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ISSN 2316-5413 | Nº 01, Novembro 2012
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Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore
Trupé é um boletim informativo, que tem o objetivo de divulgar as ações, pesquisas, projetos
e programas desenvolvidos no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore
(MTB). Localizado à beira mar, na Avenida da Paz, em Maceió, o Museu pertence à Universidade
Federal de Alagoas (Ufal). Instalado, provisoriamente, no bairro do Pontal da Barra, o MTB
foi criado em 20 de agosto de 1975 pelo médico, etnógrafo, folclorista, antropólogo e escritor
alagoano Theotônio Vilela Brandão (1907-1982). Em 1977, por ocasião da V Festa do Folclore
Brasileiro, o Museu é transferido para sua sede própria, onde está localizado atualmente.
Concebido para abrigar a coleção de arte popular de seu patrono e idealizador, o Museu,
em 1982, diversifica seus acervos quando recebe, da família de Théo Brandão,
um conjunto expressivo de suas fotografias, documentos pessoais, manuscritos,
registros sonoros, livros e folhetos de cordel. Em 1983, o prédio (um palacete construído
no início do séc. XX), foi tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual e, em 2002,
restaurado, processo este que ampliou e estruturou suas salas de exposições.
No circuito museográfico, o visitante encontra obras em madeira e cerâmica, indumentária
de folguedos populares, estandartes e bonecos de carnaval, brinquedos populares, objetos
de fibra vegetal, peças de culto afro-brasileiro, ex-votos e tantos outros objetos produzidos
por artistas populares. Além das salas de exposição de longa duração, o Museu possui
um espaço voltado para mostras temporárias, além de uma lojinha, um auditório
e uma biblioteca especial izada em antropologia, folclore e cultura popular.
O Museu é aberto à visitação de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados,
das 14h às 17h. Mais informações pelos telefones (82) 3221-2651 e 3221-2977.
www.facebook.com/MuseuTheoBrandao I @MTheoBrandao
TRUPEQuem Somos N º 01 , Novembro 2012 ISSN 2316 -54 13
eDitorial
Trupé é termo que designa o sapateado ou pisada com
a qual os dançadores marcam o ritmo durante a dança
do Coco. Em roda ou em pares, forte ou singelo, Trupé
é passo, é pulso, articulando sons e corpos com a terra
onde se vive, com o chão onde se pisa. Inspirado na
pisada firme e cadenciada do Trupé é que o Museu Théo
Brandão de Antropologia e Folclore apresenta esta
primeira edição de seu Boletim.
As quatro primeiras edições do Trupé serão dedicadas
ao programa “Folguedos Populares em Alagoas:
recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos
sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo
Brandão de Antropologia e Folclore”. Nessas edições,
convidaremos o leitor para um passeio pelo universo
dos folguedos populares em Alagoas, descobrindo
conosco fotografias, sons e textos produzidos e reunidos
por Théo Brandão ao longo de sua trajetória de pesquisa.
Com o trabalho de uma equipe paciente e dedicada,
vamos pouco a pouco soprar a poeira e escavar algumas
histórias e memórias do folclore alagoano, registradas e
colecionadas por Théo em suas andanças pelo estado,
nas amizades construídas com mestres e mestras de
folguedos, com fotógrafos anônimos e ilustres e com
renomados folcloristas.
Embarquem conosco e boa leitura!
Fernanda Rechenberg e Wagner Chaves
Expediente
Trupé - Boletim Informativo do Museu Théo Brandão
de Antropologia e Folclore da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Coordenação Editorial:
Fernanda Rechenberg e Wagner Chaves
Jornalista responsável: Jacqueline Batista MTb 576
Texto: Francisco Ribeiro e Jacqueline Batista
Projeto Gráfico/Diagramação: Victor Sarmento (publicitário) MTb 001
Fotografia: Francisco Ribeiro, Jacqueline Batista e Victor Sarmento
Edição e Revisão: Jacqueline Batista
02
ENTREVISTA
wagner Chaves
O diretor do Museu explica como foi pensado o Programa que representa um primeiro passo na recuperação
de parte do acervo de Théo Brandão.
Há três anos, quando o professor de Antropologia, do Instituto de Ciências Sociais (ICS),
da Ufal, Wagner Chaves, iniciava sua trajetória na Universidade, logo, seus olhos de
pesquisador da cultura popular brasileira se voltaram para os acervos do Museu Théo
Brandão de Antropologia e Folclore. A curiosidade inicial que motivou seu trabalho conduziu
o pesquisador a novos desafios: recuperar e tornar disponível um conjunto de documentos
– sonoros, imagéticos e textuais – colecionados por Théo Brandão. Os primeiros passos de
sua gestão no Museu, iniciada em 2010, seguem esse norte. Desde então, a direção começou
a buscar uma forma de financiar esse projeto, até que no final do ano passado, recebeu a notícia
de que o Programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa
nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo Brandão de Antropologia e
Folclore” havia sido contemplado pelo MEC/SESU. Nesta entrevista, Wagner fala sobre essa
trajetória e sobre o caminho que ainda está por vir no trabalho com esse acervo.
A OBRA ABERTA
Théo Brandão, em seu discurso durante a V Festa do Folclore Brasileiro, no ano de 1977, que
marcou a inauguração do Museu Théo Brandão em sua sede própria, enfatizava que um museu
de antropologia e folclore não deveria ser um depósito de objetos e obras raras, mas, sim, um
espaço vivo e dinâmico, “um organismo vivo, um centro de estudos, de documentação e
pesquisa”. Levando adiante tal postulado acerca da centralidade da pesquisa no âmbito de um
museu universitário, nossa motivação de fundo para a elaboração desse Programa foi alinhavar
o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore na direção traçada pelo seu patrono e
idealizador. Por isso é que estamos privilegiando justamente ações e atividades com o propósito
de preservar e disponibilizar nossos acervos.
Com que objetivo esse programa foi elaborado?
Como surgiu a ideia da realização dessas ações? O senhor realizou uma pesquisa no Museu antes de começar a atuar como diretor. De que forma essa pesquisa o influenciou a idealizar o Programa?
No segundo semestre de 2009, na condição de professor da UFAL, iniciei, juntamente com um
grupo de alunos da graduação, uma pesquisa chamada “Fontes e Referências da Cultura
Popular em Alagoas”. Essa pesquisa, integrante do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC), tinha por objetivo identificar, registrar e catalogar um conjunto de
fontes textuais, sonoras e visuais referentes aos estudos de folclore em Alagoas.
Jacqueline BatistaJornalista
03
Entre as instituições escolhidas para realizarmos a investigação, o MTB logo se destacou como
local privilegiado para o seu desenvolvimento, tendo em vista a riqueza de seu acervo no que
tange aos temas de nosso interesse. Embora a pesquisa tenha se concentrado no acervo
bibliográfico disponível para consulta, durante o processo de investigação, encontramos, para
nossa surpresa, um expressivo conjunto de documentos, entre registros sonoros, fotografias
e documentos originais de Théo Brandão, que apesar de significativos para a memória da cultura
popular alagoana, estavam inacessíveis e em situação de risco. Tempos depois, ao assumir a
direção do MTB, em dezembro de 2010, juntamente com a equipe de técnicos e colaboradores
da instituição, passamos a priorizar a recuperação desses acervos. Esse Programa, em grande
medida, representa o primeiro passo nessa direção.
A partir da constatação de que o acervo não se encontrava em condições adequadas, quais as metas do Programa com relação a essa questão?
De que forma o Museu conseguiu financiamento para a execução do Programa?
O Programa tem como meta preservar os
documentos originais mediante tratamento técnico
adequado e potencializar o acesso do público aos
seus conteúdos através da reprodução digital.
Nossa intenção é que os documentos, uma vez
recuperados, digitalizados e disponibilizados,
tornem-se suportes para o desenvolvimento e a
continuidade de pesquisas na área, contribuindo
assim para a valorização e reconhecimento tanto
de Théo Brandão como etnógrafo e folclorista
quanto dos detentores dos conhecimentos e das
formas de expressões culturais tradicionais que
ele pesquisou e documentou ao longo de sua vida.
O Programa está sendo viabilizado através do edital
MEC/SESU (ProExt 2011), que concedeu verba de
150 mil reais para sua realização. Gostaria de salientar
que nosso Programa, dentre todos os encaminhados
pelas Instituições Federais de Ensino Superior (IFEs)
ao referido edital na linha temática “Preservação do
Patrimônio Cultural Brasileiro”, foi o mais bem
avaliado. Tal distinção, para nós, além de motivo de
orgulho e satisfação, é também um grande estímulo
para continuarmos trabalhando na direção da
recuperação e disponibilização dos nossos acervos.
O Programa vai executar três projetos: “Recuperação e digitalização de parte dos acervos
fotográfico, sonoro e documental de Théo Brandão”, com recorte nos folguedos populares em
Alagoas; “Estudo e Mapeamento dos Principais Folguedos Populares de Maceió”, identificando
seus locais de atuação, seus mestres e sua ocorrência atual e organização de um “Ciclo de Debates
sobre Cultura Popular, Museus e Acervos Documentais e Audiovisuais”, com quatro seminários
temáticos e um “Encontro de Mestres da Cultura Popular de Alagoas”.
Como o Programa está estruturado?
04
O Programa também tem parcerias com instituições de Alagoas e de outros estados. Como essas parcerias estão acontecendo?
Qual a sua experiência anterior no universo da cultura popular?
Outra característica de nosso Programa é que o mesmo se fundamenta em importantes parcerias
com instituições e órgãos de renomada experiência na área da conservação de acervos. Nessa
direção, uma rede de parceiros, em nível local, estadual e nacional, está sendo mobilizada. No
âmbito da UFAL, contamos com a parceria do Arquivo Central, responsável pelo curso de
“Capacitação em Conservação de Documentos”, que já foi concluído, e com a Pró-Reitoria de
Extensão, mediante apoio logístico para a viabilidade das atividades programadas. No âmbito
estadual, e com vistas à ampla divulgação de nossas atividades, contamos com a colaboração do
Instituto Zumbi dos Palmares (IZP), que também será parceiro nas atividades de recuperação
do acervo sonoro de fitas K-7, particularmente nas fases de higienização e digitalização. No âmbito
nacional, destaca-se a continuidade da bem sucedida parceria com o Centro de Conservação e
Preservação Fotográfica da FUNARTE, que desde o primeiro semestre de 2011 vem dando suporte
ao MTB nas atividades de conservação, digitalização e acondicionamento do material fotográfico.
Neste momento, a FUNARTE, através do seu CCPF e a UFAL, através do MTB, estão elaborando
conjuntamente um termo de parceria, que entre outras coisas, prevê que o MTB se torne um
centro de referência em Alagoas na área da conservação e preservação fotográfica. Além dessas
parcerias, serão colaboradores do Programa o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do
IPHAN e o Arquivo Nacional, locais onde os integrantes da equipe executora farão uma visita
com o objetivo de conhecer as técnicas de conservação e acondicionamento que essas instituições
utilizam para a preservação de seus acervos sonoro e documental, respectivamente.
Nos últimos quinze anos, venho me dedicando sistematicamente à pesquisa junto ao complexo
e diversificado universo das culturas populares, tendo desenvolvido investigações em torno de
temas como religiosidade popular, políticas culturais, música, ritos e festas. Entre os anos de 2001
e 2009, realizei pesquisa etnográfica sobre os giros rituais das Folias de Santos Reis e São José,
resultando em minha dissertação de mestrado e tese de doutorado, ambas defendidas no
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ. Ainda como
pesquisador, com reverberações práticas na formulação de políticas públicas na área do chamado
patrimônio imaterial, entre 2005 e 2008, participei do programa “Celebrações e Saberes da Cultura
Popular” e do “Programa de Apoio a Comunidades Artesanais” (PACA), ambos veiculados ao
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP\IPHAN). Para além dessas atividades e
interesses de pesquisa strito senso, minha relação com a cultura popular envolve também uma
dimensão afetiva e artística. Nessa direção, saliento minha participação como integrante e
fundador do Núcleo de Cultura Popular Céu na Terra, com sede no Rio de Janeiro, que desde
1997 desenvolve um trabalho de criação de espetáculos, brincadeiras e celebrações tendo por
inspiração as tradições populares brasileiras.
Na execução desse Programa, o Museu conta com a colaboração e envolvimento de várias pessoas, inclusive exteriores ao quadro de servidores do Museu. Qual a importância disso na prática?
Uma importante característica do Programa é que ele, desde seu início, está sendo concebido
coletivamente. Reunindo uma equipe interdisciplinar – com antropólogos, historiadores,
bibliotecários, arquivistas e profissionais da comunicação social – esse Programa vem
sedimentando, no âmbito do MTB, um espaço de diálogo e interação entre distintas áreas
do conhecimento, contribuindo assim para o desenvolvimento de ações integradas, fundamentais
para lidarmos com a complexidade e diversidade de nossos acervos.
05
Fotografias, manuscritos, correspondências, diários de campos,
gravações sonoras em fitas, materiais que são declarações de uma vida
dedicada à pesquisa. Essas preciosidades culturais doadas por Théo
Brandão ao Museu começaram a ser trabalhadas para se tornarem
disponíveis ao grande público. Esse é um dos objetivos do Programa
“Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e
pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu
Théo Brandão de Antropologia e Folclore”.
Iniciado em janeiro, o Programa inclui o projeto “Recuperação e
digitalização de parte dos acervos fotográfico, sonoro e documental”,
que vem sendo executado em três frentes de trabalho associadas a
documentos de diferentes suportes: o fotográfico (coordenado pela
professora Fernanda Rechenberg), o textual (coordenado pelo professor
Iuri Rizzi) e o sonoro (coordenado pelo professor Wagner Chaves).
Além desse trabalho de recuperação do acervo, o Programa conta
com uma equipe de bolsistas que atuam na pesquisa bibliográfica
e no mapeamento da ocorrência atual dos folguedos em Alagoas. É o
caso da estudante de História, Adriana Nascimento, que explica como
vem sendo feito o levantamento bibliográfico da obra de Théo Brandão
e de outros folcloristas. “Estamos pesquisando os folguedos e fazendo
uma comparação entre os folcloristas contemporâneos de Théo.
Queremos saber se eles tinham a mesma visão com relação a essas
manifestações culturais”, salientou. Quinzenalmente, todas as equipes
se reúnem para a realização de leituras e estudos dirigidos e
apresentação do andamento dos trabalhos.
Com a finalidade de capacitar os professores, técnicos e estudantes no
correto tratamento dos acervos documental e fotográfico, um momento
decisivo foi o curso “Acervo documental, conservação e preservação de
documentos”, ministrado pela diretora do Arquivo Geral da UFAL,
Maristher Moura Vasconcelos e por sua equipe.
Esse treinamento realizado no Museu passou a servir de referência para
outras ações na universidade. Com o objetivo de higienizar, catalogar e
digitalizar as fotografias da ASCOM (Assessoria de Comunicação),
a bolsista Annelise Pimentel Cavalcante, aluna de Biblioteconomia,
fez o curso de capacitação em Higienização e, durante uma semana,
participou do trabalho de higienização e diagnóstico das fotografias
do acervo.
Jacqueline BatistaJornalista
Museu Théo Brandão inicia programa de recuperação
e digitalização do acervo
06
Vanessa Matcki, bolsista da equipe de Higienização
Fotográfica e estudante do curso de Bacharelado
em Ciências Sociais, comenta que o treinamento
foi bastante esclarecedor. “Descobrimos a grande
importância de existir uma numeração mecânica
para organizar o acervo. Para ter cuidado com a
nossa saúde, aprendemos a ser criteriosos com
os equipamentos como máscara e luva. Começamos
a separar o material que não era tão sujo do
outro que ,tinha bem mais poeira para evitar
contaminação”, explicou a estudante.
A fase posterior foi o inicio do tratamento dos
diferentes acervos, o qual obedece às seguintes
etapas: higienização, descrição e catalogação,
acondicionamento e digitalização. Entretanto,
esse processo vem acontecendo de acordo com as
especificidades de cada acervo: enquanto o
fotográfico e o textual estão passando por um
processo de higienização e diagnóstico, o acervo
sonoro – tendo em vista a complexidade e
fragilidade do suporte – está sendo objeto de
identificação e catalogação.
A intenção dos coordenadores é que o Programa
não se limite a desenvolver um trabalho técnico
nos documentos, mas ofereça aos bolsistas a
possibilidade de considerar o acervo como objeto
de pesquisa. Os estudantes vão apresentar
os resultados desse trabalho no I Congresso
Alagoano Integrado de Inovação e Tecnologia
(CAIITE). “É um programa interdisciplinar, que
trabalha questões próprias da conservação do
acervo, mas também o estímulo à pesquisa no
tema do folclore e da cultura popular alagoana”,
destacou Fernanda Rechenberg.
O coordenador do Programa, Wagner Chaves,
enfatizou a necessidade da realização desse
tratamento na obra do patrono do Museu.
“Estamos vivendo um momento histórico. É um
acervo de significado inestimável, contendo
manuscritos, correspondências, gravações
sonoras e fotografias originais da coleção de Théo
Brandão. Dar um tratamento adequado a esse
material vai permitir, futuramente, aos
pesquisadores, o acesso à obra do mais importante
folclorista alagoano”, concluiu.
07
DesvenDaNDo
o acervo
Ainda que tivesse confessado certa vez ao amigo Bráulio do Nascimento a sua indecisão em
seguir a carreira como pesquisador da cultura popular, o médico, professor e folclorista
alagoano Theotônio Vilela Brandão dedicou muitos dos seus 74 anos de vida à preservação
da memória e do patrimônio cultural alagoano, nordestino e brasileiro.
No entanto, foi a partir de 1937, aos 30 anos de idade, que Théo Brandão - como se tornou
conhecido - começou a profundar seus estudos sobre o folclore alagoano, ao assumir um cargo
no Instituto Histórico de Alagoas. O resultado desse extenso trabalho etnográfico constituiu
um dos mais importantes e expressivos acervos sobre a memória popular alagoana.
Ao longo da sua trajetória como folclorista, Théo Brandão fotografou mestres e apresentações
de folguedos, gravou entrevistas, cantos e músicas, escreveu centenas de páginas sobre as
expressões do folclore em Alagoas.
Nesse percurso, em colaboração com outros fotógrafos e pesquisadores, reuniu um acervo
de cerca de três mil fotografias em diferentes suportes, mais de duzentos documentos sonoros
e variada documentação arquivística, composta por manuscritos, livros, folhetos de cordel
e documentos pessoais.
O conteúdo desses materiais envolve registros fotográficos e sonoros de folguedos na capital
e interior, em diferentes contextos, a exemplo das apresentações dos grupos Cocos de Alagoas,
de Chã Preta, Viçosa (1955); Fandango, da Pajuçara (1957); Guerreiro, da fazenda Boa Sorte,
Viçosa (1961); Baianas, de Ipioca (1977), entre outros.
Para a professora e coordenadora do trabalho de recuperação do acervo fotográfico,
Fernanda Rechenberg, esse patrimônio fornece dados valiosos sobre os folguedos e a cultura
popular alagoana em geral. “Esperamos que a vasta produção etnográfica – entre textos,
registros sonoros e fotográficos – sobre o folclore em Alagoas, presente no Museu Théo Brandão
de Antropologia e Folclore, possa mostrar a cultura popular alagoana em diferentes décadas,
contribuindo para pesquisadores, estudantes, curiosos e, especialmente, os mestres e brincantes
dos folguedos no Estado”, observa.
Francisco Ribeiro estudante de Jornalismo
A BAIANA DE THÉO
REDESCOBERTASAo longo da semana, bolsistas, técnicos, professores e colaboradores se encontram no Museu
para realizar as atividades de recuperação dos acervos sonoro, fotográfico e documental.
Durante o processo de recuperação foram encontrados diversos registros sobre a cultura
popular em Alagoas, que serviram de base para os trabalhos e estudos sobre o folclore
desenvolvidos por Théo Brandão. Entre eles, fotos e a gravações em áudio das apresentações
de grupos de folguedos e dos seus mestres, a exemplo da mestra Terezinha Oliveira, do
folguedo Baianas, de Ipioca. A seguir, você confere mais sobre a história desse folguedo
em Alagoas.
08
A BAIANA
Théo Brandão nunca escondeu sua admiração pela mestra Baiana Terezinha Oliveira, falecida
na década de 1980. Funcionário do museu desde sua fundação, José Carlos Silva recorda que
a beleza, a simpatia e o talento a fizeram ser considerada uma das mais importantes mestras
de folguedos em Alagoas.
Théo Brandão e mestra Terezinha: admiração pelo talento
e dedicação da mestra para preservação do folguedo Baiana.
“Segundo o Dr. Théo Brandão, ela era a melhor
mestra de Baianas da época. Mestra Terezinha
cantava e tirava as toadas do folguedo muito
bem. Ela visitava bastante o museu, colaborando
com as pesquisas que eram realizadas sobre
o folguedo das Baianas. A museóloga e
ex-diretora do Théo Brandão, Cármen Lúcia
Dantas, também, tinha uma relação muito
próxima com a mestra Terezinha”, lembra José
Carlos Silva.
Caracterizado por não possuir um enredo
determinado, as Baianas cantam uma
sequência constituída de marchas de entrada
ou abrição de sede, peças variadas e, por fim,
a despedida. O traje é composto de três peças:
blusas de cetim com lantejoulas, saias longas,
rodadas e estampadas e lenço amarrado à
cabeça.
Mestra Terezinha coroando Cármen Lúcia Dantas.
A mestra do folguedo, além de ter uma
vestimenta diferenciada, é responsável pela
marcação do ritmo e dos cantos.
São três os instrumentos principais usados
durante as apresentações dos grupos: o ganzá,
o bombo (espécie de zabumba) e o apito, que
serve para marcar o ritmo.
Mestra Terezinha durante apresentação do folguedo Baiana.
Mestra Terezinha e Cármen Lúcia Dantas, em visita ao museu.
09
M U S E UTHÉO BRANDÃO
UFAL
Gravador usado por Théo Brandão
para registrar as apresentações
dos folguedos; fitas com a gravação do
folguedo Baianas, de Ipioca (1977),
da célebre mestra Terezinha.
Tal folguedo é mais do que uma expressão da
cultura popular, pois ao misturar dança e música
vindas do Sul de Pernambuco leva às ruas uma
mistura do candomblé e da umbanda, somando
novos elementos e arranjos próprios do povo
alagoano.
No livro “Folguedos Natalinos: Baianas”, Théo
Brandão ressalta que “além do seu ritmo original
e quente (...) são as narrações de sucessos,
episódios, acontecimentos que se refletiram na
mente popular e que, repetidos, às vezes, com
vários anos de existência, mantêm a tradição
sempre viva e alerta”.
Ao longo de sua existência, o folguedo recebeu
diversas nomenclaturas, a exemplo de Samba
de Matuto e Baianais. Mas, foi somente na década
de 1920 que passou a ser denominado de Baianas.
As melhores mestras são as que improvisam suas
loas (cantigas). Além de mestra Terezinha,
destacavam-se Georgina, de Vassouras, Coruripe;
Das Dores, de Pilar; Antônia Nascimento, de
Garça Torta.
Até o momento, foram identificadas e catalogadas
duas fitas cassetes, três fitas magnéticas de rolo,
cerca de vinte e cinco fotografias e vinte
documentos a respeito desse folguedo. Esses
registros compõe uma parte do acervo de Théo
Brandão sobre as Baianas.
Equipe do Programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental
do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore”:
Coordenação do ProgramaWagner Neves Diniz Chaves
Coordenador GeralFernanda Rechenberg
Vice-coordenadoraIuri Rocio Franco Rizzi
Vice-coordenador
Apoio Técnico e AdministrativoAlexandre Silva de Oliveira
Anna Christina de Queiroz Rodrigues
Francisco José Barboza dos Santos
Jacqueline Batista
José Carlos da Silva
Julio Cézar Chaves
Cristiane Cyrino Estevão
Maristher Moura Vasconcellos
Victor Sarmento Souto
Jesuíno Ferreira de Moura
Josefa Sales Barros
Maria das Graças de Oliveira
Maria Madalena de Oliveira
Rogério Lira
UFALReitor
Eurico LoboVice-reitora
Rachel RochaPro-reitor de Extensão
Eduardo LyraDireção Geral MTB
Wagner ChavesDireção Administrativa MTB
Victor Sarmento
Colaboradores
Fernanda Capibaribe Leite Bruno César Cavalcanti
BolsistasAdriana Conceição NascimentoDaniela Inês dos Santos Pessoa
Ellen Cristina da SilvaEwerton dos Santos Freitas
Francisco RibeiroJoão Paulo de Farias Silva
Kelliane Maria da SilvaKlessiane Ferreira da Mota
Lidiane de Sales PereiraRenata Amorim Costa Soares
Vanessa Matcki SouzaVeronilda da Silva
Lucy Muritiba