, Gregório, para que algumas lideranças da Guiana participem da

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Assembléia Geral do CIR em Maturuca nos dias 06-09/02/2004. O Sr. James gostou muito do convite e respondeu por escrito confirmando a participação dele e mais umas 5 lideranças da região.

Logo tivemos reunião no “Community Center” de Kurikabaru. Participaram umas 100 pessoas entre os que eram da própria comunidade e os parentes que chegaram de outras para passar as festas de natal e ano novo. No caminho para esta reunião passamos pela casa do Tuxaua. Ele mesmo foi quem levou a coordenação do encontro e registrou a ata. A reunião teve início por volta das 10 h. e foi até pouco mais de meio dia. Para ver os pontos principais tratados ver Apêndice 1. A impressão que dá é que pouco a pouco os mesmos problemas que se tem já e se enfrentam no lado de Brasil se estão começando a gerar no lado da Guiana.

Depois da reunião o tuxaua nos convidou para almoçar com a comunidade. Todos se tinham reunido num local no centro da aldeia para continuar celebrando a festa. Abundante caxiri, arroz com feijão e algo de carne. Como música de ambientação no podia faltar o forro que também já entrou muito nas comunidades indígenas do lado de Guiana.

De tarde conversamos largo com Paul e nos explicou mais sobre a situação da região e da missão:

• A missão está situada em duas Regiões Políticas de Guiana:

- Região 8 – Pakaraimas: o centro é Kurikabaru e tem uns 6 mil indígenas patamona e makuxi.

- Região 9 – Rapununi: o centro é St. Inatius (Lethen) e tem uns 12 mil indígenas entre makuxi, wapixana e alguns wai-wai.

• Alguns dados sobre a missão:

- Total de população indígena: 18.000 entre Patamona (norte), Makuxi (centro), Wapixana e alguns Wai-Wai (sul).

- Quatro padres jesuitas: Paul Martin (43), Malcon Rodriguez (?), Oliver Rafferty (48) e Britt (85).

• As bases da missão são 4 (de norte a sul):

1) Kurikabaru com o Pe. Paul sj. Kurikabaru fica a mesma altura que Orinduke (Brasil) a umas 5 h. a pé desde esse ponto da fronteira com Brasil. Os povos da região são Patamona e Makuxi.

2) Karasabai com o Pe. Malcon sj, que lamentavelmente agora vai sair para o litoral por estar com tuberculoses. Assim, por agora a base de Karasabai fica descoberta. Karasabai está na altura de Normandia (Brasil). O povo da região é o Makuxi .

3) St. Ignatius (algo mais de 1 Km de Lethen) está o Pe. Oliver sj que leva apenas uns 3 meses na região e seu compromisso é por 3 anos. St. Ignatius é a sede central da missão. Fica na altura de Bom Fim (Brasil) ao outro lado do rio Itakutu divisa entre ambos paises. O povo majoritário é Makuxi . Nesta base também está o admirável Pe. Peter Britt-Compton sj o mais antigo na missão (30 anos?), que com sus 85 anos de idade continua atendendo as comunidades Wapixana mais ao sul. O Pe. Britt passa meses na região de comunidade em comunidade, sozinho e conduzindo uma camionete por estradas muito ruins. Cada mês ou mês e meio o Pe. Britt volta para St. Ignatius para descansar um pouco.

4) Aishalton, é a base mais ao sul. Atualmente nela não tem ninguém. A esperança é que o Pe. Paul O. sj (médico) possa voltar e ficar lá. Os povos indígenas da região são Wapixana e Wai-Wai (só uma ou duas aldeias bem no sul fronteira com Brasil).

• Tanto na conversa com Paul como depois com Oliver, eles reconhecem o que dizem os missionários/as do lado brasileiro que a formação religiosa das pessoas do lado da Guiana é excelente, porém desvinculada da vida da comunidade, da organização etc. Paul e Oliver concordam em que essa articulação FE-VIDA é um dos grandes desafios que tem que

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enfrentar a missão. Também os dois concordam que a missão tem que articular-se mais com a igreja de Roraima para tentar uma pastoral mais articulada naquela região de fronteira, assim como a necessidade de uma maior articulação dos jesuitas de Guiana com o DIA e a CPAL.

• Paul também informou que já foi nomeado o novo bispo de Guiana, Dom Francis Allegene, Beneditino, que tomará posse em Jan/2004. Dom Aparecido (Bispo de Roraima) tinha-nos colocado a possibilidade de que o Bispo da Guiana participasse do encontro dos bispos da região amazônica que terá lugar em Manaus em Outubro/2004.

• Encontro dos 4 padres da Missão St. Ignatius em Kurikabaru (11-14/01/04). Convidaram aos padres do lado do Brasil, porém ninguém deles deu para participar. O interesse por se articular é grande. A compreensão de que não dá para trabalhar os problemas só de um dois lados da fronteira é clara. Agora há que buscar os modos concretos de articular-se.

• Também Paul repassou o convite para as lideranças indígenas do lado do Brasil participar no encontro de lideranças em Kurikabaru nos dias 15-16/01/2004. Este convite foi levado por escrito para o Pe. Tiago que repassou para as lideranças. Parece que alguém do Uiramutã e de Maturuca possivelmente participam nesse encontro para continuar esclarecendo os problemas e buscar juntos como melhor articular-se para enfrentá-los.

• Mapas: ver nos apêndices.

28/12/2004 Volta para Brasil, Uiramutã e Maturuca

Esperávamos que nos pegasem para sair às 4 h. da manha, porém só saímos às 6 h. O Pe. Paul, cedo fez o café para a gente comer alguma coisa antes de sair. Nesta oportunidade nos acompanhou uma família makuxi da comunidade de Canaapã (que fica na altura do Uiramuta, do outro lado do rio Mau). O casal Patrick e Lucinia e os filhos Marcellien (8), Josenta (10) e Jennifer (16). A viagem de volta até Canaapã foram 12 h. Nesta oportunidade descemos a serra por um outro lado, mais ao sul de por onde subimos. Impressiona ver as crianças tão pequenas como caminham carregando seu “jamaxi” (cesto tradicional de carga makuxi que é carregado nas costas como se fosse uma mochila). Eles levaram a comida para a gente! Foram muito generosos e simpáticos. Por volta de 17 h. chegamos no sitio desta família que tem por nome “Calavera”, perto de umas enormes cachoeiras sobre o rio Mau (o barulho das cachoeiras é forte desde o sitio). O nome do sitio se deve ao fato de que foram encontrados ali vários lugares com vasos funerários. Logo de descansar e eles descarregar as coisas, continuamos caminho para Canaapã (uns 45 min. a pé).

Quando chegamos em Canaapã estava já escuro e por isso decidimos com Vanildo ficar a dormir na comunidade para não arriscar entrando à noite pela vila do Uiramutã. De manhã cedo Patrick com dois de seus filhos acompanharam a gente até a casa do tuxaua Orlando quem nos contou que de noite deu muita briga na vila por questão da homologação. Entramos por traz, por uma trilha que chega diretamente na aldeia do Uiramutã que não passa pela vila. Passamos também o convite a Orlando para alguém participar no encontro de Kurikabaru nos dias 15-16/01/2004. Orlando contou para a gente que o Pe. Tiago estava para dentro, na comunidade Laje. Passou um radio para que o Pe. Tiago nos pegasse ao meio dia, depois do almoço Tiago e Paulo passaram nos pegar e fomos com eles para Maturuca. Explicamos para eles que não deu para descer pelo lado de Guiana por ser muitos dias (5 ou 6 de Kurikabaru até Lethen).

29/12/2004 Boa Vista

Nos dias 29-30/12/2003 tinham avaliação do ano na comunidade de Maturuca. Todos os trabalhos e lideranças eram avaliadas no desenvolvimento de seus cargos. De manhã deram um tempo para a gente explicar nossa visita a Kurikabaru e repassar o convite para participar no encontro de Kurikabaru. Em particular passamos a nota de participação feita pelo coordenador da APA. Depois continuamos para Boa Vista com a D 20 que o Tiago nos preparou.

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Paramos em Surumum para saudar o pessoal. Só estavam as irmãs com alguns alunos, os outros tinham ido para Boa Vista passar o Fim do Ano.

Em Boa Vista falamos com o Pe. Antonio e com o Ir. João Carlos. Por não estar o Paul em Lethen e ter muitas coisas a fazer decidiram não ir com a gente para Lethem.

31/12/2003 Lethen e St. Ignatius

De manhã cedo pegamos ônibus para Lethen (1:30 h). Lá passamos o rio Itacutu em voadeira e caminhamos até a missão St. Ignatius (1h.). Encontramos o Pe. Oliver sj que nos estava esperando. Conversamos largo com Oliver sobre vários assuntos: articulação com a igreja local de RR, também sobre a possibilidade de ter maior contato com o DIA e a CPAL, sobre a possibilidade de que Vanildo possa fazer uma experiência de 3 meses para estudar inglês naquela região e também ver a possibilidade de outros mestres de AL poder fazer sua experiência ali (ver Apêndice 2). Oliver tem luz verde do superior regional de guiana para fazer os contatos que fossem necessários.

De noite fomos celebrar a missa às 22 hs. numa comunidade makuxi que fica a umas duas horas ao sul de Lethen. A comunidade fica na altura da maloca de Pium (Brasil) (4 h. a pé). O ano novo o iniciamos na estrada, voltando para a missão st. Ignatius.

01/01/2004 Boa Vista

Chegamos e ficamos na casa das Servas do Espírito Santo, Edina e Antonia. Elas foram umas irmãs para a gente. Edina nos disse que tal vez sua congregação estaria interessada em abrir uma comunidade no lado de Guiana. Seria bom que Oliver e Paul, quando passem por Boa Vista, visitem elas e conversem sobre as possibilidades.

02/01/2004 Passeio de descanso

Com o Pe. Edison, Pe. Ronaldo (lingüista especializado em Makuxi) e a leiga canadense, Edina, Antonia, Vanildo e Fernando fomos descansar num igarapé nas aforas de Boa Vista. Foi muito interessante conhecer o Ronaldo.

Um tema importante que ficamos sabendo é que foi descoberto o duplo jogo que vinha fazendo o advogado da diocese. O furo econômico da diocese é grande. Ao fazer uma revisão das contas foi percebido que o advogado tinha levado mais de 500 mil para gestões de processo, alem do seu salário de mais de 2 mil reais mensais. Espera-se que agora seja tocado para fora da diocese. O pessoal tem questionado muito o fato de que o bispo acreditava e defendia de mais o advogado.

Também acabamos de preparar com Vanildo um resumo dos pontos principais levantados pelas lideranças da Guiana na reunião de Kurikabaru e entregamos para o Pe. Antonio, Ir. Juan Carlos, Tiago, Ir. Edina (coord. Past. Indig.).

03/01/2004 Conversa com o Pe. Antonio e viagem de volta para Manaus

Conversamos com Antonio sobre a situação encontrada na fronteira e sobre possibilidades de fortalecei a articulação da pastoral de fronteira. Ele viu bem o fato de tentar uma reunião entre as equipes de ambos os lados.

Em Calunga encontramos o Pe. César com um grupo de 10 estudantes de Manaus que vinham fazer uma experiência na missão Surumu para conhecer a realidade indígena. Com eles estavam indo para Surumu o Pe. Ronildo, Ir. Juan Carlos, Luis e Ester com seu filho e os pais de Luis. Todos iriam celebrar o batizado do filhinho no dia 05/01. De noite pegamos ônibus de volta para Manaus.

06/01/2004 Invasão da missão Surumu

No dia 06/01 fomos visitar o Chico no CIMI para conversar sobre vários assuntos. Chegando lá ele nos informou que a situação em Roraima estava pegando fogo. Na madrugada do dia 06/01/2004 umas 200 pessoas invadem a missão Surumu e pegam como reféns ao Pe. César junto com 10 jovens de Manaus, ao Pe. Ronildo e ao Ir. Juan Carlos... (ver apêndice).

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Avaliação da viagem

Feita por Vanildo e Fernando no ônibus durante a viagem de volta para Manaus.

Fernando:

+ Conhecer a base do Paul, Kurikabaru, me fez muito bem espiritual. O trabalho, sacrifício, esforço, desafios, austeridade do Paul são admiráveis.

+ O apoio da Consolata foi fundamental. Foram uns irmãos para a gente.

+ Foi muito positivo ver a Vanildo vibrar forte com aquela realidade e sentir-se animado para fazer a experiência em St. Ignatius e Kurikabaru. Confirmação dos 3 meses de experiência.

+ Animo e esperança dos companheiros Paul e Oliver com o fato de poder-se articular mais.

+ Funcionar como fio na rede.

- Não ter saído antes de Manaus retrasou nossa chegada para o dia 24/12 em Kurikabaru onde nos estavam esperando. Temos que melhorar a comunicação e preparação de estas viagens para facilitar a articulação.

- Não ter ido ninguém da Consolata junto com a gente tanto em Kurikabaru como na missão St. Ignatius (Lethen).

Vanildo:

+ Encontro em Kurikabaru com Paul e com o povo. O compromisso de Paul com a causa indígena é notável. Isso me animou muito.

+ Na realidade de Kurikabaru penso que é possível tomar gosto pelo inglês e aprender um pouco.

+ Foi bom sentir a realidade do outro lado da fronteira. Como é tratada a questão indígena em um outro pais. Poder comparar a realidade.

+ Fico também muito agradecido a Deus por este ano que tem sido o ano das experiências mais fortes. Passar três meses nesta região vai ser muito bom!

+ Nós mesmos fomos os que ganhamos com esta visita mais que eles.

+ A reunião de Kurikabaru confirmou o que eles já sabem sobre a problemática de fronteira.

- A pastoral indigenista de RR já conhece o que a gente partilhou. Falar não significa que as coisas vão acontecer.

- A iniciativa para esses encontros de fronteira é mais nossa que deles. Eles deveriam levar mais a iniciativa nesta questão.

- Nós poderíamos ter mais dados antes para preparar o encontro.

- Podemos correr o risco de ficar nas primeiras impressões sem conhecer a realidade mais profunda.

Alguns endereços:

Pe. Adalberto López Buriticá (consolata em Caqueta, Colômbia): [email protected]

Pe. Ronaldo MacDonell: [email protected]; www.scarboromissions.ca

Pe. Oliver Rafferty sj: [email protected]

Ir. Ilária Matte ses (provincial do Sul): [email protected]

Ir. Ágada Brand svd (Geral): [email protected]

Pe. John Klark (comboniano): 624.6246

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Apêndice 1

Reunião em Kurikabaru

Guiana, 27 de dezembro de 2003

Em 27 de dezembro de 2003, no Centro Comunitário de Kurikabaru, às 10:00 hs., foi realizada uma reunião sobre o tema dos desafios das comunidades indígenas da região de fronteira (Guiana-Brasil) no iminente contexto da homologação em área continua da Raposa Serra do Sol. Estavam presentes na reunião o Sr. Jimmy James (representante da APA - Amerindians People Association), o Sr. Bruno Martin (Tuxaua de Kurikabaru), o Pe. Paul Marin sj, Vanildo Pereira sj, Fernando López sj e aproximadamente 100 pessoas de Kurikabaru, bem como de outras comunidades vizinhas que vieram para a celebração do Natal e Ano Novo. A reunião foi em inglês, português, patamona e makuxi. Todas as colocações eram traduzidas em patamona para que as pessoas maiores pudessem também entender.

É bom lembrar que no dia 24/12/03, o jornal Brasil Norte, da cidade de Boa Vista-RR, trazia em manchete: “O Ministro da Justiça anuncia homologação da Raposa Serra do Sol para Janeiro/04”.

Segue aqui alguns dos pontos e perguntas mais significativas levantados na reunião:

• Muitos garimpeiros brasileiros entram no lado da Guiana para explorar o minério, trazendo malária, cachaça e outros problemas.

• Empresas madeireiras de Boa Vista-RR estão querendo entrar em Makutai (Guiana) para explorar a floresta.

• Empresas mineradoras estrangeiras estão fazendo pesquisa para exploração do minério na região.

• Foi colocado com preocupação a tentativa de criação de um Parque Nacional na região de Orinduik (Guiana), para incentivar o turismo. Assim também foi colocada a tentativa de ampliação do Parque Nacional Kaicho, que quer passar de 5 milhas2 para 242 milhas2.

• Um tema que gerou muita discussão e perguntas foi: como vai ficar o abastecimento (arroz, açúcar, cimento, etc.) das comunidades indígenas da Guiana, frente à saída das Vilas com o fato da homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol?

• Foi levantado também a pergunta: como vai ficar a venda de diamantes com a saída da Vila Mutum?

• Parece que o poder público da Guiana não atende suficientemente as necessidades da região. Perguntam: sem o registro brasileiro, como fica o atendimento da saúde para eles do lado da Guiana? Os benefícios, como por exemplo, de cestas básicas e de aposentadoria serão cortados com a saída das Vilas, em conseqüência da homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol? Que problema trás ter a identidade brasileira? (obs: na Guiana, a aposentadoria é de 1.820,00 $ dólares guianeses, sendo o equivalente aproximadamente a 30,00 reais).

• Perguntam: o quartel vai sair de Uriamutã? A homologação significa a criação de um novo país diferente nesta região?

• Outros problemas discutidos foram: o cultivo, o consumo e a venda de mariguana (maconha) na região; a venda de cachaça; a exploração dos direitos de propriedade intelectual.

• Necessidade da criação do segundo grau, em Kurikabaro. É preocupante o fato dos jovens da região saírem para estudar fora e não voltarem para a região.

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• Na Guiana, foi tentada a criação de gado como alternativa econômica, mas sem muito sucesso por razões diversas (exemplo: formação do vaqueiro).

• A Igreja local deve envolver-se mais em trabalhos de formação e organização das lideranças jovens na região.

• Os parentes da comunidade da Laje (Brasil), não deixam passar os parentes da Guiana com suas mercadorias.

• Os parentes do Brasil fazem suas roças no lado da Guiana sem comunicar para os tuxauas do local.

• Os parentes do Brasil cortam madeira no lado da Guiana e logo vendem no Brasil.

• O representante da APA confirmou o registro dos parentes da Guiana nos municípios de fronteira. Foi esclarecido que os políticos usam os parentes da Guiana para fortalecer esses municípios e que isso prejudica a luta pela terra da organização indígena do lado do Brasil.

• Na Guiana estão discutindo o novo Estatuto do Índio.

Finalmente foi repassado o convite do coordenador da região das Serras, sr. Gregório, para a participação na Assembléia Estadual do CIR (6-9/01/2004) de parentes da Guiana. O representante da APA, o Sr Jime James, confirmou por escrito a sua presença na Assembléia, juntamente com outras lideranças da região.

Também foi repassado um convite aos líderes do lado brasileiro para participar nos dias 15-16/01/2004, numa reunião em Kurikabaro, a fim de seguirem conversando sobre os assuntos acima levantados.

Pensamos que são muito importantes estes encontros entre as organizações indígenas de ambos os lados da fronteira para que possam encontrar soluções conjuntas a seus problemas.

Por outro lado, poderia ser de importância fomentar encontros entre as equipes pastorais que trabalham na fronteira Brasil-Guiana.

Vanildo Filho sj e Fernando López sj

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Apêndice 2

PROPOSTA PARA ESTÁGIO NA GUIANA - 2004

Manaus, 02 de janeiro de 2004.

No dia 31 de dezembro de 2003, em Lethem (Guiana Inglesa), foi realizado um encontro com o Pe. Oliver sj, a fim de articular e planejar um estágio pastoral de três meses e aprendizado da língua inglesa para o escolástico Vanildo Filho sj, na Guiana. Após o encontro, foram observados e considerados alguns pontos que se segue:

• Que por parte do Superior da Guiana, do Pe Oliver sj e do Pe Paulo sj existe uma abertura para receber escolásticos jesuítas que queiram realizar estágio de pastoral na região de fronteira. Na Missão Santo Inácio, em Lethem, existem varias possibilidades, como dar aulas numa pequena escola perto da missão, ou mesmo o acompanhamento às aldeias indígenas.

• Que a missão dessa fronteira (Brasil-Guiana) é muito desafiadora e carente de missionários. No momento, para toda região de fronteira estão o Pe Paulo, o Pe Oliver e o Pe Peter Britt-Compton (com 85 anos). A maioria da população que aí se encontram são indígenas. Muitos deles até falam o português também.

• Que o estágio de pastoral e aprendizado da língua inglesa ficou planejado da seguinte maneira:

1. Do mês de agosto até meados de setembro, Vanildo ficará na base da missão na cidade de Lethem. Neste período, terá como acompanhante de estudo da língua o próprio Pe Oliver sj. Creio ser um tempo mais intensivo de contato e dedicação à língua.

2. De meados de setembro até o mês de outubro, Vanildo ficará na base da missão em Kurikabaru, uma aldeia indígena mais ao norte da Guiana. Neste período, terá oportunidade de experimentar o dia a dia da missão de fronteira, junto aos índios Patamona, na companhia do Pe Paulo sj.

Obs: as coisas não estão rigorosamente estabelecidas, caso seja necessário é possível passar mais tempo num lugar ou noutro.

• Que é preciso providenciar um “visto de missionário” para o estágio na Guiana, por se tratar de atuação em área indígena. Chegando na Guiana, se faz necessário apresentar-se ao ministério para assuntos indígenas e preencher um formulário (nada tão complicado, segundo o Pe Oliver). O Pe Oliver mandará maiores informações a esse respeito.

• Que o custo deste estágio ficará em torno de três salários mínimos por mês (em 01-01-2004 o valor do SM = $R 240,00 isto é uns $USA 90,00. Por ser três salários mínimos por mês em $USA 3 x 90 = $USA 270,00).

• Que na base da missão em Lethem e Kurikabaru vai ser estalada a Internet nos primeiros meses de 2004.

Diante do exposto, considero de importância poder aproveitar a oportunidade oferecida na fronteira Guiana Inglesa - Brasil. De muito servirá esta experiência para a missão universal da Companhia de Jesus, bem como da própria Equipe Itinerante (sub-equipe indígena a qual faço parte atualmente).

Vanildo Filho sj, Equipe Itinerante

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Mapa da Missão St. Ignatius – Régios 8 e 9, Guiana

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Mapa da Terra Indígena Raposa Serra do Sol

Roraima, Brasil