77
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO THATIELLY GOMES FRANÇA HEMODIÁLISE NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: a comunicação entre a equipe de enfermagem RIO DE JANEIRO 2015

THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

THATIELLY GOMES FRANÇA

HEMODIÁLISE NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: a comunicação entre a equipe

de enfermagem

RIO DE JANEIRO

2015

Page 2: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

2

Thatielly Gomes França

HEMODIÁLISE NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: a comunicação entre

profissionais de enfermagem

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós Graduação em Enfermagem da Escola de

Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal

do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profª Drª Sílvia Teresa Carvalho de Araújo

RIO DE JANEIRO

2015

Page 3: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

3

HEMODIÁLISE NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: A

COMUNICAÇÃO ENTRE A EQUIPE DE ENFERMAGEM

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

da Escola de Enfermagem Anna Nery – Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada por:

Presidente: Profª Drª Sílvia Teresa Carvalho de Araújo - Orientadora

1ª Examinadora: Profª Drª Sofia Sabina Lavado Huarcaya

2ª Examinadora: Profª Drª Karla de Melo Batista

1ª Suplente: Profª Drª Glaucia Valente Valadares

Page 4: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

4

Dedicado a minha mãe e irmãs que são as minhas

maiores incentivadoras. E ao meu pai (in

memorian) que indiretamente me fez trilhar pelos

caminhos da profissão.

Page 5: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

5

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar à Jeová que nos mantém em pé quando não temos mais forças e sempre

nos mostra que precisamos perseverar e ter fé.

Aos meus pais Alexandre e Eliane pela criação e pela incursão do amor à leitura e aos

estudos.

Às minhas irmãs Thaís e Thatiany por cada alegria, afeto, companheirismo. Por sempre

acreditarem em mim.

À Professora Doutora Sílvia Teresa Carvalho de Araújo por acreditar no meu potencial, me

presentear com a sua orientação e por ser um exemplo de conhecimento e humildade, por

toda sua paciência e dedicação ao longos desses dois anos.

Aos amigos da vida, aos colegas de trabalho, em especial à Lívia Câmara que me apoiou

incansavelmente durante esse percurso.

A todos os profissionais de enfermagem que acreditam que o caminho para a construção de

uma enfermagem melhor está nos estudos.

A todos pacientes que já confiaram a mim o cuidado.

A todos que me ajudaram direta e indiretamente para que eu chegasse até aqui.

Page 6: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

6

“Se você falar com um homem numa

linguagem que ele compreende, isso

entra na cabeça dele. Se você falar com

ele em sua própria linguagem, você

atinge seu coração”.

Nelson Mandela

Page 7: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

7

RESUMO

FRANÇA, T.G. Hemodiálise no centro de terapia intensiva: a comunicação entre profissionais

de enfermagem. Rio de Janeiro, 2015. 75p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Escola

de Enfermagem Anna Nery, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, 2015. Orientadora: Professora Doutora Sílvia Teresa Carvalho de Araújo.

Estudo desenvolvido no Grupo de Pesquisa Comunicação em Alta Complexidade tendo como

objeto a comunicação entre a equipe de enfermagem durante a sessão de hemodiálise no

Centro de Terapia Intensiva e objetivos: Identificar o processo de comunicação que se

estabelece entre a equipe de enfermagem do CTI e da HD, durante a sessão de hemodiálise a

beira leito no CTI; Analisar o tipo de comunicação verbal e não verbal abordados no processo

de comunicação da equipe de enfermagem; Discutir os limites e as possibilidades do processo

do processo de comunicação que media o cuidado da pessoa em sessão de hemodiálise no

CTI. Tendo como referencial teórico a obra Mark L. Knapp e Judith A. Hall dada a sua

importância para a construção de saberes sobre comunicação não-verbal. A abordagem

metodológica escolhida foi qualitativa, exploratória e descritiva caracterizada pela observação

da prática assistencial investigada, parte da realidade do cuidado da equipe de enfermagem.

Estudamos a comunicação emergente na interação entre membros da equipe de enfermagem

durante a HD realizada no setor da terapia intensiva, valorizando a técnica de observação,

além das questões de entrevista. O cenário escolhido foi um hospital público, localizado no

Município do Rio de Janeiro, especializado no atendimento de emergências onde foi possível

conhecer como se dá a comunicação entre membros da equipe de enfermagem durante a HD

no Centro de Terapia Intensiva. Os dados foram coletados através da observação sistemática

não participante e entrevista situacional gravada com profissionais, utilizando questões

semiestruturadas sobre a comunicação de HD no Centro de Terapia Intensiva e desafios

encontrados. A análise foi realizada utilizando o método da Análise de Conteúdo de Bardim

emergindo duas categorias: Estratégia de Comunicação e Condições Internas, Externas e

Clínicas.

Palavras-chave: Comunicação. Diálise renal. Centro de terapia intensiva.

Page 8: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

8

ABSTRACT

FRANÇA, T. G. Hemodialysis in the intensive care unit: the communication between nursing

professionals. Rio de Janeiro, 2015. 75p. Dissertation (Masters in Nursing). Anna Nery

School of Nursing, Health Sciences Center, Federal University of Rio de Janeiro, 2015.

Advisor: Professor Silvia Teresa Carvalho de Araújo .

A study by the Research Group Communication in High Complexity having as object

communication between the nursing staff during hemodialysis session in the Intensive Care

Unit and objectives: Identify the communication process established between the ICU nursing

staff and HD during hemodialysis session the bedside in the ICU; Analyze the type of verbal

and nonverbal communication addressed in the communication process of the nursing team;

Discuss the limits and possibilities of the communication process process that mediates the

care of people in hemodialysis session in the ICU. The theoretical reference the work Mark L.

Knapp and Judith A. Hall given its importance for the construction of knowledge about non-

verbal communication. The chosen methodological approach was qualitative, exploratory and

descriptive characterized by observing the care practice investigated part of the reality of the

nursing team care. We study the emerging communication in the interaction between

members of the nursing staff during HD performed in the intensive care unit, valuing the

observation technique, in addition to the interview questions. The scenario chosen was a

public hospital in the city of Rio de Janeiro, specialized in emergency care where it was

possible to know how is the communication between members of the nursing staff during HD

in the Intensive Care Unit. Data were collected through non-participant systematic

observation and situational interview recorded with professionals, using semi-structured

questions about the HD media in the intensive care unit and challenges encountered. The

analysis was conducted using the method of Bardim Content Analysis emerging two

categories: Communication Strategy and Internal Conditions, External and Clinics.

Keywords: Communication. kidney dialysis. intensive care unit.

Page 9: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

9

RESUMEN

FRANÇA, T. G. La hemodiálisis en la unidad de cuidados intensivos: la comunicación entre

los profesionales de enfermería. Río de Janeiro, 2015. 75p. Disertación (Maestría en

Enfermería). Escuela Anna Nery de Enfermería, Ciencias Centro de Salud de la Universidad

Federal de Río de Janeiro, 2015. Profesor asesor Silvia Teresa Carvalho de Araújo.

Un estudio realizado por el Grupo de Investigación Comunicación de alta complejidad que

tiene como objeto de comunicación entre el personal de enfermería durante la sesión de

hemodiálisis en la Unidad de Cuidados Intensivos y objetivos: Identificar el proceso de

comunicación que se establece entre el personal de la UCI y de enfermería HD durante la

sesión de hemodiálisis de la cabecera del paciente en la UCI; Analizar el tipo de

comunicación verbal y no verbal dirigida en el proceso de comunicación del equipo de

enfermería; Discutir los límites y posibilidades del proceso de proceso de comunicación que

media la atención de las personas en la sesión de hemodiálisis en la UCI. La referencia teórica

de la obra de Mark L. Knapp y Judith A. Hall, dada su importancia para la construcción del

conocimiento acerca de la comunicación no verbal. El enfoque metodológico elegido fue

cualitativo, exploratorio y descriptivo, que se caracteriza por la observación de la práctica de

atención investigó parte de la realidad de la atención del equipo de enfermería. Estudiamos la

comunicación emergente en la interacción entre los miembros del personal de enfermería

durante la HD llevados a cabo en la unidad de cuidados intensivos, la valoración de la técnica

de observación, además de las preguntas de la entrevista. El escenario elegido fue un hospital

público en la ciudad de Río de Janeiro, especializada en la atención de emergencia donde era

posible saber cómo es la comunicación entre los miembros del personal de enfermería durante

la HD en la Unidad de Cuidados Intensivos. Los datos fueron recolectados a través de la no-

participante observación sistemática y la entrevista situacional grabado con los profesionales,

por medio de preguntas semi-estructuradas sobre los medios de comunicación de alta

definición en la unidad de cuidados intensivos y los problemas encontrados. El análisis se

realizó utilizando el método de análisis de contenido Bardim emergente dos categorías:

Estrategia de Comunicación y las condiciones internas, externas y clínicas.

Palabras clave: Comunicación. diálisis renal. unidad de cuidados intensivos.

Page 10: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

10

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...........................................................................................................8

CAPÍTULO 1- Delineando o estudo

1.1 Aproximação com a temática do estudo ..................................................................10

1.2 Contextualizando o objeto de estudo e a Problemática................ ...........................19

1.3 Objetivos do estudo ...................................................................... ..........................19

1.4 A Contribuição da pesquisa no cuidado de enfermagem.........................................19

CAPÍTULO 2 – Enfoque Teórico

2.1 A comunicação.................................................................... ................................... 21

2.2 Hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva...........................................................27

CAPÍTULO 3 – Proposta Metodológica

3.1 Tipo e abordagem do estudo ................................................................................. 30

3.2 Cenário .................................................................................................................. 30

3.3 Participantes do estudo ......................................................................................... 32

3.4 Técnica de coleta de dados .................................................................................... 33

CAPÍTULO 4 - Análise dos Dados

4.1 Caracterização dos participantes ........................................................................... 35

4.2 Estratégias de comunicação ................................................................................... 36

4.3 Fatores internos, externos e clínica........................................................................ 37

CAPÍTULO 5 - Discussão dos Dados ........................................................................... 42

CAPÍTULO 6 – Considerações Finais ......................................................................... 54

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 56

Page 11: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

11

APÊNDICES

Apêndice A – Solicitação à instituição ............................................................................ 61

5.2 Apêndice B - Termo de consentimento livre e esclarecido .................................. 62

5.3 Apêndice C – Roteiro de entrevista situacional com o profissional ..................... 64

5.4 Apêndice D – Roteiro de observação ................................................................... 65

Page 12: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

12

Page 13: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

13

APRESENTAÇÃO

O interesse pelo conhecimento sobre os cuidados ao paciente renal advém das

experiências de aprendizagem vivenciadas por mim no decorrer do curso de graduação e

concomitantemente atuava como técnica de enfermagem em um hospital cardíaco, mas

precisamente em uma unidade cardiointensiva onde percebi que muitos clientes evoluíam para

uma lesão renal aguda ou crônica, principalmente aqueles portadores de doenças crônicas não

transmissíveis como hipertensão e diabetes, corroborando com diversas pesquisas na área de

saúde e acentuando o meu interesse em prestar um melhor cuidado para estes clientes.

Ainda, enquanto acadêmica de enfermagem me inseri no grupo de pesquisa:

Comunicação em Enfermagem Hospitalar – Cliente de Alta Complexidade cadastrado no

Diretório de Pesquisa do CNPq, onde desenvolvi pesquisas intituladas: “A comunicação entre

o enfermeiro e o cliente em diálise peritoneal - uma revisão bibliográfica” e “As teorias de

enfermagem como tecnologia do cuidado aos pacientes renais crônicos em hemodiálise”.

Essas pesquisas surgem como exigência de créditos curriculares como Diagnóstico

Simplificado de Saúde (DSS) nos Programas Curriculares Interdepartamentais (PCI), IX e

XIII e da disciplina Eletiva: Elaboração de Projeto de Pesquisa, cada uma sequenciada nos

últimos três períodos do curso. Ambos os resultados apontaram que o enfermeiro é um grande

aliado da equipe interdisciplinar, a favor do alcance dos objetivos de cuidado, sendo assim, é

basilar que os enfermeiros estejam preparados para prestar assistência de forma sistematizada

e personalizada ao cliente em tratamento hemodialítico.

Atualmente verifico na prática assistencial como enfermeira em serviço público que a

comunicação efetiva é um caminho assertivo para o desenvolvimento de um trabalho seguro.

A partir de então diferentes inquietações conduziram-se a refletir sobre o cuidado direcionado

ao cliente que necessita de ultrafiltração, osmose ou difusão sanguínea para melhoria do

quadro clínico no cenário dos cuidados intensivos, com destaque para a hemodiálise –

modalidade de terapia substitutiva da função renal.

Cabe destacar que acredito no cuidado centrado no paciente, de maneira sistêmica,

integral e holística e que nós, profissionais de saúde, temos responsabilidade para o

desenvolvimento dos fatores que influenciam no processo de cuidar que devem ser analisados

e adequados de acordo com as necessidades dos clientes.

Page 14: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

14

Neste trabalho, destaco a comunicação entre a equipe de enfermagem configurando-se

como elemento essencial no cuidado.

Page 15: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

15

Page 16: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

16

CAPÍTULO 1 – DELINEANDO O ESTUDO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO COM A PROBLEMÁTICA

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas próximas décadas

a população mundial com mais de 60 anos vai passar dos atuais 841 milhões para 2 bilhões

até 2050, tornando as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) um dos desafios de saúde

pública global. No Brasil, 72% das causas de mortes e 60% de todo o ônus decorrem dessas

doenças. No ano 2020, as DCNT serão responsáveis por 80% da carga de doença nos países

em desenvolvimento (BRASIL, 2014).

A doença renal crônica (DRC) atinge 10% da população mundial e afeta pessoas

de todas as idades e raças. A estimativa é que a enfermidade afete um em cada cinco

homens e uma em cada quatro mulheres com idade entre 65 e 74 anos, sendo que metade

da população com 75 anos ou mais sofre algum grau da doença (BRASIL, 2014).

Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia indicam que 100 mil pessoas fazem

diálise no Brasil, apontando um crescimento de 2000 até 2013 de mais de 50.000 novos

clientes em tratamento dialítico a cada ano. Estima-se que 83,4 mil pacientes são mantidos em

serviços de diálise na rede pública de saúde sendo que 90% desse total fazem hemodiálise. No

ano de 2012, foram realizadas mais de 12 milhões de sessões de hemodiálise na rede pública

(SBN, 2013; BRASIL, 2014).

A doença renal crônica (DRC) pode ser definida como um a perda gradual da

capacidade ou ritmo de filtração glomerular (RFG) dos rins. Quando a queda do RFG atinge

valores muito baixos, geralmente inferiores a 15 mL/min, estabelece-se o que denominamos

doença renal crônica terminal (DRCT), ou seja, o estágio mais avançado da perda progressiva

da função renal observado na DRC, sendo necessário utilizar uma modalidade de Terapia

Renal Substitutiva (TRS) (BASTOS, 2004; NKF KDOQI, 2010; BRASIL, 2014).

A Lesão Renal Aguda (LRA) ou Injúria Renal Aguda (IRA) é conceituada como a

perda abrupta de função renal que resulta na retenção de uréia e outras escórias nitrogenadas,

aumento da creatinina sérica igual ou maior a 0,3 mg/dl ou aumento percentual igual ou maior

a 1,5 vez o valor basal obtido no último período de 48 horas (HUSM, 2011; PINTO; ET AL,

2012). Acontece com frequência em pacientes críticos, sendo uma complicação comum no

Page 17: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

17

Centro de Terapia Intensiva - CTI (BARROS, 2011; CUSTODIO E LIMA, 2013). Estima-se

que de 36 a 67% dos pacientes internados em CTI desenvolvem disfunção renal (SANTOS;

MAGRO, 2015).

Os Centros de Terapia Intensiva (CTI) atendem clientes que necessitam de

monitorização constante dos seus sinais vitais, do estado hemodinâmico e da função

respiratória. Métodos dialíticos que utilizam a circulação extracorpórea têm sido utilizados na

assistência a clientes graves em CTI, como no caso de insuficiência renal aguda e doença

renal crônica (MOSSINI, 2014).

O trabalho no sistema hospitalar a cada dia exige novas competências dos

profissionais de saúde pelo atendimento de clientes com situação clínica cada vez mais crítica,

que necessitam de respostas individuais e complexas que atendam as suas necessidades

(CAMELO, 2012).

Todo paciente internado em hospital, acometido por injúria renal aguda ou crônica,

com indicação médica de tratamento dialítico durante a internação e sem condições clínicas

de transporte e/ou remoção para serviços de hemodiálise (HD) intra/extra-hospitalares, deve

realizar o procedimento hemodialítico à beira do leito. A Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (ANVISA) 2010 determina que esta medida minimiza os riscos ao tratamento de

clientes em estado grave bem como aqueles associados à peculiaridade logística para

disponibilizar o suporte nefrológico à beira leito, evitando o transporte e remoção do cliente.

A hemodiálise é uma conquista e sua importância não é algo a ser questionado e sim

como a empregamos. Acrescenta-se que a qualidade do cuidado depende de competência

técnica, mas, também, da habilidade de interação e comunicação dos trabalhadores entre si e

com os clientes. (NONINO, ANSELMI; DALMAS, 2008; POTT ETAL, 2013). Mas, ao

inferirmos que a complexidade é diretamente proporcional ao manuseio/operação de

equipamentos e execução de técnicas sofisticadas, estaremos valorizando apenas

procedimentos. O desafio é identificar que a complexidade está em todos os atos de cuidar e

que há uma complexidade em se construir a integralidade (PEREIRA; ET AL, 2009).

O tratamento hemodialítico, por si só, já denota mecanicidade. O profissional de

enfermagem, quando prestar o cuidado ao cliente submetido a este tratamento, deve atentar

para que suas ações não se transformem em ações automáticas e que não sejam valorizados os

aspectos humanos na relação cuidado/cuidador.

Page 18: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

18

O Ministério da Saúde, através da Portaria nº 389 de 13 de março de 2014 – data onde

é comemorado o Dia Mundial do Rim – definiu critérios para a organização da linha de

cuidado da pessoa com doença renal onde traz prerrogativas para garantia da educação

permanente de profissionais de saúde, de acordo com as diretrizes da Política Nacional de

Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e implementação das diretrizes expressas no

Programa Nacional de Segurança do Paciente, que contempla as metas internacionais de

segurança do paciente da OMS, que tem como um de seus itens a comunicação.

Comunicar deriva do latim comunicare, que significa “dividir alguma coisa com

alguém”. A comunicação é processo que mobiliza todas as ações humanas, é um ato vital ao

Ser Humano e que o acompanha desde os seus primórdios sendo capaz de dar suporte à

organização e funcionamento de todos os grupos sociais (OLIVEIRA, 2013; ARAÚJO; ET

AL, 2010).

A comunicação permeia todas as atividades que integram a assistência em saúde. Num

mundo onde a necessidade contínua de informação se impõe, existe uma ideia de que

informar é comunicar, de que a informação se transforma instantaneamente em comunicação,

sem o esforço consciente dos envolvidos. Mas, no momento em que as informações tornam-se

cada vez mais numerosas e específicas, ofertadas por diversos meios, é necessário que as

pessoas estejam preparadas para receber e usar essas informações. Para que as informações

sejam consistentemente transmitidas, são necessários conhecimentos, habilidades e atitudes da

equipe e, particularmente, uma comunicação adequada.

Araújo, et al, 2010 infere que “por meio da habilidade de perceber e comunicar, o

indivíduo enriquece seu referencial de conhecimentos, transmite sentimentos e pensamentos,

esclarece, interage e conhece o que os outros pensam e sentem”. Conhecer os mecanismos de

comunicação favorece ao desempenho de suas funções, melhora o relacionamento em equipe

e institui um fluxo unidirecional de informações.

É importante ressaltar que a comunicação tem contexto. Isto significa que a

comunicação depende de como, onde e quando ela ocorre. Então para que ela aconteça é

necessário a interação entre as pessoas (KOEPPE, ARAÚJO, 2009).

Como conhecer o processo de comunicação entre a equipe enfermagem no CTI

durante a HD se faz relevante?

Page 19: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

19

No contexto da hemodiálise em terapia intensiva com suporte à beira leito, a

comunicação é um tripé para o trabalho em equipe e surge da necessidade de elencar objetivos

e metas em comum para adoção de um trabalho bem definido, buscando o cuidado

integralizado como alvo (SILVEIRA, SENA, OLIVEIRA, 2011).

A qualidade da comunicação, a colaboração, interação entre profissionais que estão

envolvidos no cuidado contribui de forma basilar a resolubilidade dos serviços e a efetividade

da atenção à saúde (ZWAREBSTEIN, GOLDMAN, REEVES 2009).

De acordo com Peduzzi (2001e 2011), a comunicação entre profissionais faz parte do

exercício cotidiano de trabalho, é concebida e praticada como dimensão intrínseca ao trabalho

em equipe, tendo como característica do trabalho em equipe: linguagens, objetivos, propostas

e até mesmo a cultura em comum. A autora destaca a elaboração de um projeto assistencial

comum, construído através da relação entre execução de intervenções técnicas e comunicação

dos profissionais. Nessa ideia, traz a perspectiva do agir-comunicativo no interior da técnica,

o que dada à hegemonia instrumental do agir-técnico, também pode gerar tensões. Afirma,

ainda, que:

A articulação das ações, a coordenação, a integração dos saberes e a interação dos

agentes ocorreriam por meio da mediação simbólica da linguagem. Portanto, a

comunicação entre os profissionais é o denominador-comum do trabalho em equipe,

o qual decorre da relação recíproca entre trabalho e interação. (PEDUZZI, 2001)

No CTI temos clientes com diferentes patologias de origem clínica e/ou traumática

que necessitam de monitorização e vigilância contínua, tornando a situação mais delicada,

pois as medicações e condições dos clientes são diferentes, além de existirem metodologias

específicas para clientes com instabilidade hemodinâmica, diferentes daquelas utilizadas nas

hemodiálises ambulatoriais (MOSSINI, 2014). Deste modo temos duas equipes com

modalidade de assistência distinta, inseridas no mesmo cenário com um cliente em comum

que carece de cuidados intensivos e nefrológicos objetivando um atendimento holístico

centrado na pessoa e a realização de um trabalho em equipe.

A comunicação ineficaz está entre as causas-raízes de mais de 70% dos erros na

atenção à saúde. Interrupções na comunicação ou a falta de trabalho em equipe são fatore que

contribuem para a ocorrência de eventos adversos e resultados insatisfatórios de tratamentos.

Entre as consequências das falhas da comunicação encontram-se o danos ao cliente, aumento

do tempo de hospitalização e uso ineficaz de recursos (OLUBORODE, 2012).

Page 20: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

20

A equipe de enfermagem em termos quantitativos tem grande representatividade nas

instituições de saúde, sendo a maior força de trabalho do setor saúde no país (PEREIRA,

2009; MACHADO, VIEIRA, OLIVEIRA, 2012; FIOCRUZ, 2015). Por constituir uma

parcela significativa dos recursos humanos dos hospitais, pode-se afirmar que a equipe de

enfermagem interfere diretamente na eficácia, na qualidade e custo da assistência à saúde

prestada (CAMELO, 2012).

Não se pode dizer que ocorreu o cuidado, se não há qualidade. A qualidade é

indissociável do cuidado. O cuidado deve ser visto como uma filosofia de vida, o profissional

de saúde deve refletir e compreender os fenômenos vividos no seu cotidiano e incorporar que

o outro tem dignidade e merece respeito. A prática do cuidar representa um desafio para a

enfermagem, pois cada pessoa possui valores e princípios próprios que podem influenciar o

cuidado. Sendo assim, cada cliente que for assistido pode ter um perfil díspar para cada

situação vivenciada (BARBOSA, VALADARES, 2009).

O enfoque primário do CTI ainda é a tecnologia empregada. Olha-se a doença, os

monitores, as máquinas de hemodiálise, mas não se olha a pessoa.

A mecanização que é existente neste cenário acaba, por vezes, a reduzir a prática da

comunicação afetiva e efetiva, que pode estar relacionada a toda tecnologia existente no

contexto da terapia intensiva, mas é associada também a formação do profissional, ainda no

modelo biomédico, fragmentando o cuidado e vendo o indivíduo como partes e/ou doença que

ele tem.

São diferentes os desafios para realização da HD em outras clínicas externas ao setor

de nefrologia. O recurso humano treinado para realizá-la, seu conhecimento teórico,

habilidade prática e o fluxo de rotina de HD a beira do leito varia de instituição para

instituição. Varia também a modalidade de HD em horas, dias aprazados segundo a

necessidade clínica do cliente, refletida na prescrição médica. O espaço geográfico disponível

muitas vezes não permite a circulação de pessoas no ambiente, a disposição dos fios que fica

comprometida, deixando-os expostos, o que desfavorece uma assistência segura e/ou

confortável para os profissionais envolvidos.

Contudo, quando o cliente do CTI demanda, na fase aguda e há necessidade da HD e a

instituição está organizada e estruturada para atender, seja pela provisão pelo setor de

nefrologia da própria instituição, seja pela contratação de consultoria terceirizada, outros

Page 21: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

21

desafios emergem na relação de cuidado entre aquele que faz a HD e aquele enfermeiro

responsável técnico do setor ao qual o cliente está internado.

Ao delinear a comunicação verbal (entonação, conteúdo da fala) e os indicadores não

verbais faciais e corporais colocamos em relevo no contexto do cuidado da HD a

comunicação não verbal, tais como a proxemia (posição dos corpos na interação), a cinesia

(dos movimentos), a paralinguagem (sons do órgão fonador que não se traduzem em palavras)

e a forma tacésica (toque instrumental e/ou expressivo). A comunicação é considerada uma

tecnologia leve da assistência de enfermagem sem custo financeiro adicional, mas de alto

valor para a efetiva compreensão de mensagens e para a realização do cuidado.

Então, quando há um distanciamento da equipe de enfermagem do setor e o

profissional que realiza a HD, isso se configura na perda de oportunidade de troca de

informações sobre alterações clínicas do cliente sob sua responsabilidade. Nessa modalidade

de tecnologia direcionada a ultrafiltração do sangue do cliente todas as oscilações clínicas são

importantes para a continuidade do cuidado.

Há necessidade desse acompanhamento conjunto entre os profissionais (interno e

externo ao setor), para que não haja lacuna de informações e para a personalização do cuidado

ao cliente nas etapas posteriores a sessão de HD. O interesse nesse acompanhamento se

configura na oportunidade de estabelecer no período subsequente uma assistência

fundamentada nas necessidades do cliente. E, gerenciar a informação interliga os fatos

clínicos essenciais para o planejamento e a sistematização do cuidado contínuo e/ou

sequenciado de forma transdisciplinar.

A equipe de enfermagem deve interagir com todas as áreas do macro sistema

hospitalar sob a sua responsabilidade, organizando a sua assistência através de rotinas,

protocolos e diretrizes clínicas. O manual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA, 2013 p.61) afirma que o fator humano associado a falta de comunicação pontual

nas questões que envolvem o cuidado é responsável, dentre outros aspectos, a eventos

adversos ao cliente. Embora a falha de comunicação possa ser entre o profissional e o

paciente; entre profissionais da mesma categoria profissional; entre profissionais numa equipe

multiprofissional e durante a troca de turno/plantão, nesse estudo dirigimos nosso interesse a

comunicação entre a equipe de enfermagem..

Page 22: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

22

Para avançar e expandir os cuidados em hemodiálise faz-se necessário entender a

saúde no seu sentido mais amplo. Na maioria dos casos em situações crônicas a hemodiálise

não tem suscitar ausência de doença, mas como destaca o autor é um recurso para a vida, com

o qual estão implicados fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais, presentes no

cotidiano dos indivíduos, e compreendê-los é uma questão fundamental para a área de

nefrologia (FUJII, 2009).

Diante do exposto traçamos como questão norteadora da pesquisa: – Como se

estabelece a comunicação entre a equipe de enfermagem da nefrologia e do Centro de Terapia

Intensiva durante a sessão de HD a beira leito?

Delimitamos como objeto a comunicação entre a equipe de enfermagem durante a

sessão de hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva.

As publicações levantadas sobre a abordagem clínica no atendimento da HD entre

profissionais nos setores de internação são reduzidas. Encontramos aquelas que abordam as

intercorrências durante a sessão de HD e são na maioria estudos desenvolvidos dentro do

próprio setor da hemodiálise.

Ainda há uma lacuna nas publicações abordando a comunicação entre profissionais de

enfermagem durante a realização da HD em clientes internados no CTI. Em relação à revisão

de literatura, foi realizado um levantamento bibliográfico integrativo baseado no material

indexado nas bases de dados eletrônicos: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que

compreende as bases de dados LILACS, IBEC, BDENF e MEDLINE, onde o acesso ao

MEDLINE foi a partir do PubMed, base de dados da National Library of Medicine (NLM);

SCiELO. Foram utilizados os descritores COMUNICAÇÃO, CUIDADOS DE

ENFERMAGEM, ENFERMAGEM, RIM e DIÁLISE RENAL em português e inglês

condizentes com as perguntas que orientaram a pesquisa: como tem sido abordada a

comunicação entre profissionais de enfermagem na sessão de hemodiálise no CTI ? Quais os

desafios da hemodiálise no CTI ?

Utilizaram-se os operadores booleanos AND e OR nas diversas combinações entre os

descritores. Excluíram-se os estudos como capítulos de livros, teses, dissertações e

monografias, além dos artigos repetidos na base de dados. Foram incluídos estudos de

pesquisa original, reflexão, revisão e relato de experiência publicados em português, espanhol

e inglês que tivessem ao menos o resumo disponível.

Page 23: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

23

Resultados encontrados:

Base de Dados Artigos Elegíveis

BVS 32

SCIELO 26

PUBMED 86

TOTAL 144

Após a leitura dinâmica dos resumos, observaram-se artigos que abordavam os

seguintes assuntos: comunicação entre profissionais de saúde e clientes; conhecimento dos

clientes sobre sua doença; diagnóstico de enfermagem em transplante renal; levantamento de

custos da hemodiálise, evolução clínica do DRC.

Foram selecionados 09 artigos que mais se aproximaram da temática de estudo, mas

nenhum desses abordava a comunicação entre profissionais de enfermagem durante a sessão

de hemodiálise no CTI, caracterizando uma lacuna nessa área de conhecimento.

Com o crescimento do número de pessoas com o diagnóstico de doença renal aguda e

crônica que necessita iniciar uma terapia substitutiva, se faz necessária, a reflexão acerca da

necessidade de avanços nessa área a fim de suprir o conhecimento sobre comunicação relativa

a clínica do cliente durante a HD no CTI. Isso implica em manter a qualidade da informação

necessária entre profissionais de enfermagem. O enfermeiro do setor de internação é

responsável pela continuidade do cuidado ao cliente submetido à terapia renal substitutiva

nestes cenários, durante as horas subsequentes a terapia renal substitutiva.

Cuidar do cliente submetido a HD exige comprometimento ético, competências e

habilidades nas dimensões humanas e técnicas, a ideia do cuidar como relação terapêutica

significa atender as necessidades com sensibilidade e presteza mediante ações que promovam

o bem-estar (RODRIGUES, BOTTI, 2009). A Nefrologia representa um campo complexo de

prática da enfermagem, pois o nefropata é um cliente específico que realiza o tratamento e os

diferentes tipos de terapias de substituição renal. (BARBOSA, VALADARES, 2013).

Envolve a necessidade de trabalhar a partir da noção de integralidade, reconhecer o caráter

interdisciplinar desse cuidado e a importância do trabalho em rede (FUJII, 2011;

QUINTANA, HAMMERSCHMIDT, SANTOS, 2014). Para que isso seja possível, essa

abordagem deve ocorrer entre o profissional de enfermagem que efetuou a terapia e aquele

Page 24: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

24

que continuará no cuidado ao cliente durante toda a internação, durante a HD ou ao seu

término.

Como campo complexo que se apresenta, a frequência das complicações é muito

grande. Atualmente a hemodiálise busca a reversão não somente dos sintomas urêmicos, mas

também a redução das complicações que são inerentes ao próprio procedimento e a

diminuição do risco de mortalidade. Tendo assim, que toda equipe de enfermagem envolvida

esteja atualizada e apta para promover um tratamento com qualidade e maior segurança ao

paciente renal crônico (ARAÚJO E ESPIRÍTO SANTO, 2012).

Então, com a comunicação entre a equipe de enfermagem ao cliente com doença renal

em HD internado no CTI busca-se, segundo Lima e Erdmann (2006) a organização como

meta para o grupo, concluindo que uma equipe capacitada tem condições de organizar-se,

materialmente e operacionalmente.

Todos os pacientes em hemodiálise encontram-se, a despeito de sua vontade,

dependentes de um procedimento, de um recurso médico ou da equipe de saúde e estão

expostos também a outras condições estressantes, busca-se conhecer suas percepções frente às

limitações enfrentadas e ao tratamento hemodialítico; desvendar os possíveis

comprometimentos decorrentes destas situações, bem como as adaptações que serão

necessárias para o êxito da terapia (ABRAHÃO, 2006; SILVA et al, 2011).

Destaca-se ainda o desafio de personalizar o seu atendimento e evitar complicações.

Podemos considerar que a internação do cliente em setores intensivos já é um fator estressante

que se duplica com uma intervenção adicional de HD.

Nessa perspectiva de cuidar de forma permanente, Furtado et al (2010) delineiam

novas formas de cuidado ao cliente em HD. O estudo destrincha sete fases de cuidado para

esse cliente, sendo o primeiro cuidado compreendido como a fase de acolhimento,

comunicação e escuta. Seguido de estabelecimento de vínculo, desenvolvimento de técnica,

adesão e autocuidado, avaliação, estabelecimento da rotina e por último o resgate da

autonomia do cliente.

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO

Page 25: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

25

Neste sentido, pretendo como objetivo geral investigar a comunicação entre equipe de

enfermagem no atendimento hemodiálise no CTI.

Os objetivos específicos:

- Identificar o processo de comunicação que se estabelece entre a equipe de

enfermagem do CTI e da HD, durante a sessão de hemodiálise a beira leito no CTI;

- Analisar o tipo de comunicação verbal e não verbal abordados no processo de

comunicação da equipe de enfermagem;

- Discutir os limites e as possibilidades do processo do processo de comunicação que

media o cuidado da pessoa em sessão de hemodiálise no CTI.

Na prática assistencial percebo a necessidade de mudança no que concerne a

elaboração de estratégias que possibilitem melhor abordagem dos profissionais de

enfermagem envolvidos em terapias intensivas e em terapias substitutivas complementares.

Os estudos desenvolvidos sobre comunicação apontam a assertiva no cuidado quando nós

consideramos diferentes formas de abordar. Ao utilizá-la de forma correta podemos

minimizar o impacto do ambiente e da terapêutica sobre o estado psicológico e físico do

cliente.

1.3 A CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA NO CUIDADO DE ENFERMAGEM

Este estudo pode ser justificado por ser uma iniciativa para o aprimoramento da

comunicação entre a equipe de enfermagem no programa de hemodiálise e balizando de

forma positiva e efetiva durante a interação com o cliente. Os tipos e as formas de

comunicação são indicadores importantes no comportamento humano e interfere na qualidade

do cuidado dos profissionais de enfermagem durante a assistência prestada por eles.

Ao ampliar a investigação no atendimento em HD, poderemos verificar como a

comunicação auxilia a equipe de enfermagem e o cliente na transmissão de mensagens

importantes sobre a clínica com subsídios ao cuidado. Poderá evidenciar como se dá a

comunicação, a interação, as atitudes, as habilidades sobre que conteúdos se pautam a

abordagem profissional no cuidado ao cliente em HD.

Page 26: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

26

São muitas as demandas apresentadas pelo cliente em hemodiálise e é necessário

investir em pesquisas na área hospitalar com enfoque na comunicação, visto que ela está

prevista como uma das doze competências previstas na Lei de Diretrizes e Bases para a

formação do profissional de saúde. Ela interfere na qualidade da informação, no padrão de

interação e de excelência do cuidado prestado.

Dentre as contribuições desse estudo pontuamos que o conhecimento produzido

servirá de fonte para a área do ensino acerca da comunicação, pois coloca em relevo o aspecto

subjetivo na área de enfermagem. Na prática assistencial de enfermagem, tanto os

pesquisadores como os demais profissionais, poderão refletir sobre a produção de

conhecimento a partir dos dados gerados na busca de melhorias contínuas da comunicação no

cuidado prestado em HD externa e/ou da própria nefrologia.

Fortalecimento do eixo de pesquisa centrado na comunicação e no ensino do cuidado

hospitalar, Grupo de Pesquisa Comunicação em Enfermagem Hospitalar: Cliente de Alta

Complexidade, do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem Hospitalar, da Escola de Enfermagem

Anna Nery - UFRJ.

O plano de disseminação inclui a publicação de artigos em revistas Internacionais,

Qualis A, sobre a comunicação no cuidado da HD externa ao setor de HD; apresentação em

Eventos de pesquisa Nacionais e Internacionais e Congressos da área de nefrologia Nacionais

e Internacionais.

Page 27: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

27

Page 28: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

28

CAPÍTULO 2 – ENFOQUE TEÓRICO

2.1 A COMUNICAÇÃO

A comunicação é a base do conhecimento humano pode ser entendida como um

“processo de troca e compreensão de mensagens enviadas e recebidas” e é essencial para o

trabalho da equipe de enfermagem (TIGULINI E MELO, 2002; MORAIS et al, 2009;

COSTA 2004).

A comunicação possui duas dimensões: a verbal caracterizada pela expressão de

palavras pronunciadas ou historiadas e a não-verbal que ocorre através da expressão corporal

e facial, tom de voz, gestos, olhares, toque, posição entre os corpos. Assinala-se pelo conjunto

de ações que traduzem os sentimentos do emissor. A comunicação é resultado da atuação das

diferentes partes do corpo (SILVA, 2008; ARAÚJO, SILVA, 2012; KNAPP, HALL, 1999).

Este estudo buscou investigar sob a ótica do fenômeno da comunicação verbal e não-

verbal a interação entre a equipe de enfermagem para entender como esta, configura-se como

alicerce para o cuidado. Lembrando que o outro interpreta nossas mensagens não apenas pelo

que expressamos pela fala, mas também pelas nossas ações corporais.

A história da sociedade é permeada por conflitos e desentendimentos que ocorreram

pela comunicação falha. Atualmente com a globalização, estamos cada vez mais competitivos

e dependentes da informação em quantidade, qualidade e rapidez estabelecendo que o

profissional tenha um bom preparo na área da comunicação, para que haja clareza e coerência

na transmissão da informação e interpretação das mensagens, adequando um melhor

desempenho das atividades de sua competência (TIGULINI, MELO, 2002).

A comunicação de forma eficaz é essencial para a equipe de enfermagem. A

enfermagem tem no seu cotidiano a adesão as com rotina, intervenções nas intercorrências e

continuidade do cuidado. O cuidado não para. É a base das ações da enfermagem. Sendo

assim, todas as informações relativas ao cliente devem ser valorizadas durante a internação,

principalmente em cenários de terapia intensiva.

A comunicação não pode ser entendida como uma coisa simples. Avisar ou informar

não é o mesmo que comunicar. Para que haja a comunicação de fato, deve haver alguém na

outra extremidade do canal, ou seja, o receptor da comunicação, o alvo da comunicação. E ser

Page 29: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

29

receptor não é apenas ser o alvo da informação, mas estar ciente do seu papel no processo

comunicativo, ter consciência da importância do relacionamento interativo entre os seres

humanos (MOREIRA, 2013).

O relacionamento interativo se faz fundamental para o dia a dia da equipe de

enfermagem.

Para delinear a abordagem não-verbal este trabalho tem como referencial teórico a

obra de Mark L. Knapp e Judith A. Hall.

Professor Doutor Knapp é um distinguido professor emérito, conhecido

internacionalmente por seu trabalho em comunicação não-verbal. Recebeu prêmios em

distintas universidades americanas ensinou pós-graduação e cursos de graduação em

comunicação não-verbal, comunicação e relacionamentos, e a mentira eo engano. Professor

Knapp lecionou em todo os EUA para acadêmicos, profissionais e grupos empresariais.

Judith A. Hall tem pós-doutorado em psicologia social e tem como foco de

investigação a comunicação não-verbal, estudada dentro das seguintes áreas temáticas:

medição da percepção interpessoal precisa, diferenças de gênero na comunicação não-verbal,

incluindo a precisão, habilidade expressão e comportamentos específicos; a relação do

constructo amplo domínio, a habilidade não-verbal e comunicação não-verbal e o

comportamento verbal e não verbal de médicos e pacientes em consultas médicas, com foco

em diferenças de gênero e se correlaciona de resultados dos pacientes, tais como a satisfação e

a adesão aos regimes médicos¹.

O livro onde os autores dialogam sobre comunicação não-verbal foi publicado pela

primeira vez nos Estados Unidos em 1972 e vem sendo utilizado por estudiosos e também na

sala de aula , abrangendo grande variedade de interesses acadêmicos nas áreas de

comunicação, orientação, psicologia, etologia, desenvolvimento infantil e relações familiares,

educação, linguística, fala e ciência da fala. O material vem sendo utilizado amplamente por

estudiosos na área de comunicação. Entender a comunicação não-verbal é na verdade uma

empreitada multidisciplinar. O fato de um dos autores representar a área de comunicação e o

outro de psicologia social apenas reforça a integração existente nesses setores².

___________________________

1 Biografia do autor. Disponível em: http://www.northeastern.edu/cos/faculty/judith-hall/

² Texto disponível pela Editora JSN – São Paulo.

Page 30: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

30

Knapp e Hall (1999) afirmam que quando estamos na presença de outra pessoa,

ficamos constantemente emitindo sinais sobre a nossas atitudes, sentimentos e personalidade e

que algumas pessoas tornam-se hábeis em perceber e interpretar esses sinais. Assim, como

fazemos interpretações as ausências de estímulos, da mesma forma reagimos a outros. O que

pensamos estar comunicando pode ser muito diferente que de fato comunicamos.

Asseguram ainda, que em alguns momentos, a linha entre a comunicação verbal e não-

verbal é difusa, apresentando-se como duas categorias distintas. A preocupação é entender

como o comportamento humano se processa quando duas pessoas estão se comunicando.

Conhecer até que ponto o comportamento de uma pessoa foi planejado conscientemente para

obter determinada resposta é uma informação relevante para qualquer comunicador.

De acordo com Mourão (2012), “o ser humano utiliza-se da comunicação para

fornecer informações, para persuadir, de forma a gerar mudanças de comportamento, dentro

de uma troca de experiências e para ensinar e discutir os mais variados assuntos”. A

comunicação envolve as relações interpessoais e podem ocorrer dificuldades e restrições de

maneira que a mensagem não é interpretada corretamente.

Os sinais não-verbais podem ser utilizados para complementar, substituir ou

contradizer a comunicação verbal e também para demonstrar sentimentos. Em caso de

conflito entre a mensagem verbal e a comunicação não-verbal, a mensagem não-verbal

prevalecerá (SCHELLES, 2008).

O comportamento não-verbal pode perfeitamente repetir, contradizer, substituir,

complementar, acentuar ou regular o comportamento verbal (Knapp & Hall, 1999, p. 30).

Para o entendimento dessa assertiva, é de fundamental importância explicar as categorias

desse processo, assim designadas: a) repetição, que consiste em repetir o que foi dito

verbalmente; b) contradição, que contradiz o comportamento verbal; c) substituição, que

consiste em substituir as mensagens verbais por comportamento não-verbais; d)

complementação, que se efetiva por operar modificação ou aprimoramento nas mensagens

verbais, o que faz com que as mensagens sejam mais bem compreendidas; e) acentuação, que

consiste em acentuar partes da mensagem verbal pelo comportamento não-verbal; e f)

regulação, que se explica porque os comportamentos não-verbais estão intimamente

relacionados ao processo de simetria conversacional, de tal sorte podendo contribuir para uma

regular troca de turnos entre os que interagem. Esses comportamentos são usados para regular

Page 31: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

31

o fluxo verbal entre os interlocutores.

Reconhecer e identificar o processo de comunicação nas suas diferentes formas é um

fenômeno para melhorar a compreensão e interação entre os participantes, contribuindo para o

relacionamento entre as pessoas. A importância de um bom relacionamento entre as pessoas

avigora-se quando os trabalhadores tem o mesmo objetivo que na enfermagem representa o

cuidado (BROCA, FERREIRA, 2012).

Ainda deve ser inferido que a comunicação é basilar na construção do trabalho em

equipe. O enfermeiro é o responsável técnico do setor e intermedia as interações das

diferentes equipes do sistema macro hospitalar. A comunicação entre funcionários, gestores e

usuários é a peça-chave para atender o princípio da transversalidade do Programa Nacional de

Humanização, tirando-os do isolamento e das relações de poder hierarquizadas.

Por que a preocupação em entender como se dá a produção, interpretação e recepção

de mensagens? O que estamos procurando conseguir através do processo de comunicação? E,

especialmente como se apresenta a comunicação entre os profissionais de enfermagem frente

ao cliente em sessão de hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva? Como se manifesta a

comunicação e o que ela comunica no cenário investigado? A equipe do CTI e a equipe de

nefrologia trabalhando em associação favorecem na construção do cuidado em HD?

Nos sistemas hospitalares a hemodiálise é introduzida para minimizar os riscos

inerentes ao tratamento de pacientes graves e devido à peculiaridade logística, é necessário

disponibilizar esse suporte nefrológico à beira leito, para evitar o transporte e a remoção do

paciente.

Essa modalidade de assistência é caracterizada de duas formas: pode ser um serviço

terceirizado onde uma empresa especializada na área nefrológica disponibiliza recursos

materiais e humanos, encaminhando um profissional enfermeiro ou técnico de enfermagem ao

hospital para realizar à HD na CTI, munido de equipamentos necessários. Ou, ainda, o serviço

hospitalar ter um setor específico de hemodiálise e disponibilizar um profissional

especializado para realizar à HD em diferentes clínicas de internação hospitalar.

No cenário escolhido para prática da pesquisa, a hemodiálise é realizada por serviço

terceirizado, sendo assim pode-se inferir que a pesquisa não seja conclusiva, pois na rede

privada essa modalidade é ampla e irrestrita.

Page 32: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

32

Entender mecanismos de um processo de comunicação que irá auxiliar um

desempenho melhor para com o cliente é tão importante quanto se empenhar para melhorar a

comunicação, isto é, o relacionamento entre os próprios membros da equipe de enfermagem

(SILVA, 2006).

Na comunicação entre a equipe de enfermagem é preciso que haja alguém atento, para

identificar as manifestações, sejam elas verbais ou não, e disposto a intervir, ouvir e trocar

ideias e informações sobre eventuais problemas que possam surgir durante a realização dos

procedimentos da hemodiálise.

Para Silva (2005) a comunicação não verbal é aquela que ocorre na interação pessoa-

pessoa, com exceção das palavras ditas. Tem a função de complementar a comunicação

verbal, substituí-la, contradizê-la e demonstrar sentimentos.

Knapp e Hall (1999), Silva (2005) trazem esboçam os diferentes tipos de comunicação

não verbal:

Efeitos dos Sinais Vocais/Linguagem Paraverbal ou Paralinguagem: qualquer

som produzido pelo aparelho fonador da pessoa que não faça parte da linguagem verbalizada,

embora emitida pelo órgão fonador, não pode ser traduzida como palavra. Através do

conhecimento da linguagem paraverbal o profissional de saúde poderá compreender que o

silêncio pode existir em algumas situações de interação e de acordo com o conhecimento que

o profissional tem do cliente poderá identificar sinais de ansiedade, depressão, vergonha.

Efeitos do Gesto e Postura/Linguagem Cinésica: relaciona-se com o corpo, ou

seja, os seus movimentos, gestos manuais, movimentos dos membros, da cabeça e até as

expressões faciais.

Distância entre Interlocutores/Proxêmica: é o uso do espaço pelo ser humano,

como por exemplo, a distância mantida entre os partícipes do processo comunicativo.

Os Efeitos do Toque/Tacésica: é a comunicação tátil, como por exemplo, a

pressão exercida, local onde se toca, idade e sexo dos interlocutores. O profissional de saúde

ao compreender a linguagem tacésica descobre que, ao tocar um cliente de maneira

instrumental e afetiva, estará realizando um cuidado mais humanizado.

Para Hall e Knapp (1999) o nosso comportamento varia conforme o comportamento

da pessoa com quem nos comunicamos. De acordo com os autores, outro importante fator a

Page 33: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

33

influenciar nosso comportamento é o ambiente em que nos comunicamos. Alguns aspectos do

ambiente podem ser deliberadamente estruturados com o objetivo de obter certas respostas de

outra pessoa. Neste sentido, o ambiente é uma fonte de signos não-verbais de nosso repertório

comunicativo para obter certas informações do outro.

Mehabian (1976) afirma que reagimos emocionalmente a nosso meio. Essas reações

emocionais podem ser avaliadas conforme a excitação que o ambiente nos faz sentir, o prazer

que experimentamos e o dominío que sentimos possuir. Excitação refere-se o quão ativos,

frenéticos, estimulados e alertas estamos. Prazer refere-se a sentimentos de alegria, satisfação

ou felicidade. E dominação sugere que sentimos capazes, importantes, livres, para agir de

várias maneiras.

Knapp classifica e as percepções dos ambientes de interação, podendo ser observadas

convergências com o estudo de Mehrabian.

Percepções de formalidade: uma dimensão familiar, segundo a qual os

ambientes podem ser classificados é um continuum formal /informal. As reações podem-se

basear-se nos objetos presentes, nas pessoas presentes, nas funções desempenhadas ou num

sem-número de variáveis. Quanto maior a formalidade, maiores as chances de que o

comportamento comunicativo seja menos relaxado e mais superficial, hesitante e estilizado.

Percepções de acolhimento: ambientes que nos fazem sentir psicologicamente

acolhidos nos encorajam a ficar, a sentir-nos relaxados e à vontade.

Percepções de privacidade: ambientes fechado, em geral, sugerem maior

privacidade, principalmente se ocupados por poucas pessoas.

Percepções de familiaridade: quando conhecemos uma pessoa ou estamos num

ambiente não familiar, nossas respostas são geralmente cautelosas, estudadas e convencionais.

Ambientes não familiares estão carregados de rituais e normas que ainda não conhecemos, daí

ficamos hesitantes para não ir rápido demais.

Percepções de constrangimento: parte de nossa reação ao ambiente está

baseada em perceber se podemos sair dele e se será fácil ou difícil.

Percepções de distância: por vezes, nossas respostas dentro de um determinado

ambiente são influenciados pela distância em que temos de conduzir a comunicação com o

outro. Isso pode refletir real afastamento físico ou distanciamento psicológico.

Page 34: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

34

Percepções do tempo: o tempo é a parte do ambiente comunicativo. De início,

pode parecer estranho incluir algo aparentemente intangível como o tempo no mesmo

conjunto ambiental de cadeiras, paredes, ruídos ou até condições clínicas.

O cuidar em hemodiálise vai além do conhecimento técnico e científico, mesmo que

esse processo envolva complexidade e especificidade. Para os clientes, ser cuidado significa

estabelecer relacionamento interpessoal. Araújo (2000) diz que as interações no cuidado não

se estabelecem de maneira puramente técnica.

O desígnio de trabalhar a comunicação atingindo intersetores entre profissionais de

enfermagem vem do baseado no dia a dia de trabalho assistencial como enfermeira em uma

instituição de saúde onde se configura essa dialética. Entender, discutir e apreender o que

envolve, o que determina e o que fundamenta a prática do cuidado em saúde abrangendo

paradigmas, interação de diferentes micropolíticas de gestão e resistência através das

mensagens verbais e não-verbais objetivando-se o cuidado integral. Pois, a enfermagem é

holística: não está aqui, nem ali, está no todo.

2.2 HEMODIÁLISE EM CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA

No Brasil, os primeiros Centros de Terapia Intensiva (CTIs) foram instalados na

década de 70, com a finalidade de concentrar pacientes com alto grau de complexidade em

um área hospitalar adequada, requerendo a disponibilidade de infraestrutura própria, com

provisão de equipamentos e materiais, além da capacitação de recursos humanos para o

desenvolvimento do trabalho com segurança (ABRAHÃO, 2011).

O CTI caracteriza-se como uma unidade reservada, complexa, dotada de

monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação

de um ou mais sistemas orgânicos. Fornece suporte e tratamento intensivo, propondo

monitorização contínua, vigilância 24 horas, equipamentos específicos e outras tecnologias

destinadas ao diagnóstico e terapêutico. Ameniza sofrimento, independente do prognóstico do

cliente. Dispõe de assistência médica e de enfermagem especializada e oferece atendimento

multiprofissional e interdisciplinar, constituído por fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos

e assistentes sociais (ABRAHÃO, 2011).

Page 35: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

35

Uma das exigências para uma assistência de qualidade e segura é que o sistema possua

um canal de comunicação eficaz, permitindo às equipes transmitir e receber informações de

forma clara e correta (SILVA ET AL, 2007).

Para isso é importante compreender a realidade que o profissional vivencia na terapia

intensiva e a verificação de fatores que podem dificultar a sua atuação, pois o grau de

complexidade que o cuidado de saúde atingiu, não permite que o cuidar esteja apenas

concentrado do ponto de vista biomédico.

O cuidado é uma resposta às necessidades das pessoas. Ao observarmos as redes de

cuidado podemos verificar que as pessoas atuam comunicando-se mutuamente, a todo o

momento. Quando as equipes e/ou trabalhadores de saúde autuam uma rede entre si, que tem

grande intensidade na busca da produção do cuidado (FRANCO, 2006).

Eventualmente, alguns profissionais podem pensar que o ser saber e fazer sobrepõe

aos outros trabalhadores em saúde, problemática cultura construída na produção de saúde.

Franco, 2006, sugere um exercício de observação para desconstrução dessa prática:

Essas impressões ilusórias sobre o trabalho em saúde não resistem a um pequeno

exercício de observação no espaço da micropolítica, onde é fácil verificar que ali se

processa uma rede de relações, auto-referenciada nos próprios trabalhadores, que

entre si vão definindo os atos necessários à produção do cuidado, a cada usuário que

chega, em movimentos que se repetem no dia-a-dia dos serviços de saúde. Dessa

rede não estão excluídos nem mesmo os trabalhadores das áreas de “apoio” como,

por exemplo, da higienização, onde todos sem exceção são “dependentes” do

trabalho que é executado com o fim de manter uma unidade de saúde em condições

de biossegurança adequadas.

Entretanto, ao observarmos o cotidiano prático assistencial, vemos que profissionais

mesmo aqueles de igual categoria profissional, que é o foco deste estudo, atuam de modo

distinto, no mesmo cenário. Alguns são diferentes na maneira de cuidar, parecendo muitas

vezes que uns cuidam e outros não, ou que uma dada equipe de saúde ocupa-se do cuidado e

outra não (CECCIN E MEHRY, 2009). Os autores afirmam ainda que:

Uma micropolítica do trabalho em saúde se oporia - ou poderia resistir - à

macropolítica do gerenciamento, da protocolização, da corporativização ou das

racionalidades. Não são regras de exercício da profissão ou do trabalho, nem

diferenças de escala que marcam o território da micropolítica, mas

coengendramentos de si e de mundos. Na análise do processo de trabalho, a

micropolítica interroga que territórios de ser são criados, que rupturas são

introduzidas, que acolhimentos são ofertados, que responsividade é buscada, que

satisfação interessa. São territórios aquilo que constituímos quando estabelecemos

Page 36: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

36

uma relação. Pela dimensão micropolítica, detectamos - na prestação do atendimento

- uma produção política da atenção, a produção política dos seres, não apenas o

registro de assistências.

Sendo assim ao investigar as relações entre a equipe de enfermagem que atua no CTI

seja na modalidade intensivista ou da nefrologia, busca-se Discutir os limites e as

possibilidades do processo do processo de comunicação que media o cuidado da pessoa em

sessão de hemodiálise no CTI. A habilidade de comunicação tem ganhado espaço e território

no cuidado em saúde.

Page 37: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

37

Page 38: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

38

CAPÍTULO 3 - PROPOSTA METODOLÓGICA

3.1 TIPO DE ESTUDO

Tratou-se de uma pesquisa desenvolvida no período de março de 2014 a novembro de

2015 com abordagem qualitativa, exploratória e descritiva caracterizada pela observação da

prática assistencial investigada, parte da realidade do cuidado da equipe de enfermagem.

A abordagem qualitativa é aquela cujos métodos e técnicas estatísticas são

dispensáveis. Há uma relação dinâmica e um vínculo inseparável entre o mundo objetivo e a

subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números, momento através do qual as

questões básicas envolventes são a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados.

O ambiente natural é a fonte para coleta de dados, onde o pesquisador é a peça fundamental

para isto e os focos principais de abordagem são o processo e o significado atribuído ao

mesmo (MINAYO, 2010).

Escolhemos a pesquisa qualitativa porque tem como instrumentação a observação, a

entrevista e obtém seus dados através de análise de conteúdo, categorias por relevância teórica

e repetição. E optamos por estudo de campo para valorizar o aprofundamento das questões

propostas com maior flexibilidade no planejamento.

Estudamos a comunicação emergente na interação entre membros da equipe de

enfermagem durante a HD realizada no setor da terapia intensiva, valorizando a técnica de

observação, além das questões de entrevista. Para Figueiredo (2004), a pesquisa de campo é

assim reconhecida. Ela se desenvolve basicamente por meio da observação direta, das

manifestações do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas

explicações e interpretações do que ocorre no grupo.

3.2 CENÁRIOS DE PESQUISA

O cenário escolhido foi um hospital público, localizado no Município do Rio de

Janeiro, especializado no atendimento de emergências onde foi possível conhecer como se dá

a comunicação entre membros da equipe de enfermagem durante a HD no Centro de Terapia

Intensiva.

Page 39: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

39

Neste hospital, o serviço de nefrologia é terceirizado, isto é, o serviço de diálise tem

autonomia administrativa e funcional, que realiza atividades em ambiente intra-hospitalar. A

esta equipe é reservada uma sala no segundo andar da instituição com espaço para 02

poltronas e uma mesa para os profissionais. Estes atuam de acordo com o fluxo de

atendimento gerado pela emergência e pelos setores de internação.

A escala fixa é composta por 03 técnicos de enfermagem. Um funcionário trabalha

como diarista e os dois na escala de plantão 12x36 horas com o turno das sete horas da manhã

às sete horas da noite. O enfermeiro da empresa faz visitas periódicas à instituição de acordo

com a necessidade de serviço. O médico nefrologista atua em ajuste com o parecer clínico

gerado pelos médicos da emergência e dos setores de internação.

Durante a pesquisa a sala destinada à nefrologia passou por reformas estruturais. Logo,

a equipe da nefrologia foi transferida para uma sala adaptada na antiga enfermaria da Buco-

maxilo localizada no primeiro andar.

A organização das sessões de hemodiálise é feita de acordo com o perfil clínico do

cliente, setor de internação e disponibilidade de pessoal. Na afiliação com o cenário de

pesquisa inicialmente acompanhei sessões de HD na sala de nefrologia.

Os profissionais mostraram-se experientes no manejo da máquina, na interpretação das

prescrições médicas, na detecção de instabilidade clínica e na atuação frente às intercorrências

interdialíticas. Por outro lado, a equipe de forma geral não adere as normas de biossegurança

com o uso de precaução padrão, higienização das mãos e aplicação de técnica asséptica para o

manuseio do cateter. Mesmo na condição de pesquisadora, não pude dissociar que também

sou enfermeira e acabei realizando algumas intervenções e atendimento em pequenas

urgências, mas que não influenciaram no seguimento da pesquisa.

Acompanhei o funcionamento na sala da nefrologia durante 3 semanas, permanecendo

no setor uma média de duas a três vezes semanais no período da manhã. As sessões de HD no

setor da nefrologia ocorrem sempre no período diurno. No período noturno são agendadas as

hemodiálises à beira leito, ou externas.

No setor há um mapa para o acompanhamento das sessões internas e externas (no setor

da nefrologia e à beira leito) com o nome do cliente, setor de internação, quantas sessões já

foram realizadas e qual tipo de hemodiálise feita, a saber: convencional ou prolongada.

Page 40: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

40

A equipe de enfermagem que realiza as sessões à beira leito é escalada de acordo com

a demanda de serviço. Sendo assim, a empresa entra em contato com os técnicos de

enfermagem e direcionam onde estes estarão de plantão. Geralmente os mesmos profissionais

são direcionados ao hospital para realizar HD enquanto essa estiver prescrita para o cliente.

Após aproximação com o setor da nefrologia comecei a acompanhar as sessões à beira

leito. O serviço de terapia intensiva adulto, possui 10 leitos que incluem 2 leitos de

isolamento distribuídos em uma área aproximada de 130 metros quadrados. Entre os anos de

2010 e 2011 a média de HD à beira leito foi de 351 sessões por ano. Não há disponível dados

estatísticos recentes sobre o número de HD realizadas.

A equipe de enfermagem é composta por 02 enfermeiros e 05 técnicos de enfermagem

por turno de 12 horas. A escala de trabalho é 12x60h.

As internações no CTI são de clientes clínicos e cirúrgicos provenientes da

Emergência, Neurocirurgia, Cirurgia Geral e Vascular, Ortopedia e Clínica Médica.

Recomenda-se que todo serviço de hemodiálise móvel deve funcionar atendendo os

requisitos de qualidade e assistência médica, assegurando condições de: biossegurança,

monitoramento permanente de sua atividade e responsabilidade integral pelo tratamento

hemodialítico realizado à beira do leito em unidade hospitalar (RESOLUÇÃO SESA Nº

437/2013).

3.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Os participantes da pesquisa foram os profissionais de enfermagem que realizam a

HD.

O critério de inclusão dos participantes considerou o profissional com experiência

mínima de 1 ano de prática em HD à beira leito, ser maior de 18 anos, está escalado para o

cuidado e apresentar disponibilidade em participar.

Critérios de exclusão: estar em licença, férias, sobrecarregado no trabalho ou

indisposto.

Observei clientes/equipe de enfermagem sempre que a HD esteve indicada,

verificando alguma intercorrência e a comunicação adotada. Perfazendo uma carga horária

diária de até quatro horas com a observação de cada interação e de meia hora com cada

Page 41: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

41

entrevista. Foram dedicadas horas de gravação de áudio com as entrevistas e outras com a

observação. Foram utilizadas semanalmente outras horas para organização e transcrição e

análise dos dados ao final de cada sessão produzido nas gravações, do roteiro de observação e

no diário de campo.

Assim obtemos uma variação de muitas horas de situações de abordagem da equipe de

enfermagem junto aos clientes em HD n CTI na instituição pesquisada.

A pesquisa foi submetida para apreciação e aprovação pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da EEAN/UFRJ e posteriormente no Comitê da Secretaria Municipal de Saúde. Foi

aprovada sob os pareceres 42902814900005238 e 42902814930015279. Para condução da

proposta da investigação foram mantidos contatos informais com a Coordenação do cenário

de pesquisa, momento este que apresentamos e discutimos o projeto de pesquisa com o (a)

Coordenador (a) da instituição. Em seguida, foi formalizada solicitação para autorização da

pesquisa (Apêndice A) sendo anexada a esse documento a cópia do projeto de pesquisa para a

Instituição e do parecer de aprovação do Comitê de ética em pesquisa.

Os aspectos éticos referentes à pesquisa com seres humanos foram respeitados como

determina a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). A

participação foi voluntária, após esclarecimentos dos objetivos e das finalidades assegurando

o anonimato, o consentimento mediante assinatura no Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apêndice B), em duas vias de igual teor e forma, uma para o

pesquisador e outra para o participante de pesquisa.

Respeitando aos aspectos éticos e legais, há compromisso na divulgação dos

resultados, não só em eventos científicos, publicações em periódicos indexados, mas também

o retorno do relatório aos cenários da Pesquisa.

3.4 TÉCNICA PARA COLETA DE DADOS

As etapas foram: levantamento de dados de identificação de formação e atuação

profissional e identificação clínica do cliente, observação sistemática não participante e

entrevista situacional gravada com profissionais, utilizando questões semiestruturadas sobre a

comunicação de HD no Centro de Terapia Intensiva e desafios encontrados. O levantamento

prévio semanal sobre a HD em clientes internados na da instituição foi obtido a partir do

agendamento junto à equipe da nefrologia.

Page 42: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

42

Foram coletadas previamente informações dos clientes em seus prontuários para que

seja realizada uma fidedigna caracterização e observação de relatos de complicações.

Posteriormente, a observação foi realizada com roteiro sistematizado e anotações em diário de

campo. Depois entrevista situacional utilizando questões semiestruturadas baseadas nos itens

de observação.

Após observação realizei com o técnico de enfermagem da nefrologia entrevista sobre

o conhecimento a priori dos itens em observação. Essa modalidade de entrevista possibilitou a

liberdade para desenvolver cada situação observada com os itens da entrevista, na direção que

considerei adequada. Para auxiliar nas transcrições dos depoimentos contei com o serviço de

transcrição de áudio.

A opção por essa forma de entrevista deve-se ao fato de poder explorar mais

amplamente uma questão. Neste caso, o entrevistado expressou suas opiniões e sentimentos,

situação em que o entrevistador leva o informante a falar sobre determinado assunto, sem,

entretanto, forçá-lo a responder, ou limitá-lo em suas respostas (MARCONI, LAKATOS,

2008).

As entrevistas ocorreram individualmente e com privacidade nos respectivos cenários,

após término da HD. Solicitamos à chefia do setor a liberação de cadeiras para atender a

posição correta durante o diálogo.

A produção dos dados foi realizada de acordo com a planilha de HD agendadas e a

transcrição e a digitação dos depoimentos será processada semanalmente.

Em síntese as etapas essenciais para a obtenção dos dados foram:

Identificar a amostra (características dos observados e quantidade);

Leitura do prontuário;

Realizar as sessões de observação;

Entrevista com os participantes da pesquisa;

Triangulação dos dados coletados.

.

Page 43: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

43

Page 44: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

44

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS DADOS

Foi priorizada a análise temática dos depoimentos relativos aos estilos e os tipos de

abordagem comunicativa no ambiente de cuidado, e os participantes foram identificados por

codinome, categorizados e discutidos à luz de autores cujas bases conceituais ampliaram a

compreensão do objeto de investigação.

O método da Análise de Conteúdo, segundo Bardin (2009) consiste em tratar a

informação a partir de um roteiro específico, iniciando com (a) pré-análise, na qual se escolhe

os documentos, se formula hipóteses e objetivos para a pesquisa (b) na exploração do

material, na qual se aplicam as técnicas específicas segundo os objetivos e (c) no tratamento

dos resultados e interpretações.

A primeira fase de pré-análise fundamenta-se na organização e sistematização das

ideias iniciais contidas nos dados obtidos, visando à preparação do plano de análise. É

considerado um período de intuições no qual ocorre a formulação das hipóteses, dos objetivos

e indicadores para fundamentar a interpretação final. A primeira atividade consiste na leitura

flutuante e estabelece contato com os documentos a serem analisados. Desse modo, a leitura

vai se tornando mais precisa, em função de hipóteses emergentes, da projeção de teorias

adaptadas sobre o material e da possível aplicação de técnicas (BARDIN, 2011).

Na fase de exploração do material ocorre a operação da pré-análise concluída e

codificada, ou seja, explora-se o agrupamento das unidades de registros comuns. Unidade de

registro é a unidade de significação codificada e corresponde ao segmento de conteúdos

considerados unidade de base. Já unidade de contexto serve de unidade de compreensão para

codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem (BARDIN, 2011).

Inicialmente foi realizada a transcrição dos áudios e posteriormente o agrupamento

dos fragmentos (falas) de acordo com os objetivos desse estudo que continham informações

significativas para a construção da discussão de dados.

Emergiram 2 categorias:

● Estratégia de Comunicação

● Condições Internas, Externas e Clínicas

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES

Page 45: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

45

Dos 10 entrevistados, 5 eram homens e apenas 5 mulheres. Em relação ao tempo de

formado os técnicos de enfermagem da nefrologia tem entre 5 e 26 anos de experiência na

área, atuando nesta área específica de hemodiálise. Afirmam sentir-se seguros realizar tais

atividades e para identificar situações de urgência.

De acordo com o a recente pesquisa divulgada pelo Cofen (2015) sobre Perfil da

Enfermagem no Brasil a equipe de enfermagem é predominantemente feminina sendo

composta por 84,6% de mulheres. É importante ressaltar, no entanto, que mesmo tratando-se

de uma categoria feminina, registra-se a presença de 15% dos homens. Pode-se afirmar que na

enfermagem está se firmando uma tendência à masculinização da categoria, com o crescente

aumento do contigente masculino na composição. Essa situação é recente, data do início da

década de 1990, e vem se firmando. Dado que se confirmou no estudo onde a população

masculina aparece em relevo.

4.2 ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO

Ao entrar no Centro de Terapia Intensiva para realizar a HD, os técnicos de

enfermagem da nefrologia expressam que facilita a abordagem e o trabalho agir de forma

social e interagir com a equipe de enfermagem do setor.

Observa-se que os profissionais de enfermagem da HD não se entendem como

profissionais do Centro de Terapia Intensiva.

É muito importante fazer rede. A política é a alma do negócio né? Se a gente não

for político, fica difícil até mesmo pra você trabalhar lá dentro, que o pessoal já

está em casa, a gente não! A gente tá lá por consequência! Eu to lá hoje e amanhã

posso não estar (P4).

Eu sou um cara meio da política, que interage com o povo, interage com os

enfermeiros, interage com a rotina, com os doentes que tão fazendo diálise (P8).

Quando você tá na sua casa é uma coisa, você tá na casa dos outros, você tem que

chegar, se apresentar: eu vim dialisar o paciente fulano de tal, tem alguma

intercorrência agora? Posso botar? Não posso? (P2).

Page 46: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

46

A gente tem que chegar e conseguir fazer uma política né? A gente tenta jogar e vai

e conversa: poxa gente, o paciente tá precisando, vamos ver, usar esse lado, um

joguinho de cintura né? A gente consegue! (P3).

Isso é uma das reclamações dos enfermeiros dos setores fechados: fulano chegou

aqui não deu um bom dia, uma boa noite, colocou o paciente lá! Não perguntou se

podia, se não podia, se o médico autorizava. Então uma das coisas que a gente tem

que ter é diálogo com o supervisor do setor, porque você tá entrando na casa dos

outros, você não tá na sua casa né? E às vezes acontece do colega chegar e não ter

esse tipo de iniciativa e eles reclamam e não estão errados. (P6)

Não tem como planejar. É chegar e tentar fazer. Se der aquela hora você faz, se não

der você espera! Tem que cumprir a hierarquia lá! Não tem como você colocar na

marra, não tem como fazer isso. A gente não vai se prejudicar. E acontece do

enfermeiro pedir o telefone da empresa para reclamar que fulano fez isso, largou o

paciente aqui e foi pra rua, ficou horas fora, o paciente aqui sozinho, então isso

acontece muito (...) (P9)

Eu não sei qual o problema da enfermagem, sabe? Acha que a gente ganha muito!

Que a gente não trabalha, que a gente vai para o setor fazer bagunça, quando a

intenção não é essa. (P3)

A convivência gera a formação de vínculos. Profissionais atuando diariamente e

trocando ideias, informações sobre demandas clínicas dos pacientes, estabelecem confiança e

vínculo, fortalecendo o eixo da comunicação entre profissionais de saúde.

Tranquilo, conheço os médicos, os enfermeiros, conheço dois anos já! Com certeza

faço parte da equipe! Não tenho nenhuma questão com os enfermeiros, todos

ajudam, auxiliam. (P5)

A gente consegue driblar o médico (intensivista), ele passa o cateter pra gente, a

gente consegue resolver. Alguns médicos você acaba criando um vínculo de tanto

que você tá ali. Ali eu trabalho todo dia! Você cria vínculo. (P4)

4.3 Condições Internas, Externas e Clínicas

As condições internas estão relacionadas aos protocolos institucionais, as condições

externas à condição de trabalho (sistema de terceirização no âmbito público) e condição

clínica é direcionada ao estado de saúde do cliente durante a sessão de HD.

Page 47: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

47

O grupo pesquisado refere experiência na área de HD, tendo vivenciado diferentes

situações de urgência/emergência onde eles colocam-se a frente para dirigir os cuidados de

enfermagem de acordo com as intercorrências.

O enfermeiro passa a visita, resolve o que tem que resolver e lógico que acaba a

gente ficando de responsável. Mas o enfermeiro fica a par de tudo entendeu? Ele

que domina o negócio! Mas geralmente a gente que fica na linha de frente, que

resolve. (P4)

Sozinha aqui tem dois pacientes, ele faz uma parada, eu tenho que tá aqui, porque

eu tenho que ver, ai calha de outro fazer também. Como é que eu vou atender os

dois ao mesmo tempo? (P1)

O maior desafio é fazer um trabalho bom porque o que acontece, nós estamos

sozinhos dentro do hospital, como nós somos um serviço terceirizado e como a

diálise é sempre vista como é... (P3).

Você acaba sabendo, sem querer, a parte laboratorial, então você acaba intervindo

e manda um bicarbonato, que a doutora tá vindo... Não que seja da nossa alçada!

Mas automaticamente fica a linha de frente, então até chegar alguém você vai

tentando solucionar os problemas. (P7)

Os técnicos de enfermagem da nefrologia entendem que para o desenvolvimento de

uma boa assistência precisam entrar em consonância com a rotina do setor.

Aqui é uma exceção! Porque em setor fechado só se pode fazer a noite aqui

(Unidade Coronariana) e lá no CTI. Mas normalmente as diálises não são pra ser à

noite (P1)

Às vezes o cara tem que tomar um sangue, você oferece pra passar aqui pela diálise

que é mais rápido, é melhor pra ele... E se tá em diálise na hora do banho você

tenta ajudar para que não seja um obstáculo ali, porque nós somos vistos como

isso! Tá atrapalhando a rotina do lugar, tá fazendo bagunça no setor. (P3)

Nos setores fechado eles colocam obstáculos, eles preferem que a diálise seja feita à

noite, pra não mudar a rotina deles, a gente entende isso, sabe que os setores são

apertados, os outros boxes não estão preparados pra tanta maquinaria e ainda mais

uma que é máquina de diálise. Mas eu acho que a gente tem que deixar nosso

egoísmo porque ali em primeiro lugar é o paciente. (P6)

Page 48: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

48

Vou chegar no setor, me apresentar e perguntar se pode. Às vezes não pode e falam:

primeiro a gente vai dar banho e depois você começa. Eles gostam de fazer isso.

Fazer o que? Tem que esperar. (P2)

No setor fechado, é um setor onde a gente tem médico a todo o momento. Eles

podem não estar dentro do CTI, mas eles estão ali. Então o pessoal do dia tem que

fazer as enfermarias. É mais fácil achar o médico. Porque de madrugada... o

paciente faz uma parada... vai chamar quem? Ninguém! Então normalmente os

pacientes do CTI ficam pra noite. Não era pra ficar... Mas tipo assim a demanda é

muito grande e então a preferência é deixar o CTI pra noite. (P1)

A comunicação neste momento mostra-se fundamental para o bom atendimento ao

paciente realizando HD. A troca de informações sobre a clínica do paciente ocorre entre

médicos nefrologistas, técnicos de enfermagem da HD, enfermeiros, médicos e técnicos de

enfermagem do CTI.

Às vezes não precisa nem falar, eles mesmos vem e vão aumentar aqui. Começou a

HD, a pressão caiu eles vão aumentar a nora! Não precisa nem pedir! (P7)

Antes da gente colocar o paciente em diálise o médico (nefrologista) passa na

frente! Ai ele vê! A não ser o paciente que a gente já dialisou, é crônico. Então a

gente vai “botando” e avisa pro médico: to botando tal, que a gente já sabe! Mas

um paciente assim (agudo, grave), a gente não pode colocar sem prescrição.

Porque o médico vai olha o balanço, vai olhar quanto tem que perder, em quanto

tempo e quanto saiu, quanto pode tirar! (P5)

Todo dia a doutora passa e olha os exames, vê o balanço hídrico do pessoal, por

isso ela sabe se recuperou ou não, pela quantidade de urina que ele fez em 24 horas

e pelo resultado do exame do dia, assim tem como ela saber. Às vezes ele urina

bastante, mas é uma urina sem qualidade. (P6)

Eu acho que a gente tenta fazer um serviço legal faz coisa que a gente nem devia

fazer, não é da nossa alçada, mas a gente vê exames, vê se o cara precisa

intensificar tudo em prol do paciente. (P10)

Uma hipotensão, eu vou fazendo o procedimento e vou fazendo no procedimento e

vou avisar, entendeu? Tipo assim de imediato, se fez a hipotensão, ai o paciente tá

aqui, a enfermeira tá lá do outro lado, também não posso gritar. Eu vou abrir um

soro! Vou dar os primeiros socorros e vou avisar pro médico: tá fazendo

hipotensão. (P1)

Page 49: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

49

O cara senta lá e às vezes tira um cochilo, às vezes tá lendo um negócio e o paciente

tá dialisando... Ele tá pensando que o cara tá dormindo... o cara tá morto. Isso já

aconteceu uma vez, a colega se distraiu, não tinha experiência, paciente parou e a

máquina rodando, daqui a pouco o sangue começou a coagular e o paciente

parado. (P2)

É preciso instituir um protocolo/rotina de administração de medicações de pacientes

que estão em HD. Agendamento prévio sempre que possível dos horários que será iniciada a

HD para o aprazamento e dosagem das medicações corrigidas sempre que necessário.

Normalmente se tiver antibiótico para fazer, a gente prefere fazer depois, porque a

máquina filtra! Tipo assim, não vai fazer mal para o paciente, mas também não foi

vai fazer efeito! A gente pede pra fazer, que não adianta fazer em diálise, a máquina

vai filtrar. (P1)

Se falar que tem um antibiótico pra passar naquela hora que vai começar a diálise e

puder deixar pra depois, às vezes eu passo depois, não esquento não. Então o

controle de medicação é com eles, não comigo, não conosco! Às vezes a gente usa

uma dipirona, às vezes o paciente tá com febre, às vezes tá enjoado, a gente faz

remédio para enjoo, essas coisas. Mas as medicações do paciente é

responsabilidade do setor de lá. Numa intercorrência, a gente pede e o médico

autoriza, a gente faz. (P2)

Dependendo do setor, dependendo do colega que tá a gente interage mais. Então

tem colegas que não se importam e fazem assim dessa forma... Tem outros que são

curtos e objetivos que falam: não vai fazer agora? Então eu vou rodelar e vai ficar

sem, entendeu? Quer dizer depende muito do profissional, de quem tiver. Mas eu to

assim, não digo só por mim não, a nossa equipe aqui tá sempre se oferecendo,

quando eles vão pra setores fechados, eles tão sempre dispostos. (P3)

O que acontece no CTI é que geralmente são aprazados de 8 e 8 horas, a gente

chega 5 e pouca, seis horas da manhã, até duas horas após o horário, o pessoal faz

se a diálise acabar. A gente vê com os técnicos e com a enfermeira e avisa pra não

fazer agora que não vai adiantar nada! Segura! Tipo assim, quando acabar a

diálise faz a medicação (P9)

Chego e pergunto: tem alguma medicação que vai ser feita pra ele? Se tem um

antibiótico, ia fazer oito hora. Aviso: poxa olha só não dá pra fazer as oito porque

ele vai entrar em diálise e esse antibiótico é dialisado, então você quer me dar o

antibiótico que eu passo no final da HD? (P7)

Page 50: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

50

Essa parte de medicação, eles lá que vão controlar isso. Tem um antibiótico pra ele

agora, se botar agora na máquina, de repente vai embora! Quer que passe após a

diálise? Isso não é problema nenhum. (P6)

Page 51: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

51

Page 52: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

52

CAPÍTULO 5 - DISCUSSÃO DE DADOS

Investigar como ocorre a comunicação da equipe de enfermagem em um cenário de

alta complexidade durante o manuseio de máquina especializada e emprego de tecnologia

específica e sua implicação para o cuidado possibilitou a observação de diversas semânticas

que compõem essa realidade.

A tecnologia deve ser compreendida como um conjunto de ações de trabalho para

gerar uma ação transformadora na natureza. Não se limita apenas aos equipamentos, mas

também, ao conhecimento e atuações que são necessárias para operá-las: o saber e o seu

procedimento (SCHRAIBER; MOTA; NOVAIS; 2009).

A atuação requer o domínio de ações técnicas como a competência/proficiência no

manuseio dos equipamentos (especialmente, máquina de hemodiálise). Direcionando, neste

momento, o olhar para o cumprimento das rotinas. Trabalhar em hemodiálise, não é desafio

fácil, ainda mais em outro cenário complexo (BARBOSA, 2011).

Observar o que ocorre no dia a dia da equipe de enfermagem, as relações

interpessoais, a continuidade do cuidado que é ofertado ao cliente configurou-se num grande

desafio de pesquisa.

A comunicação no cenário investigado teve diferentes desenhos de acordo com os

plantões da nefrologia e da terapia intensiva. Um dos desafios é não deixar com que a rotina

impeça que o profissional transmita positividade no cuidado e que este seja um processo de

transformação entre o ser o cuidado e o cuidador.

Nas relações interpessoais da equipe de enfermagem busca-se o resgate das

potencialidades da pessoa. A prática e a aplicação deste conhecimento favorecem a

compreensão do relacionamento com o entorno proporcionando qualidade de vida, qualidade

nas afinidades e qualidade no cuidado.

Um ambiente favorável é diretamente proporcional para atitudes favoráveis. Se a

comunicação tem o contexto um desses pode ser atribuído ao ambiente. De acordo com

Mehabian (1976) as nossas percepções dos lugares em que nos comunicamos com os outros é

ilimitado, mas conforme vamos percebendo as particularidades de nosso ambiente, nós

incorporamos tais percepções no desenvolvimento das mensagens que enviamos.

Page 53: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

53

Knapp (1978) analisou as percepções nos ambientes de interação, mesmo inferindo

que as percepções básicas não possam ser inteiramente relegadas a respostas emocionais.

Entre elas: percepções de formalidade, de acolhimento, de privacidade, de familiaridade, de

constrangimento, de distância e de tempo.

• Percepção de formalidade - o ambiente pode ser classificado em formal e informal.

As reações baseiam-se nos objetos presentes, nas pessoas presentes, nas funções

desempenhadas.

• Percepção de acolhimento - o ambiente traz conforto psicológico e acolhimento,

encorajando a permanência e o relaxamento.

• Percepção de privacidade - observa-se um ambiente geralmente fechado ocupado por

poucas pessoas.

• Percepção de familiaridade - quando ainda estamos conhecendo uma pessoa ou

estamos num ambiente que não é familiar nossas respostas geralmente são cautelosas,

estudadas e convencionais.

• Percepção de constrangimento - nossa reação ao ambiente é saber se poderemos sair

dele de forma fácil ou difícil.

• Percepção de distância - nossas reações vão de acordo com o a distância em que

temos que conduzir a comunicação com o outro. Podendo refletir num afastamento físico

(estar em locais distantes) ou distanciamento psicológico (barreiras que separam as pessoas

mesmo estando próximas).

• Percepção de tempo – o tempo também é parte do ambiente comunicativo. É a

percepção relativa na inclusão de objetos, ruídos ou até condições climáticas. Regula os

momentos de comer e dormir, quanto recebemos de trabalho.

Durante as sessões de HD no CTI foi possível observar todas as percepções de nosso

meio classificadas por Knapp e Hall. O ambiente configurou-se em formal e informal nas

diferentes sessões acompanhadas. Quanto maior a formalidade, mais o comportamento

comunicativo foram superficiais.

O acolhimento produto das relações previamente estabelecidas durante o trabalho

favoreceram o cuidado. Acolher significa “dar ou receber hospitalidade” de acordo com o

Page 54: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

54

lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda in Dicionário Aurélio. Onde o técnico de

enfermagem da nefrologia desenvolveu um espaço afetivo este foi mais assertivo na troca de

informações sobre o estado do cliente. Esta ação foi observada em metade das sessões

analisadas.

As sessões de HD no CTI inciam a noite e algumas se estendem até a madrugada o

que trouxe percepções diferentes do ambiente: 1) A equipe de enfermagem está menos

susceptível para as interações de comunicação e 2) São mais atentos e agis na execução do

cuidado. Estas observações dirigem a dois caminhos: durante o período noturno mediante o

cansaço físico e mental os profissionais estão mais irredutíveis a comunicação, porém o

número menor de pessoas na equipe sugere maior privacidade favorecendo o emprego de

mensagens.

De acordo com o sociólogo Bourdieu (1996) os poderes da linguagem, da eficácia da

palavra, da maneira ou do conteúdo do discurso dependem crucialmente da posição social dos

interlocutores. Dependem do reconhecimento de uma autoridade, de um capital simbólico

acumulado por certo grupo e enunciado por seus porta-vozes autorizados. Retrata, assim, as

desigualdades presentes nas trocas comunicativas, afirmando que sua eficácia simbólica não

se constrói no encontro entre falantes, mas se situa num conjunto de fatores que o antecede (a

relação entre as propriedades do discurso, as propriedades daquele que o pronuncia e as

propriedades da instituição que o autoriza a pronunciá-lo).

Na instituição há diferentes concepções de contratação da mão de obra. Os

funcionários da CTI são regidos pelo regime estatutário e o os funcionários da nefrologia são

prestadores de serviço de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o que

interfere na comunicação entre profissionais.

Sabe-se que o modo de organização do trabalho utilizado interfere na qualidade da

comunicação entre os profissionais. No caso do Modelo Funcional a comunicação segue a

escala hierárquica, é diretiva e visa o cumprimento de ordens e tarefas. Em contrapartida, há o

Trabalho em Equipe, que visa à organização de um trabalho conjunto entre os membros,

acarretando com isto uma comunicação mais aberta e lateral, objetivando assim a prestação de

uma assistência qualificada ao cliente (SANTOS E BERNARDES, 2010).

O modelo funcional passou a ser criticado em meados da década de 70, pois a doença

era vista apenas do ponto de vista de um agente patogênico. E desde então se busca a adoção

Page 55: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

55

um modelo da multicausal, onde a pessoa não pode ser vista fragmentada, apenas como

portadora de uma doença, mas como um ser que necessita de cuidado integral. Sai modelo

centrado na execução da tarefa, em detrimento do cliente e entra o ser humano com todas as

suas dimensões que precisa de cuidado.

Portanto, o trabalho em equipe não tem procedência apenas para racionalizar a

assistência médica, para avalizar a melhor relação custo-benefício do trabalho médico,

ampliar o acesso e a cobertura da população atendida, mas vem da necessidade e da urgência

de integrar as disciplinas e as profissões entendida como imprescindível para o

desenvolvimento das práticas de saúde a partir da nova concepção biopsicossocial do

processo saúde-doença (PEDUZZI, 2009).

A integralidade traduz o ser humano com todas as suas dicotomias, com as relações de

complementaridade interferindo no cuidado de forma integral. Alegrias, êxitos, tristezas,

fracasso, competências, tristezas, afeto, identidade, emoção são questões sociopolíticas tanto

quanto instituição, classe social, relações de poder e trabalho são questões subjetivas; são

passagens e conflitos entre o uno e o múltiplo. E quando não há esse confronto cessa o

movimento e a vivacidade do homem, dos grupos e da sociedade (GELBCKE; et al, 2011).

Ainda de acordo com Gelbcke (2011) “nas instituições, na vida cotidiana, as relações

se estabelecem por meio de funções preestabelecidas, em que ocorre o desempenho

automático dessas funções, impostas por rotinas e normas, impedindo que os trabalhadores

participem por inteiro, com seus sentimentos, ideias e paixões”.

Esta noção de integralidade requer de forma mais prática e intensa que a atuação

profissional no trabalho em equipe inclui a construção de saberes e práticas que vão além do

modelo biomédico, abarcando as múltiplas dimensões da saúde (PEDUZZI, 2009).

Peduzzi, 2009, afirma ainda que em torno do trabalho em equipe ainda predomina a

existência de vários profissionais numa mesma situação de trabalho, no mesmo espaço físico

e com a mesma clientela o que configura dificuldade para a prática de equipes, pois a equipe

precisa integrar a buscar para assegurar a integralidade da atenção à saúde.

O conceito de Peduzzi em 2001 traz o trabalho em equipe como:

Modalidade de trabalho coletivo que é construído por meio da relação recíproca, de

dupla mão, entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos profissionais

Page 56: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

56

de diferentes áreas, configurando, através da comunicação, a articulação das ações e

a cooperação.

Deve-se reconhecer a importância da profissão de enfermagem, suas contradições no

pensar e fazer, a necessidade de suas áreas, sua relevância social e capacidade resolutiva nas

áreas de saúde, seu domínio de conhecimentos e ainda necessidades de tecnologias avançadas.

Os esforços individuais e coletivos, regionais e nacionais, a determinação em alcançar metas,

as estratégias que incrementem a construção de conhecimentos relevantes e inovadores, vem

sendo uma prática social desafiadora (ERDMANN, 2009).

A organização do serviço tem que focar na fala horizontal onde todos os indivíduos

falam e seu discurso tem valor para a prática. Nos modelos gerenciais mais contemporâneos,

pautados em estruturas flexíveis, descentralizadas e ligadas à responsabilização dos

envolvidos, deve-se pensar menos intensivamente em comunicação vertical e,

prioritariamente, em comunicação horizontal ou lateral. Assim o ato de se comunicar fica

facilitado e aproxima as interações pessoais, tornando estas mais agradáveis e produtivas

(BERNARDES; ET AL, 2007; SANTOS, BERNARDES; 2010).

A contribuição do estudo vem em prol da valorização do cuidado mesmo diante das

demandas na terapia intensiva. O cuidado precisa ser humano. Aqueles que cuidam precisam

estabelecer encontros com o cliente e com outro cuidador. O enfermeiro que se encontra no

setor de terapia intensiva é o elo entre a equipe multiprofissional buscando a partilha de

informações sobre o cliente. Tem o desafio de apontar caminhos e mesmo diante da rotina

agir de forma criativa e inovadora.

Assim, a comunicação configura-se como um elemento essencial no cuidado e como a

base das relações interpessoais, pois, comunicar-se também é cuidar (BROCA e FERREIRA,

2012).

A comunicação verbal sobre as demandas clínicas se faz essencial neste contexto. A

HD é procedimento complexo, exige equipamentos precisos, materiais específicos e

profissionais devidamente treinados. Envolve a equipe multiprofissional do CTI e da HD para

que possam trabalhar em conjunto, pois a primeira assiste diretamente o paciente e, a segunda,

detém o domínio total da especialidade, portanto, é necessária a associação entre as partes

para potencializar as ações (SECCO E CASTILHO 2007).

Page 57: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

57

Através do trabalho em equipe inicia-se a formação de vínculos que é uma ferramenta

facilitadora do dia a dia de trabalho. A noção de vínculo nos faz refletir sobre a

responsabilidade e compromisso (MONTEIRO; FIGUEIREDO; MACHADO, 2009).

Destaca-se a necessidade do desenvolvimento de um trabalho conjunto, no qual todos

os profissionais se envolvam em algum momento da assistência e, agindo de acordo com o

seu nível de competência específico, formem um saber capaz de dar conta da complexidade

dos problemas e necessidades de saúde dos indivíduos e da coletividade (COLOMÉ, LIMA E

DAVIS, 2009).

Buscamos neste estudo observar o trabalho em equipe e as relações pessoais sendo

intermediadas pela comunicação. De acordo com Silva 2012 a comunicação não verbal

representa cerca de 93% de nossa comunicação e, numa interação, apenas 7% do significado é

transmitido pelas palavras, que 38% é transmitido por sinais paralinguísticos e que 55% é

transmitido por sinais do corpo, sendo assim justifica-se a importância de observar também a

comunicação não-verbal.

Silva, 2012, afirma ainda:

Nas relações interpessoais, a comunicação não verbal desempenha quatro funções

básicas: complementa, ratifica e reforça a comunicação verbal; substitui a

comunicação verbal; contradiz a comunicação verbal; e demonstra sentimentos.

A comunicação não-verbal pode ser classificada de acordo com as suas dimensões,

apresentadas a seguir:

- Paralinguagem: os efeitos dos sinais vocais

A paralinguagem o sinal não-verbal mais emitido na comunicação não-verbal. Está

presente todo o momento. Às vezes conscientemente manipulamos o tom de voz de modo que

a mensagem vocal contradiz a mensagem verbal.

O tom de voz variou de acordo com as situações vivenciadas. Durante a própria

entrevista o participante de pesquisa abaixou o seu tom de voz para falar da relação com outro

colega, caracterizando com receio que alguém pudesse ouvi-lo.

Os sinais vocais não-verbais exercem grande influência nos ouvintes de acordo com as

informações e com as respostas apresentadas e na tonalidade de voz usada.

Page 58: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

58

Knapp e Hall afirmamque os sinais verbais são muito importantes em vários

contextos. Relatam ligação entre sinais vocais e habilidade para identificar traços da

personalidade e seu impacto social.

Os sinais não-verbais também incluem rir, gritar, sussurrar, roncar, berrar, gemer,

choramingar, suspirar e vários outros sons. Esses sinais foram empregados em vários

momentos das sessões de HD.

- Cinesia: o efeito dos gestos e da face

A cinesia foi expressa em vários momentos observados. Para Knapp os gestos são

utilizados para comunicar uma ideia, intenção ou sentimento. Muitas ações são baseadas nos

movimentos dos braços e das mãos na área da face e da cabeça. Os gestos desempenham

diferentes funções onde podem substituir as falas, regular o fluxo das interações, manter a

atenção, dar ênfase ao discurso e ajudar a caracterizar e memorizar o conteúdo do discurso. O

autor diz ainda, que as ações não-planejadas decorrentes de uma emoção não podem ser

consideradas gestos, pois não fazem parte de uma mensagem planejada. Assim para Knapp

gestos são ações desenvolvidas pelo emissor onde este tem a despeito da sua vontade/emoção

quer atribuir uma mensagem.

Os gestos nos ajudam a comunicar de diferentes maneiras: substituem a fala quando

não podemos ou não queremos falar, dá ênfase a fala, estabelece e mantem a ação entre outras

funções. No cenário os gestos foram utilizados para não expor algumas situações ao cliente

que se encontrava lúcido no setor e para não provocar ruídos adicionais no CTI.

- Proxêmia: o efeito da posição dos corpos

Está relacionada ao uso do espaço, a distância mantida entre os interlocutores da

relação, o que sugere o tipo de relação que existe entre as duas pessoas, suas preferências,

status e relação de poder e interpessoal.

Nas relações observadas o técnico de enfermagem da HD assume o cliente e

permanece a beira leito, sendo assim a equipe de enfermagem do setor, só se aproxima

quando solicitada, na ocorrência de alarmes, para mobilização do cliente, verificação de

glicemia capilar. Na maioria das sessões observadas a equipe de enfermagem evita dirigir

ações para o cliente em HD.

Page 59: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

59

- Tacésica: os efeitos do toque na comunicação

Os toques durante a interação humana podem ser rápidos e aparentemente

imperceptíveis, porém são carregados de significados. É a maneira mais básica e primitiva de

comunicação.

Knapp e Hall destacam que o toque é um aspecto importante no relacionamento

humano, pois desempenha o papel nos atos de encorajar, expressar ternura e mostrar apoio

emocional. O toque funciona como qualquer outra mensagem: pode suscitar reações positivas

e negativas dependendo do relacionamento das pessoas e das circunstâncias. Os autores

classificam o toque em:

- Toque como afeto positivo: envolve apoio, reconforto, apreciação, afeto. Um

exemplo é o toque do enfermeiro como reconfortante e relaxante. Se o toque for sentido como

indicação de cordialidade, pode gerar sentimentos positivos como a disposição do cliente a

falar e melhora nas suas atitudes. O toque em conjunção com outros fatores, como as

revelações pessoais de quem realizar o toque pode fazer com o cliente aumente suas

revelações com o toque.

- Toque como afeto negativo: toques que expressem atitudes negativas como bater,

esmurrar ou segurar fortemente o braço de outra pessoa.

- Toque como brincadeira: é utilizado para reduzir a seriedade de uma mensagem.

- Toque como influência: o objetivo do toque é persuadir uma pessoa a fazer algo, está

relacionada à influência.

- Toque como gerenciamento de interação: utilizado para atrair a atenção de alguém.

- Toque como receptividade interpessoal: significa que a intensidade da interação é

elevada ou nível de envolvimento com quem está interagindo é alto.

- Toque como algo acidental: toque não intencional.

- Toque como tarefa ou toque funcional/profissional: são relacionados à realização de

uma tarefa.

- Toque como cura: não pode ser explicado por nenhuma terapia médica ou

fisiológica. Está relacionado a crença religiosa, emoções exacerbadas e confiança no curador.

Page 60: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

60

Na HD no CTI o toque foi observado em três momentos distintos: a) No cliente; b)

Entre profissionais; c) Autotoque.

a) No cliente – é realizado para executar ações de enfermagem, está relacionado a

procedimentos, por exemplo, instalação da HD, checagem de eletrodos aderidos ao

tórax do cliente, conferição de acúmulo de líquido em pernas e pés. O toque está

relacionado ao fazer prático. Em apenas uma sessão foi observado o toque como afeto

positivo, onde o técnico de enfermagem da HD interagiu positivamente com o cliente

através do toque, onde este se mostrou preocupado com início de mais um terapia no

cenário de complexidade. O toque trouxe confiança e encorajamento para vivenciar

esta nova etapa de tratamento.

b) Entre profissionais – foi observado o toque de brincadeira e como gerenciamento de

interação para realização de alguns procedimentos. É uma ação adotada para

aproximação entre profissionais.

c) Autotoque – caracterizam-se por atitudes nervosas como roer unhas, cutucar o rosto,

torcer o cabelo e acariciar-se. São observados quando há desconforto psicológico e

ansiedade. Essas ações foram observadas em casos de não identificação do problema

de alarmes de bombas infusoras, da máquina de HD e no manuseio com o cateter.

As competências no domínio do processo de construção de conhecimentos, em

abrangência e especificidade de campos ou áreas de conhecimento, possibilitam trazer novos

conhecimentos importantes para o avanço de especialidades ou áreas, incluso, a especialidade

de Enfermagem em Nefrologia (ERDMANN 2009).

O discurso dos técnicos de enfermagem da HD enfatizam a política e a hierarquia no

processo de se comunicar. A hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva é vista como um

fator extra no processo de trabalho e por ser realizado um serviço terceirizado só pode ser

realizado mediante a autorização prévia do supervisor do setor.

As relações entre as equipes de enfermagem não são conflituosas, porém neste estudo,

evidenciou-se a necessidade de uma interação maior para mediar o cuidado a pessoa em

sessão de HD no CTI.

Page 61: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

61

As equipes trabalham fragmentadas, cada uma executa suas ações, mas trocam poucas

informações. Durante o término das sessões o profissional designado para continuidade do

cuidado não tem ciência, por exemplo, de alguns dados básicos como o volume retirado.

O técnico de enfermagem da HD na ocorrência de intercorrências interdialíticas se

reportou ao enfermeiro do CTI ou solicitou a presença do mesmo, apesar de iniciarem o

manejo clínico do cliente.

A equipe de enfermagem deve adotar métodos de análise de risco e garantir a

qualidade do serviço, identificar os riscos e as situações que propiciam a sua ocorrência, com

a intenção de buscar alternativas para minimizar as falhas (SOUZA, 2013).

Estudos demonstram que as alterações hemodinâmicas são as principais complicações

que surgem nos clientes durante a terapia hemodialítica intermitente em função da

instabilidade dos pacientes críticos (SILVA, THOMÉ, 2009).

O avanço e o incremento tecnológico na terapia intensiva têm exigido cada vez mais a

capacitação de pessoal e a gestão dos recursos tecnológicos disponíveis, cada vez mais

modernos, considerando que os níveis de complexidade tecnológica refletem a natureza das

tarefas a serem executadas pelos profissionais de saúde, para o bom funcionamento desses

recursos e a segurança do paciente (SILVA, CUNHA, MOREIRA, 2011).

Portanto, a assistência em terapia intensiva é considerada como uma das mais

complexas do sistema de saúde. Afinal, os clientes mais graves das unidades hospitalares são

alocados nas CTI, demandando o uso inevitável de tecnologias avançadas e, principalmente,

exigindo pessoal capacitado para tomada de decisões rápidas e adoção de condutas imediatas

(INOUE, et al; 2009).

Um das necessidades de serviço é o estabelecimento de rotina para a realização de

alguns procedimentos para o bom funcionamento do setor. Pode ser estabelecido um

horário/turno entre as equipes de terapia intensiva e nefrologia para realização de HD, o que

facilitaria o gerenciamento da assistência.

Sobre as complicações mais frequentes na sessão de HD observadas, a pesquisa

corrobora com os outros estudos na áreas sendo a hipotensão e hipertensão arterial as mais

frequentes. Os estudos citam ainda: cãibras, náuseas, vômitos, cefaléia, arritmias cardíacas,

prurido, dores lombar e torácica. As complicações menos comuns incluem síndrome do

Page 62: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

62

desequilíbrio da diálise, reações de hipersensibilidade, hipoxemia, hemorragias, convulsões,

reações pirogênicas, hemólise e embolia gasosa. Essas complicações podem ser casuais e/ou

de fácil manejo, o que depende das condições clínicas da pessoa. Todavia, elas podem ser até

mesmo fatais o que evidencia a necessidade de uma assistência de enfermagem atenta e

precisa aos clientes durante a HD (DALLÉ, LUCENA, 2012; NASCIMENTO, MARQUES,

2005; SILVA, THOMÉ, 2009, FAVA et al, 2006).

A administração de medicações antes e durante a HD ainda permeia dúvidas na

assistência de enfermagem e nas prescrições médicas em relação a ajuste de dosagem,

depuração na HD, eficácia da medicação e aprazamento principalmente de antibióticos.

Como a hemodiálise é realizada de acordo com a demanda de funcionários, máquinas

e com as necessidades do setor, pode ocorrer de serem administrados anteriores à HD e não

ter a dose terapêutica administrada. É importante que a equipe da terapia intensiva e da

nefrologia se comunique sobre medicações para garantir que a dose correta foi administrada.

Da mesma forma que muitos medicamentos são normalmente excretados na sua

totalidade ou em parte pelos rins, muitos medicamentos são excretados durante a hemodiálise.

É necessário monitorar os níveis sanguíneos e teciduais desses medicamentos para garantir

que sejam mantidos sem acúmulo tóxico. Como alguns medicamentos são retirados do sangue

durante a HD o médico pode precisar ajustar a dosagem (STAUDT, 2010).

Com relação à antibioticoterapia sabe-se que entre as intervenções importantes de

enfermagem estão: a administração e manutenção adequada das doses, diluição e horários

corretos das infusões dessas drogas, em especial relacionados à farmacodinâmica e

farmacocinética dos variados tipos de antibióticos, mas que no geral obedecem às regras

básicas: é necessário que se obtenha a concentração sérica ideal, variando ao longo do tempo,

para que haja a absorção da droga no tecido alvo (sítio de infecção) e ocorra o efeito

terapêutico esperado, ou seja, a destruição ou inibição da proliferação bacteriana, quando essa

cascata não ocorre, aumentamos a probabilidade, de apenas submeter o organismo aos efeitos

colaterais dessas drogas e aumentar a resistência bacteriana (SORIA; PECORATO, 2012).

Sugere-se a criação ou adaptação de um protocolo de administração de drogas

infusionais em HD com a colaboração da equipe multiprofissional: médicos e enfermeiros

intensivistas e nefrologistas e farmacêuticos para que sejam formuladas instruções para basear

Page 63: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

63

a prática correta e objetiva dos cuidados e intervenções aos pacientes submetidos à HD em

CTI.

Através do trabalho em equipe inicia-se a formação de vínculos que é uma ferramenta

facilitadora do dia a dia de trabalho. A noção de vínculo nos faz refletir sobre a

responsabilidade e compromisso (MONTEIRO; FIGUEIREDO; MACHADO, 2009).

Destaca-se a necessidade do desenvolvimento de um trabalho conjunto, no qual todos

os profissionais se envolvam em algum momento da assistência e, agindo de acordo com o

seu nível de competência específico, formem um saber capaz de dar conta da complexidade

dos problemas e necessidades de saúde dos indivíduos e da coletividade (COLOMÉ, LIMA E

DAVIS, 2009).

Page 64: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

64

Page 65: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

65

CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Investigar a prática cotidiana de comunicação verbal e não-verbal configurou-se na

descoberta de como a comunicação está em todos os lugares e como ela ainda não foi

percebida, na sua integralidade, pela equipe assistencial.

A utilização dos estudos de Knapp e Hall para desnivelar a comunicação não-verbal se

faz válida, principalmente quando é atrapalhado com outros estudos sobre a comunicação na

interação humana.

Este trabalho fortalece o grupo de pesquisa Comunicação em Alta Complexidade

trazendo mais um relevo nas diferentes formas de se comunicar.

Muitos estudos tem dado ênfase a comunicação, prioritariamente na relação entre

profissionais e cliente. Buscamos identificar como a comunicação entre a equipe de

enfermagem intermedia o cuidado quando o cliente está em sessão de hemodiálise à beira

leito.

Dimensionar como a nossa relação com o outro colega influencia na assistência foi de

grande relevância. Essa pesquisa pode ainda ser estendida e/ou direcionada especialmente aos

enfermeiros intensivistas que são os responsáveis técnicos pela assistência nesse cenário.

O estudo traz como limitações o horário que nesta instituição de saúde são realizadas

as HD. Estas, quando previamente agendadas, isto é, sem caracterizar situações de urgência e

emergência, são aprazadas para o período noturno.

Indubitavelmente neste horário, em sua maioria, os profissionais estão menos

susceptíveis à gerar a comunicação verbal o que é facilmente expresso pela comunicação não-

verbal.

Os técnicos de enfermagem da HD ainda não são percebidos como membro da equipe

multiprofissional. Estes não tem um lugar ou assento no setor e permanecem grande parte do

horário de pé junto ao leito ou sentados na escada de uso no setor. No horário das refeições

estes, na sua maioria ausentam-se do setor. No período diurno são substituídos por outro

técnico especializado em HD, no período noturno alguns ausentam-se sob o pretexto de “ser

rápido” sem comunicar a equipe de enfermagem, outros pedem autorização para o enfermeiro

plantonista.

Page 66: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

66

Acentua-se que o enfermeiro articula o trabalho dos diferentes profissionais que fazem

parte da equipe de saúde e é responsável por todos os profissionais de nível médio/técnico.

A percepção dos técnicos de enfermagem da HD é que a comunicação deve ser feita

de maneira positiva para evitar conflitos à beira leito. Entendem-se como profissionais

subordinados por atuarem como terceirizados e não são integrados com os a equipe de

enfermagem do CTI.

A enfermagem é uma profissão que ainda luta para valorização e reconhecimento na

sociedade. Como passo inicial precisa se reconhecer com uma profissão de valor e essencial

para o serviço de saúde. Fragmentações internas e micropolíticas locais impedem o

fortalecimento da profissão. É necessário fortalecer o eixo da comunicação entre a equipe de

enfermagem nas sessões de HD no CTI para garantir o cuidado com qualidade.

Page 67: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

67

REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, A.L.C.L; A Unidade de Terapia Intensiva. Enfermagem em Unidade de Terapia

Intensiva, São Paulo: 2011; 2 edição: 17-39

ABRAHÃO, S.S. Determinantes de falhas da diálise peritoneal no domicílio de crianças e

adolescentes assistidos pelo hospital das clínicas da UFMG. Dissertação. Universidade

Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2006.

ALMEIDA, M. A nossa herança límbica. Revista portuguesa de psicologia.

ARAUJO, A.C.S.; ESPIRITO SANTO, E. A importância das intervenções do enfermeiro nas

intercorrências durante a sessão de hemodiálise. Caderno Saúde e Desenvolvimento | ano 1

n.1 | jul- dez 2012.

ARAÚJO, I.M.A.; SILVA, R.M.; BONFIM, I.M.; FERNANDES, A.F.C. A comunicação da

enfermeira na assistência de enfermagem à mulher mastectomizada: um estudo de Grounded

Theory. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. jan-fev 2010

ARAÚJO, S.T.C. Os sentidos corporais dos estudantes no aprendizado da comunicação

não verbal do cliente na recepção pré-operatória: Uma semiologia da expressão através

da sociopoética [tese de doutorado]. Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna

Nery/UFRJ; 2000.

BAGGIO, M.A.; CALLEGARO, G.D.; ERDMANN, A.L. Relações de “não cuidado” de

enfermagem em uma emergência: que cuidado é esse? Esc Anna Nery (impr.)2011 jan-mar;

15 (1):116-123.

BARBOSA, G.S. de, Delineando o cuidado de enfermagem a partir da práxis do

enfermeiro de hemodiálise: a busca pela proficiência e suas contribuições à oferta do

cuidado. Dissertação (mestrado) – UFRJ/ EEAN/ Programa de Pós-graduação em

Enfermagem, 2011.

BARBOSA, G.S. de; VALADARES, G.C. Experimentando atitudes e sentimentos: o

cotidiano hemodialítico como base para o cuidar em enfermagem. Esc Anna Nery Rev

Enferm 2009; 13 (1): 17-23.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.

BARROS, L.C.N; et al. Insuficiência renal aguda em pacientes internados por insuficiência

cardíaca descompensada – Reincade. J Bras Nefrol 2012;34(2):122-129.

BISTAFA, P.; et al. A enfermagem no Brasil no contexto da força de trabalho em saúde:

perfil e legislação Revista Brasileira de Enfermagem, vol. 62, núm. 5, septiembre-octubre,

2009, pp. 771-777 Associação Brasileira de Enfermagem Brasília, Brasil.

BRAGA E.M.; SILVA M.J.P. Comunicação competente – visão de enfermeiras especialistas

em comunicação. Acta Paul. Emferm. 2007; 20(4):410-4.

BRASIL. Política Nacional de Humanização. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília:

Ministério da Saúde, 2004.

Page 68: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

68

BRASIL. Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. Secretaria de Ciência e

Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Brasília:

Ministério da Saúde, 2008.

BRASIL. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não

transmissíveis DCNT no Brasil 2011-2022. Secretaria de Vigilância em Saúde.

Departamento e Análise de Situação de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011, 148 p.: il.

– (Série B. Textos Básicos de Saúde).

BRASIL. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Portaria nº 389 de 13 de março de 2014.

BROCA, P.V.; FERREIRA, M.A. A equipe de enfermagem e a comunicação não verbal. Rev

Min Enferm. 2014 jul/set; 18(3): 697-702.

BROCA, P.V.; FERREIRA, M.A. Equipe de enfermagem e comunicação: contribuições para

o cuidado de enfermagem. Rev Bras Enferm, Brasilia 2012 jan-fev; 65(1): 97-103.

CABRAL, A. L. L. V.; HEMÁEZ, A. M.; ANDRADE, E. I. G.; CHERCHIGLIA, M. L.

Itinerários Terapêuticos: o estado da arte da produção científica no Brasil. Ciência & Saúde

Coletiva, 16(11): 4433-4442, 2011.

CAMELO, S.H.H. Competência profissional do enfermeiro para atuar em Unidades de

Terapia Intensiva: uma revisão integrative. Rev. Latino-Am. Enfermagem jan.-fev.

2012;20(1):[09 telas]. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae.

CLARKSON, M. R.; BRENNER, B. M. O Rim. 7.ed. Porto Alegre: ARTMED, 2007.

CNS – Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012.

Disponível em: <http://www.conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf>. Acesso

em: 16/11/14.

COSTA, M.P.F. Ressuscitação cardiopulmonar: aspectos da comunicação e do tempo. In:

Silva MJP, organizadora. Qual o tempo do cuidado? Humanizando os cuidados de

enfermagem. São Paulo: Centro Universitário São Camilo: Loyola; 2004. p. 111-22

CUSTODIO F.B.; LIMA, E.Q. Hemodiálise estendida em lesão renal aguda. J Bras Nefrol

2013;35(2):142-146. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jbn/v35n2/v35n2a10.pdf>.

Acesso em: 14 out 2015.

FRANCO, T.B.; in Pinheiro, R. & Matos, R.A. “Gestão Em Redes”, LAPPIS-IMS/UERJ-

ABRASCO, Rio de Janeiro, 2006.

FUJII, C.D.C; OLIVEIRA, D.L.L.C. Factors that hinder of integrality in dialysis care. Rev

Lat Am Enfermagem [Internet] 2011 19(4):953-9. Disponível em:

<http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692011000400014>. Acesso em: 30 set 2014.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA. O perfil

da enfermagem no Brasil. 2015.

GOMES, A.M.T.; OLIVEIRA, D.C. Estudo da estrutura da representação social da autonomia

profissional em enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2005;39(2):145-53.

GELBCKE, F.L.; et al. A práxis da enfermeira e a integralidade no cuidado. Enfermagem em

Foco 2011; 2(2):116-119

Page 69: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

69

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA. PROTOCOLO ASSISTENCIAL DE

LESÃO RENAL AGUDA. Protocolo Assistencial Hospital Universitário de Santa Maria.

2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Mudança demográfica

no Brasil no início do século XXI. Subsídios para as projeções da população. Rio de

Janeiro, 2015.

JUNIOR, J. E. R. Doença Renal Crônica: definição, epidemiologia e classificação. Jornal

Brasileiro de Nefrologia, [s.i], v. 26, n. 3, supl.1, ago. 2004.

JUNQUEIRA, A.C.P. Informação e prevenção à doença renal: uma avaliação de mérito de

campanha de saúde / Ana Cristina Pereira Junqueira. – 2013.

KNAPP, L.M.; HALL J.A. Comunicação não-verbal na interação humana. São Paulo: JSN,

Editora, 1999.

KOEPPE, G.B.O.; ARAÚJO, S.T.C. Comunicação como temática de pesquisa na Nefrologia:

subsídio para o cuidado de enfermagem. Acta Paul Enferm. 2009;22(Especial-

Nefrologia):558-63.

LEITE, M.A, VILA V.S.C. Dificuldades vivenciadas pela equipe. Rev Latino-am

Enfermagem 2005 março-abril; 13(2):145-50. Acesso em 08 jul 2015 Disponível em:

www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em 20 out 2014.

LIMA, S.B.S.; ERDMANN, A.L. A enfermagem no processo da acreditação hospitalar em

um serviço de urgência e emergência. Acta Paul Enferm 2006;19(3):271-8.

LUGON, J.R. Doença renal crônica: um problema de saúde pública. J Bras Nefrol 2009;31

(Supl 1):2-5).

MACHADO, M.H.; VIEIRA, A.L.S.; OLIVEIRA, E. Construindo o perfil da enfermagem.

Revista Enfermagem em Foco 2012; 3(3): 119-122. Disponível em:

http://enfermagematualizada.com/UserFiles/File/Artigo/ARTIGO_REVISTA_COFEN.pdf>.

Acesso em: 07 jul 2015

MARCONI, M. C.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MARQUES, G.Q.; LIMA, M.A.D.S. Organização tecnológica do trabalho em um pronto

atendimento e a autonomia do trabalhador de enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2008;

42(1):41-7. Disponível em: www.ee.usp.br/reeusp. Acesso em: 10 abr. 2014.

MINAYO, M. C. S. O desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São

Paulo: HUCITEC, 2010.

MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre (RS): Sulina; 2006.

MOSSINI, S.A.G. Qualidade da água para hemodiálise em UTI. Vig Sanit Debate

2014;2(3):37-43. Disponível em: https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php

/visaemdebate. Acesso em: 18 ago 2015.

(NKF KDOQI). The National Kidney Foundation Kidney Disease Outcomes Quality

Initiative. Are You at Increased Risk for Cronic Kidney Disease? 2010. Disponível em:

<http://www.kidney.org/professionals/kdoqi/>. Acesso em 18 out. 2014.

Page 70: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

70

NONINO, E.A.P.M.; ANSELMI, M.L, DALMAS, J.C. Avaliação da qualidade do

procedimento curativo em pacientes internados em um Hospital Universitário. Rev Latino-

Am Enferm 2008 [acesso em 26 out 2015]. Disponível em: <www.eerp.usp.br/rlae>. Acesso

em: 15 out 2015

OLIVEIRA, S.M.R. A Comunicação Não-Verbal – Estratégia de Ensino da Língua

Estrangeira – Espanhol. Dissertação. Faculdade de Letras Universidade do Porto 2013.

OLUBORODE, O. Effective communication and teamwork in promoting patient safety.

Lagos, Nigeria: Society for Quality in Health Care in Nigeria; 2012. Disponível em:

<http://sqhn.org/web/articles/9524/1/Effective-Communication-and-Teamwork-in-Promoting-

Patient-Safety/Page1.html>. Acesso em: 17 mar 2015.

PEDUZZI, M.

PEDUZZI, M. Trabalho em equipe. Dicionário da educação profissional em saúde. ENSP –

FIOCRUZ. 2009. Disponível em: <http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes

/traequ.html>. Acesso em: 17 mar 2015.

PONTES, A.C.; LEITÃO, I.M.T.A.; RAMOS, I.C. Comunicação terapêutica em

Enfermagem: instrumento essencial do cuidado. Rev Bras Enferm, Brasília 2008 maio-jun;

61(3): 312-8.

POTT, F.S.; et al. Medidas de conforto e comunicação nas ações de cuidado de enfermagem

ao paciente critic. Rev Bras Enferm, Brasília 2013 mar-abr; 66(2): 174-9. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672013000200004>.

Acesso em: 17 mar 2015.

RODRIGUES, T.A, BOTTI N.C.L. Cuidar e o ser cuidado na hemodiálise. Acta Paul

Enferm. 2009;22(Especial-Nefrologia):528-30. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf

/ape/v22nspe1 /15.pdf>. Acesso em 21 out 2015.

SCHELLES, S. A importância da linguagem não-verbal nas relações de liderança nas

organizações. Rev. Esfera. 2008; ND(1):1-8.

SCHRAIBER, L.B; MOTA, A; NOVAIS, H.M.D. Tecnologias em saúde. ENSP – FIOCRUZ

2009. Disponível em: <http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/tecsau.html>.

Acesso em: 21 out 2015.

SESSO, R. Epidemiologia da Doença Renal Crônica no Brasil. In: BARROS, E.; MANFRO,

R. C.; GONÇALVES, L. F. S. Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. Porto Alegre:

ARTMED, 2006. Cap.3, p. 39.

SILVA, A.S, et al. Percepções e mudanças na qualidade de vida de pacientes submetidos à

hemodiálise. Rev Bras Enferm, Brasília 2011 set-out; 64(5): 839-44. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/re ben/v64n5/a06v64n5.pdf>. Acesso em: 25 set 2015.

SILVA, E.B.C; et al. Problemas na comunicação: uma possível causa de erros de medicação.

Acta Paul Enferm. 2007; 20(3):272-6.

Page 71: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

71

SILVA, M.J.P.; ARAÚJO, M.M.T. Estratégias de comunicação utilizadas por profissionais de

saúde na atenção à pacientes sob cuidados paliativos. Rev Esc Enferm USP 2012; 46(3):626-

32. Disponível em: www.ee.usp.br/reeusp/. Acesso em 12 set 2015.

SILVA, M.J.P. Comunicação tem remédio. São Paulo: Loyola, 2005.

SILVA, M.J.P. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em

saúde. 10a.ed. São Paulo (SP): Loyola; 2012.

SILVA, M. J. P. Papel da comunicação na humanização da atenção à saúde. Rev Bioética.

Vol. 10, nº2, 2009. Disponível em:< revistabioetica.cfm.org.br>. Acesso em: 10 nov. 2014.

SILVEIRA, M.R.; SENA R.R.; OLIVEIRA, S.R. O processo de trabalho das equipes de

saúde da família: implicações para a promoção da saúde. Rev Min Enferm., 2011,15(2):196-

201.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. Censo de diálise SBN 2013.

THOMÉ, S. F.; et al. Doença Renal Crônica. In: BARROS, E.; MANFRO, R. C.;

GONÇALVES, L. F. S. Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. Porto Alegre:

ARTMED, 2006. Cap. 24, p. 381.

TIGULINI, R.S; MELO M.R.A.C. A comunicação entre enfermeiro, família e paciente

crítico. Anais do 8º Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem [evento na

internet] 2002 Out; São Paulo, Brasil .Disponível em: <http://www.proceedings.

scielo.br/scielo.php?pid=MSC00000052002000200047&script=s ci_arttext>. Acesso em

05 jul 2015.

ZWAREBSTEIN, M.; GOLDMAN, J.; REEVES, S. Interprofessional collaboration: effects

of practice-based interventions on professional practice and healthcare outcomes. Cochrane

Database Syst Rev. 2009;(3):CD000072.

Page 72: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

72

APÊNDICE A

SOLICITAÇÃO À INSTITUIÇÃO

De: Thatielly Gomes França

Para: Coordenador (a) da Unidade Hospitalar

Eu, Thatielly Gomes França, mestranda da EEAN/UFRJ, venho apresentar a esta

Direção o Projeto de Pesquisa intitulado Hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva: A

Comunicação entre a Equipe de Enfermagem. Objetivos: Observar a comunicação entre

profissionais de enfermagem envolvidos no cuidado do cliente em hemodiálise; Identificar os

tipos de comunicação verbal e não-verbal utilizados por esses profissionais de enfermagem

na fase de hemodiálise como tratamento complementar ao cliente; Analisar a comunicação

sobre as demandas clínicas do cliente durante a hemodiálise estabelecida entre os

profissionais envolvidos no cuidado. Saliento que a coleta de dados contará com a aplicação

de um formulário para identificação dos sujeitos (Apêndice C) nesta Instituição.

Posteriormente, serão realizadas entrevistas semiestruturadas com os clientes e enfermeiros,

após o consentimento livre e esclarecido deles.

Ressaltamos que não serão utilizadas imagens visuais produzidas por filmagens e/ou

fotografias das unidades, dos profissionais e dos clientes. O nome dos participantes será

mantido em sigilo e as informações serão utilizadas somente para fins de investigação e nas

publicações delas decorrentes. Destaca-se que a investigação não tem caráter avaliativo

dos serviços e das práticas profissionais. Thatielly Gomes França é membro do Núcleo de

Pesquisa em Enfermagem Hospitalar – NUPENH do Departamento de Enfermagem Médico-

Cirúrgica, vinculado à Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.

Feitas estas considerações, venho solicitar autorização para realizar a coleta de

dados envolvendo clientes e enfermeiros dessa Instituição de Saúde. Para tanto, segue

anexada a estes esclarecimentos a Declaração de Ciência preconizada pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da Instituição em que se situa o referido Cenário do Estudo. No aguardo da

autorização, subscrevo-me, agradecendo antecipadamente pela atenção. Para eventuais

dúvidas, segue o meu endereço eletrônico e telefone.

Rio de Janeiro, ___ de _______ de 2014.

Endereço eletrônico: [email protected] Telefone: (21) 98622-7052

Page 73: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

73

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O (A) Sr (a) está convidado(a) a participar da pesquisa intitulada Hemodiálise

Externa ao Serviço de Nefrologia: A Comunicação entre Profissionais de Enfermagem

desenvolvida como projeto de mestrado. Objetivos: Observar a comunicação entre

profissionais de enfermagem envolvidos no cuidado do cliente em hemodiálise; Identificar os

tipos de comunicação verbal e não-verbal utilizados por esses profissionais de enfermagem

na fase de hemodiálise como tratamento complementar ao cliente; Analisar a comunicação

sobre as demandas clínicas do cliente durante a hemodiálise estabelecida entre os

profissionais envolvidos no cuidado. A pesquisa terá duração de 3 anos, com o término

previsto para o segundo semestre do ano 2015.

Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum

momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Assim, cada pessoa

envolvida na pesquisa receberá um código com uma letra e número para confidencialidade

das respostas. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados

serão divulgados em eventos e/ou revistas científicas.

A sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você poderá recusar-se

a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar o seu consentimento. A sua

recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição.

Sendo assim, sua participação nesta pesquisa consistirá em participar de uma entrevista. A

entrevista será gravada em gravador de voz para posterior transcrição. Tais dados serão

destruídos após cinco anos. Assumimos também, o compromisso de retornar com a entrevista

transcrita para que o (a) Sr (a) possa confirmar o teor dos depoimentos.

O (A) Sr (a) não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. Os

eventuais riscos relacionados com a sua participação são significativamente restritos, podendo

ocorrer no âmbito das emoções, já que não há como prever, na totalidade, o efeito que cada

pergunta pode causar, apesar de estas não terem um cunho inquisidor, ou, ainda, um perfil

compatível com alguma forma de constrangimento.

Os benefícios relacionados com a sua participação serão: aumentar o conhecimento

científico para a área de enfermagem, além de possibilitar subsídios para fortalecer a

comunicação na área de enfermagem em nefrologia.

Page 74: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

74

O (A) Sr (a) receberá uma cópia deste termo, onde constam o e-mail e o telefone do

pesquisador responsável, da sua orientadora, bem como o endereço e o telefone das

instituições envolvidas, podendo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora

ou a qualquer momento. Desde já agradecemos!

_________________________________

Thatielly Gomes França

e-mail: [email protected]

cel: (21) 98622-7052

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY – UFRJ

Comitê de Ética e Pesquisa – Rua Afonso Cavalcanti – Praça Onze

Tel: (21) 2293 8148 – Ramal: 228 – www.eean.ufrj.br

“O Comitê de Ética é o setor responsável pela permissão da pesquisa e avaliação dos seus

aspectos éticos. Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador

responsável, comunique-se com o Comitê de Ética da Escola pelo telefone supracitado.”

DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO E ASSINATURA

Li as informações acima e entendi o propósito deste estudo assim como os benefícios e

riscos potenciais da participação do mesmo. Tive a oportunidade de fazer perguntas e todas

foram respondidas satisfatoriamente. Eu, por intermédio deste, dou livremente meu

consentimento para participar deste estudo. Recebi uma cópia assinada deste formulário de

consentimento.

_____________________, ____ de ___________________ de 2014.

Page 75: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

75

APÊNDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA SITUACIONAL COM OS PROFISSIONAIS DE

ENFERMAGEM

Entrevistador:______________________________________________

Número:______________

Data:______/______/_______

Duração:__________________

CARACTERÍSTICAS PESSOAIS

Iniciais da Instituição:_____

Iniciais do Nome/pseudônimo:__________ Atua/Trabalha em outro

serviço:__________________________

Tempo de formado:

Possui especialização:

Quanto tempo trabalha no setor?

Conhece a comunicação não verbal:

Roteiro das questões semiestruturadas para entrevista com o profissional

1. Como você define sua comunicação com o cliente hoje?

2. Dê exemplos de situações marcantes de comunicação não verbal do cliente durante o

cuidado de hoje.

3. Dê exemplos de situações marcantes de sua comunicação com o cliente durante o

cuidado de hoje.

4. Como você caracteriza sua comunicação com o profissional de enfermagem?

5. Quem é o responsável pela HD neste cenário?

Page 76: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

76

APÊNDICE D

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

Comunicação entre profissionais de Enfermagem

VERBAL NÃO-VERBAL

Sim Não Tema Paraverbal:

Tom de voz

(alto/baixo)

Cinésica

Expressão

facial/gestos

Proxêmica

Eixo

Sociofugo

/Sociopetro

Tacésica

Toque

afetivo/

instrumental

Prof HD

Prof CTI

Page 77: THATIELLY GOMES FRANÇA - UFRJ

77