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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

ROSALY ROCHA CAZETTA

AS DIFERENÇAS NA ESCOLA:

PROMOVENDO AÇÕES INTEGRADORAS

Londrina 2012

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AS DIFERENÇAS NA ESCOLA:

PROMOVENDO AÇÕES INTEGRADORAS

Professor: Rosaly Rocha Cazetta1

Orientador: Marleide Rodrigues da Silva Perrude2

RESUMO Este artigo tem por objetivo relatar a implementação de um projeto de intervenção pedagógica desenvolvido junto a uma turma de 8ª série do ensino fundamental do Colégio Estadual D. Pedro I – E.F.M., da cidade de Lidianópolis, PR3, sendo parte integrante das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE4. Tal projeto teve por objetivo promover momentos de reflexão com os alunos sobre o tema educação e diversidade. Buscamos caracterizar a realidade sociocultural dos alunos, além de discutir as diferenças e a presença do preconceito no ambiente escolar. Ressalta-se que discutir as diferenças na sociedade brasileira não é um tema fácil. Vários pesquisadores tem se debruçado sobre esse debate, buscando seu entendimento; e, trazê-lo para o cotidiano escolar é muito mais complexo, principalmente para o professor que trabalha e convive com alunos que levam para a sala de aula um conjunto de situações, onde as diferenças sociais e culturais fazem parte do cotidiano escolar. Ao final do trabalho, concluímos que os alunos refletem sobre a realidade que vivenciam, quando se abre espaço para debates e reflexões o que exige do professor uma mudança de olhar, a fim de que se alterem certos comportamentos que silenciam a existência do preconceito e da discriminação no espaço escolar. Palavras-chave: Diversidade. Diferenças. Discriminação. Ações integradoras.

1 Professora de Escola Pública do Estado do Paraná; Especialista em Deficiência Mental, pela

FAFIJAN – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jandaia do Sul. e-mail:

[email protected]. 2 Professora do Departamento da Educação da Universidade Estadual de Londrina.

3 A direção do Colégio Estadual D. Pedro I-Ensino Fundamental e Médio de Lidianópolis, autorizou a divulgação do nome da Instituição neste artigo.

4 O PDE é uma política pública de Estado regulamentado pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010 que estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/ conteudo.php?conteudo=20>. Acesso em: 6 jul. 2012.

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ABSTRACT

THE DIFFERENCES IN SCHOOL: PROMOTING INTEGRATIVE ACTIONS

The purpose of this article is to report the implementation of a pedagogical intervention project developed with a 8th grade class of the D. Pedro I – E.F.M., elementary school from the city of Lidianópolis, PR. that has been an integrant part of the educational development program – EDP activities. Such project had the objective to promote reflection moments with the students about the themes: education and diversity. We seek to characterize the sociocultural reality of the students, beyond discuss the differences and the presence of prejudice in the school environment. It is noteworthy that discuss the differences in the Brazilian society isn’t an easy theme. Several researchers has pawned on this debate, researching the understanding of this; and, bring it to the school quotidian is even more difficult, mainly for the teacher that works and have a close association with the students, that bring to the classroom a conjunct of situations, where the social and cultural differences make part of the school everyday. In the end of the work, we came to a conclusion that the students reflect on the reality that they live in; when a space is open for debates and reflections, what demands a change of perspective from the teacher, in order to change certain behaviors that hush the existence of prejudice and discrimination in the school environment.

Keywords: Diversity. Differences. Discrimination. Integrative actions.

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Introdução

O projeto denominado “As Diferenças na Escola: Promovendo Ações

Integradoras” teve por objetivo promover momentos de reflexão com os alunos 8ª

série do ensino fundamental sobre o tema educação e diversidade. O tema partiu da

própria realidade da escola onde as diferenças dos alunos era visível, revelando-se

por meio das condições sociais, culturais e em comportamentos em sala de aula;

porém, invisível aos olhos dos professores. As dificuldades de entender as

diferenças socioculturais e perceber como interferiam no processo de ensino e

aprendizagem ocasionaram desmotivação e desinteresse, por parte dos alunos, em

frequentar as aulas, gerando situações de indisciplina e baixo rendimento escolar. A

percepção desses comportamentos ficava silenciada por alguns professores, os

quais se calavam diante dos problemas encontrados na sala de aula, principalmente,

quando havia situações que envolviam preconceitos e discriminação.

Nessa escola, no período vespertino, a grande maioria dos alunos era da

zona rural – o que dificultava, muitas vezes, a interação entre escola-família. Muitos

alunos não realizavam as tarefas de casa, demonstravam dificuldades em interagir

com os alunos da zona urbana, entre outras atitudes. Observava-se também a baixa

de autoestima desses alunos, que, muitas vezes, chegavam cansados em virtude do

trajeto que faziam de sua casa até a escola. Em muitos casos, a causa dessa

desmotivação tinha origem na insatisfação pessoal dos alunos da zona rural, devido

ao fato de se sentirem fora dos padrões idealizados pelo meio. Vale ressaltar que

essa realidade acabou gerando consequências que interferiram, direta e

indiretamente, no processo de ensino-aprendizagem, e, além reduzia as

expectativas dos professores sobre eles.

Diante dessa realidade de muitos temas que poderiam ser explorados,

optou-se por discutir as diferenças socioculturais na escola, que, afinal, é um

assunto que merece reflexão e busca exaustiva de alternativas, contribuindo de

maneira positiva para o processo de ensino-aprendizagem. Essa não foi uma tarefa

fácil, pois, para trabalhar com o tema, foi preciso respostas para algumas questões,

tais como: Como essas diferenças sociais e culturais manifestavam-se no contexto

da sala de aula? Qual o olhar dos alunos e professores sobre essas diferenças?

Elas interferiam no processo de ensino e aprendizagem?

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Nesse sentido, por meio de um grupo de estudos com alunos da 8ª série,

buscou-se promover momentos de reflexão sobre o tema “diversidade”. Buscou-se,

ainda, discutir os temas diferença, preconceito, discriminação e racismo no ambiente

escolar.

A Escola como Espaço de Conhecimento e de Reconhecimento das Diferenças

A identidade de cada indivíduo é construída por meio de inúmeros

elementos culturais adquiridos por meio das relações que se estabelecem no

decorrer do seu processo formativo. Isso significa que a identidade diferencia e

caracteriza grupos humanos.

De acordo com Munanga (2000), para os indivíduos, a identidade é a fonte

de sentidos e de experiência. Toda identidade exige reconhecimento; do contrário,

ela poderá sofrer prejuízos se for vista de modo limitado ou depreciativo. Para que

isso aconteça, é necessário que se tome consciência de que a diferença é parte

constitutiva do ser humano. Partindo desse raciocínio, o autor afirma que “[...] a

construção dessa nova consciência não é possível sem colocar no ponto de partida

a questão de autodefinição, ou seja, da autoidentificação dos membros do grupo em

contraposição com a identidade dos membros do grupo ‘alheio’” (MUNANGA, 2008,

p. 14).

As crianças, durante seu processo de escolarização, enfrentam um conjunto

de situações que permite o reconhecimento de si e dos outros, reconhecendo que as

diferenças são biológicas ou culturais. Esse processo de construção pode estar

permeado de experiências positivas ou negativas e, na medida em que elas se

deparam com situações de não reconhecimento de suas características, buscam

defender-se do sentimento e das pessoas, isto é, tendem a isolar-se, retrair-se,

autoexcluir-se e até mesmo a ter comportamentos indisciplinados ou violentos.

Infelizmente, essa criança acaba carregando isso ao longo de todo o seu processo

de desenvolvimento dentro da escola.

Essa violência escolar reflete uma situação que evidencia um ambiente

repleto de medo e insegurança, interferindo nas relações interpessoais e

comprometendo o processo de ensino-aprendizagem. Em algumas situações de

acordo com Campos (2003, p. 186),

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[...] há uma responsabilização dos excluídos pela sua situação. As reações dos alunos podem ser tanto de retraimento – recusa em participar do ‘jogo’ – como de agressividade e violência contra a escola, os professores e colegas.

Contudo, essa situação não se limita aos alunos, pois, como afirma Moysés

e Collares (apud QUINTEIRO, 2000, p. 31), esse conceito errôneo ainda está

presente no discurso dos professores:

[...] comum no discurso dos professores o argumento de que as crianças não aprendem porque são pobres, sujas, desnutridas, imaturas, negras, nordestinas, não aprendem por que seus pais são analfabetos, alcoólatras e as mães trabalham fora.

Ressalta-se que em cada contexto social, apresenta-se um padrão de

comportamento ou “um tipo ideal” de homem, mulher, isto é, diferenciações

pautadas em padrões pré-estabelecidos por cada grupo social. Os padrões são

definidos e determinados pelo contexto histórico e cultural, ou seja, pensar em um

“padrão” ou “tipo ideal” de pessoas é algo praticamente impossível de ser atingido

por todos os seres humanos; no entanto, quer seja consciente quer seja

inconscientemente, todos estão em busca desse ideal, e quem não corresponde a

esse padrão é excluído ou vivencia situações marcadas pelo preconceito e pela

discriminação. Para Amaral (1998, p.14):

[...] a aproximação ou semelhança com essa idealização em sua totalidade ou particularidade é perseguida, consciente ou inconscientemente, por todos nós, uma vez que o afastamento dela caracteriza a diferença significativa, o desvio, a anormalidade. E o fato é que muitos e muitos de nós, embora não correspondendo a esse protótipo ideologicamente construído, o utilizamos em nosso cotidiano para a categorização/validação do outro.

Um aluno no espaço escolar que se sente diferente e, consequentemente,

discriminado pelos outros, muitas vezes, recorre à agressividade para se defender.

Essa agressão pode ser tanto verbal quanto física. Em face disso, observa-se, com

certa frequência, que há brigas entre alunos durante as aulas, durante o recreio ou

na saída da escola. Entretanto, não é somente o comportamento agressivo que

caracteriza o aluno que se sente inferiorizado. Se não trabalhada de forma correta, a

diferença pode gerar dentro do ambiente escolar um desconforto, fazendo com que

o aluno fique desmotivado a frequentar e a participar das aulas. A falta de motivação

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pode acarretar a indisciplina ou a apatia do aluno e prejudicar o processo de ensino-

aprendizagem.

Um aluno que se sente diferente por ser oriundo de uma condição social

inferior ou por trazer consigo alguma peculiaridade cultural, enxerga a si mesmo

como diferente dos demais – o que pode trazer à tona marcas negativas. As

consequências desse sentimento são, muitas vezes, irreversíveis no ambiente

escolar. Por isso, é imprescindível mostrar aos alunos de que realmente existem as

diferenças, fundamentando-as histórico e culturalmente. Aponta-se para a

necessidade de discutir, explorar e refletir sobre as diferenças e a sua importância

para o processo de socialização, excluindo do cotidiano escolar a discriminação e

todas as suas formas de manifestação.

Aoyama e Perrude (2009, p. 173) enfatizam a importância de chamar a

atenção para essa problemática; logo, é necessário romper o “ [...] silêncio histórico

diante do preconceito, do racismo e da discriminação presentes no cotidiano

escolar”, apontando para a necessidade de ações formativas e pedagógicas mais

consistentes.

Considerando que o professor deve ser o mediador do conhecimento,

facilitando o processo ensino-aprendizagem, a ele é destinado o desafio de

reconhecer as diferenças não biológicas, mas também culturais – além de trabalhar

na sala de aula com tais diferenças. Para tanto, o professor precisa se apropriar de

todo um conjunto de conhecimento de maneira crítica para que, assim, possa

questionar os valores impostos e idealizados pela sociedade.

Esses problemas devem ser trabalhadas de forma clara e responsável, com

o professor para que, assim, ele possa enfrentar e discutir com seus alunos as

diferentes manifestações do preconceito e da discriminação. Conforme ressalta

Ruiz (2003) para aqueles professores engajados em um processo de transformação

social, é necessário que acreditem na educação, pois “sem ela nenhuma

transformação profunda se realizará”.

Desenvolvimento do Projeto

O projeto denominado “As Diferenças Na Escola: Promovendo Ações

Integradoras” foi desenvolvido junto a uma turma de 8ª série do ensino fundamental

do Colégio Estadual D. Pedro I – E.F.M., da cidade de Lidianópolis, tendo por

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objetivo promover momentos de reflexão com os alunos e possibilitar um processo

de discussão sobre a educação e a diversidade.

Buscou-se descrever a realidade sociocultural dos alunos, discutir as

diferenças e a presença do preconceito no ambiente escolar e mostrar aos

professores a importância da participação de todos no desenvolvimento do projeto.

Iniciou-se o trabalho com a aplicação de questionário aos alunos, com o

objetivo de colher informações, visando verificar as percepções dos alunos a

respeito das diferenças, estereótipos, padrões e idéias sociais. Seguiu-se o trabalho

com grupos de debate formados pelos alunos por meio de dinâmicas de grupo,

vídeo-fórum sobre trechos de filmes selecionados que provocavam reflexões sobre o

tema: diferenças culturais. As atividades tiveram início em agosto de 2011 e foram

desenvolvidas no decorrer do segundo semestre, sendo concluídas em dezembro de

2011. Essas atividades desenvolveram-se durante as aulas da oitava série do

período vespertino, com duração média de meia hora ou uma hora para cada

atividade.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico da Colégio Estadual D. Pedro I

– E.F.M, 2012 a comunidade atendida é constituída por alunos oriundos de famílias

de camada social baixo-média, com nível de escolaridade igualmente baixo, sendo

que a maioria dessas famílias provém da zona rural. Ressalta-se que os alunos que,

por necessidade de auxiliar na renda familiar, entram precocemente no mercado de

trabalho ou assumem responsabilidades domésticas, o que acarreta dificuldades no

seu desempenho acadêmico culminando, inclusive, em algumas situações na

evasão escolar.

Na primeira etapa do trabalho foram aplicados questionários com alunos,

para coletar informações sobre a sua vida e de sua família. Buscou-se informações

sobre moradia, transporte para a escola, tempo de chegada à escola, se gosta das

pessoas com quem convive no ambiente escolar, se gosta de estudar, se sofreu

algum preconceito, e se sim, como resolveu, sobre sua vida sociocultural.

De dezoito questionários aplicados retornaram quinze. Ao analisar os dados

coletados, percebeu-se que a organização familiar é diversificada, ou seja,

diferentes arranjos compõem o universo familiar. Muitos alunos vivem com os avós e

tios, outros moram somente com a mãe.

Identificou-se, ainda, nas respostas, a dificuldade que os alunos encontram

para chegar à escola, visto que, em função da distância entre a escola e a moradia\

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muito alunos chegam atrasados. Conforme já revelado pelo P.P.P da escola a

maioria dos moram na zona rural. Para se deslocarem, os alunos vão à escola a pé

ou de ônibus, sendo que muitos deles até mais de uma hora para chegar à escola.

Contudo, apesar das dificuldades, a maioria afirmou gostar de estar na escola.

Buscou-se ainda verificar se os alunos sofreram algum tipo de discriminação

dentro da escola. Dos alunos que responderam ao questionário, verificou-se que oito

sofreram algum tipo de preconceito; seis sofreram e um deixou de responder. Dentre

os motivos desse preconceito, as razões foram variadas: seis alunos atribuíram tal

preconceito ao fato de morarem na zona rural, um ao fato de ser negro, oito não

responderam o motivo, pois assinalaram que não sofreram situações de preconceito.

Em relação ao preconceito sofrido por alunos da zona rural, observa-se que muitos

alunos da área urbana não conhecem nem reconhecem a importância da zona rural

na estrutura do município e até mesmo no Brasil. O preconceito sofrido pelo aluno

por ser negro, revela esse é um tema que ainda deve ser exaustivamente

trabalhado, no sentido de promover a conscientização tanto das vítimas (que devem

denunciar) quanto dos agressores – o que demonstra, afinal de contas, a dificuldade

em romper preconceitos sedimentados ao longo da história.

Em relação às atitudes dos alunos diante do preconceito; seis alunos não

responderam, dois contaram para seus pais, dois falaram para pedagoga, dois não

fizeram nada e outros dois alunos choraram. Essa realidade revela que os alunos

buscam resolver o seu problema de forma diferente. Dos preconceitos identificados

e mencionados pelos alunos, somente aqueles que foram relatados a Pedagoga foi

discutido.

Após o levantamento desses dados, e dos encontros coletivos foi possível

perceber um pouco das percepções, dos medos e anseios dos alunos diante das

situações de preconceito. Afinal, estar ciente do que acontece em seu dia dia pode

possibilitar maior aproximação do professor com os alunos, tornando o processo de

ensino-aprendizagem mais significativo e nesse sentido é preciso estar atento a

cada atitude preconceituosa que se manifesta no espaço escolar.

No tocante a vivencia de situações onde o preconceito se manifesta alguns

alunos sentiram-se inibidos, não conseguiram expor seus sentimentos e uma boa

parte são os percebiam, já aqueles que o percebia e sofriam com o problema com

este trabalho conseguiram expor seus sentimentos inclusive alguns até se

sensibilizaram.

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Após a caracterização do grupo e a análise das informações coletadas, teve

início um trabalho de estudo com os alunos da 8ª série. Primeiramente, discutiu-se

sobre o tema identidade, tendo como ponto de partida o desenvolvimento de uma

dinâmica de grupo que tinha por objetivo fazer com que cada aluno pudesse

descrever suas características físicas, emocionais e culturais. Nessa dinâmica, os

alunos falaram de sua vida, sobre o que mais gostavam de fazer, quais eram as

suas brincadeiras, quem são seus amigos, suas características individuais, bem

como de seus sonhos e o que esperam do futuro. É importante observar que, na

análise das respostas, de maneira geral, poucos deles possuíam perspectiva em

relação à continuidade dos estudos, isto é, ingressar no ensino superior, alegando

não possuir condições financeiras para tal realização. Tal visão precisou ser

desmistificada, pois, como se sabe, o acesso ao ensino superior tem-se tornado

acessível aos alunos das camadas populares5.

Dando continuidade às discussões, trabalhou-se com o tema preconceito a

partir do filme “O pequeno Príncipe”. Os alunos foram à biblioteca, fizeram pesquisas

sobre o preconceito em revistas, jornais, internet, e voltaram para sala de aula para

fazer um debate durante a aula. Os debates levaram-lhes a perceber que eles

próprios possuem preconceitos, embora não se apercebam disso. Observou-se,

também, que alguns já sofreram preconceito e que deixavam de realizar atividades

em grupo, a fim de evitar sofrê-lo novamente; por isso, fechavam-se em grupos em

que os indivíduos possuem as mesmas características que eles, chegando, às

vezes, ao ponto de privar-se do convívio social.

O tema racismo também foi trabalhado a partir do vídeo “Uma infância sem

racismo”. Após assistirem ao vídeo, os alunos discutiram sobre o racismo no Brasil,

fizeram uma reflexão sobre o tema e, nas discussões, chegaram à conclusão de

que, infelizmente, ainda é grande a prática do racismo no país. Vale destacar que

alguns alunos ficaram chocados com o levantamento apresentado, pois acreditavam

que tal prática não acontecia no Brasil. Afinal, por ser um país com grande

diversidade cultural e pluralidade de raças, é possível que esperassem outra

realidade; no entanto, ao ver que o Brasil é um país extremamente preconceituoso,

disseram-se intrigados e, ao mesmo tempo, entristecidos.

5 Em virtude dos programas do Governo Federal nos últimos anos, como o Prouni e o sistema de cotas em universidades públicas, ingressar em uma faculdade, apesar de alguns limites, não é mais um privilégio, mas sim, um direito.

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É importante ressaltar que se iniciou o projeto com uma grande ansiedade e

expectativa, acreditando que seria muito difícil a sua aplicabilidade, pois os alunos

que sofrem preconceito são estigmatizados tanto no ambiente escolar quanto na

comunidade em que vivem e, por vergonha, preferem esconder que foram vítimas.

Contudo, quando foi aplicada a atividade “Quem sou eu”, um dos alunos chamou-

nos a atenção sobremaneira, pois, ao contrário do previsto, foi notável a sua

confiança em relatar-nos os problemas que enfrentava no ambiente escolar e na

sociedade. Aliás, ao discutirem a proposta do projeto, a maioria dos alunos

demonstrou interesse nos vídeos que seriam apresentados, além de mostrarem-se

motivados na realização das atividades.

Enfim, no desenvolvimento desse projeto julgou-se relevante o fato de haver

uma aproximação maior com os alunos, fazendo com que conhecêssemos um

pouco da vida de cada um; afinal, ao contrário do que muitos professores acreditam,

sabe-se muito pouco sobre o cotidiano de cada aluno, embora convivamos

diariamente com eles. No final do trabalho, pode-se constatar, não sem tristeza, que

alguns alunos são discriminados em seu dia-a-dia, sendo que muitos não

conseguem se expressar; desse modo, ressalta-se a importância deste projeto, visto

que, nos encontros semanais, promoveu-se um espaço para desenvolver, por meio

das atividades propostas, uma proximidade maior tanto entre os próprios alunos,

como também entre o professor e os alunos.

Considerações Finais

Planejar um trabalho é sempre árduo e difícil. Prever os resultados,

principalmente quando envolve várias pessoas – no caso específico, uma sala de

aula alunos, na 8ª série do ensino fundamental –, não é uma tarefa das mais fáceis.

Assim, ao colocar o projeto em prática, as atividades demonstraram a necessidade

de modificar o seu planejamento, havendo, portanto, algumas alterações, isto é, ora

aprofundando um ponto, ora deixando-o do de lado, mas sempre dentro dos

objetivos traçados.

No decorrer do projeto, tudo foi importante: os questionários, vídeos,

palestra, debate, filmes etc. Todavia, o ponto mais relevante no desenrolar de cada

etapa percorrida, no desenvolvimento de cada um dos temas, sem dúvida, foi a

possibilidade de conhecer cada aluno e perceber que entre eles houve uma

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aproximação maior, quando o projeto já se encaminhava para o fim, foi possível

perceber os avanços desse trabalho, isto é, a importância de cada um reconhecer –

se a si mesmo e respeitar a diferença do outro.

Ressalta-se com esse trabalho que a discriminação deve ser tratada

cotidianamente no ambiente escolar. Assim, o que se espera do educador é uma

reflexão em conjunto com os alunos sobre a construção da identidade, bem como

sobre as diferenças que caracterizam cada sujeito no espaço escolar. Nesse

sentido, faz-se necessária uma mudança de olhar por parte dos educadores, a fim

de que se alterem certos comportamentos que silenciam a existência do preconceito

e da discriminação no espaço escolar.

É preciso promover momentos de discussão com os alunos sobre a sua

realidade, o que permitirá um processo de reflexão sobre educação e diversidade.

Na turma em que se aplicou esse projeto, ficou evidente que os alunos que por

algum motivo se sentiam discriminados apresentavam dificuldade tanto em se

relacionar com os colegas de sala quanto com o professor. Esses mesmos alunos

não demonstravam interesse e entusiasmo em participar dos eventos culturais,

artísticos e esportivos – o que deixava evidente que o “sentir-se” discriminado leva o

aluno a não ser reconhecer nem a autovalorizar-se.

Talvez por falta de amadurecimento, ou de esclarecimentos os alunos

muitas vezes não se dão conta quando são vítimas de discriminação; ao contrário,

quando se sentem vítimas de preconceito, optam por não denunciar tais abusos,

quer seja por vergonha, quer seja por medo, sendo, portanto, reféns do preconceito.

Quanto aos professores, devido ao fato de se tratar de um assunto

“delicado”, continuam silenciando-se diante de situações que envolvam

preconceitos, preferindo não tomar nenhuma atitude. Ressalta-se que isso afeta

diretamente o processo de ensino-aprendizagem, pois, os alunos podem deixar de

interagir, comunicar-se, ou, simplesmente, não frequentam as aulas.

Em suma, ao término das atividades do projeto, buscou-se relatar os

resultados do trabalho, promovendo encontros e reuniões pedagógicas no sentido

de orientar, propor ações e instigar a comunidade escolar a refletir sobre a presença

do preconceito e da discriminação no espaço escolar. Chegou-se ainda a conclusão

que é necessário um trabalho coletivo entre direção, equipe pedagógica,

professores, agentes educacionais para uma melhor reflexão sobre o tema

diversidade no espaço escolar.

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REFERÊNCIAS

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COLÉGIO ESTADUAL D. PEDRO I. Ensino Fundamental e Médio. Projeto político pedagógico. Lidianópolis, 2012.

MUNANGA, Kabengele. O preconceito racial no sistema educativo brasileiro e seu impacto no processo de aprendizagem do “alunado negro”. In: AZEVEDO, José Clóvis et al.Utopia e democracia na Escola Cidadã. Porto Alegre: Ed.UFRGS, 2000.

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacionalversus identidade negra. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

QUINTEIRO, J. Infância e escola: uma relação marcada por preconceitos. 2000. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2000.

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