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Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários Volume 16 (set. 2009) - ISSN 1678-2054 http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa SÍLVIO ROMERO, UM CRÍTICO DO SÉCULO XX Marta Eymael Garcia Scherer e Luiz Alberto Scotto de Almeida (UFSC) [email protected] RESUMO: Demonstrar a importância de Silvio Romero como precursor de idéias e debates que perpas- saram toda crítica literária do século XX é objetivo deste artigo. Muitos dos temas estudados por Ro- mero inauguraram o discurso intelectual brasileiro e deram ao seu autor o caráter moderno e funda- dor da crítica social, política e intelectual da sociedade brasileira. Procuramos aqui demonstrar como foi Sílvio Romero quem fez da crítica literária um instrumento de construção da nacionalidade. PALAVRAS-CHAVE: Crítica - Sílvio Romero – História da Literatura. Se olharmos em torno dos modernistas de 1922 – numa visão minimamente pano- râmica – vamos perceber que o movimento eclodiu somente oito anos após a morte do crítico Sílvio Romero: ex-escravos ainda vagavam pelas ruas; as epidemias conti- nuavam matando e o país estava nas mãos de Epitácio Pessoa e no tédio conservador da política café com leite. O discurso racial e nacionalista de Sílvio Romero parece ter envelhecido e desaparecido da pauta intelectual do século XX, enquanto a sensação de proximidade com Mário de Andrade é evidente. Entre as razões está a familiari- dade com o universo modernista, ambiente cultural no qual crescemos, com seus valores estéticos e recomendações intelectuais. Esta é uma impressão verdadeira, mas enganosa. Sílvio Romero estará presente no pensamento dos modernistas, como vai aparecer na construção intelectual de 1930, na formação da crítica literária e na leitura sociológica do Brasil durante todo o século passado. É um pensamento que se revela sem citação, sem autoria, às vezes como uma “verdade social natural”; outras como uma descoberta “moderna”; há ainda decisões políticas decorrentes de suas idéias. Enfim, são inúmeras as influên- cias deixadas por Sílvio Romero no andar da vida intelectual do Brasil e em toda críti- ca literária que perpassou o século XX e chega a nossos dias. As rupturas provocadas na harmonização discursiva de Silvio Romero acabaram se revelando verdadeiros caminhos de leitura e de estudos da realidade brasileira. As

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historiografia literária.

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  • Terra roxa e outras terras Revista de Estudos LiterriosVolume 16 (set. 2009) - ISSN 1678-2054 http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa

    SLVIO ROMERO, UM CRTICO DO SCULO XX

    Marta Eymael Garcia Scherer e Luiz Alberto Scotto de Almeida (UFSC)[email protected]

    RESUMO: Demonstrar a importncia de Silvio Romero como precursor de idias e debates que perpas-saram toda crtica literria do sculo XX objetivo deste artigo. Muitos dos temas estudados por Ro-mero inauguraram o discurso intelectual brasileiro e deram ao seu autor o carter moderno e funda-dor da crtica social, poltica e intelectual da sociedade brasileira. Procuramos aqui demonstrar como foi Slvio Romero quem fez da crtica literria um instrumento de construo da nacionalidade. PALAVRAS-CHAVE: Crtica - Slvio Romero Histria da Literatura.

    Se olharmos em torno dos modernistas de 1922 numa viso minimamente pano-rmica vamos perceber que o movimento eclodiu somente oito anos aps a morte do crtico Slvio Romero: ex-escravos ainda vagavam pelas ruas; as epidemias conti-nuavam matando e o pas estava nas mos de Epitcio Pessoa e no tdio conservador da poltica caf com leite. O discurso racial e nacionalista de Slvio Romero parece ter envelhecido e desaparecido da pauta intelectual do sculo XX, enquanto a sensao de proximidade com Mrio de Andrade evidente. Entre as razes est a familiari-dade com o universo modernista, ambiente cultural no qual crescemos, com seus valores estticos e recomendaes intelectuais.

    Esta uma impresso verdadeira, mas enganosa. Slvio Romero estar presente no pensamento dos modernistas, como vai aparecer na construo intelectual de 1930, na formao da crtica literria e na leitura sociolgica do Brasil durante todo o sculo passado. um pensamento que se revela sem citao, sem autoria, s vezes como uma verdade social natural; outras como uma descoberta moderna; h ainda decises polticas decorrentes de suas idias. Enfim, so inmeras as influn-cias deixadas por Slvio Romero no andar da vida intelectual do Brasil e em toda crti-ca literria que perpassou o sculo XX e chega a nossos dias.

    As rupturas provocadas na harmonizao discursiva de Silvio Romero acabaram se revelando verdadeiros caminhos de leitura e de estudos da realidade brasileira. As

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    definies temticas dos estudos nascidos do desencanto poltico desse intelectual tornaram-se smbolos das contradies que se estabeleceram na sociedade brasileira. Em pases como o Brasil, onde o Estado nasceu antes que um sentimento de naciona-lidade preponderasse, os intelectuais foram essenciais na produo de um imaginrio nacional, misso na qual Slvio Romero se engajou de forma contundente.

    Foi por meio desse tipo de engajamento intelectual que a chamada Escola de Re-cife, de 1870, - que rene tambm nomes como Capistrano de Abreu, Araripe Jnior e o Jos Verssimo - procurou intervir nas transformaes histricas que resultaram no surgimento de uma sociedade brasileira urbana do tipo moderna. E Romero quem traz cena histrica o escritor combatente, em conflito com o status quo. Foram tam-bm os crticos da gerao de 1870 que romperam com o pensamento religioso em prol de uma viso laica. So partidrios das novas filosofias europias e investigam a formao da sociedade nacional baseados no determinismo da raa e do ambiente.

    As noes de raa e natureza, de trpicos e miscigenao esto no centro de todo o debate do sculo XIX sobre a nao brasileira e sua literatura. Qual a literatura criada em meio natureza tropical, por um povo mestio? Entre os intelectuais que buscam essas respostas, sobressai Slvio Romero. Armado de teorias cientificistas, publica, em 1888, sua Histria da Literatura Brasileira, primeiro texto em que se encontra um esforo de historiar a literatura, a entendendo como expresso de certa realidade. Aproxima crtica e histria ao atribuir a primeira a misso de contribuir para constru-o da nacionalidade. Mais do que um livro de crtica literria, a Histria de Romero um imenso tratado destinado a fazer saltar um pas de suas pginas (Schneider 2005: 15).

    importante salientar o papel fundamental de seu livro central, a obra mais im-portante e matriz acabada de seus estudos e de todos os trabalhos crticos literrios que se seguiram. Nessa obra, ao submeter a crtica literria aos objetivos polticos, foi obrigado a alargar conceitos para estabelecer novos critrios de valorizao. Nas palavras de Candido: Como pretendia analisar a situao cultural brasileira, com vis-tas a uma reforma intelectual, ligada reforma social, ele se viu obrigado a estender demasiadamente o conceito de literatura, at faz-la englobar todos os produtos de criao espiritual, da cincia msica (1989: 70).

    Antes de Slvio Romero a crtica vivia da mstica do processo de criao. Textos sobre o dom, a genialidade, a inspirao, ou seja, sobre o que seria o processo criativo do autor, formavam grande parte do que se chamava de crtica literria. A outra parte era feita de impresses sobre o prprio objeto artstico, no passando nunca do julgamento que envolvia o universo fechado da prpria representao. A obra se tornava uma expresso do gnio criativo e autoral do artista. Confundia-se com o autor e seus tnues vnculos com a realidade se davam numa representao sublimada de valores e de verdades representadas nos enredos e tramas narrados.

    No queremos dizer com isso que a crtica romntica desempenhou o papel de ingnuo avaliador de obras e escolas. O romantismo nada teve de ingnuo. Mas, de fato, os romnticos Gonalves de Magalhes, Pereira da Silva, Joaquim Norberto e

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    Varnhagen no foram submetidos responsabilidade que Slvio Romero se atribuiu: fazer da crtica literria um instrumentos de construo da nacionalidade. Neste sentido, armado de seu cientificismo, Slvio Romero se auto proclamou o primeiro historiador da literatura brasileira, ao mesmo tempo em que atacava o subjetivismo dos antecessores. Alm de avaliar obras e autores, sua crtica pretendeu sistematizar toda a produo literria brasileira. Para isso, numa lcida diferenciao de Slvio Ra-belo, a obra do crtico dividida em duas partes: uma, doutrinria; e outra, de siste-matizao crtica:

    Sempre que se apresentava a oportunidade para a discusso de doutrina, de sistemas e de escolas, ele se afirmava com desembarao e quase sempre com lucidez....da experincia feita em idias e solues que no se cansava de manipular com sensual volpia. O que dependesse, porm, de uma apreenso pela sensibilidade ou pela intuio escaparia sempre sua capacidade crtica. Por isso, Slvio Romero cometeu em literatura os mais graves erros de julgamento. (Rabelo 1944: 94-95)

    Podemos ver com clareza esta aparente incapacidade de exercer a anlise em literatura, atravs dos prprios estudos que deixou. No seu furor naturalista fica evi-dente que a nica preocupao dentro da narrativa literria encontrar elemen-tos documentais que atestem a vida fora da obra. No seu Martins Pena, por exemplo, aparecem todas as virtudes e defeitos das leituras crticas por ele realizadas. Quando mergulha para dentro da obra a pobreza evidente. A nica coisa que procura a reproduo fiel de situaes sociais reveladoras da sociedade brasileira. Mas quando contextualiza a obra e o papel de Martins Pena na historiografia literria brasileira admirvel. a que Antonio Candido indaga com propriedade:

    De maneira quase sempre decepcionante, Slvio Romero crtico literrio algum que s consegue ver, para l da literatura, o seu cunho de documento da sensibilidade ou da sociedade [...] Mas quem sabe isso foi at certo ponto condio para ele compreender to bem a literatura como fato social e, no caso brasileiro, o seu papel na formao da conscincia do Pas? (Candido 1988: 116)

    Evidente que esta pergunta parece trazer sua prpria resposta, a partir da premis-sa colocada por Antonio Candido. Mas, em decorrncia disso, temos uma segunda indagao absoluta e impositiva: que fatores levaram Slvio Romero, que tinha cons-cincia de sua maneira de exercer a crtica, a atribuir tanto peso a elementos de fora do texto e to pouco aos elementos prprios da esttica literria? Deixemos que o prprio Romero responda:

    , portanto, sinal de atraso, depois que a sociologia mostrou a solidariedade de todas as foras espirituais no progresso humano, vir ainda agora preconizar a indiferena da crtica diante de todos e quaisquer fenmenos da produo mental e coletiva e encomiar o diletantismo de criticar por criticar, como se

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    gabou a arte pela arte e at o verso pelo verso, a frase pela frase....Sem paixo, queremos dizer, sem amor e devotamento, nada de bom e grandioso se pode fazer neste mundo. no combate por uma causa, por um sistema, por um conjunto de idias, por uma filosofia, que h de estar o norteamento da crtica. (Morais Filho 1985: 215)

    A ltima frase sntese do caminho que tomou, no que se refere anlise e histria literria: submeter o seu exerccio de crtica ao servio de uma causa, por um sistema. A causa em questo de fundo puramente poltico e doutrinrio. E isso se reflete no prprio desequilbrio argumentativo do Histria da Literatura, onde as razes doutrinrias so mais fundamentadas teoricamente do que as atribuies valorativas de obras e autores. Da suas limitaes to bem demonstradas de for-ma quase unnime pela crtica que se seguiu e, principalmente, por Jos Verssimo. Toda a atividade intelectual produzida por Slvio Romero parece obedecer a um nico padro argumentativo e referencial: a poltica. Isso fica insinuado ou aparece em la-cunas argumentativas como esta e torna-se aberta e evidente quando entramos no campo doutrinrio.

    Dito de maneira radical - para tornar tambm mais claro o que queremos afirmar o seu comprometimento poltico, com fatores extra texto, e o comprometimento esttico, com os fatores internos do texto, foi o grande debate literrio que atra-vessou o sculo XX com todos seus matizes ideolgicos inevitveis. Neste sentido, espantosa a contemporaneidade com que Slvio Romero e Jos Verssimo muito alm do que o ambiente intelectual brasileiro permitia desenvolveram e argumen-taram nos dois principais caminhos por onde transitaria os novos parmetros da cr-tica moderna. Jos Verssimo procurando atribuir valor ao prprio objeto nos seus atributos estticos e conceituais e Slvio Romero fazendo a crtica literria julgar por aspectos histricos e sociais de seu nascedouro.

    O texto literrio, para Romero, deveria ter fidelidade ao mundo real e a capacida-de de esboar os costumes, a cultura e os dramas histricos da nossa gente. Por literatura, o crtico compreende diversos gneros textuais:

    Para mim a expresso da literatura tem a amplitude que lhe do os crticos e historiadores alemes. Compreende todas as manifestaes da inteligncia de um povo- poltica, economia, arte, criaes populares ... e no, como era costume supor-se no Brasil, somente as intituladas belas artes, que afinal cifravam-se quase exclusivamente na poesia. (Romero 1960: 60)

    Toda a crtica literria baseada na interpretao sociolgica da literatura, quer di-zer, crtica que tenta explicar a gnese atravs de fatores sociais, tem tributo a dar a Slvio Romero. De maneira mais evidente, claro, nos crticos mais esquerda: Astrogildo Pereira, do Interpretaes e o espelhamento social e econmico; Nelson Werneck Sodr, em Histria da Literatura Brasileira (1938) e os valores contidos na capacidade do autor de interpretar sua classe e seu momento histrico; o prprio Antonio Candido de Formao da Literatura Brasileira e o enquadramento histrico e

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    social, alm do conceito de literatura empenhada. H um caminhar constante pela estrada aberta por Slvio Romero: alguns transitando em toda sua extenso; outros apenas alguns trechos.

    O outro lado da Histria da Literatura Brasileira, o lado doutrinrio de sua proposta de estudo, gira em torno da construo da nacionalidade brasileira. Slvio Romero voltava sua ateno para os aspectos histrico-sociais da criao literria. Tanto as manifestaes eruditas quanto as populares foram contempladas, desde que cum-prissem um quesito: estar em consonncia com a criao da nao. A literatura valorizada medida que reproduz aspectos da vida e da paisagem nacionais. A exis-tncia de uma literatura nacional, com obras e autores originais, se ligava afirmao da autonomia e da soberania da sempre em construo nao brasileira.

    histria literria, ento, devem interessar aquelas obras que reflitam a especi-ficidade nacional e tenham contribudo para o processo de formao da nao. A nacionalidade critrio de seleo, ordenao e valorizao do literrio. E a nao romeriana mestia. Nela, todas as etnias tm lugar de forma conjugada.

    Slvio Romero formulou a epopia da nacionalidade. Ao mesmo tempo, intro-duziu um tom trgico e pessimista, representado pela natureza tropical ou pela de-generao racial. Alternava momentos de otimismo e de pessimismo, mas sempre convicto de que o pas era um laboratrio tnico, mestio e tropical. O crtico defen-deu e interpretou a constituio da sociedade brasileira luz da mistura tnica, do ambiente e da troca de experincia civilizadora entre europeus e americanos:

    A histria do Brasil (...) antes a histria da formao de um tipo novo pela ao de cinco fatores, formao sextiria em que predomina a mestiagem. Todo brasileiro um mestio, quando no em sangue, nas idias. Os operrios deste fato inicial tm sido: o portugus, o negro, o ndio, o meio fsico e a imitao estrangeira. ( Romero 1960: 54)

    Crtica literria era para ele identificar a singularidade da cultura genuinamente po-pular expressa na literatura, nas modinhas, nas canes, no folclore. Estas manifes-taes artsticas seriam conseqncias e imagens projetadas de uma situao social, que procurou desenvolver com cientificismo, baseado na definio racial do povo brasileiro. Quer dizer, para determinar esta produo cultural foi necessrio que de-finisse primeiro o povo brasileiro e a sua grande descoberta o mestio. O mestio permitiu que afirmasse a existncia de uma nao porque o tnhamos como raa. Mas a concluso no estava totalmente resolvida e, por isso, uma advertncia:

    Manda a verdade, porm, afirmar que essa almejada unidade, s possvel pelo mestiamento, s se realizar em futuro mais ou menos remoto; pois ser mister que se dem poucos cruzamentos dos dois povos inferiores entre si, produzindo-se assim a natural diminuio destes, e se dem, ao contrrio, em escala cada vez maior com indivduos de raa branca. E, mais ainda, manda a verdade afirmar ser o mestiamento uma das causas de certa instabilidade

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    moral na populao, pela desarmonia das ndoles e das aspiraes no povo, que traz a dificuldade da formao de um ideal nacional comum. (Romero 2001: 305)

    A mania das raas em Slvio Romero foi uma constante fonte de contradio de seu pensamento e com certeza um dos fatores a envelhecer os estudos sociolgi-cos, na medida em que as pesquisas etnogrficas saram da pauta intelectual, a partir da dcada de 1940. Mas at a Primeira Guerra Mundial, a base tnica com que Slvio Romero havia pensando o Brasil, era a mesma que havia sido utilizada na Europa para a afirmao racial de alemes, ingleses, franceses e seus interesses nacionais. O conceito feudal que criava raas nobres e superiores, para justificar privilgios e vantagens sobre a plebe de etnia inferior, serviu tambm no mundo burgus e ca-pitalista para justificar e naturalizar a explorao e a colonizao imperialistas de pases. Era a lei biolgica da sobrevivncia do mais adaptado ao meio, ou o darwinis-mo, aplicado na justificativa das desigualdades sociais. Um conjunto de pensadores importantes do sculo XIX tratou de difundir e justificar racialmente as diferenas econmicas e as desigualdades sociais entre pases.

    Aqui importante, para que possamos compreender as influncias deixadas por Slvio Romero, retornarmos a duas correntes do pensamento racial e racista que so fundamentais nas concepes de sociedade e nao que desenvolveu. Um deles, de autoridade no Brasil porque aqui viveu como diplomata alguns anos, foi Arthur de Gobineau. A sua obra, Essai sur lingalit des races humaines, publicado de 1853 a 1855, tratou de difundiu seus estudos de que homens de etnias diferentes tinham c-rebros maiores ou menores e isso determinava o nvel de civilizao das sociedades em que estavam inseridos. Na escala de desenvolvimento, os povos arianos ocupa-vam o topo da pirmide e negros e amarelos a parte inferior povos mediterrneos tambm apresentavam nveis intelectuais inferiores por causa da miscigenao ao longo da histria. Na Europa, suas idias o tornaram famoso e o gobinismo foi mais um elemento a justificar e explicar a superioridade racial de alguns povos.

    No desenvolver de suas pesquisas, a base intelectual de Slvio Romero passou a incorporar a sociologia de Le Play e o conceito de uma sociedade derivada de causas claras, objetivas. E este se tornou sua segunda base terica de pesquisa social. O con-ceito bsico de Le Play reside na idia de que todas as sociedades so regidas pelas mesmas leis em todos os tempos e em todos os lugares. Estas leis, cientificamente imutveis, fornecem um critrio e, atravs dele, o corpo social analisado. As so-ciedades, portanto, eram organismos vivos e tinham a vida familiar como clulas da formao deste corpo. Todas as caractersticas da sociedade positivas ou negativas estariam contidas nesta clula primeira, no grupo familiar. O estudo do funciona-mento desta vida familiar, modo de trabalho, forma de educao, poder materno, poder paterno, forneceria elementos para se decifrar as causas dos males sociais.

    Desta viso derivou uma nova leitura sociolgica romeriana radicalmente de-terminista que transferiu os valores atribudos s cargas genticas, do passado, para as condies de vida familiar. O curioso perceber que, se antes a gentica ideal para o desenvolvimento social era a branca europia, agora eram famlias brancas e

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    europias as causadoras do desenvolvimento social nos pases europeus. Da com-binao de Spencer (e as sociedades individualistas) e Le Play (e as sociedades particularistas), Slvio Romero desenvolveu seu pensamento sociolgico definitivo e que carregou at o final da vida. Sobre Le Play escreveu: O grande esprito que melhor aplicou o mtodo da observao na cincia social. Quando demos a primeira edio deste livro (...), no conhecamos ainda os considerveis estudos dessa escola, cujos processos e mtodos adotamos, porque eles vm reforar as doutrinas capitais do evolucionismo sociolgico de Spencer (Romero 1969: 608).

    Os acontecimentos vividos por ele, com a experincia republicana no Brasil, foram colocando sua viso de mundo em perspectivas diferentes. Assim passou a transitar de Gobineau para Le Play (de fatores genticos para fatores familiares) nota-se a persistir uma base doutrinria que est na definio do que ele chamou de o inc-modo problema das origens (Romero 2001: 196) Na sua insistncia em definir o ca-rter nacional brasileiro, num alicerce popular que imaginava a nao possuir, insistia em concepes de natureza tnica, depois antropolgica e, por fim, sociolgica.

    Do ponto de vista poltico, o pensamento de Slvio Romero apresenta pontos de constncias que lhe deram a coerncia de uma viso social conservadora. Antes da Proclamao, encontramos o crtico confiante no prspero futuro da nao atravs da mudana de regime. Instalada a Repblica, vamos v-lo raivoso, amargo e pessi-mista com os confusos caminhos que a nao brasileira havia tomado. Na direta pro-poro em que sua desiluso crescia, aumentava tambm o seu conservadorismo, suas posies antiliberais e mesmo reacionrias. O pensamento de Slvio Romero claramente uma dissidncia direita do projeto republicano vitorioso em 15 de no-vembro.

    Nesta fase, em que se fortalece o pensamento maduro, a idia de ordem e har-monia nas relaes internas do tecido social foi dominante. Ele as herdou de Comte. E o conceito de que a sociedade como ente vivo resolveria por si s as prprias anomalias vieram de Spencer. Os movimentos populares e as idias revolucionrias do final do sculo XIX no foram capazes de tir-lo do entendimento de que a socie-dade o palco da evoluo das espcies, lugar de aperfeioamento de povos e de indivduos. Percebeu com clareza, ainda no incio da dcada de 1890, a disputa que comeava a se mostrar e que atravessaria todo o sculo XX:

    A democracia se divide em duas grandes fraes: de um lado, acham-se todos aqueles que esperam que a evoluo seja feita gradativa e harmonicamente pela energia latente que dirige o progresso; de outro lado, colocam-se em linha os que pretendem intervir francamente na direo dos fenmenos histricos, reorganizando a sociedade, que lhes parece seguir marcha errada. De uma banda, em uma palavra, os individualistas e endeusadores da liberdade, de outra banda, os socialistas, os fanticos da igualdade. (Romero 2001: 78)

    No queremos dizer aqui que o discurso tnico-nacionalista e anti-socialista de Slvio Romero seja fundador do pensar a sociedade brasileira dentro de uma con-

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    formidade ideolgica definitiva. O que podemos demonstrar que seu pensamento contribuiu com elementos cientficos para a difuso de um discurso conservador. Estabeleceu uma base de inquietao que passou a permear os estudos sociais no Brasil j a partir de suas primeiras publicaes. A figura do mestio ganhou o espa-o central nos estudos que procuravam o sentido da nacionalidade.

    Origens, influncias, formao, derivaes, futuro, raas originrias, msica, me-lancolia, cultura, passado, ndios, musicalidade, negros, colono portugus, clima quente, escritores, famlia. As derivaes foram inmeras, de forma geral alimentan-do o mito de um jeito de ser nico. Seja na cordialidade, na alegria, na musicalidade, na prpria miscigenao. Por qualquer ngulo que se observe, a temtica desenvolvi-da por Slvio Romero pareceu atender a uma demanda intelectual e poltica que for-java a construo da nacionalidade ao se voltar s origens e perseguir o seu prprio percurso como nao.

    Na cultura livresca, do incio do sculo, Romero aparece j impregnando a tem-tica raa-nao que se tornou dominante no debate brasileiro a partir da publicao de Histria da Literatura Brasileira. Graa Aranha, de Cana (1902), Euclides da Cunha, com Os Sertes (1902) ou mesmo um Monteiro Lobato, de Urups (1918) j debuta-ram inseridos na discusso do nacionalismo pessimista difundido por Slvio Romero e na contramo da cultura dominante. Hoje so textos tomados, pela crtica e pela historiografia, como fundadores de um pensar a nacionalidade brasileira. Foi por este caminho que as primeiras influncias comearam a ser sentidas. Mas elas foram bem mais longe.

    A influncia de Slvio Romero sobre o nosso pensador mais reacionrio e autori-trio, Oliveira Viana, em muitos momentos, tornou-se bastante clara. A acusao de termos uma elite que imita o estrangeiro, a ignorncia em relao a nossa realidade, a leitura tnica da populao so elementos claros desta aproximao. Jos Murilo de Carvalho escreveu que vrios pontos centrais do pensamento de Oliveira Vianna enraizavam-se na tradio brasileira e no estrangeira. Ele mesmo reconhecia sua d-vida com alguns de seus predecessores, particularmente com Alberto Torres e Slvio Romero (Carvalho 1991: 88).

    O fervor etnolgico de Slvio Romero segue com Gilberto Freire, de Sobrados e Mucamos, que reconhece a primazia de aspectos importantes de sua obra, como a insero do negro na esfera pblica da sociedade urbana em formao, e vai perse-guir a construo de uma histria brasileira a partir das raas que a formaram. Esses so achados evidentes. Mas tambm h muito em seus trabalhos biogrficos, como as leituras que fez de Euclides da Cunha e Outros Perfis, ou em Vida, Forma e Cor.

    Plnio Salgado foi o herdeiro de Slvio Romero na defesa de um nacionalismo at-vico e na denncia de uma vida intelectual separada do prprio Brasil. Na figura do caboclo estava a fuso de trs raas e nele residiria uma nacionalidade latente es-pera de bons brasileiros lideranas carismticas que as conduzisse pelo caminho do desenvolvimento. Apresenta inimigos, como o caudilho rural que, associados a uma burguesia urbana, havia trado o Brasil e o interesse de seu povo. Isso tudo

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    muito prximo de Slvio Romero e, na verdade, fica devendo-lhe a originalidade. O que em Plnio Salgado (1937) ficam distantes so o fervor catlico e o culto a perso-nalidade.

    Por caminhos laterais vamos encontr-lo na mestiagem de Paulo Prado como re-sultado da solido do colono portugus entregue sensualidade das mulheres in-dgenas, cobia e ao contexto dinmico de ordem e desordem social. Para Alfredo Bosi, este enfoque de Paulo Prado um tanto retardatrio de um Capistrano, um Slvio Romero, um Euclides, um Oliveira Vianna; uns com mais, outros com menos nfase, tinham por certa a desvantagem advinda da miscigenao (1976: 424). O olhar mesmo muito semelhante ao de Romero: Dominavam-no dois sentimentos tirnicos: sensualismo e paixo do ouro. A histria do Brasil o desenvolvimento de-sordenado dessas obsesses subjugando o esprito e o corpo das vtimas. Para o ero-tismo exagerado contribuam como cmplices j o dissemos trs fatores: o clima, a terra, a mulher indgena ou a escrava africana (Prado 1981: 90).

    Os modernistas de 22, tanto na sua vertente antropofgica como na verde-amare-la, carregam dvidas ocultas para com Slvio Romero. A reinveno do Brasil moder-nista e a sublimao de um novo indianismo acabaram por justificadamente esconder a presena das idias desenvolvidas no passado nem to passado assim quando prope a mstica racial e espiritual para um povo em formao. Os modernistas de 22, apesar da nova brasilidade construda, mergulharam na temtica de Romero ao perseguir o tipo nacional de um Macunama sem carter, no sentido de uma iden-tidade definida, e de uma formao racial que preto retinto e branco louro, no seu eterno mestiamento. Escreve Antonio Candido: No espanta, com isso tudo....Que tenha ajudado um homem como Mrio de Andrade a definir a sua densa viso da cultura popular, e que tenha infludo diretamente no modo de Gilberto Freire conce-ber a gnese das classes dominantes (Candido 1989: 104).

    Seja por sua produo gigantesca, pela formao universalista que possua, pela erudio incontestvel, poucos foram os temas envolvendo cultura e sociedade em que Slvio Romero no esteve presente com alguma observao ou estudos de caso. Tornou-se uma referncia nas pesquisas sociais brasileiras, um pouco pela escassez de obras que tratassem do tema, mas tambm pela cientificidade e seriedade com que tentou impregnar suas pesquisas. Em torno da figura do mestio, muitas in-terpretaes da identidade nacional se desenvolveram. O problema das origens foi central na obra de Romero e marcou estudos culturais e sociolgicos que se se-guiram.

    Podemos encontr-lo tambm em Srgio Buarque de Holanda com a realidade so-cial reconstruda a partir da clula familiar e suas relaes com o estado, a vida difcil da democracia na sociedade brasileira. Afrnio Coutinho enxergou a presena de Sl-vio Romero no ..historiador Srgio Buarque de Holanda (1902), tambm inspirado, embora de maneira menos sistemtica e mais ecltica em pressupostos sociolgicos, historicistas e culturais (Coutinho 1968: 135). Se no encontramos o seu nome nas pginas de Razes do Brasil, tambm no podemos deixar de perceber ordens discur-sivas muito semelhantes.

  • Terra roxa e outras terras Revista de Estudos LiterriosVolume 16 (set. 2009) - ISSN 1678-2054 http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa

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    A famlia patriarcal fornece, assim, o grande modelo por onde se ho de calcar na vida poltica, as relaes entre governantes e governados, entre monarcas e sditos. Uma lei moral inflexvel, superior a todos os clculos e vontades dos homens, pode regular a boa harmonia do corpo social, e portanto deve ser rigorosamente respeita-da e cumprida (Holanda 1966: 73-74).

    Os estudos de Slvio Romero sobre folclore tambm proporcionaram pesquisas com o objetivo de atestar, no nascedouro, o brotar de uma poesia mestia contida nos versos das canes. Cantos Populares no Brasil, de 1897, registra cantigas e hist-rias, ritmos e versos, alm de denunciar tentativas de esconder esta produo cultu-ral de origem mestia.

    Cmara Cascudo em seus estudos sobre histria oral, no folclore brasileiro, atribui a Slvio Romero a primazia nos estudos e resgates de tradies populares. o primei-ro pesquisador a atribuir valor a uma produo cultural que, at aquele momento da histria nacional, no era reconhecida como expresso de um povo: As pesquisas da literatura oral brasileira comea-as realmente o onipresente Slvio Romero... abrindo o caminho na mata escura (Cascudo 1984: 17).

    Seus estudos sobre o folclore, e a admirao genuna que sentia pela produo popular, ajudaram a difundir a prtica do intelectual que atribui ao cancioneiro po-pular a guarda da verdadeira cultura brasileira. A figura do intelectual elogiando o sambista, que canta Brasil, Meu Brasil brasileiro, Meu mulato inzoneiro, Vou cantar-te nos meus versos, a imagem duplamente fiel de uma vertente do nacionalismo de Slvio Romero na admirao comovida do intelectual e na temtica escolhida pelo compositor.

    H na produo intelectual de Romero descontinuidades, interrupes, nfases exageradas para logo, ali adiante, desaparecer de forma repentina. Antonio Candido explica este comportamento afirmando que o pensamento de Slvio Romero refletia a imagem nervosa do pas (Candido 1989: 103). Ao mesmo tempo, encontramos um elemento constante em seus textos que parece costurar as contradies: uma unidade construda em torno do nacionalismo. A idia da sua atividade intelectual estar a servio da construo da nacionalidade ameniza e torna, at certo ponto, explicvel suas contradies.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    SLVIO ROMERO, A CRITIC OF THE 20th CENTURY

    ABSTRACT: The aim of this article is to demonstrate the importance of Slvio Romero as a precursor of ideas and debates that passes through all critical literature on the 20th Century. Many of the subjects studied by Romero launched the Brazilian intellectual discussion and gave his author a modern charac-ter as founder of the social, political and intellectual critical thinking of the Brazilian society. It seeks to show as Slvio Romero use the critical literature as an instrument of nationality construction. KEYWORDS: Criticism - Slvio Romero History of literature.

    Recebido em 10 de julho de 2009; aprovado em 30 de outubro de 2009.