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1 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências e Letras Campus Araraquara Daniela Regina da Silva Camargo PREPOSIÇÕES EM TEXTOS DO GENÊRO NOTÍCIA NA IMPRENSA PAULISTA: NORMA E USO NO ÍNICIO DO SÉCULO XX Araraquara -2010-

TESE GÊNERO JORNALÍSTICO

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Tese do curso de letras ufla mg.

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    Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho

    Faculdade de Cincias e Letras Campus Araraquara

    Daniela Regina da Silva Camargo

    PREPOSIES EM TEXTOS DO GENRO NOTCIA NA IMPRENSA PAULISTA: NORMA E USO NO NICIO DO SCULO

    XX

    Araraquara -2010-

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    Daniela Regina da Silva Camargo

    PREPOSIES EM TEXTOS DO GENRO NOTCIA NA IMPRENSA PAULISTA: NORMA E USO NO NICIO DO SCULO

    XX

    Monografia apresentada UNESP Universidade Estadual Paulista para o curso de Letras, sob

    orientao da professora Dr Rosane de Andrade Berlinck.

    Araraquara 2010

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    SUMRIO INTRODUO........................................................................................................p.08

    1 A IMPRENSA MAJORITRIA...................................................................p.09

    1.1 O surgimento da imprensa no Brasil...........................................................p.09

    1.2 A imprensa no estado de So Paulo..............................................................p.11 1.3 O Combate.......................................................................................................p.13 1.4 O Estado de So Paulo....................................................................................p.14

    2 GNERO TEXTUAL.......................................................................................p.17 2.1. Um percurso histrico pelo conceito de gnero..........................................p.17 3 O DOMNIO JORNALSTICO......................................................................p.19 3.1 Os gneros do jornal.......................................................................................p.19 3.2 A notcia de jornal..........................................................................................p.21 3.2.1 Histria da notcia de jornal.......................................................................p.21 3.2.2 Estrutura da notcia Nilson Lage............................................................p.23 4. METODOLOGIA...........................................................................................p.27 5 ANLISE DOS DADOS...................................................................................p.29

    5.1 Observaes gerais O Combate...................................................................p.29 5.1.2 Uma anlise mais especfica dos dados O Combate...............................p.29 5.2 Observaes gerais O Estado de So Paulo...............................................p.32 5.2.1 Uma anlise mais especfica dos dados O Estado de So Paulo............p.32

    6 UMA ANLISE COMPARATIVA: O Combate e O Estado de So Paulo..p.36 CONCLUSO.....................................................................................................p.38

    BIBLIOGRAFIA.................................................................................................p.41 APNDICE A- O Combate..................................................................................p.43 APNDICE B O Estado de So Paulo............................................................p.48

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Uso de preposies segundo o tipo de verbo p.30 Grfico 2 Uso de preposies segundo a natureza do complemento p.31 Grfico 3 Uso de preposio segundo o tipo de verbo e o complemento

    lugar p.31

    Grfico 4 Uso de preposies segundo o tipo de verbo p.33 Grfico 5 Uso de preposies segundo a natureza do complemento p.33 Grfico 6 Uso de preposio segundo o tipo de verbo e o complemento

    lugar p.34

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Frequncia de uso da preposio a segundo o tipo de predicador p.36 Tabela 2 Freqncia de uso da preposio a segundo a natureza do

    complemento p.37

    Tabela 3 Freqncia de uso da preposio a com complemento de lugar, segundo o tipo de predicador que o introduz

    p.37

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    D Direo

    M Movimento

    T Transferncia material

    V Transferncia verbal

    V Interesse

    A Movimento abstrato

    L Lugar

    B Lugar abstrato

    A Ser animado

    I Ser inanimado

    N Noo abstrata

    E Evento

    T Tempo

    X Instituio

    A Anncios

    S Notas sociais

    A Preposio A

    P Preposio PARA

    E Preposio EM

    T Preposio AT

    0 Preposio A

    1 Outras preposies

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    RESUMO O presente trabalho prope uma reflexo sobre processos de variao e mudana ocorridos com as preposies a, at, em e para, tomados como parmetro para obter respostas em um contexto mais amplo, o do confronto entre norma e uso e entre norma e variao lingstica. Conduzimos o estudo com base em um corpus composto por todas as ocorrncias das preposies em questo retiradas de notcias do jornal O Combate e O Estado de So Paulo. Considerando o objetivo central do estudo que apresentar e descrever o uso dessas partculas em textos jornalsticos da Imprensa Paulista, os dados foram coletados e quantificados pela utilizao do pacote estatstico GOLDVARB, e a interpretao dos resultados se baseou (i) em hipteses relativas ao processo de variao no emprego das preposies e substituio de preposies fracas, como a preposio a, por preposies fortes (para, em, at), (ii) no confronto com a norma gramatical vigente na poca, (iii) como tambm na busca pela existncia de algum fator histrico que justifique a seleo de uma preposio em vez de outra. Entre as hipteses, buscamos verificar a relao entre essas preposies e o tipo de predicadores cujos complementos elas introduzem: de direo, de movimento (concreto ou abstrato) ou de transferncia (material e verbal/perceptual). A perspectiva terica utilizada foi a sociolingustica laboviana (LABOV, 1972, 1994), que define a varivel lingstica como uma representao de duas ou mais formas distintas de se transmitir um determinado contedo informativo, sendo necessrio para defini-la os seguintes critrios: definir o nmero exato de variantes; estabelecer toda a multiplicidade de contextos em que ela aparece; elaborar um ndice quantitativo que permita medir os valores das variveis. PALAVRAS CHAVES: sociolingstica laboviana; imprensa; preposio; variao.

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    ABSTRACT This paper proposes a reflection on processes of variation and change that occurred with the portuguese prepositions a, ate, em and para, taken as a parameter for answers in a broader context, the confrontation between the norm and use and between standard and linguistic variation. We conducted the study based on a corpus composed of all occurrences of the prepositions in question removed news of the newspaper O Combate and O Estado de Sao Paulo. Whereas the main objective of the study is to present and describe the use of these particles in newspaper articles of the Imprensa Paulista, data were collected and quantified by using the statistical package GOLDVARB, and interpretation of results relied (i) assumptions regarding the process variation in the use of prepositions and prepositions replace weak, as the preposition to, for strong prepositions (para, em, at), (ii) in comparison with the grammatical rule in effect at the time, (iii) and in the search for the existence of some historical factor that justifies the selection of a preposition rather than another. Among the hypotheses, we investigate the relationship between these prepositions and whose kind of preachers they introduce supplements: the direction of motion (abstract or concrete) or transfer (material and verbal / perceptual). This theoretical perspective was the Labovian sociolinguistics (Labov, 1972, 1994), which defines the linguistic variable as a representation of two or more different ways to convey a certain information content, being necessary to define it the following criteria set exact number of variants to establish all the multiplicity of contexts in which it appears; develop a quantitative index for measuring the values of variables. KEYWORDS: labovian sociolinguistics; press; preposition; variation.

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    INTRODUO

    Vrios estudos tm constatado que as preposies so elementos propensos a

    processos de variao e mudana, que podem chegar ao apagamento, substituio ou

    especializao de sentidos (Guedes & Berlinck, 2003; Berlinck, 2003); alm do que

    essas partculas assumiram um papel de grande importncia na lngua portuguesa e nas

    demais lnguas romnicas, sendo em grande parte, responsveis pelo estabelecimento de

    relaes sinttico-semnticas no nvel sentencial.

    Dada a importncia estrutural das preposies, a investigao de processos de

    variao e mudana que as envolva, luz de uma perspectiva emprica que integre o

    interno e externo e reconhea a lngua como uma realidade essencialmente social, se

    mostra de grande significao para o estudo da histria da lngua como uma realidade

    em constante transformao no tempo.

    Portanto, o presente trabalho tem como objetivo descrever a variao das

    preposies em complementos de predicadores de direo, de movimento com

    transferncia e de transferncia (material e verbal/perceptual), em notcias publicados

    em jornais da imprensa paulista (O Combate e O Estado de So Paulo) durante as trs

    primeiras dcadas do sculo XX. Deste modo, determinamos quais so as preposies

    que introduzem o complemento dos predicadores selecionados e sua distribuio em

    termos de frequncia, identificamos fatores de natureza lingustica e extralngusitca que

    pudessem explicar tal distribuio e determinamos em que medida essa distribuio

    revela padres diferentes de uso em relao norma vigente.

    Para alcanar esse objetivo geral, definimos como objetivos especficos: (i)

    determinar qual ou quais so as preposies que introduzem o complemento dos

    predicadores selecionados e como se distribuem em termos de freqncia; (ii)

    identificar que fatores de natureza lingstica e extralingstica explicam essa

    distribuio; e (iii) determinar em que medida essa distribuio revela padres

    diferentes de uso em relao norma vigente.

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    1. SOBRE A CHAMADA IMPRENSA MAJORITRIA 1.1 O surgimento da imprensa no Brasil

    A Imprensa Nacional nasceu por decreto do prncipe regente D. Joo, em 13 de

    maio de 1808, com o nome de Impressa Rgia e, a partir disso, o Rio de Janeiro ficou

    sendo o nico ponto em que se podiam imprimir livros no Brasil (DUARTE, 1972,

    p.03). Apesar de ter iniciado com apenas dois rudimentares prelos e 28 caixas de tipos,

    a Imprensa Nacional ostenta uma singular histria de servios ao pas, tanto em sua

    misso de registrar diariamente a vida administrativa do Brasil pelos Dirios Oficiais,

    como por ser rgo de substantiva importncia no plano cultural.

    A histria dos 200 anos dessa instituio pblica, uma das mais antigas do Pas,

    confunde-se com a Histria do Brasil e pontua o desenvolvimento da informao e da

    cultura do pas. Segundo Nelson Werneck Sodr, em Histria da Imprensa no Brasil,

    coincidncia interessante fez do aparecimento do Brasil na Histria e do da imprensa acontecimentos da mesma poca, s nisso aproximados, porque a arte de multiplicar os textos acompanhou de perto, e serviu, a ascenso burguesa, enquanto a nova terra, integrada no mundo conhecido, iniciava a sua existncia com o escravagismo. Se o impulso que deu aos portugueses o mrito de ocupar o Brasil estava ligado expanso do capital comercial, foi ele responsvel tambm pelo surto da arte grfica na metrpole. (SODR, 1999, p. 09)

    O autor afirma, ainda, que

    A imprensa surgira, finalmente, no Brasil [...] sob proteo oficial, mais do que isso: por iniciativa oficial com o advento da Corte de D. Joo Antnio de Arajo [...]. (SODR, 1999, p. 19)

    Sendo assim, foi a Imprensa Nacional que fez surgir a imprensa no Brasil, assim

    como o primeiro jornal impresso no pas, a Gazeta do Rio de Janeiro, que era uma

    espcie de Dirio Oficial da Coroa Portuguesa, em 10 de setembro de 1808. Entretanto,

    importante ressaltar o fato de que o primeiro jornal brasileiro no se imprimiu no

    Brasil, e sim na Inglaterra. Segundo Paulo Duarte, o Correio Brasiliense, com nmero

    inicial datado a 1 de junho de 1808, publicado em Londres por Hiplito Jos da Costa

    Pereira Furtado de Mendona primeiro jornalista brasileiro -, era aqui impossibilitado

    de resistir s censuras e por isso sua publicao se deu no exterior (DUARTE, 1972,

    p.03).

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    Ao se iniciarem os trabalhos de impresso oficial, no Brasil, a Gazeta do Rio de

    Janeiro tornou-se responsvel por transmitir as primeiras leis, alvars, cartas rgias,

    atos e diplomas legais, alm de congratulaes, odes, atos episcopais, oraes, notcias

    originrias do exterior, compndios literrios, alcanando tambm o pioneirismo na rea

    editorial. Segundo Sodr (1999, p.20):

    jornal oficial, feito na imprensa oficial, nada nele constitua atrativo para o pblico, nem essa era a preocupao dos que o faziam, como a dos que o haviam criado. Armitage 1 situou bem o que era a Gazeta do Rio de Janeiro: Por meio dela s se informava ao pblico, com toda a fidelidade, do estado de sade de todos os prncipes da Europa e, de quando em quando, as suas pginas eram ilustradas com alguns documentos de ofcio, notcias dos dias natalcios, odes e panegricos da famlia reinante. No se manchavam essas pginas com as efervescncias da democracia, nem com a exposio de agravos. A julgar-se do Brasil pelo seu nico peridico, devia ser considerado um paraso terrestre, onde nunca se tinha expressado um s queixume.

    Apesar disso, nos primeiros anos do surgimento da imprensa brasileira2, foram

    criadas doze oficinas tipogrficas em vrias provncias do pas. Isso torna inequvoca a

    plural importncia da Imprensa Rgia, que, alm de dar origem imprensa no Brasil,

    contribuiu para o avano intelectual da civilizao brasileira - atravs da circulao de

    idias e diretamente ligado ao avano tecnolgico e intelectual. com base nisso que

    se justifica o surgimento tardio da imprensa no Brasil, j que at o final do sculo XIX a

    sociedade brasileira era marcada pela ausncia da burguesia e do capitalismo. Sobre

    isso, Sodr (1999, p.01) nos diz que:

    por muitas razes, fceis de referir e de demonstrar, a histria da imprensa a prpria histria do desenvolvimento da sociedade capitalista. O controle dos meios de difuso de idias e de informaes que se verifica ao longo do desenvolvimento da imprensa, como reflexo do desenvolvimento capitalista em que est inserido uma luta em que aparecem organizaes e pessoas da mais diversa situao social, cultural e poltica, correspondendo a diferenas de interesses e aspiraes. Mas h ainda um trao ostensivo. [...] A ligao dialtica facilmente perceptvel pela constatao da influncia que a difuso impressa exerce sobre o comportamento das massas e dos indivduos. [...] Em que pese tudo o que depende de barreiras nacionais, de barreiras lingsticas, de barreiras culturais como a imprensa tem sido governada, em suas operaes, pelas regras gerais da ordem capitalista, particularmente em suas tcnicas de produo e de

    1 Armitage, J. Histria do Brasil, So Paulo, 1914. 2 Mais especificamente no perodo que diz respeito infncia da imprensa brasileira, que vai do seu surgimento at a Proclamao da Repblica.

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    circulao tudo conduz uniformidade, pela universalizao de valores ticos e culturais, como pela padronizao do comportamento.

    Talvez seja possvel justificar a padronizao da imprensa em relao

    sociedade em que est inserida, com base no que Roberto Seabra, no livro Imprensa e

    Poder (2002), prope como sendo as cinco fases de anlise para o desenvolvimento do

    jornalismo no Brasil. A primeira dela refere-se ao jornalismo literrio (ou opinativo e

    ideolgico), marcado por jornais radicais e impressos na forma de panfletos e de vida

    efmera, que tinham como donos polticos os lderes de movimentos conspiratrios,

    como os abolicionistas. Iniciou-se com o Correio Brasiliense e teve curso at 1880,

    quando comeou o perodo do jornalismo esttico, marcado por investimentos em

    parques grficos e aquisio de papel. Nesse momento, o pas comea a se urbanizar e a

    se industrializar e muitos dos grandes jornais de hoje, como O Estado de So Paulo,

    tiveram incio nessa poca.

    Aps o fim da Primeira Guerra Mundial, surge o que Seabra chama de

    jornalismo utilitrio. Novos veculos so lanados como, por exemplo, as revistas e

    o rdio , o que muda o conceito de notcia, j que esta se torna mais gil. Alm disso,

    outras mudanas aparecem: o desenho do jornal deixa de ser feito na grfica e passa

    para a redao e a linguagem jornalstica se torna mais objetiva, por influncia

    americana. Nas dcadas de 60 e 70, emerge o jornalismo interpretativo, marcado pela

    valorizao da reportagem e da figura do reprter, permitindo a retomada da narrativa e

    a elaborao de textos mais criativos. Aqui, recursos visuais so utilizados e o jornal

    fica colorido. Por fim, presenciamos o que o autor chama de jornalismo plural

    (tambm definido como multimdia), referente ao modelo atual, onde tudo se encontra

    mergulhado em modernizaes como os computadores, a internet, compact discs,

    bancos de dados portteis e redes nacionais de fibras pticas.

    Analisando, ento, a transformao pela qual passou a imprensa brasileira, desde

    os seus primrdios at hoje - sempre se adaptando evoluo dos tempos e realidade

    de seus consumidores, e atingindo com isso uma pluralidade de manifestaes -

    possvel afirmar que o controle dos meios de difuso de idias e de informaes

    realmente reflexo do desenvolvimento capitalista em que estes esto inseridos, assim

    como j nos disse Sodr (1999).

    1.2 A imprensa no estado de So Paulo

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    Diz Paulo Duarte, em Histria da Imprensa em So Paulo (1972), que a

    imprensa paulista nasceu sob o signo da violncia ou da coao. Isso acontece porque,

    mesmo no havendo contra ela uma censura legal, existiam duas foras arbitrrias que

    se opunham a essa imprensa: o poder poltico e o clero, ainda que o Brasil j fosse um

    pas independente h muitos anos. Sendo assim, com relao sua imprensa, o estado

    de So Paulo foi tratado como um enteadozinho pouco querido. (DUARTE, 1972).

    Durante muito tempo os paulistas lutaram pela instalao de uma tipografia no

    estado e, ainda assim, o primeiro jornal surgido foi manuscrito. Martim Francisco

    Ribeiro de Andrada, Ministro da Fazenda, tinha autorizado, em 1822, o envio de uma

    tipografia com um impressor e dois tipgrafos para So Paulo. Entretanto, nenhum

    material foi realmente recebido e utilizado pelos paulistas. Por tal motivo, Antnio

    Mariano de Azevedo Marques, O Mestrinho, projetou um jornal manuscrito. E assim

    ele apresentava o problema como nos diz Sodr (1999, p.87), em Histria da

    Imprensa no Brasil , em junho ou julho de 1823:

    Como, desgraadamente, no tem sido possvel provncia de So Paulo obter um prelo para se comunicarem e disseminarem as idias teis e as luzes to necessrias a um pas livre, para dirigir a opinio pblica, cortando pela raiz os boatos que os malvolos no cessam de espalhar para conseguir seus fins ocultos, mister lanar mo do nico meio que nos resta. Dever pois ser suprida a falta de tipografia pelo uso de amanuenses, que sero pagos por uma sociedade patritica, e aos quais incumbe escrever o nmero de folhas, que devem ser repartidas pelos subscritores no dia determinado para sua publicao.

    Nasce, ento, sob o processo medieval dos copistas, o jornal O Paulista, que

    teve apenas alguns meses de durao. Somente em 7 de fevereiro de 1827 que aparece

    o primeiro jornal impresso em So Paulo. Foi O Farol Paulistano, dirigido por Jos da

    Costa Carvalho. Era um jornal liberal que contava com a colaborao de Antnio

    Mariano de Azevedo Marques, Odorico Mendes e Vergueiro. Alm disso, Costa

    Carvalho foi responsvel pela vinda para So Paulo de um jornalista que as lutas do

    tempo celebrizariam e sacrificariam (SODR, 1999): Libero Badar. Este era o

    responsvel pela circulao, por volta de 1829, do segundo jornal paulista, O

    Observador Constitucional. Porm, com a morte de Badar tambm tem fim o jornal.

    Pode-se dizer que, segundo Duarte (1972), foi com esses dois primeiros jornais

    que a opinio pblica de So Paulo tomou forma pela primeira vez, isto , ambos os

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    jornais marcam a passagem de uma mentalidade colonial para uma mentalidade prpria,

    nacional.

    Depois disso, vrios jornais de vida efmera passam a existir, quase todos

    fundados e dirigidos por estudantes: Correio Paulistano (1831); O Novo Farol

    Paulistano (1831); Voz Paulistana (1831) e O Federalista (1832). Em 1834 surge O

    Paulista Oficial, primeiro dirio do governo e substitudo em 1838 pelo Paulista

    Centralizador.

    Aps a Proclamao da Repblica nenhuma modificao profunda ocorreu na

    imprensa paulista. Logo aps a proclamao do novo regime, vrios jornais

    monarquistas surgiram, mas todos sem grande importncia. Talvez o fato de maior

    relevncia caiba mudana de nome do jornal A Provncia de So Paulo, que passou a

    ser O Estado de So Paulo. A partir da, diversos jornais surgiriam na imprensa

    paulista, todos contribuindo para o seu crescimento e a sua estabilizao. Assim, a

    ampliao deste meio de comunicao representa tambm uma evoluo da sociedade

    na qual ele est inserido, sendo capaz de determinar o modo de organizao desta

    sociedade, j que a evoluo de um sempre acompanhada pela evoluo do outro.

    1.3 O Combate

    O jornal O Combate de extrema importncia, principalmente pelo longo e

    constante perodo de publicao (de 1915 a 1930), alm de sua efetiva atuao no

    cenrio social e poltico da cidade de So Paulo. Fato marcante foi uma das maiores

    greves sucedidas no pas, em 1917, no estado de So Paulo, durante a qual O Combate

    atuou de forma muito relevante na discusso e caracterizao de tal movimento, a fim

    de satisfazer as necessidades dos leitores da imprensa paulistana. Esse posicionamento

    projetou o jornal para um nvel de difuso semelhante aos demais jornais importantes da

    capital.

    Quanto ao seu surgimento, O Combate foi fundado pelos irmos Acilino e Nereu

    Rangel Pestana, filhos de Francisco Rangel Pestana, homem eminente no cenrio

    jornalstico paulistano, sobretudo por ter sido um dos fundadores da Provncia de So

    Paulo. Antes do surgimento de O Combate, Nereu j atuava no meio jornalstico,

    ficando conhecido pela srie de artigos polticos publicados em O Estado de So Paulo

    sobre o incio do governo Altino Arantes, que ele assinava com o pseudnimo de Ivan

    Subiroff. Apesar do seu sucesso na direo de O Combate, Nereu passou o posto para

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    outro irmo, Ludolfo Rangel Pestana, em 1926. A sada de Nereu, aliada morte de

    Acilino, modifica as orientaes do jornal, que no tinha inicialmente por caracterstica

    o compromisso de apoiar o governo. Com a sada de Ludolfo, em 1930, O Combate foi

    arrendado para o Partido Republicano, tornando-se um rgo difusor dos ideais desse

    partido.

    No entanto, a Revoluo de 1930, que dividia a cidade de So Paulo entre aliados

    e opositores do governo, provocou srias conseqncias tambm para os jornais da

    poca que defendiam a causa republicana. Assim, com a vitria da Aliana Liberal,

    todos os rgos aliados ao Partido Republicano foram empastelados pelo povo, entre

    eles, O Correio Paulistano, A Gazeta, A Flha da Manh e O Combate que

    desapareceu definitivamente do contexto jornalstico da capital.

    Os exemplares de O Combate que serviram de fonte para a anlise do fenmeno

    de variao de preposies correspondem s edies publicadas no ano de 1918.

    1.4 O Estado de So Paulo Com trs dias de atraso saiu s onze horas de 4 de janeiro de 1875, a primeira

    publicao de A Provncia de So Paulo, fundado por Rangel Pestana e Amrico de

    Campos, com gerncia de Jos Maria Lisboa e na redao Lcio Mendona, Gaspar da

    Silva e Joaquim Taques.

    Inicialmente A Provncia de So Paulo no possua venda avulsa, vivia de

    assinaturas e de anncios, como de casas comerciais, de falecimentos, de missas, de

    espetculos de teatro, entre outros. Entretanto, em 23 de janeiro de 1876 o jornal decidiu

    colocar o impressor Bernard Gregoire nas ruas tocando buzinas para vender

    avulsamente os exemplares publicados. A populao depreciou tal ato, por consider-lo

    uma iniciativa mercantilizao da imprensa (SDRE, 1999, p.226); no se percebia

    que tal mercantilizao j ocorria. Em seguida os demais jornais da poca seguiram a

    inovao; surgem, ento, os jornaleiros e as bancas.

    Com a eleio de Rangel Pestana para o Senado, Jlio de Mesquita passou de

    redator a diretor, assumindo assim, as diretrizes polticas do peridico que acabava de

    entrar para a campanha pela Abolio e pela Repblica.

    A respeito dessa poca Sodr (1999, p.241) afirma:

    Essa no apenas uma grande poca poltica; no por coincidncia, tambm uma grande poca literria. O desenvolvimento das letras, no

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    Brasil, acelera-se com a fundao dos cursos jurdicos, com o incio das atividades pblicas, do governo, da administrao, de legislao, com o surto da imprensa.

    Em 1884 o jornal assume totalmente a posio republicana, e, no mesmo ano,

    Jos Maria Lisboa abandona a gerncia para fundar o Dirio Popular, juntamente com

    Amrico de Campos. No dia primeiro de janeiro de 1890 ocorre a alterao do nome A

    Provncia de So Paulo para O Estado de So Paulo.

    No dia 14 de julho de 1917, ano da grande greve da cidade de So Paulo,

    ocorreu na redao do Estado de So Paulo o Apelo dos Jornalistas (SODR, p.316)

    ao Comit de Defesa Proletria constitudo pelos grevistas, para que os operrios se

    reunissem com os patres e com representantes do governo. O apelo foi assinado por

    vrios membros de jornais, como Valente de Andrade representando o Jornal do

    Comrcio, Nereu Pestana de O Combate, Nestor Pestana e Amadeu Amaral pelo Estado

    de So Paulo, entre outros.

    Em 1926 ocorre a fundao do Partido Democrtico, organizao oposicionista,

    que teve como divulgadores os seguintes jornais: O Estado de So Paulo, Folha da

    Manh, So Paulo Jornal, Dirio da Noite e O Combate. No ano seguinte falece Jlio

    de Mesquita, e o jornal passa a ter como diretor-presidente Armando Sales Oliveira;

    Francisco de Mesquita, Jlio de Mesquita Filho, Carolino da Mota e Silva, Antnio

    Mendona e Carlos Vieira de Carvalho como diretores; Plnio Barreto como redator-

    chefe e Ricardo de Figueiredo como gerente.

    J em 1929 O Estado de So Paulo apoiava a Aliana Liberal juntamente com

    o Dirio Nacional, o Dirio de So Paulo e A Praa de Santos, apoio que tambm

    ocorria nos demais estados do pas.

    O terceiro decnio do sculo representou um perodo de grande desenvolvimento

    da imprensa como um todo, principalmente no que diz respeito consolidao da

    estrutura empresarial, isto , os jornais e revistas de vida efmera se tornaram raros

    nessa poca (SODR, 199, p.371).

    Em 1961 O Estado de So Paulo j se assemelha com o formato que hoje

    conhecemos, ou seja, um jornal volumoso e repleto de publicidade, o que nos faz

    acreditar que, na medida em que o potencial financeiro dos grandes jornais foi

    aumentando, aumentaram-se tambm suas edies, o que para Sodr (1999, p. 415)

    no os obriga, de forma alguma, a informar muito e, ainda menos, a informar bem.

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    Pelo pouco que foi apresentado, pode-se notar a importncia do jornal O Estado

    de So Paulo, principalmente por dois fatores: seu amplo perodo de publicao,

    perdurando at os presentes dias, como tambm sua atuao no cenrio poltico e social

    da poca, sendo, por exemplo, responsvel pelo impulso inicial que originou as

    primeiras bancas de jornal no pas. Dessa maneira, O Estado de So Paulo compe um

    meio de comunicao de grande influncia social, poltica e publicitria, atuando ainda,

    como um ambiente para expresso da norma (lingstica) prescritiva, aquela presente

    nas gramticas pedaggicas, e representando uma forma de registro escrito que nos

    possibilita encontrar formas lingsticas inovadoras.

  • 17

    2 GNERO TEXTUAL 2.1 Um percurso histrico pelo conceito de gnero

    Especulaes acerca do termo gnero remetem-nos antiguidade greco-latina,

    onde encontramos a meno mais antiga na Repblica de Plato e, posteriormente, na

    Potica de Aristteles.

    Para Plato, os gneros se dividem em trs partes: a primeira corresponderia ao

    teatro, isto , tragdia e comdia, a segunda poesia lrica (ditirambo) e a terceira

    poesia pica. Posteriormente, Aristteles se refere s expresses poticas, epopia,

    tragdia, comdia, ao ditirambo, aultica e citarstica, como diferentes gneros,

    dando maior enfoque ao exame da comdia e da tragdia (SILVEIRA, 2005).

    Na Idade Mdia, apesar de escassa literatura sobre o tema, contamos com a

    criao de novos gneros, como por exemplo, o romance de cavalaria. J no

    Renascimento, mantiveram-se as formas fixas, isto , os gneros j estabelecidos, que,

    com o Romantismo, perderam sua rigidez, admitindo a mistura de gneros, que originou

    os chamados gneros impuros (SILVEIRA, 2005, p.51).

    Dentre todas as teorizaes a respeito do gnero, h de se destacar a contribuio

    de Mikhail Bakhtin. Para esse autor, a lngua, por seu carter scio-histrico, se

    materializa entre os indivduos socialmente organizados, que assim passam a produzir

    enunciaes, isto , produtos da interao locutor-ouvinte.

    Para Bakhtin (1953), a lngua se realiza em enunciados concretos e nicos, e

    esses enunciados refletem as esferas de comunicao, sendo que cada uma dessas

    esferas de utilizao da lngua elabora seus tipos relativamente estveis de enunciados,

    chamados gneros do discurso.

    As teorias modernas, na busca por conceitualizar o gnero, apresentam

    controvrsias. A concepo literria tradicional compreende os gneros literrios como

    tipos de texto, caracterizados assim, por uma repetibilidade. Outras abordagens

    concebem os gneros literrios como tipos essenciais de discurso (gneros de discurso),

    ou seja, entidades dinmicas e no modelos estanques, estruturas rgidas.

    Perpassado esse pequeno esboo histrico a respeito do gnero, torna-se

    importante reconhecer a pertinncia do assunto, que atualmente compe um estudo

    multidisciplinar e de extensa bibliografia.

    O estudo dos gneros nos permite uma anlise da lngua em seu funcionamento,

    assim como estabelece relaes entre a linguagem e as atividades humanas. Marcuschi,

  • 18

    estudioso da rea, considera os gneros como uma forma de ao social e cultural, ao

    mesmo tempo em que os analisa como um fenmeno lingustico: Quando dominamos

    um gnero textual, no dominamos uma forma lingstica e sim uma forma de realizar

    linguisticamente objetivos especficos em situaes sociais particulares. (MARCUSCHI,

    2005, p.154).

  • 19

    3 O DOMNIO JORNALSTICO

    3.1 Os gneros do jornal

    Falar em gneros jornalsticos uma tarefa complexa. Os estudos so recentes e

    no encontramos neles definies muito claras.

    O primeiro terico a tratar desta questo foi Samuel Buckeley (apud MELO,

    1985), que no incio do sculo XVIII (1702, Inglaterra) iniciou a classificao dos

    gneros jornalsticos ao dividi-los em news e comments. A partir de ento, juntamente

    com as transformaes culturais e tecnolgicas, o contedo jornalstico vem se

    adaptando e moldando-se de acordo com as necessidades de cada poca.

    Melo (1985) afirma que o jornalismo mundial no pode ser caracterizado por

    uma entidade unificada, sendo que h muitos aspectos formais que distinguem os

    diversos jornalismos; podemos citar a imprensa estadunidense que utiliza dois gneros

    principais, comment e story, diferentemente dos latinos que trabalham com mais de dois

    gneros.

    Para Martinez de Souza (apud MELO, 1985), outro estudioso da rea, como

    consequncia de o jornalismo no ser uma entidade unificada, temos a superposio

    entre os gneros e suas categorias. Faz-se necessrio, ento, distinguir gnero de

    categoria. Historicamente, h duas categorias de trabalhos jornalsticos: o jornalismo

    informativo e o jornalismo opinativo, que surgiram da necessidade de se diferenciar os

    fatos (news) de suas verses (comments). Segundo Kindermann (2003, p.38):

    As categorias do jornalismo so comumente associadas com os gneros jornalsticos, por vezes equivalendo a eles. Contudo, em uma viso sistmica [...] pode-se interpretar que tais categorias induzem ao surgimento de determinados gneros, mas no equivalem aos gneros nem as categorias dos gneros propriamente. O editorial, por exemplo, no incorpora somente o objetivo de opinar, mas o objetivo de transmitir a opinio da cpula do jornal de modo a exercer, como gnero, um papel central na organizao do prprio jornal.

    Dentro do estudo dos gneros jornalsticos, temos estudiosos como Gargurevich

    e Foillet, que se prenderam, em sua teorizao, somente maneira como a linguagem

    utilizada para que a informao chegue at pblico, isto , ao estilo.

    Para Gargurevich (apud KINDERMANN 2003), gneros jornalsticos so

    formas que o jornalista busca para se expressar; prendem-se assim ao estilo, ao modo

    com que a linguagem trabalhada. J Foillet (apud KINDERMANN, 2003), acredita

  • 20

    que as diferenas entre os gneros surgem da correlao que h entre os textos escritos e

    os gostos do leitor.

    Definies que se atm somente ao estilo, ou seja, maneira como a linguagem

    deve ser utilizada pelo jornalista/profissional ao escrever o texto jornalstico, que

    segundo Melo (1985) representam formas de expresso do cotidiano, no esclarecem o

    que seja os gneros jornalsticos, visto que trabalham apenas com a classificao desses

    gneros e dessa maneira tal classificao limita-se a universos culturais delimitados.

    No Brasil, destaca-se o trabalho de Beltro (apud MELO, 1985), que

    sistematizou o estudo dos gneros jornalsticos no mbito do jornalismo nacional. Para

    ele, h trs categorias do gnero jornalstico: jornalismo informativo (notcia,

    reportagem, histria de interesse humano, informao pela imagem), jornalismo

    interpretativo (reportagem em profundidade) e jornalismo opinativo (editorial, artigo,

    crnica, opinio ilustrada, opinio do leitor).

    O critrio adotado por Beltro visto por Melo (1985) como funcional, pois a

    classificao dos gneros ocorre de acordo com as funes que desempenham junto ao

    pblico leitor, isto , informam, explicam e orientam. Entretanto, Melo (1985) diz que

    quanto especificidade do gnero, tal classificao obedece ao censo comum e no se

    atem ao estilo, estrutura narrativa e tcnica de codificao. Dessa maneira, no h

    razes para segmentar em dois gneros distintos reportagem e reportagem em

    profundidade, como tambm dissociar recursos que informam atravs de imagens do

    texto, pois fotografias ou desenhos so identificveis como notcias ou como

    reportagens.

    Discordando de Beltro, Melo acrescenta que o que vai caracterizar um gnero

    jornalstico no o cdigo, mas sim o conjunto das circunstncias que determinam o

    relato que a instituio jornalstica difunde para seu pblico (MELO, 1985, p.46).

    Baseando-se nos estudos de Beltro, Melo (1985) prope outra classificao que

    se baseia nos seguintes critrios: a intencionalidade, a reproduo do real e a leitura do

    real.

    A reproduo do real resulta da observao da realidade e a descrio do que

    interessa instituio jornalstica, j a leitura do real diz respeito anlise da realidade e

    sua respectiva avaliao. O autor acredita que a natureza estrutural dos relatos

    observveis nos processos constitutivos do texto jornalstico representa uma

    articulao que existe do ponto de vista processual entre acontecimentos (real), sua

    expresso jornalstica (relato) e a apreenso pela coletividade (leitura) (MELO, 1985,

  • 21

    p.64). Dessa forma, diferencia a natureza dos gneros da categoria informativa dos da

    categoria opinativa.

    A respeito de tal classificao, Kindermann (2003, p.34) traa o seguinte

    paralelo:

    A necessidade que as pessoas tm de se informarem fez com que o jornalismo se articulasse em funo da informao e da opinio. Por isso o relato jornalstico assume duas modalidades: a descrio dos fatos e a verso dos fatos, necessitando estabelecer fronteiras entre a descrio e avaliao do real.

    Para os de natureza informativa, a expresso dos gneros correspondentes ao

    universo da informao independe da instituio jornalstica, estando relacionados

    ecloso e evoluo dos acontecimentos, como tambm da relao existente entre os

    profissionais/jornalistas com seus protagonistas.

    Quanto aos de natureza opinativa, a estrutura do texto determinada pela

    instituio jornalstica. Tem-se ento, para as duas categorias, os seguintes gneros:

    jornalismo informativo (nota, notcia, reportagem, entrevista) e jornalismo opinativo

    (editorial, comentrio, artigo, resenha, coluna, crnica, caricatura, carta).

    Segundo Bonini, falta, dentro dos estudos sobre os gneros jornalsticos, uma

    explicao geral dos princpios de organizao do jornal e de seus gneros, isto , uma

    sistematizao. Prope assim, que os gneros jornalsticos devem ser tratados a partir

    do processo de textualizao do jornal. O autor responde a questo que permeia todos os

    estudos citados: o que poderia ser considerado gnero em um jornal? Para ele se trata

    de um conjunto de parmetros de textualizao que, em funo do hiper-gnero (o

    jornal), estruturam um propsito comunicativo (noticiar, opinar, criticar, localizar),

    linearizando uma unidade textual identificvel em sua totalidade (BONINI apud

    KINDERMANN, 2003, p. 36).

    Bonini (apud KINDERMANN, 2003) acredita que os gneros que integram o

    jornal so aqueles que em relativa estabilidade e autonomia respondem a dois critrios:

    atendem aos propsitos comunicativos do jornal, relatando os fatos e informaes

    recentes bem como os interpretando, e assim desencadeiam processos opinativos que

    devem estar de acordo com a instituio a qual o jornal pertence.

    3.2 A notcia de jornal

    3.2.1 Histria da notcia

  • 22

    Na Idade Mdia, as informaes a que a populao poderia ter acesso provinham

    da Igreja, que as disponibilizava em decretos, proclamaes, exortaes e sermes.

    Entretanto, a histria nos mostra que no somente a Igreja informava, j que existiam

    circuitos paralelos de boatos e testemunhos (LAGE, 2009, p.8). Outros escritos, como

    as crnicas da vida cotidiana e pequenos trechos de obras da literatura clssica

    chegavam a levar dcadas para cruzar a Europa.

    O quadro acima apresentado comea a mudar, a partir do sculo XIII, com a

    expanso da atividade comercial, pois, juntamente com as mercadorias, chegavam

    tambm tcnicas e informaes.

    As transformaes na maneira de informar ocorreram, principalmente, pela

    acumulao do capital, que proporcionou uma maior organizao social e,

    consequentemente, um aumento no nmero de letrados. Dessa forma, os chamados

    avvisi j poderiam ser colocados nos muros em cpias manuscritas, que agora

    provinham dos banqueiros e dos comerciantes e no mais dos duques e/ou bispos

    (LAGE, 2009).

    Tal ciclo promissor de comrcio decaiu em meados do sculo XV por causa do

    corte das vias de comrcio com o Oriente; passou-se, ento, a utilizar outro caminho

    entre a Europa e a sia, a partir dos burgos da Alemanha. E foi ali, em um territrio

    chamado Mogncia, que Johannes Gutenberg imprimiu a Bblia em 1452. Lage nos diz

    sobre isso que a tecnologia grfica resultou seguramente do comrcio asitico (2009,

    p.9).

    Com a colonizao da Amrica e a expanso do comrcio ocenico com o

    Oriente, ocorreu o impulso seguinte, que resultou em uma grande acumulao de

    capital, principalmente devido ao ouro e prata oriundos das colnias. Nessa poca, as

    lnguas nacionais ganhavam magnitude, impostas, a partir dos centros de poder, sobre

    provncias condenadas a ter seus idiomas reduzidos a dialetos (LAGE, 2009, p.10).

    E foi nesse contexto que apareceu a imprensa peridica; o primeiro jornal

    circulou em Bremen (Alemanha), em 1609. Segundo Lage:

    Nos primeiros jornais, a notcia aparece como fator de acumulao de capital mercantil: uma regio em seca, sob catstrofe, indica que certa produo no entrar no mercado e uma rea extra de consumo se abrir [...]. (2009, p.10)

  • 23

    A burguesia utilizou-se do jornal para derrubar os palcios. A Igreja e o Estado

    tentaram cont-la com a censura e o ndex. Entretanto, mais tarde os aristocratas

    fundaram seus prprios peridicos: Foram anos e anos de intensa luta poltica, em que

    a informao aparecia como tema de anlise dos publicistas, da denncia dos

    panfletrios, do puxa-saquismo dos escritores cortesos (LAGE, 2009, p.10-11).

    No perodo que vai do sculo XVII ao XIX, os publicistas e panfletrios viveram

    sob a ao de tribunais e sistemas de controle, como as cartas de monoplio, imposto do

    selo, taxao de papel e da publicidade, entre outros. A burguesia impunha aos

    trabalhadores jornadas de at 18 horas para homens, mulheres e crianas por salrios

    mseros. E nesse contexto surgem os romances de Charles Dickens, Os miserveis de

    Victor Hugo e as idias socialistas.

    Na ltima metade do sculo XIX, com o prprio impulso da Revoluo

    Industrial, a censura foi derrubada, e alguns fatores contriburam fortemente para isso:

    primeiro, o surgimento efetivo de um mercado para os jornais, formado por

    trabalhadores que aprendiam a ler (operadores de mquinas, mestres de ofcios, entre

    outros, formando assim um pblico importante, pois se tornavam formadores de opinio

    em seu meio ainda repleto de iletrados; o segundo deles corresponde chegada das

    mquinas e organizao da produo do capitalismo industrial aos jornais, que

    transformou o empreendimento jornalstico em empresarial baixando os custos por

    exemplar; o terceiro deles diz respeito publicidade, que passa a custear a maior parte

    da despesa editorial, pois, com a crescente onda de consumo, o pblico deveria ser

    informado da oferta de bens e convencido a consumir (LAGE, 2009).

    O jornal-empresa passa a abarcar diversas opinies, entretanto, seu carter no

    revolucionrio fica garantido por dois motivos: deve remunerar o capital aprecivel

    nele investido e tira sua renda basicamente da veiculao de bens materiais e

    ideolgicos produzidos por entidades de caracterstica semelhante (LAGE, 2009, p.13).

    A notcia termina por ser a principal matria-prima do jornal, adaptando-se aos

    padres industriais, por meio da tcnica da reproduo, restries do cdigo lingustico,

    isto , articulando-o de acordo com o pblico a ser atingido, e por possuir uma estrutura

    relativamente estvel.

    2.2.2 Estrutura da notcia

    Se pensarmos em termos de estrutura, a notcia pode ser definida, na concepo

    moderna, como um relato de uma srie de fatos, a partir do fato mais importante ou

  • 24

    interessante (LAGE, 2009, p.17), ressaltando que no se trata exatamente de narrar os

    acontecimentos, mas sim de exp-los.

    Na notcia jornalstica, diferentemente da narrativa tal como conhecemos, a

    ordenao dos eventos ocorre por ordem decrescente de importncia ou interesse, na

    perspectiva de quem conta e na suposta perspectiva de quem ouve.

    Segundo Lage (2009, p.22-23), no processo de produo de uma notcia esto

    envolvidos trs processos: a seleo dos eventos, a ordenao dos eventos (a ateno do

    interlocutor se fixar a partir do evento mais importante ou interessante, os demais vo

    aparecer em uma ordem determinada pela motivao do principal) e a nomeao (onde

    esto envolvidos compromissos e sutilezas que dependero do que se deseja transmitir

    ao leitor; por exemplo, em um contexto de um relato de morte, a palavra corpo seria

    pouco especfica no contexto, a palavra defunto poderia dar um relativo drama, j a

    palavra presunto desqualificaria socialmente o sujeito, na tica do interlocutor).

    Pode-se dizer que o universo das notcias o das aparncias do mundo, que

    ocorre a partir do uso reduzido e/ou limitado dos recursos do sistema lingustico,

    restringindo palavras e expresses (o lxico) e regras gramaticais (os operadores). Dessa

    maneira, o que noticiado no permite um amplo conhecimento das coisas, dos

    acontecimentos, por detrs das notcias corre uma trama infinita de relaes dialticas

    e percursos subjetivos que elas, por definio, no abarcam (LAGE, 2009, p.24).

    O jornalismo noticioso concebe restries mais gerais, o que se reflete assim na

    linguagem que emprega, sobretudo no emprego de vocabulrio e construes

    gramaticais os mais coloquiais possveis, nos limites do que considerado socialmente

    correto e adequado ao pblico a que se destina. Diferentemente da publicidade, que

    possui uma retrica conotativa, a notcia referencial, por isso trata das aparncias do

    mundo, excluindo conceitos que expressam subjetividade, como afirma Lage (2009,

    p.26):

    [..] no notcia o que algum pensou, imaginou, concebeu, sonhou, mas o que algum disse, props, relatou ou confessou. tambm axiomtica, isto , afirma-se como verdadeira: no argumenta, no conclui nem sustenta hipteses. O que no verdade, numa notcia, fraude ou erro.

    Ainda para a notcia, no basta ser verdadeiro, de extrema importncia parecer

    verdadeiro; surge da a averso a referncias imprecisas, necessrio cumprir - como

    veculo de massa um efeito de realidade.

  • 25

    O primeiro pargrafo da notcia em jornalismo impresso chamado de lide, e

    seu contedo corresponde ao relato do fato principal, onde apresentado o que mais

    importante ou interessante. uma proposio completa e contm, segundo Lage (2009,

    p.28):

    a) o sujeito, uma locuo, constituda de um nome, pronome ou sintagma nominal (LN1); b) o predicado, ou seja, o sintagma verbal (LV), verbo ou locuo verbal, acompanhado ou no de seu complemento, um objeto direto (LN2) ou indireto (kLN3). O smbolo k representa a preposio; c) as circunstncias, ou sintagmas circunstanciais (LC) de tempo, lugar, modo/instrumento, causa/conseqncia.

    O complemento do lide chamado de documentao, que pode estar em um ou

    em vrios pargrafos. A documentao detalha e acrescenta informaes sobre a ao

    verbal em si, os sintagmas nominais, os sintagmas circunstanciais ou quaisquer de seus

    componentes. (LAGE, 2009, p.29).

    Em sntese, o lide informa quem fez o que, a quem, quando, onde, como, por que

    e para qu, enquanto a documentao formada por proposies adicionais sobre cada

    um desses termos.

    O lide obedece a restries verbais especficas quanto ao aspecto, que pode ser

    perfectivo (que terminou ou ter terminado de acontecer) ou imperfectivo (aquele que

    no se sabe se terminou ou ter terminado, so verbos que indicam ao continuada ou

    frequentativa). O verbo central do lide, o que informa sobre a transformao ocorrida,

    perfectivo. Isso significa, segundo Lage (2009, p.30), que o lide aparecer:

    a) no pretrito perfeito, se a notcia de fato acontecido; b) no futuro ou no futuro prximo (presente pelo futuro), se a notcia anuncia fato previsto; c) muito raramente no presente, mesmo na narrativa concomitante (de um reprter, na rdio ou televiso); nesse caso, costuma ser modulado por verbo ou advrbio (...acaba de cair a chuva; ...derruba o adversrio agora).

    Exemplo de notcia:

  • 26

    (In: O Combate, 02 de Janeiro de 1918, pg. 01)

    Apresentadas as principais caractersticas da notcia, podemos dizer que ela se

    restringe ao anncio e cobertura de fatos que no ultrapassam o interesse do grupo de

    leitores a que se destina a publicao (LAGE, 2009).

    Lide

    Documentao

  • 27

    4 METODOLOGIA

    Considerando o fato de que desde o incio da histria da lngua portuguesa,

    como tambm das demais lnguas romnicas, as preposies tm se mostrado uma

    classe propensa variao (cf. Cmara Jr., 1975), o presente estudo se prope agora a

    analisar a variao entre essas preposies em notcias dos jornais O Combate (1918) e

    O Estado de So Paulo.

    Pode-se dizer que O Combate representa um jornal de grande importncia dentro

    do cenrio jornalstico devido ao seu longo e constante perodo de publicao (1915-

    1930), como tambm devido ao seu envolvimento poltico e social, que pode ser

    ilustrado com sua participao nas discusses a respeito da grande greve do estado de

    So Paulo ocorrida em 1917.

    J o jornal O Estado de So Paulo teve seu primeiro exemplar publicado em

    1875, sob o nome de A Provncia de So Paulo. Inicialmente este peridico teve sua

    existncia garantida pelas assinaturas e anncios publicitrios. Contudo, em 23 de

    janeiro de 1876, a direo do jornal inicia a chamada mercantilizao da imprensa,

    quando decide por colocar um impressor nas ruas para vender avulsamente os

    exemplares publicados, o que foi o primeiro passo para o surgimento dos jornaleiros e,

    consequentemente, das bancas.

    Desta forma, podemos destacar a importncia dO Estado de So Paulo devido a

    seu amplo perodo de publicao, como tambm por representar um meio de

    comunicao de grande influncia social, poltica e publicitria, atuando ainda, como

    um ambiente para expresso da norma (lingstica) prescritiva, aquela presente nas

    gramticas pedaggicas, e representando uma forma de registro escrito que nos

    possibilita encontrar formas lingsticas inovadoras.

    Para a anlise do estudo em questo, foram selecionadas quatro preposies a,

    at, em e para, por ter se constatado em estudos anteriores (GUEDES & BERLINCK,

    2003; BERLINCK, 2007) que tais preposies podem alternar nos mesmos contextos.

    A partir das cpias do jornal O Combate e O Estado de So Paulo, foram coletadas

    todas as ocorrncias de complementos preposicionados dos predicadores selecionados

    nas notcias, notas sociais e textos publicitrios publicadas nos jornais em questo.

    Esses dados foram posteriormente analisados, levando-se em conta:

  • 28

    (i) a natureza semntica do predicador, se de direo, de movimento

    ou de transferncia, e, nesse ltimo caso, o tipo de transferncia

    significada;

    (ii) a natureza semntica do complemento (se denota um lugar, um ser

    animado e, em especial, humano, ou uma outra entidade que no se

    enquadre nessas caractersticas).

    A anlise segue os pressupostos terico-metodolgicos da Sociolingstica

    laboviana (Labov 1972, 1994). As informaes assim obtidas foram tratadas

    estatisticamente, por meio da utilizao do pacote estatstico GOLDVARB. A

    interpretao dos resultados da anlise de dados se baseou: (i) em hipteses relativas ao

    processo de variao no emprego das preposies e substituio de preposies fracas

    por preposies fortes; (ii) na busca pela existncia de algum fator histrico que

    justifique a escolha de uma preposio por outra; (iii) na relao das preposies

    selecionadas com o tipo de predicadores cujos complementos elas introduzem, com a

    natureza semntica do complemento se denota um lugar, um ser animado e, em

    especial, humano, ou uma outra entidade que no se enquadre nessas caractersticas, e

    com o gnero textual em que ocorrem; (iv) no confronto entre norma e uso e entre

    norma e variao lingustica.

  • 29

    5 ANLISE DOS DADOS 5.1 Observaes gerais O Combate

    Assim como explicitado anteriormente, este trabalho tem como um de seus

    primeiros objetivos determinar qual ou quais so as preposies que introduzem o

    complemento dos predicadores selecionados e como se distribuem em termos de

    freqncia. Quanto a isso, podemos afirmar que, das quatro preposies selecionadas

    para este estudo (a, at, em e para), foi a preposio a que apresentou maior nmero de

    ocorrncias, em todos os tipos de verbos analisados.

    Com o jornal O Combate obtivemos 55 casos recolhidos de exemplares do ano

    de 1918. Destes 55 casos, 44 apresentaram a preposio a, 10 a preposio para e 01 a

    preposio at (cf.1).

    (01) Funccionarios da hygiene paulista eram destacados para Recife e para o Rio, viajavam nos vapores at Santos [...]. (Combate, p.01, 01/11/1918 A influenza hespanhola em So Paulo)

    Assim, temos uma porcentagem de 81,5% referente aos 44 casos de preposio

    a, 18,5% referente aos casos de preposio para. O conjunto de todos os dados

    analisados encontra-se no apndice deste relatrio.

    A anlise mais especifica dos dados se restringir as preposies mais

    produtivas, ou seja, a e para.

    5.1.2 Uma anlise mais especfica dos dados O Combate

    Ao observarmos a distribuio em termos de freqncia da preposio a em

    relao aos tipos de verbo selecionados, podemos notar a predominncia desta.

    Entretanto, esses valores so maiores quando relacionados com os verbos de

    transferncia verbal e material e movimento com transferncia. J o predicador de

    movimento abstrato apresentou somente dois dados, ambos com a preposio para.

    Ao tratarmos dos verbos de direo encontramos uma menor porcentagem de

    uso da preposio a (50%), indicando que esse tipo de verbo mais permevel

    variao, assim como vemos na grfico 1.

  • 30

    50% 50%

    100%

    0%

    90%

    10%

    100%

    0%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    Direo Transf. Material Mov. comtransferncia

    Transf. Verbal

    Uso de preposies segundo o tipo de verbo

    Prep. APrep. PARA

    67%

    33%

    100%

    0%

    89%

    11%0%

    100%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    L - Lugar A -Seranimado

    X -Instituio

    B - Lugarabstrato

    Uso de preposies segundo a natureza do complemento

    Prep. APrep. PARA

    Grfico 1. Uso de preposies segundo o tipo de verbo3

    Quanto natureza do complemento, a anlise desse grupo de fatores nos

    mostrou que o complemento de referncia de lugar o ambiente com maior propenso

    variao. Este complemento apresentou 24 ocorrncias, sendo 67% correspondentes

    preposio a e os demais 33% preposio para, como mostram os ndices no grfico

    2:

    Grfico 2. Uso de preposies segundo a natureza do complemento4

    3 O grfico 1 se baseia num total de 54 ocorrncias, que esto distribudas da seguinte maneira: 14 ocorrncias de verbo de direo, 16 ocorrncias de verbo de transferncia material, 10 ocorrncias de verbo de movimento com transferncia e 12 ocorrncias de verbo de transferncia verbal. . 4 O grfico 1 se baseia num total de 54 ocorrncias, que esto distribudas da seguinte maneira: 24 ocorrncias do complemento de lugar, 14 ocorrncias do complemento ser animado e 09 ocorrncias do complemento instituio.

  • 31

    55%45%

    86%

    14%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    D - Direo M - Mov. com transferncia

    Uso de preposio segundo o tipo de verbo e o complemento lugar

    Prep.A

    Prep. PARA

    Em relao ao tipo de verbo e natureza do complemento, os dados analisados

    nos mostram a predominncia da preposio a.

    Para melhor exemplificarmos contextos mais favorveis a variao, o

    cruzamento dos grupos de fatores tipo de verbo e natureza do complemento nos

    demonstrou que a variao se encontra com os verbos de movimento com transferncia

    e com os de direo; quanto aos complementos destacam-se o de lugar e ser animado.

    Ao voltarmos nossa ateno para os dados de complemento de lugar, que

    apresentaram ndices significativos de variao, temos as seguintes freqncias, quando

    relacionados com o tipo de verbo:

    Grfico 3. Uso de preposio segundo o tipo de verbo e o complemento lugar5

    So exemplos de variao de preposio com o complemento de lugar as seguintes sentenas:

    (02) Surprehendidos com a revelao, dirigimo-nos hontem para o local, e logo procuramos a casa de nmero indicado. (O Combate, p.03, 4/12/1918 Uma casa fechada, mas com luz accesa dia e noite) (03) Ao dirigir-se, cedo, rua Joo Adolpho, onde o dr. Raphael Gurgel est construindo dois prdios [...]. (O Combate, p.03, 04/12/1918 Roubaram de um deposito sete barricas de cimento)

    O grfico acima, ao relacionar o tipo de verbo com o complemento de lugar, nos

    demonstra que os verbos que indicam variao so os verbos de direo e de movimento 5 O grfico 3 se baseia num total de 19 ocorrncias, que esto distribudas da seguinte maneira: 00 ocorrncia do verbo de transferncia verbal, 10 ocorrncias do verbo de direo, e 08 ocorrncias do verbo de movimento com transferncia.

  • 32

    com transferncia, o que confirma a tendncia observada nos grficos 1 e 2, isto , esses

    predicadores indicam um caminho promissor para a descrio do processo de mudana

    lingstica.

    5.2 Observaes gerais O Estado de So Paulo

    Nessa etapa da pesquisa foram utilizados trs exemplares do jornal O Estado de

    So Paulo (3/01/1910, 2/01/1915 e 2/01/1920), o que possibilitou a coleta de 50 dados

    que esto disponveis no apndice B deste relatrio. Dos 50 dados coletados obtivemos

    apenas um com a preposio at (2%), 15 da preposio para (34%) e 34 da preposio

    a

    Na categoria tipo de complemento obtivemos poucas ocorrncias para os

    seguintes complementos: noo abstrata (05 ocorrncias), evento (01 ocorrncia) e

    instituio (03 ocorrncias).

    Na categoria tipo de verbo, temos a classificao verbo de interesse, que, nos

    dados coletados, ocorreu somente uma vez, os verbos de transferncia material

    concentraram 03 ocorrncias e os verbos de interesse apenas uma ocorrncia

    Por considerarmos as ocorrncias da preposio at, dos complementos noo

    abstrata, evento e instituio, como tambm dos verbo de interesse e transferncia

    material insuficientes para uma avaliao conclusiva, trabalharemos com uma anlise

    mais aprofundada dos demais dados, isto , os que apresentaram ocorrncias mais

    significativas para o estudo, como a preposio a e a preposio para, verbos de

    direo, movimento com transferncia e transferncia verbal; e com os complementos

    de lugar e ser animado.

    5.2.2 Uma anlise mais especfica dos dados

    Em relao natureza do complemento, apenas os complementos de lugar e ser

    animado apresentaram um nmero de ocorrncias significativas (cf. grfico 4).

  • 33

    64%

    36%

    100%

    0%

    52% 48%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    D - Direo V - Transf.Verbal

    M - Mov.com

    transferncia

    Uso de preposio segundo o tipo de verbo

    Prep. APrep. PARA

    53%47%

    100%

    0%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    L - Lugar A - Ser animado

    Uso de preposies segundo a natureza do complemento

    Prep. APrep. PARA

    Grfico 4. Uso de preposies segundo a natureza do complemento6

    Dentro do grupo de fatores tipo de verbo, uma simples leitura dos nmeros a

    seguir apresentados j nos sugere uma predominncia da preposio a em relao

    preposio para. Entretanto, categrica a presena da preposio a quando

    relacionada ao verbo do tipo transferncia verbal (100%). J os predicadores de direo

    e de movimento com transferncia, apresentaram uma porcentagem um pouco menor de

    ocorrncia da preposio a, indicando que so ambientes mais propensos variao,

    como podemos verificar no grfico 5.

    Grfico 5. Uso de preposies segundo o tipo de verbo7

    6 O grfico 5 se baseia num total de 32 ocorrncias, que esto distribudas da seguinte maneira: 9 ocorrncias do complemento ser animado e 32 ocorrncias do complemento de lugar. 7 O grfico 5 se baseia num total de 46 ocorrncias, que esto distribudas da seguinte maneira: 9 ocorrncias do verbo de direo, 14 ocorrncias do verbo de transferncia verbal e 23 ocorrncias do verbo de movimento com transferncia.

  • 34

    Em relao ao tipo de verbo e a natureza do complemento, os dados analisados

    nos mostram a predominncia da preposio a, entretanto, podemos observar variao

    nos grupos de fatores tipo de verbo e natureza do complemento, precisamente com os

    verbos de direo e movimento com transferncia.

    Ao voltarmos nossa ateno para os dados de complemento de lugar, o nico

    complemento que apresentou ndices de variao, temos as seguintes freqncias,

    quando relacionados com o tipo de verbo:

    58%42% 50% 50%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    D - Direo M - Mov. com transferncia

    Uso de preposies segundo o tipo de verbo e o complemento lugar

    Prep. A

    Prep. PARA

    Grfico 6. Uso de preposies segundo o tipo de verbo e o complemento lugar8

    So exemplos de variao de preposio com o complemento de lugar as

    seguintes sentenas:

    (04) Seguiu logo para aquellla casa de diverses a promptido da Central de Bombeiros, que, ao chegar alli, verificou no serem precisos os seus servios.)) (O Estado de So Paulo, 02/01/1910, p.05 Alarme de incendio)

    (05) O navio conseguiu chegar a Cardiff, na manh de hontem, tendo perecido afogados, por se terem lanado ao mar [...]. [O Combate, p.01, 02/01/1918 O vapor Taquary foi torpedeado por um submarino]

    Quando relacionado o tipo de verbo com complemento de lugar, podemos

    observar que os verbos que indicam a variao so os de direo e movimento com 8 O grfico 6 se baseia num total de 32 ocorrncias, que esto distribudas da seguinte maneira: 12 ocorrncias do verbo de direo e 20 ocorrncias do verbo de movimento com transferncia.

  • 35

    transferncia, o que reitera a tendncia observada nos demais grficos, ou seja, esses

    verbos indicam um caminho promissor para a descrio desse processo de mudana

    lingstica.

  • 36

    6. UMA ANLISE COMPARATIVA: O Combate e O Estado de So Paulo

    A contagem estatstica dos dados oriundos dos dois jornais nos revelou um total

    de 107 ocorrncias, distribudas da seguinte maneira: 82 (77%) da preposio a e 24

    (22%) da preposio para, 01(1%) da preposio at e nenhuma ocorrncia da

    preposio em. Quando relacionado ao tipo de predicador, temos a predominncia da

    preposio a nos verbos de transferncia verbal e de transferncia material. J nos

    verbos de direo e de movimento com transferncia podemos notar a variao com a

    preposio para (como ilustram os resultados apresentados na tabela 1).

    Tipo de verbo Ocorrncias/Total Porcentagem Direo 20/31 64,5% Transferncia material 17/17 100% Movimento com transferncia 22/35 63% Transferncia verbal 22/23 96%

    Tab. 01: Frequncia de uso da preposio a segundo o tipo de predicador

    Os exemplos (6-7) ilustram a alternncia de preposies com os predicadores de

    direo, enquanto os enunciados em (8-9) exemplificam a variao encontrada com os

    predicadores de movimento com transferncia:

    (06) O navio conseguiu chegar a Cardiff, na manh de hontem, tendo parecido afogados por se terem lanado ao mar [...] (O Combate, 1918)

    (07) O cortejo, que se compunha de duzentas bandeiras, oito bandas musicaes e de quasi todas as pessoas que haviam tomado parte do meeting, dirigiu-se para a Calle Florida onde tem a sua sede a Union Civies, a qual estava embandeirada a e enfeitada. (O Estado de So Paulo, 1910)

    (08) [...] encontrou na estrada de Sucorym, dois individuos trajando vestes [...], desconhecidos, aos quaes para o acompanharem at delegacia. (O Combate, 1918)

    (09) Um [...] da rua da Quitanda, vendo hontem entrar duas crianas na guarda da Delegacia Fiscal, onde pretendendia pernoitar, pediu permisso ao cabo commandante e conduziu os menores para a Policia Central, apresentando-as ao delegado da noite. (O Estado de So Paulo, 1910)

    Em relao natureza do complemento, no houve variao em funo dos

    seguintes fatores considerados: instituio, ser animado, lugar abstrato e noo

    abstrata; os complementos ser animado e evento apresentam poucas ocorrncias de

  • 37

    alternncia. Dessa maneira, o complemento com referncia de lugar foi o nico a

    apresentar variao significativa, conforme mostram os ndices da tabela 2.

    Natureza do complemento Ocorrncias/Total Porcentagem Lugar 37/60 62% Ser animado 24/24 100% Noo abstrata 8/9 89% Instituio 11/11 100%

    Tab. 02: Freqncia de uso da preposio a segundo a natureza do complemento

    Os dados em (9-10) ilustram a variao entre as preposies com o complemento de lugar:

    (09) Os moradores, ao irromper entre ns a epidemia da gripe, haviam-se retirado para o interior, deixando a tomar-lhes conta uma velha negra, que desapparecera inopinadamente. (O Combate, 1918)

    (10) De modo que h muitos dias no iam casa, no sabiam dos paes e dormia nos desvos de uma porta, em qualquer portal e l uma vez ou outra, na casa da guarda da Delegacia. (O Estado de So Paulo, 1920)

    Depois de fornecidas as informaes pelo programa estatstico, veio a fase da

    interpretao. Notamos que os verbos de direo e de movimento com transferncia

    assumiram a posio de contexto favorvel para a ocorrncia da variao, assim como o

    complemento de lugar. Tal tendncia foi reafirmada quando cruzamos os dados

    referentes aos grupos de fatores tipo de predicadores e complemento de referncia de

    lugar; uma simples leitura dos nmeros nos mostrou que, das 60 ocorrncias totais de

    tal complemento, 28 (48%) corresponderam ao verbo de direo, 28 (48%) do verbo de

    movimento com transferncia e 04 (04%) ao verbo de transferncia material. Em

    termos de alternncia entre a preposio a e para obtivemos:

    Tipo de verbo Ocorrncias/Total Porcentagem Direo 17/28 61% Transferncia material 4/4 100% Movimento com transferncia 16/28 57% Transferncia verbal 0/0 0%

    Tab. 03: Freqncia de uso da preposio a com complemento de lugar, segundo o tipo

    de predicador que o introduz.

  • 38

    CONCLUSO

    Diante de todos os dados aqui apresentados e levando em conta os objetivos

    propostos no incio deste trabalho, podemos concluir que os resultados obtidos esto de

    acordo com as nossas primeiras expectativas. Ficou evidente que, dentre as quatro

    preposies estudadas a, at, em e para , foi a preposio a que apresentou maior

    freqncia de uso. Entretanto, foram encontrados tambm casos em que as outras trs

    preposies funcionam como introdutoras de complemento dos predicadores

    selecionados, porm em nmeros menores.

    Entre todos os grupos de fatores analisados h ainda a predominncia da

    preposio a, podendo ser justificada, em termos extralingusticos, pelo fato de essas

    produes pertencerem chamada Imprensa Majoritria; isso significa que, por meio

    de construes mais prximas da norma-padro, essas produes revelavam quais eram

    as expectativas em relao a um texto que se desejava formador de opinio, direcionado

    camada da populao letrada da poca, escassa e em grande parte composta pela elite

    econmica.

    Como a escrita, nesse momento, ainda um bem acessvel a uma pequena

    parcela da populao, manter um alto padro de escrita no jornal corresponde a

    conservar os valores desse grupo elitista, alm do que as discusses sobre a lngua

    brasileira ocorriam todas dentro de um pequeno crculo de letrados composto por

    homens brancos e oligarcas. Eles compunham uma pequena dimenso quando

    comparada com o restante da populao, constituda de mulheres e negros, de acesso

    nulo ou restrito a uma educao formal, e de inmeros grupos sociais desprestigiados,

    correspondendo grande maioria do povo brasileiro.

    Levando-se em conta o fato de que poder e comunicao so fatores sempre

    atrelados, cremos poder ainda afirmar que a chamada Imprensa Majoritria impunha,

    de alguma forma, a linguagem a ser utilizada pela Imprensa Negra, fazendo com que

    aquela fosse considerada a melhor, e tornando-se, com isso, um padro a ser seguido. Se

    h um poder controlador de tudo aquilo que vai ser dito e conseqentemente daquilo a

    que as pessoas vo ter acesso e a que vo agregar valores, podemos dizer que, de certa

    forma, era isso o que ocorria com a Imprensa Majoritria, que influenciava grande

    parte de seus leitores determinando qual era e qual viria a ser a norma a ser usada, e,

    consequentemente estigmatizando o que fugia de tal norma. Cabe aqui retomar as

    palavras de Monteiro:

  • 39

    Assim sendo, uma vez que a variao lingstica pressupe a valorao social, as variantes empregadas por falantes dos estratos mais baixos da populao em grande parte so estigmatizadas. E o preconceito tanto mais forte quanto maior for a identificao da forma com a classe discriminada. proporo que passa a ser usada por outros grupos, o estigma vai diminuindo at deixar de existir completamente, se a variante aceita pela classe dominante. (MONTEIRO, 2000, p.65)

    O fenmeno de mudana lingustica, tido dessa maneira, merece muito ser

    discutido porque ele que provoca reaes exacerbadas daqueles que possuem a crena

    de que a mudana - inerente a todas as lnguas - significa corrupo e/ou

    decadncia no somente da lngua, como tambm dos valores morais dessa sociedade.

    Por outro lado, apesar da predominncia da preposio a e do fato de ela ser

    vista como uma norma a ser seguida, encontramos nos jornais a presena das outras

    preposies aqui estudadas (at, em e para), o que nos mostra de certa forma um

    distanciamento da norma estabelecida. Tal demonstrao de uso diferente em relao

    norma encontra justificativa no fato de a construo da lngua estar tambm relacionada

    com a construo da histria local. Assim, segundo Nora Mgica, a concepo de

    norma lingstica pode ser tambm aquela que codificada socialmente, que rene las

    realizaciones virtuales o potenciales de uma lengua, que tendrn luego su expresin

    concreta em las realizaciones del hablante. (MGICA, 2007, p.4).

    Com isso, se a norma varivel segundo os limites da comunidade considerada,

    encontramos justificativas que expliquem o fato de outras preposies serem tambm

    utilizadas pelos produtores do jornal. Fica claro, assim, que, apesar do uso freqente

    daquilo que tido como mais correto, tem-se aqui o incio de uma alternncia, mesmo

    que isso implique na criao de uma nova norma.

    Tomando-se a variao como um fenmeno social, em um conjunto de uma

    comunidade de falantes, podemos dizer que, dentro dessa comunidade, cada falante

    torna-se responsvel pela criao de uma outra norma, considerada com uma norma

    individual. Segundo Mgica

    La norma es, en efecto, un sistema de realizaciones obligadas, de imposiciones sociales y culturales, y vara segn la comunidad. Dentro de la misma comunidad lingstica nacional y culturales, y dentro del mismo sistema funcional pueden comprobarse varias normas (lenguaje familiar, lenguaje popular, lengua literaria, lenguaje elevado, lenguaje vulgar, etctera) distintas sobre todo por lo que concierne al vocabulrio pero a menudo tambin en las formas

  • 40

    gramaticales y en la pronunciacin. [...] (COSERIU apud MGICA, 2007, p.05).

    Quando considerados aspectos internos da lngua, o estudo da variao das

    preposies nos comprovou que estamos diante de uma mudana em fase de

    implementao; em outras palavras, estamos diante do que Faraco (2005, p.26) chamou

    de escala progressiva de implementao de mudanas: isto , as mudanas se

    desencadeiam na fala informal de grupos socioeconmicos intermedirios, avanando

    para fala de grupos mais altos nessa estrutura, chegando a situaes formais da fala e s

    ento comeam a ocorrer na escrita.

    Dessa maneira, o quadro de nossa pesquisa encontrou algumas marcas de

    configurao de mudana, quando realada a alternncia entre as preposies para e a,

    representantes de um conflito no qual a forma mais antiga, denominada conservadora

    (preposio a), pode terminar sendo substituda pela forma mais recente, ou inovadora,

    no caso a preposio para. Esse processo tambm pode ocorrer devido alta amplitude

    de usos da preposio a, que leva a um certo esvaziamento semntico, gerando assim, a

    modificao dessa forma.

    Uma reflexo mais demorada sobre esses resultados nos conduz a questionar por

    quais motivos a classe gramatical de base condicionaria a escolha da preposio a,

    questionamento esse que encontrou uma pronta resposta quando consultada uma

    gramtica da poca (PEREIRA, 1956), que j em seu prlogo apresenta uma lista de

    escritores consagrados e nos diz que eles aprovam a utilizao de todas as regras ali

    contidas; em suas partes dedicadas ao funcionamento das estruturas sentenciais, termos

    como incorreto dizer-se, condenvel o uso so recorrentes, o que fomentava, e

    talvez ainda hoje fomente, critrios dicotmicos de certo e errado, cristalizando formas

    e reiterando a imagem de que o individuo que faz uso e domina a lngua-padro possui,

    naturalmente, um valor mais alto e ingressa com maior facilidade no ambiente social

    dos que detm o poder.

  • 41

    BIBLIOGRAFIA

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  • 42

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  • 43

    APNDICE A O Combate (0ADL (O navio conseguiu chegar a Cardiff, na manh de hontem, tendo perecido afogados, por se terem lanado ao mar [...].)) [O Combate, p.01, 02/01/1918 O vapor Taquary foi torpedeado por um submarino] (0ATL (O navio conseguiu chegar a Cardiff, na manh de hontem, tendo perecido afogados, por se terem lanado ao mar [...].)) [O Combate, p.01, 02/01/1918 O vapor Taquary foi torpedeado por um submarino] (0ATL (O vapor Taquary deixou o Rio de Janeiro no dia 26 de Outubro, com carregamento de vrios gneros destinados ao Havre, fazendo escala por Santos, onde chegou a 28 de abril.)) [O Combate, p.01, 02/01/1918 O vapor Taguary foi torpedeado por um submarino] (0ATA (A paz que querem os Imprios Centraes equivaleria volta do statu quo ante bellum e deixaria aos inimigos a faculdade de prepararem um novo perodo de ameaas e o reinado do terror na Europa.)) [O Combate, p.01, 02/01/1918 A conferencia de Brest- Litovsk] (0AML (encontrou na estrada de Sucorym, dois individuos trajando vestes [...], desconhecidos, aos quaes convidou para o acompanharem at delegacia.)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 Como elles andam] (0ATL (aquella autoridade fel os recolher ao xadrez e pediu instruces a respeito delegacia geral.)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 Como elles andam] (0AVX (aquella autoridade fel os recolher ao xadrez e pediu instruces a respeito delegacia geral.)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 Como elles andam] (1PDL (por estar envolto no caso do extravio de peas dos navios ex allemes seguiu para o Rio o dr Heitor de Moraes afim de impetrar ao Supremo Tribunal Federal novo pedido de habeas corpus.)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 O caso Reismann] (0AVX (por estar envolto no caso do extravio de peas dos navios ex allemes seguiu para o Rio o dr Heitor de Moraes afim de impetrar ao Supremo Tribunal Federal novo pedido de habeas corpus.)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 O caso Reismann] (0AML (At hora em que escrevemos no havia regressado ao local, o dr. Alonso de Negreiros Guimares, delegado de dia, que para alli se dirigiu, em companhia dos mdicos drs. Rebello Netto, legista e Carvalho Braga, da Assistencia.)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 Uma mulher foi attingida por um tiro de rarabina Mauser] (1PDL (At hora em que escrevemos no havia regressado ao local, o dr. Alonso de Negreiros Guimares, delegado de dia, que para alli se dirigiu, em companhia dos mdicos drs. Rebello Netto, legista e Carvalho Braga, da Assistencia.)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 Uma mulher foi attingida por um tiro de rarabina Mauser]

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    (0AVA (O secretario da Agricultura communicou ao da Fazenda, que o Governo acaba de ser informado de que oito locomotivas [...].)) [O Combate, p.03, 02/01/1918 Locomotivas para a Sorocabana] (1PDB (O sr. Herculano est arriscado a no poder ir para a pista correspondente que lhe encube no quatiennio Hermes.)) [O Combate, p.01, 03/12/1918 A comisso directora cogita a arrannjar substituto para o conselheiro] (1PDX (s pde ser substtituido, por outro lacerdista, isto , que, a sahir o ser El y Chaves, deve ir para a Justia o sr. Mano Tavares.)) [O Combate, p.01, 03/12/1918 A comisso directora cogita a arrannjar substituto para o conselheiro] (0AML (Assim, comeou dizendo que obrigou o pae a descer ao poro, porque elle, num forte accesso, ameaava maltratar sua me.)) [O Combate, p.01, 03/12/1918 A grippe enlouqueceu uma famlia inteira] (0AVA (Ernesto pediu me que fosse buscar uma colher.)) [O Combate, p.01, 03/12/1918 A grippe enlouqueceu uma famlia inteira] (0AVA (No conseguiu, porm, como ns, descobrir quem o individuo que foi communicar nora do pedreiro a morte do sogro.) [O Combate, p.01, 03/12/1918 Enterrado vivo!] (0AMN (Lemos, nesse sentido, uma informao official, levada ao conhecimento da justia orphanologica, sendo certo, entretanto, que no podia ter deixado de verdicicar-se, naquelle perodo e naquella enfermaria, pelo menos uma duzia de fallecimentos...)) [O Combate, p.01, 03/12/1918 ] (0AML (Levado ao necroterio da Central, s mais tarde que a familia soube do triste desenlace, reclamando o cadaver. )) [O Combate, p.03, 03/12/1918 Os desesperados] (0ATX (O quarto foi i sr. Manuel Thiago Corra Mazago, que offereceu dez contos Santa Casa com a condio de obter a indicao do directorio local.)) [O Combate, p.01, 04/12/1918 O cartrio de paz de S. Carlos] (1PML (Os moradores, ao irromper entre ns a epidemia da gripe, haviam-se retirado para o interior, deixando a tomar-lhes conta uma velha negra, que desapparecera inopinadamente.)) [O Combate, p.03, 4/12/1918 Uma casa fechada, mas com luz accesa dia e noite] (1PDL (Surprehendidos com a revelao, dirigimo-nos hontem para o local, e logo procuramos a casa de nmero indicado.)) [O Combate, p.03, 4/12/1918 Uma casa fechada, mas com luz accesa dia e noite] (0ATA (Foram entregues ate agora, aos alliados, 1200 aeroplanos allemes, sendo que s na segunda feira os tudeosos apresentaram s autoridades alliadas em Treves mil desses apparelhos.)) [O Combate, p.03, 04/12/1918 Os allemes j entregaram aos aliados mil e duzentos aeroplanos]

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    (0AVA (Foram entregues ate agora, aos alliados, 1200 aeroplanos allemes, sendo que s na segunda feira os tudeosos apresentaram s autoridades alliadas em Treves mil desses apparelhos.)) [O Combate, p.03, 04/12/1918 Os allemes j entregaram aos aliados mil e duzentos aeroplanos] (0ADL (Ao dirigir-se, cedo, rua Joo Adolpho, onde o dr. Raphael Gurgel est construindo dois prdios [...].)) [O Combate, p.03, 04/12/1918 Roubaram de um deposito sete barricas de cimento] (0ADL (o grande nmero de passageiros que vem do interior do Estado com destino Lapa e gua branca, no ter mais necessidade de ir at ao centro para de novo voltar Lapa.)) [O Combate, p.01, 01/03/1918 Estao da Sorocabana na Lapa] (0ADL (o grande nmero de passageiros que vem do interior do Estado com destino Lapa e gua branca, no ter mais necessidade de ir at ao centro para de novo voltar Lapa.)) [O Combate, p.01, 01/03/1918 Estao da Sorocabana na Lapa] (0ADN (Novas proezas do carcereiro-ajudante chegam ao nosso conhecimento.)) [O Combate, p.02, 01/03/1918 Continuam os desmandos do carcereiro-ajudante] (1PAL (Funccionarios da hygiene paulista eram destacados para Recife e para o Rio, viajavam nos vapores at Santos [...].)) [O Combate, p.01, 01/11/1918 A influenza hespanhola em So Paulo] (1PAL (Funccionarios da hygiene paulista eram destacados para Recife e para o Rio, viajavam nos vapores at Santos [...].)) [O Combate, p.01, 01/11/1918 A influenza hespanhola em So Paulo] (1TDL (Funccionarios da hygiene paulista eram destacados para Recife e para o Rio, viajavam nos vapores at Santos [...].)) [O Combate, p.01, 01/11/1918 A influenza hespanhola em So Paulo] (0AVX (No ainda possvel publicar na integra as condies do armistcio, mas posso communicar Camara que o accordo comprehende a livre passagem para as esquadras alliadas atravs do Bosphoro para o mar negro.)) [O Combate, p.01, 01/11/1918 A rendio da Turquia] (0ATA (Entretanto, devia ter sido dado um aviso ao publico para que os passageiros dos arrabaldes no perdessem tempo a esperar inutilmente os bondes cujo horrio foi desorganisado.)) [O Combate, p.03, 01/11/1918 A reduo dos bondes] (0AME (O dr. Washington Luis aconselhou-os a apresentar fundamentadamente as suas reclamaes e prometeu encaminhal-as ao exame da Junta da Alimentao.)) [O Combate, p.01, 02/10/1918 Os padeiros e aougueiros] (0ATE (No basta, porm, enviarmos os nossos irmos morte nas trincheiras da Frana.)) [O Combate, p.01, 01/11/1918 Vamos para a guerra]

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    (0ATA (Entretanto, apezar de toda a nossa solidariedade na guerra com os alliados, estes allemes continuam a fornecer s nossas autoridades [...].)) [O Combate, p.01, 01/11/1918 Vamos para a guerra] (1PDL (De Roulers os anglo-belgas vo irradiar para Thourout e Menin.)) [O Combate, p.01, 01/11/1918 Vamos para a guerra] (0AML (Uma mulher, residente nas immediaes, viu Ferrari levar os pretensos fazendeiros casa das irms Milsteio, pouco antes das 11 horas da noite, no tendo o presidente do Club dos Democrticos penetrado na alludida casa.)) [O Combate, p.01, 02/09/1918 Terrivel vingana de uma proprietria de alcouce] (0ATI (De tal modo que as boccas-de-lobo do Piques, em vez de dar vaso s guas pluviaes as despejam no lago [...].)) [O Combate, p.01, 02/09/1918 O Piques no ser mais inundado?] (0ATL (A prefeitura manda-os repartio de Aguas.)) [O Combate, p.01, 02/09/1918 O Piques no ser mais inundado?] (0AVA (De Moscou telegraphan que a propsito do attentado praticado contra o ser. Lenine, o Prada assignado peo ser. Swerloff, pedindo aos operrios que se mantemnha calmos.)) [O Combate, p.03, 02/09/1918 A morte de Lenine] (0AVE (A declarao do sr. Serpff de que a classe operaria responder ao attentado com a implantao do terrorismo impiedoso, no uma ameaa v.)) [O Combate, p.03, 02/09/1918 A morte de Lenine] (0ATA (Nesse sentido, s. exa. Deve enviar hoje uma carta ao conselheiro Rodrigues Alves, por intermdio do dr. Rodrigues Alves Filho.)) [O Combate, p.01, 09/12/1918 Ficaremos sem representao no Congresso das Naes?] (1PDL (Cerca de 4 horas da manh de hontem quando o padeiro Casimiro Machado se dirigia, conduzindo uma carrocinha de mo, para o estabelecimento onde trabalha, a confeitaria Apollo [...].)) [O Combate, p.01, 09/12/1918 Cinco secretas espancam desalmadamente um pobre padeiro] (0AVX (segundo queixa apresentada policia de soffrer uma aggresso por parte da familia daquelles, que dessas intenes chegaram a fazer um certo alarde.)) [O Combate, p.01, 09/12/1918 As ameaas de morte de que Messana se diz alvo] (0AML (Aos gritos de socorro soltados pelo desventurado, lanou-se ao rio o sr. Alfredo Maria Barreto [...].)) [O Combate, p.03, 09/12/1918 Banho forado] (0ATA (Chamada a assistencia, esta compareceu rapidamente ao local do desastre, ministrando victima os socorros mdicos de que ella carecia.)) [O Combate, p.03, 09/12/1918 Banho forado] (0AVX (Na quarta-feira ultima, o italiano Jos Della apresentou-se policia e queixou-se do desapparecimento de seu filho menor, de nome de Generoso.)) [O Combate, p.03,

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    02/02/1918 Um menor desappareceu e suas roupas foram encontradas margem do rio Tiet] (0AVX (Suspeitando tratar-se de uma pessoa que tivesse perecido afogada naquelle rio, o [...] deu pressa em communicar o facto policia.)) [O Combate, p.01, 02/02/1918 Um menor desappareceu e suas roupas foram encontradas margem do rio Tiet] (0ADL (Ahi no a encontrando, invadiram os aposentos particulares do dono do negocio, indo at ao seu dormitorio, onde deram uma busca, aprehendendo a machina.)) [O Combate, p.01, 06/07/1918 Apprehenso de caa-nickeis que redunda em furto?] (0ADL (A ancia de regressar Europa, pois a terrvel companha submarina isolou durante longos annos milhares de pessoas dessa vontade, est fazendo com que seja enorme a procura de passagens