Tolstói - O Que Devemos Fazer

  • Upload
    dknow75

  • View
    252

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    1/125

    O que devemos fazer

    Liev Tolstoi

    Livro onde autor fala dos problemas do uso do dinheiro e dassemelhanas do trabalho assalariado com a escravido; da ineccia

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    2/125

    da esmola como forma de diminuir a misria; das incoerncias dateoria da diviso do trabalho; das falhas da cincia e da arte; dagrande importncia da autonomia (h uma grande nfase nesteassunto! dentre outras coisas" #ntes de divulgar o ar$uivo em outrossites acho $ue seria melhor fa%er uma reviso" #lgum gostaria de

    fa%er isso&

    ')*+)# '#T+,ue fa%er&-+./01# '#T+# -oluo# vida na cidade# vida do campo#cerca do destino da cincia e da arte-obre o trabalho e o lu2o

    3onte4 http455taborita"blogspot"com"br5678957:5o$uedevemosfa%er"html

    http://taborita.blogspot.com.br/2013/09/o-que-devemos-fazer.htmlhttp://taborita.blogspot.com.br/2013/09/o-que-devemos-fazer.htmlhttp://taborita.blogspot.com.br/2013/09/o-que-devemos-fazer.htmlhttp://taborita.blogspot.com.br/2013/09/o-que-devemos-fazer.html
  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    3/125

    ')*+)# '#T+

    ,ue fa%er&

    )

    'assei toda minha vida no campo"+m 8velho4 anda devagar! mancando intencionalmente! ora com o pdireito! ora com o es$uerdo" ,uando os v! se apAia em um deles demodo $ue parece $ue os saBda4 se se detm! leva a mo ao gorro! seinclina! e os pede uma esmola; mas! se passam reto! trata de fa%los

    crer $ue a inclinao obedeceu a seu defeito f?sico e segue seucaminho inclinandose de igual modo sobre o outro p"> um verdadeiro mendigo de *oscou $ue conhece seu of?cio"'ergunteime! desde logo4 'or$ue essas pessoas agem assim& *aistarde me dei conta do motivo; mas me foi dif?cil sempre compreendersua posio"0otei um dia! ao atravessar a rua de #fanassievsCD! $ue um policialfa%ia entrar numa carruagem um homem do povo! hidrApico eesfarrapado"'erguntei ao agente $ue delito havia cometido a$uele suEeito e merespondeu $ue o havia detido por mendigar"

    F +st proibido mendigar& F perguntei"F > provvel! F me respondeu o agente"# carruagem levou o hidrApico"*ontei em minha carruagem e os segui",uis saber se era verdade $ue estava proibido mendigar e $uais eramos termos da proibio"#pesar de todos meus esforos! no podia compreender $ueestivesse proibido $ue um ser humano pedisse algo a seussemelhantes! e menos podia persuadirme disso ao ver os mendigosaos montes por *oscou"+ntrei no $uartel onde haviam condu%ido o hidrApico"/m homem! com o sabre ao lado e o revAlver na cintura! estavasentado ali de frente a uma mesa"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    4/125

    'ergunteilhe por $ue haviam detido o muEi$ue"G do sabre e da pistola me olhou com severidade e me disse4F ,ue tens $ue ver com isso&0o entanto! Eulgando necessrio darme algumas e2plicaHes!acrescentou4

    F 0ossos chefes mandam $ue se detenha a essa classe de pessoas!e provvel $ue tenham suas ra%Hes para isso"etireime"Ii na antecmara o agente $ue havia detido o hidrApico4 estavaapoiado no marco de uma Eanela e e2aminava com severidade aspginas de um caderno"#pro2imeime a ele e lhe perguntei4F > verdade $ue se lhes pro?be aos mendigos implorar a caridade emnome de =risto&G agente saiu de sua abstrao; se 2ou em mim4 voltou a abstrairse! ou melhor dito! a cochilar! e murmurou4F ,uando os chefes o ordenam! por$ue convm"#poiouse de novo na Eanela e voltou a e2aminar seu livreto"-ai do $uartel e me dirigi a minha carruagem4 o cocheiro meperguntou4F G prenderam&+ra evidente $ue se interessava pelo assunto"F -im! F respondi! F o capturaram"G cocheiro balanou a cabea"F > verdade! pois! $ue em *oscou se lhes pro?ba aos mendigos pediresmola pelo amor de 1eus& > poss?vel saber por $u& =omo entender

    $ue sendo um mendigo de =risto o levem preso&F #tualmente proibido mendigar"+m mais de uma ocasio me sucedeu ver aos agentes da pol?cia deteraos mendigos! condu%ilos @ preveno e dali @ casa de )ussupoJ"/m dia encontrei na rua de *iasnitsCaia um grupo de trintamendigos! condu%idos por agentes de pol?cia"1irigime a um destes e lhe perguntei4F ,ue delito motivou essas detenHes&F G de mendigar! F me respondeu"1edu%iase disso $ue em *oscou! na nossa segunda capital! a leiproibia mendigar a todas essas gentes $ue se amontoavam pelas

    ruas e $ue formavam normalmente largas las diante das igreEasdurante os of?cios religiosos! e! sobretudo! na ocasio de enterros"*as por $ue eram detidos uns e se dei2ava em liberdade outros& )ssoera o $ue no me e2plicavam"+ntre a$ueles mendigos! havia legais e ilegais& +ram em tal nBmero$ue no lhes podia pegar a todos! ou @ medida $ue se prendia unsiam chegando outros&+2iste em *oscou um nBmero de mendigos de todo gnero4 h os$ue fa%em de mendigar um of?cio! e h outros $ue so realmenteindigentes; $ue havendo ido a *oscou por um motivo $ual$uer! nopodem dei2ar a cidade por falta de recursos! e $ue se encontram namisria mais espantosa"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    5/125

    +ntre os mendigos desta categoria se veem aldeHes e aldes comseus traEes do povo! e fre$uentemente os encontrei"#lguns! ao sair do hospital onde estiveram enfermos! careciam derecursos para sua subsistncia e para regressar a seu pa?s4 outroscaram arruinados em um incndio; havia tambm os propensos ou

    dados @ bebida! e este era provavelmente o caso do hidrApico de $uefalei antes"Tambm vi mulheres carregadas de crianas novas! e homensvigorosos $ue podiam trabalhar"+stes mendigos! $ue go%avam de boa saBde! me interessavamsingularmente! e eis a$ui a ra%o"1esde minha chegada a *oscou! e como medida higinica! tomei ocostume de ir todos os dias trabalhar com dois muEi$ues $ueserravam madeira em Iorobiovu .orD (*ontes dos pardais"#$ueles aldeHes se pareciam em tudo aos mendigos $ue seamontoavam pelas ruas"/m deles! chamado 'iotr! natural do governo de Kaluga! havia sidosoldado4 o outro! chamado -imion! eram um aldeo do governo deIladmir"0o possu?am mais $ue a roupa do corpo! e os braos para trabalhar".anhavam! com seu trabalho duro! de $uarenta a cin$uentacope$ues por dia e ainda encontravam um meio de economi%ar algoda$uele salrio" 'iotr acabava de comprar um casaco! e -imiondeseEava reunir dinheiro suciente para regressar ao seu povo"'or isso! $uando encontrava na rua dois homens em iguaiscircunstncias! me interessava por eles e me di%ia4 'or $ue uns

    trabalham e outros mendigam&,uando encontrava um destes Bltimos! lhe perguntava pelas causas$ue o haviam redu%ido @$uela situao"/m dia vi um muEi$ue de barba grisalha e em bom estado de saBde!$ue me pediu uma esmola! e lhe perguntei4F =omo te chamas e de onde vens&espondeume $ue vinha de Kaluga em busca de trabalho; haviasa?do de seu pa?s com um camarada4 encontraram desde logoocupao e fa%iam lenha no bos$ue; mas seu patro dei2ou um diade necessitlos! e os despediu4 buscaram novo trabalho inutilmente4seu camarada regressou ao povoado! e ele! depois de $uin%e dias em

    $ue consumiu o economi%ado! carecia de meios para comprar ummachado ou uma serra"1eilhe o suciente para $ue comprasse uma serra e lhe indi$uei umlugar onde lhe dariam trabalho"aviame posto de acordo com 'iotr e -imion! $ue me haviamprometido acolher um camarada e encontrarlhe um companheiropara o trabalho"F =onto contigo! F disse ao mendigo F e no te faltar o $ue fa%er"F 0o se preocupe! irei4 no mendigo por gosto4 tenho foras paratrabalhar"#$uele muEi$ue me deu palavra de concorrer ao trabalho4 me pareceufranco e bemintencionado"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    6/125

    M manh seguinte fui ver meus dois amigos e lhes perguntei por seunovo companheiro; mas no haviam visto a ningum"+ como por este! fui enganado por muitos outros aldeHes"#lguns me disseram $ue unicamente deseEavam reunir o dinheironecessrio para regressar a seus povoados4 dei! e oito dias depois

    voltei a vlos em *oscou4 a maior parte me reconhecia e mees$uivava! mas alguns at se es$ueciam de minha sionomia evoltavam a me pedir esmola"#ssim foi como me convenci de $ue a$uela categoria de mendigosinclu?a muitos de m f; mas at os mais mentirosos inspiravampena! por$ue todos estavam fracos! miserveis e doentes"M$uela classe de mendigos pertencia! ao di%er dos periAdicos! os $uemorriam de fome ou se suicidavam"

    ))

    ,uando eu falava desta misria @s pessoas da cidade! merespondiam4F GhN G $ue voc viu no nada ainda" I ao mercado de Khitrovo eentre numa de seus dormitArios4 ali encontrar a companhiadourada8"/m humorista me disse $ue a companhia se havia convertido E numregimento completo; to numerosos eram os miserveis! e a$uelehumorista tinha ra%o! mas teria sido mais Eusto di%er $ue acompanhia dourada formava em *oscou um e2rcito inteiro! cuEocontingente se elevava! pela minha conta! a cin$uenta mil pessoas"

    Gs habitantes da cidade me falavam com certa reali%ao da$uelamisria e parecia $ue se vangloriavam ao demonstrarme $ueconheciam a$uele estado de coisas"ecordo ter observado! durante minha estadia em Londres! $ue oshabitantes da cidade pareciam vangloriarse tambm da misria deLondres"F IeEa F pareciam di%er F como vo as coisas por a$ui afora",uis ver a misria de $ue me falaram"Tentei ir algumas ve%es ao mercado de Khitrovo; mas $uei com certodesconforto e certo escrBpulo"F 'ara $ue serve ir observar os sofrimentos de pessoas a $uem no

    pode socorrer& F me di%ia uma vo% interior"F 0o! F me di%ia outra vo% F Toda ve% $ue habita nesta cidade e vseus esplendores! contempla tambm suas misrias"/m dia no festival do ms de de%embro de 8

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    7/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    8/125

    +m todas li esta pergunta4F 'or $ue ra%o tu! $ue pertences a outra esfera! paras a nosso lado&,uem s& /m magnata cheio de arrogncia $ue $uer divertirse comnossa misria e dissipar seu fast?gio atormentandonos" Gu ento4-er acaso! o $ue no nem pode ser! um homem $ue tem pena de

    nAs&Todos me impressionavam4 $uando seus olhos $ue encontravam comos meus! os voltavam a outro lado"Tinha deseEos de conversar com um deles e! no entanto! me custoumuito decidirme"*as E hav?amos apro2imado nossos olhares! sem se$uer ter nosfalado ainda"0o obstante a distncia $ue a vida havia posto entre nAs! amboscompreendemos $ue ramos homens! e E no tivemos medo um dooutro"G $ue estava mais prA2imo era um homem de rosto rechonchudo ebarba avermelhada" Levava nos ombros uma tBnica furada! e seusps imundos medidos em sapatos sem calcanhar! e isso $ue fa%ia unsoito graus abai2o de %ero"0osso olhar se encontrou pela terceira ou $uarta ve%! e to dispostome senti a falarlhe! $ue o $ue me envergonhava no era dirigirlhe apalavra! mas no havlo feito ainda"'ergunteilhe de $ue pa?s era; respondeume e seguimos a conversa4os demais se apro2imaram de nAs"+ra do governo de -molensCi e havia vindo a *oscou em busca detrabalho para ganhar o po e poder pagar os impostos"

    F 0esses tempos falta trabalho" F me disse F Gs soldadosmonopoli%aram tudo" 0o fao mais $ue ir seguindo" 3a% dois dias $ueno como")sto o disse timidamente e tratando de sorrir"'erto de nAs estava um velho soldado! comerciante de sbiten64 %lhesinal $ue se apro2imasse" +ncheu um copo $ue o homem tomoumuito $uente! e logo esfregou as mos"3eito isso! me fe% o relato de suas aventuras" -ua histAria se parecia @dos demais4 esteve empregado por algum tempo; logo faltoutrabalho! e para aumentar as desgraas! lhe haviam roubado no asilonoturno o soco em $ue guardava o dinheiro e o passaporte! de sorte

    $ue no podia sair de *oscou"1isseme $ue! durante o dia! entrava nas tabernas onde se a$uecia ese mantinha com as migalhas de po $ue os paro$uianos dei2avam"#lgumas ve%es o dei2avam entrar e outras no4 as noites! as passavano asilo"G Bnico $ue deseEava era $ue a ronda de pol?cia desse com ele e oenviasse por etapas a seu pa?s! por no ter passaporte"F -egundo di%em! F acrescentava como concluso F na prA2ima$uintafeira vir por a$ui a ronda e me certamente de deter"=ontanto $ue eu possa esperar at lN# priso e a viagem em etapas lhe pareciam a terra prometida"+n$uanto contava sua histAria! trs ou $uatro homens dos $ue ali

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    9/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    10/125

    #lgumas! dentre as velhas! se persignavam e re%avam pelo fundadordo asilo; as demais riam e se inEuriavam"-ubi ao piso alto no $ual os homens estavam aloEados de igualmaneira! e vi a um da$ueles a $uem havia dado dinheiro" #o verlhe!me senti envergonhado e me apressei a andar" -a? da$uela casa e

    entrei depois na minha! com a conscincia de haver cometido umcrime"-ubi a escada coberta de tapearias! e entre na antecmara; tirei apelia e me sentei @ medida $ue dois Eovens criados! vestidos depreto! me serviram os cinco pratos $ue constitu?am minha comida"3a% trinta anos! vi guilhotinarem um homem em 'aris! diante demilhares de espectadores" -abia $ue o ru era um temido malfeitor! eno ignorava as ra%Hes $ue desde a sculos vm sendo apresentadaspara desculpar ou e2plicar semelhantes atos" -abia $ue a$uilo sefa%ia com inteno! conscientemente; mas no momento em $ue ocorpo e a cabea caram separados! e2alei um grito"=ompreendi! no por discernimento! no por sensibilidade! mas comtodo meu ser $ue todos os sosmas $ue havia ouvido! relativos @pena de morte! no eram mais $ue infames tolices" ,ual$uer $uefosse o nBmero dos espectadores e o nome $ue se dessem!compreendi na$uele momento $ue acabavam de cometer umassassinato! o crime maior $ue se pode cometer no mundo! e $ue eu!por minha presena e por minha no interveno! acabava de tomarparte nele e de aprovlo implicitamente"1e igual modo ali! em presena da fome! do frio e da humilhaoda$ueles seres humanos! me convenci de $ue a e2istncia de tais

    pessoas em *oscou era tambm um crime" + en$uanto isso nAs nospresentevamos com carnes e pei2es re$uintados! e cobr?amosnossas habitaHes e nossos cavalos com ricas tapearias e belosrevestimentos"1igam $uanto $ueiram os sbios do mundo acerca da necessidade detal ordem de coisas! a$uilo era um pecado $ue se cometiaincessantemente e no $ual eu participava com meu lu2o! pecado de$ue no apenas era eu culpado por complacncia! mas porcumplicidade"# meu modo de ver! no havia mais $ue uma diferena entre a$uelasduas impressHes4 no primeiro caso! tudo o $ue eu pudera fa%er era

    interpelar aos assassinos $ue estavam perto da guilhotina e haviamordenado o assassinato! di%endolhes o mal $ue fa%iam! na certe%a de$ue minha interveno no houvera evitado a comisso do crime4 nosegundo caso! no apenas podia dar o dinheiro $ue levava no bolso!mas tambm minha pelia e tudo $uanto tinha em minha casa"+! no entanto! no fao assim! e ento me acreditei! e me acreditoagora! e me acreditarei sempre cBmplice do crime $ue se cometeconstantemente! e essa responsabilidade recair em mim en$uantodesfrute de uma alimentao suprPua en$uanto outros morrem defome! e en$uanto eu tenha duas roupas e haEa $uem no tenhanenhuma"

    )))

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    11/125

    =onfessei minhas impressHes a um amigo! vi%inho de *oscou! e sepQs a rir e me disse $ue a$uilo era conse$uncia natural da vida dasgrandes capitais e $ue sA a meus preconceitos de provinciano deviaatribuirse a$uela maneira de considerar as coisas" #sseguroume $ue

    a$uilo havia ocorrido! ocorria e seguiria ocorrendo sempre! por serconse$uncia inevitvel da civili%ao"+m Londres ainda era pior a situao""" 'ortanto! no havia ali nadamau! nem motivo para $uei2arse"=omecei a refutar meu amigo! e o % com tanto calor e tonervosamente! $ue minha mulher acudiu para inteirarse do $ueocorria"'arece $ue! sem me dar conta disso! me animava bruscamente ee2clamava com vo% comovida4F 0o se pode viver assim" > imposs?vel4 no se pode viver assimN3ui repreendido por meu 2tase inBtil! por no saber discutir comcalma! e por irritarme de uma maneira inconveniente"1emonstraramme! alm disso! $ue a e2istncia da$uelesdesgraados no podia ser uma ra%o para envenenar a vida dosdemais! $ue tambm eram meus prA2imos"=ompreendi $ue a$uilo era muito Eusto! e no repli$uei; masinteriormente sentia $ue eu tinha ra%o tambm! e no logravaacalmarme"# vida da cidade! $ue at ento me era estranha e me pareciaestranha fe%se desde a$uele instante to odiosa! $ue os pra%eres davida lu2uosa e confortvel! tidos como tais at a$uela data!

    converteramse para mim em tormentos"'or mais $ue buscasse em minha alma uma ra%o $ual$uer $uedesculpasse nossa vida! no podia ver sem me irritar meu salo e ossalHes dos outros! nem podia ver uma mesa suntuosamente servida!nem uma carruagem! nem as loEas! nem os teatros! nem os c?rculos!por$ue no podia dei2ar de ver! Eunto a tudo a$uilo! os habitantes doasilo Liapine! torturados pela fome! pelo frio e pela humilhao"+rame imposs?vel desfa%er a ideias de $ue a$uelas duas coisastinham perfeito enlace e de $ue uma era conse$uncia da outra"ecordo $ue este sentimento subsistiu em mim sem modicaoalguma! tal como se manifestou no primeiro instante! mas $ue veio

    outro a mesclarse com ele e a dei2lo em segundo plano",uando falava a meus amigos ?ntimos e a meus conhecidos! daimpresso $ue me havia causado a visita ao asilo de Liapine! todosme respondiam no mesmo sentido $ue o amigo com $uem toviolentamente discuti; mas! depois! todos aprovavam minha bondadee minha sensibilidade! dandome a entender $ue a$uele espetculono havia produ%ido sobre mim tal impresso seno por$ue eu eraum ser muito bondoso e uma e2celente pessoa" + eu acreditei nelesde boa vontade" + instantaneamente surgiu em minha alma umsentimento de satisfao por crerme virtuoso e pelo meu deseEo dedemonstrlo! sentimento $ue substituiu o de censura e os remorsos$ue me haviam atingido por minha conduta"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    12/125

    F Ierdadeiramente! F me di%ia F no em mim nem no lu2o com$ue vivo onde recai a responsabilidade do $ue acontece! mas antesnas condiHes inevitveis da vida"1e fato! a variao de minha maneira de viver no podia remediar omal $ue havia visto" -e %esse como pensava! no conseguiria mais

    $ue fa%er desgraados os meus parentes! sem melhorar por isso asituao dos outros"1a? $ue meu dever no consistia em mudar de vida! mas emcontribuir desde logo! na medida do poss?vel! a melhorar a situaodos desgraados $ue haviam e2citado minha compai2o"# Bnica coisa certa $ue eu era um e2celente homem $ue deseEavalavrar o bem de meu prA2imo; e me pus a meditar em um plano debenecncia mediante o $ual poderia provar minha virtude"0a$uela poca aconteceu o censo"+ra uma ocasio prop?cia para reali%ar meus proEetos"=onhecia muitas instituiHes e sociedades bencas em *oscou; masme pareceu nula sua atividade e mal dirigida para o $ue eu $ueriafa%er"1ecidime a inspirar nos ricos simpatia aos pobres da cidade e logo acoletar dinheiro! aliando para isso pessoas de boa vontade"+ra preciso! tambm! aproveitarse do censo para visitar todas astocas dos pobres; entrar em relao com os desgraados; conhecersuas necessidades! e levarlhes socorros em dinheiro ou em trabalho"+ra preciso! tambm! levlos para fora de *oscou; colocar seus lhosnas escolas e os idosos! tanto homens $uanto mulheres! nos hospitaise nos asilos"

    #creditei $ue seria fcil constituir uma sociedade permanente cuEosassociados se repartissem os bairros da cidade de *oscou e velassempara $ue no se engendrasse de novo neles a pobre%a nem a misria!em cuEo caso atenderiam desde o princ?pio em sua remediao! tantopor meio de cuidados como fa%endo observar a higiene na misriaurbana" )maginava $ue em seguida E no haveria nem pobres nemnecessitados na cidade e $ue tudo isso seria devido a meus esforos"#ssim poder?amos os ricos sentarnos tran$uilamente em nossossalHes! comer nossos cinco pratos e ir aos teatros e @s reuniHes emcarruagem! sem $ue turbassem nossa tran$uilidade espetculossemelhantes ao $ue eu havia presenciado perto do asilo Liapine"

    1esde $ue tracei meu plano e redigi um artigo sobre o assunto! mededi$uei! antes de imprimir o artigo! a visitar todos a$ueles amigosmeus cuEa contribuio esperava obter" # todos $uantos vi a$uele dia(me dirigi especialmente aos ricos lhes repeti o mesmo! $ue era!mais ou menos! o conteBdo do artigo $ue publi$uei mais tarde" +upropunha utili%ar o censo para conhecer a misria de *oscou e fa%erde sorte $ue no houvesse pobres em *oscou! com o $ue poder?amosgo%ar os ricos! com a conscincia tran$uila! do bemestar a $ueestvamos acostumados"Todos me escutavam com ateno! mas! $uando compreendiam do$ue se tratava! se rubori%avam! por mim! das bobagens $ue eu di%ia;mas a$uelas bobagens eram de tal nature%a! $ue no se atreviam adarlhes esse nome"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    13/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    14/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    15/125

    indiferena e frie%a de nossa sociedade e do mundo! e2cetuandoseeles! por suposto"=ontinuei sentindo em minha alma $ue no era a$uilo $ue deviafa%erse! e pressentindo $ue os resultados seriam nulos! apesar do$ue o artigo viu a lu% e eu me inscrevi para tomar parte nos trabalhos

    do censo" avia elaborado o proEeto do assunto! e este me arrastava"

    )I

    # meu pedido! fui nomeado para vericar o censo em um bairro dodistrito de KhamovniCi! pero do mercado de -molensCi! na ua de'rototchnD! entre a via Seregovoi e o Seco 0iColsCD"0esse bairro encontravamse as casas ou fortale%a de EanoJ"#$uelas casas! $ue em outra poca pertenceram ao comercianteEanoJ! agora eram da propriedade de imine"avia ouvido di%er! fa%ia tempo! $ue a$uela era a regio da maiormisria e da maior libertinagem! e por isso solicitei o cargo $ue meconaram"avendo recebido ordens do conselho municipal! fui so%inho dar umavolta por meu $uartel! antes de acontecer o censo"=omecei pelo Seco 0iColsCD"+m sua e2trema es$uerda elevavase uma casa sombria! sem porta @rua" #divinhei! pelo aspecto e2terior! $ue era uma das $ue eubuscava"0a rua encontrei mole$ues de de% a cator%e anos! vestidos comcamisola e paletA! desli%andose sobre ambos os ps ou sobre um sA

    patim pelo declive e seguindo o curso da gua gelada ao longo dacalada da casa" #$ueles meninos estavam cheios de farrapos eeram! como os mole$ues de todas as cidades! geis e resolutos"1etiveme a olhlos"/ma velha! com as bochechas ca?das e a te% amarela! dobrava aes$uina e se dirigia ao mercado de -molensCi bufando a cada passo$ue dava! como um cavalo cansado" 1etevese perto de mim" +moutro lugar! haveria me pedido dinheiro; mas ali se limitou a di%erme4F IeEa! F e me indicou os meninos F chegaro a ser rEanovtsiU comoseus irmos"/m dos pivetes ouviu a a$uelas palavras e se deteve"

    F 'or $ue insultas a gente& F gritou @ velha F Tu! tu sim $ue s av?bora de EanoJ"+u perguntei ao menino4F Iives a$ui&F -im! e ela tambm! a ladra! $ue roubou o cano de uma bota! Fdisse gritando o rapa% e lanandose! com um p adiante! afastouse"# velha prorrompeu em inEurias $ue interrompia seus ata$ues detosse"0isto descia um velho de cabelos brancos como a pluma do cisne!todo coberto de farrapos4 descia pelo arroio balanando os braos etra%ia na mo pes de diversas formas! alguns deles amarrados comuma corda"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    16/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    17/125

    =ompreendi $ue a$uelas pessoas! apesar de seu deseEo de pQrse aoabrigo do frio e de acalmar a fome! deviam passar de algum modo asvinte e $uatro horas do dia"=ompreendi $ue a$ueles seres deviam irritarse! entediarse!intimidarse! sentir triste%as e momentos de alegria; e por estranho

    $ue parea! vi ento pela primeira ve% $ue minha empresa no devialimitarse a vestir e alimentar um milhar de pessoas como se fosseum milhar de carneiros aos $ue h $ue alimentar e pQr no curral! mas$ue havia $ue lhes fa%er mais bem ainda"+ $uando compreendi $ue cada um! entre a$ueles milhares depessoas era um homem com o mesmo pensamento! as mesmaspai2Hes! os mesmos erros! as mesmas idias! em uma palavra! omesmo homem $ue eu! pareceume to dif?cil a reali%ao do meuproEeto! $ue conheci minha impotncia para levlo @ prtica; mashavia dado E princ?pio a ele e nele perseverei"

    I

    0o dia em $ue comearam as operaHes do censo! os estudantesvieram verme pela manh" +u! o benfeitor! no estive pronto atmeiodia" Levanteime @s de%! tomei o caf e fumei um rap parafa%er a digesto"=heguei @ porta da casa de EanoJ! e um agente da pol?cia meindicou uma cantina na via Seregovoi! @ $ual os empregados do sensohaviam dito $ue foram os $ue perguntaram por eles"+ntrei na$uele estabelecimento! $ue encontrei suEo! fedorento e

    sombrio" G balco estava em frente4 @ es$uerda uma sala! e nelavrias mesas cobertas com guardanapos e toalhas de limpe%aduvidosa; @ direita outra sala! com colunas e com mesas! postas deigual modo! perto das Eanelas e ao longo das paredes"Iiamse ali alguns homens sentados @s mesas4 uns esfarrapados;outros convenientemente vestidos como trabalhadores ou comope$uenos industriais4 tambm havia algumas mulheres entre eles"# cantina estava desalinhada! mas sabiase em seguida $ue o donodevia fa%er bom negAcio! a Eulgar pela forma como estava ocupadoa$uele $ue servia no balco! e pela atividade dos rapa%es" 0o bemcheguei! um destes se dispQs a tirarme o paletA e a servirme no $ue

    pedisse"+ra evidente $ue tinham o hbito de um trabalho ativo e regular"'erguntei pelos do censo"F IniaN F gritou um homem vestido @ alem! $ue punha em ordemalguma coisa no armrio situado do outro lado do balco"+ra o dono da cantina! um muEi$ue de Kaluga! chamado )van3edAtitch! $ue tinha tomado em aluguel a metade dos $uartos dascasas imine e $ue ento as realugava"#cudiu um rapa% de uns de%oito anos! de nari% de guia e de te%amarelenta"F =ondu%a ente cavalheiro a onde esto os senhores do censo4 pisoprincipal! acima do poo"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    18/125

    G rapa% soltou o avental4 vestia camisa e cala branca4 colocou emcima um paletA! colocou um gorro com viseira! e andando a passocurto! me condu%iu por uma porta traseira! cheia de roldanas! @co%inha! $ue no cheirava nada bem"1esde ali passamos pelo vest?bulo onde encontramos uma velha $ue

    levava com cuidado umas entranhas infectadas envoltas em traposvelhos"#o sair do vest?bulo! descemos a um ptio em declive! cheio deprdios de madeira sobre fundaHes de pedra"'ercebiase na$uele ptio um odor repugnante; os espaos comuns!$ue cavam continuamente lotados de gente! eram o centro da$uelasinsalubres emanaHes4 at os banheiros pareciam indicar unicamenteo lugar perto do $ual se defecava"+ra imposs?vel no reconhecer a e2istncia da$ueles lugares aopassar por a$uele ptio e perceber a$ueles vapores infectos"G rapa%! encolhendo a cala branca! me fe% passar por entree2crementos! em sua maior parte congelados! e se dirigiu a umda$ueles edif?cios de madeira"Todos $ue passavam pelo ptio ou pelo corredores se detinham paraobservarme4 sabese $ue um homem ordenadamente vestido era alicoisa nunca vista"*eu guia perguntou @ uma mulher se sabia onde estavam os $uefa%iam o censo" Trs homens lhe responderam na hora" /m disse4V+sto acima do pooV" Gutro acrescentou $ue haviam estado ali! mas$ue haviam sa?do e $ue lhes encontraria na casa de 0iCita )vnovitch"/m velho! $ue por todo traEe levava uma camisa $ue estava

    remendando Eunto aos lugares es$uecidos! disse $ue se encontravamno nBmero 97" G rapa% dedu%iu $ue este Bltimo dado era o maisveross?mil! e condu%iume ao nBmero 97! $ue se encontrava sob oalpendre do piso bai2o4 a$uele estava muito escuro e se percebia alium odor muito distinto do $ue se notava no ptio"1escemos e seguimos ao longo de um corredor obscuro! de soalhoterroso",uando passvamos pelo corredor abriuse uma porta bruscamente evi um velho! bbado e de camisa! $ue no tinha aparncia de ser ummuEi$ue" /ma lavadeira! com as mangas arregaadas e os braoscheios de espuma de sabo! e2pulsava do $uarto a$uele homem

    lanando gritos penetrantes"Inia! meu guia! apartou o alcoAlatra e lhe repreendeu asperamente"F =omo se atreve a causar tal escndalo F disselhe F sendo umocialN+m seguida fomos ao nBmero 97"Inia abriu a porta! cuEas dobradias rangeram ao abrirse"Iimosnos envoltos em densos vapores e percebemos o odorcorrosivo dos maus alimentos e do tabaco" +stvamos ocultos emsombria escurido" #s Eanelas estavam do lado oposto"'e$uenas portas colocadas em diversos pontos davam entrada avrios $uartos feitos com divisArias de tbuas nas e pintadas debranco"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    19/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    20/125

    aBcar; fa%ia meias e luvas e recebia de uma benfeitora um socorromensal",uanto ao muEi$ue! tinha mais necessidade de aguardente $ue dealimento! e haveria gastado na taberna $uanto se lhe houvesse dado"0o havia! portanto! na$uele local! ningum a $uem pudesse socorrer

    com dinheiro"#$ueles pobres pareceramme suspeitos"Tomei nota do nome da velha! da outra mulher com lhos e domuEi$ue! e resolvi no fa%er nada por eles seno em segundo lugar!ou seEa! depois de atender aos verdadeiramente necessitados $ue euacreditava encontrar na$uela casa" +u $ueria proceder com mtodo4distribuir os socorros aos desgraados! e atender em segundo lugaraos outros"*as nos outros $uartos me sucedeu o mesmo $ue na$uele4 encontreipessoas $ue devia conhecer mais ao fundo antes de socorrlas4 nohavia ali nem um sA miservel a $uem poder fa%er feli% com dinheiro"Tenho vergonha de di%er $ue me desagradou no encontrar na$uelascasas nada parecido ao $ue eu esperava"+sperava encontrar ali seres pouco comuns e diante dos $ue ali haviaeram! mais ou menos! como a$ueles com $uem eu me relacionava"#ssim com entre nAs! havia ali pessoas mais ou menos boas! mais oumenos ms ou menos feli%es ou menos desgraadas" +ram indiv?duoscuEa desgraa no dependia de circunstncias e2teriores! mas $ueestava neles mesmos! de tal sorte! $ue no lhes podia socorrer comdinheiro"

    I)

    Gs habitantes da$uelas casas pertenciam @ escAria do povo! $ueconta em *oscou mais de cem mil almas" avia pe$uenosempregadores! cordoeiros! barbeiros! carpinteiros! torneiros! alfaiates!ferreiros e cocheiros $ue trabalhavam por sua conta! assim comorevendedores! usureiros! Eornaleiros sem prosso determinada!pobres e prostitutas"avia ali muitos da$ueles a $uem eu havia visto na porta da casaLiapine; mas estes estavam dispersos entre os trabalhadores"'or outro lado! eu os havia visto no momento cr?tico em $ue todos

    haviam comido e bebido" Wogados dos restaurantes! tinham fome efrio e esperavam como um man do cu! a permisso para entrar noasilo de noite! logo a entrada na priso! e por Bltimo o envio ao pa?snatal"#li! ao contrrio! vios entre trabalhadores! tendo! por um meio ou poroutro! de trs a cinco cope$ues ganhados para o pagamento da camae com fre$uncia rublos para comer e beber"#inda $uando parea estranho $ue eu o diga! no e2perimentei alinada parecido ao sentimento de $ue falei a propAsito da casa Liapine"'elo contrrio! durante a primeira e2plorao! os estudantes e eue2perimentamos uma sensao $uase agradvel"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    21/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    22/125

    +ram todas pessoas comuns4 *artin -em?onovitch! 'iotre 'etrAvitch!*ar?a )vanovna""" 0o se criam desgraados e se estimavam4efetivamente! eram semelhantes aos outros"0o espervamos encontrar ali mais $ue coisas horrorosas e! pelocontrrio! v?amos algo bom $ue e2citava involuntariamente nossa

    estima"avia ali tanta gente boa! $ue os esfarrapados! os perdidos e osociosos com $ue tropevamos de ve% em $uando! no modicavama impresso geral"Gs estudantes no caram menos surpreendidos $ue eu" eali%avamsimplesmente um trabalho Btil em interesse da cincia e fa%iam suasobservaHes por casualidade; mas eu era um benfeitor levado ali paraassistir aos desgraados! aos perdidos e aos depravados $ue pensavaencontrar na$uela casa"+ em ve% de depravados! desgraados e perdidos! encontrei! em suamaioria! trabalhadores! pessoas tran$uilas! contentes! alegres eafveis" + senti mais vivamente a$uela impresso! $uando encontreiem alguns da$ueles $uartos a necessidade $ue me havia propostoremediar"+ tratei de ver na$uelas casas $ue a necessidade havia sido E maisou menos remediada" ,uem havia levado recursos @$uelas pobrespessoas& #$ueles mesmos $ue eu supunha desgraados e a $uem$ueria salvar haviamno feito! melhor do eu o poderia fa%er"+m um poro estava acostado um velho! doente de tifo" 0o tinhaparente algum"/ma mulher viBva e com lhos! para ele estranha! mas $ue era sua

    vi%inha! cuidavao! assistialhe! davalhe ch e compravalhemedicamentos com seu prAprio dinheiro"+m outro $uarto havia uma mulher enferma de febre puerperal! euma prostituta lhe embalava o lho! lhe dava mamadeira e haviaabandonado por ele seu of?cio fa%ia E dois dias"# fam?lia do alfaiate! $ue tinha trs lhas! havia acolhido uma Arf"avia! apesar de tudo! muitos desgraados4 os ociosos! osdesempregados! os copistas! os lacaios sem ocupao! os mendigos!os alcoAlatras e as prostitutas! a $uem no se podia socorrer comdinheiro! posto $ue era preciso conheclos bem antes de aEudarlhes"+u buscava simplesmente desgraados; buscava pobres a $uem

    socorrer dandolhes o $ue a nAs sobrava! e ia me convencendo de$ue ali no e2istiam a$ueles desgraados" Gs $ue havia reclamavammuito tempo e muitos cuidados"

    I))

    1ividi em trs grupos os nomes dos $ue inscrevi em meu caderno! asaber4 os $ue haviam perdido posiHes vantaEosas e esperavamrecuperlas (estes pertenciam igualmente @ classe bai2a e @ classeerudita; em segundo lugar! as prostitutas! $ue eram numerosas emtais casas! e em terceiro lugar! as crianas"G maior nBmero dos $ue ia inscrevendo pertencia ao primeiro grupo4eram pessoas $ue haviam perdido seu emprego; a maioria havia sido

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    23/125

    ociais e vi%inhos de uma cidade! e deles havia bastante nas casas deEanoJ")van 3edAtitch nos di%ia em $uase todos os $uartos $ue visitvamos4F Gs podeis dispensar de escrever nas folhas4 o $ue vive a$ui podefa%lo por si mesmo! e ainda no bebeu hoEe"

    + )van 3edAtitch chamava em vo% alta ao in$uilino por seu nome esobrenome" +ra! em geral! um da$ueles $ue haviam descendido desua alta classe"M chamada do patro! viase sair de algum rinco sombrio algumcavalheiro rico ou ocial! a maior parte do tempo brio e sempreesfarrapado"-e no estava bbado! ocupavase de bom grado no assunto $ue selhe oferecia; me2ia a cabea com e2presso! fran%ia a testa! fa%iaobservaHes em termos eruditos! e dava voltas! entre suas mossuEas e trmulas e com ar de car?cia retida! ao carto re$uintadoimpresso em papelo cor de rosa! olhando com orgulho e despre%o os$ue viviam com ele"'arecia trinfar dos $ue lhe haviam humilhado tantas ve%es! por meioda superioridade de sua instruo" ego%iEavase a olhos vistos desuas relaHes com o mundo onde se fa%em imprimir cartHes em papelcor de rosa! com a$uele mundo em $ue se havia encontrado em outrotempo",uase sempre $ue lhes perguntvamos! nos contavam com fogo anovela aprendida de memAria dos infortBnios $ue lhes haviamoprimido e falavam da posio $ue ocupariam e deveriam ocuparpelo sA fato de sua educao"

    #$uelas gentes estavam dispersas por todos os rincHes da casa deEanoJ" aviam uma habitao ocupada e2clusivamente por eles!homens e mulheres",uando chegamos a ela! nos disse )vn 3edAtitch4F +ste o departamento dos nobres"aviam nele uns $uarenta indiv?duos"0o era poss?vel encontrar em toda a casa pessoas mais deca?das!mais desgraadas! mais velhas! mais pobres nem mais perdidas"1irigi a palavra a alguns"=ontavam sempre a mesma histAria! desenvolvida em diferentesgraus" Todos haviam sido ricos4 seus pais! seus irmos ou seus tios

    ocupavam ainda brilhantes posiHes! ou ento eles tiveram altosempregos"Logo haviam sofrido uma desgraa por causa dos inveEosos e de suaprApria bondade! ou havia ocorrido um caso imprevisto $ue lhes haviafeito perder $uanto possu?am! at o ponto de verse obrigados a viverem uma situao $ue lhes era odiosa! indigna deles! comidos depiolhos! cheios de farrapos! em uma sociedade de alcoAlatras e delibertinos! alimentandose com f?gado e com po e""" pedindo esmola"Todas as recordaHes! todas as idias e todos os deseEos da$uelaspessoas se dirigiam ao passado4 o presente lhes parecia pouconatural! disposto a fa%er decair o nimo! e valia a pena prestar aateno a eles"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    24/125

    0enhum deles tinha presente; sA conservavam a memAria dopassado! e $uanto ao futuro! unicamente concebiam deseEos!aspiraHes $ue podiam reali%arse a cada momento! e cuEa reali%aodependia de muita pouca coisa; mas faltava a$uela coisainsignicante e a vida se ia correndo em vo atrs dela! a uns ao

    primeiro ano! a outros ao $uinto! e a alguns aos trinta"/m no tinha outra necessidade $ue a de vestirse comme Ofaut!para apresentarse na casa de uma pessoa $ue lhe era muito afeta"Gutro deseEava unicamente poder vestirse bem! pagar suas d?vidas emudarse para Grel" /m terceiro carecia de recursos para seguir umaao Eudicial $ue devia falhar em seu favor e restitu?lo a sua vida deoutro tempo"Todos di%iam $ue sA lhes faltava o aspecto e2terior para reintegrarsena posio afortunada $ue chegaram a alcanar e $ue lhes eradevida"-e no me houvesse guiado o orgulho de fa%er o bem! havermeiabastado e2aminar um pouco suas sionomias! Eovens ou velhas!dbeis e sensuais em geral! mas boas! para compreender $ue nohavia maneira de remediar seu infortBnio por meios e2teriores! e $ueno podiam ser ditosos! $ual$uer $ue fosse sua posio! sem mudarseu modo de ver a vida" 0o eram seres e2traordinrios emcondiHes singularmente desgraadas! mas homens! como nAs e os$ue nos rodeiam por toda parte"Lembro $ue me sentia desgostoso $uanto tratava com a$uelesdesgraados"#gora conheo o por$u4 me via neles como em um espelho; se

    houvesse comparado minha vida com a das pessoas $ue merodeavam! haveria visto $ue entre uma e outras no havia diferenaalguma"-e os $ue agora vivem perto de mim em grandes apartamentos ouem suas prAprias casas em -ivt%oJ IraEeC e na ua 1imitrievna! eno na casa EanoJ! comem e bebem bem! e no se limitam a f?gado!aren$ues e po! no lhes impedir isso de seguir sendo desgraados"Tambm esto eles descontentes em sua posio! tambm sentemsaudades do passado e deseEam o $ue no tem" #$uela melhorposio a $ue tendem a mesma pela $ual suspiram os habitantesda casa EanoJ! isto ! uma posio na $ual poderiam trabalhar

    menos e aproveitarse mais do trabalho de outros"Toda a diferena reside no grau e no momento"1everia compreendlo assim; mas no havia rePetido ainda eperguntava @$uelas pessoas e escrevia seus nomes! propondome asocorrlas depois de conhecer os pormenores de sua posio e suasnecessidades" 0o compreendia ento $ue no h mais $ue um meiode socorrer a tais homens! e o de mudarlhes sua maneira de ver ascoisas"+ para mudar a maneira de ver do prA2imo! h $ue conhecer omelhor modo de considerar as coisas e viver segundo seus princ?pios!en$uanto $ue eu vivia e as considerava sob o mesmo aspecto $ue erapreciso mudar! a m de $ue a$uelas pessoas dei2assem de serdesgraadas"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    25/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    26/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    27/125

    di%er! e comecei a registrar nas folhas os nomes e as prossHes detodos os $ue habitavam a$uele departamento"#$uele fato indu%iume a um novo erro e inspiroume a idia de $uea$ueles desgraados podiam ser socorridos"*inha presuno apresentavame a$uilo como coisa fcil de reali%ar"

    +u me di%ia4 V)nscrevamos tambm estas mulheres e depois nosocuparemos delasV! e no me dava conta claramente do $uesignicava a$uele nos")maginava $ue os mesmos $ue haviam redu%ido e redu%iam asmulheres @$uele estado durante muitas geraHes podiam repararalgum dia o mal causado"+! no entanto! para compreender toda a loucura de semelhantesuposio! haveria bastado recordar a conversa $ue tive com aprostituta $ue balanava o bero da criana Eunto @ cama de sua medoente",uando vimos a$uela mulher com a criana! acreditamos $ue estaera sua lha" # nossa pergunta4 V,uem &V respondeunosfrancamente""" o $ue era" 0o disse prostituta4 unicamente o dono dolocal empregou to dura palavra"=omo supunha $ue a criana era sua! ocorreume a idia de mudarsua posio! e! com efeito! lhe perguntei4F +sta criana sua&F 0o4 da doente"F 'or $ue! pois! o est embalando&F 'or$ue ela me pediu""" e est morrendo"#inda $ue minha suposio houvesse resultado falsa! segui falando

    lhe no mesmo sentido! e comecei a perguntarlhe $ue era antes! ecomo havia deca?do a tal estado"=ontoume resumidamente sua histAria4 avia nascido em *oscou;era lha de um operrio de fbrica; cou Arf e uma tia a acolheu4vivendo com esta! comeou a fre$uentar os restaurantes4 a tiamorreu depois",uando lhe perguntei se $ueria mudar de vida! pareceu no lheinteressar minha pergunta" 'ara $ue interessarse por suposiHesimposs?veis& -e pQs a rir e me disse4F + aonde haveria de ir eu com uma carta amarelaR&F 'oderia encontrar um lugar para co%inhar"

    Gcorreume isso ao vla forte e corada! com a cara redonda e o arbondoso! tipo $ue havia observado em muitas co%inheiras"Gbservei $ue minhas indicaHes no lhe agradaram! e me dissesorrindo e repetindo a palavra co%inheira4F 0o sei nem ainda assar o po"#creditei perceber! por seu semblante! $ue considerava a$uelaprosso como uma prosso inferior"#$uela mulher! como a viBva do +vangelho! havia sacricado tudopela doente! e! no entanto! considerava o estado trabalhador comobai2o e despre%?vel"avia vivido at ento sem trabalhar! e a gente de sua classeconsideram isso muito natural"+ nisso consiste sua desgraa"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    28/125

    'or isso havia ca?do na posio $ue tinha e por isso perseverava nela"'or isso devia viver no bordel",uem entre nAs! homens ou mulheres! modicar sua falsa maneirade considerar a vida& Gnde esto! entre nAs! essas pessoas $uecrem $ue uma vida de trabalho prefer?vel a uma vida ociosa e $ue!

    convencidas disso! do seu reconhecimento @s pessoas $uem tm talconvico&-e eu houvesse pensado nisso! haveria podido compreender $ue nemeu nem ningum pod?amos curar a$uela enfermidade" averia podidocompreender tambm $ue a$uelas cabeas admiradas e comovidas!$ue surgiam por cima da divisAria! no demonstravam outra coisa$ue admirao em presena da simpatia $ue lhes demonstrava! e demaneira alguma deseEo nem esperana de ser arrancadas daimoralidade"+las no encontravam nada de imoral em seu gnero de vida4 viam$ue as despre%avam e $ue as inEuriavam; mas no poderiamcompreender a causa da$uele despre%o"aviam levado desde sua infncia a$uela vida! entre as mesmasmulheres $ue! como se sabe muito bem! e2istem sempre eindispensavelmente na sociedade; e tanto assim! to indispensvelas consideram! $ue h empregados do governo encarregados deregulamentar sua e2istncia"#demais! sabem $ue e2ercem supremacia sobre os homens! e $ue ossuEeitam! e com fre$uncia lhes dominam mais $ue as outrasmulheres"Iem $ue nem os homens! nem as mulheres! nem as autoridades

    desconhecem nem negam sua posio! ainda $ue falem mal dela! epor isso no podem compreender $ue devam se arrepender nemcorrigirse" 1urante a$uela e2curso! soube pelo estudante $ue emuma das habitaHes vivia uma mulher $ue negociava a sua lha! $uesA contava tre%e anos"Sus$uei a mulher com o propAsito de salvar a menina"#mbas viviam na maior misria" # me! bai2a! morena! de uns$uarenta anos! era uma prostituta! de cara feia! desagradavelmentefeia! e a menina no era mais bela $ue sua me"Ms perguntas indiretas $ue % @ me! referentes @ sua vida! merespondeu com desconana e em tom seco e breve! adivinhando em

    mim um inimigo chegado ali com perversa inteno"# lha se calava a tudo! e sem tar se$uer a sua me! se conava detodo a ela"+m ve% de e2citar minha piedade! provocaram minha repulso! noobstante o $ue me decidi a salvar a lha! utili%ando para isso ointeresse e a simpatia $ue a triste situao das duas mulheresinspiraria com segurana @s damas! e enviando estas ali"*as se houvesse ponderado sobre o longo passado da me! sobre amaneira como veio ao mundo a menina e como havia sido estaeducada na posio da primeira! provavelmente sem recursos eimpondose pesados sacrif?cios; se houvesse pensado na maneira $ueela tinha de considerar a vida! haveria compreendido $ue no haviamsido ms nem imorais as aHes da me! e $ue havia feito e fa%ia por

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    29/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    30/125

    Ioltei de novo @ casa! mas o menino era to ingrato! $ue se escondiae evitava encontrarse comigo"-e eu houvesse comparado ento a vida da$uele rapa% com a minha!teria sido fcil compreender $ue sua corrupo provinha de teraprendido a maneira de viver alegremente sem fa%er nada! e $ue

    havia perdido o hbito do trabalho" + eu o havia levado a minha casapensando enchlo de benef?cios e corrigilo"*as $ue havia visto em minha casa& # meus lhos! mais ou menos desua idade! $ue no somente no trabalhavam por si mesmos! mas$ue utili%avam o trabalho dos outros; $ue suEavam e estragavam tudoao redor deles; $ue se empanturravam de coisas doces e salgadas;$ue $uebravam os pratos! e $ue davam aos ces comidas $uehaveriam sido um deleite para a$uele rapa%"#o tomlo da toca em $ue estava e levlo a uma boa casa! eranatural $ue assimilasse a maneira $ue tinham de considerar a vidana$uela casa e $ue compreendesse! por sua prApria observao! $ueera necessrio comer e beber bem! e viver alegremente e semtrabalhar"1epois de tudo! ignorava $ue meus lhos estudassem penosamenteas regras das gramticas grega e latina! e tampouco teria podidocompreender o obEeto de seu estudo; mas evidente $ue! de tlocompreendido! o e2emplo de meus lhos houvesse agido com maisfora sobre ele"averia visto $ue! se no momento eram educados aparentementesem fa%er nada! no porvir se encontraria em condiHes de trabalhar omenos poss?vel! graas a seus diplomas e t?tulos acadmicos! e de

    go%ar dos bens da vida na medida $ue fosse poss?vel" +m ve% de irsecom o muEi$ue cuidar dos animais! comer batatas e beber Cvass!preferiu vestirse de selvagem e condu%ir o elefante no Eardim%oolAgico por trinta cope$ues"Teria eu podido compreender o ilAgico de minha pretenso de corrigiras pessoas $ue denhavam de ociosidade na casa de EanoJ! casa$ue eu $ualicava de antro! en$uanto $ue eu mesmo criava meuslhos no lu2o e na mesma ociosidade4 no entanto! na casa de EanoJtrs $uartos das pessoas trabalhavam! fosse para elas! fosse paraseus patrHes"0as casas imine havia muitas crianas no estado mais vergonhoso;

    eram lhos de prostitutas! ou Arfos! ou criaturas pe$uenas $ue osmendigos levavam pelas ruas! e todos eram dignos de piedade"*as a e2perincia feita com -erioEa me demonstrou a impossibilidadeem $ue me encontrava de acudir em sua aEuda! e $ue me minha vidase opunha a isso"+n$uanto a$uele garoto esteve em minha casa! notei $ue meesforava em ocultarlhe meu modo de viver e! sobretudo! o de meuslhos"=ompreendia $ue todos meus esforos para dirigilo a uma vida boa elaboriosa se chocavam com o meu e2emplo e o de minha fam?lia"> muito cQmodo amparar o lho de uma prostituta ou de umamendiga4 para $uem tem fortuna fcil cuidlo! limplo! vestilocom decncia! darlhe de comer e ensinarlhe diferentes cincias; mas

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    31/125

    ensinarlhe a ganhar a vida no apenas dif?cil! imposs?vel! a nAs$ue vivemos sem fa%er nada! por$ue nosso e2emplo lhes ensina ocontrrio do $ue lhes $ueremos ensinar por preceito"'odese pegar um cachorro! um co Eovem; se pode acariciar!alimentar! ensinar o co $ue leve diferentes obEetos e $ue e2presse

    sua alegria; mas tudo isso insuciente para o homem4 a este preciso ensinar a viver; isto ! a tomar menos do $ue d; e! noentanto! ensinamos o contrrio @ criana! tanto se a temos em nossacasa! $uanto se a colocamos num asilo"

    X

    W no sentia a$uele impulso de compai2o pelos outros e dedesgosto por mim mesmo $ue havia sentido na casa Liapine"1eseEava ardentemente reali%ar meu proEeto; fa%er bem aosdesgraados" =oisa estranhaN 3a%er bem! dar dinheiro aosnecessitados constitu?a! a meu parecer! uma boa ao $ue deviaprodu%ir o reconhecimento das pessoas"+ no entanto! havia produ%ido algo diametralmente oposto e a$uilodespertava em mim um sentimento de averso para com os homens"+m minha primeira visita! ocorreu a mesma cena $ue na casa Liapinee! no entanto! provocou em mim outro sentimento distinto"+m certo local encontrei um desgraado $ue necessitava de au2?liosimediatos; depois encontrei uma mulher $ue no havia comido a doisdias"1ormiam ali pela noite"

    'erguntei a uma velha se conhecia pessoas to pobres $ue notivessem o $ue comer"# velha rePetiu e nomeou dois! e depois! reconsiderando! indicoumeuma cama ocupada"F #? tens uma mulher $ue me parece $ue vai morrer de fome"F )mposs?velN""" + $uem ela&F /ma prostituta $ue E no encontra clientes" # dona se $uei2avadela constantemente! mas agora $uer e2pulsla de sua casa"F #gaaN #gaaN F gritou a velha"#pro2imamosnos e #gaa saiu da cama"+ra uma mulher de cabelos grisalhos e postos em desordem! fraca

    com um es$ueleto! coberta com uma camisa rasgada e com os olhosmuito 2os e muito brilhantes" -eu olhar se cravou em nAs sem vernos; tomou de detrs dela um gibo para cobrir com ele seu peitoossudo! vis?vel sob os farrapos de sua camisa"#rticulou4 V,ue! $ue&V como se ladrasse" 'ergunteilhe acerca de suavida"0o me compreendeu! e me disse4F +u mesma no sei4 vo me e2pulsar da casa"'ergunteilhe (a pena resiste a escrevlo se era verdade $ue notinha nada $ue comer! e me respondeu com precipitao febril e semme olhar4F 0o comi nem ontem nem hoEe"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    32/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    33/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    34/125

    algum" ,uando terminei meu discurso! todos falaram por sua ve% decoisas estranhas"+ assim continuaram at $ue sa?mos"=hegamos a uma cafeteria! e depois de haver despertado o garom!comeamos a ordenar nossas folhas" ,uando nos disseram $ue os

    habitantes! sabendo da nossa chegada! evacuavam seusaloEamentos! rogamos ao patro $ue fechasse @ chave a porta dagaragem! e nos fomos ao e2tenso ptio para assegurar aos $uetentavam irse $ue no e2ig?amos seus passaportes"#inda recordo a impresso penosa $ue a$uelas pessoas alarmadasprodu%iram em meu nimo" #o ver a tantos homens desastrados ouseminus! @ lu% de uma lanterna! todos me pareceram de estaturacolossal na$uele ptio sombrio"#ssustados e terr?veis em meio a seu espanto! mantinhamse de p!agrupados perto dos lugares comuns! e escutavam nossas palavrastran$uili%adoras sem concedlas crdito" +ra evidente $ue seencontravam dispostos a tudo! para escapar! como as bestas fero%es"-enhores! agentes de pol?cia em cidades e aldeias! Eu?%es de instruoacossam a$ueles miserveis durante toda sua vida! tanto nasestradas como nas ruas! de igual modo nas cafeterias como nosalbergues" 1e repente chegam esses mesmos senhores e mandamfechar a porta da garagem com o Bnico obEetivo de contlos"To dif?cil era fa%los crer nisso! como persuadir os coelhos de $ue osces no tentam peglos"Gs habitantes voltaram sobre seus passos ao ver fechada a porta enAs! divididos em grupos! nos pusemos em ao"

    *eus dois conhecidos da boa sociedade e dois estudantes caramcomigo" Inia marchava adiante de nAs com uma lanterna na mo"3omos aos locais $ue me eram conhecidos4 tambm conhecia algunsde seus habitantes! mas a maior parte era recmchegados"G espetculo $ue a$uela noite ofereceu a meus olhos foi mais horr?vel$ue o da casa Liapine" Todos os $uartos estavam lotados; todas ascamas estavam ocupadas por um e fre$uentemente por dois homens"G espetculo era horr?vel! em ateno @ e2iguidade dos locais para onBmero de homens e mulheres aglomerados nos mesmos"#inda $ue as mulheres no estivessem perdidamente embriagadas!dormiam com os homens em uma mesma cama"

    *uitas da$uelas infeli%es! com seus lhos! dormiam em camasestreitas com homens desconhecidos"3i$uei perple2o ante a misria! a suEeira! o traEe esfarrapado e oaspecto de todas a$uelas pessoas e! sobretudo! por seu nBmero"Iisitamos um local! depois outro! um terceiro! um dcimo! umvigsimo! e em todos nos seguiram o mesmo fedor! as mesmasemanaHes! a mesma e2iguidade! a mesma mescla de se2os! amesma embriague% de homens e mulheres at perder oconhecimento! o mesmo espanto! igual humilhao e igual temor emtodos os semblantes"-enti a mesma vergonha e a mesma dor $ue no asilo Liapine"! ecompreendi $ue o m $ue perseguia era mal! estBpido em seusprocedimentos e! por m! impraticvel"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    35/125

    W no interroguei ningum; no tomei E nota de nome algum!convencido de $ue no obteria nenhum resultado"#$uela convico me fe% muito dano" 0a casa Liapine me encontreina situao do homem $ue descobriu por casualidade uma Blceraaberta no corpo de um semelhante" =ompadecese com o desgosto

    de no havla visto antes! mas com a esperana de aliviar o doente"*as a$ui me encontrava no caso do mdico $ue vai com seusunguentos e poHes @ casa do doente; descobrelhe a Blcera! ae2amina cuidadosamente! e se v obrigado a reconhecer $ue tudo$uanto faa ser inBtil! e $ue seus remdios sero em vo! por$ue denada servem"

    X)

    #$uela visita deu o golpe de misericArdia a minhas ilusHes4 persuadime de $ue minha fantasia era rid?cula e ruim"*as acreditei! apesar disso! $ue no podia abandonar no ato atotalidade da empresa e $ue estava no dever de continuar o ensaio!em primeiro lugar! por$ue meu artigo! minhas visitas e minhaspromessas haviam encoraEado os pobres! e em segundo lugar! por$uehavia despertado tambm! com meu artigo e minhas palavras! asimpatia dos benfeitores! muitos dos $uais me haviam oferecido seuconcurso pessoal e recursos monetrios" #lm disso! esperava $ueuns e outros pedissem minha opinio sobre o assunto"ecebi mais de cem cartas assinadas por pobres! ou por ricopobres!se $ue posso chamlos assim" Iisitei alguns! e os demais dei2ei

    sem resposta; mas no me foi poss?vel socorrer nenhum" Todasa$uelas cartas me haviam sido dirigidas por pessoas $ue seencontravam antes em posio privilegiada (e denomino assima$uela em $ue as pessoas recebem mais do $ue do! e $ue!havendoa perdido! $ueriam recuperla"/m tinha necessidade de du%entos rublos para sustentar seucomrcio! $ue corria riscos! e para terminar a educao de seuslhos; outro deseEava criar um gabinete fotogrco; um terceiro$ueria pagar suas d?vidas e desempenhar o traEe dos dias de festa; o$uarto necessitava de um piano para aperfeioarse na mBsica esustentar sua fam?lia dando liHes" # maior parte no pedia uma

    $uantidade determinada! mas! simplesmente! $ue os aEudassem"+ conforme ia e2aminando as e2igncias! ia notando $ue asnecessidade aumentavam em ra%o direta dos recursos! de sorte $ueno se podiam satisfa%er"epito4 talve% fosse por torpe%a minha! mas no caso no pudesocorrer ningum apesar de meus esforos",uanto @ aEuda $ue me prestaram os benfeitores! me sucedeu algoestranho e inesperado"1e todas as pessoas $ue me haviam oferecido dinheiro e at haviam2ado a $uantidade! nem uma sA me enviou um rublo para dar aospobres"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    36/125

    -egundo o $ue me haviam prometido! poderia contar com mais detrs mil rublos; mas nenhum da$ueles lantropos $ueria lembrar daoferta! e entre todos no me deram nem um cope$ue"Gs estudantes foram os Bnicos $ue puseram a minha disposio osdo%e rublos $ue lhes atribu?ram por seus trabalhos do censo" +m ve%

    das de%enas de milhares de rublos com $ue os ricos deveriamcontribuir para arrancar da misria e da depravao milhares deseres! tive de me contentar ao $ue eu havia distribu?do! sem bastanterePe2o! @s pessoas $ue tinham me levado com habilidade! etambm aos do%e rublos $ue os estudantes me deram e outros vintee cinco $ue o conselho municipal me deu por haver dirigido ostrabalhos do censo em meu $uartel"+ em verdade no sabia como distribuir esta soma"G assunto havia terminado"0a vspera do carnaval! antes de viaEar para o campo! fui @ casa deEanoJ para desembaraarme dos meus trinta e sete rublos edistribu?los aos pobres"Iisitei os $uartos de meus conhecidos e no encontrei mais $ue a umsA doente! a $uem dei cinco rublos"=omo ia desprenderme do resto&=ompreenderse $ue muitos me pediram dinheiro com insistncia;mas como no os conhecia ento melhor do $ue antes! decidiconsultar )van 3edAtitch! a m de saber por ele a $uem poderiasocorrer com os trinta e dois rublos"+ra o primeiro dia de carnaval"Todo mundo ia com sua roupa dos dias de festa; todos haviam

    comido! e muitos estavam E embriagados"0o ptio! perto do ngulo da casa! estava um velho vestido com umgibo andraEoso e calado com sapatos de cnhamo4 era um catador4parecia ainda robusto e se entretinha em classicar sua pilhagem ereunila numa cesta4 punha num lado o cobre! o ferro e outras coisas!cantando com bela vo% uma cano alegre" *e apro2imei dele econversamos" *e disse $ue tinha setenta anos e $ue era solteiro" -euof?cio bastava para sua manuteno" 0o pensava em $uei2arsepor$ue comia e bebia at car brio",uis informarme por ele de $uem eram os mais particularmentedesgraados" -e incomodou e me disse $ue! fora os preguiosos e os

    alcoAlatras! no conhecia outros necessitados! mas $uando conheceuminhas intenHes! me pedia cinco cope$ues para beber na taberna"3ui ver )van 3edAtitch para encarreglo $ue distribu?sse o resto dodinheiro" # taberna transbordava de gente4 as prostitutas! com suasmelhores roupas! iam de uma porta a outra4 todos os $uartosestavam ocupados"avia muito alcoAlatra! e em um pe$ueno $uarto tocavam umharmQnio e a seu compasso danavam duas pessoas")van fe% $ue se suspendesse o baile por respeito a mim e tomouassento a meu lado numa mesa desocupada" 1isselhe $ue mehaviam encarregado $ue distribu?sse uma pe$uena $uantidade! e$ue! como ele conhecia seus in$uilinos! rogavalhe $ue me indicasseos mais necessitados"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    37/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    38/125

    'retendia vivlo de igual maneira $uando me mudei para a cidade;mas me encontrava nela com uma misria $ue! sendo menosverdadeira! era mais e2igente e mais atro% $ue a dos povoados"G $ue mais me comoveu e me chamou a ateno foi o grandenBmero de desgraados com $ue tropecei" G vivo e sincero

    sentimento $ue me produ%iu minha visita @ casa Liapine me fe%compreender toda a infmia de minha e2istncia" #pesar disso fui tofraco! $ue temi a revoluo $ue a$uele sentimento devia provocar emminha vida! e tratei de fa%er um acordo com minha conscincia"1esde $ue o mundo e2iste se vem repetindo $ue no h nada de malna ri$ue%a e no lu2o! $ue esses presentes so dados por 1eus! e $ue!vivendo na abundncia! se pode socorrer aos pobres" Todos meusamigos me disseram assim! e eu dei f a suas palavras e me dei2eiconvencer" +nto foi $uando escrevi meu artigo e $uando % umchamamento aos ricos para $ue acudissem em aEuda dos pobres"Todos se acreditavam moralmente obrigados a ser de minha opinio;mas nenhum fe% nada pelos desgraados"+nto foi $uando comecei a visitar a estes"Ii em suas tocas gente em au2?lio das $uais me era imposs?vel ir;trabalhadores acostumados ao trabalho e @s privaHes $ue viviammais alegremente $ue eu4 tambm encontrei outros $ue! a meu ver!haviam perdido o gosto e o costume de trabalhar para ganhar a vida;estes adoeciam da mesma desgraa $ue eu! e tampouco podia fa%ernada por eles",uanto a desventurados $ue tivessem fome ou frio! ou $ueestivessem enfermos! a $uem poder socorrer no ato! no encontrei

    mais $ue a #gaa"=onvencime de $ue era $uase sempre imposs?vel dar com a$uelesmiserveis! em ateno a $ue estavam socorridos por a$ueles emmeio dos $uais viviam! e $ue no era com dinheiro $ue lhes podiamudar a e2istncia"+stava convencido disso; mas! por uma vergonha mal entendida! porno desistir da obra reali%ada! prossegui com esta at $ue se anuloupor si mesma! at o ponto em $ue me custou desfa%erme! pormediao de )vn 3edAtitch! dos trinta e sete rublos $ue deviadistribuir"> verdade $ue bem pudera ter continuado a$uela obra e terlhe dado

    carter lantrApico; $ue teria podido convencer aos $ue me haviamoferecido dinheiro e terlhes obrigado $ue o dessem! e $ue me teriasido fcil distribuir seus donativos e car satisfeito de minha virtude;mas compreendi $ue nAs! os ricos! no $uer?amos dar aos pobresuma parte do $ue nos era suprPuo" T?nhamos tantas necessidadespessoais a satisfa%erN""" =ompreendi tambm $ue no havia ninguma $uem socorrer precisamente! se $ueria fa%er o bem em conscinciae no distribuir o dinheiro @s tontas e @ louca! como eu havia feito nataberna de EanoJ" 1e tal modo abandonei o assunto por completo$uando me fui ao campo",uis publicar um artigo descritivo de $uanto havia visto e demonstrarpor $u minha empresa havia fracassado" Tive deseEos de Eusticar o$ue havia escrito e me censuravam! sobre o censo; denunciar a

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    39/125

    indiferena da sociedade; indicar as causas geradoras da misria nascidades! e propor os meios de combatla"=omecei a escrever o artigo com o propAsito de condensar nelemuitas coisas importantes; e no obstante meus esforos! a pesar daabundncia dos assuntos! no pude reali%ar meu trabalho4 tal era o

    estado de irritao em $ue me encontrava! $ue me impedia tratar ascoisas com serena imparcialidade! e por isso no consegui conclu?loat o comeo do ano atual"Gcorre com fre$uncia na vida moral um fato curioso e pouco notado"-e conto a um ignorante o $ue todos sabemos! sobre geologia!astronomia! histAria! f?sica ou matemtica! ad$uirir noHes novas;mas seguramente no me dir4F 0o me ensinais nada novo4 isso todo mundo sabe! e eu tambm"*as diga a um homem a mais alta verdade moral; apresentea numaforma clara e precisa como ele no ouviu Eamais! e at o mais imbecil!o $ue menos se interesse nesse gnero de $uestHes! dir4F ,uem pode ignorar isso& 3a% E muito tempo $ue todo mundo odisse e o sabe"+! com efeito! a$uele homem cr estar certo de ter ouvido a$uelaverdade! e2pressada em iguais termos"/nicamente os $ue se interessam de uma maneira real nas $uestHesmorais! compreendem o alcance e a e2tenso de uma modicao$ual$uer na denio das idias! e sabem apreciar o laboriosotrabalho por meio do $ual se chega a tal resultado"/ma hipnose obscura! um deseEo indeterminado! puderamtransformarse em a2iomas claros e bem denidos $ue e2igem o

    cumprimento de certos atosNTemos o costume de crer $ue a moral uma coisa trivial e irritante$ue no pode conter nada novo e interessante! e no entanto! toda avida humana e todos os ramos de sua atividade! como pol?tica!cincias! artes! etc" no tm mais $ue um obEetivo4 o de clarear cadave% mais! o de simplicar! arraigar e propagar a verdade moral"ecordo $ue um dia! ao passar pelas ruas de *oscou! vi um homemsair de sua casa4 se 2ou atentamente nas pedras da calada!escolheu uma e se agachou sobre ela" 'areceume ver $ue aesfregava e $ue a polia @ custa de grandes esforos! e me perguntei4F ,ue far&

    #pro2imeime mais dele e vi $ue era um empregado de um aougue!$ue estava aando sua faca" 0ecessitava fa%lo para cortar a carne!e eu acreditei $ue tratava de polir as pedras da calada"# humanidade no se ocupa seno aparentemente no comrcio! nostratados! nas guerras! nas cincias e nas artes4 sA h uma coisa $uelhe interesse e na $ue se ocupa sem cessar! e em darse conta dasleis morais $ue regem sua vida" +stas leis e2istiram sempre e ahumanidade procura ainda esclareclas e elucidlas")sso parece pouco oportuno ao $ue no necessita da lei moral nem$uer fa%er dela a bBssola de sua vida; mas esse esclarecimento nosA a ao principal! mas a ao Bnica de toda a humanidade"+ essa ao to impercept?vel @ vista! como a diferena $ue e2isteentre uma faca $ue corta! e outra $ue tem o o gasto"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    40/125

    /ma faca sempre uma faca! e o $ue no se serve delas para cortar!no observa a diferena $ue e2iste entre uma e outra; mas o $uesabe $ue toda sua vida depende! por assim di%er! do o $ue tenha!compreende $ue de primeira necessidade $ue o instrumento esteEabem aado! e $ue no ser Btil en$uanto $ue no corte o $ue deve

    cortar"+ isso foi o $ue me sucedeu ao escreveu meu artigo"'areciame conheclo todo! compreendlo todo! no $ue se refere @sidias $ue me havia sugerido minha visita @ casa Liapine; mas$uando tratei de conceblas bem e de e2presslas! comecei a ver$ue minha faca no cortava e $ue devia ala")sso fa% trs anos! e at agora no pQde cortar o $ue eu $ueria $uecortasse! e! no entanto! nada de novo aprendi nesses trs anos"*inhas idias so as mesmas; mas em outro tempo estavam gastas!se apagavam e no convergiam em um foco Bnico; careciam de o! eno condu%iam a uma resoluo clara e simples! como condu%emhoEe"

    X)))ecordo $ue! durante a tentativa $ue % para acudir em au2?lio dosdesgraados! acreditei parecerme a um homem atolado $ue tentavatirar outro do mesmo pntano" Todos meus esforos me fa%iamcompreender a pouca consistncia do terreno no $ual tinha posto osps4 compreendia $ue me encontrava sobre o lodo! e no analisavacom ateno o piso em $ue me apoiava"Suscava incessantemente um meio e2terior para combater o mal $ue

    via ao meu redor" -abia $ue minha e2istncia era m e! a pesar disso!no dedu%ia a clara e simples concluso de $ue era preciso $ue eureformasse minha vida; ao contrrio! estava persuadido de $ue eranecessrio corrigir e reformar a das outras pessoas para $uemelhorasse a minha"abitava a cidade e $ueria melhorar a maneira de viver de seushabitantes"F G $ue $ue caracteri%a a vida e a misria das cidades& 'or $ueno pude socorrer aos desgraados F me perguntava"+ me respondi $ue minha tentativa havia fracassado por duas ra%Hes4a primeira! por$ue os pobres eram muito numerosos no mesmo local!

    e a segunda! por$ue eram muito distintos da$ueles dos povoados"Todos $uantos no encontravam sustento nos campos se reuniam nasgrandes populaHes em torno dos ricos! e por isso eram tonumerosos"Ierdade $ue nas cidades h pobres nascidos nas mesmas! ou cuEospais e avQs nasceram nelas; mas tambm $ue seus descendentesvieram @s cidades para buscar nelas o sustento",ue $uer di%er Vbuscar o sustento na cidadeV& nisso! se bem serePete! algo $ue parece uma piada" =omo pode ser $ue se venha doscampos! isto ! dos campos onde se produ%em todas as ri$ue%as daterra! para viver nas cidades onde nada se produ% e tudo seconsume&

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    41/125

    Lembrome de centenas! de milhares de pessoas com as $uais falei apropAsito disso! e todas me disseram o mesmo4 V+ssas pessoas vm a*oscou em busca de sustentoV" #li no se semeia! ali no se colhe;mas ali se vive na opulncia; ali onde unicamente podem encontraro dinheiro de $ue necessitam nos campos para comprar po! casa!

    cavalos e todos os obEetos de primeira necessidade"+! no entanto! o campo o manancial de todas as ri$ue%as! posto $ueprodu% o trigo! a madeira! os cavalos e tudo mais"'ara $ue! pois ir @s cidades para buscar nelas o $ue produ% a terra&'ara $ue e2portar desde os povoados @s cidades o $ue oscamponeses necessitam& 'ara $ue levar a elas a farinha! a vaia! oscavalos e o gado&Tive ocasio de falar disso muitas ve%es com os lavradores $ue vivemem *oscou! e compreendi $ue a$uela acumulao de aldeHes! ! emparte! obrigada! por no poder ganharse a vida de outro modo! mas$ue em parte tambm arbitrria e devida @s seduHes $ue oferecea cidade"Ierdade $ue o aldeo! para fa%er frente a todas as e2igncias e atodas as necessidades da vida! se v obrigado a vender a$uele trigo ea$uele gado de $ue necessitar depois! e $ue! por bem ou por mal!ter $ue ir @ cidade para ganhar nela o po"*as devemos di%er tambm $ue o lu2o da cidade e os meios $ue estaoferece para ganhar mais facilmente o dinheiro atraem o aldeo e lhefa%em acreditar $ue trabalhar pouco! comer bem! tomar ch trsve%es ao dia! se vestir bem! e poder entregarse ao alcoolismo e aoescndalo"

    +m um e outro caso! o motivo o mesmo4 a concentrao da ri$ue%anas cidades e sua transmisso das mos dos produtores @s dos noprodutores" 1esde princ?pios do outono! tudo o $ue o campo produ%iuse acumula nas cidades! por$ue h necessidade de satisfa%er ase2igncias dos impostos! do recrutamento e dos demais encargos"+ssa tambm a poca dos casamentos e das festas" =hegam osaambarcadores4 as ri$ue%as dos aldeHes consistem ento em gadocomest?vel e de trabalho! em cavalos! porcos! galinhas! ovos!manteiga! linho! aveia! trigo! centeio! etc"! e tudo passa a mosestranhas $ue em seguida o transportam @ cidade"Gs habitantes dos povoados se vem obrigados a vender para

    satisfa%er as cargas $ue pesam sobre eles" -obrevm em seguida odcit! e necessitam ir ali onde foram acumuladas suas ri$ue%as paratratar de reunir algum dinheiro com $ue fa%er frente @s primeirasnecessidades do campo" -edu%idos pelos atrativos $ue oferece acidade! alguns permanecem nela"G mesmo sucede em toda Bssia e no mundo inteiro4 as ri$ue%as dosprodutores passam @s mos dos comerciantes! dos grandesproprietrios rurais! dos aambarcadores! dos fabricantes! e os $ue asad$uirem deseEam aproveitarse delas! e para isso necessitam residirnas cidades"+m primeiro lugar! dif?cil encontrar nos campos os meios desatisfa%er todas as necessidades da gente rica4 no h neles estBdiosde pintores! grandes arma%ns! bancos! restaurantes! c?rculos! nem

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    42/125

    teatros4 em segundo lugar! os ricos no podem satisfa%er no campo avaidade! o deseEo de sobrepuEar os outros! $ue um dos maioresgo%os da ri$ue%a"Gs camponeses no sabem apreciar o lu2o! e no h nada $ue possamaravilhlos"

    0ingum contempla nem inveEa os apartamentos! as pinturas! osbron%es! as carruagens nem as caas do $ue habita no campo4 osaldeHes no tm critrio suciente para Eulgar essas coisas"+m terceiro lugar! o lu2o em tais condiHes at desagradvel eperigoso para todo homem medianamente delicado" =usta trabalhotomar banhos de leite ou dlo aos ces! ali onde as crianas carecemdele; triste edicar pavilhHes e traar par$ues em meio de pessoas$ue vivem em cabanas rodeadas de esterco e $ue carecem de lenhapara a$uecerse" 0ingum poderia manter a ordem entre os muEi$uesnem impedir $ue cometessem bobagens por sua ignorncia"'or isso os ricos se concentram nas cidades onde a satisfao dosgostos mais renada e est garantida por uma pol?cia numerosa evigilante"Gs primeiros habitantes das cidades foram empreiteiros do +stado4 aoredor deles se agruparam os artesHes! os industriais e por Bltimo aspessoas ricas! $ue! possuindo tudo! no tm mais $ue deseEar ascoisas! e $ue rivali%am em lu2o uns com os outros! para eclipsar eadmirar os outros"+ sucede $ue o milionrio $ue se envergonha de rodearse de lu2o nocampo! no tem na cidade os mesmos escrBpulos! e acha incQmodo eirritante no viver como todos os milionrios $ue lhe rodeiam"

    G $ue Eulga penoso e imprAprio no campo lhe parece natural?ssimo nacidade" =onsome tran$uilamente! sob a salvaguarda da autoridade! o$ue o campons produ%iu! e este se v obrigado a concorrer @ festaeterna dos ricos4 poder recolher as migalhas $ue se caem de suasmesas&+ ao contemplar a$uela vida suntuosa! alheia de cuidados! estimadapor todos e protegida pela autoridade! o campons $uer tambmtrabalhar o menos poss?vel e aproveitarse amplamente do trabalhodos outros"+ veEao atra?do na cidade! tratando de estabelecerse @ imediao dorico! e suportando todas as situaHes em $ue este $uer coloclo"

    #Eudalhe a satisfa%er todos seus caprichos; pHese a seu servio nobanho e no restaurante! seu cocheiro! e lhe proporciona mulheres"#ssim como os homens aprendem dos ricos a viver como eles! nopor meio do trabalho! mas por um cBmulo de subterfBgios e sugandocom habilidade as ri$ue%as acumuladas dos outros; e como natural!se pervertem e se perdem"'ois bem4 a$uela populao de miserveis era a $ue eu $uis socorrer"Sasta rePetir um pouco acerca da situao da$uelas pessoas paraadmirarse de $ue muitos dentre eles sigam sendo trabalhadoreshonrados e no se tenham convertido em aventureiros correndo atrsde uma presa fcil; em vendedores ambulantes! em mendigos! emprostitutas! em golpistas e em bandidos"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    43/125

    0As! $ue tomamos parte nessa orgia eterna das cidades e $uepodemos estabelecer nossa vida @ nossa vontade! cremos muitonatural viver num apartamento de cinco $uartos! temperados poruma $uantidade de lenha $ue bastaria para a$uecer vinte fam?lias;dar um passeio de meia versta com dois cavalos de trote e dois

    homens; cobrir o pavimento de nossos $uartos com tapetes! e gastarde cinco a de% mil rublos em um baile! ou vinte e cinco mil rublos emuma rvore de 0atal"G $ue necessita de% rublos para o po de sua fam?lia! da $ualembargaram a Bltima ovelha para satisfa%er sete rublos de umimposto vencido! e $ue no pode economi%los apesar de umtrabalho duro! esse no pensa! seguramente! como nAs"=remos $ue aos pobres lhes parece muito natural tudo isso e algunssomos to simples! to inocentes! $ue at pretendemos $ue ospobres nos devem estar agradecidos por$ue lhes proporcionamos osmeios de ganhar a vida"*as esses deserdados da fortuna no perdem o senso comum pelofato de encontrarse na misria! e raciocinam e2atamente como nAs",uando chega a nAs a not?cia $ue um personagem $ual$uer perdeude% ou vinte mil rublos! nos formamos em seguida a idia de $uea$uele homem foi um imbecil $ue sacricou sem proveito tantodinheiro! $uando poderia empreglo em edicaHes ou em benef?cioda cultura geral"Gs pobres raciocinam do mesmo modo ao ver os suntuosos e loucosdesperd?cios dos ricos! e seu racioc?nio tanto mais Eusto! $uanto $ueeles necessitam de dinheiro! no para satisfa%er um capricho

    $ual$uer! mas para socorrer as mais urgentes necessidades"+stamos em erro ao crer $ue! raciocinando assim! permanecemindiferentes ao lu2o $ue lhes rodeia" 1esde seu ponto de vista! no Eusto $ue uns vivam em festa cont?nua! e $ue os outros trabalhem eEeEuem fre$uentemente"0o primeiro momento se admiram e se sentem ofendidos peloespetculo; mas compreendem logo $ue tal estado de coisas legal!e procuram es$uivar o ombro ao trabalho e participar da festa" /ns oconseguem; outros se acercam dela pouco a pouco; mas a maioria caiantes de chegar a seu obEetivo! e como perderam E o hbito dotrabalho! enchem as casas de prostituio e os albergues"

    3a% trs anos $ue tomamos a nosso servio! no campo! um aldeoEovem como garom da sala de Eantar; incomodouse com o valete ese foi" +ntrou em seguida ao servio de um comerciante $ue lheagradou! e hoEe passeia elegantemente vestido! com corrente de ouroe botas de couro"-ubstitu?moslhe com outro aldeo casado4 este se dedicou @ bebidae ao Eogo" -ucedeulhe um terceiro! e fe% o mesmo $ue antecessor! edepois de gastar o $uanto tinha! caiu na misria mais espantosa eparou nos albergues"0osso co%inheiro! $ue um velho! cou enfermo em conse$uncia desua cont?nua embriague%" /m de nossos criados $ue! durante cincoanos havia observado uma conduta e2emplar no campo! se dedicou

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    44/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    45/125

    de um homem notvel! de -iutaieJ! $ue veio visitarme! iluminouminha inteligncia e me fe% ver $ual era a causa de meu fracasso"ecordo $ue as palavras $ue me disse me impressionaram; mas atmuito tempo depois no compreendi todo seu alcance4 eu meencontrava ento no per?odo culminante de minhas ilusHes"

    +ncontreime com -iutaieJ na casa de minha irm! e esta meperguntou como ia eu em minha empresa" espondilhe! comosucede sempre $uando no se tem conana em um assunto!falandolhe com calor e entusiasmo do $ue fa%ia e do resultado $uepensava obter! repetindolhe a cada passo $ue proteger?amos osArfos e os ancios; $ue reintegrar?amos aos povoados de origem osaldeHes $ue haviam vindo arruinarse em *oscou; $ue dev?amosfacilitar o caminho do arrependimento aos pervertidos! e $ue se aempresa tivesse bom 2ito! no restaria na cidade um desgraado$ue no fosse socorrido"*inha irm me escutava satisfeita4 durante nossa conversa! euolhava com fre$uncia a -iutaieJ" =onhecendo o cristianismo de suavida e a importncia $ue dava @ caridade! esperava sua aprovao efalei de maneira $ue pudesse ouvirme e compreenderme! poisminhas palavras iam especialmente dirigidas a ele"G ancio permanecia imAvel em sua cadeira! envolto em sua peliade pele de cordeiro $ue conservava posta na sala! como todos osmuEi$ues"'arecia pensar em seus assuntos e no escutar nossas palavras4 seuolhar no brilhava! como se estivesse abstra?do",uando me cansei de falar! lhe perguntei o $ue pensava de meu

    assunto"F Tudo isso so tolices F me disse"F Tolices""" 'or $ue&F 'or$ue nada bom resultar disso"F =omo assim& F repli$ueilhe F seriam tolices se socorremosmilhares! ou ainda $ue no seEa mais $ue centenas de infeli%es& G+vangelho pro?be vestir o desnudo ou dar de comer ao faminto&F +u sei! eu sei; mas tu no fa%es isso4 tu passeias" #lgum te pedevinte cope$ues e lhe das" )sso uma esmola& G $ue necessita umsocorro moral4 instru?lo; mas lhe das dinheiro para $ue te dei2etran$uilo" )sso o $ue tu fa%es"

    F 0o! no isso4 $ueremos estudar e conhecer a fundo a misria! edepois! socorrer os desgraados com dinheiro e com boas aHes! eproporcionarlhes trabalho"F 0o podes socorrer a essas pessoas de tal maneira"F ,ueres! ento! $ue as dei2emos morrer de fome e de frio&F 'or $ue morrer& -o to numerosos a$ui&F + me perguntas& F disse! pensando $ue considerava o assuntoda$uela maneira por$ue ignorava $uantos desgraados havia F-abes $ue h em *oscou cerca de vinte mil famintos& + $uantos nohaver em -o 'etersburgo e nas demais cidades&-orriu"F Iinte milN""" + $uantas casas de lavradores h na Bssia& averum milho&

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    46/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    47/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    48/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    49/125

    -e eu me ocupava em um pobre durante semanas ou meses! se lheaEudava! se lhe fa%ia participante de minhas opiniHes e meapro2imava a ele! minhas relaHes pareciam um supl?cio! e medespre%ava"+ compreendia $ue tinha ra%o"

    -e me encontrava na rua e me pede! como os demais transeuntes!trs cope$ues e se os dou! passo a seus olhos como um homem debom corao e me bendi% sinceramente"*as se me detenho! se lhe falo! se lhe demonstro $ue $uero ser paraele mais $ue um mero transeunte; se! como sucede com fre$uncia!chora e me conta suas desgraas! ver em mim o $ue $uero eu $ueveEa4 um homem de corao"*as! se assim! minha bondade no se deve limitar a vintecope$ues! nem a de% rublos! nem a de% mil" 0o se pode ser bompela metade" #dmitamos $ue lhe dei muito; $ue pus em ordem seusassuntos; $ue o vesti; $ue o pus em condiHes tais $ue possa viversem o socorro de ningum; mas $ue por uma causa $ual$uer! poruma desgraa! por fra$ue%a ou por v?cio! encontrase de novo semvestimentas! sem roupa branca! sem dinheiro! sofrendo outra ve% defome e frio! e vem procurarme""" 'or $ue hei de rechalo&-e eu tivesse um propAsito determinado! por e2emplo! darlhe tantodinheiro ou tal vestimenta! poderia! uma ve% feita a doao!permanecer tran$uilo; mas meu propAsito no foi esse4 o motivo deminha ao foi a bondade4 $uero ver em cada homem um semelhantemeu" #ssim como se compreende a caridade"'ortanto! se se gastou vinte ve%es em bebida o $ue recebeu; se de

    novo tem fome e frio; se eu sou! em realidade! bom! no posso negarlhe nada e devo darlhe! en$uanto possuir mais $ue ele"*as! se retrocedo! demonstro! ao retroceder! $ue todo o $ue % atento no teve por motivo a bondade! mas o deseEo de fa%er alardede minha boa ao aos olhos dos outros"+ neste caso eu retrocedia ao dei2ar de socorrer @$uelas pessoas;renegava minha virtude e e2perimentava um sentimento penoso"+ senti a$uela vergonha na casa Liapine e $uando cheguei a dardinheiro aos pobres"+ncontravame no campo" 0ecessitava de vinte cope$ues parasocorrer a um peregrino e enviei meu lho para busclos4 trou2e os

    vinte cope$ues e me disse $ue os havia tomado emprestados denosso co%inheiro" #lguns dias depois chegaram outros peregrinos4 tivetambm necessidade de mais vinte cope$ues4 levava no bolso umrublo! e lembrando $ue devia ao co%inheiro! me fui @ co%inha parabuscar o $ue necessitava" 1isse ao co%inheiro4 VTomei emprestadosvinte cope$ues4 a$ui tens um rublo"""V #inda no havia conclu?do afrase e o co%inheiro E havia chamado sua mulher! di%endolhe4F 'arascha4 olhe""" tome"'ensando $ue ela havia compreendido do $ue se tratava! lhe dei orublo" $ue ter em conta $ue a$uelas pessoas no estavam a meu servioa mais $ue oito dias! e $ue! ainda $ue E houvesse visto a mulher!todavia no lhe havia dirigido a palavra"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    50/125

    ,uis di%erlhe $ue me desse o troco; mas! antes $ue eu pudesse abrira boca! se inclinou para segurar minha mo crendo! sem dBvida! $uelhe havia dado o rublo""" Salbuciei algumas palavras e sa? da co%inha"3a%ia tempo $ue no havia sentido vergonha semelhante" *eusnervos se crisparam e notei $ue % uma careta contra a minha

    vontade" #$uele sentimento! $ue me pareceu pouco merecido! melastimou! sobretudo! por no havlo e2perimentado h tempo! eacreditava $ue minha vida no devia merecer semelhantehumilhao"3i$uei consternado pelo $ue acabara de se passar! e! ao referilo ameus amigos e a meus parentes! todos me disseram $ue! em meulugar! haveria e2perimentado a mesma sensao $ue eu"1edi$ueime a averiguar a causa da$uela impresso! e uma aventura$ue me ocorreu em outro tempo em *oscou me deu a soluo doproblema" *editava na$uele incidente e compreendi a$uela vergonha$ue havia sentido ante a mulher do co%inheiro e outras muitas ve%es$uando e2ercia de lantropo e dava algo aos outros! e2ceto a$uelape$uena esmola $ue por costume dou aos mendigos e aosperegrinos! no como ato de caridade! mas como de decoro e depol?tica"-e um homem pede fogo! deves darlhe um fAsforo! se o tens"-e algum pede trs! ou vinte cope$ues! e ainda $ue seEa algunsrublos! deves dlos! se os tens" +ste um ato de urbanidade! e node lantropia"+is a$ui o $ue me sucedeu4W falei dos aldeHes com os $uais serrava madeira h trs anos" /m

    sbado pela tarde! por ocasio da orao! iam eles @ casa de seupatro para cobrar seu salrio e eu os acompanhei at a cidade" #ochegar @ ponte de 1ragomilov! encontramos um velho $ue me pediuesmola e a $uem dei vinte cope$ues" #creditei $ue minha ao fossedo agrado de meus companheiros! com $uem ia falando de assuntosreligiosos"-imion! o muEi$ue do governo de Iladimir! $ue tinha em *oscoumulher e trs lhos! se deteve! levantou a tBnica! tirou sua carteira!procurou nela! tirou trs cope$ues e os deu ao velho di%endolhe $uelhe desse dois de volta"G velho mostroulhe o dinheiro $ue levava $ue eram duas moedas de

    trs cope$ues e uma de um" -imion olhou; $uis tomar a de um; mas!mudando de parecer! tirou o gorro! persignouse! e seguiu seucaminho dei2ando ao velho os trs cope$ues"+u sabia $ual era a situao nanceira de -imion4 todas suaseconomias constitu?am em seis rublos e meio4 as minhas na$uelapoca eram Z77"777 rublos"+u tinha mulher e lhos! meu companheiro tambm4 ele era maisEovem $ue eu e sua fam?lia menos numerosa; mas todos seus lhoseram pe$uenos! en$uanto $ue dois dos meus eram E adultos e aptospara o trabalho" 0ossa situao! e2cetuando as economias! era $uasea mesma"+le possu?a Z77 cope$ues e dava trs4 eu possu?a Z77"777 rublos edava vinte cope$ues"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    51/125

    'ara ser to generosos como -imion! deveria dar ao velho 9777rublos! pedirlhe 6777 de volta! e em caso em $ue o velho nopudesse me dlos! dei2los todos! persignarme e seguir meucaminho tran$uilamente falando da vida da fbrica e do preo do fenono mercado de -molensCi"

    Tal foi a ideia $ue surgiu em meu crebro na$uele momento! mas atmuito tempo depois no dedu%i sua conse$uncia inevitvel"+sta concluso parece to e2traordinria e to rara! $ue no obstantesua e2atido matemtica! no pude aceitla no ato" =rse sempre$ue h erro de clculo; mas tal erro no e2iste! e isso demonstra $uetodos vivemos em cont?nuos e2travios $ue so a causa de espantosastrevas",uando cheguei a tal resultado e me convenci de $ue eraabsolutamente certo! e2pli$ueime minha vergonha ante a mulher doco%inheiro e ante os pobres aos $uais dava e sigo dando esmola"1e fato4 o valor desta era uma parte to pe$uena de minha fortuna!$ue era at imposs?vel e2pressla por meio de uma cifra a -imion e @mulher do co%inheiro" era uma milionsima parte ou algo apro2imado"1ava to pouco! $ue a$uele ato no era nem podia ser de modoalgum uma privao! mas uma distrao $ue me permitia! $uando otinha por conveniente"+ isso o $ue compreendeu a mulher do co%inheiro4 se eu dava aoprimeiro $ue me encontrava na rua vinte cope$ues! por $ue no lhedaria a ela tambm um rublo$uela distribuio de dinheiro havia produ%ido nela o mesmo efeito$ue outra diverso dos senhores! como Eogar @ multido pes de

    gengibre4 um passatempo agradvel para as pessoas $ue possuemuma grande fortuna"+u haviame envergonhado! por$ue o erro da mulher do co%inheirome havia feito conhecer a opinio $ue formavam de mim os pobres"V1 muit?ssimo dinheiro! um dinheiro $ue no ganhou com seutrabalhoV"+! de fato! $ue so minhas ri$ue%as e de onde procedem&Gbtive uma parte delas vendendo a terra $ue me dei2ou meu pai epela $ual o muEi$ue vendeu at sua Bltima ovelha e sua Bltima vacapara car em pa% comigo4 a outra parte de minha fortuna provm do$ue me deram por meus livros" -e estes so maus! se so nocivos! os

    compram por seduo e o dinheiro $ue recebo por eles mal ganho;mas se! pelo contrrio! so Bteis! todavia pior"0o os dou aos outros! mas lhes digo4 V1me de%essete rublosV" + domesmo modo $ue o muEi$ue vendeu sua Bltima vaca! o estudante e oprofessor! $ue so pobres! privamse do necessrio para darme seudinheiro"+ eisme a$ui de posse de uma fortuna ad$uirida desse modo; $uefao dela& Levo esse dinheiro @ cidade e no o dou aos pobres mais$ue para $ue satisfaam meus caprichos vendo limparem por mim ascaladas! as lmpadas! lustrar a minhas botas! e trabalhar nasfbricas! e trato de darlhes pouco e de obter deles o mais poss?vel"

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    52/125

  • 7/26/2019 Tolsti - O Que Devemos Fazer

    53/125

    trabalhadora! os operrios das fbricas e os aldeHes! $ue formamnoventa por cento do total"IeEo $ue a vida das nove dcimas partes da classe trabalhadorae2ige! por sua prApria nature%a! esforos e trabalho; mas suae2istncia se fa% dia a dia mais dif?cil e mais cheia de privaHes por

    efeito dos subterfBgios $ue lhes subtraem o $ue lhes necessrio eos pHem em condiHes penosas! en$uanto $ue a nossa! a das pessoasociosas! se fa% cada ano mais confortvel e mais atraente graas aoconcurso das artes e das cincias dirigido a tal obEetivo"# vida da classe trabalhadora! e sobretudo a dos anciHes! mulheres ecrianas! atroase hoEe! esgotada como est por um trabalho forte euma comida insuciente! e sem nenhuma segurana de podersatisfa%er suas primeiras necessidades" #o contrrio! a e2istncia dos$ue no trabalham e dos $ue formo parte! transborda do suprPuo ede lu2o; cada dia est mais segura! e chegou a este grau de solide%$ue os antigos contos nos apresentavam como um sonho! como o dohomem $ue possui constantemente um rublo! gaste o $ue gaste; esseestado em $ue o indiv?duo! no somente se emancipou da lei dotrabalho para sustentar sua vida! mas $ue tem os meios sucientespara go%ar! sem diculdade alguma! de todos os bens e para legar aseus lhos a bolsa $ue encerra o rublo fantstico"G 'roduto do trabalho se transmite cada ve% mais dos $ue trabalhamaos $ue esto ociosos" # pirmide do edif?cio social se reconstrAi!digamos assim4 as pedras da base se transladam ao alto! e avelocidade da translao se verica em progresso geomtrica"IeEo $ue ocorre algo parecido ao $ue ocorreria em um formigueiro! se

    a sociedade das formigas vitoriosas arrastasse os produtos de seutrabalho desde o fundo at o alto e obrigasse aos vencidos $ue aaEudassem4 a parte alta do formigueiro se iria alargando e ao mesmotempo se iria estreitando a parte bai2a"#nte os homens se levanta! em ve% do ideal de uma vida de trabalho!o da bolsa do famoso rublo $ue nAs ricos criamos! e paraaproveitarmos dele! nos transladamos @ cidade onde nada se produ%e tudo se consume"Gs desgraados trabalhadores! roubados para enri$uecer a outros!correm @ cidade seguindo as pegadas destes"+les tambm usam da astBcia! e de duas coisas lhes ocorre uma4 ou

    saem adiante e criam uma posio $ue lhes obriga a trabalhar poucoe lhes permite go%ar muito! ou no podem vencer4 sucumbem na luta!e caem no nBmero! sempre crescente! desses desgraados $uepadecem de fome e frio e dormem nos albergues"+u perteno @ categoria das pessoas $ue arrebatam dos homenslaboriosos o $u