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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciências Sociais e Humanas
Religiosidade e Espiritualidade como fatores
promotores de Coping Resiliente na adultez e na velhice
Clara Maria Freire Margaça
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Psicologia Clínica e da Saúde (2º ciclo de estudos)
Orientador: Professora Doutora Rosa Marina Afonso Orientador: Professor Doutor Samuel Monteiro
Covilhã, junho de 2015
vi
Agradecimentos
Começo por agradecer àqueles que, de forma próxima e direta, assumiram um papel
determinante no desbravar deste caminho. É a eles a quem dirijo palavras de profundo
reconhecimento.
Um agradecimento inicial à Professora Marina Afonso por, mesmo ausente, se saber
fazer presente. Agradeço ainda todo o conhecimento transmitido, ao longo desta caminhada.
Ao Professor Samuel Monteiro, pela sua paciência e confiança, saber, motivação e exigência
partilhados nesta etapa. Agradeço, ainda, a ambos, todas as oportunidades de evolução e
crescimento.
Um agradecimento especial à minha família. Aos meus pais, pelo esforço, confiança e
estímulo diário, em todos os momentos, pelo seu suporte incondicional. À minha irmã Rosário,
pelas horas infindáveis de escuta mútua.
Aos amigos, nem todos de sempre, aos que sabem ser amigos, independentemente das
circunstâncias e da distância. À Carolina, pelas confidências e desabafos. À Susana, por
acreditar em mim, desde que nos conhecemos, desde sempre, pelo nosso lema: Hakuna Matata.
Pelos momentos de compreensão e partilha, carinho e desafio, pelo otimismo e
confiança em mim. Pela tua presença, na minha vida, na nossa vida. Pelo teu amor e inspiração,
Doni. Agradeço-te.
vii
Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.
José Saramago
ix
Resumo
A presente investigação de mestrado, na área de Psicologia Clínica e da Saúde, centra-
se no estudo da espiritualidade e religiosidade como potenciais fatores promotores de coping
resiliente, na idade adulta e na velhice. Esta focaliza a problemática da crescente investigação
no âmbito da resiliência, a qual tem vindo a identificar a espiritualidade e a religiosidade como
seus fatores de promoção.
A primeira parte é composta por dois capítulos, com o intuito de mostrar o trabalho
científico desenvolvido. Por um lado, o primeiro é constituído por um artigo de revisão teórica
de estudos realizados sobre o presente tema, por outro, o segundo capítulo, em concordância
com o primeiro, incorpora e sustenta empiricamente os objetivos desenhados e estruturados,
após a revisão da literatura efetuada – ambos foram submetidos para publicação em publicações
periódicas com revisão por pares.
A segunda parte desta dissertação é constituída pelos Anexos. O primeiro, por um lado,
reúne uma extensão da revisão da literatura, onde são delimitadas as temáticas centrais do
estudo; por outro lado, o Anexo 2 carateriza e apresenta a extensão do estudo empírico, onde,
através de testes estatísticos suplementares nos propomos a ir ao encontro dos objetivos
traçados.
Com uma amostra de 1310 sujeitos, com idades compreendidas entre os 25 e os 97 anos
- e a fim de alcançar os objetivos do estudo - foram realizados o teste t-student e Anova, para
comparar as diferenças entre grupos estabelecidos, efetuaram-se correlações e testes de
regressão e, por fim, efetuou-se um modelo de equações estruturais, com o propósito de
confirmar o impacto da espiritualidade, através das suas dimensões verticais e horizontais, ao
nível do coping resiliente.
A partir dos resultados obtidos, podemos concluir que a espiritualidade, na sua
dimensão horizontal - que diz respeito à forma como as pessoas dão sentido à sua vida -
constitui, nesta amostra, um preditor moderado do coping resiliente. Porém, ao nível das
Crenças foi alcançado um resultado disruptivo ao esperado, o que poderá estar associado ao ao
número de itens que compõem o fator. Podemos, igualmente, concluir que tanto a
espiritualidade como os níveis de coping resiliente são influenciados pelas idiossincrasias dos
indivíduos, nomeadamente ao nível da idade e do género, em diferentes fases do ciclo vital.
Palavras-chave
Espiritualidade; religiosidade; resiliência; envelhecimento; velhice.
xi
Abstract
This master's research, in the area of Clinical and Health Psychology, focuses on the
study of spirituality and religiosity as promoting factors of resilient coping, in adulthood and
old age. The focal point of the dissertation is the problematic of the growing research on
resilience, which it has been identifying spirituality and religiosity as its promoting factors.
The dissertation is composed of two chapters, with the purpose to expose the scientific
work developed. The first is constituted by a theoretical review article of studies realized on
this theme. The second chapter, in accordance with the first, incorporates and supports
empirically the designed and structured goals, after reviewing of the literature - both are under
evaluation and waiting for the publication.
The second part of this dissertation is comprised of the Appendices. The first compiles
the extension of the literature review, where are delimited the central theme of the study.
The Appendix 2 characterizes and presents the extension of the empirical study, where through
statistical tests we propose to accomplish the objectives outlined.
With a sample of 1310 Individuals - and in order to achieve the objectives of this study
- Student’s t test and ANOVA were realized to compare the differences between the established
groups; correlations and regression testing were made and lastly effectuated a structural
equation model, with the purpose to confirm the impact of the spirituality, through the vertical
and horizontal dimensions, at the level of the resilient coping.
Based on the results, we can conclude that spirituality, in its horizontal dimension –
that means how people give meaning to their life - in this sample is a moderate predictor of
the resilient coping. We can also conclude that the spirituality and the resilient coping levels
are influenced by the idiosyncrasies of individuals at different stages of the life cycle.
Keywords
Spirituality; religiosity; resilience; aging; old age.
xiii
Índice
Introdução Geral 1
Capítulo I – Espiritualidade e Religiosidade como fatores de coping resiliente na
idade adulta e na velhice: uma revisão (Artigo de revisão teórica submetido para
publicação)
3
Capítulo II - Espiritualidade e coping resiliente: diferenças na idade adulta e na
velhice (Artigo empírico submetido para publicação)
30
Considerações Finais
57
Anexos 60
Anexo 1 - Extensão da Revisão Teórica 61
Introdução 61
1. Resiliência na velhice 62
2. Religiosidade e Espiritualidade 64
2.1. Religiosidade e Espiritualidade: uma perspetiva psicológica 66
3. Religiosidade/Espiritualidade ao longo do ciclo vital: da adultez à velhice 67
4. Religiosidade e Espiritualidade como estratégia de coping e fatores de
resiliência
4.1. Coping resiliente: religiosidade/espiritualidade como fatores
promotores
4.1.1. Coping Religioso
71
72
73
Anexo 2 - Extensão do Estudo Empírico 76
1. Formulação do problema 76
1.1. Objetivos do estudo 76
1.2. Hipóteses 77
2. Método 77
2.1. Participantes 78
xiv
2.2. Instrumentos 78
2.2.1. Questionário Sociodemográfico 79
2.2.2. Escala de Espiritualidade em contextos de saúde 79
2.2.3. Escala Breve de Coping Resiliente 80
2.3. Procedimentos 82
2.4. Análise estatística 82
2.5. Resultados 82
2.5.1. Análise de um modelo de equações estruturais 85
2.6. Discussão dos Resultados 89
Considerações Finais 92
Referências Bibliográficas 95
Anexo 3 102
Anexo 4 103
xviii
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Estratégias de Coping Religioso (Pargament, Tarakeshwar, Ellison & Wulff, 2001).
Tabela 2 – Características dos estilos de Coping Religioso (Pargament et al., 2001).
Tabela 3 – Tabela de Frequências relativa à variável Idade.
Tabela 4 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala de Espiritualidade.
Tabela 5 – Cálculo da confiabilidade da Escala de Espiritualidade em contextos de saúde e
respetiva comparação com a Escala original.
Tabela 6 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala breve de Coping Resiliente.
Tabela 7 – Cálculo da confiabilidade da Escala breve de Coping Resiliente e respetiva
comparação com as escalas original e adaptada à população portuguesa.
Tabela 8 - Análise das diferenças entre o género e as variáveis Coping Resiliente, Crenças e
Esperança/Otimismo, através do teste t-student.
Tabela 9 – Resultados obtidos, através das estatísticas de teste Anova, da diferença entre
grupos etários.
Tabela 10 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as dimensões Crenças
e Esperança/Otimismo.
Tabela 11 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as variáveis frequência
de locais de culto e frequência de oração.
Tabela 12 – Regressão das variáveis Coping resiliente, Crenças e Esperança/Otimismo.
Tabela 13 - Índices de ajustamento do modelo estrutural base estimado.
Tabela 14 - Estimativas estandardizadas da solução final do modelo base.
1
Introdução Geral
A presente dissertação de mestrado, na área de Psicologia Clínica e da Saúde, insere-
se numa linha de investigação que focaliza, diacronicamente, a espiritualidade e a religiosidade
como potenciais fatores de promoção do coping resiliente. Esta tem como objetivo principal
analisar a magnitude do impacto destes dois fatores na resiliência dos indivíduos, em diferentes
fases do ciclo vital.
Esta investigação centra-se na problemática da crescente investigação no âmbito da
resiliência, a qual tem vindo a identificar a espiritualidade e a religiosidade como seus
promotores. Atualmente, apesar de a ciência, ainda, desvincular a espiritualidade das causas
e cura de patologias, para muitos indivíduos sujeitos a situações de doença, a espiritualidade
pode constituir um importante mecanismo de coping.
No âmbito da revisão da literatura efetuada, apesar de se encontrarem estudos sobre
os fatores relacionados com a resiliência na velhice, deparámo-nos com pesquisas pouco
robustas, do ponto de vista metodológico, que nos permitam discutir a dimensão
desenvolvimental da espiritualidade e da religiosidade enquanto promotores da resiliência na
idade adulta. Desta forma, procura-se com este trabalho, analisar e discutir o eventual papel
da espiritualidade como fator promotor face ao coping resiliente na adultez e velhice,
sustentando-se esta abordagem empiricamente.
A dissertação estruturou-se à luz dos objetivos nela incorporados, sendo fracionada em
três componentes fundamentais: dois capítulos e os Anexos ao trabalho desenvolvido.
Os Capítulos I e II são constituídos por dois artigos já submetidos para avaliação por
pares, visando expor o trabalho científico desenvolvido. O primeiro artigo1, referente ao
primeiro capítulo, teve como objetivo apresentar uma revisão teórica de estudos relevantes
realizados sobre o tema da espiritualidade e religiosidade como fatores de resiliência, com o
intuito de identificar aspetos comuns, pontos de discordância entre autores e questões em
aberto na literatura. O segundo artigo2, desdobramento do primeiro e incorporado no segundo
capítulo, analisa e procura sustentar empiricamente os objetivos gizados e estruturados, após
a cuidada revisão da literatura, numa amostra de 1310 sujeitos, com idades compreendidas
entre os 25 e os 97 anos.
Uma componente final da dissertação inclui os Anexos e subdivide-se, também ela, em
duas partes. A primeira, consignada a aspetos teóricos, delimita as temáticas centrais em
estudo, conferindo-lhes um enquadramento teórico-conceptual. A contextualização da
temática é efetuada mediante a seleção e revisão de fontes bibliográficas científicas,
periódicas e não periódicas, a partir das quais se procura enquadrar, justificar e problematizar,
1 Este artigo foi submetido à revista Psicologia USP e encontra-se, nesta dissertação, formatado à luz das normas para autores. 2 Este segundo artigo foi submetido à revista Temas em Psicologia, Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia e encontra-se, nesta dissertação, formatado à luz das suas normas de publicação.
2
tanto no plano teórico como no plano da prática, a pertinência e valor científicos deste tema
de investigação. Na segunda parte deste anexo é enquadrada, caraterizada e apresentada a
extensão do estudo empírico, anteriormente referido no segundo capítulo. Através deste visa-
se testar e comprovar, de forma incisiva e detalhada, os objetivos propostos à investigação.
No termo desta dissertação são expostas considerações e reflexões integrativas,
limitações e asserções à prossecução futura da investigação realizada, terminando-se com a
apresentação das referências bibliográficas e anexos.
3
Capítulo I – Espiritualidade e Religiosidade
como fatores de coping resiliente na idade
adulta e na velhice: uma revisão
(Artigo de revisão teórica submetido para
publicação)
4
Espiritualidade e Religiosidade como fatores de coping resiliente na
idade adulta e na velhice: uma revisão3
Resumo
Este artigo, através de uma revisão da literatura, discute a questão da espiritualidade e
religiosidade enquanto fatores promotores da resiliência, em dois momentos distintos do
ciclo vital: a idade adulta e a velhice. Atualmente, a investigação psicológica tem vindo
a atribuir maior importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo no que se refere à
compreensão da forma como as crenças interferem ao nível da saúde e da aprendizagem
de estratégias resilientes. A revisão da literatura efetuada revela que a religiosidade e a
espiritualidade podem estar associadas a uma maior resiliência em condições stressantes,
situações de perda e, sobretudo, na velhice. Todavia, não foram encontradas investigações
consistentes, do ponto de vista metodológico, que permitam a discussão sobre a dimensão
desenvolvimental da espiritualidade e religiosidade como promotores da resiliência,
especialmente, na idade adulta. Assim, torna-se sumamente importante analisar e discutir
o seu papel e contribuição para a resiliência psicológica.
Palavras-chave: resiliência; espiritualidade; religiosidade; envelhecimento.
Abstract
This article, methodologically based on a review of the literature, discusses the spirituality
and religiosity as promoting factors of resilience in two different moments of the life
cycle: adulthood and old age. Presently, psychological research has been placing high
importance on the individual's spirituality, especially in regard to the understanding of
3 O Anexo 1, da secção Anexos, desta dissertação está consignado a aspetos teóricos, delimitando as temáticas centrais do estudo, dando continuidade de forma mais incisiva e detalhada a questões teórico-conceptuais.
5
how beliefs affect the level of health and the learning of resilient strategies. A review of
the literature demonstrates that religiosity and spirituality could be associated with more
resilience under stressful conditions, loss situations, and especially, in old age. However,
the research did not enable the discussion of the developmental dimension of spirituality
and religiosity as promoters of resilience in adulthood and old age. Thus, it still is
important to review and discuss its contribution in enhancing psychological resilience.
Key-words: resilience; religiosity; spirituality; ageing.
Resumé
Cet article, méthodologique basée sur une revue de la literature, traite de la spiritualité et
la religiosité comme facteurs de promotion de résilience en deux moments différents du
cycle de vie: l'âge adulte et la vieillesse. Actuellement, la recherche psychologique a été
de placer une grande importance à la spiritualité de l'individu, en particulier en ce qui
concerne la compréhension de comment les croyances influent sur le niveau de la santé
et l'apprentissage de stratégies de résilience. Une revue de la littérature démontre que la
religiosité et la spiritualité pourraient être associés à plus de résilience dans des conditions
stressantes, les situations de perte, et surtout, dans la vieillesse. Toutefois, la recherche
n'a pas permis à la discussion de la dimension développement de la spiritualité et de la
religiosité en tant que promoteurs de la résilience à l'âge adulte et la vieillesse. Ainsi, il
est toujours important d'examiner et de discuter de sa contribution au renforcement de la
résilience psychologique.
Mots-clés: résilience; religiosité; spiritualité; vieillissement.
Resumen
6
En este artículo, metodológicamente basado en una revisión de la literatura, se analiza la
espiritualidad y la religiosidad como factores protectores de la capacidad de recuperación
en dos momentos diferentes del ciclo de vida: la edad adulta y la vejez. En la actualidad,
la investigación psicológica ha estado colocando gran importancia a la espiritualidad de
la persona, especialmente en lo que se refiere a la comprensión de cómo las creencias
afectan el nivel de la salud y el aprendizaje de estrategias resilientes. Una revisión de la
literatura demuestra que la religiosidad y la espiritualidad pueden estar asociados con una
mayor resistencia bajo condiciones de estrés, situaciones de pérdida, y sobre todo, en la
vejez. Sin embargo, la investigación no permitió la discusión de la dimensión de
desarrollo de la espiritualidad y la religiosidad como promotores de la resistencia en la
edad adulta y la vejez. Por lo tanto, sigue siendo importante para revisar y discutir su
contribución en la mejora de la capacidad de recuperación psicológica.
Palabras-clave: resiliencia; religiosidad; espiritualiadad; envejecimiento.
7
As crenças espirituais e religiosas podem ser consideradas fatores de proteção
em momentos de stress, uma vez que estas se encontram associadas a melhores
habilidades para lidar com eventos stressantes, melhor bem-estar psicológico e
resiliência, procurando dar sentido às experiências de vida e compreensão sobre a causa
dos acontecimentos stressantes (Hood, Hill & Spilka, 2009). Ao longo do processo de
envelhecimento, um self resiliente facilita a adaptação às perdas e promove novas
oportunidades de crescimento (Carstensen & Freund, 1999). A religiosidade e
espiritualidade podem, assim, constituir um mecanismo de fortalecimento e resistência.
O indivíduo que considera a religião como parte imprescindível à sua vida, utiliza-a
como processo de coping resiliente, influenciando as suas perceções e atribuições.
Becker e Newsom (2005) consideram que a resiliência se manifesta de variadas formas
nas diversas culturas. Para exemplificarem esta questão fazem alusão ao uso do coping
religioso e instrumental como forma de lidar de modo adaptativo com contextos
adversos. Segundo estes autores, a avaliação da resiliência deve ter em consideração a
idiossincrasia de cada indivíduo e o seu universo cultural e geracional.
Park (2005), adotando uma perspetiva adaptativa, considera que as atribuições
religiosas estão associadas a eventos stressantes, e que estes, em última instância,
promovem o crescimento pessoal, através de atitudes resilientes. Segundo Walsh
(2007), vários estudos constataram crescimento individual após um acontecimento
traumático positivo em cinco dimensões: i) surgimento de novas oportunidades; ii)
relações estreitas e compassivas com os outros; iii) sentimento de confiança perante o
futuro; iv) reorganização das prioridades e plena apreciação da vida; e v)
aprofundamento da espiritualidade. Nesta linha, Jimenez-Ambriz (2011) afirma que, em
variados trabalhos de campo, foi sugerido que a adaptação positiva a situações de risco
(resiliência) era proveniente de fatores externos à pessoa, nomeadamente a família,
8
caraterísticas ambientais ou os contextos sociais e culturais, do qual faz parte o meio
religioso.
Segundo Tavares (2002), “o conceito de resiliência evoluiu do concreto para o
abstrato, das realidades materiais, físicas e biológicas para as realidades imateriais ou
espirituais” (p. 45). Ou seja, é atribuída ao indivíduo a responsabilidade de criar formas
para fortalecer e desenvolver a capacidade de ser resiliente, através, também, de
atividades religiosas/espirituais (Chequini, 2007). Assim, segundo Walsh (2007), a
espiritualidade evidencia a existência de potenciais forças escondidas no Homem, que o
envelhecimento faz despoletar. A investigação sobre resiliência em idosos,
desenvolvida por Silva e Alves (2007), concluiu que a espiritualidade se revelou um
forte indicador de resiliência na superação de adversidades, bem como na capacidade de
encontrar significado na vida a partir da fé religiosa.
Atualmente, a ciência ainda desvincula a espiritualidade das causas e da cura das
doenças. Contudo, para muitos indivíduos que experienciam situações de doença, em
termos dinâmicos e pessoais, a espiritualidade pode constituir um importante
mecanismo de coping resiliente. Assim sendo, tem-se começado a atribuir maior
importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo, no que diz respeito à
compreensão da forma como as crenças interferem ao nível da saúde e da aprendizagem
de estratégias resilientes (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Na cultura ocidental, segundo
Silva e Alves (2007), podem ser destacados, como exemplo da vivência da
espiritualidade/religiosidade como fator de equilíbrio, os estágios de luto, onde o
indivíduo almeja repercussões de melhor resiliência e bem-estar subjetivo.
Um indivíduo resiliente é aquele que, face à exposição a fatores de risco, tem a
capacidade de fazer frente à adversidade com estratégias e fatores de proteção. Segundo
Masten (2001), a resiliência é influenciada pela espiritualidade/religiosidade, dentro do
9
contexto sociocultural em que o indivíduo se insere. Simão e Saldanha (2012) afirmam
que a espiritualidade é uma “ponte” para o ser humano, quando ocorre uma crise na sua
vida, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma ótima estratégia de adaptação com
consequências positivas ao nível da estruturação da resiliência. Os mesmos autores
consideram que, através da espiritualidade, como fator promotor de resiliência
psicológica, os indivíduos adotam uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas
formas de adaptação e recursos internos de superação, sobretudo, a população idosa.
Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão teórica de estudos realizados
sobre o tema da espiritualidade e religiosidade como fatores de resiliência, com o intuito
de identificar aspetos comuns, pontos de discordância entre autores e questões em
aberto na literatura.
Religiosidade e espiritualidade: fatores de resiliência
Segundo Werner (1996), embora a Psicologia não tenha dado grande relevância
à espiritualidade, a investigação sobre a resiliência tem vindo a identificar a
espiritualidade e a religiosidade como fatores promotores da mesma. Todavia, alguns
estudos demonstraram que a religião e a espiritualidade têm um peso semelhante ao de
outros fatores identificados como sendo fatores protetores de resiliência (Kim &
Esquivel, 2011). Conceitualmente, tem sido proposto que a espiritualidade e a
religiosidade podem facilitar a resiliência em quatro formas: 1) construir e manter as
relações pessoais; 2) facilitar o acesso ao suporte social; 3) fortalecer os valores morais;
e 4) oferecer oportunidades para desenvolvimento e crescimento pessoal (Van Dyke &
Elias, 2007).
A dimensão espiritual/religiosa tem sido descrita como sendo relevante, por
exemplo, na atribuição de significado ao sofrimento advindo de uma doença crónica e,
10
também, como recurso de esperança face às mudanças no estado de saúde provenientes
do decorrer da idade (Greenstreet, 2006). Os indivíduos passam por um processo de
ajustamento ao longo da vida, podendo este ser imprevisível e complexo (Avgoulas &
Fanany, 2013), que exige que a pessoa se adapte de forma diferente a vários estados
(e.g., saúde), dependendo a eficácia da sua adaptação das estratégias de coping
adotadas. O papel da religião tem-se revelado particularmente relevante como estratégia
de coping individual para se lidar com os eventos de vida, sendo a fé religiosa,
frequentemente, apontada como uma importante fonte de resiliência, com um papel vital
no apoio a pessoas que experienciam uma crise (Pargament & Cummings, 2010).
Yunes (2003) considera que a espiritualidade/religiosidade é um dos processos
principais de resiliência, sendo vista como uma importante oportunidade para o
crescimento e descoberta interior, ao longo de todo o curso de desenvolvimento. A
pesquisa de Fry e Debats (2010) revelou que indivíduos com elevado índice de
espiritualidade, quando comparados com indivíduos com baixos níveis de
espiritualidade, superam melhor as situações de morte/luto, constituindo um recurso
como um contributo significativo para o bem-estar psicológico. A prática religiosa
continuada, ou seja, uma maior religiosidade, é um fator relevante na promoção de
qualidade de vida da população idosa (Koenig, 2009) e promove estados positivos de
saúde mental que, consequentemente contribuem para o sucesso cognitivo, emocional e
envelhecimento ativo no geral (Martin et. al., 2015).
Lago-Rizzardi, Teixeira e Siqueira (2010) referem que a religiosidade aparece
como sendo a primeira ou segunda estratégia de coping mais usada em condições de
dor. Os autores referem que a influência da religiosidade é evidenciada em resultados
fisiológicos significativos, tais como a diminuição da pressão arterial sistólica e da
frequência cardíaca e respiratória. Os autores referem, também, que com as atividades
11
religiosas, a ativação do córtex pré-frontal aumenta significativamente ocorrendo um
aumento dos mediadores envolvidos na dor, como GABA, serotonina e dopamina.
Assim, a religiosidade tem sido apresentada como fator relevante na promoção de
qualidade de vida para o idoso, pelo que a sua relação com a saúde, bem-estar e
resiliência tem sido apoiada (Sommerhalder & Goldstein, 2006).
O coping religioso, por sua vez, é o processo através do qual o indivíduo
aprende a lidar com importantes desafios pessoais ou situacionais da sua vida, através
das suas crenças/comportamentos religiosos (Santos, Giacomin, Pereira & Firmo,
2013). Pargament (1997) propôs quatro estilos de coping religioso: 1) autodirigido; 2)
delegação; 3) colaboração; e 4) súplica. Tendo por base os objetivos da religião, o
coping religioso pressupõe: a procura de significado, o controlo, o conforto espiritual, a
procura de intimidade com Deus e outros membros da sociedade, a
transformação/aceitação da vida e o bem-estar físico, psicológico e emocional
(Tarakeshwar & Pargament, 2001). A pesquisa de Vittorino e Viana (2012), enunciada
na Tabela 1, conclui que o grupo mais idoso do estudo apresentou atitudes e
comportamentos religiosos mais significativos do que os menos idosos, valorizando a
espiritualidade como fator de estabilização no envelhecimento.
Religiosidade e Espiritualidade
São vários os fatores enunciados para explicar a resiliência dos indivíduos, tais
como a competência, sentido de coerência, hardiness e estratégias de coping ativo
(Lindström, 2003). Assim, os fatores protetores que promovem comportamentos
resilientes provêm de três possíveis fontes: a) atributos pessoais (inteligência,
autoestima, autonomia, competência emocional e competência social); b) apoios do
sistema familiar; e c) apoio social, proveniente da comunidade (Pesce et al., 2004).
12
Entre os vários fatores que contribuem para a resiliência surge, também, a dimensão da
religiosidade e espiritualidade (Jimenez-Ambriz, 2008), que constitui, frequentemente,
o principal fator de apoio social (Koenig, 2009). Através das instituições religiosas, os
idosos socializam, inserem-se em grupos, participam em atividades sociais que
acontecem com regularidade no contexto das comunidades religiosas.
As perspetivas mais tradicionais da Psicologia consideravam a religião como um
mecanismo de defesa passivo, uma negação idealizada, ou como uma forma de coping
evitante, com vista a lidar com os problemas da vida (Pargament & Ano, 2004). Freud
(1961, citado por Lewis, 1994) sugeria ainda um paralelo entre as práticas religiosas e
as ações obsessivas, acrescentando que tanto as práticas neuróticas como as religiosas
serviam de medidas defensivas e de autoproteção envolvidas na repressão dos impulsos
instintivos. Durante o século XX, pensava-se que a religião teria os dias contados,
considerando-se como uma reminiscência que o Homem guardava de um período
primitivo do seu desenvolvimento. Freud explicava, ainda, que a religião era vista como
uma expressão social da ilusão, mostrando-se o mundo como um molde dos próprios
desejos do individuo (princípio do prazer).
A religião é concetualizada de forma diferenciada em cada contexto
sociocultural e histórico, dependendo da perspetiva teórica que a sustenta (Rodrigues,
2007). A religião é um sistema organizado de mitos, ritos, crenças e símbolos que
produzem um modelo de relação do ser humano com o transcendente, diferentemente da
espiritualidade, que teria relação com uma busca pessoal de sentido (Koenig, Larson &
Larson, 2001). Embora haja proximidade conceitual entre religiosidade e
espiritualidade, esta última, segundo Pinto e Pais Ribeiro (2007), constrói-se nos
contextos socioculturais e históricos, estruturando e atribuindo significado a valores,
13
comportamentos e experiências do ser humano, sendo que, por vezes, se materializa na
prática de um credo religioso específico.
A espiritualidade, segundo Volcan, Sousa, Mari e Hirta (2003), está vinculada a
uma procura pessoal de sentido, com ênfase no aperfeiçoamento do potencial humano.
No caso da definição de religiosidade, esta inclui crenças, práticas organizacionais
(como as atividades institucionais da igreja) e compromisso com o sistema
teológico/teorético da religião da qual faz parte (Rodrigues, 2007). Neste contexto, do
ponto de vista psicológico, é pertinente realçar que diferenças no estilo cognitivo, na
personalidade ou no tipo de motivação influenciam a forma como a religião é vivida.
Por seu turno, a espiritualidade, etimologicamente, refere-se ao domínio do espírito, à
dimensão imaterial, normalmente descrita como algo invisível e intangível ao indivíduo
(Hufford, 2005 citado por Stroppa & Almeida, 2008). Assim, a espiritualidade pode ser
entendida como uma força capaz de auxiliar o indivíduo a superar as dificuldades,
detendo também um sentido de conexão com algo superior a si, podendo ou não incluir
participação religiosa formal (Gutz & Camargo, 2013; Batista, 2007). Por sua vez, a
religiosidade inclui comportamentos, atitudes, valores e crenças, sentimentos e
experiências e refere-se ao grau de aceitação ou ligação que cada indivíduo tem face à
instituição religiosa, nomeadamente no que diz respeito à frequência da igreja,
participação nas atividades religiosas e à forma como se põe em prática as crenças e os
rituais (Rodrigues, 2007).
A atitude religiosa, além de incluir crenças e práticas religiosas, envolve também
sentimentos positivos e negativos associados a essas crenças (Hill & Hood, 1999). O
indivíduo, através da religiosidade, pode atribuir significados aos fatos,
compreendendo-os como parte de algo mais amplo, mediante a crença de que nada
ocorre ao acaso e de que acontecimentos da vida são determinados por uma
14
força/entidade superior. Tais fatos, segundo os mesmos autores, associados às crenças
pessoais, podem levar a um enriquecimento individual, como sabedoria, equilíbrio,
maturidade e resiliência.
Religiosidade e resiliência: da adultez à velhice
Durante o ciclo vital, o indivíduo é desafiado a estabelecer novas relações
consigo e com o mundo, bem como a encontrar estratégias de superação das limitações
(Ribeiro de Lima & Coelho, 2011). A perspetiva do desenvolvimento ao longo do ciclo
vital (Life-Span) compreende o desenvolvimento a partir do indivíduo e do que é
comum aos membros de determinada sociedade (Ribeiro de Lima e Coelho, 2011). A
Life-Span é uma abordagem de orientação dialética que mudou paradigmas em relação à
velhice e que enfatiza as dinâmicas de desenvolvimento ao longo de toda a vida (Baltes,
Lindenberger & Staudinger, 2006).
As crenças e práticas que caraterizam a vida espiritual flutuam ao longo do ciclo
de vida, consoante as circunstâncias de vida e o desenvolvimento do indivíduo (Miller
& Kelley, 2005). Faller, Melo, Versa e Marcon (2010) referem que as práticas religiosas
fornecem suporte emocional, principalmente para o idoso, que com o avançar da idade,
conta com a repercussão da sua religiosidade, nas relações sociais, na saúde física e
mental.
As teorias psicodinâmicas, assim como as do desenvolvimento pós formal veem
a espiritualidade entrelaçada com o processo maturacional e com as experiências
associadas à meia-idade (Wink & Dillon, 2008). No meio da vida, segundo Fagulha
(2005), os adultos são confrontados com experiências que exigem reestruturações
relacionais e que apelam para uma tomada de consciência, por exemplo, em relação à
morte (e.g., perda dos progenitores), sinais de envelhecimento e adaptação à
15
emancipação dos filhos. Para os indivíduos adultos são vários os fatores que
influenciam a perceção de sentido na vida: os fatores internos, que estão ligados ao
desenvolvimento do indivíduo (personalidade, estratégias de coping, religiosidade,
espiritualidade e sentimento de pertença), e os fatores externos, que pertencem ao meio
e corroboram o significado que as pessoas dão à vida - oportunidades sociais, trabalho,
lazer e segurança (Sommerhalder, 2010).
São propostos, por Argyle e Beit-Hallahami (1975), três modelos que procuram
descrever as mudanças comportamentais e as convicções religiosas ao longo do
desenvolvimento: 1) o modelo tradicional, onde é apresentado um decréscimo da
atividade religiosa entre os 18 e os 30 anos, seguindo-se um contínuo aumento, após
esta faixa etária; 2) o modelo da estabilidade, onde se considera não haver alterações
relativas à idade; e 3) o modelo sem compromisso que considera haver um declínio
contínuo da atividade religiosa à medida que a idade avança. Todavia, autores como
Bender (1968) e Cameron (1969) defendem a evidência de que, com o avançar dos
anos, aumentam a importância do rezar, da perceção da importância da religião e do
interesse na religião e frequência de locais de culto – o que corrobora o defendido pelo
modelo tradicional. Como referido na Tabela 1, o estudo de Baker e Nussbaum (1997),
os idosos inquiridos referiram ter mais espiritualidade àquela data do que quando
tinham 45 anos.
De acordo com a perspetiva life-span, o desenvolvimento e a manutenção de
padrões efetivos de envelhecimento dependem de fatores de natureza genético-
biológica, e, também, da influência de fatores socioculturais (Baltes, 1987), onde se
insere a dimensão religiosa-espiritual (Ribeiro de Lima & Coelho, 2011). Segundo
Koenig (2009), através da religião, os idosos socializam, inserem-se em grupos,
participam em atividades sociais regulares, sendo que, para muitos, a sua comunidade
16
de fé torna-se a rede principal de apoio social. As pessoas idosas relatam a importância
da religiosidade na vivência das dificuldades que atravessam no processo de
envelhecimento. A espiritualidade é uma fonte importante de suporte emocional,
contribuindo decisivamente para o bem-estar na velhice, sobretudo, pela rede de suporte
social e pelas estratégias para lidar com o stress (Monteiro, 2004).
Envelhecimento, resiliência e espiritualidade
A resiliência encontra-se estreitamente relacionada com o facto do indivíduo,
apesar das perdas associadas à velhice, conseguir envelhecer de forma ativa e com
êxito. As pessoas idosas resilientes são, assim, as que conseguem manter a sua saúde
física, cognitiva e social, através de adaptações para manter a sua qualidade de vida e
bem-estar, ao longo do ciclo vital (Jimenez-Ambriz, 2011). Os idosos tendem, por
exemplo, a usar estratégias de coping, que reduzem o impacto negativo das perdas da
velhice e, consequentemente, este torna-se o fator para que o indivíduo possa ser mais
resiliente (Afonso, 2012).
Um envelhecimento com êxito traduz, assim, mecanismos de resiliência, sendo
alcançado através da interação de vários fatores, tais como relações pessoais próximas
com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e produtivas (Fernandez-
Ballesteros, 2008), e atividades de caráter cultural e religioso (Farias & Santos, 2012).
Moraes e Sousa (2005), ao investigarem fatores associados ao envelhecimento bem-
sucedido, concluíram que as crenças dos indivíduos proporcionam significado para a
vida. Assim, o envelhecimento saudável e ativo pressupõe uma associação à ideia de
que o indivíduo preserva o seu potencial de desenvolvimento durante o seu curso de
vida, através de novas aprendizagens, onde se prevê, também, um equilíbrio entre
limitações e potencialidades (Baltes, 1987). Fernandez-Ballesteros (2008) resume os
17
critérios para um envelhecimento ativo a: condições de saúde, bom funcionamento
físico e cognitivo, afeto positivo e participação social.
A plasticidade desenvolvimental é uma das caraterísticas subjacentes à teoria
life-span, que se refere ao potencial de mudança de um indivíduo e à sua flexibilidade
para lidar com novas situações (Baltes, 1987) e integra fatores relativos à espiritualidade
(Lerner, Dowling & Anderson, 2010). Apesar de, segundo Neri (2006), a velhice ser
caracterizada pelo declínio de plasticidade e das funções biológicas, é igualmente uma
fase de re-adaptação constante, que Baltes et al. (2006) descrevem como uma
otimização seletiva com compensação (modelo SOC). Nesta compensação, a
espiritualidade pode ser reconhecida como um recurso para o bem-estar na velhice
(Sommerhalder & Goldstein, 2006). Desta forma, a participação em ambientes
estimulantes (e.g., locais de culto), e a presença de oportunidades de desenvolvimento,
coadunadas com os fatores espirituais-religiosos, segundo Scoralick-Lempke e Barbosa
(2012), têm-se mostrado fundamentais para um melhor desenvolvimento ao longo do
ciclo vital. Langer (2008) refere que durante a velhice, os indivíduos estão sujeitos,
frequentemente, a agressões físicas, emocionais, sociais e espirituais. Baltes et al.
(2006) ressaltam que, mesmo quando estes sinais de fragilidade são pronunciados, os
idosos são capazes de fazer as modificações, ajustes e compensações necessárias aos
seus objetivos e aspirações, recorrendo, com frequência, às suas crenças religiosas
(Scoralick-Lempke & Barbosa, 2012). O modelo SOC procura explicar o modo como
decorre a orquestração da vida, sendo, por isso, visto como um modelo de adaptação,
sobretudo, a partir da meia-idade e durante a velhice. Fatores como a regulação
emocional e espiritual ou a sabedoria são importantes para uma mudança contínua e
positiva (Kunzmann, 2004). As conclusões do estudo de Gall, Malette e Guirguis-
Younger (2011) mostraram que a espiritualidade para os idosos contribui para o
18
processo de otimização seletiva do modelo proposto por Baltes et al. (2006). Em suma,
o modelo SOC defende que os ganhos e as perdas evolutivas do envelhecimento são
resultantes da interação entre recursos individuais e do ambiente, onde se insere o meio
religioso, procurando este modelo realizar uma descrição do ciclo vital e descobrir
como os indivíduos se adaptam às mudanças biológicas, psicológicas, sociais e
espirituais (Neri, 2006).
Vários estudos sobre o envelhecimento dão ênfase à importância da religião para
conseguir recursos para fazer face aos desafios que a idade impõe - isolamento social,
enfraquecimento cognitivo e incapacidade física (e.g., Bevins & Cole, 2000). Estes
recursos, encontrados na religião, segundo Koenig (2009) e Pargament (1997), atuam de
forma a diminuir a depressão, a ansiedade e o suicídio - situações comuns em
populações idosas.
Conclusão
A literatura sugere que, um indivíduo resiliente é aquele que, face à exposição a
fatores stressantes, tem a capacidade de sobrepor à adversidade os fatores de proteção.
A espiritualidade/religiosidade, encontra-se relacionada com a resiliência dentro de
determinados contextos socioculturais em que o indivíduo se insere (Masten, 2001). A
revisão da literatura efetuada sugere que a espiritualidade e a religiosidade podem
funcionar como mediadores para o indivíduo em momentos stressantes, onde ser
religioso/espiritual passa a ser uma estratégia de adaptação com ganhos ao nível da
estruturação da resiliência.
A resiliência encontra-se estreitamente relacionada com o facto de o sujeito,
apesar das perdas associadas à velhice, conseguir envelhecer de forma ativa,
permitindo-lhe, através de adaptações para manter a sua qualidade de vida e bem-estar,
19
manter a sua saúde física, cognitiva e social, ao longo do seu ciclo de desenvolvimento.
A plasticidade desenvolvimental, caraterística subjacente à teoria life-span, refere-se ao
potencial de mudança e à flexibilidade do indivíduo para lidar com novas situações,
integrando também fatores relativos à espiritualidade (Lerner, Dowling & Anderson,
2010). Embora a velhice possa ser caracterizada pelo declínio de plasticidade e de
funções biológicas, é igualmente uma fase de readaptação constante, descrita como uma
otimização seletiva com compensação (Baltes et al., 2006). Nesta linha de pensamento,
a espiritualidade pode considerada um recurso para o bem-estar na velhice, pelo que a
participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto), e a presença de
oportunidades de crescimento, coadunadas com os fatores espirituais-religiosos têm-se
mostrado fundamentais para um melhor desenvolvimento ao longo do ciclo vital e,
consequentemente, promovendo melhores níveis de resiliência (Scoralick-Lempke &
Barbosa, 2012). Por outro lado, para os indivíduos adultos, a espiritualidade e a
religiosidade aparecem associadas a vários fatores que influenciam a perceção de
sentido na vida. Por um lado, os fatores internos, os quais se relacionam com o
desenvolvimento idiossincrático do indivíduo (e.g., estratégias de coping, religiosidade,
espiritualidade) e, por outro, os fatores externos, que se referem às oportunidades
sociais, trabalho, lazer e segurança (Sommerhalder, 2010).
Numa perspetiva adaptativa, as atribuições religiosas estão associadas a eventos
stressantes, e estes, em última instância, promovem o crescimento pessoal, através de
atitudes resilientes (Manning, 2014; Park, 2005). Em suma, as crenças espirituais e
religiosas poderão ser consideradas fatores de proteção em momentos de stress, uma
vez que estas se encontram associadas a melhores habilidades para lidar com eventos
stressantes, melhor bem-estar psicológico, assim como resiliência. Ou seja, ao longo de
todo o ciclo vital, é atribuída ao indivíduo a responsabilidade de criar formas para
20
fortalecer e desenvolver a capacidade de ser resiliente, através, também, de atividades
religiosas/espirituais.
No âmbito da revisão da literatura efetuada, apesar de se encontrarem estudos
sobre os fatores relacionados com a resiliência na velhice, os fatores
espiritualidade/religiosidade aparecem menos explorados/analisados. Ao longo da
revisão realizada, deparámo-nos, igualmente, com escassas pesquisas, sobre a
resiliência na idade adulta. A revisão da literatura levada a cabo revela que a
religiosidade e a espiritualidade podem estar associadas a uma maior resiliência em
condições stressantes, situações de perda e, sobretudo, na velhice. Contudo, não foram
encontradas investigações robustas do ponto de vista metodológico que nos permitam
discutir a dimensão desenvolvimental da espiritualidade e da religiosidade enquanto
promotores da resiliência na adultez e velhice. Ou seja, seria importante analisar e
discutir, por exemplo, se a religiosidade e espiritualidade funcionam como fatores de
resiliência na adultez e velhice ou se são específicos de uma determinada fase do
desenvolvimento, de determinadas condições, situações e/ou gerações. A caracterização
e compreensão do papel da espiritualidade e religiosidade na resiliência, numa
perspetiva desenvolvimnetal, poderá constituir um importante contributo para se
potenciar a dimensão resiliente que estes fatores podem constituir nalguns contextos e
nalguns indivíduos.
21
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28
Tabela 1
Sumário dos principais estudos revistos
Autor(es)
Ano
Objetivo Participantes Metodologia Conclusões
Baker e
Nussbaum
(1997)
Avaliar as
dimensões
espirituais e
religiosas
atualmente
e aos 45
anos;
60 Idosos
institucionaliza
dos;
Estudo Cross-
sectional;
Os participantes
percebiam-se mais
espiritualizados
naquele momento
do que quando
tinham 45 anos;
Moraes e
Sousa
(2005)
Investigar
os fatores
associados
ao
envelhecim
ento bem-
sucedido;
400 Idosos; Estudo Cross-
sectional;
As crenças pessoais
proporcionam
significado para a
vida e foram
identificadas como
fatores de
influência para
envelhecer bem;
29
Vittorino e
Viana
(2012)
Avaliar o
coping
religioso/es
piritual de
idosos
institucional
izados;
77 Idosos; Estudo
epidemiológico,
analítico, com
desenho
transversal e
amostragem não
probabilística;
O grupo mais idoso
da amostra
apresentava atitudes
e comportamentos
religiosos mais
significativos que
os menos idosos,
valorizando a
espiritualidade
como fator de
estabilização no
envelhecimento;
Manning
(2014)
De que
forma os
componente
s espirituais
promovem
estratégias
de coping
resiliente na
velhice?
6 Mulheres
com mais de
80 anos,
inquiridas em
múltiplos
momentos.
Estudo
qualitativo, de
hermenêutica
fenomenológica;
abordagem
centrada na
pessoa.
O estudo revelou
que a
espiritualidade
desenvolve
melhores níveis de
bem-estar e
qualidade de vida,
promovendo a
resiliência.
30
Capítulo II - Espiritualidade e coping
resiliente: diferenças na idade adulta e na
velhice
(Artigo empírico submetido para
publicação)
31
Espiritualidade e coping resiliente: diferenças na idade adulta e na
velhice4
Resumo
Ao longo do processo de envelhecimento, um self resiliente, além de não se adaptar,
apenas, às perdas, desenvolve e fortalece novas oportunidades de crescimento, podendo
a religiosidade e espiritualidade constituir um mecanismo de fortalecimento e resistência.
Este estudo tem como objetivo analisar a religiosidade/espiritualidade como fatores
preditores de resiliência, numa amostra de 1310 indivíduos, adultos e idosos, assim como
a relação destas variáveis com dados sociodemográficos relevantes. Para alcançar estes
objetivos foram realizados o teste t-student para comparar as diferenças nas médias entre
grupos e o teste Anova, a fim de testar diferenças nos grupos estabelecidos; realizaram-
se correlações e testes de regressão e, por fim, efetuou-se um modelo de equações
estruturais, com o propósito de confirmar, na globalidade, o impato proficiente da
espiritualidade, no papel das suas dimensões verticais e horizontais, ao nível do coping
resiliente. A partir dos resultados obtidos, podemos concluir que a espiritualidade, na sua
dimensão horizontal - que diz respeito à forma como as pessoas dão sentido à sua vida -
constitui, nesta amostra, um preditor moderado do coping resiliente.
Palavras-chave: Espiritualidade; religiosidade; resiliência; envelhecimento.
Spirituality and resilient coping: differences in adulthood and old age
Abstract
4O Anexo 2, da secção Anexos, desta dissertação é exposto como desdobramento deste artigo empírico, visando testar e comprovar, de forma incisiva e detalhada, os objetivos e hipóteses propostos à investigação.
32
Throughout the aging process, a resilient self, besides to not only adapt to losses, develops
and strengthens new growth opportunities, and the religiosity and spirituality can
constitute a mechanism of strengthening and resistance. This study aims to analyze the
religiosity/spirituality as resilience predictor factors, in a sample of 1310 adults and
elderly, as well as the relationship of these variables with relevant socio-demographic
data. To achieve these objectives Student’s t test were realized to compare the differences
of the averages between groups and the Anova test in order to test differences in the
established groups; correlations and regression testing were made and lastly effectuated
a structural equation model, with the purpose of confirming the proficient impact of
spirituality, in the role of the vertical and horizontal dimensions, at the level of the
resilient coping. Based on the results obtained, we can conclude that spirituality, in the
horizontal dimension – that means how people give meaning to their life - is, in this
sample, a moderate predictor of resilient coping.
Key-words: Spirituality; religiosity; resilience; aging.
Espiritualidad y enfrentamiento resiliente: diferencias en la edad adulta y la vejez
Resumen
A lo largo del proceso de envejecimiento, el yo resiliente, ensuciado para adaptarse no
sólo a las pérdidas, desarrolla y fortalece nuevas oportunidades de crecimiento, y la
religiosidad y la espiritualidad pueden constituir el mecanismo de fortalecimiento y
resiliencia. Este estudio tiene como objetivo analizar la religiosidad/espiritualidad como
factores predictores de resiliencia, en una muestra de 1310 adultos y ancianos, así como
la relación de estas variables con fechas sociodemográfico pertinentes. Para lograr estos
objetivos se realizaron la prueba t de Student para comparar las diferencias de los
33
promedios entre los grupos y la prueba de Anova para probar las diferencias en los grupos
establecidos; se hicieron correlaciones y pruebas de regresión y por último se ha efectuado
un modelo de ecuaciones estructurales, con el propósito de confirmar el impacto de la
espiritualidad, en el papel de las dimensiones vertical y horizontal, a nivel del
afrontamiento resiliente. Con base en los resultados obtenidos, podemos concluir que la
spiritualidad, en la dimensión horizontal - que significa cómo las personas dan sentido a
su vida - es, en esta muestra, un predictor moderado de afrontamiento resiliente.
Palabras-clave: Espiritualidad; religiosidade; resiliência; envejecimiento.
34
A resiliência reporta-se à adaptação bem-sucedida, às dificuldades e adversidades da vida,
que implica flexibilidade mental, emocional e comportamental (APA, 2006). Encarada a
resiliência como uma capacidade de o sujeito em responder de forma satisfatória a
situações adversas, as estratégias de coping funcionam como um pré-requisito
fundamental para uma adaptação com sucesso, enquanto variáveis mediadoras dos efeitos
do stress (Pais Ribeiro & Morais, 2010). O coping é considerado como um esforço
cognitivo e comportamental face a exigências internas e externas excessivas (Sinclair &
Walltson, 2004), promovendo uma adaptação positiva face ao stress elevado (Lazarus &
Folkman, 1984 citado por Pais Ribeiro & Morais, 2010). Apesar de coping e resiliência
não serem sinónimos, o conceito de coping torna-se fundamental para a compreensão da
capacidade de resiliência do indivíduo (Pais Ribeiro & Morais, 2010). Por um lado, o
coping ocorre num momento determinado e, por outro lado, a resiliência prossegue ao
longo do desenvolvimento. Sinclair e Walltson (2004) afirmam que a principal
característica diferenciadora do coping resiliente é a capacidade deste para promover uma
adaptação positiva, apesar do elevado índice de stress. Os indivíduos resilientes tendem
a usar mais estratégias de coping de confronto direto com o problema e menos estratégias
de evitamento (Pesce, Assiss, Santos & Oliveira, 2004).
São vários os fatores enunciados para explicar a resiliência dos indivíduos. Ao
considerarmos a resiliência como um constructo multidimensional da personalidade, os
indivíduos resilientes possuem normalmente diversas caraterísticas ou capacidades
positivas, como competência, otimismo (Petterson, 2000), felicidade, autoestima,
sentido de coerência, hardiness e estratégias de coping ativo (Lindström, 2003). Assim,
os fatores protetores que promovem comportamentos resilientes provêm de três
possíveis fontes: a) atributos pessoais (inteligência, autoestima, autonomia, competência
emocional e competência social); b) apoios do sistema familiar; e c) apoio social,
35
proveniente da comunidade (Schuck & Antoni, 2014; Pesce et al., 2004). Entre os
vários fatores surge, também, a dimensão da religiosidade e espiritualidade (Jimenez
Ambriz, 2008).
A ideia de resiliência na velhice abrange, por um lado, a reintegração de uma
adversidade e, por outro lado, o desenvolvimento, conservação e ativação de
capacidades adicionais de resistência face às perdas, desafios e adversidades que são
mais frequentes nesta etapa do ciclo vital do que noutras fases mais jovens (Afonso,
2012). Entre os vários fatores que contribuem para a resiliência na velhice, destaca-se a
religião, que constitui, frequentemente, o principal fator de apoio social (Koenig, 2009).
Através das instituições religiosas, os idosos socializam, inserem-se em grupos,
participam em atividades sociais que acontecem com regularidade no contexto das
comunidades religiosas. A espiritualidade e as crenças religiosas foram identificadas
como recursos protetores e de compensação, sobretudo, em casos de perda e trauma
(Granqvist & Hagekull, 2000). A pesquisa de Fry e Debats (2010) revelou que
indivíduos com elevado índice de espiritualidade, quando comparados com indivíduos
com baixos níveis de espiritualidade, superam melhor situações de morte/luto,
mostrando-se este recurso como um contributo significativo para o bem-estar
psicológico.
As crenças e práticas que caraterizam a vida espiritual flutuam ao longo do ciclo de
vida, consoante as circunstâncias de vida e o desenvolvimento do indivíduo (Miller &
Kelley, 2005). As teorias psicodinâmicas, assim como as do desenvolvimento pós
formal veem a espiritualidade entrelaçada com o processo maturacional e com as
experiências associadas à meia-idade (Wink & Dillon, 2008). Assim, apesar de a idade
adulta não ser definida de forma estanque, a chamada “meia-idade” deverá ser vista no
contexto do ciclo de vida com caraterísticas únicas que devem ser integradas em
36
dimensões biológicas e socioculturais complexas (Wink & Dillon, 2002). No meio da
vida, segundo Fagulha (2005), os adultos são confrontados com experiências que
exigem reestruturações relacionais e que apelam para uma tomada de consciência, por
exemplo, em relação à morte (e.g., perda dos progenitores), sinais de envelhecimento e
adaptação à emancipação dos filhos. Wink e Dillon (2002) referem que os padrões de
participação religiosa se estabelecem no início da idade adulta e tendem a permanecer
estáveis. Estes autores defendem que parece existir uma clara ascendência do nível de
espiritualidade na meia-idade, podendo esta ser considerada um fenómeno característico
desta etapa do ciclo de vida, uma vez que o seu desenvolvimento requer autonomia
pessoal e consciência do relativismo contextual que, normalmente, se desenvolve nesta
altura. Para os indivíduos adultos são vários os fatores que influenciam a perceção de
sentido na vida: os fatores internos, que estão ligados ao desenvolvimento do indivíduo
(personalidade, estratégias de coping, religiosidade, espiritualidade e sentimento de
pertença), e os fatores externos, que pertencem ao meio e corroboram o significado que
as pessoas dão à vida (oportunidades sociais, trabalho, lazer e segurança)
(Sommerhalder, 2010).
Religiosidade e espiritualidade: fatores de resiliência na adultez e velhice
As crenças espirituais e religiosas podem ser consideradas fatores de proteção em
momentos de stress, uma vez que estas se encontram associadas a melhores habilidades
para lidar com eventos stressantes, melhor bem-estar psicológico, assim como
resiliência, procurando dar sentido às experiências de vida e entender a causa dos
acontecimentos stressantes (Hood, Hill & Spilka, 2009). Ao longo do processo de
envelhecimento, um self resiliente além de não se adaptar, apenas, às perdas,
desenvolve e fortalece novas oportunidades de crescimento (Carstensen & Freund,
37
1999), podendo a religiosidade e espiritualidade constituir um mecanismo de
fortalecimento e resistência. Becker e Newsom (2005) ao afirmarem que a resiliência se
manifesta de variadas formas nas diversas culturas, exemplificam esta questão fazendo
alusão ao uso do coping religioso e instrumental como forma de lidar de modo
adaptativo com contextos adversos, pelo que a avaliação da resiliência deve ter em
consideração a idiossincrasia de cada indivíduo e o seu universo cultural e geracional.
Numa perspetiva adaptativa, para Park (2005), as atribuições religiosas estão associadas
a eventos stressantes, e estes, em última instância, promovem o crescimento pessoal,
através de atitudes resilientes. Jimenez-Ambriz (2011) afirma que, em variados
trabalhos de campo, foi sugerido que a adaptação positiva a situações de risco
(resiliência) era proveniente de fatores externos à pessoa, nomeadamente a família,
caraterísticas ambientais ou os contextos sociais e culturais, do qual faz parte o meio
religioso.
A espiritualidade evidencia a existência de potenciais forças escondidas no Homem, que
o envelhecimento faz despoletar (Walsh, 2007). A investigação sobre resiliência em
idosos, desenvolvida por Silva e Alves (2007), concluiu que a espiritualidade se revelou
um forte indicador de resiliência na superação de adversidades, bem como na
capacidade de encontrar significado na vida a partir da fé religiosa. Apesar de,
atualmente, a espiritualidade ser desvinculada das causas e da cura das doenças no
quadro clínico científico, para quem a experiencia como um processo dinâmico e
pessoal, pode constituir um importante mecanismo de coping resiliente. Assim sendo,
tem-se assistido à alteração de paradigma no sentido em que se começa a dar maior
importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo, no que diz respeito à
compreensão de como as crenças interferem ao nível da saúde e da aprendizagem de
estratégias resilientes (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Na cultura ocidental, segundo Silva
38
e Alves (2007), podem ser destacados, como exemplo da vivência da
espiritualidade/religiosidade como fator de equilíbrio, os estágios de luto, onde o
indivíduo almeja repercussões de melhor resiliência e bem-estar subjetivo. Simão e
Saldanha (2012) afirmam que a espiritualidade se torna numa ponte para o ser humano,
quando ocorre uma crise na sua vida, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma ótima
estratégia de adaptação com consequências positivas ao nível da estruturação da
resiliência. Os mesmos autores afirmam que, por meio da espiritualidade como fator
promotor de resiliência psicológica, os indivíduos através da fé religiosa têm uma
perspetiva positiva do futuro, procuram novas formas de adaptação e recursos internos
de superação, sobretudo, a população idosa. Neste sentido, este estudo tem como
objetivo analisar a religiosidade/espiritualidade como fator preditor de resiliência
adultos e idosos, assim como a relação destas variáveis com dados sociodemográficos
relevantes dos indivíduos (e.g. idade, género …).
Método
Participantes
A amostra por conveniência é constituída por um total de 1310 indivíduos, com idades
compreendidas entre os 25 e os 97 anos, sendo que 589 dos inquiridos são de
nacionalidade portuguesa e 686 brasileira. No que diz respeito à variável idade, foram
estabelecidos três grupos de comparação, com as respetivas médias de idades: Grupo 1
(25 – 45 anos): 34.234; Grupo 2 (46 – 65 anos): 53.872; Grupo 3 (66 – 97 anos):
75.439. Apresentando uma divisão equitativa quanto ao género, 44.7% dos participantes
da amostra são homens e 55.3% mulheres. Relativamente ao nível de escolaridade,
76.8% apresenta um nível de escolaridade superior, seguidamente, a segunda maior
fatia (9.5%) corresponde apresenta até 12 anos de escolaridade, 3.9% apresenta
39
escolaridade até 9 anos, 1.4% até 6 anos e, por fim, 6% dos inquiridos apresentam
escolaridade até 4 anos. No que diz respeito ao estado civil, a amostra subdivide-se em
2 grandes grupos, os casados (45.8%) e os solteiros (22.9%); os restantes, e numa
percentagem consideravelmente menor, situam-se os comprometidos afetivamente
(6.0%), os viúvos (6.3%) e os unidos de facto e os divorciados, com percentagens iguais
(9.2%).
Por fim, no que concerne à filiação religiosa, 741 (56.6%) dos participantes diz ser
católico, porém, 27.9% da amostra não respondeu a esta questão; a restante amostra
apresenta valores residuais no que toca a outras filiações: 5.1% espiritas, 3.9%
evangélicos, 3.2% outra religião, 2.1% protestantes, .6% agnósticos e, por fim, .2%
ateus.
Instrumentos
Foi elaborado um questionário sócio - demográfico, com especial incidência na
experiência religiosa dos sujeitos, de modo a fornecer um quadro exaustivo das
características da amostra, sob o ponto de vista da experiência religiosa. Como medida
de Espiritualidade/Religiosidade foi utilizada a Escala de Espiritualidade em contextos
de saúde (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Esta escala contém cinco itens que quantificam a
concordância do individuo com questões relacionadas com a dimensão da
espiritualidade, sendo que as respostas podem variar entre o «Não concordo» (1),
«Concordo um pouco» (2), «Concordo bastante» (3) e «Plenamente de acordo» (4). Da
análise fatorial resultaram duas subescalas, uma constituída por dois itens que se
referem a uma dimensão vertical da espiritualidade (item 1 – As minhas crenças
espirituais/religiosas dão sentido à minha vida; item 2 – A minha fé e crenças dão-me
forças nos momentos difíceis), a que os autores denominam como «Crenças» e outra
40
constituída por três itens (item 3 – Vejo o futuro com esperança; item 4 – Sinto que a
minha vida mudou para melhor; item 5 – Aprendi a dar valor às pequenas coisas da
vida), referentes a uma dimensão horizontal da espiritual, denominada
«Esperança/Otimismo». A cotação de cada subescala é efetuada através da média dos
itens da mesma, sendo que quanto maior o valor obtido em cada item, maior a
concordância com a dimensão avaliada. A consistência interna desta escala é de α=
.800, o que é indicador de uma boa consistência interna, comparativamente à escala
original (A consistência interna desta escala é de α=.74). No que concerne ao fator
Crenças, obtivemos consistência de α= .94 e, o segundo fator Esperança/Otimismo
revelou uma consistência de α= .76. Ambos superiores aos valores da escala original
(α= .92 e α= .69, respetivamente).
A Escala Breve de Coping Resiliente (Pais-Ribeiro & Morais, 2010) é um instrumento
que permite avaliar a resiliência como uma estratégia de coping, a qual foi adaptada e
validada para a população portuguesa, a partir da versão original Brief Resilient Coping
Scale (Sinclair & Wallston, 2003). Inicialmente, a escala incluía nove itens, entre os
quais foram selecionados os quatro que, segundo os autores, operacionalizam o
construto de coping resiliente, emergindo-se temáticas como o otimismo, a
perseverança, a criatividade e o crescimento positivo face às adversidades. Esta é uma
escala de autorresposta, unidimensional, composta por quatro itens, que visam descrever
o padrão ativo de resolução de problemas, o que, por sua vez, reflete o padrão de coping
resiliente. A resposta aos itens é dada numa escala ordinal, em formato de Likert, de
cinco posições e sem cotação invertida: 5 – quase sempre, 4 – com muita frequência, 3
– muitas vezes, 2 – ocasionalmente, e 1 – quase nunca, cuja nota de capacidade para
lidar com o stress de forma adaptativa varia entre 4 e 20. Segundo os autores da escala
original, consideram-se com baixa resiliência os sujeitos com uma pontuação inferior a
41
13 e com uma resiliência elevada os sujeitos cuja pontuação seja superior a 17 (Sinclair
& Wallston, 2003).
A consistência interna desta escala é de α= .85, o que reflete uma boa consistência
interna (Marôco & Garcia-Marques, 2006), comparativamente com a escala original (α=
.68) e com a escala adaptada para a população portuguesa (α= .53).
Procedimentos
Este estudo insere-se na investigação “Saúde, bem-estar e felicidade, ao longo do ciclo
de vida PT/BR”, a qual tem como objetivo avaliar os níveis de saúde, bem-estar e
felicidade em portugueses e brasileiros, assim como avaliar outras áreas relacionadas. A
recolha da amostra foi efetuada no período de três meses (novembro a fevereiro)
referindo-se a natureza do estudo e assegurando o anonimato e confidencialidade da
apresentação dos dados. As tarefas a realizar envolviam a forma dita “papel e lápis”,
para os indivíduos com mais de 65 anos e houve, igualmente, um questionário online
para os restantes indivíduos. O preenchimento dos questionários foi efetuado num
momento único.
Os dados recolhidos foram analisados com recurso ao software SPSS (Statistical
Package for Social Sciences), bem como ao AMOS, ambos versão 22, com a finalidade
de suportar a investigação e os estudos efetuados. Procedeu-se, em primeiro lugar, ao
cálculo das frequências, média, desvio padrão, estatística descritiva para caracterização
da amostra, no que diz respeito aos dados sócio - demográficos, experiência religiosa e
coping resiliente. Para alcançar os objetivos do estudo foram realizados o teste t-student
para comparar as diferenças nas médias entre grupos e o teste Anova, a fim de testar
diferenças nos grupos estabelecidos, com base numa variável dependente, efetuaram-se
correlações e testes de regressão e, por fim, efetuou-se um modelo de equações
42
estruturais, com o propósito de confirmar, na globalidade, o impacto proficiente da
espiritualidade, na papel das suas dimensões verticais e horizontais ao nível do coping
resiliente.
Resultados
Foi realizado um t-test (Independet Sample Test), de forma a comparar os resultados na
escala de coping resiliente e nas duas dimensões de espiritualidade (crenças e
esperança/otimismo) em relação ao género, tal como é demonstrado na tabela 1.
Relativamente à variável Coping Resiliente, os homens (M=15.046, DP= 3.527)
apresentam valores médios de coping mais elevados do que as mulheres (M=14.332,
DP= 3.638), alcançando-se valores estatisticamente significativos t(df=1260.549)=
3.584, p≤ .05). Seguidamente, no que diz respeito à dimensão Crenças, são as mulheres
quem pontuam valores maiores (M=3110, DP= .855), quando comparadas com os
homens (M=2.872, DP= 1.002), revelando-se resultados estatisticamente significativos
t(df=1146.797)= -4.624, p≤ .05).). Por fim, no que concerne à dimensão
Esperança/Otimismo, são novamente as mulheres que alcançam melhores médias
(M=3.290, DP= .583), comparativamente aos homens (M=3.229, DP= .630), porém,
não se encontram resultados estatisticamente significativos t(df=1201.005)= -1.818, p=
.069).
43
Tabela 1 - Análise das diferenças entre o género e as variáveis Coping Resiliente,
Crenças e Esperança/Otimismo, através do teste t-student.
Na tabela abaixo, foi efetuada uma one-way betwwen-groups analysus of variance de
forma a analisar o impacto da idade nas escalas de Coping Resiliente e de
Espiritualidade. Os participantes foram divididos em três grupos de acordo com a sua
idade. Desta análise, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, a um
nível de significância de p< .05, entre os grupos, em todas as variáveis estudadas; no
Coping resiliente (F(2; 1270)= 23.055 , p≤ .05).), na dimensão de espiritualidade
Crenças (F(2; 1270)= 13.869 , p≤ .05) e, por fim, para a dimensão Esperança/Otimismo
(F(2; 1270)= 21.443, p≤ .05).).
Género Média Desvio Padrão T p
Coping Homem
Mulher
15.046
14.332
3.527
3.638
3.584 .000
Crenças Homem
Mulher
2.872
3.110
1.002
.855
-4.624 .000
Esperança/Otimismo Homem
Mulher
3.229
3.290
.630
.583
-1.818 .069
44
Tabela 2 – Resultados obtidos, através das estatísticas de teste Anova, da diferença entre
grupos etários.
Através de comparações post-hoc, através do teste Gabriel, pode inferir-se que existem
diferença significativas, na variável coping resiliente, entre todos os grupos (p≤ .05).),
sendo o Grupo 2 a alcançar pontuações médias mais elevadas (M=15.471; DP= 3.487).
Relativamente à dimensão Crenças, testes post-hoc Gabriel revelaram que existem
diferenças estatisticamente significativas entre o Grupo 1 e o Grupo 2 (p≤ .05) e o
Grupo 1 e o Grupo 3 (p≤ .05), sendo aqui o Grupo 3 a obter melhores pontuações (M=
3.256; DP= .753). Por fim, no que diz respeito à dimensão Esperança/Otimismo,
utilizando o mesmo teste post-hoc, encontramos diferenças estatisticamente
significativas entre o Grupo 1 e o Grupo 3 (p≤.05) e entre o Grupo 2 e o Grupo 3
Idade M DP F P
Coping Resiliente 25 – 45 anos
46 – 65 anos
66 – 97 anos
14.549
15.471
13.445
3.509
3.487
3.693
23.055 .000
Crenças 25 – 45 anos
46 – 65 anos
66 – 97 anos
2.900
3.071
3.256
.570
.609
.657
13.869 .000
Esperança/Otimismo 25 – 45 anos
46 – 65 anos
66 – 97 anos
3.289
3.348
3.031
.580
.609
.657
21.443 .000
45
(p≤.05), sendo agora o grupo de idade compreendida entre os 46 – 65 anos a obter
melhores médias (M=3.348; DP= .609).
Foram posteriormente efetuadas quatro correlações entre as duas dimensões de
espiritualidade (crenças e esperança/otimismo) e o coping resiliente e, posteriormente
entre o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de oração. A
análise efetuada com coeficiente de correlação de Pearson, entre o coping resiliente e a
dimensão de Espiritualidade “Crenças” indica uma correlação positiva, estatisticamente
significativa e classificada como fraca (r= .155; p˂.01), como é indicado na tabela 3.
Tabela 3 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as dimensões
Crenças e Esperança/Otimismo.
**p<.01 (2-tailed)
Porém, quando é realizado o mesmo teste entre o coping resiliente e a segunda
dimensão da Espiritualidade “Esperança/Otimismo” é indicada uma correlação positiva,
estatisticamente significativa e classificada como forte5 (r= .435; p˂ .01).
5 De acordo com os valores propostos por Cohen: tamanho pequeno do efeito: r= .1 – .23; moderado: r=
.24 – .36; grande: r= .37 ou superior (1988, citado por Pallant, 2011).
Coping Resiliente Crenças Esperança/Otimismo
Coping Resiliente - .155** .435**
Crenças .155** - .428**
Esperança/Otimismo .435** .428** -
46
Tabela 4 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as variáveis
frequência de locais de culto e frequência de oração.
**p<.01 (2-tailed)
A relação entre o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de
oração foi investigada utilizando o coeficiente de Pearson. Verificou-se que, apenas,
existe correlação positiva entre frequência de locais de culto e a frequência de oração
(r= .503, p< .01).
Tabela 5 –Regressão das variáveis Coping resiliente, Crenças e Esperança/Otimismo
R² = .191; R² ajustado = .190; F(p) = 154.126(p˂.001)
Coping
Resiliente
Frequência locais de culto Frequência Oração
Coping Resiliente - -.010 -.035
Frequência Locais
de culto
-.010 - .503**
Frequência de
oração
-.010 .503** -
Variável Critério Preditor B EPB β t
Coping Resiliente Crenças
Esperança/Otimismo
-.151
2.699
.107
.164
-.039
.452
- 1.412
16.418
47
Avaliando a capacidade de predição da espiritualidade no coping resiliente, a regressão
linear simples demonstra-nos que enquanto variável explicativa do coping, a
espiritualidade apresenta um valor estatisticamente significativo F=154.126 , p˂.001.
Ao nível do seu coeficiente de regressão verifica-se que a espiritualidade se apresenta
como um bom preditor do coping resiliente, sendo estatisticamente significativo β= -
.039 t= -1.412 , p˂.001 para a dimensão “Crenças” e β= .452 t= 16.418 , p˂.001 para a
dimensão Esperança/Otimismo.
As conclusões retiradas das análises de regressão e o referencial teórico desenvolvido,
na primeira parte desta pesquisa, estiveram na base da especificação e estimação de um
modelo de equações estruturais (cf. Figura 1), que assumiu o propósito de confirmar o
impacto da espiritualidade, no papel das suas dimensões verticais e horizontais6, ao
nível do coping resiliente. Após a especificação e estimação do modelo, a sua
adequação foi avaliada em função dos seguintes índices de ajustamento: ² - indicador
que avalia a qualidade do ajustamento do modelo; GFI (Goodness-of-Fit Index), criado
como alternativa ao ², explica a proporção da covariância observada entre as variáveis
manifestas, explicada pelo modelo ajustado; CFI (Comparative Fit Index) compara o
ajustamento do modelo e corrige a substimação; TLI (Tucker-Lewis coeficiente) é
considerado um indicador global de adequação do modelo; e RMSEA (Root-Mean-
Square Error of Approximation) estima o erro de aproximação ou a discrepância
existente no ajustamento do modelo hipotético à matriz de covariância populacional. No
nosso modelo o RMSEA surge com o valor de .050 que não sendo perfeito entra no
intervalo aceitável.
6 Idealmente, cada fator deve ser constituído por três itens. A literatura refere que uma
escala composta, apenas, por um fator deve possuir, no minímo, por quatro itens; e,
aquelas que são constituidas por mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois
itens por fator – devendo ser encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004).
48
Figura 1 - Diagrama de caminhos (Path Diagram) do modelo estimado.
Sumariamente, a partir dos resultados obtidos (cf. Tabela 6) parece plausível um
modelo de associação entre o Coping Resiliente e as duas dimensões de espiritualidade.
Tabela 6 - Índices de ajustamento do modelo estrutural base estimado
*p<.001
O modelo base estimado revelou um ajustamento adequado: ²(24 g.l.) = 102.205, ²/df
= 4.26, IFI = .983, TLI = .979, CFI = .986, RMSEA = .050. Todavia, a dimensão
vertical da espiritualidade revelou valores negativos de loading fatorial, contrariamente
ao que é retirado da literatura e dos resultados esperados.
Cohen (1988) faculta intervalos de interpretação da magnitude dos efeitos para as
ciências sociais, nomeadamente: tamanho pequeno do efeito: r = .1 - .23; moderado: r =
Modelo ²* Df GFI TLI CFI RMSEA*
Modelo estrutural
base estimado
102.205 24
.983 .979 .986 .050
49
.24 - .36; grande: r = .37 ou superior. Aplicando esta grelha de análise às relações
estatisticamente significativas podemos considerar que relativamente à dimensão
Crenças, esta não apresenta um impacto esperado significativo, de baixa magnitude na
variável coping resiliente, sendo que os resultados alcançados apontam num sentido
contrário ao hipotetizado (cf. Tabela 7). A associação entre a dimensão
esperança/otimismo e a variável coping resiliente permite apreender um impacto mais
forte, podendo considerar-se no intervalo de grande magnitude, indo os resultados ao
encontro do hipotetizado.
Tabela 7 - Estimativas estandardizadas da solução final do modelo base.
Em termos individuais, todos os indicadores apresentam valores de loading fatorial
superior ao ponto de corte .50 e, em oito variáveis, superiores a .70 (Hair, Black, Babin
& Anderson, 2010).
Discussão e Considerações Finais
Em concordância com os resultados obtidos nesta pesquisa, Nygren, Aléx, Josén,
Gustafson, Norberg e Lundman (2005) e Connor e Davidson (2003) encontraram
diferenças no género, relativamente ao coping resiliente, sendo as mulheres que
alcançam maiores pontuações – o que se contrapõe com o presente estudo. Porém
Wagnild e Young (1993), aquando da construção da Escala de Avaliação da Resiliência
aferiram que não existem diferenças entre homens e mulheres, no que diz respeito a esta
Critério Preditor Estimativas Estandardizadas
CopRes <--- Crenças -.133
CopRes <--- EspOpt .607
50
variável. No entanto, Sinclair e Wallston (2004) ao desenvolverem a Brief Resilient
Coping Scale – que esteve na base da construção da escala usada neste estudo –
afirmam que são os traços de personalidade e o meio onde se inserem os indivíduos que
determinam o processo de coping resiliente.
No estudo de Pinto e Pais-Ribeiro (2009) é encontrada consonância com os resultados
obtidos, relativamente às dimensões da espiritualidade aqui abordadas. Estes autores,
inferiram que quanto ao género, a espiritualidade assume um valor superior para as
mulheres, quer na dimensão das crenças, como na da esperança/otimismo, revelando-se
haver diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres. Também
Simpson, Cloud, Newman, Fuqua (2008), Bryant (2007) e Maselk e Kubzansky (2006),
nas suas investigações encontraram resultados que corroboram a existência de
diferenças significativas, ao nível da espiritualidade, entre homens e mulheres.
Contrariamente aos resultados encontrados neste estudo, a pesquisa de Connor e
Davidson (2003) evidenciou não haver diferenças estatisticamente significativas entre o
coping resiliente e a variável idade. Apesar das diferenças obtidas, e ao contrário do que
diz a literatura, não foi o grupo com idade mais avançada que revelou maior resiliência.
Estudos como o de Laranjeira (2007) referem que são os idosos os mais resilientes,
comparativamente com outras faixas etárias. Porém, em contrapartida,
No que concerne às dimensões da espiritualidade, Baker e Nussbaum (1997), no seu
estudo com idosos, referem que os indivíduos mais velhos possuem mais espiritualidade
àquela data do que quando tinham 45 anos, o que corrobora os resultados aferidos nesta
pesquisa. Vittorino e Viana (2012), concluíram que o grupo mais velho da amostra
apresentava atitudes e comportamentos religiosos mais significativos do que os mais
novos. Do mesmo modo, Pinto e Pais-Ribeiro (2009) salientam na sua investigação que
51
as pessoas mais velhas da sua amostra apresentaram médias superiores em relação as
crenças, pelo que se pode inferir que utilizam mais frequentemente esses recursos.
Contrariamente às premissas presentes na literatura, que nos dizem que a resiliência é
influenciada pela espiritualidade/religiosidade (Masten, 2001), relativamente à relação
causal entre o coping resiliente e à dimensão vertical da espiritualidade constatou-se que
esta relação não se verifica de maneira tão acentuada. Neste sentido, quanto maior o
coping resiliente dos indivíduos, menor serão as suas crenças. Por outro lado, quando se
trata da variável relativa à dimensão horizontal da espiritualidade
(Esperança/Otimismo), verifica-se uma relação forte. Tal vai ao encontro das pesquisas
de Sommerhalder (2010), que consideram existir uma clara ascendência do nível de
espiritualidade na meia-idade, uma vez que o seu desenvolvimento requer autonomia
pessoal e consciência do relativismo contextual que, consequentemente, influenciará o
seu sentido de vida.
Em dissonância com o presente estudo, está a pesquisa de Scoralick-Lempke e Barbosa
(2012), onde a participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto) se mostrou
fundamental para um melhor desenvolvimento de estratégias resilientes.
Os resultados deste estudo demonstraram, ainda, que a espiritualidade tem um efeito
positivo e significativo sobre o coping resiliente. Autores como Simão e Saldanha
(2012) consideram que, através da espiritualidade, como fator promotor de resiliência
psicológica, os indivíduos adotam uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas
formas de adaptação e, sobretudo, recursos internos de superação. A partir dos
resultados obtidos da análise do modelo estrutural pode concluir-se que a
espiritualidade, na sua dimensão Esperança/Otimismo, constitui, nesta amostra, um
preditor moderado do coping resiliente.
52
Se por um lado estudos apontam que, à medida que a idade avança, há indicadores de
que as crenças e a fé ocupam um lugar mais central na vida das pessoas, por outro, o
aumento da perceção da religiosidade não está, nesta faixa etária, diretamente
relacionado com elevados níveis de resiliência. Assim, podemos inferior que a
espiritualidade e a religiosidade parecem não ter o mesmo peso como fator explicativo
da resiliência na adultez e velhice. Tal pode estar relacionado com os fatores que
influenciam a perceção de sentido da vida, na idade adulta: os fatores internos
relacionados com a personalidade e sentimento de pertença; e os fatores externos, que
se relacionam com as oportunidades sociais, trabalho, lazer e segurança. Já para os
indivíduos idosos os padrões de resiliência, que levam a um envelhecimento com êxito,
são mantidos através da interação de vários fatores, como relações pessoais próximas
com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e de caráter cultural e
religioso, sendo que veem na religião um suporte fundamental no último período da sua
vida e na forma de enfrentar as adversidades nesta fase terminal.
Em suma, a resiliência incorpora as idiossincrasias de cada individuo, as quais lhes
permitem ultrapassar, positivamente, as adversidades, revelando-se uma característica
multidimensional, que varia de acordo com contexto, tempo, idade, género e origem
cultural.
53
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57
Considerações Finais
A presente componente da dissertação, reservada a considerações finais, é composta
por uma síntese da informação, teórica e prática, que a compõe, procurando-se refletir sobre
os contributos da investigação levada a cabo, respetivos limites e diretrizes para futuros
estudos complementares.
A partir de uma revisão da literatura, apresentada no artigo teórico, delimitámos as
temáticas centrais em estudo, conferindo-lhes um enquadramento teórico-conceptual.
Subsequentemente, o estudo empírico, incluído no segundo capítulo, visou expor, testar e
analisar, os objetivos e hipóteses propostos à investigação. Com base nesta revisão, é sugerido
que a espiritualidade e a religiosidade podem funcionar como mediadores para o indivíduo em
momentos stressantes, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma estratégia de adaptação
com ganhos ao nível da estruturação da resiliência. De igual modo, vários autores referem que
é na velhice onde se constata o aumento da perceção da importância da religião. Porém, no
nosso estudo foi o grupo da meia-idade que revelou dar mais importância a este fator. Tal
resultado pode remeter a duas questões: a primeira prende-se com o facto de o número de
indivíduos em cada grupo ser diferente; e, por outro lado, importa dar atenção à dimensão
horizontal da espiritualidade, que diz respeito à forma como as pessoas dão sentido à sua vida.
Assim, tendo em conta que os adultos na chamada “meia-idade” são confrontados com
experiências que exigem reestruturações relacionais, são vários os fatores que influenciam a
perceção de sentido de vida e esperança no futuro, onde se destaca a espiritualidade. De forma
a sustentar esta ideia, como vimos, Erikson e Jung consideram que a espiritualidade está ligada
ao processo maturacional e às experiências associadas à idade adulta (Barros, 2000). Nesta
linha, Polk (1997) identifica um padrão fisiológico que incorpora atributos à resiliência, como
as crenças pessoais, as quais promovem um sentimento de pertença e uma melhor perspetiva
de vida.
Uma outra ideia a destacar desta investigação é a que que a resiliência incorpora as
idiossincrasias de cada indivíduo, as quais lhes permitem ultrapassar, positivamente, as
adversidades (Connor & Davidson, 2003). Estes autores referem que as investigações sobre a
temática, nos últimos 20 anos, têm demonstrado que a resiliência é uma característica
multidimensional, que varia de acordo com contexto, tempo, idade, género e origem cultural.
O nosso estudo revelou ir ao encontro destes dados, uma vez que foram encontradas diferenças
consideradas estatisticamente significativas, relativamente ao género e à idade.
Se por um lado estudos apontam que, à medida que a idade avança, há indicadores de
que as crenças e a fé ocupam um lugar mais central na vida das pessoas, por outro, o aumento
da perceção da religiosidade não está, nesta faixa etária, diretamente relacionado com
elevados níveis de resiliência. Assim, podemos inferior que a espiritualidade e religiosidade
parecem não ter o mesmo peso como fator explicativo da resiliência na adultez e velhice. Tal
pode estar relacionado com os fatores que influenciam a perceção de sentido na vida, na idade
adulta, por um lado: os fatores internos relacionados com a personalidade e sentimento de
58
pertença; e, por outro, os fatores externos, que se relacionam com as oportunidades sociais,
trabalho, lazer e segurança. Já para os indivíduos idosos os padrões de resiliência, que levam
a um envelhecimento com êxito, são mantidos através da interação de vários fatores, como
relações pessoais próximas com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e de
caráter cultural e religioso, sendo que veem na religião um suporte fundamental no último
período da sua vida e na forma de enfrentar as adversidades nesta fase terminal.
Outro aspeto importante a realçar reside no facto de, apesar de as pessoas mais velhas
poderem frequentar menos os locais de culto e participar menos em rituais religiosos, a
espiritualidade e a religiosidade continuarem a ser uma dimensão relevante. A menor
frequência de locais de culto e em rituais religiosos pode estar relacionada com perdas de
autonomia e funcionalidade, não significando que ocorra uma diminuição do interesse na
religião. Constata-se, inclusivamente, que a atividade não organizacional religiosa – igreja
eletrónica ou mediatizada – tende a aumentar neste grupo de sujeitos, bem como a meditação
e a oração.
No que diz respeito à investigação efetuada surgiram algumas limitações, que podem e
devem ser colmatadas em estudos futuros. Assim sendo, começamos por destacar a escassez
de estudos, em Portugal, acerca da temática em questão, sobretudo, no que diz respeito à
associação entre a espiritualidade e a religiosidade com o coping resiliente. Tal como foi
referido acima, futuramente seria importante reunir uma amostra equitativa nos grupos de
comparação, de forma a ter resultados generalizáveis. Ainda nesta linha de pensamento, outra
limitação a ser apontada pode ser a utilização de uma abordagem transversal. Para a obtenção
de melhores resultados, poderia ser de interesse adotar uma abordagem longitudinal,
permitindo a análise das variações das características de uma mesma amostra. Uma outra
limitação que pode ser apontada reside no fato de as escalas em uso possuírem poucos itens.
Autores como Coelho e Esteves (2007) argumentam que escalas com poucos itens podem não
fornecer uma boa discriminação das respostas (reduzindo a habilidade de encontrar diferenças
significantes entre segmentos), o que limita o método de análise dos dados. Porém, a escolha
deste tipo de escalas fundamenta-se no fato de serem escalas simples e pequenas, sem
redundâncias e de fácil utilização, o que vem facilitar a sua aplicação, sobretudo, a pessoas
idosas. Sendo estas escalas constituídas por poucos itens, invitavelmente, terão fatores com
poucos itens. Idealmente, cada fator deve ser composto por três itens. A literatura refere que
uma escala que engloba, apenas, um fator deve ser constituída, no minímo, por quatro itens;
aquelas que apresentam mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois itens por fator
– devendo ser, efetivamente, encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004).
Como potencialidades desta investigação podemos destacar o número de participantes
da amostra. Uma amostra com estas dimensões permite uma representação honesta da
população, conduzindo-nos à estimação das caraterísticas da população com grande precisão.
Este estudo permitiu, ainda, compreender o papel que a espiritualidade e a religiosidade podem
desempenhar ao nível da resiliência psicológica dos indivíduos, em dois momentos diferentes
do ciclo vital.
59
Em suma, este estudo ao avaliar o impacto da espiritualidade e da religiosidade no
coping resiliente, na idade adulta e na velhice, pode representar um contributo fundamental,
para o conhecimento dos fatores relacionados com a resiliência psicológica e,
consequentemente, permitir a compreensão dos possíveis processos inerentes a um
envelhecimento ativo e com êxito. Assim, investigações futuras deverão suplantar as suas
limitações e considerar as singularidades da amostra em estudo, pelo fato de ser integrada uma
população mais idosa, pelas suas idiossincrasias e características na fase do ciclo de vida em
que se encontra.
61
Anexo 1 - Extensão da Revisão Teórica
Introdução
A resiliência reporta-se à adaptação bem-sucedida, às dificuldades e adversidades da
vida, que implica flexibilidade mental, emocional e comportamental (APA, 2006). Esta pode
ser perspetivada como um processo dinâmico – denominando-se como resiliência - ou como
sendo um traço, usando-se o termo resiliente (Luthar, Cicchetti & Beker, 2000). O constructo
de resiliência é proveniente da física7, sendo considerada, numa perspetiva psicológica, como
um fenómeno ou processo que reflete a adaptação a contextos de risco e adversidades. A
resiliência pode não ser mensurável de forma direta, podendo ser avaliada através de
dimensões que, indiretamente, refletem que a pessoa se adaptou e recuperou o equilíbrio
apesar das ameaças e adversidades a que está ou esteve exposta (Luthar et al., 2000; Masten,
2001).
A resiliência enquanto processo, pode ser conceptualizada como sendo dinâmica, capaz
de influenciar a capacidade de se lidar com as contrariedades, a sobrevivência, a superação, a
aprendizagem e a capacidade de recuperar de experiências de catástrofe, através da
incorporação e da mobilização de características internas como a autoeficácia, e fatores
externos como o suporte social, que promovem a adoção de estratégias de coping (Resnik,
2008). Nesta linha, pode ser, também, conceptualizada como uma estratégia de coping, sendo
inclusivamente adotado o termo de coping resiliente. Encarada a resiliência como uma
capacidade de o sujeito em responder de forma satisfatória a situações adversas, as estratégias
de coping funcionam como um pré-requisito fundamental para uma adaptação com sucesso,
enquanto variáveis mediadoras dos efeitos do stress (Pais Ribeiro & Morais, 2010). O coping é
considerado como um esforço cognitivo e comportamental face a exigências internas e externas
excessivas (Sinclair & Walltson, 2004), promovendo uma adaptação positiva face ao stress
elevado (Lazarus & Folkman, 1984 citado por Pais Ribeiro & Morais, 2010). Apesar de coping e
resiliência não serem sinónimos, o conceito de coping torna-se fundamental para a
compreensão da capacidade de resiliência do indivíduo (Pais Ribeiro & Morais, 2010). Por um
lado, o coping ocorre num momento determinado e, por outro lado, a resiliência prossegue ao
longo do desenvolvimento. Sinclair e Walltson (2004) afirmam que a principal característica
diferenciadora do coping resiliente é a capacidade deste para promover uma adaptação
positiva, apesar do elevado índice de stress. Os indivíduos resilientes tendem a usar mais
estratégias de coping de confronto direto com o problema e menos estratégias de evitamento
(Pesce, Assiss, Santos & Oliveira, 2004).
7Capacidade de um material readquirir, integralmente, as suas propriedades anteriores, depois de um agente externo exercer ação sobre ele.
62
A resiliência enquanto traço é definida como uma caraterística de personalidade que
modera os efeitos negativos do stress e promove a adaptação (Jacelon, 1997). Alguns estudos
identificaram as seguintes caraterísticas em indivíduos resilientes: i) equanimidade – perspetiva
equilibrada da experiência de vida; ii) perseverança – persistência, apesar da adversidade; iii)
auto-resiliência – crenças nas próprias capacidades; iv) ‘meaningfulness’ – perceção de que a
vida tem um propósito e valorização das suas contribuições; e v) solidão existencial – perceção
de que a vida de cada pessoa é única (Wagnild & Young, 1993). Assim, a resiliência enquanto
traço é vista como uma característica pessoal que ajuda o indivíduo a lidar com as dificuldades
e a alcançar uma boa adaptação, perante um problema (Ong, Bergeman, Bisconti & Wallace,
2006).
São vários os fatores enunciados para explicar a resiliência dos indivíduos. Ao considera-
la como um constructo multidimensional da personalidade, os indivíduos resilientes possuem
normalmente diversas caraterísticas ou capacidades positivas, como competência, otimismo
(Petterson, 2000), felicidade, autoestima, sentido de coerência, hardiness e estratégias de
coping ativo (Lindström, 2003). Assim, os fatores protetores que promovem comportamentos
resilientes provêm de três possíveis fontes: a) atributos pessoais (inteligência, autoestima,
autonomia, competência emocional e competência social); b) apoios do sistema familiar; e c)
apoio social, proveniente da comunidade (Pesce et al., 2004). Entre os vários fatores surge,
também, a dimensão da religiosidade e espiritualidade (Jimenez Ambriz, 2008).
1. Resiliência na velhice
A resiliência pode ser descrita como uma caraterística individual que, provavelmente, se
desenvolve ao longo do tempo (Stephens, Breheny & Mansvelt, 2014). Enquanto constructo
psicológico, começou por ser estudada em relação à infância e adolescência. Posteriormente,
a resiliência foi analisada e discutida em relação à velhice, onde parece assumir algumas
especificidades.
A ideia de resiliência na velhice abrange, por um lado, a reintegração de uma
adversidade e, por outro lado, o desenvolvimento, conservação e ativação de capacidades
adicionais de resistência face às perdas, desafios e adversidades que são mais frequentes nesta
etapa do ciclo vital do que noutras fases mais jovens (Afonso, 2012). As pessoas idosas
experienciam, frequentemente, mudanças associadas à idade, tais como quedas, declínios na
saúde e no funcionamento, dores crónicas, diminuição de mobilidade, morte do cônjuge,
diminuição da segurança, reforma ou ageism8 (Martin, Distelberg, Palmer & Jeste, 2015).
Apesar de a idade cronológica não indicar diretamente quais as mudanças e perdas existe uma
crescente probabilidade de ocorrerem incapacidades físicas e cognitivas com o envelhecimento
8 Ageism refere-se, essencialmente, segundo Macnicol (2006), às atitudes que os indivíduos e a sociedade apresentam para com um grupo de pessoas em função da idade, em particular os idosos.
63
(Araújo, Ribeiro, Oliveira & Pinto, 2007), o que gera um esforço crescente de flexibilidade e
resistência ao qual a maioria das pessoas idosas consegue responder. Assim, o desenvolvimento
psicológico modifica-se através do tempo e pode variar de cultura para cultura (Masten, 2001),
sendo que as variáveis que o acompanham são processos subjacentes à resiliência (Jimenez-
Ambriz, 2011a).
A resiliência encontra-se estreitamente relacionada com o facto de a pessoa, apesar
das perdas associadas à velhice, conseguir envelhecer de forma ativa e com êxito. As pessoas
idosas resilientes são, assim, as que conseguem manter a sua saúde física, cognitiva e social,
através de adaptações para manter a sua qualidade de vida e bem-estar, ao longo do ciclo vital
(Jimenez-Ambriz, 2011b). As pessoas idosas tendem, por exemplo, a usar estratégias de coping,
que reduzem o impacto negativo das perdas da velhice e, consequentemente, este torna-se o
fator para que o indivíduo possa ser mais resiliente (Afonso, 2012).
Um envelhecimento com êxito traduz, assim, mecanismos de resiliência, sendo
alcançado através da interação de vários fatores, tais como relações pessoais próximas com
familiares e amigos e a participação em atividades sociais e produtivas (Rowe & Kahn, 1998), e
atividades de caráter cultural e religioso. O envelhecimento saudável e ativo pressupõe uma
associação à ideia de que o indivíduo preserva o seu potencial de desenvolvimento durante o
seu curso de vida, através de novas aprendizagens, onde se prevê, também, um equilíbrio entre
limitações e potencialidades (Baltes, 1987). Fernandez-Ballesteros (2008) resume os critérios
para um envelhecimento ativo a: condições de saúde, bom funcionamento físico e cognitivo,
afeto positivo e participação social. A perspetiva do desenvolvimento ao longo da vida - Life-
Span - (Baltes, 1991) ao explicar o envelhecimento bem-sucedido, sugere que: (1) o curso do
desenvolvimento é individual e variável; (2) existem diferenças relevantes entre
envelhecimento, normal, ótimo e patológico; (3) durante o processo de envelhecimento, o
potencial de desenvolvimento é salvaguardado; (4) os prejuízos desta etapa podem ser
minimizados, através da ativação das capacidades de reserva e resistência; (5) as perdas
cognitivas podem ser compensadas por ganhos e (6) com o avançar da idade, os mecanismos de
autorregulação da personalidade mantêm-se intatos. Assim, os mecanismos que permitem à
pessoa idosa ser resiliente situam-se ao longo do ciclo vital, numa dinâmica de regulação,
otimização e compensação de perdas que permitem o envelhecimento com êxito.
Entre os vários fatores que contribuem para a resiliência na velhice, destaca-se a religião,
que constitui, frequentemente, o principal fator de apoio social (Koenig, 2009). Através das
instituições religiosas, os idosos socializam, inserem-se em grupos e participam em atividades
sociais que acontecem com regularidade no contexto das comunidades religiosas. A
espiritualidade e as crenças religiosas foram identificadas como recursos protetores e de
compensação, sobretudo, em casos de perda e trauma (Granqvist & Hagekull, 2000). A pesquisa
de Fry e Debats (2010) revelou que indivíduos com elevado índice de espiritualidade, quando
comparados com indivíduos com baixos níveis de espiritualidade, superam melhor situações de
morte/luto, mostrando-se este recurso como um contributo significativo para o bem-estar
psicológico. A prática religiosa continuada (maior religiosidade) é um fator relevante na
64
promoção de qualidade de vida da população idosa (Koenig, 2009) e para o desenvolvimento de
estados positivos de saúde mental que, consequentemente, contribuem para o sucesso
cognitivo, emocional e envelhecimento ativo no geral (Martin et al., 2015).
2. Religiosidade e Espiritualidade
A religião é conceptualizada de forma diferenciada em cada contexto sociocultural e
histórico, dependendo da perspetiva teórica que a sustenta. A religião é um sistema organizado
de mitos, ritos, crenças e símbolos que produzem um modelo de relação do ser humano com o
transcendente (Rodrigues, 2007), diferentemente da espiritualidade, que teria relação com
uma busca pessoal de sentido (Koenig, Larson & Larson, 2001). Embora haja proximidade
conceitual entre religiosidade e espiritualidade, esta última, segundo Pinto e Pais Ribeiro
(2007), constrói-se nos contextos socioculturais e históricos, estruturando e atribuindo
significado a valores, comportamentos e experiências do ser humano, sendo que, por vezes, se
materializa na prática de um credo religioso específico. A espiritualidade, etimologicamente,
refere-se ao domínio do espírito, à dimensão imaterial, normalmente descrita como algo
invisível e intangível ao indivíduo (Hufford, 2005 citado por Stroppa & Almeida, 2008). Assim,
esta pode ser entendida como uma força capaz de auxiliar o indivíduo a superar as dificuldades,
detendo também um sentido de conexão com algo superior a si, podendo ou não incluir
participação religiosa formal (Gutz & Camargo, 2013; Batista, 2007). Por sua vez, a religiosidade
inclui comportamentos, atitudes, valores e crenças, sentimentos e experiências e refere-se ao
grau de aceitação ou ligação que cada indivíduo tem face à instituição religiosa, nomeadamente
no que diz respeito à frequência da igreja, participação nas atividades religiosas e à forma
como se põe em prática as crenças e os rituais (Rodrigues, 2007). A religiosidade, sendo
derivada e vinculada ao contexto religioso, é definida como a vivência ou apropriação dos
elementos determinados de um conjunto de crenças (Franco, 2013).
As visões mais tradicionais da Psicologia consideravam a religião como um mecanismo
de defesa passivo, uma negação idealizada, ou como uma forma de coping evitante, com vista
a lidar com os problemas da vida (Pargament & Ano, 2004). Freud (1961, citado por Lewis,
1994) sugeria ainda um paralelo entre as práticas religiosas e as ações obsessivas,
acrescentando que tanto as práticas neuróticas como as religiosas serviam de medidas
defensivas e de autoproteção envolvidas na repressão dos impulsos instintivos. Durante o século
XX, seguindo a tese da secularização, pensava-se que a religião teria os dias contados,
considerando-a como uma reminiscência que o Homem guardava de um período primitivo do
seu desenvolvimento. Freud explicava, ainda, que a religião era vista como uma expressão
social da ilusão, mostrando-se o mundo como um molde dos próprios desejos do Homem
(princípio do prazer).
A espiritualidade continua a ser um conceito de difícil entendimento, sendo que esta é
experienciada e expressa, segundo Hill e Hood (1999), através da compreensão religiosa
65
convencional. Porém, a conceção de espiritualidade contemporânea ocidental distingue a
mesma da religião. Beck (1986) e Booth (1984), por seu lado, sugerem que a espiritualidade
intensifica e aprofunda a experiência interna, possuindo a pessoa espiritual valores positivos e
criativos, bem como traços de consciência, uma perspetiva holística, integração, gratidão,
esperança, aceitação e coragem. A espiritualidade, segundo Volcan, Sousa, Mari e Hirta (2003),
está vinculada a uma procura pessoal de sentido, com ênfase no aperfeiçoamento do potencial
humano. Nesta linha de pensamento, Elkins, Hedstrom, Hughes, Leaf e Saunders (1988)
propuseram um modelo constituído por nove componentes, tocando estes, entre outros, os
conceitos de transcendência, missão de vida, consciência da sacralidade, sacralização da vida,
altruísmo, idealismo e consciência do trágico. Mais tarde, Ingersoll (1994) propôs um modelo
de espiritualidade composto por sete dimensões: 1) significado; 2) conceção de divindade; 3)
relação; 4) mistério; 5) jogo; 6) experiência; e uma dimensão 7) integrativa.
No caso da definição de religiosidade, esta inclui crenças, práticas organizacionais
(como as atividades institucionais da igreja) e compromisso com o sistema teológico/teorético
da religião da qual faz parte (Rodrigues, 2007). Neste contexto, do ponto de vista psicológico,
é pertinente realçar que diferenças no estilo cognitivo, na personalidade ou no tipo de
motivação influenciam a forma como a religião é vivida. De acordo com Dong e Eun-kyoung
(2006), há várias dimensões da religiosidade que podem ser analisadas, mas as mais
amplamente investigadas são: a religiosidade subjetiva (visão que o sujeito tem da sua própria
religiosidade, ou seja, o quão religioso se considera), a denominação religiosa (religião
praticada pelo indivíduo) e práticas religiosas quotidianas (número de vezes que uma pessoa
vai à igreja e/ou frequenta atividades ou serviços religiosos). Assim, ao passo que a religião
estaria vinculada às instâncias de organização institucional, a espiritualidade tem em conta as
dimensões afetivas, pessoais e experienciais (Pargament, 1997). Em suma, a religião pode ser
considerada como o sistema que fornece o conteúdo simbólico, moral e ritual das crenças; a
religiosidade é caraterizada pela forma como o indivíduo se apropria desse sistema,
atualizando-o, a partir das suas vivências; e, por fim, a espiritualidade é conceptualizada como
um sistema próprio e independente de potências como a criatividade, liberdade e autenticidade
(Franco, 2013).
A atitude religiosa, além de incluir crenças e práticas religiosas, envolve também
sentimentos positivos e negativos associados a essas crenças (Hill & Hood, 1999). O indivíduo,
através da religiosidade, pode atribuir significados aos fatos, compreendendo-os como parte de
algo mais amplo, mediante a crença de que nada ocorre ao acaso e de que acontecimentos da
vida são determinados por uma força/entidade superior. Tais fatos, segundo os mesmos
autores, associados às crenças pessoais, podem levar a um enriquecimento individual, como
sabedoria, equilíbrio, maturidade e resiliência. A religiosidade, segundo Fetzer (2003, 1999),
envolve sistemas de culto e de doutrina e é compartilhada dentro de um grupo e pode ter,
66
conforme referem Allport e Ross (1967), duas orientações: intrínseca e extrínseca9 e, para
Baker (2003) pode, igualmente, seguir duas vertentes: organizada e não organizada10.
2.1. Religiosidade e Espiritualidade: uma perspetiva psicológica
Num dos artigos de Stroppa e Almeida (2008) é referenciado que, nos séculos XIX e XX,
época em que alguns dos intelectuais eram influenciados por uma visão antirreligiosa, a
religiosidade era considerada como um estado intelectual e social primitivo. Esta perspetiva
não foi fundamentada por investigações, contribuindo as opiniões e teorias pessoais para a
disseminação da ideia de que a religiosidade/espiritualidade teriam um impacto negativo sobre
a saúde mental. Também Charcot e Maudsley, médicos da época, criticaram e consideraram
várias experiências e práticas religiosas como sendo patológicas. Freud, por sua vez, influenciou
médicos e psicólogos, sugerindo que a religiosidade teria uma influência irracional e neurótica
sobre o psiquismo humano, acrescentando que esta era o resultado da desvalorização da vida
e da distorção da visão do mundo real (Stroppa & Almeida, 2008). Ellis, fundador da Terapia
Relacional Emotiva, sugeriu que a religiosidade equivalia a um distúrbio emocional. Assim,
embora dominasse uma visão negativa da religiosidade, também existiram outros autores que
não partilhavam da mesma opinião. Jung, por exemplo, considerava a religião como aspeto a
considerar na vida do sujeito, bem como um fenómeno histórico e sociológico.
Ao longo do tempo, intelectuais e investigadores do século XX, pressupuseram o
desaparecimento ou diminuição da religiosidade. Contrariamente ao esperado, nas últimas
décadas, observou-se a manutenção de elevadas percentagens de pessoas que se consideram
religiosas, levando a um aumento do interesse por parte dos investigadores, na área da
Psicologia, sobre esta temática (Stroppa & Almeida, 2008).
9 Intrínseca - a pessoa internaliza as suas crenças de tal modo que a religião (força major) faz parte integrante da sua vida diária; Extrínseca - a pessoa utiliza a religião como forma de atingir os seus próprios fins (encontrar segurança, status social, consolo e interação social). O compromisso com os valores religiosos é mais superficial. 10 Organizada (práticas religiosas públicas na igreja ou sinagoga) e não organizada (práticas religiosas privadas: oração pessoal, meditação, leitura de textos religiosos e da Bíblia, audição de música religiosa e visualização de programas religiosos na televisão).
67
3. Religiosidade/espiritualidade ao longo do Ciclo Vital: da
adultez à velhice
Durante o ciclo vital, o indivíduo é desafiado a estabelecer novas relações consigo e
com o mundo, bem como a encontrar estratégias de superação das limitações (Ribeiro de Lima
& Coelho, 2011). A perspetiva do desenvolvimento ao longo do ciclo vital (Life-Span)
compreende o desenvolvimento a partir do indivíduo e do que é comum aos membros de
determinada sociedade (Ribeiro de Lima e Coelho, 2011).
A Life-Span é uma abordagem de orientação dialética que tem colaborado
expressivamente para as mudanças de paradigma no que diz respeito à velhice, sobretudo, no
que diz respeito ao desenvolvimento intelectual dos idosos (Baltes & Baltes, 1990). Esta
perspetiva concebe o envelhecimento de três formas, que não são passiveis de uma
interpretação rígida: i) normal, onde são referidas as mudanças esperadas e inevitáveis
inerentes ao processo de envelhecer; ii) patológico, onde se encontram os casos de doença,
disfuncionalidade e descontinuidade do desenvolvimento; e iii) ótimo ou saudável,
caraterizando-se, este último, por um ideal sociocultural de qualidade de vida, funcionalidade
física e mental plenas, baixo risco de doenças e incapacidade, bem como motivação de viver
(Baltes, 1987). Uma vez que o funcionamento mental providencia importante informação
acerca da forma como os indivíduos aprendem a lidar com as diferentes circunstâncias de vida,
Faller, Melo, Versa e Marcon (2010) referem que as práticas religiosas fornecem suporte
emocional, principalmente para o idoso, que com o avançar da idade, conta com a repercussão
da sua religiosidade, nas relações sociais, na saúde física e mental.
As crenças e práticas que caraterizam a vida espiritual flutuam ao longo do ciclo de
vida, consoante as circunstâncias de vida e o desenvolvimento do indivíduo (Miller & Kelley,
2005). As teorias psicodinâmicas, assim como as do desenvolvimento pós formal, veem a
espiritualidade entrelaçada com o processo maturacional e com as experiências associadas à
meia-idade (Wink & Dillon, 2008). Assim, apesar de a idade adulta não ser definida de forma
estanque, Barros (2000) organiza esta etapa em três grupos: o adulto jovem (dos 25 aos 45
anos), o adulto médio (dos 45 aos 65 anos) e o adulto sénior (a partir dos 65 anos). A chamada
“meia-idade” deverá ser vista no contexto do ciclo de vida com caraterísticas únicas que devem
ser integradas em dimensões biológicas e socioculturais complexas (Wink & Dillon, 2002). No
meio da vida, segundo Fagulha (2005), os adultos são confrontados com experiências que
exigem reestruturações relacionais e que apelam para uma tomada de consciência, por
exemplo, em relação à morte (e.g., perda dos progenitores), sinais de envelhecimento e
adaptação à emancipação dos filhos. Autores como Erikson e Jung consideram que a
espiritualidade está ligada ao processo maturacional e às experiências associadas à idade adulta
(Barros, 2000). Wink e Dillon (2002) referem que os padrões de participação religiosa se
estabelecem no início da idade adulta e tendem a permanecer estáveis. Estes autores defendem
que parece existir uma clara ascendência do nível de espiritualidade na meia-idade, podendo
68
esta ser considerada um fenómeno característico desta etapa do ciclo de vida, uma vez que o
seu desenvolvimento requer autonomia pessoal e consciência do relativismo contextual que,
normalmente, se desenvolve nesta altura. Para os indivíduos adultos são vários os fatores que
influenciam a perceção de sentido na vida: os fatores internos, que estão ligados ao
desenvolvimento do indivíduo (personalidade, estratégias de coping, religiosidade,
espiritualidade e sentimento de pertença), e os fatores externos, que pertencem ao meio e
corroboram o significado que as pessoas dão à vida (oportunidades sociais, trabalho, lazer e
segurança) (Sommerhalder, 2010). Assim, é possível apontar alguns fatores explicativos da
religiosidade/espiritualidade adulta: 1) procura de significado para a vida – relacionado com a
origem e desenvolvimento religioso, como resposta a interrogações existenciais; e) desejo de
auto transcendência – o indivíduo acredita que, apenas, a fé pode dar a plena transcendência;
3) globalidade – a religião possui um caráter totalizante, exprime-se na sua complexidade sob
um princípio organizador capaz de dar significado a tudo, procurando integrar e interpretar
aspetos menos claros do passado; 4) autonomia motivacional – uma religiosidade adulta é fonte
motivacional do comportamento; 5) dinamicidade – a religião adulta funciona como tarefa
aberta, como tendência heurística, flexível e não estereotipada; e 6) consequencialidade – a
verdadeira religião exige condutas coerentes (Barros, 2000).
De acordo com a perspetiva life-span, o desenvolvimento e a manutenção de padrões
efetivos de envelhecimento dependem de fatores de natureza genético-biológica, e, também,
da influência de fatores socioculturais (Baltes, 1987), onde se insere a dimensão religiosa-
espiritual (Ribeiro de Lima & Coelho, 2011). Segundo Koenig (2009), através da religião, os
idosos socializam, inserem-se em grupos, participam em atividades sociais regulares, sendo
que, para muitos, a sua comunidade de fé torna-se a rede principal de apoio social. As pessoas
idosas relatam a importância da religiosidade na vivência das dificuldades que atravessam no
processo de envelhecimento. A espiritualidade é uma fonte importante de suporte emocional,
contribuindo decisivamente para o bem-estar na velhice, sobretudo, pela rede de suporte social
e pelas estratégias para lidar com o stress (Monteiro, 2004).
A plasticidade desenvolvimental é uma das caraterísticas subjacentes a esta perspetiva,
que se refere ao potencial de mudança de um indivíduo e à sua flexibilidade para lidar com
novas situações (Baltes, 1987) e integra fatores relativos à espiritualidade (Lerner, Dowling &
Anderson, 2010). O grau de plasticidade é inerente à capacidade de reserva11 de cada pessoa,
a qual é constituída por recursos internos e externos que mudam de acordo com o tempo e o
meio envolvente (Baltes, Lindenberger & Staudinger, 2006). Apesar de, segundo Neri (2006), a
velhice ser caracterizada pelo declínio de plasticidade e das funções biológicas, é igualmente
uma fase de readaptação constante, que Baltes et al. (2006) descrevem como uma otimização
seletiva com compensação. Nesta compensação, a espiritualidade pode ser reconhecida como
um recurso para o bem-estar na velhice (Sommerhalder & Goldstein, 2006). Desta forma, a
participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto), e a presença de oportunidades
11 Segundo Staudinger, Marsiske e Baltes (1995), o termo capacidade de reserva refere-se ao potencial de cada indivíduo para a mudança e, especialmente, o seu potencial de crescimento, face às adversidades.
69
de desenvolvimento, coadunadas com os fatores espirituais-religiosos, segundo Scoralick-
Lempke e Barbosa (2012), têm-se mostrado fundamentais para um melhor desenvolvimento ao
longo do ciclo vital. Langer (2008) refere que durante a velhice, os indivíduos estão sujeitos,
frequentemente, a agressões físicas, emocionais, sociais e espirituais. Baltes e Baltes (1990)
ressaltam que, mesmo quando estes sinais de fragilidade são pronunciados, os idosos são
capazes de fazer as modificações, ajustes e compensações necessárias aos seus objetivos e
aspirações, recorrendo, com frequência, às suas crenças religiosas (Scoralick-Lempke &
Barbosa, 2012). O modelo SOC (Seleção, Otimização e Compensação), proposto por Baltes e
Carstensen (1996), procura explicar o modo como decorre a orquestração da vida, sendo, por
isso, visto como um modelo de adaptação, sobretudo, a partir da meia-idade e durante a
velhice. Baltes e Staudinger (2000) referem que os adultos mais velhos tendem a investir mais
tempo em tarefas de compensação do que em tarefas de otimização. Contudo, fatores como a
regulação emocional e espiritual ou a sabedoria são importantes para uma mudança contínua e
positiva (Baltes & Staudinger, 2000; Kunzmann, 2004). As conclusões do estudo de Gall, Malette
e Guirguis-Younger (2011) mostraram que a espiritualidade para os idosos contribui para o
processo de otimização seletiva do modelo proposto por Baltes e Baltes (1990). Em suma, o
modelo SOC defende que os ganhos e as perdas evolutivas do envelhecimento são resultantes
da interação entre recursos individuais e do ambiente, onde se insere o meio religioso,
procurando este modelo realizar uma descrição do ciclo vital e descobrir como os indivíduos se
adaptam às mudanças biológicas, psicológicas, sociais e espirituais (Neri, 2006).
Alguns estudos sugerem a existência de efeitos geracionais, indicando que os
adolescentes e jovens adultos são considerados menos religiosos em relação aos adultos mais
velhos (Hood, Spilka, Hunsberger & Gorsuch, 1996). Assim, dentro desta temática, levanta-se
uma questão: de que forma é que a idade se relaciona com a religiosidade dos indivíduos?
São propostos, por Argyle e Beit-Hallahami (1975), três modelos que procuram
descrever as mudanças comportamentais e as convicções religiosas ao longo do
desenvolvimento: 1) o modelo tradicional, onde é apresentado um decréscimo da atividade
religiosa entre os 18 e os 30 anos, seguindo-se um contínuo aumento, após esta faixa etária; 2)
o modelo da estabilidade, onde se considera não haver alterações relativas à idade; e 3) o
modelo sem compromisso que considera haver um declínio contínuo da atividade religiosa à
medida que a idade avança. Todavia, autores como Bender (1968) e Cameron (1969) defendem
a evidência de que, com o avançar dos anos, aumentam a importância do rezar, da perceção
da importância da religião e do interesse na religião e frequência de locais de culto – o que
corrobora o defendido pelo modelo tradicional.
Fowler (1991), tendo por base os estádios de desenvolvimento cognitivo de Piaget e
moral de Kolberg, sugeriu que a fé religiosa individual obedece a um processo evolutivo,
correspondente a uma sequência de seis estádios: 1) fé primitiva (0 – 2 anos) – definida por
desenvolver a confiança entre a criança e o seu cuidador; 2) fé intuitiva e projetiva (primeira
infância) – caracterizada pelas imagens criadas para representar o bem e o mal, despertadas
pelos padrões morais; 3) fé mítica/literal (idade escolar) – primeiras expressões de fé, através
70
de linguagem simbólica e metafórica; 4) fé convencional (da adolescência à primeira idade
adulta) – caracterizada pela conformidade entre a autoridade religiosa e o desenvolvimento da
identidade pessoal; 5) fé individual e refletiva (da juventude à idade adulta) – definida pela
autoconsciência e compromisso com o sistema religioso; 6) fé conjuntiva (idade adulta) –
caracterizada pelo reconhecimento e compreensão do paradoxo entre a transcendência e a
realidade; e 7) fé universalizada (da idade adulta à velhice) – perspetiva transcendente,
caracterizada por sentimentos de unidade e compaixão (Oser, Scarlett e Bucher, 2006; Fowler,
1991).
A identidade religiosa e espiritual, no final da vida, e a fé religiosa são de extrema
importância. Assim, segundo Bradley, Fried, Kasl e Idler (2000) levantam-se duas questões: a)
até que ponto a fé e a espiritualidade são importantes no período precedente à morte?; e b)
será que as crenças e práticas religiosas permanecem estáveis ao longo desta última etapa da
vida?.
Vários estudos sobre o envelhecimento dão ênfase à importância da religião para
conseguir recursos para enfrentar os desafios que a idade impõe - isolamento social,
enfraquecimento cognitivo e incapacidade física (e.g., Bevins & Cole, 2000). Estes recursos,
encontrados na religião, segundo Koenig (1999) e Pargament (1997), atuam de forma a diminuir
a depressão, a ansiedade, suicídio - situações comuns em populações idosas, pois é na velhice
que surgem momentos que representam maior desafio (Pargament, 1997). Outros estudos (e.g.,
Vecchia, Ruiz, Bocchi & Corrente, 2005; Panzini, Rocha, Bandeira & Fleck, 2007) que se
debruçaram sobre a relação entre religião e qualidade de vida em idosos revelam que os efeitos
da religiosidade no bem-estar são maiores neste grupo etário do que nos mais novos (Ferreira,
2005). Ainda que, segundo Barros (2000), os idosos desinvistam, progressivamente, nos contatos
com o mundo, podem, no entanto, e do ponto de vista religioso, investir na entrega a funções
e atividades na igreja. A frequência destas atividades correlaciona-se com um maior bem-estar,
mais felicidade, utilidade e adaptação, diminuição do medo da morte e, por conseguinte, uma
elevada resiliência (e.g., Mackenzie, Rajagopal, Meilbohm & Lavizzo-Mourey, 2000). De referir
que a diminuição da frequência/participação, se deve, frequentemente, a problemas de
autonomia (doença ou incapacidade física) para a pessoa se deslocar a locais de culto onde
ocorrem os rituais religiosos e não a uma diminuição do interesse constatando-se,
inclusivamente, que a atividade não organizacional religiosa – igreja eletrónica ou mediatizada
– tende a aumentar nos idosos (Ferreira, 2005). Constata-se ainda que os idosos com uma
vivência verdadeira de fé e que acreditem na vida depois da morte veem na religião um
sustentável apoio no último período da sua vida e na forma de enfrentar as doenças nesta fase
terminal (Koenig, 1999).
De acordo com o European Social Survey (ESS1, s.d., citado por Rodrigues, 2010), 83%
da amostra portuguesa considera-se católica, 3% de outras religiões e 14% afirma não ter
religião. A assistência à missa semanal corresponde a 30% da amostra, prevalecendo a
assistência ocasional, 48%. Segundo European Value Survey de 1999, a prática de oração diária
é destacada por 33% de população, superada pelo somatório de oração semanal e ocasional,
71
51% (26, 25, respetivamente), e 17% nunca reza (Arroyo-Menéndez, 2007). Em comparação com
outros países católicos, apenas a Irlanda e a Polónia apresentam maiores taxas quer de
participação semanal na missa, quer de oração diária (Arroyo-Menéndez, 2007). Em Portugal,
a religiosidade é marcada, claramente, por uma elevada confiança na Igreja enquanto
instituição, uma crença num Deus bastante humanizado, no sentido que a Bíblia lhe dá, um
Deus cujo Homem foi criado à imagem e semelhança, pese ainda o facto de os portugueses
relacionarem a fé com aspetos mais mundanos e menos transcendentes (Arroyo-Menéndez,
2007).
4. Religiosidade e espiritualidade como estratégia de coping e
fatores de resiliência
Segundo Werner (1996), embora a Psicologia não tenha dado relevância à
espiritualidade nos seus campos de estudo, a pesquisa que se debruça sobre a resiliência tem
identificado a espiritualidade e a religiosidade como fatores promotores da mesma. Todavia,
alguns estudos demonstraram que a religião e a espiritualidade são semelhantes aos fatores de
proteção da resiliência (Kim & Esquivel, 2011). Conceitualmente, tem sido proposto que a
espiritualidade e a religiosidade podem facilitar a resiliência em quatro maneiras distintas: 1)
construir e manter as relações pessoais; 2) facilitar o acesso ao suporte social; 3) fortalecer os
valores morais; e 4) oferecer oportunidades para desenvolvimento e crescimento pessoal (Van
Dyke & Elias, 2007).
A dimensão espiritual/religiosa tem sido descrita como sendo relevante na atribuição de
significado ao sofrimento advindo de uma doença crónica e, também, como recurso de
esperança face às mudanças no estado de saúde provenientes do decorrer da idade
(Greenstreet, 2006). Os indivíduos passam por um processo de ajustamento ao longo da vida,
podendo este ser imprevisível e complexo (Avgoulas & Fanany, 2013), que exige que a pessoa
se adapte de forma diferente a vários estados (e.g., saúde), dependendo a eficácia da sua
adaptação das estratégias de coping adotadas. O papel da religião tem-se revelado
particularmente relevante como estratégia de coping individual para se lidar com os eventos
de vida, sendo a fé religiosa, frequentemente, apontada como uma importante fonte de
resiliência, com um papel vital no apoio a pessoas que experienciam uma crise (Pargament &
Cummings, 2010). Por seu turno, Yunes (2003) considera que a espiritualidade/religiosidade é
um dos processos principais da resiliência, onde esta é vista como uma oportunidade importante
para o crescimento e descoberta interior, ao longo de todo o curso de desenvolvimento.
Lago-Rizzardi, Teixeira e Siqueira (2010) consideram que a religiosidade aparece como
primeira ou segunda estratégia de coping em condições de dor, sendo evidenciados resultados
fisiológicos significativos como diminuição da pressão arterial sistólica e da frequência cardíaca
e respiratória. Os autores referem, também, que com as atividades religiosas, a ativação do
72
córtex pré-frontal aumenta significativamente ocorrendo um aumento dos mediadores
envolvidos na dor, como GABA, serotonina e dopamina. Assim, a religiosidade tem sido
apresentada como fator relevante na promoção de qualidade de vida para o idoso, pelo que a
sua relação com a saúde, bem-estar e resiliência tem sido comprovada (Sommerhalder &
Goldstein, 2006).
4.1. Coping Resiliente: religiosidade/espiritualidade como fator
promotor
As crenças espirituais/religiosas podem constituir fatores de proteção em momentos de
stress, uma vez que estas se encontram associadas a melhores habilidades para lidar com
eventos stressantes, melhor bem-estar psicológico, assim como resiliência, procurando dar
sentido às experiências de vida e entender a causa dos acontecimentos stressantes (Hood, Hill
& Spilka, 2009). Ao longo do processo de envelhecimento, um self resiliente além de não se
adaptar, apenas, às perdas, desenvolve e fortalece novas oportunidades de crescimento
(Carstensen & Freund, 1999), podendo a religiosidade e espiritualidade constituir um
mecanismo de fortalecimento e resistência. Assim, o indivíduo que vê a religião como uma
parte imprescindível à sua vida, usá-la-á no seu processo de coping resiliente, pois o contexto
do evento influencia as perceções e as suas atribuições. Becker e Newsom (2005) ao afirmarem
que a resiliência se manifesta de variadas formas nas diversas culturas, exemplificam esta
questão fazendo alusão ao uso do coping religioso e instrumental como forma de lidar de modo
adaptativo com contextos adversos, pelo que a avaliação da resiliência deve ter em
consideração a idiossincrasia de cada indivíduo e o seu universo cultural e geracional.
Numa perspetiva adaptativa, para Taranu (2011), as atribuições religiosas estão
associadas a eventos stressantes, e estes, em última instância, promovem o crescimento
pessoal, através de atitudes resilientes. Segundo Walsh (2007), vários estudos apuraram um
crescimento individual após um acontecimento traumático positivo em cinco dimensões: i)
surgimento de novas oportunidades; ii) relações estreitas e compassivas com os outros; iii)
sentimento de confiança perante o futuro; iv) reorganização das prioridades e plena apreciação
da vida; e v) aprofundamento da espiritualidade. Jimenez-Ambriz (2011a) afirma que, em
variados trabalhos de campo, foi sugerido que a adaptação positiva a situações de risco
(resiliência) era proveniente de fatores externos à pessoa, nomeadamente a família,
caraterísticas ambientais ou os contextos sociais e culturais, do qual faz parte o meio religioso.
Segundo Tavares (2002), “o conceito de resiliência evoluiu do concreto para o abstrato,
das realidades materiais, físicas e biológicas para as realidades imateriais ou espirituais” (p.
45). Ou seja, é atribuída ao indivíduo a responsabilidade de criar formas para fortalecer e
desenvolver a capacidade de ser resiliente, através, também, de atividades
religiosas/espirituais (Chequini, 2007). Assim, segundo Walsh (2007), a espiritualidade
evidencia a existência de potenciais forças escondidas no Homem, que o envelhecimento faz
73
despoletar. A investigação sobre resiliência em idosos, desenvolvida por Silva e Alves (2007),
concluiu que a espiritualidade se revelou um forte indicador de resiliência na superação de
adversidades, bem como na capacidade de encontrar significado na vida a partir da fé religiosa.
Apesar de, atualmente, a espiritualidade ser desvinculada das causas e da cura das
doenças no quadro clínico científico, para quem a experiencia como um processo dinâmico e
pessoal, pode constituir um importante mecanismo de coping resiliente. Assim sendo, tem-se
assistido à alteração de paradigma no sentido em que se começa a dar maior importância à
espiritualidade do indivíduo, sobretudo, no que diz respeito à compreensão de como as crenças
interferem ao nível da saúde e da aprendizagem de estratégias resilientes (Pinto & Pais-Ribeiro,
2007). Na cultura ocidental, segundo Adrião (2013), podem ser destacados, como exemplo da
vivência da espiritualidade/religiosidade como fator de equilíbrio, os estágios de luto, onde o
indivíduo almeja repercussões de melhor resiliência e bem-estar subjetivo.
Um indivíduo resiliente é aquele que, face à exposição a fatores de risco, tem a
capacidade de sobrepor à adversidade os fatores de proteção, pelo que, segundo Masten (2001),
a resiliência sofre influência da espiritualidade/religiosidade, dentro do contexto sociocultural
onde esse indivíduo se insere. Simão e Saldanha (2012) afirmam que a espiritualidade se torna
numa ponte para o ser humano, quando ocorre uma crise na sua vida, onde ser
religioso/espiritual passa a ser uma ótima estratégia de adaptação com consequências positivas
ao nível da estruturação da resiliência. Os mesmos autores afirmam que, por meio da
espiritualidade como fator promotor de resiliência psicológica, os indivíduos através da fé
religiosa têm uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas formas de adaptação e
recursos internos de superação, sobretudo, a população idosa.
Na perspetiva da Psicologia da Religião, o coping consiste numa procura de significado,
quando ocorridas situações de stress, culminando num processo através do qual o sujeito
procura entender e lidar com os desafios (Stroppa & Almeida, 2008), assumindo este um papel
central na relação entre a religiosidade e a saúde.
A ativação de estratégias de coping pressupõe que: 1) a avaliação que indivíduo faz do
evento/experiência seja stressante; 2) a interpretação do indivíduo é influenciada pela cultura,
que modela a avaliação da situação (Santos, Giacomin, Pereira & Firmo, 2013). A religiosidade
influencia os mecanismos de coping e, comummente, permite ao individuo manter uma visão
positiva e de satisfação com a vida (Serra, Watson, Sinclair & Kneale, 2011). Algumas pesquisas
demonstraram que, durante o processo de envelhecimento, existem alegrias, tristezas e
perdas, sendo que as estratégias utilizadas para lidar com estes eventos dependem das
experiências prévias, da idade e da cultura e, também, do grau de espiritualidade/religiosidade
do sujeito (Zenevicz, Yukio, & Madureira, 2012).
4.1.1. Coping Religioso
O coping religioso, por sua vez, é o processo pelo qual o indivíduo aprende a lidar com
importantes desafios pessoais ou situacionais da sua vida, através das suas
74
crenças/comportamentos religiosos (Santos, Giacomin, Pereira & Firmo, 2013). As estratégias
de coping religioso podem ser classificadas como positivas e negativas. Entende-se por coping
positivo, as estratégias religiosas que conduzem a resultados benéficos, tais como procurar o
amor e proteção em Deus ou reavaliar o agente stressor como potencialmente benéfico. Por
outro lado, quando os efeitos são prejudiciais, o coping religioso define-se como negativo, são
exemplo disso o expressar descontentamento relativamente a Deus ou reavaliar o agente
stressor como uma punição de Deus. A Tabela 1 elucida acerca de alguns exemplos do coping
positivo e negativo.
Tabela 1 – Estratégias de Coping Religioso (Pargament, Tarakeshwar, Ellison & Wulff, 2001).
Foram propostos por Pargament (1997) quatro estilos de coping religioso: 1)
autodirigido; 2) delegação; 3) colaboração; e 4) súplica, como é demonstrado na Tabela 2.
Tendo por base os objetivos da religião, o coping religioso pressupõe: a procura de significado,
o controlo, o conforto espiritual, a procura de intimidade com Deus e outros membros da
sociedade, a transformação/aceitação da vida e o bem-estar físico, psicológico e emocional
(Tarakeshwar & Pargament, 2001).
Estratégias Positivas Descrição
Reavaliação religiosa benevolente Redefinir o stressor através da religião como
potencialmente benéfico.
Coping religioso de colaboração Tentar controlar e resolver os problemas em
parceria com Deus.
Foco religioso Procurar o alívio da situação stressante focando-
se na religião.
Perdão religioso
Apoio Espiritual
Procurar ajuda na religião para mudar os
sentimentos de raiva, mágoa ou medo.
Procurar conforto e renovação de confiança
através do amor e cuidado de Deus.
Estratégias Negativas Descrição
Reavaliação de Deus como punitivo Considerar o stressor como forma de punição
divina para os pecados individuais.
Reavaliação dos poderes de Deus Redefinir os poderes de Deus para influenciar a
situação stressante.
Coping religioso de delegação Esperar passivamente que Deus resolva os
problemas.
Descontentamento religioso
interpessoal
Expressão de confusão e descontentamento com
os membros da instituição religiosa.
Intervenção divina Suplicar por intervenção divina direta.
75
Tabela 2 – Características dos estilos de Coping Religioso (Pargament et al., 2001).
Estilo Descrição
Autodirigido (self-directing) O indivíduo considera-se responsável pela
resolução dos problemas; Deus tem um papel
passivo; Assenta na perspetiva de que Deus dá ao
indivíduo a liberdade e os recursos para dirigir a
sua própria vida.
Delegação (deferring) Atribui-se a Deus a responsabilidade de resolução
dos problemas; indivíduo tem um papel passivo.
Colaboração (collaborative) Corresponsabilidade entre Deus e o indivíduo na
resolução dos problemas; O indivíduo e Deus
“trabalham” em parceria no processo de coping.
Súplica (pleading ou petitionary) Tentativa de influenciar a vontade de Deus,
através de petições por intervenção divina.
76
Anexo 2 - Extensão do Estudo Empírico
1. Formulação do problema
1.1. Objetivos do estudo
A extensão da componente empírica desta dissertação visa expor e descrever, de uma
forma contínua e detalhada, os objetivos e hipóteses do estudo e respetivos dados estatísticos
obtidos, sobretudo, aqueles que não tiveram lugar anteriormente. É apresentada uma
redundância deliberada, integrada com o que foi referido anteriormente, nomeadamente, no
artigo empírico, a fim de melhor complementar todas as componentes aqui implicadas.
A pertinência da temática, que visa o estudo da espiritualidade como potencial fator
de promoção de resiliência, resulta de duas questões: Será que o grau de espiritualidade está
relacionado com o grau de resiliência dos sujeitos? Haverá diferenças, a este nível, entre os
indivíduos em diferentes fases do ciclo vital?
Neste sentido, a resiliência pode ser descrita como uma caraterística idiossincrática
que, segundo Stephens, Breheny e Mansvelt (2014), se desenvolve ao longo do tempo, e é
considerada como uma adaptação bem-sucedida, às adversidades da vida, o que implica
flexibilidade mental, emocional e comportamental (APA, 2006). Enquanto constructo
psicológico, começou por ser estudada em relação à infância e adolescência. Posteriormente,
a resiliência foi analisada e discutida em relação à velhice, onde parece assumir algumas
especificidades. Em contrapartida, na idade adulta, os sujeitos são confrontados com
experiências que exigem reestruturações relacionais, apelando para uma tomada de
consciência, por exemplo, em relação aos sinais de envelhecimento (Fagulha, 2005).
Atualmente, constatamos que a investigação psicológica tem vindo a atribuir maior
importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo no que se refere à compreensão da forma
como as crenças interferem ao nível da aprendizagem de estratégias resilientes. A revisão da
literatura desta temática revela que a religiosidade e a espiritualidade podem estar associadas
a uma maior resiliência em condições stressantes, situações de perda e, sobretudo, na velhice.
Assim, partindo do pressuposto que a espiritualidade/religiosidade influencia a resiliência dos
indivíduos, através desta investigação pretende-se estudar as especificidades existentes entre
diferentes momentos do desenvolvimento, relativamente aos níveis de religiosidade e
resiliência.
77
1.2. Hipóteses
A base de sustentação para a formulação de hipóteses advém da revisão de estudos
anteriores, bem como dos principais objetivos propostos para este estudo. A formulação das
hipóteses do estudo é a que se segue:
H1: Existe diferença estatisticamente significativa no coping resiliente entre homens e
mulheres;
H2: Existe diferença estatisticamente significativa nas crenças entre homens e mulheres;
H3: Existe diferença estatisticamente significativa na Esperança/Otimismo entre homens e
mulheres;
H4: Existe diferença estatisticamente significativa no coping resiliente em função da idade.
H5: Existem diferenças estatisticamente significativas na espiritualidade em função da variável
idade:
H5a: Existem diferenças estatisticamente significativas nas crenças em função da
variável idade;
H5b: Existem diferenças estatisticamente significativas na esperança/otimismo em
função da variável idade;
H6: Existe associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e as crenças;
H7: Existe associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e
esperança/otimismo;
H8: Existe associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e a frequência em
locais de culto;
H9: Existe uma associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e a frequência
de oração;
H10: As crenças e a Esperança/Otimismo influenciam o coping resiliente:
H10a: As crenças influenciam o coping resiliente;
H10b: A Esperança/Otimismo influenciam o coping resiliente.
2. Método
Esta investigação tem por base um design cross-sectionl/transversal de natureza
correlacional, recorrendo a uma amostra por conveniência e a um tratamento quantitativo dos
dados. Este tipo de design envolve a abordagem a uma amostra de sujeitos apenas uma vez,
permitindo estabelecer comparações entre grupos e analisar relações entre variáveis. Um
estudo correlacional tem como objetivo avaliar/medir o grau de relação entre duas ou mais
variáveis, num determinado contexto, acabando por quantificar as relações. A principal
vantagem deste tipo de estudo é saber como se comporta uma determinada variável,
78
conhecendo o comportamento de outras variáveis relacionadas. Assim, os estudos quantitativos
tendem à recolha de dados numéricos que permitam testar hipóteses, centralizando as suas
análises em métodos estatísticos (Sampieri, Collado & Lucio, 2006).
2.1. Participantes
A amostra por conveniência é constituída por um total de 1310 indivíduos, com idades
compreendidas entre os 25 e os 97 anos, sendo que 589 dos inquiridos são de nacionalidade
portuguesa e 686 brasileira. No que diz respeito à variável idade, foram estabelecidos três
grupos de comparação, como é demonstrado na tabela 1. Apresentando uma divisão equitativa
quanto ao género, 44.7% dos participantes da amostra são homens e 55.3% mulheres.
Relativamente ao nível de escolaridade, 76.8% apresenta um nível de escolaridade superior,
seguidamente, a segunda maior fatia (9.5%) corresponde apresenta até 12 anos de escolaridade,
3.9% apresenta escolaridade até 9 anos, 1.4% até 6 anos e, por fim, 6% dos inquiridos
apresentam escolaridade até 4 anos. No que diz respeito ao estado civil, a amostra subdivide-
se em 2 grandes grupos, os casados (45.8%) e os solteiros (22.9%); os restantes, e numa
percentagem consideravelmente menor, situam-se os comprometidos afetivamente (6.0%), os
viúvos (6.3%) e os unidos de facto e os divorciados, com percentagens iguais (9.2%).
Por fim, no que concerne à filiação religiosa, 741 (56.6%) dos participantes diz ser
católico, porém, 27.9% da amostra não respondeu a esta questão; a restante amostra apresenta
valores residuais no que toca a outras filiações: 5.1% espíritas, 3.9% evangélicos, 3.2% outra
religião, 2.1% protestantes, .6 agnósticos e, por fim, .2% ateus.
Tabela 3 – Tabela de Frequências relativa à variável Idade.
2.2. Instrumentos
Após uma pesquisa ponderada e uma análise detalhada, foram apurados os
questionários que se revelaram adequados à recolha de informação, tendo em conta a
população alvo, relativa aos objetivos propostos, nomeadamente o questionário
sociodemográfico, a Escala breve de coping resiliente e a escala de espiritualidade em
contextos de saúde. Seguidamente, caraterizamos os referidos instrumentos.
Grupo Média Mediana Moda DP
Idade 1. 25 – 45 anos 34.234 34.000 28.000 5.937
2. 46 -65 anos 53.872 53.000 50.000 5.287
3. 66 – 97 anos 75.439 74.000 67.000 7.709
79
2.2.1. Questionário sociodemográfico
Este questionário foi elaborado com especial incidência na experiência religiosa dos
sujeitos, de modo a fornecer um quadro exaustivo das características da amostra. Composto
por respostas abertas e fechadas, este questionário inclui, maioritariamente, perguntas de cariz
sociodemográfico, tais como idade, escolaridade, nacionalidade, situação professional, etc..
2.2.2. Escala de Espiritualidade em contextos de saúde (Pinto &
Pais-Ribeiro, 2007)
Como medida de Espiritualidade/Religiosidade foi utilizada a Escala de Espiritualidade
em contextos de saúde (cf. Anexo 4) (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Esta escala contém cinco
itens que quantificam a concordância do indivíduo com questões relacionadas com a dimensão
da espiritualidade, sendo que as respostas podem variar entre o «Não concordo» (1), «Concordo
um pouco» (2), «Concordo bastante» (3) e «Plenamente de acordo» (4). Da análise fatorial
resultaram duas subescalas, uma constituída por dois itens (item 1 – As minhas crenças
espirituais/religiosas dão sentido à minha vida; item 2 – A minha fé e crenças dão-me forças
nos momentos difíceis) que se referem a uma dimensão vertical da espiritualidade, a que os
autores denominam como «Crenças» e outra constituída por três itens (item 3 – Vejo o futuro
com esperança; item 4 – Sinto que a minha vida mudou para melhor; item 5 – Aprendi a dar
valor às pequenas coisas da vida), referentes a uma dimensão horizontal da espiritualidade,
denominada «Esperança/Otimismo». A cotação de cada subescala é efetuada através da média
dos itens da mesma, sendo que quanto maior o valor obtido em cada item, maior a concordância
com a dimensão avaliada.
Tabela 4 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala de Espiritualidade.
Média DP Mediana Min. Máx.
CopR1 3.65 1.095 4.00 1 5
CopR2 3.56 1.068 4.00 1 5
CopR3 3.83 1.060 4.00 1 5
CopR4 3.60 1.120 4.00 1 5
Coping Resiliente 14.65 3.611 15.00 4 20
A consistência interna desta escala é de α= .800, o que é indicador de uma boa
consistência interna, comparativamente à escala original (a consistência interna desta escala
é de α= .74). No que concerne ao fator Crenças, obtivemos consistência de α= .94 e, o segundo
fator Esperança/Otimismo revelou uma consistência de α= .76. Ambos superiores aos valores
da escala original (α= .92 e α= .69, respetivamente) (cf. Tabela 5).
80
Tabela 5 – Cálculo da confiabilidade da Escala de Espiritualidade em contextos de saúde e respetiva
comparação com a Escala original.
2.2.3. Escala Breve de Coping Resiliente (Pais-Ribeiro & Morais,
2010)
A Escala Breve de Coping Resiliente (cf. Anexo 3) (Pais-Ribeiro & Morais, 2010) é um
instrumento que permite avaliar a resiliência como uma estratégia de coping, a qual foi
adaptada e validada para a população portuguesa, a partir da versão original Brief Resilient
Coping Scale (Sinclair & Wallston, 2003). Inicialmente, a escala incluía nove itens, entre os
quais foram selecionados os quatro que, segundo os autores, operacionalizam o construto de
coping resiliente, emergindo-se temáticas como o otimismo, a perseverança, a criatividade e o
crescimento positivo face às adversidades. Esta é uma escala de autorresposta, unidimensional,
composta por quatro itens, que visam descrever o padrão ativo de resolução de problemas, o
que, por sua vez, reflete o padrão de coping resiliente. A resposta aos itens é dada numa escala
ordinal, em formato de Likert, de cinco posições e sem cotação invertida: 5 – quase sempre, 4
– com muita frequência, 3 – muitas vezes, 2 – ocasionalmente, e 1 – quase nunca, cuja nota de
capacidade para lidar com o stress de forma adaptativa varia entre 4 e 20. Segundo os autores
da escala original, consideram-se com baixa resiliência os sujeitos com uma pontuação inferior
a 13 e com uma resiliência elevada os sujeitos cuja pontuação seja superior a 17 (Sinclair &
Wallston, 2003).
Cronbach’s Alpha
Escala original .74
Crenças .92
Esperança/Otimismo .69
Escala no estudo (n=1310) .80
Crenças .94
Esperança/Otimismo .76
81
Tabela 6 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala breve de Coping Resiliente.
Média DP Mediana Min. Máx.
Cren1 2.94 .967 3.00 1 4
Cren2 3.07 .951 3.00 1 4
EspOp1 3.22 .743 3.00 1 4
EspOp2 3.13 .815 3.00 1 4
EspOp3 3.45 .648 4.00 1 4
Crenças 3.01 .931 3.00 1 4
EspOp 3.25 .605 3.33 1 4
A consistência interna desta escala é de α= .85, o que reflete uma boa consistência
interna (Marôco & Garcia-Marques, 2006), comparativamente com a escala original (α= .68) e
com a escala adaptada para a população portuguesa (α= .53) (cf. Tabela 7).
Tabela 7 – Cálculo da confiabilidade da Escala breve de Coping Resiliente e respetiva comparação com as
escalas original e adaptada à população portuguesa.
2.3. Procedimentos
Primeiramente, iniciou-se a exploração do tema, no que diz respeito ao estado da arte,
desenvolvendo de seguida a questão de investigação e gerando hipóteses de investigação, bem
como o delineamento dos respetivos objetivos. A par deste processo, foram realizados dois
artigos, atualmente, submetidos para publicação, um dos quais de revisão da literatura e outro
empírico.
Este estudo insere-se na investigação “Saúde, bem-estar e felicidade, ao longo do ciclo
de vida PT/BR”, a qual tem como objetivo avaliar os níveis de saúde, bem-estar e felicidade
em portugueses e brasileiros, assim como avaliar outras áreas relacionadas. A recolha da
amostra foi efetuada no período de três meses (novembro de 2014 a fevereiro de 2015)
referindo-se a natureza do estudo e assegurando o anonimato e confidencialidade da
apresentação dos dados. As tarefas a realizar envolviam a forma dita “papel e lápis”, para os
indivíduos com mais de 65 anos e houve, igualmente, um questionário online para os restantes
indivíduos. O preenchimento dos questionários foi efetuado num momento único. Importa
ressalvar que a colaboração dos participantes foi voluntária, sendo que ao longo de todo o
Cronbach’s Alpha
Escala original (Sinclair & Wallson, 2003) .68
Escala adaptada à população portuguesa .53
Escala no estudo .85
82
estudo foram cumpridos os princípios éticos e deontológicos preconizados pela ordem dos
Psicólogos Portugueses para a investigação em Psicologia.
2.4. Análise Estatística
Os dados recolhidos foram analisados com recurso ao software SPSS (Statistical Package
for Social Sciences), bem como ao AMOS, ambos versão 22, com a finalidade de suportar a
investigação e os estudos efetuados. Procedeu-se, em primeiro lugar, ao cálculo das
frequências, média, desvio padrão, estatística descritiva para caracterização da amostra, no
que diz respeito aos dados sócio - demográficos, experiência religiosa e coping resiliente. Para
alcançar os objetivos do estudo foram realizados o teste t-student para comparar as diferenças
nas médias entre grupos e o teste Anova, a fim de testar diferenças nos grupos estabelecidos,
com base numa variável dependente, efetuaram-se correlações e testes de regressão e, por
fim, efetuou-se um modelo de equações estruturais, com o propósito de confirmar, na
globalidade, o impacto proficiente da espiritualidade, na papel das suas dimensões verticais e
horizontais ao nível do coping resiliente.
2.5. Resultados
Foi realizado um t-test (Independet Sample Test), de forma a comparar os resultados
na escala de coping resiliente e nas duas dimensões de espiritualidade (crenças e
esperança/otimismo) em relação ao género, tal como é demonstrado na Tabela 2.
Relativamente à variável Coping Resiliente, os homens (M=15.046, DP= 3.527) apresentam
valores médios de coping mais elevados do que as mulheres (M=14.332, DP= 3.638), alcançando-
se valores estatisticamente significativos t(df=1260.549)= 3.584, p≤ .05), sendo assim aceite a
Hipótese 1.
Seguidamente, no que diz respeito à dimensão Crenças, são as mulheres quem pontuam
valores maiores (M=3110, DP= .855), quando comparadas com os homens (M=2.872, DP= 1.002),
revelando-se resultados estatisticamente significativos t(df=1146.797)= -4.624, p≤ .05), sendo
aceite a Hipótese 2. Por fim, no que concerne à dimensão Esperança/Otimismo, são novamente
as mulheres que alcançam melhores médias (M=3.290, DP= .583), comparativamente aos
homens (M=3.229, DP= .630), porém, não se encontram resultados estatisticamente
significativos t(df=1201.005)= -1.818, p= .069), rejeitando-se, deste modo, a Hipótese 3.
83
Tabela 8 - Análise das diferenças entre o género e as variáveis Coping Resiliente, Crenças e
Esperança/Otimismo, através do teste t-student.
Na tabela abaixo, foi efetuada uma one-way betwwen-groups analysus of variance de
forma a analisar o impacto da idade nas escalas de Coping Resiliente e de Espiritualidade. Os
participantes foram divididos em três grupos de acordo com a sua idade (grupo 1: 25-45 anos;
grupo 2: 46-65 anos; grupo 3: 66-97 anos). Desta análise, foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas, a um nível de significância de p< .05, entre os grupos, em todas
as variáveis estudadas, respetivas às Hipóteses 4, 5a e 5b; no Coping resiliente (F(2; 1270)=
23.055 , p≤.05), na dimensão de espiritualidade Crenças (F(2; 1270)= 13.869 , p≤ .05) e, por
fim, para a dimensão Esperança/Otimismo (F(2; 1270)= 21.443, p≤ .05).
Tabela 9 – Resultados obtidos, através das estatísticas de teste Anova, da diferença entre grupos etários.
A partir de comparações post-hoc, através do teste Gabriel, pode inferir-se que existem
diferença significativas, na variável coping resiliente, entre todos os grupos (p≤ .05), sendo o
grupo 2 a alcançar pontuações médias mais elevadas (M=15.471; DP= 3.487). Relativamente à
dimensão Crenças, testes post-hoc Gabriel revelaram que existem diferenças estatisticamente
significativas entre o grupo 1 e o grupo 2 (p= .011) e o grupo 1 e o grupo 3 (p≤ .05), sendo aqui
Género Média Desvio Padrão T p
Coping Homem
Mulher
15.046
14.332
3.527
3.638
3.584 .000
Crenças Homem
Mulher
2.872
3.110
1.002
.855
-4.624 .000
Esperança/Otimismo Homem
Mulher
3.229
3.290
.630
.583
-1.818 .069
Idade M DP F p
Coping Resiliente 25 – 45 anos
46 – 65 anos
66 – 97 anos
14.549
15.471
13.445
3.509
3.487
3.693
23.055 .000
Crenças 25 – 45 anos
46 – 65 anos
66 – 97 anos
2.900
3.071
3.256
.570
.609
.657
13.869 .000
Esperança/Otimismo 25 – 45 anos
46 – 65 anos
66 – 97 anos
3.289
3.348
3.031
.580
.609
.657
21.443 .000
84
o grupo 3 a obter melhores pontuações (M= 3.256; DP= .753). Por fim, no que diz respeito à
dimensão Esperança/Otimismo, utilizando o mesmo teste post-hoc, encontramos diferenças
estatisticamente significativas entre o grupo 1 e o grupo 3 (p≤.05) e entre o grupo 2 e o grupo
3 (p≤.05), sendo agora o grupo de idade compreendida entre os 46 – 65 anos a obter melhores
médias (M=3.348; DP= .609).
Foram posteriormente efetuadas quatro correlações entre as duas dimensões de
espiritualidade (crenças e esperança/otimismo) e o coping resiliente e, posteriormente entre
o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de oração. A análise efetuada
com coeficiente de correlação de Pearson, entre o coping resiliente e a dimensão de
Espiritualidade “Crenças” indica uma correlação positiva, estatisticamente significativa e
classificada como fraca (r= .155; p˂ .01), como é indicado na tabela 4. É, desta forma apoiada,
a Hipótese 6.
Tabela 10 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as dimensões Crenças e
Esperança/Otimismo.
**p<.01 (2-tailed)
Porém, quando é realizado o mesmo teste entre o coping resiliente e a segunda dimensão da
Espiritualidade “Esperança/Otimismo” é indicada uma correlação positiva, estatisticamente
significativa e classificada como forte12 (r= .435; p˂ .01), corroborando a Hipótese 7.
12 De acordo com os valores propostos por Cohen: tamanho pequeno do efeito: r= .1 – .23; moderado: r= .24 – .36; grande: r= .37 ou superior (1988, citado por Pallant, 2011).
Coping Resiliente Crenças Esperança/Otimismo
Coping Resiliente - .155** .435**
Crenças .155** - .428**
Esperança/Otimismo .435** .428** -
85
Tabela 11 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as variáveis frequência de locais
de culto e frequência de oração.
**p< .01 (2-tailed)
A relação entre o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de
oração foi investigada utilizando o coeficiente de Pearson, rejeitando-se assim as Hipóteses 8
e 9.
Tabela 12 – Regressão das variáveis Coping resiliente, Crenças e Esperança/Otimismo.
R² = .191; R² ajustado = .190; F(p) = 154.126(p˂ .001)
Avaliando a capacidade de predição da espiritualidade no coping resiliente, a regressão
linear simples demonstra-nos que enquanto variável explicativa do coping, a espiritualidade
apresenta um valor estatisticamente significativo F=154.126 , p˂ .001. Ao nível do seu
coeficiente de regressão verifica-se que a espiritualidade se apresenta como um bom preditor
do coping resiliente, sendo estatisticamente significativo β= -.039 t= -1.412 , p˂ .001 para a
dimensão “Crenças” e β= .452 t= 16.418 , p˂ .001 para a dimensão Esperança/Otimismo,
suportando, deste modo, as Hipóteses H10a e H10b. Apesar de ser verificada significância
estatística ao nível da dimensão “Crenças” podemos, também, destacar um resultado disruptivo
ao esperado. O facto de se obter um resultado negativo nesta dimensão pode dever-se ao
número de itens que compõem este fator.
2.5.1. Análise de um Modelo de Equações Estruturais
A modelação de equações estruturais constitui um exemplo de uma técnica
multivariada complexa, que articula aspetos de regressão múltipla e da análise fatorial para
estimar uma série de relações, diretas e indiretas, de forma interativa e simultânea, sendo que
Coping
Resiliente
Frequência locais de culto Frequência Oração
Coping Resiliente - -.010 -.035
Frequência Locais de
culto
-.010 - .503**
Frequência de oração -.010 .503** -
Variável Critério Preditor B EPB β T
Coping Resiliente Crenças
Esperança/Otimismo
-.151
2.699
.107
.164
-.039
.452
- 1.412
16.418
86
é utilizada para testar a validade de modelos teóricos que definem relações hipotéticas e
padrões de associações, entre variáveis (Marôco, 2010).
As conclusões retiradas das análises de regressão e o referencial teórico desenvolvido,
na primeira parte desta pesquisa, estiveram na base da especificação e estimação de um
modelo de equações estruturais (cf. Figura 1), que assumiu o propósito de confirmar o impacto
da espiritualidade, no papel das suas dimensões verticais e horizontais, ao nível do coping
resiliente. A avaliação de um modelo com este cariz permitiu reforçar a conceção de que a
espiritualidade afeta, de forma direta, o desenvolvimento de estratégias resilientes,
reforçando o modelo anteriormente estudado, testando as variáveis em simultâneo.
A partir da revisão da literatura são (re)formuladas as seguintes hipóteses de relação
entre variáveis:
H10a: Existe uma relação significativa e positiva entre a variável Crenças e a variável
coping resiliente.
H10b: Existe uma relação significativa e positiva entre a variável Esperança/Otimismo e
a variável coping resiliente.
Figura 1 - Diagrama de caminhos (Path Diagram) do modelo estimado.
Após a especificação e estimação do modelo, a sua adequação foi avaliada em função
de diferentes índices de ajustamento13 disponíveis na literatura e calculados a partir do
programa estatístico adotado (Amos Graphics 22), sendo estes: a) ² - indicador que avalia a
qualidade do ajustamento do modelo. Assim, valores iguais a 1 revelam um ajustamento
perfeito, valores inferiores a 2 suportam um bom ajustamento bom, inferiores a 5 o
13 Índices de ajustamento absoluto; Índices de ajustamento relativo; Índices de ajustamento de parcimónia; Índices de ajustamento de discrepância populacional; e Índices de ajustamento baseados na teoria da informação (Marôco, 2010).
87
ajustamento é considerado aceitável e, por fim, valores superiores a 5 revelam ajustamento
inaceitável; b) GFI (Goodness-of-Fit Index), criado como alternativa ao ², explica a proporção
da covariância observada entre as variáveis manifestas, explicada pelo modelo ajustado.
Valores inferiores a .9 indicam um mau ajustamento, valores entre .9 e .95 sustentam um bom
ajustamento e para um ajustamento muito bom teremos de alcançar valores superiores a .95;
c) CFI (Comparative Fit Index) compara o ajustamento do modelo e corrige a subestimação que
ocorre (geralmente, quando se usa o NFI com amostras pequenas); valores inferiores a .9
indicam mau ajustamento, valores entre .9 e .95 são indicadores de um bom ajustamento e
valores superiores ou iguais a .95 suportam um modelo com muito bom ajustamento; d) TLI
(Tucker-Lewis coeficiente) é considerado um indicador global de adequação do modelo; os
valores variam entre 0 e 1, mas não estão limitados a este intervalo, sendo que valores próximos
de 1 indicam um ajustamento muito bom; e e) RMSEA (Root-Mean-Square Error of
Approximation) estima o erro de aproximação ou a discrepância existente no ajustamento do
modelo hipotético à matriz de covariância populacional. Estes residuais ajustados, idealmente,
deverão ser próximos de zero, indiciando um bom ajustamento do modelo aos dados. Um
ajustamento menor do que .05 indica um ajustamento perfeito, quando menor do que .08 um
ajustamento aceitável. No nosso modelo o RMSEA surge com o valor de .050 que não sendo
perfeito entra no intervalo aceitável.
Sumariamente, a partir dos resultados obtidos (cf. Tabela 13) parece plausível um
modelo de associação entre o Coping Resiliente e a espiritualidade, nomeadamente, na sua
dimensão horizontal.
Tabela 13 - Índices de ajustamento do modelo estrutural base estimado.
*p<.001
O modelo base estimado revelou validade e um ajustamento adequado: ²(24 g.l.) =
102.205, ²/df = 4.26, IFI = .983, TLI = .979, CFI = .986, RMSEA = .050. Todavia, a dimensão
vertical da espiritualidade revelou valores negativos de loading fatorial, contrariamente ao que
é retirado da literatura e dos resultados esperados. Segundo a literatura, os fatores que
constituem uma escala devem ser compostos por três itens. É referido que uma escala
composta, apenas, por um fator deve ser constituída, no mínimo, por quatro itens; aquelas que
são constituídas por mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois itens por fator –
devendo ser encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004). Tal fato pode ser explicativo
dos resultados obtidos neste estudo, que fogem à expetativa inicial, uma vez que as nossas
escalas são de tamanho reduzido e, por conseguinte, os seus fatores são constituídos por poucos
itens.
Modelo ²* df GFI TLI CFI RMSEA*
Modelo estrutural base estimado 102.205 24
.983 .979 .986 .050
88
A partir dos valores das estimativas estandardizadas na solução final do modelo base
podemos fazer algumas considerações relativamente aos efeitos e sua magnitude. A magnitude
do efeito consiste numa medida da força do relacionamento entre duas variáveis. Na verdade,
revela-se importante saber não somente se uma determinada associação apresenta significância
estatística, mas, também, no caso em que tal se verifica, qual o tamanho e a magnitude dos
efeitos14. Cohen (1988) faculta intervalos de interpretação da magnitude dos efeitos para as
ciências sociais, nomeadamente: tamanho pequeno do efeito: r = .1 - .23; moderado: r = .24 -
.36; grande: r = .37 ou superior.
Aplicando esta grelha de análise às relações estatisticamente significativas podemos
considerar que relativamente à dimensão Crenças, esta não apresenta um impacto esperado
significativo, de baixa magnitude na variável coping resiliente, sendo que os resultados
alcançados apontam num sentido contrário ao hipotetizado. A associação entre a dimensão
esperança/otimismo e a variável coping resiliente permite apreender um impacto mais forte,
podendo considerar-se no intervalo de grande magnitude, indo os resultados ao encontro do
hipotetizado (cf. Tabela 14).
14 A adequação das relações não é indicativa de relações causais, mas, antes, de uma associação preditiva ou de determinação.
89
Tabela 14 - Estimativas estandardizadas da solução final do modelo base.
Em termos individuais, todos os indicadores apresentam valores de loading fatorial
superior ao ponto de corte .50 e, em oito variáveis, superiores a .70 (Hair et al., 2010).
2.6. Discussão dos resultados
Em concordância com os resultados obtidos nesta pesquisa, Nygren, Aléx, Josén,
Gustafson, Norberg e Lundman (2005) e Connor e Davidson (2003) encontraram diferenças no
género, relativamente ao coping resiliente, sendo as mulheres que alcançam maiores
pontuações – o que se contrapõe com o presente estudo. Porém Wagnild e Young (1993),
aquando da construção da Escala de Avaliação da Resiliência aferiram que não existem
diferenças entre homens e mulheres, no que diz respeito a esta variável. No entanto, Sinclair
e Wallston (2004) ao desenvolverem a Brief Resilient Coping Scale – que esteve na base da
Critério Preditor Estimativas Estandardizadas
CopRes <--- Crenças -.133
CopRes <--- EspOpt .607
Cren1 <--- Crenças .943
Cren2 <--- Crenças .936
Esp/Opt1 <--- EspOpt .754
EspOpt2 <--- EspOpt .748
EspOpt3 <--- EspOpt .647
CopRes1 <--- CopRes
.773
CopRes2 <--- CopRes
.738
CopRes3 <--- CopRes
.787
CopRes4 <--- CopRes
.770
90
construção da escala usada neste estudo – afirmam que são os traços de personalidade e o meio
onde se inserem os indivíduos que determinam o processo de coping resiliente.
No estudo de Pinto e Pais-Ribeiro (2009) é encontrada consonância com os resultados
obtidos, relativamente às dimensões da espiritualidade aqui abordadas. Estes autores,
inferiram que, quanto ao género, a espiritualidade assume um valor superior para as mulheres,
quer na dimensão das crenças, como na da esperança/otimismo, revelando-se haver diferenças
estatisticamente significativas entre homens e mulheres. Também Simpson, Cloud, Newman,
Fuqua (2008), Bryant (2007) e Maselk e Kubzansky (2006), nas suas investigações encontraram
resultados que corroboram a existência de diferenças significativas, ao nível da espiritualidade,
entre homens e mulheres.
Contrariamente aos resultados encontrados neste estudo, a pesquisa de Connor e
Davidson (2003) evidenciou não haver diferenças estatisticamente significativas entre o coping
resiliente e a variável idade. Apesar das diferenças obtidas, e ao contrário do que diz a
literatura, não foi o grupo com idade mais avançada que revelou maior resiliência. Estudos
como o de Laranjeira (2007) referem que são os idosos os mais resilientes, comparativamente
com outras faixas etárias.
No que concerne às dimensões da espiritualidade, Baker e Nussbaum (1997), no seu
estudo com idosos, referem que os indivíduos mais velhos possuem mais espiritualidade àquela
data do que quando tinham 45 anos, o que corrobora os resultados aferidos nesta pesquisa.
Vittorino e Viana (2012), concluíram que o grupo mais velho da amostra apresentava atitudes
e comportamentos religiosos mais significativos do que os mais novos. Do mesmo modo, Pinto
e Pais-Ribeiro (2009) salientam na sua investigação que as pessoas mais velhas da sua amostra
apresentaram médias superiores em relac a o a s crenc as, pelo que se pode inferir que utilizam
mais frequentemente esses recursos.
Ao contrário das premissas presentes na literatura, que nos dizem que a resiliência é
influenciada pela espiritualidade/religiosidade (Masten, 2001), relativamente à relação causal
entre o coping resiliente e à dimensão vertical da espiritualidade, constatou-se que esta relação
não se verifica de maneira tão acentuada. Neste sentido, quanto maior o coping resiliente dos
indivíduos, menor serão as suas crenças. Por outro lado, quando se trata da variável relativa à
dimensão horizontal da espiritualidade (Esperança/Otimismo), verifica-se uma relação forte.
Tal vai ao encontro das pesquisas de Sommerhalder (2010), que considera existir uma clara
ascendência do nível de espiritualidade na meia-idade, uma vez que o seu desenvolvimento
requer autonomia pessoal e consciência do relativismo contextual que, consequentemente,
influenciará o seu sentido de vida.
Em dissonância com o presente estudo, está a pesquisa de Scoralick-Lempke e Barbosa
(2012), onde a participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto) se mostrou
fundamental para um melhor desenvolvimento de estratégias resilientes.
Os resultados deste estudo demonstraram, ainda, que a espiritualidade tem um efeito
positivo e significativo sobre o coping resiliente. Autores como Simão e Saldanha (2012)
consideram que, através da espiritualidade, como fator promotor de resiliência psicológica, os
91
indivíduos adotam uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas formas de adaptação e
recursos internos de superação, sobretudo. Todavia, a partir da análise dos resultados,
deparámo-nos que a capacidade de predição da espiritualidade, ao nível das Crenças, no coping
resiliente, apresenta valores negativos. Tal pode estar relacionado, por um lado, com uma
limitação do estudo, que se prende ao número de itens que cada fator deve conter e, por outro
lado, significar que as crenças religiosas podem não ter um peso tão determinante ao nível da
resiliência dos indivíduos, ao contrário do referido na literatura e dos resultados esperados.
Por conseguinte, a partir dos dados obtidos da análise do modelo estrutural pode concluir-se
que a espiritualidade, na sua dimensão Esperança/Otimismo, constitui, nesta amostra, um
preditor moderado do coping resiliente.
92
Considerações Finais
O último ponto do culminar do desdobramento explicativo desta dissertação, destinado
às considerações e reflexões finais, é composto por uma síntese do conjunto de dados, teóricos
e práticos, que a sustentam, onde se procura refletir sobre os contributos da pesquisa teórica
e empírica levada a cabo, respetivos limites e diretrizes para futuros estudos complementares.
A partir de uma revisão da literatura, presente no artigo teórico, do primeiro capítulo,
e desenvolvida de forma detalhada na primeira parte dos Anexos, delimitámos as temáticas
centrais em estudo, conferindo-lhes um enquadramento teórico-conceptual.
Subsequentemente, no Anexo 2, foi enquadrada e apresentada a extensão do estudo empírico,
contido no segundo capítulo desta dissertação, o qual visou testar e comprovar, de forma
detalhada, os objetivos e hipóteses propostos à investigação.
Com base na revisão da literatura levada a cabo na presente dissertação, é sugerido
que a espiritualidade e a religiosidade podem funcionar como mediadores para o indivíduo em
momentos stressantes, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma estratégia de adaptação
com ganhos ao nível da estruturação da resiliência. De igual modo, vários autores referem que
é na velhice onde se constata o aumento da perceção da importância da religião. Porém, no
nosso estudo foi o grupo da meia idade que revelou dar mais importância a este fator. Tal
resultado pode remeter a duas questões: a primeira diz respeito a uma limitação do estudo,
que se prende com o facto de o número de indivíduos em cada grupo ser diferente, sendo por
isso importante, futuramente, para fins comparativos, estudar uma amostra equitativa; e, por
outro lado, importa dar atenção à dimensão horizontal da espiritualidade, que diz respeito à
forma como as pessoas dão sentido à sua vida. Assim, tendo em conta que os adultos na
chamada “meia idade” são confrontados com experiências que exigem reestruturações
relacionais, são vários os fatores que influenciam a perceção de sentido de vida e esperança no
futuro, onde se destaca a espiritualidade. De forma a sustentar esta ideia, como vimos, Erikson
e Jung consideram que a espiritualidade está ligada ao processo maturacional e às experiências
associadas à idade adulta (Barros, 2000), assim como Polk (1997) que identifica um padrão
fisiológico que incorpora atributos à resiliência, como as crenças pessoais, as quais promovem
um sentimento de pertença e uma melhor perspetiva de vida.
Uma outra ideia que daqui pode ser retirada menciona que a resiliência incorpora as
idiossincrasias de cada individuo, as quais lhes permitem ultrapassar, positivamente, as
adversidades (Connor & Davidson, 2003). Estes autores referem que as investigações sobre a
temática, nos últimos 20 anos, têm demonstrado que a resiliência é uma característica
multidimensional, que varia de acordo com contexto, tempo, idade, género e origem cultural.
O nosso estudo revelou ir ao encontro destes dados, uma vez que foram encontradas diferenças
consideradas estatisticamente significativas, relativamente ao género e à idade.
Se por um lado estudos apontam que, à medida que a idade avança, há indicadores de
que as crenças e a fé ocupam um lugar mais central na vida das pessoas, por outro, o aumento
93
da perceção da religiosidade não está, nesta faixa etária, diretamente relacionado com
elevados níveis de resiliência. Assim, podemos inferir que a espiritualidade e a religiosidade
parecem não ter o mesmo peso como fator explicativo da resiliência na adultez e velhice. Tal
pode estar relacionado com os fatores que influenciam a perceção de sentido da vida, na idade
adulta, por um lado: os fatores internos relacionados com a personalidade e sentimento de
pertença; e, por outro, os fatores externos, que se relacionam com as oportunidades sociais,
trabalho, lazer e segurança. Já para os indivíduos idosos os padrões de resiliência, que levam
a um envelhecimento com êxito, são mantidos através da interação de vários fatores, como
relações pessoais próximas com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e de
caráter cultural e religioso, sendo que veem na religião um suporte fundamental no último
período da sua vida e na forma de enfrentar as adversidades nesta fase terminal.
Outro aspeto importante a realçar reside no fato de, apesar de as pessoas mais velhas
poderem frequentar menos os locais de culto e participar menos em rituais religiosos, devido
ao declínio da sua funcionalidade, a espiritualidade e a religiosidade continuam a ser uma
dimensão relevante, pois, o referido não significa que ocorra uma diminuição do interesse na
religião. Constata-se, inclusivamente, que a atividade não organizacional religiosa – igreja
eletrónica ou mediatizada – tende a aumentar neste grupo de sujeitos, assim como a atividade
de oração/meditação.
No que diz respeito à investigação efetuada surgiram algumas limitações, que podem e
devem ser colmatadas em estudos futuros. Assim sendo, começamos por destacar a escassez
de estudos, em Portugal, acerca da temática em questão, sobretudo, no que diz respeito à
associação entre a espiritualidade e a religiosidade com o coping resiliente. Tal como foi
referido acima, futuramente seria importante reunir uma amostra equitativa nos grupos de
comparação, de forma a ter resultados generalizáveis. Ainda nesta linha de pensamento, outra
limitação a ser apontada pode ser a utilização de uma abordagem transversal. Para a obtenção
de melhores resultados, poderia ser de interesse adotar uma abordagem longitudinal,
permitindo a análise das variações das características de uma mesma amostra. Uma outra
limitação que pode ser apontada reside no fato de as escalas em uso possuírem poucos itens.
Autores como Coelho e Esteves (2007) argumentam que escalas com poucos itens podem não
fornecer uma boa discriminação das respostas (limitando a habilidade de encontrar diferenças
significantes entre segmentos), o que limita o método de análise dos dados. Porém, a escolha
deste tipo de escalas fundamenta-se no facto de serem escalas simples e pequenas, sem
redundâncias e de fácil utilização, o que vem facilitar a sua aplicação, sobretudo, a pessoas
idosas. Sendo estas escalas constituídas por poucos itens, inevitavelmente, terão fatores com
poucos itens. Idealmente, cada fator deve ser constituído por três itens. A literatura refere que
uma escala composta, apenas, por um fator deve possuir, no minímo, quatro itens; e, aquelas
que são constituidas por mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois itens por fator
– devendo ser encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004).
Como potencialidades desta investigação podemos destacar o número de participantes.
Uma amostra com estas dimensões permite uma representação honesta da população,
94
conduzindo-nos à estimação das caraterísticas da população com grande precisão. Este estudo
permitiu, ainda, compreender o papel que a espiritualidade e a religiosidade podem
desempenhar ao nível da resiliência psicológica dos indivíduos, em dois momentos diferentes
do ciclo vital.
Em suma, este estudo ao avaliar o impacto da espiritualidade e da religiosidade no
coping resiliente, na idade adulta e na velhice, pode representar um contributo fundamental
para o conhecimento dos fatores relacionados com a resiliência psicológica e,
consequentemente, permitir a compreensão dos possíveis processos inerentes a um
envelhecimento ativo e com êxito. Assim, investigações futuras deverão suplantar as limitações
desta investigação e considerar as singularidades da amostra em estudo, pelo fato de ser
integrada uma população mais idosa, pelas suas idiossincrasias e características da fase do ciclo
de vida em que se encontra.
95
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102
Anexo 3
Escala breve de Coping Resiliente
(Pais Ribeiro & Morais, 2010)
Nas perguntas seguintes, indique a frequência com que percebe a sua capacidade para lidar
com a adversidade de uma forma adaptativa.
Quase
nunca
Ocasional
mente
Muitas
vezes
Com muita
frequência
Quase
sempre
Procuro formas criativas de
superar situações dificeis.
Independentemente do que me
possa acontecer, acredito que
posso controlar as minhas
reações.
Acredito que posso crescer
positivamente lidando com
situações difíceis.
Procuro ativamente formas de
substituir as perdas que
encontro na vida.
103
Anexo 4
Escala de Espiritualidade em contextos de saúde
(Pinto & Pais-Ribeiro, 2007)
As questões a seguir centram-se na dimensãoo espiritual, particularmente na atribuiçãoo de
sentido/significado da vida.
Discordo
totalmente
Discordo Concordo Concordo
totalmente
As minhas crenças espirituais/religiosas
dão sentido à minha vida.
A minha fé e crenças dão-me forças nos
momentos difíceis.
Vejo o futuro com esperança.
Sinto que a minha vida mudou para
melhor.
Aprendi a dar valor às pequenas coisas
da vida.