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PERSPECTIVAS - JOURNAL OF POLITICAL SCIENCE, VOL. 24 11 The European Identity in the Classical Psyche of Greece: Between Values and Strategic Vision A Identidade Europeia na Psique Clássica da Grécia: Entre Valores e Visão Estratégica Evanthia Balla, University of Évora, Portugal Resumo—O objetivo deste artigo é fornecer uma referência adequada tanto aos atuais especialistas no domínio das Relações Internacionais e Estudos Europeus como aos que se dedicam ao tema pela primeira vez. Enquanto a Grécia celebra 200 anos desde o lançamento da Luta Pela Independência Grega (1821-2021) e do 40.ž aniversário da adesão da Grécia às Comunidades Europeias (hoje União Europeia), este artigo visa uma análise reflexiva dos principais temas do desenvolvimento que moldaram a identidade estratégica da Grécia, desde 1821 até à recente crise financeira. O presente estudo avalia a literatura existente sobre o tema e traça agendas para investigação futura, a fim de construir sensibilização sobre a importância de aprofundar os nossos conhecimentos sobre as identidades estratégicas distintas dos diferentes Estados-Membros da UE. Compreende dimensões conceptuais e empíricas para aprofundar a apreciação dos desenvolvimentos na política, instituições e políticas gregas e ligá-los a um contexto histórico internacional mais vasto. O principal argumento é que a Grécia tem feito escolhas estratégicas especificas, respondendo ao ambiente político internacional ao longo do tempo, em que a ligação entre o seu legado clássico, a Europa e o Ocidente esteve sempre presente. Palavras-Chave—Grécia; Europa; Estratégia; Identidade. Abstract—The purpose of this article is to provide a reference appropriate to both current specialists in the field of International and European Studies and those delving into the subject for the first time. As Greece celebrates 200 years since the launch of the Greek Struggle for Independence (1821-2021) and the 40th anniversary of Greece’s accession to the European Communities (now European Union), this article aims at a reflective analysis across the key themes that have shaped Greeces strategic identity, from 1821 until the recent financial crisis. The current study reviews the existing literature on the subject and outlines an agenda for future research to build up knowledge and awareness on the importance of deepening our knowledge on the distinct strategic identities of the various EU Member-States. It comprises conceptual and empirical dimensions to deepen the appreciation on Greek politics, institutions, and policies and to connect them to a wider, international historical context. The main argument is that Greece has made strategic choices responding to the international political environment over time, in which the liaison between its classical legacy, Europe and the West have always been present. Keywords—Greece; Europe; Strategy; Identity. Submitted—05-01-2021. Accepted—07-05-2021.

The European Identity in the Classical Psyche of Greece

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PERSPECTIVAS - JOURNAL OF POLITICAL SCIENCE, VOL. 24 11

The European Identity in the Classical Psyche ofGreece: Between Values and Strategic Vision

A Identidade Europeia na Psique Clássica da Grécia:Entre Valores e Visão Estratégica

Evanthia Balla,University of Évora, Portugal

Resumo—O objetivo deste artigo é fornecer uma referência adequada tanto aos atuais especialistas no domínio dasRelações Internacionais e Estudos Europeus como aos que se dedicam ao tema pela primeira vez. Enquanto a Gréciacelebra 200 anos desde o lançamento da Luta Pela Independência Grega (1821-2021) e do 40.ž aniversário da adesãoda Grécia às Comunidades Europeias (hoje União Europeia), este artigo visa uma análise reflexiva dos principais temasdo desenvolvimento que moldaram a identidade estratégica da Grécia, desde 1821 até à recente crise financeira. Opresente estudo avalia a literatura existente sobre o tema e traça agendas para investigação futura, a fim de construirsensibilização sobre a importância de aprofundar os nossos conhecimentos sobre as identidades estratégicas distintas dosdiferentes Estados-Membros da UE. Compreende dimensões conceptuais e empíricas para aprofundar a apreciação dosdesenvolvimentos na política, instituições e políticas gregas e ligá-los a um contexto histórico internacional mais vasto.O principal argumento é que a Grécia tem feito escolhas estratégicas especificas, respondendo ao ambiente políticointernacional ao longo do tempo, em que a ligação entre o seu legado clássico, a Europa e o Ocidente esteve sempre presente.

Palavras-Chave—Grécia; Europa; Estratégia; Identidade.

Abstract—The purpose of this article is to provide a reference appropriate to both current specialists in the field ofInternational and European Studies and those delving into the subject for the first time. As Greece celebrates 200 yearssince the launch of the Greek Struggle for Independence (1821-2021) and the 40th anniversary of Greece’s accession tothe European Communities (now European Union), this article aims at a reflective analysis across the key themes thathave shaped Greeces strategic identity, from 1821 until the recent financial crisis. The current study reviews the existingliterature on the subject and outlines an agenda for future research to build up knowledge and awareness on the importanceof deepening our knowledge on the distinct strategic identities of the various EU Member-States. It comprises conceptualand empirical dimensions to deepen the appreciation on Greek politics, institutions, and policies and to connect them toa wider, international historical context. The main argument is that Greece has made strategic choices responding to theinternational political environment over time, in which the liaison between its classical legacy, Europe and the West havealways been present.

Keywords—Greece; Europe; Strategy; Identity.

Submitted—05-01-2021. Accepted—07-05-2021.

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1 Introdução

Acelebração dos 200 anos do início daGuerra da Independência da Grécia, ocor-

rida em 1821, e a comemoração dos 40 anos daadesão do país à União Europeia em 1981, é hojesimultaneamente uma ocasião para reconhecer oprocesso evolutivo que traçou a identidade daGrécia Moderna, e nos obriga a refletir sobre aposição atual do país e sobre o seu futuro.

Porquê a Grécia?A Grécia é considerada o berço da civiliza-

ção ocidental e é fonte de algumas das maioresrealizações intelectuais, científicas e artísticas dahumanidade. Neste contexto, a Grécia carregauma enorme herança simbólica no mundo, em-bora desproporcional face ao seu atual poder einfluência. Hoje em dia, a Grécia é vista como umpaís que sofre de baixos níveis de desenvolvimentoeconómico e estrutural, e problemas sociais signifi-cativos. A recente crise financeira colocou a Gréciano centro das atenções, tendo recebido uma publi-cidade negativa pelos média internacionais, queprovocaram uma onda de contestações dentro dopróprio Estado Helénico1 , sendo a mais notóriaa do antigo Presidente da República, KároulousPapúlias, que em 2012 declarou [...] "We [thegreeks] always had the pride to defend not justour own freedom, not just our own country, butthe freedom of all of Europe."2

Nos últimos anos, uma produção académicaconsiderável procurou identificar os quadros con-ceptuais e empíricos através dos quais deve-mos compreender a Grécia Moderna (Kitromili-des 2013; Triandafyllidou, Grobas e Kouki (eds)2013; Kalyvas 2015; Arabatzis, Steiris e Mitralexis

• Evanthia Balla, Assistant Professor at the University ofÉvora and Collaborative Member of the Research Center inPolitical Science (CICP).E-mail: [email protected]

DOI:http://dx.doi.org/110 .21814/perspectivas.33711. Os gregos não utilizam o termo Grécia, mas o antigo nome

Hellas.2. "Irritation in Athens. ’I Don’t Accept Insults to My

Country by Mr. Schäuble". Speigel Internacional. Disponívelem https://www.spiegel.de/international/europe/irritation-in-athens-i-don-t-accept-insults-to-my-country-by-mr-schaeuble-a-815651.html 16.02.2012 último acesso: 25 de março 2021.Sobre a crise grega e os média, ver Tzogopoulos, George.2013. The Greek Crisis in the Media: Stereotyping in theInternational Press. Routledge. 1st edition.

(eds) 2016; Beaton 2019; Featherstone e Sotiro-poulos (eds) 2020; Kitromilides 2020; Kitromilidese Tsoukalas (eds) 2021).

Na realidade, quando procuramos definira identidade da Grécia Moderna, o debatedesenvolve-se em torno de duas questões princi-pais e distintas, mas ao mesmo tempo, interliga-das em termos de estratégia e valores:

1. Qual é a verdadeira relação entre a GréciaModerna e o seu legado histórico por parte daGrécia Clássica? 2. A que parte do mundo é quea Grécia pertence hoje, em termos de estratégia eideais, ao Ocidente ou ao Oriente?3 E porquê?

Quanto à ligação da Grécia Moderna à civili-zação clássica, esta tem gerado diversos sentimen-tos, contribuindo para uma postura defensiva dospróprios gregos, particularmente quando a ligaçãoentre os dois é contestada, como relata Kalyvas(2015, 7). O livro "History of the Morea Penin-sula during the Middle Ages"do escritor austríacoalemão Jakob Phillip Fallmerayer, defendia que oshabitantes da Grécia Moderna não eram os herdei-ros da Grécia Clássica, mas eram descendentes daspopulações eslavas, que se instalaram na regiãodurante os séculos sexto e sétimo dC. Afirmaçõesessas que receberam grandes críticas.

Exemplo destas críticas foi o artigo intitulado"Genetics of the peloponnesean populations andthe theory of extinction of the medieval pelopon-nesean Greeks"(Stamatoyannopoulos, Bose, Teo-dosiadis et al. 2017) que examina a ancestralidadegenética das populações do Peloponeso e provauma relação insignificante entre os gregos do Pelo-poneso e os eslavos, rejeitando assim as afirmaçõesde Fallmerayer, que por este motivo seriam invá-lidas. Mais uma pesquisa foi publicada no mesmoano, intitulada "Genetic origins of the Minoansand Mycenaeans"(Lazaridis, Mittnik, Patterson etal. 2017). Os resultados dessa pesquisa susten-tam que os gregos modernos se assemelham aosmicénicos, mas com alguma diluição adicional da

3. O Ocidente é um conceito bastante instável. Contudo, paraos objetivos do presente trabalho, o termo Ocidente refere-se àEuropa Ocidental, e com o início da Guerra Fria, ao chamadoMundo Ocidental e à aliança transatlântica (Mitralexis, 2017).O termo Oriente refere-se ao Oriente como enfase nas relaçõesdo país com a Turquia e a Rússia. Sobre as diferentes versões doOcidente, consulte Lewis Martin W. e Wigen, Kären. 1997. TheMyth of Continents: A Critique of Metageography. Berkeley:University of California Press.

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ancestralidade neolítica primitiva. Apoia ainda aideia de continuidade, mas não de isolamento nahistória das populações do Mar Egeu, antes edepois do tempo das suas primeiras civilizações.

Igualmente, posturas e sentimentos de orgulhorefletem-se em momentos diversos por afirmaçõesde personalidades célebres das Letras e das Artes.

I belong to a small country. A rocky promontory in theMediterranean, it has nothing to distinguish it but theefforts of its people, the sea, and the light of the sun. It isa small country, but its tradition is immense and has beenhanded down through the centuries without interruption.(Giórgos Seféris, 1963)4

Relativamente ao debate sobre a segundaquestão, pensadores do mundo político e acadé-mico têm argumentado que a Grécia não pertenceao Ocidente. Kalyvas apresenta bem este debateatravés das suas referências ao ex-presidente fran-cês Vallery Giscard dť Estaing que durante arecente crise financeira de 2009 captou grandeparte da perceção predominante, quando observouque "A Grécia é basicamente um país oriental".Kalyvas ainda se refere a um observador, que jáno início do século passado, em 1911, descreviaos gregos como "europeus em termos geográficose de raça (raciais), embora não ocidentais. Ori-entais com um orientalismo que não é asiático;uma ponte entre o Ocidente e o Oriente."(Kalyvas2015, 5). Do mesmo modo, com o fim da GuerraFria, Samuel Huntington, na sua famosa tese dochoque de civilizações, publicada pela primeiravez em 1993, excluía a Grécia do Ocidente combase na sua religião, cultura, diferente posturaface à Sérvia e ligação especial com a Rússia.Contudo, a história da Grécia revela uma estreitaligação com o Ocidente, em termos políticos, eco-nómicos e culturais. Nas palavras de KonstantinosKaramanlís "Greece, be it traditionally or becauseof interest, belongs to the Western world."5

4. Discurso de Giórgos Seferis na cerimónia de entrega doPrémio Nobel da Literatura em 1963 disponível em https://www.nobelprize.org/prizes/literature/1963/seferis/speech/ úl-timo acesso: 25 de março 2021

5. Discurso do primeiro-ministro grego da época, Konstan-tinos Karamanlís, no Parlamento Helénico, em 1976. Dispo-nível em https://www.youtube.com/watch?v=wi75X_IGWooúltimo acesso: 25 de março 2021

Na realidade, as identidades não são elementosestáticos. Tanto a localização geográfica como acontinuidade linguística implicam a existência deuma estreita ligação entre a Grécia Moderna e aGrécia Antiga, com as eras: romana, bizantina eotomana a fornecerem as principais rotas históri-cas desta viagem. Todavia, a ascensão da GréciaModerna não foi um processo propriamente linear.A variedade de sistemas políticos, as estruturassociais e culturais, que traçaram a história grega,revelam um processo complexo e heterogéneo.

Neste contexto, o presente estudo visa decifraressa complexidade da identidade grega moderna,utilizando ferramentas conceptuais e empíricas.Observa os acontecimentos históricos e político-institucionais, desde a criação do estado gregomoderno até à crise financeira de 2009, atravésde um estudo qualitativo de análise documental.Examina a idiossincrasia política do país, atravésde ideologias e estratégias que traçaram o seucaminho histórico. Argumenta-se que a identi-dade grega se desenvolveu ao longo do tempo,influenciada pelo contexto político particular decada época; e reflete-se em escolhas estratégicasconcretas do país, desde a sua conceção modernaaté hoje.

2 Revolução e construção ideológicada identidade gregaA luta armada dos gregos para a Independênciado Império Otomano começou há dois séculos,em 1821. A Guerra foi marcada pela influênciada Revolução Americana e Francesa (1775 e 1789,respetivamente), e pelos princípios ideológicos eculturais do Iluminismo e do Romantismo, e es-teve sempre condicionada pelos interesses estraté-gicos das grandes potências da época, tornando-seassim num fenómeno pan-europeu (Blinkhorn eVeremis 1990; Kitromilides 2013, 2021; Tsoukalas2021).

Na realidade, a revolução foi baseada numnacionalismo gerado por um processo intelectualconhecido como Iluminismo Grego, produto dainteração de atores sociais distintos, mas interliga-dos, tais como um grupo de elites metropolitanascristãs, que exercia cargos de prestígio na admi-nistração otomana, conhecidos como Fanariótes

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(tais como Aléxandros Mavrokordátos e Aléxan-dros Ypsilantis). Esta quase-aristocracia, apesarde estar bem integrada no Império Otomano,promovia o cristianismo e a civilização helénicae a prevalência gradual dos mesmos. Um outrogrupo de comerciantes e intelectuais de línguagrega, que vivia em todo o Império Otomano, e emvários países europeus, também contribuiu paraesse processo intelectual da causa grega. Algumasdas forças catalisadoras mais conhecidas dessaconjuntura foram Rigas Feréos, e Adamántios Ko-raís.

Rigas Feréos (ou Rigas Velenestinlís) viajouentre as províncias danúbias, Habsburgo e Im-pério Otomano, publicando e propagando a suavisão para a construção de uma confederaçãorepublicana de todos os grupos étnicos com basenos ideais da revolução francesa. No fundo, Feréosidealizava o ressurgimento do império bizantino,mas substituindo a autocracia de Bizâncio por ins-tituições republicanas do modelo francês. (Clogg1992, 29; kalyvas 2015, 18 e 21; Beaton 2019, 53).

Em 1797, Feréos escrevia no seu famosopoema de guerra "Thoúrios"

Better one hour of free life, Than forty years of slaveryand prison! (citado por Clogg, 31)

resumindo assim a determinação revolucionáriagrega.

Adamántios Koraís, por sua vez, argumentoua favor da criação de um estado grego modernobaseado no modelo e normas da Europa Ocidentale numa identidade nacional com ênfase particularna herança clássica da Grécia Moderna (Drou-lia 1997; Kitromilides 2010; Beaton 2019). Ideiasessas que contrariavam as vozes tradicionalistasque enfatizavam a importância de Bizâncio e datradição oriental e promoviam um modelo deorganização política eslava. Em 6 de janeiro de1803, na sua obra "Dissertation on the presentstate of civilization in Greece", Korais descreveexplicitamente o despertar da consciência gregapara a responsabilidade de tentar fazer jus aosseus ancestrais (Droulia 1997; Beaton 2019, 60-61).

A Igreja Ortodoxa Cristã, e mais precisamenteo Patriarcado Ecuménico de Constantinopla quechefiava a igreja, foi também instrumental para

a consolidação da identidade nacional da GréciaModerna, sendo uma componente essencial donacionalismo grego heleno-cristão. Historicamentefalando, a Igreja Ortodoxa participou na cons-trução da nação grega, agindo como um guiacultural, social e espiritual durante o domíniootomano e a Guerra da Independência; através dasua língua litúrgica e administrativa e das suasinstituições educacionais. No entanto, importareferir que a Igreja Ortodoxa Cristã promoveu,mas nunca endossou o iluminismo grego, ideologiaque considerava hostil à sua própria autoridadereligiosa (Kalyvas 2015, 19). Essa autoridade reli-giosa esteve sempre presente na identidade grega;e reflete-se ainda hoje na estreita ligação pré-moderna entre Estado e Igreja (Kitromilides 2020;Frary 2021).

Com a viragem do século XIX, as referênciasideológicas transitaram do Iluminismo para o Ro-mantismo. Os princípios do Romantismo promo-veram o crescimento e a expansão do Filelenismo(movimento de apoio à luta pela independênciada Grécia face ao Império Otomano). De facto, osgregos também lutavam contra o domínio e a favordos valores europeus. Evidência disso tinha sidoa primeira constituição adotada em 1822, umaconstituição extremamente liberal para a época(Kalyvas 2015, 30).

Os ideais da Grécia Clássica já estavamenraizados na identidade europeia, e agora osgregos procuravam conquistar estes mesmos ideaisde novo. Tsoukalas argumenta que na realidadenão só a Grécia Antiga era considerada a maiorconquista da história humana, mas os europeustambém tendem a lisonjear-se, descobrindo osseus próprios antepassados culturais idealizadosna Grécia Antiga. Com efeito, o expansionismo eo domínio europeus basearam-se na construçãoe apropriação do mito racista de uma civilizaçãoproto-europeia superior e indígena, que eraclaramente distinguível, desde as suas origens,do Oriente inferior e bárbaro (Tsoukalas 2002, 75).

Thus, ’Hellenolatry’ served as a powerful ideologicalweapon for expanding European power. (Tsoukalas 1999, 8)

O poeta Lord Byron foi um dos mais impor-tantes filelenos ingleses, e uma das figuras mais

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influentes do Romantismo.Byron escrevia:

I dreamd that Greece might still be free; For standingon the Persians grave, I could not deem myself a slave. 6

Em paralelo com o poderoso movimento defilelenismo, que ligava o legado grego clássico àEuropa e aos seus ideais e vice-versa, e era de-fensor de um governo central e uma constituiçãoao estilo europeu, uma outra corrente tradicio-nalista começava a surgir no plano político, queconsiderava a Grécia ancorada no Oriente, emtermos de identidade e interesses, em contrapontoao Ocidente, visto como uma "maldição"para osgregos. Esta visão foi partilhada na época por cer-tos círculos eclesiásticos e também militares paraos quais o Ocidente era um anátema (Koliopoulose Veremis 2010, 22).

Quanto à estrutura e planeamento da revo-lução, uma organização secreta conhecida comoFilikí Eteria (Sociedade dos Amigos) foi fundadaem Odessa, na comunidade da diáspora no sul daRússia, em 1814, com o objetivo primordial deapoiar e propagar o ideal da revolução e organizara revolta armada. Tratava-se de um grupo políticoclandestino, que na sua maioria era composto porcomerciantes, nobres, militares e clérigos. Inspi-rado na maçonaria, funcionou com base em rituaise regras estritas. O verdadeiro valor da Sociedadede Amigos, baseou-se na criação de uma rede sig-nificativa de apoiantes da causa grega, um veículode conspiração dentro e fora do Império Otomano(Kalyvas 2015, 24; Beaton 2019, 69, 78, 79; Clogg1992, 32).

Em 6 de março de 1821, Aléxandros Ypsilantis,líder da organização e oficial superior do exércitorusso, num ato de grande simbolismo atravessoude barco o rio Prut, que separava os dois impériosrusso e otomano, e entrou na Moldávia, territó-rio otomano (Beaton 2019, 78). Releve-se que aorganização tinha criado intencionalmente o mitodo apoio russo, apresentando assim a revoluçãogrega como uma luta cristã contra um opres-sor muçulmano. Contudo, o envolvimento russo

6. Lord Byron. 1819. The Isles of Greece. Disponível em https://englishverse.com/poems/the_isles_of_greece último acesso:25 de março 2021

não ocorreu neste ato, como era esperado. Evi-dentemente, a Rússia, enquanto fiel membro doCongresso de Viena, que visava a restauração daordem absolutista na Europa, não poderia apoiaruma revolução na sua periferia. (Kalyvas 2015,25). No entanto, os laços grego-russos observam-seao longo de todo o processo da criação da entidadegrega moderna, tanto por via da relação culturale religiosa estreita entre as duas nações, comotambém através do interesse estratégico russonos Balcãs otomanos e as ligações económicasimportantes entre os dois países. É de notar ocrescimento de um empreendedorismo económicodinâmico no mar negro na época. Na segundadécada do século XIX, Odessa era o porto em cres-cimento mais rápido do mundo, onde uma grandecomunidade grega de comerciantes se instalou einstituiu escolas, bancos e hospitais (Frary 2015,25).

O dia 25 de março foi definido como dataoficial da revolução grega pela Sociedade dos Ami-gos, dando assim uma ressonância simbólica aoacontecimento, sendo o dia de celebração religiosacristã da anunciação de Nossa Senhora.

Para os insurgentes, a Europa era sinónimode liberdade, prosperidade, dignidade e estado dedireito; valores esses que o novo estado procu-rava garantir para ele próprio. Neste contexto,Ioánnis Kapodístrias foi escolhido como o lídermais adequado para preparar um estado modernoe implementar um programa de organização ad-ministrativa, importando políticas e instituiçõesao estilo europeu. Kapodístrias adquiriu a suaexperiência política na Rússia, como ministro dosnegócios estrangeiros do czar Alexandre Primeiroe na Suíça (Beaton 2019, p. 105). Kapodístrias(1827-31) conseguiu suprimir a pirataria e esta-belecer um sistema de educação. No entanto, oseu autoritarismo, as clivagens ideológicas inter-nas entre os modernistas e os tradicionalistas,e uma oposição feroz da parte dos caudilhos,despertaram grandes contestações e acabou porser assassinado. (Koliopoulos e Veremis 2010, 26;Hatzis 2019, 3-5).

Quanto ao cenário político internacional daépoca, como já referimos, esse não era favorável amovimentos revolucionários, sendo estes conside-rados uma ameaça para o status quo absolutistada época. As grandes potências, todavia, acaba-

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ram por se evolver na guerra, iniciando assimuma longa tradição de intromissão nos assuntosinternos do país. O envolvimento das potênciaseuropeias deveu-se a dois fatores/interesses estra-tégicos fundamentais (Arabatzis, Steiris e Mitra-lexis (eds) 2016; Mitralexis 2017). Em primeirolugar, a revolução grega poderia alterar o equilí-brio de poder entre as duas grandes potências emexpansão da época, a Grã-Bretanha e a Rússia.Os britânicos procuraram contrariar a ascensãoda influência russa no Mediterrâneo Oriental eviram um estado grego recém-formado como umtampão às ambições da Rússia. Os russos, poroutro lado, viram o surgimento de um novo Es-tado ortodoxo cristão como um potencial aliado.Neste contexto, a batalha determinante para oresultado e vitória da Revolução Grega foi travadana Baía de Navarino em 20 de outubro de 1827,com o apoio britânico, francês e russo (Holland2021, 281-296). A Grécia foi declarada um Estadomonárquico independente sob a proteção dessasmesmas potências, com o protocolo de Londres,que foi assinado em 3 de fevereiro de 1830. Quantoàs intenções gregas, importa referir que os revo-lucionários tinham solicitado a intervenção dosbritânicos e não dos russos (Kalyvas 2015, 31;Beaton 2019, 97).

No cenário político surgem assim três partidos,o russo, o francês e o britânico, procurando apoiaros interesses geostratégicos dos respetivos paísesna região. A escolha do Príncipe Oto da Bavieracomo primeiro rei da Grécia livre também foi re-veladora de uma contínua intromissão estrangeiranos assuntos internos do país, até hoje presentena psique grega. Essa realidade encorajou a disse-minação da crença de que os fracassos da Gréciaeram causados pela influência externa, criandouma predisposição natural do povo grego pararesistir a persistente "invasão"(Kalyvas 2015, 8).

Efetivamente, o reconhecimento da indepen-dência da Grécia em 1830 foi a primeira tentativaeuropeia a favor de um movimento de libertaçãonacional. E isso aconteceu, parcialmente, graçasao significado universal da herança helénica clás-sica. Para os próprios gregos, além da liberdade,garantir um lugar de direito na família das naçõeseuropeias era também um interesse vital (Koli-opoulos e Veremis 2010, 23). Do mesmo modo,o processo de construção da identidade grega

moderna surge entre dois movimentos ideológicose políticos antagónicos, ainda hoje presentes nasociedade helénica, um dualismo cultural como odescreveria em 1993 Diamandouros (Diamandou-ros 1993, 4). Trata-se da cultura oriental, tradi-cionalista, pré-moderna e suspeita/insegura paracom o Ocidente, underdog culture, e a cultura doiluminismo, essencialmente laica, e pró-ocidental(Triandafyllidou, Gropas e Kouki 2013, 3).

3 A Grécia livre e a evolução da iden-tidade gregaA Grécia livre esteve sempre condicionada porum conjunto de fatores tanto de natureza internacomo externa: tais como as divisões dentro dopróprio sistema político e o facto de viver períodosprolongados de instabilidade e guerra.

A independência veio colocar na agenda polí-tica nacional duas questões principais, a unidadeterritorial e a governança política. Neste contexto,a identidade grega ficou marcada, por um lado,pela ambição de reunir todos os gregos, nascidosdentro e fora das fronteiras do reino (autóctones eheteróctones respetivamente) num único Estado-nação e, por outro lado, pela transição de uma na-ção num novo Estado-nação, duas das constantesda política e da diplomacia grega do século XIX.

As aspirações irredentistas da época são co-nhecidas como a "Grande Ideia"(em grego: MegáliIdéa); que visavam a criação de uma potênciaregional, que combinaria o alcance simbólico daGrécia antiga com o legado ortodoxo de Bizâncioe teria a sua capital mais uma vez estabelecidaem Constantinopla (Skopetea 1988; Veremis 2020,Hatzis 2019).

Entre 1864 e 1881, o território grego foi alar-gado pacificamente. A Grã-Bretanha cedeu asilhas Jónicas à Grécia em 1864, como presentepor não estar do lado da Rússia na Guerra Russo-Turca de 1877-1878. Mais tarde, em 1881, foi ane-xada a Tessália e parte de Épiro. No entanto, estespequenos ganhos territoriais não conseguiram sa-tisfazer a Megáli Idéa. Adicionalmente, a questãode Creta pressionava enormemente os sucessivosgovernos gregos e acendia fortes sentimentos na-cionalistas; pois, os cretenses revoltaram-se quaseininterruptamente contra as autoridades otoma-nas durante o século XIX.

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Na sequência da Guerra Greco-Turca de 1897,foram efetuados pequenos ajustamentos territori-ais à linha fronteiriça greco-otomana a favor dosotomanos. E Creta torna-se um estado autónomoapenas em 1898, após pressões ao sultão vindasdas grandes potências, Grã-Bretanha, França, Itá-lia e Rússia (Koliopoulos e Veremis 2010, 56).

Durante o período da monarquia absoluta dorei Oto, a idiossincrasia liberal grega foi mui-tas vezes desafiada, levando à revolta de 3 desetembro de 1843; revolta essa que abriu o ca-minho para a adoção da primeira constituiçãopós-independência. Uma monarquia constitucio-nal foi assim estabelecida em 1844, através doprimeiro sufrágio masculino universal. A guerrada Crimeia entre o Império Russo e o ImpérioOtomano (1853-1856), contudo, veio provocar no-vamente um descontentamento generalizado con-tra o rei Oto, por não ter apoiado a estratégiafranco-britânica, prejudicando assim os interessesestratégicos do país (Kalyvas 2015, 46). Oto foiconduzido a abdicar o trono em 1862. O seusucessor foi um príncipe dinamarquês da Casa deGlücksburg, que se tornou o rei Jorge I e reinoudurante meio século (1863-1913). Era um anglófilodisposto a aceitar uma constituição democrática,constituição essa que foi adotada em 1864, tor-nando a Grécia numa das primeiras democraciasparlamentares do mundo.

No último quarto do século XIX, o regimepolítico do país foi marcado por um sistema dedois partidos em que o poder alternava entredois homens: Kharílaos Trikoúpis e TheódorosDhiliyiánnis. Trikoúpis representava a tendênciamodernizadora e de ocidentalização do país, eDhiliyiánnis era um chefe político tradicional, semnenhum programa real que não fosse derrubar asreformas do seu arquirrival (Koliopoulos e Vere-mis, 2010). Entretanto, os esforços militares agra-vavam os problemas económicos, que culminaramna falência nacional em 1893.

Desde a sua independência, o Estado gregoprocurou alcançar o sonho da Grande Ideia e umamodernização política, económica e social seme-lhante ao modelo europeu. Neste esforço, porém,o constante conflito interno entre os apoiantese os opositores da modernização (Diamandouros1993, 1994) e a instabilidade externa constituíramobstáculos que atrasaram significativamente este

processo.

4 Século XX - A consolidação de umaidentidade entre crises e triunfosNo século XX, a identidade grega continua amoldar-se em paralelo com a necessidade de se-gurança e afirmação na região, aproveitando re-ferências ao seu glorioso passado e a aliança ine-gável com as grandes potências. Nikos Svoronosargumentou que "o significado mais profundo dahistória da Grécia moderna pode ser resumidoao doloroso esforço de um povo antigo para setransformar numa nação moderna, adquirir umaconsciência do seu caráter especial e ganhar a suaposição de direito no mundo moderno."(citado porKalyvas 2015, 8)

O início do século XX foi marcado pelo jogo depoder entre potências regionais e europeias; jogoesse que conduziu às guerras dos Balcãs e maistarde às duas grandes Guerras. A Grécia partici-pou ativamente nestes conflitos, conseguindo vitó-rias que lhe permitiram alargar os seus territóriose aproveitar um apoio externo crucial para o seudesenvolvimento, mas sofrendo também perdasdramáticas que ficaram para sempre gravadas nasua memória histórica.

A Grécia participou na Guerra dos Balcãs(1912-13), fazendo parte das alianças vencedoras.Como resultado, aumentou o seu território, coma Macedónia Grega e a ilha de Creta. Do mesmomodo, a Grécia entrou na Primeira Guerra Mun-dial em 1917, ao lado dos Aliados (Triple Entente:Reino Unido, França e Rússia). Após a vitória dosAliados, a Grécia ficou responsável pela adminis-tração de Smyrna (e da sua periferia), na ÁsiaMenor, habitada por uma população mista cristãe muçulmana e por uma considerável populaçãogrega. O Tratado de Sèvres, em 1920, oficializoua presença grega na Ásia Menor e formalizou osganhos territoriais gregos: da Trácia (no nordesteda Grécia, entre os mares Negro e Egeu) e dasilhas do mar Egeu (Kalyvas 2015, 2020).

Contudo, a chegada das tropas gregas à costada Ásia Menor provocou uma onda de violên-cia intercomunitária, que levou ao surgimento donacionalismo turco. Sob a liderança de MustafaKemal Atatürk, um movimento turco de resistên-cia emergiu contra os remanescentes do Império

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Otomano e principalmente contra o exército gregoe a população cristã da Anatólia. A Grécia foiforçada a devolver todos os territórios conquista-dos durante os confrontos. Os conflitos ficaramconhecidos como as Guerras da Ásia Menor de1921, uma catástrofe que provocou uma crise derefugiados sem precedentes e marcou o fim dasambições irredentistas da Grécia (Hatzis 2019, 8).

A Grécia não tinha intenção de entrar na Se-gunda Guerra Mundial. A estratégia do primeiro-ministro da Grécia na época, Ioánis Metaxas, erade a manter neutra durante o conflito. No entanto,quando as tropas italianas de Mussolini exigirama entrega incondicional do país, Metaxas categori-camente recusou, com um famoso Ochi (tradução:não) "Donc, Monsieur, c’est la guerre"(Beaton2019, 267), dito no dia 28 de outubro de 1940(dia nacional na Grécia). Como resultado, a Itáliatentou invadir a Grécia, porém, o exército gregotravou a invasão e rapidamente forçou as forçasitalianas a refugiarem-se na Albânia. Situaçãoessa que obrigou Hitler a lançar um bombarde-amento nos Balcãs em abril de 1941. As defesasgregas colapsaram e os alemães entraram em Ate-nas, logo depois. A ocupação que se seguiu foiextremamente violenta e destrutiva. Todavia, osgregos mantiveram a resistência contra as forçasnazis até ao final da Guerra (Clogg 1992; Kalyvas2015, 2020).

É pertinente salientar que neste período arelação entre o Oriente e o Ocidente Europeu,em termos de estratégias, não era uma relação declara divisão. Evidentemente, a aliança entre paí-ses, tais como o Reino Unido, os Estados Unidosda América (EUA) e a União Soviética, foi crucialpara garantir a vitória dos aliados e a salvaguardade interesses comuns durante as duas GrandesGuerras. Neste contexto, a Grécia fez escolhasestratégicas de forma a garantir os seus própriosinteresses nacionais.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a di-visão entre dois pólos de poder globais e ideologiasdistintas da União Soviética e dos Estados Unidosda América veio marcar uma grande parte doSéculo XX. Paradoxalmente, essa divisão encontraa sua primeira afirmação num conflito internonum país do mediterrâneo oriental, a Grécia. Aguerra civil grega (1946-1949) que se inicia coma criação do Exército Democrático da Grécia

(Democratic Army of Greece, DSE) pelo PartidoComunista Grego (KKE) e o lançamento de umainsurreição em larga escala contra o governo deAtenas, também assinalou o início da Guerra Fria.A guerra envolveu as forças armadas do governomonárquico grego, protegidas pelo Reino Unidoe pelos EUA, contra o Partido Comunista daGrécia, apoiado pela Rússia. Com o grande apoiofinanceiro e político dos americanos, o governomanteve-se no poder e a Grécia juntou-se oficial-mente ao Mundo Ocidental, the West of the ColdWar Atlantic aliance (Mitralexis 2017). De referirque a Grécia foi o único dos países vizinhos nosBalcãs que fugiu ao comunismo, continuando amoldar a sua identidade com base em escolhaspolíticas concretas, afirmando interesses comunsem termos de estratégia e valores com o Ocidente.

Apoiada pelo governo americano através daDoutrina Truman e do Plano Marshall de 1947,a economia grega havia sido estabilizada já nosfinais da década de 1950. A Grécia aderiu àNATO, uma das organizações-chave do Ocidenteno domínio de segurança e defesa, em 1952. Damesma forma, solicitou a abertura de negociaçõescom a Comunidade Económica Europeia (CEE)em 1959, apenas um ano após a entrada em vigordo Tratado de Roma, e acabou por assinar em1961 um acordo de associação muito abrangente eambicioso, com os seis membros fundadores. Comeste acordo, a Grécia tornou-se o primeiro membroassociado da CEE (Tsoukalis 2020; Featherstonee Papadimitriou 2020).

O período entre 1961 e 1973 foi um períodode crescimento económico notável do país, que al-cançou uma taxa média de crescimento de 7,4%, oque colocou a Grécia entre os principais países emdesenvolvimento a nível global. Isso foi possívelgraças a uma combinação de estabilidade política;estabilização monetária (com base na indexaçãodo dracma ao dólar, o que levou a uma maiorconfiança na moeda grega); estabilidade macro-económica (baixa inflação e orçamentos do estadoequilibrados ou quase); a abertura ao comérciointernacional; o investimento maciço em infraes-truturas (Kalyvas 2015, 2020).

Em termos de regimes políticos, o país experi-mentou três interrupções relativamente curtas dosseus governos democráticos: 1922-1929, 1936-1945e 1967-1974. Durante o mesmo período, várias

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divisões ideológicas continuavam a abalar o país.O Cisma Nacional (em grego: dichasmós), querefletia o confronto entre o estadista grego liberalElefthérios Venizelos e o monarca Konstantino, iadividir o país durante décadas. Venizelos apoiavaa participação da Grécia na Guerra ao lado da"Triple Entente"enquanto o rei, sendo próximo daAlemanha, defendia a neutralidade do país. Ocisma entre campos distintos instrumentalizou atradição e a modernização de formas diferentes,vacilando entre o Oriente e o Ocidente.

Foi sobretudo após a transição para a demo-cracia, em 1974, com o fim da junta militar de seteanos e a abolição da monarquia, que uma série demudanças significativas trouxeram o país para ocaminho de uma verdadeira modernização (Tri-andafyllidou, Gropas e Kouki, 2013; Featherstone2020).

O período pós 1974 é conhecido como "meta-polítefsi"; foi um momento crítico que marcou ereafirmou as escolhas estratégicas do país paracom as estruturas ocidentais. A candidatura àadesão a Comunidade Europeia foi submetidapelo governo da Nova Democracia (ND), lideradopor Karamanlis já em junho de 1975. Os ideaisda unidade e democracia europeias foram, maisuma vez, misturados com referência à história e àalta política (Tsoukalis 2020, 586). Karamanlis játinha retirado as forças gregas da estrutura militarda NATO devido à incapacidade de organizaçãopara impedir a invasão de Chipre pela Turquiaem 1974. Assim, a CE foi apresentada como umaespécie de substituto da NATO, ou seja, subs-tituição da velha Pax Americana por um novaPax Europaea (Karamouzi 2014; Tsoukalis 1981;2020).

Na realidade, Karamanlís poderia contar comum forte apoio dos EUA para a participação daGrécia na construção europeia, pois o projetoeuropeu reforçava a aliança transatlântica cons-truída em oposição a um inimigo comum, analliance founded on opposition to a common threat,o poder soviético (Daalder 2000). O restabeleci-mento da democracia liberal na Grécia tornava-se assim fundamental para este propósito. Kara-manlis tratou o Atlântico e o Europeísmo comoestratégias complementares, não antagónicas. Aolongo destes anos, a Grécia, juntamente com ou-tros países do Sul da Europa, lutava desespera-

damente para escapar às armadilhas do subdesen-volvimento. Logo, para o governo de Karamanlis aopção pela europeização era óbvia (Hatzivassiliou2020).

A relação da Grécia com a Europa ganhouuma dimensão especial com a adesão plena do paísàs Comunidades Europeias em 1981. Contudo, apresença da Grécia nas Comunidades passou porvárias fases: o período inicial foi marcado peloclima de desconfiança e ceticismo grego para como modelo de integração europeia, nomeadamenteno que diz respeito à maior integração europeianos domínios institucional, político e de defesa. Apartir de 1985, porém, houve uma abertura maiora favor da cooperação europeia mais estreita, nossetores de saúde, educação e ambiente. A parterestante da década de 1980 viu a Grécia começara sentir o benefício económico da sua adesão àCE e a experimentar os necessários processos deajustamento (Tsoukalis 2020; Featherstone 2020).

Para muitos gregos, fazer parte da construçãoeuropeia tem sido uma escolha existencial de-vido à sua história e à sua geografia. Igualmente,existe um espírito de antiamericanismo no paísrelacionado com uma posição anti-imperialista deesquerda e uma perceção popular de condenaçãodo apoio dos EUA à ditadura militar e a passi-vidade nos trágicos desenvolvimentos na ilha deChipre, em 1974. Memórias essas que refletem-senuma idiossincrasia política particular grega, con-tribuindo para a extensão da "Europeização"dopaís (o tema da "Europeização"da Grécia temsido abordado por vários académicos ao longo dosanos: Lavdas 1997; Ioakimidis 2010; Tsardanidise Stavridis 2011; Gemenis e Lefkofridi 2013; Fe-atherstone e Papadimitriou 2020).

Com o fim da Guerra Fria, a Grécia encontra-se de novo na fronteira da divisão e da instabi-lidade regional, marcada pela guerra da Jugos-lávia. De facto, quando os regimes comunistascomeçaram a colapsar, a perspetiva de estabelecerrelações amigáveis e mutuamente benéficas comos países vizinhos nos Balcãs foi o desafio seguintepara a Grécia.

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5 O Século XXI: A identidade ao orá-culo de ApoloUma versão nova da identidade grega, otimista ecentrada na Europa, revela-se no início do séculoXXI. Identidade essa que encontrou a sua expres-são mais marcante na cerimónia de abertura dosJogos Olímpicos de Verão de 2004, em Atenas,onde as histórias antigas e modernas foram com-binadas numa interpretação artística excecional.

A Grécia ambicionou e conseguiu o seu lugarna família europeia, fazendo parte do "núcleoduro"da construção europeia, como membro dazona euro. Tendo uma opinião pública favorávelpró-europeísta, foi um dos países que mais apoiouo projeto para uma Constituição Europeia em2004, e após a rejeição da mesma pela França eHolanda, advogou convictamente a inclusão dascláusulas integracionistas da Constituição no Tra-tado de Lisboa, que foi assinado em 2007.

Contudo, uma nova tragédia grega, não tardoua eclodir. A crise financeira de 2009 fez a Gréciaenfrentar um dos momentos mais difíceis da suahistória, ficando refém de um longo período deausteridade e exclusão. As medidas de austeri-dade tiveram um impacto gravíssimo na situaçãoeconómica, política e social do país. A crise pro-duziu uma mistura explosiva de xenofobia nacio-nalista, radicalismo de extrema-direita, inclusivea entrada no Parlamento Helénico do partidoneonazi Aurora Dourada. Esta situação levou, porum lado, os dirigentes europeus a duvidarem dopróprio "mérito"da Grécia de fazer parte do clubeeuropeu; por outro lado, a falta de solidariedadee a imposição de regras insustentáveis por partedos parceiros europeus levou a Grécia a duvidardo próprio projeto europeu e da sua sinceridadepolítica e social. Assim, a Europa passou de um si-nónimo de modernidade e crescimento económicopara a causa principal da dolorosa austeridadevivida no país, relembrando o paternalismo eu-rocêntrico de um imperialismo ocidental do séculoXVIII (Triandafyllidou, Gropas e Kouki 2013, 17).

Por outro lado, a Grécia muitas vezes atuoucomo o "mau aluno"da Europa, dada a instabi-lidade económica do país, a falta de reformasestruturais e questões geoestratégicas complexas.De facto, a Grécia mantém uma base produtiva daeconomia fraca, maioritariamente com pequenas

empresas de produção familiar. O consumo in-terno tem sido alimentado por défices orçamentaisconsideráveis. (Tsoukalis 2020). Além disso, tam-bém falharam os mecanismos de controlo, tantointerno como externo. O país passou por trêsprogramas de resgate sucessivos, com o últimoa terminar apenas em agosto de 2018. As polí-ticas de austeridade impostas pelos credores nãotiveram o efeito esperado. A crise aumentou asassimetrias económicas e sociais dentro da União,e a maioria dos Estados-Membros, e em particularos países mais fracos da zona euro, como a Grécia,não tiveram condições de promover o investimentoe, consequentemente, o crescimento económico tãodesejado e exigido pelos credores.

No mesmo período, a Grécia depara-se comum contexto geoestratégico instável: a relação detensão constante com a vizinha Turquia, a disputacom a antiga "República Jugoslava da Macedó-nia"(FYROM), hoje Macedónia do Norte, sobreo nome deste país; situações essas que provoca-ram sentimentos de insegurança acrescida, difi-cilmente compreensível pelos parceiros europeus,pois para estes essas preocupações figuram comosendo pré-modernas ou irracionais. Porém, naverdade, a "insegurança muitas vezes gera irraci-onalidade"(Tsoukalis 2020, 589). Adicionalmente,a Primavera Árabe e a Guerra Civil na Síria em2011 provocaram, além de instabilidade na região,o êxodo de centenas de milhares de migrantese refugiados, prolongando e agravando as crisesenfrentadas pelo Estado grego, uma das principaisportas de entrada dos migrantes na União Euro-peia.

Neste contexto de múltiplas crises, o partidoradical SYRIZA ganha as eleições em 2015, comuma posição muito crítica sobre a União Europeia.No entanto, o governo de Alexis Tsipras, apesarda sua campanha eleitoral contra o domínio deBruxelas, e apesar do "não"a um novo plano deausteridade ter ganho no referendo de 5 de julhode 2015, acabou por manter o país bem perto dasestruturas europeias. O crítico e eurocético mi-nistro das Finanças na altura, Yannis Varoufakis,por outro lado, afasta-se do governo e cria o seupróprio partido, baseado numa retórica anticolo-nial europeia (Beaton 2019, 389). É pertinente,porém, notar que nunca defendeu explicitamentea saída da Grécia da União Europeia, mas uma

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visão diferente da Europa7. De facto, nos 40 anosde uma conturbada relação da Grécia com aUnião Europeia, sempre houve uma maioria pró-europeia, mesmo quando os gregos tinham umaopinião negativa sobre as políticas europeias8.

Durante o governo de Tsipras, a estreita liga-ção cultural, religiosa e histórica entre a Gréciae a Rússia veio de novo à superfície. Os doispaíses mantêm relações diplomáticas, militares ecomerciais importantes, e uma ligação cultural ereligiosa inegável. Porém, do ponto de vista polí-tico estratégico e institucional, a Grécia tem feitoescolhas claras integrando-se ao mundo ocidental,e atuando em prol dos valores e princípios daUnião (Diamantouros 2013). Da parte da Rússia,o interesse centra-se no desafio do (des)equilíbrionas relações de poder entre a Europa Ocidentale a própria, e a aproximação para com a Gréciaencaixa-se neste molde.

Mark Mazower capta bem a tendência surpre-endente da Grécia em superar as suas calamidadesde modo revolucionário, prevalecendo mais vezesdo que seria esperado, dado o seu peso demográ-fico, político e económico. Mazower baseia a suaafirmação em vários capítulos da história grega,entre eles: a Guerra da Independência Grega nadécada de 1820, que se tornou um símbolo defuga do domínio dos impérios da época, e que seespalhou pelo continente, culminando na PrimeiraGuerra Mundial. A resistência aos nazis durantea Segunda Guerra Mundial, que estava entre osprimeiros e mais visíveis esforços desse tipo. E, ademocratização da Grécia em 1974, que antecipouuma onda de democratização global dos anos ‘80 e‘90, primeiro na América do Sul e Sudeste Asiáticoe depois na Europa Oriental (Kalyvas 2015, 2020).A questão que se coloca agora é de saber se a crisegrega e o "desacordo"para com o plano impostopelos credores aos países em necessidade foramtambém o precursor de uma rutura sistémica domodelo capitalista do bem-estar neoliberal e de

7. Sobre o Manifesto for democratizing Europe e o EuropeanNew Deal, ver a página oficial do DiEM25 https://diem25.org/pt/ último acesso: 21 de março 2021

8. Eurobarómetro 4021 "Emotions and politicalengagement towards the EU", abril 2019, disponível emhttps://www.europarl.europa.eu/at-your-service/en/be-heard/eurobarometer/emotions-and-political-engagement-towards-the-eu último acesso: 21 de março 2021

uma necessidade de mudança urgente (Triandafyl-lidou, Gropas e Kouki 2013, 8).

6 Considerações FinaisA Grécia celebra hoje 200 anos desde a sua in-dependência, uma época marcada por períodosprolongados de instabilidade e guerra. Contudo,o país tem conseguido uma série de realizaçõessignificativas igualmente notáveis. Neste contexto,na identidade grega identifica-se um elemento deorgulho tanto pela sua história antiga como pelassuas realizações mais recentes. Todavia, tambémse identifica uma insegurança ligada à sua posiçãoe relevância atual e ao seu lugar na Europa e noMundo, entre o Ocidente e o Oriente.

Desde a génese do Estado Grego Moderno, aidentidade grega foi marcada pelo conflito entreduas culturas distintas e antagónicas, a tradici-onalista e a modernista. A cultura tradicional énacionalista, influenciada pelo passado bizantinoe otomano, marcada pela presença religiosa daIgreja Ortodoxa Cristã, e cética para com o mo-dernismo europeu e pela presença pró-capitalistado mundo Ocidental. A cultura moderna, poroutro lado, é cosmopolita e defende os valores eprincípios liberais enraizados no modelo europeudesde o Iluminismo até hoje. O paradoxo, porém,da identidade grega é que elementos de ambasas culturas se encontram em todo o espectro dasociedade e sistema político, tanto nas forças deesquerda como de direita.

No entanto, colocar a Grécia definitivamenteno Oriente, significaria desvalorizar a trajetória deum longo histórico de lutas e de um elo civilizaci-onal e estratégico singular com o Ocidente. A Eu-ropa tem sido o espaço vital para a criação de umaidentidade moderna para o novo Estado. Quantoàs escolhas estratégicas e políticas, o caminho pró-ocidental afigurou-se como a opção mais acertadapara a Grécia. De igual modo, o valor da própriaGrécia para com os seus parceiros europeus nãopode ser ignorado. A ideia da Europa está intrin-secamente ligada à Grécia Clássica, desde o seunome Eυρωπη (Europa) até aos seus princípiosda filosofia, ciência e democracia. Desde a inte-gração no projeto europeu, há 40 anos, a Gréciatem sido um pólo regional estratégico, um estadoamigo e politicamente estável, e uma fronteira

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europeia que funciona como filtro das ameaçasvindas dos países vizinhos, razão pela qual umaeventual saída da Grécia da zona euro ou da UniãoEuropeia (Grexit) não aparenta desejável.

Morin define a Europa como um complexo,cuja característica é reunir as maiores diversida-des sem as confundir e de associar os contrários demaneira não separável (2010, 27). Esta associaçãodefine a nossa Europa e nela as identidades nacio-nais distintas encontram a sua melhor expressão.

Entre valores e visão estratégica, a psique(ψυχη) clássica da Grécia está bem enraizada naEuropa e vice-versa.

ReconhecimentoEste estudo foi elaborado no Centro de Investiga-ção em Ciência Política (UID/CPO/00758/2020),Universidade de Évora, com o apoio da Fundaçãopara a Ciência e Tecnologia (FCT) através defundos nacionais.

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[41] Tzogopoulos, George. 2013. The Greek Crisis in the Media:Stereotyping in the International Press. NY: Routledge. 1stedition.

[42] Veremis, Thanos. "Eρωτησειζ kαι Aπαντ ησειζ για τo’21". Athens: Mεταιχµιo 2020.

Evanthia Balla is an Assistant Professor atthe University of Évora and Collaborativemember of the Research Center in PoliticalScience (CICP). Evanthia Balla has a PhD inPolitical Science and International Relationsfrom the Catholic University of Lisbon (Por-tugal), a Masters degree in European Studiesfrom the University of Reading (UK) and aMasters degree in International Politics from

the Université Libre de Bruxelles (Belgium).