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2018 jul.- dez.; 12(2): 145
ISSN 1982-1166
EDITOR
Centro Universitário Padre Albino
CONSELHO EDITORIAL
Editora-ChefeVirtude Maria SolerCentro Universitário Padre Albino - Catanduva-SP.
Editores
Alessandra MazzoEscola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP, Ribeirão Preto-SP.Antonio Carlos de AraujoCentro Universitário Padre Albino Catanduva - SP.Ilza dos Passos ZborowskiFundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Funfarme.Luciana Bernardo MiottoCentro Universitário – UniMetrocamp-Wyden, Campinas - SP.Maria Regina Lourenço JaburFundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Funfarme.
Analista Técnico Marisa Centurion StuchiCentro Universitário Padre Albino – Catanduva-SP.
FUNDAÇÃO PADRE ALBINO
Conselho de AdministraçãoPresidente: Antonio HérculesDiretoria AdministrativaPresidente: José Carlos Rodrigues Amarante
CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ALBINO
Reitor: Nelson JimenesPró-Reitor Acadêmico: Antonio Carlos de Araujo
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEMCoordenadora de Graduação: Maria Cláudia Parro
Rua dos Estudantes, 225Parque Iracema
Catanduva-SP - BrasilCEP. 15809-144
Fone: (17) 3311-3331
E-mail: revistaenfermagem@unifi pa.com.br
Indexada: Base de Dados de Enfermagem - BDENF - BIREME
A é uma publicação com periodicidade semestral, editada pelo Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino.
Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 12 Número 2, p. 145-230 - jul./dez 2018 Semestral
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CONSELHO CIENTÍFICOAna Paula Girol – Bióloga – Centro Universitário Padre Albino (FIPA), Catanduva - SP.Anamaria Alves Napoleão – Enfermeira – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), SP.Antonio Chizotti - Sociólogo - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), SP.Bethania Ferreira Goulart – Enfermeira - Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba-MG. Cristina Arreguy-Sena – Enfermeira - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), MG.Flaviana Vieira – Enfermeira - Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia-GO. Gilson Luiz Volpato - Biólogo - Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Botucatu-SP.Helena Megumi Sonobe – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Isabel Cristina Belasco – Enfermeira – Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, BA.Ítalo Rodolfo Silva – Enfermeiro - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), RJ.Jane Cristina Anders – Enfermeira – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis-SC.Johis Ortega - Enfermeiro - Escuela de Enfermeria y Ciências de La Salud, Universidad de Miami, USA.José Carlos Amado Martins - Enfermeiro - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal.Josefi na Gallegos Martínez - Enfermeira - Facultad de Enfermería de La Universidad Autónoma de San Luis Potosí, México. Josimerci Ittavo Lamana Faria – Enfermeira – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP.Lúcia Marta Giunta da Silva – Enfermeira – Sociedade Benefi cente Israelita Brasileira Albert Einstein (SBIBAE) – Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo-SP.Luciana Bernardo Miotto – Socióloga - Centro Universitário – UniMetrocamp-Wyden, Campinas - SP.Lucieli Dias Pedreschi Chaves – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Magda Fabbri Isaac Silva – Enfermeira – Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (HCFM-USP), SP.Manoel Santos – Psicólogo – Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), SP.Márcia Bucchi Alencastre – Enfermeira – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP) e Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal, SP.Maria Auxiliadora Trevizan - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.
Maria Cristina de Moura-Ferreira – Enfermeira - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (FAMED-UFU), MG.Maria de Fátima Farinha Martins Furlan – Enfermeira – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP.Maria Helena Larcher Caliri - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Maria Elena Echevarría Guanilo – Enfermeira - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis-SC.María de los Ángeles Rodríguez-Gázquez – Enfermeira - Universidad de Antioquia y de la Universidad de Sevilla Medellín, Antioquia – Colombia.Maria José Bistafa Pereira - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Maria Luiza Nunes Mamede Rosa – Farmacêutica e Bioquímica – Faculdade de Medicina de Barretos, SP.Maria Manuela Frederico Ferreira - Enfermeira - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal.Maria Tereza Cuamatzi Peña - Enfermeira – Faculdad de Estúdios Superiores Zaragoza da Universidad Nacional Autónoma de México, México.Margarida Maria da Silva Vieira – Enfermeira - Universidade Católica Portuguesa, Porto - Portugal.Mariza Almeida Silva – Enfermeira – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador-BA.Marli Villela Mamede - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Mary Elizabeth Santana – Enfermeira – Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém do Pará-PA.Myeko Hayashida - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Rosemary Aparecida Garcia Stuchi – Enfermeira – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina-MG.Sara Mendoza-Parra – Enfermeira - Facultad de Enfermería, Universidad de Concepción, Concepción – Chile. Simone Albino da Silva - Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), MG. Simone Perufo Opitz – Enfermeira – Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Branco-AC.Simone Roque Mazoni – Enfermeira - Universidade de Brasília, DF.Sinval Avelino dos Santos – Enfermeiro - Universidade Paulista (UNIP), Ribeirão Preto – SP e Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal, SP.Wilson Cañon Montañez – Enfermeiro - Universidad de Santander (UDES), Colômbia. Yolanda Dora Martinez Évora – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.
EDITORAÇÃO DE REVISTAS
Os artigos publicados na são de inteira responsabilidade dos autores.• É permitida a reprodução parcial desde que citada a fonte• Início de circulação: dezembro de 2007 / Circulation start: December 2007• Data de impressão: dezembro 2018 / Printing date: December 2018
Marisa Centurion Stuchi
CuidArte enfermagem / Centro Universitário Padre Albino, Curso de Graduação em Enfermagem. - - Vol. 12, n. 2 (jul./dez. 2018) - . – Catanduva: Centro Universitário Padre Albino, Curso de Enfermagem, 2007-
v. : il. ; 27 cm Semestral. ISSN 1982-1166 1. Enfermagem - periódico. I. Centro Universitário Padre Albino. Curso de
Graduação em Enfermagem. CDD 610.73
C966
2018 jul.- dez.; 12(2): 147
ISSN 1982-1166
SUMÁRIO / SUMMARY / CONTENIDOEditorialLuciana Bernardo Miotto ......................................................................................................................................149
ARTIGOS ORIGINAIS
VIVER COM ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDADE, CONVÍVIO SOCIAL E ACEITAÇÃOLIVING WITH INTESTINAL STOMY: SELF-CARE, SEXUALITY, SOCIAL CONVIVAL AND ACCEPTANCEVIVIR CON ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDAD, CONVIVENCIA SOCIAL Y ACEPTACIÓNJoão Cesar Jacon, Roberta Lauani Dermindo de Oliveira, Giselda Aparecida Moura Castro Campos ............................153
TENDÊNCIAS DE MORTALIDADE POR CÂNCER SEGUNDO A DIRETORIA REGIONAL DE SAÚDE XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASILTRENDS OF MORTALITY BY CANCER ACCORDING TO THE REGIONAL DIRECTORATE OF HEALTH XV OF SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRAZILTENDENCIAS DE MORTALIDAD POR CÁNCER SEGÚN LA DELEGACIÓN REGIONAL DE SALUD XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASILRenata Prado Bereta Vilela, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice, Márcia Ayres Alves, Janaina Benatti de Almeida, Karina Rumi de Moura, Andiara Judith Arruda, Fernanda Luciana Calegari, Allini Mafra da Costa ..........................................160
PREVENÇÃO GINECOLÓGICA: PERCEPÇÃO DO AUTOCUIDADO DE TRABALHADORAS DE UMA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLÁVELGYNECOLOGICAL PREVENTION: PERCEPTION OF SELF-CARE OF WORKERS FROM A COOPERATIVE OF RECYCLABLE MATERIALPREVENCIÓN GINECOLÓGICA: PERCEPCIÓN DEL AUTOCUIDADO DE TRABAJADORES DE UNA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLABLELarissa Longui Dias, Jaçamar Alderona dos Santos, Francine Alves Gratival Raposo, Norma Lucia Santos Raymundo ..167
ANÁLISE DE CASOS DE CÂNCER DE PELE EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTAANALYSIS OF CASES OF SKIN CANCER IN A HOSPITAL OF INTERIOR PAULISTAANÁLISIS DE CASOS DE CÁNCER DE PIEL EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTAAna Rafaela Foloni, Maria Augusta Carvalho Carnelossi, Maria Julia Azarite Salomão, Rafaela Marega Frigério Lopes ..175
PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTAPREVALENCE OF ANEMIA IN ONCOLOGICAL PATIENTS ATTENDED IN SÃO PAULO INTERIOR HOSPITALPREVALENCIA DE ANEMIA EN PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTALara Lazaro Coxa, Paola Renata Cavalcante Joanini, Andréia de Haro Moreno ..........................................................181
Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 12 Número 2, p. 145-230 - jul./dez 2018 Semestral
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ESTUDO DA ALTERAÇÃO GLICÊMICA EM PACIENTES ENTRE 30 A 40 ANOS NÃO DIABÉTICOS EM AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA DE UM HOSPITAL-ESCOLA NA CIDADE DE CATANDUVA-SPSTUDY OF THE CHANGE IN GLYCEMIC INDEX IN PATIENTS BETWEEN 30 TO 40 YEARS OLD NON-DIABETIC INDIVIDUALS IN PRE-ANESTHESIA EVALUATION CARE AT A HOSPITAL-SCHOOL IN THE CITY OF SÃO PAULOESTUDIO DE LA ALTERACIÓN GLUCÉMICA EN PACIENTES ENTRE 30 A 40 AÑOS NO DIABÉTICOS EN LA EVALUACIÓN PRE-ANESTÉSICA DE UN HOSPITAL-ESCUELA DE LA CIUDAD DE CATANDUVA-SPLuis Fernando Rodrigues Maria, Jaime João Jorge, Gizelly Ayumi Yamamoto, Guilherme Martins Tahan, Leonardo dos Reis Resende, Luiza Mastrange Pugin, Matheus Nascimento dos Anjos, Valdir Jesus Pagotto Junior, Vinicius Areia Garcia ...187
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ESTUDANTES DE UM CURSO DE MEDICINAINSTRUMENTS FOR EVALUATING THE PERFORMANCE OF STUDENTS OF A MEDICINE COURSEINSTRUMENTOS DE EVALUACIÓN DEL RENDIMIENTO DE ESTUDIANTES DE UN CURSO DE MEDICINATerezinha Soares Biscegli, Helene Franzin, Marília de Jesus Nogueira, Fernanda Yae Takaoka Muraishi, Silvia Ibiraci de Souza Leite .........................................................................................................................................................192
EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE MEDICINA NA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEISEXPERIENCE OF ACADEMICS OF MEDICINE IN THE PREVENTION OF SEXUALLY TRANSMITTED INFECTIONSEXPERIENCIA DE ACADÉMICOS DE MEDICINA EN LA PREVENCIÓN DE INFECCIONES SEXUALMENTE TRANSMISIBLESAna Cristyna Saad Murad, Carolina Vecchio Ardeu, Flávio Pereira dos Santos Júnior, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice, Renata Galli Barbosa ...........................................................................................................................................200
GESTÃO DA DEMANDA EM SAÚDE: QUALIDADE DO SERVIÇO OFERECIDO NA VISÃO DOS USUÁRIOSDEMAND MANAGEMENT IN HEALTH CARE: QUALITY OF SERVICE OFFERED ON THE VISION OF USERSLA GESTIÓN DE LA DEMANDA EN EL CUIDADO DE LA SALUD: LA CALIDAD DE LOS SERVICIOS OFRECIDOS EN LA VISIÓN DE LOS USUARIOSTatiane Veteri Coneglian, Adriani Izabel de Souza Moraes, Gabriela Cristina Dias, Ananda Carolina Pereira Araujo, Maria Claudia Parro, Nilson Mozas Olivares .....................................................................................................................204
FATORES MATERNOS ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DA SÍFILIS CONGÊNITAMATERNAL FACTORS ASSOCIATED WITH THE VERTICAL TRANSMISSION OF CONGENITAL SYPHILISFACTORES MATERNOS ASOCIADOS A LA TRANSMISIÓN VERTICAL DE LA SÍFILIS CONGÉNITACristina Sancowich Zoilo, Erica Patrícia Marim Barbosa, Juliano Aparecido Barbosa, Luciana Braz de Oliveira Paes ......211
AVALIAÇÃO DO PERFIL PSICOLÓGICO (CRITÉRIOS DE BECK) E DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA BARIÁTRICAEVALUATION OF THE PSYCHOLOGICAL PROFILE (BECK CRITERIA) AND THE FREQUENCY OF INGESTION IN BARIATRIC PATIENTSEVALUACIÓN DEL PERFIL PSICOLÓGICO (CRITERIOS DE BECK) Y DE LA FRECUENCIA ALIMENTARIA DE PACIENTES SUBMETIDOS A LA CIRUGÍA BARIÁTRICABeatriz Andrea Allegrini, Gabriel Teixeira Cagnin, Milena Theodoro, Bruno Ziade Gil, Durval Ribas Filho......................218
ANÁLISE PROTOPARASITOLÓGICA E MICROBIOLÓGICA EM AMOSTRAS DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE ATENDIDAS POR CRECHE EM CAMPINAS-SPPROTOPARASITOLOGICAL AND MICROBIOLOGICAL ANALYSIS IN SAMPLES OF CHILDREN FROM 0 TO 6 YEARS OLD ATTENDED IN DAY CARE CENTER IN CAMPINAS-SPANALISIS PROTOPARASITOLÓGICA Y ANÁLISIS MICROBIOLÓGICOS EN MUESTRAS DE NIÑOS DE 0 A 6 AÑOS DE EDAD, ATENDIDAS POR GUARDERIAS INFANTILES EN CAMPINAS - SP.Águeda Cleofe Marques Zaratin, Alexandre Veronez, Rosana Francisco dos Santos Siqueira, Andrezza Pereira Barbato, Michelle Maria Monteiro dos Santos ......................................................................................................................223
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO ..........................................................................................................................228
2018 jul.- dez.; 12(2): 149
ISSN 1982-1166
EditorialLuciana Bernardo Miotto*
Em uma perspectiva evolucionista, o ser humano aumentou seu conhecimento em saúde, especialmente a partir do século XIX, com as novas descobertas na química, na física e na biologia. No fi nal do século XX, com a decodifi cação do DNA e o avanço na difusão das informações científi cas, multiplicaram-se, exponencialmente, os estudos sobre o funcionamento dessa máquina considerada perfeita: o corpo humano.
Logicamente, o avanço científi co não teria sido possível sem a contribuição de renascentistas como Andreas Vesalius (1514-1564), no campo da anatomia, ou de homens curiosos que, posteriormente, nos legaram descobertas importantes, como a do microscópio, por Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) e a da circulação do sangue, por William Harvey (1578-1647), ambas no século XVII; ou ainda, mais à frente, no século XIX, o desvelamento da microbiologia com base no trabalho de Louis Pasteur.
Esse processo de construção do conhecimento em saúde passou a requerer a formação de um tipo específi co de profi ssional: conhecedor do corpo humano e das possibilidades de agressão a essa máquina perfeita. Em termos físicos, o conhecimento biomédico foi surpreendente, com o controle de endemias e epidemias, no surgimento e avanço da epidemiologia, e a cura para inúmeras doenças.
As escolas médicas, já no século XX, estruturaram-se em torno desse modelo biomédico voltado para o controle e a cura, fragmentando-se em especialidades cada vez mais precisas. A formação dos profi ssionais de saúde, de médicos a enfermeiros, foi direcionada a uma prática moldada pela especifi cidade da doença e sua possibilidade de cura. Muitas doenças foram controladas e vários processos patológicos totalmente compreendidos, fi sicamente. Contudo, a realidade atual nos faz repensar este modelo de formação em virtude dos novos desafi os que se apresentam.
Em 2017, a Organização Mundial de Saúde, por ocasião do dia mundial da saúde, comemorado em 7 de abril, lançou o tema “Depressão”, cujo lema ofi cial foi Let's Talk ("Vamos Conversar", em português). Haja vista o aumento no índice de suicídios, considerado um problema de saúde pública em todo o mundo. Por outro lado, a longevidade é uma das características de nosso século. Porém, viver mais nem sempre tem sido sinônimo de viver com saúde. Além disso, diversos outros fatores hoje comprometem a qualidade dessa vida longeva, traduzidos nas doenças crônicas não transmissíveis. E, por fi m, aliado a esses aspectos, pode-se, ainda, mencionar o contexto em que vive e trabalha grande parte das pessoas, nem sempre em ambientes considerados sadios, adentrando-se o campo dos determinantes sociais em saúde.
Como formar, então, novos profi ssionais em saúde para atuarem nesse novo contexto, de forma a expandir seu foco de atuação, não mais centrado na doença em si, porém, nos variados aspectos que a circundam – sociais, econômicos, psicológicos, ambientais?
As novas diretrizes curriculares para os cursos da área de saúde, no Brasil, e o surgimento de novos campos de atuação profi ssional são parte dessa mudança. Isso tem impactado na formação dos estudantes e também no redirecionamento da atuação docente. Os profi ssionais de saúde ao se depararem com o atendimento ao paciente necessitam compreender o processo saúde-doença na perspectiva da integralidade. O corpo não é apenas máquina.
Estamos diante, é óbvio, de um grande desafi o: capacitar novos profi ssionais de saúde que atuem com base em uma perspectiva integral e holística, de cunho preventivo e generalista. Simultaneamente, sem perder de vista o aspecto da cura, a evidência científi ca e o olhar especializado. Até mesmo a construção do conhecimento em saúde tem exercido o diálogo interdisciplinar. E a própria atuação dos profi ssionais na comunidade não pode se esquivar do campo político. Na origem do SUS, por exemplo, está o papel atuante dos profi ssionais de saúde diante das carências urbanas. Ou ainda, na luta por políticas públicas de saúde que garantam condições de trabalho dignas a estes profi ssionais.
Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 12 Número 2, p. 145-230 - jul./dez 2018 Semestral
Editorial
*Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora Titular no Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, em Campinas-SP. Contato: [email protected]
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Editorial
Luciana Bernardo Miotto*
From an evolutionary perspective, the human being increased his knowledge of health, especially from the nineteenth century, with new discoveries in chemistry, physics and biology. At the end of the twentieth century, with the decoding of DNA and the advance in the diffusion of scientifi c information, studies of the functioning of this machine, considered to be perfect, have multiplied exponentially: the human body.
It is obvious that scientifi c advance would not have been possible without the contribution of Renaissance scholars such as Andreas Vesalius (1514-1564) in the Anatomy fi eld, or of curious men who later bequeathed important discoveries, such as the microscope, by Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) and the blood circulation, by William Harvey (1578-1647), both in the seventeenth century; or later, in the nineteenth century, the unveiling of microbiology based on the Louis Pasteur studies.
This process of construction of health knowledge began to require the formation of a specifi c type of professional: knowledge of the human body and the possibilities of aggression to this perfect machine. In physical terms, biomedical knowledge was surprising, with the control of endemics and epidemics, in the emergence and advancement of epidemiology, and the cure for numerous diseases.
Medical schools, already in the twentieth century, were structured around this biomedical model focused on control and healing, breaking up into more and more precise specialties. The training of health professionals, from physicians to nurses, was directed to a practice shaped by the specifi city of the disease and its possibility of cure. Many diseases were controlled and several disease processes were fully understood, physically. However, the current reality makes us rethink this training model due to the new challenges that are presented.
In 2017, the World Health Organization, on the occasion of World Health Day, celebrated on April 7, launched the theme "Depression", whose offi cial motto was "Let's Talk". For example, the increase in the number of suicides, considered a public health problem worldwide. On the other hand, longevity is one of the characteristics of our century. However, living longer has not always been synonymous with living healthly. In addition to this, several other factors compromise the quality of this long-lived life, translated into chronic non-communicable diseases. And fi nally, allied to these aspects, we can also mention the context in which many people live and work, not always in environments considered healthy, entering the fi eld of social determinants of health.
How to train new health professionals to work in this new context, in order to expand their focus of action, no longer focused on the disease itself, but on the various aspects that surround it - social, economic, psychological, and environmental?
The new curricular guidelines for health courses in Brazil and the emergence of new fi elds of professional activity are part of this change. This has impacted on the training of students and also on the redirection of the teaching activity. Health professionals, when confronted with patient care, need to understand the health-disease process in the perspective of integrality. The body is not just machine.
Of course, we are faced with a great challenge: to train new health professionals who act on a holistic, preventive and generalist perspective. Simultaneously, without losing sight of the healing aspect, the scientifi c evidence and the specialized aproach. Even the construction of health knowledge has exercised interdisciplinary dialogue. And the professional performance in the community cannot avoid the political fi eld. At the origin of SUS, for example, there is the active role of health professionals in the face of urban needs. Or, in the fi ght for public health policies that guarantee decent work conditions for these professionals.
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*Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora Titular no Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, em Campinas-SP. Contato: [email protected]
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Editorial
Luciana Bernardo Miotto*
En una perspectiva evolucionista, el ser humano aumentó su conocimiento en salud, especialmente a partir del siglo XIX, con los nuevos descubrimientos en la química, la física y la biología. A fi nales del siglo XX, con la decodifi cación del DNA y el avance en la difusión de las informaciones científi cas, se multiplicaron exponencialmente los estudios sobre el funcionamiento de esa máquina considerada perfecta: el cuerpo humano.
Lógicamente, el avance científi co no habría sido posible sin la contribución de renacentistas como Andreas Vesalius (1514-1564), en el campo de la anatomía, o de hombres curiosos que, posteriormente, nos legaron descubrimientos importantes, como del microscopio, por Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) y del circulación de la sangre, por William Harvey (1578-1647), ambas en el siglo XVII; o aún, más adelante, en el siglo XIX, el desvelamiento de la microbiología con base en el trabajo de Louis Pasteur.
Este proceso de construcción del conocimiento en salud pasó a requerir la formación de un tipo específi co de profesional: conocedor del cuerpo humano y de las posibilidades de agresión a esa máquina perfecta. En términos físicos, el conocimiento biomédico fue sorprendente, con el control de endemias y epidemias, en el surgimiento y avance de la epidemiología, y la cura para innumerables enfermedades.
Las escuelas médicas, ya en el siglo XX, se estructuraron en torno a ese modelo biomédico orientado hacia el control y la cura, fragmentandose en especialidades cada vez más precisas. La formación de los profesionales de salud, de médicos a enfermeros, fue dirigida a una práctica moldeada por la especifi cidad de la enfermedad y su posibilidad de curación. Muchas enfermedades han sido controladas y varios procesos patológicos totalmente comprendidos, físicamente. Sin embargo, la realidad actual nos hace repensar este modelo de formación en virtud de los nuevos desafíos que se presentan.
En 2017, la Organización Mundial de la Salud, con motivo del Día Mundial de la Salud, se celebrado el 7 de abril, lanzó el tema "Depresión", cuyo lema ofi cial fue Let’s Talk ("Vamos a hablar”, en espanhol). En vista del aumento en el índice de suicidios, considerado un problema de salud pública en todo el mundo. Por outro lado, la longevidad es una de las características de nuestro siglo. Pero, vivir más no siempre ha sido sinónimo de vivir con salud. Sumado a ello, muchos otros factores hoy comprometen la calidad de esa vida longeva, que se traducen en las enfermedades crónicas no transmisibles. Por ultimo, aliado a estos aspectos, se puede, aún, mencionar el contexto en que vive y trabaja gran parte de las personas, no siempre en ambientes considerados sanos, adentrando-se en el campo de los determinantes sociales en salud.
¿Cómo formar, entonces, nuevos profesionales en salud para que actúen en ese nuevo contexto, de modo a ampliar su enfoque de actuación no más centrado en la enfermedad en sí misma, pero en los variados aspectos que la circundan - sociales, económicos, psicológicos, ambientales.
Las nuevas directrices curriculares para los cursos del área de salud, en Brasil, y el surgimiento de nuevos campos de actuación profesional son parte de ese cambio. Esto ha impactado en la formación de los estudiantes y también en la redirección de la actuación docente. Los profesionales de salud al encontrarse con la atención al paciente necesitan comprender el proceso salud-enfermedad en la perspectiva de la integralidad. El cuerpo no es sólo máquina.
Estamos ante todo, es obvio, de un gran desafío: capacitar a nuevos profesionales de la salud que actúen basados en una perspectiva integral y holística, de cuño preventivo y generalista. Simultáneamente, sin perder de vista el aspecto de la curación, la evidencia científi ca y las especialidades. Incluso la construcción del conocimiento en salud ha ejercido el diálogo interdisciplinario. Y la propia actuación de los profesionales en la comunidad no puede esquivar el campo político. En el origen del SUS, por ejemplo, está el papel actuante de los profesionales de salud ante las carencias urbanas. O en la lucha por políticas públicas de salud que garanticen condiciones de trabajo dignas a estos profesionales.
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*Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora Titular no Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, em Campinas-SP. Contato: [email protected]
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2018 jul.- dez.; 12(2): 153Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação
VIVER COM ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDADE, CONVÍVIO SOCIAL E ACEITAÇÃO
LIVING WITH INTESTINAL STOMY: SELF-CARE, SEXUALITY, SOCIAL CONVIVAL AND ACCEPTANCE
VIVIR CON ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDAD, CONVIVENCIA SOCIAL Y ACEPTACIÓN
*Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP, Brasil. Contato: [email protected]**Enfermeiras Graduadas pelo Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP, Brasil.
ResumoIntrodução: Estomias, temporárias ou defi nitivas, podem desencadear diversas complicações com consequências, tanto físicas quanto psicológicas. Objetivo: Identifi car o autocuidado, aceitação, convívio social e sexualidade no estomizado intestinal. Método: Pesquisa transversal, observacional com abordagem quantitativa, realizada em um município do interior paulista. Um instrumento estruturado, elaborado e validado pelos autores, embasado na Classifi cação das Intervenções de Enfermagem (NIC) e na Classifi cação dos Resultados de Enfermagem (NOC), foi utilizado para a coleta de dados. Utilizou-se estatística descritiva para análise dos dados. Resultados: Participaram da pesquisa 20 estomizados com igual distribuição entre os sexo e média de idade de 65 anos; a neoplasia confi gurou-se como a principal causa para a confecção do estoma. A maioria convive com o estoma há mais de dois anos, alterou o estilo do vestuário, reajustou a alimentação e reduziu signifi cativamente o estilo de vida sexual. Conclusão: O estomizado intestinal é capaz de (re)signifi car seu viver, adaptar-se às mudanças vivenciadas nos aspectos do autocuidado, aceitação, convívio social e sexualidade.
Palavras-chave:Enfermagem. Estomia. Sexualidade. Autoimagem. Autocuidado.
AbstractIntroduction: Temporary or permanent ostomy can trigger various complications with physical and psychological consequences. Objective: To identify self-care, self-acceptance, social interaction and sexuality in the intestinal stomates. Method: Cross-sectional, observational research with a quantitative approach, carried out in a city in the interior of São Paulo. A structured instrument, developed and validated by the authors, based on the Classifi cation of Nursing Interventions (NIC) and Nursing Outcomes Classifi cation (NOC), was used to collect data. Descriptive statistics were used to analyze the data. Results: Twenty-one stomized patients with equal distribution between genders and mean age of 65 participated in the study; the neoplasia was the main cause for the stoma preparation. Most stomates have coexisted with the stoma for more than two years, altered the style of clothing, readjusted food, and signifi cantly reduced the sexual lifestyle. Conclusion: The intestinal stomates are capable of giving new meaning to their living, adapting to the changes experienced in the aspects of self-care, acceptance, social interaction and sexuality.
Keywords:Nursing. Ostomy. Sexuality. Selfconcept. Self-care.
ResumenIntrodución: Las estomías, temporales o defi nitivas, pueden desencadenar diversas complicaciones con consecuencias tanto físicas como psicológicas. Objetivo: Identifi car el autocuidado, aceptación, convivencia social y sexualidad en el estomizado intestinal. Método: Investigación transversal, observacional con abordaje cuantitativo, realizada en un municipio del interior paulista. Un instrumento estructurado, elaborado y validado por los autores, basado en la Clasifi cación de las Intervenciones de Enfermería (NIC) y en la Clasifi cación de los Resultados de Enfermería (NOC), fue utilizado para la recolección de datos. Resultados: Participaron de la encuesta 20 estomizados con igual distribución entre los sexos y media de edad de 65 años; la neoplasia se confi guró como la principal causa para la confección del estoma. La mayoría convive con el estoma hace más de dos años, alteró el estilo de la ropa, reajustó la alimentación y redujo signifi cativamente el estilo de vida sexual. Conclusión: El estomizado intestinal es capaz de (re) signifi car su vivir, adaptarse a los cambios vivenciados en los aspectos del autocuidado, aceptación, convivencia social y sexualidad.
Palabras clave: Enfermería. Estomía. Sexualidad. Autoimagem. Autocuidado.
João Cesar Jacon*, Roberta Lauani Dermindo de Oliveira**, Giselda Aparecida Moura Castro Campos**
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INTRODUÇÃO
Estoma é uma palavra de origem grega, signifi ca
boca ou abertura, sendo defi nida como o acesso de uma
víscera oca ao meio externo através de incisão cirúrgica1,2.
Ela pode ser classifi cada em três tipos: estomia de
respiração, alimentação e de eliminação. As estomias de
eliminações são denominadas colostomia, ileostomia e
urostomia3.
A confecção de uma estomia de eliminação intestinal
pode ser feita em qualquer região do intestino delgado ou
grosso. Quando feita no intestino delgado é denominada
de ileostomia e quando feita no intestino grosso é chamado
de colostomia1.
Confi guram-se como as principais causas de
realização de um estoma intestinal o câncer colorretal e
os traumas intestinais; são descritas outras causas como a
diverticulite, doenças intestinais infl amatórias, doença de
Crohn, infecções perineais graves e doença de Chagas4,5.
Alguns estomas são confeccionados como medidas
temporárias ou defi nitivas, as estomias temporárias têm
maior incidência nos traumas por arma branca ou arma
de fogo, havendo necessidade de um desvio até que
ocorra a cicatrização e se realize a reversão. Já a estomia
permanente tem indicação quando há perda da função
peristáltica, diretamente relacionada ao tumor de reto e
doenças infl amatórias3,4,6.
Sendo assim, após a construção de uma estomia, o
paciente necessita de cuidados específi cos para encorajar
a integração do seu estado de vida às suas atividades,
já que esta condição é capaz de desencadear diversas
complicações, provocando consequências tanto físicas
quanto psicológicas. Dentre elas destacam-se fadiga,
náuseas, vômitos, dores, diarreia, constipação, alterações
da imagem corporal, disfunção sexual e impacto
fi nanceiro; também promove alterações signifi cativas
quanto à alimentação, ao uso de dispositivo adequado e
aos cuidados de higiene1,3,7.
O resultado fi nal destas modifi cações na vida do
estomizado depende do acolhimento social e psicológico.
No pré-operatório podem ser reveladas algumas emoções:
ansiedade, medo da anestesia, riscos da cirurgia,
pensamento de morte, alterações da imagem corporal e
o receio de enfrentar um novo estilo de vida. O auxílio
no processo de adaptação é papel fundamental da equipe
multiprofi ssional envolvida no processo de cuidar8,9.
Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação
Por meio do desenvolvimento de ações educativas
em saúde e promoção do autocuidado o enfermeiro
exerce grande infl uência no processo de autonomia do
estomizado. A adesão do estomizado ao autocuidado
dependerá de alguns fatores, tais como: faixa etária,
hábitos de vida, sexo, grau de instrução, fatores sociais,
fi nanceiros e culturais. O estabelecimento de um vínculo
e confi ança entre estomizado e enfermeiro são condições
fundamentais para o sucesso no autocuidado10.
O autocuidado para o estomizado é sinônimo de
independência e diminuição do sentimento de invalidez7,8,
o aprendizado para autocuidado deve ocorrer lento e
continuamente estimulando a autonomia do paciente2,9.
A implantação de um estoma vem ocasionar
incertezas em relação ao futuro sexual, pelas alterações
fi siológicas em decorrência da cirurgia, dentre elas a
perda da função esfíncteriana privando o controle fecal,
com eliminações involuntárias de gases e odores alterando
o estímulo sexual. Alguns homens podem apresentar
disfunção erétil, distúrbios ejaculatórios e infertilidade.
Já em relação às mulheres é comum o constrangimento
sexual e ausência de lubrifi cação vaginal11,12.
O estomizado apresenta a autoestima afetada em
decorrência da sua imagem corporal alterada, afastando-o
do convívio social, passando a não desejar sair de casa,
limitando as suas atividades de vida diária por “medo
de acidentes” relacionados ao rompimento da bolsa,
eliminação de gases e fezes e odor exalado ao seu redor,
prejudicando os momentos de lazer e o seu bem estar
físico e mental, repercutindo na qualidade de vida4.
A mutilação de qualquer segmento corporal é
conturbadora e leva a pessoa a ajustar-se à sua nova
condição. O apoio social é fundamental em relação aos
aspectos cognitivos e interpessoais do estomizado. A
participação em grupos de autoajuda ou o convívio com
pessoas signifi cativas traduz-se como sentimento de
interesse e afetividade, permitindo enfrentar a situação
atual com mais facilidade. No entanto, este processo é
lento e individual2,10,13.
OBJETIVO
Identifi car no estomizado o autocuidado, o convívio
social, a sexualidade e a aceitação.
153 -159
2018 jul.- dez.; 12(2): 155MATERIAL E MÉTODO
Pesquisa transversal e observacional com abordagem
quantitativa. A pesquisa foi realizada no Centro de
Especialidades Médicas (CEM) Catanduva-SP. A população
do estudo foi representada pelos pacientes com estoma
intestinal, pertencentes a esse centro.
Os dados foram coletados por meio de um instrumento
estruturado, elaborado pelos autores, embasado na
intervenção de enfermagem Cuidados com estomias da
Classifi cação das Intervenções de Enfermagem (NIC) e
nos resultados esperados: Comportamento de tratamento:
doença ou lesão, Autocuidado: higiene; Continência
intestinal, Eliminação intestinal; Integridade tissular: pele
mucosa; Aceitação do estado de saúde; Autocuidado:
atividades da vida diária; Autocuidado: alimentação;
Conhecimento: dieta; Sexualidade; Enfrentamento
familiar; Envolvimento social; Ajuste psicossocial: mudança
de vida; Autoestima; Bem estar; Conhecimento: cuidados
na doença; Imagem corporal; Controle da depressão da
Classifi cação dos Resultados de Enfermagem (NOC).
O instrumento foi dividido em duas partes: a primeira
parte consta de questões referentes à caracterização do
perfi l sociográfi co da amostra e a segunda parte aborda
os aspectos relacionados ao autocuidado, aceitação,
sexualidade, suporte psicológico, atividade laboral e
convívio social. Foi validado por 2 enfermeiros especialistas
quanto à aparência, conteúdo, clareza e objetividade. A
aplicação do instrumento para coleta de dados ocorreu
durante as reuniões mensais do grupo de estomizados no
CEM. Os dados coletados foram organizados em planilha
no Excel e, posteriormente, analisados por meio de
estatística descritiva.
Foram critérios de inclusão: ser paciente do CEM,
da cidade de Catanduva-SP e da região, ser portador de
estoma intestinal, estar apto a responder as perguntas do
instrumento e aceitar participar da pesquisa assinando
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Excluiram-se os estomizados com alterações cognitivas
que impossibilitassem a compreensão e as respostas às
questões que compunhamo instrumento de coleta de
dados.
O projeto obedeceu às recomendações da Resolução
nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisas
que envolvem seres humanos, sendo aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário
Padre Albino (UNIFIPA) sob o parecer nº 2.684.677.
RESULTADOS
Fizeram parte da pesquisa 20 pessoas com estomia
intestinal, a Tabela 1 apresenta o perfi l sociográfi co da
amostra.
Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação
Tabela 1 - Perfi l sociográfi co dos sujeitos, Catanduva-SP, 2018
Sexo (N) %
Feminino 10 50
Masculino 10 50
Idade
Até 45 3 15
De 46 a 59 5 25
De 60 a 70 6 30
< 70 anos 6 30
Escolaridade
Primeiro Grau Completo 5 25
Primeiro Grau Incompleto 7 35
Ensino Médio Completo 6 30
Ensino Médio Incompleto 0 0
Ensino Superior Completo 1 5
Ensino Superior Incompleto 1 5
Estado civil antes da estomia
Casado (a) 12 60
Solteiro (a) 2 10
Amasiado (a) 2 10
Divorciado (a) 3 15
Viúvo (a) 1 5
Estado civil depois da estomia
Casado (a) 10 50
Solteiro (a) 1 5
Amasiado (a) 2 10
Divorciado (a) 5 25
Viúvo (a) 2 10
Renda familiar
Até salário mínimo 10 50
2-3 salários mínimos 9 45
4-5 salários mínimos 1 5
153 -159
156 2018 jul.- dez.; 12(2): Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação153 -159
Tabela 2 - Caracterização do estoma, Catanduva-SP, 2018
Tipo de estoma (N) %
Colostomia 17 85
Ileostomia 2 10
Colostomia + Urostomia 1 5
Tempo de permanência
Defi nitivo 15 75
Temporária 4 20
Não sabe informar 1 5
Etiolologia
Neoplasia 14 70
Doença de Crohn 2 10
Diverticulite 1 5
Perfuração intestinal 1 5
Doença de Chagas 1 5
Fasceite necrótica 1 5
Local da neoplasia
Reto 10 50
Cólon 2 10
Não sabe 2 10
Tempo de estomia
Inferior a 6 meses 3 15
13/24 meses 2 10
Mais de 24 meses 15 75
A Tabela 2 caracteriza o tipo de estoma.
As complicações relacionadas à estomia estão
descritas na Tabela 3. As mais prevalentes foram a hérnia
paraestomal (20%), seguida de dermatite periestomal
(15%).
Tabela 3 - Complicações relacionadas ao estoma, Catanduva-SP, 2018
Complicações pós-estomia (N) %
Sim 12 60
Não 8 40
Complicações
Dermatite 3 15
Hérnia e Dermatite 2 10
Hérnia 4 20
Prolapso 2 10
Retração 2 10
Hérnia e Prolapso 1 10
Outros 1 5
Em relação ao autocuidado com a estomia, 65% dos
entrevistados referiram sentir-se confortáveis com relação
ao autocuidado. De um modo geral dispensam de 15 a 30
minutos diários para o cuidado com o estoma. A Tabela
4 destaca o perfi l quanto ao autocuidado do estomizado.
Tabela 4 - Autocuidado do estomizado, Catanduva-SP, 2018
Variáveis (N) %
Alterou o estilo do vestuário devido à estomia 15 75
Reajustou alimentação devido à estomia 12 60
Alterou a dieta para prevenir a emissão de gases
13 65
Conhece os alimentos que reduzem o odor 14 70
Quanto tempo demorou a sentir-se confortável no autocuidado a estomia
Aceitou de início 3 15
Menos de um mês 10 50
Até um ano 1 5
Mais de um ano 3 15
Faz o autocuidado, mas não se sente confor-tável
1 5
Não aceitou 2 10
Em média, quanto tempo demora para cuidar do estoma
Menos de 30 minutos 11 55
Mais de 30 minutos 9 45
Se não pratica o autocuidado, quem faz
Esposo (a) e Filho (a) 4 20
Neto 1 5
Foi informado previamente sobre como seria o convívio com a estomia
Sim 16 80
Não 4 20
Quem informou
Enfermeiro(a) Estomoterapeuta 5 25
Médico(a) 4 20
Enfermeiro(a)/Psicólogo(a) 1 5
Enfermeiro(a)/Médico(a) 2 10
Assistente Social 1 5
Enfermeiro(a) do programa de estoma 3 15
Quando foi informado
Antes da cirurgia 11 55
Depois da cirurgia 7 35
Nunca foi informado 2 10
A estomia interfere na capacidade de viajar
Não interfere 4 20
Interfere 3 15
Causa grande interferência 13 65
2018 jul.- dez.; 12(2): 157Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação
DISCUSSÃO
Com relação aos dados sociográfi cos existem
variações quanto ao sexo, idade, grau de escolaridade,
renda familiar e estado civil, predominando os casados
antes e após a estomia2,4,13-16. Vale ressaltar que neste
estudo observou-se um aumento no divórcio após a
confecção do estoma.
Considerando a sexualidade do estomizado, a Tabela
5 sintetiza esses resultados.
Tabela 5 - Sexualidade do estomizado, Catanduva-SP, 2018
Era sexualmente ativo antes da estomia (N) %
Sim 14 70
Não 6 30
Reduziu sua atividade sexual depois da confecção do estoma
Sim 13 65
Não 7 35
Está satisfeito com a atividade sexual
Sim 16 80
Não 4 20
Se homem, teve problema de ereção ou manutenção da mesma
Sim 5 25
Não 5 25
Em relação ao convívio social e à aceitação da
estomia, a Tabela 6 evidencia que 45% dos entrevistados
relatam algum grau de difi culdade ao olhar para o seu
estoma; 75% sentem-se otimistas quanto ao seu futuro
e que a confecção do estoma repercutiu positivamente na
sua vida.
Tabela 6 - Convívio social e aceitação do estomizado, Catanduva-SP, 2018
Qual a difi culdade em olhar para o estoma (N) %
Não há difi culdade 11 55
Há difi culdade 5 25
Há muita difi culdade 4 20
A estomia trouxe consequências negativas no meio familiar?
Não houve consequência 16 80
Houve consequência 1 5
Houve muita consequência 3 15
Sente-se otimista quanto ao futuro?
Não se sente otimista 3 15
Sente-se otimista 2 10
Sente-se muito otimista 15 75
O fato de ter uma estomia trouxe mudanças positivas?
Não trouxe 4 20
Sim, trouxe 2 10
Trouxe muita mudança 14 70
Na caracterização do estoma a colostomia é
predominante, seguida de ileostomia, com tempo de
permanência defi nitivo. Quanto à etiologia, destaca-se a
neoplasia, sendo no reto 50% e cólon 10% dos casos;
a doença de Crohn, diverticulite, perfuração intestinal,
doença de Chagas e fasceite necrótica também foram
identifi cadas como causas. O aumento na incidência de
casos de câncer de cólon e reto14-23 favorece a realização do
estoma, corroborando com os resultados da pesquisa. Em
outro estudo observou-se que 75% dos participantes da
amostra possuíam estoma há mais de 24 meses, os quais
referiram estar adaptados ao convívio com o estoma2,
porém em diversos estudos há variações relacionadas à
caracterização do estoma, levando a entender assim que
pode estar relacionado ao tamanho da amostra e local do
estudo2,4,15,19,20.
Nas complicações relacionadas ao estoma, 60%
dos pacientes relatam problemas após a confecção do
mesmo, tais como hérnia, dermatite e prolapso. Estudos
corroboram com esses resultados e estabelecem que as
complicações estão relacionadas à falta de conhecimento
e preparo dos profi ssionais envolvidos na assistência ao
estomizado4,15,19,21.
Quanto às intervenções para o autocuidado citadas
por diferentes estudos, as mesmas confi rmam os resultados
obtidos nesta pesquisa onde houve a necessidade
de alteração no estilo de vestuário, sendo necessário
reajustar-se ao uso de roupas largas para ocultar o volume
provocado pela bolsa coletora no abdome, além da
alteração do padrão habitual de consumo alimentar devido
à falta de controle voluntário na eliminação de fezes, gases
e odores. Já em relação ao tempo de sentir-se confortável
no autocuidado há uma variação signifi cativa em relação a
adaptação de cada indivíduo7,9,20,.
Considerando a importância das informações
recebidas no pré-operatório pelos pacientes submetidos à
confecção cirúrgica do estoma, observou-se em um estudo
realizado em um hospital do interior de paulista, que
profi ssionais bem treinados para preparar a vida futura
dos estomizados contribuem e refl etem em diferença
signifi cativa na adaptação dos mesmos7.
Quanto à difi culdade em olhar para o estoma, 55%
dos estomizados consideram que têm pouca difi culdade e
80% relataram raras consequências negativas no ambiente
153 -159
158 2018 jul.- dez.; 12(2):
familiar. É evidente nos pacientes a interferência da
estomia na capacidade de viajar, sendo que neste estudo
65% não viajam mais por se sentirem constrangidos ao
parar em locais para o esvaziamento da bolsa ou por
medo de descolamento da mesma e extravasamento das
fezes; percebe-se neste momento sentimentos comuns de
negação, revolta, perda da autoestima e isolamento social,
mas ao mesmo tempo, com o desenvolver da entrevista,
nota-se que esta mudança é necessária para a vida, pela
oportunidade de viver, apesar das limitações, havendo a
necessidade de aceitar-se e adaptar-se ao estoma9,11,20.
Ao abordar a sexualidade, 70% eram ativos antes
da confecção do estoma, contudo, após a confecção, 65%
reduziram sua atividade sexual, mas ao mesmo tempo,
80% dos sujeitos da amostra afi rmam estar satisfeitos.
Dos homens, 25% relatam ter problemas na ereção ou
sua manutenção, porém fi ca claro o constrangimento ao
falarem sobre o assunto, uma vez que o instrumento foi
aplicado junto ao estomizado com o intuito de melhor
interpretação das perguntas. Destaca-se a importância
do papel do profi ssional de saúde na orientação do
paciente visando diminuir as complicações relacionadas às
disfunções sexuais, desde o pré-operatório, aspecto ainda
pouco explorado.
Considerando os relatos de difi culdades e
constrangimentos ao se expor, assim como a perda da
libido ocorrida em decorrência da presença de um estoma,
os mesmos referem difi culdades em se despir na frente do
companheiro por mudança na imagem corporal e medo de
rejeição. Por sua vez, o companheiro tem medo de tocar
o local do estoma achando que pode machucar. Esses
dados indicam a necessidade de profi ssionais treinados
e preparados para orientar e divulgar informações
relacionadas à sexualidade nos encontros com grupos de
estomizados7,10. Nessas ocasiões, os estomizados devem
refl etir e expressar suas experiências, já que cada um se
adapta de maneira diferente e, desse modo, auxilia aquele
que possui mais difi culdades2,11,20-23.
Relacionado ao convívio social e a aceitação do
estomizado, 55% dos sujeitos sentem pouca difi culdade
em olhar para o estoma. Quanto ao futuro, 75% sentem-
se otimistas. O fato de ter uma estomia trouxe mudanças
positivas na vida, referido por 70% dos participantes,
concretizado por relatos de que se não fosse o estoma
eles não estariam mais aqui; apenas 20% consideram
que o estoma acarretou poucas mudanças positivas, com
queixas de não se adaptarem à nova situação de vida.
Observa-se que o convívio social, a autoestima,
o autocuidado e a sexualidade estão todos em um
contexto entrelaçado, evidenciando neste estudo que os
estomizados que aceitaram sua condição foram os mesmos
que melhor se adaptaram. Ressalta-se a importância do
preparo do enfermeiro para assistir ao estomizado frente
às difi culdades relacionadas, principalmente à autoestima
e ao convívio social, cabendo a este profi ssional planejar e
implementar intervenções de enfermagem que promovam
um cuidado sistematizado, assim como compor equipes
multidisciplinares voltadas para as necessidades desta
clientela2,7,9,24.
CONCLUSÃO
Este estudo, embora desenvolvido por meio de uma
amostra pequena, possibilitou identifi car que o estomizado
intestinal é capaz de (re)signifi car seu viver, adaptar-se
às mudanças vivenciadas nos aspectos do autocuidado,
aceitação, convívio social e sexualidade, porém necessita
ser auxiliado.
A aceitação da nova condição de vida como
estomizado dos clientes entrevistados destaca-se como
um dos principais fatores, pois a não aceitação pode
concorrer para o atraso na retomada das atividades de
vida diárias e na adaptação para o autocuidado.
A atuação de uma equipe multidisciplinar competente
para a realização de uma abordagem individual junto
aos clientes e de seus familiares no período pré e pós-
confecção de uma estomia, estimula o autocuidado, reduz
as complicações e contribui para a melhoria da qualidade
de vida. Destaca-se a participação em grupo de apoio a
clientes estomizados como uma prática fundamental no
processo de adaptação e aceitação.
Nesse contexto, o uso das taxonomias, NIC e NOC
consolidam-se como efi cazes para avaliação do estomizado
intestinal, uma vez que contemplam os aspectos do
convívio social, sexualidade, aceitação e autocuidado.
Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação153 -159
2018 jul.- dez.; 12(2): 159
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Envio: 25/04/2018 Aceite: 28/07/2018
Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação 153 -159
160 2018 jul.- dez.; 12(2): Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil
TENDÊNCIAS DE MORTALIDADE POR CÂNCER SEGUNDO A DIRETORIA REGIONAL DE SAÚDE XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASIL
TRENDS OF MORTALITY BY CANCER ACCORDING TO THE REGIONAL DIRECTORATE OF HEALTH XV OF SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRAZIL
TENDENCIAS DE MORTALIDAD POR CÁNCER SEGÚN LA DELEGACIÓN REGIONAL DE SALUD XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASIL
*Enfermeiras. Docentes do Programa de Integração Comunitária, Faculdade de Medicina Ceres (FACERES), São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. **Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Oncologia do Hospital de Câncer de Barretos – Fundação Pio XII e Docente do Programa de Integração Comunitária do curso de Medicina da FACERES, São José do Rio Preto. Registro de Câncer de Base Populacional de Barretos, Barretos, São Paulo, Brasil. Contato: [email protected]
ResumoIntrodução: Pesquisas sobre as taxas de mortalidade dos diferentes tipos de cânceres são elementos-chave para o alcance da meta de redução. Objetivo: Avaliar a tendência da mortalidade por câncer na região de São José do Rio Preto (DRS-XV) no período de 2000 a 2015. Material e Método: Estudo populacional de séries temporais. As referências de população dos municípios pertencentes à DRS-XV bem como as respectivas estimativas intercensitárias foram obtidas no sítio eletrônico do DATASUS e as informações sobre a mortalidade obtidas de dados ofi ciais do Ministério da Saúde. Os coefi cientes de mortalidade para cada 100 mil habitantes ajustados pela população mundial ao longo do tempo, por sexo, variação anual percentual média (AAPC) e intervalo de confi ança de 95% foram analisados para os tumores mais incidentes no Brasil, segundo as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Resultados: Observou-se uma redução signifi cativa dos coefi cientes de mortalidade por câncer de estômago, na ordem de -4,0% ao ano (IC 95%: -6,0 a -2,0). Também, aumento signifi cativo dos coefi cientes de mortalidade por câncer colorretal e cavidade oral, de 2,4% (IC 95%: 0,1 a 4,7) e 3,2 (IC 95%: 0,6 a 5,9) ao ano, respectivamente. Para os tumores de próstata e pulmão as tendências de mortalidade se mostraram estáveis, bem como para todos os tumores entre as mulheres quando se avaliaram as tendências de mortalidade. Conclusão: A mortalidade por câncer de estômago está reduzindo, enquanto por câncer colorretal e cavidade oral está aumentando na população masculina. Todos os tumores avaliados na população feminina não demonstraram mudanças na mortalidade no período estudado.
Palavras-chave: Doenças não transmissíveis. Neoplasias. Mortalidade. Prevenção de doenças. Saúde pública. Enfermagem.
AbstractIntroduction: Studies presenting mortality rates for selected cancers are key elements in achieving the reduction target on in-hospital mortality. Objective: To evaluate cancer mortality trends by different neoplasms in the region of São José do Rio Preto (DRS-XV) from 2000 to 2015. Material and Methods: We carried out a time series analysis from 2000 to 2015. The population references of the municipalities belonging to the Regional Department of Health (DRS) XV region of São José do Rio Preto, São Paulo State, Brazil, as well as the estimate temporal census data were obtained from the DATASUS electronic website. Offi cial data on mortality information were retrieved from the Ministry of Health database. We analyzed the world population-based mortality coeffi cients for each 100,000 in habitants over time, by sex; average annual percent change (AAPC), and 95% confi dence interval. These coeffi cients were analyzed for the most incident cancers in Brazil, according to the Brazilian National Cancer Institute - INCA estimates. We observed an expressive reduction of the mortality coeffi cients for gastric cancer of -4.0% per year (95% CI: -6.0 to -2.0). Also, we noted a signifi cant increase in mortality coeffi cients for colorectal and oral cavity cancers from 2.4% (95% CI: 0.1 to 4.7) and 3.2 (95% CI: 0.6 to 5.9) per year, respectively. Prostate cancer and lung cancer mortality trends remained stable. Mortality rates for all cancers among females remained stable over the years. Conclusion: Gastric cancer mortality is decreasing, while colorectal cancer and oral cancer are increasing among males. All cancers evaluated in the female population did not show changes in mortality in the period studied.
Keywords: Noncommunicable diseases. Neoplasms. Mortality. Disease prevention. Public health. Nursing.
ResumenIntroducción: Las investigaciones sobre las tasas de mortalidad de los diferentes tipos de cáncer son elementos clave para el alcance de la meta de reducción. Objetivo: Evaluar la tendencia de la mortalidad por cáncer en la región de São José do Rio Preto (DRS-XV) en el período de 2000 a 2015. Material y Método: Estudio poblacional de series temporales. Las referencias de población de los municipios pertenecientes a la DRS-XV así como las respectivas estimaciones intercensitarias fueron obtenidas en el sitio electrónico de DATASUS y las informaciones sobre la mortalidad obtenidas de datos ofi ciales del Ministerio de Salud. Los coefi cientes de mortalidad por cada 100 mil habitantes ajustados por la población mundial a lo largo del tiempo, por sexo, variación anual porcentual media (AAPC) y intervalo de confi anza del 95% fueron analizados para los tumores más incidentes en Brasil, según las estimaciones del Instituto Nacional de Cáncer (INCA). Resultados: Se observó una reducción signifi cativa de los coefi cientes de mortalidad por cáncer de estómago, en el orden del -4,0% al año (IC 95%: -6,0 a -2,0). También, un aumento signifi cativo de los coefi cientes de mortalidad por cáncer colorrectal y cavidad oral, del 2,4% (IC 95%: 0,1 a 4,7) y 3,2 (IC 95%: 0,6 a 5,9) al año, respectivamente. Para los tumores de próstata y pulmón las tendencias de mortalidad se mostraron estables, así como para todos los tumores entre las mujeres cuando se evaluaron las tendencias de mortalidad. Conclusión: La mortalidad por cáncer de estómago está reduciendo, mientras que por cáncer colorrectal y cavidad oral está aumentando en la población masculina. Todos los tumores evaluados en la población femenina no mostraron cambios en la mortalidad en el período estudiado.
Palabras clave: Enfermedades no transmisibles. Neoplasias. Mortalidad. Prevención de enfermedades. Salud pública. Enfermería.
Renata Prado Bereta Vilela*, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice*, Márcia Ayres Alves*, Janaina Benatti de Almeida*, Karina Rumi de Moura*, Andiara Judith Arruda*, Fernanda Luciana Calegari*, Allini Mafra da Costa**
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2018 jul.- dez.; 12(2): 161Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) concebe
que mais de 70% de todas as mortes por câncer ocorrem
em países de baixa e média renda, onde os recursos
disponíveis para prevenção, diagnóstico e tratamento são
limitados ou inexistentes1.
Estudos que revelem a tendência da mortalidade
por câncer em países em desenvolvimento são escassos.
Contudo, as taxas de mortalidade e morbidade permanecem
elevadas, causando impacto sobre a qualidade de vida e o
custo de tratamento dos pacientes com esta patologia2-4.
O câncer pode afetar o indivíduo em todas as
dimensões: física, psicoemocional e sócioespiritual,
podendo ocasionar sérias mudanças e consequente
impacto na qualidade de vida dos pacientes. Entender
as principais causas de mortalidade pode auxiliar na
escolha do tratamento, melhor organização e qualidade
do cuidado, principalmente quanto à identifi cação de
aspectos de impacto que ajudem na decisão da efi cácia
do tratamento. O conhecimento das principais causas
de óbitos por câncer no Brasil permite que as diferentes
esferas de governo estabeleçam prioridades e aloquem
recursos de forma direcionada para o enfrentamento do
problema1,2,5.
Pesquisas que apontam dados fi dedignos sobre as
reais taxas de mortalidade acerca dos diferentes tipos
de cânceres são elementos-chave para o progresso no
alcance da meta de redução da mortalidade por câncer6.
OBJETIVO
Avaliar a tendência da mortalidade por câncer na
região de São José do Rio Preto (DRS-XV) no período de
2000 a 2015.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo populacional de séries
temporais, realizado na região do Departamento Regional
de Saúde de São José do Rio Preto (DRS-XV), composta
por 102 municípios (Adolfo, Álvares Florence, Américo
de Campos, Aparecida D'Oeste, Ariranha, Aspásia, Bady
Bassit, Bálsamo, Cardoso, Catanduva, Catiguá, Cedral,
Cosmorama, Dirce Reis, Dolcinópolis, Elisiário, Embaúba,
Estrela D'Oeste, Fernandópolis, Fernando Prestes,
Floreal, Gastão Vidigal, General Salgado, Guapiaçu,
Guarani D'Oeste, Ibirá, Icém, Indiaporã, Ipiguá, Irapuã,
Itajobi, Jaci, Jales, José Bonifácio, Macaubal, Macedônia,
Magda, Marapoama, Marinópolis, Mendonça, Meridiano,
Mesópolis, Mira Estrela, Mirassol, Mirassolândia, Monções,
Monte Aprazível, Neves Paulista, Nhandeara, Nipoã, Nova
Aliança, Nova Canaã Paulista, Nova Granada, Novais, Novo
Horizonte, Onda Verde, Orindiúva, Ouroeste, Palestina,
Palmares Paulista, Palmeira D'Oeste, Paraíso, Paranapuã,
Parisi, Paulo de Faria, Pedranópolis, Pindorama, Pirangi,
Planalto, Poloni, Pontalinda, Pontes Gestal, Populina,
Potirendaba, Riolândia, Rubineia, Sales, Santa Adélia,
Santa Albertina, Santa Clara D'Oeste, Santa Fé do Sul,
Santa Rita D'Oeste, Santa Salete, Santana da Ponte Pensa,
São Francisco, São João das Duas Pontes, São João de
Iracema, São José do Rio Preto, Sebastianópolis do Sul,
Tabapuã, Tanabi, Três Fronteiras, Turmalina, Ubarana,
Uchoa, União Paulista, Urânia, Urupês, Valentim Gentil,
Vitória Brasil, Votuporanga, Zacarias). Juntos, estes
municípios formam uma população de aproximadamente
1.602.845 habitantes7.
As referências de população dos 102 municípios
pertencentes à DRS-XV baseadas na distribuição de idade
em grupos de 5 em 5 anos, por sexo, dos censos de 2000 e
2010, bem como as respectivas estimativas intercensitárias
foram obtidas no sítio eletrônico do DATASUS, fornecidas
pelo IBGE, em “Informações de saúde”, módulo TABNET,
na opção “Demográfi cas e socioeconômicas” seguida de
“Censos (1980, 1991, 2000 e 2010), Contagem (1996) e
projeções intercensitárias (1981 a 2012), segundo faixa
etária, sexo e situação de domicílio”, através da página
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/
popsp.def. Como o último ano disponível no DATASUS é
o ano de 2012, os dados foram replicados para o período
2013-2015.
Os tumores selecionados para análise deste estudo
basearam-se nos tumores mais frequentes estimados para
o biênio 2018/2019 pelo Ministério da Saúde, através do
Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o Brasil, sendo
Próstata (C61), Traqueia, Brônquios e Pulmões (C33034),
Colorretal (C18020), Estômago (C16) e Cavidade Oral
(C02006) para homens; e Mama (C50), Colorretal
(C33034), Colo do útero (C53), Traqueia, Brônquios e
Pulmões (C33034) e Tireoide (C73) para as mulheres2.
As informações a respeito da mortalidade foram
obtidas de dados ofi ciais do Ministério da Saúde em
que a fonte é o Sistema de Informação de Mortalidade
160 -166
162 2018 jul.- dez.; 12(2): Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil
(SIM), através do acesso ao sítio do Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS),
em “Informações de Saúde”, módulo TABNET, na opção
“Estatísticas Vitais”, grupo “Mortalidade – 1996 a 2015,
pela CID010” e “Mortalidade geral”, através da página
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/
obt10sp.def. Na linha, foi selecionada a opção “Ano do
óbito”, na coluna a opção “Faixa etária det” e no conteúdo
“Óbitos p/ Residência”. Em “Períodos disponíveis” foram
selecionados os anos entre 2000 e 2014, no item “Região
de Saúde (CIR)” foi realizado o fi ltro para “São José
do Rio Preto” sendo utilizado o campo “Categoria CID-
10” como fi ltro para os tumores selecionados. Todos os
dados obtidos através das consultas foram arquivados no
formato “csv” (comma separated value).
Os casos incidentes e as mortes foram distribuídos
por grupos etários de 5 em 5 anos.
O coefi ciente padronizado pela idade foi calculado
para reduzir os efeitos das estruturas etárias entre as
populações, fossem elas locais em diferentes períodos, ou
de diferentes regiões. Dessa forma, os dados levantados
a partir deste estudo poderão ser comparados com
estudos realizados em diferentes partes do mundo. O
cálculo foi realizado utilizando-se o método direto, tendo a
população mundial como padrão e sendo ela empregada
com um sistema de pesos para serem calculadas as taxas
ponderadas8-10.
Os dados foram armazenados no formato “csv” o
que permitiu o gerenciamento versátil quando utilizado
o Microsoft Excel 2013 (Microsoft Corporation 2013).
A variação percentual média anual (Average Annual
Percentage Change - AAPC) das taxas de mortalidade
determinadas utilizando-se o software Join Point
Regression 4.5.0.1 (Junho 2017; Statistical Methodology
and Applications Branch, Surveillance Research Program,
National Cancer Institute, EUA). Para testar a signifi cância
do programa foi utilizado o método de permutações de
Monte Carlo, havendo, assim, melhor ajuste para cada
segmento de reta e determinação da AAPC de cada taxa
utilizando-se o logaritmo natural das taxas, através das
fórmulas, y=mx+b, sendo y=In(taxa) e x=ano civil
então APC=100x(em -1) 11. A AAPC é usada assim como
estimativa da tendência, sendo o ano civil a variável de
regressão. Para descrever a tendência linear por período,
foram computados os dados referentes aos AAPC e os
respectivos intervalos de confi ança de 95% (IC 95%) para
cada uma de suas tendências.
Trata-se de um estudo retrospectivo. Portanto,
trouxe riscos mínimos aos participantes envolvidos. Da
mesma forma, também não trouxe benefícios diretos
aos participantes, porém, estudos baseados em dados
secundários de mortalidade poderão fornecer subsídios
para a vigilância do câncer em uma determinada região
geográfi ca, permitindo assim um maior monitoramento
de mortes por câncer, além de auxiliar nas mudanças de
estratégias de políticas de saúde. Considerando-se que
os dados foram obtidos do banco de dados disponível na
internet (DATASUS), seguiram os preceitos da Resolução
nº 510 de 07 de abril de 2016, com parecer do Comitê de
Ética em Pesquisa nº. 1590/2018.
RESULTADOS
Entre 2000 e 2015 na população pertencente a DRS-
XV de São José do Rio Preto, foram reportados entre os
homens 707 óbitos por câncer de próstata, 992 óbitos por
câncer de pulmão, 529 óbitos por câncer colorretal, 553
óbitos por câncer de estômago e 150 óbitos por câncer da
cavidade oral; e entre as mulheres 706 óbitos por câncer
de mama, 505 óbitos por câncer colorretal, 219 óbitos por
câncer de colo uterino, 497 óbitos por câncer de pulmão e
33 óbitos por câncer de tireoide.
Quanto às características sociodemográfi cas da
população de homens e mulheres na DRS-XV de São
José do Rio Preto, referente à idade, os dados avaliados
consideram a faixa etária no momento do óbito, 24
(3,4%) homens com menos de 60 anos tiveram câncer de
próstata e 217 (21,9%) homens com menos de 60 anos,
câncer de pulmão; já dentre os homens acima de 60 anos,
85 (56%) tinham câncer de cavidade oral e 775 (78,1)
câncer de pulmão. Quanto às mulheres, 10 (30,3%) das
que tinham menos de 60 anos tinham câncer de tireoide
e a maioria, predominantemente, 226 (32,5%), câncer de
mama. Enquanto entre as mulheres com mais de 60 anos,
23 (69,7%) delas tiveram câncer de tireoide e a maioria,
470 (67,5%), câncer de mama.
Referente à escolaridade, da população masculina
com câncer, 73 (11,9%) não tinham nenhuma escolaridade,
207 (33,5%) tinham 1-3 anos de escolaridade, 187 (30,3%)
de 4-7 anos, 99 (16%) de 8-11 anos de escolaridade.
Porém, a maioria dos homens, 51 (15,1%), com mais de
160 -166
2018 jul.- dez.; 12(2): 163Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil
12 anos de escolaridade tiveram câncer colorretal. Em
relação às mulheres, 52 (17%) com câncer de pulmão
não tinham nenhuma escolaridade, 123 (27,1%) tinham
de 1-3 anos de escolaridade, 138 (30,4%) de 4-7 anos
de escolaridade, 77 (30,4%) 8-11 anos de escolaridade,
e para aquelas com mais de 12 anos de escolaridade, 65
(14,3%), também predominou o câncer de mama.
Em relação ao estado civil e diagnosticados com
câncer de pulmão, a maioria dos homens era solteiro 129
(13,2%), casados 612 (62,9%) e divorciados 91 (9,3%),
enquanto o câncer de próstata predominou nos homens
viúvos 179 (25,5%). Em comparação com as mulheres, o
câncer de mama foi prevalente nas solteiras 119 (17,1%),
casadas 312 (44,8%) e divorciadas 83 (11,9%), havendo
entre as viúvas, predomínio de câncer colorretal 191
(38,1%).
Alguns tipos de câncer são prevalentes em
determinadas raças. Quanto às raças, 910 (92,7%)
homens registrados como sendo da raça branca tinham
câncer de pulmão e 50 (7,1%) dos homens negros, câncer
de próstata, apenas 8 (1,5%) de pessoas da raça amarela
tinham câncer de estômago, 56 (8%) dos homens pardos
câncer de próstata e não houve homens da raça indígena
acometidos pelas variáveis patológicas do câncer. No sexo
feminino, o câncer de mama foi o mais prevalente entre
todas as raças, não havendo nenhuma mulher da raça
indígena acometida por câncer.
Quanto aos locais de ocorrência do óbito, tem-se
que no hospital 853 (86%) e outro estabelecimento de
saúde 34 (3,4%) a maior causa de óbito foi câncer de
pulmão nos homens; já em domicílio, 106 (15%) óbitos de
homens com câncer de próstata. Entre as mulheres, 621
(88%) foram a óbito em hospital, com câncer de mama,
12 (1,7%) mulheres com câncer de mama foram a óbito
em outro estabelecimento de saúde, 67 (9,5 %) óbitos de
mulheres com câncer de mama em domicílio e nenhum
óbito de mulheres em via pública.
Os coefi cientes de mortalidade na DRS-XV (São José
do Rio Preto) para cada 100 mil habitantes ajustados pela
população mundial ao longo do tempo, por sexo, variação
anual média percentual (AAPC) e intervalo de confi ança de
95% foram analisados para os tumores mais incidentes no
Brasil, segundo as estimativas do INCA, e estão disponíveis
nas Tabelas 1 e 2.
Com relação à mortalidade por câncer na população
masculina, observou-se coefi ciente médio de 11,61
mortes por câncer de próstata, 17,76 mortes por câncer
de pulmão, 9,02 mortes por câncer colorretal, 9,96
mortes por câncer de estômago e 2,75 mortes por câncer
de cavidade oral para cada 100 mil homens. Redução
signifi cativa dos coefi cientes de mortalidade por câncer
de estômago foi observada, de -4,0% ao ano (IC 95%:
-6,0 a -2,0). Aumento signifi cativo dos coefi cientes de
mortalidade por câncer colorretal e cavidade oral foram
observados, de 2,4% (IC 95%: 0,1 a 4,7) e 3,2 (IC 95%:
0,6 a 5,9) ao ano, respectivamente. Para os tumores
de próstata e pulmão as tendências de mortalidade se
mostraram estáveis.
Com relação à mortalidade por câncer na população
feminina, observou-se coefi ciente médio de 10,78 mortes
por câncer de mama, 7,05 mortes por câncer colorretal,
3,13 mortes por câncer do colo uterino, 7,13 mortes por
câncer de pulmão e 0,41 mortes por câncer de tireoide
para cada 100 mil mulheres. Para todos os tumores
avaliados entre as mulheres as tendências de mortalidade
se mostraram estáveis.
Tabela 1- Coefi cientes de Mortalidade por câncer ajustados pela população mundial para cada 100.000 homens, DRS-XV, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, anos 2000-2015
Homens
Ano Próstata Pulmão Colorretal Estômago Cavidade Oral
2000 11,11 19,83 5,79 12,02 1,82
2001 15,31 18,97 7,38 12,58 2,12
2002 11,49 20,63 8,05 13,19 2,13
2003 13,00 18,85 10,16 12,51 3,11
2004 14,61 22,41 7,37 16,09 1,80
2005 12,85 18,19 10,99 11,20 3,27
2006 13,05 18,54 8,06 5,84 3,11
2007 10,03 17,24 9,21 9,99 3,07
2008 5,89 18,15 11,55 7,54 2,32
2009 9,08 14,50 7,52 9,30 2,42
2010 12,94 12,94 8,87 8,00 2,35
2011 14,52 14,88 8,66 8,40 2,18
2012 7,87 13,72 7,03 8,63 3,86
2013 10,72 19,30 9,30 8,41 3,05
2014 12,04 17,38 11,34 8,26 4,18
2015 11,31 18,63 13,13 7,54 3,24
Média 11,61 17,76 9,02 9,96 2,75
AAPC -1,2 -1,4 2,4^ -4,0^ 3,2^
(IC 95%) (-3,7 a 1,3) (-2,9 a 0,2) (0,1 a 4,7) (-6,0 a -2,0) (0,6 a 5,9)
AAPC: do inglês Average Annual Percentage Change, Variação Percentual Média AnualIC 95%: Intervalo de confi ança de (95%)^: Estatisticamente signifi cativo
160 -166
164 2018 jul.- dez.; 12(2): Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil
Tabela 2 - Coefi cientes de Mortalidade por câncer ajustados pela po-pulação mundial para cada 100.000 mulheres, DRS-XV, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, anos 2000-2015
Mulheres
Ano Mama Colorretal Colo do útero
Pulmão Tireoide
2000 9,81 7,18 2,49 5,76 0,00
2001 10,43 6,21 3,75 7,27 0,00
2002 14,84 9,67 3,88 5,63 0,64
2003 7,89 7,35 3,55 8,05 0,40
2004 16,97 6,49 3,18 5,82 0,64
2005 11,07 12,44 2,26 7,03 0,26
2006 11,54 5,65 3,88 8,52 0,73
2007 7,70 7,49 3,68 7,27 0,78
2008 11,20 4,98 3,30 6,29 0,36
2009 7,48 6,87 4,85 6,68 0,25
2010 11,38 6,05 3,16 7,84 0,27
2011 10,24 7,09 2,43 6,02 0,35
2012 11,52 5,62 2,57 6,78 0,43
2013 11,23 5,45 1,74 9,24 0,24
2014 10,30 6,30 2,43 6,72 0,36
2015 8,91 7,99 3,05 9,23 0,97
Média 10,78 7,05 3,13 7,13 0,41
AAPC -1,3 -1,7 -2,1 1,5 0,1
(IC 95%) (-3,8 a 1,3) (-4,5 a 1,1) (-5,1 a 1,0) (-0,3 a 3,4) (-6,8 a 7,4)
AAPC: do inglês Average Annual Percentage Change, Variação Percentual Média AnualIC 95%:Intervalo de confi ança de (95%)^: Estatisticamente signifi cativo.
DISCUSSÃO
Os dados utilizados neste estudo, originados do
DATASUS, registrados no período de 2000 a 2015,
demonstraram que em todos os tipos de câncer a
mortalidade é maior em pessoas de 60 anos ou mais.
Estes dados corroboram com o crescimento acelerado da
população de idosos e diminuição das taxas de natalidade,
resultado da transição demográfi ca atual, aumentando o
número de doenças crônicas, incluindo as neoplasias e
suas consequências12.
As maiores taxas de mortalidade por todos os tipos
de câncer estão compreendidas entre as populações
com menor nível de escolaridade (entre zero e sete anos
de estudo), corroborando com os dados de um estudo
de coorte realizado na cidade de São Paulo entre 1994
a 199513, onde pacientes com 12 anos ou mais anos de
estudo apresentavam menor mortalidade pela doença e
diagnóstico mais precoce. Outro estudo sugere que uma
maior escolaridade está associada ao maior conhecimento
sobre saúde, com destaque à prevenção e diagnóstico
precoce da doença14.
Nos homens, o câncer colorretal e de cavidade oral
apresentaram aumento nos coefi cientes de mortalidade,
enquanto que o tumor de estômago apresentou diminuição
nos coefi cientes de mortalidade ao longo do tempo.
Os tumores de próstata e pulmão não apresentaram
mudanças em suas tendências, enquanto as neoplasias
já representam a segunda causa de morte na maioria dos
países. Projeta-se que em breve, os cânceres ultrapassarão
as doenças cardiovasculares. A tendência de declínio das
taxas de neoplasias nos Estados Unidos ocorreu após os
anos 1990. No Brasil, esse foi o grupo de doenças crônicas
com menor declínio. No entanto, as tendências são
distintas, segundo o tipo de câncer, idade e sexo15.
Nos homens, as taxas de mortalidade por câncer
de próstata e colorretal estão aumentando, o que, no
caso das taxas de câncer de próstata, este estudo aponta
estabilidade e não o aumento. Já as de câncer de estômago
e de pulmão diminuem parcialmente de forma semelhante,
como pode ser observado no presente estudo16.
Homens com câncer de próstata, em geral,
apresentam faixas etárias mais elevadas no momento
do óbito, como o ocorrido no presente estudo, e a
não diminuição da tendência de mortalidade pode ser
justifi cada pela baixa procura dos homens pelos serviços
de saúde e também pelo preconceito cultural em relação à
tecnica de diagnóstico precoce deste tipo de neoplasia16,17.
Na população feminina as tendências dos tumores
avaliados mostraram-se estáveis. Ao contrário do estudo
de Malta et al.15, em que as taxas de mortalidade por
câncer de mama, de pulmão e colorretal aumentaram,
enquanto as de câncer do colo do útero diminuíram.
A detecção precoce do câncer do colo do útero
consiste na realização sistemática de exame para
identifi car alterações no colo do útero em uma população
assintomática. Serviços de prevenção e detecção precoce
podem ser prestados de forma organizada ou conveniente
(ou seja, aproveitando-se o atendimento da mulher
no serviço de saúde por outra fi nalidade) ou de forma
combinada. Em geral, acredita-se que o custo-benefício
seja melhor com a prevenção/detecção precoce de forma
organizada que a de forma conveniente, pois há melhor
uso dos recursos e assegura-se que um maior número de
mulheres seja benefi ciado18.
O efeito do rastreamento na redução da mortalidade
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2018 jul.- dez.; 12(2): 165por câncer de mama é menor do que o que acontece com
o câncer de colo do útero. Estudos recentes indicam que
o impacto da mamografi a de rastreamento na mortalidade
é inferior ao que se esperava e a grande redução da
mortalidade em países ricos vem sendo atribuída aos
avanços terapêuticos recentes19,20.
No presente estudo, observou-se que o índice de
mortalidade por câncer de pulmão é o mais frequente
entre os homens e o terceiro entre as mulheres. Pesquisa
que analisou este tipo de neoplasia em seis países distintos
– Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Reino Unido e
Japão, relacionaram-no diretamente ao tabagismo, com
padrões históricos distintos, que podem explicar, em
grande parte, as diferenças encontradas nos resultados
entre os estudos21. Em São Paulo, embora atualmente
a prevalência de tabagismo seja maior nas classes mais
pobres, o risco de morte por câncer de pulmão é maior
nas classes consideradas mais ricas. É provável que isso
se explique por uma maior prevalência de tabagismo em
décadas passadas em pessoas das classes mais abastadas
e que serão necessárias algumas décadas para se inverter
a distribuição desse câncer em desfavor das classes
socialmente desprivilegiadas21.
O INCA publicou em 2017 a estimativa para os tipos
de câncer mais incidentes no Brasil para o ano de 20182.
Tais dados referem que nos homens o câncer de próstata
ocupa o primeiro lugar do ranking, seguido pelo câncer
de traqueia, brônquio e pulmão, colorretal, estômago e
cavidade oral. Já nas mulheres encontra-se com mais alta
incidência o câncer de mama, seguido pelo câncer de
cólon e reto, colo de útero, traqueia, brônquio e pulmão e,
após, glândula tireoide.
Todavia, neste estudo, as tendências de mortalidade
na região DRS-XV em homens, em primeiro lugar está
o câncer de pulmão, seguido pelo câncer de próstata,
colorretal, estômago e cavidade oral. Nas mulheres, em
primeiro lugar encontramos o câncer de mama, seguido
pelo colorretal, pulmão, colo do útero e, por fi m, glândula
tireoide.
O grande desafi o do Sistema Único de Saúde (SUS)
encontra-se na elaboração e aplicação de políticas de
controle, vigilância e monitoramento focadas na prevenção
e atenção aos indivíduos ou portadores dessas doenças em
todas as regiões, porque a carga de morbidade e o curso
prolongado dessas doenças requerem uma abordagem
longitudinal e integral. Além disso, é necessário atuar sobre
os condicionantes e determinantes de saúde, articulando
ações mais efetivas do Estado no sentido de minimizar as
desigualdades, bem como coordenar ações intra e inter
setoriais, operando um cuidado integral das Doenças
Crônicas não Transmissíveis (DCNT) e seus fatores de
risco. Entre as ações de promoção da saúde, torna-se
importante reforçar políticas públicas que promovam
hábitos saudáveis, como alimentação de boa qualidade,
utilização de espaços públicos destinados à atividade física,
ambientes livres de fumo, regulamentação da propaganda
do álcool, dentre outras. Ademais, mostra-se fundamental
reduzir as iniquidades em saúde, garantindo acesso a
essas tecnologias para toda a população, especialmente
para os grupos mais vulneráveis22,23.
CONCLUSÃO
Os dados obtidos neste estudo evidenciam que
a mortalidade por câncer de estômago está reduzindo,
enquanto a mortalidade por câncer colorretal e cavidade
oral está aumentando na população masculina na
regional de saúde de São José do Rio Preto. Os demais
tumores avaliados na população masculina e todos os
demais tumores avaliados na população feminina não
demonstraram mudanças na mortalidade no período
estudado. Dessa forma, esse estudo pode servir como
uma importante ferramenta para nortear a tomada de
decisão relacionada à prevenção de câncer, uma vez que
os dados apontam para a caracterização dos óbitos pela
patologia, identifi cando os principais grupos de risco.
Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil 160 -166
166 2018 jul.- dez.; 12(2):
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Envio: 15/05/2018 Aceite: 23/07/2018
Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil160 -166
2018 jul.- dez.; 12(2): 167
PREVENÇÃO GINECOLÓGICA: PERCEPÇÃO DO AUTOCUIDADO DE TRABALHADORAS DE UMA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLÁVEL
GYNECOLOGICAL PREVENTION: PERCEPTION OF SELF-CARE OF WORKERS FROM A COOPERATIVE OF RECYCLABLE MATERIAL
PREVENCIÓN GINECOLÓGICA: PERCEPCIÓN DEL AUTOCUIDADO DE TRABAJADORES DE UNA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLABLE
* Graduada em Farmácia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Discente de Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Contato: [email protected]**Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora Assistente da Universidade Federal do Acre (UFAC). Contato: [email protected]***Mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Docente da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Contato: [email protected]****Mestre em Microbiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG). Docente da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Contato: [email protected]
ResumoIntrodução: As mulheres separadoras de materiais recicláveis, diante da condição de pobreza e exclusão e perante a difi culdade no acesso aos serviços de saúde, estão sujeitas à vulnerabilidade social. Por esse motivo, apresentam difi culdade em mobilizar-se para execução do autocuidado em prevenção ginecológica. Objetivo: Descrever a percepção sobre o autocuidado, relacionada à prevenção ginecológica em trabalhadoras de uma cooperativa de separação de material reciclável, no município de Vitória-ES. Material e Método: Trata-se de uma pesquisa descritiva qualitativa, desenvolvida em Vitória-ES, tendo como cenário a Associação dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória (AMARIV). Dez mulheres trabalhadoras da associação participaram do estudo. Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada para coleta de dados, os quais foram tratados por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin. Resultados: Evidenciou-se o processo de formação das categorias de estudo: a necessidade de maior atenção ao autocuidado, relacionada à prevenção ginecológica; a necessidade de aprimoramento da qualidade da consulta médica e, por fi m, difi culdades e equívocos associados à falta de orientação médica e às barreiras do sistema de saúde. Conclusões: As evidências demostraram que o processo do autocuidado relacionado à prevenção ginecológica entre as mulheres estudadas é defi ciente, mostrando que falta educação em saúde nos serviços. Dessa forma, julga-se necessário maior efetividade dos serviços públicos em relação à prevenção e educação em saúde, por meio dos programas já estabelecidos na área de saúde da mulher.
Palavras-chave: Autocuidado. Saúde da mulher. Assistência à saúde. Vulnerabilidade social.
AbstractIntroduction: Women separators of recyclable materials, faced with the condition of poverty and exclusion and due to the diffi culty in accessing health services, are subject to social vulnerability. Therefore, they have diffi culty in mobilizing themselves for the execution of self-care in gynecological prevention. Objective: To describe the perception about self-care related to gynecological prevention in workers of a cooperative of separation of recyclable material, in the city of Vitoria/ES. Method: This is a qualitative descriptive study, developed in Vitoria/ES, based on the Association of Recyclable Waste Pickers on the Island of Vitoria (AMARIV). Ten women workers from the association participated to the study. A semi-structured interview script was used for data collection, which were treated using the Bardin content analysis technique. Results: The study categories formations were evidenced: the need for greater attention to self-care related to gynecological prevention, the need to improve the medical consultation quality, and, fi nally, the diffi culties and misunderstandings associated with the lack of medical guidance and barriers of the health system. Conclusions: Evidence has shown that the process of self-care related to gynecological prevention among the women studied is defi cient, showing lack of health education in services. Thus, it is considered necessary to increase the effectiveness of public services in relation to prevention and health education, through established programs in the area of women's health.
Keywords: Self-care. Women's health. Delivery of health care. Social vulnerability.
ResumenIntroducción: Las mujeres separadoras de material reciclable, ante la condición de pobreza y exclusión y la difi cultad en el acceso a los servicios de salud, están sujetas a la vulnerabilidad social. Por ese motivo, presentan difi cultad en movilizarse para la ejecución del autocuidado en prevención ginecológica. Objetivo: Describir la percepción sobre el autocuidado relacionada a la prevención ginecológica en trabajadoras de una cooperativa de separación de material reciclable, en Vitória-ES. Método: Investigación descriptiva cualitativa, desarrollada en Vitória/ES, en la Asociación de los Recolectores y Recolectores de Materiales Reciclables de la Isla de Vitória (AMARIV). Diez mujeres trabajadoras de la asociación participaron. Se utilizó de una entrevista semiestructurada para la recolección de datos, los cuales fueron tratados por la técnica de análisis de contenido de Bardin. Resultados: Se evidenció el proceso de formación de las categorías de estudio: la necesidad de mayor atención al autocuidado relacionada a la prevención ginecológica, la necesidad de perfeccionamiento de la calidad de la consulta médica, y por último, a difi cultades y equívocos asociados a la falta de orientación médica y las barreras del sistema de salud. Conclusiones: Las evidencias demostraron que el proceso del autocuidado relacionado a la prevención ginecológica entre las mujeres estudiadas es defi ciente, mostrando que falta educación en salud en los servicios. Se considera necesaria una mayor efectividad de los servicios públicos en relación a la prevención y educación en salud, a través de los programas ya establecidos en el área de salud de la mujer.
Palabras clave: Autocuidado. Salud de la mujer. Prestación de atención de salud. Vulnerabilidad social.
Larissa Longui Dias*, Jaçamar Alderona dos Santos**, Francine Alves Gratival Raposo***, Norma Lucia Santos Raymundo****
Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável 167-174
168 2018 jul.- dez.; 12(2): Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável
INTRODUÇÃO
A população feminina com menor suporte fi nanceiro
passa por diversas barreiras sociais para sobreviver e
proporcionar o mínimo para a si e sua família1. Diante
dessa realidade, movimentos internacionais, tais como o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em
2005, e a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, ocorrida
em Beijing, no ano de 1995, defendem a ideia de que
uma parcela crescente das pessoas com menor renda
é composta de mulheres. Logo, a “feminização” dessa
parcela populacional com baixa rentabilidade pode gerar
desigualdade social entre os gêneros2.
Nesse contexto, sabe-se que o trabalho com
materiais recicláveis é executado por essa parte da
população menos favorecida fi nanceiramente, como
também é marcado por desvalorização e exclusão social.
Os problemas estão relacionados à falta de estrutura,
ao contato com o lixo, à inexistência de apoio do poder
público, à ausência de treinamentos e de equipamentos
de segurança, entre outros3.
A pobreza e a exclusão social resultam em
vulnerabilidade social, a qual leva a um estado de privação
de direitos na vida pessoal do indivíduo, à medida que
produz a banalização de sentimentos, dos afetos e dos
vínculos4. Tal perda ou rompimento dos vínculos causa
descrença de si mesmo, conduzindo a uma defi ciência
da necessidade do autocuidado5. Acrescenta-se, ainda,
a difi culdade de acesso ao sistema de saúde, muito
marcante na realidade brasileira6.
Consequentemente, as mulheres separadoras de
materiais recicláveis, por estarem sujeitas a todos esses
determinantes sociais, fi cam expostas a uma difi culdade
maior de automobilização para buscar o atendimento em
saúde, sobretudo no que se refere à prevenção de agravos7.
Como exemplo, há procura insufi ciente por serviços como
o de citologia oncótica, para prevenção de câncer de colo
de útero, e de mamografi a, para rastreio de câncer de
mama, no que se refere à prevenção ginecológica8.
Assim, ressalta-se que o autocuidado em saúde, no
caso de mulheres socialmente vulneráveis, tais como as
mulheres separadoras de materiais recicláveis, vai além
da capacidade do indivíduo em buscar ser saudável,
envolvendo, adicionalmente, aspectos socioeconômicos
que freiam a tentativa de obter saúde.
Portanto, entendendo que o papel dos profi ssionais
de saúde, incluindo o médico, também é atuar no
autocuidado e na prevenção à saúde, julga-se importante
saber quais as difi culdades enfrentadas por essa população
estudada, em relação ao presente tema. Diante desse
cenário, surge a importância de compreender como as
mulheres separadoras de materiais recicláveis entendem o
autocuidado relacionado à prevenção ginecológica.
A relevância deste estudo consiste em contribuir
para um atendimento mais humanizado. Desse modo,
o objetivo desta pesquisa é descrever a percepção das
mulheres trabalhadoras de uma cooperativa de separação
de material reciclável sobre o autocuidado, relacionada à
prevenção ginecológica, no município de Vitória, Espírito
Santo, Brasil.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem
qualitativa, tendo como local de observação o ambiente
natural do sujeito. Não se pautou em quantifi cações das
ocorrências ou em relações causa-efeito. A interpretação
dos resultados se deu a partir dos pressupostos iniciais
revistos, dos conceitos construídos ou conhecimentos
originais produzidos9.
A pesquisa foi realizada no município de Vitória-ES,
Brasil, e teve como cenário a Associação dos Catadores
e Catadoras de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória
(AMARIV), que existe desde 2007 e possui a natureza
jurídica de associação privada. Ao contrário do que o nome
diz, não trabalha com a catação de materiais recicláveis,
mas sim recolhe, separa, enfarda e vende. A coleta dos
resíduos nas ruas e residências é realizada pelo programa
de coleta seletiva da prefeitura municipal de Vitória. Já a
triagem dos materiais é realizada na AMARIV, por meio do
trabalho manual dos associados. Após triados e prensados,
os materiais são comercializados.
Destaca-se que a maioria dos associados, no momento
da coleta dos dados, era do sexo feminino. A pesquisa foi
realizada no período de junho a julho de 2018. O contato
inicial com os participantes deu-se presencialmente, após
autorização da associação. As entrevistas aconteceram
na AMARIV, em uma sala reservada, sem circulação de
pessoas, garantindo a privacidade, sendo entrevistada
uma mulher por vez.
As entrevistadas foram convidadas a participar
da pesquisa por meio da concordância e da assinatura
167 - 174
2018 jul.- dez.; 12(2): 169Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável
de termo de consentimento livre e esclarecido, do qual
cada participante recebeu uma via. Não houve recusas
à participação. Foi aplicado um roteiro de entrevista
semiestruturada a dez mulheres da associação, que
estivessem há mais de um ano trabalhando no local. As
entrevistas tiveram duração média de 30 minutos, foram
gravadas e transcritas de modo integral, armazenadas em
programa Microsoft Word.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa (CEP) da Escola Superior de Ciências da Santa
Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), que é uma
instituição de ensino superior privada situada em Vitória,
Espírito Santo, Brasil, sob parecer nº2.683.615.
ORGANIZAÇÃO DOS DADOS
A organização das informações ocorreu por meio da
técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin10, que
possui as fases de pré-análise, exploração do material e
tratamento dos resultados.
Pré-análise: fase da organização do material bruto.
Nesta fase, houve o processo de escolha e seleção dos
documentos, de acordo com as hipóteses e os objetivos
da pesquisa. Realizaram-se as transcrições dos áudios
e, por meio da leitura “fl utuante”, buscou-se conhecer
os signifi cados, as impressões e as percepções das
participantes. Assim, fez-se a construção do corpus da
pesquisa10.
Exploração do material: constitui-se a partir dos
recortes, das palavras ou frases. Realizou-se a aplicação
sistemática das decisões tomadas para a construção das
Unidades de Registro (UR) e Unidades de Contexto (UC).
Dessa forma, colocou-se em prática a codifi cação dos
dados, à qual se aplicou a regra de frequência simples,
presença e frequência ponderada, para o surgimento das
UR e UC10.
A UR é compreendida como a unidade de signifi cação
codifi cada que se relaciona com o objetivo da pesquisa.
Possibilitou a categorização por contagem e frequência
de palavras ou frases encontradas nas falas transcritas.
Após essa passagem, houve subsídio para a formação das
UC, por meio da codifi cação que envolveu os signifi cados
relacionados ao objeto e ao objetivo do estudo. Com base
nessas unidades- UR e UC -, foi possível realizar inferências
acerca dos sentidos, dos signifi cados e das mensagens,
que foram a chave para as categorizações10.
Tratamento dos resultados: nessa fase, houve a
referenciação dos índices e a elaboração de indicadores,
que consistiram em elencar recortes dos textos contendo as
signifi cações iniciais encontradas, separando-os em índices
de ordem mais subjetiva e qualitativa; indicadores mais
relacionados à frequência, de caráter mais quantitativo,
que serão explicados pela análise/categorização temática,
possibilitando, portanto, a formação das categorias e
unidades sistemáticas10, conforme é apresentado no
Quadro 1.
Unidades de Registro Unidades de Contexto Categorias Analíticas
Autocuidado; consulta ginecológica; exames de rotina; exame preventivo; indiferença por saúde mental.
Maior disponibilidade de acesso a serviços de promoção e prevenção em saúde; maior dispo-nibilidade de acesso a serviços de diagnóstico; maior disponibilidade de acesso à educação em saúde mental.
Percepção do autocuidado e da prevenção ginecológica
Aversão à consulta médica; conceito equivoca-do sobre prevenção em saúde; constrangimento para consulta ginecológica; difi culdade para mar-cação de consulta; difi culdade de compreensão; constrangimento para tirar dúvidas; orientação médica inefi caz; caligrafi a ilegível; difi culdade de adesão; orientação cautelosa; linguagem acessí-vel; modelos e gravuras.
Garantia de acesso aos serviços de promoção e prevenção em saúde da mulher; capacitação de recursos humanos; garantia de acesso a serviços; educação em saúde; ensino e aprendizado.
Difi culdades associadas ao autocuidado e à prevenção ginecológica
Fonte: elaboração própria (2018).
Quadro 1 - Unidade de Registro e Unidades de Contexto para as categorias formadas, segundo técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin10
167-174
170 2018 jul.- dez.; 12(2): Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável
Portanto, após estas etapas, iniciou-se a construção
das categorias baseadas nas evidências e a fi nalização
da análise de conteúdo, construindo as evidências
e categorias de estudo, baseadas nas UR, UC e nas
inferências10, conforme é apresentado no Quadro 2.
Quadro 2 – Descrição das categorias e evidências do estudo
Categorias do estudo Evidências
Percepção do autocui-dado e da prevenção ginecológica
Evidenciou-se a necessidade de educação em saúde, para melhoria da percepção e vivência do autocuidado, uma vez que são insufi cientes para promoção da saúde.
Difi culdades associadas ao autocuidado e à pre-venção ginecológica
Ainda é constatado o cuidado centrado no modelo biomédico de assistência à saúde, com ênfase na doença e nos atendimen-tos de demanda. Logo, é necessário o aprimoramento da qualidade da consulta médica, bem como da orientação médica e da educação em saúde. Verifi cou-se que é preciso vencer o modelo biomédico de assistência à saúde, como forma de au-xiliar na ultrapassagem das barreiras do sistema, como tentativa de praticar a pro-moção em saúde, em forma de orientação efetiva e educação em saúde, que cons-cientize, de fato, o usuário, empoderan-do-o. Notou-se que existe uma urgente necessidade em efetivar o direito consti-tucional ao acesso universal e integral aos serviços de saúde, vencendo os determi-nantes que impedem tal efetivação.
Fonte: Elaboração própria (2018).
RESULTADOS
Caracterização dos participantes do estudo
Fizeram parte deste estudo dez trabalhadoras da
AMARIV, com faixa etária entre 23 e 63 anos. Quanto ao
tempo de trabalho, quatro participantes tinham mais de
cinco anos. Em relação à formação educacional, todas
tinham o ensino médio completo.
EVIDÊNCIAS DO ESTUDO
Tomando como referência as UR e UC, buscaram-
se as evidências expressas nas falas e nos registros dos
momentos de observação, conforme o Quadro 2.
DISCUSSÃO
Percepção do autocuidado e da prevenção
ginecológica
Com o processo de reestruturação dos modelos
assistenciais, valorizando e apostando na lógica da Atenção
Primária à Saúde, principalmente na Estratégia de Saúde
da Família, as práticas tradicionais vêm sendo revistas. A
forma de organização que os novos modelos assistenciais
requerem, privilegiando o trabalho em equipe, a
integralidade, o vínculo com a comunidade, a abordagem
familiar, a corresponsabilidade e a participação, evidencia
o esgotamento dos modelos de atenção tradicionalmente
disponíveis, como também cria necessidades urgentes de
mudanças quanto à organização do serviço e das práticas
nele desenvolvidas.
Nesse contexto de novidades, o aspecto do cuidado
se reconfi gura e ganha destaque com o formato de
autocuidado, ao trazer o foco para o usuário desse sistema,
concedendo-lhe poder dentro do processo da atenção em
saúde. Agora, a responsabilidade do paciente de saber de
si passa a ser considerada fundamental. Com a ampliação
do acesso aos serviços de saúde, a responsabilidade pelo
fracasso ou sucesso de uma conduta não é exclusiva do
sistema. O que antes era responsabilidade do sistema,
pela falta de profi ssionais e de serviços disponíveis, passa
a ser responsabilidade do usuário se, ao ter acesso, não
assume o autocuidado seguindo a conduta indicada.
No entanto, deve-se se problematizar o autocuidado,
levando em conta a complexidade da realidade local e do
cotidiano popular que faz das práticas de autocuidado algo
extremamente modifi cável segundo um contexto, que
pode ser favorecedor ou não11.
Portanto, para que haja uma efetiva promoção da
saúde, diante do acesso aos serviços, é imprescindível que
a mulher tenha conhecimento e vivência do autocuidado.
Entende-se autocuidado como a capacidade que os
indivíduos têm de cuidar de si, desempenhando atividades
em seu próprio benefício, a fi m de manter a vida, a saúde
e o bem-estar próprio12.
O modo como a conceituação e a vivência do
autocuidado aparecem nas entrevistas se evidencia nas
falas das entrevistadas:
[...] Ah, eu acho que autocuidado é o cuidado com a gente mesmo, né... Ah, eu acho que eu cuidar de mim mesmo, é cuidar do meu bem-estar interior? [...] Mas pra tá bem por fora, a gente tem que também tá bem por dentro. Seria tá bem comigo mesmo, é quando a gente tá bem com a gente mesmo, né?.É...se empenha mais (Rosa).
[...] Eu está sempre no médico, fazendo preventivo... coisa que eu fi quei muitos anos sem fazê. É.… fazê o preventivo. Também é....está sempre fazendo ixame... Todo ano fazendo meus ixame. É.… cuidando da minha vista, do meu...do...de mim mesmo” (Dália).
167 - 174
2018 jul.- dez.; 12(2): 171Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável
[...] Pessoa cuidar de si, cuidar da saúde. Estar sempre assim...Indo ao médico, né? E fazendo ixames, essas coisas. Preventivo, a gente mulher, sempre tá fazendo preventivo. Sempre tá vendo como a gente tá, através de exames (Violeta).
Percebeu-se, em algumas falas, a difi culdade de conceituação e vivência do autocuidado:
[...] Eu sou relaxada com isso, eu nunca fi z um preventivo. É importante, todo mundo fala e tenta colocá na minha cabeça, mas eu tenho muita vergonha (Jasmim).
[...] Mas autocuidado de que? (Dália).
[...] porque eu acho que o cartão postal da gente é o visual, e muitas vezes a gente não tem essa condições, né? De tá se produzindo, né? A gente tenta, mas não
consegue, não dá (Amarílis).
Difi culdades associadas ao autocuidado e à
prevenção ginecológica
Consulta médica
Apesar do avanço tecnológico e do acesso à
informação, ocorridos nas últimas décadas na área
biológica, vem havendo prejuízos na relação médico-
paciente, uma vez que há um foco na fi siopatologia
e na tecnologia, distanciando o paciente do médico,
comprometendo, por consequência, a qualidade dos
atendimentos. Nesse contexto, uma das razões que mais
infl uenciaram no desgaste da antiga relação médico-
paciente foi o apagamento do médico humanista, por conta
da adoção do modelo de ensino médico norte-americano,
pragmático e fundamentado nas ciências biológicas. Tal
modelo de ensino médico propõe que o paciente, antes
de ser humano, é um organismo enfermo que busca o
restabelecimento de sua saúde e, desse modo, nada mais
se espera do médico13,14.
Apesar dos esforços da prática médica em assumir
uma postura mais humanizada e integral nos últimos
anos, ainda não foi possível romper com o método de
abordagem baseado no modelo biomédico tradicional,
centrado na doença. Por conseguinte, surge o desafi o de
integrar, dentro do processo de produção de cuidado, a
medicina baseada em evidências, o atendimento centrado
na pessoa e o trabalho em equipe, na tentativa de trazer
a pessoa ao centro dos relacionamentos associados à
saúde, em detrimento da valorização exclusiva da doença
que acomete o indivíduo. Como forma de aprimorar o
atendimento médico, surge o método clínico centrado na
pessoa15,16.
O método em questão enfatiza a importância de
abordar, na consulta, três aspectos: a perspectiva do
médico, relacionada aos sintomas e à doença; a perspectiva
do paciente, que inclui suas preocupações, seus medos e
sua experiência de adoecer; a integração entre as duas
perspectivas. Ele descreve quatro componentes interativos
do processo de atendimento: a) explorando a saúde, a
doença e a experiência da doença; b) entendendo a
pessoa como um todo (indivíduo, família, contexto);
c) encontrando um terreno comum; d) intensifi cando o
relacionamento entre pessoa e médico. Diante do primeiro
componente, é imprescindível diferenciar a doença do
adoecimento. Sabe-se que a doença é uma construção
teórica com base em observações objetivas que tentam
explicar o problema; já o adoecimento é a experiência
pessoal e subjetiva de quem está doente, sendo diferente
para cada indivíduo15.
Nas entrevistas, a necessidade do aprimoramento da
qualidade da consulta médica surge conforme apresentado
a seguir:
[...] eu acho assim, o médico, pra ele melhorar, ele tem que... que escrever mais detalhado, né? É.…explicar, mesmo que a pessoa às vez, tem assim, difi culdade de ler, né? De leitura. Então, ele escreva mais, assim, é.…como diz? Uma letra mais... Que dá pra pessoa entender melhor, porque muitas vezes o médico dá um rabisco e cabou. A pessoa que tem que dicifrar o que que é aquilo, né? (Amarílis).
[...] fazer uma demonstração, né? Mostrar num.… Tipo assim... Ah, eu não... Como é que eu falo? Num tem, tipo...Igual essas aulas que... Que fazem. Faz tipo uma demonstração, pode ser numa televisão, no computador, mostrando o corpo, explicando direitinho, né? Ah, aqui é isso, aqui é isso, pode acontecer isso! Eu acho assim, que a pessoa vai vendo a imagem, e vai entendendo o que pode tá acontecendo, o que pode acontecer (Margarida).
[...] Acho que ele fala rápido. É, eu acho que ele podia falar devagar, né? Muito rápido (Magnólia).
[...] Ah, tem médico que fala coisa difícil, e que às vezes as pessoa...Eu fi co com vergonha de pergunta (Petúnia).
Orientação médica
A importância da educação para a promoção da
saúde é fator imprescindível para a melhoria da qualidade
de vida. Sabe-se que as práticas de saúde adequadas
167-174
172 2018 jul.- dez.; 12(2): Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável
ou inadequadas surgem de experiências de ensino-
aprendizagem e infl uenciam as decisões a serem tomadas
pelos indivíduos, podendo contribuir para diminuir, manter
ou elevar o seu nível de saúde. Consequentemente, a
abordagem educativa deve estar presente em todas as
ações, para promover a saúde e prevenir as doenças,
facilitando a incorporação de ideias e práticas corretas17.
A promoção da saúde deve ser viabilizada pela
educação em saúde, preparando cada indivíduo para
assumir o controle e a responsabilidade sobre a sua
própria saúde e sobre a saúde da comunidade, tornando-o
apto para o empoderamento, a participação, a tomada de
decisões, o controle social, para exigir direitos e para atuar
sobre os fatores determinantes e condicionantes da sua
saúde e qualidade de vida17,18.
A educação em saúde consiste em proporcionar à
população os conhecimentos e as destrezas necessárias
para a promoção e a proteção de sua saúde individual, da
saúde de sua família e de sua comunidade, por meio do
desenvolvimento de capacidades e habilidades, para que
as pessoas participem de modo ativo na defi nição de suas
necessidadese consigam gerir suas metas de saúde17.
Dessa forma, cabe ao médico e aos profi ssionais
de saúde, diante de todas as oportunidades que lhes
aparecem no exercício profi ssional, orientar de modo
adequado a população atendida, com cuidado peculiar
em relação àqueles com menor escolaridade e renda,
uma vez que demandam mais atenção para que sejam
completamente empossados da informação capaz de levar
ao aumento do nível de saúde15.
Percebeu-se, diante da fala das entrevistadas, que
falta orientação médica:
[...] Tipo, medicamento ele manda você tomar sete dia, eu tomei, com três, quatro dias, tô boa. E eu não vou continuar tomando mais, que eu não gosto de tomar medicamento (Jasmim).
[...] Tem pessoas que...algumas coisas, algumas palavras que eles vão dizer num, num, num dá pra entender direito. Então tem pessoas que precisam de mais clareza, né? Eu acho assim, que o profi ssional em si, ele deveria ter um pouco meio que... Se expressar melhor, às vezes no que ele diz, pra que a pessoa compreenda o que... O que ele tá querendo passar, entendeu? (Rosa).
[...] Por que o povo é.… pensa assim: Ah, num tem necessidade de fazê uma consulta ginecológica! É...
Primeiro por que eu só tenho um parceiro, segundo por que eu num tenho, é.…Difi cul... Num tenho doença, num tenho nada (Dália).
Barreiras do sistema
Apesar dos avanços desde a implantação do Sistema
Único de Saúde (SUS), relacionados principalmente à
ampliação da atenção básica, o acesso aos serviços
de saúde ainda é desafi ador. A efetivação do direito
constitucional ao acesso universal e integral envolve
inúmeros e complexos determinantes19.
O conceito de acesso aos serviços de saúde pode
ser abordado como liberdade para uso, baseada na
consciência da possibilidade de uso pelo indivíduo e no
seu empoderamento para escolha. Estão associados não
só a acesso, mas a fatores como a existência de um
serviço específi co ao alcance do indivíduo, a cordialidade
do serviço com o usuário, a existência de sistemas de
marcação de horários, a capacidade do paciente em
arcar com os custos diretos e indiretos da assistência;
e a fatores subjetivos, sociais e culturais envolvidos no
processo. Dessa maneira, o nível de acesso aos serviços
de saúde seria determinado pelo grau de adequação entre
indivíduos, comunidades e sistema de saúde20.
Nesse contexto, existem várias barreiras que
entremeiam e difi cultam os determinantes do acesso a tais
serviços. É possível verifi car que há intensa fragmentação
das ações e dos serviços de saúde, desqualifi cação na
gestão do cuidado, prioridade sobre as ações curativas
e condições agudas de demanda, lacunas assistenciais,
insufi ciência de fi nanciamento público, inadequação de
distribuição dos serviços, precariedade de importante grau
de trabalho e carência de profi ssionais21.
Tais barreiras de acesso aos serviços do sistema
de saúde repercutem, principalmente, sobre a população
economicamente menos favorecida. A literatura nacional
revela a presença de desigualdades no acesso aos serviços
de saúde no país e entre as regiões. Essa desigualdade
é mais acentuada para cuidados preventivos. Indivíduos
mais pobres usufruem menos de cuidados preventivos, em
relação aos mais ricos6.
As barreiras do sistema emergem da seguinte forma
no discurso das entrevistadas:
[...] porque demorou um pouco. As vezes...É.…Eu tenho
167 - 174
2018 jul.- dez.; 12(2): 173Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável
difi culdade de conseguir preventivo no meu posto de saúde. Por isso que eu não coloquei como excelente, tão excelente assim...É.… pra eu conseguir uma fi cha pra conseguir pra marcar um preventivo foi um pouco difícil (Violeta).
[...] tipo assim... Quando a gente consegue, aí é bom, né? Por que é até difícil. Pelo menos, no posto aonde eu moro, é difícil eu ir no médico, quando eu passo mal eu vou direto pra policlínica, por que no posto eu não consigo (Hortênsia).
[...] porque eles resolve os probremas ali momentâneos, mais acaba vindo novamente uns dias depois (Rosa).
Educação em saúde
Pelo fato de o sistema de saúde vigente privilegiar a
assistência curativa e o modelo biomédico, a informação
e a educação em saúde não são práticas presentes nos
serviços de saúde. A educação em saúde é imprescindível
para efetivação do autocuidado, e a falta da mesma pode
prejudicar a participação da mulher nas decisões sobre
o cuidado com seu corpo. Verifi ca-se proporções mais
importantes do dilema em questão, quando se tratam
de mulheres de baixa renda, uma vez que inúmeros
determinantes sociais interferem no direito constitucional
ao acesso universal e integral aos serviços de saúde19,22,23.
Percebe-se, por exemplo, que muitas mulheres não
realizam o exame de citologia oncótica, por fatores como
receio de sentir dor, medo ou vergonha22. Muitas dessas
mulheres de baixa renda representam uma parcela da
população difícil de ser identifi cada, abordada e tratada
em suas comunidades de origem. Algumas delas nunca
se apresentaram a serviços de saúde, uma vez que a
promoção em saúde e o acesso aos serviços não é efetivo1.
As difi culdades e equívocos associados a falta de
educação em saúde são percebidas diante das seguintes
falas:
[...] Eu só fi quei com muita vergonha na prova de toque pra ganhar minhas menina, né? (Jasmim).
[...] Na realidade, eu tenho 23 anos, mas eu nunca me consultei com um ginecologista. Nunca, nunca (Rosa).
[...] Mas, questão do exame, da mamografi a, acho que por eu não ter feito ainda, assim... eu escuto muita...muitas coisas, né? Que é dolorido... (Margarida).
CONCLUSÃO
Evidenciou-se que as mulheres apresentam
conhecimento inadequado sobre o autocuidado e a
prevenção ginecológica, o que as torna insufi cientes
para que tenham responsabilidade sobre si e possuam
capacidade de promover o benefício próprio. Agregado a
isso, há difi culdade em obter acesso aos serviços de saúde,
diante de um modelo ainda voltado para a doença, de
uma defi ciente gestão dos recursos materiais, do pessoal
e da organização e diante do fl uxograma de serviços.
Consequentemente, as ações de promoção e prevenção
tornam-se pouco efetivas junto à comunidade.
Portanto, julga-se necessário maior atenção e
efetividade dos serviços públicos em relação à prevenção
em saúde, por meio dos programas já estabelecidos na
área da saúde da mulher, de modo que as mulheres
de baixa renda, tais como as separadoras de materiais
recicláveis estudadas, possam ter garantido o direito
constitucional ao acesso universal e integral à saúde.
167-174
174 2018 jul.- dez.; 12(2):
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Envio: 16/04/2018 Aceite: 28/07/2018
Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável167 - 174
2018 jul.- dez.; 12(2): 175
ANÁLISE DE CASOS DE CÂNCER DE PELE EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTA
ANALYSIS OF CASES OF SKIN CANCER IN A HOSPITAL OF INTERIOR PAULISTA
ANÁLISIS DE CASOS DE CÁNCER DE PIEL EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTA
* Acadêmicas do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.** Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Demartologia e docente nível 1 na disciplina de Dermatologia do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva - SP. Contato: [email protected]
ResumoIntrodução: Câncer de pele confi gura-se como problema de saúde pública, sendo frequente em todas as populações e se apresenta basicamente sob duas formas: o melanoma e o não melanoma (carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular). O principal fator de risco associado a essa neoplasia é a exposição excessiva aos raios solares (raios ultravioletas). Identifi car os estágios iniciais da doença pode reduzir taxas de morbidade e mortalidade. Objetivo: Levantar dados estatísticos quanto aos casos novos de câncer de pele atendidos no ambulatório de dermatologia do Hospital-Escola Emilio Carlos na cidade de Catanduva-SP, no período entre 2012 e 2016. A partir disso, avaliar o perfi l epidemiológico dessa neoplasia na cidade de Catanduva e região. Material e Método: Estudo observacional transversal do tipo descritivo, retrospectivo e quanti-qualitativo, realizado por meio da análise dos prontuários de pacientes atendidos no ambulatório de dermatologia. As variáveis estudadas foram: sexo, idade, raça, tipo de câncer de pele e localização. Resultados: A incidência de câncer de pele durante os últimos cinco anos no ambulatório de dermatologia foi de 25,37%. Os pacientes eram, em sua maioria, do sexo masculino, entre a faixa etária de 71 a 80 anos e brancos. O câncer de pele mais frequente foi o carcinoma basocelular e as regiões mais afetadas foram aquelas expostas ao sol, como a face. Conclusão: É inquestionável que o câncer é um problema de saúde pública. Podemos observar que as regiões corporais mais afetadas são aquelas expostas ao sol, como a face, reforçando que essa neoplasia é passível de prevenção, ressaltando a importância da prevenção primária.
Palavras-chave: Câncer de pele. Radiação solar. Fator de risco. Incidência. Perfi l epidemiológico.
AbstractIntroduction: Skin cancer is the most common type of cancer in all populations and occurs basically in two forms: melanoma and non-melanoma (basal cell carcinoma and squamous cell carcinoma). Sun exposure is the main risk factor. Identifying the early stages of cancer can reduce rates of morbidity and mortality. Objective: To collect statistical data and to evaluate the epidemiological profi le of new cases of skin cancer in the last fi ve years (2012-2016) attended at the dermatology outpatient clinic of Hospital Emilio Carlos-Catanduva. Methods: Transversal descriptive observational, retrospective and quanti-qualitative study type, through the analysis of the medical records of patients attended at the dermatology outpatient clinic. The studied variables were: gender, age, etnia, skin cancer type and location. Results: The incidence of skin cancer during the last fi ve years in the dermatology clinic was 25.37%. Most patients were caucasian and males between the ages of 71 to 80 years. The most frequent skin cancer was basal cell carcinoma, and the regions most affected were those exposed to the sun, such as the face. Conclusion: Skin cancer is very frequent and your relationship with sun exposure (time, intensity) makes this neoplasm preventable. As there are other causes, it is extremely important to carry out screening campaigns.
Keywords: Skin neoplasms. Solar radiation. Risk factors. Incidence. Health profi le.
ResumenIntroducción: Cáncer de piel se confi gura como problema de salud pública, siendo frecuente en todas las poblaciones y se presenta básicamente bajo dos formas: el melanoma y el no melanoma (carcinoma basocelular y carcinoma espinocelular). El principal factor de riesgo asociado a esta neoplasia es la exposición excesiva a los rayos solares (rayos ultravioleta). Identifi car las etapas iniciales de la enfermedad puede reducir las tasas de morbilidad y mortalidad. Objetivo: Levantar datos estadísticos en cuanto a los casos nuevos de cáncer de piel atendidos en el ambulatorio de dermatología del Hospital-Escuela Emilio Carlos en la ciudad de Catanduva-SP, en el período entre 2012 y 2016. A partir de ello, evaluar el perfi l epidemiológico de esa neoplasia en la ciudad de Catanduva y región. Material y Método: Estudio observacional transversal del tipo descriptivo, retrospectivo y cuantitativo, realizado por medio del análisis de los prontuarios de pacientes atendidos en el ambulatorio de dermatología. Las variables estudiadas fueron: sexo, edad, raza, tipo de cáncer de piel y localización. Resultados: La incidencia de cáncer de piel durante los últimos cinco años en el ambulatorio de dermatología fue del 25,37%. Los pacientes eran, en su mayoría, del sexo masculino, entre el grupo de edad de 71 a 80 años y blancos. El cáncer de piel más frecuente fue el carcinoma basocelular y las regiones más afectadas fueron las expuestas al sol, como la cara. Conclusión: Es incuestionable que el cáncer es un problema de salud pública. Podemos observar que las regiones corporales más afectadas son aquellas expuestas al sol, como la cara, reforzando que esa neoplasia es pasible de prevención, resaltando la importancia de la prevención primaria.
Palabras clave: Neoplasias cutáneas. Radiación solar. Factores de riesgo. Incidencia. Perfi l de salud.
Ana Rafaela Foloni*, Maria Augusta Carvalho Carnelossi*, Maria Julia Azarite Salomão*, Rafaela Marega Frigério Lopes**
Análise de casos de câncer de pele em um hospital do interior paulista 175-180
176 2018 jul.- dez.; 12(2):
INTRODUÇÃO
Câncer é uma patologia de etiologia multifatorial,
resultante, principalmente, de alterações genéticas,
fatores ambientais e do estilo de vida. Segundo o Instituto
Nacional do Câncer (INCA), é um conjunto de mais de cem
doenças que têm em comum o crescimento desordenado
de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo
metastizar-se1.
O câncer de pele confi gura-se como o mais frequente
em todas as populações e se apresenta basicamente sob
duas formas: o melanoma e o não melanoma: carcinoma
basocelular e carcinoma espinocelular. Dos tipos não
melanoma, o carcinoma basocelular é o mais frequente2.
O melanoma é o mais maligno dos tumores
cutâneos, ocorrendo em geral entre os 30 e 60 anos de
idade. Pode originar-se de nevo melanocítico, entretanto,
em cerca de 75% dos casos não é relatada a existência
prévia do nevo pigmentar. São classifi cados em três tipos,
com particularidades epidemiológicas e prognósticas
diferentes: melanoma extensivo superfi cial (mais
frequente), melanoma nodular (prognóstico desfavorável)
e o melanoma lentiginoso acral (raro em brancos, mais
comum em negros e asiáticos)3.
O carcinoma basocelular (CBC) é constituído de
células que se assemelham às células basais da epiderme,
mas também podem se originar de diferentes partes
do aparelho folicular e isto justifi ca a denominação de
epitelioma basocelular. É o menos agressivo dos tumores
epiteliais e pode ser considerado incapaz de originar
metástase. Possui, entretanto, malignidade local, podendo
invadir e destruir tecidos adjacentes, inclusive ossos.
Acomete geralmente indivíduos acima dos 40 anos, sendo
raro em negros. A localização preferencial é nos dois
terços superiores da face e não ocorre nas palmas, plantas
e mucosas3.
O carcinoma espinocelular (CEC) é tumor maligno,
constituído por proliferação atípica de células espinhosas de
caráter invasor, podendo originar metástase, corresponde
a 15% das neoplasias epiteliais malignas. Pode ocorrer
em pele normal, mas frequentemente tem origem
na queratose solar, leucoplasia, radiodermite crônica,
queratose arsenical, xeroderma pigmentoso, úlceras
crônicas e cicatrizes de queimaduras. Ocorre geralmente
após os 50 anos e é mais comum no sexo masculino. As
localizações mais comuns são: lábio inferior, orelhas, face,
dorso das mãos, mucosa bucal e genitália externa3.
O principal fator de risco associado aos cânceres
da pele é a exposição excessiva aos raios solares (raios
ultravioletas)4. Fatores genéticos e história familiar de
câncer da pele são bem defi nidos5. Também têm infl uência:
uso de álcool, tabagismo, exposição ao arsênico, radiação
ionizante, processos dermatológicos irritativos, cicatriz
antiga, distribuição geográfi ca, raça caucasiana6.
Além da exposição à radiação solar, aumentou a
exposição a fontes artifi ciais de radiação ultravioleta.
Argumenta-se que o bronzeamento artifi cial seria uma
opção segura, pois as lâmpadas empregadas emitiriam
somente radiação ultravioleta de comprimento de onda
mais longo (UVA). Porém, estudos recentes apontam
o UVA como importante para a gênese do melanoma,
atuando sinergicamente com o UVB (ultravioleta B)7.
A identifi cação dos estágios iniciais do câncer pode
reduzir taxas de morbidade e mortalidade. Com esse
intuito, existem três níveis de programas de prevenção:
a primária, que previne a ocorrência da enfermidade; a
secundária, que consiste no diagnóstico precoce por meio
de rastreamento; e a terciária, que previne deformidades,
recidivas e morte8.
A prevenção primária do câncer de pele deve ter
como principal população-alvo a infantil, uma vez que as
crianças se expõem ao sol três vezes mais que os adultos, e
a exposição cumulativa durante os primeiros 10 a 20 anos
de vida determina o risco de câncer da pele, mostrando
ser a infância uma fase particularmente vulnerável aos
efeitos nocivos do sol9. Portanto, a prevenção primária
foca principalmente na fotoproteção8.
A prevenção secundária, por sua vez, baseia-se em
campanhas de detecção massiva em dias determinados a
fi m de detectar tumores de pele em estádios precoces8. Tal
prevenção pode e deve ser realizada na rotina da atenção
à saúde, o que, porém, requer maior engajamento dos
profi ssionais de saúde e da população em geral na ação
preventiva9.
Devido à importância epidemiológica desse tipo
de câncer e visto a crescente incidência do mesmo na
população mundial, impõe-se sua consideração como
problema de saúde pública10.
Por ser um problema de saúde pública e não haver
um estudo recente sobre o perfi l epidemiológico dos
pacientes portadores de câncer de pele na cidade de
Análise de casos de câncer de pele em um hospital do interior paulista175 - 180
2018 jul.- dez.; 12(2): 177Catanduva e região observou-se a necessidade de um
levantamento de dados. Desse modo, essa pesquisa
contribuirá para o planejamento e avaliação das ações de
prevenção e controle de câncer.
OBJETIVO
Levantar dados estatísticos quanto aos casos
novos de câncer de pele atendidos no ambulatório de
dermatologia do Hospital-Escola Emilio Carlos (HEEC) na
cidade de Catanduva-SP, no período entre 2012 e 2016. A
partir disso, avaliar o perfi l epidemiológico dessa neoplasia
na cidade de Catanduva e região.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo observacional transversal
do tipo descritivo, retrospectivo e quanti-qualitativo.
As informações foram coletadas através da análise dos
prontuários de pacientes atendidos no ambulatório de
Dermatologia do HEEC na cidade de Catanduva, interior
de São Paulo, no período entre 2012 e 2016.
Os pacientes atendidos são procedentes das
cidades de Catanduva e região, abrangendo as cidades
de: Ariranha, Catiguá, Elisiário, Embaúba, Irapuã, Itajobi,
Marapoama, Monte Alto, Novais, Novo Horizonte, Palmares
Paulista, Pindorama, Pirangi, Sales, Santa Adélia, Tabapuã
e Urupês.
As seguintes variáveis foram estudadas: sexo, idade,
raça, tipo de câncer de pele e localização.
A pesquisa foi realizada após a aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Padre Albino
(UNIFIPA), conforme a Resolução 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres
humanos com parecer nº 2.060.303.
RESULTADOS
No período de janeiro de 2012 a dezembro de
2016 (cinco anos), 3.893 pacientes foram atendidos no
ambulatório de dermatologia do HEEC, conforme registro
hospitalar do HEEC. Os pacientes inclusos no estudo
foram aqueles que receberam diagnóstico de câncer de
pele durante esse período: total de 988 pacientes. Desse
modo, a incidência de câncer de pele durante os últimos
cinco anos no ambulatório de dermatologia foi de 25,37%.
As características da amostra quanto à idade,
sexo e raça encontram-se descritas nos Gráfi cos 1 e 2.
Os pacientes eram, em sua maioria, do sexo masculino
(51,21%), entre a faixa etária de 71 a 80 anos e brancos.
Gráfi co 1 - Idade dos pacientes diagnosticados com câncer de pele entre 2012 e 2016, no ambulatório de dermatologia do HEEC
Gráfi co 2 - Sexo dos pacientes diagnosticados com câncer de pele entre 2012 e 2016, no ambulatório de dermatologia do HEEC
Em relação ao tipo de câncer, constatou-se que
o CA de maior incidência foi o CBC (Tabela 1) com 693
(65,94%), assim como mostra a literatura. O segundo de
maior incidência foi o CEC, 282 (26,83%). A associação do
CBC e CEC foi observada em 47 pacientes. E o melanoma
representou apenas 28 (2,66%) dos casos avaliados.
Tabela 1 - Distribuição dos subtipos de câncer de pele dos pacientes atendidos no ambulatório de dermatologia do HEEC entre 2012 e 2016
TIPO CÂNCER 2012 2013 2014 2015 2016 Total Frequência Relativa
Melanoma 7 7 9 4 1 28 2,66%
CBC 106 135 151 144 157 693 65,94%
CEC 53 53 58 45 73 282 26,83%
CBC+CEC 11 13 6 7 10 47 4,47%
Todos 0 0 1 0 0 1 0,10%
TOTAL 100,00%
Análise de casos de câncer de pele em um hospital do interior paulista 175-180
178 2018 jul.- dez.; 12(2):
Além de analisarmos a incidência dos tipos de câncer
de pele na população atendida no ambulatório do HEEC,
também relacionamos as áreas do corpo mais afetadas em
relação a cada tipo. As áreas do corpo foram divididas em:
face, região retroauricular, região cervical, tronco, membro
superior, membro inferior e pele sem especifi cação.
Subdividimos a região da face em: região frontal, malar
e temporal, periocular, nasal, perioral, lábio e face sem
especifi cação.
A maioria dos CBC e CEC afetaram a face dos
pacientes, sendo a região perioral mais prevalente nos CEC
e a região nasal predominou nos casos de CBC (Figuras 1
e 2). Os membros superiores e inferiores também foram
sede de lesão dos CEC. Já em relação ao CBC, podemos
observar sua preferência por região cervical, tronco e
membros superiores (Tabelas 2 e 3).
Figura 1 - Proporção de CEC na região facial
Figura 2 - Proporção de CBC na região facial
Tabela 2 - Distribuição da localização anatômica com relação ao CEC
CEC 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL
PELE 4 0 4 1 4 13
FACE 27 33 33 24 56 173
RETROAURICULAR 0 2 0 0 1 3
COURO CABELUDO 2 2 3 2 3 12
CERVICAL 5 5 2 4 0 16
TRONCO 1 6 7 3 7 24
MMSS 10 14 12 10 6 52
MMII 7 4 4 4 7 26
Tabela 3 - Distribuição da localização anatômica com relação ao Carci-noma Basocelular (CBC)
CBC 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL
PELE 2 5 7 6 15 35
FACE 110 115 111 114 120 570
RETROAURICULAR 3 2 5 3 2 15
COURO CABELUDO 1 1 0 1 1 4
CERVICAL 6 7 12 7 3 35
TRONCO 13 8 15 9 14 59
MMSS 5 11 3 11 13 43
MMII 1 1 0 3 0 5
O melanoma teve baixa incidência, com apenas
28 casos confi rmados nesses últimos cinco anos. Em
10 pacientes, as lesões se encontravam no tronco e em
sete, nos membros inferiores (Tabela 4). Também foram
descritas outras regiões, como: face e membro superior.
Na face, as regiões mais comuns foram temporal e nasal.
Tabela 4 - Distribuição da localização anatômica com relação ao me-lanoma
MELANOMA 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL
PELE 1 0 1 0 0 2
FACE 0 2 1 0 1 4
RETROAURICULAR 0 0 0 0 0 0
COURO CABELUDO 0 0 0 0 0 0
CERVICAL 1 0 0 0 0 1
TRONCO 1 2 7 0 0 10
MMSS 1 2 0 1 0 4
MMII 2 2 0 3 0 7
28
Análise de casos de câncer de pele em um hospital do interior paulista175 - 180
2018 jul.- dez.; 12(2): 179DISCUSSÃO
O câncer da pele representa a neoplasia de maior
incidência no Brasil. Estima-se que cerca de metade das
pessoas brancas com mais de 60 anos desenvolverão algum
tipo de neoplasia cutânea5. Sendo assim, é de extrema
importância a compreensão sobre proteção e exposição
aos raios solares para que seja possível a prevenção da
doença. Não havendo publicações sobre câncer de pele
na cidade de Catanduva e região, o presente estudo visou
preencher essa lacuna.
A população do estudo foi composta
predominantemente por indivíduos de pele branca e
idosos, confi gurando assim fatores de risco importantes.
Para o Brasil, estimam-se 85.170 casos novos de câncer
de pele não melanoma entre homens e 80.410 nas
mulheres para cada ano do biênio 2018-2019. Esses
valores correspondem a um risco estimado de 82,53 casos
novos a cada 100 mil homens e 75,84 para cada 100 mil
mulheres. Quanto ao melanoma, sua letalidade é elevada,
porém sua incidência é baixa (2.920 casos novos em
homens e 3.340 casos novos em mulheres)11. Os dados
obtidos no estudo também encontraram o câncer de pele
não melanoma como o mais comum, somando 92,77% de
todos os casos novos durante o período de 2012 a 2016.
É necessário ressaltar que o estudo foi feito mediante
base hospitalar e não base populacional, não incluindo
diagnósticos feitos em clínicas particulares.
A incidência de câncer de pele não melanoma está
aumentando rapidamente. Em populações caucasianas na
Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália, o
aumento médio de câncer de pele não melanoma foi de 3
a 8% ao ano desde os anos 196012. As crescentes taxas
de incidência dessa neoplasia são provavelmente devido
a uma combinação de aumento da exposição ao sol ou
exposição à luz ultravioleta (UV), aumento de atividades
ao ar livre, mudanças no estilo de roupas, aumento da
longevidade e depleção da camada de ozônio12.
Em contraste com o câncer de pele não melanoma,
que afeta principalmente indivíduos mais velhos, a
frequência de picos de melanoma ocorre em pessoas entre
20 e 45 anos, embora as taxas específi cas continuem a
aumentar com a idade12. O envelhecimento da população
e o aumento da exposição à radiação ultravioleta ao
longo do tempo e padrões alterados de exposição estão
fortemente correlacionados com o aumento da incidência
de melanoma em todo o mundo13.
Mesmo doses baixas de radiação ultravioleta, bem
abaixo do limiar eritemal, podem causar a formação
de fotoprodutos diméricos no DNA, e produzir espécies
reativas de oxigênio que reagem com o DNA, produzindo
fotolesões oxidativas. Esse dano ao DNA pode resultar em
mutações genéticas se não for efetivamente reparado13.
As áreas mais afetadas pela neoplasia são aquelas
predominantemente expostas ao sol, semelhante a outros
estudos14, o que reforça as evidências epidemiológicas
sobre a relação entre a excessiva exposição solar e o risco
de desenvolver câncer da pele, especialmente o câncer de
pele não-melanoma.
Como muitos dos cânceres de pele não melanoma
não causam sintomas ou morte durante a vida do paciente,
eles geralmente não são detectados até que os pacientes
compareçam em programas de triagem15. Isto é verdade
para pacientes com mais de 60 anos que participam de
programas de rastreamento do câncer de pele com mais
frequência (36%), em comparação com outros grupos
etários15.
A classe médica terá que enfrentar um aumento do
câncer de pele nas próximas décadas. É improvável que
apenas os dermatologistas possam gerenciar todos esses
novos casos no futuro. Assim, os clínicos gerais podem
desempenhar um papel importante no combate ao câncer
de pele, e eles devem ser treinados e preparados para
este desafi o15.
Um diagnóstico de câncer de pele precisa considerar
diagnósticos alternativos. Em relação à ceratose actínica,
condições benignas incluem queratose seborreica, verruga
vulgar, poroceratose actínica, granuloma actínico de
O’Brien, eczema, lentigo solar, líquen plano ou psoríase,
enquanto que condições malignas incluem CEC, doença de
Bowen, CBC, lentigo maligno, ceratoacantoma ou doença
de Paget extramamária16.
Os médicos devem idealmente realizar o exame da
pele corporal total, pelo menos para indivíduos de alto
risco. O uso de tecnologias ópticas não invasivas, como
tomografi a de coerência óptica ou dermatoscopia pode ser
útil para melhorar a precisão do diagnóstico em alguns
tipos de câncer de pele16.
CONCLUSÃO
É inquestionável que o câncer é um problema
Análise de casos de câncer de pele em um hospital do interior paulista 175-180
180 2018 jul.- dez.; 12(2):
REFERÊNCIAS
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Envio: 16/03/2018 Aceite: 28/07/2018
de saúde pública e o tumor de pele está entre os mais
frequentes do Brasil. Apesar da alta porcentagem de casos
novos por ano, o câncer de pele não melanoma tem pouca
mortalidade e altos percentuais de cura se detectado
precocemente. Em contrapartida, o melanoma apresenta
maior taxa de letalidade. Podemos observar que as
regiões corporais mais afetadas são aquelas expostas ao
sol, como a face, reforçando que essa neoplasia é passível
de prevenção e que o planejamento de saúde deve
ressaltar a importância da prevenção primária, por meio
de orientação de fotoproteção e campanhas de rastreio.
Análise de casos de câncer de pele em um hospital do interior paulista175 - 180
2018 jul.- dez.; 12(2): 181
PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTA
PREVALENCE OF ANEMIA IN ONCOLOGICAL PATIENTS ATTENDED IN SÃO PAULO INTERIOR HOSPITAL
PREVALENCIA DE ANEMIA EN PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTA
*Acadêmicas do curso de Biomedicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.** Farmacêutica, mestre em Ciências Farmacêuticas, doutora em Análise e Controle de Medicamentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCFAR-UNESP), Araraquara-SP. Docente dos cursos de Biomedicina, Enfermagem e Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP. Contato: [email protected]
ResumoIntrodução: A anemia é caracterizada pela defi ciência de ferro no organismo, com níveis de hemoglobina abaixo do normal, sendo muito frequente em pacientes com câncer. Sabe-se que até 70% dos pacientes oncológicos apresentam anemia em alguma fase da doença ou tratamento, principalmente durante a quimioterapia, como uma forma de toxicidade do tratamento. Objetivo: Verifi car a prevalência de anemia e alterações hematológicas em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista. Material e Método: A pesquisa foi realizada através da coleta e análise dos dados correspondentes aos casos de anemia diagnosticada em pacientes oncológicos por meio do hemograma. Resultados: Ao todo, foram analisados 99 prontuários, sendo 55 da oncologia e 44 da quimioterapia, sendo que 43 eram do sexo masculino e 56 do sexo feminino e com faixa etária variando de 14 a 96 anos. Valores inferiores de hematócrito foram encontrados em mais de 68% dos pacientes, mostrando a maior suscetibilidade de anemia nesse tipo de paciente.Os índices hematimétricos mostraram alteração em mais de 20% para os pacientes da quimioterapia em relação aos pacientes da oncologia ambulatorial, o que se deve, em grande parte, aos efeitos dos medicamentos quimioterápicos sobre a hematopoese. Portanto, houve prevalência de anemia do tipo ferropriva, com valores de hematócrito inferiores a 11% e ausência de alterações morfológicas eritrocitárias. Conclusão: O acompanhamento clínico é extremamente importante durante o tratamento do paciente oncológico, a fi m de contribuir para o sucesso da terapêutica oncológica utilizada.
Palavras-chave: Anemia. Prevalência. Pacientes. Oncologia. Doenças hematológicas.
AbstractIntroduction: Anemia is characterized by iron defi ciency in the body, with below normal hemoglobina levels, and is very common in patients with cancer. It is known that up to 70% of patients with cancer have anemia at some stage of the disease or treatment, especially during chemotherapy, as a form of treatment toxicity. Objective: To verify the prevalence of anemia and hematological alterations in patients with cancer attended at the hospital in the interior of São Paulo. Material and Method: The study was performed through the collection and analysis of the data corresponding to cases of anemia diagnosed in cancer patients through the blood count. Results: Altogether, 99 medical records were analyzed, 55 oncology and 44 chemotherapy, 43 male and 56 female, with ages between 14 and 96 years old. Lower values of hematocrit were found in more than 68% of the patients, showing the highest susceptibility of anemia in this type of patient. The hematimetric indexes showed a change of more than 20% for chemotherapy patients in relation to oncology patients, which are due, in large part, to the effects of chemotherapy drugs on hematopoiesis. Therefore, there was a prevalence of iron defi ciency anemia, with hematocrit values below 11% and absence of erythrocyte morphological changes. Conclusion: Clinical follow-up is extremely important during cancer treatment, in order to contribute to the success of cancer therapy used.
Keywords: Anemia. Prevalence. Patients. Oncology. Hematological diseases.
ResumenIntroducción: La anemia se caracteriza por la defi ciencia de hierro en el organismo, con niveles de hemoglobina por debajo de lo normal, siendo muy frecuente en pacientes con cáncer. Se sabe que hasta el 70% de los pacientes oncológicos presentan anemia en alguna fase de la enfermedad o tratamiento, principalmente durante la quimioterapia, como una forma de toxicidad del tratamiento. Objetivo: Verifi car la prevalencia de anemia y alteraciones hematológicas en pacientes oncológicos atendidos en un hospital del interior paulista. Material y Método: La investigación fue realizada a través de la recolección y análisis de los datos correspondientes a los casos de anemia diagnosticada en pacientes oncológicos a través del hemograma. Resultados: En total, se analizaron 99 prontuarios, siendo 55 de la oncología y 44 de la quimioterapia, donde 43 eran del sexo masculino y 56 del sexo femenino y con rango de edad variando de 14 a 96 años. Los valores inferiores de hematocrito fueron encontrados en más del 68% de los pacientes, mostrando la mayor susceptibilidad de anemia en ese tipo de paciente. Los índices hematimétricos mostraron alteración en más del 20% para los pacientes de la quimioterapia en relación a los pacientes de la oncología ambulatoria, se debe, en gran parte, a los efectos de los medicamentos quimioterápicos sobre la hematopoyesis. Por lo tanto, hubo prevalencia de anemia del tipo ferropriva, con valores de hematocrito inferiores al 11% y ausencia de alteraciones morfológicas eritrocitarias. Conclusion: El seguimiento clínico es extremadamente importante durante el tratamiento del paciente oncológico, a fi n de contribuir al éxito del tratamiento oncológico utilizado.
Palabras clave: Anemia. Prevalence. Pacientes. Oncología. Enfermedades hematológicas.
Lara Lazaro Coxa*, Paola Renata Cavalcante Joanini*, Andréia de Haro Moreno**
Prevalência de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista 181-186
182 2018 jul.- dez.; 12(2):
INTRODUÇÃO
A anemia é uma complicação frequente em pacientes
oncológicos, caracterizada pela defi ciência de ferro no
organismo, quando os níveis de hemoglobina apresentam-
se abaixo do normal (para adultos é de 13 g/dL segundo
os critérios da Organização Mundial da Saúde - OMS,
representando um problema de saúde pública mundial,
tanto em países em desenvolvimento quanto em países
desenvolvidos, pelo fato de qualquer grupo etário estar
propenso a esse tipo de defi ciência1. Sabe-se que até 70%
dos pacientes oncológicos apresentam essa complicação
em algum momento da doença ou do tratamento. A
incidência e a severidade da anemia dependem do tipo
de tumor, idade do paciente, estádio da doença, do tipo e
intensidade do tratamento. Desta forma, quando presente,
a anemia exerce uma infl uência negativa na qualidade de
vida de pacientes com câncer, sendo identifi cada como um
fator prognóstico desfavorável2.
O tipo mais comum de anemia nesses pacientes
é conhecido como anemia da doença crônica. Nela,
substâncias pró-infl amatórias são produzidas pelo tumor
e impedem o funcionamento normal da medula óssea.
Assim, em pacientes que estejam recebendo quimioterapia
é muito comum o surgimento da anemia como uma forma
de toxicidade devido ao tratamento. Os quimioterápicos
citotóxicos, por atuarem em células em multiplicação,
acabam agindo de forma adversa na produção de hemácias
na medula óssea. Nestes casos, quando for possível, a
redução da dose de quimioterápico costuma ser a terapia
de escolha3.
O desenvolvimento de anemia em pacientes
oncológicos é multifatorial. Diferentes mecanismos como
perdas sanguíneas, aumento da destruição dos glóbulos
vermelhos ou diminuição na sua produção podem
coexistir em um mesmo paciente. A defi ciência de ferro,
absoluta ou relativa, contribui de forma importante para a
ocorrência de anemia nesta população, pois pacientes com
câncer frequentemente apresentam alterações fi siológicas
provocadas pela própria doença e pelos tratamentos
cirúrgicos ou radio/quimioterápicos que limitam ou
impedem o paciente de se alimentar3,4.
A anemia resulta em uma série de sintomas que
podem infl uenciar o estado físico e funcional dos pacientes,
interferindo negativamente no tratamento e qualidade de
vida dos mesmos. As manifestações clínicas são variadas,
como a redução na capacidade de exercícios, dor de
cabeça, dispneia, falta de libido, tonturas, palpitação,
náusea, depressão, disfunção cognitiva, impactando
negativamente na sobrevida e acentuandoa fadiga
relacionada à doença2,4. A prevalência da anemia no
mundo é de 24,8% para todas as populações e 12,7%
para os homens adultos. Para os idosos (>60 anos) é de
23,9% e está associada com a incapacidade e diminuição
do desempenho e força muscular3.
Em todos os pacientes com câncer e que desenvolvam
qualquer grau de anemia é importante investigar se há
defi ciência de ferro, através da medição de seus níveis
sanguíneos, sendo a investigação diagnóstica guiada
pelo tipo de tumor e sinais e sintomas apresentados pelo
paciente5. A anemia ferropriva é a forma mais comum
de anemia em pacientes portadores de câncer (anemia
da doença crônica), pois a utilização defeituosa de ferro
consiste na base da anemia da doença crônica, que
geralmente se manifesta no primeiro ou segundo mês de
evolução da doença1,4.
A anemia hemolítica autoimune resulta da produção
de anticorpos dirigidos contra as hemácias do hospedeiro e
predomina nas doenças linfoproliferativas, especialmente
na leucemia linfocítica crônica (LLC) e linfomas de células
B. Essa condição é caracterizada por uma anemia de grau
variável, ligeira icterícia e, mais raramente, esplenomegalia.
Já a anemia hemolítica microangiopática consiste em um
processo mediado pela deposição de fi brina e agregação
plaquetária na microcirculação e se caracteriza pela
fragmentação das hemácias (esquisócitos). Pode ser
observada em pacientes portadores de carcinoma
metastático, geralmente adenocarcinomas produtores de
mucina, sendo o câncer de estômago o mais comum6.
A anemia aplástica é uma doença autoimune em que
a medula óssea diminui a produção de células sanguíneas,
causando sintomas como manchas roxas na pele,
hematomas frequentes e sangramentos. O tratamento
é feito com transplante de medula óssea e transfusão
de sangue, mas não é um tipo de anemia diretamente
relacionada com o câncer7.
A anemia de Fanconi consiste em outro tipo de
anemia genética, caracterizada pelo aumento do tamanho
dos glóbulos vermelhos e diminuição dos glóbulos brancos
e plaquetas, provocado pela defi ciência de vitamina B12.
Os sintomas incluem dores abdominais, queda de cabelo,
Prevalência de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista181 - 186
2018 jul.- dez.; 12(2): 183cansaço e feridas na boca. O tratamento é iniciado com
o uso de corticoides, mas pode ser necessário realizar
transfusões de sangue ou mesmo transplante de medula
óssea8.
A anemia megaloblástica caracteriza-se por
alterações da medula óssea, associadas com a diminuição
dos níveis de folato sérico e costuma aparecer em pacientes
portadores de neoplasias de cabeça e pescoço, devido à
difi culdade de alimentação, assim como em pacientes com
câncer disseminado no fígado9. Já a anemia por defi ciência
de vitamina B12 não está associada diretamente com
câncer, sendo observada em pacientes submetidos à
gastrectomia total devido à perda de células parietais10.
Por fi m, a quimioterapia citostática é uma das
principais causas de anemia nos pacientes com câncer,
sendo que esse tipo de tratamento agrava ainda mais a
anemia, além de ser progressiva, tornando-se mais grave
após repetidos ciclos de quimioterapia. Já na radioterapia
as alterações reversíveis e irreversíveis provocadas na
medula óssea pela radiação sugerem que a hipóxia
relacionada à reduzida capacidade de transporte de
oxigênio pelo sangue de pacientes anêmicos aumente a
radiorresistência dos tecidos malignos4,8.
O hemograma consiste em um exame que reúne
os resultados de contagem de hemácias, conteúdo de
hemoglobina e determinação do hematócrito, além
dos chamados índices hematimétricos (Corpuscular
Médio – VCM , Hemoglobina Corpuscular Média – HCM,
Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média –
CHCM) que, juntos, fornecem importantes resultados
sobre a condição do paciente, como a predisposição e
confi rmação de anemia5,11 (Quadro 1).
Quadro 1 - Valores de referência para parâmetros hematológicos eritrocitários5,11
ERITROGRAMA VALORES DE REFERÊNCIA UNIDADE
Homens Mulheres
Hemácias 4,50 a 5,50 4,20 a 5,40 milhões/mm³
Hemoglobina 13,0 a 17,5 12,0 a 16,0 g/dL
Hematócrito 41,0 a 51,0 35,0 a 45,0 %
VCM 80,0 a 96,0 80,0 a 96,0 fL
HCM 27,0 a 33,0 27,0 a 33,0 pg
CHCM 33,0 a 36,0 33,0 a 36,0 g/dL
O número de hemácias (Hm) por microlitro de
sangue está sujeito a variações, como ocorre na anemia,
sendo bastante comum na prática médica e caracterizadas
pela redução do número de células. Associam-se com
frequência às alterações da morfologia das hemácias e
baixa concentração de hemoglobina6.
A hemoglobina (Hb) é sintetizada e transportada
para outros órgãos no interior das hemácias, onde são
metabolicamente capazes de mantê-la em condições
de realizar as trocas de oxigênio e gás carbônico. Nas
formas jovens e de diferenciação das hemácias, ocorre a
captação do ferro para o interior dessas células através da
transferrina plasmática5,6,11.
A determinação do hematócrito (Ht) é bastante
valiosa, pois informa facilmente sobre várias alterações,
além de relacionar-se com outros valores, como o número
de hemácias e concentração de hemoglobina. Na prática,
a determinação de hemoglobina e do hematócrito são
mais utilizáveis que a contagem de hemácias. Esta,
mais demorada e sujeita a erros, é, no entanto, útil na
determinação dos índices hematimétricos5,11.
Os índices hematimétricos são usados na classifi cação
morfológica das anemias e fornecem valores médios da
concentração de hemoglobina e volume das hemácias,
sendo calculados a partir de determinações prévias
do hematócrito, hemoglobina e número de hemácias
por microlitro de sangue. São classifi cados segundo a
determinação do VCM, da HCM e da CHCM6-11.
O VCM corresponde ao volume médio de um
eritrócito, expresso em valores da ordem de fentolitros, e
indica o seu tamanho (hemácias normocíticas, microcíticas
ou macrocíticas). Já o HCM corresponde ao peso médio
(quantidade) de hemoglobina de cada eritrócito, expresso
em picogramas e indica a coloração do eritrócito
(normocromia, hipocromia ou hipercromia). Por fi m, o
CHCM corresponde à concentração de hemoglobina em
um volume de eritrócitos (hematócrito) e demonstra a
saturação de hemoglobina no eritrócito, correspondendo
à percentagem de hemoglobina em 100 mililitros de
hemácias5,11.
Desta forma, pacientes oncológicos frequentemente
apresentam anemia, que pode ser consequência direta do
tumor ou do próprio tratamento a que se submetem, sendo
que essa complicação hematológica comumente resulta
em aumento da morbidade do câncer, podendo até mesmo
Prevalência de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista 181-186
184 2018 jul.- dez.; 12(2):
ter impacto negativo sobre a taxa de mortalidade. Tendo
em vista que pacientes anêmicos cursam pior prognóstico
e apresentam resultados terapêuticos inferiores àqueles
observados em pacientes com valores hematimétricos
satisfatórios, torna-se imprescindível investir esforços no
sentido de minimizar a anemia dos pacientes oncológicos.
OBJETIVO
O objetivo do trabalho foi verifi car a prevalência
de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um
hospital do município de Catanduva-SP e discutir as
alterações hematológicas mais comumente encontradas
no hemograma que indiquem ou confi rmem o diagnóstico
de anemia.
MÉTODO
O processo de pesquisa foi iniciado após aprovação
em 12 de junho de 2017 pelo Comitê de Ética em Pesquisa
do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), com
número de parecer 2.114.393. A pesquisa foi realizada por
meio da coleta e análise dos dados de casos de anemia
diagnosticada por meio do hemograma em pacientes
oncológicos atendidos no Hospital-Escola Emílio Carlos
(HEEC) do município de Catanduva-SP, abrangendo
o período de janeiro a junho de 2017. Os dados foram
coletados nos prontuários dos pacientes (arquivo HEEC)
através de sistema de computação ou manual, e puderam
ser obtidos os dados referentes a casos de anemias em
pacientes portadores de algum tipo de câncer. Com os
dados coletados foi realizada a análise do possível tipo
de anemia diagnosticada para o paciente através da
observação de todas as alterações encontradas nos valores
dos índices hematimétricos, identifi cando a prevalência da
doença nos pacientes atendidos pelo hospital de ensino no
município. A organização dos dados coletados foi realizada
em gráfi cos e tabelas, utilizando o programa Microsoft
Excell.
RESULTADOS
Foram analisados 99 prontuários de pacientes dos
setores de Oncologia (55) e Quimioterapia (44) do HEEC,
sendo 46 do sexo masculino e 53 do sexo feminino. A
faixa etária dos pacientes do sexo masculino variou de
14 a 85 anos e do sexo feminino de 25 a 96 anos (Tabela
1). Foram selecionados os últimos hemogramas realizados
para análise dos parâmetros eritrocitários nos pacientes
em tratamento ambulatorial e quimioterápico.
Tabela 1 - Hemogramas analisados nos setores de oncologia e quimio-terapia do HEEC no período de janeiro a junho de 2017
MASCULINO FEMININO
Faixa etária 60 anos a 80 anos 50 anos a 80 anos
Oncologia 20 35
Quimioterapia 26 18
Total de pacientes 46 53
Foram considerados os seguintes parâmetros nos
hemogramas: contagem de hemácias, teor de hemoglobina,
hematócrito, índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM),
além da contagem de plaquetas e leucócitos, considerando
como valores de referência aqueles expressos no Quadro
1. De todos os hemogramas analisados, 30 pacientes
do sexo masculino e 28 do sexo feminino apresentaram
alterações nos parâmetros hematológicos eritrocitários.
O Gráfi co 1 mostra a porcentagem de alteração nos
parâmetros avaliados para esses pacientes.
Gráfi co 1 - Alterações nos parâmetros hematológicos de pacientes onco-lógicos atendidos no HEEC
DISCUSSÃO
De acordo com o Gráfi co 1, as alterações do
número de hemácias, da quantidade de hemoglobina e
do hematócrito mostraram as maiores variações quando
analisados, sendo justamente os parâmetros mais
empregados no diagnóstico de anemias. Valores inferiores
de hematócrito em mais de 68% dos pacientes mostram
a maior suscetibilidade de anemia nesse tipo de paciente.
As menores quantidades de hemácias e hemoglobina
refl etem na redução dos valores de hematócrito, uma vez
que este representa o percentual de hemácias em relação
ao sangue total5. Além disso, os exames com alterações
evidenciaram anisocitose, microcitose e hipocromia,
Prevalência de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista181 - 186
2018 jul.- dez.; 12(2): 185confi rmando a prevalência de anemia do tipo ferropriva
nesses pacientes5,12,13.
Os índices hematimétricos mostraram menor
alteração que os parâmetros anteriores, prevalecendo
nos pacientes do setor de quimioterapia, em mais de
20% em relação aos pacientes do setor de oncologia
ambulatorial. Isso se deve, em grande parte, aos efeitos
dos medicamentos quimioterápicos sobre a hematopoese,
levando à redução signifi cativa nos valores absolutos
desses índices.
Alterações nos níveis de plaquetas e leucócitos
também foram verifi cadas nos pacientes submetidos
à quimioterapia, mostrando a maior suscetibilidade a
doenças e a processos hemorrágicos nesses pacientes,
com valores abaixo dos recomendados pela OMS6,8.
De acordo com a Tabela 2, os dados encontrados
nos prontuários dos pacientes indicam prevalência de
anemia do tipo ferropriva, com valores de hematócrito
menores que 11%. De acordo com Aapro et al.2, a
anemia resulta em uma série de sintomas que acabam
infl uenciando o estado físico e funcional dos pacientes,
interferindo negativamente no tratamento e qualidade de
vida dos mesmos. Assim, investigar a defi ciência de ferro
é de especial importância para a confi rmação de anemia
ferropriva.
Tabela 2 - Valores hematimétricos prevalentes sem algumas anemias6
ANEMIA Hb Hm Ht VCM HCM CHCM
Sideroblástica 8,3 2,22 24,7 111,2 37,4 33,6
Aplástica 9,5 2,92 26,4 90,4 32,5 35,9
Hemolítica autoimune 10,8 3,69 32,7 88,6 29,2 33,0
Aplasia eritrocitária 5,2 1,44 14,5 100,6 36,1 35,8
Ferropriva 3,3 1,83 11,0 60,1 18,0 30,0
Megaloblástica 5,4 1,57 18,1 115,2 34,3 29,8
Na anemia da doença crônica a utilização do ferro
ocorre de maneira defeituosa, com uma diminuição do
ferro sérico, mas com níveis normais ou aumentados de
ferritina e ferro armazenado. Esses dados auxiliam no
diagnóstico diferencial entre anemia da doença crônica,
anemia ferropênica e outras relacionadas a doenças
primárias das hemácias14-16.
Uma característica importante em pacientes
oncológicos é a extensa infi ltração medular por células
neoplásicas oriundas de tecidos hematopoiéticos,
que acabam levando a uma reação fi brótica medular,
comprometendo a liberação de células sanguíneas
maduras4. O quadro sugestivo de infi ltração medular é
caracterizado pela presença de anisocitose, poiquilocitose
e hemácias em formato dacriócito (gota de lágrima), com
eventual presença de eritroblastos12,13,17. No entanto, os
achados laboratoriais para os pacientes avaliados não
evidenciaram esse tipo de comprometimento medular
no período considerado, sendo os valores obtidos
concordantes com a literatura quanto à prevalência de
anemia do tipo ferropriva.
CONCLUSÃO
Verifi cou-se por meio do estudo a prevalência de
anemia em pacientes oncológicos e, através da discussão
das alterações hematológicas encontradas no hemograma,
foi possível estabelecer o tipo de anemia prevalente, no
caso, a ferropriva, e, dessa forma, ressaltar a importância
do acompanhamento clínico do paciente durante o
tratamento ambulatorial e quimioterápico, tendo em
vista contribuir como sucesso da terapêutica oncológica
utilizada.
Prevalência de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista 181-186
186 2018 jul.- dez.; 12(2):
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Envio: 16/03/2018 Aceite: 25/07/2018
Prevalência de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista181 - 186
2018 jul.- dez.; 12(2): 187
ESTUDO DA ALTERAÇÃO GLICÊMICA EM PACIENTES ENTRE 30 A 40 ANOS NÃO DIABÉTICOS EM AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA DE UM HOSPITAL-ESCOLA NA
CIDADE DE CATANDUVA-SP
STUDY OF THE CHANGE IN GLYCEMIC INDEX IN PATIENTS BETWEEN 30 TO 40 YEARS OLD NON-DIABETIC INDIVIDUALS IN PRE-ANESTHESIA EVALUATION CARE AT A
HOSPITAL-SCHOOL IN THE CITY OF CATANDUVA - SP
ESTUDIO DE LA ALTERACIÓN GLUCÉMICA EN PACIENTES ENTRE 30 A 40 AÑOS NO DIABÉTICOS EN LA EVALUACIÓN PRE-ANESTÉSICA DE UN HOSPITAL-ESCUELA DE LA
CIUDAD DE CATANDUVA-SP
*Mestre em Cirurgia Vascular, Cardíaca, Torácica e Anestesiologia pela Universidade Federal de São Paulo. Docente da disciplina de Anestesiologia do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino ((UNIFIPA), Catanduva-SP. Contato: [email protected]**Mestre em Farmacologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP. Docente da disciplina de Anestesiologia do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino ((UNIFIPA), Catanduva-SP.***Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino ((UNIFIPA), Catanduva-SP.
ResumoIntrodução: O valor da glicemia é de grande importância para a avaliação pré-anestésica, que tem como fi nalidade reduzir a morbimortalidade do paciente durante ou após a cirurgia. Isso inclui realizar avaliações criteriosas e mais minuciosas com exames complementares para auxiliar em diagnósticos antes não encontrados, como o caso de alterações glicêmicas. Objetivo: Detectar alterações da glicemia em pacientes de 30 a 40 anos, não portadores de diabetes mellitus, de modo retrospectivo. Método: A metodologia é descritiva; trata-se da análise de prontuários de maio a agosto de 2017, considerando alguns fatores de exclusão como paciente em uso de hipoglicemiantes orais. Resultados: Os resultados encontrados demonstraram uma média glicêmica normal, porém com um desvio padrão que indica picos glicêmicos em alguns pacientes. Tais resultados mostraram a possibilidade de 25,85% dos pacientes encontrados apresentarem alterações glicêmicas e uma incidência maior das mesmas em indivíduos com idade mais avançada, mesmo que com exclusão prévia de pessoas já diagnosticadas com diabetes. Conclusão: Sendo ainda considerado o fato de que a maior parte dos indivíduos com alterações glicêmicas estão classifi cados como ASA II (83,33%), demonstra-se também, através deste trabalho, que esta condição está acompanhada de maior risco de morte envolvendo processos cirúrgicos.
Palavras-chave: Paciente. Avaliação anestésica. Alteração glicêmica.
AbstractIntroduction: The value of blood glucose is of great importance for the pre-anesthetic evaluation that has as purpose to reduce the mortality and morbidity of the patient during or after surgery. This includes conducting evaluations insightful and more in-depth with additional tests to assist in diagnoses not previously encountered, such as in case of glycemic changes. Objective: To detect blood glucose changes in patients 30 to 40 years old, non-carriers of diabetes mellitus, retrospective. Method: The methodology is descriptive through the analysis of medical records from May to August of 2017, considering some factors of exclusion as a patient on the use of oral hypoglycemic. Results: The results found showed an average glycemic normal, but with a standard deviation that indicates peaks of glucose in some patients. The results showed the possibility of 25.85% of the patients found to present changes glycemic and a higher incidence of the same in individuals with more advanced age, even with exclusion of prior people already diagnosed with diabetes. Conclusion: The majority of individuals with with changes glycemic are classifi ed as ASA II (83.33%), and through this studies we could observe this condition is accompanied by greater risk of death involving surgical procedures.
Keywords: Patients. Evaluation of anesthesia. Change glycemic.
ResumenIntroducción: El valor de la glucemia es de gran importancia para la evaluación pre anestésica, que tiene como fi nalidad reducir la morbi mortalidad del paciente durante o después de la cirugía. Esto incluye realizar evaluaciones cuidadosas y más minuciosas con exámenes complementarios para auxiliar en diagnósticos antes no encontrados, como el caso de alteraciones glucémicas. Objetivo: Detectar cambios de la glucemia en pacientes de 30 a 40 años, no portadores de diabetes mellitus, de modo retrospectivo. Método: La metodología es descriptiva; se trata del análisis de prontuarios de mayo a agosto de 2017, considerando algunos factores de exclusión como paciente en uso de hipoglucemiantes orales. Resultados: Los resultados encontrados demostraron una media glucémica normal, pero con una desviación estándar que indica picos glucémicos en algunos pacientes. Tales resultados mostraram la posibilidad de que el 25,85% de los pacientes encontrados presenten alteraciones glucémicas y una incidencia mayor de las mismas en individuos con edad más avanzada, aun que con exclusión previa de personas ya diagnosticadas con diabetes. Conclusión: Siendo todavía considerado el hecho de que la mayor parte de los individuos con alteraciones glucémicas están clasifi cados como ASA II (83,33%), se demuestra también, a través de este trabajo, que esta condición está acompañada de mayor riesgo de muerte involucrando procesos quirúrgico.
Palabras clave: Paciente. Evaluación de la anestesia. Alteración glucémica.
Luis Fernando Rodrigues Maria*, Jaime João Jorge**, Gizelly Ayumi Yamamoto***, Guilherme Martins Tahan***, Leonardo dos Reis Resende***, Luiza Mastrange Pugin***, Matheus Nascimento dos Anjos***, Valdir Jesus Pagotto Junior***, Vinicius Areia Garcia***
Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP 187-191
188 2018 jul.- dez.; 12(2):
INTRODUÇÃO
A avaliação pré-anestésica apresenta objetivos
diversos que se relacionam a vários âmbitos, apresentando
como principal propósito a redução da morbimortalidade
do paciente durante ou após a cirurgia. Além de
proporcionar benefícios como diminuição do número de
cirurgias suspensas e aumento da satisfação da equipe
médica e do paciente. A aplicação das diretrizes de normas
e cuidados anestésicos foram propostas pela American
Society of Anesthesiologists (ASA) em 1987. Tais diretrizes
investigam anestesias prévias, medicamentos em uso,
alergias e sugerem a revisão dos prontuários e de exames
físicos seguidos de exames laboratoriais de importância
para o ato anestésico-cirúrgico, como o exame glicêmico1.
A anamnese, ou história médica, é um constituinte
crucial no pré-operatório. Durante a composição da
história médica do paciente deve-se documentar distúrbios
médicos, cirurgias prévias, complicações relacionadas a
anestesias anteriores, alergias e hábitos, como a prática de
exercícios físicos, etilismo, tabagismo ou drogas ilícitas. É
também necessário conhecer a natureza do procedimento
cirúrgico que será realizado, uma vez que pode auxiliar
direcionando a condução da avaliação pré-anestésica e
do planejamento da anestesia, bem como na avaliação
de riscos específi cos durante ou após procedimento
cirúrgico2. A avaliação inclui uma análise geral dos sistemas
cardiovascular, com identifi cação de sinais e sintomas de
isquemia miocárdica, insufi ciência cardíaca congestiva,
hipertensão descontrolada, doenças valvulares e
alterações do ritmo cardíaco3; pulmonar, com identifi cação
das principais causas de morbimortalidade, incluindo
bronquite, broncoespasmo, hipoxemia, pneumonia,
doença pulmonar obstrutiva crônica e insufi ciência
respiratória4; endócrino, ao investigar poliúria, polidipsia,
fadiga, apatia, ganho ponderal ou perda de peso, tontura,
cefaleia, nervosismo e tremor5; neurológico e muscular.
Exames como eletrocardiograma, ureia, creatinina
e eletrólitos são necessários para complementar a
avaliação pré-anestésica6. A solicitação de exames
complementares realizar-se-á de forma individualizada
e segue recomendações com relação aos exames pré-
operatórios mais frequentemente solicitados7. Dentre eles,
há o exame de glicemia.
Apesar do baixo risco de complicações perioperatórias
em pacientes saudáveis, historicamente, a realização
de vários testes laboratoriais antes de procedimentos
cirúrgicos eletivos tornou-se rotineira em todo o mundo, na
segunda metade do século XX8,9. Entretanto, a solicitação
de uma bateria de exames para todos os pacientes
não trouxe muitas informações úteis e não diminuiu os
eventos adversos, além de mostrar vários resultados
falso-positivos. Assim, a partir da década de 1990 surgiu a
preocupação de se limitar a solicitação de exames àqueles
realmente indicados de acordo com o quadro clínico do
paciente. Apesar disso, o excesso de exames realizados
antes de uma cirurgia ainda é uma realidade em muitos
serviços, sendo apontado como uma das principais causas
de gastos desnecessários10.
O exame de glicemia é importante por detectar
hiperglicemia e hipoglicemia, para ajudar o diagnóstico
de diabetes e para monitorar os níveis de glicose em
pessoas com diabetes, através de uma amostra de sangue
do paciente em jejum11. Em nosso ambulatório, o exame
é solicitado para pacientes diabéticos, com doenças
neurológicas, com uso de corticosteroides e com idade
maior de 50 anos. Níveis altos de glicose, geralmente,
indicam diabetes, mas muitas outras doenças e estados
clínicos podem causar hiperglicemia.
O Quadro 1 resume o signifi cado dos resultados, que
foram baseados em recomendações da American Diabetes
Association11.
Quadro 1 – Signifi cados dos resultados do nível de glicose
Glicemia em jejum
NÍVEL DE GLICOSE SIGNIFICADO
De 70 a 99 mg/dL Glicemia em jejum normal
De 100 a 125 mg/dL (de 5,6 a 6,9 mmol/L)
Glicemia em jejum alterada (pré-diabetes)
De 126 mg/dL ou mais em pelo menos dois exames
Diabetes
Outros critérios além da American Diabetes
Association podem ser utilizados para diagnóstico de
diabetes no adulto12:
• glicemia ao acaso superior ou igual a 200 mg/dL
com sintomas clássicos;
• GTT (teste de tolerância à glicose) menor que 126
mg/dL e, em 2 horas, após 75 g de glicose por via oral,
superior ou igual a 200 mg/dL.
OBJETIVO
O objetivo desse estudo é analisar a glicemia de
Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP187 - 191
2018 jul.- dez.; 12(2): 189jejum de 30 pacientes com idade entre 30 e 40 anos,
sabidamente não portadores de diabetes de maneira
retrospectiva através de estudo do prontuário.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, no qual foram
separados 30 pacientes, de ambos os sexos, que
realizaram avaliação pré-anestésica, semanalmente, no
ambulatório de avaliação pré-anestésica do Hospital-
Escola Emílio Carlos (HEEC) do Centro Universitário Padre
Albino (UNIFIPA), no período de 07 de junho de 2017
a 14 de setembro de 2017. Estudo aprovado mediante
parecer do Comitê de Ética em Pesquisa/UNIFIPA sob nº
2.151.850.
Têm-se como base dessa pesquisa alguns fatores
que auxiliam na análise dos dados:
• fatores de inclusão: pacientes que possuem
glicemia de jejum solicitada em um período inferior a 6
meses da data da consulta e não diabéticos (intervalo de
dias da data do exame e da consulta é de 180 dias);
• fatores de exclusão: pacientes sabidamente
diabéticos e em uso de hipoglicemiante oral, pacientes
que realizaram pancreatectomia, pacientes internados ou
com infecção.
Foram considerados como glicemia de jejum
alterada valores abaixo de 70 mg/dl ou acima de 100 mg/
dl, utilizando como instrumento a tabela com base nas
recomendações da American Diabetes Association12. Os
principais materiais utilizados foram os prontuários dos
meses de junho a setembro de 2017 do HEEC e a tabela
de controle dos dados.
A Tabela 1 distribui a população do estudo quanto ao
sexo. A Tabela 2 mostra a data do exame de glicemia e a
data da avaliação pré-anestésica, retiradas dos prontuários
do paciente. O intervalo de dias, calculado na Tabela 2, é
usado para critério de inclusão, uma vez que os pacientes
devem ter a glicemia de jejum solicitada em um período
inferior a 6 meses da data da consulta. A Tabela 3 distribui
os pacientes conforme a especialidade médica que
encaminhou o paciente para a avaliação pré-anestésica.
A avaliação ainda classifi ca o paciente de acordo com
o escore de predição de risco de óbito, o Sistema de
Classifi cação do Estado Físico da ASA13. A Tabela 4 divide
esses pacientes em ASA 1 (paciente sadio sem alterações
orgânicas) e ASA 2 (paciente com alteração sistêmica leve
ou moderada). A Tabela 5 mostra os valores do exame
de glicemia obtidos nos prontuários de cada paciente da
amostra.
Dados antropométricos
Tabela 1 - Distribuição quanto ao sexo da população
Número pacientes 30
Masculino 3
Feminino 27
Tabela 2 - Data do exame e da consulta e intervalo de dias
Data da consulta Data do exame Intervalo de dias
22/06/2017 22/06/2017 Mesmo dia
31/08/2017 21/08/2017 10 dias
22/06/2017 08/06/2017 14 dias
30/08/2017 28/08/2017 2 dias
30/08/2017 17/08/2017 13 dias
06/09/2017 28/07/2017 42 dias
12/07/2017 12/05/2017 61 dias
26/07/2017 12/07/2017 14 dias
26/07/2017 11/07/2017 15 dias
26/07/2017 07/07/2017 19 dias
16/08/2017 01/08/2017 15 dias
23/08/2017 17/08/2017 6 dias
14/09/2017 13/09/2017 1 dia
28/06/2017 21/06/2017 7 dias
28/06/2017 21/06/2017 7 dias
22/06/2017 12/05/2017 41 dias
21/06/2017 05/06/2017 16 dias
06/09/2017 14/08/2017 23 dias
28/06/2017 21/06/2017 7 dias
07/06/2017 19/05/2017 19 dias
14/06/2017 19/06/2017 5 dias
05/07/2017 06/04/2017 90 dias
12/07/2017 27/06/2017 15 dias
14/07/2017 14/04/2017 91 dias
28/06/2017 23/06/2017 5 dias
26/07/2017 07/07/2017 19 dias
26/07/2017 03/07/2017 23 dias
19/07/2017 03/07/2017 16 dias
02/08/2017 13/07/2017 20 dias
21/06/2017 09/06/2017 12 dias
Tabela 3 - Distribuição da amostra por especialidade médica
Especialidade Total de pacientes
Cirurgia geral 1
Ortopedia 3
Ginecologia e obstetrícia 7
Cirurgia plástica 12
Oncologia 1
Clínica cirúrgica 4
Reumatologia 1
Vascular 1
Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP 187-191
190 2018 jul.- dez.; 12(2):
Tabela 4 - Classifi cação ASA da amostra
ASA Total de pacientes
1 16
2 14
Tabela 5 - Distribuição dos valores glicêmicos da amostra
Paciente Glicemia
1 86mg/dl
2 83mg/dl
3 74mg/dl
4 108mg/dl
5 83mg/dl
6 103mg/dl
7 125mg/dl
8 87mg/dl
9 90mg/dl
10 98mg/dl
11 94mg/dl
12 91mg/dl
13 93mg/dl
14 130mg/dl
15 100mg/dl
16 82mg/dl
17 94mg/dl
18 78mg/dl
19 84mg/dl
20 94mg/dl
21 86mg/dl
22 77mg/dl
23 91mg/dl
24 98mg/dl
25 100mg/dl
26 89mg/dl
27 89mg/dl
28 86mg/dl
29 74mg/dl
30 85mg/dl
DISCUSSÃO
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde feita
pelo IBGE em 2013, as mulheres (7,0%) apresentaram
maior proporção de relato de diagnóstico de diabetes
que os homens (5,4%)13. Os resultados de nosso estudo
mostram no Gráfi co 1 que de uma amostra de 30 pacientes,
27 são do sexo feminino, em que quatro apresentaram
glicemia em jejum alterada e uma com glicemia acima de
125 mg/dl. Três são do sexo masculino, em que um deles
apresenta glicemia em jejum alterada.
Gráfi co 1 - Glicemia em jejum por sexo
Na amostra, a faixa etária predominante foi de 33-34
anos (nove pacientes), seguida pelas faixas de 35-36 anos
e 39-40 anos (ambas com seis pacientes cada), 30-32
anos (cinco pacientes) e 37-38 anos (quatro pacientes).
Conforme a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, em
relação aos grupos de idade, quanto maior a faixa etária,
maior o percentual de diabéticos. De acordo com os
resultados obtidos no estudo, dos seis pacientes na faixa
etária 39-40 anos, dois apresentam glicemia em jejum
alterada e um paciente com glicemia acima de 125 mg/dl.
Foi usado o escore de predição de risco de óbito
para avaliação pré-operatória, Sistema de Classifi cação
do Estado Físico da ASA13, obtido nos prontuários
médicos. Dos trinta pacientes, dezesseis apresentam ASA
1 (paciente sadio sem alterações orgânicas) e quatorze
apresentam ASA 2 (paciente com alteração sistêmica leve
ou moderada). Nesse aspecto, dos seis pacientes com
glicemia igual ou maior a 100 mg/dl, cinco apresentam
ASA 2.
Utilizando os dados para análise estatística, é
possível criar um histograma glicêmico (Gráfi co 2) a partir
da média da amostra. É utilizado o método de distribuição
normal para formar os Gráfi cos 2 e 3, permitindo estudar
probabilisticamente a média das variáveis da amostra.
Com base em uma função, é possível formar uma curva
de distribuição normal, que inclui os valores glicêmicos dos
pacientes. Assim, traçando o intervalo do Gráfi co 2 em 100
mg/dl ou mais, é obtida uma área da curva de distribuição
normal, delimitada no Gráfi co 3. Com base nessa área é
possível afi rmar que a probabilidade de um paciente da
amostra apresentar uma glicemia maior ou igual a 100
mg/dl é de 25,85%.
Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP187 - 191
2018 jul.- dez.; 12(2): 191
FREQ
UÊN
CIA
Gráfi co 2 - Histograma glicêmico
Gráfi co 3 -Distribution plot
A maioria dos pacientes com alteração glicêmica,
83,33%, estão classifi cados como ASA II. A média
glicêmica da amostra foi de 91,73 mg/dl, considerada
normal. Entretanto, o desvio padrão foi de 12,76. Logo,
a amostra não era homogênea e podem-se encontrar
pacientes com picos glicêmicos bem elevados dentre os
demais.
CONCLUSÃO
A avaliação pré-anestésica tem como objetivo
reduzir a morbimortalidade do paciente durante ou após
a cirurgia. Além disso, diminui o número de cirurgias
suspensas, aumenta a satisfação da equipe e, portanto,
proporciona um benefício considerável. Para isso, é
realizada uma análise bem minuciosa de antecedentes
patológicos, cirúrgicos, medicamentosos, anestésicos,
históricos familiares e alterações nos diversos sistemas do
organismo. Essa preocupação passou a gerar gastos com
exames, procedimentos eventualmente desnecessários.
Portanto, são utilizados critérios para selecionar o que
deve ser pedido ao paciente, como é o caso da glicemia.
Pode-se detectar hiperglicemia, hipoglicemia e ajudar no
diagnóstico de diabetes.
Analisando os prontuários do ambulatório foi
possível descrever que 25,85% dos pacientes apresentam
alterações glicêmicas. Esse dado é relevante uma vez que
foram excluídas as pessoas com diagnóstico prévio de
diabetes. Além da incidência neste estudo de pacientes
com glicemia alterada, mais estudos serão realizados para
serem confrontados com a literatura.
REFERÊNCIAS
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2. Amaral JLG, Geretto P, Tardelli MA. Guia de anestesiologia e medicina intensiva. São Paulo: Manole; 2011.
3. Silva GV, Mion Júnior D, Gomes MAM, Machado CA, Praxedes JN, Amodeo C, et al. Qual a diretriz de hipertensão arterial os médicos brasileiros devem seguir? Análise comparativa das diretrizes brasileiras, européias e norte-americanas (JNC VII). Arq Bras Cardiol. 2004; 83(2):179-81.
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9. Sharma GK, Sharma SB, Shaheen WH. Preoperative testin. [Internet]. New York: Medscape Reference. [citado em 22 fev. 2018]. Disponívelem: https://emedicine.medscape.com/article/285191-overview#showall
10. Pasternak L. Reuven. Preoperative laboratory testing: general issues and considerations. AnesthesiolClin North America. 2004; 22(1):13-25.
11. Marathe PH, Gao HX, Close KL. American Diabetes Association standards of medical care in diabetes 2017. J Diabetes. 2017; 9(4):320-4.
12. Cangliani LM. Tratado de anestesiologia – SAESP. 7ª. ed. São Paulo: Atheneu; 2011.
13. IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho de Rendimento. Pesquisa Nacional de Saúde. Rio de Janeiro; 2013.
Envio: 28/03/2018 Aceite: 12/07/2018
Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP 187-191
192 2018 jul.- dez.; 12(2):
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ESTUDANTES DE UM CURSO DE MEDICINA
INSTRUMENTS FOR EVALUATING THE PERFORMANCE OF STUDENTS OF A MEDICINE COURSE
INSTRUMENTOS DE EVALUACIÓN DEL RENDIMIENTO DE ESTUDIANTES DE UN CURSO DE MEDICINA
*Pediatra, doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Do Instituto de Ciência da Saúde do curso de Medicina do Centro Uni-versitário Padre Albino (UNIFIPA). Catanduva-SP. Contato: [email protected]**Acadêmicas do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). *** Doutora em Sociologia pela Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho. Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). Catanduva-SP.
ResumoIntrodução: A avaliação do desempenho do estudante constitui, possivelmente, a etapa de maior relevância em todo o processo educacional, permitindo a obtenção de informações sobre o aprendizado e subsidiando a tomada de decisões que, muitas vezes, são críticas para a vida do estudante. Objetivos: Descrever os instrumentos de avaliação do desempenho estudantil e comparar resultados com propostas das Diretrizes Curriculares Nacionais. Material e Método: Estudo transversal, descritivo, realizado através da aplicação de questionário aos docentes de todas as disciplinas do ciclo básico do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), de Catanduva-SP, no período de junho a novembro/2017. As variáveis analisadas foram: disciplina, série e respostas da questão relativa aos instrumentos de avaliação de desempenho estudantil. Resultados: Os participantes representaram 64% dos docentes. Os instrumentos de avaliação citados foram: prova teórica (100%); discussão de caso clínico, seminário e prova prática em laboratório próprio (32-39%); relatório (25%); Multiple Choice Questions, portfólio e prova oral (11-17%); Objetive Structured Clinical Examination, Short Case, Extended Matching Items, Short Answer Question e Ask Oriented Assessment of Clinical Skills (1-6%). Conclusões: O processo de avaliação do desempenho do estudante está de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, mas necessita de aprimoramento. Os resultados auxiliaram na elaboração de um diagnóstico situacional e sugerem a necessidade de se ampliar os programas de desenvolvimento docente, além da premência de se implantar um sistema de avaliação programática que contribua para a efi cácia das funções de avaliação.
Palavras-chave: Educação médica. Docentes de Medicina. Questionários. Avaliação educacional.
AbstractIntroduction: A subject that has been widely discussed in recent times is the evaluation of student performance, which is possibly the most relevant stage in the whole educational process, allowing the acquisition of information about learning and subsidizing decision making that often, are critical to student life. Objectives: To describe the instruments for evaluating student performance and to compare results with proposals of the National Curricular Guidelines. Material and Method: a cross-sectional, descriptive study conducted through the application of a questionnaire to professors from all disciplines of the basic cycle of the UNIFIPA Medicine course, from Catanduva-SP, from June to November/2017. The variables analyzed were: discipline, series and answers to the question regarding the instruments of evaluation of student performance. Results: The participants represented 64% of the professors. The evaluation instruments cited were: Theoretical test (100%); Discussion of Clinical Case, Seminar and practical test in own laboratory (32-39%); Report (25%); Multiple Choice Questions, Portfolio and Oral Test (11-17%); Objective Structured Clinical Examination, Short Case, Extended Matching Items, Short Answer Question and Ask Oriented Assessment of Clinical Skills (1-6%). Conclusions: The student performance evaluation process is in accordance with the National Curriculum Guidelines, but needs improvement. The results helped in the elaboration of a situational diagnosis and suggested the need to expand the professor development programs, besides the urgency to implement a program evaluation system that contributed to the effectiveness of the evaluation functions.
Keywords: Medical education. Medical teachers. Questionnaires. Educational evaluation.
ResumenIntroducción: La evaluación del desempeño del estudiante constituye, posiblemente, la etapa de mayor relevancia en todo el proceso educativo, permitiendo la obtención de informaciones sobre el a prendizaje y subsidiando la toma de decisiones que a menudo son críticas para la vida del estudiante. Objetivos: Describir los instrumentos de evaluación del desempeño estudiantil y comparar resultados con propuestas de las Directrices Curriculares Nacionales. Material y Método: Estudio transversal, descriptivo, realizado a través de la aplicación de cuestionario a los docentes de todas las disciplinas del ciclo básico del curso de Medicina del Centro Universitario Padre Albino (UNIFIPA), de Catanduva-SP, en el período de junio a noviembre / 2017. Las variables analizadas fueron: disciplina, serie y respuestas de la cuestión relativa a los instrumentos de evaluación de desempeño estudiantil. Resultados: Los participantes representaron el 64% de los docentes. Los instrumentos de evaluación citados fueron: Prueba teórica (100%); Discusión de Caso Clínico, Seminario y Prueba práctica en laboratório propio (32-39%); Informe (25%); Multiple Choice Questions, Portafolio y Prueba oral (11-17%); Objetive Structured Clinical Examination, Short Case, Extended Matching Items, Short Answer Questione y Ask Oriented Assessmentof Clinical Skills (1-6%). Conclusiones: El proceso de evaluación del desempeño del estudiante está de acuerdo con las Directrices Curriculares Nacionales, pero necesita de perfeccionamiento. Los resultados ayudaron en la elaboración de un diagnóstico situacional y sugieren la necesidad de ampliar los programas de desarrollo docente, además de la premencia de implantar un sistema de evaluación programática que contribuya a la efi cacia de las funciones de evaluación.
Palabras clave: Educación médica. Docentes médicos. Cuestionarios. Evaluación educacional.
Terezinha Soares Biscegli*, Helene Franzin**, Marília de Jesus Nogueira**, Fernanda Yae Takaoka Muraishi**, Silvia Ibiraci de Souza Leite***
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina192 - 199
2018 jul.- dez.; 12(2): 193INTRODUÇÃO
Um assunto bastante discutido nos últimos
tempos é a avaliação do desempenho do estudante, que
constitui, possivelmente, a etapa de maior relevância em
todo o processo educacional, pois permite a obtenção de
informações sobre o aprendizado e subsidia a tomada
de decisões que, muitas vezes, são críticas para a vida
do estudante. Além disso, a forma e o conteúdo das
avaliações são altamente importantes, na medida em
que constituem um poderoso determinante de como os
alunos estudam e aprendem1,2.
No caso específi co do estudante de Medicina, a
avaliação reveste-se de importância especial, visto que
deve contemplar não só um conjunto de conhecimentos
fundamentais e uma diversidade de habilidades de
complexidade variável, mas também uma infi nidade
de atitudes frente a inúmeros aspectos da prática
profi ssional, que nem sempre são de fácil avaliação. É
componente essencial na sua formação, interessando
não só ao estudante, como também à escola médica, aos
sistemas de saúde e à sociedade.
Na área da Educação Médica, o foco de atenção
tem se dirigido ao que se denomina de competências
médicas. Competência é, em geral, defi nida como um
conjunto de habilidades de natureza intelectual ou
física, relevante para um determinado fi m, passível de
ser ensinada, aprendida e avaliada. O reconhecimento
progressivo desta importância tem propiciado um
grande desenvolvimento desta modalidade de avaliação
e sua evolução tem resultado em uma diversidade de
conceitos e de métodos aplicáveis a situações específi cas
na avaliação do estudante, bem como no aumento da
complexidade e da difi culdade inerente à área3-5.
A avaliação é parte integrante do processo ensino/
aprendizagem. Entretanto, necessita de preparo técnico
e adequada observação dos profi ssionais envolvidos no
contexto educacional. Dessa forma, a avaliação integral
implica em obter informações, por meio da aplicação de
métodos específi cos, que podem subsidiar a tomada de
decisões relativa ao binômio educador/educando e deve
ser entendida como “um processo de comparação entre
os dados do desempenho do estudante e os objetivos
instrucionais previamente estabelecidos”6. Entretanto,
tal intervenção deve cumprir suas três principais funções
que são: estimular o aprendizado (função formativa),
embasar a tomada de decisões (função somativa) e prover
elementos para o controle da qualidade do currículo
(função informativa)6. O instrumento de avaliação deve
possuir atributos fundamentais, tais como validade,
fi dedignidade, viabilidade, equivalência, aceitabilidade,
impacto educacional e efeito catalítico7,8.
Considerando a necessidade de atualização, em
2014, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) instituiu
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) mais abrangentes,
assim, preconiza que a formação do graduando em
Medicina deve se desdobrar nas áreas de Atenção à
Saúde, Gestão em Saúde e Educação em Saúde e tornando
imperativa a revisão dos currículos dos cursos9.
OBJETIVO
Descrever os instrumentos de avaliação do
desempenho estudantil no curso de Medicina do Centro
Universitário Padre Albino (UNIFIPA); comparar os
resultados com as propostas das DCN; sugerir eventuais
alterações ou acréscimos para adequação das práticas
vigentes até o momento.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal, descritivo,
quantitativo, no qual se utilizou um “questionário
estruturado não disfarçado” composto de dados de
identifi cação das disciplinas do curso, além de uma
questão com 16 alternativas, como instrumentos para
coleta de dados na avaliação do desempenho estudantil.
Participaram da amostra 71 docentes responsáveis
pelas disciplinas vigentes no curso de Medicina da
UNIFIPA, de Catanduva-SP10, durante o período de junho
a novembro de 2017. Através de treinamento específi co,
a coleta dos dados foi realizada pelos acadêmicos
pesquisadores e a abordagem dos entrevistados, feita
de forma individual. Após esclarecimento e autorização
através de assinatura do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), os participantes foram orientados
a responder as questões assinalando uma ou mais das
opções oferecidas e os aplicadores marcavam data e local
para a devolução do questionário preenchido.
Foram sujeitos do estudo todos os docentes
responsáveis pelas 71 disciplinas do ciclo básico (1ª à 4ª
séries) vigentes no curso no período da pesquisa, assim
como, todos os sujeitos preencheram corretamente o
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina 192-199
194 2018 jul.- dez.; 12(2):
questionário e o retornaram dentro do prazo programado.
As variáveis analisadas foram: disciplina, série e
respostas da questão 1.
Os dados coletados foram armazenados em planilha
do Microsoft Offi ce Excel e os resultados expressos em
número e porcentagem.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa/UNIFIPA sob o parecer nº 1.812.603 e CAAE
nº 61519916.9.0000.5430.
RESULTADOS
A distribuição das disciplinas de acordo com as
séries em curso compreende as 71 disciplinas do curso
de Medicina da UNIFIPA, de Catanduva-SP, no período
de junho a novembro de 2017, de acordo com as séries
do ciclo básico. Referente à primeira série, temos 25%,
14,1% para a segunda série, 32,4% para a terceira e 31%
representando a quarta-série.
A Tabela 1 apresenta a distribuição das respostas dos
docentes relativas aos instrumentos de coleta de dados
utilizados para avaliar o desempenho dos estudantes do
curso.
Tabela 1 – Distribuição das respostas dos 71 docentes responsáveis por disciplinas do curso de Medicina da UNIFIPA, de Catanduva-SP, relativas aos instrumentos de coleta de dados utilizados para avaliar o desempe-nho dos estudantes no período de junho a novembro de 2017
Instrumentos Disciplinas
N %
Prova teórica: dissertativa ou objetiva (múltipla es-colha, verdadeiro/falso)
71 100,0
Prova prática em laboratório próprio de cada dis-ciplina
23 32,4
Prova oral 8 11,3
Seminário 25 35,2
Discussão de caso clínico 28 39,4
Portfólio 8 11,3
Relatório 18 25,4
Logbook 0 0,0
MCQ (Multiple Choice Questions) 12 16,9
EMI (Extended Matching Items) 1 1,4
SAQ (Short Answer Question) 1 1,4
OSCE (Objetive Structured Clinical Examination) 4 5,6
Viva voice 0 0,0
SC (Short Case) 2 2,8
TOACS (Ask Oriented Assessment of Clinical Skills) 1 1,4
Outros (citar) 10 14,1
DISCUSSÃO
As faculdades da mantenedora Fundação Padre
Albino transformaram-se em Faculdades Integradas Padre
Albino (FIPA), em 2007, e a Faculdade de Medicina de
Catanduva (FAMECA), criada em 1969, passou a se integrar
como curso de Medicina. Em 2017, a FIPA foi credenciada
como Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA)11. O
curso de Medicina consolida-se, cada vez mais, como
um importante centro de ensino, extensão e pesquisa,
destacando-se por seu relevante papel como formador
de profi ssionais médicos para atuarem em âmbito
nacional, reformulando-se, em um processo contínuo de
aprimoramento, com ênfase na busca de soluções para as
demandas locais e regionais estratifi cadas pela situação
geográfi ca, política e econômica onde está inserido.
Atualmente, emergem tendências de reorganização
de conteúdos e de assistências que envolvem novas
premissas e conceitos, tendo-se em vista, acompanhar
o desenvolvimento célere de tecnologias de grande
impacto. Portanto, à medida que novas tecnologias
são criadas e colocadas a serviço da sociedade, estas
devem ser introduzidas na estrutura curricular do curso,
na forma de conteúdos programáticos e de novas
propostas metodológicas. Assim, busca-se contemplar
o contemporâneo e o atual ao saber de formação
consolidado, estabelecendo a interdisciplinaridade e
a inovação, no contexto pedagógico e em relação à
formação profi ssional do graduando. Entende-se que a
constante transformação e atualização de conhecimentos
universais, em sintonia com o mundo e o mercado de
trabalho, favorecem o aprendizado.
Quanto ao projeto pedagógico10, este prevê um
conjunto de conteúdos de aprendizagem articulados entre
si, que valorizam o saber científi co, técnico e humanístico.
Dessa maneira, para ministrá-los, no curso de Medicina
da UNIFIPA são capacitados e disponibilizados docentes
qualifi cados, ajustados ao Plano de Carreira implantado
pela IES em 2008.
Considerando contemplar cada momento
de formação, a organização curricular estabelece
conteúdos de aprendizagem norteados por um projeto
interdisciplinar, de tal forma estabelecida que possibilite
observar, na dimensão vertical, como esses momentos
são compreendidos, de acordo com os objetivos daquela
organização. A articulação entre os diferentes momentos
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina192 - 199
2018 jul.- dez.; 12(2): 195e conteúdos é indicada nas ementas e na compatibilidade
entre competências, habilidades e dimensões da formação,
sempre de acordo com as DCN, de forma a garantir a
qualidade da formação profi ssional em dupla dimensão:
a formal, que diz respeito ao conteúdo específi co, e a
social, que corresponde ao envolvimento crítico com os
problemas da sociedade.
Dentro desse contexto formador, o currículo do curso
passou por uma reestruturação de sua matriz curricular
no período de 2007 a 2012, elaborada a partir das
necessidades de ajustes curriculares. Após este período,
houve necessidade de reajustes e adequações no ciclo de
formação (1ª à 4ª séries) e, portanto, foi elaborado um
novo processo de reestruturação da matriz, implantada
gradativamente, ano a ano, a partir de 2013, com a 1ª
série, e fi nalizada em 2016, com as adequações da 4ª
série, sendo que a partir de 2015 já com base nas DCN
Medicina 2014.
O Currículo Pleno, o planejamento da seriação
e das sequências, as programações e matérias de suas
disciplinas têm referência em alguns critérios categorizados
e apresentados ordenadamente com o propósito de atingir
os objetivos do curso e o perfi l do egresso. Em cada ano
foi inserido um conjunto de Módulos que por sua vez reúne
um conjunto de Disciplinas referentes às seguintes Áreas
do Conhecimento: Ciências Básicas; Ciências Humanas/
Tecnológicas e Saúde Coletiva; Clínica Médica e Saúde
Mental; Cirurgia, Materno-Infantil, Emergências Médicas/
Medicina Intensiva. As disciplinas de cada uma das áreas
mencionadas estão distribuídas de forma equitativa ao
longo do curso, nas séries respectivas, sendo que algumas
delas são ministradas progressivamente em duas ou mais
séries.
No período atual, o curso disponibiliza 71 disciplinas,
dentre elas: Anatomia; Biofísica; Biologia Celular;
Bioquímica; Farmacologia; Fisiologia; Genética; Histologia;
Embriologia; Microbiologia/Micologia; Imunologia;
Parasitologia; Patologia Geral, Especial e Clínica; Medicina
Preventiva e Social; Sociologia; Psicologia; Enfermagem;
Metodologia Científi ca; Bioestatística; Informática Médica;
Medicina Legal; Bioética; Nutrologia; Documentação
Médica; Medicina do Trabalho; Introdução à Gestão em
Saúde; Medicina de Família e Comunidade e Educação em
Saúde; Obstetrícia/Medicina Fetal; Pediatria; Puericultura;
Neuro desenvolvimento; Semiologia; Nefrologia;
Dermatologia; Reumatologia; Psiquiatria; Cardiologia;
Pneumologia; Neurologia; Endocrinologia; Hematologia;
Doenças Infecciosas; Gastroenterologia; Geriatria e
Cuidados Paliativos; Imunologia Clínica; Imagem/Medicina
Nuclear; Medicina Complementar; Bases Gerais da Cirurgia;
Cirurgia Plástica; Urologia; Ortopedia e Traumatologia;
Otorrinolaringologia; Oftalmologia; Anestesiologia;
Sistema Digestório e Anexos; Cirurgia Vascular; Cirurgia
Torácica; Oncologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço;
Neurocirurgia; Cirurgia Pediátrica; Urgência; Medicina
Intensiva.
As organizações de saúde têm se defrontado com
crescentes desafi os e difi culdades. A incorporação de
novas tecnologias demanda novos posicionamentos e a
administração de um volume muito maior de informações
que subsidiem processos decisórios. Vislumbra, portanto,
novos posicionamentos e requer o uso de tecnologias
de ponta, para atender a uma sociedade diferente -
uma “sociedade conectada”. A formação em saúde
exige, atualmente, professores mais bem preparados e
capazes de estimular alunos para o reconhecimento de
suas potencialidades, respeitando suas características
individuais.
Metodologicamente, norteia os graduandos e
professores para a utilização de conteúdos fundamentais
de diferentes áreas, abrangendo as disciplinas básicas
de laboratório e as de conteúdo social, psicológico,
antropológico, fi losófi co, ambiental, pedagógico e
metodológico. Quanto aos conteúdos específi cos, estes
são inerentes ao conhecimento e à prática, enquanto
subsídios para a formação do profi ssional que atuará no
mercado de trabalho em um mundo globalizado; nessa
especifi cidade, o aluno se prepara para melhorar seu
perfi l, iniciando atividades de prática profi ssional e/ou
estágios já na 1ª série.
Avaliação do desempenho do estudante
A avaliação do estudante de Medicina compreende
a obtenção de informações sobre os domínios trabalhados
na sua educação e treinamento para cumprir diferentes
fi nalidades. Para o perfeito entendimento deste conceito
demanda considerar quais são estes domínios (o quê), a
natureza, as indicações, as vantagens e as desvantagens
dos diferentes métodos e técnicas existentes (como), o
ambiente ou contexto em que se dá a avaliação (onde),
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina 192-199
196 2018 jul.- dez.; 12(2):
as instâncias envolvidas (quem), os momentos específi cos
(quando) e as fi nalidades a que serve (para quê)6.
A educação do acadêmico constitui um processo
complexo, que caminha em paralelo ao seu treinamento
para o exercício de uma profi ssão. Requer a realização
de diferentes atividades discentes articuladas e planejadas
em função de desfechos esperados, na aquisição de
conhecimentos, habilidades e competências (o currículo).
Na avaliação tradicional, o estudante é examinado
em cada unidade curricular (disciplina, módulo, estágio) e,
frequentemente, a comunicação entre elas é precária. Um
mesmo método de avaliação, não raramente, é empregado
diferentemente por distintas unidades. As informações
são analisadas por critérios diferentes, e a integração
entre os dados das várias áreas é também escassa. Ao
contrário, na avaliação programática, a responsabilidade
pelas diferentes avaliações do estudante, em momentos
variados, é da escola médica, como instituição, sendo
planejada e executada por instância central, contando
com a contribuição das várias unidades curriculares. Esta
instância deve cuidar para que os vários métodos de
avaliação do estudante sejam empregados de maneira
uniforme, nas diferentes áreas de formação, nas melhores
condições possíveis.
A educação e o treinamento do estudante de
Medicina compõem um programa formativo, sendo assim
também pertinente conceber a avaliação do estudante
como tendo uma dimensão programática, que ao contrário
do que ocorre na avaliação tradicional, a responsabilidade
pelas diferentes avaliações do estudante, em momentos
variados, é da escola médica, como instituição, sendo
planejada e executada por instância central, contando
com a contribuição das várias unidades curriculares. Esta
instância deve cuidar para que os vários métodos de
avaliação do estudante sejam empregados de maneira
uniforme, nas diferentes áreas de formação, nas melhores
condições possíveis.
Deste modo, pode-se conceituar a avaliação
programática como um conjunto de ações diversifi cadas,
mas coordenadas, que se desenvolvem em diferentes
momentos, compondo um verdadeiro programa, visando
ao cumprimento, da melhor forma possível, das várias
funções da avaliação do estudante. Em outras palavras,
pode-se entender a avaliação programática do estudante
como uma forma inovadora de aplicar conceitos
tradicionais, para que as funções da avaliação (formativa,
somativa e informativa ou diagnóstica) sejam cumpridas
com efi cácia6.
Dada a complexidade da avaliação programática,
sua implementação e execução demandam a confi guração
de um sistema de avaliação programática, que pode então
ser conceituado como um conjunto de recursos materiais
e humanos, instrumentais e operacionais, que permitam
que a avaliação programática do estudante se desenvolva
de forma satisfatória e no nível desejado de qualidade.
Constitui incumbência da escola médica, o currículo
integrado, de caráter interdisciplinar, de forma a propiciar
a formação de médicos críticos e capazes de atuarem na
atenção integral à saúde. Assim, o currículo médico deve
ser adequado à visão moderna de saúde tendo em vista
formar profi ssionais comprometidos com a realidade social
do país. De forma indissociável, inclui o processo educativo
acadêmico, cultural e comunitário relacionando o ensino
à pesquisa e à extensão. Envolve, portanto, refl exão
acerca da transformação das relações entre ensino, os
serviços de saúde e as comunidades e, para tanto, deve
investir na estruturação de um programa coerente de
avaliação, que apresente os atributos de centralização,
institucionalização, uniformização, integração, abrangência
e continuidade. A adoção da avaliação programática
permite minimizar várias das distorções associadas às
práticas tradicionais, dar destaque à avaliação para o
aprendizado e valorizar variáveis de natureza qualitativa,
como o juízo de supervisores qualifi cados, na tomada
das decisões próprias da função somativa. A implantação
de sistemas de avaliação programática pode encontrar
desafi os e difi culdades previsíveis, mas tem representado
um progresso nas práticas institucionais de avaliação do
aluno. O bom funcionamento da avaliação programática
depende criticamente da participação dos estudantes e dos
professores, que devem estar convencidos das vantagens
deste esquema. Da mesma forma que se supõe que o
estudante tenha autonomia e assuma responsabilidades e
papel ativo em seu aprendizado, espera-se que demonstre
engajamento efetivo na avaliação programática6.
Na perspectiva de promover uma visão ampliada
dos métodos avaliativos que vêm sendo utilizados na
educação em saúde, Sampaio et al.12, em estudo de
revisão, realizam uma descrição geral e diversifi cada de
vários métodos de avaliação. Nele, os autores comentam
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina192 - 199
2018 jul.- dez.; 12(2): 197que como não existe um único método de avaliação
capaz de atingir “conhecimentos, habilidades e atitudes”,
apenas a combinação de métodos é capaz de produzir os
resultados esperados da avaliação e que as avaliações
clínicas estruturadas surgiram como alternativa avaliativa,
baseadas na observação “do fazer ou do demonstrar como
se faz”, instrumentos que auxiliam o examinador a focar
a atenção no desempenho de habilidades específi cas,
objetivando a avaliação.
Importante também no processo é a autoavaliação
crítico-refl exiva do estudante de Medicina. Um estudo
sobre a implantação do portfólio como instrumento
avaliador concluiu que, inicialmente, a inexperiência dos
professores com a metodologia ativa e com utilização do
portfólio contribuiu para que houvesse certa rejeição ao
processo avaliativo, tornando este instrumento enfadonho
e pouco produtivo. À medida que alunos e professores
foram adquirindo experiência com o método e as alterações
foram realizadas, no sentido de tornar o portfólio mais
refl exivo, houve uma melhora nas opiniões e aceitação do
instrumento de avaliação13.
Muito se tem feito para desenvolver métodos que
avaliem de forma confi ável a profi ciência em habilidade
clínica dos alunos de graduação médica. Há fortes
evidências de que a avaliação global pode ser uma
alternativa viável e confi ável na avaliação de estudantes
de graduação no ambiente clínico. Usando este método,
os docentes podem expressar sua percepção global dos
alunos, de forma mais objetiva, em relação a duas esferas
distintas da competência: técnica (contendo itens como
história clínica, exame físico, conhecimento médico,
julgamento clínico, solução de problemas e hábitos no
trabalho) e humanista (incluindo comunicação com
pacientes e familiares, respeito, habilidades refl exivas,
sensibilidade ao contexto e trabalho em equipe)14.
Norcini e McKinley15 comentam que os métodos
baseados em trabalho, tais como o mCEX (Mini-clinical
evaluation exercise), a Observação direta das competências
processuais, a Discussão de casos e o mPAT (Mini-peer
assessment tool) são adequados para avaliar o aprendizado
em programas de treinamento médico, pois proveem
desafi os realistas e oferecem oportunidade de feedback;
entretanto, ressaltam que em todos eles a supervisão de
equivalência é necessária.
Outros autores também concordam que a avaliação
deve ser adaptada ao contexto no qual será usada e voltada
para os objetivos previamente traçados. Uma abordagem
holística, que integre métodos, permitirá a avaliação de
conhecimento, compreensão, solução de problemas,
habilidades técnicas, atitude e ética. Neste contexto, a
avaliação por observação estruturada do desempenho
clínico na forma de mini-CEX, OSLER (Objective Structured
Long Examination Record), OSCE, casos curtos e longos
têm um lugar destacado, por abrangerem aspectos
técnicos, éticos e relacionais. As difi culdades operacionais
e a habilitação do corpo docente para trabalhar com os
diferentes instrumentos devem ser discutidas no processo
de decisão sobre os métodos de avaliação das habilidades
clínicas a serem empregadas, com destaque para a etapa
de aprendizado em serviço, o internato16.
Estudo desenvolvido em uma escola médica brasileira
tradicional, cujo objetivo foi descrever as percepções
de estudantes e professores frente à introdução do
instrumento de avaliação “OSCE”, concluiu que, junto
com a falta de recursos e a complexidade organizacional,
particularidades de ordem cultural e a ausência de um
ambiente educacional mais favorável podem difi cultar o
aperfeiçoamento dos métodos de avaliação nas escolas
médicas tradicionais17.
Considerando agora a Avaliação do Desempenho
Escolar deste curso de Medicina, vale lembrar que segue
as normas gerais estabelecidas no Regimento da UNIFIPA
e tem caráter disciplinar no ciclo básico (1ª à 4ª série).
As avaliações baseiam-se, em sua maioria, em
conhecimentos, embora poucas disciplinas avaliem
também habilidades e atitudes, que são rotina na
avaliação do ciclo do internato (5ª e 6ª séries). Os
docentes utilizam-se de diversos instrumentos de coleta
de dados para avaliar a aprendizagem dos alunos, tendo
liberdade de escolher um ou mais instrumentos, de acordo
com conteúdo programático da disciplina, da série, do tipo
de atividade (prática, teórico-prática ou teórica) e dos
cenários de ensino, sendo que os mesmos podem ser
usados em sua forma original ou através de adaptações
dos já consagrados.
Dos instrumentos para avaliação do estudante
rastreados no presente investigação, a prova teórica,
seja na modalidade teste ou dissertativa, foi unanimidade
entre todos os docentes responsáveis pelas 71 disciplinas.
Outros instrumentos citados, em ordem decrescente de
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina 192-199
198 2018 jul.- dez.; 12(2):
frequência foram: discussão de caso clínico, seminário e
prova prática em laboratório próprio (32-39%); relatório
(25%); MCQ, portfólio e prova oral (11-17%); OSCE, SC,
EMI, SAQ e TOACS (1-6%). O Logbook e o Viva voice não
foram referidos no ciclo básico, embora o curso os utilize
na avaliação do ciclo do internato10. Sendo assim, pode-
se considerar que também o processo avaliativo do curso
cumpre os preceitos básicos desta legislação, pois nos
mais variados momentos, nas mais diversas formas e com
mais ou menos frequência, avalia-se, de acordo com o
currículo defi nido, os conhecimentos, as habilidades e as
atitudes dos futuros médicos.
Baseado nos resultados apresentados e discutidos,
pode-se considerar que o curso de Medicina em
investigação está de acordo com o Cap. III, Artigos 31
e 32 das DCN para o curso de graduação em Medicina9,
que dispõem, respectivamente: “As avaliações dos
estudantes basear-se-ão em conhecimentos, habilidades,
atitudes e conteúdos curriculares desenvolvidos” e “O
Curso de Graduação em Medicina deverá utilizar [...] e
critérios para acompanhamento e avaliação do processo
ensino-aprendizagem e do próprio curso, bem como
desenvolver instrumentos que verifi quem a estrutura, os
processos e os resultados, em consonância com o Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e
com a dinâmica curricular defi nidos pela IES em que for
implantado e desenvolvido”.
Entretanto, vale a pena ressaltar que os 71 docentes
responsáveis por disciplina (64% do total de 111, dos quais
88 médicos) não representavam a totalidade do quadro de
professores atuantes no curso. Convém lembrar também
que o curso, apesar de vir investindo cada vez mais em
programas de capacitação de docentes relativos à nova
concepção pedagógica crítico-refl exiva, até o presente
momento só conseguiu qualifi car na área de educação
em saúde 40% deles. Outro aspecto a ser destacado é
que embora tenham ocorrido avanços e melhorias nos
processos de ensinagem e avaliação, muitos aspectos ainda
necessitam de melhoria, tais como o processo avaliativo,
que ainda é realizado da forma tradicional, por disciplinas,
módulos ou setores de estágio, sem estruturação ou
sistematização, como é o caso da avaliação programática.
CONCLUSÃO
Destarte, o presente estudo permitiu concluir que
o processo de avaliação do desempenho do estudante
do curso de Medicina da UNIFIPA, embora esteja de
acordo com as preconizações das DCN, necessita de
aprimoramento. Os resultados auxiliaram na elaboração de
um diagnóstico situacional destes processos institucionais
e sugerema necessidade de se ampliar os programas
de desenvolvimento docente de forma a capacitar a
totalidade do seu quadro de professores, proporcionando-
lhes segurança em escolher e empregar os mais variados
instrumentos de avaliação, além da premência de se
implantar um sistema de avaliação programática que
contribua para a efi cácia das funções de avaliação.
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina192 - 199
2018 jul.- dez.; 12(2): 199REFERÊNCIAS
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Envio: 12/03/2018 Aceite: 28/05/2018
Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina 192-199
200 2018 jul.- dez.; 12(2):
EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE MEDICINA NA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
EXPERIENCE OF ACADEMICS OF MEDICINE IN THE PREVENTION OF SEXUALLY TRANSMITTED INFECTIONS
EXPERIENCIA DE ACADÉMICOS DE MEDICINA EN LA PREVENCIÓN DE INFECCIONES SEXUALMENTE TRANSMISIBLES
*Acadêmicos do curso de Medicina da FACERES, São José do Rio Preto-SP. **Enfermeira, Mestre em Promoção da Saúde, docente do curso de Medicina da FACERES, São José do Rio Preto - SP. Contato: [email protected]*** Psicóloga, Coordenadora Geral do Projeto Multiplicadores de Prevenção (UNIVERSITÁRIOS) da Secretaria de Saúde, São José do Rio Preto - SP.
ResumoIntrodução: Acadêmicos de Medicina, multiplicadores de prevenção em saúde, em parceria com a Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto-SP, realizaram ação com alunos de uma escola do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com faixa etária de 16 a 60 anos por meio do Programa Universitários no município em 2017. Objetivo: Aproximar os acadêmicos de Medicina da comunidade, ampliar a prevenção e incentivar a realização do diagnóstico das Infecções Sexuamente Transmissíveis (IST), HIV, hepatites virais e transmissão vertical da sífi lis para alunos do EJA. Método: Aplicação de uma dinâmica denominada “Teia de Transmissão” pela qual os multiplicadores incentivam os envolvidos a participarem ativamente do processo, possibilitando uma refl exão individual e coletiva sobre as temáticas, identifi cação dos riscos e vulnerabilidades com a proposta de gestão de riscos na vida de cada um e divulgação das ações públicas disponíveis para aconselhamento, diagnóstico e tratamento destas infecções no município. Resultados: Apesar das várias campanhas e ações governamentais sobre a temática, parcelas da população do município, como alunos do EJA, ainda necessitam de orientações não somente sobre IST, mas também sobre os serviços de saúde do município que efetuam ações de prevenção, diagnóstico e tratamento. Conclusão: A formação de universitários multiplicadores de prevenção perfaz uma alternativa efi caz para contribuir com a diminuição das vulnerabilidades em saúde da população e ainda contribui na formação profi ssional destes universitários.
Palavras-chave: Promoção da saúde. Multiplicadores de prevenção. Infecções sexualmente transmissíveis.
AbstractIntroduction: Medical students are considered multipliers of health prevention and with Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto-SP partnership, they made an activity with students of a school of the Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), with ages between 16 and 60 years old trough the University Program in the county in 2017. Objetive: To bring medical students closer to the community, expand prevention education and encourage the diagnosis of Sexual Trasmissible Infections (STI), HIV, Viral Hepatitis and vertical trasmission of Sifi lis for EJA students. Method: Application of a dynamic method called “Transmission Web” where by the multipliers encourage those involved to participate actively in the process, allowing individual and collective refl ection on the issues, identifying the risks and vulnerabilities with the proposed risk management in the life of each and dissemination of public actions available for counseling, diagnosis and treatment of these infections in the county. Results: In spite of the various government campaigns and actions on the subject, some parts of the population of the county, like EJA´s students, still need information not only about the infection but also about the county health services that perform these actions of prevention, diagnosis and treatment. Conclusion: The training of university multipliers of prevention is an effective alternative to contribute to the reduction of health vulnerabilities of the population and also contributes to the professional training of these university students.
Keywords: Health promotion. Prevention multipliers. Sexually transmitted infections.
ResumenIntroducción: Los académicos de medicina multiplicadores de prevención en salud en asociación con la Secretaría de Salud de São José do Rio Preto-SP realizaron acción con alumnos de una escuela del Programa de Educación de Jóvenes y adultos (EJA), con un grupo de edad de 16 a 60 años a través del Programa Universitario en el municipio en 2017. Objetivo: Aproximar a los académicos de medicina de la comunidad, ampliar la prevención e incentivar la realización del diagnóstico de las Infecciones de Transmiciones sexual (IST), VIH, hepatitis virales y transmisión vertical de la sífi lis para alumnos del EJA. Material y Método: Aplicación de una dinámica denominada "Red de Transmisión" por la cual los multiplicadores alientan a los involucrados a participar activamente en el proceso, posibilitando una refl exión individual y colectiva sobre las temáticas, identifi cación de los riesgos y vulnerabilidades con la propuesta de gestión de riesgos en la propuesta vida de cada uno y divulgación de las acciones públicas disponibles para asesoramiento, diagnóstico y tratamiento de estas infecciones en el municipio. Resultados: A pesar de las diversas campañas y acciones gubernamentales sobre la temática, parcelas de la población del municipio, como alumnos del EJA, todavía necesitan orientaciones no sólo sobre IST, sino también sobre los servicios de salud del municipio que efectúan acciones de prevención, diagnóstico y tratamiento. Conclusión: La formación de universitarios multiplicadores de prevención constituye una alternativa efi caz para contribuir con la disminución de las vulnerabilidades en salud de lapoblación y aún contribuye en la formación profesional de estos universitarios.
Palabras clave: Promoción de la salud. Multiplicadores de prevenção. Infecciones de transmisión sexual.
Ana Cristyna Saad Murad*, Carolina Vecchio Ardeu*, Flávio Pereira dos Santos Júnior*, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice**, Renata Galli Barbosa***
Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis200 - 203
2018 jul.- dez.; 12(2): 201INTRODUÇÃO
As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)
são causadas por mais de 30 agentes etiológicos
(vírus, bactérias, fungos e protozoários) e transmitidas,
principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal,
anal e de forma eventual por via sanguínea) sem o uso de
camisinha masculina ou feminina, com uma pessoa que
esteja infectada. A transmissão de uma IST pode acontecer,
ainda, da mãe para a criança durante a gestação, o parto
ou a amamentação1.
No Brasil, a maioria das ISTs tem acometido a
população de jovens e adolescentes, destacando-se a
presença da sífi lis em gestantes, do Papilomavírus Humano
(HPV) e do Vírus da Imunodefi ciência Humana (HIV)2.
Em 2017 foram notifi cados 1.187 casos de IST em
São José do Rio Preto-SP. Até outubro de 2017 já havia
572 (48,2%) notifi cações de sífi lis3.
Em relação ao HIV/Aids no município, no ano de 2007
o coefi ciente de incidência de HIV foi de 22,8 casos/100.000
habitantes e de Aids foi de 25,1 casos/100.000 habitantes.
Até outubro de 2017 o coefi ciente de incidência de HIV
foi de 30,2 casos/100.000 habitantes e de Aids foi 11,8
casos/100.000 habitantes. Durante esses dez anos
observou-se um aumento de 1,8 vezes casos de HIV e 0,5
vezes casos de Aids notifi cados no município, resultado
da intensifi cação do diagnóstico nas unidades de Atenção
Básica e Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA),
com a estratégia do “Fique Sabendo” sendo realizada
rotineiramente nos serviços de saúde. A faixa etária mais
atingida da população é de 20 a 39 anos (67,5%) para o
HIV, com aumento de três vezes mais casos nesta faixa
etária em 2017 se comparado a 2007, principalmente
entre os homens. Já em relação a Aids, o predomínio dos
casos ocorre entre indivíduos de 30 a 49 anos (59,3%)3.
A exposição sexual é predominante para o HIV e
Aids, representando respectivamente 90,6% e 92,3%
do total de casos, sendo a categoria heterossexual mais
atingida3.
O município apresentou até outubro de 2017, 11.554
casos notifi cados de Hepatite B e C. Quando aplicado o
estudo de prevalência estimada segundo o inquérito do
Ministério da Saúde estima-se o número de portadores
de Hepatite B encontrados no município correspondendo
a 38,1% e 42,6% para Hepatite C. Sobre a Hepatite
C, estratégias de ampliação do acesso ao diagnóstico
possibilitam alto coefi ciente de detecção de caso. Vale
ressaltar que 47% das notifi cações ocorreram em pessoas
com faixa etária entre 40 a 59 anos3.
Não menos importante, é válido ressaltar a
existência de grupos específi cos como gays, profi ssionais
do sexo, travestis/transexuais e pessoas que usam drogas
– denominadas de populações-chaves, que requerem
estratégias mais específi cas4. Dessa forma, é muito
importante considerar os contextos de vulnerabilidade
da população e a necessidade de ações contínuas para
diminuir os índices entre essas pessoas. Nesse sentido,
o desenvolvimento do Projeto Formação de Universitários
Multiplicadores se mostra efi caz e dinâmico não somente no
âmbito da instituição universitária, mas pela abrangência
dos atores envolvidos na comunidade escolar.
O projeto de extensão, além da aproximação com a
comunidade universitária e escolar, identifi cou o interesse
dos jovens, nem sempre explícito, a respeito dos temas,
assim como a necessidade de discussão e elaboração de
estratégias efi cazes para responder, orientar e acompanhar
nesta fase de descobertas e experimentações5.
O papel das escolas, serviços de saúde e
universidades deve ser traduzido em ações conjuntas que
subsidiem novas práticas, preencham lacunas que por
ventura existam, reduzam a vulnerabilidade no campo
da saúde e previnam num clima de diálogo, trocas e de
apoios, pois o aprendizado é um encontro de afetividade,
de saberes e de doação5.
Ao versar sobre a importância da instituição de
novos paradigmas na prevenção do HIV/Aids (que pode
ser extrapolado para as outras IST e hepatites virais), a
gestão de risco tem se constituído como nova perspectiva
na história da prevenção. Aliado a essa premissa, são
necessárias novas estratégias de prevenção que busquem
considerar, de fato, a importância da autonomia dos
sujeitos em relação aos seus cuidados com a saúde e o
desenho de novas práticas de intervenção que garantam a
legitimidade desta autonomia6.
O objetivo do presente estudo é descrever o
trabalho desenvolvido pelos acadêmicos de Medicina,
multiplicadores de prevenção de IST, realizado com alunos
de uma Escola do Programa de Educação de Jovens e
Adultos (EJA), na faixa etária de 16 a 60 anos no ano de
2017.
Este trabalho é realizado através de uma parceria
Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis 200 - 203
202 2018 jul.- dez.; 12(2):
entre o curso de Medicina da FACERES e o Programa
Universitários da Secretaria de Saúde do município. Para
realização das ações em escolas estes alunos fi zeram
capacitação permanente com técnicos do PM DST/Aids e
suas ações foram acompanhadas e supervisionadas por
estes técnicos.
Contribuir com a melhoria da qualidade de saúde da
população é uma das responsabilidades sociais dos cursos
universitários em sua comunidade7. No caso de alunos
de Medicina, esta aproximação com as necessidades da
comunidade é de extrema importância, desde os anos
iniciais do curso, para uma formação humanizada e
alinhada com as necessidades da população e das políticas
públicas de saúde vigentes.
A metodologia selecionada para o desenvolvimento
desta ação se deu através da aplicação de uma dinâmica
denominada “Teia de Transmissão”. Esta dinâmica é
aplicada a partir da escolha aleatória de nove alunos em
cada sala de aula com a distribuição de nove crachás com
cores diferentes para cada um. Neste tipo de dinâmica,
após a colocação dos crachás, os alunos recebem um
barbante que devem entregar para outro aluno até que
seforme uma teia (rede) na qual todos estão conectados.
Com a teia formada, os alunos multiplicadores
(que são os facilitadores) da dinâmica pedem para os
participantes imaginarem que estão em algum lugar (uma
festa ou uma situação qualquer) onde sairão com a pessoa
a quem passaram o barbante. O restante dos alunos e
o professor da sala sentam-se ao redor do grupo que
está realizando a dinâmica e também participam. Cada
um é representado por uma cor. Cada cor representa
uma situação: verde: tem hepatite B; azul: tem hepatite
C; roxo: está com herpes genital e condiloma; rosa: está
usando preservativo feminino; amarelo: não apresenta
nenhum tipo de DST/HIV/hepatites e não está usando
preservativo; preto: está gestante e não sabe; vermelho:
está usando preservativo masculino; laranja: tem HIV;
branco: está com sífi lis.
O primeiro aluno que pegou o barbante diz em voz
alta qual a cor de seu crachá e com quem ele saiu (qual a
cor do crachá da pessoa que ele saiu). Cada vez que um
aluno diz com quem saiu o facilitador revela o signifi cado
da cor e pede para os alunos que estão dentro da dinâmica
e os que estão sentados ao redor do grupo revelarem o
que sabem sobre aquela IST.
Os facilitadores incentivam os envolvidos a
participarem ativamente do processo possibilitando uma
refl exão individual e coletiva sobre as temáticas, de maneira
a identifi car formas de transmissão, prevenção, locais de
aconselhamento e testagem, riscos e vulnerabilidades
envolvidas naquela situação, e assim segue a dinâmica até
o último participante que é a última ponta do barbante.
Os facilitadores têm o papel de encorajar o grupo
a falar e completar as informações necessárias que
complementem as respostas. Ao fi nal, discute-se que a
cadeia de transmissão pode ser invisível, que nem sempre
é possível saber qual o status sorológico e, assim sendo,
não é sempre que visualizamos nas relações sexuais as
IST que uma pessoa pode ter. Não menos importante,
são expostos: a importância da imunização para Hepatite
B, a gravidade da sífi lis congênita, a importância da
responsabilidade compartilhada na vida sexual saudável,
quais locais do município oferecem aconselhamento,
diagnóstico e tratamento para estas infecções.
No presente estudo, os acadêmicos de Medicina
realizaram a dinâmica em cinco salas de aula, com alunos
do Programa EJA, em período noturno, que cursavam do
7º ao 9º ano do ensino fundamental II, totalizando 83
alunos com faixa etária entre 18 e 70 anos, com média de
16 alunos por sala.
Os resultados mostraram que apesar das várias
campanhas e ações governamentais sobre estas temáticas,
parcelas da população do município, como alunos do EJA,
ainda necessitam de orientações não somente sobre
estas infecções, mas também sobre os serviços de saúde
do município que realizam orientações, diagnóstico e
tratamento das IST/HIV/Hepatites B e C, assim como
novas tecnologias como Profi laxia Pós-exposição (PEP) e
Profi laxia Pré-Exposição (PrEP)8,9. Além disso, vale ressaltar
que esta escola, localizada em um território de grande
vulnerabilidade (segundo os estudos de vulnerabilidade
social e de saúde do próprio município), não contava com
nenhuma outra programação para discussão deste tema
no ano desta intervenção, o que mostra a importância do
trabalho destes universitários nestas ações, com o objetivo
de diminuir os riscos e vulnerabilidades dos alunos em
relação às infecções.
Mesmo que o enfoque principal deste estudo seja
sobre a atuação dos acadêmicos de Medicina como
multiplicadores de prevenção em escolas, e não contar
Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis200 - 203
2018 jul.- dez.; 12(2): 203com dados de um inquérito ou aplicação de questionário
para avaliar o nível de conhecimento sobre IST/HIV/
Hepatites B e C, práticas preventivas e uso dos serviços de
aconselhamento, testagem e tratamento destas infecções
pelos alunos do EJA, observou-se que mais de 80% dos
alunos mostraram conhecimento insufi ciente sobre a
maioria das IST e Hepatites B e C para se prevenirem e
reconhecerem estar ou não sob uma situação de risco.
Sobre as formas de transmissão e prevenção do HIV
observou-se maior conhecimento. O desconhecimento
sobre as formas de transmissão das Hepatites B e C foi
signifi cativamente maior do que em relação às outras IST
e HIV.
Em relação à sífi lis, a maioria dos participantes
não soube dizer sobre a importância desta infecção em
suas próprias vidas e a gravidade da transmissão vertical
da mesma. Grande parte dos participantes referiu a
inexistência de sequer uma oportunidade na vida para
discussão sobre o tema abordado de forma ampla para
sanar suas dúvidas.
O envolvimento dos acadêmicos multiplicadores de
prevenção com a comunidade traz novos conhecimentos no
seu processo de formação, seja sob a ótica de tecnologias
de promoção de saúde, seja para o desenvolvimento de
novas habilidades profi ssionais de promoção de saúde.
O contato com a comunidade possibilita refl exões
nesta formação profi ssional que vai além do conhecimento
teórico sobre os temas que abordam, mas também em
relação aos seus valores, estigmas, preconceitos e atitudes
como uma oportunidade para refl exão e avaliação frente
ao seu papel nas políticas públicas vigentes, nos rumos
de sua formação e necessidades de saúde da população.
Os resultados apresentados também mostram que
apesar das várias campanhas e ações governamentais
sobre estas temáticas, algumas parcelas da população
do município, como alunos do EJA, ainda necessitam
de orientações não somente sobre estas infecções, mas
também sobre os serviços de saúde do município que
realizam orientações, diagnóstico e tratamento das IST/
HIV/Hepatites B e C.
É possível concluir que o estabelecimento de
parceria entre o curso de Medicina e a Secretaria de
Saúde do município contribuiu para enriquecimento no
conhecimento concernente ao processo de formação
médica, tanto no que se refere aos aspectos teóricos e
metodológicos, quanto no desenvolvimento de novas
habilidades profi ssionais nas ações de promoção à
saúde. Além disso, foi possível refl etir sobre estigmas,
preconceitos, função social dos acadêmicos de Medicina
frente às necessidades de saúde da comunidade, assim
como contribuir para a empoderamento da população
quanto a diminuição dos riscos e vulnerabilidades frente
às IST/HIV/Aids/Hepatites virais.
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Envio: 16/06/2018 Aceite: 28/07/2018
Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis 200 - 203
204 2018 jul.- dez.; 12(2):
GESTÃO DA DEMANDA EM SAÚDE: QUALIDADE DO SERVIÇO OFERECIDO NA VISÃO DOS USUÁRIOS
DEMAND MANAGEMENT IN HEALTH CARE: QUALITY OF SERVICE OFFERED ON THE VISION OF USERS
LA GESTIÓN DE LA DEMANDA EN EL CUIDADO DE LA SALUD: LA CALIDAD DE LOS SERVICIOS OFRECIDOS EN LA VISIÓN DE LOS USUARIOS
*Acadêmicas do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.** Acadêmica do curso de Administração do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.***Doutora em Ciências da Saúde, coordenadora e docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). Contato: [email protected]****Mestre em Engenharia de Produção, docente dos cursos de Administração, Enfermagem e Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). Catanduva-SP. Contato: [email protected]
ResumoIntrodução: Unidades de Pronto Atendimento (UPA) atendem diuturnamente conforme a Política Nacional de Urgência e Emergência, objetivando integrar a atenção às urgências. No atual ambiente econômico, com sérias restrições orçamentárias, o controle de recursos escassos aliado à efi ciência em sua utilização se torna crítico. Assim, é essencial identifi car o gargalo do fl uxo de atendimento para, então, defi nir o modelo de gestão mais adequado e gerenciar as restrições. Objetivo: Descrever os processos assistenciais numa UPA, encontrar o gargalo e verifi car se este exerce infl uência/signifi cância na satisfação dos usuários quanto à qualidade do serviço. Material e Método: Pesquisa, observacional, descritiva, sobre uma situação real e cotidiana, onde se aplicou um questionário para avaliar a satisfação do usuário associada à sua percepção em comparação ao gargalo identifi cado na UPA. Resultados: Por meio da cronometragem do tempo de atendimento destes processos, foi identifi cado o gargalo na etapa de atendimento médico, gerando fi la de espera e descontentamento. As quatro etapas de atendimento: recepção, classifi cação de risco, consultório médico e assistência de enfermagem, após a avaliação obtiveram nota 5 de mediana referente ao grau de satisfação do cliente, enquanto, na etapa de atendimento médico foi obtida a menor média. Conclusão: O menor índice de satisfação encontrado corresponde ao gargalo obtido por meio do uso da teoria das restrições (Theory of Constraints- TOC), indicando uma relação direta entre a percepção do usuário e a etapa mais frágil. Conclui-se que o gargalo exerce infl uência/signifi cância na percepção da qualidade através da satisfação do usuário.
Palavras-chave: Enfermagem. Gestão em saúde. Qualidade da assistência à saúde
AbstractIntroduction: Emergency Care Units (UPA) attend daily according to the National Emergency and Urgency Policy, aiming to integrate attention to urgencies services. In the current economic environment, with serious budgetary constraints, the control of scarce resources in association with effi ciency in its use becomes critical. Thus, it is essential to identify the “bottleneck” in the service fl ow in order to defi ne the most appropriate management model and manage constraints. Objective: To describe the UPA care processes to fi nd the “bottleneck” and to verify if it exerts infl uence / signifi cance on the satisfaction of the users regarding the service quality. Material and Method: Descriptive, observational research on a real and everyday situation, where a questionnaire was applied to evaluate the user satisfaction associated with their perception in comparison to the “bottleneck” identifi ed in the UPA. Results: Through the timing of these processes, the “bottleneck” was identifi ed in the medical care stage, generating queue and dissatisfaction. The four stages of care: reception, risk classifi cation, physician's offi ce and nursing care, obtained 5 as a median score, referring to the degree of user satisfaction, while the lowest average was obtained in the medical care stage. Conclusion: The lowest satisfaction index found corresponds to the “bottleneck” obtained through the use of constraint theory (Theory of Constraints - TOC), indicating a direct relationship between user perception and the most fragile stage. It is concluded that the “bottleneck” exerts infl uence / signifi cance on the perception of quality through user satisfaction.
Keywords: Nursing. Health management. Quality of health care.
ResumenIntroducción: Unidades de Pronto Atención (UPA) atienden diuturnamente conforme a la Política Nacional de Urgencia y Emergencia, con el objetivo de integrar la atención a las urgencias. En el actual ambiente económico, con serias restricciones presupuestarias, el control de recursos escasos aliado a la efi ciencia en su utilización se vuelve crítico. Así, es esencial identifi car el cuello de botella de fl ujo de atención para, entonces, defi nir el modelo de gestión más adecuado y gestionar las restricciones. Objetivo: Describir los procesos asistenciales en una UPA, encontrar el cuello de botella y verifi car si éste ejerce infl uencia / signifi cancia en la satisfacción de los usuarios en cuanto a la calidad del servicio. Material y Método: Investigación, observacional, descriptiva, sobre una situación real y cotidiana, donde se aplicó un cuestionario para evaluar la satisfacción del usuario asociada a su percepción en comparación al cuello de botella identifi cado en la UPA. Resultados: A través del cronometraje del tiempo de atención de estos procesos, se identifi có el cuello en la etapa de atención médica, generando fi la de espera y descontento. Las cuatro etapas de atención: recepción, clasifi cación de riesgo, consultorio médico y asistencia de enfermería, después de la evaluación obtuvieron nota 5 de mediana referente al grado de satisfacción del cliente, mientras que en la etapa de atención médica fue obtenida la menor media. Conclusión: El menor índice de satisfacción encontrado corresponde al cuello obtenido por medio del uso de la teoría de las restricciones (Theory of Constraints - TOC), indicando una relación directa entre la percepción del usuario y la etapa más frágil. Se concluye que el cuello de botella ejerce infl uencia / signifi cancia en la percepción de la calidad a través de la satisfacción del usuario.
Palabras clave: Enfermería. Gestión de la salud. Calidad de la asistencia sanitaria.
Tatiane Veteri Coneglian*, Adriani Izabel de Souza Moraes*, Gabriela Cristina Dias*, Ananda Carolina Pereira Araujo**, Maria Claudia Parro***, Nilson Mozas Olivares****
Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários204 - 210
2018 jul.- dez.; 12(2): 205Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários
INTRODUÇÃO
Para o Ministério da Saúde¹, o Sistema Único de
Saúde (SUS) está inserido como um dos maiores sistemas
de saúde na escala global, criado em 1988 pela Constituição
Federal Brasileira, oferecendo atendimento gratuito para
os mais diversos serviços de saúde e abrangendo toda a
população do Brasil.
Lançadas como parte da Política Nacional de Urgência
e Emergência (2003), as Unidades de Pronto Atendimento
(UPA 24 horas) funcionam como unidades intermediárias
entre as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e os hospitais
e ajudam a remover a sobrecarga dos prontos-socorros,
ampliando e melhorando o acesso dos brasileiros aos
serviços de urgência².
Essas unidades atendem a casos de saúde de
atenção médica intermediária como problemas de pressão,
febre alta, fraturas, cortes e infartos, evitando que estes
pacientes sejam sempre encaminhados aos prontos-
socorros dos hospitais³.
No sistema de saúde brasileiro, as Unidades de
Emergência (UE) são inseridas como o local onde a
população recorre a fi m de que as suas necessidades,
emergenciais ou não, de saúde possam ser assistidas.
Em função desse cenário, elas têm atendido acima da sua
capacidade instalada, ocasionando um agravamento no
sistema de saúde, o que se torna assunto de discussão
e debate sobre os fatores que estão relacionados com a
defi ciência no atendimento emergencial, principalmente
nos países em desenvolvimento4.
A qualidade nos serviços prestados tornou-se um dos
desafi os enfrentados pelo SUS, o que traz sérios danos aos
pacientes que precisam desse serviço, como por exemplo,
demora na realização de consultas médicas, de exames e
cirurgias5.
No atual ambiente econômico, com sérias
restrições orçamentárias, o controle de recursos escassos
aliado à efi ciência em sua utilização se torna crítico.
Administradores da área da saúde lidam com o desafi o
de conduzir organizações de grande complexidade, sendo
que a gestão da capacidade de atendimento desempenha
um papel estratégico que envolve recursos escassos e
altos custos6.
A administração de serviços de saúde desempenha
um papel estratégico, no sentido da necessidade de
acompanhar rigorosamente a utilização de recursos que
estão se tornando cada vez mais escassos e de alto custo.
Os indicadores de desempenho das instituições de saúde
não se limitam apenas aos dados de produção, como por
exemplo: número de internações, consultas, cirurgias
realizadas etc. Esses tipos de variáveis quantitativas não
são apropriados para conseguirem explicar o que mais
preocupa a sociedade nesse setor, ou seja, as fi las de
atendimento7.
Dessa forma, é essencial verifi car questões do
cotidiano das clínicas, entender a situação da fi la de
atendimento oferecida por cada serviço, encontrando
o gargalo do fl uxo de atendimento, para, assim, defi nir
o modelo de gestão apropriado para gerenciar o que se
conhece como restrições7.
A teoria das restrições é uma fi losofi a de melhoria
sistêmica originalmente apresentada por Eliyahu M.
Goldratt8. A teoria das restrições (Theory of Constraints-
TOC) teve seu surgimento com a revolução industrial
e sua fi losofi a é aplicada nos mais diversos tipos de
organizações, inclusive, recentemente, na área da saúde7.
As restrições são abordadas por meio de um Processo
de Pensamento (Thinking Process-TP), procurando
obter respostas a três perguntas: O que mudar? Para
que mudar? E como provocar essa mudança? Somente
com as respostas para essas três perguntas é que será
possível reconhecer que o desempenho da cadeia de
valor, responsável por gerar toda a riqueza, é submisso ao
gerenciamento das suas restrições, o que leva a procurar
maximizar estes recursos8.
Para as respostas a essas perguntas emprega-se o
uso dos cinco passos para melhoria contínua, refi namentos
de conceitos de como gerenciar a produção e demais
áreas de uma organização, aplicando a TOC8: 1º passo
- Identifi cação da restrição do sistema: primeiramente,
antes de qualquer mudança, localizar a restrição; 2º passo
- Exploração da restrição do sistema: visando maximizar
os recursos da empresa, obter um melhor desempenho do
conjunto de restrições; 3º passo - Subordinação à restrição
encontrada: ajustar todos os demais componentes do
sistema a fi m de que a restrição atinja o seu máximo
desempenho; 4º passo - Elevação da restrição: ao atingir
esta etapa, deve-se fazer mudanças signifi cativas em todo
sistema, aumentando a capacidade das restrições; e 5º
passo - Obstrução da inércia: impedir uma nova restrição
no sistema, caso algum passo anterior seja violado. Caso
204 - 210
206 2018 jul.- dez.; 12(2):
ocorra, retoma-se o primeiro passo, procurando pela
restrição do desempenho, de forma cíclica até que seja
totalmente eliminada8.
Para a consultora do instituto Goldratt, é fundamental
que uma organização de saúde tenha metas para oferecer
um tratamento com qualidade, sendo que a geração de
lucro torna-se algo complementar, porém essencial9.
Toda instituição se dispõe em torno de um conjunto
de subsistemas interdependentes que interagem, tanto
no âmbito da organização técnica quanto da humana10.
O seu sucesso dependerá do desempenho conjunto de
todos os seus elementos, sendo o grupo determinado ou
limitado pelo elo mais fraco, não importando a quantidade
ou esforços gastos pela organização para melhorar o seu
sistema, pois essa melhoria apenas se dará quando for
melhorado o elo mais fraco da corrente8.
A simulação utiliza técnicas computacionais como
método de pesquisa, com a fi nalidade de representar
como os sistemas produtivos funcionam por meio de
modelos matemáticos11. A simulação funciona como uma
ferramenta que pode modelar vários cenários de uma
maneira bem fl exível.
A satisfação do usuário está atrelada a maneira
como ele avalia a qualidade do serviço ou atendimento,
sendo que essas informações servirão para uma análise da
estrutura que é oferecida, a execução de seus processos e
os próprios resultados alcançados12,13.
A qualidade no setor de saúde pode ser defi nida
como um conjunto de atributos que vem atrelado a
um nível de excelência profi ssional, o uso efi ciente de
recursos, um mínimo de risco ao usuário, um alto grau de
satisfação por parte dos clientes, além de considerar os
valores sociais existentes14.
OBJETIVO
Descrever os processos assistenciais numa unidade
de Pronto Atendimento, encontrar o gargalo e verifi car
se este exerce infl uência/signifi cância na satisfação dos
usuários quanto à qualidade do serviço oferecido.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa observacional de caráter
descritivo, desenvolvida por meio de uma situação real e
cotidiana, a fi m de encontrar e obter conclusões a respeito
do gargalo. Para que o aluno pesquisador pudesse
entender o referido problema, iniciou-se pelo mapeamento
do processo investigado, seguido de um levantamento
dos dados, ou seja, após a cronometragem de tempo dos
atendimentos a pacientes, esses dados foram tabulados
e analisados por simulação computacional, empregando-
lhes as ferramentas de gestão de processos sobre os
princípios inerentes a teoria das restrições. Foi explorado
o primeiro passo da TOC, que consiste na identifi cação da
restrição do sistema para posteriormente estabelecer as
mudanças apropriadas8.
Uma segunda etapa do estudo avaliou a satisfação
do usuário em relação à sua percepção da qualidade do
atendimento quanto ao tempo de espera. Para isto foi
elaborado um questionário com questões que classifi caram
o tempo de espera para cada um dos processos
assistenciais, por meio de uma escala qualitativa de cinco
pontos, sendo utilizado o valor 5 (concordo totalmente)
como concordância e o valor 1 (discordo totalmente)
como discordância à satisfação dos clientes para otempo
de atendimento.
Os dados qualitativos obtidos por meio da pesquisa
de satisfação foram comparados ao gargalo encontrado na
unidade de pronto atendimento, permitindo correlacionar
os resultados.
A amostra foi constituída por pacientes atendidos
na Unidade de Emergência, seguindo os critérios de
elegibilidade: pacientes classifi cados como pouco
urgente ou não urgente, conforme classifi cação de risco,
idade igual ou superior a 18 anos, alfabetizados e que
apresentavam condições clínicas favoráveis para responder
ao instrumento de coleta dos dados.
A pesquisa tem aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Padre Albino
(UNIFIPA), sob o parecer nº2.225.656.
RESULTADOS
O estudo permitiu analisar se a qualidade no
serviço prestado percebida pelo usuário na referida
unidade de emergência tem relação direta com o gargalo
a ser investigado, contribuindo para a reformulação dos
aspectos avaliados.
O processo de atendimento
O atendimento inicia-se com a chegada do usuário
à recepção, onde é emitida uma fi cha de atendimento
Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários204 - 210
2018 jul.- dez.; 12(2): 207segundo a ordem de chegada. Pos-
teriormente, o usuário é chamado
por profi ssional enfermeiro(a) que
realiza a classifi cação de risco con-
forme protocolo estabelecido pela
Unidade. Este sistema permite iden-
tifi car a demanda de cada paciente/
cliente, minimizando o tempo de es-
pera daqueles com demandas priori-
tárias de atendimento15. Os usuários
classifi cados como “não críticos” ou
“baixa e média complexidade” rece-
bem a classifi cação em cores verde
e azul, respectivamente, aguardan-
do o atendimento médico16. Após o
atendimento médico os pacientes
que não recebem alta são encaminhados pelo médico à
equipe de enfermagem, podendo ou não ser necessária
uma reavaliação médica, conforme fl uxo desenvolvido em
software Bizagi® (Figura 1).
Identifi cação da restrição do sistema
Foram cronometrados os tempos, em segundos, de
cada etapa do processo de atendimento, sendo utilizado o
software Offi ce Excel® para a elaboração de planilhas com
as informações obtidas. Posteriormente, foram gerados
dados estatísticos, por meio do uso do software Minitab®,
distribuídos conforme Tabela 1.
Tabela 1– Tempo de atendimento
Variável Total Contagem
Média Desvio Padrão
Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo
Recepção 107 140,18 103,16 22,00 62,00 120,00 171,00 583,00
Classifi cação de Risco
119 275,30 172,60 84,00 163,00 208,00 310,00 918,00
Consultório 206 603,80 563,90 82,00 246,80 367,00 840,80 3600,00
Enfermagem 99 420,30 241,50 120,00 245,00 360,00 500,00 1365,00
Figura 1 - Fluxo de atendimento
Quanto à satisfação, foram entrevistados 26 usuários
que avaliaram o tempo de espera em cada uma das etapas
do atendimento. Os entrevistados foram perguntados se o
tempo de espera para atendimento foi satisfatório, sendo
as opções de resposta: concordo; concordo parcialmente;
não concordo, nem discordo; discordo parcialmente e
discordo. Posteriormente, as respostas foram identifi cadas
numericamente, sendo atribuídos os valores 5 para
concordo, 4 para concordo parcialmente, 3 para não
concordo, nem discordo, 2 para discordo parcialmente e 1
para discordo. Os resultados são apresentados conforme
Tabela 2.
Tabela 2 - Satisfação do cliente
Variável Total Contagem
Média Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo
Recepção 26 4,6920 1,0000 5,0000 5,0000 5,0000 5,0000
Classificação de Risco
26 4,8846 4,0000 5,0000 5,0000 5,0000 5,0000
Consultório 26 4,0380 1,0000 3,0000 5,0000 5,0000 5,0000
Enfermagem 26 4,6920 1,0000 5,0000 5,0000 5,0000 5,0000
Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários 204 - 210
208 2018 jul.- dez.; 12(2):
Recepção
Conforme citado anteriormente, o processo inicia-
se na recepção, onde os pacientes/clientes são atendidos
seguindo a ordem em que chegam à unidade. Foi
cronometrado o tempo de atendimento de 107 pacientes/
clientes, perfazendo um tempo médio de 140,18 segundos.
Com relação ao grau de satisfação destes, foram coletados
de 26 clientes, sendo que a recepção obteve a mediana de
classifi cação 5, referindo satisfação dos usuários.
Classifi cação de risco
A palavra “triagem” deriva do francês trier e signifi ca
selecionar, sendo um dos princípios do cuidado de
emergência e obrigatório nas UPAs, tendo como objetivo
identifi car prioridades2.
A classifi cação de risco realizada pelo profi ssional
enfermeiro, preconizada pelo Ministério da Saúde,
determina a necessidade de atendimento de cada
usuário, identifi cando-o pelos seguintes níveis: Vermelho:
prioridade zero – emergência, necessidade de atendimento
imediato; Amarelo: prioridade 1 – urgência, atendimento
o mais rápido possível; Verde: prioridade 2 – prioridade
não urgente; e Azul: prioridade 3 – consultas de baixa
complexidade – atendimento de acordo com o horário de
chegada17.
Nesta etapa foram contabilizados 119 pacientes,
tendo sido obtido tempo médio de atendimento de 275,3
segundos, com uma média de 13 pacientes atendidos/
hora. Quanto à avaliação da satisfação, foi obtida mediana
de 5.
Atendimento médico
Na etapa de atendimento médico, foram
contabilizados 206 usuários, tendo sido identifi cada como
gargalo (Gráfi co 1), apresentando média e desvio padrão
de atendimento (603,8±563,9) segundos, representando
um tempo 219,32% maior do que o obtido como média
da etapa anterior. Por sua vez, o nível de satisfação do
paciente/cliente avaliado obteve 5 como mediana de
satisfação.
O Gráfi co 1 apresenta a distribuição dos tempos, em
segundos, obtidos nos processos de “recepção” (140,18
segundos), “classifi cação de risco” (275,3 segundos),
“consultório médico” (603,8 segundos) e “enfermagem”
(420,3 segundos), mostrando, portanto, que o consultório
médico possui o maior tempo e variabilidade no
atendimento aos pacientes.
Gráfi co 1 – Tempo de espera por etapa
Atendimento de enfermagem
Na etapa de atendimento pela equipe de enfermagem
foram cronometrados os tempos de 99 pacientes/clientes,
sendo obtida a média de tempo de atendimento de
420,3 segundos, ou seja, 7 minutos. Quanto ao nível de
satisfação, obteve-se a mediana 5.
Espera para atendimento (explorar a restrição)
Os tempos obtidos em cada etapa do processo
de atendimento foram inseridos em um software de
simulação computacional, demonstrando as fi las de espera
geradas, bem como dados relacionados a essas fi las.
Pode-se observar grafi camente por meio desse software
a capacidade de saída de cada etapa, sendo o gargalo
evidenciado pelo acúmulo de pacientes/clientes na etapa
mais frágil do processo.
A Figura 2 demonstra o início da fi la de espera. Ela
se forma na etapa anterior ao gargalo. Isso ocorre em
decorrência do tempo médio de saída do atendimento
médico (603,8 segundos) ser maior do que o tempo médio
de saída da classifi cação de risco (275,3 segundos).
Figura 2 - Espera para atendimento inicial
Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários204 - 210
2018 jul.- dez.; 12(2): 209O tempo de atendimento da classifi cação de risco
representa uma capacidade média de 13 pacientes
atendidos/hora, enquanto o atendimento médico é capaz
de atender uma média de 6 pacientes/hora. Na Figura
3 vemos a passagem dos pacientes para a etapa de
atendimento médico enquanto a fi la se forma na etapa
anterior.
Figura 3 - Fila de espera
DISCUSSÃO
No presente estudo foi observada uma taxa de
atendimento para a etapa do processo identifi cada
como gargalo (atendimento médico) de 6 usuários/hora,
enquanto a etapa anterior (classifi cação de risco) possui
taxa de atendimento de 13 usuários/hora, indicando
tempo 219,32% maior do que o obtido na etapa anterior.
Resultados de estudo2 semelhante corroboram com
o apresentado pelo presente estudo, demonstrando
produtos similares, com taxa de 6,6 usuários/hora na
etapa de atendimento médico e 13,1 usuários/hora na
etapa de classifi cação de risco, representando tempo
198,48% maior que o obtido na etapa anterior.
Em outro estudo6, observou-se a geração de fi la
(15,3 minutos de espera em média) para a etapa de
atendimento de enfermagem, atribuído pelos autores
ao contexto em que apenas um profi ssional realiza
o atendimento, executando procedimentos, como a
aplicação de soro, que demandam tempo maior em
relação a outros procedimentos, como administração de
medicação intramuscular ou via oral. Esse cenário difere
do observado pelo presente estudo, considerando que o
tempo de atendimento obtido foi de 7 minutos em média,
em um contexto que inclui procedimentos de aplicação
de soro e outros com menor demanda de tempo, no
entanto realizados por uma equipe de profi ssionais de
enfermagem.
Em relação ao nível de satisfação dos pacientes
referente ao tempo de atendimento nos quatro processos
observados, sendo eles a recepção, classifi cação de risco,
atendimento médico e atendimento de enfermagem,
todos obtiveram mediana 5. Considera-se este o grau
de satisfação do cliente que subsidiará as tomadas de
decisões para melhorias nestes ambientes de saúde5.
CONCLUSÃO
O gargalo e a qualidade dos serviços oferecidos
na visão dos usuários em relação ao tempo de espera
em uma UPA, considerando-se os quatro processos
analisados, possibilitou identifi car a restrição ou gargalo
na etapa de atendimento médico que, por vezes, é onde
ocorre a ociosidade, gerando maior tempo de espera aos
pacientes, bem como, descontentamento. Embora nos
processos envolvidos tenha-se obtido o valor equivalente a
5 de mediana relacionado ao grau de satisfação do cliente,
foi no processo 3, consultório médico, que foi encontrada
a menor média, 4,038.
O menor índice de satisfação encontrado corresponde
ao gargalo obtido por meio do uso da TOC, o que indica
uma relação direta entre a satisfação do usuário e o gargalo
encontrado no atendimento. Dessa forma, reitera-se que
o gargalo exerce infl uência/signifi cância na percepção da
qualidade, segundo o grau de satisfação do usuário.
Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários 204 - 210
210 2018 jul.- dez.; 12(2):
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Envio: 11/03/2018 Aceite: 10/07/2018
Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários204 - 210
2018 jul.- dez.; 12(2): 211
FATORES MATERNOS ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DA SÍFILIS CONGÊNITA
MATERNAL FACTORS ASSOCIATED WITH THE VERTICAL TRANSMISSION OF CONGENITAL SYPHILIS
FACTORES MATERNOS ASOCIADOS A LA TRANSMISIÓN VERTICAL DE LA SÍFILIS CONGÉNITA
*Acadêmicas do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA).**Enfermeira obstetra. Mestre em Enfermagem. Docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA).
ResumoIntrodução: A transmissão vertical da sífi lis é um problema de saúde pública, com impacto epidemiológico. Ocorre quando a gestante não tratada ou inadequadamente tratada transmite a doença para o concepto. Objetivo: Descrever os fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita. Método: Pesquisa descritiva com abordagem quantitativa, cujos dados foram coletados entre maio e julho de 2018, através de um questionário estruturado, aplicado junto à puérperas com sífi lis por ocasião do parto, em um hospital-escola do noroeste paulista. Resultados: Das 18 puérperas entrevistadas, 8 (44,44 %) tinham idade entre 22 e 27 anos e escolaridade de 9 a 11 anos. Quanto à ocupação, 12 (66,67%) se declararam autônomas; sobre a procedência, 11 (61,11%) residiam no município onde se realizou o estudo. Dados obstétricos: todas as puérperas realizaram o pré-natal, 7 (38,89) eram multíparas e 12 (66,67%) submetidas a parto vaginal. Quanto à sífi lis na gestação, 13 (72,22%) foram diagnosticadas nesta gravidez, enquanto 5 (27,78%) foram infectadas anteriormente. Quanto ao tratamento no pré-natal, 17 (94,44%) gestantes realizaram-no e apenas 10 dos parceiros (55,56%)também o fi zeram. Porém, os dados laboratoriais mostraram que mesmo tratadas às mulheres tiveram no parto uma titulação maior ou igual a 1:2; dos recém-nascidos, 3 titulações até 1:2, enquanto 15 (78,95%) titulações com valores maiores. Todos os recém-nascidos haviam sido tratados. Conclusão: Os fatores maternos associados à transmissão foram: menor escolaridade, estar em idade reprodutiva, não estar inserida no mercado de trabalho, possuir companheiro e ser multí para. Diante desse contexto, é possível afi rmar que a sífi lis congênita persiste e os resultados obtidos apontam falhas no pré-natal.
Palavras-chave: Sífi lis na gestação. Sífi lis congênita.Transmissão vertical.
AbstractIntroduction: The vertical transmission of syphilis is considered a public health problem with epidemiological impact. To objective: describe the maternal factors associated with the vertical transmission of congenital syphilis. Method: A descriptive study with quantitative approach, whose data were collected between May and July, 2018, through a structured questionnaire, applied to post partum women with syphilis at the time of delivery, in a hospital in the northwest of São Paulo. Results: Of the 18 postpartum women interviewed, 8 (44.44%) were between 22 and 27 years old and they had at least 9 years of schooling. Concerning the occupation, 12 (66.67%) declared them-selves as freelancer, and 11 (61.11%) were resident in the municipality where the study was carried out. Obstetric data: all postpartum women underwent prenatal care, 7 (38.89%) were multiparous and 12 (66.67%) underwent vaginal delivery. Regarding Syphilis during gestation, 13 (72.22%) were diagnosed in this pregnancy, while 5 (27.78%) were previously infected. Regarding prenatal care, 17 (94.44%) pregnant women did it, and only 10 of the partners (55.56%) did it. However, laboratory data showed that even women treated had a higher titreat delivery or equal to 1: 2; of newborns, 3 titrations up to 1: 2, while 15 (78.95%) titrations with higher values. All newborns had been treated. Conclusion: The maternal factors associated with the transmission were: lower schooling, being of reproductive age, not being part of the labor market, having a partner and being multiparous. Given this context, it is possible to affi rm that congenital syphilis persists and the results obtained indicate failures in prenatal care.
Keywords: Syphilis in pregnancy. Congenital syphilis. Vertical transmission.
ResumenIntroducción: La transmisión vertical de la sífi lis es un problema de salud pública, con impacto epidemiológico. Ocurre cuando la gestante no tratada o inadecuadamente tratada transmite la enfermedad al concepto. Objetivo: Describir los factores maternos asociados a la transmisión vertical de la sífi lis congénita. Método: Investigaciones con abordaje cuantitativo, cuyos datos fueron recolectados entre mayo y julio de 2018, a través de un cuestionario estructurado, aplicado junto a la puérperas con sífi lis con motivo del parto, en un hospital-escolta do noroeste paulista. Resultados: De las 18 puérperas entrevistadas, 8 (44,44%) tenían edad entre 22 y 27 años de escolaridad de 9 a 11 años. En cuanto a la asignación, 12 (66,67%) se declararon autónomas, sobre la procedencia, 11 (61,11%) residían en el municipio donde se realizó el estudio. Datos obstétricos: todas las puérperas realizaron el prenatal, 7 (38,89) eran multíparas e12 (66,67%) sometidas a parto vaginal. En cuanto a las sífi lis en la gestación, 13 (72,22%) fueron diagnosticadas en este embarazo, mientras que 5 (27,78%) fueron infectadas anteriormente. En cuanto a la edad en el prenatal, 17 (94,44%) gestantes lo realizaron y sólo 10 de los socios (55,56%) también lo hicieron. Además, los datos de laboratorio muestran que incluso tratadas las mujeres tuvieron en el parto una titulación mayor o igual a 1: 2; de los recién nacidos, 3 titulaciones hasta 1: 2, mientras que 15 (78,95%) tivieron titulaciones con valores mayores. Todos los recién nacidos habían sido tratados. Conclusión: Los factores maternos asociados a la transmisión fueron: menor escolaridad, estar en edad reproductiva, no estar inserta en el mercado de trabajo, tener compañero y ser multípara. En este contexto, es posible afi rmar que la sífi lis congénita persiste y los resultados obtenidos apuntan fallas en el prenatal.
Palabras clave: Sífi lis en el embarazo. Sífi lis congénita. Transmisión vertical.
Cristina Sancowich Zoilo*, Erica Patrícia Marim Barbosa*, Juliano Aparecido Barbosa*, Luciana Braz de Oliveira Paes**
Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita 211 - 217
212 2018 jul.- dez.; 12(2):
INTRODUÇÃO
A transmissão vertical da sífi lis é considerada um
problema de saúde pública, com impacto epidemiológico
signifi cativo¹. Globalmente, 1,36 milhões de gestantes
apresentaram sífi lis, destas 80% realizaram pré-natal,
38% apresentaram desfechos graves como mortalidade
fetal e neonatal, prematuridade ou baixo peso e infecção
congênita².
Ao contrário da recomendação da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS) que defi niu a redução
da incidência de sífi lis congênita para ≤0,5 casos
por 1000 vivos até 2015, houve aumento dos casos,
pois, aproximadamente dois milhões de gestantes são
contaminadas anualmente, causando impacto nos
indicadores de transmissão vertical³ e, consequentemente,
tornando-se uma epidemia, com incidência de 1,3/1000
nascidos vivos infectados nas Américas e 6,5/1000 no
Brasil4.
Aumento semelhante ocorreu na taxa de mortalidade
por sífi lis congênita. Em 2006, o Brasil apresentou taxa de
2,3 óbitos por 100 mil nascidos vivos e passou para 7,4
óbitos em 2015. O incremento mencionado foi relatado
também nos Estados Unidos onde a taxa passou de 8,4
casos por 100 mil nascidos vivos (2008/12) para 11,6 casos
em 20145. No Brasil, de 2005 a 2016, foram notifi cados
no Sistema de Informações de Agravos de Notifi cação
(SINAN) 169.546 casos de sífi lis em gestantes6.
A sífi lis é uma doença infectocontagiosa sistêmica,
de evolução crônica, causada pelo Treponema pallidum ou
Spirochaeta pallida. Sua transmissão pode ocorrer por via
sexual (sífi lis adquirida) e vertical (sífi lis congênita/infecção
do feto via placentária), existindo também outras formas
de transmissão menos comuns como a via indireta (objetos
contaminados)7 ou transfusão sanguínea, considerada
rara nos dias atuais8. A sífi lis congênita ocorre quando
a gestante, não tratada ou inadequadamente tratada,
transmite a sífi lis para o feto por via transplacentária,
podendo trazer consequências graves à gestação. Entre
as doenças de transmissão vertical, apresentam o Brasil
as maiores taxas (34,3%)9.
As consequências da sífi lis durante a gravidez variam
de acordo com alguns fatores, como o tempo de exposição
fetal ao treponema e a carga de treponema materna, que
podem resultar em: aborto, natimorto ou óbito fetal,
malformação, crescimento intrauterino restrito (CIUR),
prematuridade, sequelas pós-natais como cegueira,
surdez, defi ciência mental. As sequelas podem ser de
manifestação precoce quando aparecem até o segundo
ano de vida, ou tardia, surgindo após o segundo ano de
vida10, com sérias repercussões futuras11.
Dessa forma, a transmissão e os danos da sífi lis
congênita dependerão da fase gestacional em que a
infecção se instalou. Na infecção de último trimestre, o
recém-nascido terá menor probabilidade de apresentar
sintomas12. Na sífi lis congênita recente, é possível
aparecerem os sinais e sintomas logo após o nascimento
ou nos primeiros dois anos de vida. São eles: baixo peso,
rinite com coriza serosa sanguinolenta, obstrução nasal,
prematuridade, osteocondrite, periostite ou osteíte e
choro ao manuseio. Podem ocorrer hepatoesplenomegalia,
alterações respiratórias ou pneumonia, hidropsia,
pseudoparalisia dos membros, fi ssura orifi cial, condiloma
plano, pênfi go palmoplantar e outras lesões cutâneas,
icterícia e anemia13.
Na sífi lis congênita tardia, a partir do segundo ano
de vida, os principais sintomas observados são: tíbia em
lâmina de sabre, fronte olímpica, nariz em sela, dentes
deformados (dentes de Hutchinson), mandíbula curta, arco
palatino elevado, ceratite intersticial com cegueira, surdez
neurológica, difi culdade no aprendizado, hidrocefalia e
retardo mental13 com mortalidadede até 40% das crianças
infectadas14.
Assim, são necessárias estratégias efetivas para
tratar a sífi lis congênita como problema de saúde em
âmbito nacional. Merece destaque na sua importância
ministerial para diminuir os casos da doença e suas
complicações às gestantes e recém-nascidos15. Diante das
atuais taxas de sífi lis em gestantes, a transmissão vertical
pode ser evitada durante uma assistência ao pré-natal
efi caz, mediante diagnóstico e tratamento adequados da
gestante infectada e seu(s) parceiro(s) sexual, prevenindo
resultados gestacionais prejudiciais para mãe e fi lho16,17.
Em uma revisão sistemática realizada da literatura
de múltiplas bases de dados, utilizando dados globais, foi
possível identifi car que a infecção por sífi lis é a principal
causa de óbito fetal identifi cada, estando associado à
assistência pré-natal inadequada, pois o baixo número de
consultas resulta na não realização, ou na realização de
apenas um exame Venereal Disease Research Laboratory
(VDRL) durante o pré-natal e, também, o tratamento
Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita211 - 217
2018 jul.- dez.; 12(2): 213inadequado em resposta à um exame positivo. Compete
aos serviços de saúde a busca ativa e a assistência
adequada dessas gestantes durante o pré-natal18, já que o
diagnóstico e tratamento oportuno são altamente efi cazes
e reduzem a transmissão vertical em até 97%19.
Diante da complexidade deste problema de saúde
pública, a proposta deste trabalho foi investigar os fatores
maternos associados à transmissão vertical da sífi lis
congênita, tendo em vista as complicações para o recém-
nascido.
MÉTODO
Pesquisa de caráter exploratório, descritiva e
quantitativa, cujos dados foram coletados através de um
questionário estruturado, elaborado pelos pesquisadores,
aplicado a puérperas em um hospital-escola de um
município do interior do estado de São Paulo. As
entrevistas foram realizadas com puérperas que tiveram
seus fi lhos no período de abril a julho de 2018, no Sistema
Único de Saúde (SUS), mediante resultado de teste rápido
de sífi lis reagente e/ou VDRL com titulação acima de 1:2
no momento do parto e que concordaram em participar
do estudo.
Em respeito às recomendações da Resolução nº
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, esta pesquisa
foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário Padre Albino e aprovada sob parecer nº
2.658.263.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados a seguir mostram a relação de
algumas variáveis de caracterização amostral de gestantes
que apresentaram titulações para sífi lis durante o parto,
nos meses de abril, maio, junho e julho de 2018 na
maternidade de realização do estudo. Foram registrados
21 casos de gestantes com VDRL positivo no momento do
parto, porém apenas 18 destas foram inseridas no estudo.
As variáveis de caracterização amostral são apresentadas
sequencialmente.
Tabela 1 - Percentuais sociodemográfi cos das mulheres que apresenta-ram sífi lis no momento do parto (2018)
Variáveis sociodemográfi cas N = 18
%
Faixa etária
10 a 15 anos 00 0,00%
16 a 21 anos 06 33,33%
22 a 27 anos 08 44,44%
28 a 33 anos 03 16,67%
34 a 40 anos 01 5,56%
Escolaridade
Nenhuma 00 0,00%
1 a 4 anos 01 5,56%
5 a 8 anos 07 38,89%
9 a 11 anos 08 44,44%
≥ 12 anos 02 11,11%
Possui companheiro
Sim 11 61,11%
Não 07 38,89%
Ocupação
Trabalho doméstico próprio
12 66,67%
Trabalho informal 01 5,56%
Trabalho formal 04 22,22%
Desempregada 01 5,56%
Outros 00 0,00%
Procedência
Cidade do estudo 11 61,11%
Cidades da região 07 38,89%
Das 18 mulheres, as idades variaram entre 16 a 40
anos, com predomínio na faixa de 22 a 27 anos (44,44%).
Com relação ao grau de escolaridade, apenas 01 (5,56%)
mulher apresentou estudo de 1 a 4 anos, 07 (38,89%)
de 5 a 8 anos, 02 (11,11%) maior ou igual a 12 anos,
com predominância de 08 (44,44%) com escolaridade
de 9 a 11 anos. A maioria das mulheres 11 (61,11%)
relatou ter companheiro. Esse dado corrobora com outro
estudo em que mulheres casadas são mais suscetíveis à
infecção sexualmente transmissível por deixarem de se
proteger adequadamente20. Quanto à ocupação, a maioria
se classifi ca em realizar trabalho doméstico próprio 12
(66,67%), 04 (22,22%) trabalham formalmente, 01
(5,56%) realiza trabalho informal e 01 (5,56%) está
desempregada. Resultados semelhantes relatam que a
maioria das mulheres não exerce atividade remunerada,
fator relacionado com a baixa escolaridade e menor chance
de emprego21. A maioria das mulheres é procedente da
cidade em que o estudo foi realizado 11 (61,11%) e 07
(38,89%) residem em cidades da região.
Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita 211 - 217
214 2018 jul.- dez.; 12(2):
De acordo com estes dados, fatores maternos são
agravantes para transmissão vertical. No que diz respeito
à idade, este estudo concorda com os demais presentes na
literatura ao verifi car que é preocupante observar a idade
em que prevalece a sífi lis, o qual ocorre principalmente
na fase reprodutiva, e tem relevância epidemiológica da
transmissão vertical, como a gravidez indesejada por falta
do uso de preservativos. Outro fator associado é baixa
escolaridade, pois indica a difi culdade de entendimento
da doença. Assim como múltiplos parceiros e o não
tratamento dos mesmos, o que esclarece a gravidade da
disseminação da doença22-25.
Tabela 2 - Percentuais obstétricos das mulheres que apresentaram sífi -lis no momento do parto (2018)
Variáveis obstétricas N = 18 %
Gestação
1 06 33,33%
02 a 03 05 27,78%
04 a 05 07 38,89%
Paridade
0 00 0,00%
01 a 02 09 50,00%
03 a 04 09 50,00%
Aborto
0 14 77,78%
1 03 16,67%
2 01 5,56%
Acompanhamento pré-natal
Sim 18 100,00%
Não 00 0,00%
Tipo de parto
Vaginal 12 66,67%
Cesárea 06 33,33%
Fórceps 00 0,00%
Quanto ao número de gestações, 6 (33,33%) são
primíparas, 12 (66,67%) são multíparas, sendo que 5
(27,78%) tiveram de 2 a 3 gestações e 7 (38,89%) de 4 a
5 gestações; 9 delas pariram de 01 a 02 (50,00%) vezes
e outras 9 pariram de 3 a 4 (50,00%) vezes; 4 (22,23%)
apresentaram aborto. Também concordando com estudo
realizado no Distrito Federal no qual a predominância das
gestantes infectadas são as que apresentaram mais de
uma gestação21. Quanto ao pré-natal, todas as 18 (100%)
realizaram o acompanhamento, o que nos preocupa e nos
faz refl etir sobre a qualidade do pré-natal e sua função
enquanto promoção de saúde. Costa et al.25 referem
que entre os anos de 2000 a 2009, a maioria dos bebês
infectados eram de mães que realizaram pré-natal.
O tipo de parto predominante foi o parto vaginal, 12
(66,67%), outras 06 (33,33%) tiveram cesárea. O parto
vaginal foi maioria entre mães infectadas em um outro
estudo18.
Dessa forma, neste estudo é possível observar que
quanto maior o número de gestações, menor a participação
no pré-natal. Consequentemente, a assistência ao
pré-natal inadequada contribui para a persistência da
transmissão vertical da sífi lis26.
Tabela 3 - Percentuais referentes à incidência de sífi lis nas gestações anteriores (2018)
Incidência de sífi lis na gestação anterior N = 18 %
Sífi lis antes da gestação
Sim 05 27,78%
Não 13 72,22%
Se sim, quantas realizaram o tratamento com o parceiro?
Sim 04 22,22%
Não 01 5,56%
Em relação à sífi lis em gestações anteriores,
13 (72,22%) negaram ter apresentado a infecção
anteriormente, outras 5 (27,78%) afi rmaram ter
diagnóstico anterior de sífi lis, entre estas, 4 (80,00%)
realizaram o tratamento com o parceiro e apenas 01
mulher (20,00%) relatou que o parceiro não fez o
tratamento. Foram encontrados resultados semelhantes
em outros estudos23,27,28.
O estudo de Tannous et al.29, realizado em 2015,
confi rmou um aumento signifi cativo da sífi lis congênita na
região noroeste do Estado de São Paulo, ocorrido, entre
outros fatores, devido ao desabastecimento nacional de
penicilinas, decorrente da falta de matéria-prima para sua
produção, confi rmado em nota informativa pelo Ministério
da Saúde em 201530.
Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita211 - 217
2018 jul.- dez.; 12(2): 215
Tabela 4 - Percentuais referentes à incidência de sífi lis nas gestantes antes e durante o pré-natal (2018)
Variáveis relacionadas à sífi lis N = 18 %
Difi culdade para realizar o tratamento
Sim 01 5,56%
Não 17 94,44%
Mulheres que receberam orientações no pré-natal
Sim 12 66,67%
Não 06 33,33%
Realizaram o tratamento para sífi lis durante o pré-natal
Sim 17 94,44%
Não 01 5,56%
Parceiros que realizaram o tratamento
Sim 10 55,56%
Não 08 44,44%
Das 18 (100%) participantes, 17 (94,44%) não
tiveram problemas para realizar o tratamento e apenas
1 (5,56%) teve difi culdades por ser alérgica à penicilina,
sendo realizado tratamento alternativo. Quanto às
orientações no pré-natal, 12 (66,67%) mulheres afi rmaram
ter recebido orientações, outras 06 (33,33%) disseram
que não as receberam.
Sobre o tratamento para sífi lis durante o pré-natal,
17 (94,44%) relataram tê-lo feito e apenas 1 (5,56%)
não o fez. Quanto aos parceiros, 10 (55,56%) realizaram
o tratamento junto com a gestante, outros 08 (44,44%)
não o realizaram. Deve-se ressaltar que é imprescindível
o homem no acompanhamento de pré-natal, pois o não
tratamento do parceiro explica a difi culdade na quebra da
transmissão da sífi lis congênita22.
Com este estudo, destaca-se como fator de maior
relevância a assistência pré-natal inadequada, pois todas as
gestantes que participaram da pesquisa e realizaram o pré-
natal relataram falhas nas orientações recebidas durante
a assistência. Assim como mencionam outros trabalhos
científi cos, é fundamental a relação do diagnóstico inicial
e controle da sífi lis congênita, presumindo ações que
intensifi quem a diminuição da sífi lis no período gestacional
e, portanto, da sífi lis congênita21,31.
Tabela 5 - Percentuais dos resultados de exames laboratoriais das mu-lheres e de recém-nascidos com sífi lis (2018)
Dados das mulheres e do RN relacionados aos exames laboratoriais
Mulheres No pré-natal No hospital
Recém-Nascido
M1 1 = NR 1:8 1:4
2 = NR
M2 1 = 1:2 1:4 1:4
2 = teste treponêmico
M3 1 = 1:16 1:8 G1= 1:2
2 = teste treponêmico G2= 1:2
M4 1 = 1:81 1:4 1:2
2 = teste treponêmico
M5 1 = 1:64 1:64 1:32
2 = teste treponêmico
M6 1 = 1:4 1:2 1:1
2 = 1:2
M7 1 = 1:16 1:8 1:4
2 = teste treponêmico
M8 1 = 1:128 1:64 1:8
2 = 1:32
3 = 1:16
M9 1 = 1:4 1:8 1:4
2 = teste treponêmico
M10 1 = 1:1 1:2 1:1
2 = teste treponêmico
M11 1 = 1:8 1:8 1:8
2 = 1:4
M12 1 = 1:32 1:64 1:4
2 = teste treponêmico
M13 1 = 1:16 1:2 1:2
2 = teste treponêmico
M14 1 = 1:32 1:32 1:16
2 = 1:64
M15 1 = 1:128 1:128 1:64
2 = 1:64
M16 1 = 1:32 1:8 1:4
2 = 1:8
M17 1 = 1:64 1:128 1 = NR
2 = teste treponêmico 2 = 1:16
M18 1 = 1:8 1:2 1:1
2 = teste treponêmico
* NR = Não Reagente * G1 e G2 = Gemelar
Todas as mulheres realizaram o exame no pré-natal
e parto. Os exames padronizados no município são teste
rápido, VDRL, FTA-abs (fl uorescente treponemal antibody-
absorption). A esse respeito, os resultados laboratoriais
identifi caram que mesmo tratadas, as puérperas
apresentaram, no momento do parto, titulação maior ou
igual a 1:2.
Dados laboratoriais mostram que apenas uma
Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita 211 - 217
216 2018 jul.- dez.; 12(2):
gestante (5,56%) teve o VDRL não reagente durante o
pré-natal, sendo diagnosticada a sífi lis com VDRL titulação
1:8 no momento do parto. Encontramos resultados
semelhantes sem que o primeiro exame VDRL foi não
reagente em 7,1% das gestantes pesquisadas, não
indicando a infecção no período gestacional23.
Ao nascimento, 15 (78,95%) recém-nascidos
apresentaram titulação maior ou igual a 1:2, outros 3
(15,79%) apresentaram titulação de 1:1, porém também
foram tratados baseados em protocolo de atendimento.
O recém-nascido que apresentou resultado não reagente
ao nascimento 1 (5,26%) foi tratado com uma dose de
penicilina procaína IM profi lática. Após nove dias do
tratamento, o exame de VDRL foi repetido apresentando
titulação de 1:16, iniciando tratamento conforme protocolo
de atendimento.
É importante ressaltar que a mãe (M5) foi tratada
com medicações alternativas, pois a mesma apresentava
alergia a penicilina. Dessa forma, este estudo comprova a
ausência de efi cácia na prevenção de transmissão vertical
da sífi lis congênita, pois o recém-nascido apresentou
VDRL com titulação 1:32. Assim, corrobora com outro
estudo ao relatar que o tratamento alternativo poderá
levar a cura da gestante, não do feto17. Neste contexto,
a mãe permaneceu com titulação elevada no momento
do parto, constatando a importância da realização da
dessensibilização da penicilina para estes casos32.
Gráfi co 1 - Percentuais referentes à drogadição durante o uso na gestação das mulheres que apresentaram sífi lis (2018)
Relacionado ao uso de álcool e drogas durante a
gestação, 14 (77,78%) mulheres o negaram e 4 (22,22%)
afi rmaram ter usado álcool ou drogas durante todo o
período gestacional. Portanto, neste estudo observamos
que o uso de drogas não foi fator relevante, discordando
de outros estudos que comprovam que a drogadição é
fator de risco para sífi lis congênita21,33,34.
CONCLUSÃO
Os fatores maternos associados a transmissão
da sífi lis congênita neste estudo, foram: possuir menor
escolaridade, estar em idade reprodutiva, não estar
inserida no mercado de trabalho, possuir companheiro e
ser multípara. Além de evidenciarmos que fazer pré-natal
apenas da mulher não contribui para redução da sífi lis
congênita, é urgente a necessidade de políticas públicas
que insiram o homem de forma efetiva no pré-natal.
Atualmente, pode-se dizer que na região do estudo
vive-se uma epidemia de sífi lis, e estratégias para o
controle da doença devem ser tomadas, como treinamento
e capacitação para os profi ssionais da saúde. Diante desse
contexto, é possível afi rmar que a sífi lis congênita persiste
e os resultados obtidos apontam falhas no pré-natal sendo
necessário intensifi car as políticas de saúde reprodutiva e
sexual.
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Envio: 12/06/2018 Aceite: 28/08/2018
Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita 211 - 217
218 2018 jul.- dez.; 12(2):
AVALIAÇÃO DO PERFIL PSICOLÓGICO (CRITÉRIOS DE BECK) E DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA BARIÁTRICA
EVALUATION OF THE PSYCHOLOGICAL PROFILE (BECK CRITERIA) AND THE FREQUENCY OF INGESTION IN BARIATRIC PATIENTS
EVALUACIÓN DEL PERFIL PSICOLÓGICO (CRITERIOS DE BECK) Y DE LA FRECUENCIA ALIMENTARIA DE PACIENTES SUBMETIDOS A LA CIRUGÍA BARIÁTRICA
*Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP. **Médico especializado em Cirurgia do Aparelho Digestivo. Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.*** Docente da disciplina de Nutrologia do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP. Professor de pós-graduação em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nu-trologia (ABRAN). Presidente da ABRAN. Contato:[email protected]
ResumoIntrodução: A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corpórea, sendo que para seu critério diagnóstico e classifi catório é utilizado o Índice de Massa Corporal (IMC). Diversos distúrbios psiquiátricos associam-se à obesidade, sendo o principal deles a depressão. O manejo da obesidade mórbida engloba nutroterapia, atividade física e farmacoterapia. Todavia, a cirurgia bariátrica é empregada como um recurso terapêutico quando há difi culdade de se obter um resultado satisfatório por outros meios. Assim, a cirurgia bariátrica é efi ciente para a perda de peso, além de poder promover mudanças na imagem corporal, reduzindo os índices de depressão. Objetivos: Avaliar a prevalência e identifi car o perfi l psicológico do transtorno depressivo em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, caracterizando a população estudada segundo dados epidemiológicos. Metodologia: Estudo transversal quanti-qualitativo realizado na cidade de Catanduva-SP entre março a agosto de 2017, sendo aplicado questionário sociodemográfi co e Inventário de Beck para Depressão (IBD) à 17 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pelos métodos “Sleeve” e “Bypass”. Resultados: A maioria dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica era casada (64,7%), do sexo feminino (76,47%) e com ensino superior completo (47,05%). No pré-operatório foram classifi cados como obesos graus II (35,29%) ou III (64,70%). Posteriormente, com a perda de peso, 52,94% dos pacientes deixaram de ser obesos e passaram a ser classifi cados como “sobrepeso” ou peso “adequado”. Em relação ao IBD, foram constatados níveis de depressão mínima (88,23%) e leve (11,77%) no pós-operatório. Não foram encontrados índices de depressão moderada ou grave. Os sinais que evidenciaram a maior prevalência na população em estudo foram: autoacusações, irritabilidade, perda de apetite, perda de peso e perda de libido. Conclusão: A depressão é um sintoma frequentemente encontrado entre os pacientes selecionados para a cirurgia bariátrica. Os índices encontrados neste trabalho demonstram que a depressão está intimamente relacionada à obesidade, uma vez que no pós-operatório, com a redução do peso, foram encontrados níveis de depressão mínimos ou leves. Assim, a perda de peso proveniente da cirurgia sugere uma melhora da imagem corporal, ansiedade, autoestima e da condição psíquica do paciente.
Palavras-chave: Obesidade. Depressão. Cirurgia bariátrica. Inventário da depressão de Beck.
AbstractIntroduction: Obesity is characterized by excessive accumulation of body fat, and the Body Mass Index (BMI) is used for its diagnostic and classifi cation criteria. Several psychiatric disorders are associated with obesity, the main one being depression. The management of morbid obesity includes nutrition therapy, physical activity and pharmacotherapy. However, bariatric surgery is used as a therapeutic resource, when it is diffi cult to obtain a satisfactory result by other means. Thus, bariatric surgery is effi cient for weight loss, in addition to being able to promote changes in body image, reducing the rates of depression. Objectives: Evaluate the prevalence and identify the depressive disorder in the psychological profi le of patients undergoing bariatric surgery, characterizing the studied population according to epidemiological data. Methods: A quanti-qualitative cross-sectional study was carried out in the city of Catanduva-SP between March and August 2017. A sociodemographic questionnaire and Beck Inventory for Depression (BID) were applied to 17 patients undergoing bariatric surgery using the "Sleeve" and "Bypass" surgical method. Results: The majority of bariatric patient were married (64,7%), female (76,47%) and with complete higher education (47,05%). In the preoperative period, they were classifi ed as obese degrees II (35,29%), or III (64,70%). Subsequently, with weight loss, 52.94% of the patients ceased to be obese and passed a being classifi ed as "overweight" or "adequate" weight. Regarding IDB, there were levels of minimal (88.23%) and mild (11.77%) postoperative depression. No indices of moderate or severe depression were found. The depressive signs that showed a higher prevalence in the study population were: self-accusations, irritability, loss of appetite, weight loss and loss of libido. Conclusion: Depression is a symptom often found among patients selected for bariatric surgery. The values found in this study demonstrate that depression is closely related to obesity, since in the postoperative period, with the reduction of weight, minimal or mild levels of depression were found. Thus, weight loss from surgery suggests an improvement of the body image, anxiety, self-esteem and the psychic condition of the patient.
Keywords: Obesity. Depression. Bariatric surgery. Beck inventory for depression.
ResumenIntroducción: La obesidad se caracteriza por la acumulación excesiva de grasa corporal, siendo que para su criterio diagnóstico y clasifi catorio se utiliza el Índice de Masa Corporal (IMC). Diversos disturbios psiquiátricos se asocian a la obesidad, siendo el principal de ellos la depresión. El manejo de la obesidad mórbida engloba nutroterapia, actividad física y farmacoterapia. Sin embargo, la cirugía bariátrica se emplea como un recurso terapéutico cuando hay difi cultad para obtener un resultado satisfactorio por otros medios. Así, la cirugía bariátrica es efi ciente para la pérdida de peso, además de poder promover cambios en la imagen corporal, reduciendo los índices de depresión. Objetivos: Evaluar la prevalencia e identifi car el perfi l psicológico del trastorno depresivo en pacientes sometidos a la cirugía bariátrica, caracterizando a la población estudiada según datos epidemiológicos. Metodología: Estudio transversal cuanti-cualitativo realizado en la ciudad de Catanduva-SP entre marzo a agosto de 2017, siendo aplicado cuestionario sociodemográfi co e Inventario de Beck para Depresión (IBD) a 17 pacientes sometidos a la cirugía bariátrica por los métodos "Sleeve" y "Bypass". Resultados: La mayoría de los pacientes sometidos a la cirugía bariátrica estaban casados (64,7%), del sexo femenino (76,47%) y con enseñanza superior completa (47,05%). En el preoperatorio se clasifi caron como obesos grados II (35,29%) o III (64,70%). Posteriormente, con la pérdida de peso, el 52,94% de los pacientes dejaron de ser obesos y pasaron a ser clasifi cados como "sobrepeso" o peso "adecuado". En relación al IBD, se constataron niveles de depresión mínima (88,23%) y leve (11,77%) en el postoperatorio. No se encontraron índices de depresión moderada o grave. Las señales que evidenciaron la mayor prevalencia en la población en estudio fueron: autoacusaciones, irritabilidad, pérdida de apetito, pérdida de peso y pérdida de libido. Conclusión: La depresión es un síntoma frecuentemente encontrado entre los pacientes seleccionados para la cirugía bariátrica. Los índices encontrados en este trabajo demuestran que la depresión está íntimamente relacionada a la obesidad, ya que en el postoperatorio, con la reducción del peso, se han encontrado niveles de depresión mínimos o leves. Así, la pérdida de peso proveniente de la cirugía sugiere una mejora de la imagen corporal, ansiedad, autoestima y de la condición psíquica del paciente.
Palabras clave: Obesidad. Depresión. Cirugía bariátrica. Inventario de la depresión de Beck.
Beatriz Andrea Allegrini*, Gabriel Teixeira Cagnin*, Milena Theodoro*, Bruno Ziade Gil**, Durval Ribas Filho***
Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica218 - 222
2018 jul.- dez.; 12(2): 219INTRODUÇÃO
A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo
de gordura corpórea1, levando a prejuízos na saúde do
paciente, como doenças metabólicas, difi culdades de
locomoção e respiração2. Na prática clínica, um método
quantitativo para o diagnóstico da obesidade é o Índice
de Massa Corporal (IMC), calculado dividindo-se o peso
corporal em quilogramas, pelo quadrado da altura, em
metros quadrados. O IMC acima de 30 kg/m² classifi ca o
indivíduo como obeso3. Quanto à gravidade, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) defi ne obesidade grau I quando
o IMC situa-se entre 30 e 34,9 kg/m², obesidade grau II
quando o IMC está entre 35 e 39,9 kg/m² e obesidade
grau III ou mórbida quando o IMC ultrapassa 40 kg/m².
O manejo da obesidade mórbida engloba orientação
dietética, programação de atividade física e o uso de
fármacos antiobesidade. Todavia, pela difi culdade de
se obter um resultado satisfatório e defi nitivo para a
obesidade mórbida por meio de um tratamento clínico,
a cirurgia bariátrica tem sido cada vez mais empregada
como um recurso terapêutico4. A seleção de pacientes para
a operação requer um mínimo de cinco anos de evolução
da obesidade com fracasso dos métodos convencionais de
tratamento, bem como a avaliação de doenças associadas.
As técnicas cirúrgicas se diferenciam de acordo com o
mecanismo de ação, podendo ser restritivas, disabsortivas
ou mistas. O padrão ouro atual é uma técnica mista
denominada Fobi-Capella5.
Ainda que a obesidade não seja classifi cada como
um transtorno psiquiátrico6, distúrbios psiquiátricos são
frequentemente encontrados em pacientes portadores
de tal condição. A depressão, transtorno do humor
caracterizado principalmente pela presença de humor
deprimido, perda do interesse por atividades prazerosas,
alterações de sono e do apetite, é o transtorno psiquiátrico
que mais se associa ao quadro de obesidade7.
A associação da depressão e obesidade não se
relaciona a uma personalidade específi ca8, visto que
pessoas obesas são geralmente alvos de discriminação
e preconceito, contribuindo para a manifestação de
distúrbios psicossociais9.
A insatisfação com o corpo é um dos elementos da
baixa autoestima que pode ter relação com a depressão10
e que se apresenta mais nítida no período pré-operatório,
fase em que o paciente tem uma imagem corporal
negativa. Pode-se conceituar imagem corporal como o
conjunto de percepções, pensamentos e sentimentos de
um indivíduo sobre o seu próprio corpo, e essa forma de
perceber o próprio corpo pode infl uenciar a percepção do
ambiente à sua volta, inclusive modifi cando suas relações
com outras pessoas11.
A cirurgia bariátrica é, portanto, uma efi ciente
terapia para a perda de peso, podendo promover também
mudanças na imagem corporal e, consequentemente,
no perfi l psiquiátrico dos pacientes, contribuindo para a
redução dos índices de depressão12.
A obesidade não é considerada um problema
psiquiátrico, porém, além dos problemas físicos, ela
causa uma série de distúrbios psicológicos no paciente,
como distúrbios de imagem corporal, transtornos do
comportamento alimentar, ansiedade e depressão.
Todos esses fatores interferem direta e indiretamente na
qualidade de vida dos pacientes13.
Posto isso, o estudo em questão tem sua importância
na avaliação do perfi l psicológico dos pacientes
submetidos à cirurgia bariátrica, a fi m de identifi car, por
meio do Inventário Diagnóstico de Beck (IDB), os níveis
de depressão e os aspectos depressivos encontrados na
avaliação dos pacientes, e demonstrar a prevalência do
distúrbio depressivo entre os pacientes submetidos à
cirurgia bariátrica.
OBJETIVOS
Avaliar a prevalência de transtornos depressivos em
pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pelos métodos
“Sleeve” e “Bypass”, caracterizando a população estudada
segundo dados epidemiológicos e mensurando esse grau
de depressão segundo o IDB.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal quanti-qualitativo,
realizado em uma clínica particular de atendimento na
cidade de Catanduva, interior do estado de São Paulo,
no período de março a agosto de 2017. A amostra foi
composta por 17 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica
pelos métodos “Sleeve” e “Bypass” de ambos os sexos,
com idades entre 25 e 47 anos, residentes em Catanduva-
SP ou região.
Foram usados critérios de inclusão: ter idade igual ou
superior a 18 anos, período pós-cirurgia bariátrica entre 8
Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica 218 - 222
220 2018 jul.- dez.; 12(2):
a 15 meses, além de assinar o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Pacientes que se negaram a
participar da pesquisa a qualquer momento ou por não
possuírem condições físicas e/ou mentais satisfatórias
para responder às perguntas foram excluídos.
Para a pesquisa utilizaram-se dois questionários:
o primeiro foi desenvolvido pelos pesquisadores com
informações socioeconômicas (sexo, idade, escolaridade,
estado civil, profi ssão, peso atual, peso prévio à cirurgia e
altura) e o outro foi o IDB, devidamente validado para a
língua portuguesa14.
O IDB é composto por 21 itens com valores: 0, 1, 2
e 3, podendo totalizar um escore de 0 a 63. As respostas
com valores 1, 2 e 3 foram consideradas como indicativas
de sinais depressivos. Os itens referem-se a: 1) “Tristeza”;
2) “Pessimismo”; 3) “Sentimento de fracasso”; 4)
“Insatisfação; 5) “Culpa”; 6) “Punição; 7) “Autoaversão”;
8) “Autoacusações”;9) “Ideias suicidas”; 10) “Choro”; 11)
“Irritabilidade”; 12) “Retraimento social”; 13) “Indecisão”;
14) “Mudança na autoimagem”; 15) “Difi culdade de
trabalhar”; 16) “Insônia”; 17) “Fatigabilidade”; 18) “Perda
de apetite”; 19) “Perda de peso”; 20) “Preocupações
somáticas”; 21) “Perda da libido”. Para análise do
questionário foram somadas as numerações assinaladas
para cada item separadamente.
Assim, os escores de 0-11 representam depressão
mínima; de 12-19, depressão leve; de 20-35, depressão
moderada; e de 36-63, depressão grave15,16 (Quadro 1).
Quadro 1 - Níveis dos escores do IDB, para pacientes psiquiátricos, quando é empregada a versão em português
Nível Escores
Mínimo 0-11
Leve 12-19
Moderado 20-35
Grave 36-63
Fonte: Cunha16.
Os dados coletados foram digitados no programa
Excel 2007, sendo feita uma análise posterior relacionando
os resultados obtidos ao levantamento bibliográfi co
adquirido.
O projeto foi devidamente submetido ao Comitê de
Ética em Pesquisa do Centro Universitário Padre Albino
e encontra-se aprovado e registrado sob o protocolo nº
74449417.1.0000.5430.
RESULTADOS
Em relação aos dados sociodemográfi cos, foi
observado que os participantes do presente estudo (n=17)
apresentavam idades entre 25 e 47 anos; a maioria era
casada (64,7%) e do sexo feminino (76,47%); mais da
metade dos participantes (64,69%) se dividia em um
nível de escolaridade correspondente ao ensino superior
completo (47,05%) e ensino médio completo (17,64%).
A respeito dos dados de IMC calculados do pré-
operatório, todos os pacientes foram classifi cados como
obesos; alguns obtiveram IMC entre 35-39,9 kg/m2
(35,29%), classifi cados como obesos grau II; e a maioria
dos pacientes constaram IMC acima de 40 kg/m2 (64,7%),
classifi cados como obesos grau III. No pós-operatório,
mais da metade dos pacientes deixaram de ser obesos
(52,94%) e se enquadraram nas classes “sobrepeso” (IMC
entre 20-29,9 kg/m2) e “peso adequado” (IMC entre 18,6-
24,9 kg/m2).
Em relação ao IDB, observaram-se índices de
depressão mínima (88,23%) e leve (11,77%) (Gráfi co 1).
Não foram constatados níveis de depressão moderada ou
grave.
As perguntas 8, 11, 18, 19 e 21 referentes aos
sinais depressivos: autoacusações, irritabilidade, perda de
apetite, perda de peso e perda de libido, foram as questões
que evidenciaram a maior prevalência dos sinais clínicos
da depressão na população em estudo, correspondendo
a mais da metade (59,21%) das respostas consideradas
indicativas de sinais depressivos.
O sinal mais prevalente encontrado foi o de perda
de peso (70%), seguido de irritabilidade (58%), perda de
apetite (52%), autoacusações (47%) e perda de libido
Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica218 - 222
Gráfi co 1 - Intensidade da depressão em pacientes pós-cirurgia bariátrica
12%
88%
MÍNINO (0 A 11) LEVE (12 A 19)
2018 jul.- dez.; 12(2): 221(35%). O único sinal não pontuado no IDB foi o referente
ao “sentimento de fracasso” (Tabela 1).
Tabela 1 - Prevalência dos sinais depressivos na população de pacien-tes bariátricos de 5-15 meses de pós-operatório
SINAIS DEPRESSIVOS
1. Tristeza 5,88%
2. Pessimismo 11,76%
3. Sentimento de fracasso 0%
4. Insatisfação 11,76%
5. Culpa 5,88%
6. Punição 11,76%
7. Autoaversão 11,76%
8. Autoacusações 47,05%
9. Ideias suicidas 5,88%
10. Choro 23,52%
11. Irritabilidade 58,82%
12. Retraimento social 17,64%
13. Indecisão 23,52%
14. Mudança na autoimagem 5,88%
15. Difi culdades de trabalhar 5,88%
16. Insônia 11,76%
17. Fatigabilidade 17,64%
18. Perda de apetite 52,94%
19. Perda de peso 70,58%
20. Preocupação somática 11,76%
21. Perda de libido 35,29%
DISCUSSÃO
Os dados encontrados corroboram a hipótese
de que a depressão está relacionada à obesidade. Foi
possível constatar que todos os pacientes pós-bariátrica
apresentaram algum grau de depressão, seja mínimo ou
leve nos valores respectivos de 88,23% e 11,77%; um
padrão similar da prevalência da depressão pós-bariátrica
foi relatado por Mota17, cujo estudo avaliou 50 pacientes
bariátricos no pré e pós-operatório da cirurgia por meio
do IDB. Os dados desse estudo acerca da prevalência de
depressão mínima e leve no pós-operatório foram 84% e
12%, portanto, semelhantes aos encontrados em nosso
estudo.
Para tanto, podemos deduzir que os valores estão
consoantes com o estudo de Mota17, estando a depressão
nessa população evidente. Dentre os aspectos depressivos
avaliados pelo IDB, os que mais se destacaram foram perda
de peso, irritabilidade, perda de apetite, autoacusações e
perda de libido. Tais aspectos podem estar relacionados
à mudança corporal e psíquica que a cirurgia proporciona
aos pacientes, associados à perda da capacidade de
ingerir quantidades satisfatórias de alimentos relacionadas
ao bem-estar causado por eles.
CONCLUSÃO
Os resultados do estudo possibilitaram identifi car
índices de depressão mínimo e leve nos pacientes bariátricos
pós-cirurgia, sendo os mais prevalentes irritabilidade e
autoacusações. Além disso, foi possível confi rmar que a
obesidade e a depressão estão relacionadas, tendo em
vista que todos apresentaram algum grau depressivo
segundo o questionário de Beck.
Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica 218 - 222
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Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica218 - 222
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ANÁLISE PROTOPARASITOLÓGICA E MICROBIOLÓGICA EM AMOSTRAS DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE ATENDIDAS POR CRECHE EM CAMPINAS-SP
PROTOPARASITOLOGICAL AND MICROBIOLOGICAL ANALYSIS IN SAMPLES OF CHILDREN FROM 0 TO 6 YEARS OLD ATTENDED IN DAY CARE CENTER IN CAMPINAS-SP
PROTOPARASITOLÓGICO Y ANALISIS MICROBIOLÓGICO EN MUESTRAS DE NIÑOS DE 0 A 6 AÑOS DE EDAD, ATENDIDAS POR GUARDERIAS INFANTILES EN CAMPINAS-SP
*Docentes do curso de Biomedicina do Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, Campinas-SP. Contato: [email protected]; [email protected]; [email protected]**Graduadas pelo curso de Biomedicina do Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, Campinas-SP.
ResumoIntrodução: As doenças parasitárias e enterobactérias patogênicas afetam um grande número de pessoas em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, sendo muitas vezes associadas a más condições de higiene e tendo poucas manobras sanitárias efetivas junto à população. O grau socioeconômico e de escolaridade baixos também contribuem para aumentar o contágio e disseminação dessas doenças entre a população. Os mais afetados, pelas enteroparasitoses e pelas infecções alimentares, são as crianças que possuem barreira imunológica imatura e maior contato e facilidade de disseminação desses microorganismos no meio em que vivem. Objetivo: Identifi car e classifi car, através de exames protoparasitológicos e microbiológicos, a frequência de microorganismos enteroparasitários em amostras de fezes de crianças atendidas por creche. Metodologia: Foram analisadas 36 amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade, sendo 17 meninas e 19 meninos, todos atendidos por uma creche fi lantrópica no município de Campinas, São Paulo. As amostras de fezes foram testadas em laboratório de parasitologia por duas metodologias: Hoffman e Faust, e em laboratório de microbiologia por Coprocultura. Resultados: Das 36 amostras, 14 (38,8%) apresentaram positividade para as parasitoses intestinais; observou-se uma porcentagem ligeiramente superior para o sexo feminino; com relação à idade, a maior positividade está entre os escolares com 3 anos (45,5%). O parasita mais encontrado foi Giardia lamblia (42,8%) e Entamoeba coli (42,8%), seguido por Endolimax nana (21,4%). Conclusão: O diagnóstico dessas doenças, tratamento e principalmente orientação quanto à profi laxia, visam melhorar a qualidade de vida e de saúde das crianças e seus familiares, reduzir gastos com complicações devido à cronicidade dessas doenças e minimizar a proliferação dessas doenças na comunidade.
Palavras-chave: Coprocultura. Creche. Enterobactérias patogênicas. Enteroparasitoses. Exame protoparasitológico.
AbstractIntroduction: Parasitic and pathogenic enterobacteriaceae diseases affect a great number of people under developed and developing countries, being many times associated to poor hygiene conditions and receiving few effective sanitary measures. Low educational and sociocultural levels also contribute to increase of these diseases infection and spread. The most affected by enteroparasitosis and by food-borne infection diseases are children; for having immature immunological barriers and more contact and facility to spread these microorganisms into the means where they live in. Objective: Identify and classify through (proto-) parasitological and microbiological examination the frequency of entero parasitic microorganisms in samples of children who attend day care center. Methodology: 36 samples of children aged 0-6 years old were analysed, being 17 girls and 19 boys, all attended by a charitable day care center in Campinas city - São Paulo state. Theses samples were tested in parasitology laboratory using two methods: Hoffman and Faust and in microbiology laboratory hroughfaecal tests. Results: 14 out of the 36 samples, (38.8%) presented positive for intestinal parasitosis, a slightly higher percentage was noticed for female sex. About age, the great test positivity is among 3-year-old schoolchildren (45.5%). The most found parasite were Giardia lamblia (42.8%) and Entamoeba coli (42.8%) followed by Endolimax nana (21.4%). Conclusion: The diagnosis of these diseases, treatment and mainly guidance on prophylaxis, aim to improve the quality of life and health of children and their families, reduce costs with complications due to the chronicity of these diseases and minimize the proliferation of these diseases in the community.
Keywords: Faecal test. Child day care centers. Pathogenic enterobacteria. Enteroparasitosis. Parasintological examination.
ResumenIntroducción: Las enfermedades parasitarias y enterobacterias patógenas afectan a un gran número de personas en países subdesarrollados y en desarrollo, a menudo asociadas a malas condiciones de higiene y teniendo pocas maniobras sanitarias efectivas junto a la población. El grado socioeconómico y de escolaridad bajos también contribuyen a aumentar el contagio y diseminación de esas enfermedades entre la población. Los más afectados, por las enteroparasitosas y las infecciones alimenticias, son los niños que poseen una barrera inmunológica inmadura y un mayor contacto y facilidad de diseminación de esos microorganismos en el medio en que viven. Objetivo: Identifi car y clasifi car, a través de exámenes protoparasitológicos y microbiológicos, la presencia de microorganismos enteroparasitarios en muestras de heces de niños atendidas por guardería. Metodología: Se analizaron 36 muestras de niños de 0 a 6 años de edad, siendo 17 niñas y 19 niños, todos atendidos por la guardería fi lantrópica en el municipio de Campinas, São Paulo. Las muestras de heces fueron probadas en laboratorio de parasitología por dos metodologías: Hoffman y Faust y en laboratorio de microbiología por Coprocultura. Resultados: De las 36 muestras, 14 (38,8%) presentaron positividad para las parasitosis intestinales, se observó un porcentaje ligeramente superior para el sexo femenino, con relación a la edad la mayor positividad es entre los escolares de 3 años (45,5%). El parásito más encontrado fue Giardia lamblia (42,8%) y Entamoeba coli (42,8%), seguido por Endolimax nana (21,4%). Conclusión: El diagnóstico de estas enfermedades, tratamiento y principalmente orientación en cuanto a la profi laxis, tienen como objetivo mejorar la calidad de vida y de salud de los niños y sus familiares, reducir gastos con complicaciones debido a la cronicidad de esas enfermedades y minimizar la proliferación de esas enfermedades en la comunidad.
Palabras clave: Cultivo de heces. Guarderias infantiles. Enterobacterias patógenas. Parásitos intestinales. Examen protoparasitológico.
Águeda Cleofe Marques Zaratin*, Alexandre Veronez*, Rosana Francisco dos Santos Siqueira*, Andrezza Pereira Barbato**, Michelle Maria Monteiro dos Santos**
Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP 223 - 227
224 2018 jul.- dez.; 12(2):
INTRODUÇÃO
As infecções causadas por parasitas intestinais
constituem um problema de saúde pública mundial,
apresentando maior prevalência em indivíduos de países
subdesenvolvidos, devido a inúmeros fatores, como
poluição fecal da água e de alimentos contaminados,
ausência de instalações sanitárias adequadas, aspectos
socioculturais, falta de saneamento básico, convívio com
determinados animais, além do tipo de parasita e idade do
hospedeiro1,2.
As gastroenterites infecciosas afetam grande parte
da população mundial. São eventos deletérios à saúde
humana, também decorrentes da precariedade sanitária,
afetando, principalmente, grupos com hipossufi ciência
socioeconômica que costumam habitar locais insalubres3.
O estudo sobre a epidemiologia dos parasitas
intestinais tem a fi nalidade de indicar as principais doenças
e seus agentes etiológicos que são disseminados em
determinada região, de maneira epidêmica ou endêmica.
Identifi cando e analisando a prevalência desses parasitas
e suas formas de propagação entre os indivíduos, medidas
de controle mais efi cientes devem ser prioritárias,
favorecendo intervenções apropriadas na redução dos
agravos4.
No Brasil, as doenças entéricas são responsáveis
por grande número de atendimentos na rede pública de
saúde, exigindo maior atenção às crianças que apresentam
os seguintes sintomas mais comuns: irritabilidade,
desnutrição, retardo cognitivo, anemia, aumento da
suscetibilidade e complicações agudas. Isso pode ocorrer
por conta das más condições de higiene e sanitárias, além
da condição de desnutrição e do ambiente em que estão,
como creches, orfanatos, escolas, facilitando o contato
interpessoal e disseminação destes patógenos5.
A diversidade de patógenos em ambientes
escolares revela a carência de conhecimentos de higiene
e educação sanitária que acomete a população e como
essa circunstância favorece a propagação de doenças. A
creche serve de indicador do que esperar da comunidade
próxima. Analisar como se encontram as crianças da
creche nos auxilia a descrever os aspectos epidemiológicos
da comunidade local, analisando os prováveis fatores de
risco. A creche também funciona como um centro de
conhecimento para os indivíduos periféricos, incluindo as
crianças como agentes multiplicadores dos conhecimentos
relacionados às boas práticas de saúde e higiene5.
O presente estudo teve por objetivo identifi car e
classifi car, através de exames protoparasitológicos e mi-
crobiológicos, a frequência de microorganismos entero-
parasitários em amostras de fezes de crianças atendidas
por creche, prestando conhecimento para a comunidade
envolvida na pesquisa, tanto os familiares quanto os pro-
fi ssionais da creche, da situação de risco que enfrentam
quanto às infecções parasitárias e alimentares. Os resulta-
dos dos laudos e as orientações podem auxiliar a diminuir
a incidência de doenças entéricas nessa comunidade.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo de caráter descritivo-
analítico realizado em uma creche fi lantrópica da cidade
de Campinas-SP com nível socioeconômico baixo. Foram
analisadas amostras de 36 crianças de 0 a 6 anos, das
quais, os pais responderam pela participação mediante a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Os frascos coletores foram disponibilizados para
que o próprio professor da creche realizasse a coleta das
amostras de fezes, sendo uma amostra de cada criança. As
amostras foram recolhidas em uma data pré-estabelecida
e enviadas em um recipiente próprio, de isopor, ao
laboratório de Análises Clínicas do Centro Universitário
UniMetrocamp-Wyden.
Para a realização do exame parasitológico foram
utilizados dois métodos laboratoriais diferentes: Método
de Faust (centrífugo-fl utuação em sulfato de zinco) usado
para a pesquisa de cistos de protozoários, permitindo,
também, o encontro de ovos leves; e o Método de Hoffmann
(sedimentação espontânea) baseado na sedimentação
espontânea de ovos pesados, cistos e larvas, com leitura
de uma lâmina de cada amostra ao microscópio óptico.
Em relação ao exame microbiológico, foi empregada
a técnica de coprocultura para verifi car a presença e
classifi car bactérias patogênicas no trato gastrointestinal
do indivíduo. As amostras foram testadas buscando
investigar a presença de Salmonella sp. e Shigella sp. A
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
do Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, sob o
número 80406317.2.0000.5632.
RESULTADOS
De acordo com os testes parasitológicos, das
Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP223 - 227
2018 jul.- dez.; 12(2): 22536 amostras analisadas, 14 (38,8%) apresentavam
positividade para as parasitoses intestinais. Conforme
o sexo dos indivíduos (Gráfi co 1), observa-se uma
porcentagem ligeiramente superior para o sexo feminino
(41,2%). Com relação à idade (Gráfi co 2), a maior
positividade está entre os escolares com 3 anos (45,5%).
Gráfi co 1 - Frequência dos parasitas de acordo com o sexo dos indivíduos
Gráfi co 2 - Frequência dos parasitas de acordo com a idade dos indivíduos
De acordo com os parasitas encontrados (Gráfi co3),
observou-se igual frequência de Giardia sp.(42,8%) e de
E. coli (42,8%), seguidos por Endolimax nana (21,4%).
Para o sexo masculino houve 4 casos de Giardia sp.
(66,6%), 3 casos de E. coli (50%) e 1 caso de Endolimax
nana (33,4%), e para o sexo feminino houve 3 casos
de E. coli (50%), 2 casos de Giardia sp. (33,4%) e 2 de
Endolimax nana (66,6%). Entre as amostras analisadas foi
encontrado um caso de poliparasitismo em um indivíduo
do sexo masculino.
Gráfi co 3 - Frequência dos parasitas de acordo com o sexo dos indivíduos
Conforme o Gráfi co 4, a frequência de Giardia sp. e
E. coli no total de alunos analisados foi igual, sendo que
E. coli foi encontrada nos indivíduos de 1 ano, 3 anos e
6 anos de idade; enquanto que a Giardia sp mostrou-se
presente nos indivíduos de todas as faixas etárias com
exceção dos de 5 anos. Endolimax nana foi encontrada
somente nos indivíduos de 3 e 6 anos.
Gráfi co 4 - Frequência dos parasitas encontrados de acordo com a idade dos indivíduos
Nas análises microbiológicas todas as amostras
foram negativas para Salmonella sp. e Shigella sp.
DISCUSSÃO
A realização de exames protoparasitológicos e
microbiológicos de indivíduos de uma determinada região
pode estabelecer uma análise epidemiológica sobre
essa comunidade relacionando as doenças parasitárias
e infecções gastrointestinais aos hábitos de higiene e
condições sanitárias desta população.
No presente estudo, a frequência de parasitoses
foi de 38,8%, sendo a Giardia lamblia o parasita mais
frequente (42,8%), afetando principalmente as crianças
de 3 anos. Em um estudo realizado em uma creche da
cidade de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, em
crianças com faixa etária semelhante ao presente estudo,
os resultados foram semelhantes quanto à positividade
para parasitoses, com 32,3%, sendo o parasita mais
frequente a Giardia lamblia com 90%5. Um outro estudo,
dessa vez em Tubarão, Santa Catarina, encontrou 29,3%
de escolares infectados, sendo o parasita mais presente a
Giardia lamblia com 18,7%6. Pesquisa realizada em uma
escola pública de Porto Alegre-RS, encontrou 36% das
amostras positivas, porém, o parasita mais frequente foi o
Ascaris lumbricoides, com 50,72%7. Em Catanduva-SP, um
estudo encontrou 29,2% de indivíduos entre 2 e 5 anos
de idade parasitados, sendo 73% por Giardia lamblia,10%
por Entamoeba coli e 7,9% por Endolimax nana8.
Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP 223 - 227
226 2018 jul.- dez.; 12(2):
Quanto à idade das crianças parasitadas, elas se
encontram na etapa da oralidade, passando por mudanças
de hábitos alimentares e pessoais; também possuem uma
resposta imune imatura, tornando-se essencial a prática
de medidas preventivas9.
No nosso estudo, a maior positividade está entre
os escolares de 3 anos (45,5%), também encontrado por
Reuter et al.5 com 54,6% de positividade. Ferreira et al.9
identifi caram no Movimento Sem Teto 83% das crianças
até 5 anos parasitadas, sendo que quase todas maiores
de 2 anos de idade estavam parasitadas, o que pode
ser explicado pelo fato de no segundo semestre de vida
começar o período de desenvolvimento, possibilitando
à criança se locomover no ambiente, assim elevando as
chances de contaminação.
Os resultados deste estudo indicam que há maior
frequência de parasitoses intestinais em escolares do
sexo feminino, 41,2%, contra 36,9% do sexo masculino.
Como também encontrado por Zaiden et al.10 com uma
porcentagem de 22,8% do sexo feminino, contra 17% do
sexo masculino, e por Reuter et al.5 com uma porcentagem
de 60% de crianças do sexo feminino parasitadas. Até o
momento não foram encontrados estudos que justifi quem
a relação entre o sexo do indivíduo e a presença de
parasitose intestinal.
A frequência de giardíase demonstra que tanto a
idade como o nível socioeconômico são relevantes para
esta infecção. Crianças de creche têm maior contato entre
si, o que contribui para a transmissão de pessoa para
pessoa. O nível socioeconômico infl uencia as práticas de
higiene pessoal e os cuidados com os alimentos e a água11.
A giardíase apresenta aspectos clínicos abrangentes
que variam de casos de pacientes assintomáticos até
pacientes com efeitos severos. As variáveis são múltiplas,
podendo ser atribuídas ao tipo de cepa do parasita,
duração da infecção, estado nutricional e imunidade12.
Embora a área da saúde apresente melhorias
técnico-científi cas, as doenças parasitárias são mais
constantes em indivíduos de baixa renda, devido à falta de
saneamento básico que leva a condições mais suscetíveis
ao risco de infecção parasitária6.
A Entamoeba coli e a Endolimax nana, dois parasitas
também encontrados nas amostras deste estudo, são
classifi cadas como amebas não patogênicas, ou seja, não
causam amebíase. Entretanto, sua presença nas fezes
indica contaminação fecal da água e/ou dos alimentos
ingeridos pelo paciente, um dado importante a ser debatido
neste trabalho, que tem como fi nalidade evidenciar a
importância da educação continuada sobre a higiene
pessoal e a disponibilidade do saneamento básico para
toda a população. A única ameba que em determinadas
situações pode ser patogênica é a Entamoeba histolytica
sendo considerada a segunda causa de óbito entre as
doenças parasitárias em todo o mundo, com grande
impacto na saúde dessas populações13.
No presente estudo houve apenas um caso de
poliparasitismo. A predominância do monoparasitismo14,15
está relacionada à competição do mesmo nicho pelos
parasitas16 ou à baixa interação do indivíduo com meios
contaminados por diferentes espécies de parasitas.
Segundo Uchôa et al.17 seria importante realizar o
estudo abrangendo os profi ssionais que trabalham com as
crianças na creche, principalmente aqueles envolvidos na
preparação dos alimentos das crianças, visto que a maioria
das parasitoses e das infecções entéricas por bactérias
patogênicas ocorrem por consumo de água e alimentos
contaminados.
As análises microbiológicas apresentaram resultado
negativo para todas as amostras. A pesquisa microbiológica
teve como foco, principalmente, a detecção de Salmonella
sp. e Shigella sp., ambas bactérias patogênicas causadoras
de infecção alimentar.
Por se tratarem de enterobactérias, sua transmissão
ocorre pela via fecal-oral através da ingestão de água e/
ou alimentos contaminados ou via pessoa-pessoa quando
os indivíduos manipuladores de alimentos não realizam
as boas práticas de higiene sanitária18. Dessa forma, o
fato de não encontrarmos a presença destes patógenos
nas amostras de fezes permite concluir que não há
disseminação destas bactérias patogênicas na creche ou
nos domicílios dos pesquisados.
CONCLUSÃO
O resultado do estudo mostrou que há crianças
parasitadas na creche onde o levantamento dos dados
foi realizado. Os dados foram concordantes com outros
estudos sobre o tema. Não houve diferença entre a
quantidade de meninos e meninas parasitados, entretanto,
as crianças entre 2 e 5 anos são as mais atingidas pelos
parasitas devido à fase da oralidade, maior independência
Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP223 - 227
2018 jul.- dez.; 12(2): 227de movimentos e locomoção, e menor conhecimento sobre
higiene pessoal. Por se tratar de crianças que frequentam
o ambiente de uma creche, há maior contato entre elas e
menor supervisão de um adulto.
Os resultados da pesquisa sugerem que as pessoas
da comunidade onde se encontra a creche podem estar
sendo acometidas por doenças parasitárias, visto que a
transmissão dos parasitas ocorre pelo contato entre as
pessoas e geralmente com a ingestão de água e alimentos
contaminados. O presente trabalho indica que os familiares
próximos das crianças que tiveram resultados positivos
deveriam procurar o serviço de saúde para avaliação e
tratamento. Os familiares das crianças cujos resultados
apresentaram-se negativos podem repetir o exame
caso haja sintomas de infecções parasitárias, visto que
com apenas uma coleta do material fecal não é possível
garantir 100% de efetividade do exame devido ao ciclo de
vida dos parasitas.
Como não houve identifi cação de bactérias
patogênicas nas amostras, concluímos que não há casos
de infecção enterobacteriana nos indivíduos participantes
da pesquisa.
Salientamos, ainda, a importância de palestras
educativas sobre higiene pessoal e coletiva para prevenção
de contaminação e reinfecção.
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15. Visser S, Giatti LL, Carvalho RAC, Guerreiro JCH. Estudo da associação entre fatores socioambientais e prevalência de parasitose intestinal em área periférica da cidade de Manaus (AM, Brasil). Ciênc Saúde Colet. 2011; 16(8):3481-92.
16. Silva PL, Silva RMG. Ocorrência de enteroparasitoses em Centros de Educação Infantil no município de Patos de Minas, MG, Brasil. Biosci J. 2010; 26 (1):147-51.
17. Uchôa CMA, Albuquerque MC, Carvalho FM, Falcão AO, Silva P, Basto OMP. Parasitismo intestinal em crianças e funcionários de creches comunitárias na cidade de Niterói-RJ, Brasil. Rev Patol Trop. 2009; 38(4):267-78.
18. Delazeri MAF, Lawisch GKS. Incidência de parasitos intestinais em crianças das escolas municipais de educação infantil e ensino fundamental de um município do interior do Rio Grande do Sul. Destaques Acadêmicos. 2017; 9 (3):206-15.
Envio: 11/05/2018 Aceite: 12/07/2018
Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP 223 - 227
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
A , revista do Centro
Universitário Padre Albino (FIPA) de Catanduva-SP, com
periodicidade semestral, tem por objetivo proporcionar à
comunidade científi ca, enquanto um canal formal de comunicação
e disseminação da produção técnico-científi ca nacional, a
publicação de artigos relacionados à área da saúde, especialmente
da Enfermagem. Objetiva também publicar suplementos sob a
forma de coleções de artigos que abordem tópicos ou temas
relacionados à saúde. O artigo deve ser inédito, isto é, não
publicado em outros meios de comunicação.
As normas de um periódico estabelecem os princípios
éticos na condução e no relatório da pesquisa e fornecem
recomendações com relação aos elementos específi cos da edição
e da escrita. Visam melhorar a qualidade e a clareza dos textos
dos artigos submetidos à revista, além de facilitar a edição.
Os Editores recomendam que os critérios para autoria sejam
contribuições substanciais à concepção e ao desenho, ou à coleta,
análise e à interpretação de dados; redação do artigo ou revisão
crítica visando manter a qualidade do conteúdo intelectual; e
aprovação fi nal da versão a publicar.
CATEGORIAS DE ARTIGOS DA REVISTA
ARTIGOS ORIGINAIS: trabalho de pesquisa com resultados
inéditos que agreguem valores à área da saúde, em especial
na área da Enfermagem. Sua estrutura deve conter: resumo,
descritores (palavras-chave), introdução, objetivos, material e
métodos, resultados, discussão, conclusões e referências. Sua
extensão limita-se a 15 páginas. Seguir instruções que constam na
preparação do artigo. Recomenda-se que o número de referências
bibliográfi cas limite-se a 20, havendo, todavia, fl exibilidade. O
texto deve conter fontes bibliográfi cas internacionais. O artigo
original não deve ter sido divulgado em nenhuma outra forma de
publicação ou em revista nacional.
ARTIGOS DE REVISÃO: avaliação crítica e abrangente sobre
assuntos específi cos e de interesse para o desenvolvimento da
Enfermagem, já cientifi camente publicados. Os artigos deverão
conter até 15 páginas.
ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO: trabalhos
descritivos e interpretativos sobre novas técnicas ou procedimentos
globais e atuais em que se encontram determinados assuntos
investigativos. Os artigos deverão conter até 10 páginas.
ESPAÇO ACADÊMICO: destinado à divulgação de estudos
desenvolvidos durante graduação, em obediência as mesmas
normas exigidas para os artigos originais. O nome do orientador
deverá ser indicado em nota de rodapé, e deverão conter no
máximo 10 páginas.
RELATOS DE CASO(S): descrição de casos envolvendo
pacientes, ou situações singulares, doenças raras ou nunca
descritas, assim como formas inovadoras de diagnóstico ou
tratamento. O texto em questão aborda os aspectos relevantes
que devem ser comparados com os disponíveis na literatura.
Deverá ser enviada cópia do Parecer do CEP.
RESENHAS E REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS: análise crítica da
literatura científi ca publicada recentemente. Os artigos deverão
conter até 3 páginas.
Os artigos devem ser encaminhados ao editor-chefe da
revista, especifi cando a sua categoria, devendo ser anexada a
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E TRANSFERÊNCIA
DE DIREITOS AUTORAIS, nos seguintes moldes: Eu (nós),
abaixo assinado(s) transfi ro(erimos) todos os direitos autorais do
artigo intitulado (título) à CuidArte Enfermagem. Declaro(amos)
ainda que o trabalho é original e que não está sendo considerado
para publicação em outra revista, quer seja no formato impresso
ou eletrônico. Data e Assinatura(s).
Cada artigo deverá indicar o nome do autor responsável pela
correspondência junto a Revista, e seu respectivo endereço,
incluindo telefone e e-mail, e a este autor será enviado um
exemplar da revista.
ASPECTOS ÉTICOS: todas as pesquisas envolvendo estudos com
seres humanos deverão estar de acordo com a Resolução CNS-
196/96, devendo constar o consentimento por escrito do sujeito
e a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Caso a pesquisa
não envolva seres humanos, especifi car no ofício encaminhado.
Deverá ser enviada cópia do Parecer do CEP. Quando relatam
experimentos com animais, os autores devem mencionar se
foram seguidas as diretrizes institucionais e nacionais para os
cuidados e a utilização dos animais de laboratório.
ENVIO DE ORIGINAIS: o artigo deve ser enviado pelo correio
em 2 vias impressas, com cópia em CD, digitado no programa
Microsoft Offi ce Word da versão 2003 a 2010. A revista não
228 - 230
2018 jul.- dez.; 12(2): 229se responsabilizará por eventual extravio durante o envio do
material. Após o recebimento do material será enviado e-mail de
confi rmação ao autor responsável.
SELEÇÃO DOS ARTIGOS: inicialmente, todo artigo submetido à
Revista será apreciado pelo Conselho Científi co nos seus aspectos
gerais, normativos e sua qualidade científi ca. Ao ser aprovado,
o artigo será encaminhado para avaliação de dois revisores do
Conselho Científi co com reconhecida competência no assunto
abordado. Caso os pareceres sejam divergentes o artigo será
encaminhado a um terceiro conselheiro para desempate (o
Conselho Editorial pode, a seu critério, emitir o terceiro parecer).
Os artigos aceitos ou sob restrições poderão ser devolvidos aos
autores para correções ou adequação à normalização segundo
as normas da Revista. Artigos não aceitos serão devolvidos aos
autores, com o parecer do Conselho Editorial, sendo omitidos
os nomes dos revisores. Aos artigos serão preservados a
confi dencialidade e sigilo, assim como, respeitados os princípios
éticos.
PREPARAÇÃO DO ARTIGO
Formatação do Artigo: a formatação deverá obedecer às
seguintes características: impressão e confi guração em folha A4
(210 X 297 mm) com margem esquerda e superior de 3cm e
margem direita e inferior de 2cm. Digitados em fonte Times New
Roman tamanho 12, espaço 1,5 entrelinhas, com todas as páginas
numeradas no canto superior direito. Devem ser redigidos em
português. Se for necessário incluir depoimentos dos sujeitos,
estes deverão ser em itálico em letra tamanho 10, na sequência
do texto. Citação ipsis litteris usar aspas na sequência do texto.
Autoria, Título e Subtítulo do Artigo: apresentar o título do
trabalho (também em inglês e espanhol) conciso e informativo,
contendo o nome dos autores (no máximo 6). No rodapé, deverá
constar a ordem em que devem aparecer os autores na publicação,
a maior titulação acadêmica obtida, fi liação institucional, onde
o trabalho foi realizado (se foi subvencionado, indicar o tipo de
auxílio, nome da agência fi nanciadora) e o endereço eletrônico.
Resumo: deverá ser apresentado em português, inglês
(Abstract) e espanhol (Resumen). Deve vir após a folha de rosto,
tipo informativo, limitar-se ao máximo de 250 palavras e deverá
conter: objetivo do estudo, procedimentos básicos (seleção dos
sujeitos, métodos de observação e análise, principais resultados e
as conclusões). Redigir em parágrafo único, espaço simples, fonte
10, sem recuo de parágrafo.
Palavras-chave: devem aparecer abaixo do resumo, conter
no mínimo 3 e no máximo 6 termos que identifi quem o tema,
limitando-se aos descritores recomendados nos Descritores em
Ciência da Saúde (DeCS) e apresentado pela BIREME na forma
trilingue, disponível à página URL: http://decs.bvs.br. Apresentá-
los em letra inicial maiúscula, separados por ponto. Ex: Palavras-
chave: Enfermagem hospitalar. Qualidade. Saúde.
Tabelas: as tabelas (fonte 10) devem ser numeradas
consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem em que
forem citadas no texto, com a inicial do título em letra maiúscula
e sem grifo, evitando-se traços internos horizontais ou verticais.
Notas explicativas deverão ser colocadas no rodapé das tabelas.
Seguir Normas de Apresentação Tabular do IBGE. Há uma
diferença entre Quadro e Tabela. Nos quadros colocam-se as
grades laterais e são usados para dados e informações de caráter
informativo. Nas tabelas não se utilizam as grades laterais e são
usadas para dados analisados.
Ilustrações: qualquer que seja o tipo de ilustração, sua
identifi cação aparece na parte superior, precedida da palavra
designativa (Desenho, Esquema, Fluxograma, Fotografi a, Gráfi co,
Mapa, Organograma, Planta, Quadro, Retrato, Figura, Imagem,
entre outros), seguida de seu número de ordem de ocorrência
no texto, em algarismos arábicos, travessão e do respectivo
título. As legendas devem ser claras. Para utilização de ilustrações
extraídas de outros estudos, já publicados, os autores devem
solicitar a permissão, por escrito, para reprodução das mesmas.
As autorizações devem ser enviadas junto ao material por
ocasião da submissão. Figuras coloridas não serão publicadas.
As ilustrações deverão ser enviadas juntamente com os artigos
em uma pasta denominada fi guras, no formato BMP ou TIF com
resolução mínima de 300 DPI. A revista não se responsabilizará
por eventual extravio durante o envio do material.
Abreviações/Nomenclatura: o uso de abreviações deve ser
mínimo e utilizadas segundo a padronização da literatura. Indicar
o termo por extenso, seguido da abreviatura entre parênteses, na
primeira vez que aparecer no texto. Quando necessário, citar apenas
a denominação química ou a designação científi ca do produto.
Citações no texto: devem ser numeradas com algarismos
arábicos sobrescritos, de acordo com a ordem de aparecimento no
texto. Quando o autor é novamente citado manter o identifi cador
inicial. No caso de citação no fi nal da frase, esta deverá vir antes
do ponto fi nal e no decorrer do texto, antes da vírgula. Exemplo
1: citações com numeração sequencial “...de acordo com vários
estudos”1-9. - Exemplo 2: citações com números intercalados “...
de acordo com vários estudos”1,3,7-10,12. Excepcionalmente pode ser
empregado o nome do autor da referência como, por exemplo, no
início de frases destacando sua importância.
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Agradecimentos: deverão, quando necessário, ocupar um
parágrafo separado antes das referências bibliográfi cas.
Referências: as referências devem estar numeradas
consecutivamente na ordem que aparecem no texto pela primeira
vez e estar de acordo com o “Estilo Vancouver” Requisitos
Uniformes do Comitê Internacional de Editores de Revistas
Médicas (International Committee of Medical Journal Editors –
ICMJE). Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_
requirements.html e também disponível em: http://www.bu.ufsc.
br/ccsm/vancouver.html traduzido e adaptado por Maria Gorete
M. Savi (Coordenadora) e Helena Schmidt Burg. Os títulos dos
periódicos devem ser abreviados pela lista de abreviaturas de
periódicos da Index Medicus (base de dados Medline), que pode
ser consultado no endereço: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/
query.fcgi?db=journals sendo que coloca-se um ponto após o
título para separá-lo do ano. Exemplos: N Engl J Med. 2013. Para
abreviatura dos títulos de periódicos nacionais e latino-americanos,
consulte o site: http://portal.revistas.bvs.br eliminando os pontos
da abreviatura, com exceção do último ponto para separar do
ano. Exemplos: Femina., Rev Bras Reumatol., Rev Bras Hipertens.
Utilizar preferencialmente referências com menos de cinco anos
de publicação. Incluir também referências internacionais na
discussão, principalmente de textos publicados em periódicos
científi cos internacionais ou, se forem periódicos publicados no
Brasil, que sejam também indexados em bases internacionais.
EXEMPLO DE REFERÊNCIAS
Devem ser citados até seis autores, acima deste número, citam-
se apenas os seis primeiros autores seguidos de et al.
Livro
Baird SB, Mccorkle R, Grant M. Cancer nursing: a comprehensive
textbook. Philadelphia: WB. Saunders; 1991.
Capítulo de livro
Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH,
Brener BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and
management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78.
Agência governamental como autor
Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde,
Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS.
Acolhimento e classifi cação de risco nos serviços de urgência.
Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
Autor (pessoa física) e organização como autores
Vallancien G, Emberton M, Harving N, van Moorselaar RJ; Alf-One
Study Group. Sexual dysfunction in 1,274 European men suffering
from lower urinary tract symptoms. J Urol. 2003; 169(6):2257-61.
Artigo de periódico com mais de 6 autores
Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et
al. Childhood leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-
up. Br J Cancer. 1996; 73:1006-12.
Trabalho apresentado em congresso
Lorenzetti J. A saúde no Brasil na década de 80 e perspectivas
para os anos 90. In: Mendes NTC, coordenadora. Anais do 41º
Congresso Brasileiro de Enfermagem; 1989 set 2-7; Florianópolis,
Brasil. Florianópolis: ABEn – Seção SC; 1989. p. 92-5.
Documentos jurídicos
Brasil. Lei nº. 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre
a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras
providências. Diário Ofi cial da República Federativa do Brasil, 26
jun 1986. Seção 1, p.1.
Tese/Dissertação
Lipinski JM. A assistência de enfermagem a mulher que provocou
aborto discutida por enfermeiros em busca de uma assistência
humanizada [dissertação]. Florianópolis (SC): Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem/ UFSC; 2000.
Artigo em formato eletrônico
Polgreen PM, Diekema DJ, Vandeberg J, Wiblin RT, Chen YY,
David S, et al. Risk factors for groin wound infection after femoral
artery catheterization: a case-control study. Infect Control Hosp
Epidemiol [Internet]. 2006 Jan [citado em 5 jan. 2007]; 27(1):34-
7. Disponível em: http://www.journals.uchicago.edu/ICHE/
journal/issues/v27n1/2004069/2004069.web.pdf
Alves Júnior L, Rodrigues AJ, Évora PRB, Basseto S, Scorzoni
Filho A, Luciano PM, et al. Fatores de risco em septuagenários
ou mais idosos submetidos à revascularização do miocárdio e
ou operações valvares. Rev Bras Cir Cardiovasc [Internet]. 2008
[citado em 06 out. 2016]; 23(4):550-5. Disponível em: http://
www.scielo.br/ pdf/rbccv/v23n4/v23n4a16.pdf
ENDEREÇO PARA ENCAMINHAMENTO DE ARTIGOS
Rua dos Estudantes, 225
Parque Iracema - Catanduva-SP - Brasil
CEP. 15809-144
Contato: e-mail: revistaenfermagem@unifi pa.com.br
Fone: (17) 3311-3331
228 - 230
2018 jul.- dez.; 12(2): 231
232 2018 jul.- dez.; 12(2):
Tel.: (17) 3522-4453E-mail: [email protected]
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