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Instituto Português de Naturologia SCIENTIFIC JOURNAL OF REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL NATURAL MEDICINE Vol. nr.: III | Semestral | DEZEMBRO/2014

Revista Scientific 3

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Instituto Português de Naturologia

SCIENTIFIC JOURNAL OF

REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL

NATURAL MEDICINE

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SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINEREVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL

Diretor:Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva

Conselho Científico:Professora Doutora Ana Cláudia Barreira NunesProfessora Doutora Ana Cristina EstevesProfessora Doutora Ana Cristina Estrela de O. C. CordeiroProfessor Doutor António José Afonso MarcosProfessor Doutor Arménio Jorge Moura Barbosa Professor Doutor Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso Professor Doutor João Paulo Ferreira Leal Doutor José Maria Robles RoblesProfessor Doutor Luis Alberto Coelho Rebelo MaiaProfessora Doutora Maria Isabel do Amaral A.V. P. de LeãoProfessora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da SilvaProfessor Doutor Miguel Tato Diogo Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves

Editor:Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves

Depósito legal:Os artigos são da responsabilidade dos seus autores, sendo que todos os direitos legais estão reservados ao IPN.Toda a reprodução, desta revista, seja qual for o meio, sem prévia autorização, é ilícita e incorre em responsabilidade civil e criminal.

Dezembro/2014Publicação Semestral

Edições: Centro de Investigação em Medicina Natural Instituto Português de Naturologia

E-mail: [email protected] e Projetos:

e-medico+

Índice

Notas PréviasMaria Manuela N. da Costa Maia da Silva 3

EditorialRui Miguel Freitas Gonçalves 4

Identificação de PadrõesSegundo os seis niveis energéticos 5

O Papel da Fáscia na Medicina ChinesaParte 2 31

Provérbios, Expressões idiomáticas e a Medicina Tradicional Chinesa - O Uso do Conhecimento no Sucesso Terapêutico 45

Possíveis Aplicações Terapêuticas futuras de Canabinóides 50

Membros do Conselho Científico(Resumo Curricular) 68

Normas para Publicação 71

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Acabam de ser publicados, em setembro e outubro do corrente ano de 2014, em Portugal, os diplomas normativos que regulamentam algumas das áreas da Medicina Natural designadas, pelo legislador português, como Terapêuticas não Convencionais (TNC) .

Estas terapêuticas, consagradas na Lei nº 71/2013, de 2 de setembro, como Medicina Tradicional Chinesa, Acupuntura, Naturopatia, Fitoterapia, Homeopatia, Osteopatia e Quiropráxia, foram, agora, regulamentadas em matéria de conteúdo funcional, requisitos para atribuição da carteira profissional, seguro profissional e requisitos mínimos das instalações para o exercício da atividade das TNC.

Na Portaria nº 181/2014, de 12 de setembro, reguladora dos critérios de atribuição da Carteira Pro-fissional, vem já reconhecido, como critério suplementar de apreciação curricular, a publicação em revista ou livro indexado. Trata-se, na verdade, de um reconhecimento legal da importância do estudo sistematizado, organizado e desenvolvido das matérias de medicina natural, como condição de atribui-ção de competências e, inevitavelmente, de desenvolvimento do conhecimento .

É com enorme satisfação que publicamos, no âmbito do Centro de Investigação em Medicina Na-tural, o terceiro número da Revista Científica de Medicina Natural. O esforço, o empenho asso-ciado a um trabalho de equipa em muito têm vindo a dignificar o conhecimento da medicina natural.

Temos como certo, por isso, que este número da revista contribui, mais uma vez, para a consolidação dos conhecimentos e um novo desafio para o desenvolvimento da investigação, em Medicina Natural.

A DiretoraMaria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva

notas prévias

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“An investment in knowledge pays the best interest.”

(Benjamin Franklin)

Um bom investimento hoje, prepara as bases sólidas para um amanhã com qualidade. Assim pretendemos com mais um número da Scientific Journal of Natural Medicine continuar o nosso investimento conjunto na melhoria do conhecimento científico em Medicina Natural.

Neste número apresentamos a continuação de trabalhos de investigação de alta qualidade prévios e abrimos a porta na área da utilização e fitoterápicos como fonte para desenho de fármacos.

Aproveitamos para anunciar a presença da SJNM nas Ias Jornadas Nacionais de Investigação do Centro de Investigação em Medicina Natural a realizar no próximo mês de maio. Está em preparação um nú-mero especial da SJNM subordinado ao tema deste encontro científico.

É com entusiasmo que acolhemos trabalhos originais que visem elucidar os profissionais de saúde, a comunidade científica e o público geral acerca da avaliação, validação, desenvolvimento e integração da Medicina Natural com recurso a estratégias científicas robustas em que o rigor metodológico e formal é de suma importância.

Aguardamos a sua contribuição,

O EditorRui M. Gonçalves, PhD

editorial

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IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES SEGUNDO OS SEIS NÍVEIS ENERGÉTICOS

Diana Isabel Jesus Serrador Moreira Pinho*[email protected]

Resumo:

A construção da sinergia positiva entre a Medicina Ocidental e a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é indissociável do desenvolvimento de estudos baseados em evidências científicas. Conhecer a teoria pode ser o primeiro passo para avançar com dados clínicos estatísticos e com a criação de hipóteses que comprovem ou se opõem à base teórica. A Diferenciação de Síndromes de Doenças Contraídas Exteriormente, apesar de ser um tema mi-lenar, ainda despoleta dúvidas nos alunos e terapeutas de MTC, uma vez que a pouca informação documentada é confusa e pouco aprofundada cientificamente. Por outro lado, a contemporaneidade e a frequência das enfermidades motivadas pela Invasão de Xiè Qi conduz à necessidade de uma constante atualização em relação à caracterização e tratamento das Síndromes associadas, o que poderá proporcionar aos profissionais maior qualidade de resposta a possíveis dificuldades que possam surgir.Assim, constituiu-se o objetivo de realizar um estudo retrospetivo da teoria de Shang Han Lun (Tra-tado das Doenças Febris por Frio Perverso) que assenta sobre um pilar constituído por 6 níveis energéticos, que compreendem uma séria de padrões que mapeiam o curso das doenças causadas por Frio Perverso, evidenciando um sistema de evolução das enfermidades.Após a abordagem pormenorizada de cada um dos seis estágios, verificou-se que esta teoria é bem mais complexa do que aparentemente possa parecer e que a dificuldade dos textos antigos chineses cria lacunas nas traduções e interpretações realizadas.

* Síntese curricular:

Licenciada em Anatomia Patológica, Citológica e Tanatológica (APCT) desde 2006, Pós-Graduada em Gestão da Qualidade e Auditoria em Saúde desde 2007 e Diplomada em Medicina Tradicional Chinesa (MTC) desde 2014. Técnica de Biologia Molecular no Laboratório de Genética e Diagnóstico Pré-Natal (GDPN) desde 2010; Terapeuta de MTC e Formadora em Farmacopeia Chinesa no Instituto Português de Naturologia desde 2014. Em 2005 integrou o Programa Erasmus no âmbito do Curso Superior de APCT com a oportunidade de realizar Estágio Curricular pela Università degli Studi di Firenze, em Florença, Itália. Em 2007 realizou uma Auditoria Interna a uma Clínica Médica Privada no âmbito da Pós-Graduação anteriormente referida. Em 2012/2013 cumpriu o Programa de Estágio de Práticas Clínicas em MTC realizado na Clínica Foz Vital, no Porto.

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█ INTRODUçãO

A Identificação de Padrões segundo os Seis Níveis Energéticos atinge relevo com a publicação de um dos livros clássicos da MTC, o “Tratado das Doenças Febris por Frio Perverso”, da autoria de Zhang Zhong Jing, escrito durante a dinastia de Han do Leste (séc. III, entre 200 - 220 d.C.). A sua obra foi baseada no capítulo 31 do volume do Su Wen do Livro do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing). Conhecida origi-nalmente como “Tratado das Doenças Febris” (Shang Han Za Bing Lun) foi dividida mais tarde, no século XI, em dois volumes: Jin Kui Yao Fang Lun (Resumo das Prescrições do Cofre Dourado) e Shang Han Lun (Tratado das Doenças Febris por Frio Perverso), tendo sido este concebido especificamente para diferenciar doenças exógenas devido a ataques de Frio (Shang Han = ataque por Frio). Desde então, tem-se revelado a sua utilidade (Cesar, s.d.).É considerado um dos marcos milenários, sendo também o primeiro livro clínico que incluiu conjuntamente o mecanismo/causa, métodos terapêuticos, prescrição e fármacos (Chen, 2009).A linha base desta teoria assenta sobre seis estágios que compreendem uma séria de padrões que mapeiam o curso das doenças causadas por invasão de Vento-Frio, que penetra no corpo, causa febre e que estabelece a progressão natural da doença do Yang para Yin, do exterior para o interior, da superfície para a profundidade, do campo energético para o campo físico (Gonçalves, 2013). A cada estágio estão associados sintomas e sinais clínicos muito específicos; a cada estágio estão associados dois determinados meridianos energéticos, um da mão (Shou) e outro do pé (Zu), que se agrupam consoante os parâmetros superlativos e comparativos de Yin/Yang e Interior/Exterior. Este foi o ímpeto que levou Zhang Ji a desenvolver este método (Liu, 2009).No entanto, foram surgindo temporalmente 2 teorias distintas relativamente à ordenação dos níveis energé-ticos (figura 1): uma fundamentada nos meridianos e profundidade energética (a) e outra baseada não só na progressão mais frequente da doença, bem como na gravidade dos sintomas (b).

a)Figura 1 - Seis Níveis Energéticos – 2 Teorias

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b)Figura 1 - Seis Níveis Energéticos - 2 Teorias

Esta teoria não sugere obrigatoriamente que as enfermidades atinjam o primeiro estágio e prossigam gradu-almente até ao sexto – transmissão sucessiva (a). Uma doença pode penetrar diretamente para qualquer nível, “saltar” estágios na sua progressão – transmis-são irregular (b) - passar entre níveis diretamente relacionados (p.e. Tai Yang - Shao Yin) – transmissão direta (c) – ou até encontrar-se em vários níveis simultaneamente ou mesmo mover-se no sentido inverso (figura 2) (Fialho, 2008).

Figura 2 - Formas de Progressão da Doença

Os três estágios Yang encontram-se localizados nas áreas energéticas mais externas do corpo. O Frio é Yin e tende a agredir e a lesar o Yang. Os três estágios Yang correspondem às Síndromes das Vísceras (Fu) e normalmente são Síndromes de Excesso. Se a Xiè Qi atingir as camadas mais profundas (estágios Yin), ma-nifestar-se-ão as Síndromes dos Órgãos (Zang), sendo estas normalmente Síndromes de Vazio. Quanto mais interiormente a energia perversa progredir, maior o esgotamento do Qi e maior a severidade dos danos a nível dos órgãos (Cesar, s.d. & Nong, 2005). A maior ou menor gravidade de lesão pelo Frio depende da força

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da Xiè Qi (fator patogénico) e da sustentabilidade das Substâncias Vitais – Qi, Xue e Wei Qi – do indivíduo.Os seis estágios serão seguidamente analisados, tendo como base o autor original através de algumas compi-lações e traduções de outros autores, que foram realizadas posteriormente.

METODOLOgIAFoi realizada uma pesquisa da literatura publicada, uma pesquisa nas bases de dados eletrónicas (Ebscohost, Pubmed, Scielo, Journal of the Association of Tradicional Chinese Medicine (UK) e Chinese Medical Jour-nal) e uma pesquisa da informação cibernética disponível (fontes secundárias). Segundo Fortin (2003), quanto ao tipo de questão de investigação, este estudo insere-se na classificação de nível I, exploratório-descritivo, uma vez que se pretende descobrir e descrever factos que possuem escassa base bibliográfica e não apresentam estudos prévios. Quanto ao método de obtenção e recolha de dados e ao quadro de referência utilizado, este estudo possui características paradigmáticas do método qualitativo, uma vez que visa a compreensão absoluta e ampla do fenómeno em estudo, procura observar, descrever e interpretar os factos tais como se apresentam, sem controlá-los.

█ 6 NÍVEIS ENERgÉTICOS/ESTÁgIOS: █ ANÁLISE SEMIOLÓgICA E TRATAMENTO

1º ESTÁgIO – TAI YANg (gRANDE YANg)

TAI YANg – o Grande Yang – corresponde ao primeiro estágio Yang, o mais superficial. Este nível inclui o meridiano da Bexiga do pé (Zu Tai Yang Pang Guang Jing) e o meridiano do Intestino Delgado da mão (Shou Tai Yang Xiao Chang Jing). Energeticamente cobre a área das costas, a parte posterior dos membros inferiores e a área mais externa do lado Yang dos membros superiores (figura 3) (Hai, 2005). A principal função deste nível é governar a superfície corporal, dominar Wei Qi e o Ying Qi e ser a barreira de proteção dos restantes níveis, tendo por isso a missão de impedir a invasão de energias perversas (Hai, 2005).

Assim, quando o Vento-Frio ataca, o primeiro nível a ser afetado é exatamente o Tai Yang. A este nível a Xiè Qi encontra-se no exterior e apenas a parte do Qi defensivo do Pulmão está afetada (função). A força dispersante e descendente do Qi do Pulmão encontra-se enfraquecida e o Vento externo aloja-se nos espaços entre a pele e os músculos, prejudicando a circulação do Wei Qi (Maciocia, 2000). Por sua vez, o Zheng Qi, “sobe” à superfície para tentar expulsar a Xiè Qi. Esta batalha entre o Qi Verdadeiro e o fator patogénico dá origem às manifestações sintomáticas das Síndromes do nível Tai Yang (Liu, 2009).As desordens do nível Tai Yang estão divididas em duas prin-cipais categorias: a categoria Tai Yang Meridian (Padrões do Meridiano), a mais comum, e a categoria Tai Yang fu-organ (Padrões do Órgão) (Liu, 2009).

Fig. 3 - Áreas Energéticas: vista posterior

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Tai Yang Meridian: Análise de Sinais e SintomasOs principais sintomas associados a distúrbios desta categoria encontram-se seguidamente descritos (Hai, 2005):

Aversão ao Frio ou ao Vento - “tremer de frio” ou arrepio na pele (estágios iniciais de uma constipa-ção ou gripe); excesso de fator patogénico (Frio e/ou Vento) no corpo sinal que o fator patogénico se encontra no exterior

Rigidez no pescoço (occipital) - obstrução da circulação do Wei Qi e do Ying Qi nos meridianos da Bexiga e Intestino Delgado, que fluem nesta área.

Cefaleia – parte mais Yang do corpo afetada

Dores musculares generalizadas - quando o Wei Qi (yang) ascende para combater o Xiè Qi, os mús-culos perdem a capacidade de movimento (perdem yang)

Pulso flutuante - reflete a subida do Wei Qi/Zheng Qi à superfície para combater o fator patogénico; síndrome de exterior (figura 4).Nota: Se o Wei Qi for suficiente, apenas este subirá à superfície para combater a Xiè Qi; porém se este não for satisfatório, outras formas de Zheng Qi ascenderão para apoiar a Energia Defensiva (Gonçalves, 2013).

Língua rosada com saburra branca e fina - A cor do corpo da língua não sofre alterações porque a patologia não afeta mais do que a superfície. Normalmente, a capa fina observada é mais evidente na parte anterior da língua e nos bordos (Jiao Superior). A cor branca da saburra reflete a natureza fria do fator patogénico (Ferreira, 2013).

Quadro 1 - Sintomas gerais do estágio

Figura 4 - Camadas energéticas e subida do Wei Qi à superfície

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Além destes sintomas cardiais existem muitos outros (como rinorreia, espirros, tosse, garganta inflamada, etc…) que se podem manifestar devido ao comprometimento da circulação dispersante e descendente da Energia do Pulmão (Maciocia, 2000).De acordo com a maior prevalência de Vento ou de Frio, com a virulência do fator patogénico e da própria constituição do paciente, é possível diferenciar o Padrão do Meridiano de Tai Yang em duas principais sín-dromes distintas: Zhongfeng e Shanghan (Hai, 2005).

ZHONgFENg – ataque de Vento-Frio com prevalência de Vento na superfície do corpo. Trata-se de uma síndrome de Deficiência, uma vez que o Wei Qi já se encontra numa condição enfraquecida e é facilmen-te vencido pelo Vento. Esta síndrome é caracterizada por uma desarmonia entre o Ying Qi e o Wei Qi e apresenta para além dos sintomas acima mencionados que são comuns a ambas as síndromes, as seguintes características (Hai, 2005):

Maior aversão ao Vento do que ao Frio - excesso de Vento na superfície do corpo

Febre branda - resulta da tentativa do Qi Defensivo expulsar o fator patogénico

Pulso fraco Yin - pulso torna-se mais fraco na posição chi ao anoitecerPulso regular ou uniforme – porque o desequilíbrio só se encontra a nível do Meridiano

Sudorese ligeira – sintoma crucial na distinção destas duas categorias. Wei Qi não é forte o suficiente para controlar a abertura e fecho dos poros, o que dá origem ao extra-vasamento da Ying Yin Qi (energia nutritiva) que não consegue ser sustentada/protegida pela Wei Qi enfraquecida

Quadro 2 - Sintomas da Síndrome de Zhongfeng

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SHANgHAN – indivíduos energeticamente equilibrados a nível da pele e músculos têm maior tendência perante um ataque forte de Vento-Frio padecerem com prevalência de Frio na superfície do corpo. Trata-se de uma síndrome de Plenitude caracterizada pelo excesso de Frio no corpo que “congela” a ligação ao exte-rior e bloqueia a parte Yang da Energia Defensiva. Os sintomas específicos desta síndrome são (Hai, 2005):

Maior aversão ao Frio do que ao Vento - excesso de Frio na superfície do corpo

Febre com calafrios:Febre - resulta da tentativa do Qi Defensivo expulsar o fator patogénico, mas uma vez que os poros se encontram fechados (Frio + Wei Qi forte) o calor não é libertado no exterior (febre mais alta do que na síndrome anterior)Calafrios – formação de uma camada de frio debaixo da pele que impede o Wei Qi chegar à superfície e de aquecer a pele

Ausência de sudorese – os poros ficam fechados pelo Frio resultando na estagnação do Wei Qi e do Ying Qi

Dor de cabeça e dores musculares intensas (pantalgia) – o Qi não flui

Pulso flutuante e apertado – o pulso apertado é devido ao Frio que promove a vasoconstrição dos vasos sanguíneos na tentativa de preservar o calor que resta

Ligeira dispneia e tosse, secreção nasal branca – Frio bloqueia da energia descendente e dispersante do Pulmão, causando inversão e desregulação na circulação do Qi

Quadro 3 - Sintomas da Síndrome de Shanghan

Tai Yang fu-organ: Padrões do Orgão – breve abordagem…

Os Padrões do Órgão tratam-se de influências patogénicas derivadas ao estado de desordem do Padrão Tai Yang Meridian. Quando o fator patogénico não é expelido na superfície, este transforma-se em Calor e pode progredir pelos Meridianos Tai Yang (principalmente o Meridiano da Bexiga) até atingir a Víscera. Assim, pode-se afirmar que estes padrões são Síndromes de Vento-Frio do Meridiano Tai Yang remanescente com retenção de Calor na Bexiga (Liu, 2009). Clinicamente existem dois padrões: Acúmulo de água no Tai Yang e Acúmulo de sangue no Tai Yang.

Acúmulo de água no Tai YangA patogénese deste padrão está relacionado com a penetração da Xiè Qi no sistema urinário (Bexiga), com-prometendo a função de transformação e transporte de água, tornando o Qi incapaz de transformar os

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fluidos e gerando estagnação no ciclo da água com acumulação de água nos músculos e na pele. Sintomaticamente manifestam-se sinais clínicos de disfunção do trato urinário como retenção uri-nária, disúria, distensão e plenitude abdominal e tensão pélvica dolorosa (ocidentalmente pode-se comparar com uma cistite) (Liu, 2009). O dese-quilíbrio no ciclo da água origina sede e em casos mais severos podem provocar náuseas e vómitos logo após ingestão de líquidos, uma vez que estes não “descem” ao Rim e tendem a exteriorizar (in-versão). Manifestações como febre branda, aver-são ao Vento e ao Frio, transpiração, língua com saburra branca e pulso flutuante são indicativas que o fator patogénico ainda se encontra presen-te. O pulso rápido é sintoma de Calor no Interior (Hai, 2005).

Acúmulo de sangue no Tai YangÀ semelhança do padrão anterior, esta Síndrome surge como resultado da transformação do fator patogénico da superfície (Vento-Frio) em Calor e evolução do mesmo pelo meridiano Tai Yang até Bexiga. O Calor seca/evapora os líquidos, afetan-do o Sangue, gerando a sua retenção e aglutina-ção (hemoconcentração). A Estase de Sangue e Calor acumulam-se a nível do Jiao Inferior (Bexiga, Intestinos, útero). Sintomaticamente manifestam--se sinais clínicos de tensão pélvica dolorosa, forte distensão e plenitude abdominal (por vezes com formação de massas), micção dolorosa, urgência e incontinência urinária, hematúria, alterações intestinais. O Calor patogénico provoca a coa-gulação do Sangue, não permitindo que este flua livremente, agitando a Mente, sendo por vezes observados sinais de perturbação mental. Ainda poderá ocorrer espasmos uma vez que os múscu-los se encontram em deficiência porque não são adequadamente nutridos pelo Sangue e pelo Fíga-do (Hai, 2005).

Por vezes o sistema genital pode ser afetado, com manifestações de dismenorreia ou infeção vaginal, uma vez que o Sangue do Fígado também está es-tagnado (Hai, 2005).A língua vermelha escura com pontos violáceos e o pulso rápido característicos desta síndrome são sintomas de Calor no Interior e de Estase de Sangue. O pulso profundo rugoso deve-se à for-ma irregular a que o Qi e o Sangue circulam (Hai, 2005).

2º ESTÁgIO – YANg MINg (YANg BRILHANTE)

O nível Yang Ming inclui o meridiano do Estôma-go do pé (Zu Yang Ming Wei Jing) e o meridiano do Intestino Grosso da mão (Shou Yang Ming Da Chang Jing). Energeticamente cobre o lado mais interno da área Yang dos membros superiores e inferiores (rever figura 3 pag.8 e figura 5) (Hai, 2005).

Figura 5 - Áreas Energéticas vista anterior

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Quando atinge este estágio significa que o fator patogénico conseguiu penetrar no interior (Síndrome Inter-na) e a luta entre o Zheng Qi e a Xiè Qi ocorre entre a camada do Qi e do Ying Qi, i.e. próximo aos meridia-nos principais/energia nutritiva (sistema digestivo). Ao penetrar no Interior, o Frio transforma-se em Calor nocivo, esgotando os líquidos orgânicos e manifestando-se sinais de secura (Mitchell & Wiseman, 1999).

Considera-se 3 possíveis causas mais comuns de progressão para o nível Yang Ming:1. Por administração de terapêutica inadequada ou insuficiente, o fator patogénico Vento-Frio não é detido

no nível Tai Yang ou no nível Shao Yang, progredindo para o nível Yang Ming. Nota: uso de diaforéticos, purgativos ou diuréticos desadequadamente e em excesso pode esgotar os líquidos e levar à secura do Estômago e Intestinos proporcionando a passagem do fator patogénico para o nível Yang Ming.

2. Condição constitucional de insuficiência de líquidos orgânicos, podendo propiciar um ataque direto da Xiè Qi a este estágio.

3. Recuperação do Yang do Baço no nível Tai Yin com retorno ao nível Yang Ming (Hai, 2005).

À semelhança do que foi descrito no nível anterior, as Síndromes Yang Ming podem ser divididas em dife-rentes esferas consoante a condição de excesso ou de deficiência (Hai, 2005). Nas Síndromes de Excesso existe uma exuberância do fator patogénico nos canais energéticos Yang Ming ou nos orgãos deste mesmo estágio (Estômago/Intestino Grosso), dando origem deste modo a duas categorias distintas: categoria Yang Ming Meridian (Padrões do Meridiano) e Yang Ming fu-organ (Padrões do Órgão) (Hai, 2005). Os principais sintomas comuns a ambas as Síndromes de Excesso encontram-se seguidamente descritos:

Febre Alta – reflexo da luta entre o Zheng Qi e a Xiè QiAmbas as energias neste momento são bastante fortes: a Xiè Qi porque conseguiu penetrar vencendo a Wei Qi tornando-se mais resistente; e a Zheng Qi porque existe agora em maior quantidade na camada onde decorre esta luta. Este acréscimo de energia, faz aumentar ainda mais o Calor interno. As febres neste nível são mais severas do que no nível Tai Yang

Aversão ao Calor – excesso de Calor interno

Não aversão ao Frio – indica que o fator patogénico não se encontra no Exterior

Pulso amplo e forte – traduz a força da luta entre as energias e a sua quantidade (Ferreira, 2013)

Quadro 4 - Sintomas gerais do estágio Yang Ming

Normalmente a Síndrome do Meridiano antecede o padrão do Órgão, embora ambas possam ocorrer si-multaneamente (Hai, 2005). No primeiro ainda subsiste líquidos embora se encontrem a esgotar, enquanto no segundo impera a secura completa dos Jin Ye a nível dos órgãos do sistema digestivo (Gonçalves, 2013).

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Yang Ming Meridian: Análise de Sinais e Sintomas

No Padrão do Meridiano, o Calor é abundante no sistema digestivo numa altura em que o quimo (bolo ali-mentar) ainda não foi totalmente transformado em fezes (Liu, 2009).Para além dos sintomas acima mencionados este Padrão é ainda caracterizado pelos seguintes:

Transpiração profusa – Calor abre os poros da pele e dispersa os líquidos para o exterior; Calor faz subir e evaporar os líquidos na superfície

Polidipsia – a diminuição de líquidos orgânicos, provoca uma polidispsia de substituiçãoQuanto mais água ingere, mais transpira, porque o Pulmão tenta constantemente humedecer a superfície mas infrutuosamente uma vez que o Calor impera e mantêm-se a consumir/dispersar os líquidosNota: preferência por bebidas frias: Calor interno

Dispneia – O Pulmão entra em hiperfunção no mecanismo de compensação de dispersão dos líquidos, ficando em Vazio e tornando a respiração difícil e áspera

garganta seca – excesso de Calor e insuficiência de fluidos

Face vermelha – Calor tende a subir e a manifestar-se na face

gosto amargo na boca (halitose) ou falta de paladar – Calor no Estômago

Sensação de peso no corpo – O Calor bloqueia a circulação de Qi

Agitação com delírio – Calor pode perturbar o Shen

Língua vermelha – sinal de CalorSaburra amarela, espessa e seca - a saburra traduz os líquidos/Yin do Estômago:Se é espessa é indicativa de condição de Excesso; amarela é sinal de Calor e seca significa que o Calor esgotou os líquidos no Estômago

Pulso flutuante e rápido – tentativa do corpo colocar o Xiè Qi à superfície para expulsar o fator pato-génico; rápido – o Calor acelera a circulação de sangue nos vasos sanguíneos

Quadro 5 - Sintomas gerais do estágio Yang Ming Meridian

Os sinais nesta etapa são caracterizados por os “quatro grandes”: grande febre, grande sede, grande transpiração, grande pulso (Ferreira & Gonçalves, 2013).

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Yang Ming fu-organ: Análise de Sinais e Sintomas

O Padrão do Órgão reflete também a progressão do Calor perverso para o Interior, atingindo não só o me-ridiano como também a víscera (Estômago e o Intestino Grosso), interferindo com o quimo e ressequindo completamente os líquidos nas mesmas, provocando uma estagnação por secura, resultando principalmente em obstipação e ausência de vómitos (Liu, 2009)O Padrão do Órgão pode ser dividido em 3 graus de gravidade: ligeira, moderada e severa. Alguns dos sintomas são comuns a todas as subcategorias embora os de maior gravidade tendem a aparecem na forma mais severa e de prognóstico mais reservado. O quadro 13 engloba os diferentes sinais/sintomas bem como a(s) subcategoria(s) mais frequentemente associada(s)) (Hai, 2005).

Febre:

• com transpiração profusa - evaporação dos líquidos orgânicos pelo Calor excessivo, causando secura no Estômago e no Intestino (ligeira e moderada)

• diária recorrente mais pronunciada pela tarde – o Qi dos meridianos Yang Ming é mais abundante pela tarde entre a 15h-17h pelo que a febre causada por Calor neste estágio tende a ocorrer durante estas horas (moderada e grave)

• ligeira com transpiração nas palmas das mãos e plantas dos pés – a condição de ligeira significa que o Calor se encontra profundamente no interior; vazio de Yin provoca o Calor nos 5 palmos (grave)

Fezes:

• secas e ligeira obstipação - Calor perverso esgotou os líquidos, causando secura e estagnação de Qi no Intestino (ligeira + moderada)

• com alimentos mal digeridos + obstipação - excesso de Calor no Estômago, acelera o metabolismo: recebe os alimentos e envia de imediato para os intestinos. Baço não tem tempo para digerir os ali-mentos; secura e estagnação de Qi no IG (moderada)

• obstipação severa (estercoroma) – aglomerado/retenção de massas secas/resíduos fecais no intesti-no; total ausência de água nas fezes (grave)

Dor abdominal:

• dor exacerbada pela palpação (ausência de distensão) – síndrome de Excesso no Jiao Médio e Intes-tinos com estagnação de Qi (ligeira)

• dor exacerbada pela palpação + distensão abdominal – estagnação e bloqueio da circulação de Qi no Intestino Grosso com aumento de volume intra-abdominal, devido à perda de líquidos orgânicos (moderada)

• distensão dura e dor no abdómen (mesmo com ausência de pressão) (grave)

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Mente:

• irritabilidade e inquietude - Calor perturba a mente e provoca alteração no fluxo de Qi; (ligeira)• confusão mental - Calor Interno obstrui a Mente; (moderada e grave)• coma ou delírio/agitação mental “olhar firme com ansiedade e temor, remexendo na roupa e nos

lençóis” – discurso de delírio, Shen perde a sua morada (Liu, 2009) (grave)

Língua:

• vermelha com saburra amarela, espessa e seca – língua idêntica à Síndrome do Meridiano, mas a espessura da saburra é ainda mais pronunciada, uma vez que a condição de Excesso nesta Síndrome é superior à anterior (ligeira, moderada e grave)

Pupilas dilatadas e falta de reação à luz (grave)Dispneia – invasão do fator patogénico no Pulmão através do Intestino Grosso (Zang acoplado) (grave)

Pulso:

• rápido – o Calor acelera a circulação de sangue nos vasos sanguíneos (ligeira, moderada e grave)• escorregadio – Fogo no Estômago: aumenta o yang, impulsiona o Qi e o sangue, fluindo fácil e

suavemente pelos vasos (Jiang, 2004) (ligeira, moderada)• profundo – retenção interna do fator patogénico (ligeira, moderada e grave)• apertado – superabundância de Calor patogénico com consumo dos Jin Ye (grave)

Nota: pulso hesitante – sinal de prognóstico muito reservado (grave)

Quadro 6 - Sintomas da Síndrome Yang Ming fu-organ

Yang Ming: Síndromes Degenerativos – breve abordagem…

Síndrome de Icterícia no Yang Ming (Tipo Yang)

O Calor patogénico ao atingir o Jiao Médio (Baço e Estômago), induz a estagnação e o enfraquecimento do sistema digestivo prejudicando a função de transformação e transporte das Essências Alimentares, dando origem a Humidade e Fleuma. A progressão dessa estagnação bloqueia o suave fluxo de Qi do Fígado e da Vesícula Biliar, influenciando o fluxo da bílis pelo sistema de excreção biliar, o que origina icterícia. Esta surge como resultado da vaporização da Humidade-Calor (Icterícia Yang), forçando a bilirrubina a sair pela pele. No entanto, o factor patogénico Calor é demasiado profundo e interior para poder ser expulso por sudorese, pelo que o paciente não apresenta neste quadro sinais de transpiração, à excepção do pescoço, não sendo porém suficiente para eliminar o factor patogénico. Se o fluxo da bílis for descendente a urina terá uma co-loração muito amarela; se ascender a esclerótida ocular tornar-se-à amarelada. Deste modo, o Calor Interior persiste provocando por um lado febre e sede, e por outro inquietude da Mente, causando irritação e agita-ção. Pode surgir também disúria e distensão abdominal, indicativos de retenção de Humidade no Interior. A língua normalmente apresenta-se vermelha-escura como sinal de estagnação e com saburra amarela e pega-josa típica do Calor com retenção de Humidade. O pulso é escorregadio, rápido e tenso. Ocidentalmente, esta Síndrome pode ser comparada com um Síndrome de Gilbert ou, em casos mais graves, uma hepatite (Hai, 2005).

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Os dois restantes padrões degenerativos Acúmu-lo de Calor no Yang Ming e Acúmulo de San-gue no Yang Ming tratam-se de uma evolução dentro do próprio estágio Yang Ming, da camada Qi para a camada Ying e Xue, respetivamente, em-bora não haja relevância bibliográfica ou conteú-dos suficientemente documentados para abordar profundamente os mesmos.

3º Estágio – Shao Yang (Yang Menor)

O Shao Yang é o nível intermédio entre os níveis Yang (Meio Externo-Meio Interno), e inclui o me-ridiano da Vesícula Biliar do pé (Zu Shao Yang Dan Jing) e o meridiano do San Jiao da mão (Shou Shao Yang San Jiao Jing). Energeticamente cobre a área intermédia do lado Yang dos membros su-periores e dos membros inferiores e área lateral da cabeça (parietal/temporal) (Hai, 2005). O factor patogénico neste estágio localiza-se a ní-vel intermédio e a luta entre o Zheng Qi e a Xiè Qi ocorre entre o meio externo (Biao) e o meio interno (Li) (Gonçalves, 2013). O bloqueio de Qi a nível do Shao Yang traduz-se num bloqueio do fluxo de Qi da Vesícula Biliar - não permitindo que este se mova suavemente - e consequentemente num bloqueio do fluxo de Qi do Fígado uma vez que a Vesícula Biliar é respon-sável também pelo seu bom funcionamento (Liu, 2209).Considera-se 2 possíveis causas mais comuns de progressão para o nível Shao Yang:1. Invasão direta da Xiè Qi a este estágio.

2. O factor patogénico Vento-Frio não é detido no nível Tai Yang ou Yang Ming, progredindo para o nível Shao Yang.

A etiopatogenia deste estágio, contrariamente ao que tem sido descrito, não se divide entre Síndro-mes do Meridiano e Síndromes do Órgão. Nes-te estágio, existe apenas dois padrões gerais, que

poderão ser interpretados de acordo com a causa de progressão da doença, acima indicada, embo-ra não seja tão linear. A primeira tende a causar sintomas relacionados com a Ascensão do Fogo da Vesícula Biliar enquanto a segunda reflete a progressão do fator patogénico e a sua luta com o Zheng Qi, localizado em Biao-Li gerando Al-ternância entre os Calafrios e a Febre (Hai, 2005 & Liu, 2009).Estes dois padrões são diferenciados de acordo com os principais sintomas apresentados.

Shao Yang: Análise de Sinais e Sintomas

Ascensão de Fogo da Vesícula Biliar pelo Me-ridiano Shao YangEste padrão é caracterizado principalmente pelo sabor amargo na boca, garganta seca e visão turva (Liu, 2009). Todos estes sintomas relacionam-se com a vaporização do Calor da Vesícula Biliar pelo canal Shao Yang. O amargo reflete o sabor Fogo (Calor). A garganta seca reflete a exaustão dos fluidos causada pelo Fogo ascendente da Vesícula, enquanto a visão turva é causada pela presença do factor patogénico no trajeto do meridiano e pela relação da Vesícula Biliar com o Fígado, uma vez que este rege os olhos (Gonçalves, 2013).Uma vez que o trajeto do canal Shao Yang passa pelo peito, olhos e ouvidos, a presença de Calor perverso no meridiano pode causar outros sin-tomas como alterações visuais e auditivas como conjuntivites, surdez, tinidos, e opressão na região torácica e intercostal e ainda palpitações e tosse (Hai, 2005)

Alternância entre os Calafrios e a FebreEste segundo padrão é caracterizado pela alter-nância entre calafrios e febre, que reflete, como já referido, a luta entre o Zheng Qi e o fator pa-togénico entre o meio externo e o meio interno. O Calor perverso não foi eliminado nos níveis anteriores e o Wei Qi encontra-se fraco. A Xiè Qi

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tende a estagnar em Biao-Li, gerando uma reação de Vento Interno que alterna entre períodos de Vazio com períodos de Plenitude. Quando tende a superficializar origina os Calafrios, quando tende a interiorizar tende a gerar Febre (figura 6) (Hai, 2005).Por vezes, o agente patogénico fica retido na camada intermédia, em equilíbrio com o Zheng Qi (sem pre-valência de nenhum dos dois tipos de Qi), não havendo manifestações sintomáticas. No entanto, a Xiè Qi, não é eliminada, ficando assim incubada. À comparência de uma debilidade do nosso Wei Qi, esse agente adormecido manifestar-se-à (Braga, 2011).

Figura 6 - “Li” - Meio-Externo e “Biao” – Meio-Interno Para além deste sinal, é possível observar também sintomas de plenitude nos hipocôndrios/flancos, cefaleia temporal, humor deprimido, disforia e irritabilidade proveniente da estagnação do Qi da Vesícula Biliar que controla o suave fluxo de Qi do Fígado. Uma vez que esta função se encontra comprometida, o suave fluxo de Qi dificilmente controlará as emoções e tenderá a acumular e a estagnar no trajeto do meridiano (Ferreira, 2013).Ainda é possível apresentar sintomas de perda de apetite e dor abdominal que refletem a ação do Fígado sobre o Baço, impedindo a sua função e vómitos relacionados com o Fogo da Vesícula Biliar que tende a ascender e a prejudicar a direção descendente do Qi do Estômago, causando a sua inversão. Na óptica da Teoria dos 5 Movimentos, estes sintomas espelham o excesso do elemento Madeira afetando o elemento Terra (Mitchell & Wiseman, 1999).Qualquer que seja o padrão, o pulso revela-se firme ou em corda, o que indica a estagnação do Qi da Vesícula Biliar e do Fígado. A língua apresenta saburra branca, escorregadia e fina, unilateral especialmente do lado direito que manifesta a localização do fator perverso (Frio) (Ferreira & Gonçalves, 2013).

4º ESTÁgIO – TAI YIN (YIN MAIOR)

TAI YIN – o Yin Maior – corresponde ao mais superficial estágio dos três Yin.O nível Tai Yin inclui o meridiano Baço/Pâncreas do pé (Zu Tai Yin Pi Jing) e o meridiano Pulmão da mão (Shou Tai Yin Fei Jing) e energeticamente cobre a área mais externa do lado Yin dos membros superiores e inferiores (Hai, 2005). Dado que, o Pulmão já se encontra afetado energeticamente nos níveis anteriores, os sinais deste nível refle-tem a influência sobre o Sistema Digestivo/Jiao Médio i.e. o Baço e o Estômago (Gonçalves, 2013).Considera-se 3 possíveis causas mais comuns de progressão para o nível Tai Yin:1. Tratamento inapropriado ocorrendo progressão progressiva da Xiè Qi pelas camadas Yang.

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2. Condição constitucional de Deficiência de Yang de Baço propicia um ataque direto da Xiè Qi – principalmente de Humidade-Frio – ao Jiao Médio.

3. Transmissão direta entre os níveis Yang Ming e Tai Yin. Ambas as Síndromes estão relacionadas com Jiao Médio, podendo existir sintomas em comum (p.e. dor abdominal, icterícia), embora sejam diferenciadas facilmente pela Identificação de Padrões segundo os Oito Príncipios: Yang-Plenitude-Calor: nível Yang Ming e Yin-Vazio-Frio: nível Tai Yin.

A penetração da Xiè Qi até ao Tai Yin pressupõe a pré-existência de deficiência do Yang do Baço, podendo este ser constitucional, como p.e. no caso da doença celíaca, ou ser devido à luta prolongada entre a energia defensiva e o fator patogénico (figura 7).

Figura 7 - Influência entre os Zhang-Fu em Tai Yin

O desgaste contínuo de Wei Qi e Zheng Qi (1) leva a uma tentativa compensatória de produção destas mes-mas energias pelo Baço e pelo Pulmão (2) para que o organismo possa combater o fator patogénico, o que faz com que estes órgãos entrem facilmente em desgaste energético e se manifestem sinais de Vazio de Yang de Baço. Por outro lado, a necessidade constante de nutrir o Yang do Baço conduz também a um desgaste do Yang de Rim (3) - base de todo o Yang (4) – o que consecutivamente se refletirá também em Vazio de Yang de Coração (5) (Gonçalves, 2013).

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Tai Yin: Análise de Sinais e SintomasComo acima referido, o principal Síndrome presente neste nível é o Vazio de Qi e de Yang de Baço com retenção de Frio-Humidade, uma vez que não existe Yang que possa transformar ou mover a Humidade (Hai, 2005). Deste modo, a presença de fator patogénico neste estágio, é caracterizado, para além da sensação de Frio Interno, pelos seguintes sintomas (quadro 22):

Distensão abdominal – perda das funções de transporte e transformação dos Jin Ye pelo Baço, com acumulação dos fluidos sob o Jiao Médio, dando origem a Humidade.

Vómitos – presença de Humidade no epigastro, que impede a circulação descendente o Qi do Estôma-go, causando a sua inversão.

Disfagia – perda das funções de transporte e transformação das Essências Alimentares por deficiência de Baço, interferindo na digestão e no apetite. Uma vez que o Baço não cumpre as suas funções, diminui a sensação de apetite como mecanismo de defesa, para que o mesmo não tenha que “trabalhar”

Diarreia ou fezes com alimentos mal digeridos – o Baço não tem capacidade para digerir e transfor-mar os alimentos e os fluidos, enviando os mesmos não processados para os intestinos

Dor abdominal ocasional e espasmódica – estagnação dos alimentos no Jiao Médio, por incapacidade de ação do Baço e do Estômago e deficiência de Yang (dor do tipo Vazio que melhora com pressão e com o Calor)

Ausência de sede – deficiência de Yang no organismo, traduz-se em frio e acumulação de líquidos. Excesso de Jin Ye no organismo diminui a necessidade da sua ingestão

Lassitude: • mental – o Baço abriga o pensamento; quando este Zang se encontra debilitado enfraquece a capa-

cidade de pensar, estudar, concentrar, determinar e memorizar• física – o Qi refinado dos alimentos não são corretamente distribuídos pelos músculos, ficando

estes subnutridos e o seu Qi estagnado e debilitado

Língua pálida, com saburra branca e escorregadia – reflete não só a presença do Frio, como a defi-ciência de Yang e a presença de Humidade no organismo

Pulso:

• regular – uma vez que o fluxo de Qi de Fígado não se encontra afetado• fraco – porque estamos perante uma deficiência de Yang e de Qi, não havendo energia suficiente

para preencher os meridianos na totalidade• lento - o pulso lento é devido ao Vazio de Yang Qi que leva à lentidão do Zong Qi e ao acúmulo/

estagnação de fluidos tornando os processos orgânicos lentos

Quadro 7 - Sintomas da Síndrome Tai Yin

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Síndrome de Icterícia no Tai Yin – breve abordagem…

Esta Síndrome surge, não de uma causa externa, mas sobretudo por um Vazio Interno de Qi e Yang de Baço, com acumulação de Frio-Humidade no Jiao Médio, no seguimento de um tratamento ineficaz ou desadequa-do em Tai Yin. O Frio e a Humidade interna bloqueiam o fluxo de Qi do Fígado e da Vesícula Biliar, impe-dindo a excreção natural da bílis, causando o seu extravasamento no interior - icterícia. Além deste sintoma, outros referidos e explicados no ponto anterior como laxitude, anorexia, diarreia, aversão ao Frio e distensão abdominal, poderão estar presentes nesta síndrome, uma vez que deriva da Síndrome Tai Yin. Nestes casos, a língua apresenta-se pálida com saburra pegajosa e pulso profundo e fraco, como visto anteriormente, mas retardado, uma vez que a função dos órgãos do elemento Madeira, que controlam o suave fluxo de Qi – Fí-gado e Vesícula Biliar – se encontram condicionados (Hai, 2005).

5º ESTÁgIO – SHAO YIN (YIN MENOR)

SHAO YIN – o Yin Menor – corresponde ao estágio intermédio dos três Yin.O nível Shao Yin inclui o meridiano do Rim do pé (Zu Shao Yin Shen Jing) e o meridiano do Coração da mão (Shou Shao Yin Xin Jing) que são a raiz do nosso corpo, compõem o eixo Shaolin ou Shenjing (relação entre corpo-mente/espírito) e governam a Água e o Fogo. Energeticamente cobrem a área mais interna do lado Yin dos membros superiores e dos membros inferiores (Hai, 2005). Quando a Xiè Qi atinge este estágio, é a nível da Mente e da Essência, que se manifestam os sinais e sintomas de desarmonia (Gonçalves, 2013).Em condições fisiológicas normais, o Fogo (Yang) do Coração desce ao Rim e junta-se ao Rim-yang, para aquecer o Rim-yin, ajudando na transformação e fluidez dos Fluidos Corpóreos (Jin Ye) e a impulsionar a fonte de Fogo de todos os sistemas internos – Mingmen. Por outro lado, a Água (Yin) sobe ao Coração para nutrir o seu yang e impedi-lo de tornar-se hiperativo (figura 8). Quando a Água e o Fogo estão em harmonia, um equilíbrio relativo entre o yang e o yin é mantida garantindo a condição sã (Marques, 2009).

Figura 8 - Coordenação entre o Coração e o Rim e suas principais funções

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A doença em Shao Yin é caracterizada por fraqueza geral, derivada de um Síndrome de Vazio no Eixo Shao-lin (Coração e/ou Rim) e a depleção, isto é, a diminuição drástica, do equilíbrio Yin-Yang, aliado a um pulso filiforme e débil, que traduz o estado de deficiência interna e gravidade do quadro (Hai, 2005).As desordens do nível Shao Yin estão divididas em duas principais categorias que surgem de acordo com a constituição do paciente e que serão seguidamente abordados:

• Transformação em Frio• Transformação em Calor

Shao Yin - Transformação em Frio: Análise de Sinais e Sintomas

O tipo de Transformação em Frio é a doença Shao Yin mais comum. Esta Síndrome deriva do Vazio de Yang de Coração e Rim, permitindo que a Xiè Qi invada as camadas profundas e se transforme em Frio Interno, sob a influência do Yin, esgotando o conjunto de funções Yang como o aquecimento, a transformação dos alimentos e o metabolismo dos líquidos, prejudicando outros Zangs diretamente relacionados como o Baço (Hai, 2005). Os principais sintomas associados a esta categoria encontram-se seguidamente descritos:

Aversão ao Frio/Calafrios – sinal de Frio Interno por deficiência do Fogo de Mingmen, que falha por sua vez no aquecimento de todo o organismo

Membros frios – insuficiência de Yang de Rim que não apresenta Qi suficiente para fortalecer os ossos, causando frio e debilidade nos joelhos. O Baço também não terá a capacidade de nutrir os 4 membros

Poliúria clara – falha no controlo da circulação dos Jin Ye acelerando a sua excreção e sem tempo para se concentrar em produtos de excreção, originando a cor clara

Sede com preferência por bebidas quentes – perda constante de líquidos com a necessidade de os repor. Preferência por bebidas quentes para aquecer.

Diarreia com alimentos não digeridos – ausência de nutrição do Baço pelo Rim, ficando sem capa-cidade para cumprir a sua função de digerir e transformar os alimentos e os fluidos, enviando-os não processados para os intestinos

Impotência sexual – falha no aquecimento da Essência por parte de Mingmen; energia sexual privada da nutrição da Essência e do Yang

Palpitações – falta de força Yang do Coração para regular o batimento cardíaco

Sonolência e postura fetal – deficiência do Yang do Coração, que não é capaz de albergar a Mente resultando na fadiga mental e sonolência; a posição de encolhimento para aquecer e conservar o pouco Yang existenteLíngua:

• Pálida: o Yang insuficiente (principalmente do Coração) não consegue transportar o Xue para a língua• Saburra branca: excesso de Yin no Estômago• Saburra húmida: o Yang insuficiente não permite a transformação dos Fluidos, os quais se vão

acumulando

Quadro 8 - Sintomas da Síndrome de Transformação em Frio no estágio Shao Yin

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Shao Yin - Transformação em Calor: Análise de Sinais e Sintomas

Nesta categoria, considera-se 2 possíveis causas de progressão para o nível Shao Yin: os fatores perversos externos transformam-se em Calor, sob a influência do Yang Interno, penetrando pelo Interior e prejudi-cando o Yin verdadeiro; a Deficiência constitucional do Yin (principalmente do Yin do Rim) permitindo o ataque direto ao estágio Shao Yin. Qualquer um dos casos, trata-se de um declive/deficiência de Yin com hiperatividade do Yang (Hai, 2005).Deste modo, como referido anteriormente, a deficiência de Yin do Rim impede o fluxo ascendente do mesmo e consequentemente a completa nutrição do Yin de Coração que acaba por se tornar igualmente deficiente, conduzindo à perda de controlo do seu Yang e à ascendência hiperativa do Fogo por Vazio do Co-ração, afetando a Mente. A Água não flui em ascendência para nutrir e resfriar/controlar o Fogo do Coração, surgindo sinais de Deficiência da Água e superabundância de Fogo (Mitchell & Wiseman, 1999).

Os principais sintomas associados a distúrbios desta categoria são:

Agitação – deficiência de Yin do Rim não nutre o Coração e a desarmonia entre a Água e o Fogo leva a hiperatividade do Fogo do Coração

Insónia – deficiência de Yin do Rim conduz à deficiência de Yin do Coração, perturbando a morada do Shen, permitindo que este não se enraíze e vagueia à noite

Boca e garganta seca e inflamada – não só devido à escassez dos fluidos como à ascendência do Fogo por Vazio do Coração

Sabor amargo/queimado na boca todo o dia - ascendência do Fogo do Coração à boca. O sabor amargo é o sabor do Fogo

Urina escassa e concentrada – deficiência de Yin de Rim provoca a escassez dos Fluídos Corpóreos (Jin Ye), conduzindo à sua secura. Devido a esta falta de líquidos, a relação produtos de excreção da urina versus água eliminada é demasiado baixa, tornando a urina concentrada

Língua:

• Ponta vermelha: a ponta reflete a condição do Coração. Vermelha reflete o Calor por Vazio no órgão• Sem saburra: deficiência de Yin de Rim, interferindo na escassez de líquidos de todo o organismo,

como do Estômago, refletindo na saburra lingual

Pulso rápido e fino: reflete Calor (acelera o batimento cardíaco) mas por deficiência (falta de Qi para preencher os meridianos)

Quadro 9 - Sintomas da Síndrome de Transformação em Calor no estágio Shao Yin

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24 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3

6º ESTÁgIO – JUE YIN (YIN TERMINAL)

JUE YIN – o Yin Terminal – corresponde ao último estágio, o mais profundo dos três Yin, e ao ponto extremo do Yin. Jue Yin é uma fase relativamente tardia da progressão da doença com perda completa de equilíbrio entre o Yin e o Yang, mas também o início do ponto de transformação. Quando o fator patogénico atinge a sua energia máxima, a doença atinge o seu limite e inicia-se o seu próprio declínio. As Síndromes deste capítulo são mais complexas e mais graves do que as dos restantes estágios. São Síndro-mes que apresentam alterações patológicas de Frio ou Calor extremo ou até mistas i.e. em simultâneo (Hai, 2005).O nível Jue Yin inclui o meridiano do Fígado do pé (Zu Jue Yin Gan Jing) e o meridiano do Pericárdio/Mestre-Coração da mão (Shou Jue Yin Xin Bao Jing). Energeticamente cobrem a área intermédia do lado Yin dos membros superiores e dos membros inferiores. Uma vez que o meridiano do Fígado está intimamente ligado ao da Vesícula Biliar e por sua vez ambos têm enorme influência sobre o Estômago, as Síndromes de Jue Yin, apresentam-se frequentemente como uma doença destes três Zang-Fu (Hai, 2005).Considera-se 3 possíveis causas mais comuns de progressão para o nível Jue Yin:1. Transmissão direta entre o nível Shao Yang e Jue Yin.

2. Tratamento inapropriado ocorrendo progressão sucessiva da doença da camada anterior – Shao Yin - para o nível terminal – Jue Yin.

3. Condição constitucional de Deficiência propicia um ataque direto da Xiè Qi ao nível Jue Yin (Hai, 2005).

As desordens do nível Jue Yin encontram-se divididas em diversas categorias complexas, embora a principal e que terá maior significado académico e de interesse para o presente estudo, traduza-se na Síndrome de Yang-Superior Yin-Inferior cuja principal característica é a preponderância mesclada entre o Frio e o Calor.

Jue Yin – Yang-Superior Yin-Inferior: Análise de Sinais e Sintomas

Como referido, perante o limite do Yin Qi, o Yang Qi tenta reaparecer e recuperar alguma força. Este Yang Qi pertence ao domínio do Shao Yang, o que justifica a relação direta entre estes dois estágios (Hai, 2005). Os sintomas do nível Jue Yin são influenciados pela força de recuperação do Yang Qi. Se este aparecer forte é provável encontrar um padrão com predominância de sintomas de Calor. Por outro lado, se o Yang Qi não possuir energia suficiente para recuperar, o Frio Interno prolongará a sua força, podendo chegar a um estado irreversível causando a destruição total do Yang cujo prognóstico é a morte (Du-Zhou, 2012). Com o Fígado particularmente afetado, faz com que as funções de drenagem e dispersão e o livre fluxo de Qi estejam perturbados. A função de subida e descida do Qi encontra-se desregulada, e o Fogo e a Água não fluem. Deste modo, os sintomas de Yang aparecem na parte superior do corpo, enquanto os sintomas de Yin se apresentam na parte inferior (Du-Zhou, 2012).Assim, os sintomas de Calor são derivados da recuperação e ascensão do Shao Yang Qi e do Fogo Ministerial do Fígado. Por outro lado, os sintomas de Frio são reflexo de Deficiência de Yang e do Excesso de Frio que atinge Jiao Médio (Baço e Estômago) e Intestinos (Hai, 2005).

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Os principais sintomas associados a distúrbios desta categoria encontram-se seguidamente descritos no quadro 30:

Períodos de febre alternados com períodos de frio – excesso de Yin (frio) com tentativas de recupe-ração do Yang (febre)

SINTOMAS DE CALOR:Sede intensa e persistente – calor do Fígado consome os fluidos orgânicos; a sede representa a neces-sidade de repor os mesmos

Sensação de energia que ascende ao peito – refluxo/ascensão do Yang Qi que estava a tal ponto reprimido, que entrou em erupção ascendente

Dor, ardor e sensação de calor na região cardíaca – Fogo Ministerial do Fígado ascende para o Co-ração; com a Energia do Mestre-Coração igualmente condicionada não consegue proteger o Coração

Dificuldade em tomar decisões – Vesícula Biliar desequilibrada

Cefaleia no vértice – Ascensão de Yang de Fígado; está relacionado com o ramo interno/colateral do meridiano do Fígado que termina precisamente no topo da cabeça, no Baihui (VG20), na reunião de todo o Yang

SINTOMAS DE FRIO:

Extremidades frias – exaustão do Yang com excesso do Yin

Diarreia intratável – A Deficiência de Yang conduz à incapacidade do Baço digerir e transformar os alimentos e os fluidos, enviando-os de imediato para os intestinos

Sensação de fome mas sem vontade de comer – necessário repor a Essência Alimentar/Gu Qi, mas o excesso de Frio retira o apetite

Vómitos pós-prandial (por vezes com ascarídeos/lombrigas) – reflete não só o Frio nos Intestinos conjugado com desbiose, mas também reflete o forçar a ingestão de alimentos

Língua:

• Pontos vermelhos: ascensão de Yang de Fígado ou Calor na Vesícula Biliar• Saburra branca e gordurosa: predominância do Yin (Frio) no Estômago

Pulso:

• Profundo: a doença se encontra no Interior; diagnostico diferencial entre a recuperação ou não do Yang Qi (pulso flutuante)

• Escorregadio: excesso de Jin Ye• Em corda: suave fluxo de Qi comprometido; Qi de Fígado afetado

Quadro 10 - Sintomas da Síndrome de Yang-Superior Yin-Inferior no estágio Jue Yin

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Ondas de calor, hipertensão, taquicardia, transtornos circulatórios, opressão diafragmática e torácica e distúrbios emocionais são sintomas que também poderão estar presentes nesta síndrome, uma vez que o Mestre-Coração encontra-se igualmente afetado (Hai, 2005).A alternância entre os períodos de febre e calafrios, permitem compreender a progressão e o prognóstico da doença no nível Jue Yin.

FEBRE = CALAFRIOS – indica um equilíbrio entre o Yin e o Yang, “a doença é curável”;

FEBRE < CALAFRIOS – indica uma recidiva e agravamento da doença, “o Yang recua” Prognóstico reservado;

FEBRE > CALAFRIOS – indica uma recuperação excessiva do Yang, conduzindo a sintomas de desequilíbrio e excesso de Yang: “transpiração, garganta obstruída, fezes com sangue e pus”. No entanto, o prognóstico é ligeiramente melhor do que na situação anterior.

Quadro 11 - Preponderância entre o Calor e o Frio no nível Jue Yin

█ DISCUSSãO E CONCLUSãO

Em MTC acredita-se que as Patologias Febris Agudas (ou Doenças Contraídas Exteriormente) são fruto de invasões de agentes patogénicos exógenos (Xié Qi) e que seguem variados caminhos quando penetram no organismo.A Diferenciação de Síndromes de Doenças Contraídas Exteriormente, apesar de ser um tema milenar, ainda despoleta dúvidas nos alunos e terapeutas de Medicina Tradicional Chinesa, uma vez que a pouca informação documentada é confusa, complexa e pouco aprofundada cientificamente. Por outro lado, a contemporaneidade e a frequência das enfermidades motivadas pela Invasão de Xiè Qi conduz à necessidade de uma constante actualização em relação à caracterização e tratamento das Síndromes associadas, o que poderá proporcionar aos profissionais maior qualidade de resposta a possíveis obstáculos que possam surgir.A MTC oferece excelentes resultados no tratamentos destas patologias, desde que se efetue um diagnóstico preciso com consequente indicação correta dos princípios terapêuticos. Apesar de se constar que Zhang Zhong Jing era discípulo de Huang Di - O Imperador Amarelo - a ausência de referências alusivas à Teoria dos Cinco Elementos e à Numerologia em Shang Han Lun, leva a colocação desta questão em causa. Por outro lado existem algumas evidências temporais que sugerem que parte da informação de Shang Han Lun foi adicionada posteriormente por Wang Shu-he - o primeiro editor do livro - um século após a morte de Zhang Ji (Chen, 2009).

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O desenvolvimento de estudos científicos dão maior credibilidade à teoria e futuros estudos apoiados em evidências científicas devem ser rea-lizados no intuito de apoiar a teoria de Shang Han Lun apresentada neste trabalho, para além do que esta também deverá ser revista pelas Escolas de Educação de Medicina Tradicional Chinesa com referências a dados estatísticos baseados em prá-tica clínica.

Limitações do Estudo

Aponta-se como limitação deste estudo o facto do mesmo apresentar um carácter exploratório, tra-duzindo a pouca informação existente e a ausên-cia de estudos anteriores que permitiriam investi-gar e explorar este tema com níveis de evidência científica mais elevada.

De referir também, a complexidade dos textos antigos chineses que levaram a traduções e inter-pretações ligeiramente díspares entre os autores.É importante ainda ter em conta que alguns inves-tigadores de Shang Han Lun referem a ausência de um conjunto de sintomas como tão linearmente se apresenta na teoria e ainda a falta de clareza e brevidade de descrições da própria obra original.

Por fim, de salientar que o tema, aparentemente simples, revelou-se com o decorrer e aprofunda-mento do seu estudo, extremamente complexo, com imensas Síndromes associadas em cada nível e variações de tratamento de acordo com peque-nas allterações semiológicas. Por este motivo, este estudo limitou-se a mencionar as Síndromes mais frequentes e que os autores dão maior relevância.

PALAVRAS-CHAVE:Shang Han Lun, Frio, 6 níveis energéticos, Diferenciação de Síndromes, MTC

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28 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3

║ REFERÊNCIAS BIBLIOgRÁFICAS

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O PAPEL DA FÁSCIANA MEDICINA ChINESA Parte 2

Paola Augusta Kemenes*[email protected]

Resumo:

No segundo número da Revista Científica de Medicina Natural, foi publicada a primeira parte desta revisão sobre o papel da fáscia na Medicina Chinesa. Nesta primeira parte descreveu-se em detalhe os aspectos do tecido conjuntivo, e seu papel na transmissão do sinal de acupunctura (DeQi) assim como sua importância na localização dos pontos de acupunctura.Esta segunda parte mostra o papel da fáscia nos meridianos de acupunctura, especialmente quanto ao trajecto destes meridianos pelo corpo. A revisão é baseada especialmente no trabalho de dois autores: Thomas Myers, que estudou os trilhos miofasciais através das relações diretas e indiretas entre músculos e movimentos, e Phillip Beach, que relaciona as posturas corporais com os pontos de acupunctura através da sua teoria de campos contráteis, onde descreve que como cada célula está envolvida pela fáscia, tudo no corpo, até a pressão sanguínea, afecta os padrões de movimento e a forma do corpo.

* Síntese curricular:

Licenciada em Engenharia Zootécnica pela Universidade Estadual Paulista Especialização pela Universidade do Arizo-na. Mestrado em Genética Molecular pela Universidade de São Paulo. Diplomada em Massagem e Medicina Chinesa pelo Instituto Português de Naturologia. Terapeuta da área de massagem e acupunctura.

█ INTRODUçãO

Uma das bases fundamentais da Medicina Chi-nesa é a teoria dos meridianos. Os meridianos, canais por onde a energia circula, são distribui-dos por todo o corpo humano, ligando os órgãos internos zang-fu aos vários tecidos e órgãos da porção superficial do corpo para fazer do corpo uma integridade orgânica. Na rede de meridianos

e colaterais, os meridianos são os troncos princi-pais (Jing) ao passo que os colaterais (Luo) são suas ramificações menores ditribuidas por todo o corpo. (Maike, 1995) Na Medicina Chinesa, a referência mais antiga a teoria dos meridianos de acupunctura aparece no livro Hwang Ti Nei Jing, com descrições precisas sobre estes canais, suas funções e principios. Des-conhece-se porém, a forma usada pelos antigos

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para a definição desta rede de canais que percorre todo o corpo, sendo a observação o método mais provável. O facto é que ao estimular certos pontos de acu-punctura constata-se que a sensação de calor e parestesias segue direções predeterminadas e, mesmo em outras práticas como o Qi-Kung, os antigos já mencionavam uma sensação de calor que percorria certas vias do corpo durante a prá-tica. Constatou-se também que numa doença os sintomas podem manifestar-se em outros lugares, seguindo uma via precisa de interrelacionamento. É possível portanto que a teoria dos meridianos tenha sido formulada a partir das observações acima, sendo esta teoria fruto da experiência e da observação feita desde os primórdios da Medicina Chinesa. (Wen, 1985)Durante décadas, pesquisadores no Ocidente tentaram sem sucesso encontrar referências ana-tómicas que correspondessem ao trajecto dos me-ridianos. Ao contrário dos pontos de acupunctura, que parecem ser regiões de grande concentração de plexos nervosos e terminações neurais, o tra-jecto dos meridianos parece não obedecer a qual-quer estrutura anatómica visível. (Jayasurya, 1995; Lewith, 1985).Um dos primeiros autores a relacionar o trajecto dos meridianos ao tecido conjuntivo foi Phillip Beach, um Osteopata australiano que na década de 80 começou a estudar Medicina Tradicional Chinesa e desenvolveu alguns conceitos interes-santes sobre os meridianos da acupunctura. Em seu livro “Muscles an Meridians – The Manipula-tion of Shape”, Beach diz que os meridianos são linhas que parecem não seguir nenhuma estrutura anatómica, alguns seguem em linha reta, outros em zigue-zague. Nesta altura este autor já suge-ria que os meridianos deveriam seguir as linhas na qual o tecido conjuntivo ou fáscia de alguma for-ma adquiria alguma diferenciação. (Beach, 2010)Passados cerca de 10 anos, na década de 90, esta suposta diferenciação do tecido conjuntivo em li-

nhas, começa a ser esclarecida por Thomas Myers, terapeuta e professor de Anatomia Miofascial no Instituto Rolf. Myers, nunca se conformou com a descrição individual dos músculos, tendo sempre tentado mostrar a seus alunos uma visão holística e integrada de toda cadeia muscular. Através de um estudo exaustivo, Myers desenha linhas longi-tudinais sobre o corpo por onde são distribuidas trações, tensões, fixações, compensações e a maio-ria dos movimentos do corpo. Ao todo Myers des-creve 12 linhas tensionais que chama de “Trilhos Miofasciais ou Meridianos Miofasciais” que se interconectam e dão sustentação biomecanica a todo corpo 1(Myers, 2009).

█ O CONCEITO DE █ TENSEgRIDADE

Para compreender as relações da fáscia e integri-dade funcional do corpo, convém compreender o conceito de tensegridade.O termo tensegridade, ou integridade de tensão, foi utilizado pela primeira vez pelo designer R. Bu-ckminster Fuller. O termo refere-se a estruturas que mantém sua integridade estrutural através de um equilíbrio de forças contínuas de tensão que percorrem a estrutura, em oposição a forças com-pressivas que a apoiam. No conceito de tensegri-dade, toda a estrutura é estável fechada nela mes-ma, e qualquer alteração de forças é compensada pela própria estrutura (Fuller, 1975). Uma teia de aranha é um exemplo de uma estrutura que apesar de ser geometricamente perfeita, não possui ten-segridade. Basta um fio romper-se para danificar toda a estrutura, já que a mesma não tem capaci-dade de compensar a alteração de forças.A tensegridade, um conceito aplicado a qualquer estrutura, seja ela orgânica ou não (o conceito surgiu inicialmente na área de design e arquite-

1 Para evitar equivocos, uma vez que Myers chama suas linhas de me-ridianos miofasciais, neste trabalho as linhas de Myers receberão o nome de trilhos e o uso do termo meridianos será exclusivamente para os me-ridianos da Medicina Chinesa

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tura), é de certa forma um conceito holístico, já que descreve que qualquer força aplicada em uma área da estrutura irá se refletir por todo o sistema. Nestas estruturas, o aumento na tensão global é contrabalanceado por um aumento localizado e descontínuo de compressão. Forças de tensão são transmitidas naturalmente por distâncias curtas entre dois pontos, de modo que os componentes da estrutura estão precisamente posicionados para melhor suportar o stress. Este princípio estrutural abrange desde os átomos de carbono, as molécu-las de água, as células do corpo humano e o pró-prio organismo vivo (Ingber, 1997).No corpo, o tecido miofascial proporciona uma contínua rede de tensão e de restrição ajustável tensionando para dentro ao redor de ossos, car-tilagens e órgãos. Estes empurram-se contra esta membrana elástica oferecendo compressão para fora. Esta tracção e compressão contínuas que re-fletem o conceito de tensegridade, são essenciais para a estabilidade e mobilidade do corpo (Men-des, 2012).Sem a tensegridade, explicar o movimento, a inter-conexão e a capacidade de resposta do corpo seria incompleto e frustrante. Ao conhecer o princípio de tensegridade do corpo humano, reafirmamos e confirmamos o conceito de globalidade, onde o paciente deve ser visto de forma holistica como um todo e não como uma dor localizada.Este equilibrio de forças explica porque o corpo quando submetido a tensão muscular constante, devido por exemplo a má postura, obriga a mus-culatura a estar estirada e cria pontos gatilho para compensar a mudança de forças de tensão e com-pressão. Estes pontos gatilho ou pontos de tensão, são locais onde o potencial elétrico está alterado, e este estímulo pode se propagar por toda a fáscia devido a sua capacidade de tensegridade, causan-do problemas não só locais, mas também distantes do ponto de origem. (Myers, 2009).

█ OS TRILHOS MIOFASCIAIS █ DE THOMAS MYERS █ (MYERS, 2009)

Praticamente qualquer pessoa ligada de alguma forma a Medicina Chinesa e a acupunctura, ao olhar a figura abaixo (Figura 1), acreditaria estar perante uma representação dos meridianos de acupunctura, e não perante uma representação dos trilhos miofasciais de Thomas Myers.

Figura 1: Um mapa geral dos Trilhos Miofasciais colocado sobre a superfície da figura de Albinus (Saunders JB, O´Malley C. The Illustration from the Works of Andreas Vesalius of Brussels. Dover Publications, 1973) (Myers, 2009).

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A base do trabalho de Myers, resume-se na sua concepção de que além de tudo o que os músculos podem fazer individualmente, eles ainda influen-ciam funcionalmente todo o corpo através da ca-racterística de continuidade da fáscia. As lâminas do tecido fascial seguem a direcção das fibras e a trama do tecido conjuntivo no corpo, formando “trilhos” de miofáscia, sendo que a estabilidade, tensão, resistência e compensação postural, estão distribuidos ao longo destas linhas.

A definição dos Trilhos Miofasciais evoluiu so-mente dentro das noções de anatomia Ocidental, porém o próprio autor afirma que não há como negar o resultado final, e sua similaridade com os meridianos da Medicina Chinesa. Na verdade mui-tos dos conceitos adotados e referidos por Myers, fazem relação com conceitos de Medicina Chine-sa. A transmissão da tensão dentro de cada Trilho Miofascial pode ser entendida como transmissão do Qi pelos meridianos, e justifica a utilização do conceito da Medicina Chinesa em utilizar pontos não só locais, mas também distais nos tratamentos.

Na segunda edição de seu livro, o autor inclui um capítulo relacionando suas descobertas com algumas técnicas Orientais, entre elas a Medicina Chinesa e mais especificamente seu conceito de meridianos.É importante notar que nem todos os meridianos principais estão aqui colocados em correlação com os trilhos miofasciais e nem se pretende ob-servar uma correspondência completa. Segundo o próprio autor dos trilhos miofasciais, muitos ou-tros caminhos da fáscia estão ainda por descrever.

1. Linha Superficial Posterior (LSP)

Este primeiro trilho miofascial tem grande cor-respondência com o Meridiano da Bexiga como pode ser visto na Figura 2.

Figura 2: Comparação entre a Linha Superficial Posterior e o Meridiano da Bexiga. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A Linha Superficial Posterior (LSP) conecta e pro-tege toda a superfície posterior do corpo como uma carapaça, indo dos pés à cabeça e dividindo--se em duas partes: dos pés aos joelhos e dos joe-lhos a testa. Quando os joelhos estão estendidos como na postura em pé, a LSP funciona como uma linha contínua integrando a miofáscia.

A função postural da LSP é apoiar o corpo na extensão vertical total, para evitar a tendência em flexicionar e enrolar o corpo exemplificado pela posição fetal. Esta função postural durante todo o dia exige uma alta proporção de contração lenta das fibras, e por isso esta linha fascial tem fibras musculares de grande resistência.

2. Linha Superficial Frontal (LSF)

Este trilho miofascial tem grande correspondên-cia com o Meridiano do Estômago como pode ser visto na Figura 3.

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Figura 3: Comparação entre a Linha Superficial Frontal e o Meridiano do Estômago. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A Linha Superficial Frontal (LSF) conecta toda a superfície anterior do corpo, do dorso dos pés até a lateral do crânio, dividindo-se em duas partes: dos dedos dos pés a pélvis e da pélvis a cabeça, de forma que quando o quadril está estendido como na posição em pé, funciona como uma linha con-tínua conectando a miofáscia.

A função postural da LSF é equilibrar a Linha Su-perficial Posterior e fornecer suporte de tracção a partir do topo do corpo para elevar as partes do esqueleto que se estendem para a frente do centro de gravidade do corpo: púbis, costelas e face. Esta linha também mantém a extensão dos joelhos e seus músculos estão prontos para defender as par-tes macias e sensíveis da parte frontal do corpo e proteger a cavidade visceral.

3. Linha Lateral (LL)

Este trilho miofascial tem grande correspondên-cia com o meridiano da Vesícula Biliar como pode ser visto na Figura 4.

Figura 4: Comparação entre a Linha Lateral e o Meridiano da Vesícula Biliar. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A Linha Lateral (LL) envolve cada um dos lados do corpo do ponto médio da lateral do pé, passan-do pela lateral do tornozelo, perna e coxa, indo en zigue zague pelo tronco, passando por baixo do ombro e indo ao crânio ao redor da orelha.A função postural da LL é equilibrar a parte pos-terior do corpo e em termos de bilateralidade, equilibrar direita e esquerda. Esta linha também faz uma mediação entre as forças de outras linhas superficiais, LSF, LSP, todas as linhas do braço e a linha espiral. A LL fixa o tronco e as pernas de forma coordenada a fim de prevenir a torção da estrutura durante qualquer actividade com os bra-ços. A LL participa na criação de uma curvatura lateral no corpo, flexão lateral do tronco, abdução no quadril e eversão no pé, mas também funciona como travão ajustável para movimentos laterais e de rotação do tronco.

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4. Linha Frontal Profunda (LFP)

Este trilho miofascial tem grande correspondên-cia com o meridiano do Fígado como pode ser visto na Figura 5.

Figura 5: Comparação entre a Linha Frontal Pro-funda e o Meridiano do Fígado. (Myers, 2009 usa-do com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A Linha Frontal Profunda (LFP) mais do que as anteriores, ocupa um espaço tridimensional no corpo, ocupando mais espaço que as demais. Nas pernas a LFP inclui a maior parte dos músculos profundos, na pélvis esta linha tem uma relação estreita com a articulação da anca e por isso com o caminhar assim como com o ritmo da respiração através do diafragma. No tronco a LFP está entre o sistema de controlo neuromotor e os órgãos da cavidade abdominal, no pescoço ela fornece equilíbrio entre as linhas superficiais posterior e anterior.Na verdade os únicos movimentos associados a esta linha são a adução da anca e o movimento

respiratório do diafragma, porém esta linha está envolvida por outras estruturas fasciais e tem im-portante papel na estabilidade do centro do corpo.

5. Linha Profunda Frontal do Braço (LPFB)

Esta linha começa na musculatura peitoral ou mais propriamente na fáscia clavipeitoral passando pelo bíceps braquial e coracobraquial, sendo que esta linha mostra uma continuidade clara entre a mus-culatura peitoral e os dois últimos músculos. A LPFB tem grande correspondência com o meri-diano do Pulmão como pode ser visto na Figura 6.

Figura 6: Comparação entre a Linha Profun-da Frontal do Braço e o Meridiano do Pulmão. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A LPFB é principalmente uma linha de estabili-zação (comparável a Linha Frontal Profunda na perna), a partir do polegar em direcção ao peito. Esta linha controla ainda o movimento de pinça do polegar, tão importante na evolução humana.

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6. Linha Superficial Frontal do Braço (LSFB)

A LSFB recobre a Linha Profunda Frontal do Braço e envolve um grande conjunto de músculos importantes como o peitoral maior, os músculos do ombro, a superficie anterior do úmero entre outros. A LSFB tem grande correspondência com o meri-diano do Pericárdio como pode ser visto na Figura 7.

Figura 7: Comparação entre a Linha Superficial Frontal do Braço e o Meridiano do Pericárdio. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A LSFB tem grande importância no controle dos movimentos do braço para a frente e para os lados como na adução e extensão do braço, e também em movimentos no pulso e dedos como num aperto de mãos.

7. Linha Superficial Posterior do Braço (LSPB)

A LSPB começa no trapézio, converge em direc-ção à espinha da omoplata, acrômio, terço lateral da clavícula e occipital. De facto aqui existem al-

gumas conexões interessantes; as fibras torácicas do trapézio conectam-se com as fibras posteriores do deltóide; as fibras cervicais do trapézio conec-tam-se com a porção média do deltóide e as fibras occipitais do trapézio conectam-se com a porção anterior do deltóide. Esta combinação emaranha-da de fibras, é um dos motivos pelo qual o ombro está muito frequentemente fora do seu ponto de equilibrio.A LSPB tem grande correspondência com o me-ridiano do Triplo Aquecedor como pode ser visto na Figura 8.

Figura 8: Comparação entre a Linha Superficial Posterior do Braço e o Meridiano do Triplo Aque-cedor. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A LSPB forma uma única unidade fascial das cos-tas até o dorso dos dedos das mãos. Esta linha controla os movimentos que fazemos com os bra-ços para trás da linha média. Também controla a abdução do ombro e braço.

8. Linha Profunda Posterior do Braço (LPPB)

A LPPB começa no processo espinhoso da 7ª vértebra cervical, indo para baixo em direcção aos rombóides e à borda medial da omoplata, vai à

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coifa dos rotadores e parte posterior do úmero, tríceps, continuando até o dedo pequeno da mão.

A LPPB tem grande correspondência com o me-ridiano do Intestino Delgado como pode ser visto na Figura 9.

Figura 9: Comparação entre a Linha Profunda Posterior do Braço e o Meridiano do Intestino Delgado. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)

A linha profunda trabalha em conjunto com a li-nha superficial para ajustar o movimento do co-tovelo, para limitar ou permitir o movimento da parte superior do corpo de um lado para o outro e para fornecer estabilidade do lado na parte lateral e posterior do ombro.

█ OS CAMPOSCONTRÁCTEIS █ DE PHILLIP BEACH █ (BEACH, 2010)

Campos contráteis é o nome escolhido pelo autor, para definir as áreas responsáveis por determi-nados movimentos básicos do corpo que geram o que ele chama de um recuo coordenado em resposta a um estímulo nocivo. Os movimentos

propagam-se através da fáscia, e muitas vezes acontecem antes mesmo que a mensagem chegue ao cérebro, isso devido a origem embrionária dos tecidos. Neste modelo, Phillip Beach envolve não só a biomecânica da musculatura, mas sim de todo o corpo, mostrando que cada célula individual ao estar envolvida pela fáscia possui elementos con-trácteis, e desta forma desde a pressão sanguínea até a função dos rins, tudo afecta os padrões de movimento e a forma do corpo. A fáscia, assim como a musculatura são originárias da mesoderme, que é também a origem dos rins e do sangue.Neste trabalho Beach mostra como a puntura de determinados pontos altera a posição subtil do corpo, mostrando que a escolha dos pontos de acupunctura é uma maneira de manipular a forma do corpo e assim equilibrar as funções do mesmo.Recomenda-se a leitura do livro Muscles and Meridians the Manipulation of Shape, para com-preender melhor a teoria dos campos contrácteis. Nesta revisão apenas os pontos relevantes a Medi-cina Chinesa serão abordados.

█ LINHAS DE CONTROLE

Durante o desenvolvimento embrionário, for-mam-se linhas pelo corpo do animal em desenvol-vimento, como forma de controlar o crescimento e a migração dos tecidos. Inicialmente forma-se o axis (centro) e as demais linhas vão se formando ao lado do axis. São estas linhas que darão origem as linhas de controlo dos movimentos coordena-dos de um animal maduro, sendo que a perfeita coordenação destas linhas com o sistema nervoso central acontece por volta dos 6 anos de idade no ser humano. Estas linhas de origem embrionária foram descri-tas em 1980 por Nabil Rizk que faz então uma descrição da musculatura abdominal sem prece-dentes. Ele identifica sete linhas verticais onde a musculatura da parede abdominal se cruza e for-

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ma as lâminas fasciais do recto abdominal. Dois mil anos antes os Chineses desenharam sete linhas na área abdominal nos mesmos locais: uma linha média, duas linhas no meio do recto abdominal, duas linhas no bordo lateral do recto abdominal e duas linhas que dividem cada metade (Rizk, 1980). Estas são as linhas essenciais para controlar a bio-dinamica do abdômen por isso Beach define os meridianos como “linhas superficiais de controlo dos movimentos do corpo”.Ao exercer estímulos sobre estas linhas do corpo, com um objecto pontiagudo, o corpo naturalmen-te executa movimentos de recuo, uma vez que o estímulo aplicado é doloroso.

A teoria de Beach é de que os meridianos de acu-punctura e os pontos de acupunctura foram defi-nidos a milhares de anos, com base na observação meticulosa dos médicos da altura a estes estímulos e aos movimentos que os mesmos geravam, uma vez que estes seriam os movimentos naturais do corpo a uma tentativa de reajuste de um desequi-librio causado pelo estímulo. Segundo Beach os meridianos são linhas de controlo destes campos contrácteis. São estas linhas de controlo que de-terminam os movimentos, especialmente quando há intersecção de campos, como ocorre com a puntura simultanea em uma linha de controlo de flexão/extenção e em uma linha de controlo de movimento lateral, gerando um movimento heli-coidal.

█ PONTOS FRONTEIRA

A observação criteriosa da reação do corpo ao estímulo ao longo destas linhas faz-nos observar que em alguns pontos há uma mudança radical no sentido do movimento do corpo, ou seja, o mes-mo estímulo separado por centímetros, gera um movimento totalmente diferente. Estes pontos são chamados pelo autor de pontos fronteira.Se uma pessoa em pé numa piscina dentro da água leva uma picada de um objecto pontiagudo na barriga, acima do umbigo, seu corpo flexiona para trás num movimento de recuo ao estímulo nocivo coordenado pela músculatura abdominal. Se en-tretanto o mesmo estímulo acontecer na altura de Ren 6 (Qihai), o corpo terá tendência a estender a pélvis para fugir ao estímulo, sendo que na altura de Ren 4 (Guanyuan) esta alteração do movimen-to fica ainda mais nítida, com uma clara extensão da pélvis e não uma flexão da coluna para trás. Esta alteração de movimento acontece devido a curvatura lombar e a migração embrionária dos músculos caudais do sacro para o assoalho pél-vico. Há milhares de anos atrás e muito antes dos es-tudos de desenvolvimento embrionário surgirem, os Chineses deram grande importância para as áreas do corpo onde o movimento dos campos contráteis muda de caracteristicas. O ponto BP 21 (Dabao), um ponto de acupuntura que foi his-toricamente importante (Lu e Needham 1980), é mais um desses locais de inversão de movimento. Este ponto de acupunctura é encontrado na linha axilar média, entre o sexto ou sétimo espaço in-tercostal. Um estímulo nocivo abaixo deste ponto criará um reflexo de flexão ipsilateral e um estí-mulo nocivo acima deste ponto cria uma flexão contra lateral. Assim BP 21 foi provavelmente reconhecido como importante porque representa uma região de fronteira na lateral do corpo entre a parede dorsal e ventral, e para a flexão esquerda ou direita.

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Outro exemplo interessante, é o ponto Du 26 (Renzhong). Se uma pessoa leva uma picada no nariz, o reflexo de fuga será recuar a cabeça para trás, entretanto se a picada for em Renzhong, ocorre uma extensão do pescoço e consequen-temente de toda a coluna como reflexo de recuo ao estímulo nocivo. Há milhares de anos os Chi-neses utilizavam já este ponto para tratar dores lombares, provavelmente tendo percebido esta subtil mudança de posição do corpo em resposta a punctura.

Linhas de Controle e Meridianos do Tronco

A coluna é a linha central do tronco, e no ser hu-mano, pela sua postura bípede, a musculatura la-teral da coluna torna-se de suma importância para controlar e protejer esta linha central, permitindo movimentos de flexão e extensão coordenados. Ao mesmo tempo o corpo tem uma nítida linha lateral, que vai do períneo, passando pela lateral do tronco, até a região sub-occipital na face posterior e região lateral dos olhos na face anterior.O controlo da linha média e da linha lateral, é feito por linhas paralelas a estas que irão corresponder aos meridianos da Bexiga, Vesícula Biliar, Estô-mago, Fígado, Rins e Baço-Pâncreas, sendo que a linha média corresponde aos meridianos Ren Mai e Du Mai. Apesar de todos os pontos de controlo do corpo, a flexão/extensão, flexão lateral e torção, poderiam ser movimentos exagerados e danificar a coluna vertebral. A postura bípede também exigiu um reforço do assoalho pélvico, aliado a um mecanis-mo de sustentação visceral. O corpo possui então uma linha de controlo horizontal situada abaixo do umbigo, que circunda o corpo como um cinto. Este campo radial tem um poderoso efeito com-pressivo no baixo abdômen e o recto abdominal segue a fáscia profunda dos músculos obliquos e transversos do abdomen. Para a anatomia Ociden-tal, esta linha é representada pelo diafragma pél-

vico, enquanto na Medicina Chinesa corresponde ao Dai Mai. Metade do corpo está acima e metade abaixo desta linha do Meridiano Dai Mai, e esta região tem um papel essencial nos padrões de mo-vimento tanto externos como internos. A tradição diz que este meridiano encontra os 12 meridianos principais e ainda Du Mai e Ren Mai.

Linhas de Controle e Meridianos dos Membros

Os membros dos vertebrados em termos embrio-nários derivam das barbatanas, e são descritos com o formato de um remo. Este membro embrioná-rio tem um bordo pré-axial (lado do polegar) e um bordo pós-axial (lado do dedo pequeno), sendo que as linhas ventral e dorsal marcam o axis ou centro do membro.São necessárias 6 linhas de controlo para os mem-bros: duas linhas para controle do bordo pré-axial (Pulmão e Intestino Grosso; Baço-Pâncreas e Estómago); duas linhas para controle do bordo pós-axial (Coração e Intestino Delgado; Rins e Bexiga) e duas linhas para marcar a face ventral e dorsal do membro (Pericárdio e Sanjiao; Fígado e Vesícula Biliar). Estas 6 linhas durante o cresci-mento embrionário controlam a forma do mem-bro, e mais tarde irão controlar os movimentos do corpo.Os Chineses devem ter analisado de forma meti-culosa como iriam mapear braços e pernas com base em suas similaridades e diferenças. Embriologicamente, o membro inferior tem um longo axis que faz uma rotação, o que não ocor-re no membro superior. Devido a esta rotação do axis do membro inferior, o quadriceps na perna é similar ao tríceps no braço, entretanto há uma migração da musculatura dorsal para o aspecto ventral da perna no embrião por volta da 8ª se-mana de desenvolvimento. Note como os Chine-ses representaram o meridiano do Estómago: um meridiano Yang, na superfície ventral da perna e do tronco. O cruzamento dos meridianos Yin da

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perna em BP-6 (Taiyin), o cruzamento do meridiano da Bexiga na fossa poplítea em B-40 (Weizhong) e o cruzamento do meridiano do Estómago na articulação da anca, tudo sugere a torção do longo eixo central da perna. (Figura 10)Os meridianos do braço entretanto são paralelos, não se cruzam, refletindo uma menor complexidade em-briológica à torção, já que o axis do membro superior não faz uma rotação.

Figura 10: Rotação do membro inferior entre os 50 e os 60 dias de desenvolvimento do embrião. (Beach, 2010)

Pontos de Acupunctura e Forma do Corpo

Os meridianos ou as linhas de controlo do corpo, permitem que a forma do mesmo se mantenha estável. Es-tas linhas formadas desde o desenvolvimento embrionário, deixam de ser nítidas, mas não se tornam menos importantes, já que a forma do corpo é extremamente importante para as funções fisiológicas do mesmo. Imagine a mudança de forma em uma válvula cardíaca e o efeito disso em sua função, ou uma pequena alte-ração na forma do globo ocular e seu efeito sobre a visão. Sabe-se que mesmo uma alteração na curvatura da coluna tem seus efeitos sobre os órgãos internos.

Deste ponto de vista onde forma e função estão plenamente conectados, a combinação dos pontos de acu-puntura para tratar problemas clínicos é uma maneira de manipular a forma tridimensional do corpo para melhorar as funções do mesmo. A puntura irá portanto produzir alterações da forma que começam pela

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fáscia, e se propagam de acordo com as linhas de controlo utilizadas.A deficiência de Qi do Pulmão por exemplo mani-festa-se com sintomas como respiração curta, voz fraca e uma compleição pálida. Uma combinação clássica de pontos para esta síndrome é: Ren-17 (Shanzhong), P-1 (Zhongfu) , B-13 (Feishu), Ren-6 (Qihai)e E-36 (Zusanli), mas outras combina-ções de pontos podem ser utilizadas. Aqui tem-se como exemplo a função de alguns pontos nesta síndrome:

• Embriologicamente os pulmões iniciaram seu desenvolvimento como um broto na re-gião do tubo digestivo. Este broto bifurca-se e gradualmente dirige-se a volta da parede do peito para encontrar a linha média ventral

• Ren-17 (Shanzhong) é o primeiro ponto punturado e irá funcionar como pivô dos outros movimentos.

• P-1 (Zhongfu) tenderá a levar os ombros para trás porque na profundidade deste pon-to fica o plexo braquial.

• P-7 (Lieque) e P-9 (Taiyuan) vão rodar ex-ternamente o membro superior, levantando a parede do peito devido a um efeito de ala-vanca e fazendo com que os pulmões subam.

• Se forem utilizados ainda Du-12 (Shenzhu) e B-13 (Feishu), que irão promover um em-purrar por trás, o efeito sobre a parte supe-rior do tronco é mais localizado e a parte superior da coluna extende-se ainda mais.

• O objectivo até aqui foi expandir a parte superior do corpo e rodá-la externamente, abrindo espaço para os pulmões que se ex-pandem em conjunto.

• E-36 (Zusanli), promove uma rotação das pernas internamente, e Ren-6 promove um apertar no centro do corpo, sendo que es-tes 2 movimentos combinados permitem a parte superior do corpo expandir-se e rodar externamente com apoio inferior.

█ CONCLUSãO

Os médicos da antiga China, não pareciam conhe-cer a estrutura da fáscia, porém aparentemente e possivelmente por observação dos movimentos do corpo, áreas de concentração de dor e tensão, relações entre sintomas e sinais, descreveram uma rede de meridianos e acupontos com grande cor-respondência aos trilhos miofasciais.

Segundo Kaptchuk, os meridianos formam uma rede através do corpo que conecta os tecidos peri-féricos entre si e estes às vísceras e órgãos profun-dos (Kaptchuk, 2000). Milhares de anos depois, define-se que o tecido conjuntivo promove união entre todo o corpo, tanto no aspecto físico como energético quando se compreende que a transmis-são da informação pelo corpo implica na trans-missão de energia.

A fáscia parece ser a base do trajecto dos meridia-nos, e a origem destas linhas remonta o desenvol-vimento embriológico do ser humano.

Partindo-se do princípio que mesmo uma ener-gia subtil precisa de um meio físico para fluir e se manifestar, e baseado nos estudos que foram apresentados nesta revisão, pode-se definir que a fáscia é a base física por onde o Qi circula.

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A Tabela 1 mostra um modelo que explica os conceitos da Medicina Chinesa de acordo com as descobertas dos estudos científicos da última década:

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA ANATOMIA E FISIOLOgIA OCIDENTAL

Meridianos de Acupunctura Planos e trilhos fasciais

Pontos de Acupunctura Convergência de planos fasciais

Qi Fenómenos corporais energéticos (como o metabolis-mo, o movimento, a transmissão de um sinal)

Fluxo de Qi pelo meridiano Transmissão de sinal biomecânico pela fáscia

Estagnação de Qi Alteração da composição da fáscia criando alteração do envio do sinal biomecãnico

De Qi Enrolar das fibras de colágeno na agulha de acupunctura

Tabela 1: Correlação dos conceitos da Medicina Tradicional Chinesa com a Anatomia e Fisiologia Ocidental (Langevin e Yandow 2002).

Considerando-se como os estudos mostram que a fáscia é a estrutura física por onde o Qi circula, e suas fibras são essenciais para a transmissão do sinal de acupunctura tanto em termos locais como à distância, podemos dizer que a condição da fáscia será essencial para um bom fluxo de Qi no organismo. Em termos funcionais, a fascia molda e dá forma ao corpo e assim afecta as suas funções. Uma pessoa com o Qi muito debilitado, tem também pouca energia e poucos reflexos de recuo aos estímulos, tendo mais dificuldade em responder a acupunctura.A capacidade do organismo em movimentar-se adequadamente, e de propagar o sinal de acupunctura ao lon-go das linhas fasciais irá afectar o resultado do tratamento. Desta forma, os problemas crônicos, mais antigos, que implicam em maior dano aos tecidos, bloqueios, edemas, e tudo mais que pode afectar a transmissão do sinal e a movimentação das lâminas fasciais, irão demorar mais tempo a ser tratados.Além da acupunctura, outras técnicas milenares como o Tai Chi e o Qicong auxiliam no reequilibrio do corpo actuando também sobre a fáscia, sobre as linhas de controlo de movimento do corpo e consequentemente sobre a circulação de Qi. Roger Jahnke diz que quando colocamos nossa postura mais erecta e relaxada, reali-zamos movimentos de forma mais suave e aprofundamos a respiração, fazemos com que a água interna, den-tro dos grandes rios e oceanos formados pela fáscia seja impulsionada e circule livremente, nutrindo todos os tecidos (Jahnke, 2005). James Oschman vai além e afirma que a fáscia é capaz de gerar energia. Segundo o autor cada movimento e cada compressão do corpo faz com que a grade cristalina do tecido conjuntivo gere sinais bioelétricos, assim literalmente qualquer movimento produz e faz circular energia e informação na matriz do Qi (Oschman, 2000).

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║ REFERÊNCIAS BIBLIOgRÁFICAS

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e o tai chi. 1ª ed. São Paulo, Edições Cultrix, 2005.• Jayasurya, Anton (1995) As Bases Científicas da Acupuntura. Rio de Janeiro, Sohaku Edições. • Kaptchuk, Ted. The Web That Has No Weaver : Understanding Chinese Medicine. Contempo-

rary Books, New York, 2000.• Langevin, H.M. e Yandow, J.A. “Relationship of Acupuncture Points and Meridians to Connec-

tive Tissue Planes.” The Anatomical Record (New Anat.) 269: 257–265, 2002. • Lewith, George “Acupuncture: Its Place in Western Medical Science.” Thorsons Publishers,

Nova York, 1985.• Lu Gwei-Djen e Needham J. Celestial lancets; a history and rationale of acupuncture and moxa.

Cambridge, Cambridge University Press, 1980.• Maike, Sonia R.l. Fundamentos Essenciais da Acupunctura Chinesa, Icone Editora, São Paulo,

1995• Mendes, Sandra Texto de Apoio ao Curso de Indução Miofascial, Instituto Português de Natu-

rologia, Porto, 2012.• Myers, Thomas “Anatomy Trains – Myofascial Meridians for Manual and Movement Therapist”.

2a edição, Churchill Livingstone, Londres, 2009.• Oschman, James “Energy Medicine – The Scientific Basis.” Churchill Linvingstone, Londres,

2000.• Rizk Nabil A new description of the anterior abdominal wall in man and mammals. Journal of

Anatomy. Vol. 131, p.373-385, 1980.• Wen, Tom Sintan. Acupuntura Clássica Chinesa. Editora Cultrix Lda. São Paulo 1985.

PALAVRAS-CHAVE:Fascia, Tecido conjuntivo, Meridianos, Tensegridade, De-Qi.

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PROVÉRbIOS, ExPRESSÕES IDIOMÁTICAS E A MEDICINA TRADICIONAL ChINESAO Uso do Conhecimento no Sucesso Terapêutico

Aurélio Marques*[email protected]

Resumo:

O provérbio diz que "De médico e de louco todos temos um pouco".

Mas que significa curar? Que processos visíveis e impalpáveis tomam parte no processo de cura?

Até que ponto o acto mecânico de espetar agulhas em pontos específicos ou receitar medicamentos com determinados princípios activos pode ser enormemente potenciado por outros factores é algo que por vezes esquecemos ou negligenciamos.

Para encararmos esta possibilidade temos que equacionar outras perspectivas que nos abrem a novos paradigmas. E talvez para nosso espanto, já a nossa sabedoria popular e o conhecimento empírico das tribos indígenas nos alertava para isso. É assim que nos deparamos com a força da intenção e com o Amor incondicional.

* Síntese curricular:

Licenciado em Medicina Tradicional Chinesa pelo Instituto Português de Medicina Tradicional. Chinesa. Estágio de MTC no Hospital Wu Yi de Jiang Men, Guang Dong. Pós-graduação em Bei Jing pela Associação Médica Chinesa. Autor do livro Sabedoria Milenar a Sério e a Brincar, Chiado Editora. Fundador e Director da Academia de Wing Chun Kung Fu - CRCA Portugal. Licenciado em Inglês-Alemão pela Universidade do Minho. Professor de Inglês-Alemão no ensino secundário. Formador de MTC nas áreas de Fitoterapia, Acupunctura, Meridianos e Pontos de acupunctura, Patologias, Especialidades e Tratamentos e Teoria Básica. Curso de Instrutor de Kung Fu de Grau I pela FPAMC - Federação Portuguesa de Artes Marciais Chinesas. Instrutor de Wing Chun Kung Fu na Academia CRCA Portugal.

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█ OS MITOS E OS RITOS

Um olhar sobre a antropologia revela-nos a neces-sidade intrínseca milenar do Homem materializar as suas crenças e os seus valores. É assim que o Mito se faz Rito e é por isso que se pode afirmar que o Rito é o Mito em ação. E desta forma o Homem devolve à natureza e ao mundo tudo o que dele recebe.

Os rituais xamânicos de há milhares de anos atrás na China representavam já um entendimento do mundo. Eram feitos por alguns membros de clãs que se especializaram em técnicas curativas. Es-tes xamãs (wu) associavam a medicina à magia e evidenciavam nos seus tratamentos uma tentativa do Homem poder interferir na realidade usando essa ligação interna e intensa com a natureza para alterar a realidade de um enfermo.

À crença de que as forças do cosmos se conjuga-vam para alterar a sintomatologia de um ser junta-va-se a convicção de que era igualmente possível alterar essa situação pela comunhão com o todo interferindo depois nesse aglomerado energético.Este arquétipo de que somos parte do todo e de que simultaneamente podemos intervir e alterá-lo pode ser encontrado em todas as culturas, desde a dança da chuva nos índios americanos, as dádivas de alimentos em altares, até aos sacrifícios de ani-mais e pessoas em muitas tribos.

Embora possamos classificar este tipo de manifes-tações como arcaicas, relacionadas com o passado, com a falta de conhecimento científico e por isso em desuso, muitas continuam até aos nossos dias e provavelmente não são assim tão desprovidas de sentido.

█ A COMPILAçãO DO █ CONHECIMENTO

E foi desta necessidade de compreensão do mun-do para melhor interagir com ele que surgiu a ne-cessidade de agregar informação resultante desse conhecimento empírico. Os Shang, um povo que viveu nas margens do Rio Amarelo há cerca de 5000 anos atrás começou por estabelecer paralelis-mos entre o corpo humano e a natureza. Associa-vam por exemplo a pele do nosso corpo à crosta terrestre e já estabeleciam ligações entre cada ór-gão e uma parte específica do corpo.

E começou assim uma maior compreensão do universo através de paralelismos que veio mais tarde a dar origem à teoria dos Cinco Movimentos (wu xing), muito usada na Medicina Tradicional Chinesa e no Feng Shui.E quanto mais conhecimento se reunia mais se compreendia a realidade e mais consciente era a interação com o meio.Um aspecto a considerar é o facto de culturas diferentes em vários pontos do globo terem che-gado a conclusões semelhantes sensivelmente ao mesmo tempo. Quando por volta do séc III a.C. na China se compilava toda a informação sobre a Medicina no livro Huang Di Nei Jing, O Livro do Imperador Amarelo, ao mesmo tempo no ocidente Hipócra-tes elencava as suas teorias sobre a medicina.

█ A TRADIçãO ORAL

O mesmo acontece com a génese de muitos pro-vérbios e expressões idiomáticas. O provérbio "Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz cres-cer" tem leituras semelhantes em vários países. Em Inglaterra, por exemplo, diz-se "Early to bed and early to rise makes a man healthy wealthy and wise". Um variado número de expressões idio-máticas seguem o mesmo caminho. É o caso de

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"Saber de cor". Estamos a relacionar a memória com o coração (Cor em latim). Esta relação, ainda que estranha para a nossa cultura encaixa perfeita-mente na noção de Coração na Medicina Chinesa, um Zang (Órgão) intimamente relacionado com a Mente e com a Memória. E nós Portugueses de alguma forma chegámos a essa conclusão ao lon-go dos séculos muito embora não pensemos nisso quando proferimos esta expressão. E uma vez mais encontramos a supracitada ex-pressão idiomática em várias culturas. Na França diz-se "Savoir par couer" e os Ingleses dizem literal-mente "To know by heart".

Ademais, por vezes a mesma cultura apresenta vários provérbios ou expressões que apontam no mesmo sentido corroborando uma mesma ideia. Neste caso, os Portugueses têm outra expressão que associa ainda o Coração à língua, especialmen-te à sua ponta. Trata-se da expressão "Ter tudo na ponta da língua". Esta relação está mais uma vez em consonância com a ideia da Medicina Tradi-cional Chinesa das somatopuncturas, isto é, a con-cepção de que o corpo está representado de várias formas em cada uma das suas partes. Neste caso, a Medicina Tradicional Chinesa associa o Coração à fala, à língua e especialmente à sua ponta. Uma fissura ou uma alteração da cor na ponta da mes-ma pode indicar informação sobre o estado ener-gético do mesmo ou a propensão para patologias desse foro.

Outro provérbio que diz "Quem muito ama não esquece" relaciona a memória ao coração.

A criação de vários provérbios e expressões idio-máticas que sugerem uma mesma ideia é muito comum. A expressão "Dormir sobre o assunto" aponta para a ideia de que dormir ajuda na resolu-ção de problemas difíceis. Se acharmos que talvez este provérbio não faça muito sentido, que esteja mesmo errado ou seja resultante de uma concep-

ção distorcida da realidade convém lembrar que existem outros que apontam no mesmo sentido. Quando ouvimos dizer "Não faças nada sem antes consultares a almofada" ou "A noite é boa conse-lheira" parece ficar claro que algo acontece duran-te a noite no sentido de auxiliar a nossa percepção da realidade, das nossas escolhas e do nosso dis-cernimento.

A Medicina Tradicional Chinesa associa este as-pecto ao hun que é considerado a Entidade Vis-ceral associada ao Zang Fígado. Significa isto que todos os órgãos, além de terem uma correspon-dência com uma zona no corpo, um órgão senso-rial como vimos antes ou um aspecto emocional eles representam também uma vertente do nosso espírito. E o hun é a parte mais Yang do espírito. É a vertente de nós que já existia antes desta en-carnação e é a que vai continuar a existir depois de deixarmos este corpo e voltarmos a reencarnar. É muitas vezes apelidado de "Alma Etérea" e repre-senta o que realmente somos a nível intemporal. É a nossa Essência, o nosso verdadeiro Eu. É esse ser com um projecto de vida e um rumo ou então a ausência dele.

E acreditavam os Chineses que durante a noite o hun sai do corpo durante o sono para se ligar ao todo. Segundo teorias Jungianas e budistas, o hun é o elo que faz a ligação entre a Mente Individual e a Mente Universal, também chamada de Incons-ciente Colectivo. É desta ligação com o todo que surgem respostas para as questões do dia-a-dia, para a escolha de caminhos a seguir, ou até mes-mo a intuição para a construção de obras de arte. E este hun, sendo de natureza Yang (entenda-se neste caso por muito imaterial) necessita de um enraizamento no Yin do Fígado. Daí que surjam problemas como falta de rumo na vida e o sujei-to torna-se muito aéreo e sonhador por falta de enraizamento desta Entidade Visceral. E por isso se diz em várias línguas que se vai "dormir sobre

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o assunto", da mesma que na nossa temos vários outros provérbios a apontar para o mesmo. Lem-bra outro provérbio que diz "Voz do Povo, voz de Deus".

█ A CANONIZAçãO DO █ CONHECIMENTO

Podemos constatar que o conhecimento foi al-cançado de igual forma no ocidente e no oriente. Por vezes foi compilado outras vezes manteve-se por via oral de geração em geração. Umas vezes foi usado de forma mais intuitiva e imbuído de crenças e rituais. Outras vezes deu-se mais valor à sua vertente mais cartesiana e "científica". E fre-quentemente esse conhecimento foi brotando no discurso quotidiano dos povos de todo o mundo sem que eles frequentemente dessem por isso.

A mente tendencialmente maniqueísta ociden-tal (e não só) tende a preterir algumas formas de uso do conhecimento em relação a outras, talvez menos "científicas". Acreditam por isso que fazer rituais para alcançar um propósito terapêutico é algo desprovido de sentido e por conseguinte inconsequente e arcaico. Confiam, por exemplo, apenas nas virtudes específicas de uma planta con-soante os seus compostos químicos. Mas desconsideram todo um mundo paralelo energético que entra em jogo e pode fazer toda a diferença. Refiro-me ao facto de um tratamento feito de forma idêntica em duas pessoas com o mesmo problema ter efeitos diferentes em cada uma. É certo que este facto pode ter variadíssimas causas já que muitas variantes entram no proces-so da cura. Mas uma delas é a energia que o tera-peuta coloca no tratamento e essa é proporcional à intenção de cura do mesmo. O antropólogo e etnólogo Bertrand Hell refere em vários dos seus livros a diferença terapêutica entre aplicar um tra-tamento fitoterápico com ou sem um ritual em concomitância.

A minha intenção neste artigo não é sugerir que se façam rituais tribais a cada sessão de Medicina Tradicional Chinesa, mas contribuir para a tomada de consciência de que há mais factores que de-terminam o sucesso terapêutico do que apenas a virtude específica de um composto químico, uma enzima ou de um ponto de acupunctura. A reali-dade é bem mais complexa e compreende outros factores como a relação que se estabelece com o paciente, a empatia que se cria e a intenção de cura, além do conhecimento específico da técni-ca que estamos a executar. Da mesma forma que não será obrigatório recitar um mantra específico antes de picar um ponto de acupunctura, também não será producente inserir agulhas enquanto se pensa em assuntos alheios ao paciente e que nada têm a ver com a sua situação específica.

E a concentração no ponto de acupunctura que estamos a puncturar, no seu efeito energético tendo em conta o desequi-líbrio do paciente, considerando e visualizando o trajecto do meridiano é de fulcral importância. Como diz o velho aforis-mo muito usado no Qi Gong, "O Qi vai onde a Mente vai".

Por que razão uma mãe faz o "toque mágico" no local onde o filho se magoa? Porque ela sabe que ambos se vão concentrar no local e visualizar o desaparecimento da dor. E como todos sabemos, funciona. Não é magia, nem superstição. É antes um acto de Amor, e isso sim, é altamente curativo. E é isto que deve ser antes de tudo a terapia. Compreender isto é não desperdiçar conheci-mento. É usar os vários paradigmas vivenciando o termo "holístico" em toda a sua plenitude para alcançar mais sucesso terapêutico.

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PALAVRAS-CHAVE:Sabedoria, Provérbios, Terapia, Acupunctura , Xamanismo

║ REFERÊNCIAS BIBLIOgRÁFICAS

• Hell, Bertrand Soigner les âmes. L'invisible dans la psychothérapie et la cure chamanique, (avec E. Collot), Paris, Dunod, 2011

• Costa Silva Fernando. Acupunctura e Moxibustão – Princípios, técnicas, aplicações. Serviços de Saúde de Macau, 1997

• Yamamura Ysao. Acupunctura – Um texto compreensível. Editora Roca 1996• Maciocia Giovanni. Os Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa. Editora Roca 1996• Lio Monk. Sabedoria Milenar, a Sério e a Brincar. Chiado Editora, 2010

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POSSÍVEIS APLICAÇÕES TERAPêUTICAS FUTURAS DE CANAbINóIDESEduardo A. C. Carvalho*[email protected]

Resumo:

Os canabinóides são hoje reconhecidos como sendo novos e importantes reguladores do metabo-lismo energético e da homeostasia em geral. Em anos recentes, foram identificados canabinóides endógenos (e derivados do seu metabolismo), em células humanas de tecido adiposo. O sistema endocanabinóide é constituído principalmente por dois receptores, canabinóides (CB1 e CB2), pe-los seus ligandos endógenos denominados endocanabinóides, e pelas enzimas responsáveis pela sua biossíntese e degradação. Os endocanabinóides 2-araquidinoglicerol e a anandamida aumentam o apetite, promovem ganho de peso em animais, e exercem uma série de efeitos farmacológicos ini-gualáveis. O desregulamento deste sistema, ou o comprometimento do seu funcionamento poderá estar na origem de muitas enfermidades que ainda hoje tentamos conhecer melhor. A aplicação de compostos desta natureza em medicina é limitado, ou na maioria dos países inexistente. Contudo, vão sendo dados os primeiros passos no sentido de incorporá-los em contexto terapêutico.

* Síntese curricular:

Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Docente das disciplinas de: Análises Clínicas, Fisiologia, Fisiopatologia e Fitoterapia no Instituto Português de Naturologia. Participação em con-gressos como orador na área da Fitoterapia.

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█ INTRODUçãO

A Cannabis assume uma importância significativa a nível medicinal e social há milénios. Os canabi-nóides são obtidos através da Cannabis sativa, sen-do que o seu nome, reflecte o uso ancestral que tem - Cannabis representa uma oferenda, muitas vezes referida no Velho Testamento e em escri-turas hebraicas como “a cana das fragrâncias”; ao passo que sativa provém do Latim, que significa “cultivado”. O conhecido botânico inglês Nicholas Culpeper (1616-1654) escreveu no seu livro “O médico inglês” que o extracto de cânhamo “alivia as do-res de cabeça, ajuda nas dores da Gota, em pro-blemas de articulações, nas dores nos tendões e na anca”. (Culpeper 1652). A preparação de Culpeper provavelmente teria pouca acção psi-coactiva, uma vez que a Cannabis cultivada em latitudes nortenhas apresenta um teor de THC mais baixo. (Booth 2003). O médico irlandês Sir William O'Shaughnessy (1809-1889) efectuou o primeiro estudo à planta, enquanto trabalhava em Calcutá, acabando por popularizar o seu uso. (O'Shaughnessy 1843). A imperadora da Índia (Rainha Vitória) terá inclusivamente usado Canna-bis para aliviar o desconforto menstrual (Iversen 2000). A tintura de Cannabis BPC (British Phar-maceutical Codex) permaneceu disponível no Rei-no Unido mediante prescrição médica até 1971 (Royal Pharmaceutical Society of Great Britain 1998). Ironicamente, a sua retirada do mercado coincidiu com o ressurgimento do interesse na farmacologia canabinóide, após a descrição dos primeiros receptores (CBs). Constatações evidenciadas pela Royal Pharmaceu-tical Society e apresentadas a inquérito na “House of Lords” em 1998 encorajavam pesquisa futura no que respeita ao modo de funcionamento dos receptores canabinóides na Esclerose Múltipla, e outras patologias, incluindo a dor crónica (Royal Pharmaceutical Society of Great Britain 1998;

House of Lords - Science and Technology Com-mitee 1998) . Desde o início do novo milénio, muitos têm sido os estudos apresentados no sen-tido de provar a correlação entre canabinóides e surgimento de certas patologias. O presente tra-balho decorre justamente do facto de haver nos dias de hoje, um renovado interesse pela Cannabis e pelos seus canabinóides; advindo do facto de haver tamanha bipolarização de opiniões quanto a esta matéria, de país para país, de profissional de saúde para profissional de saúde… a proble-mática tem-se tornado crescentemente apelativa, no sentido de melhor conhecer o balanço risco/benefício que uma reintrodução dos canabinóides na sociedade poderia representar, no âmbito da apresentação de tratamentos complementares em patologias reconhecidas, e do seu pleno impacto em termos de Saúde Pública.

█ SISTEMA █ ENDOCANABINÓIDE

Os canabinóides exercem a sua acção farmacoló-gica, mediante a sua interacção com os receptores específicos: CB1 e CB2, cuja descrição foi apre-sentada no final dos anos 80, tendo estes recepto-res sido posteriormente clonados (Matsuda et al. 1990; Munro et al. 1993) . Os receptores CB1 en-contram-se distribuídos principalmente pelo cére-bro (Herkenham et al. 1990) e pelo tecido adiposo (Bensaid et al. 2003) embora também possam ser encontrados no miocárdio (Bonz et al. 2003), en-dotélio vascular (Liu et al. 2000), e nos terminais de nervos “simpáticos” (Ishac et al. 1996). Os receptores CB2 estão principalmente localizados no tecido linfático e em macrófagos periféricos. (Hanus et al. 1999) Ambos os receptores actuam enquanto proteínas-G trasmembranares. A exis-tência de receptores CB3 já foi provada, (Fride et al. 2003) mas o receptor em si ainda não foi clonado. Os receptores canabinóides apresentam grande afinidade para, pelo menos, dois ligandos

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endógenos: pequenas moléculas lipídicas, como a anadamida, e o 2 – araquidinoglicerol ou 2-AG. Em condições normais, o sistema endocanabinói-de não se encontra “tonicamente” activo. Ao invés disso, os endocanabinóides são produzidos por demanda, actuam localmente e são rapidamente inactivados quer por uptake na via celular, quer por hidrólise enzimática. (Giuffrida et al. 2001)

EFEITOS CARDIOVASCULARES

Em modelos de ratinhos anestesiados, a anan-damida administrada intravenosamente, produz uma resposta hemodinâmica trifásica (Verga et al. 1995) ou seja, provoca um breve período de bradicardia e hipotensão, seguido de uma reacção de transição, culminando numa resposta vasode-pressora relativamente prolongada. Este último efeito é o dominante da anandamida, em mode-los animais, e resulta de inibição (mediada pelos receptores CB1) da libertação de norepinefrina de terminais nervosos pré-sinápticos (Niederho-ffer et al. 2003). Em humanos, a administração de canabinóides de forma aguda resulta numa va-sodilatação e numa taquicardia, traduzidas numa variação da pressão sanguínea, a nível sistémico (Huestis et a.l 1992). No entanto, o uso crónico de THC, origina uma hipotensão e uma bradicar-dia, mediadas igualmente pelos receptores CB1. (Benowitz-Jones 1975 ; Lake et al. 1997) Investigações mais recentes, demonstram que o sistema endocanabinóide também assume um papel na hemodinâmica de estados de choque. De forma efectiva, em condições experimentais de hemorragia (Wagner et al. 1997), enfarte do miocárdio, (Wagner et al. 2001) ou endotoxemia (Varga et al. 1998; Godlewski et al. 2004) os ma-crófagos e trombócitos circulantes sintetizam anandamida, que contribui para o surgimento da hipotensão e choque. Com o bloqueio destes re-ceptores CB1 estes mesmos efeitos são atenuados.

EFEITOS METABÓLICOS

Ambos os receptores canabinóides e os seus li-gandos encontram-se em todos os tecidos que desempenham um papel importante na regulação da fome. Os níveis de endocanabinóides no hi-potálamo descem após a administração de lepti-na - hormona da "saciedade" que regula os níveis de energia presentes sob a forma de gordura no corpo (Di Marzo et al. 2001). Os agonistas CB1 são potentes indutores, (dependentes da dose) de hiperfagia em modelos experimentais, (Williams--Kirkham 1999; Jamshidi-Taylor 2001; Kirkham et al. 2002) ao passo que o antagonismo de re-ceptores CB1 previne a hiperfagia nos mesmos modelos (Ravinet et al. 2004). No fígado, os endo-canabinóides actuam com o intuito de promover a lipogénese e estimular a síntese de novo de ácidos gordos. (Osei-Hyiaman et al. 2005)

█ CANABINÓIDES E █ DEPENDÊNCIA

As regiões do cérebro que se pensa estarem en-volvidas na obtenção de prazer contêm níveis elevados de receptores CB1 (Herkenham et al. 1996), e novas descobertas têm sido feitas, que su-gerem um papel para o sistema endocanabinóide na formação e desenvolvimento de dependência a substâncias psicotrópicas. Especificamente, os en-docanabinóides modulam a reactividade e condi-cionam-na após abstinência prolongada da subs-tância (De Vries et al. 2005). Estes efeitos foram já demonstrados para uma série de substâncias, incluindo a cocaína (De Vries et al. 2001), heroína (Fattore et al. 2003), anfetaminas (Anggadiredja et al. 2004), e álcool (Gallate et al. 1999). Existem também estudos que comprovam que o sistema endocanabinóide assume um papel importante na modulação da dependência à nicotina. De facto, os efeitos agradáveis da nicotina desapareceram em ratinhos carenciados de receptores CB1 (Cas-

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tane et al. 2002), enquanto que a administração de antagonistas selectivos CB1, como o rimona-banto, diminui a intensidade do comportamento envolvido na procura da nicotina (Balerio et al. 2004). De forma interessante, o envolvimento en-docanabinóide no desenvolvimento da dependên-cia de nicotina, parece estar limitado aos aspectos psicológicos da dependência, uma vez que os efei-tos da abstinência de nicotina, em termos físicos, não foram atenuados em ratinhos deficientes de receptores CB1. (Ramirez et al. 2005)

CANABINÓIDES E DOENçA DE ALZHEIMER

Investigadores da Universidade de Madrid e do Instituto Cajal de Espanha, reportam que a admi-nistração intracérebroventricular de canabinóides reduz a neurotoxicidade em ratinhos injectados com o péptido amilóide-beta. Outros canabi-nóides revelaram igualmente uma capacidade de redução da inflamação associada à doença de Al-zheimer, no cérebro humano. “Os nossos resul-tados indicam que os canabinóides têm sucesso na prevenção do processo neurodegenerativo que ocorre na doença”, concluíram os investigado-res (Ramirez et al. 2005). Em 2006, verificou-se que o THC inibia uma enzima responsável pela agregação da placa amilóide – o principal mar-cador da doença de Alzheimer – de uma forma “consideravelmente superior” a muitos medicamentos disponíveis. “O THC e os seus análogos poderão re-presentar uma opção terapêutica mais sofisticada para a doença de Alzheimer, ao tratar simultaneamente os sinto-mas da doença e a progressão da mesma” (Eubanks et al. 2006). Estudos pré-clínicos anteriores haviam demonstrado que os canabinóides podiam preve-nir a morte celular por anti-oxidação (Hampson et al. 1998). Alguns especialistas acreditam que as propriedades neuroprotectoras dos canabinóides, podem também assumir um papel importante na moderação da doença de Alzheimer (Science

News 1998). A manipulação da via canabinóide oferece uma aproximação farmacológica para o tratamento da doença de Alzheimer, que poderá vir a ser mais eficaz que muitos regimes actuais (Campbell and Gowran 2007). É reportado que a administração diária de 2,5 mg de THC sintético por um período de tempo de duas semanas, reduz a actividade motora nocturna e a agitação, em do-entes com Alzheimer. (Walther et al. 2008)

CANABINÓIDES E DOR

Os estudos que têm sido desenvolvidos nesta área apontam para que o uso de Cannabis seja comum em grupos de pacientes que sofrem de dor neuro-pática (Cone et al. 2008), e vários ensaios clínicos recentes indicam que a inalação de marijuana pode aliviar significativamente esta condição. Um pu-nhado de ensaios recentes demonstra que o fumar Cannabis, reduz a dor neuropática em pacientes com HIV, em cerca de 30%, quando comparados com o placebo (Abrams et al. 2007; Ellis et al. 2008). No ano de 2008, os investigadores da Uni-versidade da Califórnia averiguaram a eficácia de Cannabis inalada na intensidade da dor em 38 pa-cientes com dor neuropática central ou periférica; cruzando posteriormente os seus resultados com a aplicação de um placebo. A conclusão final: “A Cannabis reduz a intensidade da dor e o mau-estar associado a ela. Assim, tal como com os opióides, a Cannabis não se fundamenta no relaxamento ou no efeito tranquilizante, mas antes, na redução tan-to da componente essencial da nocicepção, como no aspecto emocional da experienciação de dor, em igual grau” (Wilsey et al. 2008). Já em 2009, uma equipa de investigadores reafirmou estes achados pré-clínicos num estudo científico de pa-cientes com cancro terminal. Assim, concluíram: “...o extracto contendo THC/CBD demonstrou apresentar um maior perfil promissor em termos de eficácia, que o extracto contendo somente o THC. A conclusão é reafirmada pela evidência de

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sinergia adicional entre o THC e o CBD. "Estes resultados são bastante encorajadores, e merecem estudo futuro.” (Johnson et al. 2009).

CANABINÓIDES E ESCLEROSE MúLTIPLA

São vários os artigos contendo evidências da ca-pacidade dos canabinóides reduzirem sintomas relacionados com a doença como: a dor, a espasti-cidade, depressão, fadiga, e incontinência (Chong et al. 2006; Rog et al. 2005). – tal facto tem levado muitas organizações de pacientes sofredores de Esclerose Múltipla, como as Sociedades Britânica e Canadiense de Esclerose Múltipla, a assumirem posições no sentido de favorecer a prescrição da substância para uso individual (Wade et al. 2004). Os pacientes sofredores de Esclerose Múltipla muitas vezes associam a sua terapia ao consumo de Cannabis (Brady et al. 2004), com um estudo inclusivamente indicando que um em cada dois pacientes, usa a Cannabis, terapeuticamente (Vaney et al. 2004). Ensaios clínicos e pré-clínicos suge-rem também que os canabinóides poderão inibir a progressão desta doença. Um artigo publica-do em 2003 na revista Brain por investigadores da University College of London's Institute of Neurology, afirma: “Os resultados deste estudo são importantes, na medida em que sugerem que, para além do controlo sintomático da doença, a Cannabis pode também desacelerar o processo neurodegenerativo, que em última instância leva-rá à paralização total, ou provavelmente a outra doença” (Pryce et al. 2003). Os investigadores da Universidade Médica Holandesa de Vrije, afirma-ram, pela primeira vez em 2003, que a adminis-tração oral de THC, pode promover um melhor funcionamento do sistema imune, em pacientes com Esclerose Múltipla. Concluíram: “Estes re-sultados sugerem que os canabinóides apresentam um potencial anti-inflamatório na Esclerose Múl-tipla" (Killestein et al. 2003). Em um outro estudo

realizado em 2006, em 167 sujeitos sofredores da doença, foi concluído que o uso do extracto da Cannabis aliviou os sintomas de dor, espasticidade e incontinência urinária, durante um período de tratamento em média de 434 dias (sem submeter os pacientes a aumentos de dosagem) (Wade et al. 2006). Por outro lado, um outro estudo rea-lizado em 2007 concluiu que a administração de extractos de Cannabis, encontrava-se associada a reduções a longo prazo na dor neuropática, em pacientes seleccionados, com Esclerose Múltipla. Em média, os pacientes em estudo requeriam do-ses tendencialmente mais baixas, ao longo do tem-po, enquanto simultaneamente reportavam uma diminuição substancial da dor (Rog et al. 2007). A Health Canada, aprovou recentemente o uso de extractos de Cannabis mediante prescrição médica, para doentes que padecem de dor neuropática, em função da doença a que esta se encontra associada. (Canada News Wire 2005).

CANABINÓIDES E HIPERTENSãO

A investigação emergente indica que o sistema endocanabinóide assume um papel na regulação da pressão arterial, embora o seu mecanismo de acção não seja ainda muito bem conhecido (Fran-jo 2006). Estudos em animais demonstram que a anandamida e outros endocanabinóides suprimem profundamente a contractilidade cardíaca na hiper-tensão, podendo ainda normalizar a pressão san-guínea (Baktai et al. 2004; Pacher et al. 2005), o que leva alguns peritos a especular que a manipulação do sistema endocanabinóide “poderá oferecer uma nova aproximação terapêutica para uma variedade enorme de doenças cardiovasculares” (Pacher et al. 2005). Em modelos animais, a administração de canabinóides encontra-se associada, normalmente, a uma vasodilatação, a uma bradicardia e a hipoten-são (Resse Jones 2002), assim como a uma inibi-ção da progressão da aterosclerose (espessamento das artérias) (Steffens and Mach - "Nature" 2006;

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Steffens et al. 2005; Steffens and Mach 2006). A administração de canabinóides sintéticos, provoca igualmente uma diminuição na pressão arterial em animais, e não foi até hoje associada a qualquer tipo de toxicidade em humanos. (Steven Karch 2006; François Mach 2006).

CANABINÓIDES E DOENçAS gASTRO-INTESTINAIS

Estudos pré-clínicos demonstram que a activação dos receptores canabinóides CB1 e CB2 exer-ce funções biológicas no tracto gastro-intestinal (Pertwee 2001). Os efeitos da sua activação em animais, inclui a supressão da motilidade gastro--intestinal (Pertwee 2001), inibição da secreção intestinal (Di Carlo 2003), diminuição do refluxo ácido (Lehmann et al. 2002) e protecção de infla-mações (Massa et al. 2005) assim como promover o tratamento de lesões epiteliais em tecido huma-no (Wright et al. 2005). Como resultado, muitos especialistas agora crêem que os canabinóides e/ou a modulação do sistema endógeno canabinóide representa um novo modelo terapêutico no que concerne ao tratamento de uma série de condi-ções gastro-intestinais – incluindo as doenças irritativas do cólon, doenças relacionadas com o funcionamento intestinal, condições que apresen-tem refluxo gastro-esofágico ou emese, diarreia abundante, úlceras gástricas, e cancro do cólon. (Massa-Monory 2005; Wright et al. 2005)

CANABINÓIDES E ARTRITE REUMATÓIDE (AR)

Um estudo realizado em Inglaterra, constatou que mais de 20% dos inquiridos afirmaram usarem a planta para tratamento dos sintomas (Ware et al. 2005). Em Janeiro de 2006, os investigadores do British Royal National Hospital for Rheumatic Di-sease concluíram que os canabinóides poderiam ser utilizados com sucesso no tratamento da do-

ença, naquele que foi o primeiro estudo científi-co com o intuito de aceder à eficácia da Cannabis, enquanto planta, no tratamento da AR (Blake et al. 2006). Os investigadores admitiram que a ad-ministração de extracto de Cannabis por um perío-do de mais de cinco semanas, produziu melhorias significativas na intensidade da dor de locomoção, dor estacionária, qualidade do sono, inflamação, e intensidade da dor geral quando comparado com o placebo. Não foram reportados efeitos adversos. Resultados similares haviam já sido apresentados em ensaios de menor dimensão, de Fase II, inves-tigando o uso de extractos naturais de Cannabis no alívio de sintomas da Artrite Reumatóide (Drugs in Research and Development 2003). Num artigo publicado em 2000 no Journal of the Proceedin-gs of the National Academy of Sciences, os in-vestigadores do London’s Kennedy Institute for Rheumatology constataram que a administração de canabidiol (CBD) suprime a progressão da AR in vitro, e em modelos animais (Malfait et al. 2000). O uso do Canabidiol, após o surgimento dos sintomas clínicos, protegeu os ligamentos contra “danos severos”, “bloqueando de forma efectiva a progressão da doença”. Em Setembro de 2005, num artigo do Journal of Neuroimmu-nology, os investigadores do Instituto Nacional de Neurociência, em Tóquio, concluíram: “A terapia canabinóide no tratamento da Artrite Reumatóide poderá representar um alívio da dor sintomática a nível dos ligamentos, assim como poderá ajudar a suprimir a destruição dos mesmos e a progressão da doença em si.” (Croxford-Yamamura 2005)

CANABINÓIDES E OSTEOPOROSE

As referências iniciais ao potencial uso de cana-binóides contra o surgimento de osteoporose encontram-se disponíveis na literatura científica desde o início dos anos 90 (Schrieber 1995). Pu-blicado em 2006 no Proceedings of the Natio-nal Academy of Sciences, os investigadores do

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laboratório de Bone da Universidade Hebraica de Jerusalém afirmaram que a administração de agonistas canabinóides sintéticos como o HU-308 atrasou o desenvolvimento da osteoporose, esti-mulando a reparação óssea e reduzindo a perda de material ósseo em animais (Ofek et al. 2006). No seguimento desta investigação, um artigo pu-blicado no Annals of the New York Academy of Sciences em 2007 afirma que a activação do recep-tor canabinóide CB2 reduz, experimentalmente, a indução da perda de massa óssea, estimulando a regeneração tissular (Itai 2007). Previamente, os investigadores haviam reportado que os ratinhos deficientes em receptor canabinóide CB2, expe-rienciaram perda de massa óssea considerável, reminiscente da osteoporose humana (Ofek et al. 2006). Embora o papel do sistema endocanabinói-de na regulação de massa óssea não esteja ainda bem compreendido (Idris et al. 2005), os peritos estão esperançosos que os canabinóides e o sis-tema receptor sejam “um novo e promissor alvo para o desenvolvimento de medicação anti-osteo-porática.” (Itai 2007)

CANABINÓIDES E FIBROMIALgIA

A Fibromialgia muito raramente é controlável através da medicação prescrita. Os doentes com Fibromialgia frequentemente admitem o uso de Cannabis, terapeuticamente, para tratar os sinto-mas da doença (Swift et al. 2005; Ware et al. 2005), e os médicos – legalmente ou não – recomendam, frequentemente a utilização da planta para tratar problemas músculo-esqueléticos (Gieringer 2001; Gorter et al. 2005). Até à data, no entanto, somen-te um ensaio clínico foi feito, (e que se encontra disponível em literatura científica) a respeito do uso de canabinóides para tratar objectivamente esta doença. Publicado em 2006, na revista Cur-rent Medical Research and Opinion, um artigo dos investigadores da Universidade Alemã de Heidelberg avaliou os efeitos analgésicos da ad-

ministração oral de THC em 9 pacientes com Fi-bromialgia, por um período de 3 meses. De entre os participantes que finalizaram o mesmo, todos revelaram uma redução significativa no registo diário de dor e na dor induzida electronicamente (Schley et al. 2006). Outros ensaios pré-clínicos e clínicos demonstraram que tanto os canabinóides que ocorrem naturalmente no nosso corpo, como os exocanabinóides, apresentam propriedades analgésicas semelhantes (Burns-Ineck 2006; Secko 2005; Wallace et al. 2007; Cox et al. 2007), particu-larmente no tratamento da dor associada ao can-cro (Radbruch-Elsner 2005), e na dor neuropática (Notcutt et al. 2004; Abrams et al. 2007; Rog et al. 2007), sendo que ambas são insuficientemente tratadas com os opióides convencionais, hipoteti-zando até que a doença esteja talvez associada a uma deficiência clínica latente no sistema endoca-nabinóide. (Russo 2004)

CANABINÓIDES E HIV

Censos recentemente efectuados indicam que a Cannabis é usada por um em cada três Norte-Ame-ricanos afligidos com a doença, quer para tratarem os sintomas desta, quer para evitarem os efeitos adversos de muitos medicamentos anti-retrovirais (Woolridge et al. 2005; Prentiss et al. 2004; Braits-tein et al. 2001; Ware et al. 2003); sendo que um estudo recente sustenta que mais de 60% dos pa-cientes com HIV/SIDA se auto-intitula um “utili-zador de Cannabis medicinal” (Belle-Isle 2007). Os ensaios clínicos indicam que a Cannabis por si só, não tem um impacto adverso nas células T-CD4 e T-CD8, no que respeita à sua expressividade (Chao et al. 2008). Poderá inclusivamente melho-rar o desempenho do sistema imunológico (Abra-ms et al. 2003; Fogarty et al. 2007). Em 2007, os investigadores da Universidade da Columbia con-cluíram que “a Marijuana fumada apresenta um claro benefício médico para sujeitos infectados com o vírus do HIV” (Haney et al. 2007). Nesse

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mesmo ano, os investigadores do San Francisco General Hospital e da University of California's Pain Clinical Research Center reportaram no jor-nal Neurology que a inalação de Cannabis (se cerca de três vezes ao dia) pode reduzir a dor do paciente em cerca de 34%. Assim, concluíram: “A Cannabis fumada foi bem tolerada e aliviou de forma eficaz a dor neuropática associada à neuropatia do HIV, de forma semelhante a medicações orais usadas para o tratamento da dor neuropática” (Abrams et al. 2007). Em 2008, investigadores da Universida-de da Califórnia, em San Diego publicaram no seu artigo, no jornal Neuropsychopharmacology, que; “A Cannabis fumada reduz significativamente a in-tensidade da dor neuropática associada ao HIV… a polineuropatia quando comparada com o pla-cebo, adicionada de analgésicos concomitantes estáveis… melhora a estabilização de humor, au-xilia na incapacitação física e qualidade de vida…que, para os doentes, melhorou significativamente durante o tratamento do estudo… "Os nossos achados sugerem que a terapia canabinóide pode-rá ser uma opção eficaz para alívio em pacientes de dor dificilmente tratável devido ao HIV" (Ellis et al. 2008). Como resultado, muitos peritos agora crêem que a “marijuana representa uma opção de tratamento na manutenção da saúde do paciente seropositivo”. (Fogarty et al. 2007)

CANABINÓIDES E CANCRO

Em Setembro de 1998 numa edição do jornal FEBS Letters, os investigadores da Univerdade Complutense de Madrid, mais concretamente da Escola de Biologia, reportaram inicialmente que o delta-9-THC induzia a apoptose (morte celular programada) em culturas de células de Glioma (Guzman et al. 1998). Os investigadores confir-maram novamente, em 2003, a possibilidade dos canabinóides inibirem o crescimento de tumores animais (Guzman et al. 2003). No mesmo ano, cientistas italianos da Universidade de Milão, do

Departamento de Farmacologia, Quimioterapia e Toxicologia, comprovaram que o canabinóide não-psicoactivo, o canabidiol, inibe o crescimen-to de várias linhas celulares humanas de Gliomas, tanto in vitro como in vivo (de forma dependente da dose). Publicado em Novembro de 2003, num artigo do Journal of Pharmacology and Experi-mental Therapeutics Fast Forward, os investiga-dores constataram “uma actividade anti-tumoral significativa tanto in vivo como in vitro do Cana-bidiol, sugerindo assim uma possível aplicação deste composto como um agente anti-neoplásico” (Massi et al. 2004). Em Agosto de 2004, um artigo publicado na revista Cancer Research, conclui que “os achados clínicos presentes em ambiente labo-ratorial representam um novo alvo farmacológico para terapias baseadas no uso de canabinóides” (Guzman et al. 2004). Os investigadores também notaram que o THC seleccionava as células can-cerosas, ignorando as saudáveis de forma muito mais profunda, do que o alternativo sintético (Allister et al. 2005). A relativa segurança do THC, conjuntamente com a sua acção anti-proliferativa em tumores pode conter a base para ensaios fu-turos, almejando avaliar o potencial anti-tumoral decorrente da actividade canabinóide” (Guzman et al. 2006). Para além da capacidade que os ca-nabinóides possuem na moderação de células de Glioma, estudos paralelos demonstram que os canabinóides e os endocanabinóides podem tam-bém inibir a proliferação de várias linhas celulares, incluindo as do cancro mamário (Cafferal et al. 2006; Di Marzo et al. 2006; De Petrocellis et al. 1998; McAllister et al. 2007), cancro da próstata (Sarfaraz et al. 2005; Mimeault et al. 2003; Ruiz et al. 1999), carcinoma colorectal (Pastos et al. 2005), adenocarcinoma gástrico (Di Marzo et al. 2006), cancro da pele (Casanova et al. 2003), células de linhas leucémicas (Powles et al. 2005; Jia et al. 2006), neuroblastoma (Guzman 2003), cancro do pulmão (Preet et al. 2008), cancro do colo do úte-ro (Guzman 2003), epitelioma da tiróide (Baek et

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al. 1998) adenocarcinoma pancreático (Carracedo et al. 2006; Michalski et al. 2007) carcinoma cer-vical (Ramer-Hinza 2008) e linfoma (Gustafsson et al. 2006; Gustafsson et al. 2008). Consequente-mente, muitos peritos hoje concordam que os ca-nabinóides “podem representar uma nova classe de medicamentos anti-tumorais, que retardam o crescimento celular anormal, inibindo a angiogé-nese e a metastização das células cancerígenas” (Kogan 2005; Sarafaraz et al. 2009).

█ CONCLUSãO

Sobressaem, sem dúvida nenhuma, perspectivas interessantes e estimulantes quanto a um possí-vel uso de Cannabis (enquanto planta) e/ou dos canabinóides que directa ou indirectamente de si advêm, no tratamento de doenças muitas vezes incapacitantes e incuráveis. Nem que não repre-sente directamente a cura para estas patologias, confere certamente uma alternativa terapêutica, ou pelo menos uma complementaridade sinérgica ao tradicional tratamento empregue. Em muitos casos, verifica-se que melhora a sintomatologia nos pacientes, arrastando consigo uma melhora na qualidade de vida, ânimo e alívio rápido (se não instantâneo) de muitas condições comuns a diversas patologias, como: dor, depressão, perda de apetite, etc. Há muito que são conhecidas algumas das face-tas que ajudam a tornar a Cannabis “a droga mais popular do mundo”. As inigualáveis propriedades que possui, e o vastíssimo conhecimento que dela se poderá adquirir para a área científica, fazem com que a necessidade de se investigar e aprofun-dar mais a temática, se torne imperativa. O desco-nhecimento e a campanha de desinformação em torno da “eminente perigosidade” que acarreta deve ser um aviso para a comunidade científica, no sentido de procurar esclarecer e informar de-vidamente a comunidade e a população em geral. Perante os mais variados factos apresentados, jul-

go que não se poderá descartar de forma leviana a possibilidade de fomentar investigações futuras (pois as existentes, apesar de tudo, são ainda es-cassas). A existência recentemente comprovada de um sistema endocanabinóide poderá, portan-to, conter a chave para um melhor entendimento relativamente ao funcionamento do organismo animal, e humano em particular. Deve ser levan-tada a hipótese de, com um maior e melhor en-tendimento das propriedades dos canabinóides, mas, sobretudo, da forma com que actuam nos inúmeros receptores canabinóides, poder com isso contribuir - embora que modestamente, mas de forma singular - para um avanço do conheci-mento científico e da educação do público-alvo. A terapêutica canabinóide apresenta uma futura re-levância, sobretudo para o caso de doentes termi-nais, que são os que mais lamentam o tratamento a que são submetidos; com os efeitos adversos com que muitas vezes têm de acatar. Acima de tudo, parece ser unânime que a utilização de Cannabis e/ou canabinóides como anti-eméticos em pós--quimioterapia, deve ser equacionada.

Não se deverá também, levianamente, ignorar a existência de medicação muito bem tolerada para algumas das patologias apresentadas, (sobretu-do no que respeita a estados eméticos) embora também não deixe de ser verdade que muito di-ficilmente se consegue satisfazer com um dado regime terápico, 100% dos pacientes. Assim sen-do, a obrigação de um profissional de saúde será também lutar para que a maioria dos afligidos seja “satisfeita”, e nesse fio de pensamento alguns paí-ses iniciaram já o fornecimento de Cannabis medi-cinal para os seus doentes, e mediante prescrição médica, na medida em que entendem que a utili-zação de outras substâncias (como por exemplo) as usadas em ambulatório, pode apresentar efeitos indesejáveis e dificilmente tratáveis, levando por vezes à dependência. Muitas outras condições poderiam ter sido tam-

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bém abordadas neste contexto como o Glaucoma, a Asma, a Depressão, etc. No fundo, doenças em que comprovadamente o tratamento com canabi-nóides é tudo menos irresponsável. Sem dúvida que o status legal da substância obriga muitas ve-zes os subsidiários de muitos estudos a assumir alguma relutância, mas é sobretudo a ideia de que nada de bom poderá alguma vez provir de algo que já foi patenteado como sendo “um veneno” que torna toda esta situação complicada. Embo-ra a ideia de tornar uma parte da Natureza ilegal pareça um tanto ou quanto paranóica no entender de alguns, é acima de tudo incompreensível o re-ceio de se poder conter numa simples planta uma alternativa terapêutica mais bem tolerada com menos efeitos secundários, e quem sabe, conter

até uma possível resolução para um vasto leque de enfermidades agudas e crónicas que nos afligem. Torna-se fácil compreender os motivos pelos quais a Cannabis é tão mal compreendida. Por uns é exageradamente louvada, por outros é exagera-damente diabolizada. Talvez um pouco por todos, seja altamente incompreendida. Uma questão de-verá ser colocada: “se nem dentro da comunidade científica se consegue consensualizar uma opinião em relação a uma substância natural, como pode-remos tentar encontrar um consenso para a enor-me variedade de sintéticos que já existem, e para todos aqueles que virão no futuro?”

PALAVRAS-CHAVE:Canabinóides; Fitoterapia; Aplicações e Efeitos da Cannabis; Terapêuticas Não-Convencionais (TNC)

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Ana Cláudia Barreira NunesFarmacêutica, licenciada em Ciências Farmacêu-ticas pela FFUP e doutorada em Química pela FCUP. Curso de Plantas em Fitoterapia credi-tado pela Ordem dos Farmacêuticos e SPFiTo; Coordenadora do Curso de Farmácia, na Esco-la Superior de Saúde Jean Piaget de V.N.Gaia, onde é regente das Unidades Curriculares de Dermofarmácia e Cosmética e Tecnologia de Produção em Farmácia. Organiza, regularmente Workshops na área da Dermocosmética e par-ticipa como palestrante em diversos eventos da área. Realiza investigação científica na área da Dermocosmética, estudos de eficácia, em parce-ria com Laboratórios Farmacêuticos.

Ana Cristina EstevesLicenciada e Biologia na Universidade de Aveiro (UA) em 1996 e doutorada em Biologia pela UA em colaboração com com o Centro de Neuro-ciência e Biologia da Célula, da Universidade de Coimbra, em 2002. Professora Convidada do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, bem como investigadora do CESAM--UA (Centre of Environmental and Marine Studies). A investigação é centrada na relação da interação dos micro organismos com outros organismos e a sua resposta às alterações do am-biente.

Ana Cristina Estrela de Oliveira C. CordeiroBolseira de pós-doutoramento da FCT . Ligação à FMUP e ao IBMC. A área de investigação é a dor visceral crónica, à qual se encontram as-sociadas patologias como o síndrome de cólon irritável, a cistite intersticial, entre outras doenças. Estudo sobre os mecanismos pato-fisiológicos destas doenças, bem como arranjar novos trata-mentos e ferramentas de diagnóstico. Percurso escolar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa para obtenção da licenciatura em Microbiologia. Passagem pelo

IPATIMUP. Grau de mestre em Toxicologia pela Universidade de Aveiro. Grau de doutor em Bio-logia Humana, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.António José Afonso MarcosProfessor Universitário. Mestre em Medicina Natural e Especialista em Dietética e Nutri-ção pela Faculdade de Medicina da USC. Pós--graduado em Acupunctura e Moxibustão pela Associação Médica Chinesa. Diplomado em Acupunctura e em Naturopatia pela ESTP. Pre-sidente do Instituto Português de Naturologia. Membro consultor em Comissões de elaboração de diplomas legais. Membro do Conselho Cien-tífico de várias revistas científicas. Diretor do CTEC e Presidente do Conselho Científico da Universidade.

Arménio Jorge Moura BarbosaLicenciado em Bioquímica pela Universidade do Porto em 2006 tendo participado no programa Erasmus na Universidade de Modena e Reggio Emilia (Italia). Doutorado em 2010 pela Univer-sidade de Modena e Reggio Emilia (Itália) em química computacional, sobre a interação de ligandos com o recetor de serotonina 5-HT3. Em 2010 iniciou o Pos-doutoramento na área da descoberta e desenvolvimento de fármacos anti--cancro, utilizando bases de dados de moléculas orgânicas de origem sintética e natural. Participa anualmente em congressos internacionais apresentando resultados para targets: epigeneticos, recetores GPCR, complexos proteína-RNA, recetores nu-cleares. Colabora com vários grupos de inves-tigação nacionais e internacionais e tem varias publicações em revistas cientificas.

Carlos Manuel Moreira Mota CardosoLicenciatura em Medicina e Cirurgia, pela Facul-dade de Medicina da Universidade do Porto. Tí-tulo de Especialista em Psiquiatria pela Ordem

membros do conselho científico (resumo curricular)

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dos Médicos. Bolseiro da Direcção Geral de Cui-dados de Saúde Primários para efectuar um está-gio em Trieste (Itália) no Hospital de S. Giovani (1985). Grau de Mestre em Psicopatologia pela Universidade do Porto (Dissertação: A Clínica Psiquiátrica de Urgência – 13 anos de experiên-cia). Grau de doutor em Psicologia pela Univer-sidade do Porto (Dissertação: Os Caminhos da Esquizofrenia).Director do Hospital do Conde de Ferreira e Presidente do Conselho de Gerên-cia, por vários mandatos. Director do Centro de Saúde Mental do Norte. Membro eleito do Colégio Português de Psiquiatria da Ordem dos Médicos. Coordenador da Ordem dos Médicos para o Serviço Nacional de Saúde. Mandato no Colégio de psiquiatria da Ordem dos Médicos. Nomeado pelo Conselho Científico da Faculda-de de Direito da Universidade do Porto como docente convidado da Escola Superior de Crimi-nologia. Foi-lhe atribuído o título académico de “Professor Afiliado”. Participação em diversos trabalhos de investigação e autor de várias publi-cações e artigos da especialidade.

Jose Maria Robles RoblesLicenciado em Fisioterapia pela Universidade Europeia de Madrid. Diplomado em Ciências da Saúde, Fisio-terapia, da Universidade Alfonso X el Sabio, Madrid. Doutorado em Acupuntura pelo Comitê Internacional de Exames República Popular da China, pertencente ao Ministério da Saúde Pública. Formação em Terapias Alternativas: Acupuntura, Naturopatia, Osteopatia, Massagem. Formação em Medicinas Tradicionais pelas Universidades da China, Tailândia. Diretor da Acade-mia de Ciências da Saúde, em Barcelona.

João Paulo Ferreira Leal Consultor científico independente, tendo de-sempenhado funções docentes ao longo de duas décadas em instituições portuguesas de ensino superior nas áreas letivas de Antropologia, Bio-ética, Ética, Deontologia Profissional, e Política.

É licenciado em Antropologia, pós-graduado e mestre em Relações Internacionais (Ética em RI), DEA em Antropologia Social e doutorado em Psicologia (Psicologia de Desenvolvimento Moral). Realizou pós-doutoramento em Antro-pologia Médica, com relatório de pesquisa orien-tado para os temas da Antropologia do Corpo, da Doença e da Saúde.

Luis Alberto Coelho Rebelo MaiaEditor-in-Chief da “Iberian Journal of Clinical & Forensic Neuroscience” (ISSN - 2182 - 0290) .Cédula Profissional da Ordem dos Psicólogos, n.º 102. Professor Auxiliar - Beira Interior Uni-versity. Clinical Neuropsychologist, PhD (USAL - Spain). Neuroscientist, MsC (Medicine School of Lisbon - Portugal). Medico Legal Perit (Me-dicine Institute Abel Salazar - Oporto, Portu-gal). Graduation in Clinical Neuropsychology (USAL Spain). Graduation in Investigative Pro-ficiency on Psychobiology (USAL-Spain).Clini-cal Psychologist (Minho University - Portugal). Associated Editor of “Revista Psicologia e Edu-cação” UBI. Integrated Researcher in CIDESD - Center for Investigation in Sports, Education and Health- UBI Portugal.

Maria Isabel do Amaral A. Vaz Ponce de LeãoLicenciatura em Filologia Românica pela Uni-versidade de Coimbra. 3.º Ciclo de Estudos em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Faculdade de Filoloxia da Universidade de Santiago de Compostela. Doutoramento em Li-teraturas Hispânicas pela mesma Universidade (reconhecido pela Faculdade de Letras da Uni-versidade de Coimbra, Portugal, com o n.º 1/98, com publicação no Diário da República n.º 188 de 17.08.98). Agregação em 2009. Estatuto de formadora na área e domínio C046 Português / Língua Portuguesa, concedido pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua,

membros do conselho científico (resumo curricular)

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conforme registo CCPFC/RFO-02956/97. Pro-fessora Catedrática da Universidade Fernando Pessoa. Membro integrado do CLEPUL a cuja direcção pertence, e colaboradora do CIEC. Só-cia fundadora e elemento da direcção do Circulo Literário Agustina Bessa-Luís. Coordenadora do projecto e-médico+. Áreas de Investigação: Li-teratura Portuguesa Contemporânea, Literatura / artes / ciências. Discurso de Imprensa. Autora de vários livros e artigos que incidem nas áreas acima referidas.

Maria Manuela Nunes da Costa Maia da SilvaLicenciatura em Direito. 3.º Ciclo de Estudos Direito pela Faculdade de Direito da Universi-dade de Santiago de Compostela. Bolseira de Investigação da JNICT durante 4 anos, com estatuto de Investigadora. Doutoramento Eu-ropeu em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Santiago de Compostela, reco-nhecido pela Faculdade de Direito de Coimbra e publicado em Diário da República. Mestre em Medicina Natural e Aplicação em Atenção Primária, pela Faculdade de Medicina da Uni-versidade Santiago Compostela. Pós-graduação em Acupunctura e Moxibustão pela Associação Médica Chinesa, Beijing, China. Diretora Geral do Instituto Português de Naturologia. Profes-sora Universitária. Exercício de várioscargos de direção e reitoria em instituições de en-sino superior. Presidente do Conselho Científico de uma das universidades. Membro integrado do CLEPUL. Membro consultor em Comissões de elaboração de diplomas legais. Membro de Conselho Científico de várias revistas científicas. Presidente da APSANA - Associação Europeia de Profissionais de Saúde Natural. Membro funda-dor de Centros de Investigação e membro atual de alguns Centros de Investigação. Autora de várias publicações.

Miguel F. Tato DiogoLicenciado em Engenharia de Minas pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e Doutorado em Gestão de Recursos Naturais com apoio em Siste-mas de Informação Geográfica pela Universidade de Vigo, Espanha. Professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Membro (Investigador) do CIGAR – Centro de Investigação em Geo-Ambiente e Recursos e do CERENA – Centro de Recuros Na-turais e Ambiente. Membro da Comissão Científica do Programa de Formação Contínua da FEUP. Membro (Vogal) da Comissão Diretiva do Centro de Compe-tências em Envelhecimento Ativo e Saudável (UPorto Ageing Network) da Universidade do Porto, no grupo de trabalho, “Fostering Innovation for Age-friendly Buildings, Cities & Environments.

Rui Miguel Freitas gonçalvesLicenciado em Bioquímica com especialização em Indústrias Alimentares pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Mestre em Tecnologia Ciência e Segurança Alimentar pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho e pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Doutor em Química pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Bolseiro do Instituto de Bebidas e Saúde – Unicer. Vencedor do Prémio de Excelência em Investigação Cientí-fica pelo Instituto de Bebidas e Saúde. Investiga-dor na área da Química de Compostos Fenólicos e seu efeito nutricional com várias publicações em revistas internacionais e apresentações em congressos nacionais e internacionais. Licencia-do em Ciências Básicas da Medicina pela Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho. Diplomado em Medicina Chinesa pelo Instituto Português de Naturologia. Formação comple-mentar em Shiatsu Namikoshi. Formador na área da Medicina Chinesa.

membros do conselho científico (resumo curricular)

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normas para publicação

1. A Scientific Journal of Natural Medicine, pretende ser um espaço de reflexão e trabalho no âmbito da saúde e, em especial, na Medicina Natural, fundada na ética e no rigor científico.

2. Os autores interessados em submeter artigos para a publicação poderão contribuir com artigos de investigação, recensões, ou outro material de natureza e relevância científica.

3. Os interessados poderão, ainda, participar com trabalhos apresentados em encontros científicos, congressos, comentários, reflexões e outras actividades de relevância. É um espaço de divulgação científica para profissionais de saúde, terapeutas e cientistas com o objetivo de avaliar, validar, desenvolver e integrar as diversas áreas da Medicina Natural na sua vertente clínica e de conhecimento fundamental.

4. A revista apresenta investigação original com impacto direto nas terapias, protocolos terapêuticos, abordagem aos doentes, estratégias de ensino e de trabalho com o objetivo último de melhorar a qualidade do processo terapêutico.

5. O âmbito da Revista de Medicina Natural inclui:

• Botânica Médica• Fitoterapia• Farmacologia e metodologia analítica• Naturopatia• Homeopatia• Nutrição e suplementação alimentar• Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa• Ayurveda• Yoga• Tai Chi• Qi Gong• Osteopatia• Massagem• Medicina Holística• Filosofia Médica• Ética Médica

6. As secções tipologias dos trabalhos na Revista de Medicina Natural são:• Trabalhos originais de Investigação Fundamental Clássica• Trabalhos originais de Investigação Fundamental Moderna• Trabalhos originais de Patologia e Metodologia Terapêutica

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7. Os textos propostos devem ser enviados para o e-mail para [email protected].

8. Os artigos são da responsabilidade dos respectivos autores e não serão devolvidos, independentemente da sua publicação.

9. A seleção dos artigos de investigação, para publicação, será realizada por revisão anónima por pares, preferencialmente por três membros do Conselho Científico da revista. Os direitos autoriais são propriedade da revista.

10. Cada autor poderá submeter, como autor principal, um artigo por cada edição da revista.

11. Os trabalhos a publicar deverão:• Ser originais. A submissão de trabalhos à implica que o trabalho não tenha sido previamente publi-

cado com exceção de comunicação oral ou poster em congresso, tese académica ou aula e que não se encontra de momento sob apreciação em nenhuma outra publicação.

• Ser escritos em Português e/ou Inglês. A aceitação de outra língua estará sujeita a aprovação do editor. Não excedendo as 7000 palavras;

• Conter um resumo em português e inglês, com cerca de 80 a 120 palavras (abstract);• Conter cinco palavras chave devidamente identificadas pelos autores, para fins de indexação;• Ser encabeçados pelo título, nome do autor, categoria profissional, instituição e contacto eletrónico,

breve resumo curricular com máximo de 5 linhas;• Os artigos deverão ser divididos em secções claramente identificadas com conteúdo e sequência

coerente;• Respeitar as regras da metodologia do trabalho científico, concernentes às formas de citar, organizar

a bibliografia.

12. A publicação do trabalho é aprovada por todos os autores e, de forma tácita ou explícita pela autoridades ou instituições em que o trabalho foi realizado e não será publicada nesta, ou noutra forma, em qualquer idioma, sem o consentimento do editor da revista.

13. A submissão de material assume a ausência de qualquer tipo de conflito de interesse entre todos os autores e o trabalho realizado. Na sua presença, esta deverá ser declarada e caracterizada aquando da submissão inicial do trabalho e estará presente no final do manuscrito aquando da publicação. A título informativo: um conflito de interesse em trabalho científico existe quando um participante no processo de produção, revisão ou publicação (autor, revisor e/ou editor) tem ligações a atividade que poderiam, de forma inadequada, influenciar o seu julgamento, independentemente desse julgamento ser de facto afetado. As relações financeiras com a indústria (emprego, consultadoria, participação em sociedades financeiras, etc.) são consideradas as mais relevantes mas não devem ser excluídos o financiamento do trabalho de investigação as ligações pessoais e as de competição académica.

normas para publicação

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SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE

REVISTA CIENTIFICA DE MEDICINA NATURAL

Dezembro 2014

[email protected]

www.cimnatural.com