32
FACULDADES INTEGRADAS DA SOCIEDADE EDUCACIONAL TUJUTl Sobre a Subversiio do Laco Amoroso Roberta Machado Cavalcant; Kohler

Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

FACULDADES INTEGRADAS DA SOCIEDADEEDUCACIONAL TUJUTl

Sobre a Subversiio do Laco Amoroso

Roberta Machado Cavalcant; Kohler

Page 2: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

INDlCE

I - lntrodw;;ao

II - E por falar em arnor

III - 0 arnor que tu me deste era espelho e se quebrou

IV - Do arnar-rne em ti ao arnar-te por ti

v - 0 arnor como tragedia ou a tragedia do arnor

VI - 0 arnor de transferencia

VII - "Urn Morro Charnado Arnor"

VIII - Notas BibliogrMicas

IX - Bibliografia

Pag.OI

Pag. 02

Pag. 08

Pag. II

Pag.14

Pag.21

Pag.23

Pag. 26

Pag.28

Page 3: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a Subversiio do Laco Amoroso

Page 4: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a subt·en.·uo do lafo lImoroso

INTRODUCAO

o amor e sem di.vida lUna questao humana que ha seculos ocupa

cora90es e mentes das pessoas, sejam quais forem suas dire90es de pensamento

011 ramo profissional. Em Psicanalise, 0 amar faz questao, entre outros, em sua

rela9ao com 0 ideal, a transferencia e a cura. Freud, ja dizia que curar-se e

poder amar e trabalhar. Mas de que amor nos propomos a falar entao?

o intuito deste trabalho, e de pensar 0 amor e sua transfonma9ao no

decolTerde lUnprocesso analitico, sua rela9ao com 0 ideal e a possibilidade

com a travessia fantasmatica de urn amor que poe em conta a alteridade. Do

adoecer por amar ao amar para nao adoecer.

Page 5: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sohre 11sllbl'er.wio do 11I~0 tllIloroso

I -E por fatar em amor...

Ao nascer, 0 pequeno ser apenas e came, sem marcas. Na rela<;iio com a

mae, seu pequeno corpo biol6gico vai sendo pulsionalizado, nomeado,

significado. E arrancado assim da pura biologia. E portanto pelo Outro, ser que

porta a linguagem e para 0 Outro, que 0 infans vai construindo-se como sujeito.

Na bascula entre alienar-se e separar-se, nas tentativas vas de ao Outro

completar, tentando responder-lbe as demandas, vai criando la<;os, buscando

satisfazer-se e aos demais que lbe si!,'11ificam.E tambem pelo Outro, que,

prematurarnente as suas condi<;6es neurol6gicas, 0 sujeito percebe-se como

todo, pela imagem illtegradora e jubilosa que deste Outro Ihe chega como

sendo a sua pr6pria. Nesta rela<;ao, ou melhor, nestas rela<;5es, constr6i em si

wn ideal. E ama. Ama, odeia, enla<;a, e enla<;ado. Cresce, constr6i fantasias de

amor. De amar narcisico ao Outro. Cria para si imagens, ideias, e por mais

que nem saiba disso, e do que ille causa enquanto tarnbem ego; segue pel a vida

a amar segundo as leis que foram selldo tramadas no decorrer de seus dias.

Como um pequeno peseador, lan<;a fios e anz6is, porque deseja peixes para

si. Aprende sua fonna de pesear e com ela realiza suas pesearias, ora

eonseguilldo seu intellto, ora frustrando-se com ele.Mas e tambem como lUll

Page 6: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sabre U .subJ'crs(;Odo IUfO (lllloro.'w

pescador que exagera sobre 0 tamanlto do peixe pescado, sobre 0 fracasso

em consegui-lo ou mesmo os gaubos. Geralmente responsabiliza 0 tempo, a

correnteza ou 0 pr6prio peixe. Por vezes, desanimado, desiste de pescar; por

vezes; troca de lugar. Entretanto, e raro que tente pensar sobre sua tecnica de

pescaria. Quando nao consegue entender 0 que the ocorre, porque nao vern

mais os peixes como supostamente the vinham; e sofre por isto; sente que

precisa falar. Necessita de ajuda, pois parece que tudo esta errado.Esta

metafora se propoe a falar do sujeito e seu adoecer por amar, sem entretanto

poder-se ainda por na conta nesta relayao ao objeto.

o neur6tico adoce pelo excesso de senti do. Cria, para dar conta da falta,

urn imaginario que pode deixa-lo paralizado, sintomatico ou angustiado. A

analise, longe de deixa-lo no puro real, na pura falta, tern como intento quebrar-

lhe alguns sentidos que the enrigeciarn a postura, deixando-lhe por isto mesmo,

sem muitas opyoes frente as situayoes da vida.

Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

in.icialmente do outro que nao the da, que nao the faz, que nao the ama, 0

sujeito percebe-se tarnbem neste jogo de trocas e pode iniciar tun caminho

simb6lico, percurso analitico, onde, por passar a incluir-se, tambem pode

questionar-se. A principio, 0 sujeito em analise colocara; como quem entrega

em bandeja e prata urn 6rgao doente, seu amor ao seu novo parceiro: 0

analista. A ele, se se instaura realmente a transferencia, conferira seus afetos.

Page 7: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre {/ .•.•Ilbl'erslio tlo /tIro (11l1oroso

Entregar-Ihe-a seu amor, mas tambem seu 6dio, seus enganos, suas duvidas.

Como se 0 pequeno pescador da metafora, por cansado de seus rraeassos,

entregasse sua vara, motinete, fios e anzois e !he pedisse: ja nao sei mais como

se faz e tenho fome. Pesque para mim, pois nao tenho foryas. 0 analista, nao

tern a fi.l11yiiode pescar para 0 pescador, pois alem do mais tem seus proprios

peixes :i conseguir, mas certamente por ja ter vivido esta inseguranya, e longe

de ter inclusive condiyoes para ensinar-lhe tecnicas infaliveis, 0 convida a falar

de sua angustia, pontua sua imptical'ao, auxiliando para que se ouya em seus

ditos, ate que possa perceber que pescar nao e faeil mesmo; mas e preciso; e

que por vezes se faz necessilrio que troque posiyoes e iscas; que aceite e possa

saborear peixes de diversos tamanhos e qualidades; ou mesmo que os rechace;

que chove, mas tambem faz sol; e que sem duvida so se aprende a pescar,

pescalldo.

No seminario VII - "A Etica da Psicamilise", Lacan nos diz: "0 que 0

analista tern a dar, contrariamente ao parceiro do amor, e 0 que a mais linda

noiva do mundo nao pode ultrapassar, ou seja, 0 que ele tern. E 0 que ele tern

nada mais e do que seu desejo, como 0 analisado, com a diferellya de que e

um desejo prevenido." I

o amor, do qual se pode adoecer, nao poe na eonta a diferellya. Ele

busca a completude, como sua matriz: 0 amOT a mamae, 0 arnOT da mamae.

Page 8: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a sub,'en;iio 110 laft' 1l1ll0rOSO

"Voce e meu, eu sou tua", "voce me completa'~,'~elltenho 0 seio, portanto

voce tern a fome". Esta demanda inicial, onde se misturam 0 "eu tenho e te

dou" ao "voce 16, me complete", ftmdaa relayao do sujeito ao ideal. Como

faltante, portanto desejante, sai em busca "do" objeto, como se possive! fosse

encontni-Io.Vive na impotencia de "ainda na~ ter, 0 que sem duvida urn dia

teni", pais viveu a sensayao de que algo teve de fato e de direito, algo que se

perdeu entao s6 Uleresta reave-Io.

E not6ria esta relayao a impotencia, na clinica. Escutando uma paciente

e suas queixas sobre seus fracassos amorosos ela um dia me diz: "Ainda

encontrarei 0 Homem. Aquele, perfeito para milD.Que s6 brilhe 0 tempo

todo aos meus olhos. E quando acha-Io, nao mais terei olhos para nenhnm

outro." 0 sujeito cre de fato, que 0 objeto, no caso 0 homelD sonhado,

aparecera. E com urnbrilho e perfeiyao tal, que com ele sera totalmente

feliz. Nao precisara mais dar-se ao trabalho de desejar e encarar as

imperfeiyoese fracassos. COlDpletar-se-ao,tal como diz a musica de Roberto

Carlos, como 0 C6ncavo e 0 Convexo. Total encaixe. Esta completude chega a

fazer-se supostamente no amor paixao.Puramente imaginario, 0 arnor paixao

encontra no outro a resposta aos apelos do SIUeito.Nao pelo fato de 0 outro

ter os supostos atributos a felicidade do sujeito, mas porque recebe do

mesmo, nnma catexe total de libido, qualidades que geralmente nao possui.

Page 9: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sohre {/ .wlhven;t;o do IlIfO tlllroroso

Nwn empreendimento tao alto, tal investimento maci90 empobrece 0

pr6prio eu do investidor, e quando algo ocorre, e 0 encanto acaba por

quebrar-se, 0 eu empobrecido e vazio, pena por sua negligencia. Tanto

illvesteneste espelho que ja nao tem em si sua imagem.Com 0 objeto, foi-

se ele tambem. E a pr6pria morte. "Sem ele morrerei", frase de alb'1.1em,que

em analise, sofre os efeitos de tal desencanto.

Na simbiose inicial que ocorre entre 0 pequeno ser e a mile, 0 sujeito

nada sabe sobre limites, pois eles nao existem. Seu corpo, extensao do

matemo, necessita de wn corte, de algo que de fora venba a sepani-Ios desta

massa (mica, deixando nele a marca da falta, porem a possibilidade de desejar.

o nome do pai, produto da metafora patema, efeito simb61ico que

pennite a inscri9aodo desejo no reb>istroda divida simb6lica. Urn novo sentido,

a possibilidade da inscri9ao do desejo de acordo com seu sexo, pela

instaura9aoda Lei e sua ordena9ilo.

o analista, fazendo fim9ilo de corte, trabalha na dire9ao de novos

sentidos pelo sujeito. Suas marca90es, interpreta90es e pontua90es, funcionam

como possibilidades que poderao auxiliar 0 sujeito em lUna subversao entre

outras, em relay30 ao arnoT.

Page 10: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sohre II :mbl'ersiio 110Illfo umoroso

Ao falannos de objeto, sabemos que em psicanalise, trata-se de objeto de

investimento, de catexe. Portanto, a rela9ao amorosa doelltia da qual se fala,

nao necessariamente propoe um ser encamado, um IHunano, mas tambem. 0

sujeito pode apaixonar-se par uma ideia, uma causa, um lugar. Alga que

suporte seus investimentos de libido, que responda ao seu ideal.

No Seminano I, Os Escritos tecnicos de Freud, Lacan aborda a questao

narcisica. Utiliza 0 experimento da otica, chamado experimento do buque

invertido para, seglmdo ele " ... ilustrar de uma forma particulannente simples a

que resulta da intrinca9ao estreita do mundo imaginario e do mWldo real na

economia psiquica." 2. Se bem este experimento, de fonna metaforica; e claro;

nos pennite perceber a constitui9ao do eu em sua origem , constitui9ao

imaginaria, tambem fica patente a rela9iio ao ideal. Para Freud, 0 amado ocupa

a lugar do ideal do eu, e claro, no ponto onde a proprio sujeito projeta 0 seu eu

ideal. 0 sujeito aspira a ideal construido na rela9ao especl~ar, e escolhido entre

valores morais e eticos. Num lim de analise, num processo de cura analitica,

nao se deixa de investir, nao se para de amar. Entretanto, a relayao ao ideal,

aos supostos objetos e portanto ao amor, transfonnam-se. Pile-se na conta a

incompletude, e por se contar com a diferen9a, pode-se sem duvida amar coisas

e pessoas, sem necessitar morrer ou matar par elas.

Page 11: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a .mb,'erst;o clolafo tlllloroso

II-0 amor qlle til me deste era espel//O e se qllebroll.

"Um egoismo forte constitui limaprote9ao contra 0 adoecer, mas, mun

(litimo recurso. devemos comeyar a amar a fam de nao adoecennos. e estamos

destinados a cair doentes se , em conseqlllenciada fiustrayao, fonnos incapazes

de amar. [sso acompanha mais ou menos os versos do quadro que Heine traya

sobre a psicogellese da Crial'ao: Imagina-se Deus dizendo: A doeoya foi sem

duvida a causa final de todo 0 allseio de criayao. Criando, pude recuperar-me;

criando, tomei-me saudave\. New Gedichte, Schopfungslieder VII"., Este

trecho do texto: "Sobre 0 Narcismo: Uma llltrodul'ao", de 1914, fala bern da

necessidade que Freud aponta do homem amar, e sua rela9ao com a sailde e

com a falta dela. Amar, criar, trabalhar, direyao da libido a produyilo, pennite

que sua energia, dirigida a ayao criadora mantenha-o vivo e ativo.

Como perceber a diferenya entre 0 amor paixao e 0 amor citado por

Lacan como arnor a diferenya; 0 arnor como dom ativo? A fonna em que se

estabelecem tais la90s ao objeto, a relayao do sujeito aos mesmos, falam

de como isto esta se dando. 0 amor paixiio, ama 0 idealizado, 0 que portanto

tera como base, a suposiyao de que este Ihe garantira a felicidade.

Page 12: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a slIbl'er!J"';o tlo ItI~o1I1110rOSO

"Exaltar 0 objeto sexual transfonnando-o nwn ideal sexual pode fazer parte de

uma interessante rela~ao auxiliar com 0 ideal do ego. Ele pode ser empregado

para satisfa~ao substitutiva onde a satisfa~ao narcisista en contra reais agraves.

Neste caso urna pessoa amara segundo 0 tipo narcisista de escolha objetal:

amara 0 que foi outrora e nao e mais ou entao 0 que possui excelencias que

ela jamais teve". 4

o narcisismo primario, narcisismo do corpo, ilusao da realidade, abre-se

para a possibilidade outra de identifica~ao: 0 narcisismo secundario, rela~ao ao

OLltrO,possibilidade de investimento libidinal objeta\. Retlexao da imagem real

agora como virtual, aliena~ao importante, que pennitirit ao SLUeitOLIma

posi~ao, Lunlugar aD seu ser. Em sua ida ao Outro, toma-Ihe, em si,

tra~os importantes, fonnadores de um eu e de LUTIideal, e que 0 fara seguir pela

vida a fora l1um movimento de tentativa de se fazer objeto de desejo. Se

existem dois narcisismos, supoe-se tambem haverem dois amores: Eros e

Agape. Eros, pulsoes de vida, arnor de integra~ao inicial, de totalidade, amor

ao ideal. .Agape, intima relar;ao entre duas almas, refeic;:ao em comUffi, amor

que toma em conta a diferen~a, a alteridade. Sem dilvida, 0 homem passa por

uma necessaria identifica9ao ao Outro; atna pel a igualdade suposta, pelo

Page 13: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobrc a .'illb,'erscio c/o /Ut;O amoroso

complemento. Identifica-se ao Outro, pela lillguagem, inscreve-se no

mWldo e escreve-se frases, ditos que tenta seguir; mesmo sem que Ihe seja

consciente, em busca de ser feliz. 0 neur6tico idealiza 0 objeto para ten tar

garantir 0 amor.

"Nada me trollxe esse al1lor.Cilegoll-Ille de lIIaos vazias,e todo aqllele explelldor,de brill lOSepedrarias,era elifilll lIIell proprio alllor,qlle tell alllor rejletia" s

Esta poesia, traz, ah!m de beleza, a crueza. Pode-se sentir a dor de

quem escreveu-a e sua frustrayilo ao descobrir que 0 que seu objeto portava,

nada mais era do que pura reflexilo do que 0 apaixonado nele colocava.

Page 14: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre (/ slIblJerslio do I(lro llllloroso

III -Do amar-me em Ii 00 amar-Ie por Ii

"Tudo chega em seu tempo, Nathanael; cada coisa nasce de sua

necessidade, e nao passa por assim dizer de uma necessidade exteriorizada.

Eu precisava de mn pulmao, disse-me a arvore: entao, minIm seiva fez-se

folha, a fun de que com ela eu respirasse. Depois que acabei de respirar, minha

folha caiu e nao mom por isso. Meu fruto contem todo 0 meu pensarnento

sobre a vida", Este trecho do livro "Os Frutos da Terra"de Andre Gide, servem

para l1tuna alusao ao que se deixa para tras nmn processo analitico; falar de

morte e amor. Se par tun lado, e necessario montar alguns sentidos que

suportem 0 ser durante tun tempo de sua vida, par outro lado, perde-Ios, deixa-

los morrer por nao necessitar mais deles e poder tambem optar pela vida. 0

[mto, 0 resto que se tem, possibilidade de por em jogo a falta.. Novo

sentido, sem dilvida, novos amores. Porque manter mna folha, sustenta-Ia, se

esta seca, ja nao mais vive; nao serve mais nem para respirar? Que venha agora

o fruto, sinal do arnadurecimento da arvore, sinal de mcompletude da folba,

moslra da possibilidade da morte de mn sentido para 0 nascimento de oulros.

Page 15: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sabre 1I .mh,'ersiio ,10 la~oanlorm;o

o que entao precisa morrer, para que se possa amar? Precisa mOITer 0

ideal. 0 arnor sofrido, 0 arnor paixao, para qlle 0 arnor "dorn ativo" possa

sllrgir. Segundo Lacan, " ... arnar e arnar urn ser para alem do que ele parece

ser. 0 Dorn alivo do arnor visa 0 outro, nao na sua especificidade, mas no sell

ser"7. Ecompleta: "0 amor, nao mais como paixao, mas como dom ativo, visa

sempre, para alern da cativayao irnagim\ria, 0 ser do sujeito amado, a sua

particlliaridade.. ...Sem a palavra enquanto ela afinna 0 ser, ha sornente

Verliebtheit, fascinayao irnagim\ria, mas nao ha amor. Ha amor sofrido, mas

nao 0 dom ativo do amor" 8

No percurso analitico, algumas mortes se dao. A cada urn de sell jeito a

cada 11mde seus proprios mortos. Cada qual sabe os mortos que enterrar e tal

como na vida material, na vida psiquica na~ se dao sem dor. 0 destino do ideal,

constituido na relayao ao outro e a morte. Morre este ideal, desfalece este amor

sufocante. "A morte e aqlli 0 eqllivalente de tllD apelo ao simbolico" 9 . Nasce

11m OlltrO tipo de amor, para cada urn diferente, pois Bern e Verdade sao de

cada sujeito. Conta-se com a impossibiJidade em detrimento a impotencia, a

morte entra como certeza, ja nao se tern sobre ela a ideia de que so acontece

ao vizinJlO.

Page 16: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a .Wlb,!ersao do larD {lIIlOrOSO

"A morte toma 0 lugar fWlcional do simb6lico, porque, nesta falsa

identidade do objeto it sua imagem, a identidade de um, se a ilusao do espelho

nao existe, se faz ao prel'o da morte do outro. Existe entao uma luta mortal do

homem com seu duplo, do homem com sua sombra, que da conta dos fracassos

da ilusao da identidade, tal como The da 0 espelbo". 10

A troca de discurso e patente numa subversao analitica. Troca de

discurso porque troca de lugar e vice-versa. 0 sujeito sabe que ele deve e s6

ele pode produzir significantes que tentem dizer algo dele, mas tarnbem; sabe

que nenhuma palavra 0 podera dizer totalmente. Tem que falar, na

procura de exprimir-se, emboraja saiba que pela equivocidade significante, 0

que fala ja nao mais Ihe pertence.

Page 17: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

5'obre (I slIbl1er.wlo do lafo IImoro.w)

IV - 0 Alllor COIIIO tragh/ia 011 a tragedia do amor

Os diretores da setima alte, produtores e escritores, sao mestres em

abordar 0 amor paixao em suas facyoes diversas, bem como seus tragicos fins.

As tragedias gregas e suas mortes tambem nos apontam para a impossibilidade,

par vezes, de um amante sustentar-se vivo sem a presen~aau sem 0 amor do

OUlTO.

William Shakespeare em "Romeu e Julieta" aborda bem esta questao.Ao

conhecerem-se e encontrarem-se, pois ha de fato um encontro, por imaginario

que seja, seus corpos e almas unem-se de tal forma, que deliram sobre que

passaro canta, se a cotovia ou 0 sabia, muna tentativa de com sua fantasia

anular 0 que 0 mundo real os mostra: amanheceu, tern de separar-se. Agem

como se sell arnor pudesse parar 0 mundo para manterem-se assim, completos e

unidos em sua dupla fascinayao. Burlando a lei das farnilias, inimigas que sao,

casam-se escondido, contando com 0 aval de POllCOSque admirarn e se poe

como cilmplices deste amor. Encontrarn-se perigosamente. Romeu pl~a os

muros do castelo de sua amada, corre riscos de vida. 0 que e a morte frente a

Page 18: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre (I sIIbl1ersiio tfo i(lro lImoroso

possibilidade de !laOestar com sua amada? Por infortimio, !lumadiscusao entre

rapazes, Romeu fere mortalmente urn primo de Julieta, e os Mios entre

Montecquios e Capuletos que ja eram fortes, passam a ser piores. Romeu

foge.Precisa fugir ou morreni. Mas e entao? E sua amada? Sera melbor a morte

a deixar de ve-Ia, "trazendo consigo mmba propria imagem, investida de toda

minha libido", poderia ele pensar se disto soubesse. Mas nao sabia e nao

adiantaria saber. Este amor paixao nao tern olhos, nem ouvidos, nem razao, so

paixao. Enfim, sofrendo esta terrivel separa9ao, que chega a minar-Ihes 0 que

Ibes sobra de vida, vida esta que se sustenta por ter esperan9a do reencontro

breve, um de seus simpatizantes oferece-Ihes a solU9ao: Julieta tomara LUna

p09ao. P09ao esta que a deixara como morta, embora nao 0 esteja. Nao

precisara desposar outro homem, confonne designios de seu pai, e ao acordar

de sua suposta ida ao alem, tera diante de seus OU1OS, aquele que Ihe alimenta a

alma. Tudo corre a contento, nao fosse 0 fato, de os amantes nao porem em

jogo 0 Real. Pois a vida, com seus desencontros e suspresas continua apesar

deles e de seu "amar que tudo pode". Romeu recebe a nolicia da morte de sua

amada, porem, 0 bilhete que 0 avisa do plano, ja nao 0 encontra em seu

esconderijo. Louco de desespero, supoe ter-se separado por definitivo de sua

Page 19: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a sllh"ers(;o tlo larD cl/lJOrmiQ

propria vida: Julieta. Em seu cavalo, carre desesperadamente, pais nao pode

crer, precisa ver. Irrompe na cripta onde a corpo inerte de sua amada repousa

confiante no acordar, alheia a toda possibilidade de desencontro: "afillal, a que

pode a mtmdo, a que pode a impossibilidade frente a este amorT' poderia

pensar Jnlieta; se de fato pudesse. Mas nao podia. Nao se conta com as

fracassos quando se esta fascinado neste amor. Frente ao quadro, onde sua

amada supostamente a abandona; troca-o pela morte; provavelmente nummisto

entre desespero, amor e Odio pelo abandono; Romeu mata-se. Ja mlo tem

porque viver. Julieta levou consigo ele proprio, a que Ihe resta? a morte. E e

com a mesmo desespero que ao acordar, rosto tranquilo illicialmente; pais tem

a certeza de eucontrar seu amor il sua espera; Julieta, apos tentar arrancar vida

de seu Deus sem nada conseguir, pragueja sabre a abandono que sofreu par

parte de seu amado, e como se Romeu pudesse ouvi-Ia, queixa-se de ter tido

urn amante egoista, par nao ter-Ihe deixado urn pouco de veneno para que

tambern ela pudesse matar este corpo vazio doravante e que sem ele ja nao tem

mais vida. Tambem munmisto de amor, odio e desespero, beija-lhe as labios

na tentativa de poder malar-se com algo do veneno que par ventura Ihe tivesse

sobrado nos labios ainda quentes. Mas a que e impossivel aos amantes?

Page 20: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre II!mbl'ersl;o l/O Itl~o tlmoroso

encontra algo com que ferir-se, desfere golpes contra seu corpo ate consseguir

apagar dele toda a vida. Seu corpo inerte cai sobre 0 de seu amado. Mortos, urn

ao lado do outro, encontram de fato 0 que tal paixao pode trazer: a morte.

Morre num a imagem de si que 0 outro pOItava, no outro 0 mesmo deve se dar.

Para tal paixao, s6 a morte pode responder it demanda de completude. Somente

por ela, podem amar neste amor. 0 amor sem diferenya, sem limite de corpos

ou almas. 0 amor que frente ao Real nao sucumbe. Mata para se fazer vivo.

Esta tragedia de "Romeu e Julieta", nos pode fazer pensar sobre 0 amor

paixao. Sobre 0 que de morte ele traz. Para Lacan, "0 arnor e uma forma de

suicidio". 11 Enquanto paixao que fascina e alucina, pode ser suicidio, e

mortifero viver pelo e para 0 outro. Nao se ter na conta, a nao ser pela imagem

de si que com 0 outro esta, tira a responsabilidade da vida das maos do sujeito.

o Outro vai. E se ele vai, morreril com ele, pois foi junto. Se 0 ego e formado

de fora para dentro, se e de imagens que se constitui, urna vez sem elas, 0 que

Ihe sobra?

o filme "As loucuras do Rei George", filme que trata do enlouquecer de

urn rei ingles, mostra outra facyao deste amar sem limites. E claro que se pode

analisar muitos aspectos na riqueza que e esta verdadeira j6ia para aqueles que

Page 21: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a .<mbvcrslio do IUfO (mllJroso

se poe a estuda•.as relal'oes dos humanos. La estao a vontade do espectador

possibilidades de se perceber 0 homem e suas relal'oes com a pulsilo, 0 desejo,

o ideal, a palavra, entre outros. Detenho-me entretanto em analisar 0 que pude

perceber desta hist6ria , abordando 0 Rei e sua relal'30 ao amor paixao e aloucura. Tal rei vivendo em sua realeza, "dono" da colonia americana que

movimenta-se para a independencia" casado com uma rainha que ama, pai de

15 filhos, relata sua tristeza por perder 0 que considera seu parafso. Em suas

palavras, percebe-se a dar e a tristeza par perder a que era tao seu. "Aquelas

belas planfcies, aqueles vales somente la encontrados, flares tao belas

qlle s6 la existem", a rei comel'a a enlollqllecer.0 rei nao pode falar. Sells

silditos nao devem ouvf-Ioa praguejar, pode perder a posse do trona por

ser julgado como 10uco.Entretanto,esta perda 0 faz agir desmesuradamente,

realiza atrocidades aos olhos dos demais, e tido como 101lco e afastado do

trono e tambern de sua arnada rainba, falta igualmente dificil de suportar. E

sllbmetidoa tratamentos agressivos, 0 machucarn 0 separam de sellSamados,

reino e familia.Ate que, a ama da rainha em conversa particular com um dos

seus subordinados, leva ao conhecimento deste, 0 nome de urn medico que

diz ter curado sua sOb'!"aem condil'oes parecidas. 0 medico qlle trata sells

doentes pelo trabalho no campo, e levado ao castelo para tratar 0 rei. Ninguem

Page 22: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Subre II .'IlIbJlernlo (/0 /II~O allloro.'iO

pode olhar 0 soberano nos olhos, entretanto, e esta a primeira atitude do

doutor, que diz ao rei, te-Io agora nos olhos, e que para ele 0 rei e agora urn

paciente, nao lim rei.

Adoecer de paixao e quase que 0 caminho certo destes amantes suicidas,

entretanto, 0 medico do filme parece saber algo deste tipo de adoecer. Sua

ordem inicial e a de que, cada vez que 0 rei nao lute contra sucumbir as

loucuras que estas paixoes 0 trouxeram, seja imobilizado, amordayado.

Tecnicas terapeuticas a parte, este medico parecia de certa forma sacar, qlle

algo do eu, doente, despersonalizado, necessitava achar foryas por qllerer

viver. Era preciso lutar, querer continuar vivo para poder sair da loucura

neurotica. 0 tratamento se da, entre imobilizayoes, conversas, desenhos

realizados pelo rei, e ate dramatizayoes entre medico e paciente da leitura do

ciassico de Shakespeare, Rei Lear. Recllpera-se 0 rei. Porem tun novo Rei. Urn

rei que aD retomar aD sell reino e a sua rainIm, e agora George, apesar de ser

rei. Ama sua rainha, ainda nao Ilecessita de concubinas, por escolha propria. E

diz quando interpel ado por sua companheira sobre 0 fato de nao te-Ias, diz:

"Nao ha tuna so vida sem arrependimento, mas tam bern nao ha uma so vida

sem consolo. Voce e uma boa esposa. Sou feliz estando so com voce".

Retoma a sua rainha e pode ama-Ia, retoma ao sell reino e sobre a antiga

Page 23: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a SllbVCTS(iodo loro Ol1lor()so

colonia ja pode dizer: "Como e mesmo seu nome? Eslados Unidos da

America? Parece que vamos ler que conviver com iSlo." Nesle percurso

sofiido que faz lal rei do nada, loma-se ao menos dono de algo: do seu desejo.

Guardadas as propor~6es desle caso, pode-se dizer que houve uma

subversao. Uma subversao inclusive do amor: Do amar-se no outro, ao poder

amar 0 outro. Seu medico percebe islo. E agora, em sinal de respeilo, ja

l1aO mais mira-o nos othos. 0 reverencia como os demais, e mistura-se a

multidao para junlo com ela desejar longa vida ao rei e sua familia.

"Soma Inglalerra, seu velho rei esla de voIla! ". Seu velho rei? Sun, nao

e um novo rei. E mesmo 0 velho, s6 aprendeu a amar, esla renovado.

Page 24: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

v - 0 amor de transferencia.

"Vinculo arelivo intenso, que se instaura de forma automatica e atual,

entre 0 paciente e 0 analista, comprovando que a organiza~ao subjetiva do

paciente e comandada por urn objeto, que Jacques Lacan denominou de

objeto a". 12

Este vinculo afetivo que ocorre na situa~ao ana\itica da-se

independentemente do contexto da realidade. Se tal vinculo nao se opera, na~

se da 0 processo analitico. Ele e ao mesmo tempo possibilitador; facilitador,

como pode vir ser obstacularizador de tal processo.

A transferencia, na~ e exclusiva da psicanruise. Esta presente nas

rela~oes diversas do ser Illnnano.Percebe-se tal fenomeno em dire~ao it

medicos, professores, colegas, amigos, parentes, amantes. Entretanto, na

analise, trata-se de acoUle-la, porem na~ gratifica-Ia, nem tarnpouco frusta-Ia.

"Trata-se apenas de reconbecer estes direitos, deixa-Ia proceder, para decifrar

sua significa~aonos significantesem que ficava presa". 13 0 analista assume de

certa forma 0 lugar de interprete, estando disponivel, portanto, a escutar seu

paciente. Nesta escuta, percebeni que lugar ocupara na transferencia, ouvindo 0

fantasma, as repeti~5es, podera ter em mente a dire~ao de cura. Presta-se 0

analista, ao pape\ de suportar a transferencia e a revivescencia dos afetos

Page 25: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

trazidos a tona por fatos rememorados durante a analise, por sell paciente: 0

analista paga com 0 seu seL Abre mao de desejar 0 que ere como Bem para

que seu paciente pragrida e possa falar e ir em direyiio ao seu Bem.

"A transferencia, se e verdade que ela se estabelece na e pela dimensao

da palavra, so traz a reveiayiio dessa relayao imagimiriaocorrida em certos'

pontos cruciais do encontro falado com 0 outro, quer dizer aqui, com 0

analista.. ...0 sujeito desenvolve no discurso analitico 0 que e sua verdade,

sua integrayaO, sua hist6ria."14

o psicanalista, frente a este amor que Ihe e entregue e que e real, deve

agir segundo Freud, com 0 mesmo cuidado com que age urn quimico em

laboratorio, pois mexe com delicados e ate perigosos componentes " ...se

pensannos no momento da interpretayao: 0 analista esta. entao estilTIulando

deliberadamente urna parte da enerb~a pulsional do paciente que e viva, real,

univoca e dirib~dadiretamente para ele. Percebe-se que tal momento deve, mais

do que qualquer outro, por a prava suas relayiies com suas proprias pulsiies

inconscientes". 15

Page 26: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Vl~"Vm Morro chamado amor"16

"Entao, a diferenl'a da sublimal'ao e que nela se come,a a aprender a

grande lil'ao da psicanalise. A mais extraordinaria: a psicanalise de cada

analista quando se cum pre 0 circuito do lim de analise e de ensinar a amar wn

pouco melhor, ainda que lique urn semi-dizer, 0 "echte liebe"de Freud, 0 amor

autentico, sem sintoma. Nao 0 amor a partir do gozo do sintoma"l7

E possivel que amor e morte possam conjugar-se de diferentes fonnas, a

partir de que ponto do amor se fala e de que morte trata-se entao. 0 amor

paixao, tern como sua companheira absoluta a morte da diferen,a. Este casal

inseparavel de am antes, promove a despersonilica,ao dos parceiros, levando

por vezes ;\ morte inclusive do corpo fisico. Nao somente de seu esvaziamento

imab~nario. 0 amor dom ativo, traz em sua companhia a morte do ideal. Algo

deve morrer para que se possa de fato amar. Algo do estabelecido como

possibilidade de complemento absoluto, de "inspiro quando e se expiras", algo

da fascina,ao total.

Se nao se pade viver bern, produzir, se nao se conseb'1.leamar, e bem

pelo fato de que somente investindo em objetos que tam bern Ihe dao 0 lucro do

Page 27: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

retorno, pode-se equilibrar a economia libidinal. Bern, 0 homem e tun ser

narcisico, e com ele, em verdade, tudo se trata de economia libidinal.

Entretanto, poder investir mLmobjeto de amor sem misturar-se a ele perdendo

assim sua identidade, demanda ai!,'um percurso pel a vida, as vezes, pel a amilise

e possibilidades muitas de deparar-se invariaveltnente com alguns lutos a se

fazer. Quebras narcisicas ocorrem neste percurso, onde geralmente e a duras

pen as que 0 sujeito descobre, pagan do por vezes com Iibras de seu proprio

corpo, que aquela "bandeirinha" que assinalava ao longe como: "Aqui temos

completude e felicidade aos moldes do que se imaginou ter perdido"sao doces

ilusiles que podem tomar-se bern amargas. Entretanto, neste percurso que se

faz, citando agora 0 analitico, em dire9ao a castra9ao, por nao mais sustentar-se

na ilusao, 0 sujeito acaba por deparar-se com 0 autro como OLltrO,e nao mais

como extensao de si proprio. a reconhecimento da difereu9a leva tambem a

possibilidade de amar. Amar a partir de urn novo ponto. Amar como nos diz 0

poeta Vinicius de Morais, sobre 0 amor: "Que nao seja etemo, posto que echama, mas que seja infinito enquanto dure". Sofrer quando este amor ja nao

mais e possivel, mas nao precisar sucumbir por isto.

Page 28: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Ao sainnos do litera matemo, diferenciamo-nos por portannos ou nao

um penis.Saimos do edipo como meninos ou meninas. Da analise, podemos sair

como homens ou mulheres. Nas palavras de alguem em amilise: "Ja nao quera

ser mais pau para toda e qualquer obra e sim obra para todo, mas nilo qualquer

pall."

Embora 0 objeto l! esteja, para escolha do objeto de amor, 0 SlUeito, com

seu desejo agora advertido pode oplar sobre se quer 0 que deseja ou nilo. Ha

uma possibilidade de escolha e nilo apenas de ser escolhido.

Ha entao entre homens e mulheres lima nova reJa~ao HO acesso ou

perrnissilo que lUll homem pode dar a uma mulher de que ela goze, desde que

cIa concorde que algo deva morrer.

o altar do thalamo talvez seja sacrificial, mas para os dois, pois a rnulher

entrega 0 corpo ao hornern que 0 perde.

E seus corpos poderilo ser dispostos nwn morro, que, como lernbrou-rne

rninha amiga Ana Callegari, os cemiterios sempre ficam no alto das cidades,

nas colinas rnais bel as, portanto seus corpos poderiio ser dispostos num morro

chamado amor." 18

Page 29: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

NOTAS BIBLIOGRAFICAS

1- LACAN, J. - Semimirio V[JJ- A Etica da Psicanalise, pag. ,360.

2- LACAN, J. - Seminario 1- Os Escritos Tecnicos de Freud, pag., 95 .

3- FREUD, S. - Obras Completas , Sobre 0 narcisismo : Uma Introdul'iio,pag.,IOI.

4- FREUD, S .- Obras Completas , Sobre 0 narcisismo : Uma lntrodul'ilo ,pag.,l18.

5- Autor desconhecido.

6-GIDE, A.-

7-LACAN ,J.

Os Frutos da Terra, pag ,38.

Seminario I-Os Escritos Tecnicos de Freud, pag.,315

8-LACAN,J. Semillario I-Os Escritos Tecllicos de Freud, pag.,3J5

9- LAFONT, J.G. - A Topologia de Jacques Lacan, pag.,95

10-.LAFONT, J.G. - A Topologia de Jacques Lacan, pag.,95

11- LACAN, J. - Seminario I-Os Escritos Tecnicos de Freud, pag., 175

12- LAROUSSE / ARTES MEDICAS - Dicionano de Psicanalise, pag.,217-219

13- CABAS, A.G.- Um Saber Certo, in: Letras da coisa n° 04

14- LACAN, J - Semimirio 1- Os Escritos Tecnicos de Freud, pag.,322

15- REVUE FRAN<;;AlSE DE PSYCANALYSE - La Nature de J'actiontherapeutique de Ja psycanalyse pag.,255 - 284

Page 30: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

16- CALLIGARIS, E. - Um Morro Chamado A.mor, in: 0 La90 Conjugal,pag.,117

17- SC1ARRETTA, R. - Seminario proferido na Biblioteca Freudiana deCuritiba, Mar90 de 1.995

18-CALLIGARIS, E. - 0 La90 Conjugal - Texto: Um Morro Chamado Arnor,pag., 1J 6 - ]]7

Page 31: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

BIBLIOGRAFIA

1- CABAS, A.G : Um Saber Certo in: Letras da Coisa n° 04 - Publieayao deCoisa Freudiana - Transmissao em Psieamilise.

2- CALLlGARlS, E : Um Morro Chamado Amor in: 0 Layo Conjugal. PortoAlegre; Artes e Ofieios, 1.994

3- FREUD, S : Obras Completas - A Dinfuniea da Transfereneia, 1.912, Vol.XII, Editora Imago.

4- FREUD, S : Obras Completas - Sobre 0 Nareisismo: Urna Introdlleao,1.914, Vol. XIV; Editora Imago.

5- GIDE, A.: Os Frutos da Terra - Trad. Sergio Milliet. Rio de Janeiro; NovaFronteira, 1.982

6- LACAN,J.: 0 Seminario. Semin:irio I - Os Eseritos Teenieos de Freud. Riode Janeiro; Zahar, 1.986.

7- LACAN,J.· 0 Semin:irio.Sernin:irio VII - A Etiea da Psieanalise. Rio deJaneiro; Zahar, 1.988.

8- LACAN,J. :0 Sernimirio. Sernin:irio XX - Mais Ainda. Rio de Janeiro;Zahar, 1.985.

Page 32: Sobre a Subversiio do Laco Amoroso - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/media/tcc/2015/05/SOBRE-A-SUBVERSAO-DO-LACO... · Ao falar de suas dores, temores, 6dios e amores, ao queixar-se,

Sobre a sub,'ers(lO (/0 lclfO (llIloroso

9- LAFONT,J.G.: A Topologia de Jacques Lacan. Rio de Janeiro; Zahar,1.985.

10- LAROUSSE / ARTES MEDlCAS : Diciomirio de Psicamilise. Trad.Francisco Franke Settineri (APPOA).Porto Alegre, 1.985.

11- REVUE FRAN<;:AISE DE PSICANALlSE: La Nature de L'actionTherapeutique de LaPsycamilyse; PUF, 1.970