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Remy, a irmã gêmea de Megan, morreu em um acidente há nove
anos, e desde então ela vem sendo assombrada. Sabendo que soaria como
loucura, Megan guarda este segredo para si, tentando levar uma vida
normal. Quando ela aceita um emprego de verão na Terra Encantada para
ficar de olho em seu novo namorado e em sua melhor amiga apaixonada,
Samantha, ela conhece Luke, um colega de trabalho que também pode ver
Remy. As coisas se complicam quando Ari, a nova amiga de Megan, se
apaixona por Luke, e ele parece estar apaixonado por Megan... Formando um
triângulo amoroso.
Megan quer distância de Luke, mas quando Remy começa a ter visões
violentas, Megan sabe que precisa da ajuda dele. Porque alguém está
definitivamente em perigo... A pergunta é, quem?
— Helena — O grande espelho da parede chamou a leste —
venha, eu tenho algo de extrema importância para mostrar a você.
Helena ajustou a coroa na cabeça e zombou. — Realmente não
acho que preciso ver outro anão maldito morrer de pena no caixão de
vidro.
— Não é isso... — O espelho brilhou vermelho com
impaciência. — Venha e veja — Helena ignorou o pedido do espelho
e continuou a olhar para fora nos prados que tinha mudado de
marrom seco a verde exuberante, aparentemente da noite ao
amanhecer.
— Espelho, você sabia que a menina gostava de correr pela
grama nova da primavera? — Ela revirou os olhos. — Com os
pássaros cantando loucamente atrás dela — Helena pensava que era
por essa mesma janela que ela sentiu as dores da primeira inveja... De
ódio.
Não, não através da janela, ela decidiu, através do Espelho.
Puxou a pele de raposa mais apertada sobre o peito para se proteger
contra a brisa fresca.
— Minha rainha — implorou o espelho, na esperança de que
um tom mais formal fosse a apaziguar — Você deve ver por si
mesma, por que... — uma pausa. O espelho queria atrair Helena ao
vidro e surpreendê-la. Sentiu um grande prazer ao ver a cara de
Helena se contorcer com choque, mas ao longo dos últimos meses,
enquanto Branca de Neve tinha mantido a sua beleza no caixão,
Helena tinha afundado em uma depressão profunda, o espelho
raramente poderia seduzi-la a olhar para ele. Mas o espelho sabia que
Branca de Neve fora resgatada por um príncipe, não menos, e
surpresa ou não, Helena ficaria devastada com a notícia.
— Ela vive — sussurrou o espelho.
Helena inspirou e apertou os olhos bem fechados. Ela sabia
que esse dia chegaria. A garota simplesmente não iria morrer.
— Então, ela vive — disse Helena enquanto uma palpitação
aguda começava em seu peito. — Você parece surpreso — levantou
do assento da janela e se aproximou do espelho. Ela olhou para seu
reflexo e arrancou um fio de cabelo branco entre os negros.
O espelho brilhava, moldando a imagem de Helena em uma
luz amarela.
— Bem, comece com ela — disse — Mostre a menina, a não ser
que você não tenha acabado de me atormentar com minha aparência
enfraquecida.
— Ela vive e ela vai se casar em breve — declarou o espelho
sem rodeios. — Os preparativos já estão prontos, e uma carta está a
caminho com um convite.
Um castelo animado com as atividades do casamento apareceu
no vidro. Helena assistiu a pessoas trazendo cargas de hera e flores
para ornamentar os arranjos florais. Branca de Neve pulou à vista,
pegou um ramo de urze1 de uma das empregadas, e o levantou
enquanto ela dançava por eles em um pátio aberto.
Helena balançou a cabeça e se virou do espelho. Ela descansou
a mão no parapeito de mármore frio. — Ficarei encantada em
participar do casamento da Branca de Neve — disse ela. — E sei qual
é o presente perfeito. — Ela caminhou de volta para a parede e
passou os dedos ao longo da armação dourada do espelho. — Você
pertencerá à Branca de Neve.
— Minha Rainha, eu pertenço a ti! — O espelho protestou.
Helena teve um vislumbre rápido da criatura que vivia dentro
do espelho antes de seu próprio reflexo reaparecer. Ela estremeceu,
sabendo que o nariz, ligado a olhos cheios de fumaça, provavelmente
a visitaria em um pesadelo esta noite.
— Bem — disse Helena ao espelho, — sei o quanto você
desfruta do seu poder sobre mim, mas você não precisa se preocupar.
Não tenho dúvidas de que Branca de Neve vai sucumbir aos seus
encantos tão facilmente como eu fiz — ela sorriu. — Sinceramente
neste momento, a perspectiva de corromper a alma dela é muito mais
atraente do que vê-la morta.
O espelho não disse nada. Já estava imaginando o que traria
Branca de Neve para sua influência. Talvez o conhecimento de que o
príncipe tenha sido íntimo de muitas empregadas do castelo, algumas
das quais neste momento costuravam suas roupas para a noite de
núpcias, poderia induzir Branca de Neve a solicitar as habilidades
especiais do espelho para segurança ou para espionagem.
1 http://bit.ly/9tCJq5
A superfície do vidro brilhava alegremente. Helena sabia que
já estava contando os segundos até que ele pudesse estar a sós com
Branca de Neve. Ela suspirou — Se o caçador tivesse feito seu
trabalho corretamente e entalhado seu coração quando lhe foi
ordenado isso, eu acho que poderia ter tido uma chance de felicidade.
O estômago de Helena revirou. O espelho tinha dito que ela
teria o que mais cobiçava: a beleza de Branca de Neve, ao comer o
coração da menina. Ela passou os dedos sobre os cabelos grossos fora
de seu queixo, odiando pensar no que ela tinha ganhado comendo o
coração do javali que o caçador tinha apresentado em seu lugar.
Ela olhou para a floresta ao redor dos campos. O caçador fugiu
quando ela perguntou como era possível Branca de Neve estar se
divertindo com anões se ele tinha realmente removido o seu coração.
Ela avistou um punhado pequeno de fumaça flutuando por cima de
algumas árvores ao longe e perguntou se era ali que ele estava se
escondendo. — Eu gostaria de poder lhe dar um presente — disse
ela.
O espelho brilhou de antecipação. Ao contrário de alguns de
seus antigos proprietários, Helena nunca tinha adivinhado a sua
verdadeira natureza. Ela nunca tinha adivinhado que ele poderia ter
acabado com Branca de Neve muito tempo atrás se ela pedisse isso
em voz alta.
Helena fechou suas mãos em punhos apertados. — Lamento
que ela não possa sentir a inveja que me assombra noite e dia, o modo
que sinto falta de tudo o que os outros têm. — Helena riu
loucamente. — Eu desejo que Branca de Neve e seus parentes possam
sentir isso queimando em suas almas para sempre.
Helena balançou a cabeça e suspirou novamente. — No
entanto, acho que terei que pedir a costureira para cortar um vestido
novo e uns novos sapatos. — Olhou para o espelho e sorriu
amargamente — Eu espero que você leve tanta alegria à vida de
Branca de Neve quanto você trouxe a minha.
Ela saiu da sala, e o gênio que residia no espelho concedeu o
desejo de Helena, inconscientemente expresso. Ele enviou um feitiço
que avançou ao redor de afloramentos de rochas e através de silvas,
até que encontrou o caçador virando um coelho esfolado no espeto. A
magia cercou o homem, e ele fez uma pausa enquanto os pêlos em
seus braços se arrepiavam. Ele examinou o mato, pensando que um
lobo estava à espreita, talvez atraído pelo cheiro de carne assada.
Tendo encontrado seu primeiro alvo, a magia fez seu caminho
em torno das árvores para o próximo reino, onde encontrou a menina
com a pele branca como a neve cantando alegremente nos jardins do
palácio. Se envolvendo ao redor de seu coração, ela suspirou, sem
saber por que ela se sentiu tão desconfortável poucos dias antes de se
casar com seu amado príncipe.
De volta ao castelo, o espelho brilhou com prazer. Em seguida,
pensou em Helena e se perguntou se deveria avisá-la sobre o que
tinha visto no futuro, sapatos de ferro candentes estendido em uma
cama de brasas, colocado em seus pés na recepção do casamento de
Branca de Neve. Viu Helena dançando em lugar encantado, até que
teve seu último suspiro. O espelho refletiu sua capacidade de mudar
seu destino, mas no final decidiu que, se Helena realmente queria ver
sua enteada se casar, quem era ele para impedir isso?
Nicki virou na esquina muito rápida, me agarrei com força ao
apoio de braços. Respirei fundo e vi que ela estava olhando na minha
direção.
— Oh Deus, me desculpe — ela diz, enquanto tira o pé do
acelerador e pressiona o freio. — Eu me empolguei nesse trecho.
Olhei para o rio que margeava a estrada, e me deixei levar
pelo magnífico cenário da Montanha Branca, ao invés de imaginar o
carro derrapando na água.
— Ei, não se preocupe — eu menti. — E obrigado pela carona.
Imagino que minha mãe tenha algo com seu cão estúpido, no mesmo
dia que eu tenho a entrevista. Ela e Fergus estão ensaiando um novo
número, e esta é a primeira vez que estão fazendo isso.
Nicki ri. — Como pode aposentar os números "tóxicos"? Foi
incrível!
— Ha, ha, que engraçado.
Claro, minha mãe tinha dançando com o nosso Golden
Retriever2, em frente de uma platéia, e depois tinha enviado os vídeos
pela internet, o que não é nada engraçado.
2 Golden Retriever: Uma raça de cão http://bit.ly/w48cJO
— De qualquer forma, eu juro que vou fazer todo nosso
transporte quando eu tirar minha licença.
— Não se preocupe com isso, Megan.
— Sério! Vou fazer agora. Eu me inscrevi para as aulas nesta
nova escola de condução que acabou de abrir.
Nicki empurrou sua longa franja de seus olhos. — Eu acredito
em você.
Eu sei que ela está realmente pensando que eu vou ser que
nem uma galinha como sempre, mas sou grata por ela não dizer isso
em voz alta. Ela sabe que, apesar dos anos de terapia, andar em um
carro ainda me assusta.
Ela virou a Esquina Encantada como uma avó de noventa e
dois anos de idade, e eu apontei para um prédio próximo à entrada
do parque. — A entrevista é bem ali.
Ela dirigiu para o estacionamento quase vazio, que se encheria
em uma semana. — Tem certeza que você realmente quer fazer isso?
— Pergunta ela.
Eu olho para o letreiro da Terra Encantada. Princesas muito
bonitas e sorridentes em florestas, com animais que agitavam seus
braços como marionetes. Mesmo quando criança eu não era louca
para vir aqui como todo mundo: as multidões, os passeios de dois
minutos, pareciam nunca valer a pena esperar muito tempo. Mas
Remy amava tudo sobre a Terra Encantada, e meu pai costumava
dizer que nunca tinha visto outro par de gêmeas olhar o mundo de
forma tão diferente uma da outra.
Um pequeno estremecer passa pelo meu corpo. Fazia dez anos
desde que Remy morreu e dez longos anos que eu era assombrada
por seu fantasma. Vir aqui é pedir para ela aparecer, e eu queria saber
se eu conseguiria fazer uma entrevista com o balbuciar do fantasma
de Remy no fundo. Eu estou muito tentada a dizer a Nicki para
colocar o carro na estrada de volta para casa.
Mas eu não posso.
— Eu estava ficando doente na livraria — eu minto. — Desde
que Diane foi promovida a gerente, ela tem sido uma cadela total. E
desta forma eu poderei sair para conseguir um bronzeado em vez de
gastar mais um verão mais pálida que os vampiros.
Nicki sacode a cabeça. — Isso não tem nada a ver com
conseguir um bronzeado, e você sabe disso. Eu mantive minha boca
fechada até agora, mas para ser honesta, você quer conseguir um
emprego aqui porque você está com medo de perder Ryan, e
Samantha o assediar de algum jeito.
— Assédio? Desde quando ‚querer passar algum tempo com
seu namorado‛ é assediar?
Nicki me da um olhar incrédulo.
— Ok! O pensamento dele e Samantha trabalhando juntos têm
me deixado louca, mas você pode me culpar? Ela tem sido a sua
melhor amiga desde a segunda série, e só estamos saindo há três
semanas e dois dias.
— Essa não é você! Onde está a Megan que nunca perseguiu
um cara que ela está só começando a namorar? Que nunca em um
milhão de anos, ficaria com um cara se ela não confia nele?
Eu olho para o príncipe no letreiro, escalando a longa trança
da Rapunzel. — Essa Megan esta cansada de não ter tido um
relacionamento desde o primeiro ano. E essa Megan estava confiante
que as coisas eram estritamente platônicas entre eles, até que
Samantha fez umas muitas viagens para o barril de cerveja e fez a sua
confissão de 'alma gêmea'. Sem mencionar o fato de que ela é
totalmente linda — e legal. Como posso competir com isso?
— Sim, foi realmente legal da parte dela fazer uma brincadeira
com Ryan, enquanto você estava no banheiro. Mas, apesar de sua
confissão bêbada, ele ainda está com você, então por que você está
preocupada?
Eu encolho os ombros. — Eu não sei. Eu só queria que ele não
tivesse me falado sobre isso.
— Ele estava sendo honesto com você, e se você me perguntar,
isso é um bom sinal.
— Ou talvez ele estivesse preparando o terreno para a nossa
separação, para que não seja um choque grande quando ele me disser
que finalmente percebeu que a garota dos seus sonhos estava
morando na porta ao lado o tempo todo.
Nicki sacode a cabeça e tira o seu iPod. — Boa sorte. Espero
que eles lhe dêem algo legal, como o carrinho de cachorro quente. Ou
se você causar uma boa impressão, talvez eles lhe dêem uma dessas
vassouras e pás com os cabos longos, e você pode varrer o lixo das
calçadas.
— Na verdade, sempre foi meu sonho trabalhar com uma
máquina de neve derretida, mas eu estou realmente ansiosa para
passar o verão e repetir sem fim: "Bem Vindo ao Pão de Gengibre, por
favor, mantenha as mãos dentro do carro até ele parar
completamente‛.
Nicki coloca os fones de ouvido. — Vou ouvir algumas
músicas. As eliminatórias são amanhã e eu ainda não decidi o que
vou cantar — Ela aumenta o volume e ouço "Defying Gravity" de
Wicked. — Trabalhar em qualquer restaurante de fast-food, seria
melhor que isso — diz ela em voz alta.
Pego minha bolsa e digo a mim mesma que eu estou acima de
espionar o meu namorado. Mas então eu penso sobre como é estar
com Ryan, que me faz sentir mais viva do que eu tenho me sentido há
anos, abro a porta e sigo para o conjunto de escritórios.
Eu sento em frente do Sr. Roy e coloco o melhor ‚eu seria um
trunfo para o seu parque de diversões‛ sorriso que eu posso reunir.
Olhando para sua gravata Cinderela, tenho a sensação de que essa vai
ser uma tarefa simples.
— Então... — Ele olha para baixo em meu currículo. — Megan,
porque você quer trabalhar na Terra Encantada?
Dizer que eu me transformei em uma perseguidora, porque a
boa menina Samantha se transformou em uma cadela ladra de
homem não seria provavelmente a melhor abordagem, então eu me
endireitei, olhei em seus desbotados olhos cinzentos, e menti. — Eu
amo a Terra Encantada desde que eu era uma menina, e nada me
faria mais feliz do que a oportunidade de colocar um pouco de magia
em um garoto de férias de verão.
Eu sorri e esperei não ter que mentir mais.
Sr. Roy concordou com a cabeça e sorriu com alegria. Ele
colocou as mãos sob o queixo. — Há alguma recordação especial no
parque que você poderia compartilhar comigo? Eu sempre gostei de
saber como isso afeta as pessoas e é o que me faz continuar todos os
dias.
Oh Deus! O que eu faço? Contar que eu me lembro de um
menino vomitando depois de uma volta na xícara? Queimaduras de
terceiro grau por ficar o dia todo no sol em filas intermináveis?
Comer sanduíches quentes de ovos, porque para meus pais era muito
mais barato que comprar um lanche no parque?
— Humm... Lembro que uma vez, creio que cinco anos atrás,
eu estava com medo de entrar na floresta encantada de Hänsel e
Gretel3, e alguém tocou meu ombro. Eu me virei e lá estava... uhhh —
Minha mente luta para chegar a algo plausível. — Uhh, lá estava
Branca de Neve. Ela estendeu as mãos de luvas brancas e disse: "Não
se preocupe querida, eu vou com você." Com Branca de Neve ao meu
lado, eu sabia que podia fazer, e até hoje, a floresta encantada de
Hänsel e Gretel é uma das minhas atrações favoritas.
Sr. Roy parecia triste, e era tudo o que poderia fazer para
evitar revirar os olhos. Hansel e Gretel tinham que ser a falha aqui —
metade dos animatrônicos4 foram quebrados, e a coisa mais
assustadora sobre isso foi o fato de que ninguém realmente pagou
para ver eles.
— Bem, Megan, eu acho que temos um lugar na nossa equipe
encantada para uma menina especial como você. Vejo que já marcou
3 Hänsel e Gretel: conhecido como João e Maria no Brasil – conto de fadas dos
irmãos Grimm. 4 animatrônicos: grandes bonecos-robôs usados para dar maior realismo a filmes
de ficção científica, como Jurassic Park 3.
as operações de passeio, loja de presentes e atores que interpretam
personagens. Eu aposto que você estava esperando para encher as
luvas de Branca de Neve, estou certo? — Ele inclina—se para mim e
pisca.
Não vire os olhos! — Sim, senhor, Branca de Neve é uma das
minhas histórias favoritas, e seria muito divertido interpretá-la.
— Que coincidência. Branca de Neve é uma das minhas
histórias favoritas, também. E com seu cabelo escuro, você vai ser
perfeita! Infelizmente, você não pode ser a Branca de Neve todos os
dias, tentamos misturar todos os membros da equipe para que todos
tenham experiências novas e melhores no parque. E, por sua vez, nós
podemos encontrar essas crianças especiais que transformam suas
Terras Encantadas de empregos de verão em uma carreira de vida
longa. Afinal, você não sabe se tem os ingredientes para ser da nossa
equipe até que você passe algum tempo no Billy Goats Gruff, um
espaço que irá destacar e manter limpo.
Eu sorrio como se esta fosse uma oportunidade maravilhosa,
todo o tempo orando a Deus para eu não estar cavando porcaria todo
o verão.
— O próximo passo é conhecer a nossa coordenadora de
equipe, minha esposa, senhorita Patty.
Ele pisca para mim, e eu mantenho a expressão sorridente de
olhos arregalados estampada em meu rosto.
— Ela vai lhe dar o nosso pacote de orientação e programação
de treinamento, e pegar o seu tamanho para o traje.
Ele pega o telefone e aperta um botão. — Ursinha, eu estou
mandando uma nova recruta para aí — Ele olha para o meu currículo
novamente. — Megan Sones. Você precisa levá-la para o camarim
para experimentar o vestido de Branca de Neve — Ele faz uma pausa
e sorri para mim. — Ela é perfeita — Ele desliga o telefone e empurra
sua cadeira para longe de sua mesa. — O escritório de Patty é virando
a esquina. Vou apontar a direção certa.
Olhei para Senhorita Patty e seu escritório, e eu comecei a
pensar que ela tinha alguns problemas para resolver, que deve ser
tratado com alguns anos de terapia. As paredes de seu escritório
eram rosa brilhante e decorado com enormes retratos de princesas
com lâmpadas fluorescentes. Estava assinado PATTY em letras
enormes no canto direito de cada um e eu me perguntei como ela
poderia ter assinado voluntariamente seu nome nessas atrocidades.
Completamente fora de lugar com o resto da decoração, estava
pendurada uma cabeça de javali, acumulando poeira em cima de um
espelho atrás de sua mesa.
— Megan — diz a Senhorita Patty com uma pitada de sotaque
sulista enquanto ela estende uma mão bem cuidada com anéis em
cada dedo. — É um prazer conhecê-la! Eu sou a Senhorita Patty, líder
de sua equipe encantada, e é o meu trabalho prepará-la para seu
verão encantado!
— Prazer em conhecê-la — disse, tentando não olhar. No alto,
arcos pontiagudos haviam sido desenhados sobre sua testa, onde
sobrancelhas deveriam estar, e um dos seus cílios postiço estava torto.
Seu rosto parecia de couro marrom, como se tivesse passado muito
tempo em sessões de bronzeamento, e extensões de cabelos
cacheados loiros não combinava com o resto de sua transformação,
muito pouco cabelo.
Senhorita Patty aponta para eu me sentar em uma cadeira de
bolinhas—rosa. Eu olho para as presas amarelas do javali e sua pele
esfarrapada, e não consigo entender por que essa mulher, que é
obviamente muito preocupada com sua aparência e a cor rosa, teria
algo assim totalmente bruto em seu escritório.
— Aqui está o nosso pacote de introdução. Ele tem
formulários de contato para emergências, que você precisa preencher,
além de informações gerais do parque, os tempos de mudança, e uma
programação de treinamento. Você sabe CPR5?
Eu aceno com a cabeça, me imaginando fazendo CPR no
figurino de Branca de Neve, e me pergunto se é tarde demais para
sair correndo e gritando de seu escritório.
— Excelente! — Ela abre uma pasta de alguma coisa e rabisca
no papel dentro dele. Ela olha para mim e agita os cílios grossos. —
Oh, eu mataria por uma aparência como a sua!
Ouço a porta abrir atrás de mim e viro para ver uma menina
da minha idade com um rabo de cavalo grosso, branco e loiro, e olhos
azul gelo. — Patty, papai disse que tinha algumas coisas para mim
para o arquivo — diz ela.
Senhorita Patty faz uma carranca. — Ari, você não vê que eu
estou com um novo membro da equipe?
Ari olha fixamente para ela. — Eu só preciso da papelada e eu
vou estar fora do seu caminho.
5 CPR: Reanimação cardiopulmonar: suporte básico de vida
Senhorita Patty sorri novamente, mas seus olhos incham um
pouco como se precisasse de uma grande dose de esforço para fazê-
lo. — Megan, esta é minha filha, Arianna.
— Hey — diz Ari, e ela me dá um olhar como se ela soubesse
que sua mãe está em sérias necessidades de alguns aconselhamentos
ou medicação.
— Articulando como sempre — Senhorita Patty resmunga.
Ari revira os olhos e eu quase desejo que eu estivesse de volta
com o Sr. Roy.
— Prazer em conhecê-la — eu digo, tentando agir como se não
houvesse uma quantidade incrível de tensão latente no ar entre Ari e
Senhorita Patty.
— Eu não acabei completamente com a papelada, Ari —
Senhorita Patty diz. — Você tem que fazer isso amanhã.
— Mas eu tenho teste amanhã.
Senhorita Patty solta um longo suspiro. — O teste não é todo o
dia. Certamente você encontrará algum tempo livre.
O telefone toca, e a Senhorita Patty levanta um dedo para
mim. — Só um segundo, Megan, querida — Ela afofa seus cabelos
com as mãos, como se quem está do outro lado pudesse vê-la, e
depois pega o receptor.
— Sim? — Ela toma uma respiração profunda enquanto seu
rosto cora. — Eles deveriam estar aqui há uma semana! Como é que
devemos servir sem sacos de pipoca? Olha, espere — Ela aperta um
botão no telefone. — Ari — disse ela docemente. — Você se
importaria de mostrar a Megan onde é o camarim e pegar o vestido e
o sapato da fantasia de Branca de Neve de seu tamanho?
— Qualquer coisa para ajudá-la, Patty. — Ari responde no
mesmo tom meloso.
Senhorita Patty pega o telefone novamente, e Ari inclina a
cabeça em direção à porta.
Eu pego meu pacote de informações e a sigo para fora.
— Ela é minha madrasta — diz Ari, logo que ela fecha a porta.
— Ela sempre se esquece de acrescentar essa parte. Ela acha que só
porque ela se casou com meu pai quando eu tinha três anos faz dela
minha mãe verdadeira — Ari me dá um sorriso malicioso. — Ela
ficou louca quando eu comecei a chamá-la de Patty um par de anos
atrás.
— Eu aposto — eu digo, pensando que se eu tivesse uma
madrasta como essa, eu gostaria de espetar ela de vez em quando
também.
— De qualquer forma, ela é uma completa aberração, seu novo
hobby é depilar as sobrancelhas, para desenhar a lápis. Pensa que a
faz parecer com a Pâmela Anderson.
Sabendo como ela se sente por ter uma mãe que está um
pouco por fora, eu decidi sacrificar a minha reputação, na esperança
de fazê-la se sentir melhor. — Bem, minha mãe dança em
competições com meu golden retriever.
Ari arregala os olhos. — Sério? Ela dança com o seu cão?
— Sim! Uma dança totalmente coreografada, fantasiados de
hábito. Procure "Fergus e Sally Fantasia Estilo Livre" no Google e
você pode vê-los em ação por si mesma. Ela recentemente
acrescentou filmagens de seu novo número "Desesperadamente
Apaixonada Por Você", na qual ela está vestindo uma minissaia,
decorada com um BeDazzler6.
Ari balança a cabeça em descrença. — Uau! Eu acho que
nossas mães são malucas, então.
Eu não disse nada e me pergunto se minha mãe foi sempre
'maluca' ou se isso aconteceu após o acidente. Não. Eu me lembro
quando eu e ela estávamos juntas, quando ela me deixava ajudá-la a
cozinhar. Eu era o anjinho da mamãe, mas agora, agora não sou nada.
Nós andamos pelo corredor, e eu olhei as fotos antigas em
preto—e—branco do parque penduradas nas paredes. Estou
realmente impressionada que eles foram capazes de transformar o
que parece um zoológico glorificado e acariciando com carrossel, no
parque de diversões decente que é hoje.
Ari se vira para mim. — Então, você se inscreveu para a
Branca de Neve, né? O corpete coça.
— Você foi a Branca de Neve?
Ari zomba. — Patty me faz ajudar, mas eu o faço a pé ao redor
do parque, em caráter. Eu ouvi algumas das meninas queixarem—se
da fantasia, no entanto. E aqui vai uma dica: Se você está posando
para uma foto com uma família, tente manter as crianças entre você e
6 Bedazzler: é uma ferramenta que permite que você adicione strass, tachinhas,
lantejoulas, ou o que quiser em roupas, bolsas e etc...
o pai. Alguns deles são cães com chifres que vai tentar fazer com que
você se abaixe quando bater o flash.
— Obrigado pelo aviso — eu disse, pensando que eu deveria
pedir para Diane me dar o meu trabalho na livraria de volta.
Nós viramos a esquina e me engasgo. Remy esta de pé no final
do corredor, girando uma de suas tranças em sua mão esquerda. Ela
acena. — Meggy — ela grita e começa a caminhar em nossa direção.
Viro—me para Ari, mas ela está dizendo algo sobre sua
madrasta e Botox, alheia ao fato de que minha irmã gêmea morta está
vindo em nossa direção.
Eu sabia que ela ia aparecer aqui! Vá embora, Remy!
— E eu disse que era tudo.
Ari está apontando para uma porta com a etiqueta
CAMARIM. — Ah. Desculpe, eu, uh, estava pensando sobre o que
você disse sobre os pais.
— Não se preocupe muito com isso. Os realmente ruins
tendem a gravitar sobre as meninas Bo Peep7. Algo sobre a anágua,
ou talvez seja a maneira que oferecem aos funcionários uma boa visão
dos seus shorts ao vento.
Eu sorrio, mas estou realmente pensando que eu preciso sair
daqui. Olho para trás de Ari, e vejo o corredor vazio, e expiro. Espero
que Remy só tenha aparecido porque ela gosta de estar no parque, e
não porque ela tem algo que quer me mostrar.
7 http://bit.ly/9LAAdy
Ari abre a porta e acende a luz. Há centenas de trajes coloridos
pendurados em carrinhos com rodas. — Então — diz Ari, olhando—
me de cima a baixo. — Tamanho seis8?
— Oito9 — digo, me perguntando se ela estava apenas sendo
simpática. — E eu uso tamanho oito nos sapatos também.
Ari vai para a prateleira da Branca de Neve e tira um traje. —
Aqui está o seu bilhete dourado para brincar de amiga com criaturas
da floresta e pequenos homenzinhos!
Eu solto um gemido — É tarde demais para mudar o
‘personagem’ da minha oferta de serviço?
Ari ri. — Apesar do grande potencial para ser apalpada, vestir
um traje é realmente um inferno muito melhor do que estar preso a
um passeio por horas a fio. Com exceção de algumas paradas
programadas no parque, você pode muito bem fazer o que quiser. E
você tem sorte que o seu cabelo é preto. Você não terá que usar a
peruca, que eu aposto que é uma porcaria quando faz noventa graus
lá fora — Ari pendura a roupa de volta. — Você pode cantar?
— Deus, não! Tenho que fazer isso?
— Não, mas Patty tem falado sobre ter um personagem cantor.
— Sim, eu acho que minha voz iria limpar o parque, mas
minha melhor amiga canta. Ela está no "Coro Montanha Branca". Na
verdade, ela está esperando por mim, então eu devo...
8 Tamanho seis: é o tamanho 40 9 Tamanho oito é o tamanho 42 e em sapato é o tamanho 37
A boca de Ari cai aberta. — Eu estou no coro também! Bem, eu
estava no ano passado, e eu estou tentando de novo amanhã. Quem é
sua amiga?
— Nicki Summers, e como eu disse, ela está esperando...
Ari bate palmas. — Oh meu Deus, eu conheço a Nicki! Ela tem
uma voz incrível, ela que me impulsionou para os solos. Eu não
posso mesmo acreditar que eles estão a fazendo fazer testes. Quer
dizer, todo mundo sabe que ela vai passar. Ela está aqui?
— Sim, ela está no estacionamento, mas Nicki me disse que o
velho diretor foi demitido, por isso todo mundo está começando do
zero este ano.
— Huh, eu não sabia que o Sr. Sherman foi demitido. É claro
que ele teria dito a Nicki que foi por poucos recursos — Ari começou
a caminhar para a prateleira de roupas. — Eu adoraria saber o que ela
está cantando. Deixe—me colocar as suas informações na área de
transferência, e então eu vou sair com você — Ela balança a cabeça. —
Porra, não está aqui. Patty provavelmente deixou na lavanderia.
Deixa—me correr e ver se posso encontrá-lo. Espere um pouco.
Assim que Ari saiu, a temperatura do ambiente caiu. — Remy
— eu disse, meu hálito saindo frio. — Eu não quero brincar com você
— As luzes começaram a piscar e um suor frio correu pelo meu rosto.
— Meeeeggy — Sua voz ecoa na minha cabeça. — Eu tenho
algo para te mostrar.
Encostei—me na porta, minhas pernas tremiam, olhei para o
quarto à procura de Remy. — Eu não gosto das coisas que você me
mostra, Remy.
A porta se fecha atrás de mim e eu pulo. — Ótimo! O que é
isso? — Eu grito, soando mais corajosa do que eu me sinto. Eu
aprendi há muito tempo que tentar ignorar Remy apenas a irrita, e eu
deveria acabar com isso antes que ela comece a jogar coisas.
Remy apareceu nas prateleiras da Branca de Neve. A água
escorre para o chão da bainha de seu vestido e as pontas das tranças.
Ela franze a testa e acena para mim com a mão pequena de sete anos
de idade. — Meggy venha ver.
— O quê? As fantasias? — Eu imaginei as roupas para o
Grammy, que eles nos deram quando tínhamos cinco anos, e uma
lágrima rola dos meus olhos. — Eu vou trabalhar fantasiada neste
verão Remy, como Branca de Neve — Eu apontei para o figurino e
esperei desviar sua atenção do que quer que ela queira me mostrar.
— Quer me ver colocar uma?
Remy acena e coloca o final de uma das tranças em sua boca, e
me lembro quando mamãe as mergulhou em molho de Tabasco10,
tentando quebrar o hábito.
Ando devagar na direção dela, e ela aponta para uma fantasia
no meio do rack.
Quando cheguei ao lado da manga de cetim, Remy tocou meu
braço. Um frio gélido percorre-me, e ela desaparece da sala. Eu vejo
uma garota vestida com a roupa da Branca de Neve, deitada no chão
em uma área arborizada. Era noite, e eu dou uma olhada na mancha
escura de seu corpete. Abaixei-me e seu sutiã desatou, enquanto a
camisa esta ensopada com o que eu achei que era sangue, percebi que
10 O molho tabasco é um molho utilizado como condimento, de sabor picante
a mancha escura era na verdade um buraco, um buraco em sua
cavidade torácica onde seu coração deveria estar.
— Tenha cuidado, Meggy — Remy sussurrou quando tudo
fica escuro.
— Ei, você está bem? Você pode me ouvir?
Sinto mãos agitando suavemente os meus ombros. Abro meus
olhos e vejo que estou deitada no chão do quarto de roupas. Um cara
da minha idade, com olhos escuros e preocupados, está ajoelhado ao
meu lado. Eu levanto meus dedos e eles automaticamente apalpam
meu peito como se estivessem esperando encontrar um buraco.
— Sim, eu acho. — Eu me esforço para levantar e estremeço
quando uma dor aguda esfaqueia a parte de trás da minha cabeça. —
Ow — eu solto um gemido, tocando o caroço do tamanho de um ovo.
— Talvez seja melhor ficar deitada. Vou chamar Patty.
— Não, está tudo bem. Eu desmaiei. Eu faço isso às vezes.
Ele estende a mão e eu deixei que ele me ajudasse a levantar.
Sua mão está quente, e eu estou tão fria, eu quase não quero deixá-lo
ir. Ele passa os dedos pelo seu cabelo preto encaracolado e me olha
como se estivesse com medo de eu desmaiar outra vez. — Eu estava
indo para a carpintaria, quando ouvi você gritar.
Minhas bochechas ruborizam. — Eu não sabia que tinha
gritado, mas não era nada. Eu pensei que eu vi um rato.
— Oh — diz ele, suas sobrancelhas levantadas. — Eu achei
que tinha algo a ver com a sua irmã.
Meu coração dispara, enquanto meus olhos voltam para o
ponto onde Remy tinha estado, mas só tinha uma pequena poça de
água no chão. Engoli em seco e me virei para ele. — Você... Você a
viu?
Ele levanta a mão, logo abaixo do peito. — É desta altura,
tranças escuras, sardas?
— Uh-huh — eu digo tanto surpresa quanto aliviada de que
alguém a viu.
— Ela disse que seu nome é Remy e ela me pediu para lhe
dizer que está arrependida.
— Ela falou com você?
Ele assentiu. — Não é grande coisa realmente. Eu sou uma
espécie de ímã para fantasmas na família. Remy é o quadragésimo
sétimo que eu conheci. Bem, o quadragésimo sétimo desde que
comecei a contar na segunda série. Mas, além da introdução de si
mesma, disse-me que o seu nome é Megan, detesta ervilhas, é
bastante preguiçosa e que seu gato foi atropelado por um carro.
— Uau — eu sussurro. — Eu não consigo muito dela. Quero
dizer, ela fala, mas na maioria das vezes é incoerente... — Faço uma
pausa, tentando tirar a imagem da menina na fantasia de Branca de
Neve da minha cabeça. — Quando ela quer me mostrar alguma coisa,
normalmente é uma coisa ruim.
— Ela te mostrou alguma coisa aqui? — Pergunta ele, a
preocupação franzindo sua testa. — É por isso que ela estava se
desculpando? O que você viu?
Ele olha para mim com expectativa. Eu me aproximo dele, não
tenho certeza que eu posso realmente dizer isso em voz alta. — Uh,
sim. Ela, uh...
— Estava na lavanderia, mas eu coloquei o seu nome e... —
Ari estava dizendo enquanto ela entrava na sala. Ela faz uma pausa
quando vê que não estou sozinha. — Luke, o que está fazendo aqui?
— Ela olha para trás e para frente entre nós e franze a testa.
Luke dá um passo para longe de mim e passa a mão pelo
cabelo escuro novamente. — Ari, hey. Eu estava apenas passando
pelo meu caminho para a loja quando ouvi alguém aqui. Pensei que
era você e eu vim aqui para dizer ‚Ol{‛.
— Oh — Ari disse alegremente. Ela coloca a papelada de
transferência na prateleira da Branca de Neve e sorri. — Então você
conheceu Megan, um dos nossos escravos, quer dizer, membro da
equipe encantada.
Luke me da uma saudação militar. — De um escravo para
outro, bem-vinda a bordo.
Ari caminha até ele e entrelaça seu braço com o dele. No
começo eu achei que eles poderiam estar saindo, mas depois ele se
afasta um pouco dela, por isso talvez eu esteja errada.
— Você não vai ver Luke no parque muitas vezes — diz ela. —
Ele passa a maior parte do seu tempo na loja no final do corredor
desperdiçando seu talento.
— Eu quero que você saiba Ari... — Luke começa enquanto ele
gentilmente desvincula-se dela e cruzava os braços sobre o peito —
que seu pai ficou com os olhos lacrimejantes, quando viu o meu
mural da Bela Adormecida na parede que leva ao banheiro das
mulheres no Bosque de Contos de Fadas. E sua mãe enlouqueceu com
o trabalho de tijolos e vinha11 que eu adicionei a torre de Rapunzel,
ela tirou cerca de cinqüenta fotos e comparou—me a Leonardo da
Vinci.
Ari zomba. — Sem contar o fato de que Patty é uma louca,
reservo—me a comparação de Leonardo da Vinci para as coisas que
você fez antes de começar a pintar murais em madeira que as pessoas
enfiam a goma de mascar usada.
Luke mordeu os lábios e abraçou os braços mais apertados.
Obviamente, Ari bateu em um ponto dolorido. — Ei, pelo menos,
seus pais apreciam o que eu estou fazendo.
Ari olha para ele desafiadoramente. — Eu também aprecio o
que você está fazendo, mas eu não vou deixar você esquecer que você
é bom demais para decorar os banheiros!
— Princesas cobertas de goma são tudo o que posso lidar
agora — diz ele. — Eu pensei que você, de todas as pessoas,
entenderia.
Ari coloca as mãos nos quadris. — Luke! Eu...
Luke se vira para mim, ignorando-a. — Prazer em conhecê-la,
Megan. Devemos definitivamente terminar a nossa conversa em
breve.
11 Vinha: Terreno plantado de videiras.
Ele sai, e Ari olha para trás dele, o rosto de um vermelho
ardente. — Deus, ele pode ser tão impossível! — Um arrepio a
percorre como se ela estivesse tentando se livrar dele. — De qualquer
forma, temos sapatos pretos que vamos reservar para você, mas eles
são meio nojentos, então se você tiver um par, eu os traria. Seu traje
terá o seu nome preso a ele, e haverá uma fita para o cabelo também.
Venha, eu vou levá-la lá fora.
Eu sigo Ari para o corredor, pensando que este dia foi um
pouco surreal e que eu deveria ir e dizer para Senhorita Patty rasgar
minha candidatura. Mas Luke viu Remy. Ele falou com ela! Apesar
da estranheza, talvez haja uma razão para eu ter vindo aqui, talvez
ele possa me ajudar.
Claro, há a pequena questão da menina morta que vi. Eu tento
conjurar seu rosto, mas eu estava tão focada no buraco em seu peito,
que eu não olhei cuidadosamente. Mas a pergunta de um milhão de
dólares é: Foi algo que já aconteceu, ou algo que vai acontecer?
Você nunca sabe quando se trata de Remy. Ela me mostrou
uma visão do colapso da vovó Miller em seu quarto de hospital horas
antes do coágulo alojado em seu cérebro matá-la. Mas o nosso gato
Pumpkin estava desaparecido havia dois dias antes de Remy jogar
seu rato de brinquedo no meu travesseiro no meio da noite e me
mostrar o seu corpo esmagado na estrada a poucos quarteirões de
distância.
Ari para na frente de uma pintura e agita a mão com desdém a
princesa com grandes olhos esmeralda cercada por borboletas. —
Esta é uma das novas pinturas de Luke — Ela balança a cabeça. — Eu
tenho um monte de suas obras antigas no meu quarto. Eu vou te
mostrar, e depois me diga se você acha que ele deve estar escondido
aqui trabalhando em banheiros de mulheres de conto de fadas!
— Uh, tudo bem — eu digo pensando que a pintura de Luke é
um milhão de vezes melhor do que o material pendurado no
escritório de sua madrasta e me pergunto se ela está dando a
entender que vai me convidar para ir à sua casa. Caminhamos em
direção à porta da frente e eu me perguntei se Ari vive na mansão
Tudor em cima da montanha acima do parque.
— Ele vive com sua avó — ela continua, — mas ela está tão
ocupada roubando turistas com cartas de tarô e uma porcaria de
cristal, que não se importa se ele está totalmente desperdiçando seu
talento. — Ela balança a cabeça de novo e faz uma careta. — Você viu
essa casa roxa no fim da faixa? — Pergunta ela.
— Sim, é meio difícil de perder — eu digo. — Você não pode ir
para a cidade sem passar pelo cartaz vitoriano lil{s: ‚LEITURA
PSÍQUICA AMADOR‛, apoiado em um jardim cheio de ervas
daninhas com centenas de enfeites no gramado.
Estive tentada a ir lá em mais de uma ocasião, na esperança de
que poderia me ajudar com Remy, ajudá-la a seguir em frente aonde
quer que ela deveria ter ido. Mas quando eu perguntei para Nicki
alguns anos atrás se pensava que eles eram de verdade, ela riu tanto
que vomitou a água de limão, que ela estava bebendo em sua mesa
da cozinha. Quando ela finalmente conseguiu se recompor, ela disse
que qualquer pessoa com mais de vinte gnomos no gramado de seu
quintal era definitivamente mais uma psicopata, que uma psíquica.
— Bem, essa é a casa de Luke, se você pode acreditar — diz
Ari, franzindo o nariz. — E a sua avó está muito envolvida lendo
folhas de chá para perceber que ele desistiu de pintar!
— Bem, tecnicamente ele ainda pinta — eu digo, não sei por
que estou me sentindo com um impulso incontrolável de defender
ele. — Talvez isto seja apenas o que ele precisa estar fazendo agora,
você sabe como Picasso teve seu período azul, talvez este seja o
período de Luke de madeira compensada.
Ari joga suas mãos para cima, minha tentativa de aliviar o
humor foi, obviamente, um fracasso. — Oh, por favor! Você
realmente considera a Bela Adormecida roncando uma merda de
arte?
— Acho que não, mas eu vi a torre da Rapunzel no meu
caminho, era muito boa — acrescentei, fazendo essa ênfase sobre o
tema do Luke Amador, como ela tinha feito, sabendo que era um
assunto sobre o qual se sentia muito apaixonada.
Ela se vira para mim com os olhos apertados.
Lá vem ela.
— Luke não é apenas ‚muito bom‛. Luke é ‚um—dia—as—
pessoas—vão—pagar—muito—dinheiro—por—seu—trabalho—
surpreendente‛. Se eu puder tirá-lo deste parque de idiotas! Eu disse
ao meu pai para não contratá-lo, mas todos se sentiram tão mal por
ele, depois que sua irmã desapareceu no último... — Ari parou como
se ela de repente percebesse que tinha falado demais.
— Era a irmã do Luke, nos cartazes que estavam no verão
passado? — Eu pergunto. — A menina de cabelos loiros como o seu?
— Ela não ia à minha escola e na hora eu não dei muita importância.
Eu certamente não pensava que ela ainda estaria perdida um ano
depois, no entanto.
Ari assentiu. — Eles nunca a encontraram, foi difícil para ele.
— Sim, eu aposto que foi — Eu sei em primeira mão o quão
difícil é perder uma irmã. — Eles têm indícios ou pistas?
— Nada. Ela desapareceu sem deixar vestígios. Mas talvez
você tenha razão, talvez seja isso o que ele precisa estar fazendo, por
agora.
Ari começa a andar rapidamente pelo corredor, e eu corro
para acompanhá-la. Ela me dá um olhar rápido. — Então o que você e
Luke estavam falando antes? Pareceu que eu interrompi um
momento...
Ah, agora eu entendi. Ari esta apaixonada por Luke, o
sentimento não é recíproco, e ela esta preocupada que eu esteja indo
na dele.
Dadas as minhas dificuldades com meu próprio namorado, eu
iria rir em voz alta se não fosse pelo fato de que o ‘momento’ que ela
interrompeu foi precedido por uma visão de uma garota
esparramada no chão com o coração inexplicavelmente desaparecido.
Mas eu já tinha anos de prática em manter minhas emoções sobre
controle e fingir que está tudo bem, então eu simplesmente tirei a
imagem da minha cabeça e segui em frente.
— Oh, ele estava apenas me perguntando o que me trouxe
para a Terra Encantada. Eu estava tentando decidir se eu devia
admitir que estou aqui para que eu possa manter um olho no meu
namorado e na sua melhor amiga, Samantha.
Depois de todas as mentiras que eu disse hoje, é bom que isso
seja verdade, pelo menos, meia verdade.
Ari relaxa os ombros, eu acho que ela está aliviada em saber
que não só eu tenho um namorado, mas também posso me relacionar
com a forma com a qual ela está se sentindo.
— Samantha?
— Sim, Samantha, uma muito alegre, líder de torcida amorosa,
que recentemente disse ao meu namorado que acha que ele é sua
alma gêmea. Junte a confissão com o fato de que eles gastam todo o
seu tempo livre juntos, e estou me sentindo um pouco paranóica.
— Oh meu Deus! Que tipo de pessoa faz isso? — Ari pergunta
com um olhar de indignação em seu rosto.
— Samantha Lee Darling faz. Bem, depois de algumas cervejas
a mais, faz.
— Eca, até mesmo o nome dela é alegre! Você só precisar dizer
a palavra e eu vou ter certeza que eles estarão trabalhando em
extremidades opostas do parque durante todo o verão. Ou... — Ela
me dá um sorriso maroto. — Eu posso fazer melhor e lhe atribuir os
passeios com maior probabilidade de provocar vômito. Limpar
vômito todos os dias irá assumir definitivamente a tarefa de levá-la
abaixo.
Tanto quanto eu queria aceitar sua oferta, eu decido, pelo
menos, fingir que eu ainda tenho alguma dignidade. — Obrigado,
mas sabe o quê? Se a minha presença aqui não os impedir de manter
contato, nada irá, não é mesmo?
— Eu acho, mas aposto que você pode manter seu namorado
por si mesma, contra a Senhorita Alegre.
Um trovão sacode as janelas e eu pulo. Estamos perto das
portas do estacionamento assim a chuva bate com força total. Nicki
nunca me fez andar em um carro durante uma tempestade como essa,
as vias aéreas em meus pulmões começaram a apertar só por ver a
água se agrupando em torno de seu carro. As nuvens estavam
chicoteando em alta velocidade. Estas tempestades não duram muito
tempo, mas eu sei como elas podem ser perigosas.
— Merda — diz Ari. — Vamos esperar alguns minutos até que
passe.
Eu aceno e procuro em minha bolsa por meu inalador.
O celular de Ari começa a tocar "When You Wish Upon a
Star". Ela o tira do coldre preso ao seu cinto e faz uma carranca. —
Maldição, é Patty — Ela aperta um botão e o coloca em sua orelha. —
Sim? — Ela sacode a cabeça e exala alto. — Eu pensei que você disse
que não teria terminado até amanhã. Bem, eu estou fazendo alguma
coisa agora — Ari revira os olhos. — Não, você não tem que chamar o
papai. Vou fazer isso!
Ela desliga e geme. — "Acho que vou ter que chamar seu pai e
dizer a ele para cancelar a folha de pagamento desta semana, já que
você está muito ocupada fazendo nada para merecê-la" — diz ela,
fazendo um som morto na imitação da sua madrasta. — Eu queria
matar meu pai por se casar com aquela bruxa e fazer minha vida um
inferno! No verão que eu tinha dez anos eu estava esfregando
sanitários no parque para que eu pudesse aprender a ‚apreciar‛ o
trabalho duro dos outros funcionários. Você sabe quantos banheiros
temos?
— Uh, muitos?
— Sessenta e cinco. Eu limpei cada um deles — Ela me dá seu
celular. — Ponha seu número. Eu vou te ligar esta noite e você pode
me dizer o que Nicki vai cantar ok?
— Ok — eu digo, marcando—o, — mas às vezes ela não
escolhe uma música até o último minuto.
— Talvez vocês possam vir algum dia. Vou a Academia
Penhasco Branco e a maioria dos meus amigos, além de Luke, passam
o verão em outro lugar, então eu estou presa aqui em La-la land sem
nada pra fazer, senão obedecer às ordens de Patty.
— Claro, seria ótimo — eu digo, pensando que a família de
Luke deve estar arrecadando dinheiro com a leitura de cartas de tarô,
se podem se dar ao luxo de mandá-lo para Penhasco Branco.
O celular de Ari começa a tocar "When You Wish Upon a Star"
novamente. — Oh minha aberração de Deus — ela murmura
enquanto o pega de mim. Ela aperta um botão e grita: — Eu já estou
indo! — Ela revira os olhos enquanto o desliga e o enfia de volta no
coldre de seu cinto. — Eu ligo para você.
— Ótimo.
Ela vira a esquina e eu tomo uma baforada do meu inalador.
Eu conto até dez e expiro enquanto eu abro a porta do
estacionamento. Correndo até o carro de Nicki eu me pergunto
quanto tempo vai levar ir de bicicleta da minha casa a casa de Luke,
para que possamos terminar nossa conversa.
Fechando a porta do carro, fico aliviada ao ver Nicki
removendo as chaves da ignição e deixando-a no painel — é sua
forma de dizer que ela vai esperar para eu dizer quando é hora de
sair.
— Bem? — Diz Nicki enquanto ela desliga seu iPod. — Tem
um emprego remunerado?
Sustento no alto o meu pacote de informações. — Sim, e eu
conheci uma amiga sua.
Nicki levanta uma sobrancelha. — Ah?
— Arianna Roy.
— Ari Roy trabalha aqui? — Ela balança a cabeça. — Nunca
em um milhão de anos teria imaginado que ela estaria na favela da
Terra da Misoginia12.
— Oh, por favor!
— Desculpe — ela continua. — A Terra Encantada não é
apenas o estereótipo das mulheres indefesas com necessidade de
resgate. Há a floresta assombrada Hansel e Gretel, que é mais uma
celebração de abuso de crianças e canibalismo, e o zoológico da Mãe
12 Misoginia: Aversão às mulheres
Ganso de Diversão em Família, que é todo de Escherichia Coli13, o
tempo todo!
Eu tenho que rir. Nicki nunca superou cair em um enorme
monte de porcaria na Fazenda Divertida durante a sua primeira e
última visita ao parque, quando ela tinha quatro anos.
— Na verdade, segundo o pai de Ari, o proprietário do
parque, eles têm um grande orgulho das condições sanitárias da
fazenda, que espero sinceramente nunca ser designada para esse
trabalho. Eu não me importo o quão rápido o coco é coletado.
Quando fizer noventa e cinco graus lá fora, a cabra e a merda de
porco não vão cheirar pior do que a apodrecida pilha de roupas de
ginástica e petiscos meio-comidos que estão no fundo do armário do
Cooper Summerfield!
Nicki agita sua mão na frente do seu nariz. — Oh Deus, estou
tendo um flashback olfativo da sexta-feira passada. Imagino que
nossos armários pegam o sol da tarde, todo o suor e o cheiro é
marinado14 no calor. Quem sabe que cheiro excitante será
apresentado du jour15 por Cooper até o último ano? — Ela sacode o
punho no ar. — Maldita ordem alfabética.
O céu azul se mostra através de algumas nuvens rasgadas pelo
vento, e coloco na mão de Nicki suas chaves. — Talvez pudéssemos
borrifar um daqueles desinfetantes de ar em seu armário — eu digo
enquanto puxo o cinto de segurança em meu peito.
13 Escherichia coli: é uma bactéria bacilar negativa, é a mais comum e uma das
mais antigas bactérias simbiontes do homem. 14 Marinada: é uma técnica culinária que consiste em colocar os alimentos numa
mistura de temperos, muitas vezes na forma líquida, antes de cozinhar 15 du jour: significa „estes dias‟
Nicki liga a ignição e dá uma volta. — Eu ainda não consigo
acreditar que Ari manteve silêncio sobre o fato de que ela é a herdeira
da Terra Encantada durante os dois anos em que estivemos no coral.
Não é que nos falamos muitas vezes, Ari é um pouco quente e fria
para mim, então eu tento evitá-la.
Assenti. — Sim, eu experimentei alguns dos muitos humores
de Ari hoje, mas você sabe, ela tem uma vida difícil.
— Vida difícil? Seu pai é dono de uma aberração de parque de
diversões, o que explica ela ir para Penhasco Branco e dirigir uma
Mercedes!
— Uh, se dinheiro fosse igual felicidade, as clínicas de
reabilitação em Hollywood estariam fora do negócio. E de qualquer
forma, você estaria se gabando de ser herdeira da Terra Encantada?
— Não!
— Vê? E ela tem um pai, que em minha opinião, tem uma
extrema obsessão doentia com contos de fadas. Coloque uma
madrasta louca à mistura e acho que uma vida dura se aplica.
Nicki inclina a cabeça de um lado a outro considerando se
acha que Ari já acumulou pontos suficientes de angústia adolescente
para concordar comigo. — Eu acho. E não pode ter sido fácil depois
que Kayla desapareceu.
— Hein?
— Kayla estava no coral, muito boa, ela era a BFF16 de Ari até
que ela desapareceu no ano passado.
16 BFF: Best Friend Forever: melhores amigas para sempre
— Oh meu Deus — eu digo lentamente. — Eu acho que
conheci o irmão de Kayla no parque hoje.
— Cara quente, de cabelo preto encaracolado, bíceps
fabulosos?
Assenti. — Esse é Luke.
— Ele costumava pegá-las após o ensaio algumas vezes — diz
ela enquanto um sorriso irrompe em seu rosto. — Ele tem algo escuro
e taciturno em si mesmo, isso é questão para ter certeza.
— Sim, ele tem! — eu digo, com um pouco de entusiasmo
demais.
Nicki me dá um olhar rápido, e minhas bochechas se
ruborizam. Eu me afasto dela para ver a paisagem pela janela.
— Alguém esqueceu que tem um namorado?
— Desde quando ‚ter um namorado‛ significa que você não
pode apreciar um cara bonito?
— Não significa, mas da forma como Ari estava sempre
pendurada sobre ele, eu não ficaria surpresa se ela tatuasse seu nome
à força na bunda dele. Se você quiser manter seu emprego novo e
fabuloso, eu teria cuidado com admirá-lo tão abertamente.
Um arrepio me percorre enquanto a voz de Remy — Tenha
cuidado, Meggy — ecoa em minha cabeça. — Hum — me engasguei.
— Não se preocupe com isso. Ari esta bastante segura que Ryan e eu
estaremos trabalhando lado a lado sem Luke a vista.
Eu decido não contar a Nicki que estou planejando visitar
Luke na primeira chance que tiver. Ela é 100% baseada em uma
realidade que não é assombrada por fantasmas. Não há nenhuma
maneira dela acreditar que eu só quero ver o Luke para falar sobre a
minha irmã morta e a visão de Stephen King que ela me mostrou.
Eu olho para fora da janela e reviro os olhos. Não só Nicki não
acredita em fantasmas, mas na segunda série depois que contei a ela
sobre Remy estar de volta, ela foi para casa e contou para a sua mãe,
que disse à minha mãe. Isso me rendeu quatro meses fazendo
desenhos da minha família com meu terapeuta estúpido, até que ela
se convenceu de que eu tinha enfrentado a verdade sobre o que
aconteceu com Remy e papai. Como se seus lugares vazios na mesa
da cozinha não gritassem a verdade a cada dia.
Nicki, pelo menos, se desculpou. Minha mãe só aumentou
minhas visitas ao Dr. Macardo e levou um pouco mais da minha
vida, discutindo a necessidade de terapia.
— Então, como era a Kayla? — Eu pergunto, na esperança de
mudar de assunto.
— Ela era agradável, do tipo tranqüila — Nicki encolhe os
ombros. — Ela deixava Ari fazer a maior parte das conversações. Elas
tiveram algumas brigas, o que atribuí a Ari ser predisposta
geneticamente a ser puta. O estranho foi que, pouco depois que Kayla
desapareceu, Ari apareceu no ensaio com cabelos descoloridos como
o de Kayla.
— Sério?
— Sim, até então o cabelo de Ari era mais perto da sua cor.
Pelo menos ela tem dinheiro para mantê-lo. Você sabe o quanto me
deixa louca quando as pessoas deixam suas raízes ficar fora de
controle. Eu ouvi alguns dos membros mais velhos do coral dizer que
era provavelmente a maneira da Ari de manter a memória de Kayla
viva, mas eu nunca acreditei. Eu só acho que alguma coisa sobre ela
está errada.
— Bem, provavelmente você não ficará muito empolgada de
ouvir que ela quer passar o tempo com a gente este verão. Ela
também está pensando em me ligar hoje à noite para descobrir o que
você vai cantar na audição.
— Oh, Deus. Não se envolva com ela Meg, nossa vida já tem
bastante drama.
— Pode ser divertido ver como é a vida das pessoas de
Mercedes, e não é como se eu fosse ser capaz de evitá-la no parque.
— Seja o que for, apenas me deixe fora da equação, ok?
Nós viramos a esquina para minha rua e eu vejo o carro da
minha mãe na garagem. — Você quer entrar e ver como a nova rotina
foi?
Nicki sacode a cabeça enquanto estaciona na frente da minha
casa. — Eu deveria praticar a minha música. Informe a sua nova BFF
que eu vou cantar ‘Moments in the Woods’.
— Ari ficou surpresa ao ouvir que você estava praticando. Ela
disse que você é impressionante.
— Bem, é surpreendentemente legal da parte dela dizer isso,
mas com o novo diretor, você nunca sabe como vai ser, eu não quero
ser arrogante.
— Ei, eu estou trazendo Ryan para visitar meu pai esta tarde.
Ela levanta as sobrancelhas. — Sério?
— Eu sei que não estamos namorando há muito tempo, mas
Ryan perguntou por ele, algo que Jason nunca fez todos os seis meses
que estivemos juntos. Enfim, é a visita da terapia de cachorros de
Fergus na casa de repouso, então eu perguntei a Ryan se ele queria ir.
Eu fiz parecer que era mais como entreter os residentes, algo que ele
pode fazer nas horas de serviço, e então eu casualmente mencionei
que ele poderia encontrar o meu pai também — Eu sorri. — Ele disse
que adoraria conhecê-lo.
— Isso é genial — diz Nicki, — e Deus sabe que as velhinhas
vão adorar ter Ryan lá.
— Isso me lembra que o Sr. Archulata fica perguntando
quando você vai voltar.
Nicki bufa. — O cara que me tocou? Ele é a razão de eu ficar
longe!
Eu ri. — Bem, talvez ele estivesse procurando algo um pouco
mais emocionante do que arrastar seu tanque de oxigênio ao redor.
Ela sacode a cabeça. — Eu vou com você no próximo mês, mas
desta vez você pode se sentar com ele e ouvir suas intermináveis
histórias de guerra.
Eu abro a porta do carro. — É um acordo! Boa sorte amanhã, e
obrigado pela carona.
Nicki acena enquanto se afasta. Vou até a varanda da frente e
ouço ‚Hopelessly Devoted to You‛ de Olivia Newton-John vindo da
janela aberta do porão. Pobre Fergus. Se minha mãe está ensaiando
seus passos logo após a competição, significa que o novo hábito não
estava tão pronto, como ela esperava.
Pego um biscoito de cachorro da taça no balcão da cozinha e
desço as escadas do porão. Minha mãe ainda está no traje, e ela está
cantando junto com o CD. Fergus tem seus olhos colados a ela,
olhando para os comandos de sua mão. Ela se vira com o ritmo lento
da canção e gira o dedo no ar.
— Não, volta! — Mamãe grita quando Fergus rola sobre suas
costas.
— Fergie — eu chamo. Fergus congela por um segundo, e
então pula para cima e corre para mim. Faço um punho e ele se
senta.
— Diga Olá — Fergus espirra e depois me da um profundo e
grave ‚Ol{‛ do Scooby-Doo.
Eu jogo o biscoito e volto para ver minha mãe olhando pra
mim, as mãos nos quadris, obviamente chateada porque eu
interrompi.
— Não foi bem? — Eu pergunto.
Minha mãe sacode a cabeça e desliga o CD. — O segundo
lugar! Eu não deveria ter tentado algo novo para a competição.
— O segundo lugar ainda é muito bom.
Ela olha para mim como se eu tivesse acabado de dizer algo
completamente escandaloso. — Bom? Não tem um segundo lugar na
exposição em mais de um ano! E o vencedor do primeiro lugar veio
do nada, um homem com pouco cabelo e com um horrível Brussels
griffon17 dançando ‚Love Shack‛, ainda por cima. Se ele quer ser
habitual no circuito da competição, eu tenho que intensificar o meu
jogo — Mamãe enruga o nariz. — Você deveria ter visto Kathy Gates
atuando toda presunçosa porque finalmente alguém nos derrotou.
— Ela é a senhora com o permanente muito ruim e o
Labradoodle18?
— Sim, ela raramente está entre o top dos cinco primeiros com
a rotina chata que tem sido de sonambulismo durante os últimos três
anos! Eu devia pelo menos ter conseguido alguns pontos por tentar
algo novo.
Sento-me no chão. Fergus me abraçou e colocou a sua cabeça
em meu colo. — Talvez você precise de algo mais agitado — eu digo,
esperando que ela escolha uma nova música.
Ela ajusta sua saia e eu tento não estremecer. É demasiada
curta para alguém com quarenta e sete anos de idade, que precisa
perder sete quilos. — Nós só precisamos trabalhar um pouco mais
duro, isso é tudo. Mas nós vamos ter isso perfeito para próxima
competição!
Eu conto até cinco esperando que me pergunte sobre a
entrevista de emprego.
— Bem, porque você não sobe para que possamos continuar a
praticar? Você sabe que Fergus não consegue se concentrar, se ele
pensa que você vai jogar biscoitos pra ele o tempo todo.
17 Brussels griffon: http://bit.ly/cZ6VG1 18 Labradoodle: http://bit.ly/dgjfHO
— Eu consegui o trabalho, no caso de estiver perguntando.
Ela me dá um olhar em branco. — Você já tem um emprego.
— Deixei a livraria, lembra? Então Nicki me levou para a Terra
Encantada para uma entrevista. — Eu esfrego as orelhas aveludadas
de Fergus, sabendo que ela nunca vai admitir que ela apenas meio
que me ouviu ontem de manhã quando lhe pedi uma carona.
Ela desamarra o lenço que envolvia seu rabo de cavalo e
balança os cabelos grisalhos em torno de seus ombros. — Ah, certo.
Eu acho que eu esqueci que era hoje.
Isso porque tudo o que te importa é o cachorro, eu estou tentada a
dizer.
— Você se lembra que eu vou levar Fergus para ver papai esta
tarde. Certo?
— Claro que me lembro. — diz ela, mas eu não estou
convencida.
— Eu vou levar Ryan também.
— Diga ao seu pai que eu irei amanhã, ok?
— Claro. — Eu espero, esperando ela notar que eu devo estar
realmente séria com Ryan, porque eu nunca tinha levado qualquer
pessoa, exceto Nicki, para ver o papai. Ou talvez ela vá falar que eu
deveria convidá-lo para jantar, para que ela possa conhecê-lo melhor.
Alguma coisa. Qualquer coisa.
— Fergus, vem! — Ela comanda.
Ele levanta e fica ao seu lado. — Você pode apertar o botão
‚play‛ antes de ir?
— Claro — eu digo novamente. — Não o canse demais, ele
não é tão jovem como costumava ser, e o companheiro de quarto do
papai gosta de vê-lo fazer truques. — Ligo o CD e subo as escadas.
Essa é a mais longa conversa que tivemos nas últimas semanas.
* * *
— Obrigado por me deixar vir, — Samantha canta enquanto
ela salta à minha frente e de Ryan no caminho para a casa de repouso.
Suas longas tranças loiras se balançando para frente e para trás,
reviro meus olhos, somente ela poderia sair por ai usando rabo de
porco19, depois dos dez anos de idade. — Eu realmente preciso cobrir
algum tempo livre das minhas horas de participação comunitária.
Ainda tenho vinte e uma horas para ir.
Dou de ombros. — Não tem problema. — Considerando o fato
que você já estava no carro quando chamei o Ryan, que escolha eu tinha?
Com grande esforço mantenho o meu sorriso para mascarar a
amargura comendo as minhas entranhas. Eu sei que parte disso é
culpa minha. Eu deveria ter dito a Ryan que eu não trago ninguém
para ver papai, mas ainda assim.
Pelo menos Ryan parecia genuinamente emocionado da minha
nova atuação na Terra Encantada. E chegar a ver como a mandíbula
19 http://bit.ly/a9IJxj
da Samantha caiu quando compartilhei a notícia, quase fez valer a
pena tê-la aqui. Quase.
Ryan aperta minha mão e olho para ele. Ele me dá o mesmo
olhar "sinto muito" que ele tinha no rosto quando vi a Samantha
fazendo sinais no assento dianteiro de seu carro.
— Ela realmente quis vir quando lhe contei sobre isso — disse
ele em voz baixa nos degraus da frente da minha casa. — Me senti
mal em dizer "não" porque ela tem estado louca para conseguir fazer
todas as horas requeridas para sua graduação.
— Ela ainda tem todo o fim do ano — eu disse.
Ryan deixou o ombro cair e apertou seus olhos verdes por um
segundo. — Eu sei. E eu sei que preciso falar com ela sobre nos dar
um pouco mais de espaço, e eu vou. Ela só não tem muitos amigos, e
ela está acostumada a fazer tudo comigo. Mas eu vou falar com ela.
Eu prometo.
— Tanto faz.
Ele envolveu seus braços ao redor de mim e me puxou para
perto. — Você é a melhor — ele sussurrou. — E te compensarei, que
tal um jantar e um filme esta noite, só nós, e podemos fazer planos
para o nosso próximo passeio.
Um verdadeiro sorriso veio aos meus lábios com o
pensamento. E pelo menos ele a fez ficar no banco de trás com
Fergus, que nunca deixa de babar copiosamente durante as viagens
de carro.
Chegamos à entrada e Fergus sentou-se na porta automática
aberta. — Ele está esperando o ok para ir para dentro — explico
enquanto o ar fedido e muito quente do lar de idosos, uma mistura de
desinfetante e urina, passa e me bate na cara.
Samantha acotovela Ryan. — Ah, não é lindo? Eu deveria ter
trazido o Muffin.
— Oh, por favor. Não há absolutamente nada terapêutico
sobre Muffin — falo bruscamente. — E você não pode trazer qualquer
cão a uma casa de repouso. Você teria que ter o certificado como um
cão de terapia, que consiste em um teste de boas maneiras e
comandos, o que, devo acrescentar, Muffin carece profundamente!
Eu balancei minha cabeça. A idéia de que o pesadelo de
quinze quilos seja cotado como cão de terapia é ridícula.
Claro, o meu plano de conseguir o certificado de Fergus e
assim tentar me reconectar com minha mãe é ridículo também. Eu
esperava que se estivesse envolvida com a única coisa que ela
demonstrou um real interesse, Fergus, ela poderia se lembrar que
tinha alguém que sobreviveu ao acidente intacta. Em vez de sugerir
que trabalhássemos nisso juntas, ela se preocupou por que a nova
rotina poderia afetar as suas rotinas de estilo livre. Deus me livre!
Eu percebo que ninguém está falando e me viro para ver Ryan
e uma Samantha com olhar ferido olhando para mim. — Porém, eu li
que Russell Terrier é uma das raças mais difíceis de treinar — eu
disse, tentando controlar os danos.
— Sim, — ela diz baixinho — eu li isso também.
Ryan coloca um braço em volta dos meus ombros e eu relaxo.
— E Sammy — ele diz, — Muffin late para qualquer coisa que se
mova. Ele lideraria uma série de paradas cardiorrespiratórias se o
trouxéssemos aqui.
Ela faz bico para Ryan. — Muffin não é tão ruim.
Fico tentada a dizer, segura como o inferno de que é muito ruim,
mas penso que tenho jogado a carta de harpia bastante por um dia.
— Ok, Fergus — eu digo e passamos sobre o tapete de bem—
vindos. A recepcionista, Mary, olha para cima de seu laptop e nos
cumprimenta.
— Aqui esta os meus dois visitantes favoritos — diz ela. —
Com os reforços!
— Oi, Mary — eu digo enquanto eu entro, — Este é o meu
namorado, Ryan, e sua vizinha Samantha. Eles vão trabalhar algumas
das suas horas de serviço.
— Prazer em conhecê-los — diz Mary. — Nós sempre amamos
os visitantes.
Ryan a cumprimenta e logo alcança a minha mão e da um
aperto. — E finalmente vou conhecer o Sr. Sones!
— Oh sim, Ryan me disse que seu pai trabalha aqui. — diz
Samantha, olhando em volta como se o meu pai pudesse estar
perambulando ao redor com um casaco branco, acenando para nós.
Mary rapidamente vira para nos dar a nossa etiqueta de
visitante, e eu balanço a cabeça. — Meu pai é residente aqui. Ele está
aqui durante os últimos dez anos. Nunca mais acordou depois de um
acidente de carro.
A mandíbula de Samantha cai pela segunda vez hoje,
enquanto ela encara Ryan. — Por que você não me contou?
Ryan olha para mim com pânico em seus olhos. — Eu não
disse que ele trabalha aqui, eu disse que ele estava aqui. — Ele se vira
para Samantha. — Eu pensei que você soubesse sobre o pai de
Megan.
— Como eu poderia saber sobre seu pai?
— Ryan — eu falo, — Samantha não se mudou para cá até
depois do acidente.
— Oh, merda — diz ele, e logo seus olhos se focam em Mary.
— Desculpe senhorita... uh, Mary! — Ele esfrega a mão nervosamente
em sua mandíbula. — Eu sou um idiota.
Samantha começa a recuar. — Eu sinto muito, Megan, eu
pensei que isto era apenas para conseguir horas! Eu nunca teria que
ter vindo se soubesse que você estava trazendo ele para conhecer o
seu pai. Por que eu não vou e espero no carro?
Estendo minha mão e toco a sua. — Não vá. Muitas pessoas
aqui nunca recebem visitas, realmente se decepcionariam se você
fosse. E o Sr. Archulata no segundo andar, fica me perguntando
quando eu vou deixar o Fergus em casa e trazer algumas garotas
gostosas.
Ela me dá um meio sorriso. — Ok, mas eu queria que Ryan
tivesse me dito. — Diz ela enquanto esmaga o braço.
Eu sorrio de volta, pensando que inclusive ainda é difícil odiá-
la às vezes, mas eu não vou avisá-la sobre o Sr. Archulata e suas mãos
errantes.
— Megan — diz Mary enquanto ela nos dá as nossas etiquetas.
— Sr. Peck faleceu na terça—feira.
Eu suspiro. Perdi a conta de quantos colegas de quarto papai
já teve. Eles seguem morrendo enquanto ele persiste, e graças a um
tubo de alimentação.
Eu afasto o pensamento de que eles são os sortudos.
— Ele era o companheiro de quarto mais recente do meu pai.
— digo finalmente.
Sr. Peck amava ter o Fergus pulando na cama com ele. Ele
acariciava sua pele e me contava dos cães que tinha tido. Eu ouvi as
mesmas histórias tantas vezes, que eu tenho certeza que eu poderia
repeti-las textualmente. — Obrigada por cuidá-lo, Mary.
Eu endireito a bandana de cachorro de terapia de Fergus e
inclino minha cabeça em direção à sala de reuniões. — Começaremos
por aqui, tem varias pessoas que sempre gostam de sair de seus
quartos para ver o Fergus fazer seus truques, e logo podemos nos
separar ou vocês podem vir comigo enquanto visito algumas das
pessoas que não podem se mover.
Ryan e Samantha assentiram, mas pelas suas faces pálidas eu
suponho que nenhum deles está pronto para começar o caminho por
conta própria. Eu não os culpo, estar cercado por pessoas à beira da
morte é uma coisa assustadora.
Ryan e eu deixamos Samantha no corredor com o Sr.
Archulata e fomos para o quarto de papai. Abro a porta e noto que
removeram a cama do Sr. Peck. Fergus cheira o caminho até papai e
senta—se enquanto eu puxo uma cadeira ao lado de sua cama. Fergus
pula, e coloca suas patas no trilho lateral. Ele deixa cair suavemente à
cabeça no peito de papai, que está se movendo para cima e para baixo
lentamente, sua respiração soando ofegante e trabalhosa. Tomo nota
para dizer a enfermeira para manter um olho nele, caso ele possa
estar desenvolvendo pneumonia. Levanto o braço esquerdo do papai
e delicadamente o deposito sobre Fergus.
De repente, aparece Remy, tênue e desfocada no outro lado da
cama. Ela oscila dentro e fora de vista, torcendo e retorcendo suas
tranças.
O que está acontecendo? Além do fato de que ela nunca
apareceu na casa de repouso antes, eu não consigo lembrar nenhuma
vez em que ela apareceu duas vezes em um dia. Sempre contava em
conseguir, pelo menos, um mês mais ou menos entre as visitas, o que
me impedia de enlouquecer.
Remy caminha em direção à janela e desaparece.
— Estrela brilhante, estrela brilhante, primeira estrela que vejo esta
noite. — Sua voz ecoa ao redor do quarto.
Franzi meus lábios. Remy e eu costumávamos sentar no
convés traseiro e explorar o céu ao entardecer em busca da primeira
estrela da noite. Logo que uma de nós descobria, nós competíamos
pelo poema, cada uma de nós esperando terminar primeiro e
reclamar o desejo.
Ryan arrasta seus pés junto a mim e eu sei que eu deveria
dizer algo, mas eu estou congelada no lugar enquanto escuto as
palavras que Remy canta.
— Eu desejo que possa, desejo que pudesse, ter o desejo que eu desejo
esta noite.
Ela aparece novamente ao meu lado e eu prendo o fôlego
enquanto a sua mão gelada de fantasma se estende sobre a minha.
Eu preciso bloqueá-la. Não posso deixar que algo de errado
aconteça.
Ela começa a rima de novo e eu estudo o rosto afundado de
papai e a barba escura e rala nas bochechas e queixo. As enfermeiras
costumam fazer a barba quando sabem que estou vindo, mas talvez
houvesse coisas mais urgentes para cuidar hoje. Lágrimas brotam nos
meus olhos enquanto olho o comprimento de seu braço, atrofiado por
falta de uso, pendurado em Fergus.
Estado vegetativo persistente.
— Eu desejo que possa, desejo que pudesse, ter o desejo que eu desejo
esta noite.
Meu coração afunda quando as palavras de Remy me levam a
pensar no que tenho evitado todos estes anos... Que no fundo eu
sempre soube que o que os médicos têm nos dito era verdade, e a
recuperação milagrosa que estamos desejando nunca vai acontecer.
Esta concha de uma pessoa deitada na cama não é meu pai, e não
importa quantas vezes a gente venha aqui com o nosso toque, nossas
vozes, ou mesmo Fergus, não importa quantas vezes temos desejado
isso, ele nunca mais vai acordar.
— Meg? — Ryan sussurra.
Ele passa um braço em volta de minha cintura, e Remy
desaparece novamente. Tento lembrar como me sentia nos braços de
papai. Não posso.
— Meg? Vai me apresentar?
— Não — as lagrimas finalmente se transbordam e caem pelas
minhas bochechas. — Não, não tem sentido.
Remy se solidifica na minha frente, seus olhos em pânico fixos
nos meus. Ela está tão clara que eu posso ver todas e cada sarda do
seu nariz. — Meggy, onde está o papai? — Diz ela, sua voz trêmula.
Tremo enquanto meu corpo vai ficando mais frio. — Ele está
bem aqui — eu sussurro.
— O quê? — Ryan pergunta.
Remy aperta as mãos em punhos, e borrifos de água saem
enquanto ela a sacode a seu lado. — Onde ele está Meggy? Estou com
tanto medo e eu não sei como te ajudar.
As lâmpadas sobre a mesinha de cabeceira explodem,
mandando uma chuva de vidro e faíscas que descem em cascata. O
monitor de papai começa a chiar e a sair fumaça, e um alarme soa.
— Onde está o papai? — Ela grita.
— Oh, meu Deus. Temos que sair daqui. Fergus! Vem! — Eu
puxo o braço de Ryan e o arrasto para fora do quarto.
— Onde conseguimos ajuda? — Pergunta ele, buscando
freneticamente pelo corredor.
— Eles vão ouvir o alarme. — Eu disse ofegante. Os gritos de
Remy ecoam pelo corredor.
— Papai! Ajudem-me! Papai!
As enfermeiras correm para nós enquanto remexo em minha
bolsa por meu inalador.
— Meg, vai ficar tudo bem — diz ele, alcançando a minha
mão.
— Não, não vai... Remy está pior.
Encosto no sofá com uma manta até meu queixo para afastar
o frio que Remy trouxe com ela, Fergus está enroscado aos meus pés,
seus olhos seguindo Remy, enquanto ela caminha para frente e para
trás na frente da TV. Pelo menos ela é transparente agora, então ela
não está bloqueando a minha visão. Como se realmente pudesse
prestar atenção quando ela está murmurando para si mesma.
Fergus emite uma série de lamúrias, salta para o chão, e sai
correndo até a cozinha.
— Esta contente? Assustou o cachorro! — Eu grito para ela.
Lanço uma almofada, mas ela não perde o passo e continua
olhando sem rumo ao redor do quarto. — Ruim. Ruim. Tenho que
encontrar o papai. Papai sabe o que fazer. Eu não sei. Não sei.
— Papai está na casa de repouso. Não se lembra que hoje você
destruiu alguns monitores muito caros no seu quarto?
Remy se mantém andando e sacudo a minha cabeça, me
perguntando quando mamãe voltará da casa de repouso. Sem
dúvida, ela foi confrontar o diretor, um novo, por não ser capaz de
explicar o show pirotécnico de Remy esta tarde. Me sinto mal pelo
homem, não é sua culpa se Remy ficou louca. E pela experiência
passada, sei que nenhum eletricista no mundo será capaz de explicar
a explosão espontânea.
Claro, também com base na experiência passada, mamãe deve
somar dois mais dois e lembrar que as explosões de lâmpadas e
eletrodomésticos defeituosos têm sido uma ocorrência bastante
normal em nossa casa desde o acidente. Talvez ela inclusive se
lembre, que eu disse a ela anos atrás que era Remy quem estava
causando todos os problemas, antes de eu adotar explicações ‚sãs‛
sobre a indústria de iluminação desapontando os consumidores
através de produtos de má qualidade. Claro, tinha concordado só
para evitar as sessões extras com o Dr. Macardo.
Sacudo a cabeça. Foi extremamente brilhante da minha parte
mencionar o nome de Remy na casa de repouso. Ryan agora
provavelmente pensa que eu sou algum tipo de aberração.
— Se ele romper comigo, é tudo culpa sua!
Ruim. Ruim. Eu não sei. Estrela brilhante...
— Cale a boca! — Eu grito.
Remy para de repente e gira a cabeça em minha direção. Ela se
solidifica e a temperatura na sala desce ainda mais. — Meggy!
Reviro os olhos. Bom trabalho. Eu tinha que chamar sua
atenção.
Remy caminha para mim e me dá um sorriso torto. Vejo uma
gota escorrer de sua testa e se pendurar por um segundo no final de
seu nariz. Eu escuto o som do rio golpeando contra o carro tantos
anos atrás. — Aquele menino pode ajudar.
— Luke?
A campainha toca e Remy ri. — Desejo que possa, desejo que
pudesse... — Ela diz enquanto se vira e pula para longe,
desaparecendo à medida que vai.
Tremo incontrolavelmente enquanto afasto a manta. — Uh... já
vou.
Olho pela janela e vejo o carro de Ryan estacionado na calçada.
Remy sabia que Ryan estava aqui? Era ele a quem ela se referia? Abro
a porta e ele está segurando uma bolsa grande e marrom com um
cardápio chinês no topo e vários DVD’s.
— Já que disse que não ia sair esta noite, eu pensei em trazer
comida e entretenimento para você.
Ele olha com os olhos muito abertos, esperançosos, e só ver os seus
olhos verdes, o frio se vai de mim. Eu me inclino e o beijo. — Você é o
melhor.
Ele sorri. — Eu estou tentando, e espero que isso ajude a
compensar pela gafe que fiz anteriormente com a Sammy.
Eu assinto enquanto o guio. — Isso definitivamente ajuda.
Eu pego a comida e a coloco na mesa de café.
— Oh, está frio aqui. — diz ele enquanto se senta no sofá.
— Uh... Minha mãe tinha posto o ar condicionado bem forte.
Embora, eu tenha arrumado agora. — Faço uma análise rápida da
sala e vejo Remy parada na janela, de costas para nós. Eu me
pergunto se Ryan irá mencionar quão frio estava no quarto de meu
pai, antes dos fogos de artifício começaram, mas se ele é como minha
mãe, não vai. Ninguém parece ser capaz de ligar os pontos.
Eu sento ao lado de Ryan e ele envolve um braço em volta de
mim. — Te manterei aquecida.
Inclino para ele e respiro o cheiro fresco de recém lavado e
sabão. Ele beija minha bochecha, depois seus lábios traçam o caminho
da minha mandíbula até o meu pescoço. Meu estômago sacode e
aperto mais seu braço.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Eu suspiro enquanto a realidade me bate de novo. Falo que
estou absolutamente exausta de fingir que tudo está OK, apesar do
fato que as coisas de fantasma de Remy têm piorado em mil graus?
Que ela estava assustada por mim, pela merda da Terra Encantada,
antes que destruísse o quarto de papai, e que ainda sou obrigada a
sorrir como se nada estivesse errado?
Eu me aconchego mais perto. — Sim, eu estou bem.
Odeio poder mentir com tanta facilidade a todos, mas
suponho que tive muita prática ao longo dos anos. Quero perguntar a
Ryan se ele acha que é fácil manter uma conversa, enquanto Remy
balbucia como uma pessoa louca no fundo, ou como se supõe que
devo me manter vivendo com este segredo dia após dia.
Inclino meu queixo para cima e ele me beija forte. Eu quero me
perder nesse momento, mas não posso. Eu me afasto e tomo uma
respiração profunda. — Você acredita em fantasmas?
Meu coração palpita enquanto seu sorriso vacila.
— Hum, eu não sei. — Ele dá de ombros. — Eu acho que não,
não acredito neles. Por quê?
Dirijo meu olhar para a janela e vejo Remy se balançando para
frente e para trás sobre seus calcanhares. — Às vezes... às vezes sinto
como se Remy estivesse aqui. — Eu prendo a respiração, esperando a
sua resposta.
Ele estende a sua mão e pega a minha. — Isso é natural. Quero
dizer, ela era sua gêmea, é claro que desejaria que ela estivesse aqui,
especialmente com o que aconteceu hoje.
— Sim, mas... — Faça Megan. Faça. — Às vezes eu a vejo. Como
hoje no quarto de meu pai, ela estava lá.
Ryan beija a minha mão, mas não diz nada.
Puxo minha mão e examino seus olhos. — Você acha que eu
sou louca, né?
Ryan sacode a cabeça e pega a minha mão de novo. — Não,
claro que não. Quer dizer, não posso imaginar como foi para você, eu
nunca perdi alguém realmente próximo. Mas enquanto você não
estiver ouvindo vozes, eu acho que você está bem.
Forço um sorriso em meu rosto e me sento para abrir a bolsa
de comida chinesa.
— Você não está ouvindo vozes, está?
Reviro os olhos enquanto lhe entrego um rolo de ovo. — Ha!
Não! Isso seria loucura!
Ele ri e leva o rolo de ovo a boca, mordendo pela metade. —
Tudo bem — diz ele com a boca cheia. — De filmes trouxe um pouco
de tudo. Você escolhe — Ele espalha as caixas de DVDs sobre a mesa.
— Nós temos anos oitenta: Pretty in Pink20, comédia romântica: Made
of Honor21...
Dou um olhar incrédulo. — Você pediu a Samantha para te
ajudar a escolher os filmes, não é?
Ele engole seco. — Uh... Algo assim. — Ele olha para os DVDs,
evitando meus olhos. — Eu pensei que ela poderia conhecer alguns
filmes bons para garotas.
— Você sabe que o tema desse filme é amor não
correspondido, não é?
— Oh, Deus. — Ele pega ‚Pretty in Pink‛ e olha para tr{s. —
Oh, Deus. — Ele me dá esse olhar de envergonhado, sinto muito, que
eu vejo com tanta freqüência. — Nós conversamos depois que te
deixei. Sério, ela disse que estava tudo bem. Que ia nos dar algum
espaço.
Afundo meu rosto em minhas mãos. Poderia este dia ficar
ainda pior?
— Ryan, você sabe que a garota está perdidamente
apaixonada por você, e inclusive ela te disse que tudo está legal, mas
não está! E que tipo de pessoa tem um bate—papo de ‚lembre que
somos apenas amigos‛ e imediatamente depois pede ajuda para
escolher filmes para a sua namorada?
20 Pretty in Pink: A Garota de Rosa Shocking, filme de 1986 21 Made of Honor: O Melhor Amigo da Noiva, filme de 2008
Suas bochechas coram e ele começa a gaguejar. — Eu ah... não
sei...
— Acho que a palavra que você está procurando é
‚insensível‛.
— Uh...
— Olha Ryan, você tem que ser honesto, porque eu tenho
bastante porcaria acontecendo na minha vida, sem me preocupar com
Samantha 24/722. Sente algo por ela?
A boca de Ryan cai aberta como se essa fosse à coisa mais
ridícula que ele já ouviu. — Não! Ela nunca foi nada mais que uma
amiga para mim. Sério!
— Bem. Próxima pergunta, e precisa ser totalmente honesto.
Ele franze a testa. — Ok.
— Uma parte de você sabe que Samantha sempre estará
esperando atrás dos bastidores?
Ele junta os dedos, abaixa a cabeça e olha de soslaio para mim.
— Não!
— Não é como se te fizesse uma má pessoa, se sentir
lisonjeado faz parte da natureza humana. Como é ser ciumento. —
Dou de ombros. — Acho que só me incomoda que continue
mantendo essas conversas sobre a necessidade de espaço, e que
inclusive esta noite romântica que planejou tenha as impressões
digitais dela por cima.
22 24/7: 24 horas e 7 dias por semana, uma gíria que significa todos os dias e
todas as horas
— É difícil porque ela está na porta do lado, não é como se eu
pudesse evitá-la, e ela tem sido minha amiga por muito tempo.
— Eu sei. — Pego ‚Pretty in Pink‛. — E talvez eu esteja
exagerando. Molly Ringwald termina com o gatinho no final do filme
e não com a melhor amiga.
Ryan me dá um olhar ardente. — Assim como eu!
— Ganhasse pontos de exploradora por isso. — eu digo. Jogo o
DVD sobre a mesa e lhe dou um beijo rápido. — O que mais você
trouxe? E se você disser a primeira temporada de ‚Dawson's
Creek23‛, eu vou te bater.
— Dawson’s Creek?
— É uma velha série de TV que Nicki me fez ver um milhão de
vezes no primeiro ano. Seis temporadas de amor não correspondido
girando em torno de um garoto com uma necessidade desesperada
de uma intervenção capilar.
Ryan balança a cabeça. — Não h{ ‚Dawson's Creek‛, mas eu
escolhi esses: Shaun of the Dead24 e Stardust25. Lembro que disse que
gostava de ler coisas de Neil Gaiman, mas dado o meu talento para
incomodar... — Ele estende ‚Shaun of the Dead‛. — Talvez assistir
alguns caras comendo cérebros fosse mais terapêutico agora mesmo.
Olho em volta e vejo que Remy não esta em nenhum lugar a
vista. — Apesar de parecer atraente, eu tenho uma idéia melhor. —
Beijo-o ligeiramente nos lábios. — Não sei por quanto tempo minha
23 Dawson's Creek: seriado americano 24 Shaun of the Dead: Todo Mundo Quase Morto, de 2004 25 Stardust: Stardust - O Mistério da Estrela, de 2007
mãe estará fora, mas ela sempre estaciona o carro na garagem à noite,
assim poderemos ouvi—-la quando chegar em casa.
Começo pelas minhas sandálias, deixo-as atrás do sofá e puxo
Ryan para cima de mim.
— Sim, isso é melhor do que zumbis. — ele sussurra em meu
pescoço.
Ele me beija e desliza as minhas mãos embaixo de sua
camiseta. Passo meus dedos pelas suas costas, e sei que vou ser capaz
de isolar a loucura por um momento, pelo menos até que mamãe
venha para casa.
A porta da garagem soa, e Ryan pula fora do sofá. Eu puxo
minha camisa de volta sobre a minha cabeça e estico as almofadas do
sofá. — Ponha um filme. Vou pegar o resto da comida chinesa.
Ryan se atrapalha com uma caixa de DVD, e eu rio enquanto
pego os recipientes fora da bolsa e abro. — Depressa! — Falo
enquanto desembrulho os pauzinhos. Eu corro para a cozinha e pego
um par de pratos e depois corro de volta para a sala.
Ryan senta de volta no sofá e lhe entrego o arroz frito. Ele se
vira para mim enquanto despeja arroz em nossos pratos, e seus olhos
saltam. — Seu cabelo!
Levanto—me e olho no espelho. Cabeça de cama, ou de sofá,
enfim, meu cabelo pede a gritos por uma sessão de transformação.
— Já volto. — Entro no banheiro e passo uma escova pelo meu
cabelo. Minhas bochechas estão vermelhas, mas afortunadamente
mamãe pensará que é a pimenta na carne de frango General Tso26 e
não de flertar com Ryan.
Volto para a sala de estar e me envergonho. Mamãe está
parada ao lado do sofá com os braços cruzados sobre o peito, olhando
fixamente para o Ryan.
— Meu advogado quer falar com você, tudo bem?
— Mãe!
Mamãe se vira para mim, o rosto comprimido com raiva. —
Bem, ninguém na casa podia me dar uma resposta satisfatória sobre o
que aconteceu e como eles podem impedir que aconteça de novo,
então eu acho que é perfeitamente justificado que o nosso advogado
entre para garantir que seu pai consiga uma atenção adequada.
Reviro os olhos. — Eu acho que entrar em contato com um
vidente seria mais adequado.
— E o que é que isso quer dizer? — Diz ela, dando—me um
olhar que me diz que um bom exame de cabeça com meu terapeuta
esta apenas a distância de um telefonema.
Antes que eu possa responder, Ryan se levanta. — Eu
realmente não vi nada, Sra. Sones. Pareceu acontecer tudo de uma
vez. — Ele olha para mim. — E na verdade, eu provavelmente
deveria ir para casa. Estamos indo para um batizado em Portland
amanhã, então teremos que chegar cedo. Vou te mandar uma
mensagem do carro e podemos planejar a excursão.
— Ótimo. Eu o acompanho até lá fora — eu digo.
26 General Tso: É um doce e picante frango frito
Minha mãe me olha como cravando facas, e Ryan se move
desconfortável. — Tudo bem, Meg. Eu uh... Te ligo amanhã. — Ele
estende a mão e aperta a minha. — Tchau, Sra. Sones.
Ele fecha a porta e me preparo antes de girar para enfrentar a
mamãe.
— Você quer se explicar, senhorita?
Quer? Infernos, sim! Acho que vai acreditar em mim? Merda,
não! Mas não quero que a casa de repouso pague a conta por Remy
tampouco. Essas pessoas trabalham muitas horas por pouco dinheiro
ou gratidão, e eu não vou deixar seu advogado jogar sangue sobre
eles.
— Era a Remy. Ela estava louca, e depois tudo explodiu.
Mamãe inala profundamente enquanto seu rosto empalidece.
— Não de novo, Megan. Não vou deixar você me fazer isso de novo.
— Eu não estou fazendo isso, Remy está. Você já viu as
conseqüências dos seus ataques de mau humor aqui. Coisas voando
para fora da parede, lâmpadas estourando, você não pode fingir que
é normal. Pelo amor de Deus, some dois e dois!
Mamãe começou a se afastar, eu corri atrás dela agarrando seu
braço. — Quantos microondas já trocamos? Quantas molduras
quebradas tem havido, ou cadeiras caindo? É tudo Remy.
Mamãe tenta sacudir seu braço mais eu mantenho o aperto
firme. — Tente vê-la. Chamar seu nome!
— Me solte. — diz ela com os dentes cerrados.
— Chame ela, maldição! Tente vê-la e descobrir por que ela
está me perseguindo. — Solto seu braço e olho para seu rosto. — Por
favor, mamãe — digo, as lágrimas escorrendo pela minha bochecha.
— Ela ainda está aqui, e talvez se você acreditar, você vai ver. Eu
preciso que você a veja. Preciso da sua ajuda.
Mamãe endurece seu rosto em uma máscara inexpressiva, e eu
olho descontroladamente ao redor da sala. — Remy! Mamãe está
procurando por você! Onde você está?
— Pare Megan!
— Remy! Onde você está? Eu uh, eu pedirei um desejo! Você
me ouviu, Remy? — Eu respiro fundo enquanto começo a andar ao
redor da sala. — Estrela brilhante, estrela brilhante, primeira estrela
que vejo esta noite.
Remy aparece nebulosa e cintilante, na minha frente. — Pede
um desejo, Meggy.
— Aqui! — Eu grito, apontando para Remy. — Ela está ali!
Mãe recua, mas seus olhos passeiam pela sala. Por favor, Deus,
deixe que mamãe a veja. Fergus entra correndo e fica ao seu lado,
olhando fixamente na direção de Remy. Ele geme, e mamãe agita
uma mão para ele com desdém.
Eu olho para Remy e gesticulo em direção a mamãe. — Remy,
vá para a mamãe. Mostre—lhe que você está aqui!
Mamãe sacode a cabeça, mas seus olhos continuam a procurar
pela sala.
— Mãe, ela é está bem aqui, Remy precisa de você.
— Não — mamãe sussurra. Seu lábio inferior treme. — Pare
Megan.
Eu olho para trás e para frente entre Remy e mamãe, nenhuma
vê a outra, e caio de joelhos. — Está aqui mãe, porque você não pode
vê-la? — Aponto para Remy novamente. — Ela está ali!
Lágrimas caem dos olhos de mamãe, e seu rosto se enruga. —
Por que você esta fazendo isso comigo?
— Eu preciso que você a veja, — eu digo, soluçando. — Eu não
posso fazer isso por minha conta mais.
— O que você precisa é de ajuda. — Ela sacode a cabeça e se
afasta de mim indo para a cozinha.
— Não se incomode ligando para o Dr. Macardo! Eu não sou
louca e você não pode me obrigar a ir. — Eu me enrolo no chão e
Fergus se deita ao meu lado. Eu envolvo meus braços em torno dele e
choro enquanto Remy pula em círculos em torno de nós.
Um carro passa voando por mim e eu cambaleio em minha
bicicleta. Agarro forte o guidão e mantenho minhas pernas
pedalando de forma constante. Espero que Luke esteja em casa. São
só sete e meia, assim imagino que seja muito cedo para que ele vá a
Terra Encantada. Claro, provavelmente ele está dormindo e não
estará muito animado que eu o acorde, mas estou desesperada.
Vejo a placa de bem—vindo aos turistas na faixa de saída da
North Conway, e logo à frente está a casa roxa de Luke.
Pedalo mais forte e em seguida freio na passarela da frente.
Ornamentos de gramado estão alinhados nele e posso imaginar o que
Nicki diria se estivesse aqui. — Essa coleção de gnomos, patos de
plástico, e filhotes manchados é claramente um sinal de doença
mental, e você seria louca de entrar nessa casa.
Assenti. Como ‚louca‛ é o meu novo segundo nome, o que
tenho a perder?
Enquanto ando até a casa, tento tirar a sensação de que estou
fazendo isso às escondidas de Ryan. Sei que não estou fazendo nada
de errado, só estou aqui por Remy, e a vibração no estômago é
devido aos nervos e não por esconder coisas do meu namorado. E eu
tentei dizer a Ryan sobre ela, precisava que soubesse, mas era
bastante óbvio que empurrar a coisa fantasma para ele só o faria se
afastar — como mamãe.
Inclino minha bicicleta contra o alpendre da frente. O som do
vento tilintava enquanto a brisa fresca da manhã passava soprando,
levando o perfume de violetas. Subo devagar as escadas rangentes e
meu estômago revira nervosamente. E se Luke não puder me ajudar?
E se estiver presa a Remy pelo resto da minha vida?
Toco a campainha e escuto pés se arrastando lá dentro. A
porta se abre e uma mulher pequena e redonda em um roupão floral
olha para mim. Ela toca uma longa e grossa trança coberta de cabelo
grisalho sobre seu ombro e estala sua língua.
— Oh — ela diz enquanto a sua mão alcança o meu braço. —
Você coitada, venha para dentro e deixe Nona ajudá-la.
No momento em que seus dedos tocam a minha pele, a
sensação nervosa desaparece.
Ela me leva para uma sala justamente ao lado da porta da
entrada e aponta uma cadeira sobrecarregada.
— Sente-se — diz ela gentilmente.
Deixo—me cair na cadeira e ela me olha de cima a baixo. —
Você é muito jovem para ter uma nuvem tão escura te rodeando.
— Eu estou... Estou aqui para ver o Luke. — Eu digo incapaz
de afastar o olhar de seus penetrantes olhos azuis.
— Shh — Nona estende suas mãos sobre as minhas têmporas.
— Tanta dor — sussurra.
Uma sensação de calma parece irradiar de seus dedos e enche
o meu corpo. Eu afundo na cadeira e respiro profundamente.
— Aqui está — diz ela.
— Nona!
Salto da cadeira. Luke está parado na entrada com as mãos nos
quadris.
Nona zomba. — Não comece comigo, Luke. Aos setenta e
nove anos eu te digo o que fazer e não vice-versa!
Luke se apressa para o seu lado apenas a tempo de pegar
Nona enquanto ela cambaleia sobre seus pés. — Aos setenta e nove
anos pensei que saberia melhor — ele disse enquanto a conduzia a
outra cadeira.
Nona abana seu rosto durante alguns segundos e depois
aponta para mim. — Se você tivesse visto o que eu vi, saberia que isso
não podia esperar!
Luke olha para mim, o cenho franzido. — Megan, que está
fazendo aqui?
— Pensei que talvez, poderia me ajudar com...
Luke sacode a sua cabeça e articula a palavra "Não".
— A ele não importa, eu posso te ajudar e a menina. — diz
Nona.
Ela olha para a janela, eu viro e vejo Remy de pé
tranquilamente, as cortinas flutuando suavemente através dela.
— Você também a vê? — pergunto.
— Há algo aqui, Nona? — Luke pergunta. Olha
detalhadamente ao redor da sala, mas seus olhos não se detêm em
Remy. Dou-lhe um olhar interrogativo. Ele coloca um dedo nos lábios
e balança a cabeça. É óbvio que ele não quer que eu fale sobre o que
aconteceu na Terra Encantada, mas eu não sei por quê.
— Sim, há uma menina que precisa da minha ajuda.
— Nona, já é bastante. Você quase desmaiou.
Nona sacode a sua cabeça e se levanta da cadeira. — Posso
lidar com isso Luke. Faça algo útil e traga uma cadeira. Sento-me se
você continuar atrás de uma mulher idosa.
Luke arrasta a cadeira em frente a minha. Nona senta e me
estende a sua mão.
— É um trabalho duro curar com essas minhas mãos velhas,
mas Deus me deu este presente — disse ela, fulminando o Luke com
um olhar, — e não rejeitarei ninguém... Não quando posso fazê-los se
sentir melhor.
Olho para o Luke mordendo seus lábios, enquanto está parado
atrás da cadeira da Nona.
— Diga-me o que aconteceu com a sua irmã — Nona diz
calmamente. — Devo saber de tudo, assim posso ajudá-la a seguir em
frente.
Tomo uma respiração profunda. Como ela sabia que Remy era
minha irmã? Meu seguinte pensamento é que não quero nem se quer
pensar sobre o acidente, sem falar de contar detalhe por detalhe. Eu
balanço a minha cabeça, tentando segurar as lágrimas.
— Está tudo bem — Nona sussurra. — Deixe sair. — Ela
gentilmente me pega as mãos, e sinto aquela sensação de calma
correndo através de mim novamente. — Diga a Nona.
Fecho meus olhos e vejo Remy e eu sentadas no banco de trás
do nosso antigo Volvo laranja. — Nós... Nós estávamos indo para um
restaurante pelo aniversário do meu pai. Mamãe ia nos encontrar lá.
Papai estava indo rápido demais ao longo do rio. Estávamos
atrasados porque Remy teve que encontrar a sua soleira favorita roxa.
Era muito curta, e mamãe estava sempre colocando no saco de roupa
para levar a ‚Boa Vontade‛, e Remy sempre o tirava. Remy revirou
vários sacos empilhados na varanda ensolarada de fora sobre o chão,
fazendo uma bagunça completa, até que o encontrou. Papai nem
sequer a fez pegar todas as roupas, e eu sabia que mamãe teria um
ataque quando voltássemos para casa.
Meu lábio treme ao lembrar que tinha pensado com muita
ilusão em ver Remy se metendo em confusão quando mamãe visse
que ela estava usando aquele vestido.
— Continue — Nona sussurrou.
Assinto e continuo. — O céu estava muito, muito escuro.
Relampejando, e Remy, minha irmã, contou os segundos até que
trovejou. ‚Est{ perto, papai.‛ disse ela, e então veio a chuva. Eu mal
podia ver através do pára—brisa, e depois houve outro flash de luz à
nossa frente. Justamente enquanto o trovão retumbou, pedras
choveram sobre o carro enquanto o penhasco ao lado da estrada
cedeu — eu engulo em seco. — O deslizamento de terra nos
empurrou da estrada e o carro capotou duas vezes antes de
chegarmos ao rio. O carro aterrissou sobre esse lado e foi arrastado
pela correnteza até que bateu contra uma pedra. A janela de Remy se
rompeu, e depois a água entrou.
Fecho os meus olhos e ouço o som do rio na minha cabeça, os
nossos gritos. — Remy tentou soltar o cinto de segurança, enquanto a
água enchia o carro. Eu estava pendurada no meu assento de
segurança para crianças, e tentei alcançá-la, mas não consegui. Gritei
por meu pai para ajudar, mas ele estava inconsciente no banco da
frente e mais ou menos abaixo também. Mas quando a corrente
empurrou o carro novamente na posição vertical, Remy não estava
respirando e meu pai nunca mais acordou.
Nona aperta a minha mão, enquanto se balança para trás e
para frente. Sinto-me surpreendentemente leve e calma, apesar do
fato que eu acabo de reviver o acidente.
Ela abaixa as mãos e se inclina para trás em sua cadeira. — Sua
irmã está procurando por algo — diz Nona. — Ela não irá embora até
que ela encontre. Estou pegando a impotência dela, e o medo. Um
grande temor.
Nona pega vários lenços de papel sob o seu manto e limpa seu
rosto. — Luke, preciso me deitar e descansar antes dos meus
compromissos da tarde. Você pode me ajudar?
Luke balança a cabeça e ajuda Nona a ficar de pé. — Eu não
posso levar a sua irmã para a luz, não deixará de vê-la até que
descubra o que está procurando. Volte, e verei se consigo falar com
ela quando estiver me sentindo mais forte.
— Não vá — Luke diz suavemente para mim, e logo leva
Nona para fora da sala.
— O que você está procurando Remy? — Eu sussurro,
olhando seu balanço para frente e para trás sobre os seus calcanhares.
— Eh, vamos lá fora, onde nós podemos conversar — diz Luke
quando retorna. Eu o sigo para fora através da parte posterior da casa
e há um mirante cercado por grama alta e flores silvestres.
— Como você está se sentindo? — pergunta enquanto
sentamos no banco almofadado.
— Eu não sei por que, mas na realidade me sinto melhor do
que eu tenho me sentido há muito tempo. Pensei que falar sobre o
acidente me faria sentir pior, mas...
Luke assente. — Entre outras coisas, Nona é uma empática, ela
tira a dor das pessoas. Não é permanente ou algo assim, e realmente a
deixa desorientada, mas deverá se sentir muito bem por um tempo.
— Oh, ótimo, então eu praticamente espanquei a sua avó?
Um meio sorriso se arrasta pelo seu rosto e ele passa os dedos
pelo cabelo. — Bastante, mas ela pediu por isso.
Meus ombros caem. — Eu sinto muito. Eu nunca a teria
deixado fazer isso se eu soubesse. Eu só vim aqui para te ver. Estava
esperando que pudesse me ajudar com a Remy.
Ele olha para cima em direção a casa, e depois de volta para
mim. — Sobre isso. Eu quero te ajudar, mas tenho que ter cuidado
porque Nona realmente não sabe que herdei o gene assustador. No
que se refere a ela, eu sou tão psíquico quanto os gatinhos de
cerâmica pendurada na lateral da casa.
Eu fico olhando para ele, incrédula. — Mas como ela não sabe?
Pelo que experimentei, eu ficaria surpresa que pudesse esconder algo
dela.
Luke olha para a casa novamente e dá de ombros. — Eu acho
que sou um ator muito bom. Tem tido umas quantas chamadas
próximas, não é fácil fingir que não noto as coisas desagradáveis que
ocorrem em torno de um quarto.
Dou-lhe um olhar. — Conte-me sobre isso.
Luke sorri. — Sim, eu acho que você sabe do que estou
falando.
— Mas eu não entendo. Tenho que fingir que Remy não existe,
assim não consigo que me coloquem sob sedação profunda e ser
despachada para o manicômio. — Sacudo a minha cabeça.
Considerando o que aconteceu na noite passada, eu provavelmente
deveria estar em alerta para motoristas de ambulância escondidos
nos arbustos, esperando para me emboscar. — Mas todas essas coisas
de fantasma é apenas uma parte do seu DNA, por que esconder isso?
Luke ri. — Porque não quero passar a minha vida ouvindo as
pessoas que querem saber se os seus queridos defuntos acham que
deveriam eliminar os netos caprichosos para fora de seu testamento,
ou se eles realmente queriam deixar todo seu dinheiro para o
cachorro.
Olhei para ele com olhos arregalados. — Sério?
— Infelizmente, sim. Há uma mulher que vem quase toda
semana para conversar com sua mãe morta sobre se deveria ou não
mudar a cor do cabelo ou romper com o cara que ela está namorando.
E um homem veio há dois dias com o seu gato siamês, o Sr. Bootsie,
para ver se Nona poderia perguntá-lo se sua esposa está traindo ele.
— Ela estava traindo?
Luke sacudiu a cabeça. — Temos muitos talentos, mas
comunicar-se com animais de estimação mimados não é um deles. —
Ele dá de ombros. — Eu cresci assistindo a um desfile de pessoas
vindo a minha casa precisando de orientação espiritual pelas coisas
mais banais, e soube que não queria ir por ai. Eu fingia não ver os
fantasmas, e Nona dirigiu toda a sua atenção na formação da minha
irmã. — Luke inclina a cabeça.
— Ari me contou sobre Kayla — eu digo calmamente. Luke
não diz nada, e essa sensação de calma que eu tinha começava a
diminuir. Eu franzo meus lábios e me pergunto se Luke está me
agrupando com todos os outros loucos que vieram aqui por ajudar.
— Sabe, eu deveria ir. Eu não queria incomodar você, eu só...
Começo a me levantar e ele põe a mão no meu braço, enviando
um choque elétrico através de mim. — Não vá. Eu não queria fazer
você se sentir como se eu não a quisesse aqui. Na realidade estou
realmente contente que veio.
— Você pode ler mentes também?
Ele gentilmente tira do meu braço e me sento de novo. — Não
exatamente, mas com alguém como você, posso ter uma sensação
geral de como se sentem.
— Alguém como eu?
— Alguém que vê fantasmas. Pessoas que estão fechadas para
esse plano de existência são realmente difíceis de ler, mas você é
muito transparente, sem trocadilhos, e quando eu a conheci na sala
de fantasias, não foi difícil captar o fato de que você estava
apavorada.
Penso na menina deitada no chão da floresta e assinto. —
Quando Remy me visitou naquela sala, me mostrou algo, algo
realmente horrível. E desde então, ela vem aparecendo mais e mais e
em pânico, e não sei por que ou o que fazer.
Ele pega a minha mão, e uma quente e picante sensação corre
através de mim. Penso em Ryan e me sinto culpada por um segundo
até que me lembro que isso é apenas um negócio para o Luke. Eu
deixo a sensação de calma irradiar de sua mão e sei o que ele está
fazendo, o que Nona fez, tirando a minha dor. Sei que não é justo
despejar isso nele, mas é tão bom estar livre da dor por um tempo.
— O que ela te mostrou? — Ele sussurra. — Imagine—o para
que eu possa ver também, pegue todos os detalhes.
Ele pega a minha outra mão e inclina—se mais perto de mim,
me deixando sem respiração por um segundo. Sinto—me conectada e
próxima a ele. Fecho os meus olhos. Vejo a menina e me obrigo a
olhar realmente para ela. Sua roupa é diferente de tudo que estava no
rack na sala de traje. A blusa, ensopada de sangue, esta muito
detalhada com argolas e flores bordadas na borda superior, em vez
do cetim vermelho berrante de acabamento nas fantasias.
Parte da blusa esta desamarrada e tirada de um lado para
expor o orifício irregular em seu peito. Rapidamente subo para o
rosto e sufoco por um segundo, pensando que sou eu, mas é apenas
uma menina com o cabelo escuro como o meu. A pele pálida de suas
bochechas está suja de sangue, e seus lábios estão separados, com
mais sangue escorrendo em um canto. Seus olhos azuis olham
fixamente inexpressivos para o céu. Afasto o olhar do seu rosto e vejo
as folhas e a sujeira no chão da floresta marcado com vermelho.
Eu balanço minha cabeça para apagar a imagem e me levanto
do banco para encostar-me na grade do mirante. As lágrimas caem
enquanto eu olho os jardins, tentando preencher a minha mente com
imagens de flores, em vez do olhar da menina morta. — Por que
Remy me mostraria isso?
Ouço o banco rangendo e Luke para ao meu lado, exalando
ruidosamente. — Oh. Essa foi à última coisa que eu esperava. Vi
coisas muito estranhas antes, mas...
— Provavelmente eu deveria ter avisado.
— Sim, um aviso teria sido agradável. Tenho que dizer que
estou surpreso de que você se mantenha inteira. Eu tinha pensado
que algo como isso poderia te deixar um pouco mais assustada.
Meus olhos seguem uma borboleta que esta voando ao redor
de nós, e eu encolho os ombros.
— Dizer a mim mesma que tudo está BEM, não importa o
quão bizarro as coisas fiquem, tem sido o meu mantra desde que
Remy voltou logo após o acidente. Ela estava deitada em sua cama ao
lado da minha, cantando. Por um segundo pensei que o acidente foi
apenas um sonho, que Remy ainda estava viva e meu pai não estava
no hospital. Eu estava tão feliz, chamei os meus pais. Só minha mãe
entrou, sozinha. Ela acendeu as luzes, e aí foi quando percebi que
podia ver através de Remy — e minha mãe não podia vê-la. Minha
mãe seguiu me dizendo que estava sonhando e me acordou, mas
ainda lembro que me olhou como se eu fosse louca quando eu insisti
que Remy estava em sua cama. Depois disso, mais uma terapia
forçada, me acostumei a fingir que Remy não estava lá, mas é cada
vez mais difícil agora. No passado, ela só aparecia em poucos meses,
e na maioria das vezes ela não dizia nada, mas agora ela está me
atormentando muito.
As lágrimas pinicam os meus olhos.
— Estou assustada, e não quero fazer nunca mais isso sozinha,
é por isso que eu vim aqui hoje. Quero dizer, quando descobri que
você podia vê-la e falar com ela, foi um alívio, porque no fundo da
minha mente eu sempre pensei que talvez estivesse louca.
Luke estende a sua mão e acaricia uma lágrima da minha
bochecha. — Ei, está tudo bem. Eu te ajudarei a entender isso. E quer
saber algo?
Choramingo. — O quê?
— Foi um grande alívio saber que você pode ver a Remy
também. Eu não tenho sido capaz de falar com ninguém sobre essas
coisas desde que Kayla morreu.
— Morreu? Pensei que estava apenas desaparecida. Ari não
disse que ela... Você sabe...
Luke caminha de volta para o banco e se senta. Se inclina para
trás e vira seu olhar para os jardins, parecendo perdido e triste.
— Ari não sabe. Os policiais não sabem. Mas na noite que ela
desapareceu senti como se ela estivesse em casa comigo. Senti seu
desejo de que eu cuidasse de Ari por ela. E então não havia nada, ela
se foi. Tentei chamá-la de volta, mas Kayla conhece bastante sobre
fantasmas para não querer ficar vagando. Ela continuou, ela está em
paz.
Me apresso, sento ao seu lado no banco e pego a sua mão. —
Sinto muito.
Ele se inclina para mim. Meu coração salta uma batida
enquanto os nossos ombros se tocam, não posso deixar de pensar que
não deveria estar segurando a sua mão e me sentar tão perto dele.
Mas eu não quero parar também.
— Só quero saber o que aconteceu com ela.
— Sim — eu sussurro. — Entretanto, me surpreendi um pouco
que ela voltou e estivava preocupada com Ari. Eu sei que a vida dela
em sua casa não é perfeita, mas parecia bastante forte.
Luke se afasta de mim e estende suas longas pernas na frente
dele. — Ari é complicada. Ela tem muito para dar, mas precisa de
mais em retorno. Acho que é porque a mãe dela faleceu quando era
pequena e o seu pai se casou com a Patty. Como te disse, as coisas
não são exatamente estáveis em sua casa, provavelmente pior do que
pode imaginar, mas devo muito a eles. Depois que Ari conheceu a
Kayla no playground quando elas eram pequenas, Roys nos levou
debaixo de suas asas, por assim dizer. Tem nos ajudado muito
durante anos. Pagaram a nossa taxa de matrícula na escola —
inclusive aulas de pintura quando era mais jovem. Assim, quando as
coisas estão difíceis em casa, tento manter Ari estável para pagá-los
de volta, por Kayla.
Luke ao resgate, quase digo em voz alta. Por mais que ele não
queira admitir isso, obviamente herdou o desejo de Nona de ajudar
as pessoas. Me pergunto se Luke já percebeu que Ari está apaixonada
por ele. Não é difícil imaginar o porquê.
Assim que as palavras se formam na minha cabeça, as
empurrei. Não sou como Samantha, não roubo namorados ou o
potencial namorado de Ari. E tenho que lembrar que esse sentimento
por Luke é apenas parte de um trabalho, seja pago ou não por isso,
como Nona.
Luke pigarreia. — Mas voltando a essa menina, parecia que
seu coração...
— Faltava. Pensei que talvez ela estivesse em um dos figurinos
da Terra Encantada, mas você não acha que a sua roupa parecia
passada de moda, como se talvez isso tivesse acontecido há muito
tempo?
— Sim, já não fazem roupas como essa.
Assinto. — Graças a Deus por isso. Bem, não que ela tenha
talhado seu peito, mas vendo que eu acabo de confirmar para
interpretar a Branca de Neve, é um alívio saber que isso foi algo que
aconteceu no passado e não uma das visões ‚coisas mais assustadoras
estão por vir‛ da Remy.
— Fantasmas podem viajar através do tempo, tem acesso a
todos os tipos de coisas do passado, presente, e futuro, mas não sei
por que Remy escolheu essa cena em particular para te mostrar,
exceto que a garota se parecia com você.
— Sim, notei isso, só que seus olhos eram azuis e os meus
são...
— Castanhos.
— Sim. — digo, gostando que ele notou de que cor são meus
olhos. Eu imagino Nicki sorrindo para mim com satisfação e dizendo:
"Alguém se esqueceu que tem um namorado?" novamente.
Não, digo a mim mesma, mas há algo realmente agradável de
falar abertamente sobre minha irmã, algo que não posso fazer com
Nicki ou Ryan.
Giro para o Luke, ficando uma polegada mais perto dele. —
Então o que acontece com Remy? Existe alguma coisa que você possa
fazer?
— Nona disse que Remy estava procurando por algo, e que
estava assustada. Então a primeira coisa a fazer é entender o porquê.
Havia algo que ela sempre carregava com ela, uma boneca ou até
mesmo um cobertor?
— Não podemos só perguntar a ela?
Luke me da um sorriso cansado. — Eu não sei, esse tipo de
visão chuta o meu traseiro. — Ele me dá uma piscadela e um sorriso
torto. — Suponho que não sou melhor que Nona. Eu a interroguei
sobre isso. Mas na realidade nunca tentei falar com um fantasma, eles
costumam vir a mim primeiro.
Eu sorrio de volta e tento ignorar a forma como ele faz meu
estômago revirar. Ryan, grito em minha cabeça.
— Então Remy pode estar procurando um brinquedo ou algo
assim? — Pergunta ele.
— Não, na realidade ela ria de mim porque tive um ursinho de
pelúcia que eu levava em todos os lugares, até que o deixei no carro
após o acidente. Não sei o que aconteceu com ele. — Suspiro,
sabendo que não é o momento de lamentar a perda do Sr. Urso. —
Houve este vestido que ela gostava, mas... — Lágrimas enchem os
meus olhos novamente. — Mas foi enterrada com ele. Pode ser que
esteja procurando a minha mãe? Disse à mamãe que Remy estava na
casa na noite passada. Disse a Remy para ir até ela, esperando que
mamãe fosse finalmente vê-la.
— E?
— E nada, outra vez mamãe pensa que sou algum tipo de
sociopata27 que se deleita causando angústia mental. Eu só não
entendo porque eu posso ver Remy e ela não pode. E é estranho,
porque Remy parece não vê-la também, ou ao meu pai. Ela inclusive
estava perguntando onde meu pai estava e...
Meus olhos se arregalaram. — Oh meu Deus! Ela estava me
perguntando onde o nosso pai estava ontem. Ela estava justamente
no quarto com ele, mas era como se ela não soubesse. Ele nunca
acordou depois do acidente, ele esta vivendo com aparelhos. Será que
ela está procurando por ele? Esperando por ele antes que ela possa,
você sabe, seguir em frente?
27 Sociopata: Transtorno de Personalidade Anti-Social.
Luke balança a cabeça, olhando emocionado. — Poderia ser
isso. Ele poderia estar em uma espécie de limbo e ela precisa se
conectar com ele antes que ela possa seguir em frente.
Franzo meus lábios enquanto as lágrimas se amontoam em
meus olhos. — Meu pai era o seu favorito, ela e minha mãe estavam
sempre batendo de frente. — Eu olho para Luke. — É isso. Sabia. Ela
está esperando por ele todo esse tempo.
— Faz sentido, isso poderia ser o que está mantendo ela aqui.
Eu salto para cima, enxugando os olhos. — Eu tenho que falar
com minha mãe.
— Espere! O que você vai fazer? Não pode dizer a sua mãe...
Você sabe...
— Eu preciso. É hora de Remy e papai encontrarem um pouco
de paz.
— Antes que você pergunte, eu não quero falar sobre isso —
falo enquanto entro no carro de Nicki. — Mas obrigado por me pegar.
Nicki levanta uma sobrancelha. — Vamos lá, você tem que me
dizer. Ela não te enviou ao Dr. Macardo em anos.
— Não é da sua conta — eu atiro, e imediatamente me sinto
culpada. — Sinto muito. Melhor eu caminhar até em casa. — Eu
coloco minha mão na porta, e Nicki puxa o meu braço. Me soltei e cai
no assento.
— Vamos Megan, o que está acontecendo?
Sacudi a minha cabeça e olhei para fora, olhando para as luzes
da Clínica de Saúde Mental Nort Conway, enquanto falo para Nicki
que eu quero desligar os aparelhos do meu próprio pai.
Dr. Macardo também pensou que querer desligar os aparelhos
era normal. Porém, dizer à minha mãe que Remy estava na sala era
outra questão totalmente diferente. Claro, eu gostaria que o Dr.
Macardo passasse algum tempo na minha casa observando a minha
mãe, e logo veria quem devia receber o rótulo de passivo—agressivo
que ia acontecendo ao redor inúmeras vezes durante a sessão.
Um meio—sorriso curvou em meus lábios. Por fim, tinha
convencido a mamãe que fizesse uma sessão só. Me perguntava se o
Dr. Macardo faria a minha mãe desenhar alguma pintura familiar,
com suas estúpidas caixas de giz de cera quebrados. Talvez
finalmente, mamãe pensaria no fato de que ficou deprimida e me
deixou sozinha após o acidente, e que ela não é a única que sente falta
de papai e Remy.
— Bom — digo finalmente. Soltei um longo suspiro e me
preparei para a reação de Nicki. — Perguntei à minha mãe o que
pensava de tirar o meu pai das máquinas. — Parei, odiando o que
vinha depois. — E ela pensou que precisava falar com o Dr. Macardo
por que eu queria matar o meu pai.
Nicki ofegou, e me alegrei de ter deixado de fora a parte da
Remy. ‚Ser assassinado‛ soava muito melhor do que ‚psicopata
louca que também vê fantasmas‛.
— Sim, eu sei. Sou um monstro ‚Charles Manson Jr28.‛
— Deus, Megan. Não. — Me virei para ela que abriu os seus
braços, deixo ela me abraçar. — Eu... Eu também tenho pensado sobre
isso, você sabe as máquinas. Especialmente depois da última vez que
fui contigo à casa de repouso. Eu só não quis dizer nada, porque
nunca conversamos sobre isso, e não sabia como você se sentia.
Ainda não sabia exatamente como me sentia sobre isso. Depois
de estar com Luke, eu tinha certeza que era o melhor a se fazer para
papai e Remy. Mas depois de ver o horror no rosto da minha mãe, eu
comecei a reconsiderar. É realmente um assassinato?
Mas parecia que o Dr. Macardo entendia totalmente. Tinha
feito a minha lição de casa e eu sabia das estatísticas. A possibilidade
28 Charles Manson Jr: condenado a assassinato e conspiração
de recuperação depois de seis meses em estado vegetativo é quase
nenhuma. Os casos raros ganharam grande atenção da imprensa, mas
com seis meses sendo o padrão de corte, onde isso deixava papai
depois de dez anos?
Deixar que meu psiquiatra visse a minha cabeça não era uma
idéia tão ruim depois de tudo. Podia ser que, se o Dr. Marcado não
me julgasse severamente eu me sentiria um pouco menos monstro.
Nicki me abraçou forte e as lágrimas vieram novamente. — Ele
nunca iria ficar bem, os médicos continuam dizendo isso. Todos os
testes provam que não há atividade cerebral, mas seus olhos voltaram
a se abrir uma vez justamente após o acidente, e ela acha que poderá
acordar ainda.
Me afasto e olho para as luzes do escritório. — E talvez tenha
razão, isso acontece, mas quando eu vi meu pai ontem, simplesmente
soube que ele não estava lá. Só soube que ele não ia poder acordar, e
agora ela me odeia mais do que nunca.
— Hey — diz Nicki. — Sua mãe não te odeia...
— Oh, sim, ela odeia! Talvez ela não me odiasse antes, talvez
fosse mais indiferente, mas você deveria ter visto o jeito que ela me
olhou. Ela me odeia.
— Ela está assustada. É uma grande decisão, difícil de tomar,
e...
— E ela disse que não vai fazê-lo. Nunca. Ele ia continuar
resistindo, definhando cada vez mais. — Deixando a Remy sozinha.
— Dê um tempo para pensar nisso com tranquilidade. Não é
como se fosse uma decisão fácil de tomar.
— Então o que isso quer dizer sobre mim?
Ela apertou a minha mão. — Que você sabe que isto não é o
que seu pai teria desejado. Você gostaria de viver assim?
Sacudi a minha cabeça.
— Olha, porque não passa a noite na minha casa? Isso dará as
duas um descanso.
Solucei e olhei atrás dela. — Hum, na verdade, Ari ligou e
perguntou se queria fazer alguma coisa.
Nicki liga o carro. — Oh, por que não pediu a Ari que te
buscasse então?
— Porque você já tinha dito que faria!
— Pensei que precisaria de alguém para conversar, mas você e
Ari podem ter um grande bate—papo sobre isso. — Nicki coloca o
carro em marcha, e saiu do estacionamento um pouco rápido demais.
— Nicki, não é isso, e não quero falar com Ari sobre essas
coisas. Ela apenas soava solitária. Eu não queria magoá-la. E quando
lhe disse que você ia me pegar, ela disse que adoraria que viesse
também. Só disse que sim porque pensei que iria comigo.
Nicki me deu um olhar incrédulo. — Não acho nem por um
segundo que Ari quer que eu vá. Deveria ter visto seus olhos afiados
me olhando nas eliminatórias, quando o novo diretor aplaudiu
depois da minha apresentação.
— Sério, ela me disse para te perguntar se queria ir. Estava
conversando com ela quando você estacionou. Ela disse que a sua
piscina estava aberta e climatizada. E escuta isso, me disse para te
dizer que tinha uma sala de cinema e um monte de gravações de
espetáculos da Broadway, espetáculos que se supõe que nunca
filmaram.
Nicki se vira para mim rapidamente, com uma sobrancelha
levantada novamente.
— Como qual?
— Não perguntei, você sabe mais, mas obviamente apenas os
mencionou porque queria que você fosse. E Luke disse que Ari é um
pouco complicada, por isso ela...
— Oh — disse Nicki, desenhando a palavra. — E quando falou
com o Luke?
Minhas bochechas queimaram. — Eu... Só... Encontrei... Ele
fora-da-coisa-roxa.
Nicki revira os olhos. — Uh-huh. É bom que você e Ryan
estejam trabalhando juntos neste verão.
— Você gostaria de saber que o Ryan e eu temos o nosso verão
completamente planejado. Quando estivermos na Terra Encantada,
estaremos fazendo a caminhada na Faixa Presidencial. Bom, nós
começaremos com uma montanha pequena para exercitar-se e depois
para as grandes, mas temos um livro onde podemos olhar as
escaladas de cada um, e comecei um álbum de fotos de nós nas
montanhas.
Nicki bocejou. — Um álbum? Deve ser amor. De qualquer
forma, nessa mensagem de cartaz da Broadway deve ser uma cópia
pirata de ‚Dirty Rotten Scoundrels29‛ que anda por aí. Me pergunto
se Ari tem esse. Na verdade amo ver Norbert Leo Butz.
— Norbert Leo Butz30?
— Não deixe que o nome te engane, o homem é um gênio da
comédia, um gênio com uma voz de morrer. — Nicki olhou abaixo
para o console, pegou o seu estojo de CDs, e jogou para mim. — Veja
se pode encontrar a trilha sonora, é hilário.
— Acredito que isto significa que mudou de idéia sobre ir à
casa de Ari?
Ela sorri para mim. — Claro, vamos pegar os nossos biquínis e
vamos. Não tenho certeza se vou nadar, porém.
— Só seremos nós — eu falo, sabendo que Nicki se sente super
exposta com um biquíni.
— Já veremos.
Nicki e eu paramos na frente da casa de Ari, olhando a
aldrava31, um coelho de bronze opaco com uma flecha atravessando o
seu peito. Minha mão estava sobre a alça, que tinha forma de um arco
com uma corda que era puxada para trás em um amplo arco.
— Não posso fazer isso — eu digo, puxando minha mão para
trás.
29 Dirty Rotten Scoundrels: Musical da Broadway, conhecido como “Os Safados” 30 Norbert Leo Butz: Ator americano da Broadway 31 Aldrava: Argola que fica do lado de fora da porta e serve de instrumento para bater à porta.
— Sim, isso é mais que um pouco inquietante. — Nicki
sussurrou.
— Vamos tocar a campainha de novo. — Apertei o botão, e a
estridente e eterna música começou novamente. — Alguém deve
ouvir isso.
Nicki inclinou a cabeça e examinou o coelho. — Onde uma
pessoa poderia encontrar uma aldrava como essa? Estranho e
assustador? — Ela fez uma careta e tocou a campainha novamente.
— Já vou! — Gritou uma voz no interior.
— Essa soou como a madrasta de Ari — disse o mais baixo
possível. — Prepare-se.
A porta se abriu e a Senhorita Patty nos olhou de cima abaixo.
Forcei a mim mesma a manter o meu sorriso quieto enquanto Patty
me olhava. Ela tinha se esquecido de desenhar uma sobrancelha, sua
maquiagem ficou com manchas e se juntava na parte baixa do olho.
Usava um macacão de veludo rosa que era um pouco apertado na
parte do seu estômago, e muitas das suas extensões estavam só
enganchadas com um clips.
— Morgan — ela grita. Cambaleou um pouco, e se estabilizou
agarrando o batente da porta. Ela olhou de esguelha e se inclinou
para mim, o álcool emanava de sua cabeça. — Não, é Megan — disse,
dando-me uma piscadela. — Eu nunca esqueço um membro da
equipe encantada.
— Eu aposto — digo, tentando não olhar para a sua única
sobrancelha.
Suponho que está em seu direito de fazer o que quiser após o
horário comercial. Mas escutar a sua forma de falar e na maneira em
que se firmava no batente da porta para poder se manter era uma
grande diferença com a mulher vivaz que me entrevistou.
— Ari nos convidou. Esta é a Nicki, ela não é um membro da
equipe encantada.
A Senhorita Patty tropeça para trás alguns passos e abre os
braços. — Bem, deixe-me dar as boas-vindas à nossa humilde
morada.
Nós entramos e era óbvio que não havia nada de humilde
sobre aquele lugar. A escada de mármore, lustres de cristal — era
como entrar no palácio da Cinderela na Terra Encantada, mas tudo
isso parecia real.
— Déborah! — A Senhorita Patty berra. Nicki e eu pulamos e
trocamos olhares. — Déborah!
Uma mulher baixa, de cabelos grisalhos em um nó apertado e
vestindo um uniforme de empregada corre pelo corredor em direção
a nós. — Sim, senhorita?
— Onde está a Ari?
— A última vez que vi, ela estava estudando.
A Senhorita Patty empurra sua cabeça para trás. — Oh, bem,
Ari sempre tem o nariz em algum livro. — Ela morde os lábios,
tirando o que ficava do seu batom rosa-choque, e depois virou para
Déborah. — Por que você não mostra a estas meninas a sala de
entretenimento? É melhor eu encontrar Ari eu mesma.
— Certamente, Senhorita. — Déborah nos dá um olhar
cansado. — Por aqui, damas. — Ela nos guiou através de um longo
corredor para uma grande sala com painéis de madeira escura como
parede. — Fiquem à vontade, eu vou trazer um pouco de chá gelado.
— Obrigada — digo pensando que seria péssimo ser a
empregada daqui, quando as pessoas gritam ordens.
Depois que Déborah nos deixou, Nicki torceu um dedo ao
lado de sua cabeça.
— A madrasta de Ari esta looouca! — Ela disse. — E,
aparentemente, à hora dos coquetéis aqui são mais cedo do que em
minha casa.
Assenti. — Te digo que as coisas não são "felizes para sempre‛
na Casa Roy.
— E olhe para esta sala. — diz ela.
Caminhei em círculo, observando tudo. Os sofás de couro, TV
de plasma enorme, prateleiras forradas com DVD’s e fitas VHS
antigas, tapeçarias com várias cenas de caça, e uma infinidade de
cabeças de animais empalhados olhando a sala com seus olhos de
vidro branco. — Decoração com coisas mortas, muito clássico.
Nicki caminhou até a parede com a cabeça de três ursos
alinhadas na parede, suas bocas congeladas em intermináveis
rosnados. — Então é isso o que aconteceu com os três ursos. Martha
Stewart não teria um ataque se visse essas coisas penduradas na
parede?
— Alguns parentes que já morreram os mataram na
Alemanha, na Floresta Negra. A caça era de muita importância
naquela época para a aristocracia.
Eu salto e viro. Ari estava parada na porta com os braços
cruzados sobre o peito, os olhos cautelosos, olhando friamente para
mim. — Me alegro que você pode vir, Nicki. — disse ela, seus olhos
ainda focados em mim.
Meu rosto ficou vermelho enquanto os olhos de Ari
continuaram me olhando com tal intensidade controlada que me
arrependi imediatamente de sentir pena dela e concordar em vir. —
Uh... hey, Ari. — digo suavemente, desejando que ela parasse de me
olhar assim.
Ela entrou na sala, passando os dedos ao longo da borda da
cadeira de couro forrada com peles de animais. Ela parou a poucos
metros de mim e desmoronou em uma cadeira estofada. — Então,
Megan, o que conta? — Seus lábios se levantam um pouco para fazer
um sorriso forçado.
— Hum, conta? — Eu gaguejo. — Não conto nada, viemos
para vê-la, você sabe, você ligou e, uh... — Dou a Nicki um olhar de
lado e vi que ela entendeu como Ari está sendo a Rainha do Gelo
comigo.
— Ei, já ouviu todas as nossas músicas? — Nicki pergunta,
vindo em meu resgate. — No começo eu fiquei preocupada que todo
o enfoque de jazz antigo não resultara para os turistas, mas depois de
ouvir as canções, algumas vezes, estou animada. Você sabe que eu
amo Broadway, mas está será uma boa mudança.
— Sim, e com sorte você poderia cantar "Someone to Watch
Over Me32", solo.
— Na verdade, essa era uma peça da Broadway, mas...
— Então, Megan — disse Ari, interrompendo Nicki. — Você
fez alguma coisa interessante hoje? Ou viu alguém interessante?
Minha mente começou a busca. Poderia o Dr. Macardo ser
interessante?
E então entendo. Luke.
De alguma maneira Ari soube que eu vi Luke e ela estava
zangada pensando que eu estive dando uma de Samantha Lee
Darling pra cima dela. Meu coração acelera enquanto eu me esforço
para chegar a algum tipo de desculpa para estar lá — alguma razão
que não envolva Remy.
— Oh, bem, ahn... — eu gaguejo. Eu engulo em seco e em
seguida, veio a mim. Sento-me no sofá em frente a ela e tento parecer
insegura. — Isto é meio vergonhoso, mas você vai adorar isto, e você
também, Nicki. Lembra que você me disse sobre a avó de Luke, você
sabe sobre ela ser psíquica?
Nicki se senta no outro sofá, dando-me um olhar de onde-isso-
vai-parar.
— Sim — Ari disse sem mostrar emoção.
32 "Someone to Watch Over Me" é uma canção composta por George Gershwin, com letra de Ira Gershwin do musical Oh, Kay! (1926), onde foi introduzido por
Gertrude Lawrence. Tem sido realizada por inúmeros artistas desde seu lançamento e é
um standard de jazz , assim como uma obra-chave no Great American Songbook.
— Bem, eu tive essa idéia maluca de que talvez ela pudesse ser
capaz de predizer, hum, olhar para o meu futuro e me dizer algo
sobre Ryan.
— Ryan? — Ari pergunta surpresa em seus olhos.
Engoli novamente. — Sim, tipo, se estamos destinados a ficar
juntos. — Dou um sorriso triste. — Patético, não?
Nicki cai na gargalhada. — Oh meu Deus! Eu sabia que você
acabaria indo lá algum dia. Era no primeiro ano quando você me
perguntou sobre aquele lugar.
A cara de Ari suavizou. — No primeiro ano?
Nicki ofegou. — Sim, ela queria ir, pra que era? Algo sobre
Jason? Ah, cara, eu não posso acreditar que você realmente foi! — Ela
senta ereta e dobra as mãos no colo. — Então, quantos filhos você e
Ryan vão ter? Meninos ou meninas? Ela foi capaz de falar sobre seus
futuros animais de estimação também?
Reviro os olhos. — Ha ha. Nem tive uma leitura de cartas nem
nada, a Srª. Amadora não estava se sentindo bem. Eu vi Luke por
alguns minutos, agora que me lembrei. Ele te disse, Ari?
Ari fica ereta também. — Não. Mas eu estava dirigindo por...
hum, indo para minha manicure e vi você na casa dele.
— Oh, bem, eu tenho certeza que ele vai te contar à patética
que fui esperando que lessem as cartas.
Déborah chegou carregando uma bandeja de prata com um
jarro de chá gelado e copos. Eu poderia beijá-la por ser tão oportuna.
Ela nos serviu um copo para cada e eu tomei um gole esperando que
o líquido fresco pudesse fazer alguma coisa para me livrar da
sensação de queimadura no rosto.
— Precisa de algo mais, senhorita? — Deborah pergunta.
Ari balança uma mão despachando-a. — Não, nós estamos
bem.
Quando Deborah se foi com casualidade, olhei para Ari
novamente e fiquei aliviada ao ver que a Ari Feliz voltou. — Então —
diz ela, — quantos filhos você gostaria de ter com Ryan?
— Hum, eu nunca pensei em um futuro tão distante — eu
digo.
Ari assentiu. — Sim, não posso te culpar.
— Huh? — Nicki perguntou, movendo seu olhar entre Ari e
eu.
— Samantha Lee Darling. — Ari e eu dizemos em uníssono e
começamos a rir.
— Oh, não apóie sua paranóia sobre Samantha, é apenas
humilhante. Deveria confiar em Ryan ou chutar a bunda dele!
— Bem, nem todas somos tão perfeitas como você — diz Ari.
Ela levanta antes que Nicki possa responder e vai até um grande
móvel de madeira. Ela abre a porta e tira uma garrafa de vodka e a
agita. — Quem quer incrementar um pouco de malicia em seu chá
gelado?
Olho para Nicki, que franze o cenho e nega com a cabeça
levemente. Ela não bebe, porque diz que o álcool é ruim para a sua
voz. Desde que Nicki não bebe, eu também não, especialmente depois
de uma experiência muito infeliz na recepção do terceiro casamento
da minha tia Kerry quando eu tinha quatorze anos. Todo mundo
estava bêbado devido ao noivo, um caminhoneiro com uma barriga
de cerveja enorme e uma extensão dupla, que era mais perdedor do
que os maridos um e dois.
Eu tomei margaritas demais e acabei vomitando por horas no
quarto do hotel. Felizmente, eu estava dividindo o quarto com minha
prima Nora, que estava apenas um pouco menos bêbada, e no dia
seguinte culpei os aperitivos de porco na recepção por meu mal estar
estomacal.
Ari ergue a cabeça para nós. — Não me diga que vocês duas
não bebem.
Nicki cruzou os braços sobre o peito. — Você não deveria
tampouco, arruinará a sua voz.
— Vendo que você obtém todos os solos, não preciso me
preocupar com isso. E você, Megan? Você disse que não pode cantar
uma merda.
— Acho que vou provar um pouco — eu disse, evitando olhar
para a Nicki. Só porque ela não pode beber não significa que eu
tampouco possa fazê-lo, e não é como se eu quisesse repetir a loucura
das margaritas.
Ari se aproximou e encheu o meu copo com vodka e chá
gelado. Ela levantou o seu copo e eu levantei o meu. — Para um
verdadeiro verão encantado — ela diz enquanto os copos tilintam.
Nicki ignorou o brinde e colocou o seu copo sobre a mesa. —
Megan disse que você tem alguns espetáculos que poderíamos
assistir.
Ari tomou um longo gole e então sorriu para Nicki. — Estou
com humor para ver algo sombrio. Gosta de Sweeney Todd33?
Eu faço uma careta. Nicki teve pesadelos durante semanas
depois de assistir a versão para o cinema de Sweeney Todd, e ver
pessoas tendo suas gargantas cortadas e moídas se transformando em
torta de carne não era algo que eu estava morrendo de vontade de
assistir de novo também.
Nicki empalideceu e negou com a cabeça. — Algo mais
otimista do que barbeiros canibais?
Ari ri e se levanta. — Venha até aqui e veja o que temos.
As vejo ir até uma prateleira cheia de DVD’s e VHS e tomo
mais um gole da minha bebida, a vodka muito forte queimava o
caminho pela minha garganta. Ari certamente não tinha dominado a
arte de bartender.
— Meggy. — uma voz sussurra ao lado da minha orelha.
Sacudi a minha cabeça e engasguei com o chá gelado. Remy
estava ao meu lado torcendo a bainha de seu vestido em suas mãos.
— Venha rápido! — Ela pula em direção à porta e esperei que ela
seguisse se movendo e desaparecesse, mas ela se virou para trás e
acenou para mim. — Rápido, Meggy!
Eu suspiro. Por favor, Deus, nada de pirotecnia34 esta noite.
33 Sweeney Todd: É um filme, no Brasil é conhecido pelo título “Sweeney Todd - O
Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”
Depois de dar a desculpa para ir ao banheiro, segui Remy pelo
corredor e gemi quando ela começou a subir as escadas.
— Remy! — sussurro. — Nós não podemos subir! — Ela
desapareceu e mordi o meu l{bio inferior considerando me virar e
voltar para Nicki e Ari.
Logo ela reapareceu no topo da escada e inclinou sobre o
corrimão. — Depressa Meggy, é ruim!
Meu estômago gemeu e me preparei para uma nova crise de
Remy. O que poderia ser tão assustador para ela? Olhei em volta
esperando ver a empregada doméstica ou a Senhorita Patty, e em
seguida passei a alça da minha bolsa por cima do meu ombro e
comecei a subir na ponta dos pés as escadas. Fiz uma careta por cada
rangido que soava debaixo dos meus pés. — Remy, nós não
deveríamos estar fazendo isso.
Cheguei ao fim da escada e vi Remy entrar em uma sala no
meio do corredor. Ao me aproximar pude ouvir a voz da Senhorita
Patty. — O que diabos mostrou a ela?
34 Pirotecnia: Arte de manipular as matérias explosivas
Meu coração disparou e queria voltar, mas Remy est{ me
chamando, sua voz começou a assumir o tom frenético que usava
antes de tudo ir para o inferno.
— Eu não dou a mínima para o que você a prometeu — Patty
continuou. — Sou a mãe dela e eu quero ver o que mostrou a ela,
para que eu possa reparar os danos antes que ela v{ e consiga outra
abelha para a colméia e alguém se machuque.
Um profundo e sombrio sorriso respondeu a Patty, arrepiando
minha espinha. Uma voz de homem, muito baixo para ser o Sr. Roy,
dizia alguma coisa, mas não pude entender o que.
— Bem, sou a única mãe que ela conhece, graças a você!
— Meggy. — a voz de Remy implorava desde o quarto.
Dei um passo em direção | porta, olhando para dentro, e
recuperei o fôlego. Senhorita Patty estava na frente de um grande
espelho dourado, idêntico ao de seu escritório, mas seu reflexo não
estava aparecendo. Em vez disso, o rosto de um homem, longo e
estreito, com a borda borrada e fumarenta, flutuava no centro do
vidro.
— Sim — o cara disse, atirando a palavra com humor. — A
única mãe que ela conheceu e a qual ela tem o maior desprezo. Você
sabe o que ela pensa de você, me pergunta o tempo todo, então
porque de repente você est{ tão preocupado com ela?
A Senhorita Patty levou a sua bebida aos l{bios e bebeu. Os
gelos chocaram no copo vazio enquanto ela o segurava com força. —
Ela tem esse olhar de novo.
— Não te incomodou no passado.
— Bem, me incomoda agora! — Patty reclamou. — Nós temos
tudo o que precisamos, mas nunca é o bastante. Ela quer mais e mais
e ele sempre d{ a ela. Isso não est{ certo.
O homem sorriu. Duas mãos com dedos incrivelmente longos
e unhas escuras muito pontudas apareceram na frente do rosto e
bateram lentamente no queixo algumas vezes. — Oh, ele realmente
ama fazer as vontades dela, não é? Como se sente sabendo que todos
os caprichos dela ficarão satisfeitos, mas te negou o seu maior desejo?
— Ele teria feito se não tivesse consultado Ari primeiro! Como
se fosse de sua maldita incumbência se eu quero mais filhos.
— Ou poderia ser que ele não quisesse ter filhos com você por
outros motivos. Você não é da realeza. Onde foi que ele a encontrou?
— Os dedos de uma mão tocam o queixo outra vez. — Oh sim, em
um bar de strippers.
— Cale a boca! — Patty gritou e jogou a sua bebida na
superfície do espelho.
Eu queria sair, mas estava presa no chão. Eu queria quebrar o
espelho e que esse cara parasse de falar, mas o copo ricocheteou no
espelho e quebrou quando atingiu o chão. Os cubos de gelo deslizam
sobre o piso de pedra junto com os cacos de vidro do coquetel.
Senhorita Patty estava congelada, olhando seu próprio reflexo, que
agora enchia o espelho. Eu vi a maquiagem escorrendo pelo seu rosto
por suas l{grimas.
Remy aparece ao meu lado, com os olhos arregalados de
medo. — Corra, Meggy!
Meu celular tocou e corri. Virei pelo corredor, enquanto a
Senhorita Patty gritou — Ari? Ari é você?
Corri escadas abaixo enquanto eu apalpava a minha bolsa
procurando meu celular para desligar o som. Passei pelo banheiro e,
em seguida voltei, entrei e fechei a porta. Eu escutei a Senhorita Patty
descer as escadas. — Qual é o problema, Ari? Não pode esperar que
seu amigo me espiasse, assim que fez você mesma?
A Senhorita Patty parou na frente do banheiro. — Ari — disse
ela, sua voz pingando veneno. — Vem para fora, nós precisamos
conversar.
Oh genial, ela acha que eu sou a Ari. — Hum, sou eu, Megan. —
Eu falo com a voz trêmula. — Eu... Estou terminando. — Puxei a
corrente, esperando que pensasse que eu estava aqui o tempo todo.
— Oh! Eu... Esqueci que você estava aqui. Eu... Só, bem, eu
vou buscar Ari. Desculpe. — Senhorita Patty disse através da porta.
Ouço seus passos se afastando e tomo uma respiração
profunda. O que diabos acabou de acontecer, e que diabos era aquilo no
espelho? Rapidamente olho para o espelho do banheiro e fico aliviada
ao ver meu próprio rosto, p{lido e estirado como é, em vez do
horrível que estava conversando com a Patty.
Por que você esta fazendo isso comigo, Remy?
Eu balancei minha cabeça. Por que Remy faz qualquer uma das
coisas que faz? — Se papai pudesse pelo menos estar com você — eu
sussurro. — Então você poderia descansar e eu poderia seguir com a
minha vida sem estar vendo meninas com os seus peitos abertos ou
cabeças flutuando no espelho!
Eu agarrei no balcão e respirei profundamente. Obter uma
vaga no hospício soava atraente, sempre e quando Remy não viesse.
Olhei para a chamada não atendida e vi que era Ryan. Por que
ele teve que ir a Portland hoje? Nós poderíamos ter feito alguma coisa e eu
não estaria aqui, me escondendo no banheiro!
Bom, não posso ficar aqui para sempre. Só espero que a
Senhorita Patty não esteja me esperando por ai, pronta para me
perguntar por que eu estava espiando.
Abri a porta e vi a Patty tendo uma acalorada discussão com
Ari fora da sala de entretenimento. Ambas se voltam para mim
enquanto eu saio do banheiro.
— Eu tomarei conta dela. Por que você não vai se limpar antes
do papai chegar em casa? — Ari disse sem qualquer esforço para
manter a voz baixa.
A Senhorita Patty franziu seus l{bios, e então se virou e
caminhou pelo corredor, se distanciando de nós sem dizer mais nada.
Ari revirou seus olhos quando eu cheguei mais perto. —
Desculpe por isso.
— Est{ tudo bem.
— Cada par de meses acontece algo, torna—se totalmente
estranha e defensiva, e vendo o que tem sido essa dieta das mil
calorias di{rias, o que tomou hoje foi pior do que o habitual. Acho
que todo o assunto da abertura do parque e do fato de que o novo
jogo que estamos instalando não vai estar pronto. Ela perdeu a
paciência hoje.
— Oh, isso é muito ruim... Sobre o jogo e a Patty. — Tinha o
meu celular na mão e aponto para o número de Ryan, pensando que
ele vai ser a desculpa perfeita para ir. — Hum, Ryan tentou me ligar,
então estava pensando que provavelmente deveria ver o que ele
queria. — Dou de ombros. — Você sabe, antes que Samantha decida
entretê-lo.
— Sim, esta bem, mas primeiro, eu estava me perguntando se
o espelho assustou você.
— Como sabia... — Eu me preparava para mentir quando Ari
explodiu em risadas.
— Oh meu Deus, ele o fez, não é? Eu posso ver isso na sua
cara! Supõe—se que é o último em animações. Meu pai pagou uma
maldita fortuna por aquilo, por dois deles, na verdade, mas quando
eles chegaram, ficou bastante claro que não poderíamos coloc{-los no
parque. Por isso nós penduramos um aqui e o outro est{ no escritório
da Patty. Deveria ter um espelho m{gico, você sabe, da ‚Branca de
Neve‛. É totalmente a última tecnologia de ‚reconhecimento de voz‛.
Você fala com o espelho e o software analisa as suas palavras, e é
suposto ele vir com respostas adequadas e expressões faciais.
— Sim, não sei se usaria a palavra ‚adequada‛. — Eu disse,
tendo dificuldade em imaginar a conversa que acabara de ouvir
simplesmente gerada por computador.
— Bom isso foi o que nos disseram, mas como você viu, o
espelho não é muito am{vel. Meu pai disse que provavelmente era
algo cultural, foram feitos na França e, você sabe, eles fazem as coisas
um pouco diferente l{.
Pensei sobre as coisas que o espelho disse para a Srta. Patty.
Por que os programas poderiam ter antecipado que precisaria da frase “Bar
de strippers” para um jogo de crianças? — Era como se estivesse tendo
uma conversa com Patty, inclusive como se burlasse.
— Sim, o programa definitivamente tem algumas falhas que
tem que trabalhar. Patty começa a tomar e a falar idiotices como a
idiota que é, e logo fica pomposa quando dizem algo inapropriado, o
qual ela faz sempre.
— Mas, por que não devolveram?
— Não nos deixaram, inclusive dissemos que os
mandaríamos, mas vendo como são na Europa, não estavam
preocupados. Ao menos era livre de impostos.
— T{, mas sem contar a linguagem, o rosto no espelho no
parque seria um pouquinho como PG-1335, poderia gerar pesadelos
nas crianças. Por outro lado, eles fizeram um grande trabalho —
assustaram realmente a Remy e a mim.
— Chega sobre os estúpidos espelhos — Nicki esta olhando
‚Gitana‛, a versão de Patti LuPone. — Tenho visto um milhão de
vezes, mas se quiser, poderíamos sair para a piscina. A coloquei a
30ºC! — abaixou a cabeça e olhou o celular que continuava em minha
mão. — A não ser que seja dessas garotas que abandonam os seus
amigos por algum cara?
— Não. Mas deveria ligar de volta, pode ter sido algo
importante.
35 PG-13: Quando um filme ganha o selo PG-13, quer dizer que este filme contem
cenas impróprias para menores de 13 anos.
— Ok, mas antes que o faça me deixe mostrar a piscina. — Ari
me guiou para umas portas francesas no final do corredor, que
davam para o jardim traseiro.
Grandes rochas estavam iluminadas com uma suave luz azul e
verde marcando os movimentos da cascata que salpicava na piscina.
L}mpadas chinesas penduradas nas cerejeiras, onde as flores
soltaram as pétalas que caiam dentro da piscina, e se divertiam na
superfície.
— Poderíamos abrir uma champagne e nadar na piscina ou
ficarmos na jacuzzi.
— Bom — disse, enquanto olhava boquiaberta a jacuzzi unida
| piscina. — Voto pela jacuzzi! Vamos buscar a Nicki, ela gostar{.
— Na verdade acho que não podemos separ{-la do programa.
E, você sabe, estou um pouco cansada da sua rotina de Debbie
Downer36. Ela leva tudo muito sério. Não fica louca pela forma que
ela te segue para todas as partes?
— Do que você est{ falando? — perguntei atônita.
— Como no caso de Ryan. Quero dizer, as relações são
complicadas, não pode falhar com alguém por algum pequeno
problema, certo? Mas se dependesse de Nicki, você deveria ter
terminado. E tomar só um gole, qual é o problema? Viu a maneira
que estava te olhando? É como se pensasse que não pode atuar por
sua própria vontade.
36 Debbie Downer: O nome do personagem é uma gíria que se refere a frase de
alguém que muitas vezes acrescenta uma má notícia e sentimentos negativos para
uma reunião, derrubando o humor de todos ao seu redor.
— Bom, somos menores de idade, e quanto ao Ryan, ela só se
preocupa se estou me preparando para um termino. Não nos
conhecíamos muito bem quando ele me convidou para sair. E tem
todo o assunto de Samantha.
Ari me olhou pensativa. — Suponho que pode ver dessa
maneira, mas se me perguntar, ela esta com ciúmes.
Sacudi a cabeça. — Não, Nicki não é assim.
— Bom, é que nunca escuto ela falar de nenhum garoto no
coro. Não é que Nicki se incomode de falar, apesar de que tenho
tentado incluí-la em minhas conversas.
Fiquei olhando a piscina. Nicki deixou mais que claro que Ari
não era uma de suas pessoas favoritas, e vendo como Ari poderia
mudar de quente para fria como o {rtico em um segundo, não é
difícil de imaginar por que. Mas Nicki tinha estado me incomodando
sobre Ryan desde que ele me convidou para sair. Estava tão
entusiasmada, mas ela só me olhava como se estivesse louca e me
perguntou por que disse sim a um garoto que era conhecido na escola
por comer vinte e oito pasteis em três minutos.
Ela só tinha saído com alguns garotos, | relação mais longa
tinha durado um pouco mais de um mês. Mas ela apoiava a
separação por que os homens não estavam de acordo com os direitos
das mulheres, ou a política ou que não, me abstenho de girar meus
olhos, eram suficientemente sérios.
Suponho que Ari tem razão.
— Mas se quiser, v{ perguntar se ela quer nos acompanhar. —
Acrescentou Ari.
— Não, ela preferiria ver o filme. Além disso, ela pensa que os
trajes de banho são desenhados por pessoas chauvinistas37 que vêem
as mulheres como doces para os homens.
Ari sacudiu a cabeça. — Sim, como eu disse. Mas vamos nos
trocar, e nos encontraremos aqui.
Ari se afastou e caminhei lentamente no hall de entrada onde
tinha deixado a minha bolsa com a minha roupa de banho e toalha.
Sentia—me um pouco culpada por não ter defendido Nicki, mas de
alguma maneira, Ari tinha razão. Nicki precisava relaxar ou pelo
menos aceitar que não esta sempre certa.
Tirei o meu novo biquíni da minha bolsa e desejei que Ryan
estivesse aqui. Nunca admitiria na frente da Nicki, mas não acho
nada ruim em ser o doce dos seus olhos. E melhoraria na próxima
vez, se Ari me convidasse de novo, não convidarei a Nicki.
— Assim que j{ tem isso por todo o caminho? — perguntou
Ari com um sorriso.
Afoguei-me com o meu champagne e logo tomei um pouco de
espuma da borda da banheira e o tirei. — Ari!
Ela me olhou. — Ainda é virgem, certo?
— Isso não é assunto seu! — Gritei, salpicando {gua nela.
Ela riu de novo. — Est{ bem, eu tampouco o tenho feito — Se
afundou um pouco mais na {gua, a ponta de sua taça de champagne
molhando com a {gua da banheira.
37 Chauvinista: é o termo dado a todo tipo de opinião exacerbada, tendenciosa, ou
agressiva em favor de um país, grupo ou idéia.
— Cuidado! — eu ri.
Ela sentou e soltou a taça, colocando ela dentro da banheira.
— Merda!
Nós rimos um pouco mais enquanto procuramos no fundo da
banheira com os pés. — Encontrei — disse, se agachando e pegando a
‚flauta‛, que Ari me explicou que era a maneira adequada de chamar
a taça de champagne. Expliquei que não fazíamos muitas celebrações
em minha casa e por isso era ignorante ao fato que tinha um tipo de
flauta que não tinha que soprar. Ari me perguntou se podia
diferenciar uma taça de Merlot de uma de Chardonnay38, e respondi
‚não‛, e ela se comprometeu a me educar nos caminhos da
sofisticação.
Tirou a {gua de sua flauta e serviu mais champagne da
segunda garrafa que tínhamos aberto.
— O que acontece se Patty ou seu pai nos descobrir?
Ari bufou, afundou seus l{bios abaixo da superfície, e soprou
fazendo algumas bolhas. Saiu e cruzou seus olhos parecendo
aturdida. — Patty provavelmente esta inconsciente — sacudiu a sua
cabeça e me olhou com tristeza. — E meu pai é tão velho que vai para
a cama as nove em ponto — ela levantou sua taça no ar. — Este é o
porquê, é importante desfrutar enquanto se é jovem e ainda pode
pass{-lo bem!
Levantei minha taça até a dela e logo ambas bebíamos os
nossos goles. Olhei para o céu e observei as estrelas. Fui | Nova
Iorque com a família de Nicki alguns anos atr{s para ver ‚O Rei
38 Merlot e Chardonnay: Tipos de uva utilizada para fazer vinho.
Leão‛, e estava assombrada pelo fato que tinha tanta luz artificial que
parecia impossível ver as estrelas. Mas aqui, na parte alta da
montanha onde se via o parque, cada uma das estrelas brilhava no
céu.
— É tão lindo aqui, perfeito.
— É — disse Ari suavemente. Passou sua mão sobre a
superfície da {gua e suspirou. — Mas ainda não encontro o
ingrediente para mim ‚e viveram felizes para sempre‛.
— Luke sabe que você gosta dele? — perguntei, nem sequer
dissimulando que não sabia que ela morria por ele.
Ari estalou a língua. — Lamentavelmente para mim, sabe. Eu
estupidamente fiz o primeiro movimento e me deram o discurso de
‚é como uma irmã para mim‛. Isso foi h{ um ano, e sigo esperando
que as coisas mudem, mas é difícil esperar, vê-lo todo o tempo e estar
me perguntando quando se dar{ conta que j{ não sou uma menina.
— Acha que talvez seja por que era amiga de sua irmã?
— Como soube que Kayla e eu éramos amigas?
— Nicki me disse.
Ari assentiu. — Sim, ao menos isso pode influenciar, mas
Kayla não era de muita ajuda. Ela não queria que saíssemos por que
se cheg{ssemos a terminar, poderia arruinar a nossa amizade. Disse a
ela que se me casasse com Luke nos tornaríamos irmãs — terminou
sua taça e a encheu de novo. — Às vezes penso que Kayla só não
queria compartilhar ele.
Olhei as estrelas, não sabendo se Ari se incomodaria com o
que diria. Considerei manter a minha boca fechada, mas me sentia
mal por ela, e a champagne me fazia sentir ousada.
— Talvez deva se retirar um pouco, dar a ele um pouco de
espaço. Era um pouco óbvio que estava mal por ele quando
est{vamos na sala de fantasias no outro dia. Em vez de tentar tomar
as armas com ele ou parar ao seu lado, que manda um sinal de
necessitada, deixa que ele venha a você.
Esperei para ver se Ari ia me bater na cabeça.
— Pelo menos tem razão. — disse.
Me dei conta que estava segurando o fôlego, assim que exalei.
— Talvez se eu cortar o clima de ‚te amo‛, ele poderia... — Ari
se sentou direita enquanto um grande sorriso aparecia em seu rosto.
— Oh meu deus, est{ aqui! Esse é o destino!
Virei e vi Luke saindo da casa com Nicki.
— Ol{ damas — ele disse.
— O que esta fazendo aqui? — disse Ari. Ela me olhou de
soslaio e piscou.
— Patty me chamou faz um tempo para me perguntar se
podia arrumar o letreiro da entrada do bosque de Hansel e Gretel —
ele mostrou as pinturas que penduravam em suas mãos. — Ela soava
fora de si, assim pensei que o melhor era perguntar a você.
Ari girou seus olhos. — Sim, ela começou a beber quando
recebeu a chamada que dizia que a nova montanha russa pequena
estava atrasada, de novo.
— Isso é muito triste — disse Nicki. — Vai procurar alguma
ajuda?
O sorriso de Ari se evaporou. — Não acontece todo o tempo —
disse, logo olhou para o Luke. — Imagino que j{ conhece a Nicki.
— Oh, lembro dela do coral — virou para Nicki. — Nunca me
esquecerei da canção que cantou alguns anos atr{s, ‚Glitter‛ alguma
coisa.
— ‚Glitter and be Gay‛, da Candide! Essa é uma das minhas
peças favoritas! Não posso acreditar que se lembra disso. — Nicki
sorria e movia a sua mão como dizendo que a sua atuação não era
grande coisa, apesar do fato que recebeu uma ovação de pé.
— Não, essa canção ficou comigo por um tempo. Bom, Kayla
também a cantava muito, mas ela sempre estava falando do quanto
você é boa, que deveria estar na Broadway.
Nicki deu um sorriso agridoce. — Ela esteve muito bem
também, mas não sei se estou pronta para a Broadway.
— Claro que est{ — disse Ari friamente. — Todos dizem, e
causou uma boa impressão em Luke, que não sabia que era um
aficionado pela música.
Nicki deu um r{pido e nervoso olhar, e pude ver que ela se
deu conta que Ari estava com ciúmes. — Hum, todos gostam da
música, certo? É universal. Hum, sabe, esta ficando tarde, e você não
tem uma grande orientação amanhã na Terra Encantada, Megan?
Não vai querer chegar atrasada ao semin{rio das m{quinas de caça
níqueis.
Assenti e sai da banheira, me dando conta de repente que
estava de biquíni na frente do Luke. Rapidamente peguei a minha
toalha e me envolvi com ela. — Sim, é bem cedo, então deveríamos ir
— cambaleei um pouco sobre os meus pés, e Nicki segurou o meu
braço para me ajudar. — Tem mais champagne Luke. Talvez devesse
acompanhar Ari — pisquei para ela que sorriu agradecida. —
Obrigada por nos convidar. Bom te ver de novo, Luke.
— Sim, você também. Tenho certeza que te verei no parque.
Sai do banheiro segurando meu biquíni molhado, e Nicki me
esperava apoiada contra a parede, seus braços cruzados sobre o peito.
— Espero que sua mãe não esteja te esperando, vai saber que esta
bêbada.
Minhas bochechas arderam e passei a alça da minha bolsa pelo
meu ombro. — Não estou bêbada, mas minha mãe tinha uma reunião
cedo com o seu advogado, assim provavelmente j{ estar{ na cama.
— Que seja, e, uh... Obrigada por me abandonar esta noite.
— Só pensei que estava desfrutando o filme, e inclusive disse
que não estava certa sobre nadar — disfarcei.
Nicki tirou as chaves da carteira. — Teria sido bom que me
perguntasse! Depois que terminou o filme, não tinha idéia de onde
estavam. Por sorte, Luke apareceu e me levou para a piscina, para
não ficar perdida pela mansão cheia de parte de animais mortos.
— Sério, a PETA39 estaria empacotando a Terra Encantada em
um segundo se soubessem o que tem aqui dentro. Só olha — disse
mostrando o pé de elefante que tinham sido transformado em um
porta guarda chuvas. — Quão doentio é isso?
Virei os olhos. — É obviamente algo velho, antes que as
espécies em extinção estivessem no radar de alguém.
— Isso não significa que devam ficar.
— Não, mas por que se incomoda tanto sobre isso?
Nicki abriu a porta dianteira. — A verdadeira pergunta é, por
que esta de acordo com isso?
— Acho que não sou tão moralmente superior como você.
Nicki me olhou. — Oh, isso é bom, e deve ser ótimo saber que
pode tomar todo o champagne que você queira, j{ que tem um chofer
que te leva para casa.
Suspirei. — Desculpe, tomei alguns goles. Não é que tenha
feito disso um h{bito, mas simplesmente não tenho energia para
analisar tudo como você faz. Sim, acho que todas as coisas mortas são
arrepiantes, mas são como as antiguidades, ao menos têm um razão
sentimental pela qual ficam com elas.
— Ok, para a sua informação, esta é a minha primeira e última
visita a Casa dos Roy, se planeja vir de novo, eu sugiro que
finalmente tire uma licença para dirigir como sempre tenho dito, ou
que tenha a estrela Ari que te leve.
39 PETA (People for the Ethical Treatment): é uma ONG que está engajada na causa de
proteger animais de todos os atos de exploração humana desnecessária e abusiva, como
chacinas, experimentos, etc...
— Ok, eu vou fazer! — entrei no carro e me perguntei quando
Nicki tinha se convertido em uma pessoa tão insuport{vel ou por que
me levou tanto tempo para me dar conta. E ela estaria delirando se
esperasse que Ari a convidasse de novo.
Nicki aumentou o volume e soube que voltaríamos para casa
sem conversar. Não é justo. Ela sempre se queixa de coisas estúpidas
e nem se quer se da conta da sortuda que é. Daria qualquer coisa para
voltar para casa todas |s noites com uma família normal e receber
elogios por ser tão genial fazendo o que ela faz.
Em vez disso, estou pendente para quando Remy aparecer em
qualquer esquina pronta para me assustar, e logo ir dormir sabendo
que provavelmente terei pesadelos sobre a garota massacrada no
chão do bosque. Fechei os olhos sentindo-me sonolenta, e inclinei a
cabeça para tr{s contra o assento. O rosto no espelho vinha para mim.
Vi suas mãos aplaudindo, com suas compridas e monstruosas unhas,
e rogava que essa imagem não se somasse ao meu repertório de
pesadelos.
Fui até a sala de baixo e mamãe falava no telefone. Ótimo.
Esperava que tivesse ido.
— Tentarei encontr{-lo Shelly, mas seguramente nesse dia e
tempo pode ser que tenha algumas lacunas, que é pelo que estou
passando. — mamãe me viu e inclinou a cabeça para a mesa da
cozinha, onde vi que tinha preparado o café da manhã (suco, melão e
torradas), algo que fazia anos que não me preparava.
Presumi que o Senhor Macardo pensava que a minha mãe e eu
nos sent{vamos e convers{vamos, esta era a sua forma de esmagar o
tema sobre Remy. Fergus andou e me esfregou as orelhas. — Ei,
garoto. — sussurrei.
— Olha, só admito que foram uns negligentes e que tem
melhorado a sua equipe. — mamãe se burlou com frustração de
qualquer coisa que Shelly lhe disse. — Bom, veja o que você pode
fazer antes que eu chegue! — desligou o telefone e respirou
profundamente.
Sentei e peguei umas torradas. Imaginei que mamãe estivesse
morrendo para gritar por causa do quarto de papai, mas sabia que ia
evitar o tema, assim vamos fingir que essa noite nunca aconteceu.
Serviu um café e passou seus dedos pelo cabelo despenteado.
— Bom — disse depois de tomar um gole. — Shelly esta tentando
assumir certa responsabilidade pelo acontecido e trocar as equipes de
seu pai — disse como se eu não pudesse ter ouvido nada enquanto
ela estava no telefone h{ um segundo. — E estou com ela sobre falar
com a companhia de seguros para fazer mais testes, só para ver como
esta progredindo, ver se tem nova atividade cerebral. Vai ser uma
luta, mas... — parou, tomando um gole de seu café de novo, e me
perguntei se no fundo ela sabia que era impossível.
— Não esqueça que voltarei tarde esta noite — continuou. —
A competição é em Boston. Fergus e eu temos trabalhado realmente
duro e acho que teremos uma grande oportunidade para derrotar o
Brussels Griffon, a menos que os juízes sintam l{stima por essa coisa.
Um cachorro tão feio que poderia conseguir pontos por simpatia.
Tem um Poodle em Long Island que esta criando v{rios rumores nos
quadros de mensagens. Não consegui encontrar nenhum vídeo
online dele — virou os olhos — seria bom ver que tipo de costumes
eles tem. Embora, não possa imaginar o que é que atrai as pessoas
para essa raça que não para de latir.
— Tenho treinamento na Terra Encantada — falei sem o menor
interesse de conversar com a minha mãe. Sério, quem se importa com
a ridícula roupa que colocaram no pequeno cachorro branco com um
falso penteado africano?
— Ok — mamãe se afastou da mesa e colocou a xícara na pia.
— Poderia olhar os registros médicos de seu pai antes de buscar algo
sobre o nosso caso. Vou depositar algum dinheiro na conta para que
possa jantar essa noite.
— Obrigado.
Sorriu, mas não tinha nenhum sentimento real atr{s disso.
Suspeitei que fosse uma reação autom{tica ao meu ‚obrigado‛, e ela
j{ estava distante pensando em sua competição e em papai. A vi
entrar no estúdio do meu pai, e me perguntei se precisava encontrar
algo que estimulasse a sua esperança de que ele fosse despertar,
contradizendo o que o Dr. Macardo a havia dito. Quando falei com o
Sr. Macardo, apesar de seus esforços por parecer ser imparcial, era
óbvio que não era fã de deixar as pessoas vegetando para sustentar a
sua vida. Deve ter dito ‚Tem que considerar a qualidade de vida‛,
umas dezenas de vezes, interrompidos por ‚Claro, só os membros
sobreviventes da família podem fazer uma escolha de sentença
depois de manter informada a família inteira sobre a que condição
que eles preferem‛. Sei que estava tentando escolher suas palavras
com cuidado, mas o termo ‚membros sobreviventes da família‛ tinha
deixado o meu pai de fora.
Escutei o carro de Ryan estacionar na porta e apertar duas
vezes a buzina. Dei a Fergus uma última caricia na cabeça. — Boa
sorte Fergie, de uma patada na bunda desse cachorro fraldiqueiro40!
— peguei a minha bolsa e fui até a porta. — Tchau mamãe — disse,
— Boa sorte! — Contei até três, mas não consegui nenhuma resposta
e fiquei esperando que Ari mantivesse a sua promessa de manter
Ryan e eu juntos no parque.
— Isso é tão emocionante! — gritou Samantha enquanto nos
dirigíamos ao Rainbow Café para as designações do parque. —
Estava revisando o nosso pacote, e tudo o que quero fazer é a sereia
do lago com o barco do capitão. Você ter{ que navegar ao redor da
Ilha Encantada, inclusive tenho memorizado o guia no caso que nos
façam uma prova ou algo assim.
40 Fraldiqueiro: cão acostumado ao regaço das mulheres.
Olhei fixamente para Samantha com incredulidade, como se
fosse começar j{ a recitar algumas linhas.
— Enquanto suas irmãs nadavam felizmente na laguna das
sereias, Meriope, a sereia de cabelo comprido e rosa, desejava jogar
com os garotos que visitavam a Terra Encantada. Pode encontrar
alguém que Meriope esconde?
Samantha parou, olhou ao seu redor com os olhos muito
abertos, como se na realidade esperasse um barco cheio de meninos
que pega os dedos ou os compridos narizes na vez que a sereia de
vidro se escondia abaixo das esmagadas rochas da cascata.
Quando era pequena, Remy e eu sempre riamos da est{tua da
pobre sereia, afetada duramente pela {gua artificial azul que
bombeava por cima dela. Uma vez o barco chegou ao parque
aqu{tico do outro lado da pequena ilha, algumas pessoas da Terra
Encantada interpretaram a Meriope (que complet{vamos com risadas
pelas pernas que ‚magicamente‛ a d{vamos), nos recebiam com
pistolas de {gua Super Molho (uma marca de pistolas de {gua). Nada
mais dizia ‚diversão‛ como fazia ao redor daquela sereia. Samantha
assentiu com a cabeça, com um sorriso selvagem em seu rosto,
apontando o outro lado da rua. — Sim, tem razão, ali esta Meriope!
Não gostaria de brincar com ela?
Ryan e eu trocamos olhares, e fiquei aliviada que ele parecia
tão perturbado quanto eu.
— Est{ preso Sam — disse ele sem nenhum entusiasmo.
— Faz eu desejar ser menina outra vez — menti, era difícil
acreditar que tivesse dezessete e não sete anos. Claro, ela era o tipo de
pessoa que eles queriam que trabalhasse aqui. Samantha Lee Darling
tinha encontrado o seu lar.
— Sério? — perguntou.
Assenti. — Absolutamente — claro, o que eu queria era lev{-la
ao Dr. Macardo, por que levar tanto tempo para memorizar idiotices
teria que ser sem dúvida um sinal de doença mental. Que ela seja
uma estúpida faz com que me preocupe com sua capacidade de
navegar um barco. No entanto, tenho que admitir que posso ver ao
menos quatro pessoas que tinha, no total, tragando o seu sentimento
de atuação.
— Risquei ‚piloto‛ da minha aplicação — disse Ryan, — não
pensei que eu fosse o capitão desse terreno, é um pouco feminino.
— Graças a Deus! — falei, — se tivesse se metido ali, não me
restaria outro remédio senão terminar com você. Assim são as coisas,
estou assustada que fique como piloto.
— Sabe que gosto dos barcos — disse envergonhado.
Levantei uma sobrancelha. — Barcos cheios de meninos
mimados?
— Bom, não — disse ele.
Samantha sacudiu a sua cabeça. — Se fizer um bom trabalho,
não serão maníacos com você. Estava lendo a informação do pacote, e
não seria mal receber uma grande quantidade de sal{rio. Vou fazer o
necess{rio para preparar o nível quatro e dar algo de vida a minha
conta banc{ria.
— Não acho que você vai ter algum problema na hora de
mudar de nível — acrescentei.
— Megan!
Virei para ver Ari que ia com o seu carro arco-íris.
— Ei! — chamei.
Ela estacionou o carro e saltou para fora. — Oh Deus, tenho
que falar com você!
— Ryan e Samantha, esta é Ari, seu pai é o dono do parque —
disse como se ela pusesse limites entre nós.
— Seu pai é o dono do parque? — perguntou Samantha.
— Infelizmente, sim — respondeu Ari.
Sam a olhou bobamente. — Sério? Poderia conversar com a
Senhorita Patty? Por que eu faria qualquer coisa para conseguir o
comando de capitão do barco da Ilha Encantada — Samantha se
voltou para mim com um aspecto como se não acreditasse na sorte
que estava tendo. — Inclusive eu sei a fala de memória! ‚Enquanto
suas irmãs nadavam felizes na laguna da sereia, Meriope, a sereia de
cabelo longo e rosa, desejava jogar com os menin...‛
— Não precisa fazer isso — disse Ari, levantando uma mão
para o rosto de Samantha. Ficou olhando a Samantha durante um
segundo e logo piscou duas vezes. — É mais que óbvio que seria
fant{stica, mas não posso prometer nada, mas vou fazer o que puder.
Samantha levantou os punhos para o ar. — Oh, muito
obrigado!
— De nada — disse Ari, me olhou de soslaio, e era óbvio que
Samantha a tinha transtornado. — Ol{ — falou olhando para Ryan e
cumprimentando ele com a mão. — Tenho ouvido muito sobre você,
tem algum requerimento? Morre para ser o capitão também?
Ryan sacudiu a cabeça e ficou um pouco vermelho. — Não, só
espero conseguir um trabalho com as minhas garotas — nos rodeou
com seus braços, a mim e a Samantha e poderia ter me arrastado para
baixo de uma rocha (como um ‚terra me engula‛).
Ari olhou Ryan incrédula. — Quantos Hugh Hefners41 h{ em
você?
Ryan colocou sua mão no ombro de Sam e gaguejou. — Oh,
não, hum... Sam é só uma amiga.
— Te falei que Samantha é sua melhor amiga — disse,
pretendendo estar irritada com ela. Na realidade, estava esperando
que Ryan escutasse isso de outra pessoa que não fosse eu. Finalmente
se daria conta que estar sempre ao redor de Samantha não estava
certo.
— Sim, acho que falou... — disse Ari. — Ei, se importa se eu
roubar a Megan uns minutos?
— Não tem problema — gritou Samantha com muito
entusiasmo.
— Nos vemos logo — respondeu Ari.
41 Hugh Hefner: Fundador e editor chefe da revista masculina Playboy.
Ari os olhou enquanto nos afast{vamos e logo deu um
assobio. — Ela é uma peça de trabalho! Definitivamente não acho que
deva se preocupar, quero dizer, quem sairia com alguém assim?
— Acho que bateu a cabeça quando era um bebê ou algo
assim, est{ totalmente desorientada, mas não tem maldade em seu
corpo.
— Bom, suponho que ficar{ bem limpando as crias das cabras.
Imagino ela passando as tardes nas granjas.
Senti—me pungente. Por um lado, seria divertido ouvir
Samantha se queixar sobre o fator de merda no curral, embora tenha
uma boa possibilidade de que a ternura das crias dos animais
triunfara por cima da merda para ela. Por outro lado, estaria cem por
cento melhor na atuação de capitã do barco que, por exemplo, a
garota gótica que vi caminhando para a cafeteria alguns minutos.
Pergunto-me o que o Sr. Roy estava pensando quando a contratou.
— Sabe Ari, a Samantha gostaria de fazer o papel de sereia.
Sério. Est{ decorando o discurso inteiro, e apesar de que ser triste e
patético fez um bom trabalho recitando.
Ari levantou uma sobrancelha. — Tem certeza? Est{ sendo
muito am{vel com a garota que est{ esperando para cravar suas
garras em seu homem?
— Sim, tenho certeza. Além disso, ela é o tipo de pessoa que o
seu pai gostaria que dirigisse o jogo de esconde-esconde.
Ari deu de ombros. — Sim, você e o Ryan ficarão no outro
lado do parque, fazendo cavalgadas na seção do bosque, no canal do
tronco, Hansel e Gretel, na montanha de Pão e Especiarias... Humm,
vou precisar de alguém que ocupe o lugar de Samantha na granja, ei
você! — Ari apontou para uma garota extremamente alta e morena
que passava por ali. — Qual seu nome?
A garota olhou para Ari. — Johanna — disse com algum tipo
de sotaque europeu.
— Você gosta de animais Johanna?
Olhou para Ari confusa. — Humm, animais? Sim — disse
dando de ombros.
— Fabuloso! — Ari se aproximou de seu carrinho de golf e
pegou um papel do banco do passageiro. — Pode, por favor, soletrar
seu nome e sobrenome para mim Johanna? — disse Ari, imitando seu
sotaque. A garota entrecerrou os olhos.
— J O H A N N A L U N D, algo mais?
Ari rabiscou em seu papel e olhou para Johanna. — Não, estou
bem, obrigada. Você vai se encantar com as cabras.
A garota foi para a cafeteria, e Ari colocou o papel no carrinho.
— Alguns desses estudantes estrangeiros têm que aprender
qual é o seu lugar a tempo. Quero dizer, vão cair por cima, só pelo
seu sotaque. Mas chega, por que estou morrendo para te dizer o que
aconteceu ontem | noite quando você foi embora.
— O que?
— Luke! Fiz justamente o que me disse, estava totalmente
fresca, como se não me importasse se ficasse ou não, e ele ficou!
Entrou na jacuzzi comigo, e embora estivesse morrendo para me
aproximar mais dele, me mantive afastada, só ficamos assim, e era
como nos velhos tempos, sabe, antes de dizer que gostava dele e as
coisas mudassem.
Sorri, mas uma parte de mim estava incomodada por que
Luke tinha estado na jacuzzi com ela. Outra parte de mim pedia para
me esbofetear por me incomodar.
— Conversamos sobre sua volta a escola de arte em Nova
Iorque. Falei que achava que deveria gastar seu tempo com sua
carreira. Sabe, simplesmente poderíamos ir os dois no próximo ano,
mas isso não disse — suspirou, seu rosto parecia feliz e em paz. —
Acho que talvez nós possamos começar alguma coisa.
— Ótimo! — disse, mas meu instinto me disse que ela estava
vendo mais do que deveria. Sorriu radiante e aplaudiu com suas
mãos, um movimento muito Samantha. Cara, est{ ruim. Me sinto
feliz por Ari, por que se Ari é feliz, todo mundo é feliz.
— Ei, estava me perguntando se gostaria de vir comigo ao
SPA. Podemos fazer manicure, pedicure e massagem.
— Seria ótimo. Mas não acho que tenho dinheiro para algo
assim.
— Eu te convido, por me ajudar com Luke.
— Você não me deve nada — falei, pensando que realmente
não fiz nada digno de uma massagem.
— Ok, faremos simplesmente por diversão então — disse. —
Não vou aceitar um não como resposta!
Sorri. — Esta bem, sempre quis saber como seria fazer uma
massagem.
— É o paraíso! Deveria mudar a Johanna e Samantha de
hor{rio antes que pegue a Patty — esfregou as mãos e fez um sorriso
malévolo. — Adoro jogar com os empregados! — sorriu. — Esse
verão vai ser o melhor de todos! — Ari voltou para o seu carrinho e
dirigiu até a parte de tr{s da cafeteria.
Os cabelos da minha nuca se arrepiaram quando senti um
calafrio. Remy apareceu em minha visão borrada e desfocada. —
Meggy, onde est{ o papai? — perguntou enquanto caminhava
lentamente pelo caminho.
Parecia tão triste que os meus olhos se encheram de l{grimas
por não poder ajud{-la. — Estou tentando encontr{-lo para você.
— Onde est{ o papai? — perguntou outra vez com a voz
quebrada. Abaixou a cabeça e sacudiu de um lado a outro. — Pede um
desejo — conteve a respiração enquanto soluçava. — Pede um desejo.
— Ei!
Dei um salto e virei para ver Luke. Esfreguei os olhos e esperei
que o ritmo cardíaco voltasse ao normal.
— Desculpe, não queria te assustar, imaginei que tinha que
cobrir a sua irmã — assinalou em direção a Remy. — Est{ na segunda
fase, transparente, mas visível.
Levantei as sobrancelhas.
— Estou aprendendo a gíria fantasma, esperava que
pudéssemos conversar — olhou ao redor e inclinou a cabeça para a
cafeteria, — tem alguns minutos?
Olhei para Remy, que se atenuava | medida que sacudia a
cabeça. Assenti com a cabeça e o segui pelo caminho. Virou para o
Jardim Gigante do Céu, uma {rea cheia de automóveis e de insetos
enormes de metal.
— Por aqui — disse, agachando abaixo de uma seta vermelha.
Tinha uma abertura no caule do cogumelo e o segui para dentro.
Sentou no banco de curvas que recobria o interior e deslizei
para seu lado. Definitivamente est{vamos fora da vista das pessoas,
mas não podia deixar de me preocupar que Ryan ou Ari
encontrassem uma maneira de nos descobrir.
— Ok, tenho conversando com Nona sobre Remy.
— Sério? — perguntei, minha voz fazia eco nas setas. — Mas
ela não suspeitar{?
Luke respirou profundamente. — Falei de mim, e não parecia
muito surpresa. Acho que provavelmente sempre soube, mas isso não
é importante.
Meu coração se derreteu só de pensar que ele estava me
ajudando. — Isso deve ter sido difícil.
— Bom, depois de ter contado, tive que pensar. Pensar em
cada pessoa que vem ver a Nona por que quer um tipo de assessoria
sobre seu vestu{rio, também tem gente como você, que realmente
precisa de ajuda... E Remy é só uma menina, e que tipo de
desgraçado seria eu se não ajudasse?
— Nona podia ter feito.
— Sim, eu sei. Mas Remy veio a mim naquele dia na barraca
de fantasias — suspirou. — E j{ que tenho passado toda a minha vida
tentando saber o menos possível do mundo fantasma, imaginei que
tinha que ajudar. Quando contei a Nona que pens{vamos que Remy
estava buscando o seu pai, e qual é a situação, ela achou que a chave
para Remy se encontra em sua mãe, que não pode ver ela.
Luke olhou para a parte de cima da seta e eu disse o que ele
não se atrevia. — E Remy não pode encontrar o meu pai a menos que
minha mãe esteja de acordo em tirar o tubo de alimentação.
— Exato — disse, estendendo a sua mão e apertando a minha.
Aproveitei esse pico moment}neo de paz para recuperar o meu
fôlego.
Odiava admitir, mas gostava que a minha mão estivesse sobre
a sua. Sacudi a minha cabeça. Concentra em Remy!
— Minha mãe... Ela não far{ — falei olhando para o grande
jardim, com uma pequena sensação e sem esperança. — Disse que
achava que era o momento de deix{-lo ir, ela se irritou e me chamou
de assassina.
Luke sacudiu a cabeça. — Sabe que isso não é verdade.
Dei de ombros. — Não sei. Na realidade não sei. Durante um
minuto pensei que era o certo, mas então... Ok, em todo caso, trazer o
tema a fez mais firme que nunca em pensar que ele despertaria. Ela
ainda vive com seus velhos discos, tentando encontrar algo que
obrigue a seguradora a fazer novos testes.
— Mas se ela pudesse ver Remy, mudaria de idéia.
— Sim, mas não pode.
Luke me olhou nos olhos. — Mas eu poderia ajudar ela a ver
Remy, inclusive falar com ela.
Minha boca se abriu devagar. — Fala sério?
Luke franziu o cenho. — Nona disse que posso, que não fiz
outras vezes. Vale | pena tentar, não?
— Mas, e Nona não pode vir a minha casa?
Luke sacudiu a cabeça. — Perguntei, mas disse que este era o
meu trabalho.
Olhei suplicante. — Mas Nona disse que ela nunca tinha
atraído de volta ninguém de baixo!
— Ela não sente como se você voltasse de baixo, por que não é
assim, você tem a mim.
— Ok — disse imaginando o rosto da minha mãe quando se
desse conta que estou dizendo a verdade esse tempo todo. — Se
Nona disse que pode, acredito. Então quando devemos fazer? O
quanto antes?
Franziu o cenho. — Estava pensando que não deveríamos
começar por sua mãe. Se não puder conseguir ficar{ em um caso pior
que agora.
— Certo.
— Então precisamos encontrar alguém mais com quem
praticar, alguém que fosse próximo de Remy.
— Nicki — falei em voz baixa, perguntando se falaria comigo
depois do que aconteceu com Ari. — Nicki era a melhor amiga da
Remy. Mas ela não acredita em fantasmas, é a mais anti-fantasmas
que você pode encontrar.
Luke sorriu. — Então ela ser{ perfeita. Se pudermos fazer
acreditar, achar que pode ver a Remy, ser{ a peça que nos faltava.
— Ok, vou ligar para ela depois da estúpida seção de
treinamento. Pode ser esta noite?
— Sim, e deveríamos fazer em sua casa, onde Remy se sentir{
mais cômoda, para maximizar as possibilidades que tem de se
mostrar.
— Ótimo. Minha mãe vai voltar tarde para casa, esta noite tem
uma competição com o cachorro em Boston.
— Sua mãe expõe o seu cachorro?
Virei os olhos. — Não, dança com ele, eu te contarei os
detalhes mais tarde — dei a Luke o meu telefone. — Me d{ seu
número e te ligo quando conseguir falar com a Nicki.
Devolveu o celular e balancei a cabeça. — Não sei como posso
te agradecer por tudo isso.
— Estou fazendo isso por Remy... E por você.
Minhas bochechas ardiam, e olhei para baixo. — Eu... Hum...
Melhor eu ir, a reunião j{ est{ começado.
— Sim, não poderia perder o grito da Equipe Encantada.
Meus olhos se alargaram. — Oh Deus, tem um grito?
Luke ficou de pé. — Quem tem a magia? Quem tem o sorriso?
Quem tem a missão de fazer um esforço extra? Terra Encantada, que
é nosso nome, felizes para sempre, esse é o nosso jogo!
O olhei, buscando um sinal que aquilo era piada. — Por favor,
por favor, me diga que inventou isso.
— Não. Toda a maldita equipe encantada tem um círculo cada
dia antes de abrir e fazer a abertura, então Patty corre batendo na
mão de todo mundo em círculo.
Como se estivesse escutando a voz da Patty por um alto-
falante. ‚Quem tem a magia?‛
Deixei escapar um comprido suspiro. — Vai | reunião?
— Não, estou em um nível não oficial, tenho acesso restrito...
— me olhou de cima abaixo. — Pode ser que esteja errado, mas
parece que as equipes de construção não é sua praia.
— O parque inteiro não é.
— Quem tem o sorriso? — berrou através do ar.
— Melhor eu ir... — comecei a correr até a cafeteria. — Quem
vai fazer o ridículo durante o resto do verão? — murmurei. — Vai!
Megan...
Corri o caminho até a Cafeteria sobre o arco-íris e quando
entrei, todos estavam formando um círculo exatamente como Luke
descreveu. Vi Ryan e Samantha e me meti entre eles.
— Se perdeu é o cacete. — me disse Samantha, estendendo a
sua mão para a Senhorita Patty.
— Eu ouvi — disse enquanto a Senhorita Patty batia minha
mão em seu caminho ao redor do círculo. Ela não fazia contato visual
comigo, eu imaginava que devia estar envergonhada por ontem |
noite.
— Perdi algo importante?
— Não muito — disse Ryan, — ela fez uma observação das
diferentes {reas do parque. A menos que tenha trabalho na loja de
comida e presentes, seremos treinados para começar com três
atrações, mas pode se apresentar para novos trabalhos depois de
umas semanas.
— Acha que essa garota ser{ capaz de conseguir para mim o
trabalho do barco? — perguntou Samantha.
— Ari? — assenti — sim, ela disse que faria.
Samantha sorriu, e não pude deixar de pensar que seria
perfeita para substituir a senhorita Patty quando esta se retirasse.
— Est{ bem — a senhorita Patty anunciou pelo seu microfone.
— Antes de entregar seus pacotes de trabalho, h{ só umas poucas e
últimas peças do negócio. Os atores devem ir | Velha Loja de
Vestu{rio, de um em um para conhecer nossa própria Henrietta
Stupin, que est{ de volta pelo décimo quinto ano interpretando a
nossa Mamãe Ganso!
A senhorita Patty colocou sua mão sobre seus olhos e explorou
a multidão. Deteve-se e apontou para o que parecia ser uma mulher
de cento e dez anos. — Henrietta, pode cumprimentar a todos os
nossos membros da equipe?
Henrietta agitou a sua mão pela metade, e todos aplaudiram,
embora não tenho certeza que passear em um parque como um ganso
supérfluo por quinze anos seja algo para celebrar.
A senhorita Patty piscou para Henrietta. — Não é ador{vel?
Somos tão sortudos de tê-la de volta, e talvez alguns de vocês serão
como Henrietta e farão da Terra Encantada sua casa para sempre
também!
Henrietta sorriu ligeiramente, e talvez eu esteja errada, mas
não parecia terrivelmente emocionada por ter a Terra Encantada
como sua casa para sempre. Quem pode culpar ela? Eu certamente
não queria tentar divertir as crianças que provavelmente sabem mais
de Pokémon do que de Mamãe Ganso.
— Bem, antes de pegarem os seus pacotes, meu querido e
velho marido, mais conhecido como Sr. Terra Encantada, quer dizer
umas poucas palavras. Vamos dar a ele uma grande ‚alegria‛ para
mostrar quão emocionados estamos para que comece esta temporada!
Quem tem a magia?
— Quem tem a magia — falei sem entusiasmo, girando a
minha cabeça para salvar meu tímpano de ser destruído pela resposta
entusiasmada de Samantha.
— Quem tem o sorriso? — Patty aplaudiu e todos
participaram.
Por cada pessoa que viraram seus olhos, h{ cinco ou mais que
parecem estar desfrutando disso tanto quanto Samantha. O que tem de
errado com essa gente? Pergunto. Por outro lado, deveria ter esperado
isso. Teria que estar louca como Samantha, ou desesperada como eu,
para trabalhar aqui. Quem sabe, talvez Samantha encontrar{ sua
alma gêmea entre os perdedores animando o seu caminho.
— Quem tem a missão de se esforçar mais? A Terra Encantada,
esse é nosso nome! Felizes para sempre, esse é o nosso trabalho!
Vamos equipe! Vamos! Vamos dar um grande aplauso ao Sr. Roy!
Me dei conta que Ryan aplaudia tão forte quanto Samantha,
esperava que ele só estivesse sendo cortês.
O Sr. Roy caminhou até o palco e esfregou seus olhos com um
pano rosa brilhante. Nos olhou com suas mãos cruzadas sobre o
peito.
— Isto é do que tudo se trata. Seu entusiasmo, seu cuidado
dos sonhos, e seu desejo de transformar vidas. Minha família tem
dirigido esse parque desde 1034, e quem havia imaginado que
chegaríamos tão longe e fazer tanta gente feliz? Mas não podemos
fazer sem vocês e sua dedicação ao ‚felizes para sempre‛, e os
agradeço do fundo do meu coração!
Aplaudimos um pouco mais e Samantha colocou seus dedos
sobre seus l{bios e assobiou.
— Só peço uma coisa de vocês — O Sr. Roy prosseguiu. —
Deixem que seus sorrisos iluminem o caminho para uma família que
precisa se animar e dê a eles a oportunidade de escapar da dura
realidade da vida. Obrigado, a todos e a cada um, por ser parte da
minha família encantada.
O Sr. Roy inclinou a sua cabeça e esfregou seus olhos
novamente antes dos aplausos entusiasmados. Encontrei-me
aplaudindo, me perguntado se Luke era a chave do meu feliz para
sempre. Meu estômago ficou nervoso. Ari disse quase o mesmo sobre
Luke ontem a noite. Mas eu estou falando de Remy e não de
romance. Tremo ao pensar sobre o quão maravilhoso é estar com ele,
mesmo que seja só pela Remy.
Deus, por que me sinto culpada só de pensar em Luke?
Estendo a minha mão e pego a de Ryan para voltar | realidade. Ele se
inclina e beija a minha bochecha.
— Hey, o que vai fazer essa noite? — sussurrou enquanto
envolvia seus braços ao meu redor.
— Hum... Nicki vai pra minha casa.
Ele roçou a parte posterior do meu pescoço. — Esperava poder
ir.
A culpa brotou em mim. — Sério não posso evit{-la, pelo
menos ainda ficamos amanhã, certo? — Não gosta de mentir para ele,
mas vendo que não podia explicar por que o Luke também estaria ali,
não tinha outra opção.
— Yup, vou fazer reservas para jantar no Hotel Montanha
Branca. — Sorria com expectativa, e me sentia mais culpada que
nunca.
Em nosso primeiro encontro, fomos de excursão |s saídas do
Cavalo Branco e almoçamos sobre um escarpado com vista ao hotel.
Disse que tinha escutado falar quão grande era o restaurante e que
queria ir l{ algum dia. E ele lembrou.
— Pensei que deveria te levar para algum lugar especial pelo
nosso primeiro mês de anivers{rio.
Me afastei dele — É amanhã?
Ele me olhou magoado. — Sim, pensei que as mulheres
mantivessem um acompanhamento sobre essas coisas.
— H{, sim, bom, tenho passado por muitas coisas. Mas mal
posso esperar!
— Eu também — disse ele, me pegando em seus braços
novamente.
— Hey! — disse Samantha — Vocês leram a regra de
nenhuma DPA42 no manual do empregado?
Dei a volta e beijei Ryan com força sobre seus l{bios. — Acho
que perdi essa, mas obrigada pela advertência!
42 DPA: Demonstração Pública de Afeto.
A senhorita Patty tomou o microfone do Sr. Roy e parou atr{s
da fila de caixas sobre uma mesa perto da frente do café. — Seus
programas estão aqui por ordem alfabética, assim que se
aproximarem, e depois começamos a trabalhar!
Samantha saiu correndo para frente e eu dei um ‚Obrigada‛
silencioso para Ari por dirigir as cordas por tr{s das cenas, assim
Samantha estaria de um lado do parque e Ryan estaria em outro.
— Então agora que tivemos a oportunidade de examinar o
tablado de operações nesse passeio — disse Kevin, nosso encantado
instrutor de nível quatro. — Preciso chamar a atenção mais uma vez
que os acidentes podem ocorrer se um consentir a isso ou a qualquer
outro passeio sem seguir os caminhos de segurança indicados.
Permaneçam sobre os caminhos! Esse é um dos caminhos mais velhos
no parque, e sem os procedimentos seguintes podem resultar em
lesões graves, incluindo perda de extremidades, e inclusive, a morte.
Ryan e eu trocamos olhares. Hansel e Gretel consegue muitas
exclamações de medo.
— Então, alguma pergunta? — perguntou Kevin.
Sarah Franklin, que vai a escola com a gente, levantou a mão.
— É muito tarde para mudar para os serviços de comida? — ela
perguntou, olhando muito p{lida. Dado que ela caiu sobre um dos
barcos da montanha russa aqu{tica enquanto praticava, usando um
secador para remover a {gua dos assentos, apertou seus dedos
fechando uma barra de segurança sobre o Barco de Gengibre, essa
advertência de morte e desmembramento era aparentemente um
ultimato.
Kevin colocou uns papéis sobre sua prancheta, tirou um
cartão, escreveu seu nome, e depois assinou embaixo. — Dê isso a
Senhorita Patty. É o equivalente a um botão de p}nico, só de a ela e
ela ver{ onde ser{ designada.
Sarah pegou o cartão e saiu pelo caminho.
— Mais alguém não é capaz de lidar com isso? — Perguntou
Kevin.
Olhou ao redor das sete pessoas que ficavam em nosso grupo
e sacudimos as nossas cabeças.
— Bom! Então vamos fazer um trajeto — Kevin olhou as
etiquetas de nossos nomes. — Izzy, por que não toma o tablado de
controle do forno da bruxa? Hayden pegue o tablado de saída. Izzy,
não esqueça que tem que apertar o botão de alerta uma vez que cada
carro descer abaixo do forno. Hayden, quando ver a faísca de luz,
saber{ que tem que descarregar um automóvel em um minuto, assim
que estiver preparada. Seamus, você carrega os passageiros. O resto
de vocês podem dar um passeio, e depois trocaremos.
— Depois de você. — disse Ryan enquanto caminh{vamos
para a entrada.
Avançamos nosso caminho para a fila, e Seamus pegou o
microfone.
— Bem vindos ao bosque enfeitiçado, por favor, leia as
instruções de segurança e observem que esse passeio pode ser muito
intenso para crianças menores de dez anos — dizia rapidamente em
um sotaque irlandês.
— Seamus, — Kevin chamou — faz mais lentamente, e é
menor de cinco!
— Oh, desculpe — Seamus disse no microfone — Menores de
cinco.
Empurrando através da catraca, Seamus baixou o microfone e
sorriu, — Por favor, mantenham suas mãos e pés no carro.
— Mais devagar! — Gritou Kevin.
— E permaneçam sentados todo o tempo. Se o passeio fizer
uma parada inesperada, uh, por favor, permaneçam em seu carrinho
até que um membro da equipe encantada possa ajud{-los.
Entrei no carro em forma de cupcake e Ryan sentou ao meu
lado. Seamus empurrou a barra de segurança sobre nossos colos, e
mordia seu l{bio, como se não estivesse seguro do que fazer depois.
— Libera os freios — sussurrou Ryan.
— Oh! Obrigado! — Seamus andou para liberar o freio, e
apertou o botão no tablado de início. — Desfrutem o passeio.
O carro de cupcake se agitou para frente, e nos movemos
lentamente até uma porta pintada como o interior de uma casa de
campo. A porta se abriu e uma voz ameaçadora nos chamou desde
acima. — Lev{-los ao bosque e deix{-los ali.
O carro cambaleava em seu caminho até as {rvores cobertas
com musgos suspensos. As corujas agitavam suas asas e piava
enquanto seus olhos piscavam vermelhos. Um galho de {rvore
rachou e caiu perigosamente próximo de nossas cabeças. Agachei e
me aconcheguei mais perto de Ryan. Um lobo salto até nós, uivando,
e gritando.
— Não acho que esse lobo estava funcionando a última vez
que estive aqui — disse, tentando rir.
Ryan colocou um braço ao meu redor. — Sim, não me lembro
disso.
Um trio de urubus sentados em uma {rvore gritava, agitava
sua cabeça, e nos seguiu enquanto o carro girava bruscamente em
torno de uma rocha. Uma nuvem de morcegos desceu d o teto e nos
rodeou até o alto.
— A casa de pão de gengibre — disse Ryan enquanto o carro
girava outra esquina.
— Ok — disse — Acho que eu gostava muito mais desse
passeio quando a maioria das animações estava quebrada.
Uma velha bruxa com um nariz comprido e torcido se
encontrava ao lado da porta, esperando por nós. — Entrem para
provar alguns saborosos doces, crianças — disse ela uma e outra vez.
Lembro que odeio o que vem depois. O interior da casa da bruxa est{
toda cheia de }ngulos impossíveis, com o chão inclinado até o forno
gigante que queimava.
A frente da porta se abriu e o carro ziguezagueou
selvagemente ao redor da mesa da cozinha carregada com bolos e
biscoitos de todo tamanho, e depois passou por uma grande jaula
com um robô de Hansel agitando as barras enquanto chamava seu
irmão. Nos dirigimos até o forno, as falsas chamas cuspindo e
estalando, e depois a bruxa atravessou o nosso caminho e o carro
parou bruscamente.
— No forno contigo! — gritava a voz met{lica da bruxa, seus
olhos vermelhos faiscando como as das corujas, mas então Gretel
deslizou atr{s da bruxa, e o carro avançou. A porta do forno se abriu
e escutei Izzy nos chamando.
— J{ entraram rapazes! — Ela disse, imitando a voz da bruxa.
Girei minha cabeça e vi Izzy nos cumprimentando de seu
esconderijo atr{s da despensa carregada de mais biscoitos falsos e
convites. A bruxa patinava em seu caminho até o forno, e se levantou
no ar, expondo a acidentada inclinação em que o carro cairia. Meus
gritos ressoaram junto com os da bruxa enquanto o carro descia
bruscamente.
Ryan ria e me apertava mais forte. O ar quente estava sobre
nós como faíscas de luzes vermelhas estroboscópicas ao longo das
paredes cobertas de ‚fogo‛. O carro faiscou para abaixo até que
chegamos | porta na parte posterior do forno. Abriu e est{vamos em
uma cena do bosque novamente, só que desta vez a atmosfera estava
mais animada. Aves azuis gritavam sobre as {rvores e agitavam suas
asas mec}nicas, cervos bebendo em um riacho e levantavam suas
cabeças enquanto pass{vamos, e a música suave Bav{ria enchia o ar.
Hansel e Gretel patinavam em seu caminho na larga parede
traseira como se corressem para casa para uma reunião feliz com seu
pai, que est{ esperando sobre a varanda dianteira de sua cabana em
ruínas.
Não pude evitar pensar que Nicki tinha razão. Esse era
realmente um passeio fodido.
— Bem, pelo menos não fomos cozidos. — disse Ryan. Pegou a
minha mão e a beijou.
Inclinei minha cabeça sobre seu ombro, pensando que essa era
a última vez que planejava dar uma volta no velho carrinho de
cupcake. Assim, Remy apareceu parada diretamente sobre o nosso
caminho, sacudindo a sua cabeça.
— Não volte aqui, Meggy — disse ela.
O carro ia direto até ela e golpeava uma explosão de ar frio.
— Whoa — disse Ryan tremendo — sentiu isso?
Dei a volta no carro e olhei para Remy olhando fixamente
atr{s de nós. — Esse é um lugar mal! — gritou ela — Mal! Ela est{ aqui,
justo aqui em baixo. Eles vão busc{-la também. Ela vai morrer!
— Quem? — sussurrei.
— O que? — disse Ryan.
— Ajude ela! — gritou Remy.
O carro passou através da última porta, e os gritos de Remy
faziam eco atr{s de nós. Os olhos de Hayden olhavam os meus. O
carro se deteve, e Kevin veio correndo. — Hayden! Não bloqueou os
freios! — ele estava gritando.
Hayden rapidamente empurrou o bloqueio e sacudiu a cabeça.
— Desculpe! É a Megan, ela parecia...
— Não me importa como parecia! — Kevin ladrou. — Quando
o carro para, bloqueie o freio até que seja hora de mand{-lo a base de
carga.
Hayden ficou vermelha brilhante. — Desculpe.
— Não podemos permitir nenhum erro, ouviu? Acha que
pode controlar ele ou também precisa de um cartão vermelho? Ouvi
dizer que a equipe de vigil}ncia se encanta de ter novos recrutas
manipulando os substitutos dos medicamentos dos supervisores.
— Posso fazer isso — disse ela silenciosamente.
Ryan e eu saímos do carro, e Hayden não pode deixar de me
lançar olhares. É óbvio que algo est{ errado comigo?
Um som veio d o painel de saída. Hayden estava firme e
bastante segura que não se esqueceria de bloque{-lo desta vez.
— Deus! — Casey Winters disse enquanto vinha do meio da
saída. Ela pulou, olhando com fúria ao redor. — Algum idiota estava
gritando, ‚Ela vai morrer‛, ali dentro. Fiquei completamente alterada.
O meu deus, ela escutou Remy!
Nos fulminava com o olhar, mas todos nós sacudimos nossas
cabeças.
— Ficou louca — disse Tyler Michaels enquanto deslizava fora
do mesmo carro. Virou seus olhos. — Tenho certeza como o inferno
que não ouvi nada.
— Hey! — gritou Kevin. — Cuidado com esse linguajar! Ser{
despedido em uma batida de coração se alguém te ouvir falando
assim quando abrimos.
Tyler franziu o cenho. — Desculpe.
Izzy caminhou até a entrada de funcion{rios olhando com
curiosidade para todos nós — Est{ tudo bem?
Casey sacudiu a sua cabeça. — O que era isso gritando no
passeio?
Izzy balançou a cabeça. —Chamei vocês enquanto passavam.
— Não! — disse Casey — Essa merda de ‚Ela vai morrer‛.
Os olhos de Izzy saltaram. — Não disse nada parecido, juro.
Os l{bios de Casey tremeram. — Bom, não me importa quem
falou, eu ouvi, e não vou entrar ali de novo. Quero um desses cartões
vermelhos. Estendeu uma mão a Kevin.
Kevin esfregou seus olhos por um segundo e depois tirou um
cartão de sua prancheta e começou a escrever. — Não sei por que
mantém essa atração, tem algo sobre ela que atrai as pessoas — dizia
enquanto a entregava. — Tenho que afastar pelo menos cinco crianças
por anos dessa.
Enquanto Casey se afastava, olhou para tr{s sobre seus
ombros mais uma vez, e depois acelerou o seu ritmo. Nada como um
pouco de diversão de Remy para fazer uma viagem assustadora
ainda mais assustadora.
Kevin exalou ruidosamente. — Odeio o fodido dia de
treinamento — ele resmungou.
Tyler soltou um suspiro. — Agrad{vel conversa fiada de um
nível quatro. — disse baixo em seu fôlego.
— Muito bem, gente! — disse Kevin, aplaudindo e sorrindo
como se isso tirasse o peso suspenso no ar. A metade esperando que
comece a porra da Terra Encantada. — Acho que podemos terminar
isso, assim podemos ir para casa?
Nós assentimos, mas agora todo mundo parecia um pouco
nervoso.
— Genial! Megan fique no forno, Ryan, pegue a saída e Tyler,
você fica com as cargas. Vamos, apressem-se!
Não quero voltar ali. Mas é só a Remy, não preciso ter mais
medo do de que costume. Bom, exceto a parte ‚Ela vai morrer‛.
— Tudo bem, bebê? — Perguntou Ryan, e me dei conta de que
estava olhando fixamente o corredor dos funcion{rios no percurso. —
Quer trocar comigo?
Sacudi minha cabeça. — Hum, não, estou bem. Casey me
assustou, isso é tudo. Embora seja só um passeio, certo?
— Sim — Ryan deu um olhar r{pido ao redor. Kevin estava
explicando algo a Tyler, e se inclinou e me beijou. — Tem certeza?
Assenti.
— Est{ bem, te vejo daqui a pouco.
Assim espero. E espero que Remy tenha falado sobre a garota
que j{ tinha mostrado e não... Sacudi a minha cabeça. Nem se quer
quero pensar nas possibilidades.
Andei pelo corredor sob o sinal de "Somente Pessoal" e arrastei
a minha mão ao longo das escuras paredes. Umas poucas luzes
tênues iluminavam o caminho a cada passo, e mantive os olhos na
brilhante fita que revestia o caminho. A passagem se abriu um pouco
sobre o Bosque Encantado. O lobo saltou à minha direita e prendi a
respiração. Ele uivava freneticamente e enruguei o nariz. Quem
diabos projetou este passeio? Sem dúvida, os mesmos idiotas que
fizeram os espelhos.
Só continue andando, entre na casa de campo, verifique os dois
carros, e depois saia daqui.
Subi as escadas e escutei a voz da bruxa interrompida pelo
som de Remy chorando.
Fabuloso.
O caminho se estreitou e eu comecei a subir as escadas para
chegar ao painel de controle.
— Meggy — ela lamentava.
Olhei para cima e vi Remy no topo das escadas de metal.
— Vá embora, Remy!
— Meggy, ela vai morrer.
— Quem vai morrer?
A cara de Remy se enrugou. — Onde está o papai?
— Deus, eu não tenho tempo para isso! — Caminhei através
dela, tremendo na esteira de ar frio ao seu redor.
Caminhei até o painel de controle e aperte o botão do alto
falante. — Tudo pronto — eu falei, a minha voz mais alta que o
normal.
Ignorei Remy e olhei ao redor da casa da bruxa. Os ângulos
opostos e os caramelos muito brilhantes, rosas e púrpuras faziam que
a minha cabeça desse voltas. Olhei para o robô de Hansel sacudindo
as alavancas e peguei o meu inalador. Eu exalei e o encostei em meus
lábios, mas o carro de Seamus entrou na casa antes que eu pudesse
usá-lo. Eu esperei a bruxa deslizar para fora e apertei o botão para
alertar o Ryan.
Seamus estava segurando a barra de segurança, e lembrei que
ele era um dos estudantes de intercâmbio, de modo que ele nunca
esteve em qualquer um dos passeios aqui. "Cuidado, o caminho vai
cair!" Gritei, tentando manter a minha cabeça fora dos devaneios sem
parar de Remy.
— Obrigado! — Ele gritou, conforme o seu carro entrava no
forno.
Poucos minutos depois, o carro que transportava Hayden e
Izzy chegou na casa. Estavam rindo, alheio a birra de Remy. Hayden
apontou para Hansel na gaiola. — Alguém colocou uma mordaça
nesse garoto!
— Demônios. — Izzy disse — Vou jogar ele no forno apenas
para fazer com que cale a boca!
Apertei o botão enquanto estavam no forno, e então Remy
apareceu na minha frente completamente sólida, o rosto contorcido
de raiva. No fundo da minha mente levei um segundo para
questionar qual estágio Luke chamaria isso.
— Por que você não ouve? — Ela disse lentamente. A água
começou a escorrer de sua testa e se reuniram nas extremidades das
tranças. Suas mãos enrugadas e me olhou com raiva. — Por que não
quer ajudá-la?
Izzy e Hayden se divertiam conforme o forno levantava e seu
carro se inclinava mais a baixo pela rampa.
— Parem de rir! — Remy gritou. O painel elétrico faiscou, e
logo acabou a luz.
Deixei cair meu inalador e congelei no lugar quando os gritos
frenéticos de Hansel se abrandavam e se tornavam lento e distorcido
e, finalmente, desapareciam no silêncio. A fumaça encheu as minhas
narinas e eu rezei para o painel não pegar fogo.
— Olááááá? — Izzy disse em voz alta, rindo de dentro do
túnel do forno. — Acho que nós estamos tendo dificuldades técnicas.
— Aqui, bruxa, bruxa. — Hayden gritava.
— Cale a boca! — Izzy disse, mas ela estava rindo.
Fiquei olhando para o lugar onde eu achava que estava o
painel, com alívio, porque não pegou fogo.
Izzy começou a Terra do Encantamento alegre. — Quem tem a
mágica? Quem tem o estilo?
— O sorriso — interrompeu Hayden.
— Quem se importa? Quem tem a visão para ir à milha extra?
Terra do Encantamento, esse é o nosso nome, para sempre fajuto, esse
é nosso jogo!
Uma delas começou a fazer sons de peidos e ambas caíram na
gargalhada.
— Tenho que sair daqui — eu sussurrei. Levantei sentindo o
meu caminho ao longo da parede. Um arrepio me percorreu e
sussurrei para Remy. — Isso é culpa sua!
Eu senti a sua pequena e gelada mão pegar a minha, e então
eu estava na floresta. Floresta real, não a falsa dentro da viagem.
Alguém caiu no mato, respirando com dificuldade. — Oh meu Deus,
só me deixa em paz! — Uma voz gritou.
— Quem é? — Izzy e Hayden estão fazendo tanto barulho,
que eu não pude ter uma boa leitura da voz.
— Por Favor!
Uma segunda pessoa passou cerca de seis passos de mim,
escolhendo o caminho com cuidado, mas rapidamente através do
mato. Eu vejo um brilho prateado na luz da lua, uma faca.
— Me deixa em paz! Alguém me ajude! Me ajude!
Eu tento ouvir a voz, mas Remy está gritando e Izzy e Hayden
estão gritando de alegria novamente.
Há uma confusão de ruídos, galhos quebrando, Terra do
Encantamento, barulho de folhas, salve-a, e depois um grito
interrompe. Eu escuto mais, mas tudo que posso ouvir é Hayden e a
Izzy. Pelo menos, Remy está calma agora. Mas depois houve outra
coisa. Um som. Um som repetitivo. Tudo no que posso pensar é
quando a minha mãe corta o peru de Ação de graça e golpeia o osso e
a cartilagem.
Áspero.
Está ficando mais difícil respirar, sinto a parede, tentando
refazer meus passos de volta para o painel de controle para encontrar
o meu inalador. Eu bato a minha canela em algo e me queixo. E, em
seguida, as luzes estão de volta. Hansel está chorando por sua irmã e
eu estou com falta de ar.
Ryan vem correndo em minha direção. — Megan! Você está
bem?
Eu coloquei minha mão na minha garganta. — Inalador — eu
suspirei. — Caiu.
Eu agarrei o painel de controle para manter o equilíbrio, mas
eu sabia que ia desmaiar. Eu senti o inalador passar entre meus lábios
e o remédio bombear em minha boca. Suspirei e engasguei, mas
instintivamente mantive a respiração e contei até dez em minha
cabeça. Então lentamente exalei e minha respiração se tranqüilizou.
— Aqui, sente-se — Ryan disse quando ele me ajudou a sentar
na cadeira. A luz piscou novamente e eu apertei seu braço.
— Não me deixe — Eu suspirei.
— Eu não vou — ele disse, me segurando firmemente e
acariciando o meu cabelo. Ele colocou o inalador na minha mão,
sabendo que eu ia precisar de outro golpe.
Então eu ouvi Remy novamente, mas desta vez eram os
soluços suaves que sempre faz depois de uma de suas grande crises.
A lanterna perfurou a escuridão. — Megan?
— Luke! — Eu gritei. — Nós estamos aqui!
Luke iluminou Ryan e eu. No feixe de luz tênue eu vi um
olhar de surpresa em seu rosto. — Oh! Não sabia que alguém estava
com você.
Assenti. — Sim, este é o Ryan.
— Vocês dois se conhecem? — Ryan perguntou secamente.
Assenti outra vez. — Luke trabalha aqui, é um amigo da Ari.
Luke estava olhando pra frente e para trás entre mim e Ryan, e
de repente me senti incomodada. Escutei a voz de Samantha em
minha cabeça. "Sem DPA! É contra as regras." E me afastei de Ryan.
— Hum — Luke começou. — O gerador está atuando
frouxamente, disse a Kevin que te alcançaria e ele está indo para a
saída de trás até chegar às pessoas que pegaram o túnel. E... —Olhou
para o Ryan — É melhor que não deixe o Kevin vê-lo sair, você não
está autorizado a estar aqui durante um ensaio.
— Desculpe, eu não queria deixar a minha namorada no
escuro! — Ryan disse. Luke acende outra lanterna e entregou a Ryan.
— Eu só não quero que você se meta em problemas, isso é
tudo.
— Vamos sair daqui, Meg. — Ryan disse, estendendo a mão e
me puxando para cima.
Luke ficou de lado e permitiu que Ryan passasse primeiro. —
Espere — ele sussurrou quando passou pelo seu lado. Quando Ryan
dobrou a esquina, Luke colocou uma mão no meu ombro e se
inclinou para perto da minha orelha. — O que aconteceu? A ouvi
claramente através do parque.
Eu começo a andar. — Outra visão aconteceu... outra visão
assustadora! — As lágrimas brotaram nos meus olhos. — Nós temos
que fazer hoje à noite, com ou sem Nicki. Eu não me importo se
teremos que pegar um estranho ao azar na rua!
— E o seu namorado?
— Não, ele não — eu digo, e me apresso a chegar até Ryan.
Enquanto eu ando com cuidado sobre a luz com a qual Luke estava
iluminando o meu caminho, eu me pergunto, ‚Por que não Ryan? Ele
certamente parece ser menos cético do que Nicki. Mas Nicki era
amiga de Remy.Certamente seria mais apropriado ela se mostrar a
Nicki‛. Concordo com a cabeça. Nicki é a escolhida.
Quando nós chegamos perto da saída, eu pude ver o caminho
fora na luz brilhante e uma multidão reunida em torno da Senhorita
Patty.
— Ok, equipe — Senhorita Patty disse. — Chamei vocês para
que possam ver como se lidam com as coisas em caso de emergência.
Se um passeio sai fora da linha, o que é a primeira coisa a se fazer?
As pessoas olhavam para os pés, mas uma mão se levanta
entre a multidão.
— Você na parte de trás!
Samantha dá um passo à frente. — Acione o gerador de
emergência e eles imediatamente alertam a quem seja que esteja no
dever de supervisor em sua área do parque!
A Senhorita Patty sorri para ela. — Você tem razão! Bom
trabalho! E quem vai ajudar alguém preso em um passeio?
— Só empregados do nível três ou quatro — diz um rapaz
alto, magro e com um sotaque francês ao lado de Samantha.
— Excelente!
Eles se inclinam um para o outro e Samantha se ruboriza. Me
atrevo a esperar que Samantha possa se enrolar com um atraente
francês?
— Não se preocupe gente — diz Hayden alto enquanto leva
Izzy e o Kevin para a saída. — Estávamos tão perto de ser cozidos no
forno da bruxa, mas nós mantivemos as nossas cabeças, lembramos o
nosso treinamento da equipe encantada, e saímos vivos com apenas
um dedo cortado. — Levanta a sua mão com seu polegar escondido
na palma.
As pessoas começaram a rir e a aplaudir, mas Kevin faz
ondular suas mãos no ar.
— Whoa, whoa! Ninguém perdeu um dedo, e nunca houve
qualquer perigo para alguém não sair vivo — diz ele, olhando para
Hayden por um segundo. — Mas este foi um bom exercício e eu
estou orgulhoso da maneira que a maioria da minha equipe lidou
com isso. Agora, se o líder da equipe diz que está feito, vocês poderão
ir para casa. Não se esqueçam, os atores caracterizados ainda tem que
conhecer a loja de fantasias.
Luke dá a Ryan uma olhada. — Mais tarde — diz ele. — Eu
tenho que voltar ao trabalho.
Samantha acena para o cara Francês e logo pula sobre Ryan e
eu. — Oh meu deus! Não posso acreditar que estiveram presos lá,
Megan. Você estava com medo?
— Não — menti, — mas Ryan veio para me resgatar. —
Levantei o meu inalador.
Me deu um rápido abraço e deu um passo para longe,
obedecendo à regra do DPA.
— Bom, estou muito feliz de estar ao ar livre! Estou fazendo o
show para o capitão da sereia SS, os barcos de cisne, e o parque
aquático. Eu conheci um cara super legal. Christophe da França, que
vai ser meu companheiro. Eu acho que ele pode gostar de mim!
— Um segundo companheiro francês? Que sorte! — eu disse,
pensando que Christophe da França poderia assinalar o final da
terceira roda em minha relação.
— Eu sei! — chiou.
— Bem, só tome cuidado, Sam — diz Ryan. — Você o conhece
desde quando? Algumas horas? E ele é da França!
— O que há de errado com a França? — Perguntei feliz por
não falar sobre a exportação fodida do dito país, pendurada na
parede da Ari.
Ele dá de ombros. — É a França... Ninguém gosta da França. E
o que acontece quando ele voltar para lá no final do verão?
Samantha franziu o cenho.
— Ei, isso é daqui a muito tempo. — eu disse, dando um
sorriso cúmplice a Samantha. — E não há nada de errado em uma
aventura de verão.
Samantha mostra a língua para Ryan. — Exatamente! E eu
nem sei se ele gosta de mim.
— Com certeza parecia para mim! — Digo.
— Minha equipe! — Kevin grita. — Por aqui!
— Vou esperar nos bancos — diz Samantha.
Ryan e eu passamos por Kevin, que parecia mais estressado
do que nunca. — Ok, acabei de falar com a senhorita Patty. Esse
passeio está fechado até o novo aviso. Precisam de um eletricista para
olhar a fiação, logo será inspecionado. — Ele balançou a cabeça. — É
um dos passeios mais antigos e sempre esta causando problemas.
— Então, precisamos ser treinados para outro passeio? — Izzy
pergunta.
— Não — Kevin disse. — Até que isso seja de novo arrumado,
nós vamos ter que aliviar as pessoas durante as suas pausas. Alguns
de vocês estarão na limpeza, e alguns vão ter uma orientação rápida
na loja de presentes. Alguém quer ser um personagem?
Levantei a minha mão.
— Megan, você pode fazer horas extras até que Hansel e
Gretel estejam arrumados.
Assenti. Por uma vez estou feliz por ter feito a inscrição para a
atuação da Branca de Neve.
— Teremos o seu novo horário impresso quando aparecer no
dia da abertura — diz Kevin. — Peço desculpas pelo inconveniente.
— Ele acena com desdém para nós e se volta para o prédio
balançando a cabeça. — Eu odeio dia de treinamento e eu odeio essa
porra de passeio.
Ryan e eu olho nos olhamos com olhos arregalados enquanto
Tyler, que olhava Kevin, disse — Falou outra vez! Porque pulou
sobre mim? Só disse "Inferno".
— Você precisa ser pelo menos do nível três para xingar — eu
digo.
Tyler revira os olhos. — Isso é uma merda! Quem tem a
magia? — Ele disse amargamente. — Um pote de merda — diz ele de
novo depois de dar adeus.
— Eu tenho a minha reunião para o personagem, com sorte
não é muito longa — eu digo depois que Tyler se foi.
— Eu não posso esperar para ver você vestida como Branca de
Neve — diz Ryan.
— Você não preferiria me ver sem roupa?
Um sorriso começa em seu rosto. — Sim! Você não pode dizer
a Nicki que tem mais entretenimento esta noite?
A realidade cai novamente. — Eu gostaria de poder. — Quero
dizer realmente, porque eu sei que Nicki não vai gostar de ser uma
cobaia para as discussões de fantasmas de Luke.
— Oh meu Deus! Olhe! — Samantha grita, correndo em nossa
direção com o telefone na frente dela. — Eu acabei de receber uma
mensagem de texto de Christophe. Ele perguntou se eu queria sair
hoje à noite! Há um jogo de softball43 no dormitório dos estudantes
de intercâmbio! — Ela salta para cima e para baixo algumas vezes e
eu levantei a mão para bater na dela.
A testa de Ryan se enrugou. — Você não vai, não é?
— Claro que eu vou! — Ela ri quando começou a responder a
mensagem de Christophe.
Dei a Ryan um olhar perplexo. — Por que ela não iria?
— Ela vai ficar com um monte de estranhos.
— Ela é uma menina grande — eu digo, embora eu possa ver
um pouco do porque ele estava preocupado. Samantha é a antítese de
ser inteligente. — E eu li no pacote de informações que não há
fiscalização para essas coisas, ela estará de carabina44.
Samantha coloca as mãos nos quadris. — Quem disse que eu
quero estar de carabina?
43 Softball: Jogo bem parecido com o beisebol, mais a bola tem que ser joga na
altura do quadril. 44 Carabina: Espingarda curta, de cano geralmente estriado.
— É melhor assim, até que você chegue a conhecer o cara —
diz Ryan.
— E é melhor eu ir para a reunião — eu digo, não gosto da
expressão no rosto de Ryan, e sem gostar da suspeita persistente de
que ele não está feliz como eu de que Samantha possa estar nos
pastos estrangeiros. — Por que não vejo se posso encontrar o
Christophe enquanto eu estou aqui?
Ryan olha para mim com as sobrancelhas levantadas, mas eu
não ligo, estou decidida a ver uma conexão Samantha/Christophe.
Samantha grita. — Oh, grande idéia! — Ela pega o telefone e
começa a digitar no teclado minúsculo.
— Vou esperar pela entrada da frente... Sozinho — diz Ryan.
— Como esta noite.
Me seguro para não revirar os olhos. — Com sorte a reunião
não será muito longa, e poderemos sair um pouco depois. — Eu pisco
para ele e ele sorri, me fazendo sentir como uma absoluta merda por
mentir.
Entrei na velha loja de fantasias e vi que a Senhorita Patty já
tinha começado. Ela me olha. O sorriso em seus olhos se foi e me
pergunto se vai me banir da ‚Fazenda da Diversão‛, apesar de todas
as cordas que a Ari tem puxado.
— Desculpe pelo atraso — eu disse em voz baixa, e logo faço o
meu caminho para a parte de trás de uma multidão de pelo menos
trinta pessoas.
— Como eu ia dizendo ser um personagem é só o trabalho
mais importante no mundo da Terra Encantada. Uma vez que se vista
em um desses disfarces finalmente elaborado, que laboriosamente me
assegurei que são exatos até nos mínimos detalhes, se converterão
nesses personagens, e se converterão em um dos nossos ‚Rostos do
Encanto‛.
Rosto do Encanto? Nas ilustres palavras do meu companheiro
de trabalho Tyler, que merda. Estou meio tentada a levantar a mão e
perguntar sobre a ultra-curta minissaia da Pastora, é historicamente
exata? Ou deveria mencionar que as duplas de Branca de Neve que
eu vi tinham um corpete muito mais detalhado? Claro, eu estava
ensopada de sangue, mas ainda sim, muito mais agradável do que a
imitação de Halloween de cetim que eu vou usar.
Balanço a minha cabeça. Estou oficialmente perdida. De que
outra forma posso casualmente comparar a minha roupa com o qual
uma pobre garota sendo massacrada no chão de um bosque estava
usando?
Oh!
E se esse show de horror que eu acabei de ver foi à
perseguição antes da morte? Eu ouço o som da faca cortando através
do osso na minha cabeça, e o meu estômago se revolta. Deus, ela
sendo caçada como um animal. A bile sobe na minha garganta e eu
engulo.
— Você está bem?
Eu pulei e olhei para a menina que me olhava.
— Talvez você deva se sentar. Parece que vai desmaiar — ela
sussurra.
Eu tomo uma respiração profunda. — Eu só preciso de algo
para comer. Eu não almocei.
Ela acena, mas se afasta alguns metros de mim como se o que
eu tenho fosse contagioso, ou talvez tenha medo de que eu vomite
nela ou algo assim. Uma coisa é certa, estava ficando mais e mais
difícil fingir que está tudo bem, e as pessoas estão começando a notar
as rachaduras na minha fachada.
Só rezo para que o Luke possa fazer com sucesso o seu feitiço
psíquico esta noite sobre a Nick, e então poderemos testá-lo em
minha mãe.
Meu coração afunda. Para que Remy siga em frente, então
papai também teria que fazer. Tanto como sigo pensando que é o
melhor, o que acontece se estiver equivocada e mamãe com razão?
Lágrimas se acumulam em meus olhos e tento secá-las sem
que pareça muito óbvio. É difícil acreditar que tudo estava como era
de costume apenas alguns dias, e agora Remy colocou tudo de cabeça
para baixo.
— Tenho quase um milhão de coisas para fazer antes do dia
da abertura, por isso Henrietta vai lhes dar alguns conselhos sobre ser
um dos nossos Rostos do Encanto — Patty disse, enquanto sorria e
ondulava seus dedos ao redor do seu rosto.
— Ah, e poderia Megan Sones, por favor, vir ao meu escritório
depois?
Me levanto em linha reta, totalmente surpreendida. — Hum,
ok.
Depois que Patty se foi, Henrietta Stupin se levanta de sua
cadeira e nos olha com cansaço. — A primeira coisa que precisam
saber é que tem que se casar com alguém rico ou investir de forma
inteligente para que não fiquem presos como trabalhadores comuns
em um parque em seus oitenta anos como eu. Em segundo lugar, e
voltando ao que as garotas já sabem, colocar um desses disfarces de
prostitutas tira o pior, inclusive em alguns dos maiores homens que
freqüentam a igreja, assim será melhor manter um olho sobre as mãos
vagabundas.
Algumas pessoas riram dissimuladamente, mas a maioria
somente a olhou.
Henrietta atravessa com os olhos uma menina sentada no
chão. — Não acredita que vai acontecer com você. Eh? Bom, eu estou
com oitenta anos e bateram no meu traseiro dezesseis vezes no verão
passado, e algum velho excêntrico ficou um pouco amigável com o
meu sutiã, enquanto estava posando com ele e a sua neta, removeu o
preenchimento da copa esquerda! Não tenho nada sem o
preenchimento tampouco.
Ela olha ao redor para nós, balançando a cabeça. — Então,
basta imaginar quantos chegarão sobre as suas coisas sendo jovens!
Troquei olhares horrorizados com a menina ao meu lado. Ela
parece um pouco débil por si mesma agora, e tenho certeza que esta
não é a palestra que a Senhorita Patty visualizou.
— E não tente delatá-los também — continuou, — porque eles
simplesmente vão negar e as chamarão de loucas. Confie em mim, eu
sei! E enquanto a vocês meninos, que se inscreveram para o Príncipe
Azul, consigam uma vida! — Os cincos meninos na sala se
ruborizaram profundamente, mas o resto riu.
— Ei, eu sou o Lobo Mau — um cara cheio de espinhas disse,
olhando para o resto de nós, mas ninguém disse uma palavra.
Henrietta colocou as mãos nos quadris e olhou em volta da
sala. — Alguma pergunta?
Todo mundo sacudiu a cabeça.
— Bom! Não sei por que Patty me pediu para falar, de
qualquer maneira. Vão se vestir e andem, tudo bem? — Ela revira os
olhos. — Classe, estão liberados, porque eu tenho que ir fumar! —
Henrietta nos saúda e anda majestosamente para fora da sala.
— Pena que não podemos, pelo menos, obter dicas para não
ser apalpadas — uma menina disse enquanto começamos a sair em
fila da sala depois de Henrietta.
Dobro a esquerda pelo corredor da Senhorita Patty e me
pergunto se vou ser despedida por chegar atrasada na reunião de
personagens, ou por ter visto ela destroçada na noite anterior.
Ao chegar ao escritório da Senhorita Patty, a porta está aberta
e a escuto cantando. Reconheço a canção do CD de coros selecionados
que Nicki estava reproduzindo em seu carro no caminho da casa da
Ari, ‚Someone to Watch Over Me‛. Embora sua voz não fosse tão
treinada como a de Nicki, Patty transmitia nostalgia na letra muito
melhor. Tendo em conta o que sei sobre a família Roy, não é
nenhuma surpresa que ela tenha a carga emocional para dar a letra
mais profundidade.
Eu me sinto estranha entrando na metade da canção, mas com
o Ryan esperando, eu quero terminar logo com isso. Além disso,
ainda tenho que entrar em contato com Nicki para que o Luke possa
representar o Ghost Whisperer45 com ela.
Dou a Patty mais um minuto, mas quando ela começa
novamente a partir do início da música, bato na porta. — Hum,
desculpe, mas disse que queria me ver?
Senhorita Patty saltou. — Oh — diz ela, e colocou uma mão no
coração. — Você me assustou.
Eu fiz careta. — Desculpe, você estava cantando e...
45 Ghost Whisperer: uma série de televisão dos EUA, que conta sobre uma mulher
que pode se comunicar apenas com fantasmas.
Seu rosto se ruboriza sob a linha fina de blush cor de rosa que
ela tinha passado nas maçãs de seu rosto.
— Só estava me ridicularizando mais do que já fiz. — Ela olha
para o outro lado e é óbvio que ela não me chamou para me despedir.
Ela está envergonhada pela noite passada.
Ela faz sinal para que me sentasse em uma cadeira rosa de
bolinhas na frente de sua mesa.
— Não — eu digo me afundando nas fofas almofadas. — Você
é muito boa. Deveria estar no coral com Ari.
Seus olhos aumentam de surpresa. — Eu? Não! Quer dizer, eu
amo cantar, mas não acho que a Ari gostaria de ter sua mãe a
vigiando, se é que você me entende.
Concordo com a cabeça. — Sim, mas você canta muito bem.
Ela me dá um sorriso sinceramente feliz. — Foi esta pequena e
velha voz que primeiramente chamou a atenção do Sr. Roy. Ele me
ouviu cantando em um clube em New Orleans e comprou algo para
eu beber depois. O resto é história.
Não posso deixar de pensar que a história real de seu encontro
soa com um pouco mais de classe do que aquilo que o espelho disse
na noite anterior. Mas eu não quero pensar no Sr. Roy metido com
uma menina de vinte anos, em uma tanga num bar de strippers.
— De qualquer forma, te pedi para que viesse para poder me
desculpar pelo meu comportamento na noite passada. Você era uma
hóspede em minha casa e eu não fui à anfitriã que deveria ter sido.
Agora eu estou envergonhada. O que eu digo? Não se
preocupe, minha mãe também fala com espelhos depois de ter bebido
em excesso.
— Hum, está tudo bem.
— Não, não está bem e isso é me mostrar mais bondade do
que mereço. Só espero que possa encontrar em seu coração e não
mencionar os acontecimentos de ontem para os outros membros da
equipe. Se não por mim, então pelo Sr. Roy e Ari, que não devem ser
punidos por minha falta de juízo.
— Oh, não vou dizer nada, nunca planejei isso. Eu entendo,
você sabe, essas coisas acontecem.
Lágrimas brotaram em seus olhos. — Você é uma boa garota.
Eu sabia desde o momento que entrou no meu escritório, e eu... — ela
parou e franziu a testa. — Sei que você e a Ari estão começando a se
tornar amigas. — Ela forçou um sorriso. — Ari não tem muitos
amigos, além do Luke, e bom... provavelmente eu não deveria dizer
isso, mas...
— Patty! — Kevin entrou em seu escritório. — Henrietta caiu.
Acho que ela pode ter quebrado o quadril! Nós ligamos para o 911,
mas é melhor você ir lá.
— Oh, merda! — Patty disse, empurrando para trás a sua
cadeira. — Por favor, diga que não foi...
Kevin apertou os lábios e acenou. — Sim, essa calçada que não
reparamos ainda.
Patty pegou o celular e fez seu caminho em torno da mesa. —
Você chama o Sr. Roy, e eu vou chamar os advogados. — Ela olha
para mim como se tivesse esquecido de que eu estava lá. — Oh,
obrigado por ter vindo, Megan, realmente aprecio isso!
Eles saem apressadamente do escritório, e eu exalo. Essa foi
por pouco! É claro, ser demitida não teria sido o fim do mundo,
especialmente a luz que Christophe tinha jogado no meu confuso
triângulo amoroso. Me levantei e percebi o meu reflexo no espelho
dourado na parede. Olho por cima do ombro e depois caminho para
trás da mesa da Senhorita Patty.
Arrumo para um lado a minha franja escura. Me faria bem um
pouco de sol neste verão, minha pele é tão branca que quase brilha
sob a luz fluorescente no escritório. Com sorte, Hansel e Gretel
permanecerão quebrados durante todo o verão. Há definitivamente
mais possibilidade de estar fora e tomar sol na montanha russa e na
montanha russa de água, e francamente, eu não quero entrar nessa
casa da bruxa de novo!
Passei as minhas mãos pelos lados do espelho, tentando sentir
o interruptor. Não consegui encontrar nada, e não vou tirar da
parede, com a minha sorte quebraria. Passo os meus dedos ao redor
da moldura talhada novamente. Essas pessoas na França fizeram um
ótimo trabalho fazendo parecer velho.
Aproveito esta oportunidade e vou com o óbvio. — Espelho,
espelho meu, quem é a mais bela de todas?
O espelho brilha e eu seguro o fôlego. Lembrei que é ativado
por voz, e quando meu reflexo desaparece e um rosto escuro aparece
à vista, dou um passo para trás, pensando que deveria ter saído
correndo para me encontrar com Ryan na saída.
— Uma vez você foi a mais bela, é verdade, mas agora... — O
rosto começa, então seus olhos alargam-se. — Você!
Olho fixamente para o seu rosto. — Eu? — Eu sufoco.
A expressão do rosto se suaviza. Sorri. — Este é um progresso
muito interessante.
Remy parece ao meu lado, com os olhos grandes como pires.
— Não, Meggy! Não fale com ele. É mau.
Eu balanço a cabeça. — Eu não tenho forças para lidar com
você! Não vê que não é real?
— É ruim, Meggy. — ela disse, balançando a cabeça. — Eu
preciso do papai, ele vai consertar isso. Onde está o papai?
Meu coração começa a bater com força. — Só tem que parar e
me deixar sozinha com um demônio!
Remy se balança sobre os seus calcanhares, parecendo sem
rumo pela sala. — Mas se você pedir um desejo... sim, isso te ajudará. Luz
das estrelas, estrelas brilhantes, primeira estrela...
— Oh meu Deus! É um brinquedo, não é real!
— Um fantasma! — O espelho disse.
Fantasma? Meu sangue congela. — O que você disse?
O espelho brilha, e o meu reflexo volta a aparecer, parecendo
selvagem e louco. — O que você disse? — Grito ao espelho, me
perguntando se esse rosto, esse rosto selvagem que estou vendo, é o
que mais cedo assustou tanto a Hayden, que ela se esqueceu de travar
o freio.
— Ele se foi. — Remy disse com um suspiro. — Ele se foi.
Ela desaparece um pouco, e eu dou um passo para mais perto
do espelho. — O que você disse? — Repito lentamente, pronunciando
cada palavra com cuidado.
Nada acontece, e movo a minha cabeça. — Não há necessidade
de dizer de novo, te ouvi na primeira vez.
Espero um minuto para que o rosto volte e logo ponho os
olhos em branco e me afasto. Estou falando com o espelho igual à
Patty. Também deveria levar um ‚demente‛ tatuado na testa. —
Deus, estou louca — sussurro. — Realmente louca.
— Mal. — disse Remy, sua voz baixa como a minha.
— Não, eu te disse, é um brinquedo — eu falo, mas não posso
deixar de pensar que não importa o quão cuidadosamente foi
programado, as chances de dizer, ‚Fantasma‛ com Remy na sala são
astronômicas.
Remy caminha através de mim. Calafrios atormentam o meu
corpo. — Ela vai morrer — disse com toda a naturalidade. — Morrer.
Meu coração dispara em meu peito. Eu saio correndo para fora
do escritório da Senhorita Patty, em direção a saída. Irrompo através
da porta e encontro um banco para sentar. Expiro lentamente e pego
o meu telefone. Checo à minha lista de chamadas e disco o número da
Nicki.
No quinto toque eu começo a me perguntar se ela está tão
chateada, que não vai atender.
— O quê? — Ela disse, e estou tão feliz que ela atendeu que
lágrimas picam os meus olhos.
— Nicki? Você pode vir hoje à noite? Realmente, realmente
preciso conversar com você. — Ela não diz nada e meu coração
começa a bater novamente. — Nicki? Por favor.
— O que é? Ari está muito ocupada bebendo champagne na
piscina?
— Não sei o que Ari está fazendo, mas sinto muito sobre a
noite passada, eu fui uma estúpida.
— Vá em frente.
Estou prestes a perdê-la completamente. Estive no inferno nos
últimos dias e agora tenho que bajular a Nicki apenas para conseguir
que fale comigo. Eu respiro profundamente. Não é culpa da Nicki
que Remy me persiga, mas se tudo correr bem, será um inferno muito
mais simpático.
— E não quero que acabe a qualquer momento sem nos falar.
Eu quero que as coisas estejam bem conosco.
Escuto a Nicki estalando a língua em sua boca, algo que ela faz
quando está tentando tomar uma decisão. — Eu quero isso também
— disse ela com voz baixa.
Um alívio pairou sobre mim. Me sinto culpada porque não
estou dizendo a verdade, mas agora mesmo eu venderia a minha
alma se achasse que iria resolver o meu problema com Remy.
— Então você vem? O quê você acha, por volta das sete?
— Claro, o que seja — ela disse e desligou.
Ela ainda está com raiva, mas pelo menos virá. Eu percorro a
minha lista de contatos e paro no número do Luke.
— Megan? — disse, respondendo ao primeiro toque.
— Sim, nos veremos ... Às sete. Minha casa é na quarenta e
dois da Ivy Way.
— Vejo você às sete.
— Ok, porque você é a minha última esperança, Luke. Se isso
não funcionar, vou voluntariamente me colocar em uma instituição e
pedirei uma sedação profunda.
— Megan, o que aconteceu?
— Sabe essa visão que te mostrei... A garota?
— Sim.
— Remy me mostrou os acontecimentos que levaram a ela, e
eu... Ouvi a faca cortando-a.
— Oh, Deus.
Meus ombros tremem quando tampo o meu rosto. As lágrimas
fluem e não posso falar.
— Megan? Ainda está aí?
Tomei uma respiração irregular. — Por que está fazendo isso,
e como... Como se supõe que devo agir como se nada estivesse de
errado? Se não fosse por você, me sentiria como se eu estivesse
enlouquecendo.
— Vamos arrumar isso. — Ele disse com tanta confiança, que
eu quase acreditei nele. — Mas se Ari te ligar, não diga a ela que eu
vou para lá. Tive um estranho tipo de conversa com ela ontem depois
que você saiu.
Sorvo pelo nariz. — Eu não vou dizer nada. E obrigado. Não
sei o que faria sem você.
— A boa notícia é que não precisa se preocupar com isso.
Coloco o telefone na bolsa e retiro o meu pó compacto. Deus,
estou uma merda. Esfrego um pouco de pó no meu nariz vermelho e
me dirijo para o estacionamento. Olho para a torre da Rapunzel, que
Luke acrescentou o toque extra.
Aqui está a esperança de que o Luke seja o meu cavaleiro de
armadura brilhante.
Nicki olha de um lado para o outro de Luke para mim com
uma sobrancelha levantada.
— Est{ bem, então um de vocês vai me dizer, ‚Dia dos
inocentes46‛, assim todos nós poderemos rir, e depois posso ir para
casa?
Acho que não me surpreende a sua reação. Provavelmente eu
diria o mesmo se fosse ela. Luke estende a sua mão, aperta a minha, e
me indica com a cabeça para que continuemos caminhando.
— Não é uma piada — falo calmamente. — Estamos falando
sério e realmente precisamos que nos ajude.
Nicki põe as suas mãos na frente dela.
— Pare aí, tenho sido mais que tolerante contigo e o drama do
seu namorado, mas me usar como prova para o dom caça-fantasma
do Luke sobre Remy não é nem remotamente adorável. E
honestamente, se por alguma razão acha que na realidade Remy está
perambulando ao redor por que aparecem coisas, precisam de uma
verificação seria da realidade e um reembolso completo do Dr.
Macardo. 46 Dia dos Inocentes: é a comemoração de um episódio hagiografia do cristianismo:
o abate de todas as crianças menores de dois anos nascido em Belém, ordenada pelo
rei Herodes, para se livrar do bebê Jesus de Nazaré. Mas também é conhecida como
dia da mentira.
Luke e eu trocamos olhares. Ele puxa os joelhos de seus jeans
nervosamente. Sabia que ia ser difícil, mas ainda assim, estou irritada.
— Quer uma verificação da realidade? — falo. — O que há
sobre aceitar o fato que poderia estar equivocada sobre algo? Só por
que você não quer acreditar em fantasma, não quer dizer que eles não
existam. Entendo que tudo isso soa como loucura, mas...
— Não, não soa loucura, é loucura — interrompe Nicki. — E
se tivesse tido alguma idéia que estava planejando me emboscar com
o garoto dos fantasmas aqui, eu mesma teria chamado o seu
psiquiatra. Não é que as sessões estejam funcionando realmente bem,
mas talvez vocês dois possam conseguir uma tarifa grupal ou algo do
tipo.
— Hey! — disse o Luke. — Isso não é uma emboscada, é sobre
ajudar a Megan e a Remy. Tudo o que estamos pedindo é que tenha
uma mente aberta.
Nicki fulmina Luke com o olhar. — Mente aberta? Fala sério?
Me chamaram sobre falsos pretextos, e depois acham que me sentaria
agradavelmente perto de alguma horripilante bola de cristal para que
assim possam provar a sua habilidade de caça-fantasma na minha
frente? Tem médico para essas coisas, sabia?
Luke arrasta os seus pés.
— Na verdade, não estou qualificado para usar uma bola de
cristal ainda, ia ser mais uma espécie de canal de cenários.
Abaixo a minha cabeça. Sabia que as coisas poderiam ir mal,
mas não tão mal.
— Oh meu Deus! — Nicki ria como uma louca. — Aqui tenho
uma idéia nova: por que não, vocês chamam a sua boa amiga Ari e
vejam se ela quer jogar a casa assombrada? Por que eu não estou
interessada.
— Nicki — falo tranquilamente, tentando me manter calma. —
tem que ser você. Ela viria por você, você era a melhor amiga da
Remy.
— Isso é verdade! — grita. — E se Remy estivesse realmente
aqui, ela viria a mim!
— Esse é o porquê não acreditou em mim no segundo ano,
não?
— Não! — disse ela, mas o olhar em seu rosto dizia outra
coisa. — Não acreditei em você por que as pessoas não voltam da
morte.
— Nicki, Remy não voltou, ela nunca se foi. Ela se mostrou
justamente depois do acidente, e aparece de vez em quando durante
estes anos. Mas ultimamente tem estado se mostrando mais e mais, e
se pudesse vê-la, se daria conta que precisa de ajuda. Nós achamos
que esteja esperando por papai, sabe, assim ela pode seguir para onde
seja. Mas ao menos que possamos fazer que minha mãe possa vê-la
também, isso não vai passar.
Nicki me olhou um segundo, depois colocou os olhos em
branco.
— Vou embora! — se levantou para ir, mas Luke se precipitou
sobre ela e toma a sua mão. — Me deixe ir! — Começou a empurrar,
mas depois os seus ombros relaxam e se virou para ele.
Reparo que Luke esta usando a sua coisa de molho empático
sobre ela, e retenho o meu fôlego, esperando ver se pode romper a
parede que ela levantou.
— Estamos te dizendo a verdade, precisamos da sua ajuda —
disse ele lentamente. — Sei que se sente em conflito, mas também sei
que uma parte de você quer acreditar. Inclusive se pensa que estamos
loucos, o que tem de mal em seguimos a corrente? — faz uma pausa.
— Remy viria a você se pudesse. — disse ele tranquilamente. — O
mundo fantasma não é como o nosso. Eles tratam com o passado, o
presente e o futuro tudo de uma vez, e inclusive chegar a uma pessoa
é difícil. Megan é sua gêmea.
O rosto de Nicki se aperta, e depois olha o teto. — Remy se foi.
As lágrimas navegaram pelas minhas bochechas. — Ela
deveria, mas não o fez. Por favor, Nicki, me ajuda. Ajude a Remy.
Nicki franze seus lábios. Luke a leva de novo ao sofá.
— Só me deixe tentar, isso é tudo o que estou pedindo.
Sento cautelosamente ao lado da Nicki. Está respirando com
força e passo o meu braço ao redor do seu ombro. Se inclina para
mim e rompo em lágrimas por que sei que ficará.
— Obrigada.
Nicki assente contra o meu ombro e olho a Luke com um
choroso, amplo olhar, não muito segura de que faça logo.
Ele toma fôlego.
— Está bem, hum, é a primeira vez que vou tentar isso, por
isso tenha paciência. E nós, uh, precisamos estar unidos — estendeu a
sua mão para Nicki outra vez.
Nicki fica rígida durante um segundo, mas o deixa tomar a sua
mão, e depois sinto a sua calma.
— Vou chamar Remy, e se pudermos fazer com que apareça,
eu, hum, bom, tentarei te passar a visão, Nicki. Minha avó disse que
se nos concentrarmos, deve ser capaz de vê-la.
Nicki se burla. — Quando isso não funcionar, quero que vocês
dois peçam ajuda.
— Funcionará — falo. Tem que funcionar.
— Abra a sua mente para as possibilidades, acredite que pode
ocorrer. — Luke falou. Ele clareou a garganta. — Remy? Sou eu,
Luke. Tem alguém que quer te ver. Está aqui, Remy?
Exploro o quarto, mas não tem sinal dela.
— Remy? — chama ele novamente.
— Remy? — repito.
Por favor, deixe que isso funcione.
— Remy, Nicki está aqui. Ela sente a sua falta — ele continua.
Nicki soluça e desliza um braço ao redor da minha cintura.
Olho o quarto, nada. Olho Luke sobre a Nicki. Onde está?
Pergunto.
— Nicki, o que você e a Remy gostavam de fazer? — Luke
pergunta.
— Não sei. Jogávamos com Megan, e... Não sei.
— Os espetáculos — falo. Remy tinha herdado a suave voz
cantante do papai, e ela e Nicki sempre estavam fazendo espetáculos.
Me permitiam ensaiar com elas, mas quando chegava o momento de
apresentar aos nossos pais, eu sempre era degradada a recolher os
tickets e lanterninha.
— Nicki, e se cantar? Uma das velhas canções?
Nicki sacode a sua cabeça.
— Deve estar de brincadeira se acha que vou cantar agora
mesmo.
Meu cérebro busca desesperadamente, tentando lembrar uma
canção, qualquer canção.
— Remy? Quer cantar com a Nicki? Podem montar um
espetáculo. Seguro o fôlego enquanto Remy aparece suave e dispersa
perto da chaminé.
— Ali — sussurro, apontando. — Pode ver?
Luke aperta a mão da Nicki, e ela se levanta.
— Não, isso é tão estúpido, isso... — interrompe a si mesma e
se inclina para frente, olhando a chaminé.
— Está ali — disse o Luke, — está olhando diretamente.
— Gosto de dançar — canto um pouco desafinada, — em
Bahamas.
— Em seus pijamas — Nicki canta em um sussurro, seus olhos
amplos, olhando para frente.
Luto por lembrar a linha seguinte. — A vida na ilha é tão bela.
— Pode ver a sua roupa interior — Remy canta, e depois ri.
Caminha para nós, através da mesa de café.
— Um espetáculo! — disse ela, sorrindo de orelha a orelha. —
Deveríamos cobrar um dólar dessa vez.
Retenho o meu fôlego. — A vê? Pode escutar isso?
Nicki tira o braço ao meu redor e estende para a Remy. — Oh,
meu Deus, sim. Tranças, vestido púrpura. Não posso acreditar.
Remy dá um passo, e o ar ao nosso redor começa a congelar.
Nicki se estica para frente como se tentasse ver se Remy é ou
não sólida ao tato. Seus dedos passam através dela e xinga, sem
duvida sentindo o frio intenso que sempre envolve a minha irmã.
— Remy? Sou eu, Nicki. — Seu corpo se estremece,
atormentada com as lágrimas. — Remy.
— Nicki está aqui — disse Luke. — Remy, tente vê-la, ela está
ao lado da Megan.
Remy inclina a sua cabeça, e logo seus olhos se abrem bem
abertos.
— Nicki! — ela sorri por um segundo, e depois seu rosto
escurece. Sua face despertando, se voltando claramente visível. —
Nicki! Não vá ali! É ruim! Pede um desejo, Meggy, pede um desejo. Não,
Nicki, não!
Remy treme e se gira para mim.
— Meggy, é ruim. Ela vai morrer. Tem que ajudá-la! Tem que ajudá-
la! — água começa a cair da bainha do seu vestido.
Nicki olha para mim, seus olhos tão assustados como os de
Remy.
— O-o que está fazendo? O que aconteceu com ela?
Oh, merda. Esperava que Remy não entrasse no ‚modo
p}nico‛ com a Nicki! Inclusive convenci Luke de não advertir a Nicki
dos ataques fora de controle da Remy, assim ela estaria mais aberta a
todo o assunto.
— Remy, calma — falo. — Montaremos o espetáculo,
cantaremos mais canções!
— Não! — disse Remy, começando a balançar sobre os seus
calcanhares. Sacode a cabeça e escuto a água do rio se espalhar e
gritar, como no dia do acidente. — Mal! Mal! Papai ajudará. Ela vai
morrer.
— O que está mal? — grita Nicki. Ela move a sua cabeça ao
redor do quarto. — O que é isso? Barulho de água?
Luke solta a mão da Nicki e se levanta.
— Remy, está bem, Nicki está bem.
— Papai, ajude ela!
De repente a porta se abre e Fergus entra trotando. Olha Remy
e o seu rabo cai entre as suas patas. Ladra duas vezes em sua direção.
Remy franze o cenho e agita o seu dedo a ele. — Cachorro mal
— disse ela enquanto desaparece de vista.
Mamãe segue para dentro, fechando a porta atrás dele.
— Ganhamos! Acabamos com esse pequeno Griffon de
Bruxelas e o Poodle também!
Nicki, Luke e eu ficamos congelados em nossos lugares
enquanto mamãe nos olhava.
— O—olá, mamãe, que bom — falo, sabendo que é óbvio que
Nicki e eu tínhamos estado chorando e talvez estivesse se
perguntando o porquê.
Mamãe colocou a sua bolsa sobre uma cadeira e caminhou
lentamente, nos olhando com desconfiança. — Está tudo bem?
Nicki me olha, com seus olhos saindo das órbitas.
— Ah, sim, mamãe, claro que está tudo bem. Estávamos, uh,
olhando só um espetáculo, e foi intenso. Tão intenso, que tivemos que
apagá-lo.
— Oh — disse ela, ainda nos observando. — Vão me
apresentar ao seu amigo?
— Huh? — minha cabeça se sacudiu para olhar Luke e de
novo a mamãe. — Oh! — forço um sorriso em meu rosto e espero não
parecer tão louca como me sinto e que mamãe tampouco note a poça
de água do rio que a Remy deixou sobre o piso. — Este é Luke,
trabalha na Terra Encantada pintando as paisagens e as coisas.
Ele deu vários passos até mamãe e sustentou a sua mão. —
Prazer te conhecer — sacode a sua mão e sua testa se franze. — É
engraçado, mas me parece muito familiar.
Mamãe sorri. — Apareci na sessão de entretenimentos do
‚Conway Daily Sun‛ não faz muito tempo, com Fergus — se agachou
e acariciou Fergus atrás de suas orelhas. — Fazemos estilo livre
canino, é uma combinação de entretenimento de obediência e dança
para mostrar a combinação entre um cachorro e seu adestrador.
Luke sacode a sua cabeça. — hum, não acho que tenha visto
isso, mas talvez... — seus olhos brilharam com reconhecimento. —
Tinha um encontro com a minha avó esta manhã?
Mamãe levantou as suas sobrancelhas, olhando perplexa. —
Sua avó?
— A psíquica de Amador... — começa a dizer, mas vê a
expressão horrorizada de mamãe e para — talvez foi o artigo.
O rosto de mamãe se avermelha. — Oh, bom, na verdade
estive ali, mas não foi nada — ela sorri amplamente. — O Clube do
Estilo Livre da Montanha Branca tem uma rifa e eu estava... — ela
roça um lado do seu nariz e afasta o seu olhar de mim — solicitando
para as empresas doações para a rifa — Assente com a cabeça. —
Tenho um certificado de presente para a rifa... para a rifa.
Ela inclina a sua cabeça para cima e para baixo várias vezes, e
fica tão evidentemente que está mentindo.
— Vou guardar as minhas coisas. Espero que veja o troféu que
ganhamos. É tão grande que tive que pedir ajuda para colocar no
carro — Ela da à volta abruptamente e vai para a porta.
Nicki se joga no sofá e enterra o rosto em suas mãos.
— Oh. Meu Deus!
Levanto de um salto e me apresso para o Luke. — Minha mãe
esteve em sua casa? Sabe o que isso significa?
Seus olhos se acendem e percebo que ele esta pensando o
mesmo que eu.
— Ela estava perguntando sobre Remy!
— Acreditou em você — disse ele — ou...
— Ou quer acreditar — digo, terminando a sua frase.
— Gente! — Nicki interrompe — por favor, podemos só
conversar sobre o que ocorreu ao invés de se sua mãe conseguiu ou
não uma consulta psíquica com o seu certificado extravagante de
presente?
— Desculpe — falo. — Só estava pensando que a sua visita a
casa de Luke é um bom sinal.
— Um muito bom sinal! — acrescenta Luke. — Se explicar as
circunstâncias, talvez Nona me diga o que aconteceu.
— Oh meu Deus, isso seria ótimo, e nos ajudaria totalmente a
decidir o seguinte passo, e...
— Gente! — Nicki grita novamente.
Viro para ver Nicki nos olhando com incredulidade extrema,
sua mandíbula apertada pela ira.
— Me trouxeram para provar o poder de fantasma do Luke,
que para ser totalmente honesta, estou desejando que não tivesse
funcionado, e agora estão atuando como se eu não estivesse aqui!
Lágrimas frescas caíram pelas bochechas de Nicki e me senti
como uma pessoa absolutamente repugnante.
— Por que Remy perdeu o controle? — pergunta Nicki. — Por
que ela disse essas coisas?
Me sento ao lado da Nicki e tomo as suas mãos. — Não sei por
que Remy disse essas coisas, mas está fazendo muito isso
ultimamente e esse é o porquê estamos tentando ajudar para que siga
em frente.
O olho direito de Nicki se moveu nervosamente. — Acho que
essa é uma idéia muito boa.
Envolvo os meus braços ao seu redor. — Desculpe não ter te
avisado, mas pensei que se soubesse quão ruim estava Remy, nunca
estaria de acordo em ser o nosso coelhinho das índias.
Nicki solta um soluço curto.
— Sim, tem razão sobre isso, mas desculpe também. Desculpe
por não ter acreditado, e que por ter tido que enfrentar isso sozinha
todos estes anos.
Mamãe começa a dar patadas na porta da frente e Luke corre e
a abre. Ela entra com duas bolsas em seus ombros, lutando com um
troféu de pelo menos quatro pés de altura.
— Aqui, me deixe te ajudar — Luke agarra o troféu e ela deixa
cair às bolsas no chão.
Ela infla as suas bochechas e exala com força.
— Obrigada! Não é de morrer? — ela pergunta, assinalando o
troféu.
Depois de escutar as divagações de Remy, a referência ‚de
morrer‛ tem um significado diferente para nós. Também estou
pensando que o troféu é só um pedaço de plástico craptacular47, mas
todos nós rimos apreciativamente a ele. O que mais podemos fazer?
Mamãe acaricia as figurar de ouro de um cachorro e uma
pessoa. — Meg, te incomodaria levar isso ao quarto de troféus? Estou
esgotada e preciso estar limpa e pronta para a cama. E é tarde, vocês
dois, penso que provavelmente é hora de ir para casa.
Nicki concorda. — Virei pela manhã, assim conversaremos
mais. — Ela me olha com tanta dor em seus olhos, que me sinto
culpada de metê-la nessa confusão.
— Está bem.
— Precisa que te leve? — Luke pergunta a Nicki.
— Sabe, embora a minha casa esteja só a um bloco daqui,
caminhar nessa escuridão não soa muito atrativo agora mesmo.
Luke tira as suas chaves do seu bolso. — Te ligo — me disse.
— Ok. E Luke, obrigado.
— Não tem problema.
47 Craptacular: espetacular, mas de pouca qualidade.
Quando a porta se fechou, me aproximo e pego o troféu com
um grunhido. É muito mais pesado do que parece.
— Pode segurar? — mamãe pergunta.
— Claro — falo contente como sempre quando faço ao
enfrentar as coisas enervantes de Remy.
Levanto o troféu, inclino contra o meu ombro e vou para o
quarto de troféus, que há dez anos era o escritório do papai. Suas
coisas ainda estão aqui, mas muitas delas têm sido afastadas e
embaladas em um canto para dar lugar a toda essa merda de estilo
livre que mamãe acumulou por anos.
É irônico que ela possa manter a esperança de que papai
despertará, mas ao mesmo tempo se apoderar totalmente do seu
espaço. E esse era o seu espaço, ele deixou claro que o estúdio era ‚o
quarto do papai‛. Mas talvez o quarto de troféus seja onde mamãe
possa ser honesta consigo mesma, inclusive se não pode admitir.
Acendo a luz e entro no quarto. A maioria dos livros do papai
é de não ficção, alguns sobre a criação de frangos e jardinagem
orgânica, para a granja que ele sonhou em ter ao se aposentar, estes
foram afastados para deixar espaço aos troféus que dominam as
estantes.
A escrivaninha está onde sempre tem estado, tudo completo,
com uma foto familiar. Levanto a foto e olho os nossos rostos
sorridentes. Remy e eu com tranças e vestidos iguais. Se sente como
se faz toda uma vida.
Grunhi outra vez e levantei o troféu do escritório. Vejo um
arquivo etiquetado como ‚INFORMAÇÃO MÉDICA‛ sobre a
escrivaninha. Deve ser o que mamãe ia ver nesta manhã.
Abro a pasta e olho na página dos resultados
incompreensíveis da ‚Resson}ncia Magnética‛. Por que não podem
colocar estas coisas em termos que podemos entender?
Sacudo a minha cabeça e giro o relatório. A seguinte página é
de resultados de sangue. Sigo passando as páginas, e meu coração se
anima enquanto vejo uma etiqueta ‚Diretriz Antecipada48‛.
“Se eu, Jim Sones, chego a ter uma condição incur{vel ou irreversível
sem esperanças de recuperação, escolho o seguinte:”
Examino o resto da página.
“— Tubo de alimentação: Não.
— Antibióticos para as infecções: Não.
— Ser transferido a um hospital para tratamento: Não.
— Nutrição Artificial: Não.
— Hidratação: Não.
— Medicação para a dor: Sim.”
48 Diretriz antecipada: Uma diretriz antecipada informa ao médico que tipo de
cuidados você gostaria de ter se você se tornar incapaz de tomar decisões médicas
(se você estiver em coma, por exemplo).
Oh meu Deus! Ela sabia que ele não queria ser conectado a
todas essas máquinas, mas fez de todas as maneiras. Todos estes anos
Remy tem estado esperando por papai por que mamãe tem se negado
a honrar os seus desejos!
Tiro a folha de cima e irrompo de volta na sala.
— Mamãe?
— Em cima!
Subo as escadas até o seu quarto.
— Como pode fazer isso? — pergunto, empurrando o papel
para ela.
Ela olha detalhadamente o papel, e fico surpresa quando ela
me devolve o olhar calmamente.
— Por que sempre há esperança.
— Esperança? São dez anos! Li a investigação e sei que você
também. Quanto mais tempo alguém fica em um estado vegetativo
persistente, menores são as suas chances de que alguma vez se
recupere!
Mamãe se senta em sua cama.
— Mas ainda há uma chance. Amo o seu pai e não vou
renunciar dele.
— Isso não se trata de renunciar ele; é sobre o fato de que todo
este tempo papai teve uma vontade que claramente declarava que
não queria viver, inclusive não se pode chamar de viver. Tem o visto
ultimamente? Realmente o visto? Honestamente acha que ele queria
isso? E Remy? O que te disse a Sra. Amador dela? E nem tente negar
que esse é o porquê realmente foi ali.
Mamãe afastou o seu olhar de mim e respirou profundamente.
— A Sra. Amador disse que Remy está buscando alguma coisa
— uma lágrima escorreu por sua bochecha.
Me sento na cama ao seu lado e sustento a ‚vontade de viver‛
frente a ela.
— Está buscando o papai. Precisa fazer o certo para ambos.
— Não posso Megan — seus ombros tremem e parte de mim
quer abraçá-la, mas passaram anos desde que nos abraçamos e não
consigo fazer.
— Remy esta sofrendo, mamãe. Precisa do papai.
Mamãe se levanta, caminha até o seu closet, e tira uns lenços
da caixa.
— Me prometa que irá pensar, ok? — pergunto.
Ela assente e me levanto.
— Acho que a escutei ontem, depois que você saiu.
Congelei.
— O que?
— Estava escovando o meu cabelo e achei ter escutado Remy
recitando o poema da luz da estrela, estrela brilhante. Lembra que
costumavam dizer a noite, vocês duas?
Meu coração bate.
— Oh meu Deus, mamãe, essa era Remy. Era ela, você a
ouviu! Tem que acreditar em mim agora.
Olho para a mamãe, o nariz vermelho e o lenço firmemente
agarrado.
Retenho a respiração.
— Isso é o porquê fui ver os Amador — disse ela. — Pensei
que estava ficando louca, mas, pareceu tão firme de que ela estava
aqui. Tinha que averiguar isso — sacudiu a sua cabeça. — A Sra.
Amador não pode conseguir que ela aparecesse — seu rosto se desfez
em lágrimas.
Me sento em sua cama.
— Remy esteve comigo hoje, no parque.
Mamãe se senta ao meu lado e agarra as minhas mãos
fortemente.
— Por que não posso vê-la?
— Pode. Luke pode te ajudar. — Ofereço os meus braços. Ela
se inclina sobre mim soluçando, e nos abraçamos pela primeira vez
em anos.
— Megan, desculpa — sussurra. — Acho que sempre soube
que Remy ainda estava aqui, mas não podia aceitar o pensamento de
que a minha pequenina não estivesse em paz. Não pude enfrentar
isso, e terminei me lastimando no processo, desculpe, lamento tanto.
Ela chora mais forte, e a abraço mais.
— Só tem um caminho para que ela esteja em paz.
Mamãe assente, e pela primeira vez, me sinto esperançada de
que este pesadelo finalmente possa acabar.
— Oh meu Deus, ela escutou? — Nicki pergunta, e logo sopra
sobre o seu café. — Isso quer dizer que ela acredita em você sobre
Remy, não é?
Dei uma mordida no bagel49 de canela que Nicki trouxe essa
manhã e movi os meus dedos do pé embaixo do Fergus, que estava
enroscado sobre o chão debaixo de mim.
— Parece que sim, e ela inclusive não tem ameaçado me
mandar para o Dr. Macardo. Sério, não tem outra explicação para as
coisas estranhas que tem ocorrido durante anos. Realmente tenho que
dar crédito por resistir tanto tempo. É dizer: Como explicaria as fotos
e bugigangas que se lançaram entre si pelo quarto, se não é por um
fantasma?
Nicki assente.
— Estou tendo um momento difícil imaginando alguém
racionalizando isso.
— Segundo a minha mãe, temos tido um monte de terremotos
durante anos, mas talvez escutar Remy e conhecer que toda essa
merda estranha aconteceu apesar da ausência de terremotos, fez mais 49 Bagel: O bagel é um produto de pão tradicionalmente feito de massa de farinha
de trigo fermentada, na forma de um anel, feito sob-medida à mão e que primeiro é
fervido em água e depois assado. A sua aparecia é parecido com o donuts e é muito
tradicional nos Estados Unidos.
fácil de acreditar. Luke acha que por Remy está totalmente agitada
com alguma coisa, usa mais energia para fazer contato e isso é o que
fez possível a minha mãe a ouvir. Alguém na Terra Encantada ouviu
também. Duvido que essa garota ponha um pé no Bosque
Assombrado de Hansel e Gretel. Nunca mais.
Nicki soltou um longo suspiro.
— Tudo isso é tão desconfortável, primeiro Remy e agora o
desejo de seu pai. Como pode se manter calma? Quer dizer, vi Remy
uma vez e ainda estou impressionada, de modo algum dormi.
Continuei escutando seus gritos. ‚Ela vai morrer‛, uma e outra vez
em minha cabeça.
— Não tenho escolha. Ao menos o assunto ‚ela vai morrer‛
aconteceu faz muito tempo, talvez inclusive no lugar onde agora é a
Terra Encantada. No dia da minha entrevista Remy me mostrou a
vítima, e depois tem sido um delírio atrás do outro com ela.
Nicki parece doente e cobre a sua boca.
— Oh, Deus.
— Te pouparei dos detalhes.
— Obrigada, acha que Remy vai continuar até que possa estar
com o seu pai?
— É o que penso.
— Um juiz respeitaria a vontade se sua mãe se opuser?
— Acho que sim. Fiquei até tarde e li muitos casos similares
on-line. Se tiver uma ‚diretriz antecipada‛, os hospitais têm que
honrar ou pagar um acordo filha da mãe50 quando forem
demandados.
— Wow. Isso é muito para digerir! — Nicki se acomoda e fica
de frente para mim no sofá. — Vamos mudar para um assunto um
pouco mais animado, ok? O que está acontecendo entre você e o
Luke?
Olho ela com as suas sobrancelhas levantadas em expectativa.
— Não acontece nada, ele está me ajudando com Remy.
— Uh, essa não foi a sensação que tive ontem à noite.
— O que quer dizer?
— Bom, quando ele me levou para minha casa, ele me
perguntou há quanto tempo você está saindo com Ryan. Tentou fazer
soar como se só quisesse conversar, mas é tão óbvio que o garoto esta
afim de você, e estou me perguntando se é correspondido.
As minhas bochechas se avermelharam.
— Ele não está, e não é assim. Mas...
— Mas?
Suspiro. Não queria chegar a isso, não depois de todas as
queixas que tenho feito da Samantha.
—Está bem, se for completamente honesta, tenho pensado
muito nele. Continuo me dizendo que é só porque ele está me
ajudando com a Remy, mas...
50 Pagar um acordo filha da mãe: no sentido de ser um valor alto.
— Mas...
— Mas me dá calafrios que percorrem minha coluna cada vez
que me toca — enterro o rosto em minhas mãos. — Estou realmente,
realmente confusa.
Nicki ri e levanta o olhar. Me dá um sorriso astuto e um olhar
de ‚eu sabia‛.
— É realmente frustrante que o seu namorado passe o tempo
com uma garota que tem deixado muito claro que está apaixonado
por ele. Se Ryan vai ser sério com você, deveria ter se desfeito da
Samantha faz muito tempo. Do jeito que é, ele está te enganado, e
francamente, é cruel.
— Na realidade, Samantha começou a sair com um estudante
de intercâmbio da França na Terra Encantada ontem — o sentimento
de inquietação que tive quando Ryan tentou derrubar o iniciante
romance de Samantha com Christophe voltou.
Nicki fez gozação.
— Isso não muda o fato que Ryan tem sido um completo
idiota com todo esse assunto.
Concordo.
— Tem razão, e odeio ter que admitir, mas foi bastante óbvio
que não estava feliz que ela começou a sair com alguém — meus
ombros caíram. — Sério, devia ter visto, continuou tentando
dissuadir e advertir ela sobre os males da França.
O lábio da Nicki se curvou.
— Imagino, é disso que estamos falando! Está além da
‚merda‛ agüentar essa merda.
— Para ser justa, não acho que ele verdadeiramente entenda
por que é um problema, e tentou real e duramente me compensar na
outra noite. Trouxe filmes e comida chinesa, e ontem me disse que
conseguiu reservas para jantar no Hotel da Montanha Branca para
celebrar o nosso aniversário de um mês esta noite. Sei que ele se
importa, e me importo também. É só que, não importa o que,
Samantha esta rondando todo o tempo.
— E tem o Luke.
Abaixo minha cabeça.
— Olha — Nicki continua. — Não estou dizendo que não se
importa com Ryan, obviamente ele te escolheu ao invés da Samantha.
Mas realmente precisa de um garoto que tem a sua própria fã? Por
que continuar com tanta angústia sobre isso se tem alguém mais que
te dá arrepios em sua coluna?
— Mas como sei que o que estou sentindo pelo Luke não é só
resultado dessa sua coisa empática?
Nicki dá de ombros.
— Huh?
— Sua família, são empáticos sabe, eles podem tirar a dor, te
fazer sentir melhor só com um toque.
Nicki sorri e estende a sua mão.
— Bom, o garoto fantasma sustentou está mão ontem à noite, e
não tive calafrios subindo e baixando pela minha coluna. Não me
interprete mal, ele é lindo, e definitivamente me senti mais relaxada
cada vez que me tocava, mas não tive tremores, nem um pouco de
arrepio. Ok, talvez tenha tido um pouco de arrepio depois que Remy
apareceu, mas não teve nada a ver com o Luke.
Afundo nas almofadas do sofá e olho o teto.
— Sim, ok, Luke tem uma fã também, a Ari. Ela está
totalmente apaixonada por ele, mas não tem jeito de que possa sair
com ele inclusive se quisesse, e não estou dizendo que quero, por que
não posso ir contra o código da namorada.
Nicki mostra a língua.
— Conhece Ari há uma semana, o código não se aplica.
— Aplica sim! Ari me disse o quanto gostava dele, não posso
ser uma Samantha sobre ela.
— Para de andar com a Ari e não será um problema! Sério, a
garota é louca. Deveria ter visto como me olhava na última prática do
coral. Se quiser invocar o código da namorada, então o que acha de
mostrar algo de lealdade a sua melhor amiga, e abandone o seu
traseiro de princesa!
— Sei que vocês duas não se dão bem, mas gosto dela. Ela se
esforçou para se assegurar que Ryan e eu pudéssemos trabalhar
juntos, e inclusive conseguiu que Samantha fosse designada ao seu
passeio favorito no parque, tudo por que pedi. E depois tem o
encontro no SPA que pagou para nós duas na próxima semana —
Não estava planejando mencionar isso a Nicki, mas sinto como se
tivesse que explicar o porquê não posso abandonar a Ari.
Nicki colocou os seus olhos em branco.
— Ok, então não temos outra opção a não ser enviar ao Papa
uma carta e nomeá-la como uma Santa. Já posso ver: Ari Roy, Santa
dos parques de diversões e unhas francesinhas.
— Há, há. Ela não tem muito amigos e só está tentando ser
agradável. Que é exatamente porque que não vai acontecer nada
entre Luke e eu.
— Que seja, é o seu funeral.
Repentinamente um celular começa a tocar, mas não
reconheço o som dele.
Olho para a Nicki.
— É o seu?
Ela sacode a cabeça.
— Parece que está embaixo de nós.
Levantamos de um salto, e Fergus engatinha para longe.
Levanto uma almofada do sofá e Nicki alcança o celular. Olha o
número da chamada e coloca os olhos em branco novamente.
— Falando do demônio: chamada da Ari.
— Deve ser do Luke. Não responda, não quero que saiba que
ele esteve aqui.
Nicki ondula a sua mão desdenhosamente para mim e abre em
um puxão o celular.
— Olá? — disse docemente.
— O que está fazendo? — sussurro.
— É a Nicki, Luke deixou o celular na minha casa ontem à
noite.
Olhei para ela com os olhos arregalados.
— Mas se eu o ver antes que você o faça, direi para te ligar,
ok? — interrompeu. — Mais tarde — fechou o celular e riu.
— Por que fez isso?
Ela encolheu os ombros.
— Bom, já que não quer ferir os seus sentimentos, pensei que
seria melhor se ela pensasse que Luke esteve em minha casa em lugar
da sua. Ela me odeia, então que demônios?
— Ou, podia só não atender!
— Que diversão teria tido? — balança o celular na minha
frente. — Assim parece que tem que ir devolver isso ao Luke.
Tiro das suas mãos.
— Sim, talvez, eu acho.
Ela começa a fazer sons de beijos e bato em seu braço.
— Goste ou não, tenho namorado, por isso não terá nenhum
beijo.
Ela entrecerra os seus olhos.
— Mas você quer, e sabe disso.
Aperto a minha mandíbula e suspiro.
— Vou ir para o meu jantar de aniversário está noite!
— Um restaurante é o lugar perfeito para terminar e evitar
uma cena.
— Não vou terminar com ele!
Nicki sacode a sua cabeça e me olha como se eu fosse uma
idiota.
— Não faz nem cinco minutos que admitiu que ele ficou
irritado por que Samantha começou a ver um garoto. O que te diz
isso?
— Que talvez ele esteja preocupado com Samantha? Posso
mais ou menos ver por que ele poderia estar preocupado, por que ela
vai sair com um desconhecido de outro país, e acho que isso não é
motivo para terminar com ele.
— Não significa que tenha que ficar com ele. — Ela sorri e
move as suas sobrancelhas para cima e para baixo. — De todo jeito,
Luke provavelmente está louco pelo seu celular. Por que não entra no
meu carro e a levo até a casa dele. — Ela lambe os lábios.
Quero dizer que não, mas também quero falar com Luke sobre
qual será o seguinte passo que daremos. E sim, também quero vê-lo.
— Ok, mas o único beijo que darei será em Ryan!
***
— Oh meu deus! Que ótimo! — Luke exclama.
Subo as escadas do gazebo no seu pátio traseiro, desejando
que minhas notícias fossem ótimas.
— Exceto que a sua vontade dizia, ‚condição irreversível sem
esperanças de recuperação‛, e a minha mãe não tem renunciado a
esperança, inclusive se os médicos não têm. Estou bastante segura
que posso levar a vontade ao nosso advogado, mas se mamãe não
mudar de idéia, o que posso fazer levá-la a corte?
Sento no banco e Luke me olha com tanta tristeza em seus
olhos. Ele senta ao meu lado e nossas pernas se tocam. Prendo o
fôlego e grito em minha cabeça ‚um mês de anivers{rio‛. Estende a
sua mão e embora saiba que não deveria, a tomo e enlaço seus dedos
com os meus.
Calafrios.
— Falei com a Nona sobre a sua mãe.
— E?
— Nona disse que tinha visto Remy antes, ela a descreveu
para a sua mãe. Disse que sua mãe não parecia surpresa.
Concordo.
— Minha mãe confessou que tinha escutado Remy, e que uma
parte dela sempre soube que Remy ainda estava rondando. Mas
agora que as coisas estão sendo reveladas, por que não dá o próximo
passo?
— Por que ela o ama — disse Luke. — Ela só precisa se dar
conta que deixar ele ir não muda isso.
— O que aconteceu com os seus pais? — pergunto, e
imediatamente sinto como se tivesse excedido os limites. O olho e
vejo as suas sobrancelhas franzidas. — Desculpe, isso não é da minha
conta.
— Está bem. Eles morrem quando Kayla e eu éramos
pequenos, um acidente de caiaque no rio.
Esse maldito rio.
— Sinto muito.
— Não lembro muito deles.
— Não lembro muito do meu pai também, só pedaços e peças
de coisas. Vou visitar ele o tempo todo, mas compreendo que é como
visitar a qualquer um em casa de repouso, é só outro paciente para
levar o Fergus — não posso acreditar que disse isso, mas acho que é
verdade. — Talvez por isso seja mais fácil para mim imaginar
deixando ele ir? — mordo o lábio. — Deus, o que tem de errado
comigo?
Viro para ver se Luke acha que sou um monstro, mas seus
olhos são suaves e simpáticos.
— Talvez, ver outras pessoas na casa de repouso tenha te dado
outra perspectiva, pode dizer a vida da morte.
— Talvez.
— Seu namorado sabe sobre Remy?
Sua pergunta me pegou com a guarda baixa.
— Eu... Eu tentei dizer, mas... Não.
Respiro no ar o perfume de lilás. Sinto a pressão da mão do
Luke sobre a minha, e me sinto mais confusa que nunca.
— Ari ligou para o seu celular essa manhã — disse, mudando
de assunto. — Nicki atendeu, e disse para Ari que ia deixar em sua
casa.
Luke grunhiu.
— Acho que isso é melhor do que ela saber que estive na sua
casa.
— Por quê?
— Ela aparentemente passou pela minha casa essa manhã
quando vinha e te viu. Disse que te perguntou sobre o assunto. Tentei
ser tão vago quanto possível sobre todo o assunto, por que não sabia
o que tinha dito, mas era óbvio que ela estava irritada.
— Menti e disse que estava aqui para perguntar a Nona sobre
o meu futuro com o Ryan — sim, pensar sobre um futuro com o
Ryan, dizer isso a mim mesma, em vez de pensar sobre beijar Luke,
que esta enlaçando e desenlaçando os seus dedos com os meus. Não
tenho absolutamente nada a fazer sentada tão perto dele e segurando
a sua mão, mas não posso soltar.
— Tem futuro com ele?
Meu estômago sacode.
— O que quer dizer? — arrisco olhar para ele de lado e quase
morro ao ver seus olhos azuis escuros me olhando.
— Quero dizer que eu gostaria mais se não tivesse.
— Não sei — me escapa enquanto o meu coração bate como
louco.
— Ele te conhece como eu? — sussurra.
Ele se inclina e sinto sua respiração em minha bochecha. Viro
para encará-lo.
— E você o que sabe? — sussurro, meu coração a ponto de
estourar.
— Tudo.
Nossos lábios se tocam, e sinto como se estivesse flutuando.
Sei que deveria me afastar, mas, Deus me ajude, em vez disso
devolvo o beijo.
Parei na frente do espelho de corpo inteiro no meu quarto.
Ryan estará aqui a qualquer momento. Dou uma rodadinha e decido
que continuarei com o vestido azul sem mangas mesmo quando fica
muito frio com ele.
Não é que me arrumar para Ryan compense o fato que Luke
Amador me beijou mais cedo hoje, e que eu devolvi o beijo.
Franzi o cenho ante a minha reflexão. — Você é uma
vagabunda suja.
Imagino um locutor de um desses programas de fofoca em
uma dessas entrevistas dizendo: ‚Megan Sones est{ hoje aqui para
dizer ao seu namorado que o enganou com o seu brinquedo de amor
psíquico‛.
Mas foi só um beijo, um maravilhoso beijo, seguido por muitas
menções do dito namorado.
Despenco sobre a cama e desejo ser mais forte, por que gostar
de dois homens ao mesmo tempo é simplesmente pedir uma aparição
em um desses programas, sem dúvida com Samantha e Ari
esperando nas alas, prontas para me levar a uma briga sem sutiãs.
Balanço a cabeça e tento me concentrar no fato que Ryan vai
me levar, e não a Samantha, a um restaurante elegante. Tento ser feliz
e esquecer o beijo.
Levanto a mão e toco os meus lábios.
Um único beijo elétrico.
Soa a campainha, e Fergus late.
— Já vou — digo a minha mãe.
Corro para o meu espelho de novo, buscando indícios de
culpa se mostrando no meu rosto. Remy aparece ao meu lado, com
sua cabeça pendurada para baixo.
— É muito tarde — disse com tristeza.
— Sim, não posso desfazer os beijos — respondo, sabendo que
Remy não está falando sobre Luke.
Ela levanta a vista para o meu reflexo e sorri. — Vestido azul. —
E puxou a bainha do seu próprio vestido e girou ao redor.
— Sim. Gostaria de ficar e conversar, mas tenho um encontro e
um montão de adulação para fazer, por que fui uma garota ruim
hoje.
— Ela tentou usar uma maçã — disse Remy, se detendo na
metade do giro e sacudindo a cabeça — Mas agora eles só usam facas.
Suponho que funciona melhor assim — ela estica sua mão até a minha,
mas tiro de seu alcance e pulo para trás.
— Oh, não — falo, sustentando no alto as minhas mãos por
cima da minha cabeça. — Já temos passamos por esse pesadelo em
particular antes, e realmente não acho que precise ver nenhuma
garota morta com facas, está bem? — falo, com minha voz se
quebrando.
Remy assente. — As maçãs são mais agradáveis.
Fixo o olhar em seus olhos arregalados enquanto volto através
da porta do meu quarto. — Sim, maçãs. Mmm, eu vou agora. Está
bem?
Corro pelo corredor, e logo olho por cima do meu ombro.
Estou muito aliviada de ver que não me seguiu. Respiro
profundamente na parte superior das escadas para me recuperar, e
então desço.
— Não está linda? — disse mamãe em voz baixa da poltrona.
Me dou conta que está com os olhos vermelhos e que estava muito
abatida. Assumo que deve ter pensando em papai e em Remy, mas
não estou recebendo nenhuma indicação de onde está indo.
— Sim, wow! Muito linda! — acrescenta Ryan, me olhando de
cima a baixo. Ele veste uma camisa branca abotoada e um paletó azul,
parecendo absolutamente adorável. Meu estômago dá voltas
nervosamente com culpa.
— Obrigada! — falo, me sentindo como uma aberração total.
Viro para mamãe. — Mmm, estaremos em Ledges Dining Room no
Hotel Branco da Montanha.
— Em Ledges? É uma ocasião especial?
Ryan assente. — Sim, hoje é o nosso primeiro mês de
aniversário.
Por que tive que beijar o Luke hoje de todos os dias?
Soa o telefone e corro para responder, contente pela
interrupção. Olho o identificador de chamadas e franzo o cenho. — É
da casa de repouso.
Mamãe fica de pé em um salto e estica a mão para mim. —
Pedi que me ligassem — inspira profundamente e faz clic no botão de
falar. Escuta por alguns segundos com seus lábios franzidos. —
Imagino — disse. Cobre o microfone do telefone com mão. — Vocês
dois divirtam-se — faz sinais para nós irmos e se dirige para dentro
da cozinha.
— Pronta? — pergunta Ryan.
Olho para mamãe deprimida de pé na cozinha e tento escutar
o que esta dizendo, mas então Remy desliza pelas escadas falando de
novo sobre maçãs e não posso entender nada.
— Sim, vamos.
***
Ryan levanta o olhar do cardápio com um sorriso. — Certo,
tenho uma garrafa de champagne para depois.
— Como conseguiu isso? — pergunto, odiando que cada coisa
boa que ele faz esta noite só está me fazendo sentir mais e mais
culpada.
Em primeiro lugar me deu o paletó para o passeio no carro
por que não me lembrei de trazer um suéter, depois abriu a porta do
carro, tomou a minha mão no estacionamento, e afastou a cadeira
para mim.
— Steven a conseguiu para nós.
Steven, o irmão de Samantha. Por que tudo gira de novo em
torno dela? Claro, Samantha cada vez aparece mais e mais com uma
santa em comparação a mim. — Então Steven não se incomoda em
contribuir na delinqüência de menores?
— Aparentemente não — disse com um sorriso sarcástico. —
Meus pais estão fora esta noite, e pensei que poderíamos voltar para
a minha casa e celebrar, sabe o que quero dizer — se estica através da
mesa, toma a minha mão, e me da um olhar de cumplicidade.
Oh, Deus. Ele esta falando de fazer aquilo. Está propondo, por
que na verdade não estou segura de querer dar para alguém com,
como se expressou Nicki, uma própria fã. Minha grande desculpa
tem sido que não estamos saindo por tanto tempo e era muito de
repente. Talvez imagina que um mês é tempo suficiente, não é de se
estranhar que tivesse memorizado a data.
Forço um sorriso em meu rosto. — Mmm, soa interessante —
murmuro.
Nossa garçonete, Marie, se move furtivamente pela mesa e eu
poderia beijá-la por evitar que Ryan faça planos mais detalhados para
mais tarde.
— Deixe-me dizer a vocês sobre as nossas especialidades.
Temos lombo de porco assado com molho agridoce de maçã e
recheado com purê de batatas e alho.
Imagino Remy falando sobre as estúpidas maçãs e acho que
vou passar essa.
— Atum à frigideira coberto com molho de wasabi51 e
gengibre, uma mescla de verduras teriyaki52, camarões picantes e
rolinhos primavera. E por último temos um prato de duplas lagostas
com carne de caranguejo recheado para dois, com batatas ao forno
com creme ácido e um lado de ostras. Precisam de um minuto?
— Sim, por favor — disse Ryan.
Marie assente, cansada. — Voltarei em um minuto.
Ryan lambe os lábios. — O que acha do prato de lagostas para
dois?
Balanço a cabeça. — Acho que só pegarei o Frango a Piccata53
— falo, não querendo ter a cena ‚rom}ntica‛ para dois.
— Mas ouvi dizer que a lagosta é um afrodisíaco. — Me dá
um olhar sensual e quero me arrastar para debaixo da mesa.
— Não sou uma amante dos mariscos — minto.
— É sério? Não gosta de lagosta? — pergunta, ficando
decepcionado.
Encolho de ombros. — Desculpe.
— Está bem, não é que precisamos de todas as formas. — Pisca
com um olho, e sei que tenho que terminar com ele.
— Ryan, tenho pensado... — meu celular começa a tocar e
remexo na minha bolsa. — Ai, esqueci de desligar! — Pego o celular e
51 Wasabi: é um tempero em pasta utilizado na culinária japonesa e é conhecida
também como raiz-forte japonesa ou wasábia. 52 Teriyaki: é um método japonês de cozinhar. 53 Frango a Piccata: frango em um molho delicado de manteiga, limão, alcaparras e
ima pitada de salsa fresca.
vejo que é Nicki. Ela sabe que estou fora com Ryan, e apesar do fato
de que ela ficaria animada em saber que estou planejando terminar
com ele, não estaria me ligando se não fosse emergência.
— Vou atender essa no lobby. Eu, eh..., já volto!
Abro o celular enquanto caminho por entre as mesas,
ganhando olhares irritados de alguns comensais.
— Nicki?
— Oi, já terminou de jantar com a estrela do rock? Estou no
meio de um aperto.
— O que esta acontecendo? — pergunto, olhando um casal de
idosos que está me olhando.
— Fiquei até tarde depois da prática do coral conversando
com o assistente do diretor, mas quando cheguei ao meu carro, não
consegui encontrar as minhas chaves. Todo mundo se foi, o lugar está
fechado, e os meus pais estão tendo um importante jantar com um
dos clientes da minha mãe, assim, esperava que você e Ryan
pudessem me pegar.
— Nenhum problema! Não pedimos nada ainda, mas Nicki...
o beijei.
— Ryan, que chato.
— Não! O Luke! Na verdade, ele me beijou, mas estou ficando
louca, e realmente, realmente preciso falar com você a respeito.
Gritou de alegria no telefone.
— Não terminei oficialmente as coisas com Ryan, assim não
diga nada, mas...
Nicki ofega.
— Está bem?
— Sim — disse lentamente — simplesmente pensei ter visto
algo na borda dos bosques que rodeiam o estacionamento.
Escuto vidros quebrando. — Nicki?
— Merda! Alguma coisa acabou de quebrar o poste de
iluminação junto ao meu carro!
— Vou buscar Ryan, logo estaremos ai!
— Megan, — disse lentamente — definitivamente tem algo se
movendo no bosque, algo grande, e esta se aproximando. — Sua voz
estremece — Megan, eu estou com medo.
— O que é?
Escuto que seu celular se chocar contra o chão.
— Oh meu deus, não! Me deixe em paz! Alguém me ajude!
Socorro! — grita.
Meu sangue congela quando me dou conta que foi isso que
escutei quando Remy segurou a minha mão durante o apagão no
passeio do Bosque Encantado.
— Nicki? — grito. Ouço ruído de pés se arrastando no chão e
depois nada. — Nicki, não entre no bosque! Não entre no bosque!
— 911, qual é a sua emergência?
— Minha amiga está no Centro Comunitário North Conway e
acho que alguém está atrás dela!
— Atrás dela?
— Ela gritou e soltou o seu celular. Pode mandar alguém lá
agora?
— Avisarei a polícia, por favor fique na... — desligo, quase
sem poder respirar. Digito a golpes o telefone do Luke e volto pelo
lobby.
— Megan?
— Luke, alguém está atrás da Nicki. Ela está no centro
comunitário, mas acho... — respiro fundo, não querendo dizer o que
acho — acho que a visão que Remy me mostrou no passeio era sobre
Nicki. Acho que alguém está atrás dela. Estou a dez minutos de
distância e temo que não vou chegar ali a tempo.
— Estou no centro com Ari, podemos chegar em alguns
minutos.
Fecho o meu celular e corro até o restaurante. — Ryan! — grito
— Nós temos que ir agora mesmo!
***
Entramos no estacionamento, e vejo Luke e Ari conversando
com um par de policiais.
Saio correndo do carro e Luke aponta para mim. — Ela fez a
chamada.
— Encontraram? — pergunto. Olho tudo ao redor do
estacionamento. O celular de Nicki esta no chão perto da porta do
condutor de seu carro, rodeado de vidro quebrado do poste. Sua
bolsa estava a poucos passos de sua carteira e escova espalhadas fora
dela.
Ari nega com a cabeça, com preocupação preenchendo os seus
olhos. — Não tinha sinais dela quando chegamos aqui.
— Senhorita, pode dizer a nós o que ocorreu? — pergunta um
baixo e rechonchudo oficial.
— O que aconteceu é que temos que buscá-la antes que seja
tarde demais!
—Espere. Precisamos de algumas informações.
— Não há tempo. — O oficial não estava se movendo para ir
atrás de Nicki, e fecho os punhos em sinal de frustração. — Está bem,
minha amiga Nicki me ligou faz dez minutos e disse que não podia
encontrar as suas chaves. Ela pensou ter visto alguém no bosque e
depois disse que dispararam na luz ou algo assim. Ela deixou cair o
seu celular e a ouvi gritar — meus lábios tremeram. — Ela gritava
pedindo ajuda.
Olhei para Luke, ele é o único que entende o que acontecerá se
não chegarmos a Nicki a tempo. — Precisamos encontrá-la!
Ele assente. — Oficial, podemos começar a busca agora?
O homem nega com a cabeça. — Como disse antes, essa é uma
potencial cena de crime e não posso ter vocês, garotos, vagando pelos
arredores e destruindo evidencias. Bill, — disse ao outro policial —
chama reforços, e diga ao Tony que traga os cachorros — virou para
mim. — Não se preocupe senhorita, faremos tudo o que pudermos
para encontrar a sua amiga, e há uma boa probabilidade que tenha
pego uma carona com outra pessoa.
Fiquei olhando com incredulidade. — Oh meu deus! Olhe ao
redor. Por que deixaria suas coisas no chão se conseguiu uma carona?
Ari estica sua mão e aperta o meu braço. — Não se preocupe,
sei que ela está bem. Simplesmente sei.
— Não tiramos nenhuma conclusão — me disse o policial
rechonchudo. — Estou seguro que encontraremos a sua amiga sã e
salva.
Ryan colocou um braço ao meu redor, me aproximando dele.
— Ele tem razão, Meg, deixe que a polícia faça o seu trabalho.
— Não estão fazendo o seu trabalho, estão ficando parados
aqui enquanto quem sabe o que está acontecendo a Nicki!
Olho o bosque que rodeia a parte posterior do estacionamento.
Infelizmente, sei muito bem o que poderia estar acontecendo com
Nicki, e se não agir depressa, a visão de Remy se tornará realidade, se
já não estiver feito.
— Sabem o quê? Se não vão buscar, eu vou! — Saio. Ryan me
agarra com força, mas eu o empurro. Corro mais, além da bolsa de
Nicki e ignoro a todos me chamando.
— Hey! — disse o oficial. — Hey, volta aqui!
— Meg! Não!
Os ignoro e sigo correndo, agradecendo por não estar usando
saltos.
— Vou com você! — disse Luke, me alcançando.
Viro e vejo o rechonchudo oficial segurando as costas de Ryan.
— Meg!
Luke e eu chegamos de supetão no mato e dentro do bosque.
— Nicki! Nicki, onde está?
Vou ziguezagueando ao redor de pequenas árvores e arbustos.
Os galhos me arranharam nos ombros desnudos e pernas. — NICKI!
Uma pequena pedra entra dentro dos meus sapatos. Ignoro a
dor por uns segundos, depois me detenho. — Merda! Merda! Merda!
— tiro o sapato, tiro a pedra e freneticamente coloco o sapato de
novo.
Luke esta junto a mim, respirando com dificuldade. — Pode
continuar?
Assenti e coloquei as mãos nos quadris. — NICKI! — grito
enquanto olho ao redor, sentindo a inutilidade dessa busca sem
rumo. — Ela poderia estar em qualquer lugar. — Lágrimas se
derramam em meu rosto. Olho ao redor novamente, escutando
qualquer som que possa me levar a ela. — Nem se quer sabemos em
que direção ela foi! Poderíamos estar nos afastando mais e mais dela!
— Espera, Remy! — disse Luke — Se ela te mostrou a visão,
provavelmente sabe onde está Nicki!
— Oh meu deus, sim! Talvez ela possa nos levar justamente a
ela. Remy! Precisamos de você, precisamos que nos ajude a encontrar
Nicki! Remy, pode nos escutar?
— Remy! — Luke chama.
Remy aparece na nossa frente, brilhando suavemente na
escuridão. Na tênue luz da meia lua vejo que seus olhos estão muito
abertos e com um olhar fixo. — Facas e maçãs — sussurra.
— Oh meu Deus, Remy! Onde está Nicki? — pergunto, sem
querer pensar em facas. — Sabe onde ela está?
Remy assente e da à volta, caminhando em silêncio sobre as
folhas secas.
Luke pega a minha mão, apertando ela forte, e nos andamos
depois dela. As sirenes uivam na distância. Os cachorros farejadores
de corpos estão chegando. Só rezo para não precisarmos deles.
— Vamos, Remy! — falo, me sentindo frustrada pelo seu ritmo
lento.
Seguimos ela até uma pequena colina. — Maçãs e facas. Maçã
podre. Eu te disse — murmura.
— Nicki? — chamo pela centésima vez. De repente, escuto
alguém ou algo se estalando através da mata justamente na frente de
nós. — Nicki?
— Rápido! — disse Luke, me puxando mais rápido.
Plantas espinhosas rasgam o meu vestido e cortam as minhas
pernas enquanto Luke e eu passamos por Remy na corrida até o som.
— Nicki, é você? — grito.
Rodeamos a grande rocha, e então a vemos. — Não, não, não,
não! Não podemos ter chegado muito tarde!
Luke me envolve em seus braços e me vira do corpo da Nicki,
totalmente esparramada no chão do bosque como uma boneca
quebrada, sua camisa cortada aberta, mostrando o buraco no peito
onde estaria o seu coração.
Me aperto a ele enquanto me abraça com força. —Oh, deus,
lamento tanto. Sinto muito — ele disse enquanto enterrava o seu
rosto em meu cabelo.
Um calafrio gelado me envolve. — Desta vez facas — sussurra
Remy.
Enquanto a minha mãe dirigia, passando pela a casa da Nicki
no caminho a nossa até a delegacia, me dei conta que nunca mais
teria outra festa de pijamas ou maratona de filmes ou qualquer outra
coisa com Nicki. E quando o Sr. e a Sra. Summers terminarem na
delegacia, eles iriam para uma casa... Para uma casa vazia que nunca
se encheria com o canto da Nicki de novo.
Afundei meu rosto em minhas mãos enquanto derramava
mais lágrimas. Eu não achava que pudesse sentir esse vazio em meu
interior, uma alma aniquilada pela culpa.
Por que imaginei que a segunda visão era do passado? E por
que não deixei Remy pegar a minha mão antes quando estávamos em
frente ao espelho? Talvez pudesse me mostrar que era Nicki no
bosque, e eu poderia ter chegado ao centro comunitário antes da
prática, e ela ainda estaria viva.
— Megan?
Olho para mamãe enquanto ela tira o carro do nosso caminho.
— Temos que conversar — disse enquanto tirava as chaves da
ignição.
— Mamãe, eu na verdade só quero entrar e deitar.
Ela respirou profundamente, olhando para frente. — Sei que é
de mais inoportuno, e gostaria que isso pudesse esperar, mas você...
Seu pai está com pneumonia — Se vira para mim e franze os lábios.
Assenti aturdida. Eu pensei que isso poderia acontecer
quando a tinha ouvido soluçar no dia que tinha traído Ryan. A
pneumonia pode ser potencialmente fatal para alguém como papai,
mas ele se recuperou rapidamente no passado com os antibióticos, e
não entendo por que mamãe pensa que devo saber disso agora
mesmo.
— Tenho falado com seus médicos — continua — e vamos
deixar de tratar a pneumonia. Poderia... — sua voz se quebra —
poderia ir a qualquer momento — sussurra.
Ela abaixa a cabeça e seus ombros tremem. Não tenho
palavras. Se isso é o que eu queria, por que sinto como se alguém
tivesse me dado um soco no estômago?
— Só queria que houvesse uma maneira de estar certa que não
despertará, que estou fazendo o certo — soluça.
Pego a sua mão e ela aperta a minha com força. — Acho que é,
não, eu sei que é, é o que ele queria — falo.
Mesmo enquanto falo as palavras, meu estômago se revira,
por que não posso deixar de pensar que se papai morrer, eu serei a
responsável da morte de duas pessoas que eu amava muito.
Soa a campainha e eu levanto a cabeça da almofada do sofá.
Espero que não seja Ryan. Pensei que tinha deixado muito claro que
não estava afim de nenhuma visita, mas ele ligou depois do trabalho,
com vontade de vir. Olho o relógio, 18:40. Reviro os olhos. Tem que
ser ele. Soa a campainha outra vez. Mamãe esta tirando uma soneca e
sei que preciso chegar à porta antes que toque a campainha de novo.
— Já vou — murmuro amargamente. Levanto suavemente a
cabeça de Fergus no meu colo e corro até porta nos chinelos. Sério,
que parte de ‚minha melhor amiga foi brutalmente assassinada e
agora estou esperando uma chamada da clínica sobre a morte do
iminente do meu pai‛, não entendeu? Claro, ele ainda não sabe que
eu estou planejando terminar com ele, mas em minha defesa eu tenho
estado muito ocupada nos últimos dias para fazer isso.
Olho no novo olho-mágico instalado na porta, depois do
acontecido, aposto que não somos os únicos na cidade sendo mais
cuidadosos, e meu pulso se acelera. É o Luke. Fui para trás da
fechadura e abri a porta. — Preparada para uma visita? — ele passa
os seus dedos nervosamente pelo seu cabelo escuro, e apesar de tudo,
um sorriso me vem à boca. — Estou preocupado com você, recebeu
minhas mensagens?
Suspiro. Não retornei nenhuma das suas chamadas. Se fizesse,
teria que admitir que o que aconteceu no bosque foi minha culpa. Já
perdi muito, e tinha medo de que se ele soubesse a verdade, o
perderia também.
Mas ele está aqui agora, e embora termine me odiando, tenho
que contar e a ele.
— Não me sentia bem para conversar.
Ele assente e pega a minha mão entre as suas. Sinto que minha
dor escapa de mim. — Não, não! — retiro a minha mão. Não vou
deixar que me faça sentir melhor, não mereço.
As lágrimas se reúnem em meus olhos e olho para longe dele.
Ele pega o meu queixo e lentamente volta o meu rosto até o seu.
— Fala comigo.
Ele se inclina e nossas testas se tocam. Respiro uma mescla de
pintura e suor nele.
— Estou aqui para você — sussurra enquanto toma a minha
mão de novo. — Quero ajudar.
Afasto e caminho até o sofá. — Eu podia ter salvo ela.
Ele se senta junto a mim e eu ponho as minhas mãos em meu
peito e descanso o queixo entre elas.
— Fez tudo o que podia.
— Não, simplesmente não fiz. Na noite que Nicki morreu,
Remy tentou me advertir. Esticou a mão até a minha, mas eu não
peguei! — olho até o teto enquanto meus olhos se enchem de
lágrimas pela milionésima vez nos últimos três dias. — Se eu só
tivesse pegado a sua mão, talvez tivesse visto Nicki, e ela ainda
estaria viva...
— Não! Você não sabe o que teria visto — disse — Poderia ter
sido qualquer coisa. Precisa de uma enorme quantidade de energia e
concentração só para que ela apareça, e não digamos fala com
coerência. Embora ela quisesse te mostrar algo especifico, não tem
garantia de que se possa apoderar a imagem que quer desde o marco
do tempo correto.
Luke me alcança de novo, e dessa vez eu o deixo pegar a
minha mão. Apoio a cabeça em seu ombro, e ele beija a parte superior
da minha cabeça. — Não há nada que pudesse ter feito para deter
isso.
O telefone soa e meus olhos se abrem de repente. Pulo para
cima e pego o telefone. Meu coração cai quando vejo que é da casa de
repouso. Aberto o botão para atender, dizendo um rápido: — Olá? —
e prendo a respiração enquanto escuto.
— Ok, vou falar para ela. Estaremos aí logo. — desligo e
mordo meu lábio.
— Está na hora? — Luke me pergunta.
Assenti com a cabeça.
— Traga a sua mãe. Eu dirijo.
Me agarro a Luke enquanto mamãe beija papai em sua
bochecha recém barbeada. — Nunca deixei de te amar — sussurra.
As máquinas que normalmente brilham e fazem sons junto a
ele foram desconectadas, sua respiração irregular e forçada parece
muito forte para uma habitação em silêncio.
Meu coração acelera à medida que vejo como seu peito cai
com cada exalação, me pergunto se voltará a se levantar. Seu rosto
está pálido, e a pele através dos olhos fechados está fina e enrugada.
Uma parte de mim quer apagar a última semana e que as
coisas voltem a ser como era antes. Mas vê-lo tão pequeno e frágil em
sua cama, com seu desgastado corpo por anos de desuso, me lembra
que isso é o que papai queria isso há a dez anos.
Mamãe pega uma das mãos do papai e se senta na cadeira ao
lado da sua cama. — Está... Ela está aqui? — pergunta, olhando ao
redor do quarto. Seus olhos estão grandes e assustados, mas eu sei o
que quer. Ela quer ver Remy... Ver ela antes que finalmente se vá.
Não tem nenhum sinal de Remy por nenhum lado, e me dirijo
a Luke. Ele nega com a cabeça. Não tenho certeza se deveríamos
chamá-la. Esta noite Remy deve ir com papai, mas o que acontece se
começar a ‚meter o pau‛ com antecedência? A última coisa que
mamãe precisa é ser testemunha de uma das irritações de Remy.
Mamãe se levanta, beija a mão de papai, e a deixa suavemente
em seu peito. — Pode trazer ela até aqui? — pede ao Luke, com
desespero em seus olhos. — Posso dizer adeus ao meu bebê? —
chora.
Seu lábio inferior treme, e Luke assente com a cabeça.
— Acha que deveríamos? — sussurro, com esperança que
Luke se lembre da forma de Remy no dia que Nicki a viu. Não acho
que mamãe pudesse suportar se Remy tivesse um de seus episódios.
— Acho que vai ficar bem — me disse. — Isso é o que Remy
tem estado esperando.
Ele estende a mão para mamãe. Um fluxo de lágrimas cai por
seu rosto quando ela a toma. — Remy, está na hora — chama com
voz baixa. — Remy.
Todos olhamos ao redor do quarto. Vejo Remy se formando
no canto mais longe e trocando um olhar com Luke. Ele aponta na
direção de Remy e mamãe sacode a cabeça.
— Remy, mamãe está aqui — falo — ela quer te ver.
Remy se faz visível com maior claridade e mamãe suspira. —
Bebê?
Remy começa a pular em um estreito círculo. — Luz das
estrelas, estrela brilhante, a primeira estrela que vejo esta noite. Espero que
possa, quero poder, tenho o desejo que desejo esta noite.
Mamãe enruga o rosto e tapa a boca com uma mão. — Bebê,
sinto... Sinto tanto — sussurra.
Remy volta e crava os seus olhos em mamãe. — Mami? — ela
se solidifica e sorri abertamente a mamãe. — Onde tem estado? Tem
visto o papai? Tenho que encontrá-lo! Maçãs podres!
Mamãe estende seu braço livre e Remy corre até ela. Mamãe
aspira uma respiração profunda, sem dúvida de frio, agora que Remy
colocou seus braços ao redor de sua cintura.
— Megan — sussurra Luke, apontando para meu pai.
Dou a volta e vejo exalar um fôlego irregular e depois, tudo
fica quieto. Está rodeado de um resplendor suave, ficando mais
brilhante por segundos. — Mamãe!
— Eu, uh, vejo — ela gagueja. — Remy, querida, vai com
papai. Ele está aqui. Vai com papai!
Levanta o brilho e vejo o rosto do meu pai silenciado e
distorcido pela metade.
Remy se separa de mamãe e inclina a cabeça para a luz. —
Papai? Papai! — grita — tenho te procurado por todos os lugares!
O alívio me atravessa. Isso está quase acabando. Papai e Remy
por fim estarão em paz.
A luz começa a se desvanecer e Remy olha violentamente ao
redor do quarto. — Papai? Papai, onde você está?
Oh, não! Por que não pode ir com ele? Sua boca se volta para
cima pela ira e sei que ela está a ponto de perder. — Luke! — o
chamo, esperando que ele saiba o suficiente para romper o vínculo
com mamãe.
Seguro a respiração por um segundo até que tira a mão de
mamãe. Mamãe olha ao redor e sei que ela não pode ver nem ouvir
mais a Remy. Graças a deus!
— Papai, eu pensei que ia me ajudar! Papai? Papai?
Mamãe se volta para mim, e apesar de querer me encolher de
medo e gritar, deixo meu rosto inexpressivo.
— Ela... Foi com ele? — me pergunta.
Remy esta chamando uma e outra vez o papai, e o única saída
que posso pensar é que preciso pegar mamãe e sair do quarto
rapidamente antes que Remy atire algo.
— Sim — minto — ela se foi com ele. Ela está em paz agora —
Abraço mamãe e começo a sair do quarto.
— Será melhor avisar ao médico.
Ela para e olha o papai com tanta dor em seus olhos. O Dr.
Macardo disse em nossa última sessão que, em casos como esse, a
família já tem um pequeno luto pela perda de anos antes que a morte
real aconteça. Os olhos vermelhos e o rosto com manchas de mamãe
dizem o contrário, e não posso imaginar como se sentiria se soubesse
que Remy ainda está aqui.
Paramos um enfermeiro, que assente com a cabeça para nós
com compaixão. — Vou buscar o médico agora. Sinto por sua perda.
Remy esta começando a se acalmar, e parece que
provavelmente ela estará comigo pelo resto da minha vida.
Ryan estará aqui a qualquer momento. Mal tenho forças para
me levantar de manhã, muito menos para terminar com ele, mas eu
sei que não posso adiar mais.
Faz dois dias, que a Montanha Branca cantava o coro ‚For
Good‛, quando o caixão da Nicki foi baixado na terra. Ryan deixou
cair o braço dos meus ombros. Olhei para Luke de pé entre a
multidão junto a Ari e vi a dor em seus olhos. Me senti tão mal
fingindo que era Ryan que me reconfortava. Sinto-me tão mal de ver
Ari se aferrar ao Luke. Estou tão cansada de fingir e viver uma
mentira. Pelo menos isso é uma coisa na qual tenho certo controle,
não importa quão difícil vai ser.
Lembro como me sentia depois que Jason terminou comigo no
segundo ano. Disse que precisava de espaço, mas eu sabia que era
por que não queria dormir com ele. Nicki me disse que eu estava
melhor sem ele, pra que ser objeto sexual? Mas o meu ego esteve
moído por meses.
Até considerava dormir com ele só para que voltasse e assim
desaparecesse a sensação de vazio que tinha no meu estômago. Por
sorte, os constantes lembretes de Nicki do seu manifesto feminista me
impediram de levar ao cabo o meu estúpido plano. Queria que
estivesse aqui para saber que por fim estou fazendo o certo e
terminando por mim mesma este triângulo amoroso. E uma vez que
saia da Terra Encantada, não terei que me preocupar com Ari.
Pensar em Ari me faz sentir ainda mais culpada. Ela tem me
ligado para tentar me animar e me convencer de que preciso desse
SPA que ela reservou, mais do que nunca. Me sinto mal, por que se
não fosse por Luke, acho que a Ari e eu poderíamos ter sido amigas.
A menos que seja uma dessas garotas que deixa de lado as
suas amigas para estar com o garoto que gosta, acordo com que a Ari
me disse.
Suspirei. Não só eu troco os meus amigos por um garoto, eu
faço pelo garoto que está apaixonado por ela.
Soa a campainha e me aferro. Pelo menos Ryan tem o turno da
tarde no parque, assim que espero que isso não seja um desastre
muito longo. Confiro no olho mágico e puxo para trás o trinco.
— Oi, obrigado por vir.
— Fico feliz que finalmente esteja recebendo uma visita — ele
disse. — Mesmo se é uma rápida. — ele se inclina para me beijar e
viro o rosto, assim aterrissa na minha bochecha.
— Aqui, vamos nos sentar — deixei ele me levar até o sofá e
ele pega a minha mão. Deus! Me sinto como uma imbecil. — Então,
como vão as coisas no parque? A Samantha foi promovida?
Balançou a cabeça com desgosto.
— Não tenho falado com ela ultimamente, está muito ocupada
com o Christophe. Mas ouvi alguns dos estudantes de intercâmbio
falar no almoço ontem, e ao que parecer os dois foram surpreendidos
no quarto, sabe o que quero dizer? Todo mundo está falando.
— Surpreendidos como na...?
— Surpreendidos como na cama.
— Oh, meu deus! — falo, pensando que nunca em um milhão
de anos teria previsto isso, mas talvez depois de ter esperando Ryan
por todos estes anos sozinha, não pode se conter.
— Sim — disse Ryan, — quero dizer, que diabos estava
pensando?
— Uh, talvez ela estava pensando que tem um namorado? —
me estremeço por dentro logo que as palavras saem da minha boca.
Essa não é provavelmente a melhor coisa para dizer, já que logo serei
a sua ex que se negava a dormir com ele. Claro, depois de ter perdido
as duas pessoas mais importantes em questão de dias, provavelmente
meu chip da sensibilidade não está funcionando muito bem.
Ryan levanta as sobrancelhas e sinto que as coisas estão caindo
rapidamente.
— Bom, suponho — disse, me olhando como se estivesse presa
nessa conversa, que sabe para onde vai, — algumas pessoas não se
importam de apressar as coisas.
Meu primeiro pensamento é, ahá, mas logo me lembro do por
que Ryan e eu nunca fizemos.
— Ou talvez algumas pessoas não desejam apressar as coisas
por que não podem evitar a sensação de que o seu namorado
realmente quer estar com a sua melhor amiga. E sabe o que? A partir
da sua reação com a Samantha e Christophe sobre ser surpreendidos
com as calças pra baixo, estou pensando que eu tinha razão desde o
começo.
Ryan aperta a mandíbula. — Olha, sei que as coisas têm sido
bastante difíceis para você ultimamente, e tenho tentado estar aqui
para você, mas é óbvio que você não está pronta para me deixar
entrar ainda. Entendo perfeitamente, mas talvez este não seja o
melhor momento para falar e eu deveria ir — se levanta e se dirige
para a porta. — Te ligo dentro de uns dias.
— Ryan, acho que não devemos estar juntos nunca mais.
Seus ombros desabaram e deixou escapar um longo suspiro.
— Vamos falar disso em uns dias, certo? — disse, ainda na
frente da porta. — Quando se sentir melhor.
— Isso não é algo que acaba de ocorrer por um capricho —
falo em voz baixa. — Na verdade é algo que decidi na semana
passada.
Virou para mim, me olhando perplexo.
— Na semana passada, quando?
Baixei a minha cabeça.
— Quando saímos para jantar, bom, durante o caminho.
— Oh, isso é ótimo. O que ia fazer, terminar comigo depois da
sobremesa, ou depois que tivesse voltado para a minha casa e
brindado o nosso aniversário? — perguntou com amargura.
— Honestamente, eu tinha pensado verdadeiramente que o
momento seria horrível.
— Sério? Por quê? Por que eu tinha planejado uma noite
romântica para você? Ou foi simplesmente muito para você que o
irmão da Samantha comprou o champagne? Deus, Meg! Quantas
vezes tenho que te dizer que não tem nada entre mim e a Samantha?
— Olha, pode dizer tudo o que quiser, mas tem algo entre
vocês. Isso não é só pela Samantha, é, sobretudo por que... Por que
tem mais alguém — Sinto o meu rosto corar e desejo poder chegar e
avançar rápido queria pedir a ele que a tormenta se fosse da minha
casa, e a horrível sensação na boca do meu estômago desaparecesse.
— Outra pessoa, você está vendo mais alguém agora?
— Algo assim. Não é como se eu estivesse fazendo as
escondidas, ok, não de propósito, e não é como se fosse um grande
passo.
Sua boca se abre com surpresa.
— Muito bem, assim que me deu todo o tipo de merda com a
Samantha, com quem nunca fiz nada, não importa como estivesse, e
você segue em frente e me joga essa merda? — ele nega com a cabeça.
— Nossa, eu achava que era melhor que isso.
— É disso que se trata, não?
— Suponho que tenha razão nisso, por que eu nunca imaginei
— assente com a cabeça para mim. — É esse cara do parque, o que
veio te buscar, não é?
Mordo o lábio inferior e concordo.
— Eu não quis te machucar — falo, minha voz tremendo,
caindo um fluxo de lágrimas pelo meu rosto. — Acaba de acontecer.
Tenho passado por tantas coisas e a última coisa que queria era te
machucar.
— Sabe de uma coisa? — disse em voz baixa. — Tem razão.
Muita coisa tem se passado e tem mais com que lidar neste momento
que qualquer outra pessoa. Só desejo que consiga o que quer e a
ajuda dele. Adeus, Meg.
O deixo sair, e enquanto fecho a porta, puxo as minhas pernas,
coloco elas abraçando contra o peito, deixando as minhas lágrimas
empapar os meus jeans. Acho que teria sido melhor se deixasse que
os gritos e acusações iradas ressoassem em meus ouvidos, no lugar
de me lembrar do grande cara que era pelo fato de o ter ferido
profundamente.
Um calafrio encheu o espaço ao meu redor e viro para ver
Remy sentada ao meu lado, olhado para frente e mastigando a ponta
de uma das suas tranças.
Meu deus. Me ajuda.
Balanço a cabeça. É só questão de tempo antes que Remy faça
a sua presença conhecida na casa para a mamãe, justamente quando
mamãe e eu estávamos começando a voltar a nos reconectar. O que
acontecerá quando mamãe perceber que menti?
Remy tem a ponta da trança na boca e me olha com feroz
determinação em seu rosto.
— Ela não... Não quer ser — cuspiu no fim, — ela não pode evitar.
Mas é muito, muito ruim. Pede um desejo...
Começa a brilhar fora de foco, e tento chegar até ela, só pra
que a minha mão passe através de seu corpo gelado.
— Espera, quem?
— Maçãs podres — sussurra enquanto desaparece.
Inclino a cabeça com força para baixo contra os meus joelhos.
— Não posso seguir com a minha vida assim — sussurro. —
Por que não foi com papai?
Levanto a minha cabeça uma e outra vez.
O que diria a Nona? Que Remy tinha medo e estava buscando
alguma coisa.
Ela estava buscando o papai. É uma coisa óbvia? — Tinha se
perguntado um zilhão de vezes. Mas e se papai não fosse a única
coisa que ela queria aqui? E se fosse algo que tinha medo, que a tinha
impedido de ir com papai?
Ela obviamente sabia o que ia acontecer com Nicki, o que sem
dúvida eleva o grau de medo a cem.
Tenho certeza como o inferno que não há esperança, tem algo
pior a caminho!
E as maçãs, as maçãs, que maldita relação tem as maçãs com
nada? E por que me perguntava sobre um desejo?
Minha cabeça dá voltas tentando processar tudo.
— Por que você não vai embora? — gritei.
Respirei agitadamente, esperando Remy, mas ela nem se quer
apareceu para me dar um balbuciar incoerente sobre as maçãs
podres.
Desesperadamente precisava de ajuda, e não o tipo do Dr.
Macardo.
Caminhei pela cozinha e fiz garranchos em uma nota rápida
para a mamãe. Agarrei a minha chave de casa e a joguei na mochila,
caminhando para a garagem. Abri o meu celular e pressionei o
número do Luke agradecendo que ele tinha o dia livre.
— Hey, sou eu. Temos que chamar a artilharia pesada.
Precisamos que a Nona caminhe para a luz com a Remy, ou onde
diabos tenha que ir, hoje!
Escovei as minhas suadas franjas para um lado e levei a minha
moto até o Porshe do Luke. Ele se ofereceu para vir me buscar, mas
eu queria mais tempo para pensar. Não é que me servisse para
alguma coisa.
Tudo o que penso é que alguém foi assassinado na Terra
Encantada centenas de anos atrás e um assassinato similar aconteceu
de novo. Mas, como duas garotas morreram da mesma maneira? E
quem pode dizer que o primeiro assassinato foi mesmo na Terra
Encantada?
A única explicação é que seja um fantasma, mas os fantasmas
matam? Alguém pensaria que esses tipos de coisas deveriam
aparecer nas notícias. Eu certamente não sou nenhuma esperta no
sobrenatural. Talvez os fantasmas possam matar.
Vou tocar a campainha, mas a porta se abre. Nona está ali,
movendo a cabeça e olhando triste. Ela se aproxima e coloca as mãos
nas minhas bochechas gorduchas.
— Te dou a benção, e obrigada, já que você e a sua mãe estão
se transformando em uma família.
Meu primeiro pensamento é me perguntar como podemos ser
uma família agora que papai se foi, mas a entendo. Agora podemos
seguir em frente depois de ter estado penduradas durante dez anos,
podemos nos curar.
Só que Remy continua sendo um fato.
Vejo Luke de pé atrás da Nona e sinto um desejo esmagador
de me lançar em seus braços, mas Nona cacareja com a sua língua e
sacode a cabeça.
— Não há tempo para isso — disse como se tivesse lido a
minha mente dessa maneira. Ela nos guia pelo corredor até um
quarto ao qual não tinha estado antes.
Luke passa seus dedos em meus ombros ao passar. Eu
recupero o fôlego, e ele me segue em silêncio no quarto. É óbvio que
Nona quer fazer bem essa matéria.
Uma mesa redonda se encontra no centro do quarto, envolta
em um pano de veludo vermelho. Cortinas corridas iguais, o quarto
na penumbra é ainda mais escuro. Três velas, uma amarela, uma
branca e uma laranja estão postas sobre a mesa na frente de três
cadeiras.
— Ok — Nona disse, — você fica ali, na frente da vela branca,
Luke...
— Já sei — disse, tirando a cadeira na frente da vela laranja.
Nona assente com a cabeça com admiração. — Bom garoto!
Tem Está prestando atenção. Talvez eu te passe o negócio quando me
aposentar dentro de dez anos ou algo assim.
Apesar de tudo, não posso evitar sorrir ao pensar nessa
mulher de setenta e nove de anos de idade, falando de se retirar em
algum momento na próxima década.
Ela pega um conjunto de ervas atadas firmemente juntas e as
acende em chamas. Depois de uns segundos apaga a chama e dá uma
volta em cada canto do quarto brandindo o maço fumegante para
cima e para baixo.
— Ela está defumando a sala, é uma espécie de limpeza
sobrenatural — disse Luke. — A sálvia limpa a sala da energia
negativa e a lavanda é para um efeito calmante.
— Espero que ela use lavanda extra — disse em voz baixa,
pensando que vamos precisar de uma dose dupla com Remy.
Uma vez que ela passou pelos quatro cantos do quarto,
esfregou o talo em uma placa de metal para tabaco.
— Agora — continua, — vamos nos unir e dizer nossas
intenções de hoje.
Ela senta na cadeira vazia na frente da vela amarela e desliza
suas mãos pela toalha de mesa até nós. Eu sigo o seu exemplo e
estendo a mão ao Luke, enquanto pega a minha mão, Nona pega a
outra.
A mão de Luke me faz sentir cálida e segura, enquanto a da
Nona é fresca, agarrando-me com força e quase vibrando com
eletricidade.
Nona levanta a vista até o teto, que vendo pela primeira vez
está pintado com as constelações. Lembro do teto da Grand Central
Station em Nova York54, que visitei com Nicki. Uma lágrima surge
nos meus olhos e tento afastar a memória. Preciso ter a cabeça com
clareza para isso. Luke dá um aperto na minha mão como se ele
soubesse que eu precisava de um impulso, e dou a ele um sorriso
agradecida.
Nona puxa a mesa na minha frente com impaciência, e volto a
me concentrar nela.
— Obrigada, universo, por me dar o dom de ajudar a esta
jovem — ela diz em voz alta. — Obrigada por me permitir ajudar a
mover a sua irmã para o reino que vem, para que possa se reunir com
o seu pai e encontrar a paz que espera por ela.
Ela indica a cabeça e eu faço o mesmo.
Continuando, mete a mão em sua bata e tira uma caixa de
fósforos. Ela tira um fósforo e acende a sua vela.
— O calor desta vela atrai os espíritos. O amarelo é para a
persuasão e proteção.
54 Grand Central Station: é o maior terminal de trens do mundo em número de
plataformas, fica no centro de Manhattan e sua arquitetura é incrível. O teto do
Salão Principal tem uma pintura de um céu e suas constelações que, curiosamente,
foram reproduzidas invertidas.
É óbvio por que ela elegeu essa vela, precisará para ajudar a
persuadir a Remy para que siga adiante.
Passa para o Luke, que acende a sua própria vela.
— Laranja para a atração e o estímulo, isso ajudará a trazer
Remy aqui e animá-la para que nos escute.
Luke me passa a caixa. Risco o fósforo e passo a chama para o
pavio.
— Branco para pureza e a verdade — disse Nona.
— Assim saberemos por que continua aqui — falo.
— Sim — Nona disse. — Não haverá respostas ocultas hoje.
Vou abrir o caminho entre o nosso mundo e o da Remy, e nos falará
sem a interferência do córrego como algumas vezes. Vamos ter a
verdade dela.
Olho para a minha vela que queimava e pestanejava, logo
Nona aclara a garganta de novo.
— Trouxe algo da Remy?
— Sim — Luke me disse que trouxesse algo que Remy
pudesse gostar. Tinha buscado no nosso quarto, agora na maioria
carente das nossas velhas coisas, até que tinha me lembrado do colar.
Era só um coração de plástico de vinte e cinco centavos que
tinha conseguido em uma máquina na loja de comida. Remy adorava
usá-lo, e cada vez que protestava que era meu, ela simplesmente ria e
dizia que se eu quisesse ela deixaria eu usar, e assim o fiz. Remy
sempre saia com a sua.
Meto a mão na minha bolsa para tirar o colar e dou a Nona.
Ela examina brevemente, e logo o coloca no centro da mesa.
— Remy, pedimos que se una a nós aqui — disse Nona com
autoridade.
Remy aparece ao meu lado, com os braços cruzados sobre o
peito.
— Quem é? — pergunta mal humorada.
Nona bufa. — Você esteve em minha casa antes, menina, você
me conhece.
Remy sacode a cabeça e começa a se afastar, mas Nona
sustenta a sua vela.
— Sinta o seu calor, Remy, venha a mim para entrar no calor.
Olhe o que a sua irmã trouxe para você.
Remy olha Nona de novo, com o cenho franzido. A
temperatura do quarto cai dramaticamente e meu coração começa a
bater com força. Isso não está tão bem como eu tinha pensado que
seria.
Nona sustenta o colar com a outra mão e sorri.
— Você gosta Remy? Se você nos disser por que está aqui, vou
deixar que tenha.
O colar voou da mão da Nona e aterrissou na chaminé. As
chamas se acenderam e o coração de plástico cor de rosa se derreteu.
Olho fixamente Luke, e seus olhos dizem que está tão surpreso
como eu estou, que Remy esteja conseguindo a vantagem tão
rapidamente. Talvez a experiência da Nona não a tenha preparado
para uma menina de sete anos de idade, com um temperamento
assim.
Nona coloca a vela e com calma empurra para cima as
mangas, com um olhar de determinação em seu rosto. — Remy! Me
diga por que está aqui. Por que não seguiu com seu pai?
O quarto esfria ainda mais. Meu corpo começa a tremer, e me
inclino mais perto da minha vela para reunir todo o débil calor que
posso ter dela.
— Papai ia me ajudar, mas ele me deixou, ele me deixou!— Ficou de
pé e pulou com uma onda de água do rio salpicando ao longo da
mesa, apagando todas as velas.
Meus dentes estalam, entrou água fria na minha camiseta.
Merda! Se Remy conjurava a água do rio, as coisas estavam a ponto
de explodir.
Nona se coloca de pé, olhando a minha irmã com o seu olhar
desafiante de menina, pouco decidida se sai com o seu.
— É hora de ir para a luz. Seu pai está te esperando — disse
Nona. Ela estava de pé e pegou as suas mãos por cima da sua cabeça,
cantando em voz baixa. Uma luz brilhante do tamanho de um punho
começa a se formar sobre a mesa. Cresce como rocha e Nona
murmura de um lado. — Ajuda essa alma torturada a encontrar o seu
caminho para a paz, ajuda a esta alma torturada a encontrar o seu
caminho para a paz.
— Não! Não vou deixar que te machuque, Meggy! — Remy grita.
— Papai, onde está? — Ela chora. Remy desaparece e volta a aparecer
em diferentes lugares ao redor do quarto. — Papai?
— Ele está aqui — grita Nona, assinalando para a luz. — Vá
com ele Remy — ela reaparece junto a Luke e olha fixamente e com
ódio a Nona.
— Não! Você não é a minha mãe, não pode me dizer o que fazer —
diz entre dentes.
Eu não acreditava que fosse possível sentir mais frio, mas um
vento gelado começa a sussurrar ao seu redor. As gotas de água saem
voando ao redor de Remy e flocos de neve se formam no ar a deriva
do tapete. Formando geada na tolha de mesa e meus olhos se
ampliam quando as velas se congelam e provocam rachaduras.
Quero ajudar Nona, mas sinto como o frio me congelou no
meu lugar, e só posso ver a cena, rezando para que Nona possa
conseguir que as coisas voltem ao seu lugar.
Por sorte, Luke pula e corre ao lado de Nona justamente a
tempo para pega-la quando ela cai.
— Nona!
A sala fica mais quente enquanto a minha irmã desaparece e
bufa. Luke ajuda Nona a se sentar na cadeira.
— Tudo bem?
Nona murmura uma espécie de benção e logo me olha através
da mesa. Seu rosto pálido, com o suor que se reuniu na sua testa.
— Ela se encheu de muita raiva — disse com alguns tecidos do
seu vestido em seu rosto. — Vamos começar de novo. Luke,
precisamos de novas velas.
— Não! — Luke e eu gritamos em uníssono.
— Vá descansar! — Luke ordena.
Nona suspira e assente a cabeça com cansaço.
— Pode ser que tenha razão, devemos tentar de novo quando
me sentir mais forte.
Luke ajuda Nona e a leva para fora do quarto passando um
braço por sua cintura.
Percebo que estou tremendo sem controle, e é cada vez mais
difícil de respirar. Tento buscar através dos meus bolsos, com os
dedos adormecidos, encontrar o meu inalador. Tremendo, levo aos
meus lábios e desfruto inalando profundamente. Eu exalo enquanto
Luke se apressa para mim.
— Seus lábios estão azuis! — disse, envolvendo seus braços ao
meu redor. — Tenho que conseguir que entre no calor. Vamos subir
ao meu quarto.
Me leva para fora, assim como fez com Nona, e me ajuda a
subir as escadas até um pequeno quarto de madeira baixa na lateral
da casa. As paredes estão cobertas com pinturas, e o meu coração
canta quando vejo a mim mesma olhando de um quadro de aquarela
sobre um cavalete junto à janela. Estou pintada com uma expressão
alegre no meu rosto, e não posso evitar me perguntar quando foi a
última vez que me sentia como a garota no quadro. E se alguma vez
me sentirei dessa maneira alguma vez.
Ele puxa para um lado as folhas, até abaixo da colcha, e me
sento na cama. Duvido por um segundo, e logo levanto a camisa
molhada por cima da minha cabeça e deslizo os pés abaixo dos
lençóis, muito frio para tanta modéstia. Ele tira a sua camisa, e se
coloca do meu lado, jogando as mantas mais pra lá dos nossos
ombros.
Sua pele arde contra a minha, e eu tento reter o calor de tal
forma que possa parar de tremer. Ele me abraça forte, esfrega as
minhas costas, e beija o meu cabelo. Pronto, meu tremor para, e me
concentro nas batidas do seu coração. Levanto a vista até os seus
olhos azuis cheios de preocupação, e inclino o queixo para dar um
beijo nele.
Me beija suavemente nas costas, mas quero mais. Quero
esquecer toda a dor. Quero esquecer Remy. Quero me sentir viva
outra vez. Beijo ele com fome, e ele volta a se impor.
— Megan?
— Shh — falo em voz baixa, já tendo pintado o seu peito
desnudo com beijos. Deixo deslizar as minhas mãos e rodeio os seus
fortes braços enquanto o beijo na boca de novo. Aperto os meus
quadris nos seus, e logo tento desabotoar o sutiã e deslizar as alças
para baixo dos meus ombros. O abraço forte e enterro a cabeça em
seu pescoço. — Aconteça o que acontecer, simplesmente não pare.
— Wow — Eu digo quando mamãe para o carro no
estacionamento da Terra Encantada. — Não posso acreditar na
quantidade de carros que estão aqui — está cheio e parece que mais
pessoas estão vindo para tirar vantagem do preço do bilhete no final
do dia. Se chegar depois das cinco, tem apenas duas horas até que o
parque se feche, mas você pode usar o bilhete para outro dia inteiro, a
qualquer momento durante o verão.
Claro, nada disso importa para mim. Eu só estou aqui porque
o Sr. Roy ligou para me dizer que eu tinha um salário que me
esperava. É o pagamento de apenas um dia, mas eu vou pegar, e
depois deixá-los saber que não vou voltar.
Dentro de minutos, Ryan, Samantha, e Ari serão parte do meu
passado, e posso me concentrar no meu futuro com Luke.
Um sorriso vem ao meu rosto e o meu coração está batendo
forte pensando no que aconteceu com Luke na noite anterior, a única
coisa boa entre os pesadelos intermináveis que tem ocorrido.
Exceto, que Remy estava me perseguindo. Quantos pesadelos
a mais vou ter que sofrer? Meu bom humor desapareceu tão
rapidamente como veio. Se Nona não poderia conseguir que Remy
atravessasse, quem poderia?
— Aqui estamos — Mamãe disse, indo ao prédio de
escritórios.
— Obrigado, eu vou pegar o cheque e estar aqui em poucos
minutos.
Abro a porta e faço o meu caminho para o escritório do Sr.
Roy, rezando para que não me encontre com Ari. Imagino que será
suficiente lançar um olhar para o meu rosto para saber que eu estou
com o Luke.
Dou um suspiro de alívio quando chego à porta e bato.
— Entra — Sr. Roy diz em voz alta.
Abro a porta e o Sr. Roy sorri para mim com simpatia.
— Como vai você, Megan? — Ele pergunta.
— Hum. Bem, eu acho.
Seus olhos brilham e espero que não comece a chorar.
— Quero que saiba que eu sinto muito, ouvimos falar da sua
perda.
Concordei com a cabeça.
— Obrigada, e obrigada pelas flores que você mandou.
Ele tocou o canto dos olhos com o seu lenço rosa e sugeriu que
eu me sentasse.
— Hum, minha mãe está me esperando, eu realmente não
posso ficar.
— Na verdade, eu esperava isso. Estou um pouco azedo, você
sabe. Temos um grupo de crianças de visita a partir de hoje no
‚Shining Star Camp55‛. Você sabia?
— Sim, é para as crianças com doenças terminais — eu falo. —
A nossa escola é um arrecadador de fundos anual para eles.
Ele sorri novamente, seus olhos nublando.
— Deixamos que eles viessem ao parque de graça, e estou
seguro de que entende o quanto me partiria o coração se qualquer
um deles se decepcionasse com sua visita.
— Uh-huh — eu digo, tentando descobrir até onde isso iria.
— Bom, quando eu fui tomar café com o grupo nesta manhã,
havia uma pequena menina, de quatro anos, cabelos negros como o
seu, e eu a perguntei o que faria a sua visita à Terra Encantada
especial. E você sabe o que ela disse?
Eu balanço a cabeça.
— Ela queria conhecer a Branca de Neve — Ele olha para mim
com expectativa.
— Oh — é tudo o que posso pensar e dizer. Ainda me olha
com uma expressão de filhote de cachorro, e realmente só quero sair
dali.
Ele cruza as mãos sobre sua mesa, olhando para mim de uma
forma absolutamente lamentável.
55 Shining Star Camp: Algo como Acampamento Estrela Brilhante.
— Infelizmente, a Branca de Neve em nosso calendário para
hoje, Sarah Goldstein, tem um vírus estomacal. Eu realmente
esperava que você pudesse ficar no lugar dela.
Oh, Deus! A última coisa que quero fazer é vestir uma fantasia
e caminhar ao redor do parque. E se me encontrasse com o Ryan e a
Ari?
— Uh, desculpe, mas não estou me sentindo bem com isso, Sr.
Roy. Eu na realidade ia lhe dizer que não vou voltar a trabalhar aqui
nesse verão.
Ele pareceu ferido e as lágrimas começaram de novo.
— Você sabe, com tudo o que aconteceu — falo rapidamente.
— Outra pessoa não pode fazer?
Ele balança a cabeça e toca os seus olhos.
— Assim que Lucy me contou sobre o seu desejo, estou com a
mão direita no telefone e tento encontrar uma substituta. Estamos
com falta de pessoal hoje, e não posso tirar ninguém de fora de um
passeio pelas normas de segurança, que você sabe. Acha que poderia
encontrar no seu coração, trabalhar apenas um par de horas até que o
parque se feche? Pelo bem da Lucy?
Olho para os seus olhos lacrimejantes e não sei o que dizer.
— E se levar só a Lucy? Te pago um dia inteiro, isso é o
quanto significa para mim poder fazer essa menina feliz.
Ele parece que está prestes a chorar e eu concordo com a
cabeça.
— Vou ligar pra minha mãe — eu falo, cansada.
Eu entrei no vestiário e o meu coração bate forte. É tranqüilo,
mas meus olhos se movem ao redor da sala, esperando que Remy
apareça. Estendo a mão para pegar a roupa da Branca de Neve no
tamanho quarenta e dois, e estou com medo de ter outra visão. Solto
a respiração enquanto nada acontece, e pego o vestido da grade, sem
incidentes.
Por que eu deixei o Sr. Roy me colocar nisso? E por que um
homem da sua idade tem que ser um chorão anormal? Claro que é
necessário de alguém como ele para liderar a Terra Encantada, quem
mais estaria disposto a aguentar toda essa bobagem?
Entrei no vestiário, me despi e deslizei o vestido por cima da
minha cabeça. Amarro o corpete e eu não consigo parar de pensar
sobre a menina que Remy me mostrou, e na Nicki. Eu mordo o meu
lábio. Depois que Luke me levou para casa ontem à noite, meu
primeiro pensamento foi ligar para Nicki.
Ouço a porta da loja de fantasias se abrir e as risadas de
algumas pessoas. Respiro fundo e coloco o "Tudo está bem" no rosto.
Saio do camarim e pulo. Samantha e Christophe estão agindo
como se o ‚Ye Olde Shoppe‛ fosse um quarto de hotel barato. Sua
camisa está puxada para cima, seu sutiã esta desabotoado, e
Christophe está agarrando os seus seios enquanto a pressiona contra
a porta fechada, bloqueando a minha fuga.
Aperto os olhos fechados e dou as costas para eles,
adicionando a imagem da Samantha na coleção de imagens de medo
em minha cabeça. Eu limpo a garganta.
— Hey, hey, gente, desculpe por ser uma desmancha prazeres,
mas tenho que ir trabalhar.
— Oh, meu Deus! — Samantha gritou.
— Eu posso virar agora? — Perguntei depois de escutá-los por
alguns segundos.
— Oui.
Viro para eles e vejo que os dois estão vermelhos.
— Megan! — Samantha grita. — Sinto muito, pensamos que
todos estavam se vestindo lá em cima ou estavam no parque e que a
sala estaria vazia por um tempo.
Christophe encolhe os ombros.
— É o nosso tempo livre — diz ele com o seu sotaque.
Concordo com a cabeça, como se todos os funcionários
estivessem conectados nos seus descansos.
— Bom, vou sair, mas sugiro a vocês que terminem o seu
‚descanso‛ em um dos camarins. Vocês sabem, se mais alguém tiver
de vir aqui.
Passo por eles e saio da sala, Samantha me segue para fora.
— Hey, Megan, você está bem? — Ela pergunta, timidamente.
Concordo com a cabeça e coloco um sorriso.
— Se você precisar de alguma coisa, sabe que pode me chamar
— diz ela, endireitando a sua camisa. — E antes com o Christophe, é
que é difícil encontrar lugares para ficarmos sozinhos.
— Não tem problema.
Ela olha para mim e aperta os lábios.
— Ryan me disse que vocês terminaram.
— Sim. É todo seu agora.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer, não era um segredo que você gostava dele.
— Oh — Ela baixa o olhar para os seus sapatos por um
segundo e, em seguida, vira para mim. — Realmente terminaram?
— Sim, na verdade estou com outra pessoa.
Ela abriu sua mandíbula.
— Sério?
— Sim, foi inesperado.
Ela sorri maliciosamente.
— Bom, já que você está vendo alguém, acho que posso te
dizer. Ryan veio à minha casa depois que você rompeu com ele, mas
eu recusei. — Ela parecia atordoada. — Estou me divertindo com o
Christophe, e sabe o quê? Estou feliz que o Ryan tenha que sofrer em
silêncio pelo menos uma vez.
— E talvez ele faça a confissão de alma gêmea na festa do
barril.
Seu rosto limpo é mais profundo.
— Ele te contou isso?
— Isso mesmo.
— Eu estava totalmente bêbada, caso contrário nunca teria
falado. Não que eu tenha dito, em primeiro lugar, mas...
— Tudo bem. Honestamente, nunca poderia afastar a sensação
de que tinha razão.
— Talvez — ela franze a testa e começa a girar uma de suas
tranças. — Se alguma vez quiser um pouco de companhia quando
você visitar a casa de repouso outra vez, eu adoraria ir. — Seus olhos
de repente se alargaram. — Quero dizer, se você ainda estava
pensando em ir, mas talvez depois do seu pai, eh, talvez não.
— Não, ainda estou pensando em ir, mas eu não sei quando.
— Ok, quando estiver pronta, você pode me chamar. Eu
realmente gostava de ir lá, com exceção do Sr. Archulata. Ele
continuou esfregando minhas as coxas e me deixou um pouco
transtornada.
— Sim, é um pouco fácil demais. — Falar do Sr. Archulata me
fez lembrar da Nicki, e est{ se tornando difícil manter ‚a cara‛ —
Hum, eu vou tenho que ir. O Sr. Roy está esperando por mim.
Samantha olha para o seu relógio.
— Eu tenho que voltar ao trabalho em breve. Não se esqueça
de me chamar.
— Claro que sim — Embora as pessoas mais velhas comam as
suas travessuras alegremente, como se fosse pudim de tapioca, eu
estou pensando em deixar Samantha Lee Darling fazer os seus
próprios arranjos para visitar a casa de repouso. Seria muito estranho
para nós irmos juntas como amigas e estar com o Ryan.
Ela vem e me dá um abraço rápido.
— Pode me chamar se você só quiser conversar também.
Concordo com a cabeça, coloco um sorriso no meu rosto e faço
o meu caminho para o parque para atender a Lucy.
O Sr. Roy está esperando por mim em um carrinho de golfe
fora do prédio de escritórios. Ele pega as mãos e leva para o seu
peito.
— Eu sei que a Lucy terá prazer em te conhecer, Branca de
Neve. — Ele pisca e eu juro que vou manter a minha cara feliz.
Eu realmente não estou segura sobre isso, mas também não
quero decepcionar algumas crianças. O que Samantha faria se
estivesse interpretando a Branca de Neve?
Seguraria a saia e faria uma reverência.
O Sr. Roy dá sorrisos e tapinhas no assento vazio ao seu lado.
— O grupo ‚Shining Star‛ est{ na ‚Fazenda Divertida‛
visitando os animais. Vou levar você até lá.
À medida que nos conduzia lentamente através do parque,
vejo que as pessoas que estão aqui nessa noite, na sua grande
maioria, são crianças mais velhas, todos os pequeninos devem ter ido
várias horas atrás. No entanto, é óbvio que as famílias os estão
chamando e estão fazendo seu caminho para a saída em massa.
Algumas pessoas me apontam quando dirigimos. Devido ao
dinheiro extra que o Sr. Roy está me pagando, eu sorrio e aceno,
dando o melhor da minha Branca de Neve.
Vou para perto de um grupo de crianças com camisas azuis
‚Shining Star Camp‛. Estão reunidos em torno de uma mulher
asiática vestida como Mamãe Gansa.
— Todo mundo — diz o Sr. Roy como os parques do vagão. —
Olhem o que eu encontrei vagando na floresta enfeitiçada.
Uma menina de cabelos escuros correu em minha direção.
— Branca de Neve — ela diz. — O Sr. Roy disse que você
viria.
— Olá, Lucy — eu falo.
Ela abre a boca.
— Como você sabe o meu nome?
Olho para a Lucy e vejo os círculos escuros sob seus olhos. Ser
a Branca de Neve penso, canalizar em Samantha.
— Um passarinho me contou.
Ela sorri amplamente.
— Quer ver os coelhinhos?
Concordo com a cabeça e pego a mão de Lucy, cuja parte de
trás tem um hematoma marrom amarelado, igual ao que o meu pai
costumava ter pelos IVS56, onde a enfermeira inseria a agulha.
Eu mordo o meu lábio. Permaneça firme, Megan!
Caminho em direção à gaiola dos coelhos e me ajoelho.
— Aquele, um branco com olhos cor de rosa é o meu favorito.
— diz Lucy.
— É alguém especial — diz uma voz familiar.
Eu olho para cima e vejo a Srta. Patty.
— Você está se divertindo, Lucy? — Ela pergunta.
Lucy concorda com a cabeça e retorna para se juntar ao seu
grupo.
— O Sr. Roy me disse que esta nos deixando — disse Patty
silenciosamente quando me coloco de pé. — Tem certeza que não
posso convencê-la a ficar? — Ela aponta para Lucy, que está pulando
como um coelho.
— Realmente só quero um tempo para mim — eu digo.
— Eu entendo, e talvez seja o melhor. Mas se você mudar de
opinião, sempre teremos um lugar para você.
— Vou manter isso em mente — eu digo educadamente.
De repente, um apito atravessa o ar.
— Ei! Branca de Neve! 56 IVS: Intravenosa.
Um homem caminha em minha direção, com quatro crianças
queimadas pelo sol e uma mulher cansada quase no reboque.
— Foto de grupo! — fala.
É óbvio que passou muito tempo na Taverna dos Irmãos
Grimm, mas a Srta. Patty me empurra para ele.
— Vamos lá — ela sussurra.
Coloco o meu sorriso feliz e me inclino para um dos meninos.
— Eu sou a Branca de Neve.
— E o quê? — Pergunta mal humorado.
O pai me puxa para ele, e eu tento manter o meu sorriso
mesmo quando eu começo a engasgar com seu hálito de cerveja.
— Max! Tire a foto — Max revira os olhos e franze o cenho
para mim.
— Isso é tão estúpido! Não podemos voltar para o hotel e
nadar?
Quero dizer a Max que eu acho que é uma idéia muito boa,
mas seu pai bate na parte de trás de sua cabeça e então pega uma
mulher que passava por ali e a obriga a tirar a foto.
Ele coloca o braço em volta da minha cintura, enquanto a sua
esposa leva as crianças até nós.
— Sorriam — ele diz embora pareça que o seu filho está
prestes a chorar.
Sinto a mão do homem deslizando da minha cintura para a
minha bunda e me liberto do seu braço, decidida a não acrescentar
‚ser apalpada‛ na minha lista de problemas.
— Você sabe, acho que devo tirar uma com Max!
Max me olha com horror, mas eu coloco o meu braço em torno
dele e olho para a câmera.
— Falem: Terra Encantada!
A família murmura ‚Terra Encantada! e eu os saúdo com a
mão.
— Que tenham uma noite encantada! — Olho para o meu
relógio. O parque será fechado em trinta minutos. Eu concordei em
ficar apenas o tempo suficiente para atender a Lucy, mas minha mãe
foi para casa ensaiar com o Fergus, até que eu ligue para me pegar.
Ela tem uma competição e eu sei o quanto ela odeia quando é
interrompida.
Eu viro a minha cabeça para ver o grupo Shining Star Camp.
Acho que posso ficar com eles até o fechamento, é certamente mais
seguro que ser arrastada para outra sessão de fotos.
Apenas trinta minutos e termino com a Terra Encantada para
sempre!
Os alto falantes do parque começaram a reproduzir a canção
de ninar do fechamento, e percebo que o Sr. Roy deve ter registrado a
Ari cantando. É muito bonita, mas não posso deixar de pensar que
Nicki teria soado melhor, sua voz teria uma força e claridade que a
da Ari não tem.
Me afasto de Lucy com os ombros caídos. O sorriso saiu, me
sentindo totalmente esgotada por tentar me manter com o rosto feliz,
e lutar por conter as lágrimas. É incrível a quantidade de pequenas
coisas que me fazem pensar na Nicki. Ainda não posso acreditar que
ela se foi.
— Adeus, Lucy, foi muito agradável a reunião de hoje. — falo,
sem olhá-la nos olhos.
Ela me abraça. — Adeus! Obrigada por brincar comigo!
— O prazer foi meu. — faço uma ligação quando o grupo se
dirige para a saída.
Quando a canção termina, o Sr. Roy da uma mensagem de
despedida para a multidão na saída.
— Em nome de toda a nossa família da Terra Encantada,
quero agradecer por passar o dia conosco. Que tenha uma boa
viagem de volta. Esperamos te ver de novo em breve.
— Não sei se me verão de novo — sussurro e vou ao edifício
de escritórios para mudar a minha roupa.
— Hey, Megan!
Casey Winters está correndo pelo caminho. Para na minha
frente, ofegando. — A Srta. Patty quer te ver.
— Oh, esqueci o meu cheque de pagamento.
— Você vai na festa na casa do Dillon?
Balanço a cabeça. — Não me sinto muito bem para ir a uma
festa.
— Oh, sim, desculpe — disse ela, evitando contado visual. —
Uhm, se mudar de opinião, no entanto, pode ir.
Ela saiu correndo e suspiro. Mal posso esperar para ficar
sozinha essa noite com o Luke.
Vou para o edifício comercial e percorro meu caminho pelos
corredores até a sala da Srta. Patty. Dobro na esquina e congelo.
Ouço Nicki cantar.
‚— Minha gaiola tem muitas habitações, grandes e escuras.
Ninguém canta, nem se quer a minha calhandra57.‛
Meu coração bate enquanto pouco a pouco foco no escritório,
vou ver o fantasma da Nicki me esperando ali. Não estou segura se
isso é bom ou ruim, mas se ela está aqui, pelo menos pode me dizer o
que aconteceu com ela. 57 Calhandra: Calhandra é o nome comum dado a certas aves européias da família
das alaudídeas, a mesma que a da cotovia. No Brasil também é empregado
regionalmente para designar certas espécies de sabiás.
— Nicki? — sussurro enquanto caminho pela porta, só para
encontrar Ari na frente do espelho.
Ela canta outro verso enquanto move suavemente os dedos de
uma mão para cima e para baixo sobre a moldura dourada. ‚— Se
não posso voar, me deixe cantar.‛
Fixo o olhar nela, com meu sangue golpeando em meus
ouvidos. — Fala igual a...
Ela se move para mim e me dá um sorriso frio. — Igual à
Nicki? Acha que por fim me dêem um solo agora? Quero dizer, não é
uma cópia exata da sua voz, mas é muito, muito parecida.
— O que... — É tudo o que posso dizer, sem compreender o
que acabou de dizer.
— Em primeiro lugar, por que não fecha a porta? — disse ela
com doçura, mas tem veneno em seus olhos e o cabelo na parte de
trás do meu pescoço se arrepia.
A adrenalina bombeia através de mim, e quero sair da sala. —
Acho que eu deveria ir — me afogo.
Ari revira os olhos. — Sim, não — disse ela com calma. Ela
abre uma gaveta do escritório da Srta. Patty, tira uma arma pequena e
aponta na minha cabeça. — Feche a porta.
Olho boquiaberta. — Isso é uma piada?
— Não, a piada é que eu pensei que você era minha amiga —
ela move a arma para a porta. — Agora, vai fechar essa maldita coisa?
Não afasto os meus olhos de Ari, me aproximo de costas, sinto
a maçaneta e empurro a porta. — Por que esta fazendo isso?
— Por que um passarinho me ensinou — Ela se move para a
direita, e tenho uma visão clara do espelho.
— Oh, Deus — sussurro enquanto vejo Luke e eu na sua cama
através do espelho. Fico olhando a cena como se fosse um filme. —
Como... — aperto os meus olhos fechando-os. — Faça parar!
— Já está bom, Espelho. Tenho sido testemunha dessa traição
particular mais vezes do que meu estômago pode suportar, de todos
os modos.
Quando levanto o olhar, a sala se reflete no vidro outra vez.
Ari entrecerra os olhos.
— Desculpe, nunca quis te machucar — falo.
— Eu tenho certeza. Foi muito inteligente, no entanto. O que a
Nicki respondeu no celular do Luke foi ótimo, nunca pensei em ficar
de olho em você — ela disse. — Quando o espelho me mostrou a
Nicki e o Luke no seu carro, pensei que estava dando em cima dele,
mas foi você esse tempo todo. — Ari se encolhe de ombros. — Oh,
bem, pelo menos tenho uma voz ideal. Quem sabe? Talvez vou a
Broadway, depois de tudo.
— Você matou a Nicki?
— Não, mas temos uma pequena tradição na minha família.
Conhece a história da Branca de Neve?
Fico olhando a Ari com incredulidade. — Do que você esta
falando?
— Estou falando dos meus antepassados. De volta quando
Branca de Neve se casou com o seu príncipe, só que não era feliz para
sempre. Parece que o príncipe era um pouco cachorro e não podia
afastar as mãos das criadas e ela viu tudo, cortesia do meu pequeno
amigo aqui presente — ela aponta com o revólver para o espelho, e
aparece o rosto.
Inclina a cabeça para mim, me olhando com os seus olhos
escuros, não humanos e um sorriso nos lábios. Se não soubesse tanto
pensaria que estava desfrutando disso.
— Disseque era só animações robóticos...
— Sim, menti sobre isso. Isso que tem aqui está cem por cento
certificado pela magia do espelho, que me mostra o que quero.
— Isso não está acontecendo — falo, com a esperança de que
vou acordar.
— Como ia dizendo — Ari continua — pobre Branca de Neve,
buscou consolo com o único homem em quem poderia confiar, ele
que salvou a sua vida. — Ari me olha com expectativa. — Esta
fazendo os seus palpites?
Balanço a cabeça.
— Desmancha prazeres! Era o caçador. Ele se apaixonou pela
Branca de Neve no momento em que colocou os olhos nela. Quando
sua madrasta o ordenou tirar o coração da Branca de Neve, ele não
podia fazer e ele a deixou ir.
A bílis se levantou na minha garganta quando percebi o que
isso significava. — Você cortou o coração da Nicki!
Ari pega uma respiração profunda e aponta com o revólver
para mim outra vez. — Estou tentando te contar uma história aqui.
Não quer escutar o material que não está nos livros?
— Ari, não, por favor, simplesmente me deixa ir. — As
lágrimas comparecem nos meus olhos quando penso no que ela fez
com Nicki, e como colocou tudo em movimento.
Ari ondula o revólver em um círculo. — Desculpe, mas a
pessoa com a arma de fogo é que faz as regras. E agora tem que
escutar. Melhor ainda. Tenho visto centena de vezes. É realmente
fascinante, uma espécie de Canal de História e um filme de terror,
tudo em um só. Espelho, você seria tão amável?
O rosto cheio de fumaça sorri amplamente por um segundo, e
logo desaparece como se um vento tivesse subido e o tivesse soprado
para fora. Vejo a garota da visão que Remy me mostrou na sala de
fantasia.
— Ari, não — rogo, embora já saiba quão mal termina esta
história.
A garota, Branca de Neve, esta chorando e tentando se soltar
de um homem largo, de aspecto rude, que está sustentando ela com
firmeza em seus braços. — O que? — disse. — Arrebatar Eliza do
único pai que ela tem conhecido para viver na floresta, está louco!
— Eliza é minha filha!
— Não importa. Eu sou a rainha agora, pelo amor de Deus!
Não posso ir para longe de tudo.
Ele tentou beijá-la, mas ela virou a cabeça para longe dele.
Ele agarra com mais força e a sacode. — Só eu tenho sido fiel,
e ainda tenho que te compartilhar com esse porco!
Ela empurra contra o peito do homem e se desprende, mas cai
quando tenta correr. Nesse instante quando a segura por detrás da
cabeça. — Eliza é minha, é minha!
Ela luta e dá patadas contra ele. — Não. Te disse desde o
começo que nunca poderia deixá-lo.
Seu rosto ferve de raiva. Substitui a sua mão pela sua perna e
tira uma faca que esta atada na panturrilha. — Não vou compartilhar
— disse com frieza.
Eu viro à cabeça, enquanto ela grita.
— Já basta! — choro. — Por favor!
— Por fim se cumpriu às ordens de sua madrasta, uma lástima
que a rainha não viveu para ver isso. — disse Ari.
Olho fixamente para Ari, que só devolve o meu olhar com um
leve sorriso. — Você é louca. Tudo isso é uma loucura. Não pode ser
verdade.
Apesar das palavras saírem da minha boca, eu sei que estou
errada, por que a minha irmã já me mostrou o final desse conto de
fadas particular. E agora sei por que Remy falava sem parar sobre
maçãs podres e facas: A rainha tentou matar a Branca de Neve com a
maçã envenenada, mas foi à faca do caçador que finalmente fez o
truque. Um truque que aparentemente, tem usado.
— Remy — sussurro. — Preciso de você Remy!
A porta atrás de mim se abre e eu pulo.
— O que está acontecendo aqui? — A Srta. Patty pergunta. Ela
olha para trás e para frente entre Ari e eu. — Arianna Roy! Abaixe
essa arma!
— Não tem algo melhor que fazer nesse momento, Patty? —
rosna Ari.
Patty olha atrás do seu ombro, e logo fecha a porta. — Não se
preocupe, Megan, tudo ficará bem.
O alívio flui através de mim até que vejo o rosto de Ari cheio
de raiva, e tenho a sensação de que está muito longe para escutar o
que a Srta. Patty tem a dizer.
— Tudo não vai ficar bem, mamãe. Ela sabe o que aconteceu
com a Nicki, e se ela disser, vai ficar em um montão de problemas.
A boca da Srta. Patty se abre. — Eu? Só tenho tentando de
manter afastada desse espelho maldito! — ela corre para ele — sabia
que isso ia acontecer! Eu sabia! O que mostrou?
Luke e eu aparecemos na superfície de novo e escuto os
suspiros de Patty. — Pelo amor de Deus! Para! — grita ao espelho. —
Por que atormentá-la dessa maneira? Sabe o que acontece depois,
mas isso é o que quer, não? Mais sangue.
Ele ressurge, seu rosto e suas mãos aparecem dobrados
debaixo do seu queixo largo e pontiagudo. — Eu simplesmente faço o
que me tenham ordenado, parece que a jovem Arianna é a que tem o
sabor do sangue.
Patty se aproxima da Ari e estende uma mão para ela. — Não
dê ouvidos a essa coisa! Vamos querida, é muito tarde para você e
Luke, você sabe. Por que trazer todo esse assunto? — pergunta
inclinando a cabeça para mim. — Sabe como é o espelho, só esta
tentando te incitar a fazer algo que não quer fazer.
— Oh, eu quero fazer, e dessa vez eu farei — Ari fala.
Caminha ao redor da mesa até mim e eu dou um passo atrás até que
topo com a parede. Aponta com a arma o meu coração, e agita as
pernas. — É isso o que o Luke quer — disse ela, colocando a pistola
no meu peito. — E se posso acabar com ela, ele será meu.
— É muito tarde para isso — disse Patty estridente. — Diga a
ela! — ela grita ao espelho.
O rosto inclinou a sua cabeça, nos olhando, a Ari e a mim. —
Foi dito de muitas maneiras — disse. — Te adverti Arianna. Te
adverti que o coração da Kayla não encheria as suas expectativas,
mas não quis me escutar. Depois de ter consumido, agora nunca será
mais que uma irmã para ele.
— Você matou a Kayla? — sussurro. — Matou a irmã do Luke
e comeu o seu coração?
— Cala a boca! — grita. Se vira para o espelho, todo o tempo
me apontando o revólver. — O seu anulará o coração da Kayla. Eu
sei, e Luke me amará tanto quanto ele a ama. — As lágrimas fluem
pelas suas bochechas. — Simplesmente tenho que fazer.
— Pode ser que funcione — afirma o espelho tratando o
assunto com total naturalidade. — Se ele ama essa garota o suficiente,
poderia funcionar.
Balanço a cabeça com incredulidade. — Isso não pode ser
sério. Isso é uma loucura!
Patty me olha com simpatia e logo se volta para a Ari. — Há
outros garotos, querida.
Ari franze o cenho para a sua madrasta. — Você não quer que
eu seja feliz.
Os olhos da Patty se abrem com surpresa. — Como pode dizer
isso? Fui eu que te pediu que não fizesse nada com a Kayla. Te disse
que não ia funcionar!
— Você sabia? — pergunto, aturdida.
Patty se volta para mim com uma expressão de assombro em
seu rosto. — Oh, eu...
— Sim, a Srta. alta e perfeita sabia — disse Ari com ar de
presunção. — Por que não diz a Megan que Kayla está enterrada aqui
embaixo? E como atrasou a instalação do novo passeio para poder
esconder o corpo da Nicki antes que a base de concreto se
derramasse? Claro, não foram capazes de trazer o corpo aqui já que
alguém foi fuçar no bosque com o meu namorado!
Olho elas fixamente com incredulidade. — Como pode?
As lágrimas espalharam a maquiagem da Srta. Patty pelo rosto
tirando a cor uniforme. — Não sabe o que é viver aqui com essa coisa
me acusando o tempo todo. E Arianna sempre se dá bem. Sempre!
Patty enfrenta o espelho. — Te pedi que não mostrasse nada a
Ari. Te pedi e agora... — Ela se volta para mim. — E agora suponho
que realmente não tem outra opção. Eu sinto muito, Megan. Tentei te
advertir.
Não pensei que fosse possível que o meu coração batesse mais
rápido, mas ao me dar conta que a Srta. Patty estava jogando com os
lobos, começou a bater com toda velocidade. — Oh, meu Deus, não
vai permitir que Ari faça isso. Não pode. Se me deixar ir, não vou
dizer a ninguém. Prometo a você.
Ari sorri com ar de presunção. — Isso é um fato, só temos que
esperar...
— Remy — grito. — Remy, preciso de você!
— Grite tudo o que quiser. — disse Ari. — O parque está
fechado, não tem ninguém aqui.
— Remy!
O espelho ri. — Isso deve ser bastante interessante.
— Do que está falando? — Grita Ari.
Remy se apresenta ante a mim, e o quarto se esfria. — Te disse.
— Oh, meu Deus, Remy! Você sabia disso todo esse tempo,
não é? Sabia que o espelho era real, e sabia o que iam fazer. É por isso
que não ia com papai.
— Garota má!
— Com que demônios você está falando? — Ari pergunta,
parecendo desconcertada.
— Sua irmã — o espelho responde.
Ari zomba. — Ela não tem uma irmã.
— Um desejo eu faço, um desejo eu peço. — Remy balbucia.
O sangue bate com força em meus ouvidos e me sinto como se
estivesse completamente louca. — Você sabe o que quero? Queria
que eu não estivesse nessa sala agora mesmo!
— Feito! — o espelho disse em voz alta.
De repente o chão parece como se estivesse mudando abaixo
dos meus pés, e em um instante não estou mais na sala. — O que?
Ouço Ari e Patty gritando de dentro do escritório.
O Sr. Roy esta de pé na minha frente e ele pula pela surpresa.
— Senhor Roy! — grito, não me importa por que não estou na
sala, só agradecia que não fosse pega com os loucos do outro lado da
porta. — Tem que me ajudar! É a Ari, ela matou a Nicki e a Kayla, ela
tem uma arma, e ia me matar também!
O Sr. Roy sacode a cabeça. — A minha pequena princesa
nunca matou ninguém. Isso quem fez foi o seu pai — Pouco a pouco
tira uma longa faca de caça e de prata para depois apontar ao meu
peito.
— Estou muito decepcionado com você, Megan. Não pensei
que fosse esse tipo de garota. Poderia ter tido uma infinidade de
garotas trabalhando no seu lugar hoje, mas depois do que Ari me
disse sobre o que você fez, bom, eu estava totalmente de acordo que
já era a hora que te unisse a sua boa amiga Nicki. Dentro de pouco
tempo, já não estará aqui.
Recuo. — Isso não esta acontecendo. Sr. Roy, por favor, me
fale que isso não esta acontecendo. Ari tem uma arma...
— A arma era só para te deter na sala até que eu chegasse. Ari
é uma menina delicada. Ela não tem nenhum interesse na caça, ela só
gosta de colher os benefícios.
— Não. — sussurro. — Não é você. — A cabeça dando voltas.
Como poderia o Sr. Roy...?
Uma arma de fogo dispara no escritório da Srta. Patty, e na
continuação, Remy aparece ao meu lado.
— Meggy, corre!
E eu corro.
Fujo pelo corredor e me choco contra as portas do parque.
Abro caminho com força e continuo correndo. A luz se apaga e
espero que seja mais fácil me ocultar.
Passo correndo pelo Lago da Sereia e escuto o Sr. Roy me
chamando pelo nome.
Giro a esquerda e vejo o Bosque Enfeitiçado de Hansel e
Gretel. Sem pensar, corro velozmente para ele, pulo através da porta
fechada, e corro para dentro pela entrada de empregados. Não paro
até que chego à cozinha da bruxa.
Freneticamente busco ao redor um esconderijo. Fomos
advertidos que era muito perigoso sair dos caminhos de segurança,
mas acho que nessa situação seria mais perigoso estar a céu aberto.
Pulo sobre a barreira de segurança e cuidadosamente escolho o meu
caminho através da via, passo por Hansel na jaula, e me agacho atrás
do robô da Gretel.
Meu coração dispara e é cada vez mais e mais difícil respirar.
Claro, meu inalador está no ateliê de fantasias com o meu
celular. Puxo respirações profundas e calmas.
— Remy? — sussurro. — Remy, preciso de você.
— Shh. — ela sussurra de volta, aparecendo brilhante e feliz.
— Pede um desejo. — disse em voz baixa e aplaude sem fazer barulho.
— Foi assim que saí do quarto? Por que pedi um desejo?
— Estrela da luz, estrela brilhante, primeira estrela...
— Claro, entendi — sussurro de volta. Mas, como meu desejo
me tirou do quarto? Os fantasmas não concedem desejos, mas...
mas... os gênios fazem! O que acontece se os gênios podem habitar
em outras coisas além das lâmpadas? Como espelhos.
Mas por que Ari não desejou que Luke a quisesse? A menos
que ela não saiba o que a coisa no espelho é! Sacudo a cabeça.
Obviamente ela não sabe, se soubesse, minha noite com o Luke nunca
teria acontecido.
— Desejo estar em casa! — Exclamo de repente.
Me preparo, mas não acontece nada. Apoio a minha cabeça
sobre os meus joelhos. Devo precisar estar com o espelho para que
possa cumprir o meu desejo. Merda!
Oh, não. Esse maldito espelho também pode mostrar aos Roys
onde estou se eles pedirem! Mas o fariam? Ou já estão no parque me
buscando? Se a bala que escutei feriu alguém... Muito provavelmente
Patty, terei a Ari e o Sr. Roy se ocupando de mim, e isso me assusta
até a morte!
Pode ser que não tenha muito tempo. Abraço os meus joelhos
mais apertado. Preciso de ajuda. — Remy — falo em voz baixa. — Vá
para o Luke! Fale para ele que estou com problemas. Fala para que
venha rápido!
Remy assente com a cabeça. — Bom garoto.
— Vá e fale onde estou, fale que preciso de ajuda! Vá!
Ela desapareceu e tento fazer o meu corpo o menor possível,
com a esperança que Luke me encontre antes que o Sr. Roy o faça.
Escuto o Sr. Roy me chamando pelo meu nome e o meu
sangue se congela. Está cada vez mais perto. Não sei por que está se
preocupando em me chamar, como se fosse responder, mas acho que
tem a esperança de me fazer sair como um pássaro em um arbusto.
Me enrolo contra a parede.
— Megan? Onde está? — Oh, meus Deus, esse é o Luke.
— Megan, estou chegando! — de repente me dou conta que o
Sr. Roy pode simplesmente seguir o Luke diretamente até mim! E se
o Sr. Roy decidir matar o Luke também? Sou tão idiota!
— Remy! — falo tão forte como me atrevo. — Remy, fale pro
Luke que se afaste. Por favor!
— Megan, estou chegando! — ele grita, soando como se
estivesse na frente do passeio.
— Remy! Faça algo!
— Sr. Roy? — Luke soa surpreso, e logo há silêncio.
Oh, não!
Fico de pé precisamente quando o passeio volta à vida. Hansel
começa a se agitar na sua jaula que desce pelo pendente na seção do
forno antes de me atrever a pular de novo sobre a via.
— Se apresse! — grito ao vagão. Preciso ver se Luke está bem.
As lágrimas caem pelo meu rosto. Tem que estar bem!
O vagão para na minha frente, e Gretel desliza para fora, para
empurrar a bruxa no forno. A parede se levanta e o vagão se retira do
lugar. Estou a ponto de pular do outro lado quando vejo Remy ao
lado do painel de controle e o Sr. Roy se aproximando atrás dela.
Com Gretel fora do caminho, estou completamente exposta.
— Sangrento. — Remy murmura.
Olho ferozmente ao Sr. Roy. — O que fez com o Luke?
— Nunca quis um cão de caça antes — disse o Sr. Roy, me
olhando desde o outro lado da via. — Geralmente gosto de caçar a
minha presa por mim mesmo, mas com tanto terreno para cobrir,
Luke apareceu quando foi especialmente útil. Mas a sua utilidade
acabou.
— O que fez com ele? — Grito.
— Digamos que está fora de serviço por agora. Mas se
fizermos isso rápido, posso conseguir para ele a atenção que precisa.
Não quero decepcionar a minha menina, depois de tudo.
Outro vagão entra e a bruxa cacareja furiosamente. — Dentro
do forno!
O vagão viaja descontroladamente ao redor do quarto e para.
Gretel se desliza para fora de novo, e parte de mim só quer dizer a ele
que acabe de uma vez, mas não posso deixar o Luke.
— Agora, vamos ver — diz o Sr. Roy quando Gretel desliza de
novo para mim. Aperta um dedo suavemente sobre a ponta da faca e
inspeciona o lugar onde estou parada. — Realmente não há lugar
para você ir. Isso deveria fazer o meu trabalho mais fácil. — Vejo ele
se esticar, pronto para pular a barreira e cruzar a via.
— Dentro do forno — A bruxa grita quando outro vagão
entra.
O sangue bate com força nos meus ouvidos.
— Sangrento. Maçãs podres.
O vagão para na minha frente, Gretel se move para ele, e o Sr.
Roy pula através da via. O meu coração acelera quando pulo sobre a
barra de metal na qual Gretel desliza, estendendo os meus braços
para me manter em equilíbrio, e tentando não cair antes que possa
alcançar o vagão.
— Não! — grito quando a porta do forno se levanta e o vagão
baixa através de um golpe pela pedinte antes que pudesse chegar até
ali.
As luzes estroboscópicas no forno lampejavam e desço de um
salto na via, com a esperança de poder correr para a seção do forno
antes que a parede abaixasse.
Sinto o Sr. Roy agarrar a barra na parte de trás da fantasia e a
faca cortando o meu ombro. — Ah! — falo quando sinto o sangue se
filtrando na minha fantasia, e logo a dor profetizando através de
mim.
— Já está quase feito — ofega no meu ouvido. Ele começa a
envolver o seu braço ao redor do meu pescoço, mas dou uma
cotovelada no seu estômago. Ele grita e dou a volta para enfrentá-lo
enquanto ele se dobra. Empurro ele tão forte quanto posso, com a
esperança de fazer ele abaixar da via para o forno.
A bruxa se choca contra ele enquanto volta ao seu lugar de
partida, e ele cai de bruços sobre a via. Começa a se levantar, mas a
porta do forno cai miseravelmente em cima da sua cintura. O sangue
sai a borbotões da sua boca sobre a via, e grito de novo.
— Sangrento — diz Remy.
Outro vagão entra e me desloco da via para o painel de
controle, respirando com dificuldade.
— Dentro do forno!
Fico olhando o corpo sem vida do Sr. Roy durante alguns
segundos e logo aperto o botão de parada de emergência. O vagão
que ia à direção do forno para e vou até a saída. Tenho que encontrar
o Luke.
Luke está sobre o caminho a uns metros da saída do passeio.
Corro para ele e me ajoelho. Seu peito se move, e choro de alivio.
Embora sua camisa esteja empapada de sangue. Com as mãos
tremendo levanto suavemente a sua camiseta para ver se posso parar
o sangramento.
Grito quando vejo a profunda ferida ao lado do seu abdômen.
O sangue se precipita da ferida e sei que Luke não resistirá se
tivermos que esperar uma ambulância. — Te amo — sussurro e logo
vou apressadamente para o edifício comercial, sabendo que preciso
pedir outro desejo.
Corro para o escritório da Srta. Patty e paro quando vejo Ari
sentada na cadeira com os pés sobre a escrivaninha. Oh, Deus, por
que não está lá fora no parque?
Ela se senta direita com surpresa. — Bom, isso não é
conveniente — disse enquanto pega a arma. — Direi ao papai que
pode deixar de te procurar. Tudo o que o estúpido espelho pode nos
mostrar foi você se encolhendo em algum lugar escuro — ela inclina
a sua cabeça. — Embora, pelo aspecto desse corte no seu ombro,
parece que papai te encontrou depois de tudo. Deve ser rápida, ele
usualmente não deixa ninguém escapar.
Ela pega o celular e começa a digitar alguns números.
Toco o sangue que escorre e percebo que o meu braço está
palpitando — Desejo que a ferida do Luke seja curada por completo
— falo.
O espelho lampeja atrás da Ari, e ela gira na sua cadeira. — O
que está acontecendo? O que está fazendo? — pergunta ao espelho.
O rosto aparece e me olha com uma sobrancelha levantada. —
Muito bem jogado — ronrona — mas você descobriu o bolo.
Ari afasta a cadeira da escrivaninha e olha entre eu e o
espelho. Seus olhos se alargam, e deixa o seu celular. — Foi assim que
desapareceu do quarto! Você desejou! — Seus olhos ficaram ainda
maiores. — Quantos tenho? — pergunta ao espelho.
O rosto franze os lábios, como se tratasse de atrasar a sua
resposta. Deixou escapar um suspiro de cansaço. — Três. Todo
mundo tem três.
Ari se volta para mim com um brilho maligno em seus olhos.
— Três! Posso desejar qualquer coisa que quiser?
— Não posso tirar ou devolver a vida, e também está mais pra
lá os meus poderes de alterar o amor. Mas como sabe, tenho outras
maneiras de esquivar essa limitação particular. Acho que deveria ver
o que aconteceu com seu pai antes de continuar.
O rosto desaparece e aparece o corpo maltratado do Sr. Roy,
com a porta do forno sobre ele, manchada com seu sangue.
Ari coloca uma mão sobre a boca e suspira. — Papai!
O rosto enche o espelho de novo, e inclina a sua cabeça. —
Entretanto, poderia salvar a vida da sua madrasta, ainda tem tempo.
Ari da à volta e sigo o seu olhar. A Srta. Patty esta atirada no
tapete, com sangue saindo de uma pequena ferida no seu estômago.
Patty geme e Ari sacode a sua cabeça e zomba. — Não me importo
com ela, mas papai, desejo que papai esteja bem!
O espelho sorri friamente. — Acho que não posso conceder
esse desejo, mas sua madrasta...
As lágrimas se acumulam nos olhos de Ari. — Não! Não
perderei um desejo com ela! Pode apodrecer no inferno se depender
de mim.
Olho a Srta. Patty e me debato entre fazer o certo e salvar o
meu último desejo. Sacudo a minha cabeça. Já houve muitas mortes.
— Desejo que a Srta. Patty se recupere completamente das suas
feridas, através de uma estadia no hospital — falo, me assegurando
que ela vai estar bem sem acrescentar a sua loucura no jogo.
O espelho me olha com surpresa e logo lampeja. Patty tosse no
chão e Ari ri loucamente. — Acaba de perder o seu último desejo!
Está louca?
Concordo. — Sim, acho que estou.
— Ganhei! — disse com alegria em seus olhos. — Finalmente
ganhei! Todos os sofrimentos que tenho passado por fim acabarão —
se volta para mim e sacode a cabeça. — A única desvantagem de tudo
isso é que você não vai estar aqui para ver o que você perdeu, para
sofrer por aquilo que você não pode ter.
Me olha com frieza, e logo seus olhos se iluminam, fazendo
que um calafrio percorra as minhas costas. Se aproxima de mim e faz
girar a arma em seus dedos. — Não posso desejar que o Luke esteja
apaixonado por mim, não é? — pergunta por cima de seu ombro para
o espelho.
— Certo — disse.
Ela dá golpes no meu peito com o cano da arma. — E remover
corações é muito sujo. Mas, poderia utilizar a sua magia para mudar
os nossos corações?
— Sim! — os olhos não humanos do espelho ardem com
admiração. — Sim! Muito inteligente Senhorita Arianna!
Ari sorri de alegria enquanto me olha de cima abaixo. —
Parece que vai perder o seu coração depois de tudo, mas ao menos
ainda estará vida.
Minhas mãos voltam ao meu peito enquanto observo Ari. —
Não — sussurro. Deus! Por que sacrifiquei o meu último desejo?
Ari assente. — Quero dizer, não será divertido viver cada dia
sabendo que Luke está fazendo amor comigo no seu lugar? — ela
franze os seus lábios. — E não haverá nada que possa fazer, por que,
quem acreditará em você? É perfeito!
Oh, meu Deus. Ela não vai fazer. Minha mente se acelera ao
máximo. Não me resta nenhum desejo e Ari tem uma arma, minhas
opções são extremamente limitadas.
— Ela é uma maçã podre. — Remy sussurra.
Remy! Ajudaria se pudesse destruir o espelho, ao menos
impediria que Ari pedisse um desejo até que eu pense em algo.
— Remy, essa garota má vai pedir alguns desejos que me
machucarão. Me ouviu, Remy? Preciso que pare ela!
Remy aparece na frente de Ari. Ari estremeceu, obviamente
sentindo o ar frio.
— Maçãs podres! — Remy grunhe. — Deixa a Meggy em paz! —
Uma rajada de ar úmido e frio faz redemoinhos ao redor do quarto,
chicotando o meu cabelo ao redor do meu rosto. — Sem mais desejos!
— O que está acontecendo? — Ari grita, seus olhos buscando
freneticamente ao redor do quarto.
Sorrio. — Arianna Roy, gostaria que conhecesse minha irmã,
Remy.
Remy se solidifica e ouço o barulho do rio fazendo eco em
todo quarto. Meu fôlego se cobre de geada no ar quando o frio
aumenta.
— Maçã realmente podre! — Remy disse.
— Arianna, rápido! Pede o desejo! — o espelho grita, —
Rápido!
— Desejo... — Ari começa a dizer, mas Remy pisa muito forte
em seu pé e uma parede de água faz redemoinhos em torno da Ari.
Remy vê Ari com ódio em seus olhos. — Disse que não!
A água envolve Ari, abrindo caminho em sua boca e nariz.
Suas mãos envolvem a sua garganta quando seus olhos incham.
— Remy, pare! — grito quando percebo que Ari esta se
afogando. Me dirijo para a água e faço passar a força o meu braço
pelo redemoinho gelado. Ari estende uma mão, mas quando os
nossos dedos se tocam, percebo que não posso salva-la, não posso.
Não farei, ninguém pode salvar Arianna Roy de si mesma, e ninguém
estará a salvo se ela viver.
Tiro o braço para trás, e meu corpo treme quando o quarto fica
cada vez mais frio. Grandes flocos de neve voam ao redor, e o
redemoinho se congela em uma parede espumosa de neve meio
derretida até que Ari está finalmente trancada em gelo sólido.
— Desculpa — sussurro, olhando os grandes olhos congelados
da Ari que olham sem compreender. Uma mão ainda em sua
garganta. Eu não teria desejado esse final nem um milhão de anos.
Remy sorri. — Sem mais maçãs podres!
— Remy... — Não sei o que dizer. Não era a minha intenção
que Ari morresse, mas ao mesmo tempo, não posso dizer que
lamento tampouco.
Remy se deixa cair sobre o tapete na base da parede de gelo.
— Meggy, onde está o papai? — pergunta com cansaço.
Aproximo da minha irmã e me ajoelho. Aliso a minha saia
manchada de sangue e estendo a minha mão. Remy desliza a sua
mão fria na minha.
Paro a minha respiração quando calafrios atormentam o meu
corpo. Espero que alguma visão horrível me alcance, mas não há
nada, somente Remy e eu sentadas no chão como quando nos
preparávamos uma festa de chá.
— Papai está te esperando — falo. — Só tem que buscar a luz.
Ele está aí, e Nicki também... Estão te esperando.
Um resplendor rodeia a Remy, e esfrega os olhos com seus
punhos. — Estou cansada, Meggy.
— Vai para o papai e te sentirá melhor.
O resplendor ficou mais brilhante, e durante meio segundo,
desejo que Remy fique.
— Vai... — Remy se desvanece, voltando a sua cabeça para a
luz cada vez maior.
Esta é... Esta é a última vez que vou estar com a minha irmã.
— Vou ficar bem, Remy — digo me sufocando.
Remy fica de pé e penteia a sua franja molhada para trás,
entrecerrando seus olhos ante a luz.
— Remy — uma voz grita.
— Papai?
— Te amo, Remy — soluço quando a luz a envolve.
Ela me olha. — Também te amo, Meggy.
Remy se desvanece, e o quarto esquenta. O gelo começa a
escorrer e logo vira água, deixando o corpo sem vida da Ari no chão.
Está acabado agora. Finalmente terminou. Pego o telefone da
escrivaninha para ligar para o 911.
Antes de digitar os números, olho para o espelho. O rosto
sumiu, mas tenho certeza que pode me ver, de todos os modos.
— Está contente agora, miserável pedaço de vidro? Era isso
que queria? — falo, apontando o corpo de Ari. Meus lábios franzem
com desgosto. — Só espere. Conheço alguém que estará mais que
feliz de pedir três desejos por mim, e acredite em mim, vai se
arrepender de se meter na minha vida.
Luke e eu passamos por baixo da fita da polícia e ele iluminou
com a lanterna ao redor do escritório da Sra. Patty, até que congelou
ao apontar o espelho.
Passaram duas semanas desde a última vez que estive nesse
lugar. Queria voltar antes, mas Luke achava que deveríamos esperar
até que as coisas esfriassem para diminuir a possibilidade de
toparmos com a polícia.
Paramos no outro lado da fita e Luke colocou uma mão sobre
meu ombro, me dando força.
— Está pronta para isso? — me perguntou.
Assenti. Com a confissão da Srta. Patty, as escavadoras
haviam desmontado seis passeios do parque e haviam recuperado os
corpos dos que ela sabia que estavam ali, inclusive o de Kayla. Não é
possível determinar quantos corpos mais encontrariam, os que
tinham sido enterrados antes que ela conhecesse o Sr. Roy.
Luke e eu investigamos sobre pessoas desaparecidas na área, e
havia pelo menos uma dezena durante os últimos anos, incluindo a
irmã mais velha do Sr. Roy, que era sócia do parque até que
desapareceu. Ou como estabeleceu o artigo que lemos ‚fugiu para a
Europa‛. Apostaria dinheiro que os restos de algumas pessoas estão
escondidos debaixo do Bosque Encantado de Hansel e Gretel.
— Vamos fazer — disse. Caminhamos lentamente até o
espelho. Olhei fixamente nosso reflexo iluminado pela lanterna e não
pude evitar de pensar que Nicki e Kayla seguiriam vivas se não fosse
pela coisa que estava em seu interior. Sabia que o gênio não era
realmente responsável pelos assassinatos, mas pelo que tinha visto,
tinha certeza de que havia incentivado. E se era tão velho como acho
que é, não há dúvida alguma que tem estado causando miséria e
morte por séculos.
— Voltei — disse ao espelho.
O rosto apareceu, e Luke deu um pulo. — Whoa — murmurou
ao pegar a minha mão.
Adverti Luke sobre isso, mas na escuridão da habitação seus
brilhantes olhos e rosto enfumaçado davam mais calafrios que nunca.
Seus lábios se levantaram em um esfomeado sorriso. — Ah,
companhia. Que encantador. Acho bastante tedioso ficar aqui
pendurado sozinho, sem ninguém com quem praticar. O tempo passa
lentamente quando não tem nada para ocupar a mente.
— Tenho certeza que a polícia estaria encantada de conversa
com você!
O gênio levanta uma das suas escuras sobrancelhas. — De
fato, a polícia provou estar entretida por um tempo. Suas teorias
sobre a morte de Srta. Arianna foram bastante divertidas.
Luke e eu trocamos olhares.
O juiz determinou que Ari tinha se afogado, mas não foi capaz
de deduzir como foi que isso ocorreu, por que se encontrava em terra
seca. A equipe de CSI58 identificou água do rio em seus pulmões, e
Patty, que deus a abençoe, se apegou a história de que não sabia
como haviam ocorrido as coisas, mas que eu tinha chegado depois
dos fatos. A morte de Arianna Roy sem dúvida vai deixar eles
intrigados por anos.
— Sim, fico contente que a morte de Ari tenha te
proporcionado alguma diversão. De qualquer jeito, está na hora de
encontrar um novo lar, mas primeiro temos que te fazer algumas
perguntas.
O espelho sorriu, e deixou os pelos dos meus braços
arrepiados. — Responder perguntas é a minha especialidade.
— Por que h{ dois como você? Li ‚Branca de Neve‛ e deveria
ter só um espelho.
Seu sorriso se desvaneceu, obviamente estava decepcionado
com uma pergunta tão mundana. — A bisavó do Sr. Roy gostava de
me consultar freqüentemente, e pensou que seria mais fácil se
houvesse um no parque e um em sua casa. Desejou que fosse assim.
Franzi o cenho. — Oh, aposto que você amou ter outra
oportunidade para jogar com as mente.
— Estou aqui só para servir — insistiu.
— Não podemos nos livrar disso quando, já sabe... — Luke me
disse.
58 CSI: Crime Scene Investigation ou Investigadores de cena de crime.
Eu assenti.
— Há alguma outra coisa que quer descobrir? — perguntou o
espelho com educação. — Posso te mostrar pessoas que tem
curiosidade.
— Não, acho que estamos bem assim — disse Luke.
— Espera — disse quando me veio uma pergunta a cabeça. —
Na verdade tenho curiosidade por uma coisa. Poderia me mostrar
quem é a alma gêmea de Samantha Lee Darling?
— Oh, mas poderia não gostar da resposta — disse o espelho,
embora haja uma faísca em seus olhos que me diz que isso é o melhor
que sabe fazer, jogar com as emoções das pessoas.
— Acho que posso suportar.
Ryan apareceu na superfície do cristal e eu sorri.
— Isso te alegra? — perguntou o espelho, quando seu rosto
apareceu, a faísca em seus olhos tinha sido substituída por um olhar
de confusão.
— Sim, realmente me alegra.
Luke me deu um olhar. — Agora está pronta?
— Eu... — falo enquanto meus pensamentos aceleram. Apesar
do que sei sobre o espelho, o fato de que possa me mostrar qualquer
coisa me faz perguntar se talvez não devêssemos esperar para por em
ação o nosso plano. Poderia ver mamãe, ver o que realmente pensa
quando está sozinha. Ver se estava falando sério quando disse que
queria que fossemos uma família, sobre voltar a ser uma parte de
minha vida. E Luke? Há um milhão de perguntas que poderia fazer
sobre ele.
Levantei o olhar e vi os olhos do espelho perfurar os meus e
prendi o fôlego. Isso é o que ele faz: oferece detalhes de todo mundo
que supõe que você não deveria ver, e depois te destrói através deles.
Respiro com força. — Sim, estou pronta.
Luke limpou a garganta. — Fizemos uma investigação, e sem
ter um poço de lava a qual te arremessar, não temos poder para te
destruir, ao menos não o original.
— E tampouco achamos que seja seguro deixar que influencie
alguma outra pessoa — continuei — Assim conseguimos que a Srta.
Patty aceitasse te doar a clínica de repouso onde vivia o meu pai.
O espelho levantou as suas sobrancelhas, e eu sorri. — Mas
primeiro temos que tirar os seus poderes.
O espelho zombou. — Fui depositado nesse espelho pela mais
forte das magias, e nada pode reduzir os meus poderes.
— Ok, na verdade não estamos tirando os seus poderes — eu
disse. — Só vamos impedir que os use.
Apertei a mão de Luke e ele assentiu. — Desejo que não possa
mostrar o seu rosto ou se comunicar com outra pessoa até o fim dos
tempos — disse Luke.
A boca do espelho caiu aberta. — Não, espera... — a superfície
resplandeceu com luz, e então reapareceu o nosso reflexo.
— Um a menos, restam dois — eu disse.
— Desejo que o segundo espelho que criou seja destruído.
A luz voltou a resplandecer.
— E finalmente, desejo que não seja capaz de realizar desejos
que de forma despercebida, seja feitos em sua presença.
O cristal resplandeceu mais uma vez, e sabia que tinha
finalmente terminado. Luke apagou a lanterna e me tomou entre seus
braços. Ouvi seu coração batendo, e por fim me senti segura.
Desde a morte de Ari e do Sr. Roy, tenho lido todos os livros
de contos dos Irmãos Grimm. Tenho tentado adivinhar quais podiam
estar certos e quais poderiam seguir sem ser revelado em todo este
tempo. Mas enquanto lia todas essas histórias cheias de monstros,
magias, e assassinatos, vi que sempre tinha um caminho através do
inferno que chegava até um final feliz. Acho que posso afirmar que
tenho vivido nesse inferno, e que agora é hora do ‚e viverão felizes
para sempre‛.
Levantei o queixo e beijo Luke.
— Te amo — sussurrei.
— Eu também te amo — voltei a recostar minha cabeça sobre
seu peito e pensei que um dia desses estaria sorrindo como a garota
da pintura de seu quarto.
Amanda Marrone
Amanda Marrone cresceu em Long Island, onde ela passou seu tempo lendo, desenhando, assistindo a
insetos e sofrendo de uma imaginação hiper ativa. Ela agora vive em Connecticut com seu marido, Joe, dois filhos, dois gatos, uma lagosta, baratas
“sibilam” e sua mais recente aquisição é Griffin, um cão havanês que pode dizer "Olá" e “Eu te amo”. Amanda adora ler, assistir os espetáculos da Broadway, coisas assustadoras, caminhadas, irritar
o seu marido com as músicas dos espetáculos e está pensando em fazer outra tatuagem. Ela ainda tem medo do escuro.
Se você gostou do livro
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