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Entrevista
PIRILAMPOS DA PENÍNSULA IBÉRICA
Reportagem
MEXILHÕES-DE-RIO: BIOINDICADORES
Reportagem
PAUL DO TAIPAL
Ano XIII • N.º 47 • 22 de junho a 21 de setembro de 2014
Interview
Bioluminescent bugs
Report
Thick-shelled river mussels
Report
Paul do Taipal: Wetland
47
PA
RQUE
S E
VIDA
SEL
VAGE
M
3 euros IVA incluído
TERRAS ÁRIDAS E MEDITERRÂNICAS + CORDÃO DUNAR + MIGRAÇÕESESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + PARQUES DE GAIA + ATUALIDADE
Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 3
Nuno Gomes OliveiraDiretor da revista “Parques e Vida Selvagem”
EDITORIAL 3
Um novo ciclo
ADe todas elas, sempre tive uma
espécie-fetiche, o papa-moscas-
preto (Ficedula hypoleuca) ou,
como o povo lhe chama em
algumas regiões, o “bate-a-asa”; chega ao
Parque Biológico, vindo do Norte e Leste da
Europa, invariavelmente por volta de 15 de
agosto, e vai continuando a sua passagem
migratória rumo a África até inícios de
novembro.
No passado recente era abundantíssimo,
particularmente no mês de setembro
mas, devido às alterações climáticas e
consequente variação dos ciclos dos insetos
de que se alimenta, a sua população, que se
avalia em vários milhões de casais na Europa,
tem vindo a decrescer continuamente.
Quando vejo o primeiro papa-moscas do
ano, fecho um ciclo e começo outro!
TURISMO DE NATUREZA: CONTRIBUTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCALNão para de crescer o número de visitantes,
especialmente estrangeiros, que visitam
Portugal em autocaravana e, muitos,
utilizam o parque de autocaravanas do
Parque Biológico de Gaia para estadia.
No dia em que escrevia este texto (8
de agosto) tínhamos os 11 lugares do
parque completos e, ao fi m do dia, havia
mais 9 autocaravanas no parque de
estacionamento que ali pernoitaram. Em
julho a taxa de ocupação foi de 54%; em
2014 já acolhemos 730 autocaravanas,
e algumas fi caram vários dias no Parque
Biológico.
Esta forma de turismo é muito importante
para o desenvolvimento local, pois
os autocaravanistas fazem compras
localmente, vão aos restaurantes
próximos, ou seja, deixam dinheiro nas
terras que visitam; é aquilo a que se
chama turismo de base local.
Acresce que o turismo de natureza faz
com que afl uam visitantes a regiões com
menor movimento turístico, como Trás-os-
Montes, por exemplo. Sabemos que os
bungalows e o parque de autocaravanas
e campismo do Parque Biológico de
O dia 15 de agosto,
que se aproxima,
sempre foi para mim
a verdadeira viragem
do ano; na nossa
situação geográfi ca
completa-se um ciclo
de reposição da vida,
é a altura de maior
abundância de aves,
por exemplo, pois há
todas as nascidas
no ano e começam
a chegar do Norte as
migradoras de inverno
Autocaravanistas no parque de estacionamento do Parque Biológico, à espera de lugar no Parque de Autocaravanas (08/08/2014, 19h00)
pvs47.indd 3pvs47.indd 3 09/09/14 00:2309/09/14 00:23
4 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
4 EDITORIAL
Vinhais são, também, um sucesso.
Há milhares que se deslocam do
Centro e Norte da Europa para ver
um abutre ou uma pega-azul no
Douro Internacional, uma abetarda ou
um peneireiro-cinzento no Alentejo.
A biodiversidade tem um valor para
a economia nacional e é preciso
contabilizá-lo e, naturalmente, conservar
e fomentar essa biodiversidade.
A DESCOBERTA DE NOVAS ESPÉCIES NÃO PARAO Instituto Internacional para a
Exploração de Espécies, nos Estados
Unidos, divulgou em maio que, durante
2013, foram descobertas em todo o
Mundo 18 mil novas espécies. E não se
imagine que foram apenas pequenos
animais ou pequenas plantas: um
dragoeiro (Dracaena kaweesakii Wilkin
& Suksathan, 2013), árvore com 12
metros, tinha passado despercebida na
Tailândia, até agora.
O WWF (sigla em inglês de Fundo
Mundial da Vida Selvagem) anunciou
em junho a descoberta na região do
rio Mekong (que nasce na província
chinesa de Yunnan, atravessa Myanmar,
Tailândia, Laos, Camboja e Vietname) de
367 novas espécies animais e vegetais,
como por exemplo um esquilo-voador
gigante que estava à venda num
mercado do Laos e nunca tinha sido
identifi cado na natureza.
O Instituto da Biodiversidade e das
Áreas Protegidas da Guiné-Bissau
confi rmou, em maio, a existência de
uma pequena manada de elefantes-da-
fl oresta (Loxodonta africana cyclotis) no
Parque Natural das Lagoas de Cufada.
Esta manada está isolada devido
ao corte de árvores no seu corredor
migratório habitual.
A fragmentação dos habitats descrita no
mapa, nestas como noutras espécies, é
uma das causas maiores da diminuição
das populações por empobrecimento
genético.
ÁREAS PROTEGIDAS E A PROTEGERFinalmente foi dado um estatuto de
proteção à Ria de Aveiro, através da
Resolução do Conselho de Ministros
n.º 45/2014, de 26 de junho, incluindo
mais de 33 mil ha na Rede Natura 2000,
com a designação de “Sítio Ria de Aveiro”
e o código PTCON0061. Curiosamente a
delimitação da área é sensivelmente igual
à proposta por nós nos anos 70 do século
passado e à prevista no Decreto n.º 20/75
que criava o Parque Natural da Ria de
Aveiro, por iniciativa do Arq. Ribeiro Teles,
mas que nunca foi implementado.
De Baião vem, em junho, a boa notícia de
que várias entidades se juntaram para salvar
um valioso carvalhal (Quercus robur) de 15
ha, conhecido por carvalhal de Reixela. A
parceria integra a Ecosimbioses, Associação
Ambiental de Baião, o Agrupamento
de Escolas de Vale de Ovil e a Câmara
Municipal de Baião. O projeto prevê a
instalação do Centro de Interpretação
Ambiental da Reixela.
Vem a propósito recordar que nos anos 80
do século passado a QUERCUS, através
do Dr. Serafi m Riem e com a possibilidade
de apoio fi nanceiro do suíço Bernd Thies
(1951-1988), iniciou negociações com
vista à aquisição do carvalhal da Reixela;
as negociações não se concretizaram pois
Bernd Thies viria a falecer num acidente
rodoviário em Lisboa, em 1988. Deixou em
testamento a criação da Fundação Bernd
Thies, com sede na Suíça e que em Portugal
apoiou fi nanceiramente o Grupo Lobo.
Não deixa também, de ser interessante
refl etir sobre o nome do carvalhal: Reixela.
Reixelo era o nome dado antigamente ao
macho de cabra-brava, e na Beira e Trás-os-
Montes a carneiro novo, cabrito, etc. Haverá
alguma ligação entre “Reixela” e corço ou,
mesmo, cabra-brava?
OS PESTICIDAS E A FALTA DE POLINIZADORESEstá a tornar-se de tal modo preocupante a
falta, em todo o Mundo, de abelhas e outros
polinizadores que o presidente americano
Barack Obama ordenou, em junho passado,
à Agência de Proteção do Ambiente que
“avalie o efeito dos pesticidas, incluindo os
neonicotinóides, sobre a saúde das abelhas e
outros polinizadores, e tomar medidas se for
necessário”, em 180 dias.
Os neonicotinóides são uma classe de
inseticidas derivados da nicotina, descobertos
em 1972, e que desde 2004 são suspeitos de
matarem as abelhas e outros polinizadores,
suspeita confi rmada em 2008.
Estrasburgo, entre outras cidades, decidiu
atrair os polinizadores ao espaço urbano
instalando pradarias melíferas, fomentar
abrigos para insetos e ir abandonando o uso
de pesticidas.
OS MAMÍFEROS MARINHOS ANDAM A FAZER TURISMO?A 17 de julho um grande cardume (ou melhor,
Fragmentação das populações de elefante-africano (Loxodonta), incluindo o elefante-da-savana (Loxodonta africana africana) e o elefante-da-fl oresta (Loxodonta africana cyclotis). Fonte: African Elephant Status Report of IUCN
pvs47.indd 4pvs47.indd 4 09/09/14 00:2409/09/14 00:24
Já há muito tempo que desisti de
revelar com quem gostaria de
tomar um Porto. Fui acusado de
parcialidade (o que é verdade),
e de outras coisas mais. Mas desta vez
não posso deixar de recordar o Professor
Delgado Domingos, cientista e docente
do Instituto Superior Técnico em Lisboa,
falecido a 5 de julho passado, o cidadão
conhecedor e probo que nos livrou de
um programa e de uma central nuclear
obsoletos, que a Westinghouse nos
queria impingir nos anos 70, tendo então
conquistado os amores
de alguns políticos e
governantes da época,
quando o responsável
em Portugal pelo
controlo das radiações
ionizantes e o
licenciamento das instalações onde elas
se produziam era um médico cuja principal
atividade científi ca era escrever versos
para as revistas do Parque Mayer, e um
físico do então LNETI teve chatices por
andar a medir a radioatividade dos rios
portugueses, nomeadamente os que
vinham de Espanha!
Lembram-se da projetada central nuclear
em Ferrel, Peniche? Lembram-se da
canção de Fausto “Rosalina se tu fores
à praia…”? Pois aquele professor foi a
consciência científi ca e cidadã contra
a sucatada atómica que então alguns
tecnocratas que ainda andam por aí nos
queriam impingir. Nas suas palestras
sempre tentou que os seus ouvintes
distinguissem a Física Nuclear dos
projetos comerciais de produção de
energia atómica a qualquer preço.
Vou pois tomar um Porto em sua
memória. (J. A. Gonçalves Guimarães, ex-
técnico de Radiologia, com formação em
proteção contra radiações ionizantes).
in Eça & Outras, III Série, n.º 71 – sexta-feira, 25 de julho de 2014.
Tomar um Porto comCONTINUA A SAGA DA ROLA-BRAVA, ATÉ À EXTINÇÃO!A rola-brava (Streptopelia turtur) é uma
espécie migratória que vem criar à
Europa e regressa a África no fi m do
verão, passando ali o inverno.
A sua população na Europa sofreu um
declínio de 69% entre 1980 e 2009;
em Portugal, entre 2004 e 2010, teve
um decréscimo de 31% (Fonte: SPEA
- Sociedade Portuguesa para o Estudo
das Aves).
Esse declínio populacional tem a ver
com o abandono das práticas agrícolas
tradicionais, a intensifi cação da fl oresta,
o aumento da desertifi cação em África
e a caça nos países mediterrânicos;
calcula-se que pelo menos 10% da
população de rola-brava é caçada
anualmente na Europa (Fonte: SPEA).
Ora apesar disso, no próximo dia 17
de agosto irá abrir, novamente, a caça
à rola-brava em Portugal, podendo os
130 mil caçadores existentes abater
dezenas de milhar de rolas-bravas.
Mas, mais grave ainda, estamos a
escrever a uma semana de 17 de
agosto, e ainda há rolas-bravas no
ninho, a alimentar crias, o que faz
ampliar os efeitos da caça.
Até quando?
manada, pois são mamíferos) de roazes-
corvineiros (Tursiops truncatus) entrou
no rio Douro e foi fi lmado a partir de um
barco; nada que não acontecesse no
passado, mas, nos tempos recentes,
apenas exemplares isolados, desta e de
outras espécies, têm sido por ali vistos.
Ainda em julho, uma foca-comum
(Phoca vitulina) resolveu usar como local
de descanso, durante várias semanas,
uns insufl áveis existentes na baía de
São Martinho do Porto (Alcobaça);
não é espécie da nossa fauna e veio,
provavelmente, arrastada do Norte pelas
correntes marinhas.
Uma outra foca-cinzenta (Halichoerus grypus) que dera à costa em 4 de janeiro
na Praia da Mareta, em Sagres (Algarve),
foi recolhida pela Polícia Marítima e
tratada durante meses no Porto de
Abrigo do Zoomarine (Albufeira), tendo
sido enviada, através da TAP, em 5 de
agosto para o Santuário de Focas de
Cornish, em Gweek (Cornualha), que
tratará da sua devolução ao habitat
natural, no Atlântico Norte.
Finalmente, em 27 de julho um juvenil de
baleia-comum (Balaenoptera physalus)
resolveu ir dar uma volta na Ria de
Aveiro.
Todos estes curiosos acontecimentos
estão à disposição em vídeos, na
internet.
Jorg
e G
om
es
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6 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
6 CARTOONPor Ernesto Brochado
Desejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas: Livro “Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro”de vários autores ...........................................€3,00
Livro “José Bonifácio de Andrada e Silva: Um Ecologista no Séc. XVIII” de Nuno Gomes Oliveira ............ €7,50
Livro “Ecoturismo e Conservação da Natureza” de Nuno Gomes Oliveira ....................................................€7,50
Livro “Áreas de Importância Natural da Região do Porto” de Nuno Gomes Oliveira .................................€15,00
Livro “Manual da Confecção do Linho” de Domingos Quintas Moreira...........................................................€2,50
Livro “Arboricultura Moderna” de Alex L. Shigo ...........................................................................................€7,50
Livro “Conservação dos Sistemas Dunares” de vários autores .......................................................................€4,00
Livro “Cobras de Portugal” de Jorge Gomes .....................................................................................................€3,00
Livro “Uma Escola Sem Muros: Diário de Um Professor”, de Paulo Gandra ..................................................€3,00
Livro “Parque Biológico de Gaia - 1983/2013” ............................................................................................€23,00
Livro “Borboletas dos Parques de Gaia” de Jorge Gomes .............................................................................€10,00
Livro “Mauro e Emília”, cágados em perigo (Oferecido na compra de “Galvino e Galvão, a galinha-de-água e o galeirão” (em baixo)
Livro infantil “Galvino e Galvão, a Galinha-de-água e o Galeirão” de Manuel Mouta Faria ..................... €7,50
Livro infantil “As Histórias de D. Lavandisca Alvéola” de Manuel Mouta Faria ..............................................€2,50
CONHEÇA AS EDIÇÕES DO PARQUE
IVA incluído à taxa em vigor
NOME _______________________________________________________________________________________________________________________________________________
MORADA ___________________________________________________________________________________________________________________________________
CÓDIGO POSTAL ____________________________ - _____ TELEFONE ________________
Enviar este cupão preenchido em letra legível para: Parque Biológico de Gaia Loja Rua da Cunha 4430-681 ou por e-mail para [email protected]
JUNTO COMPROVATIVO DE TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA PARA O NIB 0033 0000 0026 0035 17605 SOLICITO P. F. QUE ME ENVIEM À COBRANÇA (PORTES DE CORREIO NÃO INCLUÍDOS)
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 7
OPINIÃO 7
Eduardo Vítor RodriguesEduardo Vítor RodriguesPresidente da Câmara Municipalde Vila Nova de Gaia
Parque Biológico
garantir o futuro
Tem contribuído durante
as últimas três décadas
para o desenvolvimento
do concelho de Vila Nova
de Gaia, instrumento fundamental na
valorização do património, natural e
construído, na assimilação por parte da
população de práticas de preservação
ambiental e respeito pela fauna e fl ora
locais.
Perante os constrangimentos
legais, fi nanceiros e regulamentares,
associados à integração do Parque
Biológico na estrutura da empresa
municipal Águas de Gaia, impedindo
simultaneamente a subsidiação ao
investimento por parte da Câmara
bem como o fi nanciamento à
exploração proveniente das receitas
da faturação da água, o futuro desta
tão importante estrutura impõe
defi nições claras e sustentáveis.
Ninguém perceberia um
alheamento que signifi casse um
gradual defi nhamento da empresa
Águas e Parque Biológico de Gaia e,
consequentemente, um afastamento,
face aos princípios estabelecidos no
já longínquo ano de 1983, da missão
do Parque Biológico enquanto agente
multiplicador dos desafi os que se colocam
a uma sociedade moderna nos domínios
ambientais.
O Parque Biológico de Gaia,
enquanto projeto e instituição,
é um dos mais conseguidos projetos
de sustentabilidade ambiental
do nosso País
O processo de reestruturação
da empresa Águas de Gaia, cuja
discussão se iniciou recentemente,
que tem como um dos elementos
primordiais a internalização do Parque
Biológico na estrutura Camarária,
visa, simultaneamente à estabilização
organizacional e fi nanceira da
empresa mencionada, criar as
condições objetivas, sejam materiais,
organizacionais ou fi nanceiras, para
o reforço efetivo do projeto Parque
Biológico.
Salvaguardadas as condições objetivas
de todos os colaboradores da
empresa, fundamentais no percurso de
desenvolvimento atingido, repostas as
condições de atendimento integral dos
requisitos dos reguladores, a possível
internalização do Parque Biológico na
Câmara Municipal irá permitir que se
reinvista no projeto, projetando-o para
além do seu objetivo inicial para outras
dimensões desenvolvimentistas.
A afi rmação desse compromisso
será a máxima expressão simbólica
da importância e reconhecimento
que o Parque Biológico possui na
minha perspetiva de desenvolvimento
municipal: um desenvolvimento
inclusivo, integrador e sistémico,
assente na valorização em primeira
instância do património humano, social,
cultural e ambiental do concelho de Vila
Nova de Gaia. Jorg
e G
om
es
Comemorações do Dia do Animal
8 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem”
Diretor Nuno Gomes Oliveira
Editor Parque Biológico de Gaia
Coordenador da Redação Jorge Gomes
Fotografi as Arquivo Fotográfi co
do Parque Biológico de Gaia
Propriedade Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM
Pessoa coletiva 504763202
Tiragem 10 000 exemplares
ISSN 1645-2607
N.º Registo no I. C. S. 123937
Dep. Legal 170787/01
Administração e Redação
Parque Biológico de Gaia
Rua da Cunha • 4430-681 Avintes
Portugal
Telefone 227878120
E-mail: [email protected]
Internet http://www.parquebiologico.pt
Conselho de Administração
Serafi m Silva Martins
Presidente executivo
Tiago Filipe Costa Braga
Vogal executivo
José Manuel Dias da Fonseca
Vogal não executivo
Verão 2014
Na produção desta revista, ao utilizar um papel com 60% de fi bras
recicladas (Satimat Green) em vez de um papel não reciclado,
o impacto ambiental foi reduzido em:
www.facebook.com/parquesevidaselvagem
Capa: Parque de autocaravanas do Parque
Biológico de Gaia, foto de João L. Teixeira
pvs47.indd 8pvs47.indd 8 09/09/14 00:2609/09/14 00:26
kg de aterro1762
kg de CO2 (gases de efeito de estufa)1590
litros de água159
kWh de energia38170
kg de madeira3804
km de viagem num automóvel europeu de consumo médio
2863
64
Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 9
58 PAUL DO TAIPALreportagem Com 233 hectares, o paul do Taipal está classifi cado como
Zona de Proteção Especial para a Avifauna (ZPE). Além disso,
goza do estatuto de Zona Húmida de Importância Internacional,
sendo Sítio Ramsar. É um dos derradeiros exemplos deste tipo
de zona húmida no Centro do país.
6 Cartoon
7 Opinião
10 Ver e falar
12 Fotonotícias
24 Contra-relógio
30 Dunas
37 Espaços verdes
47 Recuperar
51 O voo das aves
66 Migrações
70 Atualidade
74 Biblioteca
75 Crónica
82 Coletivismo
44 PIRILAMPOS DA PENÍNSULA IBÉRICAentrevistaA Península Ibérica conta com bastantes mais espécies quando
comparada com a Europa além-Pirenéus. Dois cientistas desta
área, Raphael De Cock (Bélgica) e Ramón Guzmán Álvarez
(Espanha), de passagem por Portugal e com a colaboração do
Parque Biológico de Gaia, deram corpo a um workshop sobre
pirilampos da Península Ibérica no passado dia 14 de junho.
SECÇÕES
37 30
24
54 MEXILHÕES-DE-RIOreportagem O ciclo de vida de algumas espécies de mexilhão-de-rio depende
da truta. Em Figueiró dos Vinhos, no Posto Aquícola de Campelo,
há um projeto LIFE ECOTONE em curso, que tem em vista repovoar
os rios que reúnam condições para isso com esta espécie de
bivalve, um bioindicador de eleição.
pvs47.indd 9pvs47.indd 9 09/09/14 00:2709/09/14 00:27
10 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Revistas anterioresOs pedidos de leitores no sentido de
conseguirem adquirir também revistas
mais antigas continuam a chegar.
Como entretanto já não há exemplares
em armazém para atender a essas
solicitações, a alternativa de reunir uma
coleção completa recai na internet:
basta ir ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas – todas
as anteriores edições da revista «Parques e
Vida Selvagem» estão ali disponíveis.
10 VER E FALAR
Vidas de quem estuda a vidaTodos os que trabalham em contacto
direto com a natureza colecionam durante
a sua carreira episódios memoráveis que
nunca esquecerão. Pena é que essas
peripécias fi quem usualmente guardadas
apenas na memória de quem as viveu.
Foi para trazer à luz do dia essas histórias
que surgiu o projecto “BIOgrafi as: Vidas
de quem estuda a vida”, um livro onde 18
biólogos portugueses relatam na primeira
pessoa as 35 aventuras e desventuras mais
inesquecíveis da sua vida profi ssional.
A raiz deste projeto surgiu das contribuições
pontuais que um de nós (DV) desenvolveu
com a revista inglesa “BBC Wildlife”,
uma das publicações de
referência na área da
natureza e vida selvagem.
Esta colaboração centrava-
se na rubrica “Tales from
the bush”, na tradução
livre do inglês “Histórias
do mato”, onde biólogos,
conservacionistas e outros
aventureiros partilhavam
com o público os mais
marcantes episódios da sua vida profi ssional.
Eram histórias curtas, escritas sem jargão
científi co e giravam à volta do lado caricato,
cómico ou dramático do dia-a-dia de quem
trabalha na natureza.
Foi então que surgiu a ideia de replicar o
modelo em português e com protagonistas
portugueses. Numa altura em que ser
biólogo em Portugal parecia estar ligado
apenas à falta de saídas profi ssionais, era
oportuno passar a palavra a quem escolheu
esta carreira e ouvir em primeira mão o que
nos faz levantar da cama (às vezes a horas
impróprias) dia após dia.
Foi então altura de contactar outros
profi ssionais do estudo da natureza para
que se juntassem ao projeto. A resposta foi
muito positiva e as contribuições foram
várias, desde as histórias partilhadas por
um total de 18 autores, às ilustrações
do Gonçalo M. Rosa que acompanham
cada história.
Com o conteúdo defi nido faltava
conseguir um apoio editorial que
permitisse publicar o livro. Os contactos
multiplicaram-se, mas durante mais de
dois anos não obtivemos apoio para
levar avante este projeto. Até que surgiu
a luz ao fundo do túnel. A editora Escola
de Mar decidiu apoiar o projeto, embora
a falta de fundos obrigasse a um esforço
conjunto entre editora e autores para
angariar os 3000 euros necessários para
uma primeira edição de 500 exemplares.
A solução foi encontrada na forma
de uma campanha de crowdfunding,
organizada on-line através da plataforma
PPL. O desafi o não era simples:
conseguir recetividade por parte do
público para um livro que na realidade
ainda não existia.
Foi um mês de trabalho árduo para
divulgar a campanha ao maior número
possível de pessoas através de redes
sociais, artigos em plataformas como
o portal Greensavers ou entrevistas
com meios de comunicação social. No
fi nal valeu a pena:
recebemos o apoio
de 162 pessoas
e angariamos
um total de 3400
euros! Ficou claro
nessa altura que
o esforço ia ser
recompensado.
O projeto estava,
no entanto, ainda no
início. Depois de reunido o montante
necessário contámos com a preciosa
ajuda do José Pedro Martins, da Mooda
Project, que fez não só a paginação
como o design da capa. Depois
seguiram-se uma série de eventos
promocionais, inseridos em iniciativas
como a Semana Cultural da Faculdade
de Ciência da Universidade de Lisboa,
para divulgar o livro e fazê-lo chegar aos
leitores.
No fi nal de contas este esforço parece
ter dado frutos. Mais de metade dos 500
exemplares da primeira edição já foram
vendidos e o livro encontra-se agora à
venda na loja on-line Naturfun (www.naturfun.pt), onde tem recebido muito
boas críticas.
E agora? Queremos continuar a
promover este livro como um exemplo
de comunicação direta entre quem
trabalha com a natureza e a sociedade,
mostrando de onde vem a paixão que
nos move como profi ssionais e nos leva
a seguir uma linha profi ssional que tantas
vezes nos desafi a a ultrapassar os nossos
próprios limites. Esperamos portanto, que
este livro inspire uma nova atitude para
com os biólogos portugueses, e que em
Portugal ser biólogo passe a ser sinónimo
de ser apoiado, admirado e valorizado. O
planeta agradece.
Por Diogo Veríssimo e Miguel Pais
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 11
Os leitores escrevem
Distribuída a revista
de primavera as mensagens
começam a chegar à redação
AquDe segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00Sábados, domingos e feriados das 10h00 às 18h00
Que borboleta é esta?Ana Margarida escreve através de correio
eletrónico: «Necessito de ajuda. Hoje de
manhã à entrada do meu gabinete encontrei
esta borboleta. Pela forma do corpo parece-
me uma borboleta noturna, tipo traça, mas a
sua cor e recorte das asas nunca tinha visto.
Camufl ado verde... lindo! Já procurei na
net, nos poucos livros que temos cá sobre
insetos, será que conhecem a espécie?
Obrigado pela ajuda».
Nem sempre é fácil, mas esta não complica
muito: trata-se da espécie de borboleta
noturna Mimas tiliae.
Pertence à família dos Esfi ngídeos e a lagarta
é verde, grossa, e costuma encontrar-se
com alguma sorte nas tílias, de cujas folhas
se alimenta sem alguma vez ser uma praga.
Sustentabilidade na Terra Uma professora escreve: «Sou Ludovina
Santo, professora na Escola Secundária
do Cartaxo, e estou a lecionar a disciplina
de Ambiente e Desenvolvimento Rural do
Curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural
e a disciplina de Ciências Naturais 8.º ano
“Sustentabilidade na Terra”. Sou apreciadora
da vossa revista e gostaria de saber se
há possibilidade de a receber, e em que
condições».
A melhor maneira de passar a receber a
revista em sua casa passa por se tornar
Amiga do Parque. Além da revista, fi ca com
um cartão que lhe permite durante um ano
visitar o parque Biológico de Gaia sempre
que quiser no seu horário de abertura normal
sem pagar entrada.
Deve consultar a página 83 desta revista a
fi m de obter mais informações.
Já sou fã! Escreve Carla Mota: «Olá, tive
oportunidade de ver uma das revistas
e já sou fã! Gostava de saber o que é
necessário para ter a revista.
Eu vivo numa aldeia e sou apaixonada
pela Natureza, por isso gostava muito de
ter a revista. Li uma dessas revistas num
consultório de um médico em Amarante,
o Dr. Pereira Sousa, que é do Porto. Fico
à espera de resposta. Obrigada!».
pvs47.indd 11pvs47.indd 11 09/09/14 00:2809/09/14 00:28
12 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
12 FOTONOTÍCIAS
Devagar se vai ao longe
Mais depressa ou a passo de caracol, os seres
vivos sentem o bafo estival à sua maneira: com
água e calor, um carvalho-alvarinho bem pode
ao seu ritmo fazer brotar novos ramos e folhas
rapidamente, mas nada comparado com o voo
de um animal alado que aposta na velocidade
para predar ou para se defender
Se falar de velocidade de crescimento entre
plantas, esta bem pode andar no pelotão da
frente.
Em Portugal vive em estuários do Sul e,
quando assoma o estio, é impossível não
reparar nela, já que a planta é belíssima no
que toca à sua fl oração.
Não havendo bela sem senão, é parasita.
Não resta outro remédio à Cistanche phelypaea.
Planta saprófi ta, não possui clorofi la, pelo
que, basicamente, não consegue utilizar o sol
para produzir açúcar, a energia básica que
lhe sustenta o organismo.
Tem por isso de parasitar outras plantas e
extrair delas o que lhe é vital. Será vítima o
valverde-dos-sapais que se agita ali perto ao
vento?
Fontes botânicas afi rmam que a Cistanche
parasita raízes de plantas do grupo das
Chenopodiaceae arbustivas...
A protagonista destas linhas pertence à
família Orobanchaceae e é uma das cerca de
150 espécies existentes em todo o planeta,
muitas delas da região mediterrânica, um
hotspot de biodiversidade.
Em fi ns de junho, vimos várias no estuário do
Sado, altaneiras, erguidas até meio metro do
solo arenoso.
Na vizinhança há salinas onde os
pernilongos, Himantopus himantopus, se
alimentam de invertebrados não longe
dos ninhos, como os pequenos camarões
da espécie Artemia salina. Curiosamente,
noutra banda, nas águas do estuário, um
mergulhão-de-pescoço-preto, Podiceps nigricollis, perseguia peixe debaixo de água.
Os estuários do Sul recebem ao longo do
ano bastante menos água doce oriunda da
chuva, pelo que a salinidade faz-se sentir,
fazendo com que a vegetação local se
distinga substancialmente.
Texto Jorge Gomes
e Henrique N. Alves
Jo
rge G
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es
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 13
Um dos pontos de interesse da vida selvagem que o Parque Biológico de Gaia hospeda há mais de 30 anos é a primeira geração da pouco conhecida apatura-pequena, a que os entomólogos chamam em todo o mundo Apatura ilia. Uma verdadeira borboleta do Norte, de habitats atlânticos e de tamanho médio-grande, este lepidóptero da família dos Ninfalídeos gosta de libar a seiva que brota dos carvalhos antigos e não é difícil vê-la nos primeiros dias de verão. Em julho vai desaparecendo, mas uma segunda geração reaparece no início de agosto. Na fotografi a, um macho. O refl exo azulado que se entrevê denuncia-o.
Viva o verão!
Jorg
e G
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14 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
14 FOTONOTÍCIAS
Papa-moscas e não sóLigeirinhas mas sem pressa, a partir da segunda
metade de agosto, durante cerca de mês e
meio, há duas espécies de ave sensivelmente
do tamanho de um pardal que são parecidas e
começam a atravessar Portugal, rumo a África.
Uma é o papa-moscas-preto, a outra é o papa-
moscas-cinzento. Apesar do nome parecido,
distinguido apenas pela tonalidade, a verdade é
que nem sequer são do mesmo género, embora
se confundam à distância.
Trazem já penas de inverno, pelo que os machos
deixaram para trás o “fato” nupcial, bicolor, preto
e branco, confundindo-se agora sem preconceito
na cor com fêmeas e juvenis.
No Parque Biológico de Gaia recebem uma
menção especial e, com esta, difícil é os visitantes
não repararem neles.
Pousados num ramo, ora mergulham para o solo
com o bico certeiro a apanhar um inseto ora logo
voltam ao ramo de onde lhe tiraram a mira.
À medida que passam, todas as fasquias de
invertebrado que se mexam acima do chão
entram mais depressa na cadeia alimentar
desprovidos de etiqueta de pacote nutritivo.
Na primavera, sem praticamente os vermos em
Portugal, os que sobreviverem regressarão no
ano que vem à Europa Central e do Norte para
retomarem os ritmos da reprodução, levando os
machos de novo um traje de gala bicolor.
Mediterrâneo quente e seco
A vegetação mediterrânica evoluiu ao
sabor de estios quentes e secos, propícios
a fogos.
Numa evolução lenta, as plantas
selvagens conseguiram responder com
pequenas e vagarosoas adaptações
que acabaram por fazer dos matagais
mediterrânicos espaços especiais de
biodiversidade.
Contudo, quando o ser humano provoca
incêndios quase todos os anos está a
tornar-se ainda mais difícil resistir, e quem
perde com isso é a espécie humana:
com o solo a descoberto aumentam os
desertos, sítios onde a água escasseia e a
vida, se for viável, se faz de escolhos mil...
Papa-moscas-cinzento, Muscicapa striata
João L
. Te
ixeira
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 15
Papa-moscas-preto, Ficedula hypoleuca
Pé na terraDias compridos e noites amenas apelam a férias apetecidas.
Entre a praia e o campo há muitos percursos de descoberta
da natureza que pode fazer pelo seu próprio pé. Para
observar a natureza, as correrias não ajudam...
Máquina fotográfi ca para o que der e vier, caderno de campo
a tiracolo e, havendo um par de binóculos, pé posto na terra,
nunca se sabe o que vai aparecer...
Um inseto cuja imagem ainda não tinha registado? Uma
planta em que ainda não tinha reparado? Uma ave com
comportamento peculiar, quando os juvenis abandonam o
ninho ainda sob o cuidado dos pais? Um rato-de-água a
nadar junto das margem de um ribeiro?
Isto e muito mais encorpa a curiosidade que, neste período
de reposição de energias, há de satisfazer se se puser a
caminho.
Depois não deixe de partilhar as suas novidades nas redes
sociais e nos sites on-line com registo de dados. Conhecer a
diversidade da vida ajuda a conhecer-se melhor a si próprio.
Jo
ão
L.
Teix
eira
Jorg
e G
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16 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Céus que cativam o olharAs constelações envolvem
a Terra e desenham novas
fronteiras: o sonho de as
explorar perdura no ser
humano e este, sem resistir,
deita a mão a telescópios e
máquinas fotográfi cas para
as aproximar de si
Já é a segunda edição anual do concurso
nacional de fotografi a do Observatório
Astronómico do Parque Biológico de Gaia e os
trabalhos continuam a revelar uma qualidade a
que não se consegue fi car indiferente.
O júri, formado por Pedro Ré, Paulo
Casquinha e Carlos Soares, distinguiu estes
trabalhos: Vencedor Geral, 1.º Prémio, «Rho»,
de João Casimiro Vieira; categoria Terra e
Espaço, vencedor, «FOTO N4» de Miguel
Claro, 2.º classifi cado, «2013-06-01T0100»
de Jorge Miguel Resende Manuel; Sistema
Solar, vencedor e concorrente único, «Lua»
de Miguel Claro; Espaço profundo, vencedor,
«Rho», de João Casimiro Vieira – este prémio,
tendo sido distinguido para vencedor geral
pelo júri, segundo o regulamento dilui-se sem
ser cumulativo no do Vencedor Geral; 2.º
classifi cado, «6 - Nebulosa Cabeça de Cavalo:
H-Alpha» de Paulo César Mesquita; Prémio
Júnior: vencedor, «Lua» de Anaísa Cristina
Pereira Carvalho.
Sábado, 7 de junho, foi altura de entregar os
prémios.
Pode contemplar estes trabalhos em
exposição no salão de fotografi a da natureza
do Parque Biológico de Gaia, entre as 10h00 e
as 18h00, até 29 de setembro.
«Foto N4» de Miguel Claro, prémio vencedor da categoria Terra e Espaço
Jo
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16 PORTFOLIO
Abertura da exposição do concurso: à direita, Carlos Soares, membro do júri, João Casimiro Vieira e Jorge Resende Manuel, ambos premiados
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 17
«Rho» de João Casimiro Vieira, prémio vencedor geral
«2013-06-01T0100», de Jorge Miguel Resende Manuel, 2.º prémio da categoria Terra e Espaço
«Lua», de Miguel Claro, vencedor na categoria Sistema Solar««LLLLuaLuaLuaLua ddddd» d» d MiMiMie Mie Mie Mie Mi lllguelguelguelguel ClClClClaClaClaClarorororo encvencvencvenc dddedoredoredoredor nananana tttcatecatecatecate iiigorigorigorigori SiSiSia Sia Sia Sia Si tttstemstemstemstem SSSa Soa Soa Soa Sollllarlarlarlar
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18 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
18 PORTFOLIO
«ISS, passagem por Lisboa a 28000 km/h» de João Carlos Gomes, categoria Terra e Espaço
«Nebulosa Cabeça de Cavalo», de Paulo César Mesquita, 2.º classifi cado na categoria Espaço Profundo
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«Nebulosa de Orion» de Paulo César Mesquita, categoria Espaço Profundo
«Janela» de Mário Luís Domingues Rocha, categoria Terra e Espaço «O Fotógrafo», de Pedro Esteves, categoria Terra e Espaço
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20 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
20 PORTFOLIO
«Aurora», de João Casimiro Vieira, categoria Terra e Espaço
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 21
«O céu na água», de Guilherme Limas, categoria Terra e Espaço
«Lua», de Anaísa Cristina Pereira Carvalho, Prémio Júnior
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22 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
22 CONTRA-RELÓGIO
A vida e o universoCarl Sagan (1934-1996) asseverou
que somos feitos do mesmo pó
cósmico que se originou com a
explosão das grandes estrelas
vermelhas; somos do mesmo material
que compõe uma estrela. Os átomos de
carbono, nitrogénio e oxigénio em nossos
corpos, assim como os átomos de todos os
outros elementos pesados, foram criados
em gerações anteriores de estrelas há mais
de 4,5 mil milhões de anos.
É incrível percebermos que em cada ser
humano há mais seres vivos do que, por
exemplo, a população mundial. Temos
uma íntima relação com a biodiversidade:
não é por mero acaso que no corpo de
cada ser humano há mais ou menos
71% de água (a mesma percentagem
que há no Planeta Terra), a nossa taxa de
salinização do sangue (3,4%) é a mesma
dos mares. Simplesmente, 60% do nosso
corpo é oxigénio. Se incluirmos o carbono,
hidrogénio e nitrogénio existentes no nosso
corpo, temos então 95% da massa total
do ser humano. De 92 elementos químicos
existentes na natureza, 17 deles regulam
todo o processo da vida.
Todos os seres vivos, incluindo, claro, o
ser humano (cuja origem fi lológica vem de
“húmus” que signifi ca “terra fértil, fecunda”)
são construídos a partir de um código
genético comum (são 30 aminoácidos
e quatro ácidos nucleicos). Acredita-se
que há algo próximo a 100 milhões de
diferentes espécies vivas (fauna, fl ora,
microorganismos) dividindo esse mundo
com a nossa espécie; embora atualmente
estejam catalogadas apenas 1,4 milhão de
espécies.
O biólogo e entomologista norte-americano
Edward Wilson pontua que “num só grama
de solo, ou seja, em menos de um punhado
de terra, vivem cerca de 10 mil milhões de
bactérias, pertencentes a seis mil espécies
diferentes”. Participamos ativamente dessa
rica convivência biológica, numa verdadeira
simbiose (“sim”, em grego, signifi ca “junto” e
“bio” é a própria vida).
Pela fotossíntese, as plantas, sob a luz do
sol, decompõem o dióxido de carbono,
“alimento” para elas, e libertam o oxigénio,
“alimento” para a nossa vida e a dos animais.
Com a participação do gás carbónico e da
água, as plantas, nesse processo, produzem
açúcares. A partir disso, outras substâncias
são produzidas, como as proteínas e as
gorduras que formam os nossos corpos.
Igual importância reside nas estrelas, que
além de iluminarem as noites, têm a função
de converter o hidrogénio em hélio e, da
combinação entre esses gases, provém o
oxigénio, o carbono, o nitrogénio, o fósforo e
o potássio.
Sem essa rica combinação não haveria
os aminoácidos e nem as proteínas
indispensáveis à vida. Pois isso tudo engloba
a biodiversidade, esse termo cunhado pela
biologia.
Absolutamente tudo o que for feito à
biodiversidade, às diferentes espécies de
vida, também será feito a nós próprios, e
atingir-nos-á. Agredir os ecossistemas, a
biosfera (conjunto de todos os seres vivos,
das amebas às baleias, das algas às árvores,
dos vírus aos homens) é agredir a própria
vida.
Lamentavelmente, têm-se dado ações
antrópicas de forma veemente no sentido
da delapidação do espaço-natureza.
Estudos apontam que entre 1500 e
1850 foi presumivelmente eliminada uma
espécie a cada dez anos. Entre 1850 e
1950, portanto, em cem anos, eliminou-
se uma espécie por ano. Com o avanço
das atividades humanas sobre a natureza,
desde 1990 está a desaparecer uma
espécie por dia.
As estimativas para o futuro são ainda
mais estarrecedoras. De acordo com a
União Internacional para a Conservação
Somos “provenientes” de um longo
processo biológico; somos “fruto”
da biodiversidade. Em nosso corpo
mantemos mais de 100 biliões
de células compartilhando átomos
com tudo o que está ao nosso redor,
enaltecendo assim a exuberância
da vida. Somos, dessa forma,
parte do universo
da Natureza, no mundo, por volta de 11%
das espécies de aves, 25% dos mamíferos,
20% dos répteis, 34% dos peixes e
12% das plantas estão ameaçadas de
desaparecimento para sempre nos próximos
cem anos.
Quando pensamos que toda a atividade
humana se desenvolve dentro da ecosfera
(dividida em quatro camadas: atmosfera,
biosfera, hidrosfera e litosfera), damo-nos
conta da real e intrínseca dependência que
temos da natureza, quando dela extraímos
todos os recursos necessários à produção
e, para ela devolvemos resíduos resultantes
dessa ação.
Por isso é necessário um cuidado (a palavra
“cuidado”, segundo a fi lologia, deriva do
latim cura, termo usado em condições de
amor e de amizade) todo especial para com
a biodiversidade, bem como em relação ao
planeta que nos abriga.
Para tanto, todas as ações políticas e,
principalmente, as económicas (visto que
a economia é o eixo articulador de uma
sociedade) deveriam, primeiramente,
pautar-se pelas premissas dos enunciados
ecológicos, expressos na busca da
sustentabilidade, ou seja, de uma ação
que procura devolver o equilíbrio à Terra e
aos ecossistemas; que procura, outrossim,
preservar a biodiversidade. Sem essa
preservação, a vida corre sério risco de
desaparecer.
Marcus Eduardo de OliveiraEconomista, especialista em Política Internacional pela FESP e mestre pela USP
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24 PAR
24 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Terras áridas e mediterrânicas
Estes frágeis ambientes, lugar
de muitas espécies endémicas,
merecem atenção prioritária
para evitar a perda irreversível
de diversidade biológica.
A diversidade biológica das terras áridas
e sub-húmidas está bem adaptada
às severas condições tipifi cadas por
modelos inconstantes de precipitação
que provocam secas e inundações,
e em muitos casos temperaturas
elevadas.
As terras áridas são fonte de muitas das
plantas de cultivo utilizadas em todo o
Globo, tais como o trigo, a cevada e as
azeitonas.
Esta diversidade biológica está na
base de muitos modos de vida locais, e
mantêm uma grande percentagem da
produção de alimentos que o ser humano
consome.
As principais pressões sobre a
diversidade biológica nas terras áridas
resultam da conversão de habitats para
a agricultura, os transportes, o turismo e
a indústria, assim como provêm da má
gestão do solo e da água.
As alterações climáticas têm um impacto
particularmente forte nas zonas húmidas
das terras áridas, das pradarias, dos
bosques mediterrânicos, e na periferia
dos desertos. As espécies exóticas
invasoras afetam adversamente a
diversidade biológica nativa.
A recolha excessiva de madeira para
combustível, a sobreexploração das
plantas, a caça excessiva de fauna
silvestre e as práticas agrícolas
insustentáveis agravam o problema.
A conservação e a utilização
sustentável da diversidade biológica
das terras áridas são essenciais para
o desenvolvimento dos modos de
vida e a redução da pobreza, já que
a maioria das zonas áridas estão
em países em desenvolvimento. E
mais, como resultado da elevada
proporção de comunidades locais
que são responsáveis pela gestão dos
recursos da diversidade biológica em
terras áridas, estas zonas oferecem
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 25
As terras áridas cobrem aproximadamente
47% de área terrestre da Terra e incluem
regiões áridas e semiáridas, pradarias,
savanas e as paisagens mediterrânicas
uma infi nidade de oportunidades
para a participação das comunidades
na aplicação do Convénio sobre a
Diversidade Biológica. Infelizmente,
a união entre a diversidade biológica
e a mitigação da pobreza amiúde
não se espelha na planifi cação do
desenvolvimento ou da redução da
pobreza.
O referido convénio tem um programa
de trabalho para as terras áridas
que pretende subsidiar lacunas de
conhecimento, apoiar as melhores
práticas de gestão e promover as
relações entre os países e as instituições.
.
Fonte www.cbd.int
factos &números
Jo
ão
L.
Teix
eira
• As terras áridas e sub-
húmidas são o lar de
aproximadamente dois mil
milhões de pessoas, 35% da
população mundial.
• Abarcam aproximadamente
44% dos sistemas cultivados
do mundo.
• Cerca de 90% das pessoas
que habitam terras áridas e
sub-húmidas vive em países
em desenvolvimento.
• Seis países (Botswana,
Burkina Faso, Iraque,
Kazajstan, República da
Moldávia e Turquemenistão)
têm no mínimo 99% da sua
superfície classifi cada como
terras áridas e sub-húmidas.
• Devido às duras condições
(precipitações irregulares,
elevadas temperaturas,
etc.), muitas espécies têm
desenvolvido adaptações
únicas.
Os sapos do deserto
permanecem a dormir sob a
areia durante meses até que
voltem as chuvas.
Os tecelões sociais do
Sul de África constroem
ninhos comunitários que
pesam até mil quilos para se
isolarem o mais possível das
temperaturas extremas.
Os órix do deserto de Kalahari,
antílopes, podem sobreviver
durante semanas sem água.
• As terras áridas e sub-
húmidas incluem importantes
zonas de extraordinários
endemismos, tais como a
bacia mediterrânica, lugar de
mais de 11700 espécies de
plantas endémicas.
• Umas 2311 espécies
conhecidas das terras áridas
estão ameaçadas ou em
perigo de extinção.
Dry and mediterranean lands Dry land occupy approximately 47% of the Earth’s surface and is comprised of dry and semi-dry Regions, Prairies, Savannahs and Mediterranean landscapes. These fragile environments, where many endemic species live, are worthy of urgent attention, in order to avoid the irreversible loss of biological diversity and possible extinction.
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26 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
26 QUINTEIRO
Carlos Garcez mora na Venda do
Pinheiro, perto de Mafra, e escreve
em 16 de junho sobre os pirilampos
que voam de noite nas imediações:
«Aqui no quintal são às dezenas. Não sei
distinguir o género e são difíceis de fotografar!
Não param quietos...».
Está a referir-se aos machos de pirilampo-
lusitânico, Luciola lusitanica, que dão à asa
pelo jardim.
Com apenas um centímetro de comprimento,
fazem um voo lento em que acendem e
apagam por alguns segundos
a sua “lâmpada” biológica.
Por sua vez, Aida Santos, de
Sobreira, em Paredes, digita
também nesse mesmo dia:
«Acabei de fotografar estas
larvas de Lampyris (16-6-
2014, 15h30). A primeira larva
estava debaixo de uma pedra.
Depois de a fotografar e a
colocar novamente no local,
encontrei a larva das fotos
seguintes, com mais 4 mm de comprimento,
debaixo de outra pedra. Ambas estavam
junto de bichos-de-conta, pequenas aranhas
e milípedes. O local é exatamente debaixo de
uma varanda que lavo com frequência, não
uso detergentes, só água. Junto, há também
um canteiro de morangueiros que vai sendo
regado quase diariamente. Devo explicar que
este terreno é de xisto quase compacto e a
amplitude térmica é acentuada, é uma zona
de micro-clima», adianta.
«Vou estar atenta a outras espécies. Acho
que reconheço o macho de Luciola lusitanica.
Vou tentar fazer registos».
Sensível decerto à Década da Biodiversidade,
Aida Santos remata: «Não há dúvida que
Portugal é, em termos biológicos e botânicos,
uma espécie de nicho, não só pela sua
Pirilamposlá de casa
A questão levantou-se: por que não tenho
pirilampos no meu jardim? Pois, é verdade que
a maioria não os vê, mas outros, pelo país fora,
provam que são uma exceção...
localização, mas também, pelo facto de, e
devido à morfologia territorial, não ser fácil a
exploração agrícola de grandes culturas, como
é o caso de Espanha, e consequentemente
a destruição dos ecossistemas originais.
Esperemos que continue assim».
Ana Valadares mora no Algarve, na região de
Lagos: «Vivo no campo e tenho um terreno
relativamente grande. Normalmente encontro-
os perto de um pequeno relvado que tenho
à frente de casa, junto a pontos de luz. Nas
noites propícias posso observar muitas luzinhas
verdes, lindo». Com esta palavras,
Ana partilha uma fotografi a de uma
espécie que não vimos ainda na
nossa região, o pirilampo Nyctophila reichii! Bem, mas a pergunta inicial ainda
não foi respondida...
Será que usa pesticidas ou
herbicidas? De noite, há iluminação
artifi cial?
Estas poderão ser algumas das
perguntas-chave que, tendo
respostas afi rmativas, explicam a inexistência
de pirilampos no seu quinteiro.
Nenhuma fêmea de pirilampo consegue
concorrer com uma qualquer lâmpada de
fabrico humano, os machos não a encontram,
não se reproduz.
É oportuna outra pergunta: há caracóis e
lesmas ao redor da sua casa?
Bem, neste caso é ao contrário, se disser
que não, então tudo indica que o alimento da
fase larvar da maior parte dos pirilampos não
existe, logo, o ciclo de vida dessas espécies foi
interrompido e extinguem-se no local.
Os leitores mais imaginativos ainda podem
dizer: bem, mas por que não pode uma fêmea
com ovos fecundados aleatoriamente vir a
depositá-los nesse jardim?
Até aqui há obstáculos difíceis de contornar.
Cópula de pirilampos do género Lampyris: a fêmea é maior
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JorgeGomesCoordenador da revista Parques e Vida Selvagem
Espécie de pirilampo
Fêmea adulta com asas
Fêmea adulta sem asas
Luciola lusitanica x
Lampyris iberica x
Lampyris noctiluca x
Lamprohiza mulsantii x
Lamprohiza paulinoi x
Phosphaenus hemipterus x
Nyctophila reichii x
Se consegue ver nalguma altura do ano pirilampos no seu jardim, este terá decerto um encanto a conservar, mas certo é que para isso as suas plantas terão de hospedar algumas lesmas e caracóis, o alimento das larvas da maioria destes insetos bioluminescentes
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 27
Fireflies in the Garden The question arose: why don´t I have fireflies in my garden? Could it be true that most of us just don’t not see them; but others right across the whole country, prove this to be an exception. For the fireflies to flourish and continue their lifecycle, the plants in the garden must host some slugs and snails, which form the food of the larvae of insects that give joy to the night.
Diversas fêmeas no estado adulto não voam.
Umas porque não têm asas, acendem a luz
para que os machos as encontrem; outras
fêmeas adultas têm asas mas tanto quanto
se sabe parece que não voam...
Por isso, quem vê pirilampos no jardim
poderá ainda viver junto de habitats que os
integrem e o que observa na época própria
do ano resulta das características das
redondezas e pouco mais.
Quando assim não é, no que toca aos jardins
em que não há vaga-lumes, poderá
acontecer um dia que, acidentalmente,
por exemplo no transporte de vasos de
plantas ornamentais, uma postura fértil
ou uma fêmea com ovos viáveis possa
ser transportada para o seu jardim e, se
houver condições adequadas, vingar no
sítio.
Não é boa ideia andar a catar pirilampos
de outros sítios para os levar para o seu
jardim, sobretudo se forem de longe.
Pirilampo Nyctophila reichii, macho
Ana V
ala
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s,
Lag
os
Larva de pirilampo do género Lampyris
Aid
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anto
s,
Pare
des
Pirilampo Luciola lusitanica, macho
Carlo
s G
arc
ez,
V.
Pin
heiro
Para além da poluição genética que possa
sobrevir, diminuindo os recursos regionais
da espécie em matéria de adaptação e
sobrevivência às alterações do meio, a
regra de ouro em qualquer parte é sempre
esta: crie o habitat, respeite-o, e as
espécies tenderão a aparecer.
Se quiser saber mais, visite o grupo
aberto criado no Facebook para esse
efeito: https://www.facebook.com/groups/vistepirilampos.
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28 QUINTEIRO
28 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Sem rejeitar em absoluto a luta química, a Proteção
Integrada evita-a ao máximo, reservando-lhe o papel
de “recurso fi nal”, só utilizado quando todos os outros
meios de luta são inefi cazes ou insufi cientes, sendo que
essa apreciação deve ter em conta fatores de natureza
económica, ecológica e toxicológica
1.ª Parte
A Lei n.º 26/2013 de 11 de abril,
que regula as atividades de
comercialização e de aplicação
de produtos fi tofarmacêuticos (PF)
para uso profi ssional, e o DL n.º 86/2010
de 15 de julho, que regula a inspeção de
equipamentos de aplicação desses produtos,
transpõem para a ordem jurídica nacional
a Diretiva n.º 2009/128/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 21 de outubro,
que estabelece um quadro de ação a nível
comunitário para uma utilização sustentável
dos pesticidas, promovendo o recurso à
Proteção Integrada e à Agricultura Biológica,
incluindo abordagens ou técnicas alternativas
aos tratamentos com PF. Procura-se, assim,
reduzir e disciplinar a utilização destes
produtos, minimizando os riscos e os efeitos
da sua utilização na saúde humana e no
ambiente.
A operacionalização das normas previstas
no presente diploma foi possível com a
instituição do “Plano de ação nacional do
uso sustentável de PF”, também previsto
nesta Lei. Tal operacionalização assenta,
essencialmente, na defi nição de objetivos,
metas e indicadores, e na implementação
de medidas e ações a desenvolver,
nomeadamente ao nível da formação
e informação, da comercialização e da
aplicação de PF.
No presente documento pretende-se
abordar os principais aspetos do atual
enquadramento legislativo no âmbito
da aplicação terrestre de PF, visando a
segurança e a redução do risco em todas as
fases da utilização destes produtos.
A proteção Integrada
e seus princípios
Podemos defi nir Proteção Integrada
como uma modalidade de proteção das
plantas em que se procede à avaliação
da indispensabilidade de intervenção no
ecossistema através da estimativa do risco,
do recurso a níveis económicos de ataque
ou a modelos de desenvolvimento dos
inimigos das culturas e da ponderação dos
fatores de nocividade.
A Proteção Integrada baseia-se, pois, no
equilíbrio natural do ecossistema agrário ou
fl orestal, valorizando o papel dos organismos
auxiliares, que são preservados na medida
do possível, mas apostando, também,
na manutenção de condições culturais
favoráveis ao saudável desenvolvimento das
plantas.
Sem rejeitar em absoluto a luta química,
a Proteção Integrada evita-a ao máximo,
reservando-lhe o papel de “recurso fi nal”, só
utilizado quando todos os outros meios de
luta são inefi cazes ou insufi cientes, sendo
que essa apreciação deve ter em conta
fatores de natureza económica, ecológica e
toxicológica.
Não abordaremos aqui as componentes da
Proteção Integrada; os seus processos e as
suas técnicas. Diremos apenas que, cerca
de três décadas após a sua introdução em
Portugal, considera-se hoje ser a sua prática
comum à maioria dos agricultores. E embora
tal ideia possa não corresponder exatamente
à realidade, a verdade é que a Lei n.º
26/2013 determina que a partir de 1 de
janeiro de 2014 todos os agricultores estão
obrigados a orientar-se pelos seus princípios.
AquisiçãoDe acordo com a Lei n.º 26/2013 os PF
de uso profi ssional homologados em
Portugal só podem ser comercializados
em estabelecimentos de distribuição e/ou
venda para isso autorizados pela Direção
Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
Tais estabelecimentos devem reunir os
requisitos mínimos estabelecidos na Lei,
Utilização sustentável de produtos fi tofarmacêuticos
Miguel Folhadela Rebelo e Jorge P. N. Costa
DRAPN - Divisão de Apoio ao Setor Agroalimentar
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 29
combustíveis, ser estruturalmente sólidas,
possuir boa ventilação e ter fácil acesso a
uma tomada de água. Devem, igualmente,
estar devidamente sinalizadas e fechadas
à chave, de forma a impedir o acesso a
crianças ou pessoas não habilitadas.
O chão do armazém deve ser
impermeabilizado e ter capacidade para
reter no interior qualquer líquido derramado
(bacia de retenção). Os produtos devem
ser arrumados em estantes e/ou prateleiras
metálicas e resistentes.
No armazém devem estar disponíveis
um extintor, balde com areia, vassoura,
apanhador e sacos de plástico fortes, para,
em caso de acidente (incêndio ou derrame)
serem utilizados. Devem, igualmente, estar
acessíveis os contactos de bombeiros,
serviços de emergência médica e serviços
de informação anti-venenos.
O armazém deve ter espaço sufi ciente
para guardar os sacos de plástico com as
embalagens vazias, até à sua entrega no
posto de receção.
Por fi m, salienta-se a obrigatoriedade de
existência do equipamento de proteção
individual (EPI): fato impermeável, chapéu,
viseira ou máscara, luvas de nitrilo e botas
de borracha.
nomeadamente a existência de instalações
de venda e/ou armazenamento exclusivos
e adequados para os PF, operador(es) de
venda reconhecido(s) pela Direção Regional
de Agricultura e Pescas (DRAP) e técnico
responsável acreditado pela
DGAV.
No território nacional só
podem ser vendidos PF
autorizados pela DGAV, com
rótulo em português, a pessoas
de maior idade e devidamente
identifi cadas.
A partir de 26 de novembro de
2015, no ato de compra de PF de uso
profi ssional, os compradores devem
também exibir a identifi cação de aplicador
deste tipo de produtos. No caso dos PF
de elevado risco, e com efeito imediato,
o comprador deve exibir a identifi cação
de aplicador especializado. Adiante
falaremos das habilitações requeridas para
o reconhecimento como aplicador de PF de
uso profi ssional.
TransporteA primeira regra a respeitar no transporte
de PF é a de que estes produtos devem ser
transportados separadamente de pessoas,
alimentos ou rações para animais.
O transportador deverá assegurar que o
meio de transporte se encontra em boas
condições, de forma a não danifi car as
embalagens, e assegurar que estas são
bem acondicionadas, de forma a que não se
desloquem, caiam ou danifi quem durante o
transporte (ex: embalagens leves por cima
de embalagens pesadas).
No veículo de transporte deverá haver
equipamento que permita a remoção
e limpeza em segurança de
qualquer derrame que possa
ocorrer (balde com areia, vassoura,
apanhador e sacos de plástico
fortes).
Armazenamento
na exploração
agrícola/fl orestalConforme é referido na legislação em
vigor, um dos objetivos principais da Lei
é o manuseamento seguro dos PF´s, que
também passa pelas condições do seu
armazenamento nas explorações agrícolas/
fl orestais.
Neste contexto, o armazenamento de
PF´s deve fazer-se em construções ou
dependências próprias, exclusivas para
esse efeito (no seu interior não devem
ser guardados produtos que não sejam
fi tofarmacêuticos), preferencialmente em
locais isolados, mas obrigatoriamente
situadas ao nível do solo e afastadas
de cursos de água, poços, represas ou
nascentes.
Essas instalações devem ser constituídas
por materiais de construção não (Continua no próximo número)
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30 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
30 DUNAS
É a fl ora dunar, constituída por largas
dezenas de plantas nativas, que dá
consistência às dunas, cuja dinâmica já de
si não é das mais estáveis.
Com raízes que se estendem invariavelmente por
uma extensão muito maior do que a parte visível da
planta ao ar livre, estas funcionam à maneira de uma
rede que dá consistência aos grãos de areia que
modelam o ambiente dunar.
Vila Nova de Gaia tem um litoral de cerca de
14 quilómetros de extensão. Neste espaço, pode
passear nos passadiços e fruir da paisagem, do sol
e da natureza que é própria das dunas.
Durante o verão, por vezes conseguirá ver uma cria
descuidada de borrelho-de-coleira-interrompida ou
agachada na areia a desejar ser invisível ou a dar
uma corrida e esconder-se algures. Não as persiga.
Estas aves são nidífugas, pelo que, pouco depois
de eclodirem – o ninho está nas dunas – tendem a
dispersar mas fi cam na mesma debaixo de olho dos
progenitores, que continuam a alimentá-las. Quando
o ser humano interfere, o ciclo vital não corre tão
bem.
CordãodunarAs dunas são um mundo,
mas revelam ser frágeis:
quando a população vai a
banhos, sem passadiços e
regeneradores dunares as
plantas não resistem e as
dunas desaparecem
João L
. Te
ixeira
João L
. Te
ixeira
Henriq
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. A
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Cardo-marítimo
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Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 31
Parque de Dunasda Aguda
Os regeneradores
dunares são estruturas
que ajudam também
a reter a areia das dunas
com o objetivo de as
estabilizar
O nome vulgar de uma das plantas
que mais acompanha quem
passeia nas dunas é esporas-
bravas e é uma das muitas que
está explicada no Parque de Dunas da Aguda.
O nome que os botânicos lhe dão é bem
mais complexo, em latim: Linaria polygalifolia.
Com um ou com outro nome é linda de se
ver e não deixa de ser extraordinária a forma
como consegue fl orir num meio tão hostil
como o solo arenoso, onde a água escoa
sem demora e os nutrientes não abundam.
Nem por isso é caso único. Neste parque,
um projeto LIFE que perdura no tempo,
há muitas outras plantas que apostam na
diversidade para resistirem a quaisquer
agruras.
Esta pequena reserva natural tem em vista
explicar a necessidade de se proteger as
dunas e a sua biodiversidade e aguarda a
sua visita. Em tempo de praia ou fora dele,
não deixe de pôr ali o seu pezinho, mas sem
sair dos passadiços.
Jo
ão
L.
Teix
eira
Esporas-bravas
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32 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
32 LITORAL
Estação Litoral da Aguda
José Pedro Oliveira e Mike Weber
Vocacionada para a educação
ambiental, investigação científi ca
marinha e o ensino universitário,
tem como atrativos um Aquário
com a fauna e fl ora aquáticas locais, e
um Museu das Pescas dedicado à pesca
artesanal. A ELA pertence à empresa
municipal Águas e Parque Biológico de Gaia,
e está aberta ao público todos os dias do ano.
A primeira tese de doutoramento, elaborada
na ELA, analisou a colonização biológica
do quebramar da Aguda, ainda destacado.
Agora foi concluída a segunda tese de
doutoramento que incidiu sobre os impactos
naturais e humanos na zona intertidal de
algumas praias da costa norte de Portugal.
Realizada ao longo dos últimos quatro anos,
foi apresentada ao Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar da Universidade
do Porto pelo autor principal e curador do
Aquário da ELA:
As populações humanas sempre se
concentraram perto de áreas costeiras e,
de acordo com as previsões mais recentes,
este comportamento deve aumentar nas
Impactos
humanos e naturais na zona intertidal
A Estação Litoral da Aguda ELA
assinalou no dia 1 de julho
de 2014 o seu 15.º aniversário
de abertura ao público: durante
este tempo atraiu 335 mil
visitantes, o que perfaz uma
média de cerca de 22 mil
pessoas por ano
próximas décadas. Este fenómeno está
associado a uma série de perturbações, que
incluem diversas modifi cações da paisagem:
• drenagens de zonas húmidas e sua
conversão para o meio terrestre;
• construções de estruturas de defesa
costeira nas zonas intertidais, e de
estradas e edifícios nas zonas adjacentes;
• pesca excessiva de organismos marinhos
com valor comercial;
• poluição e atividades recreativas, que
incluem o impacto causado pelo pisoteio
em costas altamente frequentadas.
Todos esses fatores podem operar
individualmente ou interagir entre si,
coexistindo ainda com outros distúrbios
humanos, como as alterações climáticas e a
acidifi cação dos oceanos; ou naturais, como
as tempestades mais intensas e frequentes
e a ação das ondas, com consequências
ecológicas imprevisíveis, na maioria dos
casos.
O objetivo era avaliar as respostas das
comunidades de algas e invertebrados
marinhos da zona intertidal a distúrbios
já existentes ou previstos para o futuro.
Foram utilizadas quatro abordagens de
forma a analisar, quer como os organismos
lidam com estes distúrbios, quer como
conseguem recuperar assim que estes
terminam, nomeadamente:
• calcular os efeitos das alterações da
intensidade e da época da aplicação dos
distúrbios;
• avaliar a capacidade de organismos que
Contagem de espécies numa poça-de-maré
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 33
ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDARua Alfredo Dias,
Praia da Aguda
4410-475 Arcozelo
Vila Nova de Gaia
Tel.: 227 536 360
fax: 227 535 155
[email protected]ção-ela.pt
modelam os ecossistemas como os
mexilhões, capazes de proteger outras
espécies, de amortecer distúrbios, quer
humanos, quer físicos, semelhantes
aos causados por eventos climáticos
extremos que ocorram simultaneamente;
• comparar a variação ao longo do espaço
e do tempo das comunidades naturais
entre áreas altamente urbanizadas e
outras de referência, menos impactadas;
Zona intertidal durante a maré baixa
Zona intertidal na praia da Aguda
Assoreamento intertidal junto ao quebramar da Aguda
Poluição intertidal
• examinar a capacidade de recuperação
de organismos bênticos após o fi m de
distúrbios experimentais.
De entre as várias conclusões realçam-se:
• o número total de espécies, um
indicador da biodiversidade, que se
manteve relativamente constante em
todos os locais avaliados, ao longo do
tempo, revelando uma semelhança
considerável entre todas as praias
investigadas;
• a relação direta entre a intensidade
do distúrbio (evidentemente dentro
de determinados limites) e a
heterogeneidade da comunidade;
• a necessidade da inclusão de escalas
temporais e espaciais adequadas em
estudos ambientais;
• a confi rmação da capacidade de
resiliência de organismos marinhos
intertidais a grandes variações das
condições ambientais e à ocorrência
recorrente de distúrbios, conseguindo
resistir-lhes ou recuperando deles
rapidamente, sendo introduzidas
apenas alterações na sua abundância
mas mantendo-se a sua identidade.
As conclusões obtidas no decurso deste
doutoramento contribuem de forma
relevante para o desenvolvimento do
conhecimento científi co que é essencial
para uma integração sustentável entre a
utilização humana do litoral e o bem-estar
ecológico, procurando dotar as autoridades
decisórias de ferramentas que possam
facilitar a gestão ambiental desta zona de
interface mar-terra.
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34 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Local de passagem importante para
muitas aves migradoras, a Reserva
Natural Local do Estuário do Douro
continua a ser palco de inúmeras
observações de vida selvagem
Dez anos depois do primeiro
registo na Reserva Natural
Local do Estuário do Douro
(RNLED), 7/4/2004, o papa-
ratos, Ardeola ralloides, volta agora a
ser observado, e de novo na primeira
semana de maio.
A ave permaneceu pelo menos três dias
na zona de sapal da Reserva.
Apesar de ser uma ave colonial, em
Portugal nidifi ca de forma isolada ou em
pequenos núcleos, sendo rara e algo
irregular.
O “Livro Vermelho dos Vertebrados
de Portugal” considera esta espécie
“criticamente em perigo”.
É uma espécie migradora que inverna
em áreas a Sul do deserto do Sara,
valendo destacar que a população
Estuáriodo Douro
34 DUNAS
europeia está dependente das condições
existentes na zona de invernada.
Borrelho-pequeno--de-coleiraO borrelho-pequeno-de-coleira (Chara-drius dubius curonicus) é uma pequena
limícola que depois da reprodução se
junta em bando.
No passado era uma espécie que
nidifi cava em muitos locais dos rios
do Norte do país. As barragens do
Douro e a utilização das margens
para lazer, desportos e praias fl uviais
contribuíram para reduzir os areais que
proporcionavam locais adequados à
reprodução.
A distribuição na Europa Ocidental é
muito fragmentada, sendo a subespécie
“curonicus” muito migradora.
Na Europa ocorre a subespécie “curonicus”
que tem uma ampla distribuição Paleártica
(do Atlântico até ao Pacífi co), tendo esta
subespécie um caráter migratório muito
acentuado.
É mais solitária que o borrelho-grande-
de-coleira (Charadrius hiaticula) que
normalmente ocorre em bandos no litoral.
J. A. Júnior em “Aves de Portugal” (1931)
e William Tait em “Birds of Portugal” (1924)
referem que no passado o Charadrius dubius curonicus efetuava a passagem para Sul “em
certa quantidade na foz do rio Douro”.
Esta espécie está registada para o
estuário, contudo nos últimos seis anos
não havia nenhum registo de ocorrência
na zona. Assim, a presença desta ave
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 35
Ser andorinha-do-mar por uns dias
que foi documentada na RNLED de 7 a
13 de junho de 2014 torna-se um registo
importante.
No passado era uma espécie nidifi cante em
muitos locais dos rios do Norte de Portugal,
nomeadamente no rio Douro.
Hoje é pouco comum e muito localizada,
tal como comprova o “Atlas das Aves
Nidifi cantes em Portugal” (1999-2005).
É de referir que este borrelho é uma
espécie bastante fi lopátrica (fi el aos
locais de ocorrência), o que pode ser
uma caraterística determinante para que
comece a surgir com mais frequência na
RNLED que se tornou mais “apetecível”
dadas as condições atuais de baixa
perturbação e melhorias de habitat.
Texto Paulo Paes de Faria
Entre 28 e 30 de junho foi possível observar um grupo de mais de três dezenas
de andorinhas-das-barreiras (Riparia riparia) no mar batido por um vento
moderado de Noroeste, rasando as ondas.
Demonstravam grande perícia e agilidade, dignas de mestres de voo. Tal
como o fazem as andorinhas-do-mar, as pardelas e os paínhos, aves nascidas para
viver no alto-mar.
Estas andorinhas-das-barreiras, pequenos Passeriformes terrestres (pesam 18-20
gramas), certamente não realizaram esta “aventura marinha” por teimosia, diversão
ou para serem radicais, os riscos seriam demasiados…
Não apresentando sinais de estarem a alimentar-se, provavelmente estariam a
preparar-se para a primeira longa viagem, uma aventura que irá testar as suas
capacidades de sobrevivência. As andorinhas-das-barreiras são aves migratórias e
as suas vidas são feitas de desafi os, que representam a sua sobrevivência.
Dentro de poucas semanas estas pequenas andorinhas terão de realizar uma grande
viagem rumo a África, onde irão enfrentar grandes desafi os: o mar é um deles.
Atravessar extensões de mar agitado exige uma certa preparação e “endurance”.
Esta observação realizada na RNLED justifi ca que se chame à andorinha-das-
barreiras, andorinha-do-mar, demonstrando que não nos devemos preocupar
excessivamente em rotular, mas sim observar, conhecer e apreciar o que nos rodeia.
Quando visitar a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, se não conseguir
identifi car muitas das aves que observa não se sinta desmotivado.
Desfrute e usufrua dos momentos que lhe proporcionam as aves que vê. A seu
tempo vai dando conta que as conhece cada vez melhor.
Fica esta lição: uma andorinha-das-barreiras também pode ser uma andorinha-do-
mar…
Texto Francisco Bernardo e Paulo Paes de FariaFotos Francisco Bernardo
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36 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
36 MUSEU
Centro Interpretativo do Património da Afurada O Centro Interpretativo do Património da
Afurada (CIPA) é um espaço destinado a
interpretar, refl etir e expor o ambiente e a
atividade humana no território da Afurada.
O CIPA foi palco da “Hora do Conto”,
atividade em que um escritor convidado,
neste caso Aurelino Costa, contou uma
história a crianças em idade escolar.
Esta foi a primeira sessão de uma série de
"Horas do Conto" a realizar no CIPA com
a colaboração da Biblioteca Municipal,
e regressa em setembro com outros
escritores.
Entretanto, até 21 de setembro, uma das
exposições que pode visitar neste espaço
museológico leva o título «Remanso» e
a autoria é de Osvaldo Gaia, um artista
brasileiro proveniente de uma vila piscatória
no Brasil.
Resultado de uma parceria entre o Parque
Biológico de Gaia e a Administração
dos Portos do Douro e Leixões, o CIPA
está equipado com modernos meios
tecnológicos, englobando áreas com
exposições permanentes e temporárias.
Trata-se de um lugar «identitário e
relacional» que ajuda à dinamização da
Afurada e incentiva a presença de turistas.
Mais dia menos dia, agora que o verão
apela a sair e visitar, dê um pulo ao CIPA,
que está aberto todos os dias, entre as
10h00/12h30 e 13h30/18h00.
“Hora do Conto”, histórias para crianças em idade escolar
«Remanso», da autoria de Osvaldo GaiaJoão L
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 37
ESPAÇOS VERDES 37
Situado na proximidade da Suldouro, este novo parque
possui um amplo jardim, um lago, um campo de futebol e
uma área de equipamentos geriátricos.
O presidente do Município de Vila Nova de Gaia disse
que «esta obra, que começa por ser um espaço verde,
vai agora continuar para espaço desportivo dedicado à
população, mas não será cativo de nenhum mega-clube
ou instituição».
O presidente da União de Freguesias de Grijó e
Sermonde, César Rodrigues, presente no certame,
sublinhou que «este local devia ter sido inaugurado há dez
anos», pois «era uma das contrapartidas à construção do
aterro sanitário».
Estas palavras não surpreendem na medida em que
o parque agora inaugurado responde a um desejo de
vários anos por parte da união de freguesias de Grijó e
Sermonde.
O Parque de Lazer de Sermonde foi alvo de um
investimento de 29 mil euros e é mais um exemplo da
expansão dos espaços de usufruto público no concelho
de Vila Nova de Gaia. No evento percebeu-se haver
vontade no futuro, por parte da Câmara Municipal, de
investir em melhoramentos diversos, como a construção
de um “court” de ténis e de um bar.
O presidente da Câmara de Vila Nova
de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues,
inaugurou o Parque de Lazer de
Sermonde no passado dia 28 de julho
Parque de Lazer de Sermonde
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38 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
38 ESPAÇOS VERDES
As mulheres do campo vêm à vilaAos sábados de manhã, venda de legumes
sem pesticidas.
YogaA orientação é da responsabilidade
da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona
a atividade em regime de voluntariado.
Quartas e sextas-feiras às 9h45.
Tai ChiÀs segundas e às quintas-feiras, aulas às 9h30.
Entrada grátis. Participação nesta última
atividade sujeita a marcação por e-mail:
Agenda
Parque da Lavandeira
Em Oliveira do Douro, este parque centra-se no lazer dos seus visitantes.
Proporciona percursos pedestres, locais para merendar, jardins temáticos e,
entre outros motivos de interesse, muita animação.
Os percursos no meio do avoredo, permeados com aprazíveis áreas para
merendar, passam nas imediações de um lago, elemento central do
Parque da Lavandeira.
Dali vê-se a cafetaria, um local onde pode tomar um chá ou um café
numa pausa dos passeios que ali fi zer.
Quem visita este Parque aprecia particularmente o percurso que, em pleno
estio, proporciona abundante sombra e uma bela paisagem.
Um espaço verde com estes atributos arrisca-se a ser o local ideal
para a realização das mais diversas iniciativas.
Não é de admirar por isso que novas atividades vão sendo marcadas à medida
do calendário mais próximo. A melhor maneira de as acompanhar é
através de uma consulta regular à agenda.
Propriedade do Município de Vila Nova de Gaia, este moderno espaço verde,
o Parque da Lavandeira, pode também ser visitado através de computador, no
modo Street view/Google maps. Mas agora que o verão se passeia pelos seus
dias, à sombra do arvoredo, mesmo que seja adepto da eletrónica, continua
é a apetecer mais, isso sim, pôr-se a caminho e apurar os seus sentidos ao
passear pelo seu próprio pé no parque.
Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook,
no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira),
ou telefonar para 227 878 138
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Teix
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Parque da Quinta do Conde das Devesas
Embora se veja neste espaço verde mais fl ora além
dos numerosos exemplares de camélia, a abundância
de espécies deste grupo encontradas quando da
construção do parque sugeriu que fosse dedicado
um setor específi co a este grupo de plantas.
O Parque agrega perto de 130 exemplares destas
árvores muito próximas do arbusto do chá e também
chamadas japoneiras.
Curiosamente, um estudo de Frederick Gustav Meyer
(1959), do Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos da América, indica que as camélias de Vila
Nova de Gaia são os mais antigos exemplares até
agora registados na Europa, plantados em 1550.
Com as portas abertas para si todos os dias, das
10h00 às 18h00, pode chegar a este parque também
através de GPS – 41º7’58.98”N/8º37’8.36”W, mas
para ali chegar basta saber que o Parque do Conde
das Devesas fi ca perto do Cais de Gaia, mais
propriamente na Rua D. Leonor de Freitas. O Parque da Quinta do Conde das Devesas acolhe uma importante coleção de camélias
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 39
Parque Botânico
do Castelo
Ao visitar o Parque Botânico do Castelo, em Crestuma,
difi cilmente deixará de ver este verão o maior lepidóptero
europeu, pelo menos entre diurnas: a borboleta-do-
medronheiro, Charaxes jasius Linnaeus, 1767.
Não é tida como ameaçada mas, curiosamente, a maior
parte das pessoas não a conhece
nem de vista.
A presença de medronheiro neste sítio é responsável pela
observação desta borboleta de asas
grandes e voo vigoroso. Enquanto lagarta, esconde-se
entre as folhas deste arbusto e vai crescendo até que,
depois de crisalidar, se transforma em borboleta.
É curioso notar as espécies de plantas de índole
mediterrânica que existem neste parque botânico, mercê
do microclima desta margem sul do rio Douro, que corre
mais em baixo.
Além dos medronheiros e das borboletas que dependem
deles, muito mais há para dar gosto à vista no parque, que
o fará apreciar a visita. Borboleta-do-medronheiro, habitual no verão no Parque Botânico do Castelo
Jo
rge G
om
es
Parque da Ponte de Maria PiaEste espaço verde oferece à população um novo
local de lazer a partir dos antigos estaleiros dos
caminhos-de-ferro junto à ponte de Maria Pia, que
se encontravam desativados há anos.
É uma ponte com história. Na sua época, a ponte
de Maria Pia foi uma obra de engenharia que
deslumbrou portugueses e estrangeiros.
Inaugurada a 4 de novembro de 1877, contou com
a presença do rei D. Luís I e com a rainha D. Maria
Pia, que lhe deu o nome.
Localizado na Alameda da Serra do Pilar, na
freguesia de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia,
está aberto aos visitantes todos os dias entre as dez
e as 18h00.
O espaço da antiga linha de caminho de ferro Porto/
Lisboa, desativada com a construção da nova
ponte ferroviária, ganhou, assim, um novo uso com
vista a servir o interesse público.João L
. Te
ixeira
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40 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
40 ESPAÇOS VERDES
Até 30 de setembro pode
concorrer à edição deste ano
do Concurso Nacional
de Fotografi a da Natureza
Parques e Vida Selvagem
Concurso de Fotografi a
Organizado pelo Parque Biológico de Gaia este concurso
conta já 12 anos e junta muitos fotógrafos da natureza.
Este tipo de trabalho é uma das formas de dar a
conhecer o património natural do país, fazendo com
que daí derive uma maior compreensão no sentido
de o conservar.
Encontra o regulamento e a fi cha de inscrição no site
www.parquebiologico.pt indo a Atividades/Fotografi a da Natureza. Dê um gosto ao dedo! Clic... clic, clic.
Agenda
Dos rios aos oceanosA Conferência Nacional Infanto-juvenil pelo Ambiente "Dos rios aos
oceanos, percursos entre muitas histórias", iniciativa apoiada por várias
instituições, reuniu centenas de crianças em idade escolar no Parque
Biológico de Gaia no passado dia 5 de junho.
Trata-se de um projeto pedagógico concebido e desenvolvido pela
ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental, da iniciativa
da Comissão Europeia e promovido pelo Centro de Informação Europeia
Jacques Delors (CIEJD), Direção-Geral dos Assuntos Europeus – Ministério
dos Negócios Estrangeiros, na qualidade de organismo intermediário
responsável pela execução do plano de comunicação para informação
sobre a União Europeia em Portugal.
Esta conferência nacional «tem por objetivo fortalecer a educação
ambiental nos sistemas de ensino, propiciando atitudes responsáveis e
comprometidas da comunidade escolar com as questões socioambientais
locais e globais», informam os organizadores, e adiantam que confi gura
«um espaço de refl exão e partilha de experiências por milhares de crianças.
Estas, juntamente com os seus professores, mostram ter sensibilidade
para as questões ambientais ao mesmo tempo que apresentam trabalhos
artísticos de interesse relevante para suscitar novas atitudes».
O evento contou com a presença da vereadora do Peloutro do Ambiente
do Município de Vila Nova de Gaia, Mercês Ferreira.
o
Els
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anto
s
João L
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ixeira
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 41
Sábado no Parque Dia 6 de setembro o Parque
prepara algumas atividades
especiais para os seus visitantes.
Com início às 11h00, há lugar
ao atelier “Abutres, recicladores
naturais”.
Às 14h30 decorre a conversa
do mês: “O abutre e suas
ameaças” (comemoração do
Dia Internacional do Abutre)
e às 15h30 haverá uma visita
guiada por técnicos do Parque
e, simultaneamente, percurso
ornitológico.
Em 4 de outubro, às 11h00,
o atelier é preenchido com
“Anilhagem científi ca de aves
selvagens” e depois do almoço
a conversa do mês será sobre
a comemoração do Dia do
Animal.
Nestes dias, às 22h00 há
observações astronómicas, se
as condições meteorológicas o
permitirem.
Em cada um destes sábados há um
novo Animal, uma nova Planta e um
novo livro do Mês.
Anilhagem científi ca de aves selvagens Nos primeiros e terceiros sábados
de cada mês, das dez ao meio-dia,
os visitantes do Parque podem
assistir a esta atividade na Quinta do
Chasco de passagem pelo percurso
de descoberta da natureza, se não
chover. Está em causa o bem-estar
animal.
Orientada por anilhadores
credenciados, há uma dúzia de
formandos que prosseguem no
objetivo de aprenderem sempre mais
nesta iniciativa útil para um melhor
conhecimento da população de aves
da região.
O Parque Biológico de Gaia
colabora com a Central Nacional de
Anilhagem, coordenada pelo Instituto
de Conservação da Natureza e das
Florestas, num projeto europeu de
Estações de Esforço Constante, para
monitorização das aves selvagens.
Ofi cinas de Verão Para crianças e jovens dos seis aos
14 anos. Decorrem nas semanas de
30 junho a 4 julho, de 7 a 11, de 14
a 18 e 21 a 25 de julho, de 28 de
julho a 3 de agosto, de 4 a 8, 11 a
15, 18 a 22 e de 25 a 29 de agosto.
A entrada diária é às 9h00 e a saída
às 18h00. Saiba mais no Gabinete de
Atendimento do Parque.
Vindima no Parque Dia 20 de setembro, sábado, entre as
dez e o meio-dia e entre as 14h00 e
as 15h00, há vindima no Parque.
Recriação da desfolhada Dia 11 de outubro, entre as 15h00
e as 17h00, o milho é rei, com
a colaboração de um Rancho
Folclórico. Contacte o Gabinete de
Atendimento do Parque.
Abertura da exposição do Concurso Nacional de Fotografi a da Natureza "Parques e Vida Selvagem" Dia 1 de novembro, sábado, às
15h00, abre esta exposição com a
entrega de prémios aos concorrentes
distinguidos pelo júri.
Observação de aves selvagensNos primeiros domingos de cada
mês, entre as dez e o meio-dia, leve,
se tiver, um guia de campo de aves
europeias e binóculos à Reserva
Natural Local do Estuário do Douro.
Com telescópio, estará um técnico
do Parque para ajudar os presentes
a identifi car as aves do litoral a partir
dos observatórios ali instalados.
Há iniciativas que irão decorrer
em breve no Parque Biológico de Gaia
que podem interessar-lhe...
Receba notícias por e-mailPara os leitores saberem
das suas atividades a curto prazo,
o Parque Biológico sugere
uma visita semanal a
www.parquebiologico.pt
A alternativa será receber os destaques,
sempre que oportunos, por e-mail.
Para isso, peça-os a
Mais informações Gabinete de Atendimento
[email protected] direto: 227 878 138
4430-861 Avintes - Portugal
www.parquebiologico.pt.
SáDi
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Prémio na categoria Flora, Líquenes e Fungos: “Graal” (2013)
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42 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
42 ESPAÇOS VERDES
Workshop de
pirilampos ibéricosSábado, 14 de junho, o Parque Biológico de Gaia
organizou um workshop sobre pirilampos da Península
Ibérica, com coordenação científi ca de Raphael De Cock,
investigador associado da Universidade de Antuérpia,
Bélgica, e José Ramón Guzmán Álvarez, da Universidade
de Córdoba, Espanha.
O evento contou com cerca de 30 inscritos e teve uma
parte teórica, durante a tarde, seguindo-se a componente
prática de noite.
Raphael De Cock começou por dizer que há na Europa
65 espécies de pirilampo, de oito géneros, sendo 11 as
espécies da Península Ibérica.
É possível encontrar pirilampos
nos habitats onde haja
populações normais de caracóis
e lesmas.
Na fase de larva os pirilampos
são seus predadores.
Sítios que estejam nas
redondezas de charcos e ribeiros,
que não sejam iluminados de
noite e onde não haja uso de
pesticidas e herbicidas são
promissores para excelentes
observações e registos em várias
épocas do ano.
Regra justa e certeira:
obrigatório fotografar no local,
sem transporte do inseto
luminescente.
Depois, não deixe de partilhar
essa informação.
Para Portugal, concretamente, são dadas dez.
A mais recente é o pirilampo-ibérico, Lampyris iberica, que até 2008 se pensava ser a mesma que
Lampyris noctiluca, esta talvez a espécie europeia
mais generalizada com distribuição muito além dos
Pirenéus.
Um investigador britânico, John Day, a dada altura
descobriu que a enzima luciferase – que tem um papel
importante na produção de luz – não condizia numa
e na que é agora outra espécie. Na Península Ibérica,
contudo, considera-se hoje que existem ambas.
Ramon Álvarez, organizador do projeto Gusanos de
Luz, em funcionamento em Espanha, explicou o seu
gosto pelo tema e a participação obtida junto dos
seus conterrâneos.
Com vista a conseguir, com a ajuda de todos
os que queiram colaborar, agregar dados sobre
que espécies existem e onde, criou-se um grupo
aberto no Facebook – https://www.facebook.com/groups/vistepirilampos/ – ao qual qualquer pessoa
interessada pode aderir e participar através da
colocação das suas fotografi as com respetiva data
e local.
Como procurar?
Jorg
e G
om
es
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 43
Namoro de pirilampos
O Dia Mundial da Criança e as Noites dos
Pirilampos incluíram, no formato de teatro de
fantoches destinado à infância, «O namoro
dos Pirilampos», uma peça que dá um
cheirinho dos encontros e desencontros
imaginários do amor entre estes insetos que
têm a particularidade de brilhar no escuro.
Com um ciclo de vida que passa por
ovo, larva, pupa e inseto adulto, os
pirilampos são animais do grupo dos
coleópteros e levam na peça nomes mais
acessíveis, nomeadamente Luciolinha,
Fosfanus, Pirilamponzinho, entre outros. A
desclassifi cação de pretendentes sucessivos
leva por fi m a um fi nal feliz.
Com produção de Ilha Mágica, a
dramatização da peça foi de Manuel Franklin
e parte de um texto de Jorge Gomes.
Os atores Diogo Azevedo e Andreia Rocha
deram voz e corpo à peça.
Jo
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44 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Pirilampos – esses desconhecidos
Que os vaga-lumes
atraem muita gente,
disso não há dúvida:
as Noites dos
Pirilampos que o
Parque Biológico
de Gaia realiza há já
muitos anos são
prova disso…
luciérnaga?» (viste um pirilampo) que se apoia
no site gusanosdeluz.es.
Este workshop foi ótimo. Conseguiu-se
partilhar conhecimentos e trocar ideias.
Fiquei até surpreendido com a afl uência e o
interesse demonstrado pelas pessoas que
participaram.
Não há muita gente disposta a escutar
palestras durante três horas seguidas.
Tenho por isso razões para estar contente
porque houve uma boa resposta. Surgiram
as primeiras ideias e deram-se os primeiros
passos no sentido de se estabelecer
uma plataforma de índole nacional para
observação e registo de pirilampos em
Portugal.
Além disso, a visita noturna ao Parque foi
sensacional: observámos diferentes estádios
de desenvolvimento e espécies de pirilampos.
Vimos machos, fêmeas e larvas de Lampyris iberica, larvas e machos de Luciola lusitanica, e larvas, machos e uma fêmea de
Lamprohiza mulsantii – isto é muito bom!
Há algum interesse em que os leitores participem, e a população em geral, sobre o que se passa nos seus jardins e na sua região em matéria de ocorrência de pirilampos?
Armadilha luminosa
O problema coloca-se de forma
premente quando se fala de
investigação científi ca. Como
é possível haver ainda tanto
para saber sobre estes pequenos insetos
bioluminescentes?
Face à Europa além-Pirenéus, a
Península Ibérica conta com bastantes
mais espécies!
Aproveitámos a passagem por Portugal
de dois cientistas desta área, Raphael
De Cock, conhecido investigador belga
ligado à Universidade de Antuérpia, e
Ramón Guzmán Álvarez, de Espanha,
coordenador do projeto “Has visto una
luciérnaga?”.
Ambos, com a colaboração do Parque
Biológico de Gaia, deram corpo a um
workshop sobre pirilampos da Península
Ibérica no passado dia 14 de junho.
Como surgiu a ideia de realizar este workshop?Raphael De Cock – O facto é que, após
alguns anos de colaboração, temos
tido algum avanço em Espanha graças
ao trabalho de Ramón Guzmán Álvarez
através do seu projeto «Has visto una
44 ENTREVISTA44 ENTREVISTA
Observação noturna de pirilampos durante o workshop
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 45
Raphael De Cock – Na Bélgica
(waarnemingen.be) e em Espanha
(biodiversidadvirtual.org e gusansosdeluz.es) trabalhamos com muito bons
resultados nesse sentido.
Não é complicado pôr o sistema
a funcionar. Além da atenção dos
colaboradores, apenas se torna necessária
a cooperação de pessoas que saibam
identifi car a espécie que se vê nas fotografi as
e dar essa informação em tempo útil.
Os pirilampos estão mesmo a desaparecer?Raphael De Cock – Não temos dados
que permitam afi rmar isso. Um bom
começo será criar um sistema de colheita
de observações de todo o país, uma
vez que isso permitirá saber onde ainda
Bioluminescent bugs The problem is more urgent when it comes to scientific research. How is it possible that there is so much to learn about these bioluminescent bugs? When compared to the rest of Europe, the Iberian Peninsula has a much higher number of species. Without a doubt, Fireflies draw the attention of a lot of people: the very successful “Firefly Nights” organized by the Parque Biológico de Gaia are proof of that.
existem pirilampos e quais as espécies
observadas.
Um pouco por todo o mundo ouvimos
pessoas a dizer que já não os veem em
determinado lugar ou que são menos,
mas isso também pode resultar da
mudança do nosso ritmo de vida e de
termos no modo de vida citadina um
menor contato com a natureza.
Estamos em plena Década da Biodiversidade, criada pelas Nações Unidas. Se não se investigar agora os pirilampos, depois poderá ser demasiado tarde? Raphael De Cock – Penso que já é tarde
para saber tudo o que se podia saber.
Apesar destes insetos serem especiais
há poucos cientistas a investigá-los.
Especialmente na Europa temos uma
escassez de conhecimento geral sobre
a sua biologia e distribuição, nem sequer
um Livro Vermelho das espécies de
pirilampo existe quando algumas destas
parecem ocorrer apenas em áreas muito
reduzidas e sem qualquer estatuto de
proteção.
Texto e fotos Jorge Gomes
Os pirilampos são seres frágeis e pertencem ao grupo dos coleópteros
Raphael De Cock instala uma armadilha luminosa durante o Workshop sobre Pirilampos da Península Ibérica
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46 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
«É uma alegria imensa observar
estes insetos tão atrativos»,
diz Ramón Guzmán Alvarez e,
completa, «poder contemplar
o espetáculo da Noite dos Pirilampos, com
tantos Luciola lusitanica no Parque…»
deixa-o maravilhado quando o relógio já
marcava as 22h00.
Ao longo do percurso, no solo do bosque,
há muitas luzes, que correspondem a larvas
e fêmeas adultas de várias espécies de
vaga-lume. Pelo ar, piscam os machos do
género Luciola.
De nacionalidade espanhola, morador na
região de Sevilha, deslocou-se a Vila Nova
de Gaia propositadamente para participar
no Workshop sobre Pirilampos da Península
Ibérica, que decorreu em 14 de junho no
Parque Biológico de Gaia.
«É extraordinário poder trabalhar neste
projeto comum com colegas naturalistas
portugueses. Integramos a mesma área
de interesse e podemos aprender muito
uns com os outros», explica e assinala:
«Infelizmente, não pudemos contar com
mais presenças provenientes de Espanha.
É possível que o facto de Vila Nova de Gaia
fi car distante e de, na realidade, não haver
ainda muitos estudiosos de pirilampos no
meu país, tenha tido como resultado essa
que os pirilampos estão a desaparecer,
creio que é possível que isso possa estar
a acontecer».
Realmente, «as transformações recentes
das paisagens rurais não vão na direção
de favorecer os pirilampos, mas ao invés.
O aumento da luminosidade noturna,
a urbanização ou o uso excessivo de
produtos químicos não são bons para
estes insetos».
O facto de se estar em plena Década da
Biodiversidade, proclamada pelas Nações
Unidas, é interpretado por Ramón como
sendo «um bom estímulo para se ter mais
empenho no sentido de conhecer melhor
a biodiversidade».
O eventual excesso de iluminação noturna,
a chamada poluição luminosa, merece
mais um reparo. Ramón diz que «é uma
das grandes ameaças para os pirilampos
porque é um fator de confusão para o
acasalamento. Em todo o caso, quando
se passeia de noite é apelativo contemplar
tantas luzes e com tanta intensidade.
Mas é realmente necessário?», pergunta
e realça: «Além disso, deve custar muito
dinheiro. Às vezes fazemos coisas um
pouco exageradas», conclui.
Texto e foto Jorge Gomes
46 ENTREVISTA
Em Espanha os pirilampos são luciérnagas
ausência, mas a assistência e a hospitalidade
portuguesa foram sensacionais».
Inquirido sobre a validade do workshop,
sublinha que «o principal resultado consistiu
em dar sequência de algum modo ao
objetivo que nos tínhamos proposto:
contactar com os naturalistas portugueses
e começar a colaborar num projeto
comum sobre a distribuição e ecologia dos
pirilampos».
Adianta ainda que «tínhamos em vista
apresentar o site que possuímos sobre os
pirilampos de Espanha: “¿Has visto una
luciérnaga?” – www.gusanosdeluz.es».
Ramón afi rma que é importante haver
uma cooperação com a população em
geral no sentido de esta dar notícia das
suas observações através de fotografi as:
«As novas tecnologias permitem ampliar o
nosso conhecimento da natureza através
da participação social. De outro modo seria
impossível recolher tanta informação como a
que se obtém através destes colaboradores,
e todos podem contribuir com informação de
grande qualidade».
Aqui e ali ouve-se pessoas que creem que
os pirilampos já não brilham em tantos sítios
como no passado.
Ramón pensa que, «apesar de ainda não
termos dados quantitativos para demonstrar
Raphael De Cock e Ramón Guzmán Álvarez observam uma larva de pirilampo do género Lampyris
No país vizinho, Ramón
Guzmán Álvarez tem em
mãos um projeto chamado
“Has visto una luciérnaga?”
que faz o levantamento
das espécies de pirilampo:
a que mais vê a voar
nas Noites dos Pirilampos
– Luciola lusitanica – em
toda a Península Ibérica só
está dada para Portugal
46 ENTREVISTA
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 47
ESPAÇOS VERDES 47
Noites dos Morcegos e das Borboletas Noturnas
Armadilhagem luminosa de borboletas noturnas
Em 4 e 5 de julho, às 21h00, o Parque
Biológico de Gaia abriu as portas e muita
gente fez questão de estar presente, ouvindo
atentamente e colocando perguntas a
Henrique N. Alves, técnico do Parque.
As Noites dos Morcegos permitiram
esclarecer que estes mamíferos
alados, animais «muitas vezes olhados
como mau presságio», são de
facto «inofensivos e não causam
prejuízo, revelando-se úteis, pois
destroem grandes quantidades
de insetos, combatendo assim
pragas agrícolas e fl orestais e
limitando a ação desses eventuais
propagadores de doenças». Dois
dos géneros, Myotis e Pipistrellus,
foram mais fáceis de identifi car através
do descodifi cador de ultra-sons.
Dias mais tarde, em 17 de julho, entre
as 21h00 e as 23h00, houve lugar no
mesmo Parque à celebração das Noites
Europeias das Borboletas Noturnas,
igualmente com elevada afl uência.
Nestas sessões foi possível dar a
conhecer aos visitantes fasquias de
biodiversidade menos conhecidas,
salientando o seu papel importante no
O ano do mochoNeste início de verão já não havia como
duvidar – 2014 é o ano do mocho no Centro
de Recuperação de Fauna do Parque
Biológico de Gaia.
Uma quantidade invulgar de juvenis de
mocho-galego deu entrada este ano no
centro de recuperação.
As razões não são claras ainda, mas
é normal as diversas espécies de vida
selvagem ano a ano fl utuarem em termos de
densidade das suas populações. Mais assim
será quão mais instáveis se apresentarem
as condições de sobrevivência em que se
enquadram.
O mocho-galego é uma ave de rapina
noturna de pequeno porte que se adapta
bem até aos subúrbios das grandes cidades.
Como se alimenta de pequenos mamíferos,
répteis de menor dimensão e até de insetos,
acaba por encontrar nutrição e cria prole
num nicho tantas vezes impercetível ao ser
humano.
Como acontece com outras aves de rapina
noturnas, é habitual as crias de mocho-
galego abandonarem o ninho precocemente,
embora fi quem debaixo dos cuidados dos
progenitores.
Não tendo a maior parte das pessoas noção
disso, quando vê uma cria – os pais são
discretos, não estarão à vista – pensa logo
estar abandonada e naquela circunstância
irá inevitavelmente morrer. No entanto,
há perigos à espreita: estradas próximas,
predadores domésticos, incêndios, etc.
Nestes casos não hesite, dê-lhes mais uma
oportunidade.
Será esta a história da maior parte das
aves deste jaez entradas no centro de
recuperação.
Estando ao longo deste tempo a ser
acompanhadas no seu crescimento, assim
que se encontrarem em condições de
regressar à vida selvagem serão rapidamente
libertadas em habitat adequado.
mapa da biodiversidade de que fazemos
parte. Nesta sessão fotografou-se para a
listagem do Parque mais duas espécies —
Bostra obsoletalis (Mann, 1884) e Caloptilia
robustella ou Caloptilia alchimiella, havia só
que analisar a genitália…
Caloptilia robustella ou Caloptilia alchimiella, havia que analisar a genitália para distinguir qual seria, se uma se outra
Moma alpium
Rhodometra sacraria
HN
A
HN
A
HN
A
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Centro de Recuperação
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48 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
48 ESPAÇOS VERDES
Fauna
O juvenil de milhafre nascido este ano, à esquerda
Vieram para fi car
O casal reprodutor selvagem chegou
ao Parque Biológico de Gaia em início
de março, vindo de África, e no verão
já pelo menos uma cria de milhafre-
preto, Milvus migrans, voava sobre o
ninho que os visitantes mais atentos
do parque se habituaram a ver junto ao
açude, na árvore mais alta desta parte
da margem do rio Febros.
Uma leitura do Plano Setorial da Rede
Natura 2000, disponível na internet, no
que diz respeito a esta ave de rapina,
aponta-a como espécie monogâmica
que mantém o mesmo par durante
vários anos, embora essa ligação seja
aparentemente sazonal nas populações
migradoras.
Adianta também que estes casais
podem nidifi car isoladamente ou em
pequenos aglomerados, formando
colónias geralmente pouco densas.
Quando em viagem, é frequente vê-los
entre março e agosto próximo das
estradas, onde procuram e recolhem
cadáveres de animais vitimados por
atropelamento.
Durante a época de reprodução,
os casais dormem no ninho ou nas
suas imediações. Os indivíduos não
reprodutores e os adultos fora da época
milhafre-pretoMilvus migrans
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 49 Parques e Vida Selvaagem veerão 20114 • 49
Planta do grupo das hepáticas, com um corpo taloso que
se bifurca repetidamente, com cerca de 2 mm de largura
e vários centímetros de comprimento. Cresce aderente
ao substrato, geralmente em planos verticais, em tufos
achatados. A superfície ventral (superfície aderente ao
substrato) tem pequenos pêlos hialinos que ajudam à
fi xação da planta. A intensidade da sua cor verde depende
do grau de luminosidade, mas os talos são quase sempre
semi-transparentes dado que são uniestratifi cados (apenas
uma célula de espessura), daí o nome comum se referir à
semelhança com um véu. A zona central, não transparente
do talo, corresponde à nervura.
Esta planta pode reproduzir-se de duas formas: de forma assexuada, através de
gemas em forma de disco que surgem na margem do talo; ou de forma sexuada,
através de anterídeos (órgãos reprodutores masculinos) e arquegónios (órgãos
reprodutores femininos) que se desenvolvem em plantas separadas, já que se trata
de uma espécie dióica.
Esta hepática é comum nos troncos de muitas espécies de árvores e arbustos
autóctones ou alóctones, geralmente em territórios com altitude até aos 600
metros. Em Portugal, é comum nas zonas de infl uência atlântica e é uma espécie
tolerante a alguma secura, mas não muita poluição atmosférica.
Tal como outras plantas, as espécies do género Metzgeria apresentam disjunções
intercontinentais, ou seja, as mesmas espécies podem ocorrer em continentes
separados por grandes oceanos. No entanto, nem sempre a realidade é o que
aparenta ser. A maior parte das espécies foi classicamente defi nida com base na
sua morfologia (aspeto exterior e mensurável a olho nu ou com a ajuda de um
microscópio), porém estudos genéticos recentes revelaram que as populações
de Metzgeria furcata do continente americano pertencem a uma espécie diferente
de outras duas espécies que ocorrem na Europa. Como estas três espécies só
se distinguem ao nível genético designam-se de “crípticas”, porque é impossível
distingui-las através da morfologia. Como tal, continuaremos a chamar-lhes o
mesmo nome, mas sabemos que a sua taxonomia é mais complexa do que é
pragmático reconhecer com as atuais formas de identifi cação de plantas baseadas
em chaves dicotómicas. Mais uma vez, o avanço do conhecimento científi co é mais
rápido do que o Homem pode absorver nas suas rotinas de trabalho e de vida.
Metzgeria furcata (L.) Dumort.
Hepática de véu
Flora
Cristiana Vieira e Helena HespanholCIBIO-InBIO
Paula
Port
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L.
Teix
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de reprodução formam dormitórios
comunais, que podem ter dezenas ou
mesmo centenas de indivíduos.
No Choupal, em Coimbra, foram
já contados por diversas vezes a
entrar no dormitório cerca de 350
indivíduos. Os dormitórios podem
localizar-se vários anos nas mesmas
árvores.
As crias atingem a independência
em fi nais de junho e durante o mês
de julho. Ambos os progenitores
alimentam as crias, geralmente em
número de uma a três.
Voltarão para o ano?
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50 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
50 ESPAÇOS VERDES
Anilhagem
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O que pode a pena de um pássarodizer?
As aves são, provavelmente, o
grupo de animais que mais fascínio
suscita nas pessoas. Desde que
há memória, e que ela se propaga
na pedra, em papel ou por tecnologias mais
recentes, o ser humano olha para as aves
com um misto de inveja, adoração ou ódio.
Muita da admiração que damos às aves
vem da sua característica partilhada mais
distinta, herdada dos seus antepassados
dinossauros, que são as penas. Com as suas
várias formas e cores, estas permitem às
aves voar, protegerem-se do meio, exibirem-
se e camufl arem-se.
A nós as penas têm servido, entre outras
coisas, como adereço e material para
escrever, mas também podem servir para
as compreendermos melhor: quer seja
por nos ajudar a distinguir as diferentes
espécies entre si (por Portugal passam mais
de 300 espécies todos os anos), quer para
conhecermos melhor cada indivíduo. Nos
vários locais no nosso país onde se realizam
sessões de anilhagem, como no Parque
Biológico de Gaia, anilhadores e formandos
socorrem-se dos padrões da plumagem
para saber mais informações sobre as
aves que capturam, nomeadamente a sua
idade. Perceber a estrutura etária de uma
população de aves pode ser um passo
importante para interpretar as tendências
populacionais das espécies. Às vezes
diferentes classes etárias têm plumagens
bastante distintas. No entanto, se distinguir
um melro macho com dois meses de idade
de um adulto na primavera é fácil, dado que
o juvenil vai ser castanho malhado e o
adulto terá uma bela plumagem negra,
se olharmos para esse mesmo juvenil
no outono o caso tornar-se-á mais
complicado, dado que ele já se parecerá
com um adulto… será que dá para
resolver este problema?
Ao contrário dos nossos pelos, que
são estruturas biológicas relativamente
simples, as penas das aves têm
uma grande complexidade e o seu
crescimento é energeticamente bastante
exigente, e por isso não podem ser
renovadas constantemente. Assim, as
aves tendem a concentrar a muda da
plumagem em alturas específi cas do
ano, entre outros períodos mais críticos
como a nidifi cação, a migração ou a
invernada. Estas mudas consistem
numa renovação completa ou parcial
da plumagem, e muitas vezes o padrão
difere entre juvenis e adultos – para a
maioria das espécies de passeriformes
europeus, a principal época de muda
dá-se entre as épocas de nidifi cação
e a de migração outonal, e enquanto
os adultos tendem a fazer mudas
completas, os juvenis fazem mudas
parciais (geralmente penas do corpo).
No outono e inverno seguintes, a maioria
das aves já terá uma aparência de
adulto, mas os juvenis trarão em algumas
das penas a marca da sua idade, pois têm
penas de juvenil que fi caram por mudar
– estas tendem a ser menos coloridas,
mais translúcidas e com estrutura menos
consistente. Quando uma ave sai do ninho
ela tem de rapidamente ter um conjunto de
penas no corpo todo que lhe permita voar
e proteger-se, e por isso este crescimento
acelerado traduz-se em penas de pior
qualidade que as penas dos adultos.
Para a maioria das espécies, estas
diferenças são muito subtis, e somente
com uma ave na mão e alguma
experiência se poderão ver estes
contrastes entre penas de adulto e de
juvenil. Para algumas espécies, no entanto,
isto pode ser visto pelo observador
citadino um pouco mais atento. Neste
outono que se aproxima, comece a olhar
com atenção para os melros machos
que passam à sua frente no jardim: todos
parecerão pretos, mas as aves que
nasceram nesta época de nidifi cação de
2014 terão algumas penas castanhas
na ponta da asa, uma lembrança ao
observador que apenas agora começam a
enfrentar a aventura da vida!
Texto Pedro Andrade
Análise da plumagem de um melro na mesa de anilhagem científi ca
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 51
BATER DE ASA 51
Na Beira Alta, concretamente
em Celorico da Beira, distrito
da Guarda, foi recuperada em
15 de fevereiro de 2013 a anilha
23Z24781, que tinha sido aplicada
na Bélgica – Marksplas, Antuérpia
– em 12 de outubro de 2012 no
primeiro ano de vida da ave.
O pássaro em causa é mais uma
vez um tordo – Turdus philomelos
– e foi abatido por um caçador.
Face aos dados registados, é de
Jo
ão
L.
Teix
eira
Universidade Júnior Na lógica das Ofi cinas de Verão, este ano a Universidade Júnior apresentou um
novo programa de atividades.
Num dos cenários em que decorre esta iniciativa, o Parque Biológico de Gaia,
as ofi cinas direcionaram-se para temas específi cos.
Foi assim porque a Universidade do Porto abriu mais uma vez as suas portas,
no verão de 2014, a cerca de 5 mil estudantes nas idades entre o 5.º e o 11.º
ano de escolaridade.
De segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 18h00, participaram em diversas
atividades e projetos de investigação em áreas tão diversifi cadas como as
ciências, as tecnologias, as humanidades, as artes ou o desporto.
A propina de inscrição teve o custo de 75 euros por semana e incluiu o seguro
escolar, o material das atividades e as refeições do dia.
O voo dasavesconcluir que este tordo se deslocou
1523 quilómetros entre o local da
Estação de Esforço Constante de
anilhagem científi ca belga, onde lhe
foi aplicada a anilha, e o local de
recuperação da mesma.
Se algum dia chegar a sua vez de
deparar com uma destas anilhas, não
deixe de nos contactar. Trataremos de
saber mais dados a partir dela, a fi m
de melhor se conhecer o voo das aves
selvagens.
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52 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
52 OBSERVATÓRIO
A recente confi rmação do modelo
Heliocêntrico proposto por
Nicolaus Copernicus, as primeiras
observações com um telescópio
por Galileu Galilei e a formulação matemática
das leis que descrevem o movimento dos
corpos celestes por Johannes Kepler e Isaac
Newton provocaram uma mudança radical na
visão ocidental do Universo.
Consequência incontornável desta revolução
científi ca foi a ideia, herética durante muitos
séculos, de que as estrelas não eram mais
do que outros sóis, situados a grandes
distâncias. A questão que se punha agora, e
que se tornou central para a Astronomia, era
a de determinar o quão distantes estavam as
estrelas.
Como veremos, o Universo não facilitou a
vida aos astrónomos e esta é uma questão
que atormenta ainda hoje os astrónomos
profi ssionais (e alguns amadores também).
Não se trata de um capricho, isto de
conhecer a distância de uma estrela.
Conseguir fazê-lo permite deduzir
diretamente muitas outras coisas sobre a
estrela em questão, por exemplo, o seu
brilho, o seu tamanho e indiretamente a
sua massa. Conhecer estes parâmetros
das estrelas é essencial para o estudo da
sua evolução e, em particular, de como
sintetizam nos seus âmagos os elementos
de que o mundo que nos rodeia é composto.
O método mais simples e direto para a
medição da distância de uma estrela é
designado de método do Paralaxe. De forma
As distâncias das estrelas
No início do século XVII,
a Astronomia dava os
seus primeiros passos
como ciência
muito resumida, trata-se apenas de medir
um ângulo no céu – o ângulo de paralaxe
– que depois é facilmente convertível na
distância da estrela através de uma fórmula
trivial.
Baseia-se numa observação muito simples:
um objeto próximo de nós parece mover-
se relativamente a objetos mais distantes
quando observado a partir de duas posições
diferentes. Por exemplo, na fi gura 1 o
rapaz coloca o dedo polegar à distância
de um braço estendido e observa-o
alternadamente com cada olho (o outro
olho deve estar fechado). Se fechar o olho
esquerdo, observando com o direito, vê o
dedo numa posição. Se fechar o olho direito,
observando com o esquerdo, o objeto
parece mover-se relativamente aos quadros
na parede. O deslocamento aparente é
inversamente proporcional à distância, isto
é, objetos mais próximos apresentam um
deslocamento maior. Medindo o ângulo
correspondente ao deslocamento aparente
do objeto e sabendo a distância entre os
dois olhos podemos calcular facilmente a
que distância se encontra o dedo.
Para as estrelas o princípio é o mesmo
mas com algumas adaptações (fi gura 2).
O dedo representa a estrela que queremos
observar, os quadros na parede são estrelas
mais distantes na mesma zona do céu e
os nossos olhos são substituídos por um
telescópio que observa a estrela em dois
pontos da órbita da Terra separados por seis
meses.
Desta forma a distância entre as
observações é de duas vezes a distância
da Terra ao Sol, ou seja, cerca de 300
milhões de quilómetros. Quanto maior o
deslocamento da estrela relativamente às
estrelas mais distantes, mais próxima ela
está. A metade do ângulo associado com
esse deslocamento (no céu as distâncias
medem-se em ângulos) é designado de
paralaxe. A precisão da distância obtida
depende apenas da precisão com que o
ângulo de paralaxe é medido, e aqui é que
começam as difi culdades.
Com o advento do telescópio, vários
astrónomos famosos dos séculos XVII e
XVIII, por exemplo, Galileo Galilei, Robert
Hooke, James Bradley e William Herschel,
tentaram medir a distância de algumas
estrelas que pareciam estar mais próximas,
por outras linhas de raciocínio, mas as
várias tentativas resultaram em fracasso
devido à difi culdade de medir ângulos tão
pequenos. Isto queria dizer que as estrelas
estavam a distâncias enormes, muito para
além do que os astrónomos da época
poderiam antecipar. Finalmente, em 1838, o
astrónomo alemão Friedrich Wilhelm Bessel
conseguiu medir o ângulo de paralaxe para a
estrela 61 da constelação do Cisne e calcular
a sua distância em 10.4 anos-luz (o valor
atualmente aceite é de 11.4 anos-luz). Quase
de seguida, em 1839, o astrónomo real para
a Escócia, Thomas Henderson, em missão
na África do Sul, publicou o paralaxe para a
estrela Alfa do Centauro, mostrando que se
Luís Lopes
fi gura 1
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 53
encontrava muito próxima do Sistema Solar,
a apenas 3.3 anos-luz (o valor atualmente
aceite é de 4.36 anos-luz). Ainda em 1839,
o astrónomo alemão Friedrich von Struve
calculou a distância à estrela Vega, uma das
mais brilhantes do céu, em 26.1 anos-luz (o
valor atualmente aceite é de 25.1 anos-
luz). A esta sucessão rápida de resultados,
sucederam-se determinações semelhantes
para outras estrelas, mas as medições eram
tão difíceis que no fi nal do século XIX apenas
se conheciam as distâncias de 60 estrelas.
O método de paralaxe continuou a ser
utilizado durante o século XX mas, apesar
dos avanços tecnológicos, as distâncias
só conseguiam ser determinadas para
estrelas até cerca de 300 anos-luz, e ainda
assim com erros substanciais. Para lá
dessa distância os ângulos de paralaxe
eram demasiado pequenos para poderem
ser medidos em observatórios situados
na superfície da Terra. A interferência da
atmosfera terrestre impossibilitava a medição
de paralaxes mais pequenos. Com o início
da conquista do Espaço, os astrónomos
começaram a pensar num observatório
espacial dedicado à medição de ângulos de
paralaxe.
No fi nal do século XX, mais precisamente
em 1989, foi lançado o primeiro destes
satélites, o Hipparcos, que, apesar de vários
problemas iniciais (um lançamento defeituoso
impediu que fosse colocado na órbita
correta), realizou observações que deram
origem a um catálogo com posições, brilho
e paralaxes para cerca de 118 mil estrelas.
Destas estrelas, cerca de 20 mil tiveram as
suas distâncias determinadas com um erro
inferior a 10% e 50 mil com um erro inferior
a 20%. Destas estrelas, 400 foram medidas
com erros de apenas 1% – até então apenas
50 estrelas tinham tido as suas distâncias
medidas com uma precisão semelhante a
partir de observatórios na Terra.
Mas o estudo da nossa galáxia, a Via Láctea,
e das estrelas que a compõem, necessita de
maior precisão. Por exemplo, para conhecer
a luminosidade real das maiores estrelas,
designadas de supergigantes, é necessário
determinar com exatidão as distâncias
de uma amostra signifi cativa. Num raio
de mil anos-luz, distância a que os erros
do Hipparcos já são da ordem dos 20%,
existem muito poucas estrelas deste tipo.
Outro exemplo diz respeito à estrutura da
Via Láctea. Para perceber como as estrelas
orbitam o centro da Via Láctea e a estrutura
dos seus braços espirais, é necessário
obter distâncias e velocidades de milhões
de estrelas, até à região do centro galáctico,
com elevada precisão. Estes problemas
deixados em aberto pelo Hipparcos
motivaram o desenvolvimento de uma nova
missão, mais ambiciosa.
Depois de duas décadas de
desenvolvimento, o observatório
astrométrico Gaia (fi gura 3), sucessor
do Hipparcos, foi lançado em novembro
de 2013. Orbita atualmente o Sol numa
localização especial conhecida por Ponto
de Lagrange 2 (L2), em que a gravidade do
Sol e da Terra se cancelam. Nesta altura
encontra-se numa fase em que os cientistas
e os técnicos da missão estão a avaliar e a
calibrar os instrumentos.
O observatório vai permitir determinar
as distâncias de cerca de 20 milhões de
estrelas com um erro de apenas 1% e para
200 milhões de estrelas adicionais, o erro
vai ser inferior a 10%. Estrelas situadas na
região central da Galáxia, a cerca de 27 mil
anos-luz, vão ter a sua distância determinada
com erros na ordem dos 10% apenas. Com
os dados recolhidos ao longo dos 5 anos da
missão será possível compilar um catálogo
com as posições, paralaxes, temperaturas
e velocidades de mais de mil milhões
de estrelas. Este catálogo servirá várias
gerações futuras de cientistas, contribuindo
de forma decisiva para o conhecimento da
Via Láctea, a nossa ilha no Universo, e das
suas estrelas.
fi gura 2
fi gura 3
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54 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
54 REPORTAGEM
Mexilhões de água doce
sentinelasdos riosEm Portugal há várias espécies de mexilhões de
rio: ameaçadas, estão no foco de uma parceria
multi-institucional, ao abrigo do programa LIFE-
Ecótono, que funciona no posto aquícola de
Campelo, em Figueiró dos Vinhos
«Os mexilhões-de-rio são
sentinelas da qualidade
da água, mais do que os
peixes»,
diz Paulo Lucas, coordenador do grupo de
trabalho sobre Biodiversidade da Quercus.
«Quando o meio se altera desaparecem:
estão a indicar que algo aconteceu ali.
Por outro lado, ao fi ltrarem grandes
quantidades de água acabam por
infl uenciar positivamente o meio ambiente,
ou seja, acabam por ter um papel fi ltrador
depurador – são aquilo que chamamos
nanoetares», conclui e acentua: «Boas
populações de mexilhão de rio indicam
água de qualidade».
O interesse deste trabalho já estava
essencialmente defi nido, mas o assunto
tinha ainda pernas para andar.
Enquanto a névoa se afasta a passo de
caracol, cedendo lugar ao sol, no tanque
que espreitamos nadam, velozes, umas
centenas de peixes de pequeno tamanho.
Lembram ruivacos. Os tanques refl etem
uma ideia de naturalização, com a presença
de várias espécies botânicas típicas dos
nossos rios, como salgueiros, tabua ou
feto-real.
«O que fazemos aqui é simular o que
acontece na natureza», refere Paulo Lucas.
A água que ali corre vem da ribeira de Alge,
nascida na serra da Lousã.
Os mexilhões não se veem nesta primeira
abordagem. São animais do grupo dos
moluscos com um ciclo de vida que
engloba também o fenómeno fantástico da
metamorfose.
Mas como saber mais sobre as espécies
que aqui se reproduzem para repovoamento
das respetivas bacias hidrográfi cas?
«São duas espécies de mexilhão de água
doce, bem diferentes: o mexilhão-de-rio do
Norte e o mexilhão-de-rio do Sul», explica.
«O mexilhão-de-rio do Norte – Margaritifera margaritifera – tem um ciclo de vida em que
parasita basicamente trutas e salmões».
Ambas as espécies de peixe são do género
Salmo, portanto, muito próximas.
«Este mexilhão-de-rio precisa de os parasitar
durante um período de tempo de vai de sete
a nove meses. Nesta altura não os vemos à
vista desarmada», clarifi ca.
«Estão nas guelras! As fêmeas de mexilhão
quando estão grávidas e prestes a libertar
os juvenis lançam grandes quantidades de
larvas na tentativa de que estas se fi xem nos
Os juvenis de mexilhão, na fase em que são parasitas de algumas espécies de peixe, medem cerca de 200 mícron, pelo que não são visíveis a olho nu
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 55
Nos diversos tanques do posto aquícola de Campelo cria-se um ambiente
de transição face à libertação em rios da respetiva bacia hidrográfi ca
Thick-shelled river musselsMargaritifera margaritifera and Unio tumidiformis are species of filter-feeding bivalve mollusks that can reach up to 70 years of age in the Iberian Peninsula. They are good Bio-indicators of the water quality, since they only appear in unpolluted streams, especially the former species. The “Life-Ecótono” project, using a multi-institutional cooperative approach, aims to ensure the survival of these and other species.
peixes. Seria importante ter muitas trutas no
rio para haver possibilidades de maior êxito».
Continua o técnico: «Primeiro, é um processo
complicado! Têm de chegar ao hospedeiro
e é preciso apanhar o hospedeiro naquele
momento. E, chegando ao hospedeiro, é
preciso que o processo corra bem durante
a metamorfose. Mesmo que tudo corra bem
O posto aquícola de Campelo é o cenário da reprodução em cativeiro de duas espécies de mexilhão-de-rio: «Eles ficam sobre a areia e filtram a água que circula em volta através de um sistema de cílios que retêm as partículas nutritivas»
há uma mortalidade terrível a seguir…»,
descreve.
Bem, uma vida complicada: «Por isso é
que estes moluscos outrora, quando tudo
estava mais equilibrado, e havia grandes
populações de trutas e o homem não
interferia tanto, havia possibilidade de se
reproduzirem da melhor maneira».
Hoje em dia, onde ainda existem, vão
sobrevivendo de forma periclitante.
Estamos a falar de mexilhões que «duram
60 a 70 anos», mas «podem viver mais de
cem anos, como está documentado, por
exemplo, na Rússia».
Um destes moluscos, no estado adulto,
mede talvez dez centímetros!
Ruivaco e escalo
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56 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
56 REPORTAGEM
Paulo Lucas: estamos a falar de mexilhões que «duram 60 a 70 anos»
«O outro, endémico da Península Ibérica, o
mexilhão-de-rio do Sul – Unio tumidiformis
– é diferente. Não se reproduz com a
ajuda de trutas ou salmões, não necessita
de águas tão oxigenadas, frias, com
aquelas características que existem no
Norte. Enquanto os rios desta região têm
água todo o ano, os rios mediterrânicos
secam no verão, restanto os pegos»,
poços de água, onde refugiam peixes e
alguns outros organismos aquáticos, até
que venham as chuvas.
Na verdade, são mediterrânicos e
«parasitam escalos. Como estes são
peixes que gostam de viver em zonas um
pouco mais oxigenadas, eles aí têm mais
possibilidade de sobreviver».
Em suma, «diante das alterações
climáticas, torna-se fundamental proteger
estas espécies».
Fala-se nos anfíbios, mas estes
«movimentam-se, estão dentro de água,
estão fora de água, muitos têm ciclos
de vida em que basta uma charca para
sobreviver».
Pelo contrário, «os mexilhões-de-
rio precisam de massas de água
com alguma dimensão, precisam de
determinadas características de habitat
que são importantes», diz Paulo Lucas,
e remata: «Enquanto os peixes ainda se
movimentam dentro dos cursos de água,
os mexilhões têm uma locomoção muito
reduzida».
Por falar em peixes, este projeto LIFE
abriga em Campelo algumas espécies
endémicas da Península Ibérica,
concretamente «o escalo-do-arade, o
escalo-do-mira, a boga-do-sudoeste e o
ruivaco-do-oeste».
A funcionar desde 2008, o projeto tornou-
se possível graças a uma cooperação
institucional com o Município local e o
de Castro Daire, a Agência Portuguesa
do Ambiente, o Aquário Vasco da Gama
e o ISPA, merecendo uma homenagem
especial o já falecido Professor Doutor
Vítor Almada, mentor inicial do projeto em
curso.
Mesmo assim, compreende-se que «os
repovoamentos deveriam ter um caráter
excecional». A situação atual emerge
de um quadro preocupante: «Temos
cursos de água com galerias ribeirinhas
degradadas. Em 2001, e este estudo
esteve na base do Plano Nacional
da Água, concluiu-se que dos 17 mil
quilómetros de galeria ribeirinha só 7500
tinham galeria bem estruturada», afi rma
Paulo Lucas.
«Há efeitos combinados com outras
situações – poluição, extração de água,
atividades humanas que são por vezes
incompatíveis, ocupa-se cada vez mais os
cursos de água com barragens, com as
questões relativas à conetividade, tudo isto
exponencia efeitos das alterações climáticas
até meados deste século. Também os
poluentes derivados de práticas agrícolas
insustentáveis, os incêndios sucessivos
levam à necessidade de repensar o coberto
vegetal que existe à volta das albufeiras».
É igualmente por isso que se torna
necessário «promover a nossa fl oresta
autóctone. Se o Estado não se empenha
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 57
tendo instrumentos ao seu dispor, se
vamos deixar isto apenas às regras de
mercado, isto não vai correr bem. O Estado
pode restringir iniciativas ou incentivá-
las», a fi m de que o interesse público seja
salvaguardado.
«Pode pensar-se que os mexilhões
são algo de somenos importância, só
geram efeitos a nível da conservação das
espécies, mas não», na verdade, «são
seres que benefi ciam diretamente o meio»,
garante Paulo Lucas.
Dá que pensar: neste caso, quem se trama
é ainda o mexilhão, mas de nenhuma
maneira irá sozinho.
Texto Jorge Gomes
Fotos João L. Teixeira
Em julho passado, foram libertados 4 mil mexilhões-de-rio nascidos aqui no rio Paiva Nos tanques do posto aquícola há várias espécies botânicas típicas dos nossos rios, como salgueiros, tabua ou feto-real
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58 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
58 REPORTAGEM
Taipal novos voos no caniçalUm paul faz-se de mil voos, de água e lama,
onde medra caniço, bunho e outra vegetação:
em Montemor-o-Velho há 233 hectares com estatuto
de Zona de Proteção Especial (ZPE), e embora sejam
as aves selvagens que mais prendem o olhar ao paul,
esta zona húmida é uma montra singular de património
vital para o ser humano, a biodiversidade
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 59
«Um, dois, três, quatro,
cinco, seis… 12, 13... só
ali adiante estão 14 ninhos
de íbis-preto», assevera
Fernando Sabino, vigilante da natureza
do Instituto de Conservação da Natureza
e das Florestas (ICNF).
«Eles também estão a nidifi car mais lá à
frente», aponta.
A copa arredondada, longínqua, de
alguns salgueiros que se destacam
no vasto caniçal desenha o desfecho:
«Neste paul há muito mais que 20
ninhos».
Fernando pousa no parapeito do
observatório de madeira os binóculos
que o levaram ao mundo dos números
e esclarece: «Os íbis-pretos começaram
a aparecer há pouco tempo. Este ano
vieram em força!».
As aves escuras de longo bico
encurvado, os íbis, não são dos animais
mais conhecidos do cidadão comum.
Vista do Paul do Taipal a partir de um dos observatórios: a esmagadora maioria da sua vida selvagem está oculta no caniçal
Fernando Sabino: «Os íbis-pretos começaram a aparecer há pouco tempo. Este ano vieram em força!»
Taipal Wetland In Montemor-o-Velho, there is a 233-hectare of Wetland classified as Special Area of Conservation (SAC) of the Natura 2000 Network: although the wild birds are the most alluring part of this bog, it is responsible for safekeeping the whole range of the diversity of life; the Biodiversity.
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60 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
60 REPORTAGEM
O céu reverbera azul, batido por uma brisa
morna. Sem apelo nem agravo, o verão faz-
se sentir, sob o sol.
«Onze horas! É uma hora má. As aves param
com o calor», alvitra Fernando Sabino.
Serão tudo menos poucas as espécies de
aves selvagens que estamos a ver nesta
altura, até sem binóculos: andam na água
patos-reais, vários ardeídeos como a garça-
branca-pequena e a garça-boieira, a garça-
branca-grande e o colheireiro, a garça-real e
e a garça-vermelha...
Uma cria de garça-noturna acaba de se
ocultar entre o caniçal. À vista está o íbis-
preto, o corvo-marinho-de-faces-brancas e a
gralha-preta, entre outras.
Em voo contido, a lembrar posição alçada
na cadeia alimentar, aparecem na paisagem
duas águia-sapeiras, a rapina mais
dependente das zonas húmidas. Fernando
usa outro nome comum, tartaranhão-ruivo-
dos-pauis. Vê-los deslizar sobre o garçal
causa debandada.
Um quase pára no ar por instantes...
O caniçal dá abrigo a bastantes mais
espécies do que as áreas livres que estão
sob o nosso olhar: «Há muitas aves que
não estão à vista porque se aparecem
num descampado destes com as crias
tornam-se presa fácil», acentua Fernando, e
exemplifi ca: «É o caso das galinhas-de-água
e dos galeirões. Tentam agora não andar em
campos abertos por causa disso. Sabem
que se forem apanhados ali com os juvenis
são presa fácil. Os tartaranhões andam
sempre a sobrevoar...».
Aqui é bem possível que haja um casal,
por vezes dois, mas um macho com duas
fêmeas de águia-sapeira.
Ninhos aos molhosNo caniçal, nesta época haverá muitos
ninhos de rouxinóis-dos-caniços, o pequeno
e o grande, migradores inveterados!
São ali observados também o chapim-de-
faces-pretas e a escrevedeira-dos-caniços, a
felosa-dos-juncos e «garças, já contámos, eu
o meu colega Paulo Tenreiro, à volta de 150
ninhos, os que conseguimos encontrar!»,
sublinha.
«O calor ali dentro duplica! Aqui também se
consegue observar o caimão», diz Fernando.
Não se refere a um réptil, mas a uma ave
aquática que esteve há poucas décadas
perto de desaparecer de Portugal. «Nidifi ca
aqui! Há tempos vi-o ali mais em baixo,
Garça-branca-pequena, à esquerda, e garça-branca-grande entre patos-reais – no inverno ver-se-ão ali muitas mais espécies de patos-bravos, agora na Europa Central e do Norte
O voo da águia-sapeira a dado momento causa debandada geral, perante a hesitação de um juvenil de pato-real
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 61
estava a fotografá-lo enquanto alimentava
o fi lhote. Têm umas patorras grandes.
Apanhou o bunho, arrancou-o, depois
cortou-o e deu-o à cria», diz.
Embora a melhor altura de observação
seja mesmo o amanhecer ou o entardecer,
estamos agora de olho no paul do Taipal
a partir de um velho observatório que, no
instante em que lê estas linhas, já deverá
estar reabilitado.
Ora bem! Passou de novo à frente dos olhos
de todos, a dois metros, e quase ninguém
a viu. A envergadura é tímida, não chega a
meia dúzia de centímetros no voo saltitante
– é a cleópatra, Gonepteryx cleopatra, uma
borboleta habitual nos habitats de infl uência
mediterrânica.
Acompanha-nos também Luís Leitão, técnico
superior do ICNF licenciado em Geografi a e
ligado ao ordenamento do território. Refere
Ao ser construída, a estrada para a Figueira da Foz causou o alagamento destes terrenos: surgiu o paul sob a égide do caniçal
À vista desarmada, três íbis-pretos voam e preparam-se para pousar junto dos colhereiros
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62 REPORTAGEM
62 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014
que o Município local o contactou com
vista a melhorar signifi cativamente a infra-
estrutura de apoio ao ecoturismo na fasquia
da observação de aves, para quem o paul é
cada vez mais uma referência.
A valências de vária ordem, com destaque
para o monumental castelo que vigia o paul
do Taipal, juntam-se as da vida selvagem.
«Adquirimos estes terrenos na década de
90», explica Luís Leitão, referindo-se à zona
apaludada. Emergem vantagens: permite
uma gestão autónoma, bem melhor do
que andar ao sabor do feitio de alguns
proprietários privados.
«O paul é esta área que se consegue ver e a
ZPE vai além do paul», acentua.
À esquerda do observatório vê-se a
estrada para a Figueira da Foz. Quando
foi construída tornou-se uma barreira que
segregou estes terrenos alagados dos que
se lhe seguem no Baixo Mondego. Além da
estrada há hectares de arrozal que se diluem
na linha do horizonte.
Aqui o arroz deixou de ser cultivado: «Tudo o
que vemos é do mais espontâneo que há».
O caniçal está, contudo, em sucessão
ecológica e isso quer dizer que esta tem
de ser contrariada para que as espécies
vegetais e animais que deram estatuto
de proteção ao ecossistema não se
deslocalizem: «A transição é rápida – há
30 anos era arrozal como do outro lado
da estrada e agora está assim, uma área
completamente naturalizada», explica.
«É comum a drenagem natural a partir dos
pontos mais altos do paul. As partes que
vão fi cando mais secas começam a ser
invadidas por salgueiros», diz.
«O salgueiral está a expandir. É aqui um
processo natural, mas estes sítios têm
importância devido à área alagada. Por isso
há que atrasar um bocado o processo».
Algo consensual?
«Isto é sempre discutível. Mas são opções
que devem ser tomadas. Como é que quero
esta área? O que deu importância a este
espaço? Ele não foi classifi cado por aquilo
que há de vir a ser, mas pela importância
que tem agora, pelos habitats, pela fl ora e
fauna que ocorrem».
Conclui: «Vamos ter de fazer algumas ações
de rejuvenescimento do caniçal».
Relíquia do MondegoO vale do Baixo Mondego antigamente era
uma enorme zona húmida. Com o tempo e o
avanço da agricultura, a ideia de drenagem
sucessiva dos terrenos vingou, pelo que
hoje sobraram umas poucas amostras,
como a Reserva Natural do Paul de Arzila,
o paul de Madriz e este, o do Taipal, uma
das derradeiras zonas húmidas da região.
Neste verão vemos espécies que não
estarão ali no inverno, como a garça-
vermelha por exemplo que em setembro
regressa a África, e vice-versa, outras aves
que estão a nidifi car no Norte da Europa
virão para aqui nas estações frias.
É esse o caso dos patos-bravos, como o
pato-trombeteiro, que irão começar a chegar
ali no outono avançado.
Aliás, na estação de esforço constante que
ali existe orientada por Paulo Tenreiro são
inúmeras as aves controladas com anilhas
estrangeiras, de países como a França e
a Inglaterra, a Holanda e a Bélgica, por
exemplo.
Difíceis de ver são os mamíferos, de que são
exemplo a lontra e o texugo.
Noite e diaAquela ideia de as aves estarem ativas
de dia e de noite dormirem não é lá muito
realista: «As que vemos no paul não têm
aqui alimento sufi ciente — não é um local
capaz de suportar tantas aves. Por exemplo,
os patos-bravos só estão durante o dia nos
pauis, de noite saem para os campos do
Luís Leitão: «Tudo o que vemos é do mais espontâneo que há»
De difícil observação, sempre no cerne do caniçal, o frango-de-água ouve-se com alguma facilidade
Caimão, também conhecido como galinha-sultana
Fern
and
o S
ab
ino
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Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 63
Reserva Natural do Paul de Arzila
Rua do Bairro, 1, Arzila
3045-356 Coimbra
(351) 239 980 500
www.icnf.pt
Paul do Taipal
Mondego e vão por vezes alimentar-se
tão longe como os vales do rio Pranto e
do rio Foja», assevera Fernando Sabino.
«Penso que, a nível nacional, em termos
de paul, de santuário, não há outro como
este. Acredito que não haja!», insiste e
explica: «Não há porque é um espaço que
tem um campo muito aberto e depois tem
uma área envolvente grande que serve de
suporte alimentar a esta zona. São muito
próximas, está a ver? Basta só passar
a estrada de Figueira e tem logo ali os
O bunho servia de matéria-prima em séculos anteriores para manufaturar esteiras
campos do Mondego», diz Fernando Sabino.
Por isso, já sabe: perto de Coimbra, em
Montemor, este paul espera por si.
Texto Jorge Gomes Fotos João L. Teixeira
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Jorge Araújoda SilvaECOLOGISTA, OBSERVADOR DE AVES E DIVULGADOR DA VIDA SELVAGEM
No fi nal do último inverno,
enquanto a The Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) divulgava a grande quantidade
de aves marinhas que, atingidas por uma
invulgar série de tempestades no Atlântico,
estavam a ser arrojadas para as costas do
Reino Unido, Ilhas do Canal, Norte de França
e Golfo da Biscaia, também no litoral de
Esposende me inquietava a sucessão de airos
(Uria aalge), tordas-mergulheiras (Alca torda) e, sobretudo, de
papagaios-do-mar (Fratercula arctica) encontrados mortos na
linha da maré.
O seu número era de tal modo elevado que logo me evocou
o “Prestige”. Só que agora a tragédia tinha origem em causas
naturais. Ou não? Será que podemos afastar por completo
a possibilidade daqueles fenómenos extremos estarem
associados às alterações que o nosso modo de vida provocou
no clima?
Seja como for, estes incidentes lembraram-me a resposta
Avifauna do Estuário do Cávado
desencadeada pelas autoridades nacionais para
combater os efeitos da poluição provocada
pelo afundamento daquele petroleiro. Com os
holofotes da comunicação social apontados para
a costa Norte, multiplicaram-se as promessas de
planos de prevenção, os anúncios de medidas
de intervenção e, sob a designação de Operação
Ganso Patola, foram convocados técnicos da
conservação da natureza de várias regiões
do país, biólogos, veterinários e a sociedade
civil em geral para a eventual necessidade de se proceder
à limpeza das praias e ao resgate de animais afetados. A
temida maré negra acabaria por nunca ter chegado mas as
aves petroleadas surgiram em catadupa. Foi assim criado
o Centro de Acolhimento e Recuperação de Espécies de
Esposende (CARE 3) onde, apesar do carácter temporário e
da precariedade das instalações, se desenvolveu um trabalho
louvável e foi adquirida experiência e conhecimentos que
importava não desperdiçar. Entre alguns dos envolvidos e
outros que procuraram acompanhar as operações nasceu
64 BLOCO DE NOTAS
64 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Papagaio-do-mar, Fratercula arctica
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Volta e meia vem-me à memória o malfadado
“Prestige”, o seu naufrágio na Galiza em novembro
de 2002, o derrame do fuelóleo que transportava,
a onda de voluntariado que as suas muitas vítimas
motivou, o Plano Mar Limpo e principalmente as
aspirações (frustradas) que então suscitou
então a esperança de ver defi nitivamente o estuário do Cávado
dotado de um Centro de Recuperação de Animais Selvagens
(CRAS) bem preparado como outros que naquela altura, vá-se lá
saber porquê, foram preteridos pelos responsáveis do ICN. Mas
menos de um ano depois do famigerado acidente já se percebia
que, sem a cobertura mediática, pouco ou nada haveria de
mudar na vigilância da nossa vulnerável costa e na proteção da
sua fauna.
Nem só o derrame de hidrocarbonetos justifi cava que os
decisores já tivessem ido além da mera apresentação de cartas
de intenções. Todos os anos são muitas as espécies afetadas
por condições climáticas adversas ou pela exaustão durante
as migrações e, em número crescente, apanhadas nas artes
de pesca descartadas e que agora derivam como armadilhas
à superfície de todos os oceanos. Estas circunstâncias,
associadas à maior sensibilidade ecológica da população, tem
trazido cada vez mais aves debilitadas ou até moribundas às
mãos de quem deve zelar pela sua proteção, no pressuposto
de que as conduzam aos CRAS, todos a muitas dezenas de
quilómetros do Parque Natural do Litoral Norte. Com isto é
causado um óbvio embaraço ético. Por um lado, é necessário
não frustrar quem legitimamente quer salvar uma ave, mesmo
que esta não tenha qualquer interesse conservacionista. Por
outro, o dever de gerir com equilíbrio os poucos recursos
públicos que coloca no prato oposto da balança os gastos
relacionados com aquela viagem. E não me refi ro apenas
ao preço do combustível. É certo que o tempo despendido
por uma equipa de vigilantes e os encargos do transporte
poderiam, muitas vezes, ser melhor aproveitados em ações
de conservação mais prioritárias. Mas também me interrogo
sobre os prejuízos ambientais: serão assim tão negligenciáveis
os danos causados pelo CO2 libertado nessas deslocações?
Enquanto andamos às voltas com estas questões, nos
próximos meses aguardam-se os habituais gansos-patolas
(Morus bassanus), negrolas (Melanitta nigra), gaivotas de
várias espécies e outras aves largadas para convalescerem no
hospital em que estamos a transformar o estuário do Cávado.
Pois parece que um CRAS aqui, «Nunca Máis»!
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ganso-patola, Morus bassanus
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66 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
66 MIGRAÇÕES
Truta-marisca Salmo trutta Linnaeus, 1758
“Criticamente em perigo”, lê-se
no “Livro Vermelho dos Vertebrados
de Portugal” sobre esta espécie
que, no nosso país, na forma
migradora apenas ainda existe
nos rios Minho e Lima
É caso para dizer que há trutas e trutas. Aparentada
com o salmão do Atlântico, nesta espécie de truta há
tendências divergentes: se bem que todas nasçam
nos rios, nem todas ali permanecem – há as que não
hesitam em procurar o mar para ali crescer. Estas, no que diz
respeito a voltar à mesma água doce, só mesmo para procriar...
Imagino que para os manuais isto não venha de feição, mas
como os peixes não os leem, apesar da grave crise que esta
variação apresenta no mapa da biodiversidade, a tendência
existe e deseja-se que seja para perdurar.
O caso ainda está na penumbra, e requer muita investigação,
mas não é de admirar que numa mesma espécie haja
tendências variadas mediante as vantagens de adaptação
a diferentes meios e à sobrevivência, com oportunidade de
aproveitamento reprodutivo.
A vida de qualquer truta-marisca começa de forma larvar
quando da eclosão do ovo, num rio com águas pouco
profundas e bem oxigenadas, correntes de velocidade
moderada a deslizarem sobre gravilha ou cascalho. As margens
estarão vestidas de amieiros, freixos ou salgueiros.
Os juvenis permanecem nestes afl uentes durante um ou dois
anos. Assim que atravessam as transformações orgânicas que
lhes vão permitir crescer e amadurecer sexualmente no oceano
Atlântico, vivem no mar.
A migração reprodutiva dá-se no período da primavera/verão
e a maturidade sexual ocorrerá por volta dos quatro anos de
idade.
A truta-marisca, como o salmão, tem um comportamento
conhecido por “homing”. Quer isso dizer que tendem a voltar
ao afl uente em que nasceram.
Imagine se pelo caminho encontram obstáculos como uma
barragem sem dispositivo que lhes permita ultrapassá-la?
Ou, se conseguindo avançar na direção da nascente,
encontra água poluída ou pouco oxigenada?
Pode ocorrer a extinção local.
Portugal é um país com um interesse particular para esta
espécie porque é o limite sudoeste da sua distribuição.
Entre as medidas de proteção situa-se a legislação nacional
de defeso, o que impede durante esse período que este
peixe seja objeto de pesca.
Ajuda, mas não salvará por si só a forma migradora de
uma provável extinção, se se observar que “a redução
da população nos últimos 10 a 15 anos pode ter atingido
98% do número de indivíduos maduros e prevê-se que
possa continuar a verifi car-se nos próximos 10 a 15 anos
ou em qualquer outro período com a mesma amplitude
que abarque o passado e o futuro. As causas da redução,
embora geralmente compreendidas, não são reversíveis nem
cessaram”.*
Os fatores de ameaça a esta forma migradora de truta – e
a outros peixes com evidente valor comercial como o sável
e o salmão, entre outros – juntam poluição, obstáculos
impeditivos de acesso aos locais de desova, a extração
de inertes, a alteração do regime natural de caudais e a
sobrepesca.
O tamanho máximo desta truta assinala 140 cm e 50 kg de
peso.
Texto Jorge Gomes
o mar no horizonte
* “Livro Vermelho dos Vertebrados
de Portugal”, edição ICNF
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 67
Brown troutPortugal is the southeastern limit of this species’ distribution, and as such is a very important Country for the Brown Trout. Among the various protection policies are a set of laws that define periods when hunting or fishing for certain species is banned, including the Brown Trout. The IUCN Red List of Threatened Species, where this species is listed as “critically endangered (CE)”, says that the Brown Trout appears in the Minho and Lima rivers as a part of its migratory route.
A truta-marisca e a truta-comum são uma mesma espécie, só que algumas escolhem crescer no mar, outras no rio
João
Luí
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Rio MinhoRio Lima
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68 RETRATOS NATURAIS
68 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Neste, estudam-se os anfíbios e também
os répteis na vertente taxonómica,
ecológica, comportamental, etc. É pois um
tipo de ilustração científi ca que se dedica
à ilustração de dois grupos de animais
diferentes, mas que foram agrupados
por serem animais que, durante a sua
locomoção, parecem de alguma forma
rastejar (herpeto) e, fi siologicamente, são
incapazes de conservar o seu próprio
calor de forma constante. Assim um
ilustrador herpetológico é um técnico
que se especializou na ilustração destes
magnífi cos seres, seja dos processos
etológicos, ecológicos, fi siológicos e,
de forma mais recorrente, na vertente
anatómica, seja ela interna ou externa (a
mais frequente, dita também ilustração
fi gurativa, descritiva, ou taxonómica), quer
de forma extantes (contemporâneas) ou
extintas (fósseis). O campo de intervenção
é assim extremamente vasto, como agora
se depreende, e em nada limitativo, como
à primeira vista pareceria...
A ilustração de répteis e a ilustração de
anfíbios regem-se por regras diferentes,
no que à ilustração descritiva se refere.
Incluem-se aqui as componentes/partes a
serem traduzidas em imagem desenhada,
bem como a pose a escolher para o animal
adulto, capazes de permitir uma diagnose
e identifi cação fi dedignas. Neste artigo
vamos dedicar a nossa atenção à ilustração
de répteis e, a título de exemplo, vamos
centrar-nos na fi guração de ofídeos, ou
répteis que evolutivamente perderam os
membros locomotores ou patas – as cobras,
ou serpentes.
Tal como a maioria dos peixes ósseos,
também estes animais apresentam o corpo
revestido de escamas (as quais são contudo
epidérmicas, de queratina, ao contrário das
dos peixes que são dérmicas, de tecido
ósseo), pelo que especial atenção deve ser
dada à forma, localização e dimensão destas
unidades de revestimento e de proteção,
bem como à sua textura, ornamentação e,
principalmente, ao padrão que no conjunto
de todas elas formam visualmente – o
qual pode ser mais colorido e diversifi cado
(como as cobras com cores aposemáticas,
ou cores de alerta, e que enunciam um ser
potencialmente venenoso e perigoso) ou
cromaticamente mais uniforme.
Como já tivemos oportunidade de referir
em diferentes ocasiões, a vista ou norma
em que o animal se desenha, tem como
principal propósito conferir familiaridade na
Vamos desenhar...
uma cobra-de-água
A ilustração zoológica
é um domínio que
abrange uma multitude
de categorias,
sub-categorias
e até infra-categorias.
Um exemplo desta
especialização e
sub-divisões pode ser
constatado na ilustração
herpetológica, que
ilustra um ramo da
zoologia, a herpetologia
Cobra-de-água-de-colar(Natrix natrix)
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 69
Texto e ilustrações
Fernando CorreiaBiólogo e ilustrador científi co
Dep. Biologia,
Universidade de Aveiro
observação do espécime, em que ele é mais
frequentemente encontrado. Contudo, a
pose pode introduzir uma outra dimensão
na síntese gráfi ca da informação que irá ser
traduzida em imagem – o comportamento
mais típico do vertebrado. O compromisso
entre a norma e a pose resulta pois de
uma análise e ponderação, entre vários
fatores e aquilo que verdadeiramente é
importante transmitir naquela ilustração em
particular. Por exemplo, numa ilustração em
que seja importante observar a anatomia
interna, diferenciando sistemas diferentes (o
digestivo, do reprodutor; estes do excretor,
etc.), a norma a desenhar é a ventral (com
ou sem corte longitudinal mediano da
cavidade abdominal) e a pose em vida é um
fator que pouco infl uencia a forma como
corpo vai ser desenhado (geralmente,
em “s”, mais por uma questão de gestão
e economia de espaço na área/formato
disponível e a respeitar – uma vez que as
cobras são bastante compridas – do que
para mostrar um qualquer comportamento
de locomoção).
Regra geral a ilustração taxonómica de
um ofídeo, passa sempre pela ilustração
do corpo inteiro, em norma lateral ou
dorso-lateral, em disposição longitudinal
e ondulante (como se estivesse a
locomover-se) ou então enrolado sobre
si mesmo e como seja típico dessa
espécie (embora esta escolha também
represente numa clara economia de tempo
e paciência do ilustrador, que assim poupa
a reprodução de padrões repetitivos e,
por conseguinte, o desenho redundante,
em termos visuais e de acrescento de
informação). Nestas composições podem
ser ainda encontradas fi gurações da
extremidade posterior (término da cauda
e pormenor ventral da cloaca), mas as
mais correntes e importantes são as da
extremidade cefálica. Esta é desenhada
em norma lateral e dorsal, sendo que
por vezes também se apresenta em vista
ventral (mais usual em lagartos/lagartixas,
para se ver a prega gular e/ou o padrão
de escamas ventrais da mandíbula).
Nestas duas vistas da cabeça, uma
pequena alteração no número, forma e
localização de algumas escamas pode,
grosso modo e nas espécies do mesmo
género, conduzir a que se passe de uma
espécie para outra – como acontece nas
cobras de água, a viperina (Natrix maura)
e a de colar (N. natrix) – principalmente em
ilustrações de linhas apenas (sem padrões,
ou cores).
E se a Bíblia diz que a serpente enganou
Eva, o melhor é não nos deixarmos
encantar pelas serpentes e fi carmos
bem atentos à sua realidade anatómica.
Assim a metodologia usualmente descrita
noutros artigos desta rúbrica (elaboração
de uma lista de verifi cação dos carateres
diagnosticantes que devem ser o
obrigatoriamente ilustrados, seguido de
desenho preliminar e arte fi nal segundo a
técnica de expressão plástica que mais se
adequa ao propósito, ou que é mais familiar
ao ilustrador) deve ser seguida à risca, para
que o risco de errarmos e ilustrarmos a
espécie não desejada seja minimizado.
Feito isto, toca a serpentear riscos e cores!
Cobra-de-água-de-colar(Natrix natrix)
1. norma lateral2. norma dorsal3. corpo inteiro
1
2
3
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70 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Diversos estudos genéticos têm revelado uma complexa e antiga relação
simbiótica que estará na origem da fotossíntese das plantas.
Toda a imensa diversidade das plantas fotossintéticas da Terra reconduz
a uma única célula verde.
Há muitos milhões de anos uma ínfi ma alga terá engolido uma
cianobactéria transformando-a numa central interna de energia solar.
Uma hipótese deste género foi levantada durante a década de 60, mas
não terá sido levada a sério.
No entanto, em declarações prestadas à revista "Scientifi c American"
de fevereiro de 2012, a bióloga molecular Dana Price, da Universidade
de Rutgers, elucida sobre a história evolutiva das plantas e adianta que
do grupo das Glaucophyta – um grupo de algas de água doce – se
destaca a Cyanophora paradoxa. É assim porque em relação às demais
plantas esta espécie ainda retém uma versão menos domesticada da
cianobactéria original. Deduz-se então que células das plantas que hoje
conhecemos são derivadas de uma união simbiótica afi m.
A razão para que isto tenha ocorrido pode estar ligada ao facto de
alguns predadores de cianobactérias desviarem o seu interesse no
sentido não de as deglutirem mas de as absorverem, seja pela escassez
de presas seja pela abundância de sol.
O bisonte-europeu é o maior mamífero selvagem terrestre deste continente
Em 17 de maio foram libertados, após 250 anos
de ausência, nos Cárpatos, em território sob a
égide da Roménia 17 bisontes-europeus.
O Município de Armenis apelou a esta
reintrodução tendo em conta que boa parte
das terras comunitárias sob sua gestão abrem
naturalmente as portas à vida selvagem.
Os herbívoros são provenientes de estações
europeias de reprodução e confi guram a maior
reintrodução de bisontes alguma vez ocorrida
na Europa.
Com isto, conta-se que dentro de uma década
haja meio milhar de animais desta espécie
a viver pelos seus próprios meios nestas
montanhas.
O bisonte-europeu é o maior mamífero
selvagem terrestre europeu e outrora chegou a
percorrer praticamente toda a Europa.
Atualmente a população desta espécie
conta-se em todo o mundo em cerca de 5 mil
indivíduos. Deste número, apenas 3230 vivem
em liberdade. Isso faz com que seja mais raro
do que por exemplo o rinoceronte-negro.
Borboleta asiática Uma borboleta exótica que se tem estado a disseminar
«pela Europa Central foi agora encontrada como nova
espécie observada em Espanha, bem perto de nós, na
Galiza (Pontevedra)», diz Eduardo Marabuto, biólogo.
«Trata-se da Cydalima perspectalis, espécie aparentada
com a nossa Palpita unionalis.
É praga conhecida de uma planta largamente utilizada
em jardinagem, o buxo (Buxus sempervirens), e talvez até
já esteja em Portugal, especialmente no Norte do país».
É uma questão de pouco tempo até ser encontrada.
Quem vai ser o primeiro?
O aparecimento da primeira planta
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70 ATUALIDADE
Bisonte-europeu reintroduzido nos Cárpatos
Palpita unionalis
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 71
Um investigador da Universidade de Columbia,
Peter Belhumeur, nos EUA, desenvolveu um
programa capaz de ajudar os observadores de
aves selvagens a identifi car aves que
ainda não dominem.
Com o seu iPhone, máquina fotográfi ca digital ou
computador deve tirar uma fotografi a à ave e clicar
no olho e nas penas caudais. Depois deve introduzir
o local e a data da observação.
O programa chama-se Birdsnap e funciona à base
de algoritmos que detetam partes da ave,
como o aspeto do ventre e do bico.
Não será muito diferente dos programas de
reconhecimento facial já existentes. A diferença é
que este novo programa em poucos segundos dá
uma dica sobre a espécie que provavelmente estará
a observar sem ter de folhear um livro na ordem das
300 páginas em busca da secção respetiva.
Um novo projeto Life+ Berlenga vai pressupor
um investimento de 1 milhão 380 mil euros
e ajudará a repor os valores naturais do
arquipélago.
O projeto LIFE+ Berlengas “Conservação das
espécies e habitats ameaçados da Zona de
Proteção Especial (ZPE) das Berlengas através
da sua gestão sustentável” foi um dos cinco
projetos recém-aprovados para Portugal, no
âmbito do Programa LIFE+ da União Europeia.
Durante os próximos quatro anos, a Reserva
Natural das Berlengas será alvo de um
projeto de restauração ambiental que tem
como principal objetivo garantir a preservação
dos seus valores naturais.
A parceria, que junta uma ONG, o Estado,
uma autarquia e uma universidade, prevê
assim aliar desenvolvimento sustentável,
turismo responsável e conservação dos
valores naturais da Reserva Natural das
Berlengas num exemplo de gestão de uma
Área Protegida.
A cidade de Peniche e as Berlengas são um
importante destino turístico do país, recebendo
mais de 200 mil visitantes por ano.
Birdsnap: programa para observadores de aves
Rola-do-mar
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ixeira
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Berlengas: santuário natural
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72 PAR
72 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
72 PROJETO
Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono
Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA
B3 • Agrupamento Vertical de Escolas de Rio
Tinto • Alice Branco e Manuel Silva • Alunos
do 9.º ano (2012/13) da Escola Secundária
do Castelo da Maia • Amigos do Zé d’Adélia
• Amigos do Zé d’Adélia e Filhos • Ana Filipa
Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana Luis
e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel
Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula Pires
• Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos,
Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e
Cláudia Neves do 11.º A (2009/10) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Ana Sofi a
Magalhães Rocha • Ana Teresa, José Pedro
e Hugo Manuel Sousa • António Miguel da
Silva Santos • Arnaldo José Reis Pinto Nunes
• Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara Sofi a e
Duarte Carvalho Pereira • Bernadete Silveira
• Carolina de Oliveira Figueiredo Martins •
Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch •
Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues
Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa
& Garcia • Cónego Dr. Francisco C. Zanger •
Convidados do Casamento de Joana Pinto e
Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10)
da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes
Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes
Rodrigues • Departamento Administrativo
Financeiro da Optimus Comunicações, SA -
DAF DAY 2010 • Departamento de Ciências
Sociais e Humanas da Escola Secundária de
Ermesinde • Departamento de Matemática e
Ciências Experimentais (2009/10) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Dinah Ferreira
• Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda
e Delfi m Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola
Básica da Formigosa • Escola Dominical da
Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3
de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto
Vasconcelos, Projecto Pegada Rodoviária
Segura, Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3
Escultor António Fernandes de Sá • Escola
Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu
Aprender a Viver de Forma Sustentável •
Escola Secundária Augusto Gomes • Escola
Sequestro de Carbono
Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área
de fl oresta em Vila Nova de Gaia com a garantia, dada pelo Município,
de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência
ao seu gesto em favor do Planeta
Para mais informações pode contactar
pelo n.º (+351) 227 878 120
ou em [email protected] Biológico de Gaia,
Projeto Sequestro do Carbono4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia
Secundária do Castelo da Maia • Família
Carvalho Araújo • Família Lourenço • Fernando
Ribeiro • Francisco Gonçalves Fernandes
• Francisco Saraiva • Francisco Soares
Magalhães • Graça Cardoso e Pedro Cardoso •
Grupo ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola
Secundária dos Carvalhos • Grupo Ciência e
Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B (2009/10) da
Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira
Alves • Grupo de EMRC da Escola Básica D.
Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura Paredes
• Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês,
Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes
da Silva • Joana Garcia • João Guilherme
Stüve • João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita
Mendes, Rita Moreno, e Sofi a Teixeira, do 12.º
A (2011/12) da Escola Secundária Augusto
Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves •
Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António
Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso
• José António Teixeira Gomes • José Carlos
Correia Presas • José Carlos Loureiro • José da
Rocha Alves • José, Fátima e Helena Martins •
Lina Sousa, Lucília Sousa e Fernanda Gonçalves
• Luana e Solange Cruz • Manuel Mesquita •
Maria Adriana Macedo Pinhal • Maria Carlos
de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta Lopes
e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo
Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina
Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes
da Costa e Manuel da Costa Dionísio • Maria
Helena Santos Silva e Eduardo Silva • Maria
Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela
Esteves Martins Alves • Maria Violante Paulinos
Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da Rocha
• Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal •
Marisa Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes
• Mateus de Oliveira Nunes Miranda Saraiva • Miguel
Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e
André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão • Pedro
Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos e Paula
Sousa • Professores (2010/11) da Escola Secundária
de Oliveira do Douro • Professores e Funcionários
(2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro
• Protetores do Ambiente Professores e Alunos da
Escola Básica de Canidelo • Regina Oliveira e Abel
Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira
• Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos
do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira
do Douro • Serafi m Armando Rodrigues de Oliveira •
Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães
Rocha • Tiago Pereira Lopes • Turma A do 6.º ano
(2010/11) do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano
(2008/09) da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma
A do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de
Oliveira do Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11)
da Escola Secundária de Ermesinde • Turma A
do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 12.º
ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde •
Turma C do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária
de Ermesinde • Turma D do 10.º ano e Professores
(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do
Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11) da Escola
Secundária de Ermesinde • Turma E do 10.º ano
(2008/09) da Escola Secundária de Ermesinde
• Turma E do 12.º ano (2010/2011) da Escola
Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º ano
(2010/11) - Curso Profi ssional Técnico de Gestão do
Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues
de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA
(2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da
Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A
e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores
(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro
•Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10)
da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas
B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de
Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G
e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola
Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 73
Posto de Abastecimento de Avintes
Para aderir a este projeto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:
Parque Biológico de Gaia • Projeto Sequestro do Carbono • 4430 - 681 Avintes • Vila Nova de Gaia
Pretendo/Pretendemos aderir à Campanha Confi e ao Parque Biológico de Gaia o Sequestro do Carbono
apoiando a aquisição de m2 de área fl orestal X € 50 = euros.
Junto se envia cheque para pagamento
Nome do Mecenas
Recibo emitido à ordem de
Endereço
N.º de Identifi cação Fiscal
O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo
Telefone e-mail
Procedeu-se à transferência para o NIB 0033 0000 4536 7338 05305
1 m2 = €50 - 4 kg/ano de CO2
O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono
Colégio Luso-Francês
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74 BIBLIOTECA
74 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
A Arte e a Natureza em Portugal
Há cerca de 105 anos concluía-se a
extraordinária e excecional publicação
de “A Arte e a Natureza em Portugal”,
um volume editado em oito fascículos e
que obedece a três temáticas bem defi nidas:
o património, os costumes e a paisagem
“A Arte e a Natureza em Portugal”Album de photographias com descripções; clichés originaes; copias em phototypia; monumentos, obras d`arte, costumes, paisagens.Diretores: F. Brutt; Cunha MoraesPorto 1902Emilio Biel & C.ª - Editores
A obra
conta
com
mais de
350 reproduções
fotográfi cas de
grande qualidade
e com uma boa
dimensão, fruto do
empenho de um
fotógrafo, editor e empreendedor alemão
sediado no Porto, Emílio Biel, a que se
junta a cumplicidade de algumas das mais
importantes fi guras da cultura do seu tempo.
É o caso do historiador de arte portuguesa
e incentivador da própria obra, Joaquim
de Vasconcelos – com quem partilhou a
preocupação pelo estudo do património
português – mas também de muitos outros
colaboradores, como Carolina Michaelis
de Vasconcelos, Gabriel Pereira, Ramalho
Ortigão, Augusto M. Simões de Castro,
Albano Belino, Júlio de Castilho e Manuel
Monteiro; a direção de execução é de
Fernando Brutt e Cunha Moraes (fotógrafo).
O gosto romântico de “A Arte e a Natureza
em Portugal” afi rma-se pela profusa
quantidade de paisagens e ruínas, imagens
de grande beleza, muitas delas, sobretudo
as do Sul de Portugal, fotografadas pelo
próprio Cunha Moraes.
Trata-se de uma obra volumosa, com
mais de três centenas de fotografi as sépia,
impressas em fototipia, que surpreendem
pela particular qualidade de execução: não
era conhecida até à época de edição outra
obra ilustrada com tal variedade e profusão
de registos. Todos os volumes contêm
uma introdução e incluem fotografi as de
monumentos, obras de arte, costumes
e paisagens, neste caso de Guimarães,
Barcelos, Évora, Porto, Lisboa, Sintra,
Lorvão, Coimbra e arredores.
Em cada área geográfi ca abrangida
existe um texto de apoio a cada
fotografi a. Os textos descritivos com
“ritmo” de um guia turístico e descrições
de aspetos culturais e costumes
portugueses enriquecem o livro, uma
verdadeira obra de arte e um marco
importante para a fotografi a portuguesa,
representando o mais marcante
repertório iconográfi co do século XIX e
início do século XX.
Pode consultar a obra completa na
Biblioteca do Parque Biológico de Gaia,
agendando a sua visita.
Filipe Vieira
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 75
CRÓNICA 75
NomenclaturaA nomenclatura vulgar dos seres vivos variou e varia ainda, desde frases [ex. “tremoceiro-de-folhas-estreitas” (Lupinus angustifolius) e “cercopiteco-de-garganta-branca” (Cercopithecus albogularis)], nomes com duas ou mais palavras [ex. “erva-ouriço” (Cenchrus echinatus) e “hiena-castanha” (Parahyaena brunnea)] até um único termo [ex. “medronheiro” (Arbutus unedo) e “babuíno” (Papio cynocephalus)].
Utilidade e relevância da nomenclatura e taxonomia biológica
Jorge PaivaBiólogoCentro de Ecologia Funcional da Universidade de [email protected]
CRÓNICA 75
Os nomes vulgares, além da
ausência de normas, têm
outras desvantagens. De
notar que, geralmente, são
considerados como vulgares, os nomes
vernáculos, embora, o nome vulgar não
seja genuíno de uma região ou país. Por
exemplo, “narciso” (espécies do género
Narcissus) é um nome vulgar derivado
do grego “nárkissos”, latinizado para
“narcissus”. Estas plantas, nalgumas
regiões de Portugal são designadas
pelo vernáculo “copinhos”, noutras por
“campainhas” e noutras por “cucos”; na
Zoologia também há muitos casos destes,
como, por exemplo, a “águia-pesqueira”
(Pandion haliaetus), que no norte de Angola
é conhecida pelo vernáculo “pemba” e por
“guicho” em Cabo Verde.
Entre as desvantagens dos nomes vulgares
ou vernáculos, destacamos:
1 - São muitas vezes indefi nidos ou
imprecisos; ex. “urze” aplica-se a várias
espécies do género Erica e, até, à Calluna
Urze (Calluna vulgaris)
Jorg
e G
om
es
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76 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
76 CRÓNICA
vulgaris; “zebra” aplica-se a várias espécies
do género Hippotigris.
2 - Variam regionalmente, no mesmo
país ou em diferentes países; ex. Arachis hypogaea tem as seguintes designações
(entre muitas outras): (português)
alcagoitas (Algarve), amendoim, mancarra
(Guiné), ginguba (Angola); (espanhol)
alfoncigo de tierra, cacahué, cacahuey,
cacavet, mandavi, pistacho de tierra;
kakahuete (basco); cacauete (catalão);
arachide (francês); peanut (inglês); fi stik
(turco); erdnuss (alemão); mani (fi lipino);
jordnöt (sueco); orzech ziemny (polaco);
zemesriekstu (letónio); arachidi (italiano);
kacang (indonésio); földimogyoró (húngaro);
maapähkinä (fi nlandês); maapähkel
(estoniano); pinda (holandês); arašíd
(checo); kikiriki (croata); grondboontjiebotter
(afrinans); badiava (albanês). Entre os
animais, citamos, como exemplo, o atum-
branco ou atum-albino (Thunnus alalunga),
também designado por albacora ou
alvacora (Açores); avoador (Angola); peixe-
maninha (Cabo Verde) ou asinha, bandolim
e carorocatá (Brasil).
3 - Variam temporalmente; como, por
exemplo as “couves” (Brassica oleracea) já
se designaram por “veizas” (Idade Média),
mais tarde por “veiças” ou “verças” ou
“berças”, assim como ao “boi” (Bos taurus)
chamavam “zevro” ou “zebro” no período
entre o século XI e XII.
4 - O mesmo nome vulgar pode ser usado
para seres diferentes; como, por exemplo
“uva-de-cão” tanto pode ser Tamus communis, como Solanum dulcamara,
como Sedum acre; o nome “pardal” é
usado para designar aves do género
Passer e do género Petronia.
5 - A escolha de um nome vulgar não
obedece a qualquer regra.
Em Biologia, a nomenclatura consiste
na atribuição de um nome a um ser
vivo e a grupos de seres vivos (famílias,
ordens, fi los, etc.), de acordo com as
regras internacionais de nomenclatura
biológica. Esta função é regulada pelos
Códigos Internacionais de Nomenclatura
(International Code of Nomenclature of
Algae, Fungi and Plants; International Code
of Zoological Nomenclature; International
Code of Nomenclature of Bacteria e
International Code of Virus Classifi cation
and Nomenclature). Estes Códigos,
embora com regras semelhantes, são
independentes, mas todos utilizam a
nomenclatura binominal e em latim,
estabelecida por C. Lineu (1707-1778).
Os nomes das espécies são constituídos
por duas palavras: uma, o género, um
substantivo, iniciada por maiúscula, e
outra, o restritivo específi co, um adjetivo,
em minúsculas, que tem de concordar em
género (masculino, feminino ou neutro)
e número (singular ou plural), com o
respectivo substantivo (ex. Polygala albida
e nunca Polygala albidum ou Polygala albidus). Apenas nos vírus, os nomes das
espécies (sempre binominais) e géneros
têm de vir acrescentados com o termo
virus (ex. Beta gammavirus, é o nome da
espécie; Betavirus é o nome do género).
Nas bactérias os nomes científi cos são
binominais, como em qualquer outro ser
vivo (ex. a muito badalada Escherichia
coli… lê-se esqueriquia coli).
Enaima Vertebrados(com sangue vermelho; vivíparos ou ovíparos)Internamente vivíparos
1. Homem2. Cetáceos3. Quadrúpedes vivíparos (parte dos Mamíferos) Ovíparos ou, por vezes, extremamente
vivíparosCom ovos perfeitos
4. Aves5. Quadrúpedes ovíparos (= Anfíbios e maioria dos Répteis)6. Serpentes
Com ovos imperfeitos 7. Peixes
Anaima Invertebrados(sem sangue vermelho; vivíparos, vermíparos de geração espontânea ou por gemulação)Com ovos perfeitos
8. Cefalópodes9. Crustáceos
Com ovos especiais10. Insetos, aranhas, escorpiões, etc
Com gomos, massas geradoras ou de geração espontânea
11. Moluscos (exceto Cefalópodes), Equinodermes, etc.
De geração espontânea 12. Esponjas, Celenterados, etc.
Cla
ssifi c
ação
do
rein
o A
nim
al d
e A
rist
ótel
es
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 77
Coração (com 1 ou 2 ventrículos e 2 aurículas) sangue quente e vermelho
Vivíparos 1. Mamíferos
Ovíparos 2. Aves
Coração (com 1 ventrículo e 1 ou 2 aurículas) sangue frio e vermelho
Respiração pulmonar 3. Répteis Respiração branquial 4. Peixes
Coração (com 1 ventrículo e sem aurícula) sangue frio e incolor
Com antenas
5. InsetosCom tentáculos 6. Vermes C
lassifi c
ação
do
rein
o A
nim
al d
e L
ineu
Recentemente, os botânicos e os
zoólogos estabeleceram alguns acordos
nas regras de nomenclatura dos taxa
[sigular taxon, termo de origem grega,
proposto por H. Lam, (Congresso
de Estocolmo, 1950), introduzido na
4.ª edição do International Code of
Nomenclature of Algae, Fungi and Plants
(1952), posteriormente adotado pelos
outros Códigos e que serve para designar
qualquer grupo taxonómico, seja qual for
o respetivo grau (espécie, género, família,
ordem, fi lo, etc.)]. Assim, por exemplo,
em Botânica, o taxon Divisão passou a
designar-se por Filo, tal como na Zoologia.
Mas, continua a haver diferenças, como,
por exemplo, na Zoologia é possível a
tautonimia (o restritivo específi co pode
repetir o nome do género), como acontece
com os nomes da raposa (Vulpes vulpes)
e da lontra (Lutra lutra). Em Botânica isso
não é permitido. Por exemplo, o feijoeiro-
vulgar (Phaseolus vulgaris) nunca podia
designar-se por Pahseolus phaseolus. Outra
diferença é na citação dos autores, pois na
Botânica não se cita o ano da publicação.
Por exemplo, a geneta é Genetta genetta
L., 1758, mas o nabo, como é planta,
escreve-se o nome do autor sem data,
Brassica napus L. Tanto na Botânica,
como na Zoologia, admitem-se taxa infra-
específi cos. Nestes casos, o nome de um
dos taxa (o que inclui o tipo) tem de repetir
o restritivo específi co, sem autores. Como
na Botânica se admitem vários graus de
taxa infra-específi cos (ex. subespécies e
variedades), estas categorias têm que ser
indicadas, abreviadamente, com o nome
(ex. Alyssum alpestre L. var. alpestre e
Alyssum alpestre L. var. incanum Boiss.).
Como na Zoologia apenas se consideram
subespécies, na citação do nome, não é
necessário referir a categoria. Por exemplo,
o búfalo-africano (Syncerus caffer Sparrman,
1779) tem cinco subespécies: Syncerus caffer Sparrman, 1779 caffer (búfalo-da-
savana); Syncerus caffer Sparrman, 1779
nanus Boddaert, 1785 (búfalo-da-fl oresta
ou pacaça); Syncerus caffer Sparrman,
1779 brachyceros Gray, 1837 (búfalo-
sudanês); Syncerus caffer Sparrman, 1779
aequinoctialis Blyth, 1866 (búfalo-do-nilo) e
Syncerus caffer Sparrman, 1779 matthewsi
Lydekker, 1904 (búfalo-da-montanha), esta
última não universalmente reconhecida. Nos
seres procariotas e vírus não se consideram
taxa infra-específi cos, mas apenas estirpes
genéticas, tal com existem também nas
plantas e nos animais.
Nos animais domésticos, extremamente
modifi cados geneticamente e através de
cruzamentos controlados, consideram-
se, muitas vezes, raças. Com as plantas
cultivadas, como formam híbridos férteis
mais viáveis e como a manipulação genética
é mais fácil, a complicação na nomenclatura
de “cultivares” (não há raças na Botânica)
é enorme. Por isso, existe também um
International Code of Nomenclature for
cultivated plants cultivar.
Muitas vezes aparecem nomes de autores
entre parênteses [ex. Bellardia trixago (L.)
All.]. Isso indica que o primeiro autor a utilizar
o restritivo (neste caso trixago) é o que está
entre parênteses (neste caso Lineu), num
outro género ou para nomear um taxon infra-
específi co.
Gineta (Genetta genetta)
Jo
rge G
om
es
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78 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
78 CRÓNICA
Na citação de autores, há mais algumas
normas, mas não tão relevantes. Quando se
citam nomes científi cos em artigos de índole
não científi ca, não se devem indicar autores,
pois além do público não entender essa
citação, evitam-se erros.
O nome científi co em latim e curto (apenas
duas palavras) tem a vantagem de ser
universal (igual em todo o Globo) e numa
língua apátrida e “morta”, isto é, não sendo
uma língua nacional, o nome não pode ser
rejeitado com o argumento de estar numa
língua de um país diferente.
TaxonomiaTaxonomia [do grego antigo taxis (dispor,
organizar) e nomos (lei ou princípio comum),
que signifi ca dispor (organizar) segundo
uma lei ou princípio] é a ciência que trata da
identifi cação, nomenclatura e classifi cação
de objetos, particularmente de natureza
biológica.
Muitos restringiram o termo Taxonomia
apenas aos princípios básicos dos
sistemas de classifi cação, considerando a
Sistemática [do grego syn (junto) e histanai (colocar), que signifi ca juntar (colocar com),
sem dar a ideia de precisão] como sendo a
classifi cação dos seres vivos segundo um
determinado sistema nomenclatural. Assim,
permanecia a necessidade de um termo
coletivo único. Atualmente, taxonomista
é o indivíduo que identifi ca, denomina
e classifi ca seres vivos, considerando-
se sinónimos os termos Taxonomia e
Sistemática.
Identifi cação é o reconhecimento de que
um taxon é idêntico (semelhante) ou não
a outro já conhecido. Essa identifi cação
pode fazer-se recorrendo à bibliografi a
ou à comparação com exemplares
devidamente identifi cados (ex., plantas
secas, animais embalsamados, seres em
soluções conservantes, em preparações
microscópicas, etc.). Atualmente, nalguns
casos, conseguem-se identifi cações através
de recursos informáticos e fotográfi cos.
Em Biologia para denominar os taxa,
utilizam-se as normas da nomenclatura já
referidas.
A classifi cação consiste na colocação do ser
vivo, ou conjunto de organismos, em grupos
ou categorias, de acordo com determinado
plano ou sequência e em conformidade com
as regras internacionais de nomenclatura
respetivas.
As tentativas de classifi cação dos organismos
são muito antigas, pois classifi car é uma
atitude própria do ser humano, que mesmo
em épocas mais primitivas da civilização,
depressa reconheceu os organismos vegetais
e animais que podia usar na alimentação,
os que o poderiam matar por violência ou
envenenamento, os que o poderiam tratar
ou curar, etc. Estas primitivas classifi cações
foram, evidentemente, práticas e baseadas,
portanto, na observação e utilização dos
organismos. Com o aumento do conhecimento
dos recursos naturais e a estabilização das
civilizações, surgiram classifi cações mais
racionais, com sistemas baseados em
características estruturais e morfológicas. As
origens deste tipo de classifi cação remontam
a Aristóteles (384-322 a.C.), que classifi cou
os animais baseando-se no sangue e
processos de reprodução muito simplifi cados
e a Teofrasto (370-285 a. C.), que classifi cou
cerca de 480 plantas usando inicialmente os
carateres mais evidentes, agrupando as plantas
em árvores, arbustos, subarbustos e ervas.
Para os subgrupos usou sucessivamente
características mais aparentes como ovário
ínfero e súpero, pétalas unidas ou não, tipos
de frutos, etc. A estas classifi cações racionais
opõem-se as classifi cações empíricas, mais
utilizadas no agrupamento de objetos e não de
organismos, como, por exemplo, a ordenação
de uma biblioteca por ordem alfabética, pela
cor da capa ou pelo tamanho dos livros.
Estas classifi cações são artifi ciais, agrupam
os organismos de acordo com conveniências
práticas, principalmente como auxiliares de
identifi cação e, geralmente, baseiam-se em
poucos carateres ou apenas num único. A
partir do século XVI, com os «herbalistas»
publicam-se já muitas obras de Botânica e de
Zoologia em latim, mas é com C. Lineu (1707-
1778) que as classifi cações artifi ciais deixam
praticamente de ter como base a classifi cação
aristotélica. O célebre «Sistema Sexual de
Lineu» para o Reino Vegetal é bem conhecido,
mas, por ser baseado num pequeno número
de caracteres (estames e carpelos), foi
muito pouco seguido, até nessa época (por
ex.: a classe Cryptogamia incluía, além de
algas, fungos, líquenes, musgos, hepáticas,
pvs47.indd 78pvs47.indd 78 09/09/14 01:0809/09/14 01:08
Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 79
incluía também algumas plantas superiores
fanerogâmicas, como as dos géneros
Lemna e Ficus, e até corais e esponjas).
Aconteceu o mesmo com o seu Sistema de
Classifi cação Animal, muito semelhante ao
de Aristóteles, bastante artifi cial e baseado
apenas na estrutura do coração, sangue,
tipo de respiração e formas de reprodução.
Aos sistemas artifi ciais seguem-se os
sistemas naturais, que procuram refl etir a
situação tal como se crê existir na Natureza,
utilizando todos os elementos disponíveis.
Estes sistemas naturais surgem na segunda
metade do século XVIII, em consequência
da enorme quantidade de plantas e animais
vivos ou «preparados» que chegavam aos
centros científi cos europeus, provenientes
de outros continentes. Assim, foi possível
a verifi cação da existência de maiores
afi nidades naturais entre os organismos do
que as indicadas nos sistemas artifi ciais.
Este período, onde sobressaíram J. Lamarck
(1744-1828) e a família Jussieu (1686-
1779), impulsionou a sistemática e, com a
rápida aceitação e difusão das teorias de C.
Darwin (1809-1882), surgem os sistemas
fi logenéticos (do grego phylos - raças, estirpe
e geneia - descendência) ou evolutivos,
que classifi cam os organismos segundo a
ascendência e descendência, de acordo
com a sua sequência evolutiva, refl etindo
relações genéticas. Classifi cações artifi ciais
e classifi cações naturais são classifi cações
horizontais, pois, não admitindo a evolução
dos organismos, consideram-nos sem
dimensão no tempo, isto é, baseiam-se
na semelhança estrutural, sendo pois,
estáticas. São portanto classifi cações
fenéticas, características do período pré-
darwiniano. As classifi cações fi logenéticas
são classifi cações verticais, por terem em
consideração a dimensão no tempo, isto é,
têm uma perspetiva dinâmica. São também
designadas por classifi cações fi léticas. As
classifi cações elaboradas após a publicação
da «Origem das espécies» (1859) de C.
Darwin, e respetiva difusão, supunham que
as semelhanças verifi cadas nos grupos
fenéticos eram provavelmente o resultado da
existência de um ancestral comum ao grupo,
passando a considerar grupos fenéticos
(como as famílias das Angiospérmicas) como
grupos fi léticos. Isso nem sempre é verdade,
pois nem toda a evolução é divergente.
Medronheiro (Arbutus unedo)
Jorg
e G
om
es
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80 CRÓNICA
Como se pode constatar, a história dos
diversos sistemas de classifi cação, quer
botânicos quer zoológicos, pode ser
separada num certo número de fases
marcadas por acontecimentos notáveis
como os trabalhos de Aristóteles (384-322
a.C.) e Teofrasto (370-285 a.C.); a época
lineana da «explosão taxonómica» (para a
Botânica é data marcante 1753-1.ª edição
do «Species Plantarum»); a publicação
da «Origem das Espécies por meio da
Seleção Natural» (1859) por C. Darwin; a
redescoberta e difusão das leis de Mendel
(1900); o incremento da cariologia a partir
de 1920; a descoberta do microscópio
eletrónico por Max Knoll e Ernst Ruska
(1930-31); o início do desenvolvimento
das técnicas de taxonomia numérica e da
bioquímica (1957) e a estrutura da molécula
de ADN (Ácido DesoxirriboNucleico)
estabelecida por James Watson e Francis
Crick em 1953. Durante estes períodos
assumem também papel taxonómico
relevante a anatomia, a palinologia,
a paleontologia, a biogeografi a e a
embriologia.
Assim, para a Botânica podemos
considerar, resumidamente, as seguintes
fases nos sistemas de classifi cação: Fase
popular, fase com predominância da
nomenclatura trivial (vernácula ou vulgar)
como auxiliar na classifi cação das plantas.
Esta fase vai até à civilização grega
(século IV a.C.); Fase aristotélica (século
IV a.C. — século XVI), durante a qual
surgem as primeiras classifi cações escritas
numa forma permanente e lógica com
Aristóteles e Teofrasto, o “Pai da Botânica”,
e respetivos continuadores (Dioscórides).
A obra deste último «De Matéria Médica»
pode ser considerada como primeiro
«Herbal»; Fase dos herbalistas, através da
Idade Média, trabalhos sobre plantas foram
raros e todos baseados nas obras dos
«Físicos» gregos como, por exemplo, A.
Magnus (1193-1280), Bispo de Ratisbona,
o primeiro a reconhecer Monocotiledóneas
e Dicotiledóneas. Com a Renascença e
o aparecimento da imprensa na Europa
surgem obras de Botânica, algumas já
em edições numerosas e razoáveis; os
«Herbals», com o estudo das plantas
com interesse (valor) para o homem,
particularmente como plantas alimentícias
ou medicinais; Fase pré-lineana, que se
estende do fi m do século XVI até à obra
de C. Lineu (meados do século XVIII)
e que é considerada como a fase dos
primeiros taxonomistas, entre os quais
destacamos A. Caesalpino (1519-1603),
considerado o «Primeiro Taxonomista» e
J. P. Tournefort (1656-1708), o “Pai” do
conceito de género; Fase lineana, com
C. Lineu (1707-1778), considerado o
fundador da taxonomia biológica, sendo o
sistema nomenclatural atual baseado no
utilizado por ele. Pode dizer-se que com
Lineu nasceram os Códigos Internacionais
de Nomenclatura Biológica; Fase post-
lineana, que se estende desde a morte
de Lineu (1778) até à publicação de
«Origens das Espécies» de C. Darwin
(1859). Este período post-Lineano, é o
da fundação das famílias modernas e
a época das grandes explorações de
naturalistas pela Ásia, África, América e
até Austrália; Fase fi lética, fase marcada
pelas teorias evolucionistas de C.
Darwin e A. R. Wallace, a redescoberta
das leis de G. Mendel em 1900 e o
incremento da cariologia, surgindo,
então as classifi cações fi logenéticas
e os primeiros grandes sistemas de
Sistema Sexual do Reino Vegetal de Lineu
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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 81
classifi cação. Podem considerar-se três
períodos nesta fase: Período post-
darwiniano (até 1920), no qual não houve
grandes progressos nas classifi cações
que pudessem ser atribuídas às ideias
evolucionistas; Período citogenético-
biossistemático (1920-1960), em que
os rápidos avanços na citologia e na
genética permitiram aplicar novos
conhecimentos à taxonomia, sendo o
período da introdução e aceitação do
conceito de espécie biológica, com
utilização de informação genética («pools»
de genes), barreiras de procriação e o
reconhecimento do valor taxonómico
do número de cromossomas (cariótipo)
como bons «caracteres marcadores» para
a delimitação de grupos taxonómicos e
a elaboração de sequências evolutivas;
Período da Biologia Molecular
(1960…) com a sistemática bioquímica
(Quimiotaxonomia), a Taxonomia
Numérica (Taxometria) e a Sistemática
Molecular. A primeira forneceu uma
nova classe de dados para construir
ou modifi car as classifi cações e um
meio valioso para pesquisa de relações
fi logenéticas, particularmente as que
se referem a ancestrais comuns e
sequências evolutivas; a Taxometria é
um campo que incide basicamente em
problemas processuais ou operacionais,
procurando reconstruir as relações
evolutivas empregando meios numéricos.
Não é uma pesquisa para obter novos
dados, mas métodos de os tratar a fi m de
reduzir o factor subjetivo; a Sistemática
Biomolecular é um ramo da Sistemática
que analisa diferenças hereditárias
moleculares, fundamentalmente nas
sequências do ADN, de maneira a obter
informações nas relações evolutivas
dos organismos, com elaboração de
classifi cações e árvores fi logenéticas mais
fi áveis. Foi assim que aconteceu uma
autêntica “revolução” na classifi cação
das plantas, com o desaparecimento
de grupos como as Espermatófi tas, as
Dicotiledóneas e as Monocotiledóneas
e a agregação de muitas famílias (ex.
as Chenopodiaceae estão incluídas nas
Amaranthaceae) e a divisão de outras (ex.
as Asparagaceae e as Alliaceae foram
separadas das Liliaceae).
Finalmente, a determinação exata de
um organismo é fundamental. Assim,
por exemplo, conhecemos um caso
de uma tese de mestrado, classifi cada
com 19 valores, em que o autor estudou
produtos químicos de uma planta tropical,
indicando o nome da espécie, tendo-se
baseado no nome vernáculo fornecido
por um popular. Ora esse nome vernáculo
corresponde a duas espécies de plantas,
por acaso da mesma família, mas de
géneros diferentes. Ora aconteceu que
o nome científi co que o autor refere na
tese não é o da planta que ele utilizou
nos estudos químicos. Conclusão, a tese
estava toda errada. Em determinações
para a Medicina Forense é necessário
muitíssimo cuidado na determinação
dos organismos (ex. cogumelos, plantas
utilizadas em fi toterapia, material polínico).
Outro exemplo é o estudo ao microscópio
eletrónico de células ou organitos. Se a
determinação do organismo estudado
não é exata, os resultados ultra-
estruturais estarão todos errados.
Tradução “livre” ou à letra do Sistema Sexual de Lineu
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82 COLETIVISMO
Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesAvenida João Crisóstomo, 18 – 4º Dto
1000-179 Lisboa – Portugal
Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39
[email protected] • www.spea.pt
82 • Parques e Vida Selvagem verão 2014
Tagis - Centro de Conservaçãodas Borboletas de PortugalMuseu Nacional de História Natural
Rua da Escola Politécnica, 58
1250-102 Lisboa
Tel. + Fax: 213 965 388
[email protected] • www.tagis.org
Tagis - Centro de Conservação
Dez exibições dez distritosCom o apoio do programa O Mundo na Escola
do Ministério da Ciência e Educação, a exposição
«Insetos em Ordem» está em itinerância pelo
país desde outubro de 2012, tendo já passado
pelos distritos de Faro, Évora, Santarém, Castelo
Branco, Viseu, Coimbra, Porto, Viana do Castelo
e Bragança.
Durante os meses de verão não deixe de visitar
os «Insetos em Ordem» no Museu Municipal de
Arouca. Esta mostra já vai em mais de 40 mil
visitantes.
Sugerimos também que aproveitar a ocasião
para explorar o Arouca Geoparque e conhecer
o Museu das Trilobites Gigantes e a Casa das
Pedras Parideiras.
Para observar e registar a natureza, em especial
a diversidade de insetos da Serra da Freita,
sugerimos o percurso pedestre que passa pela
Frecha da Mizarela, onde brevemente irá nascer
mais uma Estação da Biodiversidade.
Boas exposições, bons insetos, e boas férias!
Mais informaçõeswww.mundonaescola.ptwww.facebook.com/MundoNaEscola
O espetáculo da migração regressa em outubroO mês de outubro marca o regresso
do Festival de Observação de Aves &
Atividades de Natureza, que já vai na sua
5.ª edição.
O festival, que decorrerá entre os dias
2 e 5 de outubro, em Sagres, pretende
receber 800 pessoas e promover o convívio
entre os todos os visitantes quer sejam
especialistas ou simplesmente amantes das
aves, nomeadamente através de atividades
relacionadas com a natureza, tais como as
saídas de campo para observação de aves,
as saídas de pelágicas para observação de
cetáceos e de aves marinhas, os minicursos
de diversas temáticas, as iniciativas de
fotografi a, os passeios a cavalo e as
atividades de educação ambiental para os
mais pequenos.
Este ano, as atenções do festival
centram-se na toutinegra-de-bigodes,
um passeriforme que encontra no nosso
país condições ideais durante a época
reprodutora e migratória, nomeadamente
nas zonas de Trás-os-Montes e Beira
Baixa. Apesar de ser uma espécie que
não tem uma presença forte em Sagres,
durante a época migratória é possível
observar esta espécie com maior
frequência entre setembro e início de
outubro, período que coincide com a
sua época migratória. Outras espécies
também reúnem as preferências dos
visitantes como a cegonha-preta, as
águias, abutres e falcões.
Sagres é um local muito rico no que
diz respeito à avifauna nacional,
acolhendo as mais variadas espécies
e neste sentido o festival assume
grande importância em termos
socioeconómicos para a região, uma vez
que serve como elemento dinamizador
do turismo de natureza deste concelho.
A 5.ª edição é uma organização conjunta da
Câmara Municipal de Vila do Bispo, SPEA e
Almargem, e terá atividades gratuitas e outras
com desconto de festival. As inscrições serão
possíveis a partir de meados de agosto,
altura em que será também divulgado o
programa ofi cial. Mais informações em
http://birdwatchingsagres.com
Por Elson Baessa
e Joana Domingues
Por Patrícia Garcia-Pereira, Centro Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa - [email protected]
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Quer receber comodamente as edições desta revista em sua casa, pelo correio, assim que começa a ser distribuída?
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Informe-se através do e-mail [email protected] telefone 227 878 120 ou por correio:Revista Parques e Vida SelvagemParque Biológico de Gaia | Rua da Cunha | 4430-681 Avintes
Centro de CongressosHospedariaSelf-service
Parque de Auto-caravanasAuditório
e muita, muita Natureza!
a apenas 15 minutos
do centro de Vila Nova de Gaia47
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ELVA
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