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RESSIGNIFICAÇÃO DA CIDADE: As pontes João Luís Ferreira,
Juscelino Kubitschek e Mestre João Isidoro França na construção
da paisagem cultural ribeirinha da cidade de Teresina
FERREIRA, CAMILA S. (1); MATOS, KARENINA C. (2) SOARES, MOEMA S. (3)
1. Universidade Federal do Piauí. Departamento de Construção Civil e Arquitetura
Avenida Abdias Neves, 285
2. Universidade Federal do Piauí. Departamento de Construção Civil e Arquitetura
Rua Vereador Luís Vasconcellos, 975
2. Universidade Federal do Piauí. Departamento de Construção Civil e Arquitetura
Rua Vereador Edmundo Geuino de Oliveira, 3501
RESUMO
Teresina é a única capital nordestina não litorânea, entretanto os rios Poti e Parnaíba moldam a
paisagem e dão uma identidade única na cidade. Devido a sua posição estratégica, foi consolidada ás
margens do rio Paranaíba, a fim de estreitar o relacionamento comercial com o estado do Maranhão.
Nessa paisagem foram construídas nove pontes que se tornaram um marco urbano e através delas é
possível contar uma parte da história cidade. Elas são marcadoras da transformação urbana, dotadas
de memórias e significados. Três dela estão sob o rio Parnaíba, ligando Teresina ao Maranhão, as
demais estão sob o rio Poti ligando o núcleo central ás demais zonas. As pontes configuram-se como
marcos urbanos pela sua singularidade do contexto onde estão inseridas, sendo elementos visuais,
carregando em si a identidade local e convertendo-se em referenciais para o usuário da cidade.
Notoriamente, para que Teresina se expandisse além rios, foi preciso traspassá-los, criando pontes.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Algumas transformaram-se em cartões postais, e na maioria assumem um nome popular, dando
identidade ao local que estão inseridas. Nessa perspectiva de crescimento, surge a primeira ponte da
cidade, ligando o Piauí ao Maranhão, oficialmente nomeada João Luís Ferreira conhecida como Ponte
Metálica em virtude do material utilizado na sua construção. Esta caracterizou-se como o primeiro
marco urbano, na década de 40, sendo hoje um cenário consolidado do centro histórico teresinense e a
única tombada como patrimônio histórico nacional, pelo IPHAN, no ano de 2008. Com a expansão
urbana para a zona leste da capital é construída uma nova ponte, chamada de Juscelino Kubitschek,
um marco na década de 60, que se insere em um panorama de constante mudança, que foi mais
notório na década de 90, com as políticas públicas municipais de verticalização. Essa área por sua vez
tem característica recreativa, devido à presença de shoppings e o parque urbano da Poticabana.
Teresina foi assumindo posturas diferentes à medida que as pontes eram inseridas na paisagem, dessa
forma a cidade foi determinada a mudar de ares e assumir outros símbolos, como foi o caso da ponte
Estaiada. A ponte José Isidoro França, conhecida como ponte Estaiada, devido aos cabos atirantados
que são fixados em sua base, conta com um mirante em sua estrutura, tornando-se um ponto turístico
da capital desde o ano de 2010. Sua inserção mudou por completo a paisagem local, permitindo o
prolongamento da avenida Raul Lopes para abrigar suas alças, estreitando a relação das pessoas com
o rio Poti. Assim, o objetivo dessa pesquisa é analisar a paisagem cultural ribeirinha de Teresina, a
partir da influência das pontes em cada zona, ressaltando-as como elemento simbólico, na criação de
uma identidade urbana. A metodologia adotada foi levantamento fotográfico, histórico e de dados, além
de entrevistas com as pessoas que se inserem diariamente no cenário criado pelas pontes.
Palavras-chave: Pontes; Rios; Marco urbano; Paisagem cultural; Fonte Arial 10, separadas por ponto
e virgula, três a cinco palavras.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
1. INTRODUÇÃO:
As cidades são compostas por um conjunto de elementos, edificados ou não, que se agregam
e formam a paisagem urbana. A primeira definição de paisagem foi proposta por Carl Sauer,
onde o mesmo a conceituava como um conjunto de formas naturais e culturais associadas em
área. A partir desse conceito pode-se inferir que a paisagem cultural urbana é formada pelas
transformações sofridas pelo o local ao longo do tempo e sempre terá um elemento
identificador.
A história da cidade é testemunha das transfigurações sofridas pela paisagem. Assim, com o
passar dos anos o espaço urbano assume marcos característicos de cada época, que dão à
paisagem um caráter singular e peculiar. Os marcos urbanos são definidores das memórias
da cidade, é a partir deles que a formação da paisagem cultural urbana ganha importância,
pois se cria uma relação de identidade e pertencimento com o local. A criação dos marcos
pode se dar através da relevância histórica ou pelos instrumentos urbanos (planos urbanos,
planos diretores, agendas) que moldam as cidades. Abreu (2011) afirma que a memória
urbana é fundamental na constituição da identidade de um lugar e seu resgate requer o
conhecimento dos processos sociais urbanos ancorados nos lugares em que ocorreram.
O conceito de paisagem cultural foi adotado pela UNESCO em 1992 e incorporado como uma
nova tipologia de reconhecimento dos bens culturais, conforme o artigo 1º da Convenção de
1972, que instituiu a Lista do Patrimônio Mundial.
“ Art. 1º: (1) monumentos: obras arquitetônicas, obras de
escultura monumental e pintura, elementos ou estruturas de
natureza arqueológica, inscrições, cavernas, habitações e
combinações de recursos, que são de valor universal
excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
(2) grupos de edifícios: grupos de construções isoladas ou
reunidas que, pela sua arquitetura, unidade ou integração na
paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da
história, da arte ou da ciência; e (3) sítios: obras do homem ou
obras conjugadas do homem e natureza, e áreas, incluindo
sítios arqueológicos, que são de valor universal excepcional do
ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. “
(CONVENÇÃO PARA A PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO
MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL - UNESCO, 1972, PAG.02)
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Em âmbito nacional, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por meio
do artigo 1º da Portaria nº 127, de 30 de abril de 2009, define paisagem cultural como “uma
porção peculiar do território, representativa do processo de interação do homem com o meio
natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores” (IPHAN,
2009).
Partindo dessas definições, será feito neste estudo um recorte espaço/temporal, a fim de
discutir o conceito de paisagem urbana desde os símbolos da cidade de Teresina. Para fazer
mais clara a discussão, escolheu-se implementar o conceito de marcos para Kevin Lynch,
definidos como elementos pontuais, onde sua principal característica é a
especificidade/singularidade, sendo, portanto, um aspecto único e memorável no contexto
urbano que é inserido. Os marcos são utilizados pelos usuários da cidade, que os entendem
como referenciais de um local ou época específica.
Nesta perspectiva, o conceito de paisagem cultural é tratado como aglutinador de memórias,
espaços e marcos. Dentro da cidade fica visível esse entendimento, quando se observa que
determinados símbolos são memorados por sua época e causam uma significação importante
do espaço em que está inserido.
Teresina também passou por esse processo de ressignificação e isso foi observado através
de um dos principais símbolos de crescimento da cidade, as pontes. A capital piauiense é
delimitada por dois rios, o Poti e o Parnaíba, e à medida que Teresina crescia era necessário
atravessar os flumens, para fugir do núcleo central. Notoriamente, para que a cidade se
expandisse para os territórios além rios, foi preciso traspassá-los, criando pontes.
As pontes tornaram-se uma característica única da cidade de Teresina e através delas é
possível observar a formação da paisagem cultural da cidade. A capital piauiense possui nove
pontes que contornam as margens dos rios. Três dela estão sob o rio Parnaíba, ligando
Teresina à Timon, as demais estão sob o rio Pot ligando o núcleo central ás demais zonas.
Algumas dessas pontes transformaram-se em cartões postais, outras passam despercebidas.
Em sua maioria assumem um nome popular, diferente do nome oficial que foi lhe dado,
adquirindo a identidade de onde foram inseridas ou dando identidade ao local. Incrustadas em
nossa malha urbana, as pontes surgem como elos, elementos de conexão da cidade, dentro
da cidade. Com um olhar mais aguçado, é possível ainda dizer que o local em que cada ponte
foi inserida, fomentou a criação de um cenário característico. Fica assim destacado, que o
objeto de estudo são as pontes, na qualidade de marcos e suas influências na criação da
paisagem cultural urbana da cidade de Teresina.
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O recorte temporal definido vai do ano 1940 ao ano de 2010 e o recorte espacial, são três
delimitações dentro da cidade de Teresina. Cada delimitação é representada por uma ponte.
Foram escolhidas três pontes: Ponte João Luís Ferreira (01), Ponte Juscelino Kubistchek (02)
e Ponte Mestre João Isidoro França (03), o que se justifica pelo fato destas serem as mais
representativas para os teresinenses, como situa o mapa abaixo:
Figura 01 – Mapa com a localização das pontes citadas
Fonte: Google, 2016, editada pelas autoras.
As transformações dos espaços juntamente com a inserção de marcos, geram uma discussão
sobre a composição da paisagem urbana cultural, sem deixar de levar em consideração as
singularidades derivadas dos contextos históricos em que os monumentos foram inseridos.
Assim percorre-se a delimitação de espaço e tempo a fim de analisar as mudanças
perceptivas para a população, bem como na captação de símbolos como referências,
destacando a importância dessas mudanças na criação da paisagem cultural.
A proposta metodológica desse trabalho está pautada na coleta de dados, através de
entrevistas, busca de documentos em repartições públicas e levantamento fotográfico, além
da vivência urbana com o espaço das pontes, a fim de criar um estudo histórico que faça
visível a transformação e ressignificação da paisagem cultural de Teresina.
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2. OS PLANOS URBANOS E A MODIFICAÇÃO DA PAISAGEM:
A província do Piauí nos anos 1800 era economicamente sustentada pela pecuária, em
especial, a criação de gado de corte, dessa forma, o desbravamento dessas terras se dava
pela medida que as fazendas de gado adentravam no território piauiense. Originária de uma
dessas fazendas de gado, surgia a cidade de Oeiras, primeira capital piauiense. Entretanto,
sua localização geográfica, ao sul do estado, era um obstáculo para o escoamento da
produção pecuária e agrícola da província, e assim decidiu-se que era necessária a
transferência da capital piauiense para um local estratégico, onde os pontos comerciais
fossem acessados de forma mais rápida e houvessem mais formas de saída dos bens
produtivos do estado.
A partir desses requisitos, decidiu-se que a nova capital deveria estar próxima aos rios, para
que pudesse ser explorada a navegação comercial e deveria estar próxima dos centros
economicamente ativos da época. Após estudos territoriais feitos por José Antônio Saraiva,
governador da província do Piauí, escolheu-se a Chapada do Corisco, um local de
proximidade com dois rios, o Parnaíba e o Poti, mas de cota geográfica relativamente alta, por
se tratar de uma chapada como forma de relevo – o que evitaria inundações no período das
cheias. O mapa abaixo mostra a localização da cidade de Oeiras e da cidade Teresina,
destacando a proximidade com os rios:
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Figura 02 – Mapa com a localização de Teresina, Oeiras e o rio Parnaíba.
Fonte: Google, 2016, editada pelas autoras.
A fundação da cidade Teresina ocorreu no ano de 1852, tendo sido planejada e executada no
traçado xadrez, característica típica do urbanismo português. Nesse primeiro momento a
cidade nasce delimitada pelo rio Parnaíba, tendo estreita relação comercial com a cidade de
Caxias no estado do Maranhão. É importante destacar que as províncias do Maranhão e do
Piauí, eram divididas apenas pelo rio Parnaíba, a cidade de Teresina, do lado piauiense e o
povoado de Flores, do lado maranhense. Nessas primeiras décadas o principal marco urbano
da cidade é o cais do rio Paranaíba, pois se tratava do ponto mais movimentado, que servia de
entrada e saída de pessoas e mercadoria.
Devido essa relação de estreitamento com o estado Maranhense, as embarcações que saíam
do cais de Teresina, em sua maioria só faziam uma pequena travessia para o estado vizinho.
Na década de 20, o cais teresinense era de extrema importância para população dos estados
do Piauí e Maranhão, pois a ferrovia que vinha de São Luís, capital Maranhense fazia viagem
apenas até o povoado de Flores e para que os viajantes pudessem se deslocar entre os dois
estados era necessário fazer a travessia de barco.
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Desde sua fundação até a década de 30 a nova capital piauiense ainda se apresentava como
uma vila, com pouco crescimento populacional e pequenas expansões além do núcleo inicial
de sua fundação.
Nos anos de 1937 a 1942, a capital piauiense passava por um crescente momento de
modernização, fomentado principalmente pela política de Estado do Presidente da República
Getúlio Vargas, que assumira o poder no ano de 1930. Os governantes locais eram
influenciados pelas ideias de populismo e modernização que o governo nacional apresentava,
dessa forma, a cidade de Teresina passou a ganhar “ares” de metrópole. Nesse recorte
temporal, Teresina já era um centro comercial, com 51% da sua população já morando em
zona urbana (Nascimento, 2010).
Em tal espaço de tempo, Teresina recebe em sua paisagem a urbanização de praças, ruas e
avenidas, já possuindo até indícios de saturação no serviço de abastecimento de água. O
intuito era projetar uma nova cidade a partir da antiga, atitudes previstas no Código de
Posturas aprovado no ano de 1939.
De acordo com Nascimento (2010), o Código de Postura de 1939, ditava normas de
comportamento e determinava que as novas construções da cidade devessem ter paredes de
alvenaria de pedra, tijolo e concreto simples. As orientações eram resultado dos interesses
dos mais abastados da cidade, que, em busca de uma melhor localização para suas
moradias, interferiam na especulação imobiliária da época. Inicialmente, Teresina estava
restrita ao bairro Centro, entretanto a classe dominante se fazia incomodada com o pequeno
território em que dividia com casas de taipa e cobertura de palha, fazendo-se necessária a
expansão da cidade para outra zona.
No ano de 1942 é inaugurado o Hospital Getúlio Vargas, o primeiro da capital, concomitante a
esse fato a impressa teresinense anunciava a inauguração dos serviços de navegação aérea,
com uma rota ligando Teresina ao Rio de Janeiro. Além da modernização e alargamento da
principal avenida da cidade, a Avenida Frei Serafim, também ganhava iluminação pública,
passeio arborizado e edificações com gabarito delimitado pelo código de posturas de 1939, já
ditando que tipo de paisagem aquele local deveria preservar. A Avenida Frei Serafim após
essas reformas passou a ser um importante instrumento urbano, pois apontava o crescimento
da cidade para outra zona.
Economicamente, ainda nesse intervalo, o Estado do Piauí se destacava por ser o principal
produtor do País na produção de cera de carnaúba, sendo exportador para países como
Inglaterra e Alemanha. Tendo em vista essa larga manufaturação, eram necessárias vias para
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o escoamento da produção. Assim resolveu-se projetar uma ferrovia que ligasse Teresina à
cidade de São Luís – entretanto existia um recorte espacial que impedia essa ligação direta.
O estado do Piauí faz divisa com o estado do Maranhão através de um limitório natural, o Rio
Parnaíba. Do lado piauiense, existia a cidade de Teresina, às margens do rio, do lado
maranhense existia o povoado de Flores, atualmente a cidade de Timon. Em meados dos
anos trinta, a linha férrea já chegava ao povoado Flores, entretanto, não havia ainda
atravessado o Rio Parnaíba para de fato chegar a Teresina.
A rotina da população dos dois estados era atravessar o rio Parnaíba em canoas, o que era
inaceitável para elite local e pelo Estado, que visava modernizar a cidade em todos os meios.
Assim surge o projeto da Ponte João Luís Ferreira, inaugurada no ano de 1939, inserida na
paisagem ribeirinha, representando culturalmente, os primeiros surtos de modernização da
capital.
Passados quase 20 anos da realidade acima descrita, a cidade de Teresina já havia tido um
crescimento populacional considerável, a atividade residencial não se abrigava mais somente
no centro da cidade e a necessidade de expansão para outras áreas era necessária. Em
meados dos anos 50 Teresina possuía duas pontes, a Ponte Metálica, sobre o rio Parnaíba, e
uma ponte de madeira, sobre o rio Poti, que ligava a zona central de Teresina à zona leste da
capital. Esta última era um prolongamento da Avenida Frei Serafim e servia de rota para os
principais municípios do interior do Estado do Piauí, como as cidades de Campo Maior e
Parnaíba. Assim localiza o mapa abaixo:
Figura 03 – Mapa com a localização das cidades Teresina, Campo Maior e Parnaíba.
Fonte: Google, 2016, editada pelas autoras.
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Ainda nos anos 50, a ponte de madeira, acima descrita, ruiu em uma forte enchente. Tendo
em vista a necessidade de crescimento da cidade, rapidamente se elaborou um projeto de
reconstrução da ponte, no mesmo local, projetada em concreto armado. No ano de 1959 a
ponte é inaugurada e recebe o nome de Juscelino Kubistchek. Por se localizar em posição
central na malha urbana teresinense, a ponte JK, como foi apelidada, foi um importante vetor
de crescimento da cidade, sendo responsável pela expansão da cidade para zona leste da
capital. Outro fator importante foi a paisagem urbana formada pelo eixo Avenida Frei Serafim
e Ponte Juscelino Kubistechek.
Principalmente nas direções leste-nordeste e sul. No sentido leste-nordeste,
o destaque foi a ocupação de novas áreas que, anteriormente, eram
desabitadas devido ao obstáculo natural que era o rio Poti. A criação da ponte
dos Noivos, sobre o rio Poti, possibilitou a expansão nessa direção
estimulando o surgimento de novos bairros como o de Fátima, Jóquei e São
Cristóvão. Estava delineado, assim, o surgimento de uma nova área de
ocupação na cidade a qual, entre as décadas de 70 e 80, foi marcada pela
existência de áreas residenciais de populações de alto poder aquisitivo, e
pelo surgimento de vários conjuntos habitacionais (FAÇANHA, 1998, p. 73)
Os planos de modernização da cidade de Teresina resultaram na abertura de grandes
avenidas, dentre elas a Avenida Frei Serafim, como já foi descrito, inspirada nos boulervards
parisienses – uma via arborizada, com um grande canteiro central que finalizava com a
paisagem ribeirinha do Rio Poti. A inserção da Ponte JK nessa paisagem foi recebida com
esmero pela população, que rapidamente criou grande identificação por esse conjunto
paisagístico, fazendo da Avenida Frei Serafim e da Ponte JK um dos eixos mais importantes e
movimentados da cidade.
A ponte JK, nessa conjuntura foi responsável pela mudança significativa da paisagem
ribeirinha do rio Poti, pois a partir dela, uma área que antes era inexplorada passou a ser
habitada e valorizada, causando o abandono das áreas centrais.
A cidade foi-se expandindo e o centro caracterizando-se cada vez mais como
área comercial, administrativa e financeira. Houve ao longo do tempo o
abandono de áreas residenciais centrais, a marginalização de áreas nobres,
subutilização de espaços públicos e a ocupação de áreas por usos
inadequados. (PMT, 2002c, p.26)
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Nesse contexto, a ponte JK passa a ser um marco de ressignificação da capital, onde antes as
principais travessias eram feitas no sentido oeste da cidade, rumo ao estado Maranhense,
aqui passam a serem feitas em sentido leste, em busca de uma expansão da cidade para
essa zona, tendo como motivador a mudança da paisagem local, que recebia ares modernos,
motivando a população a trocar suas memórias e identidade. Em Memória e Identidade
Social, Pollak fala sobre a identidade coletiva, que está relacionada com a história e
identidade do lugar:
[…] Além desses acontecimentos, a memória é constituída por pessoas,
personagens. Aqui também podemos aplicar o mesmo esquema, falar de
personagens realmente encontradas no decorrer da vida, de personagens
freqüentadas por tabela, indiretamente, mas que, por assim dizer, se
transformaram quase que em conhecidas, e ainda de personagens que não
pertenceram necessariamente ao espaço-tempo da pessoa. […] Além dos
acontecimentos e das personagens, podemos finalmente arrolar os lugares.
Existem lugares da memória, lugares particularmente ligados a uma
lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter
apoio no tempo cronológico. (POLLAK, 1992, p.02)
Poucos anos após a Inauguração da Ponte Juscelino Kubistchek, Teresina já apresentava
traços de uma população segregada, onde os mais ricos moravam no centro da cidade, área
servida pelas redes de abastecimento de água, energia elétrica, telefone, ruas calçadas, e os
mais pobres na periferia do centro, uma área suburbana não atingida por esses serviços
(Nascimento, 2010). A construção da Ponte Juscelino Kubitschek sobre o rio Poti deu início ao
deslocamento das pessoas com renda mais alta para a zona leste da cidade, movimento
incentivado pelos promotores imobiliários que vendiam a imagem de um local verde e
tranquilo para residir (Lima, 2002).
A ocupação das margens do rio Poti se deu principalmente por causa da ponte JK, juntamente
com as propostas imobiliárias. Nesse cenário é possível perceber que a paisagem ribeirinha
de Teresina assume características morfológicas criadas pelos governantes e pela classe
mais rica, tornando desse ponto um local nobre da cidade. O processo de urbanização ganha
dinamicidade a partir do final da década de 1950, devido à inserção do Estado do Piauí no
cenário regional e nacional, e ocorreu de forma autoritária, como aconteceu com outros
estados durante o Estado Novo (1937-1945). (FAÇANHA, 2002, p.128)
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Passados dez anos da criação da Ponte Juscelino Kubistchek, surge o primeiro Plano de
Desenvolvimento Local Integrado da cidade de Teresina, conhecido como PDLI 1969. De
acordo com Façanha (1998) o plano já descrevia o decréscimo da população do Centro,
confirmando a estratégia criada pelos governantes da década de 50 que buscavam a
exploração de novas áreas da cidade. Além disso, é importante destacar a preocupação do
PLDI de 1969 com a paisagem urbana da capital:
Estes estudos resumem-se a apresentação de modelos de organização de
quadras e ocupação urbana em zonas residenciais, reestruturação da zona
comercial, limpeza urbana, reconstrução e zoneamento de praças, indicação
de sistemas construtivos para casas populares, integração paisagística da
Beira- Rio, zoneamento do campus universitário da UFPI, projetos para o
tráfego urbano, projetos da legislação urbanística, dentre outros. (PMT, 1969,
p.76)
O PLDI 1969 não foi implementado e serviu mais de diagnóstico para a cidade, mostrando
principalmente a preocupação com os profissionais com os aspectos paisagístico de
Teresina, ainda mais no que se faz respeito a paisagem ribeirinha, que no plano chega a ser
abordada como ponto de relevância para o desenvolvimento urbano.
No ano de 1977 surge Plano Estrutural de Teresina (I PET, 1977), que foi elaborado para
suprir os problemas urbanos da época, principalmente no que se dizia respeito a expansão da
cidade. Este é constituído de três volumes, onde o primeiro subdivide-se em duas partes: na
parte I é feita uma avaliação físico-sócio-econômica e um diagnóstico socioeconômico do
primeiro Plano, o PDLI; e na parte II encontram-se as análises e diretrizes da estrutura
físicoespacial, no ano de 1977. O segundo volume trata sobre os planos de ação e o projeto
de lei de uso e ocupação do solo, e o terceiro, por fim, traz os mapas elaborados.
O I PET de 1977 vem para confirmar a dependência comercial e de identidade da população
teresinense com o centro histórico da cidade, afirmando a necessidade de implantação de
novas pontes para que a cidade conseguisse se expandir e criar novos centros.
A proposta do I PET visava à descentralização da dinâmica urbana, que era
mais intensa no centro da cidade, incentivando a ocupação da Zona Leste,
área já ocupada por uma população de alta renda, tentando evitar o
estrangulamento das funções urbanas entre os dois rios e a fim de equilibrar
o ritmo de crescimento demandado por Timon. Assim, foi proposto um
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modelo no qual eram estimulados polos de interesse interligados pelo
sistema viário. (RESENDE,2013, p.132)
No início da década de 90, a cidade continua a se expandir de forma desigual. A cidade
apresenta uma crescente verticalização os mesmo tempo em que aumenta o número de
favelas. (LIMA, In: Cadernos Metrópole, 2006, p. 125). Concomitante a isso é possível citar o
engessamento do transito da cidade, devido às poucas rotas de deslocamento entre o centro
e as áreas mais movimentadas. Apesar da urgência para solução, apenas no ano de 2001 foi
instalado pelo poder público municipal o Congresso da Cidade, que com a participação da
população objetivava a elaboração do Plano Estratégico da Cidade de Teresina – Agenda
2015. (FAÇANHA, 2007, p.28). A Agenda tratava-se de um plano que tinha prazo para ser
concluído e a previsão era o ano de 2015.
Assim como os demais planos urbanos, este também apresenta uma preocupação com a
paisagem ribeirinha, podendo citar inclusive os pontos em que os rios precisam de
revitalização, ou é necessária a criação de pontes:
Além disso, Teresina é uma cidade entre rios, sendo o rio Poti o que mais
diretamente influencia as atividades normais de sua população. O rio Poti
possui aproximadamente 25 km de extensão na área urbana, existindo
apenas cinco pontos possíveis de travessia por pontes, ou seja, um ponto de
passagem a cada 5 km em média, o que representa uma distância
significativa. Verifica-se a existência de sete corredores naturais, bloqueados
pelo rio, e que poderão, ao longo do tempo, ter sua continuidade estabelecida
pela construção de pontes. (PMT, 2002c, p.23)
A Agenda 2015, já tratava as pontes como elemento urbanos e paisagístico, buscando
sempre a integração entre o homem e os rios, assim de imediato o plano trata dos pontos
fracos e fortes de cada instrumento urbano, podendo citar:
Quanto aos Sistemas de Circulação e Transporte:
Pontos fracos:
Insuficiência do número de pontes sobre os Rios Poti e Parnaíba, agravada
por pistas ou localização inadequadas. (PMT, 2002c, p.23 )
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Quanto ao Meio Ambiente e Saneamento:
Pontos fortes:
• A beleza cênica da paisagem da cidade, cortada por dois rios, e sua
topografia relativamente plana, facilitando a urbanização e a implantação de
serviços públicos. (PMT, 2002c, p.19)
Cenário Desejável:
Cultura, Esporte, Lazer e Segurança:
32. A relação homem-rio estará resgatada, estando os rios mais integrados à
paisagem urbana e utilizado para o esporte, lazer e ecoturismo. (PMT, 2002c,
p.52)
Sob a gestão da Agenda 2015, é construída a ponte Mestre João Isidoro França, mais
conhecida como ponte estaiada, pelos cabos atirantados em sua estrutura. Esta surge como
marco na cidade por ter sido inaugurada para a comemoração do sesquicentenário da cidade
de Teresina. Além de chamar atenção por sua arquitetura, também foi bastante esperada
pelos teresinenses, por se apresentar como mais uma forma de locomação sob o Rio Poti. Ela
estava prevista na Agenda 2015, pela necessidade de uma ponte que ligasse diretamente a
zona norte da capital à zona leste, mais movimentada.
Essa remontagem histórica dos planos urbanos serve de constatação de como a paisagem
cultural ribeirinha foi alterada através dos anos, podendo-se destacar que à medida que a
população acompanhava o crescimento urbano, juntamente com os instrumentos de
legislação, a identidade assumida pela cidade era modificada. De maneira geral, os planos
apresentados possuem as mesmas constatações, e é sempre visível como necessidade a
criação de pontes na cidade de Teresina, a fim de traspassar os rios e fugir do núcleo central,
criando novos núcleos na cidade.
Nesse âmbito, as pontes surgem como elementos morfológicos da paisagem, tratados como
marcos urbanos, ou seja, componentes únicos da malha da cidade, que se destacam por sua
simbologia, história e identidade visual, sendo trabalhados na criação de cenários típicos de
cada época. Nos anos 40 aos anos 50 existe um primeiro cenário, que tem como marco a
Ponte Metálica (João Isidoro França), em seguida surge um segundo cenário na década de 60
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com a Ponte Juscelino Kubitscheck, por fim no ano de 2010 surge o cenário da Ponte
Estaiada.
3. RESSIGNIFICAÇÃO DO CENÁRIO TERESINENSE A PARTIR DA
ANÁLISE DAS PONTES:
De acordo com Lynch (1960), as pessoas adaptam o seu meio ambiente e constroem uma
imagem do lugar onde vivem. Os tipos de elementos usados na imagem da cidade e as
características típicas de cada um desses elementos tornam a paisagem singular. Entretanto
uma mesma cidade pode assumir várias imagens ao longo dos anos, ou até mesmo possuir
diferentes imagens dentro de uma mesma época.
O conceito de paisagem cultural dentro da cidade está diretamente ligado à forma como se
constrói a imagem da mesma. Existem inúmeros instrumentos capazes de moldar os cenários
existentes em uma cidade. Dentre eles pode-se falar dos planos urbanos que direcionam a
expansão da cidade, permitindo a criação de novos núcleos e símbolos, e o tempo, capaz de
ressignificar a cidade através das transformações ocorridas. Cada local e época possuem um
marco dentro da cidade, e estes marcos são capazes de identificar a paisagem em que se
inserem, além de serem norteadores visuais para as pessoas que habitam a cidade, em outra
perspectiva podem inclusive fazer parte da relação afetiva da pessoa com o meio em que vive.
Para Lynch (1960), a imagem urbana é formada por elementos, e estes se referem a formas
físicas. Dentre esses elementos, o autor classifica um deles como “marcos” ou “elementos
marcantes”, onde para ele estes de caracterizam por:
Podem situar-se dentro da cidade ou a uma tal distância que desempenham a
função constante de símbolo e direção. É o caso de torres isoladas, cúpulas
douradas, colinas extensas (...). Parecem adquirir um significado crescente à
medida que as deslocações se vão tornado cada vez mais familiares.
(LYNCH, 1960, p.59)
Em Teresina é visível que essa ressignificação da cidade se deu através de insumos de
políticas públicas, assim como através das mudanças ocorridas na História. Isso nos permite
fazer uma análise da paisagem cultural ribeirinha através de pontos marcantes inseridos
nesse panorama. Por ser uma cidade ladeada por dois rios, Teresina delimitou-se através
deles ao longo dos anos, sendo eles os definidores do crescimento da cidade. Para que estes
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não se tornassem obstáculos, as pontes surgem como marcos sob os rios, onde cada uma
delas é representante da época em que foram construídas e por sua vez possuem uma razão
para serem inseridas naquele local. É permitido dizer que a paisagem ribeirinha de Teresina,
segue um padrão, pois o território em que a cidade habita necessita de pontes para permitir o
crescimento da cidade.
Após analisar a morfologia teresinense é possível definir que as pontes escolhidas para
analise são marcos urbanos, por serem capazes de identificar um local e uma época
específica da cidade, além de se enquadrarem no conceito de Lynch em que o usuário define
um marco por ser um ponto que chama atenção dentro do espaço urbano.
Para entender a ressignificação da cidade foram definidos três cenários que se fazem de
extrema importância para construção da paisagem ribeirinha teresinense. O primeiro cenário
ocorre entre os anos 40 e 50, tem como composição a primeira ponte criada para o município
de Teresina. O segundo cenário ocorre na década de 60, com a criação da ponte Juscelino
Kubistchek, esta que foi um importante vetor de crescimento da cidade. E por fim o terceiro
cenário com a criação da ponte Mestre João Isidoro França, que permitiu a ocupação de uma
área antes subutilizada.
O primeiro cenário abordado nesse artigo tem como marco urbano a ponte João Luís Ferreira
e como recorte temporal o intervalo entre os anos 40 e 50. A obra da ponte era de fato uma
necessidade para população local, pois já existia um fluxo constante de pessoas que faziam a
travessia em canoas sob o rio Parnaíba, a fim de transitarem entre os estados do Piauí e do
Maranhão.
A inauguração da obra em 1939 foi tão significativa que provocou feriado nas repartições
públicas e no comércio de Teresina, tendo sido citada na reportagem do Diário Oficial do Piauí
como “verdadeira festa cívica”, conforme descreve Dantas (2009). Ele afirma ainda: a ponte
metálica era o grande sonho dos teresinenses da primeira metade do século XX, importando
para o incremento das relações econômicas entre os Estados do Piauí e Maranhão
A ponte João Luís Ferreira foi um símbolo da modernização da paisagem teresinense,
primeiramente por ser a conectora que levava a ferrovia que já havia chegado ao Maranhão
ao Piauí, em seguida por conta da tecnologia que foi aplicada em sua construção. Construída
de material metálico parafusado, o seu design remete a ”arquitetura do ferro”, possuindo um
sistema estrutural de treliças parafusadas, motivo pelo qual passou a ser chamada pela
população de ponte metálica.
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Figura 04 – Ponte metálica.
Fonte: Iphan, 2009.
Devido a sua importância arquitetônica e paisagística, a ponte metálica de Teresina foi
declarada como patrimônio cultural brasileiro pelo IPHAN, sendo tombada no ano de 2008
(IPHAN,2008). Como se pode ver na imagem abaixo, a delimitação do perímetro de
tombamento engloba o entorno imediato do lado teresinense que se refere ao centro histórico,
além de delimitar também a beira rio do lado do Piauí bem como a do Maranhão, fazendo do
tombamento não apenas um ato isolado em relação à ponte, mas de contemplação da
paisagem local.
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Figura 05 – Perímetro de tombameto do centro histórico de Teresina.
Fonte: Iphan, 2009.
O cenário em que se inseriu a ponte metálica era composto pela beira rio e seu cais, ponto de
encontro e comércio entre os teresinenses. Além do mais se pode destacar também que a
ponte faz parte da rota histórica da cidade de Teresina, por ter sido inserida justamente no
cerne da cidade. Frente à ponte pode-se destacar o Largo do Amparo, primeiro espaço aberto
para a fundação da capital, o Mercado Público e A Praça Marechal Deodoro da Fonseca, onde
se encontra o marco zero da cidade.
A paisagem que compunha essa cena na década de 40 era de extrema movimentação dos
barcos a vapor, juntamente com a intensa atividade comercial do centro da cidade. Entretanto,
é importante ressaltar que a ponte só podia ser atravessada de trem, apenas na década de 60
foi criada a travessia lateral para pedestres. Essa condição reforça a ideia de marco, devido
ao fato de que para muitas pessoas a ponte foi apenas um objeto de contemplação durante
certo tempo.
Devido a sua importância histórica a ponte metálica foi durante muitos anos o maior cartão
postal da cidade de Teresina, sendo sempre lembrada por sua beleza e proximidade com o rio
Parnaíba. Hoje a ponte Metálica teve sua visualização sufocada pelas construções próximas a
ela, impedindo que esta continuasse a ser contemplada como ponto turístico. Outro fator que
fez com ela fosse substituída dentro da cidade foi o fato do rio Paranaíba perder a sua
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navegabilidade, o que impediu que as travessias de barcos fossem feitas e que esta fosse
contemplada mais de perto.
A medida que a cidade se expandiu para as zonas além do centro da cidade esse cenário
descrito acima foi sendo abandonado. A busca por novos locais de moradia fez com que a
Avenida Frei Serafim, que finalizava às margens do rio Poti, fosse estendida com a criação da
ponte Juscelino Kubistchek, a fim de permitir a popularização da zona leste da cidade, como já
era previsto pelos planos urbanos da época. A partir daqui a cidade passa a ser delimitada
pelo rio Poti, não mais pelo rio Parnaíba.
A criação da ponte JK permitiu uma maior valorização do cenário da beira rio do Poti e do
bairro Ilhotas, pois através dela a cidade ganhou naquele local um surto de verticalização,
com condomínios em alto padrão e arquitetura moderna para os parâmetros teresinenses.
Dessa forma a inserção da ponte na malha urbana foi fomentadora do cenário criado hoje pela
Avenida Marechal Castelo Branco. A composição feita pela ponte JK era a contemplação de
toda a extensão da Avenida Frei Serafim, alargada e arborizada pelas reformas de
modernização da cidade, culminando com a Avenida Marechal Castelo Branco, onde é
possível contemplar o rio e os prédios. Imagem que mostra as pontes no jornal* 11
Figura 06 – Fotografia mostrando a Avenida Frei Serafim, Ponte JK e margem do Rio Poti.
Fonte: PMT.
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O conjunto criado pela Avenida Frei Serafim e a ponte JK passaram a ser o local mais
movimentado da cidade, por se tornarem o principal corredor de acesso ao centro. Aqui se faz
importante destacar a relação paisagística do passeio para pedestres da Avenida Frei Serafim
com a ponte JK, já que este permitia ver a fundo a imagem da ponte.
Ainda hoje esse cenário é consolido, sendo a beira rio da Avenida Marechal Castelo Branco
utilizada para realização de caminhadas e atividades físicas. É importante destacar que o
bairro Ilhotas é um dos locais de metro quadrado mais caro de Teresina. A paisagem cultural
aqui analisada é formada por elementos históricos, como a Avenida Frei Serafim, reformulada
ainda na década de 50, entretanto se comunica com elementos mais novos, como os prédios
do bairro Ilhotas próximos às margens do rio, construções da década de 70 e 80.
O terceiro cenário abordado neste contexto surge no ano de 2010 e tem como marco urbano a
ponte Mestre João Isidoro França, mais conhecida como ponte estaiada, como é possível ver
na imagem abaixo. Esta foi criada para facilitar a comunicação da zona norte da cidade com a
zona leste. Sua inauguração ocorreu junto à comemoração do sesquicentenário da cidade de
Teresina, e devido à tecnologia empregada em sua construção esta passou a ser um dos
maiores pontos turísticos da capital. Sua estrutura conta com um mirante capaz de contemplar
toda a cidade de Teresina, bem como visualizar toda extensão da beira rio do Poti.
Figura 07 – Fotografia mostrando a Ponte Estaiada e o Rio Poti.
Fonte: TV Cidade Verde, 2010.
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A inserção da ponte estaiada mais ao norte do rio Poti permitiu o desenvolvimento da Avenida
Raul Lopes, como é possível verificar na seguinte imagem. O conjunto formado pela ponte
estaiada contempla o complexo cultural da ponte, onde existe um píer de acesso ao mirante, a
avenida Raul Lopes, que possui um calçadão à beira rio para que a população possa fazer
atividades físicas e caminhadas, além da crescente verticalização dessa área em que está
inserida o bairro Noivos. A Avenida Raul Lopes também é um dos locais mais onerosos da
cidade de Teresina, se caracterizando por estar inserido na zona nobre da capital. A paisagem
da ponte estaiada pode ser contemplada tanto pela Avenida Marechal Castelo Branco quanto
pela Avenida Raul Lopes, pois a ponte recebe toda noite iluminação própria, o que permite
que esta também seja um atrativo à noite.
Figura 08 – Avenida Raul Lopes e Ponte Estaiada ao fundo.
Fonte: Skyscrapercity, 2011.
Diante disto é visível o avanço da cidade e de seus marcos. Estes foram evoluindo junto com
o crescimento de Teresina, sem deixar, porém, de conferir continuidade na forma como cada
cenário foi se inserindo em sua época. Vale ressaltar que todos foram consequências de
instrumentos de legislação urbana.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Os significados que a paisagem pode assumir diferem na forma como os grupos culturais a
entendem, entretanto no meio urbano muitos fatores podem interferir na paisagem cultural e
em suas acepções. Assim se faz importante destacar, que dentro da cidade os instrumentos
de legislação urbana são fatores que impulsionam a mudança da paisagem, junto as
transformações históricas.
Ressignificar a cidade é dar a ela novas leituras de um mesmo espaço, assim a paisagem
cultural se torna memorável não apenas pelos aspectos visuais, mas por sua representação
dentro de um determinado espaço de tempo. A cidade de Teresina sofreu intervenções
urbanas que impulsionaram a mudança do cenário cultural ribeirinho, este por sua vez de
extrema importância cultural por estar ligado a formação e identidade da capital piauiense.
A interpretação do espaço beira rio se deu através das pontes e como elas foram importantes
na visualização desses cenários, à medida que as pontes eram implantadas se via necessário
a construção de uma nova identidade e significado, fazendo dos rios propulsores e
delimitadores da paisagem cultural urbana e das pontes seus marcos.
5. REFERÊNCIAS
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São Paulo: Contexto.
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em:< http://www.estacoesferroviarias.com.br/ma-pi/teresina.htm > Acesso em: 05/07/2016).
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Recife, PE, Brasil.
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Teresina – (1937-1945). Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 2002.
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questão. In: LIMA, Antônia Jesuíta de. (Org.) Cidades brasileiras – atores, processos e gestão
pública. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
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- FAÇANHA, Antônio Cardoso. Desenvolvimento territorial recente em espaços subregionais
dinâmicos no Piauí. 2009. Tese (Doutorado)- Departamento de Geociência da UFPE.
Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
- IPHAN. Ponte João Luís Ferreira: Dossiê de Tombamento . Volume IV. Teresina: IPHAN,
2009.
- IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Portaria n. 127, de 30 de abril
de 2009, publicada no DOU em 5 de maio de 2009.
- LYNCH, Kevin. The image of the city. Cambridge: The M.I.T. Press, 1960.
- LIMA, I M. M. F. ET AL. Teresina Agenda 2015. A cidade que Queremos. Diagnósticos e
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- LIMA, I. (2002). Teresina: Urbanização e Meio Ambiente. In Scientia et Spes ano 1, n. 2,
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5, n. 10, 1992, p. 200-212. Disponível em:
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- PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. Plano de Desenvolvimento Local Integrado
.PMT: Teresina, 1969.