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UM RETRATO DAS GENTES DE CARÇÃO beleza natural… tradições… cultura… 2008 UM RETRATO DAS GENTES DE CARÇÃO

Revista Almocreve 2008

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Page 1: Revista Almocreve 2008

UM RETRATO DAS GENTES DE CARÇÃO

beleza natural…tradições…cultura…

2008

UM RETRATO DAS GENTES DE CARÇÃO

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Índice– Editorial ............................................... 2– Mensagem do Presidente da C.M. Vimioso ....... 5– Mensagem do Presidente da J.F. Carção .......... 7

– Eu venho d´além, d´além… ....................... 8– Alta vai a Lua Alta .................................... 9– A Minha Alma… ....................................... 9– Elidinha ................................................ 10- Água na Fonte ....................................... 10– Helena ................................................ 11– Maria Alice ............................................ 11– Angelina ............................................... 12– O Namoro .............................................. 13– Soldadinho ............................................ 14– Olha a Rolinha ........................................ 14– Canção da Talanqueira .............................. 14

– Oração ao deitar .................................... 17– Oração ao deitar II .................................. 17– Deus nos dê muitos bons dias ..................... 18– Oração de Santo António ........................... 19– Oração de São João ................................. 19– Santa Bárbara – Trovoadas ......................... 19– Santo António – Trovoadas ......................... 19– Esta minha Terra ..................................... 20– Ruas da minha Terra ................................ 20– Sou de Carção ....................................... 21– Terra minha ........................................... 21– Artesãos e profissões ................................ 22– O Magusto ............................................ 23– Coragem e Solidariedade .......................... 24– O Emigrante .......................................... 25– Eterno ................................................. 26

– A Festa do Peru ...................................... 27– Carção ................................................. 30– O Rei da Capoeira ................................... 31– Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência. A magnífica História de uma entidade Lusitana no Brasil ........................ 33– Carção - Análise sociológica de um século marcante ............................................. 37– A Cruz Processional de Carção ..................... 41- Carção, a capital do marranismo ................. 43

– Rectrospectiva 2007/2008 .......................... 50– Momentos de Fé- Festas de N.ª Sr. das Graças .. 54

Ficha Técnica

Propriedade: Associação Cultural dos Almocreves de CarçãoCapa: Vitor ArrudaImpressão e Paginação: Casa de Trabalho Dr. Oliveira Salazar Dep. Legal: 183993/02Tiragem: 1000 ExemplaresAno: Agosto de 2008Contactos para informaçõese colaboração: 966197194/ 966510938Associação Cultural dos Almocreves de CarçãoBairro Santo Estêvão, Rua A, s/n 5230–124 Carção – VimiosoE-mails: [email protected] [email protected] www.almocreve.blogs.sapo.pt �

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Caro leitor, Apresentamo-vos mais uma revista que tem como principal propósito o de expressar um tributo a Carção e suas gentes. Apraz-me novamente dirigi-lo de forma entusiasta e com o mesmo objectivo inicial: à procura das nossas raízes para as perpetuar de modo a que as próximas gerações percebam e sintam orgulho nas suas tradições e estilo de vida. Se inicialmente a Associação Cultural dos Almocreves de Carção tinha apenas como finalidade a criação da revista, presentemente quisemos ir mais além e abraçamos outros projectos – II Feira de Artesanato, publicação de dois livros, manutenção e actualização dos blogues Amigos de Carção e Almocreve, site informativo acerca da povoação… – todos eles com o objectivo de ajudar a desenvolver um pouco mais a nossa Terra (alargando-lhes os horizontes) e combater a monotonia provocada em grande parte pelo isolamento a que estão sujeitos ao longo do ano. Julgo que se todos nós retribuirmos com um pouco da nossa disponibilidade/dedicação à povoação, podemos ajudar a desenvolvê-la em termos sócio-culturais um pouco mais e combater uma das piores épocas da história que a povoação está a conhecer – a desertificação, envelhecimento da população, descaracterização local e isolamento da região. Em relação ao principal projecto a que a Associação se propôs – a revista cultural Almocreve – considero que actualmente é um grande êxito a avaliar pelo aumento de leitores, colaboradores e apoios facultados. Quanto às publicações dos livros “Carção -a capital do marranismo” autoria de António Andrade/Fernanda Guimarães e “Carção, um pedacinho do Reino Maravilhoso” autoria de Sofia Jerónimo, em parceria com a associação CARAMIGO e também com o apoio da Junta de Freguesia de Carção e Câmara Municipal de Vimioso, julgamos que vão trazer factos extremamente importantes para a história e enriquecimento do património cultural da povoação, ajudando a colmatar o hiato que existia em relação à nossa história. Relativamente à realização da Feira de Artesanato, iniciada em 2007 em parceria com a Comissão de Festas de Nossa Senhora das Graças, reconhecemos que foi também um grande êxito, trazendo mais movimento à povoação e, do mesmo modo, incentivando os nossos populares a activarem e inovarem os seus ofícios nomeadamente a tecelagem, ainda hoje com muita fama na região. Em consequência desta actividade, para este ano e em parceria também com a Comissão de Festas 2008, a associação CARAMIGO e apoios da J.F. de Carção e C.M. de Vimioso, vamos continuar com o evento e se possível enaltecendo-a ainda mais.

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Como futuros projectos, a Associação Cultural dos Almocreves de Carção mais uma vez em parceria com a associação CARAMIGO e Associação Casa do Povo

(comprovando e incentivando à união de todos os populares, lutando pelo mesmo objectivo – ajudando a combater e se possível desenvolver um pouco mais a nossa

povoação), ambicionamos a instituição de um museu etnográfico, lançando já o primeiro incentivo a todos os leitores para o oferecimento de objectos do quotidiano

carçonense, para assim darmos início a este projecto. Para que a 6.ª publicação da revista Almocreve e outros eventos fosse possível,

gostaríamos de agradecer a todos os colaboradores: Em primeiro lugar, a todas as pessoas que publicaram os seus artigos, dando-nos a

conhecer e perpetuando mais um pedaço da nossa história; Outra gratidão é para todos os patrocinadores, nomeadamente gentes de

estabelecimentos comerciais, que, de boa vontade, nos ajudaram asuperar os custos da edição;

Também queremos deixar o nosso agradecimento à Junta de Freguesia de Carção, dispensando uma quantia no sentido de atenuar os custos e depositaram em nós mais

uma vez todo o alento e credibilidade; Igualmente, deixamos o nosso reconhecimento à Câmara Municipal de Vimioso, que também nos apoiou em tudo o que podiam;

Outro especial agradecimento é para o Movimento Poético Nacional (Brasil) e Casa do Poeta de São Paulo (Brasil) apoiando/abraçando também este projecto.

O maior agradecimento vai para si, amigo leitor. Ao adquirir este exemplar, temos consciência que o principal objectivo foi conseguido em pleno, comunicando e

deixando-lhe uma mensagem de grande orgulho e estima pela culturada nossa povoação.

Agora só falta o estimado leitor comunicar com a nossa associação, participando activamente neste bonito projecto já para a edição de 2009 com: histórias passadas ou presentes, poemas, canções, orações, fotografias ou outras ideias que ajudem a

melhorar ainda mais não só este como outros projectos.Por último, em nome de toda a Associação, gostaria de pedir desculpas a todos os

leitores e em particular ao nosso conterrâneo Norberto Valente (que muito contribuiu para o enriquecimento das edições da Almocreve), pelos erros surgidos na edição

anterior, em particular, na fotografia da página 59; Adivinhas Populares página 67; e no Crucigrama, página 68 (alterações dos respectivos quadrados).

Um abraço amigo,Paulo Lopes

(Presidente da A.C.A.C.)

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Page 7: Revista Almocreve 2008

Manuel dos Santos Rodrigues do Vale

É com agrado e satisfação que acedo ao convite da Revista Almocreve, neste sexto número da sua edição, para dirigir algumas palavras a todos os munícipes deste concelho, em particular a todos os Carçonenses.

À semelhança de anos anteriores, mais um tempo de férias, mais um número da Revista Almocreve e mais alegria e entusiasmo por terras de Vimioso.

Neste contexto, gostaria de agradecer o empenho de todos aqueles que, de uma forma ou outra, intervieram na edição da Revista Almocreve, pois só com iniciativas deste tipo se pode demonstrar o dinamismo cultural das gentes de Carção que não desistem de defender e promover a sua terra, reforçada, ainda, com a edição de dois livros sobre Carção e as suas raízes.

Permitam-me uma palavra acerca da actividade no nosso município.Apesar dos tempos de crise, muito se tem feito para que Vimioso e as suas gentes não sejam esquecidas,

e se reforcem os investimentos num município do interior. Esperamos que o novo Quadro Comunitário (QREN), apesar de todos os atrasos, possa descriminar, pela positiva, os projectos lançados e candidatados para, assim, continuarmos a trabalhar, no sentido de criar mais e melhores condições de vida a quem cá vive e, simultaneamente, atrair todos aqueles que aqui queiram investir e fixar-se.

São, de todos, conhecidos os incentivos disponíveis na Zona Industrial e no Loteamento de S. Vicente, com lotes a um cêntimo o m2.

Estão a ser feitos investimentos turísticos com o objectivo único de potencializar os nossos recursos, criando postos de trabalho e fixando gente no concelho, nomeadamente os mais jovens.

O desenvolvimento harmonioso e sustentável do nosso concelho é a nossa prioridade. Além do âmbito municipal, também, em termos da Freguesia de Carção, tudo temos feito e colaborado

para que Carção seja uma freguesia de referência, não nos tendo poupado à realização de obras, em colaboração com a Junta de Freguesia, nomeadamente a requalificação da Casa do Povo, o embelezamento das rotundas e os caminhos agrícolas, entre outras.

É com esta força de vontade e dinamismo, acreditando sempre num futuro melhor para as nossas terras que trabalhamos dia-a-dia, contribuindo para que o orgulho que temos pelo nosso concelho e pela nossa freguesia seja reforçado.

Tudo isto só será conseguido com o empenho e vontade de todos.Por último uma palavra muito especial para todos que nos visitam e permanecem neste período de férias

entre nós, que desfrutem o bom da vida na companhia dos familiares e amigos, e que num ambiente festivo e acolhedor procurem engrandecer as Festividades em honra da Senhora das Graças.

À Associação Almocreve e aos seus responsáveis, deixo um especial agradecimento pela forma como continuam a manter as tradições e a valorizar a sua terra.

Bem hajam. UM ABRAÇO AMIGO,

Mensagem do Presidente

da Câmara Municipal de Vimioso

Page 8: Revista Almocreve 2008

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Page 9: Revista Almocreve 2008

Mais uma vez me é dada a oportunidade de me dirigir a todos os Carçonenses, através da Revista Almocreve, neste ano de 2008, que conta com a sua sexta edição.

Faço-o com toda a satisfação e orgulho, por ser um de entre vós, sempre disponível para contribuir para que Carção possa ficar nos memoriais da história, freguesia que, com satisfação e alegria, dirijo na qualidade de Presidente da Junta.

Antes de mais, deixo um agradecimento muito especial a todos aqueles que têm contribuído para engrandecer esta bela aldeia de Carção, que nunca baixaram os braços, mesmo com as dificuldades e os contratempos da vida.

Nesta sexta edição da Revista Almocreve, recheada de artigos de uma riqueza ímpar, queria, também, elogiar as Associações Almocreve e Caramigo, pelo empenho tido para com a publicação dos dois livros sobre Carção: “Carção - a capital do marranismo” e “Carção, um pedacinho do Reino Maravilhoso “, a que a Junta de Freguesia quis, também, associar-se.

De realçar, também, o trabalho que se tem vindo a desenvolver na preservação do nosso património e, ao mesmo tempo, na requalificação/embelezamento das entradas da freguesia, servindo como porta de acolhimento a quem nos procura e visita.

Esta mensagem, a todos os leitores e a todos os Carçonenses, nada mais significa do que transmitir-vos, singelamente, o apreço que sinto por todos vós.

Continuo a realçar aqueles que, com o seu esforço e dedicação, tem colocado Carção no mapa do desenvolvimento e atracção turística pelos diversos meios disponíveis.

A terminar esta mensagem, deixo uma saudação muito especial a todos os (e)migrantes que se encontram entre nós, ao longo dos meses de férias e das Festividades de Nossa Sr.ª das Graças.

BEM HAJAM, VOTOS DE BOAS FÉRIAS.

COM UM ABRAÇO DE AMIZADE,

O Presidente da Junta de Freguesia

Marcolino Rodrigues Fernandes

Mensagem do Presidente da Junta

de Freguesia de Carção

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Eu venho d’além, d’além…

Eu venho d´além, d´além,De regar o meu nabal,Ainda trago uma folhinha,No laço do avental.

No laço do avental,No laço do meu vestido,Ó prima, ó rica prima,Deixa-me dormir contigo.

Deixa-me dormir contigo,Que uma noite não é nada,Eu entro pelo escuro,E saio pela madrugada.

Não entras pelo escuro,Nem sais pela madrugada,Sou rapariga nova,Não quero ser desfamada.

Não quero ser desfamada,Nem por ti, nem por ninguém,Não quero dar o desgosto,Ao meu pai e à minha mãe.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

Alta vai a lua alta Alta vai a lua alta,Mais que o sol ao meio-dia.Mais alta vai a Senhora,Quando p´ra Belém ia.Madalena vai atrás dela,Alcança-la não podia,Alcançaram-na em Belém,Onde ela estava parida.Era tanta a sua pobreza,Que nem um panal havia!Botou mãos à sua cabeça,A um véu qu´ela trazia.Partiram-no em três bocados,Onde Jesus envolvia.Um era para de manhã,Outro para o meio-dia,Outro para a meia-noite,Enquanto Jesus dormia.--------- Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Noémia Cordeiro,14 – 09 - 2007

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A Minha Alma…

Vozes dava o marinheiro,Vozes dá que se afogava,Respondeu-lhe o Diabo,Das outras bandas da água.

Quanto davas marinheiro,Que da água te tirar,Dava-te os meus navios,Carregados de oiro e prata.

Teus navios não tos quero,Nem teu oiro e tua prata,Só que quer te morrendo,Nos deixes a tua alma.

Minha alma é p´ra Deus,E p´rá Virgem Sagrada,O corpo deixo-o aos peixes,Que andam na água salgada.

A cabeça às formigas,Que dela façam morada,As tripas aos guitarristas,Para cordas de guitarra.

Vai-te embora ò Diabo,Que não te dou a minha alma…

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

Elidinha

Donde vens ó Elidinha,Com a cantarinha na mão,Vou à fonte buscar água,Distrair minha paixão.

Os ganchos do meu cabelo,São de arame enferrujado,Os da minha irmã Arminda,São de prata e dourados.

Diga lá senhor doutor,Se isto se é bem assim,Eu fiquei presa em casa,E minha irmã passear no jardim.

Elidinha, Elidinha,Teu pai não se envergonhou,No dia do teu enterro,Nem a farmácia fechou.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Noémia Cordeiro,14 – 09 - 2007

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Helena

Porque não cantas Helena,Há sombra desta nogueira,Morreu meu pai há pouco,Meu marido está na guerra.

Quanto davas aqui ó Helena,A quem aqui te trouxera,Três bancadas que eu tenha,A escolher uma teu bem.

Tuas bancadas Helena,Dá-lhe a erva que comer,Quanto davas mais Helena,A quem to aqui trouxer.

Três cabradas que eu tenha,A escolher eu te dera,Tuas cabradas Helena,Leva-as p´rá serra morena.

Quanto davas mais Helena,A quem to aqui trouxera,Três filhas tenha,A escolheu numa te eu dera.

Tuas filhas ó Helena,Não nasceram para mim,P´ra mim nasceste tu,Minha rosa, meu serafim.

Meu anel de sete pedras,Que eu contigo reparti,Mostra-me a tua metade,Que a minha tenho-a aqui.

Se tu eras meu marido,P´ra que me falavas assim,As mulheres são como o vidro,Partem como o marfim.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

Água na Fonte…

Água na fonte e o meu burrinho,Água na fonte e o meu moinho.

O meu burrinho leva a fornada,Leva a amassadeira e não pode levar mais nada.

Cantai rapazes, cantai raparigas,Nós festejamos, nossas lindas cantigas.

Ora viva o rancho e o festival,Ora viva a festa, viva o nosso Portugal.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

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Angelina

No dia 4 de Maio,Um crime se praticou,Por causa de Leonardo,Angelina se matou.

Já andava há quatro meses,Sem uma carta mandar,E a primeira que mandou,Foi logo para a deixar.

Ela desde que leu a carta,Logo saltou a chorar,Minha mãe estou desgraçada,Se Leonardo me deixar.

Se Leonardo te deixar,Ó filha que hei-de fazer,Guarda o segredo bem coberto,P´ra teu pai não saber.

A mãe e as filhas,Foram p´ró rio lavar,Quando chegaram a casa,Angelina estava-se a matar.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Noémia Cordeiro,19 – 09 – 2007

Maria Alice

Onde vais Maria Alice,Tão triste a chorar,Vou chamar meu marido,Que está na taberna a jogar.

Está na taberna a jogar,Está numa linda brincadeira,Se não queria casar comigo,Deixaras-me estar solteira.

Deixaras-me estar solteira,Solteirinha estava bem,Sentadinha, regalada,À sombra de meu pai e mãe.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

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O namoro…

No meio da vila nova,Havia uma palmeira,Morreu lá uma menina,Da mocidade solteira.

Era pequena e nova,Já sabia namorar,Foi-lhe pedir a seu pai,Licença para casar.

O seu pai lhe respondeu,Oh filha que vais fazer,Estás na flor da idade,Vais-te deitar a perder.

Ela desde que isto ouviu,Ao mundo deu que falar,Foi-lhe pedir ó namoro,Remédio para matar.

O namoro correu logo,À farmácia da calçada,Buscando limão em cobre,P´ra fazer a garrafada.

Logo à primeira gota,Deu-lhe uma grande agonia,Ela disse p´ró namoro,Que daquela morreria.

Eram dez para as onze,Das onze para o meio-dia,Estava a dar a alma a Deus,E o corpo à terra fria.

Ó pais que tendeis filhas,Não lhe tirei o casar,Porque eu tirei-lho à minha,Só disso tenho penar.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

Page 15: Revista Almocreve 2008

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Soldadinho

Donde vens soldadinho,Que andas tão triste na guerra,Já te morreu pai e mãe,Ó gente da tua terra.

Nem me morreu pai nem mãe,Nem gente da minha terra,São paixões da minha amada,Que a deixei e vim p´rá guerra.

Se deixas-te a tua amada,Soldadinho vai a vê-la,Ao cabo de nove meses,Soldadinho voltou p´rá guerra.

Donde via ó soldadinho,Donde via dagora daqui,Vou ver a minha amante,Que já há dias que não a vi.

Tua amante está morta,Morta eu bem a vi,Dá-me os sinais que levava,P´ra eu me fintar em ti.

Levava vestido branco,E seu cinto em marfim,Seu cabelo entraçado,----------

Se chegares a ter filhas,Traias sempre ó pé de ti,Que não se percam por homens,Como eu me perdi por ti.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Noémia Cordeiro,19 – 09 – 2007

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Canção da Talanqueira

Larga o acompanhamento,Faz um arco nesta rua,Deixai-me chegar à noiva,Como o sol chegou à lua.

Donde vens estrela brilhante,Da presença do Senhor,Fostes dar a tua mão,A quem era o teu amor.

Viva lá, ó senhor ….,Vou-lhe pedir um favor,Que me estime a minha amiga,Com carinho e amor.

Toma lá este raminho,Com três folhas de oliveira,Queira Deus que não te lembre,A vidinha de solteira.

Os padrinhos e as madrinhas,Venham cá p´rá dianteira,P´ra desempenhar o ramoE a fita da talanqueira.

Um raminho, dois raminhos,Três raminhos a seu peito,Vivam os noivos,Que estas vão a seu respeito.

Recolha: Paulo Lopes,Citada em Carção por: Noémia Cordeiro,14 – 09 - 2007

Olha a Rolinha (cantiga do Jogo da Roda)

Olha a rolinha, andou, andou,Caiu no laço, logo lá ficou.

Dá-me um abraço, é coisa que eu faço, Olha a rolinha, que caiu no laço.

A rola se vai queixando, que lhe tiraram o ninho,Não fizeras tu ó rola, tanto ao pé do caminho.

Tanto ao pé do caminho, tanto ao pé dos meus olhos,A rola se vai queixando, que lhe tiraram os ovos.

A rola se vai queixando, lá para traz da igreja,Não há tiro que a mate, nem caçadores que a vejam.

Caçador, atira, atira, que a rola bela lá vai,Como eu hei-de atirar, se o pombal é de meu pai.

Atirei e não matei, o mal empregado tiro,Minha pólvora requeimada, meu chumbinho derretido.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

Page 17: Revista Almocreve 2008

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Page 18: Revista Almocreve 2008

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Oração ao deitar

Quatro esquinas tem a casa,Quatro velas tem a arder,Quatro mil anjos me acompanhe,Se esta noite eu morrer.Nesta cama me deitei,P´ra dormir e descansar,Se a morte vier,E ma quiser levar,Agarro-me aos cravos,Seguro-me à cruz,Entrego a minha alma,Ao Menino Jesus.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Glória Dias,14 – 09 – 2007

Oração ao deitar

Com Deus me deito,Com Deus me alevanto,Acho-me na graça,Do Divino Espírito Santo.O nome à morte,Deus me conforte,E me queira confortar,E me livre,E me queira livrar,Dos laços do Demónio,Que também num possa chegar,Nem de noite nem de dia,Nem à hora do meio-dia,Um Padre-Nosso e uma Avé-Maria.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Noémia Cordeiro,19 – 09 - 2007

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Deus nos dêmuitos bons dias…

Deus nos dê muitos bons dias,Nesta tão divina hora,Rainha do céu e da terra,Da Virgem Nossa Senhora.

Esquecida estava eu,Esta noite, meus amigos,Agora já recordei,Já vos trago nos sentidos.

Tanta firmeza devemos,Ao Deus que nos criou,Tantas gotinhas de sangue,Por nós Arramou.

Por nós foi dar a Vida,Ao Monte Calvário,Ficou muito satisfeito,Depois de Crucificado.

Depois de Crucificado,Donde chamamos o missal,Onde caberemos nós,Naquele tão pequeno vale.

O vale de Josefás,Para nós foi terminado,Ali virá o Senhor,Dos anjos acompanhado.

Ele nos irá dizendo,Nunca tão verdade fora,Bem tempo vos tenho dado,Não vos quero ouvir agora.

Como ficaremos nós,Ouvindo aquela resposta,Olhando uns para os outros,Pedindo a Deus misericórdia.

Testamento acabado,Para sempre seja louvado,No céu e na terra,--------------------

Quem esta oração disser,Um ano continuamente,Achará o céu aberto,E a glória para sempre.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 - 2007

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Oração de Santo António

Santo António madrugou,As suas Santas mãos lavou,Ao paraíso entrou,Jesus Cristo procurou,Tu António, onde vais?Vou subir aos céus…

Ao céu subirás,E a terra ficarás,E o que for vivo guardarás,E o pedido arrecadarás,Arrecadai também hoje,E amanhã por todo o dia,Meu corpo não seja preso,Na minha alma perdida,À honra de Deus,Um Padre-nosso e uma Avé-Maria.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Laurinda Vaz,14 – 09 – 2007

Santa Bárbara Bendita

Santa Bárbara bendita,Que no céu está escrita,Com papel e agua bentaLivrai-nos desta tormenta.Onde vais BárbaraSenhor, vou ao céu,A livrar-me das trovoadas,Que neles andam armados.Pois Bárbara, bota-as para bem longeOnde não haja sinos a tocar,Galos a cantar,E meninos a chorar,Mas haja uma serpente bem grandeQue tenha 24 filhosE não tenha nada que lhes darSó água de trovãoE leite de maldição.

José António, 16 – 08 – 2007

São João

Indo eu por ai abaixo,A saber de São João,Encontrei Nossa Senhora,Com um raminho bento na mão.Eu pedi-lhe o seu raminho,Ela deu-me o seu cordão.

Milagroso Santo António,Aceitai este cordão,Que mo deu Nossa Senhora,À saída da resseição.----------Onde está Jesus,Está pregado numa cruz,Seus braços abertos,Seus pés cravados,Arramando seu sangue,Por mor de nossos pecados,----------------Já os galos pretos cantam,Já os anjos se alevantam,Já Nosso Senhor subiu à cruz,Pater-noster, Ámen, Jesus.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 – 2007

Santo António – Trovoadas

Santo António madrugou,Se vestiu e se calçou,Ao caminho se botou,Suas santas mão lavou,Lá no meio do caminho,Com a Virgem se encontrou,- Onde vais ó António!Eu vou e quero ir,Derramar as trovoadas,Que no céu estão armadas,À honra de Deus, da Virgem Maria e San-to António,Um Padre-nosso e uma Avé-Maria.

Recolha: Paulo Lopes,citada em Carção por: Rosa Tonheca,14 – 09 – 2007

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Esta minha terra... Carção. Que saudades eu tenho de vós:“Urretas” de Calhaus empedernidosAgigantados nas “Penas Altas”...Pensamentos esquecidos e tão sósQue por esse mundo fora,Por Carção são tão sentidos...E que saudade da luz burealQue nas idas manhãs de OutonoMe fustigavam de ternura “celestial”Como se eu fosse delas dono...Que saudades dos olmos que partiramCom os ninhos que guardavam,Dos pombais (quais pontos cardiais)Que nos mostravam o caminhoDas cortinhas, outrora perfiladas...Vestidas a rigor, e agora em desalinho,Das hortas, dos campos de cereais,...de tantas...tantas lides arredadas...E que saudades, meu Deus,Dos odores que tu me davas:Do cheiro da terra esboreada,Da planura dos batatais,Dos “termos” em restolhada,Das vinhas e olivais...Mas são ainda teusEsses odores que tu me davas:O cheiro inebriante da madressilva, Esta vastidão admirativaDa minha terra Carção;Esta Paz tão sentidaQue me afaga o coração.

António Prada Jerónimo

Ruas da minha terra Ruas da minha terraPelo sonho abençoadasDói-me ver-vos assim,Nessa paz e nessa guerraNesse abandono sem fim...Ruas tristes e mutiladas,Sofridas no meu coraçãoPercorro todas as calçadasCom o ardor da solidão... E no vazio dos “sentalhos”Paira a dúvida e a razão:Será que a emigraçãoEm vez de caminhos foi atalhos?... Nas “Soleiras” Sobram “uns” velhosQue aos poucos vão... partindo.Que tristeza para os olhosVê-los assim... Sorrindo...Lembram, ou sonham, a sua labuta“Esses Velhos” de outro tempo,São hoje a nossa batutaA coragem e o exemplo...São o olhar empedrenidoSobre esta folha em branco,São o grito emudecidoDa consciência colectivaDeste povo nobre e franco...São tudo que nos restaPara resgatar o passadoE, ainda não será desta,Que este mundo AlucinadoNos roubará o orgulho...e a razão,De sermos gentes de Carção.

António Prada Jerónimo

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Terra Minha

Ficas perdida no meio do nadaPareces abandonada,Mas não…Existe mais vida em ti,Que no resto do mundo!Tudo em tiÉ verdadeiro,É genuíno,É puro!Terra minha,Aquela em que o tempo parou,Terra minhaNo meio dos montes e dos rios.Tudo respiraTudo transpira.SonhoPazAlegria…Terra dura e fria,Morte daqueles que trabalham nela!Voa,Rasteja,Cavalga,Anda…Mundo,Terra abençoada e castigadaTerra que vê sol e tempestadesTerra que ama e odeiaTerra que dá e tiraTerra de orgulho,A minha terra!

(dedicada à terra que me viu nascer, Carção)

Sara Afonso

Sou de Carção Sou um poeta de Aldeia(Será que sou?)Da Aldeia que não anda,Que se cansouE, sem qualquer ideiaNaqueles montes parou... Sou dessa Terra PedregulhaCom suas vidas violentadas,Sou desse destino que mergulhaPor felicidades inventadas... Sou dessa terra derramadaQue, como a muitos, me viu partir...Sou dessa terra amadaOnde ainda hão-de ouvirMuitos que hão-de Voltar...Sou dessa terra abandonadaQue da canseira já se Cansou,Sou dessa aldeia de CarçãoOnde o futuro há-de entrar...Sou dessa terra que me amouE onde tenho o coração...

António Prada Jerónimo

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Artesãos e Profissões

Linda aldeia de Carção,Situada em Trás-os-Montes,Terra de Muito artesão,E também de belas fontes.

Vou começar pelo sapateiro,Do meu pai a profissão,Que passava o dia inteiro,Com a sola e o martelo na mão.

No bairro de Cima o ferreiro,Mais ao lado o alfaiate,Havia também o latoeiro,Com a lata, a solda e o alicate.

Mais abaixo, na Praça,Vive ainda o ferrador,Que com bravura e raça,Tratava os animais com amor.

Ao lado do ferrador,O tio “Tai” fazia albardas,Para os animais, a rigor,Exibirem as suas “fardas”.

Também avia as artesãs,Já faladas noutras revistas,Eram as nossas mamãs,Umas verdadeiras artistas.

Minha mãe foi cesteira,Seguindo-se tecedeira,Além disso costureira,E, de seis filhos, cozinheira.

Com ela eu aprendi,Muita coisa que hoje sei,Esse saberes aperfeiçoei,E a minha casa decorei.

Não faltavam as padeiras,Que coziam o bom pão,Iam vendê-lo às aldeias,Com alegria no coração.

Além de tanto artesão,Outras profissões não esqueci,Ainda guardo no coração,O que em menina lá vivi.

A tremoceira e seus pregões,Que os tremoços curava,Com apenas cinco tostões,Um prato deles, ao domingo, comprava.

O barbeiro, de navalha e tesoura na mão,Os cabelos e as barbas aparava,Mais tarde, pelo pino do Verão,A sua bela máquina arrecadava.

Não faltava o sardinheiro,Que saía para bem longe,Voltando com algum dinheiro,E outros géneros no alforge.

Os azeiteiros acordavam,Pela manhã bem cedinho,Com saudade abalavam,No cavalo, macho ou burrinho.

Ainda conheci os oveiros,Que pelas portas compravam,Os ovos sempre caseiros,E à cidade os levavam.

Em Carção, hoje, há doutores,Outros advogados e juízes são,Muitos, como eu, professores,Podia citar muita profissão.Mas, por aqui me vou ficar,Para a tantos recordar:Que por detrás de quase todos,Houve um tio, avô ou pai artesão.

Teresa Minga

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O MagustoAlegres e vestidos a preceito,Com seu fato domingueiro lá ia a rapaziada.Apanhar as boas castanhas,Em terras suas, ou estranhas,Nos campos da Milharada.

Para fazer a grande fogueira,Juntavam, pressurosos, sem canseira:Folhas, ramos, e silvas sequinhas.Tudo no largo era amontoado,E para o meio as castanhas deitavam,Enquanto chegavam as raparigas.

Não faltava a água-pé,Mais o violão do Zé,E o Fernando com sua guitarra.Todos à volta da fogueira,Dançavam a roda em brincadeira,Que mocidade animada!

Até os vetustos castanheiros, nesse dia,Ofereciam uma outra magia,Agitando seus ramos e ouriços.E as castanhas o sorriso aproveitavam,E, sopradas pelo vento, do seu seio voavam,Para participar no convívio.

E, uma ou outra semi-queimada,Toda aquela gente assustava,Com seus estoirotes inusitados.Era uma algazarra esfusiante,Por vezes um pouco alarmante,Com o medo de ficarem queimados.

Uma ou outra, por vezes saltava,Já completamente bem assada,Para gáudio dos intervenientes.Como já vinha descascada,Num ápice, era saboreada,Abrindo o apetite aos restantes presentes.

Jogos de roda e bailaricos,Promessas de pedidos de namoricos,Aqui tinham cabimento.Se alguns eram a brincar,Outros viriam a terminar,Em pedidos de casamento.

Quase sempre o Sol aparecia.Para iluminar o santo dia,Espalhando seus encantos.E o ar puro se misturavaCom o cheiro da castanha assada,Neste dia de Todos os Santos.

Dobram os sinos tristemente,A convidar toda a gente,A juntar-se à procissão.E, após uma tarde bem passada,Lá vai toda aquela moçarada,Ao cemitério, rezar pelos que lá estão.

Hoje é tudo bem diferente,Não há magusto certamente,Neste local de convívio e animação.Porque grande parte da mocidade,Vive no estrangeiro ou na cidade,E esporadicamente visita Carção.

Sofia Jerónimo

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Coragem e solidariedade

Tlim, Tlão, Tlim, Tlão!Tocava o sino chamando a população,E todos entendiam aquele tocar a rebate.Água! Água! Água! – Gritava a gente aflita.Fosse de noite ou de dia, toda a gente aparecia,Para socorrer e enfrentar o terrível combate.

Franqueavam os poços de água privados,Eram esquecidos divergências e agravos,Todos se muniam de cântaros e baldes na mão.Ferros, machados tudo o que pudesse ajudarE, ei-los escaldando paredes e telhados para o fogo apagar.E, numa corrida louca, num ápice, atacavam o clarão.

Num ímpeto de coragem e bravura,Avançavam qualquer altura,Com perigo da própria vida, sem medo.Movimentavam-se sobre os velhíssimos telhadosCarcomidos, frágeis, semi-queimados,E lançavam água sobre aquele terrível brasedo.

Vítimas humanas, raro aconteciam, felizmente,Devido à coragem, à força desta gente,Ao espírito de entreajuda de solidariedade.Era uma força anímica indescritível,Que enfrentava este momento terrível,A fim de tentar evitar a desgraça, e que tudo se salve.

Num certo domingo em que toda a gente assistiaNa igreja, à Santa Eucaristia,Alguém viu, ao longe, uma casa a arder.Foi uma autêntica debandada,Enquanto o sacerdote a missa continuava,Estupefacto pelo que estava a acontecer.

Deus nos perdoe, mas é preciso socorrer,Alguém que pode estar em perigo, prestes a morrer,Era ainda cedo, de manhãzinha.Não se enganaram realmente,Pois uma família dormia tranquilamente,Mesmo ao lado do sinistro, na casa vizinha.

Saiam! Saiam! – Imploram eles, aos gritos.Desesperados, muito aflitos,Sobem as paredes, entram pela janela,Num ápice, sem hesitar, surpreendentementeSalvam aquela pobre gente,Duma grande e terrível tragédia.

Dizia um popular e sábio provérbio,A necessidade aguça o engenho,Torna o homem audaz e corajoso.De facto a distância que separa a povoação,Sem qualquer meio de comunicar com a Corporação,Permitiria que todo o bairro fosse devorado pelo fogo. Sofia Jerónimo

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O Emigrante - 11-10-1963

O Emigrante, longe da terra distante, pelas estradas fora,Lembra o nosso Portugal, ao Emigrante que foi embora.O Emigrante caminha cheio de tristeza e emoção,Para deixar pais e família, leva-os no coração.Partindo para outros países, sem uma palavra saber falar,Quantas vezes choram e se puseram a rezar.Emigrante que eu sou, nunca me esqueci,Da aldeia de Carção, terra onde nasci.Carção, antiga povoação. Tudo que tens, tem graça,A igreja, as capelas, o lar e os cafés na Praça. Sobre o monte, a capela de Santa Bárbara, longe como nós estamos, Pedimos a sua protecção para o povo de Carção.

Ana Maria Palhau

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Eterno

Foste embora sem te puderes despedir de ninguém,De mim.Sinto-me culpada por isso,Pensei que ficasses sempre junto de nós.Que ias estar sempre presente na minha vida,Que me irias continuar a ver crescer.Desapareceste,Sem eu nunca te ter ditoO quanto te amoO quanto te admiro,O quanto és importante para mim.Não consegui ficar triste quando partiste,Fiquei revoltada, perdida.Pensei que talvez Deus me quisesse castigarPensei que talvez tu estavas desiludido com a vida,E por isso, egoísta,Partiste!Agora a raiva já passou,A tristeza impera.Nunca pensei que ias aparecer tantas vezes nos meus sonhos,Sorrindo, cantando, dizendo anedotas…E agora percebi;Tu nunca partiste.Tu nunca desapareceste.No meu coração,Tu és eterno!

(dedicada a ti, meu avô que já não estás entre nós, mas que nunca sais do meu coração!)

Sara Afonso

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A Festa do Peru

Antigamente, em Carção, havia muitas tradições. Umas continuam e outras vão-se es-quecendo pouco a pouco. A que eu recordo, com mais nostalgia é a do peru. Na altura do Carnaval to-das as classes (1º, 2º, 3º, 4º,5º e 6º) ofereciam um peru ao professor. Fazia-se uma caixa de madeira que mais parecia um andor e que enfeita-va-mos com edras (planta trepadeira que se encontra nas bordas dos caminhos) e fitas, isto era ao desafio para ver qual deles era o mais bo-nito no nosso tempo dizia-se o mais pimpão. Este caixão era bem guardado até ao dia da saída. Juntava-se o dinheiro entre os alunos que evidentemente pedíamos aos nossos pais e de-pois íamos comprar o peru. Recordo-me quando anda-va na 4º classe, fomos comprar o peru a Santulhão.A senhora que nos vendeu o peru quis ser bondosa e deu-nos bolachas e um copo de jeropiga a cada um. Ficamos todos mais alegres e alguns chegaram mesmo a embriagar-se. Mas continuando. Chegava o dia em que metíamos o peru dentro do caixão e fazíamos uma procissão com todos os perus, durante a procissão cada classe cantava os seus versos dedicados ao professor e ao peru. Depois da procissão cada turma levava o seu peru para a eira do São Roque para que lutassem entre eles, para ver qual era o mais forte. Era sempre uma alegria. Tudo acabava em festa.

Ó peru, ó peru Que sorte será a tua Os meninos da escola, Já te trazem pela rua. Viva o peru, viva o galo, Vivam todos os que aqui estão, Viva lá a nossa professora, Que e a melhor de Carção. O peru do senhor Albino, Esta doente do coração, Temos que o levar ao médico, Para lhe dar uma injecção. Ó peru, ó peru Que foste criado em Santulhão, Para dar à nossa professora Que nos ensina de coração. O peru da Dona Céu, É valente e tem chapéu, Para bater no do senhor Pires, Que mora à porta do Pompeu.

Andreia Cathy

Page 30: Revista Almocreve 2008

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Promotoras: EMICLAU II - Soc. Construções, Lda.Construções SucessoBragança

Vendas: Tlm:Emílio - 966344279Cláudio - 966344280

Page 31: Revista Almocreve 2008

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Promotoras: EMICLAU II - Soc. Construções, Lda.Construções SucessoBragança

Vendas: Tlm:Emílio - 966344279Cláudio - 966344280

Page 32: Revista Almocreve 2008

Carção A aldeia é uma entre tantas outras, num ponto remoto de Trás-os-Montes, plantada pelo acaso nos ombros anosos das montanhas, longe de tudo, à distância quase do pensamento. É talvez impossível compreender as razões da fixação de um povoado naquele local exacto. Não se trata de uma área particularmente fértil mas conhecendo a região é impossível encontrar uma outra muito diferente. A aridez do solo e a ru-deza do clima são acentuadas pela ausência de um curso de água nas proximidades e pela inexistência de floresta. O rio Maçãs, afluente do Sabor, serpenteia impávido por entre os montes a vários quilómetros da aldeia. Uma colina no centro sustenta a igreja e a partir daí, es-palham-se em todas as direcções, especialmente no sentido do poente, as casas de cerca de oito centenas de habitantes. Na altura em que nasci a maioria das habitações apresenta-va as características da construção tradicional, feitas de pedra e de madeira, cimentadas com uma mistura de argila, palha e pêlos de animais e cobertas com telhados de xisto. Normalmente eram constituídas por um rés-do-chão onde se situava o alojamento dos animais, a adega e um local para arrecadar a produção agrícola. Por cima, para aproveitar o calor gerado pelos animais e pela fermentação do estrume por eles produzido, localizavam-se a área habitacional. Uma co-zinha, sempre com a incontornável lareira, muitas vezes sem mesmo uma chaminé, para facilitar a cura do fumeiro, cons-tituía na maior parte dos casos a primeira divisão. Daí, um corredor levava ao reduzido número de quartos que albergava a sempre numerosa família. O interior das habitações era sempre muito escuro, as divi-sões possuíam janelas muito pequenas para conservar o calor gerado pela lareira no Inverno e para impedir que a ardência do Verão nelas entrasse. Movimentando-nos para a periferia, começavam a aparecer casas modernas, pintadas de cores garridas, a anunciar um novo status, quem sabe uma barreira mental para expugnar as lembranças de um passado de miséria. Lenta mas insidio-samente, muitas das casas originais foram demolidas e subs-tituídas por edifícios pretensiosamente disformes, anfractos, incaracterísticos. Do cimo da torre da igreja, o sino chamava às Avé Marias, à Missa de Domingo, anunciava as desgraças, os casamentos, os baptizados e os funerais com uma melodia específica para cada acontecimento. Um relógio de ponteiros robustos, dividia pacientemente o tempo e sacudia os sinos de meia em meia hora com um vigor arrebatado. Não creio, no entanto, que essa divisão artificial tenha tido algum dia um significado in-fenso. A vida e o ritmo das pessoas eram determinados pela vontade imperiosa da terra, pelas estações, pelo sol e pela amplitude dos dias. As horas tinham muito pouco significado, mas os sinos ouviam-se do termo (nome geral dado aos montes adjacentes onde se situavam as terras de cultivo, os pastos, as oliveiras), serviam de elo imaginário com o aconchego do lar e contribuíam para salientar a altura do sol e justificar a fome se as badaladas se aproximavam das doze.

Rosário Andrade

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O REI DA CAPOEIRA

Numa noite, daquelas que os transmontanos tão bem guardam na memória, gélida e escura como breu, estávamos reunidos no dito café a passar o tempo. Lá estávamos nós, folgazões e ávidos de emoção, a jogar uma cartada, como de costume. É que assim sempre havia uma asneirada para botar ou uma discussãozita acesa para nos animar. Às tantas, eis que um de nós se lembrou de fazer cumprir a tradição da época e ir roubar galinhas à aldeia vizinha. As tradições da aldeia eram para nós importantes marcos na quebra da rotina pas-ma e indolente dos dias. Precisávamos de emoção para justificar a nossa juventude. Assim, argumen-tava aquele que, andando lá a trabalhar, conhecia um galinheiro bem recheado dos ditos galináce-os. Se mais depressa surgiu a ideia, mais depressa se pôs em prática. Era só do que precisávamos, adrenalina da mais pura! Combinámos entre nós o que deveríamos fazer para executarmos o plano o mais rápido possível, sem sermos apanhados. O transporte era um dos poucos que havia naquela altura e que estava sempre disponível, quer para pequenas aventuras, quer para as nossas viagens desportivas, nas quais procurávamos dignificar o nosso clube de futebol, o mais famoso do distri-to (imparcialmente referido por todos). Em suma, era um dos nossos. Pusemo-nos a caminho, expectantes e desen-freados, com a táctica bem estudada. A viagem era pequena mas excitante. Chegados ao local, parámos a carrinha apontada para Carção, com o condutor a postos para uma fuga rápida. Nós, cada um com seu saco na mão, saltámos a cerca e en-trámos no barracão. Aí travámos uma luta com os galináceos que, ficando de tal forma assustados, se tornou para nós uma tarefa titânica apanhá-los. Eu fui um dos que não conseguiu apanhar nada, não sei se por medo, se por eles serem mais rápidos

do que eu, se por ter ficado cego com tanta pena esvoaçante. Regressámos à carrinha muito rápido, mas faltava um de nós. Era o que conhecia o ga-linheiro e, estando ainda lá dentro, travava uma luta para apanhar o rei da capoeira. Nem podia ser de outra forma, claro. Quando o conseguiu, ar-rancámos a toda a velocidade em direcção à nossa aldeia. Fomos deixar a mercadoria onde tínhamos com-binado, para no dia seguinte fazermos um churras-co no moinho do Cabeça Torta, tal como havia sido combinado. Voltando ao café, e já a altas horas da noite, reunidos a conversar sobre a aventura, apareceu a GNR a inquirir-nos sobre o que tínha-mos feito nessa noite. Já os velhos diziam que a juventude é insana, mas não fôramos nós e ou-tros como nós a dar alguma luta aos defensores da ordem e da justiça, o que fariam estes? Cartas, não, essas eram do nosso pelouro. Como é óbvio, a união era o nosso lema, e estes nada consegui-ram de nós, que tivemos a preciosa ajuda da Dona Berta. E corroborou a nossa versão, dizendo-lhes que ali estivéramos toda a noite. A notícia tomou tal repercussão que ninguém se aventurou a fazer o churrasco nos dias seguintes. Mas alguém bene-ficiou com o assalto ao galinheiro. O tal que só queria o rei da capoeira tinha o seu motivo. Como o medo nos dominou, receando sermos descober-tos, ele andou a semana toda a empanturrar-se de pernas de frango no trabalho, rindo de soslaio sempre que nos via. Ficou ele com a sorte grande e nós com a aproximação. Esta foi mais uma história como tantas outras que se passaram naquele tempo, em que o pouco que fazer e o convívio nos convidava à aventura, alternando com os infindáveis jogos de sueca ou chincalhão, sempre muito animados.

José Cavaleiro

Caros conterrâneos,

O director da revista Almocreve, o qual saúdo e louvo por esta importante ini-

ciativa em aproximar e divulgar as gentes e costumes carçonenses, pediu-me para

colaborar novamente nesta edição. E é com todo o prazer e orgulho que o faço, pois

só assim, podemos conseguir manter a nossa tradição bem viva.

Desta forma, vou contar mais uma história passada na minha juventude e aqueles

que a viveram vão certamente lembrar-se dela.

Esta narrativa, mais uma vez verídica, passou-se em Dezembro de 1983, no dia

em que era costume ir roubar galinhas para posteriormente se fazer uma patuscada.

Tal como na história da edição passada, desta vez estávamos reunidos no café do

Patudo, um dos dois mais frequentados na época.

Page 34: Revista Almocreve 2008

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- O Movimento Poético Nacional, fundado em 20/10/1976, portanto, estamos chegando no seu 32.º ano de existência, foi fundado por um grupo de idealistas e tendo como patrono “MENITTI del PICCHIA” quinto príncipe dos poetas brasileiros, e por SILVA BARRETO, emérito poeta e presidente honorário fundador.

O Movimento Poético Nacional, tem sua sede própria na rua dos Bogaris, 183, bairro Miran-dópolis/Vila Mariana, na cidade de São Paulo – SP.CEP-04047-020 – Brasil e congrega asso-ciados além da capital de São Paulo, no próprio estado de São Paulo, nos estados da união, bem como, internacionalmente, Portugal, U.S.A. e Canadá.

Além das Tardes Litero-Musicais a cada 15 dias em nossa sede e auditório, aos sábados à tarde, apresenta-se em inúmeros locais durante o ano, como exemplo: o Salão Verde do Circulo Militar de São Paulo, com a nossa data máxima em 20 de Outubro, a festa da Primavera em Setembro, na Universidade de Assunção UNIFAI, no Conselho Regional de Contabilidade, no Clube HOMS, na Associação Portuguesa de Desportos, no teatro São Pedro e em outras inúmeras associações e entidades de cultura. Na capital de São Paulo, temos 200 associados e espalhados pelo Brasil e estrangeiro contamos com mais de 800 associados, alguns como delegados. Os nossos renomados artistas, cantores líricos e alguns emanados do Teatro Municipal de São Paulo, tais como: TO-MASINO CASTELLI, ARLINDO GUARIGLIA, e ainda CELESTE MANZINI, ANTONIO FAILDE e poetas do maior gabarito nacional. A direcção artística está a cargo da cantora lírica: CELESTE MANZINI (CELESTE da CONCEIÇÃO OLIVEIRA MANZINI), portu-guesa, de VILA REAL ( TRÁS-OS-MONTES). O Movimento Poético Nacional, congrega no seu seio, um grande número de Luso-Descendentes, e a sua diretoria tem a seguinte composição: PRESIDENTE: WALTER ARGENTO; 1.º VICE-PRESIDENTE: CARLOS MOREIRA da SILVA; 2.º VICE-PRE-SIDENTE: ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO; 1.º SECRETÁRIA: FRANCES de AZEVEDO; 2.º SECRETÁRIO: GILBERTO AMADO APRÁ; 1.º TESOUREIRO: ANTONIO FAILDE; 2.º TESOUREIRO: THIERS del CARLO; 1.º RELAÇÕES PÚBLICAS: DOMINGO LAGE; 2.º RELAÇÕES PÚBLICAS: ADÉLIO LOURENÇO FERREIRA; DIRETORA ARTISTICA: CELESTE MANZINI; DIRETOR DE CERIMÓNIAS: REMO MENEZES; DIRETOR DE ORATÓRIA: CARLOS MOREIRA da SILVA; DIRETORA DE PATRIMÓNIO: CREUSA BRITO BARRETO; PRESIDENTE DO CONSELHO CONSULTIVO E FISCAL: SILVA BARRETO. Os Luso-Descendentes, ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO e CARLOS MOREIRA da SILVA, fazem parte da 1.ª Antologia dos Poetas Lusófonos e da Associação Portuguesa de Poetas – Lisboa – Portugal. O nosso ideal é transmitir a Cultura, o Poema, a Poesia, a Arte Litero - Musical. O Movimento Poético Nacional, edita o Jornal “A Voz da Poesia” a cada trimestre bem como, uma revista “A Voz da Poesia” quando em uma data relevância.

A Casa do Poeta de São Paulo (casa do Poeta “Lampião de Gás” de São Paulo) foi fundada pela poetisa colombiana, em Novembro de 1948, portanto, irá completar 60 anos de fundação e tem um jornal “FANAL” editado há 54 anos sem interrupção, onde os poetas colocam as suas mais variadas poesias. A Casa do Poeta, tem sua sede no auditório da Associação Paulista de Imprensa no contro da capital Paulista, a rua Alvares Machado 22, 1.º andar,

CEP.01501-030. é uma entidade renomada Litero-Musical, com sessões às 1.as e 3.as Terças-Feiras do mês, ds 18 às 20 horas. A sua diretoria é composta dos seguintes poetas: PRESIDENTE: WILSON de OLIVEIRA JASA; VICE-PRESIDENTE: ANALICE FEITOZA de LIMA; 1.ª SECRETÁRIA: MARIA JOSÉ QUEIROZ RIBEIRO; 2.ª SACRETÁRIA: ANDRELINA MOREIRA; 1.º TESOUREIRO: WALTER ARGENTO; 2.º TESOUREIRO; JOSÉ ANACLETO VIEIRA; DIRETORA SOCIAL: LEONIDE VIETTO BECCACCIA; RELAÇÕES PÚBLICAS: ANTONIO FERNANDES MICHELASSI; CONSELHO FISCAL: ADÉLIA VICTORIA FERREIRA, ARISTÓTELES de LACERDA JUNIOR e ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO. O presidente WILSON de OLIVEIRA JASA e Luso-Descendente e faz parte da 1.ª Antologia dos Poetas Lusófonos e é mem-bro da Associação Portuguesa de Poetas-Lisboa-Portugal bem como, o conselheiro ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO.Tem suas fileiras um grande número de Luso-Descendentes e a sua secretária MARIA JOSÉ QUEIROZ RIBEIRO, é Portuguesa.Além das sessões litero-Musicais em sua sede e realizadas no Auditoria, ela exibe-se em outros locais, tais como: Parque do Piqueri, no bairro do Tatuapé aos Domingos pela manhã, na praça da Sé no dia da Fundação de São Paulo, 25 de Janei-ro, bem como, no mesmo dia no Pateo do Colégio Local da primeira missa em São Paulo e tudo em homenagem a JOSÉ de ACHIETA e MANOEL da NÓBREGA, fundadores da cidade de São Paulo na câmara Municipal de São Paulo, em eventos comemorativos. A Casa do Poeta tem espalhadas pelo Brasil o número de 600 associados, boa parte na capital Paulista bem como, cantores líricos, seresteiros e músicos. No mês de Novembro irá comemorar 60 anos de fundação e haverá uma grandiosa festa no auditório da Câmara Mu-nicipal de São Paulo. A casa do poeta é uma entidade Litero-Musical que, espalha pelo mundo literário, cultural e poético as suas próprias raízes: A Essência da Poesia.

Casa do Poeta“Lampião de Gás”de São Paulo

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Ela foi fundada no ano de 1859,portanto, bre-vemente terá 150 anos de existência, por um pu-nhado de portugueses vindos de todas as regiões de Portugal, e naturalmente em seu meio haviam muitos “trásmontanos”, pessoas que tinham em mente ajudar os seus queridos irmãos lusitanos que fluiam de todas partes e o seu cunho era o bem estar social, e já no ano de 1874 erigiram um hos-pital, contendo 13 leitos, evidentemente modesto para os padrões atuais,mas uma grande iniciativa e de grande repercussão para aquela época. Mais uma organização de cunho lusitano, a ‘BENEFICÊNCIA PORTUGUESA’ como é conhecida do publico brasileiro e português, recentemente mudou de nome em razão de actos jurídicos, por-quanto, a Real e Benemérita Sociedade Portugue-sa de Beneficência, retirou a palavra Sociedade e trocou-a por Associação. Por muitos anos o Hospital da Beneficência Portuguesa, foi no centro de São Paulo, mais pro-priamente perto da Av. Ipiranga, ou seja na rua que continha o seu nome,ou seja, Rua Beneficên-cia Portuguesa, mas que, foi ficando pequena pela sua expansão continua, uma vez que, a imigração portuguesa acentuou-se e os portugueses necessi-

tavam de assistência médica, embora existissem outras associações, como o Centro Trasmontano de São Paulo, a Nossa Senhora das Graças e outras entidades menores. Com essa expansão, deliberou a sua Diretoria criar algumas categorias de associados, ou sócios como eram chamados, e então surgiu o seguinte: 1) Sócios Grandes Beneméritos, os que tinham di-reito, quando internados, a um apartamento duplo com sala de espera.2) Sócios Beneméritos, os que tinham direito a um apartamento com um quarto e sala de espera.3) Sócios Benfeitores, com direito a apartamento e um acompanhante, e 4) Sócio Efe-tivo, com direito a “enfermaria apartamento”, com outro sócio, porém, todos tinham os mesmos direitos de serem atendidos por qualquer médico e usufruírem de todos aparelhos existentes no hos-pital, a única diferença estava na acomodação nos apartamentos. Todos os associados que adquiris-sem o titulo, eram vitalícios, não precisavam mais pagar mensalmente, como sucede até hoje, mas agora quem quiser entrar como associado, só está em aberto a categoria de associado Efetivo. Houve uma época que os sócios tinham até di-reito a medicamentos, mas, como os custos fica-

REAL E BENEMÉRITA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BENEFICÊNCIA.- A MAGNIFICA HISTÓRIA DE UMA ENTIDADE LUSITANA NO BRASIL-- GRANDE NÚMERO DE CARÇONENSES FAZEM PARTE DELA -

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ram imensamente grandes, a Beneficência foi obri-gada a cobrar valores, porém, os remédios eram adquiridos nos Laboratórios e cobrados a preços de custo, em uma Farmácia própria criada dentro do Hospital, que continua até hoje e mais moderniza-da. Após ficar praticamente por um século nesse lo-cal, e em razão da Beneficência possuir um terreno nas imediações do bairro do Paraíso, e ao lado na que é hoje a Avenida 23 de Maio, um dos maiores corredores de transito da cidade, resolveu a Bene-ficência construir ali um hospital, e esse terreno que havia a muito tempo atrás ter sido cedido ao Hospital por um português de nomeada, o ilustre cidadão Maestro Cardim, que cedeu uma parte de sua chácara para a entidade e como doação, a en-tidade ali começou a construir o que é hoje um dos maiores complexos hospitalares da América Latina e quiçá do mundo, e só sendo ultrapassado pelo Hospital das Clinicas, que é órgão do governo do Estado de São Paulo. Actualmente o Hospital conta com 1.734 leitos, distribuídos em cinco prédios, que estão locali-zados à Rua Maestro Cardim – 769, no bairro do Paraíso em São Paulo,uma cidade já considerada a 3ª. do mundo em população com 12 milhões de habitantes, sendo que, com as cidades a ela agre-gadas chega a ter mais de 20 milhões de pessoas nessa “Grande São Paulo”e conta pois, com várias clínicas especializadas em prédios comuns nas proximidades do centro principal. A equipe médi-ca é composta de 1.450 médicos e paramédicos, com 5.000 funcionários, um verdadeiro exercito para ajudar na medicina aos associados da Enti-dade e das Entidades conveniadas. A Beneficência atende em média mais de 1.5 milhão de pacientes por ano, realizando mais de 50.000 internações e cerca de 25.000 cirurgias.

Todas as especialidades médicas que existem na humanidade são tratadas na Beneficência Portu-guesa, além de existir toda essa gama de espe-cialidades, existem centros cirúrgicos, centros de ultrasonografia, de raiosX, litotripsia, mamo-grafia, mastologia, Laboratório não Invasivo de fluxo vascular, de neuro fisiologia clinica, hemo-diálise, infectologia, geriatria, Medicina nuclear, neurocirurgia, oftalmologia, pediatria,patologia, radioterapia, quimioterapia e enfim todas as pos-sibilidades necessárias para uma possível cura do paciente. A Beneficência Portuguesa de São Paulo, como é conhecida, é um dos maiores hospitais da Améri-ca Latina e reúne os melhores recursos humanos e materiais possíveis. Eu particularmente sou sócio da Beneficência Portuguesa desde a década de 60 e sinto um orgu-lho imenso por fazer parte dela, inclusive os mem-bros de minha família são também associados, o meu registro como sócio é número 5.389 e a matri-cula 9.755,e como sócio Efetivo, agora associado Efetivo. Milhares de portugueses e brasileiros são seus associados, e no meio deles grande número de “carçonenses” e seus familiares são também associados e por essa razão todos têm esse imenso orgulho e glória da nossa Beneficência, somos inte-grantes de uma entidade maior no concerto médi-co mundial para honra e glória do nosso “Querido e Eterno PORTUGAL.”

ADRIANO AUGUSTO DA COSTA FILHO.Membro da Casa do Poeta de São Paulo-Brasil

Membro do Movimento Poético Nacional do Brasil. Membro da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil.

Brasileiro luso-descendente de CARÇÃO/VIMIOSO..Brasileiro pelo Sol e Português pelo Sangue.

João AméricoGonçalves Andrade

Informação Foi atribuída ao Notário, Dr. João Américo Gonçalves Andrade, licença para instalação de Cartório Notarial, exercendo a actividade na Avenida Sá carneiro, 11 (antiga sede da Caixa de Crédito Agrícola), em Bragança, ficando a seu cargo o acervo do extinto cartório Notarial.

CARTÓRIO NOTARIAL DE BRAGANÇAAv. Dr. Francisco Sá Carneiro, N.º 11 • 5300-252 BRAGANÇA

Tel. 273 302 880/5 – Fax 273 302 889Email: [email protected]

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Construção Civil, S.A.Praça Berbardo Santareno, n.º 6 A/B

1900-098 Lisboa

Tel. 218 429 000 • Fax 218 429 009

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C/ Esteban Collantes, 5028017 M A D R I D

Telés. 91 367 89 14 / 61 595 22 96

– Menus Caseros– Amplia Carta, Raciones Variadas– Comuniones, Bautizos– Comidas de Empresa– Terraza de Verano

de António dos Santose Lurdes Ramos

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Carção – Análise sociológica de um século marcante

Sem qualquer pretensão de fazer um estudo exaustivo do que foi a evolução do povo de Carção no passado Século XX, pretende-se apenas com este trabalho reflectir um pouco sobre o que foi o seu trajecto num século marcante na evolução dos povos. Daríamos por bem empregue o espaço ocupado e o tempo investido se, como pretendemos, con-seguirmos que este tema seja abordado de novo, motivando o aparecimento de estudos estrutura-dos, técnica e cientificamente bem sustentados. Não é fácil, com a enorme escassez de dados com que nos debatemos, traçar com rigor o perfil de gente que, abordando a revolução industrial, foi depois relegado para um isolamento asfixiante que o obrigou a atravessar boa parte do século en-talada entre o Sabor e o Maçãs. A estrada para Vimioso estva encravada do lado de lá do rio e os transportes para o exterior só ao alcance de heróis e aventureiros, a caminho de Bragança, de Macedo, de Mogadouro, de Vila Real e até do Porto e de Espanha. É precisamente este enquadramento dum povo espartilhado e inconformado, dum povo que nun-ca se conformou, nunca se deu por vencido nem desistiu de lutar, que iremos analisar nos seus principais vectores, deixando via aberta para ser abordado em tantos outros aspectos, igualmente importantes e igualmente também aliciantes. Por não se enquadrar no âmbito do trabalho que me propus a desenvolver, por agora, irei apenas debruçar-me quase exclusivamente, sobre aqueles que escolheram ficar na sua terra, deixando para tratamento oportuno o fenómeno épico das dife-rentes correntes migratórias, tanto internas como externa, seja para o Brasil, para a Europa ou Amé-rica. Além de outros, três vectores chave formata-ram verticalmente o nosso povo durante o século em apreço, a saber:

TRABALHO, INTELIGÊNCIA E FÉ

Abordando, quase de passagem, os dois primei-ros temas (Trabalho e Inteligência), penso deixar abertos dois desafios bem aliciantes para os es-pecialistas destas áreas, debruçar-me-ei especial-mente sobre o terceiro.

TRABALHO, MUITO TRABALHO.

Limitadas pela falta de vias de comunicação e pressionadas pela manifesta pobreza dos solos em que a terra se enquadra, modesta tanto para a agricultura como para a pastorícia e indústria, cedo reconheceram as nossas gentes que, para ultrapassar as limitações impostas pela natureza,

tinham de reagir e, fosse o que fosse, era preciso fazer alguma coisa, puxar pela cabeça e trabalhar, trabalhar, trabalhar muito. Muito marcantes ainda até aos anos sessenta/setenta as diferenças de mentalidades entre quem se dedicava mais à terra e quem se dedicava so-bretudo aos negócios, houve um aspecto em que sempre todos se identificaram: O apego ao traba-lho. Uns e outros, heróis anónimos, bem mereciam a grandeza da Odisseia ou dos Lusíadas para cantar seus feitos e perpetuar o que foi a gesta épica das suas vidas. Quanta coragem e esforço, quanta valentia, quanto sacrifício, sofrimento e privações se vive-ram na nossa terra para, em dias sem fim, semanas sem noite nem dia, arrancar o centeio às fragas da Fireira a golpes de guinchas e arados, com a terra regada pelo suor de rostos queimados pelo sol e, tantas vezes, debilitados pela fome e pela sede. Quantos dias “à jeira”, vergados sobre umas guinchas, para ganhar uns míseros tostões, para comprar um pão para os filhos, ou um quartilho de azeite para untar batatas cozidas com nabiças para enganar a barriga à espera de melhores dias, dias esses que, para muitos, nunca acabariam por chegar. Quantas terras feitas “ao meio”, azeitona apa-nhada e pão “cegado” para os outros, quantas metades da “estela de bacalhau” poupadas para trazer à noite para casa, quantas cargas de este-vas “roubadas” nas ladeiras do Sabor ou do Maçãs, depois vendidas de porta em porta para que outros se aquecessem, deixando vezes sem conta os filhos em casa a tiritar de frio. Quantos filhos desmamados à pressa e entre-gues semanas sem fim aos irmãos mais velhinhos, enquanto os pais “formavam camaradas” para as ceifas da Terra Quente, sempre na esperança ilu-sória de ganhar para pagar o “soto”, o sapateiro, a padeira e sei lá mais o quê e trazer as sobras das merendas para, então sim, encher a casa por alguns dias. Quantas viagens atrás de uma “besta”, cal-correando caminhos sem fim na ilusão dum bom negócio, quantos rios passados a vau, molhadelas enxutas no corpo, frios e calores suportados no clima agreste de Trás-os-Montes, quantas noites sofridas e sustos de morte num contrabando de tostões, quantas feiras dos Chãos, de Bragança, de Mogadouro, de Izeda, de Macedo ou da Torre, para ganhar uma côdea que se repartia em casa para enganar a fome da família. Quantas fogaças compradas envergonhadamen-te a fiado, desde à muito tempo à “Tia Cobrica”, depois à “Estimada” ou à “Maria Cavala”, que mui-tas vezes só eram pagas com os dinheiros ganhos

Por F. Costa Andrade

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à ceifa na Terra Quente ou em terras de Miranda e Castela. Quantas filhas mandadas a “servir” sabe Deus para onde e filhos mandados para Lisboa ou para o Porto, quantas vezes sem destino à vista nem futuro a prazo. Foi por tudo isto que aquela gente foi tudo e fez de tudo para sobreviver. Os menos dedicados ao campo, em tudo o que pudesse “dar alguma coisa”, estavam lá, rapida-mente adaptados, dominando com mestria todas as actividades em que se aventuravam, foram car-teiros, ferradores, latoeiros, albardeiros ou cons-trutores, mas sempre a SONHAR, LUTAR E TER FÉ NO FUTURO. Foi este inconformismo genético que ajudou a vencer as dificuldades e empurrou para uma evolução ímpar no contexto regional do Nordeste, apos-tando, à muitas dé-cadas atrás, com raro sentido prático de premonição, na formação, a valori-zação e qualificação pessoal, sobretudo os filhos. Frases como:

- “Meu filho, vê se estudas para seres alguém” ou, mais incisivas ainda como - “Estuda, rapaz, para fugires à enxa-da”, - “Se estudares ainda poderás ser um guarda, um Sar-gento na tropa, um empregado da Câ-mara ou das Finan-ças”,- “Agarra-te aos li-vros que ainda pode-rás ser alguém”,- “Vê se aprendes uma arte para não teres que te agarrar à enxada” foram um factor importante para a motivação de gerações de jovens, alguns dos quais, sem grandes meios, singraram na vida, em áreas importantes do ter, do saber e do poder. Ainda na época de quase total analfabetismo do País, já Carção tinha um nível de escolarida-de a anos luz da maior parte das aldeias vizinhas, traduzido numa alavanca de desenvolvimento, va-lorização pessoal e evolução social muito impor-

tantes de forma que, enquanto na maior parte de outras terras raras eram as pessoas que sabiam ler e/ou escrever, já Carção se orgulhava dos seus Es-tudantes, Governantes, Doutores, Oficiais, Padres, Empresários, Professores, Engenheiros, Farmacêu-ticos ou Comerciantes. Sem pretender ser demasiado longo, duma ma-neira simples e despretensiosa, abordarei de se-guida este tema com um pouco mais de atenção, referindo os factores que o potenciaram, os seus principais agentes e as consequências mais signifi-cativas para a promoção e desenvolvimento social da freguesia. Aceite-se ou não como historicamente provado, é iniludível que o sangue judeu que, mesclado ou puro, nos corre nas veias, para não dizer que nos transformou num povo superior, podemos dizer,

com toda a razão, nos dotou dum perfil genético superior, único, incomparável e muito especial.

UM POVO DE CONVICÇõES E DE FÉ

Abrindo as gavetas da história da nossa terra, não obstante ser fácil encontrar médicos, enge-nheiros ou professores, contudo, é inquestionável reconhecer que foi a acção da Igreja que mais contribuiu para o enriquecimento humano e social das comunidades donde era proveniente o grande número de jovens que passaram pelos Seminários, impelidos uns pela forte religiosidade das famílias,

“Nos longíncuos anos 30, alunos de Carção com, o grande Mestre Prof. Madureira”

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e outros pela modéstia dos custos meramente sim-bólicos cobrados nos Seminários das Missões. Em 1954, pela alimentação, estadia e forma-ção, os alunos pobres não pagavam nada e os re-mediados pagavam, por mês, o equivalente aos actuais 10 cêntimos – então vinte escudos. Na verdade, quem contribuiu tanto para o de-senvolvimento cultural, social e humano de Carção como a Igreja Católica, através do grande número de jovens que, nos Seminários, moldaram o seu carácter, adquiriram uma sólida formação moral, humana e cívica e, depois, triunfaram nas mais di-versas actividades? Se alguém tem dúvidas, atente um pouco no que muitos de nós fomos e no que somos, antes e depois da vaga de jovens que por lá passaram, onde alguns concluíram a sua formação, e muitos outros ali receberam as bases duma sóli-da formação moral, intelectual e cívica, primeiro como homens e depois como cristãos e cidadãos. Pesquisando os arquivos de alguns Seminários, necessariamente muito incompletos, cheguei a nú-meros muito interessantes, desde já pedindo des-culpa por qualquer omissão, referindo os nomes abreviados para não alongar muito o trabalho.

Relação dos jovens de Carção que, entre fi-nais do Século XIX e o Século XX, passaram pelos Seminários:

P.e Manuel Jerónimo (1874/1954) Fui dos muitos que tive a felicidade de privar com o saudoso “P.e Bicho”, como era carinhosa-mente conhecido por todos, figura marcante de Carção na primeira metade do século XX. Homem muito culto (onde parará a sua biblio-teca?), foi Secretário do Bispo de Bragança, era dotado duma afabilidade enorme e dum humoris-mo cativante. Era única a sua maneira de benzer o povo an-tes da missa do Domingo e foi admirável o esforço que, já velhinho e doente, nunca regateou para exercer as suas funções.

P.e Amândio Lopes (1914/1985) Para mim, o P.e Amândio Lopes, foi a figura mais marcante do distrito de Bragança no Sécu-lo XX e, para falar dele, seria necessário um livro com muitas e muitas páginas, e quero dizer aqui e agora, com toda a frontalidade, que todos, mas todos, os verdadeiros carçonenses, lhe devem ain-da uma verdadeira e grandiosa homenagem. Formado na Sociedade Missionária, transferiu-se depois para o clero da diocese de Bragança, onde desenvolveu uma actividade impressionante, primeiro como professor nos seminário de Vinhais, Bragança e Chacim, depois como pároco em várias paróquias da diocese, terminando a sua actividade na terra que o vira nascer. Homem dum desprendimento evangélico, de grande fé e piedade, foi sobretudo na área social

que mais se realizou, sempre preocupado com os pobres, os doentes e as crianças. A ele deve Carção a Creche, o Lar dos velhi-nhos, a Casa de N.ª Sr.ª das Graças, a reparação dos Templos e a formação que proporcionou a mui-tas dezenas de rapazes que encaminhou para os Seminários, sobretudo para o das Missões. O método de abordar os pais era sempre o mes-mo. “Sr. ……… o seu menino é muito esperto. Tem todas as condições para ir para o Seminário das Missões. Vou dar à sua senhora a listinha para co-meçar a tratar do enxoval e não se preocupe com as despesas que eu trato de tudo”. A convicção e a sinceridade que punha nas palavras era impossível dizer não!

P.e Manuel Marrão (1918/1999) Formou-se nos seminários de Vinhais e Bragan-ça, Diocese onde exerceu uma longa e meritória actividade pastoral, passando em Carção os últi-mos anos da sua vida colaborando activamente com o pároco da freguesia.

P.e Aníbal Liberal (?) Ao contrário de muitos dos seus familiares, que foram médicos, engenheiros ou juízes, o P.e Liberal ordenou-se na diocese de Bragança, onde paroquiou várias paróquias, distinguindo-se sobre-tudo como professor e ecónomo no Seminário de Bragança.

P.e Policarpo Afonso Lopes (1940/2007) Era sobrinho do P.e Amândio e, como ele, for-mou-se nos Seminários das Missões. Depois duma breve passagem pelas missões em Africa, regres-sou ao Continente para se dedicar à pastoral da emigração. Radicando-se depois em Lisboa, para além de professor universitário e da pastoral suburbana, dedicou-se também à investigação, sobretudo na área da sociologia. A morte prematura interrom-peu a sua brilhante carreira de sacerdote, investi-gador e escritor.

P.e Teófilo R. Minga Começou também a sua formação nos Seminá-rios das Missões, para os concluir e depois ordenar-se sacerdote na Congregação dos padres Maristas. Homem ecuménico por excelência, o seu cam-po de actividades não tem limites. Autor de diversas obras sobre variados temas, tem desempenhado os mais altos cargos na sua Congregação, o que tem levado a sua actividade aos quatro contos do mundo. Para além destes, que concluíram a sua for-mação nos seminários e depois dedicaram as suas vidas ao serviço da formação religiosa e da promo-ção sócio-cultural das suas gentes, do incontável número dos muitos que por lá passaram, consegui

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referenciar muitos outros, passando a elencá-los pelo ano de entrada e pelo nome abreviado. Seminários da Missões de Tomar, Cernache e Cucujães

1925 – Abílio Martins 1926 – Francisco Rodrigues 1927 – P.e Amândio Lopes 1927 – António Liberal 1936 – António Rodrigues 1939 – Manuel Jerónimo 1947 – Manuel Rodrigues 1947 – Alcino Calado 1948 – Cesário Rodrigues 1949 – Francisco Afonso 1950 – Vidal Minga 1952 – P.e Policarpo Lopes 1953 – Francisco Lopes 1954 – Francisco Andrade 1955 – António Gonçalves 1956 – Amadeu Vaz 1956 – Aníbal Jerónimo 1956 – José Marrão 1956 – Manuel Andrade 1957 – António Borges 1957 – Artur Mós 1957 – Eliseu Cidre 1957 – Teófilo Minga 1966 – Leonel Salazar 1967 – Belmiro Andrade 1979 - João Andrade 1979 - Hermínio Afonso 1979 - Francisco Isidro 1979 - Manuel Galhardo 1980 - Domingos Afonso 1980 - José João 1980 - Francisco Pinto 1980 - Paulo Isidro 1982 – Norberto Prada

Seminários Diocesanos de Vinhais e Bragança

Além dos já citados padres Manuel Jerónimo, Ma-nuel Marrão e Aníbal Liberal, começaram a sua formação nos seminários diocesanos de Bragança:

1952 – Luís Mina 1987 – Nelson Abreu 1988 – Paulo Lopes 1988 – Leonel Vaqueiro 1988 – Eduardo Gonçalves 1989 – David Pascoal 1989 – Jorge Tomé 2007 – Sérgio Bento

Seminários Salesianos 1996 – João Lopes

Seminários dos Jesuítas Por volta dos anos 20 – Manuel Costa “ “ “ “ 35 – Gabriel Costa

Do que foi a passagem destes jovens por estas casas de formação, com verdade, só cada um de-les o poderá avaliar em todas as suas dimensões. Contudo, para o bem e para o mal, anticlerica-lismos saloios à parte, muito do que são ou do que foram, ainda que com o apoio das famílias e dos amigos, é a elas que indubitavelmente o devem. Olhando atentamente para a sociedade hodier-na, fácil se torna perceber que, não tendo valo-res de referência, dificilmente encontrará o seu rumo. A esta distância, refulgem que nem o sol os princípios do respeito, responsabilidade, solida-riedade, disciplina, organização e trabalho que, em conjunto com outra sólida formação religiosa, moral e cívica, informavam a formação ministrada naquelas casas a todos os aos alunos, logo desde os mais tenros anos. Sem procuração de ninguém para defender ou questionar seja quem for, termino este modesto apontamento com um desafio. Neste País que nós somos, quando tanta gente se entretém a falar sobre os custos da interiori-dade, sobre as causas, quem de direito, faça um estudo profundo sobre a acção da Igreja na pro-moção das gentes do nosso povo, reconhecendo-lhe os seus méritos e valorizando os seus métodos, numas palavras, seguindo-lhe o exemplo.

Serviço de:C A S A M E N TO SB A P T I Z A D O SC O M U N H õ E S

F E S TA S D I V E R S A S

Quinta das carvas5300 BragançaTel. 273 381 211

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Conservam-se na diocese de Bragança - Miran-da, cruzes de prata de especial qualidade artística sendo as mais antigas, e ainda em uso, as datáveis do século XVI. Para além destas persistem algu-mas, embora raras do século XVII, mas mais abun-dantes percentualmente são as dos séculos XVIII e XIX. Esta cruz, a de Carção, integra-se no grupo das cruzes processionais do século XVIII pelo que tentamos apresentar um estudo que vise enqua-drar a peça nos modelos artísticos da época em que foi feita. O século XVIII foi um muito rico na variedade e qualidade artística, durante a centúria desenvol-veram-se três grandes movimentos artísticos: O Barroco, o Rococó e o no fim do século ain-da há espaço para o Neoclássico. O estilo Barroco com antecedentes no sé-culo XVII, aí por meados do século XVIII foi substituído pelo Rococó, ou pelo barroco tardio como também já foi considerado, mas o que os diferencia é um novo tipo de ornamentação ba-seada em motivos da natureza (flores, ambientes místicos...) e essencial-mente o exacerba-mento decorativo, uma das suas principais características. Por volta de meados do século, introduziu-se o Rococó em Portugal. O termo é de ori-gem francesa, Rocaille pretendendo significar um ambiente onde entram rochas juntamente com conchas e foi usado para designar a arte do tempo de Luís XV, em reacção contra a arte cortesã de Luís XIV. Em Portugal, já vários au-tores se pronunciaram a favor de uma termino-logia mais nacionalista, o conchedo,1 em subs-tituição do termo francês, rocaille. O Rococó desenvolveu-se ficou relacionado com o reinado de D. José, mas os primeiros contactos dão-se ainda durante o reinado de D. João V e o por intermédio do pintor Pe-dro António Quillard2 e através dos gravadores franceses Rochefort, Debrie, e Le Bouteux que estiveram em Portugal. Durante o reinado de D. João V assisti-mos ao aparecimento e definição de uma corrente estética profundamente marca-da pelo barroco romano por influencia de gravuras e de trados assim como a vinda de artistas italianos para Portugal de pintores, escultores ourives... de formação italiana e a importação de obras de arte que irão contribuir para a formação de uma

A CRUZ PROCESSIONAL DE CARÇÃO

nova orientação artística. A Itália é o principal país fornecedor de artistas e de peças, consideramos no entanto que tal se deve aceitar penas para os grandes centros popu-lacionais não se tendo encaminhado para a provín-cia nem os artistas nem as obras. A diocese continua a funcionar como um local de encontro de culturas, possibilitando o contacto com as formas e gostos de trabalhar de artistas nacionais das principais cidades produtoras, como das cidades espanholas situadas nas proximidades da fronteira já que continuaram a chegar algumas peças oriundas das cidades espanholas mais pró-ximas, as únicas que nos permitem estabelecer

contactos com o exterior. Outro facto verificável são os efeitos do cumprimento da legislação referente aos tra-balhos em prata tendo-nos surgido, agora um bom número de peças punçonadas.

O século XVIII foi o século da talha dourada e do azulejo por todo o país, e neste campo a diocese sentiu a mesma linha orientadora, mas

este investimento em obras fortemente

inf luencia-doras do es-tado de es-

pírito dos crentes, esteve na origem de

desinvestimento em peças de ourivesaria re-ligiosa, continuando a adquirir-se peças feitas em metal não nobre, caso dos cálices que por vezes levam apenas a copa em prata. São fre-quentes os registos do tesoureiro do Cabido em que referem peças que se mandaram dourar, concertar, o custo do carreto das mesmas, si-nal evidente de que se mandarem vir peças de fora da diocese, “De três pares de galhetas à romana a 750 o par e 50 de carreto dous mil e trezentos reis”.3

Pelas investigações que temos vindo a fa-zer não contactámos com qualquer marca re-gistada nesta Diocese, embora haja algumas referências a ourives prateiros e a obras dos mesmos.Durante o século XVIII, ainda continua a haver

responsabilidade na aquisição e preserva-ção das peças, por parte dos normais inter-

venientes: comendas, fregueses, abade… “Da ametade da reforma de um cálix para palácios por pertencer a outra metade à comenda cinco mil cento e cinquenta= 5$150”4. A cruz e a custódia são normal-

mente compradas pelo povo ou fruto de alguma oferta, as cálices e píxides são geralmente pertença do cabido ou na

Fig.1 Cruz Processional de Carção 1.º metade do século XVIII

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sua totalidade ou em parte, e quando se trata de compras feitas pelo tesoureiro do cabido, então geralmente entrega-se antiga e desconta-se no pa-gamento, conforme se registou “De dous cálices hum para Rio frio outro para Outeiro com suas pa-tenas tudo de novo abatido o pezo dos cálices ve-lhos que se mandarão dezoito mil reis = 18$000”5. De levar e trazer os mesmo cálices do Porto tre-zentos e sessenta reis = $360. Durante este século as peças que servem no culto são antecipadamente consagradas pelo que se pagava na ordem de um terço do valor da com-pra, “ pela sagração dos mesmos (os três cálices) seiscentos reis $600”. Pela amostragem das cruzes provenientes da produção nacional diremos que as peças do sé-

culo XVIII apresentam duas características bem distintas. Na primeira parte da centúria, a época correspondente ao joanino, o período barroco por excelência, as peças revelam uma grande unifor-midade, já as peças da segunda metade são carac-terizadas pelos feitios complicados, relacionados com a movimentação rococó utilizando uma deco-ração profusa, socorrendo-se de elementos deco-rativos de carácter essencialmente naturalista e, raramente, de elementos de iconografia religiosa. A primeira metade do século corresponde ao período da chegada do ouro e dos diamantes bra-sileiros é o período das grandes edificações na-cionais, mas que se revelou nesta diocese e na ourivesaria religiosa, com enorme pobreza preser-vando-se, por isso, cruzes de secção cilíndrica, na sua maioria desprovidas de trabalho na chapa de prata, a evidenciar pobreza nas encomendas e um seguidismo de modelos de execução fácil, que nos levam a pensar nalguma incapacidade dos ourives para inovar (lembremos que as grandes obras ré-gias foram da autoria de artistas estrangeiros). Das dezoito cruzes de secção cilíndrica, que ti-vemos oportunidade de manusear, apenas três são completamente preenchidas por decoração à base de elementos curvos. As restantes são isentas de

decoração à excepção das terminações dos braços, que são terminados em capitel de ordem coríntia decorados a cinzel, no remate levam elementos balaustrais. Caracteristicamente, o nó é circular achatado e encaixado entre dois elementos arredondados formados por linhas côncavas e convexas, um for-mulário muito utilizado na ourivesaria barroca. No elemento central, podem levar, querubins como principal elemento decorativo saliente. Os braços, circulares não levam mais qualquer decoração que os já referidos e estão reforçados por uma alma em madeira, a mesma que percorre toda a peça, proporcionando maior robustez e maior peso. Tecnicamente, utilizam de preferência o cinze-lado, mas no nó vão surgindo alguns volumes ob-

tidos pela técnica do repuxa-do. O estado de conservação é razoável, fruto do formato circular das partes consti-tuintes e da madeira que le-vam no interior. Este modelo de cruzes de secção cilíndrica perdurou para além de meados do sé-culo, como pudemos averi-guar (Algoso, por exemplo) que seguindo a mesma ti-pologia introduzem nas ter-minações dos braços os Cs, esquema também utilizado pelas cruzes graníticas, sem radiado atrás da cabeça do Crucificado preferindo-se a

concha, (não o concheado) o que denota estarmos já muito perto da segunda metade do século XVIII, em que este elemento terá maior desenvolvimen-to. Deste primeiro grupo persiste um conjunto ra-zoável composto por umas vinte cruzes (Especiosa, S. Joanico e Vila Verde, Salselas, Algoso, Pombal, Carção, Junqueira, São Joanico, Vale das Fontes, Teixeira, Pinelo, Tó...) Pelos exemplares referidos, diremos em jeito de resumo que as cruzes barrocas do século XVIII, são de estrutura muito simplificada utilizando uma decoração baseada em elementos clássicos (capi-téis), cabeças de querubim e alguns enrolados e nula iconografia religiosa. O joanino, tipicamente tão ornamentado, notoriamente que não se reflec-tiu no nordeste através das cruzes processionais.

Fernando Pereira

1 Manifestaram-se já a favor desta nomenclatura, Reynaldo dos Santos e Nelson Correia Borges.2 Nelson Correia Borges, História da arte em Portugal, Alfa, p., 92.3 Ver Livro das fábricas das igrejas, relativo aos anos de entre 1765-1768, Cx.04 Lv. 21 CAB, A.D.B4 idem5 idem

Fig.2 Cabeça de Serafim

António Júlio Andrade

Maria Fernanda GuimarãesALMOCREVE

Carção

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António Júlio Andrade, natural de Felgueiras concelho de Torre de Moncorvo, estudou nos Seminários de Vinhais, Bragança e Braga e na Faculdade de Filosofi a da Universidade do Porto. Possui o curso de Técnico de Turismo Cultural ministrado no Centro Nacional de Cultura em Lisboa.

Foi professor do Ensino Secundário e actualmente trabalha na Câmara Municipal de Torre de Moncorvo como Técnico de Bibliotecas Arquivos e Documentação.Fez parte da comissão instaladora do Museu do Ferro da extinta Ferrominas EP.Durante 10 anos foi Director do Jornal “Terra Quente” quinzenário que se publica em Mirandela.Foi vencedor do 1.º Prémio da 1.ª Edição dos Prémios de “Conservação da Natureza e Património Cultural” com um trabalho sobre o “Lagar Comunitário da Cera de Felgueiras – Moncorvo”, criado com o aval das Secretarias de Estado do Ambiente e da Cultura, representando Portugal na fi nal Europeia realizada em Madrid no ano de 1988.Publicou vários trabalhos monográfi cos sobre a sua aldeia, o seu concelho e a sua região.A partir de 1999 vem-se dedicando ao estudo dos “Judeus e Marranos no Distrito de Bragança” em colaboração com a Cátedra de Estudos Sefarditas “Alberto Benveniste”.

Maria Fernanda Guimarães – Curso de Turismo tendo exercido as funções de 1.ª Técnica de Turismo até ao ano de 2000.Investigadora na área dos estudos Sefarditas, nomeadamente nas comunidades de cripto-judeus transmontanas.Colaboradora da Cátedra de Estudos Sefarditas

“Alberto Benveniste” desde as suas primeiras actividades. Contribuição no âmbito da Cátedra de Estudos Sefarditas, com investigação para o Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses – Corpo prosopográfi co de mercadores e gente de trato.Colabora com o quinzenário Terra Quente onde é responsável, na área da investigação, pela página “Entre o Cristianismo e o Judaísmo” desde 1999.

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António Júlio Andrade

Maria Fernanda GuimarãesALMOCREVE

Carção

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António Júlio Andrade, natural de Felgueiras concelho de Torre de Moncorvo, estudou nos Seminários de Vinhais, Bragança e Braga e na Faculdade de Filosofi a da Universidade do Porto. Possui o curso de Técnico de Turismo Cultural ministrado no Centro Nacional de Cultura em Lisboa.

Foi professor do Ensino Secundário e actualmente trabalha na Câmara Municipal de Torre de Moncorvo como Técnico de Bibliotecas Arquivos e Documentação.Fez parte da comissão instaladora do Museu do Ferro da extinta Ferrominas EP.Durante 10 anos foi Director do Jornal “Terra Quente” quinzenário que se publica em Mirandela.Foi vencedor do 1.º Prémio da 1.ª Edição dos Prémios de “Conservação da Natureza e Património Cultural” com um trabalho sobre o “Lagar Comunitário da Cera de Felgueiras – Moncorvo”, criado com o aval das Secretarias de Estado do Ambiente e da Cultura, representando Portugal na fi nal Europeia realizada em Madrid no ano de 1988.Publicou vários trabalhos monográfi cos sobre a sua aldeia, o seu concelho e a sua região.A partir de 1999 vem-se dedicando ao estudo dos “Judeus e Marranos no Distrito de Bragança” em colaboração com a Cátedra de Estudos Sefarditas “Alberto Benveniste”.

Maria Fernanda Guimarães – Curso de Turismo tendo exercido as funções de 1.ª Técnica de Turismo até ao ano de 2000.Investigadora na área dos estudos Sefarditas, nomeadamente nas comunidades de cripto-judeus transmontanas.Colaboradora da Cátedra de Estudos Sefarditas

“Alberto Benveniste” desde as suas primeiras actividades. Contribuição no âmbito da Cátedra de Estudos Sefarditas, com investigação para o Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses – Corpo prosopográfi co de mercadores e gente de trato.Colabora com o quinzenário Terra Quente onde é responsável, na área da investigação, pela página “Entre o Cristianismo e o Judaísmo” desde 1999.

António Júlio Andrade

Maria Fernanda GuimarãesALMOCREVE

Carção

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António Júlio Andrade, natural de Felgueiras concelho de Torre de Moncorvo, estudou nos Seminários de Vinhais, Bragança e Braga e na Faculdade de Filosofi a da Universidade do Porto. Possui o curso de Técnico de Turismo Cultural ministrado no Centro Nacional de Cultura em Lisboa.

Foi professor do Ensino Secundário e actualmente trabalha na Câmara Municipal de Torre de Moncorvo como Técnico de Bibliotecas Arquivos e Documentação.Fez parte da comissão instaladora do Museu do Ferro da extinta Ferrominas EP.Durante 10 anos foi Director do Jornal “Terra Quente” quinzenário que se publica em Mirandela.Foi vencedor do 1.º Prémio da 1.ª Edição dos Prémios de “Conservação da Natureza e Património Cultural” com um trabalho sobre o “Lagar Comunitário da Cera de Felgueiras – Moncorvo”, criado com o aval das Secretarias de Estado do Ambiente e da Cultura, representando Portugal na fi nal Europeia realizada em Madrid no ano de 1988.Publicou vários trabalhos monográfi cos sobre a sua aldeia, o seu concelho e a sua região.A partir de 1999 vem-se dedicando ao estudo dos “Judeus e Marranos no Distrito de Bragança” em colaboração com a Cátedra de Estudos Sefarditas “Alberto Benveniste”.

Maria Fernanda Guimarães – Curso de Turismo tendo exercido as funções de 1.ª Técnica de Turismo até ao ano de 2000.Investigadora na área dos estudos Sefarditas, nomeadamente nas comunidades de cripto-judeus transmontanas.Colaboradora da Cátedra de Estudos Sefarditas

“Alberto Benveniste” desde as suas primeiras actividades. Contribuição no âmbito da Cátedra de Estudos Sefarditas, com investigação para o Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses – Corpo prosopográfi co de mercadores e gente de trato.Colabora com o quinzenário Terra Quente onde é responsável, na área da investigação, pela página “Entre o Cristianismo e o Judaísmo” desde 1999.

Conservam-se na Torre do Tombo cerca de 250 processos instaurados pelo tribunal da Inquisição a cristãos-novos de Carção. Não os lemos todos, mas fizemos uma boa triagem deles e podemos, com muito rigor, dar testemunho do que foi a vivência da comunidade marrana de Carção durante aquele século a que os processos respeitam ( 1638-1742).

Este artigo é baseado em um trabalho muito mais vasto que sobre o assunto elaborámos e conta-mos seja publicado muito em breve.

AS ORIGENS DA COMAUNIDADEÉ sabido que, ainda antes de Portugal existir, já

nesta terra havia comunidades cristãs e judaicas partilhando o espaço de cidades e vilas, cada uma regendo-se por suas próprias leis. A par da igreja dos cristãos, existia a sinagoga dos judeus e cada qual rezava ao seu Deus e todos viviam em paz.

E depois da fundação durante mais de 350 anos, a situação manteve-se, com os judeus ocupando uma determinada zona da povoação, a que chama-

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vam judiaria. E se as comunidades locais cristãs ti-nham o seu concelho, com a sua câmara municipal, os seus vereadores e as suas justiças … também as comunidades hebreias tinham a sua comuna, com o seu rabi, o seu concelho de anciãos, a sua admi-nistração e o seu governo. E se em Trás-os-Montes havia um corregedor que representava o rei e ti-nha o poder por ele delegado sobre as comunidades cristãs, também havia um rabi que representava o mesmo rei e tinha poder semelhante na administra-ção e governo das comunas judaicas. E os rabis que superintendiam sobre cada uma das 7 comarcas em que o Reino estava dividido respondiam na Corte perante o Rabi Mor e este perante o Rei. Carinhosa-mente, os reis de Portugal tratavam até esta gente como “ os meus judeus”

Não consta que em Carção existisse qualquer ju-diaria e nenhuma indicação existe sobre a existên-cia de judeus na terra durante esse período. Nem tão pouco nas terras em redor, incluindo as sedes de concelho como Outeiro e Vimioso.

As origens da comunidade hebreia de Carção remontam provavelmente a 1492 quando os judeus foram expulsos de Espanha e receberam vistos de entrada e estadia em Portugal, a troco de paga-mento do imposto, E para o controlo da entrada e pagamento do imposto, em cada comarca foi es-tabelecido um campo de refugiados, ou de acolhi-mento. Na comarca de Miranda esse acampamento seria no chamado Prado das Cabanas, um sítio entre as povoações de Pinelo, Vimioso e Carção. Deste campo terão depois irradiado para outras partes, dizendo-se que por Carção ficaram os mais pobres, o que vinham descalços, enquanto os mais ricos, os que vinham calçados e tinham bestas demandaram terras de Bragança, Mogadouro, Miranda…

A verdade é que, da leitura dos processos, res-saltam duas notas que, de certo modo, confirmam isso mesmo. Em primeiro lugar e, muito embora fos-sem nascidos em Carção, eles aparecem nas listas dos autos-de-fé geralmente referidos como originá-rios de Castela. E frequentes vezes são dados como “moradores em Carção e assistindo em Castela” e vice-versa. Aliás, é impressionante a mobilidade desta gente, em continua passagem de um lado para o outro da fronteira.

Em segundo lugar, referia-se que as comunidades de Argozelo, Carção e Vimioso estão umbilicalmen-te ligadas, todos sendo familiares uns dos outros, o que não invalida a existência de laços familiares de alguns com gente de outras terras, sobretudo do planalto mirandês e das terras de Lampaças (Mace-do de Cavaleiros).

OS PRIMEIROS PROCESSOSFoi em Abril de 1638 que em Carção se executou

a primeira prisão em nome do Santo Ofício. Cha-mava-se Jorge Lopes Henriques o prisioneiro e era originário de Miranda do Douro. Foi acusado de ter

interceptado uma ordem da Inquisição para o co-missário de Bragança proceder à prisão de 19 cris-tãos-novos de Quintela de Lampaças e os ter avisa-do que fugissem.

Apesar de haver boas testemunhas e não obstan-te seus pais terem já sido processados pela Inquisi-ção Jorge Henriques conseguiu defender-se, iludin-do os inquisidores que o consideraram inocente e o libertaram. Posto em liberdade alguns anos mais tarde foi residir para Castela e posteriormente para Livorno onde certamente se fez judeu.

A segunda pessoa ligada a Carção apanhada nas redes do Santo Ofício era originária de Mogadou-ro. Chamava-se Maria Lopes e tinha 16 anos, sendo casada com Francisco Lopes Carção. Este e o so-gro andavam por Espanha (em fuga? Em negócios?) e Maria foi presa pelas justiças de Vimioso exacta-mente quando ia para junto de seus pais e marido, acompanhada por uma irmã de 12 anos e um irmão de 10 que com ela viviam.

A prisão teve lugar em Abril de 1651 e a recon-ciliação da jovem mãe aconteceu uma ano depois, no auto-de-fé de 14 de Abril de 1652. Imagine-se o sofrimento daquela mulher quando lhe tiraram o filho de 11 meses que levava ao colo, pois era um empecilho na jornada para Coimbra e mais uma boca para alimentar na cadeia!

Também não era propriamente de Carção o ter-ceiro marrano cujo processo estudámos e que foi preso em Junho de 1658. Chamava-se Francisco da Costa Henriques e tinha nascido em Vimioso. Vivia no Porto e tinha uma boa casa comercial em conjun-to com o sogro. De seus negócios sobressai a compra de açúcar e tabaco no Brasil cuja maior parte ven-dia para o Norte da Europa, dali recebendo sobre-tudo tecidos e ferramentas. Fernando Baeça e An-tónio de Mesquita, eram seus parceiros comerciais em Amesterdão e Hamburgo, respectivamente, en-quanto no Brasil tinha dois irmãos, solteiros, um do qual morreria na viagem de regresso ao Reino.

COMO A MÃE DOS MACABEUSAo mesmo tempo que Francisco da Costa Henri-

ques deixava a cadeia da Inquisição de Coimbra, em Junho de 1660, na mesma era metida a sua mãe, Brites Lopes, e o seu irmão António da Costa. E três semanas depois, foram também encarceradas as 3 filhas da mesma Brites, todas elas já casadas.

Esta foi a primeira grande investida do Santo Ofício em Carção e a família Costa foi a primeira a ser apanhada toda ela nas malhas do mesmo tri-bunal. E se a comparamos à mãe dos Macabeus é porque Brites foi realmente uma heroína. Ao longo de quase 2 anos, ela manteve-se firme, não denun-ciou ninguém, a não ser aqueles que sabia terem já sido presos, como era o caso dos filhos Francisco e António e do primo Jorge Henriques, o tal que, há quase 20 anos tinha fugido para Livorno. Nem mesmo depois de lhe dizerem que ia ser queimada

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na fogueira, ela recuou nas suas posições, dizendo, pela enésima vez, que não tinha culpas a confessar. Apenas dois dias antes do auto-de-fé, quando sou-be que suas 3 filhas também estavam presas, ela começou a admitir mais culpas e a fazer mais de-núncias.

A sentença acabou por ser alterada e ela saiu condenada a hábito penitencial perpétuo, com in-sígnias de fogo e degredo de 7 anos para o Brasil, no auto-de-fé de 9 de Julho de 1662.

Não sabemos se por ingenuidade, ou tentativa de fazer confundir os inquisidores, ou se isso era típico do marranismo, Brites dizia que era seguidora da lei de Cristo e a da lei de Moisés, em simultâneo, que ia ouvir missa à igreja cristã para salvação da sua alma e que, ao mesmo tempo, fazia jejuns e cerimónias judaicas. Os inquisidores avisam-na que isso era um absurdo, uma contradição e escreviam no processo a seguinte nota: - Ela tem 60 anos e é muito bem entendida.

E escreveram belas orações que ela ditou. Como a que se segue:

Vossos amores, Senhor,Me trazem mui descuidada,Que não quero outro cuidadoSenão servir-vos Senhor.

Se Tu a mim servires,Eu a ti te guardarei,E quando me demandares,Senhor, sei que tudo Te darei.

De meus filhos e marido,Eu terei grande cuidado,E saberão as naçõesQue sou de Ti advogado.

Serás bendito no campoE das ruas da cidadeLimparás Tu a maldadeE estarei em povo santo.

O MEDO APODERAR-SE DAS MENTES DE TODOS O marido de Brites não foi preso porque era fa-

lecido. Mas foram presas duas irmãs suas e vários sobrinhos. Bem como as noras e genros de Brites. E naturalmente que cada um dos prisioneiros entrou a denunciar outras pessoas que com eles se tinham declarado seguidores da lei mosaica. E sempre que alguém era preso, acrescentavam-se as denúncias e novos processos se abriam e outras prisões se se-guiam, que todos tinham cometido o mesmo crime. Alguém podia então sentir-se descansado? Impossí-vel! E o medo apoderou-se de todas as mentes dos cristãos-novos da aldeia. Neste ambiente de medo e suspeição, as reacções foram várias. Alguns op-taram por abandonar a terra e seguir os caminhos da emigração. E outros, em vez de ficarem à es-

pera que viessem prendê-los, decidiram eles pró-prios dirigir-se a Coimbra apresentar-se no tribunal, confessar que tiveram práticas judaicas mas que es-tavam arrependidos e pediam perdão. Certamente que tal comportamento de humildade seria levado em conta e a pena sempre seria mais leve. E assim se formaram verdadeiras romarias de marranos de Carção para Coimbra.

Este movimento de prisões/apresentações foi particularmente intenso em 1664. Com efeito, no seguimento do auto-de-fé de 26 de Outubro desse ano em que saíram penitenciadas 7 pessoas de Car-ção ( da família da Brites, quase todos), registou-se em 4 de Novembro a prisão de outras 9 e a apresen-tação voluntária de 20!

Francisco Lopes de Leão foi um desses 20. Apre-sentando-se, confessou suas culpas e, depois de admoestado, mandaram-no embora. Ficou seu pro-cesso em aberto, no qual foram sendo registadas novas denúncias, feitas por outros prisioneiros. E com base nestas denúncias em 2.10.1665, os inqui-sidores decretaram a sua prisão.

Assombroso o seu comportamento na prisão, assumindo-se como verdadeiro judeu e professor da Lei!

Começou até por contar aos inquisidores que, quando veio a Coimbra a apresentar-se, não o fez com recta intenção mas veio sobretudo para enco-rajar os outros “ animando-os publicamente a que perseverassem na dita crença”. Confessou que a própria viagem foi para ele uma verdadeira pere-grinação, uma jornada de fé, pois que em todos os dias, excepto ao sábado, ele fez jejuns judaicos e disso dava conta aos outros que com ele seguiam. E contou que depois, na própria cadeia, fez muitos jejuns e que nunca deixou de rezar ao Deus em que “ele confitente cria e se prezava muito de ser judeu”.

Confessaria também que se, por acaso tivesse no seu corpo uma gota de sangue cristão e soubesse em que parte do corpo ela se encontrava, cortaria essa parte, como se fosse um pedaço de carne gan-grenada.

Claro que o curso dos dias parados nas masmor-ras do Santo Ofício e os tormentos físicos e psico-lógicos a que era submetido fizeram abalar as cer-tezas do “mestre” que seria assaltado pela dúvida. Evidente que um drama profundo se desenrolava dentro dele, o drama do homem que desespera em busca da verdade, com a alma dividida e o coração despedaçado. É dele esta confissão que nos parece absolutamente sincera e reveladora desse drama interior de uma pessoa que se vê obrigada a acei-tar uma nova ideia religiosa, sob pena da própria morte:

- Querendo por diversas vezes encomendar-se a Cristo Nosso Senhor, pedindo-lhe que lhe alumiasse os olhos da alma para receber a sua fé santíssima, a mesma inclinação perversa de seu sangue o apar-

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tava disso, persuadindo-o a não se encomendar ao mesmo Cristo senão ao Padre Eterno, induzindo-o assim o demónio a não se persuadir que um homem que morreu numa cruz pudesse ser Deus.

Os próprios inquisidores, quando ditaram a sen-tença, escreveram no processo esta lapidar consta-tação:

- Era tão poderoso a afeição que tinha à lei de Moisés que não podia acabar consigo e apartar-se dela!

Naturalmente que, na lógia dos inquisidores, para trazer esta alma ao seio da igreja em que foi baptizado, apenas havia um caminho: despojá-la do corpo! E assim foi condenado a arder nas fogueiras acesas no célebre auto que durou três dias (12-14 de Fevereiro de 1667), no qual foram penitencia-das 264 pessoas, contando-se entre elas o grande pregador jesuíta e insigne escritor, padre António Vieira. De Carção, saíram ainda mais 19 pessoas, condenadas em diversas penas.

E se Francisco Lopes de Leão foi o primeiro cris-tão-novo de Carção a ser queimado nas fogueiras do Santo Ofício, cumpre dizer que, anos depois, o mesmo castigo cairia sobre 2 de seus filhos e sobre outros de sua geração.

CHEIRO A CARNE QUEIMADA E OS FANTASMAS DOS SAMBENITOS

O cheiro a carne queimada pairava no ar de al-deia a partir de então. E na paisagem da terra novos fantasmas começaram a assomar nas esquinas das casas e a percorrer as ruas, enchendo-as de novas e terríveis premonições e ameaças. É que, os recon-ciliados eram condenados a regressar vestindo por cima das roupas uma espécie de saco, feito de pano grosseiro de lã, de cor amarela, a que chamavam sambenito. Era a prova visível e recordação cons-tante de que tinham sido presos pelo Santo Ofício, situação deveras humilhante e de público escárnio. Imaginem-se aqueles homens e mulheres passan-do na rua e a garotada gritando: Judeu! Judeu dos pregos!...Ou um padre fanatizado a pregar a missa de domingo contra os judeus que mataram Cristo e apontando para eles o dedo!

E quando alguém era relaxado, fazia-se um sam-benito no qual pintavam a sua cara a arder no meio das chamas do inferno, rodeado de diabos. Esse sambenito era depois mandado para terra e era obrigatoriamente pendurado na parede interior da igreja, ali ficando para que a memória do seu cri-me não desaparecesse. Imagine-se a vergonha que os familiares de Francisco de Leão não passariam quando o seu retrato ali foi pendurado e depois, sempre que entravam na igreja!

E se o seu retrato foi o primeiro, muitos outros iriam depois fazer-lhe companhia, decorando as pa-redes do templo, para gáudio dos cristãos-velhos e vergonha dos marranos.

O KIPUR DE 1689 Não obstante os medos e os fantasmas, a norma-

lidade foi regressando ao quotidiano dos cristãos-novos de Carção e nos anos 20 que se seguiram à morte de Francisco Lopes de Leão nenhum acon-tecimento de especial relevância a assinalar. E tal normalidade fez com que uns começassem a fazer algumas práticas judaicas de modo menos recata-do. Começaram a ser notados e falados em público os jejuns e as cerimónias judaicas quando algum deles falecia e dava nas vistas a forma como todos respeitavam o sábado e não o domingo como dia santo, vestindo fatos lavados e não trabalhando. E falava-se abertamente que na comunidade havia 3 livros judaicos. Particularmente notório e escanda-loso se tornou o modo como celebravam o dia gran-de de Setembro (Kipur) vestindo-se de festa e indo para as vinhas, em romaria, em grupos separados de homens e mulheres e por lá ficavam o dia inteiro, jejuando e rezando ao Deus de Abraão e de Moisés.

Chegou-se assim o ano de 1689, à festa do Kipur e muitos padres e o juiz da aldeia e os homens do regimento e todas as beatas se mobilizaram a es-preitar o que cada um fazia.

Depois … foram as notícias chegando a Coimbra, enviadas por comissários e familiares do Santo Ofício e recomeçaram as investidas da Inquisição sobre a comunidade marrana de Carção, com uma violência jamais vista, em novas e terríveis vaga de prisões.

UM VERDADEIRO HOLOCAUSTO Pelos anos de 1700, a freguesia de Carção conta-

va menos de 150 vizinhos (fogos), significando que teria à volta de 500 habitantes, somado os cristãos-velhos e os cristãos-novos.

Repare agora leitor que, só nos anos que vão de 1691 a 1701, a Inquisição ali ordenou de prender umas 130 pessoas, acusados de judaísmo!

Tenha-se em conta que estes presos eram sobre-tudo gente de trabalho, das classes da população activa. E tenha-se em conta que as prisões implica-vam geralmente o sequestro de bens e consequente ruína das casas, o desbaratar de fazendas, o fim dos laços e redes comerciais que, muitas vezes, leva-vam gerações a construir.

Acresce que muitos, receando ser presos, fu-giam. Tal como os que saíam das cadeias, sentin-do-se constantemente enxovalhados e humilhados, procuraram também os caminhos da fuga.

O pior, as verdadeiras tragédias aconteciam nas masmorras da Inquisição.

Muitos eram os que ali endoideciam, bastantes os que ficavam estropiados e nada raros morriam lá dentro. E todos, mas mesmo todos, eram abala-dos física e psicologicamente. Temos o caso de um homem de 20 e tal anos, cheio de vida, que chegou a tal extremo que comia os seus próprios dejectos! E o auge da tragédia era atingido com a morte na fogueira.

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De tudo isto temos exemplos clamorosos em Carção: gente que ficou aleijada, gente que ali en-doideceu, gente que ali morreu, gente que prefe-riu suicidar-se e…houve pelos menos 18 que foram condenados a morrer na fogueira. Até parece que durante aqueles 10 anos todas as forças do inferno se conjugaram contra a comunidade cristã-nova de Carção, a qual sofreu um autêntico massacre, imo-lada em verdadeiro holocausto.

O RENASCER CONSTANTE DA FÉNIX O mais espantoso é ver como, apesar das fugas e

do holocausto, a comunidade sobreviveu, a fé mo-saica resistiu e como, 40 anos depois, a geração que se seguiu, os filhos e os netos daqueles processa-dos e queimados souberam manter viva a chama do marranismo e dar provas inequívocas de resistência aos métodos do Santo Ofício.

E houve casos de resistência interior persistente, uma resistência colectiva que corporiza exemplar-mente a maneira de viver dos marranos de Carção. Com efeito, estando legalmente impedidos de en-trar nas confrarias e desempenhar cargos na esfera da igreja, eles promoveram as mais diversas diligên-cias para alterar a situação. E depois de muitos anos de requerimentos e contactos com as autoridades religiosas de Lamego e Braga, alcançaram para isso autorização do bispo da diocese de Miranda.

E parece que foram eles que construiriam a ca-pela de Santo Estêvão e ficaram desde logo com as chaves da mesma e a promover nela o culto cristão. Mas, se, no dia do patrono, ali rezava o padre a missa e pregava sermão se fazia uma festa cristã, parece que em outras ocasiões, o “rabi” nela cele-brava “missa judaica”.

Importante mesmo para eles foi a entrada na confraria do Santíssimo Sacramento cuja direcção ficou anualmente partilhada entre eles e os cris-tãos-velhos, a partir de 1721. E isso era importante pois lhes dava acesso à chave da igreja matriz e a responsabilidade da sua manutenção e de todas as alfaias e paramentos.

E foi um deslumbramento a festa do Copo de Deus organizada no ano de 1722 quando um deles, pela primeira vez, ocupou o cargo de mordomo principal. Nunca se tinha visto coisa assim: a igre-ja toda caiada de novo, toda engalanada, com as paredes ornadas de finos tecidos de seda e cetim e papeis coloridos e flores e toalhas novas nos altares e novas bandeiras e pendões e alfaias bem polidas e paramentos bem lavados – tudo para o engrandeci-mento do culto.

Ficaram os cristãos-velhos de boca aberta e, pela primeira vez, aquela geração de cristãos-no-vos entraram na igreja e não viram pendurados os execrados sambenitos de seus familiares e amigos que haviam sido queimados nas fogueiras do Santo Ofício, tapados que estavam pelos ornamentos pre-parados para a festa.

E ao fim da festa, desmontada a ornamentação, ninguém terá dado importância ao facto de alguns daqueles “sacos de estopa” pintados com as chamas do inferno e as caras dos relaxados terem desapare-cido.

E depois, em cada 2 anos, cada mordomo capri-chava na ornamentação da igreja e, no fim, sem-pre desapareciam alguns sambenitos. Certamente que também haveria nisso alguma cumplicidade dos padres, a quem os cristãos-novos muitas prebendas chegariam e muitas veniagas renderiam.

UMA DERRADEIRA VAGA DE PRISõES Chegou-se ao ano de 1736. E então, no dia de S.

António, como era costume, realizaram-se uns fes-tejos populares no largo da aldeia, onde também ficava a casa do pároco. Nesses festejos havia uma espécie de auto em que entravam os boieiros e os pastores da terra, lançando-se trovas alusivas ao viver colectivo. E então os pastores atiravam esta trova:

Graças a Deus para sempreAgora fará um anoQue na nossa igreja postaNaquela parede todaAinda se via estopa.E agora por desgraçaNem uma que ali se topa

Levantou-se de imediato um enorme burburinho entre os assistentes cristãos-novos e só não houve tumulto porque o padre se impôs. A verdade, po-rém, é que este não podia abafar o escândalo. A cena foi comentada e a notícia acabou por chegar a Coimbra. Seguiram-se devassas e… foram presos 6 membros da comunidade, acusados de terem rou-bado os sambenitos “ afim de riscar da memória” colectiva os nomes dos seus ascendentes que foram relaxados. Efectivamente, todos eles eram filhos e/ou netos daqueles que haviam sido queimados nas fogueiras da Inquisição. Decorreram os processos e todos eles foram condenados a degredo, pena que parecerá bastante ligeira, em relação à gravidade do crime mas é preciso recordar que os tempos eram outros, que as ideias do iluminismo se espa-lhavam e a Inquisição entrava em agonia.

E se, não temos conhecimento de nenhuma terra que tenha sido tão massacrada como Carção, tam-bém estamos convencidos de que, em nenhuma ou-tra parte do Reino houve tanta resistência ao ofício que se dizia santo de massacrar corpos para salvar almas.

Do exposto e que é um breve resumo e simples amostra da actuação daquele tribunal, bem pode a aldeia de Carção ser candidata ao titulo de capital do marranismo.

M.ª Fernanda Guimarães António J. Andrade

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16,85m2Hall

17,60m2Cozinha

29,25m2Sala

4,60m2Varanda

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2,45m2Varanda

15,10m2Quarto

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5,75m2I.S.

16,20m2Hall

17,60m2Cozinha

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Sala

4,70m2Varanda

5,25m2Lavandaria

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Page 51: Revista Almocreve 2008

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CORTIFRISOMateriais para a Construão Civil

Alto do Feto Telef. 273 512 2175230-125 CARÇÃO V i m i o s o

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ESPECIALIDAD EN:Carnes a la Brasa y Comidas Caseras

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Cafeteria Restaurante CRUZ BLANCAC/ Gazapera, 22 (junto a Mercadona Arroyo)

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Especialidad en: Arroz con Bogavante

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Reservas91 492 26 85

António Alberto Cordeiro Dias

António Alberto Cordeiro Dias

Rua das Fontes • CARÇÃO – 5230-122 Vimioso • Tel. 273 511 168

Page 52: Revista Almocreve 2008

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Page 53: Revista Almocreve 2008

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Page 54: Revista Almocreve 2008

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FEBRE DOS CACHECOIS

PROCISSÃONEVÃO

FOGUEIRAS DE NATAL

MATANÇA DO PORCO

Page 55: Revista Almocreve 2008

CARNAVAL SR.ª DE FÁTIMA

CAMPOS FLORIDOSENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS

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Page 58: Revista Almocreve 2008

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Construção Civil e Renovações

Rua Baixo, 21 • 5230-130 Carção - Vimioso • Telef.: 273 512 798

José CarlosFernandes Vaz

Pimentão & Veiga, ConstruçõesPromotor Imobiliário: Compra e venda de Apartamentos Lojas Comerciais e Terrenos

Telefones: Residência 273 331 379 · Escritório 273 333 599 • Telem. 919 934 313Av. Cidade de Zamora, 92, R/C Dt.º • 5300-111 B R A G A N Ç A

Fernades & Falcão – Turismo Rural, Lda.Lugar de Pereiras – Estrada Nacional 2195230-286 Vimioso – Portugalhttp://www.hotelruralvimioso.comTel. 273 518 000/2 • Fax 273 518 001 • Tlm 933 190 047

Page 59: Revista Almocreve 2008

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RESTAURANTE www.transosmontes.es

Plato de oro gastronomia 2004 Radio Turismo • Plato de oro gastronomia 2005 Radio Turismo

Prémio “Galo de Barcelos” 2005 Mejor restaurante portugués em España.

Premio 2.º mejor restaurante extranjero 2004 por el diario EL MUNDO • Premio 2.º mejor maître 2004 por el diario EL MUNDO

Premio mejor bacalao dorado 2004 por el diario EL MUNDO • Reportajes en ABC, El País, El Mundo, AS, Revista HOJAS…

José Luis João Alves – Graça Rodrigues Alves

C/ Senda del Infante, 28 Posterior • 28035 Madrid – Edifício Diamela • (Frente auditorio – Alfredo Kraus) • Tel.: 913 765 727

Abiertos desde el 5 de octubre de 2007, el restaurante O’Trasmontano quiere ser una

continuidad a lo que en su día fue el ya desaparecido DON SOL y lo que es nuestro otro

restaurante, TRAS-OS-MONTES: un lugar agradable donde disfrutar de una amplia carta de

bacalaos cocinados con recetas tradicionales portuguesas además de la mejor carne de raza

alisteña, nuestros postres caseros y la gran carta de vinos que tenemos a su disposición.

Tel. 91 729 71 47 - (Informacion y reservas)

Avda. Monasterio del Escorial, 2. 28049 Madrid

ACEPTAMOS: VISA, MASTER CARD, 4B, MAESTRO,EURO 6000, AMERICAN EXPRESS

Mail: [email protected] (no válido para reservas)

Acceso Para Silla de Ruedas y aseos adaptados

Amplia zona de aparcamiento

José Luis João Alves – Graça Rodrigues Alves

Pimentão & Veiga, Construções

Page 60: Revista Almocreve 2008

P R O G R A M A C Í V I C O

Dia 23 de Agosto – Sábado• FinaldotorneiodeFutebol11(C.D.C.deCarção)

Dia 24 de Agosto – Domingo• ArruadaPopularcomoGrupodeBombosZésPereirasdeBustelo-

Amarante• FESTIVAL DE MÚSICA (Dj’s)

Dia 25 de Agosto – Segunda-feira• Jogostradicionais(vitelaoucabritoaosquadrados)• TorneiodeSueca(1.ºprémio-Vitela)

Dia 26 de Agosto – Terça-feira• Jogostradicionais• ConcursodeDança• TorneiodeChincalhão(Vitelaemjogo)

Dia 27 de Agosto – Quarta-feira• SalvadeMorteiros• JogosTradicionais• MúsicaTradicionalePopular(PauliteiroseGaiteiros)• ConcertodaBanda de Música dos B. V. de Vimioso

Dia 28 de Agosto – Quinta-feira• SalvadeMorteiros• JogosTradicionais• GrupoMusicalMELODIA

Dia 29 de Agosto – Sexta-feira• SalvadeMorteiros• JogosTradicionais• Aberturada II Feira do Artesanato• GrupoMusicalMELODIA• JOSÉ MALHOA

Dia 30 de Agosto - Sábado• SalvadeMorteiros• IIFeiradoArtesanato• GrupoMusicalNÚCLEO• JORGE FERREIRA• ESPECTÁCULO PIRO-MUSICAL

Dia 31 de Agosto - Domingo• Alvoradacomsalvademorteiros• ArruadacomaBanda de Música dos B. V. de Vimioso• GrupoMusicalNÚCLEO• EntregadaFesta

N.ª Sr.ª das GraçasCARÇÃO

P R O G R A M A R E L I G I O S O

Dias 22 a 29 de Agosto NovenaReligiosanaIgrejadeSt.ªCruz

Dia 30 de Agosto - Sábado 14.00horas–MissacomSermãoemHonradeSt.ªTeresinha, seguidadeProcissão.

21.00horas–MomentoAltodeVeneraçãodaSrªdasGraças; Procissão de Velas; MissaCampalnaCapeladeSt.ªMarinhacomSermão.

Dia 31 de Agosto – Domingo 14.30horas–Missa Solene dos Devotos à Padroeira com Sermão,

seguida de Procissão.“AdeusàVirgem”. “MomentosdeReflexão”.

22 a 31 de Agosto • 2008