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KÁTIA ABREU Uma viagem inevitável 02/09/2015 02h00 A economia e o comércio mundiais passam por ampla transformação. A globalização dos mercados e a interconexão das cadeias produtivas são os pilares desse processo –ao que o Brasil não está alheio, mas ainda está aquém de seu potencial de participação.

Uma Viagem Inevitável

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Artigo da ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), para o jornal "Folha de São Paulo", sobre a crise econômica no Brasil e o que fazer para melhor o desempenho do Brasil no cenário

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KÁTIA ABREU

Uma viagem inevitável02/09/2015 02h00

A economia e o comércio mundiais passam por ampla transformação. A globalização dosmercados e a interconexão das cadeias produtivas são os pilares desse processo –ao que oBrasil não está alheio, mas ainda está aquém de seu potencial de participação.

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Nossa formação, que poderíamos chamar de cultura do subdesenvolvimento, legou ao paísuma atitude defensiva em relação aos países desenvolvidos, má herança de que nosempenhamos em nos desfazer.

É inegável que ao longo de quase todo o século 20 crescemos muito, mesmo sem o apoio docomércio externo, pois o interno bastava. Desde então, o Brasil e o mundo mudaramradicalmente, sobretudo nos últimos 30 anos.

Na conjuntura econômica que atravessamos, a tendência natural é nos assustar com umalonga lista de problemas que reclamam solução urgente. Mas a experiência e a sabedoria nosensinam que querer enfrentar todos os problemas de uma só vez resulta em não resolver

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nenhum deles. A saída é fazer escolhas –e mudar nosso setor externo é certamente umadelas.

Os mais realistas nos ensinam que tanto o gasto público como o consumo das famílias estãoesgotados como fonte de crescimento econômico. Para crescer dependeremos doinvestimento privado e das exportações. Em nosso tempo, nenhum país conseguiu chegar aníveis altos de renda por habitante sem integrar­se ao comércio internacional de bens eserviços.

O Brasil está longe de esgotar seu potencial nesse setor. Temos o sétimo PIB do mundo, mas,em valor de exportações, somos o 25º. Quanto às importações, nosso coeficiente em relaçãoao PIB é de 13,5%. Para mudar essa realidade, será preciso rever conceitos.

O comércio internacional nunca foi território de amenidades. Todos os países aspiram a umaposição forte e dominante. Ultimamente, porém, está se formando uma consciência de que osconflitos devem ceder lugar a parcerias.

Elas se apresentam como Acordos Preferenciais de Comércio, arranjos regionais destinados afacilitar e incrementar o intercâmbio sob a forma tradicional de redução de barreiras tarifárias enão tarifárias e por meio de um esforço de harmonização de normas e regulamentações paraaprimorar o fluxo de bens, serviços e investimentos.

Quase todas as economias estão vivendo em regime de baixo crescimento interno, por isso oapelo à demanda externa e às exportações.

Essas parcerias até há pouco pareciam mero discurso político, mas o que estamos vendo éseu rápido progresso, vencendo obstáculos que pareciam insuperáveis. Nesse quadro, o Brasiljá constatou que precisa reciclar­se. Estudo da Fundação Getulio Vargas constatou que aadesão do Brasil a esses acordos pode resultar em aumentos expressivos de nossasexportações: de 20% para a União Europeia, de 10% para os EUA e de 12% para a China.

O agronegócio brasileiro tem trajetória brilhante, garantindo há décadas o superavit da balançade pagamentos e nossas reservas cambiais. Mas para que esse padrão não se comprometa,não podemos ficar –e não estamos– alheios a acordos como os que se articulam no Pacífico eno Atlântico.

Por outro lado, é preciso que a indústria se integre às cadeias globais de suprimento, que sãoa forma contemporânea de funcionamento desse setor em âmbito global. Ela terá meios quefacilitarão esse processo, pois grande parte é formada de multinacionais que têm capital eestrutura para a competição global.

Ainda de feitio autenticamente doméstico, a indústria brasileira vai aumentar suacompetitividade se tiver acesso a bens de capital e insumos importados de qualidade e baixopreço. Aumentar a produtividade no setor industrial e no de serviços é essencial –e a aberturapara o exterior é o melhor caminho.

O Brasil, em suma –e aí não apenas o governo, mas o setor produtivo e a sociedade–, começaa tomar consciência de seus interesses estratégicos, sem se iludir por interesses de curtoprazo. Isso não exclui nossos parceiros do sul, mas abre preciosa oportunidade para queembarquem conosco nessa viagem, que não há como ser evitada.

KÁTIA ABREU, 52, é ministra de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletiras diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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