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1 | clubepaladar.com.br VIAGEM DO VINHO A diversidade vitivinícola e gastronômica do Uruguai SP, julho de 2018 OPINIÃO O controverso “gosto não se discute” PELO BRASIL A encantadora Costa do Descobrimento no sul da Bahia VINHOS SELEÇÃO DO ASSINANTE Rótulos do Chile, da Argentina e da Itália nos vinhos do assinante do Clube Paladar! PARA A GRELHA!

SELEÇÃO DO ASSINANTE · /clubepaladar @clubepaladar clubepaladar 03 editorial 04 Viagem do Vinho Uma road trip pelo Uruguai, por Daniella Romano 11 Com a Palavra Novidades no horizonte

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VIAGEM DO VINHOA diversidade vitivinícola e gastronômica do Uruguai

SP, julho de 2018

OPINIÃOO controverso “gosto não se discute”

PELO BRASILA encantadora Costa do Descobrimento no sul da Bahia

VINHOS

SELEÇÃO DOASSINANTERótulos do Chile,

da Argentina e da Itália nos vinhos do assinante do Clube Paladar!

PARA A GRELHA!

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/clubepaladar

@clubepaladar

clubepaladar

03 editorial

04 Viagem do VinhoUma road trip pelo Uruguai, por Daniella Romano

11 Com a PalavraNovidades no horizonte de Mendoza, Argentina, por Massimo Leoncini

12 Baixa GastronomiaO suculento sanduíche de pernil

13 Vinícola da ediçãoVinícola Emrich-Schönleber

14 Pelo BrasilPorto Seguro, Arraial D’Ajuda e Trancoso

23 Queijos & EmbutidosQueijo Moléson de Cunha

24 Seleção do MêsSete vinhos de excelente custo-benefício harmonizados com a impecável cozinha do Restaurante Kaá

32 Tempo de vinhoDesmistifi cando o vinho branco no inverno

33 Mundo VinoBorbulhas e borbulhas no complexo mercado mundial de espumantes

34 GastronomiaVinhos para a grelha

37 AtualidadesO Clube Paladar participou do Brazil Wine Challenge, um dos mais importantes concursos de vinhos das Américas

38 OpiniãoGosto não se discute

SUMÁRIO EDITORIALSUMÁRIO

FOTO DA CAPA: SHUTTERSTOCK

Comitê Executivo Clube Paladar Flávio Pestana e Luciano KleimanDiretora Clube Paladar Mariana CastriotaProjeto Gráfi co João Guitton e Leandro Dantas FaustinoJornalista responsável Tadeu Loppara - MTB - 0065659SPEditor Johnny Mazzilli ([email protected])Fotografi a & reportagens Johnny MazzilliConsultor de Vinhos Massimo Leoncini

Direção de Arte Dushka Tanaka & Mayu Tanaka (estudio29.com)Tratamento de imagens Adiel NunesColaboradores da edição Massimo Leoncini, Alberto Andalo, Patrícia Kozmann, Daniella Romano, Vicky Romano, Álvaro Cezar Galvão, Alan Guimarães, Casa da Travessa, Andre Logaldi, Restaurante Kaa & chef Massimo Barletti e Varanda Grill

Esta operação pertence ao Grupo Estado e a Grand Cru

JOHNNY MAZZILLIEditor Clube Paladar

Nossa colaboradora Daniella Romano foi ao Uruguai e trouxe uma amostra da pujante diversidade da vitivinicul-tura dos pampas. Incrível como um país de pequenas dimensões territo-

riais desenvolveu diversidade própria, onde grandes produtores convivem em harmonia com pequenas bodegas tradicionais e familiares. Sem falar na ma-ravilhosa gastronomia.

Fomos à belíssima Costa do Descobrimento, no luminoso sul da Bahia, e, entre Porto Seguro, Arraial d’Ajuda e Trancoso, trouxemos para esta edição um pouco da cultura, dos cenários e da saborosa culi-nária local. Fácil entender por que a região é tão cobiçada por viajantes do mundo inteiro.

Nosso sommelier executivo, Massimo Leoncini, fala um pouco sobre algumas tendências da pujante viti-cultura da região argentina de Mendoza, na qual a uva Cabernet Franc vem se desenvolvendo muito bem, notadamente na famosa sub-região de Luján de Cuyo. Não somente a Cabernet Franc, mas também a uva ícone do país, a Malbec, vem rendendo vinhos moder-nos e mais leves, muito diferentes de tudo o que vinha sendo feito até pouco tempo atrás com essa uva. Sinal dos tempos. Massimo também escolheu alguns rótu-los da Cabernet Franc representativos desse “novo estilo mendocino” para nossa matéria de gastronomia, Vinhos para a Grelha, que está nesta edição.

Visitamos alguns lugares em São Paulo que ser-vem um lanche icônico das festas populares, dos carrinhos de comida à porta dos estádios de futebol e dos botecos, o insubstituível sanduíche de pernil.

Nosso colaborador e incansável visitador de vi-nícolas, Alberto Andalo, foi degustar uns Rieslings na Alemanha, em uma surpreendente vinícola de nome difícil, a Emrich-Schönleber, em Monzingen, e descreveu sua experiência com essa magnífi ca uva branca, diga-se de passagem, a preferida deste que vos escreve.

Neste mês, a Seleção do Assinante do Clube Pa-ladar traz vinhos da Argentina, do Chile e da Itália. Como sempre, qualidade, tipicidade e excelente cus-to-benefício em ótimos vinhos para os dias mais frios desse começo de inverno.

Além de assinar nossa Viagem do Vinho desta

edição, Daniella Romano fala um pouco sobre uma questão polêmica: os vinhos brancos para o inverno. Num país jovem, onde o consumo de vinhos ainda engatinha, é comum a percepção (equivocada) de que vinho para o inverno tem de ser tinto. Não é bem assim, como ela mostra.

Da Itália, Patrícia Kozmann traz um breve pano-rama da evolução do complexo mercado de Cham-pagnes, Franciacortas, Proseccos, Espumantes e Crèmants, como um perceptível declínio no consumo de Champagnes em 2017, em detrimento do aumen-to do consumo de espumantes provenientes de di-versas nacionalidades. A colunista também traz uma novidade: o surgimento de novas zonas premium no Prosecco, onde serão elaborados os Proseccos Rive. Leia a coluna e entenda o caso.

O Clube Paladar participou, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, do Brazil Wine Challenge 2018, um concurso mundial de vinhos que este ano con-tou com a participação de 18 países, que enviaram mais de 600 amostras de vinhos para avaliação. O concurso, que acontece a cada dois anos (nos anos pares), é uma excelente oportunidade para conhecer um pouco mais da incrível diversidade da bebida no mundo, assim como para conferir a rápida evolução do vinho brasileiro na atualidade, que a cada ano vem se posicionando de forma mais consistente no mercado mundial e conquistando premiações em vários continentes.

Nosso polivalente colaborador, cardiologista e sommelier, André Logaldi, escreve sobre o Gosto, uma discussão sobre um tema que não se discute.

Boa leitura e um abraço,

REÚNA OS AMIGOS, ADICIONE HISTÓRIAS E ACRESCENTE VINHO

AQUI ESTAMOS, COM MAIS UMA EDIÇÃO RECHEADA DE NOVIDADES PARA OS LEITORES DO CLUBE PALADAR

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VIAGEM DO VINHO

O ENCANTADOR DO URUGUAI É A SUA DIVERSIDADE. ALÉM DE OFERECER VÁRIAS OPÇÕES DE PASSEIOS E ATIVIDADES, NOSSO VIZINHO É UM EXCELENTE DESTINO PARA GASTRONOMIA E ENOTURISMO

TEXTO DANIELLA ROMANO / FOTOS VICKY ROMANO

ROADTRIPURUGUAY

Rose e Tinto, de Tannat, Bodega Codano Almacen de la Capilla, Carmelo

Bodega Alto de la Ballena, Maldonado, a vinha adormecida

Almoco na Bodega Campotinto, Carmelo - “Tannat y Cordero”

O charmoso jardim do Narbonna Relais Chateau, Carmelo

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Bodega Cordano Almacen de la Capilla

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C hegamos ao Uruguai, numa típica manhã de outono, fria e ensolarada. A viagem de São Paulo até Montevi-déu é curta e, em apenas

2 horas e 10 minutos, já estávamos em terras uruguaias. Outra facilidade é a do-cumentação, pois para ingressar no país basta apresentar o RG.

Além de oferecer muitas opções de passeios, é um excelente destino para o enoturismo, mais perto do que o Chile e a Argentina, com passagens a preços convidativos, bons vinhos, natureza exu-berante, praias badaladas, como Punta del Este e José Ignacio, e hotelaria de luxo. Preparados para receber o turista brasileiro, na maior parte das vinícolas, restaurantes e hotéis, atendentes solíci-tos com o português na ponta da língua estavam dispostos a nos fazer sentir em casa. O Uruguai também é a viagem ideal para quem gosta de jogar. Há cassinos em todas as cidades. Com tudo isso, torna-se muito fácil se deixar seduzir e encontrar motivos para retornar.

Encontramos bodegas pequenas e fa-miliares que produzem de forma artesa-nal há mais de 100 anos e outras moder-nas e tecnológicas, com produções anuais de milhões de litros. Apesar de a uva ícone ser a Tannat, com sua força, vigor e boa vocação para guarda, outras variedades se adaptaram muito bem por lá, como é o caso da Cabernet Franc, Syrah, Merlot, Albariño e Viognier.

Nossa viagem foi uma deliciosa roa-dtrip (que já valeu pelas paisagens des-lumbrantes na estrada) e começou pela Fiesta del Tannat y Cordero, que faz parte do calendário oficial anual da Associa-ção de Turismo Enológico do Uruguai e acontece no primeiro fi m de semana de junho, quando as vinícolas participantes preparam pratos à base de cordeiro (uma das carnes mais consumidas no país) para harmonizar com vinhos produzidos com sua uva ícone, a Tannat. Uma oportunida-de única para saborear as diversas recei-tas, em que cada bodega apresenta sua interpretação dessa combinação.

Seguimos de carro por 50 minutos até Canelones, região tradicional de produção e onde se encontram a maioria das viní-colas. Fomos conhecer o Establecimiento Juanicó (declarada Monumento Histórico Nacional, devido as construções preser-vadas desde a fundação) e uma das parti-cipantes da Fiesta. Basta um passeio pela propriedade, que é linda e bucólica, para entender o título. A sala de espera e o restaurante são uma visita ao passado; as paredes de tijolo e as vigas de madeira no teto com as telhas aparentes lembram as casas antigas das fazendas de café. Mas a cantina, na qual o vinho é produzido, conta com todas as modernidades neces-sárias para fazer desta uma das maiores produtoras de vinho.

A chef Mechi Deicas preparou uma mou-ssaka de cordeiro, que harmonizamos com um dos ícones da casa, o Massimo Deicas Cru Tannat 2010 – combinação dos deu-

ses! O vinho, produzido nos moldes dos Crus Garage de Bordeaux, é elegante, tem notas de chocolate, ameixa preta, canela e alcaçuz. Em boca é macio, untuoso e com longo fi nal. Ficou perfeito com o prato es-colhido, que possui delicados toques de canela e menta. A harmonização funciona assim tão bem porque, sendo a Tannat uma uva com muitos taninos, tudo o que ela precisa para fi car redonda é gordura e proteína, encontrados no cordeiro.

Mas a Tannat é muito mais versátil do que isso. Para nós, brasileiros, que adora-mos um churrasco, por exemplo, ela é uma das melhores harmonizações. O Pizzorno Primo, vinho ícone da Bodega Pizzorno Fa-mily Estate, também localizada na região de Canelones, é um corte que mistura a Tannat com Cabernet Sauvignon e Merlot das melhores parcelas da propriedade, re-sultando em um rótulo de excelência para guardar por muitos anos e que fi ca divino com a costela na brasa, assada por horas, até fi car macia. As notas defumadas e de compota de fi gos, os taninos aveludados e a elegância do vinho em conjunto com a costela fazem uma harmonização ines-quecível. Mais acessível do que o primeiro, o Pizzorno Tannat Reserva fi cou perfeito com a picanha e os pimentões vermelhos na brasa. Em sua quarta geração, a família mantém o mesmo cuidado e, não por aca-so, os vinhos dessa vinícola butique estão hoje entre os melhores produzidos no país.

Os uruguaios têm o hábito de fazer as “me riendas”, que equivalem ao nosso cafe zi nho da tarde. Porém, lá, ao invés do café, tomam chá acompanhado de várias gulo sei mas como croissants e geleias. Fo-mos con ferir o costume na 879 House, em Monte vidéu, um lindo casarão antigo co berto por heras, muito bem decorado e aconchegante.

OS VINHOS DA PIZZORNO FAMILY ESTATES ESTÃO ENTRE OS

MELHORES PRODUZIDOS ATUALMENTE NO

URUGUAI

VIAGEM DO VINHO

Casa 879, em Montevideo

Rotulos premiados da Bodega Alto de la Ballena

Bodega BouzaBodega Bouza

Mascotes que andam soltos pela Bodega Bouza

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Establecimiento Juanico, Canelones

Moorilla

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As estradas do país são ótimas e as dis-tâncias, curtas. Por isso, optamos por viajar de carro. Muitas vinícolas encontram-se na região da capital, como a Bodega Bouza, projeto familiar com produção limitada e que tem alcançado boas pontuações em seus vinhos. A visita vale a pena também para os amantes de carros e de motoci-cletas antigos, que podem almoçar no de-licioso restaurante e conhecer a exclusiva coleção do proprietário. Aproveite para passear pelo jardim e observar os pavões e os patos que vivem soltos pela proprie-dade. À noite, optamos por um jantar mais leve e informal e fomos conhecer o recém-inaugurado Mercado Ferrando, também na capital uruguaia. O espaço reúne diver-sos estandes com comidas e bebidas pre-paradas na hora para serem consumidas no local. Os expositores são selecionados cuidadosamente. A ideia é trazer “alimen-tos com propósito” e, por isso, a curadoria do mercado privilegia produtos locais e de pequenos empreendedores.

No outro dia, seguimos até o Departa-mento (estado) de Colônia, a 189 km de Montevidéu. Nessa região encontram-se Colonia del Sacramento e Colonia Val-dense. A primeira é uma cidade histórica, fundada em 1680 por portugueses, e que passou por inúmeras disputas de posse entre Portugal e Espanha, por mais de 100 anos. A cidade é um cartão postal e foi tombada pela Unesco, como patrimônio Cultural e Histórico. Passeie por suas rue-las de paralelepípedos e observe as casas

de séculos passados no mais puro estilo português colonial. Nos arredores da praça principal, há vários cafés e restaurantes com mesinhas na calçada.

Fundada em 1858 por imigrantes italia-nos do Piemonte, a pequena cidade Colo-nia Valdense concentra a maior produção de queijos do país. As queijarias, assim como boa parte das vinícolas do Uruguai, são negócios familiares há gerações. Po-rém, diferentemente das bodegas, não estão abertas para visitações, por isso fi ca a dica para procurar queijos dessa região nos empórios e nos mercados durante a viagem. Os mais famosos são os do tipo Gouda, Parmesão, Mozarela, queijo azul e frescal.

Para se hospedar, existem boas opções. Optamos pelo Sheraton Colonia Golf & Spa Resort. Os quartos são muito confortáveis e o café da manhã, delicioso. No verão, aproveite para apreciar a linda vista da piscina entre um mergulho e outro. No inverno, desfrute da piscina interna e das massagens no spa.

Ainda na região, em Laguna de los Pa-tos, fi ca a Bodega Bernardi, com 130 anos de tradição e produção familiar artesanal. O prédio e as instalações são bem preser-vados e quase não passaram por atuali-zações. São os próprios donos, os irmãos Monica e Roberto, que atendem e fazem a degustação dos vinhos e das grappas. As barricas de madeira, muito antigas, rece-beram um toque de arte com pinturas de artistas locais, contando um pouco da his-tória da família. A grappa de Tannat me im-pressionou bastante. Quanto aos vinhos, a estrela da casa é o Cabernet Franc, que se adaptou muito bem no Uruguai.

Seguimos para Carmelo, onde as paisa-gens e as casas fazem lembrar a Toscana. Começamos o passeio pela Cordano Al-macén de la Capilla. Diego Vecchio e sua mulher, Ana Paula Cordano, tomam conta do lugar, fundado em 1855 (ela é da quinta geração da família).

O povo uruguaio valoriza muito as tra-dições, a família e os costumes, por isso encontramos recantos como esse, um ver-dadeiro achado, preservado que parece ter parado no tempo. Com produção artesanal de vinhos, azeites, doces caseiros e azei-tonas, estão abertos para degustação e venda de produtos.

Lá, encontramos também uma das hos-pedagens mais românticas da viagem: um único chalé de madeira, localizado no meio do vinhedo e cercado por lavandas, que poderia ter saído dos contos de fadas. Quem se hospeda na cabana recebe uma

cesta de piquenique para o café da manhã, preparada pelos proprietários e forrada de guloseimas feitas no local.

Atravessando a rua está a Campotinto, bodega, pousada e restaurante, de pro-priedade do empresário argentino Diego Vigano. A casa foi totalmente restaurada com a preocupação de manter as caracte-rísticas originais, os quartos amplos foram decorados e adaptados para a pousada. Na bodega são produzidos vinhos de alta qualidade com lotes limitados. E é possí-vel fazer um piquenique gourmet no vi-nhedo ou passear pelas redondezas com bicicletas fornecidas no local. Almoçamos no restaurante da Campotinto, serviço im-pecável e cuidado que começa na escolha dos produtos e cultivo orgânico.

Carmelo conta com hotelaria de ponta que vai desde hospedagens em vinhedos e hotéis butique, até o luxuoso Carmelo Resort & Spa The Unbound Collection by Hyatt, que tem infraestrutura para even-tos, acomodações lindas e um spa comple-to, com vista para um bosque e direito a tratamentos com vinhoterapia.

É do mesmo proprietário, o argentino Pacha Cantón, o exclusivo e charmoso Narbona Wine Lodge Relais & Château, vi-nícola e hotel butique. Diferente do Hyatt, o Narbona conta com apenas cinco suítes, todas com nomes de uvas. Ficamos na Sauvignon Blanc, lindamente decorada e que conta até com ponchos bem quenti-nhos aos pés da cama para serem usados no hotel durante a estadia. Do lado de fora,

VIAGEM DO VINHO

AS QUEIJARIAS, ASSIM COMO BOA PARTE DAS VINÍCOLAS DO

URUGUAI, SÃO NEGÓCIOS FAMILIARES HÁ

GERAÇÕES

Bodega Garzon, Maldonado

Narbonna Wine Lodge Relais & Châteaux

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espreguiçadeiras convidam para a contem-plação do vinhedo bem em frente da suíte.

Todos os detalhes neste Relais & Châte-aux são um charme. Os vinhos são espeta-culares, os queijos, azeites, doce de leite, iogurtes, granolas, compotas de frutas e massas caseiras, verdadeiras gostosuras, fazem parte da produção local e artesanal. No jardim colonial, os arcos cobertos por heras e fl ores levam até a piscina que tam-bém têm vista para o vinhedo.

Ao fi m do dia, a dica é a degustação na cave subterrânea, um dos pontos altos da viagem. Um lugar aconchegante, com me-sa rústica de madeira, cercado de barri-cas, a luz de velas e ao som de Bob Dylan, onde provamos os vinhos harmonizados com queijos, azeites e castanhas, tudo de produção da bodega. Momentos únicos.

Após a degustação, jantamos no res-taurante do hotel, que fi ca junto ao empó-rio, onde é possível comprar toda a linha produzida por eles, desde os vinhos ao divino doce de leite.

Mudando completamente o cenário e as paisagens, nos despedimos de Carmelo e seguimos para Maldonado, na região das praias, onde estão Punta del Este e José Ignacio.

Maldonado recebe muitos turistas no verão, que vêm em busca de badalação, restaurantes estrelados, hotéis bacanas, baladas, cassinos e praia. Um apartamen-to à beira mar em Punta pode valer US$ 5 milhões.

Algumas vinícolas começaram a se ins-

talar nos arredores, pois estudos de solo provaram que não só de badalação precisa viver Maldonado, que tem um terroir exce-lente para o cultivo das videiras.

A apenas 25 km de Punta está a Viña Edén, propriedade de um brasileiro. A che-gada é impactante, com paredes de vidro que vão até o chão, e uma vista panorâmi-ca maravilhosa. A localização privilegiada permite incluí-la na programação mesmo em uma viagem cujo foco não seja o vi-nho (durante a temporada de verão em Punta, por exemplo). O passeio vale nem que seja apenas para almoçar no delicioso restaurante. O terroir da Edén é similar ao de Chablis. O solo mineral e a infl uência marítima são fundamentais para dar ori-gem a vinhos de alta qualidade. A proposta do restaurante também é singular. Além da vista privilegiada, eles têm o cuidado de selecionar alimentos orgânicos e tra-balham com produtos locais, inclusive, há uma horta orgânica no jardim, para aten-der o restaurante. Na bodega, foi feito um investimento em equipamentos e tanques

de cimento italianos supermodernos, que permitem que ocorra a micro-oxigenação durante a fermentação. Tudo isso garante vinhos de alta qualidade.

Outro investimento argentino na região é a magnífi ca Bodega Garzón. O casal Bul-gheroni criou um lugar de magia e sonho. Tudo é pensado visando a excelência, sem, entretanto, deixar de lado o cuidado com a sustentabilidade e o ambiente. A proprie-dade moderna, com muito vidro, pedras e madeira, está cercada de oliveiras, casta-nheiras, vinhedos e um bosque nativo. Todo esse verde pode ser apreciado através das janelas e paredes de vidro do restaurante e da recepção. Eles também criaram um clube de vinho superexclusivo, com ares de sociedade secreta, para apenas alguns es-colhidos, no qual recebem os membros para jantares e degustações privadas. Os sócios têm suas próprias adegas para guardar ró-tulos de suas coleções, além de charutos. E também podem criar seu próprio vinho, com o acompanhamento e a orientação dos enólogos da bodega. Muito chique!

No restaurante, com assinatura do ba-dalado chef argentino Francis Mallmann, os pratos são preparados em grelhas es-pecíficas, os chamados fuegos, no qual oferecem Menu de Mercado com produtos frescos de cada estação, preparados pelo criativo chef Ricki Motta, que comanda a casa. O serviço é à francesa e é possível optar por menu degustação de três ou cin-co pratos, que seguem as estações do ano. Cheguei pensando em Tannat, mas con-

fesso que foram o Pinot Noir e o Albariño que me conquistaram em primeiro lugar. Vinhos com personalidade, encantadores.

No outro dia, seguimos para a Bodega Alto de la Ballena. Depois de tanta moder-nidade e sofi sticação nas outras vinícolas, foi a vez de nos encantarmos com a simpli-cidade desta bodega de garagem, uma ode à natureza. Situada na serra de la Ballena, a 15 km do mar, recebe a brisa marítima. Seu solo pedregoso faz deste um terroir de excelência para a produção de vinhos de autor, alta qualidade e tiragem limitada. Não espere pompa, porém, a simpatia dos donos Paola e Alvaro, que guiam o passeio do início ao fim, assim como a paisagem exuberante do local e vinhos autênticos, ga-rantem uma visita memorável. Não há res-taurante, mas avisando com antecedência, podem preparar uma cesta de piquenique. Outra curiosidade: o projeto pioneiro conta com a ajuda dos Grupos Crea (Centro Re-gional de Experimentação Agrícola), que re-únem produtores de vinhos associados que se ajudam e visitam cada uma das bodegas dos integrantes, para auxiliar e aprender. Aqui, estão todos unidos por um bem maior e a preocupação em produzir bons vinhos é mais importante do que a preocupação com a concorrência.

Terminamos nossa visita ao Uruguai com boas lembranças e a sensação de que ainda temos muito a descobrir. Seja uma escapada em um fi m de semana prolonga-do ou uma viagem mais longa, no verão ou no inverno, venha disposto a se apaixonar.

IMPRESSIONA A DIVERSIDADE DA ENOLOGIA E DA

GASTRONOMIA NUM PAÍS DE PEQUENAS DIMENSÕES

TERRITORIAIS

Casa Pueblo, o pôr do sol mais bonito de Punta

Degustação dos vinhos da Viña Edén

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QUEM LEVA – LATAM

EM CARMELOVinícolas & Hotéis• Cordano Almacén de La Capilla (vinícola e pousada) http://almacendelacapilla.wixsite.com/almacendelacapilla• Campotinto (vinícola, restaurante e pousada) http://posadacampotinto.com/• Narbona Wine Lodge Relais & Chateau (vinícola, restaurante e hotel) www.narbona.com.uy/pt • Carmelo Resort & Spa The Unbound Collection by Hyatt https://carmelo.hyatt.com/en/hotel/home.html

EM MALDONADOVinícolas & Restaurantes• Viña Edén (vinícola e restaurante) http://vinaeden.com/pt-br/• Bodega Garzón (vinícola e restaurante) https://bodegagarzon.com/pt/• Bodega Alto de la Ballena (vinícola) http://altodelaballena.comVisitasCasapueblo (museu, bar, restaurante e hotel) www.clubhotelcasapueblo.com/Parque de Esculturas Fundación Pablo Atchugarry www.fundacionpabloatchugarry.org/en/pablo-atchugarry

EM COLONIAQueijos• La Positiva http://lapositiva.com.uy/• La Brida www.labrida.com.uy/labrida/Nosotros?esOnde fi car• Sheraton Colonia Golf Spa www.sheratoncolonia.com/

Onde comer • Restaurante del Carmen, Radisson Colonia www.radissoncolonia.com/inicio.asp• La Pulperia de los faroles www.facebook.com/pages/La-Pulperia-De-Los-Faroles/282655118560223Vinícolas• Bodega Bernardi http://www.bodegabernardi.com/

EM MONTEVIDÉUOnde fi car• My Suits Boutique Hotel & Wine Bar (ótima localização) http://mysuiteshotelmontevideo.com/Onde comer• 879 House• Mercado Ferrando www.mercadoferrando.comVinícolas• Bodega Bouza www.bodegabouza.com/pt-br/

EM CANELONES • Bodega Família Pizzorno • Estabeleciemento Juanicó http://juanico.com• Santoral Restaurante e Pousada www.santoral.com.uy

AgradecimentosMinistério de Turismo do Uruguay Arabella Comunicação http://arabella.ag/

VIAGEM DO VINHO

Info

Carmelo Resort & Spa The Unbound Collection by Hyatt

Onde comer

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COM A PALAVRA

MASSIMO LEONCINI É o sommelier chefe do Clube Paladar, responsável pela seleção dos vinhos sugeridos aos leitores em nossas páginas.

MendozaECOS DE

O assunto que quero fa-lar não é uma novidade, mas sim algo que vem acontecendo aos poucos por lá, ainda por ser con-

solidado. Como muitas coisas no mundo do vinho, as mudanças não acontecem da noite para o dia. Falar de Mendoza é falar de Malbec, é claro, e geralmente são abordadas diferentes expressões dessa uva incrível, mas não raro tais expressões encontram-se circunscritas a um arco de estilos tradicionais, ou seja, vinhos muito extraídos, frutados, alcoólicos, com pre-sença marcante de madeira e, não raro, doçura bastante presente.

Por muito tempo, a partir dos primei-ros momentos da evolução da uva Malbec em Mendoza, os produtores da região fizeram seus vinhos para que caíssem no gosto do mundo. Em linhas gerais, por melhor elaborados que fossem, eram quase invariavelmente tintos mais opu-lentos, mais parrudos. Importante obser-var que ser parrudo não é, a priori, um problema, mas sim um estilo de vinho.

Após mais de 20 anos de vinhos ela-borados ao gosto do mercado mundial, uma nova leva de Malbecs vem surgindo no horizonte. Os mendocinos começaram a ganhar mais espaço no mercado mun-dial e usaram isso para desenvolver sua identidade e filosofia próprias e expor

becs tradicionais, que eventualmente, ao se depararem com alguns desses novos espé-cimes, dizem: “Mas isso não parece ser um Malbec, Malbec mesmo”. Sinais dos tempos.

Outra uva que eu acredito que ganha-rá cada vez mais espaço na enologia da Argentina, mais especifi camente em Lu-ján de Cuyo, uma sub-região de Mendoza, é a Cabernet Franc. É incrível como essa uva maravilhosa pode expressar nos vi-nhos os aspectos do terroir e, ao mesmo tempo, preservar suas próprias caracte-rísticas. Em uma recente viagem à região, experimentei várias coisas novas que me deixaram uma excelente impressão. São provas inegáveis de um novo ciclo de mu-danças vindo por aí, a partir da excelente adaptação da Cabernet Franc na sub-re-gião mendocina de Luján de Cuyo.

Além de todas essas novidades, gos-taria de aproveitar o ensejo para sugerir aos leitores três diferentes restaurantes para uma viagem a Mendoza. Um deles é um clássico, o segundo é uma “semi” novidade e, o terceiro, aberto recente-mente. Para começar com o clássico, um restaurante que eu acho que se deve ir a uma viagem é o Francis Mallmann, com suas carnes magníficas, de diferentes cocções, sempre preparadas na brasa, num ambiente muito charmoso, bonito e um tanto formal.

O segundo restaurante é da esposa

conceitos diferentes dos tradicionais ró-tulos. Experimentos como fermentação em ovo de concreto, em tanques italianos de cimento e cada vez menos uso de ma-deira são alguns dos recursos emprega-dos nessa relativamente recente busca de identidade própria e “despadroniza-ção” dos Malbecs. Muitos viticultores já abandonaram aqueles longos períodos de 12 e de 18 meses de amadurecimento em barricas de carvalho para apostar em Malbecs menos alcoólicos e com uma pe-gada mais leve. Todo esse esforço vem se refl etindo em vinhos que começam, aos poucos, a exibir de outra forma, possivel-mente mais genuína, a identidade de seus territórios. Começa-se a perceber melhor a influência dos solos na bebida. Acho tudo isso belíssimo e muito salutar, uma evolução emocionante em um ambiente pujante de vinhos.

Como não poderia deixar de ser, tem havido queixas de apreciadores dos Mal-

de Francis Mallmann, e se chama Maria Antonieta. Uma comida impecável, ser-vida em um ambiente menos formal e a preços mais acessíveis. E o terceiro foi o que eu mais gostei, que me deixou uma ótima lembrança. Chama-se Zampa, um típico restaurante de ambiente simples, atendimento despojado e natural, uma comida maravilhosa e, olha só, ainda por cima preços excelentes. Imperdível para quem vai a Mendoza.

Para finalizar, e voltando a falar dos vinhos, nesta edição selecionei alguns ró-tulos para nossa matéria de gastronomia “Vinhos para a Grelha”, na qual harmonizei alguns cortes para churrasco com alguns tintos mendocinos de grande expressão.

SHU

TTER

STO

CK

Hoje o assunto é Mendoza, um tema já muito falado e explorado, mas eu queria sair um pouco disso, falando de outras coisas

UMA NOVA LEVA DE EXCELENTES MALBECS

VEM SURGINDO NO HORIZONTE

MENDOCINO