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TRILHA SENSITIVA: AS LIMITAÇÕES DA PERCEPÇÃO SOBRE UM OLHAR
GEOGRÁFICO
Jéssica Aparecida de Ávila Follmann1
Jéssica Aparecida Sommavila2
Marilene Franciele Wilhelm3
Marli Terezinha Szumilo Schlosser4
RESUMO O presente trabalho refere-se á prática pedagógica desenvolvida: Trilha Sensitiva: as
limitações da percepção sobre um olhar geográfico, pelos acadêmicos bolsistas do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE). A atividade realizou-se com os alunos do 6º A, B e D do Colégio
Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante,
regido pela professora Roseli Teresinha Lorenzett Faria, no dia 12 de dezembro de 2014, na
Praça Willy Barth, em Marechal Cândido Rondon, PR. Apresenta descrição e discussão da
caminhada trilhada por um grupo de alunos que vivenciaram o processo educativo
relacionado com espaço vivido e inclusão social de pessoas com deficiência visual5. Para
concretizar a Trilha Sensitiva, foram aproveitados alguns objetos dispostos na Praça, como o
parquinho com pedrinhas, quadra de areia, árvores, grama, terra, galhos, folhas. Procurou-se
fazer algumas reflexões com os educandos a respeito da importância dos órgãos dos sentidos
e sua relação com a inclusão social de pessoas cegas.
Palavras-chave: Ensino de Geografia, Trilha Sensitiva, PIBID.
INTRODUÇÃO
O projeto PIBID, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), está vinculado ao Laboratório Ensino de Geografia (LEG), atua
1 Graduanda do Curso de Geografia/UNIOESTE/MCR. Bolsistas do Subprojeto “O ensino da Geografia: da teoria à prática”,
PIBID/CAPES/UNIOESTE, 2011/2013 e 2014/2017; Membro do ENGEO – Grupo de Pesquisa em Ensino e Práticas de
Geografia, número do Grupo 34953/2011, cadastrado junto a Unioeste, e-mail: [email protected]. 2 Graduanda do Curso de Geografia/UNIOESTE/MCR. Bolsistas do Subprojeto “O ensino da Geografia: da teoria à prática”,
PIBID/CAPES/UNIOESTE, 2011/2013 e 2014/2017; Membro do ENGEO – Grupo de Pesquisa em Ensino e Práticas de
Geografia, número do Grupo 34953/2011, cadastrado junto a Unioeste, e-mail: [email protected]. 3 Graduanda do Curso de Geografia/UNIOESTE/MCR. Bolsistas do Subprojeto “O ensino da Geografia: da teoria à prática”,
PIBID/CAPES/UNIOESTE, 2011/2013 e 2014/2017; Membro do ENGEO – Grupo de Pesquisa em Ensino e Práticas de
Geografia, número do Grupo 34953/2011, cadastrado junto a Unioeste, e-mail: [email protected]. 4 Docente do curso de Geografia/UNIOESTE/MCR. Coordenadora do Subprojeto: “O Ensino da Geografia: da teoria à
prática”, do PIBID/CAPES/UNIOESTE, 2014/2017. Membro líder do ENGEO – Grupo de Pesquisa em Ensino e Práticas de
Geografia, número do Grupo 34953/2011, cadastrado junto a Unioeste, e-mail: [email protected]. 5 Os movimentos mundiais de pessoas com deficiência, incluindo os do Brasil, estão debatendo o nome pelo qual elas
desejam ser chamadas. Mundialmente, já fecharam a questão: querem ser chamadas de “pessoas com deficiência” em todos
os idiomas. E esse termo faz parte do texto da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade
das Pessoas com Deficiência, a ser aprovada pela Assembléia Geral da ONU em 2004 e a ser promulgada posteriormente
através de lei nacional de todos os Países-Membros. Disponível em:
www.cnbb.org.br/documento_geral/RomeuSassakiComochamaraspessoas.doc.
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como mediador de novas práticas de ensino–aprendizagem e promove a integração entre
Colégios e Escolas Públicas da cidade de Marechal Cândido Rondon e UNIOESTE. Com
iniciativa de aperfeiçoar e reafirmar a formação docente, o Projeto atua com a concessão de
bolsas de estudos aos alunos de licenciaturas das instituições de ensino superior participantes
do programa. O método desses alunos bolsistas efetiva-se através da elaboração e
desenvolvimento de atividades práticas diferenciadas, pautadas com o conteúdo que os
professores supervisores do PIBID estão desenvolvendo na sala de aula. O objetivo principal
é a reafirmação das informações trabalhadas pelo docente, ajudando o mesmo a verificar o
nível de compreensão dos discentes, dúvidas e dificuldades nos conteúdos estudados.
Diante do desafio de desenvolver atividades práticas, instigantes, atrativas, propondo
tornar o ensino de Geografia mais próximo da experiência e realidade dos educandos, o
subprojeto intitulado: “O ensino da Geografia: da teoria à prática” 6 (PIBID/CAPES/
UNIOESTE/MCR), campus de Marechal Cândido Rondon, PR, atua em duas instituições de
ensino: Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta7 e Escola Estadual Monteiro Lobato
8.
O presente texto resulta da prática pedagógica intitulada Trilha Sensitiva: as limitações
da percepção sobre um olhar geográfico, desenvolvida com o 6º ano A, B e D do Colégio
Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante, em
Marechal Cândido Rondon - PR. A atividade foi organizada e fundamentada por seis
acadêmicos bolsistas do subprojeto PIBID, uma docente supervisora bolsista do Colégio no
qual o subprojeto é desenvolvido e duas coordenadoras do subprojeto do curso de Geografia
da (UNIOESTE) 9. O local escolhido para realização da atividade foi a Praça Willy Barth,
pelo fato de ser um lugar amplo, arborizado e apresentar diferentes texturas como: grama,
areia, pedras, concreto, possibilitando desenvolver a Trilha Sensitiva de modo aprimorar a
percepção do espaço vivido.
6 O primeiro subprojeto “O Ensino da Geografia: da teoria à prática” desenvolveu-se entre os anos de 2011-2013 2014,
coordenado pela docente Dra. Lia Dorotéa Pfluck. O subprojeto foi renovado, com a permanência do mesmo nome e dos
mesmos objetivos, para os anos de 2014-2017, coordenado pela professora Dra. Marli Terezinha Szumilo Schlosser.
7 Instituição com o maior IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) (2011) do município de Marechal Cândido
Rondon. Localiza-se no centro da cidade, abrange o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio.
8 Instituição com menor IDEB (2009) do município de Marechal Cândido Rondon. Localiza-se numa área periférica da
cidade, abrange apenas o Ensino Fundamental II.
9 Acadêmicos bolsistas: Aline Kammer, Fabiane Müller, Jéssica Aparecida de Ávila Follmann, Jéssica Aparecida
Sommavila, Marilene Franciele Wilhelm e Salete Alves Baltazar; Docente supervisora bolsista: Roseli Teresinha Lorenzett
Faria; Duas coordenadoras do projeto: Dra. Lia Dorotéa Pfluck e Dra. Marli Terezinha Szumilo Schlosser;
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Assim, com o subprojeto do PIBID/UNIOESTE está sendo possível aperfeiçoar a
formação dos discentes de Licenciatura em Geografia, conhecer o cotidiano escolar e a
dinâmica que cerne o ambiente educacional, como também intermediar e desenvolver
propostas pedagógicas práticas diferenciadas nas instituições de ensino participantes.
AULAS DE CAMPO NO ENSINO – APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA
A Geografia é uma área de fundamental importância para a compreensão do espaço
ambiental, político, econômico, social e todas as vertentes que destes temas convergem. Os
vestígios de sua origem tradicionalista predominam até os dias atuais, permanecendo a ideia
de uma disciplina fundamentada na memorização e meramente descritiva, resultando na
desvalorização da mesma.
A realidade vivida na escola atualmente demonstra que em grande parte das instituições
educacionais, as aulas de Geografia são caracterizadas como cansativas e desinteressantes
consideradas pela maioria dos alunos como secundárias na aprendizagem, ocasionando a
aversão do alunado diante dessa disciplina. Um dos motivos dessa resistência é que
predominam as aulas meramente expositivas ou proferidas apenas na sala de aula, fazendo
com que os alunos não consigam perceber como os conteúdos abordados se relacionam ou até
mesmo influenciam suas vidas.
Diante desta realidade, há necessidade do professor buscar o conhecimento e isso
exige que ele tenha acesso a variados métodos e tecnologias, atualizando-se constantemente.
Algumas atividades podem ser desenvolvidas para a motivação dos alunos, por exemplo,
associar a teoria com a prática, visar maior facilidade na compreensão e construção de
conceitos, habilidades e valores. Para que isso aconteça, é necessário que docentes e discentes
sejam parceiros na busca do conhecimento, obter prazer em ensinar e aprender. Conforme
Schwartz (2004):
O prazer em ensinar e aprender, em praticar, em relacionar é limitado e dificultado,
acabando por formar sujeitos não estimulados a criar, ousar, fazer suas próprias
escolhas, questionar, realizar-se enquanto seres humanos, que possuem desejos e
vontades, experimentando a liberdade, espontaneidade, gratuidade e alegria.
(SCHWARTZ, 2004, p.127).
Levar em consideração o cotidiano dos alunos, valorizar seus conhecimentos prévios,
permitem desenvolver aulas estimulantes e atrativas. De acordo com Callai (2003), o aluno
que sabe compreender a realidade em que vive é capaz de estudar questões e espaços mais
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distantes. Passini (2007) destaca que o ensino de Geografia deve possibilitar aos alunos a
compreensão da realidade e instrumentalizá-la para que façam uma leitura crítica, reconheçam
as dificuldades e desenvolvam ações para solucioná-las. Isto é fundamental para que as novas
gerações possam acompanhar e compreender as transformações do mundo. Ainda, em
reconhecimento do valimento da compreensão do espaço extraescolar Castrogiovanni, (2000)
relembra que:
A escola não se manifesta atraente frente o mundo contemporâneo, pois não dá
conta de explicar e textualizar as novas leituras da vida. A vida fora da escola é
cheia de mistérios, emoções, desejos e fantasias, como tendem a ser as ciências. A
escola parece homogênea, transparente e sem brilho no que se refere a tais
características. (CASTROGIOVANNI, 2000, p.13.).
Para efetivar esse propósito, as aulas de campo, fora do ambiente escolar, relacionadas
com o dia a dia dos alunos apresentam-se com o desafio de uma prática educativa motivadora
e diferenciada nas escolas. Kaercher (2003) releva a importância da interação escolar com o
cotidiano dos alunos:
A geografia é feita no dia-a-dia, seja através da construção de uma casa, da plan-
tação de uma lavoura ou através das decisões governamentais ou dos grupos
econômicos (empresas transnacionais). Ou ainda, em nossas andanças, ações
individuais pela cidade (pegar um ônibus, fazer compras, etc.). (KAERCHER, 2003,
p.15.).
Diante desse quadro, a partir da reflexão sobre a escola inclusiva, procurou-se através
de aula de campo, demonstrar aos alunos as dificuldades encontradas pelos deficientes
visuais, os desafios e incertezas de não poder ver, realidade desconhecida por muitas pessoas,
inclusive grande parte do alunado.
Concomitantemente, o sujeito está submetido ao controle do meio no qual ele vive e
na conexão de causas e consequências desenvolve, não apenas o que possui no interior do seu
ser, mas também absorve o que está fora.
Neste momento de múltiplas descobertas, é importante que o professor esteja atento ao
que acontece no âmbito escolar e procure interagir de forma positiva e integradora, através de
atividades que possam reafirmar o que foi estudado e promovam a socialização. As aulas de
campo devem ser direcionadas para suprir algumas necessidades dos educandos, buscar a
proximidade entre a escola e o meio em social pertencente ao aluno.
É necessário que o aluno integre o conteúdo com a experiência adquirida durante as
práticas. O professor pode promover a associação do conhecimento a fim de que o sujeito se
transforme, seja capaz de modificar sua realidade, contribuir com ações de cidadania, e
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desenvolver um conhecimento lógico-temático, construído a partir do pensar sobre as
experiências. Diante disso, Azambuja (2007) considera:
Para o ensino de Geografia, a realização de trabalhos de campo tem como finalidade
ser uma atividade de pesquisa, um momento de estudo. Nesse sentido, é uma das
atividades de instrumentalização, de busca de informações relacionadas com a
temática em investigação. (AZAMBUJA, 2007, p. 127.).
Dessa maneira, os trabalhos de campo podem ajudar a construir saberes a partir de
ações e interações com os colegas e com a sociedade em geral, pois corresponderão sempre a
novas noções, novas descobertas.
ATIVIDADE DESENVOLVIDA: TRILHA SENSITIVA
Perante a importância em promover um ensino-aprendizagem em Geografia inclusivo,
atrativo e eficaz, o PIBID procurou desenvolver aulas diferenciadas com atividades práticas,
alocando as aulas de campo - Trilha Sensitiva - como intermediárias do processo educativo.
Ao empregar essas aulas, o docente proporciona ao aluno oportunidade de integrar-se a
Geografia de maneira dinâmica, expondo ideias e explorando seus conhecimentos.
De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% da
população possui alguma deficiência. No Brasil, conforme dados do censo realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2000, aproximadamente 14,5% da
população possuía pelo menos uma deficiência. Segundo esse censo, 16,6% milhões de
brasileiros possuem dificuldade de enxergar. No que concerne à Geografia, acredita-se que os
educadores podem colaborar na inclusão de pessoas portadoras de deficiência visual ao
propor metodologias, materiais didáticos para auxiliar a apreensão do conhecimento
geográfico e espacial ou que auxiliem na sua orientação e independência de mobilidade.
Gadotti (2005) afirma que só pode-se gostar daquilo que se conhece, e o conhecer
implica o contato direto com o objeto de conhecimento. A utilização de práticas pedagógicas
com obstáculos relacionados aos enfrentados por pessoas portadoras de deficiência visual na
Trilha Sensitiva permite a aproximação dos conteúdos estudados em sala com os desafios da
sociedade atual de uma maneira diferente: explorando sem a visão, utilizando outros sentidos.
Oliveira e Vargas, (2009) ressaltam que durante as Trilhas Sensitivas os participantes
exploram o ambiente sem a visão, conseguem estimular seus outros sentidos, como a audição,
o tato, o paladar e o olfato para reconhecer o seu entorno.
1076
Concomitantemente, Materezi (2006), destaca que a Trilha Sensitiva pode apresentar
uma abordagem socioambiental e de conservação da diversidade biológica e cultural através
da exploração do ambiente natural, sendo um experimento educacional interdisciplinar que
busca promover a reaproximação dos participantes com o meio ambiente, utilizado com
instrumento de educação ambiental.
Segundo Oliveira e Vargas, (2009) os sentidos são fundamentais na interpretação e na
relação do indivíduo com o meio em que vive. A construção de conhecimento e significados
passa pela percepção do meio através dos sentidos e das sensações, impressões e laços
sentimentais aí estabelecidos. O sentido da visão é o canal mais importante para a aquisição
da informação espacial e por isso mesmo ela é tão requisitada na busca de reconhecimento das
diferentes paisagens, lugares e análises da Geografia.
Para a efetivação da Trilha Sensitiva, foram realizadas pesquisas bibliográficas
relativas à importância de promover aulas de campo, como também a privação do sentido
visual, as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência visual. A prática foi
organizada em cinco etapas. Na primeira etapa, a professora regente lançou o tema: Orientação,
espaço vivido, inclusão social para deficientes visuais. Após discussões com os pibidianos do
subprojeto, decidiu-se desenvolver uma atividade que consolidasse os conteúdos estudados em sala
(apresentados acima), sendo denominada Trilha Sensitiva. Em seguida, com orientações das
coordenadoras e dos supervisores, os acadêmicos começaram a organizar e planejar a atividade.
A segunda etapa solidificou-se através das observações pelos acadêmicos na sala de
aula do 6º A, B e D, com intuito de conhecer os educandos e ao mesmo tempo observar a
relação entre professor-aluno e aluno-professor.
Na terceira etapa, os acadêmicos bolsistas do PIBID, deslocaram-se até a Praça Willy
Barth, para o reconhecimento do local e planejamento dos obstáculos a serem incorporados à
mesma. Na sequência, ocorreu o desenvolvimento da atividade in loco pelos pibidianos (Fig.
1 e 2), verificou-se possíveis falhas e cronometrou-se o tempo aproximado para o
desenvolvimento da prática.
Figura 1 e 2: DESENVOLVIMENTO DA TRILHA SENSITIVA IN LOCO PELOS
PIBIDIANOS
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As figuras representam o desenvolvimento in loco da atividade Trilha Sensitiva, pelos acadêmicos
bolsistas.
Fonte: PIBID – Geografia. Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, Marechal Cândido Rondon
– PR, 12/12/2014.
A quarta etapa caracterizou-se pela efetivação da Trilha Sensitiva, no dia 12 de
dezembro de 2014, com os alunos do 6º A e 6º B (Fig. 3) no período matutino e com o 6º D
no vespertino.
Figura 3: TRILHA SENSITIVA 6º A E 6º B
A figura representa o início da Trilha Sensitiva, os alunos são guiados por dois pibidianos, na imagem,
é possível observar que os alunos “cegos” estão descalços, com o intuito de estimular a sensibilidade.
Fonte: PIBID – Geografia. Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Marechal Cândido Rondon
– PR, 12/12/2014.
Neste dia, um grupo de bolsistas encaminhou-se até a Praça para colocar os obstáculos
e organizar o percurso a ser percorrido e o outro grupo se deslocou até o Colégio Estadual
Antônio Maximiliano Ceretta, para auxiliar a professora no translado dos educandos da escola
até a Praça (Fig. 4.).
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Figura 4 - LOCALIZAÇÃO DA PRAÇA WILLY BARTH (A), DO COLÉGIO ANTÔNIO
MAXIMILIANO CERETTA (B) E O CAMINHO PERCORRIDO PELO GRUPO ENTRE
OS DOIS LOCAIS (EM AZUL.).
A imagem representa o caminho percorrido pelos alunos do Colégio até à Praça Willy Barth.
Fonte: PIBID – Geografia. Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Marechal Cândido Rondon
– PR, 12/12/2014.
Para o início da atividade, os alunos foram divididos em duplas, sendo 32 duplas no
período matutino, completando 64 alunos e 15 duplas no período vespertino, totalizando 30
alunos (Fig.5.). A Trilha Sensitiva começou a partir do som do apito da docente supervisora.
Duas colunas compostas por dois pibidianos e demais educandos foram organizadas, em que
um integrante da dupla era vedado (visão bloqueada) – o “cego” e o outro fazia o papel de
“guia” informando as características do caminho a ser percorrido. Os “cegos” ficaram
descalços, visou-se estimular a sensibilidade nos pés. Os primeiros dois integrantes da Trilha
eram pibidianos, apontavam aos demais alunos à direção a ser trilhada.
Figura 5: TRILHA SENSITIVA 6º D
1079
Parte da atividade em que os alunos do 6º D passaram pela água. A maioria ficou com receio até
perceber onde realmente estavam pisando.
Fonte: PIBID – Geografia. Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Marechal Cândido Rondon
– PR, 12/12/2014.
A prática realizou-se por meio de terrenos e objetos diferenciados (parquinho com
pedrinhas, quadra de areia, árvores, calçada com água, pista de skate, grama, terra, galhos,
folhas). Ao explorar a trilha com os olhos vendados, os alunos tiveram outros sentidos como a
audição, o tato e o olfato aflorados de maneira mais intensa a reconhecer os obstáculos do
percurso explorado (Fig. 6.).
Figura 6: OBSTÁCULO DA TRILHA SENSITIVA
1080
Apresenta um dos obstáculos enfrentados pelos alunos durante a realização da Trilha. Os “guias”
auxiliam os colegas para percorrer a mesma com êxito.
Fonte: PIBID – Geografia. Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Marechal Cândido Rondon
– PR, 12/12/2014.
A quinta etapa constituiu-se no debate com os alunos após o término da atividade
através da roda de conversa (Fig. 7.). Na área arborizada da praça, os educandos alocaram-se
na grama para que comentassem sobre a Trilha Sensitiva. Diversas questões foram abordadas,
a sensação de não poder ver, os desafios na realização da prática, os sentidos do tato, olfato e
audição mais aflorados, o reconhecimento do espaço vivido e as dificuldades enfrentadas por
pessoas portadoras de deficiência visual pela falta de acessibilidade.
Os alunos relataram que não imaginavam a dificuldade que os cegos enfrentam na
sociedade, muitos perceberam que não conheciam a praça tão bem, pois só enxergavam o que
queriam ver.
Figura 7: RODA DE CONVERSA SOBRE ATIVIDADE DESENVOLVIDA
A imagem representa o término da atividade, os alunos sentados em círculo, participando da roda de
conversa.
Fonte: PIBID – Geografia. Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Marechal Cândido Rondon
– PR, 12/12/2014.
Conforme Oliveira e Vargas (2009), o conhecer e o construir a realidade passam pelos
sentidos mais diretos e passivos como o olfato, paladar, tato e audição, até a percepção visual
ativa e a maneira indireta de simbolização. Assim, os alunos participantes da Trilha puderam
1081
com seus conhecimentos prévios, promover a articulação das suas emoções com os conceitos
construídos na disciplina de Geografia.
Almeida e Nogueira (2009) destacam que a percepção que se tem do mundo é
constituída por imagens mentais adquiridas por meio do intercâmbio com o meio em que
vive. Dessa forma, para conhecer ou adquirir percepção acerca dos objetos, é necessário vê-lo
ou manter contato físico como ele. Para representar ou compreender a representação dos
objetos, é essencial recriá-lo mentalmente a partir do conhecimento adquirido dos objetos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho em questão, em consonância com a fundamentação teórica baseada em
autores especializados na utilização de práticas pedagógicas diferenciadas e inovadoras,
apontou a importância de aulas de campo no ensino de Geografia.
Entender e estudar os espaços geográficos constitui-se na compreensão dos
acontecimentos no lugar onde se vive, pois esses ambientes são compostos a partir da história
das pessoas, da maneira como vivem, trabalham e se relacionam umas com as outras.
A Trilha Sensitiva buscou estimular os outros sentidos, como o tato, olfato audição. A
estimulação sensorial na aula de campo, através de ações como tocar as plantas, os objetos
dispostos na praça, cheirar as folhas, despertaram os sentidos que muitas vezes estão
encobertos pela visão e pouco desenvolvidos, proporcionando aos alunos oportunidade de
conhecimento do próprio corpo, suas capacidades e dificuldades.
Além disso, ressaltaram-se as dificuldades enfrentadas por pessoas portadoras de
necessidades especiais, desconhecidas por grande parte dos estudantes, tornando-se uma
experiência inédita para os alunos.
Embora que alguns discentes apresentaram embaraços (medo, tropeções, incertezas)
no decorrer da aula de campo, os acadêmicos líderes estimularam os “cegos e os guias” a
atravessar os obstáculos. Os educandos mostraram-se empenhados e unidos para concluir a
Trilha Sensitiva. Ainda, ao término da prática, manifestaram expectativas a espera de novas
atividades desenvolvidas pelos PIBID/UNIOESTE.
Desta maneira, concluiu-se que foi possível envolver a emoção dos alunos, que com os
relatos após o fim da atividade apontaram as dificuldades de não enxergar, muitos, afirmaram
nunca ter imaginado essa situação. Assim, a atividade foi proveitosa, sendo possível reforçar e
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aumentar os conhecimentos geográficos e a compreensão do espaço vivido, não somente para
os discentes, mas para os acadêmicos.
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