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“Sou agricultora com muito orgulho!” Novembro/2013 Pombal ‐ PB Berta Lima da Costa Moura, de 37 anos, mora no sítio Alto II, no município de Pombal, no sertão paraibano. Esperta, corajosa e espontânea são algumas virtudes que logo se percebe quando conversamos pela primeira vez com esta agricultora. Ela vive com o esposo, Antônio Moura dos Santos, de 39 anos, e os seus filhos, Maria Rita (13), José Antônio (09), além do filho adotivo Francisco Pinheiro dos Santos (13). Dona Berta está sempre com uma expressão de bom humor estampada no rosto e nas palavras que fala. As marcas no corpo que registram as dificuldades já vivenciadas não encobrem o brilho do sorriso, nem apagam a afetuosa alegria que demonstra com simplicidade e naturalidade. As origens de Berta são da roça, mas sua aproximação maior com o campo surgiu de um fato bem marcante em sua vida. Ao gerar o primeiro filho, ela precisou de um documento para encaminhar o auxílio maternidade ao sindicato. Porém, na época, por estar morando na cidade, não tinha comprovação do seu estado de agricultora. Berta viu‐se limitada diante do problema e começou a questionar a condição profissional que tinha no momento. Assim, ela colocou na cabeça que ira comprar um pedaço de terra de qualquer jeito, para nunca mais passar por um vexame parecido. Empenhada, Berta partiu para a realização do desejo. Por incrível que pareça, criando e vendendo galinha e porco durante quatro anos, conseguiu juntar o dinheiro e comprar uma pequena, mas digna propriedade. “Hoje eu me considero uma mulher rica. Ninguém dava importância ao que estava empenhada a fazer, até mesmo meu marido achava que era um sonho alto demais. As pessoas me achavam doida quando falava dessa ideia. Só que isso mudou, e agora me dão os parabéns, por que viram que conquistei muita coisa. Era um sonho que eu tinha, lutei, corri atrás e consegui”, relata Berta, cheia de emoção. Com a utilização da água de um poço amazonas (cacimbão), construído próximo ao leito de um córrego, a família começou a organizar as plantações. Berta iniciou o plantio de flores ao arredor da casa. Em seguida, atentou‐se para o plantio de frutíferas, acerola, goiaba e mamão. Daí veio os resultados e colheu os frutos. O que servia para mesa da casa, num gesto de solidariedade, dava também para a mesa da vizinhança. No entanto, com o crescimento, viu que poderia vender e tirar uma renda. Numa semana, chega a ganhar até setenta reais. As frutas Dona Berta é exemplo de força e alegria da mulher agricultora que mais vende são o caju e a acerola. Ela relembra que uma das maiores dificuldades que passou, bem no começo da chegada, foi não ter energia elétrica, morando no escuro durante um ano e sete meses, tinha que colocar água do cacimbão na cabeça. Depois, da instalação da energia elétrica, Berta comprou um mortozinho para puxar a água do poço e fazer a irrigação por microaspersão. No entanto, o cacimbão não é tão potente e nem suficiente de água. A vazão, num período bom de inverno, é somente de três mil litros por dia. Para melhorar e ajudar como mais uma estrutura hídrica, a família, em 2009, conquistou a cisterna de 16 mil litros, que contribuiu muito para a estocagem da água de chuva para o consumo humano. O trabalho diário da agricultora é sempre muito ativo. Ela mesma confessa que não gosta de ficar parada, por isso, cuida da roça, tira capim, passa na forrageira, leva para o gado, as ovelhas. Toma de conta de praticamente tudo, enquanto o seu esposo fica mais empenhado em cuidar de outro pedacinho de terra que arrendou próximo a casa. “Me acho uma mulher guerreira, estou sempre achando graça com as coisas, mas não esqueço de que o trabalho é que me move, por isso, minha autoestima é lá encima”, confessa a agricultora. A criação animal e de plantios é bem diversificada. A propriedade possui galinha, porco, guiné, caprinos, jerimum, capim, palma, caju, acerola, goiaba, graviola, mamão, pimentão, pimenta de cheiro, além de plantas medicinais como malva, capim santo, hortelã, menta, hortelã roxo e hortelã vicque. Na área de baixio ainda tem três pés de oiticica, árvore nativa onde a família, na época da florada, cata o fruto e vende para a extração do óleo. Tudo que se tem na propriedade é uma fonte de renda. Os filhos estão sempre sendo orientados para ouvir e aprender todos os conhecimentos que a mãe adquiriu ao longo dos anos e a valorizar toda a vivência no campo. A história da família é um exemplo do quanto dona Berta se esforçou junto com o esposo para conquistar o que possuem e perceberem que o que se tem hoje, a agricultora não tinha no seu tempo de criança. A boa novidade aguardada pela família ‐ e tudo já certo ‐ é a construção da cisterna‐calçadão, através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), realizado pela Articulação Semiárido (ASA). Com a implementação, a agricultora pensa em seguir todas as práticas dialogadas no curso de Sistema simplificado para a Produção de Alimentos (SISMA) e, com a produção nos plantios dos canteiros econômicos, alimentar a família e vender para o Programa da Compra Direta. “Eu não quero meu cisternão só pra ficar de enfeite, só pra dizer que tenho. Quero para trabalhar com ele; para quando amanhecer o dia eu dizer assim: hoje eu não vou ser empregado não! hoje eu vou ser patrão! Ou melhor, patroa porque eu sou mulher!”, diz dona Berta, com um belo sorriso no rosto.

Sou agricultora com muito orgulho

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Page 1: Sou agricultora com muito orgulho

“Sou agricultora com muito orgulho!”

Novembro/2013

Pombal ‐ PB

Berta Lima da Costa Moura, de 37 anos, mora no sítio Alto

II, no município de Pombal, no sertão paraibano. Esperta, corajosa

e espontânea são algumas virtudes que logo se percebe quando

conversamos pela primeira vez com esta agricultora. Ela vive com o

esposo, Antônio Moura dos Santos, de 39 anos, e os seus filhos,

Maria Rita (13), José Antônio (09), além do filho adotivo Francisco

Pinheiro dos Santos (13).

Dona Berta está sempre com uma expressão de bom

humor estampada no rosto e nas palavras que fala. As marcas no

corpo que registram as dificuldades já vivenciadas não encobrem o

brilho do sorriso, nem apagam a afetuosa alegria que demonstra

com simplicidade e naturalidade.

As origens de Berta são da roça, mas sua aproximação

maior com o campo surgiu de um fato bem marcante em sua vida.

Ao gerar o primeiro filho, ela precisou de um documento para

encaminhar o auxílio maternidade ao sindicato. Porém, na época,

por estar morando na cidade, não tinha comprovação do seu

estado de agricultora. Berta viu‐se limitada diante do problema e

começou a questionar a condição profissional que tinha no

momento. Assim, ela colocou na cabeça que ira comprar um

pedaço de terra de qualquer jeito, para nunca mais passar por um

vexame parecido.

Empenhada, Berta partiu para a realização do desejo. Por

incrível que pareça, criando e vendendo galinha e porco durante

quatro anos, conseguiu juntar o dinheiro e comprar uma pequena,

mas digna propriedade. “Hoje eu me considero uma mulher rica.

Ninguém dava importância ao que estava empenhada a fazer, até

mesmo meu marido achava que era um sonho alto demais. As

pessoas me achavam doida quando falava dessa ideia. Só que isso

mudou, e agora me dão os parabéns, por que viram que conquistei

muita coisa. Era um sonho que eu tinha, lutei, corri atrás e

consegui”, relata Berta, cheia de emoção.

Com a utilização da água de um poço amazonas

(cacimbão), construído próximo ao leito de um córrego, a família

começou a organizar as plantações. Berta iniciou o plantio de flores

ao arredor da casa. Em seguida, atentou‐se para o plantio de

frutíferas, acerola, goiaba e mamão. Daí veio os resultados e

colheu os frutos. O que servia para mesa da casa, num gesto de

solidariedade, dava também para a mesa da vizinhança. No

entanto, com o crescimento, viu que poderia vender e tirar uma

renda. Numa semana, chega a ganhar até setenta reais. As frutas

Dona Berta é exemplo de força e alegria da mulher agricultora

que mais vende são o caju e a acerola.

Ela relembra que uma das maiores dificuldades que

passou, bem no começo da chegada, foi não ter energia elétrica,

morando no escuro durante um ano e sete meses, tinha que

colocar água do cacimbão na cabeça. Depois, da instalação da

energia elétrica, Berta comprou um mortozinho para puxar a água

do poço e fazer a irrigação por microaspersão. No entanto, o

cacimbão não é tão potente e nem suficiente de água. A vazão,

num período bom de inverno, é somente de três mil litros por dia.

Para melhorar e ajudar como mais uma estrutura hídrica, a família,

em 2009, conquistou a cisterna de 16 mil litros, que contribuiu

muito para a estocagem da água de chuva para o consumo

humano.

O trabalho diário da agricultora é sempre muito ativo. Ela

mesma confessa que não gosta de ficar parada, por isso, cuida da

roça, tira capim, passa na forrageira, leva para o gado, as ovelhas.

Toma de conta de praticamente tudo, enquanto o seu esposo fica

mais empenhado em cuidar de outro pedacinho de terra que

arrendou próximo a casa. “Me acho uma mulher guerreira, estou

sempre achando graça com as coisas, mas não esqueço de que o

trabalho é que me move, por isso, minha autoestima é lá encima”,

confessa a agricultora.

A criação animal e de plantios é bem diversificada. A

propriedade possui galinha, porco, guiné, caprinos, jerimum,

capim, palma, caju, acerola, goiaba, graviola, mamão, pimentão,

pimenta de cheiro, além de plantas medicinais como malva, capim

santo, hortelã, menta, hortelã roxo e hortelã vicque. Na área de

baixio ainda tem três pés de oiticica, árvore nativa onde a família,

na época da florada, cata o fruto e vende para a extração do óleo.

Tudo que se tem na propriedade é uma fonte de renda.

Os filhos estão sempre sendo orientados para ouvir e

aprender todos os conhecimentos que a mãe adquiriu ao longo

dos anos e a valorizar toda a vivência no campo. A história da

família é um exemplo do quanto dona Berta se esforçou junto com

o esposo para conquistar o que possuem e perceberem que o que

se tem hoje, a agricultora não tinha no seu tempo de criança.

A boa novidade aguardada pela família ‐ e tudo já certo ‐ é

a construção da cisterna‐calçadão, através do Programa Uma Terra

e Duas Águas (P1+2), realizado pela Articulação Semiárido (ASA).

Com a implementação, a agricultora pensa em seguir

todas as práticas dialogadas no curso de Sistema simplificado para

a Produção de Alimentos (SISMA) e, com a produção nos plantios

dos canteiros econômicos, alimentar a família e vender para o

Programa da Compra Direta. “Eu não quero meu cisternão só pra

ficar de enfeite, só pra dizer que tenho. Quero para trabalhar com

ele; para quando amanhecer o dia eu dizer assim: hoje eu não vou

ser empregado não! hoje eu vou ser patrão! Ou melhor, patroa

porque eu sou mulher!”, diz dona Berta, com um belo sorriso no

rosto.