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A busca pela sobrevivência e o amor ao semiárido revela homens e mulheres inteligentes, determinados e capazes de se sobressair às adversidades do clima característico da região. Exemplos desses guerreiros é a família de Dona Rita Carlos da Silva de 58 anos, viúva e mãe de cinco filhos, todos do sexo masculino. Foi ela e o esposo já falecido Emanuel Cordeiro Nonato que viram uma alternativa para amenizar o problema da família com a falta de água, com a ajuda dos filhos, eles esculpiram em uma rocha um tanque que desde então garante a água para suprir grande parte das necessidades da família. A Família de Dona Rita vive na comunidade Sitio da Onça que fica distante cerca de 24 km do município de Assunção do Piauí. A localidade é uma região castigada pela seca, a família conta que água era um bem precioso no período de estiagem e por isso sofriam por não tê-la nem para beber. Observando a natureza foi que a família encontrou uma solução, Dona Rita conta que no período chuvoso a água que caia ficava acumulada nos buracos das rochas que são comuns naquela região, mas grande parte escorria pelo lajeiro e ia embora, a água que ficava depois de algum tempo acabava. Seu esposo Emanuel então conversando com ela levantou a possibilidade de escavarem um buraco na pedra para que a água das chuvas acumulasse lá, depois de muitas conversas o casal resolveu colocar em prática a idéia e com a ajuda dos filhos começaram o trabalho. Francimar Carlos Cordeiro, o filho mais velho de Dona Rita e Seu Emanuel, conta que foi em 1996 que começaram a talhar o tanque. Foram 250 dias de escavações, os cinco filhos e Seu Emanuel trabalhavam o dia inteiro. Para escavar o buraco usavam apenas instrumentos como xibamca, cunha, picareta, marreta e alavanca. Ele conta que durante a manhã cavavam e a tarde tiravam o barro, “nós tínhamos vontade de fazer algo e a condição era pouca para pagar trabalhador e aí nos 'arroxemos' no trabalho”, brinca o agricultor. O sacrifício valeu apena, Dona Rita diz que com o tanque a água para lavar roupa, cozinhar, tomar banho e para os animais beberem não era mais problema, antes os filhos tinham que caminhar até uma comunidade chamada Olho D'água para buscar Piauí Ano 4 | nº 66 | Janeiro|2010 Assunção do Piauí- PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Sobrevivência no Semiárido Família mostra através da persistência exemplo de convivência com o semiárido 1 Dona Rita é exemplo de mulher forte e batalhadora. O tanque escavado pela família em uma pedra.

Sobrevivência no Semiárido: Família mostra através da persistência exemplo de convivência com o semi

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A busca pela sobrevivência e o amor ao semiárido revela homens e mulheres inteligentes, determinados e capazes de se sobressair às adversidades do cl ima característico da região. Exemplos desses guerreiros é a família de Dona Rita Carlos da Silva de 58 anos, viúva e mãe de cinco filhos, todos do sexo masculino. Foi ela e o esposo já falecido Emanuel Cordeiro Nonato que viram uma alternativa para amenizar o problema da família com a falta de água, com a ajuda dos filhos, eles esculpiram em uma rocha um tanque que desde então garante a água para suprir grande parte das necessidades da família.

A Família de Dona Rita vive na comunidade Sitio da Onça que fica distante cerca de 24 km do município de Assunção do Piauí. A localidade é uma região castigada pela seca, a família conta que água era um bem precioso no período de estiagem e por isso sofriam por não tê-la nem para beber. Observando a natureza foi que a família encontrou uma solução, Dona Rita conta que no período chuvoso a água que caia ficava acumulada nos buracos das rochas que são comuns naquela região, mas grande parte escorria pelo lajeiro e ia embora, a água que ficava depois de algum tempo acabava. Seu esposo Emanuel então conversando com ela levantou a possibilidade de escavarem um buraco na pedra para que a água das chuvas acumulasse lá,

depois de muitas conversas o casal resolveu colocar em prática a idéia e com a ajuda dos filhos começaram o trabalho.

Francimar Carlos Cordeiro, o filho mais velho de Dona Rita e Seu Emanuel, conta que foi em 1996 que começaram a talhar o tanque. Foram 250 dias de escavações, os cinco filhos e Seu Emanuel trabalhavam o dia inteiro. Para escavar o buraco usavam apenas instrumentos como xibamca, cunha, picareta, marreta e alavanca. Ele conta que durante a manhã cavavam e a tarde tiravam o barro, “nós tínhamos vontade de fazer algo e a condição era pouca para pagar trabalhador e aí nos 'arroxemos' no trabalho”, brinca o agricultor.

O sacrifício valeu apena, Dona Rita diz que com o tanque a água para lavar roupa, cozinhar, tomar banho e para os animais beberem não era mais

problema, antes os filhos tinham que caminhar até uma comunidade chamada Olho D'água para buscar

Piauí

Ano 4 | nº 66 | Janeiro|2010

Assunção do Piauí- PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Sobrevivência no Semiárido Família mostra através da persistência exemplo de

convivência com o semiárido

1

Dona Rita é exemplo de mulher forte e batalhadora.

O tanque escavado pela família em uma pedra.

a água, caminhavam quatro léguas, cerca de 24 km, carregavam a água no lombo de um jumento ou mesmo nas costas.

Porem Dona Rita diz que a água do tanque de pedra não servia para beber por ser uma água parada, mesmo fervendo ela tinha medo de contaminar sua família. Em 2004 a família foi beneficiada com o Programa Um Milhão de Cisterna Rurais, o P1MC, com a chegada da cisterna o problema com a água de beber já não existia, “foi a melhor coisa que aconteceu, agora a água está pertinho, minha mãe é doente e não pode ficar carregando balde d'água, sem falar que a água da cisterna é limpinha dá até gosto beber”, afirma Francimar.

A família de Dona Rita tem uma casa em Assunção do Piauí, mas afirmam que não gostam de morar na cidade, a agricultora diz que com os problemas de saúde, vez ou outra precisa deixar sua casa na comunidade e ir para cidade se cuidar. Seu esposo Emanuel faleceu em 2008 e desde então ela cuida dos filhos sozinha, todos eles são maiores de idade, mas ainda solteiros. Dona Rita é aposentada e é esse dinheiro que ajuda nas despesas da casa, os filhos agricultores são responsáveis pela plantação e colheitas do feijão e do milho que serve para o consumo da família, dos pequenos animais e também para vender. Dona Rita afirma que gosta da vida no interior e que por ela não sairia para a cidade, os filhos pensam da mesma maneira e garantem que vida melhor não existe. A comunidade não possui energia elétrica e Dona Rita diz que nem tem mais esperança de um dia ter, diz ainda que a maior diversão dos filhos a noite é ficar conversando até tarde, olhando o céu estrelado e contando prosa.

A agricultora conta que gosta de plantar e que devido os problemas de saúde já não pode fazer muito esforço, um sonho que ela diz ter é um quintal com frutíferas e canteiros de hortaliças e verduras, mas devido o tanque da família ser um pouco distante da casa, aguar as plantinhas todos os dias virou um sacrifício. A família foi cadastrada para receber a cisterna calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas, o P1+2, agora Dona Rita pode realizar seu sonho, “seria bom de mais se eu tivesse essa cisterna também, eu poderia ter meus canteirinhos, aguar as plantinhas, carrego água aos pouquinhos, seria bom de mais”, diz.

Dona Rita também tem outro sonho em particular: ver sua casa cheia de netos e netas. Com uma família de sete filhos homens, ela afirma que uma netinha seria bem vinda e que por ela todos morariam na comunidade, “seria bom de mais, morariam todos lá, todos juntos, vou cuidar em plantar muitas frutas para fazer muitas sombras,

Emanuel ficaria feliz de mais”, conta a agricultora ressaltando a vontade do esposo.

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Dona Rita entre os filhos Ivanildo e Iranilson.

Boletim Informativo

do Programa Uma Terra

e Duas Águas Piauí

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

Apoio:

www.asabrasil.org.br

Os irmãos Francimar, Iranildo e Givanildo ajudaram a esculpir o tanque na pedra.

CENTRO REGIONAL DE ASSESSORIA E CAPACITAÇÃO