176
Volume 8 | Número 2 Julho - Dezembro 2014 ISSN 1981-5875 ISSN (online) 2316-9699

revista vestígios

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista de arqueologia historica latino americana.

Citation preview

Page 1: revista vestígios

Volume 8 | Número 2Julho - Dezembro 2014

Volume 8 | Número 2Julho - Dezembro 2014Artigos

ISSN 1981-5875ISSN (online) 2316-9699

ISSN 1981-5875ISSN (online) 2316-9699

Volum

e 8 | Núm

ero 2 | Julho - D

ezembro 2014

www.vestigios.org

Patrocínio

Pautas de Consumo de los Primeros Pobladores de Rosario (Santa Fe, Argentina). Zooarqueología Histórica de un Pozo de Basura del Siglo XVIIIMaria Belén Colasurdo

O Urbano e a Arqueologia: Uma Fronteira TransdisciplinarDiogo M. Costa

Guerrilha Do Araguaia: Arqueologia, História e Direitos HumanosMichel Justamand, Patricia Sposito Mechi

Arqueología de los Caminos: Investigación Sobre la Ruta Tomada por el Éxodo del Pueblo Oriental de 1811 (Uruguay)José Ma López Mazz, Alfonso Machado, Oscar Marozzi, Christopher Duarte

Povos com História: Uma Revisão da Arqueologia Histórica nos Estados UnidosBarbara Little

Page 2: revista vestígios

Secretários: Bruno Sanches Ranzani da Silva e André Cruz Moreno Siqueira

Reitor: Vice-Reitora:

Diretor:Vice-Diretor:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Mathhew Johnson | NORTHWESTERN UNIVERSITY/USA

Editores: Andrés Zarankin, Luís Cláudio Pereira Symanski | UFMG

Marcos André Torres e Souza | UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Lucio Menezes Ferreira | UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

O Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFMG visa formar pessoal qualificado técnica e cientificamente para o exercício das atividades profissionais, de ensino e de pesquisa em Antropologia Social e em Arqueologia. Nosso objetivo é dar condições para os estudantes aprofundarem seu conhecimento profissional e acadêmico em Antropologia Social e em Arqueologia, desenvolvendo habilidades para o exercício de pesquisa acadêmica, atividades junto às ONGs e aos poderes públicos.

A prosposta de cusro é, ao mesmo tempo inovadora e clássica, já que se trata de apostar na retomada do contato entre a Antropologia Social e a Arqueologia.

O restabelecimento do diálogo entre duas disciplinas que lidam com questões e problemas muito próximos é feito sem interferir nos laços que cada uma delas tem com outras disciplinas, como a Sociologia, a Política, a História, a Psicologia, a Lingüística, a Filosofia, a Ecologia, a Biologia e as Geociências.

O curso se caracteriza pela pluralidade de orientações teóricas dos seus professores. A multiplicidade de temas, abordagens e aplicações oferece ao aluno a possibilidade de escolha e de contato com a diversidade própria a essas duas disciplinas.

CORPO DOCENTE DA PÓS-GRADUAÇÃO

Karenina Vieira Andrade (UnB, 2007); Luis Claudio Pereira Symanski (Universidade da Florida, 2006);

Ana Beatriz Vianna Mendes (Unicamp, 2009);André Pierre Prous-Poirier - Doutor (Sorbonne, 1974); Andrei Isnardis Horta - Doutor (USP, 2009);

Andrés Zarankin - Doutor (UNICAMP, 2001); Andréa Luisa M. Zhouri - Doutora (Essex, 1998); Carlos Magno Guimarães - Doutor (USP, 1999); Deborah Lima - Doutora (University of Cambridge, 1992);

Ana Lucio Modesto (UNICAMP 2004)

1) Antropologia da Arte, da Ciência e da Tecnologia;2) Sistemas Simbólicos, Socialidades e Gênero;3) Território, Poder e Ambiente;4) Etnologia Indígena e de Povos Tradicionais;

1) Arqueologia do Mundo Moderno e Contemporâneo;

2) Arqueologia Pré-Histórica

Scott Joseph Allen | UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Jaime Artur Ramírez

Fernando de Barros Filgueiras

Sandra Regina Goulart Almeida

Carlo Gabriel Kszan Pancera

Apoio do Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Departamento de Antropologia e Arqueologia

; Eduardo Viana Vargas - Doutor (UnB, 2001) Érica Renata de Souza (Unicamp, 2005);

. , Leonardo H. G Figoli - Doutor (UnB 1990); Leonardo Hipólito Genaro Fígoli (Unb, 1985);; Maria Jacuqeline Rodet (Universidade de Paris X, 2006)

Ruben Caixeta de Queiroz - Doutor (Universidade de Paris X Nanterre, 1998).

Page 3: revista vestígios
Page 4: revista vestígios
Page 5: revista vestígios

Belo Horizonte2014

Volume 8 | Número 2Julho – Dezembro 2014

ISSN 1981-5875ISSN (online) 2316-9699

Page 6: revista vestígios

Todos os direitos reservados ao© Laboratório de Arqueologia - Fafich/UFMG

Esta revista ou parte dela não pode ser reproduzidapor qualquer meio sem a autorização dos editores.

Publicação SemeStral

Av. Antônio Carlos, 6627Prédio Fafich, Sala 2015 - Fone 55 (31) 3409 5062

CEP 31270-901Belo Horizonte, MG, Brasil

[email protected]

VESTÍGIOS – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica. Laboratório de Arqueologia – Fafich/UFMG; Belo Horizonte, MG: 2011.

v. 8, n. 2, Julho - Dezembro.172 p.; v. il.

ISSN 1981-5875ISSN (online) 2316-9699

1. História – Periódicos. 2. Arqueologia – PeriódicosResumos em Português, Inglês e Espanhol

CDU 930

Page 7: revista vestígios

SUMÁRIO

ARTIGOS

Pautas de Consumo de los Primeros Pobladores de Rosario (Santa Fe, Argentina). Zooarqueología Histórica de un Pozo de Basura del Siglo XVIII Maria Belén Colasurdo ..................................................................... 7

O Urbano e a Arqueologia: Uma Fronteira Transdisciplinar Diogo M. Costa .................................................................... 43

Guerrilha Do Araguaia: Arqueologia, História e Direitos Humanos Michel Justamand, Patricia Sposito Mechi ............................................. 73

Arqueología de los Caminos: Investigación Sobre la Ruta Tomada por el Éxodo del Pueblo Oriental de 1811 (Uruguay) José Ma López Mazz, Alfonso Machado, Oscar Marozzi, Christopher Duarte ..... 91

Povos com História: Uma Revisão da Arqueologia Histórica nos Estados Unidos Barbara Little ............................................................................. 119

INFORMAÇÕES E NORMAS

Normas para publicação ................................................................... 168

Instrucciones para el envío de trabajos ................................................ 170

Page 8: revista vestígios
Page 9: revista vestígios

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA).

ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII

CONSUMPTION PATTERNS OF THE FIRST SETTLERS OF ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA).

HISTORICAL ZOOARCHAEOLOGY OF A EIGHTEENTH-CENTURY TRASH PIT

VESTÍGIOS – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica

Volume 8 | Número 2 | Julho – Dezembro 2014ISSN 1981-5875

Maria Belén Colasurdo

Page 10: revista vestígios

Data de recebimento: 05/06/2014Data de aceite: 21/08/2014

Page 11: revista vestígios

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA).

ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII

CONSUMPTION PATTERNS OF THE FIRST SETTLERS OF ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). HISTORICAL ZOOARCHAEOLOGY OF A EIGHTEENTH-CENTURY

TRASH PIT

Maria Belén Colasurdo1

reSumen

El presente manuscrito tiene por objetivo presentar los datos obtenidos del análisis de los restos arqueofaunísticos de un sitio histórico del siglo XVIII de la ciudad de Rosario, en la provincia de Santa Fe, Argentina. Dicho sitio denomi-nado “Casa Parroquial”, corresponde al pozo de basura de la primera catedral de la ciudad, ubicada en el área fundacional.

El análisis siguió los lineamientos del análisis zooarqueológico general y las interpretaciones realizadas apuntan a inferir las pautas de consumo de animales de un grupo determinado de habitantes, los primeros pobladores de lo que a mediados del siglo XIX sería la ciudad de Rosario.

Teniendo en cuenta el momento histórico en el que se genera dicho pozo de basura, es que se cruzaron los datos provenientes de fuentes escritas secundarias y el registro arqueológico, a los fines de generar aproximaciones relacionadas con las especies consumidas y la forma de consumo de las mismas.

Palabras clave: Rosario - sitios históricos - zooarquelogía - pautas de con-sumo.

1 CONICET- ISHIR/CESOR27 de febrero 210bis. Rosario. Santa Fe. [email protected]

Page 12: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

10

abStract

This paper presents the results of the archaeofaunal analysis of the trash pit found in the “Casa Parroquial”, an eighteenth-century site located in the city of Rosario, Santa Fe Province, Argentina. The analysis aimed to investigate the patterns of animal consumption of the first settlers of Rosário, through the criss-crossing of secondary written sources and the archaeological evidence.

Keywords: Rosario - historical sites - zooarchaeology - consumption pat-terns.

reSumo

O presente manuscrito tem como objetivo apresentar os dados obtidos a partir da análise de restos arqueofaunísticos de um sítio histórico do século XVIII da cidade de Rosário, na provincia de Santa Fe, Argentina. O sítio arqueológico denominado “Casa Paroquial” corresponde a um fosso de lixo da primeira catedral localizada na área de fundação da cidade de Rosario.

A análise seguiu as orientações gerais das análises zooarqueológicas e as in-terpretações feitas apontam para a inferência dos padrões de uso de animais por um determinado grupo de pessoas, os primeiros habitantes do que em meados do século XIX, seria a cidade de Rosario.

Tendo em conta o momento histórico em que o referido depósito de lixo foi gerado, foram cruzados os dados de fontes escritas secundárias e do registro arqueológico, visando entender os padrões de consumo de animais por parte desse grupo.

Palavras-chave: Rosário - sítios históricos - zooarqueologia - padrões de consumo.

Page 13: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

11

introducción

La ciudad de Rosario no tiene fundación, ya que la misma fue creciendo a partir del agrupamiento de pobladores alrededor de la imagen de la Virgen del Rosario, a principios del siglo XVIII, por lo tanto son particulares las caracterís-ticas históricas de dicha ciudad.

El presente análisis generó desde la arqueología, un cuerpo de datos relaciona-dos con la forma de vida de los habitantes del Pago de los Arroyos, en particular, qué tipo de alimentos cárneos consumían. Cabe señalar que los datos disponibles tanto desde la historia como desde otras disciplinas, son escasos para este período. En eso radica, en parte, la importancia de la presente investigación.

Se tuvieron en cuenta los datos históricos como contexto general para las inferencias realizadas. Las mismas giran en torno a consideraciones sobre qué patrones de consumo carneó se encuentran representados para este grupo de habitantes en particular, que pueden ser puntos de partida para las inferencias a realizar para la población de la futura ciudad de Rosario en esta etapa histórica. Preguntas relacionadas con qué especies animales consumían, cómo fueron pre-paradas y cómo fueron consumidas, son las que se intentaron responder.

Es importante señalar que dicho análisis está incluido en un proyecto mayor en el cuál se investigan los cambios en la pautas de consumo de los habitantes de la ciudad de Rosario entre el siglo XVIII y XIX. El mismo tiene como hipótesis que la ciudad de Rosario, a partir de mediados del siglo XIX, con los cambios que sucedieron a nivel internacional, nacional y local, cambiaron las pautas de consumo carneó de los pobladores en comparación con el siglo XVIII y que esto puede reflejarse en el registro arqueológico. Para trabajar sobre esta hipótesis se analizó el registro de cuatro sitios: “Juan Manuel de Rosas”, “Arenales”, “La Basu-rita” y el presentado aquí “Casa Parroquial”. Los tres primeros del siglo XIX y el último, como ya fue señalado, del siglo XVIII. Las inferencias realizadas apuntan a la comparación de las especies que se consumían, la forma de preparación y la forma de consumo de los cuatro sitios.

Los datos presentados en este manuscrito sirven para tener un panorama de lo que sucedía alrededor de 1746 en el pago de los arroyos, a partir del análisis del sitio “Casa Parroquial”, correspondiente al primer momento de este período mayor, período de formación de la actual ciudad de Rosario.

contexto hiStórico de roSario a fineS del Siglo xViii

Como fue señalado anteriormente, una de las características más sobresalientes de Rosario es que la misma no tiene fecha de fundación, incluso es importante

Page 14: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

12

la ausencia de un esquema que ordenara su desarrollo durante los primeros 150 años de existencia. Creció a partir de un asentamiento espontáneo sobre tierras privadas, extensiones deshabitadas donde vagaba ganado disperso. Comenzó a poblarse favorecida por factores físicos, al constituir una planicie elevada sobre un puerto natural y una curva en el camino real que enlazaba Buenos Aires con Córdoba y Santa Fe (Rigotti 2001:285).

Siguiendo los anales de Carrasco y Carrasco (1897:29), a principios del siglo XVIII el territorio era despoblado y desolado, ya que los pobladores de los prime-ros asentamientos - Sancti Spiritus (1527-1532) y Corpus Christi (1535) -ya no se encontraban en la zona luego de que los mismos fueran abandonados. Incluso la provincia de Santa Fe en su totalidad permaneció casi despoblada antes y aún durante los tres siglos que siguieron a la llegada de los españoles (Tica 2001), siendo la ganadería y el comercio las principales actividades desarrolladas en su territorio (Gallo 1969:249).

En 1721 el territorio del Pago de los Arroyos y Capilla de Rosario se extendía por 22 leguas de costa desde el río Carcaraña hasta el límite con Buenos Aires marcado por el arroyo del medio (Caputo y Manavella 2001: 24). En 1731 se comenzaron a agrupar pobladores en torno de una capilla levantada por Domingo Gómez Recio en una lonja que, desde 1689, pertenecía a su suegro, el capitán Luís Romero de Pineda. El primer proceso de consolidación urbana fue obra del capitán Santiago Montenegro, quien se afincó en un lugar de la lonja de Gómez Recio. Montenegro realizó las primeras subdivisiones y ventas de tierras sobre el camino real, coincidente con la actual calle Buenos Aires. Donó el terreno de la capilla y, en 1746, comenzó a construir un nuevo templo, delimitó la plaza y trazó la actual calle Córdoba (Gombos 1967). Igualmente no fue rápida la agrupación de los pobladores en torno a la iglesia, ya que para 1750 Rosario no dejaba de ser un pequeño poblado.

En cuanto a las actividades agrícolas y ganaderas de la zona, desde 1719 hay registro de actividades de engorde y comercialización del ganado cimarrón para obtener sebo, grasa y cuero. En 1730 las tierras del sur cobrarían trascendencia impulsadas por la recepción de inmigrantes provenientes de otras provincias, que llegaban con el ganado que habían podido salvar de los “ataques indígenas”. No accedían a la propiedad, pero participaban en una explotación en desarrollo (Caputo y Manavella 2001:30). La producción de mulas desde los comienzos de las estancias del sur fue muy importante en los momentos de formación de la ciudad. Las mulas se usaban como animal de carga, ya que resistían caminos largos. Otra actividad importante fue la cría de ovejas, que contribuía al abastecimiento de la ciudad. El cultivo de la tierra, también fue importante, sobre todo la pro-

Page 15: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

13

ducción cerealera. Las cosechas de trigo se utilizaban para el consumo diario, pero también dejaba un excedente comercializable (Caputo y Manavella 2001:31)

Recién bastante avanzado el siglo XIX, en 1823, vecinos y hacendados de la zona consiguieron que se elevara el rango institucional y simbólico del villorrio al título de “Villa Ilustre y Fiel”, y mucho más avanzado el siglo, en el año 1852, Rosario es declarada ciudad. A partir de esta declaración y desde el apoyo de la Confederación, que la transformó en centro de intercambio, sede de la aduana y puerto de ultramar, es que la ciudad comienza un proceso de crecimiento vertiginoso. La ciudad se transforma al ritmo de la expansión mercantil, tripli-cando su población producto del flujo inmigratorio y cambiando por completo su fisonomía, también basado en la concreción de la llegada del ferrocarril.

Entonces, como fue señalado, Rosario vivió un rápido desarrollo urbano en los últimos años del siglo XIX, que la convirtió, al llegar el año 1900, en la segunda ciudad de la República, con casi 110.000 habitantes. Autores como De Marco (2002), Falcón y Stanley (2002), Mongsfeld (1982) y Prieto (2001), señalan que la expansión de la ciudad de Rosario fue, como todas las iniciadas a mediados del siglo XIX, causa de la modernidad, período de

progreso de la humanidad en términos de tecnología, métodos de producción y generalización de acceso a unos bienes antes inexistentes.

Todo esto funciona como dato, pero el período histórico que ocupa en este artículo es el anterior, cuando Rosario era un pequeño poblado en formación, momento histórico en el que es necesario señalar que no se cuenta con muchos registros escritos.

el Sitio y Su interVención

El sitio CP se encuentra ubicado frente a la Plaza 25 de Mayo, entre la actual Catedral de Rosario y el Pasaje Juramento. Es el área fundacional de la ciudad, lugar donde se comenzó a agrupar la gente en torno a la imagen de la virgen en el siglo XVIII, y sobre uno de los caminos reales, la actual calle Buenos Aires (Ver Imagen 1).

Producto de llevarse adelante la ejecución del Proyecto del Pasaje Juramen-to, que implicó la demolición de la “Casa Parroquial” es que la dirección de la Escuela Superior de Museología, dependiente de la Municipalidad de Rosario, decidió concretar tareas de rescate arqueológico en lo que es el núcleo de origen de la ciudad.

Metodológicamente el edificio de la “CP” fue dividido en tres sectores: el patio delantero (CP1), las salas traseras (CP2) y las habitaciones centrales en uso (CP3). Se establecieron para cada sector dos etapas de tareas, un primer momento de

Page 16: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

14

sondeos exploratorios y una segunda etapa de excavación sistemática, de acuerdo a la información previa obtenida (Escudero 1999). Los pozos de sondeo iniciales y la excavación de CP1 se efectuaron durante 1997, mientras que las actividades en CP2 y CP3 en 1998 y 1999 (ver imagen 2).

Los testeos y la excavación sistemática en “CP1” permitieron establecer cinco niveles artificiales de 5 cm (descriptos de arriba abajo). En los niveles I a III se recuperó evidencia material correspondiente a los siglos XVIII, XIX y XX (restos de vajilla, elementos constructivos y restos arqueofaunísticos), el nivel IV se caracteriza por presentar un suelo trasplantado, arqueológicamente estéril (cronología asignada: transicional), en tanto del nivel V se exhumaron los restos de treinta individuos de distintos sexos y grupos etarios con una cronología asignada al siglo XVIII y comienzos del siglo XIX (Escudero 1999).

Se efectuaron nueve pozos de sondeo en “CP2”, de los mismos se obtuvo in-formación respecto a técnicas constructivas de fin del siglo XIX y principios del siglo XX (sistemas de canalización de desagüe pluvial, muros correspondientes a la construcción de la actual catedral, cimientos de construcciones anteriores a ésta, así como vajilla y objetos ornamentales de la época y restos óseos de fauna). Dada la complejidad de la matriz arqueológica, que presenta superposiciones e intrusiones no delimitables claramente y que denotan los períodos de desarrollo diferencial durante trescientos años, no se han podido establecer niveles bien definidos (Escudero 1999).

Las habitaciones principales de la casa (CP3) fueron utilizadas hasta la noche anterior a su demolición y sólo fue posible realizar un control ocular directo durante la misma. La obra afectó el sector norte de la casa, y no se observaron estructuras ni pisos enterrados en esa zona.

Imagen 1: ubicación de la ciudad de Rosario y foto del Pasaje Juramento, Monumento a la Bandera y La Catedral

Page 17: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

15

Imagen 2: Plano excavación CP

Los materiales recuperados se encuentran depositados en la Escuela Superior de Museología dependiente de la Municipalidad de Rosario. Los restos óseos de fauna analizados que corresponden a CP1, en el sector en el que se identificaron enterratorios humanos, aparecieron en forma aislada entre los hallazgos de los niveles I al III, por encima de los restos humanos. Lo recuperado en CP2 fueron materiales dispersos en todos los pozos de sondeo, que fueron nueve. Los de CP1

Page 18: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

16

se presentan muy fragmentados y fue difícil su exacta determinación. Los que corresponden a CP2 se encuentran en mejor estado de fragmentación, lo que permitió determinar su asignación. Igualmente, se analizaron para este trabajo la totalidad de los restos óseos (CP1 y CP2), dado que todos son significativos a los fines de los objetivos de este trabajo.

A pesar del amplio rango temporal (trescientos años de ocupación) de lo que dan cuenta los hallazgos, atendiendo a las características de la muestra de restos óseos de fauna (esto es tipo de fracturas y huellas antrópicas que denotan cronología) puede señalarse que lo recuperado son restos de basura generada por los ocupantes de la primer Casa Parroquial. La cronología asignada para el sitio en general fue calculada a partir de los documentos escritos, y es de mitad del siglo XVIII, ya que los primeros registros de defunciones de la capilla datan del año 1746.

marco teórico-metodológico

Teóricamente existen dos puntos centrales a tener en cuenta para el desarrollo de la presente investigación. Uno de ellos es la utilización de las fuentes disponi-bles para la arqueología histórica, esto es, la postura teórica adoptada dentro de la misma. El otro punto es el desarrollo del concepto de consumo, importante para las inferencias realizadas en este manuscrito.

En cuanto al primer punto, puede señalarse que la postura teórica desde la cual se plantea el presente trabajo de investigación, se centra en la evidencia arqueo-lógica y considera al registro arqueológico como independiente, con capacidad para informar por sí mismo (Goñi y Madrid 1996). Los datos arqueológicos dan cuenta de cosas que no pueden decirse desde el registro histórico, porque puede contribuir a la interpretación de los procesos culturales de otra forma distinta que la historia (Cleland 2001). La perspectiva teórica utilizada aquí, sin embargo, no reniega del registro documental, sino que no subsume bajo éste al registro arqueológico. Por el contrario, al reconocerle su autonomía, la investigación se enriquece ya que los temas y problemas a tratar y resolver son diferentes.

Por lo tanto, si bien se toma al registro arqueológico como la base empírica que permite someter a prueba las hipótesis de trabajo y genera los datos para el avance de la investigación (Senatore y Zarankin 1996), se utilizan en oposición empírica las dos fuentes complementarias (registro arqueológico y registros escritos) de datos disponibles para los arqueólogos históricos (Cleland 2001). Las fuentes históricas secundarias se consultaron en diferentes momentos de la investigación, dado que es innegable la particularidad que tiene la arqueología histórica de contar con documentos escritos, allí radica la necesidad del abordaje

Page 19: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

17

interdisciplinario de los procesos que estudia (Ramos 2000).En cuanto al segundo punto teórico importante, es preciso señalar cuál es el

concepto de consumo que rige la investigación. Dado que el consumo se refiere a la gente y al uso de sus bienes (Douglas e Isherwood 1990) es que García Canclini (1990) lo define como el conjunto de procesos socioculturales en que se realizan la apropiación y los usos de los productos. De Certeau (1986) indaga en el uso que los grupos e individuos hacen de las representaciones de una sociedad y define al consumo como el acto de usar, apropiarse y practicar todo objeto producido.

Dado que el tema del consumo es amplio, y se consideran varios factores relacionados, en este artículo se abordará el consumo desde la perspectiva de la alimentación. El consumo de alimentos, las pautas y patrones culturales que lo sustentan, contribuyen también a la constitución de la identidad colectiva (Hintze 1997). En la alimentación se sintetizan las construcciones ambientales, las desigualdades en la distribución del ingreso y del poder social, las diferencias etarias y las identidades étnicas que caracterizan a una sociedad histórica es-pecífica (Remedi 2006). Es importante remarcar que siendo la alimentación un hecho cultural, presenta formas específicas de configuración de acuerdo con las necesidades de cada grupo, conformándose un sistema de alimentación particular. Dicho sistema es dinámico y sufre alteraciones objetivas o subjetivas propias de su contexto y naturaleza específicos, de corto, mediano y largo plazo (Piña 2001).

Desde la arqueología, y específicamente desde la zooarqueología, el consumo de alimentos puede abordarse, por un lado, desde los productos alimenticios en sí; esto quiere decir, tener en cuenta las necesidades, las preferencias y las influencias del medio social en los patrones de consumo. Se debe recordar que no todo lo disponible es considerado comestible, por más que pueda accederse a ello, lo fundamental es que el alimento esté culturalmente aceptado como tal, somos lo que comemos (Fischler 1995; García Canclini 1990; Girard et. al 1999; Levi-Strauss 1986; Mengoni Goñalons 2001; Miller 1999; Remedi 2006).

Por otro lado, el consumo en arqueología también puede estudiarse desde el servicio de mesa, que es toda la cultura material asociada con el consumo de los alimentos, tales como recipientes u otros elementos empleados durante la presentación de las comidas (Cook et.al 1996; Mengoni Goñalons 2001).

En el presente trabajo solo se analizan los productos alimenticios cárneos, por lo tanto se considera que los restos faunísticos son indicadores directos de consumo en función de la dieta de las personas que generaron el pozo de basu-ra, a través de la representación en el registro de distintas especies cuyos restos presenten señales en este sentido (i.e., marcas de corte, selección de partes esqueletales, etc.).

Page 20: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

18

La metodología empleada fue la habitual en análisis de restos óseos de fauna. Los criterios utilizados para la identificación anatómica y taxonómica son los planteados por Berwick (1975), Grayson (1984), Salemme (1987), Salemme et al. (1988), Lyman (1994) y Mengoni Goñalons (1988, 1999).

También se tuvo en cuenta el estado de fusión de los huesos -no fusionados, semifusionados o fusionados- para llegar a determinar si se trata de animales jó-venes o adultos. Para esto se siguió lo planteado por autores como Silver (1970) y Reitz y Wing (2008) en cuanto a la edad de fusión de cada uno de los huesos del esqueleto. A través de los restos de dientes aislados de Bos taurus representados, también se pudo inferir rango etario aproximado para este taxón (Mengoni Go-ñalons 1988). Para esto se siguió a autores como Miles Gilbert (1993) y Hillson (2005) con respecto al desgate de las cúspides de los molares de acuerdo con la edad de los especímenes.

Se calculó el número de especímenes identificados por taxón (NISP) y el número mínimo de individuos (MNI). Con respecto al MNI, se debe tener en cuenta que a la hora de utilizarlo en sitios urbanos puede no reflejar del todo la cantidad de animales adquiridos (Chichkoyan et al. 2008). Esto se da por las particularidades propias de los sitios urbanos en los cuáles las etapas de obtención de los productos cárneos se multiplican, pasando por diferentes lugares antes de llegar a la unidad de consumo y que esto repercute directamente en las partes del animal introducidas en los sitios y en los elementos óseos representados en el registro. Por lo tanto, cabe señalar que en esta investigación fue utilizado el MNI como medida de comparación entre especies, a los fines de tener un panorama general de la cantidad mínima de ejemplares representados para cada taxón, pero teniendo en cuenta lo señalado anteriormente.

Para evaluar la abundancia relativa de partes anatómicas con el objeto de inferir aprovechamiento se utilizó el número mínimo de elementos (MNE) por taxón identificado. También se calculó la cantidad de Unidades Anatómicas Mínimas (MAU) para los taxones con mayor porcentaje de representación (Bos taurus, Gallus gallus y Ovis aries).

Las huellas antrópicas relevadas fueron las que se realizaron con algún tipo de sierra manual o serrucho, donde los cortes son de bordes denticulados y escalonados (Beovide 1995; Chaix y Meniel 2005; Lanza 2011; Pérez Ripoll 1992; Seijas y Cereda 1999). También están presentes huellas de elementos de filo angosto como cuchillos de metal, las mismas son cortas y pocos profundas, longitudinales y transversales (Beovide 1995; Chaix y Meniel 2005; Lanza 2011; Pérez Ripoll 1992; Seijas y Cereda 1999). Se tuvo en cuenta su ubicación en el hueso (en diáfisis o epífisis) para inferir a qué momento del proceso de consu-

Page 21: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

19

mo corresponden las mismas (Binford 1981; Pérez Ripoll 1992; Beovide 1995; Landon 1996; Mengoni Goñalons 1999; Chaix y Meniel 2005). Otras huellas relevadas son el raspado lateral y el lascado, que también dan cuenta de un mo-mento del proceso de carnicería (Beovide 1995).

En lo que al tipo de fracturas se refiere, se registraron “fracturas de bordes cortan-tes curvos”, “fracturas de bordes cortantes rectos” y “fracturas de bordes redondeados”, las tres relacionadas con la utilización de hachas o hachuelas, lo mismo que las clasificadas como rajaduras y astillas de hachazos (Beovide 1995; Seijas y Cereda 1999).

En lo que respecta a los tipos de corte en los sitios urbanos se tuvieron en cuenta ciertas características. Se utilizó el concepto de unidad de adquisición (Huelsbeck 1991), en lugar del de unidad de trozamiento (Binford 1981). Dicho concepto se ajusta más al rendimiento y al valor económico de lo que se compra en el mercado, que son tipos de corte estandarizados para cada época, ajustando el trozamiento a las necesidades de las distintas unidades de consumo en la ciudad (Chichkoyan et al. 2008).

De ahí es que pueden señalarse los tipos de corte como: de primera, segunda y tercera, los cuáles involucran diferencias de rendimiento cárneo y valor monetario.

Las marcas de origen tafonómico relevadas fueron las manchas da manganeso (características de ambientes húmedos) y manchas azules y marrones, muy co-munes en la muestra (no pudiendo determinar en esta instancia a que obedecen).

También se relevaron las alteraciones térmicas, siguiendo lo planteado por Stiner y Kuhn (1995) esto es: como huesos quemados se consideran los que tiene aspecto de grado 1 y 2 (Stiner y Kuhn 1995), un poco quemados - con sectores carbonizados y calcinados los de grado 6 (Stiner y Kuhn 1995) totalmente blancos. Además fue evaluado el grado de meteorización de los restos óseos, realizándose una clasificación basada en los estadios planteados por Behrensmeyer (1978), según los atributos que presentan los restos óseos y a partir de los cuales se formalizaron tres grandes categorías, a saber :

• Muy deteriorados: correspondiente a los estadios tres y cuatro plan-teados por Behrensmeyer (1978).

• Deteriorados: incluye los estadios uno y dos de Behrensmeyer (1978).• En buen estado: se correspondería con un estadio cero.

Según algunos estudios (Roberts et al. 2002), la evidencia de marcas de origen tafonómico también fueron utilizadas para realizar inferencias relacionadas con la forma de cocción de los alimentos. Esto es, teniendo en cuenta tanto las modifi-caciones en las superficies óseas como las relacionadas con condiciones químicas. Según lo planteado por Roberts et al. (2002), los huesos sometidos a cocción severa tienen menos probabilidades de sobrevivir debido a su alta porosidad y a

Page 22: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

20

la reducción de su resistencia mecánica. Sin embargo, otros estudios señalan que al tener menos contenido orgánico y una organización mineral alterada y más estable, se encuentran menos expuestos a la acción de los carroñeros y al ataque microbiano, pudiendo ser menos reactivos en el ambiente de enterramiento. Atendiendo a esto, se realizaron inferencias en cuanto a tres posibles procesos de cocción de los huesos de la muestra de CP. A saber: quemado/incinerado, cuando el hueso ha estado en contacto directo con el fuego, o con una fuente intensa de calor; asado/horneado, en cuyo caso el hueso ha estado protegido de la fuente de calor gracias al aislamiento provisto por la carne, y hervido, donde hueso y carne son calentados a una temperatura constante, que está moderada por el líquido (Roberts et al. 2002).

análiSiS de loS reStoS óSeoS fauníSticoS

El NISP total del conjunto analizado (CP1 y CP2) es de 936, dentro del cual la Clase más representada es Mammalia (N=829); la siguen en cantidad la clase Aves (N=71) y la Clase Actinopteri- peces (N=27). El resto (N=9) fueron clasificados como Indeterminados a este nivel (Ver Tabla 1). Es importante señalar que dentro de este último grupo se encuentran solamente fragmentos clasificados como as-tillas. En lo que respecta al interior de cada clase, también quedaron fragmentos indeterminados, en el que solo se pudo llegar a definir orden y/o de familia. Los que pudieron llegar a un nivel específico de determinación (Genero/especie) son un total de N=129, los cuáles serán analizados en este trabajo.

Taxa Nisp Nisp %

Mammalia 476 51%

Artiodactyla 219 24%

Bovidae 30 3%

Bos taurus 69 7%

Ovis aries 32 4%

Rodentia - -

Cricetidae 3 0,30%

Aves 37 3%

Galliforme 6 1%

Gallus gallus 28 3%

Page 23: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

21

Actinopteri 27 3%

Indeterminados 9 1%

TOTAL 936 100%

Tabla 1: Nisp y Nisp% por taxa

En lo que se refiere a Actinopteri, el porcentaje del total de representación es solo del 3% (Ver Tabla 1). La mayor representación corresponde a las vértebras (74%) (Ver Tabla 2). A partir de las mismas no fue posible asignar Género/es-pecie; sólo pudieron referirse las espinas pectorales a la subclase Actinopterygii, a la que pertenecen las especies que habitan el río Paraná. Los restos referidos a peces no presentan huellas antrópicas de ningún tipo.

ELEMENTO NISP NISP %

vértebras 20 74%

costilla 1 4%

espinas pectorales 2 7%

astillas 4 15%

TOTAL 27 100%

Tabla 2: Nisp y Nisp% Clase Actinopteri

Imagen 3: Vertebras Actinopteri

La clase Aves se ubica en el segundo orden de representación (8%), aunque

Page 24: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

22

con muchos menos especímenes que Mammalia (Ver Tabla 1). La mayoría de los restos asignados a esta clase (N= 37) no pudieron ser referidos a niveles más específicos, y seis pudieron ser asignados solo a Galliformes. Dichos especímenes en su mayoría corresponden a astillas y cilindros (N=30); sólo 13 corresponden a elementos determinados, pero por tratarse de fragmentos que carecen de zonas diagnósticas, no pudieron ser asignados a niveles más específicos. Dichos elementos además, no presentan ninguna huella antrópica, ni marcas tafonómicas y todos se encuentran en buen estado de preservación.

Dentro de esta clase, la única especie que pudo reconocerse es Gallus gallus. Los elementos asignados a esta especie son N=28. El MNI es de dos individuos calculado a partir de los húmeros (Ver Tabla 3). Con respecto al rango etario, puede señalarse que corresponderían a juveniles/adultos.

Las unidades anatómicas con mayor representación corresponden a las extre-midades superiores (alas), esto es coracoides, húmero, cúbito y metacarpo. De las extremidades inferiores (patas) sólo se encuentran presentes en el registro fémur, metatarso y falange (Ver Tabla 3) y del esqueleto axial sólo fueron registrados dos fragmentos de costillas. Se marca la ausencia de fragmentos de cráneo y esternón, éste último correspondiente a la pechuga (Ver Tabla 3).

Con respecto a las huellas antrópicas relacionadas con el consumo de los restos correspondientes a gallinas, los mismos no presentan huellas de aserrado y solo dos fragmentos de diáfisis de huesos largos presentan marcas longitudina-les, cortas y poco profundas, relacionadas con el uso de instrumentos de metal con filo (cuchillos) (Ver Imagen 4). Aunque es interesante señalar que cuatro elementos presentan fracturas de bordes cortantes curvos y ocho elementos frac-turas regulares, ambas tienen relación con el desmembramiento del animal con instrumentos como cuchillos grandes o hachuelas (Beovide 1995; Pérez Ripoll 1992; Seijas y Cereda 1999).

La clase Mammalia es la más representada, con el 88% de la muestras total de CP. De un N=830, un N= 476 solo pudieron ser referidos hasta este nivel de clase (Ver Tabla 1). Las mismas corresponden a especímenes indeterminados de vertebras, tejido esponjoso y algunos pequeños de huesos planos. También puede señalarse que dentro de esta clase, un N=219 solo llegaron a una determinación correspondiente a orden artiodactyla, correspondientes a astillas y fragmentos vértebras. Asimismo un N=30 elementos fueron identificados solo hasta el nivel de familia, como bovidae y un N=3 como cricetidae. Los elementos asignados a bovidae corresponden a astillas de hueso plano, astillas de huesos largos, astillas de costillas, un hueso del pie y un fragmento de cráneo. Y los asignados a cricetidae son un incisivo, una tibia y sacro.

Page 25: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

23

Imagen 4: Húmero Iz. de Gallus gallus con marca cuchillo

Bos Taurus es la especie más representada en el sitio Casa Parroquial, con un N= 69 elementos. El MNI es de un ejemplar y fue calculado a partir de todos los elementos representados (Ver Tabla 3). El rango etario es de animales de entre dos años y medio (edad de fusión de falanges) a un poco más de siete años apro-ximadamente (edad de fusión de vértebras). Los datos que aportaron los molares de Bos taurus, corresponde a dientes que comienzan a perder las cúspides, pero que a pesar de ello siguen siendo perfectamente reconocibles, lo que indica un animal joven/adulto, ya que en un animal senil sus molares tendrían un nivel de desgaste mayor con pérdida total de la corona (Miles Gilbert 1993).

En relación a las partes esqueletarias puede señalarse que aunque en escasa proporción (un elemento de cada uno) todos los sectores del esqueleto se en-cuentran representados. El elemento con mayor porcentaje de representación son las costillas aunque cabe señalar que si bien se registra un MNE=33, los mismos corresponden a fragmentos mediales de costillas, no registrándose porciones proximales y/o distales. Por esto fueron tomadas para el cálculo del MAU como partes de distintas costillas. Asimismo al ser los fragmentos de variados tamaños, entre ellos algunos pequeños, para el cálculo de MNI fueron tomados como per-tenecientes al mismo individuo, para no sobredimensionar la cantidad de ejem-

Page 26: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

24

plares presentes. Es importante señalar que los cortes de carne que involucran los huesos de las costillas son a priori de alto rendimiento carneó (Ver Tabla 3).

Con respecto a otros elementos del esqueleto axial, puede señalarse que las vértebras solo se encuentran representadas por un MNE de cuatro (tres indeter-minadas y un axis), un fragmento de esternón y al cráneo solo pudo asignarse un fragmento pequeño y tres molares (Ver Tabla 3).

Del esqueleto apendicular anterior puede notarse la ausencia de huesos corres-pondientes a los miembros anteriores, de los cuáles solo se encuentra presente un fragmento de escápula y dos radios. Esto podría estar marcando las preferencias de los cortes de carne en la época, ya que a priori son huesos involucrados en cortes de alta preferencia por su rendimiento.

Del esqueleto apendicular posterior, se encuentran representados todos los elementos, y en las mismas proporciones: un fragmento de pelvis, un fémur, una tibia y un metapodio. Dicha región del animal, también es considerada como de alto rendimiento cárneo (Ver Tabla 3). En lo que se refiere a los huesos pequeños de la región del tarso y/o del carpo, fueron registrados cinco, pero no llego a definirse a cuál de los dos sectores corresponden en particular. Lo mismo sucede con la falange media, puede ser de cualquiera de los dos miembros (Ver Tabla3).

Las huellas antrópicas relacionadas con el consumo de este taxón que fueron relevadas son, en primer lugar, las de aserrado escalonado, relacionadas con la utilización de sierras manuales o serruchos. Las mismas presentan bordes irre-gulares, y escalonados (Beovide 1995; Lanza 2011; Pérez Ripoll 1992; Seijas y Cereda 1999) y en algunos fragmentos (N= 22) están acompañados de lascados y astillados laterales, relacionadas con negativos de impacto (Ver imagen 5).El aserrado se presentan principalmente en los fragmentos de costilla, así como también en algunos huesos largos y vertebras.

También se relevaron, aunque en menor porcentaje, huellas relacionadas con el uso de elementos de filo de metal como cuchillos. Las mismas son cortas y poco profundas (Chaix y Méniel 2005), y solo se encuentran en los fragmentos de costillas (Ver Imagen 4). Las mismas presentes en las costillas indican la limpieza de músculos dorsales e intercostales propias de la etapa de descarne del animal (Binford 1981; Pérez Ripoll 1992).

En cuanto a las fracturas relacionadas con el uso de hachas o hachuelas para el desmembramiento, 14 fragmentos de diáfisis de costilla presentaron fractu-ras denominadas de bordes cortantes rectos (Seijas y Cereda 1999). Otros huesos planos también presentan dichas fracturas, como un fragmento de pelvis, de cráneo y de escapula. También fracturas de bordes cortantes curvos, producto de la acción del hacha sobre las diáfisis de hueso largo (Ver Imagen 6). Además se

Page 27: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

25

registraron astillas asignadas como Mammalia, que estarían relacionadas con los desprendimientos del impacto de las hachas o hachuelas sobre los huesos largos (Seijas y Cereda 1999).

Imagen 5: Fragmento medial de costilla con huellas de cuchillo y aserrado escalonado

Imagen 6: Diáfisis hueso largo con fractura de hacha

Page 28: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

26

Ovis aries se encuentra en segundo lugar de representación, con un N=32. El MNI es de dos ejemplares, calculado a partir de las diáfisis de fémur (Ver Tabla 3). En cuanto al cálculo del rango etario a partir de la edad de fusión de los huesos, los mismos corresponden a ejemplares adultos /jóvenes, ya que las epífisis de los huesos largos están completamente fusionadas.

En lo que refiere a las partes del esqueleto representadas, puede señalarse que si bien todas presentan un MNE similar, los huesos más representados son el fémur y las costillas, estas últimas, a diferencia de las costillas de vaca, son fragmentos de mayor tamaño, así como también se encuentran fragmentos proximales. Ambos elementos óseos pueden señalarse a priori como involucrados con las partes de mayor rendimiento cárneo del animal (Ver Tabla 3).

No todas las partes del esqueleto se encuentran representadas, por lo tanto el animal no entró completo al registro. El esqueleto axial solo está representado por ocho fragmentos de costillas y una vértebra lumbar. Si bien puede señalarse que las costillas están involucradas en cortes de alto rendimiento cárneo (parte superior y lateral del lomo), es notable la ausencia de otros elementos corres-pondientes a esa zona (Ver Tabla 3).

En cuanto al esqueleto apendicular, los miembros anteriores se encuentran con escasa representación, solamente un cúbito. En cuanto a los miembros pos-teriores se encuentra representado casi todos los huesos de la pata: fémur, tibia, hueso del pie, metapodio y falange (Ver Tabla 3).

Las modificaciones antrópicas relacionadas con el consumo de este taxón comprenden aserrados escalonados en solo dos fragmentos de costillas. En cuatro elementos (costillas, femúr y tibia) se registraron huellas longitudinales y transversales, de aspecto poco profundas y cortas, producto del proceso de descarne, producidas por la acción de elementos cortantes de filo angosto, como cuchillos (Chaix y Méniel 2005). Se registró un fragmento de fémur distal en el que las marcas se ubican en la epífisis, resultado del corte de los ligamentos de la articulación tibio-femoral, producto del proceso de desarticulación (Beovide 1995; Pérez Ripoll 1992).

Además de estas huellas, se relevaron 15 elementos con evidencia de fracturas antrópicas. Las mismas se encuentran en los huesos largos, fémur y tibia, son del tipo de bordes cortantes curvos (Ver Imagen 7), asociadas además a lascados latera-les en la fractura, lo que estaría evidenciando el uso de hacha o hachuela en el proceso de desarticulación y trozamiento del animal (Seijas y Cereda 1999). En las costillas se presentan fracturas de bordes cortantes rectos, también producto del efecto del hacha o hachuela sobre el cuerpo de las mismas (Seijas y Cereda 1999).

Page 29: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

27

Imagen 7: Fémur entero fracturado en la diáfisis proximal con fractura de borde cortante curvo

Gallus gallus Bos taurus Ovis aries

ELEM

ENTO

S

MNE MNI MAU MNE MNI MAU MNE MNI MAU

frag

. C

ráne

o

1 1 1

mol

ares

3 1 0,5

axis 1 1 1

vert

ebra

s

3 1 0,06 1 1 0,16

Tabla 3: MNI, MNE y MAU de Gallus gallus, Bos taurus y Ovis aries

Page 30: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

28

Gallus gallus Bos taurus Ovis aries EL

EMEN

TOS

MNE MNI MAU MNE MNI MAU MNE MNI MAU

frag

. Es

cápu

la

1 1 0,5

radi

o di

af.

1 1 0,5

radi

o ds

. 1 1 0,5

cubi

to

1 1 0,5 1 1 0,5

cora

coid

es

1 1 0,5

húm

ero

diaf

.

3 2 1,5

húm

ero

px.

3 2 1,5

húm

ero

ds. 1 1 0,5

met

acar

po

px.

1 1 0,5

fem

ur

1 1 0,5

Cont. Tabla 3: MNI, MNE y MAU de Gallus gallus, Bos taurus y Ovis aries

Page 31: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

29

Gallus gallus Bos taurus Ovis aries

ELEM

ENTO

S

MNE MNI MAU MNE MNI MAU MNE MNI MAU

fem

ur

diaf

.

3 2 1,5

fem

ur

px.

2 1 1 1 1 0,5 2 1 1

fem

ur

ds. 1 1 0,5 2 1 1

tibia

px

.

1 1 0,5 2 1 1

met

atar

so

diaf

.

1 1 0,25

met

atar

so

px.

2 1 1

met

atar

so

ds. 1 1 0,5

fala

nge

3 1 0,11 1 1 0,06 2 1 0,12

cost

illa

(med

ial)

2 1 0,14 33 1 1,27 6 1 0,23

cost

illa

(px.

)

2 1 0,07

Cont. Tabla 3: MNI, MNE y MAU de Gallus gallus, Bos taurus y Ovis aries

Page 32: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

30

Gallus gallus Bos taurus Ovis aries EL

EMEN

TOS

MNE MNI MAU MNE MNI MAU MNE MNI MAU

tars

iano

5 1 0,31 1 1 0,01

frag

. Es

tern

on

1 1 1

frag

. Pe

lvis

1 1 1

Cont. Tabla 3: MNI, MNE y MAU de Gallus gallus, Bos taurus y Ovis aries

En cuanto a los aspectos tafonómicos de la muestra de Casa Parroquial, como primer punto es necesario señalar el estado de meteorización según los estadios de Behrensmeyer (1978) y las categorías planteadas para este trabajo. De un N= 936, el mayor porcentaje se encuentra en buen estado de preservación. Solo un 5% se encuentra en estado muy deteriorado. Los elementos que se encuentran muy deteriorados son los que solo pudieron ser asignados a Mammalia y/o Artiodac-tyla, los cuáles en su mayoría corresponden a astillas (N=39). Los elementos y especímenes asignados a Aves y peces se encuentran todos en buen estado de preservación (Ver Tabla 4). Los restos asignados a Bos taurus y Ovis aries, se encuentran también en su mayoría en buen estado de preservación y deteriorados.

El resto de las marcas tafonómicas relevadas fueron las manchas marrones, azules y de manganeso. Un total de 119 especímenes presentan manchas de manga-neso, lo que es una constante en las muestras de todos los sitios. Marcas de raíces, de roedores y de carnívoros no presentan ninguno de los restos óseos relevados. Sí se encontraron huesos con alteraciones térmicas, quemados (Nisp=13) y calcinados (Nisp= 37) y todos corresponden a astillas, no a huesos reconocibles.

Page 33: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

31

Taxa Buen estado Deteriorado Muy deteriorado

Bos taurus 56 10 3

Ovis aries 23 8 1

Gallus gallus 28

Mammalia 312 155 14

Artiodactyla 191 35 25

Rodentia 3

Aves 42 3

Actinopteri 27

TOTAL 682 211 43

Tabla 4: Estado de preservación de la muestra de CP

interPretación de loS datoS obtenidoS

Como primer punto es importante señalar la ausencia en el registro de fauna de especies autóctonas, aparte de los peces. Si bien a priori se esperaba mayor presencia de las mismas en el registro de CP, dada la antigüedad del mismo, no fue así. Esto puede tener relación con la alta cantidad de fragmentos de Mammalia indeterminadas que se registraron, ya que al estar tan fragmentados no pudieron asignarse a niveles más específicos, lo que produciría un sesgo en la información.

En cuanto a la presencia de peces, se puede señalar que, si bien los elementos representados (vértebras y costillas) poseen poco valor diagnóstico (Musali 2005), son buenos indicadores para establecer tamaño y peso de los peces (Desse 1984). Considerando entonces que el tamaño de las vértebras presentes no supera los 2 cm, y asumiendo que corresponden a Actinopterygii, es dable inferir que se trataría de peces de porte mediano (1.500 g), como el sábalo (muy abundante en el Río Paraná) (Arámburu 1985).

Si bien los elementos no presentan ningún tipo de huella antrópica, la repre-sentación diferencial de partes esqueletales en los conjuntos arqueofaunísticos recuperados permite inferir su origen antrópico. Ha sido señalado en la literatura arqueológica (ver, por ejemplo,

Gifford-González et al. 1999; Zohar et al. 2001) que las piezas que poseen mayor densidad ósea, como el cráneo, son las que se encuentran con más repre-sentación en los conjuntos que provienen de una depositación natural. De acuerdo

Page 34: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

32

a esto, las unidades anatómicas para un conjunto antrópico son diferentes que las presentes para un depósito natural, en el que predominan los cráneos por sobre los demás elementos en una proporción de hasta el 70% por sobre el resto del conjunto (Martínez 2005; Musali 2005). Por lo tanto, puede inferirse que en CP, donde las unidades anatómicas de peces presentes corresponden en mayor proporción a vértebras (esto es, elementos con menor densidad mineral ósea) que a cráneos, el conjunto es el resultado del aprovechamiento de los peces como recurso por parte de quienes generaron el mismo.

Dentro de la clase Aves, la única especie que pudo ser reconocida es Gallus gallus. A partir del análisis de las partes esqueletales presentes, se puede inferir que del total de los elementos presentes la mayoría pertenecen a sectores de consumo alimentario preferencial en la actualidad, como son el ala y el muslo/contra muslo, aunque en el caso del ala, no sea la parte de más rendimiento cárneo. Pero asimismo, cabe destacar la ausencia de fragmentos de esternón, pertenecientes a la pechuga, que sí es una parte de alto rendimiento cárneo, y sólo algunos fragmentos pequeños de costillas se pueden identificar como parte de ese sector. Esto puede tener que ver con un proceso de preservación diferencial de estas partes por procesos tafonómicos no identificados o quizás responda a los patrones de preparación de alimentos de la época (Ramos Roca 2002).

Otra característica de la forma de preparación de este animal, es el hecho de cocinarlos enteros, para ello en la actualidad puede verse que se descartan la cabeza y las patas (Colasurdo 2008). Por lo tanto es de esperar que no se encuentren fragmentos de cráneo y falanges si el animal fue comprado fuera del lugar de consumo. Pero en CP no se encuentran presentes fragmentos de cráneo pero si algunas falanges, pero las mismas no cuentan con marcas antrópicas re-lacionadas con el consumo. Esto quiere decir que pueden provenir de un corral propio o bien fueron comprados enteros y se les sacaron las patas y la cabeza y se arrojaron a la basura, por eso se encuentran falanges sin marcas de consumo. En cambio, la ausencia de fragmentos de cráneo puede estar relacionado con el estado de fragmentación que presenta la muestra y los procesos tafonómicos.

Asimismo también puede señalarse que las huellas que abundan son las rela-cionadas con el descarne y al encontrarse en su mayoría enteros, son pocos los elementos que presentan fracturas. Cabe recordar la naturaleza de dicha especie y la posibilidad de que estos animales hayan sido preparados enteros, y que la desarticulación no requiera elementos de gran porte, como un hacha o una sierra, sino que probablemente hayan sido separados con los mismos cuchillos que fueron descarnados posteriormente, incluso con los que fueron trozados para ingerirlos.

Dentro de la clase Mammalia, Bos Taurus es el taxón más representado. Los

Page 35: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

33

elementos que predominan son los que corresponden al esqueleto axial por sobre los que corresponden al esqueleto apendicular. Dentro del esqueleto axial los elementos con mayor representación son las costillas y las vértebras. Las mismas estarían involucradas en los cortes de carne vacuna definidos como de primera, correspondientes al sector trasero del lomo y la parte superior de los miembros traseros (Chichkoyan et al. 2008).

Con respecto a las vértebras puede señalarse que se encuentran enteras sin fracturas ni aserrados. Esto podría relacionarse con lo que plantean autores como Silveira (2005), que hasta fines del siglo XIX las reses se comercializaban enteras, no por la mitad, por lo tanto las vértebras se encontrarían enteras en el registro, sin huellas de haber sido divididas.

Las costillas que en su mayoría presentan huellas superficiales producidas por cuchillos, en las diáfisis, así como una gran cantidad de fracturas y huellas de aserrado de serruchos y de hachas, podría estar reflejando patrones de fragmen-tación asociados con la preparación de platos específicos o con maneras social o culturalmente determinadas para preparar ciertos platos (Ramos Roca 2002).

Los huesos correspondientes a la sección de la cabeza son escasos y sin huellas antrópicas, por lo que es probable que sea descartada para el consumo. Según autores como Seijas y Cereda (1999), lo que explicaría la ausencia de restos óseos correspondientes a la cabeza del animal es que la misma era separada del cuerpo durante el primer trozamiento, inmediatamente previo al sacrificio del animal, y que esto se realizaba en el matadero. Según dichos autores, hay registros para Buenos Aires de que a prinestocipios de siglo XIX todavía era común comprar animales enteros, medias reses, un costillar o una pata, hasta la aparición de los primeros cortes de carne al peso y por calidad (Chichkoyan et al. 2008).

Del esqueleto apendicular, los huesos pertenecientes a los miembros ante-riores solo se encuentran representados por una escapula y un radio. De esto podría deducirse que este sector del esqueleto de vaca, comprendido entre los cortes de segunda calidad, de alto rendimiento cárneo, fue consumido pero no en gran cantidad (Chichkoyan et al. 2008). También puede señalarse que la es-capula presenta huellas de aprovechamiento, por lo tanto se infiere que fueron desmembradas del resto de los elementos que forman la pata delantera, así como fueron también descarnados al ser consumidos (Seijas y Cereda 1999).

En lo que respecta a los miembros posteriores, los huesos con mayor repre-sentación son los tarsianos. Pelvis, femur, tibia, metatarso, falange: cada uno presenta en MNE=1. La falange y los tarsianos no registran huellas de apro-vechamiento y se encuentran enteros. A partir de esto puede inferirse que la unidad de adquisición en el sitio sería la extremidad entera con sus patas, estos

Page 36: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

34

huesos inferiores entonces podrían ser descartados en el momento del despiece secundario, sin ser consumidos.

La parte superior de la pata trasera es un sector que fue consumido, como el mismo sector de la pata delantera. Esto puede afirmarse a raíz de la presencia de marcas de procesamiento sobre estos huesos. Dicho sector estaría dentro de los cortes de primera calidad (Chichkoyan et al. 2008).

Con respecto a Ovis aries, si bien se encuentran dos ejemplares, no son muchos los restos óseos presentes, siendo los sectores de alto rendimiento cárneo los más representados, esto puede verse en la presencia de costillas y una vértebra. Las costillas presentan huellas antrópicas: de aserrado escalonado asociadas con lascados, de cuchillo y fracturas de bordes cortantes rectos. De esto se puede inferir que este sector del animal pasó por los procesos de separación del costillar y despiece secundario (fracturas en costillas y aserrados) y descarnado (huellas de cuchillos en cara interior y externa).

Del esqueleto apendicular sobresale la presencia de restos asignados a femur, así como otros correspondientes a las extremidades posteriores. Las extremi-dades anteriores no se encuentran representadas. Los restos de femúr además, presentan huellas relacionadas con el descarne y la desarticulación de los grupos musculares. Esto hace pensar en un mayor consumo de este sector de la pata, de alto rendimiento cárneo.

Los tipos de cortes de carne vacuna señalados para la época en la ciudad de Buenos Aires por autores como Silveira (2005) y Chichkoyan (2008), constituyen dos tipos: los cortes específicos y los no específicos. A su vez, estos se relacio-nan con los de primera, segunda y tercera calidad. Los específicos involucran cortes especializados del animal. Los que no poseen base ósea se ubican en los miembros apendiculares, cortes como: bola de lomo, entraña, nalga, para el miembro posterior y el brazuelo, paleta, espinazo, para el miembro anterior (Bavera 2005; Chichkoyan 2008), Los que tienen una base ósea son los que se extraen de la zona de las costillas y el esternón junto con las vértebras, como el asado, la falda, el bife ancho y el lomo (Bavera 2005; Chichkoyan 2008), o de los apendiculares distales, tanto en la zona de la tibia como del radiocúbito (osobuco). En cambio los cortes no específicos abarcan una región determinada del animal que incluye varios músculos y partes óseas (Chichkoyan 2008), sectores de los miembros apendiculares y sólo algunos de la parte axial. Ejemplo de estos cortes son el asado con vacío, que incluye toda la parte axial del costillar más la zona abdominal del animal, o el bife angosto junto con el ancho, que comprende toda la zona de las vértebras torácicas hasta las lumbares. En cuanto a los cortes de los miembros apendiculares puede nombrarse la rueda sin garrón que incluye

Page 37: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

35

la zona del isquion de la pelvis y el fémur sin la tibia. Para el miembro anterior tenemos el cuarto delantero a diez costillas que se extiende desde la zona del húmero hasta la parte escapular, e incluso algunas vértebras torácicas y las diez primeras costillas (Bavera 2005; Chichkoyan 2008).

Los cortes vacunos presentes en CP corresponden a cortes específicos rela-cionados con las costillas (asado) y el radio (osobuco). La poca presencia de otros huesos podría estar indicando también la predominancia de cortes específicos que no involucren huesos. Esto puede tener relación con el tipo de sitio que constituye CP, ya que aparentemente es el basurero de la vieja capilla. Cabe señalar que en el mismo, los peces y gallinas se encuentran representados en buen porcentaje. Esto puede estar relacionado con las costumbres religiosas de no consumir carnes en momentos especiales, lo cual hace que la dieta sea variada y que esto se refleje en el registro arqueológico de CP (Silveira 2005).

En lo que respecta a la formas de preparación de las comidas a base de carne, uno de los puntos que puede utilizarse como indicio para las inferencias a realizar es el estado de preservación de los restos óseos. Si bien no es un tema todavía muy estudiado al nivel de los efectos producidos por las diferentes formas de cocción (asado o hervido) y las huellas que pueden tomarse como “antrópicas” presentes en las superficies óseas (Montón Subías 2002), algunos datos pueden aportar a esta problemática.

En cuanto a la impronta dejada en las superficies óseas por los diferentes procesos de cocción, siguiendo lo planteado por la experimentación realizada por Roberts (et al. 2002) por ejemplo, la práctica del guisado/estofado puede relacio-narse con los elementos que se encuentran en un buen estado de preservación, no expuestos al fuego directamente y tampoco sometidos a procesos de cocción muy prolongados. Mientras que los que se encuentran en estado deteriorado y muy deteriorado, pueden estar evidenciado prácticas como el hervido en sopas o pucheros, las cuales implican más tiempo de cocción y por ende deteriorarían más las superficies óseas. Los que presentan alteraciones térmicas, producto tal vez de una exposición más directa al fuego, se podrían relacionar con el asado u horneado.

Por lo tanto, puede señalarse que en CP hay muchos huesos en buen estado, y pocos afectados por alteraciones térmicas. Esto puede marcar la preferencia por preparaciones como guisados y/o estofados, que no deben ser expuestos al fuego por mucho tiempo.

Page 38: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

36

conSideracioneS finaleS

Como ya fue señalado en la introducción, este manuscrito se encuentra inclui-do en un proyecto mayor, en el cuál el objetivo es inferir cambios en las pautas de consumo de los habitantes de la ciudad de Rosario entre los siglos XVIII y XIX.

Dado que para el período cronológico del que forma parte CP (mediados del siglo XVIII) no se encuentran investigaciones y/o registros disponibles, ya que Rosario era un pequeño poblado en ese momento, esta investigación pretende aportar datos en este sentido, desde el registro arqueológico y aportar a la in-vestigación general de la cual forma parte.

El análisis de las pautas de consumo y sus cambios se realiza teniendo en cuenta los datos aportados por cuatro sitios arqueológicos analizados. Los mis-mos corresponden a distintos momentos y sectores de la ciudad de Rosario. “Casa Parroquial” (el aquí presentado); “Juan Manuel de Rosas” y “La Basurita” corresponden al casco histórico, su área fundacional y cercana a ella. Mientras que el sitio “Arenales” se encuentra ubicado en un sector que por esos siglos era considerado como las afueras de Rosario, donde a fines de los años 1890 se creó el barrio Refinería, un barrio de obreros, por lo tanto en este sitio se encontraría representado otros sectores de la ciudad.

Teniendo en cuenta que durante el siglo XVIII la ciudad de Rosario estaba en formación y que desde mediados del siglo XIX crece no solo en infraestructura, sino también en cantidad de habitantes, sobre todo por la llegada de los muchos grupos de inmigrantes, es que se plantea que ese hecho influyo en las pautas de consumo.

Los objetivos particulares que rigen la investigación apuntan a determinar el proceso de elección de consumo de animales enfatizando la agencia humana en los actos de consumo, así como también correlacionar este proceso con los cambios sociales, políticos y económicos que tuvieron lugar durante el período a investigar. Y por último, establecer actitudes diferenciales de consumo de ani-males entre inmigrantes de orígenes nacionales diferentes, particularmente para la segunda mitad del siglo XIX.

agradecimientoS

El proyecto que engloba este trabajo fue realizado con una Beca interna doctoral de Conicet. A la Lic. Sandra Escudero por facilitarme los materiales para el análisis. Al Dr. Juan Bautista Leoni, por sus aportes a esta investigación.

Page 39: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

37

bibliografía

ARÁMBURU, R. 1985. Peces de Agua Dulce II. Siluriformes. En Fauna Argentina 93. Centro Editor de América Latina, Buenos Aires.

BAVERA, G. 2005 Cortes argentinos. FAV UNRC. www.produccion-animal.com.ar / www.produccionbovina.com (último acceso 1/8/2013)

BEOVIDE, L. 1995. Análisis de los restos arqueofaunísticos de la Casa del Diablo. San Miguel. Rocha. En Arqueología en el Uruguay: 120 años después, Editado por M. Consens, J. M. López Mazz y C. Curbelo, pp. 54-65. Uruguay.

BEHRENSMEYER, A. K. 1978. Taphonomic and ecologic information from bone weathering. Paleobiology 4(2):150-162.

BERWIK, D. E. 1975. Valoración del análisis sistemático de los restos de fauna en sitios arqueológicos. Chungara 5:125-140.

BINFORD, L. R. 1981. Bones. Ancient men and modern myths. Academic Press, Orlando.

CAPUTO, M Y A. MANAVELLA. 2001. Rosario desde antes del Pago de los arroyos. En La historia de Rosario. Economía y sociedad. Tomo I, editado por R. Falcón y M. Stanley, pp. 13-54. Homo Sapiens, Rosario.

CARRASCO, E Y G. CARRASCO. 1897. Anales de la ciudad del Rosario de Santa Fe. Buenos Aires

CLELAND, C. H. 2001. Historical Archaeology Adrift? Historical Archaeology 35:1-8.

HAIX, L. Y P. MÉNIEL. 2005. Manual de arqueozoología. Ariel Prehistoria, Barcelona.

CHICHKOYAN, K. 2008. De provisiones y consumos urbanos: la comida en La Boca. La Zaranda de Ideas. Revista de Jóvenes Investigadores en Arqueología 4: 91-108.

COOK, L; R. YAMÍN Y J. MCCARTHY. 1996. Shopping as Meaningful Action: Toward a Redefinition of Consumption in Historical Archaeology. Historical Archaeology 30(4):50-65.

COLASURDO, M. B. 2008. Inferencias sobre el consumo de aves en un sitio histó-rico de la ciudad de Rosario. Actas del XXVIII Encuentro de Geohistoria Regional. pp. 279-285. CONICET, Resistencia.

DE CERTEAU, M. 1986. La Invención de lo cotidiano. I. Artes de hacer. Universidad iberoamericana, México.

DE MARCO, M. A. 2002. Miradas de la Historia. Rosario, 150 años de ciudad. La Ca-pital, Rosario.

Page 40: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

38

DESSE, G. 1984. Nouvelle contribution à la diagnose des pièces rachidiennes des poissons. En Deuxièmes rencontres d’archéo-ichthyologie/Second Fish Osteoarchaeology Meeting, editado por N. Desse-Berset, pp. 25-39. Centre des Recherches Ar-chéologiques.

DOUGLAS, M. Y B. ISHERWOOD. 1990. El mundo de los bienes. Hacia una antropología del consumo. Grijalbo, México.

ESCHMEYER, W. N. CATALOG OF FISHES: GENERA, SPECIES, REFERENCES. (http://research.calacademy.org/research/ichthyology/catalog/fishcatmain.asp). Electronic version accessed dd mmm 2014. [This version was edited by Bill Eschmeyer.]

ESCUDERO, S. 1999. Registro arqueológico y discurso histórico: reflexiones teó-ricometodológicas sobre su uso conjunto. Trabajo presentado en las II Jornadas Regionales de Historia y Arqueología del Siglo XIX. Guaminí.

FALCÓN, R. Y M. STANLEY. 2002. Miradas de la Historia. Rosario, 150 años de ciudad. La Capital, Rosario.

FISCHLER, C. 1995 El(h)omnívoro. Elgusto,la cocina y el cuerpo. Anagrama, Barcelona.

GARCÍA CANCLINI, N. 1990. Culturas Híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. Grijalbo, México.

GALLO, E. 1983. La colonización agrícola. En La Pampa Gringa. Sudamericana, Buenos Aires.

GIFFORD GONZÁLEZ, D. P., K. STEWART Y N. RYBCZYNSKI. 1999. Human activities and site formation at modern lake margin foraging camp in Kenya. Journal of Anthropological Archaeology 18,397–440.

GIRARD, L; MAYOL, P. Y DE CERTEAU, M. 1999. La invención de lo cotidiano. II. Habitar, cocinar. Universidad Iberoamericana. México.

GOMBOS, T. 1967. El puerto de Rosario. Revista Historia de Rosario V (13):3-22.

GRAYSON, D. K. 1984. Quantitative Zooarchaeology. Topics in the Analysis of Archaeological Faunas. Academic Press. Orlando.

HILLSON, S. 2005. Teeth. Cambridge Manuals in Archaeology. Cambridge University Press, Cambridge.

HINTZE, S. 1997. Apuntes para un abordaje multidisciplinario del problema ali-mentario. En Procesos Socioculturales y alimentación, compilado por M. Álvarez y L. Pinotti, pp. 11-33. Ediciones del sol, Serie Antropología. Buenos Aires.

Page 41: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

39

HUELSBECK, D. R. 1991. Faunal Remains and Consumer Behavior: What Is Being Measured? Historical Archaeology 25 (2): 62- 73.

LANDON, D. 1996. Feeding colonial Boston: A zooarchaeological study. Historical Archaeology 30(1).

LANZA, M. 2011 Registro arqueofaunístico de aves en sitios históricos de contextos urbanos del S XIX. Trabajo presentado en el II Congreso Nacional de Zooarqueo-logía Argentina. Buenos Aires, Olavarría.

LEVI-STRAUSS, C. 1986. Mitológicas: Lo crudo y lo cocido. Fondo de Cultura Econó-mica. México.

LYMAN, R. L. 1994. Vertebrate taphonomy. CambridgeUniversity Press, Cambridge

MARTÍNEZ, G. 2005. Sitio El Tigre (Pdo. de Patagones, Pcia. de Buenos Aires, Ar-gentina): Evidencias sobre la explotación de peces en el curso inferior del río Co-lorado e implicaciones para los sistemas de subsistencia. Magallania 33 (2):99-114.

MENGONI GOÑALONS, G. 1988. Análisis de materiales faunísticos de sitios ar-queológicos. Xama 1 : 71-120.

_____________________ 1999. Cazadores de guanacos en la estepa patagónica.Sociedad Argentina de Antropología. Buenos Aires. 2001. Tras la senda de los animales en arqueología. Accesible http://www.soc.unicen.edu.ar/newsletter/nro6/nuestros_docentes/gmengoni.htm

MILES GILBERT, B. 1993. Mammalian Osteology, Missouri. Archaeological Society, Columbia.

MILLER, D. 1999. Ir de Compras. Una teoría. Siglo XXI, Buenos Aires

MONGSFELD, O. 1982. Rosario Ciudad Puerto. Centro de Estudios Arquitectónicos, Rosario.

MONTON SUBIAS, S. 2002. Cooking in Zooarchaeology: Is this Issue Still Raw? In Consuming passions and patterns of consumption, edited by P. Miracle and N. Milner, pp. 7-16. McDonald Institute for Archaeological Research.

MUSALI, J. 2005. Ictoarqueología del Delta del río Paraná inferior. El sitio laguna La Bellaca 2 como caso de estudio. Tesis de Licenciatura en Antropología. Depar-tamento de Ciencias Antropológicas. Facultad de Filosofía y Letras. Universidad de Buenos Aires. ms.

PÉREZ RIPOLL, M. 1992. Marcas de carnicería, fracturas intencionales y mordeduras de carnívoros en huesos prehistóricos del Mediterráneo español. Instituto de Cultura Juan Gil-Albert, Alicante.

Page 42: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

PAUTAS DE CONSUMO DE LOS PRIMEROS POBLADORES DE ROSARIO (SANTA FE, ARGENTINA). ZOOARQUEOLOGÍA HISTÓRICA DE UN POZO DE BASURA DEL SIGLO XVIII.

40

PRIETO, A. 2001. Los trabajadores. En La Historia de Rosario. Economía y Sociedad, dirigido por R. Falcón y M. Stanley, pp. 111-155. Homo Sapiens Ediciones. Rosario

RAMOS, M. 2000. Algo más que la Arqueología de sitios históricos. Una opinión. Anuario 5: 61- 75.

RAMOS ROCA, E. 2002. Patrones de consumo de fauna: el caso de la Quinta de Bolívar. Revista de Antropología y Arqueología 13(1):147-168.

REITZ, E. J. AND E. S. WING. 2008. Zooarchaeology. Cambridge University Press, Cambridge.

REMEDI, F. 2006. Dime qué comes y cómo lo comes y te diré quién eres. Una historia del consumo alimentario en la modernización argentina. Córdoba, 1870-1930. Centro de Estudios Históricos “Prof. Carlos S. A. Segreti”, Córdoba.

RIGOTTI, A.M. 2001. Los procesos de conformación y expansión urbana. En La historia de Rosario. Economía y sociedad. Tomo I, editado por R. Falcón y M. Stanley, pp. 283-293. Homo Sapiens, Rosario.

ROBERTS, S. J, C. I. SMITH, A. MILLARD Y M. J. COLLINS. 2002. The tapho-nomy of cooked bone: characterizing Boiling and its physico-chemical effects. Archaeometry 44 (3): 485– 494.

SALEMME, M. C. 1987. Paleoetnozoología del Sector Bonaerense de la Región Pampeana, con Especial Atención a los Mamíferos. Tesis Doctoral Inédita. Uni-versidad Nacional de La Plata.

SALEMME, M., L. MIOTTI Y E. TONNI. 1988. La determinación sistemática de los mamíferos en el análisis arqueofaunístico. En De procesos, contextos y otros hue-sos, editado por N. Ratto y A. Haber, pp. 65-73. ICA Sección Prehistoria. FFyL. UBA, Buenos Aires.

SENATORE, M. Y ZARANKIN, A. 1996. Perspectivas metodológicas en Arqueología Histórica. Reflexiones sobre la utilización de la evidencia documental. Páginas sobre Hispanoamérica Colonial, Sociedad y Cultura (3): 113-122.

SEIJAS, M. S. Y M. CEREDA. 1999. Arqueología histórica de Quilmes, Análisis de arqueofauna. Actas del XII Congreso Nacional de Arqueología de la Argentina, Tomo I: 509-514, Universidad Nacional de la Plata. La Plata.

SILVER, I. A. 1970. The ageing of domestic animals. In Science in archaeology: A survey of progress and research (2nd ed.), editado por D. R. Brothwell and E. S.Higgs, pp. 283-302. New York: Praeger Publishing.

SILVEIRA, M. 2005. Cocina y comida en el Río de la Plata. Editorial de la Universidad

Page 43: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MARIA BELÉN COLASURDO

41

Nacional del Comahue, Neuquén.

STINER, MC ; SL, Kuhn; WEINER, S ; O, Bar-Yosef 1995. Differential Burning, Recrystallization, and Fragmentation of Archaeological Bone. Journal of Archaeo-logical Science 22, 223–237.

TICA, P. 2001. Historia social Santafesina en tiempos de la Confederación. UNR editora. Rosario.

ZOHAR, I., T. DAYAN, E. GALILI Y E. SPANIER. 2001. Fish Processing During the Early Holocene: A Taphonomic Case of Study from Costal Israel. Journal of Archaeological Science 28:1041-1053.

WILSON, D. AND REEDER, D. 2005. Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference (3rd ed), Johns Hopkins University Press, 2,142 pp. (Available from Johns Hopkins University Press, 1-800-537-5487 or (410) 516-6900, or at http://www.press.jhu.edu).

Page 44: revista vestígios
Page 45: revista vestígios

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

THE URBAN AND THE ARCHAEOLOGY: A TRANSDISCIPLINARY FRONTIER

VESTÍGIOS – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica

Volume 8 | Número 2 | Julho – Dezembro 2014ISSN 1981-5875

Diogo M. Costa

Page 46: revista vestígios

Data de recebimento: 13/04/2014Data de aceite: 20/06/2014

Page 47: revista vestígios

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

THE URBAN AND THE ARCHAEOLOGY: A TRANSDISCIPLINARY FRONTIER

Diogo M. Costa1

reSumo

A Arqueologia Urbana se diferencia das demais Arqueologias não só por pesquisar a história única de uma geografia singular, mas também por utilizar teorias e metodologias distintas. Por sua vez, a cidade é como um mosaico que muda constantemente ao longo do tempo e espaço, seja de forma ordenada ou irregular. Junto com estas transformações, os estudos que podem ser realizados sobre a vida da e na cidade multiplicam-se e se complementam. O presente texto apresenta vários destes conhecimentos, através de uma revisão bibliográfica sobre o tema, começando com retrospectivas históricas, passando pelas abordagens urbanísticas, e encerrando com as perspectivas arqueológicas.

Palavras-Chave: Arqueologia Urbana, Teoria e Metodologia, Estudos da Cidade.

reSumen

La Arqueología Urbana se diferencia de las demás Arqueologías, no sólo por la investigación de la historia única de una geografía singular, sino también, me-diante el uso de diferentes metodologías y teorías. A su vez, la ciudad es como un mosaico que cambia constantemente con el tiempo y el espacio, en una forma ordenada o irregular. Junto con estas transformaciones, los estudios que se pueden realizar sobre la vida y en la ciudad, se multiplican y se complementan. Este artículo presenta varios de estos conocimientos, a través de una revisión de la literatura sobre el tema, a partir de las retrospectivas históricas, pasando por enfoques urbanísticos, y terminando con perspectivas arqueológicas.

Palabras clave: Arqueología Urbana, Teoría y Metodología, Los Estudios de la Ciudad.

1 Programa de Pós-Graduação em Antropologia / Universidade Federal do Pará – PPGA/UFPA, [email protected]

Page 48: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

46

abStract

Urban archaeology is different from other Archaeologies, not only because it researches the unique history of a singular geography, but also because it uses distinct theories and methodologies. In its turn, the city is a mosaic that changes constantly in time and space, in ordered or disordered forms. In addition, the studies conducted about life and living in the city are also multiple and comple-mentary. This text presents a bibliographic review about the subject, beginning with historic retrospectives, following by urbanity approaches, and finishing with archaeological perspectives.

Keywords: Urban Archaeology, Theory and Methodology, Studies of the City.

a cidade como camPo de eStudoS

Hoje, 3,9 bilhões de pessoas vivem em áreas urbanas, isto representa 54% da população mundial, e a previsão para 2050 é de que chegue a 2/3 da popula-ção (Nations, 2014). No Brasil mais de 85% da população vive em um dos seus 5.565 municípios, que englobam tanto a área urbana como rural. Entretanto, o urbanismo é fenômeno relativamente recente na humanidade, se comparado ao surgimento da linguagem, uso de artefatos, ou a estratificação social. Porém, ao mesmo tempo, o urbanismo é também uma transformação radical dos padrões de vida anteriores, estabelecendo centros de confluência e influencia em todas as sociedades, e está em pleno curso no nosso contemporâneo.

Mas por que estudar a cidade? Para as ciências humanas e sociais, a cidade pode ser observada como um laboratório privilegiado, único, e acelerado para análise das mudanças socioculturais. Desta forma, identificamos neste campo de estudo a concepção espacializada e temporal do sociocultural, e reciprocamente, a so-cialização e aculturação do espaço ao longo do tempo. O estudo sistematizado das cidades já ajudou a derrubar vários tabus, como a concepção de “desorganização” do espaço urbano, ou mesmo o desentendimento das cidades como portadoras e geradoras de culturas específicas.

A antropologia, assim como a arqueologia, também estuda as cidades, e este estudo para ambas é inevitavelmente inter e multidisciplinar. Na antropologia o estudo sistemático das cidades começa com a chamada escola de Chicago, durante o período de 1892 a 1929, a qual procurava compreender as diferenças socioculturais dentro das grandes cidades. Esta escola criou vários conceitos, entre eles o de rede social, ou estudo de bairros, que são locais dentro da cidade onde a organização e sociabilidade são exercidas. Assim como o conceito de tra-jetórias, onde podemos observar o dinamismo e complexidade dos sistemas de

Page 49: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

47

deslocamentos entre locais e lugares (Frugoli Jr, 2005; Velho, 2009).Porém, segundo Lynch (1999), a cidade também pode ser vista como uma

imagem construída por seus habitantes, e assim temos vários aspectos que podem ser observados aqui, desde: o design urbano, ou seja, sentir a cidade como um todo, muitas vezes fazendo uso de diferentes ferramentas, como a fenomenolo-gia; a imagem ambiental da cidade, ou a construção mental variável do espaço urbano, tanto individual como coletiva; a identidade, estrutura, e significado dos espaços urbanos, suas formas e função; e a imaginabilidade da cidade, ou suas características físicas que tornam o ambiente urbano visível e memorável.

O mesmo autor segue adiante propondo, inclusive, uma forma holística de interpretar a cidade através da identificação dos seus cinco elementos principais, que são: as vias ou os canais pelos quais circulam as pessoas entre um bairro e outro, os limites ou os elementos definidores de fronteiras entre os bairros, os bairros ou segmentos da cidade com características próprias, os pontos nodais ou núcleos de convergência entre vias e bairros e os marcos que são os criadores de identidade para cada bairro ou cidade, podendo ser estes distantes ou locais.

Portanto, a cidade como campo de estudo é um objeto ao mesmo tempo singular e universal, onde podem ser tratados temas desde as impessoalidades das relações sociais, até a solidariedade entre diferentes grupos e meios. Desta forma, na cidade encontram-se inúmeros campos de estudo e que mesmo apar-entemente dinâmicos, diferenciados ou exóticos, abrem pistas para entender não só a sua própria lógica, mas também um espaço e tempo urbano e em constante transformação.

Este texto pretende ser uma introdução aos inúmeros estudos da cidade, para tanto será realizada uma breve revisão bibliográfica sobre o tema, começando com as retrospectivas históricas, passando pelas abordagens urbanísticas, e encerrando com as perspectivas arqueológicas. A intenção aqui não é esgotar de forma alguma o assunto, ou mesmo restringir-se a um posicionamento mais crítico em torno de uma corrente teórica e/ou metodológica específica. Mas sim, estabelecer um diálogo entre os vários estudos que podem ser feitos na e da cidade, e sua relação reflexiva com a arqueologia.

Para tanto, primeiramente, será feita uma retrospectiva histórica sobre a formação dos diversos espaços urbanos, desde seus primórdios na pré-história até o nosso contemporâneo. Em seguida, será apresentado um breve histórico da cidade brasileira, onde desde o planejamento urbano português também será visto as especificidades coloniais, imperiais e republicanas das cidades no Brasil. Nesta primeira parte, o leitor poderá encontrar os dados históricos e geográficos para entender o processo de formação do espaço urbano.

Page 50: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

48

Na sequência serão abordados os distintos tipos de urbanismos vigentes, através de estudos clássicos na área, e como estes pensamentos afetam a forma e função das cidades em que hoje vivemos. Como parte destes estudos, também será ex-posto um breve resumo das arqueologias urbanas realizadas em alguns locais no mundo e, principalmente, nas diversas regiões do Brasil. Nesta parte, as temáticas abordadas são o destaque, não se prendendo a justificativas ou julgamentos, mas desvelando as opções de estudo tomadas em função das circunstâncias políticas, econômicas e sociais surgidas.

Por fim, alguns preceitos teóricos e metodológicos para uma arqueologia urbana são citados, estabelecendo as possíveis relações entre os vários estudos e a produção do conhecimento através da cultura material. Como consideração final, são apontadas algumas perspectivas sobre o fazer arqueológico no e do espaço e tempo urbano. Onde o objetivo, mais do que fazer uma arqueologia na ou da cidade, seja sim, a construção de uma “hilegrafia2” sobre qualquer objeto pesquisado.

a formação do eSPaço urbano

Conforme Mumford (1998) baseado em Childe (1977), a história da urban-ização é tão antiga quanto a própria civilização, os primeiros vestígios de aglom-erados humanos permanentes no velho continente começam a aparecer por volta de 15.000 a.C com a fixação dos grupos de caçadores-coletores-pescadores, em consequência da domesticação de animais e cultivo de mudas. Por volta de 12.000 a 10.000 a.C. estas fixações começam a crescer, devido ao plantio de gramíneas e formação de rebanhos bovinos e caprinos. Já neste período temos também a formação das aldeias, primeiro de forma aberta, como simples aglomerados, e depois de forma fechada com o cercamento do entorno.

Segundo os autores, ainda na Europa e Ásia, por volta de 9.000 a 4.000 a.C. as unidades domésticas se caracterizam por serem cabanas, algumas com plantações no entorno. É durante este período que surgem os primeiros embriões urbanos, com a segmentação do espaço das aldeias em casas, oratórios, poços, vias públi-cas e praças. Ocorrem também, durante este período, o aumento expressivo da população e a especialização das atividades. Já em torno de 3.000 a.C. temos a invenção da metalurgia, da roda, do barco à vela, da matemática, da escrita e da astronomia. Muitas dessas transformações possivelmente são causadas pela própria concentração de pessoas em espaços urbanos.

Assim como os autores acima, Kostof (1991), também sustenta que as pri-meiras cidades surgem de uma agregação de inúmeros fatores, entre eles deter-

2   “Escrita com as coisas”, de ὕὕὕ - hyle, matéria e ὕὕὕὕὕὕὕ – gráphein, escrever.

Page 51: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

49

minantes naturais como as condições dos terrenos e a proximidade de recursos hídricos; ou fatores, essencialmente culturais, como a centralização de um poder militar, político, econômico e religioso (Benevolo, 1993). De toda a forma, até hoje não existe um consenso sobre qual fator foi preponderante na formação das cidades, sendo que diversas experiências de urbanização surgiram e desaparece-ram durante a história da humanidade (Barceló et al., 2002ª; Marcus & Sabloff, 2008). Todavia, duas situações - naturais e culturais – ocorreram, principalmente na região do Norte da África e do Oriente Médio, onde vamos encontrar as mais antigas cidades conhecidas.

Os centros urbanos mesopotâmicos surgem desde o advento Tell Brack, ainda no período neolítico tardio, em torno de 6.000 a.C. Mas é durante o período dos sumérios que cidades como Ur, Nipur e Uruk tomam a cena, com suas áreas centrais de arquitetura pública cercada por zonas residenciais. Com o colapso dos sumérios, outras cidades surgem na região, como a Babilônia dos Amoritas e a Nínive dos Semitas. Porém, todas estas cidades eram caracterizadas como centros militares ou comerciais e de forma fechada, onde o espaço urbano é voltado para o palácio/templo e seus limites são fixados por muros ou fossos (McIntosh, 2005; Pollock, 2000).

Por outro lado, as cidades egípcias nunca conformaram um padrão urbano como o mesopotâmico, sendo que, desde a capital do faraó Aquenáton, a cidade de Amarna fundada em 1.350 a.C., todas as “cidades” egípcias configuram-se somente como centros administrativos e religiosos, com áreas residenciais afastadas. Este padrão urbano pode ser classificado como uma paisagem aberta, porque o centro de suas aglomerações estava sempre marcado por um templo/palácio e não possuía muros ou delimitações do espaço; entre estas primeiras cidades egípcias seguindo este modelo podem citar: Menfis, Tebas e Heliópolis. (Trigger, 2001; Gates, 2003).

Entretanto, o urbanismo não foi um fenômeno restrito a um determinado local e tempo, e muito menos, um fato único a ser espelhado pelo globo atra-vés de processos difusionistas (Smith, 2007). Outros exemplos de urbanismos antigos também podem ser encontrados na Ásia, por exemplo; nas cidades do vale do rio Indo, em torno de 2.300 a.C., como Mohenjo-Daro e Harappa, já apresentavam diferentes zonas privadas e públicas, sistema sanitário e pluvial, assim como espaços cerimoniais e fortificações. No norte da China, desde 2.100 a.C. do período Erlitou até 1.100 a.C. do período Shang, cidades sem muros como Anyang surgiram, sendo verdadeiros centros rituais em plataformas de terra, mas sem construções em pedra (Trigger, 2001; Huang, 2006; Kenoyer, 2011; Smith, 2009).

Page 52: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

50

Na América do Sul, vamos encontrar em torno de 2.000 a.C. na costa do Peru os indícios mais antigos de urbanização. E já entre 500 e 900 d.C. também vamos ter cidades como Wari e Tiwanaku, mas é com a ascensão do império Inca, em torno de 1.400 a 1.530 d.C., que vai ocorrer uma padronização urbana nos Andes. Na América Central, no período clássico Maia de 200 a 900 d.C., vão surgir cidades como Tikal, Copán, Palenque e Caracol, com seus centros cívicos e religiosos cercados por zonas residenciais. Com o colapso das cidades Maias em torno de 900 d.C., Olmecas, Zapotecas e Astecas começam a imitar em menor escala a planificação Maia, até o advento de Teotihuacan, de 100 a 600 d.C., e depois Tenochtitlan, de 1.300 a 1.519 d.C. (Trigger, 2001; Smith, 2009).

No sul da Ásia, entre 800 a 1.300 d.C., também vamos encontrar a capital dos Khmer, a cidade de Angkor, com seu complexo composto por templos e palácios rodeados por residências. Na África subsaariana, no lado ocidental, a cidade de Jenné-Jeno, em torno de 450 a 1.100 d.C., assim como as cidades Yorubas, de 1.400 a 1.900 d.C., foram outros grandes centros comerciais. Enquanto o lado oriental africano viu florescer a impressiva cidade do Grande Zimbabwe, em torno de 1.100 a 1.400 d.C., sendo também um ponto comercial entre a costa e o interior do continente (Trigger, 2001; Smith, 2009; Okpoko, 1998).

Todavia, os modelos ocidentais de cidade só vão sofrer uniformizações sig-nificativas a partir das polis gregas, quando a qualidade defensiva das encostas escarpadas da Grécia e a separação entre as zonas rurais e urbanas também vão ser suas características, assim como o número reduzido de habitantes. Os gregos vão criar ainda certa especialização para suas cidades, como por exemplo a cidade de Olímpia para o esporte, a de Delfos para a religião, ou de Cós para a medi-cina. Porém, sua principal marca na paisagem urbana vai ser o estabelecimento da Ágora, ou um espaço central na cidade para o comércio e aristocracia; e a Acrópole, muitas vezes afastada do centro para o exercício da política e religião. Portanto, as cidades gregas vão ser identificadas como espaços de agregação e contemplação, sempre orientadas segundo o sol em uma planta urbana que segue do nascente ao poente (Gates, 2003; Mitchell & Rhodes, 2005).

A urbe romana, por sua vez, vai ter sua principal característica na forma retangular, congregando espacialidades tanto dos etruscos como dos helênicos. Entre os principais legados dos romanos para o planejamento urbano ocidental vão estar o calçamento das ruas, o abastecimento de água e a canalização do esgoto, isto não só na capital Roma, como também nas províncias. Da mesma forma, na organização do espaço vamos ter a criação do Fórum, ou um somatório entre a Ágora e a Acrópole grega, os banhos para higiene, e a arena para o espetáculo. Outra característica singular da cidade romana vai ser o espaço dividido entre

Page 53: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

51

o Cardo Maximus ou um eixo norte-sul, e o Decumanus Maximus, um eixo leste-oeste (Gates, 2003; Parkins, 2005).

Diferentemente das cidades clássicas, as cidades do período medieval na Euro-pa vão apresentar uma segmentação principalmente entre três setores: a religião marcada pela igreja, a política marcada pelo palácio e a economia marcada pela guilda. Aqui, o espaço privado vai ser configurado pela casa medieval, onde se encontram tanto o espaço de moradia, como o de trabalho. Por sua vez, a cidade do medievo também seguiu padrões diferenciados de urbanização, com algumas sendo retangulares, no modelo grego, em forma de tabuleiros, como as cidades planejadas romanas, ou sinuosas e naturais, quase que seguindo os caminhos marcados pelo gado. Entretanto, sua principal marca vai ser a forma radiocên-trica, onde o poder político, religioso e econômico encontra-se centralizado no espaço urbano e a limitação deste mesmo espaço ocorre através de muros ou fossas (Pounds, 2005).

Após o fim da idade média, surgem as primeiras cidades barrocas, onde entre seus principais preceitos vão estar a uniformização dos espaços, a centralidade da exibição e a personificação do poder. Ruas retas e largas, praças amplas, prédios do mesmo tamanho e a repetição de elementos vão ser os principais marcadores destas paisagens urbanas. Porém, entre todas as características, o que mais vai diferenciar as cidades barrocas das outras cidades medievais na Europa vai ser a separação entre o espaço público, muitas vezes marcado pelo trabalho, e o espaço privado, configurado pela moradia (Harrington, 2005; Hengerer, 2008).

No período colonial da América, algumas diferenças também vão surgir entre as cidades formadas no hemisfério norte e sul. As cidades coloniais da América do Norte vão possuir uma vocação mais agrícola, configurando-se assim quase como um campo aberto para o gado, com edifícios públicos no seu entorno e casas mais afastadas do centro. Já as cidades coloniais na América do Sul vão possuir propriedades de um planejamento militar, sendo que as espanholas em sua maioria vão possuir uma plaza central, com igreja e cabildo, quadras retangulares e ruas largas, sendo esta um pura herança greco-romana; já as portuguesas vão seguir um modelo mais orgânico e medieval com influências barrocas, configurando-se quase que em um asterisco marcado no chão (Rossa & Trindade, 2006; Smith, 1955; Ferreira, 1996).

Por fim, a cidade industrial surge já a partir dos 1800, marcada pelo forte e rápido êxodo rural da revolução industrial; a cidade industrial é a consolidação do que hoje podemos chamar de “sociedades urbanas”, ou nações onde a grande maioria de seus habitantes vive em cidades. Por outro lado, a concentração do capital também propicia a criação de metrópoles, fenômeno consequente do

Page 54: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

52

próprio capitalismo do século XX, onde as distinções entre centro e periferia se agravam, abrindo espaço para o surgimento de culturas próprias e diversas dentro de uma mesma cidade (Cunningham, 2005; Davis, 1955).

breVe hiStórico da cidade braSileira

O planejamento urbano colonial no Brasil é consequência também da própria história de formação das cidades portuguesas. Portugal torna-se independente de Austuria e Leão, que mais tarde vai se tornar a Espanha, no século XIII. Este fato é seguido pelo processo de reconquista das cidades mouriscas, como Lisboa, Santarém e Algarves, fundadas na Península Ibérica durante a ocupação islâmica. Como características marcantes, estas cidades vão ter a localização do centro político e religioso em um local elevado ao espaço econômico e residencial, as vias formadas por caminhos sinuosos e orgânicos e as casas localizadas para dentro dos bairros. Este modelo de cidade portuguesa começa a ser exportado após a revolução de Avis, entre 1383 e 1385, e definitivamente implantado com a tomada de Ceuta, em 1415.

Segundo Teixeira (2012b), o planejamento urbano português vai ser marcado pela combinação de dois princípios, o do urbanismo vernáculo e do urbanismo erudito. No urbanismo vernáculo perdura uma herança mediterrânea reforçada pela presença mulçumana, que se adapta ao meio natural existente. No urbanismo erudito, perpetua um passado clássico reformulado pelo Renascimento, onde a regularidade e geometria dos traçados alimentam o seu componente cultural. Estes modelos de cidades portuguesas começam a ser exportados a partir do século XV, primeiramente para as ilhas da Madeira e Açores e depois para a costa da África e do Brasil (Teixeira, 2012ª; Teixeira, 2011; Teixeira, 2009).

Entretanto, as especificidades da colônia também refletiam no planejamento urbano português, sendo necessário adaptá-lo tanto à nova realidade dos trópicos, como ao interesse expressamente mercantil. O distanciamento da metrópole por um lado incentivava a autonomia, mas, por outro, seguia uma estratégia de adaptação já experimentada pelos colonos portugueses em outros contextos. Outro fator que muito influenciou a vida nas cidades coloniais brasileiras foi tanto a ambivalência de diferentes matizes indígena e africana, como os diferentes objetivos europeus. Este multicomponencial histórico e cultural formava uma heterarquia na cidade, onde determinados grupos ocupavam espaços distintos, mas de forma permeável. Da mesma forma, o que também identificava a cidade colonial brasileira eram seus arredores constituídos por diversos segmentos como portos, engenhos, fazendas e missões, que tornavam ainda mais diluídas a definição entre espaços urbanos e/ou rurais (Etchevarne & Lopes, 2009).

Page 55: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

53

No século XVI, o primeiro assentamento português na América foi o de Cabo Frio, no atual estado do Rio de Janeiro, fundado por Américo Vespúcio, em 1504; outros se seguiram nas costas nordestinas e sulistas. Porém, além de efêmeras, estas feitorias viriam a ser substituídas pelas vilas das capitanias here-ditárias, já a partir de 1530. Na Bahia temos Vila Velha, fundada por Francisco Pereira Coutinho, na baía de Todos os Santos, em 1530, e São Jorge de Ilhéus, em 1536; além de Porto Seguro, Santa Cruz e Santo Amaro, fundadas por Pero do Campo Coutinho, em 1535. Em Pernambuco temos Igaraçu, fundada por Duarte Pereira Coelho, em 1536, e Olinda, em 1537. No Espírito Santo temos Nossa Senhora da Vitória, fundada por Vasco Fernandes Coutinho, em 1551. E no atual estado de São Paulo temos a vila de São Vicente, em 1532, Santos, em 1545, e Piratininga, em 1554, todas fundadas por ordem de Martim Afonso de Souza, que nunca veio ao Brasil (Schürmann, 1999).

Como uma velha tradição na península ibérica, somente o rei podia “criar” cidades, assim, a maioria dos aglomerados urbanos no novo mundo eram vilas. As vilas, por sua vez, não possuíam padronização e podiam, sim, ser criadas por homens comuns, mas com consentimento real. Entre as primeiras cidades planejadas no Brasil temos São Salvador, fundada por Tomé de Souza, em 1549, como sede do primeiro Governo Geral, e São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, após a expulsão dos franceses. Ambas as cidades podem ser caracterizadas pelo traçado regular, implantação de praças, padronização dos lotes, instalação de fortes, e amuralhamento dos limites. Em outras regiões do Brasil mais vilas surgiram, como Nossa Senhora do Itanhaém, em 1561, São João Batista de Ca-nanéia, em 1578, e São Cristóvão, em 1590. A exceção dos portugueses, também tem Filipéia de Nossa Senhora das Neves, fundada por holandeses, no nordeste, em 1580 (Schürmann, 1999).

No século XVII, a vila de Cabo Frio foi elevada a categoria de cidade em 1615, e mais vilas foram fundadas, como Recife, em 1630, Nossa Senhora do rosário do Paranaguá, em 1649, Colônia do Sacramento, em 1680, Nossa Senhora dos Pinhais de Curitiba, em 1693. Na Amazônia, Belém é fundada em 1616, após a conquista de São Luiz pelos portugueses em 1612. No século XVIII, os arraiais de mineração nas Minas Gerais tomam a cena, como Vila Rica, Mariana e Sabará, em 1711, São João Del Rei, em 1713, e Caeté, em 1714. De outro lado, as fronteiras do Centro-Oeste também começam a ser ocupadas, como por Vila Boa de Goiás, em 1726, Bom Jesus de Cuiabá, em 1727, e Vila Bela de Santíssima Trindade, em 1752. No início do século XIX, a cidade mais populosa no Brasil vai ser o Rio de Janeiro, seguida por Salvador, Ouro Preto, Cuiabá, Belém, São Luís, Recife, Olinda, São Paulo, Mariana, São João Del Rei e Porto Alegre, a última cidade

Page 56: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

54

fundada no período colonial e elevada a vila em 1808 (Schürmann, 1999).No período colonial, alguns aglomerados urbanos também vão nascer por

outras iniciativas que não só a real. Estas cidades vão ter origens diversificadas desde a aglomeração provocada por iniciativas religiosas ou militares até a ocu-pação por outras nações europeias. Como característica urbanística das cidades coloniais portuguesas à beira mar pode-se identificar a existência de uma linha estruturante que liga dois pontos distintos e opostos, normalmente um religioso e outro militar. Tratavam-se de ocupações adaptadas a geografia existente, e na forma linear, onde nesta primeira rua localizavam-se as principais construções residenciais e comerciais. Após a primeira fase, a ocupação se estendida para o interior através de ruas paralelas à primeira e algumas ruas transversais, formando os primeiros lotes. Esta segunda fase poderia ser ou não planejada, com a instalação de praças que aglomeravam os edifícios públicos, concentrando assim os espaços administrativos e religiosos (Teixeira, 2012b; Teixeira, 1996).

No século XVII, por sua vez, o planejamento das cidades torna-se mais aplica-do, através da adoção de traçados mais regulares e geométricos. Com a escolha de locais planificados e a vinda de engenheiros militares, o quadriculamento com a praça centralizada torna-se a prática para implantação de uma cidade no Brasil. Já no século XVIII, além do planejamento da malha urbana, as construções também começam a ser o alvo da padronização. A forma ortogonal toma a frente no sul em Laguna, em 1737, Porto Alegre, em 1743, Rio Grande, em 1747, Desterro, em 1749; assim como no norte em Macapá, em 1758, e Mazagão, em 1770. Neste período, tanto as cidades fundadas por espanhóis como por portugueses se assemelham pelo desenho, porém diferem nas soluções encontradas para a sua implantação no ambiente (Teixeira, 2012b; Teixeira, 1996).

As cidades imperiais, por sua vez, são caracterizadas por uma série de norma-tivas que vão tomar corpo após 1808, seguindo preceitos iluministas são baixados decretos exigindo, por exemplo, a retirada das rótulas, gelosias e muxarabis das casas. Em 1829 o desmembramento das casas de câmara e cadeia, e em 1858 a introdução por Glaziou do paisagismo natural inglês em oposição ao paisagismo artificial francês, torna-se vigente. Por outro lado, a própria corte vai estabele-cer suas regras internas de convivência, procurando através das casas de chácara ou boulevards uma distinção na paisagem urbana brasileira. Porém, nada mais afetou tanto a organização do espaço urbano no Brasil no período, do que a Lei de Terras promulgada em 1850, provocando um verdadeiro êxodo rural para os centros urbanos, fato depois agravado pelo fim do escravismo em 1888 (Alvarez et al., 2001; Ferreira, 2005).

Page 57: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

55

As cidades republicanas entram em cena no Brasil desde o final do século XIX, sendo que os temas de higiene e saúde, assim como o aumento populacional tomam conta das problemáticas urbanas. O mesmo acontece também durante o início do século XX, onde políticas sanitaristas do governo vão provocar conflitos com a população, como a Revolta da Vacina no Rio de Janeiro, em 1904, em Porto Alegre, no mesmo ano, em Salvador, em 1906, Recife, em 1909 e São Paulo, em 1913. Por outro lado, a cidade moderna brasileira se transforma com a criação de largas avenidas, iluminação elétrica, transporte público e recolhimento do lixo. Mas a segregação social também se consolida, com o estabelecimento de cortiços, a ocupação dos morros na perifeira, e as benfeitorias públicas sendo realizadas somente nos bairros centrais da classe dominante (Alvarez et al., 2001; Ferreira, 2005).

oS eStudoS da cidade e o urbaniSmo

Segundo Choay (1998), os estudos sistemáticos sobre o espaço urbano já começam desde o século XIX, porém foi só em 1910 que surgiu o termo ur-banismo enquanto uma ciência que estuda a localização humana. Foi também durante este período que os problemas das cidades começam a se agravar, muito em decorrência da nova sociedade industrial, que gerava suas demandas. A ci-dade industrial que se formava vinha para transformar completamente as cidades medievais, barrocas e também coloniais. Grandes avenidas para deslocamento por automóvel, setorização dos bairros entre serviços, produção e moradia, arquitetura monumental e estabelecimento dos subúrbios são alguns exemplos (Benevolo, 1981).

Os estudos urbanos neste período, de acordo com a autora, praticamen-te se dividem em dois segmentos, um mais descritivo com caráter científico bem marcado, e outro mais humanista, já tendendo para o sociopolítico. Estes segmentos, por sua vez, também pregavam duas concepções de cidade, sendo uma caracterizada como modelo progressista, onde através do estabelecimento de regras gerais busca-se a convivência humana ideal. Mas, também, regido por uma estética quase matemática configurada por espaços amplos, jardins artificiais e distribuição dos espaços. E, outra, caracterizada como um modelo culturalista, onde procurava-se replicar a unidade solidária dos tempos passados, através de uma estética orgânica. Porém, marcado por um processo quase de retrocesso, restritivo, descentralizado, e porque não dizer, comunal.

Entretanto, para Choay, na construção de um saber sobre a cidade, a crítica aos modelos também foi uma constante e, por isso, a cidade não podia ser pensada como algo estático, modelada ou transformada. Seguindo os pensamentos da épo-

Page 58: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

56

ca, a cidade era um corpo imprevisível e problemático e no seu contemporâneo, sem solução. Como expressão máxima desta crítica, surge nos Estados Unidos dos novecentos também um movimento antiurbanista, onde era reivindicada a manutenção do estado natural das cidades, ou seja, a não aplicação de nenhum método ou modelo no seu desenvolvimento. No final do século XIX e início do século XX, o urbanismo também torna-se uma prática teórica institucionalizada, como forma de planejamento especializado. É também após este período que três escolas de pensamento surgem no estudo das cidades: o culturalismo inglês, o progressismo francês, e o naturalismo norte-americano:

O urbanismo culturalista surge no final do século XIX na Inglaterra e tem como prerrogativa o estudo totalitário da cidade sobre as suas partes. É uma escola marcada pelo modelo cultural do passado e calcada, principalmente, no tipo comunitário. Para esta escola, o espaço urbano ideal é a cidade-jardim, onde a paisagem urbana é sinuosa e fechada, sendo marcada por espaços pequenos, delimitados, intimistas e principalmente únicos. Estes preceitos, portanto, clamam por uma estética citadina regressista e nostálgica.

O urbanismo progressista começa no início do século XX na França e, por sua vez, possui um ideário moderno e universalista, onde a técnica e a estética são atemporais, calcado primeiramente no tipo individualista. Para os seguidores desta cartilha, quatro regras são fundamentais na concepção de qualquer cidade: morar, trabalhar, circular e desfrutar. Para a escola progressista, o espaço urbano ideal é a cidade-manifesto, onde a paisagem é ocupada pelo sol, pelo verde e principalmente pela matemática de forma fragmentada e geométrica.

O urbanismo naturalista nasce em meados do século XX, nos Estados Unidos, e possui como principal ponto o contato com a natureza e a predominância das formas acêntricas. Para esta escola de pensamento, o espaço urbano ideal é a ci-dade-viva, constituída de forma dispersa e formada por unidades reduzidas, quase como células individuais e sociais automatas. Para este segmento, a residência deve compor tanto a moradia como o trabalho, quase uma fazenda. Enquanto a paisagem urbana se configura em uma interseção complexa entre o cultural e o progressista, mas com uma prerrogativa, a de a arquitetura ser subordinada à natureza.

Conforme Choay, após a 2ª Guerra Mundial, algumas críticas também come-çam a surgir às posições dogmáticas do pensamento urbanista. Uma é a tecno-tópia, onde a cidade é pensada de forma tecnológica, propiciando à população projetos de viver complexos, como o urbanismo espacial ou mesmo subterrâneo e aquático. E outra é a antrópolis, onde a crítica humanista toma corpo através de ações não-urbanistas, que privilegiam a continuidade histórica-cultural, o

Page 59: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

57

estudo sociopolítico e a percepção presente da população. Como também, uma higiene mental nos planejadores, procurando uma abordagem mais psicológica e humana, por fim, quase em uma estética versus uso.

Porém, para Cunningham (2005), nos últimos séculos o fenômeno das me-trópoles tem mudado a forma e a função das cidades. Agora se tornando um centro econômico principalmente do capital, como Londres após a 1ª revolução industrial, ou Nova York após a 2ª revolução industrial. As metrópoles se consoli-dam como núcleos de tecnologia e informação, e a partir da década de 1990 em cidades mundiais, onde tudo acontece na forma e função de uma rede globalizada. Portanto, são com estas constantes transformações que as cidades se caracterizam enquanto um objeto possuidor de tempos e espaços singulares e universais e, para seu estudo, a arqueologia pode e tem muito a contribuir.

arqueologia urbana no mundo e no braSil

Na Europa, a arqueologia urbana surge a cargo das reconstruções após a 2ª Guerra Mundial, sendo que na década de 1960 começa a receber seus primeiros aportes teóricos e metodológicos, na década de 1970 enfrenta a realidade dos empreendimentos imobiliários e em 1980 se apresenta como uma forma de contar a história das cidades. Na Inglaterra, os trabalhos em Londres, Oxford e Winchester, desde a década de 1960, propiciaram a criação de unidades especí-ficas no poder público. Enquanto na França, um órgão oficial e nacional sobre o assunto só foi criado na década de 1980. Em Portugal, por sua vez, os trabalhos envolvendo o estudo arqueológico das cidades já vinham ocorrendo em Bracara Augusta, hoje cidade de Braga, desde a década de 1970 (Lemos & Martins, 1992; Martins & Franco, 2010; Pardi, 2006).

Na América do Norte, a arqueologia urbana é executada desde a década de 1960, como consequência da arqueologia de salvamento realizada no espaço ur-bano. Porém, foi somente na década de 1980 que a arqueologia urbana adquiriu importância, através do impacto causado pelos grandes empreendimentos nas cidades norte-americanas. Por outro lado, a arqueologia urbana também foi inicialmente muito negligenciada nos EUA, tanto por seu pouco apelo temporal ou por ser considerada como um laboratório para treinamento dos pré-histo-riadores. Esta visão só foi suplantada a partir da década de 1990, quando novas prerrogativas teóricas de pesquisa começam a tomar a cena, como estudos sobre desigualdade e conflito no espaço urbano (Dickens & Bowen, 1980; Staski, 1982).

Na América Central, o exemplo de Havana Velha se destaca desde a década de 1960, incluindo, além de pesquisas em diversos espaços, também o ensino à comunidade. Da mesma forma, a arqueologia urbana realizada no continente

Page 60: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

58

também procurou incorporar tanto o passado pré-colonial como o pós-colonial. Como na Guatemala, que desde 1969 luta pela preservação do seu passado ur-bano frente aos processos de modernização. Enquanto na América do Sul, mais precisamente na Argentina, os estudos arquitetônicos e históricos do urbano já tomam corpo desde a década de 1940. Alguns estudos como o de Zarankin, por exemplo, apontam as transformações arquitetônicas ocorridas no espaço urbano em Buenos Aires. Porém, é com as revisões arqueológicas destes espaços que novos questionamentos e possibilidades começam a surgir, principalmente sobre o hibridismo entre hispânicos e indígenas (Aparicio R., 1991; Domínguez & Funari, 2002; Igareta, 2010; Zarankin, 1999; Zarankin, 2002).

No Brasil, os estudos na cidade começaram na década de 1980, em São Paulo, e da cidade na década de 1990, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Porém, muitas vezes de forma acidental, onde para preservar o impacto gerado por obras ao patrimônio arqueológico foram realizadas pesquisas também em meios urbanos. Em algumas cidades foram também realizados inventários do patrimônio arqueo-lógico, gerando cartas do potencial arqueológico, que em alguns casos, foram incorporadas pelo poder público (Tocchetto & Thiesen, 2007; Symanski, 2003).

No sul do país, pesquisas como as realizadas por Symanski sobre grupos do-mésticos no espaço urbano abriram espaço para os estudos dos restos materiais de diversos segmentos sociais. Assim como o de Thiesen sobre a transformação da paisagem urbana de Porto Alegre desde o século XIX até o século XX, que identifica através das fachadas prediais os espaços físicos de diversos grupos que compunham a sociedade na época. Por outro lado, o trabalho de Tocchetto so-bre as práticas cotidianas de descarte em quatro unidades domésticas da Porto Alegre novecentista também trouxe à tona as práticas arraigadas de um discurso higienista. E de Oliveira, com uma proposta de fôlego para o zoneamento ar-queológico de Porto Alegre, com base em pesquisas arqueológicas e históricas e a sua inserção nas políticas públicas da cidade. Da mesma forma, atualmente, não só Porto Alegre, mas outras cidades como Rio Grande e Pelotas, e claro, Florianópolis e Curitiba, também tornam-se objeto de estudo (Oliveira, 2005; Tocchetto, 2005; Tocchetto, 2003; Symanski, 1998; Thiesen, 1999).

No sudeste os exemplos de arqueologia urbana são inúmeros, mas podemos destacar em São Paulo as ações do Departamento de Patrimônio Histórico desde 1975, e do Museu Paulista desde 1979, com a Prof.ª Andreatta à frente dos tra-balhos. Outro ponto de estudo pioneiro em São Paulo vem a ser a gestão urbana com Juliani, além das técnicas construtivas no espaço urbano e também estão as casas bandeirantistas; mas hoje, as pesquisas se diversificam muito desde bairros operários até subúrbios inteiros. No Rio de Janeiro, as práticas nascentes do ca-

Page 61: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

59

pitalismo vêm sendo estudadas a longo tempo por Lima, assim como os jardins e passeios imperiais também foram alvos de pesquisas iniciais, os cemitérios de escravos, e mais atualmente a área portuária. Em Minas Gerais, as investigações por sua vez sempre se localizaram nas cidades históricas do ciclo do ouro, sendo que em muito se confundem com os trabalhos de restauro; com exceção das pesquisas sobre a paisagem, como antigas estradas ou minas (Araujo et al., 2005; Baeta et al., 2007; Najjar et al., 2007; Lima, 1999; Juliani, 1996).

No nordeste a arqueologia urbana também tem sua projeção, principalmente com os trabalhos de Alburqueque no centro histórico de Recife, ou as demais pesquisas nas igrejas de Olinda. Em Recife podemos destacar os trabalhos na Sinagoga Kahal Zur, e no Arco da Conceição, assim como atualmente na Cidade da Copa. Outros trabalhos de longo prazo também vêm sendo realizados em Salvador, tendo à frente Etchevarne, assim como as prevenções realizadas no Pelourinho. Em outras capitais nordestinas alguns trabalhos pontuais também foram realizados, em destaque temos Natal e São Luis, assim como os trabalhos tanto preventivos como acadêmicos nas cidades de São Cristóvão e Laranjeiras, em Sergipe (Albuquerque, 2003; Albuquerque, 2006; Costa, 2014; Etchevarne, 1999-2000; Etchevarne, 2003).

No centro oeste poucos trabalhos foram realizados estritamente com a te-mática urbana, salvo o zoneamento arqueológico proposto por Godoy para a Cidade de Goiás, onde a legislação urbana é confrontada pelos preceitos de uma arqueologia urbana. E nos trabalhos de pesquisa sobre Pirenópolis por Curado, que procura expor o público e o privado em comparação com a arquitetura, ou de Vila Boa por Tedesco, que apresenta os espaços dos negros e brancos na cidade. Outro exemplo de trabalho em arqueologia urbana no centro oeste é também a pesquisa de Costa, sobre uma vila de mineradores e o seu conflito com os arraiais do entorno (Curado, 2009; Godoy, 2004; Tedesco, 2009; Costa, 2011).

Por fim, o norte do país também apresenta algumas pesquisas arqueológicas realizadas nas cidades, sendo os trabalhos realizados por Marques e outros em Belém, os mais conhecidos (Lopes, 2013; Marques & Malheiro, S/D). Alguns trabalhos preventivos também foram realizados em Manaus, por Correa, na catedral e no mercado, e por outros na praça D. Pedro II (Corrêa, 2007; Corrêa & Iribarrem, 2009; Martiniano & Filippini, 2006). Portanto, este é um breve panorama da arqueologia urbana executada no Brasil. Porém, pesquisas mais sistematizadas e o entendimento das cidades como um todo a ser pesquisado arqueologicamente no país ainda são uma exceção (Funari, 1999).

Page 62: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

60

PreceitoS teóricoS e metodológicoS

Para um estudo arqueológico-histórico mais completo sobre a cidade é im-portante que alguns preceitos teóricos e metodológicos possam ser aplicados. Segundo Smith (2011), vários estudos urbanos podem contribuir em muito para o entendimento de três princípios básicos a serem investigados arqueo-logicamente na formação dos espaços urbanos, são eles: o traçado e forma da cidade, o planejamento e execução urbana, as dinâmicas sociais da vida urbana. Para tanto, serão apresentadas algumas ferramentas teórico-metodológicas para alcançar este objetivo.

O primeiro conceito teórico e metodológico que pode ser observado na formação do espaço urbano é a relação da “percepção e do comportamento am-biental”, ou seja, quais são os sistemas recursivos presentes entre as ações humanas e o ambiente constituído. Por exemplo, quais interesses humanos influenciam a construção de certos ambientes? Ou qual o determinado efeito um ambiente construído tem sobre as pessoas? Ou ainda, quais são os mecanismos que ligam determinadas pessoas a determinados ambientes? As investigações que podem ser realizadas seguindo estes preceitos vão desde as abordagens das interações proxêmicas, topofílicas e topofóbicas3, até a fenomenologia do espaço (Rapoport, 1978; Rapoport, 2006; Rio & Oliveira, 1999).

O segundo conceito de estudo urbano que pode ser incorporado pela arqueo-logia trata-se da “semiótica ou comunicação arquitetônica”, onde é observado a transmissão de determinadas mensagens através dos objetos e paisagens con-struídas. Em sua maioria, estas comunicações pertencem às esferas econômicas, sociais e políticas, e são muitas vezes representadas pela monumentalidade da obra, apesar de existirem também outras formas mais sutis de comunicação não-verbal. Outro instrumento bastante utilizado na leitura desta semiótica ar-quitetural são também os modelos de comunicação canônica e indicadora, onde o primeiro refere-se a elementos agregadores como culturais ou históricos, e o segundo mais aos elementos diferenciadores como ostentação econômica ou segmentação social (Blanton, 1994; Rapoport, 1990).

Em terceiro temos a “sintaxe espacial”, ou um conjunto de métodos e téc-nicas de análise sintática que, guiados por princípios da teoria sócio-espacial, procura entender a relação do movimento dos corpos entre as áreas construídas e a significância dos acessos – abertos e fechados – para a interação social. Desta forma, este tipo de estudo pode ser conduzido, tanto internamente nas estruturas construtivas, analisando o layout dessas unidades, como de forma mais ampla,

3 Proxêmia é a distância variável entre as pessoas, topofilia é o gosto por um determinado local, e topofobia é o medo de um determinado local.

Page 63: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

61

analisando toda uma cidade através dos padrões de suas ruas, espaços públicos e privados. Por outro lado, este campo de estudo também se entrelaça com os princípios do comportamento ambiental e da morfologia urbana (Hillier e Han-son, 1984, Hillier, 1996).

Em quarto temos a “morfologia urbana”, nascida com os estudos descritivos densos das plantas de cidades históricas, este preceito teórico e metodológico propõe uma análise dos planejamentos urbanos, suas mudanças ao longo do tempo. Um conceito chave é a paisagem urbana, ou a descrição integrada dos aspectos físicos, formais e funcionais do ambiente construído, sendo constituído principalmente por três elementos: o desenho da planta, os materiais construtivos e os estilos arquitetônicos, e o uso das edificações e espaços. Estudos como esses vêm sendo conduzidos tanto na Europa como nos Estados Unidos, observando claramente as transformações ocorridas nos desenhos urbanos ao longo do tempo (Whitehand, 2001; Whitehand, 2007; Conzen, 2001; Rego & Meneguetti, 2011; Marat-Mendes & Cabrita, 2012).

Em quinto temos a “teoria da recepção”, onde similar com sua origem nos estudos literários, propõem-se entender como os residentes e visitantes relac-ionam-se em um ambiente construído, observando tanto os espaços privados e cotidianos, como os públicos e eventuais. Empregando desde uma abordagem extremamente empírica até especulações mais hermenêuticas, são trabalhadas as percepções que as pessoas têm e adquirem sobre e do traçado urbano, tudo isso sempre através da experiência humana. Outras ferramentas desta linha de estudo são também as concepções vindas do design de polígonos, de visão e visibilidade, principalmente com auxílio de instrumentos de sistemas de informação geore-ferenciados (Holtorf, 2000-2007; Lynch, 1999; Ricoeur, 2004; Lopes, 1993).

Em sexto temos a teoria do “planejamento gerativo”, onde a importância das construções vernáculas frente às edificações oficiais é dada através de um foco nas casas e residências. O estudo do planejamento urbano que não seja de cima para baixo, revela outros sistemas de crescimento e organizações urbanas. Apesar de ser uma teoria que usa muito dos conceitos de complexidade e emergência, o urbanismo gerativo não é idôneo de padrões e estruturas. Centrando-se prin-cipalmente na oposição entre a espontaneidade e a normatização, as ocupações informais ou favelas são um dos seus principais campos de estudo (Costa, 2012; Smith, 2010; Smith, 2012; Epstein, 2006 ).

Em sétimo temos as “normativas de urbanização”, ou seja, os planejamentos e ações de melhorias nas cidades por profissionais. Em sínteses são preceitos que pretendem entender as cidades não só como resultado orgânico ou mecânico, mas também como aspirações ou até mesmo projeções imateriais. Em alguns

Page 64: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

62

casos, até mesmo utilizando de um urbanismo simbolista ou cósmico, o qual através de orientações mágico-religiosas estabelece o desenho urbano da cida-de. Estas teorias são fortemente alicerçadas não somente na análise empírica do espaço urbano, mas também com o auxílio de documentação histórica, escrita ou pictórica, principalmente para os casos de ocupações antigas (Choay, 1998; Mumford, 1998; Lynch, 1981).

E por último, as teorias de análise da formação das cidades e seu potencial arqueológico, mais comumente relacionado aos processos econômicos, políticos ou sociais. Através de diversas abordagens os processos de urbanização são enten-didos conforme relações economicistas, políticas ou de sociabilização ocorridas nas cidades. O que se estabelece como comum a todos estes enfoques é que partem quase que exclusivamente de dados arqueológicos, porém interpretados de diversas maneiras. Por exemplo, a ausência ou existência de determinados espaços, bens ou serviços, densidade populacional, organização espacial e estrutu-ração socioeconômica (Barceló et al., 2002b; Birmingham, 1990; Thorpe, 2004).

conSideraçõeS finaiS e PerSPectiVaS

Porém, na prática, como definir arqueologicamente o potencial de estudo de um determinado espaço urbano? Conforme Anichini e outros (2001), a análise de qualquer potencial arqueológico de uma cidade começa pela identificação dos parâmetros a serem utilizados no estudo. Estes parâmetros vão auxiliar na criação de um modelo preditivo, onde constarão os diversos potenciais arqueológicos conforme os dados históricos e ambientais da cidade pesquisada. Este potencial é mensurado através da correlação entre a quantidade e qualidade dos dados, assim como por suas similaridades e diferenças contextuais. Entretanto, devemos ter em mente que este mecanismo de pesquisa é também um instrumento de gestão, onde diferentes atores podem estar presentes nas várias etapas de tomada de decisão.

O primeiro processo para a elaboração de um modelo preditivo urbano pode ser a elaboração de um mapa histórico do município. Aqui, vários elementos são congregados para mostrar o desenvolvimento histórico do ambiente, assim como sua condição de pesquisa atual. A reconstrução das paisagens culturais e naturais em diferentes períodos históricos é uma ferramenta imprescindível nesta etapa da pesquisa. Basicamente, a diferenciação de áreas alagadiças e secas, a identificação de aterros em áreas baixas ou aplainamento de áreas altas, como os desvios de cursos d’água, ajudam a identificar a geomorfologia histórica do terreno. Por outro lado, os dados históricos escritos, pictóricos ou mesmo orais auxiliam na reconstrução destes espaços e na predição da existência ou não de vestígios arqueológicos.

Page 65: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

63

Quanto aos dados históricos, todos os procedimentos devem ser tomados para trabalhar com estas fontes, desde o cuidado com a veracidade de fontes escritas até a subjetividade inerente das fontes orais. Porém, um tipo de fonte documen-tal particularmente sobressai quando se trata de planejamento urbano, que são os mapas ou plantas das áreas urbanas. Entretanto, o trabalho com estas fontes também deve exigir certo cuidado, principalmente quanto o georeferenciamento de mapas antigos. Por outro lado, o uso de softwares específicos tanto na coleta e elaboração dos dados, quanto na sua análise e interpretação podem auxiliar na eliminação de incongruências (Santos et al., 2009; Fleet et al., 2012).

Por fim, podemos ter como critérios de avaliação os seguintes parâmetros para definir o potencial arqueológico de um espaço urbano: primeiro a sua formação, onde o tipo de ocupação seja um assentamento temporário ou permanente podem influenciar diretamente na quantidade e qualidade dos vestígios arqueológicos; segundo a sua distribuição espacial, onde a densidade e a concentração da ocu-pação também influenciam na composição sincrônica dos depósitos, assim como o meio ambiente em que está inserido; em terceiro a sua situação temporal, onde a maior ou menor diferenciação diacrônica dos depósitos também podem resultar no isolamento ou composição do seu potencial; e por fim, o estado de preservação do depósito arqueológico que está diretamente relacionado com o uso atual do terreno, e também com impactos antrópicos ou naturais que estes sofreram ao longo do tempo (Anichini et al., 2001).

Por outro lado, a cidade como sítio arqueológico pode ser entendida também por seus tipos de vestígios, onde lixeiras coletivas, presentes nos aterros de pra-ças ou vias públicas, contêm artefatos que informam, através do seu anonimato, as tendências gerais sobre cada época. E as lixeiras particulares, dos quintais ou abaixo de construções mais modernas, que representam a individualidade atra-vés de artefatos, em sua maioria ligados a um determinado grupo doméstico ou familiar. Porém, a estratigrafia urbana não é lida só abaixo do solo, mas também acima; onde casas e prédios tornam-se artefatos sobre a vida cotidiana, zonas comerciais e industriais são vestígios de espaços de troca e produção, e as ruas e praças representam também estruturas de lazer e sociabilidade (Dickens, 1982; Mayne & Murray, 2001).

Portanto, a arqueologia urbana pode ser entendida mais do que somente o estudo da cultura material na e das cidades. Mesmo que a arqueologia da cidade seja realizada somente no espaço urbano e tenha por premissa entender esta paisagem única de pesquisa. Ou que a arqueologia da cidade seja uma investi-gação do tempo urbano e tenha como principal objeto de estudo a formação e desenvolvimento geral da cidade. O estudo arqueológico sincrônico e diacrônico

Page 66: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

64

do urbano deve também procurar entender o urbanismo enquanto fenômeno e, como qualquer arqueologia, fazer uma “hilegrafia” com cada objeto pesquisado, tentando inserir este conhecimento construído nas necessidades e perspectivas contemporâneas e futuras, das cidades em que vivemos.

agradecimentoS

Parte deste estudo vem sendo financiado pela Bolsa Ibero-Americana para Jo-vens Professores e Pesquisadores Santander Universidades, através da Pró-Reitoria de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará – PROINTER/UFPA.

Page 67: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

65

referênciaS bibliográficaS

ALBUQUERQUE, M. 2003. Sinagoga Kahal Zur Israel: retornando à vida do Recife. Revista de Arqueologia Americana - Instituto Pan-americano de Geografia e História, vol. 22: 63-79.

ALBUQUERQUE, M. 2006. O Arco da Conceição, uma das antigas portas do Re-cife: uma aproximação arqueológica. CLIO - Série Arqueológica, vol. 1: 151-167.

ALVAREZ, J.M., BITTAR, W.S.M. & VERÍSSIMO, F.S. 2001. Vida Urbana: A Evolução do Cotidiano da Cidade Brasileira. Ediouro, São Paulo.

ANICHINI, F., BINI, M., FABIANI, F., GATTIGLI, G., GIACOMELLI, S., GUA-LANDI, M.L., PAPPALARDO, M. & SARTI, G. 2001. Definition of the Param-eters of the Archaeological Potential of an Urban Area. MapPapers, vol. 2: 47-49.

APARICIO R., R. 1991. Arqueología urbana de Guatemala. IN J.P. Laporte, S. Vil-lagrán, H. Escobedo, González, D.d. & Valdés, J. (Eds.) II Simposio de Investigaciones Arqueológicas en Guatemala. Guatemala, Museo Nacional de Arqueología y Etnología.

ARAUJO, A.G.D.M., CAMPOS, M.C. & JULIANI, L.C.O. 2005. O Departamento do Patrimônio Histórico e a Arqueologia no Município de São Paulo: 1979-2005. Revista do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.

BAETA, A.M.P., TEDESHI, H., MIRANDA, D. & S., M.C. 2007. Entre Becos e Quintais: Arqueologia na Área de Servidão em um Casarão de Mariana-MG. XIV Congresso da SAB. Curitiba.

BARCELÓ, J.A., PELFER, G. & MANDOLESI, A. 2002a. The origins of the city: From social theory to archaeological description. Archeologia e Calcolatori, vol. 13.

BARCELÓ, J.A., PELFER, G. & MANDOLESI, A. 2002b. The origins of the city: From social theory to archaeological description. Archeologia e Calcolatori, vol. 13: 41-63.

BENEVOLO, L. 1981. As Origens da Urbanistica Moderna. Editorial Presença, Lisboa.

BENEVOLO, L. 1993. A História da Cidade. Editorial Perspectiva, São Paulo.

BIRMINGHAM, J. 1990. A Decade of Digging: Deconstructing Urban Archaeology. Australian Historical Journal, vol. 8.

BLANTON, R.E. 1994. Houses and households: A comparative study. Plenum, New York.

CHILDE, V.G. 1977. O que aconteceu na História. Zahar, Rio de Janeiro

CHOAY, F. 1998. O Urbanismo. Perspectiva, São Paulo.

Page 68: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

66

CONZEN, M.P. 2001. The study of urban form in the United States. Urban Morpho-logy, vol. 5, 3-14.

CORRÊA, M.V.D.M. 2007. Da capela carmelita à catedral metropolitana de Manaus (AM): uma arqueologia da arquitetura. Fragmentos de Cultura, vol. 17, 591-607.

CORRÊA, M.V.D.M. & IRIBARREM, C.G. 2009. Mercado municipal Adolpho Lisboa- Manaus (AM): Arqueologia e Restauração. XI Cidade revelada. Itajaí.

COSTA, D.M. 2011. Water and War at Pyreneus Mountains: Historical Eco-Archaeology of Lavras do Abade. LAP Lambert Academic Publishing, Saarbrücken.COSTA, D.M. 2012: Mundos Virtuais: Uma Proposta de Teorização Sobre a Prática das Simula-ções Computacionais na Arqueologia. Jornal de História da Arte e Arqueologia, vol. 18, 29-46.

COSTA, D.M. 2014. Um Ensaio de Arqueologia Urbana em São Cristóvão – SE. Clio. Série Arqueológica, vol. 28.

CUNNINGHAM, D. 2005. O Conceito de Metrópole: Filosofia e Forma Urbana. Radical Philosophy.

CURADO, D. 2009. Uma ponte à Meia Ponte. Dissertação (Mestrado em ?), IGPA-PUCGO, Goiânia.DAVIS, K. 1955: The Origin and Growth of Urbanization in the World. American Journal of Sociology, vol. 60.

DICKENS, R.S. 1982. Archaeology of Urban America: The Search for Patterns and Process. Academic Press, New York.

DICKENS, R.S. & BOWEN, W.R. 1980. Problems and Promises in Urban Historical Archaeology: The MARTA Project. Historical Archaeology, vol. 14.

DOMÍNGUEZ, L. & FUNARI, P.P.A. 2002. La Arqueología Urbana en América Latina: el caso de Habana Vieja, Ciudad Arqueológica. Estudos Ibero-Americanos, vol. 28, 113-124.

EPSTEIN, J.M. 2006. Generative Social Science: Studies in Agent-Based Computational Modeling. Princeton University Press, New Jersey. ETCHEVARNE, C. 1999-2000: O indígena e o europeu em Porto Seguro, Bahia: uma perspectiva arqueológica Revista de Arqueologia, vol. 12/13, 15-22.

ETCHEVARNE, C. 2003. Reciclagem de faiança em Salvador. Contextos arqueoló-gicos e tipos de utilização. CLIO - Série Arqueológica, vol. 16, 103-118.

ETCHEVARNE, C. & LOPES, C. 2009. O Território Urbano no Mundo Colonial Luso-Brasileiro. I Fórum Luso-Brasileiro de Arqueologia Urbana. Salvador, Fast design.

Page 69: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

67

FERREIRA, F. 1996. Cidades coloniais brasileiras e espanholas na América: uma abordagem comparativa. Seminário de História da Cidade e do Urbanismo.

FERREIRA, J.S.W. 2005. A cidade para poucos: breve história da propriedade ur-bana no Brasil Interfaces das representações urbanas em tempos de globalização. UNESP e SESC, Bauru.

FLEET, C., KOWAL, K.C. & PŘIDAL, P. 2012. Georeferencer: Crowdsourced Georeferencing for Map Library Collections. D-Lib Magazine.

FRUGOLI JR, H. 2005. O urbano em questão na antropologia: interfaces com a sociologia. Revista de Antropologia, vol. 48.

FUNARI, P.P.A. 1999. Contribuições do estudo da cultura material para a discussão da história da colonização da América do Sul Tempos Históricos, vol. 1, 11-44.

GATES, C. 2003. Ancient Cities: The Archaeology of Urban Life in the Ancient Near East and Egypt, Greece, and Rome. Routledge, New York.

GODOY, R.D. 2004. A Legislação Urbanística Enquanto Ferramenta para a Gestão do Patrimônio Arqueológico - O Estudo de Caso para a Cidade de Goiás/GO. Revista Habitus, vol. 2.

HARRINGTON, R. 2005. Dresden: the making of a baroque city. artificialhorizon.org.

HENGERER, M. 2008. Embodiments of Power? Baroque Architecture in the Former Habsburg Residences of Graz and Innsbruck. In COHEN, G.B. (ed.), Embodiments of Power: Building Baroque cities in europe. Berghahm, New York.

HILLIER, B. 1996. Space is the machine. Cambridge University Press, Cambridge.

HILLIER, B. & HANSON, J. 1984. The social logic of space. Cambridge University Press, Cambridge.

HOLTORF, C. 2000-2007. Monumental Past: The Life-histories of Megalithic Monuments in Mecklenburg-Vorpommern (Germany). University of Toronto.

HUANG, Y. 2006. Urban Development in Contemporary China In VEECK, G., PANNELL, C.W., SMITH, C.J. & HUANG, Y. (eds.), China’s Geography: Globaliza-tion and the Dynamics of Political, Economic and Social Change. Roman & Littlefield Publishers, Boulder.

IGARETA, A. 2010. Urbanismo colonial temprano en la República Argentina: Aportes desde la arqueología. Trabajo y sociedad, vol. 15, 7-17.

JULIANI, L.D.J.C.O. 1996. Gestão Arqueológica em Metrópoles: Uma Proposta para São Paulo. Dissertação. (Mestrado em ?), USP, São Paulo.

Page 70: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

68

KENOYER, J.M. 2011. Changing Perspectives of the Indus Civilization: New Dis-coveries and Challenges! Puratattva, vol. 41.

KOSTOF, S.K. 1991. The City Shaped: Urban Patterns and Meanings Through History. UMCP, Boston.LEMOS, F.S. & MARTINS, M. 1992: Arqueologia Urbana em Portugal. Revista Penépole.

LIMA, T.A. 1999. El huevo de la serpiente: una arqueología del capitalismo em-brionário en el Rio de Janeiro del siglo XIX. . In ZARANKIN, A. & ACUTO, F. (eds.), Sed Non Satiata: Teoría social en la arqueología latinoamericana contemporánea. Ed. del Tridente, Buenos Aires.

LOPES, M. 1993. Estratégias metodológicas da pesquisa de recepção. Intercom - Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. 16.

LOPES, R.C.D.S. 2013. O Melhor Sítio da Terra: Colégio e Igreja dos Jesuitas e a Paisagem da Belém do Grão-Pará. PPGA. UFPA, Belém.

LYNCH, K. 1981. A theory of good city form. MIT Press, Cambridge.

LYNCH, K. 1999. A imagem da Cidade. Martins Fontes, São Paulo.

MARAT-MENDES, T. & CABRITA, M.A. 2012. Morfologia Urbana em Portugal: percurso e visibilidade. Second Conference of the Portuguese Network on Urban Mor-phology. Lisboa.

MARCUS, J. & SABLOFF, J.A. 2008. The Ancient City: New Perspectives on Urbanism in the Old and New Worlds. School for Advanced Research Press, Santa Fé.

MARQUES, F.L.T. & MALHEIRO, M.V.P. (S/D) Arqueologia na área do Forte do Castelo: possibilidadas de pesquisa. Resumos Expandidos.

MARTINIANO, J.N. & FILIPPINI, E. 2006. Praça D. Pedro II: Memórias de um patrimônio. Revista Eletrônica Aboré.

MARTINS, M.R. & FRANCO, M.D.C. 2010. A arqueologia urbana e a defesa do património das cidades. Conselho Cultural da Universidade do Minho.

MAYNE, A. & MURRAY, T. 2001. The Archaeology of Urban Landscapes: Explorations in Slumland. Cambridge University Press, Cambridge..

MCINTOSH, J.R. 2005. Ancient Mesopotamia : new perspectives. ABC-CLIO, Santa Barbara.

MITCHELL, L.G. & RHODES, P.J. 2005. The Development of the Polis in Archaic Greece. Routledge, London.

Page 71: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

69

MUMFORD, L. 1998. A Cidade na História. Martins Fontes, São Paulo.

NAJJAR, R., MACEDO, J.D., STANCHI, R.P., ANDRADE, I.E.-J., SAMPAIO, A.C., MARTINS, C., PEREIRA, J.W., MARQUES, J.F., SARMENTO, P.C., FONSECA, T. & CÂMARA, J. 2007. A arqueologia de um jardim: pesquisa arqueológica do passeio público do Rio de Janeiro/RJ. Revista Habitus, vol. 5, 455-479.

NATIONS, U. 2014. World Urbanization Prospects. New York, Department of Economic and Social Affairs, Population Division.

OKPOKO, A.I. 1998. Archaeology and the Study of Early Urban Centers in Nigeria. African Study Monographs, vol. 19.

OLIVEIRA, A.T.D.D. 2005. Estudo em arqueologia urbana: a carta de potencial arqueo-lógico do centro histórico de Porto Alegre. Dissertação. (Mestrado em arqueologia), PUCRS, Porto Alegre,PARDI, M.L.F. 2006 Arqueologia Urbana: Alguns Aspectos da Prática na França. V encontro do Núcleo Regional Sul da Sociedade de Arqueologia Brasileira. SAB-Sul, Rio Grande.

PARKINS, H.M. 2005. Roman Urbanism: Beyond the Consumer City. Routledge, London.

POLLOCK, S. 2000. Ancient Mesopotamia. Cambridge University Press, Cambridge.

POUNDS, N.J.G. 2005. The medieval city. Greenwood Press, Westport.

RAPOPORT, A. 1978. Aspectos humanos de la forma urbana: hacia una confrontación de las Ciencias Sociales con el diseño de la forma urbana. Gustavo Gili, Barcelona.

RAPOPORT, A. 1990. The meaning of the built environment: A nonverbal communication approach. University of Arizona Press, Tucson.

RAPOPORT, A. 2006. Archaeology and environment-behavior studies American Anthropological Association, vol. 16, 59-70.

REGO, R.L. & MENEGUETTI, K.S. 2011. A respeito de morfologia urbana. Tópicos básicos para estudos da forma da cidade. Acta Scientiarum. Technology, vol. 33, 123-127.

RICOEUR, P. 2004. Memory, history, forgetting. University of Chicago Press, Chicago.

RIO, V.D. & OLIVEIRA, L.D. 1999. Percepção ambiental: a experiência brasileira. Studio Nobel Ufscar, São Paulo.

ROSSA, W. & TRINDADE, L. 2006. Questões e antecedentes da “Cidade Portuguesa”: O conhecimento sobre o Urbanismo Medieval e a sua Expressão Morfológica. Murphy, vol. 1.

Page 72: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

O URBANO E A ARQUEOLOGIA: UMA FRONTEIRA TRANSDISCIPLINAR

70

SANTOS, M.M.D.D., MENEZES, P.M.L.D. & COSTA, A.G. 2009. Georreferencia-mento de mapas históricos: finalidades e procedimentos. Geografias, vol. 5, 23-35.

SCHÜRMANN, B. 1999. Urbanização colonial na América Latina: cidade planejada versus desleixo e caos Textos de História, vol. 7.

SMITH, M.E. 2007. Form and Meaning in the Earliest Cities: A New Approach to Ancient Urban Planning. Journal of Planning History, vol. 6.

SMITH, M.E. 2009. Ancient Cities. In HUTCHISON, R. Ed. Encyclopedia of Urban Studies. Sage.

SMITH, M.E. 2010. Sprawl, squatters, and sustainable cities: Can archaeological data shed light on modern urban issues?. Cambridge Archaeological Journal, vol. 20, 229-253.

SMITH, M.E. 2011. Empirical Urban Theory for Archaeologists. Journal of Archaeo-logical Method and Theory, vol. 18, 167-192.

SMITH, M.E. 2012. The Comparative Archaeology of Complex Societies. Cambridge University Press, Cambridge.

SMITH, R.C. 1955. Colonial Towns of Spanish and Portuguese America. Journal of the Society of Architectural Historians, vol. 14.

STASKI, E. 1982. Advances in Urban Archaeology. In Schiffer, M.B. (ed.), Advances in Method and Theory in Archaeology. Academic Press, New York.

SYMANSKI, L.C.P. 1998. Espaço privado e vida material em Porto Alegre no século XIX. EDIPUCRS, Porto Alegre.

SYMANSKI, L.C.P. 2003. Arqueologia de Contrato em Meio Urbano no Brasil: Algumas Reflexões. Habitus.

TEDESCO, G.V.D.L. 2009. Do Lado de Lá e do Lado de Cá de Vila Boa de Goiás: Fronteiras Culturais e Espaciais entre negros e brancos no século XIX. 4º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Curitiba.

TEIXEIRA, M.C. 1996. A influência dos modelos urbanos portugueses na origem da cidade brasileira. In LEME, M.C.d.S. & CYMBALISTA, R. (Eds.) Seminário de História da Cidade e do Urbanismo.

TEIXEIRA, M.C. 2009. O Patrimônio Urbano dos Países de Língua Portuguesa. Raizes e Manifestaçãoes de um Patrimônio comum. III Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica. Ouro Preto.

TEIXEIRA, M.C. 2011. Os Modelos Urbanos Brasileiros das Cidades Portuguesas.

Page 73: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

DIOGO M. COSTA

71

In PESSOTTI, L. & RIBEIRO, N.P. (eds.), A construção da cidade portuguesa na América. PoD, Rio de Janeiro.

TEIXEIRA, M.C. 2012a. As invariantes e as especificidades das fundações urbanas portuguesas. Praia, Ribeira Grande, S. Filipe, Bissau, Cacheu. Atas do Colóquio Internacional Cabo Verde e Guiné-Bissau: Percursos do Saber e da Ciência. Lisboa.

TEIXEIRA, M.C. 2012b. A Forma da Cidade de Origem Portuguesa UNESP / Imprensa Oficial, São Paulo.

THIESEN, B.V. 1999. As Paisagens da Cidade: arqueologia da área central de Porto Alegre no século XIX. Dissertação (Mestrado em arqueologia, PUCRS, Porto Alegre.

THORPE, R. 2004. The Devil Is In The Detail: Strategies, Methods and Theory in Urban Archaeology. Digging in the Dirt.

TOCCHETTO, F. 2003. Fica dentro ou joga fora? Sobre práticas cotidianas em uni-dades domésticas na Porto Alegre oitocentista. Revista de Arqueologia da Sociedade de Arqueologia Brasileira, vol. 16, 59-69. São Paulo.

TOCCHETTO, F. & THIESEN, B. 2007. A Memória Fora de Nós: A Preservação do Patrimônio Arqueológico em áreas urbanas. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Dossiê: Patrimônio Arqueológico: o desafio da preservação. Org. Tania A. Lima, vol. 37.

TOCCHETTO, F.B. 2005. Joga lá nos fundos!: sobre práticas de descarte de lixo doméstico na porto alegre oitocentista. Arqueología Suramericana / Arqueologia Sul-americana, vol. 1, 49-75.

TRIGGER, B. 2001. Early Civilizations: Ancient Egypt in Context. The American Uni-versity in Cairo Press, Cairo.

VELHO, G. 2009. Antropologia Urbana: Encontro de tradições e Novas Perspectivas. Sociologia, Problemas e Práticas, vol. 59.

WHITEHAND, J.W.R. 2001. British urban morphology: The Conzenian tradition. Urban Morphology, vol. 5, 103-109.

WHITEHAND, J.W.R. 2007. Conzenian Urban Morphology and Urban Landscapes. 6th International Space Syntax Symposium. Istanbul.

ZARANKIN, A. 1999. Casa tomada: Sistema, poder y vivienda doméstica. Sed Non Satiata. In ZARANKIN, A. & ACUTO, F. (eds.), Teoría social en la arqueología lati-noamericana contemporánea. Ed. del Tridente, Buenos Aires.

ZARANKIN, A. 2002. Paredes que domesticam: Arqueologia da Arquitetura Escolar Capi-talista: o caso de Buenos Aires. UNICAMP/FAPESP, Campinas.

Page 74: revista vestígios
Page 75: revista vestígios

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

ARAGUAIA’S GUERRILLA: ARCHAEOLOGY, HISTORY AND HUMAN RIGHTS

VESTÍGIOS – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica

Volume 8 | Número 2 | Julho – Dezembro 2014ISSN 1981-5875

Michel JustamandPatricia Sposito Mechi

Page 76: revista vestígios

Data de recebimento: 28/04/2014Data de aceite: 05/06/2014

Page 77: revista vestígios

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HIS-TÓRIA E DIREITOS HUMANOS

ARAGUAIA’S GUERRILLA: ARCHAEOLOGY, HISTORY AND HUMAN RIGHTS

Michel Justamand1

Patricia Sposito Mechi2

reSumo

O artigo apresenta algumas considerações sobre as contribuições que a ar-queologia pode oferecer ao conhecimento de um dos episódios mais sombrios da ditadura civil-militar brasileira (1964 a 1985): a guerrilha do Araguaia. Ocorrida na região norte do país na tríplice fronteira entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins (à época, norte de Goiás) e organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) a guerrilha foi a principal forma de luta contra a ditadura vislumbrada por essa agremiação política, no contexto repressivo estabelecido a partir do golpe de estado que deu início ao último período ditatorial brasileiro. Busca-se evidenciar o papel dos relatos dos camponeses na reconstituição da história de violência, nas quais estes aparecem como vítimas das arbitrariedades da violência institucional do período da ditadura militar, demonstrando que a partir desses depoimentos é possível preencher lacunas deixadas pela ausência do registro es-crito e investigar, nos vestígios materiais, a repressão ao movimento guerrilheiro ocorrido no Araguaia e aos camponeses moradores da região.

Palavras chave: Guerrilha do Araguaia; arqueologia; história; direitos humanos.

1 Docente de Antropologia, vinculado ao Curso de Antropologia da UFAM - Universidade Federal do Amazonas, lotado no INC - BC Instituto de Natureza e Cultura de Benjamin Constant. Endereços: Rua General Julio Marcondes Salgado, 65, apto 52, Campos Eliseus, São Paulo-SP, CEP 01201-020, telefone fixo: (11) 38 62 72 51. [email protected]

2 Docente de História, vinculada ao Curso de História da UFT - Universidade Federal do Tocantins, lotada na sede de Porto Nacional. Endereço: Rua NC 24, Lote 25, Quadra 43, Setor Nova Capital, Porto Nacional, Tocantins, CEP: 77500-000, tel fixo: (63) 33634685. Email: [email protected]

Page 78: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

76

abStract

The paper presents some considerations about the contributions that arche-ology can offer to the knowledge of one of the darkest episodes of the Brazilian civil-military dictatorship (1964 to 1985): the Araguaia guerrilla. Occurred in the northern region in the triple border between the states of Pará, Maranhão and Tocantins and organized by the Communist Party of Brazil (PCdoB) the guerrillas was the main form of struggle against dictatorship envisioned by this policy guild, the repressive context established from the coup that started the last Brazilian dictatorial period. It seeks to highlight the role of the reports of the peasants in reconstructing the history of violence in which they appear as victims of the arbitrariness of institutional violence of the period of military dictatorship, demonstrating that it is possible to fill gaps left by the absence of written records and to investigate the repression over the guerrilleros and the local farmers.

Keywords: Araguaia’s Guerrilla; archeology; history; human rights.

reSumen

El artículo presenta algunas consideraciones acerca de las contribuciones que la arqueología puede ofrecer el conocimiento de uno de los episodios más oscuros de la dictadura cívico-militar de Brasil (1964-1985): la guerrilla Araguaia. Ocur-rió en la región norte de la triple frontera entre los estados de Pará, Maranhão y Tocantins (la temporada de Goiás norte) y organizado por el Partido Comunista de Brasil (PCdoB) la guerrilla era la forma principal de lucha contra la dictadura de lo previsto por esta alianza política, el contexto represivo establecido desde el golpe de Estado que comenzó el último período dictatorial brasileño. Se pretende dar a conocer el papel de los informes de los campesinos en la reconstrucción de la historia de la violencia en las que aparezcan como víctimas de la arbitrariedad de la violencia institucional del período de la dictadura militar, lo que demues-tra que a partir de estos testimonios es posible llenar los vacíos dejados por la ausencia de registros escritos e investigar las huellas materiales, la represión del movimiento de la guerrilla Araguaia en los agricultores y residentes.

Palabras clave: Guerrilla del Araguaia; arqueología; historia; derechos humanos.

introdução

O conhecimento de um dos episódios mais sombrios da ditadura civil-militar brasileira (1964 a 1985), a guerrilha do Araguaia, é um grande desafio a uma gama de pesquisadores de diversas áreas do saber. Trata-se de um episódio em

Page 79: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MICHEL JUSTAMANDPATRICIA SPOSITO MECHI

77

que as forças repressivas que nele atuaram esforçaram-se (e ainda se esforçam) para ocultar ou mesmo negar sua existência. Ocorrida na região norte do país, na tríplice fronteira entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins (à época, norte de Goiás) e organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) a guerrilha foi a principal forma de luta contra a ditadura vislumbrada por essa agremiação política, no contexto repressivo estabelecido a partir do golpe de estado que deu início ao último período ditatorial brasileiro.

Uma das dificuldades para seu conhecimento foi o assassinato da quase totali-dade dos guerrilheiros que nela atuaram. Desses guerrilheiros, muitos constam nas listagens organizadas por entidades que reúnem os familiares de mortos e desaparecidos políticos daqueles anos (Comissão de familiares de mortos e de-saparecidos politicosinstituto de estudos da violência do estado, grupo tortura nunca mais, 1996), além de relatos de assassinatos, torturas e desaparecimentos de camponeses da região.

Outra dificuldade refere-se à negação, pelos militares, de sua existência em fins da década de 1970. Quando finalmente admitiram a existência da guerrilha, eles afirmavam que os documentos sobre ela haviam sido destruídos, o que pesquisas recentes mostram não ser verdade (Morais, 2005).

Merece menção também a intimidação contínua e sistemática daqueles que vivenciaram de perto ou de longe o cotidiano da repressão: os moradores da região, em particular aqueles que foram guias do Exército durante a guerrilha e que teriam indicações dos locais onde foram mortos ou enterrados os guer-rilheiros. Mesmo que muitos deles sintam-se respaldados pelas diversas ações, inclusive as da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, há ainda um número expressivo de pessoas que se negam a comentar o episódio, com medo das represálias que possam sofrer.

Entretanto, mesmo com essas dificuldades, a pesquisa vem avançando e nela é fundamental, para compreender a guerrilha e dimensioná-la com mais precisão, ouvir os camponeses. Para isso, é importante que sejam feitas abordagens inter-disciplinares, em particular entre a história e a arqueologia, objeto desta reflexão.

arqueologia e aS SuaS contribuiçõeS Para a guerrilha do araguaia

A arqueologia como ciência tem seu nascedouro durante o período imperialista (Carvalho et al., 2009: 13). Momento em que alguns países europeus se lançaram às conquistas brutais, durante os séculos XVIII e XIX. Na sua origem, essa ciência definia-se como o estudo das coisas antigas (Justamand et al., no prelo) e, em suas pesquisas, teve íntima colaboração com a construção do mundo burguês, com a legitimação da dominação europeia sobre os demais povos do mundo. A

Page 80: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

78

arqueologia também esteve vinculada a posições conservadoras ou reacionárias e não poucas vezes esteve a serviço “da opressão de indígenas, mulheres, pobres, minorias diversas e mesmo maiorias variadas” (Funari, 2013: 23), além de ter sido manipulada por militares em muitos momentos (Funari et al., no prelo). Alguns métodos arqueológicos eram baseados em formulações de oficiais das forças armadas que fizeram os trabalhos de “campo” (Zarankin et al., 2009: 33).

Entretanto, a partir da segunda metade do século XX, a arqueologia vinculou-se cada vez mais às demandas colocadas pelos movimentos sociais, colaborando na afirmação dos direitos dos povos, minorias, negros, indígenas, mulheres, atuando em favor dos direitos humanos (Funari et al., no prelo), no resgate da história dos excluídos e dos oprimidos (Justamand et al., no prelo). Exclusão e opressão pelas quais passaram os camponeses e os militantes durante a Guerrilha do Araguaia.

Por meio dos mais variados vestígios encontrados graças às escavações – mui-tas vezes a partir de indicações e sugestões de pessoas comuns (Mechi, 2012) ou graças a empreendimentos imobiliários – podem recuperar-se elementos da história pregressa de uma dada região. No caso da região do Araguaia, como já fora observado nos depoimentos expostos por Mechi, que muitas vezes contrariam a História oficial (Justamand et al., no prelo).

A arqueologia tornou-se uma ferramenta muito útil à sociedade, inclusive para sua transformação, na medida em que ela possui um potencial para mudar pontos de vista, ao trazer à tona aquilo que o documento escrito e os depoimentos não revelam. Estudos feitos por pesquisadores engajados nessa temática podem apresentar relevantes reflexões políticas e sociais (Soares et al., 2009).

No caso da guerrilha da região do Araguaia, os estudos arqueológicos podem permitir a oportunidade de reconstruir a história das pessoas, que até então estão “sem história”, porque a repressão militar buscou apagar sua existência. Os vestígios analisados poderão apontar o modo pelo qual os mecanismos de repressão política funcionavam (Idem: 32) e podem também encontrar outros vestígios inesperados dos desaparecidos que comporão a memória do estado de terror pelo qual passaram os camponeses e militantes do Araguaia.

Sobre os vestígios encontrados na região do Araguaia a arqueologia tem muito a contribuir porque é a ciência responsável pela recuperação, documentação, análise e interpretação dos remanescentes e também dos dados ambientais que compõem o contexto humano da época (Dias Filho, 2009: 51).

Partindo de um viés processualista, fundamentado em novos modos de se ver e também dos fazeres da arqueologia, desenvolvidos desde meados do século passado, pode-se incluir a interdisciplinaridade nas discussões e nas análises arqueológicas (Funari et al., no prelo). Assim, arqueologia passou a se

Page 81: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MICHEL JUSTAMANDPATRICIA SPOSITO MECHI

79

preocupar mais com os depoimentos das famílias das vítimas, tomando-os como eixos fundamentais para as pesquisas, respeitando os padrões culturais, sociais e religiosos das comunidades estudadas. (Idem). Da mesma forma, a Antropologia Forense também contribui para as análises arqueológicas. No caso da região do Araguaia, essa nova visão arqueológica possibilitou a intervenção forense com grande maestria.

arqueologia, direitoS humanoS e a guerrilha do araguaia

A Arqueologia tem se mostrado uma grande aliada dos direitos humanos na América Latina, em particular ao oferecer seu aporte teórico e metodológico para desvendar os mecanismos de repressão e resistência que vigoraram nos regimes ditatoriais durante as décadas entre 1960 e 1980 (Justamand et al., no prelo). É assim que vemos a importância da ciência arqueológica ligada às questões da Guerrilha do Araguaia.

Tal ciência traz, atualmente, novas dimensões para os estudos sobre as dita-duras militares no continente. Contribuindo na elucidação de aspectos que a documentação escrita ou oral nem sempre esclarecem, especialmente nos casos onde a documentação ainda é muito fragmentária.

Nesses casos, os saberes arqueológicos estabelecem uma interface importante com a História, evidenciando outros prismas de análise em que se privilegiam os vestígios materiais, contribuindo para esclarecer os procedimentos repressivos dos regimes ditatoriais.

Nota-se isso por meio do exame das ossadas encontradas, por exemplo; con-tudo, sua contribuição vai além da identificação dos desaparecidos. São impor-tantes também os vestígios deixados nos locais onde se praticaram torturas e/ou assassinatos, além de possíveis análises técnicas dos instrumentos abandonados em porões dos centros clandestinos de detenção (Zarankin et al., 2008), inscrições e marcas deixadas em paredes (S. Navarrete et al., 2008), as roupas usadas, os mobiliários, entre outros. Assim, a ciência arqueológica ajuda na recuperação da História e da memória dos desaparecidos e na compreensão dos sistemas repressivos (Justamand et al., no prelo), especialmente sobre a documentação fragmentária deixada pelas ditaduras se espera das investigações arqueológicas as contribuições esclarecedoras dos procedimentos repressivos e a recuperação da História dos desaparecidos (Carvalho et al. 2009).

O desvendamento dos desaparecimentos provocados pelas ditaduras mili-tares tem sido reivindicado por segmentos sociais engajados em movimentos de memória de verdade, surgidos em diversos países após o fim das ditaduras (Justamand et al. no prelo).

Page 82: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

80

Algumas pesquisas já foram levadas a cabo por equipes de arqueólogos forenses na região da Guerrilha. No histórico dos moradores da região está “inscrita” a obrigação de trabalhar para os militares durante a ditadura. Recentemente, as pesquisas das equipes que atuaram na região levantaram que 21 guerrilheiros teriam sido presos pelas Forças Armadas e, dentre eles, 18 foram vistos circulando pelas bases militares. Todos estão desaparecidos e não há registros oficiais sobre essas mortes (Ministério Público Federal, 2002).

Essas pesquisas conseguiram seguir em frente graças à pressão exercida fortemente pelos familiares que levou, em 1995, à aprovação da Lei nº 9140, de dezembro de 1995 (Idem), dando subsídios para que, no ano seguinte, fosse montada uma operação na região, para a qual se contratou o E. A. A. F. – Equipo Argentino de Antropologia Forense. Na ocasião foram localizados os restos mortais de duas pessoas: Maria Lucia Petit, identificada em 1996, e a ossada de Bergson Gurjão Farias, identificada apenas em 2009 (Justamand et al., no prelo).

Em 2001, a partir das necessidades apontadas pelas ações anteriores, novas investigações foram feitas na área da guerrilha do Araguaia, e outros locais foram escavados num trabalho realizado pelos arqueólogos do Museu Emílio Goeldi. Entretanto, nessa ocasião não se encontraram evidências de que nos locais esca-vados tivesse havido sepultamento. As mudanças na paisagem depois de quarenta anos do início da guerrilha e a necessidade de maiores recursos tecnológicos dificultaram os trabalhos. Apesar de terem sido levantadas informações sobre nove militantes sepultados ou vistos pela última vez na base militar de Bacaba3, outros seis foram vistos ou enterrados em Xambioá, e quatro militantes em outros locais (Ministério Público Federal, 2001).

Novo fôlego para as investigações dos desaparecidos na guerrilha do Araguaia foi dado em 2010, graças à condenação do Estado brasileiro na Corte Interameri-cana de Direitos Humanos, órgão da Organização dos Estados Americanos. O motivo foi por não ter punido os responsáveis pela morte e desaparecimento de 62 pessoas. De acordo com Mechi, “a sentença determina que o Estado brasileiro realize todos os esforços para determinar o paradeiro das vítimas e identificar e entregar os restos mortais aos seus familiares, além de prestar atendimento

3 Bacaba era uma das bases que as Forças Armadas instalaram na região. Funcionando na fazenda de mesmo nome, lá foram mantidos presos e torturados cerca de 300 moradores da região. O Tenente-Coronel José Vargas Gimenez, que admitiu ter torturado prisioneiros, relata que: “As técnicas de interrogatório a que eram submetidos os guerrilheiros em Bacaba consistiam em choques com cor-rente elétrica gerada por baterias de telefones de campanha portáteis; telefone, que consistia em dar tapas com força, simultaneamente, nos ouvidos, com as mãos abertas; colocá-los em pé, descalços, em cima de duas latas de leite condensado, apoiando-se somente com um dedo na parede; dar-lhes socos em pontos vitais como fígado, rins, estômago, pescoço, rosto e cabeça; além de fazê-los passar fome e sede.”(Jiménez, 2007: 56).

Page 83: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MICHEL JUSTAMANDPATRICIA SPOSITO MECHI

81

médico, psicológico e psiquiátrico, quando necessário” (Mechi, 2013).A partir dessa condenação foi criado o Grupo de Trabalho Araguaia, GTA, co-

ordenado conjuntamente pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e pelos Ministérios da Justiça e Defesa. O grupo conta com o apoio de equipe técnica pericial e as expedições são acompanhadas por familiares dos mortos e desaparecidos da guerrilha e representantes do Ministério Público Federal (MPF). Ao todo, já foram realizadas cinco expedições na região, muitas delas no cemitério de Xambioá (Justamand et al., no prelo).

O trabalho ainda inconcluso do GTA já resgatou 25 ossadas que aguardam identificação em Brasília. O foco dos trabalhos é a identificação das ossadas dos desaparecidos políticos. Trabalhos estes que podem ser continuados e ampliados por especialistas interessados na elucidação das violações dos Direitos Humanos no último período ditatorial, contribuindo para a reconstrução da história ainda emudecida da região.

Entre os muitos vestígios passíveis de serem analisados estão: as garrafas, os medicamentos, os projéteis, as pilhas, os recipientes de comida vazios, avaliados pelo GTA como indicativos da existência de uma base de comunicação militar no local (Grupo De Trabalho Araguaia, 2012). Vestígios que aguardam novos interessados no desenvolvimento da pesquisa arqueológica e forense do Araguaia.

algumaS conSideraçõeS Sobre a hiStória e a hiStoriografia da guerrilha

A guerrilha foi reprimida pelas Forças Armadas, com clara preponderância do Exército, e contou com a colaboração das forças policiais locais dos estados de Goiás e Pará, além de camponeses, estes últimos forçados a colaborar sob pena de prisão, tortura e morte.

A produção acadêmica e militante – que em muitos casos se confunde ao tratar do tema da guerrilha, já que muitos dos primeiros estudiosos do tema como Jacob Gorender, Daniel Aarão Reis filho, entre outros, também foram militantes – centrou-se inicialmente na experiência dos guerrilheiros, dada a escassez de fontes documentais disponíveis para a pesquisa que revelasse a participação de outros grupos. As primeiras publicações se basearam em relatos dos poucos militantes que conseguiram escapar da área e na pequena documen-tação produzida pelo PCdoB que estava disponível até então. Uma segunda fase de estudos sobre a guerrilha teve início em 2005, a partir da revelação de um grande volume de fontes documentais do Exército sobre o episódio, guardadas por um dos comandantes da repressão à guerrilha: o general Antônio Bandeira. Tratou-se de um grande avanço, mas que ainda não incorporava adequadamente a participação dos camponeses no episódio.

Page 84: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

82

Os mais recentes estudos têm se debruçado sobre este grupo social, enten-dendo que ele teve papel fundamental no desenrolar da guerrilha e sua repressão (Mechi, 2012). Discute-se que tanto para os guerrilheiros, quanto para os mili-tares, o contato e a colaboração da população local foi decisiva, e é a partir dos relatos dos camponeses que está sendo recuperado muito da experiência social dos guerrilheiros, mas também das formas repressivas que foram utilizadas pelas Forças Armadas na região.

Outro aspecto sempre presente na militância dos familiares dos mortos e de-saparecidos e que vem ganhando maior problematização na produção acadêmica refere-se à temática dos Direitos Humanos. No episódio da guerrilha do Araguaia e nas falas dos camponeses atingidos há diversos elementos que permitem aos pesquisadores recuperar a sua sistemática e contínua violação no Araguaia.

Nos primeiros meses após a descoberta de militantes de esquerda na área – as Forças Armadas não sabiam ainda que se tratava de uma guerrilha organizada pelo PCdoB – foram enviadas para a região tropas comuns, mobilizadas nas proximi-dades compostas principalmente de policiais militares e recrutas do Exército. Ao abordarem a população para procurar descobrir elementos para enfrentar o inimigo ainda desconhecido, utilizaram largamente prisões arbitrárias e também interrogatórios. A Srª Maria Madalena, em seu relato, releva aspectos que ilu-minam as formas de relacionamento entre as primeiras tropas e os camponeses:

Eles chegaram na casa de meu pai, aí prenderam meu pai, aí saíram tocando meu pai igualmente se toca um porco né, aí minha mãe saiu atrás com nós chorando, aí eles mandou nós calar a boca né. Aí chegamos na Vila de Santa Cruz, aí eles colocaram meu pai intimado em cima de uma areia quente né, no sol quente, na areia quente o dia todo sem comer e sem beber. E nós chorando ao redor e eles mandando nós ir embora, sair de lá né, aí depois nós ficamos sem ter onde se ranchar né, no meio da rua, no meio da vila lá, aí uma comadre da minha mãe foi que pegou nós, levou pra casa dela e deu comida pra nós, entendeu? Aí ficamos sem direito de voltar na terra (...) aí eles tocaram fogo na nossa casa também (...) ficamos só com a roupa do corpo. (depoimento concedido em 25 de abril de 2008, em São Geraldo do Araguaia - PA)

O relato da Srª Maria Madalena evidencia a desestruturação familiar provocada pela forma de abordagem utilizada pelas forças repressivas: “buscava-se o chefe da família, que era submetido as mais diversas formas de tortura, visando colher qualquer tipo de informação sobre a atividade guerrilheira. Em alguns casos, marido e mulher, ou mesmo a família toda era submetida a torturas” (Mechi, 2012: 104).

Sua fala também traz à tona outra prática que foi comum durante a repressão à guerrilha do Araguaia e cujo impacto extrapola esse episódio, se refletindo até

Page 85: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MICHEL JUSTAMANDPATRICIA SPOSITO MECHI

83

hoje na vida da comunidade: a privação dos meios de subsistência dos campone-ses, que tiveram suas casas e roças sistematicamente queimadas, além de serem expulsos de suas terras.

Muitas das áreas que eram posses de camponeses nos anos setenta, hoje inte-gram os latifúndios da região, que ganharam força com a repressão à guerrilha. Esta forma de relacionamento das forças repressivas com a população, entretanto, não foi exclusividade do Araguaia e pode ser percebida em outros movimentos de luta no campo, como os movimentos dos camponeses das Ligas Camponesas, de Porecatu e da Revolta Camponesa de Trombas e Formoso. Neste último, a repressão aos camponeses também se desenvolvia de forma semelhante à que relatam os camponeses do Araguaia. “A prisão, um caixote de madeira que cheirava a sangue, os espancamentos e a queima de roças e de casas, além da presença do jagunço aterrorizando os camponeses foi constante nos conflitos em torno da posse de terra” (Abreu, 2002).

Na repressão à guerrilha, estas práticas, identificadas também em outros movimentos camponeses, tornaram-se cotidianas. Entretanto, no Araguaia, uma especificidade da atuação das forças repressivas junto aos camponeses é que “o ataque era indiscriminado, atingindo um número muito grande de camponeses, diferente de outros movimentos, nos quais se contam os ataques às roças e casas às dezenas, no Araguaia eram centenas” (Mechi, 2012: 107).

Entre os camponeses, as prisões recorrentes eram comuns. O Sr. João Moreira relata que foi preso cinco vezes durante a guerrilha. Durante as prisões foi tor-turado e teve o pulso quebrado. “Foi mantido preso numa cela feita de arame farpado e coberta com palha, na base de Xambioá”4.

A forma mais utilizada de repressão e intimidação dos camponeses foi a queima das roças e das casas, que tinha como uma de suas finalidades desencorajar os moradores a prestarem auxílio à guerrilha, buscando “matá-la de fome”. Ter aju-dado os guerrilheiros com os alimentos produzidos para sua subsistência muitas vezes significou ao camponês prisão e tortura:

Poucas semanas antes dos combates da última campanha das Forças Armadas, pes-soas que tinham tido algum contato com os guerrilheiros foram presas. Todas elas, principalmente aqueles que forneceram um prato de comida e/ou com suspeitas de colaborarem com a guerrilha, foram conduzidas às dependências do campo de concentração de Bacaba. Roças foram queimadas e casas derrubadas. Pos-sivelmente muitos tenham sido mortos sob tortura. (Nascimento, 2000: 140-1)

Como se vê, durante a guerrilha, houve diversas formas de reprimir o movi-mento que afetaram os moradores. Uma das mais mencionadas nos relatos dos

4 Depoimento concedido em 14 de abril, na cidade de São Geraldo do Araguaia - Pará.

Page 86: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

84

camponeses foi a prisão em massa. Cerca de 300 moradores da área da guerrilha foram presos e levados para a sede do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), também conhecida como “Casa Azul”. Nela funcionava uma base militar, que se localizava na região de Bacaba. Lá, além das prisões, diversos moradores sofreram com as torturas contra eles empregadas, além de relatarem terem vistos guerrilheiros presos, os mesmos que hoje estão desaparecidos, como é o caso da guerrilheira Rosinha - Maria Célia Corrêa (Mechi, 2012: 121).

Os apontamentos anteriores, sem a pretensão de explorar exaustivamente os métodos repressivos utilizados pelas Forças Armadas durante a guerrilha, servem de ponto de partida para a reflexão sobre a necessidade de estudos interdisciplin-ares entre áreas do saber como a História e a Arqueologia.

Nos relatos e situações repressivas mencionadas fica demonstrado que existem possibilidades de investigações arqueológicas e que estas podem iluminar pontos que a historiografia não é capaz de elucidar. O cruzamento da documentação escrita com os depoimentos podem ser objetos de futuras prospecções (Funari. 2010: 56-7), na medida em que estas fontes permitem identificar locais em que ocorreram violações de Direitos Humanos na guerrilha, contribuindo para o desenvolvimento de novos conhecimentos sobre a história da região e, conse-quentemente, da guerrilha.

Um aspecto que pode enriquecer o estudo da guerrilha, ainda pouco tra-balhado por estudiosos, é as formas repressivas utilizadas pelos militares, que deixaram vestígios materiais decorrentes da utilização de forças irregulares, já que logo nas primeiras operações foi constatada a inviabilidade da utilização de tropas regulares para reprimi-la.

Para levar a cabo a missão de exterminar a guerrilha foram necessárias três investidas oficiais. Entretanto, apenas quando os militares utilizaram táticas de guerrilhas e da conhecida “guerra suja” é que se saíram vitoriosos. Este aspecto deixa claro que, no contexto do Araguaia, de selva densa, população rarefeita e com guerrilheiros relativamente adaptados à região, a derrota dos exércitos em suas formações convencionais eram iminentes. A destruição da guerrilha adveio apenas quando do abandono dos métodos tradicionais, utilizando-se técnicas de guerrilhas que têm origens primitivas, que já ocorreu em campanhas de exércitos conhecidos pelo mundo, como indica Lawrence H. Keeley (Keeley, 2011: 181-2).

Exemplo disto se verifica no relato da Srª Maria Madalena, citado anterior-mente, quando a camponesa afirma que se buscou prender e torturar o chefe da família. Outro aspecto de guerra primitiva ou de guerrilha é negar-lhes os meios de subsistência, destruindo as suas produções, seja por vandalismo ou por roubo, também foram procedimentos desenvolvidos pelos militares na região.

Page 87: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MICHEL JUSTAMANDPATRICIA SPOSITO MECHI

85

Sequestros de mulheres e crianças também podem ter incidido, segundo apontam os depoimentos descritos por Mechi (Mechi, 2012), além de promover o terror na região (Heeley, 2011: 338), para que os camponeses abandonem suas terras.

Acrescente-se ainda que os militares, quando de suas atuações na região do Araguaia durante a guerrilha, utilizaram uma tortura pouco conhecida no Bra-sil, mas que pode guardar similaridade com outros episódios de repressão no campo: o “buraco do Vietnã”, cujo nome remete à famosa guerra travada entre os Estados Unidos e o Vietnã do Sul, entre os anos de 1955 e 1975. O “buraco do Vietnã”, portanto, teve vigência na região do Araguaia no mesmo período em que se desenvolvia a guerra no sudoeste asiático, marcado pela derrota da grande potência e pela utilização de táticas de guerra não convencionais pelos combatentes vietnamitas, os vietcongs. A existência do “buraco do Vietnã” aparece recorrentemente na fala dos moradores e consistia em:

Um buraco com uma grade de ferro por cima, onde o preso era colocado junto com animais rasteiros – como insetos (formigas, aranhas, besouros) e animais não peçonhentos como o calango – e ali permanecia por dias, tomando sol e chuva. Sua alimentação e suas necessidades fisiológicas eram realizadas ali (Mechi, 2013: 29).

Além deste, os moradores também fizeram menção a um “buraco de sal”, em que o espaço de encarceramento, a céu aberto, era revestido desse mineral. Segundo o depoimento do Sr. Dejacir de Souza5, preso em Xambioá (Tocantins) na época da guerrilha, após ser torturado, os militares o encarceraram num buraco revestido de sal, que provocava fortes dores nas feridas abertas durante a tortura.

Outros moradores da região, como o Sr. João Moreira6 e o Sr. “Precatão”7 relataram a existência de outras formas de prisões na região durante o período. Não em buracos, mas em cercas feitas de arame farpado ou mesmo palha, a céu aberto.

Os depoimentos dos moradores são fundamentais para que se possam inves-tigar essas formas de encarceramento, feitos de forma clandestina, sem registro oficial, e para que se possam dimensionar os impactos dessas práticas sobre as comunidades atingidas. Trata-se de uma tarefa difícil, dada a mudança na paisagem

5 Entrevistado pela equipe do projeto “Memória, Verdade e Justiça no Tocantins”, vinculado ao pro-jeto “Marcas da Memória” do Ministério da Justiça, em abril de 2014, no município de Tocantinópolis (Tocantins).

6 Depoimento concedido em 14 de abril, na cidade de São Geraldo do Araguaia - Pará.

7 Entrevistado pela equipe do projeto “Memória, Verdade e Justiça no Tocantins”, vinculado ao projeto “Marcas da Memória” do Ministério da Justiça, em abril de 2014, no município de Xambioá (Tocantins).

Page 88: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

86

e a idade avançada de muitos dos que estiveram nelas e sabiam sua localização. Contudo, suas falas dão indícios de que esta prática extrapola a guerrilha, podendo ter sido utilizada em eventos mais recentes, em particular nos conflitos de terra ocorridos na região a partir dos anos de 1980.

conSideraçõeS finaiS e concluSão

Consideramos que parte importante da história da ditadura civil-militar brasileira ainda está encoberta. Estaria encoberta por um véu que esconde as ações de agentes de estado que cometeram crimes que lesam a humanidade, negando às famílias dos desaparecidos o direito de sepultar os restos mortais de seus entes queridos, negando à sociedade brasileira compreender, em toda a sua plenitude, este período triste de nosso passado.

Este quadro tem sido vivamente combatido por entidades ligadas aos direitos humanos. Entidades que lutam, entre outras coisas, pela revisão ou revogação da Lei de Anistia de 1979, visto que esta se trata de uma lei de se anistiar a si próprio, que protege, na verdade, a muitos dos criminosos e que não está em consonância com os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.

As famílias dos desaparecidos ainda aguardam os corpos para os justos e devidos enterros. Esperam também esclarecimentos e indenizações do estado, por ocultação de cadáveres, sequestro, desaparecimentos, assassinatos etc. Essas mesmas famílias lembram que os criminosos não podem continuar impunes. Além dos militantes mortos, há mães desses desaparecidos, que também foram mortas, por reivindicarem a volta dos seus filhos ou a entrega dos corpos. Esses são vestígios de um estado terrorista.

O estado brasileiro foi condenado na corte internacional das Américas a dar conta dos corpos dos desaparecidos e acertar definitivamente as contas com a sua história e com aqueles que perderam a vida, mas deixaram um legado histórico de luta. Sejam os parentes dos guerrilheiros do Araguaia, sejam dos camponeses que por lá atuaram, sejam outros tantos que sofreram nos cárceres. Sofreram com diversas formas de tortura, com a repressão política e muitos ficaram presos e passaram por todos os tipos de abusos por muitos anos. Alguns tantos estão com as lembranças marcadas em seus corpos, ficaram com diversas sequelas da época.

Com passos lentos, o estado e a sociedade brasileira avançam, a exemplo de sindicâncias promovidas pelas próprias instituições militares, Aeronáutica, Marinha e Exército. Segundo o coordenador da CNV (Comissão Nacional da Verdade), Pedro Dallari:

Essa iniciativa é um fato inédito na história das Forças Armadas, que nunca haviam se predisposto a fazer esta investigação. É um gesto de reconhecimento de que graves violações de direitos foram uma realidade nesses estabelecimentos. As Forças Armadas entenderam que precisam contribuir com a sociedade no esclarecimento

Page 89: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MICHEL JUSTAMANDPATRICIA SPOSITO MECHI

87

do que ocorreu8.

A ditadura agiu com a mesma truculência em outras áreas, sejam sociais, culturais, políticas, econômicas e outras. Assim, vários segmentos culturais também arcaram com perdas de todas as ordens, inclusive os indígenas9. Esses últimos somente agora passaram a receber atenção das entidades que investigam os crimes da ditadura e que já revelam o barbarismo a que este grupo social foi submetido, preso em campos de concentração10.

Os muitos vestígios deixados na região do Araguaia podem, por meio dos estudos arqueológicos e também da arqueologia forense, contribuir para elucidar mais e melhor parte da nossa história ainda não contada, nem esclarecida. Afinal, esse é um dos papéis da Arqueologia como ciência, contribuir para a ampliação dos saberes sobre nosso passado comum.

As diversas violações que ocorreram no Araguaia dão a dimensão de uma história ainda por ser contada, em particular as histórias de violência nos meios rurais. As pesquisas sobre os “buracos do Vietnã” e outras formas de encarcera-mento precárias e clandestinas, a céu aberto, podem lançar luzes sobre as práti-cas terroristas de um Estado que continuamente violava sua própria legalidade, identificando se estas práticas de fato desapareceram com o fim da ditadura, ou se mantiveram como instrumento de coerção sobre os habitantes do campo, o que leva, consequentemente, às novas problematizações sobre violência e Direitos Humanos no Brasil.

Os arqueólogos em ação na região da guerrilha, com os vestígios em mãos, podem contribuir para os esclarecimentos, a partir das técnicas e interpretações, cooperando para a construção da memória social. Dessa forma, a ciência arque-ológica é colaborativa com as práticas dos Direitos Humanos. Exumar eventos dolorosos também é um fazer arqueológico, haja vista toda a produção científica já realizada nessa área, especialmente na América Latina (Funari. et al., 2008).

8 http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/04/01/pela-1-vez-forcas-armadas--reconhecem-violacoes-na-ditadura-diz-coordenador-da-cnv.htm. Acesso em: 12 de abril de 2014.

9 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2013/04/19/interna_politi-ca,361411/relatorio-figueiredo-que-mostra-exterminio-de-aldeias-e-encontrado.shtml. Acesso em: 14 de março de 2014.

10 http://reporterbrasil.org.br/2014/04/ditadura-criou-campos-de-concentracao-indigenas/. Acesso em: 20 de abril de 2014.Ver também: http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=17064. Acesso em: 20 de abril de 2014.

Page 90: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

88

referenciaS bibliográficaS

ABREU, S. de B. 2002. De Zé Porfírio ao MST: A luta pela terra em Goiás. André Quicé Editor, Brasília.

CARVALHO, A. V. de & FUNARI, P. P. A. 2009. A importância da Arqueologia Forense na construção das memórias perdidas nos períodos ditatoriais latino-americano. In: SOARES, I. V. P. & KISHI, S. A. S. (coord.). Memória e verdade: a justiça de transição no estado democrático brasileiro. Belo Horizonte: Fórum.

CARVALHO, A. V. de & FUNARI, P. P. A. 2009. Arqueologia forense como arqueolo-gia pública: estado da arte e perspectivas para o futuro no Brasil. In: CARVALHO, A. V. de; SOARES, I. V. P.; FUNARI, P. P. A. & SILVA, S. F. S. M. Arqueologia, direito e democracia. Habilis, Erechim.

COMISSÃO DE FAMILIARES DE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS; INSTITUTO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA DO ESTADO; GRUPO TORTURA NUNCA MAIS. 1996. Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964. Imprensa Oficial do Estado, São Paulo.

DIAS FILHO, C. R. 2009. Entomologia forense e remanescentes humanos. In: CARVALHO, A. V. de; SOARES, I. V. P.; FUNARI, P. P. A. & SILVA, S. F. S. M. Arqueologia, direito e democracia. Habilis, Erechim.

FUNARI, P. P. A. 2010. Arqueologia. Contexto, São Paulo.

FUNARI, P. P. A. 2013. “Arqueologia no Brasil e no mundo: origens, problemáticas e tendências”. Ciência e Cultura [online]. Vol.65, n.2.

FUNARI, P. P. A. & SOARES, I. V. P. No prelo. Arqueologia da resistência e dos direitos humanos.

FUNARI, P. P.; ZARANKIN, A. & REIS, J. A. dos. 2008. Arqueologia da repressão e da resistência: América Latina na era das ditaduras (décadas de 1960-1980). An-naBlume e FAPESP. São Paulo

GRUPO DE TRABALHO ARAGUAIA. Relatório de conclusão. 04 de novembro de 2011, fl 22. Disponível em: http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/coordenacao/grupos-de-tra-balho/justica-de-transicao/relatorios-1/relatorio-final-gta-2011/Relatorio%20Final%20de%202011.PDF acessado em: 10 de julho de 2012.

http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/04/01/pela-1-vez--forcas-armadas-reconhecem-violacoes-na-ditadura-diz-coordenador-da-cnv.htm

http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=17064

Page 91: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

MICHEL JUSTAMANDPATRICIA SPOSITO MECHI

89

http://reporterbrasil.org.br/2014/04/ditadura-criou-campos-de-concentracao--indigenas/

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2013/04/19/inter-na_politica,361411/relatorio-figueiredo-que-mostra-exterminio-de-aldeias-e--encontrado.shtmlhttp://www.desaparecidospoliticos.org.br/pessoas.php?m=3 . Acesso em 20 de abril em 2014.

JIMÉNEZ, J. V. 2007. Bacaba – Memórias de um guerreiro de selva da guerrilha do Araguaia. Editora do Autor, Campo Grande.

JUSTAMAND, M.; MECHI, P. S. & FUNARI, P. P. A. No prelo. Repressão política e direitos humanos: arqueologia, história e memória da ditadura militar brasileira. Editora da UFT, Palmas.

KEELEY, L. H. 2011. A guerra antes de civilização. Trad. Fábio Faria. É Realizações, São Paulo.

MECHI, P. S. 2012. Protagonistas do Araguaia: trajetória, representações e práticas de cam-poneses, militantes e militares na guerrilha. Tese de Doutorado, PUC-SP.

MECHI, P. S. 2013. Contra a revolução, a barbárie. Revista de História da Biblioteca Nacional. Dossiê Guerrilhas. N. 90.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, Procuradoria da República do Pará. 2001. Inquérito Civil Público. Assunto: Direitos Humanos. Guerrilha do Araguaia. Investigação visando localizar os restos mortais de vítimas da repressão política. Pará.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, Procuradorias da República do Pará, São Paulo e Distrito Federal. 2002. Relatório Parcial das Investigações sobre a guerrilha do Araguaia. Brasília.

MORAIS, T. & SILVA, E. 2005. Operação Araguaia: os arquivos secretos da Guerrilha do Araguaia. Geração Editorial, São Paulo.

NASCIMENTO, D. M. 2000. Guerrilha do Araguaia: Paulistas e militares na Amazônia. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Pará.

S. NAVARRETE, R. e LÓPEZ, A. M. Y. Rabiscando atrás das grades: grafites e imaginário político-simbólico no Quartel San Caelos (Caracas/Venezuela). 2008. In: FUNARI, P. P.; ZARANKIN, A. & REIS, J. A. dos. Arqueologia da repressão e da resistência: América Latina na era das ditaduras (décadas de 1960-1980). An-naBlume e FAPESP, São Paulo.

SOARES, I. V. P. & KISHI, S. A. S. 2009. Memória e verdade: a justiça de transição no estado democrático brasileiro. Belo Horizonte: Fórum.

Page 92: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

GUERRILHA DO ARAGUAIA: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E DIREITOS HUMANOS

90

ZARANKIN, A. e FUNARI, P. P. A. 2009. “Brilho eterno de uma mente sem lem-branças”: arqueologia e construção da memória da repressão militar na América do Sul (1960-1980). In: CARVALHO, A. V. de; SOARES, I. V. P.; FUNARI, P. P. A. & SILVA, S. F. S. M. Arqueologia, direito e democracia. Habilis, Erechim.

ZARANKIN, A. & NIRO, C. 2008. A materialização do sadismo: arqueologia da arquitetura dos Centos Clandestinos de Detenção da Ditadura militar argentina (1976-1983). In: FUNARI, P. P. A.; ZARANKIN, A. & REIS, J. A. dos. Arqueologia da repressão e da resistência: América Latina na era das ditaduras (décadas de 1960-1980). AnnaBlume e FAPESP, São Paulo.

Page 93: revista vestígios

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL

PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

ARCHAEOLOGY OF THE ROADS. A STUDY ABOUT THE ROUTE TAKEN ON THE EXODUS OF THE EASTERN STRIP PEOPLE IN 1811 (URUGUAY)

VESTÍGIOS – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica

Volume 8 | Número 2 | Julho – Dezembro 2014ISSN 1981-5875

José Ma López Mazz Alfonso Machado

Oscar MarozziChristopher Duarte

Page 94: revista vestígios

Data de recebimento: 16/12/2013Data de aceite: 09/06/2014

Page 95: revista vestígios

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL

PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

ARCHAEOLOGY OF THE ROADS. A STUDY ABOUT THE ROUTE TAKEN ON THE EXODUS OF THE EASTERN STRIP PEOPLE IN 1811 (URUGUAY)

José Ma López Mazz Alfonso Machado

Oscar MarozziChristopher Duarte1

reSumen

Se aborda desde la metodología arqueológica la demarcación de un tramo del camino asociado al episodio histórico conocido como el “Éxodo del Pueblo Oriental”. La ruta ha sido declarada explícitamente como Monumento Histórico Nacional, por la Ley de Patrimonio del año 1971. El trabajo de geo-referenciación de este itinerario es parte de un abordaje multidisciplinario que involucra mira-das y enfoques desde la Historia y la Agrimensura. Esto ha permitido introducir nuevas aristas a la discusión y enriquecer el debate sobre aspectos particulares del episodio histórico. Se presentan aquí los aportes para su reconstrucción desde la Arqueología. En el marco de un convenio entre la Universidad de la República (UdelaR) y la Comisión Nacional del Patrimonio Cultural del Ministerio de Educación y Cultura (CNPC - MEC) de Uruguay. El trabajo pone énfasis en la metodología de prospección arqueológica y explora aspectos vinculados a la circulación humana prehistórica e histórica persistentes de la región, asociados a atributos geográficos-ambientales que conforman la materialidad y elementos del paisaje reciente.

Palabras clave: caminos, arqueología, movimiento.

1 Universidad de la República – Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación – Departa-mento de Arqueología. Paysandú 1818 (entre Tristán Narvaja y D. Fernández Crespo), CP 11.200 Montevideo-Uruguay, Tel. (+598) 2408 3076. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected].

Page 96: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

94

reSumo

A demarcação de um trecho de estrada associada ao evento histórico con-hecido como o “Éxodo Del Pueblo Oriental” é abordada se com a metodologia arqueológica. A rota foi explicitamente declarada Patrimônio Histórico Nacional pela Lei do Patrimônio (No.14.040) 1971. O trabalho de georreferençiamento desta rota é parte de uma abordagem multidisciplinar que envolve olhares e abordagens da história e agrimensura. Isso permitiu a introdução de novas arestas para a discussão e enriquecer o debate sobre aspectos particulares do episódio histórico. Contribuições para a reconstrução são apresentadas aqui a partir da arqueologia. O trabalho foi realizado por um acordo entre a Universidad de la República (UdelaR) e da Comisión Nacional del Patrimonio Cultural del Minis-terio de Educación y Cultura ( CNPC - MEC) do Uruguai. O trabalho enfatiza a metodologia e explora a pesquisa arqueológica ligada à circulação pré-histórica e histórica humana persistente na região, associada a atributos geográficos e ambientais que compõem os elementos da materialidade e aspectos recentes da paisagem.

Palavras-chave: caminhos, arqueologia, movimento.

abStract

The purpose of this paper is to approach archaeologically the stretch of a his-torical road associated with the event known as the “Exodus of Eastern People”. The route has been declared National Historic Landmark by the Heritage Act of 1971. The work of geo-referencing is part of a multidisciplinary undertaking that involves different glances and perspectives, from history and surveying. The project has traced new edges and enriches the debate on particular aspects of this historical episode. Archaeological contributions for its reconstruction are presented here. The project is a result of a partnership between Universidad de la República ( UdelaR ) and the Comisión Nacional del Patrimonio Cultural of the Ministerio de Educación y Cultura (CNPC - MEC ) of Uruguay. This paper emphasizes methodology and explores archaeological survey methods to bring up persistent circulation of prehistoric and historic peoples in the region, associ-ated with geographical and environmental attributes that make up the elements of materiality and recent landscape aspects.

Keywords: paths, archaeology, movement.

Page 97: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

95

introducción

En el marco de los festejos de los 200 años de la Independencia de las nacio-nes sudamericanas se han producido diferentes actividades de celebración. Los procesos de revisión del pasado histórico se han ocupado de los acontecimientos fundadores de las nacionalidades dando nuevas miradas a los sucesos históricos y actualizando viejos simbolismos. La demarcación del trayecto de uno de los episodios históricos que prefigura el nacimiento de la nacionalidad uruguaya, conocido desde fines del siglo XIX como “Éxodo del Pueblo Oriental” (Fregeiro 1885, en MEC 2011) ha estado entre estas inquietudes.

La ruta de esta migración vinculada a la Independencia de Uruguay ha sido declarada explícitamente como Monumento Histórico Nacional, por la Ley de Patrimonio Nº 14.040 del año 1971. La reconstrucción del recorrido seguido por el ejército Oriental y las familias que lo acompañaron se ha apoyado en la poca documentación histórica que refiere al hecho. La investigación interdisciplinaria que origina este artículo reconoce que Capillas de Castellanos y Ardao (1949) son las primeras investigadoras en desarrollar un estudio sobre la reconstrucción de este itinerario, en base a la sistematización de la correspondencia de la época (Frega y López Mazz 2014). Para completar los pasajes a los que no se tiene referencia se apoyaron en relatos de viajeros sobre el uso tradicional de sendas y caminos. La información que surge de este trabajo origina un año más tarde un mapa del trayecto, con ilustraciones en la revista escolar “El Grillo” (1949). Posteriormente se publica en el diario El Día un artículo del Ing. José L. Buzzetti (1950) titulado La Ruta del Éxodo. Allí se presenta un mapa sobre la ruta del éxodo sin mayores variaciones a las aportadas por el estudio de las investigadoras. Posteriormente, el Cnel. Bergalli (1968) apoyado en la documentación histórica y la cartografía del Servicio Geográfico Militar (SGM) realizó cálculos sobre las distancias recorridas, tomando las referencias de marchas y paradas documentadas, aportando un nuevo mapa (Frega y López Mazz 2014) (Figura 1).

El presente trabajo expone una metodología arqueológica usada en la recons-trucción del posible itinerario. La misma busca sumar a las distintas aristas del abordaje multidisciplinario en torno a la geo-referenciación de la ruta del Éxodo. Nuestra estrategia de investigación contempla la documentación histórica vincu-lada al hecho y explora, además, aspectos relevantes de la circulación humana y uso de la geografía a nivel prehistórico e histórico persistentes de la región, como forma de precisar las posibles rutas del recorrido. Como forma de aportar al tra-zado con la mayor precisión posible nos apoyamos en la materialidad y elementos que conforman el paisaje actual. Se buscó identificar elementos y trazas en el paisaje de valor histórico-arqueológico, para su caracterización y jerarquización,

Page 98: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

96

materializados en puntos geográficos conocidos (los “pasos”) que han permitido la circulación humana desde el pasado y la caracterización arqueológica de los puntos conocidos vinculados al episodio histórico.

Figura 1: Izquierda: Mapa de la Ruta de Éxodo realizado por el Gabinete Cartográfico del Liceo Nº 8, según el estudio de las profesoras Aurora Capillas de Castellanos y María Julia Ardao. Publicado en la revista “El Grillo”, setiembre de 1950. Centro: Mapa de la ruta del Éxodo realizado por el Ing. J. L. Buzzetti. Publicado en el diario El Día el 20 de agosto de 1950. Derecha: Mapa de la ruta de éxodo realizado por Cnel. A. Bergalli 1968.

La investigación se realizó en el marco de un convenio entre la UdelaR y la CNPC – MEC, donde participó la División Topografía del Ministerio de Trans-porte y Obras Públicas (MTOP), así como la Facultad de Ingeniería, entre los años 2011 y 2012. Arqueológicamnete se realizaron trabajos de prospección remota, y directa, donde se reconocen los sitios que componen un sistema de caminos prehistóricos, utilizados hasta la actualidad.

Éxodo del Pueblo oriental: el hecho hiStórico

El 12 de octubre de 1811 el ejército independentista comandado por el Gral. José Artigas, se retira del sitio de Montevideo dando inicio a uno de los hechos primarios que conformarían parte del proceso de creación de la identidad na-cional. Desde meses previos la situación militar de las fuerzas revolucionarias en el Río de la Plata se encontraba comprometida. A las derrotas sufridas en el Alto Perú, que dejaban abierto el camino para la contraofensiva “realista”, se sumaba el avance portugués sobre la Banda Oriental en ayuda de las fuerzas sitiadas de Montevideo y el bloqueo del puerto de Buenos Aires y ríos interiores (Uruguay y Paraná) por la escuadra española de Montevideo. Estos hechos conducirán a la negociación y la firma del armisticio del 20 de octubre de 1811. En él se disponía

Page 99: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

97

el levantamiento del sitio de Montevideo y el retiro de las fuerzas revolucionarias del territorio, reconociéndose la autoridad del Virrey español en toda la Banda Oriental y Entre Ríos.

En los primeros días de septiembre de 1811, una delegación de la revolución independentista bonaerense llega al campo sitiador de Montevideo para exponer las negociaciones que se estaban llevando a cabo con las autoridades de Montevi-deo. El 10 de septiembre, las razones vertidas por la delegación de Buenos Aires no son aceptadas por los “vecinos orientales” reunidos en asamblea, decidiéndose mantener el sitio. En una segunda asamblea, realizada el 10 de octubre, se informa sobre el “Tratado de Pacificación” y su alcance. Los vecinos deciden ante la reso-lución de Buenos Aires de retirar el ejército bonaerense, abandonar el sitio pero continuar la guerra en el campo. Al mismo tiempo, se nombra a Artigas como “Jefe de los Orientales”. Algunas familias comienzan a retirarse con el ejército oriental hacia San José, abandonando el teatro de operaciones militares de Montevideo.

El 23 de octubre se conoce la ratificación de la firma del armisticio, que confirmaba el levantamiento del sitio. Los orientales repudian el armisticio y continúan la guerra, al tiempo que abandonan sitio siguiendo el retiro de Artigas con sus fuerzas hacia el norte, en marcha paralela al Río Uruguay. Durante el recorrido, nuevos contingentes de familias provenientes de diferentes lugares del territorio se irán sumando a esta marcha, que culminará más de dos meses después en el Salto Chico.

La columna artiguista partió desde el campamento en San José (sur de Uru-guay) hacia las puntas del Arroyo Grande, donde se hallaban el 30 de octubre. Luego de vadear el río San José, sobre el arroyo Pintos la columna llega el 31 de octubre al arroyo Monzón. El 2 de noviembre se encontraban en el arroyo Per-dido. Luego de una semana de marcha, la columna acampó el 3 de noviembre en las cabeceras del arroyo Cololó. Días después, atravesaron el río Negro, sobre el Paso del Yapeyú. El 13 de noviembre se reinicia la marcha hacia Paysandú, donde pasan el 21 de noviembre. El 1º de diciembre acamparon en las costas del arroyo Quebracho y el 4 en el arroyo Chapicuy. A mediados de diciembre cruzan el río Daymán, para dirigirse hacia la ciudad de Salto. En Salto, se efectuó el censo de las personas que integraban la columna (Padrón de las Familias Orientales) que señala la presencia de 6.000 hombres integrando el ejército y 4.435 civiles, con 846 carruajes (Frega 2003).

Luego de llegar a Salto, y como medida de defensa frente al acoso de las fuerzas portuguesas y españolas, la columna artiguista atravesó el río Uruguay al norte de la ciudad de Salto, próximo a la desembocadura del arroyo San Antonio. Se instalan en el Salto Chico, en su margen occidental.

Page 100: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

98

aPunteS teóricoS y metodológicoS Para una arqueología del moVimiento

La vida humana ocurre en el tiempo como en el espacio. Un espacio geográfico, pero también social. El establecimiento de hechos sociales de manera científica, tiende a congelar los mismos para optimizar y cartografiar su estudio controla-do. No obstante, las entidades sociales y la producción cultural son altamente dinámicas. La movilidad no es una categoría absoluta, ni un concepto cultural o social unánime. El movimiento no es un fenómeno per se. Es considerado una propiedad de las cosas (inercia y cinética). En nuestro caso de los individuos y de los grupos de individuos, los movimientos de múltiples individuos generan patrones de circulación y tránsito que son plausibles de ser reconstruidos arqueo-lógicamente. Los actos y los diferentes tipos de movimiento generan en el paisaje una materialidad que es posible conocer y estudiar como un artefacto, a través de un método de análisis arqueológico del movimiento o refitting (Close 2000).

En la literatura arqueológica, el movimiento aparece ponderado como de tipo residencial, de carácter territorial, de valor logístico y de significación político-económica. Binford (1980) analiza la conducta territorial de los caza-dores recolectores a partir de la distinción entre los asentamientos propios de una movilidad forrajera y una movilidad colectora. A los fines de la investigación arqueológica, el movimiento también ha sido analizado en su virtud táctica y relativa a períodos de corta y larga duración. Es así que Politis (2007), en el estudio etnoarqueológico del grupo amazónico Nukak, analiza la importancia de los daily round trip. Entre las razones culturales que producen u ordenan el movimiento, también encontramos otras situaciones particulares, además de los aspectos sociales y económicos, como pueden ser la dimensión religiosa y sim-bólica, el contexto bélico, la organización política, entre otros. En este sentido conviene tener presente los grandes movimientos poblacionales producidos por el mesianismo tupí guaraní (Pereira de Queiroz 1978).

En el caso que nos ocupa, el movimiento generado por un ejército que emigra por sentirse en inferioridad numérica, está asociado al de una población que busca amparo frente al peligro de la inminente invasión portuguesa (Frega 2003). En una primera aproximación al episodio histórico del Éxodo, debemos distinguir entre dos elementos que componen los caminos humanos:

A. los lugares o nodos de la ocupación humana en el paisaje, que tratan de asentamientos de diferente característica que por su función o emplazamiento son objeto de una ocupación redundante.

B. los caminos, senderos, trillos, rastrilladas, son vías de tránsito, espacios de circulación entre los lugares o nodos. Las sendas y los trillos articulan el

Page 101: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

99

comportamiento humano y el de los animales, mediante la optimización en el terreno y el tiempo del desplazamiento entre dos puntos (Criado-Boado 1996). El concepto de visibilidad y su valor metodológico también ha sido de utilidad para el análisis territorial y paisajístico (Criado-Boado 1996).

La estrategia diseñada ha sido de carácter histórico-arqueológico y ha con-templado lugares, claves de circulación, experiencias geográficas, patrones de ocupación del paisaje, estudio comparado de paisajes históricos y prehistóricos. Se ha contemplado información de diferente naturaleza: el hecho histórico; el análisis cartográfico y de foto-interpretación; el relevamiento arqueológico.

Asimismo se contempla al Río Uruguay, como eje y ordenador regional, desde el poblamiento temprano (11.000 AP), con énfasis particular en cada período (Arcaico y Formativo), y de particular significación durante la guaranización y la Conquista. En un trabajo previo López Mazz y Bracco (2002) sugieren que la ruta del Éxodo estaría constituida por una senda relativamente paralela al río Uruguay, de uso prehistórico, muy temprana, versátil y con un anclaje rizomatico en la geografía, que se consolida con el tiempo (López Mazz y Bracco 2002). La introducción y el comercio del ganado irán imprimiendo énfasis a las sendas macro-regionales ya conocidas (Cheda 2004; César 1981). Desde inicios del siglo XVIII contingentes de contrabandistas y partidas de changadores se movilizarán por el territorio para realizar vaquerías y contrabando, manteniendo y ampliando el conocimiento sobre rutas, nodos y cruces de caminos que concentrará con el tiempo la circulación de personas y bienes.

La estrategia de investigación presenta dos etapas bien diferenciadas: el gabine-te y el campo. En primera instancia se creó la base de datos, a través de un análisis de fotolectura y fotointerpretación de los lugares de interés. En la segunda etapa, se realizó la contrastación de la información originada previamente en el terreno.

Se realizó la prospección indirecta con el objetivo metodológico de estable-cer, a través de diferentes medios de mapeo, información detallada y puntos a relevar durante el trabajo de campo (prospección directa). Apoyados en análisis fotogramétricos y cartográficos se analiza la información histórica, se identifican características y unidades de relevancia para el estudio; señales de tránsito en el terreno correspondientes a caminos y trillos activos y no-activos que conducen a márgenes de los ríos o arroyos. La convergencia de trillos hacia los mismos lugares en los cursos de agua, se tomaron como indicadores de “pasos”. Sitios donde por su naturaleza, la cañada, el arroyo o el río, permiten el cruce/transito humano con mayor facilidad. En algún caso, estos sitios podrían presentar modificaciones culturales, realizadas con mayor o menor intencionalidad para tal cometido.

Se utilizó la cartografía nacional (SGM) escala 1:50.000, las fotos aéreas de

Page 102: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

100

los años 1966/67, escala 1:20.000 (SGM), así como las fotos aéreas del año 1982 Fuerza Aérea de Uruguay (FAU), escala 1:20.000. Como complemento, fueron utilizadas imágenes satelitales Google Earth actuales e históricas (2004 a 2011) (Figura 2).

Figura 2: Sitio “Paso Yapeyú” sobre el río Negro. A Mosaico cartografía Hojas N-19 Paso del Palmar y O-19 Cololó – SGM. B Mosaico fotos aéreas 1982 - FA. C Imagen satelital Google Earth 2011.

La propuesta se realizó sobre nueve cruces que contemplan el trayecto seguido por el Éxodo entre el 3 de noviembre y el 7 de diciembre de 1811. El inicio de nuestro trabajo es geográficamente en las cabeceras del Arroyo Cololó culmi-nando en el Río Daymán. Los puntos abordados corresponden a “Las Puntas del Arroyo Cololó” (Dpto. de Soriano), “El Paso del Yapeyú” en el río Negro (límite entre los departamentos de Soriano y Río Negro), “La calzada de Artigas” y “El Paso de las Cadenas” en el Arroyo Negro (límite entre los departamentos de Río Negro y Paysandú), el “Paso Real” y el “Paso de los manantiales” en el Arroyo San Francisco (Dpto. Paysandú), el “Paso de las Piedras” sobre el río Queguay (Dpto. de Paysandú), el “Paso sobre el Arroyo Quebracho” (Dpto. Paysandú), el “Paso sobre el Arroyo Guaviyú” (Dpto. Paysandú), el “Paso sobre el Arroyo Chapicuy Chico” (Dpto. Paysandú), así como tres Pasos sobre el río Daymán (límite entre

Page 103: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

101

los departamentos de Paysandú y Salto). Para la fotointerpretación se utilizó el software de reconstitución fotogramétrica

SOCET SET de LH Systems (Instituto de Agrimensura de la Facultad de Ingeniería - UdelaR). El mismo permite generar imágenes digitales estereoscópicas pasibles de ser editadas y exportadas en archivos de compatibilidad, para profundizar el análisis mediante otras plataformas informáticas de Diseño Asistido (CAD) y Sis-temas de Información Geográfica (SIG). Ello permite generar Modelos Digitales del Terreno (MDT) con puntos georreferenciados en coordenadas UTM. Esta información es utilizada para llegar a lugares concretos mediante navegadores GPS. Se señalan tres categorías de indicadores de tránsito:

Las que dirigen a los cursos de agua, convergiendo en un mismo punto a ambas márgenes.

Las que dirigen a los cursos de agua pero solamente de una. Las que sin dirigirse a algún curso de agua, están asociadas directamente con

alguna de las otras dos señales. Se realiza la prospección arqueológica pedestre en campo dirigida a identi-

ficar y caracterizar los puntos señalados en el paso anterior. La prospección se realizó en forma secuencial, incluyendo la prospección extensiva e intensiva-selectiva de los puntos considerados relevantes. La observación directa en campo procuró identificar testimonios humanos asociados a los lugares estratégicos de tránsito, que incluyen testimonios de asentamientos humanos (permanentes y circunstanciales) o hallazgos aislados. Un elemento clave que se buscó reconocer son las huellas directas de la modificación del terreno originado por el tránsito humano y animal, expresado generalmente en erosión o modificación de suelos, barrancas, sendas y trillos.

ProPueSta Para la reconStrucción de un tramo de la ruta del Éxodo

Cabeceras del Arroyo Cololó. Aquí se ubicaría el campamento artiguista el 3 de noviembre de 1811. El área se encuentra hoy alterada por la producción agrope-cuaria, en particular por la agricultura intensiva de forraje y soja. Esto disminuye las posibilidades de hallar un sitio superficial o estructuras relativas a la ocupación circunstancial de las cabeceras del arroyo. Las nacientes del Arroyo Cololó se ubican sobre la cuchilla de Bequeló, que escurre aguas hacia las cuencas de los arroyos Cololó y Bequeló. Esta dorsal geográfica se extiende en suaves lomadas que permite una continuidad geográfica en la topografía sin quiebres abruptos del terreno. Próximo a las nacientes del arroyo Cololó, sobre una lomada de amplio control visual, se ubicó un casco de estancia antiguo abandonado. Asociada a esta vivienda se documentó la existencia de otra construcción en sillares de piedra

Page 104: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

102

-posiblemente un antiguo puesto de estancia- que por su tipo constructivo es an-terior a la vivienda principal (Figura 5). Si bien no se ha podido establecer su fecha de edificación, viviendas de este tipo constructivo han sido documentadas desde el último cuarto del siglo XVIII para todo el Uruguay. A 21,5 km en dirección NW de distancia de este punto se ubica el “Paso de las Piedras” sobre el arroyo Cololó. Este punto es de fácil cruce y desde allí se puede continuar hacia el paso Yapeyú sin dificultades orográficas. No obstante, también es posible el tránsito de forma directa por el margen derecho del arroyo Cololó, evitando ese cruce.

Paso Yapeyú, sobre el río Negro. Este punto se ubica sobre la desembocadura del arroyo Yapeyú en el río Negro. El cruce por este punto por parte del Éxodo es documentado para los días 11 y 13 de noviembre de 1811, ubicándose un monolito recordatorio. Este “paso” se ubica sobre el río de mayor caudal que divide el territorio uruguayo en sur y norte. Fue de uso frecuente en tiempos históricos. Apoyados en el estudio de la cartografía de base utilizada se generó un MDT con las categorías A, B y C definidas para la etapa operativa de campo y coordenadas geográficas de interés a documentar en la prospección en campo. En la recorrida del área se documentó una traza en el paisaje correspondiente a una depresión topográfica originada por erosión de la barranca, posiblemente motivo de la redundancia de uso como paso de circulación (“trillo” o “picada”) que conduce desde la planicie alta hacia el cruce sobre el río Negro. Los caminos que actualmente llevan al paso del arroyo Yapeyú son varios pero confluyen en una única abertura hacia el río Negro, donde se accede a su margen derecho (Figura 3). En esta zona, se observan barrancas de varios metros que se abren en ciertos puntos (el “paso”) y afloramientos rocosos a nivel del río que permitirían el cruce. La posibilidad de cruzar el río Negro a esta altura está dada por depositación de sistemas de albardones arenosos sobre este sector del lecho del río, además de los afloramientos rocosos, que lo hacen más somero.

Figura 3: Trillo hacia el paso Yapeyú, imagen satelital Google Earth 2011.

Page 105: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

103

El Paso del arroyo Yapeyú en el Río Negro, no es utilizado en la actualidad, dado que los puentes del sistema de carreteras nacionales lo suplen. Los sitios actuales de paso por el río Negro más cercanos son, el puente de la ciudad de Mercedes en la Ruta Nacional Nº 2 a 42 Km en dirección SW; y el puente sobre la represa hidroeléctrica de Palmar, a 16 km, dirección E, sobre la Ruta Nacional Nº 55.

Arroyo Negro. Este curso de agua se encuentra dividiendo los departamentos de Río Negro y Paysandú. El paso a ambas márgenes del arroyo se hace sencillo debido a su bajo caudal en épocas de estiaje. A partir de la cartografía de base se identificaron los caminos que dirigen al arroyo, generando los MDT para contrastar en la prospección en campo. De manera complementaria fueron en-trevistados agentes locales de los establecimientos próximos -Estancia San José y Las Cadenas-, que se encuentran a ambos lados de la Ruta Nacional Nº 24. Con respecto a este arroyo y los lugares de paso que el mismo presenta, Giuffra (1923: 45) dice que los pasos más frecuentes son “…Vuelta Mala, el de Rivaro-la, y el de la Arena, este último por donde cruza el camino departamental que vadea los arroyos Valdez, Rabón (Paso Real o Álamos) y Sacra” (Giuffra 1923: 45). La prospección en el terreno se dio en un área que cubre los lados de la Ruta Nacional Nº 24, al Este y Oeste, donde se tomaron siete y tres puntos GPS respectivamente, del margen Oeste de la ruta se registraron dos pasos vigentes: el puente llamado localmente como “Paso de las Cadenas”; también se registró el lugar denominado por la tradición oral como “La Calzada de Artigas”.

Arroyo San Francisco. En este sitio se relevaron tres pasos, dos por el Arroyo San Francisco Grande y un tercero en el Arroyo San Francisco Chico. El curso de estos dos se juntan en lo que forma una “Horqueta”: el Arroyo San Francisco, que desemboca en el Río Uruguay. Está próximo a la ciudad de Paysandú, sien-do el primer arroyo a cruzar para dirigirse al Norte. El estudio de cartografía y prospección de campo registran tres pasos asociados: el “Paso de los Manan-tiales”, sobre la Ruta Nacional Nº 3, en el Arroyo San Francisco Grande; curso abajo a escasos 500 m., se dispone una calzada que represa el arroyo, y da paso mediante un lecho de cantos rodados. Continuando al Norte, se encuentra en el curso del Arroyo San Francisco Chico, el que es conocido cartográficamente como el “Paso Real”. Bajo el primer puente de la Ruta Nacional Nº 3, al salir de la ciudad de Paysandú hacia el Norte, se observan rocas canteadas de gran porte. Estas podrían estar marcando un paso antiguo en el arroyo. Asimismo pueden ser utilizadas hoy para cruzar, dado su bajo caudal y gran tamaño de las piedras dispuestas. Aquí se encuentra un antiguo paso, conocido como el “Paso de los Manantiales” según la cartografía nacional. Curso abajo existe otro paso, donde se dispone una calzada de presa, construida en hormigón y cantos rodados. Se

Page 106: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

104

prospectó la zona, bordeando el Arroyo San Francisco Grande, hasta su unión con el Arroyo San Francisco Chico. Se constató la presencia de diferentes estructuras de la época histórica.

Río Queguay. También existe un monolito conmemorativo del éxodo del Pueblo Oriental, instalado en los 150 años del hecho. No existen referencias históricas para este sitio, por lo que se trabajó exclusivamente con el parámetro paisaje. Registramos en esta etapa, un punto en sistema de coordenadas UTM, ubicado sobre la “Ruta 3 vieja”. Este lugar es conocido como el “Paso de las Piedras”. De la siguiente forma lo ubica Giuffra (1923: 47): “El arroyo Araujo limita la sección Quebracho por el este. Ocho kilómetros aguas abajo, se ve en el Queguay, el Paso de las Piedras, por donde pasa el camino nacional al Salto, y en el cual se ha construido un hermoso puente sumergible” (Giuffra 1923: 47). Se relevó el “Paso de las Piedras”, donde fue notoria la creciente que impide el acceso. Se trata de un curso caudaloso y con fuertes corrientes. Es pensable el implemento de estrategias específicas que permitan el cruce en condiciones normales. Se piensa que para el año 1811 y en la estación de verano, cuando el Éxodo pasó por allí, el curso presentó condiciones de bajante. No obstante, las fuertes corrientes del Río Queguay, eran conocidas por los baquianos y particularmente por José Artigas. Recordamos que, el Jefe de los Orientales en sus tareas camperas se asoció, sobre el año 1790 DC al poderoso faenero francés, conocido como el Chatre quien residía en la zona del Queguay (Litovsky y Urruti 2011).

Arroyo Quebracho. Este curso es muy somero, permitiendo el paso en condi-ciones normales. No obstante fueron observadas “resacas de creciente” 2 – 3 m sobre el nivel normal. Es un arroyo tributario del río Queguay, desemboca en éste sobre las coordenadas UTM 401061.77 – 6447831.11 m. Los caminos relevados no han sido trascendentes en el estudio, posiblemente por lo somero del arroyo, que da paso a lo largo de su curso. Fueron registrados dos sitios de paso actual, con puentes modernos, uno sobre la Ruta Nacional Nº 3, con dos puntos georreferenciados en UTM QB02 420146 - 6461756 m y QB03 420840 - 6461467 m; el otro sobre un camino vecinal, con coordenadas UTM QB01 400262 - 6450716 m. Los resultados de la prospección no arrojan pasos como elementos concretos en el paisaje, sino que se puede constatar que en condiciones normales del cauce, el paso se da en varias partes a lo largo del mismo.

Río Daymán. En este río fueron identificados y registrados en campo, dos puntos de paso, uno próximo al actual puente sobre la Ruta Nacional Nº 3, otro a ocho kilómetros al Oeste del primero. Este segundo punto no fue localizado mediante el análisis cartográfico, sino por medio de la pesquisa de campo. Se trata de un punto duro en el terreno, con un afloramiento rocoso sobre la margen

Page 107: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

105

izquierda del río, y donde se encuentra un camino que lo cruza; es registrado con GPS en coordenadas UTM como Daymán 01. Asimismo se registra junto al actual puente de la Ruta Nacional Nº 3 el paso conocido localmente como “Paso de las Piedras”. Allí, se presentan dos monolitos conmemorativos; uno puesto por las Fuerzas Armadas en el primer centenario de la muerte de José Artigas; el otro por la Sociedad Criolla Los Teros, en el año 1983. Otro sitio que permite el paso se encuentra río abajo, y es el conocido localmente y en la cartografía nacional SGM como: “Guayacas”. Este lugar fue prospectado por motivo de la investigación arqueológica relativa a la ubicación del “Campamento villa y cuartel de Purificación” (Frega 2003; López Mazz 2003). En tal oportunidad ya se des-criben la presencia de material arqueológico tallado en piedra, una muy buena visibilidad, así como una vegetación de “… monte nativo disperso, presentando áreas con mayor densidad de vegetación.” (López Mazz 2003 II: 7). En una posterior oportunidad el sitio es abordado en una investigación que arroja más antecedentes como sitio prehistórico, y que generó MDT con puntos acotados a la altimetría nacional y una ubicación en coordenadas cartográficas del paso (Figura 4) (Capdepont et al 2011; Machado et al. 2010).

Figura 4: Paso Guayacas sobre el río Daymán. Abajo: Imagen satelital Google Earth 2011; Arriba: MDT altimétricos, der: 3D, izq: curvas de nivel (Machado et al. 2010).

Page 108: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

106

cartografía hiStórica y ProSPección arqueológica directa. SiStema de caminoS chaPicuy chico – meSeta de artigaS – herVidero.

Arroyo Chapicuy Chico. A dos kilómetros del Río Uruguay se presenta un camino que atraviesa el monte así como el Arroyo Chapicuy Chico. Ahí se identificó un sitio arqueológico superficial y estratificado2. Los materiales relevados en campo pertenecen a componentes proto-históricos, y son confeccionados en materias primas líticas locales, de muy buena calidad para la talla, como es característico en la zona Norte de Uruguay. El mismo camino es el motivo de la erosión que descubre la estratigrafía del sitio, en los perfiles de las cárcavas que tienen poco menos de medio metro de potencia. Se identifica un estrato de color negro a castaño oscuro interpretado como el horizonte A del suelo. Este apoya sobre otro más claro y compacto, de color castaño ferruginoso. Pendiente abajo el Horizonte A está erosionado, y los materiales arqueológicos aparecen en superficie. Este sendero se dirige a un paso muy somero, donde es aprovechado el afloramiento rocoso. En períodos de bajante incluso el paso queda descubierto de agua. Este sitio tiene particular relevancia en el sistema de caminos utilizado por el Éxodo del Pueblo Oriental. Aquí se configura un tramo, relacionado al control del tránsito del Río Uruguay. Se conectan puntos altos como puestos de visibilidad, tal es el caso de la Meseta de Artigas. Debemos recordar que el río Uruguay es navegable desde su desembocadura en el Río de la Plata, con embarcaciones de ultramar solamente hasta Paysandú, soportando su cauce hasta 5 m de calado; y desde ahí, río arriba hasta el Paso del Hervidero con embarcaciones de cabotaje, resistiendo hasta 3 m de calado (Martínez Montero 1955 en López Mazz 2004, IV: 3).

El conocimiento de la utilización de este sistema de caminos desde tiempos al menos históricos, se sustenta además en la presencia de cartografía de la época (Irigoyen 1831-1835), así como de sitios arqueológicos históricos vinculados espacialmente, ya identificados por López Mazz (2004) en la investigación sobre la Villa- Cuartel de Purificación, registrados en nuestra prospección directa con puntos GPS en coordenadas UTM. Es así que podemos hablar de un sistema logístico de caminos relacionado al control militar del Río Uruguay, donde se encuentran asociados, elementos que lo caracterizan: alta visibilidad; pasos en los cursos de agua; sitios arqueológicos proto-históricos (material lítico); sitios arqueológicos históricos (estructuras de piedra interpretadas por su ubicación y forma, como cimientos de antiguos puestos de vigilancia); cartografía histórica específica de los caminos (Figuras 5 y 6).

2 Se encuentran materiales de factura social, dentro de un estrato del suelo. Los materiales afloran por motivo de la erosión, que los descubre en perfiles verticales del suelo.

Page 109: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

107

Figura 5: Arroyo Chapicuí Chico y Meseta de Artigas. Asociación espacial de elementos que hacen al sistema de caminos Chapicuy-Meseta sobre imagen satelital Google Earth 2011. Arriba: visibilidad del Río Uruguay, desde arriba de la Meseta de Artigas hacia el Sur; material arqueológico prehistórico; Estructura en Piedra, por su ubicación posible puesto de vigilancia; cordón de piedras testimonio de una ocupación social. Abajo: panorámica Arroyo Chapicuy Chico detalle de material arqueológico prehistórico junto al paso.

Page 110: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

108

Figura 6: Sistema de caminos Chapicuy – Meseta – Hervidero. Arriba: Imagen satelital Google Earth 2012, el color rojo traza del camino actual. Abajo: Cartografía histórica Irigoyen 1831-1835, color rojo punteado, los caminos Del Chapicuy y De la Vella Unión, coincidentes con los actuales.

Page 111: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

109

Para finalizar, se compara la traza arqueológica elaborada respecto de las propuestas para la “ruta del éxodo” (Figura 7), con información geográfica de los principales pasos atravesados por el contingente de 1811 en su recorrido desde las cabeceras del arroyo Cololó al río Daymán (tabla 1).

Figura 7: Traza arqueológica y las ya existentes para la de la “ruta del éxodo”.

Page 112: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

110

Hoja topográfica

(SGMU)

Punto asociado

Ubicación en coordenadas

UTM

Curso de agua

Departamento

N-21 Paso Hondo

Puntas del Arroyo Cololó

454905 - 6310410

Arroyo Cololó

Soriano

O-19 CololóPaso Arroyo

Yapeyú442621 - 6344074

Río NegroSoriano / Río

Negro

N-19 Paso del Palmar

Paso Arroyo Yapeyú

442063 - 6344154

Río NegroSoriano / Río

Negro

P-16 Arroyo Negro

Calzada de Artigas

Paso de las Cadenas

402440 – 6402324403477 - 6400625

Arroyo NegroArroyo Negro

Río Negro / Paysandú

P-15 Paysandú

Paso calzada de cantos

Paso de los ManantialesPaso Real

401996 - 6429130402567 – 6429136403262 - 6431881

Arroyo San Francisco Grande

Paysandú

O-14 Lorenzo Reiles

De las Piedras411310 - 6444559

Río Queguay

Paysandú

O-13 AraujoArroyo

Quebracho419470 - 6461798

Arroyo Quebracho

Paysandú

O-12 Parada Rivas

Arroyo Guaviyú - Termas

416222 - 6476526

Arroyo Guaviyú

Paysandú

O-11 ChapicuyArroyo

Chapicuy Chico

407902 - 6500034

Arroyo Chapicuy

ChicoPaysandú

O-10 Salto

Paso Daymám 01

Paso Daymán 02

42328 - 6517047413873 - 6519091

Río Daymán

Paysandú / Salto

Tabla 1: Relevamiento geo-referenciado. Hojas topográficas del SGM y pasos asociados, puntos GPS, Departamento.

Page 113: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

111

diScuSión de loS reSultadoS

El trabajo fue realizado en el marco de una “arqueología pública” que busca conocer y reconocer, la materialidad de un bien patrimonial que ocupa un lugar de privilegio en el imaginario uruguayo. Los resultados son propuestos y discutidos.

Este estudio buscó ajustar al máximo el debate sobre la traza de la “ruta del éxodo”, por lo que trató de rentabilizar la geo-referenciación de elementos reco-nocidos como pertinentes para la identificación de una línea de tránsito humano y de ganado, con dirección norte/sur y paralela al río Uruguay. En 1811 esta senda fue el escenario del movimiento político-social denominado históricamente como “Éxodo del Pueblo Oriental”.

Esos elementos considerados como significativos para nuestro trabajo, son por un lado sendas, trillos y rastrilladas, identificadas por una tipología basada en un patrón de erosión antrópica del suelo, que se diferencia de los patrones de erosión regional natural. También se registraron elementos de tipo cultural como son asentamientos indígenas y coloniales (de diferente cronología) que formalizan y sugieren una edad, para el funcionamiento de esas sendas del tránsito humano y animal. La consolidación y la institucionalización territorial de esa senda es un dilatado proceso de uso continuo y recurrente, desde la prehistórica al Estado moderno.

Para inicios del siglo XIX el conjunto de necesidades sociales y expresiones culturales de tipo territorial, mantiene como elemento ordenador de primera jerarquía al río Uruguay; que desde el siglo XVI permitió a los europeos el acceso al interior del continente. Los primeros cronistas describen diferentes espacios sociales, económicos y políticos, históricos y geográficamente situados. Sus identidades lingüísticas, étnicas, parecen muy dinámicas y con gran poder de adaptación política, como se desprende de las crónicas históricas de Ulrico Schmidel y Sebastián Gaboto entre otros (Schmidel 1986; Ramírez 2007 [1528]).

Para el período histórico, esa senda de tránsito norte/sur está ya consolidada y articula con redes de caminos que conectan con el Noreste Argentino y con el Imperio Portugués en Brasil (Cheda 2004; César 1981).

Un estudio comparado entre los trazados propuestos para la ruta del éxodo, muestra que de sur a norte:

En las cabeceras del Arroyo Cololó coinciden los trazados propuestos previa-mente (Bergalli 1968, Capillas de Castellanos y Ardao 1950) con los identificados en nuestros propios estudios de foto aérea sobre el área. El asentamiento humano asociado al “paso”, se consolida a través de su uso en el tiempo y le da valor es-tratégico como clave de tránsito. Podría ser allí que tuvo lugar un campamento descrito para el 3 de noviembre de 1811, cuando el ejército artiguista definía

Page 114: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

112

rumbo de su viaje. La presencia de una construcción histórica, de tipología an-terior al hecho de éxodo, daría lógica al camino.

En el Paso del Arroyo Yapeyú sobre el Río Negro, las trazas propuestas por Bergalli (1968) así como por Capilla de Castellanos y Ardao (1950), están mar-cadas por la existencia en el lugar de un monolito conmemorativo. Nuestro estudio identifica en el lugar trillos enfrentados a ambos lados del Río Negro. Ambos trillos, al llegar al curso de agua muestra barrancas muy erosionadas por la intensidad del tránsito humano y seguramente de tropas.

En el Arroyo Negro, Bergalli (1968) Capilla de Castellanos y Ardao (1950), señalan que el paso del contingente del éxodo lo sorteó en el lugar llamado “Paso de las Cadenas”. Información recogida en el lugar entre los vecinos, orientó nuestro trabajo hacia un lugar que dista 2 km al Oeste, y es conocido por los ve-cinos como “la calzada de Artigas”. El lugar reúne condiciones físicas como tener grandes bloques de piedra en el cauce, que facilitan el tránsito. Además pudimos reconocer adentro del monte, un antiguo camino hoy usado por los vecinos, que confluye en ese lugar desde ambas orillas. Se puede también observar la picada en el monte y la erosión del camino. En esta investigación no descartamos el uso de varios pasos alternativos simultáneos, por lo que “la calzada de Artigas” sobre el Arroyo Negro, está sumando información a tal hipótesis.

En el Arroyo San Francisco, las trazas propuestas previamente por Bergalli (1968) así como por Capilla de Castellanos y Ardao (1950), coinciden con los trillos identificados por nosotros en las fotos aéreas. Además en el lugar existen piedras grandes y canteadas, pertenecientes a acondicionamientos para atravesar el curso de agua. La toponimia local da a ese lugar el sugestivo nombre de “Paso Real”.

En el llamado Paso de las Piedras del Río Queguay, las trazas de Bergalli (1968) así como de Capilla de Castellanos y Ardao (1950), coinciden con nues-tras observaciones de un trillo que atraviesa el río en ambas márgenes. Se puede apreciar en ambas una clara erosión de la barranca que sugiere su uso como línea de tránsito de humanos y animales. De acuerdo a la información histórica, en la década de 1790 Artigas desarrolló un intenso conocimiento de esta zona a través de su actividad como Tropero.

En el Paso sobre el Arroyo Quebracho, la traza propuesta por Bergalli (1968) indica el actual cruce de la Ruta Nacional Nº 3. No es coincidente con nuestra traza que identifica unos trillos enfrentados a 1 km al este de la ruta, en un lugar de fácil travesía. Por su parte Capilla de Castellanos y Ardao (1950), sugieren que el éxodo sorteó el Arroyo Quebracho 6 km al Oeste de nuestra traza, coincidente con la caminería que lleva al pueblo del mismo nombre.

Page 115: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

113

En el Arroyo Guaviyú, nuestra traza es coincidente con la propuesta por Bergalli (1968) así como por la de Capilla de castellanos y Ardao (1950), que indican el actual puente sobre la Ruta Nacional Nº 3. Para ser más precisos debajo del puente se pueden ver restos de antiguas calzadas que facilitaban el tránsito. Unos 190 m al oeste de este sitio, se observó una picada en el monte, una senda y una barranca erosionada por el trillo.

Sobre el Arroyo Chapicuy Chico, Bergalli (1950) así como Capillas de Castella-nos y Ardao (1950), estiman que el éxodo sorteó el arroyo a la altura de la actual Ruta Nacional Nº 3. En la documentación histórica no hay descripciones relevan-tes sobre este lugar. En oportunidad de la investigación histórico-arqueológica que llevó adelante la Comisión Nacional del Patrimonio Cultural (Frega 2003; López Mazz 2003) para localizar la Villa, Campamento y Cuartel de Purificación se tuvieron indicios relativos al sistema de caminería existente para la época. Allí se realizaron trabajos de campo en los que se identificó un trillo (600 m al oeste del actual camino a la Meseta) que coincide con un paso con sustrato de piedra y las barrancas erosionadas a ambos lados. Asociado a este lugar se identificó un sitio arqueológico indígena.

En la llamada Meseta de Artigas, el proyecto antes mencionado, identificó un trillo (entre 600 y 160 m del Río Uruguay) que lleva hasta el Arroyo Hervidero. Próximo a la meseta se localizó una estructura en piedra que fue interpretada como un puesto de guardia de la Villa de Purificación, por su estratégico empla-zamiento en un meandro del Río Uruguay (López Mazz 2003). Es interesante que Geofroy Saint Hilaire (1887) en su viaje por tierra, realizó entre el Chapicuy y el Hervidero una descripción geográfica detallada que coincide con las carac-terísticas paisajísticas de este lugar.

En el Arroyo Hervidero, se aprecian trillos que atraviesan el curso de agua hasta la estancia del mismo nombre. En 1811 se encontraba allí un casco de estancia de Dargain (Frega 2003) que constituirá luego en 1815 el centro del asentamiento artiguista. Junto al camino y en la orilla norte del arroyo se identificó un sitio indígena (López Mazz 2003). El dato más sugestivo surge del mapa de Irigoyen (1831-1835) (Frega 2003; López Mazz 2003) ya que indica que en la orilla nor-te del Hervidero parten dos caminos, uno llamado “camino de la costa” y otro “camino del salto”. En el lugar señalado se identificaron trillos que hasta hoy continúan activos, presentados en la cartografía histórica (Irigoyen 1831-1835) como “camino del Chapicuy” y “camino de la Bella Unión”.

En el Río Daymán pudimos observar que existen tres posibles lugares de paso. De oeste a este, el primero es un sitio llamado Guayacas a 7,5 km del Río Uruguay, donde se identificaron trillos y barrancas erosionadas a ambos lados

Page 116: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

114

del curso de agua. Cabe notar que recientemente fue excavado en ese lugar un sitio arqueológico indígena con fechas entre 1500 y 400 años antes del presente (Capdepont et al. 2011).

El segundo posible lugar de paso a 5 km al este del anterior, es el llamado Paso de las Piedras que coincide con la traza propuesta por Bergalli (1968) y por la de Capilla de Castellanos y Ardao (1950), en el actual cruce la Ruta Nacional Nº 3. La investigación reconoció trillos y en la orilla sur, una picada con la barranca erosionada. Es acá donde existen monolitos recordatorios muy próximos a las instalaciones turísticas termales.

A 7,5 km al este del anterior paso, se ubica otro donde el cauce del río es un afloramiento de basalto. En este lugar se identificaron trillos a ambos lados del río y una barranca erosionada en la orilla norte.

A modo de síntesis final, para el segmento estudiado entre las cabeceras del Arroyo Cololó y el Arroyo Guaviyú, las trazas propuestas por Bergalli (1968) y por Capilla de Castellanos y Ardao (1950), son grosso modo coincidentes con las identificadas por nuestra investigación; con leves matices en el Arroyo Cololó y el Arroyo Negro. Donde existe mayor discrepancia es entre el Arroyo Chapicuy Chico y el Daymán. Mientras los autores mencionados se inclinan por ubicar el camino del éxodo en coincidencia con la traza de la Ruta Nacional Nº 3 Gral. José Artigas, nuestras investigaciones de campo, así como estudios previos (Frega 2003; López Mazz 2003; Capdepont et al. 2011) contribuyen con información que permite sugerir que el éxodo podría haber seguido otro camino, más próximo al Río Uruguay.

Page 117: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

JOSÉ MA LÓPEZ MAZZ | ALFONSO MACHADO | OSCAR MAROZZICHRISTOPHER DUARTE

115

referenciaS bibliográficaS

BERGALLI, A. 1968. Gráfica de la ubicación del recorrido realizado por el pueblo oriental. Éxodo del año 1811. MTOP, División Topografía.

BINFORD, L. 1980. Willow smoke and dog´s Tails: hunter gatherer system and Archaeological site formation. American Antiquity 45: 5-19.

BUZETTI, J. L. 1950. La Ruta del Éxodo. El Día 20 de Agosto, Uruguay.

CAPDEPONT, I, DEL PUERTO L, RAMÍREZ A. 2011. Fuentes de aprovision-amiento para la manufactura cerámica: sitio Guayacas, Paysandú-Uruguay. En Actas del VI congreso de arqueologia de la region Pampeana, pag. 33.

CAPILLAS DE CASTELLANOS, ARDAO, A. 1991. “El escenario geográfico del artiguismo”. Apartado de la Revista Histórica. Montevideo, Tomo LV.

CAPILLAS DE CASTELLANOS, ARDAO A. 1950. Mapa de la ruta de éxodo. Gabinete Cartográfico del Liceo Nº 8. El Grillo.

CÉSAR, G. 1981. Primeros cronistas do Río Grande do Sul. Universidade do Río Grande do Sul.

CHEDA, R. 2004. “El corredor oriental y la jurisdicción Montevideo - Un aspecto de la capitulación mendoza y la jurisdicción Montevideo – Ocupación territorial y corredores comerciales – 1533 – 1780”. 1eras Jornadas Internas de Investigación de la Facultad de Ciencias Sociales, Montevideo. V1.

CLOSE, A. 2000. Reconstucting Movenment in Prehistory. Journal of Archaeology Method and Theory 7(1): 49-77.

CRIADO-BOADO, F. 1996. “El futuro de la arqueología, ¿la arqueología del futuro? The future of archaeology: what is the archaeology of the future?”, Trabajos de Prehistoria 53 (1): 15-35.

FREGA, A. 2003. Cuartel general y Villa de la Purificación. Enfoque histórico. Universidad de la República. Facultad de Humanidades y Ciedncias de la Educación. Departa-mento de Historia del Uruguay. CD-ROM Multimedia Didáctico, Montevideo.

FREGA, A., CUADRO I., FESSLER D., DELGADO S., DUFFAU N. 2011. La Redota. “Derrotero por la libertad y la union de los pueblos”, Revista Dia del Pat-rimonio, Propiedad de la Comisión del Patrimonio de la Nacion, MEC, Uruguay.

Page 118: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

ARQUEOLOGÍA DE LOS CAMINOS: INVESTIGACIÓN SOBRE LA RUTA TOMADA POR EL ÉXODO DEL PUEBLO ORIENTAL DE 1811 (URUGUAY)

116

FREGA, A., LÓPEZ MAZZ J. 2014. En Prensa. Los Caminos de la Redota. Enfoque histórico arqueológico y georreferenciación. Espacio Interdisciplinario - UdelaR, ISBN 978-9974-0-1160-1, Montevideo.

GIUFFRA, E. 1921. Geografía del Uruguay: ensayo de descripción topográfica y vocabulario de la nomenclatura nacional. García, Montevideo.

LÓPEZ MAZZ J. y BRACCO D. 2002. “Una mirada histórico-arqueológica al Éxodo de 1811” En Nuevas miradas en torno al Artiguismo, ed. A. Frega y A. Islas, pp. 329 - 337. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, Artes Gráficas S.A., Montevideo.

LÓPEZ MAZZ, J. 2003. Informe de la investigación histórico-arqueológica para la local-ización del emplazamiento de la Villa, Campamento y Cuartel General de Purificación. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, CD-ROM Multimedia Didáctico, Montevideo.

PEREIRA DE QUEIROZ, Ma. I.1978. Historia y Etnología de los movimientos mesiánicos. Siglo XXI. Mexico.

POLITIS, G. 2007. Nukak. Ethnoarchaeoloogy of an Amazonian People. Left Coast Press. Wlanut Creek.

RAMÍREZ, L. 2007. “Carta de Luís Ramírez a su padre desde el Brasil [1528]: ori-genes de lo “real maravilloso” en el Cono Sur”. Edisión, introducción y notas de Juan Feancísco Maura. Lemir, Edición electrónica http://parnaseo.uv.es/Lemir/Textos/Ramírez.pdf.

SAINT HILAIRE, G. 1887. Voyage a Río Grande Do Sul. Berluison, Libraire, Editeur, Orleans.

SCHMIDEL, U. 1986. Relato de la conquista del Río de la Plata y Paraguay 1534-1554. Alianza. Madrid.

Page 119: revista vestígios
Page 120: revista vestígios
Page 121: revista vestígios

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

VESTÍGIOS – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica

Volume 8 | Número 2 | Julho – Dezembro 2014ISSN 1981-5875

Barbara Little

Page 122: revista vestígios

Data de recebimento: 05/06/2014Data de aceite: 21/08/2014

Page 123: revista vestígios

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

Barbara Little1

reSumo

A Arqueologia Histórica tem se expandido significantemente nos últimos dez anos. Este ensaio discute algumas das tendências e temas que têm se tor-nado importantes na Arqueologia Histórica nos Estados Unidos desde 1982. A primeira seção avalia brevemente esse campo de estudo. A segunda discute o capitalismo como um tema que pode unificar os estudos. Pesquisas comparativas, análises integrativas e os conceitos de poder e ideologia são centrais ao tema do capitalismo. A terceira seção trata de um breve estudo de caso sobre os Chero-kee no período histórico. A conclusão comenta sobre o estado institucional da Arqueologia Histórica.

Palavras Chave: arqueologia histórica; sociedades complexas no Novo Mundo; capitalismo; estudos de cultura material; antropologia histórica material.

reSumen

La Arqueología Histórica ha crecido significativamente en las décadas pasadas. Este artículo discute algunas de las problemáticas y temas de mayor interés en la Arqueología histórica de Estados Unidos desde 1982. La primera parte aborde de forma sucinta este campo. En la segunda discuto como el capitalismo sirve como una problemática que unifica las investigaciones. Estudios multicultura-les, análisis integrados, y el concepto de poder e ideología son centrales. En la tercera parte se presenta brevemente un estudio de caso sobre los Cherokkes del periodo histórico. En las conclusiones se analiza el estado institucional de la arqueología Histórica.

Palabras llaves: Arqueología Histórica, Sociedades complejas del nuevo mundo, capitalismo, estudios en cultura material, antropología material histórica.

1 Publicado originalmente em Journal of Archaeological Method and Theory, Vol. 1, No. 1, 1994. Tra-duzido com permissão da autora e editora. Tradução de Joseph Scott Allen, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Dept. de Arqueologia, Av da Arquitetura, s/n - CFCH - 10o andar, Cidade Universitária, 50740-550 - Recife, PE – Brasil, Telefone: (81) 21267364. E-mail: [email protected]

Page 124: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

122

abStract

Historical archaeology has expanded greatly in the past decade. This essay discusses some of the trends and themes that have become important in histori-cal archaeology in the United States since 1982. The first section briefly assesses the field. The second discusses capitalism as one theme that may serve to unify research. Cross-cultural research, integrative analysis, and the concepts of power and ideology are central to this theme. The third section is a brief case study concerning the historic Cherokee. The conclusion comments on the institutional state of historical archaeology.

Key words: historical archaeology; New World complex societies; capital-ism; material culture studies; historical material anthropology.

introdução

No mesmo ano em que foi publicado o artigo, “Avenues of Inquiry in Historical Archaeology” no livro Advances in Archaeological Method and Theory, por Kathleen Deagan (1982), apareceu o livro de Eric Wolf (1982), Europe and the People With-out History. Wolf chamou a atenção dos antropólogos para diversos problemas: o sistema mundial moderno, o capitalismo, a história e os usos políticos variáveis da “história”. A arqueologia histórica diz respeito tanto aos povos “com história”, aqueles que comumente têm escrito estórias sobre o passado, quanto aos povos “sem história”, aqueles que frequentemente têm sido excluídos dessas estórias. Um foco nos povos “com história” destaca a história dos europeus em relação à de outros povos, criando uma arqueologia da Idade do Descobrimento, da colonização e do desenvolvimento do sistema mundial moderno. Um foco nos povos “sem história” considera esses problemas de outro ponto de vista e não é apenas crucial para construir uma arqueologia americana mais completa, mas também tem a consequência desejável de acrescentar muito mais vozes à nossa percepção do passado. A arqueologia histórica tem se concentrado nos povos “com história”, porém tem feito esforços para restaurar alguma diversidade do passado às nossas versões sobre eles. Este objetivo é avançado pelo engajamento recente da disciplina com conceitos como capitalismo, ideologia, desigualdade, poder e heterogeneidade e por dar muita atenção à interpretação dos significados e usos da cultura material.

Este ensaio discute algumas das tendências e temas que têm se tornado impor-tantes ou promissores na arqueologia histórica desde o artigo da Deagan há mais de uma década. Muitos dos problemas que dominaram o campo em 1982 persistem. O rápido desenvolvimento teórico que caracterizou a disciplina entre 1960 e 1980 continua em conjunção com desenvolvimentos em arqueologia e antropo-

Page 125: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

123

logia como um todo. Um conjunto de problemas que se mantém diz respeito à relação profissional, institucional e intelectual entre arqueologia pré-histórica e histórica, bem como entre arqueologia histórica e antropologia sóciocultural. A arqueologia histórica ainda pode ser caracterizada como somatória. Objetivos iniciais como a recuperação dos detalhes da arquitetura histórica continuam, objetivos mais recentes como a elucidação do poder e da ideologia aparecem e são engajados. A arqueologia histórica está começando a avaliar mais efetivamente e criticamente categorias analíticas como gênero e raça. A seção a seguir avalia as tendências na disciplina ao longo da década passada e considera problemas e questões reconhecidos atualmente. A seção subsequente discute capitalismo como um tema com potencial de unificar as pesquisas e a última seção, através de um estudo de caso, oferece alguns fios que são integrais às interpretações de cultura material se o contexto amplo do capitalismo e os problemas relacionados forem abordados de forma bem sucedida.

aValiação

As contribuições da arqueologia histórica que Deagan (1982) resumiu da literatura incluem a suplementação histórica, a reconstrução de modos de vida passadas, os estudos processuais, os estudos cognitivos e as contribuições à ciência arqueológica. Todas essas contribuições continuam; e vale a pena resumir algumas das questões que estão sendo abordadas. A segunda, terça e quarta categorias de Deagan estão reunidas aqui sob o rótulo de etnografia histórica.

SuPlementação hiStórica – deSafio hiStórico

A arqueologia ainda funciona como suplementação histórica, no sentido amplo de que a pré-história pode ser considerada “o melhor que conseguimos fazer” dada a falta de registros escritos, e no sentido mais restrito no preenchimento das lacunas em sociedades documentadas. Não há dúvida que essa função continua a ser importante. Mas os arqueólogos não precisam se contentar em meramente fornecer detalhes ou “fatos” que os historiadores consideram úteis ou não. A arqueologia não é uma “auxiliar”, como Hume (1964) insistiu há mais de trinta anos, mas sim colega da história.

Enquanto muito da arqueologia histórica continua restrita por necessidades específicas, relacionadas à arqueologia de contrato bem como às demandas de re-construção arquitetônica, pesquisas inovadoras e importantes continuam a ser realizadas sob essas condições. Um caso entre muitos exemplos vem do trabalho realizado no sítio Hermitage, propriedade do presidente Andrew Jackson, local-izado em Tennessee (ex., Smith, 1976). Durante investigação rotineira, arqueólo-

Page 126: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

124

gos descobriram detalhes arquitetônicos que necessitavam de um entendimento revisado da sequência de construção nesse sítio (McKerr et ali., 1992). Pode não parecer antropologicamente significante que a cozinha atual fora separada da casa grande poucos anos depois de pensada originalmente; ou que demais reformas foram realizadas, até que se considere os significados e contextos atrelados ao ambiente construído. Nesse caso em particular, questões previamente não coloca-das foram levantadas sobre as implicações da proximidade física e das tensões dos ocupantes dentro de uma moradia composta de proprietários brancos vivendo na casa principal e negros escravizados vivendo na cozinha. As tentativas aparentes de diminuir tensões sociais e pessoais através da separação física levantam diver-sas questões sobre a eficácia de soluções arquitetônicas para problemas sociais.

Além de sugerir novas avenidas de questionamento sobre relações sociais, a reinterpretação instigada pela arqueologia também encoraja uma exame sobre por quem e para quem a história de uma casa e de seus ocupantes seria voltada. De acordo com a narrativa oficial de Hermitage, a estória de Andrew Jackson e até da sua casa nega as contradições e os conflitos não resolvidos (McKee et. alii, 1992), uma situação que parece extraordinária dada a carreira de Jackson, porém que é similar a outras exibições de “grandes homens”. Decisões sobre quais partes da história são contados, enfeitados, excluídos ou desprezados são escolhas atuais. Arqueólogos históricos têm alguma contribuição e responsabili-dade sobre essas escolhas.

A função suplementar da arqueologia histórica tem que ser explicitamente expandida para abordar a elaboração de histórias e mesmo corrigir a história derivada dos documentos. Não é minha intenção resgatar a ideia de que a ar-queologia é objetiva enquanto a história é subjetiva. Contudo, quero enfatizar que a arqueologia pode fornecer questões e interpretações alternativas. Logo, parte da suplementação histórica inclui maneiras criativas na escrita sobre o pas-sado que não dependem de documentos históricos ou dos historiadores como juízes finais de uma história significante ou precisa. Por exemplo, McDonald et ali. (1991) descrevem um projeto arqueológico comissionado pelos Northern Cheyenne para documentar rotas de fuga tomadas durante a chamada Outbreak de Fort Robinson em 1879. Os resultados arqueológicos desafiaram de forma bem sucedida os contos oficiais baseados no exército por terem revelado dados que apoiaram a tradição oral dos Cheyenne. A história oral e a arqueologia, portanto, poderiam se apoiar no provimento de dados e perspectivas que contribuam para uma história mais verídica nas quais as tendências e a política de conhecimentos sejam reconhecidas.

A suplementação da história pelo preenchimento das lacunas chama a atenção

Page 127: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

125

para essas mesmas lacunas e leva a uma apreciação da sua importância. A arqueo-logia histórica está numa posição de criar elos analíticos entre formas escritas, orais, materiais e expressivas, e continua interligando a história e a antropologia. A função da suplementação é mais bem pensada como desafio histórico. A história suplementada é a história recontextualizada.

etnografia hiStórica

Cotidiano, cognição e processo cultural têm que ser considerados na con-strução da etnografia histórica. A tendência de se abordar estudos cognitivos do tipo exemplificado por Deetz (1977) e Glassie (1975) estava se concretizando quando Deagan (1982) escreveu que tal orientação poderia ser uma forma de reconciliar perspectivas mentalistas e materialistas. Este foco é certamente uma extensão da definição da arqueologia como “ciência da cultura material”, a qual requer que as interpretações da cultura material sejam mais adequadamente teorizadas. O objetivo expresso nos “estudos cognitivos” é a reconstrução cul-tural ao invés da comportamental ou da interpretação funcional. É uma questão de debate se um foco na interpretação estruturalista pode ser adequadamente rotulado como uma abordagem cognitiva, tendo em vista as críticas levantadas quanto ao estruturalismo de Levi Strauss que destacam a ênfase inerente em um ahistoricismo e a falta de significado. Diamond (1974:303), por exemplo, escreve que “há, provavelmente, uma inconsistência nas categorias do estruturalismo presumidamente altamente simbólicas e da redução inerente do seu princípio explanatório.” Todavia, as investigações sobre “visão de mundo” (worldview) varia-velmente formuladas servem para direcionar a intenção arqueológica à cultura, bem como fornecer algum insight na ideologia, definida amplamente. Os desafios em entender os elos entre worldview e cultura material têm significantemente desenvolvido o potencial dos arqueólogos históricos de fazer etnografia histórica. Deetz (1988a) enfatiza esse ponto na sua sugestão de que o termo arqueografia descreve mais precisamente os trabalhos que os arqueólogos fazem que são paralelos à etnografia.

A separação de categorias como estudos de modo de vida e estudos cognitivos ou culturais refletiram tendências reais na disciplina uns quinze anos atrás, mas atualmente não faz muito sentido tentar um sem o outro. Também não faz sentido separar os objetivos da arqueologia histórica da antropologia como um todo. Enquanto a arqueologia histórica estava sendo definida como profissão, Schuyler (1970) comentou sobre seu potencial como um laboratório para a antropologia, particularmente no que se refere a processos como colonização e aculturação. A atenção a esses processos continua a se expandir na disciplina. A ideia de coloni-

Page 128: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

126

zação, por exemplo, pode ser dissecada nos pacotes dinamicamente relacionados de poder, dominação, negociação hegemônica e resistência em muitos níveis. Aculturação, discutida no estudo de caso abaixo, é investigada de forma mais útil como envolvendo mediações econômicas e simbólicas complexas entre o etnocídio e a etnogênese. A reconstrução de culturas e modos de vida passados, ou etnografia histórica, e a descrição de processos como aculturação, adaptação nas fronteiras, imperialismo e capitalismo continuam a contribuir às histórias dos povos marginalizados, bem como dos privilegiados.

Arqueólogos históricos categorizam suas pesquisas de diversas maneiras, algumas sobrepostas. Por exemplo, eu posso descrever meus estudos simultanea-mente como focados primariamente no século 19 no leste dos Estados Unidos, em contextos urbanos, ideologia, capitalismo e com uma abordagem feminista. Eu poderia fornecer uma variação de estudos atuais organizados por cronologia, geografia, tema, filosofia ou técnica. Tanto as escalas geográficas quanto as analíti-cas em que os arqueólogos históricos atuam variam consideravelmente. Estudiosos têm argumentado por escalas de análise frutíferas que vão do sistema global (ex., Falk, 1991), à comunidade (ex., Schuyler, 1988), à moradia (Beaudry, 1984). Tal variedade pode ser interpretada como uma fragmentação sem esperança ou, de forma otimista, como uma diversidade saudável que pode ser direcionada pela sugestão de alguns temas norteadores.

Desde 1982, nos Estados Unidos, pesquisas realizadas por muitos estudiosos têm tido interesses temáticos e regionais. As citações a seguir não são exaustivas. Por uma questão de brevidade cito principalmente monografias e coletâneas ao invés de artigos e capítulos individuais e incluo poucas referências aos relatórios técnicos da arqueologia de contrato. Minha proposta é enfatizar tanto a quan-tidade enorme de trabalho que tem sido realizado nos últimos doze anos como os tópicos que têm sido investigados na medida em que a arqueologia histórica tem crescido e amadurecido como disciplina. Pesquisas dentro do contexto de colonização e da expansão capitalista incluem o contato entre povos europeus, africanos, asiáticos e indígenas; o desenvolvimento de culturas subordinadas e insubordinadas, incluindo o estabelecimento de economias de plantation, cidades e indústria; conflitos e cooperações interétnicos e inter-raciais; a mudança de papeis de gênero e de relações e ideologias; e temas múltiplos relacionados.

A perspectiva ímpar da arqueologia histórica fornece o tema estruturante por muitos volumes organizados por cobertura geográfica, temporal e temática. (Beaudry, 1988; Cotter, 1984; Falk, 1991; Little, 1992b; Neuman, 1983; Ward, 1983; Yentsch, 1987). A arqueologia urbana tem recebido atenção específica (Dickens, 1982; Schuyler, 1982; Staski, 1987). Leone e Potter (1988a) e Yentsch &

Page 129: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

127

Beaudry (1992) têm dedicado coletâneas organizadas voltadas à análise simbólica e de significados. Esses temas também são considerados por Shackel (1993a) na sua análise sobre a criação de disciplina pessoal moderna.

Desigualdade é uma condição do ambiente etnográfico estudada pela maioria dos arqueólogos históricos e serve como tema para o livro McGuire & Paynter (1991). Relacionados à desigualdade estão raça, etnicidade, classe, gênero e outros fatores sociais e econômicos importantes na etnografia histórica. Gênero, em particular, é um tema de pesquisa rapidamente crescente (Seifert, 1991; Walde & Willows, 1991). Muitos autores têm recentemente discutido etnicidade (Leone et ali., 1994; McGuire, 1982; Staski, 1990). É difícil separar raça e etnicidade porque a natureza que fronteia os grupos se altera dentro de contextos culturais. Americanos de descendência anglo, espanhola, africana e indígena têm recebido bastante atenção. Estudos extensivos de arqueologia histórica têm sido realizados nas fronteiras espanholas da Califórnia à Flórida (ex., Farnsworth & Williams, 1992; Thomas, 1989, 1990, 1991). Por exemplo, a cidade de St. Augustine (ex., Deagan, 1983; Reitz & Scarry, 1985) e as missões da Califórnia (ex., Farnsworth, 1989; Hoover & Costello, 1985) foram sujeitas a um grande número de estudos. Asiáticos, definidos tanto por raça quanto etnia, também têm sido pesquisados (Costello & Maniery, 1988; Wegars, 1993).

A arqueologia de afro-americanos frequentemente tem focado na escravidão das plantations, mas tem também contribuído para considerar os papeis e situações variáveis de americanos negros escravizados e livres, rurais e urbanos. Estudos de plantations têm iniciado a prover histórias de plantations individuais (ex., Kelso, 1984; Otto, 1984), a realizar experimentos com a técnica South de reconhe-cimento de padrões (Singleton, 1985), a iluminar expressões materiais como colonoware (Ferguson, 1992) e a criticar a abordagem arqueológica da escravidão (Orser, 1990a). Plantations do período pós-guerra civil (postbellum) ocupadas por arrendatários, fazendas sulistas e a situação variável de negros livres também tem sido estudados (Geismar, 1982; Orser, 1988a, 1990b; Singleton, 1994).

Os efeitos da colonização em povos nativos (bem como os colonos) é uma área importante para pré-historiadores e arqueólogos históricos. Trabalhos extensivos têm sido realizados sobre a depopulação e demografia da América indígena (Dobyns, 1983; Ramenofsky, 1987; Smith, 1987; Verano & Ubelaker, 1992). Explorações europeias, processos de colonização e mudança pós-contato formam modelos essenciais para a interpretação de sítios e regiões (Dyson, 1985; Ewen, 1991; Fitzhugh, 1985; Fitzhugh & Olin, 1993; McGhee, 1984; Rogers & Wilson, 1993). Alguns dos estudos envolvendo contato entre povos europeus e indígenas têm sido conduzidos no sudeste (Blakely, 1988; Keegan, 1992; Potter,

Page 130: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

128

1993; Wood et ali.., 1989), no nordeste (Faulkner & Faulkner, 1987) e no meio do continente (Gums, 1988; Walthall, 1990; Walthall & Emerson, 1992). Rogers (1990) focalizou-se na mudança cultural entre os Arikara. Trigger (1985) reavaliou a narrativa e os mitos padrão quanto ao povoamento do Canadá por europeus, atribuindo aos grupos indígenas um papel criativo na formação daquele país.

A variedade dos demais temas abordados é muito ampla. Fronteiras (Lewis, 1984) e relações inconstantes entre núcleo e periferia (Paynter, 1982) são prob-lemas significantes. O movimento ocidental e a extração de riquezas das terras são indispensáveis em temas como o Gold Rush da Califórnia (Pastron & Hattori, 1990) e a mineração de prata em Nevada (Haredesty, 1988). Focando nas escolhas de consumidores do mercado, Spencer-Wood (1987) coleciona pesquisa que estende a técnica da escala econômica elaborado por Miller para examinar questões de status socioeconômico e a sua interpretação arqueológica. Paisagem tem recebido atenção frequente em muitas disciplinas e tem se mostrado um tema frutífero para a arqueologia histórica (Kelso & Most, 1990). A guerra civil americana, que sempre recebeu muita atenção por parte dos historiadores, apresenta um desafio para os arqueólogos (Geier & Winter, 1994). Outras pesquisas militares incluem a da Battle of Little Bighorn (Scott & Fox, 1987; Scott et ali., 1989).

Outros estudos regionais versam sobre as Carolinas (Wilson, 1985), Chesa-peake (Shackel e Little, 1994), Long Island (Stone & Ottusch-Kianka, 1987) e Rockbridge County, no estado de Virginia (McDaniel & Russ, 1984). Estudos focados localmente incluem aquele em St. Mary’s City no estado de Maryland (Miller, 1986), a plantation Martins Hundred em Virginia (Noël Hume, 1983), Philadelphia (Cotter et ali., 1992), a cidade de New York oitocentista (Rothschild, 1990) e a Monterey novecentista na Califórnia (Felton & Schulz, 1983).

Apesar de ser mal representada nos últimos parágrafos, a extensão da etno-grafia histórica produzida na arqueologia histórica, junto com a quantidade de literatura, continua a crescer dramaticamente.

camPo de ProVaS Para PrincíPioS PrÉ-hiStóricoS

O uso da Arqueologia Histórica como laboratório para o aperfeiçoamento da ciência arqueológica geral através da etnoarqueologia e da “ciência da cultura material” tem sido amplamente reconhecido (ex., Deagan, 1982; Schuyler, 1970). Uma contribuição similar é feita por estudos da cultura material moderna (ex., Gould & Schiffer, 1981; Rathhe, 1979). Tais estudos incluem exames de seria-ção, padrões de descarte como reflexos de etnicidade, indicadores de status e a observação dos processos de formação. Muitos arqueólogos históricos permane-cem explícitos quanto sua esperança de desenvolver métodos que irão avançar

Page 131: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

129

os objetivos da pré-história e contribuir para pesquisas culturais comparativas, particularmente entre sociedades complexas (ex., McGuire & Paynter, 1991; Mrozowski, 1988; Paynter, 1982, 1985; South, 1988a, 1988b; Stevenson, 1982). Paynter (1985), por exemplo, construiu um modelo de relações fronteira-núcleo que propõe ser largamente aplicável a sociedades estratificadas. Por considerar o ambiente local, produtores primários, elites regionais e elites do núcleo, Paynter criou uma abordagem político-econômica que rejeita explicitamente um modelo difusionista, optando focar na produção e distribuição de bens. Um insight im-portante dos estudos de fenômenos como fronteiras, colonialismo e aculturação é que o contato tende a criar diferenças e conflitos em vez de um caldeirão de uniformidade. Esse insight de heterogeneidade é amplamente aplicável a questões internas e externas de governos (vide Brumfiel, 1992).

Muitos arqueólogos históricos fazem uso de modelos de evolução e ecológicos para a explanação. Para descrever a fronteira industrial da América oitocentista por uma analogia a um ecossistema, Hardesty (1985) descreve estruturas ‘nicho’. Ele advoga o uso da teoria evolutiva científica na arqueologia histórica, mas também alerta que “é evidente que nos falta atualmente um conjunto de princípios expli-cativos capazes de lidar com o comportamento criativo de organismos (povos) voltado ao seu ambiente, tais como os ambientes ‘importados’ das sociedades industrializadas” (Hardesty, 1985: 226).

Há tanto vantagens quanto desvantagens com relação a esse tipo de aborda-gem. Empregar a mesma linguagem, modelos e questões de investigação que os pré-historiadores utilizam encoraja a arqueologia histórica a se enquadrar em um continuum e se oferecer como um laboratório para modelos e conceitos da pré-história. Contudo, ao invés de atuar realmente como um laboratório, a arqueologia histórica frequentemente apenas confirma modelos já existentes e aplicados a outros dados. A função da arqueologia histórica como “auxiliar a pré-história” é uma contribuição essencial do campo, porém seria um equívoco desprezar objetivos que talvez não avancem em um método geral. Imagine a po-breza da antropologia se etnólogos não tivessem interesse nas expressões abstratas como cognição, mito, intenção e cultura, pois tais informações não podem ser conseguidas através dos dados da pré-história.

noVaS criSeS e queStõeS de mÉtodo

Em 1982 a Arqueologia como todo iniciou um novo período de autorreflexão crítica e, argumentariam alguns, defesa reacionária. Nesse ano foram publica-dos Symbolic and Structural Archaeology (Hodder, 1982a), Symbols in Action (ibid. 1982b) e Some Opinions about Recovering Mind (Leone, 1982). Desde então, um

Page 132: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

130

grande número de debates tem ocorrido sobre os prós e os contras da Arqueo-logia Processual e da Pós-processual (ex., Earle & Preucel, 1987; Gibbon, 1989; Hodder, 1985, 1986, 1991; Leone et ali., 1987; Miller & Tilley, 1984; Patterson, 1990a, 1990b; Preucel, 1991; Schiffer, 1988; Shanks & Tilley, 1987; Watson & Fotiadis, 1990; Watson, 1990). A arqueologia histórica tem passado por seus próprios períodos de crescimento e mudança, não sendo menos poupada do tumulto dos anos 80 e 90 do que a pré-história. Aliás, os seus praticantes têm sido frequentemente os proponentes mais bem sucedidos de uma abordagem que busca descobrir intenção, relações sociais e ideologia junto com economia, função e estrutura. Watson & Fotiadis (1990: 615) alertam que, “não escapou o olhar dos processualistas, e de outros pouco convencidos pelos pós-processualistas simbólico-estruturais, que praticamente todas as suas publicações até o momento têm se configurado dentro ou fortemente dependentes dos dados etnográficos e históricos (ex., Leone & Potter, 1988).” É obvio que os tipos de objetivos mais cobiçados pelo pós-processualismo – preocupação com significados, símbolos, cognição, poder e contexto histórico – são mais completamente e convincente-mente atingidos dentro da arqueologia histórica. Hodder (1986: 141) escreve que “é parcialmente por essa razão (a necessidade de ter muitos dados contextuais) que a Arqueologia Histórica seja uma abordagem ‘mais fácil’... os dados mais ricos permitem a busca de mais similaridades e diferenças ao longo de dimensões mais relevantes de variação.”

Com certeza, os arqueólogos históricos simpaticamente descartam qualquer caracterização do seu trabalho como sendo ‘fácil’. São conscientes demais dos numerosos problemas enfrentados pelas manobras necessárias entre fontes documentais e materiais e pela acomodação de conceitos culturais comparativos e situações históricas particularistas enquanto reconhecendo as complexidades e o dinamismo dos seus dados e modelos. A criação de um método apropriado está ainda em elaboração e se trata de um foco constante de discussão dentro da disciplina.

Em 1987 a sessão plenária no encontro anual da Society for Historical Archaeol-ogy versou sobre “Questions that Count in Historical Archaeology”. As opiniões expressas nesse encontro enfatizaram a necessidade de dar atenção consciente ao método e a necessidade da ligação do método com a teoria. As críticas levantadas pelos próprios praticantes identificaram problemas de longa duração. Promessas do amplo, embora ainda imperfeitamente realizado, potencial da arqueologia histórica foram reiteradas. Os textos da sessão plenária foram publicados no jornal da sociedade no ano seguinte (vide Historical Archaeology, Volume 22, N1).

Nesse fórum, Honerkamp (1988) caracterizou a pesquisa arqueológica-

Page 133: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

131

histórica como rotineira e ausente de teoria. Alguns dos participantes da plenária buscaram a solução desse problema nas linhas tradicionais da antropologia. Por exemplo, o uso da teoria de energia como conceito norteador para descrever e organizar sociedades foi sugerido por South (1988b). Mrozowski (1989) enfa-tizou que uma perspectiva cultural comparativa pode fornecer um sentido de propósito que falta à disciplina.

Não é difícil, porém, encontrar questões de importância no que se refere ao mundo moderno depois de 1500; o que permanece difícil é encontrar uma forma única para abordá-las (Deagan, 1988). Metodologia é vista como o elemento oscilante. Dois níveis de método podem ser distinguidos: o técnico, que recebe a maioria da atenção; e o informado pela teoria que estrutura as pesquisas, ainda carente e de grande necessidade (Cleland, 1988). Um problema metodológico concerne ao uso eficaz das fontes arqueológicas e documentais (Beaudry, 1988; Leone, 1988; Little, 1992a; Schuyler, 1988).

Há pelo menos cinco abordagens utilizadas na disciplina que visam a com-binação de fontes textuais e de cultural material. Essas estratégias consideram essas duas fontes como contraditórias, complementares, fontes para hipóteses, prontas para desmentir e necessárias para contexto (Little, 1992b). No primeiro caso, os dados documentais e arqueológicos podem ser contrastados. A procura de anomalias em conjuntos de dados é inspirada pelo enfoque etnoarqueológico da ‘teoria do médio alcance’ (ex., Binford, 1977, 1981; Schiffer, 1976) adap-tado para a arqueologia histórica (ex., Leone, 1988; Potter, 1992). As fontes na segunda abordagem podem ser utilizadas para complementar-se, efetivamente preenchendo detalhes ou fornecendo mais confiabilidade. No terceiro caso, qualquer uma das duas fontes, mas tipicamente os documentos, pode promover a formulação de hipóteses, as quais seriam testadas contra a outra fonte, geralmente a arqueológica. Na quarta abordagem, qualquer conjunto de dados, documentais ou cultura material, pode ser utilizado para desmentir alguma versão do passado derivado do outro conjunto. Arqueólogos têm sido mais interessados em des-mentir mitos históricos que o contrário, uma situação que talvez venha a mudar assim que os historiadores prestarem mais atenção aos resultados da arqueologia. Finalmente, os documentos têm sido tipicamente empregados para fornecer contextos que formam a base das interpretações. Em todas essas abordagens, a cultura material tem que receber status como um conjunto primário de dados.

Não há dúvida que os métodos desenvolvidos especificamente para a arqueolo-gia histórica têm ajudado tanto a descrever dados quanto a estabelecer problemas de investigação na disciplina. Dois métodos amplamente empregados são o re-conhecimento de padrões de categorias de artefatos definidos por função, criado

Page 134: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

132

por South (1977a, b, 1988b), e o índice de graduação econômica para vasilhames cerâmicos ingleses por Miller (1980, 1991). Ambos desses métodos fornecem formas coerentes de organizar e comparar dados. Críticas dos métodos ajudam a refinar as questões que elaboramos e a melhor teorizar sobre o significado e a relevância das categorias e das comparações. Orser (1989) critica a técnica de reconhecimento de padrões por South, que é amplamente empregada. Yentsch (1991a, b) critica o amplo foco nas medidas de graduação-econômica inspirado pelo índice de Miller, bem como as limitações analíticas das categorias de South. Ela entende que cada método encoraja a colocação de determinadas questões ao detrimento de outras que possam ter mais potencial para entender gênero e os correlatos de relações de gênero. O registro cuidadoso de preços para bens de consumo e a comparação dos custos originais de conjuntos têm levado à descrição de escolhas por consumidores (Spencer-Wood, 1987) e deve continuar a instigar análises críticas quanto ao significado e a expressão de status social, consumo e práticas econômicas.

Enquanto é geralmente reconhecido que a metodologia – por estruturar a investigação, pela ligação de teoria com os dados e pelo uso eficaz das informações documentais e arqueológicas – está carente de atenção, há pouco consenso sobre como o método seria melhorado ou aplicado aos problemas mais amplos. E as questões em si não são tão óbvias. Arqueólogos devem depender de historiadores sociais e antropólogos culturais para definirem as questões de importância? As questões de importância são sobre raça, classe e gênero? De interesse político ou social? De linhas tradicionais na antropologia? Dos detalhes históricos? A resposta óbvia, que todas essas questões são importantes, nós leva mais uma vez a enfatizar métodos apropriados para atender a esses problemas.

Deagan (1982: 171) versa sobre alguns pontos do potencial da disciplina devido à natureza das fontes disponíveis:

É justamente essa qualidade de relevância a uma grande variedade de problemas e disciplinas que apresenta-se como um poder único e um perigo inerente à arqueologia histórica. Atenção simultânea a questões históricas, antropológicas, arqueológicas e ideológicas tem levado o campo ser um pouco desfocado e errático. A influência crescente de programas de gerenciamento de recursos culturais na arqueologia histórica tem exacerbado esse problema. Arqueólogos históricos abordam diversos tipos de questões, com pouca troca de ideias em muitos casos. Nesse sentido, a arqueologia histórica poderia se tornar um conjunto de técnicas aplicáveis a um vasto número de problemas, mas sem um foco primário próprio.

Vários arqueólogos têm sugerido que o capitalismo seja considerado o foco

Page 135: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

133

principal da disciplina (Leone, 1977; Leone & Potter, 1988b; Orser, 1988b; Payn-ter, 1988). Orser (1988b) considera que esse foco resolve um problema de longo termo quanto à posição ateórica e eclética da disciplina. Um foco no capitalismo, no desenvolvimento da ideologia do mundo Ocidental moderno, é importante.

uma arqueologia do caPitaliSmo?

Leone & Potter (1988b:19) escrevem,

A questão de se a arqueologia histórica deve ser considerada como uma arqueo-logia da emergência e desenvolvimento de capitalismo tem sido respondida no afirmativo. Nunca houve uma escolha até para aqueles que têm sido indiferentes ou até hostis à questão. [...] Em outras palavras, podemos saber do nosso con-texto social, que está dentro do contexto de capitalismo industrial avançado, ou sermos reféns dele.

Há dois pontos: a arqueologia do contexto capitalista conforme a sua emergên-cia e desenvolvimento e o contexto social da própria disciplina dento de uma cultura capitalista. Leone e Potter (1988b) identificam dois conceitos que neces-sitam ser incorporados ao nosso estudo: ideologia – tanto no desenvolvimento histórico quanto a ideologia que envolve “os passados” construídos por arqueólo-gos; e a consciência – a atenção às construções e restrições ideológicas dentro das quais nós como arqueológos trabalhamos. Muitos estudiosos (Blakey, 1983; Handsman, 1983; Schuyler, 1976) têm levantado o tema da arqueologia histórica como uma serva à ideologia atual, um papel que pode ser caracterizado como “auxiliar ao capitalismo”. Outros também têm insistido da necessidade do papel social e ideológico da arqueologia (ex., Gathercole, 1984). A desvantagem de tal insistência, se removida de um contexto marxista, é o risco do super-relativismo. A vantagem mais convincente é o potencial para uma avaliação verdadeira das nossas tendências e interpretações bem como dos seus impactos sociais. A con-sciência e o contexto ideológico atual não podem ser adequadamente tratados nessas páginas, apesar de que a sua importância esteja subentendida neste ensaio. Entretanto, a investigação do desenvolvimento histórico do(s) contexto(s) do capitalismo, um tema de pesquisa instigante, dado nossa situação social e cultural atual, é o assunto do resto desta seção.

Os estudos sobre a cultura do capitalismo buscam compreender as mudanças mais difundidas do último meio-milênio: como os povos entenderam as transfor-mações econômicas, técnicas e sociais do capitalismo e dos seus efeitos culturais? Certamente, um foco no capitalismo nesse caso começa com o capitalismo mercantil do século XVI ao invés das formas de capitalismo industrial desde o século XVIII. O capitalismo como um sistema mundial serve como uma forma

Page 136: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

134

de se manter interligada uma pletora de questões e problemas. Dentro do sistema mundial do capitalismo existem certamente escalas espaciais e temporais de análise e focos de pesquisa diferentes. Nos Estados Unidos, o fenômeno do capitalismo não é necessariamente específico a uma determinada região ou período tempo-ral; não é exclusivamente único ao industrialismo da Costa Leste. Mesmo que o capitalismo apoie e seja apoiado por uma ideologia cultural dominante, nem ele nem a ideologia são transcendentes ou englobantes; são desafiados, mudados e acolhidos. Na tentativa de compreender as raízes do desenvolvimento do capi-talismo como as raízes de grande parte da nossa sociedade e cultura americana moderna é necessário tomar cuidado para não tratar sua história e desenvolvi-mento como inevitáveis. Negar as contingências dos eventos históricos seria um desprezo às pessoas e grupos que resistiram ao capitalismo e uma negação de outras finalidades ou futuros possíveis.

A cultura do capitalismo como ponto de investigação requer consideração em diversas linhas, poucas das quais têm recebido mais do que um tratamento preliminar na literatura. Necessita-se de estudos comparativos entre culturas capitalistas e não capitalistas; de uma ligação cuidadosa da produção, distribuição e consumo; e de análises inovadoras sobre o industrialismo. Necessita-se também de um constante refinamento e da aplicação de conceitos centrais, como poder e ideologia.

PeSquiSa cultural comParatiVa

Paynter (1989:372) escreve, “Uma verdadeira arqueologia do capitalismo seria mundial em abrangência, e teríamos que entender as trajetórias complexas pelas quais passaram as diversas partes do mundo antes da chegada de Europeus.” É es-sencial que o desenvolvimento do sistema mundial moderno seja considerado sob o ponto de vista comparativo. Por considerar o capitalismo e o desenvolvimento da sociedade contemporânea e o mundo moderno como conceitos unificantes, arqueólogos históricos precisam direcionar sua atenção global para as áreas colo-nizadas e outras influenciadas pelos Europeus. O capitalismo começará a parecer um conceito menos monolítico na medida em que as diferenças regionais nas culturas indígenas, as contingências históricas e os contextos ecológicos sejam percebidos de modo a influenciar a aventura europeia. A abordagem comparativa cultural é necessária para entender o “mundo moderno” contemporâneo, que é verdadeiramente diverso.

Estudos bastante provocativos destacam a variabilidade das dinâmicas entre colonizadores e colonizados. Por exemplo, Sichone (1989) discute os efeitos coloniais entre populações indígenas na região do Cinturão de Cobre da Rodésia,

Page 137: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

135

defendendo que o colonialismo forçou novas formas culturais ao invés de permitir “sobrevivências” culturais. Seu apelo para um novo vocabulário e novas maneiras de perceber as reações de povos colonizados deve ser tomado com seriedade. A “aculturação” e suas pistas na cultura material devem ser reconsideradas. How-son (1990) também argumenta a favor dessa posição para que refinemos nossas abordagens aculturativas voltadas à adaptação social e cultural Afro-Americana em contextos das fazendas (plantations) do Sul dos Estados Unidos. Rogers (1990) enfatiza as complexidades de sobrevivências culturais na sua análise de contato entre os Arikara e os colonos europeus. Condições materiais, cultura material e os usos de objetos variam consideravelmente nas sociedades indígenas estratificadas. Variam também dentro de um sistema global como o capitalismo desenvolvim-entista que possui partes interdependentes, porém separadas.

Com o intento de identificar similaridades e de unificar parte da experiência britânica, Deetz (1977, 1983) voltou a sua atenção à África do Sul, lá buscando desenvolvimentos paralelos à sociedade anglo-americana. Winer & Deetz (1990) descrevem a formulação de uma cultura ‘Cabo Oriental’ (Eastern Cape) distinta-mente diferente da cultura mãe britânica entre 1820 e 1860. Scott & Deetz (1990:76) escrevem,

Enquanto ambas dessas ‘pequenas Inglaterras’ mantiveram caracteres distintos, como resultado de ambientes diferentes e da interação com uma diversidade de povos indígenas, compartilharam uma forma e qualidade geral em comum. A língua, a tradição e a transformação distinta da paisagem natural unificam lugares tão visivelmente diferentes quanto a África do Sul, os Estados Unidos e a Austrália, todos compartilhando uma herança cultural inglesa em comum.

Embora tal homogeneidade possa ser um exagero, é importante reconhecer as similaridades e diferenças nos sistemas mundiais. Comparando similaridades e dissimilaridades, Schrire & Merwick (1991), por exemplo, contrastaram as propostas e os distintos resultados das atividades de holandeses da Nova Holanda, nas Américas e no Cabo da África do Sul.

Produção, conSumo, induStrialiSmo

Promovendo um modelo de classe visando a ligação entre mudança material e capitalismo, Paynter (1988) argumenta que produção e consumo, apesar de serem frequentemente estudados como processos separados, precisam ser ex-plicitamente ligados. Porém não deixa muito claro como esses fenômenos seriam analiticamente conectados, particularmente devido ao fato de que operamos den-tro de uma cultura do capitalismo, que implicitamente exige tais separações (ex., Barnett & Silverman, 1979:41-81). A separação entre trabalho e vida doméstica

Page 138: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

136

seria estranha em muitos períodos temporais e lugares, mas as separações são forçadas dentro do capitalismo moderno tanto pela ideologia de gênero, que tem tentado definir o lar como lugar onde o “trabalho” de valor não ocorre, quanto pela ideologia de classe, onde é necessário manter o trabalhador alienado e o trabalhador consumidor sem perceber que são idênticos. O trabalho afeta o que há para consumir bem como as condições sob as quais ocorre a produção. Existe uma mudança cultural ampla e geral que acompanha as mudanças sociais na orga-nização do trabalho e que conecta as condições de produção com as circunstâncias de consumo; ou seja, há uma mudança nas expectativas e no controle cultural. O estudo do trabalho é uma área com potencial para contribuir à arqueologia industrial. Juntando registros das tarefas de trabalhadores com descrições de ambientes de trabalho e equipamentos se consegue fornecer um “quadro com-preensivo das rotinas diárias dentro de ofícios particulares,” uma orientação que Leary (1979:176) chama de “ecologia industrial.” Uma arqueologia histórica do trabalho não necessita ser limitada a reproduzir uma abordagem ecossistêmica, mas fará uma valiosa contribuição à economia política do tipo promovido por McGuire & Paynter (1991).

Existe uma grande e crescente literatura sobre a arqueologia industrial, par-ticularmente da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos (ex., Greenwood, 1985; Rapp & Beranek, 1984; Sande, 1976), mas também de outras partes do globo (ex., Hudson, 1979; Vance, 1984). Muito da produção da arqueologia industrial sofre de antiquarianismo e também da falta de uma estrutura teórica coerente. Apesar dos efeitos do capitalismo industrial serem aparentes tanto fora do lugar de trabalho quanto dentro, o loco de trabalho, as condições físicas e a organização do processo de trabalho e de produção oferecem pistas intelectuais na negociação entre os que eram trabalhadores e os que eram gerentes.

Há alguns poucos exemplos da ligação explícita da disciplina no ambiente de trabalho com a disciplina pessoal do indivíduo. Um foi oferecido por Shackel (1993a) na sua descrição da padronização da escova de dente. A fabricação de escovas de dente começou na Grã-Bretanha no início do século 19. A escolha artesanal do local e a perfuração de buracos para as cerdas foram substituídos em etapas por máquinas precisas introduzidas com a reorganização da fabricação. A mudança no ambiente de trabalho se correlaciona com o uso das escovas de dente como parte de uma rotina individualizante que envolve a higiene e a apresentação cuidadosa do indivíduo. Assim, a produção e o consumo de um determinado artefato são ligados dentro de um contexto amplo de mudança cultural que enfatiza a disciplina pessoal. Fora da arqueologia histórica, mas de interesse para esse campo, é a relação entre as rotinas padronizadas dos trabalhadores – autores

Page 139: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

137

e impressores – na cultura impressa emergente, tanto dos produtos padronizados da imprensa quanto da influência padronizadora da impressão em consumidores de itens impressos (Eisenstein, 1983; Little, 1988).

Ligar a produção às moradias dos trabalhadores é particularmente importante para atingir uma interpretação consistente das cidades industriais. Beaudry & Mrozowski (1988, 1989; Beaudry, 1989) discutem o papel do paternalismo corporativo e seus efeitos na vida dos trabalhadores em Lowell, Massachusetts. O trabalho que se realiza em Harpers Ferry, West Virginia (Shackel, 1993b) considera, explicitamente, as relações entre mudança tecnológica e cultural. Cultura material doméstica, preferências alimentares, práticas de saúde e higiene e o tratamento da paisagem são investigados para interpretar a resistência e a aceitação da disciplina tanto na fábrica quando no lar.

ideologia e Poder

É claro que um dos mais importantes conceitos de uma arqueologia do capitalismo é o de ideologia. Essa preocupação não é menos importante do que na (pré-) história dos estados institucionalizados e dos mecanismos de controle e poder. O termo ideologia tem muitos, e às vezes conflitantes, significados. Eagleton (1991) discute a ambiguidade e os significados variados, oferecendo seis definições crescentemente focadas e identificando seis características ou estratégias da ideologia. Os arqueólogos históricos descobrirão que distinguir entre esses níveis de especificidade e estratégias é útil, mas têm que se reconhecer que as distinções em determinadas situações podem não ser tão claras e que a ideologia pode permanecer ambígua. Frequentemente, muitos tipos de ideolo-gia operam simultaneamente. As estratégias dos diversos atores sociais não são necessariamente mutuamente exclusivas ou claramente definidas pelos próprios atores, muito menos pelos pesquisadores observando uma situação dinâmica de outro contexto cultural.

Ao arriscar uma simplificação excessiva, apenas a essência dessas definições de ideologia se segue, da mais ampla a mais restrita:

as ideias, crenças e valores produzidos por processos materiais (enfatizando a produção social de pensamento);

os ideais e crenças (falsos ou verdadeiros) de um grupo ou uma classe espe-cífica e socialmente significante;

a promoção ou legitimação dos interesses de tal grupo;a promoção dos interesses do grupo dominante;a legitimação dos interesses do grupo dominante através da distorção e dis-

simulação;

Page 140: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

138

as crenças enganosas que surgem não dos interesses do grupo dominante, mas da estrutura material da sociedade, como o fetichismo das mercadorias.

Assim, ideologias nem são necessariamente falsas, nem características ape-nas das classes no poder. Dependendo do seu foco, as ideologias podem levar a seis tipos de estratégias. Essas são a unificadora e homogeneizadora; a orientada à ação, ex., à prática; a racionalizadora; a legitimadora; a universalizante; e a naturalizadora. As últimas duas fazem parte de um impulso de-historizante que procura apagar o contexto social e remover qualquer base humana para crítica.

As definições cuidadosamente argumentadas por Eagleton ajudam para dis-tinguir entre os diversos usos de ‘ideologia’ na arqueologia histórica, particular-mente na distinção entre ideologia como “consciência falsa”, a definição atribuída ao Marxismo “padrão”, e ideologia como a totalidade da consciência social, uma definição que equaciona a ideologia com cultura (vide McGuire, 1988, 1991). A última definição é frequentemente ampla demais para permitir análises úteis da ideologia por si. Apesar do conceito de ideologia como consciência falsa ter perdido força (Abercrombie e ali, 1980; Eagleton, 1991:10), tem sido em-pregado com sucesso na arqueologia histórica, particularmente para estimular uma discussão contínua sobre a interação entre grupos sociais e entre ideologia e cultura material. Por exemplo, Leone (1984) emprega essa ideia na sua análise de uma ideologia naturalizadora através da cultura material de jardins em An-napolis, Maryland no século XVIII. Hodder (1986:63-70) tem criticado o uso da tese da ideologia dominante de Althusser (1971) empregada por Leone e essa crítica tem sido repetida por outros (Beaudry et ali, 1991; Hall, 1992; Johnson, 1989). Mesmo assim, a alternativa proferida baseada na crítica de Abercrombie e de seus co-autores (1980) – que os subordinados são constantemente cientes dos esforços de ofuscação ideológica pelo classe dominante e apenas as elites são enganadas pelas suas próprias estratégias de legitimação – parece ser uma alternativa hiperssimplificada. As definições estratificadas de Eagleton explicam que ideologias podem ser verdadeiras ou falsas ou, mais provavelmente, uma mistura das duas, e podem ser mantidas por grupos de poder estrutural variável. Wolf (1990:592-593) se inspira nas noções de Wallace (1970) de que os atores sociais não precisam entender os significados através das ações dos outros, mas sim saber como responder adequadamente. “Questões de significado não pre-cisam nunca aflorar à consciência” (Wolf, 1990:593). Conhecimento prático e ação têm que ser contrastados contra conhecimento discursivo, que é teorizado conscientemente (Feierman, 1990:27).

Kryder-Reid (1994), por exemplo, tem o cuidado de distinguir entre as diversas “leituras” que qualquer paisagem em particular possa instigar. Há men-

Page 141: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

139

sagens para muitas audiências, dominantes e dominadas: a casa principal e jardim esmerado de Charles Carroll de Carrollton em Annapolis podem não impactar aqueles que não entendem os princípios geométricos e as suas relações com as leis da natureza, mas indubitavelmente impressiona quanto ao dinheiro e poder coer-civo necessário para construir e manter um lugar como aquele. Se os indivíduos são “enganados” ou não pelas justificativas dos dominantes no seu controle de poder, eles provavelmente não duvidam que alguns grupos de fato possuem poder.

Esse exemplo da paisagem também enfatiza uma distinção entre ideologia vulgar e não vulgar empregada na arqueologia. Ideologia vulgar consiste no con-hecimento subjetivo e na explanação que serve a alguma classe social (Meltzer, 1981:114, seguindo Handsman, 1977). Ideologia vulgar, que engloba a terceira, quarta e quinta das definições de Eagleton, é potencialmente óbvia e penetrável por membros de uma cultura que podem reconhecer, se não efetivamente re-sistir, aos “argumentos” ideológicos usados na promoção de certos interesses. Uma mensagem explícita de um jardim georgiano geométrico de que a riqueza material é uma legitimação bem como uma expressão de poder social pode ser questionada, mas não efetivamente resistida. Ideologia não-vulgar, similar à definição mais estreita de Eagleton quanto às crenças deceptivas que emergem da estrutura material de uma sociedade, é o conhecimento tomado como objetivo e além de questionamento. Ideologia não-vulgar é mais difícil penetrar, pois forma a base para verdades aceitas como tais, por exemplo, a prescrição sobrenatural e natural. O argumento similar de que “a riqueza é igual ao poder” contém men-sagens implícitas, dado que os indivíduos ricos baseiam seu poder nos direitos naturais e nas leis de natureza e os expressam materialmente por meio de, por exemplo, instrumentos científicos (ex., Leone & Shackel, 1987) bem como de jardins formais (ex., Leone, 1984).

A resistência à ideologia dominante não necessita da retaliação completa da mesma, porém requer o entendimento do que esta exige e a realização ou rejeição de suas demandas. Na formação das suas próprias ideologias, os grupos subor-dinados incorporam, reformam, manipulam e apelam à ideologia dominante. A ideologia dominante, por sua vez, caso esteja operando de forma hegemônica, incorpora e reforma, cooptando as preocupações subordinadas nos seus próprios construtos. O movimento da reforma doméstica feminina do século 19 (ex., Spencer-Wood, 1991) fornece um exemplo desse processo dentro da ideologia de gênero.

O tema do poder é implícito na manipulação de ideologias e é oferecido cada vez mais como um foco central na investigação do capitalismo ou, de fato, de qualquer contexto onde a desigualdade é uma questão (Paynter, 1989; Payter

Page 142: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

140

& McGuire, 1991). Wolf (1990) reconhece o desconforto que o próprio termo “poder” cria e considera útil distinguir entre quatro modos de poder para trazer mais precisão ao conceito. O primeiro é poder como a capacidade, ou força, de uma pessoa; o segundo é poder como a capacidade de uma pessoa se impor sobre outra interpessoalmente; o terceiro é o poder tácito, que controla ambientes e contextos sociais; e o quarto é o poder estrutural, que aloca o trabalho social. O primeiro modo é o que Miller & Tilley (1984) e Paynter & McGuire (1991) chamam de “poder para”, enquanto os demais três são níveis crescentes de “poder sobre”. O tema do “poder” seria trivial na sua universalidade se não fosse por essa consideração explícita da sua heterogeneidade inerente. O contraste entre uma noção universal de poder e uma noção pluralista, contextualizada, de tipos variados de poder, é o que torna útil a noção. Outro sentido da heterogeneidade de poder precisa ser levado em conta. A dominação pode ser realizada através da coerção, legitimação ou de uma combinação das duas. Similarmente, a resistência pode ser evidente e violenta ou escondida nos atos do cotidiano.

Ao considerar diferentes modos de poder em contextos diferentes, se consegue também evitar a armadilha de apreciar poder de um ponto de vista puramente masculino, pois geralmente o foco normal sobre o poder constitui-se como peculiarmente masculino. Como Conkey & Gero (1991) assinalam, a tentativa de tornar a arqueologia mais sensível a questões de gênero pode requer mais atenção às relações interpessoais, analiticamente privilegiando menos o estado e o poder centralizados. A apreciação de várias escalas de poder e de várias formas de resistência e subversão é uma chave para abordar relações sociais.

A arqueologia histórica tem um potencial pouco explorado, porém largamente reconhecido, para a teorização, análise e descrição das estratégias de poder, das expressões de todos os níveis de ideologia e interações dinâmicas entre os que tentam dominar e os que tentam resistir. Na arqueologia de escravidão nos Estados Unidos, por exemplo, Epperson (1990) analisa a resistência oculta dos escravos em uma plantation nos estado de Virginia. Há muitos contextos históricos promissores para tais análises, incluindo a invasão europeia do Caribe no século XV, o surgimento de industrialismo no século XVIII, a expansão do Destino Manifesto do século XIX e ressurgimento indígena no século XX. Nenhum desses problemas pode ser abordado, porém, sem uma investigação completa da cultura material: os objetos que expressam relações sociais e reificam constructos e metáforas culturais.

a cultura material na negociação da ideologia: um exemPlo doS che-rokee hiStórico

Page 143: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

141

Durante os últimos anos têm se realizado muitos estudos sobre os significa-dos dos bens. Esses estudos provêm da museologia (ex., Craven, 1986; Lubar & Kingery, 1993), folclore (ex., St. George, 1988), história social (ex., Isaac, 1982; Schama, 1987), estudos americanos (ex., Lears, 1981; Schlereth, 1985) e história da arquitetura e da paisagem (ex., Herman, 1984; Stilgoe, 1982; Upton, 1986; Upton & Vlach, 1986), em adição à antropologia cultural (ex., Appadurai, 1986; Bourdieu, 1984; Douglas & Isherwood, 1979; Fowler, 1987; Ingersoll & Bronitsky, 1987; McCracken, 1988; McKendrick et ali, 1982; Reynolds & Stott, 1987; Scott, 1985). Há também uma grande quantidade de estudos em arqueo-logia (ex., Burley, 1989; Deetz, 1988b; Hodder, 1979, 1989; Little & Shackel, 1992; Neiman, 1978; Schiffer, 1991; Tilley, 1990; Wobst, 1977; Yentsch, 1991b). Estudos consistentes sobre cultura material têm aumentado significantemente no decorrer da ultima década.

Sem ser confinada a questões de cronologia ou função, a arqueologia histórica está começando a voltar o foco para a investigação dos significados no contexto. Contextos são definidos em diferentes escalas espaciais – global, regional, local, moradia –, como mencionado acima, e temporais – longue durée, tempo social, evento (ex., Little & Shackel, 1989; Paynter, 1988, Shackel, 1993a). Muitos desses estudos bebem do trabalho do Pierre Bourdieu & Mary Douglas, bem com de Anthony Giddens e Michel Foucault (vide Shackel & Little, 1992).

Um breve estudo de caso dos Cherokee do estado de Georgia no século XIX integra os significados de cultura material com a resistência e tentativa de negociação de um grupo à ideologia dominante. Parte da ideologia não-vulgar dominante desse grupo trata do franco progresso da civilização: a ideologia vulgar que é desafiada através da cultura material e imaterial é a rigidez da expressão de civilização. Todos os modos de poder proposto por Wolf entram em jogo, mas o pode tácito é de importância particular, pois dominantes e dominados lutam por cenários sociais aceitáveis. A heterogeneidade que o grupo resistente tenta forçar dentro da hegemonia do grupo dominante falha. Ao invés de incorporar um desafio efetivo e convincente à sua própria ideologia, o grupo dominante depende da força brutal para eliminar a ameaça. Esse exemplo é ofertado não como uma ilustração de pesquisa arqueológica-histórica primorosa – a arqueologia foi realizada décadas atrás e foi pobremente documentada e de difícil interpre-tação – mas, sim, como um caso da investigação ampla de um contexto em que uma cultura do capitalismo impactou e foi desafiado por povos “sem história.” Eu simplifiquei o desafio e a resposta. Nem o grupo dominante, nem o dominado agiram uniformemente; as suas ações e desejos não eram monolíticos. Antes, havia facções em ambos os lados envolvidas em uma dinâmica de poder e em

Page 144: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

142

embates ideológicos intragrupo. Ao considerar o contato entre Nativos Americanos e Europeus Americanos

no início do século XIX, temas como civilização, ideologia e aculturação se fa-zem úteis. Os Cherokee consideram necessário se apresentar de uma maneira a serem compreendidos pelos brancos como “civilizados” e, simultaneamente, a manter sua identidade como Cherokee (ex., Purdue, 1979; Persico, 1979). Eles aceitaram e manipularam de forma seletiva essa ideia estrangeira de civilização, expressando através de cultura material tanto a adoção de “maneiras brancas” quanto a preservação da sua própria tradição. Sua situação era complicada pela coalescência do nacionalismo nos Estados Unidos: o cidadão modelo estava no processo de definição, e o Índio não era Ele.

A capital cherokee de New Echota, estabelecida no noroeste do estado da Georgia, é uma personificação da exibição cherokee mais explícita dessa ideologia branca de civilização e uma tentativa final, e desesperada, de preservar sua terra e nação. New Echota era em muitos sentidos o ápice do contato intercultural prolongado. Até as primeiras décadas do século XIX os Cherokee sofreram mu-danças significativas. Como em outras sociedades indígenas, todos os aspectos da vida foram afetados. A economia mudou assim que os Cherokee começaram a caçar para fornecer o comércio de peles, começaram a criar gado e outros animais e intensificaram a agricultura. Casamentos interétnicos trouxeram estranhos à comunidade. Relações de gênero mudaram com a influência do patriarcalismo europeu. As regras de nomeação e de herança mudaram. A comunidade de aldeias autônomas se transformou em um “estado teocrático” e depois em uma nação. As cerimônias tradicionais foram alteradas e diminuíram. Os missionários pro-moveram não apenas a Cristandade, mas também o comportamento e a cultura material apropriados à sua civilização. As missões estabeleceram escolas e igrejas e ensinaram os valores do individualismo e do capitalismo, bem como estilos apropriados de roupa, cabelo, fala e maneirismos. A propriedade e a riqueza se tornaram valorizados e o igualitarismo desapareceu. A economia de plantation, a propriedade de pessoas escravizadas negras e o racismo foram adotados (Gearing, 1962; Mooney, 1900, 1975; Perdue, 1979; ronda & Axtell, 1978).

Começando a partir de um tratado em 1721, as terras dos Cherokee di-minuíram em passo constante. Até o final do século XVIII pouco havia restado do território original, que foi ainda mais reduzido através de cessões em 1804, 1805, 1806, 1816, 1817 e 1819. Até 1808 a pressão do governo aumentou para que os Cherokee trocassem suas terras por propriedades ao oeste do Rio Mississippi, e até 1817 alguns milhares de Cherokee tinham emigrado para o estado de Arkansas.

Os Cherokee responderam a essa pressão com manobras políticas. É difi-

Page 145: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

143

cilmente uma coincidência que as primeiras regras do Cherokee Nacional Council tenham sido estabelecidas em 1808, e que os “Articles of 1817” criaram o Grand Council. Em 1820, o Council estabeleceu um governo republicano, com oito distritos elegendo representantes ao Council. Em 1825 planos foram feitos para a capital permanente em New Echota, que foi levantada e estabelecida no ano seguinte. O ministro presbiteriano, Worcester, mudou-se de Brainerd para a nova capital e fundou uma casa missionária.

A alfabetização cherokee também foi possível nos anos 20 do século XIX. Sequoyah submeteu seu silabário ao Council em 1821 e dentro de poucos anos foi estabelecido um jornal nacional publicado em New Echota em cherokee e inglês. A primeira edição do Cherokee Phoenix foi publicada em 28 de fevereiro de 1828. Impressa em inglês e cherokee, o jornal promoveu a alfabetização, mas também insistiu no status igual entre as duas línguas e culturas. O nome do jornal fora inspirado na mitologia ocidental, mas se refere ao renascimento do povo cherokee de um modo de vida antigo que agora era impossível de se manter.

New Echota foi criado pelos Cherokee como a capital de uma nova nação com uma constituição (em 1827) e governo republicano, alfabetização, imprensa, um jornal nacional, cristandade e uma força policial para proteger propriedade – em suma, todos os ingredientes explícitos para o que era entendido por “civilização”.

New Echota continha as evidências concretas da cultura material atestando a um povo que se apresentava como civilizado. Também continha evidências de um povo que se considerou como separado da cultura branca, sendo distintamente Cherokee [veja, por exemplo, os escritos de Elias Boudinot, editor do Pheonix (citado em Perdue, 1983)]. Evidências preliminares sugerem que enquanto alguns dos elementos mais externos e visíveis de cultura material, particularmente a arquitetura e o padrão de assentamento planejado (Pillsbury, 1983; Wilms, 1974), seguiram as regras dos brancos, os elementos menos visíveis, particularmente objetos utilizados em espaços domésticos ou em espaços com audiências limitadas, preservaram a cultura tradicional.

Tal divisão por si tem implicações para a adoção da dicotomia branca entre o público e o privado e para o papel de mulheres e homens em esferas separadas. Outros estudos de arqueólogos históricos sobre o contato indígena – europeu (ex., Deagan, 1983; Deetz, 1963) têm atribuído a manutenção da cultura tradi-cional, mantida privada dentro de moradias, às mulheres. Como Perdue (1979) menciona, os papeis das mulheres cherokee tinham mudado drasticamente no século XIX. É provável que um dos papéis novos das mulheres fosse manter de forma discreta certas práticas tradicionais, inclusive a fabricação e a decoração da cerâmica.

Page 146: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

144

Escavações arqueológicas no sítio New Echota foram realizadas em 1954 (De-Baillou, 1955) e 1969 (Baker, 1970). As descrições de materiais domésticos são breves, mas provocantes, e sugerem a coexistência de cerâmicas de procedência europeia e indígena, assim como tecnologia construtiva que combinava atributos indígenas e europeus. Cerâmicas cherokee foram encontradas na totalidade de uma das escavações em associação direta com cerâmicas europeias, algumas das quais representavam conjuntos de chá de alto status (Baker, 1970:22; DeBaillou, 1955:26). Madeiras de construção produzidas para a economia anglo-americana foram empregadas de uma “maneira indígena antiga”, de acordo com DeBaillou (1955:21).

Existem algumas anotações e mapas e um breve relatório sobre as escavações extensivas do ano 1954. Dezoito “unidades” foram exploradas, cada um com pelo menos 33 metros (100 pés) de cada lado. Muitas das unidades são registradas simplesmente como tendo rendido “nada importante” ou por serem escassas. Feições como poços, porões e buracos de refugo foram escavados dentro de seis das unidades maiores. O controle estratigráfico pode ter sido praticado em campo, mas a proveniência dos artefatos foi registrada apenas em referência aos vestígios citados. Depois analisar o material disponível de 11 das 21 feições em cinco unidades, descobri que 9 feições exibiram uma mistura de materiais de origem indígena e europeia. Lascas retocadas e fragmentos de vidro retocados provavelmente serviram às mesmas funções. Parte de uma paleta de ardósia incisa e fragmentos cerâmicos similares ao Lamar [uma cerâmica indígena], a maioria sem decoração, mas alguns com estampas complexas, apareceram com fragmentos de uma xícara de chá de pearlware pintada à mão e com um fragmento de grés de um vasilhame de armazenamento. Um cachimbo de pedra e utensílios em estanho foram encontrados juntos em um buraco de refugo2.

A cultura material foi usada para adotar e rejeitar os objetos dos brancos e seus usos. A invenção pelos Cherokee de um alfabeto exemplifica essa função dual. Um alfabeto foi adotado, mas não era o correto, ou seja, a língua inglesa civilizada. A invenção de letras por Sequoyah para a língua cherokee tem sido considerada como progressiva e como uma indicação de inteligência (ex., McGinty, 1955; Self, 1955), mas foi mais que um exemplo de “alcançar” à civilização. Foi uma adoção e adaptação de uma parte da civilização branca aos termos cherokee.

2 Uma avaliação quantificada completa necessita aguardar a reconstrução ampla das pesquisas arque-ológicas realizadas no New Echota. Eu examinei artefatos que tenham sido acondicionados no New Echota State Park e removidos ao Office of the State Archaeologist no West Georgia College no verão de 1992. Apesar de haver referências ao um relatório final das escavações coordenadas por Baker, não foi possível o localizar. Limitei as minhas observações aos estudos anteriores para quais foi possível correlacionar artefatos com proveniência.

Page 147: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

145

As contra ações e adaptações por povos nativos às demandas contínuas de uma cultura invasora e dominante permitem perceber a perspectiva ideológica dos não dominantes quanto à questão da aculturação. Etnocídio e etnogênese são de interesse central para ambos a cultura dominante e os que resistem. Os Cherokee resistiram à destruição total da sua cultura e à criação de uma cultura que seria definida apenas pelos missionários, agentes do governo e outros bran-cos. Em vez disso, a etnogênese dos próprios Cherokee foi de uma identidade cherokee alterada.

O caso da New Echota fornece um exemplo dos usos e significados alterna-tivos de cultura material, incluindo, mas não se limitando, ao uso de artefatos simbólicos na negociação de direitos políticos ou sociais. Depois da guerra da revolução americana, os Cherokee foram instigados a inventar métodos pacíficos de negociação em uma situação desesperada e em face ao racismo. Um método promoveu a adoção dos símbolos e estruturas da civilização branca. Outros tipos de cultura material foram empregados para manter e recriar uma versão cherokee de civilização.

Uma grande quantidade de estudos acadêmicos da história e antropologia tem sido publicada sobre os Cherokee históricos (ex., Gearing, 1962; King, 1979; McLoughlin, 1984, 1986; Mooney, 1900, 1975; Perdue, 1979, 1983, 1989). Há, entretanto, pouca atenção específica à New Echota como lugar importante na estratégia cherokee para sobrevivência. Mas é um lugar essencial, especialmente para compreensão das estratégias de uma cultura que tradicionalmente colocou grande ênfase nos lugares da paisagem.

Como New Echota foi ocupada apenas brevemente pelos Cherokee (1826 – 1838), o sítio fornece um ambiente material focado em um período de grande importância política e social na sua história. A cultura material dessa capital per-sonifica uma tentativa da criação de uma civilização sincrética, Cherokee e Branca.

Sumário

Conflitos nas relações entre Americanos de descendência indígena, africana, europeia e asiática se iniciaram com os primeiros contatos e continuaram ao longo dos séculos XVIII e XIX e além. As penetrantes promessas do capitalismo estavam sendo realizadas: em troca da participação no mercado, a assimilação cultural e a conformidade, ter-se-ia liberdade individual e um lugar na nova república. Mas racismo, nacionalismo e etnocentrismo foram empregados para negar essa promessa aos grupos indígenas, bem como aos negros e mulheres. O Índio Americano era um tipo especial de “outro” no Novo Mundo, mas não havia espaço na ideologia dominante para outra versão da promessa; não havia lugar para

Page 148: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

146

o que podia ser percebido como uma imitação ou reflexão distorcida do “nós”. Como a conformidade cultural não podia ser completa, o destino manifesto do capitalismo não podia tolerar o desafio. Apesar de uma decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos favorável aos Cherokee manterem o título e a posse das suas terras, o presidente Andrew Jackson ordenou a sua revogação. Praticamente to-dos os Cherokee foram removidos à força para reservas no estado de Oklahoma no “Caminho de Lágrimas” de 1838 a 1839. Suas terras foram distribuídas por sorteio a brancos georgianos. Para a maioria dos Cherokee, a etnogênese tinha que continuar em terras estrangeiras.

O uso da aculturação levando à assimilação como um processo explanatório para medir influência cultural induz a uma interpretação dos Cherokee como Nativos Americanos tentando ser “brancos” e “civilizados”, mas não conseguindo chegar até o objetivo – perdendo a questão devido à retenção de elementos de sobrevivências do passado indígena pré-histórico. Ao invés disso, uma abordagem que incorpora ideologia, hegemonia e negociação pode revelar e criar interpre-tações mais satisfatórias que admitem a agência humana enquanto indivíduos e grupos competem e tentam “trabalhar o sistema para minimizar sua desvantagem” (Scott, 1985:xv).

Sider (1976) destaca que há geralmente duas visões quanto às opções dis-poníveis aos povos indígenas em face aos poderes colonizadores. Uma é estagnação, onde a cultura é preservada estaticamente e o povo empobrecido. A outra é o progresso ou o desenvolvimento econômico, com as suas pressões consequentes para assimilação completa. A ausência da etnogênese entre essas opções, Sider escreve, é uma falha do capitalismo. Eu sugiro, porém, que a falha em reconhecer etnogênese como opção e processo seja um resultado direto da falta de considerar a dinâmica dos contextos do capitalismo nas nossas análises.

PerSPectiVa

Deagan (1982:170) reconhece uma pergunta sobre se a arqueologia histórica deveria ou não se preocupar com o “clima intelectual” que existia quando foram criados os sítios arqueológicos. Essa questão ainda se coloca, mas agora deveria haver pouco debate sobre se o clima intelectual na forma de relações sociais e políticas, ideologia e visão do mundo – em suma, a totalidade de cultura ao invés de artefatos descontextualizados – é de fato o foco apropriado da arqueologia histórica. Atenção crescente será dada aos contextos complexos iluminados pela arqueologia histórica enquanto a antropologia cultural continua a reconhecer a necessidade não apenas do contexto histórico (ex., Dening, 1988; Sahlins, 1981, 1985; Wolf, 1982), mas também da cultura material (ex., Fowler, 1987;

Page 149: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

147

Reynolds & Stott, 1987). A arqueologia histórica já era praticada há muito tempo nos Estados Unidos

até o momento da sua descoberta pela Nova Arqueologia, que insistiu na sua incorporação dentro da arqueologia antropológica. Desde os anos 60, e particu-larmente desde 1967, quando a Society for Historical Archaeology foi formada, a disciplina tem crescido. Apesar da sua incorporação na arqueologia antropológica, a sua aceitação na mesma tem sido defasada. Frequentemente o primo pobre e serva da pré-história, que por si própria sofre de um status reduzido pela discip-lina mãe, a arqueologia histórica tem sido repetitivamente relegada ao papel de fornecer de contos, ilustrações e laboratórios controlados para métodos a serem refinados para uso nos dados “reais” dos sítios pré-históricos. Apesar do otimismo de Deagan (1982: 154) de que a ambivalência para a legitimidade da arqueologia histórica tivesse sido resolvida, ainda se encontra a atitude de que a arqueologia histórica atua numa liga amadora, onde apenas a simples confirmação dos “fatos” históricos é o objetivo principal.

Em 1982 Deagan (1982:172) podia sensatamente escrever que “avanços contemporâneos sugerem que uma disciplina distinta está de fato emergindo.” Certamente existe uma disciplina de arqueologia histórica; esta tem emergido como antropologia histórica material. A crise da disciplina que fervia nos anos 60, sobre se a história ou antropologia seria a disciplina mãe apropriada, acabou. “Nas suas abordagens sobre o passado, há frequentemente pouca diferença hoje entre os estudos em arqueologia histórica, antropologia cultural e história social” (Deagan, 1988:7). Existem muitas questões que importam; há métodos sendo refinados e desenvolvidos para abordá-las e há um sentimento forte do contexto contemporâneo da arqueologia e a responsabilidade que tal reconhecimento exige. Dadas as realizações e a produtividade da disciplina, porque ainda há uma crise na arqueologia histórica? A crise atual é uma de arranjo profissional. A arqueologia histórica é interdisciplinar; ela ainda é uma intrusa. Sua própria gênese disciplinar como um empreendimento social e histórico, uma busca útil para, mas não de-vedora à busca do método por pré-historiadores, está dolorosamente em curso.

agradecimentoS

Muitas pessoas leram, comentaram e melhoraram esse artigo através do seu encorajamento e crítica. Agradeço a Mike Schiffer pelo convite de contribuir para essa série e pelos seus comentários úteis. Gostaria também de agradecer a Chuck Orser e muitos revisores anônimos pelas suas ideias e entusiasmo. Sou grata a Kathy Deagan, Eric Larsen, Mark Leone, Mike Lucas, Terry Majewski, Bob Schuyler, Paul Shackel, Suzanne Spencer-Wood, Bruce Trigger e Kirsti Uunila por

Page 150: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

148

terem tido tempo para ler o manuscrito e oferecer opiniões. Agradeço a George Stuart por ter me direcionado inicialmente ao material de New Echota e a Lewis Larson por gentilmente ter coletado os artefatos e me proporcionado um lugar para examiná-los no West Georgia College. Devo um agradecimento especial para Tom Patterson que me indicou uma literatura que teria passado despercebida e cuja leitura cuidadosa e comentários têm expandido meu próprio pensamento. Não posso culpar nenhum desses indivíduos por qualquer falha no presente texto, e lhes agradeço por ter auxiliado no seu melhoramento.

Page 151: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

149

referênciaS citadaS

ABERCROMBIE, N., HILL, S., & TURNER, B. S. 1980. The Dominant Ideology Thesis. George Allen & Unwin, London.

ALTHUSSER, L. 1971. Lenin and Philosophy. Monthly Review Press, New York.

APPADURAI, A. 1986. The Social Life of Things, Commodities in Cultural Perspective. Cambridge University Press, Cambridge.

BAKER, S. G. 1970. New Echota Archaeology 1969, a Progress Report. Submitted to Georgia Historical Commission.

BARNETT, S., & SILVERMAN, M. G. 1979. Ideology and Everyday Life, Anthropology, Neomarxist Thought and the Problem of Ideology and the Social Whole. University of Michigan Press, Ann Arbor.

BEAUDRY, M. C. 1984. Archaeology and the historic household. Man in the Northeast 28:27-38.

BEAUDRY, M. C. (ed.). 1988. Documentary Archaeology in the New World. Cambridge University Press, Cambridge.

BEAUDRY, M. C. 1989. The Lowell Boott Mills Complex and its housing: Mate-rial expressions of corporate ideology. Historical Archaeology vol. 23, nº 1: 19-33.

BEAUDRY, M. C., & MROZOWSKI, S. 1988. The archaeology of work and home life in Lowell, Massachusetts: An interdisciplinary study of the Boott Cotton Mills Corporation. Industrial Archaeology vol. 19, nº 2: 1-22.

BEAUDRY, M. C., & MROZOWSKI, S. 1989. Interdisciplinary Investigations of the Boott Mills Lowell, Massachusetts. Vol. III. The Boarding House System as a Way of Life. Cultural Resources Management Series 21, National Park Service, North Atlantic Regional Office, Boston.

BEAUDRY, M., COOK, L. J., & MROZOWSKI, S. A. 1991. Artifacts and active voices: Material culture as social discourse. In MCGUIRE, R. H., & PAYNTER, R. (eds.), The Archaeology of Inequality. Basil Blackwell, Oxford, pp.150-191.

BINFORD, L. R. 1977. Introduction. In Binford, L. R. (ed.), For Theory Building in Archaeology. Academic Press, New York.

BINFORD, L. R. 1981. Bones: Ancient Men and Modem Myths. Academic Press, New York.

BLAKELY, R. L. (ed.). 1988. The King Site: Continuity and Contact in Sixteenth-Century Georgia. University of Georgia Press, Athens.

Page 152: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

150

BLAKEY, M. L. 1983. Socio-political bias and ideological production in historical archaeology. In Gero, J. M., Lacy, D. M., & Blakey, M. L. (eds.), The Socio-Politics of Archaeology, Research Reports Nº 23, Department of Anthropology, University of Massachusetts, Amherst, pp. 5-16.

Boone, J. L., Myers. J. E., & Redman, C. L. 1990. Archeological and historical approaches to complex societies. American Anthropologist vol. 92: 630-646.

BOURDIEU, P. 1984. Distinctions, a Social Critique of the Judgment of Taste (NICE, R., trans.), Harvard University Press, Cambridge, MA.

BRUMFIELD, E. M. 1992. Distinguished lecture in archeology: Breaking and enter-ing the ecosystem- gender, class, and faction steal the show. American Anthropologist vol. 94: 551-567.

BURLEY, D. V. 1989. Function, meaning and context: Ambiguities in ceramic use by the Hivernant Metis of the northwest plains. Historical Archaeology vol. 23, nº 1: 97-106.

CLELAND, C. E. 1988. Questions of substance, questions that count. Historical Archaeology vol. 22, nº 1: 13-17.

CONKEY, M. W., & GERO, J. M.. 1991. Tensions, pluralities, and engendering ar-chaeology: An introduction to women and prehistory. In GERO, J., & CONKEY, M. W. (eds.), Engendering Archaeology, Women and Prehistory. Blackwell, pp. 3-30, Oxford.

COSTELLO, J. G., & MANIERY, M. L. 1988. Rice Bowls in the Delta: Artifacts Recovered from the 1915 Asian Community of Walnut Grove. California, Occasional Paper 16, UCLA Institute of Archaeology, Los Angeles.

COTTER, J . (ed.). 1984. The Scope of Historical Archaeology, Temple University Press, Philadelphia.

COTTER, J. L., ROBERTS, D. G., & PARRINGTON, M. 1992. The Buried Past, an Archaeological History of Philadelphia, University of Pennsylvania Press, Philadelphia.

CRAVEN, W. 1986. Colonial American Portraiture. Cambridge University Press, Cambridge.

DEBAILLOU, C. 1955. Excavations at New Echota in 1954. Early Georgia 1: 18-29.

DEAGAN, K. 1982. Avenues of inquiry in historical archaeology. In SCHIFFER, M. B. (ed.), Advances in Archaeological Method and Theory, Vol. 5, Academic Press, pp. 151-177. New York..

Page 153: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

151

DEAGAN, K. 1983. Spanish St. Augustine, The Archaeology of a Colonial Creole Com-munity. Academic Press, New York.

DEAGAN, K. 1988. Neither history nor prehistory: The questions that count in historical archaeology. Historical Archaeology 22(1): 7-12.

DEETZ, J. 1963. Archaeological Investigations at La Purisima Mission. UCLA Archaeo-logical Survey Annual Report 1962-1963, pp. 163-208.

DEETZ, J. 1977. In Small Things Forgotten: The Archaeology of Early American Life. Anchor Press/Doubleday, Garden City, NY.

DEETZ, J. 1983. Scientific humanism and humanistic science: A plea for paradigmatic pluralism in historical archaeology. Geoscience and Man vol. 23: 27-34.

DEETZ, J . 1988a. History and archaeological theory: Walter Taylor revisited. Ameri-can Antiquity vol. 53: 13-22.

DEETZ, J. 1988b. American historical archaeology: Method and results. Science vol. 239: 362-367.

DENING, G. 1988. History’s Anthropology. the Death of William Gooch, Special Publica-tion of the Association for Social Anthropology in Oceania nº. 2, University Press of America, Lanham, MD.

DIAMOND, S. 1974. In Search of the Primitive, a Critique of Civilization. Transaction Books, New Brunswick, NJ.

DICKENS, R. (ed.). 1982. Archaeology of Urban America: The Search for Pattern and Process, Academic Press, New York.

DOBYNS, H. 1983. Their Number Become Thinned: Native American Population Dynamics in Eastern North America, University of Tennessee Press, Knoxville.

DOUGLAS, M., & ISHERWOOD, B. 1979. The World of Goods. Basic Books, New York.

DYSON, S. L. (ed.).1985. Comparative Studies in the Archaeology of Colonialism, BAR International Series 233, Oxford.

EAGLETON, T. 1991. Ideology, an Introduction, Verso, New York.

EARLE, T., & PREUCEL, R. 1987. Processual Archaeology and the Radical Critique. Current Anthropology vol. 28: 501-527.

EISENSTEIN, E. 1983. The Printing Revolution in Early Modern Europe, Cambridge University Press, Cambridge.

Page 154: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

152

EPPERSON, T. W. 1990. Race and discipline of the plantation. In ORSER, C. E. (ed.), Historical Archaeology on Southern Plantations and Farms, Historical Archaeology, vol. 24, nº. 4, pp. 29-36.

EWEN, C. R. 1991. From Spaniard to Creole, the Archaeology of Cultural Formation at Puerto Real, Haiti, University of Alabama Press. Tuscaloosa.

FALK, L. (ed.) 1991. Historical Archaeology in Global Perspective. Smithsonian Institu-tion Press, Washington, DC.

FARNSWORTH, P. (1989). Native American acculturation in the Spanish Colonial Empire: The Franciscan missions of Alta California. In CHAMPION, T. C. (ed.), Centre and Periphery, Comparative Studies in Archaeology, Unwin Hyman, London.

FARNSWORTH, P., & WILLIAMS, J. S. (eds.).1992. The archaeology of the Spanish Colonial and Mexican Republican periods. Historical Archaeology vol. 26, nº. 1.

FAULKNER, A,, & FAULKNER, G. (1987). The French at Pentagoet 1625-1674: An Archaeological Portrait of the Acadian Frontier, Maine Historic Preservation Commission, Augusta; New Brunswick Museum, St. Johns.

FEIERMAN, S. 1990. Peasant Intellectuals, Anthropology and History in Tanzania. Uni-versity of Wisconsin Press, Madison.

FELTON, L., & SCHULZ, P. 1983. The Diaz Collection: Material Culture and Social Change in Mid-Nineteenth-Century Monterey, California Archaeological Re-ports No. 23, State of California Department of Parks and Recreation, Cultural Resource Unit, Sacramento.

FERGUSON, L. G. 1992. Uncommon Ground: Archaeology and Colonial African-America. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

FITZHUGH, W. W. (ed.). 1985. Cultures in Contact: The Impact of European Contacts on Native American Cultural Institutions. A.D. 1000-1800. Smithsonian Institu-tion Press, Washington, DC.

FITZHUGH, W. W., & OLIN, J. S. (eds.) (1993). Archaeology of the Frobisher Voyages, Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

FOWLER, L. 1987. Shared Symbols, Contested Meanings, Gros Ventre Culture and History, 1778-1984, Cornell University Press, Ithaca, NY.

GATHERCOLE, P. 1984. A consideration of ideology. In SPRIGGS, M. (ed.), Marxist Perspectives in Archaeology, Cambridge University Press, Cambridge, pp. 149-154.

Page 155: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

153

GEARING, F. 1962. Priests and Warriors: Social Structures for Cherokee Politics in the 18th Century, Memoir No. 93, American Anthropological Association, Me-nasha, WI.

GEIER, C., & WINTER, S. (eds.). 1994. Look to the Earth: The Archaeology of the Civil War. University of Tennessee Press, Knoxville (in press).

GEISMAR, J. H. 1982. The Archaeology of Social Disintegration in Skunk Hollow. Aca-demic Press, New York.

GIBBON, G. 1989. Explanation in Archaeology. Basil Blackwell, Oxford.

GLASSIE, H. 1975. Folk Housing in Middle Virginia, University of Tennessee Press, Knoxville. In GOULD, R. A., & SCHIFFER, M. B. (eds.) 1981. Modem Material Culture: The Archaeology of Us, Academic Press, New York.

GREENWOOD, J. 1985. The Industrial Archaeology and Industrial History of Northern England, a Bibliography, Open University, Cranfield.

GUMS, B. L. 1988. Archaeology at French Colonial Cahokia, Studies in Illinois Archaeol-ogy No. 3, Illinois Historic Preservation Agency, Springfield.

HALL, M. 1992. Small things and the mobile, conflictual fusion of power, fear, and desire. In YENTSCH, A. E., & BEAUDRY, M. C. (eds.), Art and Mystery of Historical Archaeology: Essays in Honor of James Deetz, CRC Press, Boca Raton, FL, pp. 373-399.

HANDSMAN, R. G. 1977. The Bushkill Complex as an Anomaly: Unmasking the Ideology of American Archaeology, Ph.D. Dissertation, Department of Anthropology. American University, Washington, DC, University Microfilms, Ann Arbor, MI.

HANDSMAN, R. G. 1983. Historical archaeology and capitalism, subscriptions and separations: The production of individualism. North American Archaeologist vol. 4, nº 1: 63-79.

HANTMAN, J. 1990. Between Powhatan and Quirank: Reconstructing Monacan cul-ture and history in the context of Jamestown. American Anthropologist 92: 676-690.

HARDESTY, D. L. 1985. Evolution on the industrial frontier. In GREEN, S. W., & PERLMAN, S. M. (eds.), The Archaeology of Frontiers and Boundaries. Academic Press, Orlando/FL. pp. 213-230.

HARDESTY, D. L. 1988. The Archaeology of Mining and Miners: A View from the Silver State. Special Publication No. 6, Society for Historical Archaeology, California/;Pennsylvania.

HERMAN, B. L. 1984. Multiple materials, multiple meanings: The fortunes of Thomas Mendenhall. Winterthur Portfolio, vol. 19, nº1: 67-86.

Page 156: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

154

HODDER, I. 1979. Economic and social stress and material culture patterning. American Antiquity, Vol. 44: 446-454.

HODDER, I. (ed.) 1982a. Symbolic and Structural Archaeology. Cambridge University Press, Cambridge.

HODDER, I. 1982b. Symbols in Action. Cambridge University Press, Cambridge.

HODDER, I. 1985. Postprocessual archaeology. In SCHIFFER, M. B. (ed.). Advances in Archaeological Methods and Theory, Vol. 8: 1-26. Academic Press, New York.

HODDER, I. 1986. Reading the Past, Cambridge University Press, Cambridge.

HODDER, I. (ed.) 1989. The Meaning of Things, Material Culture and Symbolic Expres-sions. Unwin Hyman, London.

HODDER, I. 1991. Interpretive archaeology and its role. American Antiquity 56: 7-18.

HONERKAMP, N. 1988. Preface. Questions that count in historical archaeology. Historical Archaeology, vol. 22, nº1: 5-6.

HOOVER, R. L., & COSTELLO, J. G. (eds.). 1985. Excavations at Mission San Antonio, 1976-1978. UCLA Institute of Archaeology No. 26, Los Angeles.

HOWSON, J. E. 1990. Social relations and material culture: A critique of the archae-ology of plantation slavery. In ORSER, C. E., Jr. (ed.). Historical Archaeology on Southern Plantations and Farms, Historical Archaeology, Vol. 24, No. 4: 78-91.

HUDSON, K. 1979. World Industrial Archaeology. Cambridge University Press, Cambridge.

INGERSOLL, D. W., Jr., & BRONITSKY, G. (eds.) 1987. Minor and Metaphor: Mate-rial and Social Constructions of Reality, University Press of America, Lanham, MD.

ISAAC, R. 1982. The Transformation of Virginia 1740-1790. University of North Caro-lina Press, Chapel Hill.

JOHNSON, M. H. 1989. Conceptions of agency in archaeological interpretation. Journal of Anthropological Archaeology Vol. 8: 189-211.

KEEGAN, W. F. 1992. The People Who Discovered Columbus, University Press of Florida, Gainesville.

KELSO, W. M. 1984. Kingsmill Plantations 1619-1800: Archaeology of Country Life in Colonial Virginia. Academic Press, New York.

Page 157: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

155

KELSO, W., & MOST, R. (eds.) 1990. Earth Patterns: Essays in Landscape Archaeology. University Press of Virginia, Charlottesville.

KING, D. (ed.) 1979. The Cherokee Indian Nation. University of Tennessee Press, Knoxville.

KRYDER-REID, E. (1994). “As the Gardener, so is the garden”: The archaeology of landscape as myth. In SHACKEL, P. A,, & LITTLE, B. J. (eds.), The Historical Archaeology of the Chesapeake. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

LEARS, T. J. J. 1981. No Place of Grace. Antimodernism and the Transformation of American Culture 1880-1920. Pantheon Books, New York.

LEARY, T. E. 1979. Industrial archaeology and industrial ecology. Radical History Review Vol. 21: 171-182.

LEONE, M. P. 1977. Foreword. In SOUTH, S. ed. Research Strategies in Historical Archaeology. Academic Press, New York. Pp. xvii-xxi.

LEONE, M. P. 1982. Some opinions about recovering mind. American Antiquity Vol. 47: 742-760.

LEONE, M. P. 1984. Interpreting ideology in historical archaeology: Using the rules of perspective in the William Paca Garden in Annapolis, Maryland. In MILLER, D., & TILLEY, C. (eds.). Ideology, Power, and Prehistory. Cambridge University Press, London. pp. 25-36.

LEONE, M. P. 1988. The relationship between archaeological data and the documen-tary record: 18th-century gardens in Annapolis, Maryland. Historical Archaeology Vol. 22, nº1: 29-35.

LEONE, M. P. & POTTER, P. B., Jr. (eds.) 1988a. The Recovery of Meaning in Historical Archaeology in the Eastern United States. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

LEONE, M. P. & POTTER, P. B., Jr. 1988b. Introduction: Issues in historical ar-chaeology. In LEONE, M. P. & POTTER, P. B., Jr. (eds.). The Recovery of Meaning in Historical Archaeology in the Eastern United States. Smithsonian Institution Press, Washington, DC. pp. 1-22.

LEONE, M. P. & SHACKEL, P. A. 1987. Forks, clocks, and power. In INGERSOLL, D. (ed.), Mirror and Metaphor: Material and Social Constructions of Reality. University Press of America, Lanham, MD. pp. 45-62.

LEONE, M. P., POTTER, P. B., Jr. & SHACKEL, P. A. 1987. Toward a crítical ar-chaeology. Current Anthropology, Vol. 28: 283-302.

Page 158: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

156

LEONE, M. P., LITTLE, B. J., WARNER, M. S., POTTER, P. B., Jr., SHACKEL, P. A., LOGAN, G. C., MULLINS, P. R., and ERNSTEIN, J. A. 1999. The con-stituencies for an archaeology of African Americans in Annapolis, Maryland. In SINGLETON, T. (ed.), “I Too Am America’? Studies in African American Archaeology, University Press of Virginia, Charlottesville.

LEWIS, K. 1984. The American Frontier: An Archaeological Study of Settlement Pattern and Process, Academic Press, New York.

LITTLE, B. J. 1988. Craft and culture change in the eighteenth-century Chesapeake. In LEONE, M. P., & POTTER, P. B., Jr. (eds.), The Recovery of Meaning. Smithson-ian Institution Press, Washington, DC. pp. 263-292.

LITTLE, B. 1992a. Text-Aided Archaeology. In LITTLE, B. J. (ed.), Text-Aided Ar-chaeology. CRC Press, Boca Raton, FL. pp. 1-6.

LITTLE, B. J. (ed.) 1992b. Text-Aided Archaeology, CRC Press, Boca Raton, FL.

LITTLE, B. J., & SHACKEL, P. A. 1989. Scales of historical anthropology: An ar-chaeology of colonial Anglo-America. Antiquity vol. 63: 495-509.

LITTLE, B. J., & SHACKEL, P. A. (eds.) 1992. Meanings and uses of material culture. Historical Archaeology, vol. 26, nº 3.

LUBAR, S., & KINGERY, W. D. (eds.) 1993. History from Things, Essays on Material Culture. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

MCCRACKEN, G. 1988. Culture and Consumption. New Approaches to the Symbolic Character of Consumer Goods and Activities. Indiana University Press, Bloom-ington.

MCDANIEL, J. M. & RUSS, K. C. (eds.) 1984. Historical Archaeology West of the Blue Ridge: A Regional Example from Rockbridge County. The James G. Leyburn Papers in Anthropology, Vol. 1. Liberty Hall Press, Washington and Lee University, Lex-ington, VA.

MCDONALD, J. D.. ZIMMERMAN, L. J., MCDONALD, A. L., TALL BULL, W., & RISING SUN, T. 1991. The northern Cheyenne outbreak of 1879: Using oral history and archaeology as tools of resistance. In MCGUIRE, R. H. & PAYNTER, R. (eds.). The Archaeology of Inequality. Basil Blackwell, Oxford. pp. 64-78.

MCGHEE, R. 1984. Contact between native North Americans and the medieval Norse: A review of the Evidence. American Antiquity Vol. 49: 4-26.

MCGINTY, J. R. 1955. Symbols of a civilization that perished in its infancy. Early Georgia Vol., l, nº 4: 14-17.

Page 159: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

157

MCGUIRE, R. H. 1982. The study of ethnicity in historical archaeology. Journal of Anthropological Archaeology, Vol. 1: 159-178.

MCGUIRE, R. H. 1988. Dialogues with the dead: Ideology and the cemetery. In LEONE, M. P. & POTTER, P. B.. Jr. (eds.). The Recovery of Meaning: Historical Archaeology in the Eastern United States. Smithsonian Institution Press, Wash-ington, DC. pp. 435-480.

MCGUIRE, R. H. 1991. Building power in the cultural landscape of Broome County, New York, 1880 to 1940. In MCGUIRE, R. H. & PAYNTER, R. (eds.), The Ar-chaeology of Inequality. Basil Blackwell, Oxford. pp. 102-124.

MCGUIRE, R. H. & PAYNTER, R. (eds.) 1991. The Archaeology of Inequality, Basil Blackwell, Oxford.

MCKEE, L., HOOD, V. P., & MACPHERSON, S. 1992. Reinterpreting the construc-tion history of the service area of the Hermitage Mansion. In LITTLE, B. J. (ed.), Text-Aided Archaeology. CRC Press, Boca Raton, FL. pp. 163-180.

MCKENDRICK, N., BREWER, J., & PLUMB, J. H. 1982. The Birth of a Consumer Society: The Commercialization of the Eighteenth Century, Indiana University Press, Bloomington.

MCLOUGHLIN, W. G. 1984. Cherokees and Missionaries 1789-1839. Yale University Press, New Haven.

MCLOUGHLIN, W. G. 1986. Cherokee Renascence in the New Republic. Princeton University Press, Princeton. NJ.

MELTZER, D. J. 1981. Ideology and material culture. In GOULD, R. A, & SCHIFFER, M. B. (eds.), Modem Material Culture, the Archaeology of Us. Academic Press, New York. pp. 113-125.

MILLER, D. & TILLEY, C. 1984. Ideology, power, and prehistory: An introduction. In MILLER, D., & TILLEY, C. (eds.). Ideology, Power, and Prehistory. Cambridge University Press, Cambridge. pp. 1-15.

MILLER, G. 1980. Classification and economic scaling of 19th-century ceramics. Historical Archaeology, Vol. 14: 1-41.

MILLER, G. 1991. A revised set of CC index values for classification and economic scaling of English ceramics from 1787 to 1880. Historical Archaeology Vol. 25, n°1: 1-25.

MILLER, H. 1986. Discovering Maryland’s First City: A Summary Report on the 1981-1984 Archaeological Investigations in St. Mary’s City Maryland. St. Mary’s City Archaeology

Page 160: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

158

Series No. 2. St. Mary’s City, MD.

MOONEY, J. 1900. Myths of the Cherokee. Bureau of American Ethnography, 19th Annual Report, 1897-1898, Washington, DC.

MOONEY, J. 1975. Historical Sketch of the Cherokee. Aldine, Chicago.

MROZOWSKI, S. L. 1988. Historical archaeology as anthropology. Historical Ar-chaeology Vol. 22, nº1: 18-24.

NEIMAN, F. D. 1978. Domestic architecture at the Clifts Plantation: The social context of early Virginia building. Northern Neck of Virginia Historical Magazine, Vol. 28: 3096-3128. Reprinted in UPTON, D., & VLACH, J. M. (eds.) 1986. Common Places: Readings in American Vernacular Architecture. University of Georgia Press, Athens. pp. 292-314

NEUMAN, R. W. (ed.) 1983. Historical archaeology of the eastern United States: Papers from the R. J. Russell Symposium. Geoscience and Man Vol. 26.

NOEL HUME, I. 1983. Martin’s Hundred. Alfred A. Knopf, New York.

NOEL HUME, I. 1964. Archaeology: Handmaiden to history. The North Carolina Historical Review. Vol. 41, nº2: 215-225.

ORSER, C. 1988a. The Material Basis of the Postbellum Tenant Plantation: Historical Archaeology in the South Carolina Piedmont. University of Georgia Press, Athens.

ORSER, C. 1988. Toward a theory of power for historical archaeology: Plantation and space. In LEONE, M. P. & POTTER, P. B., Jr. (eds.). The Recovery of Meaning: Historical Archaeology in the Eastern United States. Smithsonian Institution Press, Washington, DC. pp. 313-343

ORSER, C. 1989. On plantations and patterns. Historical Archaeology, Vol. 23, nº 2: 28-40.

ORSER, C. 1990a. Archaeological approaches to New World plantation slavery. In SCHIFFER, M. D. (ed.). Archaeological Method and Theory, Vol. 2:111-154. Uni-versity of Arizona Press, Tucson.

ORSER, C. (ed.) 1990b. Historical archaeology on southern plantations and farms. Historical Archaeology, Vol. 24, nº. 4.

OTTO, J. S. 1984. Cannon’s Point plantation 1794-1860: Living conditions and status patterns in the Old South. Academic Press, Orlando, FL.

Page 161: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

159

PASTRON, A. G. & HATTORI, E. M. (eds.) 1990. The Hoff Store Site and Gold Rush Merchandise from San Francisco, California, Special Publication No. 7. Society for Historical Archaeology, California, Pennsylvania. Press, Bloomington.

PATTERSON, T. C. 1999a. History and the post-processual archaeologies. Man, Vol. 24: 555-566.

PATTERSON, T. C. 1990b. Some theoretical tensions within and between the pro-cessual and postprocessual archaeologies. Journal of Anthropological Archaeology, Vol. 9: 189-200

PAYNTER, R. 1982. Model of Spatial Inequality: Settlement Patterns in Historical Archaeology, Academic Press, New York.

PAYNTER, R. 1985. Surplus Flow between Frontiers and Homelands. In GREEN, S. W. & PERLMAN, S. M. (eds.). The Archaeology of Frontiers and Boundaries. Academic Press, Orlando, FL. pp. 163-211.

PAYNTER, R. 1988. Steps to an archaeology of capitalism. In LEONE, M. P. & POT-TER, P. B., Jr. (eds.). The Recovery of Meaning: Historical Archaeology in the Eastern United States. Smithsonian Institution Press, Washington, DC. pp. 407-433.

PAYNTER, R. 1989. The archaeology of equality and inequality. Annual Review of Anthropology, Vol. 18: 369-399.

PAYNTER, R., & MCGUIRE, R. H. 1991. The archaeology of inequality: Material culture, domination and resistance. In MCGUIRE, R. H. & PAYNTER, R. (eds.). The Archaeology of Inequality. Basil Blackwell, Oxford. pp. 1-27.

PERDUE, T. 1979. Slavery and the Evolution of Cherokee Society 1540-1866. University of Tennessee Press, Knoxville.

PERDUE, T. (ed.) 1983. Cherokee Editor, the Writings of Elias Boudinot. University of Tennessee Press. Knoxville

PERDUE, T. 1989. The Cherokee. Chelsea House, New York.

PERSICO, V. R., Jr. 1979. Early nineteenth-century Cherokee political organization. In KING, D. H. (ed.). the cherokee indian nation. University of Tennessee Press, Knoxville. pp. 92-109

PILLSBURY, R. 1983. The Europeanization of the Cherokee settlement landscape prior to removal: A Georgia case study. Geoscience and Man Vo. 23: 59-69.

POSNANSKY, M. & DECORSE, C. R. 1986. Historical archaeology in sub-Saharan Africa - A review. Historical Archaeology, Vol. 20, nº 1: 1-14.

Page 162: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

160

POTTER, P. B., Jr. 1992. Middle-range theory, ceramics, and capitalism in 19th-century Rockbridge County, Virginia. In LITTLE, B. J. (ed.). Text-Aided Archaeology. CRC Press, Boca Raton, FL. pp. 9-24.

POTTER, S. R. 1993. Commoners, Tribute, and Chiefs; the Development of Algonquian Culture in the Potomac Valley. University Press of Virginia, Charlottesville.

PREUCEL, R. W. (ed.) 1991. Processual and Postprocessual Archaeologies; Multiple Ways of Knowing the Past, Occasional Paper No. 10. Center for Archaeological Investiga-tions, Southern Illinois University, Carbondale.

RAMENOFSKY, A. 1987. Vectors of Death: The Archaeology of European Contact. Uni-versity of New Mexico Press, Albuquerque.

RAPP, W. F. & BERANEK, S. K. 1984. The Industrial Archaeology of Nebraska. J-B, Crete, NE

RATHJE, W. L. 1979. Modern material culture studies. In SCHIFFER, M. B. (ed.). Advances in Archaeological Method and Theory, Vol. 2: 1-29. Academic Press, New York.

REDMAN, C. L. 1986. Qsar es-Seghir, An Archaeological View of Medieval Life. Academic. Press, New York.

REITZ, E. J. & SCARRY, M. 1985. Reconstructing Historic Subsistence with an Example from Sixteenth-Century Spanish Florida, Special Publication, No. 3. Society for His-torical Archaeology, California, PA.

REYNOLDS, B. & STOTT, M. A. (eds.) 1987. Material Anthropology, Contemporary Approaches to Material Culture. University Press of America, Lanham, MD.

ROGERS, J.. D. 1990. Objects of Change: The Archaeology and History of Arikara Contact with Europeans. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

ROGERS, J. D. & WILSON, S. M. 1993. Ethnohistory and Archaeology, Approaches to Postcontact Change in the Americas. Plenum, New York.

RONDA, J. P. & AXTELL, J. 1978. Indian Missions, a Crítical Bibliography. Indiana University

ROTHSCHILD, N. A. 1990. New York City Neighborhoods, the 18th Century. Academic Press, New York.

SAHLINS, M. 1981. Historical Metaphors and Mythical Realities, Special Publication of the Association for Social Anthropology in Oceania No. 1. University of Michigan Press, Ann.

SAHLINS, M. 1985. Islands of History, University of Chicago Press, Chicago.

Page 163: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

161

SANDE, T. A. 1976. Industrial Archaeology: A New Look at the American Heritage. S. Greene Press, Brattleboro. VT.

SCHAMA, S. 1987. The Embarrassment of Riches: An Interpretation of Dutch Culture in the Golden Age. Alfred Knopf, New York.

SCHIFFER, M. B. 1976. Behavioral Archaeology, Academic Press, New York.

SCHIFFER, M. B. 1988. The structure of archaeological theory. American Antiquity, Vol. 53: 461-485.

SCHIFFER, M. B. 1991. The Portable Radio in American life. University of Arizona Press, Tuscon.

SCHLERETH, T. J. (ed.) 1985. Material Culture, a Research Guide. University Press of Kansas, Lawrence.

SCHMIDT, T. J. (ed.) 1985. Historical Archaeology: A structural approach in African Culture. Greenwood Press, Westport, CT.

SCHRIRE, C. & MERWICK, D. 1991. Dutch-indigenous relations in New Netherland and the Cape in the seventeenth century. In FALK, L. (ed.), Historical Archaeology in Global. Perspective. Smithsonian Institution Press, Washington, DC. pp. 11-20.

SCHUYLER, R. L. 1970. Historical and historic sites archaeology as anthropology: Basic definitions and relationships. Historical Archaeology, Vol. 4: 83-89.

SCHUYLER, R. L. 1976. Images of America: The contribution of historical archaeol-ogy to national identity. Southwestern Lore, Vol. 42, nº 4: 27-39.

SCHUYLER, R. L. (ed.) 1982. Urban Archaeology in America. North American Ar-chaeologist, Vol. 3, nº 3. Baywood, Farmingdale, NY

SCHUYLER, R. L. 1988. Archaeological remains, documents, and anthropology: A call for a new culture history. Historical Archaeology, Vol. 22, nº1: 36-42.

SCOTT, D. D. & FOX, R. A,, Jr. 1987. Archaeological Insights into the Custer Battle, an Assessment of the 1984 Field Season. University of Oklahoma Press, Norman.

SCOTT, D. D., FOX, R. A,, Jr., CONNER, M. A,, & HARMON, D. 1989. Archaeo-logical Perspectives on the Battle of the Little Bighorn. University of Oklahoma Press, Norman.

SCOTT, J. C. 1985. Weapons of the Weak, the Everyday Forms of Peasant Resistance. Yale University Press, New Haven, CT.

SCOTT, P. E. & DEETZ. J. 1990. Building, furnishings and social change in early

Page 164: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

162

Victorian Grahamstown. Social Dynamics, Vol. 16nº 1: 76-89.

SEIFERT, D. J. (ed.) 1991. Gender in historical archaeology. Historical Archaeology, Vol. 25, No. 4.

SELF, R. D. 1955. Chronology of New Echota. Early Georgia, Vol. 1, nº 4: 3-5.

SHACKEL, P. A. 1993a. A Historical Archaeology of Personal Discipline and Material Culture in the Chesapeake. University of Tennessee Press, Knoxville.

SHACKEL, P. A. (ed.) 1993b. Interdisciplinary Investigations of Domestic Life in Govern-ment Block B: Perspectives on Harpers Ferry’s Armory and Commercial District, National Park Service. National Capital Region, Occasional Report No. 6.

SHACKEL, P. A. & LITTLE, B. J. 1992. Post-processual approaches to meanings and uses of material culture in historical archaeology. In LITTLE, B. J. & SHACKEL, P. A. (eds.). Meanings and Uses of Material Culture, Historical Archaeology, Vol. 26, No. 3: 5-11.

SHACKEL, P. A, & LITTLE, B. J. (eds.) 1994. The Historical Archaeology of the Chesa-peake. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

SHANKS, M. & TILLEY, C. 1987. Re-Constructing Archaeology Theory and Practice. Cambridge University Press, Cambridge.

SICHONE, O. B. 1989. The development of an urban working-class culture on the Rhodesian Copperbelt. In MILLER, D., ROWLANDS, M. & TILLEY, C. (eds.). Domination and Resistance. Unwin Hyman, London. pp. 290-298.

SIDER, G. M. 1976. Lumbee Indian cultural nationalism and ethnogenesis. Dialectical Anthropology, Vol. 1: 161-172

SINGLETON, T. (ed.) 1985. The Archaeology of Slavery and Plantation Life. Academic Press. New New York.

SINGLETON, T. 1999. “I Too Am America”: Studies in African American Archaeology, university of Virginia Press, Charlottesville.

SMITH, M. T. 1987. Archaeology of Aboriginal Culture Change in the Inferior Southeast: the Indian Depopulation During the Early Historic Period. University Presses of Florida, Gainesville.

SMITH, S. D. 1976. An Archaeological and Historical Assessment of the First Hermitage, Research Series No. 2. Tennessee Department of Conservation, Division of Ar-chaeology

SOUTH, S. 1977a. Method and Theory in Historical Archaeology. Academic Press, New

Page 165: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

163

York

SOUTH, S. (ed.) 1977b. Research Strategies in Historical Archaeology. Academic Press, New York.

SOUTH, S. 1988a. Santa Elena: Threshold of Conquest. In LEONE, M. P. & POT-TER, P. B., Jr. (eds.). The Recovery of Meaning: Historical Archaeology in the Eastern United States. Smithsonian Institution Press, Washington, DC. pp. 27-72.

SOUTH, S. 1988b. Whither pattern? Historical Archaeology, Vol. 22, nº1: 25-28

SPENCER-WOOD, S. (ed.) 1987. Consumer Choice in Historical Archaeology. Plenum Press, New York.

SPENCER-WOOD, S. 1991. Toward an historical archaeology of materialist domestic reform. In MCGUIRE, R. H. & PAYNTER, R. (eds.). The Archaeology of Inequality. Basil Blackwell, Oxford. pp. 231-286.

STASKI, E. (ed.) 1987. Living in Cities: Current Research in Urban Archaeology, spe-cial Publication No. 5. Society for Historical Archaeology, California, Pennsylvania

STASKI, E. 1990. Studies of ethnicity in North American historical archaeology. North American Archaeologist. Vo1 l, nº 2: 121-145.

STEVENSON, M. G. 1982. Toward and understanding of site abandonment behavior: Evidence from historic mining camps in the southwest Yukon. Journal of Anthropo-logical Archaeology, Vol. 1: 236-265.

St. GEORGE, R. B. (ed.) 1988. Material Life in America, 1600-1860. Northeastern University Press, Boston.

STILGOE, J. R. 1982. Common landscapes of America, 1580 to 1845. Yale University Press, New Haven, CT.

STONE, G. & OTTUSCH-KIANKA, D. (eds.) 1987. The Historical Archaeology of Long Island, Vol. VII, Pan I. The Sires. Suffolk County Archaeological Association and Nassau County Archaeological Committee, Stony Brook, NY.

THOMAS, D. H. (ed.) 1989. Columbian Consequences, Vol. I. Archaeological and His-torical Perspectives on the Spanish Borderlands West. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

THOMAS, D. H. (ed.) 1990. Columbian Consequences, Vol. 2. Archaeological and Historical Perspectives on the Spanish Borderlands East. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

THOMAS, D. H. (ed.) 1991. Columbian Consequences, Vol. 3. The Spanish Borderlands

Page 166: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez| 2014

POVOS COM HISTÓRIA: UMA REVISÃO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NOS ESTADOS UNIDOS

164

in Pan-American Perspective. Smithsonian Institution Press, Washington. DC.

TILLEY, C. (ed.) 1990. Reading Material Culture. Basil Blackwell, Oxford.

TRIGGER, B. G. 1985. Natives and Newcomers, Canada’s “Heroic Age” Reconsidered. McGill-Queen’s University Press, Montreal.

UPTON, D. 1986. Holy Things and Profane: Anglican Parish Churches in Colonial Virginia. Harvard University Press, Cambridge, MA.

UPTON, D. & VLACH, J. M. (eds.) 1986. Common Places, Readings in American Vernacular Architecture. University of Georgia Press, Athens.

VANCE, M. 1984. Monographs on Industrial Archaeology, Bibliography A1286, Vance Bibliographies. Architecture Series, Monticello, IL.

VERANO, J. W. & UBELAKER, D. H. (eds.) 1992. Disease and Demography in the Americas, Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

WALDE, D. & WILLOWS, N. D. (eds.) 1991. The Archaeology of Gender, Proceed-ings of the 22nd Annual Chacmool Conference. Archaeological Association of the University of Calgary, Calgary.

WALLACE, A. F. C. 1970. Culture and Personality, Random House, New York,

WALTHALL, J. A. (ed.) 1990. French Colonial Archaeology of the Illinois Country. Uni-versity of Illinois Press, Urbana.

WALTHALL, J. A. & EMERSON, T. E. (eds.) 1992. Calumet and Fleur-de-Lys; Ar-chaeology of the Indian and French Contact in the Midcontinent. Smithsonian institution press, Washington, DC.

WARD, A. E. (ed.) 1983. Forgotten Places and Things, Archaeological Perspectives on American History. Center for Anthropological Studies, Albuquerque, NM.

WATSON, P. J. & FOTIADIS, M. 1990. The razor’s edge: Symbolic-structuralist archeology and the expansion of archeological inference. American Anthropologist, Vol. 92: 613-629.

WATSON, R. A. 1990. Ozymandias, King of Kings: Postprocessual radical archaeol-ogy as critique. American Antiquity, Vol. 55: 673-689.

WEGARS, P. (ed.) 1993. Hidden Heritage, Historical Archaeology of the Overseas Chinese. Baywood, Amityville, NY.

WILMS, D. 1974. Cherokee Indian Land Use in Georgia 1800-1888. Ph.D. (dissertation). University of Georgia, Athens.

Page 167: revista vestígios

Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

BARBARA LITTLE

165

WILSON, J. H., Jr. (ed.) 1985. Current Research in the Historical Archaeology of the Carolinas, Chicora Foundation Research Series No. 4. Columbia, SC

WINER, M. & DEETZ, J. 1990. The transformation of British culture in the Eastern Cape 1820-1860. Social Dynamics, Vol. 16, nº 1: 55-75.

WOBST, H. M. 1977. Stylistic behavior and information exchange. In CLELAND, C. E. (ed.). For the Director: Research Essays in Honor of James B. Griffin. Museum of Anthropology Publication, Vol. 61. University of Michigan, Ann Arbor.

WOLF, E. 1982. Europe and the People Without History. University of California Press, Berkeley.

WOLF, E. 1990. Distinguished Lecture: Facing power - Old insights, new questions. American Anthropologist, Vol. 92: 586-596.

WOOD, P., WASELKOV, G. A. & HANTLEY, T. (eds.) 1989. Powhatan’s Mantle: Indians in the Colonial Southeast, University of Nebraska Press, Lincoln.

YENTSCH, A. (ed.) 1987. Humanism and revisionism in historical archaeology. American Archaeology, Vol. 6: nº 1.

YENTSCH, A. 1991a. Engendering visible and invisible ceramic artifacts, especially dairy vessels. Historical Archaeology, Vol. 25, nº 4: 132-155.

YENTSCH, A. 1991b. The symbolic divisions of pottery: Sex-related attributes of English and Anglo-American household pots. In MCGUIRE. R. H. & PAYNTER, R. (eds.). The Archaeology of Inequality. Basil Blackwell, Oxford. pp. 192-230.

YENTSCH, A. E. & BEAUDRY, M. C (eds.) 1992. Art and Mystery of Historical Archae-ology Essays in Honor of James Deetz. CRC Press, Boca Raton, FL.

YOUNG, B. K. 1992. Text aided or text misled? Reflections on the uses of archaeol-ogy in medieval history. In LITTLE, B. J. (ed.), Text-Aided Archaeology. CRC Press, Boca Raton, FL. pp. 135-150

Page 168: revista vestígios
Page 169: revista vestígios

INFORMAÇÕESE NORMAS

VESTÍGIOS – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica

Volume 8 | Número 2 | Julho – Dezembro 2014

ISSN 1981-5875ISSN (online) 2316-9699

Page 170: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez | 2014168

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

A Revista conterá três secções: a primeira contendo artigos, a segunda resenhas e a terceira notas e informações.

Envie para: [email protected]

1. ArtigosApenas serão aceitos artigos inéditos, em português ou espanhol. Os mesmos

serão avaliados pela comissão editorial e por dois pareceristas ad hoc, o que decidirá se serão aceitos para publicação.

A extensão máxima dos artigos não deverá ultrapassar trinta (30) páginas em formato Word for Windows, fonte Times New Roman tamanho 12 e 1,5 de espaço entre linhas. Excepcionalmente serão aceitos trabalhos com maior número de páginas, a depender de decisão da Comissão Editorial.

Os artigos deverão ser acompanhados de um resumo em português, espanhol e inglês, com um máximo de setecentos (700) caracteres, e de uma tradução em inglês do título original (que pode ser em espanhol ou português) . De-vem conter em nota de rodapé os dados institucionais do(s) autor(es), endereço completo para contato e endereço eletrônico.

As citações devem ser incluídas no corpo do texto indicando: sobrenome do autor, ano da publicação e número de página (Ex. Andrade Lima, 2002: 118; Funari et al., 2001:23). A citação de um texto de dupla autoria deve ser feita com “&” (Ex. Endere & Curtoni, 2009), independente do idioma de origem do texto. Informações complementares ao texto deverão ser feitas em notas de rodapé.

Os agradecimentos deverão vir no final do texto, antes da bibliografia que deverá trazer as referências em ordem alfabética.

As imagens, em número máximo de oito (08) para cada artigo (número que poderá ser ultrapassado em casos excepcionais) deverão ser enviadas separada-mente em formato JPG ou TIFF, preto e branco ou colorida, em 300 dpi. Deverão ser indicados o número da imagem e o lugar de inserção no texto.

As referências bibliográficas deverão ser feitas conforme os exemplos se-guintes:

Livros | FUNARI, P.P. & PELEGRINI, S. 2006. Patrimônio Histórico e Cultural. Jorge Zahar Editor, São Paulo.

Page 171: revista vestígios

169Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

Capítulos de livros | ANDRADE LIMA, T. 2002. O papel da Arqueo-logia Histórica no Mundo Globalizado. In ZARANKIN, A. & SENATORE, M.X. (Org.) Arqueologia da Sociedade Moderna na America do Sul. Editorial Del Tridente, Buenos Aires. Pp.116-127.

Artigos em revistas | TOCCHETTO, F. 2003. Fica dentro o joga fora? Sobre praticas cotidianas em unidades domesticas na Porto Alegre oitocen-tista. Revista de Arqueologia da Sociedade de Arqueologia Brasileira, vol. 16:59-69. São Paulo. Dissertação ou tese | CARVALHO, Patrícia Marinho de. 2012. A travessia atlântica das árvores sagradas: Estudos de paisagem e arqueologia em área de remanescente de quilombo em Vila Bela/MT. 271 f. Dissertação (Mestrado em Arqueologia), Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. Documento em plataforma eletrônica | NORMAK, J. 2007. Berg-sonian and Deleuzian ontologies for a posthuman archaeology. Polyagentive archaeology, Part III, pp. 1-6. Stanford. Disponível em: <http://traumwerk.stanford.edu/archaeolog/2007/01/> Acesso em: agosto de 2012.

2. ResenhasSerão aceitas resenhas sobre publicações recentes da especialidade da Revista.

A extensão máxima não deverá ultrapassar quatro (04) páginas em formato Word for Windows, tipo Times New Roman tamanho 12 e 1,5 de espaço entre linhas.

3. Notas e informaçõesSerão aceitos resumos de teses de mestrado e doutorado, notas e informações

sobre congressos e simpósios etc. A extensão máxima das notas e informações não deverá ultrapassar duas (02) páginas em formato Word for Windows, tipo Times New Roman tamanho 12 e 1,5 de espaço entre linhas.

Page 172: revista vestígios

Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica | Vol. 8 | No. 2 | Jul - Dez | 2014170

NORMAS EDITORIALES

La revista acepta trabajos en 3 secciones: Artículos, Reseñas de libros y Notas e informaciones.

Enviar a: [email protected]

1. ArticulosSerán recibidos artículos, inéditos en portugués o español. Estos serán eva-

luados por el Comite Editorial y 2 pareceristas ad hoc para decidir si son aceptados para su publicación.

La extensión máxima de los artículos no debe ultrapasar las 30 paginas en formato Word, en tamaño 12 de Times Roman, y 1,5 de espacio entre líneas. Excepcionalmente podrán ser aceptados trabajos mayores, dependiendo del parecer de la comisión editora de la revista.

Los artículos deberán estar acompañados de un resumen en portugués, es-pañol e ingles que no exceda los 700 caracteres, y una traducción al ingles del titulo original (este en portugués o español). Deben figurar como nota al pie los datos institucionales de/los autor/es, dirección completa para contacto, así como sus e-mails.

Las citas deben ser colocadas en el cuerpo del texto indicando: apellido del autor, año de publicación, y si corresponde numero de pagina), ejemplo (An-drade Lima, 2002: 118; Funari et. al., 2001:23). La cita de un texto con dos autores deve ser hecha con “&”, independiente del idioma de origen (Ex. Endere & Curtoni, 2009). Solicitamos que incluyan las informaciones complementarias que consideren necesarias como notas al pie.

Los agradecimientos deben ir al final del texto, antes de las referencias bi-bliográficas.

Las referencias bibliográficas completas de las obras citadas deben ir ordena-das alfabéticamente al final del texto. Las imágenes (8 como máximo - en casos especiales puede ser considerado incluir un número mayor) deben ser enviadas por separado, en formato JPG o TIFF, en blanco y negro o en color, en 300 dpi, indicando numero de figura y lugar del texto donde deben ser insertadas.

Las referencias bibliográficas deben seguir las siguientes reglas:

Libros | FUNARI, P.P. & PELEGRINI, S. 2006. Patrimônio Histórico e Cul-tural. Jorge Zahar Editor, São Paulo.

Page 173: revista vestígios

171Laboratório de Arqueologia | Fafich | UFMG

Capítulos en libros | ANDRADE LIMA, T. 2002. O papel da Arqueo-logia Histórica no Mundo Globalizado. In ZARANKIN, A. & SENATORE, M.X. (Org.) Arqueologia da Sociedade Moderna na America do Sul. Editorial Del Tridente, Buenos Aires. Pp.116-127.

Articulos en revistas | TOCCHETTO, F. 2003. Fica dentro o joga fora? Sobre praticas cotidianas em unidades domesticas na Porto Alegre oitocen-tista. Revista de Arqueologia da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Vol.:16:59-69. São Paulo. Disertación o tesis | CARVALHO, Patrícia Marinho de. 2012. A tra-vessia atlântica das árvores sagradas: Estudos de paisagem e arqueologia em área de remanescente de quilombo em Vila Bela/MT. 271 f. Dissertação (Mestrado em Arqueologia), Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. Documento en sítio eletronico | NORMAK, J. 2007. Bergsonian and Deleuzian ontologies for a posthuman archaeology. Polyagentive archaeology, Part III, pp. 1-6. Stanford. Disponível em: <http://traumwerk.stanford.edu/archaeolog/2007/01/> Acesso em: agosto de 2012.

2. Reseñas de librosSerán recibidas reseñas sobre publicaciones recientes de la especialidad. La

extensión máxima de las reseñas no debe ultrapasar las 4 paginas en formato Word, en tamaño 12 de Times Roman, y 1,5 de espacio entre líneas.

3. Notas y informacionesResúmenes de teses de maestrías y doctorado, notas e informaciones sobre

congresos y encuentros de la especialidad, entre otros. La extensión máxima es las notas e informaciones no debe ultrapasar las 2 paginas en formato Word, en tamaño 12 de Times Roman, y 1,5 de espacio entre líneas.

Page 174: revista vestígios

1ª edição:formato:

tiPografia:PaPel da caPa:

PaPel do miolo:

concePção de caPa:

diagramação & Produção gráfica:

reViSão do PortuguêS:

reViSão eSPanhol:

Dezembro de 201415,5 x 22,5 cm; 172 p. PerpetuaSupremo 250 g/m2

Chamois 80 g/m2

Carlos Magno Guimarães &Andrés Zarankin

Artur Miglio

Denise Batista Costa

Jimena Cruz

Page 175: revista vestígios

Secretários: Bruno Sanches Ranzani da Silva e André Cruz Moreno Siqueira

Reitor: Vice-Reitora:

Diretor:Vice-Diretor:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Mathhew Johnson | NORTHWESTERN UNIVERSITY/USA

Editores: Andrés Zarankin, Luís Cláudio Pereira Symanski | UFMG

Marcos André Torres e Souza | UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Lucio Menezes Ferreira | UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

O Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFMG visa formar pessoal qualificado técnica e cientificamente para o exercício das atividades profissionais, de ensino e de pesquisa em Antropologia Social e em Arqueologia. Nosso objetivo é dar condições para os estudantes aprofundarem seu conhecimento profissional e acadêmico em Antropologia Social e em Arqueologia, desenvolvendo habilidades para o exercício de pesquisa acadêmica, atividades junto às ONGs e aos poderes públicos.

A prosposta de cusro é, ao mesmo tempo inovadora e clássica, já que se trata de apostar na retomada do contato entre a Antropologia Social e a Arqueologia.

O restabelecimento do diálogo entre duas disciplinas que lidam com questões e problemas muito próximos é feito sem interferir nos laços que cada uma delas tem com outras disciplinas, como a Sociologia, a Política, a História, a Psicologia, a Lingüística, a Filosofia, a Ecologia, a Biologia e as Geociências.

O curso se caracteriza pela pluralidade de orientações teóricas dos seus professores. A multiplicidade de temas, abordagens e aplicações oferece ao aluno a possibilidade de escolha e de contato com a diversidade própria a essas duas disciplinas.

CORPO DOCENTE DA PÓS-GRADUAÇÃO

Karenina Vieira Andrade (UnB, 2007); Luis Claudio Pereira Symanski (Universidade da Florida, 2006);

Ana Beatriz Vianna Mendes (Unicamp, 2009);André Pierre Prous-Poirier - Doutor (Sorbonne, 1974); Andrei Isnardis Horta - Doutor (USP, 2009);

Andrés Zarankin - Doutor (UNICAMP, 2001); Andréa Luisa M. Zhouri - Doutora (Essex, 1998); Carlos Magno Guimarães - Doutor (USP, 1999); Deborah Lima - Doutora (University of Cambridge, 1992);

Ana Lucio Modesto (UNICAMP 2004)

1) Antropologia da Arte, da Ciência e da Tecnologia;2) Sistemas Simbólicos, Socialidades e Gênero;3) Território, Poder e Ambiente;4) Etnologia Indígena e de Povos Tradicionais;

1) Arqueologia do Mundo Moderno e Contemporâneo;

2) Arqueologia Pré-Histórica

Scott Joseph Allen | UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Jaime Artur Ramírez

Fernando de Barros Filgueiras

Sandra Regina Goulart Almeida

Carlo Gabriel Kszan Pancera

Apoio do Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Departamento de Antropologia e Arqueologia

; Eduardo Viana Vargas - Doutor (UnB, 2001) Érica Renata de Souza (Unicamp, 2005);

. , Leonardo H. G Figoli - Doutor (UnB 1990); Leonardo Hipólito Genaro Fígoli (Unb, 1985);; Maria Jacuqeline Rodet (Universidade de Paris X, 2006)

Ruben Caixeta de Queiroz - Doutor (Universidade de Paris X Nanterre, 1998).

Page 176: revista vestígios

Volume 8 | Número 2Julho - Dezembro 2014

Volume 8 | Número 2Julho - Dezembro 2014Artigos

ISSN 1981-5875ISSN (online) 2316-9699

ISSN 1981-5875ISSN (online) 2316-9699

Volum

e 8 | Núm

ero 2 | Julho - D

ezembro 2014

www.vestigios.org

Patrocínio

Pautas de Consumo de los Primeros Pobladores de Rosario (Santa Fe, Argentina). Zooarqueología Histórica de un Pozo de Basura del Siglo XVIIIMaria Belén Colasurdo

O Urbano e a Arqueologia: Uma Fronteira TransdisciplinarDiogo M. Costa

Guerrilha Do Araguaia: Arqueologia, História e Direitos HumanosMichel Justamand, Patricia Sposito Mechi

Arqueología de los Caminos: Investigación Sobre la Ruta Tomada por el Éxodo del Pueblo Oriental de 1811 (Uruguay)José Ma López Mazz, Alfonso Machado, Oscar Marozzi, Christopher Duarte

Povos com História: Uma Revisão da Arqueologia Histórica nos Estados UnidosBarbara Little