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A edição de junho deste ano da revista A Lavoura, publicação especial da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), fala sobre Sustentabilidade e Economia Verde.
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!Capas PublEspecial.pmd 21/5/2012, 20:411
!Capas PublEspecial.pmd 21/5/2012, 20:412
Rio de Janeiro, RJ JUNHO 2012
Publicação Especial
Ano 1 – NO 1
0-FRosto a Sumário.pmd 22/5/2012, 05:451
2 Sustentabilidade e Economia Verde
D I R E T O R I A E X E C U T I V A
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO PRESIDENTE
ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA 1O VICE-PRESIDENTE
OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA 2O VICE-PRESIDENTE
JOEL NAEGELE 3O VICE-PRESIDENTE
TITO BRUNO BANDEIRA RYFF 4O VICE-PRESIDENTE
FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS DIRETOR
HÉLIO MEIRELLES CARDOSO DIRETOR
JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES DIRETOR
LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS DIRETOR
RONALDO DE ALBUQUERQUE DIRETOR
SÉRGIO GOMES MALTA DIRETOR
SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasile-mail: [email protected] · http://www.sna.agr.brESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979
Academia Nacional
de Agricultura CADEIRA
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TITULAR
ROBERTO FERREIRA DA SILVA PINTO
JAIME ROTSTEIN
EDUARDO EUGÊNIO GOUVÊA VIEIRA
FRANCELINO PEREIRA
LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS
RONALDO DE ALBUQUERQUE
TITO BRUNO BANDEIRA RYFF
FLÁVIO MIRAGAIA PERRI
JOEL NAEGELE
MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES
ROBERTO PAULO CÉZAR DE ANDRADE
RUBENS RICUPERO
PIERRE LANDOLT
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
ISRAEL KLABIN
SYLVIA WACHSNER
ANTONIO DELFIM NETTO
ROBERTO PARAÍSO ROCHA
JOÃO CARLOS FAVERET PORTO
ANTONIO CABRERA MANO FILHO
JÓRIO DAUSTER
ANTONIO CARREIRA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO
IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA
J OHN R I C H A R D L EW I S T HOMP S O N
JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES
AFONSO ARINOS DE MELLO FRANCO
ROBERTO RODRIGUES
JOÃO CARLOS DE SOUZA MEIRELLES
FÁBIO DE SALLES MEIRELLES
LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO
ALYSSON PAOLINELLI
OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA
DENISE FROSSARD
EDMUNDO BARBOSA DA SILVA
ERLING S. LORENTZEN
PATRONO
ENNES DE SOUZA
MOURA BRASIL
CAMPOS DA PAZ
BARÃO DE CAPANEMA
ANTONINO FIALHO
WENCESLÁO BELLO
SYLVIO RANGEL
PACHECO LEÃO
LAURO MULLER
MIGUEL CALMON
LYRA CASTRO
AUGUSTO RAMOS
SIMÕES LOPES
EDUARDO COTRIM
PEDRO OSÓRIO
TRAJANO DE MEDEIROS
PAULINO FERNANDES
FERNANDO COSTA
SÉRGIO DE CARVALHO
GUSTAVO DUTRA
JOSÉ AUGUSTO TRINDADE
IGNÁCIO TOSTA
JOSÉ SATURNINO BRITO
JOSÉ BONIFÁCIO
LUIZ DE QUEIROZ
CARLOS MOREIRA
ALBERTO SAMPAIO
EPAMINONDAS DE SOUZA
ALBERTO TORRES
CARLOS PEREIRA DE SÁ FORTES
THEODORO PECKOLT
RICARDO DE CARVALHO
BARBOSA RODRIGUES
GONZAGA DE CAMPOS
AMÉRICO BRAGA
NAVARRO DE ANDRADE
MELLO LEITÃO
ARISTIDES CAIRE
VITAL BRASIL
GETÚLIO VARGAS
EDGARD TEIXEIRA LEITE
FUNDADOR E PATRONO: OCTAVIO MELLO ALVARENGA
DIRETORIA TÉCNICA
ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO
ANTONIO FREITAS
CLAUDIO CAIADO
JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON
FERNANDO PIMENTEL
JAIME ROTSTEIN
JOSÉ MILTON DALLARI
KATIA AGUIAR
MARCIO SETTE FORTES DE ALMEIDA
MARIA HELENA FURTADO
MAURO REZENDE LOPES
PAULO PROTÁSIO
ROBERTO FERREIRA S. PINTO
RONY RODRIGUES OLIVEIRA
RUY BARRETO FILHO
COMISSÃO F ISCAL
CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA
MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA
PLÁCIDO MARCHON LEÃO
ROBERTO PARAÍSO ROCHA
RUI OTAVIO ANDRADE
0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:222
Sustentabilidade e Economia Verde 3
Sustentabilidade, Economia Verde
e “pegada ecológica”
A Comissão Mundial sobre Meio Ambien-
te da ONU definiu “desenvolvimento
sustentável” como aquele que aten-
de às necessidades do presente sem compro-
meter a possibilidade das gerações futuras
atenderem às suas próprias necessidades.
Ao longo dos anos, o conceito de “susten-
tabilidade” vem incorporando aspectos soci-
ais e a questão ambiental passou a ser asso-
ciada ao desenvolvimento econômico, ao em-
prego, às igualdades, ao combate a pobreza,
dentre outros aspectos.
Recentemente surgiu o termo “pegada eco-
lógica”, um indicador que avalia a quantidade
de recursos naturais necessários para a ma-
nutenção do estilo de vida das pessoas. As-
sim, cada cidadão teria sua “pegada ecológi-
ca”; cada comunidade, cidade ou país, teriam
suas respectivas “pegadas ecológicas”.
A Economia Verde permanece com um vago
enunciado. Visa à melhoria do bem-estar e à
redução das desigualdades, sem o aumento
da “pegada ecológica”.
Todo esse jogo de palavras é útil. Faz parte
do processo de conscientização ecológica que
vivenciamos nos últimos anos. Neste sentido,
é inegável que estamos evoluindo, nacional e
globalmente.
Retóricas à parte, a agricultura está sem-
pre presente, quaisquer que sejam as versões
e abrangência dos conceitos relacionados à
sustentabilidade, Economia Verde ou “pega-
da ecológica”.
A agricultura ocupa um terço da superfície
da Terra e é a principal atividade de grande
parte da população mundial.
No Brasil, de dimensões continentais, man-
temos mais de 62% do território preservado e
possuímos uma das legislações ambientais
mais avançadas e restritivas do mundo.
Podemos afirmar, sem dúvida, que a agri-
cultura brasileira é sustentável e inclusiva
socialmente. Poucos países conseguiram
conciliar uma exuberante produção se ali-
mentos, com indicadores elevados de sus-
tentabilidade e preservação ambiental, como
o Brasil.
O Brasil possui a matriz energética maisrenovável do mundo industrializado e aindatemos grande potencial de crescimento na pro-dução de etanol e biocombustíveis.
Dispomos de tecnologia avançada e adota-mos práticas agrícolas que visam ao uso racio-nal dos recursos naturais, tais como controlebiológico, integração lavoura-pecuária-flores-ta, plantio direto, dentre outros.
Caberá ao Brasil fornecer grande partedos alimentos necessários para os dois bi-lhões de novos habitantes do planeta que,nos próximos 40 anos, serão incorporadosaos atuais sete bilhões.
Além de quantidade, temos qualidade esegurança em nossa produção. Investimosem pesquisa e eficiência. Nossa produtivi-dade tem crescido de forma extraordinária,baseada na inovação, no conhecimento eno trabalho incansável de nossos produto-res rurais.
Está na hora do Brasil quantificar os valoresdos serviços ambientais que presta ao plane-ta, fundamentais para o equil íbrio doecossistema global. Trata-se de umaconstatação irrefutável, reconhecida em todoo mundo.
Não é justo que o custo dos serviços depreservação ambiental continuem sendo su-portados apenas por nossos produtores ru-rais, que já enfrentam maiores riscos e incer-tezas que os demais setores da economia.
A realização da Conferência Rio + 20 e arecente aprovação do novo Código Florestalabrem oportunidades para ampliar a discus-são sobre o assunto.
Nesta publicação especial da SociedadeNacional de Agricultura, reunimos depoimen-tos e artigos inéditos de ilustres personalida-des, de diversas origens e especialidades,sobre sustentabilidade e Economia Verde.
Boa leitura.
Antonio Mello AlvarengaPresidente da Sociedade Nacional de Agricultura
0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:223
Coordenação geral
e revisão final
Cristina Baran
Capa
Cristina Baran
Foto: Embrapa
Revisão
Paula Guatimosim
Secretaria
Sílvia Marinho de Oliveira
Editoração e Arte
Paulo Américo Magalhães
Tel: (21) 2580-1235
Impressão
Ediouro Gráfica e Editora Ltda
Tel: (21) 3882-8400
Publicação especial da
Sociedade Nacional de Agricultura - SNA
Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável - Rio+20
JUNHO 2012
Av. General Justo, 171 - 7º andar - 20021-130 - Rio de Janeiro / RJ
Tel: (21) 3231-6350
Site: www.sna.agr.br
4 Sustentabilidade e Economia Verde
Sustentabilidade e
Economia Verde
0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:224
SUMÁRIOSUMÁRIO
Sustentabilidade e Economia Verde 5
Rio+20 e o Código Florestal
Antonio Delfim Netto ____________________________________________________ 6
O exercício diário da sustentabilidade
Mendes Ribeiro Filho ___________________________________________________ 9
CNA lança política de Governança Climática da Agropecuária na Rio+20
Kátia Abreu ___________________________________________________________ 12
O agro brasileiro na Rio+20
Roberto Rodrigues ____________________________________________________ 17
Agricultura e sustentabilidade
Pedro Antonio Arraes Pereira e Maurício Antônio Lopes ___________________ 20
Humanidade em apuros
Ibsen de Gusmão Câmara _____________________________________________ 25
Avicultura: desenvolvimento com sustentabilidade
Francisco Turra________________________________________________________ 29
Desenvolvimento sustentável: um conceito
Flávio Miragaia Perri___________________________________________________ 31
Economia verde e sustentabilidade
Haroldo Mattos de Lemos e Antenor Barros Leal _________________________ 39
Progresso sustentável
Maurilio Biagi Filho ____________________________________________________ 44
A agropecuária nacional na perspectiva da economia verde
Fábio de Salles Meirelles ______________________________________________ 47
O futuro da agropecuária sustentável
Luís Fernando Guedes Pinto ___________________________________________ 53
Economia verde e agricultura: existe pontencial?
Eduardo Delgado Assad _______________________________________________ 57
0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:225
6 Sustentabilidade e Economia Verde
RIO+20 E
O CÓDIGO
FLORESTAL
RIO+20 E
O CÓDIGO
FLORESTAL
Aparentemente, o primeiro a
sugerir que o aumento da
concentração de dióxido de
carbono (o famoso CO2) poderia ser
responsável pelo aumento da
temperatura terrestre, foi o químico
sueco Svante Arrthenius num artigo
publicado em 1896. Nos últimos 116
anos, sua hipótese tem sido discutida e
escrutinizada de todas as formas, sem
que se tenha chegado a uma conclusão
definitiva. Há, também, sérias dúvidas
sobre a origem do aquecimento: se
produto da evolução natural do sistema
físico cíclico que controla a Terra ou se
produto da atividade humana (efeito
antropogênico).
A discussão escapou da área
“científica”, onde tudo se resolve
pela procura de “evidências
controladas que podem ser
repetidas”, para o campo da
“ideologia”, estimulada por suas
consequências sobre a atividade
privada que procura a “maximização
do lucro”. Da mesma forma que a
indústria de cigarros induz a
construção de evidências
“científicas” que seu produto não é
Antonio Delfim Netto
1-DelfimNeto.pmd 21/5/2012, 18:306
Sustentabilidade e Economia Verde 7
um fator
estimulador do
câncer no pulmão,
ou pelo menos,
que “há dúvida
razoável” sobre
essa causalidade,
setores altamente
geradores de CO2
(energia a carvão
ou petróleo), que
produzem
externalidade negativa, cuja correção
exige uma intervenção da sociedade
através de um estado regulador forte,
tentam criar, pelo menos,
controvérsias.
Resultados pífios
No nível das conversas
diplomáticas, a ONU estimulou a
conferência sobre o clima em
Stockholm em 1972, que tem sido
regularmente repetida em cada
década: 1982 (Nairobi); 1992 (Rio);
2002 (Johannesburg, Rio+10) e 2012
(Rio+20). Em 1997, nada menos do
que 160 nações aderiram ao Protocolo
de Kyoto, rapidamente desmoralizado
por críticas de toda natureza.
Os resultados práticos de tais
reuniões têm sido pífios. Entre 1880 e
2010, a temperatura média da Terra
revelou grande variação, mas a sua
tendência tem
sido a de
crescimento.
Aumentou em
torno de 0,0042oC
ao ano entre 1880
e 1980 e acelerou-
se para nada
menos do que
0,0135 entre 1980
e 2010. Nos
últimos 130 anos,
o aquecimento da
terra foi de quase
1%, mas é difícil
discernir se
devido aos
movimentos
“naturais” ou do
efeito
antropogênico. Se
considerarmos o pequeno espaço de
tempo decorrido, é muito provável que
o grosso do efeito seja mesmo
derivado do aumento da atividade
industrial do homem.
Compromissos firmes
Isso impõe uma grande
responsabilidade à Rio+20, da qual
se deve esperar compromissos firmes
para a mudança “verde” na produção
de combustíveis e no esforço
recobrado em tecnologias que
reduzem a quantidade de energia por
unidade de PIB. Apenas para dar um
exemplo, a China que desde 2006 é a
maior poluidora internacional (é muito
rica em carvão), consome 2,5 vezes a
energia por unidade de PIB, com
relação à média mundial, e 4,5 vezes
a consumida pelos países da
Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico-OECD.
Apesar de todo
seu esforço
antipoluidor,
sendo a maior
consumidora de
energia por
unidade do PIB,
sendo o aumento
de sua energia
Setores altamente geradores
de CO2 (energia a carvão
ou petróleo), que produzem
externalidade negativa
cuja correção exige uma
intervenção da sociedade
através de um estado regulador
forte, tentam criar, pelo menos,
controvérsias
“
“Deve-se esperar da Rio+20
compromissos firmes para a
mudança “verde” na produção
de combustíveis e no esforço
recobrado em tecnologias que
reduzem a quantidade de
energia por unidade de PIB
“
“
1-DelfimNeto.pmd 21/5/2012, 18:307
8 Sustentabilidade e Economia Verde
Antonio Delfim Netto é economista, formadopela Universidade de São Paulo e professor deEconomia. Ex-ministro da Fazenda, Agricultura ePlanejamento. Reeleito cinco vezes deputadofederal pelo Estado de São Paulo.
produzida pelo carvão e tendo a maior
taxa de crescimento do PIB, é pouco
provável que mesmo com um esforço
gigantesco ela venha a contribuir
significativamente para o objetivo de
2050. O mesmo acontece com os EUA.
Situação complicada
A situação é ainda mais complicada
quando consideramos que 16
cientistas publicaram, no início deste
ano, um manifesto sob o título “Não há
necessidade de pânico sobre o
aquecimento global” (The Wall Street
Journal, 26/01/2012) afirmando que
não há “evidência incontroversa que
esteja havendo um aquecimento
global” e que “não há prova que o CO2
seja um poluente”. Sugerem que
podemos esperar mais 50 anos para
ver como as coisas ficarão! E como se
faltasse “ruído”, o ganhador do prêmio
Nobel de Física, prof. Ivar Giarver,
democrata, apoiador de Obama,
pediu desligamento, em setembro de
2011, da prestigiosa American
Physical Society (APS), por não
concordar com uma resolução onde a
entidade afirmou o contrário do que
está dito acima. Isso mostra o nível de
paixão despertado por uma questão
que deveria ser resolvida com fria
objetividade apelando, pelo menos,
para o princípio da precaução, diante
das terríveis consequências do
aumento do aquecimento terrestre se
ele vier acontecer. Mais dramático,
ainda, foi o recente reconhecimento do
célebre catastrofista James Lovelock
(o criador da hipótese Gaia: a Terra é
um organismo vivo) de que o clima
contrariou, desde 2000, todas as suas
previsões e que “é necessário mais
estudos para entender o futuro do
planeta”.
Código Florestal
O mesmo fenômeno, num nível
diferente, explica a enorme disputa
que cercou o Código Florestal
aprovado no Congresso. Um discurso
de surdos. O lado mais vocal,
supostamente apoiado numa
“ciência” duvidosa, defendeu
interesses difusos e nem sempre
honestos, como os patrocinados por
algumas ONGs. O outro, com mais
poder político no Congresso,
defendeu, sem sutilezas, seus
interesses econômicos concretos. O
Código tem pouco a ver com o
aquecimento global e a tentativa de
misturá-lo com a Rio+20 não ajudará
em nada. Ele tem tudo a ver com o uso
inteligente de nossos recursos
naturais para continuarmos a construir
uma economia sustentável e
economicamente eficiente, mas não
tem nada a ver com a anistia sugerida
a quem, deliberada e maliciosamente,
infringiu a lei vigente.
Rio+20
O Brasil não fará má figura na
Rio+20 devido aos seus esforços.
Nela estará representado pela
competente e pragmática ministra
Izabella Teixeira, mas há sérias
dúvidas sobre seus resultados.
1-DelfimNeto.pmd 21/5/2012, 18:308
Sustentabilidade e Economia Verde 9
O EXERCÍCIO
DIÁRIO DA
SUSTENTABILIDADE
O EXERCÍCIO
DIÁRIO DA
SUSTENTABILIDADE
Mendes Ribeiro Filho
O Brasil passa por profundas
transformações. A população
está amadurecendo e a
expectativa de vida do brasileiro, que
era de 70 anos em 2000, passou para 73
anos em 2009. Em 2020, as classes A, B
e C representarão mais de 61% das
famílias. Ou seja, em menos de uma
década, teremos uma população mais
madura, mais rica e mais exigente,
consumindo mais e melhor.
A desigualdade social no Brasil caiu
pelo décimo primeiro ano consecutivo,
segundo estudos da Fundação Getúlio
Vargas-FGV, e atingiu o menor índice
histórico desde 1960. A pobreza caiu
7,9% no ano passado e, em 2014, a
classe C representará 60,1% da
população brasileira.
Não temos dúvidas alguma de que a
educação foi o fator que mais contribuiu
para a melhoria desses índices, além do
aumento do emprego formal, da redução
da natalidade e, fundamentalmente, dos
programas sociais de inclusão, geração e
transferência de renda promovidos pelo
governo federal.
Não podemos mais debater
isoladamente questões tão intrínsecas.
Quando se fala em sustentabilidade,
tratamos de aspectos econômicos,
2-Mendes Fibeiro.pmd 21/5/2012, 18:349
10 Sustentabilidade e Economia Verde
sociais e ambientais. O país é a sexta
economia mundial e queremos ser
protagonistas nas ações efetivas que
visam ao equilíbrio entre a demanda, à
oferta de alimentos e ao alívio à fome.
A estabilidade econômica também
tornou o Brasil campo fértil para
investidores internacionais. A conjunção
de fatores – como investimentos em
tecnologia e
pesquisa –,
potencial de
crescimento e a
adoção de boas
práticas de
sustentabilidade,
forjaram o país
como um mercado
seguro para novos
capitais.
Equilíbrio
Tratar com equilíbrio as áreas
econômica, social e ambiental tem sido
o pilar da atual política de governo. E,
neste contexto, a agricultura nacional
tem despontado não apenas no acúmulo
de resultados positivos, mas também na
perspectiva de geração de riquezas para
o Brasil e para os brasileiros.
Nosso país se tornou líder em inovação
agropecuária no mundo tropical. Pela
ferramenta da pesquisa, houve a
diversificação dos sistemas de produção
agropecuária, o que ajuda o país a
garantir a segurança alimentar e a
produzir excedentes. Além de
exportamos para mais de 200 mercados
em todo o mundo, a agricultura
representa 25% do Produto Interno Bruto-
PIB do país e é responsável pelo saldo
positivo da balança comercial brasileira.
A política agrícola brasileira avançou
sobremaneira em direção à
sustentabilidade. Buscamos um modelo
de agricultura que conserve e use, de
modo sustentável, a biodiversidade,
que proteja a qualidade do solo e da
água, que gere a inclusão produtiva,
além de promover a erradicação da
pobreza.
O Brasil possui 851 milhões de
hectares de extensão e, deste total, 61%
são de território
preservado e 33%
destinados à
produção de
grãos, pecuária de
corte e leite,
florestas, fibras,
energia,
hortifrutigranjeiros,
entre outros. Os
imóveis rurais no
Brasil possuem
uma área média de
64 hectares, muito inferior a países,
como Austrália, Argentina e Canadá.
Nossa produtividade em grãos
cresceu 290% em 50 anos. No mesmo
período, o rebanho de gado cresceu
250%, com o acréscimo em área de
apenas 39%. Estamos investindo em
eficiência e em competitividade na
produção de alimentos.
A evolução da produção de alimentos
em relação à área plantada nos mostra
a importância da eficiência no campo.
De 1991 até 2012, nossa produção de
grãos aumentou 173%, enquanto a área
necessária para suportar essa produção
cresceu apenas 52%.
Desafio
Esta é a resposta que o país e os
produtores estão dando para o desafio
de aumentar a produção de alimentos
com segurança e qualidade. A
“Buscamos um modelo de
agricultura que conserve e use, de
modo sustentável, a biodiversidade,
que proteja a qualidade do solo
e da água, que gere a inclusão
produtiva, além de promover a
erradicação da pobreza
”
2-Mendes Fibeiro.pmd 21/5/2012, 18:3410
Sustentabilidade e Economia Verde 11
sociedade também espera da
agricultura uma contribuição
significativa na produção de energia
renovável, na geração de riqueza para
quem vive da terra e na redução da
emissão de gases de efeito estufa.
Para tanto, o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento – -MAPA,
desenvolve ações importantes na
construção de sistemas agroalimentares
e agroindustriais
limpos. A principal
delas é o Programa
de Agricultura de
Baixa Emissão de
Carbono – Plano
ABC, que tem
como objetivo
principal a redução
da emissão de
gases de efeito
estufa na próxima
década, da ordem de 125 a 156 milhões
de toneladas de CO2 equivalentes.
Em uma vertente complementar, o
MAPA atua por meio do Programa de
Agroenergia para fomentar a produção
de energia renovável, a partir de
produtos agropecuários e do uso da
biomassa para geração de energia
elétrica. A agroenergia é responsável
por cerca de 30% da energia ofertada
no Brasil, o que coloca o país na
liderança mundial do setor. Quase 48%
da energia ofertada no país é obtida de
fontes renováveis, como a biomassa, a
energia hidroelétrica e os
biocombustíveis.
A redução na emissão de carbono em
decorrência da mistura de etanol e
biodiesel nos combustíveis fósseis tem
demonstrado que é possível caminhar
em direção ao uso massificado de
combustíveis verdes. E, com o fomento
ao uso da agricultura irrigada,
incentivamos a utilização racional da
água, a preservação do meio ambiente
e a geração de maior renda para os
pequenos produtores.
Embrapa
Gostaria ainda de destacar o trabalho
de ponta que vem sendo realizado pela
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária-Embrapa. Estamos
produzindo uma
verdadeira
revolução no
campo da
pesquisa. A
Embrapa tem
gerado soluções
tecnológicas que
viabilizam a
elevação do
desempenho e a
inserção econômica
dos pequenos agricultores, respeitando
suas diversidades regionais e culturais.
A empresa estabeleceu parcerias
internacionais com 56 países e mantém
acordos de cooperação científica com
outros sete países.
Temos a dimensão que, para se
construir uma economia verde, torna-se
essencial incorporar a cultura de
sustentabilidade em todas as cadeias
produtivas das atividades agropecuária
e florestal.
Nossa visão de agricultura nacional
está intrinsecamente ligada à
preservação do meio ambiente.
Buscamos um modelo que conserve e
use de modo sustentável a
biodiversidade e os recursos naturais, e
que integre a relação campo-cidade
combatendo a pobreza rural.
Mendes Ribeiro Filho é Ministro daAgricultura, Pecuária e Abastecimento
“O Programa de Agricultura de
Baixa Emissão de Carbono – Plano
ABC, que tem como objetivo
principal a redução da emissão de
gases de efeito estufa na próxima
década, da ordem de 125 a 156
milhões de toneladas de CO
2
equivalentes
”
2-Mendes Fibeiro.pmd 21/5/2012, 18:3411
12 Sustentabilidade e Economia Verde
CNA LANÇA POLÍTICA
DE GOVERNANÇA
CLIMÁTICA DA
AGROPECUÁRIA
NA RIO+20
CNA LANÇA POLÍTICA
DE GOVERNANÇA
CLIMÁTICA DA
AGROPECUÁRIA
NA RIO+20
A agropecuária brasileira se
consolidará como modelo
mundial de sustentabilidade
durante a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável-Rio+20, que se realiza em
junho, no Rio de Janeiro. Para
alcançarmos esse reconhecimento, a
Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), levará para o Espaço
AgroBrasil, instalado no Píer Mauá, uma
série de iniciativas que demonstram a
liderança brasileira neste novo
paradigma de produção e
desenvolvimento, como a Política de
Governança Climática da Agropecuária,
que será lançada durante o evento.
Com esta política, estabeleceremos
disposições que funcionarão como guia
de defesa e preservação do meio
Kátia Abreu
3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3712
Sustentabilidade e Economia Verde 13
ambiente para a
atual e as futuras
gerações,
mostrando que
temos todas as
condições de evitar
ou amenizar os
danos e ameaças
relativos à
mudança do clima.
O setor agropecuário é um dos mais
vulneráveis às alterações do sistema
climático ocasionadas pelas ações do
homem no planeta. A transição climática
imposta pelos altos níveis de emissões
de gases do efeito estufa (GEE) está
causando impactos diretos na
disponibilidade dos recursos hídricos,
no solo e na produtividade das
espécies, além de reduzir áreas
propícias à plantação de importantes
culturas destinadas à alimentação
humana.
Diante desse cenário de profundas
transformações, impõem-se ao Brasil e
ao mundo a criação e a utilização de
instrumentos econômico-financeiros
que possam colocar em prática ações
concretas para a consolidação de uma
economia menos intensiva em carbono,
capaz de limitar a elevação da
temperatura média da terra e o aumento
da concentração de dióxido de carbono
(CO2) na atmosfera.
O Brasil já adotou metas de redução
de emissões de GEE por meio da
Política Nacional
de Mudanças
Climáticas
(PNMC). No
momento, o
governo federal
trabalha no
desenvolvimento
dos Planos
Setoriais de
Mitigação e
Adaptação às
Mudanças do
Clima. Precursor
desses planos
dispostos na
PNMC, o Plano de
Agricultura de
Baixa Emissão de Carbono (ABC), do
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), proporciona
ao produtor rural as necessárias
condições para que adote as práticas
de produção de baixo carbono, sob o
ponto de vista técnico e financeiro. Os
recursos disponibilizados para a
implementação das ações
recomendadas pelo Programa ABC
totalizam R$ 3,15 bilhões, só para
2012.
Protagonista
A CNA assumiu o compromisso de
ser protagonista global das ações em
favor do clima e da produção rural de
baixo carbono, levando em conta os
riscos e as oportunidades internas e
externas que o aquecimento global
traz ao agronegócio brasileiro. Nossas
atividades em busca de uma
economia menos emissora de GEE
começaram com a elaboração de uma
Política de Governança Climática da
Agropecuária (PGCA), cujo primeiro
passo foi a elaboração de um
diagnóstico completo do setor
agropecuário
quanto às suas
emissões de
carbono.
Neste estudo
inicial,
identificamos a
necessidade de
inventários
A CNA assumiu o compromisso
de ser protagonista global
das ações em favor do clima
e da produção rural de
baixo carbono
“
“O setor agropecuário
é um dos mais vulneráveis
às alterações do sistema climático
ocasionadas pelas ações do
homem no planeta
“
“
3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3713
14 Sustentabilidade e Economia Verde
nacionais mais precisos, que reflitam
as reais contribuições do setor para as
emissões de GEE. As conclusões
também mostram que é preciso elevar
os investimentos em pesquisa e
tecnologia, ampliar as ações do Plano
ABC, facilitar o acesso às fontes de
recursos disponibilizadas aos
produtores, desenvolver projetos no
âmbito do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL)
Programático – ou Programa de
Atividades (PoA, na sigla em inglês),
criado pelas Nações Unidas para o
registro em conjunto de pequenos
projetos geradores de créditos de
carbono – e fortalecer a criação de um
mercado de
certificados de
redução de
carbono
específico para o
setor, entre outras
iniciativas focadas
na gestão de
emissões de GEE
oriundas da
atividade
produtiva.
Identificamos, também, as ações,
atividades, programas e melhores
práticas que poderão ser adotadas
pelo setor. Nossa intenção é elevar,
estrategicamente, o grau de
percepção positiva e a
competitividade da agropecuária
brasileira diante dos mais exigentes
mercados consumidores. Os
resultados alcançados neste
diagnóstico constituem o alicerce de
um plano de ação elaborado com a
firme disposição de buscar as
alternativas mais eficazes de solução
do problema do aquecimento global,
como também a construção de
mecanismos que possibilitem
transformar esta necessidade global
em vantagem competitiva para o
agronegócio brasileiro.
Ações
Obviamente, um plano dessa
magnitude não se realiza de imediato.
Entre as ações previstas, há algumas
que poderão ser executadas quase
instantaneamente. Outras são de fácil
realização e existem, ainda, ações que
já estão naturalmente em andamento,
antes mesmo do marco inicial deste
trabalho. A maioria destas ações
cogitadas depende, no entanto, de
amplo planejamento, obtenção de
recursos,
formatação
institucional e,
especialmente,
vontade política.
Política de
Governança
Climática da
Agropecuária
Entre todas essas ações que
planejamos, destaco a formatação da
Política de Governança Climática da
Agropecuária, norma voluntária
proposta pela CNA para se tornar o
guia de boas práticas do setor e afirmar
sua posição de destaque mundial no
combate às mudanças climáticas. Sua
importância se deve, ainda, ao fato de
ter sido projetada justamente para
atender à sistematização e
coordenação de todo este
planejamento estratégico.
O setor agropecuário deve
direcionar suas atividades a uma
produção menos carbono-intensiva,
contribuindo para a solução do
problema do clima e para o
Nossa intenção é elevar,
estrategicamente, o grau de
percepção positiva e a
competitividade da agropecuária
brasileira diante dos mais exigentes
mercados consumidores
““
3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3714
Sustentabilidade e Economia Verde 15
atendimento das metas brasileiras de
redução de emissões. Por esse motivo,
será preciso, em primeiro lugar,
centralizar as ações do setor, criando
um modelo de atuação frente às
mudanças climáticas. Para tanto, a
PGCA enumera as condutas que
possibilitarão a ativa participação de
todos os segmentos do setor no
combate à mudança do clima, tornando
o agronegócio brasileiro menos
emissivo e mais competitivo
mundialmente.
Ao priorizar a
questão climática,
a agricultura e a
pecuária do Brasil
assumem posição
de destaque no
papel de
sequestrador de
carbono e parte
essencial na
solução para a crise climática. O Brasil
não será mero expectador desse
debate e assumirá o papel que lhe
cabe, independentemente de
qualquer imposição internacional.
Redução de emissões
Na 15ª Conferência das Partes da
Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (COP-
15), realizada em Copenhague, em
2009, o Brasil comprometeu-se a
reduzir suas emissões em torno de
38%, dos quais aproximadamente 6%
recaem sobre o setor agropecuário.
Com a regulamentação da Convenção
do Clima no Brasil e a promulgação da
Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC) e do Plano ABC,
mostramos que o País já está se
preparando para o novo cenário
mundial de estabelecimento de metas
de redução de emissões de GEE e
responsabilidades quanto ao
combate à mudança do clima.
Deixamos claro que o Brasil poderá
atender aos ditames do novo acordo
mundial, anunciado na 17ª
Conferência das Partes (COP-17), em
Durban, na África do Sul, para entrar
em vigor em 2020.
Há, ainda, muito a ser feito.
Precisamos intensificar as práticas
de mitigação e adaptação às
mudanças
climáticas.
Prevalece, nesse
contexto, a
disposição da
agropecuária
brasileira de
servir de
exemplo na
execução de
ações de redução
de carbono, nos moldes
manifestados pelo governo
brasileiro. Nossa intenção é que a
conservação dos recursos naturais,
essenciais ao desenvolvimento da
agricultura e da pecuária, seja foco
da atuação sustentável do setor, ao
passo em que auxilia no
atendimento das metas de redução
de emissões.
Vale lembrar que a agropecuária já
possui práticas avançadas e atividades
consideradas viáveis e eficientes para
uma produção de baixo carbono. Isso
permite que o setor chegue a um
resultado mais rápido em termos de
mitigação de GEE, tendo em vista a
necessidade de menor investimento em
desenvolvimento e financiamento de
novas tecnologias. Diante deste cenário
favorável, o setor deverá buscar os
benefícios que estão sendo
disponibilizados.
A agricultura e a pecuária do
Brasil assumem posição de
destaque no papel de
sequestrador de carbono e
parte essencial na solução
para a crise climática
“
“
3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3715
16 Sustentabilidade e Economia Verde
Valor agregado
Ao seguir atentamente as
recomendações da Política de
Governança Climática, o
agropecuarista torna-se um adepto da
prevenção da mudança do clima, um
agente que contribuirá de forma
efetiva para a solução do problema
global, sem contar o valor agregado
que a redução de carbono
proporcionará ao seu produto. Mais do
que controlar as atividades rurais,
trata-se de moldá-las às novas
gerações, por meio de um sistema de
condutas que propiciem a mitigação
dos GEEs na atmosfera.
O caráter participativo deste
processo de elaboração e
implementação da PGCA terá o condão
de estabelecer uma governança do
setor agropecuário, em resposta à
demanda pelo avanço dos processos
regulatórios relacionados ao clima. Na
fronteira do conhecimento acerca de
como ser um agente preponderante da
economia de baixo carbono, a
agricultura brasileira desenhará o perfil
necessário para adquirir maior
competitividade.
O ponto central desta política rumo à
economia verde é a implementação das
ações consideradas fundamentais e
necessárias à consolidação de uma
agropecuária de baixo carbono no
Brasil. Certamente, a Política de
Governança Climática da Agropecuária
é a mais importante das medidas
propostas pela CNA para alcançarmos
uma produção rural menos carbono-
emissiva e mais sustentável. Com a
PGCA, será possível orientar e guiar o
setor na adoção das melhores práticas
no campo.
Sistematização de ações
Vamos estabelecer critérios
organizados para a sistematização
de outras ações de grande porte,
como a realização do Fórum
Internacional de Estudos
Estratégicos para Desenvolvimento
Agropecuário e Respeito ao Clima
(FEED) e o Projeto Agricultura de
Baixo Carbono – desenvolvido em
parceria com a Embrapa, Ministério
da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), Banco do
Brasil e Embaixada Britânica. Sem
essa sistematização, a dimensão
dos objetivos a serem alcançados
dificultaria sua execução.
Estamos trabalhando para
mobilizar todo o setor agropecuário –
produtores, fornecedores,
distribuidores e comerciantes – na
direção de uma cultura setorial de
baixo carbono. Contamos, também,
com o apoio do governo e da
sociedade civil para promovermos
uma agropecuária sustentável, apta a
atender aos anseios e necessidades
mundiais e capaz de conferir valor
agregado à produção rural brasileira,
como não acontece em nenhum outro
lugar do planeta.
Kátia Abreu é senadora da República (PSD-TO)e presidente da Confederação da Agricultura ePecuária do Brasil (CNA)
O caráter participativo deste
processo de elaboração e
implementação da PGCA terá o
condão de estabelecer uma
governança do setor agropecuário,
em resposta à demanda pelo
avanço dos processos regulatórios
relacionados ao clima
“
“
3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3716
Sustentabilidade e Economia Verde 17
Um dos temas recorrentes em
rodas políticas ao redor do
mundo é a falta de lideranças
globais. Não existe nenhum líder
individual nos países centrais cujas
ideias ofereçam direção a ser seguida
pelos povos dos diferentes continentes.
Nem mesmo as grandes
organizações multilaterais – como a
própria ONU –, conseguem mais ter um
protagonismo definidor de projetos
globais universalmente aceitos. Esse
vazio de comando abre espaço para
falsos líderes surgirem e crescerem,
ameaçando, até mesmo, a democracia
e a paz mundial.
É, portanto, essencial a criação de
um plano que a todos empolgue, a
ricos e pobres de todos os países, sem
rejeição alguma, e que se transforme
em uma meta a ser perseguida
coletivamente: segurança alimentar e
energética sustentáveis deveria ser o
mote. Quem poderia ser contra? E, uma
vez definido este projeto, os países
terão que se comprometer com ele,
estabelecendo inclusive mecanismos
de governança para conduzir o tema.
Lição de casa
O Brasil, indiscutivelmente, fez parte
de sua lição de casa. Basta ver alguns
números.
Nos últimos anos, a área plantada
com grãos no país cresceu 36%,
enquanto a produção aumentou quase
cinco vezes mais que isso, 176%
(gráfico na página seguinte).
Se o número em si já é um grande
troféu a ser exibido, por trás dele há
algo ainda maior: se tivéssemos hoje a
mesma produtividade por hectare que
tínhamos há 21 anos, seriam
necessários mais 53 milhões de
hectares para produzir a safra de grãos
deste ano. Em outras palavras, esta
área foi preservada!
Roberto Rodrigues
O AGRO
BRASILEIRO
NA RIO +20
O AGRO
BRASILEIRO
NA RIO +20
4-RobertoRodrigues.pmd 21/5/2012, 18:3817
18 Sustentabilidade e Economia Verde
Etanol
E não é só o caso dos grãos. O país
tem hoje 8 milhões de hectares plantados
com cana-de-açúcar. Se a produtividade
por hectare desta gramínea fosse a
mesma de quando foi implantado o
Proalcool, seriam necessários mais 6
milhões de hectares para produzir a safra
do ano passado. Só a cana e os grãos
preservaram quase 60 milhões de
hectares!
Aliás, o etanol – considerando toda a
cadeia produtiva, desde o plantio da
cana – emite apenas 11% do CO2
emitido pela gasolina, segundo a
UNICAMP. Isto é um claro elemento
mitigador do aquecimento global.
Bons exemplos
E tem mais: o país já conta com 7
milhões de hectares de florestas
plantadas, devendo chegar a 10 milhões
em 2020, o que ajuda a sequestrar CO2.
Temos uma crescente produção de
orgânicos, nossa pecuária vem
evoluindo tanto em leite quanto em
carnes, reduzindo a demanda por
pastagens e abrindo espaço para
pastos degradados se transformarem
em áreas agricultadas.
A integração lavoura/pecuária/floresta
mudará o paradigma tecnológico do
setor agropecuário, assim como o
plantio direto já fez no passado recente,
e o Brasil já é o país com maior área
com esta tecnologia.
A fixação biológica do nitrogênio
substitui o adubo químico deste
insumo; há economia de diesel e
água com os produtos transgênicos
extremamente seguros; e o trabalho
com dejetos animais (desenvolvido
no programa de agricultura de Baixo
Carbono do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento), entre
outros, são claras indicações do
interesse nacional por uma
agropecuária sustentável, tanto na
produção de alimentos quanto na de
energia, e aqui entram os
biocombustíveis e a bioeletricidade.
Matriz energética
Nossa matriz energética é invejável,
com mais de 45% renovável, enquanto
a da mundial mal chega a 13%.
Portanto, o Brasil pode muito bem ser
o catalisador de um programa mundial
de segurança alimentar e energética
sustentáveis! Até porque temos ainda
mais de 60% do território coberto com
vegetação nativa.
São números irrefutáveis e que o
mundo todo conhece, admira e
respeita.
O trabalho conjugado dos nossos
4-RobertoRodrigues.pmd 21/5/2012, 18:3818
Sustentabilidade e Economia Verde 19
cientistas, pesquisadores,
extensionistas e produtores rurais, mais
algumas políticas públicas construtivas,
como o aumento do crédito rural e a
redução das taxas de juros, permitiram,
claramente, a expansão de nossas
exportações e do saldo comercial do
agronegócio.
Mudamos o perfil dos produtos
exportados para atender às demandas
crescentes dos países emergentes.
Isso causou reação de concorrentes
externos que perderam mercado para o
Brasil, e é possível que aproveitem a Rio
+20 para tentar depreciar nossa
atividade agropecuária e nosso
agronegócio.
Código Florestal
Até o Código Florestal poderá ser
atacado, quando é fundamental ter um
marco regulatório que confira
legalidade ao setor rural, definindo de
vez os controversos temas de Reserva
Legal e de Área de Preservação
Permanente. Se o documento aprovado
não é o melhor, é preciso aperfeiçoá-lo,
e é isso que o país está fazendo.
Em resumo, temos muitos troféus a
exibir na Rio +20, e é preciso competência
para comunicar isso com clareza.
E seria maravilhoso se, deste magno
evento mundial que definirá a
sustentabilidade da vida humana para o
futuro, saísse a proposta de um projeto
global como o sugerido.
Segurança alimentar e energética
sustentáveis são a própria síntese de
sustentabilidade, abrigando suas três
vertentes, a econômica, a social e a
ambiental.
E o Brasil tem papel relevante a
desempenhar nesta grande travessia
para um mundo melhor. Será
necessário cuidar de algumas velhas
mazelas e a educação básica de nível
técnico estaria nas providências mais
imediatas. O resto virá como
consequência disso.
Roberto Rodrigues é coordenador do Centrode Agronegócios da FGV; embaixador especialda FAO para o Ano Internacional dasCooperativas; e membro da Academia Nacionalde Agricultura
4-RobertoRodrigues.pmd 21/5/2012, 18:3819
20 Sustentabilidade e Economia Verde
AGRICULTURA E
SUSTENTABILIDADE
AGRICULTURA E
SUSTENTABILIDADE
Pedro Antonio Arraes Pereira Maurício Antônio Lopes
Segurança alimentar e nutricional,
água, energia, meio ambiente e
pobreza representam os grandes
desafios a serem enfrentados pela
humanidade nas próximas décadas. Tais
desafios indicam que precisaremos
buscar um novo patamar de
conhecimento, um novo paradigma
científico e tecnológico, a fim de romper
limites, em especial na região tropical do
globo, onde estão os ambientes mais
desafiadores para a agricultura e a
produção de alimentos, além das
nações mais pobres. Os sistemas de
inovação para agricultura terão, cada
vez mais, que se referenciar em
aspectos que compreendam, além da
visão utilitária da produção de alimentos
e matérias-primas essenciais para a
sobrevivência e progresso do homem,
outras dimensões e valores. Para
alimentar a crescente população
mundial, é premente aumentar a
produção de alimentos com segurança
e qualidade, promovendo uma
agricultura cada vez mais sintonizada
com as três dimensões críticas da
sustentabilidade – econômica,
ambiental e social.
A agricultura brasileira dá exemplos
claros da possibilidade de se alcançar
esse objetivo. Poucos países
conseguiram avançar na direção de
uma produção mais sustentável de
alimentos e matérias-primas como o
Brasil. Em pouco mais de quatro
décadas, o país saiu de uma condição
de insegurança alimentar e
5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4020
Sustentabilidade e Economia Verde 21
dependência de importações para a
condição de potência agrícola tropical.
Avanços marcantes foram alcançados.
Hoje o manejo de culturas baseado no
plantio direto é utilizado no Brasil em
mais de 30 milhões de hectares de
lavouras, com expressiva contribuição
para a redução de
erosão, a melhoria
geral da qualidade
do solo e a recarga
do lençol freático.
A fixação biológica
do nitrogênio, por
meio da inoculação
de bactérias
diazotróficas, tem
possibilitado a
redução significativa da aplicação de
fertilizantes químicos em culturas como
a soja, com importante redução de
impactos ambientais como, por
exemplo, a contaminação de recursos
hídricos por nitratos. O controle
biológico utilizado regularmente em
diversas culturas, como soja, cana-de-
açúcar, algodão e fruteiras também tem
reduzido a demanda por controle
químico de pragas e doenças em
diversos sistemas de manejo, com
impactos positivos para o meio
ambiente, a qualidade de vida dos
trabalhadores rurais e para a segurança
e a qualidade dos produtos.
Superação de desafios
Há, no entanto, que se considerar
que, pela diversidade e complexidade
da agricultura brasileira, esses avanços,
embora muito relevantes, dificilmente
bastarão para superação dos desafios
futuros. É possível que a velocidade das
mudanças globais tornem obsoletos os
métodos convencionais de inovação
agropecuária, como o melhoramento
genético, o controle químico de pragas
etc., que têm sido, até aqui, o principal
instrumento de adaptação dos
organismos utilizados na agropecuária.
Nesse caso, novos métodos de
adaptação terão que ser desenvolvidos.
A busca e o domínio de funções
biológicas que tenham impacto positivo
em processos como regulação da
composição
química da
atmosfera,
regulação do
clima, tratamento e
reciclagem de
resíduos,
suprimento de
água, ciclagem de
nutrientes,
polinização e
controle biológico, entre outros, será
mais intensa à medida que crescerem
os impactos das atividades do homem
sobre o meio físico, com a consequente
redução na disponibilidade de recursos.
Rotas tecnológicas inovadoras
Estes cenários indicam que não
poderemos nos contentar com a
intensificação dos sistemas de
produção pelas vias clássicas, mas
fortalecer a busca de rotas tecnológicas
inovadoras, no que diz respeito aos
modelos e estratégias de produção,
novos métodos e insumos,
instrumentação avançada e automação
de sistemas, etc. Por exemplo, espera-
se que a combinação de estratégias da
biotecnologia moderna com as
estratégias tradicionais de inovação
tecnológica para a agricultura, como o
melhoramento genético, o controle
biológico e outras, torne-se o caminho
para a descoberta e a incorporação de
funções biológicas viabilizadoras de
uma agricultura cada vez mais
sustentável.
Na vertente da segurança biológica,
a intensificação do comércio
Estes cenários indicam que não
poderemos nos contentar com a
intensificação dos sistemas de
produção pelas vias clássicas,
mas fortalecer a busca de rotas
tecnológicas inovadoras
“
“
5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4021
22 Sustentabilidade e Economia Verde
internacional tem aumentado os riscos
de introdução e dispersão de espécies
invasoras e organismos causadores de
danos e doenças em vegetais e animais,
além de perda de biodiversidade e
outros danos aos ecossistemas naturais
e agrícolas. Legislações e
procedimentos nacionais e
internacionais de proteção ao ambiente,
à saúde ou à vida
de seres humanos
ou animais, se
tornam cada vez
mais complexos e
restritivos ao fluxo
e comércio
internacional de
produtos
agroindustriais.
Neste cenário, o
desenvolvimento
de conhecimentos e tecnologias
avançadas de detecção e identificação
de pragas, de análise, manejo e
mitigação de riscos ao meio ambiente e
à produção, é estratégico para tornar os
produtos do agronegócio mais
competitivos no mercado nacional e
internacional.
Sistemas eficientes
Uma potência agrícola como o Brasil,
necessita de um eficiente sistema de
defesa e sanidade agropecuária em
associação a um moderno sistema de
apoio científico e tecnológico. Todos os
países com presença marcante no
comércio internacional de produtos
agrícolas dispõem de capacidade de
desenvolvimento de tecnologias
avançadas e de um efetivo sistema de
controle e mitigação de riscos
ambientais e promoção da sanidade
zoo e fitossanitária. Tais sistemas se
destinam a proteger o meio ambiente e
os espaços produtivos de pragas
exóticas, permitem a convivência com
as pragas já existentes, sem perda de
qualidade ou produtividade, e garantem
a conformidade e a inocuidade dos
alimentos, evitando riscos à saúde
pública e ao meio ambiente.
Pragas e espécies invasoras
introduzidas em novas áreas geram
prejuízos exorbitantes à sociedade,
como danos a biomas sensíveis e perda
de biodiversidade,
perdas na
produção e
produtividade da
agricultura,
adoção de
medidas de
controle de alto
custo e
desemprego
devido à
inviabilização de
sistemas produtivos, citando apenas
alguns fatores. A chave para a abertura,
a conquista e a manutenção dos
mercados, é a competitividade, com a
oferta de tecnologia e de ambiente
sanitário equivalentes aos dos países
líderes do comércio internacional de
produtos agropecuários. A associação
entre órgãos de defesa do meio
ambiente, sanidade agropecuária e
instituições de Ciência e Tecnologia
(C&T), é crucial para a melhoria do
“status” sanitário dos produtos
brasileiros, bem como para o manejo e
uso sustentável da base de recursos
naturais que sustentam a produção
agropecuária e florestal.
A nascente bioeconomia e a
antevisão dos riscos e desafios
associados às mudanças climáticas
globais apontam também para a
necessidade de se intensificar o
enriquecimento, a conservação, a
caracterização, a agregação de valor e
a promoção da utilização sustentável
dos recursos genéticos vegetais,
animais e microbianos.
Uma potência agrícola como o
Brasil, necessita de um eficiente
sistema de defesa e sanidade
agropecuária em associação a um
moderno sistema de apoio
científico e tecnológico
“
“
5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4022
Sustentabilidade e Economia Verde 23
Adequadamente estudadas e
conhecidas, muitas funções biológicas
presentes em acervos e coleções, em
espécies não domesticadas e em
recursos da biodiversidade ainda não
catalogados ou descritos, poderão
gradualmente ser incorporadas a
espécies de importância para a
agricultura e para a futura bioindústria
do País. Caracteres pouco
considerados no âmbito dos programas
de melhoramento genético, como
aqueles relacionados à qualidade
ambiental (serviços ambientais,
bioenergia, economia do carbono e
outros) e a ramos da nascente
bioindústria (na confluência das
indústrias alimentar, farmacêutica,
química, da saúde, da energia) deverão
despertar, cada vez mais, interesse nos
ambientes de inovação tecnológica. Tal
perspectiva tende a aumentar as
intersecções entre agrobiodiversidade e
biodiversidade, ampliado o leque de
espécies e funções biológicas a serem
acessados, conservados,
caracterizados e utilizados para o
desenvolvimento de processos e
sistemas mais sustentáveis.
Inclusão dos pequenos
Atenção à dimensão social, em
especial à inclusão produtiva dos
pequenos agricultores é aspecto crítico
para a construção de um Brasil moderno
e justo. Ao longo das últimas décadas,
as tecnologias produzidas pela Embrapa
e outras instituições de pesquisa
agropecuária do país, geraram ganhos
significativos na produção de grãos,
leite, frutas, hortaliças, de carnes bovina,
suína e de frango etc., que tiveram papel
marcante na elevação da qualidade de
vida e do bem estar da população
brasileira. Entretanto, ainda convivem no
Brasil uma agricultura comercial,
moderna e dinâmica, com outra carente e
descapitalizada, à margem do mercado.
Este segmento engloba milhões de
famílias em todo o território nacional, que
dependem da assistência do Estado.
Além de educação, saúde, energia e
capital, esses agricultores precisam de
apoio e suporte. Os diversos agentes do
Estado Brasileiro devem atuar de forma
inteligente e concentrada para o
desenvolvimento de soluções que
viabilizem a elevação do desempenho e
a inserção econômica dos pequenos
agricultores, que têm papel fundamental
na segurança alimentar e nutricional da
população, no presente e no futuro.
Os desafios são, portanto, enormes.
Os clientes da pesquisa agropecuária
estarão, cada vez mais, demandando
resultados, na forma de produtos,
processos e informações que viabilizem
sistemas produtivos mais eficientes,
inclusivos e sustentáveis. A visão de
sistemas se fortalecerá na agricultura
como uma forma de solucionar, ou
minimizar, os problemas associados ao
enfoque reducionista, que se mostra
cada vez mais inadequado e
incompatível com os desafios do
presente e do futuro. Por exemplo, as
tecnologias de integração lavoura,
pecuária e floresta já permitem
desenvolver, num mesmo espaço,
diversas atividades produtivas, com
múltiplos benefícios. Tais inovações
tecnológicas serão fundamentais para
sustentação do Programa Agricultura de
Baixo Carbono-ABC, que prevê
incentivos para processos tecnológicos
As tecnologias de integração
lavoura, pecuária e floresta já
permitem desenvolver, num
mesmo espaço, diversas
atividades produtivas, com
múltiplos benefícios
“
“
5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4023
24 Sustentabilidade e Economia Verde
como o plantio direto na palha, a
recuperação de áreas degradadas,
plantio de florestas comerciais, fixação
biológica de nitrogênio, tratamento de
resíduos animais, dentre outras. Este
exemplo ilustra como a visão de
sistemas se configura como a norma
para a construção de uma agricultura
mais sustentável no futuro.
Novas tecnologias
Felizmente, novas tecnologias no
campo da tecnologia da informação, da
eletrônica e da automação, além de
sofisticados processos de organização e
gestão da informação, permitem hoje a
geração e a disponibilização de vasta
quantidade de informações em tempo
real. Elas referem-se ao desenvolvimento
de cultivos, clima, solo, água, nutrientes,
fatores bióticos etc., além de informações
sobre mercados, logística, insumos etc.,
que podem ser utilizados para o
desenvolvimento de uma nova geração
de ferramentas de gestão da produção
agrícola numa visão sistêmica. No
entanto, avanços contínuos são
necessários para habilitar os clientes da
pesquisa a acessar e interpretar este
vasto volume de soluções tecnológicas e
de informações.
Estas inovações terão enormes
implicações para a agricultura
brasileira, que precisará investir em
capacitação de recursos humanos e
em sofisticação de processos,
métodos e instrumentação para
continuar competitiva. As tecnologias
da informação e da comunicação
prometem ainda revolucionar os
métodos de gestão das propriedades,
o acesso a mercados, a gestão da
logística e a relação com os
consumidores. Tais tecnologias são
revolucionárias também do ponto de
vista das mudanças que provocam nos
comportamentos, o que exigirá
atenção às tendências de consumo e
às percepções da sociedade em
relação à produção agrícola e ao
agronegócio.
Finalmente, é preciso ressaltar que
o caminho em direção à
sustentabilidade exigirá também
investimentos em processos de
“inteligência estratégica”, necessidade
a cada dia mais relevante na atual era
de rápidas mudanças e constantes
quebras de paradigmas. O mundo
muda com muita celeridade, e os alvos
se tornam muito mais difusos e
móveis, dificultando decisão e ação,
de forma rápida e planejada. É preciso
que a agricultura brasileira se sustente
em forte capacidade de antecipação
de riscos, oportunidades e desafios, e
em processos coordenados de
decisão e ação. Só assim
conseguiremos acompanhar a
evolução do conhecimento,
internalizando métodos e processos
necessários para a promoção e a
manutenção da sustentabilidade da
nossa agricultura.
Pedro Antonio Arraes Pereira é presidente daEmbrapa
Maurício Antônio Lopes é diretor executivo dePesquisa e Desenvolvimento Embrapa
O caminho em direção à
sustentabilidade exigirá também
investimentos em processos de
“inteligência estratégica”,
necessidade a cada dia mais
relevante na atual era de rápidas
mudanças e constantes quebras
de paradigmas
“
“
5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4024
Sustentabilidade e Economia Verde 25
O planeta Terra, por ação
humana, encontra-se imerso
em crise ambiental grave e
crescente, sem que soluções concretas
e exequíveis estejam à vista.
O homem sempre utilizou recursos
naturais, com impactos diversos sobre
a natureza, mas, no passado e até o
século XVIII, eles foram localizados e
compatíveis com a capacidade de
absorção pelos processos naturais.
Mesmo assim, registraram-se ao longo
da História preocupações esparsas por
parte de personalidades mais
clarividentes, em discordância com o
descaso generalizado.
Platão (428-347 AC) já se referia à
devastação do território grego,
declarando que “... em relação ao que foi
outrora, nossa terra transformou-se no
esqueleto de um corpo descarnado...”.
Em nosso país, pode ser mencionada
uma famosa Carta Régia, datada de 1797,
na qual constava a passagem “...sendo
necessário tomar todas as providências
para conservar as mattas do Estado do
Brazil e evitar que ellas se arruínem e se
destruam...”. Obviamente, nesse caso, o
interesse era estratégico e econômico,
voltado para a preservação de madeiras
preciosas, então indispensáveis para a
construção de navios dos quais dependia
a Coroa. Era uma precoce preocupação
com o uso sustentável, tantos anos
depois reconhecido como indispensável
pelas Nações Unidas. O insigne estadista
e naturalista José Bonifácio de Andrade e
Silva (1763-1838) clamou pela defesa de
nossas florestas e criticou as práticas
abusivas da caça às baleias.
HUMANIDADE
EM APUROS
HUMANIDADE
EM APUROS
Ibsen de Gusmão Câmara
26 Sustentabilidade e Economia Verde
Escala planetária
Contudo, todas essas manifestações
e cuidados, dentre outros, foram
meramente pontuais e não reconheciam
problemas em escala planetária, como
vem ocorrendo no presente. Talvez a
primeira preocupação com caráter
global tenha sido o alerta de Thomas
Malthus (1766-1834), acentuando a
importância do controle da natalidade e
a possibilidade de futura falta de
alimentos devido ao crescimento
descontrolado da humanidade.
Limites do crescimento
Seja como for, o problema ambiental
somente assumiu proporções realmente
preocupantes na segunda metade do
Século XX, quando surgiram trabalhos
alertando para um provável colapso da
civilização, em decorrência das
atividades antrópicas e do consumo –
crescente e descontrolado – dos recursos
naturais. Ficou famoso e foi amplamente
lido, o livro Os Limites do Crescimento, de
1972, divulgado pelo Clube de Roma e
baseado em relatório de equipe do
Massachusetts Institute of Technology
(MIT), segundo o qual, a Terra não
suportaria o crescimento populacional,
devido à poluição e às pressões sobre os
recursos naturais e energéticos, mesmo
tendo em conta o avanço tecnológico. As
previsões apresentadas de um desastre
global no final do Século XX não se
configuraram, mas alguns cientistas
atuais ainda concordam com a maioria
das conclusões expostas e acreditam
que sua concretização é apenas uma
questão de tempo.
Crescimento populacional
Divergências à parte, é fato que a
população humana expandiu-se
exponencialmente no decorrer dos
tempos que se seguiram ao início do
Século XX, passando de 1,6 bilhão de
habitantes em 1900, para 2,5 bilhões
em 1950 e mais de 7 bilhões na
atualidade, com a estimativa de atingir
9 bilhões em 2050. A humanidade levou
cerca de 200.000 anos para alcançar o
total de 1,6 bilhão e apenas mais 110
anos para crescer até 7 bilhões!
Os problemas ambientais gerados
pelo aumento populacional, o consumo
descontrolado dos recursos naturais e a
preocupação com sua sustentabilidade,
redundou na concretização da 1ª
Conferência Mundial sobre o Homen e o
Meio Ambiente, realizada em Estocolmo
no ano de 1972, na qual aventou-se a
imprescindibilidade de adoção de uma
forma sustentável de desenvolvimento
econômico e social. Em 1987, a
Comissão Mundial para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, das
Nações Unidas , publicou o chamado
Relatório Brundtland, divulgado pelo
livro Nosso Futuro Comum, no qual o
conceito de desenvolvimento
sustentável foi formalmente apresentado
como sendo “...um processo de
mudança em que a exploração dos
recursos, a direção dos investimentos, a
orientação do desenvolvimento
tecnológico e as mudanças institucionais
estão em harmonia e aumentam o
potencial atual e futuro para atender às
aspirações e necessidades humanas.”
Desde então, o termo vulgarizou-se
amplamente, mas nem sempre as
atividades humanas têm sido
implementadas em obediência a tais
princípios. Tudo passou a ser
A humanidade levou cerca de
200.000 anos para alcançar o total
de 1,6 bilhão e apenas mais 110
anos para crescer até 7 bilhões!
“
“
Sustentabilidade e Economia Verde 27
“sustentável” sem que, na maioria das
vezes, o seja realmente. O adjetivo
“sustentável” frequentemente é utilizado
apenas para mascarar ações ou
iniciativas claramente insustentáveis. Por
vezes, alguns o empregam erradamente,
no sentido de “sustentado”, ou seja, algo
de natureza continuada, uma flagrante
distorção do verdadeiro conceito.
Agenda 21, um dos resultados
da Rio 92
Na proveitosa Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
e o Desenvolvimento, mais conhecida
como Rio 92, em que foram firmadas
duas importantes convenções – a
Convenção sobre Mudanças Climáticas
e a Convenção sobre Diversidade
Biológica – teve como um dos principais
resultados a chamada Agenda 21, em
que se estabeleceu a importância de
cada país comprometer-se a refletir,
local e globalmente, sobre a forma de
como governos, empresas,
organizações não-governamentais e
sociedade em geral, poderiam cooperar
no estudo dos problemas
socioambientais. Englobando 41 temas
distintos, caberia a cada governo
desenvolver sua própria agenda,
reinterpretando o conceito de progresso
de maneira compatível com o
desenvolvimento sustentável.
Na Conferência das Nações Unidas
sobre Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, realizada em
Johanesburgo, em 2002, também
citada como Rio+10, foi aprovado um
complemento à Agenda 21,
denominado Metas do Desenvolvimento
do Milênio (Millenium Development
Goals), com ênfase nas políticas de
globalização e erradicação da pobreza
e da fome e estabelecendo valores
numéricos para as metas.
Tanto a Agenda 21 quanto as Metas de
Desenvolvimento do Milênio, tiveram
desdobramentos e resultados distintos
nos diversos países mas, via de regra,
não atingiram plenamente seus objetivos.
Economia verde
Recentemente, novas idéias surgiram e
generalizou-se a discussão do que foi
denominado “economia verde”, uma
expressão ainda não claramente
conceituada e com implicações
controversas. Para o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), a economia verde é aquela que
resulta na melhoria do bem-estar humano
e da igualdade social, e que,
simultaneamente, reduz de modo
significativo os riscos ecológicos e
ambientais. Ainda de acordo com o
PNUMA, ela se sustenta em três pilares:
ser pouco intensiva na emissão de
carbono, ser eficiente no uso dos
recursos naturais, e mostrar-se
socialmente inclusiva. Resta saber como
conciliar estas três condicionalidades, em
parte, conflitantes.
Nomenclatura discutida
Como contribuição ao debate, o
PNUMA organizou um documento
denominado Relatório de Economia
Verde (VER), com uma versão
compacta sob o título Rumo a uma
Economia Verde: Caminhos para o
Desenvolvimento Sustentável e a
Erradicação da Pobreza. Segundo tais
documentos, a economia verde poderá
Segundo tais documentos, a
economia verde poderá gerar
crescimento econômico maior,
mas com menos utilização de
recursos naturais
“
“
28 Sustentabilidade e Economia Verde
gerar crescimento econômico maior,
mas com menos utilização de recursos
naturais. A repercussão desses
documentos variou de boa aceitação a
críticas severas, incluindo a observação
de que “pintar” a economia clássica de
verde não será a solução. De qualquer
modo, o tema da economia verde
continua em plena discussão, à espera
de melhor definição e consolidação.
Desigualdades
Como exposto acima, em termos
teóricos, a humanidade tem avançado
nas propostas de solução para a séria
crise socioambiental que se concretiza
nos tempos presentes. Não obstante, as
tentativas de solução apresentadas para
os problemas vigentes esbarram, em
realidade, na profunda desigualdade do
bem-estar humano que caracteriza o
mundo atual. Todos os países almejam
viver como o fazem os habitantes das
nações com maior desenvolvimento,
mas é claramente evidente que os
recursos naturais do planeta não o
permitiriam. Por outro lado, é óbvio que
as populações dos países econômica e
tecnologicamente mais avançados
jamais aceitarão reduzir sua qualidade
de vida, como se deduz da fria
declaração de George W. Bush, feita em
1992, de acordo com a qual “o modo de
vida americano não é negociável”.
A humanidade se encontra, portanto,
em um impasse profundo, mas para o
qual uma solução é absolutamente
urgente.
A Terra, em toda a sua longuíssima
história, vem mantendo uma relativa
estabilidade global devido a processos
naturais de autorregulação, e assim
permaneceu na maior parte da história
humana. Contudo, nos últimos 200 anos, e
especialmente nas últimas décadas, por
distintas razões, a humanidade tem posto
em risco esse equilíbrio com a natureza.
Com o objetivo de quantificar tais riscos,
um grupo de 29 cientistas de oito países
situados na vanguarda do conhecimento
científico, realizou um estudo visando a
avaliar até que ponto as ações humanas
são suportáveis para a estabilidade do
planeta. Para isto, procuraram identificar
que processos biofisicoquímicos,
naturais ou não, estão criando situações
de alto risco, e chegaram à conclusão de
que em três deles – mudanças climáticas,
perda de biodiversidade e interferência
no ciclo natural de nitrogênio – os limites
aceitáveis de interferência humana já
foram ultrapassados; e que, em outros
quatro, aproximamo-nos perigosamente
de tais limites: uso da água doce e do
solo, acidificação dos mares e
interferência no ciclo natural do fósforo.
Ameaças
Estamos, portanto, aproximando-nos
de uma situação de gravíssimas ameaças,
de um ponto de não-retorno além do qual
não mais poderemos agir para correções
de rumo. É indispensável, portanto, que
nos conclaves internacionais futuros,
como a Rio+20, encontrem-se soluções
urgentes, objetivas, concretas e
exequíveis para evitar-se um agravamento
catastrófico da situação. E, se não
lograrmos fazê-lo racionalmente, a
natureza certamente o fará a seu modo,
com enormes sofrimentos para grande
parte da humanidade.
Ibsen de Gusmão Câmara é diretor-presidenteda Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental -SOBRAPA. Presidente da Rede Nacional PróUnidades de Conservação. Vice-presidente daSociedade Nacional de Agricultura. Vice-presidente da Fundação de Estudos do Mar.Presidente do Conselho Curador da FundaçãoBrasileira para a Conservação da Natureza.Presidente do Conselho Científico do InstitutoIguaçu. Presidente do Conselho Científico daFundação Pró-Natureza (FUNATURA).
Sustentabilidade e Economia Verde 29
AVICULTURA:
DESENVOLVIMENTO
COM SUSTENTABILIDADE
Francisco Turra
AVICULTURA:
DESENVOLVIMENTO
COM SUSTENTABILIDADE
A produção avícola brasileira
caminhou a passos largos nos
últimos 60 anos. Isso, desde a
instalação do modelo integrado de
produção – baseado na relação de
parceria entre produtores e agroindústrias,
que hoje compõe mais de 90% da
avicultura de corte nacional – até o
desenvolvimento técnico e científico, com
evoluções nas áreas de genética, de
nutrição (com base em dieta balanceada e
eficiente), manejo nutricional e sanitário,
que resultaram em uma ave que requer
aproximadamente 1/3 do tempo e 1/3 do
total de alimento que uma ave produzida
na década de 1950, por exemplo.
Tudo isso permitiu ao Brasil chegar à
segunda década deste século como
terceiro maior produtor mundial de frangos
e líder absoluto no comércio internacional
dessa carne. Somente em 2011, foram
13,058 milhões de toneladas produzidas,
com 3,9 milhões de toneladas
embarcadas para mais de 150 países,
com receita de US$ 8,253 bilhões.
As cifras do comércio internacional
destacam o dinamismo dessa atividade
mas não expõem, de fato, o grande
cliente da avicultura brasileira: o
mercado interno. Com quase 9,1
milhões de toneladas sendo absorvidas
pelas gôndolas nacionais, o consumidor
brasileiro detém um dos maiores
consumos per capita do mundo. São
47,4 quilos por habitante/ano, três quilos
a mais que o consumidor norte-
americano, por exemplo. A carne de
frango é, hoje, a proteína animal mais
consumida do Brasil.
Segundo pesquisa encomendada
pela União Brasileira de Avicultura-
UBABEF ao Centro de Assessoria e
7-FranciscoTurra.pmd 21/5/2012, 18:4229
30 Sustentabilidade e Economia Verde
Pesquisa de Mercado (CEAP), feita com
2.869 famílias de todo o Brasil, em
100% desses domicílios consome-se
carne de frango. E a maioria das
famílias (58%) a consome pelo menos
duas a três vezes por semana. Os
resultados dessa pesquisa mostram ao
setor e ao país que a carne de frango
consolidou-se, definitivamente, como
um hábito alimentar do brasileiro. Isso,
não apenas por ser uma proteína animal
barata, mas, principalmente, por
representar um alimento saudável e
nutritivo, apreciado democraticamente
pelas variadas cozinhas – da caseira à
alta gastronomia.
Cadeia arrojada
Seja no mercado interno ou nas
exportações, o dinamismo empresarial, a
força do produtor e a alta tecnologia
empregada na avicultura brasileira fazem
dessa cadeia produtiva uma das mais
arrojadas do Brasil. A importância desse
setor reflete seus números: são 1,3 milhão
de trabalhadores diretos, e uma
participação de 1,5% no PIB nacional.
Gerando emprego, renda, divisas ou
segurança alimentar, a produção avícola
cumpre seu papel como um dos setores
mais importantes para o país.
Essa importância é ainda maior
quando verificamos o modelo de
sustentabilidade empregado por esse
gigantesco setor. Trabalhando sob um
modelo vencedor de distribuição de
renda – o sistema de integração, cuja
relação pauta-se pela parceria entre
produtores e empresas – a produção
avícola é o motor da economia de
dezenas de municípios pelo Brasil. A
geração de renda se constata em
números: Marau (RS), importante polo de
produção, detém um dos melhores
índices de desenvolvimento do estado,
segundo dados da Firjan. Outros
municípios produtores gaúchos, do
Paraná e de Santa Catarina, também
figuram entre os mais desenvolvidos de
seus respectivos Estados.
A avicultura brasileira se diferencia
também no que diz respeito à preservação
ambiental. Todas as agroindústrias
exportadoras estão localizadas em
regiões fora do bioma amazônico. Além
disso, dados do Departamento de
Assuntos de Ambiente, Alimentos e Rural
(DEFRA) do Reino Unido indicam que a
produção de carne de frango brasileira
consome 25% menos energia e emite 17%
menos gases do efeito estufa que a
britânica. Quando verificada somente a
emissão de CO2, esse percentual
comparativo sobe para 45%.
Avicultura sustentável
A gestão dos recursos ambientais
utilizados pelas empresas é outro
diferencial da avicultura sustentável do
Brasil. Um exemplo é a utilização de
resíduos em outros processos da
produção, como a transformação de
gorduras para a produção de biodiesel.
Há também a compostagem, a
diminuição do uso de embalagens, o
aproveitamento de iluminação natural
para redução de consumo de energia, a
compensação de degradação com
plantio de árvores, entre outras
incontáveis iniciativas.
Esses dados atestam que a avicultura
nacional segue em um caminho
permeado pelas diretrizes da produção
sustentável. Estamos entre os mais
eficientes modelos industriais do país e
caminhamos a passos largos para
cumprirmos nosso papel no apoio à
segurança alimentar do Brasil e do
mundo. A liderança não veio ao acaso. O
setor avícola sabe disso e investe pesado
para continuar a ser referência mundial
em gestão, produtividade e
sustentabilidade.
Francisco Turra - ex-ministro da Agricultura,Pecuária e Abastecimento e presidente executivoda União Brasileira de Avicultura
7-FranciscoTurra.pmd 21/5/2012, 18:4230
Sustentabilidade e Economia Verde 31
Flávio Miragaia Perri
É seguramente uma
impossibilidade falar-se em
desenvolvimento sustentável
sem levar em conta dois sujeitos de
nosso interesse: o ser humano e o
planeta.
Afirmei, entretanto, em diversas
ocasiões, com o risco de não ser
entendido, que a Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, apelidada de Rio+20, não
era uma conferência sobre meio
ambiente, mas uma cúpula sobre
desenvolvimento sustentável. Uma
questão conceitual que merece ser
explicada.
Não se trata de produzir fumaça nos
olhos de quem deseja enxergar, mas de
uma convicção que informa o conceito
de desenvolvimento desde a
Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento e Meio Ambiente,
conhecida como “Rio 92” ou “Cúpula
da Terra”, de 1992.
Há 20 anos, o adjetivo qualificativo
“sustentável’ incorporou-se ao conceito
ultrapassado de “desenvolvimento”, até
então entendido apenas com o sentido
econômico. Desde 1992, não seria
crível admitir-se outro entendimento:
eticamente, o desenvolvimento só é
tolerável se sustentável, isto é, se
fundamentado na equação de equilíbrio
entre as necessidades do ser humano e
a realidade do planeta, como único e
esgotável fornecedor de bens para a
sobrevivência da sociedade humana.
Agrada-me interpretar o que James
Lovelock apresentou no seu já clássico
“Gala, a new look at life on Earth”:
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL:
UM CONCEITO
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL:
UM CONCEITO
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3231
32 Sustentabilidade e Economia Verde
o fundamento inicial da hipótese Gaia
era a visão da Terra desde o espaço,
revelando o planeta como totalidade,
mas não em detalhe. Ecologia, em
complementação, está fundamentada
no realismo da história natural e no
estudo detalhado de habitats e
ecossistemas, sem levar em conta o
quadro geral.
Processo de ocupação
Se esta era a apresentação inicial da
equação que tento compreender, a
segunda parte da esclarecida visão de
Lovelock envolve a realidade da presença
humana no planeta.
Nos últimos 500 anos, a presença
humana expandiu-se e inter-relacionou
áreas geográficas e ecossistemas,
continentes e hemisférios, mar, terra e ar,
para ocupar fisicamente todos os
espaços e utilizar os bens naturais
extensamente, da pedra inerte à vida.
A tecnologia aplicada nesse processo
de ocupação magnificou a presença
dominante do ser humano sobre outras
formas de vida no planeta. É curioso, para
dizer o menos, que o conhecimento nos
tenha feito imperiais como espécie, de
muitas formas afastando-nos da
realidade. Daí a pergunta de Lovelock,
crucial para entender a equação: “Qual
tem sido o efeito de todo e cada um dos
desenvolvimentos recentes? É o homem
tecnológico ainda parte de Gaia ou
estamos nós, de alguma ou muitas
formas, alienando-nos dela?”
Ironicamente, a consciência ecológica, a
exploração espacial e a ciência, juntaram
os dois elementos do raciocínio de
Lovelock e hoje não podemos mais isolar o
desenvolvimento da sociedade humana
na Terra da realidade do próprio planeta
flutuante no desconhecido do cosmos.
Macro e micro, inseparavelmente.
Não existiremos sem o planeta nem o
planeta sobreviverá a nossas exigências
de sofisticação e consumo no acelerado
ritmo de crescimento econômico que, se
não corrigido, o esgotará.
A espécie humana, dominante sobre
as demais, tampouco pode ignorar os
desequilíbrios sociais e a perversidade
das opções que condenaram parte
significativa da população do planeta à
miséria e à fome no ritmo míope do
crescimento econômico, tal como
medido pelo PIB de cada nação.
Para nos resumirmos ao essencial, no
antropocentrismo egoísta e excludente, o
homem teria nascido e povoado a Terra
para conquistar a natureza, voltado para
a mediocridade do exclusivismo da meta
de garantir seu bem-estar.
Desenvolvimento
É obscurecida a ideia – mais que
verdadeira – de que os insumos que
produzem o desenvolvimento são bens
naturais, pertencentes à humanidade e
ao próprio planeta que deve ser
preservados para garantir a
sustentabilidade do desenvolvimento.
A meta antropocêntrica submete-se à
ideia do progresso, que é buscado em
horizonte sem limites.
A função primordial acaba sendo
apenas a acumulação de riqueza
expressa em valores financeiros ou
monetários. É garantida pela posse de
bens materiais. Nesse quadro, o sistema
ignorou o futuro e deixou atrás o sentido
original, que seria satisfazer necessidades
humanas básicas em todos os tempos,
entre as quais está a alimentação, como
condição essencial à vida.
A meta antropocêntrica
submete-se à ideia do progresso,
que é buscado em horizonte
sem limites
“
“
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3232
Sustentabilidade e Economia Verde 33
O homem foi reduzido a consumidor e
já não produz o que lhe é essencial, mas
trabalha para realizar uma produtiva
eficiência impessoal, sem objeto.
Trata-se de um jogo de
permanente perda
Serei talvez verdadeiro se disser que o
processo de desenvolvimento, resultante
majoritário na sociedade planetária atual,
traz defeitos graves de concepção.
Socorro-me de Norberto Bobbio, o
grande pensador italiano, um insatisfeito
tanto do capitalismo arrogante, quanto de
um socialismo incapaz de realizar suas
promessas.
Discute, em sua obra, o problema da
desigualdade, não resolvido pelos
modelos teóricos de que trata nos
ensaios recolhidos em “Utopia
Capovolta” (Utopia Subvertida) e que
permanece “em toda sua gravidade e
insuportabilidade” na questão social
interna de Estados singulares e
dramatiza-se nas relações internacionais
que opõem a sociedade dos dois terços
(a do mundo desenvolvido), às
sociedades dos “quatro-quintos ou dos
nove-décimos”, onde a realidade não é a
abundância, mas a miséria.
Cito Herman Dalv, que desafia
interesses estabelecidos com sua
percepção aguda do fenômeno do
desenvolvimento: “A economia é um
subsistema do ecossistema, e o
ecossistema é finito, não cresce, é
materialmente fechado”.
Para acrescentar, em recente entrevista
transcrita do IHU on-line publicado pelo
Instituto Humanitas Unisinos-IHU, da
Universidade do Vale do Rio dos
Sinos-Unisinos, em São Leopoldo-RS,
esse economista assinala que estamos
ameaçados de sermos vítimas de um
crescimento deseconômico, que
conceitua, sumarizando: “O crescimento
deseconômico é um crescimento que
começou a custar mais do que vale – um
crescimento (seja em volume de
produção ou PIB) para o qual os custos
adicionais (incluindo os custos
ambientais e sociais) são maiores do que
os benefícios adicionais em termos de
produção.
Conceitos
Daí a necessidade de fazermos valer o
conceito de desenvolvimento sustentável.
A ideia de sustentabilidade veio inovar
conceitualmente o processo de
desenvolvimento, tornando-o todo
inclusivo, reequilibrando a equação
homem/planeta.
É evidente que a Conferência Rio+20
inclui todos os conceitos e dimensões e
não seria compreendida pela opinião
pública se tratasse, setorial e
discricionariamente, de aspectos
isolados da problemática do
desenvolvimento.
A cidade e o campo:
o progressivo afastamento
da natureza
O ser humano destacou-se dos demais
seres por sua capacidade de pensar e
curiosidade em pesquisar, descobrir e
agir em sua autodefesa, ou capacidade
de sobrevivência.
Do homem das cavernas ao cidadão
das metrópoles atuais, a notícia que a
história nos traz é que as comunidades
humanas buscam, sistematicamente,
A ideia de sustentabilidade veio
inovar conceitualmente o
processo de desenvolvimento,
tornando-o todo inclusivo,
reequilibrando a equação
homem/planeta
“
“
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3233
34 Sustentabilidade e Economia Verde
desenvolver conhecimentos e meios de
autoproteção e subsistência.
Mudaram os tempos, mudou a
realidade, ainda que atualmente
convivam as duas percepções: o
homem do campo e o citadino
traduzem diferentemente sua relação
com a natureza.
Nas comunidades rurais, onde
predominam a pequena propriedade e
a propriedade familiar, a relação com a
natureza é mais intensa e dela depende
sua subsistência. No mundo
subdesenvolvido, especialmente, o
conhecimento e as técnicas do homem
do campo ainda são transmitidos pela
tradição oral, de pai para filho, no sentir
a direção do vento, no entender a
revoada dos pássaros, o significado da
chuva ou da estiagem. A água da fonte
ou do ribeirão tem valor real na
produção.
Também onde sobrevivem as
comunidades tribais, essa relação é
direta e a sabedoria da prática de
gerações corrige os conflitos com a
natureza.
Atenção, assistência e crédito
Será vital para essa população dos
campos e das florestas que a
conferência Rio+20 lhe dê a devida
atenção, assistência e crédito. Em
grande parte, a agricultura e a
produção animal no mundo dependem
de seu trabalho e de seu respeito à
natureza.
O habitante das metrópoles rumou
em outra direção, para distanciar-se
das urgências naturais. Vive em
países centrais desenvolvidos,
ocupa-se quase tão somente de seu
bem-estar e acompanha as misérias
das Bolsas de Valores com a
curiosidade ávida do investidor que
multiplica lucros para dispender no
consumo. Vez por outra considera,
constrangido, em ações de
benemerência religiosa ou
sentimento ético de remota culpa, o
problema da fome e da miséria no
terceiro mundo.
A transparência dos meios de
comunicação, entretanto, a televisão
e a Internet, em particular, sacodem
sua consciência e produzem,
progressivamente mais cultura de
interesse global. A importância dos
fenômenos naturais, agravados pela
dramaticidade das crises sociais,
traduzem-se em participação virtual.
Tomada de consciência
A militância de grupos engajados
agudizam essa tomada de consciência
e a juventude esclarecida admite seu
papel nas mudanças de rumo que Ihes
garantirão a dignidade de conviver
mais igualitariamente com seus
coetâneos daqui a 50 anos.
Essa é a expectativa que convoca os
governantes do mundo à ação
imediata na conferência que se
aproxima em junho, no Rio de Janeiro,
e em suas consequências para o
futuro.
No Brasil 70% da população vive
nas cidades e a migração do campo
acentua essa tendência de progressiva
urbanização, com todas as
consequências das carências
educacionais e do despreparo para a
vida urbana. Nos países latino-
americanos, apesar de avanços sociais
recentes e do desenvolvimento
econômico, essas massas ainda
Será vital essa população
do campo e das florestas
que a conferência Rio+20
lhe dê a devida atenção,
assistência e crédito
“
“
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3234
Sustentabilidade e Economia Verde 35
ocupam a periferia pobre e as encostas
dos morros, exibindo as fragilidades
de nossas sociedades.
Economia verde
“Economia Verde” é criação recente
de um grupo de países desenvolvidos.
Equivoca-se a Agenda ao incluir
elementos que, por enquanto,
parecem apenas uma combinação de
palavras, no termo cunhado no foro do
PNUMA. Trata-se de ideia, cujos
limites não estão estabelecidos e que
parece ter sido proposta como
alternativa indesejável ao
desenvolvimento sustentável. Por isso
mesmo, a agenda da Conferência
Rio+20 qualificou esse enunciado
vago, submetendo-o ao conceito do
desenvolvimento sustentável e ao
combate à miséria.
Parece-me necessário circunscrever
essa frase a ações
de promoção do
desenvolvimento
sustentável, metas
e medidas
positivas, no plano
exclusivamente
nacional, capazes
de viabilizar a
sustentabilidade
ambiental e social em processos de
desenvolvimento.
No plano internacional é, entretanto,
necessário frear o livre curso dessa
combinação de palavras, evitando que
venha a implicar restrições ao comércio
internacional ou à mais livre disposição
de tecnologias para o desenvolvimento
sustentável, o que poderia acontecer se
países desenvolvidos, isoladamente
ou em bloco, decidissem
unilateralmente, pelos governos de
países em desenvolvimento, onde e
como aplicar recursos financeiros e
tecnológicos internacionais.
O que se pode desejar da
Rio+20?
Uma firme declaração de intenções
(o mandato da conferência
intergovernamental não prevê decisões
de implementação nem automática,
nem imediata) que componha
interesses e equilibre a expectativa da
opinião esclarecida com a capacidade
de compromisso das nações,
representadas por seus chefes de
Estado e de Governo.
Curta, incisiva e afirmativa
No plano institucional internacional
É urgente recuperar a capacidade
operacional do sistema das Nações
Unidas no tema do desenvolvimento
sustentável, onde sobreleva a
necessidade de estabelecer um
mecanismo de
coordenação
eficiente dos
trabalhos das
diversas agências
e organizações do
sistema, que
acompanhe e
avalie, a coerência
das posições dos
países membros em todos os foros e os
vincule em suas decisões.
Há que reconhecer a evidente
fraqueza do atual quadro institucional,
onde a solução não está relacionada
com o papel do PNUMA, mas ao
desempenho do conjunto de
programas, organizações e agências
sob as Nações Unidas, nas áreas de
interesse econômico/social/ambiental.
Faz-se premente encontrar o meio mais
eficiente de alocar responsabilidade
pela implementação das decisões a
serem consensualmente tomadas.
A Comissão de Desenvolvimento
Faz-se premente encontrar
o meio mais eficiente de
alocar responsabilidade pela
implementação das decisões
a serem consensualmente
tomadas
“
“
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3235
36 Sustentabilidade e Economia Verde
Sustentável teve sua criação acordada
em 1992, mas cuja implementação
resultou em órgão de poderes
extremamente limitados.
Novos temas
1. Quanto aos temas a inovar, seria
importante, no contexto da revisão
institucional referida acima – e por essa
via –, que um novo índice social e
ambientalmente mais acurado, viesse a
ser criado, para medir o grau de
satisfação humana de suas
necessidades básicas (e aí parece-me
claro que se incluiriam a segurança
alimentar, a saúde individual e coletiva, a
educação como vittares essenciais) e o
nível de sustentabilidade ótima dos bens
disponibilizados pelo planeta, o estágio
e a organização de seu aproveitamento.
Um tal índice ofereceria não apenas
os valores do crescimento, mas tomaria
o ser humano e o planeta como
referências fundamentais.
Tratar-se-ia de estabelecer a definitiva
transparência de todos os parâmetros
para a ação dos Estados no plano
internacional e dos governos no plano
nacional. Atividades agrícolas, industriais
e urbanas seriam enriquecidas por essa
orientação e o cidadão teria à sua
disposição um medidor confiável, para
sua avaliação pessoal das atividades dos
governos de seus países, e dos demais
atores econômicos, com vista à sua
sobrevivência. No plano político, esse
novo índice garantiria a transparência dos
resultados e a consolidação da
democracia.
2. Nesse mesmo quadro, recordo
Octavio Mello Alvarenga, ilustre
advogado, especialista em Direito
Agrário, em artigo publicado em 1993,
sobre problema ainda central e
tornado premente na realidade do
planeta e na história da
sustentabilidade:
“É habitual citar-se pela metade uma
afirmativa do escriba Pero Vaz de
Caminha, que, para ser exata,
necessita das duas partes que a
compõem. Refiro-me à observação de
que a terra recém-descoberta era de
tal maneira graciosa e boa que
‘querendo-a aproveitar dar-se-á nela
tudo, por bem das águas que tem’.”
Aí está o mais importante, diz
Octavio, as águas constituíam-se no
principal elemento para
aproveitamento dessa terra. Uma visão
de estadista.
Nessa linha, li com grande interesse
em trabalho conjunto da Agência
Nacional de Águas (ANA) e PNUMA,
bela e concisa dissertação sobre o
problema agudo da água em diversas
partes do mundo, a qual a Conferência
Rio+20 deveria tocar para encaminhar
compromissos e ações atuais,
presentes e futuras, antevendo crises
que não tardarão a eclodir:
“Água doce limpa, apropriada e em
quantidade adequada, é de vital
importância para a sobrevivência de
todos os organismos vivos, bem como
para o funcionamento adequado de
ecossistemas, comunidades e
economias. Contudo, a qualidade dos
recursos hídricos mundiais está sob
ameaça crescente à medida que
aumentam as populações humanas e
se expandem as atividades industriais
e agrícolas, em um cenário em que as
mudanças climáticas poderão provocar
grandes alterações no ciclo hidrológico.
A qualidade dos recursos
hídricos mundiais está sob
ameaça crescente à medida que
aumentam as populações humanas
e se expandem as atividades
industriais e agrícolas
“
“
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3236
Sustentabilidade e Economia Verde 37
Há uma necessidade premente de a
comunidade global – dos setores público
e privado – se unir e assumir o desafio de
proteger e aprimorar a qualidade da água
de nossos rios, lagos, aquíferos e
torneiras. Para tanto, é preciso maior
comprometimento com a prevenção da
poluição hídrica futura, com o tratamento
das águas já contaminadas e com a
restauração da qualidade e saúde de rios,
lagos, aquíferos, terras úmidas e
estuários, permitindo assim que essas
águas atendam a um espectro mais
amplo possível de necessidades dos
seres humanos e dos ecossistemas. As
repercussões dessas ações serão
sentidas desde as cabeceiras das nossas
bacias hidrográficas até os oceanos, os
recursos pesqueiros e os ambientes
marinhos que auxiliam no sustento da
humanidade.”
Miséria e fome,
águas, estão aí,
limitadamente, dois
dos destaques a
estimular para ação
da comunidade
internacional nos
próximos anos para
promover a
sustentabilidade
ambiental e social do desenvolvimento
em escala planetária.
3. Para tratar da miséria e da fome,
destaco o princípio cinco da Declaração
do Rio, documento lapidar pela
precisão de conceitos que ajudaram a
consolidar o conceito do
Desenvolvimento Sustentável: “Todos
os Estados e todas as pessoas deverão
cooperar na tarefa essencial de
erradicar a pobreza como requisito
indispensável ao desenvolvimento
sustentável, a fim de reduzir as
disparidades nos níveis de vida e
responder melhor às necessidades da
maioria dos povos do mundo.”
Dele derivam o combate à fome e os
esforços de formulação de um “Direito à
Alimentação”, estes como evolução
jurídico-política significativa, anos
depois. O Brasil tem uma história
louvável de avanços nesse sentido e
tem servido de parâmetro para
programas de muitos países em
desenvolvimento, especialmente
africanos e centro-americanos.
Por sua vez, a Organização das
Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO) elegeu o tema “A
Água e a Segurança Alimentar” para
celebrar o Dia Mundial da Água, “tema
de extrema relevância em função da
negligente e perdulária utilização deste
recurso natural finito em escala
planetária”.
A combinação água e alimento
resulta da constatação simples de que
são hoje no mundo
7 bilhões de
pessoas a
alimentar. Poucos
sabem que cada
ser humano
consome de 2 a 4
litros de água por
dia, sendo a maior
parte incorporada
ao alimento que
ingerimos.
A Agenda 21, documento a retomar,
rever e reforçar
Numa retomada de documentos de
importância já adotados pela
comunidade internacional, seria
significativo que a conferência Rio+20
revisse e revigorasse o valor da Agenda
21, assinada por 179 países, talvez o
documento mais abrangente produzido
na Rio-92, destinado a promover um
novo tipo de desenvolvimento,
constituindo um programa de ação e um
método de trabalho conciliando o
econômico, o social e o ambiental, para
...seria significativo que a
conferência Rio+20 revisse e
revigorasse o valor da Agenda 21,
assinada por 179 países, talvez o
documento mais abrangente
produzido na Rio-92...
“
“
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3237
38 Sustentabilidade e Economia Verde
concretização do desenvolvimento
sustentável.
A Agenda 21 não foi universalmente
desenvolvida e aplicada, mas é o
repositório mais completo de métodos
de proteção ambientaI, justiça social e
eficiência econômica, em contexto de
necessária e consciente participação da
cidadania.
Sua dimensão econômica e social
abrange política internacional e políticas
nacionais para aplicação do conceito do
desenvolvimento sustentável,
envolvendo países desenvolvidos e em
desenvolvimento, em soluções que
encaminham mudanças nos padrões de
produção e consumo. Por essa via,
implica a essencial contribuição da
empresa em todos os planos e níveis de
abrangência de suas atividades.
São significativas as sugestões de
saúde pública e a qualidade dos
assentamentos humanos.
Limites do planeta
Aspecto, a meu ver, de delicada
atualidade são os limites do planeta, que
sem serem apontados dessa maneira,
veem-se tratados, por exemplo, nas inter-
relações entre sustentabilidade e
dinâmica demográfica.
O equilíbrio de interesses entre o
planeta e o desenvolvimento é tratado
na Agenda 21 sob diferentes enfoques:
proteção da atmosfera, transição
energética, manejo do solo, recursos
do mar, gestão dos recursos de água
doce, combate ao desmatamento,
desertificação, diversidade biológica, o
valor da educação etc.
O documento não ignora, nas ações
propostas, a importância dos
mecanismos financeiros e a produção
e oferta de tecnologias como suportes
essenciais à gestão da
sustentabilidade; ao desenvolvimento
da ciência e a educação, à cultura
como elementos básicos na
construção de uma consciência
ambiental.
Está nele, sob o enfoque das
revisões institucionais internacionais e
nacionais, necessárias à consecução
de um desenvolvimento sustentável, a
problemática da formação de quadros
(“capacity building”) para a gestão
eficiente e a governança, que hoje
trabalhamos diante dos desafios do
processo civilizatório.
Flávio Miragaia Perri é embaixador aposentado, foi secretário executivo do Grupo de TrabalhoNacional que organizou a Conferência do Rio em 1992, secretário nacional do Meio Ambiente,presidente do Ibama, secretário de estado do Meio Ambiente no Rio de Janeiro. É membro daAcademia Nacional da Agricultura. Em seu período como diplomata, atuou nas Nações Unidas emdistintas Conferências e Assembleias Gerais. Foi embaixador junto à FAO (Organização das NaçõesUnidas para Alimentação e Agricultura).
A dimensão econômica e social da Agenda 21 abrange política
internacional e políticas nacionais para aplicação do conceito do
desenvolvimento sustentável, envolvendo países desenvolvidos e em
desenvolvimento, em soluções que encaminham mudanças nos
padrões de produção e consumo
“
“
8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3238
Sustentabilidade e Economia Verde 39
Nos dois últimos séculos a
humanidade produziu uma
extraordinária transformação na
nossa biosfera. Em 1802, a população
humana atingiu 1 bilhão; em 1900,
éramos cerca de 1,5 bilhão; em 2000,
mais de 6 bilhões; e, agora, passamos
dos 7 bilhões. A previsão é que iremos
chegar a 2050 com cerca de 9 bilhões
de habitantes em nosso planeta.
Durante este período, o consumo de
energia, água, e outros recursos
naturais, cresceu muito mais que a
população.
Como resultado, estamos
enfrentando, neste século XXI, alguns
problemas globais, como o
aquecimento global e suas
consequências (elevação do nível dos
mares, eventos climáticos extremos
mais frequentes e mais intensos), a
escassez de água, que já se manifesta
em várias regiões do planeta, e a
disponibilidade de energia, tendo em
vista o fim das reservas de petróleo
nos próximos 50 a 60 anos.
Energia solar
Para alcançar a sustentabilidade das
futuras gerações, com razoável
qualidade de vida, precisamos
entender como funciona a nossa
biosfera. Recebemos de fora do nosso
sistema apenas a energia solar, que é
indispensável para a vida no planeta.
ECONOMIA
VERDE E
SUSTENTABILIDADE
ECONOMIA
VERDE E
SUSTENTABILIDADE
Haroldo Mattos de Lemos Antenor Barros Leal
9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3639
40 Sustentabilidade e Economia Verde
Esta energia solar é
absorvida pelas
plantas na terra e
pelas algas no mar,
sendo transformada
pela fotossíntese
em energia química
contida na estrutura vegetal formada.
Esta energia química é um recurso
renovável, assim como alimentos, entre
eles trigo e arroz; combustíveis, como
madeira e álcool da biomassa e
materiais para vestimentas, como
algodão. Na biosfera temos também
recursos não renováveis, como minerais
e combustíveis fósseis (petróleo, carvão
e gás natural).
Todos os dias, a humanidade usa
recursos renováveis e recursos não
renováveis para produzir os bens e
serviços de que precisamos para a
nossa vida diária (alimentos,
transportes etc.). Ao produzir estes bens
e serviços, geramos resíduos e poluição
que, parcialmente tratados ou não, são
jogados na biosfera para que sejam
absorvidos. A disponibilidade de
recursos, renováveis ou não, para
transformação em bens e serviços, e a
capacidade da biosfera para assimilar
resíduos e poluição, formam o que
chamamos de capacidade de suporte
da Terra.
Desafios
Para alcançar a sustentabilidade
com razoável qualidade de vida, a
humanidade terá que enfrentar três
grandes desafios:
1) Garantir a
disponibilidade de
recursos naturais
para a produção de
bens e serviços
necessários para a
nossa vida diária.
2) Respeitar os
limites da biosfera
para assimilar
resíduos e
poluição. Significa
não gerar resíduos
e poluição em
quantidade e velocidade superiores à
sua capacidade de autodepuração.
Atualmente, vários tipos de resíduos e
poluição estão se acumulando na
biosfera, tanto no ar quanto na água e
nos solos.
3) Resolver a questão social, isto é,
reduzir a pobreza em nível mundial. O
Terceiro Relatório do Clube de Roma,
Para uma Nova Ordem Internacional,
divulgado em 1976, concluiu que
“antes de atingirmos os limites físicos
do nosso planeta (a disponibilidade de
recursos naturais e a capacidade da
biosfera para absorver resíduos e
poluição), ocorreriam graves
convulsões sociais provocadas pela
grande desigualdade entre os países
industrializados e os países pobres”.
Políticas e investimentos
A sustentabilidade está baseada no
equilíbrio de três fatores: o econômico,
o ambiental e o social. Para colocar a
economia a favor da sustentabilidade,
o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente – PNUMA, desenvolveu
a proposta da Economia Verde,
definida como “aquela que resulta na
melhoria do bem-estar humano e do
bem-estar social, ao mesmo tempo
que reduz
significativamente
os riscos
ambientais e as
carências
ecológicas”. A
transição da
economia
tradicional para a
A sustentabilidade está baseada
no equilíbrio de três fatores:
o econômico, o ambiental
e o social
“
“
Todos os dias, a humanidade
usa recursos renováveis e
recursos não renováveis para
produzir os bens e serviços
de que precisamos para a nossa
vida diária
“
“
9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3640
Sustentabilidade e Economia Verde 41
economia verde
envolve políticas e
investimentos que
desassociam o
crescimento do
atual consumo
intensivo de
materiais e energia. Nos últimos 30
anos, poucos países, como a
Alemanha, conseguiram alguma
desassociação, mas os resultados
foram modestos para garantir a nossa
sustentabilidade.
Economia verde
Na 26ª sessão do Fórum de Ministros
do Meio Ambiente e do Conselho de
Administração do PNUMA, em 2011, foi
aprovado o relatório “Rumo a uma
Economia Verde: Caminhos para o
Desenvolvimento Sustentável e a
Erradicação da Pobreza”, que mostra
que um investimento de 2% do PIB
mundial (cerca de 1,3 trilhão de dólares
por ano) em dez setores estratégicos
pode ser o início da transição rumo a
uma economia verde com baixo
carbono, gerando um desenvolvimento
mais eficiente no uso de recursos
naturais, além de combater a pobreza.
Os dez setores são: agricultura,
construção, abastecimento de energia,
pesca, silvicultura, indústria, turismo,
transportes, manejo de resíduos e
água.
Princípios
A adoção dos princípios da economia
verde evitaria os riscos, choques,
escassez e crises cada vez mais
frequentes da atual economia de alta
emissão de carbono e ajudaria a
contestar os mitos de que investimentos
ambientais são contrários ao
desenvolvimento econômico.
Coordenado por Pavan Sukhdev,
economista senior
do Deutsche Bank e
diretor da Iniciativa
Verde do PNUMA,
este relatório integra
a contribuição do
PNUMA para a
Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, que se
realiza no Rio de Janeiro.
Para a transição desses setores para
uma economia mais verde, em termos
gerais, o relatório do PNUMA propõe
que sejam investidos:
Na agricultura sustentável:
US$ 108 bilhões.
No setor de construções:
US$ 134 bilhões para programas
de eficiência energética.
No setor de energias renováveis:
mais de US$ 360 bilhões.
Na pesca: US$ 110 bilhões,
incluindo a redução de
capacidade das frotas mundiais.
Na silvicultura: US$ 15 bilhões,
incluindo redução do
desmatamento e aumento no
reflorestamento, que ajudaria no
combate às mudanças climáticas.
Na indústria: US$ 75 bilhões.
No turismo sustentável: US$ 135
bilhões.
Nos transportes: US$ 190
bilhões, incluido o fomento à
utilização dos transportes
públicos.
Na gestão de resíduos: US$ 110
bilhões, incluindo triplicar a
reciclagem até 2050.
Na água: US$ 110 bilhões,
incluindo eficiência no seu uso e
saneamento básico.
Segundo Achim Steiner, diretor
executivo do PNUMA, a economia
A adoção dos princípios da economia
verde evitaria os riscos, choques,
escassez e crises cada vez mais
frequentes da atual economia de alta
emissão de carbono
“
“
9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3641
42 Sustentabilidade e Economia Verde
verde está repleta
de oportunidades
para empresas e
empreendedores,
com desafios
baseados na
inovação, no
conhecimento e
na ciência.
O mundo gasta
atualmente entre
1% e 2% do PIB
global em uma
série de subsídios
que contribuem para intensificar os
danos ambientais e ampliar a
ineficiência na economia global,
acelerando a insustentabilidade do
uso de recursos, entre eles,
combustíveis fósseis, agricultura,
água e pesca. Diminuir ou eliminar
estes subsídios liberaria recursos para
financiar a transição rumo a uma
economia verde, importante para o
crescimento e a erradicação da
pobreza nos países em
desenvolvimento, onde a natureza ou
os recursos naturais respondem por
90% do PIB de alguns deles.
Investimentos desiguais
O uso dos combustíveis fósseis
recebeu mais de 500 bilhões de dólares
por ano em subsídios governamentais
em 2009. Evidências sugerem que esses
subsídios raramente beneficiam os
pobres. Por outro lado, naquele mesmo
ano, os subsídios para o
desenvolvimento e
uso das energias
renováveis foram
cerca de US$ 50
bilhões, isto é, 10%
do total concedido
aos combustíveis
fósseis. Um
investimento anual
de 1,25% do
PIB mundial em
eficiência energética
e energias
renováveis poderia
reduzir a demanda
global por energia
primária em 9% em
2020, e em 40% até
2050. A economia
de capital e de
gastos com
combustível na
geração de energia, seria de 760 bilhões
de dólares entre os anos de 2020 e 2050.
No curto prazo, a queda dos níveis
de emprego em alguns setores, como
o da pesca, será inevitável, caso não
ocorra a transição rumo à
sustentabilidade. Na realidade, em
virtude dos subsídios dados às
grandes frotas pesqueiras de países
desenvolvidos (cerca de 27 bilhões de
dólares por ano), estamos retirando os
peixes nobres do mar com uma
velocidade superior à de sua
reprodução. A maioria dos estoques
pesqueiros mundiais está sobre-
explorada, e algumas espécies estão
ficando escassas. A criação de áreas
marinhas protegidas e a desativação e
redução da capacidade das frotas,
pode recuperar os recursos
pesqueiros. A captura anual de 80
milhões de toneladas de pescado
sofreria uma queda até 2020, mas
poderia aumentar para 90 milhões de
toneladas em 2050, de forma
sustentável.
Um dos objetivos
da economia verde
seria criar um
número de
empregos “novos”
– desde o setor de
energia renovável
A Organização Internacional
do Trabalho – OIT define
“empregos verdes” como
os postos de trabalho em diversos
setores que ajudam a proteger
e restaurar ecossistemas
e a biodiversidade, reduzem
o consumo de energia,
materiais e água, e reduzem
a emissão de CO2
“
“
A criação de áreas marinhas
protegidas e a desativação e
redução da capacidade das
frotas, pode recuperar os
recursos pesqueiros
“
“
9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3642
Sustentabilidade e Economia Verde 43
até o de agricultura
sustentável – que
compense
aqueles perdidos
na antiga
economia de alto
carbono. A
Organização
Internacional do
Trabalho-OIT
define “empregos
verdes” como os
postos de trabalho em diversos
setores que ajudam a proteger e
restaurar ecossistemas e a
biodiversidade, reduzem o consumo
de energia, materiais e água, e
reduzem a emissão de CO2.
Empregos verdes
Dados da OIT, divulgados no
Caderno Boa Chance do jornal O
Globo, no dia 20 de maio passado,
indicam que existem hoje cerca de
três milhões de empregos verdes no
Brasil, que correspondem, ainda, a
apenas 6,6% do
total de postos de
trabalho formais.
Mas a oferta dos
empregos verdes
cresceu 26,73%
entre 2006 e
2010, enquanto a oferta de empregos
formais cresceu apenas 25,35%. Com
a implantação da economia verde,
esta diferença tende a aumentar
progressivamente. Entre os
responsáveis por este aumento dos
empregos verdes está a nova Política
Nacional de Resíduos Sólidos, que
determina o fim dos lixões no país
até 2014; e a aplicação da logística
reversa no processo de
aproveitamento, reciclagem e
destinação correta do lixo produzido.
Investimentos
anuais
Os
investimentos
anuais em
transportes,
previstos para
0,34% do PIB
mundial até 2050,
com ênfase nos
transportes
públicos, na maior eficiência no
consumo de combustíveis e em
energias alternativas, podem reduzir o
uso do petróleo em 80% e elevar as
taxas de emprego em 6%. Hoje, os
custos ambientais e sociais –
engarrafamentos, tempo perdido
diariamente para ir e voltar do
trabalho, maior gasto de
combustíveis, maior emissão de
poluentes, e danos à saúde das
pessoas, são estimados em 10% do
PIB de um país ou região. Em 1980, a
frota de veículos no Brasil era inferior a
10 milhões. Hoje,
já ultrapassamos
os 40 milhões de
veículos.
Como afirma
Achim Steiner,
diretor executivo
do PNUMA, a economia verde é uma
resposta à questão de como manter a
pegada ecológica da humanidade
dentro dos limites do planeta. Objetiva
relacionar as demandas ambientais
aos resultados econômicos e sociais,
em particular o desenvolvimento
econômico, o emprego e a igualdade.
Haroldo Mattos de Lemos é presidente doInstituto Brasil PNUMA
Antenor Barros Leal é presidente daAssociação Comercial do Rio de Janeiro-ACRJ
Hoje, os custos ambientais
e sociais – engarrafamentos,
tempo perdido diariamente
para ir e voltar do trabalho, maior
gasto de combustíveis,
maior emissão de poluentes,
e danos à saúde das pessoas,
são estimados em 10% do PIB
de um país ou região
“
“
A economia verde é uma resposta
à questão de como manter a
pegada ecológica da humanidade
dentro dos limites do planeta
“
“
9-Haroldo e Antenor.pmd 22/5/2012, 09:2043
44 Sustentabilidade e Economia Verde
É fundamental achar a linha justa entre
desenvolvimento e sustentabilidade ambiental
Maurilio Biagi Filho
A ideia do progresso econômico
a qualquer preço está com a
validade vencida desde a Eco
92, quando todos os países do mundo
se reuniram no Rio de Janeiro para a
Conferência Mundial do Meio
Ambiente e Desenvolvimento.
Entretanto, 20 anos depois, sabemos
que o principal poluidor não assinou o
Protocolo de Kioto, o acordo global
para reduzir a emissão de gases
causadores do efeito-estufa.
Agora, à luz da Conferência Rio +
20, que enfoca ainda o tema do
possível ajuste entre desenvolvimento
econômico e sustentabilidade
ambiental, podemos dizer que o
mundo talvez precise de 20 + 20 anos
para reconhecer que a primazia do
verde sobre as outras cores é mais do
que uma bela metáfora sobre os riscos
de desestabilização do equilíbrio
natural no planeta.
Pé do acelerador
Qualquer pessoa com um mínimo
de conhecimento e bom senso, admite
que se tornou necessário tirar o pé de
acelerador e reduzir a poluição onde
for possível. Nesse sentido, a recente
decisão do governo brasileiro de
subsidiar a venda de automóveis,
configura um estímulo ao consumo de
combustíveis fósseis.
PROGRESSO
SUSTENTÁVEL
PROGRESSO
SUSTENTÁVEL
10-MaurílioBiaggi.pmd 21/5/2012, 19:3744
Sustentabilidade e Economia Verde 45
Apesar da lentidão do processo de
conscientização ecológica, é inegável
que estamos evoluindo, em nível
global. Nossa consciência ambiental é
muito maior hoje do que há 100 anos,
quando o próprio conceito de ecologia
não estava presente nos meios
empresariais e recém começava a se
diluir nos meios acadêmicos, de onde
se lançaria para a esfera pública, sob
a forma de leis e regulamentos.
A mudança pode parecer lenta,
dúbia até, mas não será assim se
examinarmos as coisas dentro de uma
perspectiva de longuíssimo prazo. De
fato, 20 ou 40 anos não são nada perto
dos 10 mil anos da nossa civilização. E
os 100 séculos decorridos desde a
invenção da agricultura e da criação
de animais – marcos iniciais da
civilização humana – são uma fração
de tempo insignificante diante da
idade do planeta, medida em milhões
de anos.
Lado positivo
O lado positivo dessa sucessão de
conferências como a Rio +20 é que
elas contribuem para o avanço, no
processo coletivo, da revisão dos
métodos de produção em todos os
setores da economia. Ainda que
alguns resistam, vai sendo implantada
em nível global, uma ética planetária,
sem a qual tendem a se agravar os
riscos de colapso da civilização
humana.
Se o que importa mesmo é a
qualidade de vida, cabe ao setor
primário a missão especial de ajudar a
limpar o planeta com a produção de
alimentos saudáveis, a geração de
combustíveis renováveis e a
intensificação da captação de carbono.
Estamos progredindo nessa
caminhada, mas a necessidade de
fortalecer a economia verde não pode
ser reduzida a chavões extremistas,
como se a ênfase no ambientalismo
exigisse a paralisação da economia e
vice-versa – a realização do
desenvolvimento econômico servisse
como anistia de malfeitos ecológicos.
É fundamental acharmos a linha
justa, de modo a fazer a
sustentabilidade ambiental caminhar
junto com a sustentabilidade
econômica. Os exageros dos dois
lados são profundamente negativos.
Os radicalismos são
contraproducentes porque afastam a
possibilidade de negociação,
consenso e acordo.
Sem a necessária integração entre o
ecológico e o econômico, estarão
comprometidas tarefas fundamentais
como a preservação das florestas, a gestão
dos recursos hídricos, a despoluição das
águas e outras medidas de inspiração
verde; de outro lado, corre-se o risco de
anular as possibilidades de aprimorar a
produção, de introduzir inovações
tecnológicas, de criar parcerias e de
explorar sinergias no mundo dos negócios.
A Rio+20 contribuirá para o
avanço da revisão dos métodos
de produção em todos os setores
da economia
“
“Os radicalismos são
contraproducentes porque
afastam a possibilidade
de negociação, consenso
e acordo
“
“
10-MaurílioBiaggi.pmd 21/5/2012, 19:3745
46 Sustentabilidade e Economia Verde
Setor sucroalcooleiro
Como empresário originário do
setor sucroalcooleiro, gostaria de
exemplificar com a luta pela mudança
na matriz energética brasileira. Ao
criar o Proálcool em 1975, o Brasil se
tornou o pioneiro na substituição dos
combustíveis fósseis pelos renováveis.
Contribuiu para despoluir os centros
urbanos e ajudou a economizar
divisas na importação de petróleo.
Em cerca de 40 anos, a cana-de-
açúcar passou de dois milhões de
hectares para mais de oito milhões,
sem tirar área de culturas alimentares,
como diziam os críticos mais
alarmistas – todo o crescimento foi
feito em cima de pastagens
antieconômicas.
Combustível verde
Há cinco anos encantado com a
descoberta do petróleo na camada
pré-sal da plataforma continental, o
País acabou perdendo a liderança
mundial na produção do combustível
verde.
É ótimo ser um dos maiores
produtores de petróleo do mundo,
mas é arriscado descuidar-se da saída
propiciada pela agroindústria
canavieira, cujos esforços pelo
combustível verde têm sido
complementados por outras lavouras,
especialmente a da soja.
É bom ser um dos líderes mundiais
na produção de combustíveis verdes,
mas é fundamental não perder o
senso de responsabilidade ambiental,
econômica e social. Somente a cadeia
econômica da cana gera dois milhões
de empregos.
É desejável – e seria proveitoso – se
reuniões gerais como a Rio + 20,
servissem para promover um
verdadeiro ajuste entre os interesses
do desenvolvimento econômico e a
necessidade da preservação
ambiental. Deixando a hipocrisia de
lado, é preciso admitir que a ciência já
descobriu inúmeras soluções, como
os combustíveis de segunda geração
e os plásticos biodegradáveis. Mas, a
verdade é que o ecológico custa mais
caro.
À luz dos conhecimentos
científicos sobre as mudanças
climáticas que estão ocorrendo na
Terra desde o advento da civilização
industrial, é questão de tempo a
tomada de decisões estratégicas em
favor da manutenção do equilíbrio
ecológico. A partir desse momento,
cabe criar políticas efetivas para
administrar convenientemente o
desequilíbrio.
Maurílio Biagi Filho é empresário, presidenteda Maubisa e membro do CDES daPresidência da República
É uma questão de tempo a
tomada de decisões estratégicas
em favor da manutenção do
equilíbrio ecológico
“
“Somente a cadeia econômica
da cana-de-açúcar gera dois
milhões de empregos
“ “
10-MaurílioBiaggi.pmd 21/5/2012, 19:3746
Sustentabilidade e Economia Verde 47
A AGROPECUÁRIA
NACIONAL NA
PERSPECTIVA DA
ECONOMIA VERDE
A AGROPECUÁRIA
NACIONAL NA
PERSPECTIVA DA
ECONOMIA VERDE
A agropecuária nacional é sólida,
eficiente e representa um dos
setores mais dinâmicos da
economia nacional. Além de cumprir
com fé e afinco sua nobre missão de
abastecer a população brasileira e
auxiliar no suprimento de alimentos de
mais de 150 países, posiciona-se
estrategicamente na vanguarda do
desenvolvimento sustentável.
A crescente adoção de tecnologias e
novas práticas agrícolas, que assimilam
as contínuas transformações sociais,
econômicas e ambientais, processadas
na diversidade do território brasileiro,
nas demandas da sociedade e na
amplitude de uma agricultura tropical,
respondem por grande parte desse
status conquistado pela agropecuária
brasileira.
Isso significa que as práticas
agrícolas e tecnologias utilizadas no
Brasil vêm privilegiando o uso mais
racional dos recursos, comprovado
pela utilização mais frequente de:
energia limpa e renovável, insumos e
máquinas de melhor qualidade, plantio
direto na palha, agricultura de precisão,
técnicas de manejo e de conservação
do solo, recuperação de pastagens
Fábio de Salles Meirelles
11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3947
48 Sustentabilidade e Economia Verde
degradadas, adubação verde, cultivo
rotacionado e consorciação; manejo
integrado de pragas e doenças,
integração lavoura-pecuária-floresta,
adoção de programas de certificação e
de boas práticas de produção,
tratamento de efluentes e dejetos, uso
racional da água, entre outras.
Evolução
Essa evolução vem ocorrendo há
muito tempo no campo, haja vista que
a expansão da produção brasileira
tem se calcado no incremento da
produtividade, e não na área
cultivada. No período de 1991 a 2010,
enquanto a área plantada aumentou
32%, a produção total cresceu 181%,
denotando o significativo incremento
de produtividade, próximo a 115%.
Isso significa que a produtividade
brasileira de grãos cresceu a uma taxa
de 3,9% ao ano, o que é expressivo.
Esses números não deixam dúvida:
o crescimento da agricultura nacional
não é horizontal, ele é essencialmente
vertical, baseado no ganho de
produtividade e qualidade, graças ao
uso de tecnologia e a melhor
capacitação do homem do campo. E a
tendência é de a produtividade
permanecer como principal
componente de expansão da
produção agrícola brasileira.
É perceptível que os produtores
estão cada vez mais conscientes da
importância de produzir de modo
sustentável, pois sem rentabilidade
agrícola, preservação ambiental e
desenvolvimento social não é possível
desenvolver uma atividade econômica
duradoura.
Capacitação
O sistema FAESP/SENAR-AR/SP,
inclusive, vem capacitando a
comunidade rural em relação aos
temas sustentabilidade e meio
ambiente, com ações de
sensibilização, treinamentos,
orientação técnica e jurídica, além de
aconselhamento e disponibilização de
informações.
Na amplitude do conceito de
sustentabilidade insere-se a
dimensão econômica, responsável
pela geração de renda para garantir
os investimentos necessários para a
sustentação das dimensões ambiental
e social. Entretanto, a experiência
mostra, pela conformação dos
mercados e dispersão dos produtores,
que a dimensão econômica, no âmbito
da produção agropecuária, é um dos
pilares mais frágeis da
sustentabilidade, com reflexos diretos
e indiretos sobre as demais
dimensões.
Especificidades
Isto ocorre porque a produção
agropecuária possui especificidades
que a distinguem das demais
atividades econômicas e condicionam
os produtores a enfrentarem maiores
riscos e incertezas que o conjunto da
economia, sendo elas:
1) sazonalidade da produção
devido à dependência dos fenômenos
climáticos, do meio ambiente e dos
processos biológicos vegetais e
animais;
2) perecebilidade dos produtos;
3) elevado número de produtores
que atuam em situação de
concorrência, entre mercados
concentrados a montante (oligopólio
da indústria de insumos e máquinas) e
a jusante (oligopsônio das indústrias);
4) acentuada distribuição espacial
da produção no território brasileiro e
5) rigidez da produção no curto
prazo, com períodos bem demarcados
11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3948
Sustentabilidade e Economia Verde 49
de contratação dos
custos e apuração
da receita
(comercialização),
exigindo volume de
capital de giro
elevado.
As razões
expostas e o fato
de a agropecuária
garantir o abastecimento de quase 200
milhões de brasileiros justificam a
importância e a necessidade de o
governo estabelecer política agrícola e
meio ambiente com instrumentos
específicos que promovam a
estabilidade da produção e da renda
agrícola, assegurando de fato o
crescimento equitativo e sustentável
das cadeias produtivas.
Voltando aos destaques brasileiros
na produção sustentável, outro ponto
relevante refere-se à bioenergia. O
Brasil é uma referência em termos de
bioenergia, pois 45,4% da matriz
energética nacional é composta por
fontes renováveis de energia,
enquanto a média mundial é de
apenas 14%. Quanto aos
combustíveis, cerca de 1/5 tem origem
renovável, são biocombustíveis.
Biocombustíveis
Os biocombustíveis de primeira
geração são os mais conhecidos,
como o álcool (etanol) de cana-de-
açúcar e o biodiesel de oleaginosas,
por exemplo. No entanto, uma nova
fase de desenvolvimento está em
andamento por meio dos estudos para
produção de biocombustíveis de
segunda geração. O potencial desses
biocombustíveis é fantástico, pois eles
podem produzir um volume grande de
energia a partir de matérias-primas
que atualmente não são consumidas e,
na maioria das vezes, são tratadas
como subprodutos,
como restos
agrícolas e
agroindustriais
com baixo valor
comercial.
Não obstante os
resultados
alcançados,
algumas ações,
pesquisas e políticas públicas ainda
precisam ser implantadas, de forma a
alavancar o desenvolvimento e a
vanguarda brasileira na produção
bionergética.
O país precisa de uma política mais
ampla, que contemple desde a
agricultura até a distribuição dos
biocombustíveis, ou seja, que cubra
todas as etapas de produção,
abastecimento interno e a exportação.
São necessários incentivos
econômicos à produção até que os
investimentos maturem e o mercado
se consolide.
Políticas públicas
Contudo, as políticas públicas
brasileiras devem se concentrar nos
incentivos e na organização da
agropecuária, setor que produz as
matérias-primas e impulsiona a
cadeia produtiva. A pesquisa
científica, semente do processo de
inovação, por exemplo, deve buscar a
ampliação e a diversificação do
número de matérias-primas
apropriadas à fabricação da
bioenergia, de modo a contemplar o
potencial natural existente no Brasil.
Da mesma maneira, há um grande
potencial para exploração e utilização
de espécies nativas das florestas
brasileiras para a produção florestal
comercial, pois as principais espécies
florestais plantadas no Brasil foram
adaptadas às condições brasileiras.
O Brasil é uma referência
em termos de bioenergia,
pois 45,4% da matriz energética
nacional é composta por
fontes renováveis de energia,
enquanto a média mundial
é de apenas 14%
“
“
11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3949
50 Sustentabilidade e Economia Verde
Como o debate
envolve a
sustentabilidade,
os desafios
renovam-se com
dinamismo no
meio rural e,
atualmente, a
vertente “mudança
climática” tem recebido maior
atenção, pois desmatamento,
queimadas, a conversão da utilização
do solo e as atividades agropecuárias
relacionam-se diretamente às
emissões brasileiras de gases de
efeito estufa (GEE).
O inventário das emissões e a
metodologia utilizada são ainda
bastante controversos, mas, com base
nas informações de 2005, a mudança
do uso da terra e florestas é
responsável por 60,6% das emissões
brasileiras de GEE, enquanto a
agropecuária responde por 18,9% e a
geração de energia por 15%, seguidas
pela indústria (3,6%) e tratamento de
resíduos (1,9%).
As queimadas e o desmatamento
inserem-se na rubrica mudança do uso
da terra e florestas, de longe a
principal fonte das emissões
brasileiras, enquanto a agropecuária
ocupa a segunda posição. As
emissões do setor são resultantes das
seguintes atividades: fermentação
entérica dos ruminantes, manejo de
dejetos de animais, cultivo de arroz
irrigado, queima de resíduos
agrícolas, utilização de fertilizantes
nitrogenados e deposição de dejetos
animais em pastagem, dentre outras
de menor expressão.
Práticas
Os números atribuídos à
agropecuária preocupam, mas a
situação do setor não é tão grave
quanto se propala.
Em primeiro lugar
porque existem
práticas adotadas
na produção
agrícola que são
reconhecidamente
mitigadoras das
emissões, ou até
mesmo fixadoras de carbono no solo.
E, em segundo lugar, porque o
inventário discutido foca-se nas
emissões, não contemplando
adequadamente a captura/fixação do
CO2.
Nessa perspectiva, quando o
problema for tratado do ponto de vista
do balanço das emissões pelos
sistemas de produção, os resultados
serão distintos e muitas vezes
favoráveis às atividades
agropecuárias.
A título de exemplo, um boi produz
cerca de 1,8 tonelada de CO² por ano,
enquanto uma pastagem bem
manejada captura 3,0 toneladas. A
pecuária de corte é acusada de ser
uma grande emissora, mas, na
realidade, o balanço entre emissão e
fixação do sistema é positivo em 1,2
tonelada de CO2 por hectare/ano. O
mesmo ocorre com a integração
lavoura-pecuária-floresta, pois esta
prática agrícola pode aumentar o
estoque de carbono no solo na ordem
de 0,82 a 2,58 toneladas por hectare/
ano.
E é justamente da ampliação da
discussão sobre mudanças climáticas
que emerge o que se chama
economia verde. Trata-se de uma
abordagem pragmática de
desenvolvimento que propõe uma
transformação na maneira de lidar
com a relação entre o crescimento
econômico e a preservação dos
recursos naturais. O termo economia
verde insere a sustentabilidade de
A integração lavoura-pecuária-
floresta, pois esta prática
agrícola pode aumentar
o estoque de carbono no solo
na ordem de 0,82 a 2,58
toneladas por hectare/ano
“
“
11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3950
Sustentabilidade e Economia Verde 51
forma objetiva no
conceito de
desenvolvimento,
visando enaltecer
as vantagens
socioeconômicas
da aliança entre
produção, inovação
e preservação da qualidade
ambiental.
Perspectivas favoráveis
Para a agropecuária, a economia
verde cria perspectivas favoráveis de
mercado, por meio do fomento aos
“agronegócios verdes”, que podem
se desenvolver em diferentes áreas:
agricultura orgânica; adubação verde,
mercado de créditos de carbono;
prestação de serviços ambientais;
ecoturismo e turismo rural; expansão
de fontes alternativas de energia
(solar e eólica); diferenciação via
certificação de processos e produtos
ambientalmente corretos, produzidos
com baixa emissão de carbono, em
equilíbrio com o meio ambiente e
eficientes do ponto de vista do uso de
insumos; e da produção
agroenergética.
Além das oportunidades listadas,
há muitas outras que ainda não foram
desenvolvidas ou sequer
identificadas, as quais certamente
exigirão a revisão dos processos
produtivos, impondo mudanças na
dinâmica das atividades rurais, com o
intuito de criar novos ciclos de
desenvolvimento.
Economia verde
Em síntese, nova frente de
reafirmação e fortalecimento das
qualidades da agropecuária
brasileira se abre com a economia
verde. E para aproveitá-la é preciso
pró-atividade,
gestão e
planejamento. Para
tanto,
recomendam-se as
seguintes ações:
a) estímulo à
pesquisa
agropecuária, preconizando linhas
de investigação que contribuam para
a mitigação ou retenção dos gases de
efeito estufa, tais como: 1) controle
biológico; 2) resistência a doenças e
pragas; 3) utilização eficiente de
insumos; 4) melhoria nutricional dos
alimentos; 5) criação de técnicas de
produção mais eficientes; 6)
produção orgânica; 7) adubação
verde; 8) redução de perdas e
desperdícios nas lavouras e no
beneficiamento industrial;
b) criação de incentivos e/ou
desincentivos econômicos às
práticas e sistemas de produção
positivos e/ou negativos do ponto de
vista da emissão de gases de efeito
estufa, respectivamente;
c) financiamento de sistemas de
produção de baixo carbono, que
tenham balanço positivo de emissões
(retenção menos emissão);
d) criação de programas de
fomento à utilização de técnicas e
processos mais limpos
(financiamento e transferência de
tecnologia);
e) estímulo à adoção de padrões
internacionais de desempenho das
atividades (a exemplo do GRI –
Global Reporting Iniciative) e
f) engajamento do Brasil nas
negociações internacionais a fim de
pleitear a incorporação de padrões
comuns de desempenho (balanço de
emissões) pelos países (para permitir
a comparação entre os países e servir
como antídoto contra eventuais
barreiras não tarifárias) e o
Para a agropecuária,
a economia verde cria
perspectivas favoráveis de
mercado, por meio do fomento
aos agronegócios verdes
“
“
11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3951
52 Sustentabilidade e Economia Verde
estabelecimento de mecanismos
financeiros para premiar as reduções
de emissões.
Observa-se que a sustentabilidade
ganha, paulatinamente, contornos
práticos, sendo cada vez mais
debatida na sociedade. No meio rural
ela não somente está presente como
é condição sine qua non de
competitividade e permanência do
homem do campo na atividade
agropecuária.
Para transformar as oportunidades
em catalisadores do progresso e do
desenvolvimento, em sintonia com a
contemporaneidade do tema e com a
necessidade de a agropecuária
continuar abastecendo a população
brasileira e o mercado internacional,
muitos são os desafios, e para vencê-
los é preciso planejamento, gestão e
união. Simultaneamente, é imperativo
cobrir a ausência de informação e
melhorar o nível de comunicação com
BRASIL. Empresa de Pesquisa
Energética. Balanço Energético
Nacional 2011 – Ano base 2010:
Resultados Preliminares. Rio de
Janeiro, 2011.
CONAB – Companhia Nacional de
Abastecimento. Produtos e Serviços:
Safras – Séries Históricas. Acesso em
24 de maio de 2012. <http://
www.conab.gov.br>.
CARVALHO, J.L.N. Dinâmica do
carbono e fluxo de gases do efeito
estufa em sistemas de integração
lavoura-pecuária na Amazônia e no
Cerrado. 2010. 144 p. (Tese
Doutorado em Ciências) - Escola
Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”, Universidade de São
Paulo, Piracicaba, 2010.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do
Meio Ambiente. Economia Verde:
desenvolvimento, meio ambiente e
qualidade de vida no Estado de São
Paulo. São Paulo, 2010.
DEPARTAMENTO ECONÔMICO DA
FAESP. Oportunidades de mercado
no setor de agricultura sustentável: a
perspectiva empresarial e a geração
de empregos verdes. São Paulo,
2010. (Apresentação realizada no 1ª
Bolsa Internacional de Negócios da
Economia Verde, 01 dez. 2010).
REFERÊNCIAS
a sociedade, objetivando reverter a
imagem negativa e distorcida que se
faz da produção agrícola.
Em suma, a economia verde traz
oportunidades que, para se
materializarem, dependem do
empreendedorismo do setor privado
e da ação pragmática e tempestiva do
Governo na construção de políticas
públicas de fomento e integração do
sistema agrícola nas políticas de
mercado e meio ambiente, de
maneira a proporcionar a verdadeira
sustentabilidade, resultante do
equilíbrio das dimensões ambiental,
social e econômica.
Fábio de Salles Meirelles é presidente daFAESP - Federação da Agricultura e Pecuária doEstado de São Paulo
11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3952
Sustentabilidade e Economia Verde 53
O FUTURO DA
AGROPECUÁRIA
SUSTENTÁVEL
O FUTURO DA
AGROPECUÁRIA
SUSTENTÁVEL
A divisão de Desenvolvimento
Sustentável da ONU acaba de
publicar um estudo a respeito
do futuro da sustentabilidade na
agricultura e na produção de alimentos
(http://www.un.org/esa/dsddsd_sd21st/
21_pdf/agriculture_and_food_the_
future_of_sustainability_web.pdf). O
relatório Food and Agriculture: The
future of sustainability foi lançado comouma contribuição estratégica para orelatório mais amplo, denominadoDesenvolvimento Sustentável no século
21, que será lançado na Rio +20. Odocumento é fruto de uma consulta adezenas de líderes ligados ao setor,numa lista que inclui diversosbrasileiros. Eles apontaram astendências e prioridades para quesejam garantidos sistemas agrícolas e
produção de alimentos sustentáveis nospróximos 20 anos. O estudo concluisobre o que há de consenso sobre otema, mas também explicita as áreasonde há divergências fundamentais.
Seja pelos consensos ou dissensos,devemos digerir seus resultados e usá-lo como mais um importante subsídiopara a definição de políticas para estesetor crucial para o nosso país. Esperoque nos ajude a oxigenar a reflexão e odebate público sobre a nossaagropecuária, o que e como aqueremos e que políticas necessitamospara tal.
O estudo destaca a escassez derecursos naturais, energia e insumoscomo uma tendência para a produção
Luís Fernando Guedes Pinto
12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4653
54 Sustentabilidade e Economia Verde
agropecuária. Isto se opõe a outrosaspectos alarmantes que têm recebidopouca atenção: o desperdício ouperda de 30 a 40% do que é produzidoe o fato do comércio de alimentos atualjá dar conta da necessidade decalorias da população humana,contrastando com desnutrição eobesidade. Ressalta também anecessidade de integração entre o usoda terra e os serviços ambientais paraa qualidade de vida local e global.Alerta ainda sobre um conjunto demedidas para a adaptação àsmudanças climáticas. E, conclui queestamos no caminho errado: aprioridade deve ser na qualidade daprodução e do produto e nadistribuição dos alimentos, ao invés dofoco exclusivo na quantidade a serproduzida.
Concentração da produção
Entre outras tendências, o estudotambém ressalta o risco daconcentração da produção e dadistribuição da comida. Metade doque comemos vem do cultivo de arroz,milho e trigo e um pequeno grupo deempresas domina o comércio mundialde alimentos. Finalmente, destaca amudança na governança, onde adinâmica entre governos, omultilateralismo, o setor privado e asociedade civil é bastante distinta dedécadas passadas. Os autoresconcluem que poucas empresas eONGs tomaram a dianteira na
inovação e na busca de soluçõesrumo a agricultura sustentável,enquanto a maioria dos outros atoresainda está batendo cabeça sobre emque direção ir e o que fazer. Talcenário reflete muito bem a situaçãodo nosso país e a discussão doCódigo Florestal é apenas umindicador. A conclusão é que énecessário equilibrar as forças entreo setor empresarial e o Estado,buscando integrar políticas públicase privadas que convirjam para o bempúblico comum.
Áreas de consenso
As nove áreas de consenso dosespecialistas foram:
1. Pequenos e médios produtoresorganizados (com ênfase para asmulheres agricultoras) deveriam ser aprioridade para investimentos.
2. Definir a meta da produçãosustentável em função da nutriçãohumana ao invés de simplesmenteproduzir mais.
3. Buscar alta produção comconservação ambiental, que não devemse opor, tendo políticas e uma agendade pesquisa compatíveis para esteobjetivo.
Há necessidade de integração
entre o uso da terra e os serviços
ambientais para a qualidade de
vida local e global
“
“
Poucas empresas e ONGs
tomaram a dianteira na inovação e
na busca de soluções rumo a
agricultura sustentável, enquanto a
maioria dos outros atores ainda
está batendo cabeça sobre em
que direção ir e o que fazer
“
“
12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4654
Sustentabilidade e Economia Verde 55
4. Promover inovação e adisponibilização de diversastecnologias de produçãosustentáveis, aplicáveis paradiferentes contextos sócio-econômicos e ecológicos. Logo,evitar os pacotes tecnológicos,dominantes na agropecuárianacional.
5. Reduzir significativamente asperdas em toda a cadeia de alimentos.
6. Produzir biocombustíveis demaneira descentralizada, evitando queestes substituam a produção dealimentos. Ambas devem se somar parapromover a segurança alimentar eenergética, contribuindo paradiversificar e restaurar as paisagensrurais.
7. Medir de maneira inteligente etransparente os resultados rumo àsustentabilidade. O estudo adverte quepouco se mede os impactos dasmudanças em curso no campo, o quenão nos permite tomar decisõesadequadamente.
8. Desenvolver e adaptar asinstituições públicas e privadas paraque possam responder eficazmente aonovo paradigma da sustentabilidade.
9. Incentivar e recompensar osinvestimentos e sistemas de negóciosque resultem em impactos mensuráveispara o bem público.
Visibilidade
Vale a pena darmos visibilidade aosdilemas. As áreas onde não háconsensos entre os especialistas sobreo rumo a sustentabilidade da agriculturae dos alimentos ficaram organizadasem sete perguntas:
a) A segurança alimentar será melhorgarantida pela produção em larga oupequena escala?
b) Qual deve ser o papel dascorporações no sistema alimentar?
c) Quais tecnologias entregarão demaneira efetiva uma segurançaalimentar sustentável? Qual deve ser oequilíbrio entre sistemas intensivos deuso de químicos e práticasagroecológicas?
d) Qual pode ser o papel dostransgênicos para a segurançaalimentar?
e) Quanta biodiversidade deve havernos sistemas de produção agrícola?
f) Como se adaptar à crescentedemanda por proteína animal?
g) Como o comércio pode afetar asegurança alimentar dos países? Qualo equilíbrio entre produção e consumolocal e o comércio global?
O relatório é categórico em afirmarque a situação como está (business as
usual), não é uma opção para o alcance
“A segurança alimentar será
melhor garantida pela produção
em larga ou pequena escala?
“
Quanta biodiversidade
deve haver nos sistemas de
produção agrícola?
“ “
12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4655
56 Sustentabilidade e Economia Verde
da agricultura e aalimentaçãosustentáveis.Adiciona que um“esverdeamento”parcial não ésuficiente, sendonecessário umavisão ampla esistêmica e areconstrução dosetor, com novastecnologias e políticas. O papel daextensão rural e do cooperativismo écolocado como central, na contramão dasituação brasileira, onde muitascooperativas viraram revendas deinsumos e os produtores são assistidospor técnicos de multinacionais deempresas de agroquímicos e sementes.
Desafios
Finalmente, a governança érecorrente em todo o estudo, commuitos destaques para a busca doequilíbrio entre o papel do Estado e dosetor empresarial. Estes são vistoscomocomplementares, aoinvés deantagônicos.Contudo, tudo indicaque os defensoresdo liberalismo sãoem menor número do que antes, pois,neste aspecto a conclusão é quemercados eficientes e equitativos sãocriados por governos fortes e não pormercados auto-regulados.
Os desafios são enormes, mas aúnica opção é enfrentá-los e o Brasilestá numa posição privilegiada paraser protagonista neste processo. Alémda situação especial dedisponibilidade de terras e condições
naturais paraproduzir, é líderem pesquisa einovação naagropecuáriatropical. Contacom um setorprodutivo onde avanguarda estápresente, mesmoque aindaconvivendo lado a
lado com o arcaico.
Nossa sociedade civil é organizadae, aos poucos, está despertando para aimportância do campo para a sua vidae para o projeto do nosso país. Agrande lacuna ainda está nadesconexão e contradições daspolíticas públicas, que devem criar ascondições para a construção de umanova agropecuária.
Somente alcançaremos a condiçãode líderes quando as políticaspassarem de setoriais parasistemáticas e coordenadas.
O estudo deixa evidente aimportância de integração de políticas
sociais eambientais, quevão da saúde eeducação, à infra-estrutura ecomércio. Não háfórmula para isto,
mas o que sabemos é que tratar cadatema separadamente gera enormescontradições, perda de energia emuitas dificuldades para se avançarrumo ao DesenvolvimentoSustentável.
Luís Fernando Guedes Pinto é secretárioexecutivo do Instituto de Manejo e CertificaçãoFlorestal e Agrícola-IMAFLORA
O papel da extensão rural e do
cooperativismo é central e está na
contramão da situação brasileira,
onde muitas cooperativas viraram
revendas de insumos e os
produtores são assistidos por
técnicos de multinacionais de
empresas de agroquímicos e
sementes
“
“
O Brasil, além de ter condições
naturais para produzir, é líder em
pesquisa e inovação na
agropecuária tropical
“
“
12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4656
Sustentabilidade e Economia Verde 57
ECONOMIA VERDE
E AGRICULTURA:
EXISTE POTENCIAL?
Eduardo Delgado Assad
Uma análise da situação mundial
de alimentos, indica, segundo
a ONU, que os estoques de
alimentos são os mais baixos dos
últimos 30 anos. Ao mesmo tempo, todos
os cenários de aquecimento global
apontam para redução na oferta de
alimentos, principalmente nos países
mais pobres e os do hemisfério sul. A
FAO também mostra que os preços dos
alimentos devem continuar altos nos
próximos anos, segundo o recém eleito
diretor geral daquela instituição.
Portanto, a solução óbvia traduz-se na
necessidade de se produzir mais
alimentos para que os estoques
cresçam, reduzindo, assim, a
insegurança alimentar mundial. A FAO
também prevê que o mundo precisará,
até 2030, de mais 600 milhões de
toneladas de milho e oleaginosas, o que
equivale – considerando altas
produtividades –, incrementar em mais 54
milhões de hectares a área para produção.
Modelo
Qual deve ser o modelo adotado para
atingir esta previsão? Está demonstrado
que a simples abertura de áreas para
plantio não é a solução. Somente na
Amazônia, segundo os estudos feitos
pelo INPE/EMBRAPA/IBAMA, conhecido
como Terraclass, indicam que mais de 15
milhões de hectares que foram abertos e
explorados, estão abandonados ou em
processo de revegetação natural.
A agricultura brasileira é uma das
maiores e melhores do mundo em
produção e produtividade. Entre 1977 e
ECONOMIA VERDE
E AGRICULTURA:
EXISTE POTENCIAL?
13-EduardoAssad.pmd 21/5/2012, 19:4757
58 Sustentabilidade e Economia Verde
2011, a produção cresceu 221% e a
produtividade 151%. É possível crescer
mais e atingir patamares ainda não
alcançados, se a agricultura e o
agricultor brasileiro conseguirem
enfrentar os desafios estruturais que
impedem o seu desenvolvimento
potencial. Esses desafios são muito
mais importantes que o aumento, ou a
redução, de área plantada, temas
discutidos nos últimos dois anos pela
sociedade brasileira.
Quais são esses desafios?
Regularização fundiária,
seguramente, este é um dos maiores
problemas de segurança jurídica do
homem do campo. Milhares de
agricultores vivem em situação irregular
e, assim, não conseguem com isso o
acesso ao crédito.
Acesso a tecnologias compatíveis
com o ambiente tropical. Desde 1990,
com o desmonte do sistema Sibrater no
governo Collor de Melo, o Brasil viu
desmoronar grande parte do aparato de
extensão rural e difusão de tecnologia.
Os mais atingidos são os pequenos e
médios agricultores, que deixam de ter
acesso a importantes informações que
poderiam aumentar a produtividade e
diversificar a produção, utilizando a
mesma área que possuem hoje. A
tecnologia não está chegando ao
homem do campo como deveria. O
Brasil deveria oferecer diferentes
sistemas de produção e disseminar a
transferência dessa tecnologia, que está
fundamentada no conhecimento
científico sobre a agricultura tropical,
arduamente conquistado nos últimos
40 anos.
Infraestrutura para escoamento
da produção. A vergonhosa situação
das estradas rurais brasileiras, que
impedem a entrega de produtos e o
escoamento da produção. Cada vez
que o sistema modal de transporte
rural entra em colapso, durante o
período das mais do que conhecidas
chuvas tropicais, as perdas são
imensas e os prejuízos incalculáveis. A
conta vai para o agricultor que perde
renda e não vê seus impostos sendo
aplicados em logística, o que garantiria,
minimamente, o escoamento de sua
produção. Novamente a questão não
está no aumento da área plantada e sim
na eficiência dos serviços que são
direito de quem produz.
Até quando?
Infraestrutura para
armazenamento da produção. Há
anos a capacidade de
armazenamento no país é discutida.
Com a extinção da Cibrazem, pouco
se fez para se construir novos
armazéns no país e impedir as perdas
pós-colheita, que chegam a 10 % da
nossa produção. Não é difícil ver, no
Mato Grosso, milho sendo
“armazenado” ao ar livre, sujeito ao
ataque de pragas e roedores,
contaminando este grão, base da
alimentação mundial, juntamente com
o trigo. Até quando o produtor
brasileiro vai viver esta situação?
Pedimos aumento de área para
produção agrícola, sem ter onde
armazenar nossos produtos! Se não
houvesse fome no Brasil, poderíamos
deixar de lado esta discussão. Mas
esta não é a realidade. Perdemos
““
A agricultura brasileira é uma das
maiores e melhores do mundo“
“
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Sustentabilidade e Economia Verde 59
alimentos por falta de infraestrutura de
armazenamento.
Ordenamento territorial. É
necessário sustentar e priorizar os
zoneamentos agrícolas de, pelo menos,
dez principais culturas do país. Só
assim teremos um ordenamento
territorial moderno, eficiente e precursor
do aumento de produtividade. Isto
significa menos risco, menor perda e
maior produção em áreas já
consolidadas. Essas ações têm que
estar apoiadas na produção de
sementes de qualidade, garantidas e
protegidas pela lei de proteção de
cultivares, tantas vezes não obedecidas
por aproveitadores e traficantes de
material genético no país. Respeitando
nossas leis, a produtividade irá
aumentar, sem a necessidade de
expandir a área plantada.
Restrição da produtividade
Todas essas insuficiências restringem
a produtividade de nossa agricultura e
pressionam os passivos:
1 - as dívidas agrícolas se acumulam
e são roladas com discussões, quase
anualmente, sobre sua anistia, num
sistema de crédito hoje assegurado
pelo Tesouro Nacional, ou seja, por
recursos públicos;
2 - o desmatamento continua como
prática de ocupação e expansão de
área para atividade agrícola e pecuária;
3 - as áreas sensíveis, como as de
preservação permanente (APP) e as de
importância singular para a
conservação, como as reservas legais
(RL), deixam de ser recuperadas/
restauradas e geram demanda por
consolidação.
A dívida agrícola e os passivos
ambientais não são problemas da
agricultura. São sintomas e feridas
abertas que só serão curadas, com o
enfrentamento dos verdadeiros
problemas do campo. A energia
despendida atualmente no meio rural,
para tentar desfigurar a proteção das
florestas e renegociar ou buscar anistia
para dívida rural, deveria ser canalizada
para garantir a efetiva reversão dos
gargalos da agricultura.
Se trabalharmos corretamente,
respeitando a tecnologia tropical que
temos em abundância e valorizarmos
nossas instituições, verdadeiras
fábricas de soluções, poderemos
produzir mais e promover a
remuneração pelos serviços
ambientais que a boa agricultura pode
fazer. Nas discussões ambientais, o
agrícola é o único setor da economia
que, num curto espaço de tempo, pode
deixar de ser emissor de gases de
efeito estufa, para ser assimilador de
carbono, transformando-o em renda.
São passivos tornando-se ativos. Tudo
isto sem necessidade de aumentar a
área cultivada.
Economia verde
É neste contexto que vem tomando
força a economia verde. De que
maneira?
A grande disponibilidade de terra
adequada para as atividades
agropecuárias, aliada às condições
climáticas favoráveis, à abundância de
água, ao avanço tecnológico e ao
empreendedorismo dos produtores,
impulsionaram o crescimento significativo,
nos anos mais recentes, de setores da
agricultura e da pecuária, transformando-
os numa das principais alavancas do
O setor agrícola é o único que,
num curto espaço de tempo,
pode deixar de ser emissor de
gases de efeito estufa
“
“
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60 Sustentabilidade e Economia Verde
Principais problemas ambientais decorrentes de práticas agrícolas (CEPEA, 2006)
Recurso
natural Problema ambiental Possíveis alternativas/soluções
Ar - Poluição do ar decorrente da queimada - estabelecimento de reduções progressivas
da cana-de-açúcar; da queimada da cana e incentivos para
- lançamento de gases que destroem a tecnologias menos nocivas à camada de
camada de ozônio; ozônio;
- contribuição para o agravamento do - divulgação, para os produtores, de
efeito estufa decorrentes processo de informações relacionadas ao mercado de
decomposição de dejetos (suínos e carbono, suas oportunidades e limitações.
bovinos), bem como desmatamento,
queimadas e mudança do uso do solo,
entre outros.
Solo - alteração da qualidade resultante da - incentivo às práticas de conservação e
expansão da fronteira agrícola e das recuperação do solo, tais como consórcios e
pastagens; rotações, adubação orgânica, controle
- redução da qualidade devido à biológico e manejo integrado de pragas etc.;
utilização excessiva de fertilizantes - desenvolvimento de pesquisas sobre as
químicos e agrotóxicos; características do solo, verificando qual
- desertificação e erosão do solo; seria a atividade mais adequada para se
- poluição causada por curtumes, dejetos adotada (zoneamento econômico ecológico),
suínos, vinhoto e queima da cana; bem como de medidas para a proteção
- não cumprimento das leis referentes às do solo;
áreas de APP e Reserva Legal na grande - promoção do uso dos resíduos agropecuários
maioria das propriedades rurais. para geração de energia.
Recursos - poluição causada por efluentes das - regulamentação das necessidades de
Hídricos destilarias de álcool e pelas águas de tratamento das águas residuais dos
lavagem da cana-de-açúcar; processos produtivos;
- poluição causada por matadouros, - desenvolvimento de pesquisas e estudos
frigoríficos e criadouros de animais; que identifiquem os problemas críticos e
- poluição por águas não tratadas apontem soluções viáveis aos produtores;
adequadamente em propriedades - incentivo ao desenvolvimento de
criadoras de suínos; tecnologias eficientes para o tratamento das
- assoreamento de cursos d’água por águas residuais e reutilização da água;
erosão do solo; - medidas de racionamento do uso da água e
- poluição tóxica e orgânica diversa; combate ao desperdício, através de processo
- utilização excessiva decorrente da de conscientização do produtor e
irrigação de culturas agrícolas, como possivelmente da cobrança pelo uso da água
arroz e fruticultura. (neste item, deve-se ter a sensibilidade para
valorar a água de forma a apenas racionalize
seu uso, e não comprometa os custos de
produção, como foi verificado por alguns
estudos);
- medidas de proteção dos mananciais;
- divulgação das informações para os
produtores, tanto referentes às exigências,
quanto às alternativas existentes de
tratamento/racionalização;
- programas de recuperação e conservação
de bacias hidrográficas;
- fiscalização e monitoramento das
propriedades quanto ao cumprimento das
regulamentações.
Recursos Os principais problemas estão - programas de combate e controle de
florestais relacionados à redução de áreas devido: queimadas, incêndios florestais e
- à elevada taxa de desmatamento, exploração ilegal da madeira;
queimada e incêndios florestais; - desenvolvimento de tecnologias que
- à expansão da fronteira agrícola; aumentem a produtividade agrícola em
- às práticas comuns de exploração da terras já desmatadas, para diminuir a taxa de
madeira em sistemas não manejados; expansão da fronteira agrícola;
- extração ilegal da madeira, bem - desenvolvimento de técnicas de
como de produtos como palmito, xaxim recuperação de ambientes degradados;
e canela; - estabelecimento de programas de
- geração de resíduos e subprodutos recuperação de áreas degradadas e
como resultado da exploração dos fiscalização quanto às APP e Reservas
recursos florestais; legais;
- não cumprimento das leis referentes às - promoção do uso dos resíduos florestais
áreas de APP e Reserva Legal na grande para geração de energia;
maioria das propriedades rurais. - processo de conscientização do produtor
quanto às regulamentações existentes, bem
como incentivos ao cumprimento;
- disseminação de prática como manejo
florestal, sistemas agroflorestais e processos
de certificação florestal.
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Sustentabilidade e Economia Verde 61
SOLUÇÕES
As soluções apresentadas podem ser resumidas e aplicadas às diferentes
atividades agropecuárias:
o apoio a instituições de pesquisa e universidades para desenvolvimento
de estudos que direcionem tecnicamente a tomada de decisão de política
agrícola;
incentivos ao desenvolvimento tecnológico que:
aumentem a produtividade agrícola, diminuindo a tendência de
desmatamento;
aumentem a eficiência energética;
tratem eficientemente os resíduos gerados com possibilidade de gerar
energia dentro da própria propriedade.
divulgação de informação e qualificação de recursos humanos;
capacitação dos produtores e propagação de gestões sustentáveis,
através da adoção de certificação ou selos limpos.
Mecanismos de gestão ambiental
Além destas soluções, há também mecanismos de gestão ambiental que
incorporam incentivos econômicos ou controle, que podem ser aplicados
para todos os casos citados na tabela acima.
Regulamentos e sanções (estabelecimento de padrões de emissões;
exigência de licenciamento para atividades; restrições ao uso do recurso;
aplicação de multas, estabelecimento de fechamento da atividade);
Taxas, Impostos e cobranças (taxas por não cumprimento da legislação
ambiental ou para racionalizar o uso de determinado recurso; bônus de
desempenho etc.);
Criação de mercado (licenças comercializáveis para direito de captação
de água ou emissões, por exemplo); e
Intervenção de demanda final (programas de rotulagem, processos de
certificação, adoção de selos “verdes” etc).
Ações governamentais
Todas as soluções apresentadas só serão efetivas se, por um lado, os
problemas ambientais forem bem identificados e quantificados (através de
parcerias com universidades e centros de pesquisa), se existirem alternativas
viáveis para a adequação (tecnologias, financiamento, crédito etc.) e,
finalmente, se os produtores tiverem conhecimento, tanto das exigências
quanto das alternativas existentes.
Num primeiro momento, determinadas ações de governo já estão em
andamento, colocando o Brasil numa posição de vanguarda com relação à
produção agrícola, considerando o conceito da economia verde. São elas:
• A recuperação direta de pastagens com baixa capacidade de suporte;
• A Integração Lavoura-Pecuária (ILP);
• A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF);
• Reflorestamento;
• Tratamento de resíduos;
• O plantio direto na palha (PD);
• A fixação biológica do Nitrogênio (FBN);
• Agroenergia – produção de biocombustíveis: bioetanol e biodiesel
Publicação Especial Rio+20 61
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62 Sustentabilidade e Economia Verde
crescimento econômico brasileiro.
A rápida expansão do setor
agropecuário no Brasil nos últimos anos,
ocasionou a mudança do uso da terra e
colocou a agricultura brasileira como um
dos responsáveis pela emissão de
gases de efeito estufa (gás carbônico –
CO2; gás metano – CH
4 e óxido nitroso –
N2O), tanto na produção agrícola – uso
de fertilizantes e manejo das áreas
agricultáveis – quanto na pecuária – uso
de áreas desmatadas e emissão de CH4
pelo rebanho bovino.
Potencial de ampliação
A disponibilidade de recursos
naturais e os avanços tecnológicos,
aliados à demanda interna expressiva e
ao acentuado crescimento do consumo
do mercado internacional, são
indicadores do potencial de ampliação
da produção brasileira.
Esse cenário, do ponto de vista
produtivo e da produção da riqueza
nacional, é extremamente positivo. O
Brasil precisa continuar estimulando o
desenvolvimento, com a produção
crescente da agricultura, para gerar
divisas com a exportação e,
sobretudo, para alimentar a população
brasileira. Mas, por outro lado, a
questão ambiental associada com a
redução das emissões de gases de
efeito estufa (GEE), também são
necessidades fundamentais no
desenvolvimento do Brasil, o que
concretiza diversos novos imperativos
para os produtores e para a ação
governamental. Será preciso enfrentar
um duplo desafio: estimular o
crescimento e reduzir as emissões de
GEE e, para tanto, o setor agrícola
brasileiro dispõe de tecnologias
mitigadoras dos GEE e que podem
ser incorporados pelos agricultores
no seu processo de produção.
O que é economia verde?
O PNUMA (2011) define economia
verde como uma economia que resulta
em melhoria do bem-estar da humanidade
e igualdade social, ao mesmo tempo em
que reduz significativamente riscos
ambientais e escassez ecológica. Em
outras palavras, uma economia verde
pode ser considerada como tendo baixa
emissão de carbono, é eficiente em seu
uso de recursos e socialmente inclusiva.
Em uma economia verde, o crescimento
de renda e de emprego deve ser
impulsionado por investimentos públicos
e privados, que reduzem as emissões de
carbono e poluição, e aumentam a
eficiência energética e o uso de recursos,
além de previnir perdas de
biodiversidade e serviços
ecossistêmicos. Esses investimentos
precisam ser gerados e apoiados por
gastos públicos específicos, reformas
políticas e mudanças na regulamentação.
O caminho do desenvolvimento deve
manter, aprimorar e, quando possível,
reconstruir capital natural como um bem
econômico crítico e como uma fonte de
benefícios públicos, principalmente para
a população carente cujo sustento e
segurança dependem da natureza.
Condições facilitadoras
Para fazer a transição para uma
economia verde, são necessárias
algumas condições facilitadoras
A economia verde resulta em
melhoria do bem-estar da
humanidade e igualdade social,
ao mesmo tempo em que
reduz significativamente
riscos ambientais e escassez
ecológica
“
“
13-EduardoAssad.pmd 22/5/2012, 09:2762
Sustentabilidade e Economia Verde 63
específicas. Essas
condições
facilitadoras
consistem de um
pano de fundo de
regulamentos
nacionais, políticas
públicas, subsídios
e incentivos,
mercado
internacional e infraestrutura legal, além
de protocolos comerciais e de apoio. No
momento, as condições facilitadoras
dependem excessivamente da energia
proveniente dos combustíveis fósseis.
Exemplos
Em escala nacional, os exemplos de
tais condições possibilitadoras são:
mudanças na política fiscal, reforma e
redução de subsídios prejudiciais ao
meio ambiente; emprego de novos
instrumentos de base de mercado;
procura de investimentos públicos para
setores-chave “verdes”; tornar mais
“verdes” os contratos públicos; e,
finalmente, a melhoria das regras e
regulamentos ambientais, bem como
sua execução. Na escala internacional,
também há oportunidades para
complementar a infraestrutura de
mercado, melhorar o fluxo de comércio
e de apoio, e promover maior
cooperação internacional.
Um dos pontos que mais pesa na
condição atual da produção agrícola
nacional é o uso excessivo de
agrotóxicos. É necessário reduzir este
uso excessivo, com as técnicas de
manejo existentes, que permitem,
também, a redução de custos e o
aumento de renda. Durante o período
de 1975 a 2009, o País esteve entre os
seis maiores mercados de agrotóxicos
do mundo. Em 2008, o Brasil assumiu o
posto de maior mercado consumidor de
agrotóxicos do mundo. Segundo
levantamento feito
pelo Sindicato
Nacional da
Indústria de
Produtos para
Defesa Agrícola
(Sindag), as
vendas de
agrotóxicos
somaram US$
7,125 bilhões diante de US$ 6,6 bilhões
do segundo colocado, os Estados
Unidos (ANDEF, 2009). Ser o maior
consumidor do mundo em agrotóxicos
não é uma boa classificação para quem
precisa apostar na economia verde,
como grande opção de mercado. De
forma mais detalhada, a tabela ilustra
os principais problemas ambientais
decorrentes de práticas agropecuárias.
Eduardo Delgado Assad é formado emEngenharia Agrícola em 1979 pela UniversidadeFederal de Viçosa. Fez Mestrado e Doutorado emMontpellier, França, 1987, no laboratório deHidrologie e Mathematique da Universidade de deMontpellier II. Nessa oportunidade trabalhou noslaboratórios do INRA de Avignon e do CIRAD emMontpellier. É pesquisador da Embrapa desde1987 atuando inicialmente no Centro de PesquisaAgropecuária dos Cerrados (CPAC), onde criou oLaboratório de Biofisica Ambiental. Foicoordenador da área de Recursos Naturais doCPAC e Secretário Executivo do Programa deRecursos Naturais da Embrapa, além de chefe dePesquisa e Desenvolvimento da EmbrapaCerrados. No período 2005-2009 foi chefe daEmbrapa Informática Agropecuária. Foi ocoordenador técnico nacional do ZoneamentoAgrícola de Riscos Climáticos do Ministério daAgricultura durante 10 anos. Coordenou váriosprojetos em rede nacional sobre zoneamentos deriscos climáticos e mudanças climáticas naagricultura. É membro comitê científico do PainelBrasileiro de Mudanças Climáticas. FoiSecretário de Mudanças climáticas e recursoshídricos do Ministério do meio Ambiente, no anode 2011. Professor do curso de pós-graduaçãoem agronegócios da Fundação Getúlio Vargas.
É necessário reduzir
o uso excessivo de agrotóxicos
com as técnicas de manejo
existentes, que permitem
também a redução de custos
e aumento de renda
“
“
13-EduardoAssad.pmd 22/5/2012, 09:2763
64 Sustentabilidade e Economia Verde
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Life-cycle assessment of net greenhouse-
gas flux for bioenergy cropping systems.
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Conjuntura dos Recursos Hídricos no
Brasil: informe 2011. Brasília: ANA, 2011.
112 p.
Assad, E.D.; Pinto, H.S.; Zullo Junior, J.;
Marin, F.R.; Pellegrino, G.Q. Mudanças
Climáticas e a Produção de Grãos no
Brasil: Avaliação dos Possíveis Impactos.
Plenarium, v. 5, p. 96-117, 2008.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Plano Agrícola e Pecuário
2011-2012 / Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Secretaria de
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www.cepea.esalq.usp.br/especialagro/
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CEPEA. Centro de Estudos Avançados em
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www.cepea.esalq.usp.br/pib/
EMBAIXADA BRITÂNICA. Semeando
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!Capas PublEspecial.pmd 22/5/2012, 12:023
!Capas PublEspecial.pmd 21/5/2012, 20:414