Upload
others
View
6
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200839
Setor sucroalcooleirono BrasilSituação atual e perspectivas
Tarcizio Goes1
Renner Marra2
Geraldo Souza e Silva3
Resumo: Neste artigo, foram abordados vários temas relacionados ao setor sucroalcooeleiro noBrasil, como: a expansão da cultura canavieira, sua evolução tecnológica, a ocupação de novasáreas, a produção de etanol e açúcar, de forma competitiva em relação à praticada em outrospaíses, e sua crescente importância como base para o desenvolvimento da agroenergia. Destacou-se também sua função como fonte alternativa de energia no processo de substituição doscombustíveis fósseis. Por meio de análises qualitativas e quantitativas, constatou-se a expansãoda cultura da cana-de-açúcar, o desenvolvimento e a modernização do setor sucroalcooleiro, osquais têm contribuído incontestavelmente para o fortalecimento do agronegócio brasileiro, e,conseqüentemente, para o crescimento da economia do País. Foram analisadas, detalhadamente,várias questões: produção, consumo interno, preços, condições atuais e tendências defortalecimento dos mercados interno e externo do etanol e do açúcar brasileiro nos próximosanos. Abordou-se ainda a expansão da cana-de-açúcar versus a produção de alimentos.
Palavras-chave: agroenergia, cana-de-açúcar, açúcar, etanol.
1 Pesquisador da Embrapa. E-mail: [email protected] Analista econômico da Embrapa. E-mail: [email protected] Pesquisador da Embrapa. E-mail: [email protected]
IntroduçãoA cana-de-açúcar sempre teve papel muitoimportante na economia brasileira. E agora,vive-se uma nova e promissora fase. A va-lorização do etanol como alternativa àsubstituição dos combustíveis fósseis, o forta-lecimento do preço do açúcar no mercado decommodities, a utilização e a valoração desubprodutos industriais resultantes da fabricaçãode açúcar e álcool e a alcoolquímica são fatoresque motivaram uma forte expansão da culturada cana no Brasil, e induziram à modernizaçãoe à maior eficiência da indústria canavieira.O nosso complexo sucroalcooleiro é consi-derado o mais moderno e competitivo do mundo,
mantendo o País entre os grandes produtores deaçúcar e etanol. A expansão da cultura da cana-de-açúcar, prevista para os próximos anos, estábaseada no aumento de produção e do consumodo etanol para atender ao crescimento domercado interno e suprir as exportações, quedeverão crescer substancialmente. Neste artigo,apresenta-se a expansão da cultura da cana-de-açúcar no Brasil, como conseqüência imediatada valorização do etanol, com estimativas paraos próximos anos. São abordados aspectosrelativos ao desenvolvimento tecnológico dacultura, aos sistemas de produção e à evoluçãoda produção e da produtividade. Uma análise daindústria sucroalcooleira mostra o grau dedesenvolvimento tecnológico, os investimentos
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2008 40
que estão sendo feitos no setor, o estágio atuale as tendências de modernização e melhoriados padrões de eficiência desse setor para ospróximos anos. Questões relativas a preço e aperspectivas do mercado interno e dasexportações são analisadas com base nos dadosatuais. A utilização e a valoração dos resíduosindustriais resultantes da fabricação do açúcare do etanol, principalmente do bagaço da canacomo co-gerador de energia, dão uma novadimensão ao processo de modernização daindústria canavieira. Finalmente, é feita umaabordagem sobre a expansão da cultura dacana-de-açúcar versus a produção dealimentos.
A cultura da cana-de-açúcarA cultura da cana-de-açúcar está intrinsecamenteligada à história e ao desenvolvimento do Brasil.Desde a época da Colonização, a cana temexperimentado um grande desenvolvimentoagronômico e industrial. O nosso complexosucroalcooleiro é considerado o mais moderno domundo, tendo o Brasil assumido a posição deliderança na produção de etanol. A forte expansãoda cultura da cana-de-açúcar no Brasil deve-se àvalorização do etanol, como uma das principaisfontes de energia limpa, uma vez que o mundopassou a reconhecer a necessidade de mudar suamatriz energética, até agora baseada quase queexclusivamente em combustíveis fósseis. Essamudança visa primordialmente à minimizaçãodas conseqüências danosas do efeito estufa, pormeio da utilização de fontes de energiasrenováveis, em atendimento às disposiçõesestabelecidas no protocolo de Quioto, domecanismo de desenvolvimento limpo (MDL).
O Brasil tem todas as condições para a ampliaçãoda produção de cana, por possuir mais terras e asmelhores condições edafoclimatológicas para aexploração daquela cultura do que qualquer país.Ademais, já domina a tecnologia de ponta defabricação de etanol. O Brasil e os Estados Unidossão responsáveis por cerca de 70 % da produçãomundial de etanol, mas nossa matéria-prima, acana-de-açúcar, nos coloca em vantagem em
relação ao milho, matéria-prima utilizada pelosEstados Unidos na produção do etanol.
Em 2006, o etanol registrou o maior índice decrescimento entre os 50 produtos mais exportadospelo Brasil, com uma elevação de 109,6 % emrelação ao ano anterior. As vendas chegaram a1,6 bilhão de dólares e o Brasil exportou 3,4 bilhõesde litros de álcool, cerca de 18 % da sua produçãototal (BRASIL, 2008). As estimativas evidenciamque, mantido o ritmo atual, as exportaçõesbrasileiras de etanol, em volume, deverão maisque dobrar até 2010, conforme Tabela 1, quemostra a evolução da exportação de etanol e asua participação nas exportações do agronegóciobrasileiro. Estima-se, portanto, que, a partir daí,as vendas externas dobrem novamente, atéchegarem próximo a 16 bilhões de litros, em 2020(ANÁLISE EDITORIAL, 2008). Se essas estimativasse confirmarem, isso implicaria não só mais investi-mentos de capital (ampliação e construção denovas usinas), como também, e principalmente,a expansão de áreas cultivadas com cana. A Tabe-la 2 (2a e 2b) mostra a evolução da exportaçãodo etanol e sua participação nas exportações doagronegócio brasileiro.
Área plantada e produção
A área cultivada com cana no Brasil (ano agrícola2006/2007) é de 6,3 milhões de hectares.Estimativas da União da Indústria Canavieira –Unica (2007) para a expansão da produçãoindicam, para 2010–2011, uma área total cultivadade 8,5 milhões de hectares. Para 2015–2016,11,4 milhões de hectares, e para 2020–2021,13,9 milhões, o dobro, portanto, da área totalcultivada hoje. O avanço em área deve-se àmelhora da rentabilidade do setor. A produtividademédia geral deve aumentar 1,2 % em relação àsafra anterior. Dados da Cooperativa dosProdutores de Cana (Coopercana) (SAMPAIOFILHO, 2007) indicam que, no Estado de SãoPaulo, onde se cultivam 60 % de toda a canaprocessada pela indústria, a área ocupada por essacultura é de 4,2 milhões de hectares. Mas, peloatual ritmo de expansão, a expectativa é de queessa área ultrapasse 6 milhões de hectares nospróximos 5 anos.
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200841
Tabe
la 1
. Prin
cipa
is p
rodu
tos
da p
auta
de
expo
rtaçã
o do
agr
oneg
ócio
de
2000
a 2
007.
Prod
uto
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
Font
e: B
rasi
l (20
08b)
.
2000
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
2001
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
2002
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
2003
Fare
lo d
e so
jaÓ
leo
de s
oja
Soj
a em
grã
osC
arne
bov
ina
Car
ne d
e fra
ngo
Car
ne s
uína
Cel
ulos
eP
apel
Açúc
arÁ
lcoo
lC
afé
verd
ee
café
torr
ado
Alg
odão
epr
odut
os t
êxte
isde
alg
odão
Suc
os d
e la
ranj
aSu
btot
alD
emai
s pr
odut
osTo
tal
1.64
835
92.
185
814
829
183
1.60
294
21.
199 35
1.56
2
706
1.03
413
.097
7.49
720
.594
8,00
1,74
10,6
13,
954,
020,
897,
784,
575,
820,
177,
59
3,43
5,02
63,6
036
,40
100,
00
9.36
41.
073
11.5
07 356
916
135
3.01
01.
228
6.50
218
296
8
153
1.27
736
.671
7.88
144
.552
2.06
550
62.
720
1.04
91.
334
375
1.24
794
42.
278 92
1.21
2
877
845
15.5
438.
314
23.8
57
8,66
2,12
11,4
04,
405,
591,
575,
233,
969,
550,
395,
08
3,68
3,54
65,1
534
,85
100,
00
11.2
711.
652
15.6
56 542
1.26
627
63.
334
1.37
211
.168 27
71.
256
295
1.34
849
.712
15.0
9664
.808
2.19
977
83.
029
1.14
41.
393
486
1.16
089
62.
094
169
1.20
1
755
1.04
116
.344
8.49
624
.840
8,85
3,13
12,1
94,
605,
611,
964,
673,
618,
430,
684,
84
3,04
4,19
65,8
034
,20
100,
00
12.5
171.
934
15.9
61 635
1.62
548
03.
440
1.46
513
.354 63
11.
557
245
1.32
955
.174
12.8
0267
.976
2.60
31.
233
4.28
71.
590
1.79
955
11.
744
1.08
82.
140
158
1.31
6
1.04
0
1.19
320
.740
9.90
530
.645
8,49
4,02
13,9
95,
195,
871,
805,
693,
556,
980,
524,
29
3,39
3,89
67,6
832
,32
100,
00
13.6
032.
486
19.8
81 852
1.96
049
44.
566
1.78
212
.914 60
61.
375
370
1.59
062
.479
14.9
7077
.449
Prod
uto
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
2004
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
2005
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
2006
Valo
r (U
S$m
ilhõe
s)Pa
rt.
(%)
Peso
(mil
tone
lada
s)
2007
Fare
lo d
e so
jaÓ
leo
de s
oja
Soj
a em
grã
osC
arne
bov
ina
Car
ne d
e fra
ngo
Car
ne s
uína
Cel
ulos
eP
apel
Açúc
arÁ
lcoo
lC
afé
verd
ee
café
torr
ado
Alg
odão
epr
odut
os t
êxte
isde
alg
odão
Suc
os d
e la
ranj
aSu
btot
alD
emai
s pr
odut
osTo
tal
3.27
11.
382
5.38
82.
525
2.59
577
51.
722
1.18
82.
640
498
1.75
8
1.30
8
1.05
826
.109
12.9
2139
.029
8,38
3,54
13,8
16,
476,
651,
994,
413,
046,
761,
284,
51
3,35
2,71
66,9
033
,10
100,
00
14.4
862.
517
19.2
371.
182
2.47
050
74.
988
1.85
415
.764
1.92
71.
413
502
1.58
468
.431
19.5
4387
.974
2.86
61.
267
5.34
13.
060
3.50
91.
165
2.03
41.
372
3.91
976
62.
533
1.38
7
1.11
130
.329
13.2
8843
.617
6,57
2,90
12,2
57,
028,
042,
674,
663,
158,
981,
765,
81
3,18
2,55
69,5
430
,46
100,
00
14.4
232.
697
22.4
291.
356
2.84
662
35.
545
2.04
118
.147
2.08
01.
356
572
1.77
875
.894
14.3
0590
.198
2.42
01.
229
5.66
03.
923
3.20
31.
036
2.48
41.
524
6.16
71.
605
2.95
3
1.22
6
1.46
934
.898
14.5
6749
.465
4,89
2,48
11,4
47,
936,
482,
105,
023,
0812
,47
3,24
5,97
2,48
2,97
70,5
529
,45
100,
00
12.3
342.
419
24.9
501.
523
2.71
352
76.
244
1.99
218
.870
2.73
31.
481
491
1.77
278
.048
16.9
3094
.978
2.95
91.
720
6.70
34.
425
4.62
01.
230
3.02
31.
703
5.10
01.
478
3.40
5
1.39
2
2.25
240
.009
18.4
1158
.420
5,06
2,94
11,4
77,
577,
912,
115,
172,
928,
732,
535,
83
2,38
3,85
68,4
831
,52
100,
00
12.4
772.
343
23.7
211.
615
3.16
260
56.
580
2.01
019
.359
2.82
41.
494
581
2.06
678
.838
24.0
4110
2.88
0
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2008 42
Com relação à produção, as estimativas daUnica apontam para: 430 milhões de toneladas(em 2006–2007); 601 milhões de toneladas (em2010–2011); 829 milhões de toneladas (em2015–2016); e 1.038 milhões de toneladas (em2020–2021), conforme mostra a Tabela 2a.
Os dados apresentados na tabela 2a têm por baseum cenário mundial positivo em relação àsprojeções para o consumo de etanol. Entretanto,as projeções realizadas pela Embrapa (Tabela 2b),que têm como base o comportamento históricodos dados (de 1990 a 2007), ainda não confirmamesse crescimento sinalizado pelas projeções daUnica. Com relação às projeções sobre produçãoe consumo de açúcar, as duas análises apresen-tadas nas Tabelas 2a e 2b não são divergentes.
Sistemas de produção
O sistema de produção da cana evoluiubastante, graças, entre outros motivos, astecnologias que permitiram o aumento daprodutividade e da expansão da cultura por novas
Tabela 2a. Expansão da produção de cana-de-açúcar no Brasil – açúcar e álcool.
Cana-de-açúcar: produção (milhões de toneladas)Cana-de-açúcar: área cultivada (milhões de ha)Açúcar: produção (milhões de toneladas)Açúcar: consumo internoAçúcar: excedente para exportaçãoÁlcool (bilhões de litros)Álcool: consumo internoÁlcool: excedente para exportação
Cana-de-açúcar, açúcar e álcool
Fonte: Unica (2005).
4306,3
30,29,9
20,317,914,2
3,7
2006–2007
6018,5
34,610,524,129,723,2
6,5
2010–2011
82911,441,311,429,946,934,612,3
2015–2016
1.03813,945,012,132,965,349,615,7
2020–2021
Tabela 2b. Expansão da produção de cana-de-açúcar no Brasil – açúcar e álcool.
Cana-de-açúcar: produção (milhões de toneladas)Cana-de-açúcar: área cultivada (milhões hectares)Açúcar: produção (milhões de toneladas)Açúcar: consumo internoAçúcar: excedente para exportaçãoÁlcool: produção (milhões de m3)Álcool: consumo interno (milhões de m3)Álcool: excedente para exportação (milhões de m3)
Cana-de-açúcar, açúcar e álcool
514,2 6,7
29,79,5
20,216,313,6
2,7
2007
551,87,3
35,810,525,317,313,9
3,5
2010
678,28,8
41,711,530,218,814,3
4,5
2015
740,29,5
45,012,033,019,814,5
5,3
2018
áreas. Variedades de diferentes procedências e umtrabalho eficaz de melhoramento genéticoajudaram o Brasil a se tornar o maior e o melhorprodutor de cana-de-açúcar. Os programas demelhoramento genético promoveram significa-tivos ganhos de produtividade. Na década de 1970,a produtividade ficava em torno de 45 t/ha. Hoje, aprodutividade média é de 75 t/ha (ROSSINI, 2007),e esse número deverá aumentar nos próximos anos,graças ao desenvolvimento de pesquisas e àdisponibilidade de variedades mais produtivas.
Aspectos técnico-agronômicos
O desenvolvimento tecnológico da cultura dacana tem duas vertentes principais: a obtençãoe a inclusão de novas variedades no processoprodutivo e técnicas de adubação e correçãodo solo, que permitem a expansão da culturapor áreas novas, e a elevação dos níveis deprodutividade, além de outros fatores de igualimportância, como novas práticas culturais, demanejo e de controle fitossanitário, entre outras.
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200843
Nos anos 1970, com o surgimento do ProgramaNacional de Produção de Álcool (Proálcool), osagricultores iniciaram o plantio da cana em áreasnovas, de baixa fertilidade, com base na utilizaçãoda variedade SP70-1143, de característicasrústicas, que se tornou a variedade mais plantadano Estado de São Paulo. A partir daí, iniciou-se umanova fase na cultura da cana-de-açúcar, com osurgimento dos grupos varietais, que dividem aresponsabilidade de sustentar a produtividade dacanavicultura brasileira. Portanto, foram osprogramas de melhoramento genético da cana-de-açúcar que promoveram ganhos constantes deprodutividade, permitindo a expansão e asustentabilidade da cultura, de forma competitiva.Atualmente, a pesquisa colocou à disposição maisde 500 variedades de cana, das quais 20 ocupam80 % da área de produção. No entanto, a variedademais utilizada atinge apenas 12,6 %. O aumentoda diversificação nos últimos 20 anos garantiusegurança à resistência contra pragas e doenças.
A biotecnologia da cana no Brasil apresentavariedades transgênicas – não-comerciais – desdemeados de 1990. Vale ressaltar que, para manteressas competitividade e sustentabilidade, énecessário continuar a investir em pesquisa comvistas na geração de novas tecnologias. A tec-nologia industrial também avançou. Hoje, obtém-se muito mais álcool por tonelada de cana do quese obtinha três décadas atrás, no início da atuaçãodo Proálcool (Fig. 1).
Evolução da produção e da produtividade
Projeções feitas pela Unica (2005) mostram umcrescimento de cerca de 120 % na área plan-tada com cana-de-açúcar, nos próximos 14 anos,conforme se vê na Tabela 2a. De acordo com amesma fonte, está previsto, para o mesmoperíodo, um aumento de 141 % na produçãode cana-de-açúcar, que, na safra 2020–2021,deverá ultrapassar 1 bilhão de toneladas.O aumento da produtividade agrícola da culturaestá estimado em 9,5 %.
Tendências
A expansão da área plantada com cana-de-açúcarnos próximos anos resultará do aumento dademanda por etanol e da melhoria da rentabi-lidadedo setor em decorrência de avanços tecnológicosresultantes da implementação de novos projetos,principalmente nos estados de Goiás, Mato Grossodo Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Em SãoPaulo, dada a pouca disponibilidade de terras, aprodução deverá se concentrar nas regiões oestee noroeste. No Paraná, a produção deverá crescerna direção do arenito de Caiuá. Outras regiões aserem consideradas são o Triângulo Mineiro, o sulde Goiás e a Bacia do Rio Paraná, em Mato Grossodo Sul. Essas áreas deverão ser escolhidas emvirtude do relevo apropriado à colheita mecani-zada, do regime pluvial adequado e das facilidadesde escoamento do produto, graças à proximidadede sistemas de transporte. As novas fronteiras estãoconcentradas no Vale do São Francisco e no oesteda Bahia, no Maranhão e no Piauí, por ofereceremboas condições técnicas para a produção de cana,por estarem localizadas próximo a portos deexportação e, principalmente, por serem terras maisbaratas do que as terras das regiões produtorastradicionais.
Dados da Unica (2005) mostram uma estimativada expansão do setor produtivo e da cultura dacana-de-açúcar no Brasil no período quecorresponde à safra 2007–2008 até a safra2015–2016, e os investimentos previstos paraos próximos 6 anos, incluindo a participação docapital externo, bem como a expansão do setorsucroalcooleiro no Brasil a partir de 2005–2006,conforme se vê nas Fig. 2 e 3 e na Tabela 3.
Fig. 1. Evolução da produtividade agrícola e industrialda cana-de-açúcar, no período de 1997 a 2006 (1977= 1).Fontes: IBGE (2008) e Santaelisa Vale (2008).
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2008 44
Fig. 2. Mapa da expansão do setor produtivo.Fonte: Unica (2007).
Fig. 3. Expansão do setor sucroalcooleiro no Brasil, de 2005 a 2010 e tendências.Fonte: Dedini (2007)4 e Unica (2007).
4 DEDINI. A expansão do setor sucroalcooleiro no Brasil a partir de 2005–2006. São Paulo, 23 de outubro, 2007. Dados utilizados na palestra por Marcos S. Jank,em São Paulo em 2007.
Região/Estado
761592911112918861
346
Unidade deProdução
552893514153720340
472
Cana(MMT)
11,6561,217,412,973,187,844,240,640,850,0
100,00
Participação(%)
N/NESPMGMSMTPRGORJESRSTotal
Brasil: Safra 2007/2008
Região/Estado
761655438133340871
455
Unidade deProdução
5542611095245957640
880
Cana(MMT)
6,2548,4012,5010,792,736,70
11,020,680,910,0
100,00
Participação(%)
N/NESPMGMSMTPRGORJESRSTotal
Brasil: Safra 2015/2016
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200845
Avanços tecnológicos significativos deverãoocorrer nos próximos anos. Tecnologiasincorporadas ao pacote tecnológico, como afertiirrigação por gotejamento subterrâneo,permitem elevar os níveis de produtividade e alongevidade dos canaviais, aumentando acompetitividade na produção de etanol.
Estágio atual e tendênciasda indústria sucroalcooleiraA história da cana-de-açúcar e da indústriacanavieira remontam ao início da Colonizaçãodo Brasil. O açúcar era, naquela época, um dosprincipais produtos de exportação da Colônia, eo engenho de açúcar tornou-se a base daeconomia colonial. Seguiram-se os cicloseconômicos do ouro, da borracha, do café, mas oaçúcar nunca perdeu seu lugar de destaque napauta de exportações do Brasil. Nos últimos30 anos, a cana-de-açúcar teve grande expansãoe a indústria sucroalcooleira modernizou-se,atingindo um elevado estágio de desenvolvimentotecnológico, principalmente a partir do momentoem que o mundo passou a considerar o álcoolcomo uma das principais fontes de energiarenováveis, capaz de reduzir as emissões depoluentes atmosféricos quando misturado àgasolina.
Hoje, o setor sucroalcooleiro é um dos maisdinâmicos e promissores da agricultura brasileira,fazendo parte do cenário da agroenergia, queengloba a produção de combustível e eletricidadelimpos e renováveis.
Tabela 3. Investimento no setor sucroalcooleiro.
Novas indústriasIndústrias existentesTotal
Investimentos nos próximos 6 anos
Fonte: Unica (2008).
US$ 14 bilhõesUS$ 3 bilhõesUS$ 17 bilhões
2007–200822 Ups (36 MT)7 % do total
Participação do capital externo
2012–201331 UPs (83 MT)
12 % do total
O mais importante e atual marco de progresso dosetor sucroalcooleiro é a bioeletricidade.A utilização do bagaço e da palha da cana-de-açúcar na geração de energia abriu uma grandefronteira para o desenvolvimento e ofortalecimento do setor, na medida em que abioeletricidade passa a ser considerada uma dasmais importantes fontes de geração de energiaelétrica.
A alcoolquímica, que compreende uma importan-te gama de produtos do etanol (polietileno,cloretos de polvinila e etila, etileno glicol eacetaldeído, entre outros), vem sendo resgatadacomo um novo fator de desenvolvimento esustentabilidade do setor sucroalcooleiro. Tendoconhecido momentos de projeção nos anos 1980,a alcoolquímica foi descartada em seguida, emvirtude dos altos custos relativos, os quais,atualmente, foram recontabilizados em favor daretomada dessa atividade. Todos esses fatoresapontam para um grande desenvolvimento efortalecimento do setor, nos próximos anos.
AçúcarEmbora a produção de etanol seja a principalopção no momento, a produção de açúcartambém vem crescendo graças ao volume deinvestimentos aplicados na implantação denovas plantas de produção de açúcar. Em 2006,o Brasil tinha 346 usinas em funcionamento.A previsão é de que, nos próximos 10 anos, cercade cem novas usinas sejam instaladas. Estima-seque a produção de açúcar em 2015–2016 tenhaum crescimento de 37 % em relação à safra2006–2007, atingindo 41 milhões de toneladas.Em âmbito mundial, o crescimento da produçãode açúcar atingirá um ritmo menor. Os estoquesmundiais estão baixos e sua recuperação serápequena nos próximos anos. De acordo comanálise feita pelo Instituto FNP (FNP, 2007,p. 238-242), os fatores que contribuíram para aredução dos estoques mundiais foram a quedana produção da União Européia e oconcomitante aumento da demanda na África,no Oriente Médio e no Leste da Ásia. Com isso,os preços alcançaram patamares consideravel-
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2008 46
mente mais elevados. Essa situação pode serevidenciada pela Fig. 4, que analisa ocomportamento de preços do açúcar nomercado internacional, no período de janeirode 2000 a fevereiro de 2008, tendo como fontea Bolsa de Nova Iorque (NYBOT), e na Fig. 5,que mostra a evolução do consumo e dosestoques mundiais de açúcar. Com relação àprodução mundial, a tendência é de que, naUnião Européia, ela fique estável ou mesmo embaixa, enquanto, nos Estados Unidos, opte-sepela estabilização da produção nos níveisatuais. Portanto, a expectativa é de que ocrescimento da produção de açúcar dar-se-ános países mais competitivos, ou seja: Brasil,Colômbia, Guatemala, México e Tailândia. Asprevisões são de que, nos próximos 10 anos, os
estoques mundiais de açúcar deverãopermanecer relativamente baixos. Com relaçãoà demanda, a China deverá se tornar o maiorimportador mundial desse produto (tomando olugar da Rússia), e a Índia, atualmente o segundomaior produtor mundial, poderá passar àcondição de importador. Portanto, em razãodesses fatores, as cotações de preço do açúcarno mercado internacional deverão se manteraquecidas.
Aspectos industriais e resíduos da produção
No Brasil, a indústria açucareira apresenta umelevado estágio de desenvolvimento tecnológicoque, associado a outros fatores de produção, fazdo País o maior produtor e o maior exportadormundial desse produto. Apesar das barreirastarifárias impostas, principalmente pelos EstadosUnidos e pela União Européia, o açúcar produzidona Região Centro-Sul apresenta o menor custo deprodução do mundo. O aumento da demanda poraçúcar no mercado externo e o fortalecimento dopreço dessa commodity, associados ao aqueci-mento dos mercados interno e externo de etanol,além de outros fatores, resultarão num processocada vez maior de modernização da indústriasucroalcooleira nos próximos anos. Um dos fatoresque contribuirão para o fortalecimento dessaindústria é a destinação adequada e a valorizaçãocada vez maior dos resíduos resultantes doprocesso industrial da fabricação do açúcar –bagaço, vinhaça, torta de filtro, etc.
Conforme dados da Santaelisa Vale (2008), obagaço da cana-de-açúcar, considerado comosubproduto, é gerado no processo de extração docaldo, obtido por meio de difusor ou moenda.É um material fibroso, composto principalmentede água (de 48 % a 52 %) e sacarose. Utilizadona indústria como combustível nas caldeiras, paragerar energia para as unidades processadoras decana, apresenta-se, no momento, como umagrande alternativa, associado à palha de cana,para gerar bioeletricidade (JANK; RODRIGUES,2007). Segundo estimativas da Unica, o setor tempotencial para suprir 15 % das necessidadesbrasileiras até 2015, com a geração de mais de
Fig. 4. Preço internacional do açúcar bruto (NY 11).Valores corrigidos pelo IPC dos EUA.Fonte: Usda (2008).
Fig. 5. Relação entre estoque e consumo.Fonte: Usda (2008).
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200847
14.000 MWmédios a partir da utilização de75 % do bagaço e de 50 % da palha disponívelnas usinas. A Fig. 6 mostra o processo industrialda cana-de-açúcar e a tecnologia para aobtenção da bioletricidade.
Fig. 6. Fronteira tecnológica da cana-de-açúcar.Fonte: Unica (2007).
A vinhaça, oriunda do vinho fermentado nasdornas, é uma importante fonte de potássio parao plantio da cana-de-açúcar, como substitutocompleto ou parcial da adubação mineral.Comparada com o bagaço e a torta de filtro, avinhaça é o resíduo orgânico mais rico emnutrientes, principalmente em potássio,entrando, na sua composição, também cálcio,magnésio, fósforo, manganês e nitrogênioorgânico. A utilização da vinhaça no processode fertiirrigação, ou in natura, ou misturada comágua residual, ou até mesmo com água limpa,aplicada em conformidade com as normastécnicas estabelecidas – preservados os teoresmáximos de potássio permitidos no solo paraevitar a contaminação do lençol freático –, éuma prática cada vez mais utilizada, permitindoum aumento significativo nos níveis deprodutividade da cana-de-açúcar.
A torta de filtro, resíduo proveniente dotratamento do caldo pelo processo de filtragem,é rica em fósforo, possui elevada umidade econcentração de matéria orgânica da ordem de50 % a 60 %. Vem sendo utilizada no plantioda cana-de-açúcar em substituição completaou parcial da adubação mineral. A aplicaçãoda torta de filtro é feita em área total oudiretamente no sulco de plantio.
A palha atualmente é deixada no campo, comocobertura vegetal, para melhorar as condiçõesde produção, por reduzir as perdas de solo,mantendo a umidade e diminuindo a variaçãode temperatura.
Além da importância da utilização do bagaçona bioeletricidade, outro fator que vairevolucionar a indústria sucroalcooleira é autilização da palha, do bagaço e de restosculturais da cana-de-açúcar na obtenção deetanol. A utilização adequada dos resíduos,combinada à modernização dos processosindustriais, resultou em: produção de Singas –gás de síntese; hidrólises ácida e enzimática eou mista; produção de plástico à base de cana;produtos alimentícios, tanto animal quantovegetal; ração animal proveniente do bagaçohidrolisado, alcoolquímica e outros.
EtanolO Brasil é o segundo maior produtor de etanoldo mundo, com 18 bilhões de litros produzidosem 2006. Os Estados Unidos produziram20 bilhões de etanol, basicamente de milho.O custo do etanol produzido de cana no Brasilcorresponde à metade do custo do etanolproduzido de milho nos Estados Unidos e a umterço do produzido de beterraba na Europa(ANÁLISE EDITORIAL, 2008). Essa vantagem,associada à necessidade de substituição doscombustíveis fósseis por combustíveis limpos,conferiu uma posição de destaque ao etanolbrasileiro. Além do grande interesse manifestomundialmente por esse combustível, ademanda interna aumentou consideravelmente,em decorrência principalmente da procura peloautomóvel flex fuel, cujas vendas, em 2007,atingiram quase 90 % das vendas de carrosnovos, conforme se vê pela Fig. 7. Além disso,o etanol é fonte de energia renovável que tema vantagem de ser misturado à gasolina.
Mercado interno
A variação de preços do etanol depende devários fatores, mas está fortemente associada
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2008 48
Fig. 7. Percentual de vendas de autoveículos noatacado, no mercado interno, por tipo de combustível.Período: jan./2005 a dez./2007.Fonte: Anfavea (2007)5.
aos períodos de safra e entressafra. A produçãoexecutada entre os meses de abril/maio anovembro/dezembro é comercializada durante oano inteiro. A volatilidade dos preços do etanol é
5 ANFAVEA. Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Perspectivas quanto aos veículos flex fuel no Brasil. Brasília, DF, out. 2007. Palestrarealizada no Congresso Nacional.
influenciada por outros fatores (condiçõesclimáticas, etc.), mas depende fundamentalmenteda alternância ocorrida nos períodos de safra eentressafra. A Fig. 8 mostra os preços médiosmensais do álcool anidro e do álcool hidratadorecebidos pelos produtores no Estado de São Paulo,no período de janeiro de 1998 a setembro de 2007.
Mercado externo
O mercado externo depende da consolidaçãodo etanol como commodity energética mundial.Entre os fatores que determinarão o compor-tamento da exportação de etanol estão: o álcoolreconhecido como commodity – para que possahaver adequação da legislação nos paísesinteressados – e a construção de mecanismosde precificação e de hedge (contratos) (JANK;RODRIGUES, 2007). Para tanto, o mercadoficará condicionado ao atendimento das
Fig. 8. Preços por mês do álcool anidro e do álcool hidratado recebidos pelos produtores no Estado de SãoPaulo (R$/litros de janeiro de 2008). Preços deflacionados pelo IGP-DI/FGV (sem frete e sem impostos).Fonte: Cepea (2008).
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200849
seguintes condições: efetivação de contratos delongo prazo e de mecanismos de hedging;desenvolvimento e adequação da logística paraexportação; e eliminação de tarifas deimportação pelos Estados Unidos e pela UniãoEuropéia. Segundo dados da Unica, aexportação atual é de 3,7 bilhões de litros(carburante e outros usos), podendo o Brasilgerar um excedente de mais de 12 bilhões delitros em 2015.
Tendência
Nos Estados Unidos, a Energy Bill estabeleceu ouso de 50 bilhões de litros de etanol até 2012,podendo chegar a mais de 130 bilhões de litrosem 2022. O etanol de milho está limitado a 56 bi-lhões de galões. A União Européia propôs aparticipação da energia renovável em 20 % doconsumo até 2020, sendo que, no mínimo, 10 %deverão ser com o uso de biocombustíveis.A produção de etanol nos Estados Unidos estábaseada em milho, enquanto, na Europa, embeterraba e cereais – como trigo, cevada, milhoe centeio –, com custos muito maiores do que oetanol brasileiro, que é feito de cana-de-açúcar.A tendência, portanto, é de que as exportaçõesbrasileiras cresçam nos próximos anos,considerando a demanda de outros países.O Japão, por exemplo, tem um mercado potencialestimado em 10,6 bilhões de litros (JANK; RODRI-GUES, 2007). Com relação ao mercado interno,a previsão é de um crescimento substancial doconsumo e da produção, conforme se vê naFig. 9, a qual mostra a evolução da produção edo consumo de etanol a partir de 2006/2007, comestimativa até 2020/2021.
Cana-de-açúcar versusprodução de alimentosSegundo Moraes (2007), o território brasileiro tem851 milhões de hectares, dos quais 463 milhõessão áreas onde não se pode produzir – FlorestaAmazônica, Mata Atlântica, Pantanal Mato-Grossense, parques e reservas florestais, etc.Restam 388 milhões de hectares para a
Fig. 9. Biomassa da cana: projeção de produção econsumo de etanol (em bilhões de litros/ano).Fonte: Unica (2008).
agricultura. Desses, 282 milhões já estãoocupados com agricultura ou pecuária, restandoainda 106 milhões de hectares onde se podeproduzir. A área de cana-de-açúcar equivale a2,34 % da área com produção agrícola, a 1,70 %da área agricultável e a 0,78 % da área total doPaís. Se considerarmos a área total comagricultura no Brasil, dos 282 milhões dehectares, 220 milhões estão ocupados compastagens e 62 milhões com agricultura. A áreade 220 milhões de hectares de pastagem contacom 207 milhões de cabeças de gado e a taxade ocupação é de 1,0 QAn/ha (quantidade deanimais por hectare) e de menos de 0,5 UA/ha(unidade animal por hectare). Uma unidade porhectare (1 Ua/ha) corresponde a 450 kg de pesovivo por hectare. Segundo estimativa da Unica(2008) e Amaral et al. (2007), se a lotação médiano Brasil chegar a 1,4 cabeça/ha, 50 milhõesde hectares a 70 milhões de hectares poderãoser disponibilizados para a agricultura,conforme Fig. 10 e Fig. 11. A se confirmaremessas informações em face dos novos númerosindicados pelo Censo Agropecuário do IBGE,essa seria a real situação de disponibilidade deárea para expansão da cultura de cana-de-açúcar no Brasil.
A evidência é de que existe área disponível paraaumentar em 30 vezes a área atual plantadacom cana-de-açúcar, sem prejuízo das áreasde preservação ambiental, as de outras culturase as de produção de carne. Além disso, com oaperfeiçoamento da tecnologia de produção de
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2008 50
Fig. 10. Brasil: agricultura versus pastagens.Fonte: IBGE (2008).
Fig. 11. Área de pastagem e número total de bovinosno Estado de São Paulo.Fonte: Amaral (2007).
álcool com base em celulose, em níveis deutilização econômica, a necessidade de novasáreas para a expansão da cultura da cana-de-açúcar será muito menor. Já na análise Souzaet al. (2007), não foram encontradas evidênciasde que a área plantada com cana-de-açúcarestivesse substituindo a área ocupada pelapecuária ou pela soja. Somente a área de milhovem sendo substituída pelo cultivo de cana.O cultivo de soja, porém, está invadindo áreasde pastagem, de cana-de-açúcar e de milho,do que se pode concluir que, se os preçosrelativos favorecerem a soja, essa cultura seráde certa forma um empecilho à expansão dacultura de cana-de-açúcar.
Camargo (2008), no estudo Dinâmica e Tendênciada Expansão da Cana-de-Açúcar sobre as DemaisAtividades Agropecuárias no Estado de São Paulo,mostra que, no período de 2001 a 2006, de1,45 milhão de hectares cedidos, 69,79 % são
referentes a pastagens cultivadas, e 27,81 % estãodistribuídos entre pastagem natural e cultivo demilho, de feijão, de café, de arroz e de laranja.A cultura que mais incorporou área foi a de cana-de-açúcar (67,33 %), seguida da de soja (14,17 %),da de eucalipto (11,27 %) e da de pínus (3,36 %).No entanto, a região oeste do Estado, tradicionalem pecuária de corte, destaca-se no períodoanalisado pela retração da área plantada compastagem cultivada, sendo a cana-de-açúcar acultura que mais incorporou área. Nessa região,somente no período do estudo, a área cedida porpastagem cultivada correspondeu a 619.380 ha,significando que toda a área cedida por essaatividade no Estado de São Paulo, ou seja, 62 %,concentram-se nesse espaço.
ConclusãoConclui-se, por este estudo, que ocorrerá, nospróximos anos, uma forte expansão da indústriasucroalcooleira no Brasil, motivada pelocrescimento da produção e pelo consumo doetanol nos mercados interno e externo e pelamodernização da indústria canavieira. Essademanda manterá o País no ranking dos grandesprodutores de açúcar e etanol e contribuirádecisivamente para o desenvolvimento daagroenergia. Outro fato importante evidenciadoé de que a expansão da cultura de cana-de-açúcarnão oferecerá riscos à produção de alimentos,dada a grande disponibilidade de áreas agricul-táveis no Brasil. Enfatizam-se, ainda, boas perspec-tivas de aumento dos níveis de rendimento, osquais deverão ser alcançados com a geração denovas tecnologias e a modernização do setorsucroalcooleiro.
ReferênciasAMARAL, A. M. P.; SILVA, R. de O. P. e; GHOBRIL, C. N.;COELHO, P. J. Estimativa da produção animal no Estado deSão Paulo para 2006. Informações Econômicas, São Paulo,v. 37, n. 4, p. 91-104, abr. 2007.
ANÁLISE EDITORIAL. Análise energia. Disponível em: <http://www.analise.com/editora/analiseenergia_apresentacao.php?setEdit=true >. Acesso em: 15 jan. 2008.
Ano XVII – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200851
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e ComércioExterior. Alice web. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 14 mar. 2008.
CAMARGO, A. M. M. P. Dinâmica e tendência da expansãode cana-de-açúcar sobre demais atividades agropecuáriasdo Estado de São Paulo: 2001-2006. InformaçõesEconômicas, São Paulo, v. 38, p. 47-65, mar. 2008.
CEPEA. Centro de Estudos Avançados em EconomiaAplicada. Disponível em: < http://www.cepea.esalq.usp.br/>.Acesso em: 28 fev. 2008.
FNP. Agrianual 2007: anuário da agricultura brasileira. SãoPaulo: Instituto FNP, 2007. 520 p.
IBGE. Censo agropecuário 2006. Rio de Janeiro, 2006. 146 p.Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/agropecuario.pdf>.Acesso em: 14 mar. 2008.
IBGE. Produção agrícola municipal 2008. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 2 jun. 2008.
JANK, M. S.; RODRIGUES, L. Dinâmica do setorsucroalcooleiro na próxima década. São Paulo: Unica, 2007.13 p.
MORAES, C. Há área disponível para a cana-de-açúcar.Revista Canavieiros, Sertãozinho, SP, n. 15, set. 2007.
ROSSINI, C. 500 anos de cana-de-açúcar no Brasil. RevistaCanavieiros, Sertãozinho, SP, n. 15, p. 20-22, set. 2007.
SAMPAIO FILHO, J. de A. Não dá para o setor expandir semos pequenos e médios. Revista Canavieiros, Sertãozinho, SP,n. 15, p. 05-07, set. 2007. Entrevista.
SANTAELISA VALE. Relatório técnico. Sertãozinho, SP, 2008.13 p.
SOUZA, G. e S.; ALVES, E.; GOMES, E. G.; GAZZOLA, R.;MARRA, R. Substituição de culturas: uma abordagem empíricaenvolvendo cana-de-açúcar, soja, carne bovina e milho. Revistade Política Agrícola, Brasília, n. 2, p. 5-13, abr./maio/jun. 2007.
UNICA. União da Indústria de Cana-de-Açúcar. A energia dacana-de-açúcar: doze estudos sobre a agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil e a sua sustentabilidade. São Paulo:Berlendis & Vertecchia. 2005. 245 p.
UNICA. União da Indústria de Cana-de-Açúcar. Aspectosrelacionados com a velocidade do aumento da oferta e dosmercados de etanol. Brasília, DF, outubro, 2007. Palestraproferida no Congresso Nacional por Antônio de PaduaRodrigues.
UNICA. União da Indústria de Cana-de-Açúcar. Perspectivaspara o setor sucroalcooleiro no Brasil. Disponível em: < http:// w w w. p o r t a l u n i c a . c o m . b r / p o r t a l u n i c a / f i l e s /referencia_palestraseapresentacoes_apresentacoes-65-Arquivo.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2008. Palestra proferida porMarcos S. Jank em São Paulo.
USDA. United State Departament of Agriculture. Sugar andsweeteners: data tables. Disponível em: <http://www.ers.usda.gov/briefing/Sugar/data.htm>. Acesso em: 2 jun.2008.