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A IGREJA DE S. GIÃO (Nazaré) O PROJECTO IPSIIS FUNDEADOURO DA BERLENGA E O SEU POTENCIAL ARQUEOLÓGICO OS SEGREDOS SUBAQUÁTICOS DE CALLIPUS Revista de Arquelogia romana Ano I - nº 1 - Abril 2012

Revista Portugal Romano Abril 2012

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Revista de Arqueología de la Antigüedad romana portuguesa

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Page 1: Revista Portugal Romano Abril 2012

A IgrejA de S. gIão(Nazaré)

o Projecto IPSIIS

FuNdeAdouro dA BerleNgA e o Seu PoteNcIAl ArqueológIco

oS SegredoS SuBAquÁtIcoSde cAllIPuS

Revista de Arquelogia romana

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IgrejA de S. gIão dANAzAré

Todos os investigadores que até à data estudaram S.Gião daNazaré classificam esta igreja como sendo de origem visigótica. Terão sido levados a isso pela ex-istência da parede que divide o cru-zeiro da nave central da igreja,constituído por uma porta e duas janelas com arcos ultrapassados, iconóstase.Por Adriano Monteiro, Engº.

pág. 42

FuNdeAdouro dA BerleNgA e oSeu PoteNcIAl ArqueológIco

Por Alexandre Monteiropág.16

o Projecto IPSIIS Por José de Sousapág.32

oS SegredoS SuBAquÁtIcoS de cAllIPuS Por: Sónia Bombico

pág.64

Índi

ce

Editorial pág. 4 Notícias pág. 6Fundeadouro da Berlenga e o seu potencial arqueológico pág. 16VISITE - Museu Arqueológico do Carmo pág. 23CortiçaisHistória de um naufrágio romano em Peniche pág. 24Transportando vinho pelo Mosela. O “barco do vinho” de Neumagen. pág. 28O Projecto IPSIIS pág. 32Uma Villa romana no Rossio da Pederneira? pág. 36A igreja de São Gião da Nazaré pág. 42Foto-reportagem pág. 50Mosaico de Cós – “Os relatos de J.L.Vasconcelos” pág. 56O Acampamento romano de Alto dos Cacos (Almeirim) pág. 60 Uma peça um Museu – Museu Dr. Joaquim Manso pág. 63Os Segredos Subaquáticos de Callipus (Sado) pág. 64“LUDI CEREALES” – Os ovos da pascoa pág. 70O Desenho e a Ilustração na Arqueologia pág. 74O mosaico Romano pág. 81Sabia que... «As mulheres em Roma…» pág. 86Lendas e Estórias pág. 93Roteiro Arqueológico Romano do Concelho de Cascais pág. 94

Índice

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edito

rial

Proteger e gerIr A mudANçA

Em Abril comemora-se o Dia Internac-ional dos Monumentos e Sítios, este ano sob o lema “proteger e gerir a mudança”, um tema proposto pelo ICOMOS (Con-selho Internacional dos Monumentos e Sítios) a que o (extinto) IGESPAR se as-socia, tendo como parceiras muitas enti-dades públicas e privadas.Do nosso ponto de vista, o tema selec-cionado adequa-se na perfeição a este projecto «Portugal Romano» e à missão que diariamente tentamos levar a cabo, em prol do legado romano em Portugal.Os dias que correm em Portugal são difíceis, com resultados nefastos para o nosso património arqueológico que tem sido, em muitos casos, um alvo fácil para atentados à sua integridade. Será a altura de GERIR A MUDANÇA, “desenterrar” novamente este potencial de riqueza ar-queológica e direccionar esforços para o seu enraizamento no turismo cultural, em franca expansão na Europa.Os Municípios e entidades governamen-tais devem e podem ajudar nesta mudan-ça. Não é altura para nos escondermos, é hora de agir, criar e promover. A nossa história continua por contar em muitos recantos de Portugal. A divulgação deste sítios pode ser uma nova fonte de riqueza para as forças vivas dos Municí-pios e uma importante ajuda para ajudar todos os Portugueses a ultrapassar a Cri-se, pois permite sedimentar integridades culturais e encontrar novos recursos.“Faça férias cá dentro” dizia o slogan

do Turismo de Portugal: hoje, mais que ontem, é a grande solução para a nossa economia familiar e nacional.

No sentido de PROTEGER o nosso património, o projecto «Portugal Romano.com» vai desenvolver algumas iniciativas durante o mês de Abril, sendo esta a nos-sa forma de comemorar a data Mundial dedicada aos Monumentos e sítios.Destaco a iniciativa a realizar na Cidade Romana de Miróbriga, Santiago do Cacém, onde será apresentado novamente o pro-jecto e excerto do documentário que nos encontramos a elaborar sobre este sítio arqueológico, em parceria com a Liga de Amigos de Miróbriga. Iremos também realizar um passeio ar-queológico em Olisipo, “A Lisboa Roma-na”, porque o conhecimento dos locais e a sua divulgação são o caminho para a sua protecção e valorização.Para finalizar o mês de Abril teremos ainda uma acção de voluntariado na Villa Romana de Freiria em parceria com o Mu-nicípio de Cascais, que terá como objec-tivo colaborar na sua limpeza e corte de vegetação. Esta iniciativa será completada com uma

Ficha técnicadirecção:Director: Raúl LosadaDir. Científica e Redactorial: Filomena Barata Dir. de Imagem e de Arte: Miguel Rosenstok

contactos:geral: [email protected]: [email protected]

colaboradores externos neste número:Alexandre Monteiro; Maria Duran Kremer; Guilherme Cardoso; José de Sousa;Adriano Monteiro; Carlos FidalgoSónia Bombico; Duarte Fernandes Pinto;César Figueiredo; João Pimenta.

estatuto editorial1. A PortugalRomano.com é uma publicação bimensal, po-dendo vir a tornar-se mensal, que aborda várias temáticas relacionadas com a Arqueologia e a História, com especial ênfase para a ocupação romana do actual território por-tuguês. Os princípios que aqui se descrevem também se aplicam ao site ou a qualquer outra extensão de marca Por-tugalRomano.com .2. A PortugalRomano.com respeita os direitos e deveres constitucionais da Liberdade de Expressão e de Informação.3. A PortugalRomano.com rege-se por critérios jornalísticos e científicos de Rigor e Isenção, respeitando todas as opin-iões ou crenças.4. Os jornalistas da PortugalRomano.com comprometem-se a respeitar escrupulosamente o código deontológico de jornalistas e princípios éticos dos especialistas da área da História e Arqueologia.5. Todos os textos e imagens veiculados pela PortugalRo-mano.com em qualquer suporte são de autoria reconhecida.6. A PortugalRomano.com distingue, criteriosamente, as notícias do conteúdo opinativo, reservando-se o direito de ordenar, interp- retar e relacionar os factos e acontecimen-tos.7. A PortugalRomano.com compromete-se a respeitar o sigilo das suas fontes de informação, quando solicitado, não admitindo, em nenhuma circunstância, a quebra desse princípio.8. A PortugalRomano.com cumpre a Lei de Imprensa e as orientações definidas neste Estatuto Editorial e pela sua Di-reção.9. A PortugalRomano.com, na sua revista, tem um Director, uma Direcção Científica e Redactorial e uma Direcção de Imagem e de Arte, podendo vir a sentir-se a necessidade de vir a ser criado futuramente um Conselho editorial.

palestra no local sobre essa importante Villa Romana pelos arqueólogos respon-sáveis na sua escavação, Professor Dou-tor José d’Encarnação e o Mestre Arqueól-ogo Guilherme Cardoso.Em Maio, esperamos, com a adesão ao Dia dos Museus, poder também contribuir para a divulgação do Património Móvel ro-mano.

Em todos os projectos existe um objectivo, o nosso são as pessoas, portugueses, espanhóis, brasileiros, ingleses, um sem número de pessoas que nos acompan-ham, que partilham e recebem informação sobre o nosso património romano e que connosco querem colaborar nesta tarefa de conhecer e conservar uma herança co-mum. Hoje quero saudar um de vós e, com este acto simbólico, fazer saudação e agra-decimento a todos, pela presença desde a primeira hora, pela colaboração, pelo in-centivo e apoio. Obrigado Teresa Teresa Monteverde Plantier Saraiva!Espero que este Número 1 da Revista «Portugal Romano.com» seja do vosso agrado, pois tem sido para esta equipa um enorme prazer poder concebê-la e levar por diante a sua elaboração com o con-tributo de arqueólogos e de investigadores a quem aproveito também para saudar e agradecer. A partilha de conhecimento e divulgação é mais um passo para Proteger e gerir a mudança!

Raúl Losada

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Notíc

ias

Os primeiros Encontros de História da Arte da Antiguidade, Encontrharte, pretendem reunir um conjunto de estudiosos especializados em diferentes áreas de investigação (pintura, es-cultura, arquitectura, mosaico, cerâmica grega, entre outros) da História da Arte da Antiguidade Clássica e Tardia em Portugal e em Espanha. É sua ambição, igualmente, dar a conhecer o potencial metodológico da História da Arte através da sua articulação com áreas disciplin-ares distintas como a Arqueologia, a História, a Filososofia, a Literatura, a Geologia. O Encontrharte conta com o vigor da investi-gação científica na área da História da Arte da Antiguidade Clássica e Tardia em Portugal, herdeira dos trabalhos dos Professores Bairrão Oleiro e Justino Maciel, renovando-se numa geração de jovens investigadores.O tema deste 1º Encontrharte é Horizontes

Artísticos da Lusitânia organizado em três sessões que tratarão Abordagens e Metodo-logias, Espaços, Materiais e Formas e, final-mente, Iconografias.A inspiração para a investigação em História da Arte será sempre a importância inteligível do olhar, numa aprendizagem constante da leitura e compreensão da linguagem da obra da Arte.

APreSeNtAção eNcoNtrhArte

Desde finais de Dezembro que estão a ser desenterradas ossadas, que se sus-peitam ser da época romana, na zona da Ribeira da Lavadeira, em frente à Pista de Atletismo de Faro. Foram descobertas quando estavam a ser realizadas escav-ações para a construção da Variante Norte.

As obras estão paradas desde essa altura e só deverão arrancar quando estiver feito todo o levantamento arqueológico, daqui a mais um mês.

“Foram encontrados 52 fragmentos de cor-pos, que serão da época romana”, confir-mou ao CM Macário Correia, presidente da Câmara Municipal de Faro, acrescentando que está a ser feito um levantamento de tudo, no local, por uma equipa de técnicos de arqueologia da Estradas de Portugal.

Na área, foram descobertas várias campas com ossadas humanas e a maioria delas já foram abertas e os corpos foram trans-portados para análise. Suspeita--se que os corpos descobertos datem da altura em que os romanos estiveram em Faro, quan-do a cidade se denominava Ossónoba, no período entre os séculos III a. C. e V d. C. Foram ainda desenterrados vários artefac-tos.

Enquanto estiverem a decorrer as escav-ações, o que, ao que tudo indica, deverá demorar mais um mês, as obras da Vari-ante Norte de Faro à Estrada Nacional 125 não vão poder avançar na zona. Macário Correia reconhece o impedimento das obras, mas lembra que aquela não é a única razão para que haja atrasos na con-strução da Variante.“Há vários troços, que não têm nada a ver com aquele local, que já poderiam ter sido construídos e ainda não o foram. O mo-tivo por ainda não terem sido construídos prende-se com razões financeiras, e não por essas escavações arqueológicas”, referiu o autarca farense.

Fonte: Correio da Manhã (foto:Tiago Griff)

deScoBertAS oSSAdAS romANAS

juNto A FAro

“A mulher romANA” No muSeumuNIcIPAl de VIlA PoucA de AguIAr “A Mulher Romana nas moedas do Museu de Vila Real” é o tema da exposição actualmente patente no Museu Mu-nicipal de Vila Pouca de Aguiar até o próximo dia 4 de Maio. Trata-se de mais uma oportunidade para apreciar a importân-cia das mulheres ao longo da história do Império Romano - mães, esposas, filhas, amantes, mais ou menos sérias, ardilosas, astutas, inteligentes... mulheres. Representadas nas moedas do Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real, em nome próprio ou como divindades.

O espólio composto por 18 painéis e moedas insere-se na itinerância do Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real e pode ser vista de 3ª a 6ªfeira, 14H00 às 17H30, Sábado e Domingo, 15H00 às 17H30.Mais informações: Tel: 259403133 / 961537588E-mail: geral@vitaguiar

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INScrIção do cABeço dAS FrÁguAS No muSeu NAcIoNAl de ArqueologIA

O molde da inscrição do Cabeço das Fráguas, pertencente ao Museu da Guarda e executado pelo Instituto Arqueológico Alemão, integra, ac-tualmente, a exposição temporária “Religiões da Lusitânia. Loquuntur saxa” do Museu Nacional de Arqueologia.Recorde-se que este molde foi apresentado pela primeira vez na exposição temporária “Porcom, Oilam, Taurom |Cabeço das Fráguas, o santuário no seu contexto” realizada a 30 de Maio de 2010.Trata-se de uma cópia, à escala natural, do texto epigrafado numa rocha, localizada no santuário do Cabeço das Fráguas, no ponto mais elevado de um recinto fortificado, ao qual se terão deslo-cado as populações das terras em redor para celebrar os seus ritos, desde o século VIII a.C ao final do século I d.C. O texto descreve um sacrifício de tipo suovetau-rilia dedicado a várias divindades indígenas. Ao apresentar um texto religioso de língua indígena em alfabeto latino, esta inscrição é também um importante testemunho da romanização dos cul-tos indígenas, daí o seu perfeito enquadramento, na exposição temporária do Museu Nacional de Arqueologia. Tal como escreve o Director do Museu Nacion-

al Arqueologia, Dr. Luís Raposo, na justificação geral da exposição, “(...) a pretendida eternidade da civilização latina (Roma aeterna) será nesta exposição confrontada com as fortes continui-dades locais, que remontam à Pré-história e se manifestam até à actualidade na cultural popular portuguesa. Neste quadro, a Lusitânia emergirá como uma eternidade por si própria (Lusitania aeterna), in-corporando valores indígenas e autóctones, de tal forma que as crenças do presente podem ser iluminadas por estas raízes profundas, de tão longa duração (...)”.

Fonte: Museu da GuardaFoto: Correio da Guarda

dIA INterNAcIoNAldoS moNumeNtoSe SÍtIoS

18 de ABrIl

Do Património Mundial ao Património Local: proteger e gerir a mudançaVários locais

Tendo por base a proposta do ICOMOS (Con-selho Internacional dos Monumentos e Sítios) para 2012, o IGESPAR convida todas as enti-dades, públicas e privadas, a associarem-se à celebração deste dia, subordinado ao tema Do Património Mundial ao Património Local – prote-ger e gerir a mudança.

À semelhança das edições anteriores o IGES-PAR apresentará uma programação geral das actividades que vierem a ter lugar, procedendo à respectiva divulgação.

reABerturA do Núcleo muSeológIco cASA romANAdo muSeu de mértolA

No âmbito da iniciativa da Câmara Mu-nicipal de Mértola “Lembrar Serrão Mar-tins”, reabre no dia 27 de março, às 17h30, o núcleo museológico Casa Romana. Neste núcleo museológico, inaugurado há 24 anos, procedeu-se a uma remodelação total da exposição permanente que conta com a introdução de novos objetos repre-sentativos das intervenções arqueológicas realizadas em Mértola nos últimos anos, e com a alteração de conteúdos e do design gráfico dos suportes informativos.A remodelação deste núcleo museológico foi possível graças ao Projeto Rede Ur-bana para o Património, financiado pelo Programa Inalentejo, e à colaboração do Campo Arqueológico de Mértola no que respeita à atualização de conteúdos e conservação e restauro de objetos.

in Site Câmara Municipal de Mértola

cAmPo ArqueológIco de mértolAcursos livres 2012 - técnicas de registo em Arqueologia

Para o 1º Semestre de 2012, o Campo Arqueológico de Mértola realiza quatro Cursos Livres, relacionados com as Téc-nicas de Registo em Arqueologia. Este tipo de cursos livres inserem-se no plano formativo desta instituição, tendo como objectivo formar e diversificar o conheci-mento intrínseco à matéria da Arqueologia e Património. Os destinatários destes cur-sos de livre configuração são sobretudo estudantes de Arqueologia e profissionais da área da Arqueologia e Património que sentem a necessidade de aprofundar con-hecimentos em áreas pouco desenvolvi-das na sua formação profissional ou até mesmo académica. Os cursos livres, se-gundo a temática, poderão ter a duração de um a três dias, com horário total de sete horas diárias, com sessões teóricas e práticas, segundo a programação desti-nada a cada curso.Desenho de Materiais Arqueológicos - por Guida Casella - 30 e 31 de Março de 2012Ilustração para Interpretação e Divulgação de Património - por Guida Casella - 20 e 21 de Abril de 2012Fotografia básica para arqueologia: estru-turas e peças – por Rossana Torres – 18 e 19 Maio de 2012Sistemas de Informação Geográfica em Arqueologia – Dados e Métodos – por An-dré Mano -7, 8 e 9 Junho de 2012

Mais informações em: http://www.camertola.pt/article/cur-sos-livres-2012-tecnicas-de-registo-em-arqueologia

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Exposição das Propostas de Valorização das ruínas arqueológicas do “Teatro romano de Bra-cara Augusta” realizadas no âmbito do Curso CEAPA-FAUP (Metodologias de Projecto – Se-mestre 1) sob a regência do Prof. Pedro Alarcão.

Exposição e Apresentação das propostas de val-orização das ruínas arqueológicas do “Teatro ro-mano de Bracara Augusta”

Tema – Conservação, reconstituição ou reabili-tação do património arqueológico

Entendido numa vertente arqueológica, este património, fragmento de uma arquitectura do passado, como a ruína, denuncia, simultanea-mente, uma presença e uma ausência. A sua ex-igência de inteligibilidade é, antes de mais, um convite à reconstrução, que será proposto aos estudantes através do desenho, tal como foi uti-lizado na origem, como instrumento de concep-ção, mas no sentido inverso, da ruína ao edifício, ou à cidade.

Objecto de Intervenção: Vestígios do Teatro Ro-mano de Bracara Augusta, edifício do inicio do século II d.C., localizado no Alto da Cividade, em Braga.

Programa da Intervenção: Pretende-se o estudo e desenvolvimento de uma solução que garanta a conservação dos vestígios arqueológicos, a sua fruição pública, o aumento dos seus níveis de inteligibilidade e, procurando dar resposta à Carta de Verona e à Declaração de Segesta, per-mita dotar o espaço de condições mínimas para acolher espectáculos de pequena dimensão.

A proposta, que deverá integrar as construções de apoio à visita das Termas Romanas (Posto de Atendimento, Sanitários para público e Cobertu-ra), da autoria do Arq. Sérgio Borges, deverá ter em conta a resposta aos seguintes requisi-tos: acessos e vedação, percursos de visita, dis-positivo para exposição de vestígios do teatro, espaço para espectáculos (com lotação mínima de 500 espectadores, bastidores com sanitário e balneário e sanitários para público).

VAlorIzAção do “teAtro romANo de BrAcArA AuguStA”museu de Arqueologia d. diogo de Sousade 30 de março a 22 de Abril de 2012

Praceta Fernando Valle, 2º1750-489 [email protected]

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Atravessaram meia Europa.

Travaram batalhas intermináveis.

Dominaram durante quatro séculos.

Porquê?Julgamos ter a resposta.

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direção regional de cultura do Algarve promove «Festa do livro»

A direção regional de Cultura do Algarve promove, entre os dias 1 e 22 de abril, a «Festa do Livro», com o objetivo de po-tenciar a difusão de conhecimento nesta área, através da realização de grandes descontos em publicações de referência. A iniciativa irá decorrer nas lojas da For-taleza de Sagres (Vila do Bispo) e Villa Ro-mana de Milreu, onde todos os visitantes poderão usufruir de grandes descontos em publicações técnicas e científicas liga-das ao património, mas também a outros universos culturais. Esta é uma excelente oportunidade não só para estudantes, como para todos os interessados em áreas como história, ar-queologia, arquitetura e fotografia, que poderão adquirir livros a partir de 1 euro. A iniciativa associa-se à comemoração do Dia Internacional dos Monumentos e Sí-tios, que pretende sensibilizar os cidadãos para a diversidade e vulnerabilidade do património, bem como para o esforço en-volvido na sua protecção.

revista

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PlAcA VotIVA de SAlAcIA

“Epigrafia romana recentemente publica-da e descoberta em Outubro de 2011 por Justino Pedro na área do Forum de Sala-cia (actual Alcácer do Sal), referente a um Liberto Quinto Pórcio (ou Pompeu).“Atendendo ao facto de Salacia ter sido Imperatoria, uma designação atribuída por Sexto Pompeu, filho do Quinto, dito «o Magno», seria aliciante pensar que PO (do O temos apenas a metade) pudesse desdobrar-se em POMPEI. 1

DEDICA/VIT // [Q(uintus] · PORCI (vel POMPEI)]VS (hedera) Q(uinti) · PO[RCI vel MPEI] / [LIB (ertus)] ·[H]EMERO[S]

«Dedicou Quinto Pórcio (ou Pompeu) Hémero, liberto de Quinto Pórcio (ou Pompeu).»

(1) excerto em http://www.uc.pt/fluc/iarq/pdfs/Pdfs_FE/FE_93_2012 - por José d’Encarnação e Marisol Ferreira.

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divu

lgaç

ão

ludI cereAleSVem decorar ovos para ceres!

estamos á vossa espera

«Na Antiga Roma e nesta precisa época do ano, ofereciam-se a Ceres – a principal deusa que tutelava o «renascimento» da Natureza por ocasião do despertar da Primavera – ovos, símbolo de fecundidade, de fertilidade e do próprio mundo, que a deusa tinha de novo enriquecido com a germinação dos cereais.» Hoje, a nossa Páscoa retoma e recupera essa tradição, que remonta há 25 séculos!

Assim, no final desta actividade, todos vão compreender que muitos dos costumes actuais têm a sua origem nos festivais pagãos da Antiguidade Greco-Romana, e como esta velha prática passou a fazer parte de uma das mais importantes celebrações do Ano Cristão.

Decorar ovos para Ceres será, pois, a actividade proposta!

Público-alvo: dos 5 aos 12 anos

Sábado, dia 14 de Abril, pelas 14.30Acesso: 4 euros mediante inscrição prévia no museu

MORADAMuseu Arqueológico de São Miguel de OdrinhasAv. Prof. Dr. D. Fernando de Almeida, São Miguel de Odrinhas,São João das Lampas, Sintra

TLF (+351) 219 609 520

Divulgação e educaçã[email protected]

uma iniciativa

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FuNdeAdouro dA BerleNgA e o Seu PoteNcIAl ArqueológIco(Peniche)por: Alexandre monteirofoto: duarte Fernandes Pinto A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea

Apesar dos mitos sobre a perigosi-dade da navegação para além do Estreito de Gibraltar, está implícita nos testemun-hos dos geógrafos e historiadores da An-tiguidade a evidência de uma navegação de rotina ao longo da costa atlântica da Península Ibérica tanto mais que as exce-lentes qualidades náuticas dos navios de tradição mediterrânica da época romana – designadamente dos próprios navios de carga de grande tonelagem – permitiam-lhes remontar ao vento, bolinando em condições que os levavam a navegar, vin-dos do Mediterrâneo, para além do cabo de São Vicente.

PreSeNçA romANA No mAr dAS BerleNgAS

Testemunho irrefutável da presença ro-mana, o mar das Berlengas apresenta actualmente o maior conjunto, conhecido de ânforas provenientes de meio marítimo português – facto que tem, aliás, um com-plemento imediato nos achados de cepos de âncora em chumbo. Com efeito, entre 1984 e 1988 foram recuperadas cerca de uma dúzia de ânforas romanas, a sud-este do Carreiro do Mosteiro e a cerca de 23 metros de profundidade. Destas duas eram do tipo Dressel 1 bem como algu-mas Lusitanas – tipos 2 e 4 – compreen-didas entre a primeira metade do século I e os finais do século II; e deste até aos finais do século V, respectivamente.

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Em todo o caso, o tipo Haltern 70 – datáv-el de um período compreendido entre os meados do século I a.C. e os meados do século seguinte – surge como o mais bem representado, correspondendo a cerca de 50% das ânforas registadas.

Complementarmente aos achados de ân-foras, foi localizada uma vintena de cepos de âncora em chumbo – habitualmente atribuídos à época romana quando, na realidade, se considera hoje que a sua utilização se terá generalizado a partir do século IV a.C. – a maioria dos quais recu-peradas de uma zona, ao largo, definida

pela área compreendida entre o Carreiro do Mosteiro, a Fortaleza, o Melreu e a en-seada de Flandres. Alguns destes cepos apresentam motivos decorativos, nome-adamente ossinhos em relevo em duas faces alternadas dos braços – alinhados no lance da sorte representam o talus, o jogo mais popular da Antiguidade, com um significado augural e auspicioso – e golfinhos – protectores dos navegantes

e salvadores dos náufragos, símbolo por excelência da navegação tranquila.

o mAIS ANtIgo cePo de âNcorA coNhecIdo de todA A ANtIguIdAde

Curiosamente, um dos grandes cepos re-cuperados na Berlenga possuía ainda al-guns fragmentos da alma de madeira, o que permitiu determinar por radiocarbono o período da sua manufactura. A sua da-tação – compreendida entre os finais do século V e o início do século IV a.C. – faz com que este cepo pré-romano seja o mais antigo cepo de âncora conhecido de

toda a Antiguidade podendo mesmo fazer recuar a data em que se pensava ter ocor-rido a generalização do uso de cepos em chumbo no Mediterrâneo.

o PoteNcIAl ArqueológIco do ArquIPélAgo

À semelhança do que ocorre com a ilha

cepos romanos do museu de Peniche

do Pessegueiro – em que escavações arqueológicas mostraram uma ocupação romana compreendida entre os séculos I e IV d.C. – é de supor que um território deste tipo, a uma distância confortável da costa e rica em recursos naturais, tenha atraído pescadores que se estabeleceram na ilha de uma forma mais ou menos per-

manente, à semelhança do que ocorre hoje em dia. Com efeito, na escavação arqueológica conduzida no passado pelas arqueólogas Jacinta Bugalhão e Sandra Lourenço, do antigo Instituto Português de Arqueologia, foram encontrados, não só vestígios do Mosteiro, como também – e algo surpreendentemente – mate-riais arqueológicos romanos, em quanti-dade, qualidade e diversidade tipológica

e cronológica (República, Alto e Baixo Império) que sugerem uma ocupação, se não continuada no tempo, pelo menos frequente. A presença de material de construção, nomeadamente tegulae, poderá indiciar a existência de estruturas construídas no local, em cota mais ele-vada, preservadas ou não.

Já no que respeita a achados subaquáti-cos – para além das bocas de fogo assinal-adas junto à fortaleza e a um esplêndido berço em bronze de tipologia manuelina, recuperado em 1982 e a 25 metros de profundidade por uma equipa do Museu do Mar de Cascais – destacam-se os vestígios da Antiguidade, nomeadamente ânforas e cepos.Não é possível estabelecer com seguran-

mergulhador Nuno tiago em registo subaquático nos cortiçais (costa sul de Peniche). (Foto de leonel Silva)

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ça as razões das perdas dos cepos des-cobertos nas Berlengas, tanto mais que a maioria dos fundos onde os achados se verificaram não é de molde a justificar, aparentemente, perdas por prisão ou re-tenção. Naturalmente, nestas condições, a hipóteses de provirem de naufrágios parece aliciante, mas até à data nenhuma evidência arqueológica permite ainda fun-damentar esta hipótese.

Quanto às ânforas – que, enquanto carga de barcos nos permitem aferir cronolo-gias por associação entre vários tipos e variantes de ânforas ou com outros ma-teriais datáveis, assim como rotas de trá-fico marítimo – estão muito longe de ter a importância de que à primeira vista se poderia pensar. Com efeito, trata-se de materiais de associação duvidosa e até mesmo de localização imprecisa, numa disposição consistente com existência de um fundeadouro milenar. Por outro lado, se esta relativamente “el-evada” taxa de localização de ânforas e cepos de chumbo é justificável por a Ber-lenga ser uma das áreas do país mais fre-

quentada por mergulhadores amadores – facto naturalmente propício a uma maior frequência de descobertas – isso não im-pede que seja colocada a hipótese de se estar em presença de vestígios de naufrá-gios. Tal hipótese poderá ser corroborada pelo facto de existir, percentualmente, uma grande concentração de ânforas do tipo Haltern 70 a indiciar um naufrágio da-tável de cerca do século I a.C. e até por

terem existido cepos muito próximos uns dos outros, nas proximidades dos quais foram achados fragmentos de cerâmica. Mas, mais uma vez, esta hipótese perde consistência pela até não verificação da existência de madeirame e pela dispersão dos achados, o que parece apontar para que as Berlengas tenham sido, antes como agora, uma concorrida zona de abri-go, de escala e de espera de condições de navegação propícias, para além de, como é óbvio, haver ainda uma zona de ancoradouro no apoio ao povoado insular. O que não quer dizer que não existam mais naufrágios, para além dos referenci-

moeda romana

Sestertius 32mm emissão de roma em 131 d.c.

Anverso:hAdrIANVS AVgVStVS,

renverso: embarcação com cinco re-madores a navegar através

das ondas,FelIcItAtI / AVg em duas

linhas em cima, coS III P P em baixo, S - c à esquerda

e à direita.

ados neste artigo. Estamos em crer que o potencial arqueológico desta ilhas é imen-so. Para tal contribuem as boas condições de preservação dos fundos arenosos, a relativa profundidade, a navegabilidade perigosa destas paragens – se em pleno

século XX, ocorreram tantos naufrágios, por força maior ocorreriam muitos mais nos séculos antecedentes – e o relativo desconhecimento dos fundos em volta. Quem sabe que surpresas nos reservará o próximo mergulho nas Berlengas?

foto: Vista aérea de Peniche - Autor: Duarte Fernandes Pinto - A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea

BibliografiaALVES, F. et al (1989) Os cepos de âncora em chumbo descobertos em águas portuguesas – contribuição para uma reflexão sobre a navegação ao longo da costa atlântica da Península Ibérica na Antiguidade. In O Arqueólogo Português, série IV. Vol. 6/7.ALVES, F. (1994) Os dois cepos de âncora em chumbo pré-romanos da ilha Berlenga. Relatório. Lisboa: Centro Nacional de Arqueologia Náutica e SubaquáticaBANDEIRA, L. (1984) “Berço Manuelino” recuperado ao largo das Berlengas. In Série Arqueológica, vol. 1, Museu do Mar. Cascais: Câmara Municipal de Cascais.BUGALHÃO, J. & LOURENÇO, S. (2001) Ilha da Berlenga, Bairro dos Pescadores: relatório dos trabalhos ar-queológicos. Relatório interno. Lisboa: Instituto Português de ArqueologiaDIOGO, A. (1999) Ânforas provenientes de achados marítimos na costa portuguesa. In Revista Portuguesa de Arqueologia, 2:1. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.FERREIRO LOPEZ, M. (1988) La campaña militar de Cesar en el año 61. In MENAUT, G. ed., Actas del 1º Congreso Peninsular de Historia Antigua. Santiago de Compostela: Universidad de Santiago de Compostela.SANTOS, J. (1994) As Berlengas e os Piratas. Lisboa: Academia de MarinhaTRINDADE, J. (1985) Memórias Históricas. Lisboa: INCM/Câmara Municipal de Óbidos.

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Visite

muSeu ArqueológIco do cArmo

INFormAçõeS

morada:Calçada do Carmo 401200 Lisboa

gPS:38.712886, -9.140979

mapa no google: http://g.co/maps/bxx7t

Site:www.museuarqueologicodocarmo.pt/p_museu.html

horário:De Segunda a Sábado das 10h00 ás 18h00 (Outubro a Maio)

De Segunda a Sábado das 10h00 ás 19h00 (Junho a Setembro)

divu

lgaç

ão

teatro romano de olisipo (lisboa)foto: raul losada

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cortiçais - história de um naufrágio romano em Peniche

limpeza de fragmentos de ânforas com sugadora foto: gonçalo de carvalho

Oinício da nossa história remonta à Primavera de 2004, quando Luís Santos Jorge, caçador submarino, avistou alguns fragmentos cerâmicos por entre o fundo rochoso dos Cortiçais (costa sul de Pen-iche). No final do mesmo ano, foram re-alizadas missões subaquáticas de veri-ficação do local sob a responsabilidade do arqueólogo Jean-Yves Blot, convidado pela DANS (Divisão de Arqueologia Náu-tica e Subaquática) e com a participação de alguns mergulhadores do GEPS (Grupo de Estudos e Pesquisas Sub-aquáticas), do Clube Naval de Peniche e do próprio achador. O material cerâmico recolhido nessas primeiras missões foi caracterizado por A. M. Dias Diogo como fragmentos de ânforas romanas de tipo Haltern 70 provenientes da província ro-mana da Bética (actual Andaluzia).

O apoio da Câmara Municipal de Pen-iche, a colaboração do GEPS, de alunos de Arqueologia da Universidade de Coim-bra, de Mário Jorge Almeida (Museu Na-cional de Arqueologia) e de um conjunto de mergulhadores entusiastas da arqueo-logia subaquática permitiu a progressão dos trabalhos por mais dois anos.

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Desta forma, o sítio foi alvo de duas cam-panhas subaquáticas de sondagem e es-cavação, realizadas no Verão de 2005 e 2006, respectivamente. Na sequência dos trabalhos submarinos foram, ainda, reali-zadas outras duas campanhas de trata-mento de material, realizadas no período invernal.

Para além das ânforas vinárias foram identificados fragmentos de cerâmica de paredes finas e terra sigillata itálica, en-quadrável no período cronológico entre 15

a.C. e 15 d.C. Mas o que faria uma embarcação romana, com uma carga maioritária de vinho da Bética, nas águas ao largo de Peniche?A localização do naufrágio dos Cortiçais é evidência clara da utilização de uma rota atlântica de circum-navegação da Península Ibérica com destino às provín-cias setentrionais da Britannia e ao limes germânico, abastecedora das populações romanizadas e dos exércitos aí acantona-dos.

Arqueólogas Sónia Bombico e carla maricato em processo de escavação foto: gonçalo de carvalho

O sítio surge em perfeita relação com um conjunto de outros vestígios já docu-mentados para a região, entre os quais os fornos romanos do Murraçal da Ajuda, produtores de ânforas, e os vestígios ar-queológicos da ocupação romana da ilha Berlenga e utilização do seu fundead-ouro.

A recuperação de materiais romanos em alguns contextos do Tejo, do Arade e na costa algarvia, tem permitido caracterizá-los como presumíveis locais de naufrágio. No entanto, as sondagens arqueológicas efectuadas no sítio dos Cortiçais transfor-maram-no no primeiro caso confirmado de um naufrágio de época romana em águas portuguesas.

Enquanto aguardamos que novas cam-panhas tenham lugar, o mar de Peniche continuará a guardar os segredos de um dia de infortúnio para os marinheiros ro-manos.

chegada ao cais das gaivotas após um dia de trabalho foto: jen-Yves Blot

Processo de inventariação de fragmentos cerâmicos. foto: jean-Yves Blot

Ilha da Berlengafoto: duarte Fernandes Pinto

A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea

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trANSPortANdo VINho Pelo moSelA. o “barco do vinho” de Neumagen.

texto e fotos: maria de jesus durAN KremerInstituto de história de Arte - FcSh/uNl

INtrodução

O viajante que, numa bela tarde de Verão, partindo de Trier, desce o rio Mo-sela até Koblência - onde vai encontrar o Reno - atravessa certamente uma das mais belas paisagens da Alemanha. Ser-penteando por entre íngremes encos-tas cobertas de vinhas por quilómetros sem fim, plantadas num chão xistoso que armazena o calor do Sol durante o tempo suficiente para as uvas amadurecerem e poderem ser vindimadas lá para o Outono, o rio Mosela foi, no passado ( e ainda o é, em parte), o caminho preferido para o transporte de mercadorias. Rodeado de montanhas em parte inóspitas, o vale do Rio Mosela continua a ser, ainda hoje, ponto de referência e de eleição para o povoamento desta região.

Diz a lenda que, quase 2000 anos a.C. Trebeta, o filho mais velho do rei assírio Ni-nus, expulso da pátria por Semiramis, sua madastra, veio fixar-se no vale do Mosela, chamando à sua nova pátria “Treberis”. Entre 58 e 50 a.C. coube a Júlio César conquistar a Gália e fixar no rio Reno a fronteira leste do Império Romano, domi-nando assim igualmente a tribo celta dos

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treverii. Mas, em 16 a.C. e sob Augusto, fundou-se junto a um templo pagão a que é hoje a cidade mais antiga da Alemanha - a augusta treverorum do romanos, Trier.

A cidade cedo se transformou num centro económico muito importante, chegando a contar com 60.000 habitantes. Residên-cia do praeses da provincia belgica, rode-ada de muralhas com 4 torres de defesa

e 4 portas – das quais a porta Norte se mantém intacta ainda hoje – Trier desen-volveu uma indústria florescente de teci-dos, olaria, cultura e fabrico de vinho. As convulsões da História, que reservaram a esta cidade momentos de apogeu e de destruição, não conseguiram apagar pelo menos esta última actividade: Trier é, ainda hoje, a capital do vinho do Mosela, produto conhecido e apreciado em todo o Mundo.

No entanto, a produção e exportação de vinho, em época romana, concentrou-se num outro ponto do Mosela: em Neum-agen, a 34 km de Trier. Foi aqui que, para além de uma das mais importantes praças-fortes romanas, surgiu o maior centro vitivinícola de todo o vale. Dali par-tiam os barcos que, rio abaixo rio acima, asseguravam o abastecimento de cidades, aldeias e acampamentos.

A riqueza que se desenvolveu com base na produção e comércio de vinho ficou es-pelhada para sempre nos mausoléus ro-manos de Neumagen, chegados até nós graças à sua posterior utilização nos fun-damentos de uma praça-forte tardo-roma-na – noviomagus – erigida em princípios do séc. IV d.C. Depositados no Museu do Estado Federado da Renânia-Palati-nado (Rheinischen Landesmuseum), em Trier, permitem-nos admirar ainda hojenumerosos exemplares de mausoléus decorados com motivos ligados tanto à produção de vinho quanto ao seu trans-porte por barco – geralmente em barris, nalguns casos em ânforas. Esculpidos, tal como os mausoléus, em blocos de arenito,

estes barcos constituíam por assim dizer o “remate” superior dos mausoléus.

O exemplo mais conhecido desse tipo de decoração funerária é o chamado “barco de vinho de Neumagen” (Neumagener Weinschiff). Encontrado igualmente nos fundamentos de noviomagus, esta repre-sentação de um barco romano, datada por volta de 200 d.C., não pode deixar de ser interpretada como aquilo que sempre quis ser: uma alegoria à riqueza do proprietário do mausoléu. Uma simbologia expressa também pelas próprias proporções do navio: relativamente pequeno, apresenta 22 remos para 6 remadores, de cada lado, os quais, por sua vez, dispõem de pouco espaço de manobra entre o convés do barco e a carga do mesmo. No centro, 4 barris bem alinhados, seguros à frente por mais dois membros da tripulação, atrás o timoneiro que segura o leme.

A 30 de Setembro de 2007, porém, o rio Mosela foi de novo descido, pela primeira vez desde há séculos, por um barco ro-

mano. Construído em Trier e reproduz-indo o “barco do vinho de Neumagen”, mas restituindo-lhe as suas medidas origi-nais (18 m de comprido, 22 remadores), o stella noviomagi percorre desde então o Mosela, transportando todos aqueles que preferem reviver a viagem feita pelos seus antepassados há mais de 2000 anos. Com uma diferença: hoje, o stella noviomagi é movido a motor....

Bibliografia escolhidaAuermann (S.), 2004, „Leben der Römer und Ger-manen. Geschichte, Alltag, Kunst und Kultur, Glaube und Tod“, Reinhard Wez Vermittler, Mannheim, pág. 18 – 22.Binsfeld (W.), Cüppers (H.), Gilles (K.J.), Goethert-Polaschek (K), Schwinden (L), 1987, „2000 Weinkul-tur an Mosel-Saar-Ruwer“, Rheinischen Landesmu-seum, Trier.Bockius (R.), 2007, “Schifffahrt und Schiffbau in der Antike”, Archäologie in Deutschland, Sonderheft 2007, Stuttgart.Thiele (K), 7.4.2007, „Wo Römer Reben pflanzten“, Mittelrheinische Zeitung.

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o Projecto IPSIIS por: josé de Sousa

fotos: projecto IPSIIS

Desde 1970, têm sido efectuadas sucessivas dragagens nos estuários do rio Arade e da ria de Alvor, para o desassorea-mento do canal de navegação e da bacia de rotação.As areias das dragagens tiveram como destino a alimentação artificial de algumas praias dos municípios de Portimão e Lagoa,

ciclicamente desgastadas pelas tempesta-des invernais e a formação de depósitos de dragados que originaram um rentável negó-cio de exploração e venda de areias; por fim, uma parte significativa, foi transportada em batelão, e despejada no mar a várias milhas da costa.

Foi nessas areias, que apareceram milhares de artefactos, na sua maioria fragmentos

cerâmicos, e objectos metálicos, que foram sendo recolhidos por numerosos populares, tendo-se generalizado a utilização de detec-tores de metais nessa pesquisa.

No Ano de 2000, foi dado início a um projec-to totalmente inédito no quadro da arqueolo-gia portuguesa, consistindo numa tentativa de dar uma resposta adequada aos desa-fios de tentar salvar o maior número desses artefactos que têm vindo a ser arrojados e dispersos, e de tentar aproveitar as siner-gias resultantes da generalização do uso de detectores de metais, prática usual em tais zonas desde há duas décadas, mas in-terdita pelo Decreto-lei nº 121/99 de 20 de Agosto.

Como tal, foi celebrado um acordo de co-laboração, entre o Centro Nacional de Ar-queologia Náutica e Subaquática, e um grupo de cidadãos que desde os anos 80 se

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dedicavam à prospecção com detectores de metais nas áreas anteriormente referidas. Todos os participantes no projecto assi-nam um compromisso de honra, em que se comprometem a cumprir rigorosa e integral-mente todos os pressupostos do acordo de colaboração celebrado com o CNANS.

Trata-se de um projecto de trabalhos ar-queológicos, portanto enquadrável no âm-bito da legislação aplicável a este domínio

(D.-L. n.º 164/97, de 27 de Junho e D. L. n.º 270/99, de 15 de Julho), que é assumido no quadro do Plano de Actividades do CNANS – e não no Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos – enquanto não dispuser de enquadramento arqueológico autónomo.

Foram estabelecidas normas, passando pela delimitação das zonas a prospectar, pela declaração dos achados efectuada através de relatórios periódicos enviados

etiqueta para anilhar asa de ânfora, em chumbo:

etiqueta rectangular, apresentando como logótipo, um tridente. este artefacto destinava-se a anilhar a asa de uma ânfora, identificando a oficina que fabricava o produto transportado.

cronologia: Período romano, Baixo Impériodimensões 115mm x 41mmem exposição no museu de Portimão

ao CNANS, dos quais constam, a descrição e identificação do objecto, a sua foto, o achador, a data e circunstancias do achado, e a localização onde foi recolhido, em car-tografia georreferenciada.

Apesar de se tratar de arrojados e, como tal, de artefactos de que se ignora o re-spectivo contexto arqueológico, o seu po-tencial informativo residual, nomeadamente dos pontos de vista histórico-arqueológico, tipológico e comparativo, resta incólume; muitas das peças são inéditas, e podem agora tornar-se referências importantes na bibliografia da especialidade.

O acervo resultante destes anos de pesquisa encontra-se depositado no Museu de Por-timão, estando as peças mais importantes segundo os critérios dos responsáveis pela musealização, patentes na exposição per-manente do museu.Parte desse espólio foi publicada nas Actas do 2º Encontro de Arqueologia do Algarve, (Projecto IPSIIS - Alberto Machado e José de Sousa), Revista Xelb, n.º 5, Outubro de 2003, e nas Actas do Seminário, Os Mu-seus e o Património Náutico e Subaquático, Portimão, (Projecto IPSIIS Fragmentos de História nas Praias do Arade - José de Sou-sa e Paulo Viegas), Outubro de 2004.Ao longo dos anos, foi cedida informação solicitada por diversos estudiosos nacionais e estrangeiros para estudo e colaboração em trabalhos de investigação.

O nome do Projecto e o logótipo foram ba-seados no reverso de uma moeda de Ip-ses, povoado pré-romano, situado na área geográfica do Município de Portimão (Vila Velha, em Alvor).

lâmina em cobre, com nervura central, e decorações geomé-tricas em ambas as faces; apresenta-se quebrada e com a ponta

amassada, sinais de ritualização. cronologia: I Idade do Ferro - dimensões 69mm x 24mm

em exposição no museu de Portimão

estatueta Votiva, em bronze:

A figura de um touro é uma peça fundida em bronze, pelo processo da cera-perdida;

cronologia: II Idade do Ferro - dimensões 128mm x 69mmem exposição no museu de Portimão

exposição permanente no museu de Portimão

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umA VIllA romANA No roSSIo dA PederNeIrA?

por: carlos Fidalgo

A presença romana na periferia da Laguna da Pederneira encontra-se at-estada pela estação arqueológica de Par-reitas(1) e pelos trabalhos de arqueologia levados a cabo no local de São Gião por Eduíno Borges Garcia(2) e, mais recente-mente, pelo professor Luís Fontes(3). Toda a restante informação advém de achados fortuitos, que não tiveram origem em tra-balhos de arqueologia, e de alguns registos bibliográficos.

Este facto acaba por condicionar qualquer abordagem sobre a caracterização da ocu-pação, durante o período romano, na per-iferia da extinta laguna, tornando - a, desta forma, mais conjectural do que factual.É neste âmbito que se considera pertinente abordar, ainda que de uma forma conjec-tural mas sustentada, o Rossio da Peder-neira e a possível ocupação durante a pre-sença romana nesta zona. Localizado a sudeste da localidade da Ped-erneira, Freguesia e Concelho da Nazaré,

Vista do rossio da Pederneira - Nazarépor: miguel rosenstok

é mencionado por vários investigadores como tendo sido uma villae romana.Manuel Vieira Natividade refere que, orde-nando os lugares onde descobrimos vestí-gios romanos e os que nos foram indicados por bibliografia estranha, verificamos a sua valiosa quantidade. E é assim que regis-tamos: na Pederneira, mosaicos, moedas, vasos de barro e de mármore. (4) João Pedro Bernardes refere também so-bre o local acima mencionado que, na ver-dade, se as villae, como S. Gião, já fora do nosso território (5), ou do Rossio da Pederneira (…), ambas nas margens da antiga lagoa da Pederneira, estão implan-tadas em solos sem qualquer capacidade agrícola, só poderão radicar as suas activi-dades económicas na exploração dos re-cursos marinhos. (5) A villa do Rossio da Pederneira, pelo rico espólio que apresen-ta, poderá ter tido funções de villeggiatura. Porém, pouco se sabe desta estação e nem mesmo lográmos identificar a sua ex-acta localização. (6)A villa primitivamente estendia-se muito para o sul, e a egreja de então dedicada a Santo André, ficava retirada do circuito das actuaes habitações no local chamado mod-ernamente Rocio. (7)

As dúvidas sobre a localização do Rossio da Pederneira parecem dissipar-se à me-dida que vamos cruzando as fontes bibli-ográficas com as indicações orais e as visi-tas ao campo.Sobre a localização do antigo Rossio da Pederneira, Bernardes refere que o mesmo fica num planalto e vertente virada a nas-cente formado por dunas e areias de du-nas. (…) Solos arenosos, de fraca aptidão agrícola, ocupados por casas e hortas. (8)Nas várias visitas ao local pode verificar-se

que o terreno possui uma suave inclinação para nascente e uma zona com uma cota mais constante a poente. Trata-se de um terreno onde existe ou persiste uma activi-dade agrícola de pouca relevância para o tecido económico da Pederneira, contudo, proliferam os pequenos talhões onde em família, e para a família, se pratica a agri-cultura.Embora a descrição do espaço por parte de João Pedro Bernardes se encontre de acor-do com o existente no espaço físico hoje conhecido por Rossio da Pederneira, deixa de coincidir com o mesmo quando o autor refere que as villae de Martim Gil e Nossa Senhora das Necessidades (…) estariam em relação directa com o Lis, ao passo que as do Rossio da Pederneira, Mina e Póvoa de Cós se situariam nas margens da antiga lagoa da Pederneira. (9)Não nos parece que o Rossio da Pedernei-ra, durante a presença romana, alguma vez tenha estado junto às margens da extinta lagoa, uma vez que o mesmo se encontra à cota 85 acima do nível médio do mar e a mais de 2 kms a Norte da antiga entrada na lagoa.Defende-se, assim, a existência de um po-voado junto à lagoa mas numa época mais tardia que a romana. Esta villa é uma das mais antigas da Ex-tremadura, como nos afirmam, sem receio de contestação fundada, notáveis escrip-tores: d’entre estes o illustre antistite D. Frei Fortunato de S. Boaventura, cujo es-pírito investigador e minucioso nos asseg-ura com razões sobejas a sua antiguidade, a ponto de não estar ainda averiguada a data da sua fundação, com quanto alguns auctores a remontem ao século IX. (10)Para esta problemática, contribui também a tentativa de localização do local do Ros-

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sio da Pederneira a menção a uma igreja dedicada a São Pedro da Pederneira que, segundo os registos documentais, é uma das que se gaba de ter mais remota anti-guidade, pois afirmam alguns antiquários que já em 1195 ela tinha igreja paroquial e já em 1224 funcionava, com beneficiados, todos pertencentes, até 1834, ao padroado do rico Mosteiro de Alcobaça. (11)

Como sabemos, a laguna situava-se a sul da Pederneira, na base sul da encosta do mesmo nome. As únicas casas que en-contrámos nesse percurso entre a várzea e o local do Rossio da Pederneira foram quatro pequenas casas em ruínas que, no nosso entender, possuem uma localização que deverá estar ligada à migração que a população da Pederneira encetou após o assoreamento da lagoa, séculos XIII a XVI.Nesse mesmo percurso não se vislumbram quaisquer terrenos com actividade agrí-cola, apenas sistemas dunares pejados de

pinheiro, eucalipto e variado tipo de vege-tação infestante.Nesse sentido, defende-se a localização do Rossio da Pederneira nesse local, pelas razões evocadas anteriormente.Os achados arqueológicos levam a supor a existência de um local onde a presença romana se poderá ter feito sentir, contudo a aferição da sua real existência apenas

poderá/deverá acontecer no âmbito de al-guma operação urbanística prevista para aquela zona e com o, indispensável e pre-visto por lei, trabalho de arqueologia pre-ventiva. Apesar da suspeita da existência de uma estação romana naquele local, cremos que o topónimo “Rossio da Pederneira”, mais recente, deverá ter aparecido após a ocu-pação daquele espaço numa fase de tran-sição entre o primitivo aglomerado urbano que deveria situar-se junto à lagoa e o ac-

ParreitasPor: carlos Fidalgo

tual.Também não é de descurar que esse mes-mo local, Rossio da Pederneira, tenha sido erigido, total ou parcialmente, sobre pos-síveis estruturas pré-existentes, neste caso romanas ou mesmo anteriores uma vez que o local, elevado, acaba por agregar todas as premissas para o estabelecimen-

to de povoados em épocas anteriores ao período romano.Não caberá neste pequeno artigo fazer qualquer tipo de conjectura, mas analisar os factos que se nos deparam e sustentar as nossas opiniões com factos concretos.Os factos concretos são os achados arque-ológicos provenientes do Rossio da Ped-erneira que se encontram depositados no Museu Dr. Joaquim Manso.O tempo que terá durado essa ocupação e a sua cronologia nos tempos históricos são

factores a investigar.O Rossio da Pederneira, a confirmar-se a sua ocupação romana, poderá ter concorri-do com Parreitas, devido à altitude a que se encontravam, para uma função estratégica de defesa na entrada da laguna. A partir da Pederneira se controlaria todo o movimen-to ao largo da costa e de Parreitas deve-ria controlar-se o movimento no interior da lagoa assim como toda a área terrestre a Norte, Nascente e Sul da sua implantação.O facto é que este local contribuiu com uma maior quantidade de achados arqueológi-cos do período romano do que São Gião.

Contudo, e apesar do que ficou expos-to, a ocupação romana na Pederneiracontinuará vinculada a relatos e alguns vestígios da época romana até se dar a conhecer através de alguma estrutura que se encontre no subsolo dos terrenos que compõem, actualmente, o lugar do Rossio da Pederneira.

Vista de Parreitas desde o rossio da Pederneira. Por: carlos Fidalgo

ortofotomapa: Possível limite do local conhecido como “rossio da Pederneira”.

(A) - zona onde, segundo palavras do agricultor, foram encontrados muitos objectos de cerâmica

antiga, entretanto desaparecidos.

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muSeu dr. joAquIm mANSo Concelho: Nazaré.Distrito: Leiria.

Categoria: Escultura.

Denominação: Máscara - aplique.

Dimensões: Altura: 7.00 cms; Largura: 4.00cms; Altura da face: 5.00cms.

Época: Romano.

Datação: Não estudada. Função/Uso: Máscara de adorno?

Proveniência: Rossio da Pederneira.

Descrição da peça: «Máscara de barro coado bem cozido, feita à mão, representando uma anciã. Esta máscara - aplique, é uma min-iatura das máscaras de teatro trágico da Anti-guidade. Servia como aplique porque tem no topo posterior do cabelo um furo de suspend-er. Teria sido pintada de branco. Os olhos são dois furos.» [1]

Estado de Conservação: Razoável.

Historial: Foi achado nas terras do Rossio da Pederneira, em trabalhos de lavoura, em 1941, juntamente com vasilhame de cerâmica que foi completamente destruído. [1]Encontram-se actualmente na exposição per-manente de Arqueologia no referido museu e identificada com o Nº25 da mesma exposição.Fonte documental:

[1] - Ficha de inventário do Museu Dr. Joaquim Manso, pp. 01 a 05.

* in FIDALGO, Carlos. (2010). O Povoamento na área da lagoa da Pederneira (Da ocupação Romana até ao século XII), Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Lisboa, Vol. II, p. 18.

Bibliografia

BARBOSA, Pedro Gomes, (2008) – «A estação arqueológica de Parreitas (Bárrio, Alcobaça)». A região de Alcobaça na época Romana. A estação arqueológica de Parreitas (Bárrio), Alcobaça, pp. 14 a 19.BERNARDES, João Pedro, (2007) – A Ocupação Romana na Região de Leiria, Faro, Centro de Es-tudos de Património, Departamento de história, Arqueologia e Património, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.COELHO, Laranjo, (1924) – A Pederneira. Apontamentos para a História dos seus mareantes, pes-cadores, calafates e das suas construções navais no séc. XV a XVII, Lisboa, Impressa Nacional de Lisboa.COSTA, Américo, (1943) – Diccionário Chorographico de Portugal Continental e Insular, Volume VIII, Azurara, Vila do Conde, Typographia Privativa do Diccionário Chorográphico.FIDALGO, Carlos. (2010). O Povoamento na área da lagoa da Pederneira (Da ocupação Romana até ao século XII), Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Lisboa, Vol. II, p. 18.FONTES, Luís Fernando de Oliveira, (2005) – PNTA/2000 – Estudo Arqueológico de São Gião da Naz-aré, Trabalhos de Sondagem, 08/08/2005 a 12/08/2005, IPA, Processo: S-00179, Relatório Aprovado.GARCIA, Eduíno Borges ALMEIDA, Fernando de, (1966) – «S. Gião: Descoberta e Estudo Arqueológi-co de um Templo Cristão -Visigótico na Região da Nazaré», Lisboa, Separata da revista Arqueologia e História, 8ª Serie, Vol. XII, pp. 339 a 350.NATIVIDADE, Manuel Vieira, (1960) – Mosteiro e Coutos de Alcobaça, Alcobaça, Tipografia Alcoba-cense, Lda.

legenda do Artigo

(1) - BARBOSA. (2008)(2) - GARCIA. ALMEIDA. (1966:339 a 350)(3) - FONTES. MACHADO. (2010)(4) - NATIVIDADE. (1960:100)(5) - O Rossio da Pederneira encontrava-se localizado no alto da Serra da Pederneira, junto à actual localidade da Pederneira. A sua vertente piscatória, na época romana, não deveria ser muito activa, permitindo-nos colocar em causa tal actividade, pela distância que existe do local, até à extinta lagoa da Pederneira, considerando-se para o Rossio da Pederneira, a confirmar-se a existência de uma vil-lae romana, um papel mais defensivo do que económico. Contudo, considera-se que a actividade agrí-cola deveria existir nos terrenos localizados a Nascente, Norte e Sul. A poente existiria, assim como existe, a arriba que dá para a actual praia da Nazaré que permitia a visualização de toda a costa desde o promontório da Nazaré até São Martinho do Porto, antiga entrada da lagoa de Alfeizerão.(6) - BERNARDES. (2007:83) (7) - COSTA (1943:1213).(8) - BERNARDES. (2007:181)(9) - BERNARDES. (2007:84)(10) - COSTA. (1906:194)(11) - COELHO (1924:09).

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Igreja de S. gião da Nazarépor: Adriano monteiro, eng.º

tem

a de

cap

a A primeira descrição desta igreja deve-se a Fr. Bernardo de Brito, que na Parte Primeira da Monarquia Lusitana escreve o seguinte: «E como no anno de nouenta & quatro [1594] me mãdaffe o Reuerendo Padre Frey Frãnfisco de fancta Clara, dom Abbade de Alcobaça, & Géral da noffa ordem, ver as antigui-dades, & letreiros que auia nefta capella, de quatro que achey em modo de fe po-derem ler, foy hum nas coftas da Igreija em hũa pédra comprida, & bem laurada, que como coufa defe ftimada jazia entre hũns fyluados, & tirando fielmente as le-tras diante de algũa gente, que hia em minha cõpanhia, vi q dezião deftemodo.

NEP.T SACRH. SACEL. D.D. IVN. BRUT.

COS. OB. BEL. F. GESTVM. ADVORS. EBVROBRIC. ET MONT.AVXILIARES. SERVAT. Q. MIL.

Cuja fignificação he a feguinte. Dom con-fagrado a Neptuno. Efta capella dedicou Decio Iunio Bruto fendo Couful, pella fel-licidade com que acabou a guerra con-tra os moradores de Eburobricio, & os montanhefes que lhe vierão em focorro, & também por refpeito de lhe ferem goar-Arcos de volta inteira suportados por colunas monoliticas

foto: miguel rosenstok

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dados fem perigo feus foldados neftes vl-timos fins da terra. BRITO. (1597:244v a 245)O problema que se coloca é que Fr. Ber-nardo de Brito é algumas vezes acusado de forjar documentos para asseverar as suas afirmações.Neste caso das lápides de S. Gião qual seria o seu interesse em dar a conhecer

as lápides referidas tanto mais que se trat-ava de um Deus gentio?Mas abordemos a igreja pelo próprio nome São Gião/Julião.Existem vários Santos e origens de S. Gião. Observemos esta lenda de S. Julião, ainda que o culto a São Julião e Victória se considerem de origem Fenícia.Julião era um jovem nobre que saiu para caçar e perseguiu um veado que, quis Deus, voltando-se para trás falou ao caça-dor: Porque é que me persegues desta maneira? Matarás o teu pai e a tua mãe!. Aterrorizado, fugiu de casa em segredo e pôs-se a correr mundo até que um rei lhe ofereceu um castelo e o casou com uma viúva rica. Os pais puseram-se a procurar o filho e ao fim de muitos anos bateram à

porta desse castelo; estando Julião aus-ente, expuseram à mulher a sua aventu-ra, que procuravam um homem assim e assim, e esta, descobrindo que eram os pais do marido, deu-lhes guarida e ofer-eceu-lhes a própria cama onde eles logo adormeceram enquanto ela foi à igreja rezar. Chegou Julião e vendo um homem na sua cama e, supondo, com a sua

mulher, pegou na espada e matou os dois. Regressada a mulher da igreja, informou-o de que eram os seus próprios pais. Desgostoso, abandonou tudo, partiu com a mulher para longe e fez-se barqueiro e hospedeiro, dedicando a sua vida a ajudar pessoas a atravessar um rio e a albergá-las. Não se diz a época que tem o local onde isso se passou.Será este o São Julião do Litoral portu-guês, por ter sido um fugitivo e vagabundo desesperado (como o eram muitos em-barcadiços) e que depois se converteu em nadador-salvador? A igreja de São Julião de Setúbal, construída sobre o que outrora foi um pântano do Sado comporta vários painéis de azulejos sobre um outro São Julião. Foram encontradas em Setúbal

Fig. 1. Anforeta luso romana* e mosaico ulisses e as sereias. **

duas estátuas a Neptuno, uma das quais de bronze1. Mas quem foi e onde viveu São Julião? Não será uma identidade inventada para justificar um culto religioso relacionado com os naufrágios para converter uma Divindade pagã? Até foi a vocação duma versão do santo: «converter os sítios pagãos em templos de Cristo». (Que me lembre, é a única vez que se menciona um santo edicado (indicado) exclusiva-mente para esta tarefa à qual Jesus Cristo foi alheio).Note-se que os dois primeiros Julião do calendário católico, tidos como da costa Sírio-Fenícia (que serão um único), se comemoram em Fevereiro, com um inter-valo de uma semana que coincidia com e que era a época da reabertura da nave-gação (como o São Brás, da Nazaré).Podemos dizer que, entre nós, onde havia um culto romano a Neptuno passou ha-ver um São Gião-Julião: na Nazaré com uma inscrição-dedicatória a Neptuno, se-gundo Frei Agostinho e, em Setúbal, com duas estátuas a Neptuno. Ora, Neptuno instalou-se por sua vez onde existiam cul-tos anteriores de marinheiros, neste caso fenícios ou púnicos. Os grandes senhores do mar haviam sido os fenícios de Tiro, Síon, Cesareia-Antioquia (na Síria-Fení-cia) e, depois, Cartago.Quanto aos nossos locais marítimos com capelas dedicadas a São Gião-Julião, notamos que o povo persiste em dizer Gião, quando os eclesiásticos reverteram para Julião.A paróquia lisboeta (outrora sobre os pântanos do Tejo) é oficialmente de São Julião, mas no passado era dita de São

Gião.Podíamos supor que Gião é uma abrevi-ação popular de Julião. Mas também se-ria a primeira vez (salvo erro) que o povo abrevia o nome dum santo tornando-o muito diferente. O mais provável é que Gião fosse o nome primitivo que os letra-dos, talvez a partir da pronúncia Xuião ou Xulião, converteram em Julião, inventando depois lendas piedosas em conformidade com a ideia de viajantes fugitivos, azares da vida e cultos marítimos, a condizer com os ditos populares ou estruturas antigas existentes nesses locais». SANTO (2004: 302 a 303)Como constatamos o culto a Julião já vem dos Fenícios e na costa portuguesa ou nos rios navegáveis encontramos muito este topónimo. Damos como exemplo: S. Julião – Talabriga, junto a Aveiro, na ribei-ra de Vouga onde agora há hum lugarinho que fe chama Cacia na parte onde estã a igreja de fam Julião de que não ha mais que efta memoria.2

São várias as referências a São Julião no litoral português, a exemplo, em Tor-res Vedras existiu a igreja a S. Julião 3, na Serra de S. Gião e Quinta de S. Gião d’Entre as Vinhas4, na Atouguia da Baleia no convento das freiras agostinhas, que segundo a tradição, foi templo romano dedicado a Neptuno.5 As divindades Julião e Vitórias andam as-sociadas a portos da nossa costa. Na nossa região temos Paredes da Vitória, N. S. da Vitória – Famalicão, Vitória próxi-mo da Póvoa de Cós.Próximo de Évora de Alcobaça, foi encon-trada a anforeta e que deveria servir para iluminação dos barcos. 6

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Num planalto do Carvalhal próximo de Chiqueda, foi encontrado uma estatu-eta delicadíssima da Vitória, a tentadora deusa da mitologia romana que a figura representa.7

Todos os investigadores que até à data estudaram S. Gião da Nazaré classificam esta igreja como sendo de origem visigóti-ca. 8

Terão sido levados a isso pela existência da parede que divide o cruzeiro da nave central da igreja, constituído por uma por-ta e duas janelas com arcos ultrapassa-dos, iconóstase.7

Contudo, esta parede, quanto a nós, é posterior à própria igreja.

Baseamos a nossa opinião nas peças de arte que são nitidamente peças de recu-peração. A própria parede não liga es-truturalmente com a do corpo da igreja, em particular com a nave central, assim como a existência da torre que se eleva ainda integralmente no cruzeiro que, na nossa opinião, acaba por ser semelhante à Placídia Gala em Ravena. 9

Na torre ainda se podem observar a jane-la virada a Nascente, a verga da janela do lado Norte, e o vão de uma terceira do lado Poente. Apenas na parede do lado Sul não se vêem vestígios mas a sime-tria da torre garante – nos ter havido mais uma janela.

“parede que divide o cruzeiro da nave central da igreja, constituído por uma porta e duas janelas com arcos ultrapassados, iconóstase.”

foto: miguel rosenstok

Além das questões anteriormente levanta-das devemos relevar a hipotética existên-cia duma tribuna referida por Schlunk so-bre a porta de entrada, opinião com a qual não concordamos.Uma tribuna apoiada nos cachorros ex-istentes rebaixava em 20 cm a verga da porta já de si baixa, o que poderia inviabi-lizar a entrada na nave central.Considerando que a iconóstase da igreja de São Gião da Nazaré é posterior à ig-reja porque não admitir ser obra do Decio Bruno Bruto conforme refere Bernardo de Brito, como vimos no início deste artigo?

Fig. 2. deusa Vitória. (NAtIVIdAde:1960)

Figuras. 3, 4. reconstituição de igreja de São gião segundo Adriano monteiro

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Figuras:1 – * Anforeta Luso-Romana, In MOSTEIRO E COUTOS DE ALCOBAÇA Alguns capítulos extraídos dos manuscritos inéditos do autor e publicados no centenário do seu nascimento, de Manuel Vieira Natividade, Impresso na tip. Alcobacense, L.da Alcobaça, Estampa VIII, Alcobaça, 1960.** Mosaico Ulisses e as sereias Época romana. Santa Vitória do Ameixial, Estremoz, Évora, In Portugal a Formação de um País, Comissariado de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha, Lisboa, 1992, p. 50. 2 – Vitória, encontrado no vale do Carvalhal, Aljubarrota, in Grutas de Alcobaça Material para o estudo do homem, por Manuel Vieira Natividade, Imprensa Moderna Porto, p. 15 e Est. XXII, 228-229, Porto, 1901. 3, 4 e 5 – Mausoleo de Gala Placidia, in Ravena in Ravena Los mosaicos, los monumentso, medio am-biente, Guia Historico – Artistica. P. 14, Ed. Cartolibreria Salbaroli, Ravena, Itália. Igreja de S. Frutuoso, Montélios, Braga, Colecção A. Monteiro

Figura 5 - comparação com as igrejas de gala Placidia,ravena, e São Frutuoso de montélios, Braga.

legenda(1) – Segundo o Dicionário Geográfico do Padre Luis Cardoso, citado por Marques, Luis, Religiosidade Popular em Torno da Serra da Arrábida, tese de Doutoramneto, FCSH-UNI, 2001, em vias de publi-cação.(2) – LEÃO, Duarte Nunez de. (1785). Descrição do Reino de Portugal, Lisboa, p. 28.(3) – LEAL, Pinho.(1837). Diccionario de Portugal Antigo e Moderno, Torres Vedras, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, p. 662.(4) – In Boletim da Estremadura, n.os 61/62, p. 273, 1964.(5) – LEAL, Pinho.(1837). Diccionario de Portugal Antigo e Moderno, Atouguia da Baleia, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, p. 254.(6) – Conforme figura Nº1.(7) – Conforme figura Nº2.(8) – Entre outros, Eduíno Borges Garcia, Fernando Almeida e Schlunk.(9) – Conforme figuras N(os) 3, 4 e 5.

Bibliografia:BRITO, Fr. Bernardo de. (1597). Monarchia Lvsytana, Parte Primeira, Impreffa no in-figne mofteiro de Alcobaça por mandado do R.mo Padre Geral Frey Francisco de S. clara com licença & priuilegio Real, pp. 244v a 245. SANTO, Moisés do Espirito. (2004). Cinco mil anos de cultura a Oeste de Moisés do Espírito Santo, , Assírio & Alvim, Lisboa.

A Iconóstasefoto: miguel rosenstok

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o moSAIco de cóS“os relatos de j.l.Vasconcelos”

por: raúl losada

Em 1902, foram feitas descobertas ar-queológicas relevantes, nomeadamente uma Villa romana, no lugar do Pedrógão e onde foi encontrado um mosaico datável de finais do século II e inícios do século III d.C..

Este mosaico foi encontrado por acaso em Abril de 1902, a cerca de 80 cm de profundidade, aquando da plantação de uma vinha na propriedade de Joaquim Neto Pires, em Póvoa, lugar de Pedrógão, freguesia de Cós, concelho de Alcobaça.

descrição de josé leite de Vasconcelos na pu-blicação “o Arqueólogo Português”

«No dia 24 de Abril de 1902 recebi o se-guinte telegramma do Sr. Vieira Nativida-de, de Alcobaça:

« Venha já. Mosaico romano risco perder-se. Urgente*. »

foto de joaquim elias jorge

foto de joaquim elias jorge

Enviei a Alcobaça, na tarde d* esse mes-mo dia, um empregado do Museu, para se informar do que se passava, e tomar as providencias que fosse possível tomar.

No dia 25 chegou-me um officio do Sr. Ad-ministrador do concelho de Alcobaça, so-bre o mesmo assunto.

Do que li nesse officio, e do que me con-tou o empregado do Museu que foi a Al-cobaça, vim a saber que no campo de Pedrógão, junto da aldeia da Póvoa, fre-guesia de Cós, concelho de Alcobaça, ha-via apparecido um mosaico romano digno de conservação e estudo.

Depois de ter escrito ao Sr. Administrador do concelho e ao Sr. Vieira Natividade, agradecendo-lhes as suas communica-

çoes, e dizendo-lhes o mais que julguei a propósito, parti eu próprio para Alco-baça em 29 de Abril, levando em minha companhia o Sr. Júlio Garcia, conductor de obras publicas em serviço no Museu Ethnologico. No mesmo dia, de tarde, fui, com os Srs. Natividade e Garcia, ao local do apparecimento do mosaico.

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Parc

eria

s

parcerias Portugalromano.com

Associação dos Arqueólogos Portugueseswww.arqueologos.pt/p_aap.html

Associação de Amigos de tongobrigawww.amigosdetongobriga.blogspot.com

liga dos Amigos do Sítio Arqueológico de miróbrigawww.ligadeamigosmirobriga.blogspot.com

turismo do Alentejo - e.r.t.www.visitalentejo.pt

museu dr. joaquim mansowww.mdjm-nazare.blogspot.com/

museu Arqueológico de S. miguel de odrinhas www.museuarqueologicodeodrinhas.pt

Este occupa uma área de uns 100 metros quadrados, e acha-se a uns 0,80 abaixo do solo actual. Não está ainda todo des-coberto. O mosaico é polychromico : tem ao centro, inclusa num circulo, como em um medalhão, uma cabeça humana ou di-vina, com coroa radiada, e em volta muitas figuras, como animaes, um vaso de flores, etc., e também desenhos geométricos 4 .

Alem do seu valor geral como docu-mento artístico, o mosaico tem, em par-ticular, muito merecimento histórico e

archeologico, ji porque se relaciona com outras antiguidades romanas, algumas da mesma espécie, apparecidas por toda aquella região (Alcobaça 8 , Porto de Mós 3 , Leiria 4 ), já porque são muito poucos os mosaicos que, em troços grandes como este, e de mais a mais com figuras, exis-tem em Portugal.(…)»

O prior do Valado, srº Poças Júnior, pas-sou esta informação a Manuel Vieira Na-tividade, que tentou adquirir este mosaico paro o futuro Museu de Alcobaça.

Contudo, este acabou por ser comprado pelo Drº José Leite de Vasconcelos para o Museu Etnológico.

O mosaico foi levantado nos fins de Junho de 1902, sob orientação de José Carva-lhais, preparador do Museu Etnológico, tendo sido transportado para esse mesmo Museu apenas o painel central e alguns fragmentos.

Actualmente faz parte do acervo do Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa.

A par deste mosaico presenciaram-se ves-tígios de materiais de construção romanos, alicerces, fragmentos de ferro e restos de um forno.

Descrevia assim J.L. de Vasconcelos o lo-cal do achado:

«É possivel que de uma excavação realiza-da nas vizinhanças do mosaico, por occa-sião da construcção do projectado edifício, resulte o descobrimento de outras antigui-dades. Pelo campo se encontram agora, á superfície do chão, restos de imbrices, fragmentos de opus Signinum, etc. Os ob-jectos importantes, por ventura lá desco-bertos no futuro, poderiam ficar reunidos dentro da casa, ao pé do mosaico.»

Infelizmente nada mais ficou conservado da Villa Romana…

«Muito fora para desejar que num país, como Portugal, onde tantos vestígios das artes romanas se acham indubitavelmente enterrados no chão, se olhasse com igual desvelo para os restos da antiguidade, e se fizessem as necessárias diligencias para se estudar a sua historia, e segurar a sua boa conservação; mas infelizmente, por effeito da ignorância provinciana, taes relíquias, quando por acaso se tem encon-trado, hão sido descuidosamente destruí-das, para se satisfazer a algum fim imme-diato».

Em: «O mosaico romano de Alcobaça», in O Arqueólogo Português, volume VII. Lisboa: Imprensa Nacional, 1902, pág. 146 – 149

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um li

vro

o AcAmPAmeNto romANo de Alto doS cAcoS - AlmeIrIm.

por: joão Pimenta

A estação arqueológica do Alto do Cacos (Almeirim) implanta-se sobre uma área arenosa que constitui um extenso ter-raço plistocénico sobre a margem esquer-da do paul de Vale de Peixes, com uma altitude média de 14m. Enquadra-se administrativamente na Freguesia e concelho de Almeirim, situan-do-se a cerca de 1,5 km a Este do centro histórico da Cidade.

Implantado nas imediações da Vala de Alpiarça e do Rio Tejo, as características topográficas do sítio favorecem a implan-tação humana, possuindo uma plataforma relativamente plana de orientação NE-SE, dispondo de excelente visibilidade e apre-sentando apesar da sua escassa altura uma posição francamente dominadora sobre a zona envolvente, constituída por baixas aluvionares alagadiças. A sua localização permite um contacto visual directo com espaços de ocupação

capa e contracapa do livro.

romana e pré-romana da região: mesmo em frente do outro lado do Rio Tejo situa-se em posição de sobranceria a cidade de Santarém antiga urbe de Scallabis, alguns quilómetros mais à direita mas em perfeito contacto visual ergue-se o povoado fortifi-cado dos Chões de Alpompé, na mesma margem a cerca de 2 km situa-se o antigo povoado do Cabeço da Bruxa e a 3 km o oppidum do Alto do Castelo – Alpiarça. A descoberta do sítio ocorreu no início dos anos oitenta do século XX, no decorrer da realização de profundos trabalhos de

modelação do terreno para a preparação para actividades agrícolas.Apesar de diversas diligências, então efec-tuadas, o sítio não foi alvo de quaisquer tra-balhos arqueológicos caindo praticamente no esquecimento até aos dias de hoje.O projecto de investigação em torno desta estação decorre do estudo do numeroso espólio então recolhido e que se encon-tra à guarda da Associação de Defesa do Património Histórico e Cultural do Concelho de Almeirim.

Os dados aferidos, a partir do estudo dos materiais recolhidos no início dos anos oiten-

ta e dos recentes trabalhos de prospecção, levam a destacar a relevância que o sítio apresenta em época romana republicana.É a esta fase que se reporta a maior parte dos materiais, recolhidos durante as destruições de 1981, elevando-se estes a várias centenas de artefactos dos mais di-versos tipos.Os estudos em curso, em torno da colecção de metais, do conjunto numismático, dos artefactos líticos e das cerâmicas impor-tadas, nomeadamente: a cerâmica cam-paniense; lucernas; paredes finas e ânforas

levam-nos a sublinhar a homogeneidade do espólio. Apesar de estes carecerem de quaisquer coordenadas estratigráficas, o conjunto é bastante coerente, reportando-se a uma fase de ocupação centrada no século I a.C. É nesta fase que o antigo povoado pré-ro-mano de Alto dos Cacos sofre uma brusca e profunda transformação, sendo desman-telado, e sobre ele instalado um acampa-mento romano de traçado regular que em muito excede a dimensão do antigo oppi-dum indígena. Esta interpretação algo temerária assen-ta em três traves mestres, que julgamos

Fotografia aérea da zona do acampamento romano do Alto dos cacos - google earth.

Fotografia do Alto dos Cacos com a Alcáçova de Santarém ao fundo.

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sólidas. Primeiro nos dados arqueológicos, que permitem verificar a existência de uma impressionante ocupação de época tardo-republicana. Segundo nos artefactos béli-cos, presentes nas colecções depositadas na A.D.P.H.C.C.A. que atestam uma coesa e maciça presença de cariz militar em Alto dos Cacos. Por último os dados da foto-grafia aérea, que permitem vislumbrar, em

consonância com o que se vê no terreno, a existência de uma antiga estrutura subrec-tangular regular de cantos arredondados, rodeada de fossos e possivelmente com muralhas de talude em terra. Ainda que a informação disponível, careça de confirmação estratigráfica, julgamos defensável avançar-se com a proposta de estarmos perante uma ocupação de índole militar bem datada de inícios da segunda metade do século I a.C. (50 a 40 a.C.). Po-deremos assim, estar perante um acampa-

mento militar, correlacionado com os confli-tos entre os partidários de César e Pompeio na Ulterior. O livro “O Acampamento Romano do Alto dos Cacos Almeirim” pretende divulgar esta invulgar estação arqueológica que jul-gamos um caso impar para o estudo da ro-manização do Vale do Tejo.A publicação do Livro teve o apoio da Asso-

ciação de Defesa do Património Histórico e Cultural do Concelho de Almeirim e do Pe-louro da Cultura da Câmara Municipal de Almeirim. Para aquisição do Livro, os pedidos deverão ser endereçados à direcção da Associação de D. do P. Histórico e C. do C. de Almeirim, Apartado n.º 29, 2081-901 Almeirim. Ou então para o email – [email protected]. Sendo o valor unitário de 10€, acrescido de dois euros para despesas de envio pelo correio.

Apresentação pública do livro. foto: guilherme cardoso.

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peça

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A peça que selecionamos para esta revista, trata-se de uma esta-tueta, representando um busto de dama romana.

Segundo a Ficha de Inventário, a peça (Número de Inventário ME-AJM 4 Our.), que hoje faz parte do acervo da Instituição, foi encontrada no Bico do Frei António, Valado dos Frandes, Nazaré, tendo sido adquiri-da a um particular, Tito Lívio Calixto, em 1945, e foi incorporada no Mu-seu Dr. Joaquim Manso, onde se en-contra em exposição, em 1980.

Trata-se de uma estatueta de pe-quenas dimensões: Altura: 6.20 cm; Largura: 3.00 cm; Espessura: 2.00 cms., atribuída ao Período Tardo Romano.

Representa, pois, e seguindo a descrição do Museu um «Busto de dama romana, tardio, em prata, com túnica apanhada nos ombros e colar de contas à volta do pescoço; cabelo apanhado em “bando”; brincos de arrecada em argola; feições gastas, mostrando rosto sereno; olhos bem marcados; queixo redondo».

uma peça, um museu

A dAmA romANA museu dr. joaquim manso

A dAmA romANA - museu dr. joaquim mansofoto: miguel rosenstok

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“Naquela manhã Lucius havia já percor-rido toda a zona industrial de Caetobriga (Setúbal). Tinha acertado negócio com o proprietário da unidade de produção de preparados de peixe, depois de ter confir-mado a chegada da encomenda de ânfo-ras para o envase do garum. Decorriam os Idus de Quintilis do ano 43 d.C., há muito que o Mare Clausum havia terminado. O navio que esperava, vindo da Bética, tar-dava. Contemplando o imenso Callipus (rio Sado), Lucius pensava para consigo se o navio havia já alcançado a baía de Sinus (Sines).”

O parágrafo anterior poderia pertencer a

um romance histórico, cuja acção se de-senrolasse na época romana. A História e a Arqueologia dizem-nos que a realidade não terá sido muito diferente da ficção re-latada. O estuário do Sado conheceu uma forma antiga mais vasta, com um leito mais ex-tenso, cuja navegabilidade permitiu am-plas actividades náuticas durante toda a Antiguidade. Para montante, o Sado era navegável até ao interior do Alentejo, até Porto de Rei. Alcácer do Sal (Salacia) terá detido funções de terminus portuário flu-vial, com navegação directa até ao litoral. Por seu turno, Caetobriga (Setúbal) terá assumido o papel de terminus oceânico, conjuntamente com Tróia. Caetobriga era o ponto de escoamento das produções

oS SegredoS SuBAquÁtIcoS de cAllIPuStexto e fotos por: Sónia Bombico

rio Sado visto da margem esquerda (tróia).

do complexo portuário formado por todos os pequenos portos e embarcadouros do Sado. (BLOT, M. L, 2003) O conceito de complexo portuário, aplicável à costa portuguesa em época romana, foi pela primeira vez defendido por Vasco Man-tas e posteriormente, explorado nas pub-licações de Maria Luísa Blot. Segundo estes autores, o papel dos pequenos por-

tos, sobretudo os que faziam parte de um mesmo acidente geográfico amplo, como um estuário ou uma ria, era desdobrado pelo facto de funcionarem enquanto parte integrante de um complexo portuário. No caso do estuário do Sado, estes peque-nos portos funcionavam em regime de complementaridade e interdependência, proporcionando o encaminhamento da produção local para os portos escoadores de maior amplitude de Caetobriga e Sa-lacia, cidades com funções exportadoras. É, talvez altura, de ilustrar este funcion-amento recorrendo à nossa ficção ro-manceada. “Cinco dias depois, aportou finalmente no porto de Caetobriga o navio aguardado

por Lucius. Vinha carregado com tecidos de Roma, azeite da Bética e vinho itálico, envasados em ânforas. Lucius não teve dificuldade em redistribuir a mercadoria, a sua rede de intermediários era vasta e havia consumidores muito abastados na cidade. O navio deveria regressar a Gades o mais rapidamente possível. Lu-cius sabia que nos negócios tempo era dinheiro e, assim, apresou o embarque das ânforas piscícolas sadinas. Algumas horas depois, acostou ao navio uma barca vinda de Tróia que trazia duas centenas de ânforas, estava completa a carga des-tinada à exportação.”Em ambas as margens do Sado estão documentados vestígios da ocupação ro-mana, maioritariamente relacionados com as actividades marítimas e de exploração dos recursos marinhos. Pequenos portos, situados em áreas periféricas nas mar-gens do curso interior do Sado, serviam as unidades produtoras de manufacturas para exportação, principalmente os produ-tos piscícolas de que são testemunho as cetariae, tanques para a salga de peixe.

Vestígios do complexo industrial produtor de preparados de peixe de tróia.

cetariae do creiro - Portinho da Arrábida.

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Era, igualmente e maioritariamente, nas zonas periféricas que se situavam as olarias produtoras do vasilhame destina-do ao envase dos preparados de peixe, as ânforas. Contentores por excelência para o transporte marítimo, as ânforas trans-portavam vinho, azeite e todo o género de salgas e preparados de peixe, de entre os quais o famoso garum, tão apreciado entre os romanos. Foram identificadas olarias produtoras de ânforas na área da desembocadura do Sado (Zambujalinho, Comenda e Quinta da Alegria), bem como no subsolo da cidade de Setúbal, no Lar-go da Misericórdia. No entanto, os fornos romanos estão igualmente presentes no baixo curso do Sado, na zona de Alcácer do Sal, onde se conhecem os formos do Pinheiro, Abul, Vale de Cepa, Barrosinha, Monte da Enchurrasqueira e Bugio. O es-tudo dos centros oleiros da Lusitânia tem apontado a produção sadina como a mais antiga no território nacional, situando o início da laboração de alguns fornos para os princípios do século I d.C., à semelhan-ça das produções dos fornos de Peniche. (FABIÃO, C. 2004) Conhecem-se tanques de salga de peixe nos sítios do Creiro, Rasca e Comenda, junto às praias da Ar-rábida. Foram, também, identificadas e escavadas cetariae em Tróia e no subsolo da cidade de Setúbal, na Travessa de Frei Gaspar (edifício do posto de turismo de Setúbal). A generalidade destes centros produ-tores regista, à semelhança do que ac-ontece nas restantes regiões produtoras da Lusitânia (Estuário do Tejo, Algarve, Costa Alentejana e Peniche), duas fas-es distintas de produção. A primeira es-

tende-se dos inícios do século I d.C. aos finais do século II d.C. A segunda inicia-se em finais do século II e inícios do III, época em que se verifica uma verdadeira

representação de ânfora com ilustração de envase de peixe salgado. (musée d’ histoire de marseille)

“revolução” nas formas anfóricas produzi-das e uma expansão dos centros produ-tores de conservas. Os produtos produzidos, provenientes dos vários enclaves portuários identificados, circulavam no amplo estuário do Sado, no qual apenas a cidade de Setúbal manteve funções portuárias até aos nossos dias. Da fase romana de Setúbal conhecem-se vestígios que nos permitem reconhecer uma ocupação contínua desde o século II a.C. ao V. Estes vestígios indicam-nos que a malha urbana se apresentava di-vidida por áreas de especialização fun-cional. A habitacional, a comercial e a industrial, onde se situavam as olarias e as cetariae. (SILVA, C. T., 1990) As escav-ações arqueológicas, no centro urbano de Setúbal, revelaram a presença de mate-riais cerâmicos de importação, de entre os quais terra sigillata (cerâmica fina) e ânfo-ras vinárias itálicas e oleárias do Norte de África. (COELHO-SOARES, A. e SILVA, C. T., 1978) Vestígios idênticos foram recuperados das escavações do núcleo urbano de Alcácer do Sal, correspondentes à vivência da an-tiga Salacia Urbs Imperatoria, referida por Plínio no século I d.C. Ânforas importadas da Bética e peças de terra sigillata itálica e hispânica, provenientes da zona contí-gua ao castelo e da parte baixa da vila, pressupõem uma ocupação que não se restringe à zona elevada, mas também à margem fluvial. A vocação portuária desta cidade parece relacionar-se não só com a exportação dos produtos piscícolas regio-nais, mas também com a sua vocação en-quanto porto de escoamento dos produtos agrícolas provenientes das explorações

alentejanas romanizadas. Tróia, um dos mais importantes centros fabris conservei-ros de salga de peixe do Império Romano Ocidental, cujas ruínas se estendem por cerca de 2kms ao longo das margens do Sado, terá correspondido ao pólo produtor mais importante de todo o complexo por-tuário. Apresentados os principais centros produtores e portuários, podemos concluir que os materiais identificados nos con-textos arqueológicos permitem integrar o complexo portuário do Sado nas redes comerciais imperiais, que coligavam o Atlântico ao Mar Mediterrâneo.Mas a verdadeira chave do conhecimento histórico parece manter-se oculta no fun-do do estuário. Os vestígios arqueológicos subaquáticos apresentam-se como fontes essenciais para o estudo da actividade económica na Antiguidade. Ganha espe-cial relevo o naufrágio pelo seu valor en-quanto acontecimento pontual que encerra em si um espectro cronológico muito res-trito. Isto significa que os materiais associ-ados à perda do navio, nomeadamente a sua carga comercial, correspondem a um período relativamente curto, que se situa entre o carregamento da embarcação e a perda da mesma. Um naufrágio é, assim, uma fonte directa para o estudo da econo-mia romana. Mas a maioria dos vestígios romanos inventariados nas águas do es-tuário do Sado não constituem naufrágios comprovados. Veremos que, ainda assim, detêm uma importância substancial para o conhecimento histórico da presença ro-mana na província da Lusitânia. Desde a década de 70 do século XX que se vêem registando materiais cerâmicos ao largo do complexo industrial de Tróia.

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O sítio conhecido como “fundão de Tróia”, a uma profundidade na ordem dos 20 a 25m, é talvez o mais emblemático da pre-sença de vestígios arqueológicos sub-aquáticos no estuário. As características dos materiais recuperados, de entre os quais fragmentos de terra sigillata e mate-rial anfórico, sugerem um local de rejeição de vasilhame. A maioria dos materiais aí recuperados encontram-se depositados no Museu do Mar de Cascais e foram objecto de publicação por Guilherme Cardoso, em 1978. Outras peças foram recolhidas, a partir de 1973, por mergul-hadores amadores do Centro Português de Actividades Subaquáticas com o apoio do então Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia. De entre esse material regis-tam-se ânforas de várias proveniências e datáveis desde o século I a.C. ao IV d.C. São fragmentos de ânforas de vinho itáli-cas, gálicas e béticas, ânforas de azeite e salgas de peixe importadas da Bética e do Norte de África, e ânforas piscícolas de produção local. A diversificação tipológi-ca das ânforas e a seu amplo espectro cronológico é perfeitamente relacionável com o período de ocupação e laboração do povoado industrial de Tróia, que se es-tendeu até ao século V. É frequente a existência de materiais cerâmicos com ampla cronologia nos lo-cais de fundeadouro. É fácil imaginar a perda de alguns elementos da carga du-rante as actividades de transbordo entre embarcações. Para além disso são igual-mente lançadas borda fora algumas ânfo-ras vazias, após o consumo do seu con-teúdo pelos tripulantes da embarcação, ancorada no porto. Os fundeadouros e

ancoradouros são efectivamente os locais com maior registo de vestígios arqueológi-cos subaquáticos, que não se resumem aos materiais anfóricos mas que incluem em alguns casos elementos de âncoras. Ao largo do Cabo Espichel, acidente ge-ográfico que marca a entrado no estuário

do Sado, surge-nos um grande fundead-ouro de época antiga. Foram inventaria-dos, nos fundos da zona contígua à costa de Sesimbra, cerca de 40 exemplares de cepos de âncora em chumbo típicos da época romana. Alguns dos quais foram re-cuperados, encontrando-se depositados nos acervos do Museu do Mar de Cascais e Sesimbra. Um outro sítio subaquático, local conheci-do por Caldeira, na foz do Sado, forneceu materiais anfóricos importados idênti-cos aos registados no “fundão de Tróia”. A sua cronologia abarca o período com-preendido entre o século I e o século III, o que corresponde a uma boa parte do período de plena laboração do complexo industrial de Tróia. O interior do curso fluvial, junto à área sob dependência da cidade de Salacia, assinala igualmente

mosaico do Fórum das corporações de ostia Antiga, representando o transbordo directo das mercadorias de um

navio para uma caudicaria (barca).

achados subaquáticos isolados de ânfo-ras que se relacionam com os contextos produtivos dos centros oleiros do Sado interior. Junto às imediações das olarias, localizadas nas margens do rio, têm vindo a ser identificados desde os anos 80 do século XX inúmeros exemplares de ânfo-ras de produção local das duas fases de produção. Os dados da arqueologia subaquática e as escavações nos complexos industri-ais, localizados nas margens do Sado, ainda que incipientes, principalmente no que concerne aos vestígios subaquáticos, têm-se revelado de extrema importân-cia para o estudo da navegação atlântica romana. Os dados recolhidos permitem inferir um funcionamento do complexo portuário sadino em tudo similar ao regis-tado e apontado para as restantes regiões do litoral atlântico nacional, de entre as quais o estuário do Tejo é o exemplo mais significativo. A instalação e exploração económica das zonas litorais do território português parecem corresponder à “políti-ca atlântica” de Roma, iniciada por Augus-to. O reconhecimento das potencialidades económicas oferecidas pela zona Atlân-tica é complementado com uma estra-tégica de apropriação e controle dos ter-ritórios metalíferos do norte. (FABIÃO, C., 2005 e MANTAS, V., 2002-2003) É neste âmbito que deveremos entender o desen-volvimento da produção de preparados piscícolas na faixa atlântica Lusitana, ben-eficiária das rotas de retorno em direcção ao Mediterrâneo, para além do qual exis-tia um outro Mare Nostrum.

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Ceres, o nome romano da deusa grega Demeter, era a deusa “Mãe-Terra”, pro-tetora da Fertilidade, da agricultura, das sementes, dos cereais, dos grãos e seus derivados, a exemplo do pão. Era filha de Saturno e de Cibele, amante e irmã de Júpiter, irmã ainda Juno, Vesta, Nep-tuno e de Plutão, mãe de Proserpina. O seu próprio nome, cuja etimologia se liga ao verbo crescere, indicia os atributos da divindade.

Era uma divindade muito cultuada em Roma que lhe dedicava, desde o século III a.C., um festival chamado Cerealia, ou Ludi Cerialis, sendo tão querida entre Romanos que, na Antiga Roma, nesta época do ano, lhe ofereciam, para além dos festivais referidos, ovos e se dizia, quando se queria referir algo de esplên-dido, «apropriado a Ceres».Esta deusa era representada com um cetro, um cesto de flores e frutos e tinha uma coroa com espigas de trigo, sendo celebrada por mulheres em rituais secre-tos, que são pouco conhecidos.

Os ovos oferecidos a Ceres represen-tam do ponto de vista simbólico, a vida, o germe, o renascimento, a renovação e a criação, motivo pelo que, desde Épocas remotas, com eles se presenteavam as pessoas.

“ludI cereAleS” - os ovos da pascoa por: Filomena Barata

Há informações que nos fazem concluir que a festa de passagem do Inverno para a Primavera era comemorada entre povos europeus desde épocas mesmo muito remotas, designadamente na região do Mediterrâneo, a exemplo da Antiga Grécia.

estátua da deusa ceres

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érid

eAlguns historiadores sugerem também que muitos dos símbolos ligados à Pás-coa, designadamente os ovos coloridos e de chocolate, bem como o coelhinho, são reminiscências da Festa da Primavera em honra de Eostre, a deusa da fertilidade, do Renascimento, da Ressurreição, da Luz crescente da Primavera, na mitolo-gia anglo-saxã, cujo nome parece signifi-car “Deusa da Aurora”, festividades essas que foram assimiladas a Pessach.Pessach, (do hebraico, ou seja, pas-sagem) também conhecida como Páscoa Judaica, associa-se, segundo o Êxodo, à libertação do povo de Israel do Egipto. De acordo com a tradição do Tora, a primeira celebração de Pessach ocorreu há 3500 anos, quando Deus enviou as Dez Pragas do Egipto. Antes da décima praga, o Profeta Moisés foi instruído de forma a pedir que cada família hebrai-ca sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do cordeiro, para que os seusfilhos não fossem tolhidos pela morte. Efectivamente, os Hebreus comeram a carne do cordeiro acompanhada de pão de ázimo e, à meia-noite, todos os primo-génitos egípcios foram dizimados.Mas regressando à Páscoa de origemgermânica, referimos ainda que, em Alemão, ainda hoje se designa a Páscoa por “Ostern” e em Inglês “Easter”. Por essas filiações, há quem relacione a divindade Eostre com a Deusa grega Eos, também ela deusa do amanhecer e ain-da com a fenícia Astarte ou a babilónica Ishtar, pelas similitudes no que respeita aos rituais da fertilidade e às festividades do Equinócio da Primavera, sendo comum

a Persas, Romanos, Judeus e Arménios o hábito de tocar presentes de ovos colori-dos.O Cristianismo acabou por absorver esta tradição através da Páscoa e, também por isso mesmo, o ovo aparece aqui ligado à ideia de renovação periódica da natureza. Remete assim ao mesmo mito da criação cíclica, mantendo-se a crença de que comer ovos no Domingo de Páscoa traz saúde e sorte durante todo o resto do ano, funcionando como algo de apotropaico contra as enfermidades.Ainda na mitologia Grega aceitava-se que era através da partição desse ovo cósmi-co que se criou ou se diferenciou a noite e o dia, o céu e a terra (Urano e Geia), o macho e a fêmea. Por sua vez, da união de Urano e Geia nasceram os Titãs.Platão na sua obra «Banquete» relem-bra o mito do Andrógino, afirmando que o Homem original tinha a forma esférica, integrando os dois corpos e os dois sexos. São estas as suas palavras: «... naquele tempo, o andrógino era um género distinto e que, tanto pela forma como pelo nome, continha os outros dois, ao mesmo tempo macho e fêmea». Não é, portanto, despiciendo que, por isso mesmo, o mito do Andrógino, ou signo de totalidade inicial, muitas vezes concebido como ovo cósmico, represente a plenitude da unidade fundamental e primordial onde se confundem os opostos, círculo que contém o princípio e o fim.Essa mitologia é comum a muitas Civi-lizações e Culturas, como a egípcia, a fenícia, a grega, a indiana, a chinesa, a indonésia ou mexicana.

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Se os ovos, que representam a fecundi-dade ou a força genésica primordial, por-tanto, a própria ideia da vida, da eterni-dade ou da ressurreição, acabam por pertencer, pelos mesmos motivos, no Uni-verso Romano, a um dos mais motivos decorativos mais representados, quer de bens de utilidade doméstica quer em ele-mentos decorativos da Arquitectura — os óvulos — ou mesmo em pinturas domés-ticas, como é o caso dos larários de Pom-peios ou de Delos. Apenas a título de exemplo, entre tantos e tantos outros casos, referimos, em terri-

tório nacional, os mosaicos de Milreu com faixas de óvulos representados; o friso decorado com óvulos e lancetas, perten-cente a uma primeira fase de construção do teatro de Lisboa; o capitel jónico datáv-el do século III-IV, proveniente das Termae Cassiorum de Olisipo, publicado por Lígia Fernandes, o capitel da Villa de Frielas, o monumental capitel que pertence ao ac-ervo do Museu de Beja e que é atribuído a um eventual templo de Pax Iulia, já para não referir os casos conhecidos de uten-sílios de uso doméstico, a exemplo das lucernas com esse tema.

Fotografia de fresco com representação de ovos, Pompeia (Itália).

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o deSeNho e A IluStrAção NA ArqueologIAtexto e imagens por: césar Figueiredo

Descodificação de Desenho eIlustração Arqueológica

Desde sempre que a prática do de-senho fez parte da essência humana. É comum pensar-se no desenho como algo inteligível, de forma acabada e em suporte próprio. Não é de todo comum julgar o desenho como forma de pen-samento e de produção de conheci-mento. “A prática do desenho está inti-mamente ligada ao desenvolvimento do conceito de Ideia,” (MARQUES, 2006, p.62), de um conceito, de uma “visão mental”, de um desejo que se torna na necessidade inata de transformar um pensamento em algo visível, “palpável” e visual.

“Através do desenho é possível ob-servar melhor, entender, registar e co-municar factos e conceitos da ciência” (SALGADO, 2008/2009, p.78). O desen-ho arqueológico, bem como em outras áreas da ilustração científica, continua a ser preferido em relação à fotografia

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porque, na maioria dos casos, permite um registo visual superior e capaz de se ad-equar à necessidades de representação. A prática do desenho de materiais arque-ológicos, tal como em outras áreas do desenho científico, obedece a inúmeros critérios práticos e de ordem morfológica. Dentro do desenho científico existem, de facto, muitíssimas variantes. No entanto, o desenho de materiais arqueológicos dis-tancia-se da maior parte delas, pelo facto de não representar tipos nem géneros. O desenho na arqueologia é descritivo, evidenciando as formas e os traços mar-cados pela acção humana. Ao contrário das ciências naturais que pretendem rep-

resentar tipos através das características mais comuns de cada espécie, na arqueo-logia não existem dois artefactos iguais. Torna-se, por isso, impossível “caricaturar” qualquer ruína ou qualquer elemento de espólio. A este propósito, Luís Fortunato Lima refere sobre o desenho na biologia o seguinte: “Por exemplo: na Zoologia, os desenhos de animais representam ape-nas as espécies: significa, como na repre-sentação de um peixe, apenas figurarem as características particulares da sua es-pécie, excluindo para isso todos os traços desviantes do indivíduo particular, trans-formando-o em indivíduo emblemático” (LIMA, 2008/2009, p.90). Por isso mesmo,

no desenho arqueológico não se podem representar espécies, não será possível dividir em categorias “modelo” cada gé-nero de artefacto.

*

O desenho e a ilustração arqueológica são vistas muitas vezes como áreas de apoio para o estudo ou suporte de trans-missão de informação para a arqueo-logia. Na verdade, existem diferenças bastante significativas entre o conceito de desenho arqueológico e ilustração arqueológica. Ambas são desenho científico mas enquanto que o desen-ho se reporta à representação técnica de materiais arqueológicos, tais como cerâmicas, líticos, vidros, metais entre outros, a ilustração pode conter a rep-resentação de materiais mas privilegia a visualização destes materiais no seu contexto em que foram usados. Deste modo, a ilustração passa a ser um cam-po de acção muito mais alargado que contempla não só a representação de materiais como se expande à visuali-zação do meio destes objectos na anti-guidade. Refiro-me mais concretamente à recriação dos ambientes históricos e arqueológicos como forma de possibili-tar um entendimento acerca de uma de-terminada civilização histórica. Digamos que a ilustração arqueológica privilegia a representação da interacção entre pes-soas, materiais, animais, meio geográ-fico, etnografia, paisagem e arquitectura na sua vivência activa do passado.

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Introdução

O mosaico romano é, sem dúvida, uma das expressões artísticas que melhor so-breviveram à passagem do tempo e à acção do Homem. Hoje, a mais de vinte séculos de distância, os diferentes mo-saicos encontrados um pouco por toda a parte constituem uma preciosa fonte de informação sobre o quotidiano, os usos e costumes, a evolução económico-social das diferentes sociedades que constituiam o Império Romano. De Leste a Oeste do Mediterrâneo, do Norte de África aos con-fins da Bretanha, das colunas de Hércules ao Finisterra, os mosaicos testemunham da presença romana intimamente ligada à terra em que se fixara, e onde deixou a sua marca indelével, de geração parageração.O mosaico, porém, não é uma “invenção” romana. Para alguns investigadores, o mosaico teria mesmo a sua origem não no revestimento e decoração de pavimen-tos da Grécia antiga mas sim, à partida, no revestimento e reforço de paredes e colunas na Mesopotâmia. Ainda que, neste caso, seja difícil falar de “mosaico” no sentido actual do termo, chegaram até nós exemplos datados de 4000 a.C. e que testemunham da utilização de “pre-gos” de barro, de cerca de 6 a 15 cm de comprimento, cujas cabeças haviam sido pintadas de vermelho, branco ou preto, de

o moSAIco romANopor: maria de jesus durAN Kremer,

Instituto de história de Arte - FcSh/uNl

Fig. 5-casa del Fauno, Pompeia.

Fig. 1 - templo de uruk (Iraque).

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forma a formarem motivos decorativos (Fig. 1). Espetados numa massa argilosa ainda fresca, não só decoravam as colu-nas com diferentes motivos geométricos como reforçavam ao mesmo tempo as próprias fachadas. Com o decorrer dos anos, esta técnica evoluiu: os motivos ge-ométricos deram lugar a representações muito simples de pessoas, animais e plan-tas, introduzindo pela primeira vez mate-riais mais preciosos como o ónyx e o lápis lazuli, usados juntamente com terracota e conchas.Numa fase seguinte, a técnica da utili-zação de pequenas bolas de cerâmica ou de chapinhas de calcário, madre-pérola e grés permitiu avançar para outro tipo de

decoração, mais cuidado, espelhando ce-nas do dia-a-dia, e usado sobretudo em pequenos objectos de luxo de uso pes-soal, provavelmente reservados à classe nobre (Fig.2). Através dos séculos, este tipo de decoração espalha-se um pouco por todo o Mediterrâneo Oriental, sem que por isso assuma o papel autónomo de decoração de grandes superfícies que viria a ser o seu da Grécia clássica em di-ante. O mosaico pavimental, tal como o

conhecemos hoje, teve origem nos pavi-mentos de calhau rolado das cultura minóica, em Creta, micénica, na Grécia e hetita, na Ásia Menor: os seixos eram misturados com o reboco que iria cobrir o pavimento da sala a decorar, sem porém individualizar qualquer motivo aparente. A destruição destas culturas pelas invasões dóricas e frígias por volta de 1.200 a.C. constituiu um ponto de viragem na arte do mosaico: em Gordion, na Turquia, foram descobertos os primeiros pavimentos de calhaus rolados a preto e branco numa composição de motivos geométricos. Da-tados do séc. 8 a.C., estes pavimentos decoravam certamente as casas de famíl-ias abastadas daquela cidade.É bem mais tarde, já sob o domínio de Al-exandre que o mosaico se vai transformar numa arte em si: ainda que continuando a recorrer a calhaus rolados colocados sobre uma camada de argila, os artistas gregos consideraram pela primeira vez a super-fície a decorar como um todo, adaptando

Fig. 2 - Pequeno “mosaico” de ur (Iraque).

Fig. 3 - Pormenor do mosaico da “caça ao leão”, Pella.

a composição às características da sala e, certamente, também aos desejos do pro-prietário da mesma. É no século IV a.C. que vemos surgir composições tão belas como a “caça ao leão”, em Pella (Fig. 3), ou o mosaico floral de Sykion. É também nesta época que aparecem os primeiros mosaicos geométricos mais elaborados cobrindo toda a superfície a decorar numa sintaxe argumental resultante de um pro-grama iconográfico – decorativo, onde o mosaico geométrico não constitui pano de fundo para composições figurativas mas constitui, por si só, o tema principal da decoração (Fig.4).

A pouco e pouco, o calhau rolado vê-se substituido por pequenos cubos de pedra talhados pelo Homem, coexistindo am-bos os materiais, por vezes, num mes-

mo pavimento. Cedo porém a tessera se tornou no material de eleição para a ex-ecução das composições musivas. Per-mitindo recorrer a uma maior gama de materiais e cores, a uma maior perfeição na expressão artística através do recurso a diferentes tamanhos e formas para as mesmas, o uso de tesselas abriu as por-tas a conceitos de decoração mais com-plexos tanto no que respeita à policromia quanto ao programa iconográfico que o mandatário da obra quer ver realizado. Alexandria , Pergamon, Delos são pontos de referência no aperfeiçoamento da arte musiva, tendo chegado até nós mosaicos

de rara beleza, testemunhos do mosaico helenístico no seu auge. Nos séculos II e I a.C. o mosaico torna-se o elemento decorativo per excelence so-

Fig. 4 - Pella

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bretudo das salas mais representativas de uma casa. Os melhores exemplos chega-dos até nós vêm sem dúvida de Pompeia, preservados pela lava e pelas cinzas do Vesúvio. De ali nos chegaram mosaicos de uma beleza requintada, comummente con-siderados como cópias de quadros ou de mosaicos alexandrinos (Fig. 5).De Itália, o mosaico espalha-se por todo o Império, assumindo características muito

próprias de região para região. Enquanto que, em Itália, do último século da Repúbli-ca em diante se desenvolvem, paralela-mente aos pavimentos polícromos, outros decorados com mosaico bicolor - preto e branco - nas diferentes províncias do Im-pério a arte musiva assume características muito próprias a cada uma delas, espelhan-do na maior parte dos casos a prioridade dada pelos mandatários das obras aos difer-entes aspectos da sua vida quotidiana: te-mas mitológicos, cenas da vida quotidiana, composições geométricas mais ou menos complexas enriquecem a panóplia de temas que as oficinas de mosaicistas – locais ou itinerantes – executam com maior ou menor perfeição. Uma das regiões que mais influenciou a arte musiva tanto no que respeita aos temas

escolhidos para as composições quanto ao estilo e aos motivos usados para as mes-mas foi sem dúvida a Africa proconsularis (a actual Tunísia), onde se encontra a maior colecção de mosaicos romanos ainda ex-istentes. Cidades como Cartago, El Djem, Sousse, Thuburbo Majus, Oudna, Hadru-mete, pólos de uma economia florescente, viram surgir oficinas de mosaicistas que, de acordo com a vontade dos grandes propri-

etários fundiários que lhes encomendavam a decoração dos solos das suas casas, ex-ecutavam não apenas cenas mitológicas como, e sobretudo, cenas representando o dia a dia desses proprietários: cenas de caça, a ceifa do trigo ou a vindima, jogos de circo. A representação do Tempo e das estações do ano, símbolo de renovação e eternidade, não podia deixar de ocupar um lugar de relevo no programa iconográfico de uma região sobretudo agrícola, tanto sob a forma de figuras de corpo inteiro ou bustos, ou recorrendo apenas aos atributos carac-terísticos de cada estação.A influência africana está fortemente pre-sente nos mosaicos romanos encontrados em Portugal, tanto no que respeita aos pro-gramas iconográficos escolhidos quanto à sua execução final. No entanto, também

Fig. 7 - Villa cardilio, Sala g (torres Novas). ©Foto da autora. Fig. 8 - milreu, podium.© Foto t. hauschild

aqui se pode assistir a uma interpretação muito própria desses mesmos temas, dan-do origem por vezes a composições ex-traordinárias no seu simbolismo e expres-sividade. É o caso da representação das estações do ano: encontramo-las em Con-imbriga, na Casa dos Repuxos, no Rabaçal e S. Vitória do Ameixial, numa represen-tação “clássica” sob a forma de bustos. Mas encontramo-las também em Pisões (Fot. 6), numa composição muito expressiva da ligação do proprietário da villa à terra e à ac-tividade agrícola. A inserção da cabeça da Medusa, com as suas qualidades apotro-peicas, nesse pavimento, dá uma relevân-cia ainda maior ao significado da renovação eterna da vida expresso pelas estações do ano. Um outro pavimento, este em Villa Cardilio, Torres Novas, testemunha de uma interpre-tação mais complexa desta mesma temáti-ca. Executado certamente por uma oficina “regional”, é expressão de um simbolismo profundo reforçado pela inscrição que o acompanha (Fot. 7).No entanto, o mosaico não foi apenas uti-lizado para o revestimento e decoração de solos: os mosaicos parietais, ainda que ten-ham chegado até nós em menor número, foram igualmente utilizados para revestir paredes e tectos, sobretudo de templos. Milreu, no Algarve, é um extraordinário ex-emplo da beleza e da perfeição que alguns desses mosaicos podiam atingir (Fot. 8). De uma execução cuidada (veja-se, por exem-plo, a perfeição e o pormenor na execução das escamas de alguns peixes), estes mo-saicos são expressão de um programa iconográfico muito cuidado, no âmbito do qual a temática prioritária escolhida – a água, a vida marinha – foi adaptada à sin-taxe ornamental de cada uma das divisões

ou paredes a que se destinava.Muitos outros temas podemos encontrar ainda hoje nos mosaicos romanos de Por-tugal. De entre eles, os mosaicos geométri-cos ocupam um lugar de relevo, não só pelo elevado número de solos que ornamentam como também pelos programas iconográ-ficos escolhidos, e que merecem um trata-mento mais aprofundado.

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«Feio é o campo sem erva e o arbusto sem folhas e a cabeça sem cabelo»Ovídio in «Arte de Amar»

«Há quem, à luz que alumia os longos serões de inverno, abique archotes com um ferro acerado, enquanto a esposa, que suaviza com o canto o seu labor, passeia no tear o pente de som harmonioso, ou coze ao lume o doce mosto, e escuma com um ramo o líquido que ferve no tacho». (Virgílio, As Geórgicas: 290-295)

Dedico este artigo a Maria de Jesus Kremer, minha colega e amiga, e a Teresa Monteverde Plantier Saraiva, companheira assídua do «Portugal Romano»

Filomena Barata

Sabia que Roma é ancestralmente uma sociedade patriarcal. À cabeça de cada grupo estava um pater familias que exercia o seu poder até à morte, podendo decidir da vida ou morte dos seus filhos. É só ele que pode participar na vida política, nas assembleias, no Senado, nas magis-traturas, e no âmbito familiar, era o homem que presidia e assumia juridicamente a função predominante, ou seja, para todos os efeitos, comandava a casa.

Pelo casamento, coniunctio maris et femi-nae, ou seja «a união de um homem e uma mulher» a mulher passava a depend-er da família do marido, ficando submeti-da a um poder familiar semelhante ao que tinha em casa antes do matrimónio, pois o esposo podia também decidir da sua vida. A vida política cingia-se ao universo mas-culino.

Quando casada, era, de facto “senhora da casa”, a domina, não sendo, contudo, re-clusa nos aposentos das mulheres, Geni-ceu, como acontecia na Grécia Antiga.

Por concessão do marido ela assumia o governo da casa (cura) e passava a ter di-reito às chaves do cofre-forte. A mulher é, por excelência a materfamilia ou matrona. Tomava também conta dos escravos, om-nipresentes em casa, e participava das refeições com o marido, como se pode verificar no Banquete, saía (usando a “sto-la matronalis”), tinha acesso aos tribunais e participava nos espectáculos públicos, sendo, por isso, criticada por Juvenal e pelo cristão Tertuliano, pois assumia uma presença pública não se cingindo às ac-tividades domésticas ou aos tempos livres entre bordados.

Roma não é, contudo, um mundo estanque e imutável e a condição da mulher vai-se alterando ao longo do tempo. Com o crescimento de Roma, a mulher foi grad-ualmente adquirindo autonomia, podendo inclusivamente participar da herança dos bens paternos, sendo sabido que, a partir do século II a.C., é notório um processo de emancipação social e jurídica que se manifesta quer no casamento, no divórcio, nas heranças e na própria manutenção do seu nome de família.

Se bem que a generalidade das meninas romanas recebesse apenas uma instrução básica, pois a sua função primordial era prepararem-se para ser esposas e mães, houve muitos exemplos de mulheres que exerceram influentes profissões e que di-rigiram negócios lucrativos. Há também inúmeros casos de mulheres versadas em Literatura.

Brincos romanos de miróbriga encontrados junto do «templo de Vénus»

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Até determinada altura, o elemento bási-co do vestuário, seja feminino ou mascu-lino, foi, até determinada altura, a toga, ao ponto de Virgílio na Eneida(I, 282) chamar aos Romanos «os senhores do mundo, o povo da toga».

No entanto, o vestuário foi-se sofisticando e, já durante a República, só os jovens e as cortesãs usam toga. As matronas uti-lizavam sobre a stola (túnica ou vestido comprido cingindo nas ancas) a palla

(grande mantilha pregueada sem cos-turas que, ao contrário da toga, cobria os dois ombros, servindo também para cobrir a cabeça). Um vestido inferior com man-gas era usado sob a stola.

As mulheres de condição mais elevada usavam tecidos ricos bordados e importa-dos das várias partes do império.

O rosto era embelezado e os cabelos trat-ados e penteados de diferentes formas, também dependendo das épocas e re-spectivas modas, se bem que em público tivessem o costume de cobrir a cabeça.

«Um diadema, parcialmente oculto por véu, indica que se trata de um membro da família imperial que não é possível iden-tificar com segurança, embora apresente semelhanças com o retrato de Lívia, mul-her do imperador Augusto». Criptopórtico de Aeminium, Museu Nacional Machado de Castro.

“Em Roma, o cabelo e o seu arranjo eram considerados um elemento fundamental do atractivo de uma mulher, assim como um sinal da sua idade, posição social e fun-ção pública”, (Bruno Ruiz-Nicoli in Rostos

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de Roma. Évora: Museu de Évora, 2010, p. 48), sendo os penteados de Época Im-perial caracterizados por uma enorme exuberância, sobretudo a partir da Dinas-tia julio-claudiana e que atinge o auge na época falviana e no reinado de Trajano que, de algum modo, contrastando com a contenção verificada na Época de Au-gusto que se filia na tradição helenística.«Partindo dos simples arranjos da primei-ra metade do século I a.C., chegamos, em meados desse mesmo século, às modas de origem helenística que são muito con-tidas, devido ao regresso à tradição que marca a época de Augusto. Esta moder-ação mantém-se na época julio-claudina até à chegada de Nero e é a partir desse momento que se inicia um vertiginoso de-senvolvimento dos penteados, que alcan-ça a sua máxima expressão em finais do século I, na época flaviana e no reinado de Trajano» (Bruno Ruiz-Nicoli in Rostos de Roma. Évora: Museu de Évora, 2010, pp. 61-62).

Segundo o autor latino do século II d.C. Luciano «as mulheres dedicam a maior parte dos seus esforços à trança dos seus cabelos» Amores, 38-41.

As mulheres também recorriam a colorações, sendo comum o uso da henna importada do Oriente e socorriam-se de extensões ou perucas para os casos de insuficiência de cabelos. Assim nos diz o moralista Tertuliano no seu «A Moda Feminina/Os Espectáculos»:«Vejo que algumas de vós que pintam os cabelos com açafrão chegam a enver-

gonhar-se da sua pátria, de não terem nascido na Germância ou na Gália. Tro-cam, assim, a Pátria pela cabeleira. Coisa ruim, coisa péssima a si mesmas pressa-giam com a sua cabeça da cor do fogo».

Os caracóis, por usa vez, obtinham-se com o recurso ao calamistrum, um instru-mento metálico que se aquecia ao lume de forma a obter os efeitos desejados.Usavam também os cabelos presos em carrapitos, ”tótós” ou tranças, sendo céle-bres as de Faustina, a Maior, casada em 126 com o futuro imperador Antonino Pio de que existem várias representações. O século III assiste à moda do cabelo us-ado com “o risco ao meio” caindo para os

retrato de lívia, mulher do imperador Augusto».criptopórtico de Aeminium, museu Nacional machado de castro.

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lados em ondas fortemente modeladas e apanhado depois numa série de tranças que ascendem até à parte superior do crânio. Para prender os cabelos usavam alfinetes, os acus crinalis, a exemplo de um alfinete de cabelo em osso, proveniente das Ruí-nas de Tróia, cujo topo é «rematado por um busto feminino, com toucado e cabelo bem definido e com face singelamente

talhada e túnica estilizada por meio de linhas incisas oblíquas».(Informação obtida no Museu Nacional de Arqueologia, a cujo acervo pertence).

Eram usados múltiplos adereços, desde anéis, muitas vezes com pedras, colares e pingentes, brincos, pulseiras, bracetes e diademas, camafeus valendo a pena, em Portugal, entre tantos outros, conhecer o acervo do Museu de Conímbriga.

Os camafeus também estiveram muito em voga em Roma, referindo um exem-plar publicado no «Portugal Romano», proveniente da cidade de Ammaia (São Salvador da Aramenha) , depositado no Museu Nacional de Arqueologia.

Trata-se de um «Camafeu com busto fem-inino em relevo, século I d.C.

De cornalina de cor de salmão escuro e de forma oval. O busto apresenta-se em posição frontal e cabeça a três quar-

retrato Agripina minormuseu Arqueológico Nacional, madrid

cabeça de Ninfa, Século II. Proveniência desconhecida. mNA.

tos ligeiramente inclinada para a direita. Poderá tratar-se de uma Ménade ou de Cassandra? (segundo G. Cravinho, op.cit/Matriznet)».

As mulheres não dispensavam os espel-hos para os seus cuidados de embeleza-mento nem prenestinas, ou seja, os cofres em bronze que continham os acessórios de embelezamento feminino, nem os seus perfumes e unguentos. Defende-se mes-mo que Vénus, essa deusa do amor e da beleza, que na mitologia romana substitui a Grega Afrodite tem como seu símbolo ♀ (um círculo com uma pequena cruz equi-lateral) que parece ser a representação gráfica ou símbolo abstracto do espelho de Vénus.

Este símbolo, que representa a feminili-dade, foi adoptado para definir o género feminino. (Ver «Alcácer, Terra de Deusas, Esmeralda Gomes, Marisol Aires Ferreira e António Rafael Carvalho, 2008, Câmara Municipal de Alcácer do Sal). A propósito dos cuidados femininos, diz-nos ainda no século II Tertuliano «De fac-to, embora não se deva acusar a beleza – a qual é a graça do corpo, o acabamento da modelação divina, um agradável vesti-mento da alma – ela haverá, no entanto, que ser temida, nem que seja por causa dos ultrajes e das violências daqueles que andam atrás dela» (p: 57).

Artigo elaborado a partir de: www.portugalromano.com/2011/04/filomena-barata-as-mulheres-em-roma

colares em ouro. colecção de ourivesaria. mNA.

camafeu com busto feminino em relevo, século I d.c.Proveniente das ruínas da cidade romana de Ammaia - museu Nacional de Arqueologia.

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mosaico «triunfo Indiano de Baco» proveniente de torre de Palma, monforte, Séculos III-IV. mNA

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“Na verdade, ao que parece, Alcácer do Sal foi fundada pelos lusitanos no ano Vlll de César, isto é trinta anos antes de Cristo, atribuindo-a a uma lenda que reza o seguinte: Bugud, califa africano, invadiu a Lusitânia, pondo as povoações a ferro e fogo.

Havia na região de Alcácer, um tempo dedi-cado à deusa Salácia (um dos nomes da deu-sa Diana), que foi profanado pelos africanos. Quando estes se faziam ao mar, porém, um grande temporal destruiu as embarcações, perecendo no naufrágio a maioria dosinvasores, e perdendo-se as riquezas rouba-das.

Os lusitanos viram no acontecimento um mi-lagre da Deusa, e fundaram uma vila a que deram o nome de Salácia. Há também uma corrente de opinião para quem o nome de Salácia se referia, não à Deusa, mas à abun-dância de sal existente na região.”(Narrada pelo Dr. Rocha Martins em 1935)

Segundo esta mesma lenda, Salácia era uma ninfa, prometida em casamento ao grande rei dos mares, Neptuno. Antes do acto se concretizar Salácia revoltou-se e escondeu-se no fundo do oceano. Neptuno mandou todas as criaturas marinhas do mundo em sua busca. Foi bem-sucedido um golfinho que encontrou a ninfa, entregando-a para casamento ao grande rei. Salácia é assim, segundo a lenda, a rainha dos oceanos.

leNdA PoPulAr de SAlÁcIA(Alcácer do Sal)

Foto: moeda romana de Salácia

Anv. - cabeça de Neptuno à direita, atrás o tridente

Rev. - Entre dois golfinhos à direita, o topónimo abre-viado ImP-SAl, orla pontuada.

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rote

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roteIro ArqueológIco romANodo coNcelho de cAScAIS

texto: raúl losada

duração: 5 horasdistancia: aprox. 35km

INtrodução

Trata-se de um primeiro esboço de roteiro ar-queológico dedicado à Ocupação Romana do Município de Cascais, tendo sido seleccionados os mais notáveis vestígios visitáveis no Concelho. Recorremos ao trabalho desenvolvido pelo Pro-fessor José d’Encarnação e Mestre Arqueólogo Guilherme Cardoso, que, ao longo dos últimos anos, estudaram, através de escavações arque-ológicas, valorizaram e editaram várias impor-tantes publicações sobre este importante legado.Através da Carta Arqueológica de Cascais, da au-toria de Guilherme Cardoso, viajámos no tempo e fomos em busca dos vestígios romanos. Segundo este arqueólogo, a região que agora corresponde ao Município de Cascais foi profundamente ocu-pada e explorada no período romano.A proximidade da Cidade Romana de Olisipo e do seu porto beneficiaram toda a região, possibil-itando o incremento do comércio com o resto do Império.As datações mais antigas de ocupação romana do Concelho apontam para o século I a.C. , contu-do os vestígios mais abundantes são dos séculos seguintes, em especial do Baixo Império.Os romanos desenvolveram a agricultura local, cultivando a vinha, a oliveira e o trigo. Na Villa Romana de Freiria comprovou-se pelos vestígios encontrados a existência de um lagar e um celei-ro de grandes dimensões.A produção de tecidos em linho, e possivelmente lã e respectiva tintura, está comprovada em Casais Velhos e no Bom Sucesso. Exploraram-se também pedreiras de mármore em Porto Covo e São Domingos de Rana, de calcário em Freiria e de grés em toda a área de entre Abuxarda e Bicesse.A pesca encontra-se documentada como activi-dade secundária no Alto da Cidreira e no centro da Vila de Cascais, não sendo significativos os dados ainda conhecidos que possam apontar a existência de uma indústria conserveira no litoral do Concelho.

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VIllA romANA de FreIrIAlocal: rua de Freiria, outeiro da Polima, São domingos de rana

gPS: 38.72050370024602 ; -9.322827458381652

Foi o arqueólogo Virgílio Correia Pinto da Fonseca (1888-1944) quem, em 1912, de-pois de ter encontrado uma sepultura ro-mana junto a uma pedreira e numa tenta-tiva de localizar uma necrópole, reportou em primeira mão a existência de vestígios de ocupação romana nesta zona do con-celho de Cascais.Houve, contudo, que esperar pelo ano de 1980 para que a Villa de arquitectura civil romana construída no século II d.C. fosse encontrada e estudada sistematicamente pelos arqueólogos Guilherme Cardoso e José d´Encarnação, permitindo, entre out-ros aspectos, confirmar uma permanência humana no local desde o Calcolítico.Na área envolvente encontraram-se vestí-gios cerâmicos do período Neolítico o que documenta que, em Freiria, os Romanos vieram instalar-se num local já anterior-mente ocupado, durante milénios, pelas populações que os antecederam.Trata-se de uma Villa Romana, podendo

considerar-se um dos exemplos mais completos deste tipo de residência na Península Ibérica que se destaca por dois motivos:Pela monumentalidade e beleza do celei-ro que só tem paralelo noutro exemplar da Península Ibérica, na Villa Romana de Monroy, perto de Cáceres; Pela existência de um quadrante solar, que é uma das raras peças do género achadas no território nacional.

Um dos primeiros proprietários da Villa Romana foi certamente T(itus) Curiatius Rufinus, pois foi achada uma ara com in-scrição deste dedicada à divindade pré-romana Tribunnis.Nas várias campanhas arqueológicas, conduzidas pelos arqueólogos Guilherme Cardoso e José d´Encarnação, foram descobertos:A Domus que revelou uma estrutura bastante delicada, com átrio, Peristilo

(pátio interior) e impluvium circundado de “espelhos de água” e o envolvente corre-dor provido de colunas, de que se encon-traram diversas bases no seu local primi-tivo, bem como alguns capitéis, para além de determinados pavimentos, incluindo o de um provável triclinium, cobertos de mosaicos polícromos de motivos geomé-tricos e paredes decoradas com estuques pintados.Tal como é comum acontecer, a estrutura arquitectónica inicial da casa foi alvo de algumas remodelações pontuais, fruto do decorrer dos tempos e das novas necessi-dades quotidianas que se impunham. Pela análise dos fragmentos cerâmicos recolhi-dos até ao momento, foi possível identifi-car duas dessas fases construtivas, ocor-ridas entre os séculos I e VI dC.As Termas da Villa, de que foram identi-ficados o hipocausto e dois tanques, de água fria e quente, revestidos a opus sign-inum

A pars fructuaria da Villa encontra-se bem estudada e era constituída por um celeiro, localizado a sudeste, ao qual estaria associada a parte inferior de um

moinho, tendo-se ainda encontrado um la-jeado a circundá-lo; uma vasta camada de telhas, eventualmente pertencente a uma passagem coberta que estabeleceria a li-gação entre a Villa fructuaria, composta do Celeiro e o Lagar, e a área residencial, constituída pela Domus e pelo complexo termal; um Lagar para obtenção de azeite, como parece testemunhar um peso de sarilho semelhante aos usados nestas estruturas; o Forno de cozer pão, depois de ter sido destituído da sua função inicial após o século IV d.C..A pars rustica seria abastecida de água proveniente de um tanque-represa, com base revestida a opus signinum, erguido junto à ribeira que corre nas proximidades.

Uma necrópole na margem oposta estava associada à Villa Romana, sendo con-stituída pelo ustrinum (local de cremação dos corpos) e por mais de duas dezenas de enterramentos com urnas de inciner-ação de inumação, estas últimas sem qualquer espólio, sendo, no entanto, de destacar a presença de uma lucerna dec-orada com a figura da deusa Diana numa das sepulturas de cremação.

estrutura do celeirofoto: miguel rosenstok

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Embutida na parede norte exterior da Ig-reja Matriz de Alcabideche, encontra-se uma cupa funerária romana, de mármore róseo de São Domingos de Rana.

Segundo o Guilherme Cardoso e José d’Encarnação, que a identificaram em Setembro de 1985, durante as obras de restauro do templo, trata-se de mais um testemunho da gens Iulia, adscrita pela tri-bo Galéria ao município de Lisboa, antiga Olisipo.

O texto epigráfico refere dois defuntos, pelo que será um monumento mandado fazer pela filha para o Pai e para si própria, ainda em vida«Aqui jaz Gaio Julio Rufo, da tribo Gale-ria, de vinte cinco anos, e aqui jaz Julia Fundana, filha de Gaio.»Esta epigrafia é datada do século I d.C.

ePIgrAFIA romANA de ruFo e FuNdANAlocal: Igreja matriz de Alcabidechelargo de São Vicente, AlcabidechegPS: 38.7302507258494 ; -9.40804123878479

Foi o conhecido geólogo Francisco de Paula Oliveira, dos Serviços Geológicos, quem, em finais dos anos noventa do século XIX, refe-riu, pela primeira vez, a existência da Villa romana do Alto do Cidreira”, classificada em 1992 como “Imóvel de Interesse Público”. Foi, no entanto, necessário esperar pelo fi-nal da década de setenta do século XX para que o sítio arqueológico fosse sistematica-mente investigado pelos arqueólogos Guil-herme Cardoso e José d’Encarnação.Provavelmente edificada durante o século I d. C., a Domus desta Villa tinha dois andares e possuía alguns compartimentos pavimen-tados com mosaicos polícromos, como se pode concluir pelas tesselae exumadas no local.

Como sucede com as demais Villae ro-manas, também a do “Alto da Cidreira” foi dotada de um complexo termal, com as respectivas condutas de água e hipocausto, infelizmente bastante descaracterizado pela contínua circulação de pessoas e veículos no sítio arqueológico. Foi também encontrado um tanque semicir-cular pertencente ao frigidarium, bem como o praefurnium, destinado ao aquecimento do ar que circulava sob o pavimento e da própria água dos tanques.

Foi identificado a Sudoeste da villa um aqueduto subterrâneo, a necrópole e algu-mas estruturas romanas e silos medievais, a assegurar, no fundo, a reutilização do es-paço ao longo dos séculos subsequentes

à sua construção inicial, tal como foram reconhecidos elementos atribuídos a perío-dos de ocupação humana anteriores à es-trutura romana.

Quanto à pars rústica é de assinalar os tanques de que havia relatos dos princí-pios do século XX, localizados na encosta meridional (Bom Sucesso), tanques es-ses que, pelas descrições deixadas, se poderiam referir a um complexo industrial, possivelmente de tinturaria com duas pequenas tinas de cerca de 1 metro de pro-fundidade. Um grande reservatório alimen-tava todo o complexo, afigurando-se com-parável ao dos Casais Velhos, pelo que uma função idêntica não será, porventura, hipótese a menosprezar.

Do espólio exumado, destaque-se os uten-sílios ligados à tecelagem: uma tabuinha de tecelagem, um separador de tear decorado geometricamente e diversos fragmentos de agulhas. E, pelo seu carácter singular, referimos ainda a mini máscara de terra-cota (22 x 24 mm.), representando um ne-gro, que actualmente se encontra exposta na mostra de arqueologia do Município no Museu dos Condes de Castro Guimarães, em Cascais.Relativamente perto da Villa é de salientar a presença de uma necrópole tardo-roma-no/visigótica com sepulturas delimitadas por esteios de calcário. Algumas contin-ham mais do que um esqueleto e jóias, pequenas vasilhas e numa delas recolheu-se uma espada muito oxidada.Actualmente o sítio arqueológico esconde-se por entre uma densa vegetação. No lado norte da vigia militar encontram-se pequenos fragmentos de cerâmica da Idade do Bronze e do Ferro, a sul encontra a necrópole.

VIllA romANA do Alto dA cIdreIrAlocal: rua da cidreira, cascais

gPS: 38.72153747530683 ; -9.423442482948303

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eStAção luSItANA-romANA doS cASAIS VelhoSlocal: rua de São rafael, Areia, cascais

gPS: 38.725563614577226 ; -9.463434219360351

complexo de tinturaria

Povoado romano com complexo indus-trial possuidor de características únicas na Península Ibérica e integrando uma fábrica de preparação de púrpura.Descoberto em 1945 por Afonso do Paço e Fausto de Figueiredo com a ajuda de alguns trabalhadores do Município que iniciaram curtas escavações em redor da área desc-oberta.Dado a pequena área escavada pode-se afir-mar a sua ocupação no século II d.C., mas mantêm-se em aberto uma datação final de

ocupação do local.

É provável que o povoado tivesse como ac-tividade principal a preparação da púrpura. Esta afirmação é corroborada com a existên-cia de compartimentos com tinas ou cubas com encaixe para tampas herméticas, que se adequavam ao propósito, bem como e desc-oberta numa lixeira do povoado, de abun-dantes conchas de múrex, molusco marinho de onde provem a púrpura, este molusco era de grande valia económica na Idade An-

tiga, já que os Fenícios utilizavam o corante de púrpura (que era extraído de seu interior) como fonte de comercialização.

A existência de um edifício no complexo da villa identificado como sendo uma Tinturaria. As tinas serviriam para o tecido ser mergul-hado na solução do corante e em seguida posto ao sol para que a cor aparecesse, esta descoberta torna o local único na península ibérica.

A pars urbana desta Villa era constituída pelo característico complexo termal composto do frigidarium (para o banho frio), de uma sala tépida de transição e do praefurnium, desti-nado ao aquecimento do ar que circulava sob o pavimento e da própria água dos tanques de configuração semicircular. Além disso, foi identificado um tanque de grandes dimen-sões, possivelmente o natatio, tradicional-mente rasgado a céu aberto.Este era servido por um Aqueduto, de que restam os vestígios da estrutura que trans-portava a água do nascente do Alto do Selão até à villa de Casais Velhos, numa distância de 700 m.Para além destes vestígios de construção romana e de outros restos ainda indetermi-nados que afloram dentro do circuito amu-

ralhado, são ainda de salientar, segundo o arqueólogo Guilherme Cardoso, os vestígios das muralhas e as necrópoles de inumação.

A villa possuía três locais distintos de enterra-mento tardo-romano, dois a sul e um a poen-te com sepulturas do tipo “caixa”, delimitadas por esteios afeiçoados em calcário, e com os corpos depositados em decúbito dorsal, vol-tados para Nascente.Nestes locais foram encontradas moedas da-táveis de entre os anos 205 e 405 da nora era (do tempos dos imperadores Teodósio, Con-stâncio II, Constante, Constantino e Arcádio), o que sugere uma ocupação mais intensa do local exactamente nos finais do Império Ro-mano do Ocidente. De enorme importância, é ainda uma moeda encontrada numa sep-ultura, que mantém ainda o seu invólucro de tecido de linho, peça raríssima e do maior in-teresse histórico.O espólio resultante das intervenções de D. António de Castelo Branco e Octávio Reinal-do da Veiga Ferreira, encontra-se na reserva arqueológica do Município de Cascais e do qual se destaca: Algumas jóias, como uns brincos de bronze, uma agulha de bronze, Cerâmicas das quais, uma bilha com dec-oração no bojo, e uma Lucerna.

termas