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Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore Trupé é um boletim informativo, que tem o objetivo de divulgar as ações, pesquisas, projetos e programas desenvolvidos no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB). Localizado à beira mar, na Avenida da Paz, em Maceió, o Museu pertence à Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Instalado, provisoriamente, no bairro do Pontal da Barra, o MTB foi criado em 20 de agosto de 1975 pelo médico, etnógrafo, folclorista, antropólogo e escritor alagoano Theotônio Vilela Brandão (1907-1982). Em 1977, por ocasião da V Festa do Folclore Brasileiro, o Museu é transferido para sua sede própria, onde está localizado atualmente. Concebido para abrigar a coleção de arte popular de seu patrono e idealizador, o Museu, em 1982, diversifica seus acervos quando recebe, da família de Théo Brandão, um conjunto expressivo de suas fotografias, documentos pessoais, manuscritos, registros sonoros, livros e folhetos de cordel. Em 1983, o prédio (um palacete construído no início do séc. XX), foi tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual e, em 2002, restaurado, processo este que ampliou e estruturou suas salas de exposições. No circuito museográfico, o visitante encontra obras em madeira e cerâmica, indumentária de folguedos populares, estandartes e bonecos de carnaval, brinquedos populares, objetos de fibra vegetal, peças de culto afro-brasileiro, ex-votos e tantos outros objetos produzidos por artistas populares. Além das salas de exposição de longa duração, o Museu possui um espaço voltado para mostras temporárias, além de uma lojinha, um auditório e uma biblioteca especializada em antropologia, folclore e cultura popular. O Museu é aberto à visitação de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, das 14h às 17h. Mais informações pelos telefones (82) 3221-2651 e 3221-2977. www.facebook.com/MuseuTheoBrandao I @MTheoBrandao TRU P E Quem Somos Nº 01, Novembro 2012 ISSN 2316-5413

Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

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ISSN 2316-5413 | Nº 01, Novembro 2012

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Page 1: Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

Trupé é um boletim informativo, que tem o objetivo de divulgar as ações, pesquisas, projetos

e programas desenvolvidos no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

(MTB). Localizado à beira mar, na Avenida da Paz, em Maceió, o Museu pertence à Universidade

Federal de Alagoas (Ufal). Instalado, provisoriamente, no bairro do Pontal da Barra, o MTB

foi criado em 20 de agosto de 1975 pelo médico, etnógrafo, folclorista, antropólogo e escritor

alagoano Theotônio Vilela Brandão (1907-1982). Em 1977, por ocasião da V Festa do Folclore

Brasileiro, o Museu é transferido para sua sede própria, onde está localizado atualmente.

Concebido para abrigar a coleção de arte popular de seu patrono e idealizador, o Museu,

em 1982, diversifica seus acervos quando recebe, da família de Théo Brandão,

um conjunto expressivo de suas fotografias, documentos pessoais, manuscritos,

registros sonoros, livros e folhetos de cordel. Em 1983, o prédio (um palacete construído

no início do séc. XX), foi tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual e, em 2002,

restaurado, processo este que ampliou e estruturou suas salas de exposições.

No circuito museográfico, o visitante encontra obras em madeira e cerâmica, indumentária

de folguedos populares, estandartes e bonecos de carnaval, brinquedos populares, objetos

de fibra vegetal, peças de culto afro-brasileiro, ex-votos e tantos outros objetos produzidos

por artistas populares. Além das salas de exposição de longa duração, o Museu possui

um espaço voltado para mostras temporárias, além de uma lojinha, um auditório

e uma biblioteca especial izada em antropologia, folclore e cultura popular.

O Museu é aberto à visitação de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados,

das 14h às 17h. Mais informações pelos telefones (82) 3221-2651 e 3221-2977.

www.facebook.com/MuseuTheoBrandao I @MTheoBrandao

TRUPEQuem Somos N º 01 , Novembro 2012 ISSN 2316 -54 13

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eDitorial

Trupé é termo que designa o sapateado ou pisada com

a qual os dançadores marcam o ritmo durante a dança

do Coco. Em roda ou em pares, forte ou singelo, Trupé

é passo, é pulso, articulando sons e corpos com a terra

onde se vive, com o chão onde se pisa. Inspirado na

pisada firme e cadenciada do Trupé é que o Museu Théo

Brandão de Antropologia e Folclore apresenta esta

primeira edição de seu Boletim.

As quatro primeiras edições do Trupé serão dedicadas

ao programa “Folguedos Populares em Alagoas:

recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos

sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo

Brandão de Antropologia e Folclore”. Nessas edições,

convidaremos o leitor para um passeio pelo universo

dos folguedos populares em Alagoas, descobrindo

conosco fotografias, sons e textos produzidos e reunidos

por Théo Brandão ao longo de sua trajetória de pesquisa.

Com o trabalho de uma equipe paciente e dedicada,

vamos pouco a pouco soprar a poeira e escavar algumas

histórias e memórias do folclore alagoano, registradas e

colecionadas por Théo em suas andanças pelo estado,

nas amizades construídas com mestres e mestras de

folguedos, com fotógrafos anônimos e ilustres e com

renomados folcloristas.

Embarquem conosco e boa leitura!

Fernanda Rechenberg e Wagner Chaves

Expediente

Trupé - Boletim Informativo do Museu Théo Brandão

de Antropologia e Folclore da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Coordenação Editorial:

Fernanda Rechenberg e Wagner Chaves

Jornalista responsável: Jacqueline Batista MTb 576

Texto: Francisco Ribeiro e Jacqueline Batista

Projeto Gráfico/Diagramação: Victor Sarmento (publicitário) MTb 001

Fotografia: Francisco Ribeiro, Jacqueline Batista e Victor Sarmento

Edição e Revisão: Jacqueline Batista

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Page 3: Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

ENTREVISTA

wagner Chaves

O diretor do Museu explica como foi pensado o Programa que representa um primeiro passo na recuperação

de parte do acervo de Théo Brandão.

Há três anos, quando o professor de Antropologia, do Instituto de Ciências Sociais (ICS),

da Ufal, Wagner Chaves, iniciava sua trajetória na Universidade, logo, seus olhos de

pesquisador da cultura popular brasileira se voltaram para os acervos do Museu Théo

Brandão de Antropologia e Folclore. A curiosidade inicial que motivou seu trabalho conduziu

o pesquisador a novos desafios: recuperar e tornar disponível um conjunto de documentos

– sonoros, imagéticos e textuais – colecionados por Théo Brandão. Os primeiros passos de

sua gestão no Museu, iniciada em 2010, seguem esse norte. Desde então, a direção começou

a buscar uma forma de financiar esse projeto, até que no final do ano passado, recebeu a notícia

de que o Programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa

nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo Brandão de Antropologia e

Folclore” havia sido contemplado pelo MEC/SESU. Nesta entrevista, Wagner fala sobre essa

trajetória e sobre o caminho que ainda está por vir no trabalho com esse acervo.

A OBRA ABERTA

Théo Brandão, em seu discurso durante a V Festa do Folclore Brasileiro, no ano de 1977, que

marcou a inauguração do Museu Théo Brandão em sua sede própria, enfatizava que um museu

de antropologia e folclore não deveria ser um depósito de objetos e obras raras, mas, sim, um

espaço vivo e dinâmico, “um organismo vivo, um centro de estudos, de documentação e

pesquisa”. Levando adiante tal postulado acerca da centralidade da pesquisa no âmbito de um

museu universitário, nossa motivação de fundo para a elaboração desse Programa foi alinhavar

o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore na direção traçada pelo seu patrono e

idealizador. Por isso é que estamos privilegiando justamente ações e atividades com o propósito

de preservar e disponibilizar nossos acervos.

Com que objetivo esse programa foi elaborado?

Como surgiu a ideia da realização dessas ações? O senhor realizou uma pesquisa no Museu antes de começar a atuar como diretor. De que forma essa pesquisa o influenciou a idealizar o Programa?

No segundo semestre de 2009, na condição de professor da UFAL, iniciei, juntamente com um

grupo de alunos da graduação, uma pesquisa chamada “Fontes e Referências da Cultura

Popular em Alagoas”. Essa pesquisa, integrante do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação Científica (PIBIC), tinha por objetivo identificar, registrar e catalogar um conjunto de

fontes textuais, sonoras e visuais referentes aos estudos de folclore em Alagoas.

Jacqueline BatistaJornalista

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Page 4: Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

Entre as instituições escolhidas para realizarmos a investigação, o MTB logo se destacou como

local privilegiado para o seu desenvolvimento, tendo em vista a riqueza de seu acervo no que

tange aos temas de nosso interesse. Embora a pesquisa tenha se concentrado no acervo

bibliográfico disponível para consulta, durante o processo de investigação, encontramos, para

nossa surpresa, um expressivo conjunto de documentos, entre registros sonoros, fotografias

e documentos originais de Théo Brandão, que apesar de significativos para a memória da cultura

popular alagoana, estavam inacessíveis e em situação de risco. Tempos depois, ao assumir a

direção do MTB, em dezembro de 2010, juntamente com a equipe de técnicos e colaboradores

da instituição, passamos a priorizar a recuperação desses acervos. Esse Programa, em grande

medida, representa o primeiro passo nessa direção.

A partir da constatação de que o acervo não se encontrava em condições adequadas, quais as metas do Programa com relação a essa questão?

De que forma o Museu conseguiu financiamento para a execução do Programa?

O Programa tem como meta preservar os

documentos originais mediante tratamento técnico

adequado e potencializar o acesso do público aos

seus conteúdos através da reprodução digital.

Nossa intenção é que os documentos, uma vez

recuperados, digitalizados e disponibilizados,

tornem-se suportes para o desenvolvimento e a

continuidade de pesquisas na área, contribuindo

assim para a valorização e reconhecimento tanto

de Théo Brandão como etnógrafo e folclorista

quanto dos detentores dos conhecimentos e das

formas de expressões culturais tradicionais que

ele pesquisou e documentou ao longo de sua vida.

O Programa está sendo viabilizado através do edital

MEC/SESU (ProExt 2011), que concedeu verba de

150 mil reais para sua realização. Gostaria de salientar

que nosso Programa, dentre todos os encaminhados

pelas Instituições Federais de Ensino Superior (IFEs)

ao referido edital na linha temática “Preservação do

Patrimônio Cultural Brasileiro”, foi o mais bem

avaliado. Tal distinção, para nós, além de motivo de

orgulho e satisfação, é também um grande estímulo

para continuarmos trabalhando na direção da

recuperação e disponibilização dos nossos acervos.

O Programa vai executar três projetos: “Recuperação e digitalização de parte dos acervos

fotográfico, sonoro e documental de Théo Brandão”, com recorte nos folguedos populares em

Alagoas; “Estudo e Mapeamento dos Principais Folguedos Populares de Maceió”, identificando

seus locais de atuação, seus mestres e sua ocorrência atual e organização de um “Ciclo de Debates

sobre Cultura Popular, Museus e Acervos Documentais e Audiovisuais”, com quatro seminários

temáticos e um “Encontro de Mestres da Cultura Popular de Alagoas”.

Como o Programa está estruturado?

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O Programa também tem parcerias com instituições de Alagoas e de outros estados. Como essas parcerias estão acontecendo?

Qual a sua experiência anterior no universo da cultura popular?

Outra característica de nosso Programa é que o mesmo se fundamenta em importantes parcerias

com instituições e órgãos de renomada experiência na área da conservação de acervos. Nessa

direção, uma rede de parceiros, em nível local, estadual e nacional, está sendo mobilizada. No

âmbito da UFAL, contamos com a parceria do Arquivo Central, responsável pelo curso de

“Capacitação em Conservação de Documentos”, que já foi concluído, e com a Pró-Reitoria de

Extensão, mediante apoio logístico para a viabilidade das atividades programadas. No âmbito

estadual, e com vistas à ampla divulgação de nossas atividades, contamos com a colaboração do

Instituto Zumbi dos Palmares (IZP), que também será parceiro nas atividades de recuperação

do acervo sonoro de fitas K-7, particularmente nas fases de higienização e digitalização. No âmbito

nacional, destaca-se a continuidade da bem sucedida parceria com o Centro de Conservação e

Preservação Fotográfica da FUNARTE, que desde o primeiro semestre de 2011 vem dando suporte

ao MTB nas atividades de conservação, digitalização e acondicionamento do material fotográfico.

Neste momento, a FUNARTE, através do seu CCPF e a UFAL, através do MTB, estão elaborando

conjuntamente um termo de parceria, que entre outras coisas, prevê que o MTB se torne um

centro de referência em Alagoas na área da conservação e preservação fotográfica. Além dessas

parcerias, serão colaboradores do Programa o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do

IPHAN e o Arquivo Nacional, locais onde os integrantes da equipe executora farão uma visita

com o objetivo de conhecer as técnicas de conservação e acondicionamento que essas instituições

utilizam para a preservação de seus acervos sonoro e documental, respectivamente.

Nos últimos quinze anos, venho me dedicando sistematicamente à pesquisa junto ao complexo

e diversificado universo das culturas populares, tendo desenvolvido investigações em torno de

temas como religiosidade popular, políticas culturais, música, ritos e festas. Entre os anos de 2001

e 2009, realizei pesquisa etnográfica sobre os giros rituais das Folias de Santos Reis e São José,

resultando em minha dissertação de mestrado e tese de doutorado, ambas defendidas no

Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ. Ainda como

pesquisador, com reverberações práticas na formulação de políticas públicas na área do chamado

patrimônio imaterial, entre 2005 e 2008, participei do programa “Celebrações e Saberes da Cultura

Popular” e do “Programa de Apoio a Comunidades Artesanais” (PACA), ambos veiculados ao

Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP\IPHAN). Para além dessas atividades e

interesses de pesquisa strito senso, minha relação com a cultura popular envolve também uma

dimensão afetiva e artística. Nessa direção, saliento minha participação como integrante e

fundador do Núcleo de Cultura Popular Céu na Terra, com sede no Rio de Janeiro, que desde

1997 desenvolve um trabalho de criação de espetáculos, brincadeiras e celebrações tendo por

inspiração as tradições populares brasileiras.

Na execução desse Programa, o Museu conta com a colaboração e envolvimento de várias pessoas, inclusive exteriores ao quadro de servidores do Museu. Qual a importância disso na prática?

Uma importante característica do Programa é que ele, desde seu início, está sendo concebido

coletivamente. Reunindo uma equipe interdisciplinar – com antropólogos, historiadores,

bibliotecários, arquivistas e profissionais da comunicação social – esse Programa vem

sedimentando, no âmbito do MTB, um espaço de diálogo e interação entre distintas áreas

do conhecimento, contribuindo assim para o desenvolvimento de ações integradas, fundamentais

para lidarmos com a complexidade e diversidade de nossos acervos.

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Fotografias, manuscritos, correspondências, diários de campos,

gravações sonoras em fitas, materiais que são declarações de uma vida

dedicada à pesquisa. Essas preciosidades culturais doadas por Théo

Brandão ao Museu começaram a ser trabalhadas para se tornarem

disponíveis ao grande público. Esse é um dos objetivos do Programa

“Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e

pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu

Théo Brandão de Antropologia e Folclore”.

Iniciado em janeiro, o Programa inclui o projeto “Recuperação e

digitalização de parte dos acervos fotográfico, sonoro e documental”,

que vem sendo executado em três frentes de trabalho associadas a

documentos de diferentes suportes: o fotográfico (coordenado pela

professora Fernanda Rechenberg), o textual (coordenado pelo professor

Iuri Rizzi) e o sonoro (coordenado pelo professor Wagner Chaves).

Além desse trabalho de recuperação do acervo, o Programa conta

com uma equipe de bolsistas que atuam na pesquisa bibliográfica

e no mapeamento da ocorrência atual dos folguedos em Alagoas. É o

caso da estudante de História, Adriana Nascimento, que explica como

vem sendo feito o levantamento bibliográfico da obra de Théo Brandão

e de outros folcloristas. “Estamos pesquisando os folguedos e fazendo

uma comparação entre os folcloristas contemporâneos de Théo.

Queremos saber se eles tinham a mesma visão com relação a essas

manifestações culturais”, salientou. Quinzenalmente, todas as equipes

se reúnem para a realização de leituras e estudos dirigidos e

apresentação do andamento dos trabalhos.

Com a finalidade de capacitar os professores, técnicos e estudantes no

correto tratamento dos acervos documental e fotográfico, um momento

decisivo foi o curso “Acervo documental, conservação e preservação de

documentos”, ministrado pela diretora do Arquivo Geral da UFAL,

Maristher Moura Vasconcelos e por sua equipe.

Esse treinamento realizado no Museu passou a servir de referência para

outras ações na universidade. Com o objetivo de higienizar, catalogar e

digitalizar as fotografias da ASCOM (Assessoria de Comunicação),

a bolsista Annelise Pimentel Cavalcante, aluna de Biblioteconomia,

fez o curso de capacitação em Higienização e, durante uma semana,

participou do trabalho de higienização e diagnóstico das fotografias

do acervo.

Jacqueline BatistaJornalista

Museu Théo Brandão inicia programa de recuperação

e digitalização do acervo

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Page 7: Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

Vanessa Matcki, bolsista da equipe de Higienização

Fotográfica e estudante do curso de Bacharelado

em Ciências Sociais, comenta que o treinamento

foi bastante esclarecedor. “Descobrimos a grande

importância de existir uma numeração mecânica

para organizar o acervo. Para ter cuidado com a

nossa saúde, aprendemos a ser criteriosos com

os equipamentos como máscara e luva. Começamos

a separar o material que não era tão sujo do

outro que ,tinha bem mais poeira para evitar

contaminação”, explicou a estudante.

A fase posterior foi o inicio do tratamento dos

diferentes acervos, o qual obedece às seguintes

etapas: higienização, descrição e catalogação,

acondicionamento e digitalização. Entretanto,

esse processo vem acontecendo de acordo com as

especificidades de cada acervo: enquanto o

fotográfico e o textual estão passando por um

processo de higienização e diagnóstico, o acervo

sonoro – tendo em vista a complexidade e

fragilidade do suporte – está sendo objeto de

identificação e catalogação.

A intenção dos coordenadores é que o Programa

não se limite a desenvolver um trabalho técnico

nos documentos, mas ofereça aos bolsistas a

possibilidade de considerar o acervo como objeto

de pesquisa. Os estudantes vão apresentar

os resultados desse trabalho no I Congresso

Alagoano Integrado de Inovação e Tecnologia

(CAIITE). “É um programa interdisciplinar, que

trabalha questões próprias da conservação do

acervo, mas também o estímulo à pesquisa no

tema do folclore e da cultura popular alagoana”,

destacou Fernanda Rechenberg.

O coordenador do Programa, Wagner Chaves,

enfatizou a necessidade da realização desse

tratamento na obra do patrono do Museu.

“Estamos vivendo um momento histórico. É um

acervo de significado inestimável, contendo

manuscritos, correspondências, gravações

sonoras e fotografias originais da coleção de Théo

Brandão. Dar um tratamento adequado a esse

material vai permitir, futuramente, aos

pesquisadores, o acesso à obra do mais importante

folclorista alagoano”, concluiu.

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Page 8: Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

DesvenDaNDo

o acervo

Ainda que tivesse confessado certa vez ao amigo Bráulio do Nascimento a sua indecisão em

seguir a carreira como pesquisador da cultura popular, o médico, professor e folclorista

alagoano Theotônio Vilela Brandão dedicou muitos dos seus 74 anos de vida à preservação

da memória e do patrimônio cultural alagoano, nordestino e brasileiro.

No entanto, foi a partir de 1937, aos 30 anos de idade, que Théo Brandão - como se tornou

conhecido - começou a profundar seus estudos sobre o folclore alagoano, ao assumir um cargo

no Instituto Histórico de Alagoas. O resultado desse extenso trabalho etnográfico constituiu

um dos mais importantes e expressivos acervos sobre a memória popular alagoana.

Ao longo da sua trajetória como folclorista, Théo Brandão fotografou mestres e apresentações

de folguedos, gravou entrevistas, cantos e músicas, escreveu centenas de páginas sobre as

expressões do folclore em Alagoas.

Nesse percurso, em colaboração com outros fotógrafos e pesquisadores, reuniu um acervo

de cerca de três mil fotografias em diferentes suportes, mais de duzentos documentos sonoros

e variada documentação arquivística, composta por manuscritos, livros, folhetos de cordel

e documentos pessoais.

O conteúdo desses materiais envolve registros fotográficos e sonoros de folguedos na capital

e interior, em diferentes contextos, a exemplo das apresentações dos grupos Cocos de Alagoas,

de Chã Preta, Viçosa (1955); Fandango, da Pajuçara (1957); Guerreiro, da fazenda Boa Sorte,

Viçosa (1961); Baianas, de Ipioca (1977), entre outros.

Para a professora e coordenadora do trabalho de recuperação do acervo fotográfico,

Fernanda Rechenberg, esse patrimônio fornece dados valiosos sobre os folguedos e a cultura

popular alagoana em geral. “Esperamos que a vasta produção etnográfica – entre textos,

registros sonoros e fotográficos – sobre o folclore em Alagoas, presente no Museu Théo Brandão

de Antropologia e Folclore, possa mostrar a cultura popular alagoana em diferentes décadas,

contribuindo para pesquisadores, estudantes, curiosos e, especialmente, os mestres e brincantes

dos folguedos no Estado”, observa.

Francisco Ribeiro estudante de Jornalismo

A BAIANA DE THÉO

REDESCOBERTASAo longo da semana, bolsistas, técnicos, professores e colaboradores se encontram no Museu

para realizar as atividades de recuperação dos acervos sonoro, fotográfico e documental.

Durante o processo de recuperação foram encontrados diversos registros sobre a cultura

popular em Alagoas, que serviram de base para os trabalhos e estudos sobre o folclore

desenvolvidos por Théo Brandão. Entre eles, fotos e a gravações em áudio das apresentações

de grupos de folguedos e dos seus mestres, a exemplo da mestra Terezinha Oliveira, do

folguedo Baianas, de Ipioca. A seguir, você confere mais sobre a história desse folguedo

em Alagoas.

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A BAIANA

Théo Brandão nunca escondeu sua admiração pela mestra Baiana Terezinha Oliveira, falecida

na década de 1980. Funcionário do museu desde sua fundação, José Carlos Silva recorda que

a beleza, a simpatia e o talento a fizeram ser considerada uma das mais importantes mestras

de folguedos em Alagoas.

Théo Brandão e mestra Terezinha: admiração pelo talento

e dedicação da mestra para preservação do folguedo Baiana.

“Segundo o Dr. Théo Brandão, ela era a melhor

mestra de Baianas da época. Mestra Terezinha

cantava e tirava as toadas do folguedo muito

bem. Ela visitava bastante o museu, colaborando

com as pesquisas que eram realizadas sobre

o folguedo das Baianas. A museóloga e

ex-diretora do Théo Brandão, Cármen Lúcia

Dantas, também, tinha uma relação muito

próxima com a mestra Terezinha”, lembra José

Carlos Silva.

Caracterizado por não possuir um enredo

determinado, as Baianas cantam uma

sequência constituída de marchas de entrada

ou abrição de sede, peças variadas e, por fim,

a despedida. O traje é composto de três peças:

blusas de cetim com lantejoulas, saias longas,

rodadas e estampadas e lenço amarrado à

cabeça.

Mestra Terezinha coroando Cármen Lúcia Dantas.

A mestra do folguedo, além de ter uma

vestimenta diferenciada, é responsável pela

marcação do ritmo e dos cantos.

São três os instrumentos principais usados

durante as apresentações dos grupos: o ganzá,

o bombo (espécie de zabumba) e o apito, que

serve para marcar o ritmo.

Mestra Terezinha durante apresentação do folguedo Baiana.

Mestra Terezinha e Cármen Lúcia Dantas, em visita ao museu.

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Page 10: Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

M U S E UTHÉO BRANDÃO

UFAL

Gravador usado por Théo Brandão

para registrar as apresentações

dos folguedos; fitas com a gravação do

folguedo Baianas, de Ipioca (1977),

da célebre mestra Terezinha.

Tal folguedo é mais do que uma expressão da

cultura popular, pois ao misturar dança e música

vindas do Sul de Pernambuco leva às ruas uma

mistura do candomblé e da umbanda, somando

novos elementos e arranjos próprios do povo

alagoano.

No livro “Folguedos Natalinos: Baianas”, Théo

Brandão ressalta que “além do seu ritmo original

e quente (...) são as narrações de sucessos,

episódios, acontecimentos que se refletiram na

mente popular e que, repetidos, às vezes, com

vários anos de existência, mantêm a tradição

sempre viva e alerta”.

Ao longo de sua existência, o folguedo recebeu

diversas nomenclaturas, a exemplo de Samba

de Matuto e Baianais. Mas, foi somente na década

de 1920 que passou a ser denominado de Baianas.

As melhores mestras são as que improvisam suas

loas (cantigas). Além de mestra Terezinha,

destacavam-se Georgina, de Vassouras, Coruripe;

Das Dores, de Pilar; Antônia Nascimento, de

Garça Torta.

Até o momento, foram identificadas e catalogadas

duas fitas cassetes, três fitas magnéticas de rolo,

cerca de vinte e cinco fotografias e vinte

documentos a respeito desse folguedo. Esses

registros compõe uma parte do acervo de Théo

Brandão sobre as Baianas.

Equipe do Programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental

do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore”:

Coordenação do ProgramaWagner Neves Diniz Chaves

Coordenador GeralFernanda Rechenberg

Vice-coordenadoraIuri Rocio Franco Rizzi

Vice-coordenador

Apoio Técnico e AdministrativoAlexandre Silva de Oliveira

Anna Christina de Queiroz Rodrigues

Francisco José Barboza dos Santos

Jacqueline Batista

José Carlos da Silva

Julio Cézar Chaves

Cristiane Cyrino Estevão

Maristher Moura Vasconcellos

Victor Sarmento Souto

Jesuíno Ferreira de Moura

Josefa Sales Barros

Maria das Graças de Oliveira

Maria Madalena de Oliveira

Rogério Lira

UFALReitor

Eurico LoboVice-reitora

Rachel RochaPro-reitor de Extensão

Eduardo LyraDireção Geral MTB

Wagner ChavesDireção Administrativa MTB

Victor Sarmento

Colaboradores

Fernanda Capibaribe Leite Bruno César Cavalcanti

BolsistasAdriana Conceição NascimentoDaniela Inês dos Santos Pessoa

Ellen Cristina da SilvaEwerton dos Santos Freitas

Francisco RibeiroJoão Paulo de Farias Silva

Kelliane Maria da SilvaKlessiane Ferreira da Mota

Lidiane de Sales PereiraRenata Amorim Costa Soares

Vanessa Matcki SouzaVeronilda da Silva

Lucy Muritiba