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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
THATIELLY GOMES FRANÇA
HEMODIÁLISE NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: a comunicação entre a equipe
de enfermagem
RIO DE JANEIRO
2015
2
Thatielly Gomes França
HEMODIÁLISE NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: a comunicação entre
profissionais de enfermagem
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós Graduação em Enfermagem da Escola de
Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Profª Drª Sílvia Teresa Carvalho de Araújo
RIO DE JANEIRO
2015
3
HEMODIÁLISE NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: A
COMUNICAÇÃO ENTRE A EQUIPE DE ENFERMAGEM
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
da Escola de Enfermagem Anna Nery – Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Aprovada por:
Presidente: Profª Drª Sílvia Teresa Carvalho de Araújo - Orientadora
1ª Examinadora: Profª Drª Sofia Sabina Lavado Huarcaya
2ª Examinadora: Profª Drª Karla de Melo Batista
1ª Suplente: Profª Drª Glaucia Valente Valadares
4
Dedicado a minha mãe e irmãs que são as minhas
maiores incentivadoras. E ao meu pai (in
memorian) que indiretamente me fez trilhar pelos
caminhos da profissão.
5
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar à Jeová que nos mantém em pé quando não temos mais forças e sempre
nos mostra que precisamos perseverar e ter fé.
Aos meus pais Alexandre e Eliane pela criação e pela incursão do amor à leitura e aos
estudos.
Às minhas irmãs Thaís e Thatiany por cada alegria, afeto, companheirismo. Por sempre
acreditarem em mim.
À Professora Doutora Sílvia Teresa Carvalho de Araújo por acreditar no meu potencial, me
presentear com a sua orientação e por ser um exemplo de conhecimento e humildade, por
toda sua paciência e dedicação ao longos desses dois anos.
Aos amigos da vida, aos colegas de trabalho, em especial à Lívia Câmara que me apoiou
incansavelmente durante esse percurso.
A todos os profissionais de enfermagem que acreditam que o caminho para a construção de
uma enfermagem melhor está nos estudos.
A todos pacientes que já confiaram a mim o cuidado.
A todos que me ajudaram direta e indiretamente para que eu chegasse até aqui.
6
“Se você falar com um homem numa
linguagem que ele compreende, isso
entra na cabeça dele. Se você falar com
ele em sua própria linguagem, você
atinge seu coração”.
Nelson Mandela
7
RESUMO
FRANÇA, T.G. Hemodiálise no centro de terapia intensiva: a comunicação entre profissionais
de enfermagem. Rio de Janeiro, 2015. 75p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Escola
de Enfermagem Anna Nery, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 2015. Orientadora: Professora Doutora Sílvia Teresa Carvalho de Araújo.
Estudo desenvolvido no Grupo de Pesquisa Comunicação em Alta Complexidade tendo como
objeto a comunicação entre a equipe de enfermagem durante a sessão de hemodiálise no
Centro de Terapia Intensiva e objetivos: Identificar o processo de comunicação que se
estabelece entre a equipe de enfermagem do CTI e da HD, durante a sessão de hemodiálise a
beira leito no CTI; Analisar o tipo de comunicação verbal e não verbal abordados no processo
de comunicação da equipe de enfermagem; Discutir os limites e as possibilidades do processo
do processo de comunicação que media o cuidado da pessoa em sessão de hemodiálise no
CTI. Tendo como referencial teórico a obra Mark L. Knapp e Judith A. Hall dada a sua
importância para a construção de saberes sobre comunicação não-verbal. A abordagem
metodológica escolhida foi qualitativa, exploratória e descritiva caracterizada pela observação
da prática assistencial investigada, parte da realidade do cuidado da equipe de enfermagem.
Estudamos a comunicação emergente na interação entre membros da equipe de enfermagem
durante a HD realizada no setor da terapia intensiva, valorizando a técnica de observação,
além das questões de entrevista. O cenário escolhido foi um hospital público, localizado no
Município do Rio de Janeiro, especializado no atendimento de emergências onde foi possível
conhecer como se dá a comunicação entre membros da equipe de enfermagem durante a HD
no Centro de Terapia Intensiva. Os dados foram coletados através da observação sistemática
não participante e entrevista situacional gravada com profissionais, utilizando questões
semiestruturadas sobre a comunicação de HD no Centro de Terapia Intensiva e desafios
encontrados. A análise foi realizada utilizando o método da Análise de Conteúdo de Bardim
emergindo duas categorias: Estratégia de Comunicação e Condições Internas, Externas e
Clínicas.
Palavras-chave: Comunicação. Diálise renal. Centro de terapia intensiva.
8
ABSTRACT
FRANÇA, T. G. Hemodialysis in the intensive care unit: the communication between nursing
professionals. Rio de Janeiro, 2015. 75p. Dissertation (Masters in Nursing). Anna Nery
School of Nursing, Health Sciences Center, Federal University of Rio de Janeiro, 2015.
Advisor: Professor Silvia Teresa Carvalho de Araújo .
A study by the Research Group Communication in High Complexity having as object
communication between the nursing staff during hemodialysis session in the Intensive Care
Unit and objectives: Identify the communication process established between the ICU nursing
staff and HD during hemodialysis session the bedside in the ICU; Analyze the type of verbal
and nonverbal communication addressed in the communication process of the nursing team;
Discuss the limits and possibilities of the communication process process that mediates the
care of people in hemodialysis session in the ICU. The theoretical reference the work Mark L.
Knapp and Judith A. Hall given its importance for the construction of knowledge about non-
verbal communication. The chosen methodological approach was qualitative, exploratory and
descriptive characterized by observing the care practice investigated part of the reality of the
nursing team care. We study the emerging communication in the interaction between
members of the nursing staff during HD performed in the intensive care unit, valuing the
observation technique, in addition to the interview questions. The scenario chosen was a
public hospital in the city of Rio de Janeiro, specialized in emergency care where it was
possible to know how is the communication between members of the nursing staff during HD
in the Intensive Care Unit. Data were collected through non-participant systematic
observation and situational interview recorded with professionals, using semi-structured
questions about the HD media in the intensive care unit and challenges encountered. The
analysis was conducted using the method of Bardim Content Analysis emerging two
categories: Communication Strategy and Internal Conditions, External and Clinics.
Keywords: Communication. kidney dialysis. intensive care unit.
9
RESUMEN
FRANÇA, T. G. La hemodiálisis en la unidad de cuidados intensivos: la comunicación entre
los profesionales de enfermería. Río de Janeiro, 2015. 75p. Disertación (Maestría en
Enfermería). Escuela Anna Nery de Enfermería, Ciencias Centro de Salud de la Universidad
Federal de Río de Janeiro, 2015. Profesor asesor Silvia Teresa Carvalho de Araújo.
Un estudio realizado por el Grupo de Investigación Comunicación de alta complejidad que
tiene como objeto de comunicación entre el personal de enfermería durante la sesión de
hemodiálisis en la Unidad de Cuidados Intensivos y objetivos: Identificar el proceso de
comunicación que se establece entre el personal de la UCI y de enfermería HD durante la
sesión de hemodiálisis de la cabecera del paciente en la UCI; Analizar el tipo de
comunicación verbal y no verbal dirigida en el proceso de comunicación del equipo de
enfermería; Discutir los límites y posibilidades del proceso de proceso de comunicación que
media la atención de las personas en la sesión de hemodiálisis en la UCI. La referencia teórica
de la obra de Mark L. Knapp y Judith A. Hall, dada su importancia para la construcción del
conocimiento acerca de la comunicación no verbal. El enfoque metodológico elegido fue
cualitativo, exploratorio y descriptivo, que se caracteriza por la observación de la práctica de
atención investigó parte de la realidad de la atención del equipo de enfermería. Estudiamos la
comunicación emergente en la interacción entre los miembros del personal de enfermería
durante la HD llevados a cabo en la unidad de cuidados intensivos, la valoración de la técnica
de observación, además de las preguntas de la entrevista. El escenario elegido fue un hospital
público en la ciudad de Río de Janeiro, especializada en la atención de emergencia donde era
posible saber cómo es la comunicación entre los miembros del personal de enfermería durante
la HD en la Unidad de Cuidados Intensivos. Los datos fueron recolectados a través de la no-
participante observación sistemática y la entrevista situacional grabado con los profesionales,
por medio de preguntas semi-estructuradas sobre los medios de comunicación de alta
definición en la unidad de cuidados intensivos y los problemas encontrados. El análisis se
realizó utilizando el método de análisis de contenido Bardim emergente dos categorías:
Estrategia de Comunicación y las condiciones internas, externas y clínicas.
Palabras clave: Comunicación. diálisis renal. unidad de cuidados intensivos.
10
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...........................................................................................................8
CAPÍTULO 1- Delineando o estudo
1.1 Aproximação com a temática do estudo ..................................................................10
1.2 Contextualizando o objeto de estudo e a Problemática................ ...........................19
1.3 Objetivos do estudo ...................................................................... ..........................19
1.4 A Contribuição da pesquisa no cuidado de enfermagem.........................................19
CAPÍTULO 2 – Enfoque Teórico
2.1 A comunicação.................................................................... ................................... 21
2.2 Hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva...........................................................27
CAPÍTULO 3 – Proposta Metodológica
3.1 Tipo e abordagem do estudo ................................................................................. 30
3.2 Cenário .................................................................................................................. 30
3.3 Participantes do estudo ......................................................................................... 32
3.4 Técnica de coleta de dados .................................................................................... 33
CAPÍTULO 4 - Análise dos Dados
4.1 Caracterização dos participantes ........................................................................... 35
4.2 Estratégias de comunicação ................................................................................... 36
4.3 Fatores internos, externos e clínica........................................................................ 37
CAPÍTULO 5 - Discussão dos Dados ........................................................................... 42
CAPÍTULO 6 – Considerações Finais ......................................................................... 54
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 56
11
APÊNDICES
Apêndice A – Solicitação à instituição ............................................................................ 61
5.2 Apêndice B - Termo de consentimento livre e esclarecido .................................. 62
5.3 Apêndice C – Roteiro de entrevista situacional com o profissional ..................... 64
5.4 Apêndice D – Roteiro de observação ................................................................... 65
12
13
APRESENTAÇÃO
O interesse pelo conhecimento sobre os cuidados ao paciente renal advém das
experiências de aprendizagem vivenciadas por mim no decorrer do curso de graduação e
concomitantemente atuava como técnica de enfermagem em um hospital cardíaco, mas
precisamente em uma unidade cardiointensiva onde percebi que muitos clientes evoluíam para
uma lesão renal aguda ou crônica, principalmente aqueles portadores de doenças crônicas não
transmissíveis como hipertensão e diabetes, corroborando com diversas pesquisas na área de
saúde e acentuando o meu interesse em prestar um melhor cuidado para estes clientes.
Ainda, enquanto acadêmica de enfermagem me inseri no grupo de pesquisa:
Comunicação em Enfermagem Hospitalar – Cliente de Alta Complexidade cadastrado no
Diretório de Pesquisa do CNPq, onde desenvolvi pesquisas intituladas: “A comunicação entre
o enfermeiro e o cliente em diálise peritoneal - uma revisão bibliográfica” e “As teorias de
enfermagem como tecnologia do cuidado aos pacientes renais crônicos em hemodiálise”.
Essas pesquisas surgem como exigência de créditos curriculares como Diagnóstico
Simplificado de Saúde (DSS) nos Programas Curriculares Interdepartamentais (PCI), IX e
XIII e da disciplina Eletiva: Elaboração de Projeto de Pesquisa, cada uma sequenciada nos
últimos três períodos do curso. Ambos os resultados apontaram que o enfermeiro é um grande
aliado da equipe interdisciplinar, a favor do alcance dos objetivos de cuidado, sendo assim, é
basilar que os enfermeiros estejam preparados para prestar assistência de forma sistematizada
e personalizada ao cliente em tratamento hemodialítico.
Atualmente verifico na prática assistencial como enfermeira em serviço público que a
comunicação efetiva é um caminho assertivo para o desenvolvimento de um trabalho seguro.
A partir de então diferentes inquietações conduziram-se a refletir sobre o cuidado direcionado
ao cliente que necessita de ultrafiltração, osmose ou difusão sanguínea para melhoria do
quadro clínico no cenário dos cuidados intensivos, com destaque para a hemodiálise –
modalidade de terapia substitutiva da função renal.
Cabe destacar que acredito no cuidado centrado no paciente, de maneira sistêmica,
integral e holística e que nós, profissionais de saúde, temos responsabilidade para o
desenvolvimento dos fatores que influenciam no processo de cuidar que devem ser analisados
e adequados de acordo com as necessidades dos clientes.
14
Neste trabalho, destaco a comunicação entre a equipe de enfermagem configurando-se
como elemento essencial no cuidado.
15
16
CAPÍTULO 1 – DELINEANDO O ESTUDO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO COM A PROBLEMÁTICA
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas próximas décadas
a população mundial com mais de 60 anos vai passar dos atuais 841 milhões para 2 bilhões
até 2050, tornando as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) um dos desafios de saúde
pública global. No Brasil, 72% das causas de mortes e 60% de todo o ônus decorrem dessas
doenças. No ano 2020, as DCNT serão responsáveis por 80% da carga de doença nos países
em desenvolvimento (BRASIL, 2014).
A doença renal crônica (DRC) atinge 10% da população mundial e afeta pessoas
de todas as idades e raças. A estimativa é que a enfermidade afete um em cada cinco
homens e uma em cada quatro mulheres com idade entre 65 e 74 anos, sendo que metade
da população com 75 anos ou mais sofre algum grau da doença (BRASIL, 2014).
Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia indicam que 100 mil pessoas fazem
diálise no Brasil, apontando um crescimento de 2000 até 2013 de mais de 50.000 novos
clientes em tratamento dialítico a cada ano. Estima-se que 83,4 mil pacientes são mantidos em
serviços de diálise na rede pública de saúde sendo que 90% desse total fazem hemodiálise. No
ano de 2012, foram realizadas mais de 12 milhões de sessões de hemodiálise na rede pública
(SBN, 2013; BRASIL, 2014).
A doença renal crônica (DRC) pode ser definida como um a perda gradual da
capacidade ou ritmo de filtração glomerular (RFG) dos rins. Quando a queda do RFG atinge
valores muito baixos, geralmente inferiores a 15 mL/min, estabelece-se o que denominamos
doença renal crônica terminal (DRCT), ou seja, o estágio mais avançado da perda progressiva
da função renal observado na DRC, sendo necessário utilizar uma modalidade de Terapia
Renal Substitutiva (TRS) (BASTOS, 2004; NKF KDOQI, 2010; BRASIL, 2014).
A Lesão Renal Aguda (LRA) ou Injúria Renal Aguda (IRA) é conceituada como a
perda abrupta de função renal que resulta na retenção de uréia e outras escórias nitrogenadas,
aumento da creatinina sérica igual ou maior a 0,3 mg/dl ou aumento percentual igual ou maior
a 1,5 vez o valor basal obtido no último período de 48 horas (HUSM, 2011; PINTO; ET AL,
2012). Acontece com frequência em pacientes críticos, sendo uma complicação comum no
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Centro de Terapia Intensiva - CTI (BARROS, 2011; CUSTODIO E LIMA, 2013). Estima-se
que de 36 a 67% dos pacientes internados em CTI desenvolvem disfunção renal (SANTOS;
MAGRO, 2015).
Os Centros de Terapia Intensiva (CTI) atendem clientes que necessitam de
monitorização constante dos seus sinais vitais, do estado hemodinâmico e da função
respiratória. Métodos dialíticos que utilizam a circulação extracorpórea têm sido utilizados na
assistência a clientes graves em CTI, como no caso de insuficiência renal aguda e doença
renal crônica (MOSSINI, 2014).
O trabalho no sistema hospitalar a cada dia exige novas competências dos
profissionais de saúde pelo atendimento de clientes com situação clínica cada vez mais crítica,
que necessitam de respostas individuais e complexas que atendam as suas necessidades
(CAMELO, 2012).
Todo paciente internado em hospital, acometido por injúria renal aguda ou crônica,
com indicação médica de tratamento dialítico durante a internação e sem condições clínicas
de transporte e/ou remoção para serviços de hemodiálise (HD) intra/extra-hospitalares, deve
realizar o procedimento hemodialítico à beira do leito. A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) 2010 determina que esta medida minimiza os riscos ao tratamento de
clientes em estado grave bem como aqueles associados à peculiaridade logística para
disponibilizar o suporte nefrológico à beira leito, evitando o transporte e remoção do cliente.
A hemodiálise é uma conquista e sua importância não é algo a ser questionado e sim
como a empregamos. Acrescenta-se que a qualidade do cuidado depende de competência
técnica, mas, também, da habilidade de interação e comunicação dos trabalhadores entre si e
com os clientes. (NONINO, ANSELMI; DALMAS, 2008; POTT ETAL, 2013). Mas, ao
inferirmos que a complexidade é diretamente proporcional ao manuseio/operação de
equipamentos e execução de técnicas sofisticadas, estaremos valorizando apenas
procedimentos. O desafio é identificar que a complexidade está em todos os atos de cuidar e
que há uma complexidade em se construir a integralidade (PEREIRA; ET AL, 2009).
O tratamento hemodialítico, por si só, já denota mecanicidade. O profissional de
enfermagem, quando prestar o cuidado ao cliente submetido a este tratamento, deve atentar
para que suas ações não se transformem em ações automáticas e que não sejam valorizados os
aspectos humanos na relação cuidado/cuidador.
18
O Ministério da Saúde, através da Portaria nº 389 de 13 de março de 2014 – data onde
é comemorado o Dia Mundial do Rim – definiu critérios para a organização da linha de
cuidado da pessoa com doença renal onde traz prerrogativas para garantia da educação
permanente de profissionais de saúde, de acordo com as diretrizes da Política Nacional de
Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e implementação das diretrizes expressas no
Programa Nacional de Segurança do Paciente, que contempla as metas internacionais de
segurança do paciente da OMS, que tem como um de seus itens a comunicação.
Comunicar deriva do latim comunicare, que significa “dividir alguma coisa com
alguém”. A comunicação é processo que mobiliza todas as ações humanas, é um ato vital ao
Ser Humano e que o acompanha desde os seus primórdios sendo capaz de dar suporte à
organização e funcionamento de todos os grupos sociais (OLIVEIRA, 2013; ARAÚJO; ET
AL, 2010).
A comunicação permeia todas as atividades que integram a assistência em saúde. Num
mundo onde a necessidade contínua de informação se impõe, existe uma ideia de que
informar é comunicar, de que a informação se transforma instantaneamente em comunicação,
sem o esforço consciente dos envolvidos. Mas, no momento em que as informações tornam-se
cada vez mais numerosas e específicas, ofertadas por diversos meios, é necessário que as
pessoas estejam preparadas para receber e usar essas informações. Para que as informações
sejam consistentemente transmitidas, são necessários conhecimentos, habilidades e atitudes da
equipe e, particularmente, uma comunicação adequada.
Araújo, et al, 2010 infere que “por meio da habilidade de perceber e comunicar, o
indivíduo enriquece seu referencial de conhecimentos, transmite sentimentos e pensamentos,
esclarece, interage e conhece o que os outros pensam e sentem”. Conhecer os mecanismos de
comunicação favorece ao desempenho de suas funções, melhora o relacionamento em equipe
e institui um fluxo unidirecional de informações.
É importante ressaltar que a comunicação tem contexto. Isto significa que a
comunicação depende de como, onde e quando ela ocorre. Então para que ela aconteça é
necessário a interação entre as pessoas (KOEPPE, ARAÚJO, 2009).
Como conhecer o processo de comunicação entre a equipe enfermagem no CTI
durante a HD se faz relevante?
19
No contexto da hemodiálise em terapia intensiva com suporte à beira leito, a
comunicação é um tripé para o trabalho em equipe e surge da necessidade de elencar objetivos
e metas em comum para adoção de um trabalho bem definido, buscando o cuidado
integralizado como alvo (SILVEIRA, SENA, OLIVEIRA, 2011).
A qualidade da comunicação, a colaboração, interação entre profissionais que estão
envolvidos no cuidado contribui de forma basilar a resolubilidade dos serviços e a efetividade
da atenção à saúde (ZWAREBSTEIN, GOLDMAN, REEVES 2009).
De acordo com Peduzzi (2001e 2011), a comunicação entre profissionais faz parte do
exercício cotidiano de trabalho, é concebida e praticada como dimensão intrínseca ao trabalho
em equipe, tendo como característica do trabalho em equipe: linguagens, objetivos, propostas
e até mesmo a cultura em comum. A autora destaca a elaboração de um projeto assistencial
comum, construído através da relação entre execução de intervenções técnicas e comunicação
dos profissionais. Nessa ideia, traz a perspectiva do agir-comunicativo no interior da técnica,
o que dada à hegemonia instrumental do agir-técnico, também pode gerar tensões. Afirma,
ainda, que:
A articulação das ações, a coordenação, a integração dos saberes e a interação dos
agentes ocorreriam por meio da mediação simbólica da linguagem. Portanto, a
comunicação entre os profissionais é o denominador-comum do trabalho em equipe,
o qual decorre da relação recíproca entre trabalho e interação. (PEDUZZI, 2001)
No CTI temos clientes com diferentes patologias de origem clínica e/ou traumática
que necessitam de monitorização e vigilância contínua, tornando a situação mais delicada,
pois as medicações e condições dos clientes são diferentes, além de existirem metodologias
específicas para clientes com instabilidade hemodinâmica, diferentes daquelas utilizadas nas
hemodiálises ambulatoriais (MOSSINI, 2014). Deste modo temos duas equipes com
modalidade de assistência distinta, inseridas no mesmo cenário com um cliente em comum
que carece de cuidados intensivos e nefrológicos objetivando um atendimento holístico
centrado na pessoa e a realização de um trabalho em equipe.
A comunicação ineficaz está entre as causas-raízes de mais de 70% dos erros na
atenção à saúde. Interrupções na comunicação ou a falta de trabalho em equipe são fatore que
contribuem para a ocorrência de eventos adversos e resultados insatisfatórios de tratamentos.
Entre as consequências das falhas da comunicação encontram-se o danos ao cliente, aumento
do tempo de hospitalização e uso ineficaz de recursos (OLUBORODE, 2012).
20
A equipe de enfermagem em termos quantitativos tem grande representatividade nas
instituições de saúde, sendo a maior força de trabalho do setor saúde no país (PEREIRA,
2009; MACHADO, VIEIRA, OLIVEIRA, 2012; FIOCRUZ, 2015). Por constituir uma
parcela significativa dos recursos humanos dos hospitais, pode-se afirmar que a equipe de
enfermagem interfere diretamente na eficácia, na qualidade e custo da assistência à saúde
prestada (CAMELO, 2012).
Não se pode dizer que ocorreu o cuidado, se não há qualidade. A qualidade é
indissociável do cuidado. O cuidado deve ser visto como uma filosofia de vida, o profissional
de saúde deve refletir e compreender os fenômenos vividos no seu cotidiano e incorporar que
o outro tem dignidade e merece respeito. A prática do cuidar representa um desafio para a
enfermagem, pois cada pessoa possui valores e princípios próprios que podem influenciar o
cuidado. Sendo assim, cada cliente que for assistido pode ter um perfil díspar para cada
situação vivenciada (BARBOSA, VALADARES, 2009).
O enfoque primário do CTI ainda é a tecnologia empregada. Olha-se a doença, os
monitores, as máquinas de hemodiálise, mas não se olha a pessoa.
A mecanização que é existente neste cenário acaba, por vezes, a reduzir a prática da
comunicação afetiva e efetiva, que pode estar relacionada a toda tecnologia existente no
contexto da terapia intensiva, mas é associada também a formação do profissional, ainda no
modelo biomédico, fragmentando o cuidado e vendo o indivíduo como partes e/ou doença que
ele tem.
São diferentes os desafios para realização da HD em outras clínicas externas ao setor
de nefrologia. O recurso humano treinado para realizá-la, seu conhecimento teórico,
habilidade prática e o fluxo de rotina de HD a beira do leito varia de instituição para
instituição. Varia também a modalidade de HD em horas, dias aprazados segundo a
necessidade clínica do cliente, refletida na prescrição médica. O espaço geográfico disponível
muitas vezes não permite a circulação de pessoas no ambiente, a disposição dos fios que fica
comprometida, deixando-os expostos, o que desfavorece uma assistência segura e/ou
confortável para os profissionais envolvidos.
Contudo, quando o cliente do CTI demanda, na fase aguda e há necessidade da HD e a
instituição está organizada e estruturada para atender, seja pela provisão pelo setor de
nefrologia da própria instituição, seja pela contratação de consultoria terceirizada, outros
21
desafios emergem na relação de cuidado entre aquele que faz a HD e aquele enfermeiro
responsável técnico do setor ao qual o cliente está internado.
Ao delinear a comunicação verbal (entonação, conteúdo da fala) e os indicadores não
verbais faciais e corporais colocamos em relevo no contexto do cuidado da HD a
comunicação não verbal, tais como a proxemia (posição dos corpos na interação), a cinesia
(dos movimentos), a paralinguagem (sons do órgão fonador que não se traduzem em palavras)
e a forma tacésica (toque instrumental e/ou expressivo). A comunicação é considerada uma
tecnologia leve da assistência de enfermagem sem custo financeiro adicional, mas de alto
valor para a efetiva compreensão de mensagens e para a realização do cuidado.
Então, quando há um distanciamento da equipe de enfermagem do setor e o
profissional que realiza a HD, isso se configura na perda de oportunidade de troca de
informações sobre alterações clínicas do cliente sob sua responsabilidade. Nessa modalidade
de tecnologia direcionada a ultrafiltração do sangue do cliente todas as oscilações clínicas são
importantes para a continuidade do cuidado.
Há necessidade desse acompanhamento conjunto entre os profissionais (interno e
externo ao setor), para que não haja lacuna de informações e para a personalização do cuidado
ao cliente nas etapas posteriores a sessão de HD. O interesse nesse acompanhamento se
configura na oportunidade de estabelecer no período subsequente uma assistência
fundamentada nas necessidades do cliente. E, gerenciar a informação interliga os fatos
clínicos essenciais para o planejamento e a sistematização do cuidado contínuo e/ou
sequenciado de forma transdisciplinar.
A equipe de enfermagem deve interagir com todas as áreas do macro sistema
hospitalar sob a sua responsabilidade, organizando a sua assistência através de rotinas,
protocolos e diretrizes clínicas. O manual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA, 2013 p.61) afirma que o fator humano associado a falta de comunicação pontual
nas questões que envolvem o cuidado é responsável, dentre outros aspectos, a eventos
adversos ao cliente. Embora a falha de comunicação possa ser entre o profissional e o
paciente; entre profissionais da mesma categoria profissional; entre profissionais numa equipe
multiprofissional e durante a troca de turno/plantão, nesse estudo dirigimos nosso interesse a
comunicação entre a equipe de enfermagem..
22
Para avançar e expandir os cuidados em hemodiálise faz-se necessário entender a
saúde no seu sentido mais amplo. Na maioria dos casos em situações crônicas a hemodiálise
não tem suscitar ausência de doença, mas como destaca o autor é um recurso para a vida, com
o qual estão implicados fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais, presentes no
cotidiano dos indivíduos, e compreendê-los é uma questão fundamental para a área de
nefrologia (FUJII, 2009).
Diante do exposto traçamos como questão norteadora da pesquisa: – Como se
estabelece a comunicação entre a equipe de enfermagem da nefrologia e do Centro de Terapia
Intensiva durante a sessão de HD a beira leito?
Delimitamos como objeto a comunicação entre a equipe de enfermagem durante a
sessão de hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva.
As publicações levantadas sobre a abordagem clínica no atendimento da HD entre
profissionais nos setores de internação são reduzidas. Encontramos aquelas que abordam as
intercorrências durante a sessão de HD e são na maioria estudos desenvolvidos dentro do
próprio setor da hemodiálise.
Ainda há uma lacuna nas publicações abordando a comunicação entre profissionais de
enfermagem durante a realização da HD em clientes internados no CTI. Em relação à revisão
de literatura, foi realizado um levantamento bibliográfico integrativo baseado no material
indexado nas bases de dados eletrônicos: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que
compreende as bases de dados LILACS, IBEC, BDENF e MEDLINE, onde o acesso ao
MEDLINE foi a partir do PubMed, base de dados da National Library of Medicine (NLM);
SCiELO. Foram utilizados os descritores COMUNICAÇÃO, CUIDADOS DE
ENFERMAGEM, ENFERMAGEM, RIM e DIÁLISE RENAL em português e inglês
condizentes com as perguntas que orientaram a pesquisa: como tem sido abordada a
comunicação entre profissionais de enfermagem na sessão de hemodiálise no CTI ? Quais os
desafios da hemodiálise no CTI ?
Utilizaram-se os operadores booleanos AND e OR nas diversas combinações entre os
descritores. Excluíram-se os estudos como capítulos de livros, teses, dissertações e
monografias, além dos artigos repetidos na base de dados. Foram incluídos estudos de
pesquisa original, reflexão, revisão e relato de experiência publicados em português, espanhol
e inglês que tivessem ao menos o resumo disponível.
23
Resultados encontrados:
Base de Dados Artigos Elegíveis
BVS 32
SCIELO 26
PUBMED 86
TOTAL 144
Após a leitura dinâmica dos resumos, observaram-se artigos que abordavam os
seguintes assuntos: comunicação entre profissionais de saúde e clientes; conhecimento dos
clientes sobre sua doença; diagnóstico de enfermagem em transplante renal; levantamento de
custos da hemodiálise, evolução clínica do DRC.
Foram selecionados 09 artigos que mais se aproximaram da temática de estudo, mas
nenhum desses abordava a comunicação entre profissionais de enfermagem durante a sessão
de hemodiálise no CTI, caracterizando uma lacuna nessa área de conhecimento.
Com o crescimento do número de pessoas com o diagnóstico de doença renal aguda e
crônica que necessita iniciar uma terapia substitutiva, se faz necessária, a reflexão acerca da
necessidade de avanços nessa área a fim de suprir o conhecimento sobre comunicação relativa
a clínica do cliente durante a HD no CTI. Isso implica em manter a qualidade da informação
necessária entre profissionais de enfermagem. O enfermeiro do setor de internação é
responsável pela continuidade do cuidado ao cliente submetido à terapia renal substitutiva
nestes cenários, durante as horas subsequentes a terapia renal substitutiva.
Cuidar do cliente submetido a HD exige comprometimento ético, competências e
habilidades nas dimensões humanas e técnicas, a ideia do cuidar como relação terapêutica
significa atender as necessidades com sensibilidade e presteza mediante ações que promovam
o bem-estar (RODRIGUES, BOTTI, 2009). A Nefrologia representa um campo complexo de
prática da enfermagem, pois o nefropata é um cliente específico que realiza o tratamento e os
diferentes tipos de terapias de substituição renal. (BARBOSA, VALADARES, 2013).
Envolve a necessidade de trabalhar a partir da noção de integralidade, reconhecer o caráter
interdisciplinar desse cuidado e a importância do trabalho em rede (FUJII, 2011;
QUINTANA, HAMMERSCHMIDT, SANTOS, 2014). Para que isso seja possível, essa
abordagem deve ocorrer entre o profissional de enfermagem que efetuou a terapia e aquele
24
que continuará no cuidado ao cliente durante toda a internação, durante a HD ou ao seu
término.
Como campo complexo que se apresenta, a frequência das complicações é muito
grande. Atualmente a hemodiálise busca a reversão não somente dos sintomas urêmicos, mas
também a redução das complicações que são inerentes ao próprio procedimento e a
diminuição do risco de mortalidade. Tendo assim, que toda equipe de enfermagem envolvida
esteja atualizada e apta para promover um tratamento com qualidade e maior segurança ao
paciente renal crônico (ARAÚJO E ESPIRÍTO SANTO, 2012).
Então, com a comunicação entre a equipe de enfermagem ao cliente com doença renal
em HD internado no CTI busca-se, segundo Lima e Erdmann (2006) a organização como
meta para o grupo, concluindo que uma equipe capacitada tem condições de organizar-se,
materialmente e operacionalmente.
Todos os pacientes em hemodiálise encontram-se, a despeito de sua vontade,
dependentes de um procedimento, de um recurso médico ou da equipe de saúde e estão
expostos também a outras condições estressantes, busca-se conhecer suas percepções frente às
limitações enfrentadas e ao tratamento hemodialítico; desvendar os possíveis
comprometimentos decorrentes destas situações, bem como as adaptações que serão
necessárias para o êxito da terapia (ABRAHÃO, 2006; SILVA et al, 2011).
Destaca-se ainda o desafio de personalizar o seu atendimento e evitar complicações.
Podemos considerar que a internação do cliente em setores intensivos já é um fator estressante
que se duplica com uma intervenção adicional de HD.
Nessa perspectiva de cuidar de forma permanente, Furtado et al (2010) delineiam
novas formas de cuidado ao cliente em HD. O estudo destrincha sete fases de cuidado para
esse cliente, sendo o primeiro cuidado compreendido como a fase de acolhimento,
comunicação e escuta. Seguido de estabelecimento de vínculo, desenvolvimento de técnica,
adesão e autocuidado, avaliação, estabelecimento da rotina e por último o resgate da
autonomia do cliente.
1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO
25
Neste sentido, pretendo como objetivo geral investigar a comunicação entre equipe de
enfermagem no atendimento hemodiálise no CTI.
Os objetivos específicos:
- Identificar o processo de comunicação que se estabelece entre a equipe de
enfermagem do CTI e da HD, durante a sessão de hemodiálise a beira leito no CTI;
- Analisar o tipo de comunicação verbal e não verbal abordados no processo de
comunicação da equipe de enfermagem;
- Discutir os limites e as possibilidades do processo do processo de comunicação que
media o cuidado da pessoa em sessão de hemodiálise no CTI.
Na prática assistencial percebo a necessidade de mudança no que concerne a
elaboração de estratégias que possibilitem melhor abordagem dos profissionais de
enfermagem envolvidos em terapias intensivas e em terapias substitutivas complementares.
Os estudos desenvolvidos sobre comunicação apontam a assertiva no cuidado quando nós
consideramos diferentes formas de abordar. Ao utilizá-la de forma correta podemos
minimizar o impacto do ambiente e da terapêutica sobre o estado psicológico e físico do
cliente.
1.3 A CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA NO CUIDADO DE ENFERMAGEM
Este estudo pode ser justificado por ser uma iniciativa para o aprimoramento da
comunicação entre a equipe de enfermagem no programa de hemodiálise e balizando de
forma positiva e efetiva durante a interação com o cliente. Os tipos e as formas de
comunicação são indicadores importantes no comportamento humano e interfere na qualidade
do cuidado dos profissionais de enfermagem durante a assistência prestada por eles.
Ao ampliar a investigação no atendimento em HD, poderemos verificar como a
comunicação auxilia a equipe de enfermagem e o cliente na transmissão de mensagens
importantes sobre a clínica com subsídios ao cuidado. Poderá evidenciar como se dá a
comunicação, a interação, as atitudes, as habilidades sobre que conteúdos se pautam a
abordagem profissional no cuidado ao cliente em HD.
26
São muitas as demandas apresentadas pelo cliente em hemodiálise e é necessário
investir em pesquisas na área hospitalar com enfoque na comunicação, visto que ela está
prevista como uma das doze competências previstas na Lei de Diretrizes e Bases para a
formação do profissional de saúde. Ela interfere na qualidade da informação, no padrão de
interação e de excelência do cuidado prestado.
Dentre as contribuições desse estudo pontuamos que o conhecimento produzido
servirá de fonte para a área do ensino acerca da comunicação, pois coloca em relevo o aspecto
subjetivo na área de enfermagem. Na prática assistencial de enfermagem, tanto os
pesquisadores como os demais profissionais, poderão refletir sobre a produção de
conhecimento a partir dos dados gerados na busca de melhorias contínuas da comunicação no
cuidado prestado em HD externa e/ou da própria nefrologia.
Fortalecimento do eixo de pesquisa centrado na comunicação e no ensino do cuidado
hospitalar, Grupo de Pesquisa Comunicação em Enfermagem Hospitalar: Cliente de Alta
Complexidade, do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem Hospitalar, da Escola de Enfermagem
Anna Nery - UFRJ.
O plano de disseminação inclui a publicação de artigos em revistas Internacionais,
Qualis A, sobre a comunicação no cuidado da HD externa ao setor de HD; apresentação em
Eventos de pesquisa Nacionais e Internacionais e Congressos da área de nefrologia Nacionais
e Internacionais.
27
28
CAPÍTULO 2 – ENFOQUE TEÓRICO
2.1 A COMUNICAÇÃO
A comunicação é a base do conhecimento humano pode ser entendida como um
“processo de troca e compreensão de mensagens enviadas e recebidas” e é essencial para o
trabalho da equipe de enfermagem (TIGULINI E MELO, 2002; MORAIS et al, 2009;
COSTA 2004).
A comunicação possui duas dimensões: a verbal caracterizada pela expressão de
palavras pronunciadas ou historiadas e a não-verbal que ocorre através da expressão corporal
e facial, tom de voz, gestos, olhares, toque, posição entre os corpos. Assinala-se pelo conjunto
de ações que traduzem os sentimentos do emissor. A comunicação é resultado da atuação das
diferentes partes do corpo (SILVA, 2008; ARAÚJO, SILVA, 2012; KNAPP, HALL, 1999).
Este estudo buscou investigar sob a ótica do fenômeno da comunicação verbal e não-
verbal a interação entre a equipe de enfermagem para entender como esta, configura-se como
alicerce para o cuidado. Lembrando que o outro interpreta nossas mensagens não apenas pelo
que expressamos pela fala, mas também pelas nossas ações corporais.
A história da sociedade é permeada por conflitos e desentendimentos que ocorreram
pela comunicação falha. Atualmente com a globalização, estamos cada vez mais competitivos
e dependentes da informação em quantidade, qualidade e rapidez estabelecendo que o
profissional tenha um bom preparo na área da comunicação, para que haja clareza e coerência
na transmissão da informação e interpretação das mensagens, adequando um melhor
desempenho das atividades de sua competência (TIGULINI, MELO, 2002).
A comunicação de forma eficaz é essencial para a equipe de enfermagem. A
enfermagem tem no seu cotidiano a adesão as com rotina, intervenções nas intercorrências e
continuidade do cuidado. O cuidado não para. É a base das ações da enfermagem. Sendo
assim, todas as informações relativas ao cliente devem ser valorizadas durante a internação,
principalmente em cenários de terapia intensiva.
A comunicação não pode ser entendida como uma coisa simples. Avisar ou informar
não é o mesmo que comunicar. Para que haja a comunicação de fato, deve haver alguém na
outra extremidade do canal, ou seja, o receptor da comunicação, o alvo da comunicação. E ser
29
receptor não é apenas ser o alvo da informação, mas estar ciente do seu papel no processo
comunicativo, ter consciência da importância do relacionamento interativo entre os seres
humanos (MOREIRA, 2013).
O relacionamento interativo se faz fundamental para o dia a dia da equipe de
enfermagem.
Para delinear a abordagem não-verbal este trabalho tem como referencial teórico a
obra de Mark L. Knapp e Judith A. Hall.
Professor Doutor Knapp é um distinguido professor emérito, conhecido
internacionalmente por seu trabalho em comunicação não-verbal. Recebeu prêmios em
distintas universidades americanas ensinou pós-graduação e cursos de graduação em
comunicação não-verbal, comunicação e relacionamentos, e a mentira eo engano. Professor
Knapp lecionou em todo os EUA para acadêmicos, profissionais e grupos empresariais.
Judith A. Hall tem pós-doutorado em psicologia social e tem como foco de
investigação a comunicação não-verbal, estudada dentro das seguintes áreas temáticas:
medição da percepção interpessoal precisa, diferenças de gênero na comunicação não-verbal,
incluindo a precisão, habilidade expressão e comportamentos específicos; a relação do
constructo amplo domínio, a habilidade não-verbal e comunicação não-verbal e o
comportamento verbal e não verbal de médicos e pacientes em consultas médicas, com foco
em diferenças de gênero e se correlaciona de resultados dos pacientes, tais como a satisfação e
a adesão aos regimes médicos¹.
O livro onde os autores dialogam sobre comunicação não-verbal foi publicado pela
primeira vez nos Estados Unidos em 1972 e vem sendo utilizado por estudiosos e também na
sala de aula , abrangendo grande variedade de interesses acadêmicos nas áreas de
comunicação, orientação, psicologia, etologia, desenvolvimento infantil e relações familiares,
educação, linguística, fala e ciência da fala. O material vem sendo utilizado amplamente por
estudiosos na área de comunicação. Entender a comunicação não-verbal é na verdade uma
empreitada multidisciplinar. O fato de um dos autores representar a área de comunicação e o
outro de psicologia social apenas reforça a integração existente nesses setores².
___________________________
1 Biografia do autor. Disponível em: http://www.northeastern.edu/cos/faculty/judith-hall/
² Texto disponível pela Editora JSN – São Paulo.
30
Knapp e Hall (1999) afirmam que quando estamos na presença de outra pessoa,
ficamos constantemente emitindo sinais sobre a nossas atitudes, sentimentos e personalidade e
que algumas pessoas tornam-se hábeis em perceber e interpretar esses sinais. Assim, como
fazemos interpretações as ausências de estímulos, da mesma forma reagimos a outros. O que
pensamos estar comunicando pode ser muito diferente que de fato comunicamos.
Asseguram ainda, que em alguns momentos, a linha entre a comunicação verbal e não-
verbal é difusa, apresentando-se como duas categorias distintas. A preocupação é entender
como o comportamento humano se processa quando duas pessoas estão se comunicando.
Conhecer até que ponto o comportamento de uma pessoa foi planejado conscientemente para
obter determinada resposta é uma informação relevante para qualquer comunicador.
De acordo com Mourão (2012), “o ser humano utiliza-se da comunicação para
fornecer informações, para persuadir, de forma a gerar mudanças de comportamento, dentro
de uma troca de experiências e para ensinar e discutir os mais variados assuntos”. A
comunicação envolve as relações interpessoais e podem ocorrer dificuldades e restrições de
maneira que a mensagem não é interpretada corretamente.
Os sinais não-verbais podem ser utilizados para complementar, substituir ou
contradizer a comunicação verbal e também para demonstrar sentimentos. Em caso de
conflito entre a mensagem verbal e a comunicação não-verbal, a mensagem não-verbal
prevalecerá (SCHELLES, 2008).
O comportamento não-verbal pode perfeitamente repetir, contradizer, substituir,
complementar, acentuar ou regular o comportamento verbal (Knapp & Hall, 1999, p. 30).
Para o entendimento dessa assertiva, é de fundamental importância explicar as categorias
desse processo, assim designadas: a) repetição, que consiste em repetir o que foi dito
verbalmente; b) contradição, que contradiz o comportamento verbal; c) substituição, que
consiste em substituir as mensagens verbais por comportamento não-verbais; d)
complementação, que se efetiva por operar modificação ou aprimoramento nas mensagens
verbais, o que faz com que as mensagens sejam mais bem compreendidas; e) acentuação, que
consiste em acentuar partes da mensagem verbal pelo comportamento não-verbal; e f)
regulação, que se explica porque os comportamentos não-verbais estão intimamente
relacionados ao processo de simetria conversacional, de tal sorte podendo contribuir para uma
regular troca de turnos entre os que interagem. Esses comportamentos são usados para regular
31
o fluxo verbal entre os interlocutores.
Reconhecer e identificar o processo de comunicação nas suas diferentes formas é um
fenômeno para melhorar a compreensão e interação entre os participantes, contribuindo para o
relacionamento entre as pessoas. A importância de um bom relacionamento entre as pessoas
avigora-se quando os trabalhadores tem o mesmo objetivo que na enfermagem representa o
cuidado (BROCA, FERREIRA, 2012).
Ainda deve ser inferido que a comunicação é basilar na construção do trabalho em
equipe. O enfermeiro é o responsável técnico do setor e intermedia as interações das
diferentes equipes do sistema macro hospitalar. A comunicação entre funcionários, gestores e
usuários é a peça-chave para atender o princípio da transversalidade do Programa Nacional de
Humanização, tirando-os do isolamento e das relações de poder hierarquizadas.
Por que a preocupação em entender como se dá a produção, interpretação e recepção
de mensagens? O que estamos procurando conseguir através do processo de comunicação? E,
especialmente como se apresenta a comunicação entre os profissionais de enfermagem frente
ao cliente em sessão de hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva? Como se manifesta a
comunicação e o que ela comunica no cenário investigado? A equipe do CTI e a equipe de
nefrologia trabalhando em associação favorecem na construção do cuidado em HD?
Nos sistemas hospitalares a hemodiálise é introduzida para minimizar os riscos
inerentes ao tratamento de pacientes graves e devido à peculiaridade logística, é necessário
disponibilizar esse suporte nefrológico à beira leito, para evitar o transporte e a remoção do
paciente.
Essa modalidade de assistência é caracterizada de duas formas: pode ser um serviço
terceirizado onde uma empresa especializada na área nefrológica disponibiliza recursos
materiais e humanos, encaminhando um profissional enfermeiro ou técnico de enfermagem ao
hospital para realizar à HD na CTI, munido de equipamentos necessários. Ou, ainda, o serviço
hospitalar ter um setor específico de hemodiálise e disponibilizar um profissional
especializado para realizar à HD em diferentes clínicas de internação hospitalar.
No cenário escolhido para prática da pesquisa, a hemodiálise é realizada por serviço
terceirizado, sendo assim pode-se inferir que a pesquisa não seja conclusiva, pois na rede
privada essa modalidade é ampla e irrestrita.
32
Entender mecanismos de um processo de comunicação que irá auxiliar um
desempenho melhor para com o cliente é tão importante quanto se empenhar para melhorar a
comunicação, isto é, o relacionamento entre os próprios membros da equipe de enfermagem
(SILVA, 2006).
Na comunicação entre a equipe de enfermagem é preciso que haja alguém atento, para
identificar as manifestações, sejam elas verbais ou não, e disposto a intervir, ouvir e trocar
ideias e informações sobre eventuais problemas que possam surgir durante a realização dos
procedimentos da hemodiálise.
Para Silva (2005) a comunicação não verbal é aquela que ocorre na interação pessoa-
pessoa, com exceção das palavras ditas. Tem a função de complementar a comunicação
verbal, substituí-la, contradizê-la e demonstrar sentimentos.
Knapp e Hall (1999), Silva (2005) trazem esboçam os diferentes tipos de comunicação
não verbal:
Efeitos dos Sinais Vocais/Linguagem Paraverbal ou Paralinguagem: qualquer
som produzido pelo aparelho fonador da pessoa que não faça parte da linguagem verbalizada,
embora emitida pelo órgão fonador, não pode ser traduzida como palavra. Através do
conhecimento da linguagem paraverbal o profissional de saúde poderá compreender que o
silêncio pode existir em algumas situações de interação e de acordo com o conhecimento que
o profissional tem do cliente poderá identificar sinais de ansiedade, depressão, vergonha.
Efeitos do Gesto e Postura/Linguagem Cinésica: relaciona-se com o corpo, ou
seja, os seus movimentos, gestos manuais, movimentos dos membros, da cabeça e até as
expressões faciais.
Distância entre Interlocutores/Proxêmica: é o uso do espaço pelo ser humano,
como por exemplo, a distância mantida entre os partícipes do processo comunicativo.
Os Efeitos do Toque/Tacésica: é a comunicação tátil, como por exemplo, a
pressão exercida, local onde se toca, idade e sexo dos interlocutores. O profissional de saúde
ao compreender a linguagem tacésica descobre que, ao tocar um cliente de maneira
instrumental e afetiva, estará realizando um cuidado mais humanizado.
Para Hall e Knapp (1999) o nosso comportamento varia conforme o comportamento
da pessoa com quem nos comunicamos. De acordo com os autores, outro importante fator a
33
influenciar nosso comportamento é o ambiente em que nos comunicamos. Alguns aspectos do
ambiente podem ser deliberadamente estruturados com o objetivo de obter certas respostas de
outra pessoa. Neste sentido, o ambiente é uma fonte de signos não-verbais de nosso repertório
comunicativo para obter certas informações do outro.
Mehabian (1976) afirma que reagimos emocionalmente a nosso meio. Essas reações
emocionais podem ser avaliadas conforme a excitação que o ambiente nos faz sentir, o prazer
que experimentamos e o dominío que sentimos possuir. Excitação refere-se o quão ativos,
frenéticos, estimulados e alertas estamos. Prazer refere-se a sentimentos de alegria, satisfação
ou felicidade. E dominação sugere que sentimos capazes, importantes, livres, para agir de
várias maneiras.
Knapp classifica e as percepções dos ambientes de interação, podendo ser observadas
convergências com o estudo de Mehrabian.
Percepções de formalidade: uma dimensão familiar, segundo a qual os
ambientes podem ser classificados é um continuum formal /informal. As reações podem-se
basear-se nos objetos presentes, nas pessoas presentes, nas funções desempenhadas ou num
sem-número de variáveis. Quanto maior a formalidade, maiores as chances de que o
comportamento comunicativo seja menos relaxado e mais superficial, hesitante e estilizado.
Percepções de acolhimento: ambientes que nos fazem sentir psicologicamente
acolhidos nos encorajam a ficar, a sentir-nos relaxados e à vontade.
Percepções de privacidade: ambientes fechado, em geral, sugerem maior
privacidade, principalmente se ocupados por poucas pessoas.
Percepções de familiaridade: quando conhecemos uma pessoa ou estamos num
ambiente não familiar, nossas respostas são geralmente cautelosas, estudadas e convencionais.
Ambientes não familiares estão carregados de rituais e normas que ainda não conhecemos, daí
ficamos hesitantes para não ir rápido demais.
Percepções de constrangimento: parte de nossa reação ao ambiente está
baseada em perceber se podemos sair dele e se será fácil ou difícil.
Percepções de distância: por vezes, nossas respostas dentro de um determinado
ambiente são influenciados pela distância em que temos de conduzir a comunicação com o
outro. Isso pode refletir real afastamento físico ou distanciamento psicológico.
34
Percepções do tempo: o tempo é a parte do ambiente comunicativo. De início,
pode parecer estranho incluir algo aparentemente intangível como o tempo no mesmo
conjunto ambiental de cadeiras, paredes, ruídos ou até condições clínicas.
O cuidar em hemodiálise vai além do conhecimento técnico e científico, mesmo que
esse processo envolva complexidade e especificidade. Para os clientes, ser cuidado significa
estabelecer relacionamento interpessoal. Araújo (2000) diz que as interações no cuidado não
se estabelecem de maneira puramente técnica.
O desígnio de trabalhar a comunicação atingindo intersetores entre profissionais de
enfermagem vem do baseado no dia a dia de trabalho assistencial como enfermeira em uma
instituição de saúde onde se configura essa dialética. Entender, discutir e apreender o que
envolve, o que determina e o que fundamenta a prática do cuidado em saúde abrangendo
paradigmas, interação de diferentes micropolíticas de gestão e resistência através das
mensagens verbais e não-verbais objetivando-se o cuidado integral. Pois, a enfermagem é
holística: não está aqui, nem ali, está no todo.
2.2 HEMODIÁLISE EM CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA
No Brasil, os primeiros Centros de Terapia Intensiva (CTIs) foram instalados na
década de 70, com a finalidade de concentrar pacientes com alto grau de complexidade em
um área hospitalar adequada, requerendo a disponibilidade de infraestrutura própria, com
provisão de equipamentos e materiais, além da capacitação de recursos humanos para o
desenvolvimento do trabalho com segurança (ABRAHÃO, 2011).
O CTI caracteriza-se como uma unidade reservada, complexa, dotada de
monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação
de um ou mais sistemas orgânicos. Fornece suporte e tratamento intensivo, propondo
monitorização contínua, vigilância 24 horas, equipamentos específicos e outras tecnologias
destinadas ao diagnóstico e terapêutico. Ameniza sofrimento, independente do prognóstico do
cliente. Dispõe de assistência médica e de enfermagem especializada e oferece atendimento
multiprofissional e interdisciplinar, constituído por fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos
e assistentes sociais (ABRAHÃO, 2011).
35
Uma das exigências para uma assistência de qualidade e segura é que o sistema possua
um canal de comunicação eficaz, permitindo às equipes transmitir e receber informações de
forma clara e correta (SILVA ET AL, 2007).
Para isso é importante compreender a realidade que o profissional vivencia na terapia
intensiva e a verificação de fatores que podem dificultar a sua atuação, pois o grau de
complexidade que o cuidado de saúde atingiu, não permite que o cuidar esteja apenas
concentrado do ponto de vista biomédico.
O cuidado é uma resposta às necessidades das pessoas. Ao observarmos as redes de
cuidado podemos verificar que as pessoas atuam comunicando-se mutuamente, a todo o
momento. Quando as equipes e/ou trabalhadores de saúde autuam uma rede entre si, que tem
grande intensidade na busca da produção do cuidado (FRANCO, 2006).
Eventualmente, alguns profissionais podem pensar que o ser saber e fazer sobrepõe
aos outros trabalhadores em saúde, problemática cultura construída na produção de saúde.
Franco, 2006, sugere um exercício de observação para desconstrução dessa prática:
Essas impressões ilusórias sobre o trabalho em saúde não resistem a um pequeno
exercício de observação no espaço da micropolítica, onde é fácil verificar que ali se
processa uma rede de relações, auto-referenciada nos próprios trabalhadores, que
entre si vão definindo os atos necessários à produção do cuidado, a cada usuário que
chega, em movimentos que se repetem no dia-a-dia dos serviços de saúde. Dessa
rede não estão excluídos nem mesmo os trabalhadores das áreas de “apoio” como,
por exemplo, da higienização, onde todos sem exceção são “dependentes” do
trabalho que é executado com o fim de manter uma unidade de saúde em condições
de biossegurança adequadas.
Entretanto, ao observarmos o cotidiano prático assistencial, vemos que profissionais
mesmo aqueles de igual categoria profissional, que é o foco deste estudo, atuam de modo
distinto, no mesmo cenário. Alguns são diferentes na maneira de cuidar, parecendo muitas
vezes que uns cuidam e outros não, ou que uma dada equipe de saúde ocupa-se do cuidado e
outra não (CECCIN E MEHRY, 2009). Os autores afirmam ainda que:
Uma micropolítica do trabalho em saúde se oporia - ou poderia resistir - à
macropolítica do gerenciamento, da protocolização, da corporativização ou das
racionalidades. Não são regras de exercício da profissão ou do trabalho, nem
diferenças de escala que marcam o território da micropolítica, mas
coengendramentos de si e de mundos. Na análise do processo de trabalho, a
micropolítica interroga que territórios de ser são criados, que rupturas são
introduzidas, que acolhimentos são ofertados, que responsividade é buscada, que
satisfação interessa. São territórios aquilo que constituímos quando estabelecemos
36
uma relação. Pela dimensão micropolítica, detectamos - na prestação do atendimento
- uma produção política da atenção, a produção política dos seres, não apenas o
registro de assistências.
Sendo assim ao investigar as relações entre a equipe de enfermagem que atua no CTI
seja na modalidade intensivista ou da nefrologia, busca-se Discutir os limites e as
possibilidades do processo do processo de comunicação que media o cuidado da pessoa em
sessão de hemodiálise no CTI. A habilidade de comunicação tem ganhado espaço e território
no cuidado em saúde.
37
38
CAPÍTULO 3 - PROPOSTA METODOLÓGICA
3.1 TIPO DE ESTUDO
Tratou-se de uma pesquisa desenvolvida no período de março de 2014 a novembro de
2015 com abordagem qualitativa, exploratória e descritiva caracterizada pela observação da
prática assistencial investigada, parte da realidade do cuidado da equipe de enfermagem.
A abordagem qualitativa é aquela cujos métodos e técnicas estatísticas são
dispensáveis. Há uma relação dinâmica e um vínculo inseparável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números, momento através do qual as
questões básicas envolventes são a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados.
O ambiente natural é a fonte para coleta de dados, onde o pesquisador é a peça fundamental
para isto e os focos principais de abordagem são o processo e o significado atribuído ao
mesmo (MINAYO, 2010).
Escolhemos a pesquisa qualitativa porque tem como instrumentação a observação, a
entrevista e obtém seus dados através de análise de conteúdo, categorias por relevância teórica
e repetição. E optamos por estudo de campo para valorizar o aprofundamento das questões
propostas com maior flexibilidade no planejamento.
Estudamos a comunicação emergente na interação entre membros da equipe de
enfermagem durante a HD realizada no setor da terapia intensiva, valorizando a técnica de
observação, além das questões de entrevista. Para Figueiredo (2004), a pesquisa de campo é
assim reconhecida. Ela se desenvolve basicamente por meio da observação direta, das
manifestações do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas
explicações e interpretações do que ocorre no grupo.
3.2 CENÁRIOS DE PESQUISA
O cenário escolhido foi um hospital público, localizado no Município do Rio de
Janeiro, especializado no atendimento de emergências onde foi possível conhecer como se dá
a comunicação entre membros da equipe de enfermagem durante a HD no Centro de Terapia
Intensiva.
39
Neste hospital, o serviço de nefrologia é terceirizado, isto é, o serviço de diálise tem
autonomia administrativa e funcional, que realiza atividades em ambiente intra-hospitalar. A
esta equipe é reservada uma sala no segundo andar da instituição com espaço para 02
poltronas e uma mesa para os profissionais. Estes atuam de acordo com o fluxo de
atendimento gerado pela emergência e pelos setores de internação.
A escala fixa é composta por 03 técnicos de enfermagem. Um funcionário trabalha
como diarista e os dois na escala de plantão 12x36 horas com o turno das sete horas da manhã
às sete horas da noite. O enfermeiro da empresa faz visitas periódicas à instituição de acordo
com a necessidade de serviço. O médico nefrologista atua em ajuste com o parecer clínico
gerado pelos médicos da emergência e dos setores de internação.
Durante a pesquisa a sala destinada à nefrologia passou por reformas estruturais. Logo,
a equipe da nefrologia foi transferida para uma sala adaptada na antiga enfermaria da Buco-
maxilo localizada no primeiro andar.
A organização das sessões de hemodiálise é feita de acordo com o perfil clínico do
cliente, setor de internação e disponibilidade de pessoal. Na afiliação com o cenário de
pesquisa inicialmente acompanhei sessões de HD na sala de nefrologia.
Os profissionais mostraram-se experientes no manejo da máquina, na interpretação das
prescrições médicas, na detecção de instabilidade clínica e na atuação frente às intercorrências
interdialíticas. Por outro lado, a equipe de forma geral não adere as normas de biossegurança
com o uso de precaução padrão, higienização das mãos e aplicação de técnica asséptica para o
manuseio do cateter. Mesmo na condição de pesquisadora, não pude dissociar que também
sou enfermeira e acabei realizando algumas intervenções e atendimento em pequenas
urgências, mas que não influenciaram no seguimento da pesquisa.
Acompanhei o funcionamento na sala da nefrologia durante 3 semanas, permanecendo
no setor uma média de duas a três vezes semanais no período da manhã. As sessões de HD no
setor da nefrologia ocorrem sempre no período diurno. No período noturno são agendadas as
hemodiálises à beira leito, ou externas.
No setor há um mapa para o acompanhamento das sessões internas e externas (no setor
da nefrologia e à beira leito) com o nome do cliente, setor de internação, quantas sessões já
foram realizadas e qual tipo de hemodiálise feita, a saber: convencional ou prolongada.
40
A equipe de enfermagem que realiza as sessões à beira leito é escalada de acordo com
a demanda de serviço. Sendo assim, a empresa entra em contato com os técnicos de
enfermagem e direcionam onde estes estarão de plantão. Geralmente os mesmos profissionais
são direcionados ao hospital para realizar HD enquanto essa estiver prescrita para o cliente.
Após aproximação com o setor da nefrologia comecei a acompanhar as sessões à beira
leito. O serviço de terapia intensiva adulto, possui 10 leitos que incluem 2 leitos de
isolamento distribuídos em uma área aproximada de 130 metros quadrados. Entre os anos de
2010 e 2011 a média de HD à beira leito foi de 351 sessões por ano. Não há disponível dados
estatísticos recentes sobre o número de HD realizadas.
A equipe de enfermagem é composta por 02 enfermeiros e 05 técnicos de enfermagem
por turno de 12 horas. A escala de trabalho é 12x60h.
As internações no CTI são de clientes clínicos e cirúrgicos provenientes da
Emergência, Neurocirurgia, Cirurgia Geral e Vascular, Ortopedia e Clínica Médica.
Recomenda-se que todo serviço de hemodiálise móvel deve funcionar atendendo os
requisitos de qualidade e assistência médica, assegurando condições de: biossegurança,
monitoramento permanente de sua atividade e responsabilidade integral pelo tratamento
hemodialítico realizado à beira do leito em unidade hospitalar (RESOLUÇÃO SESA Nº
437/2013).
3.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA
Os participantes da pesquisa foram os profissionais de enfermagem que realizam a
HD.
O critério de inclusão dos participantes considerou o profissional com experiência
mínima de 1 ano de prática em HD à beira leito, ser maior de 18 anos, está escalado para o
cuidado e apresentar disponibilidade em participar.
Critérios de exclusão: estar em licença, férias, sobrecarregado no trabalho ou
indisposto.
Observei clientes/equipe de enfermagem sempre que a HD esteve indicada,
verificando alguma intercorrência e a comunicação adotada. Perfazendo uma carga horária
diária de até quatro horas com a observação de cada interação e de meia hora com cada
41
entrevista. Foram dedicadas horas de gravação de áudio com as entrevistas e outras com a
observação. Foram utilizadas semanalmente outras horas para organização e transcrição e
análise dos dados ao final de cada sessão produzido nas gravações, do roteiro de observação e
no diário de campo.
Assim obtemos uma variação de muitas horas de situações de abordagem da equipe de
enfermagem junto aos clientes em HD n CTI na instituição pesquisada.
A pesquisa foi submetida para apreciação e aprovação pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da EEAN/UFRJ e posteriormente no Comitê da Secretaria Municipal de Saúde. Foi
aprovada sob os pareceres 42902814900005238 e 42902814930015279. Para condução da
proposta da investigação foram mantidos contatos informais com a Coordenação do cenário
de pesquisa, momento este que apresentamos e discutimos o projeto de pesquisa com o (a)
Coordenador (a) da instituição. Em seguida, foi formalizada solicitação para autorização da
pesquisa (Apêndice A) sendo anexada a esse documento a cópia do projeto de pesquisa para a
Instituição e do parecer de aprovação do Comitê de ética em pesquisa.
Os aspectos éticos referentes à pesquisa com seres humanos foram respeitados como
determina a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). A
participação foi voluntária, após esclarecimentos dos objetivos e das finalidades assegurando
o anonimato, o consentimento mediante assinatura no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apêndice B), em duas vias de igual teor e forma, uma para o
pesquisador e outra para o participante de pesquisa.
Respeitando aos aspectos éticos e legais, há compromisso na divulgação dos
resultados, não só em eventos científicos, publicações em periódicos indexados, mas também
o retorno do relatório aos cenários da Pesquisa.
3.4 TÉCNICA PARA COLETA DE DADOS
As etapas foram: levantamento de dados de identificação de formação e atuação
profissional e identificação clínica do cliente, observação sistemática não participante e
entrevista situacional gravada com profissionais, utilizando questões semiestruturadas sobre a
comunicação de HD no Centro de Terapia Intensiva e desafios encontrados. O levantamento
prévio semanal sobre a HD em clientes internados na da instituição foi obtido a partir do
agendamento junto à equipe da nefrologia.
42
Foram coletadas previamente informações dos clientes em seus prontuários para que
seja realizada uma fidedigna caracterização e observação de relatos de complicações.
Posteriormente, a observação foi realizada com roteiro sistematizado e anotações em diário de
campo. Depois entrevista situacional utilizando questões semiestruturadas baseadas nos itens
de observação.
Após observação realizei com o técnico de enfermagem da nefrologia entrevista sobre
o conhecimento a priori dos itens em observação. Essa modalidade de entrevista possibilitou a
liberdade para desenvolver cada situação observada com os itens da entrevista, na direção que
considerei adequada. Para auxiliar nas transcrições dos depoimentos contei com o serviço de
transcrição de áudio.
A opção por essa forma de entrevista deve-se ao fato de poder explorar mais
amplamente uma questão. Neste caso, o entrevistado expressou suas opiniões e sentimentos,
situação em que o entrevistador leva o informante a falar sobre determinado assunto, sem,
entretanto, forçá-lo a responder, ou limitá-lo em suas respostas (MARCONI, LAKATOS,
2008).
As entrevistas ocorreram individualmente e com privacidade nos respectivos cenários,
após término da HD. Solicitamos à chefia do setor a liberação de cadeiras para atender a
posição correta durante o diálogo.
A produção dos dados foi realizada de acordo com a planilha de HD agendadas e a
transcrição e a digitação dos depoimentos será processada semanalmente.
Em síntese as etapas essenciais para a obtenção dos dados foram:
Identificar a amostra (características dos observados e quantidade);
Leitura do prontuário;
Realizar as sessões de observação;
Entrevista com os participantes da pesquisa;
Triangulação dos dados coletados.
.
43
44
CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS DADOS
Foi priorizada a análise temática dos depoimentos relativos aos estilos e os tipos de
abordagem comunicativa no ambiente de cuidado, e os participantes foram identificados por
codinome, categorizados e discutidos à luz de autores cujas bases conceituais ampliaram a
compreensão do objeto de investigação.
O método da Análise de Conteúdo, segundo Bardin (2009) consiste em tratar a
informação a partir de um roteiro específico, iniciando com (a) pré-análise, na qual se escolhe
os documentos, se formula hipóteses e objetivos para a pesquisa (b) na exploração do
material, na qual se aplicam as técnicas específicas segundo os objetivos e (c) no tratamento
dos resultados e interpretações.
A primeira fase de pré-análise fundamenta-se na organização e sistematização das
ideias iniciais contidas nos dados obtidos, visando à preparação do plano de análise. É
considerado um período de intuições no qual ocorre a formulação das hipóteses, dos objetivos
e indicadores para fundamentar a interpretação final. A primeira atividade consiste na leitura
flutuante e estabelece contato com os documentos a serem analisados. Desse modo, a leitura
vai se tornando mais precisa, em função de hipóteses emergentes, da projeção de teorias
adaptadas sobre o material e da possível aplicação de técnicas (BARDIN, 2011).
Na fase de exploração do material ocorre a operação da pré-análise concluída e
codificada, ou seja, explora-se o agrupamento das unidades de registros comuns. Unidade de
registro é a unidade de significação codificada e corresponde ao segmento de conteúdos
considerados unidade de base. Já unidade de contexto serve de unidade de compreensão para
codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem (BARDIN, 2011).
Inicialmente foi realizada a transcrição dos áudios e posteriormente o agrupamento
dos fragmentos (falas) de acordo com os objetivos desse estudo que continham informações
significativas para a construção da discussão de dados.
Emergiram 2 categorias:
● Estratégia de Comunicação
● Condições Internas, Externas e Clínicas
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
45
Dos 10 entrevistados, 5 eram homens e apenas 5 mulheres. Em relação ao tempo de
formado os técnicos de enfermagem da nefrologia tem entre 5 e 26 anos de experiência na
área, atuando nesta área específica de hemodiálise. Afirmam sentir-se seguros realizar tais
atividades e para identificar situações de urgência.
De acordo com o a recente pesquisa divulgada pelo Cofen (2015) sobre Perfil da
Enfermagem no Brasil a equipe de enfermagem é predominantemente feminina sendo
composta por 84,6% de mulheres. É importante ressaltar, no entanto, que mesmo tratando-se
de uma categoria feminina, registra-se a presença de 15% dos homens. Pode-se afirmar que na
enfermagem está se firmando uma tendência à masculinização da categoria, com o crescente
aumento do contigente masculino na composição. Essa situação é recente, data do início da
década de 1990, e vem se firmando. Dado que se confirmou no estudo onde a população
masculina aparece em relevo.
4.2 ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO
Ao entrar no Centro de Terapia Intensiva para realizar a HD, os técnicos de
enfermagem da nefrologia expressam que facilita a abordagem e o trabalho agir de forma
social e interagir com a equipe de enfermagem do setor.
Observa-se que os profissionais de enfermagem da HD não se entendem como
profissionais do Centro de Terapia Intensiva.
É muito importante fazer rede. A política é a alma do negócio né? Se a gente não
for político, fica difícil até mesmo pra você trabalhar lá dentro, que o pessoal já
está em casa, a gente não! A gente tá lá por consequência! Eu to lá hoje e amanhã
posso não estar (P4).
Eu sou um cara meio da política, que interage com o povo, interage com os
enfermeiros, interage com a rotina, com os doentes que tão fazendo diálise (P8).
Quando você tá na sua casa é uma coisa, você tá na casa dos outros, você tem que
chegar, se apresentar: eu vim dialisar o paciente fulano de tal, tem alguma
intercorrência agora? Posso botar? Não posso? (P2).
46
A gente tem que chegar e conseguir fazer uma política né? A gente tenta jogar e vai
e conversa: poxa gente, o paciente tá precisando, vamos ver, usar esse lado, um
joguinho de cintura né? A gente consegue! (P3).
Isso é uma das reclamações dos enfermeiros dos setores fechados: fulano chegou
aqui não deu um bom dia, uma boa noite, colocou o paciente lá! Não perguntou se
podia, se não podia, se o médico autorizava. Então uma das coisas que a gente tem
que ter é diálogo com o supervisor do setor, porque você tá entrando na casa dos
outros, você não tá na sua casa né? E às vezes acontece do colega chegar e não ter
esse tipo de iniciativa e eles reclamam e não estão errados. (P6)
Não tem como planejar. É chegar e tentar fazer. Se der aquela hora você faz, se não
der você espera! Tem que cumprir a hierarquia lá! Não tem como você colocar na
marra, não tem como fazer isso. A gente não vai se prejudicar. E acontece do
enfermeiro pedir o telefone da empresa para reclamar que fulano fez isso, largou o
paciente aqui e foi pra rua, ficou horas fora, o paciente aqui sozinho, então isso
acontece muito (...) (P9)
Eu não sei qual o problema da enfermagem, sabe? Acha que a gente ganha muito!
Que a gente não trabalha, que a gente vai para o setor fazer bagunça, quando a
intenção não é essa. (P3)
A convivência gera a formação de vínculos. Profissionais atuando diariamente e
trocando ideias, informações sobre demandas clínicas dos pacientes, estabelecem confiança e
vínculo, fortalecendo o eixo da comunicação entre profissionais de saúde.
Tranquilo, conheço os médicos, os enfermeiros, conheço dois anos já! Com certeza
faço parte da equipe! Não tenho nenhuma questão com os enfermeiros, todos
ajudam, auxiliam. (P5)
A gente consegue driblar o médico (intensivista), ele passa o cateter pra gente, a
gente consegue resolver. Alguns médicos você acaba criando um vínculo de tanto
que você tá ali. Ali eu trabalho todo dia! Você cria vínculo. (P4)
4.3 Condições Internas, Externas e Clínicas
As condições internas estão relacionadas aos protocolos institucionais, as condições
externas à condição de trabalho (sistema de terceirização no âmbito público) e condição
clínica é direcionada ao estado de saúde do cliente durante a sessão de HD.
47
O grupo pesquisado refere experiência na área de HD, tendo vivenciado diferentes
situações de urgência/emergência onde eles colocam-se a frente para dirigir os cuidados de
enfermagem de acordo com as intercorrências.
O enfermeiro passa a visita, resolve o que tem que resolver e lógico que acaba a
gente ficando de responsável. Mas o enfermeiro fica a par de tudo entendeu? Ele
que domina o negócio! Mas geralmente a gente que fica na linha de frente, que
resolve. (P4)
Sozinha aqui tem dois pacientes, ele faz uma parada, eu tenho que tá aqui, porque
eu tenho que ver, ai calha de outro fazer também. Como é que eu vou atender os
dois ao mesmo tempo? (P1)
O maior desafio é fazer um trabalho bom porque o que acontece, nós estamos
sozinhos dentro do hospital, como nós somos um serviço terceirizado e como a
diálise é sempre vista como é... (P3).
Você acaba sabendo, sem querer, a parte laboratorial, então você acaba intervindo
e manda um bicarbonato, que a doutora tá vindo... Não que seja da nossa alçada!
Mas automaticamente fica a linha de frente, então até chegar alguém você vai
tentando solucionar os problemas. (P7)
Os técnicos de enfermagem da nefrologia entendem que para o desenvolvimento de
uma boa assistência precisam entrar em consonância com a rotina do setor.
Aqui é uma exceção! Porque em setor fechado só se pode fazer a noite aqui
(Unidade Coronariana) e lá no CTI. Mas normalmente as diálises não são pra ser à
noite (P1)
Às vezes o cara tem que tomar um sangue, você oferece pra passar aqui pela diálise
que é mais rápido, é melhor pra ele... E se tá em diálise na hora do banho você
tenta ajudar para que não seja um obstáculo ali, porque nós somos vistos como
isso! Tá atrapalhando a rotina do lugar, tá fazendo bagunça no setor. (P3)
Nos setores fechado eles colocam obstáculos, eles preferem que a diálise seja feita à
noite, pra não mudar a rotina deles, a gente entende isso, sabe que os setores são
apertados, os outros boxes não estão preparados pra tanta maquinaria e ainda mais
uma que é máquina de diálise. Mas eu acho que a gente tem que deixar nosso
egoísmo porque ali em primeiro lugar é o paciente. (P6)
48
Vou chegar no setor, me apresentar e perguntar se pode. Às vezes não pode e falam:
primeiro a gente vai dar banho e depois você começa. Eles gostam de fazer isso.
Fazer o que? Tem que esperar. (P2)
No setor fechado, é um setor onde a gente tem médico a todo o momento. Eles
podem não estar dentro do CTI, mas eles estão ali. Então o pessoal do dia tem que
fazer as enfermarias. É mais fácil achar o médico. Porque de madrugada... o
paciente faz uma parada... vai chamar quem? Ninguém! Então normalmente os
pacientes do CTI ficam pra noite. Não era pra ficar... Mas tipo assim a demanda é
muito grande e então a preferência é deixar o CTI pra noite. (P1)
A comunicação neste momento mostra-se fundamental para o bom atendimento ao
paciente realizando HD. A troca de informações sobre a clínica do paciente ocorre entre
médicos nefrologistas, técnicos de enfermagem da HD, enfermeiros, médicos e técnicos de
enfermagem do CTI.
Às vezes não precisa nem falar, eles mesmos vem e vão aumentar aqui. Começou a
HD, a pressão caiu eles vão aumentar a nora! Não precisa nem pedir! (P7)
Antes da gente colocar o paciente em diálise o médico (nefrologista) passa na
frente! Ai ele vê! A não ser o paciente que a gente já dialisou, é crônico. Então a
gente vai “botando” e avisa pro médico: to botando tal, que a gente já sabe! Mas
um paciente assim (agudo, grave), a gente não pode colocar sem prescrição.
Porque o médico vai olha o balanço, vai olhar quanto tem que perder, em quanto
tempo e quanto saiu, quanto pode tirar! (P5)
Todo dia a doutora passa e olha os exames, vê o balanço hídrico do pessoal, por
isso ela sabe se recuperou ou não, pela quantidade de urina que ele fez em 24 horas
e pelo resultado do exame do dia, assim tem como ela saber. Às vezes ele urina
bastante, mas é uma urina sem qualidade. (P6)
Eu acho que a gente tenta fazer um serviço legal faz coisa que a gente nem devia
fazer, não é da nossa alçada, mas a gente vê exames, vê se o cara precisa
intensificar tudo em prol do paciente. (P10)
Uma hipotensão, eu vou fazendo o procedimento e vou fazendo no procedimento e
vou avisar, entendeu? Tipo assim de imediato, se fez a hipotensão, ai o paciente tá
aqui, a enfermeira tá lá do outro lado, também não posso gritar. Eu vou abrir um
soro! Vou dar os primeiros socorros e vou avisar pro médico: tá fazendo
hipotensão. (P1)
49
O cara senta lá e às vezes tira um cochilo, às vezes tá lendo um negócio e o paciente
tá dialisando... Ele tá pensando que o cara tá dormindo... o cara tá morto. Isso já
aconteceu uma vez, a colega se distraiu, não tinha experiência, paciente parou e a
máquina rodando, daqui a pouco o sangue começou a coagular e o paciente
parado. (P2)
É preciso instituir um protocolo/rotina de administração de medicações de pacientes
que estão em HD. Agendamento prévio sempre que possível dos horários que será iniciada a
HD para o aprazamento e dosagem das medicações corrigidas sempre que necessário.
Normalmente se tiver antibiótico para fazer, a gente prefere fazer depois, porque a
máquina filtra! Tipo assim, não vai fazer mal para o paciente, mas também não foi
vai fazer efeito! A gente pede pra fazer, que não adianta fazer em diálise, a máquina
vai filtrar. (P1)
Se falar que tem um antibiótico pra passar naquela hora que vai começar a diálise e
puder deixar pra depois, às vezes eu passo depois, não esquento não. Então o
controle de medicação é com eles, não comigo, não conosco! Às vezes a gente usa
uma dipirona, às vezes o paciente tá com febre, às vezes tá enjoado, a gente faz
remédio para enjoo, essas coisas. Mas as medicações do paciente é
responsabilidade do setor de lá. Numa intercorrência, a gente pede e o médico
autoriza, a gente faz. (P2)
Dependendo do setor, dependendo do colega que tá a gente interage mais. Então
tem colegas que não se importam e fazem assim dessa forma... Tem outros que são
curtos e objetivos que falam: não vai fazer agora? Então eu vou rodelar e vai ficar
sem, entendeu? Quer dizer depende muito do profissional, de quem tiver. Mas eu to
assim, não digo só por mim não, a nossa equipe aqui tá sempre se oferecendo,
quando eles vão pra setores fechados, eles tão sempre dispostos. (P3)
O que acontece no CTI é que geralmente são aprazados de 8 e 8 horas, a gente
chega 5 e pouca, seis horas da manhã, até duas horas após o horário, o pessoal faz
se a diálise acabar. A gente vê com os técnicos e com a enfermeira e avisa pra não
fazer agora que não vai adiantar nada! Segura! Tipo assim, quando acabar a
diálise faz a medicação (P9)
Chego e pergunto: tem alguma medicação que vai ser feita pra ele? Se tem um
antibiótico, ia fazer oito hora. Aviso: poxa olha só não dá pra fazer as oito porque
ele vai entrar em diálise e esse antibiótico é dialisado, então você quer me dar o
antibiótico que eu passo no final da HD? (P7)
50
Essa parte de medicação, eles lá que vão controlar isso. Tem um antibiótico pra ele
agora, se botar agora na máquina, de repente vai embora! Quer que passe após a
diálise? Isso não é problema nenhum. (P6)
51
52
CAPÍTULO 5 - DISCUSSÃO DE DADOS
Investigar como ocorre a comunicação da equipe de enfermagem em um cenário de
alta complexidade durante o manuseio de máquina especializada e emprego de tecnologia
específica e sua implicação para o cuidado possibilitou a observação de diversas semânticas
que compõem essa realidade.
A tecnologia deve ser compreendida como um conjunto de ações de trabalho para
gerar uma ação transformadora na natureza. Não se limita apenas aos equipamentos, mas
também, ao conhecimento e atuações que são necessárias para operá-las: o saber e o seu
procedimento (SCHRAIBER; MOTA; NOVAIS; 2009).
A atuação requer o domínio de ações técnicas como a competência/proficiência no
manuseio dos equipamentos (especialmente, máquina de hemodiálise). Direcionando, neste
momento, o olhar para o cumprimento das rotinas. Trabalhar em hemodiálise, não é desafio
fácil, ainda mais em outro cenário complexo (BARBOSA, 2011).
Observar o que ocorre no dia a dia da equipe de enfermagem, as relações
interpessoais, a continuidade do cuidado que é ofertado ao cliente configurou-se num grande
desafio de pesquisa.
A comunicação no cenário investigado teve diferentes desenhos de acordo com os
plantões da nefrologia e da terapia intensiva. Um dos desafios é não deixar com que a rotina
impeça que o profissional transmita positividade no cuidado e que este seja um processo de
transformação entre o ser o cuidado e o cuidador.
Nas relações interpessoais da equipe de enfermagem busca-se o resgate das
potencialidades da pessoa. A prática e a aplicação deste conhecimento favorecem a
compreensão do relacionamento com o entorno proporcionando qualidade de vida, qualidade
nas afinidades e qualidade no cuidado.
Um ambiente favorável é diretamente proporcional para atitudes favoráveis. Se a
comunicação tem o contexto um desses pode ser atribuído ao ambiente. De acordo com
Mehabian (1976) as nossas percepções dos lugares em que nos comunicamos com os outros é
ilimitado, mas conforme vamos percebendo as particularidades de nosso ambiente, nós
incorporamos tais percepções no desenvolvimento das mensagens que enviamos.
53
Knapp (1978) analisou as percepções nos ambientes de interação, mesmo inferindo
que as percepções básicas não possam ser inteiramente relegadas a respostas emocionais.
Entre elas: percepções de formalidade, de acolhimento, de privacidade, de familiaridade, de
constrangimento, de distância e de tempo.
• Percepção de formalidade - o ambiente pode ser classificado em formal e informal.
As reações baseiam-se nos objetos presentes, nas pessoas presentes, nas funções
desempenhadas.
• Percepção de acolhimento - o ambiente traz conforto psicológico e acolhimento,
encorajando a permanência e o relaxamento.
• Percepção de privacidade - observa-se um ambiente geralmente fechado ocupado por
poucas pessoas.
• Percepção de familiaridade - quando ainda estamos conhecendo uma pessoa ou
estamos num ambiente que não é familiar nossas respostas geralmente são cautelosas,
estudadas e convencionais.
• Percepção de constrangimento - nossa reação ao ambiente é saber se poderemos sair
dele de forma fácil ou difícil.
• Percepção de distância - nossas reações vão de acordo com o a distância em que
temos que conduzir a comunicação com o outro. Podendo refletir num afastamento físico
(estar em locais distantes) ou distanciamento psicológico (barreiras que separam as pessoas
mesmo estando próximas).
• Percepção de tempo – o tempo também é parte do ambiente comunicativo. É a
percepção relativa na inclusão de objetos, ruídos ou até condições climáticas. Regula os
momentos de comer e dormir, quanto recebemos de trabalho.
Durante as sessões de HD no CTI foi possível observar todas as percepções de nosso
meio classificadas por Knapp e Hall. O ambiente configurou-se em formal e informal nas
diferentes sessões acompanhadas. Quanto maior a formalidade, mais o comportamento
comunicativo foram superficiais.
O acolhimento produto das relações previamente estabelecidas durante o trabalho
favoreceram o cuidado. Acolher significa “dar ou receber hospitalidade” de acordo com o
54
lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda in Dicionário Aurélio. Onde o técnico de
enfermagem da nefrologia desenvolveu um espaço afetivo este foi mais assertivo na troca de
informações sobre o estado do cliente. Esta ação foi observada em metade das sessões
analisadas.
As sessões de HD no CTI inciam a noite e algumas se estendem até a madrugada o
que trouxe percepções diferentes do ambiente: 1) A equipe de enfermagem está menos
susceptível para as interações de comunicação e 2) São mais atentos e agis na execução do
cuidado. Estas observações dirigem a dois caminhos: durante o período noturno mediante o
cansaço físico e mental os profissionais estão mais irredutíveis a comunicação, porém o
número menor de pessoas na equipe sugere maior privacidade favorecendo o emprego de
mensagens.
De acordo com o sociólogo Bourdieu (1996) os poderes da linguagem, da eficácia da
palavra, da maneira ou do conteúdo do discurso dependem crucialmente da posição social dos
interlocutores. Dependem do reconhecimento de uma autoridade, de um capital simbólico
acumulado por certo grupo e enunciado por seus porta-vozes autorizados. Retrata, assim, as
desigualdades presentes nas trocas comunicativas, afirmando que sua eficácia simbólica não
se constrói no encontro entre falantes, mas se situa num conjunto de fatores que o antecede (a
relação entre as propriedades do discurso, as propriedades daquele que o pronuncia e as
propriedades da instituição que o autoriza a pronunciá-lo).
Na instituição há diferentes concepções de contratação da mão de obra. Os
funcionários da CTI são regidos pelo regime estatutário e o os funcionários da nefrologia são
prestadores de serviço de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o que
interfere na comunicação entre profissionais.
Sabe-se que o modo de organização do trabalho utilizado interfere na qualidade da
comunicação entre os profissionais. No caso do Modelo Funcional a comunicação segue a
escala hierárquica, é diretiva e visa o cumprimento de ordens e tarefas. Em contrapartida, há o
Trabalho em Equipe, que visa à organização de um trabalho conjunto entre os membros,
acarretando com isto uma comunicação mais aberta e lateral, objetivando assim a prestação de
uma assistência qualificada ao cliente (SANTOS E BERNARDES, 2010).
O modelo funcional passou a ser criticado em meados da década de 70, pois a doença
era vista apenas do ponto de vista de um agente patogênico. E desde então se busca a adoção
55
um modelo da multicausal, onde a pessoa não pode ser vista fragmentada, apenas como
portadora de uma doença, mas como um ser que necessita de cuidado integral. Sai modelo
centrado na execução da tarefa, em detrimento do cliente e entra o ser humano com todas as
suas dimensões que precisa de cuidado.
Portanto, o trabalho em equipe não tem procedência apenas para racionalizar a
assistência médica, para avalizar a melhor relação custo-benefício do trabalho médico,
ampliar o acesso e a cobertura da população atendida, mas vem da necessidade e da urgência
de integrar as disciplinas e as profissões entendida como imprescindível para o
desenvolvimento das práticas de saúde a partir da nova concepção biopsicossocial do
processo saúde-doença (PEDUZZI, 2009).
A integralidade traduz o ser humano com todas as suas dicotomias, com as relações de
complementaridade interferindo no cuidado de forma integral. Alegrias, êxitos, tristezas,
fracasso, competências, tristezas, afeto, identidade, emoção são questões sociopolíticas tanto
quanto instituição, classe social, relações de poder e trabalho são questões subjetivas; são
passagens e conflitos entre o uno e o múltiplo. E quando não há esse confronto cessa o
movimento e a vivacidade do homem, dos grupos e da sociedade (GELBCKE; et al, 2011).
Ainda de acordo com Gelbcke (2011) “nas instituições, na vida cotidiana, as relações
se estabelecem por meio de funções preestabelecidas, em que ocorre o desempenho
automático dessas funções, impostas por rotinas e normas, impedindo que os trabalhadores
participem por inteiro, com seus sentimentos, ideias e paixões”.
Esta noção de integralidade requer de forma mais prática e intensa que a atuação
profissional no trabalho em equipe inclui a construção de saberes e práticas que vão além do
modelo biomédico, abarcando as múltiplas dimensões da saúde (PEDUZZI, 2009).
Peduzzi, 2009, afirma ainda que em torno do trabalho em equipe ainda predomina a
existência de vários profissionais numa mesma situação de trabalho, no mesmo espaço físico
e com a mesma clientela o que configura dificuldade para a prática de equipes, pois a equipe
precisa integrar a buscar para assegurar a integralidade da atenção à saúde.
O conceito de Peduzzi em 2001 traz o trabalho em equipe como:
Modalidade de trabalho coletivo que é construído por meio da relação recíproca, de
dupla mão, entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos profissionais
56
de diferentes áreas, configurando, através da comunicação, a articulação das ações e
a cooperação.
Deve-se reconhecer a importância da profissão de enfermagem, suas contradições no
pensar e fazer, a necessidade de suas áreas, sua relevância social e capacidade resolutiva nas
áreas de saúde, seu domínio de conhecimentos e ainda necessidades de tecnologias avançadas.
Os esforços individuais e coletivos, regionais e nacionais, a determinação em alcançar metas,
as estratégias que incrementem a construção de conhecimentos relevantes e inovadores, vem
sendo uma prática social desafiadora (ERDMANN, 2009).
A organização do serviço tem que focar na fala horizontal onde todos os indivíduos
falam e seu discurso tem valor para a prática. Nos modelos gerenciais mais contemporâneos,
pautados em estruturas flexíveis, descentralizadas e ligadas à responsabilização dos
envolvidos, deve-se pensar menos intensivamente em comunicação vertical e,
prioritariamente, em comunicação horizontal ou lateral. Assim o ato de se comunicar fica
facilitado e aproxima as interações pessoais, tornando estas mais agradáveis e produtivas
(BERNARDES; ET AL, 2007; SANTOS, BERNARDES; 2010).
A contribuição do estudo vem em prol da valorização do cuidado mesmo diante das
demandas na terapia intensiva. O cuidado precisa ser humano. Aqueles que cuidam precisam
estabelecer encontros com o cliente e com outro cuidador. O enfermeiro que se encontra no
setor de terapia intensiva é o elo entre a equipe multiprofissional buscando a partilha de
informações sobre o cliente. Tem o desafio de apontar caminhos e mesmo diante da rotina
agir de forma criativa e inovadora.
Assim, a comunicação configura-se como um elemento essencial no cuidado e como a
base das relações interpessoais, pois, comunicar-se também é cuidar (BROCA e FERREIRA,
2012).
A comunicação verbal sobre as demandas clínicas se faz essencial neste contexto. A
HD é procedimento complexo, exige equipamentos precisos, materiais específicos e
profissionais devidamente treinados. Envolve a equipe multiprofissional do CTI e da HD para
que possam trabalhar em conjunto, pois a primeira assiste diretamente o paciente e, a segunda,
detém o domínio total da especialidade, portanto, é necessária a associação entre as partes
para potencializar as ações (SECCO E CASTILHO 2007).
57
Através do trabalho em equipe inicia-se a formação de vínculos que é uma ferramenta
facilitadora do dia a dia de trabalho. A noção de vínculo nos faz refletir sobre a
responsabilidade e compromisso (MONTEIRO; FIGUEIREDO; MACHADO, 2009).
Destaca-se a necessidade do desenvolvimento de um trabalho conjunto, no qual todos
os profissionais se envolvam em algum momento da assistência e, agindo de acordo com o
seu nível de competência específico, formem um saber capaz de dar conta da complexidade
dos problemas e necessidades de saúde dos indivíduos e da coletividade (COLOMÉ, LIMA E
DAVIS, 2009).
Buscamos neste estudo observar o trabalho em equipe e as relações pessoais sendo
intermediadas pela comunicação. De acordo com Silva 2012 a comunicação não verbal
representa cerca de 93% de nossa comunicação e, numa interação, apenas 7% do significado é
transmitido pelas palavras, que 38% é transmitido por sinais paralinguísticos e que 55% é
transmitido por sinais do corpo, sendo assim justifica-se a importância de observar também a
comunicação não-verbal.
Silva, 2012, afirma ainda:
Nas relações interpessoais, a comunicação não verbal desempenha quatro funções
básicas: complementa, ratifica e reforça a comunicação verbal; substitui a
comunicação verbal; contradiz a comunicação verbal; e demonstra sentimentos.
A comunicação não-verbal pode ser classificada de acordo com as suas dimensões,
apresentadas a seguir:
- Paralinguagem: os efeitos dos sinais vocais
A paralinguagem o sinal não-verbal mais emitido na comunicação não-verbal. Está
presente todo o momento. Às vezes conscientemente manipulamos o tom de voz de modo que
a mensagem vocal contradiz a mensagem verbal.
O tom de voz variou de acordo com as situações vivenciadas. Durante a própria
entrevista o participante de pesquisa abaixou o seu tom de voz para falar da relação com outro
colega, caracterizando com receio que alguém pudesse ouvi-lo.
Os sinais vocais não-verbais exercem grande influência nos ouvintes de acordo com as
informações e com as respostas apresentadas e na tonalidade de voz usada.
58
Knapp e Hall afirmamque os sinais verbais são muito importantes em vários
contextos. Relatam ligação entre sinais vocais e habilidade para identificar traços da
personalidade e seu impacto social.
Os sinais não-verbais também incluem rir, gritar, sussurrar, roncar, berrar, gemer,
choramingar, suspirar e vários outros sons. Esses sinais foram empregados em vários
momentos das sessões de HD.
- Cinesia: o efeito dos gestos e da face
A cinesia foi expressa em vários momentos observados. Para Knapp os gestos são
utilizados para comunicar uma ideia, intenção ou sentimento. Muitas ações são baseadas nos
movimentos dos braços e das mãos na área da face e da cabeça. Os gestos desempenham
diferentes funções onde podem substituir as falas, regular o fluxo das interações, manter a
atenção, dar ênfase ao discurso e ajudar a caracterizar e memorizar o conteúdo do discurso. O
autor diz ainda, que as ações não-planejadas decorrentes de uma emoção não podem ser
consideradas gestos, pois não fazem parte de uma mensagem planejada. Assim para Knapp
gestos são ações desenvolvidas pelo emissor onde este tem a despeito da sua vontade/emoção
quer atribuir uma mensagem.
Os gestos nos ajudam a comunicar de diferentes maneiras: substituem a fala quando
não podemos ou não queremos falar, dá ênfase a fala, estabelece e mantem a ação entre outras
funções. No cenário os gestos foram utilizados para não expor algumas situações ao cliente
que se encontrava lúcido no setor e para não provocar ruídos adicionais no CTI.
- Proxêmia: o efeito da posição dos corpos
Está relacionada ao uso do espaço, a distância mantida entre os interlocutores da
relação, o que sugere o tipo de relação que existe entre as duas pessoas, suas preferências,
status e relação de poder e interpessoal.
Nas relações observadas o técnico de enfermagem da HD assume o cliente e
permanece a beira leito, sendo assim a equipe de enfermagem do setor, só se aproxima
quando solicitada, na ocorrência de alarmes, para mobilização do cliente, verificação de
glicemia capilar. Na maioria das sessões observadas a equipe de enfermagem evita dirigir
ações para o cliente em HD.
59
- Tacésica: os efeitos do toque na comunicação
Os toques durante a interação humana podem ser rápidos e aparentemente
imperceptíveis, porém são carregados de significados. É a maneira mais básica e primitiva de
comunicação.
Knapp e Hall destacam que o toque é um aspecto importante no relacionamento
humano, pois desempenha o papel nos atos de encorajar, expressar ternura e mostrar apoio
emocional. O toque funciona como qualquer outra mensagem: pode suscitar reações positivas
e negativas dependendo do relacionamento das pessoas e das circunstâncias. Os autores
classificam o toque em:
- Toque como afeto positivo: envolve apoio, reconforto, apreciação, afeto. Um
exemplo é o toque do enfermeiro como reconfortante e relaxante. Se o toque for sentido como
indicação de cordialidade, pode gerar sentimentos positivos como a disposição do cliente a
falar e melhora nas suas atitudes. O toque em conjunção com outros fatores, como as
revelações pessoais de quem realizar o toque pode fazer com o cliente aumente suas
revelações com o toque.
- Toque como afeto negativo: toques que expressem atitudes negativas como bater,
esmurrar ou segurar fortemente o braço de outra pessoa.
- Toque como brincadeira: é utilizado para reduzir a seriedade de uma mensagem.
- Toque como influência: o objetivo do toque é persuadir uma pessoa a fazer algo, está
relacionada à influência.
- Toque como gerenciamento de interação: utilizado para atrair a atenção de alguém.
- Toque como receptividade interpessoal: significa que a intensidade da interação é
elevada ou nível de envolvimento com quem está interagindo é alto.
- Toque como algo acidental: toque não intencional.
- Toque como tarefa ou toque funcional/profissional: são relacionados à realização de
uma tarefa.
- Toque como cura: não pode ser explicado por nenhuma terapia médica ou
fisiológica. Está relacionado a crença religiosa, emoções exacerbadas e confiança no curador.
60
Na HD no CTI o toque foi observado em três momentos distintos: a) No cliente; b)
Entre profissionais; c) Autotoque.
a) No cliente – é realizado para executar ações de enfermagem, está relacionado a
procedimentos, por exemplo, instalação da HD, checagem de eletrodos aderidos ao
tórax do cliente, conferição de acúmulo de líquido em pernas e pés. O toque está
relacionado ao fazer prático. Em apenas uma sessão foi observado o toque como afeto
positivo, onde o técnico de enfermagem da HD interagiu positivamente com o cliente
através do toque, onde este se mostrou preocupado com início de mais um terapia no
cenário de complexidade. O toque trouxe confiança e encorajamento para vivenciar
esta nova etapa de tratamento.
b) Entre profissionais – foi observado o toque de brincadeira e como gerenciamento de
interação para realização de alguns procedimentos. É uma ação adotada para
aproximação entre profissionais.
c) Autotoque – caracterizam-se por atitudes nervosas como roer unhas, cutucar o rosto,
torcer o cabelo e acariciar-se. São observados quando há desconforto psicológico e
ansiedade. Essas ações foram observadas em casos de não identificação do problema
de alarmes de bombas infusoras, da máquina de HD e no manuseio com o cateter.
As competências no domínio do processo de construção de conhecimentos, em
abrangência e especificidade de campos ou áreas de conhecimento, possibilitam trazer novos
conhecimentos importantes para o avanço de especialidades ou áreas, incluso, a especialidade
de Enfermagem em Nefrologia (ERDMANN 2009).
O discurso dos técnicos de enfermagem da HD enfatizam a política e a hierarquia no
processo de se comunicar. A hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva é vista como um
fator extra no processo de trabalho e por ser realizado um serviço terceirizado só pode ser
realizado mediante a autorização prévia do supervisor do setor.
As relações entre as equipes de enfermagem não são conflituosas, porém neste estudo,
evidenciou-se a necessidade de uma interação maior para mediar o cuidado a pessoa em
sessão de HD no CTI.
61
As equipes trabalham fragmentadas, cada uma executa suas ações, mas trocam poucas
informações. Durante o término das sessões o profissional designado para continuidade do
cuidado não tem ciência, por exemplo, de alguns dados básicos como o volume retirado.
O técnico de enfermagem da HD na ocorrência de intercorrências interdialíticas se
reportou ao enfermeiro do CTI ou solicitou a presença do mesmo, apesar de iniciarem o
manejo clínico do cliente.
A equipe de enfermagem deve adotar métodos de análise de risco e garantir a
qualidade do serviço, identificar os riscos e as situações que propiciam a sua ocorrência, com
a intenção de buscar alternativas para minimizar as falhas (SOUZA, 2013).
Estudos demonstram que as alterações hemodinâmicas são as principais complicações
que surgem nos clientes durante a terapia hemodialítica intermitente em função da
instabilidade dos pacientes críticos (SILVA, THOMÉ, 2009).
O avanço e o incremento tecnológico na terapia intensiva têm exigido cada vez mais a
capacitação de pessoal e a gestão dos recursos tecnológicos disponíveis, cada vez mais
modernos, considerando que os níveis de complexidade tecnológica refletem a natureza das
tarefas a serem executadas pelos profissionais de saúde, para o bom funcionamento desses
recursos e a segurança do paciente (SILVA, CUNHA, MOREIRA, 2011).
Portanto, a assistência em terapia intensiva é considerada como uma das mais
complexas do sistema de saúde. Afinal, os clientes mais graves das unidades hospitalares são
alocados nas CTI, demandando o uso inevitável de tecnologias avançadas e, principalmente,
exigindo pessoal capacitado para tomada de decisões rápidas e adoção de condutas imediatas
(INOUE, et al; 2009).
Um das necessidades de serviço é o estabelecimento de rotina para a realização de
alguns procedimentos para o bom funcionamento do setor. Pode ser estabelecido um
horário/turno entre as equipes de terapia intensiva e nefrologia para realização de HD, o que
facilitaria o gerenciamento da assistência.
Sobre as complicações mais frequentes na sessão de HD observadas, a pesquisa
corrobora com os outros estudos na áreas sendo a hipotensão e hipertensão arterial as mais
frequentes. Os estudos citam ainda: cãibras, náuseas, vômitos, cefaléia, arritmias cardíacas,
prurido, dores lombar e torácica. As complicações menos comuns incluem síndrome do
62
desequilíbrio da diálise, reações de hipersensibilidade, hipoxemia, hemorragias, convulsões,
reações pirogênicas, hemólise e embolia gasosa. Essas complicações podem ser casuais e/ou
de fácil manejo, o que depende das condições clínicas da pessoa. Todavia, elas podem ser até
mesmo fatais o que evidencia a necessidade de uma assistência de enfermagem atenta e
precisa aos clientes durante a HD (DALLÉ, LUCENA, 2012; NASCIMENTO, MARQUES,
2005; SILVA, THOMÉ, 2009, FAVA et al, 2006).
A administração de medicações antes e durante a HD ainda permeia dúvidas na
assistência de enfermagem e nas prescrições médicas em relação a ajuste de dosagem,
depuração na HD, eficácia da medicação e aprazamento principalmente de antibióticos.
Como a hemodiálise é realizada de acordo com a demanda de funcionários, máquinas
e com as necessidades do setor, pode ocorrer de serem administrados anteriores à HD e não
ter a dose terapêutica administrada. É importante que a equipe da terapia intensiva e da
nefrologia se comunique sobre medicações para garantir que a dose correta foi administrada.
Da mesma forma que muitos medicamentos são normalmente excretados na sua
totalidade ou em parte pelos rins, muitos medicamentos são excretados durante a hemodiálise.
É necessário monitorar os níveis sanguíneos e teciduais desses medicamentos para garantir
que sejam mantidos sem acúmulo tóxico. Como alguns medicamentos são retirados do sangue
durante a HD o médico pode precisar ajustar a dosagem (STAUDT, 2010).
Com relação à antibioticoterapia sabe-se que entre as intervenções importantes de
enfermagem estão: a administração e manutenção adequada das doses, diluição e horários
corretos das infusões dessas drogas, em especial relacionados à farmacodinâmica e
farmacocinética dos variados tipos de antibióticos, mas que no geral obedecem às regras
básicas: é necessário que se obtenha a concentração sérica ideal, variando ao longo do tempo,
para que haja a absorção da droga no tecido alvo (sítio de infecção) e ocorra o efeito
terapêutico esperado, ou seja, a destruição ou inibição da proliferação bacteriana, quando essa
cascata não ocorre, aumentamos a probabilidade, de apenas submeter o organismo aos efeitos
colaterais dessas drogas e aumentar a resistência bacteriana (SORIA; PECORATO, 2012).
Sugere-se a criação ou adaptação de um protocolo de administração de drogas
infusionais em HD com a colaboração da equipe multiprofissional: médicos e enfermeiros
intensivistas e nefrologistas e farmacêuticos para que sejam formuladas instruções para basear
63
a prática correta e objetiva dos cuidados e intervenções aos pacientes submetidos à HD em
CTI.
Através do trabalho em equipe inicia-se a formação de vínculos que é uma ferramenta
facilitadora do dia a dia de trabalho. A noção de vínculo nos faz refletir sobre a
responsabilidade e compromisso (MONTEIRO; FIGUEIREDO; MACHADO, 2009).
Destaca-se a necessidade do desenvolvimento de um trabalho conjunto, no qual todos
os profissionais se envolvam em algum momento da assistência e, agindo de acordo com o
seu nível de competência específico, formem um saber capaz de dar conta da complexidade
dos problemas e necessidades de saúde dos indivíduos e da coletividade (COLOMÉ, LIMA E
DAVIS, 2009).
64
65
CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Investigar a prática cotidiana de comunicação verbal e não-verbal configurou-se na
descoberta de como a comunicação está em todos os lugares e como ela ainda não foi
percebida, na sua integralidade, pela equipe assistencial.
A utilização dos estudos de Knapp e Hall para desnivelar a comunicação não-verbal se
faz válida, principalmente quando é atrapalhado com outros estudos sobre a comunicação na
interação humana.
Este trabalho fortalece o grupo de pesquisa Comunicação em Alta Complexidade
trazendo mais um relevo nas diferentes formas de se comunicar.
Muitos estudos tem dado ênfase a comunicação, prioritariamente na relação entre
profissionais e cliente. Buscamos identificar como a comunicação entre a equipe de
enfermagem intermedia o cuidado quando o cliente está em sessão de hemodiálise à beira
leito.
Dimensionar como a nossa relação com o outro colega influencia na assistência foi de
grande relevância. Essa pesquisa pode ainda ser estendida e/ou direcionada especialmente aos
enfermeiros intensivistas que são os responsáveis técnicos pela assistência nesse cenário.
O estudo traz como limitações o horário que nesta instituição de saúde são realizadas
as HD. Estas, quando previamente agendadas, isto é, sem caracterizar situações de urgência e
emergência, são aprazadas para o período noturno.
Indubitavelmente neste horário, em sua maioria, os profissionais estão menos
susceptíveis à gerar a comunicação verbal o que é facilmente expresso pela comunicação não-
verbal.
Os técnicos de enfermagem da HD ainda não são percebidos como membro da equipe
multiprofissional. Estes não tem um lugar ou assento no setor e permanecem grande parte do
horário de pé junto ao leito ou sentados na escada de uso no setor. No horário das refeições
estes, na sua maioria ausentam-se do setor. No período diurno são substituídos por outro
técnico especializado em HD, no período noturno alguns ausentam-se sob o pretexto de “ser
rápido” sem comunicar a equipe de enfermagem, outros pedem autorização para o enfermeiro
plantonista.
66
Acentua-se que o enfermeiro articula o trabalho dos diferentes profissionais que fazem
parte da equipe de saúde e é responsável por todos os profissionais de nível médio/técnico.
A percepção dos técnicos de enfermagem da HD é que a comunicação deve ser feita
de maneira positiva para evitar conflitos à beira leito. Entendem-se como profissionais
subordinados por atuarem como terceirizados e não são integrados com os a equipe de
enfermagem do CTI.
A enfermagem é uma profissão que ainda luta para valorização e reconhecimento na
sociedade. Como passo inicial precisa se reconhecer com uma profissão de valor e essencial
para o serviço de saúde. Fragmentações internas e micropolíticas locais impedem o
fortalecimento da profissão. É necessário fortalecer o eixo da comunicação entre a equipe de
enfermagem nas sessões de HD no CTI para garantir o cuidado com qualidade.
67
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APÊNDICE A
SOLICITAÇÃO À INSTITUIÇÃO
De: Thatielly Gomes França
Para: Coordenador (a) da Unidade Hospitalar
Eu, Thatielly Gomes França, mestranda da EEAN/UFRJ, venho apresentar a esta
Direção o Projeto de Pesquisa intitulado Hemodiálise no Centro de Terapia Intensiva: A
Comunicação entre a Equipe de Enfermagem. Objetivos: Observar a comunicação entre
profissionais de enfermagem envolvidos no cuidado do cliente em hemodiálise; Identificar os
tipos de comunicação verbal e não-verbal utilizados por esses profissionais de enfermagem
na fase de hemodiálise como tratamento complementar ao cliente; Analisar a comunicação
sobre as demandas clínicas do cliente durante a hemodiálise estabelecida entre os
profissionais envolvidos no cuidado. Saliento que a coleta de dados contará com a aplicação
de um formulário para identificação dos sujeitos (Apêndice C) nesta Instituição.
Posteriormente, serão realizadas entrevistas semiestruturadas com os clientes e enfermeiros,
após o consentimento livre e esclarecido deles.
Ressaltamos que não serão utilizadas imagens visuais produzidas por filmagens e/ou
fotografias das unidades, dos profissionais e dos clientes. O nome dos participantes será
mantido em sigilo e as informações serão utilizadas somente para fins de investigação e nas
publicações delas decorrentes. Destaca-se que a investigação não tem caráter avaliativo
dos serviços e das práticas profissionais. Thatielly Gomes França é membro do Núcleo de
Pesquisa em Enfermagem Hospitalar – NUPENH do Departamento de Enfermagem Médico-
Cirúrgica, vinculado à Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.
Feitas estas considerações, venho solicitar autorização para realizar a coleta de
dados envolvendo clientes e enfermeiros dessa Instituição de Saúde. Para tanto, segue
anexada a estes esclarecimentos a Declaração de Ciência preconizada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Instituição em que se situa o referido Cenário do Estudo. No aguardo da
autorização, subscrevo-me, agradecendo antecipadamente pela atenção. Para eventuais
dúvidas, segue o meu endereço eletrônico e telefone.
Rio de Janeiro, ___ de _______ de 2014.
Endereço eletrônico: [email protected] Telefone: (21) 98622-7052
73
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O (A) Sr (a) está convidado(a) a participar da pesquisa intitulada Hemodiálise
Externa ao Serviço de Nefrologia: A Comunicação entre Profissionais de Enfermagem
desenvolvida como projeto de mestrado. Objetivos: Observar a comunicação entre
profissionais de enfermagem envolvidos no cuidado do cliente em hemodiálise; Identificar os
tipos de comunicação verbal e não-verbal utilizados por esses profissionais de enfermagem
na fase de hemodiálise como tratamento complementar ao cliente; Analisar a comunicação
sobre as demandas clínicas do cliente durante a hemodiálise estabelecida entre os
profissionais envolvidos no cuidado. A pesquisa terá duração de 3 anos, com o término
previsto para o segundo semestre do ano 2015.
Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum
momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Assim, cada pessoa
envolvida na pesquisa receberá um código com uma letra e número para confidencialidade
das respostas. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados
serão divulgados em eventos e/ou revistas científicas.
A sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você poderá recusar-se
a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar o seu consentimento. A sua
recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição.
Sendo assim, sua participação nesta pesquisa consistirá em participar de uma entrevista. A
entrevista será gravada em gravador de voz para posterior transcrição. Tais dados serão
destruídos após cinco anos. Assumimos também, o compromisso de retornar com a entrevista
transcrita para que o (a) Sr (a) possa confirmar o teor dos depoimentos.
O (A) Sr (a) não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. Os
eventuais riscos relacionados com a sua participação são significativamente restritos, podendo
ocorrer no âmbito das emoções, já que não há como prever, na totalidade, o efeito que cada
pergunta pode causar, apesar de estas não terem um cunho inquisidor, ou, ainda, um perfil
compatível com alguma forma de constrangimento.
Os benefícios relacionados com a sua participação serão: aumentar o conhecimento
científico para a área de enfermagem, além de possibilitar subsídios para fortalecer a
comunicação na área de enfermagem em nefrologia.
74
O (A) Sr (a) receberá uma cópia deste termo, onde constam o e-mail e o telefone do
pesquisador responsável, da sua orientadora, bem como o endereço e o telefone das
instituições envolvidas, podendo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora
ou a qualquer momento. Desde já agradecemos!
_________________________________
Thatielly Gomes França
e-mail: [email protected]
cel: (21) 98622-7052
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY – UFRJ
Comitê de Ética e Pesquisa – Rua Afonso Cavalcanti – Praça Onze
Tel: (21) 2293 8148 – Ramal: 228 – www.eean.ufrj.br
“O Comitê de Ética é o setor responsável pela permissão da pesquisa e avaliação dos seus
aspectos éticos. Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador
responsável, comunique-se com o Comitê de Ética da Escola pelo telefone supracitado.”
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO E ASSINATURA
Li as informações acima e entendi o propósito deste estudo assim como os benefícios e
riscos potenciais da participação do mesmo. Tive a oportunidade de fazer perguntas e todas
foram respondidas satisfatoriamente. Eu, por intermédio deste, dou livremente meu
consentimento para participar deste estudo. Recebi uma cópia assinada deste formulário de
consentimento.
_____________________, ____ de ___________________ de 2014.
75
APÊNDICE C
ROTEIRO DE ENTREVISTA SITUACIONAL COM OS PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
Entrevistador:______________________________________________
Número:______________
Data:______/______/_______
Duração:__________________
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
Iniciais da Instituição:_____
Iniciais do Nome/pseudônimo:__________ Atua/Trabalha em outro
serviço:__________________________
Tempo de formado:
Possui especialização:
Quanto tempo trabalha no setor?
Conhece a comunicação não verbal:
Roteiro das questões semiestruturadas para entrevista com o profissional
1. Como você define sua comunicação com o cliente hoje?
2. Dê exemplos de situações marcantes de comunicação não verbal do cliente durante o
cuidado de hoje.
3. Dê exemplos de situações marcantes de sua comunicação com o cliente durante o
cuidado de hoje.
4. Como você caracteriza sua comunicação com o profissional de enfermagem?
5. Quem é o responsável pela HD neste cenário?
76
APÊNDICE D
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO
Comunicação entre profissionais de Enfermagem
VERBAL NÃO-VERBAL
Sim Não Tema Paraverbal:
Tom de voz
(alto/baixo)
Cinésica
Expressão
facial/gestos
Proxêmica
Eixo
Sociofugo
/Sociopetro
Tacésica
Toque
afetivo/
instrumental
Prof HD
Prof CTI
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