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SUSAN ELISABETH DOMINGUES COSTA JORGE “CORRELAÇÃO ESTRUTURA-FUNÇÃO DE VARIANTES DA HEMOGLOBINA HUMANA” “STRUCTURE-FUNCTION RELATIONS OF HUMAN HEMOGLOBIN VARIANTSCAMPINAS 2013

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SUSAN ELISABETH DOMINGUES COSTA JORGE

“CORRELAÇÃO ESTRUTURA-FUNÇÃO DE

VARIANTES DA HEMOGLOBINA HUMANA”

“STRUCTURE-FUNCTION RELATIONS OF HUMAN

HEMOGLOBIN VARIANTS”

CAMPINAS

2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

SUSAN ELISABETH DOMINGUES COSTA JORGE

“CORRELAÇÃO ESTRUTURA-FUNÇÃO DE

VARIANTES DA HEMOGLOBINA HUMANA”

“STRUCTURE-FUNCTION RELATIONS OF HUMAN

HEMOGLOBIN VARIANTS”

ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria de Fátima Sonati

CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Munir Salomão Skaf

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Estadual de Campinas para obtenção

do título de Doutora em Ciências Médicas, área de concentração

Ciências Biomédicas.

Doctorate thesis presented to the Medical Sciences Postgraduation

Programme of the School of Medical Sciences of the University of Campinas

to obtain the Ph.D grade in Sciences.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA SUSAN

ELISABETH DOMINGUES COSTA JORGE E ORIENTADA

PELA PROFA. DRA. MARIA DE FÁTIMA SONATI.

_____________________________

Profa. Dra. Maria de Fátima Sonati CAMPINAS – SP

2013

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DEDICATÓRIA

Às famílias que participaram

deste trabalho... dedico não

somente este estudo, mas todo meu

esforço e respeito...

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“Todas las teorías son legítimas y ninguna tiene importancia.

Lo que importa es lo que se hace con ellas.”

Jorge Luis Borges

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AGRADECIMENTOS As palavras com singeleza aqui colocadas são poucas e as linhas muito

curtas para expressar o sentimento de gratidão a tantas pessoas que

partilharam deste processo de formação. Pois que, muitos foram os desafios,

inúmeras foram as barreiras atravessadas.

Por isso, antes de mais nada, agradeço à vida pelas lições que me tem

ofertado, as experiências e as pessoas presentes nesta trajetória...

Agradeço à minha família, especialmente a meus pais, refugiados de

guerra fratricida que encontraram em terras brasileiras a oportunidade da

reconstrução. São meus verdadeiros exemplos de determinação, honestidade

e trabalho para enfrentar adversidades e transpor as barreiras do

conformismo, seja ele social ou de foro íntimo.

Ao hospital de clínicas, meu ambiente de trabalho, que não somente

acolheu às famílias que fizeram parte deste estudo, mas que também atendeu,

com muita competência, à dor que se avizinhou de minha própria família

durante o período desta tese.

Aos amigos queridos: aos velhos e sempre companheiros; aos novos, que

passaram ao rol de velhos e companheiros amigos.

Aos meus tutores, que me deram as ferramentas necessárias ao

pensamento científico, com propósito e proveito: minha orientadora Fátima

Sonati e meu co-orientador Munir Skaf, que agradeço pelo estímulo e

experiências divididas; aos Profs. Darío Estrin e Marcelo Martí, meus

“directores argentinos” que me fizeram enxergar sempre mais longe,

apresentando-me ao “mundo” de possibilidades; aos meus amigos e

colaboradores Ariel Petruk e Elzinha Kimura pelas discussões intermináveis

que enriqueceram o trabalho. Ao Synue querido, por simplesmente “arrancar”

uma monografia de mim!

Agradeço à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São

Paulo) pelo suporte financeiro, sem o qual não seria possível a execução deste

trabalho e esta viagem rumo ao conhecimento.

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Aos mais céticos, aos que fecharam as portas por não acreditarem na

possibilidade de execução deste estudo, também o meu agradecimento. Por me

auxiliarem no aprimoramento e refinamento da técnica, por me fazerem

perseverar, seguir e ver mais adiante...

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................. 25

ABSTRACT .......................................................................................... 27

I. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 29

1.1. Estrutura da Hemoglobina ............................................................................... 31

1.2. Interação Alostérica Homotrópica: Cooperatividade heme-heme ....... 40

1.2.1. Constante de Hill ................................................................................................... 41

1.2.2. Constante de Adair ................................................................................................ 43

1.3. Modelos de ligação alostérica ........................................................................... 44

1.3.1. Modelo de Simetria - MWC ................................................................................... 44

1.3.2. Modelo Sequencial - Esquema de Adair e KNF ................................................... 46

1.3.3. Modelo Estereoquímico de Perutz ....................................................................... 47

1.4. Interação Alostérica Heterotrópica ................................................................ 49

1.4.1. 2,3-Bifosfoglicerato (2,3-BPG) ............................................................................... 50

1.4.2. Efeito Bohr ............................................................................................................. 52

1.4.3. Ânions Cloreto - Cl- ................................................................................................ 53

1.4.4. Efeito de Temperatura ........................................................................................... 54

1.4.5. Efeito do CO2 .......................................................................................................... 56

1.5. Hemoglobinopatias............................................................................................... 57

II. OBJETIVO .............................................................................................................. 63

III. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 67

3.1. Variantes da hemoglobina humana ............................................................. 699

3.2. Estudos funcionais ............................................................................................... 71

3.2.1. Método Espetrofotométrico Tonométrico .............................................................. 71

3.2.2. Cálculos de p50 e Constante de Hill ..................................................................... 77

3.2.3. Método Automatizado - Hemox Analyzer ............................................................. 82

3.3. Stopped Flow .......................................................................................................... 84

3.3.1. Constante de dissociação Hb-O2 - Koff ................................................................. 87

3.3.1.1. Koff na presença de IHP ............................................................................................ 93

3.3.2. Constante de ligação Hb-CO - KonCO ..................................................................... 94

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3.4. Estudos de Polimerização .................................................................................. 95

3.5. Simulação de Dinâmica Molecular (MD) ..................................................... 96

IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................ 103

4.1. Variantes com substituições na Interface 12 ...................................... 105

4.1.1. Hb Coimbra [99 (G1) AspGlu] .................................................................................... 106

4.1.2. Hb Setif [94 (G1) AspTyr] ........................................................................................... 118

4.2. Variantes com alterações de afinidade ....................................................... 124

4.2.1. Hb Chelsea [38 (C3) ThrIle] .......................................................................... 124

4.2.2. Hb F-Valinhos [G46 (CD5) Gly→Ser] ............................................................................. 132

4.3. Variante com Propriedade de Polimerização ........................................... 137

4.3.1. Hb S-São Paulo [6 (A3) GluVal; 65 (E9) LysGlu] ................................... 137

4.4. Variantes Instáveis ............................................................................................ 143

4.4.1. Hb Caruaru [122 (GH 5) PheSer] .............................................................................. 144

4.4.2. Hb Olinda [22(B4) - 25(B7) Glu-Val-Gly-Gly0] ......................................................... 152

V. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 165

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 171

VII. ANEXOS ................................................................................................................ 181

Hb S-São Paulo: A new sickling hemoglobin with stable polymers and decreased oxygen affinity ........ 183

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LISTA DE ABREVIATURAS Hb Hemoglobina

RN Recém-Nascido

Koff Constante de Dissociação Hb-ligante

Kon Constante de Ligação Hb-ligante

R Estrutura Quaternária Relaxada (favorável à ligação com O2)

r Estrutura Terciária Relaxada (favorável à ligação com O2)

T Estrutura Quaternária Tensa (desfavorável à ligação com O2)

t Estrutura Terciária Tensa (desfavorável à ligação com O2)

MD Molecular Dynamics Simulation

Ala A Alanina

Arg R Arginina

Asn N Asparagina

Asp D Ácido Aspártico

Cys C Cisteína

Glu E Ácido Glutâmico

Gln Q Glutamina

Gly G Glicina

His H Histidina

Ile I Isoleucina

Leu L Leucina

Lys K Lisina

Met M Metionina

Phe F Fenilalanina

Pro P Prolina

Ser S Serina

Thr T Treonina

Trp W Triptofano

Tyr Y Tirosina

Val V Valina

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LISTA DE TABELAS Tabela 1. Dados analíticos e clínicos das variantes de hemoglobina estudadas. ..................... 69

Tabela 2. Valores de p50, Constante de Hill e Constantes de Adair da Hb Coimbra. ........... 108

Tabela 3. Valores das constantes de dissociação Hb Coimbra-O2 na ausência e presença de

IHP (Koff) e constante de ligação Hb Coimbra-CO (KonCO), por Stopped Flow....................... 112

Tabela 4. Valores de p50, Constante de Hill e Constantes de Adair da Hb Setif................... 119

Tabela 5. Valores das constantes de dissociação Hb Setif-O2 na ausência e presença de IHP

(Koff), por Stopped Flow. ............................................................................................................. 121

Tabela 6. Valores de p50, Constante de Hill e Constantes de Adair da Hb Chelsea. ............ 126

Tabela 7. Valores das constantes de dissociação Hb Chelsea-O2 na presença e ausência de

IHP (Koff), por Stopped Flow. ..................................................................................................... 130

Tabela 8. Valores de p50, Constante de Hill e Constantes de Adair da Hb F-Valinhos. ....... 133

Tabela 9. Valores das constantes de dissociação Hb F-Valinhos-O2 na presença e ausência de

IHP (Koff), por Stopped Flow. ..................................................................................................... 136

Tabela 10. Valores de p50, Constante de Hill e Constantes de Adair da Hb Caruaru. ......... 145

Tabela 11. Valores das constantes de dissociação Hb Caruaru-O2 na ausência e presença de

IHP (Koff), por Stopped Flow. ..................................................................................................... 148

Tabela 12. Valores de p50, Constante de Hill e Constantes de Adair da Hb Olinda. ............ 153

Tabela 13. Valores das constantes de dissociação Hb Olinda-O2 na ausência de de IHP, por

Stopped Flow. ............................................................................................................................... 155

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LISTA DE FIGURAS Figura 1. Ontogenia das cadeias globínicas. ............................................................................... 32

Figura 2. Estrutura tridimensional da hemoglobina humana .................................................. 33

Figura 3. Grupamento heme. ....................................................................................................... 34

Figura 4. Representação das posições das histidinas proximal e histidina distal ................... 35

Figura 5. Sobreposição da oxi-hemoglobina e desoxi-hemoglobina ........................................... 36

Figura 6. Representação esquemática de alterações conformacionais da Hb em decorrência

da ligação com o O2.. ...................................................................................................................... 37

Figura 7. Estrutura da T ou Desoxi-Hb (Painel A) e R Ou Oxi-Hb ........................................... 38

Figura 8. Padrão sigmoidal de ligação da hemoglobina com o oxigênio. .................................. 40

Figura 9. Gráfico de hill ............................................................................................................... 41

Figura 10. Modelo MWC para a ligação Hb-O2. ......................................................................... 45

Figura 11. Modelo sequencial simples (KNF), para a ligação Hb-O2. ....................................... 47

Figura 12. Modelo estereoquímico de Perutz. ............................................................................ 48

Figura 13. Modelo alostérico global proposto por Yonetani....................................................... 50

Figura 14. Coordenadas das cadeias da Hb com a molécula de 2,3-BPG entre elas............. 51

Figura 15. Efeito Bohr alcalino (adaptado de HORTON et al., 1996). ..................................... 52

Figura 16. Tonômetro de boro silicato ........................................................................................ 73

Figura 17. Banho agitador de Tonômetros. ................................................................................ 74

Figura 18. Densidade óptica da oxi-Hb; desoxi-Hb e estados intermediários. ......................... 76

Figura 19. Programa para cálculo de pO2. .................................................................................. 79

Figura 20. Duas formas de apresentação da curva de saturação Hb-O2 na forma sigmoidal e

forma logarítmica ........................................................................................................................... 80

Figura 21. Exemplificação do intervalo de valores para cálculo da Constante de Hill............ 81

Figura 22. Curva de saturação de oxigênio da hemoglobina..................................................... 83

Figura 23. Esquema básico de funcionamento de um equipamento de Stopped Flow. ........... 85

Figura 24. Fotografia das bombas de mescla e placa de detecção do Stopped Flow ................ 85

Figura 25. Comprimentos de onda (nanômetros - nm) versus Absorbância (Volts) em função

do Tempo (segundos). ..................................................................................................................... 87

Figura 26. Absorbância da Hb A versus Tempo em 430nm. ..................................................... 90

Figura 27. Parte da planilha de cálculos para obtenção de Koff. .............................................. 92

Figura 28. Representação esquemática dos principais componentes de um campo de força. . 96

Figura 29. Fragmento do arquivo pdb com parte das coordenadas da estrutura 2DN2,

relativa à desoxi-Hb. ...................................................................................................................... 97

Figura 30. Caixa de simulação da Hb na forma nativa. ............................................................ 99

Figura 31. Localização das interfaces 12 na Hb humana. ................................................... 105

Figura 32. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total de Hb Coimbra não-purificado. ....... 108

Figura 33. Afinidade da Hb Coimbra na presença e ausência de IHP- Inositol Hexafosfafo,

em diferentes pHs – Efeito Bohr. ................................................................................................ 110

Figura 34. Cooperatividade heme-heme da Hb Coimbra na presença e ausência de IHP, em

relação à Hb A. ............................................................................................................................. 111

Figura 35. Representação das interações de Asp99β em relação à nuvem eletrônica de Glu99β

na interface 12 ........................................................................................................................... 113

Figura 36. Rotação das estruturas de Hb Coimbra e Hb A ao longo de 100ns de trajetória de

simulação. ..................................................................................................................................... 115

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xxiii

Figura 37. Projeção da Dinâmica Molecular no modelo de transição T-R da Hb Coimbra. .. 116

Figura 38. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total de Hb Setif não-purificado ............... 119

Figura 39. Interface 12 da Hb................................................................................................. 123

Figura 40. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total de Hb Chelsea não-purificado ......... 125

Figura 41. Afinidade da Hb Chelsea (portadora assintomática) na ausência e presença de

IHP em diferentes pHs – Efeito Bohr. ........................................................................................ 127

Figura 42. Afinidade da Hb Chelsea 1 (portadora com policitemia)na ausência e presença de

IHP em diferentes pHs – Efeito Bohr. ........................................................................................ 127

Figura 43. Cooperatividade heme-heme da Hb Chelsea – portadora assintomática, na

ausência e presença de IHP......................................................................................................... 129

Figura 44. Cooperatividade heme-heme da Hb Chelsea – portadora com policitemia, na

ausência e presença de IHP......................................................................................................... 129

Figura 45. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total de Hb F-Valinhos não-purificado.. .. 132

Figura 46. Afinidade da Hb F-Valinhos na ausência e presença de IHP em diferentes pHs –

Efeito Bohr. .................................................................................................................................. 134

Figura 47. Cooperatividade heme-heme da Hb F-Valinhos na ausência e presença de IHP. 135

Figura 48. Curvas de Equilíbrio com hemolisado de Hb S-São Paulo .................................... 138

Figura 49. Estudos Funcionais Tonométricos a 25ºC da Hb S-São Paulo, com hemolisado

stripped. ........................................................................................................................................ 139

Figura 50. Resultado da dupla substituição da Hb S-São Paulo. ......................................... 140

Figura 51. Cinética de polimerização e estabilidade de polímeros de Hb S (em preto) e Hb S-

São Paulo (em vermelho), monitorados ao longo do tempo (até 24hs). ..................................... 141

Figura 52. Polímero de Hb S-São Paulo .................................................................................... 142

Figura 53. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total de Hb Caruaru não-purificado ........ 144

Figura 54. Afinidade da Hb Caruaru (portador 2 – Hb F de 5%) em função do pH, em

comparação com controle Hb A, na presença e ausência de IHP. .......................................... 146

Figura 55. Cálculos de cooperatividade heme-heme (n - constante de Hill) da Hb Caruaru

(portador com Hb F de 5%) em função do pH, em comparação com controle Hb A, na

presença e ausência de IHP......................................................................................................... 147

Figura 56. Representação das interações do resíduo 122 no interior da cadeia beta no estado

T da Hb.. ....................................................................................................................................... 149

Figura 57. Representação das interações do resíduo 122 no interior da cadeia beta no estado

R da Hb ......................................................................................................................................... 150

Figura 58. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total de Hb Olinda não-purificado ......... 152

Figura 59. Afinidade da Hb Olinda na ausência e presença de IHP em diferentes pHs. ...... 154

Figura 60. Cooperatividade heme-heme da Hb Olinda na ausência e presença de IHP. ...... 155

Figura 61. Dinâmica do último ns (no tempo de 30ns) da trajetória de simulação das Hb A e

Hb Olinda em R. ........................................................................................................................... 157

Figura 62. Dinâmica do último ns (no tempo de 30ns) da trajetória de simulação das Hb A e

Hb Olinda em T – Histidina em Hid ........................................................................................... 160

Figura 63. Dinâmica do último ns (no tempo de 30ns) da trajetória de simulação das Hb A e

Hb Olinda em T – Histidinas distais em Hie. ............................................................................ 162

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xxv

RESUMO A hemoglobina (Hb) humana é a proteína tetramérica encontrada em elevadas

concentrações nos eritrócitos. É composta por duas cadeias globínicas do tipo

alfa e duas do tipo beta. Cada cadeia está associada a um grupo prostético

heme, cujo grupamento Fe2+, localizado na sua porção central, liga-se

reversivelmente à molécula de oxigênio, conferindo à Hb sua função primária

do transporte de oxigênio dos alvéolos pulmonares aos tecidos periféricos.

Mais de 1000 variantes estruturais da hemoglobina humana já foram

descritas, parte delas relacionadas a manifestações clínicas importantes.

Algumas apresentam afinidade modificada pelo O2 que, quando elevada,

resulta na produção compensatoriamente maior de hemácias, levando à

policitemia; e quando diminuída, resulta em cianose. Em algumas variantes,

as modificações do comportamento funcional levam também à instabilidade

estrutural e à hemólise. Deste modo, a correlação entre o comportamento

funcional de Hb variantes e aspectos estruturais é de grande importância na

compreensão dos mecanismos fisiopatológicos das hemoglobinopatias. Nesse

trabalho nos propusemos a estudar e estabelecer relações entre a estrutura e

a função alterada das variantes novas: Hb S-São Paulo (6 GluVal ; 65

LysGlu), Hb Caruaru (122 PheSer), e a variante instável Hb Olinda

[22(B4) – 25(B7)] (com deleção de 4 resíduos da -globina), bem como das

variantes raras: Hb Chelsea ( 38 ThrIle), Hb Coimbra (β99 AspGlu) e

Hb Setif (94 AspTyr). Para tanto foram utilizadas as técnicas de Estudo

Funcional por Espectrofotometria, para determinação de p50 e

cooperatividade heme-heme (medida pelas constantes de Hill e Adair), bem

como Stopped Flow, para determinação das constantes de dissociação de O2

(Koff) e ligação com CO (KonCO). Para melhor elucidar aspectos estruturais

das variantes estudos computacionais de simulação de Dinâmica Molecular

(MD) foram empregados.

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xxvii

ABSTRACT The human hemoglobin (Hb) is a tetramer found in high concentrations in

erythrocytes. It is composed by two alpha and two beta subunits, which

contains, each, one prosthetic group, the heme group, a protorporfirin IX

structure binded to Fe2+ atom, that reversibly binds to a molecule of oxygen.

That property, therefore, confers the Hb its primary function of transporting

oxygen from lungs to the peripheral tissues. Nowadays, more than 1,000

structural variants of human hemoglobin have been described, some of them

related to important clinical manifestations. Some of them presents modified

affinity for O2. When it is high, results on higher and compensatory

production red blood cells, leading to polycythemia, and when it is decreased,

results on cyanosis. Some Hb variants are also unstable, which results on

hemolysis. Therefore the relation between function and structure of Hb

variants is important to understand pathophysiological mechanisms of

hemoglobinopathies. This work proposed the study of the relation between

modified structure and function in some new variants : Hb S - São Paulo ( 6

Glu Val ; 65 LysGlu ) , Hb Caruaru ( 122 SerPhe ) , and the unstable

Hb Olinda [ 22 ( B4) - 25 ( B7) ] (with deletion of 4 residues from -globin )

as well as the rare variants: Hb Chelsea (38 IleThr) and Hb Coimbra

(β99 AspGlu) and Hb Setif ( 94 TyrAsp) . For both techniques were used

Functional Study by spectrophotometry for determination of p50, heme-heme

cooperativity (measured by Hill and Adair constants) , and Stopped Flow for

determination of O2 dissociation constants (Koff) and connection with CO

(KonCO). To further elucidate the structural variants of computational

studies of molecular dynamics simulation (MD) were used.

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xxviii

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I. INTRODUÇÃO

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31

1.1. Estrutura da Hemoglobina

A hemoglobina (Hb) é uma heme proteína presente nos eritrócitos de

todos os vertebrados, sendo considerada o pigmento respiratório destes

organismos. Apesar da diversidade existente entre eles, a estrutura molecular

das diferentes hemoglobinas é muito semelhante, demonstrando seu elevado

grau de conservação durante a evolução (ANTONINI E BRUNONI, 1971; SHIKAMA,

2006).

As hemoglobinas humanas são proteínas tetraméricas formadas pela

combinação de duas cadeias polipeptídicas do “tipo ” ( ou ) com duas

cadeias do “tipo ” (, , G, A ou ). Cada cadeia está associada a um grupo

prostético heme, que se liga reversivelmente à molécula de oxigênio,

permitindo assim, sua função primária, que é a do transporte de oxigênio dos

pulmões aos tecidos periféricos (BUNN E FORGET, 1986).

Para que o tetrâmero funcional possa ser formado, é preciso que a

expressão dos genes de globina se dê de forma equilibrada. Assim, no estágio

embrionário, são produzidas as hemoglobinas Gower I (22), Gower II (22) e

Portland I (22) – Figura 1. No período fetal, estas são substituídas pela

hemoglobina Fetal (22), que, por sua vez, dá lugar às hemoglobinas A ou A1

(22) e A2 (22) no adulto – Figura 1. Em adultos normais, a hemoglobina A é

predominante, compondo mais de 95% do total da hemoglobina celular,

enquanto a A2 se mantém em níveis entre 2-3% e a Fetal entre 0-2% (BUNN E

FORGET, 1986; HOFFBRAND ET AL., 2000; STEINBERG ET AL., 2001;

WEATHERALL E CLEGG, 2001; WILLIAMS ET AL.,2001).

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32

FIGURA 1.Ontogenia das Cadeias Globínicas.

As cadeias globínicas das diferentes hemoglobinas humanas são

estruturas alfa-hélices (nominadas de A a H), intermediadas por dobras inter-

hélices denominadas de acordo com sua posição espacial (AB, BC, etc.); além

das porções terminais NA e HC (Figura 2). Deste modo, os resíduos são

numerados de acordo com as coordenadas apresentadas na estrutura, a partir

da porção N-terminal (ANTONINI E BRUNONI, 1971; STRYER, 1996;

SHIKAMA, 2006).

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33

FIGURA 2. Estrutura Tridimensional da Hemoglobina Humana visualizada no Visual Molecular Dynamics – obtida

através da estrutura cristalográfica 2DN1 depositada no Protein Data Bank.

O grupo prostético heme, por sua vez, é uma protoporfirina IX (Figura

3), em cuja porção central está acoplado um átomo de ferro na forma ferrosa

(Fe2+) que permite a ligação reversível com o O2. Quando o ferro do grupo

heme é oxidado, passando para a forma férrica (Fe3+), fica impossibilitado de

carrear este gás, dando à proteína a nominação de meta-hemoglobina

(ANTONINI E BRUNONI, 1971; SHIKAMA, 2006).

Alfa-Hélice

Região inter-

hélices

coil

2

1

1

2

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34

A)

B)

FIGURA 3. Grupamento Heme (Painel A). Resíduos que interagem com o grupamento Heme na Oxi-Hb (Referente à

Hb de cavalo) (Painel B) (adaptado de ANTONINI E BRUNONI, 1971).

Conforme demonstrado na Figura 3B o grupamento heme apresenta

diversas interações que o mantém estável, tanto nas cadeias alfa quanto nas

cadeias beta. Já as histidinas proximal (E7) e distal (F8), que se ligam ao

grupamento heme, apresentam papel fundamental na estabilidade deste

grupamento, quando da ligação com oxigênio – Figura 4. Enquanto as

histidinas proximais [87 (F8) ou 92 (F8)] interagem diretamente com o ferro

da protoporfirina IX, as histidinas distais [58 (E7) ou 63 (E7)] de cada

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35

cadeia globínica, que por sua vez, interagem com o oxigênio ligado ao ferro –

Figura 4 (ANTONINI e BRUNONI, 1971; BUNN e FORGET, 1986;

SHIKAMA, 2006).

A)

B)

FIGURA 4. Representação das posições das histidinas proximal (em azul royal) e histidina distal (em violeta) na

ausência de o2 (Painel A) e na presença de molécula de o2 (Painel B). É possível notar sensível alteração no plano do

heme, com distanciamento do grupamento ferroso em relação à histidina distal, na ausência do ligante o2 (painel a) e

aproximação do mesmo, em relação à histidina distal quando da presença de o2. Além disso, há maior aproximação da

histidina distal em relação ao o2 possibilitando a estabilidade da ligação e subsequente transporte do ligante.

O grupamento heme é também capaz de se ligar ao monóxido de

carbono (CO) e ao óxido nítrico (NO), com maior afinidade do que ao O2. O

primeiro caso parece não haver importância fisiológica primordial; ao

contrário, a molécula de CO apresenta elevada toxicidade ao organismo

humano. Já no caso do NO, este parece desempenhar uma importante função

vasodilatadora junto ao endotélio (WOOD E GRANGER, 2007; PINDER ET

AL, 2009; UYUKLU ET AL., 2009).

Durante a oxigenação, em que o átomo de ferro desloca-se 0,55-0,63 Ǻ

(Figura 4), há subsequente alteração nas posições dos resíduos no entorno do

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36

sítio ativo heme pocket, conforme pode ser observado no esquema

apresentado na Figura 5.

FIGURA 5. Sobreposição da oxi-hemoglobina (em vermelho) e desoxi-hemoglobina (em preto), mostrando as

mudanças conformacionais induzidas pelo movimento do átomo de ferro durante o processo de oxigenação. Neste

esquema o plano do heme está fixo, sendo representado pela barra preta (STRYER, 1996).

A mudança na posição do Fe2+ em decorrência da ligação com o oxigênio

faz com que todo o restante da cadeia globínica sofra importante modificação,

tanto da estrutura terciária quanto quaternária, permitindo rotação de cerca

de 7.5º em relação ao eixo central do plano de simetria da proteína, ou cerca

de 15º da cadeia em relação ao plano central de dímeros 22 (ANTONINI e

BRUNONI, 1971; STRYER, 1996) (Figura 6).

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37

FIGURA 6. Representação esquemática de alterações conformacionais da hb em decorrência da ligação com o o2. É

possível notar rotação de 7,5º em plano y em função do plano de simetria 11 / 22 da Hb. Além disso, é possível

observar que as cadeias beta (com maior e mais significativa movimentação) movimentam-se cerca de 15º (stryer,

1996).

Em decorrência de tais modificações que a molécula de hemoglobina

apresenta suas duas formas básicas: a forma tensa (T ou “desoxi-Hb”) e a

forma relaxada (R ou “oxi-Hb”) – Figura 7, descobertas por Perutz, em 1970,

através de estudos de cristalização protéica.

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38

A)

B)

FIGURA 7. Estrutura da T ou Desoxi-Hb (Painel A ) e R ou Oxi-Hb (Painel B), obtidas por meio do Visual Molecular

Dynamics (VMD) a partir de coordenadas depositadas no Protein Data Bank (PDB), das estruturas cristalográficas

1GZX (Desoxi-Hb) E 2DN1 (Oxi-Hb).

A estabilidade proteica essencial do tetrâmero é conferida pelos

contatos 11 e 22, também denominados de packing contacts (os contatos de

empacotamento da proteína), e compreendem em interações mais fortes entre

as cadeias, envolvendo muitos resíduos, num total de 34 aminoácidos

(ANTONINI E BRUNONI, 1971; STRYER, 1996; SHIKAMA, 2006).

Já a interface 12 é menos extensiva e os contatos entre as cadeias são

mais fracos devido ao menor número de interações entre as subunidades,

compreendendo num total de 19 resíduos envolvidos. Tal característica

confere à interface a propriedade de câmbio T-R da hemoglobina, de forma

que ambas as formas sejam estabilizadas por diferentes conjuntos ligações de

hidrogênio de forma que haja um encaixe entre as subunidades 1 e 2

(ANTONINI E BRUNONI, 1971; SHIKAMA E MATSUOKA, 2003,

LEVANTINO ET AL., 2012).

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39

Além disso, tal interface está localizada próxima aos grupos heme de

cada cadeia, de modo que mudanças conformacionais nestas regiões afetam

este sítio ativo. Reciprocamente, mudanças estruturais na região do heme

pocket também mediam as interações alostéricas na região 12. Assim,

substituições de resíduos nesta região podem resultar em diminuição da

cooperatividade heme-heme e alterações na afinidade da Hb pelo O2, enquanto

que tal evento não se passaria nas demais interfaces (ANTONINI E

BRUNONI, 1971; SHIKAMA E MATSUOKA, 2003).

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40

1.2. INTERAÇÃO ALOSTÉRICA HOMOTRÓPICA:

COOPERATIVIDADE HEME-HEME

A interferência promovida pelo grupamento heme na mudança

conformacional da molécula de Hb fazendo com que haja facilitação da ligação

da subunidade subsequente com o ligante é denominada cooperatividade

heme-heme, a qual é compreendida como sendo a interação homotrópica na

proteína (ANTONINI E BRUNONI, 1971; SHIKAMA, 2006). Devido a esta

propriedade, a ligação da Hb pelo O2 pode ser representada graficamente

através de padrão sigmoidal (Figura 8) (PERUTZ, 1970; PERUTZ ET AL,

1998; STRYER, 1996; CIACCIO ET AL., 2008).

FIGURA 8. Padrão sigmoidal de ligação da hemoglobina com o oxigênio. A diminuição do pH diminui a afinidade da

proteína pelo oxigênio- efeito Bohr alcalino (STRYER, 1996).

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41

1.2.1. Constante de Hill

O valor numérico para a cooperatividade heme-heme é determinado a

partir do ângulo da reta obtido do logaritmo do referido gráfico de saturação

da Hb pelo oxigênio (Figura 8), o qual é denominado de constante de Hill („n‟)

(HILL, 1910).

A angulação da reta obtida do logarítmico de %HbO2 versus pO2

(Figura 8) permite a determinação do parâmetro de Hill („n‟) que consiste na

medida da interação heme-heme, indicativo da cooperatividade entre os quatro

sítios de ligação da hemoglobina (Figura 9).

FIGURA 9. Gráfico de Hill

Para a obtenção deste gráfico é preciso considerar que o equilíbrio da

reação de ligação Hb-O2 se dá da seguinte maneira:

(1)

Deste modo obtém-se a seguinte constante de dissociação:

0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2-1,4

-1,2

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

log

Y/Y

-1

log pO2

p50

Inclinação = Cooperatividade

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42

(2)

que gera a Equação de Hill:

(3)

O valor de sítios ligados (Y) varia de 0 até 1.

Como a constante n é calculada em logaritmo, em função da relação dos

sítios ligados (Y) e sítios não ligados (1-Y), tem-se que:

(

)

(4)

Por fim, considerando que a saturação parcial da hemoglobina é

mensurada em 50% dos sítios heme ligados (K= (p50)n) tem-se que:

(5)

Deste modo obtém-se a forma linear, com as devidas substituições na

fórmula 5:

(

)

(6)

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43

Deste modo, valores de n = 1, correspondem a curva de dissociação

hiperbólica; n > 1 a curva sigmóide, assim como interações heme-heme

positivas. Os valores de n para estudos de equilíbrio de oxigênio em

hemoglobinas de mamíferos, em condições normais é 2,8-3,0 (HILL, 1910;

ANTONINI e BRUNONI, 1971).

1.2.2. Constante de Adair

Enquanto a constante de Hill representa numericamente a cooperatividade

heme-heme global, Adair, em 1925, propôs o cálculo de quatro constantes de

equilíbrio, considerando os quatro sítios ativos da proteína e, por conseguinte,

o padrão sigmoidal de associação Hb-O2, devido à inter-relação do tetrâmero.

Deste modo propôs o seguinte cálculo:

(7)

Onde Y compreende ao grau de saturação por oxigênio e p é a pressão

parcial de oxigênio. Enquanto isso, e se referem às constantes

intrínsecas de equilíbrio de associação ao oxigênio nas fases 1, 2, 3 e 4 de

oxigenação da Hb (YONETANI & LABERGE, 2008).

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44

1.3. MODELOS DE LIGAÇÃO ALOSTÉRICA

Existem dois modelos básicos de câmbio T-R em decorrência da

cooperatividade heme-heme (interação homotrópica) e interações

heterotrópicas (interferência de outros ligantes em sítios não específicos da

proteína, mas que alteram na afinidade da mesma pelo seu ligante O2 junto ao

sítio ativo heme).

1.3.1. Modelo de Simetria - MWC

O primeiro, conhecido como modelo de simetria, publicado em 1965 por

Monod, Wyman e Changeux (modelo MWC), descreve duas formas estáveis da

molécula de Hb: as formas T e R, mesmo na ausência do ligante O2.

Assim sendo, hemoglobina teria maior afinidade pelo oxigênio em sua

forma R, enquanto que a forma T teria menor afinidade ao ligante (MONOD

et al., 1965; EATON et al., 2007). Deste modo, tal modelo prevê a transição T-

R como um evento unitário, e não cadeia a cadeia (Figura 10).

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45

FIGURA 10. Modelo MWC para a ligação Hb-O2.

□ = estado T;

○ = estado R;

Kt e kr= constantes de ligação (adaptado de VOET e VOET, 2004).

Nesta proposta, interações homotrópicas e heterotrópicas interfeririam

no equilíbrio de ligação Hb-O2, através das modificações conformacionais

estruturais de T a R, num evento de “tudo ou nada”. Assim sendo, a

cooperatividade estaria ligada a interações alostéricas sem que haja

necessariamente a presença do ligante (MONOD et al., 1965; ANTONINI E

BRUNONI, 1971; EATON et al., 2007; RONDA et al., 2008).

Os autores postularam, portanto, que as reações cooperativas das

enzimas poliméricas resultam de um equilíbrio entre as conformações: R

(mais reativa, ou seja, com maior afinidade pelo oxigênio) e T (menos reativa,

ou seja, com menor afinidade pelo oxigênio), equilíbrio este regulado tanto

pela presença de substrato bem como efetores alostéricos heterotrópicos

(YONETANI & LABERGE, 2008).

Apresentaram uma fórmula matemática envolvendo , e :

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46

(8)

Onde Y é o grau de saturação de oxigênio, p é a pressão parcial de

oxigênio, e são as constantes de equilíbrio R (maior afinidade) e T

(menos afinidade) nos respectivos estados funcionais, enquanto que

⁄ é a constante de equilíbrio alostérico, onde e equivalem às

concentrações molares de equilíbrio das conformações T (com menor

afinidade pelo oxigênio) e R (com maior afinidade pelo oxigênio), no estado de

desoxi-Hb.

1.3.2. Modelo Sequencial – Esquema de Adair e KNF

O segundo, denominado modelo sequencial ou KNF, foi proposto por

Koshland, Nemethy e Filmer em 1966 (Figura 11), os quais se basearam nos

cálculos propostos por Adair (Equação 7). Conforme proposto por Adair, a

transição T-R se dá de forma sequencial, globina a globina, o que confere,

portanto, 4 constantes: e , relativas às 4 fases de oxigenação do

tetrâmero de Hb. Deste modo, tal modelo também prevê que as subunidades

globínicas interfiram na afinidade da subunidade subsequente, aumentando a

afinidade deste pelo ligante (KOSHLAND ET AL., 1966; EATON ET AL.,

2007; RONDA ET AL., 2008; YONETANI & LABERGE, 2008).

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47

FIGURA 11. Modelo sequencial simples (KNF), para a ligação Hb-O2.

□ = Estado T;

○ = Estado R;

K = Constante de Ligação (adaptado de VOET e VOET, 2004).

1.3.3. Modelo Estereoquímico de Perutz

Baseados nos modelos MWC e KNF, outros modelos têm sido propostos

de forma a compreender melhor os estados intermediários da Hb. No

entanto, ambos as transições T-R parecem ocorrer concomitantemente

(EATON ET AL., 2007; LEVANTINO ET AL., 2012).

Foi o que propôs, por exemplo, Perutz, em 1970, que apresentou o

modelo estereoquímico para a Hb, com o objetivo de integrar estrutura e

função. (PERUTZ, 1970).

Considerado como crucial para o início e desenvolvimento da “biologia

estrutural”, tal modelo assume que a estrutura molecular é o fator

determinante na função proteica. Neste estudo, Perutz designou as estruturas

de baixa afinidade – desoxi-Hb e alta afinidade – oxi-Hb como sendo os

estados quaternários T (desoxi) e R (oxi) (Figura 12). Isso porque observou

diferenças estruturais importantes entre os estados T e R da Hb, através de

conjuntos de resíduos com pontes salinas e outras subunidades do plano do

heme na conformação T. Já a transição T-R se daria de forma sequencial

(Figura 12).

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48

FIGURA 12. Modelo estereoquímico de Perutz de 1970, que unifica os modelos propostos anteriormente (adaptado de

YONETANI & LABERGE, 2008).

Tal modelo, portanto, considera as mudanças estruturais nas

subunidades globínicas durante a transição T-R. No entanto, somente as

conformações T e R seriam estáveis, que acaba por unificar os modelos

anteriores de MWC e KNF (YONETANI E LABERGE, 2008).

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49

1.4. INTERAÇÃO ALOSTÉRICA HETEROTRÓPICA

A afinidade da Hb pelo oxigênio também é modulada por interações

heterotrópicas (fora do heme pocket): H+,Cl- e CO2, os quais deslocam o

equilíbrio T-R à T (para um estado funcional com menor afinidade pelo

oxigênio) ou aumentando o valor de L0 sem modificar os valores das

constantes KT e KR (Figura 13).

Fosfatos orgânicos tais como o 2,3-Bifosfoglicerato (2,3-BPG), um

intermediário da glicólise nos eritrócitos, bem como ATP e ADP, que atuam

em sítio heterotrópico também deslocando o equilíbrio em direção a T – Figura

13 (BENESCH E BENESCH, 1967; CHANUTIN E CURNISH, 1967;

ANTONINI E BRUNONI, 1971; YONETANI E LABERGE, 2008).

Outros efetores tais quais o Inositol Hexafosfato (IHP), assim como

outros compostos hidrofóbicos como Benzafibrato (BZF) e L35 também

resultam na diminuição, não somente de de KT como de KR (KISTER et al.,

1987 (a); KISTER et al., 1987 (b); MARDEN et al., 1990; LALEZARI et al.,

1990; YONETANI & LABERGE, 2008).

Na Figura 13, proposta por Yonetani e Laberge em 2008, estão

sumarizadas as interações heterotrópicas relativas à presence de H+ e outros

efetores alostéricos importantes com o 2,3-BPG, IHP, BZF e L35, nos valores

de KR , KT , L0 assim como KR / KT:

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50

FIGURA 13. Modelo alostérico global proposto por yonetani, descrevendo a relação entre afinidade pelo oxigênio

mediante alosterismo homotrópico e heterotrópico. As afinidades pelo oxigênio (kt e kr) dos estados funcionais T e R

são regulados por efetores que modificam a estrutura terciária da proteína, porém sem alterações na estrutura

quaternária t/r (YONETANI E LABERGE, 2008).

1.4.1. 2,3-Bifosfoglicerato (2,3-BPG)

A presença dos fosfatos orgânicos reduz a afinidade da Hb pelo O2.

Dentre estes efetores alostéricos (que modificam a conformação da proteína) e

alteram a afinidade da Hb pelo O2, o mais importante é o 2,3-BPG, produto do

metabolismo celular, através da via glicolítica e que nos eritrócitos representa

importante papel.

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51

Fisiologicamente o 2,3-BPG liga-se à Hb em sítio heterotrópico,

localizado na interface 12, eixo central do plano de simetria da Hb, que

consiste na cavidade central da proteína, conforme demonstrado na Figura

14 (ARNONE, 1972). Ante a baixa tensão de O2, nos tecidos periféricos, a Hb

tende à forma T, expondo as porções positivamente carregadas das cadeias

laterais dos resíduos Histidina 2 e 143, Lisina 82 e os grupos amino terminal

da Val1, das cadeias beta (ANTONINI & BRUNONI, 1971; CHANUTIN E

CURNISH, 1967; BENESCH E BENESCH, 1967; YONETANI E LABERGE,

2008).

FIGURA 14. Coordenadas das cadeias da Hb com a molécula de 2,3-BPG entre elas. Alguns aminoácidos em

destaque. (estrutura 1B86 depositada no Protein Data Bank).

Deste modo, o 2,3-BPG, cuja estrutura é carregada negativamente,

estabiliza a conformação espacial da proteína em sua forma T, através de sua

2,3-BPG

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interação com os resíduos citados, possibilitando, assim a liberação do

oxigênio (CHANUTIN E CURNISH, 1967; BENESCH E BENESCH, 1967).

O 2,3-BPG, assim como os demais fosfatos orgânicos, apresentam

efeitos semelhantes aos prótons, uma vez que estão envolvidos em interações

heterotrópicas entre os sítios do oxigênio (heme pocket) de fosfatos. Deste

modo atua como efetor alostérico da hemoglobina, interferindo na afinidade

desta proteína pelo oxigênio (ANTONINI e BRUNONI, 1971; IMAI et al.,

2001).

1.4.2. Efeito Bohr

A presença de íons H+ influenciando na afinidade da hemoglobina pelo

O2 é conhecida como Efeito Bohr, o qual pode ser subdividido em alcalino e

ácido. No efeito Bohr básico, a presença de íons H+ reduziria a afinidade,

enquanto sua ausência, em pHs mais alcalinos, levaria ao efeito inverso, com

o aumento desta (Figura 15).

FIGURA 15. A diminuição do pH diminui a afinidade da proteína pelo oxigênio - efeito Bohr alcalino (adaptado de

HORTON et al., 1996).

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Já o efeito Bohr ácido consistiria no aumento da afinidade em pHs

abaixo de 6,0, quando há elevadas concentrações de íons H+. Este evento pode

também ser chamado de Efeito Bohr reverso. Apesar de, em seres humanos,

somente ser observado o efeito Bohr alcalino em função do pH fisiológico, de

7,4, o efeito Bohr ácido também pode ocorrer com a hemoglobina humana, em

pHs inferiores à 6,5. Embora não se saiba se o Efeito Bohr tenha algum papel

fisiológico em seres humanos, ele parece estar relacionado ao processo de

degradação da hemoglobina nos lisossomos presentes no tecido hepático

(BENESCH e BENESCH, 1967; CHANUTIN e CURNISH, 1967; RIGGS,

1988; BONAVENTURA et al., 2004; YOKOYAMA et al., 2004; YONETANI e

LABERGE, 2008).

1.4.3. Ânions Cloreto – Cl-

Ânions cloreto reduzem a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio

através da estabilização da estrutura protéica na forma Tensa (desoxi). Este

fato se deve à exposição de grupamentos positivos de resíduos polares

presentes na cavidade central da proteína, quando no estado T, como é o caso

da Arginina 141 das cadeias alfa, que apresentam papel fundamental na

interação com ânions cloreto (PERUTZ et al., 1994).

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54

1.4.4. Efeito da Temperatura

A ligação da Hb-O2 é exotérmica. Tem-se, portanto, que a afinidade da

Hb por este gás é diminuída com o aumento da temperatura (BENESCH et

al., 1969). O aumento de 10ºC diminui a afinidade da hemoglobina pelo

oxigênio entre 1,5 a 2,5 vezes, dependendo das condições experimentais

(ANTONINI e BRUNONI, 1971).

Os parâmetros de termodinâmica são dados por:

(8)

considerando-se que R é a constante universal dos gases (onde R = 1,987

Kcal-1mol-1), T = temperatura (dada em Kelvin) e K é a constante de equilíbrio

termodinâmico. G é dado, portanto, em Kcal/ mol (ANTONINI e BRUNONI,

1971).

Já a energia livre, proposta por Gibbs, segue a equação:

(9)

onde H é a variação da entalpia (energia total do sistema de ligação Hb-O2

liberada) e S, a variação da entropia (energia dos sistema Hb-O2 não

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55

dissipada) (ANTONINI e BRUNONI, 1971). No caso de reações gasosas os

valores de H obtidos pela mudança de pressão com a temperatura incluem o

aquecimento do gás em solução (o qual o oxigênio, em temperatura próxima a

20ºC tem H em aproximadamente – 3 Kcal/mol).

A determinação da mudança de entalpia é dada pela equação de Van´t

Hoff (equação 10), a qual é amplamente utilizada para Hb. Esta equação

implica que o valor de H seja o mesmo para todos os hemes da molécula.

(ANTONINI e BRUNONI, 1971).

(10)

A entalpia varia de acordo com o efeito Bohr, entretanto o calor

„intrínsico‟ de oxigenação da Hb de mamíferos está entre -13,5 a -14,5

Kcal/mol, o qual se corrigido para uma solução contendo oxigênio varia entre -

10,5 a -11,5 Kcal/mol, sendo que em pH 7,0 o H da hemoglobina humana é de

-9,5 Kcal/mol de oxigênio (ANTONINI e BRUNONI, 1971).

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56

1.4.5. Efeito do CO2

A hemoglobina está envolvida no transporte de dióxido de carbono

(CO2) dos tecidos periféricos para os pulmões através de dois mecanismos:

Efeito Bohr: quando a oxihemoglobina perde o oxigênio e se liga aos

íons H+ presentes no meio, deslocamento do equilíbrio de ionização do ácido

carbônico, havendo com que haja o aumento do transporte de CO2, na forma

de íons bicarbonato, conforme as equações a seguir:

(11)

Anidrase

carbônica (12)

Formação de compostos carbamino: ocorre diretamente entre o CO2 e

grupos de aminoácidos não protonados (ou da proteína. Através deste

mecanismo, a constante de ligação do CO2 e a oxi-Hb e desoxi-Hb são

distintas.

O transporte de CO2 pela hemoglobina não é exclusivamente realizado

por nenhum dos mecanismos descritos anteriormente, mas provavelmente por

ambos em maior ou menor extensão. Além disso, a hemoglobina somente é

responsável por 5% do transporte desta molécula dos tecidos para os pulmões

(ANTONINI e BRUNONI, 1971).

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57

1.5. HEMOGLOBINOPATIAS

Os genes responsáveis pela síntese da Hb humana podem apresentar

substituições ou deleções de bases nitrogenadas. Tais mutações que podem

originar quadros clínicos característicos. As hemoglobinopatias (Hbpatias)

hereditárias são um grupo heterogêneo de doenças genéticas causadas por

mutações que afetam esses genes e constituem hoje o maior grupo de doenças

genéticas mundialmente distribuídas (BUNN E FORGET, 1986; COTTON,

1997; HOFFBRAND et al., 2000; STEINBERG et al., 2001; WEATHERALL E

CLEGG, 2001; WILLIAMS et al.,2001).

Genericamente, podem ser classificadas em:

Alterações estruturais, nas quais ocorre a presença de hemoglobinas

estruturalmente anômalas no interior das hemácias;

Alterações no ritmo de síntese (talassemias), com a supressão parcial

ou total da produção de uma ou mais cadeias polipeptídicas;

Persistência Hereditária da Hemoglobina Fetal (PHHF), que se

caracteriza pela produção persistente de cadeias durante a vida

adulta (BUNN E FORGET, 1986; HOFFBRAND et al., 2000;

STEINBERG et al., 2001; WEATHERALL E CLEGG, 2001;

WILLIAMS et al.,2001; DACIE E LEWIS, 2006).

A natureza das alterações que afetam os genes de globinas é bastante

diversificada e inclui mutações em regiões codificantes, com substituição de

aminoácido na proteína, mutações no código de terminação, causando a

formação de cadeias alongadas e com menor ritmo de síntese, mutações nos

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introns, resultando em cadeias truncadas ou em RNAs mensageiros instáveis,

na região promotora, com perda ou ativação da expressão gênica, ou mesmo

deleções com perda parcial ou total de um ou mais genes no complexo (BUNN

E FORGET, 1986; COTTON, 1997; HOFFBRAND et al., 2000; STEINBERG

et al., 2001; WEATHERALL E CLEGG, 2001; WILLIAMS et al.,2001).

As Hbpatias estruturais são, geralmente, causadas por mutações de

ponto, ou pequenas inserções ou deleções de bases, afetando a região

codificadora dos genes e causando a substituição de resíduos nas cadeias

protéicas. A mais importante delas é a Hb S (22 GluVal) (BUNN E

FORGET, 1986; HOFFBRAND et al., 2000; STEINBERG et al., 2001;

WEATHERALL E CLEGG, 2001; WILLIAMS et al.,2001).

Atualmente, existem mais de 1000 variantes estruturais descritas 1 ,

muitas não associadas a manifestações clínicas ou alterações hematológicas

importantes. Há, no entanto, mutações que resultam em alterações na

solubilidade da Hb, na estabilidade estrutural da molécula ou na afinidade

pelo oxigênio. Elas podem causar redução da sobrevida média das hemácias

em circulação, levando a um quadro clínico de anemia hemolítica de grau

variável, ou, no caso de alterações funcionais, levar à policitemia, quando a

afinidade pelo O2 está elevada, ou à cianose, quando está diminuída (BUNN E

FORGET, 1986; HOFFBRAND ET AL., 2000; STEINBERG ET AL., 2001;

1 http://globin.cse.psu.edu

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59

WEATHERALL E CLEGG, 2001; WILLIAMS et al.,2001; DACIE E LEWIS,

2006).

A maioria das Hbpatias estruturais é detectada por seu comportamento

eletroforético ou cromatográfico anômalo, já que a substituição de aminoácidos

geralmente leva à mudança da carga elétrica da proteína. No entanto, em

algumas variantes denominadas “silenciosas”, a substituição por aminoácidos

de mesma carga leva a uma migração eletroforética ou eluição cromatográfica

semelhante à da Hb A. Deste modo, a completa caracterização de uma Hb

anômala demanda técnicas complementares, como a focalização isoelétrica,

separação das cadeias globínicas, provas de solubilidade, estabilidade e

funcionais, e análises moleculares, como o sequenciamento do DNA, para

identificação da mutação responsável pela variante (BUNN E FORGET, 1986;

COTTON, 1997; HOFFBRAND et al., 2000; STEINBERG et al., 2001;

WEATHERALL E CLEGG, 2001; WILLIAMS et al.,2001; DACIE E LEWIS,

2006).

O Laboratório de Diagnóstico das Hemoglobinopatias do Departamento

de Patologia Clínica da FCM/UNICAMP, um laboratório de referência no país,

com seus 29 anos de existência, realiza uma média de 1.500 exames

diagnósticos/ano, entre pacientes de Campinas e região, e seus respectivos

familiares, atendidos no Hospital das Clínicas da UNICAMP por suspeita

clínica de hemoglobinopatias. As alterações mais frequentemente encontradas

são a Hb S, a Talassemia e a Hb C (SONATI et al.,1996), mas diversos casos

esporádicos de outras hemoglobinopatias, incluindo variantes estruturais

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60

raras, têm sido detectados, sendo a identificação realizada por análise da

proteína anômala e do DNA. Doze novas variantes foram descritas, sendo

nove do adulto Hb Rio Claro [β33 (B15) ValMet], Hb Campinas [26 (B7)

Ala Val], Hb Poços de Caldas [β61 (E5) LysGln], Hb Itapira [30 (B11)

GluVal], Hb Boa Esperança [16 (A14) LysThr], Hb Bom Jesus da Lapa

[30 (B11) GluAla], Hb Olinda [β 22(B4) – 25(B7)], o qual sofre a deleção de

12 pares de base dos códons 22 ao 25 do gene beta, removendo os aminoácidos:

Ácido Glutâmico-Valina-Glicina-Glicina, Hb Caruaru [β122 (GH5) FenSer] e

Hb Florida (β-deleção de 1pb entre os códons 140 e 141), e outras três em

recém-nascidos [HbF-Campinas [Aγ121 (GH4) GluGln], HbF-Paulínia [Gγ 80

(EF4) AspTyr] e HbF-Joanópolis [Gγ73 (E17) AspAla] (DUARTE et al.,

2003; GRIGNOLI et al., 2002; GONÇALVES et al., 1994; WENNING et al.,

1999; WENNING et al., 2000; COSTA E SONATI, 2002; KIMURA et al.,

2002; FATTORI et al., 2006; SONATI et al., 2006; WEINSTEIN et al., 2006).

Além destas, outras 51 variantes raras, sendo 8 mutações de novo, foram

descritas (KIMURA et al., 2008).

Dentre estas variantes destacam-se as Hb Olinda [22(B4) – 25(B7)] e

Hb Caruaru [122 (GH5) PheSer], detectadas em indivíduos do Estado de

Pernambuco e estudados em nosso laboratório, devido à relevância clínica,

uma vez que, instáveis, resultam em anemia hemolítica aos seus portadores.

Além destas, outras variantes também detectadas pelo laboratório

revelam apresentam grande importância serem decorrentes de substituições

em região 12, importante no equilíbrio T-R da hemoglobina. São elas as Hb

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Coimbra [β99 (G1) Asp Glu] e Hb Setif [94 (G1) AspTyr], ambas com

substituições de resíduos na região 12 – importante no equilíbrio T-R. Em

decorrência de tais substituições a primeira apresenta afinidade aumentada

pelo oxigênio, levando à policitemia a seus portadores, enquanto que a

segunda, apesar da afinidade diminuída, talvez por se tratar de uma variante

de cadeias alfa, e por isso menos expressa quando em heterozigose (devido à

presença dos genes alfa duplicados), não resulta quadro clínico importante aos

portadores.

Em contrapartida, a Hb Chelsea [38 (C3) ThrIle], também variante

de cadeias alfa e que foi descrita como causa de hipocromia e microcitose, foi

detectada, em nosso laboratório, em paciente com policitemia.

Por fim as variantes novas: Hb S-São Paulo [6 (A3) GluVal ; 65

(E9) LysGlu], que sofre dupla substituição na mesma cadeia beta e a Hb F-

Valinhos [G46 (CD5) GlySer], resultam em anemia hemolítica aos seus

portadores, no entanto, possivelmente por processos fisiopatológicos distintos.

Desta forma, estudos estruturais e funcionais mais aprofundados

destas variantes não somente são importantes para melhor compreensão da

fisiopatologia destas hemoglobinopatias como também elucidam propriedades

estruturais e funcionais desconhecidas na estrutura nativa da Hb humana, as

quais são evidenciadas quando de alterações nos mecanismos de ligação com

oxigênio nas estruturas anômalas.

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II. OBJETIVO

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65

O presente trabalho teve como objetivo de estudar e aprofundar

aspectos estruturais e funcionais das seguintes variantes estruturais da Hb

humana, separadas de acordo com a localização da substituição de resíduos e

propriedades funcionais:

Variantes com substituições na Interface 12:

Hb Coimbra [HBB:c.300T>A or 300T>G p.99Asp>Glu]

Hb Setif [HBA2:c.283G>T p.94Asp>Tyr]

Variantes com alterações de afinidade:

Hb Chelsea [HBA2:c.116C>T p.38Thr>Ile] – afinidade aumentada

Hb F-Valinhos [HBG2:c.138G>A p.46Gly>Ser] – afinidade reduzida

Variante com propriedade de polimerização:

Hb S-São Paulo [HBB:c.20A>T p.Glu6Val; c.196A>G p.Lys65Glu]

Variantes Instáveis:

Hb Caruaru [HBB:c.368T>C p.122Phe>Ser]

Hb Olinda [HBB:c. 67_78delGAAGTTGGTGGT p.22-25Glu-Val-Gly-

Gly->0]

Deste modo, tal trabalho objetivou maior compreensão da relação

estrutura – função de variantes hemoglobina humana, para melhor

compreensão da fisiopatologia das hemoglobinopatias e dinâmica de ligação

Hb-O2.

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III. MATERIAIS E MÉTODOS

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3.1. VARIANTES DA HEMOGLOBINA HUMANA

As variantes da hemoglobina humana estudadas no presente trabalho estão

sumarizadas na Tabela 1. Todas as variantes foram encontradas em

heterozigose simples.

TABELA 1. Dados analíticos e clínicos das variantes de hemoglobina estudadas.

Hemoglobina

Variante

Caracterização Proteica % das Hbs em

hemolisado total

Alterações

Hematológicas

Variantes com substituições na Interface 12:

Hb Coimbra

[99(G1)AspGlu]

-Eletroforese alcalina: padrão normal;

-HPLC: alargamento na base do pico

correspondente à Hb A;

-Eletroforese ácida: normal;

-Eletroforese de cadeias: normal;

-RP-HPLC: separação da cadeia anômala

(21.74%- Coimbra)

Hb Coimbra = % Não

determinada

HbA2 = 3,8%

Hb F = 0,8%

Policitemia

Hb Setif

[94(G1) AspTyr]

-Eletroforese alcalina: banda na posição de

Hb S;

-Eletroforese ácida: banda na posição de Hb

S;

-Focalização isoelétrica: migração qual Hb S

Hb Setif = 17,4%

Hb A2 = 3,2%

Hb F = 0,6%

Anemia

hipocrômica e

microcitica

Variantes com alterações de afinidade

Hb Chelsea

[38(C3) ThrIle]

-Eletroforese alcalina: padrão normal;

-Eletroforese ácida: banda anômala entre Hb

A e Hb S;

-HPLC: 20,5% (portadora 1) e 22%

(portadora 2)

-% cadeia anômala (quantificada por HPLC

de fase reversa): aproximadamente 13%

1:Hb Chelsea=20,5%

2: Hb Chelsea = 22%

1: Policitemia

2:Índices

hematológicos

normais

(assintomática)

Hb F-Valinhos

[G46(CD5)Gly→Ser]

Instável;

-Eletroforese alcalina: compatível com recém-

nascido;

-HPLC: 69,9% (co-eluição com HbF normal);

-Eletroforese ácida: compatível com recém-

nascido;

-RP-HPLC: 4,26% / 4,93% (divisão dos picos

de G anômalos)

Hb F= 69,9%*

HbA2= 0,5%

Hb F-Valinhos = não

determinada

Anemia

hemolítica

Variante com Propriedade de Polimerização

Hb S-São Paulo

[6(A3) GluVal;

65 (E9) LysGlu]

-Eletroforese alcalina: banda anômala mais

rápida que a HbA;

-Teste de solubilidade (da HbS): fracamente

positivo;

-HPLC: eluição em janela de HbD;

-Eletroforese ácida: padrão semelhante à

HbS;

-Focalização Isoelétrica: separação da fração

normal, com pH 6,68 (35,2%);

-RP-HPLC: separação da cadeia anômala

(11.47%- S-São Paulo)

Hb S-São Paulo = 29,6%

HbA2=2,7% (dosagem

manual)

Hb F = 12,3%

Anemia

hemolítica

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Variantes Instáveis

Hb Caruaru

[122 (GH5)

FenSer]

Instável

-Eletroforese alcalina: padrão eletroforético

indistingüível do adulto normal;

-HPLC: normal;

-Eletroforese ácida: normal;

-Eletroforese de cadeias: normal;

-Focalização isoelétrica: separação da fração

normal, com pH 6,8 (25%)

-RP-HPLC: separação da cadeia anômala

(8,78%- Caruaru)

Hb Caruaru = % Não

determinada

HbA2 = 4,1%

Hb F = 5,0%

Anemia

hemolítica

Hb Olinda

[22 (b4) –25 (b7)]

Altamente instável

-Eletroforese alcalina: banda anômala na

mesma posição de HbS;

-HPLC: eluição conjunta à HbA2;

-Eletroforese ácida: normal;

-Eletroforese de cadeias: normal;

-Focalização isso-elétrica: migração

fragmentada em dois pontos isoelétricos- pH

7,58 (3,0%) e pH 7,34 (3,3%);

-RP-HPLC: normal

Hb Olinda = 10,5%

(concomitante à HbA2)

HbA2=3,0% (dosagem

manual)

Hb F = 1,0%

Anemia

hemolítica

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71

3.2. ESTUDOS FUNCIONAIS

O Estudo Funcional da Hb humana tem como objetivo analisar as

propriedades de ligação com o oxigênio através da obtenção da curva de

dissociação Hb-O2 ou curva de saturação Hb-O2 (curvas de equilíbrio).

3.2.1. Método Espectrofotométrico Tonométrico

O método espectrofotométrico tonométrico é o teste gasométrico descrito

por Rossi-Fanelli e Antonini em 1958, e que emprega medidas da oxi e da

desoxi-Hb em diferentes e apropriados comprimentos de onda, na ausência e

na presença de fosfatos orgânicos (ROSSI-FANELLI E ANTONINI, 1958;

ANTONINI E BRUNONI, 1971). É, portanto, o método original do estudo

funcional das hemoglobinas.

No presente estudo tais análises foram realizadas a partir de

hemolisado total purificado. Para tanto, amostras de sangue total, coletadas

em tubos contendo EDTA em concentração de 8% (frascos de hemograma-

Vacuette®) foram obtidas, para que, após lavagem da papa de hemácias com

solução salina 0,9%, o hemolisado fosse obtido por lise com água Milli Q.

O hemolisado total purificado (stripped), livre de contaminantes tais

como a membrana celular e os fosfatos orgânicos (a exemplo do 2,3-BPG) foi

obtido através de cromatografia em coluna de vidro (com as dimensões de 2cm

de diâmetro interno x 30cm de comprimento) com o polímero Sephadex G-25

(Sigma-Aldrich), e tampão Hepes (2-[4-(2-Hidroxietil)-1-piperazina] ácido

etanosulfônico) 50mM (Sigma-Aldrich).

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Duas purificações foram efetuadas, a primeira em coluna com pH

alcalino (em torno de 8,2), seguida por purificação em pH ácido (em torno de

6,0) – para a exclusão de interferentes ácidos e alcalinos da amostra em

estudo. Ao final do processo o hemolisado, em pH em torno de 7,0 passa por

leitura espectrofotométrica (Espectrofotômetro DU-7, Beckman) para

determinação da concentração, por meio de coeficiente de extinção, já descrito

em literatura, que varia de acordo com o pH e a temperatura (ANTONINI e

BRUNONI, 1971).

O coeficiente de extinção da Hb A da oxi-Hb é representado pela

equivalência da medida de absorbância de 13,8 correspondendo à

concentração molar de 1mM de Hb em pH 7,0 a 20ºC (no comprimento de onda

de 541nm).

Os experimentos de dissociação de oxigênio foram realizados em

intervalo de pHs entre 6,5 e 8,5 (em tampão Hepes 50mM), com amostra de

hemolisado total stripped em concentração molar final de 70M

(17,5M/Heme), para estudo de Efeito Bohr (ANTONINI e BRUNONI, 1971).

No método tonométrico as amostras, nas condições anteriormente

mencionadas, são transferidas para um tonômetro (vidraria específica de boro

silicato empregada no estudo de equilíbrio da Hb, composta por cubeta (para

leitura óptica), corpo e torneira, conforme demonstrado na Figura 16)

(ANTONINI e BRUNONI, 1971; DACIE e LEWIS, 2006).

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FIGURA 16. Tonômetro de boro silicato.

Espectrofotometricamente, avaliou-se o estado de oxi-hemoglobina

inicial da solução nos seguintes comprimentos de onda:

541 e 576nm - correspondentes aos picos de oxi-Hb;

560nm - referente ao pico de desoxi-Hb;

569nm - ponto isosbéstico da Hb (cuja absorbância, tanto para Hb

completamente no estado oxi-Hb quanto desoxi é a mesma, ou com

valor muito próximo). Deste modo, as absorbâncias neste comprimento

de onda servem como Fator de Correção para os posteriores cálculos de

p50;

630 e 690nm – referentes à meta-Hb, para exclusão das espécies meta-

Hb formadas durante o experimento, e assim evitar deslocamentos e

erros nos cálculos efetuados posteriormente.

cubeta

corpo

torneira

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Após leitura de oxi inicial nos referidos comprimentos de onda a desoxi-

Hb é obtida utilizando gás nitrogênio, como gás de arraste, portanto, a fim de

remover o oxigênio ligado à Hb.

Os experimentos foram realizados à temperatura de 25,0ºC, controle

este feito em banho agitador de tonômetros (Figura 17), para homogeneização

por 10 minutos.

FIGURA 17. Banho agitador de Tonômetros.

Obtida a desoxi-Hb, esta passa por estabilização na referida

temperatura, para enfim, posterior leitura nos comprimentos de onda citados

(Figura 18). No entanto, também são efetuadas leituras nos espectros de 555 e

540nm para efetuo da seguinte relação, conforme proposto por Benesch (1967)

e que garante a efetiva desoxigenação da amostra:

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(13)

Repetidas adições de volumes conhecidos de ar são então efetuadas aos

tonômetros, com auxílio de seringa de vidro, levando-os para sucessivas

homogeneizações no banho a 25ºC por 10 minutos. Após cada adição de ar e

consequente homogeneização e estabilização da solução a 25ºC, as soluções são

submetidas a novas leituras espectrofotométricas, nos comprimentos de onda

anteriormente citados (Figura 18), até atingir padrão de leitura

espectofotométrico aproximado à conformação da oxi-Hb. Por fim, o sistema é

aberto para completa oxigenação da amostra. Assim, a última leitura é

efetuada, garantindo a completa saturação da Hb por O2.

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FIGURA 18. Densidade óptica da oxi-Hb (em azul); desoxi-Hb (em vermelho) e estados intermediários obtidos após

adições de ar, até oxigenação total. Gráfico em verde corresponde à estimativa para p50 (gráficos obtidos por espectro

de varredura).

Além dos estudos com amostras de Hb stripped, também foram

realizados experimentos com adição de efetor alostérico heterotrópico. Como

efetor, foi utilizado o IHP – Inositol Hexafosfato (Sigma-Aldrich), que

mimetiza a função do 2,3-BPG diminuindo a afinidade da Hb pelo oxigênio,

porém apresenta maior potencial eletronegativo e confere à hemoglobina

maior estabilidade estrutural.

Em nenhum experimento, foi feita adição de cloreto de sódio (NaCl), o

qual influencia na cooperatividade das cadeias globínicas. Deste modo, os

valores dos coeficientes de Hill (n) são menores (ANTONINI E BRUNONI,

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1971). Em contrapartida, é possível verificar com maior sensibilidade

alterações funcionais não perceptíveis pela interferência de sais.

Os eventos de cooperatividade (n, constante de Hill) e afinidade da

proteína pelo O2 foram determinados em pHs distintos, para estudo de efeito

Bohr.

3.2.2. Cálculos de p50 e Constante de Hill

Os resultados espectrofotométricos foram então utilizados para

obtenção do gráfico de Hill, no qual considerou-se o seguinte cálculo para

obtenção de Y:

= (AbsX- AbsD) / (Abso - AbsD) (14)

Sendo que:

AbsX= absorbâncias nos comprimentos de onda de 541, 576 e 560 em

cada uma das adições de ar.

AbsD= absorbância nos comprimentos de onda de 541, 576 e 560, na

desoxi-Hb;

Abso= absorbância na oxi-Hb inicial.

Deste modo tem-se, em cada uma das adições de ar, que:

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[(Abs541x - FCx) – (Abs541desoxi - FCdesoxi)]

[(Abs560x - FCx) – (Abs560desoxi - FCdesoxi)] +

[(Abs576x - FCx) – (Abs576desoxi - FCdesoxi)]

Y=

[(Abs541oxi - Abs690oxi) – (Abs541desoxi - FCdesoxi)]

[(Abs560oxi - Abs690oxi) – (Abs560desoxi - FCdesoxi)] +

[(Abs576oxi - Abs690oxi) – (Abs576desoxi - FCdesoxi)] (15)

O FCx é um fator de correção para cada uma das adições de ar e o

FCdesoxi é um fator de correção para forma desoxigenada da hemoglobina.

Deste modo considera-se que:

FC=Abs569(adição de ar ou desoxi-Hb) - Abs569(oxi inicial)

(16)

Os valores de pressão de oxigênio (pO2) obtidos em cada uma das

adições de ar foram convertidos à partir dos volumes conhecidos de ar, através

da seguinte equação:

(17)

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Neste cálculo são considerados os seguintes parâmetros:

[O2] = Concentração percentual de oxigênio na atmosfera= 21%;

TB e TA = Temperatura do banho agitador de tonômetros e

Temperatura ambiente;

PBC = Pressão barométrica corrigida;

PV = Pressão de vapor de água;

UR= Umidade relativa;

VI = Volume de ar injetado no tonômetro;

VA = Volume de amostra;

VT = Volume do tonômetro.

Todos estes dados foram calculados através de programa computacional

desenvolvido pelo Prof. Dr. Gustavo O. Bonilla Rodríguez, do Departamento

de Química e Ciência Ambientais- IBILCE- UNESP- São José do Rio Preto, e

gentilmente cedido ao nosso laboratório (Figura 19) (BONILLA-RODRIGUEZ

et al., 1994):

FIGURA 19. Programa para cálculo de pO2.

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Os valores resultam, pois, na curva sigmoide de saturação Hb-O2, para

a obtenção da p50, a qual é apresentada em logaritmo: a partir de log (pO2) x

log (Y/ 1-Y), considerando os parâmetros previamente citados (Figura 20).

FIGURA 20. Duas formas de apresentação da curva de saturação Hb-O2 na forma sigmoidal (Painel A); e forma

logarítmica (Painel B).

Deste modo, o valor de Log (p50) é obtido.

A partir do gráfico em logaritmo a Constante de Hill é obtida – através,

pois, da variação, conforme a demonstrado na equação 20 e Figura 21:

-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

log

S/I

log pO2

Hb G-Siriraj pH 7,53

Reta Média

p50

ou

p50

A

B

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( ⁄ )

(20)

FIGURA 21. Exemplificação do intervalo de valores para cálculo da Constante de Hill.

No entanto, a equação 20, nada mais é que a aplicação das equações 3 e

6 referentes à Constante de Hill demonstradas no Capítulo Introdução.

O efeito Bohr, por sua vez, é determinado a partir dos valores de p50

encontrados em cada pH analisado (no intervalo de 6,5 a 8,5).

Todos os gráficos de Efeito Bohr e de variação do Coeficiente de

Cooperatividade (pela Constante de Hill – n) foram efetuados utilizando o

programa OriginPro 7.5 e 8.0.

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3.2.3. Método Automatizado – Hemox Analyzer

O teste funcional utilizando o equipamento Hemox Analyzer (TCS

Medical Products, USA) baseia-se em método espectrofotométrico conjugado à

medida de oxigênio do meio através de eletrodo de Clark. Neste, conforme as

leituras de absorbâncias são efetuadas mediante a medida de oxigênio do

meio, o software que acompanha o equipamento, automaticamente efetua os

cálculos da diferença de espécies oxi e desoxi-Hb através da diferença de

espectros em 560 e 576nm em função da pressão de O2.

No entanto, os experimentos nele realizados utilizam papa de hemácias

não purificada, servindo, pois, como um método de “triagem” ao estudo

funcional tonométrico.

Os hemolisados utilizados no referido estudo eram provenientes de

eritrócitos previamente lavados e armazenados a -80ºC. O pH foi ajustado em

7,4 (±0,01) utilizando-se o Hemox-solution e temperatura controlada a 37ºC.

Neste método, a amostra é inicialmente submetida a crescente pressão

de ar comprimido até sua completa saturação (oxigenação de 100% da

amostra). Em seguida o gás nitrogênio é insuflado, como gás de arraste, a

fim de promover a completa desoxigenação da hemoglobina. Durante a

desoxigenação, eletrodo de oxigênio do tipo Clark (que possui uma membrana

de Teflon permeável ao oxigênio), determina a tensão de oxigênio (pO2) da

amostra (como coordenada x do gráfico de saturação Hb-O2). Enquanto isso, a

diferença entre as leituras de absorbância nos comprimentos de onda de 560 e

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576 nm, são mensauradas e calculadas. Deste modo, em tempo real, a curva

de dissociação Hb-O2 é obtida, conforme demonstrado na Figura 22:

FIGURA 22. Curva de saturação de oxigênio da hemoglobina (http://tcssci.com/hemox/components/index.htm).

A partir deste gráfico, o valor de p50 da hemoglobina é calculado,

considerando, assim como no método anteriormente descrito, a pressão de

oxigênio necessária para saturação de 50% dos sítios ativos da Hb.

Em seguida, o ar comprimido é novamente insuflado (o pO2 medido por

meio do eletrodo de Clark e as densidades opticas medidas e calculadas) de

modo a obter a curva de saturação de oxigênio, a qual resulta em valores de

p50 muito próximos àqueles obtidos na primeira curva.

Finalmente, os cálculos da Constante de Hill podem ser efetuados

através da aplicação das equações 3, 6 e 21, supracitadas.

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3.3. STOPPED FLOW

A técnica de Stopped Flow consiste em método espectrofotométrico em

que é possível efetuar varredura da densidade óptica da Hb (entre 350 e

700nm) em um intervalo de tempo determinado. Deste modo é possível

efetuar, por exemplo, mesclas da amostra de proteína com agente redutor,

capaz de promover o desligamento do oxigênio ligado à Hb e assim

determinar, através de cálculos, a constante de dissociação Hb-O2 (Koff). A

recíproca também seria verdadeira, caso houvesse possiblidade de mescla da

desoxi-Hb com solução saturada de oxigênio, sendo possível mensurar a

ligação de O2 à Hb de forma a obter Kon, ou constante de ligação Hb-O2. No

entanto, a concentração deste ligante necessária para saturação completa dos

sítios ativos de Hb seria muito alta, o que impossibilita o uso desta técnica

para Kon com O2. Em contrapartida, devido à maior afinidade que a Hb tem

pelo monóxido de carbono (CO), foi possível obter a KonCO, através de um

processo extremamente laborioso.

A Figura 23 representa o esquema básico de funcionamento de um

equipamento de Stopped Flow.

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FIGURA 23. Esquema básico de funcionamento de um equipamento de Stopped Flow (ANTONINI E BRUNONI,

1971).

Diferentemente do esquema aqui apresentado, o equipamento utilizado

apresentava três bombas de entrada, num modelo esquemático mais

complexo, uma vez que podem ser realizadas duas mesclas (entre bomba 1 e

bomba 2, seguida por segunda homogeneização entre este produto de mescla e

o conteúdo da bomba 3 – Figura 24). No entanto, somente duas entradas

foram utilizadas (bomba 1 e 3), após diversos testes de homogeneização.

FIGURA 24. Fotografia das bombas de mescla e placa de detecção do Stopped Flow (Biokine 32, Jasco, Germany).

As absorbâncias podem ser medidas ao mesmo tempo graças à presença

de uma placa composta por arranjo de diodos bastante sensível, através da

Bomba 1

Bomba 2

Bomba 3

Lâmpada

s Placa de

detecção

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qual a amostra é espalhada de forma que sua densidade óptica possa ser

avaliada em diferentes comprimentos de onda ao mesmo tempo. Através deste

princípio é possível também fazer medidas das absorbâncias ao longo do

tempo, por exemplo, após mescla rápida a um agente redutor (que retire

oxigênio do meio, para obtenção de Koff) ou um “agente oxidante” (que sature

os sítios ativos da Hb, para obtenção de Kon).

No laboratório de Modelado Molecular, da Universidad de Buenos Aires

foi possível padronizar e efetuar estudo de cinética de dissociação Hb-O2 e de

ligação Hb-CO, através da técnica de Stopped Flow. Isso porque o referido

laboratório também possui equipamento necessário para este gênero de

avaliação (Biokine 32, Jasco, Germany).

Os estudos de cinética representam importante interface entre os

estudos funcionais e simulação de dinâmica molecular, uma vez que

efetivamente é possível determinar as constantes de ligação (Kon) e

dissociação (Koff) de uma proteína a seu ligante.

Para os experimentos utilizou-se hemolisados stripped, previamente

preparados em nosso laboratório. Foram purificados / desalinizados por coluna

cromatográfica Sephadex 25G, utilizando água Milli-Q como fase móvel. Em

seguida foram concentrados, por centrifugação e separação por peso molecular

utilizando filtros Amicon (Millipore) com peso molecular de corte de 30KDa, à

temperatura controlada, para evitar desnaturação proteica.

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87

3.3.1. Constante de dissociação Hb-O2 - Koff

Para a determinação de Koff, em uma das bombas é inserida a oxi-Hb

(bomba 1), na concentração adequada (80M/heme), enquanto que em outra

bomba é injetado o ditionito de sódio (SDS – 6mM), como agente redutor da

Hb.

Após a mescla rápida (em tempo inferior a 0,08ms) é possível

determinar o seguinte gráfico (Figura 25):

FIGURA 25. Comprimentos de onda (nanômetros - nm) versus Absorbância (Volts) em função do Tempo (segundos).

Oxi-Hb, sem qualquer mescla com agente redutor (Painel A). Mescla de oxi-Hb com agente redutor (DTS- Ditionito de

Sódio). Medidas feitas em função do tempo (Painel B).

Durante o processo de padronização foi necessário determinar:

Concentração ideal de Hb (através de inúmeros testes com a Hb nas

concentrações de 20, 40, 60, 70, 80 e 90 M/heme – quantificação feita

por espectrofotometria, usando como coeficiente de partição a densidade

óptica da proteína em 540nm). Verificou-se que a melhor concentração

para mescla, com obtenção de melhor sinal, antes e após a mescla, era a

de 80M/heme;

A B

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Concentração ideal de DTS de modo que a Hb humana estivesse em

margem de segurança para completa desoxigenação, sem que a

proteína sofresse polimerização. Além disso, tomou-se o cuidado para

que a concentração de DTS não fosse muito alta, o que deixaria a

solução viscosa, dificultando a mescla rápida com a Hb. Os testes com

DTS foram mais complexos uma vez que este é um reagente

extremamente higroscópico, o que dificulta a sua real quantificação,

durante a pesagem. Deste modo, paralelamente, foram efetuados testes

por espectrofotometria para quantificação de DTS através da densidade

óptica. Com base nos artigos supracitados foram testadas diversas

concentrações de DTS: 60, 30, 26, 6 e 2.6 mM (HARRINGTON ET AL.,

1977; COIN E OLSON, 1979; VANDERGRIFF E OLSON, 1984;

BRITTAIN E SIMPSON, 1989). A concentração ideal, de baixa

viscosidade e melhor desempenho para redução da Hb foi a de 6 mM;

Proporção ideal de volume de mescla oxi-Hb versus DTS de modo que se

obtivesse completa desoxi-Hb. Considerando as concentrações de

de Hb e 6mM de DTS a melhor proporção foi a de 1:3, o que

corresponde às concentrações finais de 20M de Hb e 4,5mM de DTS;

Tempo ideal de exposição da mescla oxi-Hb:DTS sem que houvesse

decaimento da função gerada. Este não foi um ponto muito crítico na

padronização uma vez que as concentrações dos reagentes foram bem

estabelecidas;

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A velocidade de fluxo de mescla, por sua vez, foi calculada pelo software

do equipamento.

As medidas de densidade óptica são efetuadas a cada 0.0016s por 3,2

segundos. Nos testes iniciais o tempo final de medida foi de 5s. No entanto,

visto que a cinética de desligamento do oxigênio da Hb observada nestas

condições foi muito rápida, o tempo máximo de medida passou a ser 3,2s –

Figura 26.

Os testes foram realizados em Tampão Fosfato 100 mM, pH 7,4, em

temperatura de 25ºC, a mesma dos estudos funcionais.

Ao final da padronização cada amostra foi submetida a 20 injeções, ou

seja, 20 mesclas e medições de varredura em função do tempo, para efetuo dos

cálculos.

Os cálculos de Koff foram efetuados a partir dos valores de absorbância

em 430nm (referente à absorbância máxima de desoxi-Hb na “região de

Soret”) em função do tempo – Figura 26.

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FIGURA 26. Absorbância da Hb A (sinal dado em Volts; coordenada Y) versus Tempo (em segundos; coordenada x),

no comprimento de Soret para desoxi-Hb (430nm).

Não foram considerados os valores de Banda Q (referentes as

densidades óticas em 541, 560 e 576 nm) como utilizados nos estudos

funcionais, uma vez que após a mescla, os sinais gerados são baixos, e assim,

susceptíveis a ruídos e interferências. No entanto, tais absorbâncias serviram

de parâmetro qualitativo para verificação da completa obtenção de desoxi-Hb

após redução.

Os cálculos de Koff seguem equação matemática de uma ou duas

funções:

cálculo de função única:

(21)

cálculo de duas funções:

[ ] [ ]

(22)

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91

Sendo:

A= amplitude

K = Koff

X = Tempo (obtido a partir do gráfico gerado no experimento)

C = Constante arbitrária, proveniente da integral gerada pela

aproximação da função gerada ao gráfico Tempo x Absorbância

(conforme Figura 27).

Y´ = F(x)

Y = Absorbância

Para tanto a ferramenta de estatística Solver foi utilizada, através da

qual os dados foram normalizados usando como valor de base (mínimo) a soma

do quadrado da diferença entre os valores de Y (Absorbância) e Y‟ (Função

gerada).

A Koff, portanto, foi determinada a partir de cálculo de aproximação da

função citada frente aos valores experimentais de absorbância versus tempo

(Figura 27). Nos referidos cálculos considerou-se também a simples diferença

entre estes valores (Y - Y‟ = resíduo), com o intuito de validar os resultados

experimentais.

A Koff obtida por uma única função foi utilizada para determinar um

valor único que satisfizesse o evento global de desligamento do O2. Enquanto

isso, duas funções foram aplicadas para verificar duas fases de desligamento

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Hb-O2 (sendo uma fase rápida e uma lenta, seguindo o padrão sigmoidal da

curva de dissociação de O2).

FIGURA 27. Parte da planilha de cálculos para obtenção de Koff.

Ambas as funções foram aplicadas às variantes de Hb e comparadas aos

resultados obtidos com os controles.

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3.3.1.1. Koff na presença de IHP

Foram efetuados testes de cinética de dissociação Hb-O2 na presença de

IHP.

Tal estratégia foi adotada porque estudos funcionais complementares

da Hb Coimbra sugeriram uma possível e nova influência deste efetor na

cooperatividade heme-heme, efeito este não descrito na literatura.

Deste modo, acreditava-se que as medidas de Koff poderiam indicar

alterações, o que tornaria tais medidas bastante pertinentes.

Foram utilizadas as mesmas condições analíticas das medidas de Koff

anteriormente descritas, porém, com adição de IHP em concentração final de

1mM, tal qual nos estudos funcionais tonométricos, para fins de comparação.

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3.3.2. Constante de ligação Hb-CO – KonCO

A determinação de KonCO também segue a mesma estratégia de Koff. A

diferença, neste caso é, a presença da Hb já reduzida com DTS 6mM na

Bomba 1, enquanto a Bomba 3 é preenchida com Tampão Fosfato 100mM, pH

7,4, saturado com CO.

Para a saturação do tampão, são necessárias 1 hora de exposição deste

ao gás produzido pela mescla de ácido sulfúrico e ácido fórmico, sob baixa

temperatura.

Apesar de efetuadas diversas injeções de mescla, o rendimento deste

procedimento é bastante baixo, devido ao aumento de “ruídos” na leitura de

espectro (em decorrência da presença de CO) bem como dificuldade de mescla

em curto período.

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3.4. ESTUDOS DE POLIMERIZAÇÃO

Devido à propriedade de polimerização apresentada por uma das

variantes em estudo, a Hb-S-São Paulo, anteriormente detectada pelo teste de

sickle ID, a formação de polímeros a 30ºC foi monitorada por 24h, por método

espectrofotométrico descrito por Adachi e Asakura em 1979.

Neste teste monitora-se a densidade ótica da Hb a 700nm (espectro de

polímeros de Hb), em intervalos aproximados de 1h. Para tanto, utiliza-se

hemolisado total stripped em concentração de 0,123g/dL em tampão fosfato

1,8M (pH 7,34). A amostra, em tubo hermeticamente fechado, para evitar a

entrada de O2 no meio, particularmente importante para o hemolisado em

estudo, uma vez que o portador também apresentava elevada porcentagem de

Hb F, o que poderia sobremaneira interferir na formação de polímeros.

Tais resultados foram comparados à amostra controle de heterozigoto

da Hb S – tal qual o probando da Hb S-São Paulo.

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3.5. SIMULAÇÃO DE DINÂMICA MOLECULAR (MD)

A Simulação de Dinâmica Molecular (Molecular Dynamics – MD) é uma

técnica de análise computacional através da qual é possível determinar o

movimento de partículas de um sistema, cujos potenciais de interação e

equações que regem tais movimentos sejam conhecidos. Deste modo, a partir

de modelos cristalográficos, que fornecem as posições iniciais dos átomos, e

dos campos de força que regem tais ligações atômicas (exemplos na Figura

28), é possível estudar as sequencias de posições geradas decorrentes deste

movimento, por meio dos princípios fundamentais de Mecânica Estatística.

FIGURA 28. Representação esquemática dos principais componentes de um campo de força.

No caso da Hb humana é possível avaliar as ligações interatômicas, por

exemplo, entre átomos de resíduos de uma proteína, e assim, fazer

aprofundados estudos da estrutura final bem como verificar interações com o

ligante. Por meio deste método é possível compreender, do ponto de vista

molecular, a conformação estrutural de variantes da hemoglobina, além de

permitir a compreensão do mecanismo de ligação entre a hemoglobina e

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oxigênio, fazendo, deste modo, a efetiva correlação entre a estrutura e a

função da proteína (ALDER E WAINWRIGHT, 1959; MCCAMMON ET AL.,

1977; MOUAWAD ET AL., 2002; LABERGEAND E YONETANI, 2008;

YONETANI E LABERGE, 2008).

A partir das coordenadas espaciais de estruturas cristalográficas na

conformação R e T da Hb nativa depositadas na base de dados Protein data

Bank (exemplo na Figura 29), é possível, portanto, fazer modificações

estruturais relativa às variantes em estudo e subsequente cálculos das

trajetórias de simulação a partir dos campos de força que envolvem as

interações atômicas.

FIGURA 29. Fragmento do arquivo pdb com parte das coordenadas da estrutura 2DN2, relativa à desoxi-Hb.

Para estas simulações foram utilizadas os pdbs 2HHB e 1IRD, nas

respectivas conformações T e R da Hb nativa, em lugar dos templates 2DN2 e

Identificação

(átomo)

Nº do átomo

(sequencialmente)

Átomos e classificação na

estrutura primária [ex.

Carbono (CA)]

Resíduo

Cadeia

globínica

Nº do resíduo

Coordenadas X / Y / X

Grau de Ocupância atômica nas

coordenadas determinadas (1.00 = 100%)

Fator de Vibração

Térmica

Átomos

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2DN1, utilizados em tentativa anterior, uma vez que estas também

apresentam boa resolução e não foram encontrados os mesmos problemas

quais aqueles vivenciados durante a Modelagem por Homologia, muito

possivelmente devido à existência da substância tolueno na estrutura

cristalográfica de 2DN1. Além disso, as estruturas 2HHB e 1IRD têm sido

citadas em outros artigos como bons modelos para estudos de MD.

As caixas de simulação contendo cerca de 40.000 átomos (entre

moléculas de água e íons sódio e cloreto, para estabilização do sistema)

foram “construídas” a 10Å a partir do contorno periódico da Hb (Figura 30).

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FIGURA 30. Caixa de simulação da Hb na forma nativa.

A

Caixa de simulação contendo molécula de oxi-Hb

nativa (1GZX) após processo de relaxação estrutural.

A) Conformação de apresentação em “Line”;

B) Conformação de apresentação em “New Cartoon”.

Íon cloreto

OBS. Foram inseridos íons cloreto e sódio, para

estabilidade do sistema

Molécula de água

B

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Neste estudo foram utilizados os programas computacionais:

Os dados de parametrização de campos de forças inter-atômicas e

de topotologia (estrutura espacial dos átomos da proteína) foram

obtidos através do programa CHARMM (Chemistry at Harvard

Molecular Mechanics).

As simulações das estruturas mutantes foram realizadas no

programa AMBER, a partir dos parâmetros de topologia das

estruturas cristalográficas e parâmetros de campos de força. A

simulação da dinâmica molecular propriamente dita é efetuada

através deste programa;

VMD (Visual Molecular Dynamics): programa de visualização e

cálculos básicos (como distanciamento entre átomos) das

simulações de estruturas mutantes.

Foram selecionadas aquelas variantes cuja análise prévia de

visualização computacional da estrutura nativa não indicasse necessidade de

muito tempo para simulação devido ao posicionamento e interações do resíduo

substituído – os quais não sugerissem imediata correlação entre a

substituição e as alterações funcionais. A prioridade foi dada às variantes

novas da hemoglobina, para as quais não havia dados estruturais descritos na

literatura.

As simulações das variantes de Hb foram executadas com tempo

mínimo de – 30 ns. Antes, porém, relaxamento inicial das estruturas foram

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realizados, primeiramente, com as cadeias laterais (backbones) fixas (por

tempo de 50ps), e em seguida estas também foram submetidas a relaxamento

por mais 50ps.

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IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO

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4.1. VARIANTES COM SUBSTITUIÇÕES NA INTERFACE 12

Algumas regiões da hemoglobina são importantes para a estabilização

do tetrâmero funcional durante a transição T-R. A principal delas é a

interface 12 cujos contatos estabilizam ambas as conformações ligada (R) e

não ligada (T) da Hb. Além disso, está localizada próxima aos grupos heme,

interferindo e sofrendo influência de alterações conformacionais no heme

pocket.

Dentre as diversas interações na região 12 destacam-se as que

ocorrem entre Asp99 e Tyr42, bem como Asp99 e Asn97 no estado T, de

modo a estabilizar tal conformação por meio de ligações de hidrogênio (KIM et

al., 1994). Outra importante interação na conformação T se dá entre Asp94e

Trp37, formando uma espécie de dobradiça na região (LEVANTINO et al.,

2012).

As Hbs Coimbra [99 (G1) AspGlu] e Setif [2 94 (G1) AspTyr] são

variantes que sofrem substituição do ácido aspártico nas cadeias beta e alfa,

respectivamente, nesta região de interface 12 (Figura31):

FIGURA 31. Localização das interfaces 12 na Hb humana (laranja).

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4.1.1. Hb Coimbra [99 (G1) AspGlu]

Em termos funcionais, a importância do resíduo Asp99 para afinidade

da proteína pelo oxigênio pode ser conferida por meio das sete variantes de Hb

com substituição deste resíduo: Hb Ypsilanti (Asp99Tyr), Hb Kempsey

(Asp99Asn), Hb Yakima (Asp99His), Hb Radcliffe (Asp99Ala), Hb Hotel-Dieu

(Asp99Gly) e Hb Coimbra (Asp99Glu). Isso porque, independentemente da

substituição sofrida, todas as variantes apresentam afinidade aumentada pelo

oxigênio, cooperatividade heme-heme diminuída e resultam em quadro clínico

de importante relevância (Globin Gene Server).

Os portadores destas variantes apresentam eritrocitose (também

denominada policitemia – termo grego para grande concentração de células no

sangue). A superprodução de eritrócitos estaria, portanto, relacionada à

afinidade aumentada destas variantes pelo O2. Devido a esta propriedade

funcional alterada, não distribuem adequadamente o O2 aos tecidos, gerando

hipóxia tecidual. Esta, por sua vez, resulta na produção compensatória de

eritropoietina, pelas suprarrenais, que sinaliza à medula óssea a maior

produção de células vermelhas (GORDEUK et al., 2005).

Assim como as demais variantes com substituições do resíduo Asp99, a

Hb Coimbra [HBB:c.300 T>A or T>G p.Asp99Glu] também se caracteriza pela

afinidade aumentada pelo oxigênio e resulta em policitemia aos portadores.

No entanto, diferentemente das demais é a que sofre menor alteração na

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interface 12, uma vez que a substituição de ácido aspártico por ácido

glutâmico somente confere a inserção de um grupamento CH2 nesta região.

Assim sendo, o estudo estrutural e funcional da Hb Coimbra é de

grande relevância para a melhor compreensão do equilíbrio alostérico T-R

tanto da variante quanto da estrutura nativa, devido à mínima diferença

entre ambas.

Descrita pela primeira vez na cidade de Coimbra (TAMAGNINI et al.,

1991), foi identificada em alguns pacientes com quadro de eritrocitose

encaminhados e acompanhados pelo setor de Hematologia do Hemocentro-

Unicamp. Até o presente momento nenhuma das demais variantes de Hb com

outra substituição de Asp99 foi detectada em nosso país.

Estudos funcionais com o hemolisado total não purificado, efetuados por

método automatizado (Hemox Analyzer) em pH 7,4, a 37ºC, apontaram o

aumento da afinidade pelo O2, através da medida de p50 (Figura 31), tanto

através da curva de dissociação Hb-O2 (Painel A) quanto pela curva de ligação

Hb-O2 (Painel B):

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A

B

FIGURA 32. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total não-purificado. Painel A: Curva de dissociação Hb-O2. Painel

B: Curva de ligação Hb O2. Em azul escuro: hemolisado contendo majoritariamente Hb A. Em ciano: hemolisado de

recém nascido (com Hb F de aproximadamente 70%). Em vermelho: hemolisado total contendo Hb Coimbra.

As curvas de equilíbrio da Hb Coimbra indicaram maior afinidade da

variante pelo oxigênio (Figura 31), as quais estão representadas por valores

de p50 inferiores aos controles, inclusive, em relação ao hemolisado RN, com

cerca de 80% de Hb F (Tabela 2). Além disso, as constantes de Hill (n) também

indicaram diminuição da cooperatividade heme-heme(Tabela 2).

TABELA 2. Valores de p50, Cooperatividade heme-heme (Constante de Hill – n) e Constantes de Adair para os

gráficos de dissociação Hb-O2 e ligação Hb-O2 da Hb Coimbra.

Desvio p50 Hill Constantes de Adair (log)

padrão (mmHg) (n) k1 k2 k3 k4

Hb A Curva dissociação 0,003 10,74 2,22 0,12 0,08 0,001 128,9

Curva saturação 0,004 11,00 2,18 0,12 0,08 0,001 7,76

Hb F (~80%) Curva dissociação 0,009 8,88 1,44 0,36 0,07 0,08 0,13

Curva saturação 0,01 8,22 1,42 0,71 0,05 0,11 0,09

Hb Coimbra Curva dissociação 0,005 5,62 1,32 0,63 0,21 0,05 0,28

Curva saturação 0,004 5,84 1,39 0,20 0,99 5.10-6 1785

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Os valores das constantes de Adair, por sua vez, apontaram

significativa diferença entre as 4 Ks (constantes de Adair obtidas em Log)

para cada uma das 4 fases das curvas de equilíbrio, e que representam cada

uma das 4 cadeias globínicas em dissociação (para a curva de dissociação) e

saturação com O2 (para a curva de ligação Hb-O2). Ou seja, entre as curvas de

dissociação e saturação por O2 foi observada importante diferença entre os

valores de k1, k2, k3 e k4, principalmente entre k2 e k4, onde o valor de k4

(que apresentou maior diferença entre os cálculos dos gráficos) da curva de

dissociação foi de 0,28 enquanto que para a de saturação foi de 1785. Tais

resultados apontam um possível deslocamento do equilíbrio de ligação Hb-O2

para a conformação mais estável da estrutura em R, com maior afinidade pelo

O2. Além disso, o valor de k4 para a curva de saturação da Hb Coimbra foi

bastante superior aos valores de k4 tanto da Hb A quanto de Hb F (Tabela 2).

Em contrapartida, o valor de k1 da Hb Coimbra, para a curva de dissociação,

foi superior aos valores de Hb A e Hb F, o que poderia indicar que a afinidade

alterada poderia estar vinculada a mecanismo deficitário de cooperatividade

heme-heme. No entanto, importante ressaltar que as constantes de Adair

calculadas a partir das curvas de equilíbrio são bastante susceptíveis a erros,

apesar do baixo desvio padrão, justamente pela alta sensibilidade do cálculo.

Do ponto de vista de afinidade, resultados similares foram observados

nos estudos funcionais espectrofotométricos tonométricos, através da medida

de p50 de hemolisado total purificado (stripped) no intervalo de pHs entre 6,5

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e 8,5, temperatura de 25ºC, tanto na presença quanto ausência de IHP

(Inositol Hexafosfato) – Figura 33, cujos valores foram inferiores aos da Hb A.

Deste modo, a pressão de oxigênio necessária para saturar 50% das

ligações de Hb Coimbra seria menor que para Hb A, em todos os pHs:

FIGURA 33. Afinidade da Hb Coimbra na presença e ausência de IHP- Inositol Hexafosfafo, em diferentes pHs –

Efeito Bohr.

A diferença nos valores de p50 do hemolisado stripped de Hb Coimbra

em relação a controle Hb A, foi maior na presença de IHP que na ausência

deste efetor alostérico. Tais achados parecem acompanhar os resultados de

baixa cooperatividade heme-heme também observados pelo estudo – Figura

34:

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FIGURA 34. Cooperatividade heme-heme da Hb Coimbra na presença e ausência de IHP, em relação à Hb A.

Cálculos da Constante de Hill (n) no intervalo de pHs de 6,5 a 8,5

apontaram ausência de cooperatividade heme-heme (em torno de 1), tanto na

presença quanto ausência de IHP. No entanto, interessante observar que os

valores encontrados na presença de IHP foram inclusive inferiores àqueles

encontrados na ausência do efetor (em torno de 0,8) o que poderia apontar à

influência deste efetor na região 12 da variante, de modo a afetar a

cooperatividade heme-heme, efeito este, ainda não descrito na literatura.

Estudos da cinética de dissociação Hb-O2, por Stopped Flow, não

apontaram diferença significativa entre os valores das constantes de

dissociação (Koff) Hb-O2 (Tabela 3). Foram encontrados, isto sim, elevadas

constantes de ligação Hb-CO (em lugar de O2), o que, realmente aponta para

desequilíbrio T-R em favor da maior estabilidade estrutural na conformação

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R, uma vez que os valores de Kon da Hb Coimbra são bastante superiores em

relação à Hb A (tanto nos cálculos com uma ou duas funções – Tabela 3):

TABELA 3. Valores das constantes de dissociação Hb Coimbra-O2 na ausência e presença de IHP (Koff) e constante

de ligação Hb Coimbra-CO (KonCO), por Stopped Flow.

Koff Koff (IHP) KonCO

Hb A Monoexponencial 38,524 35,666 94,751 Bi-exponencial 1 0,566 1,875 0,999 Bi-exponencial 2 37,612 36,773 94,7615

Hb Coimbra Monoexponencial 38,443 25,806 160,726 Bi-exponencial 1 1,071 3,619 0,961 Bi-exponencial 2 37,823 25,796 160,711

O referido desequilíbrio entre Kon e Koff, que aponta deslocamento do

equilíbrio a R, de dá em decorrência da na maior presença de espécies na

conformação R em solução.

Já na presença de IHP a Koff de Hb Coimbra foi menor que Hb A

também podendo indicar que o desequilíbrio T-R ainda favorecendo a

conformação R, num evento que necessita maiores investigações uma vez que

não está descrito na literatura.

Tal evento não foi, no entanto, explorado nas simulações da dinâmica

molecular efetuadas neste trabalho, pois seria necessário parametrizar a

presença de IHP na cavidade do 2,3-BPG. Isso porque não há estrutura

cristalográfica da Hb com IHP, o que exigiria experimentos computacionais de

docagem da molécula no interior da proteína e subsequentes cálculos da

dinâmica do sistema.

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Estudos de simulação de dinâmica molecular da Hb Coimbra na sua

conformação R – ligada ao oxigênio, confirmaram, mesmo após 100ns, a

estabilidade das novas de ligações de hidrogênio entre Glu99-Tyr42,

Glu99-Val96 e Glu99-Asp97, interações estas inexistentes na

conformação R da estrutura nativa (Hb A), conforme demonstrado na Figura

35.

FIGURA 35. Representação das interações de Asp99β em relação à nuvem eletrônica de Glu99β na interface 12.

Em azul: cadeia principal da globina 1da Hb A na conformação T /Em vermelho: cadeia principal da globina2 da

Hb A na conformação T; Em cinza: cadeias principais das globinas 1 e 2 da Hb A na conformação R; Átomos

coloridos unitariamente: Asp99β da estrutura nativa (junto à cadeia , em vermelho) e Tyr42α (junto à cadeia α, na

conformação T, em azul); Átomos coloridos em cinza: Asn97α da estrutura nativa (junto à cadeia na conformação R,

em cinza); Nuvem laranja na interface: Glu99 na cadeia , em vermelho (T).

Além dos estudos com a conformação R, nos quais observou- se a

formação de ligações inexistentes na forma nativa devido à inserção de um

grupamento CH2 na interface (Figura 35), as trajetórias de simulação a 100ns

na conformação T indicaram fenômeno importante neste estado – não ligado

ao oxigênio. Com o passar do tempo de simulação a T-Hb Coimbra passou da

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forma T para a forma R, o que demonstra a instabilidade da conformação T e

maior estabilidade na conformação R.

Tais observações foram possíveis graças à propriedade que a Hb tem

durante a transição T-R. Isso porque e os dímeros da Hb rotacionam cerca de

15º, no eixo de simetria, durante a transição T-R (Figura 6, da Introdução),

quando o oxigênio se liga aos sítios ativos.

Através de cálculos da estrutura foi possível observar o trânsito T-R da

T-Hb Coimbra, mesmo sem a adição de oxigênio no sistema.

A Figura 36 representa a simulação em T de 0 a 100ns, nas seguintes

condições:

Em preto, T-Hb A (Wild Type – WT): ao longo da trajetória de 0 a 100ns

a estrutura permaneceu em T;

Em vermelho, T-Hb Coimbra: em aproximadamente 20ns a estrutura T

passou a R;

Para validar tais resultados, novas alterações foram feitas:

Em azul, T-Hb AHb Coimbra: após os 100ns de simulação (trajetória

representada na cor preta), a estrutura T-Hb A foi novamente “mutada”

à Hb Coimbra e posta a novos 100ns de trajetória. Foi possível observar

que a nova estrutura de Hb Coimbra, em menos de 10ns passou de T a

R, confirmando os resultados representados graficamente em vermelho;

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Em verde, Hb CoimbraHb A: a estrutura final de Hb Coimbra, que

após 100ns de trajetória (representada em vermelho) estava na

conformação R, foi modificada à forma nativa (Hb A – Wild Type, WT) e

avaliadas por mais 100ns. Observou-se que mesmo após 100ns a

estrutura nativa não voltou à conformação T, o que indica a

estabilidade da conformação R, da estrutura inicial (Figura 36).

FIGURA 36. Rotação das estruturas de Hb Coimbra e Hb A ao longo de 100ns de trajetória de simulação.

Os testes supracitados apontaram, portanto, que a Hb Coimbra é mais

estável na conformação R. Deste modo, os sítios ativos estariam expostos, o

que facilitaria a ligação com o oxigênio.

Além destas, outras análises computacionais, referentes às

modificações nas cadeias globínicas durante o trânsito T-R da Hb Coimbra,

também foram realizadas (Figura 37). Nestas, foi analisado o trânsito T-R

para a estrutura terciária (t-r) das cadeias globínicas:

2) Asp99Glu

1) Wild Type (Hb A)

3) WT Asp99Glu

4) Asp99Glu WT

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FIGURA 37. Projeção da Dinâmica Molecular no modelo de transição T-R da Hb Coimbra. As projeções foram

normalizadas considerando o valor -1 a conformação T (estrutura quaternária) e t (estrutura terciária) e 1 a

conformação R (estrutura quaternária) e r (estrutura terciária). Painel A: Em preto: transição T-R da Hb Coimbra;

Em vermelho: transição t-r da cadeia α1; Em verde: transição t-r da cadeia α2. Painel B: Em preto: transição T-R da

Hb Coimbra; Em vermelho: transição t-r da cadeia β1; Em verde: transição t-r da cadeia β2.

Os resultados apontaram menor perturbação das cadeias alfa (Figura

37, Painel A) em relação às cadeias beta (Figura 37, painel B). As cadeias alfa

parecem tender a permanecer em t (na estrutura terciária) enquanto que as

cadeias beta parecem iniciar a trajetória de simulação com certa tendência a r

(estrutura terciária).

Deste modo, a despeito da mudança conformacional da estrutura

quaternária de T a R, as cadeias parecem não sinalizar as mudanças t-r, de

modo ordenado, de modo cooperativo, como na estrutura nativa.

Tanto os estudos funcionais baseados nas curvas de equilíbrio Hb-O2 e

cálculos das Constantes de Hill e Adair, quanto análises de cinética de

dissociação Koff e KonCO, além dos estudos computacionais de Dinâmica

Molecular apontaram que a inserção do grupamento CH2 na interface 12,

na posição 99 confere maior estabilidade da conformação R. Deste modo,

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maior número destas espécies estaria presente em solução. Tais resultados,

portanto, são mais relativos à problemas cooperatividade heme-heme que o

simples aumento de afinidade da variante pelo O2.

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118

4.1.2. Hb Setif [2 94 (G1) AspTyr]

Além da Hb Coimbra, outra variante com substituição de resíduo na

região 12 também pode ser estudada neste trabalho e seus resultados

preliminares serão aqui apresentados.

É a Hb Setif [HBA2:c.283G>T p.94Asp>Tyr], com substituição do ácido

aspártico 94 da cadeia alfa, detectada no laboratório de Hemoglobinopatias da

Unicamp, em família brasileira cujo quadro hematológico de hipocromia e

microcitose apresentado por seus portadores aparentemente não está

relacionado à presença da variante.

A diferença entre as Hb Coimbra e Setif é que enquanto a primeira

sofre substituição do ácido aspártico 99 da cadeia beta, a segunda apresenta

substituição do respectivo ácido aspártico, na cadeia alfa, o qual ocupa a

posição 94 na globina.

Estudos funcionais com o hemolisado total não purificado, efetuados por

método automatizado (Hemox Analyzer) em pH 7,4, a 37ºC, não apontaram

alterações na afinidade pelo oxigênio (Figura 38) tanto através da curva de

dissociação (Figura 38, Painel A) quanto de saturação pelo O2 (Painel B):

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A

B

FIGURA 38. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total não-purificado. Painel A: Curva de dissociação Hb-O2. Painel

B: Curva de ligação Hb O2. Em azul escuro: hemolisado contendo majoritariamente Hb A. Em vermelho: hemolisado

total contendo Hb Setif (aproximadamente 20%).

Os valores de p50 e Constante de Hill, que avalia a cooperatividade

heme-heme, do hemolisado total contendo 17,4% da variante, não diferiram

signifcativamente dos valores de hemolisado contendo majoritariamente Hb A

(cerca de 97%), apesar da tendência à diminuição de cooperatividade

observada (Tabela 4).

TABELA 4. Valores de p50, Cooperatividade heme-heme (Constante de Hill – n) e Constantes de Adair para os

gráficos de dissociação Hb-O2 e ligação Hb-O2 da Hb Setif.

Desvio p50 Hill Constantes de Adair (log)

padrão (mmHg) (n) k1 k2 k3 k4

Hb A Curva dissociação 0,003 10,74 2,22 0,12 0,08 0,001 128,9

Curva saturação 0,004 11,00 2,18 0,12 0,08 0,001 7,76

Hb Setif Curva dissociação 0,004 9,78 1,97 0,17 0,11 5.10-5 210,4

Curva saturação 0,004 10,15 2,02 0,19 0,09 5.10-5 184,0

Apesar da condição bastante aproximativa dos cálculos das Constantes

de Adair, relativos às cooperatividades individuais das globinas em relação à

ligação ou desligamento do O2 (pelas medidas nas curvas de dissociação e

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120

saturação por O2), os valores de k4 da Hb Setif apresentaram importante

diferença em relação aos valores controle, com o resultado aumentado (Tabela

4). Além disso, k4 da curva de dissociação está aumentado em relação a k4 da

curva de saturação, o que poderia indicar uma possível tendência ao estado T

da variante. No entanto, no percentual aqui estudado (17,4% de Hb Setif em

hemolisado total), os resultados de afinidade não apontaram alteração

funcional.

Estudos de equilíbrio de ligação Hb-O2 descritos na literatura, também

apontaram afinidade pelo O2 normal e menor cooperatividade heme-heme

(DEBRAY et al., 1974).

Deste modo, no presente trabalho foram realizadas medições de Koff,

na ausência e presença de IHP, bem como medidas de KonCO, por Stopped

Flow, com o intuito de avaliar se, apesar da baixa concentração em

hemolisado total, a variante apresentaria alguma alteração na cinética de

ligação pelo O2, através de cálculos mais refinados que aqueles efetuados nos

estudos de equilíbrio.

A constante Koff de Hb Setif obtida por função única foi pouco inferior à

Koff de Hb A, sem, no entanto, representar alteração significativa (Tabela 5).

Já o valor de Koff de Hb Setif da primeira função (de duas, que

representam fase lenta e fase rápida do desligamento de O2) foi maior que

Koff de Hb A. Tal resultado parece indicar que o oxigênio se desliga mais

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121

rapidamente da Hb variante na primeira fase, em relação à mesma fase da Hb

A (Tabela 5).

TABELA 5. Valores das constantes de dissociação Hb Setif-O2 na ausência e presença de IHP (Koff) e constante de

ligação Hb Setif-CO (KonCO), por Stopped Flow.

Koff Koff (IHP)

Hb A Monoexponencial 38,524 35,666 Bi-exponencial 1 0,566 1,875 Bi-exponencial 2 37,612 36,773

Hb Setif Monoexponencial 35,447 38,127 Bi-exponencial 1 3,143 2,486 Bi-exponencial 2 37,201 39,347

Valores superiores de Koff também foram observados com a adição de

IHP ao hemolisado total stripped (Tabela 5), o que parece apontar a tendência

à diminuição de afinidade, principalmente no primeiro estágio (fase lenta) da

dissociação Hb-O2.

Acredita-se, pois, que valores superiores àqueles por nós encontrados,

poderiam ser obtidos com Hb Setif isolada, uma vez que, mesmo na

percentagem de 17,4%, foram observadas Koffs aumentadas.

Tais resultados, portanto, são indicativos de que esta variante, que

sofre substituição Asp94Tyr na cadeia poderia ter maior estabilidade

estrutural na conformação T, com menor afinidade pelo O2. No entanto,

estudos estruturais, por Simulação de MD, por exemplo, seriam necessários

para a efetiva conclusão. Apesar disso, a variante, descrita com diminuição da

cooperatividade heme-heme, segundo dados da literatura, apresentaria nova

ligação de hidrogênio na interface 12, o que seria responsável pela reduzida

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122

cooperatividade (WAJCMAN et al., 1972). No entanto tal estudo é bastante

prospectivo e somente considera, do ponto de vista estérico, a substituição ali

sofrida necessitando, portanto, maior investigação.

No decorrer deste trabalho, outra propriedade da Hb Setif foi

observada. Após dessalinização da proteína para os referidos estudos de

cinética e sob baixas pressões de oxigênio em largo tempo, a variante parece

ter sofrido polimerização. Tal evento também foi observado por outros grupos

sem, no entanto, ter sua causa ainda bem estabelecida.

Apesar dos estudos preliminares com esta variante, já é possível traçar

um paralelo entre as Hb Setif (com alteração Asp94Tyr na cadeia alfa) e a Hb

Coimbra (com alteração Asp99Glu na cadeia beta), ambas com substituição de

Asp, na interface 12, nas cadeias alfa e beta, respectivamente, conforme

demonstrado na Figura 39:

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123

FIGURA 39. Interface 12 da Hb. Painel A: em destaque, Asp99estabilizando a conformação T na estrutura

nativa. Painel B: em destaque, Asp94estabilizando a conformação R na estrutura nativa.

Através do estudo destas variantes foi possível depreender a

importância do Asp, em ambas as globinas, quanto à manutenção da

cooperatividade heme-heme, promovendo o equilíbrio da transição T-R da Hb,

para que esta cumpra seu papel funcional.

Ambas, Hb Coimbra e Hb Setif resultam em diminuição da

cooperatividade heme-heme. E ao que indicam os resultados com a Hb

Coimbra, a cooperatividade heme-heme estaria relacionada à maior

estabilização da conformação R, o que não acontece com a Hb Setif, que ao

contrário, demonstrou, por estudos de cinética, sutil tendência a T.

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124

4.2. VARIANTES COM ALTERAÇÕES DE AFINIDADE

4.2.1. Hb Chelsea [38 (C3) ThrIle]

A Hb Chelsea é uma variante rara de cadeia alfa descrita como

funcionalmente normal. No entanto, tal informação, depositada no Web Site of

the International Hemoglobin Information Center, não especifica as condições

analíticas, não indicando, inclusive nenhum artigo científico para consulta e

comparação com nossos resultados.

Esta variante também foi, por nós, detectada em duas portadoras

relacionadas (mãe e filha), tendo uma delas (a filha), se apresentado com

quadro hematológico de policitemia. Por este motivo foi encaminhada ao

laboratório de Hemoglobinopatias da Unicamp para análises específicas. Sua

mãe, no entanto, possui índices hematológicos normais, sendo clinicamente

assintomática. Deste modo, a variante desta portadora somente foi detectada

em estudo familial.

A portadora com policitemia apresenta 20,5% da Hb variante, enquanto

que a mãe, assintomática, apresenta 22% da variante.

Estudos funcionais com o hemolisado total não purificado, efetuados por

método automatizado (Hemox Analyzer) em pH 7,4, a 37ºC, apontaram

aumento da afinidade pelo oxigênio (Figura 40) tanto na curva de

dissociação (Figura 40, Painel A) quanto de saturação pelo O2 (Painel B):

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A

B

FIGURA 40. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total não-purificado. Painel A: Curva de dissociação Hb-O2. Painel

B: Curva de ligação Hb O2. Em azul escuro: hemolisado contendo majoritariamente Hb A. Em verde: hemolisado total

contendo Hb Chelsea (portadora assintomática - 22% da Hb variante).Em vermelho: hemolisado total contendo Hb

Chelsea (portadora com policitemia – 20, 5% da Hb variante).

Deste modo, os valores de p50 decorrentes das curvas de equilíbrio do

hemolisado total (Figura 40) foram inferiores aos do hemolisado controle

(majoritariamente composto por Hb A), conforme descrito na Tabela 6. Além

dos reduzidos valores de p50, próximos àqueles obtidos pelas curvas contendo

principalmente Hb F, as constantes de Hill, que determinam a

cooperatividade heme-heme também foram menores – Tabela 6.

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126

TABELA 6. Valores de p50, Cooperatividade heme-heme (Constante de Hill – n) e Constantes de Adair para os

gráficos de dissociação Hb-O2 e ligação Hb-O2 da Hb Chelsea.

Desvio p50 Hill Constantes de Adair (log)

padrão (mmHg) (n) k1 k2 k3 k4

Hb A Curva dissociação 0,003 10,74 2,22 0,12 0,08 0,001 128,9

Curva saturação 0,004 11,00 2,18 0,12 0,08 0,001 7,76

Hb F (~80%) Curva dissociação 0,009 8,88 1,44 0,36 0,07 0,08 0,13

Curva saturação 0,01 8,22 1,42 0,71 0,05 0,11 0,09

Hb Chelsea1 Curva dissociação 0,005 8,28 1,65 0,28 0,17 2.10-5 496.5

(assintomática) Curva saturação 0,004 9,25 1,81 0,27 0,12 3.10-5 312,2

Hb Chelsea2 Curva dissociação 0,004 7,11 1,48 0,37 0,20 0,02 0,66

(policitemia) Curva saturação 0,002 8,00 1,63 0,34 0,12 0,04 0,29

É possível notar que os resultados apresentados pelo hemolisado da

mãe e portadora da variante, assintomática, foram intermediários àqueles

apresentados pelo hemolisado da portadora com policitemia. Ou seja, a p50 e

Constante de Hill não foram tão reduzidas quanto do hemolisado da portadora

com policitemia – Tabela 6.

Em contrapartida, valores das Constantes de Adair, cadeia a cadeia,

foram próximos, a exceção de k3 e k4, muito discrepantes e que no caso da

portadora sintomática, se assemelham mais ao hemolisado de RN (~80% de

Hb F).

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127

Estudos funcionais das amostras de hemolisado total contendo as

variantes no estado purificado (stripped), com e sem adição de IHP também

foram efetuadas, as quais apontaram resultados condizentes com aqueles

encontrados nas amostras não purificadas (Figuras 41 e 42):

FIGURA 41. Afinidade da Hb Chelsea (portadora assintomática) na ausência e presença de IHP em diferentes pHs –

Efeito Bohr.

FIGURA 42. Afinidade da Hb Chelsea 1 (portadora com policitemia)na ausência e presença de IHP em diferentes

pHs – Efeito Bohr.

Ambas as amostras, no estado stripped tiveram comportamento

funcional normal, a despeito da tendência à diminuição de afinidade

6.5 7.0 7.5 8.0 8.5

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

log p

50

pH

Normal

normalIHP

HbChelsea

HbChelseaIHP

6.5 7.0 7.5 8.0 8.5

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

normal

normalihp

chelsea

chelseaihp

log p

50

pH

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128

apresentada pela amostra da portadora sintomática, nos meios mais alcalinos

(pH<8), o que poderia sugerir alguma alteração conformacional estrutural nas

regiões de terminação da cadeia alfa, mais especificamente na Arginina 141,

cujas modificações conformacionais estão intimamente ligadas a alterações

no efeito Bohr em pHs alcalinos. No entanto, tal hipótese somente poderia ser

confirmada mediante minucioso estudo estrutural por simulação de Dinâmica

Molecular. Isso porque a substituição se deu no resíduo 38, muito distante do

final da cadeia alfa.

Após adição de IHP, é possível notar aumento de afinidade em ambas

as amostras (Figuras 41 e 42),em acordo com os resultados encontrados com

concentrado de hemácias.

Apesar de tais resultados, relativos ao aumento da afinidade,

explicarem a clínica da paciente com policitemia, deixam sem explicação a

ausência de queixa clínica apresentada pela mãe da probanda e também

portadora da mutação. É possível, no entanto, que a diferença entre mãe e

filha seja resultante da capacidade individual de compensação e/ou adaptação

à alteração funcional da variante. Além disso, importante considerar, neste

caso, outros possíveis eventos de modulação da ligação da Hb pelo oxigênio,

como a concentração de 2,3-BPG, uma vez que variante parece ter menor

afinidade por este efetor alostérico e assim, maior afinidade pelo oxigênio.

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129

Os estudos funcionais tonométricos também apontaram alterações na

cooperatividade heme-heme quando adicionado IHP, tal qual observado nos

estudos com hemolisado não purificado. Em todos os pHs foram obtidos

valores de n menores que da amostra controle de Hb A (Figura 43 e 44), para

amostras de ambas as portadoras:

FIGURA 43. Cooperatividade heme-heme da Hb Chelsea – portadora assintomática, na ausência e presença de IHP.

FIGURA 44. Cooperatividade heme-heme da Hb Chelsea – portadora com policitemia, na ausência e presença de

IHP.

6.2 6.4 6.6 6.8 7.0 7.2 7.4 7.6 7.8 8.0 8.2 8.4 8.6

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

2.2

2.4

normal

normal IHP

Hb Chelsea

Hb Chelsea IHP

n

pH

6.4 6.6 6.8 7.0 7.2 7.4 7.6 7.8 8.0 8.2 8.4 8.6

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

2.2

2.4

normal

normalihp

chelsea

chelseaihp

n

pH

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A diminuição da cooperatividade heme-heme nestes casos pode estar

relacionada à influencia das cargas positivas (do IHP) nas cadeias alfa

alteradas, hipótese esta que necessitaria de investigação.

Os resultados de Koff, por sua vez, parecem apontar algumas diferenças

entre as amostras das portadoras. Conforme descrito na Tabela 7, a portadora

assintomática tem Koffs intermediários entre aqueles apresentados pela

portadora com quadro clínico e a média das amostras controle.

Enquanto a amostra Hb Chelsea 1 (relativa à portadora assintomática)

apresentou pequena redução de Koff em cálculo de única função, em relação à

amostra de Hb A, a Hb Chelsea 2 (da portadora com policitemia) sofreu

significativa diminuição de Koff de única equação – Tabela 7.

Já nos cálculos com 2 funções, ambas resultaram em valor de Koff

superior à Hb A na fase lenta, porém sem grandes alterações em fase rápida

de dissociação Hb-O2 (segunda equação)- Tabela 7.

TABELA 7. Valores das constantes de dissociação Hb Chelsea-O2 na presença e ausência de IHP (Koff), por Stopped

Flow.

Koff Koff (IHP)

Hb A Monoexponencial 38,524 35,666

Bi-exponencial 1 0,566 1,875 Bi-exponencial 2 37,612 36,773

Hb Chelsea 1

(assintomática)

Monoexponencial 34,098 27,173

Bi-exponencial 1 2,954 1,767 Bi-exponencial 2 38,33 29,734

Hb Chelsea 2

(policitemia)

Monoexponencial 8,176 4,687 Bi-exponencial 1 2,136 1,940 Bi-exponencial 2 34,771 34,700

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131

O mesmo padrão foi observado em Koffs sob a adição de IHP, o que

parece indicar que este efetor alostérico heterotrópico. É possível que a

diminuição dos valores de Koff em funções únicas, sejam decorrentes da

redução da cooperatividade heme-heme e aumento da afinidade da variante

pelo O2, ou seja, com maior estabilidade estrutural na conformação R, com

maior afinidade pelo O2.

Novamente, apesar dos resultados de cinética concordarem com os

estudos funcionais de equilíbrio, tais achados poderiam explicar a

sintomatologia apresentada pela paciente com eritrocitose, mas ainda deixam

dúvidas em relação ao padrão intermediário apresentado pela amostra de

portadora assintomática, considerando que para os estudos de cinética e de

função (tonométrico), amostras stripped, sem interferentes, foram utilizadas.

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132

4.2.2. Hb F-Valinhos [G46 (CD5) Gly→Ser]

A variante nova Hb F-Valinhos [G46 (CD5) Gly→Ser], é resultante da

substituição da Glicina na posição 46 da cadeia gama G por Serina, o que,

além de resultar em diminuição da afinidade, confere certa instabilidade do

tetrâmero funcional, conforme observado em experimentos, por nós,

realizados. Tais características podem ter sido as responsáveis pela crise

hemolítica grave que seu portador, um recém-nascido, sofreu após cirurgia

corretiva logo após o nascimento.

Além disso, foi observada a diminuição da afinidade desta variante de

Hb F pelo oxigênio, de modo a equiparar-se funcionalmente à Hb A e não à Hb

F, conforme observado na curva de equilíbrio Hb–O2 em concentrado de

hemácias não purificado (Figura 45).

A

B

FIGURA 45. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total não-purificado. Painel A: Curva de dissociação Hb-O2. Painel

B: Curva de saturação Hb-O2. Em azul escuro: hemolisado contendo majoritariamente Hb A. Em verde: hemolisado

total de RN (~80 % Hb F). Em rosa: hemolisado 100% Hb F. Em vermelho: hemolisado contendo Hb F-Valinhos.

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Valores de p50 decorrentes das curvas de equilíbrio do hemolisado total

(Figura 45) foram superiores aos do hemolisado controle de recém-nascido

(RN) composto por cerca de 80% de Hb F e amostra com 100% de Hb F,

conforme descrito na Tabela 8. Tais valores se aproximaram daqueles

obtidos pela curva de Hb A.

No entanto, a cooperatividade heme-heme, calculada pela Constante de

Hill, foi representada por valores superiores a todas as amostras controle

(tanto de Hb A quanto de Hb F). Deste modo, a Hb F-Valinhos apresentaria

cooperatividade heme-heme aumentada – Tabela 8.

TABELA 8. Valores de p50, Cooperatividade heme-heme (Constante de Hill – n) e Constantes de Adair para os

gráficos de dissociação Hb-O2 e ligação Hb-O2 da Hb F-Valinhos.

Desvio p50 Hill Constantes de Adair (log)

padrão (mmHg) (n) k1 k2 k3 k4

Hb A Curva dissociação 0,003 10,74 2,22 0,12 0,08 0,001 128,9

Curva saturação 0,004 11,00 2,18 0,12 0,08 0,001 7,76

Hb F (~70%) Curva dissociação 0,009 8,88 1,44 0,36 0,07 0,08 0,13

Curva saturação 0,01 8,22 1,42 0,71 0,05 0,11 0,09

PHHF Curva dissociação 0,004 6,63 1,40 0,37 0,24 0,03 0,33

(HbF =100%) Curva saturação 0,006 7,27 1,38 0,28 0,30 0,012 0,65

Hb F-Valinhos Curva dissociação 0,005 11,74 2,40 0,07 0,09 0,016 0,67

Curva saturação 0,007 12,18 2,51 0,09 0,09 1.10-4 78,59

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134

Estudos funcionais tonométricos a 25ºC, com hemolisado stripped, por

sua vez, também apontaram redução da afinidade. Nos entanto, neste caso,

não somente em relação à Hb F, mas também em comparação à Hb A – Figura

46.

FIGURA 46. Afinidade da Hb F-Valinhos na ausência e presença de IHP em diferentes pHs – Efeito Bohr.

Tal evento não foi observado na presença de IHP, uma vez que os

valores de p50 foram equivalentes à Hb A, o que não seria esperado para uma

Hb Fetal, inclusive na porcentagem de aproximadamente 70% (Figura 46).

Em termos de cooperatividade heme-heme da variante stripped foi

possível observar proporcional o aumento dos valores de n em relação ao

aumento de pH. Os valores de n foram inferiores ao da Hb A em pHs abaixo

de 7,0, enquanto que superiores aos valores de coeficiente de Hill (n) da Hb

A nos pHs acima de 7,0 (Figura 47). Em contrapartida, com a adição de

IHP, a cooperatividade média foi inferior à Hb A, em todos os pHs.

6.0 6.5 7.0 7.5 8.0 8.5

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

normal

normalihp

fval

fvalihp

log p

50

pH

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135

FIGURA 47. Cooperatividade heme-heme da Hb F-Valinhos na ausência e presença de IHP.

Quanto aos estudos de cinética de dissociação Hb-O2, os valores de Koff

da Hb F-Valinhos, tanto na presença quanto na ausência de IHP, não parecem

diferir dos valores de Hb F de Recém Nascido (RN), a exceção da exponencial

relativa à fase rápida de desligamento, cujo valor foi inferior ao de RN,

conforme demonstrado na Tabela 9.

6.2 6.4 6.6 6.8 7.0 7.2 7.4 7.6 7.8 8.0 8.2 8.4 8.6 8.8

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

2.2

2.4

normal

normalihp

fval

fvalihp

n

pH

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136

TABELA 9. Valores das constantes de dissociação Hb F-Valinhos-O2 na presença e ausência de IHP (Koff), por

Stopped Flow.

Koff Koff (IHP)

Hb A Monoexponencial 38,524 35,666 Bi-exponencial 1 0,566 1,875 Bi-exponencial 2 37,612 36,773

RN

(80% Hb F)

Monoexponencial 45,323 44,135 Bi-exponencial 1 3,825 3,375

Bi-exponencial 2 46,79 46,861

Hb F

(100%)

Monoexponencial 3,763 46,067

Bi-exponencial 1 2,33 3,281 Bi-exponencial 2 25,5 43,877

Hb F-

Valinhos

Monoexponencial 45,437 46,087 Bi-exponencial 1 3,635 3,266 Bi-exponencial 2 42,594 43,905

Deste modo, do ponto de vista de cinética de ligação Hb-O2 a variante

se comportaria de modo semelhante à Hb F, no entanto, com afinidade

diminuída.

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137

4.3. VARIANTE COM PROPRIEDADE DE POLIMERIZAÇÃO

4.3.1. Hb S-São Paulo [6 (A3) GluVal; 65 (E9) LysGlu]

A Hb S-São Paulo (6 GluVal ; 65 LysGlu) é variante nova que,

além de sofrer substituição do ácido glutâmico por Valina na 6ª posição da

cadeia beta, também apresenta a troca de Lisina por ácido glutâmico na

posição 65 da mesma globina.

Foi observada a diminuição da afinidade desta variante pelo oxigênio,

através de estudo de função por método automatizado, conforme observado na

curva de equilíbrio Hb–O2 em concentrado de hemácias não purificado (Figura

48, Anexo 1).

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138

FIGURA 48. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total não-purificado. Painel A: Curva de dissociação Hb-O2. Painel

B: Curva de saturação Hb-O2. Para estas, em azul escuro: hemolisado contendo majoritariamente Hb A; em verde:

hemolisado 100% Hb F; azul claro: hemolisado total de RN (~80% Hb F); em vermelho: hemolisaado contendo Hb S-

São Paulo. Painel C:curva de dissociação Hb-O2 de polímero proveniente de teste de solubilidade. Painel D: curva de

saturação Hb-O2.Para estas, em azul escuro: polímero de de Hb S; em verde: polímero de HB S-São Paulo.

Estudos funcionais tonométricos apontaram que a segunda substituição

(Lys65Glu) poderia ser responsável pela diminuição da afinidade pelo

oxigênio, uma vez que a Hb S – em solução, apresenta propriedades funcionais

normais (Figura 49 e Anexo 1).

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139

FIGURA 49. Estudos Funcionais Tonométricos a 25ºC, com hemolisado stripped. Painel A: curva de saturação Hb-O2

em pH 7,5. Painel B: Afinidade da Hb S-São Paulo na ausência e presença de IHP em diferentes pHs – Efeito Bohr.

Painel C: Cooperatividade heme-heme da Hb S-São Paulo na ausência e presença de IHP.

Os estudos funcionais, portanto, demonstraram a necessidade de maior

pressão de O2 para saturar os sítios de ligação da Hb S-São Paulo, ou seja,

maiores valores de p50, em relação à hemolisado contendo majoritariamente

Hb A.

Quanto aos estudos computacionais de Dinâmica Molecular foram

efetuados dois gêneros de Simulação de MD, conforme descrito no artigo “Hb

S-São Paulo: A new sickling hemoglobin with stable polymers and decreased

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140

oxygen affinity”, publicado na revista Archives of Biochemistry and Biophysics

(Anexo 1).

No primeiro foram calculadas trajetórias de 20 ns da variante no estado

T e R (com as substituições referentes à variante),demonstrado na Figura 50.

FIGURA 50. Resultado da dupla substituição (em vermelho) dos resíduos nativos (em azul) da estrutura 1GZX do

Protein Data Bank (Hb S-São Paulo: 6 GluVal ; 65 LysGlu).

Através das simulações de dinâmica molecular foi possível verificar que

a substituição de lisina por ácido glutâmico na posição 65 da cadeia parece

facilitar a conformação T da Hb (forma da desoxi-Hb), uma vez que a

interação entre 65Lys (localizado na hélice E) do resíduo nativo, e 21Asp

(localizado na hélice B da mesma globina) é perdida quando da substituição

65Lys

65Glu

6Glu

6Val

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141

por 65Glu. Por conseguinte há o deslocamento de hélices e movimentação da

62His (histidina distal), o que dificultaria a entrada do ligante oxigênio no

heme pocket.

Considerando que a Hb S-São Paulo também apresenta substituição de

ácido glutâmico por valina na 6ª posição da mesma cadeia e que a Hb S

apresenta maior polimerização das proteínas quando na conformação T, a Hb

S-São Paulo apresenta polímeros mais estáveis, conforme observado em

estudos proteicos de polimerização (Figura 51, Anexo 1) cuja formação e

estabilidade de polímeros foi monitorada espcetrofotometricamente em 700

nm, ao longo do tempo (24 horas), em temperatura controlada (30ºC).

FIGURA 51. Cinética de polimerização e estabilidade de polímeros de Hb S (em preto) e Hb S-São Paulo (em

vermelho), monitorados ao longo do tempo (até 24hs).

Em segunda trajetória de simulação, feita com polímero de Hb S-São

Paulo, este demonstrou ser o qual mostrou ser mais estável que polímero de

Hb S (Figura 52, Anexo 1).

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142

FIGURA 52. Polímero de Hb S-São Paulo (Painel A). A substituição em 65 está localizada próxima à interface do

dímero composto pela Hb S (Painel B).O desbalanço de cargas promove interações eletrostáticas entre os resíduos

com o mutante Glu65, o que na estrutura nativa são interações repulsivas (em Lys65), sugerindo que

Glu65contribua com a estabilidade do polímero de Hb S-São Paulo.

Deste modo, considerando que a Hb S-São Paulo também apresenta

substituição de ácido glutâmico por valina na 6ª posição da mesma cadeia e

que a Hb S apresenta maior polimerização das proteínas quando na

conformação T, a Hb S-São Paulo apresenta menor afinidade pelo oxigênio e

formação de polímeros mais estáveis, o que explica o quadro de anemia

hemolítica do portador heterozigoto.

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143

4.4. VARIANTES INSTÁVEIS

Interações hidrofóbicas são essenciais para a estabilização da proteína,

densamente empacotadas no interior da estrutura, formando um bolsão

hidrofóbico livre da interferência de água (VOET E VOET, 2004). Além disso,

tal estabilidade também é dada pelas interações iônicas no interior da

proteína.

Duas variantes instáveis foram, aqui, estudadas. Uma delas com

alterações no bolsão hidrofóbico da proteína (Hb Caruaru) e outra com a

remoção de quatro resíduos na hélice B – aparentemente não muito

importante do para a estabilidade do tetrâmero funcional (Hb Olinda).

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144

4.4.1. Hb Caruaru [122 (GH 5) PheSer]

A Hb Caruaru [HBB:c.368T>C p.122Phe>Ser] é variante instável, a

qual foi detectada em vários membros de uma mesma família e está

relacionada a anemia hemolítica crônica.

Estudos funcionais com o hemolisado total não purificado de dois

portadores, com níveis distintos de Hb F, efetuados por método automatizado

(Hemox Analyzer) em pH 7,4, a 37ºC, apontaram o aumento da afinidade

pelo O2, através da medida de p50 (Figura 31), tanto através da curva de

dissociação Hb-O2 (Painel A) quanto pela curva de ligação Hb-O2 (Painel B):

A

B

FIGURA 53. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total não-purificado. Painel A: Curva de dissociação Hb-O2. Painel

B: Curva de saturação Hb-O2. Em azul escuro: hemolisado contendo majoritariamente Hb A. Em rosa: hemolisado de

portador de Hb Caruaru com Hb F = 2,3%. Em vermelho: hemolisado de portador de Hb Caruaru com Hb F = 5%.

Os valores de p50 decorrentes das ambas as curvas de equilíbrio do

hemolisado total (Figura 53), de ambos os portadores (com diferentes níveis de

Hb F), foram pouco inferiores aos do hemolisado controle (majoritariamente

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145

composto por Hb A), conforme descrito na Tabela 10, indicando pequeno

aumento da afinidade pelo O2.

Além dos valores de p50 pouco reduzidos, também foi observada

pequena redução dos valores de coeficiente de Hill (n), que avaliam a

cooperatividade heme-heme global. Já os valores das constantes de Adair,

mais específicas a cada um dos sítios de ligação com o O2, não indicaram

consistentes alterações, a exceção da diminuição dos valores de k3 e aumento

de k4 – Tabela 10.

TABELA 10. Valores de p50, Cooperatividade heme-heme (Constante de Hill – n) e Constantes de Adair para os

gráficos de dissociação Hb-O2 e ligação Hb-O2 da Hb Caruaru.

Desvio p50 Hill Constantes de Adair (log)

padrão (mmHg) (n) k1 k2 k3 k4

Hb A Curva dissociação 0,003 10,74 2,22 0,12 0,08 0,001 128,9

Curva saturação 0,004 11,00 2,18 0,12 0,08 0,001 7,76

Hb Caruaru Curva dissociação 0,01 8,28 1,82 0,20 0,21 2.10-5 476,9

(com HbF=2,3%) Curva saturação 0,009 9,39 1,94 0,14 0,26 3.10-5 270,2

Hb Caruaru Curva dissociação 0,006 9,59 2,13 0,16 0,09 6.10-5 227,7

(com HbF=5%) Curva saturação 0,009 10,29 1,94 0,14 0,26 3.10-5 270,2

Tais resultados são concordantes com os estudos funcionais

tonométricos, os quais também apontaram sutil o aumento da afinidade, tanto

na ausência quanto na presença de IHP - Figura 54:

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146

FIGURA 54. Afinidade da Hb Caruaru (portador 2 – Hb F de 5%) em função do pH, em comparação com controle Hb

A, na presença e ausência de IHP.

Além disso, resultados alterados de cooperatividade heme-heme (Figura

55), também foram observados, indicando que as propriedades de

cooperatividade da Hb Caruaru parecem estar intrinsicamente vinculadas ao

pH:

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147

FIGURA 55. Cálculos de cooperatividade heme-heme (n - constante de Hill) da Hb Caruaru (portador com Hb F de

5%) em função do pH, em comparação com controle Hb A, na presença e ausência de IHP.

Os comportamentos de cooperatividade foram diametralmente opostos,

na presença e ausência de IHP (Figura 55). Isso porque na ausência deste

efetor houve a significativa diminuição da cooperatividade, com o aumento do

pH, enquanto que na presença de IHP observou-se o aumento gradativo da

cooperatividade nos meios mais alcalinos.

Os estudos de cinética, por sua vez, efetuados com duas amostras de

portadores distintos, com diferentes níveis de Hb F (Tabela 11), indicaram um

complexo resultado.

Enquanto os valores de monoexponencial, para o portador com menor

porcentagem de Hb F, foi próximo à média dos controles normais, não

havendo, pois, diferença significativa, o valor de Koff para o portador com

maior concentração de Hb F foi significativamente menor – Tabela 11.

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148

TABELA 11. Valores das constantes de dissociação Hb Caruaru-O2 na ausência e presença de IHP (Koff), por

Stopped Flow.

Koff Koff (IHP)

Hb A Monoexponencial 38,524 35,666

Bi-exponencial 1 0,566 1,875 Bi-exponencial 2 37,612 36,773

RN

(80% Hb F)

Monoexponencial 45,323 44,135 Bi-exponencial 1 3,825 3,375 Bi-exponencial 2 46,79 46,861

Hb F

(100%)

Monoexponencial 3,763 46,067

Bi-exponencial 1 2,33 3,281 Bi-exponencial 2 25,5 43,877

Hb Caruaru 1

(Hb F = 2,3%)

Monoexponencial 37,548 32,442 Bi-exponencial 1 3,97 1,780 Bi-exponencial 2 42,385 37,214

Hb Caruaru 2

(Hb F = 5%)

Monoexponencial 21,086 33,216 Bi-exponencial 1 3,295 3,052 Bi-exponencial 2 42,899 36,949

Em contrapartida, com a curva de dissociação dividida em duas

funções, ambos os valores de Koff (fase lenta e rápida) dos dois portadores foi

bastante próxima, independentemente da concentração de Hb F. Tais valores

foram mais equivalentes aos de RN, com Koff aumentado, o que poderia

apontar para um desequilíbrio para a conformação R, promovendo-se mais

facilmente o desligamento do oxigênio da Hb (Tabela 10).

Apesar do tempo de simulação de 30ns, os resultados dos estudos

computacionais da Hb Caruaru não parecem explicar, de modo conclusivo, a

instabilidade estrutural, ou menos alterações do ponto de vista de afinidade /

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149

cooperatividade heme-heme, em decorrência da substituição de Fenilalanina

por Serina em bolsão hidrofóbico da proteína.

O tempo de simulação parece não ter sido suficiente para que se

verificasse a entrada de águas no tetrâmero, de modo a desestabilizar a

proteína, conforme se esperava.

Resultados preliminares de simulação de MD da Hb Caruaru no estado

oxi e desoxi pareciam demonstrar alteração significativa na conformação da

cadeia beta, onde ocorreu a substituição PheSer. Isso porque a Fenilalanina

122 está localizada num bolsão hidrofóbico responsável, inclusive, pela

estabilidade estrutural da cadeia globínica. Substituída pela Serina, muitas

das interações da estrutura nativa deixam de existir, como demonstram as

Figuras 56 e 57.

FIGURA 56. Representação das interações do resíduo 122 (em verde) no interior da cadeia beta no estado T da Hb.

Superfície da cadeia beta, em cinza. Estrutura nativa 2HHB, demonstrando as inúmeras interações feitas pela

Fenilalanina (em verde) no interior da globina (Painel A). Hb Caruaru: a substituição do resíduo nativo por

Serina (em verde) resulta na perda significativa de interações no interior da cadeia globínica (Painel B).

A B

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150

Na desoxi-Hb Caruaru há uma considerável perda de interações

interatômicas (Figura 56B, representadas por pontos coloridos no entorno do

resíduo), as quais estavam presentes na Hb nativa (Figura 56A, cujos átomos

estão representados por pontos azuis claros no entorno do resíduo).

Também no estado oxigenado a variante parece demonstrar alterações

drásticas tais quais as encontradas no estado desoxi (Figura 57):

FIGURA 57. Representação das interações do resíduo 122 (em verde) no interior da cadeia beta no estado R da Hb.

Superfície da cadeia beta, em cinza. (A) Estrutura nativa 1IRD, apresentando superfície uniforme. (B) Hb Caruaru. A

superfície da globina está aparentemente deformada, com formação de cavidade (localizada acima do resíduo Serina,

conforme indicado pela seta).

De acordo com os resultados obtidos, grandes alterações

conformacionais na cadeia beta pareciam ter ocorrido, em decorrência de uma

simples substituição do resíduo nativo, no sítio hidrofíbico, por um resíduo

hidrofílico (a Serina).

No entanto, apesar de na estrutura T (da desoxi-Hb) e R (da oxi-Hb)

haver a perceptível perda de interações interatômicas no bolsão hidrofóbico

em decorrência de uma simples substituição do resíduo hidrofóbico

A B

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151

(Fenilalanina) por um resíduo hidrofílico (a Serina), não foi possível em 30ns,

como esperado, visualizar a drástica instabilidade estrutural, observada nos

experimentos in vitro. Ou seja, tanto na conformação R quanto na

conformação T (com os nitrogênios das Histidinas Distais em duas orientações

diferentes – Hid e Hie) não foi observada modificação estrutural significativa

a explicar a instabilidade proteica.

Por isso, maior tempo de simulação seria necessário, uma vez que são

esperadas modificações drásticas na estrutura quaternária, mas que

demandariam mais tempo de trajetória.

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152

4.4.2. Hb Olinda [22(B4) - 25(B7) Glu-Val-Gly-Gly0]

A Hb Olinda é uma variante altamente instável devido à perda de

quatro resíduos (-Glu-Val-Gly-Gly) entre as posições 22 a 25 da cadeia beta,

localizadas no início da hélice B. Tais resíduos estariam, respectivamente

espacialmente ocupando posições [-Externa-Interna-Interna(contato com

hélice E)-Externa] em relação à proteína.

Estudos funcionais com o hemolisado total não purificado pelo método

automatizado (Hemox Analyzer), em pH 7,4, a 37ºC, apontaram o aumento

da afinidade pelo O2 (Figura 58), com diminuição do valor de p50, o qual foi

intermediário aos de Hb F de RN (Tabela 12).

A

B

FIGURA 58. Curvas de Equilíbrio com hemolisado total não-purificado. Painel A: Curva de dissociação Hb-O2. Painel

B: Curva de saturação Hb-O2. Em azul escuro: hemolisado contendo majoritariamente Hb A. Em vermelho:

hemolisado contendo Hb Olinda.

Além disso, valores do coeficiente de Hill (n) também foram

intermediários aos de Hb F e Hb A, tais quais k1 e k2 de Adair (Tabela 12).

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153

Interessante notar que o padrão cooperativo demonstrado por k3 e k4

de Hb Olinda são inversos para as curvas de dissociação e ligação com O2. Isso

porque, enquanto k3 da curva de saturação foi superior à de dissociação, k4 da

curva de saturação foi inferior à de dissociação, o que poderia apontar para

complexo mecanismo de cooperatividade interferindo na afinidade diminuída

e para que haja a redução da cooperatividade heme-heme global, calculada por

n – conforme demonstrado na Tabela 12.

TABELA 12. Valores de p50, Cooperatividade heme-heme (Constante de Hill – n) e Constantes de Adair para os

gráficos de dissociação Hb-O2 e ligação Hb-O2 da Hb Olinda.

Desvio p50 Hill Constantes de Adair (log)

padrão (mmHg) (n) k1 k2 k3 k4

Hb A Curva dissociação 0,003 10,74 2,22 0,12 0,08 0,001 128,9

Curva saturação 0,004 11,00 2,18 0,12 0,08 0,001 7,76

Hb F (~70%) Curva dissociação 0,009 8,88 1,44 0,36 0,07 0,08 0,13

Curva saturação 0,01 8,22 1,42 0,71 0,05 0,11 0,09

Hb Olinda Curva dissociação 0,006 9,59 1,89 0,20 0,14 4.10-5 319,8

Curva saturação 0,009 9,10 1,89 0,52 0,08 0,52 0,17

Tal complexidade no padrão afinidade e cooperatividade heme-heme

versus pH, em decorrência da instabilidade proteica também foi observada nos

estudos funcionais tonométricos, que revelaram crescente afinidade da Hb

Olinda na presença de IHP conforme o aumento do pH (Figura 59). Em todos

os pHs, no entanto, a afinidade foi aumentada em relação à Hb A.

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154

FIGURA 59. Afinidade da Hb Olinda na ausência e presença de IHP em diferentes pHs.

Em contrapartida, na ausência do efetor alostérico heterotrópico, a Hb

Olinda comportou-se com menor afinidade pelo oxigênio, também sob

influência do meio mais alcalino, reduzindo ainda mais sua afinidade (Figura

59). Tais resultados, referentes à influência direta do pH na afinidade, falam

à favor de importantes alterações na região de coil da proteína, apesar da

depleção de resíduos ser na hélice B da cadeia beta.

A cooperatividade heme-heme da variante também parece estar

intrinsicamente vinculada ao pH, uma vez que é diminuída no meio ácido e

aumentada no meio alcalino, tanto na ausência quanto na presença de IHP

(Figura 60).

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155

FIGURA 60. Cooperatividade heme-heme da Hb Olinda na ausência e presença de IHP.

Estudos de cinética de dissociação Hb-O2 apontaram significativa

redução de Koff da Hb Olinda em análise global (cálculo de Koff por

monoexponencial – conforme demonstrado na Tabela 13).

TABELA 13. Valores das constantes de dissociação Hb Olinda-O2 na ausência de IHP (Koff), por Stopped Flow.

Koff

Hb A Monoexponencial 38,524

Bi-exponencial 1 0,566 Bi-exponencial 2 37,612

Hb Olinda

Monoexponencial 25,756 Bi-exponencial 1 3,224 Bi-exponencial 2 43,103

Cálculo de Koff com duas funções para determinação da fase lenta e

fase rápida da dissociação Hb-O2 detectou, no entanto, efeito contrário: o

aumento significativo de Koff nas duas fases (Tabela 13).

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156

Os achados, tanto de cinética quanto de simulação de dinâmica

molecular, não parecem apontar para a dimerização da proteína por conta da

instabilidade estrutural, como se acreditava anteriormente, mas parecem

indicar, isto sim, significativas alterações na dinâmica de ligação – dissociação

Hb-O2 devido a modificações de mobilidade estrutural.

Deste modo, o estudo desta variante de Hb parece representar

importante chave para melhor compreensão da dinâmica das cadeias fora no

plano do heme na influência da ligação com o oxigênio. Por isso, minuciosos

estudos estruturais tais como dicroísmo circular e espectroscopia Ramam da

estrutura poderiam auxiliar na melhor compreensão da dinâmica de ligação

com O2.

Através dos estudos de MD de 30ns ficou perceptível que as alterações

na hélice resultaram em completa desestruturação nos movimentos da hélice

B, com consequências bastante significativas na estrutura da cadeia beta.

Na conformação R – oxi-Hb Olinda, a cadeia beta tem sua orientação

modificada por conta da perda de parte da hélice B (Figura 61).

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A) Oxi-Hb A em 1f steps (primeiro passo de

trajetória no tempo de 30ns)

B) Oxi-Hb A em 100f steps (último passo de

trajetória no tempo de 30 ns)

C) Oxi-Hb Olinda em 1f steps (primeiro

passo de trajetória no tempo de 30ns)

D) Oxi-Hb Olinda em 100f steps (último

passo de trajetória no tempo de 30ns)

FIGURA 61. Dinâmica do último ns (no tempo de 30ns) da trajetória de simulação das Hb A (A e B) e Hb Olinda (C e

D). A e C representam, respectivamente, o primeiro passo do último ns de trajetória (de 30ns de simulação), das r-

da R-HbA e r-da R-Hb Olinda. B e D representam, respectivamente, o último passo do último ns de trajetória

(completando 30ns de simulação), das r- da R-HbA e r-da R-Hb Olinda. As setas em vermelho indicam a sutil

movimentação da nova porção inter-hélice AB da cadeia beta Hb Olinda (agora mais alongada, devido à deleção dos

quatro resíduos – Painel C e D), em relação à mesma região na estrutura nativa (que permanece sem movimentos

significativos – Painel A e B). As setas em laranja apontam mudança drástica na orientação da região inter-hélice BC

da cadeia beta da Hb Olinda (Painel C e D) em relação à Hb A (Painel A e B). As setas em preto apontam a

aproximação de porção da hélice E no plano do heme (região no interior da cadeia) na Hb Olinda (Painel C e D), em

relação à Hb A (Painel A e B), a qual não sofre esta aproximação.

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No último ns de simulação da Hb Olinda (composto por 100 passos de

1fs) é possível notar sensível envergamento do que seria o início da hélice B

(Painéis C e D, setas vermelhas), mas que na Hb Olinda não constitui em

estrutura alfa hélice e sim porção inter-hélice, com possíveis problemas de

enovelamento. Esta alteração (Painel C) parece promover modificações na

movimentação da região inter-hélice BC da cadeia beta (Painel D), em função

do tempo. Tal região parece estar bastante alterada em relação à cadeia beta

nativa (Painel A e B), tanto no início do último nano segundo de trajetória

(Painel C em relação ao Painel A) quanto no último passo de simulação

(Painel D em relação ao Painel B).

Por fim, significativa mudança conformacional na hélice E pode ser

observada desde o primeiro passo do último ns mantendo-se relativamente

“estável” até o último passo da trajetória. Indicado pela seta de cor preta, é

possível visualizar o deslocamento de parte da hélice E (Painel C e D) para o

interior da cadeia beta (região do heme pocket), o que não acontece na

estrutura nativa (Painel A e B).

Talvez esta alteração na conformação do coil seja a responsável pelo

aumento da afinidade.

Tal evento poderia afetar a ligação do oxigênio ao heme, na estrutura R,

o que poderia ser uma possível explicação para a redução da afinidade da Hb

pelo oxigênio.

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159

Enquanto isso, na conformação T, com os nitrogênios das Histidinas

distais com orientação para o lado direito em relação ao plano do heme (Hid), é

possível notar outras modificações conformacionais da cadeia beta da Hb

Olinda (Figura 62):

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A) Desoxi-Hb A (Hid) em 1f steps (primeiro

passo de trajetória no tempo de 30ns)

B) Desoxi-Hb A (Hid) em 100f steps (último

passo de trajetória no tempo de 30 ns)

C) Desoxi-Hb

Olinda (Hid) em

1f steps (primeiro

passo de

trajetória no

tempo de 30ns)

D) Desoxi-Hb

Olinda (Hid)

em 25f steps

E) Desoxi-Hb

Olinda (Hid) em

50f steps

F) Desoxi-Hb

Olinda (Hid) em

75f steps

G) Desoxi-Hb

Olinda (Hid) em

100f steps

(último passo de

trajetória no

tempo de 30ns)

FIGURA 62. Dinâmica do último ns (no tempo de 30ns) da trajetória de simulação das Hb A (A e B) e Hb Olinda (C a

G) em T – Histidina em Hid. A e B representam, respectivamente, o primeiro e último passo do último ns de

trajetória (30ns de simulação), da t- da T-HbA (em Hid). C a G representam 5 diferentes momentos do último ns de

trajetória, da t- da T-Hb Olinda (sendo eles o primeiro passo, os passos 25fs, 50fs, 75fs e último passo), em Hid. As

setas em vermelho indicam a hélice B da cadeia nativa (Painel A e B) e da - Olinda, alterada (C a G). As setas em

laranja apontam as mudanças na conformação da região inter-hélice BC da cadeia nativa (Painel A e B) e da cadeia

-Olinda (Painéis C a G) em função do tempo. É possível notar a significativa alteração na orientação da -Olinda (C

a G) em relação à nativa (A e B). As setas em preto indicam a rotação da porção final da hélice E, na estrutura

nativa (Painel A e B) e o estreitamento da mesma região na -Olinda (Painéis C a G). As setas em rosa apontam a

movimentação da região inicial da nativa (região de coil), com sutil arqueamento desta para o lado interno da

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161

cadeia , enquanto que na -Olinda tal movimentação se dá de modo diverso (Painéis C a G), com esta região de coil

mais enrijecida.

As alterações observadas na Figura 62, com a T-Hb Olinda (em Hid)

são bastante significativas. A remoção de 4 resíduos na hélice B parece

interferir substancialmente na conformação final da cadeia beta. É possível,

por exemplo, notar alterações bastante importantes na região inter-hélice BC,

bem como hélice E e região de coil da globina. Além disso, as demais hélices

também parecem apresentar deslocamento, num efeito global (Figura 47,

Painéis C a G em relação aos Painéis A e B).

Alterações estruturais também foram observadas nas cadeias beta-

Olinda em simulações da proteína com a Histidina contendo o nitrogênio

voltado para o lado esquerdo no plano do heme, conforme demonstrado na

Figura 63.

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A) Desoxi-Hb A (Hie) em 1f steps (primeiro passo

de trajetória no tempo de 30ns)

B) Desoxi-Hb A (Hie) em 100f steps

(último passo de trajetória no tempo de

30 ns)

C) Desoxi-Hb

Olinda (Hie) em 1f

steps (primeiro

passo de trajetória

no tempo de 30ns)

D) Desoxi-Hb

Olinda (Hie) em

25f steps

E) Desoxi-Hb

Olinda (Hie) em

50f steps

F) Desoxi-Hb

Olinda (Hie) em

75f steps

G) Desoxi-Hb

Olinda (Hie) em

100f steps (último

passo de trajetória

no tempo de 30ns)

FIGURA 63. Dinâmica do último ns (no tempo de 30ns) da trajetória de simulação das Hb A (A e B) e Hb Olinda (C a

G) em T – Histidinas distais em Hie. A e B representam, respectivamente, o primeiro e último passo do último ns de

trajetória (30ns de simulação), da t- da T-HbA (em Hie).C a G representam 5 diferentes momentos do último ns de

trajetória, da t- da T-Hb Olinda (sendo eles o primeiro passo, os passos 25fs, 50fs, 75fs e último passo), em Hie. As

setas em vermelho indicam a hélice B da cadeia nativa (Painel A e B) e da - Olinda, alterada (C a G). É perceptível

o enrijecimento desta região em -Olinda. As setas em laranja apontam a movimentação da região inter-hélice BC da

cadeia nativa (Painel A e B) e da cadeia -Olinda (Painéis C a G) em função do tempo. A abertura e fechamento se

são em momentos diferentes. As setas em rosa apontam a movimentação da região inicial da nativa (região de coil),

voltada para o lado contrário à cadeia nativa (Painel A e B), enquanto que na -Olinda a mesma região se volta

para a porção interna da cadeia (Painéis C a G).

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163

Nos experimentos computacionais em que as histidinas foram dispostas

nesta conformação, com nitrogênio “rotacionado” para o lado oposto, foi

possível verificar mais outras alterações na conformação estrutural da cadeia

beta. A movimentação de “abre e fecha” da região inter-hélice BC se deu em

tempos diferentes (Figura 63, Painel C a G) e com menor expansão de

movimentos. Enquanto isso, alterações na região de coil também foram

bastante significativas, uma vez que ao invés de voltar-se para fora da cadeia

beta, como na estrutura nativa (Painel A e B), está voltada para a parte

interna (Painéis C a G).

Importante ressaltar que esta região de terminação fica localizada no

sítio de 2,3-BPG, o que poderia explicar alterações na afinidade da proteína

pelo efetor alostérico IHP.

Deste modo, possivelmente devido às modificações na mobilidade

estrutural apresentadas pela Hb Olinda é que esta variante parece sofrer

forte influência do pH.

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V. CONCLUSÃO

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167

Apesar de tal trabalho ser bastante específico no que concerne ao

estudo de variantes estruturais da Hb humana com alterações funcionais

importantes e implicações clínico-hematológicas, algumas conclusões gerais

podem decorrer deste aprofundamento.

Variantes com substituições na Interface 12:

Hb Coimbra [HBB:c.300T>A or 300T>G p.99Asp>Glu]

A afinidade aumenta da variante se dá em decorrência da maior

estabilidade estrutural na conformação R e assim maior número de

espécies aptas à ligação com O2 estará presente em solução. Há,

portanto, um defeito no trânsito T-R, o qual não se dá de forma

cooperativa.

O estudo desta variante traz o evento de cooperatividade

(essencial na interface 12) não qual efeito dependente da afinidade.

Contrariamente ao conhecimento antes em voga, traz a cooperatividade

também como sendo agente determinante no trânsito T-R e assim,

interferindo substancialmente na afinidade proteica.

Hb Setif [HBA2:c.283G>T p.94Asp>Tyr]

Apesar de preliminar, o estudo da Hb Setif parece confirmar os

resultados apresentados pela Hb Coimbra, uma vez que mesmo com a

cooperatividade heme-heme diminuída, parece tender à estabilidade na

conformação T.

Através destes estudos foi possível observar a importância dos dois

Asp na interface 12 por meio do desequilíbrio T-R causado pela substituição

destes nas variantes aqui analisadas.

Outro importante achado é a aparente relação desta região de contatos

com efetor alostérico heterotrópico, cuja relação não está descrita em

literatura e que quando melhor elucidada poderá incluir tal região como alvo

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168

para desenho de drogas que, interferindo na cooperatividade heme-heme,

possam também alterar a afinidade e propriedades (tais quais a de

polimerização) de variantes com alterações funcionais.

Variantes com alterações de afinidade:

Hb Chelsea [HBA2:c.116C>T p.38Thr>Ile] – afinidade aumentada

Hb F-Valinhos [HBG2:c.138G>A p.46Gly>Ser] – afinidade reduzida

Apesar de muito preliminares, através do estudo de ambas as variantes

foi possível verificar que a complexidade da relação estrutura-função não se

baseia somente em fatores diretamente relacionados à modificação estrutural.

É o caso, por exemplo, da Hb Chelsea, cujas portadoras apresentam quadros

hematológicos distintos, porém comportamentos funcionais semelhantes,

sendo a portadora assintomática, uma intermediária do ponto de vista

funcional.

Outra interessante observação deve ser destacada a partir de análises

da Hb F-Valinhos, que apresenta redução da afinidade e aumento da

cooperatividade heme-heme. Isso porque, comportando-se tal qual a Hb A

(porém com cooperatividade aumentada), não teria capacidade funcional de

competir com esta pelo O2, no período fetal, o que supostamente poderia

acarretar em problemas de desenvolvimento. No entanto, não foi relatado

qualquer deficiência deste gênero.

Variante com propriedade de polimerização:

Hb S-São Paulo [HBB:c.20A>T p.Glu6Val; c.196A>G p.Lys65Glu]

O estudo desta variante dupla mutante com afinidade reduzida e

polímeros de HbS mais estáveis, representa um avanço na compreensão da

formação de polímeros de HbS. Adicional ao conhecimento bem estabelecido

de que a formação de polímeros de Hb S se dá durante a fase T da Hb, este

trabalho aponta que a estabilidade de oligômeros pode não estar relacionada à

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redução de afinidade e sim a interações entre tetrâmeros (que na Hb S-São

Paulo são intensificadas).

Deste modo salienta-se a região do resíduo 65, a hélice E, como outro

alvo terapêutico, não somente pela influência na afinidade (já conhecida, uma

vez que o heme pocket tem aí importantes interações), como também na

formação e estabilidade de polímeros, efeito antes desconhecido.

Variantes Instáveis:

Hb Caruaru [HBB:c.368T>C p.122Phe>Ser]

Hb Olinda [HBB:c. 67_78delGAAGTTGGTGGT p.22-25Glu-Val-Gly-

Gly->0]

O estudo com variantes instáveis é bastante complexo, uma vez que a

instabilidade tem consequências bastante amplas para o tetrâmero funcional.

No entanto, através deste estudo foi possível verificar que modificações

extremas em sítio hidrofóbico (no caso da Hb Caruaru, com substituição de

resíduo apolar por polar, cujos tamanhos são também bastante distintos)

causam, conforme o esperado, instabilidade estrutural, porém em ordem de

tempo um pouco distinto àquele esperado.

Já a remoção dos 4 resíduos iniciais da hélice B, na Hb Olinda,

salientam a importância destes aminoácidos para a estabilidade do terâmero

funcional, principalmente da Glicina 24 em relação à hélice E (de contatos

extensivos com o heme pocket). Mostra também a extrema influência do pH,

não somente na estabilidade proteica, já conhecida, como também a

interferência do pH na cooperatividade heme-heme e dinâmica de ligação com

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o O2 devido às modificações conformacionais durante a transição T-R, que na b

Olinda são bastante alteradas.

Deste modo, este trabalho pode contribuir para melhor compreensão

não somente de aspectos funcionais-estruturais específicos das variantes

estudadas como também sinalizou importantes perspectivas para estudos

futuros.

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VI. REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

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VII. ANEXOS

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