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seminário dos textos do Benko, HZ833 - Sociologia Urbana
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HZ833 – Seminário Aula 05
Leandro Landgraf RA: 970997
BENKO, G. (1999) “O local e o global: especificidade regional ou inter-regionalismo”.
In: Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI, São Paulo, Ed.
Hucitec, p. 50 – 66.
BENKO, G. (1996) “Organização econômica do território: algumas reflexões sobre a
evolução no século XX”, In: SANTOS, M.; Souza, M. A. A. de; Silveira, M. L.
Território, globalização e fragmentação, São Paulo, Ed. HUCITEC, p.51 – 71.
Georges Benko é um economista, com doutorado em geografia, cujo foco de
trabalho estava entre a geografia econômica humana e a economia. Especializou-se no
problema da localização da atividade econômica e no desenvolvimento regional
(http://fr.wikipedia.org/wiki/Georges_Benko). As transformações econômicas, sociais e
políticas observadas no fim do milênio passado e início deste, em parte causa e em parte
efeito de profundas mudanças geográficas e na organização territorial, em um mundo
cada vez mais globalizado, levaram o autor a querer identificar e compreender os
mecanismos envolvidos nestas mudanças. E esta busca está no cerne dos textos
estudados.
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Discutindo sobre o embate entre o local e o global, e o conflito metodológico
decorrente, no texto de 1999 o autor apresenta as teorias de antes e depois da II Guerra
Mundial ("as teorias da hierarquia urbana, as teorias estruturalistas e o duelo entre
'estratégia de desenvolvimento' e a 'teoria da dependência'), e renovação da teoria dita
"endógena" e o nível mais atual do debate.
A primeira ortodoxia diz respeito à hierarquia urbana, que surgiu com os
questionamentos dos primeiros teóricos da economia espacial: como surgiram as
concentrações urbanas de atividades manufatureiras ou terciárias a partir de um espaço
plano e homogêneo, e como hierarquizar estas aglomerações? Com base na teoria
microeconômica dominante de maximização dos lucros e minimização dos custos,
parecia um caminho óbvio que as produções urbanas se concentrassem e organizassem
em redes de "lugares centrais". A assim a hierarquia urbana se constituiria, desde
metrópoles até vilarejos, como que através de "uma mão invisível otimizadora", sendo
este um esquema estruturalista, no qual afirmava-se que "se existem cidades pequenas e
pobres em atividades importantes, é porque o 'lugar' para tais atividades está ocupado
por uma cidade maior, de nível hierárquico superior" (BENKO, 1999, pg. 51). A
concentração das atividades importantes em determinadas metrópoles ocorreria devido à
concorrência e otimização, onde as empresas se distribuiriam de maneira regular no
espaço para fugir da concorrência e buscar uma maior proximidade dos clientes. Benko,
porém nos lembra que tal otimização não ocorre, indicando que nos grandes centros
várias empresas concorrentes oferecem, em termos gerais, os mesmos serviços, e muitas
das vezes, se localizam inclusive nas mesmas ruas (conseguimos pensar em diversos
exemplos em cidades como São Paulo). As empresas se estabelecem onde os clientes
procuram determinado produto ou serviço, e quando o contrário ocorre, é porque a
ocupação do "lugar" ocorreu devido a uma organização determinada e planificada
(como exemplos o autor cita a Igreja, que determina onde instalar curatos e bispados, e
o Estado, que "espalha escolas, universidades e hospitais, consolidando assim a
hierarquia urbana").
Teóricos do equilíbrio geral se valeram de um paradoxo nas teorias dos jogos
para explicar o efeito de aglomeração, de uma maneira que explicava o jogo não-
cooperativo que não convence, pois a aglomeração não é um efeito negativo,
apresentando diversas vantagens para os concorrentes, denominados efeitos de
aglomeração, os quais são internos à aglomeração, porém externos ao ramo. Esta teoria
espacial mais estruturalista, segundo o autor, "repousa sobre o imponderável, o não-
mensurável, um princípio de organização não-mercantil, específico da aglomeração em
si" (idem, pg. 53). Se algumas cidades são mais bem sucedidas do que outras, é por uma
espécie de merecimento. "A partir daí, a hierarquia espacial passa a ser 'resultado' e não
causa: todas as cidades poderiam ser igualmente prósperas se agissem da mesma
forma".
A pressuposição de que o espaço é homogêneo é a maior fraqueza da teoria da
hierarquia dos lugares centrais, as regiões e as nações não são homogêneas entre si; nem
mesmo uma mesma cidade é completamente homogênea, apresentando bairros ricos e
bairros pobres, áreas industriais e residenciais. O que nos leva às ortodoxias do pós-
guerra. A primeira é a teoria das etapas de desenvolvimento, de W. Rostow, uma
espécie de teoria evolutiva que domina nos anos 60, na qual cada área geográfica é
avaliada de acordo com as mesmas etapas de um esquema histórico de desenvolvimento
em eras: pré-industrial (primária), industrial (secundária) ou pós-industrial (terciária ou
quaternária). Nem todos os países começariam a evoluir ao mesmo tempo, de onde
surgiria o subdesenvolvimento de alguns em relação aos outros, a cada momento na
história. Este não é um esquema "globalmente estruturalista", pois nada impediria que
na era quaternária todos os países convergissem para um mesmo ponto; o atraso se daria
por acasos históricos causados por "razões de estrutura interna" (BENKO, 1999, pg.
54). Mas este esquema permite o surgimento de uma teoria globalmente estruturalista: a
teoria da dependência, na qual, a "própria causa do 'subdesenvolvimento' de uns seria o
desenvolvimento de outros, e a riqueza desses últimos se alimentaria da miséria dos
primeiros" (idem, pg. 55). Seria consolidada assim uma divisão internacional do
trabalho de maneira duradoura, envolvendo um centro dominante, manufatureiro e
terciário, e uma periferia dominada, exportadora de bens primários (agrícolas e
minerais).
No final dos anos 1970 surgiu "uma nova ortodoxia", juntamente com o
aparecimento de países industrializados no Terceiro Mundo, que levava em
consideração a nova divisão internacional do trabalho, em algo que foi batizado de
circuito de ramo, correspondente "a três funções sincrônicas da atividade produtiva no
seio de um mesmo ramo: a) concepção, b) fabricação qualificada e c) fabricação e
montagem não qualificadas", uma tripartição típica da organização fordista do trabalho.
Nesta nova divisão, "os países (ou regiões) mais desenvolvidos se tornariam ao mesmo
tempo as regiões centrais da organização do trabalho e os principais mercados", mas
deslocavam para as regiões mais pobres as atividades produtivas menos qualificadas,
destinadas a seu próprio abastecimento. Em um nível local e politicamente homogêneo
este esquema até seria factível, porém quando transposto para a escala internacional, tal
esquema que confia às empresas multinacionais o papel de agente estruturante esbarra
na figura do Estado local, um agente bem mais autônomo, com seus conflitos e suas
ambições (BENKO, 1999, pg. 56).
No final da década de 1980 surgiu uma nova ortodoxia que rompia com tudo que
havia sido feito antes, e determinava que a dinâmica interna seria responsável pelo
sucesso e crescimento de regiões industriais. Diversos pesquisadores italianos, ao
estudarem certas regiões que surgiam como forças vitoriosas no mercado mundial por
seus próprios meios, encontraram um tipo de organização industrial que recordava um
antigo conceito: o "distrito industrial". O sucesso destes distritos foi mais tarde
interpretado como um caso particular dentro de uma tendência bem mais geral de
substituição do esquema de "produção em massa fordista, rigidamente estruturada" por
"um regime fundado na especialização flexível cuja forma espacial seria o distrito,
como o circuito de ramos era uma forma espacial de desdobramento do fordismo".
Deste modo, "do menor distrito italiano às megalópoles mundiais, o novo paradigma
tecnológico da 'especialização flexível' imporia não apenas o retorno das fábricas e
escritórios para as zonas urbanas, como também a retomada do crescimento quantitativo
das metrópoles" e "a futura hierarquia das cidades e regiões urbanas mundiais resultaria
da estratégia interna desses distritos" (idem, pg. 58).
A forma de organização espacial em distritos não é, porém, a saída para a "crise
espetacular do mundo econômico e social, e da realidade espacial (urbana e regional)
que ele contribuía para fabricar" que vivemos. Em primeiro lugar, porque a velha forma
fordista não desapareceu, em segundo, porque os distritos italianos são apenas casos
particulares, que escondem diversos custos sociais por detrás das qualidades que a eles
são atribuídos, e por fim, mesmo admitindo a hipótese de um novo modelo de
acumulação flexível, este pode assumir diferentes formas e a velha hierarquia pode
retornar. E, ao se falar de regiões urbanas, Benko lembra que "a atenção se concentra
nas formas de regulação intermediárias entre a materialidade da aglomeração urbana e o
governo, a legislação e a ação estatal", utilizando para isto o conceito de "governança"
(ib., pg. 62). Ao mudar o foco do estudo, o termo rede (que se trata "de uma forma de
organização interempresarial da qual se definiu a governança para além do mercado") é
substituído pelo termo distrito, e a política retorna de maneira vitoriosa.
As redes, por terem uma definição mais funcional que geográfica, ampliariam as
potencialidades espaciais das novas organizações industriais, onde "uma boa rede de
transportes e de comunicação pode compensar a perda de certas vantagens de
aglomeração" (BENKO, 1999, pg. 63). Diversos distritos (e o autor cita alguns
exemplos) integrariam uma "rede de distritos" assim como um "distrito de redes", que
manteriam constantes relações transacionais, além de características e recursos em
comum (como o mesmo mercado de trabalho de operários, técnicos e engenheiros
qualificados). Assim, a especificidade da metrópole seria a de ser um "distrito de redes",
com indústrias em contato não tanto apenas por sua proximidade mas, e sobretudo, "por
seu 'tipo social' comum, antes mesmo da realização de transações mercantis". Sobre o
retorno da política, o autor afirma que "a escolha política de um modelo de
desenvolvimento a expensas de outro ... vai determinar o tipo de rede industrial e de
emprego, portanto os rumos de desenvolvimento do território".
Para concluir o texto, o autor apresenta "uma última hipótese": assumindo como
verdadeiro "que os dois eixos principais de saída da crise do fordismo opõem soluções
capitalistas de tipo 'menos organizado' a soluções de tipo 'mais organizado'" e também
que "quanto menos governança explícita houver, mais se faz mister que o mercado se
apoie nessa forma de regulação implícita que é a aglomeração" seria compreensível que
"o primeiro tipo de saída da crise privilegie as 'nebulosas de redes' e o segundo tipo as
'redes de distritos'". O autor chamou as nebulosas de redes de megapolos ("forma
espacial das regiões que ganham (Londres ou Los Angeles) dentro dos países que
perdem") e os distritos de redes de metrópoles ("cabeças de várias redes de distritos" e
"o tipo de região que ganha dentro dos países que ganham").
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No texto de 1996, Benko se propôs a "reconsiderar a questão do
desenvolvimento regional", se atendo de maneira particular ao quebra-cabeças
composto por um lado "pela reaglomeração visível da produção e, de outro, à
globalização dos fluxos econômicos", pensando a economia mundial no fim do milênio
"como um mosaico de regiões produtivas especializadas, com processos complexos de
crescimento localizado, cada vez mais dependente, apesar de tudo, das outras regiões"
(pg. 51). E dentro de um contexto global, o autor apresentou três elementos principais
para se pensar a globalização: a industrialização, a urbanização e os sistemas locais
inovadores.
Sobre a industrialização, a abordagem tradicional era baseada "no estudo da
vantagem comparativa..., na troca mercantil e nos fluxos espaciais concomitantes de
capital e trabalho", a qual passou a ter um enfoque mais atual, articulado "em torno da
nova divisão espacial e internacional do trabalho", que seria uma introdução das
empresas multinacionais e empresas de estabelecimentos múltiplos. Esta nova divisão
internacional do trabalho resultaria em que diferentes etapas do processo de produção
fossem atribuídas de uma maneira tal no espaço que levasse em consideração "suas
características tecnológicas e do nível de qualificação que requerem", sendo que as
tarefas mais especializadas, que requeressem alta tecnicidade, e as funções de direção,
fossem reservadas às regiões centrais, enquanto aquelas funções pouco qualificadas ou
que necessitassem de grande quantidade de mão de obra fossem destinadas à periferia
(BENKO, 1996, pg. 52). Um problema com esta linha teórica é que "a vantagem
comparativa é artificial", manifestando-se no decorrer do desenvolvimento regional, e
fazendo com que surjam regiões que conseguem dominar mercados especializados;
outra questão é que não haveria "nenhuma oposição absoluta entre a teoria da
aglomeração e a teoria da nova divisão espacial/internacional do trabalho" (idem, pg.
53), pois todos os tipos de produtos são fabricados localmente e distribuídos para outros
locais; e por fim, além da nova divisão espacial/internacional do trabalho ser
considerada apenas "uma simples estrutura centro/periferia" por alguns teóricos, alguns
fatos como a grande massa de migração de trabalhadores para os países do centro em
busca de trabalhos não especializados e os altos níveis de competência técnica de
algumas regiões urbanas da periferia questionam a teoria. Assim, Benko propõe uma
concepção dual do desenvolvimento regional econômico:
"De um lado, a 'economia global' pode ser vista como um mosaico de sistemas de produção
regionais especializados, possuindo cada qual sua própria rede densa de acordo de trocas, no interior da
região, e um funcionamento específico do mercado local do trabalho. Do outro, o mesmo mosaico se
insere no entrelace planetário de ligações interindustriais, de fluxos de investimentos e de migrações de
população"
Na segunda parte, o autor (ib. pg. 55) começa apresentando o conceito de
"cidade global", que partiria do "princípio de que existem laços muito estreitos entre a
rede mundial das empresas capitalistas e a das grandes cidades", que seriam
consideradas "centros geográficos privilegiados". Segundo este conceito, a divisão
internacional do trabalho atual seria mais determinada por grandes companhias
multinacionais, que atuam em diversos países, realizando com freqüência suas
transações internacionais de maneira interna. Assim, o sistema urbano internacional
seria hierarquizado de maneira desigual e em função da distribuição das posições de
comando das empresas em relação aos processos produtivos e de valorização do capital.
Para Benko, porém, a hierarquia humana não é função somente da presença das sedes
dos grandes conglomerados industriais, pois na economia capitalista "as atividades de
comando são exercidas em todo o 'setor do capital financeiro'. Além disso, "existem
outros critérios de hierarquização urbana que não implica uma relação de dominação –
por exemplo, a classificação das cidades em função do número da população e dos
empregos" (BENKO, 1996, pg. 56). De qualquer maneira, as grandes cidades seriam
centros de valorização do capital, que determinariam o desenvolvimento regional, mas
de uma maneira muito mais dependente de suas funções de comando transregional do
que seu papel de metrópole regional. Portanto, cidades globais são "os centros de
localização de atividades econômicas nacionais e internacionais que se desenvolvem
independentemente de seu meio geográfico local ou regional imediato".
A compreensão da globalização, e dos fenômenos que levam a ela ou que a ela
estão associados, é importante para o estudo "de uma nova organização territorial que
aparece, ao mesmo tempo, como um efeito e como uma causa do desenvolvimento
geral" (idem, pg. 62) e que faz emergir um meio regional inovador. Benko argumenta
que os meios inovadores ou "dinâmicos" teriam assumido o controle das transformações
que resultaram na globalização econômica, "fazendo-as servir ao seu desenvolvimento",
e as outras regiões sofreram por não conseguirem "estabelecer uma dinâmica autógena",
e apresenta casos típicos de cada sistema territorial.
Entendido o processo de globalização devido a e resultando em diferentes
conformações territoriais, o autor deixa um alerta (ib. pg. 70):
"a noção de globalização deve ser encarada com prudência... primeiro, porque o movimento de
integração econômica mundial.. conheceu... avanços e recuos... depois porque a presença das empresas
estrangeiras nas economias nacionais... permanece limitada... e finalmente, porque se assiste mais à
formação, ainda frágil e incerta, de entidades e mercados regionais (mercado único europeu, livre-troca
americana) do que a uma verdadeira unificação do mercado mundial.
O processo de mundialização, desordenado, acelerado e mal regulado, aumenta os riscos de
exclusão social em todos os países. Eficácia econômica e justiça social deverão ser repensadas. Seria
preciso debruçar-se sobre as interações entre lógica econômica e instituições políticas tanto em nível
local como global."