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7/24/2019 Rogrio Miranda
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA
ROGRIO REGO MIRANDA
INTERFACES DO RURAL E DO URBANO EM REA DE
COLONIZAO ANTIGA NA AMAZNIA:
estudo de colnias agrcolas em Igarap-Au e Castanhal (Pa).
BELM/PA
2009
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ROGRIO REGO MIRANDA
INTERFACES DO RURAL E DO URBANO EM REA DECOLONIZAO ANTIGA NA AMAZNIA:
estudo de colnias agrcolas em Igarap-Au e Castanhal (Pa)
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em
Geografia, do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da
Universidade Federal do Par (PPGEO IFCH UFPA),
como requisito obteno do grau de Mestre em Geografia,
sob orientao do Prof. Dr.Saint-Clair Cordeiro da Trindade
Jnior.
BELM/PA
2009
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Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)(Biblioteca de Ps-Graduao do IFCH/UFPA, Belm-PA)
Miranda, Rogrio Rego
Interfaces do rural e do urbano em rea de colonizao antiga na Amaznia: estudo decolnias agrcolas em Igarap-Au e Castanhal (Pa) / Rogrio Rego Miranda; orientador,Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior. - 2009
Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal do Par, Instituto de Filosofia e CinciasHumanas, Programa de Ps-Graduao em Geografia, Belm, 2009.
1. Urbanizao - Castanhal (PA). 2. Urbanizao - Igarap-Au (PA). 3. Cidades e vilas.4. Colnias agrcolas. I. Ttulo.
CDD - 22. ed. 307.76098115
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ROGRIO REGO MIRANDA
INTERFACES DO RURAL E DO URBANO EM REA DE
COLONIZAO ANTIGA NA AMAZNIA:
estudo de colnias agrcolas em Igarap-Au e Castanhal (Pa).
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia, do Instituto de
Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Federal do Par (PPGEO IFCH UFPA),
como requisito obteno do grau de Mestre em Geografia, sob orientao do Prof. Dr.
Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior.
DATA DA DEFESA: ________/ ________/ 2009
CONCEITO: __________________________
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________.
Prof. Dr. Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior (Orientador)
__________________________________________.
Prof. Dr. Maria Goretti da Costa Tavares (Avaliadora Interna)
__________________________________________.
Prof. Dr. Jlio Csar Suzuki (Avaliador Externo)
__________________________________________.
Prof. Dr. Franciane Gama Lacerda (Avaliadora Externa - suplente)
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Aos meus pais, Maria Jos Rego Miranda e
Reinaldo Torres Miranda, pelo carinho e
dedicao.
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AGRADECIMENTOS
A realizao dessa dissertao de mestrado s pde ser concretizada mediante as
intervenes de vrios agentes, que atuaram de forma direta ou indireta, tendo em vista que
ela no contou apenas com o apoio cientfico, mas igualmente emocional, principalmente
dos familiares, sempre presentes, mesmo na minha ausncia, decorrente da solido da
pesquisa.
Neste sentido, venho agradecer imensamente a Deus, devido a sua ajuda,
principalmente nos momentos mais difceis, que no foram poucos.
Em seguida, agradeo aos meus familiares, especialmente minha me, Maria JosRego Miranda, e meu pai, Reinaldo Torres Miranda, pelo apoio incondicional, mesmo no
entendendo minha postura distanciada nos momentos de isolamento que a pesquisa exigia.
Esses foram com certeza os verdadeiros culpados, no sentido positivo do termo, da minha
trajetria enquanto pessoa e profissional.
Outros familiares tambm tiveram seus mritos pelo apoio e ajuda emotiva, como a
minha segunda me Lourdimar Neves Borges, a minha irm Samara Rego Miranda, que,
mesmo distante, sempre torce por mim; os meus avs, Lindalva, Raimunda (in memorian) eJos (in memorian) e Edilson Andrade.
Dedico ateno especial tambm aos meus amigos que fui constituindo na
Universidade e que ainda hoje desenvolvemos laos de amizade, mesmo distantes, como
Mayka, Rovaine e Fabrcia.
Como no poderia deixar de registrar, agradeo aos meus amigos que sempre
estiveram comigo em momentos que precisei bastante, mostrando-se muito atenciosos aos
meus problemas pessoais. Estou falando de Tiago Veloso e Marcel Padinha. Este ltimo,
atualmente meu compadre, muito presente tanto no lado pessoal, quanto cientfico, uma
pessoa a quem admiro muito.
Nessa trajetria de dois anos de mestrado tive a oportunidade de aprofundar
amizades com pessoas que lutaram juntamente comigo para entrar na ps-graduao.
Refiro-me a Ronaldo Braga, Rogrio Marinho e Paulo Alves, alm de outras pessoas que
pude conhecer melhor ao longo do curso, como Enias Pinheiro.
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No intercurso da dissertao tive a oportunidade de aprender a conviver com
pessoas de pensamentos dspares, que me fizeram crescer bastante devido s discusses
calorosas, mas sempre descontradas. Essas com certeza me fizeram refletir diversas vezes
sobre minhas atitudes intelectuais e, acima de tudo, humanas, pois me ajudaram a
amadurecer e a conviver respeitando as diferenas. Estou falando dos integrantes da
repblica de que participava, Bruno Malheiro, Raphael Paiva (Mineiro) e o ltimo
integrante, Armando (Paulista).
Uma outra pessoa que tive a oportunidade de conhecer na Universidade, primeiro de
maneira distanciada, depois como orientador e, por fim, como um amigo que admiro muito,
pela sua humanidade, competncia e humildade. Foi Marcos Alexandre, o qual teceu suascrticas sempre muito bem vindas e cheias de humor irnico ao presente trabalho.
Essa dissertao no teria se tornado realidade sem a figura importantssima do
orientador Professor Dr. Saint-Clair C. Trindade Jr; o qual foi de fundamental importncia,
devido a vrios aspectos. Primeiro pela sua grande pacincia para com este seu orientando,
compreendendo as dificuldades que tive e tambm as limitaes que apresentei. Segundo,
pelo papel de orientador que cumpriu, de forma sempre presente e competente, buscou a
todo momento o dilogo e nunca a imposio de suas idias. Por fim, pela sua amizade e
cumplicidade, que foram sempre a base de nossas conversas.
Em ltimo lugar, porm no menos importante, agradeo a todos aqueles que de
uma forma ou outra me ajudaram na elaborao deste trabalho, como os bibliotecrios, os
informantes indiretos e especialmente aos agricultores, que de maneira muito educada,
simples e amiga me acolhiam em suas residncias noite, concedendo seu tempo para as
entrevistas e compartilhando seus alimentos comigo nas horas das refeies, mostrando que
sociabilidades mais prximas ainda so possveis, retirando-me a solido da minha
pesquisa, conferindo a esta a sua face humana, com aes cheias de cordialidade, comrostos marcados pelo trabalho rduo, mais ainda assim felizes, pois, como diziam, ali eles
tinham um pedao de terra para plantar, colher, viver e descansar.
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RESUMO
A pesquisa discute a relao rural-urbano em rea de colonizao antiga na Amaznia,referente ao trecho da antiga Estrada de Ferro de Bragana, entre os Municpios de Belm eBragana, no Nordeste Paraense. Com base em reviso bibliogrfica, pesquisa documental,observao sistemtica de campo e entrevistas semi-estruturadas com agentes locais, soanalisadas as mudanas que alteraram formas geogrficas e suas respectivas funes nessasub-regio; mudanas essas que se expressam em diferentes padres de organizaoespacial. Para a efetivao dessa anlise foram selecionadas as agrovilas de Iracema e 3 deOutubro (Municpio de Castanhal) e So Jorge do Jabuti e Porto Seguro (Municpio deIgarap-Au), buscando-se, a partir delas, compreender as interfaces entre o mundo rural eo mundo urbano dessas agrovilas com as respectivas sedes municipais e outras cidadesprximas. No decorrer da anlise, discute-se a origem desses espaos rurais surgidos nofinal do sculo XIX e incio do XX e de sua insero em um padro de ordenamentoespacial estabelecido inicialmente pela cidade, pela estrada de ferro e pela colnia agrcola.Mostra-se que a existncia das mesmas fez parte de um projeto governamental deincrementar a atividade agrcola na ento denominada regio Bragantina, por meio daintroduo da mo-de-obra de estrangeiros e de brasileiros nordestinos, durante o perodode explorao da borracha. Naquele momento os agricultores realizavam plantaesvoltadas subsistncia e ao mercado regional, havendo dificuldades de interao colnia-cidade, mesmo com a presena da Estrada de Ferro Bragana. Por outro lado, o sistema derelaes sociais estabelecido nas colnias era marcado pela ajuda mtua e pelasolidariedade orgnica entre os sujeitos. A partir da dcada de 1960 houve umareconfigurao da geografia da rea, mediante desativao da ferrovia e da estruturaode outro padro de ordenamento espacial, baseado, desta feita, na rodovia, na cidade e nacolnia agrcola. Neste perodo atual, o espao, particularmente o agrrio, beneficiadocom crditos agrcolas, com sistema tcnico de comunicao, com eletrificao rural e comestradas, que facilitaram e otimizaram a circulao de pessoas, mercadorias e informaes,possibilitando, igualmente, maiores interaes entre as colnias e as cidades. Os agenteslocais passam a estar voltados produo e comercializao de cultivos destinados aomercado regional, nacional e mesmo ao internacional, concorrendo para a transformao dalgica produtiva das agrovilas e das relaes inter-pessoais, marcadas tambm por um tipode solidariedade organizacional, mediada pelo valor de troca e pelas demandas de mercado,e por uma tendncia de urbanizao, manifesta em novos sistemas tcnicos e de valoreshoje difundidos de maneira mais intensa no espao local.
Palavras-chave: Relao rural-urbano, Agrovilas, Urbanizao, Castanhal, Igarap-Au.
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ABSTRACT
This study discusses the rural-urban relations within the old Amazon settlement areaalongside the former Bragana Railroad located between the municipalities of Belm andBragana, northeastern Par, Brazil. The analysis of changes of the geographic forms andtheir respective roles in the region is grounded on literature review, document research,systematic field observation and semi-structured interviews with local social agents. Thesechanges are expressed in different patterns of spatial organization. The analysis focused onthe data of four agrovilas agricultural villages. They are Iracema and Trs de Outubro, inthe municipality of Castanhal, and So Jorge do Jabuti and Porto Seguro, in themunicipality of Igarap-Au. The analysis aimed at understanding the rural-urbaninterfaces of these agrovilas as they relate with their municipality seats and otherneighboring cities. The analysis discusses the origin of these rural spaces emerged in thelate nineteenth century and early twentieth century and their insertion in a pattern ofterritorial ordinance whose dynamics started in the city, continued in the areas along therailroad and, eventually, ended in the agrovilas. The analysis concluded that these agrovilassprang from a governmental project that aimed at increasing agriculture activities in thethen called Bragantina region during the rubber exploitation economic cycle by employingthe labor force of foreigners and nordestinos Brazilian immigrants from the northeasternpart of the country. Agricultural production was a subsistence activity then, but it alsosupplied the regional market. Great difficulties inhibited the interaction between theagrovilas and the cities, despite the Bragana Railroad. The system of social relationshipsdeveloped in the agrovilas was marked by mutual help and organic solidarity among thesocial subjects. From the 1960s on, the area has undergone geographic reconfiguration dueto the railroad decommissioning and the establishment of a new pattern of spatial ordinancewhich this time was based on the highway, the city and the agrovilas. Currently, this area,especially the agrarian one, benefits from rural credits, system of communication, ruralelectrification and roads. This infrastructure improved the circulation of people, goods andinformation in the area and promoted more interactions between the agrovilas and thecities. The local social agents now produce crops aiming at regional, national andinternational markets, which have contributed to change the logic of production in theagrovilas as well as the interpersonal relationships that take place in them. Theserelationships display a sort of organizational solidarity mediated by exchange value, marketdemands and a tendency toward urbanization, which reveals itself by the means of newtechnical and value systems widely made known in the area.
Key Words: Rural-urban relation, Agrovilas, Urbanization, Castanhal, Igarap-Au.
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LISTADEILUSTRAES
LISTADEFOTOS
FOTO 1:INCIO DA AGROVILA DE IRACEMA............................................................................................140
FOTO2:PRAA CENTRAL DE IRACEMA ...................................................................................................140
FOTO 3:RUA AO LADO DA PRAA CENTRAL DE IRACEMA .....................................................................140
FOTO 4:CAMPO DE FUTEBOL AOS FUNDOS DA PRAA............................................................................140
FOTO 5:IGARAP DE IRACEMA................................................................................................................140
FOTO 6:IRRIGAO DAS HORTALIAS....................................................................................................140
FOTO 7:NIBUS DE IRACEMA .................................................................................................................145
FOTO 8:CAMINHO DE TRANSPORTE DE PRODUTOS AGRCOLAS...........................................................145
FOTO 9:PRODUO ARTESANAL DE FARINHA NA AGROVILA 3DE OUTUBRO ......................................161
FOTO 10:DESCARGA DE MANDIOCA NA CASA DE FARINHA EM 3DE OUTUBRO.....................................161
FOTO 11:FBRICA DE FARINHA NA AGROVILA 3DE OUTUBRO ............................................................163
FOTO 12:EMPILHAMENTO DE SACOS DE FARINHA .................................................................................163
FOTO 13:CASA DE FARINHA EM SO JORGE...........................................................................................177
FOTO 14:PRODUCAO ARTESANAL DE FARINHA NOS FORNOS.................................................................178
FOTO 15:ENTRADA DE PORTO SEGURO .................................................................................................181
FOTO 16:PORTO SEGURO .......................................................................................................................181
FOTO 17:ENCONTRO DA AGROVILA COM O RIO MARACANA.................................................................182
FOTO 18:PONTE SOBRE O RIO MARACAN.............................................................................................183
FOTO 19:PONTE SOBRE O RIO MARACAN EM PORTO SEGURO NA DCADA DE 1950...........................184
FOTO 20:PEQUENO PORTO DE ATRACAGEM DAS EMBARCAES...........................................................184
LISTADEMAPAS
MAPA 1:ZONA BRAGANTINA PADRO DE ORGANIZAO SCIO-ESPACIAL A PARTIR DA ESTRADA DE
FERRO (FINAL DO SCULO XIXA 1965)....................................................................................................97
MAPA 2:ZONA BRAGANTINA PADRO DE ORGANIZAO SCIO-ESPACIAL A PARTIR DAS RODOVIAS
(2008)......................................................................................................................................................112
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MAPA 3: MAPA DE LOCALIZAO DOS MUNICPIOS DE CASTANHAL E IGARAP-AU NO ESTADO DO
PAR.......................................................................................................................................................129
MAPA 4: MAPA DOS MUNICPIOS DE CASTANHAL E IGARAP-AU NAS MESSORREGIES
METROPOLITANA DE BELM E NORDESTE PARAENSE................................................................130
MAPA 5:MAPA DE LOCALIZAO DE CASTANHAL E IGARAP-AU (PA)............................................132
MAPA 6:MAPA DAS AGROVILAS ESTUDADAS NO MUNICPIO DE CASTANHAL (PA)............................138
MAPA 7:DAS AGROVILAS ESTUDADAS NO MUNICPIO DE IGARAP-AU (PA)....................................169
LISTADEPLANTAS
PLANTA 1: AGROVILA DE IRACEMA......................................................................................................141
PLANTA 2:AGROVILA LUIZ DUARTE (3DE OUTUBRO).........................................................................158
PLANTA 3:AGROVILA SO JORGE DO JABUTI.......................................................................................171
PLANTA 4:AGROVILA PORTO SEGURO..................................................................................................189
LISTADEQUADROS
QUADRO 1:NCLEOS COLONIAIS AO LONGO DA ESTRADA DE FERRO BRAGANA................................86
QUADRO 2:PERIODIZAO DA REDE URBANA DA AMAZNIA E DA ZONA BRAGANTINA.............118-122
QUADRO 3:GRUPOS DE AGRICULTORES E NMERO DE PROJETOS FINANCIADOS PELO PRONAF ENTRE
2000E 2008EM CASTANHAL E IGARAP-AU.......................................................................................134
QUADRO 4: REGIO ADMINISTRATIVA DE CASTANHAL CALENDRIO DE EXECUO E
ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES FINANCIADAS PARA A CULTURA DO FEIJO E DA MANDIOCA
(VERO) NO ANO AGRCOLA DE 2008E 2009.........................................................................................135
QUADRO 5: REGIO ADMINISTRATIVA DE CASTANHAL CALENDRIO DE EXECUO E
ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES FINANCIADAS DA CULTURA DE ARROZ,MILHO E MANDIOCA (DE
INVERNO)NO ANO AGRCOLA DE 2008E 2009........................................................................................136
QUADRO 6: REGIO ADMINISTRATIVA DE CASTANHAL CALENDRIO DE EXECUO E
ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES FINANCIADAS DA CULTURA DE FRUTICULTURA NO ANO
AGRCOLA DE 2008E 2009......................................................................................................................136
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LISTADETABELAS
TABELA 1:PRODUO AGRCOLA DE CASTANHAL NOS ANOS DE 1948,1949,1950E 1952.................100TABELA 2:PRODUO AGRCOLA DE IGARAP-AU NOS ANOS DE 1948,1949,1950E 1952..............101
TABELA 3: REA COLHIDA, QUANTIDADE PRODUZIDA E VALOR DA PRODUO DOS PRINCIPAIS
PRODUTOS DAS LAVOURAS PERMANENTES ENTRE 1994E 1996,NO MUNICPIO DE CASTANHAL.........114
TABELA 4: REA COLHIDA, QUANTIDADE PRODUZIDA E VALOR DA PRODUO DOS PRINCIPAIS
PRODUTOS DAS LAVOURAS TEMPORRIAS ENTRE 1994E 1996,NO MUNICPIO DE CASTANHAL..........114
TABELA 5: REA COLHIDA, QUANTIDADE PRODUZIDA E VALOR DA PRODUO DOS PRINCIPAIS
PRODUTOS DAS LAVOURAS PERMANENTES ENTRE 1994E 1996,NO MUNICPIO DE IGARAP-AU......115
TABELA 6: REA COLHIDA, QUANTIDADE PRODUZIDA E VALOR DA PRODUO DOS PRINCIPAIS
PRODUTOS DAS LAVOURAS TEMPORRIAS ENTRE 1994E 1996,NO MUNICPIO DE IGARAP-AU........115
TABELA 7: REGIO ADMINISTRATIVA DE CASTANHAL - DEMONSTRATIVO DE CRDITO RURAL
ELABORADOS NO ANO DE 2008........................................................................................................149-150
LISTADEGRFICOS
GRFICO 1:PRODUO DE MARACUJ EM IGARAP-AU NOS ANOS DE 1994A 2006.......................174
LISTA DE ESQUEMAS
ESQUEMA 1:ETAPAS DA PRODUO E COMERCIALIZAO DA FARINHA.............................................165
ESQUEMA2: REDE ECONMICA ESTABELECIDA ENTRE OS SUJEITOS SOCIAIS DAS AGROVILAS
PESQUISADAS..........................................................................................................................................190
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SUMRIO
INTRODUO.....................................................................................................................................14
CAPTULO 1 CAMPO E CIDADE, RURAL E URBANO: DA DUALIDADE INTER-RELAO
SCIO-ESPACIAL......................................................................................................................................27
1.1 DA OPOSIO INTER-RELAO ENTRE A CIDADE E O CAMPO: NOTAS
INICIAIS....................................................................................................................................................27
1.2 O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DO PROCESSO DE URBANIZAO DA SOCIEDADE E DO
ESPAO....................................................................................................................................................31
1.3 A EXPANSO DO URBANO NO CAMPO E A COMPLEXIFICAO DA RELAO CAMPO-CIDADE,
RURAL-
URBANO...................................................................................................................................................43
CAPTULO 2FORMAO SCIO-ESPACIAL DAREAEMCOLONIZAOANTIGA
DOPARESEUSPADRESDEORGANIZAO......................................................................71
2.1PADRO RIO VRZEA FLORESTA (16161874)...........................................................................73
2.2PADRO CIDADE ESTRADA-DE-FERRO COLNIA (1875-1965)..................................................77
2.2.1 O PROJETO DE COLONIZAO PROVINCIAL DA BRAGANTINA NO PERODO DO
EXTRATIVISMO DA BORRACHA......................................................................................81
2.2.2 A IMIGRAO PARA BRAGANTINA E A PRODUO DAS COLNIAS AGRCOLAS
.......................................................................................................................................82
2.2.3ACONSTRUO DA ESTRADA DE FERRO BRAGANA (EFB)E A INTEGRAO E
ORGANIZAO ESPACIAL DAS COLNIAS AGRCOLAS..................................................88
2.3PADRO RODOVIA CIDADE COLNIA (APARTIR DE 1960).................................................106
CAPTULO 3 A INTERFACE URBANO E RURAL EM REA DE COLONIZAO
ANTIGA:OCASODECASTANHALEIGARAP-AU................................................................123
3.1 PRIMEIRA APROXIMAO DA RELAO URBANO E RURAL: O RECONHECIMENTO INICIAL DAS
COLNIAS..............................................................................................................................................123
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3.2SEGUNDA APROXIMAO DA RELAO URBANO E RURAL:AS PERMANNCIAS E TRANSFORMAES
SCIO-ESPACIAIS NAS AGROVILAS DE CASTANHAL E IGARAP-AU..................................................127
3.2.1AGROVILA DE IRACEMA..................................................................................................1393.2.2AGROVILA 3DE OUTUBRO..............................................................................................154
3.2.3AGROVILA DE SO JORGE DO JABUTI.............................................................................167
3.2.4AGROVILA DE PORTO SEGURO........................................................................................179
CONSIDERAESFINAIS.............................................................................................................193
REFERNCIAS..................................................................................................................................199
APNDICEA....................................................................................................................................210
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INTRODUO
Apesar de hoje visualizarmos um maior grau de urbanizao no Brasil, em virtude
da grande concentrao das pessoas nas cidades e de uma difuso do meio tcnico
cientfico-informacional(SANTOS, 2002a) e, por conseguinte, de valores urbanos ligados
ao mercado e a um tempo outro que no mais o do lugar (SANTOS, 2005), esse processo
no se realiza de forma homognea. Ao contrrio, sua expanso se manifesta desigualmente
no espao, visto que os sistemas de objetos (SANTOS, 2002a) informacionais no se
difundem igualmente, concentrando-se em alguns poucos lugares.
Entretanto, o sistema de valores urbanos tende a se tornar mais contnuo no espao(LEFEBVRE, 2002; SANTOS, 2002a). Essa difuso do urbano por outro lado, tem seu
rebatimento nas formaes scio-espaciais particulares que, dependendo de suas
determinantes econmicas, polticas e sociais impulsionam mais ou menos tal fenmeno.
Por exemplo, considerando-se a realidade amaznica, especificamente no sul e no sudeste
do Par, evidencia-se a presena de grandes latifndios e o maior desenvolvimento da
cultura da soja cuja lgica produtiva se atrela reproduo do capital industrial e
financeiro. Neste caso, percebemos a produo de um espao voltado s relaes
capitalistas modernas em que o urbano se instala tanto nas formas geogrficas quanto nas
funes. No entanto, ao lado desta modernizao, contraditoriamente, processam-se
relaes de trabalho baseadas na escravido, colocando em xeque a urbanizao completa
deste espao, pois ainda se reproduzem relaes no-capitalistas que compreendem uma
temporalidade e uma espacialidade outra, diversa, porm articulada ao urbano que se
implanta.
A relao entre o urbano e o rural constitui o tema de nossa pesquisa, tendo sido,
tambm, foco de vrios estudos j realizados. Eles apresentam, grosso modo, duas correntesdiferenciadas que se dedicam temtica (MALHEIRO; MIRANDA, 2006).
A primeira denominada por Marques (2001) de corrente dualista. Baseia-se
principalmente em critrios quantitativos, considerando a oposio entre o rural e o urbano.
Nela evidenciam-se duas vertentes tericas. A primeira diz respeito ao urbano-concentrado,
cuja dualidade se manifesta devido conceber o urbano unicamente em sua forma espacial,
destituindo-o de seu contedo scio-espacial especfico, ficando o rural na condio de
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resto. Nessa vertente, o rural corresponde a toda rea classificada simplesmente como
no-urbana e pouco concentrada do ponto de vista demogrfico e artificial. Esta concepo
veiculada principalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e por
autores que se apiam unicamente nos dados deste rgo institucional. J a vertente
ruralizao-urbanizao entende que o espao rural se desenvolve paralelamente ao espao
urbano. Os autores dessa vertente argumentam que os dados censitrios do IBGE so
superestimados em favor do urbano, considerando reas rurais como cidades, alm de no
examinar o fenmeno recente de migrao de pessoas da cidade em direo ao campo, a
exemplo do que expe o trabalho de Veiga (2001).
A segunda corrente denominada de relacional(MARQUES, 2001). Nela o critrioqualitativo fundamental para entender o rural e o urbano, que apresentam um continuum
entre si, isto , para alm de uma oposio destas duas realidades scio-espaciais,
considerando-se as suas inter-relaes.
Nessa destacamos, tambm, duas vertentes tericas. A vertente urbano-centrada
(WANDERLEY, 2001) entende que h a predominncia do plo urbano sobre o rural,
posto que o primeiro propaga a modernizao e os valores dominantes que permeiam a
realidade social. Logo, o ltimo plo tende a se diluir, ou mesmo desaparecer enquanto
produto de uma realidade scio-espacial especfica e de valores outros, o que ocasiona a
urbanizao do campo (ELIAS, 2006) ou mesmo a urbanizao completa da sociedade
(LEFEBVRE, 2002). Os principais autores desta vertente so Lefebvre (2002) e Santos
(2005). J a vertente integrao rural-urbano entende que h muito mais aproximao e
integrao entre o urbano e o rural do que propriamente uma oposio, posto que
estabelecem relaes econmicas, polticas e culturais intensas entre si, em menor ou maior
grau, havendo uma continuidade entre ambos, o que no impede que apresentem
particularidades e, por conseguinte, diferenas entre si. H, assim, a permanncia e areproduo do rural, assim como do urbano. So representantes dessa vertente Abramovay
(2000) e Wanderley (2001).
Essas correntes, no entanto, so apresentadas aqui com certas generalizaes, pois
no aprofundamos as respectivas contribuies dos autores para o tema, porm, elas nos
demonstram, de forma geral, o quadro terico que permeia a discusso sobre o rural e o
urbano.
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No obstante, as interpretaes acerca da relao entre o urbano e o rural vo desde
uma viso mais homogeneizadora, em que o urbano se desenvolveria igualmente no espao,
havendo uma urbanizao completa da sociedade, pelo menos como tendncia, at uma
outra na qual o rural se reproduz mediante ao prprio desenvolvimento desigual do urbano;
logo, o rural permanece se recriando, mesmo enquanto resduo (LEFEBVRE, 2001).
Destarte, compreendemos que, embora exista a predominncia do urbano, h a
presena do rural como resduo. Esse, por sua vez, contm uma potencialidade histrica e
social (LEFEBVRE, 2001) que precisa ser mais bem analisada.
Desta feita, ao discutirmos a relao entre o rural e o urbano, com destaque especial
Amaznia, devemos levar em considerao aspectos de desigualdade (referente a dadosquantitativos e materiais como a demografia, a economia, os fluxos de capital e
mercadorias) e de diferena (relativo ao modo de vida, a produo simblica e cultural na
relao homem e natureza), principalmente por nos remetermos a um momento em que a
regio apresenta um processo de urbanizao crescente, especialmente a partir da dcada de
1970, pois com a implantao dos grandes projetos e dos incentivos governamentais houve
uma intensa migrao em sua direo.
A regio Norte, por exemplo, em 1960, possua populao urbana correspondente a
37, 8%. Em 1991, havia aumentado para 59,18% e em 1996 atingia 61,50 % (CARVALHO
BRASIL, 2000). Cabe ressaltarmos que o fenmeno da urbanizao no se manifesta
apenas demograficamente, mas, tambm, em relao ao modo de vida e aos valores da
sociedade:
(...) a urbanizao na fronteira no somente sinnimo de crescimento dapopulao urbana e da multiplicao do nmero de cidades. Ela toma umnovo significado, que se apresenta sob duas dimenses. Uma dessas
dimenses est relacionada ao modo de integrao econmica do espaoamaznico mobilizando, extraindo e concentrando o excedente ,juntamente com uma integrao de ordem ideolgica e cultural, capaz dedifundir valores e comportamentos da vida moderna (TRINDADE JR,1998, p. 53).
Portanto, o urbano foi se projetando com maior intensidade na regio, ao passo que
o rural foi se tornando cada vez mais residual.
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Procuramos desenvolver a temtica da relao entre o rural e o urbano na rea de
colonizao antiga do Par, referente ao trecho compreendido entre Belm e Bragana,
espao antes cortado pela Estrada de Ferro Bragana1, tendo em vista a inter-relao de
suas colnias agrcolas e suas cidades, mais precisamente nos municpios de Igarap-Au e
Castanhal. Essa relao se complexifica e ganha maior densidade a partir do novo papel
que essa regio cumpre na diviso territorial do trabalho em decorrncia das polticas
pblicas governamentais como, por exemplo, o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF). Junte-se a isso a atuao de empresas agroindustriais,
especialmente a Nova Amafrutas, que apesar de ter falido, propiciou alteraes nas relaes
econmicas da regio (MIRANDA, 2006, 2007).Neste sentido, este estudo pretende contribuir para as reflexes no mbito da
Geografia, tendo em vista a necessidade de pensarmos a multiplicidade dos espaos-tempos
que compem a realidade amaznica, principalmente no que se refere elaborao de
instrumentos e polticas pblicas ligadas ao planejamento e ao desenvolvimento scio-
espacial da realidade por ns privilegiada para anlise.
A temtica em questo ganha relevncia, tambm, para as outras cincias que se
interessam pelo tema, como a Sociologia, a Economia e a Agronomia, disciplinas que
muito tm contribudo para o entendimento da relao entre o rural e o urbano (MOREIRA,
2005). Buscamos fazer uma reflexo terica tomando por categoria central o espao.
Consideramos as formas espaciais que compem a anlise o campo, a cidade e os seus
respectivos contedos scio-geogrficos, o rural e o urbano.
Entretanto, entendemos que h uma relao dialtica entre as formas e os
contedos, pois apesar do rural e do urbano se desenvolverem, em tese, respectivamente no
campo e na cidade, a interao entre ambos possibilita a construo de uma realidade mais
1 Estamos considerando como rea de colonizao antiga do Par, referente ao trecho entre Belm eBragana, os atuais municpios que tiveram sua origem atrelada ao projeto de colonizao implementado pelogoverno do Estado do Par no final do sculo XIX, interligados na poca pela Estrada de Ferro Bragana,quais sejam: Marituba, Benevides, Santa Isabel do Par, Castanhal, So Francisco do Par, Igarap-au,Santarm Novo, Peixe-Boi, Santa Maria do Par, Bonito, Nova Timboteua, Capanema, Quatipuru, Primavera,Tracuateua, Bragana e Augusto Correa. Todos estes municpios eram reconhecidos como pertencentes microrregio Bragantina at o incio da dcada de 1990. Atualmente, segundo a SEPOF (2006), amparada nosdados estatsticos e limites municipais do IBGE (2000), Marituba e Benevides compem a regiometropolitana de Belm. Castanhal e Santa Izabel do Par pertencem micro-regio de Castanhal. Os demaisainda se inserem na micro-regio Bragantina.
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complexa, de intensa articulao entre o rural e o urbano, de tal maneira que esses
contedos scio-espaciais se mesclam, tornando-se hbridos.
Este tema se apresenta, atualmente, bastante em voga e tem gerado uma srie de
estudos mais detalhados sobre a questo da relao entre o urbano e o rural, conforme
trabalhos citados anteriormente. Esses estudos, entretanto, tm se concentrado cada vez
mais no Centro-Sul, havendo uma parca discusso sobre o tema na Amaznia, pelo menos
de forma mais sistemtica, com exceo de trabalhos como os de Hurtienne (2001), Hbette
(2004) e Souza (2007).
Neste sentido, buscamos contribuir para a investigao sobre esta relao na rea de
estudo supracitada, tendo por objetivo a pesquisa sobre a interao existente entre ascolnias agrcolas e as suas respectivas cidades, em Castanhal e Igarap-Au.
Assim, integra a problemtica deste trabalho questionamentos relativos ao papel dos
municpios de Castanhal e Igarap-Au na diviso territorial do trabalho, levando-se em
considerao as aes das polticas pblicas e as expresses rural-urbanas relacionadas a
esse papel. Como j vimos anteriormente, esta problemtica ganha relevncia na medida
em que h, na atualidade, uma acelerada e crescente reduo da separao dos limites entre
a cidade e o campo, entre o rural e o urbano, constituindo-se em unidade dialtica.
(OLIVEIRA, 2002).
Tal processo visualizado junto rea de estudo a partir da ao das polticas
pblicas estatais direcionadas ao campo. Elas tm proporcionado via financiamentos e
infra-estruturas, tanto aos pequenos produtores quanto s empresas, a introduo de uma
lgica produtiva alicerada na racionalidade do mercado. Busca-se o desenvolvimento de
plantios que tenham maior valorizao em termos de preos cujas flutuaes condicionam a
necessidade de uma tcnica de plantao mais sofisticada com uso cada vez maior de
insumos agrcolas e pesticidas que acelerem e melhorem quantitativamente equalitativamente a produtividade. Essa plantao no se torna totalmente especializada em
decorrncia de outras plantaes voltadas subsistncia. Mas no uso da terra transparece
relaes baseadas no valor de troca e o tempo de produo se volta s necessidades do
mercado (MIRANDA, 2007).
Esse fenmeno ocasiona maior interao entre as colnias e as cidades em virtude
dos fluxos mais freqentes de produo voltadas ao mercado regional, nacional e mesmo
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internacional. Assim, emergem valores urbanos atrelados reproduo do capital no espao
rural.
Em funo da maior interao entre o campo e a cidade, entre o urbano e o rural
proporcionada por uma nova dinmica produtiva na rea pesquisada que o espao se torna
demasiadamente complexo, havendo o desenvolvimento de espaos-tempos hbridos, os
quais devem ser levados em considerao na efetivao de um planejamento regional.
Deste modo, a problemtica se desdobra em trs questes que nortearo nossa pesquisa:
a) Quais os sujeitos sociais produtores da inter-relao entre o rural e o urbano nas
colnias agrcolas dos Municpios de Igarap-Au e Castanhal?
b) Qual (is) o (s) projeto (s) pensado (s) via Estado, a partir de polticas pblicas
desenvolvidas no campo, para inserir os municpios de Igarap-Au e Castanhal na
Diviso Territorial do Trabalho desenvolvida no processo de competitividade
recente?
c) Que especificidades rurais e urbanas so expressas nos Municpios de Igarap-Au e
Castanhal face ao papel desempenhado pela rea de colonizao antiga nessa nova
lgica de produo?
A discusso sobre a relao entre o rural e o urbano na rea pesquisada se torna
importante e se justifica diante da necessidade de entendermos essa realidade como
mltipla. Logo, necessrio analis-la no apenas enquanto um espao urbano ou rural,
mas como sntese contraditria da interao de ambos que resulta do desenvolvimento
espao-temporal desigual e combinado (HARVEY, 2004).Essa relao deve ser privilegiada ao se viabilizar um planejamento para a sub-
regio supracitada, estabelecendo-se para ela mais do que critrios quantitativos relativos
aos dados demogrficos do IBGE, isto , as aes decorrentes de um planejamento regional
devem levar em considerao elementos qualitativos referentes s relaes sociais
produtoras de espaos-tempos diversos, mas articulados e formadores de uma realidade
hbrida onde o urbano e o rural mais do que dualidade so dialeticamente complementares.
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Essa realidade j vem sendo estudada por ns h algum tempo. Primeiramente na
condio de bolsista de Iniciao Cientfica (IC) do projeto de pesquisa intitulado Redes
Institucionais e Polticas Pblicas para um Desenvolvimento Regional Sustentvel com
Base em Inovaes Tecnolgicas para a Agricultura Familiar: o caso de Igarap-Au,
ligado ao Ncleo de Altos Estudos Amaznicos (NAEA), no perodo de 2003 a 2004 e,
posteriormente, quando da elaborao de nosso Trabalho de Concluso de Curso (TCC.)
apresentado ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Par (UFPA) em
2006.
Focalizamos em trabalhos anteriores citados acima a territorialidade camponesa no
Municpio de Igarap-Au, discutindo, tambm, a relao existente entre a colnia agrcolae a cidade. A presente pesquisa tem por intuito dar continuidade aos nossos estudos j
efetuados na rea, porm, enfatizando de forma mais sistemtica a relao entre o rural e o
urbano. O objetivo contribuir com elementos qualitativos referentes a essa relao no
sentido de que possam, posteriormente, ser considerados no mbito de uma poltica pblica
municipal que busque as especificidades da sub-regio aqui destacada.
Destarte, em termos gerais, pretendemos compreender o papel que cumprem os
municpios da rea de colonizao antiga do Par, mais precisamente Castanhal e Igarap-
Au, na diviso territorial do trabalho, mediante as aes das polticas pblicas e as
expresses rural-urbanas relacionadas a esse papel, como j foi dito anteriormente.
Este objetivo geral se desdobra em objetivos secundrios que, alcanados, do
subsdios para responder problemtica desta pesquisa:
a) Identificar os sujeitos sociais produtores da inter-relao entre o rural e o urbano nas
colnias agrcolas dos municpios de Igarap-Au e Castanhal;
b) Identificar e analisar projeto(s) pensados por meio de polticas pblicas voltadas ao
campo, para inserir a rea de colonizao antiga, especificamente os municpios de
Igarap-Au e Castanhal em uma nova Diviso Territorial do Trabalho pensada para
o espao paraense;
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c) Analisar as especificidades rurais e urbanas decorrentes do papel desempenhado
pelos Municpios de Igarap-Au e Castanhal na produo econmica paraense das
ltimas dcadas.
Para a realizao desta pesquisa, adotamos como referencial a teoria da produo
social do espao, desenvolvida por Lefebvre (2001, 2002). Ela consiste em entender o
espao como um produto da sociedade, condio e meio essencial para que a mesma se
reproduza em sua dimenso econmica, poltica e cultural.
Esta concepo sobre o espao nos possibilita entend-lo no apenas como substrato
material, mas tambm como produto de relaes sociais que remontam temporalidadesexpressas espacialmente, denotando contedos histrico-geogrficos especficos, porm
articulados. Esses, por sua vez, em nossa pesquisa, referem-se ao urbano e ao rural, ou
melhor, relao entre ambos.
Com efeito, partilhamos da teoria proposta por Lefebvre (2002) que parte da relao
dialtica entre forma e contedo que compem o espao no sentido de enfatizar que o
campo, em oposio cidade, a disperso e o isolamento. A cidade, por outro lado,
concentrano s a populao, mas os instrumentos de produo, o capital, as necessidades,
os prazeres (LEFEBVRE, 2002, p.157 grifo do autor). A relao com a natureza
enfatizada para a diferenciao entre campo e cidade. Dessa maneira, visualiza-se que o
campo onde a natureza prevalece, a agricultura e outras atividades a modificam, mas no
lhe retiram sua prioridade geogrfica. Apesar de no ser exterior natureza, o espao
urbano mais propriamente produzido (LEFEBVRE 1986, p. 162).
O autor levanta a tese da urbanizao completa da sociedade (LEFEBVRE,
2002) em seu livro a Revoluo Urbana cujo corpo terico se assenta na hiptese de que
se estaria em gestao uma sociedade urbana, resultante da urbanizao completa dasociedade, processo visto como virtual, ou seja, como tendncia, mas, que futuramente se
apresentaria como real; logo, socialmente materializada. No obstante essa tendncia,
considera a possibilidade de resistncias de relaes rurais enquanto resduos, apresentados
como potencialidades histricas.
Essa mesma perspectiva analtica elaborada por Santos (2005) no que tange
realidade do Brasil. Esse autor afirma existir um duplo processo: a urbanizao da
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sociedade e a urbanizao do territrio brasileiro. O primeiro fenmeno se refere
expanso do meio tcnico-cientifico-informacional (2002), ou seja, dos sistemas de objetos
informacionais (telecomunicaes, sistemas bancrios etc.); enquanto o segundo
corresponde maior difuso dos sistemas urbanos que se reproduzem criando novos
valores e um novo modo de vida.
Esse processo de urbanizao, no entanto, rebate na formao scio-espacial
(SANTOS, 2005b), logo, desenvolve-se desigualmente no espao, apresentando nuances
quanto a sua introduo nos lugares, devido a particularidades econmicas, polticas e
culturais que podem resistir ou facilitar a propagao de tal fenmeno.
Como pressuposto terico-metodolgico de anlise, consideramos o(s)desenvolvimento(s) geogrfico(s) desigual (is) e combinado(s) (HARVEY, 2004) por
entendermos que a relao entre o rural e o urbano se d de forma desigual espao-
temporalmente, mas contraditoriamente articulada. Assim, discutiremos nossa problemtica
luz do mtodo regressivo-progressivo proposto por Lefebvre (1973), o qual apresenta os
seguintes momentos:
a) Descritivo: o pesquisador deve observar cuidadosamente, sob a lente da
experincia e de uma teoria geral, a realidade e utilizar cuidadosamente
as tcnicas de pesquisa, como entrevistas;
b) Analtico-regressivo: anlise da realidade estudada a fim de dat-la
corretamente e, assim, comparar as idades das formaes sociais;
c) Histrico-gentico: estudo das transformaes encontradas na realidade
estudada, uma vez datada pelo desenvolvimento ulterior (internamente eexternamente) e pela sua subordinao s estruturas da totalidade,
objetivando uma classificao gentica das formaes e estruturas, ao
longo do processo da totalidade. E, a partir da, regressar descrio,
para, ento, reencontrar o presente, porm, agora devidamente elucidado
e explicado.
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Para o estudo da rea de colonizao antiga paraense utilizamos uma amostragem
estratificada e de natureza qualitativa. Selecionamos, assim, para estudo os Municpios de
Castanhal e Igarap-Au, tendo por critrio o fato de esses representarem duas realidades
scio-espaciais distintas, mas bastante integradas por meio dos fluxos de mercadorias,
pessoas, financiamentos e informaes.
No que se refere s colnias agrcolas privilegiadas para a pesquisa, destacamos, em
Igarap-Au, So Jorge do Jabuti e Porto Seguro; e, em Castanhal, Iracema e 3 de Outubro.
Essas realidades foram selecionadas em decorrncia das suas origens remontarem ao incio
do processo de colonizao da rea pesquisada, possibilitando o entendimento de maneira
mais aprofundada das transformaes no espao rural. Tambm foi utilizada como critrioa ao mais incisiva dos projetos de financiamento advindos das polticas pblicas estatais
e a interveno de empresas e atravessadores.
No que tange aos procedimentos de investigao, foi desenvolvido de acordo com
as etapas que seguem, a saber:
1) Discusso terico-conceitual a partir de levantamento e anlise bibliogrfica em que
tivemos o cuidado de sistematizar os principais elementos das discusses tericas a
respeito do tema estudado. Elaboramos fichamentos e resenhas no sentido de estabelecer
um dilogo reflexivo entre a teoria e o objeto de investigao escolhido e de averiguar o
estado do conhecimento atual sobre o problema (MINAYO et alii, 1994). Nesta fase
averiguamos as teorias e as conceituaes referentes ao tema da relao rural e urbano, a
fim de tentar estabelecer uma interface destas teorizaes com a realidade pesquisada,
enfocando os Municpios de Castanhal e Igarap-Au, para percebermos as suas
particularidades.
2) Anlise documental acerca de dados secundrios referentes ao crescimento
demogrfico da populao rural e urbana, de polticas pblicas (financiamentos, infra-
estrutura etc.), da produo agrcola, dos fluxos de produo, pessoas, dentre outros
elementos importantes rea de estudo.
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3) Sistematizao e anlise do referencial terico da pesquisa desenvolvida, assim como de
alguns documentos histricos (relatrios de provncia), fluxos de imigrantes e principais
cultivos produzidos nos Municpios de Castanhal e Igarap-Au.
4) Produo cartogrfica referentes s reas de estudo, com o intuito de localiz-las no
territrio paraense e de espacializarmos os seus respectivos sistemas de objetos, indicando
as possveis transformaes das polticas pblicas junto ao espao rural. Objetivou-se
demonstrar a organizao e a produo scio-espacial que possibilitar entender e
identificar determinadas espacialidades e temporalidades existentes nas reas pesquisadas,
o que permite engendrar maior complexificao da relao rural e urbano a partir doavano do tecido urbano.
5) Observaes sistemticas, por meio das quais restringimos nossa relao com o grupo
pesquisado no momento da pesquisa de campo, desenvolvendo uma participao relativa no
cotidiano dos agentes estudados, a partir da observao dos eventos do dia-a-dia dos
mesmos (MINAYO et alii, 1994), ou seja, nosso trabalho in locofoi realizado objetivando
coletar as informaes necessrias pesquisa, no intervindo ou participando ativamente na
vida diria dos pesquisados. Neste momento da pesquisa coletamos dados primrios,
obedecendo aos seguintes procedimentos:
5.1 Entrevistas semi-estruturadas que consistem em conciliar entrevistas estruturadas com
perguntas previamente formuladas e no-estruturadas em que o informante aborda
livremente o tema proposto (MINAYO et alii, 1994). Este procedimento metodolgico foi
aplicado junto aos agricultores e atravessadores das agrovilas. Tambm foram realizadas
entrevistas no gravadas com representantes das instituies locais Banco da AmazniaS.A, Empresa de Assistncia e Extenso Rural do Par e Secretaria de Agricultura dos
municpios de Castanhal e Igarap-Au, a ttulo de confirmao de informaes obtidas em
campo. Essas entrevistas tiveram por objetivo perceber as mudanas das formas e dos
contedos referentes ao urbano e ao rural processadas na rea de estudo, assim como
permanncias inscritas no espao e no tempo.
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5.2 Registros fotogrficos que foram importantes no sentido de possibilitar o
reconhecimento da paisagem referente ao urbano e ao rural, das formas geogrficas
(SANTOS, 2002a) especficas das duas realidades, para posteriormente discutirmos
os seus respectivos contedos scio-espaciais.
6) Por fim, detivemo-nos sobre a anlise dos dados coletados em campo, fazendo a devida
correlao e reflexo terica que culminou com a verso final deste trabalho, que apresenta
trs captulos.
No primeiro captulo, discutimos as principais interpretaes acerca dos espaosrurais e urbanos e suas respectivas transformaes e inter-relaes decorrentes do processo
de urbanizao. Este se desenvolve em sua esfera material por meio de infra-estruturas
(sistemas tcnicos, como estradas, energia eltrica etc.). Tambm focalizamos a dimenso
dos valores que se difundem pelo espao e que concorrem para mudanas significativas na
rea de estudo privilegiada por ns, j que corresponde a uma rea que hoje se apresenta
inserida em uma nova diviso territorial do trabalho, o que implica transformaes
significativas na sua paisagem e em seu contedo scio-espacial.
No segundo captulo, discorremos sobre a formao scio-espacial da rea de
colonizao antiga que compreende o espao entre Belm e Bragana, destacando os
Municpios de Castanhal e Igarap-Au. Busca-se perceber as permanncias e
transformaes ocorridas no espao, para, assim, entender as interaes entre as colnias
agrcolas e a cidade, desenvolvidas com base nas divises do trabalho ocorridas na rea,
especialmente a atual, responsvel pela expanso do tecido urbano, pelo menos como
tendncia.
O terceiro captulo refere-se anlise dos dados empricos coletados em campo luz da linha terica adotada. Neste sentido, buscou-se interpretar a realidade das colnias
agrcolas de Iracema e 3 de Outubro, localizadas em Castanhal, e de So Jorge do Jabuti e
Porto Seguro, pertencentes a Igarap-Au. Observamos as implicaes das polticas
pblicas desenvolvidas para a rea agrcola dos municpios destacados no sentido de dot-
los de condies mnimas para participarem da nova diviso territorial do trabalho em que
se inserem, especialmente no que tange ao Nordeste Paraense. Neste contexto, as colnias
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comeam a se especializar em determinados cultivos, voltados, sobretudo, ao mercado
regional, nacional, e, em alguns momentos, internacional. Desenvolvem-se, a partir da,
outras relaes, agora marcadas por um sistema de valores cada vez mais urbano,
principalmente em decorrncia das interaes constantes com a cidade, o que rompe
sociabilidades mais prximas que, embora permaneam, apresentam-se menos intensas.
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CAPTULO 1
CAMPOECIDADE,RURALEURBANO:DA DUALIDADE INTER-RELAO SCIO-ESPACIAL
1.1DA OPOSIO INTER-RELAO ENTRE A CIDADE E O CAMPO:NOTAS PRELIMINARES
A discusso sobre a cidade e o campo embora muito debatida constitui-se um tema
controverso, pois h diversas interpretaes, principalmente no que se refere relao entre
essas duas realidades, visto que ora so apresentadas enquanto plos opostos comelementos materiais e valores culturais distintos, ora se apresentam como um continuum,
com articulaes econmicas, polticas e culturais, salvaguardando-se algumas
especificidades.
Segundo Williams (1989), tanto a cidade quanto o campo compreendem realidades
em plena transformao em si mesmas e nas inter-relaes que estabelecem entre si.
Entrementes, a oposio entre ambas persiste:
Em torno das comunidades existentes, historicamente bastante variadas,cristalizaram-se e generalizaram-se atitudes emocionais poderosas. Ocampo passou a ser associado a uma forma natural de vida paz,inocncia e virtudes simples. cidade associa-se a idia de centro derealizaes de saber, comunicaes, luz. Tambm constelaram-sepoderosas associaes negativas: a cidade como lugar de barulho,mundanidade e ambio; o campo como lugar de atraso, ignorncia elimitao. O contraste entre campo e cidade, enquanto formas de vidafundamentais, remonta Antiguidade clssica (WILLIAMS, 1989, p. 11).
Assim, o campo e a cidade, embora compreendendo realidades de constante
interao, principalmente no contexto atual, ainda hoje so expressos pela dualidade, por
um sistema de relaes sociais contrastantes, favorecendo a criao de uma imagem
semelhante criada por Peixoto (2006), autor que, ao discutir a cidade dos tempos atuais,
apresenta como sua principal caracterstica a passagem, isto , o seu ritmo pulsante e
frentico de transformao constroem uma paisagem que, em sua interpretao, prpria
do no-lugar; o desenraizamento a sua condio em funo de sua fugacidade e
intensidade de reformulao. Assim, a cidade pode se configurar como paisagem. Neste
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sentido, contrastante ao que denomina de domusque compreende um espao e um tempo
comum:
isso que constitui o lugar. Um espao-tempo domstico, compartilhadopor todos, onde cada um encontra o seu lugar e seu nome. Sob o regimeda natureza, dotado de ritmo e rima. Aqui o passado cultivado, aspalavras alimentam as histrias a narrao. A comunidade cultiva amorada, a obra comum o domus. A cidade, ao contrrio, uma outraregulagem do espao e do tempo. Sob o ritmo da informao e dostransportes, ela s conhece o domiclio, a memria do arquivo annimo(PEIXOTO, 2006, p 522).
O autor no est preocupado em estabelecer uma comparao entre o campo e a
cidade e, sim, entre um espao-tempo em que encontramos o lugar, o enraizamento, e a
cidade atual, caracterizada pelo desenraizamento. Entretanto, essa comparao pode ser
transposta para o nosso estudo acerca da relao campo-cidade cujas representaes podem
se aproximar daquelas descritas por Peixoto (2006). Desta forma, o campo corresponderia
ao domus, enquanto a cidade paisagem, como comumente fazemos.
Ao recorrermos ao dicionrio, essa polarizao igualmente se anuncia. Segundo o
dicionrio Ferreira (2004), o substantivo cidade advm do latim civitatee compreende um
complexo demogrfico formado socialmente e economicamente por uma significativaaglomerao populacional que no exerce atividade agrcola, dedicando-se a outros
afazeres, tais como: comrcio, indstria, finanas, cultura etc. Por outro lado, o campo tem
sua origem do latim campue descrito como uma realidade cujo terreno extenso, com a
presena ou no de matas e rvores. Seu destino oscila entre a pecuria e o cultivo agrcola
e sua rea distante do permetro urbano ou suburbano das grandes cidades.
No que tange ao significado do contedo destes espaos, o mesmo dicionrio nos
faz a seguinte afirmao acerca do urbano: do latim urbanu compreende um adjetivorelativo pessoa moradora ou pertencente cidade; tambm figura imagem de um
indivduo que corts, afvel, civilizado. O adjetivo rural vem do latim rurale, concernente
pessoa relativa ou pertencente ao campo, trabalhador agrcola. A esse sujeito atribudo o
valor de rstico, rude, grosseiro, tosco e simples.
O dicionrio de sociologia de Boudon et alii (1990) faz a seguinte referncia aos
termos urbano e rural. O primeiro corresponde ao espao da cidade, descrita como uma
realidade em que possvel identificar uma concentrao durvel e relativamente densa de
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pessoas em um espao delimitado, cujos limites na Idade Mdia eram feitos por muralhas
que separavam a cidade do campo, mas que na sociedade moderna so mais flexveis e
mutveis. Completa que, atualmente, essa aglomerao humana leva, geralmente, a um
maior desenvolvimento e complexificao da diviso do trabalho. Assim, h o aumento e
complementao de funes econmicas e profissionais, alm de uma maior diversificao
dos estatutos sociais e das relaes de classe das quais derivam muitas lutas urbanas entre
as classes dominantes e as dominadas. Neste sentido, o sculo XX vive um grande processo
de urbanizao, compreendido pela maior proliferao do tecido urbano e de sua densidade,
mais comum nas grandes cidades.
Ao rural, segundo o autor (op. cit.), esto ligados contedos sociais prprios docampo. Nesse espao, o que define sua realidade seria a diversidade na unidade. A
diversidade se verifica na grande variedade de paisagens naturais e de estruturas de
explorao social existentes; mesmo com a modernizao do campo estas diferenas
permaneceriam. J a unidade se manifesta em virtude do fundamento das sociedades rurais
ser o mesmo em toda parte, ou seja, a explorao familiar, havendo uma ntima relao
entre a empresa agrcola e a famlia camponesa.
Williams (2007), em seu livro Palavras-chave: um vocabulrio da cultura e
sociedade, retoma a etimologia da palavra cidade e a sua compreenso ao longo da
histria. Neste sentido, afirma que ela existe no ingls desde o sculo XIII, mas o seu uso
moderno, isto , qualificando grandes cidades, ou distinguindo reas urbanas de rurais, ou
do campo, data do sculo XVI. Este fato ocorre principalmente em funo da crescente
importncia que a vida urbana vai assumindo a partir do sculo XVI e, em especial, a partir
da Revoluo Industrial sculo XVIII , responsvel por deflagrar a primazia da
Inglaterra neste perodo, o que a tornou a primeira sociedade da histria mundial a possuir a
maior parte da populao nas cidades, destacando-se nesse cenrio Londres.A etimologia da palavra cidade (city) advm do francs antigo cite e da palavra
latina civitas que no denominava a cidade no sentido moderno, pois este sentido era
manifestado pelo vocbulo urbs.Deste modo, civitascorrespondia a um substantivo geral
derivado do latim civis, referenciando o cidado cujo significado se aproxima da expresso
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moderna nativo2. Posteriormente, a partir de um longo perodo, a palavra civitascomeou
a designar a principal cidade de um Estado ou, esclesiasticamente, a cidade sede de uma
catedral. De forma geral, o termo cidade (city) era usado no sculo XVI para referenciar
Londres. No sculo XVII o uso da palavra cidade tem em vista evidenciar os contrastes
entre cidade e campo. J no sculo XVIII corresponde ao centro financeiro e comercial,
localizado inicialmente em Londres, mas expandido de modo crescente pelo mundo.
Entretanto, a cidade enquanto uma ordem de assentamento especfica e com um modo de
vida distinto, ou seja, como um termo ligado a lugares ou formas administrativas
particulares e de vida urbana em grande escala, s ganha concretude a partir do sculo XIX
(WILLIAMS, 2007).Ainda segundo Williams (2007), campo advm da palavra inglesa country,
denominando tanto terra nativa (pas, ptria) quanto zonas rurais ou agrcolas (campo). Essa
ltima acepo que nos interessa. Historicamente, a expresso country advm do latim
medieval contratae da palavra latina contra(contra), referenciando contrata terra, isto ,
terra localizada em frente ou do lado oposto. Um primeiro significado atribudo expresso
country de extenso de terra que se estende diante de um observador. Com efeito, o termo
contratafoi passado para o ingls a partir do francs antigo cuntre e contre. No sculo
XIII, possua o sentido de terra nativa e no sculo XVI correspondia a reas distintamente
rurais, momento em que a expresso campo (country) fora usada em oposio cidade,
motivada pela expanso da urbanizao. A partir do sculo XIX, surge o vocbulo
originrio da Esccia countryside(campo) para se referir s reas rurais e a um conjunto de
vida e da economia rural.
2O uso da palavra nativo anteriormente ao sculo XVI tinha um carter positivo, pois referenciava a origem,a naturalidade de uma pessoa, mas com a conquista colonial implementada pelos europeus, a designaonativo passou a ter um sentido pejorativo, identificando aquele que era servo, escravo, nascido na servido, ouainda o no-europeu, ou seja, sujeitos inferiores de um lugar e submetidos a uma ordem econmica e polticaestrangeira. Atualmente, possvel encontrar referncias ao termo nativo significando o lugar de origem ou aprpria pessoa (WILLIAMS, 2007).
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1.2 O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DO PROCESSO DE URBANIZAO DA SOCIEDADE E DOESPAO
A dualidade entre campo e cidade, rural e urbano formou-se ao longo da histria e
permeia ainda hoje anlises e concepes sobre as duas realidades scio-espaciais. Mas,
como definir o campo e a cidade? Esses dois espaos ainda hoje podem ser analisados em
separado?
Estas questes permeiam a nossa anlise na medida em que devemos entender os
papis que cumprem tanto o campo quanto a cidade na diviso territorial do trabalho atual,
especialmente na rea de pesquisa, ou seja, nos Municpios de Castanhal e Igarap-Au,
visto que ao longo do processo histrico-geogrfico dessas referncias espaciais, as suasrespectivas colnias agrcolas vm desenvolvendo um intercmbio diferenciado com as
cidades prximas.
No perodo de funcionamento da Estrada de Ferro Bragana essas reas deveriam
abastecer Belm com cultivos de primeira necessidade (arroz, feijo, farinha e milho).
Desempenharam esse papel na regio Bragantina at, aproximadamente, a primeira metade
do sculo XX. Posteriormente, com a introduo de outros sistemas tcnicos (estradas,
servios de telecomunicao etc.) e o desenvolvimento de outra lgica produtiva, asinteraes campo e cidade aumentaram significativamente, estabelecendo-se conexes em
escalas nacionais ou mesmo internacionais a partir da venda de plantios destinados a esses
mercados. Elevaram-se exponencialmente as interaes espaciais desenvolvidas na rea,
tanto entre as colnias e as sedes municipais quanto em relao capital paraense e as
cidades de outros Estados brasileiros.
Nesse processo scio-espacial, houve o subjugo do campo pela cidade. A
metamorfose que perpassou a relao entre essas duas realidades de suma importncia
para compreendermos as condies histricas e geogrficas que possibilitaram no a
oposio entre ambos, mas as suas crescentes interaes. Tem-se, assim, uma totalidade
dialtica cujas contradies manifestadas na diviso do trabalho social e tcnico, no
desenvolvimento das foras de produo etc. , oriundas do movimento da sociedade atual,
permitem a inter-relao entre eles, marcada pelo conflito, pela degenerao de relaes
sociais antigas, como o campesinato ou a recomposio destas sobre novas bases
econmicas e polticas.
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Esse processo referente relao campo e cidade, rural e urbano foi analisado por
Lefebvre (1973; 2001; 2002) que, diferentemente de Marx e Engels (2007), buscou
entender a re-organizao espao-temporal do campo e da cidade ao longo da histria, mas
lanando uma hiptese na realidade atual: a urbanizao completa da sociedade. Esse autor
denomina de sociedade urbana aquela resultante da urbanizao completa que, embora hoje
se apresente virtual, no futuro se projeta enquanto real.
No entanto, antes de se chegar sociedade urbana, h que se fazer um percurso por
quatro fases no lineares, j que so marcadas pelas continuidades e descontinuidades do
processo histrico que as precedem, quais sejam: a cidade poltica, a cidade comercial, a
cidade industrial e, finalmente, a zona crtica. Essas, por sua vez, ajudam-nos a entender acomplexidade da vida social hoje.
De acordo com a hiptese de Lefebvre (1973; 2002), uma sociedade urbana s se
materializa e se concretiza em realidades em que se desenvolveu a industrializao, pois
quando ocorre o subjugo total do campo em relao cidade e a dominao e subordinao
da produo agrcola ao urbano, fazendo desaparecer grupos tradicionais, como os
camponeses, absorvendo-os e integrando-os sociedade global e urbana, a partir da
expanso crescente do tecido urbano, definido pelo autor da seguinte maneira:
[...] Ele [tecido urbano] o suporte de um modo de viver mais oumenos intenso ou degradado: a sociedade urbana. Na base econmica dotecido urbano aparecem fenmenos de outra ordem, num outro nvel, oda vida social e cultural. Trazidas pelo tecido urbano, a sociedade e a vidaurbana penetram nos campos. Semelhante modo de viver comportasistemas de objetos e sistemas de valores. Os mais conhecidos dentre oselementos do sistema urbano de objetos so a gua, a eletricidade, o gs(butano nos campos) que no deixam de se fazer acompanhar pelo carro,pela televiso, pelos utenslios de plstico, pelo mobilirio moderno, oque comporta novas exigncias no que diz respeito aos servios. Entre
os elementos do sistema de valores, indicamos os lazeres ao modo urbano(danas, canes), os costumes, a rpida adoo de modas que vm dacidade. E tambm as preocupaes com a segurana, as exigncias de umapreviso referente ao futuro, em suma, uma racionalidade divulgada pelacidade (LEFEBVRE, 2001, p. 11-12).
Neste sentido, as relaes urbanas avanam sobre o campo, tanto materialmente, por
meio das instituies associaes e/ou cooperativas capitalistas , dos objetos tcnicos
eletrificao, parablica, televiso, dentre outros , e dos fluxos de produtos, de pessoas e
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dinheiro-capital ; e no materialmente, a partir da veiculao de valores, relaes de
sociabilidade e consumismo.
Essa perspectiva analtica nos permite entender que a realidade social de hoje no
est pautada em uma oposio entre campo e cidade, uma vez que da dominao do
primeiro sobre segundo, no mbito poltico, comercial e na capacidade de gerao de
riqueza, origina-se uma terceira dimenso na relao existente entre eles. Ela se materializa
no tecido urbano que constitui a sntese das duas realidades scio-espaciais. Desse modo,
a substantivao do qualitativo urbano, representando a realidade urbano-industrial atual,
passa assim a significar o terceiro termo da trade dialtica, a sntese da contradio cidade-
campo (MONT-MR, 2007, p. 99).No entanto, devemos questionar a validade desta teoria para realidades em que a
industrializao no foi o indutor da urbanizao, como, por exemplo, a Amaznia
(TRINDADE JR., 1997), ou ainda, em reas em que a prpria modernizao se desenvolve
de maneira precria, como o caso das reas desta pesquisa. Neste caso, devemos levar em
considerao a formao scio-espacial de forma a compreender o desenvolvimento da
urbanizao, elemento que ser discutido posteriormente.
Tecidas essas consideraes, pode-se dizer que, de um modo geral, a perspectiva
analtica de Lefebvre (2002) coloca em xeque as tentativas de entender a cidade e o urbano
contrapondo-os ao campo e ao rural, delineando critrios de diferenciao, ou elencando
caractersticas essenciais da cidade, quase sempre amparadas por definies quantitativas,
como demonstrou Capel (1975), ao discutir as teorias existentes acerca do tema. O autor
explica que as principais acepes de cidade levam em conta o tamanho e a densidade
populacional; a forma e a aglomerao populacional; as funes econmicas no agrcolas
e a forma de vida, marcada pela concentrao demogrfica em aglomeraes urbanas,
elementos que consideram, em certa medida, apenas o nvel da paisagem.Para Santos (2002a), a paisagem corresponde ao conjunto de formas que em um
determinado momento exprimem reminiscncias do passado, representativas de sucessivas
relaes sociais situadas entre o homem e a natureza. Caracteriza-se, igualmente, por ser
transtemporal, coadunando objetos tanto do passado quanto do presente. Com efeito, cada
paisagem apresenta uma distribuio de formas-objetos que contm um contedo tcnico
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prprio e no mudam de lugar, mas podem ter sua funo (econmica, poltica e simblica)
alterada.
Assim, a paisagem a materializao dos processos sociais, a aparncia concreta
desses; compreende o nvel do visvel. Ela no denota as relaes sociais, porm
corresponde s formas espaciais, aos objetos tcnicos que assumem, atualmente, um grau
de artificialidade cada vez maior produzidos pelo homem, por meio do trabalho social.
Embora apresente certa estaticidade, podemos, a partir dela, extrair todo o dinamismo
inerente ao prprio processo de existncia da paisagem (CARLOS, 1994, p. 48). Em
outras palavras:
produzida e justificada pelo trabalho considerado como atividadetransformadorado homem social, fruto de um determinado momento dodesenvolvimento das foras produtivas, e que aparece aos nossos olhos,por exemplo, atravs do tipo de atividade, do tipo de construo, daextenso e largura das ruas, estilo e arquitetura, densidade de ocupao,tipo de veculos, tipo de necessidades, usos etc. (CARLOS, 1994, p. 48).
Nessa perspectiva, a paisagem um ponto de partida para a investigao das
dinmicas sociais, pois suas formas revelam temporalidades diversas, ritmos diferentes que
indicam o momento histrico em que foram produzidas e o seu nvel de desenvolvimentotecnolgico. Como se fosse uma impresso digital temporal (CARLOS, 2004).
Neste sentido, discutir acerca do campo e da cidade implica entendermos essas
realidades para alm de sua dimenso aparente (paisagem), ou seja, devemos considerar
tambm a sua essncia, correspondente s relaes sociais que animam e do vida s
formas geogrficas, isto , o espao.
Entendemos o espao como categoria central em nossa anlise, assim, cabe uma
reflexo sobre os elementos concernentes ao mesmo, isto , devemos defini-lo com ointuito de expressarmos melhor a concepo dessa categoria neste trabalho.
Lefebvre (2001, 2002) define espao como produto, condioe meiodas relaes
sociais, ou seja, ele produzido pela sociedade e produzido a partir dela, logo, constitui-se
o meio de realizao de suas relaes, sejam elas econmicas, polticas ou culturais, do
mesmo modo que as condiciona um condicionamento relativo, pois no h um
determinismo geogrfico. Dessa maneira, o espao mediado por indeterminaes e
contingncias histricas e pelos conflitos sociais. Para este autor, o espao deveria ser
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entendido no apenas como um receptculo, uma localizao, onde se processam as
relaes sociais, mas como um agente, que reage scio-materialmente. Assim, de acordo
com Gottdiener (1997), o espao, para Lefebvre (op. cit.), constitui um meio de produo,
e, tambm, um elemento das foras produtivas.
Portanto, existe uma relao interdependente entre espao e sociedade; neste
sentido, produz-se socialmente o espao, ou melhor, o espao geogrfico, como assevera
Carlos (1994, p.33):
O espao geogrfico no humano porque o homem o habita, mas antesde tudo porque produto, condio e meio de toda a atividade humana. O
trabalho, como atividade do homem, tem um carter intencional evoluntrio, o que implica a transformao do objeto em algo apropriado; oprocesso produtivo assim um processo de produo concreta, nascida dotrabalho; uma resposta do homem as suas necessidades. A satisfao dasnecessidades de sobrevivncia do homem e da reproduo da espciecoloca-se como a condio do processo histrico.
Santos (2004a), por sua vez, prope a anlise do espao geogrfico levando em
considerao trs elementos:
1. Espao enquanto fato social: este se constituiria enquanto fato social devido a sua
objetividade, isto , por sua produo ser coletiva. Origina-se das relaes sociais
gerais e no da percepo de cada indivduo; ele se define pelo conjunto,
condicionando-o. Neste sentido, ele apresenta uma feio material, pois cristaliza
em suas formas espaciais as relaes sociais, condicionando-as tambm. Ele
materialidade e existe fora do sujeito;
2. Espao enquanto fator social: o espao um produto social que reproduzir emsuas formas geogrficas as feies, caractersticas e determinaes da sociedade que
o produziu, adquirindo uma organizao que materializa essas relaes sociais;
logo, participa da reproduo daquelas, condicionando-as, fazendo com que se
reproduzam suas principais linhas de fora;
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3. Espao enquanto instncia social: esta ltima caracterstica, que ontolgica,
fundamenta-se no entendimento de que o espao se constitui uma estrutura social,
uma vez que condiciona e condicionado, subordina e subordinado nas relaes
sociais, pois uma dada relao (econmica, cultural, poltica), ao se instalar no
espao, no pode deixar de considerar as condies geogrficas preexistentes.
Participa, deste modo, ativamente da realidade social. A organizao espacial
apresenta, tambm, uma forma resultante de mltiplas determinaes manifestas
pela histria, logo, revela-se como uma inrcia dinmica, medida que essas
formas geogrficas so resultado, condio e meio de realizao dos processos,
denotando uma perspectiva ativa do espao, que possui uma autonomia relativaassim como as outras estruturas sociais.
Em conformidade com as caractersticas expressas acima, Santos (2002a) define o
espao geogrfico como um sistema de objetos e um sistema de aes interdependentes,
dialeticamente articulados:
O espao formado por um conjunto indissocivel, solidrio e tambm
contraditrio, de sistemas de objetos e sistemas de aes, noconsiderados isoladamente, mas como o quadro nico no qual a histria sed (...) Sistemas de objetos e sistemas de aes interagem. De um lado, ossistemas de objetos condicionam a forma como se do as aes e, de outrolado, o sistema de aes leva criao de objetos preexistentes. assimque o espao encontra a sua dinmica e se transforma (SANTOS, 2002a,p.63).
Essa concepo de espao nos permite compreender que a realidade social se
geografiza, isto , possui uma expresso espacial de suas relaes econmicas, polticas e
culturais, no no sentido de localizao, mas de processos sociais que produzemorganizaes scio-espaciais prprias, mas, ao mesmo tempo, articuladas. Essas, por sua
vez, materializam-se em formas-contedo (SANTOS, 2002a), ordenadas de acordo com
uma determinada racionalidade.
Em nosso trabalho, essas formas se referem ao campo e cidade, cujas paisagens,
em geral, apresentam diferenas. Enquanto o campo possui uma expresso mais natural,
em virtude da produo agrcola, pecuria e extrativista, alm de uma maior disperso
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populacional e de infra-estrutura (casas, colgios, eletrificao, unidades de sade etc.), a
cidade mais artificializada, em funo da concentrao de infra-estrutura e maior imerso
do meio tcnico-cientifico-informacional (SANTOS, 2002a). Isso pode ser observado nas
realidades que pesquisamos as quais descreveremos a seguir. Comecemos pelo Municpio
de Igarap-Au.
O municpio referido se subdivide em sede municipal, correspondente cidade, de
porte pequeno, com aproximadamente 19.489 (dezenove mil quatrocentos e oitenta e nove)
habitantes (IBGE, 2000). Apresenta tambm colnias agrcolas interligadas sede. Essas
colnias perfazem um total de 43 (quarenta e trs) e tm 12.911 (doze mil novecentos e
onze) habitantes (IBGE, 2000).No que se refere cidade, observamos que as casas, em sua maior parte, so de
alvenaria, dispondo-se muito prximas umas das outras e, comumente, possuem quintais ou
mesmo reduzidos lotes com plantaes, alm de pequenos comrcios, os quais
provavelmente complementam a renda familiar.
A sua organizao espacial ainda apresenta traados oriundos do perodo inicial de
sua colonizao, momento em que, na condio de ncleo Jamb-Au, apresentava-se
dividida em travessas, orientadas em funo da estrada de ferro (Estrada de ferro Belm-
Bragana). Eram dispostas paralelamente a ela pelo fato de constituir-se o principal meio de
circulao e escoamento da produo dos colonos locais na poca (1897-1965). Alm de
disso, possibilitava a venda de produtos agrcolas, por parte dos agricultores, para os
viajantes do trem, durante a parada para o almoo. Entretanto, essa estrada-de-ferro foi
desativada no incio da dcada de 1960, sendo construdo no local por onde a linha do trem
passava a avenida principal da cidade, a Avenida Baro do Rio Branco, em cuja margem se
concentram hotis, supermercados, lojas, aougues, bancos (Banco do Brasil e o Bradesco),
farmcias etc. (MIRANDA, 2006).As colnias agrcolas, por sua vez, distam, em mdia, 40 (quarenta) a 60 (sessenta)
minutos da sede municipal. O acesso a elas se d por meio de nibus que, diariamente,
trafegam, uma vez ao dia, em direo s mesmas, atravessando pequenas estradas
silenciosas, encobertas pelas matas ou pelas copas das rvores que produzem uma
aparncia de estaticidade e homogeneidade. Essas qualidades so reforadas pela brisa
silenciosa que por entre as rvores desliza, levantando a poeira seca do cho de terra batida
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em que repousa uma leve faixa de areia transportada da ltima chuva, misturada agora com
o latertico,3formador da piarra dessa estrada.
Imediatamente, nossas narinas so invadidas pelos resduos presentes no ar quente
dessas estradas. Eles se misturam relva ressequida e com o brilho intenso de um incio de
tarde que no solo reflete uma luz intensa da qual nos protegemos franzindo a testa, numa
fuga de sua luz ofuscante. Sua diversidade e dinamicidade, ou melhor, seu tempo scio-
espacial ocorre no nessas margens, como ao longo das rodovias e, sim, no interior
daquelas, nos lotes de terras onde os pequenos agricultores cultivam os mais variados
produtos, criam animais e produzem sua vida, sua cultura, sua histria, seu espao singular,
numa ntima relao com a terra (MIRANDA, 2006). Em determinados pontos dessasestradas encontramos pequenas colnias4, com uma relativa aglomerao de casas, as quais
adentram a mata, refugiando-se sua sombra; e terrenos destinados, em geral, agricultura.
Castanhal, por sua vez, apresenta a mesma subdiviso municipal, mas sua
configurao distinta. A cidade (sede do municpio), demograficamente possui 121.249
(cento e vinte e um mil e duzentos e quarenta e nove) habitantes (IBGE, 2000).Apresenta
um grau de tecnificao mais elevado dada a presena de indstrias de transformao (221),
do comrcio mais desenvolvido reparao de veculos automotores, de objetos pessoais e
domsticos (1.374) e alojamentos e restaurantes (49) (IBGE, 2000). De outra parte,
apresenta um incipiente adensamento vertical, elementos que nos possibilitam entend-la
como uma cidade de porte mdio.
Seu espao rural apresenta uma diferena substancial, em termos demogrficos, em
relao cidade, pois possui 13.247 (treze mil, duzentos e quarenta e sete) habitantes
(IBGE, 2000), isto , aproximadamente, 9 (nove) vezes menos o total da populao urbana.
Nessas colnias ainda podemos observar o desenvolvimento da agricultura
camponesa5. H tambm uma considervel quantidade de fazendas, alm da atuao de
3Corresponde designao dada aos solos de colorao avermelhada, tpicos das zonas quentes e midas.4O termo colnia utilizado por ser esta a denominao empregada pelo Estado paraense as reas agrcolasque eram criadas ao longo da Estrada de Ferro Bragana. A denominao ainda hoje utilizada pelosagricultores locais, embora oficialmente muitas se chamem de agrovilas, a exemplo da agrovila 3 de Outubro,Iracema, Porto Seguro e So Jorge do Jabuti.5 Esta se caracteriza pela produo familiar em lotes de terra, em mdia de 25 ha, cujas atividades sodivididas entre os prprios membros da famlia, os quais possuem a propriedade da terra e desenvolvem ummercado de excedentes (MARTINS, 1997), em que a produo anseia principalmente a sobrevivncia destencleo familiar.
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empresas extrativistas, a exemplo da Palmasa Ltda, tambm encontrada em Igarap-Au.
Essa diferena, do ponto de vista da paisagem, embora ainda se reproduza em nossa rea de
estudo, apresenta sua diminuio em outras realidades, devido modernizao do campo,
possibilitando a emergncia, de modo mais acentuado, do meio tcnico-cientifico-
informacional(SANTOS, 2002a).
O trabalho de Elias (2006), ao discutir o agronegcio, atualmente, na regio
Nordeste, retrata a criao de cidades voltadas a essa atividade, isto , espaos urbanos que
foram produzidos para se adequarem s demandas e dinmicas da agroindstria,
principalmente da soja e de frutos regionais, o que engendra processos de periferizao e
favelizao nas mediaes do campo onde este ramo da economia globalizada se instala,apresentando formas predominantes nas grandes cidades brasileiras, alm do alto grau de
artificializao que esse espao apresenta hoje.
Essas formas espaciais por si s no explicam a realidade, no mximo permitem a
sua descrio, como foi feito acima, pois no exprimem as relaes que nelas/delas se
desenvolvem. Por este motivo no devemos separar os respectivos contedos destas
formas. Entretanto, para efeito de sistematizao de nossa anlise, estamos apresentando-as
em separado.
Os contedos predominantes no campo e na cidade, a priori, so, respectivamente,
o rural e o urbano. Ao primeiro, em geral, atribudo um modo de vida ritmado por um
tempo mais vinculado aos ciclos da natureza, no no sentido de um determinismo natural,
mas as relaes sociais so influenciadas por ela, devido a menos tecnificao e
modernizao que o campo possui, alm de sociabilidades mais prximas, ou seja, h uma
relao de cooperao e de ajuda mtua entre as pessoas, o que produz um espao banal, de
relaes orgnicas, como assinala Santos (2002a).
O segundo possui relaes cada vez mais ritmadas pela racionalidade do mercadocujo tempo cronolgico. Buscando disciplinar o espao, instaurando um modo de vida
cujas relaes so distantes, fugaz. O encontro, nesse contexto, reduz-se a um passar pelo
outro, no sendo mais mediado pelas narrativas, pelo conhecer o outro, ao contrrio, esse
encontro cada vez mais evitado.
Esses contedos, embora estejam dispostos como separados e antagnicos, ou
mesmo como produtos de formas espaciais especficas, estabelecem uma relao dialtica
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entre si. Deste modo, observamos que mesmo no campo h a difuso do contedo urbano,
caracterizado pela sua tecnificao, estimulando tempos sociais mais mecnicos e externos
prpria lgica local, principalmente em reas em que o agronegcio se estabelece, como
aponta o trabalho de Elias (2006). Mas, tambm, visualizamos este processo por meio do
que Santos (2002a) denominou de psicosfera, isto , valores urbanos so veiculados no
campo sem, necessariamente, haver uma total tecnificao; e, sim, por meio de elementos
outros, como a televiso, que difunde uma apropriao mais consumista do espao.
Por outro lado, tambm podemos ter a reproduo do rural nas cidades, como
demonstrou o trabalho de Lima (2003), ao estudar determinados bairros de Imperatriz
(Maranho) em que havia a recriao de laos de sociabilidade entre os membros dosbairros cuja relao com a terra era econmica, no sentido de que muitos produziam para
vender em feiras prximas, mas, igualmente, scio-cultural, pois uma parte da produo era
de uso comum, possibilitando uma relao mais prxima e de diviso do que era plantado
bem como de ajuda mtua e cooperao entre eles.
Desta feita, as formas-contedos em nosso estudo, quais sejam, cidade-urbano,
campo-rural so trabalhados de maneira interdependente cuja articulao dialtica
proporciona a manifestao desigual dos mesmos, em funo da contradio em que essas
formas-contedo interagem.
Neste sentido, entendemos que a relao entre o rural e o urbano se desenvolve
desigualmente no espao-tempo, pois a formao econmico-social das realidades sociais
denota diferenciaes de espaos e de tempos. Assim, antes de discutirmos o
desenvolvimento desigual e combinado do urbano e do rural, discutiremos a noo de
formao econmico-social.
Martins (1996), ao discutir o pensamento lefebvriano acerca de Marx, discorre sobre
essa noo que carrega o objetivo de indicar o tempo das relaes sociais, pois emboranascidas em momentos histricos diferentes, coexistem entre si assimetricamente numa
relao de descompasso e desencontro. Nesta perspectiva, a lei da formao econmico-
social a lei do desenvolvimento desigual: Ela significa que as foras produtivas, as
relaes sociais, as superestruturas (polticas, culturais) no avanam igualmente,
simultaneamente, no mesmo ritmo histrico (MARTINS, 1996, p. 17). Lefebvre, ao
retomar Marx (MARTINS, 1996), encontra uma relao entre o espacial e o temporal,
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sugerida nos textos marxianos, mas ele prprio que a desenvolve com maior
profundidade. Sua interpretao sobre a noo de formao econmico-social se distancia e
se alarga em relao viso marxista de carter economicista:
Lefebvre entende que a desigualdade dos ritmos do desenvolvimentohistrico decorre do desencontro que na prxis faz do homem produtor desua prpria histria e, ao mesmo tempo, o divorcia dela, no o tornasenhor do que faz. Sua obra ganha vida prpria, torna-se objeto eobjetivao que subjuga em renovada sujeio o seu sujeito. A formao econmica e so