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O corpo: uma análise... Machado; Santos & Vargas Revista Diálogos N.° 11 abr./mai. - 2014 190 O corpo: uma análise a partir da perspectiva da Educação Física e da Filosofia The body: an analysis from the perspective of Physical Education and Philosophy Tibério Machado 1,2 [email protected] Marilane Santos 1,2 [email protected] Angelo Vargas 1,2 [email protected] Resumo O presente artigo almejou propor uma reflexão com base na história humana sobre as diversas perspectivas de entendimento do corpo, culminando com as questões contemporâneas. Todavia, a referida reflexão pautou-se nos pilares fundamentais de duas áreas do conhecimento humano a Filosofia e a Educação Física, que tiveram momentos de significante importância na Grécia Helênica, no entanto na contemporaneidade aproximaram seus conhecimentos através das propostas elencadas pelo português Manuel Sérgio e que favoreceram a uma nova ótica para os Profissionais de Educação Física, em que pese a sua área do conhecimento e forma de atuação, além da compreensão das 1 Grupo de Estudos em Direito Desportivo FND/UFRJ 2 Laboratório de Estudos da Cultura Social Urbana LECSU

The body: an analysis from the perspective of Physical ...“As muito feias que me perdoem. Mas beleza é fundamental.” (MORAES, 1954, p. 259). Tornou-se inconteste que o poeta não

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O corpo: uma análise... – Machado; Santos & Vargas

Revista Diálogos – N.° 11 – abr./mai. - 2014 190

O corpo: uma análise a partir da perspectiva da Educação

Física e da Filosofia

The body: an analysis from the perspective of Physical Education

and Philosophy

Tibério Machado1,2

[email protected]

Marilane Santos1,2

[email protected]

Angelo Vargas1,2

[email protected]

Resumo

O presente artigo almejou propor uma reflexão com base na

história humana sobre as diversas perspectivas de entendimento

do corpo, culminando com as questões contemporâneas. Todavia,

a referida reflexão pautou-se nos pilares fundamentais de duas

áreas do conhecimento humano a Filosofia e a Educação Física,

que tiveram momentos de significante importância na Grécia

Helênica, no entanto na contemporaneidade aproximaram seus

conhecimentos através das propostas elencadas pelo português

Manuel Sérgio e que favoreceram a uma nova ótica para os

Profissionais de Educação Física, em que pese a sua área do

conhecimento e forma de atuação, além da compreensão das

1 Grupo de Estudos em Direito Desportivo – FND/UFRJ

2 Laboratório de Estudos da Cultura Social Urbana – LECSU

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questões corporais e sua representatividade na sociedade

hodierna.

Palavras-chave: Corpo; Educação Física; Filosofia.

Abstract

The present article aimed to propose a reflection in accordance

with the human history about the different possibilities of

understanding the body, culminating with contemporary issues.

However, that said reflection was based on the fundamental

pillars of two areas of human knowledge Philosophy and Physical

Education, who have had moments of significant importance in

Greece Hellenic, but in contemporary approached their

knowledge through the proposals inferred by portuguese Manuel

Sérgio and encouraged the a new viewpoint for Physical

Education Professionals, as it pertains their area of knowledge

and forms of action, beyond the understanding of body issues and

their representation in today's society.

Keywords: Body, Physical Education Philosophy.

Introdução

O corpo é parte constituinte e unidade integral do Homem,

sendo associado a perspectiva física e material, todavia ao longo

de todo o processo de hominização caracterizou-se por apresentar

a peculiaridade de exprimir signos e códigos, além de permitir

compreensões distintas, como depreenderam Weil e Tompakow

(1993) através de seus argumentos onde ratificaram que “o corpo

fala”, ou seja, existe uma linguagem não verbal onde o corpo

emergiu como símbolo principal desta comunicação. Por

derradeiro, na contemporaneidade este corpo emergiu como palco

de transformações, promovendo entendimentos e interpretações

distintas, sendo necessária a associação de diferentes áreas do

conhecimento humano com a finalidade de buscar uma

compreensão ampla e global, evitando o reducionismo ou

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meramente visualizar o corpo somente como um objeto sem

representatividade.

Desta forma, o presente estudo não objetiva esgotar ou

elucidar todas as lacunas referente aos assuntos relacionados ao

corpo e seus entendimentos possíveis, mas analisar como a

Educação Física sob o aporte teórico da Filosofia, pode

corroborar através de seus fundamentos para o entendimento

deste corpo, que surgiu durante toda a história como uma

identidade cultural e símbolo de linguagem, como asseverou

Almeida (2012).

O corpo em uma perspectiva histórica

Ao longo de todo o processo de hominização o corpo

sofreu diversas transformações, no que tange a sua

representatividade, importância e status social. De acordo com

Santos (2009, p. 38): A concepção de corpo se altera

constantemente através da história. A maneira

como ele é percebido, definido e sentido vem

através do tempo evidenciado características de

uma sociedade, uma cultura. Através da expressão

corporal é revelada a maneira como um povo se

comporta, se relaciona ou se expressa.

Relatos e vestígios históricos permitiram inferir que as

tribos primitivas exprimiram o costume de pintar o corpo,

sobretudo por não utilizarem vestimentas, além do intuito de

reverenciar os Deuses ou demonstrar sua contentação com os

eventos e cerimônias comemorativas. Além disso, como no caso

dos indígenas brasileiros, a pintura poderia caracterizar ou

representar uma determinada tribo, emergindo como um símbolo

ou identidade grupal, argumento que corrobora para a

compreensão da importância assumida pelo corpo. (VIDAL,

2007)

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Entretanto, na Grécia Helênica, período de extrema

importância em que pese ao desenvolvimento da Filosofia e da

Educação Física, além de ser extremamente representante para

história humana, o corpo foi compreendido com maior grau de

profundidade e amplitude, consagrando-se na história através da

Máxima de Juvenal e que é um dos pensamentos que norteou o

esporte, a sociedade grega e que é tida como um dos lemas da

Educação Física: Mens sana in corpore sano. (CASTELLANI

FILHO, 1988). Neste contexto foi asseverada a importância de

um desenvolvimento corporal, associado ao desenvolvimento

intelectual, contemplando um trabalho completo para o indivíduo.

No que concerne à importância da Grécia Antiga para a

Filosofia tornou-se possível depreender que o contexto grego

emergiu como berço desta ciência, como ratificaram os autores

Martins e Hernandes (2001, p.119):

Na Grécia antiga, nessa civilização

fundada na península balcânica, nasce a filosofia, isto é, nasce em um determinado contexto

econômico, político, social e cultural. A filosofia,

pois, é concebida e gestada no calor das relações

sócio-políticas e econômicas travadas pelos gregos

antigos, o que dá a ela alguns limites e

possibilidades.

Não obstante este período da história humana também

corroborou de forma indubitável para a Educação Física,

registrando o surgimento da atuação dos Profissionais desta área

do conhecimento no Ocidente, porém sendo nomeados de

Paidotribo. (RUBIO, 2007). De acordo com Machado e Vargas

(2013, p. 64): Obviamente, que a perspectiva era

diferenciada da realidade atual, assim como o

contexto axiológico, entretanto, o Paidotribo,

nome atribuído ao profissional da época, era quem

tinha a responsabilidade pela preparação dos

atletas para as competições e eventos esportivos.

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Cabe salientar, que era comum a apresentação do corpo na

sociedade grega, sendo este caracterizado pela esplendorosa

forma física no que se refere a forma física e delineamento

muscular, sendo justificado pela aspiração Divina Atlética, porém

este privilégio restringiu-se ao público masculino. (VAZ, 2010).

Prosseguindo no bosquejo histórico, o período

denominado de Roma Helênica apresentou uma relação

dicotômica sobre o entendimento e utilização do corpo, onde em

alguns momentos a apreciação e valorização contrastaram com a

falta de respeito e zelo, assim como ocorreu com a vida humana.

O momento histórico supracitado notabilizou-se por ser um

período da história onde a contemplação ao corpo denotou

extrema importância, principalmente através da apreciação e

adoração das obras de artes, na forma das esculturas e pinturas.

(ANDE; LEMOS, 2011). Em contrapartida, ainda ao longo do

Império Romano foi possível a compreensão do corpo na

perspectiva da utilização e da falta de zelo, sendo representado

através da batalha de gladiadores, que eram escravos que

utilizavam seus corpos, ou seja, suas vidas para propiciar

espetáculos sangrentos e violentos em favor de ações políticas

que eram de substancial interesse do Imperador, como

depreendeu Garraffoni (2005). O referido período registrou-se na

história pela expressão latina Panis et Circense, popularmente

conhecido na República Federativa do Brasil como “Política do

Pão e Circo”, representando uma forma significativa de

cooptação popular. (SIGOLI; DANTE, 2004; GUARINELLO,

2007).

É mister depreender que na Idade Média a tônica de

contemplação e admiração do corpo, foi substituída pela

obscuridade e pelo enclausuramento, mormente em decorrência

da repressão e dos dogmas impostos pela Igreja. (VAZ, 2010).

Segundo o autor opere citato a relação apresentada com o corpo

era contraditória:

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[...] enquanto havia uma orientação no

sentido de desvalorizar as práticas corporais,

suprimindo ou confinando os lugares do corpo da Antiguidade, ao mesmo tempo em que o

glorificava por meio da hóstia, mas apenas o corpo

de Cristo. (VAZ, 2010, p. 40).

A influência neste período foi tamanha, que interveio no

desenvolvimento tanto da Educação Física, ou seja, do esporte

onde os jogos sofreram com a elitização do Clero, restando à

plebe a assistência (ALVAREZ, 2006; GOFF; TRUONG, 2006) e

da Filosofia, através da Inquisição, que era uma forma de reprimir

todas as formas de pensamento que fossem entendidas como

divergentes das doutrinas preconizada pela Igreja, sendo

classificadas como heresias. (OLIVER, 1998).

Por derradeiro, o crescimento e ascensão dos ideais

capitalistas, corroboraram para mudança na concepção e no

entendimento do corpo, configurando o fim da visão imposta na

Idade Média. Neste momento o corpo deixou de ser algo

proibido, assim como o desenvolvimento do pensamento

humano, ocorrência que favoreceu para o avanço científico. Para

Cavalcanti (2005, p. 54):

Após a Idade Media o corpo é

dessacralizado, ou seja, já não é mais algo proibido de se manipular. Com a ascensão de uma

ciência positiva separada de valores religiosos e do

espaço da moralidade, o corpo passa a ser objeto

de estudo de algumas ciências, principalmente a

medicina, que dá um salto muito grande em

matéria de conhecimento sobre o corpo a partir do

momento em que os estudos de anatomia foram

sendo ampliados, como conseqüência dessa

dessacralização, um movimento para dentro do

corpo se inicia no sentido de que ele passa a ser

objeto, e como tal passível de estudos e intervenções que possibilitaram a produção,

compilação e a posterior aplicação de um maior

conhecimento sobre si.

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Não obstante, essa nova perspectiva envolvendo o corpo

que promoveu liberdade e avanço científico, no século XX foi

seguida de diversas transformações e estabelecimento de padrões

estéticos. Desta forma, o corpo volta a ter sua importância,

sobretudo no que concerne ao status e representatividade social.

O corpo na contemporaneidade: as diferentes perspectivas

envoltas

Ao longo da contemporaneidade pensamentos como os

expressos pelo poeta brasileiro Vinícius de Moraes, simbolizaram

os ideais e padrões deste período. Segundo o poeta supracitado:

“As muito feias que me perdoem. Mas beleza é fundamental.”

(MORAES, 1954, p. 259). Tornou-se inconteste que o poeta não

determinou um padrão de beleza ou estético, fato que será

regulado pelo contexto axiológico, ou seja, pelo conjunto de

valores de uma sociedade, porém neste referido período a busca

pelos padrões estipulados pela sociedade gozou de substancial

destaque.

De acordo com os postulados filosóficos de Marx e

Engels (1999) o Homem figura como produto do meio social

onde encontra-se inserido, sofrendo todas as interveniências e

influências contidas nele. Este argumento denotou extrema

relevância para compreensão da representatividade do corpo na

contemporaneidade, devido aos dogmas e padrões estéticos

impostos ao longo deste período. Segundo Cavalcanti (2005, p.

56-57): O desenvolvimento da ciência no século

XX, principalmente a biologia, genética e a

medicina tiveram profundas implicações no

redimensionamento da categoria corpo e da

categoria estética. A revolução estética e o

desenvolvimento de novas técnicas de cirurgia

plástica têm uma relação íntima com o surgimento

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do paradigma de um corpo pós-orgânico. A partir

do momento em que a tecnologia nos permite

colocar partes no nosso corpo que são feitos de materiais inorgânicos, e ao colocar poder tirá-las a

bel prazer, basta que pra isso uma nova moda me

constranja a tal, começamos a falar na construção

de um corpo pós-orgânico.

A busca pelo padrão corporal preconizado na

contemporaneidade, que apresenta extrema relação com as

questões e os dogmas estéticos, propiciou significativo destaque

para os Profissionais que estão envoltos neste universo, como os

Profissionais de Educação Física. O crescimento da valorização

estética, assim como a busca pela saúde emergiram com

principais motivações para prática regular de atividade física,

como inferiu Saba (2001).

Entretanto, este momento da Educação Física Brasileira

onde os Profissionais possuem como objetivo principal a

preparação ou manutenção do corpo de seus beneficiários, para o

Professor de Filosofia Manuel Sérgio pode simbolizar um

barreira para evolução desta área do conhecimento, sobretudo

quando este tipo de atuação não contempla o desenvolvimento

completo dos indivíduos, abrangendo corpo e mente. (SÉRGIO,

1988).

Ciência da Motricidade Humana: a Filosofia influência

a Educação Física Tradicional

A Ciência da Motricidade Humana surgiu no ano de 1986

através do filósofo português Manuel Sérgio, sobretudo propondo

uma nova ótica para a Educação Física e a forma de atuação dos

Profissionais desta área do conhecimento humano, além da

perspectiva de visão do corpo e do homem. De acordo com

Sérgio, a Educação Física Tradicional utilizou como

fundamentação conhecimentos empíricos, carecendo de

cientificidade e respaldo técnico. Além disso, o filósofo inferiu

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que a atuação dos Profissionais de Educação Física era

superficial, não contemplando o Homem em sua plenitude ou

totalidade, explicando esta teoria através do paradigma

cartesiano, onde o Homem foi dividido em duas partes distintas:

res cogitans (mente) e res extensa (corpo). (SÉRGIO, 1988;

FEITOSA, 1993).

De acordo com o autor opere citato a Ciência da

Motricidade Humana pode ser definida como: “Ciência da

compreensão e da explicação das condutas motoras, visando o

estudo e constantes tendências da motricidade humana, em ordem

ao desenvolvimento global do indivíduo e da sociedade e tendo

como fundamento simultâneo o físico, o biológico e o

antropológico”. (SÉRGIO, 1987, p.153).

Este tipo de argumento depreendido por Manuel

Sérgio representou um contraponto ao pensamento

contemporâneo e que elevou o corpo como foco principal da

estética corporal, ou seja, o culto ao corpo de forma exarcebada e

de acordo com os dogmas e padrões vigentes. Cabe depreender

que de acordo com Santos (2009, p. 45) “os conceitos de beleza

física e estética corporal na atualidade apresentam uma relação

simbólica com preceitos consumistas e consequentemente leva o

corpo a buscar uma vestimenta ideológica que categoriza como

mercadoria.” No tocante a Educação Física, os estudos realizados

por Saba (2001), permitiram inferir que os objetivos estéticos

emergiram como segunda opção dos indivíduos que aderem ao

fitness, que na contemporaneidade surgiu como uma área

significativa de atuação dos Profissionais de Educação Física.

Vargas (1998) depreendeu que este tipo de ocorrência,

onde o corpo hipertrofiado alcançou substancial destaque na

sociedade hodierna, simbolizou a moda ou padrão estético deste

período, moldando todos os segmentos envoltos neste contexto

axiológico.

Neste sentido, Manuel Sérgio prosseguiu suas críticas a

postura dos Profissionais de Educação Física, que baseados nas

questões superficiais estabelecidas pela sociedade, não almejaram

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contemplar os diferentes aspectos envoltos e inerentes a esta área

do conhecimento humano. Tal ocorrência foi denominada de

ciência normal, ocorrência de significativa importância, haja vista

a estagnação do desenvolvimento do conhecimento, mormente

em decorrência da falta de ousadia e fundamentação dos

profissionais envoltos, no que concerne a produção e avanços dos

conhecimentos. (FEITOSA, 1993).

Desta forma, o autor português supracitado que classificou a Educação Física Tradicional como reducionista, principalmente pela atuação superficial, além da dificuldade de compreensão dos Profissionais em relação ao corpo e seu campo de atuação, propôs além da alteração de fundamentação para esta área do conhecimento, uma alteração de nomenclatura, principalmente almejando alcançar o status de ciência, recomendando a nomenclatura Ciência da Motricidade Humana. (SÉRGIO, 1988). Considerações Finais

O corpo no decorrer da história humana propiciou uma

gama de interpretações e representações, sendo objeto de estudo

por diversas áreas do conhecimento humano como a Educação

Física e a Filosofia. A ótica exposta por Manuel Sérgio

contemplou a unificação destas duas áreas do conhecimento,

onde a Filosofia emergiu com a finalidade de suprir as lacunas e

carências encontradas na Educação Física e por conseqüência na

atuação de seus Profissionais.

É mister depreender que seus ideais almejaram uma

revolução, em que pese a Educação Física Tradicional, sobretudo

pela proposta de aproximar uma área do conhecimento tida como

tecnicistas de uma área relacionada com a produção e evolução

do conhecimento humano e científico e que ao longo da história

humana notabilizou-se pela busca de explicações.

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No que tange ao corpo, tornou-se inconteste sua

importância, representatividade e simbolismo no decorrer do

processo de hominização, sendo objeto de investigação e

adoração nos mais diversos momentos. Todavia, na

contemporaneidade o corpo assumiu status social, sendo norteado

pelos paradigmas e padrões pré-estabelecidos pela sociedade

hodierna, sendo associado à identidade do indivíduo, fato que

favoreceu a uma “corrida” em busca dos paradigmas corporais.

Este momento representou um crescimento de atuação e

valorização dos Profissionais de Educação Física, que por vezes

atuam diretamente no atendimento dos anseios estéticos e

corporais, no entanto não podem somente seguir os dogmas

vigentes, haja vista que necessitam zelar e cuidar do corpo e da

saúde dos seus beneficiários.

Desta forma, o presente estudo permitiu concluir que a

aproximação da Filosofia com a Educação Física, corroborou

para o desenvolvimento cientifico e mudança de ótica da

Educação Física Tradicional e que não contemplava o Homem

como um todo, sobretudo na valorização e compreensão do

corpo, como apresentado pela Ciência da Motricidade Humana,

na visão apresentada por Manuel Sérgio. A aquisição de

fundamentação teórica, assim como o crescimento das questões

corporais na contemporaneidade, promoveram uma valorização e

um ganho de visibilidade para a Educação Física, que assim

como as demais áreas do conhecimento humano deve atuar em

prol da humanidade, independente dos dogmas vigentes, como no

caso dos paradigmas corporais e a busca exarcebada pelo “corpo

perfeito”.

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