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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED
FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE
CAMPO MOURÃO - FECILCAM
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
CADERNO PEDAGÓGICO
Mapa: Comunidades Quilombolas do município de Ponta Grossa. Disponível em: http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/quilombolas_2009/PONTA_GROSSA.pdf
A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA NO ESTADO DO PARANÁ:
EXPERIÊNCIAS DO QUILOMBO SUTIL
CAMPO MOURÃO
2011
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE
CAMPO MOURÃO - FECILCAM
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE CAMPO MOURÃO - NRE
CADERNO PEDAGÓGICO
HISTÓRIA
A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA NO ESTADO DO
PARANÁ: EXPERIÊNCIAS DO QUILOMBO SUTIL
AUTOR: Sueli de Souza Pinto1
ORIENTADOR: Frank Antonio Mezzomo2
Produção didático-pedagógica apresenta à Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM) e à Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED) para o programa de formação continuada intitulado Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), sob a orientação do professor Frank Antonio Mezzomo.
CAMPO MOURÃO
2011
1 Professora de História do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de Campo Mourão. 2 Professor do Curso de História da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam).
SUMÁRIO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO .................................................................................... 5
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
UNIDADE I ................................................................................................................ 10
ESCRAVIDÃO .......................................................................................................... 10
UNIDADE II .............................................................................................................. 12
DA ÁFRICA PARA O BRASIL ................................................................................. 12
UNIDADE III .............................................................................................................. 16
A FORÇA DA MULHER NEGRA .............................................................................. 16
UNIDADE IV .............................................................................................................. 18
ESCRAVIDÃO NO PARANÁ .................................................................................... 18
UNIDADE V ............................................................................................................... 22
AS PRESSÕES INGLESAS CONTRA O TRÁFICO CHEGAM AO PARANÁ ......... 22
UNIDADE VI ............................................................................................................. 25
A FORMAÇÃO DOS QUILOMBOS .......................................................................... 25
UNIDADE VII ............................................................................................................ 31
QUILOMBOS DO PARANÁ: UM DIREITO A TERRA.............................................. 31
UNIDADE VIII ........................................................................................................... 34
ASPECTOS HISTÓRICOS DA COLÔNIA SUTIL .................................................... 34
UNIDADE IX .............................................................................................................. 40
DE COLÔNIA A COMUNIDADE QUILOMBOLA .................................................... 40
UNIDADE X .............................................................................................................. 44
QUESTÕES RELIGIOSAS, EDUCACIONAIS E AMBIENTAIS EM SUTIL .............. 44
UNIDADE XI ............................................................................................................. 47
A IMPORTÂNCIA DAS ERVAS MEDICINAL E A TRADIÇÃO ALIMENTAR NO
COTIDIANO QUILOMBOLA ..................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE:
Sueli de Souza Pinto
Escola de Implementação:
Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de Campo Mourão
Orientador:
Frank Antonio Mezzomo
IES Vinculada:
Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão
NRE:
Campo Mourão
Área PDE:
História
Tema de Estudo:
História e Cultura Afro-brasileira e Africana
Título:
A formação da comunidade quilombola no Estado do Paraná: experiências do
quilombo Sutil
Produção Didático-Pedagógica:
Caderno Pedagógico
Duração:
32 h/a
Público Alvo:
Alunos de EJA
"Se queremos progredir, não devemos
repetir a história, mas fazer uma história nova”.
Mahatma Gandhi
INTRODUÇÃO
O Caderno Pedagógico: A Formação da Comunidade Quilombola no Estado
do Paraná: Experiências do Quilombo Sutil é elaborado no encalço da concretização
da Lei Federal 11.645/083 que determina que nos “estabelecimentos de ensino
fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo
da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena” reafirmando a importância e a
necessidade da desconstrução social do preconceito e da discriminação racial que
são atribuídos, sobretudo à população negra e indígena.
O presente material se propõe explorar, embora que panoramicamente, a
escravidão ocorrida a partir do século XVI no continente africano e a migração
forçada para o Brasil, a fim de compreender a experiência da formação de
comunidades quilombolas no Estado do Paraná. Finalmente, pretende-se trabalhar
com a comunidade escolar a formação do quilombo Sutil, localizado no município de
Ponta Grossa. Para elaboração do material, realizou-se pesquisa bibliográfica, além
da pesquisa de campo realizada no mês de abril de 2011. A visitação in loco teve
por objetivo agregar novos conhecimentos às discussões já expostas nas produções
bibliográficas sobre as populações negras e para valorização da história oral
passada de geração a geração, compreendendo assim que todos fazem parte da
história.
Entende-se que o espaço escolar é apropriado para abordar a questão da
formação histórica do Paraná, além de ser um lócus em que as situações de
preconceito e racismo ainda se manifestam. Assim, a escola é um dos ambientes
mais propícios para propagação de ações que contribuam para extirparem as
representações sociais negativas colocadas à população negra por meio de
estigmas e estereótipos.
Para respeitar, é necessário conhecer os processos históricos de resistência
negra desencadeados pelos africanos que aportaram no Paraná depois de
arrancados de seus países para dar sustentação à produção açucareira no Brasil e,
posteriormente, utilizados em outros ciclos econômicos.
3 Brasil, Lei nº. 11645 de 10 de março de 2008. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato 2007.../lei/l11645.htm Acesso em: 20/02/2011.
7
Encaminhamento metodológico
A proposta de trabalho a ser desenvolvida em sala de aula, foi pensada de
forma a contemplar o domínio de noções de diferenças, semelhanças,
transformações e permanências, territórios e identidades, além de pautar
informações e questões históricas significativas que permitem que os alunos
associem, relacionem e confrontem informações para que se possa compreender a
trajetória da etnia negra no contexto brasileiro.
Nesta perspectiva, Ramos assegura
O processo de ensino-aprendizagem contextualizado é um importante meio de estimular a curiosidade e fortalecer a confiança do aluno. Por outro lado, sua importância está condicionada à possibilidade de (…) ter consciência sobre seus modelos de explicação e compreensão da realidade, reconhecê-los como equivocados ou limitados a determinados contextos, enfrentar o questionamento, colocá-los em cheque num processo de desconstrução de conceitos e reconstrução/ apropriação de outros (RAMOS, s/d, p.02).
Desta forma, os conteúdos serão trabalhados de maneira contextualizada
estabelecendo entre eles relações interdisciplinares para melhor compreensão das
contradições sociais, políticas e econômicas presentes na estrutura da sociedade.
Durante o desenvolvimento do trabalho, junto com os alunos estão previstas
atividades como aulas expositivas/dialogadas, análise e interpretação de textos,
dinâmicas de grupo, trabalhos individuais e coletivos, além da utilização de vídeos
contendo filmes e documentários.
Avaliação da aprendizagem
A avaliação deverá ser vista como um instrumento de aprendizagem
necessária e indissociável de qualquer ação que vise provocar mudanças. Assim,
deverá se fazer presente ao longo do processo educativo sempre como uma
dimensão formadora servindo de parâmetro para a construção do conhecimento.
O desenvolvimento do conhecimento ampara-se nas funções diagnósticas,
formativas e somativas, pois seus resultados devem ser a chave para a tomada de
decisões sobre o que deve ser retocado ou reforçado. De acordo com Lima:
Para cumprir essa função, a avaliação deve possibilitar o trabalho com o novo, numa dimensão criadora e criativa que envolva o ensino
8
e a aprendizagem. Desta forma, se estabelecerá o verdadeiro sentido da avaliação: acompanhar o desempenho no presente, orientar as possibilidades de desempenho futuro e mudar as práticas insuficientes, apontando novos caminhos para superar problemas e fazer emergir novas práticas educativas (Apud DCE, 2008, p. 28).
A avaliação vista por essa ótica permitirá uma educação transformadora,
propiciando aos educandos a compreensão do mundo em que vivem buscando
superar as contradições existentes.
Assim, é válido lembrar o pensamento de Paulo Freire quando se refere que
“o ato de ensinar não é apenas transferir saberes programáticos ao educando, ele
vai além dessa perspectiva, o ensino deve possibilitar e contribuir para a construção
de vida dos educandos” (FREIRE, 1996, p.22). Portanto, o professor deve despertar
no educando a curiosidade e o senso crítico, levando em consideração sempre o
conhecimento prévio dos seus educandos e a partir desse pressuposto acrescentar
os conhecimentos científicos indispensáveis para que sejam capazes de delinear
seu papel como ser criador, consciente, pensante, participante e acima de tudo,
transformador de sua realidade.
UNIDADE I
ESCRAVIDÃO
O objetivo dessa unidade é contextualizar a utilização do trabalho escravo
em diferentes momentos da história da humanidade.
ATIVIDADE 01
PENSANDO!
1- O que é escravidão?
2- Em que momentos da história da humanidade a escravidão se fez
presente?
3- O Brasil utilizou mão-de-obra escrava? Em qual período histórico?
O filme Ben-Hur4 mostra a utilização do trabalho escravo. O filme retrata o
contexto histórico do império Romano do século I. A história gira em torno de Judah
Ben-Hur, um rico mercador judeu que por divergências políticas com o poder
romano é condenado a viver como escravo em uma galera romana. Vamos assistir a
uma cena que mostra essa experiência histórica.
ATIVIDADE 02
1- Apresentação da temática: A formação da comunidade quilombola no
Estado do Paraná: experiências do quilombo Sutil aos alunos pelo
professor.
4 O filme Ben-Hur está disponível em: http://youtube.com/watch?v=WXh1tW16V-8&feature=related. Acesso em: 12/06/2011. Indica-se que o professor comente sobre a experiência da escravidão em diferentes momentos da história da humanidade apontando para conflitos de interesses, forma de exploração, reações e revoltas populares, entre outros.
10
ATIVIDADE 03
♫
A canção Leilão5 retrata a situação de sofrimento dos escravos ao serem
leiloados e separados de seus entes queridos. A canção relata o sofrimento de um
escravo que é separado de sua esposa, seu grande amor e fica anos a sua procura
e percebe que jamais a encontrará.
1- Após ouvir a canção Leilão, em duplas, os alunos deverão escolher uma
das formas para representá-la:
a) Ilustração (pode ser com imagens da internet ou desenho);
b) História em quadrinhos;
c) Teatro.
ATIVIDADE 04
Trabalhando com Mapa Mundi
1- Localize o continente africano e o americano e marque-os com um X.
2- Identifique onde está localizado o Brasil e na sequência, pinte-o.
Mapa Mundi - Disponível em: <http://www.lacasainfantil.com/materiales-y-recursos/mapa-mundi-en-blanco>. Acesso em: 20 jun. 2011.
5 Música Leilão. Disponível em: http://www.vagalume.com.br/inezita-barroso/leilao.html. Acesso em: 12/06/2011.
UNIDADE II
DA ÁFRICA PARA O BRASIL
O objetivo dessa unidade é compreender como os negros chegaram ao
Brasil e a sua utilização como mão-de-obra para dar sustentação à empresa
açucareira brasileira, implantada no molde mercantilista.
As literaturas sobre o continente africano e a crescente
imposição do mercantilismo fizeram com que portugueses e
outros povos rumassem para o continente africano visando fins
lucrativos. As relações comerciais entre Portugal e África se
pautaram na busca de mão-de-obra para suprir as
necessidades da Metrópole e de suas colônias, uma vez que
Portugal não dispunha dela em seu país. Desta forma, a utilização da mão-de-obra
africana em regime de escravidão pelos portugueses, data da metade do século XV.
De acordo com Leonardi (1999, p.40), esse comércio era visto pelas classes
dominantes portuguesas como uma obra de salvação, de caráter religioso, pois os
escravos eram sistematicamente batizados e convertidos ao catolicismo.
Não se pode esquecer que o colonialismo europeu do século XV tinha por
justificativa ideológica a expansão da fé cristã. No entanto, o que se percebe é que
em relação ao negro esta teve posição bem diferente.
As relações entre portugueses e africanos foram muito diferente das que se
estabeleceram com os índios. Os africanos aqui chegavam como mercadorias, isto
é, produtos a serem adquiridos e vendidos. No entendimento de Pedro e Lima,
As autoridades portuguesas nunca tiveram a intenção de os transformar em súditos do rei de Portugal. A igreja não se levantou contra a escravidão dos africanos, como o fez contra a dos índios. Os cronistas nunca viram no escravo trazido da África nada de positivo, apenas reconheciam a sua importância para a economia da colônia (PEDRO; LIMA, 2002, p. 31).
Tratados como “coisa”, eram utilizados em diversos tipos de trabalho
principalmente na agromanufatura do açúcar, na plantação de algodão, na
mineração, no cultivo de café, nos serviços domésticos, no artesanato etc.
Mercantilismo: Política que dava muita importância à acumulação de metais preciosos pelas nações europeias (CARDOSO, 2006, p.72).
12
Apesar de todas as tentativas de mantê-los subjugados, os povos africanos
traficados para o Brasil não se deixaram dominar de modo que a violência e a
tensão entre senhores e escravos eram constantes. Os escravos reagiram de várias
formas: fugiam em busca de liberdade formando quilombos, as escravas praticavam
o aborto para evitar que seus filhos sofressem com a escravidão, entre outros. Além
de tais conflitos, outra forma utilizada pelo homem branco para submetê-los foi
desfigurar a personalidade moral dos negros e suas aptidões intelectuais através de
uma política racista e preconceituosa de discriminação.
ATIVIDADE 01
Capturados na África e vendidos aos traficantes, os negros eram
transportados nos chamados navios negreiros onde eram jogados nos porões num
ambiente espremido, quente e fétido onde passavam fome e muitos morriam.
O filme Amistad6 (1997), produzido por Steven Spielberg, retrata a condição
desumana com que os negros eram tratados na viagem da África para o Brasil.
Vamos assistir a uma parte do filme?
RESPONDENDO!
1- Onde se passa a primeira cena do trailer do filme Amistad?
2- Como os negros eram tratados após serem arrancados de sua terra?
3- No trailer há um suicídio. Descreva a cena.
4- Qual era a alimentação servida aos negros? Todos eram alimentados?
5- Os negros aceitaram pacificamente os castigos? Descreva uma cena
que justifique sua resposta.
6- Em que país da América os negros foram negociados?
7- Você concorda com a idéia de que os negros eram tratados como
mercadorias? Descreva uma cena que justifique sua resposta.
8- Utilize uma palavra para expressar o seu sentimento ao assistir o trailer.
9- Por que Portugal utilizou mão-de-obra escrava em suas colônias?
6 Disponível em: http:// www.youtube.com/watch?v=Vo-JejTp7O4. Acesso em: 20/04/2011.
13
ATIVIDADE 02
O mapa do tráfico negreiro7 a seguir, mostra ao menos duas situações: no
continente africano as principais regiões de onde vieram os negros e no continente
americano onde se fixaram. Vamos explorar melhor o mapa:
1- Qual o título do mapa?
2- Relacione o trailer do filme Amistad às informações trazidas pelo mapa.
3- Tendo as perguntas abaixo como referenciais, elabore um texto de até
duas páginas, falando sobre a escravidão no Brasil.
a) Que rota o mapa mostra?
b) Em que período ocorre a escravidão?
c) De quais portos da África os negros saíam e quais estados brasileiros
eram os principais receptores?
7 Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2547-6.pdf?PHPSESSID =20 Acesso em: 20/04/2011.
14
ATIVIDADE 03
ATENÇÃO!
Você deverá entrevistar um familiar e uma pessoa da sua comunidade. Não
interfira nas respostas do seu entrevistado.
1- O que você sabe sobre a África?
2- Quais laços culturais unem o Brasil ao continente africano?
3- O que você sabe sobre a escravidão negra no Brasil?
4- O que é um quilombo?
5- Cite o nome de um quilombo.
6- O Paraná utilizou a mão de obra escrava negra?
7- Você conhece ou sabe de alguma comunidade quilombola no Paraná?
Qual? Onde está localizada?
UNIDADE III
A FORÇA DA MULHER NEGRA
O objetivo do tema é discutir e refletir sobre as lutas das mulheres em busca
da cidadania.
Ao observar a história brasileira, sobretudo nos últimos três séculos,
percebe-se que as mulheres, apesar de toda repressão pautada no machismo,
lutaram e se fizeram presentes na história. É neste contexto que se tem
conhecimento das candaces (rainhas mães). Essa força da mulher negra se fez e se
faz presente no nosso país.
O Brasil é conhecido no exterior pelos belíssimos carnavais que têm
apresentado ao longo de sua história. Esse fantástico espetáculo é apresentado
através de enredos que expressam a cultura brasileira com toda a diversidade, já
que a população do Brasil é formada por várias etnias. Dentre os enredos, está o de
2007 da escola Acadêmicos do Salgueiro que abordou a importância das Candaces,
nome de uma dinastia de rainhas guerreiras da África. O tema teve como objetivo
homenagear as mulheres negras que deixaram suas marcas na história. Para os
carnavalescos Lage e Lavinia, a história das Candaces é “mais do que uma
linhagem de rainhas, Candace torna-se um conceito, através do qual a força da
mulher negra se faz presente em lutas, conquistas e no legado matriarcal que
venceu o tempo e as distâncias” (LAGE; LAVINIA, 2010, s/p).
A força da mulher negra atravessou o oceano e chegou ao Brasil. Em terras
estranhas lutará pela liberdade.
Rainha Africana8
Candaces9
Candaces mulheres, guerreiras Na luta... justiça e liberdade
Rainhas soberanas Florescendo pra eternidade (bis)
Novo mundo, novos tempos. Suor da escravidão A bravura persistiu
Aportaram em nosso chão Na Bahia... Alforria (…)
Autores: Dudu Botelho, Marcelo Motta, Zé Paulo e Luiz Pião.
8 Disponível em: http://www.google.com.br/imeges?q=dominio+publico+mulheres+ negras +rainhas +da+africa& hl=pt-br&gbv=2&tbs=isch:11,18323&b iw=1022&bih=574 Acesso em: 10/03/2011. 9 Disponível em: http://www.uniblog.com.br/nacoeseaculturadacor/ Acesso em: 10/03/2011.
16
ATIVIDADE 01
Leia o texto Candace, a mulher na política10.
1- Como você define as Candaces, tendo por base o texto Candace, a
mulher na política e a música Candaces.
Para responder a questão 2, acesse o site: <http://maringa.odiario.com/
parana/noticia/340302/negros-ganham-salarios-44-menores-do-que-brancos>, e leia
o texto Remuneração diferente opõe negros e brancos.
2- Você concorda com as afirmações feitas no texto? De acordo com a sua
resposta reescreva o texto, colocando seus argumentos.
Acesse o site <http://www.espacoacademico.com.br/022/22csilva.htm>. Leia
o artigo A Mulher Negra e responda a questão abaixo.
3- Sabe-se que historicamente as mulheres no Brasil foram, e ainda são em
determinados locais, discriminadas. Você concorda que as mulheres
negras são as que mais sofrem com a discriminação? Justifique sua
resposta.
ATIVIDADE 02
Escolha e pesquise a vida de uma mulher negra que tenha se destacado
pela sua força e coragem. Você pode pesquisar em:
http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/mn_mn_t_biografia_a.htm
http://poderosamentemulher.blogspot.com/2007/10/mulheres-negras-na-
historia.html
http://movimentonegropb.vilabol.uol.com.br/brevehistoriamn.htm
http://www.overmundo.com.br/overblog/a-mulher-negra-e-pobre-no-brasil
10 BOULOS JUNIOR, Alfredo. História Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2006, p. 129-130.
UNIDADE IV
ESCRAVIDÃO NO PARANÁ
A discussão sobre a escravidão negra no Paraná terá como foco as relações
estabelecidas entre senhores e escravos, a sua coexistência junto à mão-de-obra
indígena e sua participação na economia do Estado.
Antes da chegada do negro ao Paraná no século XVII, a mão-de-obra
utilizada foi a do indígena. Essas duas etnias foram utilizadas pelo homem branco
nos serviços forçados da extração mineral, do plantio de cana, entre outros. Embora
com culturas diferentes negros e índios tinham uma condição comum: eram
escravos. No entendimento de Steca e Flores, “o índio que aqui estava era dono da
terra e foi desrespeitado em todos os aspectos e submetido. O negro africano foi
trazido para o Brasil de modo forçado e tratado com igual desrespeito pelo branco
civilizado” (STECA; FLORES, 2002, p.49).
Em relação ao indígena, foi criado em 1910 o Serviço de Proteção ao Índio
(SPI)11 que, de alguma forma, trazia alguma segurança para os índios brasileiros.
Por outro lado, os negros tiveram pouca assistência do Estado ou de órgãos de
classe de modo que, com a Abolição da Escravidão, ocorrida em 1888, pouco
representou em termos de direitos ao acesso à terra e melhores condições de vida.
De acordo com Steca e Flores:
Quanto ao negro, uma vez liberto, não teve acesso à terra. Segundo a Lei de Terras de 1850, só poderia adquiri-la, quem tivesse dinheiro para comprá-las. Também, não lhes foram dadas as condições para que pudessem viver de forma digna, daí a grande dificuldade de se tornarem pequenos proprietários, vivendo em extrema pobreza (STECA; FLORES, 2002, p. 50).
Portanto, a escravidão no Paraná não foi diferente das demais regiões do
Brasil, pois o escravo estava sujeito a todo tipo de trabalho. Inserido como
11 O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) ou Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais, parte constituinte do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC), foi um órgão público criado durante o governo do Presidente Nilo Peçanha, em 1910 com o objetivo de prestar assistência à população indígena do Brasil. O Serviço foi organizado pelo Marechal Rondon, seu primeiro diretor. O SPI foi extinto e substituído pela FUNAI, em 1967. Disponível em: <http://pt.wikipedia./wiki/servi%C3%A7oerote %C3%A7%C3%A3oao%C3%8Dndio. Acesso em: 21 jun. 2011.
18
mercadoria na compra, venda e aluguel rendia impostos ao governo e ao
proprietário. Como produtor de bens, era importante para a economia do mercado
interno e externo, pois produzia riquezas com seu trabalho. No entendimento de
Tuma
Apesar dos documentos de recenseamento (levantamento do número de habitantes de um lugar) não informarem toda a realidade, por meio deles a pesquisadora Márcia Elisa de Campos Graf conta que na Província do Paraná, em 1872, há registro de cerca de 10.500 negros escravizados. Em 1887, o número de escravos caiu para 3.600. Esse número diminuiu mais pela morte, venda e transferência para outras províncias do que pela libertação concedida pelos senhores escravocratas (TUMA, 2008, p.87).
A maioria dos trabalhos realizados nas áreas rurais era feita por escravos
nas mais diversas atividades como serviços domésticos, artesanato, na lavoura, na
carpintaria, na lida com o gado, na extração da madeira e da erva mate, entre
outros.
Em Curitiba, o escravo estava presente no trabalho doméstico, mas também
tinha lugar importante no cenário cultural da cidade. Eles mostravam seu talento
musical participando de "cantos" no largo do mercado municipal.
Os negros também desenvolveram outras
atividades de expressão artística e religiosa, dentre elas a
Congada que, de acordo com a literatura, é um dos
folguedos folclóricos mais significativos e populares do
Brasil. Para os negros, as figuras de São Benedito, Nossa
Senhora do Rosário e Santa Efigênia identificam-se com
divindades africanas, pois a presença do canto, da dança e dos instrumentos
musicais ofereciam os elementos necessários ao desenvolvimento de um rito
religioso com influências africanas.
Congada Bailado dramático em que os figurantes representam, entre cantos e danças, a coroação de um rei do Congo: congado (FERREIRA, 2010, p. 556)
19
ATIVIDADE 01
1- Qual era a condição comum entre índios e escravos?
2- Descreva como vivia o negro liberto.
3- De 1872 a 1887, o número de escravos no Paraná sofreu uma redução
em torno de 65%. Quais fatores contribuíram para isso?
ATIVIDADE 02 LEGAL!
Assistiremos a um vídeo sobre a Congada na Lapa12.
A Congada é um legado cultural deixado por mais de um milhão de negros
trazidos da África para o Brasil como escravos. O bailado é movido por ações
dramáticas, músicas e coreografia.
1- O que é a Congada?
2- O que os festejos refletem?
3- A Congada recebe influência de que etnias?
4- O que marca a altivez e a imponência dos principais personagens da
Congada?
5- De que forma a Congada da Lapa foi revitalizada?
6- Que outra história foi criada paralela à revitalização da Congada da
Lapa?
7- Que cidade do Paraná mantém a tradição da Congada?
ATIVIDADE 03
No Brasil, os escravos de origem africana eram
proibidos de praticar sua religião ou de realizar suas festas.
Tinham que seguir o catolicismo, imposto pela Coroa
portuguesa e por seus senhores sem, no entanto, deixar de
cultuar seus deuses. Mesmo diante das restrições,
mantiveram seus rituais chegando a sincretizá-los aos santos
da Igreja Católica.
12 Para assistir ao vídeo sobre a Congada na Lapa sugerimos o site: http://www.youtube.com/watch?v=nXx0 OgAIiGY. Acesso em: 30/05/2011.
Sincretismo Fusão de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, em um só elemento, continuando perceptíveis alguns traços originários (FERREIRA, 2010, p.1937).
20
1- Pesquisar sobre os orixás do Candomblé e da Umbanda. a) A equipe “A” fará a pesquisa sobre os orixás do Candomblé e a equipe “B” fará a pesquisa sobre os orixás da Umbanda13. Não se esqueçam de ilustrar. Em seguida as pesquisas serão apresentadas em forma de seminário.
Fonte: Imagem disponível em: <http://uranohistoria.blogspot.com/2009/07/nasce-o-forum-nacional-de-religiosos-de.html>. Acesso em: 13 jan. 2011.
13 A seguir constam alguns sites que podem ser utilizados como apoio a pesquisa: Sobre os orixás da Umbanda: http://www.caboclopery.com.br/interest.htm; sobre os orixás do Candomblé: <http://dofonodelogum.sites.uol.com.br/oxossi.html>. Acesso em: 20 abr. 2011.
UNIDADE V
AS PRESSÕES INGLESAS CONTRA O TRÁFICO CHEGAM AO PARANÁ
Estudamos que desde o século XVI a mão-de-obra predominante no Brasil
foi a escrava. Nessa unidade, veremos que por questões econômicas e políticas que
envolviam a Inglaterra no século XIX, a prática da escravidão será questionada
chegando há um impasse diplomático entre o Brasil e o país inglês.
Na terceira década do século XIX, por pressões inglesas o governo brasileiro
decretou a Lei 183114. Entretanto, a lei ficou só no papel. De acordo com Steca;
Flores (2002, p.60) “essa atividade começou então a ser feita de forma ilícita, o
Porto de Paranaguá ganhou grande importância, passando a receber essa
mercadoria proibida, que depois era repassada para o resto do país”.
O descumprimento da lei de 1831 fez com que a Inglaterra decretasse a Bill
Aberdeen em 1845, que dava direito ao governo inglês de prender os navios
transportando negros em águas internacionais e nacionais. O não cumprimento da
lei gerou o incidente internacional conhecido como Combate Cormorant.
O cumprimento da Bill Aberdeen, pelos ingleses, ocasionou um sério incidente com o cruzador britânico Cormorant, na baía de Paranaguá, em junho de 1850. Julgando ser de seu direito, os ingleses entraram na baía com o fim de aprisionar alguns navios brasileiros, carregados de escravos vindos da África. O comandante de um dos navios, para não ser apanhado em flagrante pelos ingleses, afundou seu navio, com dezenas de negros africanos no seu interior, num gesto trágico e desumano (WACHOWICZ, 2000, p.140).
A população de Paranaguá considerou o ataque uma afronta à soberania
brasileira aliada ao prejuízo econômico, pois parte dela sobrevivia do comércio ilícito
de escravos.
14 A lei de 7 de novembro de 1831, do período regencial, que declarava livres os escravos importados da África, a partir daquela data, com duas exceções e prevendo penas para o tráfico internacional de escravos: "Art. 1.º. Todos os escravos, que entrarem no território ou portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres. Excetuam-se: 1.º Os escravos matriculados no serviço de embarcações pertencentes a país, onde a escravidão é permitida, enquanto empregados no serviço das mesmas embarcações. 2.º Os que fugirem do território, ou embarcação estrangeira, os quais serão entregues aos senhores que os reclamarem, e re-exportados para fora do Brasil. Art. 2.º Os importadores de escravos no Brasil incorrerão na pena corporal do art. 179 do Código Criminal imposta aos que reduzem à escravidão pessoas livres, e na multa de 200$000 por cabeça de cada um dos escravos importados”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea Acesso em: 18/04²011.
22
As pressões inglesas diante do incidente fizeram com que o governo
brasileiro assinasse a Lei Eusébio de Queirós em 1850, que proibia o tráfico
negreiro. Mas os negros continuaram entrando no país de forma clandestina,
inclusive pelo Porto de Paranaguá no Paraná. Além das leis decretadas pelo
governo como a Lei do Ventre Livre e a Sexagenária, outras formas foram criadas
para libertar os escravos como as sociedades secretas15 em Curitiba, a Sociedade
Redenção Paranaguaense em Paranaguá e as de cunho particular.
No Paraná, era comum donos de escravos libertá-los em dias de festas religiosas ou de famílias: ou como último desejo antes da morte; quando tinha alguém da família aniversariando ou em formaturas; para agradar o imperador; em outros casos o próprio negro, comprava a sua liberdade com seu trabalho ou com recursos acumulados ao longo dos anos (STECA; FLORES, 2002, p.61).
Os negros também lutaram para conseguir sua liberdade seja através de
fugas, através de empréstimos do Governo Provincial ou de trabalhos extras para
juntar dinheiro para compra da liberdade.
ATIVIDADE 01 LEGAL!
Com base no vídeo: Escravidão no Brasil-negro16, produza um texto de uma
página relacionando seu conteúdo com as informações contidas nesta unidade.
ATIVIDADE 02
Com base nas pesquisas realizadas, responda: 1- De que tratava a Lei Eusébio de Queiroz, a Lei do Ventre Livre, a Lei do
Sexagenário e a Lei Áurea?
2- O que tratou e qual a importância da Lei Federal de 1831?
3- Por que o Porto de Paranaguá ganhou destaque após a Lei de 1831?
4- Descreva o incidente denominado Cormorant.
15 Sociedades secretas: Sociedades civis que faziam coleta para compra de escravos, com a finalidade de libertá-los; promoviam fugas de cativos, os quais eram encaminhados para São Paulo, fugindo assim à perseguição da policia. Cf. WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Curitiba: Editora Imprensa Oficial do Paraná, 2002, p. 141. 16 Para assistir ao vídeo Escravidão no Brasil - negro acesse: www.youtube.com/watch? v=QXIXFsPpf-o. Acesso em: 15 abr. 2011.
23
5- Como alguns negros conseguiam a sua liberdade sem infringir às leis da
época?
ATIVIDADE 03
Com a proibição do tráfico negreiro o
Porto de Paranaguá17 ganhou importância, pois
passou a ser o local de desembarque irregular
dos escravos vindos da África.
Acesse o mapa do Paraná disponível em: <http://www.guiageo-
parana.com/mapas.htm>, e localize os municípios de Paranaguá, Ponta Grossa e
Campo Mourão e circule-os. Agora pesquise a distância do Porto de Paranaguá até
esses municípios.
17 Pintura de Alfredo Andersen - Porto de Paranaguá, s/d. Disponível em: <http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/uploads/2007/06/porto-de-pgua-andersen-sem-data.jpg>. Acesso em: 13 jul. 2011.
Ilustração 1 - Pintura de Alfredo Andersen - Porto de Paranaguá, s/d
UNIDADE VI
A FORMAÇÃO DOS QUILOMBOS
A proposta de trabalho nesta unidade é analisar a formação dos quilombos
como forma de resistência ao regime escravista pautado na opressão e na
exploração dos escravos.
Ao se pensar a escravidão negra no Brasil, não se pode deixar de ressaltar a
importância dos quilombos, talvez o maior símbolo de resistência contra a
escravidão negra. Os negros escravos que conseguiam fugir procuravam alcançar
os quilombos, fortificações escondidas em lugares de difícil acesso. De acordo com
Maestri,
Quilombo e mocambo foram as duas denominações brasileiras mais comuns dadas aos agrupamentos clandestinos de trabalhadores escravizados fugidos. Milhares de pequenos, médios e grandes quilombos pulularam, no litoral e no interior do Brasil desde o início até à abolição da escravatura. (…). A maioria dos quilombos viveu da agricultura. Com ferramentas rústicas ou roubadas, plantavam pequenas roças de subsistência milho, mandioca, feijão, abóbora, etc. A caça, a pesca, e o saque completavam a alimentação fornecida pela agricultura. Os quilombolas vendiam parte dos gêneros agrícolas que produziam para comprar armas, pólvora, ferramenta, ferro e outros produtos (MAESTRI, 1994, p. 93-95).
Essas comunidades apresentavam-se como uma ameaça à sociedade
escravista, e sua destruição passou a ser uma necessidade tanto para os donos de
escravos como para as autoridades públicas. O Quilombo de Palmares, localizado
no Estado de Alagoas, formou-se a partir da segunda metade do século XVI e foi o
mais famoso pelo seu nível de organização e pela resistência que ofereceu durante
seus 67 anos de existência.
Para a Fundação Cultural Palmares18
18 Fundação Cultural Palmares: Criada em 1988, a Fundação Cultural Palmares é uma instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira. Preocupada com a igualdade racial e com a valorização das manifestações de matriz africana, a Palmares formula e implanta políticas públicas que potencializam a participação da população negra brasileira nos processos de desenvolvimento do País. Disponível em: <http://www.palmares.gov.br/?page_id=95>. Acesso em: 19 maio 2011.
25
as denominações quilombo, mocambos, terra de preto, comunidades remanescentes de quilombos, comunidades negras rurais, comunidade de terreiro, são expressões que designam grupos sociais afrodescendentes trazidos para o Brasil durante o período colonial, que resistiram ou, manifestamente, se rebelaram contra o sistema colonial contra sua condição de cativo, formando territórios independentes onde a liberdade e o trabalho comum passaram a constituir símbolos de diferenciação do regime de trabalho adotado pela metrópole (BOTH, 2006, p. 52).
De acordo com Clóvis Moura, a definição dada abaixo é uma resposta do
Rei de Portugal à consulta feita pelo Conselho Ultramarino datada de dezembro de
1740, que assim define: “quilombo era toda habitação de negros fugidos que
passem de cinco, em partes despovoadas, ainda que não tenham ranchos
levantados nem se achem pilões neles” (MOURA, 1983, p.16).
Para Munanga, a experiência brasileira dos quilombos “é sem dúvida, uma
cópia do quilombo africano, reconstruído pelos escravizados para se opor a uma
estrutura política na qual se encontram todos os oprimidos” (Apud CRUZ et al.,
2006, p.57).
ATIVIDADE 01
Leia o texto: A Formação dos Quilombos
em seguida acesse o site:
<http://histoblogsu.blogspot.com/2009/05/o-
quilombo-dos-palmares.html>, para ler o texto O
Quilombo dos Palmares.
Com base no texto e na consulta ao site
indicado, responda as questões abaixo.
1- Das definições dadas no texto, escolha a que melhor define o que é
quilombo para você.
2- Por que os negros fugiam de seus locais de trabalho?
3- Explique a organização social do Quilombo de Palmares.
4- Por que os quilombos representavam uma ameaça aos fazendeiros?
Ilustração 2 - Pintura de Louis Le Vau 1612-1670
26
5- Com base nos seus estudos, explique a frase: “A abundância alimentar
das comunidades negras contrastava com a miséria da população do
litoral”.
6- Por que a destruição de Palmares era fundamental para a economia do
Brasil Colônia?
ATIVIDADE 02
LEIA O TEXTO - QUILOMBOS E QUILOMBOLAS19
Os quilombos marcaram presença em todos os lugares da América em que
houve escravidão, com grande diversidade de características em termos de
proporção, duração e até mesmo da composição étnica de seus habitantes. Há
notícias de quilombos por todo o Nordeste açucareiro, sendo que o mais conhecido
foi o de Palmares. Mas também foram encontrados na região das Minas Gerais, em
Mato Grosso, no Grão-Pará e até mesmo no Rio Grande do Sul.
O que representaram os quilombos? Podemos classificá-los como uma
reação ao sistema escravista? Entendê-los como uma tentativa de reconstruir o
modo de vida africano? Ou simplesmente como uma forma de protesto contra as
condições impostas?
Segundo Kátia Mattoso (1982), os quilombos são tudo isso ao mesmo
tempo. No entanto, não eram fruto de um plano premeditado, que visasse contestar
a sociedade colonial. Surgiam espontaneamente, em geral em áreas de difícil
acesso, longe de cidades, estradas e plantações. Mas isso não significa que os
quilombolas vivessem isolados, sem contato com o restante da sociedade.
A população dos quilombos era diversificada, sendo que muitos abrigavam
índios, mulatos e brancos livres, ou negros forros. Para ali se dirigiam aqueles que
não encontravam na sociedade colonial um espaço no qual transitar com certo grau
19 Texto extraído do site: <http://www.google.com.br/#hl=pt-BR&source=hp&biw=&bih=&q=dominio +publico++samba+enredo 500 anos um novo mundo na TV>. Acesso em: 14 abr. 2011.
27
de liberdade: desde criminosos até os que buscavam o quilombo por falta de
ocupação profissional.
Uma volta à Mãe África? Muito se tem escrito sobre os quilombos, como se
sua organização, fosse a recriação do mundo africano. Estudiosos como Edson
Carneiro e Arthur Ramos, entendiam o quilombo como uma resistência à
aculturação europeia a que os escravos eram submetidos. Nesse sentido, viam o
quilombo de Palmares quase como um verdadeiro Estado africano, no qual se
tentaria recriar uma espécie de sociedade alternativa, isolada, em que todos seriam
livres e possivelmente iguais, tal como teriam sido em uma África em tudo
idealizada. Mas essa representação da África como uma unidade não passa de
romantismo.
Atualmente, os estudiosos se empenham em entender a complexa rede
estabelecida entre os quilombolas e os diversos grupos da sociedade com quem os
fugitivos mantinham relações. Acima de tudo, é importante discutir a ideia de que os
quilombolas vivessem isolados em uma 'pequena África'.
O próprio continente africano dificilmente pode ser visto como um todo
homogêneo, pois é constituído por um grande número de etnias, com costumes em
tudo diversos, da língua à religião, passando pela organização social e política. O
mesmo pode ser dito dos quilombos.
A língua falada nos quilombos provavelmente utilizava a estrutura do
português, misturada com formas africanas e indígenas - haveria uma espécie de
sincretismo linguístico. Em relação à religião, sabe-se que em Palmares conviviam
diversos cultos, do católico aos das mais variadas crenças africanas, além de
elementos da religiosidade indígena.
A população não se resumia a negros africanos. A presença de índios nos
quilombos era significativa, e em muitos casos eles transmitiram aos negros os
conhecimentos necessários para a subsistência na mata. Os africanos que viviam
nos quilombos, por sua vez, procediam de diversas etnias. Nesse sentido, no
quilombo conviviam costumes africanos de etnias variadas, obrigadas a se
relacionar mutuamente no novo mundo.
As observações de Reis & Gomes (1996) se contrapõem à visão idealizada
do quilombo como uma volta à África, pois para esses autores "seria mais frutífero
investigar como os quilombolas continuavam em seus refúgios, com ritmos e meios
28
diferentes, a formação de uma sociedade afro-brasileira que havia começado nas
senzalas".
A formação de quilombos perpassa toda a história social do Brasil colonial, e
a experiência neles forjada revela um pouco da feição multiétnica da sociedade
brasileira.
ATIVIDADE 03 REFLETINDO!
1- Os quilombos apresentavam características diversas? Por quê?
2- Qual o quilombo mais conhecido no Brasil?
3- O que representavam os quilombos?
4- A população dos quilombos era formada só por escravos negros?
Justifique.
5- Por que podemos afirmar que a ideia de uma África homogênea não
passava de romantismo?
6- Qual religião era professada em Palmares?
ATIVIDADE 04
No carnaval de 1960, a escola de Samba Salgueiro veio para a avenida
contando a história de Zumbi dos Palmares, como forma de compreender a história
de bravura desse guerreiro e seus comandados que não aceitaram pacificamente a
condição de escravos. Leia o samba abaixo e responda as questões.
Samba Enredo 1960 – Zumbi dos Palmares20
No tempo em que o Brasil ainda era Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história Que apresentamos neste carnaval
Com a invasão dos holandeses Os escravos fugiram da opressão E do julgo dos portugueses. (...)
Fonte: Composição: Noel R. de Oliveira e Anescar Rodrigues21
20 Letra do Samba Enredo - Zumbi dos Palmares. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/salgueiro-rj/683006> Acesso em 15 maio 2011.
29
AGORA É COM VOCÊ!
1- A que tempo histórico a letra do samba se refere? Quando isso ocorreu?
2- Quem oprimia os escravos?
3- O que os escravos buscavam em Palmares?
4- Quem era o protetor de Palmares?
5- Zumbi e a comunidade de Palmares são símbolos da resistência negra
no período colonial. Hoje a população negra está organizada em vários
movimentos, dentre eles o Movimento Negro que através da sua luta
conseguiu a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, dando um
grande passo para a consolidação das políticas que visam à promoção
da igualdade racial no Brasil. Acesse o site
<http://www.palmares.gov.br/?p+111777>, escolha um capítulo do
Estatuto do I ao VI e escreva sobre a importância dessas conquistas
para a comunidade negra.
21 Para ouvir o samba acesse: <http://www.youtube.com/watch?v=RokegzHagI&feature=playeembedded>. Acesso em: 15 abr. 2011.
UNIDADE VII
QUILOMBOS DO PARANÁ: UM DIREITO A TERRA
O objetivo dessa unidade é questionar o discurso do Paraná eugênico,
dando ênfase a compreensão dessas comunidades, através da ação do governo
estadual, cumprindo o artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
constantes na Constituição Federal em vigor.
Ao se analisar a população dos Estados que compõem a região Sul do país,
percebe-se que o Paraná é o que concentra o maior número de negros. De acordo
com Silva (2010, p.1) “Em 1853, quando ocorreu a emancipação política do Paraná,
40% da população do Estado era composta por negros. Hoje, segundo dados do
IBGE, eles representam 28,5%, o que confere ao Paraná a maior população negra
do sul do país”.
Os dados acima desmistificam a visão eugênica22 de um Paraná sem
negros. Essa conotação começa a ser substituída pela visão de um Paraná que
deve parte do seu desenvolvimento à comunidade negra que se fez presente no
Estado desde o século XVI e ainda hoje se faz presente em todo o território
paranaense reproduzindo seus costumes e tradições.
O grupo de trabalho Clóvis Moura23, que identificou a existência de
aproximadamente cem comunidades quilombolas no Estado do Paraná, tem como
objetivo conhecer a história das comunidades descendentes de escravos e oferecer-
lhes serviços básicos de qualidade que os auxiliem na melhoria da qualidade de
vida. Esse trabalho realizado pelo Governo do Estado está em consonância com a
Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, que no artigo 68 estabelece
que “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando
suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os
22 Eugenia: ciência ou conjunto de técnicas que tem por objetivo melhorar as qualidades físicas e morais das gerações futuras, principalmente por meio do controle dos casamentos e de uma série de ações sociais, policiais e clínicas necessárias a esse controle. Recentemente, a eugenia foi reforçada pelos avanços da genética e da possibilidade de manipular das técnicas de reprodução humana. Cf BRASIL. Ministério da Educação. Gênero e Diversidade na Escola: Formação de Professoras/es Em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de Conteúdo. Rio de Janeiro, CEPSC, 2009. 23 O Grupo de Trabalho Clóvis Moura foi criado com o objetivo de integrar as comunidades quilombolas com o Governo do Estado. O Grupo faz o levantamento da população quilombola, verifica as necessidades e as encaminha para as secretarias estaduais Disponíveis em: <http://www.cohapar.pr.gov.br/modules/noticias/print.php?storyid=545>. Acesso em: 28 maio 2011.
31
títulos respectivos”. Essa conquista é resultado das lutas dos trabalhadores do
campo e do movimento negro em busca de seus direitos.
A questão do acesso à terra é vista pelos quilombolas sob a ótica de um
direito, pois estes redutos foram criados em pleno movimento de resistência desde o
Brasil colônia objetivando recriar as condições de igualdade perdidas na condição de
escravo. Conforme Pereira
Os setores organizados e os não organizados da população negra entendem que as comunidades rurais criadas como resistência à escravidão têm direito absoluto ao título das terras. Entendem que não são credores do Estado, que são mantenedores de territórios culturais e que esses remanescentes de quilombos criaram alternativas preservacionistas e á fome, à prostituição, à miséria urbana, portanto que representam “um orgulho dos negros”. Não precisam ser assentados porque não são populações sem terra, pelo contrário, habitam há séculos em seus territórios. Seus direitos devem ser assegurados, portanto (PEREIRA, s/d, p.3).
Para Elisandra Pereira das Neves, moradora do quilombo Sutil localizado no
município de Ponta Grossa,
a área de mais ou menos 3.000 alqueires foi herdada pelos Negros no período da abolição, sendo posteriormente invadida por fazendeiros brancos com apoio de milícias formadas por jagunços e policiais. Houve várias invasões, as últimas no século XX com a ação do Governo do Estado do Paraná através da instalação de colônias de imigrantes europeus (Apud SANTIAGO, 2009, s/p).
ATIVIDADE 01
1- De onde são retirados os dados que desmitificam a ideia de um Paraná
eugênico?
2- Porque o governo do Paraná criou o grupo de Trabalho Clóvis Moura?
3- Faça uma análise do artigo 68, das colocações feitas por Pereira e pela
quilombola Elisandra. Em seguida, produza um texto abordando o direito
dos quilombolas ao acesso à Terra a partir da Constituição de 1988.
32
ATIVIDADE 02 LEGAL!
Localize as comunidades quilombolas do Paraná através do mapa:
População Negra e Comunidades Quilombolas no Estado do Paraná.
1- Como se formaram os quilombos ao longo da história (do Paraná e do
Brasil)?
2- Localize no mapa as comunidades quilombolas do Estado e seus
respectivos municípios. Preencha a tabela abaixo indicando o município e
a comunidade respectiva.
Município Comunidade Quilombola
Ponta Grossa
Sutil
Santa Cruz
Ilustração 3 - População negra e comunidades quilombolas no Estado do Paraná Fonte: <http://www.gtclovismoura.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=62>
UNIDADE VIII
ASPECTOS HISTÓRICOS DA COLÔNIA SUTIL
Nesta unidade, discutiremos alguns aspectos históricos referentes a
formação da comunidade quilombola do Sutil e como esta se organiza atualmente
para providenciar seu sustento.
Ilustração 4 – Entrada da Comunidade Quilombola do Sutil. Fonte: Arquivo pessoal (11 de março de 2011)
O Quilombo do Sutil ou Colônia do Sutil, está localizada na região dos
Campos Gerais, no distrito de Guaragi, município de Ponta Grossa. O quilombo do
Sutil faz parte das terras da antiga Fazenda Santa Cruz que era constituída por sete
comunidades: Campo da Rocha; Campo da Porta; Campo do Subtil; Capoeiras;
Potreiro; Frazão e Fachinal.
A região da antiga Fazenda Santa Cruz se apresenta ligeiramente plana,
com campos pontilhados pela agricultura e pinheirais de araucária. Essa região
também é conhecida pela colonização europeia. O quilombo do Sutil situa-se a 19
quilômetros do município de Ponta Grossa, com acesso por estrada asfaltada até a
entrada da colônia, sendo que o restante da estrada até as residências é de
cascalho em bom estado de trânsito. O acesso à comunidade do Sutil é feita no
sentido Ponta Grossa/ Palmeiras através da PR 151
34
Ilustração 5 – Mapa: Comunidades Quilombolas do município de Ponta Grossa Fonte: http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/quilombolas_2009/PONTA_GROSSA.pdf
Segundo dona Vani Ferreira Batista, moradora da comunidade, a origem do
nome Sutil “foi uma homenagem prestada a um tropeiro que vinha das bandas de
Sorocaba chamado Benedito Subtil e que se hospedava no local com os negros”
(BATISTA, Vani Ferreira. Entrevista, março/2011).
A comunidade do Sutil apresenta uma história peculiar. De acordo com a
historiografia e informações colhidas de seus moradores, a história da comunidade
teve início com a chegada de Manoel Gonçalves Guimarães, natural de Portugal,
que aportou na capitania de São Vicente em meados do século XVIII. O português
tornou-se possuidor de várias sesmarias24 na região de Curitiba, Castro, Palmeira e
Ponta Grossa. Neste ultimo município, formou a Fazenda Santa Cruz. Consta na
Revista Africaxé:
Com mais de 10 mil hectares, a fazenda Santa Cruz refletia o desejo de Manuel em estabelecer, naquele espaço, uma grande criação de
24 Sesmaria - s.f. Terreno sem culturas ou abandonado, que a antiga legislação portuguesa, com base em práticas medievais, determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivá-lo. Quem a recebia pagava uma pensão ao estado, em geral constituída pela sexta parte do rendimento através dele obtido. Quando o Brasil foi descoberto, para cá transplantou-se o regime jurídico das sesmarias. O rei, ou os primeiros donatários de capitanias, faziam doações de terras a particulares, que se comprometiam a cultivá-las e povoá-las. Só em 1812 as sesmarias foram oficialmente extintas. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/sesmaria>. Acesso em: 20 maio 2011.
35
animais aos modelos das melhores conhecida naquela época. Já casado e com cinco filhos, para poder tirar o proveito que aquelas terras poderiam lhe dar, além de alguns capitães, Manuel trouxe para sua fazenda um grande número de famílias africanas para trabalhar na Santa Cruz (Revista Africaxé, 2005, s/p).
De acordo com a historiografia, em relação aos maus tratos o tratamento
dado aos negros da fazenda Santa Cruz não diferia dos demais. Para Waldmann
segundo relatos do historiador castrense Osney B. Barbosa que, em seu livro os lapoenses, descreve uma nota referente à entrega de um lote de escravos enviados pela Rainha D. Maria I, para trabalhar nas minas de ouro em Paranaguá e Curitiba e também nas fazendas do coronel, dizendo o seguinte: Envio alguns escravos a Vosmecê, mas peço ao Coronel mais humanidade aos pobres, não deixando faltar o humano alimento nem roupas para seus corpos. Peço mais compaixão aos miseráveis negros, de SSMMI, 1793 (WALDMANN, 1992, p. 25).
Com a morte do Coronel Manuel, a Fazenda Santa Cruz ficou pertencendo
aos seus filhos Joaquim Gonçalves Guimarães e Maria Clara do Nascimento.
Antes de morrer, em 1850, Joaquim, que viveu solteiro, alforriou todos os
seus escravos, mas sob a condição de que estes continuassem a servir a família até
a libertação oficial dos escravos, o que ocorreu em 13 de maio de 1888. Quatro anos
depois, morre Maria Clara, que em seu testamento deixou a metade da fazenda para
seus escravos.
Segue abaixo parte do testamento de Maria Clara,
Declaro que possuo uma Fazenda na paragem denominada Santa Cruz, Districto da Frequesia da Palmeira (...). Deixo a minha escrava Fermina a quinta parte da metade dos Campos da Fazenda Santa Cruz (…). Deixo as outras quatro partes da metade dos ditos Campo de Santa Cruz e todas as terras de planta a todos os escravos libertos por mim e por meu fallecido irmão Capitão Joaquim Gonçalves Guimarães (HARTUNG, 2005, p.153).
De acordo com Waldmann (2007, p.7), a fazendeira impôs uma condição em
relação as terras doadas “que não a vendessem e não alienassem, para que esta
terra ficasse para seus descendentes”.
36
Em parte parece que a vontade da fazendeira se perpetuou, pois ao
conversar com os moradores do Quilombo Sutil percebe-se que seus moradores são
aparentados em sua maioria.
As terras da comunidade compreendiam o espaço desde o Rio Tibagi ao
Caniú e do Caniú até Santa Rita. Ao que consta os moradores foram perdendo as
terras por interferência no inventário por parte de parentes, para grupos econômicos,
por ação do poder público, como o caso dos russos que foram instalados pelo
governo na região na década de 1950. A perda das terras ocasionou a separação
territorial formando duas comunidades Sutil e Santa Cruz. Assim é possível ver
dentro da área da antiga fazenda propriedades não pertencentes aos
afrodescendentes.
Os negros não sabiam negociar e não demorou muito tempo para que as pessoas aparecessem para tirar proveito desses ricos herdeiros, que nem sabiam do valor da propriedade que tinham em mãos. Conta Isolde. Como os descendentes viviam abaixo de ordens, logo depois da libertação os negros não sabiam o que fazer com suas terras, tornando comum a prática de doações e mesmo a permissão da entrada de moradores, que com o tempo cercaram “suas propriedades” e tomaram posse do Espaço (Revista Africaxé, 2005, s/p).
A perda das terras acabou ocasionando um problema na sustentabilidade da
comunidade que pode ser visualizado até hoje. Os moradores não podem criar seus
animais soltos, pois estes podem adentrar nas plantações vizinhas causando
prejuízo. Com a mecanização e a cultura principalmente da soja, os que possuem
um pouco mais de terra aderiram ao cultivo da soja e do milho. Por não possuírem
meios para aquisição de maquinários, utilizam-se destes sob forma de empréstimo
dos patrões.
Conforme Hartung (2005, p.160), “Por ocasião do inventário de Maria Clara,
datado de 1832, a Santa Cruz contava com um plantel de 31 escravos”. Hoje de
acordo com Edna Aparecida Batista, moradora da comunidade, a população é de
aproximadamente 230 habitantes (BATISTA, Edna Aparecida. Entrevista, março de
2011).
37
Segundo relato de Vani Ferreira Batista, “os
moradores retiram seu sustento através do trabalho
assalariado que realizam para seus vizinhos russos e
alemães e também de suas pequenas propriedades, que
hoje giram em torno de 2 alqueires”.
Dona Vani divide seu tempo em cuidar da casa, de
algumas criações e em fazer seus lindíssimos tapetes de
retalhos. A família de dona Vani está no quilombo há seis
gerações. A mesma disse que não troca o lugar em que
mora por outro em nenhuma circunstância.
A maioria das mulheres do quilombo são bordadeiras do ponto Magia Russa
também conhecido como Bordado Russo. Além dos bordados, parte das moradoras
faz tapetes de retalhos. A produção artesanal é comprada pelas russas que
exportam para vários países. Mas a comunidade ainda não conseguiu montar uma
cooperativa que possa gerenciar essa venda. Por enquanto, a produção é comprada
pelas russas moradoras das colônias próximas ao Sutil.
Dona Catarina M. da Conceição de Morais, de
72 anos, faz os tapetes costurados à mão. Mesmo com
idade avançada, não usa óculos, ainda que seu local de
trabalho apresente pouca luminosidade. Quando
perguntado se a mesma não tinha dificuldade para
realizar o trabalho disse que não, pois fazer os tapetes é
para ela um orgulho e uma satisfação em saber que seu
trabalho vai deixar uma casa ou um local de trabalho
mais bonito.
Ilustração 6 - Dona Vani Ferreira Batista. Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011)
Ilustração 7 – Catarina M da C. Morais Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011)
38
ATIVIDADE 01
Leia o texto Aspectos históricos da colônia Sutil, reflita e responda as
questões.
1- Qual a origem do nome Sutil?
2- Onde está localizada a comunidade do Sutil? Quem são seus
moradores?
3- O coronel Manoel Gonçalves Guimarães, dono da Fazenda Santa Cruz,
tratava bem seus escravos? Copie o parágrafo que confirma sua
resposta.
4- Em sua opinião, o capitão Joaquim Gonçalves Guimarães libertou os
escravos? Por quê?
5- Dê sua opinião a respeito da atitude da fazendeira Maria Clara.
6- A paisagem da comunidade quilombola do Sutil permanece igual ou
houve alteração? Quais?
7- De onde os sutilenses retiram o seu sustento?
ATIVIDADE 02 OBA! OBA! INTERNET
INTERNE
Dona Edna, moradora do quilombo Sutil, é uma
eximia bordadeira do Ponto Russo ou Magia Russa. Seus
bordados são comprados pelas russas e enviados para o
exterior.
1- Faça uma pesquisa sobre o bordado Ponto
Russo ou Magia Russa.
Ilustração 8 - Edna A. Batista. Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011)
UNIDADE IX
DE COLÔNIA A COMUNIDADE QUILOMBOLA
Nesta unidade, analisaremos a opção da comunidade em sair da
invisibilidade e se auto declarar remanescente de quilombola.
Você deve estar se perguntando: a descrição dada até agora não está de
acordo com o que foi estudado sobre o termo quilombo: ”refúgio de negros foragidos
das fazendas”. Os documentos do Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras
Rurais e da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) propõem que os quilombos
hoje sejam compreendidos como:
grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar‟, cuja identidade se define por „uma referência histórica comum, construída a partir de vivências e valores partilhados‟. Nesse sentido, eles constituiriam “grupos étnicos”, isto é, „um tipo organizacional que confere pertencimento através de normas e meios empregados para indicar afiliação ou exclusão (ARRUTI, 2008, p. 02).
Dentro desse contexto, a Constituição de 1988, em seu Artigo 68, determina
que “Aos remanescentes das comunidades quilombolas que estejam ocupando suas
terras é reconhecido a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhe os títulos
respectivos”. É neste contexto que a comunidade Sutil passou a denominar-se
quilombo do Sutil.
Analisando parte da historiografia que trata da questão quilombola no Estado
do Paraná e colhendo depoimentos dos moradores da comunidade Sutil, constata-
se que até a criação do Grupo de Trabalho Clovis Moura as comunidades
remanescentes de quilombos viviam de forma anônima, sem qualquer assistência de
políticas públicas. A partir da instituição desse grupo, as comunidades começaram a
ser visitadas e algumas mudanças ocorreram. Em Sutil, a comunidade foi convidada
a se declarar remanescente de quilombola para poder participar das ações
desenvolvidas pelo governo federal/estadual como: bolsa família, luz fraterna,
projetos de desenvolvimento sustentável e programa de habitação popular.
O trabalho com as comunidades quilombolas é considerado prioritário pelo governador Roberto Requião, tanto que o principal
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programa de habitação popular do Governo do Paraná, o Casa da Família, tem projetos especiais para situações especiais, como por exemplo, a Casa da Família Rural, que contempla um projeto destinado às comunidades remanescente de quilombos.·. Para o presidente da Cohapar, Rafael Greca, esta discussão é importante, já que resgatar a tradição de luta é parte da dívida que o Brasil tem com os quilombolas. Greca ressalta que a construção de moradias para os quilombolas está prevista dentro dos orçamentos federais e estaduais destinados à habitação popular. Temos recursos previstos para as moradias voltadas aos quilombolas dentro do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para o Paraná, disse Rafael Greca (PARANÁ, 2007, p. 1).
Para o Subsecretário de Políticas para as Comunidades Tradicionais da
SEPPIR25, Alexandro Reis
A terra é o elemento fundamental e que singulariza o modo de viver e produzir das comunidades quilombolas. Ancestralidade, resistência, memória, presente e futuro sintetizam o significado da terra para essas comunidades, fortemente marcadas pela tradição e respeito aos bens naturais como fonte garantidoras de sua produção física social e econômica (REIS, s/d, p.6).
Isso pode ser visualizado na comunidade do Sutil, pois grande parte de seus
moradores estão lá a várias gerações e não pretendem sair.
Em 2007, o Governo do Estado entregou na comunidade do Sutil 27
unidades habitacionais e o Barracão para atividades comunitárias construído pelo
sistema COHAPAR. Segundo dona Edna, as casas foram oferecidas para todas as
famílias da comunidade, mas estas teriam um custo mensal, de acordo com os
representantes da COHAPAR reunidos com a comunidade. Diante desse
argumento, apenas 27 famílias aderiram ao programa, por isso ainda é possível ver
casas diferentes do modelo COHAPAR na comunidade.
Casa do Cohapar Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011)
25 Significado de SEPPIR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
41
No entanto, para surpresa dos moradores, no ato de entrega das casas em
julho de 2006 o governo anunciou que as casas não teriam nenhum custo para seus
moradores.
As moradias da Cohapar construídas na Comunidade Sutil têm 52 m², três quartos, sala, cozinha, banheiro e varanda, e são construídas em alvenaria, forradas, com piso de cerâmica e telha de barro. O barracão, de 200 metros quadrados, foi construído com recursos do Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) (PARANÁ, 2007, p. 1).
Todas as casas recebem água potável e tratada do posto artesiano
construído pela Prefeitura Municipal. Pela utilização da água, cada família paga R$
6,00 para manutenção do mesmo. As casas também possuem energia elétrica.
Para o presidente do Grupo de Trabalho Clovis Moura, Glauco Souza Lobo,
os trabalhos fazem parte de uma ação que visa o resgate da dignidade de um segmento da população que foi duramente oprimido. Essas pessoas perderam todos os direitos possíveis e imagináveis e foram impedidas, inclusive, de exercer certas profissões. Ficaram à margem da sociedade, explicou. (PARANÁ, 2007, p.10).
Na ocasião, o governador Roberto Requião declarou que era necessário
resgatar a tradição de luta e parte da dívida que o Brasil tem com os quilombolas.
ATIVIDADE 01 LEGAL!
1- Copie do texto as duas definições de quilombo.
2- O que determina a Constituição de 1988 em relação à posse da terra?
3- Explique a importância do Grupo Clovis Moura para a Comunidade do
Sutil.
4- Você concorda com a fala do Subsecretário de Políticas para as
Comunidades Tradicionais da SPPIR, Alexandro Reis? Justifique.
5- Qual a importância da terra para a comunidade quilombola?
42
ATIVIDADE 02 CAPRICHE!
Em Sutil, a comunidade foi convidada a se declarar remanescente de
quilombola para poder participar das ações desenvolvidas pelo governo
federal/estadual como: bolsa família, luz fraterna, projetos de desenvolvimento
sustentável e programa de habitação popular.
1- Escolha uma dessas ações e pesquise sobre a sua importância para a
comunidade quilombola. As pesquisas serão apresentadas em sala de aula em
forma de seminário.
ATIVIDADE 03
Para realizar essa atividade assistiremos ao vídeo disponível em:
<http://www.coloniasutil.xpg.com.br/videos.html>, onde uma moradora fala sobre a
comunidade quilombola do Sutil. Preste atenção, pois em seguida você deverá
responder as questões propostas sobre o tema.
1- A quilombola conhece a história da comunidade? Por quê?
2- Qual a explicação dada pela quilombola para a redução das terras
recebidas em doação pelos negros?
3- Em sua opinião os negros foram lesados? Explique.
4- O que aconteceu com os bens materiais da fazenda que poderiam contar
a sua história?
5- Você acha importante preservar os bens materiais e imateriais de uma
comunidade? Por quê? Antes de responder essa pergunta procure saber
o que são bens materiais e imateriais.
UNIDADE X
QUESTÕES RELIGIOSAS, EDUCACIONAIS E AMBIENTAIS EM SUTIL
Nesta unidade, conheceremos como a comunidade se organiza em torno
das questões religiosas, educacionais e ambientais.
Religiosidade
Em relação à religiosidade, percebe-se que há predominância da religião
católica, seguida dos protestantes nas suas mais diversas denominações.
De acordo com dona Vani, o padroeiro da Igreja Católica é São Benedito.
Em 5 de outubro, a comunidade faz uma grande festa com quermesse, churrasco e
leilão com o envolvimento da maioria dos membros da comunidade, com a presença
da comunidade do quilombo Santa Cruz e pessoas da região. Como nas demais
vilas, o encontro das pessoas se dá em torno dos eventos religiosos. Noutra
pesquisa, ao tratar da questão da religião, Mezzomo destaca que “a organização
social das comunidades ocorre em volta das capelas e escolas, únicos centros
donde se promove e organiza a vida comunitária” (MEZZOMO, 2002, p.90).
Igreja São Benedito. Altar da dona Catarina Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011) Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011)
Educação
A comunidade recebeu junto com a entrega das casas construídas pela
COHAPAR o Centro Comunitário ponto de alta relevância para as reuniões, cursos,
aulas do projeto Paraná Alfabetizado. Atualmente, a comunidade vem trabalhando
para a implantação de uma biblioteca no local que servirá de apoio aos estudantes
da comunidade.
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A comunidade possui Associação dos
Moradores que tem como objetivo implementar
ações que valorizem a cidadania dos quilombolas.
Eles esperam uma solução do governo para que a
posse de suas terras seja legalizada através da
escritura como determina a Constituição Federal.
Em relação à educação formal, apenas o projeto Paraná Alfabetizado
funciona na comunidade. Os demais graus de escolaridade são ofertados na Escola
Municipal Deodoro A. Quintiliano - Ensino Fundamental que oferta as séries iniciais
do ensino fundamental (1ª a 4ª séries) que atende 10 alunos da comunidade. As
séries finais (5ª a 8ª séries) do ensino fundamental são ofertadas pela Escola
Estadual Francisco Pires Machado - Ensino Fundamental que atende 27 alunos da
comunidade. As duas escolas estão localizadas no município de Ponta Grossa, no
bairro Cara-Cara, situado a 19 quilômetros da comunidade do Sutil. O trajeto da
comunidade até o bairro é pela PR 151, toda pavimentada, o que facilita o acesso a
escola durante o período letivo. Os alunos utilizam o transporte escolar municipal
para se deslocarem da comunidade até as escolas.
Meio ambiente
Ao longo da sua história, o homem se utilizou da natureza para prover seu
sustento. Assim, como qualquer espécie, é agente de transformação do ambiente
que ocupa e responsável pelo processo de devastação do ambiente natural e da
degradação do meio ambiente.
Áreas foram devastadas, imensa quantidade de lixos foi produzida e
depositada no solo e nas águas causando um envenenamento perverso. Para
reverter, essa situação várias campanhas estão sendo feitas para despertar a
consciência do ser humano quanto à necessidade de preservar o meio ambiente
para continuidade da vida no planeta.
Essa preocupação já chegou à comunidade do Sutil.
Centro Comunitário Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011)
45
A mesma está inserida no
programa Feira Verde do governo
municipal que tem como objetivo trocar o
lixo reciclável por alimentos. Um quilo
de lixo é trocado por um quilo de alimento.
O caminhão de coleta passa uma vez por
mês na comunidade. Assim, percebe-se
que não há lixo espalhado pela
comunidade.
ATIVIDADE 01 LEGAL!
INTERNET
Acesse o site: <http://www.pontagrossa.pr.gov.br/node/4598>, leia a notícia:
mais bairros integram „Feira Verde‟ e responda as questões.
1- Em sua opinião, esse projeto Feira Verde é válido? Explique.
2- O projeto Feira Verde seria útil se fosse realizado em nossa cidade? Ele
ajudaria a mantê-la mais limpa? Explique.
ATIVIDADE 02
Vivemos em um ritmo acelerado de produção e consumo de produtos e isso
tem gerado problemas ambientais. Para entender, isso, no nosso cotidiano
assistiremos o vídeo: Consciente Coletivo 01 – disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=lBuJHl-PTYc>.
1- Após assistir o vídeo, cite quatro atitudes que podemos adotar para
preservar o meio ambiente,
ATIVIDADE 03
1- Palestra: Meio Ambiente e Sustentabilidade26
26 Para encerrar esta unidade pretende-se convidar um profissional que possa dissertar sobre o tema do Meio Ambiente com os alunos.
Ilustração 9 – Caminhão da Feira Verde Fonte: Arquivo pessoal (mar. 2011
UNIDADE XI
A IMPORTÂNCIA DAS ERVAS MEDICINAL E A TRADIÇÃO ALIMENTAR NO
COTIDIANO QUILOMBOLA
O objetivo dessa unidade é discutir a falta de políticas públicas na
comunidade quilombola do Sutil e a sua recorrência aos costumes tradicionais de
utilização das ervas medicinais passadas de geração a geração. Por fim, busca-se
compreender o significado da tradição e da cultura alimentar quilombola que resiste
ao tempo.
Ao longo de sua trajetória, a humanidade acumulou conhecimentos sobre o
meio que o cerca. Isso possibilitou interação com meio retirando dele o necessário
para a sobrevivência. Dentre os conhecimentos, está a utilização de ervas
medicinais. São inúmeras as plantas utilizadas para suprir a falta de medicamentos
químicos ou a impossibilidade de adquiri-los dado seu preço alto.
A utilização de ervas medicinal pela comunidade quilombo do Sutil serve
para reafirmar a colocação feita por Di Stasi,
O conhecimento dos quilombolas sobre o uso terapêutico das espécies, para sanar seus problemas de saúde corrobora com dados recentes que afirmam que no Brasil, apenas 20% da população consome 63% dos medicamentos disponíveis, o restante trata seus males com remédios naturais (DI STASI, 1996).
Em pleno século XXI, a comunidade do Sutil ainda recorre ao uso de ervas
medicinais, pois ainda carece de políticas públicas de saúde, visto que não possui
posto de saúde. Os moradores são atendidos no distrito de Guaragi ou nos postos
de saúde da cidade de Ponta Grossa. As doenças mais comuns entre os moradores
da comunidade são o diabetes e a pressão alta. A expectativa de vida gira em torno
de 80 a 90 anos.
47
ATIVIDADE 01
1- Converse com seus familiares ou vizinhos e
faça um levantamento das ervas medicinais27
mais utilizadas. De posse dos resultados,
coloque-os em uma folha de papel e anexe no
mural da sala de aula.
ATIVIDADE 02 OBA!
INTERNET!
As ervas medicinais constantes no quadro abaixo são usadas com
frequência pela comunidade Sutil. Com base em pesquisas, preencha o quadro
abaixo com o nome científico e os usos indicados.
Nome Popular Nome Científico Indicação e Forma de Uso
Alecrim
Alho
Arruda
Barbatimão
Carqueja
Caruru
Erva-cidreira
Hortelã
Jurubeba
Pata-de-vaca
Picão
Pitanga
27 Imagem ervas medicinais. Disponível em: <http://www.nosrevista.com.br/wp-content/uploads/2009/10/plantas_ medicinais_2_jpg.jpg>.
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Alimentação quilombola
Os hábitos alimentares são essenciais para a sobrevivência dos seres
humanos. Também estão intimamente ligados as raízes históricas e permeados de
símbolos e hábitos que são transmitidos de geração a geração.
Esse rol de hábitos, de técnicas e simbolismo também se faz presente nas
comunidades quilombolas. No entendimento de Marília Gomes de Carvalho, “o ato
de alimentar-se nunca é somente um ato para matar a fome. É um ato que está
constantemente envolto por tradições, conhecimentos, regras e tecnologias que são
historicamente construídos” (Apud, ARAÚJO, 2008, p.12).
Manter as tradições culinárias de uma comunidade hoje é algo muito
especial, pois as mesmas tem que lutar contra a forte intervenção dos modismos da
mídia que adentra diariamente em todos os lares.
A culinária quilombola incorporou ao longo de sua existência influência de
outros etnias como a indígena e a portuguesa. Como explica Socorro Araújo,
em um longo e conflituoso processo histórico os povos africanos pouco a pouco foram, absorvendo costumes do homem branco, assim como este foi aderindo a outros costumes da gastronomia africana. (…) O Brasil aliou a gastronomia indígena, à africana e portuguesa e hoje um dos grandes fluxos turísticos ao nosso país se dá em torno da nossa rica culinária (ARAÚJO, 2008, p. 42).
É essa influência que se faz presente nas cozinhas quilombolas, em muitos
restaurantes e cozinhas do estado paranaense. De acordo com dona Edna,
moradora do Sutil, um dos pratos mais apreciados por sua família é a quirera com
suã de porco.
Quirera com suã de porco 28
Quirera com suã de porco Milho socado
Água, sal e outros temperos a gosto Suã de porco e linguiça
Modo de Fazer Refogue a carne. Coloque a água e os temperos. Cozinhe por meia
hora. Coloque a linguiça e deixe cozinhar por quinze minutos.
Coloque a quirera aos poucos mexendo sempre Pode ser servida com arroz e salada verde.
28 Imagem disponível em: http://sommelierdan.blogspot.com/2010_10_13_archive.html
49
Outro prato muito apreciado na comunidade é a galinha assada, ou frita ou
ainda ensopada. É lógico que não pode faltar uma boa feijoada. Inclusive foi o prato
servido por ocasião da entrega das casas pelo governador Roberto Requião aos
quilombolas no mês de julho de 2006. Um dos vegetais mais apreciados pela
comunidade é a abóbora que pode ser consumida em salada, refogada, sopas,
cozidos e em forma de doce.
As bebidas também se fazem presentes no cotidiano quilombola como o
café, o mate, o vinho, a cachaça e outros. Trazidos à força para o Brasil e
submetidos a novos valores e costumes e hábitos alimentares, os africanos
passaram a buscar formas de preservar sua cultura. De acordo com Araújo (2008, p.
149) “É a partir do trabalho e de observações junto aos engenhos que criaram, com
o refugo da borra do melado, a nossa cachaça, bebida que cada vez mais sobe
inclusive no conceito de refinados paladares, muito embora ainda nos dias de hoje
há quem a considere uma bebida das classes mais pobres”.
ATIVIDADE 01
De acordo com o texto, podemos perceber a riqueza da alimentação
quilombola bem como a presença da sua culinária em nosso cotidiano.
1- Dos pratos citados abaixo, escolha cinco e produza um
caderno de receita. Não se esqueça de ilustrar suas receitas.
Cuscuz de milho Tutu de feijão Taiada Broa Pamonha
Geleia de pé de boi Virado de couve Coração de bananeira Feijoada
Vira de banana Cocada Doce de abóbora Bolo de polvilho Beiju de coco
Ensopado de peixe Arroz de boiadeiro Dobradinha Chouriço de galinha
50
ATIVIDADE 02
Em sua música Feijão, Gonzaguinha diz que “Dez
entre dez brasileiros preferem feijão”. De acordo com
Araújo (2008, p.120), “na África é bem antigo e
considerado prato sagrado de muitas divindades”.
1- Faça uma pesquisa sobre as origens do feijão29
Chegamos ao fim do nosso estudo, mas isso não significa
que o assunto tenha se esgotado. Você pode e deve
procurar mais informações.
29 Para pesquisa indicamos o livro tradição e Cultura: cozinha quilombola do Paraná, p.120-122.
REFERÊNCIAS
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<http://www.ufgd.edu.br/reitoria/neab/downloads/quilombos-2013-jose-mauricio-arruti>. Acesso em: 10 jan. 2011. BOTH, Laura Jane R. G. O quilombo como patrimônio: uma proposta educativa.
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FONTES ORAIS
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