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SÃO JOÃO DE DEUS Retrato de São João, feito pelo pintor real Alonso Sanches Coelho. 1547 BIOGRAFIA SÃO JOÃO DE DEUS Dois anos antes da partida de Vasco da Gama para a Índia, nascia em Montemor-o-Novo, Alentejo, um outro grande herói de seu nome João. Este nasceu no dia 8 de Março de 1495, na Rua Verde, numa habitação modesta, de gente humilde e honrada. Aos oito anos, João ouviu, de um padre em visita, sobre as aventuras que o poderiam esperar, nesse ano de 1503, na descoberta de novos mundos. Nessa mesma noite fugiu de casa para viajar com o padre e nunca mais viu os seus pais. Foram vivendo da ajuda popular de aldeia em aldeia até que João adoeceu. O homem que tratou dele, regente de uma grande propriedade, adoptou-o posteriormente. João trabalhou como pastor nas montanhas até aos vinte e sete anos. Sentindo-se pressionado para casar com a filha do regente, a qual amava como irmã, João foi-se embora e alistou-se no exército espanhol na guerra contra França. Como soldado, era tudo menos modelo de santidade, participando no jogo, na bebida e nas pilhagens que os seus camaradas apreciavam. Um dia, caiu de um cavalo roubado perto das linhas francesas. Com medo de ser capturado ou morto, reviu toda a sua vida e fez um voto impulsivo de mudança. Quando regressou, mantendo o estímulo do voto feito, confessou-se, e imediatamente mudou a sua vida. Os seus camaradas não se importavam 1

Sao Joao de Deus-biografia

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SO JOO DE DEUS

SO JOO DE DEUS

Retrato de So Joo, feito pelo pintor real Alonso Sanches Coelho. 1547

BIOGRAFIA

SO JOO DE DEUS

Dois anos antes da partida de Vasco da Gama para a ndia, nascia em Montemor-o-Novo, Alentejo, um outro grande heri de seu nome Joo. Este nasceu no dia 8 de Maro de 1495, na Rua Verde, numa habitao modesta, de gente humilde e honrada.Aos oito anos, Joo ouviu, de um padre em visita, sobre as aventuras que o poderiam esperar, nesse ano de 1503, na descoberta de novos mundos. Nessa mesma noite fugiu de casa para viajar com o padre e nunca mais viu os seus pais. Foram vivendo da ajuda popular de aldeia em aldeia at que Joo adoeceu. O homem que tratou dele, regente de uma grande propriedade, adoptou-o posteriormente. Joo trabalhou como pastor nas montanhas at aos vinte e sete anos. Sentindo-se pressionado para casar com a filha do regente, a qual amava como irm, Joo foi-se embora e alistou-se no exrcito espanhol na guerra contra Frana. Como soldado, era tudo menos modelo de santidade, participando no jogo, na bebida e nas pilhagens que os seus camaradas apreciavam. Um dia, caiu de um cavalo roubado perto das linhas francesas. Com medo de ser capturado ou morto, reviu toda a sua vida e fez um voto impulsivo de mudana.

Quando regressou, mantendo o estmulo do voto feito, confessou-se, e imediatamente mudou a sua vida. Os seus camaradas no se importavam muito com o seu arrependimento mas detestavam que ele quisesse que eles tambm deixassem os seus prazeres. Usavam, ento, da sua natureza impulsiva para o enganarem, e ele deixar o seu posto, com o pretexto de ajudar algum em necessidade. Foi salvo da forca, no ltimo minuto, e corrido do exrcito, depois de espancado e despido. Mendigou no caminho de volta para a casa onde tinha trabalhado como pastor, at que ouviu falar de uma nova guerra com os Muulmanos a invadirem a Europa. Partiu de novo, mas no final da guerra, decidiu tentar encontrar os seus pais. Para sua tristeza, descobriu que ambos tinham morrido na sua ausncia.

As jornadas de So Joo de Deus, a p, em Portugal e Espanha: " Fazei o bem Irmos!"

Como pastor teve imenso tempo para meditar sobre o que Deus quereria da sua vida. Quando decidiu, aos trinta e oito anos, que deveria ir para frica para resgatar cristos cativos, deixou tudo para trs e dirigiu-se ao porto de Gibraltar. Estando na doca espera do seu navio, encontrou uma famlia visivelmente triste e desgostosa. Tendo descoberto que eram uma famlia nobre que partia para o exlio em frica devido a intrigas polticas, abandonou o seu plano original e voluntariou-se como seu servo. A famlia adoeceu, quando chegou ao exlio, e Joo manteve-os, no s cuidando da sua doena, mas tambm ganhando dinheiro para a sua alimentao. O seu trabalho na construo de fortificaes era castigador e desumano, sendo os trabalhadores espancados e maltratados por pessoas que se auto-intitulavam de catlicos. Vendo cristos a agir desta forma to inquietante, Joo viu a sua f abalada. Um padre aconselhou-o a no acusar a Igreja pelos seus actos e a partir para Espanha imediatamente. Joo regressou mas apenas aps ter a certeza de que a sua famlia de adopo recebera o perdo.

Em Espanha passou os seus dias carregando navios e as suas noites visitando igrejas e lendo livros espirituais. A leitura deu-lhe tamanho prazer, que decidiu dever partilhar essa alegria com os outros. Deixou o seu trabalho e tornou-se vendedor ambulante de livros, viajando de vila em vila vendendo livros e postais religiosos. Teve uma viso, aos quarenta e um anos, que o levou a Granada onde vendeu livros numa pequena loja. (Por isso o santo padroeiro dos livreiros e tipgrafos).

Estampa de J de Courbes que ilustra fases da vida de So joo de Deus. No canto superior esquerdo, o Nascimento do Santo; no canto superior direito, o Incndio do Hospital de Granada. No canto inferior esquerdo, o Santo com o Menino Jesus aos Ombros e no canto inferior direito a Apario do Menino Jesus que lhe diz: " Granada ser tua Cruz".

Depois de escutar um sermo pelo famoso Joo de vila sobre arrependimento, ficou to perturbado pelo pensamento nos seus pecados, que toda a vila foi levada a pensar que o pequeno livreiro tinha passado de simples excentricidade loucura. Aps o sermo, Joo dirigiu-se imediatamente para a sua livraria, rasgou todos os livros de contedo secular, deu todos os seus livros religiosos e todo o seu dinheiro. De roupas rasgadas e em pranto, era alvo de insultos, de piadas, e at de pedradas e lama arremessadas pela populao da vila, incluindo as suas crianas.Amigos levaram o enlouquecido Joo para o Hospital Real, onde foi internado com os lunticos. Joo recebeu o tratamento normal daquela poca ser amarrado e aoitado diariamente. Joo de vila veio visit-lo, dizendo-lhe que a sua penitncia j durava h tempo suficiente quarenta dias, o mesmo perodo que o Senhor sofreu no deserto e fez com que Joo fosse levado para uma zona melhor do hospital.Joo de Deus no conseguia ver sofrimento sem que no tentasse algo para o colmatar. E agora que estava livre de movimentos, embora ainda como paciente, imediatamente se levantou e comeou a ajudar os outros doentes sua volta. O hospital ficou radiante por ter a sua ajuda gratuita nos cuidados, no ficando contente por o deixar sair posteriormente, quando um dia se apresentou para anunciar que iria fundar o seu prprio hospital.

So Joo no salvamento de doentes no Hospital Real

Joo bem estava certo de que Deus queria que ele fundasse um hospital para os pobres, que recebiam fraco tratamento, ou mesmo nenhum, dos outros hospitais, mas toda a gente ainda o olhava como um homem louco. No foi grande sucesso, a sua deciso de financiar o seu plano com a venda de lenha na praa. noite, pegando no pouco dinheiro que ganhava, trazia comida e conforto aos pobres que viviam em edifcios abandonados e sob as pontes. De facto, o seu primeiro hospital foram as ruas de Granada.

Uma hora aps ter visto uma placa numa janela dizendo "Aluga-se casa para alojamento de pobres", alugou a casa para poder prestar cuidados debaixo de tecto. Claro que fez o aluguer sem dinheiro para acessrios, medicamentos ou ajuda. Depois de ter pedido dinheiro para camas, voltou s ruas e trouxe os seus pacientes aos ombros, que j tinham carregado pedras, lenha e livros. Uma vez dentro de casa, lavou-os, fez-lhes curativos, e remendou-lhes as roupas noite, enquanto rezava. Usou da sua antiga experincia como vendedor ambulante para pedir esmola, apregoando pelas ruas na sua voz de vendedor, "Faam bem a vs prprios! Por amor de Deus, Irmos, faam o bem!" Em vez de vender mercadorias, antes aceitava tudo o que lhe pudessem dar sobras, roupas, moedas.

Ao longo da sua vida foi criticado pelas pessoas que no gostavam do facto do seu amor impulsivo se estender a todos os necessitados, sem perguntar por credenciais ou referncias pessoais. Quando lhe foi possvel mudar o seu hospital para um antigo mosteiro Carmelita, abriu um abrigo para os sem-casa no hall do mosteiro. Imediatamente, os seus crticos tentaram demov-lo com o argumento de que estaria a saciar arruaceiros. A sua resposta a estas crticas foi sempre de que apenas conhecia um mau carcter no hospital, ele prprio. A sua solicitude para agir imediatamente quando via necessidades, levou-o a estar em apuros vrias vezes. Uma vez, tendo encontrado um grupo de pessoas famintas, correu para uma casa, roubou uma panela com comida e deu-lhes. Quase que foi preso por este acto de caridade! De outra vez, tendo visto um grupo de crianas esfarrapadas, entrou numa loja de roupas e comprou roupas novas a todas. Como no tinha dinheiro, pagou a crdito!

Bula da Canonizao de So Joo de Deus, pelo Papa Inocncio XII,em 15 de julho de 1691.

No entanto, o seu desejo impulsivo de ajudar salvou muita gente numa certa emergncia. Soou o alarme de que o Hospital Real estava a arder. Tendo largado tudo para se dirigir ao local, constatou que a multido apenas estava a assistir ao hospital e seus doentes a serem consumidos pelas chamas. Correu para o edifcio em chamas e carregou ou ajudou os doentes a sair. Quando todos os doentes estavam a salvo, comeou a atirar cobertores, lenis e colches pelas janelas quo bem sabia, pelo seu difcil trabalho, como eram importantes estes objectos. Nesse momento, foi trazido um canho para destruir a parte em chamas do edifcio de modo a salvar o resto. Joo pediu-lhes que parassem, subiu ao telhado, tendo separado com um machado a parte em chamas. Conseguiu, mas acabou por cair do telhado em chamas. Todos pensaram que teriam perdido o seu heri, at que Joo de Deus apareceu miraculosamente de entre o fumo. (Por esta razo, Joo de Deus o Santo Padroeiro dos bombeiros).Joo estava doente quando ouviu que uma cheia estava arrastando madeira para perto da vila. Saltou da cama para recolher essa madeira do rio em fria. Tendo um dos seus companheiros cado ao rio, Joo sem pensar na sua doena e segurana atirou-se ao rio para o salvar. No conseguiu salvar o rapaz e apanhou uma pneumonia. Morreu no dia 8 de Maro, no aniversrio dos seus cinquenta e cinco anos, do amor impulsivo que o guiou toda a vida.Ilustraes: in So Joo de Deus - Um Heri Portugus do Sculo XVI.de Raquel Jardim de Castro; Editora Rei dos Livros - 1995 Em http://www.paroquia-sjoaodeus.pt/celebracao.html, consultado em 7 de Setembro de 2008

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