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Personagens: Velha de olhos grandes, Velha de nariz grande, Velha de mãos grandes, Rei, Príncipe, José, Ana, Narrador. Três velhas tecelãs N arrador – José é pai de Ana e tem muito orgulho da filha. Conta para todo mundo tudo o que ela sabe fazer e ama tanto a filha que muitas vezes exagera no elogio. José: Minha filha cozinha muito bem. É delicada, cuidadosa, tem uma letra linda, sabe cantar, pintar bordar, pular corda, sabe falar inglês, sabe karatê... Ops, karatê está aprendendo, mas dança balé como ninguém. Narrador – Um dia José elogiava a filha e falou no meio da praça que ela era capaz de fiar transformando linha em tecido de modo tão rápido que parecia ter mãos mágicas. O rei do reino vizinho, que passava por ali com sua comitiva, mandou levar Ana ao castelo e ordenou que ela passasse por três desafios e se vencesse a todos se tornaria princesa daquele reino. Rei: Sempre procurei a melhor tecelã do mundo para fazer os mais belos tapetes e tecidos. Se for verdade que suas mãos são mágicas, caso você com meu filho. Você se tornará princesa e depois de um tempo rainha! Ana: Rei, nem sei o que dizer! Rei: Seu destino tem três fios, três caminhos. No primeiro, você supera os desafios e casa-se com meu filho. No segundo, você não aceita ser desafiada e morre por me desobedecer e no terceiro caminho você não consegue cumprir a tarefa, fracassa e morre do mesmo jeito. Ana: Desafio aceito! (Ana fala para a platéia) Ai, eu mato meu pai! Quem mandou ser tão exagerado, tão desajeitado com as palavras! Narrador – O primeiro desafio a ser enfrentado por Ana era fiar a quan- tidade de fios que coubesse no maior salão do castelo. E para isso ela teria apenas uma noite. Ao raiar do sol o rei viria, ou para dar parabéns pelo trabalho realizado ou para levar a menina ao calabouço. Ana (para a platéia): Ai de mim! Como conseguirei fiar tanto em tão pouco tempo? Não sou mágica e, pra falar a verdade, nunca gostei das aulas de fiar! Narrador – O tempo passava rápido escorregando pela janela. Os pri- meiros raios de sol logo viriam. Ana estava desesperada! Quando, de repente, ouviu uma voz: Velha de olhos grandes: Acalme-se, menina, estou aqui para ajudá-la. Se você quiser minha ajuda, é claro. Ana: Quero sim. Sua ajuda é bem vinda! Velha de olhos grandes: Então prometa que me convidará para o seu casamento e lá na cerimônia me chamará de tia. Ana: Sim, prometo sim! Narrador – A velha senhora assobiou. E como se respondessem ao seu chamado, uma enorme quantidade de formigas entrou no salão e começou a fiar. Juntas as pequeninas fiaram tão rápido que ao amanhecer todos aqueles fios que antes lotavam o salão real se transformaram em belos tecidos. O rei ao ver se admirou, mas ainda não estava satisfeito. Rei: Muito bem, menina. Você cumpriu a primeira tarefa. Quero ver agora se consegue fiar o dobro da quantidade de ontem. Narrador – Assim foi feito. O rei preparou dois salões repletos de fios e deu novamente apenas o tempo de uma noite para que a menina os transformasse em tecido. Ao raiar do sol o rei viria, ou para dar parabéns pelo trabalho realizado, ou para levar a meni- na ao calabouço. Ana (para a platéia): Ai de mim! Como conseguirei fiar tanto em tão pouco tempo? Se eu soubesse como chamar aquela velha senhora... Narrador – O tempo passava rápido escorregando pela janela. Os primeiros raios de sol logo viriam. Ana estava desesperada! Quando, de repente, ouviu uma voz: Velha com nariz grande: Acalme-se, menina, estou aqui para ajudá-la. Se você quiser minha ajuda, é claro. Ana: Quero sim. Sua ajuda é bem vinda! Você conhece aquela senhora que ontem me ajudou a fiar? Velha com nariz grande: Sim, é minha irmã. Eu ajudo você como minha irmã com uma condição: promete que me convida para o seu casamento e lá na cerimônia me chama de tia duas vezes? Ana: Sim, prometo sim! Narrador – A velha senhora cantarolou. E como se respondessem a um chamado, uma enorme quantidade de abelhas entrou no

Três velhas tecelãs N - Teatro de Brinquedo | Uma iniciativa do …teatrodebrinquedo.com.br/materiais_didaticos/Fichas... · 2018-10-18 · (Ana fala para a platéia) Ai, eu mato

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Personagens: Velha de olhos grandes, Velha de nariz grande, Velha de mãos grandes, Rei, Príncipe, José, Ana, Narrador.

Três velhas tecelãs Narrador – José é pai de Ana e tem muito orgulho da filha. Conta para todo mundo tudo o que ela sabe fazer e ama tanto a filha que muitas vezes exagera no elogio.

José: Minha filha cozinha muito bem. É delicada, cuidadosa, tem uma letra linda, sabe cantar, pintar bordar, pular corda, sabe falar inglês, sabe karatê... Ops, karatê está aprendendo, mas dança balé como ninguém.

Narrador – Um dia José elogiava a filha e falou no meio da praça que ela era capaz de fiar transformando linha em tecido de modo tão rápido que parecia ter mãos mágicas. O rei do reino vizinho, que passava por ali com sua comitiva, mandou levar Ana ao castelo e ordenou que ela passasse por três desafios e se vencesse a todos se tornaria princesa daquele reino.

Rei: Sempre procurei a melhor tecelã do mundo para fazer os mais belos tapetes e tecidos. Se for verdade que suas mãos são mágicas, caso você com meu filho. Você se tornará princesa e depois de um tempo rainha!

Ana: Rei, nem sei o que dizer!

Rei: Seu destino tem três fios, três caminhos. No primeiro, você supera os desafios e casa-se com meu filho. No segundo, você não aceita ser desafiada e morre por me desobedecer e no terceiro caminho você não consegue cumprir a tarefa, fracassa e morre do mesmo jeito.

Ana: Desafio aceito! (Ana fala para a platéia) Ai, eu mato meu pai! Quem mandou ser tão exagerado, tão desajeitado com as palavras!

Narrador – O primeiro desafio a ser enfrentado por Ana era fiar a quan-tidade de fios que coubesse no maior salão do castelo. E para isso ela teria apenas uma noite. Ao raiar do sol o rei viria, ou para dar parabéns pelo trabalho realizado ou para levar a menina ao calabouço.

Ana (para a platéia): Ai de mim! Como conseguirei fiar tanto em tão pouco tempo? Não sou mágica e, pra falar a verdade, nunca gostei das aulas de fiar!

Narrador – O tempo passava rápido escorregando pela janela. Os pri-meiros raios de sol logo viriam. Ana estava desesperada! Quando, de repente, ouviu uma voz:

Velha de olhos grandes: Acalme-se, menina, estou aqui para ajudá-la. Se você quiser minha ajuda, é claro.

Ana: Quero sim. Sua ajuda é bem vinda!

Velha de olhos grandes: Então prometa que me convidará para o seu casamento e lá na cerimônia me chamará de tia.

Ana: Sim, prometo sim!

Narrador – A velha senhora assobiou. E como se respondessem ao seu chamado, uma enorme quantidade de formigas entrou no salão e começou a fiar. Juntas as pequeninas fiaram tão rápido que ao amanhecer todos aqueles fios que antes lotavam o salão real se transformaram em belos tecidos. O rei ao ver se admirou, mas ainda não estava satisfeito.

Rei: Muito bem, menina. Você cumpriu a primeira tarefa. Quero ver agora se consegue fiar o dobro da quantidade de ontem.

Narrador – Assim foi feito. O rei preparou dois salões repletos de fios e deu novamente apenas o tempo de uma noite para que a menina os transformasse em tecido. Ao raiar do sol o rei viria, ou para dar parabéns pelo trabalho realizado, ou para levar a meni-na ao calabouço.

Ana (para a platéia): Ai de mim! Como conseguirei fiar tanto em tão pouco tempo? Se eu soubesse como chamar aquela velha senhora...

Narrador – O tempo passava rápido escorregando pela janela. Os primeiros raios de sol logo viriam. Ana estava desesperada! Quando, de repente, ouviu uma voz:

Velha com nariz grande: Acalme-se, menina, estou aqui para ajudá-la. Se você quiser minha ajuda, é claro.

Ana: Quero sim. Sua ajuda é bem vinda! Você conhece aquela senhora que ontem me ajudou a fiar?

Velha com nariz grande: Sim, é minha irmã. Eu ajudo você como minha irmã com uma condição: promete que me convida para o seu casamento e lá na cerimônia me chama de tia duas vezes?

Ana: Sim, prometo sim!

Narrador – A velha senhora cantarolou. E como se respondessem a um chamado, uma enorme quantidade de abelhas entrou no

salão e começou a fiar. Juntas as pequeninas fiaram tão rápido que ao amanhecer todos aqueles fios que antes lotavam o salão real se transformaram em belos tecidos. O rei ao ver se admirou, mas ainda não estava satisfeito.

Rei: Muito bem, menina. Você cumpriu a segunda tarefa. Quero ver agora se consegue fiar o dobro da quantidade de ontem.

Narrador – Assim foi feito. O rei preparou três salões repletos de fios e deu novamente apenas o tempo de uma noite para que a menina os transformasse em tecido. Ao raiar do sol o rei viria, ou para dar parabéns pelo trabalho realizado, ou para levar a meni-na ao calabouço.

Ana (para a platéia): Ai de mim! Como conseguirei fiar tanto em tão pouco tempo? Se eu soubesse como chamar aquela velha senhora ou sua irmã...

Narrador – O tempo passava rápido escorregando pela janela. Os primeiros raios de sol logo viriam. Ana estava desesperada! Quando de repente ouviu uma voz.

Velha de mãos grandes: Acalme-se, menina, estou aqui para ajudá-la. Se você quiser minha ajuda, é claro.

Ana: Quero sim, sua ajuda é bem vinda! Você conhece aquela senhora que ontem me ajudou a fiar? Conhece sua irmã que me salvou na primeira noite?

Velha de mãos grandes: Sim, elas são minhas irmãs - (para a platéia) somos trigêmeas! Eu ajudo você como

minhas irmãs com uma condição: promete que me convida para o seu casamento e lá na cerimônia me chamará de tia três vezes?

Ana: Sim, prometo sim!

Narrador – A velha senhora cantarolou. E como se res-pondessem a um chamado, uma enorme quantidade de esperanças entrou saltitando no salão e começou a fiar. Juntas as pequeninas fiaram tão rápido que ao amanhe-cer todos aqueles fios que antes lotavam o salão real se transformaram em belos tecidos. O rei ao ver se admirou,

e dessa vez ficou muito satisfeito!

Ordenou que a tecelã se casasse com seu filho, o príncipe.

Ao conhecer o príncipe, Ana caiu de amores por ele, que também ficou caidinho por ela. O rei mandou preparar o casamento e nunca se viu festa tão bonita!

(Música de casamento)

Narrador – Mas Ana não estava feliz.

Ana: Ai de mim! Vou me casar com o homem que amo, um príncipe belo e gentil, mas minha felicidade não pode durar se ele não souber o segredo que carrego. Jamais fiei aqueles fios, e pra falar a verdade nunca gostei de fiar! Como vou continuar as tarefas de tecelã se não tenho os poderes que meu pai disse?

Narrador – Mesmo com a noiva tristonha foi feito o casamento. Um pouco antes do momento de dizer “sim” apareceu a primeira velha. A noiva estava ajeitando o vestido e o véu.

Ana: Minha tia, que bom vê-la! Sente-se aqui perto do altar.

Narrador – O príncipe, que nunca tinha visto aquela senhora, achou estranho. Ela tinha olhos enormes, pareciam querer saltar do rosto! Pouco tempo depois chegou a velha de nariz grande.

Ana: Minha tia! Sente-se ali para ver o casamento, minha tia!

Narrador – O príncipe também nunca tinha visto aquela senhora e achou estranho. Ela tinha um nariz imenso! Assim que ela se sentou, chegou a velha de mão grandes.

Ana: Minha tia! Que alegria sinto em vê-la, tia! Sente-se, escolha o lugar que quiser, minha tia!

Narrador – Dessa vez o príncipe pensou que sua noiva tinha tias muito engraçadas! Ele nunca tinha visto aquela senhora, achou estranho que ela tinha dedos gigantescos, finos e tortos.

Antes da entrada da noiva o príncipe puxou um pouco de conversa com as senhoras. Estava curioso diante da aparência delas e um pouco sem jeito em perguntar.

Príncipe: Bem vindas sejam as tias! Eu gostaria de perguntar à senhora sentada aqui na ponta sobre que segredos guardam olhos tão grandes!

Senhora de olhos grandes: Ó, belo rapaz, meus olhos eram

lindos quando eu era mocinha. Mas de tanto apertá-los para enxergar o fio e a agulha eles incharam, cresceram e ficaram como você vê.

Narrador – O príncipe pensou nos delicados olhos de sua noiva e teve medo de que se tornassem enormes!

Príncipe: Eu gostaria de perguntar à senhora ao lado de que parente vem tão avantajado nariz.

Senhora de nariz grande: Foi o tempo, príncipe, e o trabalho de tecelã. Teci tanto que o cheiro das linhas fez crescer meu nariz!

Narrador – O príncipe se apavorou! Pensou no delicado nariz de sua amada e sem demora conversou com a terceira senhora. Ele já estava até com medo da resposta!

Príncipe: Conte-me, senhora, a história de suas mãos.

Senhora de mãos grandes: Fiei demais!

Príncipe: Não precisa dizer mais nada, minha senhora.

Narrador – Aflito, o príncipe pediu a palavra e assim que a noiva entrou na igreja ele disse diante de todos os convidados:

Príncipe: Declaro diante de todos que só me caso com uma condição: que minha mulher jamais fie outra vez. Nem um lenço, nem um pedaço de tecido sequer! Nunca mais.

Narrador – A princesa deu um sorriso de alivio tão grande que ilumi-nou tudo ao redor. A primeira senhora piscou o olho e sumiu, a segun-da coçou o nariz e desapareceu, a terceira bateu palmas e evaporou no ar como areia no deserto.

O rei foi obrigado a aceitar a condição do filho, e dizem que aquela princesa se tornou a rainha mais bela entre as rainhas de seu tempo.

Narrador – Em uma casa simples viviam João e sua mãe. O menino tinha muito bom coração, mas era avoado demais! Esquecia-se das coisas mais importantes. A mãe de João

era muito amorosa e se esforçava para ensinar ao filho tudo o que sabia. Ela sonhava que seu filho se tornasse um homem im-

portante e que todos reconhecessem suas qualidades. Mas esse dia parecia muito distante!

A mãe de João era costureira. Um dia a agulha de costura que usava para fazer um vestido para o casamento da

prima da princesa se quebrou.

Mãe: João, meu filho, vá até o mercado e me traga uma agulha nova. Mas cuidado: essa é a última moeda que nos resta! Seja rápido como o vento. Preste atenção! Logo a princesa da Prússia vem buscar o vestido!

João: Sim, mãe. Deixa comigo!

Narrador – João caminhou depressa. Chegou ao mercado aflito, comprou a agulha com todo o cuidado e estava voltando quando sentiu o sol quente e uma preguiça grande. De repente, João avistou o vizinho que transportava palha.

Vizinho: Quer uma carona, João? Passo pertinho da sua casa. Posso te deixar na porta! Entre, menino, sente-se aqui em cima da palha!

Narrador – Que sorte! João aceitou na hora! Acontece que o barulho do motor e o balanço do carro na estrada fizeram João pegar no sono. A mão de João se abriu devagar durante o cochi-

lo e a agulha caiu no palheiro para nunca mais voltar. João chegou em casa e sua

mãe veio logo perguntar:

Mãe: João, você comprou a agulha?

João: Comprei!

Mãe: Onde está?

João: Ai mãe! Que já não sei cadê a agulha! Comprei a agulha mais bonita do mercado, mas na volta o vizinho me deu carona e vim sentado num palheiro tão macio que caí no sono! A agulha escapou da minha mão e escorregou pela palha. Tão pequena que nunca mais a vi!

Mãe: Menino! A princesa da Prússia vai me matar! Mas nem assim vou desistir de te ensinar o que sei: da próxima vez que for comprar uma agulha leve um chapéu, espete a agulha nele e venha logo pra casa. Assim, ao chegar, a agulha estará bem ali espetada no alto do chapéu, a salvo de cair no palheiro, no chão ou voar no nevoeiro.

Narrador – Quando a princesa da Prússia veio buscar o vestido e o encontrou por fazer, ficou furiosa! A mãe de João pediu desculpas mui-tas vezes. O tempo passou e a mãe de João se esqueceu do vestido na princesa e da agulha.

Em uma manhã fria de junho estavam os dois sentados à mesa toman-do café da manhã quando perceberam que a manteiga havia acabado.

Mãe: João, meu filho, leve essa moeda ao mercado e compre um tablete de manteiga que não temos nada pra passar no pão. Mas cuidado! Essa é a última moeda que nos resta! Seja rápido como o vento. Preste atenção!

João: Deixa comigo!

Narrador – João caminhou depressa, chegou ao mercado aflito, com-prou a manteiga com todo o cuidado e estava voltando quando sentiu o sol quente. Viu seu vizinho passar e oferecer carona, mas dessa vez João não aceitou. Estava orgulhoso, pois seguia atentamente o que sua mãe ensinara. Quando chegou em casa, a mãe de João percebeu que ele estava esquisito.

Mãe: Filho, você está amarelo! Está suado! Sente-se aqui menino. Tome um copo de água! Cadê a manteiga, João?

Narrador – João disse muito orgulhoso:

João: Está aqui, mãe. Dentro do chapéu como você ensinou!

Mãe: João! Ai menino avoado, cabeça de vento! O chapéu é pra espetar agulha! Que confusão! Vou comer pão sem manteiga, mas nem assim vou desistir de te ensinar o que sei: da próxima vez que comprar manteiga leve uma caixa pequena, coloque a manteiga dentro e embrulhe com uma folha de bananeira para proteger do calor do sol e a manteiga não derreter! Entendeu, meu filho?

João: Entendi, mãe. Deixa comigo!

Personagens: Mãe de João, João, Princesa, Vizinho, Narrador.

Rei Cabeça de Galinha

Narrador – O tempo passou. A mãe de João se esqueceu do chapéu, do pão e da manteiga.

Em um dia quente de verão, a mãe de João pediu ao filho que comprasse um porco para fazer de almoço.

João caminhou depressa, chegou ao mercado aflito e ficou ainda mais quando viu o porco. Tinha medo de porcos e aquele era um dos bravos. João e o porco vieram juntos caminhando. O sol es-tava quente e João estava orgulhoso, pois seguia atentamente o que sua mãe ensinara. Ela ouviu o barulho que João e o porco faziam lá do meio da estrada. Resolveu chegar mais perto.

João - Porco, por favor, me obedeça! Quantas vezes eu tenho que te pedir? Entre na caixa! Eu sei que a caixa é pequena, mas se você encolher a barriga aposto que vai caber! Ou pelo menos me deixe cobrir sua cabeça com a

folha de bananeira! O calor é forte, porco, se você não me obedecer pode até derreter!

Narrador – A mãe de João ficou vermelha de desgosto. Principalmente quando o

porco, sem entender por que João queria que ele entrasse na caixa,

fugiu correndo pelo mato.

Mãe - João! Que é isso menino? Ô menino avoado! Tudo o que eu explico você vira pelo avesso! Você erra e se confunde! Eu não almoço leitão, mas não desisto de te ensinar o que sei: da próxima vez que comprar qualquer bicho, seja porco, galinha, cavalo ou jacaré, leve uma coleira e traga o bicho amarrado pelo pescoço pra ele não escapar, pra te obedecer por todo o caminho. E é você quem deve puxar a cordinha da coleira! Entendeu, meu filho?

João - Deixa comigo, mãe!

Narrador: Era um dia como outro qualquer e imagine o que a mãe de João pediu que comprasse no mercado? Acertou quem falou que era uma galinha!

Foi apressado, pegou a bichinha e vinha trazendo direitinho como a mãe explicou. Acontece que a gali-nha era da raça d’Angola, e João achou muito curioso que ao longo do caminho a galinha cacarejasse as-sim: “Tô fraca, tô fraca!”.

João: Ô galinha, tô ficando com dó de você! Tadinha, reclama tanto pelo caminho! Posso te ajudar, galinha? Quer um colinho?

Narrador – Enquanto João tentava ajudar a galinha, ele se distraiu e se perdeu pelo cami-nho. Ele e a galinha entraram sem perceber no jardim do castelo.

Naquele castelo morava uma prin-cesa que nunca sorria. Ela tinha um mal desconhecido que a fazia de nada achar graça e nunca sorrir. Para piorar, a falta de riso na prin- cesa a fazia fi-car cada dia mais feia. O rei já havia oferecido dinheiro para aquele que arrancasse da princesa ao menos um sorriso amarelo e nada!

Naquela, tarde a princesa, ouvindo a conversa de João com a galinha, resolveu olhar pela janela. João tentou ajudar a galinha de todas as for-mas e no momento em que a princesa olhou a galinha ciscando no alto da cabeça de João teve um ataque de riso.

Princesa: Nunca vi um moço mais divertido em toda minha vida! Papai, quero me casar com ele!

Narrador – O rei deu a mão da princesa em casamento para João, que adorou a noiva, mas disse que só se casaria se pudesse trazer sua mãe para morar no castelo. O rei atendeu ao pedido do noivo.

E a mãe de João todas as noites antes de dormir agradecia:

Mãe: Meu filho, quase morri por causa do vestido da princesa da Prússia, comi pão sem recheio, deixei de comer um suculento leitão, mas não desisti de te

ensinar o que eu sabia. E de nada adiantou a linha reta das palavras

que eu trazia que você fez do seu jeito. Lado certo, lado avesso,

ganhou o coração da princesa e todo o povo

agora adora João, o rei de cabeça de galinha e de bom coração!

O nascimento da Noite (mito tupi)

Personagens: Serpente-pai, Serpente-filha, Menino 1, Menino 2, Narrador.

Narrador – Essa história aconteceu quando na terra não existia noite. Era sempre dia. Ninguém dormia, ninguém via a lua. A noite estava guardada dentro de um fruto chamado Tucumã. E

de lá ela não saía, pois o fruto era guardado por uma serpente encan-tada. Um dia, a filha da serpente se casou e pediu ao pai que deixasse a noite sair.

Serpente-filha: Por favor, pai querido! Preciso conhecer a noite para adormecer nos braços do meu amor e sonhar com os netos que um dia daremos ao senhor!

Narrador – Como a serpente-pai sonhava em ter netos, ele disse:

Serpente-pai: Tudo bem, farei a vontade de minha filha querida.

Narrador – Ela pediu com muito jeitinho e o pai aceitou o pedido. O marido da filha da serpente pediu a dois meninos que buscassem o fruto. Mas a serpente colocou uma condição.

Serpente-pai: O Tucumã que guarda a noite só deve ser aberto pelas mãos de minha filha, que deve apenas espiar a noite lá dentro. Assim, só um pouco do escuro se derrama e logo é dia para sempre outra vez.

Narrador – Ninguém sabia muito bem o que aconteceria se a noite estivesse à solta. O que aconteceria ao mundo se a noite deixasse seus sonhos voando livre por aí? Era preciso ter cuidado! Principalmente no transporte da fruta mágica até as mãos da filha da serpente encantada.

Acontece que o Tucumã fora entregue a dois meninos muito curiosos. E a viagem era tão longa!

Menino 1: Vamos levar essa fruta com cuidado. Nada pode acontecer a ela até que chegue às mãos da serpente.

Menino 2: Sim, vamos!

Menino 1: Você está ouvindo o barulho que sai lá de dentro?

Menino 2: Deixe eu chegar mais perto... (coloca a fruta perto do ouvido para ouvir melhor) Estou sim!

Parecem sininhos?

Menino 1: Acho que são grilos... Ou vagalumes?

Menino 2: Será que são os pedaços da noite se batendo lá dentro?

Menino 1: Melhor não abrir!

Menino 2: É mesmo! A ordem foi “clara”: “Jamais abrir a fruta”.

Menino 1: Mas e se a gente fizesse só um furinho, espiasse e tampasse?

Menino 2: E se a gente abrisse só um pouquinho e espiasse por ali?

Menino 1: Acho que olhar não tem problema. Ele falou para não abrir, mas não disse nada sobre dar uma espiadela rápida.

Menino 2: É verdade. Ele não disse nada sobre fazer um furinho pequeno e olhar.

Narrador – Os meninos abriram uma pequena fresta e a noite se derramou inteirinha na Terra.

Menino 1: Ai, e agora?

Menino 2: A serpente vai nos matar!

Menino 1: Era só um furinho, mas a noite é teimosa e estava querendo sair! Ela escapou toda. E agora?

Menino 2: E agora ela não volta para dentro! E agora vamos rápido pedir perdão à serpente.

Narrador – E foi assim que a noite se derramou inteira na Terra. Os meni-nos chegaram com a fruta vazia. Pediram perdão.

Serpente-filha: O mal maior já aconteceu. Vamos conhecer os poderes da noite. Seus sons, suas cores. É tempo de olhar e perceber a Terra noturna. Mas não pensem que vou me esquecer do que fizeram, vocês não perdem por esperar o belo castigo que receberão por terem desobedecido as ordens de meu pai.

Narrador – A Terra escureceu. Durante o tempo de sete dias foi noite. As pessoas faziam fogueiras, contavam histórias e ouviam os ruídos que a noite canta. Mas era preciso amanhecer. Ninguém via o sol, nenhuma planta brota-va ou crescia e em pouco tempo não have-ria alimento sobre a Terra e as plantas, depois os bichos e os homens morreriam. A filha da serpente teve então uma ideia:

Serpente-filha: Já sei qual será o castigo desses meninos curiosos: eles devem reparar o mal que fizeram e salvar a Terra da noite sem fim. Se a música da noite atraiu sua curiosidade, que se tornem pássaros cantores. O primeiro menino será o pássaro da manhã e cantará chamando o sol pra vir aquecer a Terra.

Já não podemos viver sem os sonhos e as histórias que a noite nos ensinou a contar. Por isso caberá ao segundo menino ser o pássaro da noite que cantará em melodia doce para convidar a noite a derramar seu escuro em nós.

Narrador – E foi assim que nasceram os passari-nhos de canto tão bonito. E foi assim que a

Terra ganhou a noite derramada da Tucumã e o dia que sempre volta.

Narrador – Essa história aconteceu há muito tempo. Foi em um reino de homens corajosos.

O rei, depois de casar-se com a rainha, teve um filho. O reino todo festejou a criança. Um menino grande e bonito que cresceu ainda mais forte e todos sabiam que quando chegasse aos vinte anos se tor-naria o novo rei. Assim acontecia no reino desde sempre.

Bem, nem sempre as coisas acontecem como esperamos. Durante a ce-lebração do aniversário de vinte anos do príncipe, o pai revelou que para tornar-se rei ele haveria de enfrentar um desafio.

Rei: Chegou a hora de você passar por uma prova que o tornará o novo rei. Todos os príncipes antes de você enfrentaram o desafio e agora é a sua vez, filho querido. Atrás da montanha existe uma caverna e dentro dela um lobo. Você deve entrar nela sozinho e na volta terá provado sua força e coragem e poderá governar o reino.

Narrador – O Príncipe era muito bom com as palavras, era rápido e ágil com espadas e tinha muito bom coração, mas morria de medo de lobos! Assustado com a notícia e com vergonha de mostrar seu medo para todo mundo, decidiu fugir do desafio. Escreveu uma carta para o pai e partiu.

Príncipe: Querido pai, ainda não tenho coragem para enfrentar o lobo. Ainda sou pequeno e acho que minha força não é tão grande assim. Vou viajar em busca da minha coragem e, quando me sentir forte o bastante, eu volto.

Narrador – O príncipe caminhou durante todo o dia e já estava quase anoitecendo quando encontrou uma cidade. Foi recebido por uma fada.

Fada – Menino, que bom que você chegou aqui. Essa cidade é mágica. Aqui, todas as árvores dão frutos comestíveis, o tempo é sempre quente e as chuvas refrescantes. Você pode ficar aqui o tempo que quiser... Príncipe, cadê você?

Narrador – Enquanto a fada falava, o príncipe encantado com a beleza daquele reino começou a caminhar pelo vilarejo e, atraído pelo perfume das frutas e flores, entrou na floresta. Comeu goiaba, jabuticaba, man-ga e melancia e adormeceu cansado ao pé da jabuticabeira. No meio da noite, acordou assustado.

Príncipe – Meu Deus, que barulho é esse?

Aaauuuuuu!

Narrador – Eram uivos de lobo! O príncipe subiu na árvore mais alta que encontrou. Passou a noite toda acordado. Na manhã seguinte, a fada o encontrou.

Fada – Príncipe! Eu procurei você por toda a cidade! Não deu tempo de te alertar a respeito dos lobos. São os guardiões da cidade. De dia estão presos, à noite ficam à solta para caçar e defender nosso povoado de invasores. É muito perigoso ficar sozinho à noite por aqui!

Príncipe – Lobos! Ui!

Narrador – O medo do príncipe era tão grande que ele inventou uma desculpa e partiu.

Príncipe – Fada, eu agradeço por ter me recebido aqui, mas preciso partir. Esqueci minha espada em casa e vou buscá-la agora. Então, partirei em busca da minha coragem.

Narrador – O príncipe caminhou por mui-tos dias para ter certeza que a cidade dos lobos guardiões estava bem longe. Só parou quando che-gou ao deserto e encon-trou uma tenda. Era uma tribo de nôma-des. Homens que vi-vem viajando, moram um pouco em cada lugar, mas estão sem-pre de passagem. O líder do grupo recebeu o príncipe.

Personagens: Rei, Rainha, Fada, Líder nômade, Princesa, Príncipe, Narrador.

O Príncipe e o Lobo

Líder nômade – Que bom que você está aqui, menino! Seja bem vindo. Fique aqui o tempo que precisar. Ensinarei a você como viver no deserto.

Narrador – Durante sete dias o príncipe aprendeu sobre a arte da caça, como fazer tendas, como se localizar olhando as estrelas do céu, onde encontrar água no deserto, entre outras lições. No sétimo dia, uma terrível tempestade de areia ameaçou a tribo e o líder ordenou:

Líder nômade – Vamos partir. Peço ao jovem homem que está aqui por esses dias que prove sua força para que possa seguir com nosso grupo. Apenas os fortes sobrevivem às tempestades de areia e para provar que vale a pena levá-lo conosco você deve atravessar a muralha atrás do acampamento e matar o lobo que mora do outro lado. Deve trazer a cabeça do animal até ao meio-dia. Partiremos ao anoitecer.

Príncipe – Lobo! Ai!

Narrador – O príncipe se apavorou, inventou uma desculpa e partiu.

Príncipe – Agradeço ao senhor por ter me recebido aqui e por todas as lições que me ensinou, mas preciso partir. Esqueci meu escudo em casa e vou buscá-lo agora. Então, partirei em busca da minha

coragem.

Narrador – O príncipe caminhou por mui-tos dias para ter certeza de que estava longe do deserto. Só parou ao encontrar uma cidade em festa. Foi recebido por um cortejo que seguia em busca do ho-mem com quem a princesa daquele reino deveria se casar. O cortejo todo, ao

olhar aquele jovem tão bonito, o escolheu para ser leva-

do à princesa.

A princesa, ao ver o jovem príncipe, caiu de amores por ele. E ele por ela.

Princesa – Meu amado, eu quero que conheça todo o meu reino. Vamos eu, você e o Lulu caminhar por essas terras.

Príncipe – Ó linda princesa, não há nada mais precioso nesse reino do que você! Mas quem é o Lulu?

Princesa – Meu lobo de estimação!

Narrador – O príncipe até pensou em inventar uma desculpa, mas seu coração estava tão apaixonado que ele disse a verdade.

Príncipe – Minha princesa, eu peço que me espere. Deixei uma tarefa muito importante no reino onde nasci. Preciso voltar pra casa e fazer a tarefa que me foi dada por meu pai. Peço que me espere. Eu volto para me casar com você!

Narrador – A princesa esperou. O príncipe partiu de volta para casa. No caminho, avistou a tribo que o acolheu no deserto.

Líder nômade – Adeus, meu jovem, mande um abraço para o seu pai!

Príncipe – Nossa, como você conhece meu pai?

Líder nômade – Seu pai esteve aqui nessa mesma travessia mais ou menos com a sua idade. Sua coragem não tarda a chegar!

Narrador – Mais adiante, o príncipe passou pela cidade dos lobos guardiões e encontrou a fada.

Fada – Príncipe, entregue isso ao seu pai.

Príncipe – Você conhece meu pai?

Fada – Sim. Ele era muito parecido com você quando passou por aqui.

Narrador – De volta ao reino, o príncipe chamou o rei.

Príncipe – Pai, eu estou pronto para encontrar o lobo.

Rei – Vá, meu filho. Estarei aqui quando voltar.

Narrador – O príncipe foi só. Chegou à caverna escura. O lobo era uma fera grande com dentes enormes. Parecia feroz. O príncipe se aproxi-mou e o lobo carinhosamente tocou suas mãos com a cabeça, pedindo carinho.

Príncipe – Nossa, não posso acreditar! Ele é manso como um cão! Vou agora buscar o meu amor!

Narrador – O príncipe tornou-se rei, a princesa uma bela rainha e pouco tempo depois nasceu um menino lindo, forte, grande e, quem sabe, corajoso como seu pai.

Narrador – Essa é a história de uma mãe e uma filha. Ela veio da Grécia e faz parte das histórias de lá. Dentro dela tem o nasci-mento dos tempos de frio e dos tempos de calor. Como as histó-

rias viajam pelo mar, essa chegou agora e vou contar.

Perséfone era menina linda e adorada por sua mãe, Deméter, que cui-dava dela com muito amor. Um dia Perséfone estava passeando quando encontrou Hades. Hades era um deus. Deus da morte. Seu reino era as profundezas da terra.

Hades: Poderia ficar muito tempo olhando como você é bonita.

Perséfone: Obrigada. Gosto que você me olhe.

Hades: Se você quiser, eu retribuo toda a beleza que você me faz ver te mostrando meu reino. Venha comigo conhecer o reino da morte. As cores na noite, os mistérios.

Perséfone: Deve ter tantas coisas que não conheço... Desde sempre eu passeio por esses campos e nunca fui ao seu reino. Sabe, tenho medo de seus mistérios. E se eu não conseguir voltar a salvo?

Hades: Não tenha medo, sou o deus daquele reino e comigo você estará segura.

Perséfone: Se é assim, pode me levar.

Narrador – Perséfone foi até o reino de Hades. Ele a tratou como uma rainha.

Hades: Conheça os sonhos. Esses são os mistérios invisíveis da morte. Olhe tudo, querida. Conheça o mundo que governo.

Perséfone: Depois de tanto conhecer e de ver tantas coisas pela primeira vez, tenho fome. Andamos juntos há tanto tempo que receio que minha mãe esteja preocupada comigo.

Hades: Eu poderia viver aqui com você para sempre se você aceitasse se casar comigo. Mas, como prometi, levo você para casa. Antes de iniciarmos nossa viagem de volta, porém, escolha uma fruta e alimente-se.

Narrador – Perséfone escolheu uma romã e comeu 6 gomos. De volta à superfície, Perséfone encontrou sua mãe que estava mui-to preocupada com ela.

Deméter: Perséfone! Onde você estava? Procurei você por muito tempo!

Perséfone: Eu estava...

Deméter: Ah! Minha filha, conheço você. Quando começa a se atrapalhar com as palavras... Pode me falar agora onde estava!

Narrador – Deméter era uma mãe muito amorosa e muito brava!

Perséfone: Está certo mãe, vou lhe contar tudo. Eu acho que você não vai gostar de saber.

Por favor, não fique brava comigo!

História dos tempos de calor e frioPersonagens: Perséfone, Deméter, Hades, Narrador.

Deméter: Durante esses seis meses, eu me recolherei e o frio deve vestir a terra e desfolhar as árvores. Será sempre um tempo de saudades e falta para a terra, sua mãe. Estarei à sua espera, minha querida.

Narrador – Como não havia mais nada a fazer, Perséfone casou-se com Hades. E, desde então, ela passa metade do ano com o mari-do e a outra metade com a mãe.

Deméter também é uma deusa. Deusa-mãe que protege as mulheres grávidas, os bebês e tem o dom da fertilidade e do cuidado. Perséfone é a deusa das sementes, da colheita, dos presentes que a gente ga-nha quando planta e cuida da terra. Deusa das flores, das frutas doci-nhas no pé. Lembrando que Hades é o deus da morte.

E foi no dia em que a morte se apaixonou pela colheita que, desse amor, nasceram dois tempos.

Deméter: O tempo de saudades da mãe terra traz o frio. A terra descansa, se recolhe e espera a colheita chegar. Nesse tempo as sementes estão lá embaixo, na terra, no reino de Hades.

Perséfone: Mas há o tempo em que a colheita chega e enche a terra de frutos de calor e de alegria para despedir-se novamente e se entregar aos mistérios do reino dos sonhos e da morte.

Deméter: Perséfone!

Perséfone: Fui ao reino de Hades. Ele me convidou. Me tratou muito bem, cuidou de mim, me mostrou tantas coisas novas e me trouxe de volta como combinamos!

Deméter: Ah! Perséfone! Como você é ingênua! Como pode seguir para o reino dos mortos com o deus da morte? Você não imagina o tamanho do perigo que correu. Poderia ter ficado presa lá para sempre! Ah! Eu não suportaria de saudades, minha filha! Por falar em ficar presa, preciso fazer uma pergunta.

Perséfone: Faça, mamãe.

Narrador – Deméter temia pelo segredo do reino de Ha-des.

Deméter: Você comeu alguma coisa lá no reino de Hades?

Narrador – Deméter estava tão séria que Perséfone teve muito medo de falar a verdade.

Perséfone: Não, mamãe, não comi nada.

Deméter: Ufa! Que alívio! Quem come dos frutos da terra de Hades fica presa para sempre.

Narrador – Perséfone o amava e queria casar-se com ele. Então ficou um pouco assustada e um pouco feliz, pois veria seu amado novamente. Mas não havia como esconder de Deméter sobre a fruta que comeu.

Perséfone: Mamãe, sendo assim contarei a verdade. Comi do reino de Hades seis gomos de Romã.

Deméter: Ó, céus! Nada mais pode ser feito para evitar as consequências disso. A partir de agora você viverá seis meses por ano com Hades no reino dos mortos.

Personagens: José, Maria e Senhora/Princesa, Narrador.

Adereço de cena: Chouriço

Três desejos

Narrador – Era uma vez uma casa simples numa cidade pequena em algum canto do Brasil. Lá moravam Maria e José. Eles eram um casal muito unido. Um dia, estavam na cozinha procurando alguma

comida para preparar o jantar.

José: Maria, tem arroz?

Maria: Não tem, não!

José: Maria, tem feijão?

Maria: Não tem, não!

José: E o que a gente vai jantar, então?

Maria: Se eu pudesse, José, assava um leitão, mas como não tem, vamos comer um ovo que sobrou com pedaço de pão.

Narrador – De repente, tocou a campainha e Maria se assustou com o barulho. Ao abrir a porta, encontrou uma senhora muito pobre.

Senhora: Ô minha filha, me dê alguma coisa pra comer que as pernas estão fracas. Tô cansada que dói e a fome é tanta que já tô vendo tudo escurecer! (Maria olha pra José como se fosse perguntar para ele o que fazer. José faz que sim com a cabeça.)

José: Entre, minha senhora. A casa é pequena, mas o coração é grande.

Maria: É... Aqui um quase não janta e dois comem metade. Mas, se a senhora vier alegre, a gente divide a fome e a tempestade.

Narrador – José, Maria e a senhora jantaram juntos. Depois do jantar, José foi para o quarto e Maria foi até a mesa recolher a louça quando escutou um barulho estranho. A louça caiu toda no chão! Que susto

Maria teve! A senhora começou a dançar, rodo-piar e pular pela cozinha. Maria até pensou que estava ficando maluca!

Senhora: Ronc, trum, escabilulu, ronc, trum, escabilelê! Eu tava tão sozinha e encontrei vocês! Nessa casa tem amor, ronc, trum, escabilelê, mas não tem o que comer, ronc, trum, escabilelê, de velhinha viro princesa que é pra abençoar vocês e pelo jantar agradecer!

Trago aqui três desejos. Vocês podem escolher. Mas pensem bem no que pedir, pois tudo pode acontecer! Ronc, trum, escabilulu, rons, trum, escabilelê!

Narrador – Maria olhou assustada para a velhinha e chamou José.

Maria: José! Vem aqui, marido! A velhinha é mágica!

Narrador – A velhinha entregou a eles três moedas de ouro e antes de partir avisou:

Senhora: Deixo aqui essas três moedas de ouro. Cada vez que fizerem um pedido, uma das moedas vai desaparecer. Pensem com cuidado e escolham com sabedoria.

Narrador – A velhinha transformada em princesa desapareceu e José e Maria se abraçaram.

José: Maria, vamos escolher direitinho como gastar nossos desejos... Escolher com cuidado pra gente não se arrepender. Pode ser carro e casa, pode ser vestido novo, pode ser acabar com a fome, pode ser viver pra sempre, pode ser viajar o mundo ou em um castelo morar.

José: Mas vamos tomar cuidado pra saber o que desejar!

Maria: Tá certo, José! Eu não vou pensar em nada, vou aquietar o coração. Você também se aquiete pra quando vier o desejo ele ser bem acertado. A escolha mais bonita, o desejo mais ajustado.

Narrador – De- pois daquela noite tão maluca, José e Maria foram dormir.

De manhã, o galo cantou. José acordou e se despediu de Maria para ir trabalhar.

José: Maria, vou trabalhar e volto para almoçar.

Maria: Tá certo, marido. Eu vou te esperar.

Narrador – Assim que José saiu, Maria começou a fazer o almo-ço. Abriu as panelas e os armários procurando por comida. A barriga de Maria roncava tanto que, distraída, falou:

Maria: Ô barriga danada pra roncar! Desde ontem antes de a velhinha chegar que eu tô assim cheia de fome. Mas não é fome à toa não. Tô com desejo de comer chouriço!

Narrador – Imediatamente aparece diante de Maria um enorme chou-riço de feijoada.

Maria: Meu Deus! O José vai me matar! Desejei esse chouriço! E agora?

Narrador – O relógio bateu as doze badaladas. José chegou para almoçar.

José: Maria, que cheiro bom é esse de comida?

Maria: Nada não, marido! (Maria fala escondendo o chouriço)

José: Maria, não me esconda nada que antes de eu sair pra comer não tinha nada e a casa tá cheirando a feijoada!

Maria: Ai José, aconteceu uma tragédia! Minha barriga roncou de fome e desejei um chouriço! Ele apareceu na hora! Foi sem querer que eu estraguei um desejo!

José: Ô mulher, que coisa é essa? Eu não posso acreditar. Foi só eu sair de perto pra tudo desandar! Tô com raiva de boi bravo, não posso nem te olhar. Esse chouriço infeliz! Meu desejo agora é que ele fosse o seu nariz!

Narrador – Imediatamente o nariz de Maria se transformou em chouriço.

Maria: Meu Deus, a feijoada sou eu! Tô com nariz de chouriço! Me salva, Zé!

José: Merecer, você não merece, Maria! Mas o que é que eu posso fazer? Antes passar fome contigo do que ser feliz sem você! Seja feito o certo então. Que o último desejo, o mais importante, eu não vou desperdiçar. Traz o nariz de Maria de novo, velha princesa, que tudo volta ao normal. Desejo é coisa traiçoeira, cavalo a galope que ninguém pode domar!

Narrador – Foi assim e vim contar. Tanto reboliço, minha gente, e volta tudo ao mesmo lugar! Termina aqui essa pequena história, mas os desejos vão continuar. Quem tiver uma ideia nova, que venha contar.

A Casa do Papagaio e do LoboPersonagens: Lobo, Papagaio, Narrador.

Narrador – Essa é uma história do tempo em que os bichos falavam.

No meio da floresta morava um papagaio. Um dia, o Papagaio pensou que estava cansado de dormir em qualquer canto. Queria uma casa gostosa pra descansar. Uma casa fresquinha no calor, boa para se proteger do frio e da chuva. Ele queria uma casa em um lugar bem bonito. De sua janela queria ver toda a flores-ta.

Papagaio: Achei! Esse lugar é perfeito! Andei o dia todo, mas valeu a pena! Agora vou cortar o mato e preparar o chão pra levantar a casa.

Narrador – Foi um longo dia. O Papagaio, can-sado, só parou de trabalhar quando anoiteceu. (Som de cigarras e barulhos da noite.)

Papagaio: Ai que não aguento mais trabalhar. Tô cansado de dar dó. Amanhã

acordo cedo e começo a levantar as paredes. Hoje vou dormir feliz porque encontrei o meu lugar. Um

canto só meu, tranquilo pra de dia eu ser feliz e de noite descansar.

Narrador – Do outro lado da floresta, no meio da noite, o Lobo procu-rava uma casa pra morar. Queria uma casa gostosa pra descansar. Uma casa fresquinha no calor, boa para se proteger do frio e da chuva. Ele queria uma casa em um lugar bem bonito. De sua janela queria ver toda a floresta.

Lobo: Achei! Nossa, é muita sorte! O lugar é incrível! Pôxa vida e já está limpo, sem mato, é só levantar as paredes! Os céus me enviaram esse lugar em agradecimento por eu ser um bicho forte e corajoso.

Narrador – O Lobo passou a noite toda trabalhando, ergueu todas as paredes e só parou porque já estava amanhecendo.

Lobo: Ah! Que maravilha ficou. Amanhã eu volto pra continuar! Uma certeza eu tenho: hoje vou dormir feliz porque encontrei o meu lugar, um canto só meu, tranquilo para a noite eu me preparar pra caçar e de dia eu descansar.

Narrador – Assim, o papagaio de dia e o lobo à noite construíram a casa mais caprichada da floresta.

Lobo: Os céus estão de brincadeira comigo! Toda noite a casa parece mais perfeita do que antes. Eu agradeço uivando o uivo mais forte que eu consigo toda noite!

Papagaio: Ô meu Deus, é muita sorte! Prometo que para agradecer eu vou cantar o dia todo.

Narrador – A casa ficou pronta. Linda e fresca com vista para a flores-ta. O papagaio esperou anoitecer e foi dormir pela primeira vez em sua casa nova. Encontrou o lobo uivando!

Lobo: Auuuuuuu! Obrigado, céus, por essa casa! Ô delícia de canto só meu!

Papagaio – O que é isso agora? Tá maluco, Lobo? Saia da minha casa!

Lobo: Sua casa o quê! Você deve ter entrado na casa errada! Essa casa é minha, construi cada parede!

Papagaio: De jeito nenhum! Eu encontrei esse lugar sozinho! Lembro-me de cada mato que arranquei para fazer a casa.

Narrador – De quem era a casa afinal? O Lobo e o Papagaio entenderam: tinham feito a casa juntos. Então, decidiram:

Lobo: Olha Papagaio, eu sou muito justo. A casa é minha, mas como você ajudou a construí-la eu deixo você ficar. Mas eu quero te avisar uma coisa: eu sou um lobo muito tranquilo, porém se me vir coçando o bigode é melhor fugir porque a coisa não tá boa não. É sinal de que eu estou raivoso e posso até te comer.

Papagaio: Sim, Lobo, penso do mesmo jeito. Essa casa só está de pé porque fizemos juntos e se fizemos juntos podemos dividir esse espaço. Mas preciso que saiba de um detalhe. Nós, papagaios, temos um temperamento muito suave. Mas há dias em que não acordamos de bom humor. Se você me vir balançar o rabo para a direita, pode saber que é melhor sair e me deixar sozinho. Deixe-me quieto e não fale comigo, pois meu bico é afiado e se eu te bico pode ser fatal.

Narrador – Assim, o Lobo e o Papagaio passaram um ano de convivência tranquila. Bem, quase tranquila.

No dia do aniversário do Papagaio, o Lobo deu a ele de presente um colar de penas idênticas às que o papagaio trazia no rabo. Tratava-se de um plano para amedrontar o papagaio e fazê-lo fugir.

Lobo: Gostou do colar, Papagaio?

Narrador – O Papagaio se fez de corajo-so e respondeu:

Papagaio – Amei. É belíssimo!

Lobo – Foi um parente meu que matou esse Papagaio e fez o colar com as penas.

Narrador – O papagaio ficou intrigado achando que as penas eram de um primo seu. Então, se virou pra traz para ver se as penas do colar pareciam as suas. O Lobo se tremeu todo, pois pensou que o Papagaio ia balançar o rabo de fúria e usar sua bicada fatal. Ao tremer, o bigode do Lobo se descabelou. Como o Lobo gostava de andar arrumado, foi ajeitar o bigode. Ao ver aquilo, o Papagaio achou que o Lobo estivesse furioso!

Lobo: Ai, que é isso! Vou-me embora que quem tem medo em casa não tem lugar!

Papagaio: Ai, não coça esse bigode que me pelo de medo! Vou é voar daqui que quem tem a casa no medo, não mora fora nem mora dentro! Fui!

Narrador – Assim foi que a casa ficou sozinha. Bonita e arejada com sua bela vista no alto da floresta.