Richard Rorty Stanford

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    Richard Rorty

    Texto original por Bjrn HambergThe Stanford Encyclopaedia of Philosophy

    [http://plato.stanford.edu/entries/rorty]Traduo: Leonel Coutinho Afonso

    Reviso: Profa. Leda Maria de MoraesReviso Tcnica: Prof. Paulo Roberto Margutti Pinto

    A marca distinta e controversa do pragmatismo de Richard Rorty se expressa ao

    longo de dois eixos principais. Um negativo um diagnstico crtico do que

    Rorty considera os projetos que definem a filosofia moderna. O outro positivo

    uma tentativa de mostrar como a cultura intelectual se pareceria, uma vez que

    nos libertssemos das metforas que regem a mente e o conhecimento nas quais

    os problemas tradicionais da epistemologia e metafsica (e de fato, na viso de

    Rorty, a auto-concepo da filosofia moderna) esto enraizados. A parte central

    da crtica de Rorty o ponto de vista provocativo presente em Philosophy and the

    Mirror of Nature (1979, daqui em diante referido como PMN). Neste livro e nos

    ensaios fortemente relacionados a ele reunidos em Consequences of Pragmatism

    ( 1982, daqui em diante referido como CP), o principal alvo de Rorty a idia

    filosfica de conhecimento como representao, como um espelhamento mental

    de um mundo externo mente. Oferecendo uma idia contrastante de filosofia,

    Rorty procurou integrar e aplicar as conquistas notrias de Dewey, Hegel e

    Darwin em uma sntese pragmatista do historicismo e naturalismo.

    Caracterizaes e ilustraes de uma cultura intelectual ps-epistemolgica,

    presente tanto no PMN (parte III) quanto no CP (xxxvii-xliv), so desenvolvidas de

    forma mais rica em trabalhos posteriores, tais como Contingency, Irony, and

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    Solidarity ( 1989, daqui em diante referido como CIS) e nos trs volumes de

    artigos filosficos, Objectivity, Relativism, and Truth (1991, daqui em diante

    referido como ORT); Essays on Heideger and Others (1991, daqui em diante

    referido como EHO); e Truth and Progress(1998, daqui em diante referido como

    TP). Nesses escritos, que abordam um territrio intelectual mais amplo que o

    normal, Rorty oferece uma viso multifacetada e altamente integrada de

    pensamento, cultura e poltica que o tornou um dos mais amplamente discutidos

    filsofos que ainda escrevem.

    1. Resenha Biogrfica

    2. Contra a Epistemologia

    3. Cultura Pragmatizada

    4. Rorty e Filosofia

    Bibliografia

    Outros recursos na Internet

    Entradas Relacionadas

    1. Resenha Biogrfica

    Richard Rorty nasceu no dia 4 de outubro de 1931 na cidade de Nova Iorque. Ele

    cresceu, como ele narra em Achieving Our Country (1998, daqui em diante

    referido como AC), na Esquerda reformista e anticomunista no meio do sculo

    (AC 59), dentro de um crculo que combinava antistalinismo com ativismo social

    esquerdista. Naquele crculo, nos diz Rorty, patriotismo americano, economia

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    redistribucionista, anticomunismo e pragmatismo deweyano se relacionavam de

    forma fcil e natural. (AC 61) Em 1946 Rorty foi para a Universidade de Chicago,

    para um departamento de filosofia que na poca inclua Rudolph Carnap, Charles

    Hartshorne e Richard McKeon, todos os quais foram professores de Rorty. Depois

    de se graduar em 1949, Rorty continuou em Chicago para completar seu

    mestrado (1952) com uma tese sobre Whitehead supervisionado por Hartshorne.

    De 1952 a 1956 Rorty esteve em Yale, onde ele escreveu uma dissertao cujo

    ttulo era The Concept of Potentiality. Seu supervisor era Paul Weiss. Depois de

    completar seu Ph.d., seguido por dois anos no exrcito, Rorty recebeu sua

    primeira indicao acadmica para trabalhar em Wellesley College. Em 1961,

    depois de trs anos em Wellesley, Rorty mudou-se para a Princeton University

    onde ele ficou at mudar para a Universidade de Virginia, em 1982, como

    Professor Kenan de Humanidades. Rorty deixou a Universidade de Virginia em

    1998, aceitando uma indicao para o Departamento de Literatura Comparativa

    na Stanford University. No curso de sua carreira, Rorty recebeu vrios prmios

    acadmicos e homenagens, incluindo um prmio da Sociedade Guggenheim

    (1973-74) e um da Sociedade MacArthur (1981-1986). Ele apresentou vrias

    palestras de prestgio, dando, entre outras, as palestras Northcliffe no University

    College em Londres (1986), as palestras Clark no Trinity College em Cambridge

    (1987) e as palestras Massey em Harvard (1997)

    2. Contra a Epistemologia

    2.1 Behaviorismo Epistemolgico

    2.2 Antirepresentacionalismo

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    2.3 Racionalidade, Cincia e Verdade

    Na viso de Rorty, A epistemologia moderna no s uma tentativa de legitimar

    nossa alegao de conhecimento do que real, mas tambm uma tentativa de

    legitimar a prpria reflexo filosfica uma tarefa premente, por vrias razes,

    uma vez que o advento da nova cincia gradualmente deu contedo para uma

    idia de conhecimento obtido pela interrogao metdica da prpria natureza.

    Porque o resultado desse tipo de interrogao, o conhecimento emprico terico,

    to obviamente frutfero, e tambm carrega consigo normas incontroversas de

    progresso, sua mera presena coloca um desafio de legitimao para uma forma

    de pensamento e alegao de conhecimento que diferente dele. A

    epistemologia cartesiana, na descrio de Rorty, feita para enfrentar esse

    desafio. Ela ctica de uma maneira fundamental; Dvidas cticas de um tipo

    Cartesiano, isto , dvidas que podem ser levantadas sobre qualquer conjunto de

    qualquer tipo de alegaes empricas e portanto no podem ser aliviadas pela

    experincia, so feitas sob encomenda para preservar de uma vez por todas um

    domnio e um trabalho para a reflexo filosfica. O objetivo de Rorty no PMN

    desestruturar as pressuposies que permitem que esse projeto de dupla

    legitimao faa sentido.

    2.1 Behaviorismo Epistemolgico

    A convico bsica por trs do ataque de Rorty epistemologia

    representacionalista feita no PMN a de que qualquer vocabulrio opcional e

    mutvel. O livro informa, por exemplo, a genealogia (captulo um) e

    desconstruo (captulo dois) do conceito de mente oferecido na primeira parte do

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    livro, Our Glassy Essence. Essa convico historicista, no entanto, no ela

    mesma um tema central do PMN, e ela s emerge para a discusso explcita na

    seo final do livro, Philosophy, que a mais curta e, em alguns aspectos, a

    menos desenvolvida de suas trs partes. O ncleo argumentativo do PMN

    encontrado em sua segunda parte, Mirroring. Aqui, Rorty desenvolve e estende

    um grupo diverso de argumentos notavelmente de Wilfrid Sellars, Willard Van

    Orman Quine, Thomas Kuhn, Ludwig Wittgenstein e Donald Davidson em uma

    crtica geral do projeto que define a epistemologia moderna, ou seja, as

    concepes de mente, conhecimento e filosofia passadas pelos sculos XVII e

    XVIII. A alegao chave de Rorty a de que a imagem kantiana de conceitos e

    intuies se juntando para produzir conhecimento necessria para dar sentido

    idia de teoria do conhecimento como uma disciplina especificamente filosfica,

    distinta da psicologia. (PMN 168).

    Segundo Rorty,

    Isso equivalente a dizer que se ns no tivermos uma distino

    entre o que dado e o que adicionado pela mente, ou entre o

    contingente (porque influenciado por aquilo que dado) e

    necessrio (porque est completamente dentro da mente e sob seu

    controle), ento ns no saberemos o que contaria comoreconstruo racional do nosso conhecimento. Ns no saberemos

    o que o objetivo ou mtodo da epistemologia poderiam ser. (PMN

    168-9)

    Epistemologia, na viso de Rorty, associada a uma imagem da estrutura da

    mente trabalhando no contedo emprico para produzir em si mesma itens

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    pensamentos, representaes que, quando as coisas vo bem, espelham

    corretamente a realidade. Diminuir a fora dessa imagem em nosso pensamento

    desafiar a idia de que a epistemologia seja a cartesiana tradicional, seja a

    lingstica do sculo XX a essncia da filosofia. Para alcanar esse fim, Rorty

    combina uma leitura do ataque de Quine a uma verso da distino entre

    estrutura e contedo em Two Dogmas of Empiricism (1952), com uma leitura do

    ataque de Sellars idia do dado em Empiricism and the Philosophy of Mind

    (1956/1997). Na leitura de Rorty, apesar de nem Sellars nem Quine serem

    completamente capazes de receber a influncia libertadora um do outro, eles

    esto, na verdade, atacando a mesma distino ou grupo de distines. Enquanto

    Quine lana dvidas sobre a noo de estrutura ou significado que a

    epistemologia transformada lingisticamente colocou no lugar das entidades

    mentais, Sellars, questionando a prpria idia do dado, atacou distino pelo

    outro lado:

    ... Sellars e Quine evocam o mesmo argumento, um que sustenta a

    igualdade entre as distines dado-versus-no-dado e necessrio-

    versus-contingente. A premissa crucial desse argumento que ns

    entendemos o conhecimento quando entendemos a justificao

    social de crena, e portanto no temos necessidade de v-la comopreciso de representaes. (PMN 170)

    O resultado final das crticas de Quine e Sellars aos mitos e dogmas da

    epistemologia , como Rorty sugere, que ns vemos o conhecimento mais como

    uma matria de conversao e prticas sociais do que como uma tentativa de

    espelhar a natureza. (PMN 171) Rorty oferece uma explicao a essa viso:Explicando a racionalidade e a autoridade epistmica por referncia ao que a

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    sociedade nos deixa dizer, ao contrrio de explicar o ltimo pelo primeiro, a

    essncia do que eu chamarei de behaviorismo epistemolgico, uma atitude

    comum a Dewey e a Wittgenstein.( PMN 174)

    O behaviorismo epistemolgico no deixa espao para o tipo de legitimao

    transcendente prtica que Rorty identifica como a aspirao da epistemologia

    moderna. Pressupondo que as prticas epistmicas divergem, ou ao menos

    podem divergir, no surpresa alguma que o comprometimento de Rorty com o

    behaviorismo epistmico leve a cargas de relativismo ou subjetivismo. Na

    verdade, muitos que compartilham o ceticismo historicista quanto a ambies

    transcendentes da epistemologia crticos amigveis como Hilary Putnam, John

    McDowell e Daniel Dennett so contra a idia de que no h restries para o

    conhecimento exceto os conversacionais. Ainda assim, esse uma parte central

    da posio de Rorty, repetida e elaborada mesmo recentemente, como no TP. De

    fato, ele a evoca precisamente para defletir esse tipo de crtica. Em Hilary

    Putnam and the Relativist Menace, Rorty diz:

    Resumindo, minha estratgia para escapar das dificuldades auto-

    referenciais nas quais o Relativismo vive se colocando mover

    tudo da epistemologia e metafsica para a poltica cultural, desde

    alegaes de conhecimento e apelos para a auto-evidncia a

    sugestes sobre o que ns devemos tentar. (TP 57)

    mais fcil ver que o behaviorismo epistemolgico diferente de outras formas

    de relativismo e subjetivismo sob a luz da crtica de Rorty noo de

    representao e s inmeras imagens filosficas que a cercam.

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    2.2 Antirepresentacionismo

    A posio duradoura de Rorty quanto ao relativismo e ao subjetivismo a de que

    ambos so produtos do paradigma representacionalista. Apesar do tema ser

    explcito em PM e CP ( Pragmatism, Relativism, Irrationalism ), com a

    apropriao futura que Rorty faz de Davidson que sua crtica idia de

    conhecimento como representao fica completamente elaborada (ORT

    Introduction e Parte II). Partindo da crtica distino entre esquema e contedo

    feita por Davidson (On the Very Idea of Conceptual Scheme) e da teoria daverdade como correspondncia (The Structure and Content of Truth), Rorty

    capaz de dar suporte sua rejeio de qualquer posio ou projeto filosfico que

    tente traar uma linha geral entre o que feito e o que encontrado, o que

    subjetivo e o que objetivo, o que mera aparncia e o que real. A posio de

    Rorty no a de que esses contrastes conceituais nunca tm aplicaes, mas

    que tais aplicaes so sempre ligadas a contextos e interesses e que no h,

    como no caso da mencionada noo de verdade, nada a ser dito sobre eles em

    geral. O comprometimento de Rorty com a viso conversacionalista de

    conhecimento deve portanto ser distinguida do subjetivismo ou do relativismo que,

    como Rorty argumenta, pressupem as prprias distines que ele busca rejeitar.

    Igualmente, o behaviorismo epistemolgico de Rorty no deve ser confundido

    com um idealismo que afirma a primazia do pensamento ou linguagem com

    respeito ao mundo no mediado, j que essa , tambm, uma posio podada

    pela posio Davidsoniana de Rorty. Sob a luz da viso de verdade e significado

    que Rorty apropria de Davidson, seu conversacionalismo no um problema de

    dar prioridade ao subjetivo sobre o objetivo, ou ao poder da mente sobre a

    restrio do mundo. Ao invs disso, ele o outro lado de seu

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    antirepresentacionalismo, que nega que estejamos relacionados com o mundo em

    outros termos que no sejam causais. Em outras palavras, Rorty argumenta que

    ns no podemos dar qualquer contedo til para a noo de que o mundo, por

    sua prpria natureza, racionalmente restringe escolhas de vocabulrio com o qual

    lidar. (TP The Very Idea of Human Answerability to the World: John McDowells

    Version of Empiricism).

    2.3 Racionalidade, Cincia e Verdade

    Atacando a idia de que ns devemos reconhecer a restrio normativa do

    mundo sobre nossos sistemas de crenas se formos sujeitos racionais, Rorty

    traou um grande nmero de crticas que levam as cincias, particularmente as

    cincias naturais, como o ponto principal de referncia. Dois pontos gerais de

    crtica so freqentemente levantados. O primeiro insiste que a cincia consiste

    precisamente no esforo de aprender a verdade sobre como as coisas so

    atravs de metodicamente nos permitirmos ter nossas crenas restringidas pelo

    mundo. Sobre essa viso, Rorty est simplesmente negando a prpria idia de

    cincia. O outro tipo de crtica procura ser interno: se a viso de cincia de Rorty

    fosse prevalecer, os cientistas no se sentiriam mais motivados a continuar como

    so; a cincia deixaria de ser a coisa til que Rorty acha que ela (veja, por

    exemplo, Bernard Williams, Auto da Fe em Malachowski). No entanto, a viso de

    Rorty sobre a cincia mais complicada do que ele mesmo s vezes mostra. Ele

    diz: Eu tendo a ver a cincia natural como parte do negcio de controlar e prever

    coisas, e como largamente intil para propsitos filosficos. (Reply to

    Hartshorne, Saatkamp 32) Ainda assim ele passa uma boa parte do tempo

    traando uma imagem alternativa das virtudes intelectuais que a boa cincia

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    incorpora (ORT Parte I). Essa uma imagem que evita a noo de que a cincia

    tem sucesso, quando tem, em virtude de estar em contato com a realidade de

    uma maneira especial, o tipo de maneira que os epistemologistas, quando tm

    sucesso, conseguem clarificar. especificamente nesse sentido que Rorty nega a

    cincia como filosoficamente significante. A boa cincia pode ainda assim ser um

    bom modelo de racionalidade, segundo Rorty, exatamente na medida em que a

    prtica cientfica teve sucesso em estabelecer instituies que conduzem a uma

    troca democrtica de vises.

    A fora provocativa e contraintuitiva do tratamento que Rorty d racionalidade e

    cincia em termos da tica conversacional inegvel. Por outro lado,

    importante perceber que Rorty no est negando a existncia de qualquer uso

    bona fidede noes como verdade, conhecimento e objetividade. Na verdade, o

    argumento de Rorty o de que nosso uso ordinrio dessas noes sempre

    negociam sue contedo e apontam para caractersticas particulares dos seus

    variados contextos de aplicao. Seu prximo argumento o de que quando ns

    abstramos para fora desses diferentes contextos e prticas em busca de noes

    gerais, ns ficamos com hipotetizaes puras e abstratas incapazes de nos

    prover com qualquer guia para a ao. O resultado final, segundo Rorty, que

    ns simplesmente no temos um conceito de realidade objetiva que pode serevocado tanto para explicar o sucesso de alguns grupos de normas de garantia,

    quanto para justificar que alguns grupos de padres superem outros. Talvez isso

    fique mais claro no tratamento que Rorty d ao conceito de verdade. Com

    respeito verdade, a retrica e a estratgia filosfica de Rorty realmente mudou

    nas ltimas trs dcadas. Mesmo to tardiamente quanto em 1982 (no CP) ele

    ainda tenta articular sua viso de verdade utilizando-se da famosa definio de

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    William James em termos do que bom segundo a crena. Logo depois disso, no

    entanto, Rorty comea a duvidar da utilidade de qualquer teoria da verdade, e

    seguindo o caminho de Davidson, rejeita todas as tentativas de explicar a noo

    de verdade em termos de outros conceitos. A viso madura que Rorty tem da

    utilidade e significncia do conceito de verdade elaborada pela primeira vez em

    Davidson, Pragmatism and Truth, em ORT. Expresses recentes so

    encontradas na primeira de duas palestras sobre Espinosa proferidas na

    Universidade de Amsterd em 1997, Is it Desirable to Love Truth?, no artigo Is

    Truth a Goal of Inquiry? Donald Davidson versus Crispin Wright (TP), assim

    como nas introdues de TP e PSH respectivamente. Nesses escritos Rorty

    argumenta que enquanto a verdade tem vrios usos importantes, ela mesma

    no tem um objetivo pelo qual ns possamos lutar, acima e alm de garantias ou

    justificaes. Seu argumento no o de que a verdade redutvel a garantia,

    mas que o conceito no tem nenhum contedo criterial profundo ou com

    substncia. Quer dizer, s existem explicaes semnticas a serem oferecidas

    para explicar por que o caso que uma dada sentena verdadeira somente

    quando suas condies de verdade so satisfeitas. Ento, buscar a verdade, em

    oposio a garantia, no aponta para uma linha de ao possvel, pois ns no

    temos medida alguma de que estamos nos aproximando da verdade a no ser um

    aumento de garantia. De fato, para Rorty, isso o que faz o conceito to til, demodo no coincidentemente anlogo bondade; ele garante que nenhuma

    sentena pode ser analiticamente certificada como verdadeira em virtude de

    possuir alguma outra propriedade. A atitude de Rorty perante o conceito de

    verdade tem sido muito criticada, geralmente no domnio de que a prpria noo

    de garantia, de fato o conceito de crena em geral, pressupe a noo de

    verdade. No entanto, pode ser que ns possamos justificar essas conexes sem

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    supor que a noo de verdade assim envolvida serve de suporte para as noes

    de crena e garantia com qualquer contedo normativo substantivo prprio. De

    fato, a idia de que nem o conceito de verdade, nem os de objetividade e

    realidade, podem ser evocados para explicar ou legitimar nossas prticas

    inferenciais e nossos padres de garantia, a essncia do conversacionalismo de

    Rorty, ou behaviorismo epistemolgico.

    3. Cultura Pragmatizada

    3.1 Naturalismo

    3.2 Liberalismo

    3.3 Etnocentrismo

    Assimilar o behaviorismo epistemolgico, segundo Rorty, significa que ns no

    podemos mais construir a autoridade da cincia em termos de alegaes

    ontolgicas. Apesar de muitos discordarem, isso no significa, para Rorty,

    denegrir ou enfraquecer a autoridade da cincia. De fato, uma caracterstica

    proeminente da cultura ps-metafsica e ps-epistemolgica de Rorty passar

    pelo naturalismo darwiniano.

    3.1 Naturalismo

    Ser naturalista no sentido de Rorty,

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    ser o tipo de antiessencialista que, como Dewey, no v quebras

    na hierarquia de ajustes aos novos estmulos cada vez mais

    complexos a hierarquia que tem amebas se ajustando a mudanas

    de temperatura na gua no fundo, abelhas danando e jogadores de

    xadrez dando xeque-mate no meio, e pessoas fomentando

    revolues cientficas, artsticas e polticas no topo. (ORT 109)

    Na viso de Rorty, tanto o pragmatismo de Dewey quanto o darwinismo nos

    encorajam a ver vocabulrios como ferramentas a serem referidas em termos dos

    propsitos particulares aos quais elas podem servir. Nossos vocabulrios, sugere

    Rorty, no tm uma relao mais representacionalcom uma natureza intrnseca

    das coisas do que o focinho dos tamandus ou a habilidade dos pssaros

    jardineiros quando esto tecendo.(TP 48)

    A avaliao pragmatista de vrias prticas lingisticamente carregadas requer um

    grau de especificidade. Da perspectiva de Rorty, sugerir que ns poderamos

    avaliar vocabulrios tendo em vista suas habilidades de desvelar a verdade seria

    como pretender avaliar ferramentas por suas habilidades de nos ajudar a

    conseguir o que queremos ponto final. Qual o melhor? O martelo, a serra ou a

    tesoura em geral? Perguntas sobre a utilidade s podem ser respondidas, comoRorty sugere, uma vez que ns damos substncia aos nossos propsitos.

    A apropriao pragmatista que Rorty faz de Darwin tambm ameniza a

    significncia da reduo. Ele rejeita o tipo de naturalismo que implica em um

    programa de reduo nomolgica ou conceitual a termos comuns em uma cincia

    bsica como representacionalista. O naturalismo de Rorty ecoa com o

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    habilidade de se identificar com outros, de pensar sobre os outros como nossos

    semelhantes em maneiras moralmente relevantes. (EHO Parte III; CIS Parte III) O

    liberalismo reformista, com seu comprometimento com a expanso de liberdades

    democrticas em uma solidariedade poltica cada vez maior , na viso de Rorty,

    uma contingncia histrica que no tem base filosfica e no precisa dela.

    Reconhecer a contingncia desses valores e do vocabulrio no qual eles so

    expressos, ao mesmo tempo em que se mantm os comprometimentos, a

    atitude do ironista liberal. (CIS ensaios 3,4) Ironistas liberais tm a habilidade de

    combinar a conscincia da contingncia de seu prprio vocabulrio avaliativo com

    um comprometimento com a reduo do sofrimento em particular, com um

    comprometimento com o combate crueldade. (CIS ensaio 4, ORT Parte III) Eles

    promovem sua causa mais atravs de redescries do que de argumentos. A

    diferena entre o discurso argumentativo e a redescrio corresponde diferena

    entre proposies e vocabulrios. Mudana na crena pode ser resultado de um

    argumento convincente. Uma mudana no que ns percebemos como candidatos

    interessantes ao valor-verdade resultado da aquisio de novos vocabulrios.

    Rorty identifica o romantismo com a viso de que o segundo tipo de mudana

    mais significante. (CIS Introduction, ensaio 1).

    A verso romntica feita por Rorty do liberalismo tambm expressa na distinoque ele traa entre o privado e o pblico. (CIS) Essa distino geralmente mal

    interpretada implicando que certos domnios de interao ou comportamento

    deveriam ser isentos de avaliao em termos moral, poltico ou social. No entanto,

    a distino traada por Rorty tem pouco a ver com tentativas tradicionais de traar

    linhas de demarcao desse tipo entre um domnio privado e um pblico

    determinar por quais aspectos de nossas vidas ns temos e por quais ns no

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    temos que responder publicamente. A distino de Rorty, ao contrrio, atinge os

    propsitos dos vocabulrios tericos. Ns deveramos, enfatiza Rorty, estar

    contentes em tratar as demandas de auto-criao e de solidariedade humana

    como igualmente vlidas, e ainda assim eternamente incomensurveis. (CIS xv)

    A viso de Rorty a de que ns deveramos tratar, de um lado, vocabulrios para

    deliberaes sobre bens pblicos e arranjos sociais e polticos, e do outro,

    vocabulrios desenvolvidos ou criados na busca de conquistas pessoais, auto-

    criao e auto-realizao, como ferramentas distintas.

    3.3 Etnocentrismo

    O ironista liberal de Rorty, reconhecendo e de fato, afirmando a contingncia

    de seus prprios compromissos, explicitamente etnocntrico. (ORT Solidarity or

    Objectivity) Para o ironista liberal,

    ... uma conseqncia do antirepresentacionalismo o

    reconhecimento de que nenhuma descrio feita do ponto de vista

    do olhar divino, nenhum gancho celeste provido por alguma cincia

    contempornea ou ainda por ser desenvolvida vai nos livrar da

    contingncia de termos sido aculturados da maneira que ns fomos.

    Nosso aculturamento o que faz de certas opinies vivas,

    importantes, ou forosas, enquanto deixa outras mortas, triviais ou

    opcionais. (ORT 13)

    Ento o ironista liberal aceita que o liberalismo burgus no tem outra

    universalidade seno aquela transiente e instvel que o tempo, a sorte e o esforo

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    discursivo podem ganhar para ele. Essa viso parece, para muitos leitores, uma

    verso do relativismo cultural. A verdade que Rorty no diz que o que

    verdadeiro, o que bom e o que certo relativo para um ethnos particular, e

    ento, nesse sentido, ele no um relativista. Mas a preocupao com o

    relativismo, que ele nos deixa sem uma maneira racional de adjudicar o conflito,

    parece se aplicar igualmente para a viso etnocntrica de Rorty. A resposta de

    Rorty dizer que, em um sentido de racional, isso verdade, mas em outro

    sentido no , e recomendar que ns larguemos o primeiro. A posio de Rorty

    a de que ns no temos noo alguma de garantia racional que ultrapassa, ou

    transcende, ou estabelece as normas que os intelectuais liberais tomam como

    definidoras da discusso reflexiva, aberta e completa. quimrico, sustenta

    Rorty, pensar que a fora ou atratividade dessas normas podem ser aumentadas

    por um argumento que no as pressuponham. igualmente intil procurar acusar

    de irracionalidade aqueles que no as levam a srio. A persuaso quanto a

    diferenas to fundamentais s atingida, se que atingida, por comparaes

    concretas de alternativas particulares, pela elaborada descrio e redescrio dos

    tipos de vida aos quais as diferentes prticas conduzem.

    4. Rorty e Filosofia

    4.1 Respostas s Crticas

    4.2 Reivindicao ao Pragmatismo

    4.3 Filosofia Analtica

    17

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    O amplo escopo da desconstruo metafilosfica feita por Rorty, junto com um

    gosto por metforas sem lastro e uma narrativa histrica rpida e ampla fizeram

    com que Rorty ganhasse uma forte reputao como um filsofo anti-filsofos.

    Enquanto seus escritos desfrutam de um alto grau de popularidade alm dos

    limites da profisso, o trabalho de Rorty geralmente tratado com suspeita e

    ceticismo dentro da filosofia acadmica.

    4.1 Respostas s Crticas

    Como ns vimos, em conexo com a atitude de Rorty perante a cincia,

    particularmente o tratamento que ele d verdade e ao conhecimento que atraiu

    ataques de filsofos. Enquanto uma grande variedade de filsofos criticou esse

    ponto geral em uma grande variedade de maneiras, no muito difcil discernir

    uma preocupao comum; a viso conversacionalista que Rorty tem da verdade e

    do conhecimento nos deixa completamente incapazes de explicar a noo de que

    uma viso razovel de como as coisas so uma viso convenientemente

    restringida por como o mundo realmente . Essa crtica levantada contra Rorty

    no somente do ponto de vista do realismo metafsico e cientfico do tipo que

    Rorty espera que logo estaro extintos. Tambm expresso por pensadores que

    tm alguma simpatia com a viso historicista de Rorty sobre o progresso

    intelectual e com suas crticas das caractersticas kantianas a platonistas da

    filosofia moderna. Frank B. Farrell, por exemplo, argumenta que Rorty falha em

    compreender a viso de Davidson sobre esse ponto, e alega que a viso

    conversacionalista que Rorty tem da restrio de crena uma viso distorcida e

    sem-mundo da imagem davidsoniana de como ocorre a comunicao entre os

    agentes. De maneira similar, John McDowell, enquanto critica tambm as vises

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    de Davidson sobre a epistemologia, alega que a viso de Rorty da relao entre o

    agente e o mundo como meramente causal desrespeita a noo de que nosso

    prprio conceito de uma criatura com crenas envolve a idia de uma restrio

    racional do mundo em nossos estados epistmicos.

    No entanto, os crticos esto preocupados no s com o que eles vem como

    uma viso errnea de crena, verdade e conhecimento, seja ela de natureza

    relativista, subjetivista ou idealista. Uma razo importante para a alta temperatura

    de uma grande parte do debate que Rorty inspirou a de que ele parece, para

    alguns, rejeitar os prprios valores que so a base para qualquer articulao da

    viso filosfica de verdade e conhecimento. Rorty um crtico do papel do

    argumento no progresso intelectual, e descarta a prpria idia de teorias da

    verdade, do conhecimento, da racionalidade e afins. Filsofos como Hilary

    Putnam e Susan Haack tm cada vez mais focado nesse aspecto das vises de

    Rorty. Haack, em particular, coloca crticas a Rorty ao longo dessas linhas em

    termos morais; para ela, os esforos de Rorty em abandonar os conceitos bsicos

    da epistemologia tradicional so sintomas de um cinismo vulgar, que contribui

    para o declnio da razo e da integridade intelectual que Haack e outros

    consideram caractersticos de muito do pensamento contemporneo. A carga de

    irresponsabilidade intelectual , s vezes, levantada ou ao menos sugerida, emconexo com o uso que Rorty faz de imagens histricas. A leitura que Rorty faz

    de Descartes e Kant em PMN tem geralmente sido desafiada, assim como seus

    usos mais construtivos de Hegel, Nietzsche, Heidegger e Wittgenstein. O tipo de

    apropriao de outros autores e pensadores feita por Rorty vai, s vezes, parecer

    violentar as vises e intenes dos protagonistas. Rorty, no entanto, muito claro

    19

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    quanto razo retrica e aos limites acadmicos desses tipos de redescries,

    como ele explica em The Historiography of Philosophy: Four Genres.

    4.2 Reivindicao ao Pragmatismo

    Um ponto particularmente polmico surgiu em conexo com a apropriao de

    Rorty de filsofos anteriores; leitores proeminentes do pragmatismo americano

    clssico expressaram grande reserva quanto a interpretao que Rorty faz de

    Dewey e Peirce, particularmente, e do movimento pragmatista em geral.Conseqentemente, a colocao de Rorty sob o ttulo de pragmatista tem sido

    contestada. Recentemente, as fortes alegaes de Susan Haack sobre esse

    assunto tm recebido muita ateno, mas existem muitos outros. (Veja, por

    exemplo, as discusses sobre Rorty em Thomas M. Alexander, 1987; Gary

    Brodsky, 1982; James Campbell, 1984; Abraham Edel, 1985; James Gouinlock,

    1995; Lavine, 1995; R.W. Sleeper, 1986; assim como os ensaios em Lenore

    Langdorf e Andrew R. Smith, 1995.) Para Rorty, a figura chave do movimento

    pragmatista americano John Dewey, ao qual ele atribui muitas de suas

    doutrinas centrais. Em particular, Rorty encontra em Dewey uma antecipao de

    sua prpria viso da filosofia como a idia que d suporte s cincias polticas, de

    uma viso no ontolgica das virtudes de investigao, de uma concepo

    holstica da vida intelectual humana e de uma concepo antiessencialista e

    historicista do pensamento filosfico. Para ler Dewey dessa maneira, no entanto,

    Rorty explicitamente separa o Dewey bom do mau. (Veja Deweys

    Metaphysics, CP, 72-89, e Dewey between Hegel and Darwin, em Saatkamp, 1-

    15.) Ele crtico do que ele considera a recada de Dewey na metafsica em

    Experience and Nature, e no tem pacincia para a tentativa construtivista de

    20

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    Logic: The theory of Inquiry. Rorty, assim, faz um esquema de avaliao no

    trabalho de Dewey o qual muitos estudiosos so contra. Lavine, por exemplo,

    alega que o mtodo cientfico o conceito central de Dewey (Lavine 1995,44).

    R.W. Sleeper sustenta que o objetivo de Dewey mais a reforma da metafsica e

    da epistemologia do que sua eliminao (Sleeper 1986, 2, captulo 6).

    O pragmatista do qual Rorty menos gosta Peirce, a quem ele considera como

    sujeito tanto ao dualismo esquema-contedo quanto a um grau de cientismo.

    Ento, no surpresa alguma que Haack, cujo prprio pragmatismo inspirado

    por Peirce, considere a reestruturao do pragmatismo feita por Rorty literalmente

    indigna do nome. A quebra essencial de Rorty com o pragmatismo fundamental;

    na mente de Haack, ao se situar em oposio orientao epistemolgica da

    filosofia moderna, Rorty acaba dispensando o prprio projeto que direcionou os

    trabalhos dos pragmatistas americanos. Enquanto o pragmatismo clssico uma

    tentativa de entender e criar uma estrutura nova que legitima a investigao

    cientfica, sustenta Haack, o pragmatismo de Rorty (Haack faz questo de usar

    aspas) simplesmente um abandono da prpria tentativa de aprender mais sobre

    a natureza e as condies de adequao da investigao. Ao invs de nos ajudar

    em nossas aspiraes de nos governarmos pelo pensamento racional, Rorty

    enfraquece nossa flexibilidade intelectual e nos deixa ainda mais vulnerveis seduo retrica. Para Haack e seus simpatizantes, o pragmatismo de Rorty

    perigoso, causando uma finalizao na razo, e portanto, na filosofia.

    21

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    4.3 Filosofia Analtica

    Ainda assim, os impulsos fundadores da filosofia ocidental claramente se

    expressam na preocupao fundamental de Rorty com a conexo entre o

    pensamento filosfico e a busca da felicidade humana. A relao de Rorty com as

    tradies da filosofia ocidental mais cheia de nuanas do que sua reputao

    pode sugerir. Assim , tambm, a relao de Rorty com a filosofia analtica em

    particular. Algumas vezes Rorty mostrado como um renegado, como algum

    que passou por uma transformao que foi de um filsofo analtico bona fideparaoutra coisa, e sobreviveu para contar um conto de libertao do encantamento da

    juventude. Essa imagem, no entanto, distorce tanto a viso de Rorty da filosofia

    analtica quanto a trajetria de seu pensamento.

    No meio dos anos 60, Rorty ganhou ateno por sua articulao do materialismo

    eliminativo (cf., Mind-Body Identity, Privacy and Categories, 1965). Por volta da

    mesma poca, ele tambm editou e escreveu uma longa introduo para um

    volume chamado The Linguistic Turn(1967, relanado com uma nova introduo

    em 1992). Apesar da introduo do volume de 1967 e de seus primeiros artigos

    em filosofia da mente mostrarem Rorty adotando estruturas para problemas

    filosficos que desde ento ele abandonou, estes escritos carregam, ao mesmo

    tempo, a marca da atitude metafilosfica fundamental que fica explcita na

    prxima dcada. No Prefcio de PMN, referindo-se a Hartshorne, McKeon,

    Carnap, Robert Brumbaugh, Carl Hempel e Paul Weiss, Rorty diz,

    eu tive muita sorte em ter esses homens como meus professores,

    mas, para melhor ou pior, eu tratei todos como se dissessem a

    22

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    mesma coisa: que um problema filosfico era um produto da

    adoo inconsciente de um grupo de pressupostos embutidos no

    vocabulrio no qual o problema foi dito pressupostos que deveriam

    ser questionados antes que o prprio problema fosse levado a srio.

    (PMN xiii)

    Essa maneira de colocar a lio, no entanto, parece deixar aberta a possibilidade

    de que certos problemas filosficos eventualmente possam ser legitimamente

    levados a srio isto , em aceitando-os no sentido de que eles precisam de

    solues construtivas desde que os pressupostos que sustentam suas

    formulaes apaream para uma devida inspeo crtica. Tomada dessa forma, a

    atitude que Rorty expressa aqui seria mais ou menos a mesma de todos os

    filsofos que diagnosticaram o trabalho de seus predecessores como uma mistura

    de pseudo-questes e problemas genunos vagamente percebidos, problemas

    que agora, com uma estrutura adequada de questes totalmente clarificadas,

    podem ser tratados positivamente. Mas a fora total da lio que Rorty aprendeu

    s emerge com a viso de que a noo de uma inspeo crtica adequada

    ilusria. Para Rorty, legitimar os pressupostos nos quais um problema filosfico

    tem suas bases seria estabelecer que os termos que ns precisamos para colocar

    esse problema so obrigatrios, que o vocabulrio no qual ns o encontramos inescapvel em princpio. Mas a construo que Rorty faz da virada lingstica,

    assim como sua proposta de eliminar o vocabulrio do mental, esto realmente

    discordando da idia de que ns podemos ter esperana de construir um

    vocabulrio definitivo para a filosofia. Mesmo em seu incio, a maneira como Rorty

    trata a filosofia moldada pela convico historicista de que nenhum vocabulrio

    inescapvel em princpio. Isso significa que o progresso em filosofia atingido

    23

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    menos por solues construtivas a problemas do que pela dissoluo teraputica

    de suas causas, isso , atravs da inveno de novos vocabulrios pelo

    lanamento de metforas novas e frutferas. (PMN Introduction; ORT Unfamiliar

    Noises: Hesse and Davidson on Metaphor)

    Manter que nenhum vocabulrio final tambm manter que nenhum

    vocabulrio pode ser livre de pressuposies no tematizadas e, ainda assim,

    opcionais. Dessa forma, qualquer esforo para desviar de um problema filosfico

    fazendo com que tais pressupostos se tornem visveis est sujeito a seu prprio

    desvio. Da mesma forma, o fato de que Rorty freqentemente se distancia dos

    termos nos quais ele primeiramente estruturou argumentos e fez diagnsticos no

    em si mesma razo alguma para impor sobre ele uma dicotomia temporal como

    alguns fizeram. Pode ser que os primeiros trabalhos de Rorty, inspirados por uma

    viso menos crtica, menos dialtica dos trabalhos de Quine e Sellars do que a

    oferecida em PMN, so mais construtivos que teraputicos tanto em tom quanto

    no jargo, e portanto, na perspectiva tardia de Rorty, errados em um sentido

    importante. No entanto, o que agrupa todo o trabalho de Rorty, atravs do tempo

    e dos temas, sua completa falta de f na idia de que existe um vocabulrio

    ideal, um que contenha todas as opes discursivas genunas. Rorty chama essa

    f de Platonismo (um tema importante em CIS). Que no existem formasinescapveis de descrio um pensamento que permeia o trabalho de Rorty

    desde os anos 60 at suas articulaes teraputicas tardias do pragmatismo.

    Essas caracterizaes de pragmatismo em termos do anti-fundacionismo (PMN),

    do anti-representacionismo (ORT) e do anti-essencialismo (TP) so

    explicitamente parasticas do esforo construtivo em epistemologia e metafsica, e

    tem o propsito de chamar a ateno para as vrias maneiras que esses esforos

    24

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    continuam sob o feitio da f platnica em conceitos ideais e formas obrigatrias

    de descries.

    O uso que Rorty faz de Quine e Sellars para colocar seus argumentos

    fundamentais contra a idia de filosofia como um projeto de legitimao do

    conhecimento, assim como a articulao de sua crtica em termos de problemas

    filosficos tipicamente analticos, contribuiu para uma impresso de PMN como

    uma condenao interna da filosofia analtica como tal. Muitos alguns felizes,

    outros desapontados leram PMN como uma demonstrao significante da

    falncia de uma das duas maiores correntes da filosofia ocidental. Tais leitores

    tiram apoio para essa viso tambm do fato de que muitos dos escritos de Rorty

    desde PMN tm estado preocupados em mostrar as virtudes em pensadores

    como Heidegger e Derrida. (EHO) Vinte anos depois, no entanto, parece melhor

    no correlacionar a diviso analtico-continental com mensagem de PMN, ou com

    Rorty. Em PMN, seu argumento central o de que a filosofia precisa de se libertar

    das metforas da mente como um meio de aparncias, aparncias as quais a

    filosofia precisa nos ajudar a separar entre as que so meras aparncias e as que

    correspondem realidade. Rorty mostrou esse argumento em um vocabulrio que

    foi desenvolvido por filsofos anglo-americanos (seja por nascimento,

    naturalizao ou adoo tardia) no curso do meio-sculo que o precedeu. No necessrio, e provavelmente enganoso, ver a crtica de Rorty epistemologia e

    aos pressupostos que fazem com que ela parea digna, como uma crtica de um

    estilo filosfico particular ou um grupo de hbitos metodolgicos. Ao ler PMN

    juntamente com os ensaios em CP (ver particularmente o ensaio 4,

    Professionalized Philosophy and Transcendentalist Culture, ensaio 12,

    Philosophy in America Today, e tambm Introduction), rapidamente se v que

    25

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    o alvo de PMN no uma escola ou um ramo aceito da disciplina chamada

    Filosofia Analtica. Porque Rorty pensa que a filosofia no tem essncia, no

    tem uma tarefa histrica que a define, falha ao definir um domnio especial de

    conhecimento, e no , em resumo, um gnero natural (CP 226), ele no deixa

    espao para esse tipo de crtica. Nem sua inteno faze-lo. Por volta da poca

    da publicao de PMN, a viso de Rorty sobre esse assunto era de que a

    filosofia analtica tem agora uma unidade somente estilstica e sociolgica (CP

    217). Ele, ento, qualifica esse argumento da seguinte maneira: Ao dizer....[isso],

    eu no estou sugerindo que a filosofia analtica uma coisa ruim ou est fora de

    forma. O estilo analtico , penso eu, um bom estilo. O esprit de corpsentre os

    filsofos analticos sadio e til. (CP 217) No entanto, enquanto Rorty

    aparentemente no carrega preconceitos contra a filosofia analtica em particular,

    a prpria razo para sua tolerncia sua viso antiessencialista e historicista da

    filosofia e de seus problemas tem, para muitos crticos, sido um ponto de

    objeo. Depois de seu pequeno elogio, Rorty continua:

    Tudo que eu estou dizendo que a filosofia analtica se tornou, quer

    ela queira, quer no, o mesmo tipo de disciplina que ns

    encontramos em outros departamentos de humanidades

    departamentos onde pretenses ao rigor e ao status cientfico somenos evidentes. A forma de vida normal em humanidades a

    mesma daquela nas artes e nas belles-lettres; um gnio faz algo

    novo, interessante e persuasivo e seus admiradores comeam a

    formar uma escola ou um movimento. (CP 217-218)

    26

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    Isso est em perfeita concordncia com a atitude para com a noo de mtodo

    filosfico que Rorty expressa 20 anos depois: Os assim chamados mtodos so

    simplesmente descries de atividades adotadas por imitadores entusisticos de

    uma ou outra mente original O que Kuhn chamaria o programas de pesquisa

    os quais seus trabalhos desenvolveram. (TP 10) A crtica metafilosfica de Rorty

    no , ento, direcionado para tcnicas ou estilos ou vocabulrios particulares,

    mas para a idia de que problemas filosficos so algo alm das tenses

    transientes nas dinmicas de vocabulrios contingentes em evoluo. Se sua

    crtica tem um enfoque especfico contra a filosofia analtica, pode ser devido a

    um resqucio duradouro de f em problemas filosficos como desafios intelectuais

    perenes o qual qualquer pensador honesto deve se dar conta, e que podem ser

    enfrentados por progressos na metodologia. O prprio Rorty, no entanto, no diz

    em lugar algum que essa f parte da filosofia analtica. Ao contrrio, pareceria

    que os filsofos analticos, pessoas como Sellars, Quine e Davidson, proveram

    Rorty de ferramentas crticas indispensveis em seu projeto de ataque

    legitimao epistemolgica que tem sido uma preocupao central em filosofia

    desde Descartes.

    Bibliografia

    Escritos de Rorty

    Abreviaes

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    "In Defence of Eliminative Materialism." Review of Metaphysics 24, September

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