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FACULDADE DE TECNOLOGIA DO VALE DO IVAÍ
Charles Fernando Marins Peixoto
Elias Cruz Leão
José Carvalho Melo
Kátia de Souza
PRAGAS E FUNGOS NA ARMAZENAGEM DO MILHO
Ivaiporã
2008
Charles Fernando Marins Peixoto
Elias Cruz Leão
José Carvalho Melo
Kátia de Souza
PRAGAS E FUNGOS NA ARMAZENAGEM DO MILHO
Trabalho apresentado ao curso de Tecnologia em Gestão do Agronegócio da Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí – FATEC-IVAÍ – para a disciplina de Processamento de Produtos Agrícolas, com orientação do professor(a) Ana Maria Moraes.
Ivaiporã2007
2
Pragas e Fungos na Armazenagem do Milho
1.0 Introdução:
Os cereais constituem a maior fonte de alimentos, tanto para os seres
humanos como para os animais. Aproximadamente 90% dos grãos produzidos
para o consumo provêm dos cereais, predominando o trigo, o milho e o arroz,
que representam a base da alimentação de praticamente todos os povos.
Atualmente, a busca pela qualidade dos grãos e subprodutos é prioridade para
produtores, processadores e, finalmente, para os distribuidores desses
produtos. Segundo Brooker et al. (1992), são muitos os fatores que contribuem
para a perda de qualidade e quantidade dos alimentos e, dentre eles,
destacam-se: características da espécie e da variedade, condições ambientais
durante o seu desenvolvimento, época e procedimento de colheita, método de
secagem e práticas de armazenagem.
Para avaliar a qualidade dos grãos, Bakker-Arkema (1993) considera diversas
propriedades, tais como: teor de umidade, massa específica, percentual de
grãos quebrados, teor de impurezas e matéria estranha, danos causados pela
temperatura de secagem, susceptibilidade à quebra, características de
moagem, conteúdo de proteína e óleo, valor para consumo animal, viabilidade
como semente, presença de insetos e fungos, tipo de grão e ano da produção.
No entanto, as propriedades qualitativas desejáveis dependem,
especificamente, das necessidades do comprador. Verifica-se, portanto, a
importância de se atentar às pragas e fungos que podem vir a comprometer a
qualidade no armazenamento do grão.
3
2.0 Pragas
São muitas as espécies de pragas que se encontram em produtos
armazenados e seus subprodutos. Dentre elas, destacam-se os insetos como
um dos mais importantes agentes responsáveis pelas perdas no período pós-
colheita. A maioria das espécies são cosmopolitas (em biologia, "cosmopolita"
denomina-se a um animal ou planta encontrado(a) em todo o mundo, sob
variadas condições ecológicas), embora tenham sido disseminadas em todo o
mundo, em razão, principalmente, dos intercâmbios comerciais.
Os insetos que desenvolvem em produtos armazenados apresentam
características de acordo com o ambiente que se encontram os grãos e
subprodutos. São pequenos, adaptados a viver em ambientes muito secos e
escuros, onde outros organismos não sobreviveriam.
Quanto aos seus hábitos alimentares, os insetos podem ser classificados em
primários, secundários e associados. Os primários são capazes de romper o
grão para atingir o endosperma; os secundários não são capazes de romper o
grão e, geralmente, vivem associados aos insetos primários, pois, uma vez
rompida a parte externa do grão, são capazes de se desenvolver; enquanto os
insetos associados são freqüentemente encontrados nos grãos, porém, sem
danificá-los; alimentam-se de detritos e fungos, podendo, no entanto, alterar a
qualidade do produto final.
Os insetos se classificam em grupos com características gerais chamadas
ordens; por sua vez, as ordens se dividem em famílias e estas em gêneros,
que agrupam a várias espécies. A espécie engloba os indivíduos com
morfologia similar, hábitos alimentares comuns e os que são capazes de
4
reproduzir-se entre si, constituindo a base de referência para sua identificação
e denominação.
Para designar uma espécie, dá-se um nome comum ou vulgar, mas
muitas vezes este nome pode englobar várias espécies, como, por exemplo, a
palavra gorgulho. Para evitar estes problemas, a cada espécie dá-se um nome
científico, geralmente em latim, composto de duas palavras, a primeira
corresponde ao gênero e a segunda, à espécie. Às vezes acrescenta-se uma
terceira palavra, que corresponde ao nome da pessoa que o identificou. Outra
espécie importante que é considerada como praga de armazenagem é o rato,
onde a sua origem é mais antiga que a civilização humana, mas a sua
presença ocorreu do desequilíbrio ecológico provocado pelo próprio homem. O
acúmulo inadequado de alimentos, lixo, ausência de predadores naturais e a
falta de higiene e educação das pessoas é que levam ao descontrole,
inexistente nas condições naturais. A história do rato, surge basicamente com a
sofisticação das sociedades humanas. A maior parte dos pesquisadores afirma
que ele migrou para a Europa e depois para as Américas, a partir da Ásia
tropical, por volta dos séculos XI e XII. A existência de roedores, insetos,
pássaros, etc, gera graves riscos aos produtos, riscos à saúde das pessoas e
riscos de alto potencial às instalações. Em suma, a segurança da qualidade do
produto é comprometida. Segundo a OMS Organização Mundial da Saúde,
20% dos alimentos produzidos no mundo são destruídos por ratos, este, sendo
considerado o inimigo n.º 1 da saúde, pois é responsável pela transmissão de
mais de 40 diferentes tipos de doenças. Está provado que consome por dia
10% de seu peso em alimentos, além de estragar e deixar impróprios para
consumo 10 vezes mais que essa quantia. A impressionante fecundidade dos
5
roedores se constata no cálculo de que um casal, no espaço de um ano, pode
dar origem a quatro gerações, somando cerca de 63.000 descendentes. A
própria OMS estima que cada rato é responsável por uma total de perdas de
US$10 ao ano, e estudos apontam que há em média 2 a 3 roedores por
habitante nos grandes centros. Transportando esses dados para São Paulo,
por exemplo, obteremos cerca de 24 milhões de roedores e de prejuízos
diretos e indiretos, algo em torno de 20 milhões de dólares ao mês.
(GIORDANO, 2004).
2.1 Os insetos e suas Ordens
Os principais insetos de grãos e subprodutos armazenados pertencem à ordem
Coleóptera, pequenos gorgulhos, e à ordem Lepidóptera, mariposas ou traças.
Os gorgulhos, também conhecidos como carunchos, são muito resistentes, o
que lhes permitem o movimento pelos reduzidos espaços entre os grãos,
inclusive nas grandes profundidades dos silos e graneleiros, onde os espaços
são muito comprimidos. As mariposas são frágeis e, em geral, permanecem na
superfície da massa de grãos, causando assim menos prejuízos que os
gorgulhos. Os grãos e subprodutos podem, ocasionalmente, ser infestados por
insetos muito pequenos, conhecidos como Psocóptera. São amplamente
distribuídos nas Américas e na Europa. Alimentam-se de uma grande
variedade de matéria orgânica e são considerados pragas pela sua presença e
não pelos danos que causam.
6
2.1.1 Coleópteros
Pertencem à ordem Coleóptera grande parte dos chamados gorgulhos ou
carunchos como o do arroz, milho, trigo, feijão, da farinha etc. Encontram-se
agrupados nas seguintes famílias: Anobiidae, Anthicidae, Anthribidae,
Apionidae, Bostrichidae, Bruchidae, Carabidae, Cerylonidae, Cleridae,
Cyptophagidae, Cucujidae, Curculionidae, Dermestidae, Endomychidae,
Histeridae, Languridae, Lathridiidae, Lophocateridae, Lyctidae, Merophysidae,
Mycetophagidae, Nitidulidae, Ptinidae, Scolytidae, Silvanidae, Staphylinidae,
Tenebrionidae e Trogossitidae.
Em geral, a ordem Coleóptera agrupa o maior número de espécies e, dentre
elas, algumas das mais importantes pragas dos grãos e subprodutos
armazenados.
2.1.1.1 Principais Espécies de Pragas que atacam os grãos de milho
armazenados.
2.1.1.1.1 Família Curculionidae – Gorgulho dos Cereais : Nesta família
estão descritas cerca de 40.000 espécies e nela estão inseridas as principais
pragas primárias, também conhecidas por gorgulhos de grãos armazenados.
Embora esta família agrupe muitas pragas agrícolas destrutivas, apenas as
espécies Sitophilus são importantes como pragas de armazenamento. As três
7
espécies, S. zeamais Motschulsky, S. oryzae (L.) e S. granarius (L.) são as
mais destrutivas de cereais armazenados;
Figura 1. Família Curculionidae.
2.1.1.1.2 Família Anthribidae: Membros desta família são normalmente
encontrados sobre fungos e madeira podre. Embora seja uma família
numerosa, apenas uma espécie, Araecerus fasciculatus (Degeer), é capaz de
causar sérios danos aos grãos e outros produtos armazenados. Este inseto
tem grande capacidade de vôo, infestando produtos desde o campo até no seu
armazenamento. É uma praga importante do café, embora seja capaz de se
alimentar de grande variedade de produtos, tais como amêndoas-de-cacau,
noz-moscada, feijão, amendoim, mandioca, milho, batata-doce, sementes de
girassol, frutos secos etc.
Figura 2 . Família Anthribidae.
8
2.1.1.1.3 Família Bostrichidae: Os insetos desta família são, principalmente,
broqueadores de madeira, de onde algumas espécies têm migrado do seu
hábitat para se transformar em pragas primárias de grãos, leguminosas, raízes
e tubérculos secos. À medida que broqueiam o grão deixa, em abundância, o
pó que serve para detectar sua presença. É uma praga primária de grande
capacidade destrutiva do milho em climas quentes. Há registros de perdas de
até 40% em milho em espiga armazenado durante seis meses. Os grãos são
atacados antes e depois da colheita.
Figura 3. Família Bostrichidae
2.1.1.1.4 Família Tenebrionidae: É uma praga secundária, depende do ataque
de outras pragas para se instalar nos grãos armazenados. Alimenta-se de
grãos de várias espécies e causa prejuízos ainda maiores do que os
resultantes do ataque de pragas primárias que permitam sua instalação.
Figura 4. Família Tenebrionidae
9
2.1.1.1.5 Família Silvanidae - Besouro dos Cereais: É uma praga também
considerada secundária que ataca grãos quebrados, fendidos e restos de
grãos. Pode danificar a massa de grão, sendo expressiva em grande
densidade populacional. Aparece praticamente em todas as unidades
armazenadoras, onde causa deterioração dos grãos pela elevação acentuada
da temperatura. É uma espécie muito tolerante a inseticidas químicos, sendo
uma das primeiras a colonizar a massa de grãos após aplicação desses
produtos.
Figura 5. Família Silvanidae
2.1.1.1.6 Família Cucujidae: Praga secundária que pode destruir grãos
fendidos, rachados e quebrados, nele penetrando e atacando o germe.
Consome grãos quebrados e restos de grãos e de farinhas, causando elevação
na temperatura da massa de grãos e deterioração de grãos. Da mesma forma
que o O. Surinamensis, aparece em grande quantidade em armazéns, após o
tratamento com inseticidas, e é muito tolerante a esses tratamentos. Este
inseto merece preocupação e estudos para se determinar o potencial dano,
tendo em vista a facilidade de reprodução em massas de grãos armazenados.
10
Figura 6. Família Cucujidae
2.1.1.1.7 Outras Famílias e suas particularidades:
Família Cerylonidae: tem sido encontrada regularmente em produtos
armazenados e, principalmente, se os produtos são contaminados com
fungos.
Figura 7. Família Cerylonidae
Família Cryptophagidae: Sua presença em armazéns indica
geralmente condições inadequadas de higiene. Espécies encontradas
incluem Cryptophagus e Henoticus.
11
Figura 8. Família Cryptophagidae
Família Lanthridiidae: Todos se alimentam de fungos e sua presença
indica problemas com o teor de umidade ou presença de resíduos de
emboloramento.
Figura 9. Família Lanthridiidae
Família Trogossitidae: Tem uma distribuição cosmopolita e é menos
prejudicial aos produtos armazenados, especialmente cereais e
oleaginosas. São mais freqüentemente encontrados em resíduos e
alimentos secos de péssima qualidade.
12
Figura 10 . Família Trogossitidae
2.1.2 Ordem Lepdóptera
Pertencem a esta ordem os insetos chamados de mariposa, mariposa-noturna
ou traças, com aproximadamente 165.000 espécies descritas, das quais 70
constituem pragas de produtos armazenados. Os adultos caracterizam-se por
terem quatro asas membranosas cobertas de escamas. As escamas podem ter
ou refletir diferentes cores ou agrupam-se para formar manchas com diversos
desenhos que facilitam sua identificação. O corpo em geral está coberto de
escamas e pêlos curtos. Apresentam uma metamorfose completa e é a larva
que causa danos.
As famílias associadas às infestações de produtos armazenados são Pyralidae,
Tineidae, Oecophoridae e Gelechiidae. No entanto, apenas a traça-das-
amêndoas (Cadra cautella, Pyralidae), traça mediterrânea-da-farinha (Ephestia
kuehniella, Pyralidae), traça-do-fumo (E. elutella, Pyralidae), traça-da-passa-de-
uva (C. figulilella, Pyralidae), traça-indiana-das-farinhas (Plodia interpunctella,
Pyralidae) e traça-dos-grãos (Sitotroga cerealella, Gelechiidae) são
13
consideradas as maiores pragas de produtos armazenados e largamente
distribuídas.
2.1.2.1 Família Pyralidae (Sitotroga cerealella – Traça dos Cereais): É
praga que ataca grãos inteiros ( primária), porém afeta a superfície da massa
de grãos. As larvas destroem o grão, alterando o peso e a qualidade deste.
Também ataca as farinhas, nas quais se desenvolve, causando deterioração
de produto pronto para consumo. A infestação em milho pode ocorrer quando o
grão está no estágio leitoso, embora a sobrevivência seja menor que em milho
maduro. É considerada a mais séria praga de grãos nas Américas e África,
mesmo sabendo do seu registro em todo o mundo. É mais comum em regiões
temperadas a tropicais.
Figura 11. Família Gelechiidae – Sitrotoga cerealella
2.1.2.2 Família Pyralidae (Plodia interpunctella – Traça dos Cereais):
É praga de superfície de massa de grãos, considerada primária externa. Não 14
causa prejuízos a trigo e milho armazenados a granel, pois seus danos se
limitam a superfície exposta da massa de grãos. No caso de grãos
armazenados em sacaria os prejuízos são mais elevados, em decorrência da
maior superfície exposta. Essa praga possui a característica de se alimentar,
preferencialmente, do embrião de grãos.
Figura 12. Família Pyralidae – Plodia interpunctella(fem.).
Figura 13. Família Pyralidae – Plodia interpunctella(masc.).
15
2.1.2.3 Família Pyralidae – (Ephestia kuehniella e E. Elutella –
Traças): As duas espécies são muito semelhantes, são mariposas,
consideradas pragas secundárias, pois as larvas se desenvolvem sobre os
resíduos de grãos e de ferinhas deixados pela ação de outras pragas. Seu
ataque prejudica a qualidade de grãos armazenados e torna o produto
imprestável para consumo, em razão da grande quantidade de resíduos dos
insetos no produto final.
Figura 14. Família Pyralidae - Ephestia kuehniella
Figura 14. Família Pyralidae - Ephestia Elutella(masc.).
16
2.3Ordem Pscoptera
Os insetos da ordem Psocóptera são relativamente pequenos. São
aproximadamente 6.000 espécies espalhados em todo o mundo, em uma
grande variedade de ecossistemas terrestres. Também conhecidos como
corrodentes, estes insetos são geralmente encontrados alimentando-se de
microflora e restos orgânicos, embora algumas vezes são conhecidos como
predadores. Alguns Psocópteras, também conhecidos como piolhos brancos,
se adaptam bem em alimentos armazenados, graneleiros, armazéns etc. Um
número limitado destes insetos é de importância econômica, e as informações
sobre a maioria das espécies são limitadas, estes causam danos econômicos
em indústrias processadoras de alimentos e geram possibilidades no que diz
respeito à saúde, pela transferência de microrganismos e contaminação dos
alimentos por fezes e exoesqueletos. Já foram identificadas 15 espécies de
Psocóptera em produtos armazenados, e o grande prejuízo econômico pela
sua presença foi em virtude da contaminação de alimentos processados.
Figura 15. Ordem Pscoptera. ( Piolho das Cascas)
17
2.4 Ratos
Em indústrias de alimentos e unidades de armazenagem de grãos, roedores
apresentam-se como problema devido ao volume de produtos, que estes
podem consumir, danificar e contaminar. Estudos revelam que em média um
roedor consome 25g de alimentos por dia. Fato, que pode gerar um prejuízo
anual de 10 dólares. No entanto, um roedor ao alimentar-se geralmente
danifica um volume que varia de 5 a 10 vezes ao consumido. O que estende o
prejuízo anual para a faixa de 50 a 100 dólares, por roedor. Quanto as
possibilidades de contaminação dos produtos são estimados que por meio
dos pelos, fezes, urina e mordidas dos roedores possam ser transmitidas
quarenta e cinco tipos de doenças. Outro fator, são os danos estruturais
causados pelos por eles, como por exemplo os provocados aos cabos
elétricos. O que pode causar curtos-circuitos ou ser fonte de ignição em
processos de explosões.
2.4.1 Principais espécies que atacam grãos armazenados.
2.4.1.1 Camundongos
Os Camundongos dentre as três espécies citadas são os de menor porte e
estes possuem por características:
Peso médio de 10 a 20 g,
Expectativa de vida 12 meses,
18
Período de gestação de 19 a 21 dias e este repete-se de 5 a 6 vezes ao
ano, sendo que de cada gestação nascem de 3 a 8 filhotes,
Caudas afiladas e
Orelhas salientes em relação ao tamanho da cabeça.
Estes, vivem em pequenos grupos familiares e abrigam-se em caixas, móveis,
pilhas de caixas e, ou, sacarias, e tocas escavadas em paredes. O raio de ação
a partir do abrigo é de aproximadamente 3 metros.
Figura 16. Camundongo ( Mus musculus)
2.4.1.2 Rato de Telhado
Os ratos de telhado chegam a pesar 300g. Possuem corpo esguio, orelhas e
olhos grandes em relação a cabeça, a cauda é afilada e o comprimento desta é
maior que o do corpo. Fato, que os conferem mobilidade e equilíbrio ao escalar
paredes, cabos elétricos, galhos de árvores e outros tipos de superfícies
verticais. A maturidade sexual ocorre de 60 a 75 dias e o período de gestação
19
é de 20 a 22 dias, com ninhadas de 7 a 12 filhotes (4 a 8 ninhadas/ano). A
expectativa de vida é de 18 meses e estes organizam-se em colônias.
Geralmente, abrigam-se em lugares altos, onde constroem seus ninhos,
descendo ao solo em busca de alimento e água.
Figura 17. Rato de Telhado (Rattus rattus).
2.4.1.3 Ratazana
As ratazanas dentre as três espécies é a que possui maior porte. Estas
possuem por características:
Peso médio de 600 g,
Olhos e orelhas pequenas em relação ao tamanho da cabeça,
Cauda grossa com pêlos e
Período de gestação de 22 a 24 dias, podendo ocorrer de 8 a 12
gestações por ano, sendo que a cada uma delas gerado de 7 a 12
filhotes.
A maturidade sexual ocorre aos 60 a 90 dias de vida. Estes roedores abrigam-
se, preferencialmente, em tocas em forma de túneis escavados no solo e estas
20
podem chegar a profundidade de até 1,5 m. Fato que pode causar danos
estruturais às edificações. Outros locais utilizados como abrigo são galerias de
esgoto ou de águas pluviais, caixas subterrâneas de telefone e rede elétrica e
margens de córregos. O raio de ação, destes, é de aproximadamente 50
metros. No entanto, estes podem nadar distâncias superiores a 500 m. O que é
propiciado, pelo fato destes roedores possuírem membranas interdigitais.
Normalmente, vivem em colônias que podem conter um grande número de
indivíduos, o que irá depender da disponibilidade de: alimentos, água e abrigo.
Estas colônias possuem divisões hierárquicas determinando dominados e
dominantes.
Figura 18. Ratazana ou Rato de Esgoto (Rattus novergicus).
2.5 Métodos de Controles de Insetos.
2.5.1 Limpeza e Higienização das Instalações e Unidades Armazenadoras.
Estas medidas preventivas da infestação de pragas são as mais
importantes na conservação de grãos, sendo as mais simples a serem
21
executadas e de menor custo, porém raramente realizadas pelos responsáveis
pela armazenagem.
2.5.2 Métodos Físicos
É constituído basicamente pelo controle da temperatura, da umidade
relativa do ar e da composição da atmosfera (CO2, O2, N2) uso de pós inertes,
remoção física de pragas, radiação ionizante, luz e som, podendo ser
empregados isoladamente ou combinados.
2.5.2.1 Breve descrição dos Métodos Físicos.
A – Temperatura: Tanto baixas como altas temperaturas podem ser
empregadas para o controle de insetos, assim como existe uma temperatura
ideal para o desenvolvimento da praga, existem temperaturas que retardam a
multiplicação de espécies, podendo até mesmo eliminá-las.
Quadro 1A – Resposta das principais pragas em relação à temperatura empregada no
armazenamento.
Ação Faixa de
Temperatura (ºC)
Efeito Esperado
Letal > 62 Morte em menos de 1 minuto
50 a 60 Morte em menos de 1 hora
45 a 50 Morte em menos de 1 dia
22
34 a 42 Populações podem morrer
Subótimo 35 Temperatura máxima para reprodução
Ótimo 25 a 32 Máxima taxa de crescimento populacional.
32 a 35 Lento crescimento populacional
Subótimo 13 a 25 Lento crescimento populacional
Letal 5 a 13 Lenta mortalidade populacional
3 a 5 Cessam os movimentos
-10 a - 5 Morte em algumas semanas ou meses
-25 a -15 Morte em menos de 1 hora
Fonte: (Banks & Fields, 1995).
B – Umidade Relativa do Ar: Esta diretamente associada à temperatura no
desenvolvimento de pragas de grãos armazenados, e esta, à umidade de
armazenamento do grão. A umidade relativa do ar ótima para o
desenvolvimento das pragas fica em torno de 70%, diminuindo esta umidade, o
ambiente torna-se desfavorável ao seu desenvolvimento.
C – Atmosfera Controlada: Método baseado no controle de pragas pela
modificação da concentração de gases no ambiente, tornando este ambiente
letal para as pragas. Em resumo, para todas as fases da vida das principais
pragas de grãos armazenados, as doses e os regimes de aplicação são os
seguintes:
23
Quadro 1B – Resposta das principais pragas em relação à temperatura
empregada no armazenamento.
Gás Período Método
O2 20 dias Concentração com menos de 1%
CO2
5 dias Concentração a 80%
11 dias Concentração a 60%
17 dias Concentração a 40%
15 dias Início concentração superior a 70% e reduzida para não menos
que 35%
Fonte: (Banks & Fields, 1995).
D – Uso de Pós Inertes – Dessecação: Uso de pós inertes para controle de
pragas de grãos armazenados, pouco utilizado devido ao advento dos químicos
sintéticos.
Utilizava-se:
Argilas, areias e terra como camada protetora na parte superior dos
grãos;
Terra de diatomáceas, proveniente de algas de diatomáceas, as quais
possuem uma camada de sílica amorfa hidratada
Sílica aerogel produzida pela desidratação da solução aquosa de silicato
de sódio;
24
Não derivados de sílica, provenientes de rochas fosfatadas ( hidróxido
de cálcio utilizado para proteger grãos destinados a alimentação animal).
E – Remoção Física: Método este, que consiste em se utilizar um sistema
eficiente de peneiras como auxiliar na redução da densidade populacional de
pragas.
F – Radiação: Método que consiste na radiosensibilidade dos insetos, expondo
os mesmos à radiação ionizante, visando o seu controle. Deve-se considerar
que a radiação pode reduzir a qualidade dos cereais tratados, especialmente o
trigo e também reduzir o teor das vitaminas A, C, E, B1 e K.
G – Luz e Som: A luz pode ser utilizada como atrativo de grande utilidade para
monitorar certas pragas de grãos armazenados, não sendo utilizada como
método de controle devido sua baixa eficácia. O emprego do ondas sonoras
demonstram ser eficientes, mais o emprego dos mesmos deve ser definido em
termos de viabilidade comercial, o qual se acredita ser possível apenas em
situações restritas de armazenagem.
2.5.3 Métodos Químicos
Emprego de inseticidas, visando o controle das pragas de grãos armazenados,
método este utilizado em larga escala, apresentando certo déficit em relação à
sua eficiência devido à resistência das pragas. Este método pode ser
empregado das seguintes formas:
25
A – Tratamento Preventivo dos Grãos: Utilizado para grãos com período
superior a 03 meses de armazenamento, o tratamento consiste em se aplicar
inseticidas líquidos sobre os grãos, na correia transportadora, no momento de
carregar o armazém, e homogeneizá-los, de forma que todo o grão receba o
inseticida. O volume da calda aplicada é em torno de 1 a 2 litros por tonelada, a
ser pulverizado sobre os grãos, os principais inseticidas utilizados são à base
dos seguintes ingredientes ativos: pirimiphos-methyl, fenitrotion, deltametrin ou
bifenthrin, de acordo com a espécie de praga. Não se deve utilizar tratamento
via líquida na correia transportadora caso exista infestação de qualquer praga
na massa, corre-se o risco de início de problema de resistência das principais
pragas aos inseticidas.
B – Tratamento Curativo do Grão: Efetivado via fumigação ou expurgo, técnica
esta empregada para eliminar qualquer infestação de pragas de grãos
mediante o uso de gás. É realizado sempre que houver a infestação, seja em
produto recém-colhido infestado na lavoura ou mesmo após um período de
armazenamento. Comumente utiliza-se o inseticida fosfina para o expurgo, pela
sua eficácia e facilidade de uso. A eficiência do expurgo se dá pelos seguintes
fatores:
As pragas devem ficar expostas à fosfina por no mínimo 120 horas;
A temperatura no momento da exposição deve ser superior a 10 ºC;
Abaixo de 10 ºC não se aconselha o uso de fosfina, pois o expurgo será
ineficaz;
A umidade é outro fator importante, se a umidade estiver acima de 25%
por um intervalo superior a 120 horas não se recomenda o expurgo.26
C – Métodos Biológicos: Este método tem sua eficiência no controle de pragas
em escala de campo, sendo pouco adequado ao ambiente de armazenagem.
2.5.4 Monitoramento de Pragas
Sistema utilizado para monitorar a massa de grãos armazenados de
fundamental importância, pois possibilitará detectar o início de qualquer
infestação que poderá alterar a qualidade final do grão armazenado.
O monitoramento está baseado em um eficiente sistema de amostragem, por
qualquer método empregado e na medição de variáveis que influenciam na
conservação do grão armazenado. Desta forma, com o método eficaz e com o
acompanhamento contínuo, chega-se a determinação de todos os fatores que
podem interferir na conservação do grão.
2.5.4.1 Métodos.
A – Método tradicional: consiste na coleta de amostras de grãos de vários
pontos do armazém, os quais são passados por uma peneira de 20 x 20 cm,
com malha de 2 mm, dotada de um coletor, no qual ficam retidas as pragas
para posterior identificação e quantificação.
27
B – Armadilhas de Plástico: O emprego destas armadilhas tipo Burkholder
Grain Probe, que consiste em tubos de plástico de 2,5 cm de diâmetro e 36 cm
de comprimento, este fica de 7 a 15 dias introduzido na massa de grãos. Os
insetos pelo seu deslocamento, tendem a buscar oxigênio na massa de grãos.
Estes tubos realizam a retenção destes insetos por via de um sistema de
coletores, ou seja, o inseto cai dentro do tubo e fica preso. Juntamente a estas
armadilhas, podem ser utilizados feromônios, iscas estas com a finalidade de
atrair insetos por meio de hormônios sexuais. Estas armadilhas tem a
vantagem de serem coletoras de insetos vivos na massa de grãos.
C – Armadilhas Pegajosas; São utilizadas para a captura de traças, ou seja,
para pragas de superfície, as quais visam determinar a densidade de insetos
que estão presentes na unidade armazenadora.
D – Manejo Integrado de Pragas (MIP): É uma integração de diferentes
métodos de controle é a prática essencial para se obter o sucesso na
supressão de pragas . O MIP consiste na adoção de uma série de medidas,
pelos armazenadores para evitar danos causados por pragas, sendo
compreendida de várias etapas, sendo elas:
Mudança do comportamento dos armazenadores;
Conhecimento da unidade armazenadora de grãos;
Medidas de limpeza e higienização da unidade armazenadora
Correta identificação de pragas;
Conhecimento sobre a resistência de pragas aos inseticidas químicos;
28
Potencial de destruição de cada espécie-praga;
Proteção dos grãos com inseticida;
Tratamento curativo;
Monitoramento da massa de grãos e
Gerenciamento da unidade armazenadora.
2.6 Controle de Roedores
A avaliação do nível e tipo de infestação baseia-se nos seguintes fatores:
A identificação das espécies de roedores presente,
O mapeamento dos pontos críticos nas instalações e
A estimativa do nível de infestação.
A identificação das espécies de roedores deve ser feita com base nas
características descritas no item 2.4. Caso não seja possível visualizar os
roedores, os tamanhos das cápsulas das fezes são um bom indicativo. Pois,
normalmente, para as ratazanas, ratos de telhado e camundongos, as cápsulas
das fezes possuem o comprimento de 2,0; 1,3 e 0,6 cm, respectivamente.
O mapeamento dos pontos críticos nas instalações faz-se necessário para a
melhor estruturação do programa de controle, bem como, não despender
recursos desnecessariamente. Quanto a estimativa nível de infestação pode
ser utilizado de três procedimentos práticos como:
29
Constatação de indicadores da presença de roedores,
A capturação de roedores e
A medição do consumo de alimentos.
A - Constatação indicadores da presença de roedores.
Neste método por meio de observações de indicadores determina-se o nível
de infestação.
Quadro 2 - Indicadores subjetivos do nível de infestação de roedores.
Indicadores Baixa Média Alta
Trilhas Ausentes Algumas Várias
Mancha de gordura
por atrito corporal
Ausentes Pouco
perceptível
Evidências em vários
locais
roeduras Ausentes algumas Visíveis em diversos locais
Fezes Algumas Vários locais Numerosas e frescas
Tocas e ninhos 1 a 3 /300m²
área externa
4 a 10 / 300m²
área externa
+ de 10 / 300 m³ área
externa.
Ratos vistos Não
constato
Alguns em
ambiente escuro
Vários em ambiente
escuro e alguns a luz do
dia.
30
Fonte: Fulmirat, http:// www.bernardoquimica.com.br.
B - Capturação de roedores.
Este procedimento é recomendado para avaliações do nível de infestação em
áreas abertas como: portos, pátios, áreas comerciais e quadras residências. O
método consiste em distribuir 100 armadilhas com iscas. Sendo as armadilhas
colocadas às 22 horas e recolhidas às 5 horas. O que deverá ser repetido por
três dias. Ao final deste período apura-se o número de roedores capturados e
determina-se o grau de infestação, conforme definido a seguir:
Baixa infestação - 01 a 05 roedores capturados,
Média infestação - 06 a 15 roedores capturados,
Alta infestação - 16 a 29 roedores capturados, e
Altíssima infestação - acima de 30.
C - Medição do consumo de alimentos
A estimativa do número de roedores em ambientes fechados como depósitos
almoxarifados e armazéns, pode ser determinada segundo a quantidade de
alimentos consumida por uma população de roedores. Deste modo, o método
consiste em distribuir recipientes com capacidade de 30 gramas, contento,
preferencialmente, cereais moídos pela área onde pretende-se fazer o
levantamento. No dia seguinte por diferença de peso determina-se o quanto de
produto foi consumido, sendo então, os recipientes novamente reabastecidos.
Esta operação deverá ser repetida, até que o consumo diário seja estabilizado.
31
Ocorrido este fato, seleciona-se os dias correspondentes a estabilização do
consumo e determina-se o consumo médio de alimentos por dia.
Determinado consumo médio de alimentos por dia, ao dividir este valor por 15
é estimado o número de roedores que constituem a população. O número 15
foi adotado como o consumo médio para os roedores da espécie ratos de
telhado.
Com o conhecimento destes índices podemos iniciar o método para o controle
de roedores, este fundamentado na adoção das seguintes medidas:
Implantação de barreiras físicas,
Adoção de métodos para saneamento de ambientes e
Redução do número de indivíduos da população.
Sendo as duas primeiras medidas de caráter preventivo visam minimizar as
disponibilidades dos três fatores essências a sobrevivência dos roedores, que
são: (a) água, (b) fonte de alimento e (c) refúgio. Enquanto a última visa o
emprego de agentes químicos para eliminar ou reduzir populações de
roedores.
A - Adoção de barreiras físicas.
A adoção de barreiras físicas, visão prover as edificações de artifícios que
minimizem a ação de roedores. Desta forma, edificações devem ser
32
construídas com: (a) pisos em concreto com espessura maior que 7,5 cm sob
bases adequadamente compactadas e (b) alicerces em concreto, os quais
devem projetar no mínimo 30 cm acima da linha de terra. Além desses
detalhes, no caso de unidades armazenadoras de grãos, as aberturas externas
dos dutos de aeração e entradas dos ventiladores devem ser fechadas quando
não estão sendo usadas.
Ressalta-se que existem alternativas aplicáveis a cada tipo de edificação.
B - Saneamento de ambientes.
Saneamento de ambientes constitui-se em procedimentos que visam
eliminar possíveis locais de abrigo e fontes de alimentos e água. Para tanto são
recomendados:
Eliminar vegetação em torno das instalações a pelo menos a uma
distância de 1 m;
Manter as instalações em bom estado de conservação procurando
eliminar possíveis locais de abrigo, como buracos em paredes;
Remover pilhas de lixo, restos de materiais de construção e sucatas.
Pois, estes entulhos podem servir de abrigo. Caso, seja necessário
empilhar algum material, a pilha deve ser montada a uma distância
superior a 30 cm das paredes e a uma altura de 30 cm do solo;
Tampar reservatórios de água;
33
Sanar vazamentos em tubulações de abastecimento de água; e
Limpar periodicamente galerias de escoamento de águas pluviais,
evitando o acumulo de água.
C - Redução da população de roedores.
A redução do tamanho de uma população de roedores pode ser feito pelo uso
de ratoeiras ou pelo uso de agentes químicos denominados raticidas. As
ratoeiras basicamente são comercializadas em dois tamanhos, destinadas ao
contgrole dos camundongos e dos ratos de telhado. A eficiência do emprego
das ratoeiras está relacionada à : (a) no emprego de iscas apropriadas como:
queijo, carne fresca e toucinho, e (b) na colocação destas em locais onde
hajam infestação. Quanto aos raticidas, estes apresentam-se basicamente em
duas modalidades de formulações: as de ação rápida e as de ação lenta. As de
ação rápida, geralmente, são empregadas em dose única. Nesta categoria tem-
se substâncias como: arsênio, fluoracetato de sódio e alfa-naftil-tioureia.
Enquanto dentre os de ação lenta tem-se os anticoagulantes. Estes raticidas
possuem como princípio ativos substâncias que inibem a formação da
protombina em animas de sangue quente. Fato que promove o aparecimento
de hemorragias capilares e em órgãos internos. O uso deste tipo de raticida é
preterido pelo fato de evitar que os roedores venham a repelir a isca.
Considerando os potências de intoxicação dos raticidas aos seres humanos e
a outros animais de sangue quente é recomendado que estas substâncias
sejam manipuladas em conformidade com as recomendações estipuladas nas
embalagens. E ao final dos tratamentos os restos dos raticidas devem ser
34
descartados conforme determinação dos fabricantes. Outro fator importante é
que os recipientes utilizados para colocarem as iscas não permitam: (a) que as
iscas sejam atingidas por água de chuva, (b) que crianças tenham facilidade de
abrir o recipiente, e (c) que outros animais consigam ingerir as iscas. Ressalta-
se que tanto no emprego das ratoeiras como dos raticidas é importante
aguardar de dois a três dias para que estes agentes venham a surtir efeito.
Pois, geralmente, os roedores possuem neofobia (desconfiança a objetos e
alimentos novos). Além dos métodos discutidos, outros como emprego de
substâncias repelentes, esterilizantes e fumigantes, podem ser utilizados no
controle de populações de roedores.
3.0 Fungos.
Fungos, também denominados mofos ou bolores, são microrganismos
multicelulares e filamentosos, que ao infestarem os grãos e alimentos podem
produzir substâncias tóxicas tais como micotoxinas. E estas ao serem
ingeridas, inaladas ou absorvidas pela pele podem causar: estado de letargia,
perda de peso, intoxicações, câncer e óbito em homens e animais.
No caso de grãos, estes podem ser infestados durante o cultivo ou no período
pós-collheita. Desta forma, os fungos são classificados em Fungos do Campo e
Fungos do Armazenamento. Os Fungos do Campo contaminam os grãos
durante o cultivo por estes requererem ambientes com umidade relativa
superior a 80%. Enquanto Fungos do Armazenamento demandam menor
35
quantidade de água, desta forma, estes proliferam em maior intensidade na
massa de grãos no período pós-colheita.
Materiais biológicos, como grãos, sementes e alimentos, possuem a
característica de serem higroscópios, pois, entre estes e o ar são estabelecidos
trocas de água, principalmente na forma de vapor. Deste modo, sobre as
superfícies dos produtos são estabelecidos microclimas, que têm suas
situações de estado influenciadas principalmente pelo teor de umidade dos
produtos.
Neste micro clima a quantidade de água disponível é expressa pelo fator
atividade aquosa (aa), que varia de 0 a 1. Define-se este fator como sendo a
razão entre os valores da pressão de vapor de água atual no micro clima e a
pressão de vapor na superfície de uma porção de água pura, que representa a
pressão de vapor para condição do ar saturado. Deste modo, o teor de
umidade define os valores da pressão de vapor e do fator aa sobre a superfície
do produto. Sendo assim, no espaço formado entre os grãos, denominado
como espaço intergranular, durante o período de armazenagem é estabelecido
um ambiente, que tem suas condições de estado afetadas principalmente pelo
teor de umidade da massa grãos. O que pode favorecer ou não o
desenvolvimento de microrganismo.
As bactérias desenvolvem em produtos cuja atividade aquosa é superior a
0,90, enquanto para fungos os valores variam de 0,65 a 0,90, faixa que os
grãos podem possuir teor de umidade de 14 a 22%. Por isto, na conservação
de grãos é empregado o processo de secagem. Este visa reduzir o teor de
36
umidade dos produtos a níveis que a atividade aquosa não propicie a
proliferação de fungos.
Em situações de equilíbrio higroscópio a umidade relativa do ar inter-granular
corresponde a 100 vezes ao valor da atividade aquosa. Para esta situação a
umidade relativa do ar é denominada como umidade relativa de equilíbrio e a
umidade do grãos umidade de equilíbrio.
3.1 Espécies de Fungos
Muitas espécies de fungos podem desenvolver utilizando os grãos como
substrato, no entanto as espécies Aspergillus spp., Penicillium spp. e Fusarium-
spp são as mais encontradas, em maior destaque as duas primeiras. Sob
condições de armazenagem as espécies Aspergillus spp., Penicillium spp.
proliferam caso ocorram as condições apresentadas no Quadro 3.
Quadro 3 - Condições para o crescimento de fungos em grãos para
temperaturas de 25 a 27oC.
Espécie URA inter-granular
(%)
Teor de Umidade dos grãos
(%)
Aspergillus halophilieus68 12-14
Aspergillus restrictus70 13-15
Aspergillus glaucus73 13-15
37
A. candidus, A. ochraeus80 14-16
A. flavus, parasiticus82 15-18
Penicillium spp.80-90 15-18
Fonte: BAKKER-ARKEMA (1999).
Figura 19. Aspergillus restrictus
38
Figura 20. Aspergillus glaucus
Figura 21. Aspergillus candidus
Figura 22. Penicillium spp.
39
3.1.1. Micotoxinas
Micotoxinas são substâncias químicas resultantes da atividade metabólica de
fungos, que podem intoxicar seres humanos e animais. A intoxicação pode
proceder de forma direta ou indireta. A forma direta ocorre quando o produto é
diretamente utilizado na alimentação humana ou de animais. Enquanto a forma
indireta resulta quanto subprodutos e derivados contaminados são
empregados. Dentre as principais micotoxinas encontradas em produtos
alimentícios e grãos têm-se a: aflatoxina, tricotecenos, zearalenona e
ocratoxinas.
A aflatoxina constitui um grupo de toxinas produzidas pelo fungos Aspergillus
flavus e são identificadas como B1, B2, G1 e G2. Sendo que as iniciadas B e G
devem ao fato destas apresentarem fluorescência azulada e esverdeada,
respectivamente, quando observadas sob luz ultravioleta. Duas outras
micotoxinas M1 e M2 foram detectadas no leite, urina e fezes de mamíferos,
resultantes do metabolismo das toxinas B1 e B2.
Quanto ao efeito, a aflatoxina é extremamente tóxica e cancerígena. A
intoxicação é chamada de aflatoxicose.
Esta trata-se da falha do fígado devido a destruição das células
parenquimatosas, o que pode ser acompanhado de hemorragias e alterações
das funções nervosas em combinação com espasmos. Animais jovens
apresentam redução de consumo de ração, redução de crescimento bem como
perda de peso. Em humanos o processo de intoxicação pode dar-se de forma
40
gradual, desta forma, os efeitos podem levar anos para manifestar. Animais
como cavalo, macaco, peru e pato são extremamente sensíveis. No caso de
patos são apresentados no Quadro 2 DL50 quando da ingestão de aflatoxinas.
Figura 23. Aspergillus flavus
Quadro 4 - Doses DL50 de aflatoxinas para patos de um dia de idade.
Tipo de Aflatoxina DL 50 mg/kg.
B1 3,6
B2 17,0
G1 8,0
G2 25,0
M1 8,0
M2 31,0
Fonte: Faculdade de Farmácia – UFRS.
41
Figura 24. Aspergillus parasictus
Nota - DL50 corresponde a dose letal em mg/kg de peso necessária para causar a morte em 50%
de um dado plantel de animais.
Quanto às ocratoxinas, são produzidas pelas espécies Aspergillus alutaceus,
A. alliaceus e outras, em cereais e leguminosas, estas promovem acumulação
de gordura no fígado e sérios danos renais, principalmente em suínos e cães.
Normalmente, retardam a maturação sexual em galinhas e diminui a produção
de ovos.
Os tricotecenos são toxinas produzidas por fungos do gênero Fusarium, que
podem causar aos homens e animais problemas como: (a) vômitos, (b)
hemorragias, (c) recusa do alimento, (d) necrose da epiderme, (e) aleucia
tóxica alimentar (ATA), (f) redução do ganho de peso, da produção de ovos e
leite, (g) interferência com o sistema imunológico e (h) morte. Ocorrem em
grãos como o milho, trigo, cevada e outros.
Zearalenonas é uma toxina produzida pela espécie Fusarium graminearum,
principalmente em grãos de milho. Em casos de intoxicações podem causar:
hiperestrogenismo, aborto, natimortos, falso cio, prolapso retal e da vagina,
infertilidade, efeminização dos machos com desenvolvimento de mamas. Esta
toxina age como hormônio feminino.
São apresentados no Quadro 3 os níveis de toxinas permitidos em alimentos e
grãos, em diferentes países conforme legislações específicas.
Quadro 5 - Níveis de toxinas em alimentos e grãos permitidos em diferentes países
42
País/Produto Micotoxina Limite - ppb
Argentina
Alimentos infantis B1 0
Amendoim, milho e derivados B1B2G1G2 5- 20
Farelo de soja B1 30
Leite in natura e em pó M1 0,05
Produtos lácteos M1 0,5
Uruguai
Alimentos infantis B1B2G1G2 3
Leite e derivados M1 0,5
Amendoim, soja e frutas secas B1B2G1G2 30
Milho e cevada zearalenona 200
Arroz, cevada, café e milho ocratoxina 50
Brasil
Alimentos para consumo humano B1B2G1G2 20
Matérias primas e rações B1B2G1G2 50
Estados Unidos
Rações de crescimento - aves e suínos B1B2G1G2
zearalenona
20
2
Ração final - suínos B1B2G1G2 200
Produtos lácteos M1 0,5
MERCOSUL
Milho B1B2G1G2 20
Farelo de milho B1B2G1G2 20
43
Amendoim e subprodutos B1B2G1G2 20
Fonte: FONSECA BAKKER-ARKEMA(1999)
Nota - ppb corresponde a partes por bilhão.
Figura 25. Fusarium spp.
4.0 Controle dos Fungos na Armazenagem
Durante o armazenamento, o período e as condições do ambiente são fatores
determinantes de qualidade, pois podem predispor o ataque dos grãos
armazenados por fungos de armazenamento que por sua vez depreciam o
produto comercialmente. O tratamento preventivo dos produtos armazenados é
executado através da aeração, o que permite a redução e a manutenção da
temperatura dos grãos em níveis baixos. Pinto (2001) observou que a aeração
contínua preserva a qualidade dos grãos de sorgo através do controle da
atividade de Aspergillus spp. e Penicillium spp..
44
Weber (2001) afirma que os grãos devem ficar entre 16ºC e 18ºC e uma
umidade entre 12% e 13%, permitindo boa conservação por períodos
prolongados. Uma alternativa para os problemas de armazenamento é a
realização do tratamento de sementes utilizando produtos químicos
recomendados, objetivando assegurar a qualidade deste insumo.
A aplicação de fungicidas para a proteção de sementes torna-se a cada dia
mais importante para os produtores de sementes e lavradores em geral, pois
possibilita a obtenção de melhor padrão na lavoura e melhores produções,
tanto em quantidade como em qualidade, sem onerar significativamente o
custo de produção (TOLEDO & MARCOS FILHO, 1977).
Com relação ao tratamento fungicida, Oliveira et al. (1999) observaram que
sementes de milho tratadas com o fungicida Captan mantiveram-se protegidas
contra fungos de armazenamento e preservaram sua qualidade por um período
de 18 meses de armazenamento convencional.
5.0 Cuidados na Armazenagem dos Grãos
Como no controle de insetos e roedores, o controle da proliferação de fungos
na massa de grãos fundamenta-se em cuidados a serem procedidos durante
as operações de colheita, limpeza e secagem dos grãos; e na sanificação dos
graneleiros, silos e equipamentos mecânicos. Desta forma, são descritos a
seguir alguns recomendações:
Realizar a colheita tão logo seja atingido o teor de umidade que permita
proceder a operação;
45
Ajustar os equipamentos de colheita para proceder a máxima limpeza da
massa de grãos e evitar danos mecânicos;
Desinfetar as instalações e os equipamentos de colheita. Limpar os silos
e graneleiros removendo pó, lixo e outros materiais;
Proceder de forma correta as operações de pré-limpeza e limpeza;
removendo: impurezas, grãos danificados, finos e materiais estranhos.
Pois estes podem ser utilizados como substrato no desenvolvimento de
fungos;
Proceder a operação de secagem de forma correta garantindo a redução
do teor de umidade a níveis que não permitam o desenvolvimento de
fungos;
Monitorar a temperatura da massa de grãos e aerar sempre que
necessário, para uniformizar a temperatura; e
Adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a
proliferação dos fungos esta associada ao ataque destas pragas.
6.0 Referências Bibliográficas
LORINI, I. Manual técnico para o manejo integrado de pragas de grãos de
cereais armazenados.Passo Fundo – Embrapa Trigo,80p.2001;
POLETINE, J.P, MACIEL, C.D.G., SAVIAN, G., MONDINI, M.L., Viabilidade de
sementes de milho (Zea mays L.) submetidas a diferentes tratamentos
químicos e armazenadas sob condições não controladas de ambiente. Revista
46
Científica Eletrônica de Agronomia - ISSN 1677- 0293. Publicação Científica da
Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal de Garça/Faef, Ano IV, nº 07,
junho-2005.,Periodicidade Semestral, disponível em:
http://www.revista.inf.br/agro07/artigos/artigo06.pdf, consultado em 13/05/2008.
Aflatoxina em leite. Artigo Científico publicado na internet, disponível em:
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/6792/3/AFLATOXINA
%20M1%20EM%20LEITE%20-%202.pdf, consultado em 16/05/2008.
GIORDANO, J.C. Controle integrado de pragas (C.I.P), Publicação resumida
do Manual C.I.P, - ISBN: 85-89983-01-3, agosto-2004, disponível em:
www.flavorfood.com.br/cip.pdf, consultado em 26/03/2008.
SILVA, L.C. Controle de roedores em unidades armazenadoras. Artigo
publicado na Universidade Federal do Espírito Santo, em 16/03/2005,
disponível em: www.agais.com/ roedores .htm , consultado em 22/05/2008.
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