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29/01/2016 às 05h00 Turbulência à vista, de novo Os países desenvolvidos não enfrentaram os problemas revelados pela crise em 2008 e, por isso, estão expostos a um novo estouro de bolha, afirma o economista coreano Ha-Joon Chang, PhD por Cambridge, onde ensina na Faculdade de Economia e no programa de estudos do desenvolvimento. Quanto aos temores do mercado com a desaceleração chinesa e a queda da bolsa em Xangai, Chang afirma que uma recessão na China é improvável, mas o tombo financeiro deverá afetar a economia real. Veja a entrevista em vídeo No ano passado, Chang publicou no Brasil "Economia - Modo de Usar" (Companhia das Letras, 464 págs., tradução de Isa Mara Lando e Rogério W. Galindo), em que discute os principais conceitos da teoria econômica em um quadro de referências das diferentes linhas de pensamento econômico - que, para ele, são "pelo menos nove". Conhecido como membro da escola institucionalista, Chang defende o uso simultâneo de diversas tradições intelectuais, porque cada uma ilumina um aspecto diferente da realidade. Chang lamenta que o Brasil não tenha tomado atitudes contra a desindustrialização, que já se desenrola há três décadas. Para o economista, a indústria manufatureira continua sendo a principal fonte de inovação e produtividade, que em seguida se espalha para os demais setores. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista, concedida ao Valor, em São Paulo, onde Chang esteve para ministrar duas palestras na Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Valor: A desaceleração da economia chinesa e a queda dos preços das commodities colocam o Ocidente de volta ao centro do crescimento no mundo nos próximos anos? Ha-Joon Chang: As economias mais avançadas ainda não resolveram seus próprios problemas. Quase dez anos depois da crise, metade desses países Por Diego Viana | Para o Valor, de São Paulo Chang lamenta que o Brasil não tenha tomado atitudes contra a desindustrialização que o país atravessa há três décadas, assim pondo a perder fatores de inovação e produtividade Cultura & Estilo Últimas Lidas Comentadas Compartilhadas "O PT chamou o urso para dançar" 05h00 Vírus zika e microcefalia, a batalha que começa perdida 05h00 Avant-première 05h00 O Brasil de Wesley Safadão 05h00 Ver todas as notícias À mesa com o Valor Entrevistas MIA COUTO "Quando eu fui uma história, então, nasci" 05/02/2016 às 05h00 DJAVAN O homem que falava 'djavanês' 29/01/2016 às 05h00 JOHN PIZZARELLI Sintonia brasileira 22/01/2016 às 05h00 CLAUDIO LOTTENBERG O executivo que nasceu da festa 15/01/2016 às 05h00 PEDRO BIAL O Big Brother no confessionário 08/01/2016 às 05h00 Blue Chip 0:00 / 5:54 Turbulência à vista, de novo | Valor Econômico http://www.valor.com.br/cultura/4415048/turbulencia-vista-de-novo# 1 de 5 05/02/16 10:52

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29/01/2016 às 05h00

Turbulência à vista, de novo

Os países desenvolvidos não enfrentaramos problemas revelados pela crise em2008 e, por isso, estão expostos a umnovo estouro de bolha, afirma oeconomista coreano Ha-Joon Chang,PhD por Cambridge, onde ensina naFaculdade de Economia e no programade estudos do desenvolvimento. Quantoaos temores do mercado com adesaceleração chinesa e a queda da bolsaem Xangai, Chang afirma que umarecessão na China é improvável, mas otombo financeiro deverá afetar a economia real.

Veja a entrevista em vídeo

No ano passado, Chang publicou no Brasil "Economia - Modo de Usar"(Companhia das Letras, 464 págs., tradução de Isa Mara Lando e Rogério W.Galindo), em que discute os principais conceitos da teoria econômica em umquadro de referências das diferentes linhas de pensamento econômico - que,para ele, são "pelo menos nove". Conhecido como membro da escolainstitucionalista, Chang defende o uso simultâneo de diversas tradiçõesintelectuais, porque cada uma ilumina um aspecto diferente da realidade.

Chang lamenta que o Brasil não tenha tomado atitudes contra adesindustrialização, que já se desenrola há três décadas. Para o economista, aindústria manufatureira continua sendo a principal fonte de inovação eprodutividade, que em seguida se espalha para os demais setores.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista, concedida ao Valor, emSão Paulo, onde Chang esteve para ministrar duas palestras na Escola deEconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).

Valor: A desaceleração da economia chinesa e a queda dos preços dascommodities colocam o Ocidente de volta ao centro do crescimento nomundo nos próximos anos?

Ha-Joon Chang: As economias mais avançadas ainda não resolveram seuspróprios problemas. Quase dez anos depois da crise, metade desses países

Por Diego Viana | Para o Valor, de São Paulo

Chang lamenta que o Brasil não tenhatomado atitudes contra a desindustrializaçãoque o país atravessa há três décadas, assimpondo a perder fatores de inovação eprodutividade

Cultura & EstiloÚltimas Lidas Comentadas Compartilhadas

"O PT chamou o urso para dançar" !05h00

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MIA COUTO

"Quando eu fuiuma história,então, nasci" !05/02/2016 às 05h00

DJAVAN

O homem quefalava 'djavanês'!

29/01/2016 às 05h00

JOHN PIZZARELLI

Sintoniabrasileira !22/01/2016 às 05h00

CLAUDIOLOTTENBERG

O executivo quenasceu da festa!

15/01/2016 às 05h00

PEDRO BIAL

O Big Brothernoconfessionário!

08/01/2016 às 05h00

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não recuperou nem a renda per capita de 2007. Muito do que conseguiramfoi só o resultado da liquidez excessiva bombeada no sistema por bancoscentrais. No Reino Unido, promoveram investimentos em imóveis, comdesonerações de impostos e subsídios. Recriaram o boom imobiliário, que foiparte da causa da crise. Os mercados de ações nos Estados Unidos e outrospaíses ricos estão extremamente inflados. Criaram outra bolha especulativa,já que não estavam dispostos a reestruturar a economia e crescer de modomais sólido. Pode não acontecer este ano, mas haverá outra crise financeira.

Valor: Na sua opinião, que consequências pode ter o aumento dos jurosamericanos nesse cenário?

Chang: Por enquanto, é um aumento bem pequeno, e sempre podem voltaratrás. Não vejo como um grande obstáculo agora. O maior problema é quesuperaram essa crise financeira criando, acima de tudo, mais uma bolha. E seessa estourar, aí não se dispõe nem de munição para lutar contra outra crise.Os juros estão praticamente em zero e muitos governos estãosobrecarregados de dívidas. Não podem fazer políticas fiscais keynesianas.Esses países podem se ver em apuros ainda maiores do que os países emdesenvolvimento.

Valor: A turbulência nas bolsas chinesas tem levado analistas a ver umarecessão global no horizonte. Como avalia esse risco?

Chang: Na China, o problema do mercado de ações é auto-infligido. Ogoverno ampliou o que investidores individuais podem fazer no mercado deações, cujo valor cresceu por especulação. Fez isso porque já sentia que aeconomia estava fraquejando. Então, estimulou a atividade. Infelizmente,exagerou, criando uma instabilidade financeira desnecessária, que tambémafetou a economia real. A América Latina conhece isso: mesmo quando nãohá um problema nos fundamentos da economia, problemas financeirospodem afetar a economia real. Os investidores param de investir, as pessoasficam na defensiva, os trabalhadores começam a exigir aumento de salários,porque se preocupam com o futuro. E, infelizmente para o resto do mundo, aeconomia chinesa ficou tão grande que tem um impacto enorme. Acho queestamos entrando em tempos difíceis.

Valor: É voz corrente que as estatísticas chinesas são infladas e ocrescimento estaria abaixo dos 6,9% anunciados. Se for assim, os temposserão ainda mais difíceis?

Chang: Há um consenso de que os números são exagerados. E por isso ascoisas podem na verdade estar piores do que deveriam se considerados osnúmeros oficiais. No entanto, se todos sabem, os demais países deveriamlevar o dado em conta, até porque, mesmo sendo a China um país comgrande controle do governo sobre a economia, se o governo diz que vaicrescer 7% não significa que vai mesmo.

Valor: A China poderia estar entrandoem uma verdadeira recessão, e não sóuma desaceleração?

Chang: Acho improvável. O que protegea China é seu mercado de capitais muitofechado. Se fosse aberto, o dinheiro sairiarápido, como aconteceu na Tailândia,Coreia e Malásia nos anos 1990, emborativessem uma economia saudável nolongo prazo e ainda estivessem crescendoa 7%. Algo dá errado, o mercado de

capitais é aberto, o dinheiro foge correndo e a economia está em apuros. Issoprovavelmente não vai acontecer na China. Mas as coisas lá podem ficardifíceis, porque eles querem liderar a economia global, aumentaram bastanteos gastos fiscais e muitos projetos tinham problemas.

Valor: E há a questão, sempre latente, de o crescimento menor trazerinstabilidade política.

Chang: Mais importante, no longo prazo, é a crescente desigualdade derenda. Isso vai ter enormes consequências políticas. Há apenas 40 anos, todomundo era pobre na China. Todos eram teoricamente iguais. Hoje, de duaspessoas que eram igualmente pobres, uma está vivendo numa cópia da CasaBranca e a outra está dormindo na rua. Isso foi aceito nos últimos 30 anos

"Economias avançadas não resolveram seusproblemas estruturais e agora estãoexpostas a um novo estouro de bolha"

Por Angela Klinke

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Desaceleração da China afeta economia global29/01/2016

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porque, com a economia crescendo a 12%, mesmo o mais pobre estácomendo um prato de arroz a mais. É aceitável. Mas, quando a economiadesacelera, as pessoas começam a fazer perguntas.

Valor: No seu livro, o senhor critica as denominações "ortodoxia" e"heterodoxia". Hoje, a profunda crise da economia brasileira revive osembates centrados nessa divisão.

Chang: Isso tem muito a ver com os tipos de ortodoxia e heterodoxia queforam usados no Brasil. Por exemplo, a velha heterodoxia brasileira remontaa Celso Furtado e ao estruturalismo latino-americano, que enfatizava aimportância da industrialização, do investimento e da produtividade. Mas aheterodoxia no governo do PT foi mais centrada em reduzir desigualdade,expandir o bem-estar. Infelizmente, negligenciaram a reconstrução daindústria. O Brasil experimentou uma das desindustrializações mais rápidasda história. Infelizmente, o governo não usou contra isso os recursos que opaís obteve graças ao boom de exportações. Para onde foi o dinheiro? Nãohouve um esforço organizado para reconstruir a indústria. A ortodoxia nãotinha nenhum foco em política social, mas, basicamente, em indicadoresmacroeconômicos. Também negligenciaram o setor produtivo. A economiabrasileira está pagando o preço por terem esquecido desse tema nos últimos30 anos.

Valor: Isso explica o fato de que o país poderá perder algo como 7% do PIBem menos de três anos?

Chang: Essa é a grande consequência de depender das commodities. Emtermos de indústria, o Brasil retrocedeu. Perdeu bastante das suasmanufaturas e se tornou cada vez mais dependente de produtos primários.Parte disso era inevitável, porque havia uma demanda enorme da China.Mas, tendo recebido esses recursos extras, o país deveria ter reconstruído abase manufatureira. Provavelmente, estamos entrando na fase depressiva dosuperciclo das commodities, algo que pode durar 20 anos. O Brasil deveriater se preparado, mas não o fez. Hoje, a maior fonte de demanda de suaeconomia, que é a China, está parando. Então, o que mais dá para esperar? Écomo no livro de García Marquez: "Crônica de uma Morte Anunciada".

Valor: As teorias que possuímos sobre construção de base industrialremontam a uma economia muito diferente da que temos hoje. Comoreconstruir essa base na economia globalizada, financeirizada,informacional?

Chang: Desde a era da Cepal [Comissão Econômica para a América Latina eo Caribe], houve muito debate sobre políticas de industrialização,transformação estrutural, produtividade. Sabemos bem melhor o que é umaboa política de industrialização. As políticas cepalinas não enfatizavam demodo suficiente as exportações. Assim que a economia cresce, vem uma crisedo balanço de pagamentos e é preciso esfriar a economia, o que reduz oinvestimento. Os tempos mudaram, é preciso fazer as coisas de outro modo.Mas nada disso significa um mundo pós-industrial, em que a indústriaperdeu importância. Ela ainda é a maior fonte de novas tecnologias. Equando se olha para países com alta produtividade em commodities ouserviços, são países que usam as tecnologias desenvolvidas na indústria paraelevar a produtividade nos outros setores. A Austrália é muito dependente dosetor de mineração, mas tem um setor forte de equipamentos.

Valor: Como fazer isso em tempos de cadeias globais de valor e de tratadosque não permitem várias políticas dos governos?

Chang: Pode-se fazer muito mais do que imaginamos. É claro que, seassinar um tratado bilateral com os Estados Unidos, esqueça. Aí não dá parafazer nada. Fora daí há possibilidades. Não se pode mais exigir conteúdolocal, mas é possível impor outras condições, como a transferência detecnologia. É mais difícil, mas dá. O Brasil ainda tem a vantagem de ter sidoum dos principais países industrializados do mundo emergente. Há uma basemanufatureira significativa, embora esteja sendo destruída rapidamente.Ainda tem engenheiros e executivos qualificados. Se há um país que pode sereindustrializar é o Brasil.

Valor: Que cara terá o mundo em que a atividade econômica é governadapor acordos como a TPP [Parceria Transpacífica] e o TTIP [ParceriaTransatlântica de Comércio e Investimentos]?

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Chang: Esses acordos são apresentados como acordos de comércio, mas ocomércio não é o ponto central. Especialmente no caso da TTIP, entreEstados Unidos e a União Europeia. Eles já têm tarifas baixíssimas entre si.Esses acordos aumentam o poder das corporações, como nessa cláusulainfame, o mecanismo de solução de disputas entre Estados e investidores.Isso permite que empresas processem governos, e não é nem em algumacorte pública internacional, como deveria ser, mas através de um júri de trêspessoas. O mundo é cada vez mais dominado pelo poder das corporações,mas não vamos esquecer que todos esses tratados podem ser reescritos,abolidos, renegociados.

Valor: Isso exigiria uma enorme mobilização social, e em muitos países aomesmo tempo.

Chang: É preciso pensar numa perspectiva de longo prazo. Há 30 anos, oambientalismo era visto como um movimento cripto-comunista, gente quequeria destruir o capitalismo ao restringir sua habilidade de crescer. Hojenão é mais assim. É possível mudar o tom dos debates.

Valor: Uma coisa notável é que, mesmodepois da crise, o poder corporativo efinanceiro sobre a política americanasegue intocado. De onde vem tantaresistência?

Chang: Eles têm muito dinheiro àdisposição. Mesmo depois de tudo queaconteceu, podem usar esses recursospara ajudar políticos, influenciar a mídia,enfraquecer a mobilização. Wall Streetgastou muito dinheiro em lobbies paraenfraquecer a regulação da lei Dodd-Frank (promulgada em 2010 pelopresidente Barack Obama para se fazer a reforma do sistema financeiro e darproteção ao consumidor). Nos últimos 35 anos, conseguiram mudar aspercepções das pessoas. É quase uma lavagem cerebral. A cabeça das pessoasfoi tão distorcida por 35 anos de campanha incessante sobre as virtudesabsolutas do mercado livre que vai demorar para mudar.

Valor: O senhor menciona a existência de nove escolas de teoriaeconômica...

Chang: Pelo menos nove!

Valor: Mas houve grandes esforços dos economistas para unificar a teoria,como é o caso dos neoclássicos. Essa diversidade revela uma fraqueza?

Chang: É uma fraqueza se quisermos algo como a química ou a física, quetem um corpo teórico principal capaz de explicar mais ou menos tudo. Masestudar a economia ou a sociedade é estudar o mundo humano, que é bemmais complexo que o mundo natural, formado de partículas subatômicas quenão pensam por si próprias, não têm desejo nem ideologia. Mas os humanos,sim. Dada essa realidade, ter muitas teorias diferentes é uma vantagem. Asdiferentes teorias se concentram em coisas diferentes. Todas têm certasforças e fraquezas. Então, conhecer mais teorias ajuda a conhecer o mundomelhor.

Valor: Economistas são acusados de ter uma atitude de espíritoimperialista sobre outras ciências sociais. Como avalia o diálogo deeconomistas com sociólogos, politólogos e antropólogos?

Chang: Acredito na abordagem interdisciplinar. Quando analisamos aeconomia, a não ser que usemos uma visão neoclássica muito estreita,precisamos levar em conta a interação social, a psicologia, os temas políticos.Não são todos os economistas que agem assim, mas muitos têm essa atitudeconhecida como imperialismo do economista.

Valor: O senhor concorda com a comparação entre o pensamentoeconômico fechado em padrões hoje dominantes e crenças de naturezareligiosa?

Chang: Tem algo correto nessa analogia. Não 100%, mas tem. Há mesmoum elemento religioso em muito da teoria econômica, quando se acredita quehá uma verdade única que deve ser aceita por todos. Há também, sobretudo

"Provavelmente, estamos entrando na fasedepressiva do superciclo das commodities.O Brasil deveria ter se preparado, mas não ofez"

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entre neoclássicos, a ideia de que os valores econômicos são os maisimportantes. Vemos muito disso no mundo atual, em que governos queremparar de financiar departamentos de literatura e antropologia porque nãotrazem receita. E terceiro, em termos práticos: o conhecimento estáprotegido das pessoas, com toda a matemática, os modelos, o jargão, muitascoisas que nem eu entendo. Assim, a economia neoclássica é como a igrejacatólica medieval, que recusava a tradução da Bíblia para línguasvernaculares.

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