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Automação, Modelagem, Controle e Simulação da Estação de Tratamento de Água Hengstey Monografia submetida à Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a aprovação da disciplina: DAS 5511: Projeto de Fim de Curso Marcelo De Lellis Costa de Oliveira Florianópolis, outubro de 2006

Tratamento de Agua

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agua

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Page 1: Tratamento de Agua

Automação, Modelagem, Controle eSimulação da Estação de Tratamento

de Água Hengstey

Monografia submetida à Universidade Federal de Santa Catarina

como requisito para a aprovação da disciplina:

DAS 5511: Projeto de Fim de Curso

Marcelo De Lellis Costa de Oliveira

Florianópolis, outubro de 2006

Page 2: Tratamento de Agua

Automação, Modelagem, Controle e Simulação daEstação de Tratamento de Água Hengstey

Marcelo De Lellis Costa de Oliveira

Esta monografia foi julgada no contexto da disciplinaDAS 5511: Projeto de Fim de Curso

e aprovada na sua forma final peloCurso de Engenharia de Controle e Automação Industrial

Banca Examinadora:

Dipl.-Ing. Marc KuchenbeckerOrientador Empresa

Prof. Marcelo Ricardo StemmerOrientador do Curso

Prof. Augusto Humberto BruciapagliaResponsável pela disciplina

Prof. Max Hering de Queiroz, Avaliador

Eduardo Valim, Debatedor

Rafael Gonçalves d’Ávila da Silva, Debatedor

Page 3: Tratamento de Agua

Agradecimentos

Nada no mundo se alcança sozinho, de forma isolada. Assim, o trabalho aqui

apresentado não poderia ter sido realizado sem a participação direta e indireta de

muitas pessoas, amigos, familiares, professores, os quais através dos anos de convi-

vência e ensinamento, ou mesmo nas mais pequenas contribuições, colaboraram para

a consolidação e sucesso deste projeto de fim de curso.

Primeiro eu gostaria de agradecer ao meu pai Alvaro e à minha mãe Rejane,

com cujo amor e apoio incondicional pude contar desde a mais tenra idade. Nunca

mediram esforços para ofertarem-me as melhores oportunidades de estudo e aprendi-

zado, não só acadêmicas, mas de vida. Antes de tudo foram meus melhores amigos,

sempre foram meus maiores incentivadores, desde os brinquedos de criança até esta

experiência de engenharia no exterior. Tudo lhes devo. Muito obrigado pai e mãe, isto

é para vocês.

Imprescindível foi a participação de meus companheiros de jornada acadêmica,

que com o tempo se tornaram muito mais que companheiros, mas sinceros ami-

gos. Com eles aprendi muito. Em especial agradeço ao meu colega Adriano Bess

por apresentar-me a oportunidade de estágio no Laboratório de Automação Industrial

(LAI) do Departamento de Automação e Sistemas (DAS), além dos ensinamentos em

programação e software. Ao meu colega Renato Leal, lhe agradeço profundamente

pela oportunidade deste projeto de fim de curso na empresa GreyLogix, na Alemanha,

além dos frutos que se seguem. Ao meu professor José Cury, agradeço pelos ensina-

mentos e incentivo no estudo de Sistemas a Eventos Discretos, além de seu especial

companheirismo.

Agradeço muito a todo o apoio e dedicação de meus colegas na GreyLogix. Em

especial sou muito grato a Lars Malter, Gerd Witzel e Matthias Buch, pela estrutura

que me ofereceram de sua empresa, pela oportunidade de visita à feira de Hanno-

ver e acomompanhamento in loco do projeto, além da confiança em mim depositada

para os planos futuros. À Stephanie Blank, muito obrigado pelo planejamento e apoio

burocrático do meu projeto na empresa e estadia na Alemanha. Aos meus colegas

de projeto, em especial ao meu orientador Marc Kuchenbecker, sou grato por toda

a disposição e paciência no ensinamento sobre as ferramentas de desenvolvimento

Simatic-Siemens, além do auxílio no aprendizado da língua alemã.

i

Page 4: Tratamento de Agua

Sou especialmente grato à toda minha família pelo apoio nesta jornada, pelo

amor, companheirismo e amizade profundos que sempre nutrimos. Ainda que a facul-

dade tenha nos distanciado geograficamente, nos aproximamos ainda mais. Muitas

vezes deixamos de nos reunir em prol dos compromissos acadêmicos. Em especial

agradeço aos meus avós paternos Mirocem e Maria, pelo exemplo de trabalho, seri-

edade e dedicação que sempre me apresentaram. Aos meus avós maternos Miguel

(In Memoriam) e Evanir, por todo o apoio e carinho sinceros com os quais pude contar

por todos estes anos, assim como à minha dinda Rosane e à minha irmã Aline.

Por último, agradeço aos meus amigos que me acompanharam por toda esta

importante etapa, tornando o cotidiano mais fácil e descontraído.

A todos, sou muito grato. Graças a Deus.

ii

Page 5: Tratamento de Agua

Resumo

O trabalho aqui apresentado foi realizado no âmbito do projeto de automação e

controle da estação de tratamento de água (ETA) Hengstey, no município de Hagen,

Alemanha. No momento da apresentação deste relatório o projeto ainda encontra-

se em desenvolvimento, com duração estimada em pelo menos um ano e meio, de

maneira que neste documento constam os resultados parciais obtidos nos seis meses

de duração das atividades deste aluno, entre fevereiro (início do projeto) e agosto de

2006.

Essencialmente trata-se de um projeto de retrofitting, através do qual toda a

infra-estrutura de hardware é renovada e as diversas partes da planta são integradas

através da implantação de um sistema supervisório. Além disso, um modelo de infil-

tração e distribuição da água no subsolo foi elaborado, o qual não existia de maneira

formal até o momento, permitindo uma melhor sistematização e controle da etapa de

purificação da água no lençol freático. Outra colaboração relevante do aluno foi na

elaboração de uma simulação geral da planta, com a qual pôde-se testar diversas si-

tuações de demanda de água e verificar o comportamento dos módulos, auxiliando no

processo de ajuste de seus controladores.

O projeto foi desenvolvido utilizando produtos Siemens da linha Simatic, tais

como controladores lógico-programáveis (CLPs) das classes S7-300 e S7-400, swit-

ches Ethernet com suporte à fibra-óptica, painéis de controle para operação in loco e

integração com os CLPS, computadores de arquitetura IBM-PC, entre outros. As prin-

cipais ferramentas de desenvolvimento (software) foram as aplicações da suíte PCS7

– para programação de CLPs e demais componentes do nível de “campo” – e o ambi-

ente de desenvolvimento do sistema supervisório (SCADA) WinCC. Três protocolos de

redes industriais foram empregados: Profibus, MPI e Ethernet (wireless, fibra-óptica e

par-trançado).

Em suma, as atividades desenvolvidas abrangeram diversas disciplinas do curso

de graduação em Engenharia de Controle e Automação Industrial da UFSC, em es-

pecial: Informática Industrial (CLPs, sistemas SCADA, programação C), Modelagem e

Controle de Sistemas Automatizados (sistemas a eventos discretos, autômatos, graf-

cets), Avaliação de Desempenho de Sistemas (indicadores de desempenho, modelos

de simulação) e Redes para Automação Industrial (Ethernet, Profibus).

iii

Page 6: Tratamento de Agua

Abstract

The work presented in this document was realized in the scope of the automa-

tion and control project for the Hengstey water treatment station (ETA) in the city of

Hagen, Germany. At the moment of presentation of this report the project is still in de-

velopment, with a total estimated duration of one and a half year, so that hereby will be

presented the partial results obtained by the student between the months of February

(project’s beginning) and August, 2006.

Essentially it consists of a retrofitting project, whereby all the hardware infras-

tructure is renewed and all the parts of the plant are integrated by means of a su-

pervisory system. Moreover, an infiltration and subsoil water distribution model was

elaborated, one that so far did not exit in a formal way, making it possible a better

systematization and control of the water purification stage through the underground.

Another relevant colaboration from the student took place on the creation of an over-

view simulation of the water station’s operation, wherewith one can test several water

demand circumstances and verify how each one of the modules respond to that, hel-

ping in the process of adjusting their controllers.

The project was developed using Siemens (Simatic line) products, such as pro-

grammable logical controllers (PLCs) from classes S7-300 and S7-400, Ethernet swit-

ches with optic fiber support, control panels for in loco operation and integration with

PLCs, IBM-PC computers, among others. The main development tools (software) utili-

zed were the applications from the PCS7 suite – for PLC and correlated field devices

programming – and the development environment for the WinCC supervisory system

(SCADA). Three industrial network protocols were used: Profibus, MPI and Ethernet

(wireless, optic fiber and twisted-pair).

In summary, the developed activities covered several subjects of the Enginee-

ring of Control and Automation’s UFSC graduation course, specially: Industrial Infor-

matics (PLCs, SCADA systems, C programming), Modelling and Control of Automa-

tized Systems (discrete-event systems, automata, grafcets), Evaluation of Systems’

Performance (performance indicators, simulation models) and Networks for Industrial

Automation (Ethernet, Profibus).

iv

Page 7: Tratamento de Agua

Sumário

1 Introdução 1

2 Descrição do Processo 4

2.1 Etapas do Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 Tratamento de Água Residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2.3 Filtragem pelo Subsolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.4 Poços Artesianos e de Captação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.5 Fornecimento de Água Tratada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.6 Especificações de Projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3 Tecnologia Empregada 11

3.1 Industrial Ethernet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3.2 Fieldbus Profibus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.3 Controladores Lógico-Programáveis S7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

3.3.1 Estações ET-200 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.4 PCS7: Sistema de Controle de Processos . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.4.1 Programação direta em Blocos – Bausteine . . . . . . . . . . . . 21

3.4.2 Programação em Diagramas – Pläne . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.4.3 Programação em SCL – Quellen . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.5 WinCC: Sistema SCADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.5.2 WinCC – Windows Control Center . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

4 Modelagem da Planta 30

4.1 Reservatórios de Água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

v

Page 8: Tratamento de Agua

4.2 Interação entre Reservatórios Subterrâneos . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.3 Drivers para Atuadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4.3.1 Motor On-Off . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

4.3.2 Válvula Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

4.3.3 Válvula de Posicionamento Intermediário . . . . . . . . . . . . . 42

5 Sistemas de Controle e Automação 43

5.1 Controlador Discreto de Nível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.1.1 Controle do Reservatório Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5.1.2 Controle do Reservatório de Água Tratada . . . . . . . . . . . . 49

5.2 Distribuição de Água nas Piscinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

5.3 Mecanismo de Previsão de Demanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

5.4 Tratamento de Água Residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

6 Simulação e Resultados 59

6.1 Metas e Indicadores de Desempenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

6.2 Parametrização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

6.3 Simulação de Demanda Normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

6.4 Teste de Capacidade de Resposta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

7 Conclusões e Perspectivas 70

Bibliografia 74

vi

Page 9: Tratamento de Agua

Capítulo 1: Introdução

A água no planeta Terra encontra-se em um constante ciclo de chuvas e eva-

poração e não é um recurso finito como o petróleo ou gás natural. A água não é

verdadeiramente “consumida”, ainda que a linguagem corriqueira assim sugira: ela é

simplesmente usada e então reingressa ao ciclo [1].

Dados obtidos do Ministério de Meio-Ambiente, Conservação da Natureza e

Segurança Nuclear (BMU [2]) da Alemanha apresentam o país como um dos que

possuem os mais abundantes reservatórios de água. Cerca de 3% da água disponível

é utilizada para o fornecimento de água potável. Mais de dois terços da água potável

provêm de lençóis subterrâneos.

“A água não é um produto comercial como qualquer outro, mas sim uma

herança que deve ser protegida, defendida e tratada como tal...”

A citação acima foi extraída do documento de Diretivas Européias para Mani-

pulação de Água [3]. O BMU vem implementando políticas segundo estas diretivas,

concentrando-se fundamentalmente na manutenção e restabelecimento do equilíbrio

ecológico de aquíferos, na garantia do suprimento de água potável e na providência de

instrumentos legais a longo prazo que garantam a utilização de água em prol do be-

nefício público. Não somente o fornecimento, mas o tratamento da água residual dos

processos industriais e consumo residencial é alvo de tais políticas, em especial na

prevenção da poluição de reservatórios subterrâneos e superficiais com substâncias

ofensivas, tóxicas e/ou orgânicas persistentes, assim como metais pesados, reduzindo

a inserção destes agentes poluidores nos mares do Norte e Báltico. De fato, este do-

cumento de diretivas somente veio a formalizar uma atitude responsável e concreta

que a Alemanha vem assumindo cada vez mais – a de agregar ao desenvolvimento

sócio-econômico a sustentabilidade ambiental.

As atividades e requisitos técnicos relacionados à captação, tratamento, arma-

zenamento e distribuição no âmbito de água potável são executados por aproximada-

mente 6 mil e 700 companhias em toda a Alemanha. Elas operam aproximadamente

18 mil plantas de captação, que por sua vez fornecem água a 98,9% da população.

Anualmente as residências da cidade de Hagen consomem aproximadamente

12 milhões de metros cúbicos por ano de água potável. Para preservar e garantir o alto

1

Page 10: Tratamento de Agua

padrão de qualidade da água fornecida, a empresa Mark-E, responsável pela opera-

ção e manutenção da ETA Hengstey, está investindo 19 milhões de euros em um vasto

programa de retrofitting (modernização) da planta Hengstey e Haspe, ambas abaste-

cedoras de Hagen. Este grande investimento é motivado, entre outras razões, pela

busca de uma considerável economia de energia atribuída principalmente ao aumento

da eficiência da planta através da renovação do hardware e da automação “inteli-

gente”. As atividades de acionamento, sensoriamento, controle e automação foram

delegadas à empresa GreyLogix. A figura 1.1 apresenta a localização geográfica da

planta e da empresa.

Figura 1.1: Localização geográfica da ETA Hengstey e da GreyLogix, na Alemanha.

A empresa GreyLogix GmbH originou-se do departamento especializado de au-

tomação, criado pela HGC Hamburg Gas Consult GmbH, em 1996. Em 1ode abril de

2000 o departamento tomou independência, com a fundação oficial da empresa sob

comando acionário da HGC. Aliadas à GreyLogix GmbH existem hoje as subsidiárias

GreyLogix Aqua e GreyLogix DrinkTek, as quais oferecem soluções industriais espe-

cializadas em tecnologia de automação. Atualmente o grupo GreyLogix, cuja matriz

encontra-se na cidade de Flensburg, dispõe de um grupo de 180 colaboradores alta-

mente motivados e qualificados, e conta com filiais em Hamburg, Berlin, Brunsbüttel

e Gelsenkirchen, todas na Alemanha, realizando projetos inclusive no exterior. Além

disso, a empresa atua hoje com a perspectiva de se instalar também no mercado

2

Page 11: Tratamento de Agua

brasileiro e latino-americano.

Os principais setores nos quais a GreyLogix realiza seus projetos de automação

são o de gás natural, tecnologia de calor (e.g. plantas de vapor), fornecimento de água

potável e tratamento de esgoto e água de rejeito industrial, usinas de energia elétrica

(principalmente termoelétricas), plantas de biogás, fábricas alimentícias, indústrias de

papel, e empresas de logística. A maioria dos projetos conta com a implantação de

sistemas supervisórios para a integração dos diversos setores da planta trabalhada.

A empresa concentra as atividades de elaboração do projeto de automação e

controle através da configuração, programação e instalação de equipamentos, na mai-

oria da Siemens, tais como CLPs, PCs, sensores e atuadores em geral. Um projeto

geralmente envolve equipes de hardware – responsável pela listagem de sinais da

planta, e montagem dos equipamentos e cabines de controle – e de software – com-

prometida com o desenvolvimento da lógica de controle e automação e a respectiva

programação dos elementos “inteligentes” do projeto, como os CLPs. Durante a fase

de testes e implantação dos sistemas projetados, representantes das duas equipes

são levados à planta para a sua realização. Em projetos relativamente maiores, como

o da ETA Hengstey, a tarefa de instalação do hardware foi terceirizada, possibilitando

à GreyLogix concentrar-se na principal tarefa, a de elaborar a programação da inte-

gração, controle e automação da ETA.

Pelo deferimento do certificado Simatic Solution Provider and WinCC Professi-

onal à GreyLogix, o grupo empresarial Siemens AG confirma a alta competência da

empresa na utilização de software e hardware da família Simatic, especializada em

automação industrial.

3

Page 12: Tratamento de Agua

Capítulo 2: Descrição do Processo

A ETA Hengstey é dividida simplificadamente em sete módulos: (1) captação

de água bruta, (2) filtragem rápida, (3) tratamento de água residual, (4) filtragem pelo

subsolo, (5) poços artesianos e de captação, (6) torre de reação e (7) fornecimento de

água tratada. Dentre estes, o aluno atuou diretamente na programação dos módulos

3, 4, 5 e 7. A figura 2.1 apresenta um esquema simplificado do processo de tratamento

de água [4] na ETA Hengstey através de seus módulos.

Figura 2.1: Esquema simplificado do processo de tratamento de água e módulos.

2.1: Etapas do Tratamento

A água bruta é captada do lago Hengstey pelo módulo 1, o qual faz o controle

do volume de água captada através de suas comportas. Normalmente não é neces-

sário o bombeamento e a condução da água se dá pela força gravitacional por uma

tubulação de 600m até o módulo 2. Antes da filtração rápida à água é adicionado

policloreto de alumínio (Aln(OH)mCl(3n−m)) como elemento floculante, de modo a

incrementar a eficiência da filtração. Após, lhe é insuflado oxigênio (O2) atmosférico

para repor as perdas deste elemento, como consequência do processo de filtração.

4

Page 13: Tratamento de Agua

A água então pré-purificada e enriquecida com oxigênio chega ao subsolo atra-

vés das piscinas de infiltração lenta (módulo 4). Através desta filtração lenta com

areia a água é biologicamente purificada: substâncias orgânicas são parcialmente

convertidas através da ação de bactérias (oxidação) em dióxio de carbono (CO2) e

água (H2O), sendo que através de outras bactérias amônia (NH3) e nitritos (NO2) são

oxidados a nitratos (NO3) – nitrificação.

A recuperação da água do subsolo artificialmente enriquecida ocorre por meio

de 81 poços artesianos, que são conectados através de 6 galerias a 3 poços de cap-

tação (módulo 5). Cada poço artesiano conecta-se somente a um poço de captação

por meio de uma galeira. A água que sai destes poços é desinfetada com óxido de

cloro (Cl2O). Como um passo posterior de tratamento, lhe é adicionada uma mistura

de mono e polifosfato (PO3−4 ), de maneira a garantir um grau suficiente de proteção à

corrosão na tubulação à jusante.

Na torre de reação (módulo 6) a água é neutralizada (deacidificação) com adi-

ção de soda cáustica (NaOH); além disso, ali ar lhe é novamente insuflado, para

enriquecer a água com oxigênio. A torre é ligada a um reservatório, do qual através de

bombas hidráulicas a rede de distribuição de água potável é alimentada. Entretanto,

antes do bombeamento ocorre uma desinfecção com adição de cloro (Cl2).

A água resultante do processo de limpeza dos filtros rápidos, antes de ser de-

volvida ao rio, é tratada e limpa no módulo de tratamento de água residual (2), através

de processos de decantação de partículas em suspensão e pela filtragem da água

em filtros de areia dinâmicos (Dynafilter ), de modo a garantir os valores mínimos de

pureza da água a ser devolvida ao meio-ambiente. Após a finalização do projeto de

retrofitting a ETA será capaz de operar em condições normais praticamente de forma

automática total, com protocolamento dos dados de processo através do sistema su-

pervisório. Entretanto, em qualquer etapa do processo de tratamento podem ocorrer

intervenções manuais de controle, quando desejáveis e/ou necessárias. A ETA Hengs-

tey possui uma capacidade atual de fornecimento de até 2500m3/h de água potável.

A seguir descrevem-se em maiores detalhes os módulos nos quais o aluno

atuou diretamente.

5

Page 14: Tratamento de Agua

2.2: Tratamento de Água Residual

Este módulo realiza o tratamento da água produto do processo de limpeza dos

filtros rápidos antes da sua reinserção ao meio-ambiente. Consiste essencialmente de

dois tanques de decantação, dois tanques de compressão, um reservatório de água

poluída (RP) e três filtros de areia Dyna, conforme apresentado esquematicamente na

figura 2.2.

Figura 2.2: Esquema do módulo de tratamento de água residual.

A água turva proveniente do módulo de filtragem rápida é inserida inicialmente

em um reservatório de entrada, de onde pode ser direcionada para um dos dois tan-

ques de decantação através de suas respectivas válvulas à montante TVm. Lá ocor-

rem a floculação e decantação das partículas de impurezas. A lama resultante é con-

centrada através dos limpadores TLl na parte mais profunda do reservatório, onde

encontram-se as bombas de água lamaçenta TBa, as quais a enviam para os tanques

de compressão, onde a lama é comprimida para ser desidratada e poder ser removida

como material sólido da planta. Antes e depois do processo de densificação da lama

ocorre uma medição do nível de turbidez1 da água, com fins de monitorar a eficiência

e qualidade deste processo.

A água que sai dos tanques de decantação através das válvulas à jusante TV

é conduzida para o RP, onde encontram-se três bombas Bp que realizam o bombea-

mento da água para os filtros de areia Dyna. Após o tratamento neste filtros a água1Medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar uma certa quantidade de água. A turbidez é

causada por matérias sólidas em suspensão, como argila, colóides e matéria orgânica.

6

Page 15: Tratamento de Agua

despoluída pode finalmente ser devolvida ao rio, e a água ainda não suficientemente

despoluída é reinserida no reservatório de entrada para novo tratamento.

Os tanques de decantação e compressão possuem sensores de ultra-som para

medição de nível. Ao RP chega uma tubulação, controlada pela válvula Vb, de água

proveniente do lago Hengstey. Durante o inverno, quando a temperatura é suficiente-

mente baixa para o congelamento da água em tratamento nestes tanques ao ar livre,

a introdução de água com temperatura mais amena do lago (ao menos 4oC) colabora

para evitar o congelamento.

2.3: Filtragem pelo Subsolo

Este módulo é composto de 10 piscinas de infiltração, cada qual com uma vál-

vula controladora da vazão de entrada. A água provém do módulo de filtragem rápida,

de modo que toda a água fornecida tem de ser distribuída pelas piscinas, de acordo

com o grau de abertura das válvulas. A área média das piscinas é de 4442m2 e o ní-

vel máximo admissível é de 1, 80m, entretanto na prática o nível máximo operado é de

1m. Tem-se também o lençol freático, com um nível de saturação de aproximadamente

5m, o qual é dividido em três reservatórios subterrâneos, de acordo com as galerias

de poços artesianos (e poços de captação) aos quais estão conectados. Cada poço

artesiano é acompanhado por um pequeno canal paralelo para medição do nível do

lençol no local.

A figura 2.3 apresenta um esquema deste módulo. Considera-se Bec o indi-

cador de piscina de infiltração, Gal o de galeria de poços artesianos e Br indica os

poços de captação. Segundo a experiência dos operários da planta, as setas indicam

qual a rede de galerias (portanto reservatório subterrâneo) na qual a água infiltrada

das piscinas será recuperada. A figura também apresenta a localização geográfica do

módulo de filtragem rápida (SFA) e de tratamento de água residual (SWB).

O reservatório subterrâneo 1 possui uma área total de cerca de 132000m2, o

reservatório 2 dispõe de 200000m2, e o 3 é o menor de todos, com uma área de

65000m2.

7

Page 16: Tratamento de Agua

Figura 2.3: Esquema (vista aérea a 930m) do módulo de filtragem pelo subsolo.

2.4: Poços Artesianos e de Captação

Os poços artesianos recuperam a água do solo e a conduz através de galeria

até um poço de captação. O poço de captação 1 recebe água da galeria C (17 poços

artesianos), E (8), F (12) e G (8 poços); o poço de captação 2 é conectado às galerias

A (15 artesianos) e B (8); já o poço 3 está conectado apenas à galeria D com 13

artesianos. A água é extraída dos poços artesianos através de vácuo criado nas

galerias por duas bombas de vácuo Bv instaladas no poço de captação. Quando

em operação, cada uma dessas bombas produz aproximadamente 900m3/h de vazão

de entrada no poço. Por outro lado, a água é fornecida do poço para o reservatório

de água tratada através de um conjunto de três bombas centrífugas Bc, cada qual

com uma vazão nominal de 700m3/h. A figura 2.4 contém um esquema do poço de

captação.

Uma vez atingido o nível de disparo no reservatório de vácuo (RV), a válvula

Va é fechada, as válvulas direcionais V d conectam as galerias ao RV e ao menos

uma bomba de vácuo Bv é ligada; após algum tempo o nível no RV terá atingido o

8

Page 17: Tratamento de Agua

Figura 2.4: Esquema de um poço de captação.

de desligamento, portanto as Bvs são desligadas, Va é aberta e as V ds passam a

conectar o RV ao poço, liberando a água para o poço de captação.

2.5: Fornecimento de Água Tratada

Este módulo consiste de um reservatório de água tratada (RT), 6 bombas cen-

trífugas P movidas a motor elétrico e uma movida a motor diesel (emergencial). Nem

todas as bombas possuem vazões iguais e estão na mesma casa de máquinas, po-

dendo então serem organizadas nos grupos das tabelas 2.1 e 2.2.

Subgrupo Bombas Vazão (m3/h)A P1 P4 1000B P2 P3 600C P5 P6 1600

Tabela 2.1: Bombas de água tratada agrupadas segundo vazão.

As bombas centrífugas retiram água do RT e a deposita no reservatório superior

(RS), ao qual está conectada a rede de distribuição de água potável da cidade.

9

Page 18: Tratamento de Agua

Subgrupo BombaI P1 P2II P3 P4III P5 P6

Tabela 2.2: Bombas de água tratada agrupadas segundo lugar.

2.6: Especificações de Projeto

Os seguintes comportamentos e implementações mais relevantes para cada um

dos módulos previamente descritos devem ser atingidos. Aqui não convém apresentar

detalhes sobre os modos de operação dos equipamentos, por serem demasiados.

1. Tratamento de água residual: sequenciamento de atividades para o funciona-

mento automático do processo de floculação e limpeza dos tanques de decanta-

ção nos modos normal, rápido e anti-congelamento. Operação automática dos

filtros de areia Dyna segundo o nível do RP, com atuação sobre as bombas de

água poluída Bps. Intertravamento deste módulo com o de filtragem rápida;

2. Filtragem pelo subsolo: algoritmo de distribuição de água para os grupos de

piscinas de infiltração segundo o nível dos reservatórios subterrâneos; modelo

de infiltração no subsolo. Controle do nível do lençol freático;

3. Poços artesianos e de captação: controle do nível dos poços de captação.

Acionamento das bombas Bc segundo política de revezamento (tempo de ope-

ração);

4. Fornecimento de água tratada: controle do nível do RT. Acionamento das bom-

bas P segundo política de revezamento, com possíveis restrições de operação

por lugar – duas bombas de uma mesma casa de máquinas não podem ope-

rar simultaneamente – e/ou por capacidade – duas bombas de mesma vazão

nominal não podem operar simultaneamente. Controle do nível do RS;

5. Mecanismo de previsão de demanda e de compensação do atraso de transporte

entre produção (liberação) de água por parte do módulo de filtragem rápida e

reação do nível do lençol freático;

6. Integração entre os diversos setores da ETA por meio de sistema supervisório

(SCADA), com o maior nível possível de interação entre usuário do SCADA e a

planta.

10

Page 19: Tratamento de Agua

Capítulo 3: Tecnologia Empregada

Tendo em vista a apresentação sintetizada da planta no capítulo 2, e antes

de abordarem-se as técnicas de controle e automação utilizadas no projeto, convém

primeiro uma apresentação das principais tecnologias de hardware utilizadas. A figura

3.1 apresenta um esquema dos CLPs, PCs, dispositivos de campo e rede e de suas

conexões projetados para a ETA Hengstey.

Figura 3.1: Esquema dos dispositivos de campo, rede, CLPs e PCs projetados para aETA Hengstey.

Comparando a estrutura da figura 3.1 com a de um sistema de manufatura

integrada por computador (CIM), podem ser identificados três níveis de integração,

cujas redes correspondentes serão abordadas nas seções a seguir.

Nível de Campo Corresponde ao patamar inferior, ou “ chão de fábrica” da ETA,

constituindo-se das redes Profibus entre os CLPs S7-400 e seus respectivos

S7-300;

Nível de Processo Trata-se da camada intermediária de integração, correspondendo

ao anel de processo;

11

Page 20: Tratamento de Agua

Nível de Gerência É o patamar mais alto da hierarquia – correspondendo ao anel ter-

minal – onde os sinais da planta são trabalhados e compilados em informações

de maior significado para o administador/operador da planta.

CIM pode ser resumida em uma filosofia de integração de hardware e software

procurando atingir maiores níveis de automação fabril/empresarial. A chave para o

sucesso de uma implementação baseada em CIM reside na compatibilidade de comu-

nicação entre os elementos computadorizados e comunicáveis da rede; eis o grande

desafio. Ainda que padrões de comunicação existam, nos diferentes níveis de in-

tegração padrões adequados – e por isso distintos – são utilizados, o que requere

elementos “tradutores” – chamados gateways – nas interfaces de integração.

Dois tipos de protocolos de redes industriais foram largamente utilizados no âm-

bito deste projeto: (Industrial) Ethernet e Profibus-DP. Um terceiro protocolo também

foi empregado significativamente, o MPI – Interface Multi-ponto, em inglês; trata-se

de um padrão proprietário da Siemens para a linha de equipamentos S7, destinado

à conexão entre PGs (dispositivos de programação, como PCs), OPs (dispositivos de

operação, e.g. painéis de operação), CLPs, entre outros. O protocolo MPI é baseado

na norma EIA-485 (o antigo padrão RS-485) e opera em uma taxa de transferência de

até 12Mbps. No projeto da ETA Hengstey, esta interface foi utilizada na conexão entre

os painéis de operação e seus respectivos CLPs.

Na sequência, descrevem-se os principais protocolos de redes, ferramentas e

hardware empregados.

3.1: Industrial Ethernet

O protocolo Ethernet [5] (IEEE 802.3), concomitantemente com sua variante

Industrial Ethernet, foi empregado para o estabelecimento da comunicação entre os

PCs da planta (servidores e clientes do SCADA) e os CLPs da classe S7-400. Se-

gundo [6], a diferença fundamental entre Industrial Ethernet e Ethernet consiste no

tipo de hardware utilizado. Em Industrial Ethernet os equipamentos são projetados

para operar sob condições adversas como altas temperaturas, choques e vibrações;

por isso contêm componentes mais robustos, refrigeração forçada com cooler, entre

outros.

Cada estação (ponto) da rede possui um switch Scalance X-204-2 para a for-

mação de anéis lógicos redundantes de comunicação sobre Ethernet. A vantagem

12

Page 21: Tratamento de Agua

de se usar switches já é bem sabida: redução no número de colisões de pacotes

quando os caminhos entre dois pares de emissor-receptor são distintos. Não obs-

tante, sabe-se que o protocolo IEEE 802.3 é de barramento, com broadcast e não

forma um anel contínuo (como o Token Ring IEEE 802.5), caso contrário os pacotes

poderiam permanecer circulando na rede por um tempo maior que o necessário, oca-

sionando desnecessárias colisões. De fato, o switch gerenciador de redundância –

posicionado entre as terminações “virtuais” do barramento – não fecha um anel, po-

rém monitora se o barramento está ativo em ambos os lados. Em caso de interrupção

em um dos lados, o Scalance chavea (em 0, 3s após a detecção de interrupção) as

duas terminações, recompondo a continuidade do barramento. Em caso de recupera-

ção do barramento original, o switch volta a desconectar as terminações. A figura 3.2

ilustra o funcionamento do anel lógico em protocolo Ethernet.

Figura 3.2: Anel lógico Ethernet com gerenciador de redundância.

Dois anéis lógicos são formados com Ethernet. O principal objetivo na separa-

ção em dois anéis está na distinção entre equipamentos de campo e de gerência, o

que define o fluxo de dados típico em cada um dos anéis:

1. Anel terminal: ao qual se conectam os terminais do SCADA, tais como os PCs-

cliente, PC-servidor (e redundante) e impressoras de relatórios do SCADA. O

13

Page 22: Tratamento de Agua

gateway desta rede é a interface de rede Ethernet do PC-servidor. Caracteriza-

se por pacotes maiores com intervalos entre envios também maiores (pequena

periodicidade);

2. Anel de processo: ao qual se conectam os CLPs da classe S7-400, que por

sua vez alimentam periodicamente o servidor do SCADA com as variáveis de

processo e recebem comandos dos PCs-cliente do anel terminal. Naturalmente,

o gateway desta rede é também o PC-servidor, com a interface de rede sendo

o cartão Siemens CP1613 (Industrial Ethernet). Devido a limitações estruturais

(distâncias e cabeamento) um PC-cliente foi conectado a este anel, tratando-

se de uma exceção à organização proposta. Aqui os pacotes são um pouco

menores, com uma periodicidade maior nas suas trocas.

3.2: Fieldbus Profibus

Criado pela Siemens, fieldbus Profibus [7] é definido como sendo um protocolo

de comunicação essencialmente para o nível de campo1 em ambiente industrial, de

acordo com o padrão EN 50170-1-2, com a técnica de acesso ao meio híbrida Token

Bus (IEEE 802.4) e Mestre-escravo. O meio físico pode ser elétrico (par-trançado,

coaxial), fibra-óptica ou wireless. A topologia pode ser de barramento (bus) ou árvore

estruturada com uso de repetidores. As velocidades de transmissão variam entre

9, 6Kbps, com alcançe de 1Km, a 12Mbps, com alcançe de 100m. A figura 3.3 ilustra

o princípio de funcionamento deste protocolo.

A grande vantagem do Fieldbus (neste caso Profibus) é a inocorrência de coli-

sões entre pacotes, os quais são pequenos – se comparados aos do padrão Ethernet

– o que possibilita pequenos períodos de varredura, permitindo o controle de sistemas

dinâmicos com pequenos períodos de amostragem.

Na ETA Hengstey foi utilizada a variante Profibus-DP com cabo coaxial e conec-

tores RS-485 e também fibra-óptica, com o uso do módulo de link óptico OLM. O uso

da fibra-óptica permite segmentos com até 12Km de comprimento, além das vanta-

gens de isolação elétrica entre nodo e meio de transmissão e ausência de interferência

eletromagnética, entre outras. A topologia empregada foi somente (bus). Cada CLP

S7-300 é escravo em um barramento Profibus, cujo mestre é um CLP S7-400. Em

muitos casos usam-se modems (M) ou os módulos OLM para alterar o meio de trans-1Principalmente para interligação dos dispositivos de controle (e.g. CLPs), sensores e atuadores.

14

Page 23: Tratamento de Agua

Figura 3.3: Princípio de funcionamento do protocolo Fieldbus Profibus.

missão, possibilitando aumentar a relação velocidade de transmissão/comprimento do

meio.

Geralmente os CLPs S7-300 ficam com o acionamento de motores e válvulas

e o tratamento de sinais propriamente dito, recebendo e enviando instruções de mais

alto nível para os mestres S7-400, os quais possuem as lógicas de sequenciamento de

atividades e tarefas de supervisão. Pode-se interpretar os CLPs S7-400 como sendo

os gateways entre as redes Profibus e o anel de processo Ethernet.

3.3: Controladores Lógico-Programáveis S7

Os CLPs [8] surgiram no final da década de 1960, sob a necessidade de se

dispor de um dispositivo que eliminasse os altos custos envolvidos na troca de com-

plexos sistemas de controle à base de relés. A empresa Bedford Associates propôs o

Controlador Digital Modular (Modular Digital Controller – MODICON), o qual se des-

tacou perante a outras arquiteturas propostas e consequentemente foi o primeiro CLP

a ser produzido comercialmente. Estes novos controladores tinham de ser facilmente

programáveis pelas equipes de manutenção e engenharia, o período de vida-útil de-

veria ser suficientemente maior que o dos sistemas com relés, além de que deveriam

resistir às condições de operação do ambiente industrial. Estes requisitos motivaram

a implementação da difundida lógica ladder – com a qual a grande maioria dos traba-

lhadores estavam familiarizados – e a substituição das partes mecânicas (relés) por

elementos eletrônicos de estado-sólido.

15

Page 24: Tratamento de Agua

Atualmente os CLPs incorporam funções que vão muito além da tradicional ló-

gica de contatos booleana, cuja função era praticamente a única dos CLPs primitivos.

Hoje estes dispositivos comunicam-se em vários tipos de redes e protocolos, possuem

diversas formas de programação, assim como uma gama de periféricos que podem

lhes ser acoplados [9]. Em suma, aproximam-se cada vez mais do conceito de PC in-

dustrial, no sentido em que apresentam equiparáveis robustez ao ambiente industrial

e capacidades de processamento e comunicação. Apesar da capacidade intrínseca

muito menor de armazenamento de dados, apresentam uma grande vantagem em re-

lação aos PCs industriais: pequenos ciclos de varredura com mecanismos fáceis e

eficientes de interrupções, com possibilidade de ciclos com tempos máximos rigoro-

samente definidos, ou seja, são os dispositivos mais apropriados para operações com

tempo-real no meio industrial.

Foram utilizados ao todo 18 CLPs S7-300 e 16 CLPs S7-400. A escolha entre

estas duas classes da linha Simatic Siemens baseou-se em estimativas do tamanho

do programa a ser desenvolvido, interfaces disponíveis, capacidades de programação

e memória e previsão de reservas para futuras manutenções/retrofittings. No entanto,

não coube ao aluno fazer as especificações de hardware, mas ao engenheiro-chefe

da equipe, com a experiência necessária para tal tarefa.

As principais características dos CLPs empregados neste projeto são apresen-

tadas a seguir:

• Memória de trabalho: corresponde à memória RAM dos PCs, ou seja, é utili-

zada para o processamento das instruções pelo processador. Não é expansível.

S7 315-2 DP: 64kB integral; S7 414-3 DP: 700kB p/ programa e 700kB p/ dados;

• Memória de carga: corresponde ao disco-rígido dos PCs, armazenando toda

a programação contida no CLP, por tempo indeterminado. S7 315-2 DP: 96kB

RAM não-expansível e FEPROM2 até 4MB; S7 414-3 DP: 256kB RAM expansí-

vel a 16MB e FEPROM até 64MB;

• Tempos de processamento (mínimos): S7 315-2 DP: p/ instruções com bit

0, 3µs, word 1µs, double-integer 2µs e floating-point 50µs; S7 414-3 DP: p/ ins-

truções com bit, word e double-integer 0, 06µs, floating-point 0, 18µs;

• Capacidade de blocos: números e tamanhos máximos dos blocos3. S7 315-22Flash Erasable Programmable Read Only Memory.3Componentes fundamentais do programa de um CLP Siemens, são abordados na seção 3.4.1.

16

Page 25: Tratamento de Agua

DP: 255 DBs de até 16kB cada, OBs de até 16kB, 192 FBs e FCs cada de até

16kB; S7 414-3 DP: 4095 DBs de até 64kB, OBs de até 64kB, 2048 FBs e FCs

cada de até 64kB;

Os CLPs da linha Simatic Siemens contêm uma lista com sequência de execu-

ção de blocos de instruções (funções: FBs e FCs); por sua vez, estas funções podem

estar localizadas dentro de grupos de execução, os quais encontram-se dentro de um

ou mais OBs (blocos de organização). OBs são como a função main em programação

C. A sequência de processamento do programa inicia-se nos OBs.

OBs são executados sob circunstâncias distintas; exemplo: execução cíclica –

“normal” – de varredura (OB1), em caso de interrupção no fornecimento de energia

(OB81), em caso de falha em cartão de entrada-saída (OB84), etc. A prioridade de

execução dos OBs cresce com o seu número, ou seja, um OB de número maior pode

“preemptar” (interromper) a execução de outro de número menor. Exemplo: OB1 está

em execução e ocorre uma interrupção de timer para a execução do OB35 (Wecka-

larm, que pode conter instruções do programa do usuário); então a próxima instrução

do OB1 a ser executada é armazenada na pilha do processador e as instruções do

OB35 são executadas. Ao final, as instruções pendentes do OB1 são executadas e,

ao término destas, o ciclo de execução do CLP é finalizado com a atualização dos

sinais de saída.

A figura 3.4 ilustra o esquema de funcionamento dos CLPs da Siemens empre-

gados neste projeto. Ti é o tempo inicial do ciclo e Tf o tempo final. A fatia Operating

system corresponde à execução do sistema operacional, como cópia da imagem das

interfaces de entrada/saída, instruções de comunicação, diagnóstico, etc. Na fatia

User program está a programação realizada pelo usuário. É interessante notar que,

nesta arquitetura, qualquer OB (salvo OB1) que seja invocado inclusive durante o in-

tervalo de leitura de entradas (PII – início do ciclo) e/ou escrita de saídas (PIO – final

do ciclo) irá preemptar o intervalo em questão.

Como consequência das características dos OBs, existem basicamente dois

conceitos de programação de um CLP Siemens, sob a perspectiva temporal:

1. Programação assíncrona (ou cíclica): ocorre como consequência da progra-

mação do usuário somente no OB1. O tempo do ciclo é sempre o menor pos-

sível, ou seja, assim que terminar a última instrução e a escrita nos sinais de

saída, um novo ciclo de execução inicia-se;

17

Page 26: Tratamento de Agua

Figura 3.4: Ciclo de funcionamento de um CLP S7 Siemens.

2. Programação síncrona: empregada para aplicações que exigem períodos bem-

definidos e imutáveis para início da execução de instruções, consegue-se com a

utilização dos Weckalarme (OBs 30 a 38), Uhrzeitalarme (OBs 10 a 17), etc.

Para tal, define-se um período de lançamento Pv tal que Pv > Te, onde Te

é o tempo necessário de execução do OB síncrono em questão. Na prática

define-se Pv ≥ 10Te, de maneira a evitar uma dominância excessiva do OB

no escalonador do sistema operacional do CLP. Devido justamente à possibili-

dade de ocorrências de interrupções durante um ciclo de varredura, tem-se que

Tt = Tf − Ti = Tc + Ts é o tempo total para execução das instruções em um

ciclo, sendo Tc o tempo de execução das instruções cíclicas e Ts o tempo de

execução das instruções síncronas. Não obstante, 0 ≤ Ts ≤ K, onde K > 0 é

o tempo máximo para execução de todas as instruções síncronas em um ciclo,

o que é na maioria das vezes altamente improvável. Com Ts = 0 obtém-se o

tempo mínimo de ciclo de varredura, e com Ts = K garante-se o tempo máximo

possível. Como consequência tem-se a garantia de operação em tempo-real dos

CLPs para tempos de amostragem muito pequenos.

Eis um exemplo de cálculo do tempo de ciclo para uma CPU 314 com 32 entra-

das digitais e 32 saídas digitais: 0, 26ms para atualização das entradas + 0, 26ms para

atualização das saídas + 1ms para execução do Operating system + 1, 8ms de tempo

fixo do User program + 240µs de tempo máximo de execução de interrupções do User

program resulta em um tempo máximo de ciclo Tmax = 3, 56ms.

18

Page 27: Tratamento de Agua

3.3.1: Estações ET-200

Neste projeto de controle e automação da ETA Hengstey foram utilizados car-

tões de entrada/saída descentralizados (desacoplados do CLP) ET-200. Sua função é

simples: estabelecer a comunicação entre planta e CLP, assim como os cartões tradi-

cionais acoplados ao controlador; entretanto a comunicação entre o ET-200 e o CLP

é feita através de protocolo Profibus. O uso destes dispositivos justifica-se principal-

mente na redução do número de fios entre planta e CLP. Quando o número de fios (e

sinais) é muito grande, distâncias não pequenas o suficiente já justificam o emprego

de ET-200 para reduzir os custos com cablagem, redução da bitola de eletrodutos e

diminuição das possibilidades de erro e perturbações nos sinais elétricos provenientes

e destinados à planta.

Um fator praticamente determinante ocorre quando as distâncias entre planta

e CLP são demasiadamente grandes para o transporte dos sinais elétricos digitais

e principalmente analógicos, como ocorre entre as piscinas de infiltração e uma das

salas de controle, localizada no prédio do módulo de filtragem rápida, por exemplo. As

distâncias, que variam entre 400m e 2000m, requerem inclusive o uso de fibra-óptica

(a 12Mbps) como meio físico para o protocolo profibus entre ET-200 e CLP. Para tal

conversão de meio físico usam-se acopladores OLM Siemens. O emprego destas

estações e acopladores OLM pode ser visto no diagrama da figura 3.1.

3.4: PCS7: Sistema de Controle de Processos

PCS7 é a suíte de ferramentas da Siemens para a programação de CLPs e

controladores de processos industriais, da linha Simatic. A sigla origina-se do inglês

Process Control System, ou seja, “Sistema de Controle de Processos”. A principal

aplicação é o Simatic Manager, através da qual pode-se instanciar um projeto de auto-

mação inteiro e estruturá-lo sob as perspectivas hierárquica e de hardware. Somente

então inicia-se o desenvolvimento da programação dos seus componentes.

Existem duas perspectivas muito importantes no projeto: a tecnológica (Tech-

nologischesicht) e a de componente (Komponentensicht), conforme ilustra a figura

3.5.

Na vista de componente todos os elementos físicos (hardware) do projeto são

“declarados” e devidamente configurados: CLPs (CPUs), cartões de expansão (ETs),

19

Page 28: Tratamento de Agua

Figura 3.5: Perspectivas do sistema supervisório da ETA Hengstey: tecnológica (esq.)e de componente (dir.).

painéis de operação (MPs), servidores e clientes do sistema SCADA utilizado (WinCC),

redes (Profibus, Ethernet, MPI), entre outros. Por exemplo, na vista de componente

da figura 3.5 verifica-se no sub-projeto Brunnen1 dois CLPs: Brunnen_1 e Einlaufb_1.

A estação Brunnen_1 é composta de uma CPU 414-3 DP e dois cartões de comuni-

cação (CPs): 443-1 (Ethernet) e 443-5 Ext (Profibus); os quais são acoplados à CPU,

que possui um diretório de programas S7 composto de três sub-diretórios: Quellen

(códigos-fonte em SCL), Bausteine (blocos fundamentais do programa) e Pläne (dia-

gramas CFC ou SFC). As programações em SCL, CFC e SFC serão abordadas mais

adiante.

Já na vista tecnológica é estabelecida a hierarquia entre os elementos do pro-

jeto, ou seja, a disposição e interconexão dos mesmos. Observa-se na figura 3.5

que o multiprojeto Hengstey é composto de vários sub-projetos, desde o Brunnen1

até o WinCC. Explorando a hierarquia do primeiro, nota-se que o diretório Parame-

ter encontra-se dentro do path: Wasser Werk −→ Filterung −→ Brunnen −→ Brun-

20

Page 29: Tratamento de Agua

nen1. Cada diretório pode conter vários CFCs ou SFCs, porém apenas uma tela de

processo, que será mapeada para o servidor do SCADA para monitoramento em PC-

cliente.

Observa-se em ambas as perspectivas da figura 3.5 a existência de uma bibli-

oteca (ícone de um livro azul) chamada Hengstey, com um diretório de programas S7

contendo os três sub-diretórios de programação já mencionados. Tipicamente, sem-

pre que uma nova função deve ser incorporada à um componente processador (CPU,

CP, etc) qualquer do multiprojeto Hengstey, primeiro se desenvolve esta função como

componente da biblioteca, e logo então se incorpora a função ao elemento de proces-

samento desejado. O objetivo deste procedimento é simples e óbvio: possibilidade

de reutilização do mesmo código em qualquer parte do multiprojeto. A seguir serão

abordados os diversos meios de programação destes elementos.

3.4.1: Programação direta em Blocos – Bausteine

Por programação direta em blocos (Bausteine) entende-se o desenvolvimento

de funções por edição direta de um ou mais tipos de blocos. Além dos OBs já aborda-

dos na seção 3.3, tem-se:

DBs Blocos de dados. Atuam como estruturas de organização (concentração) de

variáveis criadas pelo programador, ou então instanciadas automaticamente por

FBs (DBs-instância);

FBs Blocos de função com uso de DBs-instância. Trata-se de funções que podem ter

seus parâmetros de entrada-saída armazenados em DBs-instância, de maneira

a permitir com que vários FBs do mesmo tipo coexistam de forma independente

com relação a seus dados. Típico exemplo: FB de um motor específico, sendo

que há vários motores no processo;

FCs Funções sem DBs-instância. Empregados para funções que não necessitam

reter seus parâmetros de entrada-saída além do ciclo de execução atual da CPU.

Todos estes tipos de blocos são armazenados em diretório Bausteine. A pro-

gramação pode ser feita sob três formas visuais distintas:

KOP Kontaktplan – diagrama de contatos, também muito conhecido por linguagem

ladder ou “escada”;

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Page 30: Tratamento de Agua

FUP Funktionsplan – diagrama de funções. Conexão gráfica das interfaces de blocos

de função;

AWL Anweisungsliste – lista de instruções. Semelhante a uma linguagem assembly.

A figura 3.6 ilustra os três tipos de programação direta em blocos (OBs, FBs e

FCs), além da estrutura de um DB.

Figura 3.6: Programação em AWL, KOP e FUP, e estrutura de um DB.

A programação direta em blocos é a mais comum na linha Simatic Siemens,

abrangendo as séries de CLPs S7-200, S7-300 e S7-400. É o tipo de programação

utilizada nos CLPs (dois S7-200 e um S7-300) que o DAS/UFSC possui no Laboratório

de Automação Industrial (LAI). Entretanto, para lógicas mais complexas do ponto de

vista sequencial (tomada de decisões), ou mesmo intuitivo, pode não ser a melhor

alternativa.

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Page 31: Tratamento de Agua

3.4.2: Programação em Diagramas – Pläne

Existem dois tipo de diagramas: CFC – do inglês Continuous Flowchart – e SFC

– do inglês Sequential Flowchart – sendo que a programação com SFCs somente é

possível para CPUs da linha S7-400; CFCs já podem ser programados a partir da

linha S7-300. Apresenta como vantagem principal a intuitividade, pois trata-se de uma

linguagem gráfica.

A programação em CFC utiliza blocos gráficos de FBs, com sua interface dis-

ponível (entradas e saídas), de modo que o programador pode construir sua lógica

realizando as devidas conexões. É amplamente usada para o nível mais alto de pro-

gramação das CPUs, quando todos os blocos básicos já estão elaborados, restando

apenas a “instanciação” e a elaboração da lógica de sequenciamento/acionamento

dos mesmos. Um aspecto interessante deste modelo de programação é que, a priori,

não se tem controle sobre o fluxo de execução das instruções em um mesmo ciclo

de varredura da CPU, diferentemente da linguagem estruturada em uma programação

textual (C, C++, etc). Ou seja, ainda que se tenha a topologia do diagrama, a ordem

de execução entre os blocos não é necessariamente sequencial, mas definida auto-

maticamente pela ordem de introdução dos blocos no diagrama; esta ordem pode (e

muitas vezes deve) ser posteriormente redefinida pelo programador na lista de execu-

ção de instruções.

Já a programação em SFC é ideal para tarefas de sequenciamento de ativida-

des. Em sua essência, um SFC é uma Rede de Petri binária, com todas as chamadas

“boas propriedades” que permitem a sua reinicalização, com um grafo de marcações

acessíveis (estados) limitado, etc; também pode-se chamá-lo de Grafcet. A cada lu-

gar (etapa) de um SFC é atribuído um conjunto de ações, sendo que a rede evolui de

um estado para outro através de transições relacionadas às variáveis mapeadas pela

CPU onde é executado o SFC. A figura 3.7 ilustra programações em CFC e SFC.

3.4.3: Programação em SCL – Quellen

A programação em SCL4 assemelha-se muito à linguagem de programação

C, no sentido em que apresenta os típicos laços de controle do fluxo de execução

como FOR, IF-ELSE, WHILE, estruturas de dados como STRUCT, vetores de uma ou

mais dimensões, ponteiros, etc. De todas as possibilidades de programação de CPUs4Do inglês Structured Control Language.

23

Page 32: Tratamento de Agua

Figura 3.7: Exemplos de programação em diagramas CFC e SFC.

Simatic, é a mais flexível, como consequência da facilidade de implementação de

lógicas e fluxos de execução relativamente complexos; no entanto, não está disponível

para CPUs da linha S7-200 (nenhuma CPU S7-200 está sendo utilizada no projeto).

No projeto da ETA Hengstey, é essencialmente empregada para a elaboração de FBs

a serem utilizados em CFCs. A figura 3.8 ilustra a programação em SCL.

Figura 3.8: Exemplo de programação em SCL.

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Page 33: Tratamento de Agua

3.5: WinCC: Sistema SCADA

SCADA é uma sigla em inglês para “Controle Supervisório e Aquisição de Da-

dos”. Na Europa, sistemas SCADA também costumam ser chamados de HMI – “In-

terface Homem-Máquina”. A sigla refere-se a um sistema distribuído de medição e

controle, em larga escala, usado tipicamente com processos químicos, físicos ou de

transporte.

3.5.1: Introdução

Sistemas HMI/SCADA surgiram essencialmente da necessidade de um front-

end (interface) amigável para sistemas de controle com CLPs. Ainda que CLPs pos-

sam realizar um controle automático pré-programável sobre processos, eles são usu-

almente distribuídos pela planta em questão, tornando difícil a aquisição manual de

seus dados; além disso, os dados do CLP são geralmente “brutos”, no sentido em

que necessitam de um pós-processamento para serem disponibilizados ao usuário do

processo industrial. Os sistemas HMI/SCADA podem reunir informações dos CLPs

através de vários métodos e protocolos de comunicação, os combinam e formatam

a informação de maneira adequada para a interpretação do usuário. Desde o início

da década de 1990 o papel de tais sistemas foi incorporando maiores funcionalidades

automáticas, com a conexão a bancos de dados para o fornecimento de gráficos em

tempo-real, informações de diagnóstico e logística, procedimentos agendados de ma-

nutenção, esquemas detalhados para máquinas e equipamentos, entre outros. A partir

de 1998 praticamente todos os grandes fabricantes de CLPs vêm oferecendo sistemas

HMI/SCADA integrados, muitos fazendo uso de protocolos de comunicação abertos e

não-proprietários. A figura 3.9 apresenta um exemplo de estrutura dos sistemas em

questão.

Os três componentes principais de um sistema SCADA são:

1. Unidades Terminais Remotas Mútliplas (RTUs): São na maioria dos casos os

CLPs distribuídos no nível de campo (chão de fábrica). Conectam-se aos equipa-

mentos físicos, lêem informações de status como o sinal aberto/fechado de uma

válvula, realizam medições como pressão, fluxo, tensão e corrente. Também

controlam tais equipamentos através do envio de sinais com comandos como

abrir/fechar ou definir o set-point de uma bomba hidráulica;

25

Page 34: Tratamento de Agua

Figura 3.9: Típico exemplo de um sistema SCADA.

2. Estação Mestre e HMIs: O termo “Estação Mestre” refere-se ao servidor e soft-

ware responsáveis pela comunicação com os equipamentos de campo (RTUs,

CLPs). HMIs são os elementos de visualização (clientes) das informações ge-

radas pela estação mestre. Em pequenos sistemas SCADA pode haver apenas

uma estação mestre, inclusive no mesmo PC em que consta a HMI; por outro

lado, em grandes sistemas SCADA pode haver várias estações mestres (servi-

dores) com aplicações (software) distintas. Neste projeto, os PCs-servidor são

as estações mestres e os PCs-cliente são as HMIs;

3. Infraestrutura de Comunicação: Sistemas SCADA utilizam tradicionalmente

combinações de rádio e conexões diretas seriais ou por modem para satisfazer

os requisitos de comunicação; no entanto, a partir do ano 2000, difundiram-se

as aplicações com Ethernet (IEEE 802.3) e IP sobre SONET (GR-253-CORE),

principalmente em grandes plantas como linhas de trem e geradoras de ener-

gia. Protocolos-padrão como IEC 60870-5-101 ou 104, Profibus e DNP3, muitos

atualmente com extensões para TCP/IP, são reconhecidos pela maioria dos fa-

bricantes de sistemas SCADA.

26

Page 35: Tratamento de Agua

3.5.2: WinCC – Windows Control Center

Simatic WinCC é o sistema SCADA utilizado no projeto da ETA Hengstey, apli-

cável desde a simples aplicações de usuário único a complexos sistemas industriais

multiusuários e/ou sistemas distribuídos com vários servidores e clientes, inclusive na

Web. A sigla “WinCC” significa em inglês “Centro de Controle em Windows” e é o

front-end de visualização da suíte de controle de processos PCS7, ou seja, a rigor

corresponde à Estação Mestre e/ou (configurável) HMI da estrutura apresentada an-

teriormente. Em suma, WinCC dispõe das seguintes principais funções de um sistema

SCADA:

1. Gerenciamento de usuários: pode-se atribuir e controlar permissões de acesso

dos usuários ao sistema, inclusive em runtime;

2. Interface gráfica: suporte a várias línguas e zoom, com monitoramento das váriá-

veis mapeadas nas telas definidas no projeto gráfico. WinCC conta com scripts

que podem ser gerados com as linguagens de programação VBScript ou ANSI-

C; tais scripts são usados amplamente para configurar ações atribuídas a objetos

gráficos;

3. Sistema de mensagens: não apenas gera e apresenta mensagens de processos,

mas também as armazena em arquivos circulares e as disponibiliza através de

filtros (classificações) específicos;

4. Sistema de armazenamento de dados: mensagens, variáveis de processo, con-

figurações de usuário, etc. Utiliza o servidor e banco de dados do Microsoft SQL

Server 2000, com um desempenho de até 10 mil medições e 100 mensagens

por segundo (em um servidor dedicado);

5. Sistema de registros e relatórios: possibilita a formatação dos dados obtidos da

planta e a geração de relatórios pré-definidos pelo usuário, os quais podem ser

agendados para impressão rotineira ou exportados para outras aplicações. Além

disso o sistema registra continuamente os eventos gerados pela interação com

o(s) usuário(s);

6. Sistema de diagnóstico: capaz de diagnosticar os canais de comunicação no

reconhecimento de falhas e na busca de melhor desempenho (no caso de canais

redundantes).

27

Page 36: Tratamento de Agua

Versões mais atuais do WinCC permitem o mapeamento de até 80 mil variáveis

de processo e o emprego de até 12 servidores e 32 clientes por servidor em uma con-

figuração contínua. Os servidores podem ser dedicados – servidor de mensagens,

de arquivos, etc – ou redundantes – mesmas funcionalidades. Pode-se estabelecer

um servidor Web-WinCC em um cliente WinCC, de modo que um cliente Web-WinCC

possa acessar os projetos de cada um dos servidores WinCC mapeados para o cliente

WinCC, de qualquer parte do mundo. Pode-se conectar até 50 clientes Web-WinCC

a um servidor Web-WinCC simultaneamente através de um protocolo TCP/IP em uma

Intranet/Internet.

No projeto de automação da ETA Hengstey uma estrutura de servidores redun-

dantes foi utilizada. Simplificadamente, o funcionamento é o seguinte:

• Em operação normal, os dois servidores operam completamente em paralelo, ou

seja, cada estação tem a sua própria conexão com o nível de campo (ex: CLPs)

e seus próprios bancos de dados, sempre em sincronia (integridade dos dados).

Os clientes podem ser atribuídos a qualquer um dos servidores, o que contribui

para a redução da carga de comunicação para cada servidor;

• Se um dos servidores falha, todos os clientes conectados ao servidor que falhou

são redirecionados ao servidor redundante (stand_by ) que se mantém íntegro

em operação. Isto assegura uma visualização e operação contínua da planta em

todos os clientes;

• Quando o servidor com falha retorna às condições de operação, o sistema ini-

cialmente sincroniza todas as variáveis de processo, mensagens e registros de

processo do banco de dados – referentes ao período de falha – do servidor re-

dundante com o primeiro. Logo então os clientes são redirecionados aos seus

servidores originais, sem influenciar a operação on-line.

Além da utilização da função de redundância de servidores WinCC em paralelo,

é possível a um servidor WinCC implementar canais de comunicação redundantes

com o nível de campo. WinCC suporta os principais canais de comunicação (pro-

tocolos) para o mapeamento de CPUs Simatic S5, S7 ou da linha 505, assim como

protocolos não-proprietários como Profibus-DP/FMS e OPC (OLE para controle de

processos).

A interface do WinCC com o usuário ocorre através de telas de processos. A

disposição hierárquica das telas segue a hierarquia definida na perspectiva tecnoló-

28

Page 37: Tratamento de Agua

gica (figura 3.5). Nas telas o programador pode definidir elementos gráficos estáticos

ou dinâmicos. Os elementos dinâmicos são conectados às variáveis de processo ma-

peadas pelo sistema SCADA, e podem ser criados essencialmente de duas formas:

1. Manualmente: o elemento é criado isoladamente, e as conexões com as variá-

veis têm de ser definidas uma a uma. É o método utilizado quando se integra o

WinCC puro, sem ferramentas de instanciação automática de objetos, portanto

sem uso da suíte PCS7;

2. Automaticamente: o elemento pode aqui ser chamado de um objeto propria-

mente dito, em um sistema orientado a objetos, assim como aquele instanciado

de uma classe. A classe é o FB correspondente e a instância é o DB-instância.

Dessa forma, o objeto gráfico possui atributos e métodos, sendo estes últi-

mos os scripts disparados sob circunstâncias pré-definidas, como a mudança de

estado da variável booleana “liga” de um FB de um motor. Este método de pro-

gramação visual é disponível com ferramentas de integração incluídas na suíte

de aplicativos Simatic PCS7. A maior parte dos elementos gráficos dinâmicos

do projeto da ETA Hengstey foram definidos dessa maneira.

Cada objeto pode estar associado a um ou mais faceplates – pequenas janelas

pop-up, como a da figura 3.10, que surgem ao clicar-se sobre o objeto. Faceplates

são extremamente úteis para “despoluir” a interface gráfica, concentrando as opções

de interação com os elementos da planta.

Figura 3.10: Exemplo de faceplate do FB de motor simples, para comando manual viaSCADA.

29

Page 38: Tratamento de Agua

Capítulo 4: Modelagem da Planta

Baseado na tecnologia empregada e apresentada no capítulo 3, e antes de se

elaborar o controle e automação, realizou-se uma respectiva modelagem do sistema,

sob os seguintes aspectos gerais.

1. Modelo dos reservatórios de água: piscinas de infiltração, tanques e reservató-

rios subterrâneos;

2. Modelo de interação no lençol freático;

3. Modelo dos principais atuadores dos sistemas de controle: motores e válvulas.

Aos FBs modeladores (drivers) são atribuídos objetos gráficos para o sistema

SCADA, todos acompanhados de um ou mais faceplates, de modo a permitir a

interação do usuário do sistema com os FBs e, consequentemente, com a planta;

4.1: Reservatórios de Água

Para a simulação das piscinas de infiltração, tanques de água tratada, poços

de captação e reservatórios subterrâneos, foi elaborado um FB com todas as fun-

cionalidades necessárias, das quais um subconjunto aplica-se em cada caso. Uma

funcionalidade, entretanto, comum a todos os tipos de reservatório é o da variação do

nível segundo as diferenças de vazões de entrada e saída.

Considera-se um reservatório de água em contato com o solo – como as pis-

cinas de infiltração da ETA Hengstey – e com uma determinada “densidade” – repre-

sentando uma porcentagem do volume do reservatório que não está disponível para

abrigar fluido – como mostra o esquema da figura 4.1.

Fornecidas as variáveis de vazão de entrada Qe(t), vazão de infiltração Qi(t) e

vazão de saída por bombeamento Qa(t), juntamente com a área A do reservatório, o

nível instantâneo h(t) pode ser calculado através da integral

h(t) =

t∞∫t0

Qe(t)− (Qa(t) + Qi(t))

Adt (4.1)

Contudo, dado que o CLP é um dispositivo digital, para se avaliar a expressão

30

Page 39: Tratamento de Agua

Figura 4.1: Reservatório com características de infiltração e densidade.

4.1 deve-se realizar uma aproximação por discretização, de acordo com o somatório

da equação 4.2. Portanto considera-se um período constante Ts, tal que

h[i] =i∑

k=0

[Qe[k]− (Qa[k] + Qi[k])

A · 1Ts

](4.2)

Para cada iteração1 i uma nova parcela do somatório deve ser executada, e

como consequência pode-se escrever a expressão 4.2 sob a forma

h[i] = h[i− 1] + Ts

[Qe[i]− (Qa[i] + Qi[i])

A

](4.3)

No caso das piscinas de infiltração, a água infiltra-se no subsolo. No modelo

matemático a seguir, a permeabilidade resultante d do subsolo foi considerada como

estando concentrada na interface entre o fundo do reservatório e o solo2, para fins

de simplificação do modelo, sem perda de validade. Além disso, considera-se que a

permeabilidade distribuída do subsolo abaixo do reservatório pode ser concentrada

em um círculo, somente através do qual ocorrerá a vazão de infiltração.

Parte-se da expressão da dinâmica dos fluidos de Bernoulli

pA + ρghA +1

2ρv2

A = pB + ρghB +1

2ρv2

B (4.4)

1Cada iteração corresponde a um ciclo de execução do OB35.2Considera-se como “solo” a estreita camada da terra em contato com a atmosfera de até 1m de

profundidade; abaixo tem-se o subsolo.

31

Page 40: Tratamento de Agua

Onde p é a pressão relativa em um ponto exercida de fora do volume de fluido, ρ

é a densidade da água (fluido), h o nível (altura) do ponto e v é a velocidade do fluido

na direção da aceleração gravitacional.

Para o ponto A, devido ao seu contato direto com a atmosfera, sua pressão re-

lativa será pA = 0. Para o ponto B, como ele encontra-se sobre o nível de referência,

tem-se hB = 0. A permeabilidade 0% ≤ d ≤ 100% determina o quão facilmente a água

se infiltrará no solo. Se d = 0 então tem-se uma piscina sem qualquer infiltração (um

tanque fechado); por outro lado, se d = 1 é como se o fundo do reservatório estivesse

completamente aberto (em contato direto com a atmosfera); já para valores interme-

diários a interface comporta-se como uma “esponja” de permeabilidade definida, com

os seguintes efeitos.

1. A pressão relativa no ponto B é pB = ρghA(1− d);

2. A área resultante, para cálculo da vazão de infiltração, é definida como Ae = d·A.

Aceita-se com naturalidade que se não há infiltração então d = 0 =⇒ vA = 0; de

maneira oposta, quando a infiltração for a máxima possível então d = 1 =⇒ vA = vB.

Uma vez que verifica-se uma relação aproximadamente linear entre os dois efeitos da

variação da permeabilidade e vA, ou seja, vA = f (pB) e vA = f (Ae) sendo f(x) =

a + bx, pode-se assumir que

vA = vB · d2 (4.5)

Aplica-se então as simplificações e relações até aqui apresentadas na fórmula

4.4, de modo a obter-se a expressão de vB.

vB =

√2ghAd

1− d4(4.6)

Sabe-se que a relação entre vazão q, área A e velocidade v dá-se através da

relação q = A · v. Assim, alcança-se o modelo teórico de vazão de infiltração qe

qe = A · d√

2 · g · hA · d1− d4

(4.7)

Caso a vazão de infiltração não seja significativa em relação às dimensões do

reservatório, pode-se assumir vA = 0. Isto implica em um limite superior d ≤ dm <

100% da permeabilidade de forma que a simplificação vA = 0 possa ser aplicada.

32

Page 41: Tratamento de Agua

Dessa forma, a expressão 4.6 seria redefinida como

vB =√

2ghAd (4.8)

E consequentemente obtém-se o modelo da fórmula 4.9, o qual foi implemen-

tado no FB de simulação de reservatório.

qe = A · d√

2 · g · hA · d (4.9)

Neste caso (simplificação vA = 0), estabelecendo-se uma discrepância máxima

de 1% entre valor real e aproximado (simplificado) da vazão de infiltração, calcula-se

o limite superior dm.

Aproximação = 0, 99 · Realidade

Adm

√2ghAdm = 0, 99 · Adm

√2ghAdm

1−d4m√

1− d4m = 0, 99

dm = 0, 3756 ∼= 37%

(4.10)

Para o cálculo do valor da permeabilidade a ser utilizado na simulação das

piscinas de infiltração, toma-se a equação 4.9 e isola-se d.

d = 3

√(qe

A

)2

· 1

2gh(4.11)

Considerando-se uma situação discutida com o pessoal de operação da ETA,

na qual todas as piscinas de infiltração estejam com um nível de 0, 5m, resultando

numa vazão de infiltração estimada em qe = 3000m3/h = 0, 8333m3/s, e sabendo-se

que a área total das piscinas é A = 44421m2 e g = 9, 82m/s2, é obtido o parâmetro

de permeabilidade homogênea para todas as piscinas, conforme a expressão 4.12.

Nota-se que a permeabilidade calculada apresenta um valor extremamente pequeno,

e a infiltração só se torna significativa devido às grandes áreas das piscinas.

d = 0, 000329698 = 0, 0329698% (4.12)

Em tratando-se dos reservatórios subterrâneos, é sabido que grande parte do

volume de reservatório considerado, i.e. aquele relacionado à altura real atribuída a

ele, encontra-se já preenchido com material tais como rochas, areia, etc. Portanto,

a mesma diferença entre vazões de entrada e saída no reservatório com o tempo

causaria uma variação de nível maior, considerando-se a existência de volume exis-

33

Page 42: Tratamento de Agua

tente mas indisponível para água. Para simular tal efeito elaborou-se um modelo de

“densidade” do reservatório, representada pela variável D.

O comportamento desejado é que, à medida em que D cresce, maior será a

inclinação da curva de variação do nível como função da diferença entre vazões de

entrada e saída, e vice-versa. Assim, define-se uma variável auxiliar h′m relacionada

ao nível máximo hm do reservatório, como demonstra a equação 4.13.

h′m = (1−D) · hm (4.13)

Esta relação aplica-se também à condição inicial de nível h0. Sendo assim, o

nível efetivo (real) do reservatório é obtido segundo a expressão 4.14, ou seja, como

função do nível auxiliar h′ – que desconsidera o efeito “densidade” – e de D.

h =hm

h′m· h′ = 1

1−D· h′ (4.14)

4.2: Interação entre Reservatórios Subterrâneos

A necessidade de se criar um modelo para a interação entre os reservatórios

subterrâneos, através de uma determinada vazão, advém de duas constatações prin-

cipais:

1. Os três setores do lençol freático da planta não são isolados entre si. Isto é

verificado na prática ao se realizar uma distribuição de água às piscinas de tal

forma que a relação “vazão de infiltração/área” seja igual para cada reservatório

subterrâneo, assim como a relação “vazão de saída/área”. Em tal circunstância,

iniciando-se com níveis diferentes nos reservatórios, após algum tempo (horas)

as diferenças entre níveis terão se reduzido;

2. A vazão de infiltração de cada piscina não é totalmente direcionada para um

reservatório subterrâneo específico, em geral. Toma-se o exemplo da piscina

1 (figura 2.3): apesar de experimentalmente saber-se que, mantendo-se a va-

zão de saída do reservatório 1 constante e aumentando-se o nível desta piscina

implica em um aumento principalmente no nível de tal reservatório, o aumento

do nível da piscina 1 também acaba por afetar (aumentar, no caso) o nível do

reservatório 2. Devido ao fato de mostrar-se um pouco complexo, em princípio,

34

Page 43: Tratamento de Agua

elaborar um algoritmo de distribuição de vazão3 baseado em quotas de partici-

pação da vazão de infiltração de cada piscina para cada reservatório, decidiu-se

por modelar o efeito destas quotas indiretamente através das vazões de intera-

ção entre reservatórios.

A figura 4.2 contém um esquema de dois reservatórios subterrâneos adjacen-

tes, supondo que abaixo deles há uma camada impermeável de tal forma que não há

mais infiltração.

Figura 4.2: Esquema de dois reservatórios adjacentes através de interface permeável.

Nota-se que a área de interação entre os reservatórios é definida como Fg =

h3 · lk. Parte-se novamente da equação de Bernoulli.

p1 + ρgh1 +1

2ρv2

1 = p2 + ρgh2 +1

2ρv2

2 (4.15)

Considerando-se que o ponto 1 sofre pressão atmosférica, determina-se p1 = 0.

Uma vez que a vazão de interface não é significativa em relação às dimensões dos

reservatórios, então | v2 |�| v1 |=⇒ 12ρv2

1 = 0.

Sabe-se que a pressão estática cresce linearmente com a profundidade em um

líquido, o que significa que a maior velocidade de água provavelmente ocorrerá nas

proximidades do fundo comum dos reservatórios. Por esse motivo, estabeleceu-se o

ponto 2 quase ao fundo (nível de referência), e portanto pode-se simplificar h2 = 0 =⇒ρgh2 = 0. Realizando a substiuição desta e das simplificações anteriores na equação

4.15, resulta em

ρgh1 = p2 +1

2ρv2

2 (4.16)

3A ser visto no capítulo 5.

35

Page 44: Tratamento de Agua

O objetivo é obter uma função da velocidade v2 (h1, h3, W ), onde W é a cons-

tante de penetrabilidade da interface. Para tal, procura-se uma expressão para p2 na

equação de Bernoulli entre os pontos 2 e 3.

p2 + ρgh2 +1

2ρv2

2 = p3 + ρgh3 +1

2ρv2

3 (4.17)

Na equação 4.17 pode-se igualmente admitir que | v2 |�| v3 |=⇒ 12ρv2

3 = 0,

p3 = 0 e h2 = 0 =⇒ ρgh2 = 0, pelos mesmas razões do ponto 1, de tal forma que da

equação 4.17 obtém-se

p2 +1

2ρv2

2 = ρgh3 (4.18)

Agora necessita-se de uma expressão representativa de W . Já que h3 é uma

variável que deve constar na expressão final e ρ é também uma constante, pode-se

definir W = 12v2, obtendo-se uma função para p2.

p2 = ρgh3 − ρWv2 (4.19)

Infere-se que W é uma grandeza de velocidade. Pode-se então inserir a expres-

são 4.19 na equação 4.16; antes, porém, é importante notar que v2 do reservatório B

é o conjugado de v2 do reservatório A, isto é, v2A = −v2B. Efetuadas as substituições

resulta em

ρgh1 = ρgh3 + ρWv2 +1

2ρv2

2 ⇒ v22 + 2Wv2 + 2g (h3 − h1) = 0 (4.20)

As soluções da equação 4.20 podem ser obtidas de forma literal através do

método de Baskara, e a solução válida é

v2 = −W +√

W 2 − 2g (h3 − h1) (4.21)

A outra solução representaria uma velocidade negativa, portanto não possui

significado físico válido. Nota-se que, à medida em que W cresce v2 diminui, e v2

aumenta com o aumento da diferença h3 − h1. Finalmente, a vazão de interface Qw

entre reservatórios subterrâneos é definida como

Qw = v2 (h3 · lk) (4.22)

O valor da constante de penetrabilidade W foi determinado por meio de simula-

ção: estabeleceu-se um “espaço de estados” para o lençol freático e foi-se ajustando

36

Page 45: Tratamento de Agua

o valor de W até se obter uma vazão Qw coerente com a situação.

h1 = 4m

h3 = 3m

lk = 480m

W = 170m/s

⇓Qw = 101, 68m3/h

Portanto o valor W = 170m/s foi utilizado para a interface entre os reservatórios

1 e 2, e entre 2 e 3. Os reservatórios 1 e 3 não possuem interface. No entanto, W

deve ser revalidado quando da implantação do sistema na ETA.

4.3: Drivers para Atuadores

Na ETA Hengstey foram previstos 3 níveis distintos de operação:

1. Vor Ort (VO) – operação direta no equipamento. Destinada para manobras ma-

nuais locais, para manutenções e emergências. Corresponde à operação no

nível de campo;

2. Schaltschrank (SS) – operação por botões e chaves na cabine de comando do

módulo da ETA, relacionada ao nível intermediário de operação hierárquica da

planta;

3. WinCC (OP) – operação remota pelo sistema SCADA em sincronia com os pai-

néis de controle (OPs). Corresponde ao nível superior de automação.

A figura 4.3 ilustra esta estrutura hierárquica de acionamento. Acima da hierar-

quia, conectado ao 3onível (de menor prioridade), encontra-se o sistema de controle

em malha fechada (SCMF) implantando nos CLPs.

Descrevem-se a seguir as modelagens dos principais atuadores da planta – mo-

tores e válvulas – implementadas em FBs, os quais foram criados em CFCs a partir

de FBs básicos da Siemens, adicionando e ajustando-se as funcionalidades deseja-

das. Originalmente tinha-se em vista modelar os atuadores utilizando um formalismo

que permitisse a realização de um controle discreto/sequencial; por isso adotou-se a

37

Page 46: Tratamento de Agua

Figura 4.3: Exemplo de acionamento de um atuador na hierarquia de operação da ETAHengstey.

linguagem de autômatos. No entanto, devido às mudanças (e descobertas) de espe-

cificações durante a fase de projeto, a modelagem por autômatos restringiu-se a fins

de documentação.

4.3.1: Motor On-Off

Trata-se de um driver para motor do tipo liga/desliga, independentemente do

princípio de funcionamento do mesmo (CA, CC, etc.); suas principais funcionalidades

são:

• Função de lock que possibilita forçar a saída de controle do motor para um es-

tado (ligado ou desligado);

• Função de monitoramento, através da qual o FB monitora o sinal de controle

fornecido (saída) e a resposta do dispositivo físico (entrada). Caso comando e

resposta não sejam iguais por um intervalo de tempo maior que o especificado

pelo usuário4, é gerado um erro e o comando vai para um estado de segurança4Este e demais parâmetros do driver estão disponíveis ao usuário através de faceplate no SCADA.

38

Page 47: Tratamento de Agua

pré-definido (geralmente desligado);

• Conexões para painel de operação (OP), cabine de comando (SS) e operação in

loco manual (VO), todas devidamente sincronizadas;

• Conexão de falha externa: sinais booleanos externos provenientes de senso-

res podem indicar falhas no motor, como sobretemperatura, sobrecorrente e/ou

sobretensão, fazendo com que o FB desligue o comando (saída).

• Funcionamento manual/automático. Na operação manual o usuário pode es-

pontaneamente definir o sinal de comando para o dispositivo físico. Em modo

automático o sinal de comando é obtido através de uma entrada correspondente

ao SCMF no bloco do motor.

O autômato determinístico de estados finitos (ADEF) da figura 4.4 especifica o

comportamento (simplificado) do motor, através da seguinte quíntupla.

G = (X, Σ, f, x0, Xm) (4.23)

Por “simplificado” entende-se que estados como locked e outras características

herdadas do FB básico da Siemens não influenciam ou não são utilizadas no projeto

em questão.

O estado inicial x0 é o “pronto” e o conjunto de estados marcados Xm é cons-

tituído por “pronto” e “opera”. O alfabeto Σ é composto de: “com_inicia” – comando

para iniciar operação – “falha”, “conserto”, “resp_opera” – confirmação de operação –

“com_para” – comando para terminar operação – e “resp_parado” – confirmação de

parada. O espaço de estados X é composto por “pronto”, “iniciando”, “danificado”,

“opera” e “parando”. A modelagem não diferencia os tipos de falhas possíveis, pois

caso houvesse tal diferenciação obteria-se um atômato equivalente com maior número

de estados cuja complexidade é desnecessária.

Dois FBs foram derivados do FB de motor simples: motor de 2 velocidades e

motor com dois sentidos de rotação.

4.3.2: Válvula Simples

Trata-se de um FB modelador de uma válvula com duas posições de operação

distintas (fechada/aberta), com entradas para seus respectivos sensores de realimen-

39

Page 48: Tratamento de Agua

Figura 4.4: Autômato respresentativo do comportamento simplificado do FB de motorsimples.

tação de posição. Sempre haverá um sinal de comando lógico aplicado à válvula de

maneira que, em condições normais de operação, ela jamais permanecerá em uma

posição intermediária. Aqui também é indiferente o princípio de funcionamento da vál-

vula (esfera, globo, comporta, etc). As principais funções deste FB são semelhantes

às do motor:

• Função de lock que possibilita forçar a saída de controle da válvula para um

estado aberto/fechado;

• Função de monitoramento: caso o comando do driver e a resposta do atuador

físico difiram por um tempo maior que o especificado, gera-se um erro de moni-

toramento e a válvula é comandada para uma posição de segurança (aberta ou

fechada);

• Conexões para painel de operação (OP), cabine de comando (SS) e operação in

loco manual (VO), com sincronização;

• Conexão de falha externa: sinais booleanos externos provenientes de sensores

para indicar falhas mecânico-elétricas na válvula;

• Funcionamento manual/automático. Na operação manual o usuário pode defi-

nir o sinal de comando para a válvula física. Em modo automático o sinal de

40

Page 49: Tratamento de Agua

comando é obtido através do SCMF em uma entrada no FB da válvula.

O autômato ADEF da figura 4.5 especifica o comportamento (simplificado) da

válvula.

Figura 4.5: Autômato do comportamento simplificado da válvula simples.

O autômato descritor da válvula possui uma estrutura diferente da do motor,

pois é necessário salvar a informação de abertura/fechamento do dispositivo sob a

ocorrência de uma falha de modo a saber qual será o estado da válvula após o “con-

serto”. Um exemplo de aplicação deste autômato é para válvulas de acionamento por

solenóide com retorno por mola: ainda que exista somente um comando físico para

abrir, a negação deste sinal constitui o comando para fechar.

O estado inicial x0 é “fechada”. O espaço de estados X é formado por “fechada”,

“problema abrindo” – falha na abertura – “abrindo”, “aberta”, “problema fechando” –

falha no fechamento – e “fechando”. O conjunto de estados marcados Xm é composto

por “fechada” e “aberta”. O alfabeto é o conjunto de eventos constituído por “conserto”,

“falha”, “com_abre” – comando para abrir – “resp_aberta” – confirmação de abertura –

“com_fecha” – comando para fechar – e “resp_fechada” – confirmação de fechamento.

41

Page 50: Tratamento de Agua

4.3.3: Válvula de Posicionamento Intermediário

Este FB modela uma válvula que pode assumir qualquer posição intermediá-

ria entre as posições-limite aberta e fechada. A interface deste FB apresenta duas

entradas de realimentação distintas para detecção de abertura e fechamento. No en-

tanto este bloco não realiza qualquer controle realimentado, representando apenas o

comportamento em malha aberta do atuador.

O autômato ADEF representativo deste FB difere um pouco daquele da válvula

simples, conforme pode ser visto na figura 4.6. Precebe-se que o autômato da válvula

simples pode ser considerado um caso particular do aqui apresentado.

Figura 4.6: Autômato modelador da válvula de posicionamento intermediário.

Em relação ao autômato da válvula simples, este ADEF possui em X o estado

“parada” – válvula em posição intermediária e parada. O estado inicial x0 também

é o “fechada”, e no conjunto de estados marcados Xm adicionou-se “parada”, pois é

aceitável que a válvula permaneça neste estado por tempo indeterminado, possivel-

mente significando “objetivo alcançado” (e.g. seguimento de referência). O alfabeto foi

acrescido dos eventos “falha_fecha” – falha com posicionamento da válvula em aberto

– “falha_abre” – falha com posicionamento da válvula em fechado – e “com_para” –

comando para manter a válvula na posição atual.

42

Page 51: Tratamento de Agua

Capítulo 5: Sistemas de Controle e Automação

De posse dos blocos fundamentais modeladores da planta e dos atuadores,

parte-se para a elaboração dos controladores e sistemas de automação com vistas a

satisfazer os requisitos de projeto apresentados na seção 2.6.

Sob o ponto de vista de controle, o processo de tratamento de água pode ser

considerado como um sistema “puxado”, uma vez que um degrau na demanda de

vazão de saída da ETA (reservatório superior) causa uma reação em cadeia por todos

os módulos até a captação de água bruta. Na figura 5.1 é apresentado o diagrama de

blocos do sistema de controle [10] geral de Hengstey.

5.1: Controlador Discreto de Nível

O problema de controle de nível dos reservatórios na ETA Hengstey apresenta

uma particularidade que o torna não-trivial: os atuadores para controle do reservató-

rio superior e o de água tratada são de operação liga/desliga. Estas bombas utilizam

como driver chaves soft-starter para redução de corrente de partida através da con-

figuração de uma curva de aceleração, entretanto não disponibilizam um mecanismo

de variação de velocidade das bombas – o que poderia ser feito através de inversores

de frequência, por exemplo. Até então, havia um mecanismo de sensores discretos de

nível alto e baixo dos reservatórios, os quais serviam, respectivamente, para se desli-

gar e ligar o conjunto de bombas, manualmente definido pelo operador. Em períodos

de maior demanda o operador devia escolher um grupo de bombas cuja vazão resul-

tante fosse maior, caso contrário as proteções contra esvaziamento eram ativadas e o

atendimento à demanda era temporariamente prejudicado.

Conlui-se, portanto, que a tarefa de controle deve ser realizada através da esco-

lha das classes (vazão, se diferir) de bombas a serem utilizadas, assim como o número

de bombas de cada classe, o que caracteriza o sinal de controle do controlador. Esta

requisição do número de bombas da classe é aplicada a um bloco sequenciador – o

qual aciona bombas de uma mesma classe considerando intervalos de tempo entre

acionamentos, tempos de operação, entre outras funcionalidades. O objetivo é ela-

borar um algoritmo de controle capaz de selecionar o grupo de bombas ideal para se

otimizar o controle de nível dos reservatórios.

43

Page 52: Tratamento de Agua

Figura 5.1: Diagrama de blocos do sistema de controle geral da ETA Hengstey.

44

Page 53: Tratamento de Agua

5.1.1: Controle do Reservatório Superior

Considerar-se-á, primeiro, o caso das bombas de água tratada. A proposta ini-

cial foi realizar o controle a partir de um controlador clássico (e.g. PID) adjunto a um

mecanismo de resolução, o qual determinava quais bombas deveriam ser acionadas

dependendo do valor do sinal de controle, ou seja, estabeleceu-se faixas relaciona-

das às vazões atingíveis a partir de todas as combinações possíveis das bombas. O

problema desta técnica é que, quando o valor atual de nível atingisse as redondezas

do valor desejado, o número de chaveamentos por hora de bomba se torna muito

grande (frequência alta), o que diminui a vida útil dos atuadores. Para reduzir-se esta

frequência, a meta é operar com as bombas pelo maior intervalo de tempo ininterrupto

possível. Para tal, duas estratégias foram definidas:

1. Definir uma histerese ao redor do valor desejado. Para atingir-se a menor frequên-

cia, faz-se o intervalo de histerese ser praticamente a altura do reservatório, e

consequentemente o valor desejado será a metade do nível máximo, i.e. abre-se

mão da regulagem do set-point do reservatório;

2. Procurar reduzir ao máximo a inclinação da curva de nível, em relação ao eixo

das abscissas (tempo). Isto significa que, quando a curva de nível atingir um

ponto de histerese (ponto de inversão), deve-se selecionar uma combinação de

bombas tal que a derivada da curva seja a de menor módulo possível e com sinal

oposto.

Realizando-se todas as possíveis combinações de bombas, de acordo com a

vazão nominal de cada uma, são obtidos os estágios de controle, conforme mostra a

tabela 5.1. É requisito de controle que o operador do módulo possa configurar se ape-

nas uma bomba por capacidade (tabela 2.1) e/ou uma bomba por lugar (tabela 2.2)

deva operar, i.e. as duas bombas desse(s) grupo(s) nunca devem operar simultanea-

mente. Estas limitações resultam em eliminações de estágios de controle possíveis.

Na tabela 5.1, na coluna “Combinação” um e significa uma operação lógica e assim

como um o representa a operação ou; na coluna “CAP” um “OK” significa que o es-

tágio é possível sob a restrição de apenas uma bomba por capacidade, e na coluna

“LUG” um “OK” representa a viabilidade do estágio para a restrição de apenas uma

bomba por lugar.

Uma vez escolhido o estágio de controle desejado, deve-se verificar a possi-

bilidade de ativá-lo segundo quais bombas encontram-se disponíveis para operação

45

Page 54: Tratamento de Agua

Estágio Vazão (m3/h) CAP LUG Combinação0 0 OK OK –1 600 OK OK 2o32 1000 OK OK 1o43 1200 – OK 2u34 1600 OK OK [(1o4)u(2o3)] o(5o6)5 2000 – OK 1e46 2200 OK OK [(1o4)e2e3] o [(5o6)e(2o3)]7 2600 OK – [(1o4)e(5o6)] o [1e4e(2o3)]8 3200 OK OK [(1o4)e(2o3)e(5o6)] o(5e6)9 3600 – OK 1e4e(5o6)

10 3800 – – [5e6e(2o3)] o [(1o4)e2e3e(5o6)]11 4200 – – [5e6e(1o4)] o [1e4e(2o3)e(5o6)]12 4400 – – 2e3e5e613 4800 – – (1o4)e(2o3)e5e614 5200 – – 1e4e5e615 5400 – – 2e3e5e6e(1o4)16 5800 – – 1e4e(2o3)e5e617 6400 – – 1e4e2e3e5e618 7400 – – 1e4e2e3e5e6e7

Tabela 5.1: Estágios de controle possíveis.

automática (SCMF). Além disso, deve-se definir a requisição de controle R a ser en-

viada para os blocos sequenciadores das bombas. Assim, da tabela 5.1 se obtém a

tabela 5.2. Considera-se a mesma notação empregada na tabela anterior, acrescida

de A, B e C – representantes do grupos de bombas.

Para os estágios 4c e 8a, vale também que sejam pré-definidas (com maior prio-

ridade) as prioridades de acionamento nos blocos sequenciadores como (p4 = p2 = 1)

o (p3 = p1 = 1).

O operador também pode escolher manualmente o estágio de controle quando

o valor atual de nível encontrar-se entre as regiões de ativação e desativação – ca-

racterizando o modo de operação parcialmente automático – sem qualquer influência

do algoritmo de controle. Em todo caso, se o valor atual tornar-se inferior ao ponto

de ativação, porém ainda estiver acima do ponto emergencial de ativação – caracteri-

zando a região de ativação – após cada período de controle Tco um novo estágio será

calculado e ativado, como tentativa de corrigir a curva, buscando o menor estágio de

maior valor (menor ângulo α), tal que faça a curva de nivel subir.

Todavia poderia ocorrer que, apesar do nível atual encontrar-se dentro da região

de ativação, sua derivada continuasse negativa até que o respectivo ponto emergen-

46

Page 55: Tratamento de Agua

Estágio Condição CAP LUG Requisição R0 – OK OK –1 B ≥ 1 OK OK B = 12 A ≥ 1 OK OK A = 13 B = 2 – OK B = 24a C ≥ 1 OK OK C = 14b (A ≥ 1)e(B ≥ 1) OK – (A = 1)e(B = 1)4c (4e2)o(3e1) – OK (A = 1)e(B = 1)5 A = 2 – OK A = 26a (B ≥ 1)e(C ≥ 1) OK OK (B = 1)e(C = 1)6b (A ≥ 1)e(B = 2) – – (A = 1)e(B = 2)7a (A ≥ 1)e(C ≥ 1) OK – (A = 1)e(C = 1)7b (A = 2)e(B ≥ 1) – – (A = 2)e(B = 1)8a [(4e2)o(3e1)] e(C ≥ 1) OK OK (A = 1)e(B = 1)e(C = 1)8b (A ≥ 1)e(B ≥ 1)e(C ≥ 1) OK – (A = 1)e(B = 1)e(C = 1)8c C = 2 – – C = 29 (A = 2)e(C ≥ 1) – OK (A = 2)e(C = 1)

10a (C = 2)e(B ≥ 1) – – (C = 2)e(B = 1)10b (A ≥ 1)e(B = 2)e(C ≥ 1) – – (A = 1)e(B = 2)e(C = 1)11a (C = 2)e(A ≥ 1) – – (C = 2)e(A = 1)11b (A = 2)e(B ≥ 1)e(C ≥ 1) – – (A = 2)e(B = 1)e(C = 1)12 (B = 2)e(C = 2) – – (B = 2)e(C = 2)13 (A ≥ 1)e(B ≥ 1)e(C = 2) – – (A = 1)e(B = 1)e(C = 2)14 (A = 2)e(C = 2) – – (A = 2)e(C = 2)15 (B = 2)e(C = 2)e(A ≥ 1) – – (B = 2)e(C = 2)e(A = 1)16 (A = 2)e(B ≥ 1)e(C = 2) – – (A = 2)e(B = 1)e(C = 2)17 (A = 2)e(B = 2)e(C = 2) – – (A = 2)e(B = 2)e(C = 2)18 – – – max(A) + max(B) + max(C) + P7

Tabela 5.2: Estágios com respectivas condições e requisições de controle.

cial fosse atingido; então, por medida de segurança para evitar o esvaziamento total

do reservatório, o maior estágio (no caso, 18) seria disparado.

As regiões de controle são ilustradas na figura 5.2.

Por outro lado, caso o valor atual de nível ultrapasse o ponto de desativação

porém ainda esteja abaixo do ponto emergencial de desativação, após cada período

de controle um maior estágio de menor valor possível será escolhido, como forma de

tornar a derivada da curva de nível negativa (com menor α). Se o nível atingir o valor

emergencial de desativação, todas as bombas serão desativadas (estágio 0, o menor)

para evitar uma iminente transbordagem do reservatório.

47

Page 56: Tratamento de Agua

Figura 5.2: Regiões de controle do controlador de nível discreto.

O controle do nível do reservatório superior com a utilização deste controlador

é exemplificado com o gráfico da figura 5.3.

Figura 5.3: Curva de nível do reservatório superior com controle proposto e fator detempo F = 10.

A frequência f de chaveamento não é constante, especialmente quando o fluxo

de saída do reservatório muda (e.g. devido à alteração na demanda). Entretanto, a

frequência do reservatório superior é menor do que a do de água tratada. Na figura

5.3 tem-se 4 chaveamentos em aproximadamente 20 ·10 = 200 minutos1, o que resulta

em f = (4/200) · 60 =⇒ f = 1, 2/h. Notam-se perturbações nas subidas e descidas da

curva, as quais podem ocorrer devido aos seguintes fatores:1A simulação foi feita com o tempo 10 vezes mais rápido do que o normal.

48

Page 57: Tratamento de Agua

• Comutação de bombas devido a tempo de operação esgotado;

• Alteração na diferença entre vazão de entrada e de saída do reservatório;

• O modo de correção alterou o estágio de controle selecionado, dado que o sen-

tido de variação da curva foi invertido na região de operação, o que por sua vez

ocorreu devido a uma das razões acima.

Devido às dimensões do reservatório e vazões operadas podem ser geradas

ondas na superfície da água, o que inviabiliza a medição instantânea do nível para

a eleição de uma ação de controle adequada. Para contornar este problema, a es-

tratégia escolhida foi a de implementar um período de amostragem do nível, após o

qual uma nova estimativa do nível real é fornecida, que por sua vez será considerada

pelo algoritmo de controle. No FB de controle construiu-se um vetor com 20 posições;

toma-se o período de amostragem Ta de nível definido pelo usuário e, considerando-

se o período de chamada Ts do OB no qual o FB controlador é executado e o fator

de tempo F , calcula-se o número n de chamadas sucessivas necessárias do FB para

o preenchimento de uma nova posição do vetor, o qual comporta-se como uma fila

FIFO (First In, First Out). Na equação 5.1, a função int converte o resultado do tipo

real para int.

n = int(

Ta

Ts · F · 20

)(5.1)

É importante salientar que, para realizar-se um controle minimamente ade-

quado, deve-se assegurar que Tco ≥ Ta.

Por último, definiu-se o modo de correção, o qual determina a manutenção do

sentido da curva de nível, quando dentro da região de operação. Por exemplo, se a

curva está crescendo e uma perturbação ocorre – e.g. o fluxo de saída do reservatório

superior torna-se maior que o de entrada – fazendo α < 0, então o controlador irá atuar

como se estivesse na região de ativação.

5.1.2: Controle do Reservatório de Água Tratada

O método de controle empregado neste caso mantém-se essencialmente o

mesmo. No entanto, sua eficácia é reduzida devido à restrição de operação de um

mesmo número de bombas centrífugas em cada poço de captação; com isso, em mui-

tos casos obtém-se uma ação de controle relativamente forte, e como consequência,

49

Page 58: Tratamento de Agua

em média, a frequência de chaveamento das bombas no controle de nível do reser-

vatório de água tratada será maior do que a do reservatório superior. A tabela 5.3

contém os estágios para o controle deste reservatório.

Estágio Vazão (m3/h) Requisição R0 0 0× 3 = 01 2100 1× 3 = 32 4200 2× 3 = 63 6300 3× 3 = 9

Tabela 5.3: Estágios de controle para o reservatório de água tratada.

O comportamento em malha fechada do nível do reservatório é o apresentado

na figura 5.4, com um fator de tempo F = 10.

Figura 5.4: Nível do reservatório de água tratada em malha fechada e com fator detempo F = 10.

Percebe-se que até t = 10 : 23h a frequência f era de 2 chaveamentos a cada

aproximadamente 1 · 10 = 10 minutos, o que implica em f ∼= 12/h. Em t = 10 : 23h

a vazão de saída do reservatório aumentou, ocasionando uma diminuição no ângulo

α como consequência da redução da diferença entre vazões de entrada e saída; por-

tanto a nova frequência foi de f = 21,5·10 · 60 ∼= 8/h.

5.2: Distribuição de Água nas Piscinas

Conforme consta na malha de controle geral da figura 5.1, quando o valor atual

is(j) do nível do reservatório subterrâneo j for menor que o nível desejado ss(j), seu

respectivo controlador PI irá fornecer um sinal de controle cs(j) > 0, o qual somado

àqueles dos demais reservatórios, será entregue ao módulo de filtragem rápida. Não

50

Page 59: Tratamento de Agua

obstante, caso is(j) > ss(j)2 então o controlador PI não poderá fornecer cs(j) < 0,

uma vez que não há como forçar as bombas de vácuo a “devolver” água para os

reservatórios subterrâneos; neste caso permanecerá cs(j) = 0. O módulo de filtragem

rápida, por sua vez, irá captar água bruta necessária para atender à demanda, e a

água processada será disponibilizada para as piscinas de infiltração de tal maneira que

a infiltração em cada piscina colabore da melhor forma possível para o atendimento da

demanda no lençol freático. De aqui em diante considerar-se-á por “piscina” o grupos

de piscinas 1, 2 e 3, cada qual relacionada a seu reservatório subterrâneo de mesmo

número.

Em outras palavras, o controle do nível do lençol freático pode ser sintetizado

na lei

qe(j) = cs(j)− P (j) + E(j) (5.2)

Onde qe(j) é a vazão de infiltração instantânea no reservatório subterrâneo,

P (j) são as perdas devido à dissipação de água no subsolo e evaporação, e E(j) é

o erro de controle atual. O objetivo é fazer E(j) = 0 no menor intervalo de tempo

possível. Entretanto, da fórmula 4.9 sabe-se que qe = f(h), sendo h o nível de água

em um reservatório com infiltração, portanto obtém-se agora um valor desejado s(j)

de nível na piscina. Dado que na maioria das vezes não se tem a vazão de água

exatamente suficiente para satisfazer aos sinais de controle dos controladores PI –

devido à dinâmica e atraso de transporte inerentes ao processo – deve-se estabelecer

um algoritmo de distribuição ótimo, no sentido de procurar ser o mais “justo possível”

caso falte vazão total ou então tentar “prejudicar” o menos possível o lençol freático

quando ocorrer excesso de vazão.

Para tanto, o controlador (distribuidor) recebe o nível atual i(j) da piscina e o

compara com s(j). Geralmente ter-se-á uma diferença de nível e(j) = i(j)− s(j) 6= 0.

O algoritmo de distribuição prevê duas situações:

1. Ao menos uma diferença negativa: ∃j tal que e(j) < 0. Neste caso todas as

piscinas (grupos) tal que e(j) < 0 receberão uma quota ν da vazão total νT . As

quotas são determinadas pela relação

ν(j) =e(j)

eT

· νT (5.3)

2Na verdade, devido ao “atraso” da ação integral do controlador, pode-se ter por certo intervalo detempo is(j) < ss(j) “tentando” gerar um sinal de controle negativo.

51

Page 60: Tratamento de Agua

Onde eT < 0 é a soma de todas as diferenças negativas. Percebe-se que desta

forma, as piscinas com as menores diferenças (maiores módulos) necessitam de

mais água e portanto recebem uma maior quota;

2. Todas as diferenças são positivas: ∀j vale e(j) ≥ 0. O interessante aqui é que

todas as piscinas já possuem água suficiente. Logo, o objetivo é injetar menor

vazão de água nas piscinas com a maior diferença. O algoritmo se subdivide em

três etapas:

(a) Ordenação das diferenças e(j) em uma lista, da maior para a menor;

(b) Criação de um ponteiro entre e(j) e sua posição x na lista ordenada. Isto se

deve à necessidade óbvia de se saber, após a ordenação, quais diferenças

pertencem à quais piscinas. Os ponteiros são números inteiros com o valor

de posição na lista ordernada e são armazenados em uma outra lista. Cada

posição na lista de ponteiros corresponde à respectiva piscina de mesmo

número;

(c) Determinação das quotas de vazão ν(j). Assume-se as variáveis H à maior

e(j), M à intermediária e K à menor. A lei de distribuição é composta das

seguintes relações.

ν(H) =e(K)

eT

· νT ν(M) =e(M)

eT

· νT ν(K) =e(H)

eT

· νT (5.4)

Onde eT ≥ 0 é a soma de todas as diferenças. Nota-se que, com esse

método, procura-se fazer com que o reservatório com maior excesso de

água receba a menor quota de vazão, aquela proporcional à do reservatório

com menor excesso. Com o tempo a tendência é que as diferenças vão se

aproximando de um valor comum, até que a vazão produzida pelo módulo

de filtragem rápida se adapte aos valores definidos pelos controladores PI,

i.e.

limt→∞νT (t) =3∑

j=1

cs(j) (5.5)

Caso uma piscina já esteja cheia, então ela receberá ν(j) = 0 como medida de

segurança, desde que ao menos uma outra piscina não esteja completamente cheia.

Em uma situação extrema, caso todas as piscinas já encontrem-se cheias, então o

algoritmo irá executar como em condição normal, pois não haveria como evitar uma

transbordagem de qualquer piscina.

52

Page 61: Tratamento de Agua

5.3: Mecanismo de Previsão de Demanda

Devido ao atraso de transporte entre a ação do módulo de filtragem rápida e

o lençol freático, ocorrendo principalmente durante o processo de infiltração nas pis-

cinas, o controle do nível nos reservatórios subterrâneos se torna difícil e necessa-

riamente bastante lento, para se evitar uma possível instabilização. Por exemplo, ao

ocorrer um degrau forte na demanda, este efeito vai se propagando desde o reser-

vatório superior até as bombas de vácuo, as quais começam a retirar bastante água

do lençol freático, fazendo o nível cair relativamente rápido. Os controladores PI então

fornecem uma ação de controle para o módulo de filtragem rápida, no sentido de suprir

o volume de água faltante no subsolo; no entanto, até que a água depositada nas pis-

cinas possa infiltrar-se e atingir o lençol freático, pode ser que ele já tenha atingido um

estágio crítico de falta de água, podendo comprometer o atendimento da demanda.

Na verdade, além do problema do atraso de transporte, o sistema piscina →infiltração → reservatório subterrâneo é fortemente não-linear, devido à característica

do modelo da equação 4.9. Por outro lado, a decisão de se usar um controlador clás-

sico linear, inicialmente, justifica-se no fato de que não há especificações rigorosas de

controle para o nível do lençol freático. Além disso, definindo-se um fator integral bas-

tante pequeno3, em relação ao proporcional, consegue-se um comportamento estável,

como será visto no capítulo 6.

Uma proposta simples para contornar a lentidão da infiltração foi a elaboração

de um mecanismo de previsão de demanda. Trata-se de uma tabela com os valores

de vazão (Ausgangdurchfluss) previstas para cada hora do dia. O somatório das 24

vazões resulta no volume total (aktuelle Sollwert) de água previsto para o dia. Além

disso, cada vazão representa uma porcentagem (Leistungsfähigkeit) do valor médio

de vazão horária para o dia. O operador prevê os dados na tabela de amanhã e, ao

trocar o dia, os dados são copiados para a tabela de hoje. A figura 5.5 apresenta a

tabela para o dia de hoje (Heute).

No campo höchste Durchfluss se tem o atual limite de capacidade da ETA que,

ao ser alterado, faz com que todas vazões eventualmente superiores sejam igualadas

a este valor. Trinkwasser zum Netz apresenta o atual fluxo de saída do reservatório

superior para a rede de distribuição. A barra azul corresponde ao tempo já decorrido.

As vazões já totalmente preenchidas pela barra não podem ser alteradas, mas as3Em sistemas sem compensação do atraso de transporte, a ação integral do controlador deve ser

pequena o suficiente para não instabilizar o sistema.

53

Page 62: Tratamento de Agua

Figura 5.5: Distribuição de demanda de água tratada por hora.

restantes ainda podem ser manualmente redefinidas, se necessário. Sempre ao se

alterar um valor de vazão o volume total é atualizado, assim como a porcentagem

horária, entretanto a nova configuração somente passará a ser válida após a tecla

Übernehmen ser pressionada.

Ao se modificar uma procentagem de uma vazão as demais vazões devem

manter-se inalteradas. Define-se, então, V como sendo o volume total, a a vazão

média horária, ζ a vazão horária e l a porcentagem. As expressões matemáticas para

cada uma dessas variáveis são apresentadas a seguir, para um instante de tempo t.

a(t) =V (t)

24V (t) =

23∑i=0

ζi(t) ζi(t) = a(t) · li(t) (5.6)

O problema pode ser definido como

Dado uma nova porcentagem lk(t+1), encontre um novo volume total V (t+

1) tal que satisfaça a nova porcentagem e não afete as demais vazões ζi(t).

Primeiro calcula-se V (t + 1).

V (t + 1) = (V (t)− ζk(t)) + ζk(t + 1)

V (t + 1) = (V (t)− ζk(t)) + (a(t + 1)lk(t + 1))

V (t + 1) = (V (t)− ζk(t)) +(

V (t+1)24

lk(t + 1))

(24V (t+1)−lk(t+1)V (t+1))24

= (V (t)− ζk(t))

V (t + 1) · (24−lk(t+1))24

= (V (t)− ζk(t))

V (t + 1) = 24(V (t)−ζk(t))(24−lk(t+1))

(5.7)

Com isso encontra-se o novo valor médio de vazão horária a(t + 1) = V (t+1)24

,

do qual, junto com a nova porcentagem se calcula a respectiva nova vazão horária

ζk(t + 1) = a(t + 1) · lk(t + 1). No entanto, ainda que as demais vazões permane-

54

Page 63: Tratamento de Agua

çam inalteradas, suas respectivas porcentagens devem ser recalculadas em função

do novo volume.

A configuração de distribuição de volume de hoje e amanhã é transformada em

uma lista que contém as 24 próximas vazões, a partir do instante atual. Esta lista é

repassada a uma espécie de driver do módulo de filtragem rápida, o qual definirá a

operação do módulo como

1. Seguimento de referência da curva (lista) de distribuição de volume prevista,

juntamente com o atraso de transporte (tempo de predição) θp;

2. Seguimento de referência da soma dos csj provenientes dos controladores PI de

nível do lençol freático;

3. Escolha do maior sinal de controle entre os dois itens anteriores.

5.4: Tratamento de Água Residual

As operações no processo de tratamento de água residual constituíram outra

atividade importante programada pelo aluno. Ainda que este módulo não conste na

malha de controle geral da figura 5.1, possui um papel fundamental para a ETA, pois

caso o módulo sature ou seja impedido de operar, o módulo de filtragem rápida aca-

bará sendo bloqueado por impossibilidade de limpeza de seus filtros rápidos, o que

por sua vez culminaria em uma gradual redução de fornecimento de água da ETA.

Considera-se novamente o esquema do módulo, na figura 2.2. Os tanques de

decantação são os primeiros na sequência de operação: procura-se deixar apenas

uma das válvulas à montante TiVm abertas, de maneira que apenas um tanque esteja

recebendo água por vez, o que implica em uma operação alternada dos tanques. O

modo de operação “normal” é o no1, definido pelo Grafcet – implementado como SFC

na programação em PCS7 – da figura 5.6, no qual ambas as válvulas TiVm e TiVj

permanecem fechadas durante a operação. Entende-se, portanto, porque deseja-

se que os tanques operem alternadamente: caso aconteça dos tanques operarem

simultaneamente, não haverá mais possibilidade de se captar água para tratamento,

e o módulo de filtragem rápida será impedido de realizar limpeza de seus filtros.

No Grafcet da figura 5.6, no passo final End as instruções para fechamento da

válvula à jusante e desligamento do limpador podem parecer redundantes, mas trata-

se de uma medida de segurança, uma vez que o operador pode abortar a operação

55

Page 64: Tratamento de Agua

Figura 5.6: Grafcet do modo 1 de operação automática do tanque de decantação.

do SFC em qualquer passo, entretanto antes do seu cancelamento o último passo é

sempre executado. Há também o modo de operação 2, o qual pode ocorrer apenas

durante o dia. Neste modo ambas as válvulas TiVm e TiVj permanecem abertas e

o limpador permanece em operação contínua, conforme demonstra o Grafcet imple-

mentado da figura 5.7. O modo 2 é disparado quando há grande volume de água a ser

tratado, o que reduz a disponibilidade de tempo para decantação, portanto ela passa

a ocorrer de maneira “dinâmica”, com o auxílio de elementos floculantes.

Para o disparo da operação automática de um tanque, todos os dispositivos

envolvidos (limpador e válvulas) devem estar conectados à malha de controle (figura

4.3) e o sensor de nível deve estar se acusando com medição correta4. Com estas4Os sensores de ultra-som de nível utilizados possuem um sistema de auto-verificação da integri-

56

Page 65: Tratamento de Agua

Figura 5.7: Grafcet do modo 2 de operação automática do tanque de decantação.

condições satisfeitas, o disparo pode ser automático – há níveis de disparo diferentes

para os períodos da noite e dia – ou manual, quando o nível do tanque encontrar-se

entre o de desligamento e o de ativação automática. Caso um tanque esteja operando

em modo automático e uma das condições recém apresentadas passar a não valer

mais, então o SFC é contido no passo atual, até que todas as condições voltem a

ser válidas. Na situação de ambos os tanques operarem simultaneamente no modo

2, então seus níveis serão praticamente iguais, e portanto caso um dos sensores

se tornar indisponível para medição por alguma razão, então o tanque com sensor

danificado passará a utilizar o sinal do sensor do outro tanque.

Há também um modo 3 de operação dos tanques de decantação: o modo de

“congelamento”. Neste, quando a temperatura ambiente cair abaixo de um determi-

nado valor e o(s) tanque(s) estiver(em) pronto(s) para operar em modo automático, a

válvula à jusante do(s) tanque(s) será(ão) aberta(s) e o(s) limpador(es) operará(ão)

continuamente, agitando a água e evitando o congelamento.

Quando o nível no reservatório de água poluída atingir um determinado valor ha

o processo de tratamento desta água é iniciado, e é encerrado quando o nível atingir

dade de medição realizada.

57

Page 66: Tratamento de Agua

hd, sendo ha > hd > 0m. Este processo implica, simplificadamente, nas seguintes

operações:

1. A operação automática das bombas Bpi no reservatório de água poluída é dis-

parada Para o acionamento das bombas se utiliza um FB sequenciador, o qual

gerencia suas prioridades de ativação, tempos de operação e tempos entre ati-

vações (para reduzir as correntes de partida);

2. Os filtros de areia Dyna são ativados;

3. Os compressores que fornecem ar-comprimido para os filtros são ativados.

58

Page 67: Tratamento de Agua

Capítulo 6: Simulação e Resultados

Uma vez tendo-se elaborado os controladores discretos dos reservatórios su-

perior e de água tratada, tendo-se também todos os FBs de modelagem dos reser-

vatórios, os FBs de tratamento dos dados de distribuição do volume para previsão de

demanda, entre outros, partiu-se para a implementação da malha de controle da figura

5.1 através de programação em CFC. Por último, construiu-se uma interface gráfica da

simulação no sistema SCADA.

6.1: Metas e Indicadores de Desempenho

É importante estabelecer quais são as metas e os indicadores de desempenho

que serão analisados para se qualificar a estrutura de controle proposta, de acordo

com as especificações de projeto apresentadas no capítulo 2. Assim, foram levantados

os seguintes critérios:

1. Indicadores de desmpenho. Traduzem-se em números, e servem para uma

análise quantitativa. Por exemplo: frequência de chaveamento média das bom-

bas de água tratada e das bombas centrífugas dos poços de captação; número

de vezes em que os reservatórios superior, de água tratada e poços de captação

esvaziam-se por completo ou transbordam;

2. Metas de desempenho. Utilizadas para uma análise qualitativa. As principais

metas são: evitar o esvaziamento completo das piscinas, para manter o subsolo

sempre encharcado; evitar oscilações fortes no nível do lençol freático; assegu-

rar o fornecimento de água ininterrupto frente a intensos degraus na demanda

de água tratada, entre outros.

Outro aspecto importante da simulação é detectar como os requisitos de con-

trole influem na consecução das metas de desempenho, tais como operar sempre com

o mesmo número de bombas centrífugas em cada poço de captação.

59

Page 68: Tratamento de Agua

6.2: Parametrização

Antes de se realizar a simulação para avaliar o desempenho da planta com o sis-

tema de controle integrado, deve-se fazer a devida parametrização dos reservatórios.

Alguns dos parâmetros da planta aqui utilizados foram estimados a partir de conversas

com os operadores e “bom-senso”, uma vez que muitos dados não encontravam-se

prontamente disponíveis, e outros eram difíceis de determinar – e.g. como o “fundo”

do lençol freático.

Reservatório Área (m2) Altura (m) Volume (m3)Reservatório superior 100 5 500

Reservatório de água tratada 64 4 256Poços de captação (cada) 16 6 96

Reservatório subterrâneo 1 132000 5 660000Reservatório subterrâneo 2 200000 5 1000000Reservatório subterrâneo 3 65000 5 325000

Grupo de piscinas 1 17923 1 17923Grupo de piscinas 2 21598 1 21598Grupo de piscinas 3 4900 1 4900

Tabela 6.1: Parametrização dos reservatórios para simulação.

Para a simulação dos elementos atuadores (ativos) da malha de controle da

figura 5.1, criou-se um bloco simulador de sistemas dinâmicos de primeira ordem. Na

verdade, tais FBs (instâncias) simulam a dinâmica do fluxo de água fornecido por tais

atuadores. Por exemplo, no caso das bombas centrífugas – que bombeam água dos

poços de captação para o reservatório de água tratada – é razoável assumir que a

dinâmica da bomba (velocidade do rotor) aproxima-se da vazão por ela fornecida; por

outro lado, tratando-se das bombas de vácuo – que retiram água do lençol freático e

a insere nos poços de captação – a dinâmica do rotor da bomba é muito mais rápida

do que a da vazão de água, i.e., primeiro a pressão negativa tem que ser gerada,

para somente então a vazão nos dutos começar a aumentar. A figura 6.1 apresenta o

comportamento do sistema de 1aordem implementado, com suas principais variáveis

de interface1

A particularidade do modelo aqui empregado é o fato de haver duas constantes

de tempo distintas, uma para subida – modelo da equação 6.1 – e outra para descida

– modelo 6.2. Além do mais, o ganho do sistema é dinâmico e pode ir variando

no decorrer da evolução do sistema. O ponto de operação o é referenciado ao zero1Variáveis de interface são aquelas “públicas”, que podem ser acessadas por outros FBs.

60

Page 69: Tratamento de Agua

Figura 6.1: Modelo do sistema de 1aordem implementado.

absoluto, e é utilizado para determinar quando o sistema pode ser considerado “em

operação”.

x(t) = K ·(1− e−

tτs

)⇒ L {x(t)} ⇒ X(s) =

K

1 + sτs

(6.1)

x(t) = K · e−t

τd (6.2)

O foco desta simulação é simular os fluxos de água e níveis de reservatórios,

tão somente. A tabela 6.2 contém as dinâmicas e características atribuídas aos fluxos

de água (vazões) geradas por cada elemento atuador da malha de controle.

Atuador τs τd Saturação GanhoRede de distribuição 2min 2min – K > 0m3/h

Bomba de água tratada 30s 10s – K = ctem3/hBomba centrífuga de poço 10s 5s – K = 700m3/h

Bomba de vácuo 3min 1min – K = 900m3/hMódulo de filtragem rápida 1min 30s 2500m3/h 0 ≤ K ≤ 2500m3/h

Tabela 6.2: Dinâmicas das vazões geradas pelos atuadores.

A simulação dividiu-se em duas situações distintas: a primeira é o teste da

planta sob circunstâncias corriqueiras de demanda, com uma curva prevista de vo-

lume distribuído cotidiana; a segunda representa um teste de reação ao degrau de

demanda na rede de distribuição, de maneira a verificar se a ETA é capaz de garantir

o fornecimento de água sob tal circunstância sem falhar com as metas de desempe-

nho definidas. Ambas as simulações tiveram como condição inicial dos reservatórios

a metade do nível máximo de cada um.

61

Page 70: Tratamento de Agua

6.3: Simulação de Demanda Normal

Definiu-se uma típica curva de demanda de água para o período de um dia no

verão, conforme consta no gráfico da figura 6.2, e simulou-se o sistema sob estas

circunstâncias ininterruptamente por um período equivalente a 14 dias. À demanda

em cada hora foi atribuído um valor fixo, de forma que o chaveamento entre uma hora

e a próxima corresponde a um degrau na demanda. Entretanto, na curva realizou-se

uma interpolação linear.

Figura 6.2: Curva típica de demanda de água no verão em um dia (24 horas).

Em realidade, deixou-se o CLP operando por aproximadamente 1 dia e meio

com um fator de tempo 10. Este mecanismo de “manipulação” do tempo não é um

serviço disponibilizado nativamente pelo hardware, nem sequer pela biblioteca padrão

de FBs da Siemens; para tanto, foi elaborado um FB manipulador do tempo, com

algumas funcionalidades tais como seguir o tempo atual do sistema, ou então, a partir

do tempo atual do sistema, passar a “executar” o tempo com uma velocidade diferente

da normal, definida por um fator de tempo F ∈ <, tal que

0 < F ≤ 1

Ts

· 60 (6.3)

Onde Ts é o período de chamada do OB no qual o FB manipulador de tempo

e os FBs de simulação são executados. A constante 60 surge devido à contagem de

tempo, cuja resolução é em minutos. O intervalo de F definido na expressão 6.3 ex-

prime que o fator de tempo não pode ser nulo, senão um minuto duraria por um tempo

real infinito. Por outro lado, F não pode ser excessivamente grande, caso contrário o

62

Page 71: Tratamento de Agua

número de ciclos necessários de chamada do OB em questão seria menor do que 1.

Nas simulações aqui abordadas, usou-se Ts = 0, 1s, o que permite um fator de tempo

máximo Fmax = 600.

Assume-se – para os controladores discretos dos reservatórios superior e de

água tratada – hS como o nível de desativação emergencial, h(d) como o nível de

desativação, ha sendo o nível de ativação, hI representando o nível de ativação emer-

gencial (figura 5.2), Tco como o período de controle e Ta o período para amostragem

do nível. Os parágrafos a seguir tratam dos resultados da simulação.

No reservatório superior a frequência média de chaveamento das bombas de

água tratada ficou em ∼= 1, 1/h, com configuração do controlador sendo hS = 4, 5m,

hd = 4, 25m, ha = 2m, hI = 0, 5m, Tco = 120s e Ta = 20s. Esta frequência é bastante

satisfatória, considerando a margem para se evitar esvaziamento e transbordagem do

reservatório – os quais não ocorreram – e a impossibilidade de se realizar um controle

contínuo clássico sobre o mesmo.

Já para o reservatório de água tratada a frequência média de chaveamento

das bombas centrífugas dos poços foi de ∼= 6/h, com a seguinte configuração do

controlador: hS = 3, 75m, hd = 3, 25m, ha = 1m, hI = 0, 25m, Tco = 120s e Ta = 20s.

Como era de se esperar, a frequência de chaveamento aqui é mais alta, dado as

dimensões menores deste reservatório, assim como o fato de se enviar a mesma

requisição de controle para cada poço (bombas centrífugas) colabora para um sinal

de controle muitas vezes forte demais. Como será visto na sequência, este não é o

único problema desta especificação de controle. De qualquer maneira, a frequência

aqui obtida foi menor do que a calculada em testes iniciais (seção 5.1.2), o que é um

bom resultado para este indicador de desempenho, ainda mais considerando-se que

em nenhum momento o reservatório esvaziou-se ou transbordou.

Para os poços de captação fez-se a simulação do hardware de controle do ní-

vel do poço com os parâmetros hd = 4m e ha = 2, 5m (não há níveis emergenciais). A

frequência de chaveamento obtida foi ∼= 9, 3/h, a mais alta entre os três (tipos) de re-

servatórios abordados até aqui. Isto se deve à dinâmica lenta do fluxo de água sugado

através das galerias pelas bombas de vácuo, fazendo com que as bombas tenham de

ser ligadas (principalmente) e desligadas muito antes dos limites de capacidade dos

poços. A operação foi simulada com as duas bombas por operação; caso se utilizasse

apenas uma, o que é configurável pelo operador, a frequência de chaveamento pas-

saria para cerca de 25/h, o que reduziria muito o período entre manutenções destes

63

Page 72: Tratamento de Agua

equipamentos. Além disso, operando-se com as duas bombas de vácuo garantiu-se

um volume mínimo e máximo de água dentro dos limites operacionais seguros com a

menor frequência de chaveamento possível.

O comportamento dos reservatórios subterrâneos 1 e 2 foram semelhantes,

devido aos volumes semelhantes que possuem, assim como as áreas relativamente

próximas dos grupos de piscinas que os alimentam. A figura 6.3 apresenta o gráfico

do nível do reservatório 1 durante os 14 dias de simulação. Já a curva de nível do

reservatório 3 convergiu para o valor desejado 2, 5m quase que com a metade do

tempo, devido ao volume ser bem menor.

Figura 6.3: Nível do reservatório 1, sob demanda típica, por 14 dias.

A configuração do controlador clássico PI, implementado em um FB conforme

a estrutura apresentada na figura 6.4, teve como constante proporcional KP = 1000 e

constante integral KI = 0, 02.

Figura 6.4: Estrutura do controlador PI implementado.

Nota-se que, dada a condição inicial h(0) = 0, 5 · hmax, o nível converge para a

referência de 2, 5m aproximadamente como um sistema de segunda ordem, cujos pó-

los de malha fechada são complexos conjugados, ocasionando uma curva oscilatória

64

Page 73: Tratamento de Agua

convergente. Daí conclui-se que, apesar desta malha interna de controle – definida

por controlador → filtragem rápida → piscinas de infiltração → lençol freático – ser

não-linear, sendo o controle do tipo linear clássico (PI), devido ao grande atraso de

transporte e da respectiva lenta ação de controle (pequena ação integral), o sistema é

estabilizado, ao menos para este ponto de operação. Percebe-se também oscilações

de menor porte, periódicas, durante as 2 semanas da curva de nível: elas represen-

tam o efeito da distribuição de vazão (demanda) diária, repassada ao lençol freático

através da ação das bombas de vácuo.

O “atuador” da malha interna de controle dos reservatórios subterrâneos, con-

forme consta na figura 5.1, é o módulo de filtragem rápida. O gráfico da “ação de

controle” deste módulo é apresentado na figura 6.5. Nota-se que, a partir da con-

dição inicial nula, o módulo vai também convergindo segundo o comportamento de

um sistema de 2aordem, tendendo a estabilizar-se ao redor de 1300m3/h, o que é,

aproximadamente, o valor médio (1246, 88m3/h) de vazão da curva definida na figura

6.2.

Figura 6.5: Vazão de saída do módulo de filtragem rápida para demanda típica.

Por último, o comportamento das piscinas reflte o desbalanço causado pela

especificação de controle de se operar com o mesmo número de bombas centrífugas

simultaneamente em cada poço de captação: enquanto, no grupo de piscinas 1 e

2, o nível raramente ultrapassou os 15cm, ocorrendo um pico de 20cm no grupo de

piscinas 2 no quarto dia, já no grupo de piscinas 3 (piscina 12) o nível esteve até

então sempre saturado em ∼= 1m, possivelmente tendendo para convergir ao redor

de 95cm. Isto se deve ao fato de, uma vez que a área de infiltração deste grupo

é extremamente pequena, em relação ao volume de água retirado do reservatório

subterrâneo correspondente (3), então o controlador distribuidor procura compensar

65

Page 74: Tratamento de Agua

esta deficiência com um elevado nível na piscina.

6.4: Teste de Capacidade de Resposta

Neste teste, simulou-se uma situação fictícia de demanda oscilatória crescente,

na forma de degraus consecutivos alternados, conforme apresenta o gráfico da figura

6.6. O gráfico desta figura possui um aspecto diferente do da 6.2, no entanto a idéia é

a mesma: cada hora possui uma demanda (vazão) constante, ocorrendo degraus na

demanda no chaveamento entre as horas.

Figura 6.6: Distribuição fictícia para teste de resposta ao degrau da ETA.

Decidiu-se por realizar este teste para se detectar o limite de reação da planta,

acima do qual não se garante o pronto e ininterrupto atendimento da demanda. O

período de simulação foi também de 14 dias, realizado com fator de tempo F = 10.

Os resultados obtidos foram os seguintes.

A frequência de chaveamento do reservatório superior passou a ser f ∼=1, 3/h. Este aumento é devido, em parte, ao aumento do somatório do módulo da

diferença entre demanda e sinal de controle mais próximo possível23∑i=0

| ζ[i] − cp[i] |,

como mostra a tabela 6.3, o que faz com que o sinal de controle se torne mais forte,

aumentando a inclinação α da curva de nível e, portanto, diminuindo o tempo en-

tre chaveamentos consecutivos. Contudo, com o mesmo ajuste do seu controlador

discreto, continuou não havendo quaisquer transbordagens ou esvaziamentos do re-

servatório.

Já para o reservatório de água tratada ocorreu uma diminuição na frequência

66

Page 75: Tratamento de Agua

Demanda Normal Teste de Capacidade23∑i=0

| ζ[i]− cp[i] | 2325m3/h 2800m3/h

Demanda média 1246, 88m3/h 1350m3/hVolume total 29925m3/h 32400m3/h

Tabela 6.3: Valores comparativos entre demanda normal e teste de capacidade.

de chaveamento, passando para f ∼= 4, 5/h. Além disso, não houve esvaziamentos,

entretanto ocorreu uma transbordagem. Acontece que, quando a diferença entre os

degraus na demanda é muito forte e negativa – como ocorre entre 21h e 22h, com

200m3/h − 2400m3/h = −2200m3/h – a demanda de água do reservatório superior é

intensamente reduzida, o que reduz bastante o sinal de controle aplicado às bombas

de água tratada, as quais passam a retirar menos água do reservatório de água tra-

tada. Portanto, o controlador reduz o sinal de controle aplicado às bombas centrífugas,

mas, uma vez que esta reação exige um determinado tempo, até lá pode acontecer

de o reservatório de água tratada transbordar. A configuração do controlador discreto

deste reservatório manteve-se inalterada.

A garantia contra esvaziamentos é assegurada por um sistema de proteção de

“baixo-nível”, com maior prioridade do que o sinal de controle aplicado às bombas: à

medida em que o nível em um reservatório cai abaixo de um valor mínimo inicial, o

número de bombas disponíveis vai se reduzindo, até um nível mínimo crítico, debaixo

do qual nenhuma bomba pode ser acionada.

Nos poços de captação, a frequência de chaveamento também foi reduzida,

agora para f ∼= 6, 6/h. A justificativa é consequente à anterior: a redução no sinal de

controle aplicado às bombas centrífugas dos poços de captação2 faz com que o seu

controlador (hardware) desligue as bombas de vácuo; no entanto, dados o tempo de

reação do controlador e a grande inércia da vazão de entrada nos poços de captação

devido ao vácuo – maior do que a inércia da vazão de saída das bombas de água

tratada – acaba ocorrendo a transbordagem. No poço 1 ocorreram duas transborda-

gens, no poço 2 nenhuma, e no poço 3 aconteceu uma transbordagem. De qualquer

maneira, sob reduções fortes no sinal de controle, surgem patamares (transbordagem

→ saturação) longos nas curvas de nível dos reservatórios de água tratada e poços de

captação, o que influi diretamente para as reduções na frequência de chaveamento.

A figura 6.7 mostra o comportamento do nível do reservatório subterrâneo 1,2Reação em cadeia, ou “sistema puxado”, com fluxo (de água) em somente um sentido.

67

Page 76: Tratamento de Agua

que foi idêntico ao dos demais. A configuração do controlador PI manteve-se a mesma.

Nota-se que o nível segue a referência de 2, 5m conforme o desejado e, de igual forma,

segundo o comportamento de um sistema de 2aordem. No entanto, os degraus na de-

manda perturbam menos as curvas de nível dos reservatórios subterrâneos, uma vez

que o aumento da amplitude dos degraus combinado com a periódica oscilação en-

tre eles simula um efeito de aumento de frequência, sendo que nesse caso, devido à

dinâmica extremamente lenta do lençol freático, o sistema acaba atuando como um

filtro “passa-baixa”, atenuando os efeitos das oscilações horárias de demanda.

Figura 6.7: Nível do reservatório 1, sob teste de capacidade, por 14 dias.

Finalmente, analisando-se a curva de tratamento de água (vazão) do módulo

de filtragem rápida, apresentada na figura 6.8, verifica-se que o seu pico passou

de 2072m3/h para 2125m3/h, assim como nesse caso a curva tende a estabilizar-se

em 1400m3/h, aproximadamente o valor médio de demanda (tabela 6.3) para o teste

de capacidade. Além disso, percebe-se um menor efeito de perturbação das vazões

horárias, devido ao caráter de filtro “passa-baixa” do lençol freático, explicado ante-

riormente. Não obstante, o comportamento das piscinas de infiltração manteve-se

praticamente o mesmo, apenas com uma ligeira elevação nos níveis de estabilização

(convergência); logo, a piscina 3 saturou em 1m, reforçando o problema na especifi-

cação de controle das bombas centrífugas.

Em síntese, mantidas as configurações dos controladores utilizadas para a si-

mulação de demanda normal (típica), obtiveram-se as seguintes variações nos indica-

dores de desempenho:

• Melhorias: diminuições nas frequências de chaveamento do reservatório de

água tratada e poços de captação; comportamento mais suave das curvas de

68

Page 77: Tratamento de Agua

Figura 6.8: Curva de vazão do módulo de filtragem rápida em teste de capacidade.

nível dos reservatórios subterrâneos e curva de vazão do módulo de água tra-

tada;

• Deteriorações: aumento da frequência de chaveamento do reservatório supe-

rior; transbordagens nos reservatórios de água tratada e poços de captação;

saturação completa no nível do grupo de piscinas 33.

No entanto, mesmo sob condições adversas como neste teste de capacidade,

garantiu-se o fornecimento de água tratada na rede de distribuição a longo prazo,

através do não-esvaziamento dos reservatórios.

3Só não ocorre transbordagem do grupo de piscinas 3 por causa do algoritmo de distribuição, limi-tando a vazão de entrada na piscina.

69

Page 78: Tratamento de Agua

Capítulo 7: Conclusões e Perspectivas

Através deste relatório objetivou-se apresentar uma visão de todas as etapas

de projeto pelas quais o aluno atuou, envolvidas no processo de retrofitting da ETA

Hengstey. Conforme pôde-se observar, são muitas as áreas de engenharia, especial-

mente de controle e automação, envolvidas neste projeto, o que lhe confere uma ca-

racterística bastante multidisciplinar e completa, deveras uma ótima oportunidade para

a consolidação de diversos conhecimentos abordados durante o decorrer do curso de

Engenharia de Controle e Automação Industrial (ECAI) da Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC). As atividades do aluno durante seu projeto de fim de curso

não somente lhe conferiram uma excelente oportunidade profissional e de aprendi-

zado, devidamente aproveitada, como foram de grande importância para a empresa

GreyLogix e para a própria empresa cliente Mark-E – responsável pela operação da

ETA Hengstey.

Em relação à Mark-E, o trabalho desenvolvido até o momento colaborou para o

desenvolvimento de um modelo de infiltração e comportamento do lençol freático que

até então não existia de maneira formal. O controle do nível dos reservatórios subter-

râneos era feito de forma manual, baseado na experiência do(s) operador(es), o que

incorria em eventuais problemas de controle – como nível muito baixo ou até mesmo

alto – o que por sua vez podia acarretar certo grau de deterioração da qualidade da

água (nível alto demais) ou então limitação da vazão de retirada do lençol freático –

como medida de segurança – ou, em situações mais críticas, por ineficácia da pressão

negativa gerada pelas bombas de vácuo. Com a automação do processo e integra-

ção dos módulos da ETA por meio de sistema SCADA, o controle do nível do lençol

freático passa a ser automático, estável, e possibiltando ainda a criação de “reservas”

de água no subsolo, através do mecanismo de previsão de demanda, sob perspecti-

vas de alto consumo de água. O controle das bombas centrífugas e de água tratada

também foi remodelado por meio de um algoritmo mais eficiente de escolha de quais

bombas devem operar, visando aumentar o período de vida útil dos equipamentos.

Cabe aqui relembrar que a parametrização da planta utilizada para as simu-

lações foi aproximada e, de certa forma, “subestimada”, de maneira a se prever um

“pior caso” de operação. Dessa forma, ao se obter resultados julgados satisfatórios,

e uma vez que os reservatórios possivelmente possuem capacidades maiores, infere-

70

Page 79: Tratamento de Agua

se que os indicadores de desempenho serão ainda melhores, i.e., a frequência de

chaveamento das bombas será diminuída ainda mais, assim como as chances de es-

vaziamento total e de transbordagem. A maior preocupação do aluno e de sua equipe,

durante o período do PFC, foi a de gerar um modelo de simulação com mecanismos

que representem da melhor maneira o funcionamento da ETA, obviamente, com certo

grau de abstração, de maneira a viabilizar a simulação; e.g., dentro do módulo de fil-

tragem rápida existem 14 filtros, cada qual com válvulas e controle próprios de nível

e rotinas de limpeza, além dos dispositivos auxiliares como compressores, os quais

caracterizam todo um problema de controle e automação próprio. No entanto, esta

tarefa foi delegada a outra pessoa, sendo que o aluno pôde abstrair a operação do

módulo através de um sistema de primeira ordem com parâmetros definidos, como

deve ser o comportamento do módulo quando visto “de longe”.

No que diz respeito à GreyLogix, o trabalho desenvolvido foi também de grande

satisfação. A empresa possui engenheiros e técnicos altamente competentes e es-

pecializados na área, entretanto seus conhecimentos, muitas vezes, são focados na

prática – até por necessidade e hábito. A interação do aluno com sua equipe foi es-

pecialmente proveitosa, no sentido em que o aluno procurou, na medida do possível,

empregar técnicas e conhecimentos abordados no curso de ECAI, os quais agrega-

ram um embasamento teórico maior à atividade de engenharia, o que por sua vez foi

muito bem recebido e assimilado pela equipe. No fundo, o reconhecimento da equipe

de engenharia alemã perante a metodologia e abordagem do aluno ao problema de

controle e automação reflete o alto grau de excelência do curso de ECAI da UFSC:

ainda que existam deficiências isoladas e (sempre haverá) adaptações curriculares e

estruturais a serem feitas, a preparação acadêmica do curso é deveras de alta quali-

dade, o que pode ser comprovado como realidade pelas estatísticas de sucesso dos

alunos em seus PFCs, e posteriormente, na vida profissional.

É importante aqui exprimir um aspecto deste PFC que representou um apren-

dizado e experiência especial: a dificuldade em se obter especificações de projeto

para com as quais se trabalhar. Devido a isto, o andamento das atividades não foi exa-

tamente “linear” e “suave” conforme o organizado neste relatório e metodologicamente

correto; de maneira simplificada: levantamento de objetivos estratégicos → obtenção

de especificações de controle e automação → projeto → validação → implementação.

Basicamente, recebeu-se o seguinte objetivo estratégico:

“Realizar um projeto de retrofitting da ETA, utilizando recursos de controle

71

Page 80: Tratamento de Agua

e automação para o melhoramento do processo de tratamento de água, au-

mentando sua eficiência, confiabilidade e facilidade de operação da planta.”

Tendo exprimido seu objetivo estratégico, o cliente passou a aguardar os re-

sultados do projeto, como é o que ocorre – naturalmente – na maioria das vezes.

Contudo, dentro da própria equipe de engenharia, as atividades de projeto eram, fre-

quentemente, repassadas ao aluno sem especificações técnicas suficientes, quando

dadas. Ou seja, não se tinha mais “somente” o problema de projeto, mas a etapa

anterior a ser resolvida – levantamento das especificações de projeto. A importância

desta etapa pôde ser verificada na prática pelo aluno, através da dificuldade em se

“extrair” informações corretas de engenharia do pessoal que trabalha com a própria

planta.

Outro aspecto interessante foi observado durante a fase de projeto: como de-

cidir por onde começar o projeto? Como escolher o melhor método para se abordar

um problema, por exemplo: controle discreto, Redes de Petri, controle clássico ou não-

linear? Estas dificuldades foram vivenciadas pelo aluno rotineiramente, caracterizando

uma experiência até então inédita no curso de ECAI, durante o qual os problemas são

abordados com métodos muitas vezes pré-definidos, sob a forma de ferramentas de

ensino. Não se está aqui criticando a metodologia de ensino, pelo contrário, a avalia-

ção é extremamente positiva; no entanto, o curso de engenharia é incapaz de prover

uma experiência como a vivenciada neste PFC, onde as tomadas de decisões, abor-

dagens e procedimentos ficam sob responsabilidade do aluno, como uma prévia do

que virá pela frente em sua carreira profissional.

Outra particularidade desta experiência de PFC foi a ampla gama de disciplinas

do curso de ECAI cujos conteúdos foram envolvidos na atividade de projeto. Pode-se

listar os mais relevantes:

• Fenômenos de Transporte: modelo de infiltração no subsolo; modelo de inte-

ração entre reservatórios subterrâneos;

• Modelagem de Sistemas Automatizados: autômatos de estados finitos para

formalização do comportamento livre de elementos de atuação das malhas de

controle; Grafcets (Redes de Petri) para representação de procedimentos se-

quenciais;

• Redes de Computadores para Automação Industrial: redes Fieldbus (Profi-

bus) e Ethernet; conceitos de comunicação entre dispositivos em rede;

72

Page 81: Tratamento de Agua

• Informática Industrial II: sistemas de tempo real; tarefas periódicas; sistemas

operacionais; programação C;

• Sistemas Realimentados: malhas de controle; modelos de sistemas lineares;

controladores clássicos;

• Avaliação de Desempenho de Sistemas: modelo de simulação, indicadores de

desempenho, interpretação de resultados;

• Informática Industrial I: sistemas supervisórios (SCADA); níveis de integração

e automação fabril. Aqui menciona-se o principal equipamento utilizando no pro-

jeto: o CLP. É notável e impressionante a evolução de tal equipamento na tarefa

de automação de “chão-de-fábrica”, desde seus primórdios – final da década de

60 – até a atualidade; os CLPs com os quais o aluno trabalhou apresentam mui-

tas funcionalidades, assemelhando-se a PCs industriais, tal é a capacidade de

processamento, flexibilidade de programação e aplicações possíveis que apre-

senta, além da robustez e confiabilidade intrínsecas a este dispositivo. A refle-

xão aqui é que esta visão moderna não é vista, em geral, pelos alunos do curso

de ECAI. Creio que a disciplina de Informática Industrial I deveria concentrar-se

mais nas novas funcionalidades atribuídas a este dispositivo – tão importante na

tarefa de automação industrial cotidiana – através, por exemplo, de tarefas práti-

cas que envolvam controle contínuo de processos, entre tantos, fazendo uso de

programações mais completas e flexíveis como SCL e CFC, se disponíveis.

Por último, o PFC abriu portas para o início da carreira profissional do aluno: a

empresa alemã GreyLogix, aliando o interesse de investimento na área de automação

no Brasil com o sucesso da experiência de trabalho com o aluno, está em vias de

abrir uma empresa no ramo, com sede inicialmente em Florianópolis. Além disso, dois

colegas de ECAI encontram-se envolvidos nesta nova empreitada, assim como outros

dois colegas foram convidados a realizar seus PFCs na sede da empresa alemã, em

Flensburg.

A consideração final é de que as perspectivas são muito boas, e todo o trabalho

e empenho foi amplamente proveitoso, tanto no sentido acadêmico/profissional como

pessoal.

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Bibliografia

[1] George M. Hornberger, Patricia L. Wiberg, Jeffrey P. Raffensperger, and Keith N.Eshleman. Elements of Physical Hydrology. The Johns Hopkins University Press,Baltimore, EUA, 1998.

[2] Bundesministerium für Umwelt, Naturschutz und Reaktorsicherheit.http://www.bmu.de.

[3] European Parliament and The Council of The European Union. European waterframework directive. Official Journal OJ L 327, Outubro 2000.

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[6] Cisco Systems, Inc. Industrial Ethernet: A Control Engineer’s Guide, Agosto 2003.

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[10] Katsuhiko Ogata. Engenharia de Controle Moderno. Pearson Prentice Hall, SãoPaulo, Brasil, 4 edition, 2003.

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