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vitória Ano IX Nº 108 Agosto de 2014 vitória REPORTAGEM DIÁLOGOS ATUALIDADE O poder da oração O turismo religioso no Espírito Santo INFORMAIS, ALTERNATIVOS E FELIZES Revista da aRquidiocese de vitóRia - es Revista da aRquidiocese de vitóRia - es

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vitóriaAno IX • Nº 108 • Agosto de 2014

vitória

RepoRtagem

Diálogos

atualiDaDe

O poder da oração

O turismo religioso no Espírito Santo

infoRmais, alteRnativos e

felizes

Revista da aRquidiocese de vitóRia - esRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

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vitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

vitóriaAno IX – Edição 108 – Agosto/2014

Publicação da Arquidiocese de Vitória

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Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispos Auxiliares: Dom Rubens Sevilha, Dom Joaquim Wladimir Lopes DiasEditora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850 • Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 • Ilustrador: Silvander Honorato• Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica 4 Irmãos - (27) 3326-1555

12Micronotícias

21EspiritualidadE

30caMinhos da bíblia

34idEias

40EspEcial

Pensar

DiálogosOpoderdaoração

atualiDaDeOturismoreligiosonoEspíritoSanto

arte sacraMosaicos, um convite aomaravilhamento

munDo litúrgicoVestesLitúrgicas

rePortagemInformais,alternativosefelizes

asPasPensamentosdePauloFreire

ViVer bemComerbemparaviverbem

comuniDaDe De comuniDaDesSantaClara,nospassosdeFrancisco

Prática Do saberAtendimentojurídicoparaa

populaçãocarente

entreVistaDonaTherezacontaonascimentodeumacomunidade

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14reflexõesAvocaçãodiaconal

arquiVo memória AcriaçãodaProvínciaEclesiásticadoEspíritoSanto

ensinamentos DoutrinaSocialdaIgreja:asubsidiariedade

cultura caPixabaEassimsefazumarededepesca

acontece

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Maria da Luz FernandesEditora

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Parecemos tão iguais que não reparamos mais nas diferenças que existem ou queremos ser tão iguais que aqueles que estão fora do padrão

passam desapercebidos? A resposta não é importante no exato momento em que o leitor acabar de ler, mas certamente fará diferença no hora em que os mesmos lugares por onde passar forem observados com um olhar mais atento. Por trás de um gesto talvez uma intenção de ser solidário, de uma atitude talvez um pedido, de um serviço talvez um carinho, de uma extravagância talvez um vôo de liberdade, de uma música talvez a sobrevivência.... e quantas ideias mais o seu olhar te deixar ver. Esta edição traz um pouco dessas mensagens que colhemos nas ruas, ouvimos das pessoas e aqui compartilhamos.

fale com a gente

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O ver dO Olhar

eDitorial

Pensar

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Diálogos

A questão do “poder” tem sido objeto de minhas reflexões

e preocupações desde o início deste ano em curso. Penso que há vários aspectos que podem ser objetos de reflexão a respeito do poder. Creio até que possa haver ângulos de abordagem, diversos pontos de partida de quem deseja analisar este tema tão presente na vida humana. A minha preocupação, o meu ponto de partida é sob o olhar da fé cristã. É um tema que toca o nosso ser, nossas relações, nosso sentido de vida cristã. Por isso tenho procurado manifestar o meu pensamento a este respeito. O “poder” nos

OraçãO

persegue desde o seio materno, passa pela in-fância, fortalece-se na juventu-de, solidifica-se na idade adulta e torna-se intolerável na terceira idade, quando não se deu a de-vida atenção educacional desde o seio materno. Como nascemos com o pe-cado original, o “poder” precisa ser exorcizado. O batismo que recebemos encarregou-se de exorcizá-lo. Contudo, na his-tória pessoal e comunitária, a liberdade de escolha em nossa vida relacional permanece. De-pois do batismo estamos sujeitos a escolhermos erradamente. A vida pascal na história é bela

e desafiadora em nossas decisões por uma constru-ção de um mundo

justo e fraterno. Como continuarmos livres, filhos e filhas de Deus, em nossas re-lações com as pessoas, com a natureza e com Deus na liberdade que Cristo nos ensinou e nos introduziu, desde

a sua catequese,” entre vós não deve ser assim”, cul-minando no gesto do Lava-pés? É o mesmo Jesus quem nos ensina como superar o ris-co de decidirmos pelo poder que oprime e escraviza o ser humano. Em Mc 9,14 - 29 lemos que um menino surdo e mudo sofria convulsões, o que hoje seria diagnosticado como epi-léptico, e foi curado por Jesus. Porém, o contexto narrado pelo evangelista queria ensinar aos discípulos algo fundamental para vida deles: a fé que é expressa na oração.

o poDeR Da

“A oração é a atitude fundamental na vida do discípulo de Jesus Cristo. É a expressão oral que vem de dentro, do interior da pessoa que crê e do Alto, do Encontro com o Senhor. O poder da oração, propriamente, é a expressão do poder que vem do Alto, correspondido e assimilado por um coração orante.”

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Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc.arcebispo Metropolitano de Vitória eS

“Depois que Jesus voltou para casa, os discípulos lhe perguntaram, em particular: Por que nós não conseguimos expulsá-lo (o demônio)? Essa espécie só pode ser expulsa pela oração”. Leia com atenção a res-posta de Jesus: “essa espécie só pode ser expulsa pela oração!”. O poder da oração não é um po-der mágico, mas expressão de fé despojada e confiança absoluta no poder de Deus. A oração é a atitude funda-mental na vida do discípulo de Jesus Cristo. É a expressão oral que vem de dentro, do interior da pessoa que crê e do Alto, do Encontro com o Senhor. O poder da oração, propriamente, é a expressão do poder que vem do Alto, correspondido e assi-milado por um coração orante. Deus é Amor e sempre está aberto para ouvir a súplica do discípulo, desde que este esteja livre de qualquer orgulho ou prepotência. É o ponto alto e máximo do pequeno diante de Deus, livre para que a Suma Liberdade manifeste o seu poder pelo amor, atendendo o discí-pulo suplicante. “Pedi e recebe-reis, batei e abrir-vos-á”. Esta é a oração poderosa, quando o poder do mundo é destruído pelo poder do Amor na graça suplicada e concedida.

Não seria difícil encon-trar várias pessoas de fé que poderiam testemunhar o poder da oração. Certa vez, junto ao Vigário Geral, procurávamos transferir um sacerdote de uma paróquia para outra. Parecia-nos impossível, pois o sacerdote tinha as suas razões e não aco-lhia o nosso pedido e ordem de transferência. Deixamos a conversa sem uma definição, pois não queríamos e nem con-siderávamos edificante forçar nosso irmão. Na volta, o Vigá-rio Geral comentou pesaroso: “Ele está irredutível. Perdemos a batalha!”. Eu lhe respondi: “Tudo indica que o senhor tem razão. Mas, esperemos, Deus sabe o que será melhor!”. No dia seguinte recebi o telefonema daquele sacerdote que já estava de partida para outra paróquia. Nós não podemos, mas Deus pode tudo, inclusive mostrar--nos que sem Ele nada podemos, com Ele tudo é possível. Ele é o Senhor e nós somos apenas meros servos. Conheço muitos fatos que revelam este grande poder que confunde os fortes e grandes do mundo, o poder da oração. Eu mesmo devo muito à ajuda orante das irmãs do Carmelo. Elas são apóstolas da oração! Lembremo-nos da oração sacer-

dotal de Jesus, narrada por Jo17, 1-26. “Eu não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno. Eles não são do mundo como eu também não sou do mundo. Consagra-os pela verdade: a tua palavra é a verda-de. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo. Eu me consagro por eles afim de que também eles sejam consagrados na verda-de”. Lembremo-nos, também, do poder da oração, expresso na oração da Virgem Maria, no momento do belo encontro com a prima Isabel ou do Filho de Deus com o profeta João Batista, ambos ainda no útero materno. Maria exalta o poder do Altíssi-mo que derruba os poderosos e exalta os humildes. Lembremo--nos que a oração mais poderosa é aquela que o Filho de Deus diz pregado na Cruz: “Pai perdoai--lhes porque não sabem o que fazem”. Oração poderosa que salva a humanidade! Em pleno mês de agosto, quando a Igreja reflete sobre seu chamado, sua vocação é urgente que creiamos que a oração tem poder mudar a face da terra pela face orante da Igreja. Esta é a tarefa poderosa da Igreja, a oração.

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religiOsO

atualiDaDe

Da redação

tuRismo

no espíRito santoJá virou clichê falar que mo-

ramos num estado chamado “Espírito Santo” que tem por

capital “Vitória”...Todavia, quando o assunto é

Turismo Religioso esse clichê cai bem. Afinal, além da inspiração do Espírito Santo, a Vitória é resultado esperado por todos nós, e agora temos mais ajuda ainda, pois, dia 03 de abril deste ano, o Papa Francisco assinou o decre-

to de canonização tão esperado por devotos de todo o mundo, em especial, os capixabas: Padre Anchieta é oficialmente São José de Anchieta: Apóstolo do Brasil.

Vulto histórico importantís-simo para nosso país, São José de Anchieta fundou cidades, é consi-derado o pai do teatro brasileiro, foi poeta, catequista, missioná-rio. Com base nesse currículo cheio de adjetivos, um grupo de visionários criou, em 1998, os

“Passos de Anchieta”, caminhada inspirada no caminho percorrido pelo missionário, e desde então, religiosamente repetida por mi-lhares de “andarilhos” a cada ano.

A caminhada passa por quatro importantes cidades para o turismo religioso no estado: Vitória, Vila Velha, Guarapari e Anchieta. Vitória, capital do Espírito Santo, recebe os anda-rilhos de braços abertos tendo como ponto de partida a Catedral Metropolitana, importante monu-mento histórico, tombada pelo Conselho Estadual de Cultura, em maio de 1984.

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Além da Catedral, Vitória tem um potencial histórico-cultu-ral muito importante, sem contar a beleza da cidade. Quem visita Vitória não pode deixar de conhe-cer suas igrejas e monumentos, como o Santuário e Basílica de Santo Antônio, o Palácio Anchie-ta e outros tantos patrimônios, localizados principalmente no Centro da Cidade.

Em Vila Velha, acontece o terceiro maior evento religioso do país, a Festa da Penha, padroeira do estado. Evento que cresce a olhos vistos, a Festa da Penha fica atrás somente da Festa de Aparecida (SP) e do Círio de Na-zaré (PA), tendo a Romaria dos Homens como um ponto forte, não deixando de evidenciar todas as outras romarias que acontecem durante o evento como a das mu-lheres, dos militares, dos cavalei-ros, dos ciclistas e motociclistas.

Guarapari, cidade capixaba famosa por suas areias mona-zíticas, também tem registrada em suas terras a passagem do

Padre Anchieta, na Igreja Nossa Senhora da Conceição.

Em Anchieta, cidade fun-dada pelo santo, muitas histó-rias e registros nos livros como a da comunidade de Ubu, que tem esse nome, pois lá o corpo do padre caiu, durante o cortejo fúnebre para Vitória, onde seria sepultado. Há também o poço que jorrou água quando Anchieta tocou com o cajado fazendo uma prece a Deus, além de outros po-ços jesuíticos, da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção que, junto com o museu, compõe o Santuário Nacional de São José de Anchieta.

São 17 edições, muitas his-tórias e experiências vividas e sentidas. No coração de cada andarilho, a certeza que para ir longe, basta ter a coragem de dar o primeiro passo.

Nessa 17ª edição, a primeira após a canonização, com mais de 4.000 andarilhos, ficou evidente a adesão de muitos andarilhos curiosos em conhecer um pouco

mais de perto a história da vida e obra do Padre Anchieta, conhecer a Catedral Metropolitana de Vi-tória, sentir a emoção de chegar ao Convento da Penha em Vila Velha, na Igreja Nossa Senhora da Conceição em Guarapari e ao Santuário Nacional de São José de Anchieta, em Anchieta, “sítio ameno”, onde o santo passou seus últimos anos de vida. Ao longo da caminhada, esses e outros impor-tantes pontos turístico-religiosos podem ser contemplados pelos andarilhos.

Com a canonização de An-chieta, o turismo religioso ficou mais evidente no Espírito Santo. Assim, o capixaba precisa divul-gar mais aquilo que o estado tem a oferecer, além do povo acolhe-dor e da natureza exuberante das praias e montanhas. É necessário aproveitar esse momento para empreender, para investir, para incrementar, para conhecer e co-locar ainda mais valor ao turismo no Espírito Santo, reforçando que o destino é aqui, que temos muito

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atualiDaDe

a oferecer para quem vive e visita.Além das manifestações tu-

rísticas já citadas, é interessante conhecer e experimentar tam-bém a religiosidade do Santuário de Nossa Senhora da Saúde e o Mosteiro Zen Budista Morro da Vargem, em Ibiraçu, os ta-petes e passadeiras de Corpus Christi em Castelo, a festa de São Benedito, na Serra, com a tradicional e movimentada pu-xada e fincada do mastro, bem como outros roteiros de cunho turístico-religioso-cultural. Essa dica vale tanto para os visitantes como para os capixabas.

O turismo religioso tem des-taque em nosso estado há muito tempo, porém, agora que temos também um santo, São José de Anchieta, a oportunidade de crescimento e potencial desse segmento se materializa quando se constata, por exemplo, que o número de visitantes ao Santuário Nacional de São José de An-

Renata Geneviève Rocha Pires RosaDiretora-fundadora da ABAPA -

Passos de Anchieta Gerente Estratégica de Cultura e

Patrimônio Histórico de Anchieta

chieta praticamente dobrou desde a canonização. Em Anchieta, o comércio que funciona ao lado do museu, não tem conseguido passar o mês sem repor merca-dorias, tamanha a procura por itens que contem a história do Padre ou que comprovem que ele “esteve aqui”.

Outras pessoas estão inves-tindo em propostas similares de negócio e estão otimistas com o investimento. Isso sem contar que a concorrência é salutar, es-pecialmente para o freguês. Vale ressaltar que é oportunidade para todos, não somente para os ca-tólicos. São ricos os frutos

do turismo religioso, a ser ainda mais explorado no Espírito Santo, diante de tantas manifestações artísticas, culturais e históricas presentes no Estado.

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Assim é que os vidros colo-ridos partidos, dispostos na argamassa de forma

propositalmente desordenada, vão formando, desde a Antigui-dade, lindos painéis de mosaico, onde, sobretudo nas abóbadas ou absides das igrejas, a luz se desdobra em reflexos luminosos de cores variáveis, em um convite ao maravilhamento. A técnica de mosaico consis-te na colocação de pequenos frag-mentos de pedras, como mármores

Raquel Tonini, membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória e Grupo de Reflexão do setor espaço

celebrativo da comissão Litúrgica da cNBB

arte sacra

MOsaicOs,

A Arte é fazer das tripas, coração! Com os cacos da vida, montar um vitral, onde tudo permanece com a mesma matéria, reorganizada, só que

agora transparente à Luz que ilumina o mundo!(Adélia Prado, por Dom Ruberval Monteiro da Silva)

um convite ao maRavilhamentoe granitos, pedras semipreciosas, pastilhas de vidro, seixos e outros materiais unidos com argamassa sobre qualquer base. Largamente usado em pisos, murais e painéis móveis, paredes e fontes, na de-coração de ambientes internos e externos, trata-se de uma forma de arte milenar com diferentes aplicações ao longo da história. No Cristianismo, o mosaico encontra grande possibilidade de aplicação desde a arte dos primei-ros cristãos, tendo seu apogeu na arte bizantina. Os mosaicos de piso, ainda do século II, trazem o peixe como símbolo de Cristo, antes mesmo do uso da cruz e se desenvolvem com grande riqueza simbólica. O mais antigo teste-munho de um painel de mosai-cos numa abside de uma igreja encontra-se na Igreja de Santa Pudenziana em Roma, construída numa antiga terma. Atualmente, há um ressur-gimento do uso desta arte. Em nossa Arquidiocese temos lin-

dos exemplos como o interior da Igreja Santa Luzia, na Praia do Ribeiro em Vila Velha, obra do artista plástico Celso Adolfo, pai-néis externos em igrejas, sacrário da Igreja São José de Maruípe, além dos quatro evangelistas no retábulo da Catedral Metropo-litana de Vitória. Vale a pena conferir, contemplar e deixar-se maravilhar!

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micronotícias

TecnOlOgia para O beM

a luTa pela água

Acometido por um câncer na garganta, um inglês de 61 anos precisou passar por uma cirurgia que o impediria de emitir sons pelo resto da vida. Ao saber da notícia, colocou a tecnologia a seu favor: gravou em um Tablet mensagens de voz destinadas a família e também comandos para a cachorra. Olá, eu te amo, tenham um bom dia e instruções para que a cachorra sente, deite e cumprimente com a pata foram algumas das frases gravadas pelo inglês, que viu na tecnologia uma maneira de se manter próximo às filhas e esposa. Um gesto que pode parecer pequeno, mas que fará diferença no dia a dia dessa família.

O documento Conflitos no Campo no Brasil 2013, produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), apontou o aumento do número de conflitos pela água, sendo o maior já registrado. Em 2012 foram 79 disputas, enquanto em 2013 o

uMa nOva vidaEm uma operação inédita na Grã--Bretanha, uma jovem de 14 anos teve seu sangue removido, filtrado e reinserido no corpo para possibilitar um transplante de rim. Nascida com insuficiência renal, ela recebeu o primeiro transplante em 2011, mas o novo órgão teve de ser removido no dia seguinte porque seu organis-mo o rejeitou. A menina carregava anticorpos que atacavam o órgão transplantado. Desde o transplante

mal sucedido, ela vinha sendo sub-metida a diálises. Ao longo de uma semana, seu sangue foi removido, filtrado e reintroduzido no corpo por meio de um novo tratamento conhe-cido como plasmaferese. Depois do procedimento, ela pôde receber um novo rim, doado por seu pai. Apesar de ser o primeiro caso, a comunidade médica espera poder oferecer a outros jovens na mesma situação uma nova oportunidade de vida.

número aumentou para 104, com a média de 31 mil famílias brasileiras atingidas. A coordenadora da CPT afirma que nesses conflitos, famí-lias são expulsas pela construção de barragens, ou são atingidas por problemas ambientais, como a con-

esperança para diabéTicOs

carTãO árvOreA Fundação SOS Mata Atlântica lançou um sistema de incentivo ao plantio de árvores no bioma, que abriga diversas espécies. Atra-vés do projeto Cartão Árvore, os cidadãos poderão adquirir pelo site www.florestasdofuturo.org.br um cartão no valor de R$ 25, que significa uma muda de árvore plan-tada a cada cartão adquirido. A iniciativa integra o Programa Flo-restas do Futuro, que já plantou mais de 5 milhões de árvores no país desde 2003 - o que corres-ponde a 3,6 mil campos de futebol. O usuário conseguirá acompanhar o plantio da árvore real que ele está financiando. Através de um número enviado por e-mail, o ci-dadão recebe a identificação au-ditada do lote, o nome da fazenda e do município onde a árvore será plantada e o tipo de muda. Um registro fotográfico possibilitará conferir o plantio.

Um disco ultrafino de polímero, pouco maior do que um CD, implantado no abdômen po-deria mudar a vida de milhões de diabéticos que dependem de insulina. O pâncreas bioar-tificial, desenvolvido por pes-quisadores franceses, será testado pela primeira vez em humanos em 2016. O desen-volvimento dessa membrana levou mais de 20 anos de pesquisa. Com o dispositivo, os pacientes não terão mais

de receber injeções diárias de insulina: o hormônio será fabricado naturalmente pelas células do pâncreas (obtidas por engenharia genética a par-tir de células-tronco), dispos-tas dentro do bolso artificial. Este projeto, cuja aplicação em grande escala não deve ocorrer antes de 2020, levanta muitas esperanças e expec-tativas para 25 milhões de pessoas com diabetes do tipo 1 em todo o mundo.

taminação da água e a degradação do solo. O resultado também apon-ta a urgência de preservação das comunidades da Amazônia, onde a expulsão de famílias aumentou 63%. O documento traz informa-ções sobre as disputas por terra,

por direitos trabalhistas, pela água e outros, que acontecem em todo o Brasil. Os dados são entregues ano a ano para os ministérios federais, que os utilizam como base para políticas de proteção a trabalha-dores rurais.

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entreVistaMaria da Luz Fernandes

o nasceR Deuma comuniDaDeAos 90 anos, Dona Thereza Lima Girelli conta sobre sua chegada ao bairro São Cristóvão e o nascimento da comunidade católica no local.

vitória - Quando chegou ao Bairro São Cristóvão?Thereza Lima - Nasci em Acioli e vim para Vitória em 10 de ou-tubro de 1962. Lem-bro porque no dia que cheguei eu fiquei em casa, no outro dia fui ao Convento, no outro fui levar minha cunhada na estação e depois eu fui pra missa com minhas filhas. Eu nem sabia onde era a igreja, mas era dia de Nossa Se-nhora Aparecida e tinha

chegou, a comunida-de São Cristóvão já existia?Thereza Lima - Não. Eu ia lá na São José que era muito pequena e depois na São Miguel.

vitória - E a senhora começou a atuar na Igreja lá?Um dia, minhas filhas e outras vizinhas daqui que começaram a ir à missa comigo pediram ao padre para colocar uma catequista para elas fazerem o cate-cismo, já que elas não tinham nada pra fazer no domingo. Mas o padre disse que não tinha ninguém. Elas disseram que tinha eu e ele então me chamou, mas eu nunca tinha sido catequista, eu era do apostolado, sabia fazer via-sacra, rezar o mês de maio. O padre me chamou, perguntou

que ir, então fui pergun-tando, perguntando até chegar lá. Aqui poucas pessoas eram católicas. Minha filha não queria ficar aqui porque não tinha criança na igreja, mas quando eu passava com meus filhos, outras crianças começaram a ir junto e chegou a um momento que tinha 50 crianças para levar pra igreja todo o domingo. Eu passava na rua e as mães diziam para as crianças: vai com ela. Lá em Acioli a igreja era pertinho e meus filhos participavam. A igreja de lá era vida, as catequistas eram as irmãs do cônego Mau-rício, tinha catequese, apostolado. Os meus filhos gostavam da igre-ja porque eles partici-pavam das atividades, estavam sempre junto.

vitória - Quando

onde eu morava e foi até a minha casa. Che-gou aqui, pediu para eu rezar o mês de maio, perguntou se eu sabia rezar o terço, se sabia os mandamentos. Eu sabia tudo, a ladainha ao Sagrado Coração de Jesus, a Nossa Senhora, eu sabia tudo e naquele tempo a catequese era isso. E aí ele me pediu para rezar o mês de maio todinho com as crianças na igreja.

vitória - O que é re-zar o mês de maio?Thereza Lima - Era can-tar a ladainha de Nossa Senhora e rezar o terço todo o dia.

vitória - Depois de rezar o mês de maio virou catequista?Thereza Lima - Virei. Primeiro o padre pediu para levar as crianças pra missa, então eu rezava o

revista vitória Agosto/201414

terço em casa. Juntava muitas crianças na va-randinha e rezava com elas e com os vizinhos. Com isso eu fiquei cate-quista sem saber.

vitória - Ficou ca-tequista por quanto tempo?Thereza Lima - Em 1964 o padre chegou à minha casa e perguntou se eu sabia escrever, já que sabia rezar a ladainha. Eu disse que sim e ele falou assim: então a senhora vai me ajudar porque eu não conheço ninguém aqui. Ele me deu uma lista e pediu para eu sair e anotar quantas pessoas, quan-tos católicos, quantas crianças. vitória - Como foi esse trabalho?Thereza Lima - Peguei os papéis e saí por aí visitando as casas e ano-tando tudo. As pessoas pensavam que eu era recenseadora. Então eu explicava que o padre mandou ir às casas e perguntar quem é ca-tólico, quem é casado na Igreja e quem não é. Quando eu terminei, percebi que nesta rua aqui só tinha dois ou três católicos.

vitória - E quando a senhora entregou a lis-ta, o que o padre fez?Thereza Lima - Quan-do eu terminei tinha uma reunião pra ver a construção da igreja. O padre pegou os papéis e perguntou se eu co-nhecia todo mundo e eu falei que não, então ele foi à casa de dona Derly, Dona Olga e Dona Carmen, mora-doras aqui da região, e pediu para convidar as pessoas que não eram casadas e, caso quises-sem, preparar para o ca-samento, pois o padre não cobraria nada. Elas foram e prepararam 20 casais e eu preparei os filhos e outras crianças para a primeira comu-nhão. Fizemos tudo no mesmo dia lá na igreja São Miguel.

vitória - São Cris-tóvão ainda não tinha comunidade?Thereza Lima - Não, era tudo lá na São Miguel. Mais tarde é que com-prou aqui.

vitória - Como foi a construção da comu-nidade São Cristóvão?Thereza Lima - Naquele

“Peguei os papéis e saí por aí visitando as

casas e anotando tudo. As pessoas

pensavam que eu era

recenseadora. Quando eu

terminei, percebi que nesta rua aqui só tinha dois ou três católicos.”

tempo só a mulher tra-balhava na Igreja aqui. A Dona Carmen, Dona Olga e Dona Derly fa-ziam caldeirões de min-gau pra vender e juntar dinheiro pra comprar o lote e passar a igreja para aqui. Mas aí o pa-dre arranjou dinheiro e comprou o lote. Depois que o padre comprou o terreno, ele conversou com elas e então elas continuaram vendendo o mingau para construir a igreja.

vitória - Porque a comunidade deixou de ser São Miguel?Thereza Lima - Porque aqui tinha muito mo-torista, mas eles não frequentavam a Igreja, então foi um jeito de dar o nome do padroei-ro dos motoristas, para chamar a atenção dos motoristas e ver se os homens vinham e aju-davam mais.

vitória - E a senhora ajudou?Thereza Lima - Nesse tempo eu precisei tra-balhar fora então eu só ajudava quando podia. As minhas filhas já eram catequistas e eu ajudava. A minha ale-

revista vitóriaAgosto/2014 15

gria era ouvir as crian-ças chegando à minha casa às 6h da manhã e chamando pra ir à igreja. Não tem nada mais bonito do que ver a criança querendo ir pra igreja.

vitória - Como foi o começo?Thereza Lima - Aqui tinha um barraco e não tinha carro, mas o padre chamou o bispo, Dom João da Motta, e foi uma confusão porque não tinha ninguém pra ir buscar. O padre pediu pra arrumar o espaço, então a gente cobriu o barraco com lençol e o bispo benzeu o lugar e celebrou a missa.

vitória - A primeira missa aqui foi numa igreja de lençol?

Thereza Lima - Foi isso mesmo. Ainda estava muito feio, as tábuas todas quebradas, então a gente cobriu com len-çol e o bispo era muito bonzinho e celebrou ali. Quando o bispo pisava, a tábua levantava, mas não caiu não (risos).

vitória - O que mais a senhora fez na comu-nidade?Thereza Lima - Depois eu preparei a coroação de Nossa Senhora. Eu nunca tinha feito, mas o padre pediu e eu fiz. As minhas meninas eram anjos em Acio-li, eu peguei as roupas emprestadas na roça e fiz. Com isso todo o mundo queria partici-par. Uma vez eu lembro que tinha uma menina bem pobrezinha e a mãe dela falou que não podia arranjar roupa, eu disse pra mandar que eu ar-rumava e até hoje essa menina gosta de mim, tinha tanta criança que nem cabia. Foi muito gostoso. O melhor da minha vida foi esse tem-po. Depois a irmã Clari-ce veio, ajudava a gente e aí eu fui aprendendo porque eu só sabia rezar a ladainha e o terço.

entreVistaMaria da Luz Fernandes

“Quando eu

passava com

meus filhos,

outras crianças

começaram a ir

junto e chegou a

um momento que

tinha 50 crianças

para levar pra

igreja todo o

domingo.”

vitória - A senhora voltou a fazer o recen-seamento?Thereza Lima - Não. Após um tempo afas-tada por motivos pesso-ais, eu voltei pra Igreja porque a Igreja é mais que a vida da gente.

vitória - Qual foi o momento mais bonito da vida da senhora na Igreja?Thereza Lima - Ah, foi a vinda do cônego Mau-rício pra cá. Foi quando eu tive mais liberdade. Ele me conhecia, co-nhecia a minha família. Nós éramos vizinhos. Ele sabia que eu era católica.

vitória - O que a se-nhora diz para quem está organizando co-munidades?Que a catequista tem que ser simples e não discriminar as crian-ças. Não se pode dis-criminar as pessoas. Eu comecei fazendo coroação e via-sacra. Quando chamava as crianças pra coroação todas queriam parti-cipar. Cheguei a fa-zer coroação com 50 crianças e elas não esquecem até hoje.

uma coR paRa caDa tempo “As diferentes cores das vestes litúrgicas visam manifestar externamente o caráter dos mistérios

celebrados, e também a consciência de uma vida cristã que progride com o desenrolar do ano litúrgi-co.” (IGMR, 307) O roxo, símbolo da penitência, é usado durante o tempo do Advento, da Quaresma e nas celebrações pelos fieis defuntos. O vermelho, símbolo do fogo da caridade, é usado nas festas da Paixão do Senhor, dos mártires e no Pentecostes. O branco, símbolo da pureza, é usado nos tempos do Natal e da Páscoa, nas festas de Nosso Senhor e de Nossa Senhora e dos santos. O verde, símbolo da esperança, é usado durante todo o tempo comum, que ocupa a maior parte do ano litúrgico.

contribuam para a beleza da ação sagrada” (Instrução Geral do Missal Romano, 297). Assim, as vestes garantem a dignidade para a celebração do mistério pascal e distinguem, não em grau de importância, mas em grau de serviço, aqueles que a conduzem e são um sinal de identificação.

vesTes liTúrgicas: Desde os primeiros sé-

culos, os ministros da Igreja usam vestes para

a celebração do culto. A sua ori-gem remonta às vestes gregas e romanas e o seu uso aparece atrelado à classe social ou impor-tância de determinado evento. “Na Igreja, que é o Corpo de

munDo litúrgico

“Revesti-vos De cRisto” (ef 4,24)Cristo, nem todos os membros desempenham a mesma função. Esta diversidade de ministérios se manifesta exteriormente no exercício do culto sagrado pela diversidade das vestes litúrgicas, que por isso devem ser um si-nal da função de cada ministro. Convém que as vestes litúrgicas

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Marcus Tullius Comissão Arquidiocesana de Liturgia

vesTes liTúrgicas:

Devidamente paramenta-dos, os ministros – independente do ministério que ocupam na comunidade –, naquele momen-to, não falam, agem, presidem ou realizam qualquer ato em nome próprio, mas o realizam em nome de Cristo e pelo man-dato recebido da Igreja. Sejam eles ministros ordenados (diáco-nos, padres e bispos), ministros extraordinários (da Eucaristia, da Palavra, testemunhas quali-ficadas para o Batismo e Ma-trimônio, Exéquias) ou demais colaboradores do corpo celebra-tivo (coroinhas, cerimoniários, leitores, salmistas).

“A alva é a veste litúrgica comum aos ministros de qual-quer grau, cingida à cintura pelo cíngulo, a não ser que o seu feitio o dispense.” (id., 298) Como o próprio nome já evoca, a alva é a veste de cor branca que cobre todo o corpo e, usual-mente, é substituída pela túnica. A segunda veste é a estola, que

“é colocada pelo sacerdote em torno do pescoço, pendendo diante do peito. O diácono usa a estola a tiracolo sobre o ombro esquerdo, prendendo-a do lado direito.” (id., 302) Os sacerdotes utilizam-na para celebrar todos os sacramentos e sacramentais, pois ela é o símbolo do poder sacerdotal e expressa a sua participação no sacerdócio de Cristo. Jesus, durante a última Ceia, instituiu os sacramentos da Eucaristia e da Ordem e, naquela ocasião, cingiu a sua cintura com uma toalha para lavar os pés dos Apóstolos. A estola possui este sentido de serviço: na presidência da ação litúrgica, eleva a oração dos fiéis a Deus, em um sublime e perfeito louvor. Os diáconos usam a estola cruzada no peito lembrando a veste dos antigos escudeiros, que estavam sempre prontos a ajudar os cavaleiros. Através da estola, e também da casula, temos a identificação da

cor litúrgica do dia. A casula, geralmente usada

nos domingos e solenidades, reveste todo o sacerdote. O nome é o diminutivo de casa. O Pontifical Romano, livro que orienta todas as celebrações da Igreja, nos diz que a casula sig-nifica a caridade, pois ela é a coroa de todas as virtudes, assim como a casula coroa os demais paramentos. Todo serviço do ministro ordenado deve ser re-vestido da caridade. “Sobretudo, revesti-vos do amor, que une a todos na perfeição”. (Cl 3,14) Já o diácono, nas celebrações mais solenes, usa a dalmática sobre a estola. Ela é a veste da justiça para exercer o seu ministério e a disposição para o serviço aos irmãos. Cada paramento é, pois, uma consonância com o ministé-rio de Cristo, do qual o ministro ordenado é instrumento.

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como um paDRe

esPiritualiDaDe

Desde criança ouço essa expressão e nunca li nada sobre a sua origem. ademais, na minha convivência com os padres ao longo da minha vida, observei que os padres comem normalmente como qualquer outro ser humano. aliás, de modo geral, são até moderados no comer. como então nasceu essa expressão?

Dom Rubens Sevilha, ocdBispo auxiliar da

arquidiocese de Vitória

Imaginei uma expli-cação. No tempo da missa em latim, o je-

jum Eucarístico proibia comer desde a meia noi-te até a hora da missa. Mais tarde, o tempo foi reduzido para três horas e, atualmente, para ape-nas uma hora antes da celebração. Por motivos óbvios só havia missa na parte da manhã e na parte da tarde rezava-se o terço, novenas, ben-ção do Santíssimo, etc...

Fico imaginando a situação dos antigos padres, geralmente eu-ropeus (italianos, ale-mães, holandeses...) que, no lombo de ca-valos, saiam para cele-brar a Santa Missa nos

muitos outros males. Questionemo-nos se estamos nos alimentan-do adequadamente, com equilíbrio e sobriedade, como convém ao cris-tão. Perguntemo-nos se estamos desperdiçando alimento enquanto falta o pão na mesa de muitos pobres. Verifiquemos se estamos prestando a devida atenção ao jejum Eucarístico, que é um gesto de respeito para com o alimento Celes-te, não comendo nada uma hora antes da Santa Missa.

Para concluir , cabe relembrar que hoje os padres já não andam a cavalo e que o jejum Eucarístico é somente de uma hora antes da missa, por-tanto, os padres hoje comem normalmente como qualquer cristão. Hoje, diante da excla-mação “comi como um padre”, os sacerdotes gracejam respondendo: então você comeu com educação e rezou antes das refeições.

“Comi como um padre”,

os sacerdotes gracejam

respondendo: então você comeu com educação e rezou

antes das refeições.”

vilarejos e fazendas do interior do Brasil, sem poder comer absoluta-mente nada até a hora da celebração. Nessa ocasião ainda realiza-vam casamentos e ba-tizados, pois o padre passava somente uma vez por ano em alguns lugares mais remotos.

Após as cerimônias os fazendeiros ou donos da casa ofereciam o al-moço para o “seu vigá-rio”. Dá para imaginar a união do tamanho do banquete com o tama-nho do apetite do padre. Daí a fama: Comi como um padre!

A gula é um dos pecados capitais, isto é, ele é gerador de

cOMer

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sanTa clara:nos passos De fRancisco

comuniDaDe De comuniDaDes

O mês de agosto traz em destaque a coragem de uma mulher: Clara.

Nascida em Assis (Itália) no seio de uma família da nobreza local, foi a primeira mulher da Igreja a entusiasmar-se com o ideal franciscano. Aos 19 anos, fugiu de casa e, humilde, vestiu um modesto hábito de lã e pro-nunciou os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência, entregando-se ao propósito.

A partir daí, iniciou sua caminhada dentro da Segunda Ordem Franciscana, o ramo fe-minino. Muitas vieram com ela, inclusive sua mãe, Ortolana, e duas de suas irmãs, que aban-donaram seus ricos palácios e

foram viver ao seu lado, ingres-sando também na nova Ordem fundada por ela, as “Clarissas”. No Brasil, segundo dados de 2012, são 261 em 21 Mosteiros. No nosso estado, estão presen-tes na cidade de Colatina.

“Uma fé viva, corajosa e destemida”. É assim que a coordenadora da comunidade dedicada à santa em Jardim Tropical, na Serra, Maria Cé-lis Negrelli define Santa Clara. “Ela deu um grande exemplo ao abandonar toda riqueza da família para seguir na vida con-sagrada. É um grande estimulo para nossa fé, nos dá firmeza nos desafios da comunidade.”

A escolha por Santa Clara para ser a padroeira da comu-nidade é curiosa. Durante uma reunião, ela disse: “Vamos pe-dir a Santa Clara para clarear nossa mente na escolha!”. O grupo não teve dúvida, estava decidido o nome!

Clara também é lembrada

Durante os festejos da padroeira, cerca de 20 jovens da comunidade Santa Clara, Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Cristovão Colombo, Vila Velha, vão retratar as histórias da vida da santa. Segundo Frei Florival, que acompanha a juventude, eles farão o ‘trânsito de Santa Clara’, uma celebração com pequenas encenações, música e orações. A santa é comemorada no dia 11 de agosto, mas a apresentação acontece no dia 10, às 19 horas.

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ÁREA VILA VELHAComunidade em Morro da Lagoa (Barra do Jucu), Coqueiral de Itaparica, Cobilândia, Cristovão Colombo

ÁRea seRRa-FuNdãoComunidades em Jardim Tropical, Vista da Serra 1 e Vila Nova de Colares

ÁREA VITóRIAComunidades em Jardim da Penha, Santa Clara (Centro)

ÁRea caRiacica-viaNaComunidade e paróquia em Vila Bethânia, Boa Vista e Nova Canaã

ÁREA BENEVENTEComunidade em Sol Nascente

Onde celebrar

“Ó Deus, que na vossa mise-ricórdia atraístes Santa Clara ao amor da pobreza, conce-dei, por sua intercessão, que, seguindo o Cristo com um coração de pobre, vos con-templemos um dia em vosso Reino. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”

Oração

Na arqUidiOCese de Vitória, 13 COmUNidades e 01 ParóqUia sãO dediCadas a saNta.

como padroeira da televisão. A relação direta vem de dois momentos na vida da santa. O primeiro aconteceu numa noi-te de Natal. Por estar doente, não pode ir a uma apresentação na Igreja de São Francisco e, misteriosamente, começou a ouvir o que acontecia no local. E não foi só isso: viu a imagem do presépio na parede, como numa tela. O segundo momento

aconteceu em 1226, na morte de Francisco de Assis. Clara teve visões do velório e sepul-tamento projetadas na parede da sua pequena cela.

Por essas visões, o Papa Pio XII declarou, em 1958, San-ta Clara Padroeira da Televisão e de todos os seus profissionais. Em agosto de 1253, Clara fale-ceu e dois anos depois o papa Alexandre IV proclamou santa Clara de Assis.

Fazer memória de Santa Clara é sempre oportuno, seja pelo exemplo de vida na sua ca-minhada humilde e despojada, nos passos de São Francisco, seja pela sua relação com o mundo da comunicação. Muito se discute a qualidade do que é produzido pelos meios de co-municação em nosso país, em especial da televisão. As buscas pela audiência fácil, sucesso

imediato e faturamento, levam as emissoras a subjugarem o conteúdo de suas produções. Peçamos a Santa Clara que ilu-mine os profissionais para que tenham, independente de sua crença, respeito, ética e com-promisso com a qualidade em suas programações.

Gilliard Zuque

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Letícia BazetMaria da Luz Fernandes

rePortagem

felizesinfoRmais, alteRnativos e

Numa sociedade padronizada, as pessoas que agem de forma dife-rente chamam a atenção de todos e, geralmente, são marginali-zadas ou apontadas como “estranhas”. No caso da sobrevivência,

estabeleceu-se que as pessoas trabalhem para alguém e sejam remuneradas pelo serviço que prestam, ou trabalhem por conta própria, montando seu próprio negócio. Para incentivar a criatividade e a organização dos negó-cios o Governo e as faculdades oferecem ajudas especializadas através de empresas juniores, onde os estudantes aprendem a gerenciar negócios, e serviços de auxílio a pequenos empreendedores para desenvolver nos es-treantes as competências necessárias para formalizar seus próprios negócios. Mas, existem muitas pessoas que sobrevivem de outras formas, que não se encaixam nas definições prontas, nem desejam “ser enquadradas” nos modelos propostos e considerados corretos. Elas “se viram” para ganhar a vida e dar sua contribuição social sem obedecer aos padrões estabelecidos. Se você leitor já encontrou alguém cantando dentro do ônibus ou na Praça, fazendo malabares no sinal de trânsito, com uma banqueta na esquina da rua com produtos artesanais, pousando de estátua em feiras populares, na entrada do shopping ou em eventos, vendendo água, amendoim e balas em pontos estratégicos de movimento, ou produtos “falsificados” próximo a locais de comércio de luxo, acredite, pode não ser apenas falta de oportunidade ou pobreza extrema. A Revista Vitória percorreu as ruas da cidade e ouviu as histórias de cada um. Com elas aprendemos que por trás da aparência escondem-se ideais de vida, desprendimento, desejo de aprender, simplicidade e, principalmente, a experiência da liberdade. A “estátua” diz que observa as expressões de cada rosto e a atitude de cada um que se aproxima ou não se aproxima. “Aprendi a perceber os sentimentos das pessoas pelo jeito como elas me olham ou se afastam e, de maneira particular, vejo a reação dos adultos que acompa-

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nham crianças. Alguns seguram a criança que quer se aproximar com tanta força como se eu pu-desse fazer algum mal. Outros sorriem e mandam o menino falar comigo pra ver se eu sou de verdade. Só aí você já sabe como a pessoa é”, disse ela e acrescen-tou: “hoje consigo perceber o que as pessoas não dizem, mas está no rosto delas e acho que entendo muito mais as pessoas da família e os amigos”. Cansaço, sol, sede, conse-

rePortagem

vem aqui comprar o meu que no fundo é a mesma coisa. Então eu ganho o meu e deixo aquela pessoa feliz. Tem cliente que me encontra e fala que o produto é muito bom e não deve nada pra o outro de marca”. Sobre não ter lugar fixo ele diz que sem-pre volta porque “os clientes” reclamam quando ele some por muito tempo. Pergunto se ele tem clientes fiéis e ele afirma que sim e “quando tem alguma coisa que é bom pra aquela pessoa eu volto porque sei que ela vai me procurar”, diz com segurança. Sol, chuva, calor ou frio não influenciam na sua atividade. Ele trabalha de acordo com sua dis-ponibilidade. “Às vezes preciso fazer outras coisas e aí não venho vender. Eu faço meu horário e também conheço os costumes dos clientes. Não adianta che-gar aqui às 8h porque ninguém

quências do uso de produtos na pele, isso tudo faz parte de uma escolha que traz mais alegrias de que sofrimento, mais prazer que aborrecimento e um aprendizado enorme. A “estátua” que conver-sou conosco é feliz por chamar a atenção e fazer com que as pessoas parem para olhar para ela: “no meio de tanta correria alguns param e isso desacelera o ritmo de hoje que ninguém repa-ra em ninguém. Eu levo alegria pra quem para”. Ela expressa o sentimento dos personagens com quem con-versamos. Diogo vende produtos que consegue no “mercado pa-ralelo”, como ele diz, numa rua de comércio de luxo. “Com isso aqui, consigo pagar as minhas contas e posso escolher cada dia onde ficar. Sempre procuro um lugar com lojas chiques porque a pessoa vê que é muito caro e

“Vendo produtos que consigo no “mercado paralelo”, numa rua de comércio de luxo. Com isso aqui, consigo pagar as minhas contas e posso escolher cada dia onde ficar.”

Diogo

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compra nada, isso eu já sei”. Quando o interrogo sobre seu negócio ser ilegal, ele res-ponde que ser legal e formal é só conversa: “isto aqui é o meu sus-tento e da minha família, então não pode ser errado. Tem muita gente que faz coisa errada no governo e em negócios formais, como vai dizer que não pode? Eu trabalho tudo no certo e não rou-bo nada de ninguém”. Entre uma resposta e outra, Diogo cumpri-menta quem passa, brinca com quem já conhece, oferece seus produtos e diverte-se com as reações dos transeuntes. “Aqui é muito bom. Tem pessoas que vêm aqui só pedir informação”, diz com alegria estampada no rosto. Ao contrário de Diogo que faz rodízio entre os pontos que considera melhor, encontramos Alex no dia em que chegou a Vitória fazendo malabares no centro da cidade. Ele não troca apenas de ponto, troca de cidade e adapta-se ao que o público gosta. Começou com artesana-to, mas a desvalorização o fez buscar outras alternativas. Hoje diz ser o fogo o grande atrativo, mas se precisar ele faz outra coisa. Ele não quer ser rico e não tem vergonha de pedir quando precisa. O que ele não quer é ver a rua sem arte “imagina tu passar todo dia numa sinaleira e não ter arte na rua. É a hora que tu tem para relaxar, deses-tressar e ver uma manifestação artística. E aí tu pode contribuir,

claro que não só com dinheiro, mas com palmas, sorrisos. As pessoas muitas vezes são mal educadas e não batem palmas após um show. A arte precisa ser valorizada, nós artistas de rua também. É bom porque a gente gosta, o que fazemos é um trabalho como qualquer outro, só de uma forma mais alternativa”. Alternativa é talvez a pa-lavra que melhor expressa esse jeito de viver e se manter com trabalhos mais conhecidos como informais. Alex que é de Porto Alegre, estava em São Paulo e veio para Vitória para participar do Encontro Nacional da Comu-nidade Alternativa. Daqui vai para Brasília porque conheceu alguém de lá que conserta ins-trumentos e ele precisa consertar o violão quebrado no trem em São Paulo. Para essa viagem já conseguiu carona. E assim vai levando a vida do jeito que gosta, como ele disse quando falou sobre seu jeito de viver: “ele me dá uma ferramenta que eu posso viajar, e aí sim eu faço a verdadeira faculdade da vida, com as viagens. Assim eu co-meço a ver a realidade, abrir a minha mente, conhecer as pes-soas que são hipócritas e também as de bom coração... elas estão por todos os lados. Viajando eu posso desfrutar as belezas da natureza, que eu amo, conhecer tantos lugares lindos do país”. Nos lugares onde a arte é menos valorizada, Alex passa por dificuldades, mas para isso

“Ele me dá uma ferramenta que eu posso viajar, e aí sim eu faço a verdadeira faculdade da vida, com as viagens. Assim eu começo a ver a realidade, abrir a minha mente, conhecer as pessoas que são hipócritas e também as de bom coração... elas estão por todos os lados.”

Alex

ele tem resposta “sou tranquilo, não quero uma vida de luxo e vivo bem assim. O que tiver que acontecer com a minha vida eu aceito. A minha meta é sempre estar aprendendo, com mala-bares, com música, com arte. Busco os lugares que sinto que serão bons para mim. Já fui pra Chapada Diamantina, Chapada dos Veadeiros, Minas Gerais,

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Rio de Janeiro, Bahia, São Pau-lo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Viajo há pouco tempo, pra conhecer o Brasil todo são no mínimo cinco anos”. Música e arte foram o que levou também Helder, composi-tor e Cléber, apaixonado por mú-sica a deixar tudo e entrar para o mundo do trabalho alternativo. Os dois encontraram-se em São Paulo e percebendo a dificuldade de conseguir espaço em casa de show, resolveram então divul-gar o trabalho dentro do ônibus. “Com isso já rodamos mais de 130 cidades cantando. Em alguns lugares fazemos shows em esta-

belecimentos, mas é do ônibus que sai o nosso sustento. O nosso objetivo é alegrar as pessoas no coletivo”. Eles mesmos acham que levar a vida sem um tra-balho fixo é romper com um paradigma, mas adoram o que fazem e não trocam o alternativo pelo fixo. “Cantar nos ônibus é a nossa única fonte de renda, não temos outra ocupação, como tan-tos músicos que além de tocar, precisam de outro emprego”. Talvez alguns deles nem sabem, mas viver e trabalhar de forma alternativa vem ganhando espaço na sociedade da correria e do capital. Tentamos obter in-

formações sobre o encontro que Alex diz ter vindo participar e não encontramos, mas pesqui-samos e sabemos que o Encon-tro Nacional de Comunidades Alternativas surgiu em 1978 e acontece uma vez por ano. No início eram apenas comunidades rurais, mas aos poucos foram se abrindo possibilidades urbanas que também conquistaram seu espaço. E o que buscam as pes-soas que ingressaram no trabalho alternativo? Assim como as Co-munidades Alternativas “buscam encontrar as alternativas de vida, o Bem Comum e a Realização do Ser”(Eknath).

rePortagem

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As qualidades e virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e fazemos.

Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.

Como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha.

A amorosidade de que falo, o sonho pelo qual brigo e para cuja realização me preparo permanentemente, exigem em mim, na minha experiência social, outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da coragem de amar.

Se nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção.

Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.

Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino.

paulo fReiRe

asPas

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uma comuniDaDe De

caminhos Da bíblia

palavra e vidaTendo iniciado na edição do mês passado a reflexão do texto

de At 2,42-47: “Mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do Pão e às

orações”, apresentaremos as duas últimas “colunas” fundamentais das primeiras comunidades cristãs descritas no texto. A terceira “coluna” da comunidade dos discípulos missio-nários que se coloca ao lado do anúncio da Palavra é a “fração do pão”. Cada vez que se celebra a Palavra de Deus e a Eucaristia, partilhando o “Pão da Palavra” e o “Pão Vivo do Céu”, todas as vezes que as comunidades se encontram para celebrar a sua fé e a sua vida, Cristo está presente iluminando os corações e indicando o caminho a ser seguido.

Parte II

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Muitos discípulos missio-nários se sentem cansados, per-deram o encanto, tem seus olhos obscurecidos pelo desânimo, não são capazes de sonhar e, princi-palmente, estão tão preocupados com as próprias dores que não sabem mais o que significa a pa-lavra Solidariedade. Somente ao redor das Mesas da Palavra e da Eucaristia é que os discípulos são alimentados e fortalecidos; nesta celebração da Fé e da Vida, suas forças são refeitas, a esperan-ça ressurge e é nutrida em seus corações. Neste lugar fecundo da liturgia, os sofrimentos do seu caminho são amainados, os seus sonhos e projetos nascem e, sobretudo, os seus olhos se abrem para enxergar as diversas e sofridas realidades ao seu redor. Na comunidade dos discípu-los missionários, no momento da fração da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo, todos são con-vocados a ouvir a voz do Senhor e a receber o seu Corpo e Sangue dados como alimento, força da-queles que caminham e sustento dos que promovem a justiça e a paz.

A quarta “coluna” da co-munidade dos discípulos mis-sionários é a oração, o encontro orante com a Palavra de Deus. Em vários “lugares e momentos” privilegiados de oração e refle-xão é oferecido ao fiel a possi-bilidade autêntica de Encontro com Cristo, Palavra Viva do Pai. Neste diálogo fecundo com a Pa-lavra de Deus, os discípulos são transfigurados e transformados pela ação do Espírito Santo, pois somente por sua presença é que a comunidade dos discípulos missionários terá coragem para sair de si mesma na direção de uma autêntica evangelização. Nas palavras do Papa Francisco em sua Exortação Apostólica ‘A Alegria do Evan-gelho’, pode-se ler: “É preci-so cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade. Sem momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sin-cero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de sig-nificado, quebrantamo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o

ardor apaga-se” (EG 263). Assim, faz-se necessário a multiplicação destes espaços privilegiados de encontro com o Senhor Ressus-citado, nos quais os discípulos são encorajados a apresentarem ao Senhor a sua vida e o seu ca-minhar, ao mesmo tempo em que são levados a contemplar a vida dos mais necessitados e as dores do caminho de cada um deles. Como modelo de oração e vida desponta a figura de Maria, a mãe do Senhor, mulher orante que soube bem “guardar todas essas coisas, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19.51). Maria é a Mãe da Comunidade dos dis-cípulos missionários, espelho de oração e contemplação, alguém que soube unir a fé que nutria no coração à sua vivência cotidiana. Que a Virgem da Penha interceda junto ao seu Filho, a fim de que nossas comunidades sejam fiéis à sua vocação, principalmente aquela que nasce do exemplo de vida das primeiras comunidades cristãs.

Pe. andherson Franklin, professor de Sagrada escritura no iFTaV e doutor em

Sagrada escritura

ViVer bem

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beMcomeR

paRa viveR bem

Após a vilania do ovo, da manteiga e da carne vermelha na alimentação, os atuais vilões da dieta são o glúten e a lactose. Sob a

promessa de que uma dieta sem esses componentes favorece o emagrecimento, os carrinhos se enchem de alimentos “magros” e “saudáveis”. A moda da saúde alimentar se tornou tão exagerada que hoje é considerada uma das principais causadoras dos transtornos alimentares. Soma-se a isso a valorização cultural da estética. Para Sophie Deram, especialista francesa em neurociência do comportamento alimentar, nós vivemos atualmente o chamado “terrorismo nutri-cional”. “A nutrição de hoje está criando muitas regras rígidas que acabam estressando a pessoa. E isso é terrorismo. De uma hora para outra o glúten não faz bem, todo mundo se estressa com o glúten. Depois é a lactose, a carne vermelha, e por aí vai. Acabamos não sabendo mais o que comer, porque tudo isso é a base da nossa alimentação. Precisa-mos relaxar com a alimentação, pois, do contrário, podemos desenvolver distúrbios alimentares. E se

isso nos afeta, pode afetar ainda mais nossos filhos. É difícil para uma criança saber o que comer, tem tanta regra que fica quase impossível comer bem. Comer bem é comer de tudo, sem culpa e escutando o seu corpo”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo. Quando a preocupação em evitar alimentos que possam fazer algum mal ao organismo se torna uma ideia fixa, instala-se a ortorexia – a obsessão pela alimentação saudável. O distúrbio ainda não é reconhecido oficialmente como um transtorno alimentar, mas já é acompanhado pelos especialistas e tem até sintomas descritos. O problema foi rela-tado pelo médico norte-americano Steve Bratman, em 1997, e diz respeito à necessidade rigorosa de seguir uma dieta seletiva e considerada saudável. Sophie tem três dicas básicas para evitar os extremos e seguir uma vida saudável: não faça dieta; coma alimentos mais verdadeiros, frescos, caseiros; e volte a cozinhar. Relaxe, retome o gosto pela comida e pelos mais diversos alimentos, busque o bem estar mental antes do físico e seja feliz!

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Importa olhar o que nos rodeia. E depois de olhar, quem sabe, falar sobre o que se viu. Digo isso a partir de um filme, Poesia, de Lee Chang-dong (Coreia do Sul, 2010). Completamente belo e indagador. Não sem

ele eu diria agora que é preciso olhar ao redor, mesmo que já soubesse disso. E é por causa dele, do filme, que me proponho a escrever-colher uns frutos das lavouras dos silêncios que o filme me proporcionou, texto que uns poucos irão ler, mas que ofereço assim mesmo. Falar pode ser o começo, digo pra mim mesmo. Um pequeno e aparentemente insignificante começo, ou recomeço. Olhar o que nos rodeia para além do que nos mostram ou nos deixam ver, quem sabe falar disso, para recuperar a vida, ou uma porção dela, ou um sentido que nos ampare e nos sustente em novas jornadas. E se tivermos sorte – ou sensibilidade suficiente – pode ser que alcancemos alguma poesia. Andamos em dificuldade de olhar o que nos rodeia. Estamos dis-pensando a sensibilidade de descobrir camadas nas coisas para vê-las planas – mesmo que em 3D em telas e displays. Os dispositivos eletrônicos – tantos e tão mutantes – estão viciando nossos olhares. Não que sejam ruins, não são. Mas eles podem nos impedir de outras experiências em que eles não entrem. Ressoa cada vez mais fora de moda o “olhai os lírios (no

iDeias

deixaM ver

Olhar O que nOs rOdeia,paRa além Do que nos mos tRam ou nos

revista vitória Agosto/201434

campo), olhai os pássaros (nas árvores, nos fios de eletricidade, nos quintais)”. Já não vemos o que nos rodeia senão pela me-diação desses dispositivos. Os pássaros fazem seus ninhos no facebook, lá os vemos eivados de arranjos e frases bonitinhas. Os lírios foram substituídos nas telas brilhantes e hipernítidas por outras flores que carregam mais cores do que teriam nos campos. Prendem nossos olhos e forçam nossa exclamação: que lindo! Também as violências que nos rodeiam transformam-se em realidades “virtuais” nas muitas imagens que nos são oferecidas, como se do que se mostra não

manos. Importa ainda porque assim apuramos sensibilidades, costuramos silêncios em vozes, e intercalando pausas com ecos e ressonâncias de outras falas, possibilitamos novas conexões no cérebro, novos arranjos no co-ração, novas ternuras nas mãos. Talvez seja de fato uma escapatória falar do céu, das re-alidades transcendentais. Tal-vez porque não somos capazes de olhar o que nos rodeia é que buscamos tão sofregamente as promessas de um céu em mil templos e religiões. Não lembro agora quem disse que os cristãos ainda não compreenderam de fato aquela afirmação presente em suas bíblias em pequenas palavras: O Verbo se fez carne. Talvez se os tempos atuais com sua lógica de fama, visibilidade e aparência fossem reescrever a bíblia retirassem dela a Encar-nação. Deus se manifestaria em encantadoras imagens holográ-ficas que logo seriam desfeitas ante nossos olhos maravilhados. Seriam “revelações” vazias de vida, de sangue, de terra, de car-ne, de proximidade. Inoperantes, portanto. Não por acaso a En-carnação pode ser o apito a nos acordar para o que nos rodeia. Ou a trombeta.

dauri Batisti

escorresse de fato um sangue fér-reo e viscoso, e como se a perda estampada em rostos assustados na tela não se estendesse para além das imagens por anos e anos

em fios invisíveis de luto. Entre a mara-vilhosa avidez do olho e a realidade em sua beleza, e também em sua

dureza e aspereza se interpõe como lente, como anteparo, como obstáculo uma outra “coisa”, uma coisa produzida para o olho exa-tamente para fixá-lo, prendê-lo, amarrá-lo e domestica-lo, impe-dindo-o de ver. Não o dispositi-vo eletrônico propriamente, mas aquilo a que o dispositivo serve, um sistema que se apropriou da vida e dela fez o mais absoluto e importante substrato para o lucro e o acúmulo de capital. Da vida se serve, a ela não se serve, a não ser que se pague pelo serviço. Mas por que importa olhar o que nos rodeia e falar disso? Importa porque a realidade que nos rodeia é exatamente aquela que nos apela para a intervenção, é aquela que tem o poder (maior) de nos arrancar do comodismo. A realidade mais próxima é aquela que nos convoca e nos empode-ra como fazedores de mundos, transformadores, artistas e hu-

Olhar O que nOs rOdeia,paRa além Do que nos mos tRam ou nos

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Prática Do saber

Mais do que colocar em prática o conheci-mento adquirido em

sala de aula, o Núcleo de Prá-ticas Jurídicas da Faculdade de Direito, FDV, busca humanizar as relações entre os alunos e os clientes que buscam aten-dimento jurídico na área cível, familiar e previdenciária. Exis-tente há 15 anos, o NPJ conta com a atuação de alunos do 9º e 10º período, sob a orientação de professores, para solucionar os casos que chegam ao local. O atendimento no NPJ faz parte da grade curricular do curso, ou seja, todos os alunos, obrigatoriamente, vivenciam a experiência de acompanhar os casos reais, desde o início do processo. “Esse é o gran-de diferencial do núcleo, os

áreas atenDiDas Pelo nPJ

carenTeatenDimento juRíDico paRa a população

Letícia Bazet

TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIAFAMíLIACíVEL

A cada semestre, 160 alunos passam pelo NPJ.

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alunos colocam em prática o conhecimento, por meio meio de casos reais. Nenhum estágio que eles irão fazer fora da facul-dade proporciona esse contato com o cliente. Eles buscam a solução e ajuizam o processo se for necessário, acompanhando o caso até o fim”, descreveu a coordenadora do NPJ, Renata Stauffer. Para Renata, com o acom-panhamento dos casos, os alu-nos evoluem e amadurecem ao ouvir histórias que nem sabiam

que poderia existir. “Está pre-sente aqui a experiência de vida, a solidariedade, o empenho dos alunos em solucionar cada caso dos clientes. As pessoas aten-didas aqui veem nos alunos a única chance de resolução do seu problema, então há um envolvimento entre ambas as partes, uma visão humanitária diante do outro”. Diante de uma iniciativa consolidada e reconhecida, o NPJ recebe encaminhamento de clientes do Fórum de Vitó-ria, Defensoria Pública e outros órgãos da justiça, tornando-se assim, uma importante fer-

A cada semestre, 160 alunos passam pelo NPJ.

ramenta de desenvolvimento social. Além do atendimento no local, o núcleo também par-ticipa de ações integradas pela cidadania de forma voluntária, levando seus serviços a essas ações. “Com isso, queremos sair também do nosso espaço, e ir onde as pessoas estão ne-cessitando. Sempre que somos solicitados, nós procuramos atender, pois mesmo sendo um trabalho voluntário, temos contado bastante com a adesão dos alunos. Isso mostra que o projeto mexe com eles e o ob-jetivo é sempre abraçar a causa do próximo”, contou Renata.

O atendimento é voltado para a população carente, que comprove não ter condições de contratar um advogado particular. São considerados carentes aqueles que têm uma renda mensal familiar de até 3 salários mínimos.

Podem ser atendidos no Núcleo clientes cujas ações possam ser ajuizadas no município de Vitória.

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reflexões

Dom Joaquim Wladimir Lopes DiasBispo auxiliar da arquidiocese de Vitória

a vocação Diaconal

Quero partilhar neste mês de agosto um assunto que vem despertando

o interesse de muitas pessoas, pois venho recebendo pelas redes sociais, muitos questionamentos com relação à vocação diaconal. Para uma boa compreensão, é preciso ter claro o sentido vo-cacional.

O Papa Bento XVI, na sua Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, em 2012, destacava que toda vo-cação “é um dom do amor de Deus”. Os Evangelhos apresen-tam a vocação como um belo encontro entre a pessoa humana e Deus, que nos amou por pri-meiro.

A vocação diaconal está ligada ao Cristo-Servo, aquele que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). De fato, os diáconos, sendo um dom de Deus à sua Igreja, são marcados pelo caráter do serviço e gratuidade/voluntariado.

Em Atos 6,2 os apóstolos discutiam “não está certo que nós descuidemos da Palavra de Deus para servir às mesas”; o crescimento das comunidades gerava tensões e conflitos inter-nos. Muitos pobres não estavam

sendo bem atendidos. Então os Doze convocaram uma assem-bleia e apresentaram uma so-lução concreta: descentralizar os serviços, escolhendo novos ministros. A comunidade aderiu a ideia, realizando uma eleição, onde os Doze confirmaram os eleitos mediante a imposição das mãos. Surge assim, uma nova organização na comunidade, o grupo dos Sete Diáconos (At 21,8) . Atualmente, o Brasil conta com 1.370 diáconos.

O ministério diaconal é exercido segundo as Diretrizes para o Diaconato Permanente da Igreja no Brasil, documento nº 96, que define três âmbitos: 1º o serviço da Caridade, pelo qual o diácono assume a opção preferencial e evangélica pelos pobres, marginalizados e exclu-ídos da sociedade; 2º o serviço da Palavra, pelo qual o diácono se torna discípulo, ouvinte, ser-vidor e mensageiro da Palavra; 3º o serviço da Liturgia exercido pelo diácono na celebração dos sacramentos (Batismo e Matri-mônio), na presidência das cele-brações da Palavra e nas orações, “nutrindo-se constantemente da Eucaristia” (Diretrizes, n.65).

Os documentos de “San-to Domingo” esclarecem que o

diácono permanente é o único a viver a dupla sacramentalidade, ou seja, da Ordem e do Matri-mônio. Um não elimina o outro. A vida matrimonial é, portanto, vivida em sua plenitude. Esta é a razão pela qual a esposa precisa autorizar, por escrito e de viva voz, no momento da ordenação, que o Bispo tem a sua autori-zação irrevogável para ordenar seu marido.

Quanto à vida social, ele deverá vive-la plenamente na dimensão da Família, Trabalho e Igreja, sem que uma prejudique a outra. Por viver tais dimensões, o diácono terá um vasto campo para evangelização.

Deste modo, todos nós, de acordo com os dons recebidos da bondade de Deus, somos convidados a discernir qual é o chamado que o Senhor nos faz, através de uma caminhada concreta na comunidade e de um acompanhamento vocacional.

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Revista da aRquidiocese de vitóRia - esvitória

esPecial

a constRução De novas possibiliDaDes eDucativas

Não existem adolescentes que não se encaixam no padrão escolar. Existe

sim uma instituição que vem, ao longo de décadas, adiando uma proposta de sociedade que reco-nheça a educação como direito constitucional subjetivo. É nesta direção que os sistemas educa-cionais precisam dirigir seus projetos e programas centrados no propósito de que seus alunos podem e têm direito a aprendiza-gem, avançando na escolarização ao longo da vida. Quando todas as crianças têm acesso à escola, diz-se que o acesso à escola está universalizado o que possibilitará elevar a média da escolarização de 8,5 anos de estudo a 12 anos.

As políticas educacionais devem ser formuladas para se obter e manter uma educação de qualidade. Devem se originar de estudos aprofundados a partir de diagnósticos, entre outros, pro-venientes de análises dos dados coletados pelos Censos Escola-

res, por pesquisas domiciliares e por avaliações da aprendizagem. As políticas implementadas, por sua vez, também precisam ser avaliadas para verificar sua eficá-cia, a fim de realizar as correções de rumo.

Nesta direção estamos desenvolvendo a política edu-cacional na cidade de Vitória. Mergulhar nos indicadores de desempenho absorvendo o co-tidiano educacional vivenciado nas 1.100 salas de aula tem feito com que técnicos da Secretaria de Educação, juntamente com os profissionais do magistério municipal, construam juntos, possibilidades educativas que atinjam o objetivo de manter os 50 mil estudantes na escola, aprendendo. A aprendizagem dos meninos e meninas, jovens e adultos, é fruto de fatores diver-sos, internos e externos à escola, interligados e interdependentes. É na combinação criativa desses fatores que se produz o conhe-

cimento. A força motriz desse processo reside no compromisso do poder público, dos atores da escola, dos pais e responsáveis em assegurar que a educação de qualidade seja a base para a garantia do direito de aprender das crianças dos adolescentes e dos adultos.

Este é o propósito do Pro-grama Educação Ampliada. Um lema que norteia a cartela de projetos da cidade com ações que contemplam os três gran-des eixos da política educacio-nal, quais sejam, o currículo, a formação e a gestão. É sabido que a maior transformação da dinâmica escolar acontecerá por meio do currículo, pois ele é a materialização do conjunto de conhecimentos necessários para o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos intelectualmen-te autônomos e críticos. Neste processo também são debatidas as metodologias de ensino que oxigenam o processo educativo na medida em que dialoga e atrai os jovens para a escola, portanto, à escolarização.

adriana SperandioSecretária de educação da Prefeitura

de Vitória

reinventar a escola, ressignificar o conhecimento e conceber o estudante como sujeito da educação são premissas que deverão nortear as práticas de gestão da escola pública na atualidade.

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Dom José Joaquim Gonçalves, Bispo da Dio-cese do Espírito Santo entre 1952 e 1957, traçou um plano para dividir o Bispado em

três Dioceses. Era grande sua preocupação com o abandono religioso em que se encontrava toda a região norte do Estado. O processo canônico para a criação da Província Eclesiástica do Espírito Santo foi então enviado à Nunciatura Apostólica e em 1958, quando Dom José já havia deixado a Diocese, o Papa Pio XII criou as Dioceses de Ca-choeiro de Itapemirim e São Mateus; e Vitória foi elevada a Arquidiocese. Foi certamente um marco na caminhada e na história da Igreja no Estado do Espírito Santo que, em seguida, viu Dom João Batista da Mota e Albuquerque tomar posse como Arcebispo de Vitória. O primeiro Bispo da Diocese

Giovanna Valfrécoordenação do cedoc

arquiVo e memória

Despedida dos sacerdotes da futura Diocese de Cachoeiro, no Seminário Nossa Srª da Penha, em 1959

Dom Armando Lombardi, Núncio Apostólico, Sagrando de Dom José Dalvit, primeiro Bispo da Diocese de São Mateus, na Catedral Metropolitana de Vitória em 29 de junho de 1959. Dom Dalvit era sacerdote comboniano e governou a Diocese de São Mateus até 1970

a cRiação Da pRovíncia eclesiástica Do espíRito santo

de Cachoeiro de Itapemirim, Dom Luiz Gonzaga Peluso, tomou posse na Diocese em novembro de 1959. A Diocese de São Mateus recebeu como seu primeiro Bispo, Dom José Dalvit, ordenado na Catedral de Vitória em 1959. Em 1990, conside-rando o aumento da população e as necessidades espirituais dos fiéis, o Papa João Paulo II, a pedido de Dom Silvestre Luiz Scandian, criou a Diocese de Colatina, desmembrando-a da Arquidiocese de Vitória e nomeou como seu primeiro Bispo, Dom Geraldo Lyrio Rocha que na época era Bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória.

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ensinamentos

subsidiariedade: o valoR Da pessoa e sua integRaç ão social

Os princípios da doutrina social da Igreja são: dignidade da pessoa humana, bem comum, subsidiariedade e solidariedade. Para bem explicar cada um deles, abor-

daremos cada um ao longo das próximas edições. Iniciaremos abordando o princípio de subsidiariedade.

O Compêndio da Doutrina Social da Igreja, elaborado pelo Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, condensa elementos centrais constitutivos do princípio de subsidiariedade, apre-sentados a seguir.

O princípio de subsidiariedade está entre as mais constantes e características diretrizes da doutrina social da Igreja, presente desde a primeira grande encíclica social – a Rerum Novarum, escrita pelo Papa Leão XIII, em 1891.

Com base no princípio de subsidiariedade, todas as socie-dades de ordem superior devem colocar-se em atitude de ajuda (em latim, subsidium) em relação às menores, sem reduzir sua iniciativa, liberdade e responsabilidade. Nesta perspectiva, o Estado deve abster-se de fazer tudo o que restringe o espaço vital das células menores essenciais da sociedade, como por

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subsidiariedade: o valoR Da pessoa e sua integRaç ão social

Vitor nunes RosaProfessor de Filosofia na Faesa

exemplo, a família e outras or-ganizações da sociedade civil.

Esse princípio visa prote-ger as pessoas dos abusos das instâncias sociais superiores. Também solicita que essas instâncias superiores ajudem os indivíduos e os corpos in-termédios a desempenharem as próprias funções, por meio das quais oferecem algo à co-munidade.

O princípio de subsidia-riedade contrapõe-se à centra-lização, à burocratização, ao assistencialismo e à presença injustificada e excessiva do Es-

tado e do aparato público em espaços que podem ser preen-chidos por outras células sociais menores.

A subsidiariedade traduz--se efetivamente, dentre outras coisas, no respeito e na promo-ção efetiva da prioridade da pessoa e da família; na valo-rização das associações e das organizações intermédias, nas próprias opções fundamentais e em todas as que não podem ser delegadas ou assumidas por

outros; e na adequada responsa-bilização do cidadão no seu ser parte ativa da realidade política e social do País.

O princípio de subsidia-riedade estimula a participação do cidadão na vida cultural, econômica, política e social da comunidade civil a que perten-ce, porque constitui um dever a ser conscientemente exercido por todos, de modo responsável e em vista do bem comum.

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Diovani FavoretoHistoriadora

e assim se faZ uma

rede de pesca

Uma profissão que exige con-centração e

habilidade para que o produto saia com qua-lidade e dure por um longo período! Até aí uma atividade como outra qualquer, mas, e

capixabas empenhados na fabricação e conser-to de redes de pesca (e demais materiais usados pelos pescadores), que levam até nossa mesa um dos alimentos mais saudáveis que conhece-mos: os peixes e frutos do mar.

Essa técnica (que as máquinas não con-seguiram substituir) de confeccionar, fio a fio, as redes de “Espera, Tresmalho ou Arrasto” conta ainda hoje com o dom de artesões que mantêm viva as ativida-des de pesca no litoral do Espírito Santo.

As redes ou ma-lhas, confeccionadas a milhares de anos, têm hoje como matéria--prima principal o fio de nylon ou nylon de seda (a espessura dos

se somarmos a isso a opção de passar os dias trabalhando calmamen-te a beira mar ao sabor da maré? Uma profissão de viver do mar e para o mar!

É assim que encon-tramos os profissionais

cultura caPixaba

fios dependem do es-forço a que será sub-metida a rede). É con-feccionada em malhas retangulares que variam entre 1,5 cm e 5 cm, ou seja, com espaço mais longos ou mais curtos entre as amarrações dependendo do pesca-do que se quer fisgar. Pode ser encontrada facilmente nas praias de Itapuã, Manguinhos, Praia do Suá, Itaúnas, Piúma, Itapemirim ou em qualquer outra parte do litoral capixaba que ainda preserve esse ofí-cio tão tradicional.

Enfim, nós capixa-bas passamos apressa-dos pela beira mar e nos esquecemos de apreciar a calmaria das ondas e demonstrar reverência aos artesãos que se ocu-pam de confeccionar es-ses “panos de malha”, tão bem elaborados em sua complicada compo-sição.

“são pessoas que convivem com o mar e aprendem a esperar dele tudo que a vida obtém sem pressa, sem ambições... e que reflete a eterna lição de paciência e grandeza do mar.”

Adelzira Madeira

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acontece

Prevenção e ação Pastoral em festa APastoraldaSobriedade, emparceriacomo colégioSalesiano, realiza açõesdeprevençãocontraousodedrogas,nasco-munidadesterapêuticas,nosdias11,18e25deagosto.Oobjetivodasvisitasémostrararealidadedequemestáemprocessodere-cuperaçãoeincentivaravalorizaçãodavida.Jovenseadolescentesestarãoempenhadosemrealizarasatividadesnascomunidades,trabalhandoaprevenção,atravésda recu-peração.

Emcomemoraçãoaos40anosdaPastoralOperárianoEspíritoSanto,ogrupoorganizaparaodia17deagostoumagrandecele-bração.Osatuaismembrose todososquefizerampartedahistóriadapastoralestãoconvidadosparaoencontro,queacontecenaAPAEdeCampoGrande,de8hàs16h30.Missa,resgatehistóricodosperíodos,músicaemuitasoutrasatividadesestãoinclusosnaprogramação.Oalmoçoserápartilhadoentreosparticipantes.

No dia 15 de julho é come-morado o Dia Nacional do Homem. Minha re-

flexão sobre este dia foi aguçada ao abrir o jornal “A GAZETA” e ver estampado, a manchete denominada “Os brutos também precisam se cuidar”. Senti cer-ta repulsa pela matéria porque naturaliza o lugar do homem como o lugar da brutalidade, da rudeza e da insensibilidade, ainda que no Estado do Espírito Santo os homens apareçam pre-dominantemente como autores de brutalidades tais como as que são expressas pelas estatísticas de violência contra a mulher e contra a juventude negra. Dis-cordo do jornal que afirma que “por natureza, o homem costuma se cuidar menos que a mulher”. Não é por natureza. É o nosso processo de socialização. Senti-me ainda mais pro-vocado quando vi no mural

Dia nacional Do homem de um condomínio o convite: “Jantar dos machos – 03 anos”, anunciando a tradicional confra-ternização dos homens que ali moram. Por um lado a proposta é interessante na medida em que estimula à convivência cidadã, o lazer e o entretenimento, por outro é inadequada na medida em que rebaixa todos os homens a mera condição de macho. Por essas e outras acredito que seja, de fato, importante es-tabelecer um dia para provocar algumas reflexões especialmen-te entre os homens. A filósofa francesa Simone de Beauvoir afirmava: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Parafraseando--a, pode-se afirmar: não se nasce homem, torna-se homem. Assim, tem-se o enorme desafio para repensar as possibilidades de ser homem. O cuidado, a sen-sibilidade, a solidariedade, e o compromisso com a não violên-cia são atributos comuns para mulheres e homens. Com isso, os homens poderão descobrir que a prevenção à saúde deve começar desde cedo. Quando chegar a época adequada para fazer os exames preventivos, inclusive o de câncer de próstata, trocarão o preconceito machista que faz com que muitos morram e apostarão na qualidade de vida,

no desejo de vida plena e abun-dante, como diria o mestre Jesus. O segundo desafio para os homens é pensar as relações igualitárias de gênero no mer-cado de trabalho e no espaço doméstico. No cuidado da casa, na educação e saúde dos filhos, no funcionamento geral dos as-suntos da família, ainda predo-minam as mulheres. Funciona em muitas situações, como se o homem fosse um visitante na sua própria casa. E finalmente, e não menos importante, penso que é neces-sário aos homens se manifesta-rem efetivamente pelo fim da violência contra as mulheres. Penso que os altos índices de violência em nosso Estado refle-tem, por um lado a insuficiência de políticas públicas de atenção às mulheres e, por outro, a acei-tação social de tal violência. Em nossas mãos temos o desafio de seguirmos o bom exemplo dos homens do Canadá e muitos homens brasileiros que já par-ticipam da campanha do Laço Branco que mobiliza homens pelo fim da violência contra as mulheres.

João José Barbosa SanaMembro do Fórum de homens

capixabas pelo fim da violência contra as mulheres e Professor/Tutor no curso

de Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça (UFES)

“Penso que os altos índices de violência em nosso Estado refletem, por um lado a insuficiência de políticas públicas de atenção às mulheres e, por outro, a aceitação social de tal violência.”