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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
SKATE STREET E DEVIRES MINORITÁRIOS: (DES)TERRITÓRIOS DO SUJEITO
SKATISTA
Juliana Cotting Teixeira1
Resumo: Esse resumo é parte de um estudo de mestrado que visou mapear processos de ocupação das ruas pelos
skatistas street de Rio Grande/RS, tendo em vista a produção de subjetividades nas suas relações com verdades morais e
normas sociais vigentes. A cartografia social foi usada como referencial teórico-metodológico e o material empírico
tratou-se de registros inscritos num Diário de rua. Aqui apresento conexões entre uma subjetividade masculina e
héteronormativa historicamente individualizada nos skatistas e devires mulher e trans nos espaços ocupados. Os relatos
intitulados “Corpos femininos na àrea” e “Skatista cor-de-rosa”, demonstram performances distintas de estar mulher nos
espaços de prática, visibilizando relações de poder e de normalização entre as feminilidades em jogo. No “As mulheres,
o skate e o hip-hop”, são destacadas relações de aproximação do sujeito skatista com as mulheres praticantes de modo a
produzirem sentidos estratégicos de legitimidade a si mesmos em tempos de empoderamento feminino. E, por fim, em
“Um minuto de silêncio”, apresento esboços de um desconforto heteronormativo nos skatistas ao articular-se com
pessoas trans, mesmo num momento de uma ascenção de políticas e discursos de combate a homo e transfobia. Assim,
contata-se que as subjetividades skatísticas ainda apresentam traços de misoginia e hetenormatividade em curso,
inclusive, em práticas de caráter inclusivo de tais minorias e, paradoxalmente, sob o slogan de revolucionárias.
Palavras-chave: Skate; Subjetividade; Devir minoritário; Mulheres; Trans.
Introdução
São ínúmeras as possibilidades de experimentar os territórios existenciais sobre rodinhas do
skateboard na atualidade. Segundo pesquisa do Instituto DataFolha (2015), os skatistas já são mais
de 8 (oito) milhões espalhados em todo território nacional, 5% de aumento com relação ao último
levantamento, de 2006. Aqui, destaco alguns olhares e análises sobre a prática do skate street2 em
Rio Grande/RS, especialmente, no que se refere aos processos de ocupação das ruas, tendo em vista
a produção de subjetividades3 nas suas relações com verdades morais e normas sociais vigentes. A
verdade é aqui entendida como contigente e fabricada nas relações sociais, e insere-se como
critério indispensável ao exercício do poder, uma vez que “não se pode dirigir os homens sem fazer
operações na ordem do verdadeiro” (FOUCAULT, 2014, p.300). A norma é concebida não apenas
1 Doutoranda em Educação em Ciências: química da vida e saúde (PPGEC/FURG), Universidade Federal do Rio
Grande (FURG), Rio Grande/RS, Brasil. 2 Segundo a Confederação Brasileira de Skate (CBSK), fundada em 1999, o skate street é uma das onze modalidades
institucionalizadas do skate, as quais são (Banks, Bowl, Downhill speed, Downhill slide, Freestyle, Megarampa, Mini
ramp, Push Race, Slalow, Vertical). Ele consiste em praticar o Skate em obstáculos que são encontrados nas ruas das
cidades como: monumentos, praças, bancos, corrimãos, muretas, escadas, rampas de entrada de garagens, palcos,
buracos, barrancos, guard-rails, paredes com inclinação entre 30º e 80º, entre outros. Também é praticado em
Skateparks (pistas de Skate) onde existem rampas que simulam a arquitetura urbana de um modo adaptado ao Skate.
Existem no nosso país mais de 300 competidores profissionais e mais de 10 mil competidores amadores, bem como é a
modalidade com o maior número de adeptos, cerca de 95% dos praticantes. Disponível em:
http://umti.dyndns.info:8040/paginas/categorias. Acessado em: 03 julh. 2017. 3 “A subjetividade é a maneira pela qual o sujeito faz a experiência de si mesmo num jogo de verdade, no qual ele se
relaciona consigo mesmo. Se o sujeito se constitui, não é sobre o fundo de uma identidade psicológica, mas por meio de
práticas que podem ser de poder ou de conhecimento, ou ainda por técnicas de si” (REVEL, 2005, p. 85)
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como código jurídico, mas sim, como norma social, como arte de julgar. Para Fonseca (2010),
“cabem, na abrangência de seu significado, as normas de comportamento, as normas sociais, as
normas de conduta, as normas que regulam os saberes, as normas que prescrevem ações”. Assim, é
a experiência do sujeito com determinadas normas sociais vigentes que vai possibilitar a
constituição moral da subjetividade skatista, na relação com um “conjunto de valores e regras de
ação propostas aos indivíduos e aos grupos por intermédio de aparelhos prescritivos diversos”
(FOUCAULT, 2014, p. 26).
Segundo estudos históricos, o skateboarding é migrado ao Brasil à moda californiana
nos anos 60, ainda muito vinculado à cultura surfista, através dos trajes coloridos e manobras
deslizantes, o que o tornou conhecido como “surfe de asfalto ou surfinho” (BRANDÃO, 2014, p.
294). Foi somente no final da década de 70 que o skate apresentou seus primeiros traços de
esportivização e especificidade, a partir de um movimento midiático e cultural que passou a
desarticular o skate do surfe e vinculá-lo ao imaginário punk e de radicalidade (BRANDÃO, 2008).
As skateparks e os campeonatos amadores e profissionais vão ganhar força na metade dos anos 80,
já configurando uma modalidade esportiva intitulada street, posteriormente institucionalizada junto
a outras modalidades com a criação da Confederação Brasileira de Skate (CBSK), em 1999.
Além da associação do skate street às características rebeldes da cultura punk, nos anos 80,
era possível notar em revistas especializadas, como a Yeah!, Esqueite, Overall, entre outras, uma
forte tendência e apologia ao desbravamento das ruas, através de enunciações como “ousadia de
encarar ruas desconhecidas e terrenos inexplorados; não acorde a cidade; vamos horrorizar o
trânsito” (BRANDÃO, 2008, p. 18). Assim intensificavam-se nessas mídias uma supervalorização
da ocupação das ruas e da transgressão da ordem como práticas legítimas a subjetividade do skatista
street que se constituía, que já nasce comprometido com o ideal anárquico herdado do punk.
Sobre as relações entre mulheres e skate no Brasil, o trabalho de Figueira e Goellner (2009),
identifica uma tendência masculina e masculinizante entre os skatistas e nas suas práticas
historiográficas, tornando as presenças das mulheres invisibilizadas e ofuscadas por um território
existencial predominantemente situado no homem heterossexual. Mais contemporaneamente,
assitimos a emergência de um processo de normalização das subjetividades skatistas visando
desconectarem-se de seus territórios existenciais instituídos historicamente sobre a figura do sujeito
anárquico, punk, contestador e predominantemente masculinizante, à uma subjetividade mais
flexível, que se ajusta às modificações dos valores morais do presente de forma a conduzir a sua
própria subjetivação.
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Assim, o estudo de onde parte esse trabalho4 obteve, entre outros resultados, indícios de
relações estratégicas de aproximação entre os skatistas street de Rio Grande e uma série de práticas
de caráter inclusivo de indivíduos e grupos, sendo uma delas, a relação com as mulheres e com os
sujeitos trans, produzindo mutações nos territórios skatistas heteronormativos. Exponho aqui partir
quatro cenas urbanas. São elas: “Corpos femininos na àrea” e “Skatista cor-de-rosa”, que
demonstram performances distintas de estar mulher nos espaços de prática, visibilizando relações
de poder5 e de normalização entre as feminilidades em jogo. “As mulheres, o skate e o hip-hop”, em
que são destacadas relações de aproximação do sujeito skatista com as mulheres praticantes de
modo a produzirem sentidos estratégicos de legitimidade a si mesmos em tempos de
empoderamento feminino. E, por fim, em “Um minuto de silêncio”, apresento esboços de um
desconforto heteronormativo nos skatistas ao articular-se com pessoas trans, mesmo num momento
de uma ascenção de práticas de combate a homo e transfobia.
SOBRE UM MODO CARTOGRÁFICO DE PESQUISAR
Deleuze e Guattari (1995) apresentam uma série de características para pensarmos numa
composição cartográfica da realidade, a partir da noção de rizoma, traçado como forma de
afastamento a uma tendência arborescente do pensar. O rizoma, com suas seis características
aproximativas na composição de outro pensamento sobre a realidade6, tem, na cartografia, o seu
método de criação, ancorado na produção de territórios existenciais e de linhas de produção de
subjetividades, sempre dinâmicos e processuais. A cartografia, assim, consiste numa
experimentação ancorada no real (PASSOS, KASTRUP, ESCÓCIA, 2012)
O território existencial é o espaço ocupado por modos de viver. Diferentemente de território
geográfico, fixo, bem delimitado, o território existencial apresenta uma expressividade. “As
paisagens vão sendo povoadas por personagens e estes vão pertencendo a paisagem. Assim, se está
em constante processo de produção. O território é antes de tudo um lugar de passagem”
(ALVAREZ, PASSOS, 2010, p. 134). Ao mesmo tempo em que as linhas de força que atravessam o
4 Ver TEIXEIRA (2016). 5 O poder é aqui entendido na perspectiva foucaultiana. Assim, o poder não está, ele se exerce, manifestando-se através
de relações dinâmicas e provisórias e assimétricas de forças. O poder não é algo que se possui, mas que se utiliza, na
condução dos outros e de si mesmos. “O poder só se exerce sobre sujeitos livres, enquanto livres – entendendo-se por
isso sujeitos individuais ou coletivos que têm diante de si um campo de possibilidade onde diversas condutas, diversas
reações e diversos modos de comportamento podem acontecer” (FOUCAULT, 1995, p. 244) 6 São as seis características aproximativas do rizoma: princípio de conexão e de heterogeneidade; da multiplicidade; da
ruptura assignificante; e da decalcomania. Para mais, consultar Deleuze e Guattari (1995).
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território se imbricam na produção de certos tipos de subjetividades, há sempre um esforço para a
saída do território, um primado das linhas de fuga. Logo, “não há território sem um vetor de saída
do território e não há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem, ao mesmo tempo, um
esforço para se reterritorializar em outra parte” (DELEUZE, 1996, s/p).
Assentada na composição de mapas existenciais, a cartografia se faz pelo desenho de suas
linhas de constituição, que podem ser de territorialização ou normalização - que tentam definir e dar
uma rota segura ao território, bem como de desterritorialização ou de fuga - pelas quais um
pensamento foge sem parar, um vazamento numa tubulação, uma rachadura numa estrutura
(OLIVEIRA, PARAISO, 2012). O corpus de análise dessa pesquisa consiste num portólio de
registros diversos sobre as práticas dos skatistas de Rio Grande/RS. O material empírico utilizado
trata-se de falas de entrevistas gravadas ao rádio e à TV, escutas e conversas informais com
skatistas, cartazes de eventos, montagens de fotos e prints retiradas de redes sociais no modo
público, concentradas, especialmente, no período de janeiro a dezembro de 2015, todas registradas
no que chamei de “Diário de Rua”.
CENAS URBANAS: DEVIRES E (DES)TERRITÓRIOS DO SUJEITO SKATISTA
Em meio as andanças junto as práticas do skate street em Rio Grande, pude perceber a
atualidade do caráter masculino e masculinizante presente nesse território e o esforço de
determinadas (e poucas) mulheres skatistas em produzir modos específicos de vivenciá-lo, seja
como praticante ou não, junto a cenários tomados por uma grande maioria de homens. Na tentativa
de destacar-se, puderam forjar modos específicos de estar mulher nos espaços do skate, criando, de
um lado, estratégias de visibilidade de suas feminilidades sintonizadas com um padrão
hetenormativo ali presente, instituindo a figura da “mina do skatista, ou daquela que o skatista
almeja se relacionar”, e, de outro, como skatista, demarcando uma visibilidade Cor-de-rosa, em que
o marcador de gênero funciona como destaque primeiro da presença da mulher no skate, em
detrimento de sua performance técnica e habilidade com as manobras. Aqui, a figura “da skatista
mulher, mas que não perde a feminilidade” ganha destaque.
CENA 1: Corpos femininos na área
Enquanto observava um evento de skate (1º Skate Summer no balneário Cassino), me deparo com
algo que despertou curiosidade. Me refiro à disposição das mulheres no espaço, a ocupação
diferenciada dessas quando andando de skate, acompanhando as práticas dos skatistas ou, até
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mesmo, como acompanhantes de skatistas. Percebo que a área da tenda abrigava algumas meninas
bonitas, de óculos de sol espelhados, bombetas, loiras e morenas de cabelos lisos, bronzeadas,
coxas torneadas a mostra, marquinhas de biquini, roupas de marca, todas acompanhadas de algum
skatista das equipes envolvidas, sejam eles juízes, locutores, DJs, MCS e patrocinadores. Havia
também algumas presenças passageiras de meninas ao redor do evento, observando, alguns casais
e poucas mulheres mais velhas. Me deslocando até as extremidades da área de competição, no que
sobrou de rua, percebo duas meninas andando de skate e mandando algumas manobras e rasgadas
no asfalto. Aproximo-me e noto bochechas vermelhas, cabelos presos, pele oleosa e suada,
respiração ofegante. Suas roupas já tinham alguns rasgões e sujeiras provocadas pelas quedas.
Pergunto às meninas skatistas, notadamente habilidosas, porque não quiseram competir, já que o
evento dispunha de categoria feminina (mesmo que nenhuma menina tenha se inscrito). Enquanto
uma delas apenas me acena um “não” com a cabeça, a outra me responde, um tanto desolada: eu
não vou competir, eles andam muito mais que a gente!”(Relato, Diário de Rua, fevereiro de
2015)
Sobre esse registro, que anuncia a composição de dois modos de visibilizar “corpos
femininos na área”, em que uma delas assenta-se na figura da “mina do skatista” e outra, na
“skatista não tão boa quanto os homens”, passo a articulá-lo a constituição histórica das
feminilidades. Passo a conceber se uma não presença na área de competição ou uma presença
condicionada a determinados arranjos e modos de ser mulher – junto a outros homens ou exercendo
ocupações específicas no território do skate – estaria assentada numa rede histórica de poderes que
localiza a mulher em práticas, papéis e espaços diferentes daqueles ocupados historicamente por
homens. Arranjos que inclinariam as mulheres, inicialmente, ao matrimônio e à reprodução, típicas
de um “dispositivo de aliança”, e, mais tarde, com a emergência de um “dispositivo de
sexualidade”, nas suas relações com o seu sexo e toda uma tecnologia de poder que impõem uma
espécie de temperança sexual a ela (FOUCAULT, 2014) e que implica, entre outras coisas, em
modos específicos de posicionar-se mulher na sociedade.
O sexo é aqui entendido para além de sua composição carnal, genital. “É nexo de
inteligibilidade, em que potência se conjuga com poder e a carne se constrói em corpos sexuados,
distribuídos em domínio e hierarquia na instituição de diferenças” (SWAIN, 2011, p. 393). Assim,
experimentar o território existencial do skatista street – masculino e masculinizante – por meio de
uma posição específica, como a figura “da mina do skatista ou daquele que ele almeja se
relacionar”, demarca uma visibilidade de poder desse sexo historicamente produzido às mulheres
como passivas, frágeis, e destinadas às funções da conjugalidade e reprodução (GOELLNER,
2003).
Já no caso das “skatistas não tão boas quanto os homens”, competir passa a enquadrá-las a
regras de juízo de performances produzidas com base numa referência técnica masculina,
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produzindo graus de culpabilização e inferiorização de si mesmas, sem, contudo, problematizarem
os motivos pelos quais a referência de “andar mais” está localizada numa performance instituída nas
e pelas práticas do skatista street homem.
A participação das mulheres em eventos esportivos restringia-se basicamente a
assistência e ao acompanhamento dos maridos, com pouca participação ativa nas
provas, ela é hoje muito mais ampla e diversificada. Todavia, isso não significa
afirmar que homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades no campo
esportivo ou que preconceitos quanto à participação feminina inexistam
(GOELLNER, 2005, p. 96)
É preciso estar em alerta para os modos de participação das mulheres nos esportes
contemporâneos, uma vez que, algumas vezes, a simples existência da categoria feminina não
garante as mesmas condições de acesso e oportunidade. Ademais, nos territórios estudados, jamais
uma das meninas skatistas da cidade foi chamada para compor a bancada de juízes das competições
locais.
CENA 2: A skatista cor-de-rosa
Numa tarde de sábado do mês de abril, numa experimentação na pista de skate do Parque Marinha
– periferia de Rio Grande/RS, noto a presença de meninas no local observando, em grupos de três
ou quatro, algumas fumando cigarros e outras compartilhando garrafas de vinho com outros
observadores homens. Havia um número considerável de mulheres nos cantos e arredores do local
Porém, havia uma única menina sob a fluorescente luz branca projetada sobre a pista, uma menina
bem pequena vestindo, novamente, um camisetão que ia até os joelhos e um capacete cor-de-rosa.
Ela compartilhava as rampas com os meninos, descia, subia, chutava manobras, observava. A
presença da skatista, mesmo que produzindo vazamentos, enquanto menina num espaço na sua
maioria ocupado por meninos, territorializava um pertencimento ao feminino: o seu look todo
“rosa mais que cheguei”. A sua mãe e também esposa de skatista me diz: “Ela adora essa roupa
rosa! Ela ganhou num campeonato que fomos a Bagé, que o locutor anunciou que a primeira
mulher a ir lá à pista e dropar uma rampa ia levar aquele look todo rosa. Ela foi correndo e
ganhou” (Relato, Diário de rua, abril de 2015)
Com base nessa cena, passo a problematizar essa relação sexo-cor, e os efeitos de produção
de sentidos à presença de uma menina skatista em meio aos homens daí gerados. Aqui, mesmo
produzindo fissuras enquanto praticante e competidora, a menina incorpora o “cor-de-rosa” como
marcador de uma subjetividade que se feminiliza e assim se legitima nesse espaço. Logo, passo a
vislumbrar o “ser skatista mulher, mas amar o rosa” como atitude-limite de liberdade e ruptura com
as tendências masculinizantes do território, uma vez que nunca é possível resistir a tudo. “Inexiste
mundo sem forças. As relações de poder decorrem de um mundo de forças em afrontamento entre
campos de intensidades diferentes” (BRANCO, 2011, p. 139). Assim, a reserva de uma premiação
cor-de-rosa e a própria individualização de uma feminilidade em meio a um território
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predominantemente masculino, torna visível a atuação de linhas de forças que, ainda hoje, atuam
sobre as mulheres que ousam habitar espaços inventivos e libertários no esporte, em detrimento de
uma subjetividade maternal historicamente fabricada e dotada de perigos à feminilidade. Na cena
em questão, é possível ser skatista em meio aos homens, desde que cor-de-rosa.
CENA 3: As mulheres, o skate e o hip hop
Observando o 1º Intervenção Hip Hop Extremo Sul, no multipalco da Avenida Cassino, verão de
2015, noto o anúncio da realização de uma competição de skate nos obstáculos móveis dispostos
na rua, junto às atividades de grafite, rap e break, que ocorriam no local. Ao final do evento, por
volta das 22 h, é anunciada no palco uma batalha de b-girls, como última apresentação do evento.
Uma das meninas, também skatista, junto à outra, se apresentaram e mostraram domínio da dança.
Foram realizados três rounds para haver desempate, já que os aplausos se mostravam quase
unânimes para as duas. Após, o locutor profere uma fala com relação às meninas: “Isso aqui é pra
todos vocês verem que no rap, no skate e na arte urbana não há preconceito e nem machismo.
Homem e mulher aqui são iguais!”. Minutos após, são divulgados os resultados e entregues os
brindes da competição de skate, dos b-boys e das b-girls. Os locutores decidiram dividir a
premiação para as duas meninas por considerarem que seria injusto premiar somente uma delas.
Aliás, como disse o rapaz: “Elas representaram, mostraram presença, e é isso que importa!”. E
como não pude deixar de notar, ao fundo da sua fala, num tom mais baixo, tocava “Estilo
Cachorro” do Racionais MC´s. (Relato, Diário de Rua, janeiro de 2015)
Aqui destaco essa necessidade de anunciar a presença de mulheres no evento num cenário
marcado pela presença e comando de homens, como uma espécie de colocação estratégica da
mulher em destaque, num contexto atual de visibilidade feminina, em que as questões das mulheres
assumem protagonismo e destaque no campo legislativo, midiático e cultural. Passo a conectar as
falas: “isso aqui é pra verem que no rap, no skate e na arte urbana não há preconceito e nem
machismo” e “mostrar presença é o que importa”, a uma série de acontecimentos que,
especialmente, nesse momento, vem produzindo um desequilíbrio nas relações de poder
assimétricas entre homens e mulheres, pelo menos, no campo das estratégias e respostas
construídas.
No campo legislativo, a lei do feminicídio foi aprovada e uma série de campanhas e
protestos em prol da legalização do aborto e direito ao próprio corpo vem sendo tocadas por
mulheres em oposição à bancadas conservadoras no Congresso. No campo midiático, inúmeras
campanhas virtuais como #meuamigosecreto e #meuprimeiroassédio emergiram, denunciando
situações de opressão, violência, desigualdade e assédio vivido por mulheres, bem como, diversas
celebridades televisivas pronunciaram-se, via redes sociais e outras mídias, sobre desigualdade de
gênero e violência sexual. No campo educacional, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)
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tematizou a “persistência da violência contra a mulher”, referenciando a feminista e teórica francesa
Simone de Beauvoir. No campo cultural, o ano protagonizou falas de premiações consagradas,
reivindicando igualdade de gênero na indústria cinematográfica, como o de Patrícia Arquette,
vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante do ano, bem como divulgou o lançamento do filme
“As sufragistas”, contando parte da história das mulheres pelo direito ao voto, anunciado como o
primeiro filme dirigido, roteirizado e protagonizado só por mulheres.
Passo a notar que, em tempos marcados por processos de normalização que se ajustam às
mais diferentes realidades e desejos emergentes, o desejo de “correr pelo certo” observado nos
territórios contemporâneos do sujeito skatista (TEIXEIRA, SILVA, 2017) passa também por uma
inclusão das mulheres às suas práticas7. O que experimento aqui, é um exercício de suspeita desse
movimento de “controle da inclusão e participação” (PASSETI, 2011) das mulheres nos espaços
predominantemente masculinos como prática benevolente, demonstrando, pelo contrário, o caráter
estratégico dessas ações num contexto contemporâneo de popularização do feminismo. Margareth
Rago (2015) vai anunciar que hoje o feminismo está na moda, virou pop. “E que bom!”,
complementa a autora, uma vez que vivemos um tempo de lutas transversais, e que, cada vez mais,
ser feminista vem sendo algo mais possível que há alguns anos.
Nesse sentido, abrir passagem a um devir-mulher8 no território skatista passa menos por
uma atitude de resistência aos poderes generificantes e hierarquizantes dos sexos, e mais como
manobra estratégicamente articulada ao “jogo do momento”, em que negar a participação da mulher
e as questões feministas caminham na contramão das ações políticas de grupos jovens
contemporâneos que procuram se afirmar no espaço público e conduzir a si mesmos. Para Passeti
(2011), “vivemos um tempo em que não se investe mais em detruir ou minimizar as resistências,
mas em capturá-las e incluí-las, por meio da convocação à participação” (p. 114). Ao mesmo tempo
em que podemos comemorar, assim como Rago (2015), “um mundo muito mais feminista” (s/p), é
preciso fazer o exame constante de sua inclusão como pauta por grupos, programas, mídias e ações
políticas em ascensão nos dias atuais, já que “nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso” (FOUCAULT,
1995, p.256)
7 Conecto a essa articulação estratégica de homens às questões das mulheres ao movimento mundial “Eles por Elas”,
tomado pela ONU com um “um esforço global para envolver homens e meninos na remoção das barreiras sociais e
culturais que impedem as mulheres de atingir seu potencial, e ajudar homens e mulheres a modelarem juntos uma nova
sociedade”. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/elesporelas/. Acesso em: 03. Julh. 2017. 8 “A ideia de reconhecimento de identidade eu oporia uma ideia de processos transversais, de devires subjetivos que se
instauram através dos indivíduos e dos grupos sociais. A ideia de devir está ligada à possibilidade ou não de um
processo de singularizar. Singularidades femininas, poéticas, homossexuais ou negras podem entrar em ruptura com as
estratificações dominantes” (GUATTARI, ROLNIK, 2012, p. 86)
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CENA 4: Um minuto de silêncio
Foi durante o aquecimento da categoria Amador Open no evento Skate Summer que me deparo
com um acontecimento que me interpelou e tornou-se digno de relato. Do outro lado da Avenida
passava uma espécie de caminhão-trio elétrico, com um som muito alto, com algumas pessoas em
cima, divulgando um evento que aconteceria no balneário Cassino no dia seguinte. A voz feminina
um tanto rouca no microfone anunciava a Parada Gay Livre 2015, evento anual que tem por
objetivo “vencer todo o tipo de preconceito, não só o de gênero”, segundo as trans locutoras.
Logo, ao avistar a presença dos skatistas, uma delas realiza um contato com os mesmos, através do
microfone em volume máximo: “Vocês, skatistas, venham lutar contra o preconceito conosco. Nós
sabemos o quanto vocês também precisam vencer a discriminação, estamos todos juntos, vamos
juntos na luta contra o preconceito”. Logo, percebo que um grupo muito pequeno de skatistas, ao
ouvir a voz, ainda um pouco distante, começa a erguer os braços com os punhos fechados e a
pular, como se apoiassem a iniciativa. Logo, um deles agarra outro pelo braço e diz: “tu é louco
meu, vais apoiar esses viados” (acompanhado de risos). Os braços logo descem ao lado do corpo,
e alguns sorrisos constrangidos dão rapidamente lugar a uma série de sorrisinhos de ironia. Os
skates foram ao chão e sequer devolveram o sinal de cumplicidade e solidariedade estabelecido
pelas pessoas trans. A maioria esmagadora de skatistas no local se mostrou apática e imobilizada,
como se aquele som estrondoso do microfone não os estivesse chamando para um diálogo de
semelhantes, mas sim, tivesse instaurado um estranhamento, ou constrangimento. (Relato, Diário
de rua, fevereiro de 2015)
Diferentemente das relações com as mulheres, que, na contemporaneidade, apresenta traços
de legitimidade e consagração estratégica às práticas “de correr pelo certo” pelos skatistas, o
contato com os sujeitos trans demonstram a existência de uma heteronormatividade compondo
fortemente suas subjetividades no presente.
Em nossa sociedade, a norma que se estabelece historicamente remete ao homem branco,
heterossexual, de classe média, urbano e cristão, e essa passa a ser a referência que não
precisa mais ser nomeada. Serão os “outros” sujeitos sociais que se tornarão marcados, que
se definirão e serão denominados a partir dessa referência. Desta forma, a mulher é tomada
como o segundo sexo e gays e lésbicas descritos como desviantes da norma heterossexual
(LOURO, 2000, p. 15)
Mesmo que os skatistas produzam certas fissuras nas normas sobre a ocupação e circulação
na cidade habitando ruas e arquiteturas de modo inventivo, no que se refere a outras maneiras de
exercer a sexualidade e conduzir o próprio corpo, a relação possível estabelecida pelos skatistas
ainda é de estranhamento e apatia9. Guacira Louro vai nos remeter que “a admissão de uma nova
9 Em 2013, uma revista especializada em Skate, intitulada “Vista” publica em sua capa um beijo gay com a seguinte
legenda “Quando dois skatistas se beijam”, com o intuito de introduzir a discussão entre os skatistas. A referida capa foi
alvo de uma série de polêmicas e de revoltas pelo seu público leitor. Em virtude de tais acontecimentos, o fotógrafo
responsável pela capa foi chamado a se pronunciar por outras mídias especializadas, principalmente, no que se refere
aos possíveis motivos de tamanha repercussão. Ele anuncia, em novembro de 2013, ao blog de skate “Vice”, que “o
skatista se acha muito diferente, muito à parte da sociedade, mas reproduz doutrinamentos exatamente iguais a todo
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identidade sexual é considerada uma alteração essencial, que atinge a ‘essência’ do sujeito” (2000,
p. 13). Nesse sentido, deixar-se atravessar por um devir trans, agenciando à figura do sujeito
skatista à outras subjetividades minoritárias contemporâneas, passa por deixar afetar-se por esse
outro sexual, instituinte não só na figura da mulher, mas, sobretudo, desses sujeitos que exercitam
um modo de vida gay como prática de liberdade (PAIVA, 2011). Aqui, torna-se ainda mais evidente
o caráter provisório e dinâmico das resistências, uma vez que mesmo conduzindo suas condutas na
direção de uma outra relação com o esporte, com a estética, com a cidade, entre outros, o território
existencial do skatista street ainda inscreve-se sobre as linhas rígidas identitárias do ser: ser homem,
ser mais habilidoso tecnicamente no esporte, ser macho, ser hétero.
Em meio a um contexto sócio-cultural de fervilhar de políticas de inclusão de minorias e de
disseminação de discursos anti-homofóbicos pelas mais diversas instâncias, ainda é possível
experimentarmos territórios existenciais skatistas sedentários no que se refere aos seus corpos e
sexualidades. Aqui, um devir trans despertado provocou menos passagem e abertura à
singularização e mais reterritorialização histórica sob a figura do skatista rebelde. Rebelde, mas
nem tanto, e não com relação a tudo.
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559-574.
Skate street and minority becoming: (de) territorialization of the subject skateboarder.
Abstract: This summary is part of a master's study that aimed map the process of occupation of the
streets by the skaters street from Rio Grande/RS, in view of the production of subjectivities in their
relations with moral truths and social norms in force. The social cartography was used as
theoretical-methodological referential and the empirical material it was treated of registered records
on a Street diary. Here I present connections between a male subjectivity and heteronormative
historically individualized in the skaters and becoming woman and trans in the occupied spaces.
The reports entitled "Female bodies in the area" and "Pink skateboarder", demonstrate different
performances of be woman in the spaces of practice, making visible the relations of power and of
normalization between the feminities in play. In "The women, the skate and the hip-hop" are
highlighted relationships of approach of the skater subject with the women practitioner in order to
produce strategic meanings of legitimacy to itself in times of feminine empowerment. And lastly in
"One minute of silence" I present sketches of one heteronormative discomfort in the skaters when
articulating themselves with trans people, even in a moment of ascension of politics and combat
speeches against the homophobia and transphobia. As soon, we contact that the skatistic
subjectivities still present traces of misogyny and heteronormative ongoing, including, in practices
of inclusive character of such minorities and, paradoxically, under the slogan of revolutionary.
13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Key words: Skateboard; Subjectivity; Women; Trans; Becoming Minority.