Sebenta deTextos "Psicologia Social"

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  • 7/22/2019 Sebenta deTextos "Psicologia Social"

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    Universidade do Algarve Escola Superior de Sade de FaroDisciplina de Psicologia Social2006 2007SEBENTA DE TEXTOS:PSICOLOGIA SOCIAL

    (Textos seleccionados, traduzidos ou escritos por Celeste Duque; revistos em Out. 2006)

    ndice

    Conhecimento: sua relao com a Cincia................................................................... 1Atitudes....................................................................................................................................... 4

    1. Atitudes................................................................................................................................................ 41.1. Definio de atitude ................................................................................................................................. 41.2. Componente tripartida das atitudes ...................................................................................................... 4

    1.2.1. Crenas ....................................................................................................................................................................... 41.2.2. Afectos ou Sentimentos ........................................................................................................................................... 51.2.3. Tendncia para a aco ............................................................................................................................................ 5

    2. Intenes.............................................................................................................................................. 52.1. Definio de inteno ....................................................................... ........................................................ 5

    3. Teoria da Aco Reflectida............................................................................................................... 54. Teoria do Comportamento Planeado............................................................................................ 75. Atitudes em Relao ao Trabalho................................................................................................... 76. Envolvimento no Trabalho.............................................................................................................. 87. Comprometimento Organizacional................................................................................................ 98. Mudana de Atitudes........................................................................................................................ 99. Bibliografia....................................................................................................................................... 11

    Les thories de la Dissonance Cognitive .................................................................... 121. Introduction...................................................................................................................................... 122. La thorie de la dissonance de Festinger..................................................................................... 12

    2.1. Quelques illustrations empiriques de la thorie de Festinger .......................................................... 133. Bibliographie.................................................................................................................................... 14

    Introduo ao Estudo da Influncia Social: Paradigmas de SherifAsch e Moscovici ..................................................................................................................... 15

    1. Breve introduo.............................................................................................................................. 152. Formao de Normas....................................................................................................................... 16

    2.1. Funo das normas ................................................................................................ ................................. 162.2. Definio de norma ................................................................................................................................ 162.3. Como se formam as normas ................................................................................................................ .. 17

    3. Conformismo social......................................................................................................................... 183.1. Submisso a uma maioria quantitativa: Dependncia informativa e dependncia normativa ... 183.1.1. Submisso a uma maioria quantitativa ............................................................................................................... 183.1.2. Dependncia informativa e Dependncia normativa ........................................................................................ 20

    a) Dependncia informativa ....................................................................................................................................................... 20b) Dependncia normativa ......................................................................................................................................................... 21

    3.2. Submisso a uma maioria qualitativa Efeito de Milgram .............................................................. 223.3. O conformismo, ser uma norma social? ............................................................................................ 253.4. Comportamento desviado ................................................................................................ ..................... 25

    4. A mudana adaptativa..................................................................................................................... 264.1. Normas arbitrrias e desajustadas ....................................................................................................... 264.2. Aco de lderes ...................................................................................................................................... 27

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    5. Inovao............................................................................................................................................. 285.1. Dependncia vs Negociao de conflitos ............................ .............................................................. .. 295.2. Factores que determinam a eficcia das minorias activas ............................................................... .. 30

    5.2.1. O comportamento consistente .............................................................................................................................. 305.2.2. Estilo de negociao ............................................................................................................................................... 315.2. Modelo funcionalista versus modelo gentico ................................................................................... 325.2.1. Modelo funcionalista............................................................................................................................................ 325.2.2. Modelo gentico ..................................................................................................................................................... 335.2.3. Diferenas entre os Modelos Funcionalista e Gentico ................................................................................... 34

    6. Bibliografia....................................................................................................................................... 34

    Influncia dos Grupos: Formao de Normas e Atitudes .................................... 36Hipteses......................................................................................................................................................... 36O efeito autocintico: o seu interesse em relao ao nosso problema ......... ........................................... 36Procedimento ................................................................................................................................................. 37

    Experincias individuais ............................................................... .............................................................. .. 38Experincias de grupo ........................................................ ................................................................. .......... 39Discusso dos resultados ................................................................................................................. ............. 43Uma aproximao experimental do estudo das atitudes ......................................................................... 45

    Estilo de Comportamento de uma minoria e a sua Influnciasobre as Respostas de uma Maioria ............................................................................. 47

    1. Inovao, enquanto Processo de Influncia Social.................................................................... 471.1. As trs modalidades de influncia social ............................................................................................ 471.1.1. Normalizao .......................................................................................................................................................... 471.1.2. Conformismo .......................................................................................................................................................... 481.1.3. Inovao ................................................................................................................................................................... 491.2. Controlo social e Mudana social ......................................................................................................... 50

    2. Dependncia e Consistncia do Comportamento...................................................................... 542.1. Uma nova fonte de influncia ............................................................................................................... 542.1.1. Dependncia interna .............................................................................................................................................. 542.1.2. Dependncia externa .............................................................................................................................................. 542.1.3. Dependncia: Uma fonte de influncia na normalizao e no conformismo ............ ..................... ................ 552.1.4. Estilo de comportamento ....................................................................................................................................... 552.2. Maioria, minoria e estilo de comportamento ............................................................. ..................... 582.2.1. A influncia do juzo individual ......................................................................................................................... 582.2.2. Tamanho da maioria e presso do conformismo ............................................................................................... 592.3. A reinterpretao do efeito de Asch ................................................................ ................................. 612.4. Hipteses e concluses ........................................................... .............................................................. .. 63

    3. Atraco exercida pela Resposta Consistente de uma minoria............................................... 633.1. Descrio do paradigma experimental ............................................................................................ 633.2. Primeira experincia ............................................................... .............................................................. .. 643.2.1. Procedimento experimental .................................................................................................................................. 643.2.2. Resultados experimentais ...................................................................................................................................... 653.3. Segunda experincia ............................................................... .............................................................. .. 653.3.1. Procedimento experimental .................................................................................................................................. 653.3.2. Resultados experimentais ...................................................................................................................................... 66

    4. Concluso.......................................................................................................................................... 675. Bibliografia....................................................................................................................................... 68

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    Conhecimento: sua relao com a Cincia... Celeste Duque (Setembro, 2004)

    O ser humano, desde que se conhece ainda no cessou procurar resposta para as suas

    dvidas, incertezas, receios ou medos e esta permanente busca tem vindo, ao longo dasgeraes, a fornecer um maior conhecimento de si e do mundo.

    Tentando dar resposta a perguntas do gnero: O que conhecemos? Como, quando, onde, para qu, e porqu, conhecemos? O que h, de facto, para conhecer?

    Assim, conhecer implica uma relao de um indivduo com um objecto (pessoa ouacontecimento) exterior a si.

    E atravs do processo do conhecimento que o indivduo apreende a natureza, a essncia, e aestrutura, funo ou finalidade de um determinado objecto de conhecimento (um qualquerfenmeno da natureza ou social).

    O processo de conhecimento pode ser imediato (por exemplo, da apreenso por parte dosrgos dos sentidos (logo, a um nvel fsico) ou, pode ser mediato (quando se efectua atravs darepresentao e construo mental na ausncia dos objectos, i.e., sem que possam serprocessados atravs dos rgos dos sentidos).

    Os fenmenos e objectos que compreendemos podem ser simples ou complexos, exibindointrincadas teias de relaes com outros objectos. Logo, as formas que estes processos deconhecimento assumem sero, forosamente, diferentes (mltiplas) e produziro nveis deapreenso e apropriao tambm eles distintos.

    Amlcar Amorim prope a seguinte arrumao tradicional das formasde saber: Conhecimento emprico Conhecimento cientfico Conhecimento filosfico Conhecimento teolgico

    O conhecimento emprico, segundo este autor, resultaria da experincia vulgar, quotidiana, deobservaes e racionalizaes pessoais ou transmitidas socialmente, de doutrinas e preceitosancestrais. E caracterizado como um conhecimento no metdico e no sistemtico, que apenasfornece o domnio instrumental necessrio ao Homem para a sua sobrevivncia e adaptao aomeio fsico e social. No possuindo regras de validao ou de aferio, do grau de verdade queencerra.

    O conhecimento, cientfico, por seu lado, procura desenvolver a apreenso dos fenmenos, para almda sua constatao e descrio, das causas e leis que o regem, determinam ou influenciam. O saberdever ser demonstrvel, verificvel e passvel de se replicar. O mtodo de apreenso sistemtico,controlado (seguindo um guio ou protocolo) e assenta na noo de prova e de verdade objectiva. Osaber cientfico distingue-se do emprico pela noo de possibilidade de verificao, no selimitando percepo dos fenmenos pelos rgos dos sentidos ou atravs dos instrumentosdesenvolvidos pelo homem com o objectivo de alcanar uma maior acuidade (como que umaespcie de refinamento ou extenso dos sentidos), dirigindo-se ao fulcro do problema,comprovando o mesmo atravs da experimentao controlada.

    O conhecimento filosfico, possui como objecto de reflexo e de investigao que so as realidadesmediatas. Pelo que os objectos so, regra geral, grandes abstraces e generalizaes de problemasque o mtodo cientfico investiga de modo experimental mas que, nesta rea do conhecimento, so

    interpretados como objectos mentais para os quais se estabelecem relaes lgicas e dedutivas.A filosofia problematiza, a verdade em filosofia uma busca constante no um fim em si mesmo. Osaber em filosofia, ao invs da cincia, no reclama um grau de acumulao.

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    O conhecimento teolgico, de acordo com Amorim, um conhecimento que no se demonstra nem secomprova porque o objecto Deus, Buda, ou como se queira chamar, incomensurvel, (no semede, no se compara, absoluto), assenta na noo de revelao divina, saber , que no

    alcanvel por experincia ou experimentao mas por que o divino o revela.Joo Caraa, situa-se numa vertente mais dinmica, processual e contextualizada, indo maislonge que esta viso estruturalista, aparentemente lgica, esttica e imutvel do conhecimento,proposta por Amorim.

    A interpretao da realidade exterior ao ser humano constitui-se como um imperativo desobrevivncia, primeiramente fisiolgico, mas tambm de identidade.

    A esquematizao ou mapeamentodo meio fsico e social que nos rodeia transforma -se,assim, numa actividade instrumental da capacidade de sobrevivncia e perpetuao daespcie. Estes mapas (conjuntos de representaes e registos de sequncias viveis decomportamentos) funcionam como repositrios bsicos dos saberes que so necessrios para

    interagir num dado meio fsico envolvente.O conhecimento emerge, assim, como uma aco necessria e vivel de sobrevivncia doHomem. A narrativa (memria, repositrio) da aco, mantida num primeiro momento emconversas silenciosas consigo mesmo, ir permitir a abertura de uma outra dimenso (decomunicao e social) do conhecimento como instrumento de identidade e de interaco comos outros (seus semelhantes), com os quais e, atravs dos quais, descobre formas mais robustasde sobrevivncia colectiva. Mas, no seio desta interaco social imaterial, para alm da acode carcter fsico e material, descobrem-se as diferenas que constituem a raiz da identidadeque posteriormente, o ser humano, procura preservar.

    Este o nvel de conhecimento que emerge em comunidades simples e primitivas cuja

    necessidade bsica , literalmente, a sobrevivncia. Comunidades que (re)produzem acessimples e semelhantes sobre o meio fsico, tais como: recolha de frutos, pastorcia, pesca, etc.

    Numa escalada de complexidade assinala-se a dimenso de grupo e comunitria cujaidentidade se exprime nas primeiras interaces simblicas de representao artstica eritualista ou dramtica, da vida em conjunto, e da identidade individual dos seus membros,que resulta no densificar da comunicao e que passa a ultrapassar uma dimenso imediata derelao com o meio fsico e atinge o nvel de explicaes sobre a totalidade do que os cerca.Surgem, ento, as dimenses religiosas e mgicas de explicao do mundo.

    Caraa, utilizando uma viso mais geomtrica, define dois planos de aco sobre o meio aonvel da actividade material: o espao que uma comunidade ocupa e no seio do qual interage e o

    comportamento que os indivduos adoptam na relao com o contexto concreto do espao queocupam.

    Definindo, igualmente, dois nveis no que respeita aco comunicacional (imaterial): apersistncia (associada capacidade de escolha e de preservao da comunidade no sentidofsico) e a coeso (no sentido de maior robustez da comunidade, em termos sociais).

    Deste modo no cruzamento dos planos: Espao/persistnciaos seres humanos comeam a dominar conhecimentos de natureza tcnica; Espao/coesoos seres humanos comeam a desenvolver conhecimentos de naturezapoltica; Comportamento/coeso os seres humanos comeam a desenvolver conhecimentos de natureza

    artstica; e

    Comportamento/persistncia os seres humanos comeam a desenvolver conhecimentos denatureza religiosa.

    A este nvel de conhecimento, Joo Caraa, ir chamar saber tcito, porque:

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    Construdo a partir da aco material e imaterial primitiva imediatista e quotidiana; e Corresponde a um grau simples de relao do homem com o meio fsico e social.

    A agregao do homem em comunidades maiores (as cidades) caracterizadas pela pluralidadedos tipos de relao do homem com o seu meio fsico (agricultores, pescadores, artesos,pastores) conduz a um reforo da coeso de cada comunidade em particular, nomeadamenteno esforo de replicao dos seus saberes, e de inter-relao com os outros, num espao que,doravante, passaria a ser comum e partilhado. A necessidade de novas formas de coeso (pelapresena de outras comunidades), e a amplificao das possibilidades (materiais) desobrevivncia conduzem crescente explicitao dos saberes. Evoluindoestas para formas maisorganizadas, como por exemplo: da tcnica para a tecnologia; da poltica para o direito; damgica e arte primitiva para a esttica e belas artes, da coeso bsica para a moral.

    A diversidade de grupos que estabelecem uma relao inter-subjectiva ao nvel da dimensoimaterial (comunicacional) associada s mudanas substantivas nos planos de persistncia e

    coeso (os grupos terem de negociar entre si e basear a sua relao na diferena e na acomaterial) conduz acelerao do conhecimento, originada pela concentrao de recursosmateriais e imateriais num mesmo espao.

    Deste modo, as cidades motivaram e facilitaram a emergncia da necessidade de abordar arelao inter-subjectiva. Respondendo-lhe e solucionando-a pela explicitao dos saberes oque, simultaneamente, facilitar a partilha e o uso e, mas tambm, a multiplicao do saber.

    As cidades possibilitaram a emergncia de uma outra forma de complexidade material eimaterial o comrcio, que de novo numa cadeia de influncias mtuas reforou a capacidadede se gerar riqueza material, assim como um maior adensamento ao nvel da comunicao, ecirculao de saber.

    A intensificao da escrita e o surgimento da aco puramente intelectual, j no associadadirectamente ao meio fsico, ir, ento, possibilitar a emergncia do saber mais organizado decarcter disciplinar constituindo a natureza a base da temtica e depois numa aproximaoauto-reflexiva o prprio acto de saber e o ser humano.

    A partir daqui est aberta a porta para a reflexo sobre o mtodo de saber, os critrios deverdade e a demonstrao abstracta que conduziro cincia moderna1.

    1Complementar esta leitura com os Textos de Apoio da disciplina de Introduo Psicologia, 1 Ciclo 1 Ano 1 Semestre 2003-2004, nomeadamente a introduo ao Texto: Emergncia da Cincia

    Moderna.

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    AtitudesTexto da autoria deProf. DoutorPedro Zany Caldeira e Dra.Celeste Duque, Lisboa, Maio 1999; revisto por CelesteDuque, Faro: Outubro de 2006

    1.ATITUDES

    1.1. Definio de atitude

    As atitudes so disposies favorveis ou desfavorveis relativamente a objectos, pessoas eacontecimentos, ou em relao a alguns dos seus respectivos atributos. Eu gosto de masexpressa uma atitude; tal como gosto de negociar consigo, os jantares de turma so divertidos efazer a contabilidade aborrecido.

    1.2. Componente tripartida das atitudesUma forma de conceptualizar uma atitude atravs da tripla composio das atitudes. Asatitudesso compostas por crenas, sentimentos(ou afectos) e tendncias de aco. A figura que sesegue mostra a relao entre estes factores; eles sobrepem-se mas no so idnticos.

    Figura 1. Tripla componente das atitudes

    1.2.1. Crenas

    Como componentes de atitudes, as crenasso de dois tipos: o que a pessoa acredita sobre osfactos de uma situao crenas informacionais; e crenas avaliativas, que consistem naquilo quea pessoa acredita sobre os mritos, demritos, bem, mal, justo, injusto, benefcios ou custos dediferentes situaes.

    Por exemplo, o Gestor A pode possuir uma crena informacional de que apenas metade dosmembros do seu departamento possuem a formao necessria para utilizarem eficientementeo computador e uma crena avaliativa de que importante para a eficincia do departamentoque todos os seus membros possuam formao em informtica. A combinao destas duascrenas dever influenciar a atitude do Gestor A sobre a melhor forma de gerir o oramento deformao do departamento.

    O Gestor B pode ter uma atitude diferente da do Gestor A, em consequncia de uma crenainformacional diferente, como por exemplo, todos os membros do departamento j possuemformao suficiente em informtica ou uma crena avaliativa diferente, como por exemplo,

    Crenas Afectos

    Tendncia para aAco

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    excepo de alguns especialistas, os conhecimentos de informtica dos membros dodepartamento no acrescentariam valor sua eficincia.

    1.2.2. Afectos ou SentimentosO termo afecto refere-se aos sentimentos gerais de um indivduo ou avaliao de umasituao. Ao contrrio da componente cognitiva (as crenas), que geralmentemultidimensional porque se relaciona com todos os diferentes aspectos da situao que umindivduo percepciona, a componente afectiva unidimensional: relaciona-se com a formacomo o indivduo sente ou vivencia a situao como um todo.

    Por exemplo, o Gestor A pode sentir que a situao insatisfatria enquanto o Gestor Bsente que aceitvel. O elemento principal que distingue uma atitude de uma crena ouopinio , assim, o afecto positivo ou negativo que a pessoa tem sobre uma determinadasituao.

    Algumas atitudes consistem quase inteiramente do seu elemento afectivo. Afirmaes simplescomo: Eu gosto de mas geralmente expressam atitudes que so compostas quaseinteiramente de afecto. Contudo as crenas ou opinies fazem parte de quase todas as atitudes.Felizmente que assim , segundo o ponto de vista de algum que est a tentar mudar asatitudes de outras pessoas, porque a investigao j demonstrou que o elemento crena deuma atitude mais fcil de mudar que o elemento afectivo.

    1.2.3. Tendncia para a acoA ltima componente das atitudes, segundo a teoria da tripla componente, a tendncia para

    agir de forma consistente com a atitude. Prosseguindo com o nosso exemplo, ficamos esperaque o Gestor A, comparativamente como o Gestor B, v, provavelmente, gastar grande partedo oramento da formao do departamento com os indivduos que ele considera possuiremreduzidos conhecimentos de informtica.

    2.INTENES

    2.1. Definio de inteno

    As intenes, so planos de aco. Quando podem ser medidas com acuidade, as intenesgeralmente predizem muito bem o que algum ir fazer (melhor que as atitudes) mas, mesmoassim, h sempre muitas oportunidades que impedem as pessoas de prosseguir com as suas

    intenes. Por exemplo, uma pessoa pode ter a inteno de se manter calma durante umareunio (que antecipa como) difcil mas durante a mesma pode ser provocada de tal modo queperca a serenidade, ou pode sinceramente pretender chegar a horas para uma reunio, maschegar atrasada devido a problemas com o seu transporte (por exemplo, pode ter um furo, umacidente, perder o autocarro...). A conscincia individual das intenes elevada emcomparao, por exemplo, com a conscincia dos motivos ou mesmo das atitudes.

    3.TEORIA DA ACO REFLECTIDAO modelo mais comummente aceite da relao atitude/comportamento conhecido porTeoria da aco reflectidae foi desenvolvido em 1967, por Fishbein e Ajzen.

    A principal diferena, em comparao com outros modelos, que lida com atitudes no emrelao a pessoas, objectos e instituies, mas somente com aces, sendo melhor na prediodo comportamento que os modelos que o antecederam. Desta forma, esta teoria, em vez de

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    tentar prever como que os indivduos votaro a partir das suas atitudes em relao a partidospolticos, s polticas e s personalidades polticas, tenta antes prever o sentido de voto dosindivduos a partir da sua atitude relativamente a esse mesmo sentido de voto.

    A teoria da aco reflectida sofreu um grande desenvolvimento em 1991, passando a designar-se por Teoria do Comportamento Planeadoe a incluir um conjunto de novas variveis (verfigura 2).

    Figura 2. Teoria do comportamento planeado (Fishbein & Ajzen, 1991)

    Na sua forma inicial, a teoria postula que o comportamento determinado directamente pelainteno de o realizar, sendo esta, por seu turno, influenciada pela atitude (isto , pelaavaliao positiva ou negativa que o indivduo efectua sobre o comportamento adesempenhar) e pela norma subjectiva(ou seja, a presso social percebida para desempenharou no desempenhar o comportamento). A norma subjectiva forma-se a partir da percepoque cada indivduo tem sobre os comportamentos que so lcitos ou ilcitos segundo osgrupos sociais de referncia.

    Finalmente, as consequncias antecipadas do desempenho ou no desempenho docomportamento afectam tanto a atitude como a norma subjectiva. Para a atitude, as crenas emque o desempenho de determinado comportamento originar resultados especficos relaciona-se directamente com as avaliaes desses resultados. Para as normas subjectivas, as crenasque temos sobre o que indivduos especficos esperam que seja o nosso comportamento

    relaciona-se directamente com a nossa motivao para agir de acordo com a opinio dessesmesmos indivduos especficos.

    Desta forma, a teoria sugere que, se a Manuela no fumadora, porque ela tenciona nofumar e as suas intenes so influenciadas pelas suas atitudes positivas em relao a umavida saudvel (ou atitudes negativas em relao ao fumo) e pela sua conscincia da pressosocial para no fumar.

    Por outro lado, as suas atitudes so influenciadas pelas suas crenas sobre os resultados de nofumar por exemplo, uma crena sobre o fumo fazer mal sade e pela sua avaliao dessascrenas ela valoriza muito a sua sade. A susceptibilidade da Manuela presso socialtambm influenciada pelas suas crenas ela persistir com o seu comportamento de no

    fumadora se acreditar que as pessoas que ela quer que a aceitem esperam que ela no fume.A teoria da aco reflectida extremamente intuitiva e parcimoniosa, com grande valorexplicativo, e j foi aplicada com grande sucesso na previso de comportamentos de consumo,

    Norma

    subjectiva

    Atitude

    Inteno Comportamento

    Controlopercebido

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    sade, voto, recreativos e organizacionais. Contudo, apenas se aplica ao comportamentovoluntrio, onde a pessoa possui controlo total sobre o seu comportamento. Infelizmente, aesmagadora maioria dos nossos comportamentos encaixam-se noutra categoria, pois apenas

    possumos controlo parcial sobre o que fazemos: a nossa inteno apanharmos o comboio,mas a composio cancelada; temos a inteno de aparecermos numa reunio marcada, masesquecemo-nos.

    4.TEORIA DO COMPORTAMENTO PLANEADOFishbein e Ajzen elaboraram, posteriormente, novas verses da teoria da aco reflectida,incluindo os comportamentos que no esto completamente sob a alada do controlovoluntrio onde as aces esto sujeitas a interferncias por parte de foras externas einternas. A esta nova verso designaram de Teoria do Comportamento Planeado.

    A evoluo relativamente teoria anterior a adio de uma varivel, o controlo

    comportamental percebido, que a crena que o indivduo possui sobre a facilidade oudificuldade de desempenhar o comportamento.

    O controlo comportamental percebido influencia a inteno tal como a atitude e a normasubjectiva, mas tambm pode influenciar directamente o comportamento (quando o indivduopercepciona que possui controlo real sobre o desempenho do comportamento caso raro,segundo muitos investigadores).

    Desta forma, a teoria sugere que, se a Manuela no fumadora, porque ela tenciona nofumar e as suas intenes so influenciadas pelas suas atitudes positivas em relao a umavida saudvel (ou atitudes negativas em relao ao fumo) e pela sua conscincia da pressosocial para no fumar. Por outro lado, as suas atitudes so influenciadas pelas suas crenas

    sobre os resultados de no fumar, pela sua avaliao dessas crenas, mas tambm a suaestimativa que, por exemplo, fumar entrar em conflito com o seu desejo de no fumar e a suareaco emocional de nojo, que por sua vez agir directamente sobre as suas intenesrelativas ao fumo. A susceptibilidade da Manuela presso social tambm influenciada pelassuas crenas ela persistir com o seu comportamento de no fumadora se acreditar que aspessoas que ela quer que a aceitem esperam que ela no fume.

    5.ATITUDES EM RELAO AO TRABALHOAs atitudes representam uma parte importante na vida das pessoas, particularmente notrabalho. As nossas atitudes face ao trabalho ou organizao podem ter efeitos profundos

    no s na forma como realizamos o trabalho e produzimos, mas tambm na qualidade de vidaque experimentamos no trabalho.

    Apesar de, na linguagem corrente, usarmos frequentemente a palavra atitude, esta utilizaofalha em captar a riqueza do conceito tal como aplicado pelos investigadores daPsicossociologia.

    As atitudes so relativamente instveis, por isso so facilmente alteradas.

    Como j vimos, as atitudes so compostas por trs componentes: Cognio (a Crena) Afecto Comportamento (a Tendncia para a Aco)

    A componente avaliativa ou afectiva refere-se aos julgamentos avaliativos (favorveis oudesfavorveis) relativamente a objectos, pessoas ou acontecimentos que, genericamente, so

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    designados de objectos atitudinais. Elas reflectem o que a pessoa sente sobre algo. Quando,por exemplo, diz gosto do meu trabalho!, est a expressar a sua atitude face ao trabalho.

    Mas as atitudes envolvem mais do que sentimento, envolvem tambm conhecimento isto ,aquilo em que a pessoa acredita sobre um determinado objecto atitudinal. Por exemplo,pode estar convencido que, o seu colega de trabalho, ganha muito mais do que deveria ganharquando compara as suas recompensas com as dele. Estas crenas, quer sejam, totalmentefundamentadas ou totalmente falsas, compreendem a componente cognitiva das atitudes.

    Aquilo em que acredita sobre algo e aquilo que pode sentir sobre isso (por exemplo, insuportvel trabalhar neste ambiente!) podem ter algum efeito na forma como est predispostoa comportar-se (por exemplo, Vou procurar outro emprego). Por outras palavras, as atitudestm uma componente comportamental, isto , uma predisposio para agir de determinadaforma.

    importante salientar que esta predisposio pode no servir como predio docomportamento. Por exemplo, apesar de poder estar interessado num novo emprego, podeno o aceitar se no existir uma posio melhor disponvel ou se existirem outros aspectos dotrabalho de que gosta suficientemente para compensar os seus sentimentos negativos. Poroutras palavras, a sua inteno para se comportar de determinada forma pode ditar a formacomo ir agir.

    Estas trs componentes da atitude esto intimamente relacionadas. A crena que, por exemplo,a discriminao sexual no local de trabalho errada, um julgamento avaliativo, que espelha acomponente cognitiva da atitude. Esta, por sua vez, estabelece o palco para a parte mais crticada atitude a sua componente afectiva. O afecto o segmento emocional ou sentimento deuma atitude e est reflectido em afirmaes do gnero: Gosto do Francisco porque ele

    perfeitamente imparcial no tratamento e gesto dos colaboradores masculinos e femininos. Por ltimo,o afecto pode conduzir a resultados comportamentais. A componente comportamental daatitude refere-se a uma inteno para o indivduo agir de determinada forma face a objectosatitudinais. Por exemplo, posso escolher aproximar-me do Manuel por causa dos meussentimentos por ele.

    Combinando estas trs componentes podemos definir o conceito.

    Atitude: um conjunto relativamente estvel de sentimentos e predisposies/intenescomportamentais face a um objecto atitudinal especfico.

    Quando se fala de atitudes em relao ao trabalho, referimo-nos queles sentimentos, crenas e

    tendncias comportamentais, relativamente duradouros, face aos vrios aspectos do prpriotrabalho, do local onde desempenhado e das pessoas envolvidas. As atitudes em relao aotrabalho esto ligadas a muitos aspectos do comportamento organizacional, incluindo odesempenho, o absentismo e a rotatividade voluntria.

    As atitudes mais estudadas em Psicossociologia so: A satisfao no trabalho; O envolvimento no trabalho; e O comprometimento organizacional.

    6.ENVOLVIMENTO NO TRABALHO

    O envolvimento no trabalhomede o grau em que uma pessoa se identifica psicologicamente com oseu trabalho e considera o seu nvel percebido de desempenho importante para a sua prpriavalorizao.

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    Os trabalhadores com um nvel elevado de envolvimento no trabalho identificam-sefortemente com, e interessam-se pelo tipo de trabalho que realizam.

    Elevados nveis de envolvimento no trabalho esto relacionados com baixos nveis deabsentismo e rotatividade voluntria.

    7.COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL

    Se o envolvimento no trabalho se pode relacionar com o trabalho especfico desenvolvidopor um indivduo, o comprometimento organizacional relaciona-se com a identificao doindivduo com a organizao empregadora.

    O comprometimento organizacional o grau em que o colaborador se identifica com umadeterminada organizao e com os seus objectivos e deseja permanecer na organizao.

    Podemos ento afirmar que o comprometimento organizacional uma atitude dostrabalhadores face organizao, relacionando-se com vrias caractersticas do trabalho, com anatureza das recompensas recebidas, com o acolhimento e outras variveis. Elevados nveis decomprometimento esto associados com baixos nveis de absentismo e rotatividade voluntria,elevados nveis de vontade para partilhar e fazer sacrifcios e vrias consequncias pessoaispositivas.

    O comprometimento organizacional inclui trs factores:1. Uma crenaforte nos objectivos e valores da organizao;2. Disponibilidadepara exercer esforo considervel em benefcio da organizao;3. Um fortedesejode continuar como membro organizacional.

    Deste modo, o comprometimento organizacional no simplesmente lealdade para com aorganizao. antes um processo contnuo atravs do qual os actores organizacionaisexpressam a sua preocupao com a organizao e o seu sucesso e bem-estar contnuos.

    8.MUDANA DE ATITUDESJ alguma vez reparou na forma como as pessoas mudam aquilo que dizem, para que nocontradiga aquilo que fazem?

    Suponha que ao terminar este curso lhe so apresentadas duas propostas de emprego. Depoisde muito pensar, escolhe finalmente um. Se for como a maior parte das pessoas, as suasatitudes em relao s duas organizaes iro modificar-se, radicalmente. A sua atitude face ao

    trabalho que aceitou tornar-se- mais positiva e a sua atitude face ao trabalho que rejeitou sermais negativa. Isto significa que procuramos reconciliar atitudes divergentes e alinhar asatitudes e comportamentos para que o nosso comportamento parea racional e consistente.Isto ocorre devido a um processo designado por dissonncia cognitiva.

    A Teoria da Dissonncia cognitiva, proposta por Festinger, pretende explicar a ligao entreatitude e comportamento.

    De um modo geral as pessoas no gostam de inconsistncias e toleram mal a ambiguidade.Quando existe inconsistncia, iniciam-se foras para que o indivduo retorne a um estado deequilbrio onde as atitudes e os comportamentos sejam de novo consistentes.

    Sempre que dizemos uma coisa e fazemos outra ou quando descobrimos que uma atitude quetemos inconsistente com outra, estamos em dissonncia cognitiva.

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    Dissonncia cognitiva refere-se a qualquer incompatibilidade que a pessoa pode perceber entreduas ou mais das suas atitudes, ou entre o seu comportamento e as suas atitudes. O desejo dereduzir a dissonncia determinado pela importncia dos elementos criadores de dissonncia, pelograu de influncia que a pessoa acredita que tem sobre os elementos e pelas recompensas quepodem estar envolvidas na discrepncia.

    Existem vrias vias para reduzir a dissonncia: mudar o comportamento; concluir que ocomportamento dissonante no assim to importante; mudar de atitude ou, ainda, procurarelementos mais consonantes para pesarem contra a dissonncia

    Para justificar a deciso e evitar a dissonncia cognitiva podemos mudar a forma comosentimos, alinhando as nossas atitudes com os nossos sentimentos.

    Como foi sugerido, as pessoas por vezes mudam as atitudes para que sejam consistentes comoutras. Pode haver interesse em melhorar as atitudes relacionadas com o trabalho porque asatitudes negativas podem estar associadas com comportamentos no desejveis (por exemplo,elevado absentismo e rotatividade voluntria). Claro que podemos tambm estar interessadosem mudar atitudes sem mais, isto criar atitudes mais positivas face ao trabalho devido aossentimentos positivos da resultantes que, por seu turno, ajudam as pessoas a sentir uma maiorqualidade de vida no trabalho.

    Mas quais so as implicaes organizacionais da dissonncia cognitiva?

    Pode ajudar a prever a propenso para mudar de atitude e de comportamento. Para almdisso, quanto maior for a dissonncia depois de esta ter sido moderada pela importncia,pela escolha e pelos factores de recompensa tanto maiores sero as presses para a reduzir.

    Suponha que o seu superior hierrquico lhe pede para trabalhar at mais tarde para terminarum relatrio. Relatrio esse que necessrio para uma reunio que ter lugar no dia seguinte,logo pela manh. Agora, imagine que est a ver na TV um anncio sobre cereais saudveispara o pequeno-almoo. Apesar de parecer que estas duas situaes no tm nada em comum,elas partilham um elemento fundamental: ambas so dirigidas para a mudana das suasatitudes ter mais vontade de trabalhar at tarde, no primeiro caso, e interessar-se por cereais,no segundo.

    Apesar de na maior parte dos casos no estar consciente, altamente provvel que esteja a serconstantemente bombardeado por tentativas de mudar as suas atitudes um processoconhecido por persuaso.

    Neste processo, a uma pessoa alvo (o indivduo a quem queremos mudar a atitude) dadauma mensagem na qual a informao apresentada concebida para mudar as suas atitudes.Este processo envolve dois elementos bsicos o emissor e a comunicao (o contedoespecfico da prpria mensagem).

    Existem vrios factores que tornam a fonte e a comunicao mais persuasivos. Por exemplo,persuadimos com maior facilidade aqueles que tm uma atitude favorvel face a ns ou somosmuito mais facilmente persuadidos por oradores eloquentes que falam sem hesitar. Mas odeterminante mais poderoso na persuaso provavelmente a credibilidade da fonte, ou seja ograu em que o indivduo merecedor de confiana (confivel). Quanto mais se acredita queum indivduo seja credvel, tanto mais eficaz ele na mudana de atitudes. Factores como aexperincia, a percia e os motivos do emissor fazem aumentar a credibilidade da fonte.Relativamente mensagem, factores como a clareza e intelegibilidade ou a dimenso dadiscrepncia da atitude (isto , grau de diferena entre as atitudes expressas na comunicao eas da pessoa alvo) contribuem para a sua eficcia persuasiva.

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    9.BIBLIOGRAFIAFishbein, M. & Ajzen, (1974). Attitudes toward objects as predictors of a single and multiplibehavioral

    criteria. Psychological Review, 8159-74.

    Fishbein, M. & Ajzen, (1975). Belief, attitude, intention and behaviour: An introduction to theory research .Reading MA: Addison-Wesley.

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    Les thories de la Dissonance CognitiveAlain Clmence, Universit de Genve2

    1.INTRODUCTIONEn 1957, Festinger proposait une thorie qui voquait un moyen redoutable d'amener lesindividus changer d'attitude. La thorie de la dissonance cognitive expliquait, en effet,comment un sujet induit raliser un comportement contraire ses convictions transforme sesopinions en direction de ce comportement. Ce phnomne de persuasion n'est qu'uneillustration de la thorie de Festinger qui vise rendre compte de faon plus gnrale deseffets de l'inconsistence cognitive. La thorie de la dissonance a gnr un nombreconsidrable de recherches dont les rsultats sont souvent tonnants (cf. Wicklund & Brehm,1976; Beauvois & Joule, 1981). Par ailleurs, elle a provoqu des dbats thoriques etmthodologiques qui ont longtemps occup une place de choix en psychologie sociale sanscompter le fait qu'elle a suscit des modles d'analyse dans d'autres disciplines (par exemple,dans l'tude des effets de la mobilit sociale, cf. Jackman, 1972) et mme certaines applicationsthrapeuthiques. L'objectif de cet article est de prsenter brivement les propositions initialesde la thorie ainsi que les dveloppements et les interprtations alternatives auxquels elle adonn lieu.

    2.LA THEORIE DE LA DISSONANCE DE FESTINGERPur Festinger, la dissonance dsigne d'abord un thorme psychologique qui motive l'individu modifier son univers cognitif. L'existence de dissonance est psychologiquement inconfortable; de

    ce fait, elle va modifier la personne essayer de rduire la dissonance pour atteindre la consonance...Tout en essayant de rduire la dissonance prsente, la personne vitera activement des situations et del'information qui pourraient augmenter la dissonance.(1957, p. 3). La source de la dissonance estinterne l'individu; elle prend son origine dans son conomie cognitive. Plus prcisment, elledcoule d'un certain type de relation entre deux cognitions, entre deux connaissances ouopinions ou croyances relatives l'environnement, soi ou son comportement (p. 3) ou plusgnralement entre des lments de connaissance du rel. Lorsque deux lments de pensesont pertinents l'un vis--vis de l'autre, c'est--dire lorsque l'un (appelons-le X) impliquepsychologiquement l'autre, (appelons-le Y), ils seront dans une relation dissonante si en lesconsidrant isolment, l'inverse de l'un va dcouler de l'autre. (p. 5). Autrement dit, unindividu prouvera de dissonance lorsqu'une cognition non-Y apparatra aprs une cognition

    X.La relation entre deux cognitions peut tre consonante ou encore non pertinente. Festingerdonne peu d'indications pour spcifier la formation d'une de ces relations psychologiques. Ilenvisage simplement quatre sources principales de dissonance: logique (incongruence entredeux penses ou deux croyances), culturelle (incongruence entre un comportement et unenorme), rapport entre spcifique et gnral (incongruence entre une opinion ou uncomportement particuliers et une srie d'opinions ou de comportements), rapport entreexprience passe et exprience prsente (incongruence entre une attente et un fait).L'individu, qui se trouve dans l'une de ces situations, doit donc, pour Festinger, se sentir dansun tat dsagrable, dans un tat de dissonance, et, par consquent, il va tenter de les viter.

    2Retirado de um Sitede Internet, em 2002, cuja referncia se perdeu. Este texto est incompleto, como sepode facilmente observar, no entanto, aqui inserido j que o fundamental da teoria de Festinger estresumida, nestas duas pginas.

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    Dans certaines conditions, il ne pourra y chapper; il devrait alors essayer de supprimer, ou dumoins de rduire la dissonance cre.

    L'amplitude de latencya dissonance va dpendre de l'importance des cognitions en prsence,de la valeur qu'elles reprsentent pour le sujet, et du nombre de cognition et de difficult3?

    2.1. Quelques illustrations empiriques de la thorie de Festinger

    De par leur forme, la fois simple et gnrale, les propositions de Festinger vont rapidementdonner lieu un grand nombre de recherches empiriques. En 1960, Festinger et Aronsoninsistent sur l'apport de la thorie de la dissonance cognitive l'explication d'un certainnombre de processus sociaux. La plupart des travaux recenss sont des expriences conduitesdans un laboratoire ou en milieu naturel. Il est bien vident que certaines limites sontinhrentes ce genre de recherches: le plus souvent, les sujets sont des tudiants universitaireset les mises en scne exprimentales souffrent parfois d'une extrme simplification desituations sociales complexes. En revanche, elles permettent d'tudier prcisment les effetsspcifiques de diverses variables en comparant les ractions des individus insrs dans desplaces contrasts (par exemple, comme on le verra, dans une position de libre choix ou aucontraire d'absence de choix). Prsentons rapidement trois ensembles d'illustrationsexprimentales du phnomne de dissonance.

    Le premier concerne les consquences lies une prise de dcision. Brehm (1956) en avaitdonne une illustration exprimentale dans le cadre du choix entre deux termes d'unealternative d'importance similaire. Dans cette exprience, qui montre que lorsqu'un sujetchoisit un objet parmi deux qu'ils trouvent trs attrayants, il valorise l'objet choisi au dtrimentde l'autre, Brehm aborde un lment important des conditions de cration de la dissonance,celui qui se rfre la libert de choisir. Il revient plus longuement sur cette question dans la

    revue de travaux qu'il publie avec Cohen en 1962, en introduisant la notion de volition pourspcifier la fonction d'implication du libre choix dans la ralisation d'une tche. La dfinitionde ce terme reste floue; selon Zajong (1968, p. 367) il dsignerait le sentiment individuel deresponsabilit, de contrle et de choix qui intervient lorsqu'un individu prend une dcision. Mme sila formulation de Brehm et Cohen, en ce qui concerne le choix et l'engagement, reste intuitive,descriptive, elle permet de mettre en vidence la fonction essentielle de la prise de dcisiondans la production du phnomne de dissonance. Elle permet aussi d'interprter de faon plusconvaincante des expriences manipulant la justification ou mme l'incitation accomplir unetche dsagrable. Dans les situations de faible justification (Rabbie, Brehm, & Cohen, 1959) oud'incitation financire lgre (Festinger & Carlsmith, 1959; Cohen, 1962), l'individu ne peutrejeter sur l'extrieur la source de sa dcision, ce qui l'oblige la justifier.

    La seconde illustration concerne un ensemble d'expriences que Festinger et Aronsonqualifient d'interaction de groupe. Aronson et Mills (1959), par exemple, tudient l'effet del'initiation pour entrer dans un groupe (pratique qui tait courante dans les milieuxuniversitaires amricains), effet qui va dans le sens d'une meilleure valuation du groupe mesure que l'initiation devient plus rigoureuse. Un autre exemple de ces travaux est donn parZimbardo (1960). Cet auteur montre, d'une part, que plus un sujet est impliqu par uneopinion, plus il aura tendance la modifier en direction de celle d'une personne qu'il aime bienet, d'autre part, que plus l'opinion sera loigne de cette personne, plus le changement seragrand.

    3Il sagit bien videmment d'une caractrisation rapide du contexte dans lequel sont produits plusieursmodles centrs sur l'quilibre.

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    Comme illustration du troisime ensemble de recherches, il faut citer l'exprience de Festingeret Carlsmith (1971) qui inaugure toute une srie de travaux sur ce qu'il est convenu d'appelerl'accord force4. Les hypothses de cette recherche taient que: si une personne est induite

    faire ou dire quelque chose qui est contraire son opinion prive, elle aura tendance changer sonopinion de manire la faire correspondre avec ce qu'elle a fait ou dit et plus la pression utilise poursusciter le comportement effectif est forte, plus cette tendance et faible. (1971, p. 148). Pour le tester,les auteurs ont men une exprience dans laquelle, les sujets taient invits dcrire de faonpositive une tche longue et ennuyeuse qu'ils venaient de raliser. Pour ce faire, ils se voyaientoffrir une rmunration faible, dans une condition, et une rmunration importante, dans uneautre.

    3.BIBLIOGRAPHIEBrehm, J. W. (1956). Postdecision changes in the desirability of alternatives. Journal of Abnormal and Social

    Psychology, 52, 384-389.

    Zimbardo, P. G. (1970). The human choice: Individuation, reason, and order versus deindividuation,impulse and chaos. In W. J. Arnold & D. Levine (Orgs.), Nebraska Symposium on Motivation 1969,17, pp. 237-307. Lincoln: University of Nebraska Press.

    Wicklund, R. A., & Brehm, J. W. (1976). Perspectives on cognitive dissonance. Hillsdale, NJ: Erlbaum.

    Aronson, E., & Mills, J. (1959). The effect of severity of initiation on linking for a group. Journal ofAbnormal and Social Psychology, 59, 177-181.

    Festinger, L. (1957).Atheory of cognitive dissonance. Stanford, CA: Stanford University Press.

    Festinger, L., & Carlsmith, J. (1959). Cognitive consequences of forced compliance. Journal of Abnormaland Social Psychology, 58, 203-210.

    Zajong, R. B. (1968). Attitudinal effects of more exposure. Journal of Personality and Social PsychologyMonograph Supplement, 9 1-27.

    4Produit ses effets.

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    INTRODUO AO ESTUDO DA INFLUNCIA SOCIAL: PARADIGMASDE SHERIF ASCH E MOSCOVICITexto da autoria deDra. Celeste Duque e Prof. Doutor Pedro Zany Caldeira, Lisboa: Maio de 1999; revisto porCeleste Duque, Faro: Outubro, 2006.

    1.BREVE INTRODUOQuando reflectimos utilizamos uma linguagem, conceitos, ideias, que nos foram fornecidos

    pela sociedade e pelos grupos onde crescemos e vivemos, o nosso dilogo interior sempre umtroca com um Eu tomado como Alter e esse Eu constitui-se a partir de muitos outros (...)

    pela sua referncia a uma estrutura de regras ou de normas colectivas que toda a condutahumana significativa e coerente, tanto aos olhos do prprio sujeito como aos olhos dos outroscom quem, ou no meio de quem o sujeito age (Rocher, 1971).Todos ns ficamos fascinados quando vemos pessoas aceitarem ideias ou opinies que no

    partilhavam, imitar gestos ou adoptar expresses que no eram seus (...) Ficamos igualmenteadmirados com a fora emocional que se encontra associada ao estabelecimento ou abolio denormas, no funcionamento social, e nas vivncias sociais ou individuais quando se respeitamou se cometem infraces (Moscovici & Ricateau, 1972).

    Os fenmenos psicossociolgicos anteriormente descritos, nas citaes apresentadas, soestudados em Psicologia Social e designados deprocessos de influncia social.

    O estudo destes processos procura analisar os efeitos de um indivduo ou grupo, enquanto

    aliado, modelo ou adversrio, nas respostas de um outro (indivduo ou grupo) a um objecto ousituao social.

    De uma forma geral, procura-se responder a questes do tipo: Como e porqu se formam as normas? Como e porqu um grupo ou um indivduo procura impor as suas normas a outro? Como e porqu os indivduos adoptam as normas que lhe so impostas?

    Mas a Psicologia Social tambm procura responder a outro tipo de questes, que se podemconsiderar como opostasdas primeiras:

    Como e porqu os indivduos propem e introduzem novas normas?Como e porqu mudam as normas?

    Os psiclogos sociais estiveram durante longo tempo convictos que os processos de influnciasocial eram os responsveis (ou estavam na origem) da normalizao e do conformismo social.

    A normalizao refere-se formao das normas situao que ocorre quando os indivduosse influenciam mutuamente para criarem e adoptarem uma norma aceitvel por todos.

    O conformismo, por seu turno, refere-se adaptao a uma norma dominante; esta normaseria imposta por um sujeito ou entidade de estatuto superior (maioria qualitativa) ou impostapor um grupo (maioria quantitativa).

    Subjacente reflexo destes dois processos est o princpio ideolgico de que a adaptao anica fonte de preservao do sistema individual e social. Considerando-se o comportamentodesviante como representando um risco para o sistema e que, embora seja um rudo inevitvel,

    o sistema deve procurar absorv-lo ou elimin-lo. A mudana deve, ento, ser encarada comoexistente e sendo necessria mas apenas na medida em que torna o sentido ainda maisadaptado e adaptativo.

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    Serge Moscovici, em 1967, liderou um movimento europeu, seguido por muitosinvestigadores, em que tentava ultrapassar a ideia de que a normalizao e o conformismoseriam as nicas manifestaes do processo da influncia social, chamando a ateno para os

    fenmenos de inovao. Esta ltima, refere-se adopo, por parte de um grupo maioritrio,de novas normas propostas por uma minoria desprovida de poder (Faucheaux & Moscovici,1971).

    De seguida, tentaremos mostrar e analisar como a Psicologia Social Experimental temprocurado responder a todas as questes at aqui apresentadas. E vamos comear pela anlisedo processo de 1) Formao de Normas, passando depois ao estudo do 2) Conformismo Social,ao estudo do 3) Comportamento Desviante, abordando a seguir a 4) Mudana Adaptativa epor ltimo, mas no menos importante, o processo de 5) Inovao.

    2.FORMAO DE NORMAS

    As normas mostram-se essenciais na nossa vida. atravs delas que conseguimos aestabilidade do meio em que vivemos (regemos o nosso comportamento em funo dasnormas quando interagimos com os outros e, porque estas se aplicam tambm aos outros, oinverso tambm verdade surge assim o equilbrio).

    O nosso comportamento, como facilmente se pode inferir do anteriormente exposto, obedece aregras e esquemas de conduta dos quais temos mais ou menos conscincia, e atravs dos quaisse manifesta a nossa pertena a uma cultura e se torna bvia a nossa insero neste ou naquelegrupo social.

    2.1. Funo das normas

    De uma forma muito resumida podemos afirmar que as normas tm como funo: Estabilizar o meio, simplificando a aprendizagem e a adaptao do indivduo sociedade;

    Facilitar a relao interpessoal, regulando e tornando previsveis os comportamentosdos outros, permitindo, ainda, a sua descodificao;

    Ser sinal da pertena a um grupo ou grupos, facilitando a interaco dos indivduos no(s)grupo(s), isto , pertencer a um grupo adoptar as suas normas.

    2.2. Definio de norma

    Para melhor compreender o conceito de norma, apresentamos de seguida as definies devrios autores:

    Regras e esquemas de comportamento largamente seguidas numa sociedade ou num gruposocial, cujo no cumprimento implica sanes explcitas ou implcitas e a que os membros dogrupo, como tal, conferem valor (Maisonneuve, 1973).

    Constituem-se como Uma escala de referncia ou avaliao, que define uma margem decomportamentos, atitudes e opinies, permitidas e repreensveis (Sherif, 1965; op. cit. Leyens, 1988,p. 67)

    So a aceitao partilhada de uma regra que uma prescrio no que se refere maneira de perceber,pensar, sentir e agir (Newbomb, Turner, & Converse, 1970; op. cit. Leyens, 1988, pp. 67-68).

    Segundo Jacques-Philippe Leyens (1988), elas ... so essenciais para as nossas interacesfornecendo-lhes ordem, estabilidade e previsibilidade (p. 68).

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    E, ento, de acordo com as definies aqui apresentadas as normas so extensveis a todo otipo de comportamento (isto , pensar, sentir, agir), so imperativas (obrigam a...) mas tambmso relativas (porque, variam de grupo para grupo e de poca para poca).

    Quanto sua extenso, temos a considerar duas categorias de normas: As que so comuns a todos os indivduos de uma dada cultura ou grupo;

    As que so especficas dos diferentes papis sociais. Definindo-se papel social como umconjunto de atitudes e comportamentos esperados de um indivduo que ocupadeterminada posio ou estatuto social.

    2.3. Como se formam as normas

    Em 1936, Muzafer Sherif, tentando demonstrar experimentalmente como se formam asnormas, baseou-se no efeito autocinticobem conhecido dos astrnomos, e muito estudado, oqual consiste no facto de um ponto luminoso imvel, apresentado em completa escurido e auma certa distncia, dar a impresso de se mover de forma irregular, aos olhos de umobservador que no tem outros pontos de referncia na situao e colocou as seguinteshipteses:

    a) Numa situao marcada pela incerteza, um indivduo procura estabelecer uma norma quelhe permita estabilizar a situao;

    b) Numa situao marcada pela incerteza, vrios indivduos que possuem estatutosequivalentes, procuraro influenciar-se mutuamente para produzir normas aceitveis portodos;

    c) As normas estabelecidas numa situao de grupo manter-se-o aquando de posteriorinsero de cada indivduo isolado na mesma situao.

    Em termos prticos, na primeira situao experimental de Sherif, os sujeitos tinham que

    avaliar, numa sala completamente s escuras, a deslocao de um ponto luminoso (o qual eraefectivamente fixo). Em tal situao, e ao fim de alguns segundos, as pessoas acabam por ver oponto luminoso a deslocar-se efeito autocintico.

    Os resultados obtidos por Sherif demonstraram que os sujeitos so progressivamente levadosa estabelecer uma norma, em torno da qual elaboram as suas avaliaes sobre a deslocao doponto luminosos, e que esta norma varia de indivduo para indivduo.

    Numa segunda experincia, face mesma situao, e comeando com a experinciaindividualmente passando posteriormente a uma situao de grupo com mais um ou doisoutros sujeitos, Sherif, verificou que da situao de grupo emergia a produo de uma normade grupo.

    Leyens (1988) considera que esta norma representa ou uma convergncia mdia das normasanteriormente estabelecidas, ou uma norma original ou, ainda, a influncia preponderante deum sujeito.

    Numa terceira experincia, os indivduos comeam por ser colocados em grupo e, uma vezformada a norma de grupo, so colocados em situao individual. Verificou-se, nessemomento, que os indivduos tm tendncia para interiorizar a norma de grupo (ver Figura 1 A e B , grficos do lado direito).

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    Figura 1. Mediana das estimativas dos sujeitos, em polegadas (Faucheux et al., 1971, pp. 216-217)Podemos, ento, concluir que, tal como Sherif (1936) advoga, o fundamento psicolgico doestabelecimento de normas sociais, tais como os esteretipos, as modas, as convenes, os costumes e osvalores, a formao de quadros de referncia comuns enquanto produtos do contacto dos indivduosentre si.

    3.CONFORMISMO SOCIALComo j referimos, o conformismo refere-se ao processo que ocorre quando confrontado comuma situao assimtrica, quantitativa ou qualitativa, um sujeito ou um grupo adere ou sesubmete norma de um outro sujeito ou grupo.

    Para se melhor compreender este conceito, iremos recorrer: 1) ao paradigma experimentalclssico de Asch, 2) ao estudo que a partir desse paradigma Deutsch e Gerard realizaram, bemcomo 3) s experincias de Milgram sobre a submisso a uma maioria qualitativa.

    3.1. Submisso a uma maioria quantitativa: Dependncia informativa edependncia normativa

    3.1.1. Submisso a uma maioria quantitativaSolomon Asch, em 1951, que seguia uma orientao da Gestalt, falava em efeitos da pressoimplcita do grupo na distoro da percepo.

    Nos seus estudos, Asch, utilizou a seguinte experincia: apresentou a trs grupos estudantes

    (constitudos por um mnimo de seis e um mximo de oito indivduos) de trs Universidadesdiferentes, dois cartes um deles, sempre apresentado esquerda, continha uma linhaconsiderada padro; e o outro continha trs linhas, das quais apenas uma era igual padro;

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    esta prova era repetida num total de dezoito ensaios. Os cartes eram colocados num quadro aum metro de distncia dos sujeitos.

    E foi dada a instruo aos sujeitos de que deveriam comparar as linhas dos dois cartes, aps oque deveriam indicar qual era, das trs, a linha padro (carto apresentado direita) (verFigura 2).

    Figura 2. Exemplo de cartes de estmulo utilizados por Asch (Moscovici, 1976, p. 163)

    Nestes grupos, apenas um indivduo um verdadeiro sujeito experimental e que ser, de oraem diante, designado de sujeito ingnuo os restantes 5 ou 7 membros do grupo socmplices do experimentador.

    Cada um dos sujeitos convidado a fazer a sua avaliao, em voz alta e, propositadamente, osujeito ingnuo o ltimo a falar. A experincia consiste, como j referimos, num total de 18ensaios e os cmplices foram instrudos para darem unanimemente respostas erradas, em 12

    cartes especficos. O sujeito ingnuo encontra-se numa posio minoritria, isolado face auma maioria unnime, que contradiz de forma consistente a evidncia perceptiva, cometendoerros que chegam a atingir os 5 cm. Embora no haja qualquer presso explcita do grupo osujeito ingnuo confrontado, implicitamente, com a unanimidade dos membros do grupo.

    Quais foram, ento, os resultados obtido por Asch?

    Antes de respondermos a esta questo, convm referir que Asch convencionou, por questo decritrio, chamar prova crtica a qualquer juzo para o qual a maioria d uma resposta errada eprova neutra a qualquer juzo crtico.

    Verificou-se que nas doze provas crticas, a mdia de erros, isto , de conformismo, situava-seentre quatro e cinco e apenas um em cada quatro sujeitos permanecia independente da maioria

    no conjunto da experincia.Assim, Asch, esperava com esta experincia que os sujeitos realizassem um trabalho cognitivosubstancial, consistindo em reorganizar as suas percepes em funo das respostas damaioria. Para tentar saber quais eram as razes que levavam ao comportamento independenteou ao conformista, Asch, optou por, aps a experincia, entrevistar os sujeitos.

    E chegou concluso que: os sujeitos independentes se distinguiam pela confiana quedemonstravam na sua prpria percepo; pelo seu afastamento psicolgico relativamente aosoutros participantes que prejudicavam a sua qualidade de indivduo nico; e, por fim, poruma dvida que prevalece sobre o seu prprio juzo.

    Asch, interessou-se, mais pelos indivduos conformistas, uma vez que so os mais susceptveisde modificar o objecto do seu juzo. Apuradas as causas do comportamento de conformismo,verificou-se que alguns sujeitos aderiram maioria por receio das represlias que umadesobedincia poderia implicar.

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    A maior parte dos sujeitos, no entanto, reconhece ter seguido os juzos da maioria porque aunanimidade destes abonava em favor da exactido. E, s uma pequena minoria de sujeitosdeformou a sua percepo, por se ter submetido inconscientemente influncia da maioria

    que, segundo eles, emitia juzos correctos. Era esta ltima categoria de sujeitos que Aschesperava encontrar desde o incio, pelo que, o escasso nmero de sujeitos, que dela fazemparte, invalidou a sua tese gestaltista.

    A explicao para que tal tenha sucedido pode residir no tipo de material utilizado materialestruturado; mais objectivo se, por exemplo, tivesse sido utilizado material menosestruturado mais subjectivo , tal como juzos de valor, opinies, atitudes, talvez ento seobtivessem reaces mais conformes perspectiva da Gestalt.

    3.1.2. Dependncia informativa e Dependncia normativaJones e Gerard (1967), aps a entrevista e a introspeco dos sujeitos ingnuos, chegaram

    concluso que se gera nos indivduos um duplo conflito. Por um lado, tm, espontaneamente,tendncia para confiar nas suas prprias capacidades perceptivas, que raramente falharam atento, mas hesitam devido s informaes que lhes vm dos outros membros (dos pares) dogrupo. Por outro, esto sozinhos face a um grupo unnime que ir talvez julg-losseveramente.

    De facto, no que diz respeito s capacidades perceptivas exigidas em provas como as de Asch,cada sujeito teve, obrigatoriamente, uma dupla aprendizagem antes de se apresentar nasprovas: conhecer as suas prprias capacidades e ter confiana nos outros (Leyens, 1988, p. 87).

    Para no falar daquilo que, neste momento, para ns bvio, cada um de ns foi igualmentetreinado para obedecer s normas de grupo.

    O sujeito de uma experincia de Asch sabe que a desobedincia, voluntria ou no, pode e temseguramente consequncias tais como: ser ridicularizado pelos restantes membros do grupo;perder o seu estatuto no seio do grupo a que, momentaneamente, pertence.

    A propsito deste duplo conflito, Deutsch e Gerard (1955), posteriormente experincia deAsch, realizaram uma srie de outras experincias que evidenciam dois tipos de influncia, oudependncia, que conduzem ao conformismo: a dependncia informativa e a dependncianormativa.

    a) Dependncia informativa

    A dependncia informativa refere-se importncia que as avaliaes e opinies dos outros

    representam para ns este, alis, o princpio evidenciado pela Teoria da Comparao Socialde Festinger (1954) desde muito cedo que aprendemos a ter em ateno e a respeitar os juzose opinies dos outros e a compararmo-nos com os outros (referentes sociais); alis, doconhecimento geral que os primeiros comportamentos socializados da criana so feitos porimitao.

    Leyens (1988) defende que a dependncia informativa gera-se devido a ... o conflito cognitivo,em que o indivduo procura reunir as informaes pertinentes que posteriormente lhe iro permitirsolucionar o problema com o qual foi confrontado (p. 88, grifo dos autores).

    Vejamos ento como e quando surge a dependncia informativa, como factor deconformismo.

    O conformismo aumenta medida que aumenta a importncia numrica da maioria (Asch e,posteriormente, Deutsch et al., chegaram concluso de que necessrio um mnimo de trs

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    sujeitos no grupo maioritrio para que se obtenha conformismo). Isto sucede porque todos nsacreditamos haver mais verdades na cabea de vrios indivduos do que na de um s.

    De acordo com este raciocnio, o nmero crescente da maioria, mais do que exercer uma presso

    moral, acentuaria um conflito de informaes. Deste modo, o sujeito ingnuo ter cada vez maisdificuldade em admitir que todos os outros esto equivocados, excepto ele; a sua educao noo preparou para recusar massivamente a opinio dos outros que no tm qualquer motivo parao induzir sistematicamente em erro. Os resultados das experincias de Asch (1951) e de Gerardet al. (1968) confirmam, segundo Leyens (1988), este raciocnio. Assim, por exemplo, nos gruposde controlo que no incluem qualquer cmplice, os erros so quase inexistentes, quando umnico indivduo a emitir juzos incorrectos, a influncia mnima; pelo contrrio, oconformismo aumenta consideravelmente quando so trs ou mais sujeitos cmplices doexperimentador.

    Quando aumenta a ambiguidade do estmulo (por exemplo, voltando s investigaes de Asch,quando no h grandes diferenas nas linhas a comparar com a linha padro) ou, ainda, quandoos sujeitos devem responder fazendo apelo sua memria (o ter que recorrer memria

    aumenta o conformismo) (Asch, 1951, Deutsch & Gerard, 1955).Leyens (1988) refere que quanto mais ambguo for o estmulo mais o sujeito estar indecisosobre a resposta a dar, mais tendncia ter para tomar a maioria como referncia e mais seconformar (p. 90).

    A ambiguidade do estmulo tem ainda um efeito sobre outra dimenso da conformidade, a quese chamou aceitao pblica (consiste em concordar, em voz alta, publicamente, com a normado grupo) e aceitao privada (consiste em concordar dentro de si; em adoptar como sua anorma do grupo, em comportamentos futuros). A propsito destas aceitaes, Leyens (1988)defende que no porque o sujeito ingnuo se deixa influenciar pela maioria que ele vaiinteriorizar os seus juzos.

    Em 1965, Vernon Allen dedicou um ensaio s condies de coincidncia mais ou menos estreita

    entre aceitaes pblica e privada. A ambiguidade do estmulo uma dessas condies. Assim,quanto mais elevada for a ambiguidade mais a maioria, mesmo no unnime, provoca nosujeito uma verdadeira adeso.

    O hiato entre a aceitao pblica e a aceitao privada confirma o aspecto de dependncianormativa, presente na experincia de Asch. Parece evidente que um maior conformismo emsituao pblica, identificvel, resulta de uma dependncia relativamente s regras do grupo dereferncia; cede-se maioria que no pode detectar-nos porque se teme o ridculo, porque h o medode se ser rejeitado, etc. (Leyens, 1988, p. 91).

    Quando na situao experimental h mais do que um sujeito ingnuo, ou a maioria noresponde de forma unnime e consistente unanimidade da maioria , baixa o conformismo(Asch).

    Allen (1975) chegou concluso, aps inmeras experincias, que a unanimidade (e oconsenso) que interessa e no o apoio social (representado pelo cmplice diferente). De facto,um cmplice que emite juzos ainda mais incorrectos que a maioria reduz tambm ele oconformismo dado que, havendo desacordo entre os referentes sociais, estes perdem o seuvalor informativo.

    b) Dependncia normativa

    No que se refere dependncia normativa, ela diz respeito aos riscos que o sujeito correquando no segue as normas do grupo. Estes riscos podem ser de dois tipos: no-aceitao oumesmo excluso do grupo.

    Festinger (1950) preconizou, numa segunda teoria, algo que se aproxima muito desta

    problemtica e que designou de presses para a uniformidade. Este autor defende que osgrupos exercem, voluntariamente ou no, presses para a uniformidade: agindo de tal formaque os grupos sejam capazes de atingir os objectivos estipulados ou que os seus membros,

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    momentaneamente afastados, sejam obrigados a reconhecer a sua culpa aquando da suareintegrao nos mesmos.

    Leyens (1988) defende que a dependncia normativa se refere ao ... conflito motivacional namedida em que a presena real ou simblica no grupo est subordinada adeso s normas, e s regrasdo grupo (p. 88, grifo dos autores).

    J em 1952, Kelley, tinha evidenciado esses dois tipos de dependncia ao enunciar a duplafuno dos grupos de: pertena/referncia a funo comparativa e a funonormativa/prescritiva.

    Deutsch et al. (1955), no que concerne dependncia normativa, verificaram que: O conformismo baixa quando as respostas do sujeito ingnuo no so conhecidas da maioria

    (por exemplo, quando escritas) e aumenta quando este d respostas em voz alta, em situaesde face a face.O conformismo aumenta quando induzida no sujeito ingnuo a ideia de que ele faz parte de

    um grupo, e que os resultados do seu grupo sero comparados com os de outros grupos.Numa outra experincia, Linde e Patterson (1964) verificaram que o conformismo semanifestava com maior intensidade quando o grupo era homogneo, sendo a maioria e aminoria constituda por paraplgicos, em cadeira de rodas, ou normais (entenda-se: semhandicapsfsicos, isto , no deficientes); pelo contrrio, quando o grupo era heterogneo (umparaplgico para vrios indivduos no deficientes, ou vice-versa) o conformismo manifestava-se menos. Isto , se o grupo se constitui como grupo de referncia adequada, ou, quando sequiser, como referente social, ento, o conformismo aumenta ( mais elevado).

    Podemos, deste modo, afirmar, resumidamente, que os factores que levam a uma maiordependncia informativa ou normativa contribuem, seguramente, para um reforo do

    conformismo. Destes factores foram citados: a importncia numrica da maioria; aunanimidade da maioria; a ambiguidade do estmulo a percepcionar e, nesta, foi analisada asituao pblica no annima.

    A acrescentar a estes factores h ainda mais dois, que se apresentam de seguida. Temos que considerar que a natureza das relaes entre o indivduo susceptvel de ser

    influenciado e o grupo de presso tem uma importncia capital isto , constituir-se comoreferente socialpara o sujeito. Logo, quanto mais o grupo representar as caractersticas de umareferncia adequada, maiores so as probabilidades de xito ao nvel da influncia.E, por fim, sabe-se que a atraco pelo grupodesempenha, igualmente, um papel importante. Osujeito no ousa arriscar-se a perder o seu estatuto de membro resistindo ou opondo-se spresses de que alvo. Por exemplo, quando um sujeito inserido num grupo que ele considera

    ser o mximo e com o qual partilha muitas das principais regras, a probabilidade da suaaceitao pblica (de que tinha um parecer diferente) se transformar numa verdadeira adeso extremamente elevada. Pelo contrrio, um indivduo que se sinta profundamente atrado porum grupo, mas que no concorda com muitas das suas regras fundamentais, s muitodificilmente poderia assumir a aceitao pblica como verdadeira adeso ele estaria avivenciar uma situao que designamos de dissonncia cognitiva.

    3.2. Submisso a uma maioria qualitativa Efeito de Milgram

    Ao contrrio do que sucedeu nas experincias de Asch, Deutsh e Gerard em que o indivduo sesubmetia ao grupo sem que se verificasse uma presso explcita, nas experincias que Milgraminiciou a partir de 1961, sobre o conceito de submisso ao grupo, observou-se uma pressoexplcita sobre o sujeito com a finalidade de o levar a obedecer norma (Milgram, 1974).

    Milgram desenvolveu um conjunto alargado de estudos sobre a obedincia, procurando saberse os indivduos obedeceriam a ordens de um estranho com relativamente pouco poder, que

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    lhes exigia que produzissem o que lhes parecia uma boa dose de dor a outra pessoa umcompleto desconhecido.

    Para poder analisar os comportamentos de obedincia, Milgram concebeu uma engenhosasimulao laboratorial, realizada nos laboratrios de Psicologia da Universidade de Yale.

    Vejamos ento quais os cenrios apresentados, bem como os resultados obtidos nasexperincias de Milgram sobre a submisso.

    O autor colocou um anncio num jornal local, oferecendo 4 dlares, bem como o pagamentodos transportes, aos indivduos, do sexo masculino, que estivessem na disposio de participarnum estudo sobre memria, a decorrer no laboratrio de psicologia da Universidade de Yale.

    Posteriormente, os sujeitos so informados que se trata de facto de um estudo para avaliar aintensidade da punio (no caso concreto, a aplicao de um choque elctrico) necessria paraalcanar uma maior aprendizagem.

    Quando o sujeito chega ao laboratrio confrontado com a presena de um indivduo queronda os 50 anos, que a aguardava o incio da experincia. Na presena de ambos, oexperimentador tira, aparentemente, sorte (aleatoriamente) qual dos dois indivduos irdesempenhar o papel de estudante e qual ser o professor.

    O aparelho que, supostamente, daria os electrochoques possua trinta alavancas, a primeirocom a etiqueta 15 volts, a segunda 30 volts, at ltima 450 volts.

    A tarefa consiste no seguinte: o professor (sujeito ingnuo) dir sries de quatro palavras squais associa outras quatro (por exemplo: azul/cu, dia/quente, lcool/fogo, etc.). Oestudante (sujeito cmplice) ter que repetir as associaes e complet-las, medida que oprofessor for lendo as sries. Cada vez que errar ou no responder ser punido com umchoque elctrico que pode variar entre os 15 e os 450 volts. Iniciando-se a punio pelo choquede mais baixa intensidade (15 volts) e sendo acrescido, a cada novo erro, de mais 15 volts, eassim sucessivamente, at se atingirem os 450 volts.

    Isto significava que se um estudante desse muitos erros apanhava choques de grandeintensidade. bvio que o estudante nunca apanhava choques elctricos durante aexperincia. E, o nico choque elctrico alguma vez usado era de muito fraca intensidade (45volts, o equivalente a uma picadela de um insecto) e servia apenas para que o professor seconvencesse que o aparelho era real.

    Antes de se iniciar a experincia, era dito aos participantes verdadeiros que a responsabilidadepela sade do estudante era exclusivamente do investigador.

    Aps as instrues, o estudante dirige-se para uma sala ao lado. O professor receber aresposta e o feedback ao tratamento que aplicar ao estudante atravs de um altifalante. O

    feedback realista dado que se trata das supostas reaces do estudante aos choques, as quaisforam previamente gravadas e em que: aos 75 volts ele geme, aos 135 volts ele grita ainda maisalto, aos 150 volts diz que no pode continuar, aos 270 volts ouve-se um grito de agonia, e apartir dos 300 volts deixa de haver qualquer resposta audvel.

    Como j deve ter percebido, apesar da simplicidade da tarefa, o estudante, seguindoinstrues prvias ao contexto da experincia, cometia muitos erros. Desta forma, osparticipantes depararam-se rapidamente com um dilema: deveriam continuar a castigar estapessoa dando-lhe o que pareciam electrochoques dolorosos? Deveriam recusar-se a continuar?Se eles hesitavam, o experimentador pressionava-os a continuarem, apresentando-lhesgradativamente as seguintes instrues:

    Continue, por favor;

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    A experincia exige que continue; , absolutamente, indispensvel que continue; No tem alternativa, continue.

    A experincia termina se, e aps o quarto incitamento, o professor (sujeito ingnuo) serecusar a continuar.

    Como os sujeitos eram pagos adiantadamente e eram todos voluntrios, poderamos preverque a maioria iria rapidamente recusar-se a cumprir as ordens do experimentador. Milgramverificou que 65% dos sujeitos mostrou obedincia total prosseguindo at ao choque final de450 volts e que o choque mdio, a partir do qual os sujeitos se recusam a continuar, de 360volts.

    Em comparao, as pessoas num grupo de controlo, a quem no eram dadas estas ordens,geralmente usavam apenas os choques de reduzida intensidade.

    claro que muitos sujeitos protestaram e queriam que a sesso terminasse, mas quando lhesera ordenado que continuassem, contudo, a maioria submetia-se influncia doexperimentador e continuava a obedecer.

    Eles continuavam a obedecer mesmo quando a vtima batia na parede como se protestassecom os electrochoques (quando chegava ao nvel dos 300 volts) e, aps esse nvel, deixassemde responder.

    Milgram demonstrou que poderiam ser gerados resultados semelhantes, mesmo sob condiesem que se esperava uma reduo da obedincia.

    Quando o estudo passou a realizar-se num escritrio localizado num edifcio pouco agradvel,os nveis de obedincia mantiveram-se elevados (47,5% dos sujeitos vo at aos 450 volts);

    Quando o experimentador no pode continuar e substitudo por um terceiro participante(cmplice) na conduo da experincia, 20% dos sujeitos vo at ao fim;

    A autoridade do experimentador no abalada no primeiro caso, mas -o no segundo. Defacto, nesta ltima srie de experincias, quem faz o controlo no o experimentador, que

    justamente se ausentou, mas um outro indivduo cmplice do experimentar, mas que vistopelo sujeito ingnuo como um par (com o mesmo estatuto que ele prprio).

    Quando o experimentador o estudante, todos os sujeitos param aos 150 volts (mximo!!!),isto , quando o experimentador pede pela primeira vez;

    Quando professor e estudante esto na mesma sala, no podendo o primeiro ignorar asreaces de dor do segundo, 40% dos sujeitos mostra obedincia total.Mais surpreendentemente, cerca de 30% dos sujeitos obedeceu mesmo quando tinha de pegarna mo da vtima e pression-la contra um disco de metal;

    Quando se afasta o professor do experimentador (agora num terceiro compartimento e das suas ordens pelo telefone) muitos sujeitos fingem obedecer mas, de facto, no aplicamchoques elctricos ou aplicam um muito mais fraco do que aquilo que lhe era exigido. Pareceque a autoridade reduzida do experimentador pode explicar uma reduo da obedincia. Masisso no impede que 20,5% dos sujeitos executem escrupulosamente a tarefa at aos 450 volts;

    A tarefa do professor agora partilhada por trs sujeitos: o primeiro sujeito (estudante cmplice) l os pares de palavras, o segundo sujeito (cmplice) informa o terceiro sujeito(ingnuo) da resposta dada pelo estudante, por forma a que este aplique, ou no, a punio.Quando o segundo colaborador (cmplice) se recusa a prosseguir aps os 150 volts, o sujeitoingnuo, se ainda no parou, pra nos 210 volts ou, ento, segue at ao fim (10% dos sujeitos);

    Numa das variantes deste estudo, a autoridade representada por dois experimentadores queentram em desacordo um no quer que a experincia prossiga aps a aplicao de um choquede 150 volts, o outro quer continuar em vinte casos dezoito no continuam;

    Quando no esto envolvidos directamente com a aplicao dos electrochoques, 92,5% dossujeitos segue at ao fim.

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    Segundo Milgram, o que justifica a submisso ou obedincia o facto de os indivduosdeixarem de se considerar autnomos e responsveis a partir do momento em que entramnuma estrutura social hierarquizada. Milgram fala em estado do sujeito agente. Tal estado

    caracteriza-se pelo facto de o sujeito se considerar como um agente que executa uma ordemdada por uma autoridade (no caso, dada a natureza da experincia, conotada como cientfica)que admite e que vista como inquestionvel.

    Por outro lado, na entrevista ps-experimental, os sujeitos no se consideravam pessoalmenteresponsveis pelo sofrimento infligido aos supostos estudantes, visto que era oexperimentador quem a tal os obrigava. Estaramos, assim, em presena do chamado e toconhecido efeito de diluio de responsabilidades.

    Por outras palavras, os estudos de Milgram sugerem que pessoas vulgares esto dispostas,embora com alguma relutncia, a fazer mal a um desconhecido inocente, se tal lhe forordenado por algum com autoridade.

    Devemos agora colocar uma pergunta:porque que ocorre esta obedincia destrutiva? Em primeiro lugar, as pessoas que detm a autoridade retiram a quem obedece a

    responsabilidade das suas aces (Estava s a cumprir ordens); Em segundo lugar, as pessoas que detm a autor