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C2faup SISTEMAS E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS DEFEITOS RECORRENTES NAS FACHADAS DE ALVENARIA Mariana Silva | Nicole Zehnder | Paulo Ferreira | Pedro Barros FAUP 2012 | CONSTRUÇÃO II

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C2faup SISTEMAS E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS

DEFEITOS RECORRENTES NAS FACHADAS DE ALVENARIA

Mariana Silva | Nicole Zehnder | Paulo Ferreira | Pedro Barros

FAUP 2012 | CONSTRUÇÃO II

Índice

Capa

00 | Abstract

01 | Reabilitar porquê?

02 | O autor: Raimundo Mendes da Silva

03 | Defeitos (recorrentes) nas fachadas de alvenaria

03.1 | O que podemos esperar das fachadas de alvenaria?

03.2 | O que devemos fazer para que as fachadas de alvenaria

tenham melhor desempenho?

03.3 | O que não devemos fazer?

0..3.3.1 | 12 defeitos na construção de fachadas.

04 | A Rua do Campo Alegre: caso de estudo

05 | Anexos: outros defeitos/anomalias registados

06 | Alguns cortes e pormenores de construção em 3D

07 | Reabilitar porque

08 | Referências de catálogo e marcas

09 | Bibliografia e outras referências

00| abstract

Numa viagem pelos estudos do Professor Raimundo

Mendes da Silva, procuramos abordar um tema quase

sempre esquecido na reabilitação de edifícios – os defeitos

recorrentes nas fachadas de alvenaria. Aqui, vamos explorar

o edifício como peça na sua origem, em busca de pequenos

erros ou falhas construtivas, apresentando alguns exemplos

do caso em estudo: a rua. Na rua, encontramos estes defeitos

e procuramos uma solução simples que irá permitir, a longo

prazo, uma reconstrução equilibrada e coerente, em que os

materiais e técnicas novas se relacionam com as pré-

existências e contribuem para uma construção correcta e

sustentável.

01| reabilitar porquê?

O estudo de edifícios antigos apresenta um interesse

crescente, dada a evidente importância que tem vindo a ser

atribuída à conservação do património construído, entendido

agora de forma muito mais geral do que a simples visão

conservacionista de monumentos e edifícios públicos de

grande importância.

Aceita-se hoje, cada vez com mais clareza, que esse

património englobe, de forma marcante, não só os edifícios

monumentais, de carácter excepcional – palácios, igrejas,

castelos, conventos -, mas, sim, os edifícios habitacionais,

industriais e comerciais que, em conjunto, formam aquilo que

temos como noção de cidade.

São muitas as razões a favor da reabilitação dos

edifícios situados nos centros mais antigos das cidades. Com

raras excepções, o estado geral dos edifícios nestas zonas é

mau: degradação de fachadas e coberturas, inadequação de

infra-estruturas, deficientes condições de conforto e

salubridade. Em alguns centros urbanos antigos há

experiências bem sucedidas de reabilitação, embora

raramente atinjam todo o edificado ou estejam ancoradas em

projectos de sustentabilidade social e económica. Sendo

assim, e admitindo o interesse urbano da reabilitação, as

angústias e as hesitações são transportadas para o nível do

edifício.

02 | O autor Raimundo Mendes da Silva

• Licenciado em engenharia Civil | Universidade de Coimbra,

1983.

• Mestre especializado em “Construção de edifícios”

|Universidade do Porto.

• Doutoramento em Engenharia Civil | Universidade do

Porto, 1999.

• Docente nos domínios da Reabilitação não Estrutural e da

Tecnologia das Construções | DEFCTUC. • Membro da equipa de coordenação científica da Universidade de

Coimbra para o Plano de Reabilitação Social da Baixa de

Coimbra.

• Especializado no estudo e observação de patologias de diversos

materiais, nomeadamente as paredes de alvenaria não

estruturais, onde desenvolve uma série de propostas de

reabilitação para responder aos vários erros e defeitos, de

projecto e de execução, que se verificam com o passar dos anos.

• Autor de diversas publicações académicas, nomeadamente, os

Cadernos de Tecnologia e da Reabilitação.

03| Defeitos (recorrentes) na fachada de alvenaria

O percurso da reabilitação deve centrar-se numa

perspectiva de abordagem que procure uma solução final

responsável: a coerência, o equilíbrio e a compatibilidade dos

novos materiais e técnicas com o edifício pré-existente.

Assim, são fundamentais a exigência de qualidade, as

exigências funcionais construtivas, o reforço do componente

económico e da facilidade de manutenção, explorando o

contributo máximo que os materiais podem dar para uma

construção sustentável, evitando defeitos construtivos tão

recorrentes nos dias de hoje.

A envolvente física dos edifícios é a sua principal protecção

contra os agentes exteriores, nomeadamente contra os

agentes atmosféricos. Assim, as fachadas e as coberturas

são dois dos elementos mais fundamentais aquando a

(re)construção de um edifício. As fachadas, habitualmente

designadas como paredes exteriores, são provavelmente o

elemento mais esquecido no projecto; sendo tão esquecido, é

natural que, ao longo dos anos após a construção, se tenham

acumulado defeitos típicos da fachada.

O que é que podemos esperar das paredes de alvenaria? Como podemos obter o melhor desempenho dessas paredes?

O que é que não devemos fazer? Como podemos evitar estes erros recorrentes?

O que não devemos fazer?

A maior parte dos defeitos de construção são

motivados pela tentativa de fazer bem ou diferente. No

entanto, a tecnologia, os materiais e as ciências e

métodos de aplicação mudam diariamente, e, muitas

vezes, a experiência não é suficiente para conhecer

todos os fenómenos e interacções. Assim, é

necessário ter um quadro de referência mínimo para

perceber que tipo de erros, defeitos ou anomalias são

habituais na patologia das construções, e, em

particular, das paredes de fachadas de alvenaria.

Principais grupos de anomalias não estruturais:

• Fissuração;

• Humidade/comportamento face à acção da água;

• Envelhecimento/degradação dos materiais;

• Desajustamento face às exigências funcionais.

0.3.1 12 defeitos (recorrentes) na fachada

• Juntas de dilatação inadequadas.

• Apoio deficiente nas paredes para correcção de

pontes térmicas;

• Ausência de grampeamento e paredes duplas;

• Deficiente execução da caixa-de-ar de paredes

duplas;

• Erro de escolha ou colocação de isolamento térmico

nas caixas-de-ar;

• Erros na utilização de barreiras pára-vapor e

pinturas impermeáveis;

• Protecção inadequada contra a humidade

ascensional;

• Preparação e aplicação inadequadas de rebocos

hidráulicos tradicionais;

• Aplicação inadequada de revestimentos cerâmicos;

• Execução de peitoris com geometria e materiais

inadequados;

• Fissuração de alvenarias sobre suportes muitos

deformáveis;

• Erros frequentes em paredes de tijolo face-à-vista.

Juntas de dilatação inadequadas

Em qualquer elemento construtivo de dimensão considerável, é imprescindível a criação de juntas de

dilatação e contracção que permitam acomodar os movimentos cíclicos; os materiais contraem ou

dilatam consoante a variação da temperatura e da humidade.

A inexistência de juntas de dilatação nas paredes de alvenaria de grande extensão conduz,

frequentemente, a fenómenos de fissuração, esmagamento localizado e destacamento de

revestimentos. Este fenómeno vai provocar concentração de tensões em vários pontos e tensões de

corte elevadas na interface entre o tijolo e as juntas horizontais de argamassa -> esmagamento e

destacamento lateral ou na fissuração horizontal.

Apoio deficiente nas paredes para correcção de pontes térmicas

As assimetrias de resistência térmica conduzem ao fenómeno conhecido por “pontes térmicas”, cujo

efeito se deve evitar ou, pelo menos, minimizar, traduzindo-se numa perda significativa de energia e na

formação de condensações superficiais internas, com consequente formação de fungos e bolores.

Além das consequências ao nível do conforto estético e da durabilidade dos materiais afecta, ainda, a

salubridade dos locais, sendo frequentemente responsável por alergias e afecções respiratórias.

Ausência de grampeamento e paredes duplas

As paredes duplas são concebidas, em geral, para funcionar em conjunto, numa tentativa de melhorar

os seus desempenhos individuais em aspectos relativos à estabilidade, ao comportamento térmico, à

protecção contra a humidade, etc. Para que isto seja possível em termos mecânicos, exige-se um

grampeamento entre os 2 panos, com uma densidade e 2 a 3 grampos/m2.

A ausência de grampeamento é mais grave em paredes exteriores, afectando a sua resistência às

acções mecânicas verticais ou horizontais.

Deficiente execução da caixa-de-ar de paredes duplas

A caixa-de-ar das paredes duplas tem com principal função proteger o interior da habitação contra a

acção da água da chuva, contribuindo também para a resistência térmica da parede. Para cumprir a

sua acção contra a humidade, deve ter capacidade de drenagem das águas infiltradas e da

condensação resultante da migração do vapor de água do interior para o exterior, através da parede.

A caixa-de-ar de paredes duplas apresenta frequentemente diversas anomalias: a irregularidade das

superfícies, a inexistência de caleiras ou deficiente execução da mesma, a obstrução da caleira

resultante da acumulação de detritos durante a construção, a largura insuficiente ou excessiva, ou a

inexistência inadequação ou colocação deficiente de tubos de drenagem.

Erro de escolha ou colocação de isolamento térmico nas caixas-de-ar.

A utilização das paredes duplas de alvenaria de tijolo em fachadas pressupõe, para os tipos de tijolo

usados em Portugal, a utilização de um isolamento térmico complementar. A solução mais utilizada é a

que recorre a placas rígidas de isolamento térmico sintético. Devem ser aplicadas junto à face exterior

do pano interior, deixando livre uma caixa-de-ar junto à face interior do pano exterior, com largura não

inferior a 20mm.

Além do humedecimento e deterioração dos materiais, o desrespeito pelas regras enunciadas conduz

a pontes térmicas localizadas, com a criação de fungos e bolores, normalmente devidos a infiltrações

pelo pano exterior.

Erros na utilização de barreiras pára-vapor e pinturas impermeáveis

As fachadas de alvenaria devem responder a diferentes exigências consoante o ambiente exterior e

interior que separam. Com alguns ambientes interiores, pode ser recomendável a utilização de uma

barreira pára-vapor que impeça o atravessamento da parede e previna eventuais condensações no

seio da parede, em particular na zona de arrefecimento.

Caso não se garantir a permeabilidade ao vapor de água, é provável a condensação na face fria do

isolante na caixa-de-ar, com a sua eventual deterioração e redução de resistência térmica, ou na face

exterior da parede, sob a tinta, formando bolsas de água de alguma dimensão.

Protecção inadequada contra a humidade ascensional

Quando as paredes de alvenaria ou betão contactam com solos húmidos, de forma directa ou através

de elementos construtivos porosos, ocorre um fenómeno de ascensão capilar da água – a humidade

ascensional. Este fenómeno tem consequências de difícil solução: a acumulação de sais visíveis na

superfície da parede; a degradação da tinta e dos revestimentos (rebocos ou estuques); as manchas

nos revestimentos interiores na faixa referida; o descolamento de revestimentos cerâmicos ou

equivalentes. Para que tal fenómeno aconteça, é necessário que se verifiquem, em simultâneo, três

condições: a presença de água, a existência de materiais com porosidade capilar e a possibilidade de

comunicação entre a primeira e os segundos.

Preparação e aplicação inadequadas de rebocos hidráulicos tradicionais

A protecção contra o calor, o vento, a chuva e a preparação do suporte são condições essenciais para

o sucesso do reboco. No entanto, continua a verificar-se um elevado número de anomalias, resultantes

da sua incorrecta aplicação, e, com frequência, injustamente atribuídas à própria alvenaria.

O reboco hidráulico em fachadas constitui um revestimento de impermeabilização e não de

estanquidade. Espera-se, assim, não que impeça totalmente o acesso da água à parede mas sim que,

em conjunto com o suporte, impeça infiltrações para o interior do edifício e permita um equilíbrio

dinâmico do teor da humidade da parede ao longo do ano, sem deterioração precoce dos materiais,

nem redução significativa do seu desempenho.

Aplicação inadequada de revestimentos cerâmicos

A utilização de revestimentos cerâmicos como material de acabamento de paredes de fachada em

alvenaria de tijolo vem da linha da nossa tradição construtiva. No entanto, os problemas desenvolvem-

se, com grandes consequências funcionais, estéticas e de segurança. Os sistemas de revestimento

cerâmico de fachadas são muito diversos, quer nas características dos materiais, quer no modo de

aplicação e de funcionamento. No entanto, as infiltrações aparecem frequentemente devido à deficiente

pormenorização e execução de remates e capeamentos, e à fissuração das paredes de suporte. O

revestimento cerâmico de fachadas não deve ser considerado um revestimento de estanquidade,

sendo a sua interacção com o suporte fundamental para um equilíbrio dinâmico.

Execução de peitoris com geometria e materiais inadequados

As paredes têm de responder constantemente a um problema: a existência de superfícies horizontais

expostas: os peitoris. Em todos os casos, a parede apresenta uma superfície horizontal particularmente

exposta e vulnerável à acção da água. Os peitoris devem, ao ser introduzidos, corresponder a exigências de

estanquidade, conforto visual, higiene e durabilidade. Para garantir a estanquidade, é preciso quebrar pelo

menos um dos seguintes: a existência de água na superfície, caminhos de penetração e forças de

encaminhamento.

Fissuração de alvenarias sobre suportes muitos deformáveis

A fissuração horizontal de paredes interiores de alvenaria, normalmente de espessura reduzida sem

qualquer função estrutural, continua a ser um fenómeno recorrente, sobretudo em habitação. As fissuras

desenvolvem-se numa tensão marcadamente horizontal, junto ao pavimento ou a meia altura da parede,

sobretudo quando esta tem vãos ou elementos de maior rigidez (ângulos, cunhais, etc.). Esta fissuração é,

em geral, de abertura reduzida mas apresenta actividade continuada e persistente, com frequente

reabertura das fissuras após reparação.

A enorme diversidade de configurações geométricas das lajes e dos seus apoios, bem como da disposição

das paredes interiores conduz a um número extenso de combinações de deformação, o que torna

praticamente impossível a previsão do modelo de fissuração para cada um dos casos.

Erros frequentes em paredes de tijolo face-à-vista.

As paredes em alvenaria de tijolo face-à-vista estão, em geral, associadas a construções de qualidade

superior, onde se pretende uma linguagem estética particular e em que se esperam uma durabilidade

elevada e reduzidas exigências de manutenção ao longo da vida do edifício. No entanto, em Portugal, é

ainda significativo o número de acidentes e anomalias em tijolo face-à-vista: fissuração (inclinada ou

horizontal), esmagamento das juntas de dilatação, fissuração vertical de cunhais com deslocamento

transversal, fenómenos de instabilidade, infiltrações, eflorescências, degradação por acção do gelo, etc.

04 | A Rua do Campo Alegre: caso de estudo

Domínio do defeito: pintura de fachada.

Descrição breve do defeito ou anomalia: degradação acelerada da pintura.

Observações: a pintura apresenta vários sintomas de degradação: escorrências, pelagem,

arrancamento e formação de bolsas de água sob a pintura.

Causas prováveis

Má qualidade da tinta aplicada

Acção da água sobre a fachada com infiltrações graves ao nível dos peitoris e da platibanda, devido

à aparente má colocação do capeamento, e, ainda, a formação de pequenas bolsas de água na

pintura, que sugere um erro na colocação da barreira pára-vapor ou mesmo do uso indevido de uma

tinta impermeável.

Provável entrada de água adicional e progressiva pelas zonas de pintura mais degradada, como, por

exemplo, na pala da janela. Constata-se, ainda, a constante degradação, observada nas várias

camadas de tinta que estão descoladas, isto é, é um fenómeno recorrente nesta fachada.

Proposta de reabilitação/acção preventiva

A reabilitação da pintura deve integrar-se num plano geral de reabilitação da fachada. Assim, e face

ao estado actual do suporte, não é suficiente uma simples repintura, até porque o problema tem sido

recorrente, como podemos observar na degradação duas camadas de tinta.

Domínio do defeito: revestimento da fachada.

Descrição breve do defeito ou anomalia: aplicação inadequada de revestimentos cerâmicos

na fachada.

Observações: descolamento generalizado do material cerâmico

Causas prováveis

Tendo em conta a interacção do revestimento cerâmico de fachadas com o suporte, é

fundamental o equilíbrio dinâmico do teor de humidade da parede.

No entanto, a causa mais provável é a má selecção do cimento-cola onde vai assentar o

revestimento cerâmico, uma vez que as juntas de assentamento aparentam estar bem

colocadas. A argamassa utilizada como ligante é pobre, o que provoca, assim, o

descolamento.

Proposta de reabilitação/acção preventiva

É fundamental respeitar as condições de amassadura e aplicação dos cimentos-cola,

nomeadamente através de um rigoroso controlo do seu tempo de abertura. Assim, a solução

para esta anomalia, quando não é provocada pela fissuração, passa pela atenção e cuidado

especial na preparação do suporte, na selecção do cimento-cola e no correcto planeamento

das juntas de assentamento, esquartelamento e dilatação, em particular em panos extensos e

com materiais cerâmicos de elevada porosidade ou expansão irreversível.

Domínio do defeito: parede exterior.

Descrição breve do defeito ou anomalia: Empolamento da tinta usada na pintura da

fachada.

Observações: empolamento da tinta plástica da fachada e alguns fenómenos de fissuração e

retracção hidráulica.

Causas prováveis

Penetração da água da chuva pelas fissuras pequenas existentes, o que levou à formação de

bolhas de água na fachada e, consequentemente, à sua ruptura. Notam-se destaques,

empolamentos e ruptura da membrana da tinta.

Proposta de reabilitação/acção preventiva

A reabilitação depende do grau de estabilização das fissuras. Assumindo que as fissuras são

de pequena dimensão e se encontram estabilizadas, o indicado é remover a membrana de

tinta nas zonas afectadas através da extracção mecânica, e escovar o plano do paramento

para eliminar poeiras e material friável. Após a limpeza das superfícies, aplica-se o primário de

ligantes sintéticos, aplicando, depois, uma nova tinta, um revestimento curativo com base em

ligantes sintéticos (produto de elevada elasticidade)

Caso as fissuras não estivessem estabilizadas, poder-se-ia optar pela prévia colocação de um

reboco armado nas zonas de concentração de tensões (zonas onde se manifestam as

referidas fissuras) seguida do mesmo processo descrito anteriormente.

Domínio do defeito: construção da fachada.

Descrição breve dos defeito ou anomalias: Aplicação inadequada de revestimentos

cerâmicos

Observações: fissuração do suporte, deformação da fachada (formação e ruptura de bolhas

de grande dimensão), descolamento generalizado do revestimento cerâmico (pastilha).

Causas prováveis

Os problemas da aplicação de revestimento cerâmico são frequentes, tendo particular relevo

o descolamento e queda dos ladrilhos, com graves consequências funcionais, estéticas e de

segurança. Também se observam queixas frequentes de fissuração, de infiltração e de

alteração do aspecto.

As infiltrações devem-se, normalmente, à deficiente pormenorização e execução de remates e

capeamentos, mas também à fissuração das paredes de suporte. Essa fissuração, associada

a outros fenómenos, provoca o descolamento e a queda dos ladrilhos, o que acontece também

frequentemente junto à zona em contacto com o solo, provocado pela acção da humidade

ascensional.

Proposta de reabilitação/acção preventiva

A prevenção da fissuração está sobretudo ligada à prevenção da fissuração da parede de

alvenaria. Paredes demasiado esbeltas, sujeitas a variações significativas de temperatura, mal

apoiadas na laje e não grampeadas ao pano interior, são as mais propícias para a fissuração

dos revestimentos cerâmicos.

Como proposta de reabilitação, sugere-se a limpeza e a preparação do suporte, selecção e

colocação do cimento-cola e no correcto planeamento das juntas de assentamento e dilatação.

É fundamental respeitar as condições de amassadura e aplicação dos cimentos-cola,

nomeadamente através de um rigoroso controlo do seu tempo de abertura.

Domínio do defeito: paredes exteriores.

Descrição breve do defeito ou anomalia: fissuração na camada de reboco hidráulico

tradicional.

Observações: desagregação do reboco hidráulico. Perda de aderência e descolamento da

tinta. Degradação do aspecto da fachada.

Causas prováveis

A retracção excessiva do reboco deve-se a uma das seguintes causas: a aplicação sobre

superfícies muito secas; a excessiva dosagem de ligante; oexcesso de calor de hidratação.

Pode dever-se, também, à deficiente cura ou ao excesso de água de amassadura.

Proposta de reabilitação/acção preventiva

Como são fissuras de pequena dimensão, e uma vez que o fenómeno de retracção da

argamassa se encontra estabilizado, deverá optar-se unicamente pela repintura das zonas

afectadas com recurso a uma tinta com boa durabilidade e elasticidade. Este tipo de

intervenção, por ser localizada, apresenta inconvenientes estéticos que deveram ser

devidamente ponderados. Aconselha-se, assim, a repintura da totalidade das fachadas

afectadas.

A cura das argamassas – mediante protecção contra secagem precoce por acção do vento ou

do sol e eventual humedecimento – constitui uma peça essencial para a prevenção da

fissuração por retracção hidráulica.

Domínio do defeito: suporte.

Descrição breve do defeito ou anomalia:

Instabilidade do suporte (parede exterior de alvenaria) e degradação extrema do revestimento

(chapa metálica).

Observações: degradação da chapa metálica que serve de revestimento do suporte e

instabilidade clara da parede. Inexistência quase por completo de juntas de dilatação e

assentamento do tijolo.

Causas prováveis

A inexistência de juntas de expansão/contracção nas paredes de alvenaria de extensão

considerável conduz, frequentemente, a fenómenos de fissuração, esmagamento localizado e

destacamento de revestimentos. Estas anomalias resultam da existência de movimentos

naturais de expansão ou contracção - resultantes de variações de teor de humidade ou

temperatura - que estão total ou parcialmente impedidos, por ausência ou inadequação das

referidas juntas.

Proposta de reabilitação/acção preventiva

As juntas de expansão/contracção devem ser dimensionadas para acomodar, pelo menos, o

movimento que resulta da multiplicação do comprimento da parede pelo coeficiente de

dilatação térmica linear da alvenaria, isto é, tomando em consideração, não só a

variação da temperatura do ar, mas também a variação de temperatura da superfície,

resultante da radiação solar e da cor do revestimento. As juntas devem ser adequadamente

vedadas com produtos elastómeros e eventuais protecções metálicas, para prevenir a entrada

de água e a sua degradação.

05 | Anexos: outros defeitos registados

Fissuração extrema no suporte e revestimento cerâmico da fachada.

Fissuração do suporte. Parede exterior com deslocamento grave.

Falta de capeamento no peitoril das janelas. Concentração de humidade no peitoril.

Concentração de humidade no cunhal devido ao mau capeamento da platibanda.

Destacamento quase total da tinta usada na fachada.

05 | Alguns pormenores construtivos 2D e 3D

Esquema de apoio da parede.

Recuperação de uma parede exterior com fissuras em “ponte”.

Pormenor de apoio de uma parede de fachada e fissuração resultante.

Esquema de recuperação de fissuras em “ponte”:

1.Remoção do reboco numa faixa de 20-25cm de largura;

2. Fissura reaberta em “V”;

3.Vedação da fissura com mastique sintético;

4. Aplicação da fita de dessolidarização (papel “kraft”) sobre a fissura;

5. Reparação do reboco com argamassa curativa armada (não retráctil).

Diferentes abordagens na recuperação de fissuras.

Representação 3D que ilustra a colocação correcta do isolamento térmico nas caixas-de-ar

(isolamento encostado ao lado exterior do pano interior da parede dupla).

Representação 3D que ilustra a colocação incorrecta do isolamento térmico nas caixas-de-ar

(isolamento encostado ao lado interior do pano exterior da parede dupla).

07| reabilitar porque:

A evolução da sociedade exige uma abordagem dinâmica da

construção. O que dantes seria a urgência de novas infra-estruturas

e novos equipamentos, hoje foi substituído por uma nova

abordagem: a reabilitação. Admitindo, então, o interesse urbano da

reabilitação, é necessário estudar o objecto: o edifício construído.

Aqui, e após a análise cuidada dos materiais e técnicas usadas, é

indispensável procurar compreender as suas patologias, não

deixando para trás uma das partes mais importantes de uma obra: a

fachada.

As patologias que se observam, em particular as das paredes de

fachada, só podem ser ultrapassadas com um investimento

significativo na fase de projecto, onde se procura a compatibilização

dos materiais e sistemas de construção. A mão-de-obra, por si só,

tem também de acompanhar a evolução do projecto e dos materiais,

num esforço permanente de formação e actualização, permitindo a

qualidade máxima da execução.

Assim, e em conjunto com as técnicas de reabilitação tão diversas,

deve ser introduzida uma estratégia global de reabilitação, adequada

aos objectivos e condicionantes de cada problema, evitando

soluções inapropriadas que conduzam ao reaparecimento precoce

dos defeitos e anomalias de cada edifício.

É, então, urgente a necessidade de reabilitar. Reabilitar para parar a

degradação do património edificado; reabilitar para criar novas

soluções; reabilitar para transformar. Transformar aquilo que era

para o continuar a ser.

08| Referências e catálogo de marcas

09| Bibliografia e outras referências

Referências bibliográficas 1.MENDES DA SILVA, José Raimundo. Reabilitação=rehabilitación. In Arquitectura Ibérica: 30 (AI#30). Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. 2. APPLETON, João. Reabilitação=rehabilitación. In Arquitectura

Ibérica: 19(AI#19). Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2007. 3. DAVID, Ana. PIMENTEL, Joana. Reabilitação=rehabilitación. In Arquitectura Ibérica: 36 (AI#36). Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. 4.DOMENIG, Gunther. Arquitectura actual: rehabilitación. Monsa, 2007. 5. Tratado de rehabilitación. Ed. Departamento de Construccion y Tecnologia Arquitectonicas. Madrid. 3º vol: Patología y técnicas de intervención: elementos estruturales. Referências-base (formato digital destinado ao uso académico) 1. MENDES DA SILVA, Raimundo. Cadernos de apoio ao ensino da

tecnologia da construção e da reabilitação de anomalias não

estruturais em edifícios. Coordenação do Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Ciências e Tecnologia. 2008. 2. MENDES DA SILVA, Raimundo. Cadernos de apoio ao ensino da

tecnologia da construção e da reabilitação de anomalias não

estruturais em edifícios. 2008/2009

Referências iconográficas 1. Figuras 1-12/26-27, pp. 10-21, pp. 46-47: autoria de MENDES DA SILVA, Raimundo. In Cadernos de apoio ao ensino da tecnologia da

construção e da reabilitação de anomalias não estruturais em

edifícios. 2008. 2. Figura 13 p.22 vista aérea, Bing Maps. [in http://www.bing.com/maps/]. 3. Figuras 14-22. Pp. 24-41: imagens recolhidas ao longo do processo. Referências videográficas MENDES DA SILVA, Raimundo. Colecção: defeitos (mais que)

frequentes de construção. Direcção do Departamento de Ciências e Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. 2010.

Edições 2012/2013

FAUP